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Descomplicando o PREPARATÓRIO PALS MÓDULO I: Suporte Básico de Vida em Pediatria 1. Suporte Básico de Vida em Pediatria 2. Suporte Básico de Vida em Crianças – 1 Socorrista 3. Suporte Básico de Vida em Crianças – 2 Socorristas 4. Suporte Básico de Vida em Lactentes – 1 Socorrista 5. Suporte Básico de Vida em Lactentes – 2 Socorristas MÓDULO II: Introdução das Emergências Pediátricas 6. Abordagem Sistemática da Criança Gravemente Enferma MÓDULO III: Parada Cardiorrespiratória em Pediatria 7. Diferentes Ritmos de PCR e Seus Traçados 8. Como diagnosticar Assistolia nas diferentes formas de monitorização 9. Suporte Avançado de Vida em Pediatria 10. Dinâmica de Equipe de Ressuscitação em Pediatria 11. Situações Especiais de PCR em Pediatria MÓDULO V: Emergências cardiovasculares 20. Identificação do Choque na Emergência Pediátrica 21. Choque em Pediatria 22. Tratamento do Choque na Emergência Pediátrica 23. Acesso Intraósseo em Pediatria 24. Analgesia e Sedação Pediátrica MÓDULO VI: Arritmias em Pediatria 25. Arritmias Sustentáveis: Quando Considerar? 26. O que fazer quando, logo após uma cardioversão elétrica sincronizada, o paciente degenera para um ritmo de Fibrilação Ventricular? MÓDULO VII: Cuidados Pós-Ressuscitação em Pediatria 26. Cuidados Pós-PCR em Pediatria MÓDULO IV: Emergências Respiratórias 12. Desconforto e Insuficiência Respiratória na Pediatria 13. Laringite Viral Aguda em Crianças 14. Urticária, Enantema e Anafilaxia na infância 15. Bronquiolite Viral Aguda 16. Crise Asmática em Crianças 17. Pneumonia Adquirida na Comunidade em Crianças 18. Tratamento de Desconforto e Insuficiência Respiratória na Pediatria 19. Recursos para o Tratamento de Emergências Respiratórias Descomplicando o PALSE-book 3 De acordo com o Protocolo da American Heart Association de 2020, lactentes são considerados aqueles entre 1 mês e 1 ano de idade, e crianças são aquelas entre 1 ano de idade até a puberdade. Não há alteração na sequência das ações, mas as técnicas para as manobras de compressão torácica e abertura de vias aéreas variam para cada faixa etária. O objetivo do Suporte Básico de Vida (SBV) é melhorar a condição clínica da vítima até o suporte avançado de vida chegar. Essas ações ajudam na prevenção da PCR, no início rápido da Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP) de alta qualidade e quando e como acionar o serviço médico de emergência (SME), como o SAMU (192) ou bombeiros (193). Causas de PCR em Pediatria Em lactentes e crianças, condições que levam à falência respiratória progressiva associadas ou não ao choque são as causas mais comuns. Diferentemente dos adultos, é visto com menor frequência o colapso súbito de origem cardíaca por arritmia ventricular ou síndrome coronariana aguda. Cadeia de Sobrevivência São elos da cadeia de sobrevivência para PCR Extra - Hospitalar: No novo protocolo de 2020, foi adicionado um novo elo na cadeia, que está presente no intra-hospitalar e no extra- hospitalar, e trata-se da recuperação física, social e emocional do paciente e da família após o evento. No ambiente hospitalar, além de sistema de vigilância e de prevenção de PCR, qualquer profissional de saúde deve ser capacitado a iniciar uma RCP de alta qualidade, desfibrilar se for o caso, acionar o médico e encaminhar para suporte avançado de vida. No ambiente extra-hospitalar, o leigo pode reconhecer a PCR, chamar ajuda e iniciar RCP até a chegada do serviço médico de emergência (SME) para o transporte do paciente e início dos cuidados avançados. Reconhecimento da PCR Em crianças maiores deve-se verificar a responsividade tátil tocando os ombros e chamando a criança. Em bebês, a responsividade é verificada aplicando leves golpes nas plantas dos pés e chamando. ● 1º elo: Prevenção de PCR ● 2º elo: Acionamento do SME ● 3º elo: RCP de alta qualidade ● 4º elo: Ressuscitação avançada ● 5º elo: Cuidados pós PCR ● Novo elo: Recuperação MÓDULO I: Suporte Básico de Vida em Pediatria Descomplicando o PALSE-book 4 O reconhecimento da PCR, a partir da avaliação simultânea da respiração e do pulso central, deve ser realizada por pelo menos 5 segundos e no máximo 10 segundos. Deve-se observar se a criança respira, se está em apneia ou em respiração agônica, o gasping. Os pulsos do bebê devem ser palpados em posição braquial, na parte interna do braço entre o cotovelo e axila, e na criança devemos palpar o pulso carotídeo ou femoral. Após avaliação RÁPIDA, existem três possibilidades: RCP de Alta Qualidade A RCP deve ser realizada através de compressões em uma frequência de 100 a 120 por minuto, e ventilações. Com 1 socorrista deve-se manter a relação compressão/ ventilação de 30 para 