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06Aula A escola inclusiva e o perfil do professor Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • compreender as características da escola inclusiva; • identificar o perfil do professor inclusivista. A inclusão escolar, enquanto paradigma educacional tem como objetivo a construção de uma escola acolhedora, onde não existam critérios ou exigências de natureza alguma, nem mecanismos de seleção ou discriminação para o acesso e a permanência com sucesso de todos os alunos (Alves e Barbosa, 2006, p15). Na presente aula, veremos as características da escola inclusiva, assim como o perfil do professor neste contexto e, uma vez que ao longo nas nossas aulas essas características estiveram presentes, será uma retomada para que haja uma fixação e melhor reflexão acerca do assunto. Disponível em: http://3.bp.blogspot.com. Acesso em: 29 maio 2023. Bons estudos! 38Educação Especial e Inclusiva 1 - Escola inclusiva e perfil do professor inclusivista 1- Escola inclusiva e perfil do professor inclusivista A escola não pode tudo, mas pode mais. Pode acolher as diferenças. É possível fazer uma pedagogia que não tenha medo da estranheza, do diferente, do outro. A aprendizagem é destoante e heterogênea. Aprendemos coisas diferentes daquelas que nos ensinam, em tempos distintos, (...) mas a aprendizagem ocorre, sempre. Precisamos de uma pedagogia que seja uma nova forma de se relacionar com o conhecimento, com os alunos, com seus pais, com a comunidade, com os fracassos (com o fim deles), e que produza outros tipos humanos, menos dóceis e disciplinados (Abramowicz, 1997 apud Roth, 2006, p. 1). É possível observar que é senso comum que a escola seja um lugar de acesso, livre de qualquer preconceito ou restrição às diferenças, um espaço no qual se exerce a liberdade de expressão, contribuindo para o alcance do desenvolvimento integral do ser humano, trazendo melhores relações interpessoais e avanços no aprendizado. De acordo com Franco (2012), por meio das considerações das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Especial (MEC/SEESP, 1998), a escola necessita tomar uma postura renovada comparada à da escola comum, pois significa, além de matricular as crianças com deficiências, dar ao professor e à escola o suporte necessário à sua ação pedagógica. A escola inclusiva é a que propicia ao aluno com necessidades específicas, a apropriação do conhecimento escolar. É preciso estar atento com modelos de aprovação facilitada que impedem o verdadeiro desenvolvimento. Nesse sentido, a ação primordial é a capacitação de professores, para que sua prática pedagógica atenda à diversidade dos alunos. Contudo, essa formação precisa ser contínua, com troca de experiência e supervisões. Para o sucesso dessa proposta de Educação Inclusiva, é importante que exista um sistema de apoio para lidar com as necessidades não só do aluno, mas também do professor da classe regular (Franco, 2012). Dentro da perspectiva apresentada acima, onde este sistema de suporte poderia estar disponível? Toda essa discussão perpassa pelo conceito de inclusão, que já debatemos em aulas anteriores, vocês estão lembrados? É preciso ter em mente, claramente, o que é inclusão e o que não é inclusão, pois é a partir desse entendimento que será possível visualizar a escola, assim como a prática do professor neste contexto. Mrech (2012, p.1) aponta em seu artigo tal diferença, vejamos: Seções de estudo Inclusão é: atender aos estudantes com deficiências na vizinhança da sua residência. - propiciar a ampliação do acesso destes alunos às classes regulares. - propiciar aos professores da classe regular um suporte técnico. - perceber que as crianças podem aprender juntas, embora tendo objetivos e processos diferentes. - levar os professores a estabelecer formas criativas de atuação com as crianças. - propiciar um atendimento integrado ao professor de classe comum do ensino regular. Inclusão não é: levar crianças às classes comuns sem o acompanhamento do professor especializado. - ignorar as necessidades específicas da criança. - fazer as crianças seguirem um processo único de desenvolvimento, ao mesmo tempo e para todas as idades. - extinguir o atendimento