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OLHAR INTERDISCIPLINAR SOBRE A EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA

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OLHAR INTERDISCIPLINAR SOBRE A EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA: 
DESAFIOS E PERSPECTIVAS DIANTE DAS MUDANÇAS NOS DIREITOS 
TRABALHISTAS DOS PROFESSORES. 
 
Aneilza Santos Duarte 
Simone Helen Drumond Ischkanian 
Gladys Nogueira Cabral 
Sandro Garabed Ischkanian 
Marcos Aurelio dos Santos Freitas 
Silvana Nascimento de Carvalho 
Gabriel Nascimento de Carvalho 
O cenário educacional contemporâneo tem sido atravessado por transformações profundas 
que impactam diretamente o trabalho docente e suas condições laborais, exigindo um olhar 
interdisciplinar capaz de articular dimensões pedagógicas, sociais, normativas e psicológicas. 
As mudanças recentes no Direito do Trabalho, nas políticas previdenciárias e na organização 
da carreira dos professores revelam um contexto de crescente insegurança contratual, 
intensificação do trabalho e fragilização dos direitos historicamente conquistados pela 
categoria. A Reforma Trabalhista (Lei nº 13.467/2017) e a Reforma da Previdência (Emenda 
Constitucional nº 103/2019) trouxeram impactos significativos ao exercício da docência, 
prolongando o tempo de contribuição, modificando regras de aposentadoria especial e 
ampliando exigências para o reconhecimento de condições diferenciadas de trabalho. Esse 
cenário se soma ao não cumprimento de progressões funcionais por parte de redes públicas e à 
insuficiência de políticas de valorização, ainda que instrumentos como o FUNDEB 
permanente (EC nº 108/2020) tenham sido criados para garantir financiamento adequado. Do 
ponto de vista da saúde do trabalhador, autores como Codo (1999), Dejours (1994) e Esteve 
(1999) evidenciam que a docência é uma profissão vulnerável ao adoecimento físico e mental, 
marcado por estresse, sobrecarga, desrespeito institucional e falta de reconhecimento. A 
precarização das relações de trabalho, a ampliação das responsabilidades educacionais e a 
intensificação burocrática agravam o mal-estar docente, afetando diretamente a qualidade do 
ensino e a permanência de profissionais experientes na carreira. De perspectiva sociológica, 
Arroyo (2004), Enguita (1991) e Freire (1968) mostram que a docência não pode ser 
compreendida fora das contradições estruturais da sociedade, nas quais o professor é 
simultaneamente responsabilizado e desvalorizado, sofrendo processos de proletarização, 
desprofissionalização e controle institucional. A análise jurídica contemporânea, com base em 
Zilli, Delgado, Calvo, Heuseler e nas revistas especializadas do TJDFT (2024), evidencia que 
as reformas recentes têm redefinido as bases das relações de trabalho, ampliando formas de 
contratação flexibilizadas, como a pejotização e o trabalho híbrido, e tensionando garantias 
constitucionais previstas no art. 206 da Constituição de 1988. No campo previdenciário, o 
INSS apresenta regras cada vez mais restritivas para aposentadoria especial do magistério, o 
que exige maior tempo de contribuição e reduz o alcance de direitos antes assegurados. Tal 
conjuntura desafia gestores, pesquisadores e sindicatos a debaterem alternativas que conciliem 
sustentabilidade fiscal, valorização docente e garantia de condições dignas de trabalho. 
Compreender os desafios atuais requer articulação interdisciplinar entre educação, direito, 
sociologia e psicologia, permitindo analisar não apenas os impactos legais, mas também 
subjetivos, institucionais e sociais que reconfiguram a profissão docente no Brasil 
contemporâneo. 
Palavras-chave: Direito do Trabalho; educação contemporânea; docência; reformas 
trabalhistas; previdência; saúde docente. 
 
 
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INTERDISCIPLINARY PERSPECTIVES ON CONTEMPORARY 
EDUCATION: CHALLENGES AND PERSPECTIVES IN THE FACE OF 
CHANGES IN TEACHERS’ LABOR RIGHTS. 
 
Aneilza Santos Duarte 
Simone Helen Drumond Ischkanian 
Gladys Nogueira Cabral 
Sandro Garabed Ischkanian 
Marcos Aurelio dos Santos Freitas 
Silvana Nascimento de Carvalho 
Gabriel Nascimento de Carvalho 
The contemporary educational landscape has been shaped by profound transformations that 
directly affect teachers’ work and labor conditions, demanding an interdisciplinary 
perspective capable of articulating pedagogical, social, normative, and psychological 
dimensions. Recent changes in labor legislation, social security policies, and the organization 
of the teaching career reveal a context of growing contractual insecurity, work intensification, 
and the weakening of rights historically achieved by the teaching profession. The Labor 
Reform (Law nº 13.467/2017) and the Pension Reform (Constitutional Amendment nº 
103/2019) have generated significant impacts on teaching practice, extending contribution 
time, modifying special retirement rules, and increasing the requirements for recognizing 
differentiated working conditions. This scenario is aggravated by the failure of some public 
school systems to implement career progression policies and by the insufficiency of teacher-
valuation measures, even though mechanisms such as the permanent FUNDEB (EC nº 
108/2020) were established to ensure adequate educational funding. From an occupational 
health perspective, authors such as Codo (1999), Dejours (1994), and Esteve (1999) 
demonstrate that teaching is a profession highly vulnerable to physical and mental illness, 
characterized by stress, overload, institutional disrespect, and lack of recognition. The 
precarization of labor relations, expansion of educational responsibilities, and bureaucratic 
intensification exacerbate teacher distress, directly affecting the quality of education and the 
retention of experienced professionals in the career. From a sociological viewpoint, scholars 
such as Arroyo (2004), Enguita (1991), and Freire (1968) show that teaching cannot be 
understood apart from society’s structural contradictions, in which teachers are 
simultaneously held responsible for educational outcomes and systematically devalued, 
experiencing processes of proletarianization, deprofessionalization, and institutional control. 
Contemporary legal analysis, based on the works of Zilli, Delgado, Calvo, Heuseler, and 
specialized publications of the TJDFT (2024), reveals that recent reforms have redefined the 
foundations of labor relations, expanding flexible forms of hiring—such as pejotização and 
hybrid work models—while generating tensions around the constitutional guarantees 
established in Article 206 of the 1988 Brazilian Constitution. In the social security sphere, 
INSS regulations have become increasingly restrictive regarding teachers’ special retirement, 
requiring longer contribution periods and narrowing access to rights previously safeguarded. 
This context challenges policymakers, researchers, and unions to debate alternatives that 
reconcile fiscal sustainability, teacher appreciation, and the assurance of dignified working 
conditions. Understanding these contemporary challenges requires an interdisciplinary 
articulation among education, law, sociology, and psychology, allowing an analysis not only 
of legal impacts but also of the subjective, institutional, and social dimensions that are 
reshaping the teaching profession in contemporary Brazil. 
Keywords: Labor Law; contemporary education; teaching profession; labor reforms; social 
security; teacher health. 
 
 
4 
PERSPECTIVA INTERDISCIPLINARIA SOBRE LA EDUCACIÓN 
CONTEMPORÁNEA: DESAFÍOS Y PERSPECTIVAS ANTE LOS CAMBIOS EN 
LOS DERECHOS LABORALES DE LOS DOCENTES. 
 
Aneilza Santos Duarte 
Simone Helen Drumond Ischkanian 
Gladys Nogueira Cabral 
Sandro Garabed Ischkanian 
Marcos Aurelio dos Santos Freitas 
Silvana Nascimento de Carvalho 
Gabriel Nascimento de Carvalho 
El escenario educativo contemporáneo ha sido atravesado por profundas transformaciones que 
impactan directamente el trabajo docente y sus condiciones laborales, exigiendo una mirada 
interdisciplinaria capaz de articular dimensiones pedagógicas, sociales, normativase física do magistério. 
Dejours (1994) indica que a frustração institucional e a sensação de impotência diante de 
decisões administrativas arbitrárias aumentam índices de estresse e burnout. Professores 
 
26 
submetidos a contratos instáveis, carga excessiva e ausência de progressão convivem com 
condições que dificultam o desempenho pleno de suas funções pedagógicas. 
A desvalorização profissional e a precarização contratual influenciam também a 
relação entre escola e comunidade. Libâneo (2017) ressalta que a confiança social na 
educação depende da valorização de quem ensina, da estabilidade funcional e da capacidade 
de oferecer ensino de qualidade. Retrocessos orçamentários e flexibilizações injustas minam 
essa confiança, transformando escolas em espaços de tensão e insegurança. 
A implementação de austeridade fiscal reforça desigualdades regionais, pois 
municípios e estados com menor capacidade de arrecadação são mais afetados por cortes e 
congelamentos. Kuenzler (1999) argumenta que políticas uniformes desconsideram 
heterogeneidades locais, impondo sacrifícios proporcionais maiores a regiões vulneráveis e a 
professores que já enfrentam adversidades estruturais significativas. 
A legislação muitas vezes legitima tais medidas sob a justificativa de equilíbrio 
fiscal, mas especialistas criticam a violação do princípio da vedação ao retrocesso social. 
Calvo (2024) destaca que o direito brasileiro estabelece limites à supressão de direitos 
adquiridos, tornando juridicamente questionáveis cortes e congelamentos que afetem 
progressões, gratificações e estabilidade funcional. O embate entre legalidade e política 
econômica revela tensões permanentes no campo educacional. 
O impacto acumulado de cortes, congelamentos e flexibilizações injustas evidencia a 
necessidade de repensar prioridades administrativas e políticas públicas. Freire (1968) lembra 
que a educação deve servir como instrumento de emancipação, e não como mecanismo de 
contenção de despesas às custas de direitos trabalhistas. Retrocessos estruturais comprometem 
não apenas a carreira docente, mas a função social da escola como espaço de formação crítica 
e cidadã. 
O ano de 2025 marcou um momento particularmente crítico para a categoria docente 
no Brasil, sobretudo em função da implementação de reformas previdenciárias e 
administrativas que alteraram profundamente o regime de trabalho e aposentadoria dos 
professores. Essas mudanças não se limitaram a ajustes técnicos, mas representaram 
retrocessos significativos em direitos historicamente conquistados, como a aposentadoria 
especial do magistério e a manutenção de planos de carreira estruturados. Calvo (2024) 
observa que tais reformas, ao elevar o tempo de contribuição e a idade mínima, impuseram 
condições mais rígidas e, muitas vezes, confusas, provocando insegurança jurídica e 
resistência coletiva. Em diversas cidades, os professores passaram a conviver com regras 
híbridas e complexas, fruto da conjugação de reformas nacionais e iniciativas estaduais e 
municipais. 
 
27 
O impacto direto dessas alterações mobilizou a classe docente de forma inédita, 
desencadeando greves, paralisações e mobilizações em várias capitais e municípios do país. 
Esteve (1999) enfatiza que o mal-estar docente se intensifica quando decisões políticas 
ignoram o corpo e a experiência de quem atua diariamente na sala de aula. Em 2025, docentes 
se viram obrigados a lutar não apenas contra medidas formais de austeridade, mas também 
contra o que denominaram ―conchavos políticos‖, processos decisórios em que interesses 
financeiros e agendas partidárias sobrepuseram-se à valorização do trabalho educacional. 
O episódio da reforma previdenciária municipal em Manaus exemplifica esse cenário 
de conflito. O PLC nº 08/2025, aprovado pela Câmara Municipal, elevou a idade mínima e 
aumentou o tempo de contribuição para aposentadoria dos servidores da educação, 
desrespeitando expectativas legítimas da categoria. Codo (1999) aponta que, nesses contextos, 
professores percebem a institucionalidade como distante e muitas vezes hostil, gerando 
respostas coletivas organizadas, como greves e manifestações públicas, para reivindicar 
direitos ameaçados e chamar atenção para a opacidade das decisões administrativas. 
O acúmulo de reformas em 2025 aprofundou a sensação de precarização profissional. 
Congelamentos salariais, interrupção de progressões e terceirizações simultâneas 
evidenciaram que a lógica de austeridade fiscal era aplicada prioritariamente sobre 
trabalhadores já sobrecarregados. Dejours (1987) descreve que o prolongamento de jornadas e 
a intensificação de demandas, sem reconhecimento ou suporte institucional, amplificam o 
sofrimento psíquico e físico do trabalhador, condição constatada de forma aguda na 
mobilização docente daquele ano. 
A mobilização da categoria em 2025 não se limitou às greves físicas; também se 
configurou em arenas jurídicas, conselhos municipais e audiências públicas. Dias e Endlich 
(2017) destacam que a participação social organizada, a fiscalização comunitária e o controle 
documental são ferramentas cruciais para confrontar decisões que ameaçam direitos 
adquiridos. Professores passaram a articular ações coletivas, somando pressão popular e 
mediação legal para questionar decisões unilaterais, enquanto a imprensa e redes sociais se 
tornaram canais estratégicos de visibilidade das demandas. 
As greves de 2025 ganharam contornos de resistência simbólica contra políticas que, 
embora justificadas sob a retórica do equilíbrio fiscal, colocavam em risco conquistas 
históricas da categoria. Codo, Sampaio e Hitomi (1994) afirmam que a relação entre 
indivíduo, trabalho e sofrimento torna-se particularmente sensível quando direitos 
profissionais são sistematicamente ameaçados, produzindo uma tensão que se manifesta tanto 
na esfera coletiva quanto na experiência subjetiva do docente. Cada paralisação, cada 
assembleia e cada manifestação pública refletiu essa tensão acumulada. 
 
28 
A articulação entre professores, sindicatos e movimentos sociais permitiu uma 
visibilidade inédita das consequências concretas das reformas. Esteve (1995) assinala que 
mudanças sociais profundas exigem reconhecimento da função docente não apenas como 
execução de tarefas, mas como atividade estratégica de formação cidadã. Em 2025, os 
professores evidenciaram que a crise não era apenas de gestão financeira, mas de legitimidade 
política, ao denunciar conchavos e acordos fechados sem participação real da classe. 
Além de reivindicar direitos previdenciários, os professores destacaram a 
necessidade de revisão das políticas de austeridade que afetavam diretamente a rotina escolar. 
Libâneo (2017) sublinha que o impacto de cortes e congelamentos na infraestrutura, materiais 
pedagógicos e formação continuada interfere diretamente na aprendizagem e na motivação 
dos estudantes. As greves de 2025 tornaram visível o vínculo intrínseco entre valorização 
docente e qualidade educacional. 
O debate público promovido pelas mobilizações de 2025 demonstrou que políticas de 
austeridade não podem ser neutras em relação a direitos sociais e conquistas históricas. 
Minayo (1996) evidencia que o engajamento coletivo atua como instrumento de 
responsabilização política, questionando decisões que muitas vezes se apoiam em argumentos 
técnicos ou contábeis sem considerar impactos humanos. A categoria docente reafirmou, 
dessa forma, que as decisões sobre educação exigem participação ampla e diálogo efetivo. 
Em muitas cidades, a pressão social e política levou a revisões parciais de medidas 
impopulares, mostrando a força da organização coletiva. Nosella (1998) argumenta que a 
crise educacional, quando enfrentada apenas com austeridade fiscal, ignora as condições reais 
do trabalho docente e compromete a função social da escola. Em 2025, docentes e 
comunidades escolares demonstraram que a participaçãoativa é capaz de frear retrocessos e 
promover ajustes que respeitem direitos adquiridos. 
A luta contra flexibilizações injustas também se concentrou na preservação de planos 
de carreira, progressões e gratificações historicamente estabelecidas. Kuenzer (1999) enfatiza 
que a construção da identidade profissional depende de estabilidade e reconhecimento 
institucional. A suspensão ou distorção desses direitos não apenas prejudica a motivação 
individual, mas compromete a continuidade de políticas educativas e o planejamento de longo 
prazo nas redes de ensino. 
O confronto entre governos, prefeituras e professores em 2025 expôs a tensão entre 
lógica contábil e valor humano. Dejours (1994) ressalta que o sofrimento psíquico derivado 
da sobrecarga e da insegurança institucional pode gerar efeitos duradouros na saúde e no 
desempenho profissional. Greves e mobilizações constituíram mecanismos de resistência 
diante de decisões que ignoravam essa dimensão humana, evidenciando a urgência de 
políticas de valorização efetiva. 
 
29 
Os impactos das medidas de austeridade também foram sentidos na retenção de 
profissionais qualificados, pois o prolongamento da carreira sem perspectivas de 
reconhecimento ou aposentadoria digna aumentou a evasão e desmotivação. Codo (1999) 
observa que o desgaste acumulado compromete a coesão institucional e a capacidade de 
implementação de projetos educativos de qualidade, evidenciando que retrocessos 
administrativos se traduzem em perdas pedagógicas concretas. 
O ano de 2025 tornou-se emblemático na trajetória de lutas da categoria docente, 
sendo registrado como momento de mobilização massiva contra práticas políticas que 
priorizam acordos por cima de direitos e participação social. Esteve (1999) ressalta que o mal-
estar docente se intensifica quando decisões administrativas ignoram o corpo e a experiência 
de quem ensina. A resistência organizada mostrou que o reconhecimento e a proteção dos 
direitos são essenciais para a manutenção de uma educação pública de qualidade. 
A combinação de mobilizações, greves e pressão institucional reforçou a importância 
do engajamento coletivo na construção de políticas educacionais justas. Freire (1968) lembra 
que a educação é um espaço de emancipação e participação cidadã; portanto, a luta docente de 
2025 evidenciou que direitos trabalhistas, previdenciários e pedagógicos são inseparáveis da 
legitimidade social das políticas de educação. 
O contexto de 2025 revela que políticas de austeridade, cortes e flexibilizações sem 
participação da classe docente não apenas desvalorizam o trabalho, mas ameaçam a própria 
função social da escola. Esteve (1995) argumenta que transformações profundas exigem 
diálogo, reconhecimento profissional e condições justas de exercício. A mobilização da 
categoria demonstrou que a resistência organizada é capaz de questionar conchavos políticos 
e reafirmar que a educação pública deve priorizar pessoas, não apenas números e orçamentos. 
2.6. CONSEQUÊNCIAS EDUCACIONAIS E SOCIAIS: POR QUE EXIGIR MAIS 
DOS PROFESSORES SEM GARANTIR SEUS DIREITOS? 
Gabriel Nascimento de Carvalho 
Simone Helen Drumond Ischkanian 
 
O ano de 2025 consolidou um cenário de tensão estrutural na educação brasileira, 
marcado por reformas previdenciárias, administrativas e trabalhistas que impactaram 
diretamente a carreira docente. Carvalho e Ischkanian (2025) ressaltam que o prolongamento 
da exigência de tempo de contribuição e o aumento da idade mínima para aposentadoria 
impuseram desafios inéditos para os professores, que se viram forçados a permanecer mais 
tempo em atividade, muitas vezes sem garantias claras quanto a progressões e direitos 
históricos. Essas mudanças geraram um descompasso entre expectativa de desempenho e 
condições concretas de trabalho. 
 