2 e, se chegar um segundo socorrista, iniciamos a relação 15:2. Se após 2 minutos de RCP, o socorrista ainda estiver sozinho e sem celular e não puder acionar o SME, ele deve deixar a vítima, acionar o SME e pegar o DEA. Alguns pontos importantes da diretriz de 2015 foram reforçados na atualização de 2020, como por exemplo: Manter a sequência C-A-B, ou seja, circulação – via aérea – respiração, em detrimento da sequência ABC. A Segunda coisa foi realizar compressões torácicas entre 100 e 120 por minuto em todas as idades. Facilitando a memorização UNIVERSAL. Em terceiro, o estabelecimento de profundidade máxima de 6 cm de compressão torácica em adolescentes. E, por fim, como a origem da PCR em crianças é predominantemente por hipóxia ou choque, manter, na faixa etária pediátrica, ventilação-compressão e não compressão isoladamente como em adultos. ● Pulso e respiração normal: aciona-se o SME, se não tiver acionado ainda, e volta para monitorar a criança até chegar socorro. ● Pulso presente, mas respiração anormal: deve-se realizar Ventilação de Resgate: uma ventilação, a cada 2 a 3 segundos, ou 20 a 30 / min. ● Ausência de respiração e ausência de pulso ou frequência cardíaca (FC) <60 batimentos por minutos (bpm) ou sinais de má perfusão tecidual: deve-se iniciar RCP de alta qualidade. Se o socorrista estiver sozinho e presenciar a PCR, deve ativar imediatamente o SME e buscar o DEA, antes de iniciar o atendimento. Porém, se o socorrista estiver sozinho e já encontrou a criança em PCR, ele deve primeiro iniciar a RCP por 2 minutos, e só depois ele está autorizado a acionar o SME e buscar o DEA. Descomplicando o PALSE-book 5 Compressões Torácicas A frequência é universal de 100 a 120 compressões por minuto e a relação compressão/ ventilação é de 30:2 para 1 socorrista e 15:2 para 2 socorristas. A profundidade das compressões deve ser no mínimo 1/3 do diâmetro anteroposterior do tórax, sendo 4 cm em bebês, 5 cm em crianças e no máximo 6 cm em adolescentes. É importante permitir o retorno total do tórax para que haja retorno do sangue ao coração entre as compressões. A compressão cardíaca em lactentes deve ser realizada utilizando dois dedos de uma mesma mão ou os dois polegares. As atualizações de 2020 não demonstraram superioridade de uma técnica sobre a outra. No entanto, se o socorrista não consegue obter a profundidade adequada, o recomendado é utilizar a técnica dos dois dedos de uma mão. Em crianças maiores costumamos usar a técnica de uma mão ou duas mãos. Sempre permitindo retorno total do tórax entre as compressões. Abertura de Via Aérea A abertura de vias aéreas é fundamental para ventilação de resgate eficaz. Para retificação das vias aéreas, deve-se inclinar a cabeça, elevar o queixo e anteriorizar a mandíbula, com cuidado para não hiperextender o pescoço, evitando assim o colapso traqueal. Para manter o pescoço em posição neutra temos que deixar o canal auditivo externo nivelado com a parte superior do ombro. Em um lactente inconsciente, o occipito proeminente flexiona o pescoço, a língua cai para trás e obstrui as vias aéreas. Para facilitar a manobra, podemos colocar um coxim escapular em bebês e um coxim occipital em crianças maiores. Descomplicando o PALSE-booksalina hipertônica a 3%. Seu uso não é recomendado em pacientes atendidos em Pronto Atendimentos. No entanto, alguns guidelines consideram o seu uso em pacientes que necessitam de internação hospitalar, pois alguns estudos demonstraram uma redução no tempo de internação dos pacientes com seu uso. Contudo, pelo fato desses estudos terem uma variabilidade muito grande em seus resultados, a terapia com microssalina ainda é bastante questionada. Outras terapias, como antivirais, nebulização com adrenalina e inibidor de leucotrieno não são recomendadas. Palivizumabe Trata-se de um anticorpo monoclonal com capacidade neutralização do vírus sincicial respiratório, por se ligar na proteína de fusão desse vírus. Com isso, sua administração contribui para a prevenção de quadros graves respiratórios causados por esse vírus. Sua administração, que é mensal e por via intra muscular, é dada no período de sazonalidade do vírus. O ministério da saúde fornece palivizumabe para: Crianças com menos de 1 ano que nasceram prematuras com idade gestacional ≤ 28 semanas E Crianças com idade inferior a 2 anos com doença pulmonar crônica da prematuridade ou doença cardíaca congênita com repercussão hemodinâmica. Descomplicando o PALSE-book 37 Crise Asmática em Crianças A asma é uma doença heterogênea, geralmente caracterizada pela inflamação crônica das vias aéreas inferiores com consequente limitação do fluxo aéreo. De acordo com GINA de 2021, a asma é definida clinicamente por