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GLOSSÁRIO DAS SITUAÇÕES PRIORITARIAS PARA OS SERVIÇOS DE CONVIVÊNCIA E FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS (SCFV) Campinas I SP Maio de 2018 - Ano Referência 2016FICHA TÉCNICA Prefeito Municipal de Campinas Jonas Donizette Secretária Municipal de Cidadania, Assistência e Inclusão Social Jane Valente Departamento de Operações da Assistência Social Sílvia Jeni Luiz Pereira de Brito Coordenadoria Setorial de Proteção Social Básica Zuleika Aparecida Minussi Carneiro ELABORAÇÃO Pesquisa e Redação Alexandre Ceconello Marinho Organização e Colaboração Técnica Alexandre Ceconello Marinho Giovanna Puosso Labbate Eliete Sampaio Leila Sueli Dias Maria Margarida da Silva Maria José Tofoli Maria Rachel Nascimento Projeto Gráfico e Editoração Daniella Tristão Esteca Supervisão Sílvia Jeni Luiz Pereira de Brito Zuleika Aparecida Minussi Carneiro Revisão Final Sílvia Jeni Luiz Pereira de Brito CONTRIBUIÇÕES Esta publicação foi elaborada a partir da colaboração de muitas pessoas, dentre profissionais e gestores de serviços da Proteção Social Básica (PSB), da Proteção Social Especial (PSE) e da área de Vigilância Socioassitencial, do município de Campinas, que se dispuseram aos encontros e às discussões sobre as onze situações prioritárias para atendimento nos Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV), conforme preconizado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). As contribuições ocorreram durante o ano de 2016, através do Grupo de Trabalho para Reordenamento dos SCFV Ampliado (GT Ampliado) e dos Grupos de Trabalho para Reordenamento dos SCFV Regionais (GT's Regionais).SUMÁRIO PREFÁCIO 04 INTRODUÇÃO 05 CARACTERÍSTICAS GERAIS DO SCFV 08 que é SCFV? 04 Quem é público-alvo dos SCFV? 04 Quem é público prioritário para os SCFV? 04 Comprovação das situações prioritárias. 04 SITUAÇÕES PRIORITÁRIAS: definição pelo MDS e discussões complementares 04 I. Em situação de isolamento; 04 II. Trabalho infantil; 04 III. Vivência de violência e/ou negligência; 04 IV. Fora da escola ou com defasagem escolar superior 2 (dois) anos; 04 V. Em situação de acolhimento; 04 VI. Em cumprimento de medida socioeducativa em meio aberto; 04 VII. Egressos de medidas socioeducativas; 04 VIII. Situação de abuso e/ou exploração sexual; 04 IX. Com medidas de proteção do ECA; 04 X. Crianças e adolescentes em situação de rua; 04 XI. Vulnerabilidade que diz respeito às pessoas com deficiência. 04 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANEXO RELAÇÃO DOS SCFV NO MUNÍCIPIO DE CAMPINAS 04PREFÁCIO Quero expressar meu prazer em apresentar este trabalho por reconhecer a sua importância, a competência entusiasmo das pessoas envolvidas na sua elaboração. Este glossário faz parte das ações do processo de reordenamento dos Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos no município de Campinas e tem envolvido, além de servidores públicos, muitos outros profissionais de diversas organizações. Entendo que reordenar é reorientar práticas e ideologias em busca de um novo paradigma sociopolítico que leve em conta as novas formas de fazer propostas tanto pela Política Nacional de Assistência Social quanto pela Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais e trabalho de reordenamento exige compromisso e fidelidade ao processo por parte de todos os envolvidos. Nesse processo de elaboração os encontros representaram uma rica oportunidade de troca de conhecimentos em assuntos tão próximos, mas ao mesmo tempo tão distintos. desenvolvimento dos trabalhos foi ancorado no compromisso em respeitar cada território, com sua realidade e sua cultura, marcadas por trajetórias e conquistas próprias. A estratégia metodológica ofereceu oportunidade de comprometimento individual e coletivo: de forma gradativa envolveram-se pessoas, com objetivos claros, engajamento, criatividade, sempre no compromisso de uma ação reflexiva que oportunizou a construção de conhecimento e de sujeitos políticos. Sutilezas do cotidiano apresentavam-se como desafiosconstantes e as respostas eram provocadas de forma que cada profissional pudesse elaborá-las a partir de suas experiências. Ressalta-se a oportunidade do convívio com as especificidades e as peculiaridades do exercício de cada função, tornando relevante trabalho multidisciplinar, oportunizando a explicitação da divisão técnica de trabalho e a resultante do trabalho conjunto. Mostra ainda a dimensão de parceria e do trabalho em rede com a articulação entre os diferentes serviços socioassistenciais, o lugar de cada um e o difícil compartilhamento de responsabilidades. Estas questões tornaram-se muito presentes nas discussões dos profissionais! Afinal a assistência social, como política pública, inscreve-se cotidianamente como uma história de atendimento multidisciplinar, quer seja em ações preventivas, quer seja em ações curativas. Porém, falar de ações preventivas na assistência social é falar de ações já cunhadas pela vulnerabilidade e risco social, haja vista o público prioritário discutido no presente trabalho. Evidenciou-se, então, a importância de fundamentar a partir deste glossário, reflexões e práticas desenvolvidas pelas equipes de forma que desvelasse a relação intrínseca existente entre as diversificadas e contraditórias dimensões de seus trabalhos específicos. Ficou evidente, também, para além dessas diferenças, a valorização da transdisciplinaridade da abordagem, no sentido de reconstituir a unidade de seu objeto de intervenção no contexto da diversidade das ações necessárias para superação das questões postas. Neste trabalho, a equipe traduz muitos sentimentos e percepções que decorrem da experiência profissional de cada um e, penso, que ele provocará também muitos outros profissionais. Oferece a oportunidade de reflexões sutis que trazem à tona muitos aspectos vividos nos serviços, nos territórios e no desafio cotidiano do viver profissional. Traz importantes nuances existentes no engajamento de um trabalho árduo e valoroso na atenção às famílias e indivíduos envolvidos em situações de vulnerabilidade e risco social. Parabéns pelo trabalho desenvolvido! Que ele seja aplicado da mesma forma evidenciada na sua construção: com responsabilidade e com amorosidade! Jane Valente Secretária Municipal de Assistência Social e Segurança Alimentar Dezembro de 2016INTRODUÇÃO processo de Reordenamento dos Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) encontra-se em desenvolvimento desde ano de 2013, a partir do Termo de Aceite estabelecido entre o município e o então Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). Tal processo implica no cumprimento das orientações trazidas pela Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, na adoção de novos parâmetros da oferta para "público prioritário" e no seu financiamento. Desde mês de agosto do ano de 2014 a direção do Departamento de Operações de Assistência Social (DOAS) na perspectiva da gestão compartilhada, princípio norteador de suas ações, instituiu e vem coordenando as ações de reordenamento do município e também o Grupo de Trabalho (GT) de Reordenamento dos Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV), mais tarde identificado como GT Ampliado, um dos eixos norteadores de tal processo1. Com o objetivo de reunir e mobilizar a rede executora dos SCFV no processo de reordenamento, por meio de encontros mensais o GT buscou a construção coletiva de ações estratégicas que impactassem no referido processo. Dentre as ações previstas para reordenamento desafio mais emblemático voltou-se para o denominado público prioritário2, o qual se encontra caracterizado pela meta de inclusão nos SCFV de crianças e/ou adolescentes e/ou pessoas idosas nas seguintes situações: 1. Em situação de isolamento; 2. Trabalho Infantil; 3. Vivência de Violência e/ou Negligência; 4. Fora da escola ou com defasagem escolar superior a 2 anos; 5. Em situação de acolhimento; 6. Em cumprimento de MSE em meio aberto; 7. Egressos de medidas socioeducativas; 8. Situação de abuso e/ou exploração sexual; 9. Com medidas de proteção do ECA; 10. Crianças e adolescentes em situação de rua; 11. Vulnerabilidade no que diz respeito às pessoas com deficiência. A ação afirmativa em torno do público prioritário busca incluir aqueles que realmente se encontram em situação de vínculos familiares/sociais fragilizados, pois se demonstrou por meio de pesquisa nacional uma baixa inclusão do público nessas situações. Embora essas situações prioritárias sejam do conhecimento dos trabalhadores do SUAS, o fato de os serviços, a partir de então, se dividirem entre "público do serviço" e "público prioritário", cada um com 50% das metas, gerou grande desconforto na rede.Tal desconforto colocou em xeque as metodologias de trabalho. Se algumas já não se mostravam potentes, especialmente entre os adolescentes, que esperar para as onze situações prioritárias consideradas ainda mais complexas? Diante dessa tensão, os encontros do GT Ampliado se dedicaram à melhor apreensão e reconhecimento do público prioritário, aos aspectos metodológicos dos serviços, ao mapeamento dos SCFV nos territórios, bem como ao perfil das equipes técnicas, ações essas que destrincharam aspectos comuns e singulares dessa importante rede de serviços do município, favorecendo sua qualificação, além de reunir os participantes em torno de uma mesma unidade de propósitos, qual seja, a de um trabalho no âmbito preventivo, potente e transformador. As ações de reordenamento desenvolvidas de forma integrada e articulada em torno dos quatro eixos mencionados foram fortemente apoiadas pelo processo de formação "Convivência no SUAS", o qual persistiu durante ano de 2016, capacitando diretamente 324 profissionais, tendo ainda o diferencial de revelar o protagonismo dos agentes de ação social e educadores, categoria profissional que atua na "linha de frente", ou seja, na atenção direta aos usuários desses serviços e a qual, historicamente, ficou alijada de processos de formação. A proposta desse Glossário que ora se apresenta constituiu-se em mais uma ação de formação e fortalecimento da compreensão coletiva em torno do público prioritário. A onze situações prioritárias foram discutidas e registradas em cada um dos Encontros Regionais das cinco regiões administrativas do município (norte, sul, leste, sudoeste e noroeste). A cada mês registro de uma região era passado para a outra que, por sua vez, debatia a situação e acrescentava o seu entendimento ao registro. E assim, sucessivamente, até que todas as onze situações prioritárias perpassaram por todas as regiões. A compilação do material e a interlocução com referências teóricas sobre os temas ficaram sob a responsabilidade da direção do DOAS e da Coordenadoria Setorial de Proteção Básica, a fim de se constituir um texto único e oficial, qual, posteriormente, foi legitimado pelo coletivo do GT Ampliado. Cabe aqui agradecimento especial à Coordenadoria Setorial de Proteção Básica que acompanhou todo o processo, participando das discussões e em particular, ao Alexandre Ceconello Marinho, apoio técnico dos SCFV, pela participação nas discussões, pesquisa teórica e compartilhamento dos registros. A riqueza do processo de reflexão, troca e aprendizado alcançados na elaboração desse Glossário, se por um lado ultrapassa este registro, por outro demarca o conhecimento coletivo produzido que agora trazemos a público! Aponta-se o conceito de cada situação prioritária de acordo com o estabelecido pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). Em seguida, apresentam-se elementos teóricos que dão sustentação aos diálogos estabelecidos durante esse processo, assim como se evidenciam experiências do município em direção ao enfrentamento dessas situações.Espera-se que para além dos ganhos que todo esse esforço coletivo já tenha trazido aos trabalhadores da rede de Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, dos Distritos de Assistência Social (DAS), dos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), dos Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS) e trabalhadores da Alta Complexidade, esse Glossário possa trazer luz a tantos outros profissionais que no seu cotidiano buscam fortalecer as seguranças e a proteção do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Silvia Jeni Luiz Pereira de Brito Diretora do Departamento de Operações de Assistência Social (DOAS)CARACTERÍSTICAS GERAIS DO SCFV QUE É SCFV? Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV), juntamente com os demais serviços de Proteção Social Básica do SUAS, contribuem para prevenir o rompimento das relações familiares e comunitárias, por meio da promoção da convivência e da socialização entre os usuários. fortalecimento de vínculos protetivos, saudáveis e construtivos é objetivo principal e o resultado do trabalho desenvolvido no serviço. (BRASIL, 2016a) QUEM É PÚBLICO-ALVO DOS SCFV? É preciso estar claro que SCFV integra SUAS, portanto, podem participar todas as pessoas que dele necessitar. Porém, entre os usuários a serem atendidos há os que vivenciam as situações de vulnerabilidade social e/ou violação de direitos elencadas na Resolução CNAS 1/2013, chamados de público prioritário. (BRASIL, 2016a) QUEM É PÚBLICO PRIORITÁRIO PARA SCFV? De acordo com as diretrizes do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome, atual Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário (MDS), e do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), três aspectos são determinantes para a identificação de usuários como público prioritário para os SCFV: o ciclo de vida/idade; estar contemplado em uma ou mais das 11 (onze) situações prioritárias; e as regras de compatibilidade (excessões). (BRASIL, 2016a) Ciclos de vida/idade: Crianças (de 0 a 12 anos incompletos); Adolescentes (de 12 anos completos a 18 anos completos) Pessoas idosas (igual ou superior a 60 anos). Situações Prioritárias: I. Em situação de isolamento; II. Trabalho infantil; III. Vivência de violência e/ou negligência; IV. Fora da escola ou com defasagem escolar superior a 2 (dois) anos; V. Em situação de acolhimento; VI. Em cumprimento de medida socioeducativa em meio aberto; VII. Egressos de medidas socioeducativas; VIII. Situação de abuso e/ou exploração sexual; IX. Com medidas de proteção do ECA; X. Crianças e adolescentes em situação de rua; XI. Vulnerabilidade que diz respeito às pessoas com deficiência.Regras de compatibilidade (exceções): a) Trabalho infantil: crianças e adolescentes até 15 anos de idade b) Em cumprimento de medida socioeducativa em meio aberto: adolescentes com idade entre 12 e 21 anos de idade; c) Com medidas de proteção do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA): crianças e adolescentes até 17 anos de idade; d) Egressos de medidas socioeducativas: adolescentes com idade entre 12 e 21 anos de idade; e) Situação de abuso e/ou exploração sexual: crianças e adolescentes até 17 anos de idade; f) Crianças e adolescentes em situação de rua: crianças e adolescentes até 17 anos de idade. COMPROVAÇÃO DAS SITUAÇÕES PRIORITÁRIAS § do art. da Resolução CNAS estabelece que a comprovação das situações prioritárias ocorre por meio de documento técnico, que deverá ser arquivado por um período mínimo de cinco anos, à disposição dos órgãos de controle na unidade que oferta o SCFV ou no órgão gestor, podendo este ser o CRAS, unidade que desempenham o papel de gestor territorial em cada espaço geográfico delimitado. Tal documento deve conter a identificação do usuário encaminhado, contendo os seguintes dados: nome; data de nascimento; Número de Identificação Social NIS, caso tenha; situação prioritária, conforme definido na Resolução CNAS assinatura e identificação do profissional que identificou e/ou que encaminhou. Portanto, é considerado documento técnico comprobatório das situações prioritárias quando contemplada as informações acima citadas e que pode ser elaborado por técnico de nível superior do próprio SCFV, ou por outro serviço socioassistencial, do Sistema de Garantia de Direitos, ou de outras políticas públicas, como as de Saúde e Educação, por exemplo. (BRASIL, 2016a)SITUAÇÕES PRIORITÁRIAS: definição pelo MDS e discussões complementaresI. SITUAÇÃO DE ISOLAMENTO Definição pelo MDS Diz respeito à ausência de relacionamentos regulares e cotidianos, bem como à redução da capacidade ou oportunidade de comunicar-se. Situações de adoecimento grave ou de longos tratamentos, sequelas de acidentes, deficiências que conferem às pessoas uma estética muito diferente, envelhecimento com restrições de deslocamento e outras situações dessa natureza tendem a dificultar a convivência entre as pessoas, tanto no âmbito familiar quanto no comunitário. Essas situações, por um lado, podem reduzir interesse das pessoas de conviver com os outros e, por outro, reduzem interesse dos demais familiares, vizinhos, conhecidos, amigos, entre outros de conviver com quem vivencia essas situações. Essa vivência instala um ciclo vicioso de difícil interrupção e transformação. No caso do idoso, por exemplo, as limitações e restrições causadas pelo envelhecimento muitas vezes levam os familiares a circunscrever ainda mais os relacionamentos e a interação social dessas pessoas. Assim, a partir do isolamento, outras vulnerabilidades são geradas, como a sensação de não ser reconhecido como importante para as pessoas. Viver essa situação torna a pessoa mais insegura e vulnerável (MDS, Concepção de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, 2013, p. 30, com adaptações). Vale destacar que, apesar de haver especificidades que demandam avaliação pela equipe técnica, isolamento geográfico/territorial de comunidades não caracteriza, por si só, uma situação prioritária para SCFV. (BRASIL, p. 33-34) Discussões complementares conceito de isolamento social, de acordo com o pensamento de Karl Mannheim (1974, apud. CORRÊA e ROZADOS, 2014), é apresentado como falta de interação, de contatos sociais, uma situação marginal na vida social; pode ser interpretado como um comportamento em que a pessoa deixa de participar de atividades sociais, como na família, no trabalho, na escola, em locais de lazer, dentre outras situações que exijam o contato com pessoas. Os profissionais do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) de Campinas, em especial da Proteção Social Básica, identificam que a situação de isolamento está presente nos diferentes ciclos de vida e nos diversos territórios do município. Esta situação pode ser voluntária ou não, ou seja: a pessoa pode escolher isolamento, considerando-o uma forma de proteção individual; ou pode ser isolada por grupos sociais e instituições, em um processo de discriminação e/ou negligência. Idosos, por exemplo, é um grupo populacional em que isolamento aparece como um problema recorrente. Em muitos casos, em decorrência de limitações impostas pelo processo de envelhecimento e do imaginário social negativo sobre a velhice, estas pessoas são isoladas dos espaços de convivência por grupos e instituições, resultando em pouca ou nenhuma alternativa de sociabilidade; outras, para se protegerem do preconceito e das violências as quais estão vulneráveis, acabam se afastando dos espaços públicos e coletivos na tentativa de se sentirem menos desprotegidas. Processos similares podem ocorrer em relação às pessoas com deficiência, que, pela diferença, são excluídas de espaços coletivos e/ou tentam se preservar no afastamento social. Além disso, apesar da necessidade da acessibilidade ter ganhado destaque nos últimos anos, espaços adaptados para as pessoas com deficiência ainda são precários, prejudicando a mobilidade e direito de acesso aos espaços públicos e privados.Crianças e adolescentes são grupos populacionais em que as situações de isolamento estão crescendo. Corrêa e Rozados (2014), em uma pesquisa sobre isolamento nas redes sociais virtuais, percebem que muitas pessoas, principalmente crianças, adolescentes e jovens, pelo uso excessivo desses recursos tecnológicos, deixam de conviver presencialmente com outras pessoas, experienciando um estado de solidão interativa. Wolton (2008, p. 155, apud CORRÊA e ROZADOS, 2014) afirma que essa sociedade da informação pode ser perversa na medida em que se "homogeneíza tudo e faz desaparecer o homem por detrás dos fluxos da informação". Dessa forma, as fraquezas, as forças e as contradições humanas que marcam as relações sociais se diluem e dificilmente podem ser trabalhadas como no âmbito das relações presenciais, em que outros componentes da comunicação, como o olhar, os gestos, o improviso, a argumentação são mais possibilitados. Ainda nesse campo, o chamado cyberbullying, quando a agressão se passa pelos meios de comunicação virtual, como nas redes sociais, através dos smartphones, computadores e das demais mídias, pode produzir e reforçar as situações de isolamento. Além disso, as desigualdades sociais em suas diferentes formas, como a pobreza, racismo, a homofobia, a xenofobia, o preconceito de gênero, dentre outras, precisam ser consideradas pelo profissional que avalia para a compreensão da complexidade que envolve o isolamento e a busca por sua superação. Pessoas com demandas e eventualmente acompanhadas por profissionais e/ou serviços de saúde mental também podem se configurar numa parcela importante deste público prioritário, dada a existência de muitos usuários estigmatizados, em situação de marginalidade, supermedicados, com vínculos familiares e sociais prejudicados ou rompidos. Equivocadamente, a maioria destas pessoas em situação de isolamento e sofrimento são reduzidas a problemas de ordem psicológica/psiquiátrica, numa perspectiva individual, quando se trata de problemas multifatoriais sustentados cultural e socialmente. Bader Sawaia (2001) nos ajuda a compreender melhor fenômeno do isolamento e do sofrimento, decorrente da dialética inclusão/exclusão, quando aponta para o sofrimento ético-político: é no sujeito que se objetivam as várias formas de exclusão, a qual é vivida como motivação, carência, emoção e necessidade do eu. Mas ele não é uma mônada responsável por sua situação social e capaz de, por si mesmo, superá-la. É o indivíduo que sofre, porém, esse sofrimento não tem a gênese nele, e sim em intersubjetividades delineadas socialmente". (SAWAIA, 2001, Por isso, cada caso deve ser analisado em sua singularidade, buscando a compreensão dos fatores sociais, culturais, econômicos e subjetivos que resultam no isolamento. A situação não pode ser compreendida como uma questão que se esgota em si mesma, mas sim como consequência de outras situações e das relações vividas. sujeito que vive o isolamento deve ser compreendido em sua complexidade relacional, exigindo dos profissionais que venham acolher e intervir um olhar ampliado e histórico para as relações deste com a família, com a escola e demais instituições, com o território, no acesso ou na carência de políticas públicas, nas contingências culturais, dentre outros elementos constituintes, que estejam ligados à produção e ao fortalecimento do isolamento.acesso deste público aos SCFV dificilmente ocorre por demanda espontânea. Geralmente, são referenciados por outros setores, como as unidades de saúde e as escolas, ou através de terceiros, como familiares e vizinhos. Quando do seu acesso ao serviço, não é suficiente apenas promover espaços para que a pessoa em situação de isolamento esteja na presença de outras. É necessário compreender as questões que marcam o processo de exclusão, produzindo estratégias internas, intersetoriais e comunitárias de convivência, que promovam sentido para o usuário e que construa e fortaleça seus vínculos protetivos. Além da articulação entre a rede socioassistencial, é fundamental a interlocução com outras políticas públicas, principalmente, as de Cidadania, através de serviços como o Centro de Referência LGBT e o Centro de Referência de Combate ao Racismo e Intolerância Religiosa; as de Saúde, pela Estratégia de Saúde da Família e/ou Unidade Básica de Saúde, além dos Centros de Atenção Psicossocial; dentre outras.II. TRABALHO INFANTIL Definição pelo MDS Segundo Plano Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Adolescente Trabalhador (2011-2015), trabalho infantil refere-se às atividades econômicas e/ou atividades de sobrevivência, com ou sem finalidade de lucro, remuneradas ou não, realizadas por crianças ou adolescentes em idade inferior a 16 (dezesseis) anos, ressalvada a condição de aprendiz a partir dos 14 (quatorze) anos, independentemente da sua condição ocupacional. Em relação às piores formas de trabalho infantil estabelecidas pela legislação brasileira, é importante consultar Decreto Federal 6.481, de 12 de junho de 2008, que define a Lista das Piores Formas de trabalho infantil (Lista TIP), anteriormente descrita pela Portaria 20/2001 da Secretaria de Inspeção do Trabalho, do Ministério do Trabalho e Emprego MTE. SCFV realiza atendimento a crianças e adolescentes que estão em situação de trabalho infantil e/ou dela retirados, visando garantir especialmente direito à convivência familiar e comunitária, além de outros objetivos descritos na Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais (Resolução CNAS 109/2009). Ressalta-se que a informação acerca do trabalho infantil no CadÚnico tem por finalidade retratar a situação do fenômeno no município. Já os dados registrados no Sistema de Informação do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SISC) visa informar sobre atendimento de usuários que se encontram em situação de trabalho infantil e/ou dela retirados. As informações extraídas do SISC permitem obter dados atualizados sobre atendimento no SCFV de crianças e/ou adolescentes que vivenciam e/ou vivenciaram a situação de trabalho