30 
O enfrentamento coletivo da classe docente em 2025 ganhou destaque devido às 
greves e mobilizações organizadas contra o que muitos chamaram de ―conchavos políticos‖. 
Esteve (1999) observa que o mal-estar docente se intensifica quando decisões administrativas 
ignoram a experiência e a voz de quem atua diretamente na educação. Professores em 
diferentes estados e municípios se mobilizaram para questionar alterações em aposentadorias 
e contratos, denunciando práticas que comprometem a segurança jurídica e a dignidade 
profissional. 
A reforma previdenciária federal, conjugada com medidas locais em estados e 
prefeituras, desencadeou protestos em várias regiões. Souza (2021) aponta que políticas de 
ajuste fiscal, ao serem implementadas sem diálogo efetivo com a classe docente, geram 
desconfiança e resistência. Em Manaus, por exemplo, a aprovação do PLC nº 08/2025 elevou 
o tempo de contribuição e a idade mínima de aposentadoria, resultando em greves e 
mobilizações que buscaram reverter o impacto direto sobre professores municipais. 
A combinação de cortes, congelamentos e flexibilizações jurídicas em 2025 
aprofundou a sensação de precarização. Dejours (1994) explica que o sofrimento psíquico no 
trabalho se intensifica quando as demandas aumentam sem reconhecimento ou suporte 
institucional. No contexto educacional, professores relataram aumento da carga horária, 
interrupção de progressões e instabilidade contratual, gerando sobrecarga e adoecimento 
profissional. 
A mobilização docente não se restringiu às greves presenciais; também incluiu ações 
jurídicas e pressão em conselhos municipais de educação. Dias e Endlich (2017) destacam a 
relevância do controle social e da participação organizada como mecanismos para fiscalizar 
decisões e garantir direitos. Em 2025, assembleias e audiências públicas passaram a ser 
ferramentas estratégicas para a denúncia de decisões unilaterais e para exigir transparência 
nas políticas implementadas. 
A resistência docente de 2025 evidenciou a relação direta entre valorização 
profissional e qualidade educacional. Libâneo (2017) enfatiza que professores desvalorizados 
comprometem não apenas o processo de aprendizagem, mas também a função social da 
escola. Greves e mobilizações demonstraram que exigir resultados elevados sem garantir 
condições adequadas e direitos é uma contradição que afeta alunos, famílias e a própria 
sociedade. 
A articulação entre sindicatos, movimentos sociais e imprensa possibilitou 
visibilidade nacional das demandas docentes. Codo, Sampaio e Hitomi (1994) indicam que a 
experiência subjetiva do professor — marcada por sobrecarga, estresse e desvalorização — é 
amplificada quando transformada em ação coletiva, possibilitando negociação política e 
 
31 
conscientização social. O ano de 2025 serviu como catalisador para a ampliação do debate 
público sobre a função e os direitos do professor. 
A pressão exercida pela categoria mostrou que decisões políticas sem participação 
efetiva resultam em retrocessos e impactos educativos negativos. Esteve (1995) argumenta 
que transformações sociais profundas exigem reconhecimento da importância do trabalho 
docente e condições justas de exercício. A falta de diálogo efetivo sobre aposentadoria, 
progressões e remuneração exacerbou desigualdades regionais e aumentou a rotatividade, 
prejudicando a coesão pedagógica. 
As greves de 2025 também destacaram a necessidade de integrar perspectivas 
pedagógicas e econômicas nas decisões administrativas. Arroyo (2004) demonstra que a 
saúde docente, motivação e desempenho estudantil estão intimamente interligados; exigir 
mais sem garantir direitos compromete o aprendizado e aumenta a evasão. A combinação de 
pressões institucionais e ausência de reconhecimento refletiu-se em queda de produtividade e 
impacto na trajetória escolar de milhares de estudantes. 
A atenção à saúde física e mental do docente tornou-se tema central no debate sobre 
políticas educacionais. Dejours (1987) aponta que adoecimento vinculado a sobrecarga e 
insegurança laboral reduz a capacidade de planejamento e intervençãopedagógica. Em 2025, 
professores denunciaram quadros de exaustão e ansiedade, relacionando diretamente essas 
condições à intensificação do trabalho sem contrapartidas adequadas, como progressões ou 
aposentadorias justas. 
O aumento do tempo de trabalho, aliado a cortes de benefícios e gratificações, 
comprometeu a atratividade da profissão. Enguita (1991) destaca que a identidade do 
professor está vinculada a reconhecimento social e estabilidade funcional; quando esses 
elementos são fragilizados, a profissão perde capacidade de atrair e reter talentos. O contexto 
de 2025 evidenciou essa fragilidade, com impactos a médio e longo prazo na qualidade da 
educação. 
As reformas e medidas de austeridade aprofundaram desigualdades sociais, pois 
municípios e estados com menor capacidade fiscal enfrentaram maior dificuldade em 
implementar políticas compensatórias. Minayo (1996) ressalta que políticas uniformes em 
contextos desiguais ampliam vulnerabilidades locais. Professores dessas regiões vivenciaram 
efeitos mais severos de congelamentos salariais, suspensão de progressões e aumento da carga 
sem valorização correspondente. 
A mobilização docente também apontou a necessidade de mecanismos claros de 
fiscalização e participação. Richardson (1999) demonstra que a investigação social e a 
atuação cidadã são essenciais para monitorar políticas públicas e garantir cumprimento de 
 
32 
direitos. As greves e movimentos de 2025 evidenciaram que a organização coletiva é 
instrumento de controle frente a decisões administrativas que ameaçam conquistas históricas. 
O direito de greve é um instrumento constitucional de proteção aos trabalhadores, 
assegurado pelo artigo 9º da Constituição Federal de 1988, que garante a todos os 
trabalhadores a possibilidade de suspender suas atividades laborais como forma de reivindicar 
melhores condições de trabalho, salários e direitos (BRASIL, 1988). 
No caso específico dos professores, a Lei de Greve (Lei nº 7.783/1989) regulamenta 
o exercício desse direito, determinando que a paralisação deve ser comunicada com 
antecedência à administração pública ou à empresa, possibilitando negociações e mediação 
antes da interrupção das atividades (Delgado, 2019). A jurisprudência brasileira tem reforçado 
que a greve é uma ferramenta legítima de pressão para assegurar direitos ameaçados ou 
desrespeitados, desde que organizada de forma coletiva e pacífica. Os movimentos docentes 
de 2025 demonstraram essa função estratégica: os professores utilizaram paralisações e 
mobilizações como forma de contestar reformas previdenciárias e administrativas que 
impactavam diretamente suas condições de trabalho e aposentadoria. 
Do ponto de vista legal, a participação em greve não pode gerar sanções arbitrárias 
aos trabalhadores, e a retenção de salários deve ser proporcional ao período de paralisação, 
observando princípios de razoabilidade e proporcionalidade. O Tribunal de Justiça e o 
Tribunal Superior do Trabalho têm reiterado que decisões unilaterais que desconsiderem o 
direito de greve configuram violação de direitos fundamentais, reforçando o caráter protegido 
desse instrumento (TJDFT, 2024). Além disso, a greve é considerada expressão do direito à 
liberdade sindical e coletiva, sendo vinculada à negociação coletiva de trabalho. Movimentos 
como os de 2025 evidenciam que a greve transcende a mera paralisação: ela constitui 
mecanismo de controle social e pressão política, especialmente quando decisões 
administrativas ameaçam conquistas históricas da categoria docente, funcionando como 
espaço de reivindicação legítima e de defesa da dignidade profissional (Dejours, 1987; Codo, 
1999). 
O exercício desse direito, portanto, exige equilíbrio: os docentes podem reivindicar 
melhorias e proteger direitos, mas também devem respeitar normas que garantam a 
continuidade mínima dos serviços essenciais à sociedade (Dejours, 1987; Codo, 1999). A 
greve de 2025 demonstrou que a organização coletiva, apoiada em fundamentos legais, 
constitui uma estratégia eficaz de resistência frente a reformas e políticas que desconsideram 
o trabalho docente e sua relevância social. 
A articulação entre direitos trabalhistas, previdenciários e pedagógicos mostrou-se 
inseparável da legitimidade social das políticas educacionais. Lacaz (SciELO) argumenta que 
a flexibilização legal sem diálogo com a categoria compromete o princípio de estabilidade e 
 
33 
reconhecimento profissional. Em 2025, professores reivindicaram a preservação de planos de 
carreira, aposentadorias especiais e progressões como pilares de uma educação de qualidade. 
O contexto de 2025 evidencia que exigir mais do professor sem garantir direitos é 
uma contradição estrutural que compromete a educação como um todo. Freire (1968) lembra 
que educação é instrumento de emancipação e transformação social; negar condições justas 
aos docentes enfraquece esse potencial. Carvalho e Ischkanian (2025) concluem que políticas 
que priorizam austeridade em detrimento de valorização profissional reproduzem 
desigualdades e comprometem o futuro educativo do país. 
2.7. PROTEÇÃO À SAÚDE FÍSICA E MENTAL DO PROFESSOR E SEUS 
REFLEXOS NOS DIREITOS TRABALHISTAS E PREVIDENCIÁRIOS 
Simone Helen Drumond Ischkanian 
Gabriel Nascimento de Carvalho 
 
O direito à proteção da saúde física e mental do professor configura um eixo central 
na garantia de seus direitos trabalhistas e previdenciários, refletindo diretamente na qualidade 
do ensino e na sustentabilidade da carreira docente (Dejours, 1987; Codo, 1999). Estudos 
demonstram que o trabalho docente, marcado por intensas demandas emocionais e cognitivas, 
eleva significativamente a incidência de doenças ocupacionais, como transtornos de 
ansiedade, depressão, laringites, fadiga crônica e distúrbios osteomusculares. 
O reconhecimento das doenças relacionadas à atividade docente permite a concessão 
de afastamentos pelo INSS, como o auxílio-doença, e a garantia de estabilidade de até 12 
meses após o retorno ao trabalho quando comprovado acidente ou doença laboral (Calvo, 
2024; Codo, 1999). Além disso, o ordenamento jurídico brasileiro prevê a readaptação 
funcional, a reavaliação das condições de trabalho e, em casos graves, a aposentadoria por 
incapacidade, demonstrando que a proteção legal se articula com a medicina do trabalho e a 
psicologia ocupacional. 
A intersecção entre direito, psicologia e saúde pública é fundamental para 
compreender a complexidade do adoecimento docente (Dejours, 1994; Codo; Sampaio; 
Hitomi, 1994). Laudos médicos, exames periciais e avaliações psicológicas são instrumentos 
essenciais para comprovar a relação causal entre a atividade profissional e os danos à saúde, 
permitindo fundamentar pedidos administrativos ou judiciais de proteção e compensação. 
A legislação trabalhista brasileira impõe responsabilidades aos empregadores 
públicos, obrigando municípios, estados e a União a criar e manter ambientes de trabalho 
seguros. Negligências institucionais que resultam em adoecimento podem ser judicialmente 
questionadas, assegurando reparação e induzindo mudanças estruturais (Delgado, 2019; 
Heuseler; Leite; Guerra, 2025). A sobrecarga de atividades, aliada a jornadas extensas e à 
 
34 
pressão por resultados, compromete a saúde do professor, gerando efeitos diretos sobre sua 
motivação, produtividade e satisfação profissional (Esteve, 1999; Enguita, 1991). A legislação 
trabalhista busca equilibrar essas pressões, oferecendo mecanismos de afastamento e 
readaptação, mas sua efetividade depende da fiscalização e do compromisso institucional com 
a saúde ocupacional. 
O reconhecimento das doenças laborais como causas de afastamento ou 
aposentadoria especial reforça o vínculo entre direitos previdenciários e trabalhistas. A 
Emenda Constitucional nº 103/2019, ao alterar regras previdenciárias, trouxe desafios 
adicionais para a categoria, mas manteve dispositivosque protegem trabalhadores que 
comprovem incapacidade decorrente do exercício profissional (Brasil, 2019; Brasil, INSS, 
2025). A prática docente envolve exposição a fatores psicossociais de risco, como assédio 
moral, cobrança excessiva por resultados, falta de recursos e conflitos institucionais. Estes 
elementos contribuem para o surgimento de transtornos psicossomáticos e doenças crônicas. 
A valorização da saúde mental no ambiente escolar impacta diretamente a qualidade 
do ensino e o desempenho dos estudantes. Professores adoecidos ou sobrecarregados tendem 
a apresentar menor engajamento, atenção e capacidade de inovação pedagógica (Freire, 1968; 
Libâneo, 2017). O acompanhamento contínuo da saúde docente requer políticas preventivas e 
programas de bem-estar no ambiente escolar. A legislação trabalhista e as normas do INSS 
oferecem respaldo para intervenções, como reestruturação de carga horária, adaptação de 
atividades e monitoramento psicológico. 
O adoecimento docente, quando não adequadamente prevenido ou tratado, possui 
repercussões econômicas e sociais significativas. A perda de produtividade, o aumento de 
afastamentos e a necessidade de substituições temporárias geram custos adicionais ao Estado 
e comprometem a qualidade da educação (Dias; Endlich, 2017; Kuenzer, 1999). A 
readaptação funcional constitui um mecanismo crucial para reintegrar professores ao trabalho 
após afastamentos prolongados, garantindo que atividades compatíveis com suas condições 
físicas e psicológicas sejam priorizadas. 
A prevenção de doenças ocupacionais exige a implementação de práticas de gestão 
voltadas à saúde, como ergonomia, suporte psicológico, treinamento contínuo e 
monitoramento de condições laborais (Dejours, 1987; Lacaz, 2024). 
A aposentadoria por incapacidade, prevista em casos graves, reflete a interface entre 
direito previdenciário e saúde ocupacional. Professores que comprovem incapacidade 
decorrente do exercício profissional têm direito a benefícios proporcionais, garantindo 
proteção financeira e dignidade (Brasil, 1996; Brasil, INSS, 2025). A fiscalização e o controle 
social são essenciais para assegurar que as normas de proteção à saúde docente sejam 
efetivamente aplicadas. Conselhos escolares, sindicatos e órgãos de controle podem atuar para 
 
35 
prevenir negligência institucional e garantir cumprimento das normas trabalhistas e 
previdenciárias (Grupo de Estudo Letra, 2024; TJDFT, 2024). 
O reconhecimento da saúde física e mental como componente central da carreira 
docente reforça a necessidade de políticas públicas integradas e de instrumentos legais 
robustos (Saviani, 2021; Souza, 2021). Ao proteger o trabalhador, a legislação também 
preserva a qualidade da educação e promove justiça social, alinhando direitos trabalhistas e 
previdenciários com o interesse coletivo. 
A articulação entre direito, medicina do trabalho e psicologia evidencia que a 
proteção à saúde docente não é apenas uma questão individual, mas um imperativo social e 
educativo. A observância rigorosa das normas legais, combinada com políticas preventivas, 
garante que o professor possa exercer sua função com dignidade, segurança e eficácia 
pedagógica. 
2.8. TIPOS DE APOSENTADORIA E SUAS IMPLICAÇÕES TRABALHISTAS: 
ESPECIAL DO PROFESSOR, PCD E INVALIDEZ — QUAL É A MELHOR? 
Simone Helen Drumond Ischkanian 
Gabriel Nascimento de Carvalho 
 
O tema da aposentadoria docente apresenta complexidade jurídica, social e 
econômica, exigindo análise cuidadosa das modalidades previstas pela legislação brasileira. A 
Constituição Federal de 1988 estabelece a previdência social como direito fundamental, 
garantindo proteção ao trabalhador em diversas situações, incluindo idade avançada, invalidez 
ou condições especiais de trabalho (Brasil, 1988; Delgado, 2019). 
A aposentadoria especial do professor tem caráter diferenciador, reconhecendo o 
desgaste físico e mental intrínseco à atividade docente. Segundo a Lei nº 9.394/1996, a 
aposentadoria do magistério exige tempo de contribuição reduzido em relação à regra geral, 
com idade mínima diferenciada e benefícios proporcionais ao tempo de serviço (Brasil, 1996; 
Calvo, 2024). Este regime reconhece que a atividade docente não se limita às horas em sala de 
aula, mas envolve planejamento, correção de trabalhos e acompanhamento contínuo de 
estudantes. 
O direito à aposentadoria para pessoas com deficiência (PCD) é outra modalidade 
que busca equidade social, oferecendo requisitos de contribuição mais flexíveis de acordo 
com o grau de limitação funcional do trabalhador. Estudos indicam que essa modalidade 
estimula inclusão e evita discriminação, considerando a capacidade produtiva reduzida de 
certos indivíduos (Heuseler; Leite; Guerra, 2025; Codo, 1999). A aposentadoria por invalidez, 
por sua vez, assegura proteção quando o trabalhador se encontra impossibilitado de exercer 
qualquer atividade laboral. A legislação previdenciária prevê que, após comprovação médica 
 
36 
e perícia do INSS, o benefício é concedido integralmente, considerando o histórico 
contributivo e o impacto da incapacidade sobre a vida profissional e pessoal (Brasil, INSS, 
2025; Delgado, 2019). 
A escolha da modalidade mais adequada depende de uma análise individualizada. 
Fatores como idade, tempo de contribuição, condições de saúde, capacidade laboral e 
objetivos futuros determinam a estratégia previdenciária mais eficiente para cada docente 
(Esteve, 1995; Dejours, 1987). 
Para os professores, a aposentadoria especial oferece vantagens significativas, como 
redução do tempo de contribuição e manutenção de benefícios integrais, mas impõe a 
necessidade de comprovação contínua do exercício da atividade em condições previstas em 
lei (Calvo, 2024; Codo, 1999). A ausência de documentação adequada pode gerar atrasos ou 
negativas no reconhecimento do direito. 
No caso de pessoas com deficiência, a aposentadoria PCD garante proteção frente a 
barreiras estruturais e sociais que limitam a participação plena no trabalho. Essa modalidade 
exige avaliação detalhada do grau de deficiência, o que requer perícias médicas e 
administrativas criteriosas (Heuseler; Leite; Guerra, 2025; Delgado, 2019). A aposentadoria 
por invalidez representa uma modalidade de caráter emergencial e protetivo, destinada a 
situações em que não há possibilidade de reintegração ou readaptação funcional. Embora 
garanta benefícios integrais, o trabalhador perde a possibilidade de continuar ativo no 
mercado, o que pode afetar a renda e a vida social (Arroyo, 2004; Codo, 1999). 
A legislação previdenciária atual prevê regras de transição para professores que 
ingressaram no serviço antes das reformas de 2019, considerando idade mínima progressiva e 
pontuação por tempo de contribuição. Essas regras buscam equilíbrio entre direitos adquiridos 
e sustentabilidade do sistema previdenciário (Brasil, 2019; Delgado, 2019). As implicações 
trabalhistas dessas modalidades são profundas. O reconhecimento da aposentadoria especial 
ou PCD mantém vínculos trabalhistas e garante estabilidade em caso de afastamento, 
permitindo que o trabalhador preserve direitos como férias, décimo terceiro salário e FGTS, 
quando aplicável. 
O impacto social da escolha da aposentadoria adequada reflete diretamente na 
qualidade de vida do professor e na sustentabilidade do sistema educacional. Profissionais 
aposentados em condições justas apresentam menor índice de adoecimento e maior 
capacidade de participação comunitária e familiar (Esteve, 1999; Dejours, 1994). O 
planejamento previdenciário deve ser acompanhado de assessoria jurídica especializada, 
garantindo que o docente conheça todos os critérios de elegibilidade e potenciais 
consequências de cada escolha. A complexidade das regras exige atenção a detalhes como 
comprovação de tempo de serviço, registros de atividades e documentação médica. 
 
