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Elementos da Narrativa
L0041 - (Enem)
A volta do marido pródigo
 
– Bom dia, seu Marrinha! Como passou de ontem?
– Bem. Já sabe, não é? Só ganha meio dia. [...]
Lá além, Generoso cotuca Tercino:
– [...] Vai em festa, dorme que-horas, e, quando chega,
ainda é todo enfeitado e salamistrão!...
– Que é que hei de fazer, seu Marrinha... Amanheci com
uma nevralgia... Fiquei com cisma de apanhar friagem...
– Hum...
– Mas o senhor vai ver como eu toco o meu serviço e
ainda faço este povo trabalhar...
[...]
Pintão suou para desprender um pedrouço, e teve de
pular para trás, para que a laje lhe não esmagasse um pé.
Pragueja:
– Quem não tem brio engorda!
– É... Esse sujeito só é isso, e mais isso... – opina Sidu.
– Também, tudo p’ra ele sai bom, e no fim dá certo...
– diz Correia, suspirando e retomando o enxadão. – “P’ra
uns, as vacas morrem ... p’ra outros até boi pega a
parir...”.
Seu Marra já concordou:
– Está bem, seu Laio, por hoje, como foi por doença, eu
aponto o dia todo. Que é a úl�ma vez!... E agora, deixa de
conversa fiada e vai pegando a ferramenta!
(ROSA, J. G. Sagarana. Rio de Janeiro: José Olympio,
1967.)
 
Esse texto tem importância singular como patrimônio
linguís�co para a preservação da cultura nacional devido 
a) à menção a enfermidades que indicam falta de
cuidado pessoal. 
b) à referência a profissões já ex�ntas que caracterizam a
vida no campo. 
c) aos nomes de personagens que acentuam aspectos de
sua personalidade. 
d) ao emprego de ditados populares que resgatam
memórias e saberes cole�vos. 
e) às descrições de costumes regionais que desmis�ficam
crenças e supers�ções. 
L0037 - (Mackenzie)
Texto para a questão a seguir.
 
Carta do escritor Graciliano Ramos ao pintor Cândido
Por�nari
 
Rio – 18 – Fevereiro – 1946
Caríssimo Por�nari:
 
A sua carta chegou muito atrasada, e receio que esta
resposta já não o ache fixando na tela a nossa pobre
gente da roça. Não há trabalho mais digno, penso eu.
Dizem que somos pessimistas e exibimos deformações;
contudo as deformações e miséria existem fora da arte e
são cul�vadas pelos que nos censuram.
O que às vezes pergunto a mim mesmo, com angús�a,
Por�nari, é isto: se elas desaparecessem, poderíamos
con�nuar a trabalhar? Desejamos realmente que elas
desapareçam ou seremos também uns exploradores, tão
perversos como os outros, quando expomos desgraças?
Dos quadros que você mostrou quando almocei no
Cosme Velho pela úl�ma vez, o que mais me comoveu foi
aquela mãe com a criança morta. Saí de sua casa com um
pensamento horrível: numa sociedade sem classes e sem
miséria seria possível fazer-se aquilo? Numa vida
tranquila e feliz que espécie de arte surgiria? Chego a
pensar que faríamos cromos, anjinhos cor-de-rosa, e isto
me horroriza.
Felizmente a dor exis�rá sempre, a nossa velha amiga,
nada a suprimirá. E seríamos ingratos se desejássemos a
supressão dela, não 13lhe parece? Veja como os nossos
ricaços em geral são burros.
Julgo naturalmente que seria bom enforcá-los, mas se
isto nos trouxesse tranquilidade e felicidade, eu ficaria
bem desgostoso, porque não nascemos para tal
sensaboria. O meu desejo é que, eliminados os ricos de
qualquer modo e os sofrimentos causados por eles,
venham novos sofrimentos, pois sem isto não temos arte.
E adeus, meu grande Por�nari. Muitos abraços para você
e para Maria.
 
Graciliano
Assinale a alterna�va INCORRETA. 
1@professorferretto @prof_ferretto
a) Como meio de expressão e comunicação que
estabelece diálogo a distância entre interlocutores, a
carta deixou de ser uma prá�ca corriqueira para a
maioria das pessoas. 
b) Dados que circunscrevem uma carta espacial e
temporalmente fazem parte dos elementos que
cons�tuem esse gênero do discurso. 
c) Expressões e palavras com função fá�ca estão
presentes na estrutura de uma carta e apresentam a
função de estabelecer a interação verbal. 
d) Faz parte obrigatoriamente da estrutura de uma carta
como gênero o desenvolvimento de um enredo
fic�cio, com elementos como personagens, tempo,
espaço e voz narra�va. 
e) Na carta apresentada para leitura, encontram-se
expressões linguís�cas que evidenciam o
comprome�mento do emissor com as informações
que são transmi�das por escrito. 
L0040 - (Enem)
Singular ocorrência
 
– Há ocorrências bem singulares. Está vendo aquela
dama que vai entrando na igreja da Cruz? Parou agora no
adro para dar uma esmola.
– De preto?
– Justamente; lá vai entrando; entrou.
– Não ponha mais na carta. Esse olhar está dizendo que a
dama é uma recordação de outro tempo, e não há de ser
muito tempo, a julgar pelo corpo: é moça de truz.
– Deve ter quarenta e seis anos.
– Ah! conservada. Vamos lá; deixe de olhar para o chão e
conte-me tudo. Está viúva, naturalmente?
– Não.
– Bem; o marido ainda vive. É velho?
– Não é casada.
– Solteira?
– Assim, assim. Deve chamar-se hoje D. Maria de tal. Em
1860 florescia com o nome familiar de Marocas. Não era
costureira, nem proprietária, nem mestra de meninas; vá
excluindo as profissões e chegará lá. Morava na Rua do
Sacramento. Já então era esbelta, e, seguramente, mais
linda do que hoje; modos sérios, linguagem limpa.
(ASSIS, M. Machado de Assis: seus 30 melhores contos,
Rio de Janeiro: Aguilar, 1961.)
 
