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1 DIREITOS AUTORAIS Esse material está protegido por leis de direitos autorais. Todos os direitos sobre ele estão reservados. Você não tem permissão para vender, distribuir gratuitamente, ou copiar e reproduzir integral ou parcialmente esse conteúdo em sites, blogs, jornais ou quaisquer veículos de distribuição e mídia. Qualquer tipo de violação dos direitos autorais estará sujeito a ações legais. CBI of Miami 2 Procedimentos de Ensino Aída Brito 1.1 Ensino Naturalístico Relembrando o que foi apresentado em módulos anteriores, é possível estar ciente de que indivíduos com atrasos no desenvolvimento, como o TEA e DI, podem apresentar certas limitações no processo de aprendizagem, as quais podem ser mais acentuadas quando comparadas a sujeitos em desenvolvimento típico. Desse modo, tornou-se necessário desenvolver novas formas de ensino, diferentes das naturais, que devem enxergar as limitações e potenciais do sujeito, possibilitando um aprendizado eficaz (Sella, Ribeiro, 2018; Dube, Mcilvane, 1999). No módulo anterior discutimos o ensino por tentativas discretas - DTT, enquanto no atual módulo veremos a conceitualização e a aplicabilidade do Ensino Naturalístico, também definido enquanto Ensino Incidental. O Ensino Naturalístico apresenta alguns contrapontos com relação ao Ensino por Tentativas Discretas - DTT. Enquanto o Ensino por Tentativas Discretas se caracteriza enquanto um treino com formato estruturado, dividido em unidades pequenas, instruções simples e passos que devem ser ensinados um por vez, em várias tentativas, o Ensino Naturalístico se caracteriza por ser um ensino natural, como o próprio nome indica. Ou seja, trata-se de estratégias aplicadas em contexto natural para o indivíduo, seguindo a sua motivação e suas preferências. Conforme apresenta Souza (2018, p. 205), “as estratégias de ensino em ambiente natural surgiram da necessidade de facilitar a aquisição de comportamento verbal e de promover a generalização em ambientes nos quais há menos controle das variáveis terapêuticas como a casa e a escola”, além disso “(...) focam na emissão natural do comportamento e em respostas mais prováveis de serem generalizadas, mais do que em padrões de resposta”. Portanto, a característica principal de um Ensino Naturalístico é o gerenciamento por parte do sujeito diretamente pela sua motivação e, também, ao seguir a preferência dele. Assim, por alto, a intervenção pode ser considerada incidental quando tem como caminho seguir a liderança do sujeito, analisando suas preferências, no que demonstra estar motivado, ao selecionar CBI of Miami 3 alvos relevantes para o seu desenvolvimento futuro e na presença de um contexto que favoreça a generalização do que vem sendo ensinado. Almeida (1993) ao longo de seu estudo expõe as dificuldades que crianças com atrasos no desenvolvimento apresentam na comunicação. Com isso, além de indicar que tal habilidade passe a ser um dos objetivos presentes na educação especial, apresenta também seu ponto de vista com relação à forma que são feitos tais treinos, ocorrendo em “salas de terapia isoladas” (p.117), como cita, diferente do que o sujeito frequenta e vivência no seu dia a dia. Ou seja, a autora salienta uma das dificuldades analisadas em outros tipos de ensino, como a dificuldade em promover a generalização dos comportamentos alvos. Dessa forma, a autora apresenta o Ensino Incidental enquanto uma boa proposta para tal treino, como o de comunicação. Dessa forma, pensemos no seguinte exemplo: A analista do comportamento que acompanha o caso de Maria (criança de 05 anos) identificou a partir de avaliações diretas e indiretas que a criança ainda não emitia mandos de forma correta, chegando a emitir comportamentos inadequados na tentativa de obter de volta o seu brinquedo favorito. Dessa forma, ao estar em seu quarto e ver a sua boneca, Maria emitia comportamentos de choro e agitação, se jogando ao chão. A mãe de Maria demonstrou insatisfação com tal comportamento e apresentou à analista do comportamento, responsável pelo caso, a seguinte questão: “Como podemos trabalhar com Maria para que ela peça ou aponte para ter a sua boneca, ao invés de chorar e se jogar ao chão?”. Dessa forma, percebendo que o item de preferência de Maria era a sua boneca, propôs o seguinte: ao estar no quarto brincando com outros itens e ao Maria visualizar sua boneca e desejar brincar com a mesma, a AT ou os pais iriam solicitar com que a criança aponte o que ela deseja e, imediatamente, seria entregue a boneca para Maria. Em outra situação: João, pré-adolescente com seus 12 anos de idade, gosta muito de jogar futebol. Em um passeio ao parque, João observa alguns outros meninos jogando no campo e comenta com a sua AT o seu interesse para brincar com os demais. A AT visualiza aí uma boa oportunidade para treinar a comunicação CBI of Miami 4 com o seu aprendiz e, então, solicita: “João, que tal você se apresentar para os meninos e perguntar se pode brincar junto?”