37 
Questões de equidade de gêneroe vulnerabilidade social também influenciam a 
escolha da modalidade de aposentadoria. Mulheres e docentes com histórico de sobrecarga em 
atividades extracurriculares podem se beneficiar de regras diferenciadas que consideram a 
realidade prática da docência (Brasil, 1988; Esteve, 1995). O diálogo entre direito trabalhista, 
previdenciário e políticas públicas é essencial para compreender as consequências de cada 
modalidade. A proteção previdenciária deve caminhar paralela à garantia de direitos 
trabalhistas, evitando que docentes sejam obrigados a permanecer em funções desgastantes 
por tempo excessivo. 
A avaliação da ―melhor‖ aposentadoria não pode se limitar a aspectos financeiros. A 
análise deve considerar saúde, expectativa de vida laboral, segurança jurídica, impacto social 
e possibilidade de continuidade profissional. A decisão, portanto, envolve reflexão 
estratégica, interdisciplinaridade e conhecimento profundo das normas legais vigentes. 
Dentro do Direito Previdenciário aplicado ao trabalhador da educação, destacam-se 
três modalidades: 
a) Aposentadoria do Professor (Regra Especial) 
O regime de aposentadoria especial do professor foi concebido historicamente para 
reconhecer a intensidade e a especificidade da atividade docente, que combina demandas 
cognitivas, emocionais e físicas diárias. Segundo o entendimento de Delgado (2019), a 
profissão docente envolve desgaste contínuo devido à necessidade de planejamento 
pedagógico, correção de atividades e atenção constante aos alunos, fatores que justificam a 
redução do tempo de contribuição tradicionalmente exigido. A legislação original previa que 
mulheres poderiam se aposentar com 25 anos de contribuição e homens com 30 anos, o que 
buscava equilibrar os riscos ocupacionais inerentes à prática escolar com a proteção 
previdenciária necessária. 
Com a promulgação da Emenda Constitucional nº 103/2019, surgiram alterações 
significativas que impactaram diretamente os docentes. Heuseler; Leite; Guerra (2025) 
destacam que a introdução de idade mínima progressiva e regras de transição transformou 
radicalmente o panorama previdenciário do magistério. Professores que ingressaram na 
carreira antes das mudanças precisam calcular cuidadosamente o tempo de contribuição e a 
idade exigida para aposentadoria, enquanto os que ingressaram posteriormente enfrentam um 
regime mais rígido, que muitas vezes inviabiliza a antecipação de benefícios. 
A comprovação do exercício docente continua sendo requisito fundamental para a 
concessão da aposentadoria especial. Codo (1999) observa que registros detalhados de 
atividades pedagógicas, declarações de instituições de ensino e horários documentados são 
imprescindíveis para que o trabalhador demonstre o tempo efetivo de exposição às condições 
 
38 
laborais específicas do magistério. A ausência de comprovação adequada pode levar à perda 
parcial ou total do direito, especialmente diante das novas regras de transição. 
A aposentadoria especial também sofre influência direta da forma como a atividade 
docente é organizada. Esteve (1995) argumenta que professores que acumulam funções, 
atendem múltiplas turmas e assumem tarefas administrativas sofrem maior desgaste físico e 
mental, o que aumenta a relevância do regime especial. A extensão das jornadas e a 
sobreposição de funções comprometem a saúde do trabalhador e reforçam a necessidade de 
políticas previdenciárias diferenciadas que reconheçam essa complexidade. 
O regime de transição criado pela reforma de 2019 introduziu mecanismos de 
pontuação que combinam idade e tempo de contribuição, criando desafios adicionais para o 
planejamento da aposentadoria. Dejours (1987) destaca que tais alterações não apenas 
prolongam o tempo de atividade docente, mas também geram incerteza psicológica, pois o 
trabalhador permanece submetido a metas e responsabilidades elevadas sem a segurança de 
direitos consolidados. Esse cenário evidencia um contraste entre exigências profissionais e 
proteção previdenciária, amplificando o estresse ocupacional. 
O impacto da reforma atinge diretamente a motivação e o engajamento docente. 
Dejours (1994) observa que a insegurança quanto à aposentadoria contribui para aumento da 
ansiedade e sensação de precariedade, elementos que afetam tanto a saúde mental quanto a 
qualidade do ensino. Professores mais próximos da aposentadoria podem sentir-se 
sobrecarregados, com a necessidade de manter altos padrões pedagógicos enquanto enfrentam 
mudanças legislativas que dificultam a obtenção de benefícios previstos anteriormente. 
Historicamente, a aposentadoria especial era considerada um instrumento de 
reconhecimento da trajetória profissional acumulada ao longo dos anos. Codo (1999) ressalta 
que a possibilidade de antecipação do benefício representava uma forma concreta de 
valorização da experiência docente e de compensação pelos anos de dedicação. Com a 
introdução das regras de transição, essa vantagem diminuiu, tornando-se necessário que os 
docentes revisem continuamente sua estratégia previdenciária. 
O planejamento previdenciário para professores exige acompanhamento técnico 
multidisciplinar. Heuseler; Leite; Guerra (2025) enfatizam que, além de questões jurídicas, é 
essencial considerar aspectos financeiros e de saúde, especialmente diante de funções 
desgastantes e doenças ocupacionais que possam comprometer o tempo de contribuição. A 
análise integrada de direitos, tempo de serviço e expectativas de aposentadoria torna-se 
indispensável para evitar perdas futuras. 
Além dos aspectos formais, a aposentadoria especial influencia benefícios 
relacionados, como aposentadoria por invalidez ou aposentadoria PCD. Delgado (2019) 
aponta que o tempo de serviço em funções docentes pode ser utilizado para compor requisitos 
 
39 
de outras modalidades, o que reforça a importância de documentação completa e controle 
rigoroso das atividades exercidas. Essa interconexão amplia o alcance da proteção 
previdenciária quando bem planejada. 
O prolongamento do período de atividade docente, imposto pelas reformas, impacta 
também a saúde física do trabalhador. Dejours (1987) observa que sobrecarga de aulas, 
correções e planejamento contínuo aumenta a incidência de doenças musculoesqueléticas e 
transtornos psicossociais. O reconhecimento desses riscos justifica a criação de regras 
previdenciárias diferenciadas, embora a efetividade tenha sido reduzida pelas novas medidas 
legais. 
No contexto da legislação contemporânea, a aposentadoria especial do professor se 
tornou mais complexa, exigindo atenção ao cumprimento de requisitos mínimos e ao 
enquadramento correto no regime de transição. Esteve (1999) ressalta que profissionais que 
não se adequam adequadamente podem ter seus direitos comprometidos, sendo necessário 
acompanhamento jurídico para evitar equívocos que comprometam o futuro previdenciário. 
A alteração das condições de aposentadoria também influencia a percepção da 
carreira docente. Codo (1999) explica que o prolongamento do tempo de contribuição e o 
aumento da idade mínima podem desincentivar a entrada de jovens profissionais, reduzindo a 
atratividade da profissão e aumentando o risco de desvalorização social e profissional da 
categoria. 
A aposentadoria especial permanece como ferramenta de proteção, mas requer 
entendimento detalhado da legislação, acompanhamento contínuo e planejamento estratégico. 
Heuseler; Leite; Guerra (2025) destacam que apenas uma atuação previdenciária proativa 
garante que o docente usufrua plenamente dos direitos adquiridos e das vantagens previstas 
historicamente, mesmo diante das reformas recentes. 
O equilíbrio entre tempo de serviço, idade e condições de trabalho continua sendo 
tema central de debates jurídicos, sindicais e acadêmicos. Delgado (2019) reforça que a 
complexidade do regime exige atuação coordenada entre docentes, sindicatos e assessoria 
especializada paraassegurar que a aposentadoria especial cumpra seu papel de proteção 
efetiva ao trabalhador. 
A análise histórica e contemporânea evidencia que a aposentadoria especial do 
professor, embora menos vantajosa do que outrora, permanece como um mecanismo 
indispensável de valorização do trabalho docente. Codo (1999) conclui que compreender suas 
regras, impactos e possibilidades é condição essencial para que os professores planejem 
adequadamente seu futuro previdenciário, conciliando proteção, saúde e carreira profissional. 
 
 
40 
 
b) Aposentadoria da Pessoa com Deficiência (PCD) 
A aposentadoria destinada a pessoas com deficiência (PCD) se destaca como uma 
das modalidades mais protetivas do sistema previdenciário brasileiro, devido à possibilidade 
de redução do tempo de contribuição ou da idade exigida conforme o grau da deficiência. 
Delgado (2019) enfatiza que a classificação do grau da deficiência — leve, moderada ou 
grave — define os parâmetros legais para aposentadoria, estabelecendo direitos diferenciados 
que buscam compensar as limitações funcionais e os obstáculos enfrentados no exercício da 
atividade laboral. 
A comprovação da deficiência constitui elemento central para a concessão do 
benefício. Heuseler; Leite; Guerra (2025) destacam que laudos médicos e avaliações 
biopsicossociais são imprescindíveis para garantir que a deficiência seja reconhecida 
formalmente pelo INSS, considerando tanto condições físicas quanto psíquicas, intelectuais 
ou sensoriais. Sem essa documentação rigorosa, o trabalhador corre risco de indeferimento, 
independentemente do tempo de contribuição acumulado. 
A modalidade PCD permite aposentadoria por idade ou por tempo de contribuição, 
criando flexibilidade que se adapta às especificidades do trabalhador. Codo (1999) observa 
que essa flexibilidade é particularmente vantajosa, pois indivíduos com deficiências graves 
podem se aposentar mais cedo, enquanto aqueles com deficiências leves podem planejar a 
aposentadoria de acordo com sua trajetória profissional, garantindo proteção sem 
comprometer o planejamento financeiro de longo prazo. 
Um ponto relevante é a manutenção de valores integrais em muitos casos. Delgado 
(2019) explica que, quando cumpridos os requisitos legais, o benefício é concedido 
integralmente, preservando a remuneração proporcional ao tempo de serviço. Essa 
característica diferencia a aposentadoria PCD de outras modalidades, como a aposentadoria 
por invalidez, que pode sofrer descontos quando a incapacidade não decorre de doença 
ocupacional. 
A exigência de idade mínima na aposentadoria PCD é geralmente inferior à aplicada 
aos regimes comuns. Heuseler; Leite; Guerra (2025) enfatizam que essa redução é justificável 
pelo reconhecimento dos desafios adicionais enfrentados por pessoas com deficiência, 
refletindo uma lógica de justiça compensatória e proteção social que busca equilibrar 
desigualdades estruturais no mercado de trabalho. 
O planejamento previdenciário torna-se um elemento estratégico para trabalhadores 
com deficiência. Codo (1999) observa que antecipar a aposentadoria PCD pode reduzir riscos 
relacionados a deterioração da saúde ou agravamento das condições laborais, garantindo ao 
 
41 
trabalhador o direito de se desligar do serviço ativo com dignidade e segurança financeira, 
sem comprometer o bem-estar físico e mental. 
A avaliação biopsicossocial, instrumento central na concessão do benefício, integra 
aspectos médicos, psicológicos e sociais. Dejours (1987) destaca que essa abordagem 
multidisciplinar permite compreender não apenas a limitação física, mas também o impacto 
emocional e social da deficiência na vida do trabalhador, reforçando a importância de análises 
completas para decisões justas e equânimes. 
Além da proteção individual, a aposentadoria PCD tem efeitos sobre a gestão 
organizacional e o planejamento de políticas públicas. Delgado (2019) afirma que a existência 
desse direito incentiva empresas e órgãos públicos a adaptar ambientes de trabalho, reduzir 
barreiras físicas e implementar medidas de acessibilidade, promovendo inclusão e respeito às 
diferenças de forma estruturada. 
O reconhecimento da deficiência pré-existente ou adquirida exige atenção à 
temporalidade das condições. Heuseler; Leite; Guerra (2025) explicam que o trabalhador deve 
comprovar que a deficiência existe ou existia antes do ingresso no benefício, evitando 
interpretações equivocadas que possam comprometer o acesso à aposentadoria. Essa 
exigência protege a integridade do sistema previdenciário e assegura que os direitos sejam 
direcionados a quem realmente enfrenta limitações funcionais. 
A aposentadoria PCD também preserva direitos correlatos, como estabilidade após 
afastamento por doença ou readaptação funcional. Codo (1999) observa que o 
reconhecimento legal dessas garantias reforça a proteção ao trabalhador, prevenindo que a 
deficiência se torne um fator de precarização laboral, e garante que o docente ou servidor 
público possa permanecer no mercado de trabalho até que o benefício seja formalmente 
concedido. 
A modalidade PCD permite que o trabalhador continue exercendo atividades 
profissionais enquanto cumpre requisitos legais. Delgado (2019) destaca que essa 
característica é essencial para a autonomia do indivíduo, permitindo conciliar experiência 
laboral com proteção previdenciária, ao contrário da aposentadoria por invalidez, que exige a 
cessação completa da atividade profissional. 
O planejamento previdenciário da aposentadoria PCD deve considerar a interação 
com outros direitos trabalhistas, como adicionais por insalubridade, periculosidade e 
aposentadoria especial. Heuseler; Leite; Guerra (2025) explicam que o correto enquadramento 
legal permite ao trabalhador maximizar benefícios, evitando perdas financeiras e 
consolidando a proteção social necessária diante de limitações funcionais permanentes ou 
temporárias. 
 
42 
O regime PCD evidencia a importância de políticas públicas que reconheçam 
vulnerabilidades específicas do trabalhador. Dejours (1994) ressalta que a inclusão de 
critérios diferenciados para pessoas com deficiência representa um avanço no conceito de 
justiça social, pois considera o impacto cumulativo de condições físicas, mentais e emocionais 
na capacidade de exercer atividades laborais, protegendo o indivíduo de desigualdades 
estruturais. 
A interação entre laudos médicos, perícias e legislação previdenciária reforça a 
complexidade do processo. Codo (1999) observa que o correto acompanhamento jurídico e 
técnico é essencial para garantir que cada requisito seja validado e que o trabalhador não seja 
prejudicado por falhas de documentação, interpretações equivocadas ou atrasos 
administrativos, especialmente em casos de deficiências graves ou múltiplas. 
A aposentadoria PCD permanece como um instrumento indispensável de proteção 
social e valorização profissional, oferecendo condições que equilibram esforço laboral, 
limitações pessoais e direitos previdenciários. Delgado (2019) conclui que a compreensão 
detalhada de regras, laudos e estratégias de planejamento é fundamental para que 
trabalhadores com deficiência possam usufruir integralmente dos benefícios e manter sua 
qualidade de vida e autonomia ao longo do tempo. 
c) Aposentadoria por invalidez (atualmente chamada ―aposentadoria por 
incapacidade permanente‖) 
A aposentadoria por incapacidade permanente, popularmente chamada de 
aposentadoria por invalidez, é concedida quando o trabalhador se encontra impossibilitado de 
exercer qualquer atividade laboral, independentemente do setor ou função. Delgado (2019) 
ressalta que essa modalidade exige comprovação rigorosa de incapacidade total e definitiva, 
por meio de laudos médicos e perícias detalhadas, garantindo que o benefício seja destinado 
apenas a quem realmente não possui condições de continuar trabalhando. 
A natureza da incapacidade é determinantepara a concessão do benefício. Heuseler; 
Leite; Guerra (2025) destacam que, quando a incapacidade decorre de acidente de trabalho ou 
doença ocupacional, o valor do benefício pode ser integral, assegurando ao trabalhador uma 
proteção equivalente à remuneração que teria direito se ainda estivesse ativo. Essa 
característica diferencia a aposentadoria por incapacidade das demais modalidades 
previdenciárias, que geralmente aplicam cálculos proporcionais ao tempo de contribuição. 
Em casos em que a incapacidade não está vinculada a acidente de trabalho ou doença 
ocupacional, o valor do benefício pode ser reduzido conforme o cálculo estabelecido pelas 
reformas previdenciárias recentes. Codo (1999) observa que essa redução impacta diretamente 
a segurança financeira do trabalhador, tornando ainda mais relevante a comprovação 
 
43 
detalhada das condições de saúde e das limitações funcionais para garantir acesso justo ao 
benefício. 
O processo de avaliação do trabalhador envolve múltiplos exames médicos, 
avaliações funcionais e perícias do INSS. Dejours (1994) enfatiza que a complexidade desse 
processo é necessária para assegurar que a aposentadoria seja concedida apenas em situações 
legítimas, evitando fraudes e preservando a integridade do sistema previdenciário, mas 
também gera desafios significativos para os segurados devido à burocracia e às exigências 
técnicas. 
A aposentadoria por incapacidade permanente não se limita aos professores, 
abrangendo todos os trabalhadores do setor público e privado que enfrentem incapacidade 
total. Delgado (2019) destaca que, embora essa modalidade seja reconhecida pelo caráter 
universal, docentes e profissionais da educação estão particularmente vulneráveis devido às 
condições laborais que podem contribuir para doenças ocupacionais e transtornos 
psicossociais. 
O caráter permanente da incapacidade exige que o trabalhador esteja impossibilitado 
de exercer qualquer atividade, o que implica restrições severas à autonomia profissional. 
Heuseler; Leite; Guerra (2025) ressaltam que, mesmo quando o trabalhador tem habilidades 
que poderiam ser aproveitadas em outra função, a legislação prevê que a incapacidade deve 
ser total e irreversível para conceder o benefício, tornando-o uma modalidade restritiva e 
criteriosa. 
As perícias médicas desempenham papel central na determinação da concessão. 
Codo (1999) explica que os médicos peritos avaliam não apenas a condição clínica do 
trabalhador, mas também a capacidade funcional para o exercício de atividades laborais, 
considerando limitações físicas, mentais e emocionais. Essa abordagem multidimensional é 
crucial para diferenciar casos de incapacidade parcial daqueles que realmente justificam a 
aposentadoria por invalidez. 
O vínculo com doença ocupacional ou acidente de trabalho confere integralidade ao 
benefício, proporcionando maior segurança financeira. Delgado (2019) destaca que, nesses 
casos, o trabalhador recebe aposentadoria equivalente ao último salário, refletindo o 
reconhecimento do direito adquirido e da responsabilidade do empregador ou ente público 
pela condição que originou a incapacidade. 
Quando a incapacidade não decorre de causas laborais, o cálculo do benefício leva 
em conta o tempo de contribuição e a média salarial, resultando em redução proporcional. 
Heuseler; Leite; Guerra (2025) apontam que essa regra dificulta o acesso ao valor integral, 
criando desafios econômicos para trabalhadores que enfrentam incapacidades sem vínculo 
direto com suas funções ou ambiente profissional. 
 
