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Sistema de Segurança 
Pública no Brasil 
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Dr. Fábio Sérgio do Amaral
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Inteligência Policial e Controle da 
Atividade Policial pelo Ministério Público 
Inteligência Policial e Controle da 
Atividade Policial pelo Ministério Público 
 
 
• Fornecer ao aluno elementos para compreensão do que vem a ser a atividade de Inteligência 
policial e sua diferença em relação à atividade de investigação;
• Proporcionar reflexão sobre a atuação conjunta dos órgãos, bem como o papel do MP na 
Segurança Pública, tanto como órgão fiscalizador da atividade policial quanto como órgão 
de investigação.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO 
• Conceito de Inteligência Policial – Inteligência e Investigação;
• O Ministério Público Pode Investigar Crimes?
• Limites e Atribuições do MP no Controle Externo 
da Atividade Policial.
UNIDADE Inteligência Policial e Controle da 
Atividade Policial pelo Ministério Público
Conceito de Inteligência Policial – 
Inteligência e Investigação
A palavra inteligência vem sendo usada cada vez com maior frequência por autori-
dades, especialistas, políticos, personalidades, empresários e populares, de forma geral.
Bancos investem cada vez mais nela. Políticos prometem que suas polícias atuarão 
com suporte nela. Nossos aparelhos celulares a utilizam de forma mais intensa... 
Nos dias atuais, o termo é empregado em inúmeras atividades, tais como inteligência 
policial, inteligência esportiva, inteligência corporativa, inteligência emocional, inteligência 
estratégica, e assim por diante.
Enfim, a palavra está “na boca do povo”.
Mas o que é a atividade de inteligência?
Vamos nos ater ao conceito de inteligência para fins de Segurança Pública, que é o 
foco de nosso estudo. Assim, vale, logo de início, dizer que inteligência policial ou de 
Segurança Pública não se confunde com investigação criminal.
Investigação criminal é atividade voltada ao esclarecimento de um crime, na bus-
ca de formação de provas da materialidade do delito e de indícios de sua autoria, obje-
tivando auxiliar o órgão do Ministério Público, titular da Ação Penal, na formação de 
culpa do autor e na preparação da Ação Penal.
É uma atividade, em regra, de natureza administrativa, exercida no âmbito da ativi-
dade de Polícia Judiciária ou de outros órgãos com poderes especiais de investigação, 
portanto, não exclusiva de nenhum órgão específico, mas difundida em diversos órgãos 
da Administração Pública. 
Evidentemente que, em regra também, é exercida por meio do Inquérito Policial, pre-
sidido por Delegado de Polícia, mas essa atribuição específica para presidir o Inquérito 
não exclui a competência investigativa de outras autoridades, a par do que estabelece o 
parágrafo único do Art. 4º do Código de Processo Penal:
Art. 4º. A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no 
território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das 
infrações penais e da sua autoria.
Parágrafo único. A competência definida neste artigo não excluirá 
a de autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a 
mesma função. (grifo nosso)
Entretanto, essa confusão conceitual é um erro comum, apesar de básico e primário, 
que é cometido por inúmeros “especialistas”.
Apesar de serem conceitos correlatos e, até certa medida, complementares, é preciso 
distinguir a investigação criminal da inteligência policial. 
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Ainda não apresentamos o conceito de inteligência policial, mas, pelo que foi rapida-
mente analisado a respeito de investigação criminal, já se pode fazer algumas pondera-
ções interessantes.
Investigação criminal consiste em uma atividade reativa, com a qual se buscam 
provas de uma infração penal e indícios de sua autoria, ou seja, tem por essência a fun-
ção de fornecer subsídios à autoridade judiciária para repressão de delitos já ocorridos. 
A inteligência policial, por sua vez, é uma atividade proativa, caracterizada pela 
busca constante de informações que, devidamente analisadas, tornam-se conhecimentos 
disponíveis para auxiliar a autoridade administrativa no planejamento operacional e 
na tomada de decisões em segurança e ordem pública. 
Logo, a inteligência tem por essência auxiliar o planejamento e a execução de ações 
preventivas da violência e criminalidade.
