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Elementos da Narrativa L0041 - (Enem) A volta do marido pródigo – Bom dia, seu Marrinha! Como passou de ontem? – Bem. Já sabe, não é? Só ganha meio dia. [...] Lá além, Generoso cotuca Tercino: – [...] Vai em festa, dorme que-horas, e, quando chega, ainda é todo enfeitado e salamistrão!... – Que é que hei de fazer, seu Marrinha... Amanheci com uma nevralgia... Fiquei com cisma de apanhar friagem... – Hum... – Mas o senhor vai ver como eu toco o meu serviço e ainda faço este povo trabalhar... [...] Pintão suou para desprender um pedrouço, e teve de pular para trás, para que a laje lhe não esmagasse um pé. Pragueja: – Quem não tem brio engorda! – É... Esse sujeito só é isso, e mais isso... – opina Sidu. – Também, tudo p’ra ele sai bom, e no fim dá certo... – diz Correia, suspirando e retomando o enxadão. – “P’ra uns, as vacas morrem ... p’ra outros até boi pega a parir...”. Seu Marra já concordou: – Está bem, seu Laio, por hoje, como foi por doença, eu aponto o dia todo. Que é a úl�ma vez!... E agora, deixa de conversa fiada e vai pegando a ferramenta! (ROSA, J. G. Sagarana. Rio de Janeiro: José Olympio, 1967.) Esse texto tem importância singular como patrimônio linguís�co para a preservação da cultura nacional devido a) à menção a enfermidades que indicam falta de cuidado pessoal. b) à referência a profissões já ex�ntas que caracterizam a vida no campo. c) aos nomes de personagens que acentuam aspectos de sua personalidade. d) ao emprego de ditados populares que resgatam memórias e saberes cole�vos. e) às descrições de costumes regionais que desmis�ficam crenças e supers�ções. L0037 - (Mackenzie) Texto para a questão a seguir. Carta do escritor Graciliano Ramos ao pintor Cândido Por�nari Rio – 18 – Fevereiro – 1946 Caríssimo Por�nari: A sua carta chegou muito atrasada, e receio que esta resposta já não o ache fixando na tela a nossa pobre gente da roça. Não há trabalho mais digno, penso eu. Dizem que somos pessimistas e exibimos deformações; contudo as deformações e miséria existem fora da arte e são cul�vadas pelos que nos censuram. O que às vezes pergunto a mim mesmo, com angús�a, Por�nari, é isto: se elas desaparecessem, poderíamos con�nuar a trabalhar? Desejamos realmente que elas desapareçam ou seremos também uns exploradores, tão perversos como os outros, quando expomos desgraças? Dos quadros que você mostrou quando almocei no Cosme Velho pela úl�ma vez, o que mais me comoveu foi aquela mãe com a criança morta. Saí de sua casa com um pensamento horrível: numa sociedade sem classes e sem miséria seria possível fazer-se aquilo? Numa vida tranquila e feliz que espécie de arte surgiria? Chego a pensar que faríamos cromos, anjinhos cor-de-rosa, e isto me horroriza. Felizmente a dor exis�rá sempre, a nossa velha amiga, nada a suprimirá. E seríamos ingratos se desejássemos a supressão dela, não 13lhe parece? Veja como os nossos ricaços em geral são burros. Julgo naturalmente que seria bom enforcá-los, mas se isto nos trouxesse tranquilidade e felicidade, eu ficaria bem desgostoso, porque não nascemos para tal sensaboria. O meu desejo é que, eliminados os ricos de qualquer modo e os sofrimentos causados por eles, venham novos sofrimentos, pois sem isto não temos arte. E adeus, meu grande Por�nari. Muitos abraços para você e para Maria. Graciliano Assinale a alterna�va INCORRETA. 1@professorferretto @prof_ferretto a) Como meio de expressão e comunicação que estabelece diálogo a distância entre interlocutores, a carta deixou de ser uma prá�ca corriqueira para a maioria das pessoas. b) Dados que circunscrevem uma carta espacial e temporalmente fazem parte dos elementos que cons�tuem esse gênero do discurso. c) Expressões e palavras com função fá�ca estão presentes na estrutura de uma carta e apresentam a função de estabelecer a interação verbal. d) Faz parte obrigatoriamente da estrutura de uma carta como gênero o desenvolvimento de um enredo fic�cio, com elementos como personagens, tempo, espaço e voz narra�va. e) Na carta apresentada para leitura, encontram-se expressões linguís�cas que evidenciam o comprome�mento do emissor com as informações que são transmi�das por escrito. L0040 - (Enem) Singular ocorrência – Há ocorrências bem singulares. Está vendo aquela dama que vai entrando na igreja da Cruz? Parou agora no adro para dar uma esmola. – De preto? – Justamente; lá vai entrando; entrou. – Não ponha mais na carta. Esse olhar está dizendo que a dama é uma recordação de outro tempo, e não há de ser muito tempo, a julgar pelo corpo: é moça de truz. – Deve ter quarenta e seis anos. – Ah! conservada. Vamos lá; deixe de olhar para o chão e conte-me tudo. Está viúva, naturalmente? – Não. – Bem; o marido ainda vive. É velho? – Não é casada. – Solteira? – Assim, assim. Deve chamar-se hoje D. Maria de tal. Em 1860 florescia com o nome familiar de Marocas. Não era costureira, nem proprietária, nem mestra de meninas; vá excluindo as profissões e chegará lá. Morava na Rua do Sacramento. Já então era esbelta, e, seguramente, mais linda do que hoje; modos sérios, linguagem limpa. (ASSIS, M. Machado