44 
A aposentadoria por incapacidade permanente também pode ser revisada 
periodicamente. Codo (1999) ressalta que o INSS realiza revisões para avaliar a manutenção 
da incapacidade, exigindo comprovação contínua em alguns casos, o que pode gerar 
insegurança para o beneficiário e pressão psicológica adicional, especialmente quando a 
revisão ocorre em função de perícias controversas. 
O planejamento previdenciário é mais complexo para essa modalidade, pois depende 
de diagnóstico clínico definitivo. Delgado (2019) enfatiza que, diferente da aposentadoria 
PCD, o trabalhador não tem flexibilidade para continuar exercendo atividades profissionais, 
tornando essencial o acompanhamento médico e jurídico para assegurar que todos os 
requisitos legais sejam cumpridos e que o benefício seja concedido corretamente. 
Aspectos relacionados à saúde mental são particularmente relevantes para 
professores. Dejours (1987) observa que o estresse crônico, a sobrecarga laboral e o assédio 
moral podem gerar incapacidades psicossociais que, se reconhecidas oficialmente, justificam 
a concessão da aposentadoria por incapacidade permanente, mas muitas vezes são 
negligenciadas nas perícias tradicionais. 
A complexidade do processo exige integração entre direito, medicina do trabalho e 
psicologia, garantindo que a incapacidade seja avaliada de forma holística. Heuseler; Leite; 
Guerra (2025) destacam que abordagens interdisciplinares aumentam a precisão na concessão 
do benefício, evitando indeferimentos indevidos e reconhecendo as limitações reais que 
afetam a vida profissional e pessoal do trabalhador. 
O impacto social da aposentadoria por incapacidade permanente é significativo, pois 
protege indivíduos que não podem mais gerar renda através do trabalho. Delgado (2019) 
ressalta que essa proteção é crucial para a dignidade e a manutenção do padrão de vida do 
trabalhador, especialmente em contextos de vulnerabilidade econômica e social, onde a 
incapacidade definitiva poderia gerar exclusão e dependência total. 
A aposentadoria por incapacidade permanente permanece como um instrumento 
indispensável de proteção social, embora seja a modalidade mais difícil de ser aprovada pelo 
INSS. Codo (1999) conclui que seu rigor é justificável para preservar a integridade do sistema 
previdenciário, mas também demanda orientação especializada para que trabalhadores 
incapacitados tenham seus direitos reconhecidos de forma efetiva e justa, equilibrando 
proteção previdenciária e realidade laboral. 
d) Comparação direta: PCD ou Invalidez — qual é a melhor? 
A escolha entre aposentadoria da Pessoa com Deficiência (PCD) e aposentadoria por 
incapacidade permanente envolve análise criteriosa das condições do trabalhador e das 
implicações legais de cada modalidade. Delgado (2019) destaca que a aposentadoria PCD se 
 
45 
distingue pela flexibilidade na comprovação do grau de deficiência, permitindo que o 
segurado continue exercendo atividades profissionais enquanto atende aos critérios legais, ao 
passo que a aposentadoria por incapacidade exige a cessação completa da capacidade laboral. 
A aposentadoria PCD é particularmente vantajosa por possibilitar a redução do 
tempo de contribuição ou da idade mínima exigida conforme a gravidade da deficiência. 
Heuseler; Leite; Guerra (2025) apontam que essa modalidade contempla deficiências leves, 
moderadas ou graves, estabelecendo parâmetros claros para a concessão do benefício e 
ampliando a acessibilidade para trabalhadores com limitações funcionais reconhecidas 
legalmente. 
Enquanto isso, a aposentadoria por incapacidade permanente impõe requisitos mais 
rígidos, sendo concedida apenas quando a incapacidade total e definitiva é comprovada. Codo 
(1999) observa que essa exigência restringe o acesso ao benefício, tornando-o uma alternativa 
viável somente em situações de limitações irreversíveis, o que reduz o número de 
trabalhadores que podem se beneficiar desta modalidade. 
A análise econômica das duas modalidades evidencia diferenças significativas no 
valor do benefício. Delgado (2019) afirma que a aposentadoria PCD, em muitos casos, 
garante valores proporcionais ao tempo de contribuição ou integrais quando a deficiência é 
grave, enquanto a aposentadoria por incapacidade permanente só assegura integralidade em 
casos vinculados a acidentes de trabalho ou doenças ocupacionais,podendo sofrer redução 
nos demais cenários. 
A dimensão previdenciária reforça a vantagem da aposentadoria PCD para 
trabalhadores que ainda desejam permanecer ativos no mercado. Heuseler; Leite; Guerra 
(2025) explicam que a modalidade permite que o beneficiário continue exercendo funções 
compatíveis com sua condição, evitando exclusão precoce da vida profissional e garantindo 
simultaneamente o direito à aposentadoria, fator determinante para planejamento de carreira e 
manutenção de renda. 
No contexto da educação, professores com deficiência podem se beneficiar de 
critérios mais flexíveis da aposentadoria PCD. Codo (1999) enfatiza que, ao contrário da 
aposentadoria por incapacidade permanente, que exige interrupção total das atividades 
docentes, a modalidade PCD reconhece limitações funcionais específicas sem impedir a 
permanência no exercício profissional, preservando a experiência acumulada e a relação 
pedagógica com alunos. 
As exigências de comprovação são diferentes entre as duas modalidades. Delgado 
(2019) aponta que a aposentadoria PCD depende de laudos médicos, exames clínicos e 
avaliações biopsicossociais que atestem a deficiência, enquanto a aposentadoria por 
 
46 
incapacidade permanente requer perícia rigorosa do INSS, muitas vezes sujeita a revisões 
periódicas e questionamentos administrativos, aumentando a complexidade do processo. 
A segurança jurídica também distingue as modalidades. Heuseler; Leite; Guerra 
(2025) ressaltam que a aposentadoria PCD tende a gerar menos contestações legais, dado que 
os critérios de elegibilidade estão claramente definidos na legislação, ao passo que a 
aposentadoria por incapacidade permanente frequentemente demanda recursos 
administrativos ou judiciais devido à subjetividade das perícias e à necessidade de 
comprovação da incapacidade total. 
Do ponto de vista social, a aposentadoria PCD preserva vínculos profissionais e 
reduz impactos psicossociais. Codo (1999) observa que a manutenção de atividade compatível 
com a deficiência contribui para autoestima, integração social e qualidade de vida do 
trabalhador, contrastando com a aposentadoria por incapacidade, que impõe afastamento total 
e pode gerar isolamento e perda de identidade profissional. 
A flexibilidade de critérios da aposentadoria PCD permite adaptação a diferentes 
tipos de deficiência. Delgado (2019) explica que ela contempla deficiências físicas, 
intelectuais, sensoriais e psicossociais, sendo mais abrangente que a aposentadoria por 
incapacidade permanente, que se foca exclusivamente na impossibilidade de exercer qualquer 
atividade laboral, limitando o universo de elegibilidade. 
Em termos de riscos administrativos, a aposentadoria por incapacidade permanente 
apresenta maior probabilidade de indeferimento. Heuseler; Leite; Guerra (2025) destacam que 
perícias rígidas, exigências documentais extensas e revisões periódicas tornam o acesso mais 
incerto, enquanto a aposentadoria PCD oferece critérios mais claros, minimizando litígios e 
aumentando a previsibilidade do benefício. 
O valor econômico do benefício também é determinante na escolha. Codo (1999) 
aponta que, em muitos casos, a aposentadoria PCD assegura remuneração equivalente ou 
superior à aposentadoria por incapacidade permanente, especialmente quando a deficiência é 
reconhecida como grave e o trabalhador mantém tempo de contribuição suficiente, tornando-a 
mais vantajosa financeiramente. 
A modalidade por incapacidade permanente, apesar de restritiva, é fundamental 
quando a limitação é total e impede qualquer tipo de atividade laboral. Delgado (2019) 
enfatiza que, nesse cenário, é a única forma de garantir subsistência ao trabalhador 
incapacitado, assegurando integralidade em casos de doença ocupacional e reconhecendo os 
riscos e prejuízos que a atividade gerou à saúde do segurado. 
Aspectos de saúde mental e ocupacional reforçam a relevância da aposentadoria 
PCD. Heuseler; Leite; Guerra (2025) destacam que professores e profissionais com 
deficiências podem continuar atuando em condições adaptadas, evitando adoecimento 
 
47 
psicossocial e garantindo continuidade de carreira, o que não ocorre na aposentadoria por 
incapacidade permanente, que demanda afastamento total e imediato. 
A análise comparativa evidencia que a aposentadoria PCD é geralmente mais 
vantajosa quando a deficiência permite continuidade parcial das atividades profissionais. 
Codo (1999) conclui que a aposentadoria por incapacidade permanente deve ser considerada 
apenas em situações de incapacidade total e irreversível, sendo a aposentadoria PCD a opção 
preferencial para trabalhadores que desejam proteger seus direitos previdenciários sem 
abdicar do exercício profissional ou da qualidade de vida. 
e) Aposentadoria PCD — geralmente mais vantajosa quando possível 
A aposentadoria da Pessoa com Deficiência (PCD) é reconhecida no sistema 
previdenciário brasileiro como uma modalidade que contempla a vulnerabilidade e as 
limitações funcionais do trabalhador, permitindo ajustes no tempo de contribuição ou na idade 
mínima conforme o grau da deficiência. Delgado (2019) destaca que essa flexibilidade 
representa uma inovação jurídica significativa, pois oferece a possibilidade de aposentadoria 
sem a necessidade de incapacidade total, diferentemente da aposentadoria por invalidez, que 
impõe critérios mais rígidos. 
O aspecto central da aposentadoria PCD reside na possibilidade de o trabalhador 
continuar em atividade até a comprovação legal da deficiência. Heuseler; Leite; Guerra (2025) 
afirmam que essa característica garante não apenas a manutenção da renda, mas também a 
preservação de vínculos profissionais e da autonomia no trabalho, reduzindo impactos 
psicossociais e prevenindo a exclusão precoce do mercado. 
Os critérios de elegibilidade para aposentadoria PCD variam de acordo com a 
gravidade da deficiência, que pode ser classificada como leve, moderada ou grave. Codo 
(1999) observa que essa classificação influencia diretamente no tempo de contribuição 
necessário, permitindo que trabalhadores com deficiências mais intensas se aposentem antes 
do prazo convencional, o que reconhece a relação entre limitação funcional e esforço laboral. 
Uma das vantagens dessa modalidade é a maior previsibilidade na concessão do 
benefício, resultando em menor risco de indeferimento. Delgado (2019) ressalta que, por estar 
regulamentada de forma clara, a aposentadoria PCD exige documentação médica e avaliação 
biopsicossocial, mas não submete o trabalhador a perícias tão rigorosas quanto as da 
aposentadoria por incapacidade permanente, facilitando o acesso ao benefício. 
O valor da aposentadoria PCD tende a ser mais favorável em muitos casos. Heuseler; 
Leite; Guerra (2025) afirmam que a modalidade permite cálculos proporcionais ao tempo de 
contribuição e à gravidade da deficiência, assegurando remuneração adequada sem 
 
48 
comprometer o direito à integralidade quando a limitação é reconhecida como grave, o que a 
torna economicamente mais vantajosa que a aposentadoria por invalidez. 
Além dos aspectos financeiros, a aposentadoria PCD preserva a saúde física e mental 
do trabalhador, ao permitir que ele continue em atividade compatível com suas condições. 
Codo (1999) destaca que a permanência no exercício profissional contribui para autoestima, 
integração social e manutenção de hábitos ocupacionais, prevenindo adoecimento decorrente 
do afastamento total exigido pela aposentadoria por incapacidade permanente. 
A modalidade também oferece uma adaptação diferenciada para professores, 
profissionais que enfrentam sobrecarga de trabalho e exigências cognitivas elevadas. Delgado 
(2019) enfatiza que a aposentadoria PCD permite que docentes com deficiências continuem 
exercendo funções pedagógicas compatíveis com suas limitações, garantindo continuidade 
educacional e evitando perdas significativas no aprendizado dos estudantes.Do ponto de vista jurídico, a aposentadoria PCD incorpora princípios de equidade e 
justiça social. Heuseler; Leite; Guerra (2025) explicam que ela se insere no contexto de 
políticas de proteção a trabalhadores vulneráveis, reconhecendo que a deficiência, 
independentemente de impedir completamente o trabalho, gera necessidade de compensação 
legal, o que reforça a função protetiva da Previdência Social. 
A comprovação da deficiência exige laudos médicos detalhados e avaliação 
biopsicossocial, integrando aspectos clínicos, funcionais e sociais. Codo (1999) ressalta que 
essa abordagem multidisciplinar é crucial para garantir que o benefício seja concedido de 
forma justa, considerando não apenas a limitação física ou intelectual, mas também o impacto 
na vida profissional e na capacidade de desempenho das funções. 
A possibilidade de manter vínculos profissionais mesmo após a concessão da 
aposentadoria PCD parcial ou proporcional. Delgado (2019) explica que o segurado pode 
continuar trabalhando em atividades adaptadas, preservando renda adicional e reduzindo a 
perda de experiência e qualificação, aspecto que não é permitido na aposentadoria por 
incapacidade permanente, que exige afastamento total. 
A aposentadoria PCD também contribui para reduzir desigualdades no acesso à 
proteção previdenciária. Heuseler; Leite; Guerra (2025) observam que trabalhadores com 
deficiências leves ou moderadas, que poderiam ser excluídos da aposentadoria por invalidez 
por não cumprirem critérios de incapacidade total, encontram na modalidade PCD um 
mecanismo legal para assegurar direitos de forma proporcional às limitações apresentadas. 
Do ponto de vista administrativo, a concessão da aposentadoria PCD tende a gerar 
menos litígios e recursos. Codo (1999) destaca que a clareza dos critérios e a definição de 
parâmetros objetivos reduzem questionamentos, facilitam a gestão pelo INSS e tornam o 
 
49 
benefício mais acessível a trabalhadores com deficiências reconhecidas, promovendo 
eficiência e segurança jurídica. 
A dimensão social da aposentadoria PCD reforça sua vantagem em relação à 
aposentadoria por invalidez. Delgado (2019) ressalta que a possibilidade de manter atividade 
compatível permite inclusão social, interação comunitária e preservação de identidade 
profissional, minimizando o isolamento que frequentemente acompanha a aposentadoria por 
incapacidade total. 
Aspectos de planejamento de carreira também são beneficiados pela modalidade 
PCD. Heuseler; Leite; Guerra (2025) afirmam que trabalhadores podem programar o 
momento da aposentadoria de acordo com sua situação funcional e objetivos pessoais, 
equilibrando continuidade profissional e direitos previdenciários, o que fortalece o papel da 
previdência como instrumento de proteção integral. 
A aposentadoria PCD é, de maneira geral, a alternativa mais vantajosa para 
trabalhadores com deficiências que não comprometem totalmente a capacidade laboral. Codo 
(1999) conclui que, ao permitir permanência parcial no trabalho, critérios flexíveis, menor 
risco de indeferimento e remuneração adequada, a aposentadoria PCD supera em benefícios a 
aposentadoria por incapacidade permanente, que deve ser considerada apenas quando a 
limitação é total e irreversível. 
f) Aposentadoria por Invalidez 
A aposentadoria por invalidez, atualmente denominada aposentadoria por 
incapacidade permanente, é concedida quando o trabalhador não consegue exercer qualquer 
atividade laboral, independentemente da função ou setor. Delgado (2019) observa que esse 
tipo de aposentadoria representa a modalidade mais rigorosa do sistema previdenciário, pois 
exige comprovação incontestável de incapacidade total e permanente, configurando um limite 
extremo de proteção ao trabalhador. 
A integralidade do benefício depende, em grande parte, da relação entre a 
incapacidade e a atividade laboral exercida, especialmente quando vinculada a acidente de 
trabalho ou doença ocupacional. Heuseler; Leite; Guerra (2025) destacam que, nestes casos, a 
aposentadoria garante 100% do valor da remuneração de referência, reconhecendo o nexo 
causal entre o trabalho e o adoecimento, o que não ocorre quando a incapacidade decorre de 
causas alheias ao exercício profissional. 
Um dos maiores desafios dessa modalidade é a dificuldade de comprovação perante 
o INSS, devido à complexidade dos critérios periciais. Codo (1999) enfatiza que o segurado 
precisa apresentar laudos médicos, exames complementares e histórico funcional detalhado, 
 
50 
demonstrando que não existe capacidade residual que permita qualquer tipo de atividade 
profissional, requisito que torna o processo burocrático e demorado. 
As perícias médicas têm papel central, pois avaliam não apenas a limitação física ou 
psíquica, mas também a funcionalidade global do trabalhador. Delgado (2019) observa que a 
avaliação considera a incapacidade para todas as funções possíveis, não apenas aquelas 
relacionadas ao cargo exercido, reforçando a dificuldade de aprovação quando a doença não é 
claramente incapacitante para todas as atividades laborais. 
A aposentadoria por invalidez impõe, de maneira obrigatória, afastamento total do 
trabalho, o que gera impactos psicossociais significativos. Heuseler; Leite; Guerra (2025) 
explicam que, embora proteja financeiramente o trabalhador, essa modalidade interrompe a 
participação ativa no mercado, podendo provocar isolamento, perda de habilidades 
profissionais e alterações na autoestima, exigindo acompanhamento psicológico contínuo. 
Do ponto de vista econômico, o valor integral somente é assegurado quando o 
motivo da incapacidade está diretamente relacionado a acidente de trabalho ou doença 
ocupacional reconhecida legalmente. Codo (1999) destaca que, na ausência desse vínculo, o 
benefício é calculado com base em regras previdenciárias gerais, muitas vezes reduzindo 
significativamente a renda do segurado, o que limita a segurança financeira esperada. 
A aposentadoria por incapacidade permanente exige revisões periódicas, 
especialmente quando não está vinculada a acidente de trabalho. Delgado (2019) explica que 
o INSS realiza avaliações periódicas para verificar a manutenção da incapacidade, podendo 
suspender ou reduzir o benefício caso seja constatada melhora funcional, o que aumenta a 
insegurança jurídica do segurado. 
O processo de requerimento da aposentadoria por invalidez é complexo e requer 
acompanhamento técnico especializado. Heuseler; Leite; Guerra (2025) apontam que 
advogados e peritos são essenciais para orientar o trabalhador na coleta de documentação, 
preenchimento de formulários e organização de laudos, pois qualquer inconsistência pode 
resultar em indeferimento, mesmo em casos de incapacidade significativa. 
As limitações impostas pelo benefício geram impactos diretos sobre a vida pessoal 
do trabalhador, visto que impede a realização de qualquer atividade remunerada. Codo (1999) 
observa que essa restrição, embora proteja o segurado, também acarreta perda de autonomia 
profissional e limitações na participação social, reforçando a necessidade de políticas de 
acompanhamento e reabilitação quando possível. 
A previdência social reconhece a aposentadoria por invalidez como medida de 
proteção máxima, mas ao mesmo tempo rigorosa. Delgado (2019) ressalta que a modalidade é 
concebida para situações extremas, e não como alternativa para doenças ou limitações 
 
