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ʕ ◔ᴥ◔ ʔ Brenda Bosquê Resumo Clínica Cirúrgica ATLS – Advanced Trauma Life Support ATLS: protocolo mais utilizado no mundo para atendimento ao trauma. Sua principal premissa é: “Tratar primeiro o que mata primeiro.” ● Trauma - conjunto de alterações causadas por um agente físico externo em uma pessoa. ● Politrauma - Quando duas ou mais regiões corporais estão acometidas simultaneamente. ex: traumatismo craniano + fratura de fêmur. Avaliação Primária: ABCDE Esse é o primeiro passo no atendimento. Tem que ser feito rapidamente, focando em lesões que ameaçam a vida IMEDIATA do paciente: A Via aérea + Coluna cervical Fala normal → pérvia Estridor, sialorreia, trauma facial - Proteger coluna (colar cervical, prancha) - O2 se via aérea pérvia - Intubação se GCS ≤ 8 ou risco de obstrução - Cricotireoidostomia se falha B Respiração e Ventilação Dispneia, cianose, murmúrio ↓, assimetria torácica - O2 com máscara não reinalante - Toracocentese se pneumotórax hipertensivo - Dreno torácico se hemotórax C Circulação e Hemorragia Taquicardia, extremidades frias, PA↓, diurese↓ - 2 acessos calibrosos + cristaloides aquecidos - Compressão direta/torniquete - Classificar tipo de choque hemorrágico D Déficit neurológico Glasgow 40 anos ou com comorbidades) e Rx de tórax. Complicações Pós-Operatórias Complicações locais (na ferida cirúrgica): ● Seroma: Acúmulo de líquido claro na ferida (linfa, gordura liquefeita). → Prevenção: dreno. Tratamento: aspiração estéril. ● Hematoma: Sangue acumulado no subcutâneo/cavidade. → Risco de infecção! Prevenir suspendendo anticoagulantes, corrigindo coagulopatias. ● Infecção de sítio cirúrgico (ISC): ○ Superficial: dor, vermelhidão, calor. ○ Profunda: + febre. ○ Órgão/cavidade: secreção purulenta, abertura de pontos, sinais de sepse. → Conduta: abrir, lavar, desbridar se necessário, manter aberta (segunda intenção). → Antibiótico: se celulite ou sinais sistêmicos. ● Deiscência da ferida: Abertura espontânea da incisão (fáscia não cicatriza). → Sinal clássico: saída de secreção “água de carne”. Pode evoluir pra evisceração. Febre no Pós-Operatório – quando desconfiar? ʕ ◔ᴥ◔ ʔ Brenda Bosquê Resumo Clínica Cirúrgica ● Até 48h: geralmente não infecciosa → Atelectasia, SIRS, reação inflamatória do trauma cirúrgico. ● Após 72h: pensar em infecção → Pneumonia, infecção urinária, ISC, fístula... Complicações pulmonares – causam 25% dos óbitos pós-operatórios ● Atelectasia, pneumonia, broncoespasmo. ● Fatores de risco: idade, tabagismo, dor pós-op (imobiliza respiração), tipo de cirurgia (torácica/abdominal). ● Prevenção: fisioterapia, analgesia eficaz, mobilização precoce. Complicações gastrointestinais ● Íleo paralítico: obstrução funcional (intestino lento), sem fator mecânico. → Sintomas: distensão, ausência de flatos, náusea. → Tratamento: suporte, jejum, reposição. ● Deiscência de anastomose: “abertura” da costura intestinal. → Pode causar peritonite. Quadro clínico depende da localização. ● Fístula intestinal: comunicação anormal com outro órgão/pele. → Causa comum: iatrogenia cirúrgica. ● Fístula pancreática: saída de líquido rico em amilase pelo dreno após o 3º dia. → Conduta: ATB, hidratação, nutrição, eletrólitos. Síndrome Compartimental Abdominal ● Pressão intra-abdominal ↑ → falência orgânica. → Causa: sangramento, edema visceral, líquidos acumulados. → Diagnóstico: pressão >20 mmHg + disfunção de órgãos. → Tratamento: descompressão cirúrgica urgente. Pancreatite ● Inflamação súbita, dor abdominal intensa, enzimas pancreáticas altas ● Sintomas em horas/dias, duração(30%) – consumo excessivo ● Hipertrigliceridemia (>1000 mg/dL) ● Medicamentos (sulfonamidas, tetraciclinas, tiazídicos, furosemida, salicilatos) ● Tumores obstrutivos ● Pós-operatório (cirurgias abdominais/cardiacas) ● CPRE (5-10% dos casos) Sintoma principal: ● Dor abdominal intensa em faixa, no epigástrio ou hipocôndrio