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Faculdade Campos Elíseos
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EDUCAÇÃO
MULTICULTURAL
Núcleo de Pós-Graduação
ANTROPOLOGIA E
ETNOGRAFIA
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Introdução:
A contribuição da antropologia para a educação reside na questão da diversidade. Ou se o leitor
assim quiser, na diferença. Somos diferentes uns dos outros, temos realidades sociais distintas em um
país continental como o Brasil, dividido por regiões, estados e cidades completamente diferentes.
No que tange à educação, os professores e também os estudantes, se deparam com inúmeros
desafios latentes do campo da diversidade. E como lidar o outro? Quando este outro é tão estranho o
que posso fazer?
Não temos uma fórmula ou uma receita para estas e outras questões, mas um dos propósitos deste
material é apresentar a antropologia com suas vertentes teóricas e analíticas distintas. É abordar
minimamente como os principais teóricos (não foi possível falar de todos), pensaram o homem, a
cultura, o conhecimento, as relações sociais, a civilização, as particularidades, a observação e as
diferenças entre os povos.
A antropologia enquanto ciência que procura analisar o homem em todas as suas esferas e
dimensões, pode contribuir para a educação no que se refere a uma profunda reflexão do ser humano
em sociedade.
Desejo a você estudante leitor um bom proveito do material e das sugestões que estão no final da
apostila.
Bons estudos!
Profa. Lúcia Soares
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1- Antropologia:
A Antropologia é considerada uma ciência “nova” por fazer parte das chamadas Ciências Humanas
e, como toda ciência humana, se constitui no século XIX .A Antropologia é a ciência que procura
estudar e pesquisar o homem, ou seja, o ser humano em sua totalidade, bem como em sua
diversidade cultural e social.
Aetimologia da palavra Antropologia vem do grego anthropos (homem, ser humano) e
logos(conhecimento).O principal objetivo da Antropologia é estudar como os seres humanos vivem
em sociedade, para tanto, observar o cotidiano é importante para compreender os padrões
socioculturais que são determinantes para a vivência das práticas sociais que são compartilhadas
entre os homense determinantes para a compreensão das relações sociais que se estabelecem no
interior da sociedade.
Mas, a maneira como os indivíduos vivem em grupos produzindo sua história particular e de mundo,
determinando maneiras coletivas numa visão ordenada de pensamento, práticas sociais, conduta,
experiências e vivências, é o componente fundamental da Antropologia, isto é, a cultura.
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Se os seres humanos vivem em sociedade e se organizam através de grupos é uma decorrência da
cultura.Portanto, podemos afirmar que o objeto de estudo da Antropologia é a cultura, que serve para
compreender o homem e suas particularidades, principalmente, no que se refere à diferença,
sem lançar mão de julgamento de valor e hierarquia comparativa que levam à oposição binária entre
cultura boa ou cultura ruim, cultura superior ou cultura inferior, e assim sucessivamente.
A Antropologia permite observar, analisar e compreender de que forma os seres humanos pensam e
vivem no Planeta Terra.
3 - Antecedentes Históricos da Antropologia:
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Para abarcarmos a constituição da reflexão antropológica é importante ressaltar sua
contemporaneidade que nos remete ao descobrimento do Novo Mundo.
Na Era dos Descobrimentos
1
o Renascimento
2
se interessou por lugares desconhecidos e começou a
formar discursos sobre os povos distantes que habitavam aqueles lugares.
Sendo assim, a questão central para os europeus viajantes e que surge a partir de uma comparação
visual consigo mesmo foi:
Aqueles que acabaram de ser descobertos pertencem à humanidade? O critério
essencial para saber se convém atribuir-lhes um estatuto humano é, nessa época,
religioso: o selvagem tem alma? O pecado original também lhes diz respeito? –
questão capital para os missionários, já que da resposta irá depender o fato de saber
se é possível trazer-lhes a revelação. (Laplantine, 2007, pp. 37-38).
Ainda, segundo o autor, neste período surgiuum duplo ideológico concorrentee complementar de si
que se perpetua até os dias atuais, de um lado “a recusa do estranho” e de outro “o fascínio pelo
estranho.” Ou seja, o homem branco europeu ora repudiava tudo o que via como alheio, diferente da
sua cultura européia ocidental; ora outros homens europeus sentiam-se maravilhados com tudo o que
viam e sentiam em relação às diferenças.
1
O termo Era dos Descobrimentos nos remete ao período das Grandes Navegações, ou seja: “durante os séculos XV e
XVI, os europeus, principalmente portugueses e espanhóis, lançaram-se nos oceanos Pacífico, Índico e Atlântico com
dois objetivos principais : descobrir uma nova rota marítima para as Índias e encontrar novas terras. Este período ficou
conhecido como a Era das Grandes Navegações e Descobrimentos Marítimos.” Disponível em:
http://www.suapesquisa.com/grandesnavegacoes/ Acesso: 25/02/2015.
2 “O Renascimento foi um movimento cultural que marcou a fase de transição dos valores e das tradições medievais
para um mundo totalmente novo, em que os códigos cavalheirescos cedem lugar à afetação burguesa, às máscaras sociais
desenvolvidas pela burguesia emergente. Esta importante etapa histórica predominou no Ocidente entre os séculos XV e
XVI, principalmente na Itália, centro irradiador desta revolução nas artes, na literatura, na política, na religião, nos
aspectos sócio-culturais. Deste pólo cultural o Renascimento se propagou pela Europa, especialmente pela Inglaterra,
Alemanha, Países Baixos e com menos ênfase em Portugal e Espanha.” Disponível em:
http://www.infoescola.com/movimentos-culturais/renascimento/ Acesso: 25/02/2015.
http://www.suapesquisa.com/grandesnavegacoes/
http://www.infoescola.com/movimentos-culturais/renascimento/
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É interessante notar que, apesar do duplo discurso ideológico surgirem no século XVI (16) dentro de
um contexto religioso, permanece intenso em pleno século XXI (21). Estes estereótipos, da repulsa e
do fascínio de alguma maneira marcaram a Antropologia que surgiria apenas no século XIX (19).
Desta forma, a pergunta é: quem são os selvagens?
Entre os séculos XVII (17) e XVIII (18) a diversidade das sociedades não era respeitada, pelo
contrário, muitas descrições narravam as supostas anomalias do contato do europeu com outros
seresque não eram considerados humanos. E assim, passaram a explicar quem eram os selvagens, os
seres que habitavam as florestas, garantindo uma oposição entre animalidade e humanidade.
Entre os critérios utilizados a partir do século XVI pelos europeus para julgar se
convém conferir aos índios um estatuto humano, além do critério religioso do qual
já falamos, e que pede, na configuração na qual nos situamos, uma resposta negativa
(“sem religião nenhuma”, são “mais diabos”), citaremos:
a aparência física: eles estão nus ou “vestidos de peles de animais”;
os comportamentos alimentares: eles “comem carne crua”, e é todo o
imaginário do canibalismo que irá aqui se elaborar;
3
a inteligência tal como pode ser apreendida a partir da linguagem: eles
falam “uma língua ininteligível”. (Laplantine, 2007,p. 41).
3
Sobre canibalismo veja o trailler do filme Hans Staden. Disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=HdhNci4OBsw Acesso:15/03/2015.
“São escassos os dados sobre a vida de Hans Staden, que empreendeu duas viagens ao Brasil em meados do século 16.
Na primeira, embarcou como artilheiro numa nau portuguesa que veio a Pernambuco, em 1547, e retornou a Lisboa no
ano seguinte.
Na segunda, em 1550, veio incorporado na armada do espanhol Diogo de Sanábria, que pretendia fundar um povoado na
costa da ilha de Santa Catarina e outro na embocadura do rio da Prata. O navio de Staden naufragou nas imediações de
Itanhaém, no litoral paulista, e os sobreviventes seguiram para São Vicente, onde o alemão agregou-se aos portugueses.
Em 1553, Staden foi nomeado condestável (comandante) da fortaleza de Bertioga, por Tomé de Sousa. No ano seguinte,
foi aprisionado pelos tupinambás. Permaneceu cativo na aldeia do chefe Cunhambebe, entre meados de janeiro e 31 de
outubro.
Freqüentemente ameaçado de morte e de ser devorado num ritual antropofágico da tribo, conseguiu adiar a sua morte ao
longo dos meses, até ser resgatado por um navio francês. Nele retornou à Europa, seguindo para sua cidade natal.”
Disponível em: http://educacao.uol.com.br/biografias/hans-staden.jhtm
https://www.youtube.com/watch?v=HdhNci4OBsw
http://educacao.uol.com.br/biografias/hans-staden.jhtm
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Com esta citação acima podemos compreender todo um bestiário
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que se produziu para reforçar as
características e a impossibilidade de denominar o selvagem como um ser humano.
Se o selvagem foi julgado por muitos europeus como mau, assemelhado a um animal selvagem, por
outro lado houve o avesso, ou seja, os que vão nomear seus melhoramentos ao selvagem feliz.