51 
parcialmente incapacitantes, o que exige avaliação criteriosa do histórico laboral, funcional e 
médico do segurado. 
Em termos jurídicos, a aposentadoria por incapacidade permanente envolve análise 
interdisciplinar entre direito, medicina e psicologia, especialmente quando se verifica nexo 
causal entre a atividade laboral e a doença. Heuseler; Leite; Guerra (2025) afirmam que o 
resultado dessa análise determina integralidade, revisões e eventual concessão de benefícios 
adicionais, como auxílio-acompanhanteou reabilitação profissional. 
A modalidade apresenta desafios ainda maiores para trabalhadores com funções 
intelectuais ou cognitivas, como professores, que podem desenvolver doenças ocupacionais 
de origem psicológica. Codo (1999) explica que, nesses casos, a comprovação da 
incapacidade total é particularmente complexa, pois envolve laudos psiquiátricos detalhados, 
registros de acompanhamento clínico e avaliação do impacto funcional no exercício das 
atividades docentes. 
Apesar das dificuldades, a aposentadoria por invalidez garante amparo em situações 
onde nenhuma outra modalidade de aposentadoria seria adequada. Delgado (2019) destaca 
que sua função protetiva é essencial para assegurar a dignidade do trabalhador que, devido a 
enfermidade grave ou acidente, se encontra impossibilitado de prover sua subsistência por 
meios próprios. 
A rigidez dos critérios, embora dificultosa, também protege o sistema previdenciário 
contra fraudes e concessões indevidas. Heuseler; Leite; Guerra (2025) explicam que perícias 
detalhadas, revisões periódicas e análise de laudos médicos asseguram que apenas 
trabalhadores realmente incapazes recebam o benefício, equilibrando proteção social com 
sustentabilidade financeira do INSS. 
A aposentadoria por incapacidade permanente se caracteriza como uma proteção 
extrema, vantajosa apenas quando a incapacidade é total e irreversível. Codo (1999) conclui 
que, embora restritiva e difícil de obter, ela garante cobertura previdenciária integral quando 
vinculada a acidentes de trabalho ou doenças ocupacionais, constituindo última instância de 
amparo ao trabalhador em situações de extrema vulnerabilidade. 
g) Na prática: aposentadoria PCD versus aposentadoria por invalidez 
Na experiência cotidiana dos professores, a aposentadoria da pessoa com deficiência 
(PCD) tem se mostrado, muitas vezes, a opção mais vantajosa quando a legislação é atendida. 
Codo (1999) aponta que a PCD permite ao trabalhador permanecer em atividade até que a 
deficiência seja devidamente comprovada, evitando interrupções prematuras da carreira e 
garantindo continuidade na produção pedagógica e na renda. 
 
52 
O procedimento de comprovação exige documentação médica robusta e avaliação 
biopsicossocial criteriosa, que classifique o grau da deficiência como leve, moderada ou 
grave. Delgado (2019) enfatiza que a análise técnica detalhada é determinante para o 
deferimento, pois o INSS precisa certificar que a condição apresentada impacta a capacidade 
de trabalho, mas não necessariamente impede todas as atividades. 
Em contraste, a aposentadoria por invalidez se destina apenas a situações de 
incapacidade total e permanente, exigindo comprovação de que o professor não consegue 
exercer nenhuma função laboral. Heuseler; Leite; Guerra (2025) destacam que essa 
modalidade, embora integral em casos de acidente de trabalho ou doença ocupacional, possui 
perícias extremamente rigorosas, tornando a concessão mais complexa e sujeita a revisões 
periódicas. 
O impacto prático dessa diferença é evidente na experiência do docente. Codo (1999) 
observa que professores com deficiência que se enquadram nas regras da PCD podem 
continuar lecionando ou atuando em atividades pedagógicas adaptadas, preservando vínculo 
com a escola e mantendo renda integral, enquanto aqueles que dependem da aposentadoria 
por invalidez sofrem afastamento completo, com consequências emocionais e sociais 
significativas. 
Além da continuidade do trabalho, a aposentadoria PCD oferece critérios de cálculo 
mais favoráveis. Delgado (2019) explica que a base de cálculo considera integralidade em 
muitos casos, e o risco de redução do benefício é menor, ao contrário da aposentadoria por 
invalidez, que pode sofrer descontos se a incapacidade não estiver vinculada a acidente ou 
doença ocupacional reconhecida. 
A flexibilidade da PCD também permite planejamento estratégico da carreira 
docente, com a possibilidade de adequar progressões salariais e tempo de contribuição. 
Heuseler; Leite; Guerra (2025) ressaltam que essa modalidade protege a trajetória 
profissional, prevenindo que a condição de deficiência interrompa prematuramente o 
desenvolvimento da carreira e o acesso a direitos acumulados. 
Na prática cotidiana das escolas, a escolha entre PCD e invalidez depende da 
natureza da deficiência e do histórico médico do professor. Codo (1999) enfatiza que docentes 
com deficiências leves ou moderadas, que não impossibilitam completamente a atuação, 
encontram na aposentadoria PCD a alternativa mais vantajosa, preservando atividade 
remunerada, benefícios integrais e estabilidade. 
O reconhecimento da aposentadoria por invalidez exige comprovação de 
incapacidade absoluta, o que gera processos periciais mais demorados e, frequentemente, 
impugnações administrativas. Delgado (2019) observa que revisões periódicas do INSS 
 
53 
podem reduzir ou suspender o benefício caso seja constatada recuperação parcial da 
capacidade, criando insegurança financeira e jurídica para o trabalhador. 
Do ponto de vista social, a PCD também promove inclusão e permanência do 
professor na escola, evitando marginalização por doença ou limitação física. Heuseler; Leite; 
Guerra (2025) destacam que manter o docente ativo contribui para a qualidade do ensino, 
continuidade das turmas e preservação de vínculos com estudantes, fatores essenciais para 
resultados educacionais sustentáveis. 
A aposentadoria por invalidez, embora garanta proteção integral em casos extremos, 
exige isolamento do mercado de trabalho. Codo (1999) explica que essa ruptura abrupta da 
carreira afeta autoestima, saúde mental e redes sociais, evidenciando que a modalidade é 
indicada apenas quando não há possibilidade de atuação segura em qualquer função. 
Um ponto relevante na comparação é o risco de indeferimento. Delgado (2019) 
ressalta que a PCD, por ter critérios menos rígidos, apresenta menor probabilidade de 
negarem o benefício quando os laudos médicos e avaliações biopsicossociais são consistentes, 
enquanto a aposentadoria por invalidez enfrenta barreiras burocráticas e técnicas superiores. 
No cenário legislativo atual, a PCD ainda mantém maior atratividade, pois não exige 
idade mínima elevada, podendo ser requerida conforme tempo de contribuição e grau da 
deficiência. Heuseler; Leite; Guerra (2025) explicam que essa característica permite ao 
professor planejar o momento de aposentadoria sem comprometer seu desempenho 
profissional nem sua saúde física e emocional. 
Para professores que desenvolveram doenças ocupacionais graves, a aposentadoria 
por invalidez continua sendo a opção mais segura em termos de garantia de integralidade. 
Codo (1999) destaca que, nesses casos específicos, a modalidade assegura proteção completa, 
prevenindo perdas financeiras e atendendo à necessidade de afastamento total para 
recuperação e cuidados médicos. 
Em situações intermediárias, a análise cuidadosa do histórico clínico, grau de 
limitação e impacto funcional é determinante. Delgado (2019) argumenta que profissionais 
com deficiência parcial podem obter resultados mais vantajosos optando pela PCD, 
preservando direitos trabalhistas e previdenciários enquanto permanecem ativos no exercício 
de sua profissão. 
Na prática, a decisão entre aposentadoria PCD e por invalidez deve ser orientada por 
avaliação médica detalhada, análise jurídica e planejamento individual do trabalhador. 
Heuseler; Leite; Guerra (2025) concluem que, em grande parte dos casos, a PCD proporciona 
benefícios mais amplos, menores riscos administrativos e preservação da trajetória 
profissional, enquanto a aposentadoria por invalidez se reserva a situações de incapacidade 
total e irremediável. 
 
54 
3. CONCLUSÃO 
O estudo da educação contemporânea exige um olhar atento à complexidade das 
interações entre políticas públicas, gestão escolar, direito trabalhista e condições de trabalho 
docente. Asy 
psicológicas. Los cambios recientes en el Derecho Laboral, en las políticas previsionales y en 
la organización de la carrera docente revelan un contexto de creciente inseguridad contractual, 
intensificación del trabajo y debilitamiento de los derechos históricamente conquistados por la 
categoría. La Reforma Laboral (Ley n.º 13.467/2017) y la Reforma de la Previsión Social 
(Enmienda Constitucional n.º 103/2019) generaron impactos significativos en el ejercicio de 
la docencia, prolongando el tiempo de contribución, modificando las reglas de jubilación 
especial y ampliando las exigencias para el reconocimiento de condiciones diferenciadas de 
trabajo. Este escenario se suma al incumplimiento de progresiones funcionales por parte de 
redes públicas y a la insuficiencia de políticas efectivas de valorización, aun cuando 
instrumentos como el FUNDEB permanente (EC n.º 108/2020) fueron creados para garantizar 
un financiamiento adecuado. Desde la perspectiva de la salud laboral, autores como Codo 
(1999), Dejours (1994) y Esteve (1999) demuestran que la docencia es una profesión 
vulnerable al desgaste físico y mental, marcada por el estrés, la sobrecarga, el desrespeto 
institucional y la falta de reconocimiento. La precarización de las relaciones laborales, la 
ampliación de responsabilidades educativas y la intensificación burocrática agravan el 
malestar docente, afectando directamente la calidad de la enseñanza y la permanencia de 
profesionales experimentados en la carrera. Desde un punto de vista sociológico, Arroyo 
(2004), Enguita (1991) y Freire (1968) evidencian que la docencia no puede comprenderse 
fuera de las contradicciones estructurales de la sociedad, en las cuales el profesor es 
simultáneamente responsabilizado y desvalorizado, sufriendo procesos de proletarización, 
desprofesionalización y control institucional. El análisis jurídico contemporáneo, basado en 
Zilli, Delgado, Calvo, Heuseler y en revistas especializadas del TJDFT (2024), revela que las 
reformas recientes han redefinido las bases de las relaciones laborales, ampliando formas 
flexibilizadas de contratación —como la pejotización y el trabajo híbrido— y tensionando las 
garantías constitucionales previstas en el artículo 206 de la Constitución de 1988. En el 
ámbito previsional, las reglas del INSS se han vuelto cada vez más restrictivas en relación con 
la jubilación especial del magisterio, exigiendo mayor tiempo de contribución y reduciendo el 
alcance de derechos antes asegurados. Esta coyuntura desafía a gestores, investigadores y 
sindicatos a debatir alternativas que concilien sostenibilidad fiscal, valorización docente y 
garantía de condiciones laborales dignas. Comprender los desafíos actuales requiere articular 
interdisciplinariamente la educación, el derecho, la sociología y la psicología, permitiendo 
analizar no solo los impactos legales, sino también los efectos subjetivos, institucionales y 
sociales que reconfiguran la profesión docente en el Brasil contemporáneo. 
Palabras clave: Derecho Laboral; educación contemporánea; docencia; reformas laborales; 
previsión social; salud docente. 
 
 
5 
OLHAR INTERDISCIPLINAR SOBRE A EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA: 
DESAFIOS E PERSPECTIVAS DIANTE DAS MUDANÇAS NOS DIREITOS 
TRABALHISTAS DOS PROFESSORES. 
 
Aneilza Santos Duarte 
Simone Helen Drumond Ischkanian 
Gladys Nogueira Cabral 
Sandro Garabed Ischkanian 
Marcos Aurelio dos Santos Freitas 
Silvana Nascimento de Carvalho 
Gabriel Nascimento de Carvalho 
1. INTRODUÇÃO 
A discussão sobre a educação contemporânea exige uma abordagem que vá além da 
análise pedagógica tradicional, incorporando dimensões jurídicas, sociológicas e psicológicas 
que moldam o cotidiano escolar. Arroyo (2004) afirma que compreender a docência requer 
observar as tensões estruturais que atravessam a prática educativa. Essa mirada ampliada 
torna-se indispensável num cenário em que transformações legislativas, reorganizações do 
trabalho e mutações na função social da escola alteram profundamente a experiência 
profissional docente. A articulação entre múltiplos saberes permite examinar como tais 
mudanças se materializam na vida dos professores e nos processos educativos. 
As modificações nos direitos trabalhistas das últimas décadas colocam o professor 
em um território marcado por instabilidade e retração de garantias. A Reforma Trabalhista de 
2017 (Lei 13.467/2017) aparece, já nos primeiros estudos críticos, como marco de uma 
reconfiguração estrutural da proteção jurídica do trabalho docente. As novas modalidades 
contratuais, a ampliação da flexibilização e a desregulamentação das relações laborais 
impactam diretamente a rotina escolar, interferindo nas condições de estabilidade, 
remuneração e autonomia pedagógica. A conjuntura resultante evidencia a necessidade de 
compreender o trabalho docente como fenômeno atravessado por múltiplas racionalidades e 
pressões externas. 
A intensificação da carga laboral tem se consolidado como um dos efeitos mais 
perceptíveis das políticas de flexibilização. Estudos de Codo (1999) demonstram que a 
docência se insere entre as profissões mais vulneráveis ao esgotamento físico e mental. A 
expansão de responsabilidades extraclasse, o aumento da cobrança por desempenho e a 
diluição do tempo destinado ao planejamento coletivo tornam o ambiente de trabalho 
exaustivo, alimentando quadros de ansiedade, sofrimento e adoecimento. O contexto 
contemporâneo sugere uma reconfiguração da temporalidade docente, na qual o trabalho 
ultrapassa limites institucionais e invade territórios da vida privada. 
 
6 
A Reforma da Previdência de 2019 (EC 103/2019) adicionou novos elementos de 
tensão à carreira do magistério. Documentos oficiais do INSS (2025) indicam que o 
prolongamento do tempo de contribuição e a modificação das regras da aposentadoria 
especial alteraram as perspectivas de futuro de milhares de docentes. O impacto dessas 
alterações revela-se profundo, pois se sobrepõe a um histórico de desgaste profissional e 
fragilidade emocional que caracteriza a trajetória laboral de grande parte da categoria. O 
professor passa a viver sob a sensação de que o encerramento de sua carreira se distancia 
continuamente. 
A precarização também se manifesta no campo das políticas educacionais que afetam 
a estrutura e a autonomia da escola. Enguita (1991) argumenta que a crescente lógica 
gerencial e mercantil aplicada à educação reforça mecanismos de controle sobre o trabalho 
docente. Essa lógica interfere na liberdade pedagógica, redefine prioridades institucionais e 
converte o professor em executor de metas e indicadores externos. O espaço escolar, antes 
concebido como território de criação pedagógica, passa a funcionar sob a racionalidade de 
eficiência e produtividade. 
Os instrumentos de financiamento, ainda que fundamentais, não têm sido suficientes 
para reverter a vulnerabilidade do trabalho docente. A Emenda Constitucional 108/2020, que 
tornou o FUNDEB permanente, é frequentemente citada como avanço estrutural. Estudos 
como os de Souza (2021) apontam que a efetividade desse mecanismo depende da qualidade 
das políticas de gestão e do compromisso das redes de ensino com a valorização profissional. 
A distância entre o texto constitucional e a realidade concreta revela desigualdades que se 
perpetuam nos estados e municípios. 
A instabilidade contratual é mais uma camada de complexidade. Delgado (2019) 
observa que o enfraquecimento das garantias coletivas favorece o crescimento de formas 
atípicas de contratação que fragilizam o vínculo entre professor e instituição. A multiplicação 
de contratos temporários, terceirizações e pejotização corrói o sentimento de pertencimento 
institucional e compromete a continuidade das práticas pedagógicas. A docência passa a se 
desenvolver em terreno movediço, permeado por incertezas e rotatividade. 
A dimensão subjetiva do trabalho docentetransformações recentes nos direitos dos professores revelam tensões estruturais 
profundas, que impactam não apenas a carreira dos educadores, mas também a qualidade do 
ensino e a formação integral dos estudantes. A interdependência entre esses fatores evidencia 
que qualquer análise isolada é insuficiente para compreender a dimensão real dos desafios 
enfrentados pelo sistema educacional. 
As alterações na legislação previdenciária e trabalhista, especialmente no que diz 
respeito à aposentadoria, aposentadoria especial do professor e modalidades de proteção 
social, evidenciam a necessidade de estratégias adaptativas por parte dos profissionais da 
educação. Essas mudanças não se restringem à esfera econômica, pois repercutem diretamente 
na saúde física e mental dos docentes, na motivação para a prática pedagógica e na 
capacidade de inovar no processo de ensino-aprendizagem. Sob essa perspectiva, o direito do 
professor não pode ser compreendido apenas como benefício individual, mas como um 
elemento central da sustentabilidade do sistema educativo. 
A sobrecarga de trabalho, o prolongamento do tempo de contribuição, os cortes de 
gratificações e a precarização das condições de trabalho configuram um cenário de 
vulnerabilidade profissional. Esse contexto exige uma análise que dialogue com a psicologia 
do trabalho, a sociologia da educação e a economia da educação, permitindo compreender 
como o estresse ocupacional e a insegurança jurídica se traduzem em consequências diretas 
sobre o desempenho docente e os resultados educacionais. O docente, longe de ser apenas 
executor de políticas, torna-se indicador da saúde institucional do sistema educacional. 
Do ponto de vista social, a desvalorização do professor compromete a legitimidade 
do ensino público e aprofunda desigualdades históricas. A ausência de reconhecimento pleno 
de direitos e a pressão por resultados acadêmicos elevados, sem respaldo estrutural, fomentam 
rotatividade elevada, evasão docente e desmotivação generalizada. O impacto transcende a 
sala de aula, atingindo comunidades e famílias que dependem da escola como espaço de 
desenvolvimento integral e de inclusão social. 
A análise interdisciplinar permite perceber que a crise educacional contemporânea 
não se reduz à escassez de recursos ou à falta de infraestrutura. Ela se manifesta na articulação 
complexa entre política, direito, gestão e psicologia do trabalho, revelando que as reformas na 
previdência, nos contratos de trabalho e nas carreiras docentes não podem ser avaliadas 
isoladamente. Cada medida afeta de forma cumulativa a estabilidade profissional, a saúde 
 
55 
mental do educador e a qualidade do ensino, exigindo que políticas públicas sejam elaboradas 
a partir de uma perspectiva integrada e responsável. 
A valorização profissional, portanto, emerge como condição imprescindível para 
qualquer avanço educativo. A remuneração adequada, o respeito à legislação trabalhista, a 
garantia de aposentadoria justa e o reconhecimento do papel social do professor são elementos 
que não apenas preservam direitos individuais, mas fortalecem a capacidade coletiva do 
sistema educacional. Uma abordagem interdisciplinar demonstra que a proteção do 
trabalhador e a qualidade do ensino são indissociáveis e que políticas de austeridade que 
ignorem esse vínculo podem gerar retrocessos irreversíveis. 
A participação ativa dos professores e da sociedade civil na fiscalização e na 
formulação de políticas é outro aspecto central. Conselhos escolares, sindicatos, movimentos 
sociais e instâncias de controle social desempenham função estratégica na defesa de direitos, 
garantindo que decisões administrativas sejam monitoradas e que a voz do educador seja 
incorporada na construção de políticas mais justas. O exercício da cidadania coletiva, neste 
contexto, fortalece a democracia interna das instituições e promove uma educação mais 
equitativa. 
As perspectivas futuras indicam que o equilíbrio entre exigência pedagógica e 
proteção laboral depende da construção de políticas educativas que considerem a 
complexidade do trabalho docente. Incentivos à formação continuada, ambientes escolares 
saudáveis, avaliação justa do desempenho e preservação de direitos previdenciários e 
trabalhistas configuram pilares indispensáveis para uma educação de qualidade. Sem essa 
base, qualquer iniciativa de inovação pedagógica ou melhoria curricular corre o risco de ser 
superficial e insustentável. 
O olhar interdisciplinar reforça a necessidade de compreender a educação 
contemporânea como um fenômeno social, jurídico e psicológico integrado. O fortalecimento 
da carreira docente, a proteção à saúde física e mental do professor e a garantia de direitos 
previdenciários constituem não apenas demandas individuais, mas condições essenciais para a 
consolidação de um sistema educacional democrático, inclusivo e capaz de responder aos 
desafios do século XXI. A reflexão crítica e a ação coordenada entre diferentes campos do 
conhecimento emergem, portanto, como caminhos indispensáveis para assegurar que os 
direitos dos professores se traduzam em melhores resultados educativos e em justiça social. 
 
