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Direito Processual Civil: 341.46 Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização. A violação dos Direitos Autorais é crime estabelecido na Lei n. 9.610/98. Todos os direitos desta edição são reservados pela Editora Thoth. A Editora Thoth não se responsabiliza pelas opiniões emitidas nesta obra por seus autores. © Direitos de Publicação Editora Thoth. Londrina/PR. www.editorathoth.com.br contato@editorathoth.com.br Möller, Guilherme Christen Processo, jurisdição e sistema de justiça multiportas: entre o Brasil e a Itália./ Guilherme Christen Möller. – Londrina, PR: Thoth, 2025. 278 p. Bibliografias: 247-267 ISBN: 978-65-5113-143-1 1. Direito Processual Civil. 2. Jurisdição. 3. Procedura Civil. I. Título. CDD 341.46 SOBRE O AUTOR GUILHERME CHRISTEN MÖLLER Dottore di Ricerca in Scienze Giuridiche pela Università degli Studi di Firenze (UniFi) e Doutor e Mestre em Direito Público pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Membro do Instituto Brasileiro de Direito Processual (IBDP), do Instituto Iberoamericano de Derecho Procesal (IIDP) e da Associação Brasileira de Direito Processual (ABDPro). Advogado e sócio do escritório Coelho, Murgel e Atherino Advogados, localizado no Rio de Janeiro (OAB/SC n. 51.682 e OAB/RJ n. 259.139). E-mail: contato@ guilhermechristenmoller.com.br. Para as minhas avós, In Memoriam, Lukretia Christen e Eleonora Möller. AGRADECIMENTOS Esta obra, fruto da minha tese de doutoramento, marca o principal momento da minha trajetória de pouco mais de uma década no Direito. Apenas pude enfrentar os altos e baixos desse período por causa do apoio incondicional dos meus pais, George e Sandra, do meu irmão, Bernardo, e de toda minha família, em especial as minhas avós, In Memoriam, Lukretia e Eleonora, meus exemplos de bondade, educação e amor. Nenhuma medida seria suficiente para expressar o meu afeto, carinho e gratidão por ter vocês em minha vida. Em extensão, durante o meu soggiorno na Itália, tive a felicidade de ser abençoado com mais uma família, Márcio, Eliza, Lucas e Isabella, sem dúvida a família Melo Alves deixou os dias da Toscana ainda mais significativos, assim como o carinho de Leandro, Geovana, Oswaldo e da piccolina Maria Fernanda. Experiências, oportunidades e lições que pude vivenciar e aprender em parcela considerável da minha trajetória no Direito, especialmente a partir do último ano do meu Mestrado, são reflexos da generosidade do Prof. Darci Guimarães Ribeiro, meu amigo e mentor, a quem terei gratidão pelo resto da minha vida. A metà del mio dottorato, sono stato accolta a braccia aperte dal Prof. Remo Caponi, una delle persone più pure e sincere che abbia mai avuto la fortuna di incontrare; poco dopo, ho conosciuto il Prof. Emilio Santoro, un altro grande esempio di persona per la mia vita. Neste campo de homenagem aos mestres, não posso deixar de mencionar e agradecer quatro pessoas extremamente importantes para mim, o Prof. Eduardo Lamy e o Prof. William Santos Ferreira, exemplos para a minha vida e que gentilmente me proporcionaram a felicidade de aprender diretamente com eles, o Prof. Antônio Pereira Gaio Júnior e o Prof. Marco Félix Jobim, a quem devo pelo menos uma vida de agradecimentos por sempre terem me estendido as suas mãos. Um agradecimento especial ao Prof. Anderson Vichinkeski Teixeira, quem tornou possível este resultado, assim como ao Prof. Ricardo Luiz Nicoli e ao Prof. Vinicius Silva Lemos, grandes amigos que realizaram com dedicação a avaliação preliminar desta obra ainda na fase da pesquisa. A minha permanência no Rio Grande do Sul me proporcionou conhecer pessoas maravilhosas, Bernardo, Letícia, Aline, Francesco, Liziane e Bruna. Todo o meu carinho, e para sempre, aos membros do grupo que organizamos e batizamos como Escola de Processo da Unisinos, Évelin, onde tudo começou, Mônica, grande parceira do Doutorado, os dois irmãos de coração que fiz na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Afonso e Éverton, reforçando a minha gratidão a todos os membros do nosso grupo, antigos e atuais. Aos amigos da Comissão estadual de Direito Processual Civil da OAB/SC, sobretudo ao Renan, bem como, dos grupos de pesquisa Tradições, Transformações e Perspectivas Avançadas (TTPA), da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, e Constituição, Conformidade e Integridade, da Universidade Federal de Santa Catarina, meu genuíno agradecimento por todas as trocas e bons momentos. Agradeço o apoio incondicional do escritório Coelho, Murgel e Atherino Advogados na reta final do Doutorado, assim como a parceria e carinho de Sergio, Pedro, Marcelo, Luiz Chaves, Júlia, Isabela, Gabi, Bianca, Rodrigo, Yasmin, Renan e Luiz Guerra. Tenho dois grandes mentores e amigos que me acompanham desde os meus primeiros passos no Direito, Leonardo Beduschi e Alexandre Baumgratz da Costa, todo os bons frutos colhidos durante essa década só foram possíveis porque tive vocês na minha fundação. Aos mestres e amigos, Daniel Octávio Silva Marinho, Marcelo Mazzola, Dierle Nunes, Bruno Campos Silva, Beclaute Oliveira da Silva, João Paulo Forster, Pedro Henrique Nogueira, Paulo Henrique dos Santos Lucon, Juliana Lemos, Felipe Cidral Sestrem, Bruno Augusto Sampaio Fuga, Antonio do Passo Cabral, Hermes Zaneti Jr., Eduardo Busch, Artur Thompsen Carpes, Mariângela Guerreiro Milhoranza da Rocha, Renê Carlos Schbert Junior, Daniel Mitidiero, Fabricio Bastos e Rodolfo Wild, sou grato pela troca, boa lembrança, carinho e oportunidade que tive com cada um de vocês. Honorable mention goes to Prof. Bryant Garth, whom I have always admired and who was extremely helpful in making the results related to the Global Access to Justice Project possible. Também aos amigos que cultivei durante esse período, Daniela Bermudes, Gustavo Vieira,a adequação, isso é, será possível dizer que uma forma é mais adequada do que outra a partir da observação da natureza de cada conflito (muito semelhante a ideia original do Tribunal Multiportas). A terceira vertente apresentada é a do Tribunal Multiportas. Alguns cuidados, porém, devem ser observados. Originalmente, essa ideia surgiu no direito estadunidense, com Frank Sander, a partir da observação de que alguns tipos de conflitos teriam uma aderência a outras figuras de solução de conflitos que não exclusivamente o processo judicial. Essa contribuição teórica objetivava atribuir relevância dentro do sistema jurídico para as maneiras de solução de conflitos reconhecidas pelos Estados Unidos, de modo que o processo judicial apenas foi inserido nessa releitura em segundo momento. A aposta consistia em diminuir o tempo de tramitação dos processos judiciais e a lotação do Poder Judiciário (problemas expressivos do sistema jurídico estadunidense do século passado). O paradoxo sobre essa corrente foi a sua difusão no mundo. Restringindo para o Brasil. Torna-se até difícil explicar, mas o “Tribunal Multiportas” não significa, em todas as hipóteses, o “Tribunal Multiportas”. Essa nomenclatura, que foi abraçada com entusiasmo no direito brasileiro, está desconectada à sua ideia originária. Essa afirmação, porém, leva em conta o cenário majoritário de pesquisa sobre o tema. Existem exceções, como a proposição que já adquiriu algum contorno na doutrina brasileira de buscar a forma que seja mais adequada ao tipo de conflito. Assim, se pode resumir que a ideia maior por trás de todas as louváveis proposições é a de dar maior protagonismo e evidência para as várias figuras de solução de conflitos reconhecidos pelo Estado no seu Processo Civil – e ainda que haja essa “disputa” conceitual, não há prejuízo aparente). Concluída a exposição das principais correntes sobre as figuras desenvolvidas para a solução de conflitos, adentramos na análise dessa unidade na perspectiva do Brasil e da Itália. Respectivamente. No Brasil, vimos que formas de solução de conflitos como a conciliação, a mediação e a PROCESSO, JURISDIÇÃO E SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS 238 arbitragem não são estranhas ao direito brasileiro, afinal, mesmo inexistindo consenso sobre o papel desse conjunto no sistema da justiça civil brasileira, elas não são estranhas ao seu Processo Civil, presentes, exemplificativamente, na Lei dos Juizados Especiais e no Código de Processo Civil de 1973, após edições do texto original. Uma etapa significativa para o desenvolvimento dessa unidade foi a Resolução n. 125, de 2010, do Conselho Nacional de Justiça. Essa política pública foi o catalizador para o desenvolvimento da ideia do Tribunal Multiportas no direito brasileiro, especialmente por auxiliar na ampliação da ideia acerca da interpretação do inciso XXXV, do art. 5º, da Constituição Federal, afirmando que a premissa constitucional de acesso à justiça não significaria estritamente que se realizaria mediante a utilização do processo judicial, estabelecendo mesmo grau de relevância para todos as formas de solução de conflitos reconhecidas pelo Estado. O Código de Processo Civil fechará os apontamentos acerca dessa unidade no direito brasileiro, disciplinando a ocorrência de formas autocompositivas em momento inicial do processo judicial, atribuindo primazia à solução do litígio por elas. Esse conjunto oxigenou o Tribunal Multiportas no sistema jurídico brasileiro, estando, o tema, em seu melhor momento, proporcionando estabelecer o que determinamos como um primeiro momento para o sistema brasileiro de justiça multiportas: como dito acima, protagonismo e evidência para outras figuras do sistema além do processo judicial. Como no Brasil, o sistema jurídico italiano possui um histórico doutrinário-legislativo sobre o “Tribunal Multiportas”, todavia, sem utilizar, ainda que na doutrina, esse nome, embora conte com a mesma característica dessa primeira fase do tema. A nomenclatura com maior difusão no direito italiano para sinalizar a unidade que compreende essas figuras é alternative dispute resolution (risoluzione alternativa delle controversie). Realizando a mesma volta feita ao Brasil, podemos ver que o tema esteve presente de maneira diferenciada ao longo da história italiana, ganhando maior relevo apenas no século XXI. O “Tribunal Multiportas” já era contemplado no Codice di Procedura Civile del Regno d’Italia, todavia, o hábito e o prestígio, especialmente pelas figuras autocompositivas, começará a perder forças com o período do fascismo na Itália, consequentemente, no Codice di Procedura Civile 1940, a unidade é contemplada entre os procedimentos; perde-se o relevo dessa matéria, a qual reaparecerá apenas na virada do século XX para o XXI, com a apresentação do livro verde, pela Comissão das Comunidades Europeias, em 2002. Em 2008, o Parlamento Europeu apresentou a Diretiva n. 52 (2008/52/CE), enfatizando o papel da mediação para o funcionamento dos 239GUILHERME CHRISTEN MÖLLER sistemas jurídicos. Na Itália, a sua implementação ocorreu pela promulgação da Lei n. 69, de 18 de junho de 2009 e, em 2010, foi promulgado o Decreto Legislativo n. 28, unificação dos fragmentos que versavam sobre a autocomposição (especialmente para a mediação). A polêmica envolvendo essa disposição foi a imposição da mediazione obbligatoria, indo muito além da Diretiva apresentada pela Comissão das Comunidades Europeias (a qual não consagrava essa condição de obrigatoriedade, apenas indicava aos países do bloco para desenvolverem a figura em seus sistemas jurídicos), iniciando árduo debate sobre essa condição. Em outubro de 2012, no acórdão 272, a Corte Constitucional Italiana entendeu pela inconstitucionalidade de algumas redações dos artigos do Decreto Legislativo n. 28/2010, inclusive o art. 5º, sobre parte da redação envolvendo a obrigação da mediação, entretanto, não que a obrigação afetaria a garantia fundamental de acesso à justiça, mas que, como dissemos, houve excesso de delegação. Recentemente, entre outras legislações, em 2021, foi aprovada a chamada Riforma Cartabria, a Lei n. 206, apresentando algumas disposições que mostram que a risoluzione alternativa delle controversie está avançando, ainda que em pequenos passos, na Itália, todavia, de forma muito mais conservadora do que no sistema jurídico brasileiro. Estabelecido panorama sobre o desenvolvimento dessa unidade (pelo menos, em sua primeira fase), quanto ao último objetivo específico, podemos concluir que, prospectivamente, o cenário para o desenvolvimento de políticas e legislações sobre as figuras de solução de conflitos parece promissor, afinal, ainda que em circunstâncias distintas, ambos sistemas jurídicos evoluíram no sentido de recepcionar essa unidade na sua estrutura (teórica e prática), todavia, parece existir dois problemas relacionados ao centro dela, comuns aos sistemas jurídicos do Brasil e da Itália, e que parecem (de alguma forma) ancorar o ritmo de progresso do tema: a tradição sistemática pelo processo judicial e o discurso viciado da efetividade pelas figuras que fazem parte do sistema de justiça multiportas (em especial, pela autocomposição). Como já observado na construção do Direito Processual Civil na Itália e no Brasil, a maioria dos conceitos e sistematizações utilizados na atualidade decorrem do período sistemático do Processo Civil italiano, inclusive sobre o processo judicial e as demais formas de solução de conflitos, de modo que, seguindo a narrativa apresentada, ainda que se busque romper com algumas das amarras epistemológicas desenvolvidas durante aquele período, essas limitações ao sistema de justiça multiportas são meros reflexos de pedágios que se pagam na atualidade, afinal, durante esse período, cujo ápice foi a promulgação do Codice di Procedura Civile 1940, houve a desvalorização e a PROCESSO, JURISDIÇÃO E SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS 240 desmotivaçãode qualquer outra figura que não fosse o processo judicial; sobrepesando essa unidade, enquanto o processo judicial era hipertrofiado com conceitos e sistematizações, lidos e relidos a partir de emblemáticos embates teóricos, figuras como a conciliação e a mediação (por exemplo) foram deixados ao esquecimento, projetadas para, ainda que se existissem, que fossem uma parte do procedimento desenvolvido no processo judicial. Ao lado desse primeiro problema, está aquele relacionado à efetividade do sistema jurídico pela utilização do sistema de justiça multiportas. A discussão sobre a efetividade do sistema jurídico é extremamente perigosa e, se não cuidada, pode desencadear falsas percepções que não se estaria entregando uma prestação qualificada das suas atividades. Discursos que consideram de forma genérica as deficiências do sistema jurídico, bem como, a do processo judicial, a exemplo da ideia de uma crise no Poder Judiciário, são arriscados. Existem situações que refletem alguns déficits por questões estruturais (lotação do Poder Judiciário, demora no trâmite dos processos judiciais etc.) ou questões epistemológicas (conflito entre uma situação caracteristicamente complexa, por exemplo, envolvendo direitos coletivos ou difusos, sob a resposta de uma tutela jurisdicional individualista), todavia, isso não significa que o sistema de maneira integral está fadado ao fracasso. Ao revés, afinal, vez identificado o problema, que se busque o aprimoramento das técnicas para saná-lo, contemplando um sistema jurídico livre de qualquer juízo de valor (como se fosse ruim ou bom). A lógica desses problemas envolvendo as deficiências do Poder Judiciário e do processo judicial é a de acreditar que existiriam instrumentos jurídicos mais eficientes do que ele para lograr no mesmo fim, ponto que se insere o sistema de justiça multiportas – desvirtuando, sobretudo, a proposta de suas naturezas: resolver determinadas categorias de litígios. Passamos, agora, a unir as conclusões parciais obtidas com os objetivos específicos do livro. Concluindo a obra, o cerne de toda a discussão está na dissociação, enquanto sinônimos, de processo judicial e jurisdição, assim como, a inserção do sistema de justiça multiportas na jurisdição e a sua posição na Teoria Geral do Processo. Não se está refutando a clássica estrutura de que a jurisdição expressaria o processo judicial, entretanto, isso não significa que eles estão em exclusividade. Existem alguns elementos dentro do sistema jurídico que são dotados de aspectos jurisdicionais, todavia, não são assim tratados justamente pelo fechamento epistemológico da processualística moderna. A exemplo, o sistema de justiça multiportas: para além do processo judicial, restringindo para as suas portas, seriam elas jurisdição? 