No diálogo, descor�nam-se aspectos da condição da
mulher em meados do século XIX. O ponto de vista dos
personagens manifesta conceitos segundo os quais a
mulher 
a) encontra um modo de dignificar-se na prá�ca da
caridade. 
b) preserva a aparência jovem conforme seu es�lo de
vida. 
c) condiciona seu bem-estar à estabilidade do
casamento. 
d) tem sua iden�dade e seu lugar referendados pelo
homem. 
e) renuncia à sua par�cipação no mercado de trabalho. 
L0034 - (Ufms)
Considere os versos do poema “As trevas”, que integra a
obra Espumas flutuantes, de Castro Alves, para
responder à questão a seguir.
 
“Tive um sonho em tudo não foi sonho!...
 
O sol brilhante se apagava: e os astros,
Do eterno espaço na penumbra escura,
Sem raios, e sem trilhos, vagueavam.
A terra fria balouçava cega
E tétrica no espaço ermo de lua.
A manhã ia... vinha ... e regressava...
Mas não trazia o dia! Os homens pasmos
Esqueciam no horror dessas ruínas
Suas paixões: E as almas conglobadas
Gelavam-se num grito de egoísmo
Que demandava ‘luz’. Junto às fogueiras
Abrigavam-se... e os tronos e os palácios,
Os palácios dos reis, o albergue e a choça
Ardiam por fanais. Tinham nas chamas
As cidades morrido. Em torno às brasas
Dos seus lares os homens se grupavam,
P’ra à vez extrema se fitarem juntos.
Feliz de quem vivia junto às lavas
Dos vulcões sob a tocha alcan�lada!” 
 
Sobre o poema de Castro Alves, assinale a alterna�va
correta. 
2@professorferretto @prof_ferretto
a) Há a presença marcante de elementos que remetem a
um sen�mento pessimista, melancólico e desolador,
conforme ilustram as expressões: “Mas não trazia o
dia!”, “E as almas conglobadas/Gelavam-se num grito
de egoísmo” e “Tinham nas chamas/As cidades
morrido”. 
b) O eu lírico narra a crueldade sofrida pelos escravos, de
acordo com a descrição do espaço e do enredo, ao
longo dos versos. 
c) Percebe-se uma sensualidade feminina, como se
percebe na construção das figuras associadas ao fogo
do vulcão, às lavas e à felicidade daqueles que a elas
sobreviviam. 
d) O poema é de caráter social e denuncia as injus�ças
come�das pelos reis e demais integrantes da corte,
segundo se percebe pelo emprego dos vocábulos
“tronos” e “palácios”. 
e) As “almas” às quais o eu lírico faz menção pertencem
aos escravos que, acorrentados, morriam de sede e de
fome, enquanto remavam, amontoados no ambiente
insalubre da embarcação. 
L0039 - (Unicamp)
Tenho horror a de aqui a pouco vos ter já dito o que vos
vou dizer. As minhas palavras presentes, mal eu as diga,
pertencerão logo ao passado, ficarão fora de mim, não
sei onde, rígidas e fatais... Falo, e penso nisto na minha
garganta, e as minhas palavras parecem-me gente...
(Fernando Pessoa, O marinheiro. Campinas: Editora da
Unicamp, 2020, p. 51.)
 
O que eu era outrora já não se lembra de quem sou...Às
vezes, à beira dos lagos, debruçava-me e fitava-me...
Quando eu sorria, os meus dentes eram misteriosos na
água... Tinham um sorriso só deles, independentes do
meu...
(Idem, p. 52.)
 
Nos excertos acima, dois fenômenos são apresentados ao
leitor e cons�tuem o principal problema dramá�co da
peça de Fernando Pessoa. Assinale a alterna�va que
iden�fica e explica corretamente esses fenômenos. 
a) As palavras e as imagens tornam-se independentes da
pessoa humana. Isso significa a cisão entre o sujeito e
o mundo ou, ainda, a crise de iden�dade pessoal
reiterada nos diálogos. 
b) Proferir um discurso e ver-se refle�do em um lago são
situações dramá�cas que sugerem a unidade entre ser
e exis�r. A questão central, quem eu sou, é resolvida
no desfecho da peça. 
c) Lembrar e esquecer são dois aspectos inseparáveis da
estrutura dramá�ca da peça. Se a imagem refle�da no
lago não se assemelha à pessoa que a contempla, as
palavras, por sua vez, garantem a conexão entre o eu e
a realidade exterior. 
d) O horror e o mistério das coisas são elementos básicos
desse drama. Eles produzem, nas personagens, a
convicção de que é ú�l narrar as experiências do
passado porque assim se revela o seu verdadeiro
significado. 
L0038 - (Enem)
Quarto de despejo
Carolina Maria de Jesus
 
Do diário da catadora de papel Carolina Maria de Jesus
surgiu este autên�co exemplo de literatura-verdade, que
relata o co�diano triste e cruel da vida na favela. Com
uma linguagem simples, mas contundente e original, a
autora comove o leitor pelo realismo e pela sensibilidade
na maneira de contar o que viu, viveu e sen�u durante os
anos em que morou na comunidade do Canindé, em São
Paulo, com seus três filhos.
 
Ao ler este relato — verdadeiro best-seller no Brasil e no
exterior — você vai acompanhar o duro dia a dia de
quem não tem amanhã. E vai perceber com tristeza que,
mesmo tendo sido escrito na década de 1950, este livro
jamais perdeu a sua atualidade.
(JESUS, C. M. Quarto de despejo: diário de uma favelada.
São Paulo: Á�ca, 2007.)
 