 
 
 
56 
REFERÊNCIAS 
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Direito Material, Processual e Coletivo do Trabalho. 3. ed. Memória Forense, 2025. 
 
 
 
 
 
 
 
59também se transforma intensamente sob 
essas condições. Dejours (1994) demonstra que ambientes laborais estruturados sob pressão 
constante produzem sofrimento e perda de sentido no exercício profissional. A experiência do 
professor contemporâneo frequentemente incorpora sentimentos de impotência, 
desvalorização e frustração, que repercutem diretamente na qualidade das interações 
pedagógicas. O bem-estar docente deixa de ser questão individual para se tornar um 
fenômeno coletivo e estrutural. 
 
7 
A fragilidade da carreira é intensificada pela desigualdade na implementação dos 
planos de carreira e recomposições salariais. Documentos oficiais e estudos recentes revelam 
que muitos estados e municípios não cumprem as progressões previstas em lei. A defasagem 
salarial, os reajustes irregulares e o acúmulo de jornadas para complementar renda deterioram 
a atratividade da profissão. O professor passa a vivenciar uma carreira marcada por incertezas 
financeiras e limitações à ascensão profissional. 
A relação entre educação e políticas neoliberais evidencia novos modos de 
governança que influenciam o papel do professor. Freire (1968) já alertava para a tendência 
de esvaziamento da dimensão crítica da educação quando submetida a forças externas de 
controle. Na contemporaneidade, esse fenômeno se atualiza por meio da desprofissionalização 
e da crescente responsabilização individual do docente por resultados educacionais. A lógica 
meritocrática desloca a atenção das condições estruturais para o desempenho individual, 
obscurecendo desigualdades sistêmicas. 
A ausência de tempo para planejamento coletivo torna-se um dos obstáculos centrais 
para práticas interdisciplinares. Chizzotti (2003) enfatiza que a construção do conhecimento 
na escola requer integração de saberes e diálogo entre diferentes áreas, algo inviável quando 
os professores enfrentam cargas excessivas e rotinas fragmentadas. A interdisciplinaridade, 
mesmo defendida em documentos oficiais, permanece restrita a iniciativas pontuais, 
dificultada pela escassez de condições objetivas. 
A valorização da formação docente surge como perspectiva promissora nesse 
cenário. Calvo (2024) observa que a complexidade da docência contemporânea exige 
programas de formação continuada que articulem dimensões pedagógicas, jurídicas e 
socioemocionais. A formação passa a ser instrumento de resistência e fortalecimento 
profissional, sobretudo quando orientada por princípios interdisciplinares e críticos. A escola 
torna-se espaço de reinvenção das práticas, desde que haja condições materiais e institucionais 
adequadas. 
A análise jurídica recente revela tensões entre garantias constitucionais e práticas 
institucionais. Estudos do TJDFT (2024) apontam que o avanço de modelos híbridos e 
flexibilizados desafia interpretações tradicionais da legislação trabalhista. O ambiente 
educacional se insere nesse debate como campo no qual conflitos entre direitos e condições 
reais de trabalho se intensificam. A necessidade de atualização normativa aparece como 
elemento central para recompor a proteção trabalhista dos docentes. 
A luta coletiva desempenha papel fundamental na defesa dos direitos docentes. 
Codo, Sampaio e Hitomi (1994) demonstram que o fortalecimento de vínculos coletivos 
contribui para minimizar o sofrimento laboral e ampliar o poder de reivindicação. A 
mobilização sindical, a atuação de associações e a construção de redes de apoio permitem 
 
8 
resistir aos processos de precarização e promover estratégias de enfrentamento. A 
coletividade transforma-se em instrumento de proteção diante das mudanças legislativas. 
A inovação pedagógica aparece como horizonte capaz de redefinir o significado da 
docência. Libâneo (2017) destaca que práticas pedagógicas criativas respondem de modo 
mais eficaz aos desafios sociais contemporâneos. A reconfiguração do trabalho docente, 
quando articulada à reflexão crítica e interdisciplinar, abre espaço para experiências 
educativas mais significativas. A inovação, entretanto, depende diretamente de condições 
dignas de trabalho e de políticas que respeitem a complexidade da atividade docente. 
A educação brasileira enfrenta período de reestruturação que redefine profundamente 
os contornos da profissão docente. A articulação entre pesquisas sociológicas, análises 
jurídicas e estudos psicológicos evidencia que os impactos das reformas legislativas 
transcendem o campo normativo e chegam à subjetividade dos professores e à qualidade do 
ensino. A compreensão dessa conjuntura requer abordagem interdisciplinar que considere 
simultaneamente os efeitos jurídicos, pedagógicos e emocionais. A reconstrução das bases da 
profissão depende de políticas que combinem valorização, estabilidade e respeito ao papel 
social do professor. 
2. DESENVOLVIMENTO 
O cenário educacional brasileiro de 2025 revela um conjunto de tensões que 
influenciam profundamente a vida profissional dos docentes, ao mesmo tempo em que 
redefine o papel social da escola em meio às reformas previdenciárias e administrativas. 
Pesquisas de Arroyo (2004) indicam que as condições estruturais do trabalho docente nunca 
podem ser dissociadas das políticas estatais que incidem sobre a profissão. Essa perspectiva 
permite compreender por que as alterações legislativas recentes impactam não apenas 
trajetórias individuais, mas também a identidade coletiva da categoria. A docência se torna 
campo de disputa normativa, simbólica e organizacional. 
A continuidade dos efeitos da Reforma da Previdência de 2019 impregna o cotidiano 
escolar com preocupações sobre o futuro das carreiras, estendendo as incertezas para além das 
salas de aula. Estudos oficiais do INSS (2025) registram alterações graduais nas regras de 
transição, intensificando o tempo contributivo exigido dos professores. Esse prolongamento 
modifica o horizonte profissional e a percepção do tempo de vida laboral, gerando 
inquietações que interferem na motivação e no engajamento. O professor passa a lidar com a 
sensação de uma aposentadoria cada vez mais distante, enquanto a carga física e emocional se 
acumula. 
Diversas redes públicas, especialmente municipais, reestruturaram seus regimes 
previdenciários para ajustar-se às diretrizes federais e aos limites de solvência dos RPPS. 
 
9 
Pesquisadores como Delgado (2019) observam que reformas descentralizadas tendem a 
ampliar desigualdades regionais, produzindo cenários heterogêneos entre profissionais que 
exercem a mesma função em diferentes localidades. A aprovação do PLC nº 08/2025 em 
Manaus exemplifica esse movimento, alterando idades mínimas e tempos de contribuição e 
desencadeando protestos docentes. A legislação local converte-se, assim, em instrumento de 
reorganização das expectativas de futuro e de reorganização da força de trabalho. 
O impacto dessas reformas não se restringe à esfera previdenciária, alcançando 
também a dinâmica interna das instituições escolares. Freire (1968) salientava que qualquer 
transformação estrutural que desconsidere a voz dos trabalhadores escolares enfraquece o 
processo educativo. As reformas recentes, ao repercutirem diretamente na vida funcional, 
criam ambientes de tensão entre professores e gestores públicos, comprometendo relações de 
confiança essenciais para o desenvolvimento pedagógico. A política previdenciária, nesse 
contexto, torna-se elemento do clima organizacional escolar. 
A PEC 38/2025, que compõe o debate nacional sobre a Reforma Administrativa, 
acrescenta novos elementos de incerteza ao imaginar coletivo dos docentes. Estudos do 
TJDFT (2024) alertam que mudanças estruturais na organização das carreiras podem afetar 
estabilidade, progressão e vínculos trabalhistas, incidindo sobre pilares que historicamente 
sustentam a proteção do funcionalismo. A discussão pública em torno da PEC reacende 
questionamentos sobre o papel do Estado na garantia de direitos sociais.O magistério 
encontra-se, novamente, no centro de debates que colocam em disputa a natureza do serviço 
público. 
A intensificação do trabalho docente constitui elemento estrutural desse contexto. 
Pesquisas clássicas de Codo (1999) demonstram que a exaustão emocional não surge apenas 
da quantidade de tarefas, mas da contradição entre demandas sociais crescentes e a 
impossibilidade material de atendê-las. O professor contemporâneo vive sob pressão por 
resultados, vigilância institucional e responsabilização individual por falhas sistêmicas. A 
ampliação dos tempos de contribuição prevista nas reformas sobrepõe-se a um ambiente já 
marcado por desgaste contínuo, exacerbando o risco de adoecimento. 
A saúde mental do trabalhador docente emerge como uma das dimensões mais 
fragilizadas no contexto de 2025. Dejours (1994) aponta que a organização do trabalho é 
determinante na configuração do sofrimento psíquico, especialmente quando prevalecem 
ritmos intensos e ausência de reconhecimento. A docência, submetida a reformas que 
aumentam exigências e reduzem garantias, torna-se espaço fértil para sentimentos de 
impotência e esgotamento. O adoecimento passa a ser expressão não de fragilidades 
individuais, mas de uma racionalidade legislativa e institucional que desconsidera limites 
humanos. 
 
10 
A incorporação de tecnologias digitais às rotinas pedagógicas, acelerada pela 
necessidade de reorganização institucional dos últimos anos, introduz novas formas de 
controle e métricas de produtividade. Enguita (1991) já alertava para o risco de tecnocracias 
educativas que tratam o professor como operador de sistemas e não como profissional 
intelectual. A expansão de plataformas de gestão escolar, sistemas de monitoramento e 
modalidades híbridas contribui para a intensificação laboral e para a ampliação das fronteiras 
do tempo de trabalho. A modernização tecnológica, nesse contexto, converte-se em 
mecanismo de vigilância. 
As políticas educacionais que acompanham as reformas previdenciárias e trabalhistas 
reforçam uma lógica de responsabilização individual que desconsidera desigualdades 
sistêmicas entre escolas. Kuenzer (1999) observa que a desvalorização da carreira docente se 
conecta a discursos que tratam o professor como sujeito facilmente substituível, diluindo a 
importância de sua formação. A precificação do trabalho escolar em termos de resultados 
mensuráveis reforça narrativas que fragilizam o status profissional da docência. A 
precarização ganha contornos ideológicos que ultrapassam a legislação. 
A perspectiva interdisciplinar, ao articular direito, educação e psicologia, permite 
compreender que a precarização não é fenômeno isolado, mas processo que interliga 
elementos normativos, simbólicos e subjetivos. Chizzotti (2003) destaca a necessidade de 
leituras amplas para captar fenômenos complexos que envolvem diferentes camadas de 
realidade. A docência, nesse sentido, se apresenta como profissão atravessada por múltiplas 
forças que disputam seu significado. Uma análise restrita ao campo jurídico seria insuficiente 
para apreender o impacto das reformas recentes. 
A ampliação da idade mínima para aposentadoria especial do magistério reconfigura 
projetos de vida e reorganiza expectativas profissionais. Documentos federais recentes 
indicam que, a partir de 2025, mulheres precisam reunir 57 anos de idade e homens 60 anos, 
combinados a 25 e 30 anos de contribuição, respectivamente. Essa exigência ignora 
evidências de desgaste precoce, amplamente estudado por Esteve (1999), que descreve o 
fenômeno do mal-estar docente como consequência da sobrecarga acumulada ao longo do 
tempo. O prolongamento da carreira aprofunda vulnerabilidades já existentes. 
As reformas também interferem nas dinâmicas de planejamento coletivo, elemento 
fundamental para práticas pedagógicas integradas. Minayo (1996) defende que processos 
colaborativos são essenciais para ações institucionais que pretendem enfrentar desafios 
educacionais complexos. A ampliação das jornadas destinadas ao cumprimento de metas e 
relatórios burocráticos reduz o tempo disponível para articulação interdisciplinar. A reforma 
trabalhista, ao flexibilizar tempos e contratos, enfraquece ainda mais a possibilidade de 
construção conjunta de práticas inovadoras. 
 
11 
A desigualdade entre redes públicas, intensificada por reformas regionais específicas, 
aprofunda a distância entre políticas educacionais previstas em lei e condições reais de 
trabalho. A LDB de 1996 estabelece diretrizes para a valorização docente, porém diversos 
municípios não conseguem garantir progressões e reajustes salariais. Estudos de Gil (2018) 
indicam que políticas educacionais só se efetivam quando articuladas a condições materiais. A 
segmentação normativa entre estados e municípios gera situações em que direitos básicos são 
acessíveis a uns e negados a outros. 
O impacto emocional e identitário dessas transformações contribui para redefinir a 
própria ideia de carreira docente. Nozella (1998) argumenta que as transformações no mundo 
do trabalho influenciam diretamente a percepção de pertencimento e estabilidade profissional. 
A trajetória docente passa a ser marcada por rupturas, incertezas e expectativas frustradas, 
deslocando a motivação e influenciando a permanência dos profissionais mais experientes. A 
continuidade da expertise docente torna-se vulnerável. 
A análise interdisciplinar demonstra que as reformas previdenciárias e trabalhistas de 
2025 não podem ser interpretadas como simples ajustes legais, mas como elementos de um 
processo mais amplo de reconfiguração das políticas públicas e do sentido social da docência. 
Quivy e Campenhoudt (2008) evidenciam que fenômenos complexos só se explicam por meio 
da articulação entre abordagens teóricas diversas. A docência brasileira, submetida a 
transformações simultâneas em múltiplas esferas, torna-se campo privilegiado para 
investigações que combinam direito, sociologia, psicologia e educação. O debate 
contemporâneo exige, portanto, novas lentes de interpretação que valorizem a integralidade da 
experiência docente. 
2.1. METODOLOGIA DA PESQUISA PARA DELINEAMENTO DO ARTIGO 
A investigação adotada fundamenta-se em uma abordagem qualitativa de natureza 
bibliográfica e documental, direcionada à interpretação crítica das produções científicas que 
discutem o olhar interdisciplinar sobre a educação contemporânea e os desafios decorrentes 
das mudanças nos direitos trabalhistas dos professores. Como afirma Creswell (2021), 
pesquisas qualitativas privilegiam a compreensão de significados, processos e experiências, 
permitindo ao pesquisador captar nuances que não emergiriam por meio de métodos 
quantitativos. Tal perspectiva mostra-se fundamental quando o objetivo é examinar 
fenômenos educacionais que envolvem subjetividade, disputas políticas, transformações 
institucionais e impactos sociais. 
O delineamento bibliográfico foi estruturado com base nas orientações 
metodológicas de Gil (2018), que enfatiza a importância de reunir, sistematizar e analisar 
produções acadêmicas já consolidadas para compreender o estado da arte e localizar lacunas 
 
12 
investigativas. A análise das fontes permitiu identificar tanto a evolução do debate acerca da 
precarização do trabalho docente quanto os efeitos das reformas previdenciárias e trabalhistas 
sobre o cotidiano profissional dos educadores. A pesquisa documental complementou a 
bibliografia ao incluir legislações, relatórios governamentais e materiais institucionais, 
seguindo parâmetros de Helder (2006), que define a análise documental como procedimento 
voltado à leitura crítica de registros oficiais e arquivísticos. 
A escolha dessa metodologia justifica-se pelo caráter multifacetado do tema, que 
exige uma abordagem capaz de integrar dimensões sociais, trabalhistas, pedagógicas e 
políticas. Segundo Vergara (2014), estudos que investigamfenômenos complexos devem 
recorrer a múltiplos tipos de fonte, pois somente a articulação entre diferentes materiais 
permite compreender o fenômeno em sua totalidade. Esse princípio guiou o processo de 
seleção e interpretação dos documentos trabalhados. 
A pesquisa também utilizou referenciais provenientes da análise documental 
responsável, conforme discutido por Dias e Endlich (2017), que defendem uma postura ética e 
interpretativa diante dos textos, evitando leituras superficiais e buscando extrair dos 
documentos seus sentidos sociais e institucionais. Assim, materiais jurídicos, relatórios de 
conselhos educacionais, artigos de revistas científicas e legislações foram confrontados 
criticamente para identificar convergências e tensões na produção do conhecimento. 
O levantamento bibliográfico priorizou livros, artigos, dissertações e documentos 
eletrônicos. A consulta às bases SciELO, Scopus, Web of Science, CAPES, Academia.edu e 
Google Acadêmico seguiu critérios de atualidade, pertinência temática e rigor científico, 
como recomendam Richardson (1999) e Severino (2016). A seleção dos textos foi guiada por 
um conjunto de palavras-chave que se mostraram recorrentes na literatura contemporânea 
sobre o tema, incluindo: interdisciplinaridade, precarização docente, reformas previdenciárias, 
direitos trabalhistas, inovação pedagógica, condições de trabalho e políticas educacionais. 
A partir desse levantamento inicial, realizou-se uma leitura exploratória dos títulos, 
resumos e palavras-chave, filtrando-se os materiais mais adequados aos objetivos da pesquisa. 
Posteriormente, os textos selecionados foram submetidos à leitura analítica, etapa na qual se 
buscou identificar conceitos centrais, divergências teóricas e contribuições relevantes para o 
debate. Esse procedimento está em consonância com Lakatos e Marconi (2010), que afirmam 
que a análise criteriosa da bibliografia é condição indispensável para evitar inconsistências 
interpretativas. 
O processo de análise dos dados se estruturou pela categorização temática e pelo 
cruzamento entre autores, documentos e legislações, conforme orientação metodológica de 
Gil (2008) e Lakatos e Marconi (2017). As categorias emergiram tanto da literatura 
consultada quanto dos objetivos estabelecidos no estudo, permitindo organizar o material em 
 
13 
eixos como: impactos das reformas trabalhistas, transformações previdenciárias, 
interdisciplinaridade na educação contemporânea, saúde docente, valorização profissional e 
autonomia pedagógica. 
A interpretação dos achados buscou manter rigor acadêmico e coerência crítica, 
conforme defendem Quivy e Campenhoudt (2008), que destacam a necessidade de relacionar 
dados, teorias e contextos históricos para produzir análises consistentes. A leitura dos 
materiais também seguiu o cuidado metodológico de Sousa, Oliveira e Alves (2021), que 
enfatizam a importância da triangulação e da confrontação entre fontes para evitar 
generalizações e conclusões precipitadas. 
O caráter interdisciplinar do tema exigiu não apenas a análise de textos do campo 
educacional, mas também de produções das áreas de direito do trabalho, sociologia, políticas 
públicas e saúde do trabalhador. A pluralidade de referenciais permitiu compreender como 
reformas previdenciárias e mudanças legislativas têm produzido efeitos diretos sobre o bem-
estar físico e mental dos professores, fenômeno amplamente discutido na literatura recente. 
As legislações e documentos oficiais analisados incluíram a Constituição Federal de 
1988, a Reforma Trabalhista de 2017, a Reforma da Previdência de 2019, normativas do INSS 
e alterações locais implementadas por municípios e estados até 2025. Esses materiais foram 
examinados enquanto registros de transformações estruturais no mundo do trabalho docente, 
contribuindo para a leitura crítica do cenário atual. 
A metodologia adotada permitiu construir uma visão abrangente, articulando dados 
jurídicos, pedagógicos e sociológicos. O uso integrado da pesquisa bibliográfica e documental 
garantiu profundidade interpretativa e contribuiu para a elaboração de um olhar 
interdisciplinar sobre os desafios impostos aos professores em um contexto de constantes 
mudanças normativas. 
 