de Assis: seus 30 melhores contos, Rio de Janeiro: Aguilar, 1961.) No diálogo, descor�nam-se aspectos da condição da mulher em meados do século XIX. O ponto de vista dos personagens manifesta conceitos segundo os quais a mulher a) encontra um modo de dignificar-se na prá�ca da caridade. b) preserva a aparência jovem conforme seu es�lo de vida. c) condiciona seu bem-estar à estabilidade do casamento. d) tem sua iden�dade e seu lugar referendados pelo homem. e) renuncia à sua par�cipação no mercado de trabalho. L0034 - (Ufms) Considere os versos do poema “As trevas”, que integra a obra Espumas flutuantes, de Castro Alves, para responder à questão a seguir. “Tive um sonho em tudo não foi sonho!... O sol brilhante se apagava: e os astros, Do eterno espaço na penumbra escura, Sem raios, e sem trilhos, vagueavam. A terra fria balouçava cega E tétrica no espaço ermo de lua. A manhã ia... vinha ... e regressava... Mas não trazia o dia! Os homens pasmos Esqueciam no horror dessas ruínas Suas paixões: E as almas conglobadas Gelavam-se num grito de egoísmo Que demandava ‘luz’. Junto às fogueiras Abrigavam-se... e os tronos e os palácios, Os palácios dos reis, o albergue e a choça Ardiam por fanais. Tinham nas chamas As cidades morrido. Em torno às brasas Dos seus lares os homens se grupavam, P’ra à vez extrema se fitarem juntos. Feliz de quem vivia junto às lavas Dos vulcões sob a tocha alcan�lada!” Sobre o poema de Castro Alves, assinale a alterna�va correta. 2@professorferretto @prof_ferretto a) Há a presença marcante de elementos que remetem a um sen�mento pessimista, melancólico e desolador, conforme ilustram as expressões: “Mas não trazia o dia!”, “E as almas conglobadas/Gelavam-se num grito de egoísmo” e “Tinham nas chamas/As cidades morrido”. b) O eu lírico narra a crueldade sofrida pelos escravos, de acordo com a descrição do espaço e do enredo, ao longo dos versos. c) Percebe-se uma sensualidade feminina, como se percebe na construção das figuras associadas ao fogo do vulcão, às lavas e à felicidade daqueles que a elas sobreviviam. d) O poema é de caráter social e denuncia as injus�ças come�das pelos reis e demais integrantes da corte, segundo se percebe pelo emprego dos vocábulos “tronos” e “palácios”. e) As “almas” às quais o eu lírico faz menção pertencem aos escravos que, acorrentados, morriam de sede e de fome, enquanto remavam, amontoados no ambiente insalubre da embarcação. L0039 - (Unicamp) Tenho horror a de aqui a pouco vos ter já dito o que vos vou dizer. As minhas palavras presentes, mal eu as diga, pertencerão logo ao passado, ficarão fora de mim, não sei onde, rígidas e fatais... Falo, e penso nisto na minha garganta, e as minhas palavras parecem-me gente... (Fernando Pessoa, O marinheiro. Campinas: Editora da Unicamp, 2020, p. 51.) O que eu era outrora já não se lembra de quem sou...Às vezes, à beira dos lagos, debruçava-me e fitava-me... Quando eu sorria, os meus dentes eram misteriosos na água... Tinham um sorriso só deles, independentes do meu... (Idem, p. 52.) Nos excertos acima, dois fenômenos são apresentados ao leitor e cons�tuem o principal problema dramá�co da peça de Fernando Pessoa. Assinale a alterna�va que iden�fica e explica corretamente esses fenômenos. a) As palavras e as imagens tornam-se independentes da pessoa humana. Isso significa a cisão entre o sujeito e o mundo ou, ainda, a crise de iden�dade pessoal reiterada nos diálogos. b) Proferir um discurso e ver-se refle�do em um lago são situações dramá�cas que sugerem a unidade entre ser e exis�r. A questão central, quem eu sou, é resolvida no desfecho da peça. c) Lembrar e esquecer são dois aspectos inseparáveis da estrutura dramá�ca da peça. Se a imagem refle�da no lago não se assemelha à pessoa que a contempla, as palavras, por sua vez, garantem a conexão entre o eu e a realidade exterior. d) O horror e o mistério das coisas são elementos básicos desse drama. Eles produzem, nas personagens, a convicção de que é ú�l narrar as experiências do passado porque assim se revela o seu verdadeiro significado. L0038 - (Enem) Quarto de despejo Carolina Maria de Jesus Do diário da catadora de papel Carolina Maria de Jesus surgiu este autên�co exemplo de literatura-verdade, que relata o co�diano triste e cruel da vida na favela. Com uma linguagem simples, mas contundente e original, a autora comove o leitor pelo realismo e pela sensibilidade na maneira de contar o que viu, viveu e sen�u durante os anos em que morou na comunidade do Canindé, em São Paulo, com seus três filhos. Ao ler este relato — verdadeiro best-seller no Brasil e no exterior — você vai acompanhar o duro dia a dia de quem não tem amanhã. E vai perceber com tristeza que, mesmo tendo sido escrito na década de 1950, este livro jamais perdeu a sua atualidade. (JESUS, C. M. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Á�ca, 2007.) Iden�fica-se como obje�vo do fragmento extraído da quarta capa do livro Quarto de despejo a) retomar trechos da obra. b) resumir o enredo da obra. c) destacar a biografia da autora. d) analisar a linguagem da autora. e) convencer o interlocutor a ler a obra. L0282 - (Fuvest) Leusipo perguntou o que eu �nha ido fazer na aldeia. Preferi achar que o tom era amistoso e, no meu 3@professorferretto @prof_ferretto paternalismo ingênuo, comecei a lhe explicar o que era um romance. Eu tentava convencê-lo de que não havia mo�vo para preocupação. Tudo o que eu queria saber já era conhecido. E ele me perguntava: “Então, porque você quer saber, se já sabe?” Tentei lhe explicar que pretendia escrever um livro e mais uma vez o que era um romance, o que era um livro de ficção (e mostrava o que �nha nas mãos), que seria tudo historinha, sem nenhuma consequência na realidade. Ele seguia incrédulo. Fazia-se de desentendido, mas na verdade só queria me in�midar. As minhas explicações sobre o romance eram inúteis. Eu tentava dizer que, para os brancos que não acreditam em deuses, a ficção servia de mitologia, era o equivalente dos mitos dos índios, e antes mesmo de terminar a frase, já não sabia se o idiota era ele ou eu. Ele não dizia nada a não ser: “O que você quer com o passado?”. Repe�a. E, diante da sua insistência bovina, �ve de me render à evidência de que eu não sabia responder à sua pergunta. Bernardo Carvalho, Nove Noites. Adaptado. Na cena apresentada, que explora o desconforto gerado pela di�cil interlocução com o indígena, o narrador a) abandona a ideia de inves�gar o passado, ao se ver encurralado por Leusipo. b) explora a sua posição ameaçadora de homem branco, ao insis�r em permanecer na aldeia. c) age com ousadia, ao procurar subjugar Leusipo a contribuir com o seu projeto. d) iden�fica-se com a sabedoria de Leusipo, ao preterir do papel interroga�vo e se deixar ques�onar. e) sente-se frustrado com a reação de Leusipo, que não se deixa levar por sua diplomacia. L0033 - (Uerj) O LÍDER O sono do líder é agitado. A mulher sacode-o até acordá-lo do pesadelo. Estremunhado, ele se levanta, bebe um gole de água. Diante do espelho refaz uma expressão de homem de meia-idade, alisa os cabelos das têmporas, volta a se deitar. Adormece e a agitação recomeça. "Não, não!" debate-se ele com a garganta seca. O líder se assusta enquanto dorme. O povo ameaça o líder? Não, pois se líder é aquele que guia o povo exatamente porque aderiu ao povo. O povo ameaça o líder? 1Não, pois se o povo escolheu o líder. O povo ameaça o líder? Não, pois o líder cuida do povo. O povo ameaça o líder? 5Sim, o povo ameaça o líder do povo. O líder revolve-se na cama. De noite ele tem medo. 2Mas o pesadelo é um pesadelo sem história. De noite, de olhos fechados, vê caras quietas, uma cara atrás da outra. E nenhuma expressão nas caras. É só este o pesadelo, apenas isso. Mas cada noite, mal adormece, mais caras quietas vão se reunindo às outras, como na fotografia de uma mul�dão em silêncio. Por quem é este silêncio? Pelo líder. 6É uma sucessão de caras iguais como na repe�ção monótona de um rosto só. Nas caras não há senão a inexpressão. A inexpressão ampliada como em fotografia ampliada. Um painel e cada vez com maior número de caras iguais. É só isso. Mas o líder se cobre de suor diante da visão inócua de milhares de olhos vazios que não pestanejam. 3Durante o dia o discurso do líder é cada vez mais longo, ele adia cada vez mais o instante da chave de ouro. Ul�mamente ataca, denuncia, denuncia, denuncia, esbraveja e quando, em apoteose, termina, vai para o banheiro, fecha a porta e, uma vez sozinho, encosta-se à porta fechada, enxuga a testa molhada com o lenço. Mas tem sido inú�l. De noite é sempre maior o número silencioso. Cada noite as caras aproximam-se um pouco mais. Cada noite ainda um pouco mais. 4Até que ele já lhes sente o calor do hálito. As caras inexpressivas respiram - o líder acorda num grito. Tenta explicar à mulher: sonhei que... sonhei que... Mas não tem o que contar. 7Sonhou que era um líder de pessoas vivas. (LISPECTOR, Clarice. Para não esquecer. São Paulo: Siciliano, 1992.) O texto clariceano nos conta uma história de caráter universal. Uma das estratégias para alcançar esse efeito de universalidade está relacionada com a seguinte caracterís�ca do texto: a) ausência de foco narra�vo b) exploração das sequências descri�vas c) indeterminação do contexto espacial d) especificação das circunstâncias temporais L0042 - (Unicamp) “Era Noca, que vinha toda alterada. – Nossa Senhora! Quebrou-se o espelho grande do salão! – Quem foi que o quebrou? Perguntou Nina, para dizer alguma coisa. – Ninguém sabe. Veja só, que desgraça estará para acontecer! Espelho quebrado: morte ou ruína. – Morte! Se fosse a minha...” (Júlia Lopes de Almeida, A Falência. Campinas: Editora da Unicamp, 2018, p. 257.) O diálogo apresenta a reação das personagens femininas ao incidente domés�co com o objeto de decoração no 4@professorferretto @prof_ferretto palacete de Botafogo. Assinale a alterna�va que jus�fica a fala final de Nina. a) A destruição do espelho a leva a desejar a morte, pois sugere o alívio para a frustração amorosa. b) A quebra do espelho lhe provoca o temor da morte, uma vez que antecipa a ruína financeira. c) A destruição do espelho traz a certeza da morte, pois sinaliza o suicídio do ser amado. d) A quebra