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ENEM Elementos da Narrativa L0041 - (Enem) A volta do marido pródigo – Bom dia, seu Marrinha! Como passou de ontem? – Bem. Já sabe, não é? Só ganha meio dia. [...] Lá além, Generoso cotuca Tercino: – [...] Vai em festa, dorme que-horas, e, quando chega, ainda é todo enfeitado e salamistrão!... – Que é que hei de fazer, seu Marrinha... Amanheci com uma nevralgia... Fiquei com cisma de apanhar friagem... – Hum... – Mas o senhor vai ver como eu toco o meu serviço e ainda faço este povo trabalhar... [...] Pintão suou para desprender um pedrouço, e teve de pular para trás, para que a laje lhe não esmagasse um pé. Pragueja: – Quem não tem brio engorda! – É... Esse sujeito só é isso, e mais isso... – opina Sidu. – Também, tudo p’ra ele sai bom, e no fim dá certo... – diz Correia, suspirando e retomando o enxadão. – “P’ra uns, as vacas morrem ... p’ra outros até boi pega a parir...”. Seu Marra já concordou: – Está bem, seu Laio, por hoje, como foi por doença, eu aponto o dia todo. Que é a úl�ma vez!... E agora, deixa de conversa fiada e vai pegando a ferramenta! (ROSA, J. G. Sagarana. Rio de Janeiro: José Olympio, 1967.) Esse texto tem importância singular como patrimônio linguís�co para a preservação da cultura nacional devido a) à menção a enfermidades que indicam falta de cuidado pessoal. b) à referência a profissões já ex�ntas que caracterizam a vida no campo. c) aos nomes de personagens que acentuam aspectos de sua personalidade. d) ao emprego de ditados populares que resgatam memórias e saberes cole�vos. e) às descrições de costumes regionais que desmis�ficam crenças e supers�ções. L0040 - (Enem) Singular ocorrência – Há ocorrências bem singulares. Está vendo aquela dama que vai entrando na igreja da Cruz? Parou agora no adro para dar uma esmola. – De preto? – Justamente; lá vai entrando; entrou. – Não ponha mais na carta. Esse olhar está dizendo que a dama é uma recordação de outro tempo, e não há de ser muito tempo, a julgar pelo corpo: é moça de truz. – Deve ter quarenta e seis anos. – Ah! conservada. Vamos lá; deixe de olhar para o chão e conte-me tudo. Está viúva, naturalmente? – Não. – Bem; o marido ainda vive. É velho? – Não é casada. – Solteira? – Assim, assim. Deve chamar-se hoje D. Maria de tal. Em 1860 florescia com o nome familiar de Marocas. Não era costureira, nem proprietária, nem mestra de meninas; vá excluindo as profissões e chegará lá. Morava na Rua do Sacramento. Já então era esbelta, e, seguramente, mais linda do que hoje; modos sérios, linguagem limpa. (ASSIS, M. Machado de Assis: seus 30 melhores contos, Rio de Janeiro: Aguilar, 1961.) No diálogo, descor�nam-se aspectos da condição da mulher em meados do século XIX. O ponto de vista dos 1@professorferretto @prof_ferretto personagens manifesta conceitos segundo os quais a mulher a) encontra um modo de dignificar-se na prá�ca da caridade. b) preserva a aparência jovem conforme seu es�lo de vida. c) condiciona seu bem-estar à estabilidade do casamento. d) tem sua iden�dade e seu lugar referendados pelo homem. e) renuncia à sua par�cipação no mercado de trabalho. L0038 - (Enem) Quarto de despejo Carolina Maria de Jesus Do diário da catadora de papel Carolina Maria de Jesus surgiu este autên�co exemplo de literatura-verdade, que relata o co�diano triste e cruel da vida na favela. Com uma linguagem simples, mas contundente e original, a autora comove o leitor pelo realismo e pela sensibilidade na maneira de contar o que viu, viveu e sen�u durante os anos em que morou na comunidade do Canindé, em São Paulo, com seus três filhos. Ao ler este relato — verdadeiro best-seller no Brasil e no exterior — você vai acompanhar o duro dia a dia de quem não tem amanhã. E vai perceber com tristeza que, mesmo tendo sido escrito na década de 1950, este livro jamais perdeu a sua atualidade. (JESUS, C. M. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Á�ca, 2007.) Iden�fica-se como obje�vo do fragmento extraído da quarta capa do livro Quarto de despejo a) retomar trechos da obra. b) resumir o enredo da obra. c) destacar a biografia da autora. d) analisar a linguagem da autora. e) convencer o interlocutor a ler a obra. L0036 - (Enem) Toca a sirene na fábrica, e o apito como um chicote bate na manhã nascente e bate na tua cama no sono da madrugada. Ternuras da áspera lona pelo corpo adolescente. É o trabalho que te chama. Às pressas tomas o banho, tomas teu café com pão, tomas teu lugar no bote no cais do Capibaribe. Deixas chorando na esteira teu filho de mãe solteira. Levas ao lado a marmita, contendo a mesma ração do meio de todo o dia, a carne-seca e o feijão. De tudo quanto ele pede dás só bom-dia ao patrão, e recomeças a luta na engrenagem da fiação. (MOTA, M. Canto ao meio. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964.) Nesse texto, a mobilização do uso padrão das formas verbais e pronominais a) ajuda a localizar o enredo num ambiente está�co. b) auxilia na caracterização �sica do personagem principal. c) acrescenta informações modificadoras às ações dos personagens. d) alterna os tempos da narra�va, fazendo progredir as ideias do texto. e) está a serviço do projeto poé�co, auxiliando na dis�nção dos referentes. L0363 - (Enem PPL) Prezada senhorita, Tenho a honra de comunicar a V. S. que resolvi, de acordo com o que foi conversado com seu ilustre progenitor, o tabelião juramentado Francisco Guedes, estabelecido à Rua da Praia, número 632, dar por encerrados nossos entendimentos de noivado. Como passei a ser o contabilista-chefe dos Armazéns Penalva, conceituada firma desta praça, não me restará, em face dos novos e pesados encargos, tempo ú�l para os deveres conjugais. Outrossim, par�cipo que vou con�nuar trabalhando no varejo da mancebia, como vinha fazendo desde que me formei em contabilidade em 17 de maio de 1932, em solenidade presidida pelo Exmo. Sr. Presidente do Estado e outras autoridades civis e militares, bem assim como representantes da Associação dos Varejistas e da Sociedade Cultural e Recrea�va José de Alencar. Sem mais, creia-me de V. S. patrício e admirador, Sabugosa de Castro. CARVALHO, J. C. Amor de contabilista. In: Porque Lulu Berga�m não atravessou o Rubicon. Rio de Janeiro: José Olympio, 1971. 2@professorferretto @prof_ferretto A exploração da variação linguís�ca é um elemento que pode provocar situações cômicas. Nesse texto, o tom de humor decorre da incompa�bilidade entre a) o obje�vo de informar e a escolha do gênero textual. b) a linguagem empregada e os papéis sociais dos interlocutores. c) o emprego de expressões an�gas e a temá�ca desenvolvida no texto. d) as formas de tratamento u�lizadas e as exigências estruturais da carta. e) o rigor quanto aos aspectos formais do texto e a profissão do remetente. L0380 - (Enem PPL) A orquestra atacou o tema que tantas vezes ouvi na vitrola de Ma�lde. Le maxixe!, exclamou o francês [...] e nos pediu que dançássemos para ele ver. Mas eu só sabia dançar a valsa, e respondi que ele me honraria �rando minha mulher. No meio do salão os dois se abraçaram e assim permaneceram, a se encarar. Súbito ele a girou em meia-volta, depois