Tabela 1: Relação entre o tema da pesquisa, as referências bibliográficas e as 
perspectivas futuras da docência. 
 
Autor 
Documento 
Contribuição para o Tema da 
Pesquisa (Olhar Interdisciplinar, 
Precarização e Reformas 
Trabalhistas) 
Perspectivas para o Futuro da 
Profissão Docente 
ARROYO (2004) Discute identidades docentes e 
tensões históricas da profissão, 
relacionando vulnerabilidades e 
trajetórias fragmentadas. 
Reforça a necessidade de 
políticas de valorização e 
reconhecimento das múltiplas 
dimensões do trabalho 
pedagógico. 
Constituição 
Federal (1988) 
Estabelece direitos sociais, 
educacionais e trabalhistas básicos 
que sustentam a profissão docente. 
Mantém-se como instrumento 
jurídico essencial para defesa da 
carreira e dos direitos da 
categoria. 
 
14 
EC 103/2019 
(Reforma da 
Previdência) 
Redefine requisitos de 
aposentadoria, afetando diretamente 
a carreira e a saúde docente. 
Tendência à intensificação do 
envelhecimento na profissão, 
aumentando riscos de 
adoecimento. 
EC 108/2020 
(FUNDEB 
Permanente) 
Consolida fontes de financiamento 
educacional e manutenção da 
carreira docente. 
Amplia possibilidades de 
valorização salarial e condições 
estruturais de trabalho. 
INSS – Regras da 
aposentadoria do 
professor 
Fornece diretrizes atuais sobre 
direitos previdenciários do 
magistério. 
Desafios crescentes para acesso 
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LDB (1996) Define princípios formativos, gestão 
democrática e funções do professor. 
Sustenta debates futuros sobre 
identidade docente e 
profissionalização. 
Reforma 
Trabalhista (Lei 
13.467/2017) 
Flexibiliza vínculos e intensifica 
processos de precarização. 
Possível ampliação de vínculos 
atípicos, terceirização e 
pejotização. 
Resumo de Direito 
do Trabalho 
(2024) 
Atualiza efeitos de novas leis sobre 
condições e garantias trabalhistas. 
Fortalece interpretações que 
orientam a defesa jurídica dos 
professores. 
CALVO (2024) Analisa aplicabilidade da legislação 
trabalhista e novas modalidades 
contratuais. 
Identifica riscos de insegurança 
jurídica e ampliação de 
contratos precários. 
CHIZZOTTI 
(2003) 
Fundamenta compreensão 
qualitativa do trabalho docente e 
suas dimensões sociais. 
Apoia pesquisas futuras sobre 
impactos subjetivos das 
reformas legislativas. 
CODO (1999; 
1994) 
Relaciona sofrimento psíquico, 
desgaste e intensificação laboral. 
Aponta a necessidade de 
políticas de saúde mental e 
prevenção ao burnout. 
CRESWELL 
(2021) 
Sustenta a metodologia qualitativa 
utilizada na análise do fenômeno 
educativo-trabalhista. 
Incentiva novas pesquisas 
interdisciplinares sobre 
docência e políticas públicas. 
DEJOURS (1987; 
1994) 
Explica o sofrimento e o prazer no 
trabalho, aplicado ao magistério. 
Base para criação de programas 
institucionais de saúde laboral e 
suporte psicossocial. 
DELGADO (2019) Traz interpretação crítica das normas 
trabalhistas e institutos jurídicos. 
Subsidia ações coletivas e 
decisões judiciais envolvendo 
docentes. 
DIAS & 
ENDLICH (2017) 
Apresentam rigor metodológico para 
análise documental. 
Fortalecem investigações 
futuras sobre políticas 
educacionais e reformas 
trabalhistas. 
ENGUITA (1991) Discute a proletarização docente e 
tensões entre autonomia e controle. 
Aponta tendência de 
intensificação da perda de 
autonomia com reformas 
neoliberais. 
ESTEVE 
(1995; 1999) 
Analisa o mal-estar docente 
decorrente de mudanças sociais e 
institucionais. 
Indica urgência de políticas de 
acolhimento e melhoria nas 
condições de trabalho. 
 
FREIRE 
(1968) 
Fundamentaa docência como ação 
crítica e emancipadora. 
Inspira perspectivas de 
resistência e revalorização 
humanizadora da profissão. 
 
 
15 
GIL 
(2008; 2018) 
Suporte metodológico para 
organização e análise da pesquisa 
bibliográfica. 
Consolida o campo 
investigativo que orientará 
futuras análises sobre 
precarização. 
GRUPO LETRA 
(2024) 
Discute temas contemporâneos: 
pejotização, plataformas digitais, 
saúde mental. 
Evidencia novos desafios para 
proteção jurídica e 
regulamentação do trabalho 
docente. 
HELDER 
(2006) 
Fundamenta procedimentos de 
análise documental. 
Auxilia estudos contínuos sobre 
legislação, diretrizes e políticas 
docentes. 
HEUSELER et al. 
(2025) 
Atualizam a interpretação da CLT, 
incluindo reformas recentes. 
Esclarecem impactos jurídicos 
sobre carreira, contratos 
híbridos e direitos emergentes. 
KUENZER 
(1999) 
Analisa identidade docente diante 
das políticas neoliberais. 
Prevê expansão da ―sobrança 
docente‖ e perda de estabilidade 
profissional. 
LACAZ 
(SciELO) 
Examina impactos da Reforma 
Trabalhista na saúde e nos direitos 
sociais. 
Indica tendência de 
intensificação da precarização e 
adoecimento ocupacional. 
LAKATOS & 
MARCONI 
(2010; 2017) 
Orientam fundamentos 
metodológicos da pesquisa 
científica. 
Contribuem para estudos futuros 
sistematizados sobre políticas e 
reformas. 
LIBÂNEO 
(2017) 
Discute didática e 
profissionalização. 
Apoia renovação curricular e 
fortalecimento da formação 
continuada. 
MINAYO 
(1996) 
Discute pesquisa social e 
complexidade dos fenômenos 
humanos. 
Sustenta abordagens 
integradoras na análise futura da 
profissão docente. 
NOSELLA 
(1998) 
Avalia transformações estruturais na 
escola e no trabalho docente. 
Indica riscos de aprofundamento 
da racionalidade produtivista na 
educação. 
QUIVY & 
CAMPENHOUDT 
(2008) 
Oferecem bases metodológicas para 
investigação científica rigorosa. 
Reforçam futuras análises 
críticas sobre legislação e 
políticas educacionais. 
TJDFT (2024 – 
ESG e Trabalho 
Híbrido) 
Aborda novas configurações 
trabalhistas: ESG, teletrabalho e 
híbrido. 
Mostra que o futuro docente 
deve enfrentar novas formas de 
organização laboral. 
RICHARDSON 
(1999) 
Estrutura técnicas de pesquisa social 
aplicadas ao estudo da docência. 
Fundamenta pesquisas 
comparativas sobre políticas e 
condições de trabalho. 
SAVIANI 
(edição recente) 
Analisa a trajetória das ideias 
pedagógicas e suas bases políticas. 
Contribui para reconstrução 
crítica da identidade docente 
diante das reformas. 
SEVERINO 
(2016) 
Fundamenta metodologia e rigor 
acadêmico. 
Fomenta novas investigações 
críticas sobre o trabalho 
docente. 
SOUZA 
(2021 – FUNDEB) 
Analisa impactos da EC 108/2020 
no financiamento educacional. 
Aponta perspectivas de 
estabilidade financeira para 
políticas docentes. 
VERGARA 
(2014) 
Orienta elaboração e análise de 
pesquisas qualitativas. 
Suporta futuras investigações 
sobre efeitos das reformas nas 
práticas educativas. 
 
16 
ZILLI, CAHEN & 
MINGRONE 
(2025) 
Analisam práticas trabalhistas 
contemporâneas, processo coletivo e 
direitos emergentes. 
Fundamentam debates sobre 
negociação coletiva e proteção 
da saúde docente. 
Fonte: Aneilza Santos Duarte, Simone Helen Drumond Ischkanian, Gladys Nogueira Cabral, (2025). 
 
2.2. AUMENTO DO TEMPO DE TRABALHO E MUDANÇAS NA 
APOSENTADORIA DOCENTE 
A ampliação do tempo de trabalho docente e as transformações recentes nas regras 
previdenciárias configuram um campo fértil para debates que atravessam dimensões jurídicas, 
sociais e humanas. As alterações introduzidas desde a Reforma da Previdência de 2019 
passaram a deslocar limites antes reconhecidos como conquistas do magistério, conforme 
discutido por Calvo (2024) ao analisar o progressivo enrijecimento das normas laborais. A 
nova lógica previdenciária redefine não apenas parâmetros formais, mas o próprio sentido da 
carreira docente, cujas etapas tradicionais de ingresso, permanência e saída deixam de 
obedecer a um ciclo relativamente previsível. 
A intensificação desse processo de mudanças tornou-se particularmente visível em 
2025, quando prefeituras e estados brasileiros adotaram regras específicas para harmonizar 
seus regimes próprios de previdência com as diretrizes nacionais. Delgado (2019) salienta que 
os impactos de mutações normativas sobre categorias vulneráveis assumem maior 
complexidade quando envolvem funções socialmente essenciais, como a docência. Sob esse 
cenário, professores enfrentam aumentos sucessivos na exigência de idade mínima, no tempo 
contributivo e na pontuação requerida para adquirir o direito à aposentadoria. 
As reconfigurações nas regras de transição ampliam a sensação de incerteza que 
acompanha o exercício docente desde a década de 1990, discutida por Enguita (1991) em sua 
análise da ambiguidade da profissão. A cada atualização da pontuação ou da idade mínima, 
multiplicam-se dúvidas sobre prazos, critérios e efeitos futuros, especialmente entre 
trabalhadores que ingressaram na carreira contando com regras anteriores. A previsibilidade, 
antes componente central na organização da vida profissional, converte-se em variável 
instável. 
Esse contexto jurídico repercute profundamente na experiência subjetiva dos 
professores, cuja relação com o trabalho já vinha sendo marcada por tensões estruturais. 
Dejours (1987) destaca que o prolongamento de jornadas e a intensificação das demandas 
laborais ampliam a incidência de sofrimento psíquico em categorias altamente expostas ao 
desgaste emocional. A postergação do momento de desligamento compulsório acumula 
pressões que se manifestam na saúde física, na vitalidade pedagógica e na capacidade de lidar 
com ambientes escolares cada vez mais complexos. 
 
17 
A literatura sobre psicodinâmica do trabalho também observa que o magistério opera 
em fronteiras delicadas entre prazer e sofrimento, conforme argumentado por Dejours (1994), 
e alterações no horizonte previdenciário interferem diretamente nessas dinâmicas. A 
impossibilidade de planejar uma trajetória de saída do campo profissional pode acentuar 
sentimentos de desamparo, especialmente quando o corpo já denuncia os limites de uma 
rotina marcada por múltiplas turmas, deslocamentos extensos e exigências crescentes. 
Do ponto de vista sociopolítico, o acúmulo de reformas sucessivas produz um 
ambiente de instabilidade que desafia a identidade profissional docente. Kuenzer (1999) 
sublinha que a construção de tal identidade depende de condições institucionais minimamente 
estáveis, capazes de sustentar expectativas e compromissos de longo prazo. Quando as regras 
previdenciárias se alteram com frequência, fragmenta-se a base sobre a qual professores 
constroem seus projetos de vida. 
O cenário também expõe contradições estruturais na política educacional brasileira. 
Esteve (1999) indica que o mal-estar docente se intensifica sempre que políticas públicas 
fragilizam vínculos e ampliam a percepção de desvalorização. O prolongamento compulsório 
da permanência no serviço público reforça essa percepção, sobretudo em redes em que as 
condições materiais de trabalho já eram precárias. 
Em diversas regiões do país, reformas locais adicionam camadas extras de 
complexidade ao debate nacional. O caso de Manaus, cujo PLC nº 08/2025 desencadeou 
greves e protestos, exemplifica a tensão federativa envolvida nesses processos, como apontam 
análises documentais orientadas por Helder (2006). A multiplicidade de legislações 
municipais e estaduais transforma o panorama previdenciário em um mosaico heterogêneo, 
difícil de decifrar até mesmo para especialistas. 
A dimensão política das reformas não pode ser dissociada de seu impacto sobre a 
organização das carreiras, especialmente diante da tramitação da PEC 38/2025. Para Codo, 
Sampaio e Hitomi (1994),relações de trabalho marcadas pela insegurança aumentam a 
vulnerabilidade dos sujeitos, fragilizando laços coletivos e dificultando resistências 
articuladas. O docente, diante desse cenário, passa a atuar em um ambiente simultaneamente 
burocratizado e imprevisível. 
Ao considerar o histórico de lutas do magistério brasileiro, percebe-se que a 
aposentadoria especial sempre representou uma conquista simbólica e material. Freire (1968) 
enfatiza a importância de reconhecer o trabalho docente enquanto prática profundamente 
humana, cujo desgaste compõe parte indissociável da tarefa de formar consciências críticas. O 
desmonte de salvaguardas previdenciárias ameaça esse reconhecimento, rebaixando a 
atividade a um mero conjunto de horas laborais contabilizadas. 
 
18 
As tensões entre legislação, política educacional e saúde pública tornam 
indispensável uma abordagem interdisciplinar. Codo (1999) alerta para os riscos de análises 
fragmentadas, que ignoram o entrelaçamento entre sofrimento, condições de trabalho e redes 
institucionais. A ampliação do tempo de serviço sem investimentos proporcionais em suporte 
emocional e estrutural tende a acentuar quadros de adoecimento e afastamentos prolongados. 
A crítica laboral contemporânea também fornece elementos para compreender os 
efeitos das reformas. Os estudos reunidos no volume organizado pelo Grupo de Estudo Letra 
(2024) destacam que mudanças regulatórias recentes costumam deslocar responsabilidades 
para o indivíduo, obscurecendo dinâmicas estruturais que condicionam a saúde ocupacional. 
Esse deslocamento amplia a culpabilização do trabalhador e dificulta a formulação de 
políticas preventivas. 
Os estudos de Lacaz sobre reformas laborais ressaltam que alterações na legislação 
frequentemente produzem efeitos indiretos em contextos sociais amplos, especialmente 
quando afetam categorias numerosas. A postergação da aposentadoria repercute na gestão 
escolar, na renovação de quadros e na permanência de profissionais já exaustos em funções 
que demandam constante energia emocional. O desgaste acumulado, nessas circunstâncias, 
torna-se fenômeno coletivo. 
A pesquisa documental, como destacam Dias e Endlich (2017), revela que a narrativa 
oficial das reformas costuma priorizar argumentos de sustentabilidade financeira, relegando a 
segundo plano discussões sobre dignidade profissional. Ao contrastar documentos normativos 
com relatos de professores, percebe-se que a lógica fiscal que orienta as mudanças 
frequentemente ignora a realidade concreta das salas de aula. 
A confluência desses fatores indica que o debate sobre aposentadoria docente 
ultrapassa fronteiras meramente jurídicas. Ele envolve disputas sobre o sentido do trabalho 
educativo, conforme já problematizado por Esteve (1995), que associou transformações 
sociais profundas a mutações no papel do professor. A ampliação obrigatória da permanência 
na carreira altera expectativas subjetivas, reorganiza tempos de vida e reconfigura o vínculo 
entre docentes e instituições. 
O cenário de 2025 evidencia um processo cumulativo de mudanças que afetam não 
apenas a estrutura previdenciária, mas a própria essência da profissão docente. O 
prolongamento da atividade laboral, associado a demandas pedagógicas mais amplas e a 
condições frequentemente adversas, exige novas formas de compreensão e enfrentamento, 
capazes de articular dimensões jurídicas, políticas e humanas. A análise aprofundada dessas 
transformações confirma que a aposentadoria deixou de ser mera etapa administrativa para se 
tornar um ponto central na luta por reconhecimento e bem-estar no magistério brasileiro. 
 