do espelho a faz desejar a morte, pois sugere a catástrofe amorosa do casamento. L0035 - (C�mg) No livro, os excertos acima aparecem em páginas com fundo roxo. Trata-se de um recurso visual que sinaliza a) as digressões temporais do enredo. b) as lembranças de viagem do narrador. c) um resumo dos diálogos entre pai e filho. d) uma alternância entre as vozes da narra�va. L0031 - (Uemg) O excerto a seguir faz referência às tendências literárias que predominaram na segunda metade doséculo XIX. “O liame que se estabelecia entre o autor român�co e o mundo estava afetado de uma série de mitos idealizantes: a natureza-mãe, a natureza-refúgio, o amor- fatalidade, a mulher-diva, o herói-prometeu, sem falar na aura que cingia alguns ídolos como a 'Nação', a 'Pátria', a 'Tradição', etc. O român�co não teme as demasias do sen�mento nem os riscos da ênfase patrió�ca; nem falseia de propósito a realidade, como anacronicamente se poderia hoje inferir: é a sua forma mental que está saturada de projeções e iden�ficações violentas, resultando-lhe natural a mi�ficação dos temas que escolhe. Ora, é esse complexo ideo-afe�vo que vai cedendo a um processo de crí�ca na literatura dita 'realista'. Há um esforço, por parte do escritor an�rromân�co, de acercar-se impessoalmente dos objetos, das pessoas. E uma sede de obje�vidade que responde aos métodos cien�ficos cada vez mais exatos nas úl�mas décadas do século.” (BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1994, p. 167. Adaptado.) Em A mão e a luva, estão presentes os seguintes elementos: a) demasias do sen�mento, descrição imparcial de objetos e personagens, convenções sociais. b) mulher-diva, foco narra�vo em 1ª pessoa, descrição idealizada do Rio de Janeiro. c) falseamento proposital da realidade, mi�ficação do amor e da natureza, patrio�smo. d) sede de obje�vidade, iden�ficações violentas, foco narra�vo em 3ª pessoa. L0032 - (Ufpa) O romance “Primeira manhã”, de Dalcídio Jurandir, é o sexto volume da série do Extremo-Norte. Alfredo, personagem central da trama romanesca, protagoniza acontecimentos que lhe ferem profundamente a adolescência como aluno do primeiro ano do Liceu. Leia, a seguir, um fragmento da obra: “[...] Agora a aula de desenho. Alfredo imagina-se sobre cubos, paisagens, as rosadas meninas do Cícero Câmara; lembrou-se: o professor Chiquinho, à sombra das ginjeiras carregadas, desenhando caligrafia, a abrir majestosas letras gó�cas. Ia, de sua parte, desenhar agora aquelas três árvores doutro lado do rio, ao pé da armação da draga, com um esbraseante tapuru sobre a ferrugem? Riscar um peixe uéua, um jandiá, oito horas da noite mordendo a isca? Ou a pixuneira lilás, e o rosto de Andreza, só uns traços, boiando do fundo, a gritar: passou por baixo de minha perna um sucuriju, foi, um deste tamanho, mas sou curada de cobra. E Alfredo toma um susto: invadindo a sala, um galego gorducho, 5@professorferretto @prof_ferretto bigodudinho, com uma pressa irritada, o bagulho amarelo, a bater a régua na mesa contra trinta e dois inimigos. – Menino! Menino! Silêncio na cocheira! A aula toda acuava-se, como se esvaziassem as carteiras, logo avançando, muda, a flechá-lo de ofensa e ódio. E o buldogue desceu para saber, com ferocidade e triunfo, quem não trazia papel de desenho, os materiais, os materiais. Quem não �vesse, fora quanto antes, fora quanto antes. Não �nha mas mas. Rua. Alfredo levantou- se, quis explicar. – Rua! Rua! Desentulhe a pocilga.” (JURANDIR, Dalcídio. Primeira manhã. Belém: EDUEPA, 2009, p.199-200.) *Ginjeiras: variedade de cerejeira (Nota do autor) A discussão promovida pela obra de Dalcídio Jurandir, evidenciada no fragmento transcrito, está resumida corretamente em: a) privilegiam-se o foco narra�vo e a ação dos personagens, o que permite o entrelaçamento entre o espaço da cidade grande, o ambiente do Ginásio e o tempo das lembranças de Alfredo. b) agrupam-se acontecimentos que demonstram a concre�zação dos sonhos de Alfredo, narrador- personagem, evidenciando-se as vantagens que o Ginásio pode acrescentar ao seu conhecimento do mundo. c) descreve-se a primeira manhã de Alfredo, narrador- personagem, exatamente no momento em que o professor de desenho entra na sala de aula do Ginásio, visivelmente irritado. Ao assustar-se com as a�tudes do professor, Alfredo mergulha nas lembranças do rosto de Andreza, contornado pelas referências do mundo marajoara. d) cri�ca-se a dura realidade da escola brasileira representada no enredo (contextualizado nos meados de 1920), no momento em que a ficção denuncia o clima de ofensas e hos�lidade a que os alunos são subme�dos quando convocados, pelo professor de desenho, a fazer silêncio e a se re�rar da sala de aula. e) narram-se as mudanças que ocorrem na vida do menino Alfredo que, no contexto do romance, passa a ser visto, pela mãe, pelos parentes e conhecidos, já como rapaz que estuda na cidade grande. L0043 - (Fuvest) I – Traiste-me, Sem Medo. Tu traíste-me. (...) Sabes o que tu és afinal, Sem Medo? És um ciumento. Chego a pensar se não és homossexual. Tu querias-me só, como tu. Um solitário do Mayombe. (...) Desprezo-te. (...) Nunca