241GUILHERME CHRISTEN MÖLLER Entendemos que sim. Talvez nem seja correto utilizar a palavra jurisdição, todavia, o sentido é o mesmo. Na linha desenvolvida por Ada Pellegrini Grinover, em sua última obra, a clássica delimitação da jurisdição nos elementos lide, substitutividade, coisa julgada e inércia estariam prejudicados e seria necessário assentá-la em função, atividade e garantia, enfatizando a relação do acesso à justiça com a jurisdição. Apesar de que não estejamos certos em acreditar na substituição dos antigos elementos pelos novos, isso é, acreditando, apenas, na ampliação, essa relação direta entre a jurisdição com o acesso à justiça não pode ser ignorada, especialmente com o estabelecimento do welfare state, após a Segunda Guerra Mundial, e a posição, em vários sistemas jurídicos do mundo, do Estado como um agente de promoção de interesses sociais. Sob a ótica da relação ítalo-brasileira, concepções desenvolvidas no início do século passado conflitam quando contrapostas com essa nova realidade, afinal, as inclinações eram diversas em relações às atuais. Considerando as novas articulações advindas com as transformações na sociedade, parece que o sistema jurídico deve transcender a ideia de que a jurisdição estaria em intrínseca simbiose com o processo judicial no Poder Judiciário. O sistema de justiça multiportas não é meramente um acessório de complementação do sistema jurídico, mas sim uma das suas estruturas de sustentação na atualidade (e quiçá, futuramente, a sua própria ressignificação); na perspectiva da justiça civil, as figuras desenvolvidas para a tutela de direitos fazem parte da jurisdição, a qual transcende a mera ideia de sua ocorrência pelo processo judicial. Existem articulações, especialmente no plano extrajudicial que são dotadas de inegáveis características jurisdicionais. Consequentemente, ratificando, se a jurisdição faz parte da teoria do processo, não seria exagero pensar, em extensão, que existe um espaço, ainda nebuloso, dentro da teoria do processo para o sistema de justiça multiportas. Sobre a posição das portas, descartamos a alegação de sua utilização para fins de déficits no Poder Judiciário ou nas técnicas do processo judicial. Cada elemento desse sistema possui o seu papel para o funcionamento da justiça civil, o que significa que todo o sistema de justiça multiportas é indispensável, hodiernamente, para a justiça civil na administração social. Se existem problemas estruturais no Poder Judiciário, parece-nos pouco plausível a ideia de que desvirtuar a finalidade, por exemplo, da autocomposição resolveria isso. Eles existem porque foram projetados para responder as particularidades de determinados conflitos, tão somente, de modo que, se a sua utilização surtir reflexos em pontos da estrutura do Poder Judiciário, parece-nos que o assunto é acessório. Paralelamente, existem cenários PROCESSO, JURISDIÇÃO E SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS 242 em que os problemas que fundam o conflito não cessarão com o acordo firmado, pendendo da atuação do Poder Judiciário para uma resposta ainda mais concreta às suas particularidades. Compelir a utilização da autocomposição em vista de encontrar soluções para problemas no sistema é, simultaneamente, retirar os olhos das necessidades daqueles que se socorrem ao Poder Judiciário, podendo ocasionar déficits na qualidade do próprio acesso à justiça. Fala-se, paralelamente à Mauro Cappelletti, na necessidade de projeção de um sistema coexistencial. Considerando o constante movimento de transformações da sociedade e a relevância dada a essas figuras, entendemos que elas desempenham um papel fundamental como resposta à tipos específicos de relações humanas. Consiste, portanto, na coexistência de todos os fragmentos do sistema em um plano de relevância horizontal, preocupado com a qualidade do direito. Pragmaticamente, o processo judicial, nessa ótica, possui a mesma relevância e um papel fundamental para a manutenção desse sistema: por tradição, além de fazer parte do sistema de justiça multiportas, ele exerce a tarefa de salvaguarda de todo o sistema jurídico, ou seja, considerando o monopólio do exercício jurisdicional, com a tutela do Estado sobre a garantia fundamental do acesso à justiça, no caso de haver vícios nas relações sociais ligadas ao sujeito, como a hipossuficiência técnica ou financeira, assim como a falha na ocorrência de outras formas de solução de conflitos, o processo judicial sempre estará disponível para assegurar a tutela dos direitos. Todos os elementos e portas que fazem parte do sistema de justiça multiportas possuem o seu respectivo propósito para a manutenção da justiça civil: servir como o tipo adequado aos tipos de situações que, a ele, são adequados – sistema da adequação para a adequação ou princípio da adequação, que se assemelha a própria lógica do Multi-Door Courthouse System. A ideia de acesso à justiça está no acesso aos direitos, os quais podem ser alcançados por outras formas que não exclusivamente o processo judicial. O sistema coexistencial do sistema de justiça multiportas, embora seja uma proposta simples, possui alto grau de dificuldadepara a sua implementação: é difícil delimitar qual é o tipo de solução de conflito adequado de maneira abstrata ou, ainda, querer horizontalizar todos os elementos que há muito tempo são ignorados ou subestimados pela dogmática processual. Na verdade, é a natureza de algumas categorias que exigirão uma figura no lugar da outra. Portanto, considerando o constante movimento de transformação na sociedade, sob a ótica da tese da complexidade de Edgar Morin, a justiça civil necessita pensar na estrutura do sistema de justiça multiportas em coexistência, não fechando a estrutura em um fim absoluto em cada porta 243GUILHERME CHRISTEN MÖLLER (ou à possíveis novas), mas que se complementam: todos servem para a qualificação do sistema jurídico. Durante o desenvolvimento da obra, ousamos propor que o sistema de justiça multiportas se desenvolveu em duas fases. A primeira, como já dito, consiste em dar protagonismo a figuras diversas, ressaltando a sua importância ao lado do processo judicial para o funcionamento da justiça civil. Essa etapa é comum aos dois sistemas jurídicos analisados e, bem dizer, sempre esteve presente, embora a dogmática processual, pelos próprios fluxos técnicos do direito processual, tenha a escanteado. A segunda, por seu turno, tem mais sentido ao Brasil do que no sistema italiano, este que possui grau de conservadorismo processual mais acentuado. Fala-se, agora, de um genuíno sistema, com a ausência de um molde para crescimento linear e que conta com a interação de diversos elementos e agentes, paulatinamente construído e expandido, com ausência de crescimento linear, sem planejamentos ou objetivos específicos, cuja funcionalidade depende de todos os seus agentes e conta com o Conselho Nacional de Justiça na função de “agenciador”, administrando-o de forma democrática. Esse desenho levantou o problema acerca do sistema de justiça multiportas ser perfeito, ou melhor, completo. Existe uma ideia de que essa unidade operaria em um plano fechado, ou seja, que ela é imutável e está perfeita na forma como se apresenta. A base desse raciocínio considera a necessidade de um fechamento compulsório das formas de solução de conflitos levando em conta exclusivamente aqueles tipos que são harmônicos ao sistema processual de um recorte contextualmente situado. Essa forma de pensar e situar essa unidade apresenta uma frente perigosa, não apenas para a sua automanutenção, mas para o bom-funcionamento de todo o sistema processual, afinal, e se chegar em um momento que todos esses tipos, ainda que reformados, sejam insuficientes: como apresentar esse cenário se uma nova categoria social emergir e não puder ser atendida pela conciliação, mediação, arbitragem ou pelo processo judicial? Ao nosso ver, esse modo de pensar fechado colocaria toda essa unidade em constante processo de revalidação, ainda que já validada, criando freios desnecessários para a qualificação do sistema jurídico, além de dificultar a sua operabilidade. Propomos, portanto, uma forma de pensamento aberta para ela, a qual nomeamos por Teoria das Portas Adicionais: tem-se o Tribunal Multiportas na forma como se apresenta, no entanto, ele não fecha estritamente na conciliação, mediação, arbitragem e no processo judicial, podendo recepcionar figuras variadas das que a ele já estão presentes ou de novas, seja por criação ou pelo processo de importação, sempre observando a sua necessidade (demanda) e a sua compatibilidade com os pressupostos constitucionais e processuais desse sistema jurídico. PROCESSO, JURISDIÇÃO E SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS 244 Esse pensamento pode ser exemplificado no caso da Online Dispute Resolution (ODR). Utilizando o contexto brasileiro, trata-se de uma figura que emergiu recentemente e que está ganhando muita relevância. Parece-nos que a Online Dispute Resolution não se apresenta de forma desarmônica em relação ao Processo Civil brasileiro, afinal, respeita garantias fundamentais do processo, especialmente o devido processo legal, contraditório e ampla defesa, inclusive, alguns modelos de ODR permitem a produção probatória, não afastando a incidência do Estado, pelo processo judicial, para evitar que ocorram violações a garantias fundamentais ou hipossuficiência (técnica e financeira). Pensar de maneira fechada, excluiria automaticamente a possibilidade de a Online Dispute Resolution fazer parte do sistema de justiça multiportas, ainda que carecendo, por ora, de maiores contornos legislativos- processuais. A Online Dispute Resolution é apenas um exemplo. Durante a obra, também citamos a instigante experiência da figura de desjudicialização, debruçando esforços em demonstrar um de seus exemplos (a execução extrajudicial) e, até mesmo, a autotutela. Devemos frisar que existem atualmente no mundo diversas figuras, para diferentes propósitos, em diferentes áreas e em graus maiores (enquanto um tipo especificado e contornado) ou menores (um subproduto de uma categoria regida por um tipo geral). Igualmente, não há como descartar que futuramente serão desenvolvidas outras figuras que hoje nem sequer se poderia imaginar. De forma central, depende do contexto que se servirá dessa figura, isso é, a demanda pela sua recepção pelo sistema de justiça multiportas de seu sistema jurídico e a harmonia em relação às linhas epistemológicas centrais, preestabelecidas, do seu Processo Civil. Em linhas gerais do nosso pensamento, o sistema de justiça multiportas consagra a coexistência e coparticipação de todas as formas que, considerando a demanda e a harmonia com o sistema jurídico, qualifiquem a prestação da tutela jurisdicional, inclusive, prospectivamente, com a inclusão de novos tipos, o que, porém, apenas ocorrerá se o pensamento sobre essa unidade for aberto e indivisível (complementação desses tipos). Isso reforça, ainda, o papel do exercício da democracia participativa pelo sistema de justiça multiportas. O locus da democracia participativa está presente de forma ampliada nas bases de organização da atividade jurisdicional dos sistemas jurídicos. Naquilo que alguns pensadores definem como princípio da adequação, isso é, encaminhar o conflito ao tipo que lhe proporcionaria melhores resultados (a proposta inicial do modelo puro do Multi-door Courthouse System), existe uma partícula centralizadora de manutenção do protagonismo dos indivíduos e, concomitantemente, oxigenação para o Estado Democrático de Direito. Mesmo que seja um 245GUILHERME CHRISTEN MÖLLER desafio delimitar quais são os tipos de conflitos que se adequam a seu tipo correspondente, não se afasta a argumentação de que essa atividade inflaria positivamente a qualidade dos sistemas jurídicos. Não existe uma figura perfeita a todos os conflitos dentro do sistema de justiça multiportas, nem mesmo o processo judicial quando estruturado de forma flexível e adaptável; existem, apenas, aquelas que terão maior compatibilidade em relação à determinadas categorias de conflitos. O sistema de justiça multiportas, operado pela via daquele que é adequado para aquilo que é adequado, propicia o desfoque do interesse exclusivo do Estado na manutenção da sua ordem social pelo exercício da jurisdição, afinal, a preocupação central passaria a ser no melhor resultado que se poderia obter para os indivíduos. Trata-se de um sistema mutualmente saudável, isso porque, de um lado, o Estado permaneceria na sua posição epistemologicamente delimitada, enquanto, e de outro, traria relevo significativo para os indivíduos no sistema jurídico, não mais como meros jurisdicionados, mas como verdadeiros protagonistas da democracia – e essa participativa. Isso que anteriormente denominamos por Teoria das Portas Adicionais pode desencadear algumas figuras quiméricas dentro dos sistemas jurídicos. Ao nosso ver, são duas. A primeira consiste na atividade de criação desenfreada de novas figuras para a solução dos conflitos. Esclarecemos que a proposta da teorização não querdizer quantidade, mas sim qualidade para a demanda, passível de revisão conforme o seu contexto. Problemas no sistema jurídico relacionados ao processo judicial não serão solucionados por agentes externos a ele. Formas de solução de conflitos, ainda que criados para atuarem em uma das etapas procedimentais do processo judicial, possuem a finalidade de qualificar o resultado do conflito, o que não significa dizer que o resultado do processo judicial, na prolação da sentença, teria valor inferior ou superior a eles. Servem, portanto, para qualificar a prestação jurisdicional pelas particularidades do conflito que as demandam, de forma que, novos tipos que, porventura, serão recepcionados no sistema de justiça multiportas virão para a qualificação a partir de demandas específicas, cuidando com os contornos que a sua inserção poderá ocasionar nesse cenário preexistente. Deve-se cuidar, portanto, para não inflar o sistema jurídico com figuras (e agentes) que não são necessários, especialmente para que não ocorra um cenário de descentralização do Processo Civil. O segundo problema, utilizando o exemplo da Constelação Familiar, está relacionado com as figuras antagônicas ao cenário preexistente. Qualquer nova proposição dentro de um sistema jurídico deve considerar a sua compatibilização em relação às linhas fundamentais preexistentes desse sistema, sob pena de PROCESSO, JURISDIÇÃO E SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS 246 colapsar toda essa estrutura. Como no caso do sistema de justiça multiportas, não há dissonância entre os tipos reconhecidos; cada um dos tipos que compõem essa unidade respeita as garantias processuais fundamentais dos Estados italiano-brasileiro, aí que se pode estudar maneiras de otimizar a sua utilização nos sistemas jurídicos. ABREU, Pedro Manuel. 