de educação especial antes do tempo. - esperar que os professores de classe regular ensinem as crianças com deficiências sem um suporte técnico. Dessa forma, fica evidente que a educação inclusiva tem de atender a esses alunos com qualidade, proporcionando condições e especializações aos profissionais, para que os objetivos, a interação e o desenvolvimento aconteçam (Fernandes e Lopes, 2004). Uma escola inclusiva deve ser caracterizada principalmente pelo seu compromisso em desenvolver continuamente a capacidade de acolher uma ampla gama de diferenças individuais entre seus alunos (Sassaki, 1998). A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015) define o conceito de inclusão como a garantia de acesso e participação plena de pessoas com deficiência em todos os aspectos da vida, incluindo a educação. A lei estabelece que a inclusão não se limita ao acesso físico, mas abrange a eliminação de barreiras que impedem a participação efetiva dessas pessoas na sociedade. Isso inclui adaptações necessárias para garantir que todos possam usufruir dos direitos em igualdade de condições. Acompanharemos, agora, a lista de práticas inclusivas na escola de Rogers (1993) com tradução e adaptação de Sassaki (1998). Essa lista foi anexada a um memorando, Basic Education Circulars Ganeiro, (1995), “Colocação de Alunos de Educação Especial - Política de Inclusão”, escrito por Joseph F. Bard, Diretor da Educação de I’ e 2’ Graus, Secretaria Estadual de Educação, Pensilvânia, EUA. O autor propõe que se observem essas práticas em sua escola para certificar-se do grau de consistência entre as práticas inclusivas da sua escola e os ideais do movimento de inclusão escolar ou, ainda, pode ser um ponto de partida para debates em sua escola, envolvendo todos os profissionais da escola e a comunidade. Basicamente, são perguntas que questionam a atuação inclusiva. Vamos à lista: 1. Partimos verdadeiramente da premissa de que cada aluno pertence à sala de aula que ele frequentaria se não possuísse deficiência? [Ou agrupamos alunos com deficiência em classes separadas ou escolas especiais?] 39 2. Individualizamos o programa instrucional para todos os alunos, sejam eles deficientes ou não, e oferecemos os recursos que cada aluno necessita para explorar interesses individuais no ambiente escolar? [Ou temos a tendência de oferecer os mesmos tipos de programa e recursos para a maioria dos alunos que possuem o mesmo rótulo diagnóstico?] 3. Estamos plenamente comprometidos em desenvolver uma comunidade que se preocupe em fomentar o respeito mútuo e o apoio entre a equipe escolar, os pais e os alunos, comunidade essa na qual acreditamos honestamente que os alunos sem deficiência podem beneficiar-se da amizade com colegas deficientes e vice-versa? [Ou as nossas práticas tacitamente toleram que alunos não-deficientes mexam com colegas deficientes ou os isolem como se estes fossem seres estranhos?] 4. Nossos professores comuns e educadores especiais já integraram seus esforços e seus recursos de tal forma que eles possam trabalhar juntos como parte integrante de uma equipe unificada? [Ou estão eles isolados em salas separadas e departamentos separados com supervisares e orçamentos separados?] 5. A nossa diretoria cria um ambiente de trabalho no qual os professores são apoiados quando oferecem ajuda um para o outro? [Ou os professores têm receio de serem considerados incompetentes se pedirem colaboração no trabalho com os alunos?] 6. Estimulamos a plena participação dos alunos com deficiência na vida da nossa escola, inclusive nas atividades extracurriculares? [Ou eles participam apenas na parte acadêmica de cada dia escolar?] 7. Estamos preparadospara modificar os sistemas de apoio para os alunos à medida que suas necessidades mudem ao longo do ano escolar de tal forma que eles possam atingir e experienciar sucessos e sentir que verdadeiramente pertencem à sua escola e à sua sala de aula? [Ou às vezes lhes oferecemos serviços tão limitados que eles ficam fadados ao fracasso?] 8. Consideramos os pais de alunos com deficiência uma parte plena da nossa comunidade escolar de tal forma que eles também possam experienciar o senso de pertencer? [Ou os deixamos com uma Associação de Pais e Mestres separada e lhes enviamos um jornalzinho separado?] 