19 
2.3. PRECARIZAÇÃO PROFISSIONAL: NÃO PAGAMENTO DAS PROGRESSÕES 
E VÍNCULOS CADA VEZ MAIS INSTÁVEIS 
A precarização profissional decorrente do não pagamento das progressões funcionais 
revela um quadro de deterioração das carreiras docentes que ultrapassa a mera dificuldade 
administrativa e alcança dimensões estruturais do serviço público contemporâneo. Calvo 
(2024) aponta que o descumprimento de normas de evolução funcional caracteriza violação 
direta de direitos consolidados, produzindo impactos sólidos sobre a confiança institucional e 
sobre a própria finalidade pedagógica do trabalho. Esse ambiente de instabilidade corrói 
expectativas profissionais e enfraquece o sentido de permanência na carreira. 
Os constantes atrasos ou congelamentos de progressões evidenciam uma tendência 
de flexibilização unilateral, em que a administração pública se autoriza a descumprir marcos 
legais que ela mesma instituiu. Delgado (2019) observa que políticas remuneratórias 
irregulares instauram práticas de gestão que se afastam do princípio da legalidade e provocam 
desajustes profundos nos projetos profissionais dos trabalhadores. O docente, privado de sua 
evolução prevista, passa a conviver com um horizonte de imprevisibilidade que redefine 
prioridades e compromete investimentos pessoais em formação. 
Esses retrocessos aprofundam um sentimento coletivo de deslegitimação, 
especialmente quando somados às fragilidades contratuais que se disseminam pelos sistemas 
educacionais. Enguita (1991) analisa o processo de proletarização docente e descreve a perda 
de autonomia e reconhecimento como elementos que rebaixam a profissão a um conjunto 
fragmentado de tarefas. A ausência de progressões, associada à multiplicação de vínculos 
temporários, torna-se uma expressão concreta dessa lógica de desvalorização. 
O impacto psicológico dessas rupturas normativas se inscreve no campo das 
pesquisas sobre sofrimento no trabalho, que revelam como o descumprimento de direitos 
alimenta tensões subjetivas intensas. Codo, Sampaio e Hitomi (1994) demonstram que a 
insegurança quanto ao futuro profissional contribui para o adoecimento emocional e 
compromete a vitalidade criativa indispensável ao cotidiano escolar. A inexistência de 
reconhecimento institucional mina estratégias de enfrentamento, deixando o trabalhador em 
posição de vulnerabilidade permanente. 
A psicodinâmica do trabalho também evidencia que a percepção de injustiça 
organizacional amplifica o desgaste e reconfigura o sentido de pertencimento. Dejours (1994) 
ressalta que a ruptura do pacto simbólico entre trabalhador e instituição desencadeia 
sentimentos de frustração que interferem no desempenho e na capacidade de estabelecer 
vínculos positivos com a atividade. A interrupção das progressões opera, nesse contexto, 
como sinal de quebra de confiança. 
 
20 
A saúde docente passa a ser afetada por mecanismos de pressão contínua, associados 
à precariedade material que se instala quando salários são congelados por longos períodos. 
Esteve (1999) explica que a intensificação de problemas remuneratórios repercute diretamente 
na motivação, uma vez que a remuneração possui dimensão não apenas econômica, mas 
também simbólica. A narrativa de valorização discursiva contrasta com a prática gerencial 
que restringe direitos, gerando um abismo entre expectativas e realidade. 
A insuficiência de progressões também interfere nos processos formativos, já que 
muitos educadores deixam de buscar qualificação por compreenderem que o esforço adicional 
não repercutirá na carreira. Kuenzer (1999) destaca que o desenvolvimento profissional 
depende de políticas estáveis de incentivo, capazes de integrar formação e ascensão funcional. 
Quando tais incentivos são interrompidos, compromete-se o ciclo de aprimoramento contínuo 
essencial às demandas educacionais contemporâneas. 
Os vínculos instáveis, por sua vez, operam como elemento estrutural de uma 
precarização que avança simultaneamente na esfera pública e privada. O Grupo de Estudo 
Letra (2024) demonstra que formas recentes de flexibilização, como contratos temporários e 
terceirizações, reconfiguram direitos e limitam a construção de trajetórias profissionais. No 
campo educacional, essa lógica impede a consolidação de equipespedagógicas e fragiliza o 
engajamento institucional. 
A proliferação de contratos de curta duração altera a dinâmica organizacional das 
escolas, dificultando a continuidade de projetos educativos e impedindo o acúmulo de 
experiências significativas. Libâneo (2017) observa que a qualidade pedagógica depende de 
estabilidade docente, pois a construção de rotinas didáticas exige permanência e investimento 
afetivo no processo de ensino. A rotatividade elevada impede a formação de vínculos sólidos 
com estudantes e comunidades. 
As práticas de congelamento remuneratório revelam um descompasso entre discursos 
de gestão e realidades laborais, o que pode ser compreendido por meio de análises 
documentais. Dias e Endlich (2017) defendem a investigação criteriosa de atos 
administrativos como ferramenta para evidenciar contradições e reconstruir a narrativa 
institucional. O exame de documentos que suspendem progressões demonstra o 
distanciamento entre planejamento orçamentário e políticas de valorização profissional. 
Os efeitos da precarização também podem ser analisados sob a perspectiva das 
transformações recentes no direito do trabalho. Heuseler, Leite e Guerra (2025) destacam que 
a flexibilização normativa tende a privilegiar a eficiência fiscal em detrimento da proteção 
social, contribuindo para a normalização de práticas que enfraquecem garantias históricas. A 
educação pública, por ser setor majoritariamente feminizado e de forte relevância social, 
torna-se espaço sensível a essas mudanças. 
 
21 
A crítica contemporânea às reformas trabalhistas indica que tais medidas repercutem 
de modo profundo nas estruturas de emprego. Lacaz, ao analisar a Lei nº 13.467/2017, aponta 
que a retirada de proteções tende a ampliar desigualdades e a reforçar mecanismos de 
insegurança permanente. No caso docente, a precarização das progressões e a instabilidade 
dos vínculos tornam-se manifestações específicas dessa reconfiguração mais ampla. 
As mudanças estruturais da escola brasileira, analisadas por Nosella (1998), 
demonstram que momentos de crise econômica frequentemente servem de justificativa para 
reduzir direitos em setores fundamentais. A intermitência de investimentos formais em 
carreira docente representa um percurso de desmonte silencioso, capaz de comprometer a 
função social da educação e restringir possibilidades de transformação social. 
A própria administração pública passa por reconfigurações que interferem nos 
direitos laborais, como analisado em estudos recentes do TJDFT (2024) sobre ESG e regimes 
híbridos. Tais pesquisas indicam que modelos de gestão contemporâneos nem sempre são 
acompanhados de políticas robustas de proteção trabalhista, resultando em zonas cinzentas de 
responsabilidade. Esse movimento impacta servidores que dependem de clareza normativa 
para sustentar seus projetos profissionais. 
O debate sobre precarização docente não se limita a diagnósticos econômicos ou 
jurídicos; trata-se também de questão ética e política. Freire (1968) lembra que a educação se 
fundamenta na humanização das relações, o que pressupõe condições dignas para o trabalho 
pedagógico. O pagamento das progressões e a garantia de vínculos estáveis constituem, nesse 
sentido, não apenas obrigações legais, mas compromissos civilizatórios indispensáveis à 
construção de uma escola pública que honre sua missão. 
2.4. RECURSOS ENVIADOS PELO (MEC): TRANSPARÊNCIA, GESTÃO E 
QUESTIONAMENTOS PÚBLICOS 
O envio de recursos pelo Ministério da Educação (MEC) constitui um dos pilares da 
política pública de financiamento da educação básica, mas sua gestão desperta críticas 
recorrentes quanto à transparência e à efetividade. Nosella (1998) aponta que, historicamente, 
o repasse de verbas federais para estados e municípios enfrenta desafios de monitoramento e 
controle, refletindo tensões entre intenções normativas e práticas locais. A percepção de 
professores e gestores escolares é frequentemente marcada pela dúvida sobre a real aplicação 
dos recursos e pelo impacto direto na qualidade educacional. 
O funcionamento dos sistemas de controle do MEC e do FNDE envolve múltiplas 
plataformas digitais, que buscam atender princípios de publicidade e responsabilização 
administrativa. Quivy e Campenhoudt (2008) enfatizam que a investigação social e 
documental permite identificar lacunas entre o registro formal de gastos e sua efetiva 
 
22 
execução. Ferramentas como o SIMEC e o PDDE Interativo oferecem dados sobre repasses, 
metas e utilização de verbas, mas a complexidade dos sistemas dificulta o acompanhamento 
contínuo por parte de cidadãos leigos e professores. 
A criação do aplicativo "Clique Escola" surge como tentativa de aproximar gestores, 
docentes e comunidade, fornecendo informações detalhadas sobre recursos como o PDDE. 
Souza (2021) destaca que a disponibilização de dados em tempo real representa avanço na 
democratização do acesso, ainda que desafios persistam quanto à clareza, à atualização e à 
veracidade das informações. A tecnologia sozinha não garante fiscalização efetiva, exigindo 
engajamento contínuo da sociedade civil. 
A Lei de Acesso à Informação (LAI) reforça o direito do cidadão de solicitar dados 
sobre os repasses e a execução orçamentária, estabelecendo canais formais de 
questionamento. TJDFT (2024) ressalta que o acesso legal a informações públicas funciona 
como instrumento de responsabilização e como mecanismo preventivo de irregularidades, 
mas sua eficácia depende da capacidade das administrações de atender às demandas com 
agilidade e precisão. Solicitações frequentemente sofrem atrasos ou respostas incompletas, 
gerando frustração e descrédito. 
Programas específicos, como "Pé-de-Meia" e "Educação Conectada", possuem 
portais próprios que detalham a aplicação de recursos, permitindo consultas segmentadas por 
projeto ou município. Saviani (2021) argumenta que a fragmentação de dados em múltiplas 
plataformas pode dificultar o controle social, pois demanda conhecimento técnico e paciência 
para interpretação das informações. O excesso de sistemas dispersos, apesar de 
potencialmente transparente, pode se tornar barreira prática à efetiva fiscalização. 
A participação da comunidade é institucionalizada por meio de Conselhos de 
Acompanhamento e Controle Social (CACS), cuja função é supervisionar a execução de 
programas como Fundeb e PDDE. Richardson (1999) ressalta que a investigação participativa 
exige treinamento e comprometimento para que a atuação desses conselhos não se limite a 
uma formalidade simbólica. O impacto real da participação social depende do 
empoderamento de seus membros e da receptividade dos gestores públicos. 
O papel do Ministério Público e dos Tribunais de Contas reforça o caráter 
fiscalizador externo, capaz de auditar e processar denúncias de irregularidades na aplicação 
dos recursos. TJDFT (2024) sublinha que auditorias sistemáticas e procedimentos de 
responsabilização contribuem para elevar padrões de governança, mas também evidenciam 
que falhas gerenciais persistem em múltiplos níveis. A existência de órgãos externos é 
necessária, porém insuficiente para garantir integral transparência e efetividade. 
A percepção docente sobre os recursos federais muitas vezes se concentra na demora 
na liberação de verbas essenciais, como aquelas destinadas à infraestrutura escolar e à 
 
23 
alimentação. Este fenômeno impacta diretamente a rotina pedagógica e a qualidade do ensino. 
Nosella (1998) argumenta que atrasos recorrentes alimentam desconfiança institucional e 
enfraquecem a legitimidade das políticas públicas, gerando tensão entre expectativas de 
professores e capacidade real do sistema. 
A gestão local dos recursos federais envolve desafios de capacidade administrativa, 
controle interno e clareza contábil. Calvo (2024) enfatiza que desvios de finalidade ou 
aplicação ineficiente das verbas configuram problemas de governança que afetama 
valorização profissional e a própria função educativa. A insuficiência de relatórios acessíveis 
e a complexidade das prestações de contas dificultam o monitoramento e a cobrança por parte 
da sociedade. 
Questões de transparência também se relacionam à comunicação institucional, já que 
gestores frequentemente não detalham critérios de alocação ou prioridades de investimento. 
Zilli, Cahen e Mingrone (2025) destacam que a falta de clareza sobre o destino das verbas 
compromete o controle social e prejudica a construção de confiança entre administração e 
comunidade escolar. Sem informações compreensíveis, cresce a sensação de opacidade e 
impunidade. 
O controle social atua como mecanismo de pressão sobre gestores, mas depende de 
canais efetivos de comunicação e de envolvimento ativo de professores, pais e representantes 
da sociedade civil. Nosella (1998) reforça que a participação comunitária só se torna efetiva 
quando há acessibilidade às informações, formação para interpretação de dados e capacidade 
de reivindicar correções. Sem esses elementos, conselhos e ouvidorias correm o risco de 
serem meramente simbólicos. 
As discrepâncias entre planejamento federal e execução local evidenciam a 
necessidade de integração de políticas, sistemas e fluxos de informação. Souza (2021) salienta 
que a fragmentação e a demora no repasse de recursos comprometem ações estratégicas, 
especialmente em municípios com menor capacidade técnica. A falta de sincronização entre 
instâncias de governo amplifica incertezas sobre a aplicação e resultados de políticas 
educacionais. 
A literatura sobre governança educacional indica que práticas de accountability, 
auditabilidade e transparência são essenciais para legitimar a gestão de recursos públicos. 
TJDFT (2024) demonstra que sistemas integrados de acompanhamento, associados a canais 
de denúncia e auditoria, podem reduzir irregularidades, mas exigem monitoramento contínuo 
e cultura institucional voltada para responsabilidade. A tecnologia e a legislação fornecem 
ferramentas, mas não substituem o engajamento humano. 
A investigação acadêmica e social permite mapear padrões de utilização, desvios e 
lacunas na execução orçamentária, fornecendo base sólida para recomendações de políticas. 
 
24 
Quivy e Campenhoudt (2008) defendem que métodos sistemáticos de coleta e análise de 
dados são fundamentais para avaliar eficácia e eficiência de programas como Fundeb, PDDE 
e iniciativas de formação continuada. A pesquisa orientada por evidências fortalece o debate 
público e a formulação de respostas estruturadas. 
A interseção entre transparência, gestão e participação social reflete a complexidade 
do financiamento da educação brasileira. Saviani (2021) argumenta que o desafio não reside 
apenas na transferência de recursos, mas na garantia de que verbas promovam melhoria 
concreta na aprendizagem, valorização docente e infraestrutura escolar adequada. O 
questionamento público é, portanto, instrumento vital de democracia participativa, essencial 
para consolidar a educação como direito e não apenas como programa de repasses financeiros. 
2.5. RETROCESSOS PRATICADOS POR GOVERNOS E PREFEITURAS: CORTES, 
CONGELAMENTOS E FLEXIBILIZAÇÕES INJUSTAS 
Os retrocessos implementados por governos e prefeituras configuram uma face 
persistente das políticas de austeridade fiscal, que impactam diretamente a carreira docente e a 
qualidade da educação pública. Calvo (2024) destaca que cortes de gratificações, suspensão 
de progressões e aumentos de carga sem correspondente valorização remuneratória 
enfraquecem os vínculos profissionais e comprometem direitos consolidados. Esse panorama 
evidencia um deslocamento da responsabilidade das crises estruturais para os professores, 
tornando-os alvos simbólicos de medidas de contenção financeira. 
Os cortes orçamentários, especialmente aqueles relacionados à educação, refletem a 
tentativa de equilibrar finanças públicas à custa de direitos adquiridos. Esteve (1999) observa 
que o contingenciamento de verbas para manutenção escolar e investimento pedagógico reduz 
o potencial de transformação social da educação, impactando diretamente o aprendizado e a 
motivação docente. Reduzir recursos essenciais não apenas afeta a infraestrutura, mas também 
interfere na concepção de escola como espaço de formação integral. 
A Emenda Constitucional 95 (EC 95) exemplifica o efeito de políticas de 
congelamento de despesas públicas a longo prazo. Minayo (1996) aponta que o teto de gastos 
cria subfinanciamento estrutural em áreas sensíveis como saúde e educação, impondo limites 
artificiais à expansão necessária de políticas sociais. No caso da educação, escolas e 
universidades públicas têm enfrentado restrições que inviabilizam projetos pedagógicos, 
manutenção predial e capacitação de professores, aprofundando desigualdades regionais. 
O congelamento de salários e a redução de concursos públicos intensificam o 
desgaste das carreiras, impondo sobrecarga aos servidores efetivos. Delgado (2019) 
argumenta que a estagnação remuneratória e o acúmulo de funções geram um ciclo de 
desvalorização institucional, em que o desempenho profissional é penalizado por limitações 
 
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externas à vontade do trabalhador. A pressão sobre docentes já sobrecarregados provoca 
efeitos diretos na saúde mental e física, corroborando estudos sobre sofrimento no trabalho 
(Dejours, 1987). 
A terceirização da educação e a proliferação de contratos temporários representam 
estratégias de flexibilização que desarticulam vínculos e enfraquecem direitos trabalhistas. 
Lacaz (SciELO) analisa que essas medidas contribuem para a precarização estrutural, 
deslocando responsabilidades para trabalhadores individualmente, ao mesmo tempo em que 
dificultam a formação de equipes pedagógicas estáveis. A rotatividade elevada compromete a 
continuidade didática e a coesão institucional. 
A Reforma Trabalhista de 2017 (Lei 13.467/17) amplifica essa lógica, permitindo 
que acordos coletivos prevaleçam sobre normas legais consolidadas. Heuseler, Leite e Guerra 
(2025) enfatizam que o chamado ―negociado sobre o legislado‖ cria desequilíbrios nas 
relações laborais, fragiliza sindicatos e precariza direitos historicamente conquistados, 
afetando especialmente categorias feminilizadas, como o magistério. A interpretação restritiva 
da legislação promove vulnerabilidade estrutural e impõe desafios à mobilização coletiva. 
As flexibilizações de normas também atingem setores além da educação, como 
políticas ambientais, revelando padrões de priorização econômica em detrimento de direitos 
coletivos. Dias e Endlich (2017) mostram que tais práticas indicam uma lógica de gestão que 
valoriza resultados imediatos e cortoplacistas, em detrimento de garantias institucionais e 
sustentabilidade social. No âmbito educacional, isso se traduz em cortes de programas 
complementares, suspensão de formações e atraso na liberação de recursos. 
O aumento da carga horária sem correspondente incremento salarial impacta a 
qualidade do ensino e o bem-estar dos docentes. Codo (1999) argumenta que a intensificação 
do trabalho, quando combinada à desvalorização funcional, intensifica o sofrimento subjetivo 
e reduz a capacidade de engajamento pedagógico. Professores passam a atuar em condições 
que dificultam planejamento, acompanhamento individualizado de alunos e participação em 
atividades formativas. 
A retirada ou congelamento de progressões salariais compromete a motivação e 
inviabiliza planos de carreira. Enguita (1991) observa que a construção da identidade 
profissional depende da percepção de reconhecimento e valorização. Quando políticas 
públicas suspendem progressões previstas, a carreira docente perde significado e estabilidade, 
gerando impacto direto na retenção de profissionais qualificados e na continuidade de 
políticas educacionais. 
Os efeitos desses retrocessos se refletem na saúde mental

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