Aquele sujeito que apesar de ser um habitante da floresta, vai ser considerado “inocente”, “bom”,
“elegante” e “belo”. Todos esses adjetivos serão cunhados após o Renascimento, ou seja, no século
XVIII (18), no Iluminismo.
Este movimento surgiu na França do século XVII e defendia o domínio da razão
sobre a visão teocêntrica que dominava a Europa desde a Idade Média. Segundo os
filósofos iluministas, esta forma de pensamento tinha o propósito de iluminar as
trevas em que se encontrava a sociedade. Os pensadores que defendiam estes ideais
acreditavam que o pensamento racional deveria ser levado adiante substituindo as
crenças religiosas e o misticismo, que, segundo eles, bloqueavam a evolução do
homem. O homem deveria ser o centro e passar a buscar respostas para as questões
que, até então, eram justificadas somente pela fé. A apogeu deste movimento foi
atingido no século XVIII, e, este, passou a ser conhecido como o Século das Luzes.
O Iluminismo foi mais intenso na França, onde influenciou aRevolução
Francesa através de seu lema: Liberdade, igualdade e fraternidade. Também teve
influência em outros movimentos sociais como na independência das colônias
inglesas na América do Norte e na Inconfidência Mineira, ocorrida no Brasil. Para
os filósofos iluministas, o homem era naturalmente bom, porém, era corrompido
pela sociedade com o passar do tempo. Eles acreditavam que se todos fizessem parte
de uma sociedade justa, com direitos iguais a todos, a felicidade comum seria
4
“O Bestiário ou Livro das Bestas assume-se como uma obra singular no âmbito da literatura da Idade Média. Em
primeiro lugar, por nele se descreverem várias espécies animais, sejam elas existentes ou não. Em segundo lugar, por
subordinar essa descrição a uma interpretação de cariz simbólico e alegórico. Em terceiro lugar, ao integrar iluminuras
que se cruzam com o texto escrito, estabelecendo com ele um diálogo permanente. Por fim, porque se constitui como
uma obra literária que se circunscreveu à época medieval que o viu nascer e morrer. (...) O Bestiário organiza-se em
torno de pequenas narrativas que descrevem várias espécies animais, com propósitos morais e didáticos. Neste sentido,
cada uma dessas narrativas é composta por duas partes distintas: uma parte descritiva de sentido literal (a
descrição, proprietas ou naturas) e a sua moralização e interpretação teológica de sentido simbólico-alegórico (também
designada como moralização,moralitas ou figuras).” Disponível em:
http://www.fcsh.unl.pt/iem/medievalista/MEDIEVALISTA2/medievalista-bestiario.htm Acesso:15/03/2015.
http://www.suapesquisa.com/idademedia/
http://www.suapesquisa.com/francesa/
http://www.suapesquisa.com/francesa/
http://www.suapesquisa.com/estadosunidos/
http://www.suapesquisa.com/estadosunidos/
http://www.suapesquisa.com/tiradentes/
http://www.fcsh.unl.pt/iem/medievalista/MEDIEVALISTA2/medievalista-bestiario.htm
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alcançada. Por esta razão, eles eram contra as imposições de caráter religioso, contra
as práticas mercantilistas, contrários ao absolutismo do rei, além dos privilégios
dados a nobreza e ao clero.
5
“O Selvagem não é quem pensamos.” Conclama François Laplantine (2007,p.46).
Neste período, entre os séculos XV (15) e XVIII (18), além das navegações levarem os europeus em
busca de novas rotas marítimas comerciais, o descobrimento de terras distantes deu início ao
colonialismo ocidental. Os europeus entenderam rapidamente que era preciso imprimir uma política
de colonização para operar o domínio e o extrativismo de riquezas destes novos territórios, bem
como dominar e escravizar os seus habitantes, que eram considerados selvagens, bons ou maus.
A escravização dos índios avaliados como selvagens foi uma noção essencial para o processo de
colonização, mesmo porque, eles eram a peça fundamental enquanto mão-de-obra nativa. Para o
europeu viajante, missionário e administrador das colônias, supostamente estavam “educando” o
selvagem ao colocá-lo diante da cultura européia, da civilização.
Não podemos nos esquecer também do papel da Igreja. Naquela época o Estado não era laico, a
Igreja e o Estado atuavam em conjunto, incluindo os empenhos na colonização numa perspectiva
política e econômica. Portanto, para garantir que o selvagem entendesse os méritos da civilização
europeia era preciso catequizá-lo para atingir o ápice da humanização.
Entretanto, o século XVIII (18) será decisivo para a mudança de percepção em relação ao selvagem,
com a ascensão das ciências e da filosofia iluminista. A partir daí, o selvagem alçará o estatuto de
humanidade ao ser considerado pelas ciências como um ser primitivo que vive em sociedades
longínquas. No âmbito da filosofia a discussão perpassava pelo antropocentrismo e racionalismo.
6
5
Disponível em: http://www.suapesquisa.com/historia/iluminismo/ Acesso: 17/03/2015.
6
“O antropocentrismo (do grego ‘anthropos’, ‘humano; e ‘kentron’, ‘centro’) é uma concepção que considera que a
humanidade deve permanecer no centro do entendimento dos humanos, isto é, o universo deve ser avaliado de acordo
com a sua relação com o homem.
Racionalismo é uma corrente filosófica que iniciou com a definição do raciocínio que é a operação mental, discursiva e
lógica. O Renascimento defendia a razão como fonte de todo o conhecimento humano. Rompia-se com a supremacia da
teologia medieval e com a sujeição do homem à fé.” Disponível em: http://novahistorianet.blogspot.com.br/2009/01/o-
renascimento-cultural.html Acesso:17/03/2015.
http://www.suapesquisa.com/historia/iluminismo/
http://novahistorianet.blogspot.com.br/2009/01/o-renascimento-cultural.html
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Sendo assim, a diferença entre o europeu e o nativo passou a ser concebida em termos das
diferenças, pois estava em jogo a racionalidade e a civilização, ao contrário do pensamento religioso
e o teocêntrico, as análises filosóficas e científicas buscavam compreender o diferente.
3.1 - Século XVIII - a Revolução do Pensamento: Modernidade
7
O período renascentista trouxe a possibilidade de pensar sobre o homem em outro contexto fora da
dualidade selvageria versus civilidade. Foi neste período que se discutiu o humanismo, princípio de
valores morais e sociais que questionava o pensamento religioso teocêntrico.
O Humanismo pode ser definido como um conjunto de ideais e princípios que
valorizam as ações humanas e valores morais (respeito, justiça, honra, amor,
liberdade, solidariedade, etc). Para os humanistas, os seres humanos são os
responsáveis pela criação e desenvolvimento destes valores. Desta forma, o
pensamento humanista entra em contradição com o pensamento religioso que afirma
que Deus é o criador destes valores.
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7
Quadro “Las Meninas” de 1656, obra artística do espanhol Diego Velasquez, que foi analisada pelo filósofo francês
Michel Foucault em seu livro As Palavras e as Coisas de1966.
8
Disponível em: http://www.suapesquisa.com/o_que_e/humanismo.htm Acesso:17/03/2015.
http://www.suapesquisa.com/o_que_e/humanismo.htm
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Mas foi no século XVIII que se começou a pensar em ciência que pudesse de fato dar conta de
compreender o homem em sua multiplicidade, era preciso pensar em como instituir um projeto que
conseguisse estabelecer uma ciência do homem.
Esta tarefa se concretizou na Modernidade, especificamente no final do século XVIII (18).
Considerada como a época do acesso do homem à maioridade, ao livre uso da razão
e à consequente autonomia em relação aos entraves que o impedem de escolher e de
seguir por si próprio o seu destino, a modernidade não é senão outra designação do
Iluminismo. Qual é então o momento histórico que corresponde a esta época? Os
historiadores tendem a considerar o século XVIII como o século do Iluminismo. É,
de fato, neste século, que ocorrem dois acontecimentos que indiciam transformações
irreversíveis habitualmente associadas com a modernidade: a publicação
da Enciclopédia de Diderot e d’Alembert e a Revolução Francesa (1789). A
Enciclopédia consagrou de fato uma nova modalidade de saber, não fundado na
autoridade política ou religiosa, mas numa comunidade de homens dotados de razão
e por isso capazes de juízo crítico. A Revolução Francesa instituiu uma nova ordem
política de homens livres, governados por uma Constituição, por uma norma
fundada, não na vontade de umsoberano, mas do povo.
9
De acordo com o filósofo francês Michel Foucault (2007), tanto o “humanismo” do Renascimento e
o “racionalismo” dos filósofos clássicos não conseguiram “pensar o homem.”
(...) ao nível das aparências, a modernidade começa quando o ser humano começa a
existir no interior de seu organismo, na concha de sua cabeça, na armadura de seus
membros e em meio a toda a nervura de sua fisiologia; quando ele começa a existir
no coração de um trabalho cujo princípio o domina e cujo produto lhe escapa;
quando aloja seu pensamento nas dobras de uma linguagem, tão mais velha que ele
não pode dominar-lhe as significações, reanimadas, contudo, pela insistência de sua
palavra. (Foucault, 2007, 438).