Um conceito legal de inteligência pode ser buscado na Lei nº 9.883, de 7 de dezem-
bro de 1999, que instituiu o Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), e criou a 
Agência Brasileira de Inteligência – ABIN:
§ 2º. Para os efeitos de aplicação desta Lei, entende-se como inteligência
a atividade que objetiva a obtenção, análise e disseminação de co-
nhecimentos dentro e fora do território nacional sobre fatos e situações 
de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e a ação 
governamental e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do 
Estado. (grifo nosso)
Somente para contextualizar o SISBIN, atualmente, ele é composto por 42 órgãos. 
Integram o Sistema Ministérios e Instituições Federais de Áreas como Segurança, 
Forças Armadas, saúde, transportes, telecomunicações, fazenda e meio ambiente. Na 
sua origem, o Sistema era integrado por apenas 22 órgãos.
Figura 1 – Sede da Agência Brasileira de Inteligência, em Brasília/DF
Fonte: agemt.org 
Dada a especificidade do tema Segurança Pública, verificou-se a necessidade de 
criação de um subsistema específico na Área de Inteligência, dentro do próprio SISBIN.
O Decreto nº 3.695, de 21 de dezembro de 2000, criou o Subsistema de Inteli-
gência de Segurança Pública, no âmbito do SISBIN, com a finalidade de coordenar e 
integrar as atividades de inteligência de Segurança Pública em todo o país.
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UNIDADE Inteligência Policial e Controle da 
Atividade Policial pelo Ministério Público
Integram o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública os Ministérios da Justi-
ça, da Fazenda, da Defesa e da Integração Nacional e o Gabinete de Segurança Institucional 
da Presidência da República, podendo integrar o Subsistema de Inteligência de Segurança 
Pública os órgãos de Inteligência de Segurança Pública dos Estados e do Distrito Federal.
Por isso, consolidou-se o conceito de inteligência policial, mais específico do que o 
conceito de inteligência de Estado, previsto na Lei, como sendo: a atividade que obje-
tiva a obtenção, a análise e a disseminação de conhecimentos dentro do território 
nacional, sobre o fenômeno criminal de imediata ou potencial influência sobre o 
processo decisório e a ação governamental e sobre a salvaguarda e a segurança 
da sociedade e o normal funcionamento das instituições democráticas.
Isso, porque o limite da atividade de inteligência nas polícias não se confunde com a 
inteligência de Estado, encontrando-se circunscrita ao Mandado Constitucional que de-
finiu suas atribuições legais – o exercício da polícia ostensiva e a preservação da ordem 
pública (BRASIL, Constituição da República, Art. 144, § 5º).
Você Sabia?
Caso de sucesso
O desenvolvimento da atividade de Inteligência Policial pela Polícia Militar do Estado 
de São Paulo propiciou o desenvolvimento de ferramentas de inteligência tais como o 
Infocrim, Fotocrim, COPOM On-Line além de metodologias como o Plano de Policia-
mento Inteligente que, utilizando o conceito de policiamento orientado para o pro-
blema, permitiu que policiais passassem a compreender com mais velocidade e maior 
detalhamento o modus operandi, os locais e os horários em que os criminosos atuavam, 
resultando no melhor planejamento e dinamicidade das estratégias e ações policiais no 
âmbito de cada cidade, cada bairro e cada rua de cada cidade. 
A inteligência policial abarca amplo espectro de atividades e matérias que são de 
interesse para a Segurança Pública, muitas das quais nem sempre de cunho criminal.
Vamos a alguns exemplos:
• A identificação de locais com maior incidência de acidentes de trânsito, para melhor 
direcionar um policiamento preventivo, e que resolvaproblemas de fluxo de tráfe-
go, é atividade de inteligência policial;
• A identificação de causas de incidência de furtos em determinados locais e horários 
para definir estratégias de prevenção é atividade de inteligência policial;
• A identificação de pontos com problemas de luminosidade, falta de manutenção em 
praças públicas, ruas com problemas de asfalto e outras questões de zeladoria que 
podem influenciar na segurança, é atividade de inteligência policial;
• O monitoramento de grandes eventos artísticos, culturais, religiosos ou manifestações, 
para controle de tráfego e manutenção da ordem, é atividade de inteligência policial;
• A análise criminal, com uso de métodos para planejar ações e políticas de Se-
gurança Pública, obter dados, organizá-los, analisá-los, interpretá-los e deles tirar 
conclusões, é atividade de inteligência policial.