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Verdade é que, ao se utilizar das mesmas palavras para definir fenômenos em constante transformação, gera-se a ilusão de que são eles a-históricos.2 Como bem assenta Thomas Kuhn,3 as revoluções ou quebras de paradigmas são decorrentes de uma série de evoluções operacionalizadas sob ou ao redor de determinados modelos construídos ou aqui institutos que, como em qualquer ciência social, se realizam sempre em caráter pendular, ou seja, fatores sociais, econômicos, políticos e mesmo jurídicos se entrelaçam na quebra de paradigmas que, longe da matemática, podem subtrair antes mesmo de somar, ou mesmo subdividir fenômenos antes mesmo de multiplicá-los.4 A jurisdição, como um dos atributos do Estado moderno, não tem paradeiro diferente. Desde a sua noção conceitual perpassando por seus elementos, características e princípios, é ela uma refém de seu próprio tempo e espaço. Se observarmos, de muito, Celso Neves5 já prenunciava que o vocábulo “jurisdição” seria insuficiente para demonstrar todo o alcance intelectivo e prático que se poderia delinear de tal instituto, o que se vê constatada na difícil construção uníssona para o seu entendimento, isso tanto em nível pátrio quanto na literatura estrangeira. 1. GAIO JÚNIOR, Antônio Pereira. Instituições de Direito Processual Civil. 6 ed. Londrina: Thoth, 2024, p.97. 2. SORJ, Bernardo. A nova sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000, p. 44. 3. KUHN, Thomas s. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 2003, p. 19. 4. BOBBIO. A Era dos Direitos, p. 67 et seq. 5. NEVES, Celso. Estrutura Fundamental do Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 3. PROCESSO, JURISDIÇÃO E SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS 270 Couture6 já dizia ser o conceito de Jurisdição uma prova de fogo para os juristas e mesmo Calamandrei,7 de maneira vanguardista, quase que como premunição, sustentava não ser possível dar à Jurisdição uma definição para todos os tempos e para todos os povos, o que também lhe seguia Alfredo Rocco,8 dizendo ainda tratar-se de um problema conceitual ainda por se decidir a ciência jurídica. Com relação aos seus atributos, destaco aqui ainda a própria noção de soberania e sua flexibilização, com uma guinada em seus aspectos e dogmas sacramentados e eternizados por uma construção doutrinária que, edificada no plano constitucional já nos séculos XVIII e XIX e, posteriormente, alocada para o plano processual no século XX, teve, com o advento da Comunidade Econômica Europeia – depois, União Europeia – a condução de um processo de integração econômica complexo, findando em uma quebra paradigmática na evolução do Direito Internacional diante da edificação do Direito Comunitário, hoje Direito da União Europeia. Nisso, as noções que sempre foram sacras para o conceito de jurisdicto (soberania territorial, função estatal pacificadora e competência no tempo e espaço), puderam ser delegadas do Estado-nação para um centro de competências (Tribunal de Justiça da União Europeia e Tribunal Geral), a partir das respectivas constituições dos países membros daquela União. Nota-se, por tudo, que pensar em Jurisdição é, antes de mais nada, ter a exata noção de inexatidão... É de se perceber que o centro gravitacional do ato de julgar, na modernidade, sempre esteve atrelado ao comando estatal para tal exercício, o que, como cediço, nem sempre foi assim, tendo muito antes do monopólio jurisdicional do Estado, a presença decisória na sociedade de conflitos representada pelo povo, seja por ato próprio ou delegação, ex vi da legis actiones e período per formulario, estes que antecederam a cognitio extra ordinem, esta estabelecida entre os anos 200 e 565 d.C, quando coube aí a publicização do processo com a abolição do iudex privado. Nisso, uma vez o ato de julgar formalmente tido como um pressuposto imperativo estatal, fixou-se a ideia equivocada de que a jurisdição somente estaria presente quando exercida por um servidor público: o juiz togado. De outra senda, como já frisado alhures, é preciso avançar para a compreensão das quebras de paradigmas que estamos a todo momento 6. COUTURE, Eduardo J. Fundamentos de Derecho Procesal Civil. 2. ed. Buenos Aires: Depalma, 1958, p.42. 7. “Del concetto di giurisdizione non si può dare uma definizione assoluta , valevole per tutti i tempi e per tutti i popoli.”. CALAMANDREI, Piero. Opere Giuridiche.Vol. IV. Napoli: Morano Editore,1970, p.34. 8. ROCCO, Alfredo. La Sentenza Civile. Milano: Giuffrè, 1962, p.10. 271GUILHERME CHRISTEN MÖLLER expostos diante de uma sociedade complexa, e que procura (re)construir realidades ao seu modo de ver, viver e satisfazer pretensões, de modo a operar qualidade de vida9 em seu característico e peculiar ambiente. Se é verdade que a função primária e primordial da jurisdição enquanto serviço público da justiça é a entrega da paz social, esta, seguramente, pode ser alcançada para fora do aparato estatal, o que, diga-se, já o era bem antes de se figurar o monopólio do “dizer o direito” pelo Estado. Afirma-se que a jurisdição está presente onde há processo, e este também se afigura presente onde há procedimento em contraditório,10 o que cremos como grande acerto, contaminado as relações horizontais no plano dos direito fundamentais, de modo a que encontraríamos processo, v.g., nas negociações de pretensões laborativas, na construção de vontade em meio ao debate assemblear nas empresas ou na formação da vontade colegiada,11 sendo possível falar de atos jurisdicionais de uma determinada autoridade para tal. Com os meios propícios à solução de conflitos não se faz diferente. Conciliação, Mediação, Negociação, Arbitragem, e mesmo mecanismos negociais digitais pela rede mundial de computadores, como a Online Dispute Resolution (ODRs ou solução de conflitos em linha), que usa das técnicas daqueles meios para se chegar a uma possível resolução dos conflitos, operando a paz social, podem se valer de atos jurisdicionais ou equivalente a estes. Na presente obra que ora muito me honra a posfaciar, o brilhante autor Guilherme Christen Möller faz importantes considerações acerca da etimologia das palavras, quando enfrenta as ADRs (Alternative Dispute Resolution), os MASC (meios adequados de solução de conflitos) e mesmo o Tribunal Multiportas. Para além da questão semântica, que reputo da maior relevância dogma e pragmática, pontua o autor também para um “Blend teórico”, com o enfrentamento de convergências e sistematização da unidade entre tais possíveis centros de referência em sede de solução de conflitos ante o aparato estatal, que prefiro sempre nominar como serviço público da justiça. Confesso que nos causa certa perplexidade na doutrina, de um modo geral (e que não é o caso da grandiosa obra que aqui posfacio), quando procura referendar o uso pragmático dos “meios propícios à solução dos 9. Sobre Processo e Desenvolvimento como qualidade de vida ver o nosso Processo Civil, Direitos Fundamentais Processuais e Desenvolvimento. Flexos e reflexos de uma relação. 3 ed. Londrina: Thoth, 2024. 10. FAZZALARI, Elio. Instituzioni di Diritto Processuale. 7 ed. Padova: CEDAM,1994, p.12.Camila Martta, Clarissa Vencato, Luiz Gustavo Mundim, Jéssica Galvão e Luiz Roberto Sampietro, reforço a importância de todos vocês para a minha vida, così come la mia gratitudine a coloro che hanno reso il mio soggiorno in Italia qualcosa di unico nella mia vita, Jerôme, Federico, Gemma, Daniela, Milena, soprattutto Sara, la cui gentilezza, onestà, attenzione e affetto mi fanno sentire ogni giorno la mancanza di tutti i bei momenti passati a Firenze. A concretização dos resultados desta obra apenas foi possível pelo esforço e excelente trabalho de Vera, Ronaldo, Christina, Paloma e Rafaely, do Programa de Pós-Graduação em Direito da Unisinos, e de Alessandro Simoni e Antonella Cini, do Dipartimento di Dottorato di Ricerca in Giurisprudenza da Università degli Studi di Firenze. Também foi de extrema importância as reflexões com todos aqueles que tive o prazer de ser professor em cursos, projetos e aulas, bem como aos colegas que pude interagir pelo meu ProcessoCast e pela minha coluna O Processo Civil Nosso de Cada Dia, no portal jurídico Magis, agradecendo Clayton Guimarães e toda a equipe pela oportunidade e autonomia para o desenvolvimento das minhas reflexões mensais. Por fim, a Editora Thoth pela diligência e atenção para a publicação desta obra. A todos, em uma das frases mais simples, porém, marcantes e significativas que ouvi em toda a minha vida: noi siamo infinito. “Chi fu l’inventore del motto comodo e vile habent sua sidera lites, col quale, sotto decoroso manto latino, si vuol dire in sostanza che la giustizia è un giuoco da non prendersi sul serio? Lo inventò certamente un causidico senza scrupoli e senza passione, che voleva con esso giustificare tutte le negligenze, addormentare tutti i rimorsi, scansare tutte le fatiche. Ma tu, o giovine avvocato, non affezionarti a questo motto di rassegnazione imbelle, snervante come un narcotico: brucia il foglio su cui lo trovi scritto; e quando hai accettato una causa che ti par buona, mettiti fervidamente al lavoro con la sicurezza che chi ha fede nella giustizia riesce in ogni caso, anche a dispetto degli astrologi, a far cambiare il corso delle stelle. Per trovar la giustizia, bisogna esserle fedeli: essa, come tutte le divinità, si manifesta soltanto a chi ci crede”1. 1. CALAMANDREI, Piero. Elogio dei giudici scritto da un avvocato. Milano: Ponte alle Grazie, 1999. p. 3. Em português: “Quem foi o inventor do cômodo e vil mote habent sua sidera lites, com o qual, sob decoroso manto latino, quer-se dizer substancialmente que a justiça é um jogo que não se deve levar a sério? Com certeza um causídico sem escrúpulos e sem paixão, que queria com isso justificar todas as negligências, adormentar todos os remorsos, evitar todas as fadigas. Mas você, jovem advogado, não se afeiçoe a esse mote de resignação imbele, debilitante como um narcótico; queime o papel em que o encontrar escrito e, quando aceitar uma causa que achar boa, ponha-se ardentemente ao trabalho, com a certeza de que quem tem fé na justiça sempre consegue, a despeito mesmo dos astrólogos, mudar o curso das estrelas. Para encontrar a justiça, é necessário ser-lhe fiel. Ela, como todas as divindades, só se manifesta a quem nela crê”. CALAMANDREI, Piero. Eles, os juízes, visto por um advogado. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2015. p. 3. APRESENTAÇÃO Minha relação com Guilherme Christen Möller nasceu no Mestrado da UNISINOS, instituição na qual sou Professor Titular do Programa de Pós-Graduação em Direito – Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado, desde os idos de 1989. Ao conhecê-lo, pude perceber seu enorme potencial e talento para o processo, pois já havia escrito alguns livros sobre processo civil, em face do novo código que acabava de nascer à época. Sou testemunho de sua trajetória acadêmica pois fui seu coorientador no Mestrado, quando escreveu sobre: A jurisdição em tempos de uma hipermodernidade: uma Análise sobre a proposta de gerenciamento de conflitos do artigo terceiro do código de processo civil de 2015, em 2019. Posteriormente fui escolhido por ele para ser seu orientador no Doutorado da UNISINOS, convite orgulhosamente aceito e que gerou esse belíssimo livro que tenho o privilégio de apresentar. Suas inquietações acadêmicas e sua vontade em escrever uma tese realmente marcante, permitiram-me indicá-lo para uma cotutela com meu querido amigo Remo Caponi, em Firenze, na Itália, período em que permaneceu por vários meses para enriquecer sua excelente tese, ora transformada nesse livro. A obra que você tem em mãos é fruto de uma jornada acadêmica e pessoal que atravessa continentes e anos de dedicação ao processo. O livro Processo, Jurisdição e Sistema de Justiça Multiportas entre o Brasil e a Itália é uma adaptação comercial da tese de doutoramento desenvolvida na Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS - e na Università degli Studi di Firenze. Este livro se propõe a explorar a complexa relação entre o Direito Processual Civil e o sistema de justiça multiportas, com um olhar atento às experiências jurídicas do Brasil e da Itália. Durante o desenvolvimento desta pesquisa, o autor teve a oportunidade de residir em ambos os países, o que permitiu uma imersão profunda nas suas culturas jurídicas. A obra se preocupa em compreender a gênese do Direito Processual Civil em compatibilidade com o sistema de justiça multiportas, destacando as transformações sociais e jurídicas que moldam essa relação. O objetivo é oferecer uma análise crítica e detalhada sobre como esses sistemas jurídicos se adaptam às demandas contemporâneas de acesso à justiça. Como bem destaca o autor, seu real motivo foi apresentar “a jurisdição e uma possível mutação de suas estruturas diante das transformações da