9
Disponível em: http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&link_id=1546:modernidade&task=viewlink
Acesso: 17/03/2015
http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&link_id=1546:modernidade&task=viewlink
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Segundo Laplantine (2007, p.55), o projeto antropológico – mas não propriamente a ciência
antropológica – consistia em:
construir um determinado número de conceitos – dando início ao próprio conceito de
homem– para compreender como sujeito, e também como objeto de saber;
constituir um saber que tão somente fosse reflexão, mas, sobretudo, partisse de uma
observação que considerasse uma nova maneira de compreender o homem em sua
multiplicidade.
Era preciso compreender o homem em sua “positividade” de saber concreto, de “saber empírico”,
que rejeita as explicações transcendentais. Mas que acessa o homem como:
Um ser vivo (Biologia);
Um ser que trabalha (Economia);
Um ser que pensa (Psicologia);
Um ser que fala (Linguística).
E também considera uma problematização fundamental a questão da diferença. Depara-se no século
XVIII (18) com uma crise do humanismo diante novas possibilidades de pensar o homem.
Outro fator importante ocorreu acerca do método de comparação e análise denominada método
indutivo. Que procurou, por sua vez, comparar grupos sociais a organismos vivos.
De um modo mais geral, o homem, para as ciências humanas, não é esse ser vivo
que tem uma forma bem particular (uma fisiologia bastante especial e uma
autonomia quase única); é esse ser vivo que, do interior da vida à qual pertence
inteiramente e pela qual é atravessado em todo o seu ser, das quais detém esta
estranha capacidade de poder representar justamente a vida. (Foucault, 2007, 487)
Todas estas análises e problemas nos levam a entender que o século XVIII (18), foi o século da
revolução do pensamento. Neste momento estava em jogo a ascensão de uma ciência que pudesse
observar o homem em todos os seus aspectos, como: físicos, psíquicos, sociais e culturais. E assim,
no século XIX (19) surge a Antropologia como uma das ramificações das Ciências Humanas.
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O grande valor da ciência e do conhecimento, sobretudo,em suas diversas condições no âmbito
contemporâneo supera as prováveis relações que podemos ter com sua oportunanarrativa, ou seja,
nos deparamos o tempo todo com questões advindas desde o XX (20), sua importância e pertinência
são notórias inclusive na nossa atualidade.
Neste sentido, é importante ressaltar que as Ciências Humanas buscam ir a fundo naquilo que é mais
característico em nós mesmos. Daí ser muito mais complicado de ser explicitado, digo, a nossa
própria humanidade.
4 – Evolucionismo – primeira corrente teórica da Antropologia
A situação da cultura entre as várias sociedades da humanidade, na medida em que
possa ser investigada segundo princípios gerais, é um tema adequado para o estudo
de leis do pensamento e da ação humana. De um lado, a uniformidade que tão
amplamente permeia a civilização pode ser atribuída, em grande medida, à ação
uniforme de causas uniformes; de outro, seus vários graus podem ser vistos como
estágios de desenvolvimento ou evolução, cada um resultando da história prévia e
pronto para desempenhar seu próprio papel na modelagem da história do
futuro(Edward Burnett Tylor)
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O século XIX (19) é fundamental para compreendermos de que maneira surgiu a Antropologia como
uma ciência autônoma e constituinte das chamadas Ciências Humanas. Enquanto disciplina, a
Antropologia se destacou por procurar compreender as chamadas sociedades primitivas em suas
extensões concernentes à biologia, economia, política, social, lingüística e psicológica.
Conforme a burguesia realizou duas grandes revoluções na Europa, de um lado, a Revolução
Industrial que se iniciou na Inglaterra e de outro lado, a Revolução Francesa com seu contextopolítico, mudou drasticamente o panorama da sociedade.
A Europa se vê confrontada a uma conjuntura inédita. Seus modos de vida, suas
relações sociais sofrem uma mutação sem precedentes. Um mundo está terminando,
e um outro está nascendo. Se o final do século XVIII começava a sentir essas
transformações, ele reagia ao enigma colocado pela existência de sociedades que
tinham permanecido fora dos progressos da civilização, trazendo uma dupla resposta
abandonada pela do século que nos interessa agora. (Laplantine, 2007, p.64).
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Edward B. Tylor (1832-1917) foi um dos primeiros antropólogos evolucionista, sendo uma das suas principais obras
intitula-se A Cultura Primitiva, de 1871.
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É preciso ressaltar que século XIX é o apogeu do processo de colonização. Temos como exemplo, o
Tratado de Berlim, que repartiu o Continente Africano em vários territórios destinados à colonização
das potências europeias e a consumação das soberanias africanas.
Neste momento os primeiros antropólogos acompanharam esta engrenagem da colonização,
principalmente na África, Índia, Austrália e Nova Zelândia, que passaram a ser povoadas por um
contingente enorme de europeus. Uma rede de saber se estabelece e os questionários não cessam,
suas respostas eram compiladas, analisadas e classificadas pelos antropólogos.
O saber antropológico estava à disposição da colonização e da sua política invasiva e extrativista. As
primeiras obras publicadas a partir da metade do século XIX (19) procuraram desvendar o primitivo.
Todas essas obras, que tem uma ambição considerável – seu objetivo não é nada
menos que o estabelecimento de um verdadeiro corpus etnográfico da humanidade –
caracterizam-se por uma mudança radical de perspectiva em relação à época das
“luzes”: o indígena das sociedades extra-europeia não é mais o selvagem do século
XVIII, tornou-se o primitivo, isto é, o ancestral do civilizado, destinado a
reencontrá-lo. A colonização atuará nesse sentido. Assim a antropologia,
conhecimento do primitivo, fica indissociavelmente ligada ao conhecimento da
nossa origem, isto é, das formas simples de organização social e de mentalidade que
evoluíram para as formas mais complexas das nossas sociedades. (Laplantine, 2007,
p.65)
Esta corrente de pensamento teórico se denominará como evolucionista. O evolucionismo pode ser
designado como o estudo antropológico que procurava seguir os parâmetros de uma Europa que
auferia o estatuto de superioridade. De um continente velho, porém civilizado, desenvolvido, que
investiu na expansão marítima comercial, capitalista-industrial, e por fim, nacionalista.
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Os evolucionistas foram profundamente influenciados por Augusto Comte, que qualificou os povos
ocidentais como os mais evoluídos, segundo ele, por exercitarem a ciência, e os primitivos por serem
adeptos do animismo, ou seja, acreditarem em elementos sobrenaturais e praticarem rituais, portanto,
inferiores.
Para combater a metafísica
11
, Comte instituiu o pensamento positivista como forma de conhecimento
objetivo. O positivismo acreditava que o melhor modo de se compreender a sociedade era aplicar os
mesmos métodos utilizados nas ciências naturais. Confiava exclusivamente na razão humana em
conceber e interpretar a realidade da vida social sob os aspectos das leis naturais, que poderiam
regular a vida do homem, da natureza e do universo.
12
O pensamento de Comte refletia os eventos turbulentos de seu tempo. A Revolução
Francesa introduzira mudanças significativas na sociedade, e o crescimento da
industrialização estava alterando a vida tradicional da população francesa. Comte
buscou criar uma ciência da sociedade que pudesse explicar as leis do mundo social
da mesma forma que a ciência natural explicava o funcionamento do mundo físico.
Embora Comte reconhecesse que cada disciplina científica possui seu próprio
assunto, ele acreditava que todas elas compartilham uma lógica comum e um
método científico direcionado a revelar leis universais. Da mesma forma que a
descoberta de leis no mundo natural nos permite controlar e predizer acontecimentos
ao nosso redor,desvendar as leis que governam a sociedade humana poderia nos
ajudar a modelar nosso destino e a melhorar o bem-estar da humanidade. (Giddens,
2005, p.28).
11
A palavra metafísica possui origem grega e significa: meta: depois de, além de e física/physis: natureza ou físico, e
trata-se de um ramo da filosofia que se ocupa em estudar a essência do mundo. Pode ser definida como o estudo do ser
ou da realidade, e se destina a buscar respostas para perguntas complexas como: O que é realidade? O que é a vida? O
que é natural? O que é sobre-natural? O que nos faz essencialmente humanos? Disponível em:
http://www.infoescola.com/filosofia/metafisica/ Acesso 18/03/2015.