Iden�fica-se como obje�vo do fragmento extraído da
quarta capa do livro Quarto de despejo
a) retomar trechos da obra. 
b) resumir o enredo da obra. 
c) destacar a biografia da autora. 
d) analisar a linguagem da autora. 
e) convencer o interlocutor a ler a obra. 
L0282 - (Fuvest)
Leusipo perguntou o que eu �nha ido fazer na aldeia.
Preferi achar que o tom era amistoso e, no meu
3@professorferretto @prof_ferretto
paternalismo ingênuo, comecei a lhe explicar o que era
um romance. Eu tentava convencê-lo de que não havia
mo�vo para preocupação. Tudo o que eu queria saber já
era conhecido. E ele me perguntava: “Então, porque você
quer saber, se já sabe?” Tentei lhe explicar que pretendia
escrever um livro e mais uma vez o que era um romance,
o que era um livro de ficção (e mostrava o que �nha nas
mãos), que seria tudo historinha, sem nenhuma
consequência na realidade. Ele seguia incrédulo. Fazia-se
de desentendido, mas na verdade só queria me in�midar.
As minhas explicações sobre o romance eram inúteis. Eu
tentava dizer que, para os brancos que não acreditam em
deuses, a ficção servia de mitologia, era o equivalente
dos mitos dos índios, e antes mesmo de terminar a frase,
já não sabia se o idiota era ele ou eu. Ele não dizia nada a
não ser: “O que você quer com o passado?”. Repe�a. E,
diante da sua insistência bovina, �ve de me render à
evidência de que eu não sabia responder à sua pergunta.
Bernardo Carvalho, Nove Noites. Adaptado.
 
Na cena apresentada, que explora o desconforto gerado
pela di�cil interlocução com o indígena, o narrador
a) abandona a ideia de inves�gar o passado, ao se ver
encurralado por Leusipo. 
b) explora a sua posição ameaçadora de homem branco,
ao insis�r em permanecer na aldeia. 
c) age com ousadia, ao procurar subjugar Leusipo a
contribuir com o seu projeto. 
d) iden�fica-se com a sabedoria de Leusipo, ao preterir
do papel interroga�vo e se deixar ques�onar. 
e) sente-se frustrado com a reação de Leusipo, que não
se deixa levar por sua diplomacia. 
L0033 - (Uerj)
O LÍDER
 O sono do líder é agitado. A mulher sacode-o até
acordá-lo do pesadelo. Estremunhado, ele se levanta,
bebe um gole de água. Diante do espelho refaz uma
expressão de homem de meia-idade, alisa os cabelos das
têmporas, volta a se deitar. Adormece e a agitação
recomeça. "Não, não!" debate-se ele com a garganta
seca.
 O líder se assusta enquanto dorme. O povo
ameaça o líder? Não, pois se líder é aquele que guia o
povo exatamente porque aderiu ao povo. O povo ameaça
o líder? 1Não, pois se o povo escolheu o líder. O povo
ameaça o líder? Não, pois o líder cuida do povo. O povo
ameaça o líder?
 5Sim, o povo ameaça o líder do povo. O líder
revolve-se na cama. De noite ele tem medo. 2Mas o
pesadelo é um pesadelo sem história. De noite, de olhos
fechados, vê caras quietas, uma cara atrás da outra. E
nenhuma expressão nas caras. É só este o pesadelo,
apenas isso. Mas cada noite, mal adormece, mais caras
quietas vão se reunindo às outras, como na fotografia de
uma mul�dão em silêncio. Por quem é este silêncio? Pelo
líder. 6É uma sucessão de caras iguais como na repe�ção
monótona de um rosto só. Nas caras não há senão a
inexpressão. A inexpressão ampliada como em fotografia
ampliada. Um painel e cada vez com maior número de
caras iguais. É só isso. Mas o líder se cobre de suor diante
da visão inócua de milhares de olhos vazios que não
pestanejam. 3Durante o dia o discurso do líder é cada vez
mais longo, ele adia cada vez mais o instante da chave de
ouro. Ul�mamente ataca, denuncia, denuncia, denuncia,
esbraveja e quando, em apoteose, termina, vai para o
banheiro, fecha a porta e, uma vez sozinho, encosta-se à
porta fechada, enxuga a testa molhada com o lenço. Mas
tem sido inú�l. De noite é sempre maior o número
silencioso. Cada noite as caras aproximam-se um pouco
mais. Cada noite ainda um pouco mais. 4Até que ele já
lhes sente o calor do hálito. As caras inexpressivas
respiram - o líder acorda num grito. Tenta explicar à
mulher: sonhei que... sonhei que... Mas não tem o que
contar. 7Sonhou que era um líder de pessoas vivas.
(LISPECTOR, Clarice. Para não esquecer. São Paulo:
Siciliano, 1992.) 
 
O texto clariceano nos conta uma história de caráter
universal.
Uma das estratégias para alcançar esse efeito de
universalidade está relacionada com a seguinte
caracterís�ca do texto: 
a) ausência de foco narra�vo 
b) exploração das sequências descri�vas 
c) indeterminação do contexto espacial 
d) especificação das circunstâncias temporais 
L0042 - (Unicamp)
“Era Noca, que vinha toda alterada.
– Nossa Senhora! Quebrou-se o espelho grande do salão!
– Quem foi que o quebrou? Perguntou Nina, para dizer
alguma coisa.
– Ninguém sabe. Veja só, que desgraça estará para
acontecer!
Espelho quebrado: morte ou ruína.
– Morte! Se fosse a minha...”
(Júlia Lopes de Almeida, A Falência. Campinas: Editora da
Unicamp, 2018, p. 257.)
 