me verás atrás de uma garrafa vazia. (...) Cada sucesso que eu �ver, será a paga da tua bofetada, pois não serei um falhado como tu. Pepetela, Mayombe. Adaptado. II – Peço-te perdão, Sem Medo. Não te compreendi, fui um imbecil. E quis igualar o inigualável. Pepetela, Mayombe. Esses excertos de Mayombe referem-se a conversas entre as personagens Comissário e Sem Medo em momentos dis�ntos do romance. Em I e II, as falas do Comissário revelam, respec�vamente, a) incompa�bilidade étnica entre ele e Sem Medo, por pertencerem a linhagens diferentes, e superação de sua hos�lidade tribal. b) decepção, por Sem Medo não ter intercedido a seu favor na conversa com Ondina, e desespero diante do companheiro baleado. c) suspeita de traição de Ondina e tomada de consciência de que isso não passara de uma crise de ciúme dele. d) forte tensão homoafe�va entre ele e Sem Medo, e aceitação da verdadeira orientação sexual do companheiro. e) ira, diante do an�catolicismo de Sem Medo, e culpa que o a�nge ao perceber que sua demonstração de coragem colocara o companheiro em risco. L0036 - (Enem) Toca a sirene na fábrica, e o apito como um chicote bate na manhã nascente e bate na tua cama no sono da madrugada. Ternuras da áspera lona pelo corpo adolescente. É o trabalho que te chama. Às pressas tomas o banho, tomas teu café com pão, tomas teu lugar no bote no cais do Capibaribe. Deixas chorando na esteira teu filho de mãe solteira. Levas ao lado a marmita, contendo a mesma ração do meio de todo o dia, a carne-seca e o feijão. De tudo quanto ele pede dás só bom-dia ao patrão, e recomeças a luta na engrenagem da fiação. 6@professorferretto @prof_ferretto (MOTA, M. Canto ao meio. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964.) Nesse texto, a mobilização do uso padrão das formas verbais e pronominais a) ajuda a localizar o enredo num ambiente está�co. b) auxilia na caracterização �sica do personagem principal. c) acrescenta informações modificadoras às ações dos personagens. d) alterna os tempos da narra�va, fazendo progredir as ideias do texto. e) está a serviço do projeto poé�co, auxiliando na dis�nção dos referentes. L0030 - (Upf) O foco narra�vo do(a) __________, adotado por Graciliano Ramos, em Vidas secas, revela-se uma escolha estratégica, por parte do autor, no sen�do de __________ a distância entre o leitor urbano e o universo das diferentes personagens, em cujas mentes o discurso localiza, alternadamente, o leitor. Assinale a alterna�va que preenche corretamente as lacunas da afirmação anterior. a) narrador onisciente neutro / ampliar. b) “eu” como testemunha / anular. c) narrador onisciente neutro / reduzir. d) “eu” como testemunha / ampliar. e) onisciência sele�va múl�pla / reduzir. L0363 - (Enem PPL) Prezada senhorita, Tenho a honra de comunicar a V. S. que resolvi, de acordo com o que foi conversado com seu ilustre progenitor, o tabelião juramentado Francisco Guedes, estabelecido à Rua da Praia, número 632, dar por encerrados nossos entendimentos de noivado. Como passei a ser o contabilista-chefe dos Armazéns Penalva, conceituada firma desta praça, não me restará, em face dos novos e pesados encargos, tempo ú�l para os deveres conjugais. Outrossim, par�cipo que vou con�nuar trabalhando novarejo da mancebia, como vinha fazendo desde que me formei em contabilidade em 17 de maio de 1932, em solenidade presidida pelo Exmo. Sr. Presidente do Estado e outras autoridades civis e militares, bem assim como representantes da Associação dos Varejistas e da Sociedade Cultural e Recrea�va José de Alencar. Sem mais, creia-me de V. S. patrício e admirador, Sabugosa de Castro. CARVALHO, J. C. Amor de contabilista. In: Porque Lulu Berga�m não atravessou o Rubicon. Rio de Janeiro: José Olympio, 1971. A exploração da variação linguís�ca é um elemento que pode provocar situações cômicas. Nesse texto, o tom de humor decorre da incompa�bilidade entre a) o obje�vo de informar e a escolha do gênero textual. b) a linguagem empregada e os papéis sociais dos interlocutores. c) o emprego de expressões an�gas e a temá�ca desenvolvida no texto. d) as formas de tratamento u�lizadas e as exigências estruturais da carta. e) o rigor quanto aos aspectos formais do texto e a profissão do remetente. L0380 - (Enem PPL) A orquestra atacou o tema que tantas vezes ouvi na vitrola de Ma�lde. Le maxixe!, exclamou o francês [...] e nos pediu que dançássemos para ele ver. Mas eu só sabia dançar a valsa, e respondi que ele me honraria �rando minha mulher. No meio do salão os dois se abraçaram e assim permaneceram, a se encarar. Súbito ele a girou em meia-volta, depois recuou o pé esquerdo, enquanto com o direito Ma�lde dava um longo passo adiante, e os dois estacaram mais um tempo, ela arqueada sobre o corpo dele. Era uma coreografia precisa, e me admirou que minha mulher conhecesse aqueles passos. O casal se entendia à perfeição, mas logo dis�ngui o que nele foi ensinado do que era nela natural. O francês, muito alto, era um boneco de varas, jogando com uma boneca de pano. Talvez pelo contraste, ela brilhava entre dezenas de dançarinos, e notei que todo o