12
“Comte foi o pai do Positivismo, corrente filosófica que busca explicar as leis do mundo social com critérios das
ciências exatas e biológicas. Foi também o grande sistematizador da sociologia, dividindo a sociologia em duas áreas: a
estática social e a dinâmica social. (...)A defesa doPositivismo é de que somente o conhecimento científico é verdadeiro,
não se admitindo como verdades as afirmações ligadas ao sobrenatural, à divindade.” Disponível em:
http://www.infoescola.com/educacao/auguste-comte-o-positivismo-e-a-escola/ Acesso 18/03/2015.
http://www.infoescola.com/filosofia/metafisica/
http://www.infoescola.com/filosofia/metafisica/
http://www.infoescola.com/educacao/auguste-comte-o-positivismo-e-a-escola/
http://www.infoescola.com/educacao/auguste-comte-o-positivismo-e-a-escola/
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No século XIX – século da ciência – Comte contribui para a constituição do pensamento
evolucionista ao propor uma classificação por etapas sobre a origem e desenvolvimento da
humanidade, isto é, tudo aquilo que compreendia as etapas mais simples às etapas mais complexas.
Contudo, para além da influência de Augusto Comte e do positivismo, o evolucionismo foi
arrebatado pelas teorias de Darwin. De acordo com o naturalista Charles Darwin, a evolução da
espécie humana foi determinante para a separação dos homens em relação aos outros animais.
Durante anos ele coletou material suficiente para a constatação da sua pesquisa teórica da evolução
das espécies.
O diferencial de Darwin era o conjunto de evidências e argumentos a favor da
evolução que possuía. Este fato, somado à sua posição de destaque no meio
científico e à publicação do livro ‘A origem das espécies por meio da seleção
natural, ou a preservação das raças favorecidas na luta pela vida’, é o que faz com
que, na maioria das vezes, apenas ele seja lembrado.
13
A associação entre as teorias evolucionistas biológicas e as teorias evolucionistas antropológicas
influenciadas por Comte, derivou no “darwinismo social”, um padrão composto por dois elementos
diferentes e incertos de abrangência das configurações socioculturais observadas dos povos
primitivos e sociedades longínquas.
O Darwinismo Socialprevaleceu ao longo do século XIX (19) e início do século XX (20), tinha como
cerne a hipótese de uma “história evolutiva” que explicaria a origem de todos os povos, e suas
diferenças seriam elucidadas por meio de etapas distintas tanto na esfera da evolução biológica
quanto na esfera da evolução cultural.
13
Disponível em: http://www.brasilescola.com/biologia/teoria-da-evolucao.htmAcesso: 18/03/2015
http://www.brasilescola.com/biologia/teoria-da-evolucao.htm
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17
Quem acredita que a teoria sobre evolução e seleção natural limitou-se à área da
Biologia está redondamente enganado. Não demorou muitos anos para alguns
pensadores (filósofos e cientistas sociais) do século XIX, como o inglês Herbert
Spencer, utilizarem as ideias de Malthus e, especialmente, de Darwin, para elaborar
esquemas filosóficos que acabariam sendo utilizados para classificar as sociedades
humanas em atrasadas e avançadas, primitivas e modernas, bárbaras e civilizadas.
Eles defendiam a tese de que existiam raças superiores e inferiores, a qual foi
amplamente utilizada pelos governos europeus para justificar seus domínios na Ásia
e na África no período do imperialismo (século XIX e parte do século XX), criando
as condições para o aumento do preconceito contra os povos desses continentes,
vistos como inferiores.
14
Aplicando sua metodologia, os antropólogos evolucionistas procuraram descobrir as diferenças entre
as espécies sociais, ao classificá-las e ordená-las num processo contínuo, que vai das mais atrasadas
e simples às mais evoluídas e complexas, conforme as diferentes etapas de desenvolvimento do
próprio processo evolutivo.
Não custa muito denunciar o etnocentrismo que eles demonstraram em relação aos
“povos atrasados”, evidenciando assim também, um singular espírito a-histórico – e
etnocentrista – em relação a eles, sendo que é provavelmente que, sem essa teoria,
empenhada em mostrar as etapas do movimento da humanidade (teoria que deve ser
ela própria considerada como uma etapa do pensamento sociológico), a antropologia
no sentido no qual a praticamos hoje nunca teria nascido. (Laplantine, 2007, pp. 70-
71)
14
Disponível em: http://www.educacional.com.br/reportagens/Darwin/darwinismo.asp Acesso:19/03/2015.
http://www.educacional.com.br/reportagens/Darwin/darwinismo.asp
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Podemos apontar três problemas metodológicos advindos deste pensamento. O primeiro se refere à
ascendência do racismo científico, ou seja, as diferenças culturais eram explicadas dentro de um
contexto biológico, e assim, as distinções das características físicas constitucionais passaram a ser
percebidas como elementos biológicos fundamentais para explicar as diferentes configurações de
existência cultural dos povos. Com isto, o conceito de raça passou a ser decisivo para a explicação
das diversidades socioculturais.
Raça é um conceito para categorizar diferentes populações de uma mesma espécie
biológica desde suas características físicas. Na antropologia, eram utilizadas várias
classificações de grupos humanos, conhecidos como "raças humanas", mas desde
que começou-se a usar os métodos genéticos para estudar populações humanas,
essas classificações e o próprio conceito de raças humanas deixaram de ser
utilizados, persistindo o uso do termo apenas na política.
15
O primeiro problema redimensionou o segundo, que se refere ao etnocentrismo, princípio
tendencioso de considerar uma raça e cultura como padrão e modelo superior, partindo do princípio
do ponto mais elevado da espécie humana.
O terceiro problema foi o eurocentrismo, princípio igualmente tendencioso de interpretar as
sociedades européias a partir dos seus valores, costumes e preceitos europeus, subjugando e
inferiorizando outras sociedades e seus povos nativos.
A seguir veremos a crítica que sucedeu o evolucionismo e culminou no surgimento da antropologia
moderna.
15
Disponível em: http://www.significados.com.br/raca/ Acesso:19/03/2015.
http://www.significados.com.br/raca/
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5 - Etnografia
16
– um encontro com o Outro
17
A antropologia moderna rompeu com uma série de afirmações e metodologias utilizadas pela
antropologia evolucionista. Enquanto os evolucionistas se debruçavam nos materiais coletados pelos
administradores e missionários no intuito de classificar; usar uma medição das culturas com o
propósito de estabelecer quem havia minimamente se desenvolvidas, ou aqueles supostamente tão
primitivos que não haviam ainda entradono processo de desenvolvimento. Acabaram rotulados como
os “antropólogos de gabinete”, pois pesquisavam e estudavam a exaustão, mas sem tomar contato
direto com o objeto de estudo, ou seja, os nativos das sociedades primitivas.
Esses homens do século passado colocavam o problema maior da antropologia:
explicar a universalidade e a diversidadedas técnicas, das instituições, dos
comportamentos e das crenças, compararas práticas sociais de populações
infinitamente distantes uma das outras tanto no espaço como no tempo. Seu mérito é
de ter extraído (mesmo se o fizerem com dogmatismo,mesmo se suas convicções
16
A palavra “etnografia” deriva da união de dois vocábulos gregos: ethnos (que significa “povo”) e graphein (que
significa “grafia”,”escrita”,”descrição”,ou melhor, “estudo descrito”). Logo, etimologicamente, a etnografia é o estudo
descrito de um povo. Disponível em: http://www.grupoescolar.com/pesquisa/o-que-e-a-etnografia.html Acesso:
20/03/2015.
17
Na foto vemos o etnógrafo Malinowski (1884-1942) junto a um grupo de nativos das Ilhas Trobriand no Pacífico.
http://www.grupoescolar.com/pesquisa/o-que-e-a-etnografia.html
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foram mais passionais do que racionais) essa hipótese mestra sem a qual não haveria
antropologia, mas apenas etnologias regionais: a unidade da espécie humana.
(Laplantine, 2007,72).
Entretanto, a antropologia moderna apoiada sob a égide da etnografia passou a existir no momento
no qual se entendeu que o próprio pesquisador, enquanto antropólogo fosse a campo explorar sua
própria pesquisa, e este trabalho de campo, um trabalho empírico
18
instituísse a observação direta
como parte essencial da pesquisa.
De maneira que, nos primeiros trinta anos do século XX (20) ocorreu uma revolução na
antropologia. Neste período, a divisão de tarefas incidia sobre quem ia a campo coletar dados e
observar os nativos, ou seja, os viajantes, missionários e administradores das colônias, com suas
tarefas subalternas, porém imprescindível para o pesquisador erudito, ou seja, o antropólogo que
havia permanecido em seu gabinete na universidade, mas desempenhava o papel do intelectual
analista e interprete dos dados colhidos.
Notemos que a partir do momento que o antropólogo, enquanto pesquisador compreende a
importância de deixar o seu gabinete na universidade para ir a campo, viver e conviver durante um
determinado período com aqueles que o receberão para partilhar suas experiências, intimidades e
costumes. Desta forma, percebemos como ocorreu uma ruptura drástica em relação à antropologia
evolucionista.