O diálogo apresenta a reação das personagens femininas
ao incidente domés�co com o objeto de decoração no
4@professorferretto @prof_ferretto
palacete de Botafogo. Assinale a alterna�va que jus�fica
a fala final de Nina. 
a) A destruição do espelho a leva a desejar a morte, pois
sugere o alívio para a frustração amorosa. 
b) A quebra do espelho lhe provoca o temor da morte,
uma vez que antecipa a ruína financeira. 
c) A destruição do espelho traz a certeza da morte, pois
sinaliza o suicídio do ser amado. 
d) A quebra do espelho a faz desejar a morte, pois sugere
a catástrofe amorosa do casamento. 
L0035 - (C�mg)
 
No livro, os excertos acima aparecem em páginas com
fundo roxo. Trata-se de um recurso visual que sinaliza 
a) as digressões temporais do enredo. 
b) as lembranças de viagem do narrador. 
c) um resumo dos diálogos entre pai e filho. 
d) uma alternância entre as vozes da narra�va. 
L0031 - (Uemg)
O excerto a seguir faz referência às tendências literárias
que predominaram na segunda metade doséculo XIX. 
 
“O liame que se estabelecia entre o autor român�co e o
mundo estava afetado de uma série de mitos
idealizantes: a natureza-mãe, a natureza-refúgio, o amor-
fatalidade, a mulher-diva, o herói-prometeu, sem falar na
aura que cingia alguns ídolos como a 'Nação', a 'Pátria', a
'Tradição', etc. O român�co não teme as demasias do
sen�mento nem os riscos da ênfase patrió�ca; nem
falseia de propósito a realidade, como anacronicamente
se poderia hoje inferir: é a sua forma mental que está
saturada de projeções e iden�ficações violentas,
resultando-lhe natural a mi�ficação dos temas que
escolhe. Ora, é esse complexo ideo-afe�vo que vai
cedendo a um processo de crí�ca na literatura dita
'realista'. Há um esforço, por parte do escritor
an�rromân�co, de acercar-se impessoalmente dos
objetos, das pessoas. E uma sede de obje�vidade que
responde aos métodos cien�ficos cada vez mais exatos
nas úl�mas décadas do século.” 
(BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira.
São Paulo: Cultrix, 1994, p. 167. Adaptado.) 
 
Em A mão e a luva, estão presentes os seguintes
elementos: 
a) demasias do sen�mento, descrição imparcial de
objetos e personagens, convenções sociais. 
b) mulher-diva, foco narra�vo em 1ª pessoa, descrição
idealizada do Rio de Janeiro. 
c) falseamento proposital da realidade, mi�ficação do
amor e da natureza, patrio�smo. 
d) sede de obje�vidade, iden�ficações violentas, foco
narra�vo em 3ª pessoa. 
L0032 - (Ufpa)
O romance “Primeira manhã”, de Dalcídio Jurandir, é o
sexto volume da série do Extremo-Norte. Alfredo,
personagem central da trama romanesca, protagoniza
acontecimentos que lhe ferem profundamente a
adolescência como aluno do primeiro ano do Liceu. Leia,
a seguir, um fragmento da obra:
 
“[...] Agora a aula de desenho. Alfredo imagina-se sobre
cubos, paisagens, as rosadas meninas do Cícero Câmara;
lembrou-se: o professor Chiquinho, à sombra das
ginjeiras carregadas, desenhando caligrafia, a abrir
majestosas letras gó�cas. Ia, de sua parte, desenhar
agora aquelas três árvores doutro lado do rio, ao pé da
armação da draga, com um esbraseante tapuru sobre a
ferrugem? Riscar um peixe uéua, um jandiá, oito horas da
noite mordendo a isca? Ou a pixuneira lilás, e o rosto de
Andreza, só uns traços, boiando do fundo, a gritar:
passou por baixo de minha perna um sucuriju, foi, um
deste tamanho, mas sou curada de cobra. E Alfredo toma
um susto: invadindo a sala, um galego gorducho,
5@professorferretto @prof_ferretto
bigodudinho, com uma pressa irritada, o bagulho
amarelo, a bater a régua na mesa contra trinta e dois
inimigos. – Menino! Menino! Silêncio na cocheira! A aula
toda acuava-se, como se esvaziassem as carteiras, logo
avançando, muda, a flechá-lo de ofensa e ódio. E o
buldogue desceu para saber, com ferocidade e triunfo,
quem não trazia papel de desenho, os materiais, os
materiais. Quem não �vesse, fora quanto antes, fora
quanto antes. Não �nha mas mas. Rua. Alfredo levantou-
se, quis explicar. – Rua! Rua! Desentulhe a pocilga.”
(JURANDIR, Dalcídio. Primeira manhã. Belém: EDUEPA,
2009, p.199-200.)
 
*Ginjeiras: variedade de cerejeira (Nota do autor)
 
A discussão promovida pela obra de Dalcídio Jurandir,
evidenciada no fragmento transcrito, está resumida
corretamente em: 
a) privilegiam-se o foco narra�vo e a ação dos
personagens, o que permite o entrelaçamento entre o
espaço da cidade grande, o ambiente do Ginásio e o
tempo das lembranças de Alfredo. 
b) agrupam-se acontecimentos que demonstram a
concre�zação dos sonhos de Alfredo, narrador-
personagem, evidenciando-se as vantagens que o
Ginásio pode acrescentar ao seu conhecimento do
mundo. 
c) descreve-se a primeira manhã de Alfredo, narrador-
personagem, exatamente no momento em que o
professor de desenho entra na sala de aula do Ginásio,
visivelmente irritado. Ao assustar-se com as a�tudes
do professor, Alfredo mergulha nas lembranças do
rosto de Andreza, contornado pelas referências do
mundo marajoara. 
d) cri�ca-se a dura realidade da escola brasileira
representada no enredo (contextualizado nos meados
de 1920), no momento em que a ficção denuncia o
clima de ofensas e hos�lidade a que os alunos são
subme�dos quando convocados, pelo professor de
desenho, a fazer silêncio e a se re�rar da sala de
aula. 
e) narram-se as mudanças que ocorrem na vida do
menino Alfredo que, no contexto do romance, passa a
ser visto, pela mãe, pelos parentes e conhecidos, já
como rapaz que estuda na cidade grande. 
L0043 - (Fuvest)
I
– Traiste-me, Sem Medo. Tu traíste-me.
(...)
Sabes o que tu és afinal, Sem Medo? És um ciumento.
Chego a pensar se não és homossexual. Tu querias-me só,
como tu. Um solitário do Mayombe. (...) Desprezo-te. (...)
Nunca me verás atrás de uma garrafa vazia. (...) Cada
sucesso que eu �ver, será a paga da tua bofetada, pois
não serei um falhado como tu.
Pepetela, Mayombe. Adaptado.
 