recuou o pé esquerdo, enquanto com o direito Ma�lde dava um longo passo adiante, e os dois estacaram mais um tempo, ela arqueada sobre o corpo dele. Era uma coreografia precisa, e me admirou que minha mulher conhecesse aqueles passos. O casal se entendia à perfeição, mas logo dis�ngui o que nele foi ensinado do que era nela natural. O francês, muito alto, era um boneco de varas, jogando com uma boneca de pano. Talvez pelo contraste, ela brilhava entre dezenas de dançarinos, e notei que todo o cabaré se extasiava com a sua exibição. Todavia, olhando bem, eram pessoas ves�das, ornadas, pintadas com deselegância, e foi me parecendo que também em Ma�lde, em seus movimentos de ombros e quadris, havia excesso. A orquestra não dava pausa, a música era repe��va, a dança se revelou vulgar, pela primeira vez julgueimeio vulgar a mulher com quem eu �nha me casado. Depois de meia hora eles voltaram se abanando, e escorria suor pelo colo de Ma�lde decote abaixo. Bravô, eu gritei, bravô, e ainda os es�mulei a dançar o próximo tango, mas Dubosc disse que já era tarde, e que eu �nha um ar fa�gado. CHICO BUARQUE. Leite derramado. São Paulo: Cia. das Letras, 2009. Os recursos expressivos de um texto literário fornecem pistas aos leitores sobre a percepção dos personagens em relação aos eventos da narra�va. No fragmento, cons�tui um aspecto relevante para a compreensão das intenções do narrador a a) inveja disfarçada em relação ao estrangeiro, sugerida pela descrição de seu talento como dançarino. b) demonstração de ciúmes, expressa pela desqualificação dos par�cipantes da cena narrada. c) postura aristocrá�ca, assinalada pela crí�ca à orquestra e ao gênero musical executado. d) manifestação de desprezo pela dança, indicada pela crí�ca ao exibicionismo da mulher. e) a�tude interesseira, pressuposta no elogio final e no es�mulo à con�nuação da dança. L0381 - (Enem PPL) Gaetaninho Ali na Rua do Oriente a ralé quando muito andava de bonde. De automóvel ou de carro só mesmo em dia de enterro. De enterro ou de casamento. Por isso mesmo o sonho de Gaetaninho era de realização muito di�cil. Um sonho. [...] – Traga a bola! Gaetaninho saiu correndo. Antes de alcançar a bola um bonde o pegou. Pegou e matou. No bonde vinha o pai do Gaetaninho. A gurizada assustada espalhou a no�cia na noite. – Sabe o Gaetaninho? – Que é que tem? – Amassou o bonde. A vizinhança limpou com benzina suas roupas domingueiras. Às dezesseis horas do dia seguinte saiu um enterro da Rua do Oriente e Gaetaninho não ia na boleia de nenhum dos carros do acompanhamento. Ia no da frente dentro de um caixão fechado com flores pobres por cima. Ves�a a roupa marinheira, �nha as ligas, mas não levava a palhe�nha. Quem na boleia de um dos carros do cortejo mirim exibia soberbo terno vermelho que feria a vista da gente era o Beppino. MACHADO, A. A. Brás, Bexiga e Barra Funda: no�cias de São Paulo. Belo Horizonte; Rio de Janeiro: Vila Rica, 1994. Situada no contexto da modernização da cidade de São Paulo na década de 1920, a narra�va u�liza recursos expressivos inovadores, como 3@professorferretto @prof_ferretto a) o registro informal da linguagem e o emprego de frases curtas. b) o apelo ao modelo cinematográfico com base em imagens desconexas. c) a representação de elementos urbanos e a prevalência do discurso direto. d) a encenação crua da morte em contraponto ao tom respeitoso do discurso. e) a percepção irônica da vida assinalada pelo uso reiterado de exclamações. L0385 - (Enem PPL) esse cão que me segue é minha família, minha vida ele tem frio mas não late nem pede