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Figura 2 – Coruja, o animal símbolo da Inteligência Policial
Fonte: Getty Images
A inteligência policial e a análise criminal, sua vertente mais eloquente no combate 
à criminalidade, mudaram a lógica de gestão e de atuação policial.
O objetivo prioritário da polícia deixa de ser apenas a solução dos crimes que já ocor-
reram e passa a ser a manutenção de um ambiente social no qual não ocorra nenhum 
crime, as pessoas possam andar nas ruas tranquilamente e a percepção de segurança 
seja compartilhada por todos.
Assim, ganha destaque e importância o trabalho do analista de inteligência, profissional 
que atua sem ser visto, mas da maior importância para o sucesso da atividade policial.
Inclusive, em nível institucional, as Organizações precisam criar meios de reconhe-
cimento para os profissionais da atividade-meio e com ênfase em ações preventivas, ao 
invés de simplesmente alimentar um modelo baseado em reconhecimento profissional 
daqueles que se destacam em ações repressivas, “pegando ocorrências” de vulto.
O Ministério Público Pode Investigar Crimes?
Como visto, a atividade de investigação, ao contrário do que alguns apregoam, não 
é exclusividade de nenhum órgão ou instituição.
Aliás, a ideia de que apenas algumas polícias poderiam investigar crimes persiste 
apenas na visão de alguns juristas brasileiros, pois, praticamente no mundo todo, a in-
vestigação de crimes é inerente a qualquer agência policial, desde as pequenas guardas 
universitárias (muito comuns nos Estados Unidos e que têm poder de polícia) até forças 
policiais locais, regionais ou nacionais, sejam elas civis, sejam militares.
Ao dispor sobre as funções institucionais do Ministério Público, em seu Art. 129, a 
Constituição Federal não previu expressamente a possibilidade do poder investigatório 
de crimes dessa Instituição. 
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
I – promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;
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UNIDADE Inteligência Policial e Controle da 
Atividade Policial pelo Ministério Público
II – zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de rele-
vância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo 
as medidas necessárias à sua garantia;
III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção 
do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses 
difusos e coletivos;
IV – promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de 
intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos nesta Constituição;
V – defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas;
VI – expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua compe-
tência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na forma da 
lei complementar respectiva;
VII – exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei 
complementar mencionada no artigo anterior;
VIII – requisitar diligências investigatórias e a instauração de Inquérito Poli-
cial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais;
IX – exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compa-
tíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a 
consultoria jurídica de entidades públicas.
Essa lacuna gerou enorme conflito de opiniões, especialmente, pela disputa de poder 
que estava sendo travada diante da possível fragilização do Inquérito Policial, com a imi-
nente validação dos atos investigatórios de outras autoridades.
O Ministério Público possui expressas atribuições legais para proceder a diversos tipos 
de procedimentos de natureza investigativa, como o Inquérito Civil Público (Art. 129, 
III, da CF/88) e procedimentos administrativos (Art. 26, I, da Lei nº 8.625/93, a Lei 
Orgânica Nacional do Ministério Público), mas restava essa lacuna quanto à investigação 
de natureza criminal.
O Art. 144 da Carta Política, por sua vez, atribuiu, com exclusividade, às Polícias 
Federal e Civil a apuração de infrações penais, ensejando uma controvérsia acerca de 
um possível monopólio policial das investigações criminais.
Na esteira do referido dispositivo constitucional, o Art. 4º, caput, do Código de Pro-
cesso Penal preconiza que “A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais 
no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações 
penais e da sua autoria”. 
O instrumento legal utilizado pela Polícia Judiciária para o cumprimento dessa ativi-
dade de cunho investigativo é o vetusto Inquérito Policial, cuja atribuição é conferida ao 
Delegado de Polícia.