esquerdo, irradiando para o dorso ● Alívio da dor na posição genupeitoral (sentado, inclinado para frente) Sintomas frequentes: ● Náuseas e vômitos incoercíveis ● Distensão abdominal ● Febre ● Icterícia (quando edema da cabeça pancreática ou coledocolitíase) - Exame físico: ● Ansiedade, inquietação, febre, desidratação ● Taquicardia; choque e coma em casos graves ● Icterícia em ~10% dos casos ● Redução ou ausência dos ruídos intestinais (íleo paralítico) Achados graves: ● Hipotensão, dispneia, taquicardia/taquipneia, febre ● Retinopatia de Purtscher (rara) ● Paniculite (necrose da gordura subcutânea) ● Hemorragia retroperitoneal com equimoses clássicas: ○ Grey Turner (flancos) ○ Cullen (periumbilical) ○ Frey (ligamento inguinal) ○ Fox (base do pênis) Exames laboratoriais: ● Lipase e amilase > 3x limite normal (lipase preferida) ● ALT elevada sugere origem biliar ● Atenção: hipertrigliceridemia e insuficiência renal podem afetar resultados Exames de imagem: ● Ultrassonografia: melhor para litíase biliar e edema pancreático ● Tomografia: em casos graves ou dúvida diagnóstica ʕ ◔ᴥ◔ ʔ Brenda Bosquê Resumo Clínica Cirúrgica ● Ressonância Magnética: para necrose e alterações ductais (CPRM) Diagnóstico (requer 2 de 3): ● Quadro clínico típico ● Elevação de enzimas pancreáticas (>3x normal) ● Alterações em imagem Classificação de Atlanta – Pancreatite Aguda LEVE Sem falência orgânica nem complicações. MODERADA Falência orgânica transitória ( 48h), necrose extensa, sepse, alto risco de morte. Critérios BISAP (nas primeiras 24h) – 1 ponto para cada: Ureia > 44 mg/dL Alteração do estado mental SIRS (≥2 critérios)* Idade > 60 anos Derrame pleural BISAP ≥ 3: mortalidade até 18% BISAP 0,5–1 mL/kg/h ● Hematócrito 35%–44% ● Queda da ureia nas primeiras 24h Hidratação: ● Reavaliar volemia a 12, 24, 48 e 72h ● Hipovolêmico: Ringer lactato 10 mL/kg em 2h + 1,5 mL/kg/h; bólus se diurese 8h ● Hipervolêmico: reduzir/suspender hidratação e tratar hipervolemia Analgesia: ● Via preferencial: intravenosa ● Opções: Tramadol, Codeína → Morfina (uso seguro) → Evitar Meperidina (alto risco de efeitos adversos) → Fentanil (perfil seguro) Nutrição: ● Dieta oral se dor 1,0, gás em necrose pancreática ● Esquemas empíricos: ○ Ciprofloxacino + Metronidazol ○ Cefepima + Metronidazol ○ Piperacilina-tazobactam ○ Meropenem (preferido pela penetração) Abordagem Intervencionista na Pancreatite Aguda ● Indicações: complicações locais ou falência no controle da infecção ● Abordagem step-up: do menos ao mais invasivo ● Ideal após 4 semanas, quando necrose está bem delimitada Procedimentos: ● Drenagem endoscópica/percutânea da necrose líquida ● Necrosectomia cirúrgica (debridamento da necrose) ● CPRE em até 24h para pancreatite biliar com colangite bacteriana ● Colecistectomia para pancreatite biliar Quando suspeitar de pancreatite complicada? ● Dor abdominal persistente ou recorrente ● Aumento das enzimas pancreáticas ● Piora da função orgânica ● Sinais clínicos de sepse Complicações principais ● Coleções líquidas agudas ● Pseudocisto ● Coleções necróticas agudas ● Necrose pancreática murada (Walled-off) ● Necrose infectada ● Trombose venosa porto-esplenomesentérica ● Síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS) Doenças das Vias Biliares 1. Colelitíase ● Definição: cálculos na vesícula. ● Fatores de risco: “4 F”: Female, Fat, Forty, Fertile, além de jejum, ACO, dieta gordurosa. ● Quadro clínico: maioria assintomática. Se sintomática → dor em HD ou epigástrio, irradiando p/ dorso, após gordura (cólica biliar). ● Diagnóstico: USG abdominal (exame de escolha). ● Tratamento: ○ Assintomáticos: expectante (exceto se vesícula em porcelana, cálculos grandes, anemia falciforme). ○ Sintomáticos: colecistectomia laparoscópica. ○ Medicamentos dissolventes: pouco eficazes. 