9. Damos aos alunos com deficiência o currículo escolar pleno na medida de suas capacidades e modificamos esse currículo na medida do necessário para que eles possam partilhar elementos destas experiências com seus colegas sem deficiência? [Ou temos um currículo separado para alunos deficientes?] 10. Temos incluído, com apoios, os alunos deficientes no maior número possível de provas e outros procedimentos de avaliação a que se submetem seus colegas não-deficientes? [Ou nós os excluímos destas oportunidades sob o argumento de que eles não podem beneficiar-se delas?] Fonte: Sassaki (1998). Para Refletir E então, caros(as) alunos(as), o que vocês acharam destas atitudes? É possível visualizar a escola contemplando todas essas questões? O que vocês observam em suas práticas? A BNCC 2017 entende que a escola inclusiva deve ser um ambiente que acolhe e respeita a diversidade, promovendo equidade e participação de todos os alunos, independentemente de suas condições. Ela enfatiza a necessidade de adaptações curriculares e práticas pedagógicas que garantam o acesso e o desenvolvimento de todos, criando um espaço onde todos os estudantes, incluindo aqueles com deficiência, possam aprender e interagir em igualdade de condições. No quadro a seguir, Sassaki (1997) apresenta as principais características das escolas inclusivas. Leiam e façam uma análise crítica sobre cada uma delas. 1. Um senso de pertencer Filosofia e visão de que todas as crianças pertencem à escola e à comunidade e de que podem aprender juntos. 2. Liderança O diretor envolve-se ativamente com a escola toda no provimento de estratégias. 3. Padrão de excelência Os altos resultados educacionais refletem as necessidades individuais dos alunos. 4. Colaboração e cooperação Envolvimento de alunos em estratégias de apoio mútuo (ensino de iguais, sistema de companheiro, aprendizado cooperativo, ensino em equipe, co-ensino, equipe de assistência aluno-professor etc.). 5. Novos papéis e responsabilidades Os professores falam menos e assessoram mais, psicólogos atuam mais junto aos professores nas salas de aula, todo o pessoal da escola faz parte do processo de aprendizagem. 6. Parceria com os pais Os pais são parceiros igualmente essenciais na educação de seus filhos. 7. Acessibilidade Todos os ambientes físicos são tornados acessíveis e, quando necessário, é oferecida tecnologia assistiva. 8. Ambientes flexíveis de aprendizagem Espera-se que os alunos se promovam de acordo com o estilo e ritmo individual de aprendizagem e não de uma única maneira para todos. 9. Estratégias baseadas em pesquisas Aprendizado cooperativo, adaptação curricular, ensino de iguais, instrução direta, ensino recíproco, treinamento em habilidades sociais, instrução assistida por computador, treinamento em habilidades de estudar etc. 10. Novas formas de avaliação escolar Dependendo cada vez menos de testes padronizados, a escola usa novas formas para avaliar o progresso de cada aluno rumo aos respectivos objetivos. 40Educação Especial e Inclusiva 11. Desenvolvimento profissional continuado Aos professores são oferecidos cursos de aperfeiçoamento contínuo visando à melhoria de seus conhecimentos e habilidades para melhor educar seus alunos. Para que a inclusão escolar seja real, o professor da classe regular deve estar sensibilizado e capacitado (tanto psicológica quanto intelectualmente) para mudar sua forma de ensinar e adaptar o que vai ensinar (Franco, 2012). Vamos conferir algumas atitudes que o professor deve desenvolver para atuar nessa prática, ou seja, todo educador comprometido com a filosofia da inclusão tem as seguintes características: • está mais interessado naquilo que o aluno deseja aprender do que em rótulos sobre ele; • respeita o potencial de cada aluno e aceita todos os estudantes igualmente; • adota uma abordagem que propicie ajuda na solução de problemas e dificuldades; • acredita que todos os educandos conseguem desenvolver habilidades básicas; • estimula os educandos a direcionarem seu aprendizado de modo a aumentar sua autoconfiança, a participar mais plenamente na sociedade, a usar mais o seu poder pessoal e a desafiar a sociedade para a