A tese contrária à possibilidade de investigação criminal pelo Ministério Público funda-
menta-se, essencialmente, na suposta exclusividade dessa atividade pela Polícia Judiciária, 
conclusão extraída da leitura isolada dos dispositivos estampados no Art. 144, § 1º, inciso IV 
e § 4º, ambos da Constituição Federal.
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Entretanto, o Inquérito Policial não foi concebido como o único instrumento hábil à 
colheita de elementos destinados à apuração de crimes e sua autoria. 
A própria Constituição contempla hipóteses de investigação criminal conduzida por 
outros órgãos, como ocorre, por exemplo, com as Comissões Parlamentares de Inquérito 
– CPI (Art. 58, § 3º). 
Ademais, o Art. 129, Inciso I, da Constituição Federal, confere ao Ministério Público 
a titularidade da Ação Penal Pública. 
Se o Parquet é destinatário do Inquérito Policial e pode requisitar as diligências que 
entender pertinentes, e mais, sendo o Inquérito Policial peça dispensável para o ofereci-
mento da denúncia, como poderia ser possível se falar em exclusividade da investigação?
 Código de Processo Penal 
Art. 39. [...]
§ 5º. O órgão do Ministério Público dispensará o Inquérito se, com a 
representação, forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a 
Ação Penal e, nesse caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias.
Art. 46. [...]
§ 1º. Quando o Ministério Público dispensar o Inquérito Policial, o prazo 
para o oferecimento da denúncia contar-se-á da data em que tiver recebi-
do as peças de informações ou a representação.
De acordo com a Lei, é exclusividade do Delegado de Polícia presidir o Inquérito 
Policial comum. Nessa seara, a exclusividade da direção dos trabalhos investigativos, 
naturalmente, é do Delegado. Porém, outros atos investigativos não lhes são exclusividade.
Por exemplo, o próprio § 4º do Art. 144 da Lei Maior traz expressa exceção ao preco-
nizar que “[...] às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem (...) 
as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares”, ou 
seja, o dispositivo constitucional que outorga competência, no âmbito estadual, à Polícia 
Civil para apuração das infrações penais, excepciona a investigação dos crimes militares, 
corroborando o conceito de que não há exclusividade para investigação.
E por que esse debate tem relevância para a atividade de Segurança Pública?
Porque o Ministério Público, na maioria dos países do mundo, é o próprio dirigente 
da atividade investigativa,e mantém estreita relação com a polícia durante essa fase.
Isso porque a figura do Inquérito Policial, fora do Brasil, quase não existe. Há notícias 
de que, além do Brasil, somente Quênia e Uganda se utilizariam de Inquérito Policial na 
fase investigativa.
No Brasil, que já conta com o procedimento consolidado da audiência de custódia
e a nova figura do juiz das garantias, não haveria o menor sentido em se manter o 
Inquérito Policial, podendo se passar diretamente a uma investigação menos formal pela 
polícia, supervisionada pelo Ministério Público e sob a tutela desse juiz das garantias, 
procedimento mais garantista sob o aspecto dos direitos e garantias fundamentais e que 
asseguraria maior celeridade e eficiência ao trabalho policial.
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UNIDADE Inteligência Policial e Controle da 
Atividade Policial pelo Ministério Público
Código de Processo Penal
Art. 3º-B. O juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade 
da investigação criminal e pela salvaguarda dos direitos individuais cuja 
franquia tenha sido reservada à autorização prévia do Poder Judiciário, 
competindo-lhe especialmente: 
[...]
Mas essa é a discussão que já foi travada quando estudamos os modelos policiais 
brasileiro e outros.
Retornando à discussão sobre o poder de investigação do Ministério Público, com a 
decisão do Supremo Tribunal Federal nos autos do RE 593.727/MG que, em sede de 
repercussão geral, entendeu que o Ministério Público dispõe de competência para pro-
mover investigações de natureza criminal, a disputa em torno do tema nos parece estar 
plenamente superada.
Dessa histórica decisão vale destacar os seguintes trechos:
[...]
Este suporte probatório, anterior ao ajuizamento da ação penal de co-
nhecimento, é, de ordinário, logrado mediante persecução ou apuração 
prévia à instauração da ação penal, e legalmente estruturada sob formas 
diversas, variáveis conforme o instante histórico, político e social de de-
terminado Estado.