II
– Peço-te perdão, Sem Medo. Não te compreendi, fui um
imbecil. E quis igualar o inigualável.
Pepetela, Mayombe.
 
Esses excertos de Mayombe referem-se a conversas entre
as personagens Comissário e Sem Medo em momentos
dis�ntos do romance. Em I e II, as falas do Comissário
revelam, respec�vamente, 
a) incompa�bilidade étnica entre ele e Sem Medo, por
pertencerem a linhagens diferentes, e superação de
sua hos�lidade tribal. 
b) decepção, por Sem Medo não ter intercedido a seu
favor na conversa com Ondina, e desespero diante do
companheiro baleado. 
c) suspeita de traição de Ondina e tomada de consciência
de que isso não passara de uma crise de ciúme dele. 
d) forte tensão homoafe�va entre ele e Sem Medo, e
aceitação da verdadeira orientação sexual do
companheiro. 
e) ira, diante do an�catolicismo de Sem Medo, e culpa
que o a�nge ao perceber que sua demonstração de
coragem colocara o companheiro em risco. 
L0036 - (Enem)
Toca a sirene na fábrica,
e o apito como um chicote
bate na manhã nascente
e bate na tua cama
no sono da madrugada.
Ternuras da áspera lona
pelo corpo adolescente.
É o trabalho que te chama.
Às pressas tomas o banho,
tomas teu café com pão,
tomas teu lugar no bote
no cais do Capibaribe.
Deixas chorando na esteira
teu filho de mãe solteira.
Levas ao lado a marmita,
contendo a mesma ração
do meio de todo o dia,
a carne-seca e o feijão.
De tudo quanto ele pede
dás só bom-dia ao patrão,
e recomeças a luta
na engrenagem da fiação.
6@professorferretto @prof_ferretto
(MOTA, M. Canto ao meio. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1964.)
 
Nesse texto, a mobilização do uso padrão das formas
verbais e pronominais 
a) ajuda a localizar o enredo num ambiente está�co. 
b) auxilia na caracterização �sica do personagem
principal. 
c) acrescenta informações modificadoras às ações dos
personagens. 
d) alterna os tempos da narra�va, fazendo progredir as
ideias do texto. 
e) está a serviço do projeto poé�co, auxiliando na
dis�nção dos referentes. 
L0030 - (Upf)
O foco narra�vo do(a) __________, adotado por
Graciliano Ramos, em Vidas secas, revela-se uma escolha
estratégica, por parte do autor, no sen�do de
__________ a distância entre o leitor urbano e o universo
das diferentes personagens, em cujas mentes o discurso
localiza, alternadamente, o leitor.
 
Assinale a alterna�va que preenche corretamente as
lacunas da afirmação anterior. 
a) narrador onisciente neutro / ampliar. 
b) “eu” como testemunha / anular. 
c) narrador onisciente neutro / reduzir. 
d) “eu” como testemunha / ampliar. 
e) onisciência sele�va múl�pla / reduzir. 
L0363 - (Enem PPL)
Prezada senhorita,
Tenho a honra de comunicar a V. S. que resolvi, de
acordo com o que foi conversado com seu ilustre
progenitor, o tabelião juramentado Francisco Guedes,
estabelecido à Rua da Praia, número 632, dar por
encerrados nossos entendimentos de noivado. Como
passei a ser o contabilista-chefe dos Armazéns Penalva,
conceituada firma desta praça, não me restará, em face
dos novos e pesados encargos, tempo ú�l para os
deveres conjugais.
Outrossim, par�cipo que vou con�nuar trabalhando
novarejo da mancebia, como vinha fazendo desde que
me formei em contabilidade em 17 de maio de 1932, em
solenidade presidida pelo Exmo. Sr. Presidente do Estado
e outras autoridades civis e militares, bem assim como
representantes da Associação dos Varejistas e da
Sociedade Cultural e Recrea�va José de Alencar.
Sem mais, creia-me de V. S. patrício e admirador,
Sabugosa de Castro.
CARVALHO, J. C. Amor de contabilista. In: Porque Lulu
Berga�m não atravessou o Rubicon. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1971.
 
A exploração da variação linguís�ca é um elemento que
pode provocar situações cômicas. Nesse texto, o tom de
humor decorre da incompa�bilidade entre
a) o obje�vo de informar e a escolha do gênero textual. 
b) a linguagem empregada e os papéis sociais dos
interlocutores. 
c) o emprego de expressões an�gas e a temá�ca
desenvolvida no texto. 
d) as formas de tratamento u�lizadas e as exigências
estruturais da carta. 
e) o rigor quanto aos aspectos formais do texto e a
profissão do remetente. 
L0380 - (Enem PPL)
A orquestra atacou o tema que tantas vezes ouvi na
vitrola de Ma�lde. Le maxixe!, exclamou o francês [...] e
nos pediu que dançássemos para ele ver. Mas eu só sabia
dançar a valsa, e respondi que ele me honraria �rando
minha mulher. No meio do salão os dois se abraçaram e
assim permaneceram, a se encarar. Súbito ele a girou em
meia-volta, depois recuou o pé esquerdo, enquanto com
o direito Ma�lde dava um longo passo adiante, e os dois
estacaram mais um tempo, ela arqueada sobre o corpo
dele. Era uma coreografia precisa, e me admirou que
minha mulher conhecesse aqueles passos.
O casal se entendia à perfeição, mas logo dis�ngui o
que nele foi ensinado do que era nela natural. O francês,
muito alto, era um boneco de varas, jogando com uma
boneca de pano. Talvez pelo contraste, ela brilhava entre
dezenas de dançarinos, e notei que todo o cabaré se
extasiava com a sua exibição. Todavia, olhando bem,
eram pessoas ves�das, ornadas, pintadas com
deselegância, e foi me parecendo que também em
Ma�lde, em seus movimentos de ombros e quadris,
havia excesso. A orquestra não dava pausa, a música era
repe��va, a dança se revelou vulgar, pela primeira vez
julguei meio vulgar a mulher com quem eu �nha me
casado. Depois de meia hora eles voltaram se abanando,
e escorria suor pelo colo de Ma�lde decote abaixo.
Bravô, eu gritei, bravô, e ainda os es�mulei a dançar o
próximo tango, mas Dubosc disse que já era tarde, e que
eu �nha um ar fa�gado.
CHICO BUARQUE. Leite derramado. São Paulo: Cia. das
Letras, 2009.
 