episódios recorrentes de sibilância, dispneia, aperto no peito e tosse,associado à limitação variável de fluxo de ar expiratório. Geralmente os sintomas respiratórios e a limitação do fluxo de ar expiratório são desencadeados por algum estímulo, como a exposição a um alérgeno, exercício físico, mudança climática ou uma infecção de vias aéreas superiores, o que leva a resposta inflamatória aumentada das vias aéreas e consequentemente a sua obstrução. Esses episódios podem estar ausentes por longos períodos, com o paciente mantendo-se assintomático ou com sintomas leves. No entanto, quando essas exacerbações, também chamadas de crise asmática, acontecem, elas podem representar um quadro grave, gerandoinclusive risco de vida para o paciente. A exacerbação é definida como uma deterioração aguda ou subaguda do controle dos sintomas relacionados a asma, o que inclui: aumento da sibilância ou chiado; piora da dispneia; aumento da tosse, principalmente à noite; uma redução da tolerância a exercícios e a outras atividades diárias; além de uma resposta insatisfatória as medicações de alívio. Resumidamente, a crise asmática representa uma mudança no status basal do paciente suficiente para necessitar uma mudança no tratamento e podem ocorrer tanto em pacientes previamente diagnosticados quanto na primeira apresentação clínica da asma. Uma vez identificada a crise asmática, é importante avaliar a sua gravidade. Para isso, pode serutilizada a tabela abaixo. Classificação de Gravidade da Crise Asmática em Adolescentes e Crianças de 6 a 11 anos LEVE MODERADA GRAVE AMEAÇA À VIDA Fala em frases Prefere ficar sentado do que deitado Aumento da FR Agitado Sonolento Confuso Tórax silencioso FR > 30 irpm Uso de musculatura acessória FC >120 bpm SpO2 50% Descomplicando o PALSE-book 38 São sinais de uma crise grave: a alteração do nível de consciência do paciente, SaO2 abaixo de 92%, dificuldade de pronunciar palavras, aumento significativo da frequência cardíaca e esforço respiratório importante. O padrão dos sibilos na ausculta também pode ser um sinal de gravidade. Em alguns casos severos a entrada do fluxo de ar pode estar tão reduzida que nem se consegueouvir os sibilos, no quadro que chamamos de tórax silencioso. A presença de qualquer um desses sintomas é indicativa de necessidade de tratamento urgente. Tratamento da Crise Asmática A base do tratamento da crise asmática é sustentada nos seguintes alguns pontos: a oxigenoterapia; o uso de beta 2 agonista de curta duração, o SABA; o corticoide sistêmico; e o uso de anticolinérgico de curta duração. A oxigenoterapia está indicada apenas em casos de dessaturação, que na criança é representada por uma saturação de oxigênio abaixo de 94%. O alvo da oxigenoterapia é manter uma saturação entre 94-98%. De acordo com o estado do paciente, o oxigênio pode ser fornecido através de cateter nasal ou de máscara, sendo essa preferível em casos graves, especialmente as máscaras não-reinalantes, por fornecer oxigênio em concentrações maiores. Em relação as medicações, as principais são os beta 2 agonistas de curta duração, que são broncodilatadores capazes de propiciar um rápido alívio dos sintomas da asma ao induzirem o relaxamento da musculatura lisa das vias aéreas, reduzindo assim a permeabilidade vascular, o edema e consequentemente a obstrução do fluxo de ar. A via de administração preferida dessa medicação é a inalatória, por ter menos efeitos colaterais e ter uma ação mais rápida que a via oral. Os Beta 2 podem ser fornecidos através dos inaladores pressurizados, popularmente chamados de bombinha, associados a espaçadores, ou através da nebulização. O uso de inaladores pressurizados com espaçadores ou inaladores de cápsulas leva a uma melhora semelhante da função pulmonar como a administração por nebulização. Porém, em pacientes em uso de oxigenoterapia deve-se lembrar que os nebulizadores usam o oxigênio para fornecer a medicação. Além disso, os nebulizadores produzem aerossóis, contribuindo potencialmente para transmissão de infecções respiratórias virais. Os Beta 2 agonistas de curta duração mais usados no Brasil são o Salbutamol através das bombinhas em uma dose de 100 mcg por jato. E quando se utilizar os nebulizadores, a escolha é o Fenoterol da concentração de 5 mg/ml. Descomplicando o PALSE-book 39 Diante de uma crise de asma leve a moderada, ou seja, sem aqueles sinais de gravidade já citados, deve-se iniciar ataque com Beta 2 agonista de curta duração por via inalatória. Devem ser realizados 3 ciclos da medicação de a cada 20 minutos. No caso do Salbutamol fornecido pela bombinha, geralmente prescreve-se de 4 a 10 jatos, a depender da gravidade e do peso da criança. Essa aplicação deve ser feita