(...)
Ressalve-se, desde logo, a possibilidade, aliás prevista no art. 12 do Có-
digo de Processo Penal, de dispensa de Inquérito Policial, quando já se 
disponha, por ato ou procedimento doutra ordem, de elementos suficientes 
ao ajuizamento fundado da ação penal condenatória. Nesse caso, porque 
colhidos e documentados elementos que tornam desnecessária outra ati-
vidade preliminar específica, sob forma de procedimento, para preservar 
o juízo e acautelar meios de prova, é legítimo dar início à segunda fase, 
judicial, da persecução penal, mediante formalização do ato acusatório. [...]
(...)
Hoje, a chamada formação da culpa, enquanto fase destinada à apuração 
do fato que se desenhe ilícito e típico, e de sua autoria, coautoria, ou de 
eventual participação, como procedimento preparatório à instauração da 
ação penal, se dá, primordialmente, no inquérito conduzido pelas autorida-
des policiais, como estatui o art. 4º, caput, do Código de Processo Penal. 
Esta é a regra; não, porém, absoluta. 
É que convém lembrar a existência válida dos institutos do Inquérito Policial 
militar, do inquérito administrativo stricto sensu, do inquérito civil, ati-
nente à ação civil pública, do inquérito parlamentar e, até, da modalidade 
de formação da culpa nos crimes contra a propriedade imaterial. Há, 
portanto, nas três esferas de Poder, distintas formas que ou são já, por 
natureza, preliminares de persecução penal, como, v. g., o Inquérito Poli-
cial militar, ou que, não o sendo, podem, na prática, funcionar como tais, 
e todas elas lícitas.
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E prossegue o Ministro, rechaçando a possibilidade de o Ministério Público exercer 
atividade típica de polícia judiciária, porquanto não é órgão policial e não lhe foi outor-
gada essa competência, admitindo, contudo, a possibilidade de realizar atos investigati-
vos para apuração de crime:
Não vejo, em suma, como nem por onde reconhecer ao Ministério Pú-
blico competência para, mediante procedimento investigativo destinado 
à apuração de infrações penais, como medida preparatória à instauração 
de ação penal, exercer poderes de polícia judiciária, reservados aos orga-
nismos policiais, sobre cujas correspondentes atividades têm, no entanto, 
poder de requisição e fiscalização:
(...)
Concedo, porém, consoante de há muito já o fiz no julgamento do HC 
nº 93.224, que, à luz da vigente ordem jurídica, possa o Ministério Públi-
co realizar, diretamente, atividades de investigação da prática de delitos, 
para fins de preparação e eventual instauração de ação penal, em hipó-
teses excepcionais e taxativas, desde que se observem certas condições e 
cautelas tendentes a preservar os direitos e garantias assegurados na cláu-
sula constitucional do justo processo da lei (due process of law), como, 
aliás, o admitem precedentes da Corte.
Por fim, o STF firmou posição de que o MP pode realizar atos investigatórios, con-
solidando a seguinte tese:
[...] o Tribunal afirmou a tese de que o Ministério Público dispõe de com-
petência para promover, por autoridade própria, e por prazo razoável, 
investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e ga-
rantias que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob inves-
tigação do Estado, observadas, sempre, por seus agentes, as hipóteses 
de reserva constitucional de jurisdição e, também, as prerrogativas pro-
fissionais de que se acham investidos, em nosso País, os Advogados (Lei 
nº 8.906/94, art. 7º, notadamente os incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX), 
sem prejuízo da possibilidade – sempre presente no Estado democrático 
de Direito – do permanente controle jurisdicional dos atos, necessaria-
mente documentados (Súmula Vinculante nº 14), praticados pelos mem-
bros dessa Instituição.
Limites e Atribuições do MP no 
Controle Externo da Atividade Policial
Como decorrência do Estado Democrático de Direito1, no Brasil não existe (ou não 
poderia existir) Poder ou Instituição sem fiscalização. 
E, nessa seara, o controle da atividade policial não é novidade, tampouco exclusivi-
dade brasileira.