sociedade, refletidas no Estado e na gestão da justiça civil”. Podemos concluir, portanto, em apertada síntese, que o livro explora a evolução do Processo Civil, focando na relação ítalo-brasileira e no impacto das transformações sociais. A obra argumenta pela necessidade de repensar a jurisdição além do processo judicial tradicional, defendendo a inclusão e valorização do sistema de justiça multiportas. Analisa o desenvolvimento histórico e as diversas perspectivas teóricas sobre a jurisdição e os métodos alternativos de resolução de conflitos em ambos os países. A conclusão principal é a defesa de um sistema coexistencial e aberto a novas formas de solução de litígios, adaptando-se à complexidade da sociedade contemporânea. Desejo a todos uma excelente e proveitosa leitura! Abril de 2025 PROF. DR. DARCI GUIMARÃES RIBEIRO Pós-Doutor em Direito Processual Constitucional pela Università degli Studi di Firenze. Doutor em Direito pela Universitat de Barcelona. Titular de Direito Processual Civil do PPGD – Unisinos. Titular de Direito Processual Civil da PUC/RS. Advogado. Árbitro. NOTA DO AUTOR Esta obra é o resultado da adaptação comercial da nossa pesquisa desenvolvida para a conclusão do nosso Doutorado em Direito na Universidade do Vale do Rio dos Sinos e Dottorato di Ricerca in Scienze Giuridiche pela Università degli Studi di Firenze, a qual recebeu o título de “O novo pacto de acesso à justiça (Global Access to Justice Project) e o Direito Processual Civil: uma proposta na perspectiva da experiência ítalo-brasileira do Tribunal Multiportas”. Embora a essência do trabalho tenha se mantido, existem diferenças significativas entre as duas produções. Na fase do doutoramento, a pesquisa centrou a análise do desenvolvimento do Processo Civil, nos pontos que tocam o sistema de justiça multiportas e tentou dialogar com alguns resultados parciais do Global Access to Justice Project. Nesta versão comercial, optamos por excluir todas as análises sobre o projeto global, sobretudo pela sua falta de conclusão, e aprimorar a redação sobre o sistema de justiça multiportas, especialmente o último capítulo, acrescentando material e11. GAIO JÚNIOR, Instituições..,, p.144. PROCESSO, JURISDIÇÃO E SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS 272 conflitos”,12 como um apanágio à crise da jurisdição estatal, diante de sua estampada morosidade, carência de efetividade, volume no acervo processual, dificuldades procedimentais, e mesmo dispêndios econômicos. Ora, tais meios propícios, seja a conciliação, mediação, negociação ou arbitragem, possuem qualidades, valores e serventias per si, desprendendo- se da cediça e longeva crise do serviço público de justiça, para o seu uso qualificado e de resultados, figurando como standards para um sistema de multiportas, onde, pelas características peculiares de determinado conflito a ser solucionado, se tem um meio mais apto a ser promovido para facilitar o consenso, com o propósito da pacificação social, também desígnio mirado pela instância estatal de justiça. Por tudo, confesso que “PROCESSO, JURISDIÇÃO E SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS ENTRE O BRASIL E A ITÁLIA” de Guilherme Christen Möller, para além de seus predicados ínsitos à uma profundidade intelectual, trata nos exatos termos da cientificidade com espaços pragmáticos de brilhante realce a temática que, em síntese apertada, procuramos flertar aqui. Quanto ao autor, um talentoso processualista que, em sua geração, consegue aliar fôlego, leitura responsável, curiosidade, parcimônia e talento, predicados ínsitos àqueles que querem avançar nas letras a partir dos ombros daqueles que o antecederam, e que tão bem foram utilizados no presente estudo, este que terá um lugar de destaque na doutrina do Direito Processual Civil hodierno.Verão de 2024 PROF. DR. ANTÔNIO PEREIRA GAIO JÚNIOR Pós-Doutor em Direito (Universidade de Coimbra – POR). Pós-Doutor em Democracia e Direitos Fundamentais – Ius Gentium Conimbrigae/Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra – POR). Doutor e Mestre em Direito – UGF). Professor Associado de Teoria Geral do Processo e Direito Processual Civil da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ). Advogado, Consultor Jurídico e Parecerista. 12. Esta é a denominação que praticamos em várias de nossas obras sobre o tema. POSFÁCIO 2 A obra que aqui tenho a satisfação de posfaciar é a versão comercial da Tese de Doutorado de Guilherme Christen Möller, intitulada “Processo, Jurisdição e Sistema de Justiça Multiportas entre o Brasil e a Itália”, publicada pela editora Thoth. Trata-se de trabalho primoroso, cuja elaboração tive a oportunidade de acompanhar por conta da participação de Guilherme junto aos debates e encontros do Grupo de Pesquisa em Processo, Constituição e Conformidade que coordeno perante o Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina – PPGD/UFSC. Tive a alegria de conhecer o autor desde a época em que desenvolveu parcelas dos seus estudos iniciais de pós-graduação, ainda no Estado de Santa Catarina. Acadêmico atento, dedicado e de personalidade leve, o convívio com Guilherme foi sempre de muito aprendizado e sincera amizade. Neste estudo de fôlego, o autor é preciso e criativo ao abordar o tema da justiça multiportas. Desde a primeira leitura do texto, salta aos olhos do observador menos atento a criatividade e a dedicação de Guilherme, que não mediu esforços para construir uma obra original. Estamos diante de um livro que nos instrui a partir de profunda coleta bibliográfica, efetuada a respeito do tema da justiça multiportas, mas considerado sob novos ângulos bastante caros, tanto ao processo civil brasileiro quanto ao direito processual italiano. Mediante meticulosa pesquisa empírica, jurisprudencial e bibliográfica, Guilherme Christen Möller avalia detidamente a jurisprudência, bem como os hábitos introjetados junto às estruturas organizacionais e culturais, demonstrando os efetivos critérios pelos quais se pode compreender a justiça multiportas no Brasil e na Itália. Essa preocupação em discutir estruturas organizacionais a partir de sólida pesquisa empírica resultante da efetiva coleta e comparação de dados, e não apenas por meio da tradicional pesquisa jurisprudencial e bibliográfica, revela um traço claro do autor, pois é um dos professores brasileiros que têm se dedicado à essa abordagem, sob um ângulo inovador no tocante ao PROCESSO, JURISDIÇÃO E SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS 274 tema da Justiça Multiportas, de grande e evidente envergadura prática, mas também de enorme valor científico. Ao ler e refletir sobre a profundidade e a importância operativa das ideias de Guilherme, o leitor certamente obterá subsídios para desenhar um panorama atual, criativo e interdisciplinar das jurisdições atuais sob a perspectiva das mais variadas possibilidades para a tutela dos direitos por meio do processo. Guilherme traça exemplarmente um panorama de compreensão da justiça multiportas como um sistema aberto, em que não se deve buscar simplesmente a maior quantidade possível de meios para a solução de conflitos, mas sim a maior qualidade possível de cada meio para a tutela de determinada circunstância de tutela; a maior adequação possível. Desta feita, o leitor será apresentado e inserido no universo das mais variadas portas pelas quais, mesmo fora das estruturas do Estado e do Poder Judiciário, se pode desenvolver a aceitar a entrega da justiça e a satisfação dos direitos, considerando inclusive as distinções culturais e instrumentais dessa busca, especialmente entre o Brasil e a Itália. Deste modo, estão de parabéns o autor e a Editora Thoth, pelo esforço e dedicação necessários à construção deste riquíssimo livro, que já está a contribuir imensamente para os nossos atuais estudos sobre o moderno Direito Processual e a Administração da Justiça. Verão de 2025 PROF. DR. EDUARDO DE AVELAR LAMY Pós-Doutor em Direito Processual Civil pela UFPR. Doutor e Mestre em Processo Civil pela PUC/SP. Advogado. Professor da UFSC nos cursos de graduação, mestrado e doutorado em Direito. Membro do IBDP, do IIDP e da IAPL. POSFÁCIO 3 Recebi, com muita alegria, o convite de Guilherme Christen Möller para escrever o posfácio de sua obra, fruto de sua Tese de Doutoramento, sob a orientação do Professor Dr. Darci Guimarães Ribeiro, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, e dos Professores Remo Caponi e Emilio Santoro, da Università degli Studi di Firenze. Honrado pelo convite, tive o prazer de mergulhar nas páginas do trabalho desenvolvido pelo autor, em que ele se propõe ao desafio de fazer um paralelismo entre os sistemas de justiça do Brasil e da Itália, sob uma ótica inovadora. Guilherme foge do lugar comum de buscar, tão somente, as confluências entre os sistemas que conhecidamente são afins pela íntima relação ítalo-brasileira, e traz à tona uma análise profunda partindo da complexidade social a partir dos estágios de cada tecido social, e busca uma interseção entre Processo, Jurisdição e o modelo de Justiça Multiportas, para ao final trazer relevantes propostas com base na experiência do Direito estrangeiro. Em tempos de crescente complexidade e de transformações significativas no paradigma do Acesso à Justiça, a obra se apresenta como um estudo profundo para entender como diferentes sistemas jurídicos lidam com a pluralidade de meios e instrumentos à disposição dos cidadãos e da sociedade em prol da pacificação social. O autor enfrenta, ainda, diversos temas de altíssima importância (como a equiparação entre Processo e Jurisdição e, ainda, a posição do Sistema de Justiça Multiportas na Teoria Geral do Processo). Da análise detida da pesquisa desenvolvida, fica evidente que as discussões envolvendo o Sistema de Justiça Multiportas transcendem fronteiras, e que os desafios brasileiros não são estanques à realidade mundial. A partir da perspectiva proposta pelo autor, de comparação entre o sistema de justiça brasileiro e italiano e na análise dos desafios enfrentados por ambos os países no que tange à eficiência dos processos e à adequaçãodas estruturas jurídicas à diversidade de demandas da sociedade, passo a propor algumas reflexões que visam, em síntese, a relacionar os conceitos até então trabalhados com o tema da Análise Econômica do Direito, de modo a tentar contribuir, humildemente, com (mais) algumas reflexões ao leitor. PROCESSO, JURISDIÇÃO E SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS 276 Ao longo da presente obra, o autor preocupou-se em realizar uma abordagem social e cultural da ciência jurídica processual, revelando o estado de coisas no que diz respeito à recepção das vertentes teóricas e práticas da real implementação de uma Justiça Multiportas, bem como explora o arcabouço legislativo processual no Brasil e Itália para tanto. De fato, merece atenção o espaço merecidamente conquistado pelos Métodos Adequados de Solução de Conflitos (MASCs) desde a promulgação do Código de Processo Civil vigente, que, em atenção ao disposto no artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição da República, referenda a um só tempo (i) o dever do Estado, em primeiro lugar, de tentar promover a composição amigável das partes1 e, apenas em segundo plano, exercer o seu Poder- Dever de decidir imperativamente os conflitos, e (ii) e possibilidade de as partes optarem pela instauração de procedimento arbitral2, regulado pela Lei Federal nº 9.307/1996, reafirmando, através desse permissivo, que a arbitragem está em plena sincronia com o princípio constitucional do acesso à justiça. Os benefícios oriundos dessa modificação paradigmática no Processo Civil Brasileiro são incontáveis: os Métodos Adequados de Solução de Conflitos – enquanto instrumentos de pacificação social, solução e prevenção de litígios – têm o potencial de reduzir a excessiva judicialização dos conflitos, e, portanto, mitigar os efeitos colaterais da hiperjudicialização, porque viabiliza uma maior concentração de esforços, pelo Judiciário, nas demais demandas que não possam ser resolvidas por outros meios. Em um país notoriamente assolado pelo problema da litigância excessiva, em que o índice de conciliação no Poder Judiciário beira os tímidos 12,1%3, a metodologia juseconômica poderia também ser aplicada de modo a fornecer subsídios para a otimização e racionalização do Sistema de Justiça Multiportas. Nesse sentido, sob a ótica da Análise Econômica do Direito, a autocomposição se traduz em um modelo básico de decisão que leva em consideração (i) o valor envolvido no conflito, (ii) os custos de transação da litigância, (iii) o otimismo das partes em relação ao resultado do (possível) litígio e (iv) o comportamento estratégico de ambas as partes na condução do litígio4. 1. Isso é explicitado pelos artigos 3º, §§ 2º e 3º, e 139, V, do CPC/2015. 2. CPC: “Art. 3 º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito. § 1º É permitida a arbitragem, na forma da lei”. CPC: “Art. 42. As causas cíveis serão processadas e decididas pelo juiz nos limites de sua competência, ressalvado às partes o direito de instituir juízo arbitral, na forma da lei”. 3. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em Números 2024 (ano-base 2023). Brasília: Conselho Nacional de Justiça, 2024. 4. WOLKART, Erik Navarro. Análise econômica e comportamental do processo civil: como promover a 277GUILHERME CHRISTEN MÖLLER Vale destacar que a autocomposição apenas é viável se houver acordo mutuamente benéfico, devendo-se levar em consideração se a diferença entre o valor esperado pelo autor e pelo réu supera ou não a soma dos custos de transação da litigância para ambos5. Em outros termos, “as chances de acordo estão diretamente ligadas à capacidade de redução dos custos para as partes”6. Por esse viés, para que haja chances efetivas de uma solução consensual ao longo do processo, é preciso que alguns incentivos estejam presentes, como por exemplo, a existência de informações suficientes para que as expectativas das partes se alinhem. Ao considerar o conceito econômico de assimetria informacional como uma das possíveis causas determinantes para baixo índice de conciliação no Brasil, é possível interpretar normas processuais e regras de procedimento como fundamental incentivo para a otimização das taxas de acordo. Como bem destacado pelo autor, os Métodos Adequados de Solução de Conflitos, como bem indica a terminologia, servem à eficiência em prol de uma justa solução, considerando as particularidades de cada demanda. Sob a ótica da AED, tais métodos podem abarcar um ambiente de maior estímulo ao compartilhamento de informações para que, a partir da redução de assimetria informacional, as expectativas das partes se alinhem. Além disso, há de se ressaltar a redução drástica dos custos de transação inerentes ao litígio nos métodos autocompositivos, na medida em que o procedimento, via de regra, se torna mais célere, previsível e circunscrito aos interesses das partes, eliminando diversos atos processuais onerosos, bem como o decurso corrosivo do tempo. Sob um olhar prático, no que diz respeito especificamente à conciliação ou mediação, para que as técnicas aplicadas sejam exitosa em seus fins, o CPC consagrou interessantes previsões, como a que exige uma capacitação mínima para o exercício da atividade de conciliador ou mediador (artigo 167); a que autoriza a aplicação de técnicas negociais, com o objetivo de proporcionar ambiente favorável à autocomposição (artigo 166, § 3º); e as que permitem às partes requerer a antecipação de prova, (como, e.g., o interrogatório da outra parte, a inquirição de testemunha ou, ainda, exame pericial). cooperação para enfrentar a tragédia da Justiça no processo civil brasileiro. 