ele sabe que o que eu tenho divido com ele, o que eu não tenho também divido com ele ele é meu irmão ele é que é meu dono bicho se é por des�no sina ou sorte só faltando saber se bicho decente bicho de casa, bicho de carro, bicho no trânsito, se bicho sem norte na fila se bicho no mangue, se bicho na brecha se bicho na mira, se bicho no sangue catar papel é profissão, catar papel revela o segredo das coisas, tem muita coisa sendo jogada fora muita pessoa sendo jogada fora OLIVEIRA, V. L. O músculo amargo do mundo. São Paulo: Escrituras, 2014. No poema, os elementos presentes do campo de percepção do eu lírico evocam um realinhamento de significados, uma vez que a) emerge a consciência do humano como matéria de descarte. b) reside na eventualidade do acaso a condição do indivíduo. c) ocorre uma inversão de papéis entre o dono e seu cão. d) se instaura um ambiente de caos no mosaico urbano. e) se atribui aos rejeitos uma valorização imprevista. L0429 - (Enem PPL) Ai se sêsse Se um dia nois se gostasse Se um dia nois se queresse Se nois dois se empareasse Se jun�m nois dois vivesse Se jun�m nois dois morasse Se jun�m nois dois drumisse Se jun�m nois dois morresse Se pro céu nois assubisse Mas porém se acontecesse De São Pedro não abrisse A porta do céu e fosse Te dizer qualquer tulice E se eu me arriminasse E tu cum eu insis�sse Pra que eu me arresolvesse E a minha faca puxasse E o bucho do céu furasse Tarvês que nois dois saísse Tarvês que nois dois caísse E o céu furado arriasse E as virgi toda fugisse ZÉ DA LUZ. Cordel do Fogo Encantado. Recife: Álbum de estúdio, 2001. O poema foi construído com formas do português não padrão, tais como “jun�m”, “nois”, “tarvês”. Essas formas legi�mam-se na construção do texto, pois a) revelam o bom humor do eu lírico do poema. b) estão presentes na língua e na iden�dade popular. c) revelam as escolhas de um poeta não escolarizado. d) tornam a leitura fácil de entender para a maioria dos brasileiros. e) compõem um conjunto de estruturas linguís�cas inovadoras. L0432 - (Enem PPL) – Não, mãe. Perde a graça. Este ano, a senhora vai ver. Compro um barato. – Barato? Admito que você compre uma lembrancinha barata, mas não diga isso a sua mãe. É fazer pouco-caso de mim. – Ih, mãe, a senhora está por fora mil anos. Não sabe que barato é o melhor que tem, é um barato! – Deixe eu escolher, deixe... – Mãe é ruim de escolha. Olha aquele blazer furado que a senhora me deu no Natal! – Seu porcaria, tem coragem de dizer que sua mãe lhe deu um blazer furado? – Viu? Não sabe nem o que é furado? Aquela cor já era, mãe, já era! ANDRADE, C. D. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998. O modo como o filho qualifica os presentes é incompreendido pela mãe, e essas escolhas lexicais 4@professorferretto @prof_ferretto revelam diferenças entre os interlocutores, que estão relacionadas a) à linguagem infan�lizada. b) ao grau de escolaridade. c) à dicotomia de gêneros. d) às especificidades de cada faixa etária. e) à quebra de regras da hierarquia familiar. L0406 - (Enem PPL) A madrasta retalhava um tomate em fa�as, assim finas, capaz de envenenar a todos. Era possível entrever o arroz branco do outro lado do tomate, tamanha a sua transparência. Com a saudade evaporando pelos olhos, eu insis�a em jus�ficar a economia que administrava seus gestos. Afiando a faca no cimento frio da pia, ela cortava o tomate vermelho, sanguíneo, maduro, como se degolasse cada um de nós. Seis. O pai, amparado pela prateleira da cozinha, com o suor desinfetando o ar, tamanho o cheiro do álcool, reparava na