1 CF/88, Art. 1º, caput.
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UNIDADE Inteligência Policial e Controle da 
Atividade Policial pelo Ministério Público
Os mecanismos de controle objetivam adequar os comportamentos da polícia às ex-
pectativas da Sociedade. É a Sociedade que define qual modelo de polícia ela quer e o 
que espera dessa polícia. Da mesma forma, é ela que deve controlar se sua polícia está 
cumprindo o papel para o qual foi criada.
Como afirma Bayley (2017, p. 174) acerca dos mecanismos de controle externo da ati-
vidade policial, “A ação institucional se manifesta no modo como seus membros agem; o 
controle das Instituições não existe se o comportamento de seus membros não é afetado”.
Na verdade, o autor nos faz lembrar e refletir que a Instituição é um ente abstrato e 
sua exteriorização para os cidadãos se dá por meio de seus agentes. Não pode haver 
boas instituições com maus profissionais. Não pode haver mudança de comportamento 
institucional sem mudança de comportamento no nível individual de cada agente.
Logo, os mecanismos de controle devem dispor de ferramentas para promover os 
ajustes necessários aos comportamentos incompatíveis, remodelando a força ao padrão 
desejado (e determinado) pela Sociedade.
Os diversos mecanismos de controle podem ser formais (Ministério Público, por 
exemplo) ou informais (como a imprensa), bem como internos (as Corregedorias, ge-
ralmente, são órgãos internos) ou externos (as Ouvidorias de Polícia, geralmente, não 
fazem parte da estrutura institucional).
Vamos dedicar uma parcela especial de atenção à atuação do Ministério Público 
como fiscal da atividade policial.
O controle externo da atividade policial pelo Ministério Público pode se apresentar 
sob a forma ordinária e extraordinária.
O controle ordinário (ou geral) consiste na atividade exercida corriqueiramente, seja 
por meio da verificação do trâmite das investigações policiais e do cumprimento das 
diligências requisitadas, seja por meio de visitas periódicas às unidadesde polícia, a fim 
de verificar a regularidade dos procedimentos policiais e da custódia dos presos que 
porventura se encontrarem no local.
O controle extraordinário, por sua vez, é focado em problemas específicos identi-
ficados nessas visitas.
A Constituição de 1988, em seu Art. 129, VII, considerou função institucional do 
Ministério Público o exercício do controle externo da atividade policial, na forma da Lei 
complementar de regência da Instituição. 
Assim, tal atividade é exercida em conformidade com o disposto nas Leis orgânicas 
do Ministério Público da União e dos Ministérios Públicos dos Estados.
Assim prevê o Art. 129 da CF:
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
(...)
VII – exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei 
complementar mencionada no artigo anterior.
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A Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, Lei nº 8.625, de 12 de fevereiro de 
1993, é muito vaga no que se refere às atribuições do MP no controle externo da ativi-
dade policial.
De outra banda, a Lei Orgânica do Ministério Público da União, Lei Complementar 
nº 75, de 20 de maio de 1993, é mais clara, e preconiza:
A rt. 3º. O Ministério Público da União exercerá o controle externo da 
atividade policial tendo em vista:
a ) o respeito aos fundamentos do Estado Democrático de Direito, aos 
objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, aos princípios 
informadores das relações internacionais, bem como aos direitos assegu-
rados na Constituição Federal e na lei;
b ) a preservação da ordem pública, da incolumidade das pessoas e do 
patrimônio público;
c ) a prevenção e a correção de ilegalidade ou de abuso de poder;
d ) a indisponibilidade da persecução penal;
e ) a competência dos órgãos incumbidos da Segurança Pública.
(...)
Art. 9º. O Ministério Público da União exercerá o controle externo da 
atividade policial por meio de medidas judiciais e extrajudiciais podendo:
I – ter livre ingresso em estabelecimentos policiais ou prisionais;
I I – ter acesso a quaisquer documentos relativos à atividade-fim policial;
I II – representar à autoridade competente pela adoção de providências 
para sanar a omissão indevida, ou para prevenir ou corrigir ilegalidade 
ou abuso de poder;
I V – requisitar à autoridade competente para instauração de Inquérito Policial 
sobre a omissão ou fato ilícito ocorrido no exercício da atividade policial;
V – promover a ação penal por abuso de poder.
(...)