com o uso de espaçador, de preferência acoplado à máscara, especialmente em crianças menores que não conseguem realizar a inalação por conta própria. Nos casos em que não se tenha acesso ao inalador pressurizado e sendo necessário o uso do nebulizador, pode se optar ou pelo uso do fenoterol ou do salbutamol. Nessas situações, a prescrição será feita em gotas, de acordo com o peso, idade e gravidade do paciente, e será necessário prescrever soro fisiológico e um fluxo de oxigênio, para que a nebulização ocorra de maneira eficaz. Descomplicando o PALSE-book 40 Após a realização do “ataque” na primeira hora, esse paciente deve ser reavaliado pra sabermos se houve ou não resposta ao tratamento. Se o paciente responder bem ao tratamento, apresentando melhora do esforço respiratório, da ausculta, da frequência respiratória e da frequência cardíaca, e mantiver uma oxigenação adequada em ar ambiente, deve-se mantê-lo em observação por pelo menos 1 a 2 horas, para evitar a recorrência de sintomas em casa. Se não houver recorrência dos sintomas nesse período, o paciente pode ser liberado para cadamantendo medicações de alívio em casa a cada 4 horas, como B2 agonista de curta duração associado a corticóide inalatório de baixa dose; além de corticóide oral sistêmico por um curto período, entre 3 a 5 dias, e tratamento de controle que já fazia no domicílio. Além disso, deve-se orientar o paciente a fazer uma consulta com o médico assistente em 2 a 7 dias, para manejo longitudinal. Se após a primeirahora do tratamento, a resposta seja incompleta ou insatisfatória, ou se o paciente melhorar, porém os sintomas retornarem rapidamente, o ataque deve ser repetido. Nesses casos, também deve-se associar outro pi lar ao tratamento: o corticoide sistêmico; que pode ser dado por via oral preferencialmente ou, nos casos em que a via oral estiver impossibilitada - dispneia muito importante ou vômitos - pode ser dado por via venosa. O corticoide oral mais usado e disponível é a prednisolona em solução, na dosagem de 1 a 2 mg/kg/ dia, com no máximo de 40 mg por dia, de acordo com a gravidade. No caso da necessidade de administração EV, opta-se pela metilprednisona na dose de 1 mg/kg de 6/6h. O corticoide tem um efeito positivo na crise, por sua ação anti-inflamatória, reduzindo o edema e assecreções nas vias aéreas. É necessário pelo menos 4 horas para produzir melhora clínica, porisso é boa prática iniciar na primeira hora da apresentação. Alguns protocolos orientam a usar o corticoide já no início do tratamento em pacientes com histórico de exacerbações asmáticas recentes em que o uso do corticóide foi necessário. Além de repetir o ataque com Beta 2 agonista de curta duração e iniciar o corticoide, também se pode considerar o uso de brometo de ipratrópio, que tem um efeito anticolinérgico de curta duração, o que gera broncodilatação. Caso essa medicação seja iniciada, ela deve ser dada em forma de ataque, ou seja, administrado de 20/20 minutos, 3 vezes. Sua administração pode ser feita por inaladores pressurizados, na apresentação de 200 mcg /jato. Em menores de 5 anos, faz- se 2 jatos, e 4 jatos em maiores de 5 anos a cada 20 minutos por 3 vezes. A nebulização também é uma opção de administração, e aqui, o número de gotas irá variar de acordo com o peso e idade do paciente. Descomplicando o PALSE-book 41 Se o paciente responder a esse ataque, ele pode ser repetido ou podemos deixar essa medicação em dose de manutenção. Se não houver resposta essa medicação é suspensa. De uma forma geral, o ipratrópio não é mantido em crianças que são internadas, pois evidências demonstram que sua eficácia é maior na abordagem inicial, sendo pouco efetivo em casos mais prolongados. Outra medida necessária é avaliar a necessidade de exames complementares à procura de complicações que possam estar dificultando a melhora do quadro, como, por exemplo, uma atelectasia, que pode ser vista em uma radiografia de tórax. É importante sempre reavaliar o paciente a fim de identificar a necessidade de modificação do tratamento. Nas crises asmáticas que se apresentam já com gravidade, a abordagem deve ser agressiva. Então, diferentemente do que ocorre nas crises leves a moderada, nas crises graves, logo no ataque com salbutamol, já se inicia o corticoide e o brometo de ipratrópio. Além disso, deve-se ficaratento pois a necessidade de oxigênio nas crises graves é muito frequente. Nos casos de crise asmática grave ou nas crises leves a moderadas sem resposta ao tratamento, a internação em hospitais estruturados se faz necessária. Por fim,é importante citar o uso do sulfato de magnésio que tem um papel ainda não totalmente esclarecido na broncodilatação e que em alguns protocolos é