cabaré se extasiava com a sua exibição. Todavia, olhando bem, eram pessoas ves�das, ornadas, pintadas com deselegância, e foi me parecendo que também em Ma�lde, em seus movimentos de ombros e quadris, havia excesso. A orquestra não dava pausa, a música era repe��va, a dança se revelou vulgar, pela primeira vez julguei meio vulgar a mulher com quem eu �nha me casado. Depois de meia hora eles voltaram se abanando, e escorria suor pelo colo de Ma�lde decote abaixo. Bravô, eu gritei, bravô, e ainda os es�mulei a dançar o próximo tango, mas Dubosc disse que já era tarde, e que eu �nha um ar fa�gado. CHICO BUARQUE. Leite derramado. São Paulo: Cia. das Letras, 2009. Os recursos expressivos de um texto literário fornecem pistas aos leitores sobre a percepção dos personagens em relação aos eventos da narra�va. No fragmento, 7@professorferretto @prof_ferretto cons�tui um aspecto relevante para a compreensão das intenções do narrador a a) inveja disfarçada em relação ao estrangeiro, sugerida pela descrição de seu talento como dançarino. b) demonstração de ciúmes, expressa pela desqualificação dos par�cipantes da cena narrada. c) postura aristocrá�ca, assinalada pela crí�ca à orquestra e ao gênero musical executado. d) manifestação de desprezo pela dança, indicada pela crí�ca ao exibicionismo da mulher. e) a�tude interesseira, pressuposta no elogio final e no es�mulo à con�nuação da dança. L0381 - (Enem PPL) Gaetaninho Ali na Rua do Oriente a ralé quando muito andava de bonde. De automóvel ou de carro só mesmo em dia de enterro. De enterro ou de casamento. Por isso mesmo o sonho de Gaetaninho era de realização muito di�cil. Um sonho. [...] – Traga a bola! Gaetaninho saiu correndo. Antes de alcançar a bola um bonde o pegou. Pegou e matou. No bonde vinha o pai do Gaetaninho. A gurizada assustada espalhou a no�cia na noite. – Sabe o Gaetaninho? – Que é que tem? – Amassou o bonde. A vizinhança limpou com benzina suas roupas domingueiras. Às dezesseis horas do dia seguinte saiu um enterro da Rua do Oriente e Gaetaninho não ia na boleia de nenhum dos carros do acompanhamento. Ia no da frente dentro de um caixão fechado com flores pobres por cima. Ves�a a roupa marinheira, �nha as ligas, mas não levava a palhe�nha. Quem na boleia de um dos carros do cortejo mirim exibia soberbo terno vermelho que feria a vista da gente era o Beppino. MACHADO, A. A. Brás, Bexiga e Barra Funda: no�cias de São Paulo. Belo Horizonte; Rio de Janeiro: Vila Rica, 1994. Situada no contexto da modernização da cidade de São Paulo na década de 1920, a narra�va u�liza recursos expressivos inovadores, como a) o registro informal da linguagem e o emprego de frases curtas. b) o apelo ao modelo cinematográfico com base em imagens desconexas. c) a representação de elementos urbanos e a prevalência do discurso direto. d) a encenação crua da morte em contraponto ao tom respeitoso do discurso. e) a percepção irônica da vida assinalada pelo uso reiterado de exclamações. L0385 - (Enem PPL) esse cão que me segue é minha família, minha vida ele tem frio mas não late nem pede ele sabe que o que eu tenho divido com ele, o que eu não tenho também divido com ele ele é meu irmão ele é que é meu dono bicho se é por des�no sina ou sorte só faltando saber se bicho decente bicho de casa, bicho de carro, bicho no trânsito, se bicho sem norte na fila se bicho no mangue, se bicho na brecha se bicho na mira, se bicho no sangue catar papel é profissão, catar papel revela o segredo das coisas, tem muita coisa sendo jogada fora muita pessoa sendo jogada fora OLIVEIRA, V. L. O músculo amargo do mundo. São Paulo: Escrituras, 2014. No poema, os elementos presentes do campo de percepção do eu lírico evocam um realinhamento de significados, uma vez que a) emerge a consciência do humano como matéria de descarte. b) reside na eventualidade do acaso a condição do indivíduo. c) ocorre uma inversão de papéis entre o dono e seu cão. d) se instaura um ambiente de caos no mosaico urbano. e) se atribui aos rejeitos uma valorização imprevista. L0429 - (Enem PPL) Ai se sêsse Se um dia nois se gostasse Se um dia nois se queresse Se nois dois se empareasse 8@professorferretto @prof_ferretto Se jun�m nois dois vivesse Se jun�m nois dois morasse Se jun�m nois dois drumisse Se jun�m nois dois morresse Se pro céu nois assubisse Mas porém se acontecesse De São Pedro não abrisse A porta do céu e fosse Te dizer qualquer tulice E se eu me arriminasse E tu cum eu insis�sse Pra que eu me arresolvesse E a minha faca puxasse E o bucho do céu furasse Tarvês que nois dois saísse Tarvês que nois dois caísse E o céu furado arriasse E as virgi toda fugisse ZÉ DA LUZ. Cordel do Fogo Encantado. Recife: Álbum de estúdio, 2001. O poema foi construído com formas do português não padrão, tais como “jun�m”, “nois”, “tarvês”. Essas formas legi�mam-se na construção do texto, pois a) revelam o bom humor do eu lírico do poema. b) estão presentes na língua e na iden�dade popular. c) revelam as escolhas de um poeta não escolarizado. d) tornam a leitura fácil de entender para a maioria dos brasileiros. e) compõem um conjunto de estruturas linguís�cas inovadoras. L0432 - (Enem PPL) – Não, mãe. Perde a graça. Este ano, a senhora vai ver. Compro um barato. – Barato? Admito que você compre uma lembrancinha barata, mas não diga isso a sua mãe. É fazer pouco-caso de mim. – Ih, mãe, a senhora está por fora mil anos. Não sabe que barato é o melhor que tem, é um barato! – Deixe eu escolher, deixe... – Mãe é ruim de escolha. Olha aquele blazer furado que a senhora me deu no Natal! – Seu porcaria, tem coragem de dizer que sua mãe lhe deu um blazer furado? – Viu? Não sabe nem o que é furado? Aquela cor já era, mãe, já era! ANDRADE, C. D. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998. O modo como o filho qualifica os presentes é incompreendido pela mãe, e essas escolhas lexicais revelam diferenças entre os interlocutores, que estão relacionadas a) à linguagem infan�lizada. b) ao grau de escolaridade. c) à dicotomia de gêneros. d) às especificidades de cada faixa etária. e) à quebra de regras da hierarquiafamiliar. L0406 - (Enem PPL) A madrasta retalhava um tomate em fa�as, assim finas, capaz de envenenar a todos. Era possível entrever o arroz branco do outro lado do tomate, tamanha a sua transparência. Com a saudade evaporando pelos olhos, eu insis�a em jus�ficar a economia que administrava seus gestos. Afiando a faca no cimento frio da pia, ela cortava o tomate vermelho, sanguíneo, maduro, como se degolasse cada um de nós. Seis. O pai, amparado pela prateleira da cozinha, com o suor desinfetando o ar, tamanho o cheiro do álcool, reparava na fome dos filhos. Enxergava o manejo da faca desafiando o tomate e, por certo, nos pensava devorados pelo vento ou tempestade, segundo decretava a nova mulher. Todos os dias – co�dianamente – havia tomates para o almoço. Eles germinavam em todas as estações. Jabu�caba, manga, laranja, floresciam cada um em seu tempo. Tomate, não. Ele fru�ficava, con�nuamente, sem demandar adubo além do ciúme. Eu desconhecia se era mais importante o tomate ou o ritual de cortá-lo. As fa�as delgadas escreviam um ódio e só aqueles que se sentem intrusos ao amor podem tragar. QUEIRÓS, B. C. Vermelho amargo. São Paulo: Cosac & Naify, 2011. Ao recuperar a memória da infância, o narrador destaca a importância do tomate nos almoços da família e a ação da madrasta ao prepará-lo. A insistência nessa imagem é um procedimento esté�co que evidencia a a) saudade do menino em relação à sua mãe. b) insegurança do pai diante da fome dos filhos. c) raiva da madrasta pela indiferença do marido. d) resistência das crianças quanto ao carinho da madrasta. e) convivência conflituosa entre o menino e a esposa do pai. L0415 - (Enem PPL) Um menino aprende a ler Minha mãe sentava-se a coser e re�nha-me de livro na mão, ao lado dela, ao pé da máquina de costura. O livro �nha numa página a figura de um bicho carcunda ao lado da qual, em letras graúdas, destacava-se esta 9@professorferretto @prof_ferretto palavra: ESTÔMAGO. Depois de soletrar "es-to-ma-go", pronunciei "estomágo". Eu havia pronunciado bem as duas primeiras palavras que li, camelo e dromedário. Mas estômago, pronunciei estomágo. Minha mãe, bonita como só pode ser mãe jovem para filho pequeno, o rosto alvíssimo, os cabelos enrolados no pescoço, parou a costura e me fitou de fazer medo: "Gilberto!". Estremeci. "Estomágo? Leia de novo, soletre". Soletrei, repe�: "Estomágo". Foi o diabo. Jamais �nha ouvido, ao que me lembrasse então, a palavra estômago. A cozinheira, o estribeiro, os criados, Bernarda, diziam "estambo". "Estou com uma dor na boca do estambo...", "Meu estambo está �nindo...". Meus pais teriam pronunciado direito na minha presença, mas eu não me lembrava. E criança, como o povo, sempre que pode repele proparoxítono. AMADO, G. História da minha infância. Rio de Janeiro: José Olympio, 1958. No trecho, em que o narrador relembra um episódio e sua infância, revela-se a possibilidade de a língua se realizar de formas diferentes. Com base no texto, a passagem em que se constata uma marca de variedade linguís�ca pouco pres�giada é: a) “O livro �nha numa página a figura de um bicho carcunda ao lado da qual, em letras graúdas, destacava-se esta palavra: ESTÔMAGO”. b) “‘Gilberto!’. Estremeci. ‘Estomágo? Leia de novo, soletre’. Soletrei, repe�: ‘Estomágo’”. c) “Eu havia pronunciado bem as duas primeiras palavras que li, camelo e dromedário”. d) “Jamais �nha ouvido, ao que me lembrasse então, a palavra estômago”. e) “A cozinheira, o estribeiro, os criados, Bernarda, diziam ‘estambo’”. L0417 - (Enem PPL) Lisboa: aventuras tomei um expresso cheguei de foguete subi num bonde desci de um elétrico pedi um cafezinho serviram-me uma bica quis comprar meias só vendiam peúgas fui dar a descarga disparei um autoclisma gritei "ó cara!" responderam-me «ó pá» posi�vamente as aves que aqui gorjeiam não [gorjeiam como lá.. PAES, J. P. A poesia está morta mas juro que não fui eu. São Paulo: Duas Cidades, 1988. No texto, a diversidade linguís�ca é apresentada pela ó�ca de um observador que entra em contato com uma comunidade linguís�ca diferente da sua. Esse observador é um a) falante do português brasileiro relatando o seu contato