Esse trabalho de campo, como o chamamos ainda hoje, longe de ser visto como um
modo de conhecimento secundário servindo para ilustrar uma tese, é considerado
18
“Empírico é um fato que se apóia somente emexperiências vividas, na observação de coisas, e não em teorias e
métodos científicos. Empírico é aquele conhecimento adquirido durante toda a vida, no dia-a-dia, que não tem
comprovação científica nenhuma. Método empírico é um método feito através de tentativas e erros, é caracterizado
pelo senso comum, e cada um compreendeà sua maneira. O método empírico gera aprendizado, uma vez que
aprendemos fatos através das experiências vividas e presenciadas, para obter conclusões. O conhecimento empírico é
muitas vezes superficial, sensitivo e subjetivo.” Disponível em http://www.significados.com.br/empirico/ Acesso
20/03/2015.
http://www.significados.com.br/empirico/
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como a própria fonte de pesquisa. Orientou a partir desse momento a abordagem da
nova geração de etnólogos que, desde os primeiros anos do século XX, realizou
estadias prolongadas entre as populações do mundo inteiro. (Laplantine, 2007, p.
76).
5.1 – Franz Boas (1858-1942)
O erro da antiga antropologia consistiu na utilização de material desse tipo,
acumulando sem exame crítico, para as reconstruções históricas. Para isso ele não
tem valor. Um dos enganos da antropologia moderna reside, a meu ver, na ênfase
exagerada que dá à reconstrução histórica – cuja importância não deveria ser
minimizada – como algo oposto a um estudo aprofundado do indivíduo sob a
pressão da cultura em que ele vive. (Franz Boas)
O alemão Franz Boas naturalizado norte-americano foi um antropólogo extraordinário que rompeu
significativamente com a antropologia evolucionista. Boas foi um antropólogo de campo, com
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pesquisas precursoras que depois influenciariam diversos pesquisadores.Para ele, no campo tudo é
essencial e indispensável, portanto, precisaria ser registrado, transcrito minuciosamente.
No campo, ensina Boas, tudo deve ser anotado: desde os materiais constitutivos das
casas até as notas das melodias cantadas pelos Esquimós, e isso detalhadamente, e
no detalhe do detalhe. Tudo deve ser objeto da descrição mais meticulosa, da
retranscrição mais fiel (por exemplo, as diferentes versões de um mito,ou diversos
ingredientes entrando na composição de um alimento). (Laplantine, 2007, p. 77).
Boas rejeita a concepção entre raça e cultura para as explicações das diferenças socioculturais, como
não aceita as anotações e dados compelidos por viajantes, missionários e administradores, tão pouco
concebe a ideia dos “antropólogos de gabinete” em aceitar as explanações e informações desses
funcionários.
Para ele, somente o antropólogo poderia investigar, narrar e elaborar um trabalho pormenorizado,
investindo em sua totalidade com independência “autonomia teórica”. Segundo Laplantine (2007), é
a primeira vez que tanto o teórico quanto o observador encontram-se juntos.
Assistimos ao nascimento de uma verdadeira etnografia profissional que não se
contenta mais em coletar materiais à maneira dos antiquários, mas procura detectar o
que faz a unidade da cultura que se expressa através desses diferentes materiais.
(Laplantine, 2007:78)
Para Franz Boas tudo fazia parte da observação, era preciso anotar o “detalhe do detalhe”, as piadas e
risadas de um grupo, as narrativas mitológicas, todos os hábitos e costumes de um determinado povo,
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nada poderiam ser desconsiderados, ao contrário, é o “detalhe do detalhe” que precisa ser observado.
Principalmente, no que se refere às sociedades tradicionais, com seus anciãos e pessoas humildes,
são estas vozes que precisam ser ouvidas e consideradas.
Boas constituiu o que é denominado atualmente de “etnociências”. Para ele o etnólogo necessita
compreender a língua da cultura na qual pesquisa, para de fato, estudar suas tradições, seria preciso
aprender a língua para colher com precisão as informações dos interlocutores.
Apesar de ser um dos primeiros etnógrafos, Franz Boas não escreveu especificamente um livro, mas
proferiu diversas palestras, aulas e publicou artigos. No Brasil, em 2005, foi publicado o livro
Antropologia Cultural, uma coletânea de textos organizados por Celso Castro.
5.2 - Bronislaw Malinowski (1884 – 1942)
“Existe uma diferença enorme entre uma escapela esporádica na companhia dos
nativos e um contato real com eles. O que significa isto? Da parte do Etnógrafo,
significa que a sua vida na aldeia - no início uma aventura muitas vezes estranha e
desagradável, outras vezes intensamente interessante - assume depressa um curso
natural em harmonia progressiva com aquilo que o rodeia.” (Malinowski)
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Nos primórdios da antropologia moderna, enquanto ciência enfrentou uma série de problemas em
relação à sua legitimidade no âmbito científico. Nas primeiras décadas do século XX (20) os
cientistas se isolavam em seus estudos, distanciando-se do seu objeto.
Entretanto, Malinowski rompeu com tais preceitos ao publicar em 1922 Os Argonautas do Pacífico
Ocidental, obra etnográfica precursora do uso etnográfico da fotografia. Nesta obra, ele discorre
sobre a essência do trabalho de campo etnográfico, bem como a necessidade de estudar a “totalidade
integrada” das experiências de vida dos nativos, tanto na perspectiva econômica quanto das
motivações dos rituais inerentes à população nativa dos arquipélagos da Nova Guiné Melanésia.
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19
Bronisław Malinowski nasceu em Cracóvia na Polônia, filho de uma família aristocrática, sempre foi
um estudioso. Quando leu pela primeira vez James Frazer seu interesse despertou para a
antropologia, e ele, rapidamente seguiu para Londres. Na Inglaterra naturalizou-se britânico.
Se não foi o primeiro a conduzir cientificamente uma experiência etnográfica, isto é,
em primeiro lugar, a viver com as populações que estudava e a recolher seus
materiais de seus idiomas, radicalizou essa compreensão por dentro, e para isso
procurou romper ao máximo os contatos com o mundo europeu.
Ninguém antes dele tinha se esforçado em penetrar tanto, como ele fez no decorrer
de duas estadias sucessivas nas Ilhas Trobriand, na mentalidade dos outros, e em
compreender de dentro, por uma verdadeira busca de despersonalização o que
sentem os homens e as mulheres que pertencem a uma cultura que não é a nossa.
(Laplantine, 2007,80).
Neste sentido, foi com Malinowski que a antropologia moderna alçou o estatuto de uma ciência
distinta que rompeu definitivamente com o evolucionismo e seus métodos comparativos que
procuravam reconstituir as origens da civilização.
19
Acima Malinowski com um grupo de nativos. Em suas longas estadias pelos arquipélagos do pacífico sempre
procurou fotografar o cotidiano dos nativos.
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O seu interesse de pesquisa e método não se sustenta em etapas, classificações e estágios evolutivos,
mas sim que, toda sociedade precisa ser estudada em sua totalidade, minuciosamente, para tanto, era
preciso observar como funciona as outras sociedades, analisar continuamente uma microssociedade.
Com a publicação dos Arganoutas,Malinowski mostrou como viviam os trobriandeses, discorreu
sobre seus costumes e crenças, desvendou as diferenças entre eles – os outros – e nós, ou seja, como
vivem com seus sistemas lógicos e organizados. O que estava em jogo eram as diferenças, as
particularidades de cada cultura.
Hoje, todos os etnólogos estão convencidos de que as sociedades diferentes da nossa
são sociedades humanas tanto quanto a nossa, que os homens e mulheres que nelas
vivem são adultos que se comportam diferentemente de nós, e não “primitivos”,
autônomosatrasados (em todos os sentidos do termo) que pararam em uma época
distante e vivem presos a tradições estúpidas. (Laplantine, 2007, p.81).
A fim de compreender o sistema lógico e organizado dos trobriandeses, Malinowski elaborou uma
teoria chamada funcionalismo. Que veremos a seguir.
5.3 – O Funcionalismo
A teoria funcionalista de Malinowski baseia-se no modelo das ciências da natureza, ou seja, todo
indivíduo tem necessidades que precisam ser supridas, em uma analogia, afirmará que cada cultura
tem como função suprir as necessidades e satisfazer os indivíduos. Para ele, a função da
sociedade era suprir necessidades sociais, biológicas e psicológicas, no entanto, o indivíduo é peça
fundamental da sociedade.
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Sua análise funcionalista parte da afirmação incontestável da integração funcional de toda sociedade,
na qual cada elemento tem uma função específica a cumprir diante do todo, assim, a sociedade é esse
todo coerente e organizado entre os elementos, cada qual com a função de manter as necessidades e
satisfazer o conjunto.
Cada uma realiza isso elaborando instituições (econômicas, políticas, jurídicas,
educativas...), fornecendo respostas coletivas organizadas, que constituem, cada uma
a seu modo, soluções originais que permitem atender a essas necessidades.
(Laplantine, 2007, 81).
Contudo, a rigidez da teoria funcionalista vai gerar um descrédito no final da carreira de Malinowski.
A ideia de que as sociedades tradicionais são sociedades estáveis e sem conflitos, e, portanto, seriam
sociedades equilibradas ao ponto de assegurar por meio das suas instituições, satisfazer as
necessidades dos seus membros é uma falácia.