infantil. (BRASIL, p. 34-34) Discussões Complementares A partir da década de 1990 houve uma mobilização nacional em torno do fenômeno do trabalho infantil e uma consequente produção de saberes e políticas públicas para o seu enfrentamento. Ainda de ocorrência frequente, o trabalho infantil pode ser caracterizado desde as formas mais clássicas, na incidência em linhas de produção, como confecções, indústria de brinquedos, dentre outros, até as mais sutis, como as atividades domésticas no ambiente familiar. Em linhas de produção, houve uma redução expressiva nas últimas décadas, principalmente em empresas de médio e grande porte, fruto das políticas públicas aplicadas, tendo, hoje, sua maior incidência em pequenas empresas, comércios e ambientes domésticos, de difícil identificação para fiscalização. No município de Campinas, no ano de 2013, houve uma importante articulação envolvendo diversas políticas públicas, culminando numa ação em que trabalho infantil em cemitérios, até então com expressiva incidência na cidade, foi praticamente erradicado. Por outro lado, se a superação de certas modalidades de trabalho infantil foi possibilitada, suas manifestações são dinâmicas ao longo da história e novos modos surgem, principalmente em períodos recessivos, demandando a atenção sistemática dos profissionais para a identificação e a articulação de estratégias de intervenção. Em Campinas, os profissionais dos SCFV identificaram e apresentaram alguns modos de trabalho infantil: Trabalhos em pequenos comércios, principalmente de origem familiar e aos finais de semana, como feiras, bares e mercearias; Atividades em lava-rápidos;Atividades em ambientes domésticos (da família de origem ou não), como faxina e no cuidado de bebês e crianças; Atividades tidas como culturais, artísticas e esportivas, mas que demandam profissionalização, como artistas de rua, de circo, profissionalização para o futebol, modelos, dentre outras, e que necessitam de autorização do juizado competente para o exercício por crianças e adolescentes; Tráfico de drogas; Exploração sexual (considerada outra situação prioritária). Essa dificuldade na erradicação do trabalho infantil e a emergência de novas modulações do fenômeno, conforme aponta a pesquisa de Kassouf (2007), tem como contribuição fundamental o capitalismo e processo de industrialização, em que os detentores dos meios de produção acabaram reduzindo salário dos trabalhadores e, conseqüentemente, o meio de sobrevivência das famílias". (KASSOUF, 2007) Feitosa e Dimenstein (2004), em uma pesquisa sobre Escola, Família e Trabalho Infantil, identificaram a existência da crença, no discurso de pais e professores, de que trabalho é o que livra as crianças dos perigos que a rua e a ociosidade podem trazer", na tentativa de justificar a prática laboral na infância e adolescência. Nessa perspectiva, profissionais da Proteção Social Básica de Campinas também identificaram que muitas famílias estimulam trabalho de crianças e adolescentes, principalmente nas atividades consideras internas, ou seja, dentro do espaço familiar (os fazeres domésticos e o cuidado de irmãos, por exemplo) ou a partir dele (o caso das atividades autônomas em que os pais levam seus filhos para "aprender"). No caso das atividades domésticas, além da invisibilidade que dificulta a identificação, a maioria dos casos, 72%, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 2013, é executado por meninas, expondo a implicação da questão de gênero que também demanda atenção, reflexão e intervenção. Ou seja, o trabalho infantil também se impõe como uma estratégia de poder disciplinar sobre os corpos de crianças e adolescentes. Além disso, as autoras alertam que trabalho infantil está vinculado, em parte, aos processos de desigualdade existentes no país" e que, para além da complementação da renda, existe a preocupação de muitas famílias em "dispor de oportunidades para seus filhos". (FEITOSA E DIMENSTEIN, 2004) Em muitos casos, o trabalho é um dos únicos capitais culturais de que muitos pais e professores dispõem para transmitir às crianças. A desigualdade social em todas as suas formas de acesso aos bens materiais e imateriais produzidos pela civilização, por diferenciação econômica, étnica, de gênero, dentre outras reduz a perspectiva de indivíduos e famílias quanto à possibilidade de alcançarem outros modos de vida considerados positivas pela sociedade.Kassouf (2007, p. 347) aponta que "quase a totalidade dos estudos aborda o lado da oferta do trabalho infantil, mas é preciso analisar também o lado da demanda. Entender as razões pelas quais as crianças são contratadas e seus efeitos na estrutura e no lucro das empresas e nos salários e nível de emprego do trabalhador adulto é primordial". Hoje, o programa Jovem Aprendiz permite aos adolescentes, a partir dos 16 anos de idade, o ingresso no mercado de trabalho, na perspectiva de gerar experiência e conhecimento, garantindo os seus direitos. Apesar de uma iniciativa positiva para muitos, é importante que os serviços que atuam na proteção destes adolescentes, em conjunto com suas famílias, estejam atentos aos limites da atuação no âmbito do programa, a fim de se prevenir situações em que o adolescente possa substituir a mão de obra profissional, garantindo sua finalidade. Dessa forma, é importante não incorrer na criminalização das famílias, mas na avaliação cuidadosa dos fatores culturais, sociais e subjetivos que sustentam, em cada caso, a perpetuação do trabalho infantil. A intervenção, nesse caso, não passa simplesmente pela retirada da criança dessa condição. Para além, requer um olhar sistêmico para a rede de relações da criança, do adolescente e suas famílias, dos fatores socioculturais e econômicos influentes e, consequentemente, da articulação das diversas políticas públicas, para que a situação seja superada ou, pelo menos, minimizada através da oferta de serviços ou programas socioassistenciais e de saúde, educação, habitação, cidadania, dentre outros. É, portanto, consenso entre a maioria dos profissionais das políticas públicas e das pesquisas sobre o tema que o trabalho infantil deve ser banido, "assim como os investimentos na qualidade e disponibilidade de escolas devem ser incentivados, associando-os aos programas de transferência de renda às famílias pobres." (KASSOUF, 2007)III. VIVÊNCIA DE VIOLÊNCIA E/OU NEGLIGÊNCIA. Definição pelo MDS Ocorre quando indivíduos ou grupos são impedidos de praticar ações ou compelidos a executá-las em desacordo com a sua vontade e interesse, por vezes, tendo a vida ameaçada. A violência é ponto extremo do exercício de poder de uma pessoa ou grupo sobre outra pessoa ou grupo, em que uso de força física e/ou psicológica induz e/ou obriga à realização de atos e condutas em que aquele que realiza não quer ou não sabe por que faz. Os estudos sobre violência reconhecem que ela se manifesta de diferentes formas: violência verbal, física, psicológica, doméstica, intrafamiliar, patrimonial, entre outras. Em muitas situações, essas violências se manifestam de forma associada, ou seja, juntas. Destacamos, a seguir, aquelas que comumente levam usuários até os serviços socioassistenciais. A violência intrafamiliar, por exemplo, é toda ação ou omissão que prejudica bem-estar, a integridade física, psicológica ou a liberdade e direito ao pleno desenvolvimento de outro membro da família. Pode ser cometida dentro ou fora de casa por algum membro da família, incluindo pessoas que passam a assumir função parental, ainda que sem laços de consanguinidade, e em relação de poder à outra. Não se restringe ao espaço físico onde a violência ocorre (MS, 2002). Já a violência doméstica se distingue da violência intrafamiliar por incluir outros membros do grupo, sem função parental, que convivem no espaço doméstico. Incluem-se aí empregados(as), pessoas que convivem esporadicamente no domicílio ou agregados. Outro tipo recorrente de violência é a psicológica, que é identificada quando existe um tipo de assimetria nas relações entre as pessoas, mais especificamente nas relações de poder. Ela se expressa na imposição de forças de uma pessoa sobre a outra, que é subjugada num processo de apropriação e dominação da sua vontade. Pode produzir na pessoa que foi subjugada comportamentos destrutivos, isolamentos, medos/fobias, entre outros. São exemplos desse tipo de violência as ameaças de morte, a humilhação pública ou privada, a tortura psicológica, a exposição indevida da imagem da criança ou do adolescente (FALEIROS,1996; AZEVEDO; GUERRA, 1998). A violência física, por sua vez, se refere a toda e qualquer ação, única ou repetida, não acidental ou intencional, cometida por um agente agressor, provocando danos físicos que podem variar entre as lesões leves a consequências extremas, como a morte (LACRI/USP, s/d). São exemplos de violência física as surras, os espancamentos, as queimaduras, as agressões com objetivo contundente, a supressão da alimentação com caráter punitivo e as torturas (Manual de Instruções para Registro das Informações especificadas na Resolução CIT 04/2011, alterada pela Resolução CIT 20/2013). Expressa-se por meio da omissão e do descumprimento de responsabilidades por parte daqueles que têm dever de cuidar e proteger: família, Estado e sociedade. Consiste na omissão injustificada por parte dos responsáveis em supervisionar ou prover as necessidades básicas da criança, adolescente, pessoa idosa ou pessoa com deficiência, os quais, face ao estágio do desenvolvimento no qual se encontram e/ou de suas condições físicas e psicológicas, dependem de cuidados constantes. Pode representar risco à segurança e ao desenvolvimento do indivíduo, podendo incluir situações diversas, como por exemplo: privação de cuidados necessários à saúde e higiene; descumprimento do dever de encaminhar a criança ou adolescente à escola; deixar a pessoa sozinha em situação de iminente risco à sua segurança, etc. abandono consiste na forma mais grave de negligência. Pode ser parcial, por exemplo, quando os pais ou responsáveis se ausentam temporariamente deixando a pessoa (criança ou adolescente, pessoa idosa ou com deficiência, por exemplo) em situação de risco; ou total, que se caracteriza pelo afastamento completo do convívio daqueles responsáveis pelo seu sustento, apoio, amparo e proteção. Dessa forma, tais pessoas ficam expostas a inúmeros riscos, tendo os seus direitos básicos violados. Segundo Azevedo e Guerra (2008), é importante diferenciar a negligência daquelas situações justificadas pela condição de vida da família. No âmbito dos atendimentos socioassistenciais, é necessário considerar se a família como um todo está vivenciando situações de abandono e/ou se os seus direitos básicos também estão sendo negligenciados. Assim, antes de realizar encaminhamento de usuários ao SCFV alegando-se situação de negligência, é preciso conhecer, de maneira mais aprofundada, as condições de vida da família, de modo a identificar recursos e estratégias que ela mobiliza para prover proteção a seus integrantes. A avaliação superficial de certas situações pode levar à conclusão equivocada de que se trata de negligência. Nessa avaliação, é preciso atentar-se aos esforços que as famílias realizam para garantir, por exemplo, mínimo necessário à subsistência de seus integrantes. Isso se aplica, por exemplo, nas situações em que os provedores da família deixam as crianças pequenas aos cuidados de irmãos ou primos mais velhos para ir trabalhar. Trata-se de uma situação bastante complexa, que não toca apenas os deveres dos pais ou responsáveis em relação às criança e adolescentes. Estado é responsável por implementar políticas públicas capazes de dar suporte, alternativas e meios àsfamílias, a fim de que crianças e adolescentes não fiquem desprotegidos na hipótese de sua família não ter condições de protegê-los integralmente e constantemente. Se Estado não oferta ou oferta de modo insuficiente para suprir a demanda total suporte, as alternativas e os meios que, neste caso, podem ser creche, escola em tempo integral, programas ou projetos de acesso a esporte, lazer e cultura no contraturno escolar também é negligente com relação às famílias, às crianças e aos adolescentes. Nessa situação, a família é colocada em uma "encruzilhada", pois precisa assegurar sustento das crianças e adolescentes por meio do trabalho dos adultos e também deve mantê-los em segurança durante a sua ausência, sem ter, entretanto, com que/quem contar. No atendimento socioassistencial, é importante ter um olhar sensível a esse tipo de situação, a fim de não culpar as famílias, julgando-lhes negligentes, quando, na verdade, a situação sugere um contexto de negligência bem mais complexo do que a aparência. Diante de uma situação como essa, cabe aos técnicos dos serviços socioassistenciais auxiliar as famílias a encontrar alternativas mais adequadas para a proteção das crianças e adolescentes, por exemplo, localizando possíveis parceiros na rede local para os quais as crianças e adolescentes possam ser encaminhados durante a ausência dos pais ou responsáveis. Os técnicos devem acionar, ainda, Conselho Tutelar, que é órgão competente para apurar violações de direitos contra crianças e adolescentes e aplicar as medidas protetivas cabíveis, caso sejam necessárias. É importante considerar que a situação de negligência assim é caracterizada quando a ausência ou omissão injustificada dos familiares adultos submete a risco ou a violação de direitos a pessoa que demanda cuidados. Assim, nos encaminhamentos de usuários ao SCFV, é preciso zelo para não banalizar a situação de negligência, aplicando-a indiscriminadamente às pessoas. Constatada essa situação, mais do que encaminhar os usuários a esse serviço, é necessário acionar a rede de proteção e defesa de direitos Ministério Público, Defensoria Pública, entre outros, a fim de que a situação seja apurada e que as autoridades competentes tomem as medidas capazes de fazer cessar problema. Os profissionais responsáveis pelo atendimento à família devem fazer uma leitura atenta do contexto familiar, a fim de não incorrer em simplificações da realidade vivenciada pela família (Orientações Técnicas: Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos, MDS, 2013 versão preliminar com adaptações). (BRASIL, p. 35-38) Discussões complementares A questão da violência é complexa, coexistindo uma série de instituições, autores e perspectivas teóricas que versam sobre o tema. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define "a violência como uso de força física ou poder, em ameaça ou na prática, contra si próprio, outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade que resulte ou possa resultar em sofrimento, morte, dano psicológico, desenvolvimento prejudicado ou privação", demarcando o lugar do poder nas situações reconhecidas como de violência. Para Foucault (1982, apud. MAIA, 1995), violência e poder não são sinônimos. A violência pode ser utilizada como um instrumento nas relações para a garantia do poder. "Ele [o poder] é uma estrutura de ações; ele induz, incita, seduz, facilita ou dificulta; ao extremo, ele constrange ou, entretanto, é sempre um modo de agir ou ser capaz de ações. Um conjunto de ações sobre outras ações". (FOUCAULT, 1982, p. 220, apud. MAIA, 1995, 90) Dessa forma, pode se compreender que o poder é elemento fundamental das relações sociais, que podem facilitar ou dificultar as ações, os empreendimentos dos sujeitos no seu cotidiano, na relação com outras pessoas, instituições, desafios, desejos, etc. No entanto, torna-se violência quando o poder é assimétrico e, a si próprio ou a outras pessoas, constrange, promove dano físico e/ou psicológico, pontual ou prolongado.Os territórios mais vulneráveis, em que as desigualdades são destacadas e questões como pobreza, más condições de saneamento, mobilidade, infraestrutura e acesso às políticas públicas em geral que por si só já configuram violação de direitos afetam diretamente a vida de famílias e indivíduos, facilitam outras formas de violência, exigindo das pessoas e grupos que ali vivem formas improvisadas de organização para lidar com as dificuldades onde o Estado não se faz presente. Um exemplo são as comunidades dominadas pelo tráfico que garantem, ainda que de forma secundária e precária, a renda e a segurança de muitas famílias. No entanto, apesar de a violência ser comumente associada à população mais pobre, ela se expressa em todas as camadas da sociedade e em diferentes modulações. No entanto, o empoderamento econômico e social desses indivíduos e famílias, para além da garantia de proteções e benefícios, também pode se configurar em barreiras para a atuação do Estado e das políticas públicas, permanecendo veladas, dadas as formas mais sofisticadas de sua ocorrência e o domínio que o privado acaba estabelecendo sobre as políticas públicas e próprio Estado. Além disso, a política de Assistência Social no imaginário coletivo ainda é muito restrita ao campo da pobreza, de uma tradição beneficente, se materializando, muitas vezes, na atuação dos profissionais e na relação com o cidadão que poderia denunciar estes casos, como os de violência doméstica, por exemplo. Os profissionais da Proteção Social Básica de Campinas compreendem que a situação de violência, quando da sua ocorrência ou eminência, tem de ser observada em sua complexidade, não reduzindo ou fragmentando os indivíduos e famílias que vivenciam e sentem a violência de forma singular, dependendo de suas relações e do capital cultural de cada um. No entanto, sem o intuito de generalizar, foram identificadas várias formas de violência, que se associam e inter-relacionam com outras questões, e que estão em consonância com o que dispõe o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), inclusive, algumas já explicitadas pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), dentre elas: Violência física ação ou omissão que coloque em risco ou cause dano à integridade física de uma pessoa. Violência moral ação destinada a caluniar, difamar ou injuriar a honra ou a reputação de qualquer pessoa, famílias ou grupos. Violência psicológica ação ou omissão destinada a degradar ou controlar as ações, comportamentos, crenças e decisões de outra pessoa por meio de intimidação, manipulação, ameaça direta ou indireta, humilhação, isolamento ou qualquer outra conduta que implique prejuízo à saúde psicológica, à autodeterminação ou ao desenvolvimento pessoal. Violência de gênero ou por orientação sexual - violência psicológica e/ou física sofrida pelo fato de ser mulher, travesti, transexual, lésbica ou gay, produto de um sistema social que subordina o feminino, denominado machismo; e que tem a heterossexualidade como modelo dominante de orientação sexual, chamado heteronormatividade.Violência étnico-religiosa: violência moral e física, motivadas pela discriminação e ódio às diferenças por cor da pele, descendência e/ou prática religiosa, como as de matriz africana. Violência doméstica e familiar ocorre dentro de casa ou no âmbito das relações familiares, formada por vínculos de parentesco natural (pai, mãe, filha, etc) ou civil (marido, sogra, padrasto, ou outros), por afinidade (por exemplo, o primo, ou tio do marido) ou afetividade (amigo ou amiga que more na mesma casa). Violência sexual ação que obriga uma pessoa a manter contato sexual (físico ou verbal), ou a participar de outras relações sexuais com uso da força, intimidação, coerção, sedução, chantagem, suborno, manipulação, ameaça ou qualquer outro mecanismo que anule ou limite a vontade pessoal. Também se considera violência sexual o fato do autor da violência obrigar a vítima realizar alguns desses atos com terceiros. Este tipo de violência se caracteriza como uma situação prioritária específica para os SCFV. A negligência em relação às crianças, adolescentes, idosos e pessoas com deficiência, conforme exposto pelo MDS, se dá pela omissão ou descumprimento da responsabilidade de cuidar e proteger, seja por parte da família, do Estado e/ou da sociedade; além disso, demarca a importância de não se banalizar o conceito, principalmente por parte das famílias, quando estas também estão vitimadas por algum processo de exclusão e/ou violência, o que "inclui pobreza, discriminação, subalternidade, não equidade, não acessibilidade, não representação pública" (SPOSATI, 1996, p.11) Dessa forma, em vez de culpabilizar e tomar alguma iniciativa que penalize a família, é necessário inicialmente compreender se, para que ela cumpra o papel que lhe é social e legalmente atribuído, há condições mínimas de sobrevivência, renda, emprego, serviços públicos adequados, habitação, saúde, educação e assistência; e que ela seja respeitada em suas diferentes organizações, em seus direitos civis e sociais. Caso haja a identificação de alguma privação que interdita os direitos das famílias e integrantes, a articulação entre as diferentes políticas públicas precisa ser tratada com urgência e prioridade, para que a superação ou minimização dos danos sejam efetivadas, a fim de que ela (re)estabeleça sua capacidade protetiva. Além disso, qualquer intervenção que resulte em alguma medida legal deve ser considerada como temporária, ou seja, um período para o (re)estabelecimento dessa capacidade.IV. FORA DA ESCOLA OU COM DEFASAGEM ESCOLAR SUPERIOR A 2 (DOIS) ANOS Definição pelo MDS Situação em que crianças e adolescentes tiveram prosseguimento regular do percurso escolar interrompido ou retido. A interrupção implica em abandono dos estudos ou evasão escolar. A retenção poderá ocorrer devido a situações de repetência escolar, de modo que o estudante passa a vivenciar uma defasagem em relação ao ano/série/ciclo em que deveria estar na escola e a sua faixa etária. Em algumas situações, esse descompasso passa a ser incompatível com a organização (seriada ou em ciclos) estabelecida para sistema regular de ensino. Vale lembrar que, de acordo com a legislação, a obrigatoriedade de inserção no ensino fundamental é a partir de 6 (seis) anos. encaminhamento de crianças e adolescentes que estejam fora da escola ou em defasagem escolar ao SCFV é coerente com um dos objetivos desse serviço, que é de contribuir para a inserção, reinserção e permanência dos usuários no sistema educacional, com reconhecimento de que a educação é um direito de cidadania (Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, 2009, p. 12-13). (BRASIL, p. 38.) Discussões complementares Esta situação prioritária é compreendida pela condição de estar fora da escola ou em defasagem superior a dois anos, de acordo com o ciclo/série correspondente à idade escolar ideal. É uma questão complexa, que não se resolve apenas com o retorno escolar de quem está fora ou com a progressão continuada do aluno que não desenvolveu o aprendizado dos conteúdos propostos para determinado período. Para além da evasão escolar e a dissonância entre o ciclo/série e a idade escolar ideal, os SCFV recebem crianças e adolescentes com defasagem de aprendizagem em relação ao conteúdo do ano em que cursam; muitos são identificados como analfabetos funcionais, com dificuldades de leitura, escrita, interpretação e cálculos simples. Apesar destes casos (em que não se apresenta a evasão ou a defasagem entre ciclo/série e idade escolar, mas com prejuízo na aprendizagem) não configurarem situação prioritária, de acordo com as orientações do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), estas crianças e adolescentes são público-alvo dos SCFV, uma vez que o prejuízo na aprendizagem potencializa risco da evasão e da defasagem escolar. Essa nova diretriz para os SCFV reforça a proposta de convivência para fortalecimento de vínculos, com a intencionalidade de proteção social, superando a concepção equivocada de contraturno ou de serviço complementar à escola. Portanto, aulas de reforço e exigência de matrícula ou frequência escolar para acesso aos SCFV são vedadas. Além disso, muitos jovens, adultos e idosos não iniciaram ou tiveram seu processo de escolarização interrompido e podem ter acesso a essas etapas da escolaridade por meio de cursos e avaliações, através da Educação de Jovens e Adultos (EJA) ou do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Os profissionais da Proteção Social Básica de Campinas identificaram outros fatores que podem contribuir para a evasão e/ou a defasagem escolar de crianças e adolescentes. São eles: Patologização e medicalização; Desnutrição;Questões de saúde mental sem a devida atenção/cuidado; Desigualdade social; Trabalho infantil; Doenças orgânicas; Uso de substâncias psicoativas pela criança/adolescente ou pela mãe durante a gestação; Envolvimento com tráfico de drogas ou outras atividades ilícitas; Falta de saneamento básico em casa; Violência doméstica; Situações de bulling (violência moral e/ou física); Sistema educacional não atrativo; Expulsão da escola. No entanto, fatores acima citados também não se produzem de forma isolada, mas fazem parte de uma rede de relações que compõe a história e a experiência daqueles que vivem estas situações. Não é incomum encontrar discursos que tentam explicar a evasão e a defasagem escolar de forma artificial, resultando em categorizações genéricas e/ou na culpabilização da escola e, principalmente, do próprio aluno e sua família. Afirmar que crianças e adolescentes, em especial os mais pobres e que moram em bairros periféricos, são vitimados por "famílias desestruturadas" é um exemplo deste tipo de categorização. De acordo com Asbahr e Lopes (2006), trata-se de uma posição preconceituosa que precisa ser superada e que diversos autores, dos quais, Marilena Chauí e Maria Helena de Souza Patto, refletem: "a pobreza, desde início da revolução industrial, passou a ser entendida como inferioridade moral