na Europa com o português lusitano. b) imigrante em Lisboa com domínio dos registros formal e informal do português europeu. c) turista europeu com domínio de duas variedades do português em visita a Lisboa. d) português com domínio da variedade coloquial da língua falada no Brasil. e) poeta brasileiro defensor do uso padrão da língua falada em Portugal. L0420 - (Enem PPL) A pintura Napoleão cruzando os Alpes, do ar�sta francês Jacques Louis-David, produzida em 1801, contempla as caracterís�cas de um es�lo que a) u�liza técnicas e suportes ar�s�cos inovadores. b) reflete a percepção da população sobre a realidade. c) caricaturiza episódios marcantes da história europeia. d) idealiza eventos históricos pela ó�ca de grupos dominantes. e) compõe obras com base na visão crí�ca de ar�stas consagrados. L0590 - (Unicamp) O excerto a seguir, do livro Alice no país das maravilhas, de Lewis Carrol, narra o encontro entre a 10@professorferretto @prof_ferretto protagonista e o Gato de Cheshire: O Gato apenas sorriu ao avistá-la. Alice achou que ele parecia afável. Mas como �nha garras muito compridas e dentes bem graúdos, sen�u que devia tratá-lo com respeito. – Ga�nho de Cheshire – começou a dizer �midamente, sem ter certeza se ele gostaria de ser tratado assim, mas ele apenas abriu um pouco mais o sorriso. “Ó�mo, parece que ele gostou”, pensou ela, e prosseguiu: – Podia me dizer, por favor, qual é o caminho para sair daqui? – Isso depende muito do lugar para onde você quer ir – disse o Gato. – Não me importa onde... – disse Alice. – Nesse caso não importa por onde você vá – disse o Gato. – ...conquanto que eu chegue a algum lugar – acrescentou Alice como explicação. – É claro que isso acontecerá – disse o Gato –, desde que você ande por algum tempo. (CARROLL, L. Aventuras de Alice no país das maravilhas. Tradução de Sebas�ão Uchoa Leite. São Paulo: Editora 34, p. 68-69, 2016.) A par�r da leitura do trecho e da compreensão do todo da narra�va, pode-se afirmar que o excerto é um exemplo a) do afeto que marca o contato que Alice estabelece com os habitantes do país das maravilhas. b) do estranhamento que Alice experimenta ao conhecer seres que não exis�am no mundo de onde ela veio. c) da descoberta, por parte de Alice, do domínio que ela tem sobre as situações no país das maravilhas. d) da percepção, por parte de Alice, de que as palavras não têm sempre o mesmo sen�do para quem as usa. L0597 - (Enem) Marília acorda Tomo café em golinhos para não queimar meus lábios ressequidos. Como pão em pedacinhos para não engasgar com um farelo mais duro. Marília come também, mas olha o tempo todo para baixo. Parece que tem um acanhamento novo entre a gente. Termino. Olho mais uma vez pela janela. O dia está bom. Quero caminhar pelo pá�o. Marília levanta, pega o andador e põe ao lado da cama. Ela sabe que eu quero levantar sozinha, e levanto. O lance de escadas, apesar de pequeno, ainda me causa problemas, mas não quero um elevador na casa e não vou tolerar descer uma rampa de cadeira de rodas. Marília abre a porta e saímos para a manhã. O dia está mais fresco do que eu imaginava. Ela pega uma manta de tricô que temos desde não sei quando e põe sobre as minhas costas. Ela aperta meus ombros com muita força, porque mesmo depois de todos esses anos, não descobriu a medida certa do carinho. Eu gosto. Porque entendo que naquele ato, naquela força está o nosso carinho. POLESSO, N. B. Amora. Porto Alegre: Não Editora, 2015. Nesse trecho, o drama do declínio �sico da narradora transmite uma sensibilidade lírica centrada na a) necessidadede fazer adaptações na casa. b) atmosfera de afeto fortalecido pelo convívio. c) condição de dependência de outras pessoas. d) determinação de manter a regularidade da ro�na. e) aceitação das restrições de mobilidade da personagem. L0601 - (Enem) Meu irmão é filho ado�vo. Há uma tecnicidade no termo, filho ado�vo, que contribui para sua aceitação social. Há uma novidade que por um á�mo o absolve das mazelas do passado, que parece limpá-lo de seus sen�dos indesejáveis. Digo que meu irmão é filho ado�vo e as pessoas tendem a assen�r com solenidade, disfarçando qualquer pesar, baixando os olhos como se não sen�ssem nenhuma ânsia de perguntar mais nada. Talvez compar�lhem da minha inquietude, talvez de fato se esqueçam do assunto no próximo gole ou na próxima garfada. Se a inquietude con�nua a reverberar em mim, é porque ouço a frase também de maneira parcial — meu irmão é filho — e é di�cil aceitar que ela não termine com a verdade tautológica habitual: meu irmão é filho dos meus pais. Estou entoando que meu irmão é filho e uma interrogação sempre me salta aos lábios: filho de quem? FUCKS, J. A resistência. São Paulo: Cia. das Letras, 2015. Das reflexões do narrador, apreende-se uma perspec�va que associa a adoção a) a representações sociais es�gma�zadas da parentalidade. b) à necessidade de aprovação por parte de desconhecidos. c) ao julgamento velado de membros do núcleo familiar. d) ao conflito entre o termo técnico e o vínculo afe�vo. e) a inquietações próprias das relações entre irmãos. 11@professorferretto @prof_ferretto