. Dessa forma, João caminha até os demais meninos e segue a instrução dada pela sua AT. Em ambos os exemplos é possível compreender as nuances presentes em tal ensino. O treino, como dito anteriormente, deve ser feito em contexto natural ao sujeito, ou seja, espaços que fazem parte do seu dia a dia, como foi no caso da Maria (casa) e do João (parque). Além disso, o treino seguirá a liderança do sujeito. No caso do João, a AT percebeu que a sua preferência, no momento, era jogar futebol. Com isso, a AT aproveitou para trabalhar uma habilidade que o João precisaria - apresentar-se e solicitar para brincar junto. À vista disso, podemos considerar “motivação” enquanto a relação das variáveis ambientais sobre a emissão dos comportamentos e, portanto, a motivação poderá ser designada para uma “operação estabelecedora”, ou seja, aumentando o valor das consequências, as tornando mais reforçadoras ou mais punitivas ou para uma “operação abolidora”, diminuindo o valor das consequências, tornando-as menos efetivas. Nos casos apresentados acima, a motivação dos sujeitos levaram-os para uma “operação estabelecedora”, aumentando o valor da consequência - ter a boneca e jogar futebol. Além da intervenção ser direcionada pelas preferências do sujeito, a escolha das habilidades a serem ensinadas devem ser facilmente inseridas na sua rotina e nas suas interações diárias, favorecendo o desenvolvimento de outras habilidades, a partir da generalização, ou seja, cúspides comportamentais. Assim, torna-se imprescindível a organização e o planejamento para as intervenções. Como uma ferramenta auxiliar, seguem alguns passos necessários para o planejamento de intervenções naturalísticas: 1. Analisar qual(is) a(s) habilidade(s) que poderão ser treinadas. 2. Verificar situações/ambientes favorecedores. 3. Selecionar itens de preferência para o sujeito. Sendo assim, tais passos poderão ser cumpridos diante de uma boa avaliação direta e indireta, ou seja, tendo em mãos um currículo elaborado pelo analista do comportamento responsável pelo caso e, também, conhecendo o CBI of Miami 5 indivíduo, a partir da observação diária e pela avaliação dos seus itens de preferência. Compreendendo que a intervenção naturalística é constituída por alguns possíveis tipos de intervenção, como Denver, PRT e Ensino Incidental, compreendamos alguns passos importantes citados para o Ensino Incidental (Fenske et al., 2001), mas que se aplicam aos demais, sendo: Passo 01: Interesse/iniciação da criança. Passo 02: Terapeuta solicita resposta mais elaborada da criança. Passo 03: Criança emite a resposta. Caso a criança não responda, o terapeuta poderá dar modelo e utilizar sistema de dicas. Passo 04: Terapeuta fornece material que motivou a criança e que gerou a iniciação. Além de tais passos, o terapeuta deverá ter conhecimento sobre o sistema de dicas e planejar qual a melhor forma de apresentá-las ao sujeito, sendo o mais indicado a hierarquia de dicasdo menos intrusivo para mais intrusivo, visando a maior independência nas emissões de respostas por parte do sujeito, assim como a proximidade das respostas ao contexto natural para o sujeito. Perante o exposto, torna-se possível compreender a importância de que o treino seja iniciado a partir das escolhas do sujeito, ou seja, seguindo a sua liderança e a sua motivação, aumentando a efetividade das consequências e, também, a generalização dos comportamentos alvos. Tal característica se mostra vantajosa quando comparada a DTT, visto a possibilidade de variabilidade de ambiente, de pessoas e a conexão dos itens apresentados com o contexto natural ao sujeito. Porém, isto não indica a exclusão de outros tipos de ensino, mas enfatiza a importância do planejamento para que os variados tipos de ensino sejam combinados e contribuam diretamente na aquisição, manutenção e generalização das habilidades trabalhadas. CBI of Miami 6 Referências Bibliográficas ALMEIDA, M.A. Variações do ensino incidental e o desenvolvimento da linguagem oral em indivíduos portadores de deficiência mental. Temas em psicologia, v. 1, n. 2, p. 117-126, 1993. DUBE, W.V.; MCILVANE, W.J. Reduction of stimulus overselectivity with nonverbal differential observing responses. Journal of Applied Behavior Analysis, v. 32, n. 1, p. 25-33, 1999. SOUZA, A.C. Estratégias de Ensino Naturalísticas: Ensino Incidental. In: Sella, A.C., Ribeiro, D.M. Análise do Comportamento Aplicada ao Transtorno do Espectro Autista. 1. ed. Curitiba: Appris, 2018, p.205-216. CBI of Miami 7