2018. Tese (Doutorado em Direito Processual) – Centro de Estudos e Pesquisas no Ensino do Direito, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, p. 324-328. 5. FUX, Luiz.; BODART, Bruno. Processo Civil e Análise Econômica: uma introdução teórica. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2019, p. 54. 6. MELMAN, Ana Carolina. Análise econômica no processo civil brasileiro: limites e possibilidades. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2019, p. 49. PROCESSO, JURISDIÇÃO E SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS 278 Esses são apenas alguns exemplos que permite sugerir que, à luz do Código de Processo Civil, a Análise Econômica do Direito alinha-se perfeitamente com o sistema jurisdicional eficiente que a todo tempo busca o autor, pois permite a racionalização do sistema mediante o tratamento adequado dos conflitos surgidos, ainda que isso signifique submetê-los a outra forma de resolução de controvérsias – que não a heterocomposição por um juiz de direito. Afinal, nada mais democrático e civilizatório que as partes sejam juízes dos seus próprios destinos. Em conclusão, o estudo das diferentes formas de resolução de conflitos e de organização dos sistemas jurídicos tem se mostrado essencial em um mundo cada vez mais plural. No contexto brasileiro e italiano, ambos os países enfrentam desafios semelhantes, mas, ao mesmo tempo, oferecem respostas distintas e inovadoras. Este posfácio visa, portanto, encerrar a obra e propor reflexões sobre a importância dessas comparações e o impacto de suas soluções no aprimoramento do Sistema Jurídico Brasileiro, convidando o leitor a refletir sobre as importantes e inovadoras propostas apresentadas por Guilherme Christen Möller ao longo da presente obra, fruto de uma detida e primorosa pesquisa acadêmica. Verão de 2025 PROF. DR. RODRIGO FUX Doutor e Mestre em Direito Processual pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ. Advogado. Professor Adjunto de Teoria Geral do Processo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ. Professor do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ. Professor da Escola Nacional da Magistratura – ENM e da Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro – EMERJ. Conselheiro do Instituto Brasileiro de Direito Processual – IBDP. Advogado. academia@fux.com.br.www.caminhodoslivros.com.br Livro impresso na gráfica Caminho dos Livros www.booksbyauthors.com A Editora Thoth é empresa parceira da Books By Authors Aponte a câmera do seu celular para o QR Code e obtenha mais informações sobre a Editora Thoth CAPA NINGBO 250GRS, LAMINAÇÃO FOSCA, MIOLO AVENA 80GR, IMPRESSÃO PRETO E BRANCOtópicos. Como verão no decorrer das páginas e capítulos, a obra se preocupa com a gênese do Direito Processual Civil em compatibilidade com essa unidade que se tem denominado majoritariamente por sistema de justiça multiportas, sendo essa a grande e verdadeira preocupação de todas as linhas aqui dissertadas: compreender a sua relação, principalmente nos sistemas jurídicos da Itália e do Brasil, países nos quais tivemos a oportunidade de residir durante o desenvolvimento da pesquisa. Ainda, destrinchando um pouco mais, a obra realça o assunto que sempre foi do nosso interesse, a jurisdição e uma possível mutação de suas estruturas diante das transformações da sociedade, refletidas no Estado e na gestão da justiça civil. É uma obra de Processo Civil que enfrenta várias frentes e apresenta diversos pontos que nos causam certa inquietação desde o início da nossa jornada de pouco mais de uma década no Direito. Levamos alguns meses após a defesa da pesquisa de doutoramento para entregar esta versão comercial porque acreditamos que alguns pontos mereciam aprofundamento e melhor explicação, sobretudo quando dialogamos com o sistema multiportas em um país dogmaticamente mais conservador (Itália) com outro mais receptivo às suas ideias (Brasil) na estrutura do seu ordenamento jurídico. Mesmo assim, sabemos que existem lacunas a serem preenchidas em futuras edições, aproveitando para disponibilizar o nosso e-mail para sugestões temáticas, literárias, críticas, dúvidas e revisões: contato@guilhermechristenmoller.com.br. Tentamos estabelecer um espaço plural de ideias por meio do uso do confira (Cf.), nas notas de rodapé, e, também, na medida do possível, equilibrar a quantidade de autores e de autoras nas citações e referências. Por fim, registramos o nosso interesse de que o leitor desta obra aprecie as notas de rodapé transcritas durante o trabalho, afinal, mais do que uma forma de mostrar o trecho que dialoga com a nossa ideia, alguns incluem passagens fundamentais de obras que, para algumas pessoas, são de difícil acesso. Desejamos uma excelente e proveitosa leitura! Litoral Catarinense, Natal de 2024 GUILHERME CHRISTEN MÖLLER PREFÁCIO Sono davvero molto lieto di accogliere l’invito a scrivere una breve prefazione al libro di Guilherme Christen Möller, risultato di una attività di ricerca intensa che egli ha svolto tra l’altro durante un soggiorno nel 2022 presso il Dipartimento di Scienze giuridiche dell’Università degli Studi di Firenze. Il risultato raggiunto è sotto i nostri occhi e mi offre l’occasione di esprimere il mio apprezzamento più vivo. L’opera si distingue per un respiro culturale ampio, insolito per un’opera di diritto processuale civile. Come accade sempre, anche nelle branche più tecniche del sapere, le opere rispecchiano immancabilmente la personalità dell’autore. Avevo notato la vastità e la profondità degli orizzonti culturali di Guilherme fin dai nostri primi scambi di comunicazioni per preparare il suo soggiorno fiorentino, insieme alla Scuola di dottorato fiorentina. L’impressione ha trovato conferma nei nostri colloqui a Firenze e oggi si consolida con questo volume. L’opera ritorna a riflettere sul Multi-Door Courthouse System, secondo l’espressione emersa dopo la presentazione che ne fece Frank Sander alla Pound Conference del 1976, dove egli propose una revisione teorica del sistema di risoluzione dei conflitti negli Stati Uniti, basata sull’idea di collegare le controversie ai forum più appropriati per la loro risoluzione: accanto al processo giurisdizionale, la mediazione, l’arbitrato e la negoziazione. Möller comincia la propria esplorazione da tali inizi, per poi cogliere la diffusione globale del sistema e concentrarsi sulle esperienze attuali in Brasile e in Italia. Il tema viene trattato come una risposta alla complessità sociale e alla necessità di adattare il diritto processuale alle profonde trasformazioni culturali e sociali contemporanee. Spicca a questo punto il riferimento alla teoria della complessità di Edgar Morin, che sottolinea la necessità di considerare la realtà non come un insieme di parti separate o categorie rigide, bensì come una rete di relazioni interdipendenti e dinamiche. Secondo Morin, comprendere i fenomeni significa cogliere le interazioni, i feedback e la natura sistemica degli elementi coinvolti. Il richiamo compiuto a quest’approccio non costituisce per Möller un semplice vezzo teorico, bensì rappresenta una chiave di lettura concreta e appropriata, che suggerisce di adottare una prospettiva integrata, flessibile e consapevole della multidimensionalità dei conflitti umani. È davvero superfluo ricordare come la storia umana sia caratterizzata da una continua dinamica di creazione e composizione di controversie, la cui natura e portata si sono evolute nel tempo, specialmente a seguito dell’avvento della società industriale e della globalizzazione dei rapporti sociali ed economici, che continuano a definire la nostra epoca, nonostante le recenti battute di arresto. L’Autore contesta la visione riduzionista che interpreta il sistema «multiporte» (così si potrebbe dire anche in lingua italiana con un calco linguistico dal portoghese) come soluzione universale ai problemi strutturali del potere giudiziario (lentezza, costi, congestione delle corti). Secondo l’Autore, tale approccio rischia di (a) banalizzare le criticità sistemiche, riducendole a mere inefficienze procedurali anziché affrontarne le cause strutturali ed epistemologiche; (b) generare frammentazione, poiché la creazione indiscriminata di nuove «porte», senza coordinamento può portare a sovrapposizioni, conflitti normativi e confusione per gli utenti. Per superare queste criticità, Möller propone un approccio sistemico basato su: (a) coordinazione orizzontale, nel senso che le diverse modalità di risoluzione dei conflitti (giudiziale, mediazione, conciliazione, ODR) dovrebbero operare in sinergia, evitando gerarchie o isolamento funzionale (ciò richiede meccanismi di interoperabilità e standard comuni); (b) regolazione flessibile, nel senso che l’introduzione di nuovi strumenti di composizione delle controversie deve rispettare i principi costituzionali e processuali, adattandosi alle esigenze specifiche dei conflitti (es. complessità tecnica, disuguaglianze socioeconomiche). Möller sottolinea che con questi accorgimenti il sistema può rafforzare la legittimità democratica della giustizia civile attraverso la valorizzazione dell’autonomia decisionale dei cittadini, la partecipazione attiva di attori non statali e l’uso di piattaforme digitali per migliorare l’accesso alla giustizia, soprattutto da parte di gruppi marginalizzati. In definitiva, Möller sostiene che il sistema multiporte può costituire una risposta effettiva alla complessità sociale contemporanea, se ben integrato e sorretto da un quadro teorico solido, nonché da un dialogo costante tra istituzioni, professionisti e cittadini, nel rispetto dei principi di democrazia partecipativa. In conclusione, l’opera di Möller offre una visione critica e lungimirante della giustizia multiporte, collocandola all’interno della teoria generale del processo, attraverso una comparazione originale tra Italia e Brasile, con l’ambizioso obiettivo di contribuire alla modernizzazione e all’efficacia del diritto processuale civile contemporaneo. Questo volume, per la sua rilevanza scientifica e rigore metodologico, rappresenta dunque un significativo contributo al dibattito internazionale. Marzo 2025 PROF. DR. REMO CAPONI Consigliere della Corte di Cassazione SUMÁRIO SOBRE O AUTOR .......................................................................................................7 AGRADECIMENTOS ..............................................................................................11 APRESENTAÇÃO .....................................................................................................17 NOTA DOAUTOR ...................................................................................................19 PREFÁCIO ..................................................................................................................21 INTRODUÇÃO ..........................................................................................................31 CAPÍTULO 1 SISTEMAS JURÍDICOS, TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS E ESTÁGIOS SOCIOCULTURAIS ..................................................................................................35 1.1 Primeiros esclarecimentos ................................................................................35 1.2 O Processo Civil enquanto produto social ....................................................40 1.2.1 As particularidades dos sistemas jurídicos de cada contextualização social, a exemplo do brasileiro ............................................................................40 1.2.2 O aspecto cultural do Processo Civil .......................................................43 1.2.2.1 Direito e cultura: Primeiras notas sobre o Direito enquanto expressão da identidade de um grupo social .................................................43 1.2.2.2 O Processo Civil enquanto fenômeno social ...................................46 1.2.2.3 A título de exemplo: Os casos de Saint-Julien e em Coire (Processo Civil medieval) ....................................................................................................47 1.2.3 Pontuações conclusivas sobre o tema ......................................................49 1.3 Processo Civil e complexidade .........................................................................51 1.3.1 Ainda, o caráter multifacetado da complexidade em relação ao Processo Civil .........................................................................................................................51 1.3.2 Antes, as posições monista (unitária) versus dualista do ordenamento jurídico e o questionamento da lei como sinônimo de direito .........................53 1.3.2.1 Panorama geral e diferenciações entre a lei e o direito (direito objetivo e subjetivo) ..........................................................................................53 1.3.2.2 Um questionamento sobre as limitações da concepção monista (do ordenamento jurídico) ao sistema de justiça multiportas ...........................56 1.3.3 A teoria da complexidade, de Edgar Morin, e a resposta do Processo Civil ao cenário resultante das transformações na sociedade.........................61 1.4 Os estágios socioculturais e a transformação social pela mutação no paradigma racional ....................................................................................................64 1.4.1 Os estágios socioculturais e a ruptura dos sentidos do medievo para a racionalidade da modernidade de René Descartes (Modernidade Sólida) ...64 1.4.1.1 Ruptura do medievo e a unidade dos estágios socioculturais ........64 1.4.1.2 A Modernidade, de René Descartes, e a razão .................................66 1.4.2 A Modernidade Líquida, de Zygmunt Bauman, e a fragilização da racionalidade ..........................................................................................................68 1.4.3 Hipermodernidade, de Gilles Lipovetsky, e hipertrofia da razão ..............70 1.5 Os sistemas jurídicos da sociedade hodierna frente ao reducionismo do Processo Civil moderno ..........................................................................................72 CAPÍTULO 2 ESTADO, JURISDIÇÃO E PROCESSO: TENTATIVADE ISOLAMENTO E COMPREENSÃO DE CADA ELEMENTO PARA ESSA RELAÇÃO ....77 2.1 Estado e jurisdição na perspectiva da formação do Estado Moderno ......77 2.1.1 Primeiros apontamentos: Jurisdição, Estado e processo .......................77 2.1.2 O Estado Moderno e a costura do Estado à jurisdição ...........................78 2.1.3 Sobre o motivo da indivisibilidade entre Estado e jurisdição ...............81 2.2 O desacordo sobre o objetivo da jurisdição ......................................................82 2.2.1 Premissas ..........................................................................................................82 2.2.2 A Teoria Objetiva, de Lodovico Mortara, e a jurisdição enquanto uma extensão legislativa ....................................................................................................84 2.2.3 A Teoria Objetiva, de Giuseppe Chiovenda, e a jurisdição como atividade substitutiva do Estado na aplicação da vontade da lei ........................................85 2.2.4 A proposta teórica de Piero Calamandrei e a Teoria sancionatória da jurisdição, de Enrico Redenti (jurisdição na aplicação da sanção normativa) ....................87 2.2.5 A Teoria Subjetiva, de Francesco Carnelutti, e o processo como instrumento da jurisdição ...............................................................................................................90 2.2.6 Sobre as teorias mistas e o cenário teórico brasileiro ................................93 2.3 Os paradigmas metodológicos do Processo Civil .........................................98 2.3.1 Por que Processo Civil e não processo judicial? .....................................98 2.3.2 Praxismo (ou sincretismo), o momento do direito processual como acessório/apêndice do direito material ........................................................... 