citado com uma medicação útil para tratamento de crises asmáticas graves refratárias. Sua administração é feita mais comumente por via EV. Descomplicando o PALSE-book 42 Pneumonia Adquirida na Comunidade em Crianças Inicialmente, é importante saber que a pneumonia é uma das principais causas de mortalidade em crianças, principalmente nos países em desenvolvimento. A pneumonia é definida como uma infecção do trato respiratório inferior, comumente associada a sintomas respiratórios e febre, podendo ter alguma evidência, clínica ou radiológica, de envolvimento do parênquima pulmonar. O termo “pneumonia adquirida na comunidade” refere-se à pneumonia que ocorre em crianças não hospitalizadas no último mês, e por tanto, colonizadas por germes provenientes do ambiente escolar, domiciliar ou comunitário. Epidemiologia Estima-se que ocorra em todo mundo mais de 150 milhões de casos de pneumonia em crianças menores de 5 anos, sendo que no Brasil a pneumonia é uma das 5 principais causas de morte nessa faixa etária. As vacinas como a anti haemophilus influenza tipo B conjugada e a pneumocócica valente afetaram a epidemiologia da pneumonia, diminuindo a morbimortalidade por esses agentes etiológicos. Fatores de Risco Inúmeros fatores estão associados a um maior risco de a criança adquirir pneumonia, como, por exemplo, fatores socioeconômicos relacionados a baixa escolaridade materna e o acesso limitado a saúde; fatores ambientais - dentre eles a exposição a cigarros e outros poluentes-; além de comorbidades pré existentes - como cardiopatia congênita, broncodisplasias, anemia falciforme e asma. Etiologia Os principais agentes vão variar de acordo com a faixa etária estudada. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, a prevalência de agentes varia da seguinte forma: Três primeiros dias de vida: estreptococo do grupo B e bactérias gram negativas; ● Entre os três primeiros dias de vida até o 28°dia de vida: estafilococo e pneumococo; ● Primeiro mês de vida: vírus e Chlamydia trachomatis. ● Lactentes, a partir do terceiro mês de vida, até o pré- escolares: os vírus são responsáveis por até 90% dos casos em menores de um ano de idade. Dentre os vírus, o mais frequente é o Vírus Sincicial Respiratório, seguido do Influenza, o Parainfluenza, o Metapneumovirus, o Coronavirus e o Rinovírus. O Streptococcus pneumoniae, é o principal agente responsável pela pneumonia em crianças, especialmente nessa faixa etária. Descomplicando o PALSE-book 43 Outras bactérias comuns nessa idade são o Haemophilus influenzae e a Moraxella catarrhalis. O Staphilococcus aureus, mais comum em lactentes, está associado a quadros pneumônicos de maior gravidade, gerando complicações como empiemas e pneumatoceles. ● Pneumonia afebril do lactente: o agente etiológico clássico é bactéria denominada Clamídia tracomatis. Esse quadro ocorre geralmente em crianças de 1 a 3 meses, sendo caracterizado por febre baixa ou ausente e tosse, podendo também ter conjuntivite associada. Crianças maiores de cinco anos: pneumococo continua sendo o agente etiológico bacteriano mais frequente nas pneumonias. No entanto, bactérias conhecidas como atípicas, em especial o Mycoplasma pneumoniae e a Chlamydia pneumoniae tem prevalência crescente e são de extrema relevância nessa população. Normalmente os vírus e bactérias mais comumente relacionados a pneumonia ocorre após uma infecção inicial das vias aéreas superiores, com subsequente invasão das vias aéreas inferiores, desencadeando uma reação inflamatória no parênquima pulmonar. É importante ressaltar que existem casos específicos no quais certos agentes são mais prevalentes do que o habitual. Por exemplo, quando você está suspeitando de uma pneumonia aspirativa é importante considerar a presença de bactérias anaeróbicas, que são encontradas na região oral e que podem ter ido para o pulmão através da aspiração. Descomplicando o PALSE-book 44 Sinais e Sintomas Os sintomas da pneumonia podem variar de acordo com a faixa etária. No entanto, de uma forma geral, febre, tosse, taquidispneia e alterações da ausculta pulmonar são observados em praticamente todas as idades. É importante estar atento, pois neonatos e lactentes costumam apresentar quadros menos específicos, com sinais de toxemia, recusa alimentar, agitação, gemidos e até distensão abdominal. Nas crianças mais velhas os sintomas costumam ser mais específicos e mais próximos dos observados no adulto, incluindo algumas vezes a dor torácica ventilatório- dependente. Outra queixa comum em crianças com pneumonia é a dor abdominal, que é uma dor referida secundária ao acometimento dos lobos inferiores dos pulmões. A apresentação clínica tambémpode sofrer alterações de acordo com o