Os recursos expressivos de um texto literário fornecem
pistas aos leitores sobre a percepção dos personagens
em relação aos eventos da narra�va. No fragmento,
7@professorferretto @prof_ferretto
cons�tui um aspecto relevante para a compreensão das
intenções do narrador a
a) inveja disfarçada em relação ao estrangeiro, sugerida
pela descrição de seu talento como dançarino.
b) demonstração de ciúmes, expressa pela
desqualificação dos par�cipantes da cena narrada.
c) postura aristocrá�ca, assinalada pela crí�ca à
orquestra e ao gênero musical executado.
d) manifestação de desprezo pela dança, indicada pela
crí�ca ao exibicionismo da mulher.
e) a�tude interesseira, pressuposta no elogio final e no
es�mulo à con�nuação da dança.
L0381 - (Enem PPL)
Gaetaninho
Ali na Rua do Oriente a ralé quando muito andava de
bonde. De automóvel ou de carro só mesmo em dia de
enterro. De enterro ou de casamento. Por isso mesmo o
sonho de Gaetaninho era de realização muito di�cil. Um
sonho. [...]
– Traga a bola! Gaetaninho saiu correndo.
Antes de alcançar a bola um bonde o pegou. Pegou e
matou.
No bonde vinha o pai do Gaetaninho.
A gurizada assustada espalhou a no�cia na noite.
– Sabe o Gaetaninho?
– Que é que tem?
– Amassou o bonde.
A vizinhança limpou com benzina suas roupas
domingueiras.
Às dezesseis horas do dia seguinte saiu um enterro da
Rua do Oriente e Gaetaninho não ia na boleia de nenhum
dos carros do acompanhamento. Ia no da frente dentro
de um caixão fechado com flores pobres por cima. Ves�a
a roupa marinheira, �nha as ligas, mas não levava a
palhe�nha.
Quem na boleia de um dos carros do cortejo mirim
exibia soberbo terno vermelho que feria a vista da gente
era o Beppino.
MACHADO, A. A. Brás, Bexiga e Barra Funda: no�cias de
São Paulo. Belo Horizonte; Rio de Janeiro: Vila Rica, 1994.
 
Situada no contexto da modernização da cidade de São
Paulo na década de 1920, a narra�va u�liza recursos
expressivos inovadores, como
a) o registro informal da linguagem e o emprego de
frases curtas. 
b) o apelo ao modelo cinematográfico com base em
imagens desconexas. 
c) a representação de elementos urbanos e a prevalência
do discurso direto. 
d) a encenação crua da morte em contraponto ao tom
respeitoso do discurso. 
e) a percepção irônica da vida assinalada pelo uso
reiterado de exclamações.
L0385 - (Enem PPL)
esse cão que me segue
é minha família, minha vida
ele tem frio mas não late nem pede
ele sabe que o que eu tenho
divido com ele, o que eu não tenho
também divido com ele
ele é meu irmão
ele é que é meu dono
 
bicho se é por des�no sina ou sorte
só faltando saber se bicho decente
bicho de casa, bicho de carro, bicho
no trânsito, se bicho sem norte na fila
se bicho no mangue, se bicho na brecha
se bicho na mira, se bicho no sangue
 
catar papel é profissão, catar papel
revela o segredo das coisas, tem
muita coisa sendo jogada fora
muita pessoa sendo jogada fora
OLIVEIRA, V. L. O músculo amargo do mundo. São Paulo:
Escrituras, 2014.
 
No poema, os elementos presentes do campo de
percepção do eu lírico evocam um realinhamento de
significados, uma vez que
a) emerge a consciência do humano como matéria de
descarte.
b) reside na eventualidade do acaso a condição do
indivíduo.
c) ocorre uma inversão de papéis entre o dono e seu cão.
d) se instaura um ambiente de caos no mosaico urbano.
e) se atribui aos rejeitos uma valorização imprevista.
L0429 - (Enem PPL)
Ai se sêsse
Se um dia nois se gostasse
Se um dia nois se queresse
Se nois dois se empareasse
8@professorferretto @prof_ferretto
Se jun�m nois dois vivesse
Se jun�m nois dois morasse
Se jun�m nois dois drumisse
Se jun�m nois dois morresse
Se pro céu nois assubisse
Mas porém se acontecesse
De São Pedro não abrisse
A porta do céu e fosse
Te dizer qualquer tulice
E se eu me arriminasse
E tu cum eu insis�sse
Pra que eu me arresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Tarvês que nois dois saísse
Tarvês que nois dois caísse
E o céu furado arriasse
E as virgi toda fugisse
ZÉ DA LUZ. Cordel do Fogo Encantado. Recife: Álbum de
estúdio, 2001.
 