100 2.3.3 Processualismo (ou cientificismo), a proposição de Oskar von Bülow e a autonomização do Processo Civil ................................................................ 103 2.3.4 Pós-processualismo no Processo Civil italiano e no brasileiro ................ 109 2.3.4.1 O Processo Civil italiano e suas etapas, a escola processual chiovendiana, as contribuições teóricas individuais dos processualistas, o Código de Processo Civil de 1940 e suas reformas: Sistematização, instrumentalidade e constitucionalização do processo ............................. 109 2.3.4.2 O Processo Civil brasileiro, a fase da instrumentalidade e as propostas subsequentes ................................................................................. 116 2.4 O problema envolvendo a associação (equivocada) da jurisdição como sinônimo de processo judicial .............................................................................. 122 CAPÍTULO 3 TRIBUNAL MULTIPORTAS OU ALTERNATIVE DISPUTE RESOLUTION: A PRIMEIRA FASE DO SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS A PARTIR DO CENÁRIO JURÍDICO ÍTALO-BRASILEIRO ........................................ 129 3.1 Advertência preliminar ................................................................................... 129 3.2 As formas alternativas de resolução de conflitos (Alternative Dispute Resolution), os meios adequados de solução de conflitos e o Tribunal Multiportas (Multi- Door Courthouse System): Convergências e divergências teóricas dessa unidade na primeira fase do sistema de justiça multiportas ........................................... 131 3.2.1 As formas alternativas de resolução de conflitos (ADR) e os meios adequados de solução de conflitos (MASC) .................................................. 131 3.2.1.1 As formas alternativas de resolução de conflitos (ADR) ............ 131 3.2.1.2 Os meios adequados de solução de conflitos (MASC) ................ 135 3.2.2 O Tribunal Multiportas (Multi-Door Courthouse System) ........................ 137 3.2.3 O sistema de justiça multiportas: Breve advertência ........................... 141 3.2.4 Para além da semântica: Blend teórico, convergências e sistematização da unidade ........................................................................................................... 142 3.3 A primeira fase do sistema de justiça multiportas nos sistemas jurídicos brasileiro e italiano ................................................................................................. 144 3.3.1 Perspectiva do direito brasileiro: Antecedenteslegislativos, a Resolução n. 125, de 2010, do Conselho Nacional de Justiça e o Código de Processo Civil de 2015 ....................................................................................................... 144 3.3.1.1 O cenário do sistema brasileiro de justiça multiportas antes da Resolução n. 125, de 2010, do Conselho Nacional de Justiça ................. 144 3.3.1.2 A Resolução n. 125, de 2010, do Conselho Nacional de Justiça 147 3.3.1.3 O Código de Processo Civil de 2015 .............................................. 150 3.3.2 Perspectiva do direito italiano: Códigos de Processo Civil (1865 e 1940), diretrizes da União Europeia, legislações especiais, mediação obrigatória e o quadro atual da alternative dispute resolution na Itália ......... 154 3.3.2.1 Uma volta pelo sistema de risoluzione alternativa delle controversie italiano: entre o Codice di Procedura Civile do Reino da Itália (1865) e o Codice di Procedura Civile de 1940 ........................................................... 154 3.3.2.2 Segue: As diretivas e legislações do século XXI, a decisão n. 272 da Corte Constitucional italiana sobre a (in)constitucionalidade da obrigação da mediação e a Riforma Cartabia de 2021/2022 ..................................... 158 3.4 Uma divagação sobre dois sistemas jurídicos que trafegam sob o mesmo problema ................................................................................................................. 164 CAPÍTULO 4 JURISDIÇÃO E SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS: REVISÕES E PROPOSTAS NA EXPERIÊNCIA ÍTALO-BRASILEIRA ........................... 169 4.1 A posição do sistema de justiça multiportas na Teoria Geral do Processo .................................................................................................................. 169 4.1.1 Revisitando a problemática central: Da primeira para a segunda fase do sistema de justiça multiportas .......................................................................... 169 4.1.2 O sistema de justiça multiportas e a jurisdição: A valorosa lição de Ada Pellegrini Grinover ............................................................................................. 170 4.1.3 Acesso aos tribunais e acesso à justiça .................................................. 175 4.1.4 O papel dos sistema de justiça multiportas para a justiça civil .......... 179 4.1.4.1 Diante da Lei, de Franz Kafka, e o argumento do sistema de justiça multiportas como uma espécie de panaceia/remédio para os problemas do Poder Judiciário (lotação, celeridade, efetividade etc.) .............................. 179 4.1.4.2 Por um sistema coexistencial ........................................................... 184 4.1.4.3 Rumo à segunda fase do sistema de justiça multiportas .............. 186 4.2 As virtudes e as debilidades do sistema de justiça multiportas: Algumas linhas na projeção da qualificação da justiça civil ............................................. 189 4.2.1 O sistema de justiça multiportas enquanto um genuíno sistema: Algumas notas sobre essa característica metodológica sistêmica e sobre a coordenação/fiscalização dessa estrutura ...................................................... 189 4.2.1.1 O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) como agenciador do sistema brasileiro de justiça multiportas .................................................................... 191 4.2.1.2 Resoluções, provimentos e recomendações do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) sobre o sistema brasileiro de justiça multiportas ......... 192 4.2.2 Sobre o pensamento reducionista acerca do sistema de justiça multiportas: Problema ou solução? ................................................................. 194 4.2.3 A Teoria das Portas Adicionais .............................................................. 196 4.2.3.1 A exemplo: A situação da Online Dispute Resolution (ODR) no sistema de justiça multiportas ....................................................................... 197 4.2.3.2 Sobre as várias portas, agentes e figuras que fazem parte do sistema de justiça multiportas ..................................................................................... 202 4.2.3.3 A particularidade da figura da desjudicialização ............................ 203 4.2.3.4 execução extrajudicial ........................................................................ 206 4.2.3.5 Autotutela ............................................................................................ 210 4.2.4 Democracia participativa pelo sistema de justiça multiportas ........... 212 4.2.5 Qualificação do processo judicial e o seu papel central para o sistema de justiça multiportas .............................................................................................. 217 4.2.6 Dois problemas centrais: Criação desenfreada de portas e proposições antagônicas ao sistema jurídico ........................................................................ 218 4.2.6.1 A criação desenfreada (e desnecessária) de portas: Os exemplos e reflexões de Nicola Picardi (decodificação e procedimentos especiais) e Michele Taruffo (alternativa às alternativas) ............................................... 218 4.2.6.2 Sobre as figuras antagônicas ao sistema jurídico, a exemplo da Constelação Familiar ...................................................................................... 223 CONCLUSÃO .......................................................................................................... 229 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 247 POSFÁCIO 1 ............................................................................................................ 269 POSFÁCIO 2 ............................................................................................................ 273 POSFÁCIO 3 ............................................................................................................ 275 INTRODUÇÃO Aquilo que se denomina por sistema de justiça multiportas não é, de forma ampla, um tema novo. Embora apresentado, ainda que parcialmente, a partir de diferentes nomenclaturas (alternative dispute resolution, meios adequados de solução de conflitos, equivalentes jurisdicionais etc.), essa unidade está presente em diferentes feições nos sistemas jurídicos do mundo, com diferentes dimensões – em alguns mais do que em outros – e caracterizações, ou seja, figuras que até podem parecer estranhas, todavia, dizem acerca daquele Processo Civil do contexto a que pertencem. No caso do Brasil e da Itália, respectivamente, a novidade que orbita essa unidade foi, em primeiro momento, a sua hipertrofia a partir de 2010, com a Resolução n. 125, do Conselho Nacional de Justiça e com o Decreto Legislativo n. 28, afinal, o tema ganhou maior destaque político, legislativo e pedagógico nesses sistemas. Existem, no entanto, diferenciações do sistema brasileiro de justiça multiportas para aquele da Itália – este, na verdade, um pouco mais rudimentar, ainda na perspectiva da alternative dispute resolution. Mais recentemente, mais no Brasil do que na Itália, o tema está adquirindo nova feição, uma nova fase, revestindo-se como um genuíno sistema, algo ainda sem consenso preciso entre doutrina, legislativo e jurisprudência. Originalmente, o tema é trabalhado como Tribunal Multiportas (Multi- Door Courthouse System), surgindo a partir de um estudo desenvolvido por Frank Sander, apresentado nos Estados Unidos, em edição emblemática da Pound Conference – cujo centro de reflexão foi encontrar propostas para a qualificação do sistema jurídico estadunidense. Ainda que a sua ideia inicial em dar maior relevância e protagonismo, sobretudo, para a autocomposição, a partir da sua adequação à natureza dos conflitos – a fim de diminuir o congestionamento de processos judiciais (e demais vícios estruturais do Poder Judiciário) –, não tenha sido amplamente bemrecepcionada, criando contracorrentes que enxergavam claros déficits sociais nessa aposta, a tese foi abraçada nos Estados Unidos e exportada como modelo para outros sistemas jurídicos. Atualmente, a tese ainda vive no seu país de origem e possui maior difusão em sistemas jurídicos da África e da América do Sul. No Brasil, em uma primeira fase, o “Tribunal Multiportas” não teve a mesma dimensão daquela dos Estados Unidos, mas foi adotado, sobretudo a sua nomenclatura, para sintetizar a unidade que se delimita como as várias formas de solucionar conflitos reconhecidas pelo Estado brasileiro a fim de serem utilizadas na solução de conflitos (extrajudicial e judicialmente), a partir de fechamento teórico na conciliação, na mediação, na arbitragem e no processo judicial. Até mais recentemente, o tema esteve mais restrito a buscar equalizar a sua existência concomitantemente com o processo judicial, isso é, com o instrumento resolutivo tradicional do Processo Civil, embora não se descartem outras feições sobre a temática que passaram a assumir maior importância. Por outro lado, na Itália, nem o nome (Tribunale Multi-porte), tampouco a sua sistematização para o gerenciamento de conflitos teve impacto, aliás, a alternative dispute resolution é um tema polêmico no sistema jurídico italiano. Ainda assim, como no Brasil, esse assunto não é contemporâneo. Historicamente, a alternative dispute resolution – nomenclatura com maior difusão para essa unidade – está presente desde a fundação do Estado italiano (enquanto Reino da Itália), considerando a sua (generosa) presença no Codice di Procedura Civile 1865 – conciliação/mediação e arbitragem (compromesso). Nos dois casos, porém, o relevo ao tema apenas acontece a partir do início deste século, como apontado logo no prólogo desta nota introdutória. Isso, em verdade, com exceção da Inglaterra e dos Estados Unidos, é comum na maioria dos sistemas jurídicos do Ocidente, afinal, a ascensão dessa unidade nessa perspectiva do globo apenas ocorre em recorte histórico recente. Anteriormente, essa unidade estava mais para uma curiosidade do que algo concreto pendente de maiores projeções. Na