e física, natural de povos e indivíduos primitivos e transformou-se em instrumento de culpabilização das classes populares por suas condições de vida". (ASBAHR E LOPES, 2006, p. 64) Além disso, a organização das famílias está cada vez mais diversificada e a perspectiva de uma família nuclear, tradicional, como organização familiar ideal, está cada vez mais distante da realidade social. Famílias com casais homoparentais e/ou com mulheres liderando o grupo familiar, e/ou com avós, tios e agregados compartilhando o cuidado, são exemplos de novos arranjos que têm se tornado cada vez mais frequentes e precisam ser compreendidos em sua singularidade, nas relações que as constituem, nas necessidades e desejos que mobilizam seus membros e que dão sentido ao seu agrupamento familiar; crenças pessoais ou valores culturais dominantes não podem servir de manual para a leitura e a compreensão das dinâmicas familiares. É necessário que a criança e/ou adolescente nesta situação prioritária sejam compreendidos na relação com a estrutura e organização de sua família, com a realidade de sua comunidade e do território ao qual circulam, com o acesso aos recursos materiais e imateriais ao qual dispõem ou carecem, e com o próprio sistema escolar. Assim como outras queixas escolares, a evasão ou a defasagem não podem ser concebidas como problemas que se encerram no aluno, de forma naturalizada, mas, conforme aponta Asbahr e Lopes (2006, p. 70), "um processo construído nas relações escolares, nas histórias de vida dos personagensenvolvidos, nas relações institucionais. Estas, por sua vez, só podem ser entendidas no contexto maior da estrutura social como produto da história." A defasagem ou a interrupção do processo de escolarização acarreta àqueles que estão nesta situação outras vulnerabilidades sociais, tendo em vista que os códigos formais, como a escrita, a leitura, o raciocínio lógico, os esquemas de interpretação, dentre outros, são instrumentos de poder no acesso e no pleito de direitos sociais. Além disso, a dificuldade para o ingresso no mercado de trabalho, sendo relegados a trabalhos desprotegidos, que comprometem a integridade biopsicossocial, com baixa remuneração, perpetuando os ciclos de pobreza, é outra possível consequência da exclusão desses sujeitos do processo de escolarização. Portanto, não cabe aos profissionais e serviços socioassistenciais um posicionamento conservador para a situação de evasão e defasagem escolar, ou seja, que empreende um certo modo de análise repetitivo, genérico e centrado em valores individuais. É necessário um olhar ampliado e crítico para cada caso; fomentar a articulação com outras políticas públicas, principalmente de Educação, a fim de se promover estratégias e contribuir para a criação de alternativas no sistema escolar, incluindo as propostas pedagógicas e a forma de funcionamento das escolas; a produção de sentido para o retorno ou para a implicação no processo de escolarização daquele que evadiu ou está em defasagem; além da necessidade de construir com estes sujeitos outras relações (com a família, com o bairro, com grupos e instituições) que promovam sua proteção social.V. EM SITUAÇÃO DE ACOLHIMENTO Definição pelo MDS Situação em que famílias e/ou indivíduos com vínculos familiares rompidos ou fragilizados são atendidos em diferentes equipamentos de permanência provisória ou longa, a depender de cada situação, garantindo a privacidade, respeito aos costumes, às tradições e à diversidade de: ciclos de vida, arranjos, raça/etnia, deficiência, gênero e orientação sexual, a fim de ter garantida a sua proteção integral. SCFV não poderá ser executado nas unidades de acolhimento. Os usuários deverão participar das atividades nas unidades executoras, sejam elas de execução direta ou indireta, tendo em vista que esse serviço, entre outras atribuições, deve favorecer as trocas culturais e de vivências entre os usuários, a socialização e a convivência comunitária, além da heterogeneidade na composição dos grupos (Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, 2009, p. 9-10). As Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes (MDS, 2009, p. 56) afirmam que acolhimento não deve significar a privação do direito à convivência comunitária. É necessário que haja parceria com as redes locais e a comunidade para favorecer a construção de vínculos significativos entre crianças, adolescentes e comunidade. As pessoas em situação de acolhimento devem participar da vida diária da comunidade e ter oportunidade de construir laços de afetividade significativos com a mesma. Nesse sentido, a participação dos usuários em situação de acolhimento no SCFV deve propiciar a sua circulação no território onde são estabelecidas as relações sociais mais recorrentes e nos seus arredores, de maneira a apropriar-se da história do local, perceber suas necessidades e potencialidades, a fim de que também participe nos processos intervenção e mudança por meio do exercício da cidadania. A realização do grupo de convivência do SCFV na própria unidade de acolhimento, apenas com usuários acolhidos, dificulta alcance dos objetivos propostos. (BRASIL, 2016a, p. 38-39) Discussões complementares acolhimento institucional de crianças e adolescentes, geralmente em Abrigo Institucional ou Casa- lar, deve ser de caráter excepcional e provisório, e nunca de longa permanência. A reavaliação do acolhimento, de acordo com a Lei Federal 12.010/2009, deve ocorrer a cada seis meses e, em até dois anos, as crianças e adolescentes precisam estar reinseridos à vida sociofamiliar, salvo análise muito criteriosa do caso. Por isso da importância na "agilização do fluxo de informações entre os diversos serviços da rede de proteção (Varas da Infância, Conselho Tutelar, instituições de acolhimento) com a implantação de cadastros estaduais e nacional de crianças e adolescentes". (GULASSA, 2010, p. 22) A determinação sobre o acolhimento de crianças e adolescentes é ato exclusivo do Poder Judiciário, no entanto, ele se concretiza, na maioria dos casos, com a participação da rede de serviços que acompanha as crianças, os adolescentes e suas famílias. Nas emergências sociais, em que os direitos são violados, o Conselho Tutelar é acionado e "os conselheiros tomam as providências iniciais para garantir a segurança e a proteção da criança ou do adolescente e podem (em casos de extrema gravidade) encaminhar para os serviços de acolhimento". (GULASSA, 2010, 32) No caso de idosos, o acolhimento geralmente é de longa permanência em abrigo institucional e ocorre após estudos realizados pelos serviços da rede socioassistencial (DAS, CRAS, SCFV, CREAS, dentre outros) em que recebem atendimento, ou por demanda do sistema judiciário, sempre remetendo a solicitação, acompanhada de relatório, à gestão do DOAS, responsável pela regulação das vagas.Contudo, acolhimento institucional de crianças, adolescentes e idosos deve ser considerado como última alternativa, após terem sido esgotadas todas as estratégias de intervenção, inicialmente com a família de origem e posteriormente com a família extensa; ocorre quando há manutenção da situação de violência ou efetivo risco de morte. Os SCFV compõem a rede de proteção social à criança, ao adolescente e ao idoso (ciclos de vida contemplados no grupo prioritário). Por essa responsabilidade, os SCFV poderão realizar o trabalho antes, durante e após acolhimento: na prevenção, identificando riscos ou direitos violados, articulando com os demais serviços socioassistenciais, principalmente com os CRAS, DAS e os CREAS, além de outras políticas públicas do território, para enfrentamento das questões vivenciadas pelos indivíduos e suas famílias; na identificação das situações, que após as intervenções articuladas demandem encaminhamentos no sentido do acolhimento; na participação do Plano Individual de Atendimento (PIA), no caso de criança ou adolescente acolhido, contribuindo para retorno destes ao convívio da família de origem ou extensa e, posteriormente, na prevenção da reincidência. Nesse contexto, a atenção e cuidado dos serviços, para não incorrerem em equívocos quanto à sugestão de acolhimento institucional, é fundamental. Conforme aponta Valente (2008, p. 148), "uma dificuldade a ser superada no trabalho com famílias é a carga de ideologias e valores dos profissionais, a maioria das vezes não explicitada verbalmente, mas expressos em ações e atitudes." A mudança paradigmática que envolve toda a Política de Assistência Social no âmbito do SUAS coíbe a culpabilização das famílias sobre situações que não dependam exclusivamente da vontade ou do mérito delas, como é a questão da pobreza, por exemplo. Neste caso, todas as investidas para a superação do problema, como a inserção das famílias em programas de transferência de renda, de segurança alimentar, de habitação, de acesso à creche e/ou escola e das demais políticas públicas necessárias, devem ser priorizadas, para se prevenir ou até para se reverter a situação de acolhimento. Com o propósito de promover o fortalecimento de vínculos de seus usuários com o território ao qual se relacionam, os SCFV devem mobilizar os indivíduos a participarem das decisões públicas e estimular o seu protagonismo quando da busca por direitos sociais. Na ocasião do acolhimento prioriza-se a manutenção do cotidiano das crianças, dos adolescentes e dos idosos em seu território, onde os vínculos protetivos sejam significativos, inclusive no SCFV em que eventualmente frequentem, dentre outros espaços. Na impossibilidade dessa manutenção, em decorrência do distanciamento e/ou rompimentos de vínculos relacionais, que deve ocorrer somente em último caso, os motivadores das possíveis mudanças, como exposição às situações vulneráveis, dificuldade de mobilidade, falta de vagas, dentre outros, devem ser amplamente trabalhados com os acolhidos, a fim de se prevenir ou reduzir os riscos e as desproteções sociais existentes e de se evitar novas.É importante ressaltar que, mesmo com a dificuldade de transporte entre a instituição de acolhimento e o SCFV, a escola, por exemplo, é fundamental que todas as investidas para a superação da barreira e a consequente viabilização da participação sejam empreendidas. interesse e o valor destes espaços para os usuários devem ser priorizados. Caso a criança, o adolescente ou o idoso acolhido ainda não participe do SCFV, sua inserção é indicada como público prioritário, espaço que deve se configurar como protetivo. Apesar do encaminhamento de acolhidos aos SCFV ainda não ser uma prática frequente, ela deve ser incentivada e estimulada pela rede socioassistencial e pelo Sistema de Garantia de Direitos (SGD), este último, no caso de crianças e adolescentes. Muitos idosos, por questões de saúde e dificuldades de mobilidade comuns à idade, podem ter dificuldades de acesso ao SCFV. Portanto, a articulação com os serviços de saúde, como a Estratégia de Saúde da Família (ESF) e com a própria rede sociassistencial, pode resultar em ações potentes que garantam o acesso destes usuários aos SCFV e a outros serviços. Não é indicada a ocorrência de ações do SCFV dentro das instituições de acolhimento, principalmente de crianças e adolescentes, tampouco em grupos exclusivos para estes públicos, prática que estigmatiza e marginaliza. A lógica que prevê a oferta de serviços de saúde, de educação, de assistência social, de lazer, dentre outros, dentro das instituições, evitando que as pessoas saiam para buscá-los em outros espaços da sociedade, se aproxima das características do que Goffman (1987 apud. BENELLI, 2004) chamou de instituições totais: um modo de funcionamento que produz a institucionalização e seus efeitos iatrogênicos na constituição das subjetividades. Por isso, deve ser estimulado o acesso e a participação deste público em espaços e grupos diversificados, intergeracionais, com temáticas que façam sentido aos seus usuários, a fim de se promover a construção e o fortalecimento de vínculos protetivos dos acolhidos com território e as instituições, serviços e pessoas que nele convivem.VI. EM CUMPRIMENTO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA EM MEIO ABERTO Definição pelo MDS As medidas socioeducativas em meio aberto, previstas no art. 112 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), são aplicáveis a adolescentes autores de atos infracionais com idade entre 12 a 18 anos incompletos. Configuram-se em resposta à prática de ato infracional, devendo ter um caráter educativo, e de responsabilização do adolescente quanto às consequências do ato infracional. art. 112 do ECA afirma: "Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas em meio aberto: advertência; - obrigação de reparar dano; III prestação de serviços à comunidade; IV liberdade assistida; e medidas em meio fechado: V inserção em regime de semiliberdade; VI internação em estabelecimento educacional; VII qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI (Lei 8.069/1990). Conforme dispõe a Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais (Resolução 109, de 11 de novembro de 2009), cabe ao Serviço de Proteção Social a Adolescentes em cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida (LA) e de Prestação de Serviços à Comunidade (PSC), ofertado no CREAS, prover atenção socioassistencial e acompanhamento a adolescentes e jovens em cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto, determinadas judicialmente. A PSC está prevista no art. 117 do ECA e consiste na realização por parte do adolescente de serviços comunitários gratuitos e de interesse geral, como atividades em hospitais, escolas, creches, entidades e organizações de Assistência Social, com duração máxima de seis meses. Já a LA está prevista no art. 118 do ECA e implica, por um período de no mínimo seis meses, em restrição de direitos, mas mantém adolescente no meio familiar e comunitário, acompanhado por um técnico de referência. É importante ressaltar que a participação dos adolescentes e jovens em cumprimento de medida socioeducativa nos grupos de convivência do SCFV complementa acompanhamento familiar que é realizado no âmbito do Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI), tendo, em relação a estes, os mesmos objetivos que estão descritos para os demais adolescentes que participam do SCFV (conferir pergunta 3 deste documento). Nesse sentido, SCFV não é um espaço onde os adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas devam estar segregados e, principalmente, não se destina ao cumprimento de PSC e LA. encaminhamento desses adolescentes aos grupos de convivência do SCFV deve estar estreitamente relacionado ao atendimento/acompanhamento de sua família no PAEFI ou no PAIF e ao exercício do direito de conviver e fortalecer os seus vínculos familiares e comunitários. (BRASIL, 39-40) Discussões Complementares SCFV não possui caráter sancionatório nem reparador de atos infracionais cometidos pelos adolescentes. Por isso, a participação deste público nos SCFV não deve ser vinculada ao tempo da Medida Socioeducativa (MSE). Em outras palavras, o encerramento da MSE não implica no desligamento do adolescente do serviço. A execução do serviço de Medida Socioeducativa (MSE) em Meio Aberto deve acontecer de forma articulada entre a Proteção Social Especial de Média Complexidade (PAEFI ou serviço complementar), a Proteção Social Básica (principalmente nos SCFV e, quando necessário, com a família no PAIF/CRAS), além da articulação entre outras políticas públicas, para a oferta de atendimento integral aos adolescentes e suas famílias. Além disso, o adolescente em cumprimento de MSE é considerado público prioritário para os SCFV, que deverá organizar a oferta de serviços para este público, evitando a formação de grupos específicos não suscitar preconceitos e segregação, uma vez que objetivo do diálogo entre estes dois serviços deve ser a ampliação das relações de sociabilidade desses adolescentes". (BRASIL, 2016b, p. 55)As estratégias devem ser pensadas e efetivadas no sentido da inserção deste público nos espaços e ações gerais dos SCFV. Sabe-se que muitos chegam quando chegam aos serviços marcados por um forte processo de estigmatização e marginalização, desafiando os profissionais a não reproduzirem a discriminação. A participação de adolescentes em cumprimento de Medida Socioeducativa no SCFV deve ocorrer da mesma forma que a dos demais adolescentes prioritários ou não prioritários, garantindo-lhes os mesmos direitos e deveres. As ações e atividades não devem ser orientadas para o ato infracional, mas, voltar-se para adolescente e suas relações, possibilitando a construção de novos vínculos e a ampliação de suas vivências e projetos de vida, tais como de esporte, retorno à escola, culturais, etc. É importante destacar que todas essas ações e atividades serão potenciais quando levadas em consideração os interesses, aptidões e perspectivas dos participantes, inclusive com intuito de se prevenir evasões e frustrações no processo de participação. Tendo em vista a alta rotatividade de educadores nos SCFV e a importância de uma prática que não reitere preconceitos, processo de formação dos profissionais deve ser contínuo, tanto para dentro das instituições, quanto a nível de gestão pública, a fim de que todos estejam atentos a estas necessidades e preparados para o acolhimento dos adolescentes: promover e instituir espaços de discussão e reflexão nos serviços (reuniões de equipe); compartilhar as informações necessárias entre os profissionais sobre os usuários dos serviços; planejar em equipe e executar atividades com intencionalidade, ou seja, com objetivos delineados e refletidos, evitando improviso como prática contínua ou a ideia de oficina para ocupação do tempo. Portanto, é imprescindível dinamizar a metodologia das ações ofertadas pelos SCFV, de forma que estas acompanhem as mudanças sociais, tecnológicas, culturais, políticas, dentre outras, considerando as especificidades de cada território e priorizando a escuta qualificada para todo o público atendido pelo serviço. Nem sempre apenas a intervenção dos serviços socioassistenciais dá conta de responder às problemáticas e aos anseios dos usuários. Muitas vezes, dependem de aspectos macrossociais e da organização da própria sociedade, ultrapassando os limites dos usuários, das famílias e do próprio território em que vivem. Nesse sentido, além de articular com outras políticas públicas e estimular a participação popular nos espaços de controle social, é também responsabilidade ético-política dos serviços articularem e apontarem os limites e análises nos diferentes espaços de gestão e deliberação, para que as problemáticas sejam tensionadas, refletidas e suas respostas construídas de forma ampliada e coletiva. Um exemplo deste limite é o envolvimento de adolescentes como tráfico de drogas, que resultam, entre outras coisas, na capitação de renda e no reconhecimento social, dificultando a construção de alternativas que substituam essa prática. Conforme explicado no Caderno de Orientações Técnicas Serviços de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto, "símbolos valorizados socialmente são encontrados pelo adolescente e pelo jovem no tráfico. Status, autoestima e virilidade são vantagens simbólicas não encontradas facilmente em outros espaços sociais. Existem ganhos simbólicos com a inserção no tráfico que podem ser mais significativos do que os ganhos econômicos". (ATHAYDE; MV BILL; SOARES, 2005 apud BRASIL, 2016b, p. 25)Por fim, no encerramento da Medida, o adolescente não deixa de ser público prioritário. Pelo contrário, permanece vinculado ao SCFV, pois os egressos de MSE também são considerados público prioritário nestes serviços. (Vide protocolos e fluxogramas municipais para as MSE em: http://www.campinas.sp.gov.br/governo/cidadania-assistencia-e-inclusao-VII. EGRESSOS DE MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS Definição pelo MDS As medidas socioeducativas têm duração máxima de três anos, e podem ser reavaliadas a qualquer momento pelo Judiciário. adolescente ou jovem que cumpriu inteiramente sua medida, seja em meio aberto ou fechado, é considerado egresso de medidas socioeducativas. (BRASIL, p. 40) Discussões complementares De acordo com Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), são considerados egressos de Medidas Socioeducativas (MSE) em meio aberto ou fechado, para efeito de público prioritário, adolescentes e jovens com idade entre 12 e 21 anos. egresso de MSE pode chegar ao SCFV através de encaminhamento da rede socioassistencial, do Sistema de Garantia de Direitos (SGD), por busca espontânea ou se tornar egresso dentro do próprio SCFV, quando este já estiver em participação no período de cumprimento da Medida. Assim como em relação aos adolescentes em cumprimento, há uma grande dificuldade de vinculação dos egressos de MSE com os SCFV e, em alguns casos, ainda mais agravado em decorrência do término da Medida que influencia na participação. A acolhida do jovem ou adolescente, assim como de qualquer usuário dos SCFV, é fundamental no processo de vinculação. A escuta enquanto estratégia requer uma disponibilidade dos profissionais em receber as histórias, as angústias, os medos e os desejos de cada um sem julgamentos preestabelecidos por valores pessoais e/ou ideais, fazendo com que se sintam valorizados e reconhecidos em suas trajetórias, a fim de favorecer a reflexão das experiências e a construção de projetos de vida. É importante que os SCFV atuem como facilitadores na concretização desses projetos, que pode demandar desde a criação de espaços de convivência, até a articulação com outras políticas públicas, intra e intersetoriais, que possibilitem ofertar vivências artísticas, culturais, de estudos, de formação profissional, dentre outras, e que dialoguem com os anseios destes jovens. fato de muitos não considerarem as atividades atrativas é um grande impasse vivido pelos profissionais dos serviços, que precisam desenvolver ofertas que façam sentido para esse público, com temáticas e linguagem próximas à realidade de seus usuários. Portanto, a constante revisão metodológica das atividades e ações deve ser priorizada pelos serviços. Não só para este, mas tendo em vista todos os públicos que acessam os SCFV, além da articulação com as demais políticas públicas, os Conselhos Municipais e os diferentes espaços de gestão.A rotulação e a reiteração do estereótipo não podem ocorrer. Os profissionais precisam estar constantemente atentos, inclusive, cuidando do sigilo das informações, para que os demais usuários dos SCFV não obtenham acesso à história do outro através da instituição, deixando para o jovem ou o adolescente a decisão de contar ou não sobre as questões que dizem respeito a ele, principalmente em relação à MSE. É fundamental não reduzi-los a este acontecimento. Outra questão importante para os adolescentes egressos de MSE é a pressão que, em muitos casos, eles sofrem por parte de familiares, e até dos próprios serviços socioassistenciais, no sentido de uma profissionalização e da sua inserção no mercado de trabalho, a fim de que não reincidam no ato infracional. Neste caso, se necessário, em articulação com o PAIF, os SCFV devem intervir de forma cuidadosa, compreendo quais são as aspirações desses adolescentes, suas histórias e qual o sentido da profissionalização e do trabalho formal para cada um. As famílias, por vezes, para lidar com todas as expectativas, possibilidades e limites, necessitam de acompanhamento. Assim como a questão do trabalho, retorno à escola para aqueles que interromperam os estudos deve ser estimulado com base na produção de sentido, por isso, em alguns casos, os serviços socioassistenciais poderão articular com a escola, a fim de se trabalhar possíveis tensões e dificuldades, tanto por parte da instituição, quanto do jovem ou adolescente.VIII. SITUAÇÃO DE ABUSO E/OU EXPLORAÇÃO SEXUAL Definição pelo MDS A violência sexual pode ocorrer por meio de contatos físicos não desejados, como carícias, penetração (oral, anal ou vaginal com pênis ou objetos), masturbação forçada, entre outros. São situações de violência sexual também os casos em que, embora não haja contato físico, implicam a exposição de sujeitos em ou a material pornográfico, exibicionismo (exposição dos genitais) e uso de linguagem erotizada em situação inadequada. A violência sexual pode ser caracterizada como exploração sexual e abuso sexual (CMESC,1996). abuso sexual é um ato por meio do qual um adulto obriga ou persuade uma criança ou adolescente a realizar atividade sexual que não é adequada para a sua idade e que viola os princípios sociais atribuídos aos papéis familiares (GOUVEIA, 2006). É todo e qualquer jogo sexual, em uma relação heterossexual ou homossexual, entre um ou mais adultos com uma criança ou adolescente, tendo por finalidade estimular sexualmente a criança ou utilizá-la para obter uma estimulação sexual sobre sua pessoa ou de outra pessoa (AZEVEDO; GUERRA, 1989). abuso sexual se configura de diversas formas, sendo elas exibicionismo, as carícias inapropriadas, a violação ou incesto, os telefonemas obscenos, voyerismo (observar atividades sexuais), fetichismo (uso de objetos inanimados) e frotteurismo (tocar ou roçar-se numa pessoa que não consente). Já a exploração sexual se refere a todo e qualquer uso de criança ou adolescente para propósitos sexuais em troca de dinheiro ou favores em espécie entre a criança, intermediário ou agenciador, qual se beneficia do comércio de crianças para esse propósito. Constituem casos de exploração sexual a prostituição de crianças e adolescentes, a pornografia, turismo sexual, tráfico de crianças e adolescentes para fins comerciais e sexuais (Manual de Instruções para Registro das Informações especificadas na Resolução CIT 