O poema foi construído com formas do português não
padrão, tais como “jun�m”, “nois”, “tarvês”. Essas formas
legi�mam-se na construção do texto, pois
a) revelam o bom humor do eu lírico do poema.
b) estão presentes na língua e na iden�dade popular.
c) revelam as escolhas de um poeta não escolarizado.
d) tornam a leitura fácil de entender para a maioria dos
brasileiros.
e) compõem um conjunto de estruturas linguís�cas
inovadoras.
L0432 - (Enem PPL)
– Não, mãe. Perde a graça. Este ano, a senhora vai ver.
Compro um barato.
– Barato? Admito que você compre uma
lembrancinha barata, mas não diga isso a sua mãe. É
fazer pouco-caso de mim.
– Ih, mãe, a senhora está por fora mil anos. Não sabe
que barato é o melhor que tem, é um barato!
– Deixe eu escolher, deixe...
– Mãe é ruim de escolha. Olha aquele blazer furado
que a senhora me deu no Natal!
– Seu porcaria, tem coragem de dizer que sua mãe lhe
deu um blazer furado?
– Viu? Não sabe nem o que é furado? Aquela cor já
era, mãe, já era!
ANDRADE, C. D. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova
Aguilar, 1998.
 
O modo como o filho qualifica os presentes é
incompreendido pela mãe, e essas escolhas lexicais
revelam diferenças entre os interlocutores, que estão
relacionadas
a) à linguagem infan�lizada.
b) ao grau de escolaridade.
c) à dicotomia de gêneros.
d) às especificidades de cada faixa etária.
e) à quebra de regras da hierarquiafamiliar.
L0406 - (Enem PPL)
A madrasta retalhava um tomate em fa�as, assim
finas, capaz de envenenar a todos. Era possível entrever
o arroz branco do outro lado do tomate, tamanha a sua
transparência. Com a saudade evaporando pelos olhos,
eu insis�a em jus�ficar a economia que administrava
seus gestos. Afiando a faca no cimento frio da pia, ela
cortava o tomate vermelho, sanguíneo, maduro, como se
degolasse cada um de nós. Seis. O pai, amparado pela
prateleira da cozinha, com o suor desinfetando o ar,
tamanho o cheiro do álcool, reparava na fome dos filhos.
Enxergava o manejo da faca desafiando o tomate e, por
certo, nos pensava devorados pelo vento ou tempestade,
segundo decretava a nova mulher. Todos os dias –
co�dianamente – havia tomates para o almoço. Eles
germinavam em todas as estações. Jabu�caba, manga,
laranja, floresciam cada um em seu tempo. Tomate, não.
Ele fru�ficava, con�nuamente, sem demandar adubo
além do ciúme. Eu desconhecia se era mais importante o
tomate ou o ritual de cortá-lo. As fa�as delgadas
escreviam um ódio e só aqueles que se sentem intrusos
ao amor podem tragar.
QUEIRÓS, B. C. Vermelho amargo. São Paulo: Cosac &
Naify, 2011.
 
Ao recuperar a memória da infância, o narrador destaca a
importância do tomate nos almoços da família e a ação
da madrasta ao prepará-lo. A insistência nessa imagem é
um procedimento esté�co que evidencia a 
a) saudade do menino em relação à sua mãe.
b) insegurança do pai diante da fome dos filhos.
c) raiva da madrasta pela indiferença do marido.
d) resistência das crianças quanto ao carinho da
madrasta.
e) convivência conflituosa entre o menino e a esposa do
pai.
L0415 - (Enem PPL)
Um menino aprende a ler
Minha mãe sentava-se a coser e re�nha-me de livro
na mão, ao lado dela, ao pé da máquina de costura. O
livro �nha numa página a figura de um bicho carcunda ao
lado da qual, em letras graúdas, destacava-se esta
9@professorferretto @prof_ferretto
palavra: ESTÔMAGO. Depois de soletrar "es-to-ma-go",
pronunciei "estomágo". Eu havia pronunciado bem as
duas primeiras palavras que li, camelo e dromedário. Mas
estômago, pronunciei estomágo. Minha mãe, bonita
como só pode ser mãe jovem para filho pequeno, o rosto
alvíssimo, os cabelos enrolados no pescoço, parou a
costura e me fitou de fazer medo: "Gilberto!". Estremeci.
"Estomágo? Leia de novo, soletre". Soletrei, repe�:
"Estomágo". Foi o diabo. 
Jamais �nha ouvido, ao que me lembrasse então, a
palavra estômago. A cozinheira, o estribeiro, os criados,
Bernarda, diziam "estambo". "Estou com uma dor na
boca do estambo...", "Meu estambo está �nindo...".
Meus pais teriam pronunciado direito na minha
presença, mas eu não me lembrava. E criança, como o
povo, sempre que pode repele proparoxítono.
AMADO, G. História da minha infância. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1958.
 
No trecho, em que o narrador relembra um episódio e
sua infância, revela-se a possibilidade de a língua se
realizar de formas diferentes. Com base no texto, a
passagem em que se constata uma marca de variedade
linguís�ca pouco pres�giada é:
a) “O livro �nha numa página a figura de um bicho
carcunda ao lado da qual, em letras graúdas,
destacava-se esta palavra: ESTÔMAGO”.
b) “‘Gilberto!’. Estremeci. ‘Estomágo? Leia de novo,
soletre’. Soletrei, repe�: ‘Estomágo’”.
c) “Eu havia pronunciado bem as duas primeiras palavras
que li, camelo e dromedário”.
d) “Jamais �nha ouvido, ao que me lembrasse então, a
palavra estômago”.
e) “A cozinheira, o estribeiro, os criados, Bernarda,
diziam ‘estambo’”.
L0417 - (Enem PPL)
Lisboa: aventuras
tomei um expresso 
 cheguei de foguete 
subi num bonde 
 desci de um elétrico 
pedi um cafezinho 
 serviram-me uma bica 
quis comprar meias 
 só vendiam peúgas 
fui dar a descarga 
 disparei um autoclisma 
gritei "ó cara!" 
 responderam-me «ó pá» 
posi�vamente 
 as aves que aqui gorjeiam não 
[gorjeiam como lá..
PAES, J. P. A poesia está morta mas juro que não fui eu.
São Paulo: Duas Cidades, 1988.
 