proposta desses primeiros apontamentos, esta obra contempla essas várias (e outras) frentes, isso é, propõe analisar o desenvolvimento e a situação do sistema de justiça multiportas, recortado na perspectiva dos sistemas jurídicos da Itália e do Brasil, sob a ênfase do Processo Civil. Isso é, considerando o desenvolvimento de forma crescente do tema, especialmente a partir do início deste século, a proposta é compreender como o sistema de justiça multiportas se apresenta nos sistemas jurídicos da Itália e do Brasil, observando as suas limitações, os seus problemas e a forma como é relacionada com (ou no) Direito Processual Civil de cada um desses países, encontrando convergências e divergências, discorrendo de maneira crítica sobre as suas debilidades para a manutenção dos sistemas jurídicos. O tema é problematizado de maneira diversa para a comunidade jurídica, especialmente quando relacionado com o Direito Processual Civil. Por exemplo, partindo da contracorrente ao movimento do original Tribunal Multiportas (Multi-Door Courthouse System), existe a preocupação de que a utilização dessas formas poderia mais estar relacionada com a ideia de solucionar déficits no Poder Judiciário, relacionado à qualidade da prestação da tutela jurisdicional (como a lotação de processos judiciais nas Cortes, assim como a média de tempo de tramitação), do que propriamente à funcionalidade de cada uma dessas figuras. Outro problema, ainda, pode ser a maneira como algumas formas (especialmente as autocompositivas) não possuiriam um desenvolvimento teórico suficiente para adquirir feição autônoma ao processo judicial. Não é, por assim dizer, um tema pacificado no âmbito doutrinário (desvelando alguns problemas e algumas inconsistências práticas). Ainda que a sua discussão não seja mais tão estranha, ainda é resistida em alguns cenários. Devemos acrescentar, também, que a sociedade está em constante processo de transformação dos seus campos, implicando na necessária releitura do Direito Processual Civil. Existe uma corrente teórica pacificada, vetusta, que defende o direito como um produto social, isso é, como um reflexo daquele contexto a que pertence; aplicando-se também para as diferentes configurações de Processo Civil nos vários sistemas jurídicos do mundo. Consequentemente, esses objetos não estão isolados, em uma cápsula impenetrável, de modo a não sentir essas transformações e novos contornos sociais, ou como se nada teriam com elas. Hodiernamente, a carga de complexidade social é muito expressiva para ser socorrida com respostas ou objetos jurídicos calcados em um viés simplista/reducionista. Inserido na lógica dos influxos dos estágios socioculturais para o Processo Civil, especialmente após a Modernidade Líquida e a Hipermodernidade, acreditamos que o sistema de justiça multiportas, em uma leitura atualizada e atenta ao contexto complexo hodierno, poderá contribuir para a manutenção dos sistemas jurídicos, restando saber em qual medida. A proposta desta obra não é enfrentar cada argumento relacionado ao sistema de justiça multiportas, isso é, propor uma investigação de cunho didático-pedagógico, respondendo às minucias dessa temática, mas observar como o sistema de justiça multiportas está relacionado com o Direito Processual Civil em contexto hodierno, ou seja, a partir das transformações sociais e a elevação da carga de complexidade social, evidenciando o seu papel nos sistemas jurídicos brasileiro e italiano. Por meio de estudo bibliográfico, condensando experiências pessoais em cada um desses sistemas jurídicos, destacando o nosso soggiorno na Itália, em 2022, para cursar a cotutela de doutoramento na Università degli Studi di Firenze, o livro estabelece três objetivos específicos e um geral, abordados a partir da metodologia da complexidade, a fim de poder entregar resultados na integração do sistema de justiça multiportas do e no Direito Processual Civil hodierno, enfrentados em quatro capítulos. No primeiro, estabelecemos panorama sobre as transformações na sociedade e em que grau elas são refletidas no Direito Processual Civil, reerguendo a discussão do Processo Civil ser um fenômeno social, a distinção entre a lei e o direito, a explicação da utilização da escolha metodológica da obra, relacionando a complexidade com a descrição da evolução dos estágios socioculturais (modernidade sólida, líquida e hipermodernidade). O segundo capítulo explorará a discussão acerca do sentido de jurisdição na atualidade, isso é, compreender o seu significado a partir de uma tentativa de individualização entre ela e o processo judicial, expondo o desenvolvimento doutrinário ítalo-brasileiro, enfatizando o papel fundamental do Estado para essas construções, como as inclinações metodológicas do Direito Processual Civil podem influir na delimitação da sua sistematização e, ao fim, se dizer jurisdição é, em sinônimo, dizer processo judicial, anunciando os problemas dessa associação. Sequencialmente, o terceiro capítulo consiste em detalhar o desenvolvimento do “Tribunal Multiportas” (Alternative Dispute Resolution), analisando correntes, contracorrentes, como essa unidade evoluiu em plano teórico-legislativo do direito brasileiro e italiano, assim como, verificar em qual medida se poderia associá-lo com a jurisdição – e, consequentemente, com o plano teórico geral do Direito Processual Civil. A proposta consiste em explorar desde o embrião do tema, adentrando de forma progressiva no sistema de justiça multiportas. Cada um desses capítulos corresponde à um objetivo específico, fornecendo subsídios para o desenvolvimento do último capítulo da obra, seu objetivo geral: empregar uma leitura sobre o sistema de justiça multiportas nos sistemas jurídicos brasileiro e italiano, levando em consideraçãoa necessidade de coexistência de um sistema suficientemente complexo das várias figuras e portas que o compõem, correlacionadas em plano horizontal, dentro da teoria do processo (a partir da inserção dessa unidade à jurisdição), refutando o discurso da utilização de formas alternativas para deficiências estruturais e epistemológicas no Poder Judiciário e no processo judicial, desenvolvendo articulações prospectivas a partir dessa relação como forma de manutenção da democracia participativa e alguns outros temas que julgamos pertinente para o estudo da temática. Inicialmente, o primeiro objetivo específico desta obra consistiu em compreender o que as transformações na sociedade significavam para o Processo Civil, especialmente na relação ítalo-brasileira, analisando o pêndulo da complexidade social a partir dos estágios socioculturais. Nesse sentido, observamos os aspectos de singularização do Direito a partir do contexto a que pertence (utilizando, como exemplo, o Brasil), isso é, as características do direito brasileiro são únicas em relação aos demais países, podendo convergir em alguns aspectos, entretanto, não se pode esquecer que uma análise sobre o seu desenvolvimento tão somente diz respeito à sua própria construção. A origem desse posicionamento está em uma vetusta corrente teórica que defende o Direito enquanto um produto social, isso é, algo projetado pelo e para o ser humano de um determinado contexto, compreendido como um espaço geograficamente recortado em algum momento da história, utilizando-se dessa observação para projetar a possibilidade de sua ressignificação a partir das transformações operadas naquele contexto. O mesmo apontamento serve para o Processo Civil: ele é a expressão da identidade de um grupo social, variando conforme os seus costumes, tradições e crenças – a fim de auxiliar na compreensão dessa afirmação, apresentamos dois exemplos do medievo, completamente distintos em relação ao padrão que o Processo Civil observa na atualidade. Antes de avançar para as análises das transformações sociais e como elas implicam reformulações no Processo Civil, resgatamos a espinhosa relação entre o processo e a complexidade, a fim de apresentar que, dependendo da forma como a sociedade se apresenta, a sua taxa de complexidade aumenta, devendo, o processo, enquanto o produto social que é, oferecer respostas igualmente complexas. Essa relação, também, foi explorada no sentido de excluir a sua associação à ideia de complexidade pelo estado ou pelas características do processo (instrumento). Todas essas narrativas são válidas, entretanto, para os fins do objetivo específico proposto, importa-nos apenas a primeira. Essa discussão desvelou outra: as visões monista/unitária versus a dualista do ordenamento jurídico, discorrendo sobre o dilema de a lei ser sinônimo de direito. CONCLUSÃO PROCESSO, JURISDIÇÃO E SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS 230 Apresentados os argumentos centrais dessas posições, expressamos a nossa visão pela concordância com a relação monista, isso é, consideramos que o direito e a lei são objetos distintos, necessários para a manutenção do sistema jurídico – o processo, nesse posicionamento, assume o centro que liga a lei ao direito. Todavia, a adesão não foi completa, afinal, questionamos se o direito, para ser assim compreendido enquanto um elemento lapidado e individualizado, criado a partir de uma norma abstrata, necessita em todas as hipóteses do processo judicial, ou seja, se não existiriam outras feições de conceber, igualmente, o direito, utilizando-se como exemplo o próprio sistema de justiça multiportas e o direito criado a partir, por exemplo, do termo de acordo das partes. A partir dessa reflexão, podemos situar um questionamento sobre o sentido de jurisdição na atualidade – ponto retomado em momento futuro do desenvolvimento. A finalidade dessa construção, até aquele momento, ocorreu pelo questionamento das transformações sociais, isso é, considerando a ampliação do grau de complexidade da sociedade, as reorganizações não estão amarradas à lei, devendo considerar que o Processo Civil está passível de revisão para oferecer contornos condizentes com a complexidade da sociedade. Justificamos esse pensamento na metodologia da complexidade de Edgar Morin: o complexo deve ser pensado a partir do complexo. O processo deve ser articulado de maneira complexa, pensando em um cenário de integração dos seus produtos, evitando o reducionismo característico que fundou as ciências modernas – a descrição preservada e analisada em momento avançado da obra. O assunto sequente abordado no primeiro capítulo foi o que denominamos por estágios socioculturais, isso é, fragmentos da sociedade, pelos contextos, dirigidos a partir de um paradigma de interpretação para as coisas. Sob a proposta de ilustrar como essa unidade está apresentada, retornamos à ruptura do medievo para identificar o tombamento dos sentidos pela racionalidade, essa enquanto paradigma daquilo que se concebe por Modernidade. Cada modificação, ainda que substancial, nesse paradigma importa em sinalizar um novo estágio sociocultural, afinal, eles são expressos conforme a orientação do seu respectivo paradigma. Sinalizamos a presença de três momentos: a modernidade sólida, a modernidade líquida e a hipermodernidade. A convergência dessas etapas está no império da racionalidade: a partir das descrições das transformações na sociedade, não foi possível contemplar uma ruptura completa da racionalidade por outro paradigma; ela se apresentou de diferentes maneiras em cada um desses estágios. A modernidade sólida, fundada na razão estrita, assinada a partir do pensamento de René Descartes, considera o processo de percepção das coisas a partir 231GUILHERME CHRISTEN MÖLLER do método racionalmente lógico de compreensão de como as coisas são (e se são, é porque existe uma explicação lógica que resultará nessa conclusão). Esse pensamento é demasiadamente forte e contaminou as ciências e o saber, incluindo a ciência jurídica e as suas proposições (teóricas e práticas). Em verdade, até a atualidade, esse paradigma é resistente e oferece alguns fechamentos cognitivos, reduzindo o campo de compreensão e projeção das coisas, a partir de um claro processo de cisão de unidades. O direito processual está inserido nesse problema. Especialmente o Processo Civil, muitos temas da atualidade são tratados de maneira reduzida por conta dos influxos desse modelo de concepção, como exemplo principal o procedimento ordinário, uma abstração/generalização das categorias do Processo Civil, criando espécies de entraves para o seu aprimoramento. Paradoxalmente, ao lado dessa resistência no Direito e no Processo Civil, houve nova movimentação na sociedade, primeiro em dimensão de uma flexibilização daquela racionalidade estrita, descrição ofertada por Zygmunt Bauman, posteriormente, radicalizando a modernidade, ampliando em maior grau a imprevisibilidade e instabilidade das coisas, conforme descreve Gilles Lipovetsky ao narrar o que chama por Hipermodernidade. Como já advertido durante o desenvolvimento da obra, essas teorizações estão inseridas em contextos diversos, projetados pelos seus respectivos autores, entretanto, são convergentes para a descrição ora apresentada, evidenciando o nosso questionamento principal: hodiernamente, experimenta-se um grau de complexidade jamais visto em feições anteriores da modernidade. O problema está nesse cenário quando relacionado com a ciência jurídica; para nós, importa a sua relação com o Processo Civil: o centro de conclusão das suas atividades e das suas articulações é fundado em um processo de reducionismo da matéria, consequentemente, o Processo Civil não é projetado de maneira condizente, em muitas hipóteses, às particularidades complexas emergidas especialmente no último século. Até se pode verificar um movimento de busca por ofertar respostas diferenciadas, entretanto, são situaçõesisoladas. A conclusão deste objetivo específico está na observação de que é necessário pensar em respostas suficientemente complexas à complexidade da sociedade e de suas relações, ofertando figuras jurídicas não fundadas meramente em plano reducionista, mas que permitam equilibrar a dissonância entre um cenário social extremamente complexo frente à um Processo Civil calcado e projetado com fim reducionista e individualizador, afrontando, inclusive, a própria ideia do sistema de justiça multiportas sob a ótica da jurisdição, ponto revisto na construção dos argumentos ao objetivo geral desta obra. PROCESSO, JURISDIÇÃO E SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS 232 A construção do objetivo específico anterior revelou uma preocupação relacionada ao posicionamento da jurisdição sob a ótica das relações entre os sistemas jurídicos da Itália e do Brasil. Nesse sentido, vimos a necessidade de o estabelecimento de objetivo específico próprio para compreender o desenvolvimento desse elemento nessa construção, buscando desvelar o porquê de ela se portar da forma como