fome dos filhos. Enxergava o manejo da faca desafiando o tomate e, por certo, nos pensava devorados pelo vento ou tempestade, segundo decretava a nova mulher. Todos os dias – co�dianamente – havia tomates para o almoço. Eles germinavam em todas as estações. Jabu�caba, manga, laranja, floresciam cada um em seu tempo. Tomate, não. Ele fru�ficava, con�nuamente, sem demandar adubo além do ciúme. Eu desconhecia se era mais importante o tomate ou o ritual de cortá-lo. As fa�as delgadas escreviam um ódio e só aqueles que se sentem intrusos ao amor podem tragar. QUEIRÓS, B. C. Vermelho amargo. São Paulo: Cosac & Naify, 2011. Ao recuperar a memória da infância, o narrador destaca a importância do tomate nos almoços da família e a ação da madrasta ao prepará-lo. A insistência nessa imagem é um procedimento esté�co que evidencia a a) saudade do menino em relação à sua mãe. b) insegurança do pai diante da fome dos filhos. c) raiva da madrasta pela indiferença do marido. d) resistência das crianças quanto ao carinho da madrasta. e) convivência conflituosa entre o menino e a esposa do pai. L0415 - (Enem PPL) Um menino aprende a ler Minha mãe sentava-se a coser e re�nha-me de livro na mão, ao lado dela, ao pé da máquina de costura. O livro �nha numa página a figura de um bicho carcunda ao lado da qual, em letras graúdas, destacava-se esta palavra: ESTÔMAGO. Depois de soletrar "es-to-ma-go", pronunciei "estomágo". Eu havia pronunciado bem as duas primeiras palavras que li, camelo e dromedário. Mas estômago, pronunciei estomágo. Minha mãe, bonita como só pode ser mãe jovem para filho pequeno, o rosto alvíssimo, os cabelos enroladosno pescoço, parou a costura e me fitou de fazer medo: "Gilberto!". Estremeci. "Estomágo? Leia de novo, soletre". Soletrei, repe�: "Estomágo". Foi o diabo. Jamais �nha ouvido, ao que me lembrasse então, a palavra estômago. A cozinheira, o estribeiro, os criados, Bernarda, diziam "estambo". "Estou com uma dor na boca do estambo...", "Meu estambo está �nindo...". Meus pais teriam pronunciado direito na minha presença, mas eu não me lembrava. E criança, como o povo, sempre que pode repele proparoxítono. AMADO, G. História da minha infância. Rio de Janeiro: José Olympio, 1958. No trecho, em que o narrador relembra um episódio e sua infância, revela-se a possibilidade de a língua se realizar de formas diferentes. Com base no texto, a passagem em que se constata uma marca de variedade linguís�ca pouco pres�giada é: a) “O livro �nha numa página a figura de um bicho carcunda ao lado da qual, em letras graúdas, destacava-se esta palavra: ESTÔMAGO”. b) “‘Gilberto!’. Estremeci. ‘Estomágo? Leia de novo, soletre’. Soletrei, repe�: ‘Estomágo’”. c) “Eu havia pronunciado bem as duas primeiras palavras que li, camelo e dromedário”. d) “Jamais �nha ouvido, ao que me lembrasse então, a palavra estômago”. e) “A cozinheira, o estribeiro, os criados, Bernarda, diziam ‘estambo’”. L0417 - (Enem PPL) Lisboa: aventuras tomei um expresso cheguei de foguete subi num bonde desci de um elétrico pedi um cafezinho serviram-me uma bica quis comprar meias só vendiam peúgas fui dar a descarga disparei um autoclisma gritei "ó cara!" responderam-me «ó pá» posi�vamente as aves que aqui gorjeiam não [gorjeiam como lá.. 5@professorferretto @prof_ferretto PAES, J. P. A poesia está morta mas juro que não fui eu. São Paulo: Duas Cidades, 1988. No texto, a diversidade linguís�ca é apresentada pela ó�ca de um observador que entra em contato com uma comunidade linguís�ca diferente da sua. Esse observador é um a) falante do português brasileiro