mudança; • acredita nos alunos e em sua capacidade de aprender; • deseja primeiro conhecer o aluno e aumentar a sua autoconfiança; • acredita que as metas podem ser estabelecidas e que, para atingi-Ias, pequenos passos podem ser úteis; • defende o princípio de que todas as pessoas devem ser incluídas em escolas comuns da comunidade; • sabe que ele precisa prover suportes (acessibilidade arquitetônica, atendentes pessoais, profissionais de ajuda, horários flexíveis etc.) a fim de incluir todos os alunos; • está preparado para indicar recursos adequados a cada necessidade dos alunos, tais como: livros, entidades, aparelhos; • sabe que a aprendizagem deve estar baseada nas metas do aluno e que cada aluno será capaz de escolher métodos e materiais para aprender as lições; • sabe que, nos programas de alfabetização, os seguintes métodos são eficientes: redação de experiências com linguagem, histórias e outros textos sobre temas que o aprendiz conhece; alfabetização assistida por computador; material disponível no cotidiano do público; leitura assistida ou pareada usando livros convencionais e livros falados; debate após atividade extra-classe; coleção de histórias de vida dos próprios alunos; uso da lousa para escrever um texto em grupo; colagem com recortes de revistas, entre outros; • fornece informações sobre recursos externos à escola e faz a conexão com pessoas e entidades que possam ajudar o aluno na comunidade; • estimula outras pessoas importantes na vida do aluno a se envolverem com o processo educativo; • é flexível nos métodos de avaliação, pois sabe que os testes, provas e exames provocam medo e ansiedade nos alunos; • utiliza as experiências de vida do próprio aluno como fator motivador da aprendizagem dele; • indaga primeiro o aluno com deficiência, se ele quer partilhar dados sobre sua deficiência e só em caso afirmativo passa essa informação para outras pessoas; • é um bom ouvinte para que os alunos possam falar sobre a realidade da vida que levam e habilidades para o uso do poder pessoal no processo de mudança da sociedade. Fonte: Sassaki (1998). A Resolução CNE/CP nº 2, de 22 de dezembro de 2017, que institui as diretrizes para a formação inicial e continuada de professores destaca a importância da formação de educadores para atuar em contextos inclusivos, enfatizando a necessidade de preparar os professores para lidar com a diversidade em sala de aula, adaptando práticas pedagógicas e promovendo a inclusão de todos os alunos, especialmente aqueles com deficiência. Após essa leitura, vocês são capazes de se verem desenvolvendo esse papel? Chegamos, assim, ao final da sexta aula. Espera-se que agora tenha ficado mais claro o entendimento de vocês sobre o perfil da escola inclusiva e do professor pedagogo. É importante, então, recordar da responsabilidade e o engajamento da escola e de todos os funcionários dela, assim como a comunidade envolvida, para garantir um ensino de qualidade e adequado a todos. Vamos, então, recordar: Retomando a aula 1 - Escola inclusiva e perfil do professor inclusivista Nesta seção, foi possível acompanhara caracterização do perfil da escola inclusivista e do professor, assim, podemos concluir que esta proposta é a que propicia ao aluno com necessidades específicas a apropriação do conhecimento escolar e apresenta ações, como a capacitação de professores, para que sua prática pedagógica atenda à diversidade dos alunos. SASSAKI. R. K. (trad.) Componentes da Educação Inclusiva. 1998. Adaptado de The Roeher lnstitute, Disability, Community and Society: Exploring the Links. North York: Roeher, 1996 p.68-69. Disponível em: http://www.inclusao. com.br/projeto_textos_22.htm. Vale a pena ler Vale a pena 41 Educação Inclusiva. Disponível em: http://www. inclusao.com.br/index_.htm. Lista de Checagem Escola Inclusiva. Disponível em: http://www.inclusao.com.br/projeto_textos_22.htm. A Escola. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/ seesp/arquivos/pdf/aescola.pdf. Revista Brasileira de Educação Profissional e Tecnológica. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/ setec/arquivos/pdf3/rev_brasileira.pdf. Vale a pena acessar Ao Mestre com Carinho, 1967, Drama/Adolescente Vale a pena assistir Minhas anotações