está dentro das contribuições oferecidas na evolução do Processo Civil, especialmente a sua relação com o Estado e com o processo judicial, esse último, por muitas vezes, tratado como o seu sinônimo. Essa construção foi projetada para oferecer subsídios para a possível relação entre a jurisdição com o sistema de justiça multiportas. Inicialmente, trouxemos uma reflexão acerca da jurisdição, do Estado e do processo (instrumento), analisando essa relação e fornecendo subsídios, ainda que iniciais, para entender as raízes desses três elementos que, ainda que perfeitos, isso é, não dependendo de outros para a sua significação, são dificilmente dissociados, especialmente a jurisdição e o processo judicial. A fim de responder o questionamento, o capítulo foi desenvolvido revisitando as construções sobre cada um desses elementos, de maneira isolada e correlacionados, na perspectiva ítalo-brasileira. Iniciamos, portanto, com a relação entre o Estado e a jurisdição. Vimos que essa aproximação é uma herança da conformação do Estado Moderno, afinal, ele só alcançou a sua estabilização e seu progresso pelo papel primordial desempenhado pela jurisdição (ainda que originária de muito tempo antes desse recorte, em feição diferenciada, como aquela do direito romano). Em contraposição ao modelo experimentado no baixo medievo, a jurisdição foi a forma como o Estado encontrou para poder ser um genuíno Estado, afastando a influência da igreja e monopolizando para si o poder, que outrora estava esparso em fragmentos. Objetivamente, a manutenção do controle que exerceu se deu tão somente pela jurisdição. Tudo isso está centrado na ideia de poder, afinal, o Estado reassumiu a sua centralização (recapitulando o episódio do Absolutismo Monárquico), reafirmando-o quando estipula as regras de convivência para a sua sociedade, pelo Poder Legislativo, ou resolve os conflitos havidos nela, pelo Poder Judiciário (no qual está o papel da jurisdição); aí que se diz: a jurisdição é indivisível do Estado, isso é, sem ele, ela não há razão de existir, de igual forma, sem ela, ele não pode cumprir com uma das suas principais tarefas. Trata-se de uma descrição da forma como o cenário se apresenta – sem qualquer valoração. Esse posicionamento do Estado com a jurisdição é pacífico na doutrina. A divergência, no entanto, aparece quando se pensa em analisar o que significa a jurisdição, isso é, o seu objetivo. O tema foi alvo de 233GUILHERME CHRISTEN MÖLLER diversos posicionamentos, consolidando várias correntes teóricas, como a orgânica, a eficacial, a objetiva e a subjetiva. Dentro do Processo Civil ítalo- brasileiro, a maioria das discussões parte da Teoria (Finalística) Objetiva, a qual pressupõe a tarefa do juiz na aplicação do corpo legislativo ao caso concreto, amarrando a jurisdição ao Poder Legislativo e a manifestando pelo processo judicial. Entre os seus adeptos está Lodovico Mortara, cuja proposição exegeta não transcende ao conceito informado. Esse posicionamento só não colapsou porque contou com a contribuição, já em momento avançado das discussões, de Giuseppe Chiovenda, revisitando esse posicionamento e atribuindo novo sentido de que a jurisdição seria uma atividade substitutiva do Estado na aplicação da vontade da lei. A sua ideia, desenvolvida a partir do publicismo, consistia em o Estado substituir os particulares na solução de seus conflitos, seguindo a legislação pertinente (já dotada de significados). Como na antecessora, ainda que pouco mais cautelosa, não há espaço que se possa projetar que a lei seria diferente do Direito. Pelo perfil de Chiovenda, essa foi a sistematização com maior difusão em toda a história do Processo Civil ítalo-brasileiro, defendida até a atualidade; mais ainda, as bases de muitas contribuições partem dessa dedução. Tiveram outras contribuições, como a sensível proposição teórica de Piero Calamandrei e a teoria sancionatória da jurisdição, de Enrico Redenti (isso é, existiria jurisdição apenas quando houvesse a aplicação de uma sanção normativa), entretanto, o passo de maior significado ocorreu por Francesco Carnelutti, capitaneando a Teoria (Finalística) Subjetiva. Considerado como o grande nome no desenvolvimento da lide, Carnelutti refuta o pensamento de Chiovenda, admitindo a subjetividade sobre as normas gerais e abstratas criadas pelo Poder Legislativo. Desse quadro, partiram perigosas proposições caracteristicamente mistas, isso é, juntam aquilo que consideram de melhor em cada uma dessas proposições e estabelecem uma nova. Essa prática é comum, inclusive no Brasil, entretanto, também apresentou sólidas proposições, a partir da releitura do pensamento dos patres do Processo Civil, cuja maior difusão foi a de Giuseppe Chiovenda, especialmente pela vinda de Enrico Tullio Liebman ao Brasil e o desenvolvimento do Processo Civil brasileiro pela Escola Paulista de Processo. A construção seguinte foi desenvolvida sobre os paradigmas metodológicos do Processo Civil, isso é, sobre as unidades de pensamento para ele ao longo da história. O ponto inicial consistiu na análise do período denominado por praxismo (ou sincretismo), basicamente a pré-história do Processo Civil, período em que ele não possuía uma feição autônoma em relação ao direito material, de modo que sua existência estava condicionada PROCESSO, JURISDIÇÃO E SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS 234 à prévia existência do direito material – e por isso, não é raro encontrar esse pensamento, ele era visto como um adendo/apêndice do direito material. Diversamente, no período sequente, conhecido por processualismo ou cientificismo, a sua história genuinamente começou. No século XIX, no Império Austro-húngaro, houve uma sequência de proposições que contribuíram para o Processo Civil adquirir feição autônoma em relação ao direito material, como o debate entre Windscheid e Muther sobre a ação e, especialmente, as proposições de Oskar von Bülow no seu estudo sobre as exceções e pressupostos processuais. Seu declínio ocorreu por conta da hipertrofia do direito processual em relação ao material: muito se dissertou sobre ele, de modo que houve desequilíbrio nessa relação. Esses dois períodos, praxismo e processualismo, são comuns a Itália e ao Brasil, divergindo a partir da etapa subsequente. Iniciando na Itália. O paradigma do processualismo científico foi objeto de revisão. O grande nome que iniciou a difusão do Processo Civil genuinamente italiano foi Giuseppe Chiovenda, especialmente com a sua Prolusione di Bologna sobre a ação. Inicia-se, portanto, um período que se denomina por sistemático, isso é, a sistematização do Processo Civil sob a ótica do direito italiano, debruçando-se sobre o desenvolvimento de conceitos e das articulações do processo. As contribuições de Chiovenda estavam relacionadas com a parte geral e com o processo de conhecimento, deixando-se para os seusseguidores a delimitação de outros temas. Francesco Carnelutti foi, também, nome expressivo para o desenvolvimento do Processo Civil italiano, mesmo que a sua maior contribuição tenha orbitado acerca do conceito de lide. O auge desse período foi a promulgação do Codice di Procedura Civile 1940 (Reggio Decreto 28 ottobre 1940, n. 1140). Posteriormente, outros dois períodos que podem ser sinalizados são a instrumentalidade e a constitucionalização. Respectivamente, superado o estabelecimento de conceitos e estruturas para o Processo Civil italiano, houve movimento preocupado com o grau de efetividade da atividade jurisdicional, o qual foi seguido, inclusive de maneira concomitante, por uma preocupação com a adequação do Processo Civil ao Direito Constitucional – visto o contexto do pós-guerra e a produção da codificação de 1940 ao tempo do fascismo de Benito Mussolini – sob a ótica da Costituzione della Repubblica Italiana em 1947. Unindo a nossa leitura e expertise, a conclusão dessa passagem é que o Processo Civil italiano hodierno expressa um misto desses três estágios. Diversamente da Itália, o Brasil não contou com um período genuinamente sistemático. A primeira etapa metodológica do Processo Civil brasileiro foi o instrumentalismo, inclusive, sob a influência da doutrina italiana. Assim como do outro lado do oceano, o instrumentalismo 235GUILHERME CHRISTEN MÖLLER do Processo Civil brasileiro também está preocupado com a qualidade do sistema processual, em especial os aspectos sociais presentes no processo judicial (o que era ignorado por aquele processualismo de Bülow). Esse movimento se iniciou em São Paulo e, não muito tempo depois da sua consolidação, foi difundido para todas as regiões do Brasil, sendo de extremo peso até a atualidade. Existem, no entanto, proposições que anunciam o Processo Civil brasileiro em outros estágios metodológicos; o mais comum, talvez, é o neoprocessualismo (similar ao contexto italiano), preocupado com o alinhamento do Processo Civil à Constituição Federal de 1988. Essa afirmação não é pacífica, afinal, tanto o instrumentalismo, quanto o neoprocessualismo são objetos de constante oposição. Todavia, existem outras proposições, como a do formalismo-valorativo, do sul do Brasil, e o neoinstitucionalismo, assim como, defende-se a inserção do Processo Civil brasileiro em um quinto período: a proposição do pragmatismo processual e a do desenvolvimento e direito processual. A nossa conclusão sobre a matéria, no entanto, é que não foi possível superar os influxos do instrumentalismo, todavia, caminhando no sentido do desenvolvimento do neoprocessualismo. Concluídos os pontos anteriores, a fim de responder o objetivo específico estipulado, o final do capítulo contemplou a junção de vários fragmentos apresentados, divagando sobre a alegação de equiparar o processo judicial enquanto sinônimo de jurisdição. O assunto é problemático. Embora se reconheça que se tratam de elementos jurídicos distintos e perfeitos, por vezes, a expressão de um não consegue ocorrer sem que haja simultaneamente a sua correlação com o outro, aí o paradoxo do questionamento. A fim de tentar nortear a dúvida sobre a existência de jurisdição sem o processo judicial, afirmamos que a jurisdição existe sem o processo judicial, entretanto, o processo judicial não existe sem a jurisdição. Como visto, a concepção do Estado Moderno é apoiada na ideia de jurisdição, isso é levado em consideração por toda a sequência de sistematizações na relação ítalo-brasileira. O processo judicial, enquanto instrumento, foi projetado para o desenvolvimento dessa atuação, ou seja, ele é o instrumento pelo qual se exercerá a jurisdição, por isso a errônea associação desses dois elementos enquanto sinônimos. O nosso questionamento, porém, no sentido de responder o objetivo específico, é que essa disposição não significa que a jurisdição apenas teria a ver com o processo judicial. Sob a ótica do período sistemático do Processo Civil italiano (importado pelo brasileiro): forjaram essas concepções e, sobre elas, sistematizaram a lógica de desenvolvimento do Processo Civil que perdura até a atualidade. PROCESSO, JURISDIÇÃO E SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS 236 Utilizando a ideia de Piero Calamandrei de significar a jurisdição conforme o contexto, essa conclusão não significa que a ideia de reduzir a jurisdição ao processo judicial seja cabível na atualidade. Como afirmamos, a jurisdição parece ir muito além de uma mera expressão feita por um instrumento, de modo que a sua real dimensão foi/é abafada pela sua redução à sinônimo de processo judicial, afinal, desde as projeções da jurisdição na forma como pontuamos, houve intenso movimento nas estruturas da sociedade. Por exemplo, muitos dos anseios da fase instrumentalista, brasileira e italiana, tem a ver com essa comunicação. A ideia de projetar novos contornos no processo judicial para a qualificação do sistema jurídico é uma provocação direta à revisitação da própria finalidade da jurisdição, desvelada pelo processo enquanto instrumento desenhado para o seu exercício. A jurisdição, sob a ótica do Estado, parece que mais teria a ver com o Direito do que meramente com o processo judicial: por todos, ele foi o instrumento que se concebeu para essa finalidade de tutelar direitos. Isso não significa, porém, que essa ideia não possa ser revista. A partir disso, a proposta consistiu em analisar em qual medida seria possível pensar o sistema de justiça multiportas na jurisdição e no Processo Civil. O último objetivo específico, alinhado aos anteriores, consistiu em analisar, sobretudo, essa unidade que ficou conhecida por “Tribunal Multiportas”, no Brasil, ou Alternative Dispute Resolution, na Itália, especialmente para verificar a sua compatibilidade com a jurisdição e ver em qual medida isso dialogaria com o sistema de justiça multiportas. Como advertido, existem diferentes maneiras de nominar essa unidade e em análise pouco mais cautelosa, é possível identificar diferentes propostas para cada uma e como isso repercute para o que situamos como uma primeira fase do sistema de justiça multiportas (comum aos dois países). Sobre aquela que se denomina por formas alternativas de resolução de conflitos (Alternative Dispute Resolution), o processo judicial existe, entretanto, a sua utilização pode não ser o melhor dos caminhos a seguir, sugerindo alternativas para que os conflitos sejam solucionados. Essa vertente está disposta de duas formas. A primeira está relacionada com o pluralismo jurídico. Considerando o processo judicial como caminho principal para a solução de conflito, pode existir cenário de algumas irregularidades (no plano jurídico) do próprio caso apresentado, de modo que esse direito oficial não é a melhor escolha, porquanto levaria esses problemas ao conhecimento do Estado. Criam-se, portanto, formas alternativas ao processo judicial para a solução desses conflitos (usualmente, pela via autocompositiva). A segunda é a já conhecida feição clássica dessa corrente, contemplada na ideia de alternatividade hierárquica entre os tipos de solução de conflitos. 237GUILHERME CHRISTEN MÖLLER Outra vertente teórica é a dos meios adequados de solução de conflitos. Em síntese, para ela, o sistema de solução de conflito estaria dividido em duas subcategorias: os meios autocompositivos; e os meios heterocompositivos. O pressuposto dessa corrente consiste na ideia de que as formas autocompositivas seriam mais adequadas do que aquelas consideradas heterocompositivas, fundamentando-as no pensamento de que a resistência entre as pessoas seria um viés nocivo para todos os envolvidos (principalmente com a lógica de um sistema adversarial), de modo que o caminho correto, denominado pela corrente como adequado, seria a criação de um espaço de trabalho comparticipativo na busca pela solução do conflito. Existe uma evolução dessa interpretação para a ideia da adequação para