agente etiológico da pneumonia. Lembre-se que as infecções bacterianas, por exemplo, podem suceder quadros de infecção de via aéreas superiores, se instalando de forma mais abrupta, com febre alta, toxemia e alteração localizada da ausculta, caracterizada muitas vezes por diminuição do murmúrio vesicular fisiológico, presença de crepitações e broncofonia. As pneumonias causadas por bactérias atípicas, tais quais o Mycoplasma e a Clamídia, costumam se manifestar inicialmente com sintomas gerais como febre, mialgia, mal estar, dor de garganta e tosse. Essa tosse costuma ser prolongada, não produtiva, tornando- se gradualmente mais intensa, apesar da melhora dos outros sintomas. Além disso a pneumonia causada por bactérias denominadas atípicas, podem estar associadas a manifestações extrapulmonares como anemia hemolítica, poliartrite, pancreatite, otalgia, miringite bolhosa, miocardite, pericardite e complicações do sistema nervoso. Já as pneumonias virais costumam ter um início mais insidioso, com pródromos gripais como rinorréia e com a presença de sibilos na ausculta respiratória, geralmente bilaterais e difusos. Diagnóstico O diagnóstico começará a ser feito a partir de uma boa anamnese e de um bom exame físico. Se a história envolver febre, sintomas respiratórios, especialmente tosse, e cansaço, deve-se atentar para a possibilidade de pneumonia. Em relação ao exame físico, a taquipnéia é um dos achados mais sensíveis para o diagnóstico de pneumonia. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, é considerado taquipnéia: Descomplicando o PALSE-book 45 Talvez a mais difundida dessas ferramentas seja a realização da radiografia de tórax. E por mais que ela seja quase sempre solicitada diante de uma criança com suspeita de pneumonia, é importante deixar claro que, ao contrário do que muitos pensam, ela não é necessária para se fazer o diagnóstico da doença. Exames Complementares Em cr ianças com anamnese e exame f í s ico característicos de pneumonia, sem sinais de gravidade, sem necessidade de tratamento hospitalar, por exemplo, a radiografia de tórax não deve ser realizada de rotina por não afetar o desfecho clínico do caso. No entanto, a radiografia de tórax se faz necessários em algumas situações, como: Pacientes hospitalizados; ● Pacientes com pneumonia associada com algum sinal de gravidade; ● Paciente no qual há uma dúvida diagnóstica ● Pacientes nos quais você deseja excluir outras causas de desconforto respiratório como aspiração de corpo estranho ou cardiopatias subjacentes; Em pacientes com falha terapêutica após 48 a 72 horas de tratamento com antibiótico adequado, buscando assim possíveis complicações que justifiquem a ausência de melhora do quadro; ● FR > ou igual a 60 incursões/minuto em crianças de zero a dois meses, ● FR > ou igual a 50 incursões/minuto em crianças de 2 meses a 1 ano ● e FR >; ou igual a 40 incursões/minuto em crianças de 1 a 4 anos A ausência da taquipnéia pode contribuir muitas vezes para a exclusão do diagnóstico de pneumonia. Ainda durante a avaliação primária, é importante avaliar a presença de esforço respiratório no paciente e caracterizá-lo, além de aferir sua saturação de oxigênio periférico, e fazer uma avaliação pulmonar completa. Na avaliação pulmonar, podem representar sinais de pneumonia: a macicez a percussão, o frêmito toracovocal aumentado e alterações na ausculta respiratória. Dentre as alterações na ausculta respiratórias podemos citar redução do murmúrio vesicular, crepitações localizadas e broncofonia. Nos casos específicos de pneumonia por bactérias atípicas e nas pneumonias virais podem estar presentes sibilos difusos, apesar de a sibilância não ser tão comum nos quadro pneumônicos. Além da anamnese e do exame físico, algumas outras ferramentas podem ser usadas para auxiliar no diagnóstico de pneumonia. Descomplicando o PALSE-book 46 Sobre as incidências da radiografia de tórax, a incidência posteroanterior, também conhecida como PA, é preferida em crianças maiores de 4 anos para minimizar a sombra cardíaca. Em menores de 4 anos pode-se utilizar a incidência AP ou seja anteroposterior, até para facilitar o posicionamento da criança. A incidência lateral não é consenso na literatura e deve ser feita no paciente hospitalizado. E na suspeita de derrame pleural, pode- se pedir uma radiografia em decúbito lateral com raios horizontais para auxiliar no diagnóstico. A correlação entre a imagem radiográfica e o agente etiológico não é confiável, ou seja imagens radiológicas esperadas em pneumonias causadas por um determinado grupo de agentes podem estar presentes em pneumonias causadas por outros patógenos. A radiografia de controle, ou seja, após o tratamento, deve ser pedida