Na verdade, com está teoria, Malinowski estabeleceu uma série de generalizações, mesmo quando
afirmou que o funcionalismo tinha a intenção de criar “leis científicas da sociedade”.
Ao elaborar sua teoria funcionalista, Malinowski institui um modelo das sete necessidades humanas
fundamentais se aproximando do campo biológico, e, de alguma maneira, reavivando o
evolucionismo. Se no século XIX (19) o evolucionismo apoio o colonialismo, o mesmo aconteceu
com o funcionalismo biologicista de Malinowski no século XX (20) passou a justificar outra fase do
colonialismo.
Entretanto, apesar dascríticas é preciso ressaltar a grande contribuição deste etnógrafo até os dias
atuais, principalmente no que se refere à compreensão do outro. Conhecer em profundidade o outro
requer uma “observação participante”, requer se despir de valores morais, julgamentos ou
indiscrições exóticas para realmente conseguir compreender o homem em todas as suas dimensões.
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Ou seja, observar, participar, se distanciar do objeto de estudo, porém respeitando sua existência.
O legado mais importante deixado por Malinowski para a antropologia contemporânea foi a força do
seu trabalho em Os Argonautas do Pacífico Ocidental, uma obra extraordinária, publicada com
muitas fotografias feitas por ele mesmo a partir de 1914, e, a partir da sua publicação em 1922, se
tornará vital para a inauguração da antropologia audiovisual.
6 –Marcel Mauss(1872-1950) – fenômeno social total
“Descrever(qualquer fato de uma sociedade) sem levar em consideração a
totalidade e, sobretudo, sem ter em conta o fato dominante de que eles formam um
sistema é tornar-se incapaz de comprendê-los. Pois, em última análise, o que existe
é tal ou tal sociedade, tal ou tal sistema fechado (...)de um número determinado de
homens, ligados uns aos outros por esse sistema.” (Marcel Mauss)
Marcel Mauss foi um importante antropólogo francês, preocupado em estabelecer um objeto
científico apropriado. Sua atuação iniciou-se na “escola francesa de sociologia”, tendo em vista que
as disciplinas sociologia e antropologia trabalhavam em conjunto, e mais, durante muito tempo na
França a antropologia foi considerada uma extensão da sociologia.
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Entretanto, foi sobre a premissa de se analisar e contextualizar o social que Mauss contribuiu para a
ampliação da antropologia. Mas não estava sozinho nesse percurso, ao contrário, começou suas
pesquisas e análises ao lado do seu tio Émile Durkheim.
Existem muitos trabalhos que foram assinados por Durkheim e Mauss, bem como a influência do tio
em suas obras posteriores. Assim, se faz necessário falar de Durkheim e os seus principais
pressupostos teóricos, para em seguida apreciarmos as contribuições de Marcel Mauss para a
sociologia e, sobretudo, para a antropologia contemporânea.
Émile Durkheim (1858-1917), foi um pensador francês que contribui para a autonomia da sociologia.
A preocupação de Durkheim era garantir à sociologia uma sustentação teórica-científica, que Comte
não conseguiu aspirar. Na verdade, se esforçou para libertar a sociologia das demais teorias que
analisavam a sociedade e mostrau que esta nova ciência poderia ser útil para desvendar questões
vinculadas a uma filosofia tradicional para estudá-las de outra forma.
Para Durkheim, tudo o que acontece na realidade social pode ser expedido, a exemplo de explicação
e justificativas transcendentais. Mas para ele, ao contrário, tudo precisa ser explicado à sociedade.
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Todavia, o maior problema do social é a sua integração.
(...) Durkheim acreditava que precisamos estudar a vida social com a mesma
objetividade com que os cientistas estudam o mundo natural. Seu famoso primeiro
princípio da sociologia era “Estude os fatos sociais como coisas!” Com isso, queria
dizer que a vida social poderia ser analisada tão rigorosamente como os objetos ou
eventos na natureza. (Giddens, 2005: 29)
Mas o que é um fato social? Podemos responder esta indagação afirmando que o objeto da sociologia
são os fatos sociais.
Para Durkheim, os fatos sociais são fenômenos, ou fatores, ou forças que são “realidades exteriores
ao indivíduo”
20
, e que, portanto, devem ser analisados como coisas.
Durkheim emprega o termo coisas ao se referir primeiro aos fenômenos com características
independentes do observador; segundo, aos fenômenos cujas características só podem ser
determinadas por meio da investigação empírica; terceiro, aos fenômenos no qual sua existência é
independente das vontades individuais e por último, aos fenômenos que só podem ser estudados por
meio de observação externa, como os indicadores de códigos legais, dados estatísticos, entre outros.
Um dos seus principais objetivos era investigar as mudanças da sociedade, mas também, descobrir
soluções para uma vida social saudável e harmoniosa. Assim, estabeleceu um correlato com as
ciências naturais ao afirmar que a sociedade opera como um organismo humano e altera seus estados,
ora normais ora patológicos, ou seja, saudáveis e doentios.
20
Durkheim, Émile. As Regras do Método Sociológico, São Paulo, Abril S.A. Cultural e Industrial, 1973, p.390.
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Segundo Durkheim, um fato social pode ser normal quando generalizado e difundido por toda
sociedade ou quando esta busca um desenvolvimento e conformação. Por exemplo, o crime ou a
criminalidade seria um fato social normal, pois se encontra em qualquer sociedade e também por ser
um fato social que integra os indivíduos em torno de uma conduta ética que procura punir o
comportamento anormal.
No final do século XIX (19)e início do XX (20) Durkheim organizou uma publicação voltada ao
estudo dos fenômenos sociais, para tanto, convocou um grupo de jovens pesquisadores, entre eles
encontrava-se Marcel Mauss.
É importante enfatizar que Marcel Mauss se empenhou para que a antropologia fosse reconhecida
como ciência autônoma, e não apenas um ramo da sociologiacomo entendia Durkheim.
Um dos principais conceitos elaborados por Mauss é o de “fenômeno social total”, incidindo na
integração dos diferentes aspectos como: biológico, econômico, jurídico, histórico, religioso, estético,
etc., pois todos fazem parte de uma realidade social que pretende abranger em sua totalidade.
“Após ter forçosamente dividido um pouco exageradamente”, escreve ele, “é preciso
que os sociólogos se esforcem em recompor o todo.” Ora, prossegue Mauss, os
fenômenos sociais são “antes sociais, mas também conjuntamente e ao mesmo
tempo fisiológicos e psicológicos. (...) Devemos observar o comportamento de seres
totais, e não divididos em faculdades.” (Laplantine, 2007, p.90).
Contudo, o que de fato importa para Mauss é sublinhar as particularidades de toda sociedade,
considerando, segundo ele, que as particularidades muitas vezes são desconsideradas.
Assim, para compreender o chamado “fenômeno social total”, é preciso compreendê-lo na sua
totalidade, ou seja, no âmbito exterior como “coisa”, mas no âmbito interior como uma realidade
social intensa. É preciso investir em uma compreensão alternada, observar e analisar como vivem os
atores sociais.
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Este duplo movimento e seus efeitos não podem ser interrompidos, pois aqui se inscreve, segundo
Mauss, o objeto de estudo da antropologia. Outro fator importante é a interdisciplinaridade que cinge
a antropologia.
O conceito de “fenômeno social total” contribuiu para a concepção da cultura na sua esfera
multidimensional, justamente por sua concepção interdisciplinar, composto pela integração de vários
saberes e, ao mesmo tempo, considerando aspectos particulares. Ou seja, os fenômenos – ou fatos –
são realidades sociais totais, mas também particulares carregados de especificidades que precisam
ser analisados a partir dos perfis coletivos.
7 – Lévi-Strauss (1908-2009) – natureza e cultura
“O homem é um ser biológico ao mesmo tempo que um individuo social. Entre as
respostas quedá às excitações exteriores ou interiores, algumas dependem
inteiramente de sua natureza, outras de sua condição. Por isso não há dificuldade
alguma em encontrar a origem respectiva do reflexo pupilar e da posição tomada
pela mão do cavaleiro ao simples contato das rédeas.” (Lévi-Strauss)
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Claude Lévi-Strauss nasceu na Bélgica em 1908, teve uma vida longa que durou mais de um século,
vindo a falecer em 2009. Sua obra é vasta e definitivamente sua contribuição para o pensamento
contemporâneo do século XX é indelével.
Foi Lévi-Strauss quem concebeu a antropologia estruturalista, ao conectar elementos da lingüística à
cultura no âmbito simbólico nas quais as estruturas admitem a produção de sentido e ordem que
estão atualizados na ordenação lógica do pensamento individual e da realidade coletiva.
Foi a partir do campo do parentesco que se constituiu o estruturalismo de Lévi-
Strauss. Para este, o pensamento é uma linguagem. Não se pode compreendê-lo
efetuando a análise ao nível dos termos (o pai, o filho, o tio materno em uma
sociedade matrilinear...) muito menos ao nível dos sentimentos que podem animar
os diferentes membros da família. É preciso colocar-se no nível das relações entre
estes termos, regidas por regras de troca análogas às leis sintáticas da língua.