2. Síndrome de Mirizzi ● Causa: cálculo impactado no colo da vesícula ou ducto cístico → compressão extrínseca do ducto hepático comum. ● Quadro clínico: icterícia progressiva + dor HD ± febre. ● Diagnóstico: USG (pouco sensível), melhor com CPRE ou colangio-RM. ● Tratamento: cirúrgico. 3. Colecistite Aguda ● Definição: inflamação da vesícula por obstrução do ducto cístico (90-95% litiásica). ● Agentes: E. coli, Klebsiella, Enterobacter. ● Quadro clínico: dor intensa em HD, febre, vômitos, Sinal de Murphy positivo. ● Diagnóstico: ○ USG: parede espessada (>4 mm), líquido pericolecístico, cálculo impactado. ○ Leucocitose, PCR↑, bilirrubina↑. ○ Classificação de Tokyo: classifica gravidade. ● Tratamento: ○ Jejum, hidratação, ATB (cefalosporina + metronidazol). ○ Colecistectomia laparoscópica precoce (ideal até 72h). ○ Em pacientes graves: colecistostomia percutânea. ʕ ◔ᴥ◔ ʔ Brenda Bosquê Resumo Clínica Cirúrgica 4. Coledocolitíase ● Definição: presença de cálculo no ducto colédoco, geralmente secundária à colelitíase. ○ Quadro clínico: ○ Dor em HD ou epigástrio ○ Icterícia flutuante ○ Colúria, acolia fecal, prurido ○ Pode ser assintomática ● Diagnóstico: ○ Laboratório: bilirrubina direta ↑, FA ↑, GGT ↑ ○ Imagem: USG: colédoco dilatado (>6 mm) Colangio-RM: confirma diagnóstico CPRE: diagnóstico e tratamento ● Tratamento: ○ CPRE com papilotomia e retirada do cálculo ○ Colecistectomia eletiva após resolução ○ Cirurgia se falha do tratamento endoscópico 5. Colangite Aguda ● Definição: infecção da via biliar, geralmente por cálculo. ● Tríade de Charcot: dor HD + icterícia + febre. ● Pêntade de Reynolds (grave): Charcot + hipotensão + confusão mental. ● Diagnóstico: ○ Laboratório: leucocitose, bilirrubina, FA↑, hemocultura. ○ Imagem: USG, colangio-RM, TC. ● Tratamento: ○ Suporte clínico: hidratação, antibióticos (espectro amplo). ○ CPRE para drenagem biliar urgente. ○ Alternativas: drenagem percutânea ou cirurgia. Apendicite Aguda Definição: Inflamação aguda do apêndice vermiforme. Principal causa de abdome agudo cirúrgico. Fisiopatologia ● Obstrução da luz apendicular (fecalito, hiperplasia linfoide, parasitas, tumor, estase). ● Proliferação bacteriana → distensão → isquemia → necrose. ● Pode evoluir para perfuração, peritonite ou abscesso intra-abdominal. Epidemiologia ● Idade: 10 a 30 anos ● Sexo: mais comum em homens ● Risco ao longo da vida: 7-8% Sintomas: ʕ ◔ᴥ◔ ʔ Brenda BosquêResumo Clínica Cirúrgica 1. Dor abdominal migratória: epigástrio/periumbilical → FID (ponto de McBurney) 2. Anorexia, inapetência 3. Náuseas e vômitos 4. Febre baixa Sinais clínicos: ● Defesa muscular em FID ● Blumberg: dor à descompressão brusca ● Rovsing: dor em FID ao pressionar FIE ● Psoas: dor à extensão do quadril direito (apêndice retrocecal) ● Obturador: dor à rotação interna com flexão da coxa (apêndice pélvico) ● Lapinsky: dor à elevação da perna direita estendida ● Dunphy: dor em FID ao tossir Diagnóstico ● Clínico: história + sinais semiológicos Laboratório: ● Leucocitose com desvio à esquerda ● PCR elevada ● Urina normal ou levemente alterada Imagem: ● USG: exame de escolha em crianças e gestantes ● TC: maior acurácia (adultos) ○ Apêndice >6 mm, não compressível, espessado, líquido periapendicular Escore de Alvarado: auxilia na estratificação do risco Tratamento Padrão-ouro: Apendicectomia cirúrgica ● Pode ser aberta ou videolaparoscópica (preferida) Pré-operatório: ● Jejum, hidratação venosa ● Analgesia ● Antibiótico profilático (cefalosporina + metronidazol, 60 min antes da incisão) Complicações ● Perfuração ● Peritonite difusa ● Abscesso intra-abdominal ● Sepse ● Íleo paralítico Prognóstico ● Bom se tratado precocemente ● Piora com evolução >48h ● Mortalidadeem crianças: ● Resolvem espontaneamente até 4-5 anos. ● Cirurgia se >2cm, sintomática ou persistente após 5 anos. Complicações: ● Encarceramento ● Estrangulamento com isquemia e necrose ● Perfuração intestinal ● Infecção ● Recidiva pós-operatória Prognóstico: ● Excelente com tratamento adequado. ● Atraso em hérnias estranguladas aumenta mortalidade.