em pneumonias recorrentes sempre no mesmo lobo ou em caso de sintomas persistentes. Se for necessário, maior propedêutica lançamos mão da tomografia computadorizada e da ultrassonografia. Com relação aos exames laboratoriais, sua solicitação rotineira não é necessária em pacientes estáveis em que a clínica é compatível com pneumonia e que o tratamento será realizado em domicílio. Em pacientes com um quadro mais severo, que requerem uma hospitalização, uma propedêutica laboratorial passa a ter uma maior importância. Nesses casos recomenda-se a real ização de hemocultura na busca da identificação do agente etiológico e da realização de um antibiograma, o que pode contribuir para uma escolha terapêutica mais direcionada àquele patógeno. No entanto, a hemocultura costuma positivar em uma minoria dos casos, devido a baixa ocorrência de bacteremia em crianças com pneumonia. As culturas de nasofaringe não são recomendadas, pois pode haver crescimento de bactérias que são comuns no trato respiratório superior sem necessariamente serem as responsáveis pela pneumonia em vigência; Já os testes inespecíficos, como a contagem de leucócitos no hemograma ou ainda o VHS e o PCR, apresentam pouco valor no diagnóstico do agente etiológico, embora valores muito altos falem a favor de infecção bacteriana. A cultura de escarro é muito difícil de realizar em crianças menores de 5 anos; podendo ser indicadas em alguns casos em crianças maiores e hospitalizadas. Em casos em que há derrame pleural significativo, deve-se coletar esse fluido para se realizar gram e cultura do líquido pleural, preferencialmente antes do início da antibioticoterapia, o que nem sempre ocorre. A avaliação da glicose, proteínas e LDH no líquido pleural não costumam modificar condutas embora possa ajudar a diferenciar derrames parapneumônicos causados por bactérias de outros derrames como os neoplásicos. Descomplicando o PALSE-book 47 A real ização de PCR, a reação em cadeia polimerase, de sangue ou amostras de secreções respiratórias podem ser utilizadas para a realização de testes rápidos no diagnóstico de alguns agentes etiológicos como o vírus sincicial respiratório, o coronavírus e o influenza. Já testes sorológicos para determinados patógenos não costumam modificar o manejo clínico e não são usados de rotina, embora possam ser de alguma valia em situações específicas para identificação de alguns patógenos como o Mycoplasma pneumoniae. Manejo Inicial O primeiro passo, após o diagnóstico clínico de pneumonia na criança, é avaliar se o tratamento deve ser feito no hospital ou se ela pode ser tratada em casa. Crianças de 2 meses a 5 anos com pneumonia e sinais clínicos de gravidade, considerados pela Organização Mundial de saúde, a OMS, e pontuados pela Sociedade Brasileira de Pediatria, são classificadas como pneumonia grave. São eles: Tiragem subcostal; Dificuldade para ingerir líquidos ou vomitar tudo aquilo que ingere; ● Sinais de dificuldade respiratória mais grave, como movimentos involuntários da cabeça, gemência e batimentos de aletas nasais; ● Alteração do sensório; ● Convulsões; ● Cianosecentral; ● Oximetria periféricabebês e crianças com pulso, mas esforço respiratório ausente ou inadequado, é aconselhável fornecer uma ventilação por pressão positiva a cada 2 ou 3 segundos, ou seja, 20 a 30 ventilações por minutos. Ao ventilar o paciente deve-se observar elevação visível do tórax, e, sempre que possível, administrar o oxigênio suplementar. Além disso, a cada 2 minutos, deve-se verificar o pulso. Se o pulso for menor que 60 bpm e estiver associado a comprometimento circulatório, mesmo após abertura de via aérea adequada e ventilação por pressão positiva, deve-se iniciar RCP. Descomplicando o PALSE-book 52 Via Aérea A via aérea deve ser mantida aberta, podendo ser necessário utilizar coxim ou realizar a manobra de anteriorização da mandíbula. Na vigência de alguns sons de obstrução da via, pode ser realizada a desobstrução por meio da remoção de secreções com aspiração, ou colocação de cânula orofaríngea e nasofaríngea, de acordo com o nível de consciência do paciente. Além disso, deve-se avaliar a necessidade de se estabelecer via aérea avançada. Respiração Logo após assegurar a via aérea, deve-se avaliar a respiração. Como já visto no atendimento da criança gravemente enferma, a monitorização cardíaca, da pressão arterial e oximetria de pulso se faz necessária em algumas situações. Se reconhecer hipoxemia, deve-se iniciar oxigênio suplementar, de acordo com a necessidade de cada um. Também se deve avaliar a necessidade de medicação como salbutamol ou epinefrina e se há a necessidade de ventilação com o uso de bolsa válvula máscara. Circulação Depois de assegurada