(Laplantine, 2007, p. 136)
No Brasil, entre 1935 a 1939Lévi-Strauss lecionou sociologia e antropologia na Universidade de
São Paulo, foi um dos primeiros professores estrangeiros a ser convidado a lecionar na recém
inaugurada instituição pública. Aqui no Brasil acabou por fazer diversas expedições na região centro-
oeste, sobretudo, no estado do Mato Grosso. Os registros dessas viagens em fotos e anotações
tornaram-se o livro "Tristes Trópicos", publicado pela primeira vez em 1955, esta obra lhe trouxe
notoriedade. Nesse livro ele conta como sua vocação de antropólogo surgiu durante suas expedições
ao interior do Brasil.
Em sua obra As Estruturas Elementares do Parentesco de 1949, Lévi-Strauss realizou um estudo
analítico sobre a fundação cultural da proibição do incesto. Nesta obra, não mediu esforços em suas
análises para compreender em qual momento de fato aconteceu a passagem da natureza para a
cultura.
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Por meio de argumentos abordados em seus estudos, ele explica como a ausência de regra torna
visível o critério mais estável que consiste a diferenciação entre um processo natural de um processo
cultural.
Todavia, ressalta que não há praticamente obrigação de demonstrar que a proibição doincesto
constitui necessariamente uma regra. Mas, apenas notar que a proibição do casamento entre parentes
próximos é uma realidade que pode ter um campo de aplicação mutável, de acordo com o modo
como cada grupo estabelece, e compreende como parente próximo.
Mas esta proibição, sancionada por penalidades variáveis, podem levar à imediata execução dos
culpados ou até mesmo a uma simples censura difusa, ou mesmo, levar tão somente à zombaria, ou
seja, puras brincadeiras.
Segundo Lévi-Strauss, nenhuma análise real permite apreender o ponto de passagem entre os fatos
da natureza e os fatos da cultura, além do mecanismo da articulação deles. A passagem da natureza
para a cultura não é um dado preciso de mensuração. Onde termina a natureza e onde começa a
cultura.
O homem enquanto um animal racional investiu em sua própria domesticação para limitar os seus
instintos. Assim, instituiu uma regra universal com uma série de mecanismos coercitivos e punitivos
para aqueles que rompessem a proibição incesto.
Para Lévi-Strauss o estado de natureza é antes de tudo um estágio lógico do que um episódio
cronológico e é impraticável advertir no homem um comportamento pré-cultural, justamente por se
considerar o homem é um animal doméstico, que impetrou a domesticação a si mesmo.
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Por conseguinte, nenhuma análise real permite apreender o ponto
de passagem entre os fatos da natureza e os fatos da cultura, além do
mecanismo da articulação deles. Mas a discussão precedente não nos
ofereceu apenas este resultado negativo. Forneceu, com a presença ou
a ausência da regra nos comportamentos não sujeitos às determinações
instintivas, o critério mais válido das atitudes sociais. Em toda parte
onde se manifesta uma regra podemos ter certeza de estar numa etapa
da cultura. Simetricamente, é fácil reconhecer no universal o critério da natureza.
Porque aquilo que é constante em todos os homens escapan e cessariamente ao
domínio dos costumes, das técnicas e das instituições pelas quais seus grupos se
diferenciam e se opõem. Na falta de análise real, os dois critérios, o da norma e o da
universalidade, oferecem o princípio de uma análise ideal, que pode permitir - ao
menos em certos casos e em certos limites - isolar os elementos naturais dos
elementos culturais que intervêm nas sínteses de ordem mais complexa.
Estabeleçamos,pois, que tudo quanto é universal no homem depende da ordem da
natureza e se caracteriza pela espontaneidade, e que tudo quanto está ligado a uma
norma pertence à cultura e apresenta os atributos do relativoe do particular. (Lévi-
Strauss, 1982, p. 47)
Todavia, é justamente aqui que um acontecimento apresenta simultaneamente o caráter distintivo dos
fatos da natureza e o caráter distintivo dos fatos da cultura. A proibição do incesto tem ao mesmo
momento a universalidade das disposições e dos instintos e ainda está recoberta pelaesfera coercitiva
das leis e das instituições.
Neste sentido, a proibição do incesto se assenta como parte estrutural do sistema, tratada na esfera
vista como uma questão universal. Na verdade, Lévi-Strauss recomenda um estudo da norma e da
universalidade, na qual a norma se recobre como uma marca indelével dacultura. E, no caso da
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universalidade seria uma característica própria da natureza. Para ele, a proibição do incesto não se
insere somente como um aspecto natural, tão pouco cultural e social, mas pode ser aceita como um
princípio universal.
Apesar da sua extensa obra, Lévi-Strauss nunca deixou de lecionar ou fazer conferências. Mesmo
tendo se aposentado nos anos de 1980, continuou sendo um grande pensador contemporâneo e tendo
uma visão da atualidade extraordinária.
Em uma das suas conferências proferidas em Tóquio, em 1986, questionou a civilização ocidental e a
maneira como a mesma se intitulou a civilização do progresso. Ali, esmiuçou sobre o “fim da
supremacia cultural do Ocidente”, bem como o porquê outras tantas civilizações tomara a civilização
ocidental como modelo.
Segundo ele, todas estas civilizações partilharam da ideia de que a ciência e as técnicas avançariam
sem cessar, almejando felicidade e poder aos homens. Entretanto, o que se viu ao longo do século
XX (20) desmentiu todas essas previsões otimistas.Ao discorrer sobre uma série de fatos, Lévi-
Strauss ressalta a necessidade de se aprender com os outros, com acontecimentos que podem parecer
estranhos, mas que apenas são diferentes.
8 – Edgar Morin (1921 - ) Educação e Conhecimento
Todo conhecimento comporta o risco do erro e da ilusão. A educação do futuro
deve enfrentar o problema de dupla face do erro e da ilusão. O maior erro seria
subestimar o problema do erro; a maior ilusão seria subestimar o problema da
ilusão. O reconhecimento do erro e da ilusão é ainda mais difícil, porque o erro e a
ilusão não reconhecem, em absoluto, como tais.
Erro e ilusão parasitam a mente humana desde o aparecimento do Homo Sapiens.
Quando consideramos o passado, inclusive o recente, sentimos que foi dominado
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por inúmeros erros e ilusões. (Edgar Morin)
O verdadeiro nome de Edgar Morin é Edgar Nahoum. Nasceu em 1921, em Paris, França. É um
renomado pensador, antropólogo e filósofo, pesquisador emérito do CNRS – Centre National de La
Recherche Scientifique.
Morin é um antropólogo e filósofo francês com uma obra extensa e complexa. Este pensador francês
tem se dedicado desde os anos de 1990 em analisar a educação em uma perspectiva crítica.
Entretanto, é preciso ressaltar que a obra de Edgar Morin é ampla e nos idos de 1960, ele publicou o
clássico chamado “Cultura de Massas no Século XX: o Espírito do Tempo”, em dois volumes, com
os subtítulos “Neurose” e “Necrose”. Neste período, o mundo passava por agitações, aconteceram
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distintas rupturas e mudanças sociais, como a rebeldia dos estudantes em Paris, que ficou conhecida
mundialmente como Maio de68, os protestos mundiais contra a Guerra do Vietnã, a Guerra Fria, a
corrida espacial e armamentista, a contra cultura norte-americana, o movimento hippie, o movimento
feminista, a luta contra o racismo, a ditadura civil militar no Brasil, etc.
Atualmente Morin tem se dedicado às análises sobre educação, reforma universitária, teoria da
complexidade e transdisciplinaridade. Sobre a educação é enfático ao afirmar que nenhum
conhecimento possa estar ameaçado pelo erro e pela ilusão. Para ele, o conhecimento não pode ser
tratado como um espelho das coisas ou do mundo. As percepções são traduções e reconstruções
cerebrais.
A educação do futuro deve ser responsável para que a idéia de unidade da
espécie humana não apague a ideia de diversidade e que a da sua diversidade
não apague a de unidade. Há uma unidade humana. Há uma diversidade
humana. A unidade não está apenas nos traços biológicos da espécie humana
homo sapiens. A diversidade não está apenas nos traços psicológicos,
culturais e sociais do ser humano. Existe também diversidade propriamente
biológica no seio da unidade humana; não apenas existe unidade cerebral,
mas mental, psíquica, afetiva, intelectual; além disso, as mais diversas
culturas e sociedades têm princípios geradores ou organizacionais comuns. É
a unidade humana que traz em si os princípios de suas múltiplas diversidades.
Compreender o humano é compreender sua unidade na diversidade, sua
diversidade na unidade. É preciso conceber a unidade do múltiplo, a
multiplicidade do uno. (Morin, 2001, p.55).
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Para ele, a educação do futuro precisa se dedicar a um ensino universal pautado na condição humana.