A rt. 117. Incumbe ao Ministério Público Militar:
( ...)
II – exercer o controle externo da atividade da polícia judiciária militar.
(...)
A rt. 150. Incumbe ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios:
( ...)
IV – exercer o controle externo da atividade da polícia do Distrito Federal 
e da dos Territórios.
Eventualmente, algum estado-membro não tem Lei específica disciplinando a atu-
ação do MP no âmbito daquele ente, portanto, as disposições da Legislação federal 
podem ser utilizadas subsidiariamente para delimitar sua atuação.
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UNIDADE Inteligência Policial e Controle da 
Atividade Policial pelo Ministério Público
Veja que, no exercício das atividades de controle externo, conforme preconiza o Art. 9º 
destacado, o representante do MP poderá ter livre acesso às dependências da unidade poli-
cial e a quaisquer documentos relativos à atividade-fim da polícia.
Decorrência disso, poderá determinar a adoção de medidas para que sejam sanadas irre-
gularidades constatadas, determinar a instauração de sindicâncias ou outros procedimentos 
apuratórios contra os responsáveis pelas irregularidades ou até mesmo propor Ação Penal 
por abusos ou desvios de conduta identificados na atividade de controle externo.
Se assim não fosse, seria inócua a atividade de controle externo. Em outras palavras, 
o MP fiscaliza e orienta o trabalho policial, possuindo poderes para apurar e corrigir 
desvios observados.
No entanto, é importante que fique claro que esse controle externo da atividade poli-
cial não implica que as polícias estejam subordinadas ao Ministério Público. Refere-se, 
em verdade, exclusivamente ao controle da atividade-fim da polícia. 
O Ministério Público não tem controle sobre atividades-meio ou atos de gestão 
interna das polícias, como, por exemplo, as compras de equipamentos, os concursos 
para provimento de cargos, a gestão de pessoas etc., exceto em caso de ilegalidade, 
desvio ou abuso ou, ainda, se efetivamente tais atos impactarem a atividade-fim, objeto 
de sua competência.
Por exemplo, o Ministério Público não pode se imiscuir na distribuição de efetivo po-
licial para determinar onde esse ou aquele policial deverá ser lotado para desempenhar 
suas atividades. Entretanto, caso identifique que determinado batalhão ou determinada 
Delegacia está com defasagem de efetivo em relação a outra Unidade, de modo que 
afete sua atividade operacional, poderá requisitar informações ou até propor medidas de 
caráter disciplinar e/ou penal em desfavor do responsável, caso se evidencie um caso 
de má gestão.
Em Síntese
Nesta Unidade, foram estudados:
• Conceito de inteligência policial e a diferenciação entre inteligência policial e 
investigação criminal;
• A possibilidade de investigação criminal pelo Ministério Público;
• Os limites e as atribuições do MP no controle externo da atividade policial.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Vídeos
Videoaula ESMPU – Controle externo da atividade policial
https://youtu.be/GN_qVsC1M6s
Entenda o que é o controle externo da atividade policial realizado pelo MPF
https://youtu.be/QrSwfl0OWTs
 Leitura
Lei nº 9.883, de 7 de dezembro de 1999
https://bit.ly/3d5rBND 
Procuradores da República defendem fim do Inquérito Policial
https://bit.ly/3p3akqp
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UNIDADE Inteligência Policial e Controle da 
Atividade Policial pelo Ministério Público
Referências
BAYLEY, D. H. Padrões de policiamento. Uma análise internacional comparativa. 
2.ed.2.reimp. São Paulo: USP, 2017.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: . Acesso em: 29/01/2021.
________. Decreto-lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. 
Disponível em: . Acesso em: 29/01/2021.
________. Lei Complementar nº 75, de 20 de maio de 1993. Dispõe sobre a organiza-
ção, as atribuições e o estatuto do Ministério Público da União. Disponível em: . Acesso em: 29/01/2021.
________. Lei nº 8.625, de 12 de fevereiro de 1993. Institui a Lei Orgânica Nacional 
do Ministério Público, dispõe sobre normas gerais para a organização do Ministério 
Público dos Estados e dá outras providências. Disponível em: . Acesso em: 29/01/2021.
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