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A contabilidade de Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs) exige uma atuação técnica que traduza em registros e relatórios a missão social da entidade sem descuidar da legalidade, da transparência e da sustentabilidade financeira. Enquanto instrumento de informação, a contabilidade em OSCIPs serve simultaneamente ao controle interno, à prestação de contas a financiadores e órgãos públicos e à tomada de decisão dos gestores. Descritivamente, ela revela o patrimônio, as fontes de recursos — muitas vezes compostas por doações, convênios, serviços prestados e contribuições — e a aplicação desses recursos em programas e projetos socialmente orientados. No plano prático, a escrituração contábil deve ser regular, sistemática e compatível com a complexidade das operações. Adote um plano de contas que permita distinguir receitas vinculadas de receitas livres, identificando claramente cada projeto, convênio ou fonte de financiamento. Registre receitas por competência, sempre que a natureza do recurso permitir, para refletir adequadamente o resultado e evitar distorções no período. Para recursos vinculados, mantenha controle em contas analíticas que permitam demonstrar aplicação exclusiva conforme o instrumento de repasse ou doação. O registro de ativos exige atenção especial: bens doados, imóveis cedidos e equipamentos adquiridos com recursos vinculados devem ser inventariados, avaliados e apropriados segundo políticas contábeis documentadas. Implemente controle físico periódico e políticas de depreciação coerentes com a vida útil dos bens. Provisões e passivos trabalhistas também merecem tratamento cuidadoso, pois frequentemente representam contingências relevantes para OSCIPs que empregam equipe ou recebem voluntários em projetos de longo prazo. A demonstração e a prestação de contas precisam ser claras e acompanhadas de notas explicativas que expliquem critérios adotados, vinculações de receitas, critérios de rateio de despesas administrativas e particularidades de convênios. Elabore, com regularidade, demonstrações que reflitam a realidade econômico-financeira: balanço patrimonial, demonstração das mutações patrimoniais ou demonstração do resultado e fluxos de caixa adaptados à entidade, além de relatório de atividades que conecte resultados financeiros e impacto social. No aspecto normativo, a contabilidade de OSCIPs deve observar a legislação civil e específica que rege a qualificação de OSCIP, bem como requisitos de convênios, editais e doadores. Em muitos casos, instrumentos de repasse impõem rotinas de prestação de contas, relatórios financeiros e prazos que estruturam a contabilidade a ser adotada. Em razão disso, a equipe contábil precisa conhecer tanto as normas contábeis aplicáveis quanto as cláusulas contratuais de cada financiamento. Para reduzir riscos e aumentar a confiabilidade das informações, implemente controles internos: segregação de funções entre quem autoriza despesas, quem as executa e quem as registra; conciliações periódicas de contas; políticas formais para recebimento e aplicação de recursos; e arquivo organizado de documentos comprobatórios. Contrate auditoria independente sempre que exigido por legislação, convenente ou por necessidade de credibilidade perante grandes financiadores. A auditoria aumenta a confiança, detecta fragilidades e propõe melhorias de governança. A transparência é elemento central: publique relatórios financeiros e narrativos acessíveis a conselheiros, doadores, beneficiários e ao público geral. A adoção de logística digital para emissão de recibos, integração bancária e sistemas contábeis facilita o controle e a produção de informações em tempo hábil. Forme a equipe administrativa e voluntária em práticas básicas de compliance e contabilidade para minimizar erros operacionais. Por fim, pratique governança ativa. O conselho fiscal ou órgão equivalente deve exercer fiscalização contínua, analisar demonstrações e exigir clareza sobre políticas contábeis e critérios de alocação de custos. Mantenha documentação societária e estatutária atualizada e registre alterações de forma tempestiva. Em suma: mantenha escrituração regular, adote plano de contas adaptado, segregue recursos vinculados, documente políticas e preserve transparência. Esses procedimentos garantem que a contabilidade não apenas obedeça normas, mas seja instrumento efetivo de gestão e de legitimação social da OSCIP. PERGUNTAS E RESPOSTAS 1) Quais normas regem a contabilidade de OSCIPs? Resposta: Regem-na a legislação civil e específica da qualificação OSCIP, normas contábeis aplicáveis e exigências contratuais de convênios e doadores. 2) Como tratar receitas vinculadas? Resposta: Separe contabilidade por fonte, registre por competência quando aplicável e mantenha contas analíticas que demonstrem aplicação conforme o vínculo. 3) Quais demonstrações publicar? Resposta: Publique balanço patrimonial, demonstrações que evidenciem variações patrimoniais/resultado e fluxos de caixa, sempre acompanhadas de notas explicativas. 4) Auditoria é obrigatória? Resposta: É exigida por alguns convênios e financiadores; mesmo quando não obrigatória, é recomendada para credibilidade e melhoria de controles. 5) Principais riscos e mitigação? Resposta: Riscos: uso indevido de recursos, falhas de controle e não conformidade. Mitigue com segregação de funções, conciliações, políticas escritas e auditoria. A contabilidade de Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs) exige uma atuação técnica que traduza em registros e relatórios a missão social da entidade sem descuidar da legalidade, da transparência e da sustentabilidade financeira. Enquanto instrumento de informação, a contabilidade em OSCIPs serve simultaneamente ao controle interno, à prestação de contas a financiadores e órgãos públicos e à tomada de decisão dos gestores. Descritivamente, ela revela o patrimônio, as fontes de recursos — muitas vezes compostas por doações, convênios, serviços prestados e contribuições — e a aplicação desses recursos em programas e projetos socialmente orientados.