No texto, a diversidade linguís�ca é apresentada pela
ó�ca de um observador que entra em contato com uma
comunidade linguís�ca diferente da sua. Esse observador
é um
a) falante do português brasileiro relatando o seu
contato na Europa com o português lusitano.
b) imigrante em Lisboa com domínio dos registros formal
e informal do português europeu.
c) turista europeu com domínio de duas variedades do
português em visita a Lisboa.
d) português com domínio da variedade coloquial da
língua falada no Brasil.
e) poeta brasileiro defensor do uso padrão da língua
falada em Portugal.
L0420 - (Enem PPL)
 
A pintura Napoleão cruzando os Alpes, do ar�sta francês
Jacques Louis-David, produzida em 1801, contempla as
caracterís�cas de um es�lo que
a) u�liza técnicas e suportes ar�s�cos inovadores.
b) reflete a percepção da população sobre a realidade.
c) caricaturiza episódios marcantes da história europeia.
d) idealiza eventos históricos pela ó�ca de grupos
dominantes.
e) compõe obras com base na visão crí�ca de ar�stas
consagrados.
L0590 - (Unicamp)
O excerto a seguir, do livro Alice no país das
maravilhas, de Lewis Carrol, narra o encontro entre a
10@professorferretto @prof_ferretto
protagonista e o Gato de Cheshire:
 
O Gato apenas sorriu ao avistá-la. Alice achou que ele
parecia afável. Mas como �nha garras muito compridas e
dentes bem graúdos, sen�u que devia tratá-lo com
respeito.
– Ga�nho de Cheshire – começou a dizer
�midamente, sem ter certeza se ele gostaria de ser
tratado assim, mas ele apenas abriu um pouco mais o
sorriso. “Ó�mo, parece que ele gostou”, pensou ela, e
prosseguiu: – Podia me dizer, por favor, qual é o caminho
para sair daqui?
– Isso depende muito do lugar para onde você quer ir
– disse o Gato.
– Não me importa onde... – disse Alice.
– Nesse caso não importa por onde você vá – disse o
Gato.
– ...conquanto que eu chegue a algum lugar –
acrescentou Alice como explicação.
– É claro que isso acontecerá – disse o Gato –, desde
que você ande por algum tempo.
(CARROLL, L. Aventuras de Alice no país das
maravilhas. Tradução de Sebas�ão Uchoa Leite. São
Paulo: Editora 34, p. 68-69, 2016.) 
 
A par�r da leitura do trecho e da compreensão do todo
da narra�va, pode-se afirmar que o excerto é um
exemplo 
a) do afeto que marca o contato que Alice estabelece
com os habitantes do país das maravilhas.
b) do estranhamento que Alice experimenta ao conhecer
seres que não exis�am no mundo de onde ela veio.
c) da descoberta, por parte de Alice, do domínio que ela
tem sobre as situações no país das maravilhas.
d) da percepção, por parte de Alice, de que as palavras
não têm sempre o mesmo sen�do para quem as usa.
L0597 - (Enem)
Marília acorda
Tomo café em golinhos para não queimar meus lábios
ressequidos. Como pão em pedacinhos para não
engasgar com um farelo mais duro. Marília come
também, mas olha o tempo todo para baixo. Parece que
tem um acanhamento novo entre a gente. Termino. Olho
mais uma vez pela janela. O dia está bom. Quero
caminhar pelo pá�o. Marília levanta, pega o andador e
põe ao lado da cama. Ela sabe que eu quero levantar
sozinha, e levanto. O lance de escadas, apesar de
pequeno, ainda me causa problemas, mas não quero um
elevador na casa e não vou tolerar descer uma rampa de
cadeira de rodas. Marília abre a porta e saímos para a
manhã. O dia está mais fresco do que eu imaginava. Ela
pega uma manta de tricô que temos desde não sei
quando e põe sobre as minhas costas. Ela aperta meus
ombros com muita força, porque mesmo depois de todos
esses anos, não descobriu a medida certa do carinho. Eu
gosto. Porque entendo que naquele ato, naquela força
está o nosso carinho.
POLESSO, N. B. Amora. Porto Alegre: Não Editora,
2015.
 
Nesse trecho, o drama do declínio �sico da narradora
transmite uma sensibilidade lírica centrada na 
a) necessidadede fazer adaptações na casa.
b) atmosfera de afeto fortalecido pelo convívio. 
c) condição de dependência de outras pessoas. 
d) determinação de manter a regularidade da ro�na. 
e) aceitação das restrições de mobilidade da
personagem.
L0601 - (Enem)
Meu irmão é filho ado�vo. Há uma tecnicidade no
termo, filho ado�vo, que contribui para sua aceitação
social. Há uma novidade que por um á�mo o absolve das
mazelas do passado, que parece limpá-lo de seus
sen�dos indesejáveis. Digo que meu irmão é filho ado�vo
e as pessoas tendem a assen�r com solenidade,
disfarçando qualquer pesar, baixando os olhos como se
não sen�ssem nenhuma ânsia de perguntar mais nada.
Talvez compar�lhem da minha inquietude, talvez de fato
se esqueçam do assunto no próximo gole ou na próxima
garfada. Se a inquietude con�nua a reverberar em mim, é
porque ouço a frase também de maneira parcial — meu
irmão é filho — e é di�cil aceitar que ela não termine
com a verdade tautológica habitual: meu irmão é filho
dos meus pais. Estou entoando que meu irmão é filho e
uma interrogação sempre me salta aos lábios: filho de
quem? 
FUCKS, J. A resistência. São Paulo: Cia. das Letras,
2015.
 
Das reflexões do narrador, apreende-se uma perspec�va
que associa a adoção 
a) a representações sociais es�gma�zadas da
parentalidade. 
b) à necessidade de aprovação por parte de
desconhecidos.
c) ao julgamento velado de membros do núcleo familiar.
d) ao conflito entre o termo técnico e o vínculo afe�vo. 
e) a inquietações próprias das relações entre irmãos.
11@professorferretto @prof_ferretto

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