04/2011 alterada pela Resolução CIT 20/2013; CMESC, 1996). (BRASIL, p. 40-41) Discussões Complementares De acordo com a Organização Mundial de Saúde (2014), a violência sexual pode ser definida como: qualquer ato sexual ou tentativa de conseguir um ato sexual; insinuações ou comentários de conotação sexual não desejados, ou atos para negociar situações sexuais, que, por meio de coerção e/ou sedução, envolvem a sexualidade de uma pessoa, independentemente do relacionamento com a vítima, em qualquer situação, inclusive em casa e no trabalho. Normalmente distinguem-se três formas de violência sexual: violência sexual envolvendo relações sexuais (por exemplo, estupro); violência sexual com contato (por exemplo, o toque indesejado, mas sem relação sexual); e violência sexual sem contato (por exemplo, a ameaça de violência sexual, exibicionismo e assédio sexual verbal). De acordo com o Código Penal Brasileiro, é denominado Estupro o fato de constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal, a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (quatorze) anos. É considerado Estupro de Vulnerável ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (quatorze) anos (Redação dada pela Lei 12.015, de 2009). Ambos os crimes independem de representação da vítima ou representante legal da vítima.Em muitos casos, em especial nos ambientes domésticos, essa violência não é percebida quando há a naturalização dos atos pelos membros familiares, principalmente ao se tratar de criança ou adolescente do gênero feminino, em que a violência de gênero se impõe, gerando medo e dificuldades na busca por proteção. A violência sexual também pode ocorrer a partir de uma ou mais crianças e/ou adolescentes sobre outra(s) criança(s) e adolescente(s), no entanto, nesses casos, os serviços que se depararem com esta situação devem avaliar cuidadosamente as relações de poder e as submissões implicadas, a idade dos envolvidos, dentre outros fatores, para que se desenvolva uma compreensão e uma distinção entre as situações de violência e os processos de desenvolvimento saudáveis. É importante que situações como esta sejam sempre tratadas entre outros profissionais da instituição e/ou serviços socioassistenciais com cuidado e ética, preservando as partes envolvidas, para que não se produza danos complementares e outras desproteções. É fundamental compreender se entre os envolvidos também existe histórico anterior de violência sexual. Já a Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescente (ESCCA) é definida como uma violência, contextualiza em função da cultura (do uso do corpo), do padrão ético e legal, do trabalho e do mercado. exploração sexual comercial de crianças e adolescentes é uma relação de poder e de sexualidade, mercantilizada, que visa a obtenção de proveitos por adultos, que causa danos biopsicosociais aos explorados, que são pessoas em processo de desenvolvimento. Implica o envolvimento de crianças e adolescentes em práticas sexuais, coercitivos ou persuasivos, o que configura uma transgressão legal e a violação de direitos à liberdade individual da população infanto-juvenil" (LEAL, 1999, p. 72). Os profissionais da Proteção Social Básica de Campinas compreendem que são muitos fatores que contribuem para a violência e exploração sexual comercial de crianças e adolescentes, dentre elas: Pouca proximidade e atenção dos pais ou responsáveis; Dificuldade ou falta de estratégias dos serviços socioassistenciais, das escolas e das famílias em trabalhar a reflexão de questões relativas à corporeidade, sexualidade e gênero, para fortalecer a capacidade protetiva de crianças e adolescentes diante das situações de risco; Banalização, mercantilização e objetificação do corpo e do sexo, principalmente através dos meios de comunicação; Ligação com o tráfico de drogas e uso de substâncias psicoativas; Situação de pobreza e dificuldade de acesso às políticas públicas; Fragilidade dos vínculos sociais; Sensação de impunidade pelo agressor. É importante que os Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos produzam espaços para discussão sobre o tema, em que seus usuários possam debater e refletir abertamente sobre a questão, expondo seus modos de pensar, suas dúvidas, medos e experiências vividas. Cabe aos serviços da Proteção Social Básica (PSB) fortalecer indivíduos, famílias e comunidade na criação de condições protetivas, nacirculação de informações sobre as políticas públicas existentes e o Sistema de Garantia de Direitos que deve ser procurado em caso de necessidade. Portanto, a PSB não atua no sentido de investigar possíveis situações de violência sexual, no entanto, os DAS, CRAS e SCFV podem se configurar em espaços significativos para seus usuários e, assim, possibilitar a identificação de violência sexual através dos atendimentos e atividades ofertadas. Em caso de identificação, a interlocução cuidadosa com o CREAS, na Proteção Social Especial (PSE), e com outras políticas públicas, como as de saúde, principalmente através das Unidades Básicas de Saúde (UBS), é fundamental para iniciar um processo avaliativo do caso, prevendo sempre a ética e o sigilo das informações.IX. COM MEDIDAS DE PROTEÇÃO DO ECA Definição pelo MDS Medidas de proteção são as aplicadas por autoridade competente (juiz, promotor, conselheiro tutelar) a crianças e adolescentes que tiveram seus direitos fundamentais violados ou ameaçados. A autoridade competente pode determinar, nos termos do art. 101 do Estatuto da Criança e do Adolescente, entre outras, as seguintes medidas: encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade; orientação, apoio e acompanhamento temporários; III matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental; IV inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente; V- requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; VI inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; VII abrigo em entidade; VIII colocação em família substituta (Lei 8.069/1990). (BRASIL, p. 41) Discussões complementares De acordo com as orientações do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), as Medidas de Proteção do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) só podem ser aplicadas por autoridade competente: juiz, promotor e conselheiro tutelar. Contudo, em caso de identificação de situações que violem os direitos de crianças e adolescentes, e após ampla articulação com os demais serviços socioassistenciais, os SCFV podem tensionar o Sistema de Garantia de Direitos (SGD) para que alguma medida seja aplicada. Independente do motivo dessa aplicação e do tipo de Medida de Proteção do ECA, a criança ou o adolescente se torna público prioritário para os SCFV. Por exemplo: juiz, o promotor, ou conselheiro tutelar, ao requisitar tratamento médico para uma criança ou adolescente como Medida de Proteção, torna-o público prioritário para os SCFV. Justamente por se tratarem de crianças e adolescentes que necessitaram de uma medida protetiva, sua inclusão nos SCFV significa uma ação complementar de proteção. Além disso, o SGD pode requisitar a inclusão de crianças e adolescentes nos SCFV como Medida de Proteção do ECA, conforme estabelece a Lei Federal 8069/1990: "art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas: (...) IV inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao Por isso, a interlocução entre SGD, através do poder judiciário e do Conselho Tutelar, e a Proteção Social Básica, através dos DAS, CRAS e os SCFV, bem como outros serviços socioassistenciais e outras políticas públicas, é fundamental para garantir o acesso aos serviços e a proteção dessas crianças e adolescentes. Não cabe apenas aos órgãos do Sistema de Garantia de Direitos encaminharem este público aos SCFV, qualquer serviço socioassistencial, ao identificar crianças e adolescentes com Medida de Proteção do ECA em sua rotina de trabalho pode fazer o referenciamento. No acolhimento deste público e no cotidiano dos serviços, é fundamental que não haja posturas de revitimização e/ou julgamentos morais em relação ao fenômeno que motivou a Medida de Proteção do ECA.X. EM SITUAÇÃO DE RUA Definição pelo MDS De acordo com Decreto 7.053, de 23 de dezembro de 2009, que instituiu a Política Nacional para a População em Situação de Rua, trata-se de grupo populacional heterogêneo, que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos familiares fragilizados ou rompidos e a inexistência de moradia convencional regular. Essa população se caracteriza, ainda, pela utilização de logradouros públicos (praças, jardins, canteiros, marquises, viadutos) e áreas degradadas (prédios abandonados, ruínas, carcaças de veículos) como espaço de moradia e de sustento, de forma temporária ou permanente, bem como unidades de serviços de acolhimento para pernoite temporário ou moradia provisória (Caderno Perguntas e Respostas: Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua CENTRO POP). Crianças e adolescentes submetidos a situações de risco pessoal e social nos espaços públicos devem ser observados com prioridade pelas políticas sociais em razão de sua condição peculiar de seres em desenvolvimento e em face do disposto no Estatuto da Criança e do Adolescente, segundo qual nenhuma criança ou adolescente deverá ser objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (art. Lei 8.069/1990; Caderno Perguntas e Respostas: Serviço especializado em Abordagem Social). (BRASIL, p. 41-42) Discussões complementares A rua enquanto espaço público adquire sentidos diversos, individuais e/ou compartilhados, para cada pessoa ou grupo, tendo as questões sociais, econômicas e culturais como elementos constituintes desta relação. No caso das pessoas que estabelecem grande aproximação com a rua, a ponto de pernoitar e constituir vínculos afetivos e de subsistência nestes espaços, Vieira, Bezerra e Rosa (1992, apud. Junior et al., 1998), compreendem três modos de situação de rua: Ficar na rua: diz de uma situação circunstancial que leva o indivíduo a não ter uma moradia, seja por desemprego, por ter migrado de cidade ou estado em busca de tratamento médico ou à procura de entes familiares, dentre outras. Estas pessoas não possuem a rua como referência e, geralmente, mantém vínculos e contato com os familiares, persistindo num projeto de vida; eventualmente, vão à busca de albergues públicos ou pensões quando possuem alguma condição de pagar. Estar na rua: trata-se de uma situação recente, em que os pernoites são mais freqüentes, estabelecendo vínculos com logradouros e com pessoas na mesma situação; costumam se declarar trabalhadores desempregados e compreendem a situação como temporária, mantendo um projeto de vida. contanto com a família é mais prejudicado, mas ainda presente. Ser da rua: é uma situação permanente, em que a referência e o espaço de relações é a rua. Além disso, os vínculos familiares são extremamente prejudicados ou inexistentes e, dificilmente, persiste um projeto de vida. As pessoas nesta situação apresentam condição física comprometida, em decorrência da situação de alimentação e higiene insalubre. Há alta incidência de uso de álcool e outras drogas. Apesar destas modulações não serem categorias estanques, pois cada sujeito possui uma trajetória singular, elas se configuram como referenciais importantes para uma leitura temporal da condição, que, na maioria dos casos, estão dispostas num continuum, ou seja, conforme aumenta tempo, também aumenta a possibilidade de se tornar uma situação permanente de rua.Os casos de crianças e adolescentes em situação de rua é uma questão importante, principalmente nas metrópoles em que a complexidade das relações humanas e com o próprio espaço público é uma realidade, no entanto, o seu entendimento não pode ser banal. Um exemplo é o fato de crianças e adolescentes que ficam na rua por períodos, geralmente em praças, locais que constituem espaços de sociabilidade, principalmente durante dia, às vezes sem a supervisão de adultos, mas que possuem vínculos familiares preservados. Nesse caso, não é possível categorizar como situação de rua. Ao se depararem com situações semelhantes a esta, os profissionais dos SCFV devem buscar compreender a realidade da criança/adolescente e sentido que a rua e/ou outros espaços públicos adquirem a partir de suas experiências. Além disso, é sabido que muitos pais e/ou responsáveis precisam trabalhar em casa ou fora dela e não conseguem estar a todo o momento supervisionando seus filhos. A carência de espaços públicos específicos de cultura, esporte e lazer, que conte a supervisão de profissionais e que possibilitem a sociabilidade, facilita a ocupação de outros espaços, principalmente a rua, muito percebida nas regiões periféricas e mais pobres da cidade. Dessa forma, não é possível avaliar estes casos a partir de um referencial que diz de um outro lugar socioeconômico, em que o acesso aos espaços privados com