Na esfera planetária, uma experiência arriscada dirige os seres humanos, onde quer que estejam.
Sobre os seres humanos, é enfático quando fala que é preciso apreciar o humano, ou seja, situá-lo no
tempo e no espaço, contextualizar a condição humana é imprescindível para se poder ensinar.
A importância da hominização é primordial à educação voltada para a
condição humana, porque nos mostra como a animalidade e a humanidade
constituem, juntas, nossa condição humana.
A antropologia pré-histórica mostra-nos como a hominização é uma aventura de
milhões de anos, ao mesmo tempo descontínua – surgimento de novas espécies:
habilis, erectus, neanderthal, sapiens, e desaparecimento das precedentes,
aparecimento da linguagem e da cultura – e contínua, no sentido de que prossegue
em um processo de bipedização, manualização, erguimento do corpo,
cerebralização, juvenescimento (o adulto que conserva os caracteres não-
especializados do embrião e os caracteres psicológicos da juventude), de
complexidade social, processo durante o qual aparece a linguagem propriamente
humana, ao mesmo tempo que se constitui a cultura, capital adquirido de saberes, de
fazeres, de crenças e mitos transmitidos de geração em geração... (Morin,
2001,pp.50-51)
Apesar de se dedicar à compreensão dos seres humanos em sua diversidade, unidade e
multiplicidade, sobretudo, de que maneira consideramos nossas vidas e nos preocupamos com o
planeta Terra, Morin afirma que existe sete saberes fundamentais para serem tratados por toda
sociedade e cultura, sem exclusividade tão pouco rejeição, são eles:
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As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão;
1. Os princípios do conhecimento pertinente;
2. Ensinar a condição humana;
3. Ensinar a identidade terrena;
4. Enfrentar as incertezas;
5. Ensinar a compreensão;
6. A ética do gênero humano.
Foi em 1993 que Morin ao publicar o livro chamado “Terra-Pátria” parecia antever o acirramento de
questões do presente momento. Nesta obra, o autor descortina sobre a necessidade da espécie
humana em exercitar ativamente a solidariedade para se redescobrir a necessidade premente de
mantermos um diálogo, pois somente assim, chegaríamos a um consenso sobre a existência humana
e a “solidariedade das culturas planetárias”
21
sob a tríade: sustentabilidade, responsabilidadee
esperança.
9 – Antropologia no Brasil – Darcy Ribeiro (1922-1997)
Quem somos nós, os brasileiros, feitos de tantos e tão variados contingentes
humanos? A fusão deles todos em nós já se completou, está em curso, ou jamais se
concluirá? Estaremos condenados a ser para sempre um povo multicolorido no
plano racial ou cultural? Haverá alguma característica distintiva dos brasileiros
como povo, feito que está por gente vinda de toda parte? Todas essas argüições
seculares têm já resposta clara encontrada na ação concreta.
Nesse campo de forças é que o Brasil se fez a si mesmo, tão oposto ao projeto
lusitano e tão surpreendente para os próprios brasileiros. (Darcy Ribeiro)
21
Ver Edgard de Assis Carvalho, “Da perdição à esperança, Terra-Pátria 14 anos depois.” Revista Ponto e Virgula, n.02,
2007. http://www.pucsp.br/ponto-e-virgula/n2/pdf/03-edgard.pdf
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No Brasil encontramos uma série de importantes cientistas sociais e antropólogoscom contribuições
extraordinárias sobre a sociedade brasileira, nossa cultura e diversidade.
Um expoente destes foi Darcy Ribeiro (1922-1997). Como antropólogo dedicou-se a pesquisar a
cultura brasileira, principalmente a tríade étnica das matrizes indígena, lusitana e negra, com vasta
obra publicada. No início da carreira na década de 1940 estudou os índios da região centro-oeste,
bem como os da Amazônia.
Sempre preocupado com a educação foi um dos fundadores da UNB – Universidade de Brasília e
também seu primeiro reitor.
Como homem político foi Ministro da Educação no governo de João Goulart, mas com o golpe
militar teve de exilar-se durante muitos anos. Retornou ao Brasil com a Anistia. Em seguida, com as
eleições estaduais de 1982, tornou-se vice-governador ao lado de com Leonel Brizola. Fundou o
CIEP – Centro Integrado de Ensino Público. Como senador, elaborou o projeto da LDB – Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Brasileira de 1996.
Sua última obra foi O Povo Brasileiro: a formação e o sentido do Brasil, de 1995.
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Referências Bibliográficas:
BOAS, Franz. Antropologia Cultural. Textos selecionados e apresentados por Celso Castro. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
BRUMANA, Fernando G. Antropologia dos Sentidos: introdução às ideias de Marcel Mauss. São
Paulo: Brasiliense, 1983.
DURKHEIM, Émile. As Regras do Método Sociológico. São Paulo: Abril S.A. Cultural e Industrial,
1973.
GIDDENS, Anthony. Sociologia. 6ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2005.
FOUCAULT, Michel. As Palavras e as Coisas. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2007.
LÉVI STRAUSS, Claude. As Estruturas Elementares do Parentesco. Petrópolis: Vozes, 1982.
MORGAN, Lewis H. Evolucionismo Cultural: textos de Morgan, Tyler e Frazer. Apresentação e
Organização de Celso Castro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
MORIN, Edgar. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. São Paulo: Cortez, 2001.
______________. Educação e Complexidade: os sete saberes e outros ensaios. São Paulo: Cortez,
2002.
RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das
Letras, 1995.
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Sugestões:
1 - Leia a letra e ouça a música de Caetano Veloso “O Estrangeiro”.http://letras.mus.br/caetano-
veloso/44757/
O pintor Paul Gauguin amou a luz na Baía de Guanabara
O compositor Cole Porter adorou as luzes na noite dela
A Baía de Guanabara
O antropólogo Claude Levy-strauss detestou a Baía de Guanabara:
Pareceu-lhe uma boca banguela.
E eu menos a conhecera mais a amara?
Sou cego de tanto vê-la, te tanto tê-la estrela
O que é uma coisa bela?
O amor é cego
Ray Charles é cego
Stevie Wonder é cego
E o albino Hermeto não enxerga mesmo muito bem
Uma baleia, uma telenovela, um alaúde, um trem?
Uma arara?
Mas era ao mesmo tempo bela e banguela a Guanabara
Em que se passara passa passará o raro pesadelo
Que aqui começo a construir sempre buscando o belo e o amaro
Eu não sonhei que a praia de Botafogo era uma esteira rolante deareia brancae de óleo diesel
Sob meus tênis
E o Pão de Açucar menos óbvio possível
À minha frente
Um Pão de Açucar com umas arestas insuspeitadas
À áspera luz laranja contra a quase não luz quase não púrpura
Do branco das areias e das espumas
Que era tudo quanto havia então de aurora
Estão às minhas costas um velho com cabelos nas narinas
E uma menina ainda adolescente e muito linda
Não olho pra trás mas sei de tudo
Cego às avessas, como nos sonhos, vejo o que desejo
Mas eu não desejo ver o terno negro do velho
Nem os dentes quase não púrpura da menina
(pense Seurat e pense impressionista
Essa coisa de luz nos brancos dentes e onda
Mas não pense surrealista que é outra onda)
E ouço as vozes
Os dois me dizem
Num duplo som
http://letras.mus.br/caetano-veloso/44757/
http://letras.mus.br/caetano-veloso/44757/
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Como que sampleados num sinclavier:
"É chegada a hora da reeducação de alguém
Do Pai do Filho do espirito Santo amém
O certo é louco tomar eletrochoque
O certo é saber que o certo é certo
O macho adulto branco sempre no comando
E o resto ao resto, o sexo é o corte, o sexo
Reconhecer o valor necessário do ato hipócrita
Riscar os índios, nada esperar dos pretos"
E eu, menos estrangeiro no lugar que no momento
Sigo mais sozinho caminhando contra o vento
E entendo o centro do que estão dizendo
Aquele cara e aquela:
É um desmascaro
Singelo grito:
"O rei está nu"
Mas eu desperto porque tudo cala frente ao fato de que o rei é mais bonito nú
E eu vou e amo o azul, o púrpura e o amarelo
E entre o meu ir e o do sol, um aro, um elo.
("Some may like a soft brazilian singer
but i've given up all attempts at perfection").
2 - Veja o documentário O Povo Brasileiro. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=eqlcHGj4f7k
3 – Veja o vídeo sobre Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro de Edgar Morin, pela
análise e explicação do Prof. Edgard de Assis Carvalho da PUC-SP. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=8M5c7eZm5K8
4 – Veja entrevista de Claude Lévi-Strauss acerca de sua passagem pelo Brasil na década de 1930.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=DHXc4kFy10A
Apostila Elaborada por:
PROFA. DRA. LÚCIA SOARES DA SILVA
https://www.youtube.com/watch?v=eqlcHGj4f7k
https://www.youtube.com/watch?v=8M5c7eZm5K8
https://www.youtube.com/watch?v=DHXc4kFy10A
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