relatando o seu contato na Europa com o português lusitano. b) imigrante em Lisboa com domínio dos registros formal e informal do português europeu. c) turista europeu com domínio de duas variedades do português em visita a Lisboa. d) português com domínio da variedade coloquial da língua falada no Brasil. e) poeta brasileiro defensor do uso padrão da língua falada em Portugal. L0420 - (Enem PPL) A pintura Napoleão cruzando os Alpes, do ar�sta francês Jacques Louis-David, produzida em 1801, contempla as caracterís�cas de um es�lo que a) u�liza técnicas e suportes ar�s�cos inovadores. b) reflete a percepção da população sobre a realidade. c) caricaturiza episódios marcantes da história europeia. d) idealiza eventos históricos pela ó�ca de grupos dominantes. e) compõe obras com base na visão crí�ca de ar�stas consagrados. L0597 - (Enem) Marília acorda Tomo café em golinhos para não queimar meus lábios ressequidos. Como pão em pedacinhos para não engasgar com um farelo mais duro. Marília come também, mas olha o tempo todo para baixo. Parece que tem um acanhamento novo entre a gente. Termino. Olho mais uma vez pela janela. O dia está bom. Quero caminhar pelo pá�o. Marília levanta, pega o andador e põe ao lado da cama. Ela sabe que eu quero levantar sozinha, e levanto. O lance de escadas, apesar de pequeno, ainda me causa problemas, mas não quero um elevador na casa e não vou tolerar descer uma rampa de cadeira de rodas. Marília abre a porta e saímos para a manhã. O dia está mais fresco do que eu imaginava. Ela pega uma manta de tricô que temos desde não sei quando e põe sobre as minhas costas. Ela aperta meus ombros com muita força, porque mesmo depois de todos esses anos, não descobriu a medida certa do carinho. Eu gosto. Porque entendo que naquele ato, naquela força está o nosso carinho. POLESSO, N. B. Amora. Porto Alegre: Não Editora, 2015. Nesse trecho, o drama do declínio �sico da narradora transmite uma sensibilidade lírica centrada na a) necessidade de fazer adaptações na casa. b) atmosfera de afeto fortalecido pelo convívio. c) condição de dependência de outras pessoas. d) determinação de manter a regularidade da ro�na. e) aceitação das restrições de mobilidade da personagem. L0601 - (Enem) Meu irmão é filho ado�vo. Há uma tecnicidade no termo, filho ado�vo, que contribui para sua aceitação social. Há uma novidade que por um á�mo o absolve das mazelas do passado, que parece limpá-lo de seus sen�dos indesejáveis. Digo que meu irmão é filho ado�vo e as pessoas tendem a assen�r com solenidade, disfarçando qualquer pesar, baixando os olhos como se não sen�ssem nenhuma ânsia de perguntar mais nada. Talvez compar�lhem da minha inquietude, talvez de fato se esqueçam do assunto no próximo gole ou na próxima garfada. Se a inquietude con�nua a reverberar em mim, é porque ouço a frase também de maneira parcial — meu irmão é filho — e é di�cil aceitar que ela não termine com a verdade tautológica habitual: meu irmão é filho dos meus pais. Estou entoando que meu irmão é filho e uma interrogação sempre me salta aos lábios: filho de quem? FUCKS, J. A resistência. São Paulo: Cia. das Letras, 2015. 6@professorferretto @prof_ferretto Das reflexões do narrador, apreende-se uma perspec�va que associa a adoção a) a representações sociais es�gma�zadas da parentalidade. b) à necessidade de aprovação por parte de desconhecidos. c) ao julgamento velado de membros do núcleo familiar. d) ao conflito entre o termo técnico e o vínculo afe�vo. e) a inquietações próprias das relações entre irmãos. 7@professorferretto @prof_ferretto