forma de sociabilidade é uma cultura vigente, ou a partir da experiência individual de um profissional. Por isso, antes de quaisquer medidas que acarretem na judicialização, é fundamental a compreensão do território e seus recursos, além da situação da família, articulando serviços da Proteção Social Básica (DAS, CRAS e SCFV) e outras políticas públicas, como as de cultura, lazer, educação, dentre outras, a fim de se atuar preventivamente. Em muitos casos, a situação de rua ou sua iminência possuem outros fatores contingentes que precisam ser observados e demandam intervenção: pobreza, violência familiar, falta de acesso às políticas públicas, evasão escolar, uso ou tráfico de drogas, exploração sexual, etc. As questões socioeconômicas demandam atenção especial, para que não se incorra na criminalização da pobreza. De acordo com os profissionais das Proteções Sociais Básica e Especial de Campinas, esta afirmação se confirma quando, em situação de abordagem social, muitas crianças e adolescentes resistem ao diálogo e/ou omitem informações por medo de serem encaminhadas ou "denunciadas" para algum órgão que as penalize. A maioria das crianças e adolescentes em situação de rua que chegam aos SCFV é encaminhada pela PSE de Média Complexidade, no entanto, essa identificação também pode ocorrer a partir do próprio SCFV ou do CRAS, conforme exposto acima, articulando os diferentes níveis de Proteção Social e outras políticas públicas. É importante destacar que o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) normatizou como público prioritário os casos que envolvam criança, adolescente, idoso e pessoas com deficiência, no entanto, os adultos em situação de rua se configuram como público alvo dos SCFV.XI. VULNERABILIDADE QUE DIZ RESPEITO ÀS PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS Definição pelo MDS De acordo com a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, em seu artigo pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. Portanto, considera-se público prioritário aqueles sujeitos que, em função da deficiência, vivenciam situação de vulnerabilidade. Especificamente em relação ao atendimento da pessoa com deficiência na assistência social, ressalta- se que a LOAS, em seu art. inciso I, alínea d, estabelece como um de seus objetivos a habilitação e a reabilitação das pessoas com deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária. Por sua vez, a Resolução CNAS 34/2011 define a habilitação e a reabilitação da pessoa com deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária no campo da assistência social, além de estabelecer seus requisitos. art. dessa resolução afirma que a habilitação e reabilitação na assistência social se realiza por meio de programas, projetos, benefícios e pela oferta dos serviços socioassistenciais tipificados, entre os quais está SCFV. Este, para possibilitar a inclusão das pessoas com deficiência, patologias crônicas e/ou dependências, deve "desenvolver ações intergeracionais; garantir a heterogeneidade na composição dos grupos; atender pessoas com deficiência, patologias crônicas e/ou dependência, independente da faixa etária; viabilizar acesso às tecnologias assistivas" que são "produtos, equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivem promover a funcionalidade, relacionada à atividade e à participação da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, visando à sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social" (Lei 13.146/2015 Estatuto da Pessoa com Deficiência). (BRASIL, 2016a, p. 42-43) Discussões Complementares A deficiência é comumente associada à ideia de falta ou déficit, recaindo sobre o sujeito uma marca, a referência dessa falta. No entanto, os estudos sociais vêm apontando uma compreensão da deficiência enquanto uma diferenciação do singular em relação ao esperado, ao ideal. Esses processos, marcados por discursos de poder que incidem sobre os corpos, estabelecem fronteiras entre os grupos da "normalidade (maioria) e da anormalidade (minoria), que delimita uma relação caracterizada pelo jogo de poderes, dominação, opressão e silenciamento, em que os saberes constituídos e disciplinadores têm favorecido a maioria". (WANDERER, 2012, p. 21) Para Canguilhem (2000), essa diferenciação ocorre pela existência de uma série de funções valorizadas pelas normas culturais; quando uma delas ou várias é exigida, mas o indivíduo não consegue executá-la com eficiência, sobre ele recai a responsabilidade de uma limitação, uma não correspondência à norma. A norma é instituída com referência na maioria aquilo que na maior parte das pessoas é Nas pessoas compreendidas como deficientes, geralmente há um marcador biológico, salvo aquelas que são diferenciadas na dimensão psicológica, como é o caso dos chamados transtornos mentais e intelectuais.Nem todas as pessoas na condição de deficiente estão em situação de vulnerabilidade, o que depende das relações que cada uma estabelece com o meio em que vive e circula, e na capacidade protetiva que estas relações com o território, a família, os grupos sociais e demais instituições - estabelecem com o sujeito. Para uma avaliação de maior ou menor vulnerabilidade, de acordo com Wanderer (2012, p. 68), é necessário compreender quais os fatores de proteção e quais os fatores de risco estão implicados em cada caso. Dentre eles, principalmente os destacados nas "listagens de fatores de risco para a violência em geral, tais como isolamento social, precariedade de moradia e dificuldades socioeconômicas, falta de acesso a serviços de saúde, educação, marginalização, drogadição/alcoolismo, história de violência na família, entre diversos outros". (WANDERER, 2012, p. 68) Ainda, para a autora, outra "conexão que se mostra promissora e apresenta desafios, tanto para a pesquisa quanto para a intervenção, refere-se às relações entre deficiência, violência e pobreza". (WANDERER, 2012, p. 68) A forma como os SCFV realizam o acolhimento e o acompanhamento sistemático deste público pode reduzir ou ampliar a avaliação das vulnerabilidades. Por isso, a formação continuada do corpo de profissionais ajuda prevenir a reprodução de estereótipos e a consequente discriminação: a forte tradição que olha para o sujeito em condição de deficiência como "coitado" e "inferior" reduz tanto a capacidade interventiva dos serviços, quanto a capacidade de seus usuários em construir formas de empoderamento, permanecendo num ciclo vicioso beneficente. Portanto, os profissionais precisam estar em constante reflexão de sua prática e de como os serviços têm abordado e mediado a participação de seus usuários no cotidiano das atividades. Além disso, as condições estruturais da instituição também são fundamentais para que usuário se sinta acolhido e valorizado na sua diferença; espaço físico com acessibilidade inadequada também se configura como barreira ao acesso deste público aos SCFV e a outros serviços públicos. A discussão do tema da acessibilidade nas políticas públicas brasileiras é recente e somente a partir dos anos 2000, com a instituição das Leis Federais 10.048/2000 e 10.098/2000, que uma visão mais ampla e direcionamentos para sua efetivação se consolidaram. As cidades, em geral, ainda não possibilitam que este público possa circular livremente por elas, seja em decorrência da discriminação, seja pela condição das vias públicas, como as calçadas, das formas de sinalização, etc. Nesse contexto, muitas pessoas com demandas de inserção nos SCFV não conseguem acessar este e outros serviços em decorrência dessas barreiras. Portanto, a articulação com outros setores é fundamental para se identificar pessoas que necessitam de atendimento, para a construção de estratégias de participação e para se articular respostas às demandas que ultrapassam os limites dos SCFV e das políticas de Assistência Social.Torna-se estratégica a articulação com os serviços de Saúde, através da Estratégia de Saúde da Família (ESF), do Serviço de Atendimento Domiciliar (SAD) e dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS); os serviços da Secretaria Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência e Cidadania, principalmente a partir do seu Centro de Referência; além da Secretaria de Transporte e outras políticas públicas. As famílias das pessoas com deficiência, muitas vezes, sobrecarregadas pela falta de acessibilidade, ou no cuidado exacerbado, acabam por limitar potencial destas pessoas, necessitando também de atenção e cuidado. Os DAS, os CRAS e os CREAS podem contribuir nessa intervenção compartilhada, bem como os serviços de outras políticas públicas, principalmente os que tratam especificamente das situações de deficiências e transtornos que abarcam este público prioritário.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASBAHR, F.D.S.F., LOPES, J.S. A culpa é sua. Revista de Psicologia USP. Volume 17, n.1, p. 53-73. São Paulo, março de 2006. Link: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1678- 51772006000100005&script=sci_arttext&tlng=en.Acessado em 21/10/2016. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Perguntas Frequentes: Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos. Secretaria Nacional de Assistência Social Departamento de Proteção Social Básica. Brasília, 2016a. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Caderno de Orientações Técnicas: Serviço de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto. Secretaria Nacional de Assistência Social. Brasília, 2016b. BENELLI, S.J.. 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Disponível em : http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/12363/1/2012 AlineWanderer.pdfANEXO RELAÇÃO DOS SCFV DO MUNICÍPIO DE CAMPINAS ADRA CENTRAL NÚCLEO SOCIAL CÁSSIA RODIGUES LASCA AMIC ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DA CRIANÇA MONTE CRISTO ASSOCIACAO ASSISTENCIAL, PROMOCIONAL E EDUCACIONAL RESSURREICAO APER ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL SÃO JOÃO VIANNEY CASA MARCONDES PINHEIRO ASSOCIAÇÃO PRESBITERIANA DE AÇÃO SOCIAL APAS PARANAPANEMA CENTRO SOCIAL BERTONI CENTRO SOCIAL LÍRIO DOS VALES CENTRO SOCIAL ROMÍLIA MARIA CSESE CENTRO SOCIO EDUCATIVO SEMENTE ESPERANCA FUNDAÇÃO EUFRATEN FUNEBEM EPV VILA PALMEIRAS INSTITUTO PAULO FREIRE DE AÇÃO SOCIAL OBRA SOCIAL SÃO JOÃO BOSCO JARDIM CAMPO BELO OBRA SOCIAL SÃO JOÃO BOSCO JARDIM DOM GILBERTO OBRA SOCIAL SÃO JOÃO BOSCO PARQUE OZIEL ASSOCIAÇÃO BENEFICENTE SALÉM NAZARENA ASSISTENCIAL BENEFICENTE ANA DIC CENTRO COMUNITÁRIO DO JARDIM SANTA LÚCIA CENTRO DE ESTUDOS E PROMOÇÃO DA MULHER MARGINALIZADA CEPROMM JARDIM ITATINGA CRECHE ESTRELINHA DO ORIENTE LAR ESCOLA NOSSA SENHORA DO CALVÁRIO NÚCLEO COMUNITÁRIO CALVARIANO OBRA SOCIAL SÃO JOÃO BOSCO VIDA NOVA SOCIEDADE DAS FILHAS DE NOSSA SENHORA DO SAGRADO CORAÇÃO CASA DA CRIANÇA MARIA LUÍSA HARTZER SOCIEDADE FEMININA DE ASSISTÊNCIA À INFÂNCIA JARDIM ITATINGA AMIC ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DA CRIANÇA VILLAGE ASSOCIAÇÃO BENEFICENTE CAMPINEIRA NÚCLEO SÃO MARCOS ABBA ASSOCIAÇÃO BENEFICENTE DA BOA AMIZADE ASSOCIAÇÃO BENEFICENTE DIREITO DE SER ASSOCIAÇÃO BENEFICENTE SEMEAR PARQUE VIA NORTE ASSOCIAÇÃO BENEFICENTE SEMEAR VILA OLÍMPIA ASSOCIAÇÃO CIVIL CARMELITAS DA CARIDADE CENTRO ASSISTENCIAL VEDRUNA ASSOCIAÇÃO DAS FRANCISCANAS MISSIONÁRIAS DO CORAÇÃO IMACULADO DE MARIA CPTI CENTRO PROMOCIONAL TIA ILEIDE CHÁCARA BOA VISTA CPTI CENTRO PROMOCIONAL TIA ILEIDE PARQUE SHALON FIRMACASA FUNDAÇÃO IRMÃ RUTH DE MARIA CAMARGO SAMPAIO UNIDADE I FIRMACASA FUNDAÇÃO IRMÃ RUTH DE MARIA CAMARGO SAMPAIO UNIDADE II GRUPO PRIMAVERA LAR CAMPINENSE DE BEM ESTAR À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE LAR ISABEL MOVIMENTO ASSISTENCIAL ESPÍRITA MARIA ROSA SOPA DO GRAMEIRO NAS NÚCLEO DE AÇÃO SOCIAL SOCIEDADE PRÓ-MENOR BARÃO GERALDO UNIÃO CRISTÃ FEMININA ALDEIAS INFANTIS SOS BRASIL CAMPINAS PARQUE FLORESTA AEA ASSOCIAÇÃO EVANGELICA ASSISTENCIAL CASA DE MARIA DE NAZARÉ JARDIM LILIZA CASA DOS ANJOS CASA DE MARIA DE NAZARÉ SATÉLITE ÍRIS CASA HOSANA CENTRO COMUNITÁRIO DA CRIANÇA DO PARQUE ITAJAÍ E REGIÃO CENTRO DE EDUCAÇÃO E ASSESSORIA POPULAR CAMPINA GRANDE PROGEN PROJETO GENTE NOVA JARDIM BASSOLI PROGEN PROJETO GENTE NOVA - SATÉLITE ÍRIS PROGEN PROJETO GENTE NOVA VILA BRANCO ASSOCIAÇÃO ANHUMAS QUERO-QUERO ANHUMAS ASSOCIAÇÃO ANHUMAS QUERO-QUERO VILA BRANDINA ANA ASSOCIAÇÃO NAZARENA ASSISTENCIAL BENEFICENTE APAS ASSOCIAÇÃO PRESBITERIANA DE AÇÃO SOCIAL SOUSAS CENTRO ASSISTENCIAL CÂNDIDA PENTEADO DE QUEIRÓZ MARTINS GRUPO COMUNITÁRIO CRIANÇA FELIZ INSTITUIÇÃO PADRE HAROLDO RAHM JARDIM BOA ESPERANÇA INSTITUIÇÃO PADRE HAROLDO RAHM CIRCOLANDO SERVICO SOCIAL NOVA JERUSALEM CECOIA SOCIEDADE DOS IRMÃOS DA CONGREGAÇÃO DE SANTA CRUZ SETA SOCIEDADE EDUCATIVA DE TRABALHO E ASSISTÊNCIA VIPREFEITURA DE SECRETARIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL, CAMPINAS PESSOA COM DEFICIÊNCIA E DIREITOS HUMANOS A FORÇA DA INOVAÇÃO IMPRESSÃO PAULUS