a via aérea e a respiração, deve-se avaliar a circulação. O paciente deve estar monitorizado para a frequência e ritmo cardíaco. Além disso, ter monitorização pressórica e acesso vascular. Tratamento Direcionado Para cada um dos diagnósticos, obstrução de vias aéreas superiores, obstrução de vias aéreas inferiores, doença do tecido pulmonar e distúrbios do controle da respiração, há um tratamento específico. Os tratamentos direcionados para cada um dos diagnósticos serão abordados em detalhe posteriormente. Descomplicando o PALSE-book 53 Recursos para o Tratamento de Emergências Respiratórias Coxim Começando então sobre o posicionamento adequado e o uso do coxim para tal, a abertura das vias aéreas e também a desobstrução das vias por queda da língua ou por secreções. Nas crianças com mais de 2 anos de idade podemos usar o coxim occipital pra melhor posicionamento das vias, na tentativa de manter uma posição neutra; já nos menores de dois anos o coxim fica sob os ombros e tronco. Dispositivos para manejo de Via Aérea Para manejo de via aérea pode-se utilizar dispositivos básicos como a cânula orofaríngea e a cânula nasofaríngea. O objetivo dessas cânulas é de evitar a obstrução da via aérea pela queda da língua na parede da faríngea posterior, mantendo assim uma via aérea pérvia. A cânula orofaringe, mais conhecida pelo nome de cânula de guedel, só deve ser utilizada em crianças inconscientes e que não apresentam reflexo de vômito ou tosse. Essa cânula possui vários tamanhos e seu tamanho deve ser definido por meio da medida do ângulo da mandíbula até a comissura labial. Nas crianças, essa cânula não pode ser inserida como na técnica do adulto, na posição invertida, por conta do risco de dano ao palato. A cânula nasofaríngea podem ser utilizadas, com segurança, em crianças conscientes. Dispositivos para aspiração de Via Aérea Para aspiração da via aérea, podem ser utilizadas cânulas rígidas ou flexíveis, sendo as cânulas rígidas usadas principalmente para aspiração de vômito e sangue, e as sondas flexíveis para secreções mais fluidas e aspiração de tubos orotraqueais. Dispositivos para oxigenoterapia Para a oferta de oxigênio complementar, pode-se dividir os dispositivos em dois grupos: aqueles com baixo fluxo de oxigênio, que oferecem cerca de 22 a 60% de concentração de oxigênio, dependendo do tipo utilizado; e aqueles com alto fluxo de oxigênio, que oferecem uma FiO2 acima de 60% e devem ser usadas com um fluxo de pelo menos 10L/min. Dentro do grupo de dispositivos de baixo fluxo de oxigênio, estão presentes a cânula nasal e a máscara facial simples. A cânula nasal pode ser utilizada em fluxo de 0,25 a 4 litros por minuto em pediatria, e a máscara facial simples pode variar de 6 a 10 litros por minuto. Descomplicando o PALSE-book 54 Dentro do grupo de dispositivos de alto fluxo, há como opções a máscara de reservatório não-reinalante, a cânula nasal de alto fluxo, bolsa-válvula-máscara e bolsa insuflável por fluxo ou balão anestésico. A máscara de reservatório não-reinalante pode ofertar um fluxo de 6 a 15 litros por minuto, sendo que uma FiO2 de 95%, o fluxo mínimo é 10 L/min. Esse dispositivo apresenta duas válvulas, sendo uma que separa o reservatório de oxigênio do ar exalado pelo paciente, e outras duas pequenas válvulas na superfície da máscara, que impedem que o ar expirado pelo paciente seja reinalado e que o ar ambiente entre em contato com o ar que será inspirado, e que apresenta uma maior concentração de oxigênio. A cânula nasal de alto fluxo é mais comumente encontrada em centro de terapia intensiva. A bolsa-válvula-máscara pode ser utilizada como forma de ventilação por pressão positiva. A máscara facial desse dispositivo deve ter um tamanho adequado para cobrir a ponte nasal até a fenda do queixo da criança, e caso não esteja disponível, pode- se utilizar uma máscara maior, porém invertida. A bolsa auto-inflável do dispositivo tem uma válvula de entrada e uma de saída de ar que não permite a reinalação do ar expirado. Mesmo com oxigênio conectado a 100%, só é possível ofertar de 30 a 80%, desde que com um fluxo de 10 a 15 L/min na bolsa pediátrica. Para uma concentração mais alta, deve-se utilizar um reservatório. A bolsa insuflável por fluxo ou balão anestésico é utilizada normalmente no bloco cirúrgico, nas UTIs e nos atendimentos intra-hospitalares, só deve ser usada por profissionais que tenham experiência no seu manejo e deve sempre estar conectada a uma fonte de oxigênio. É importante lembrar que antes do uso de qualquer dispositivo, este deverá ser testado. No caso da bolsa – válvula – máscara, devde-se verificar o som do oxigênio, se há a válvula pop e se está fechada (off), verificar a conexão de oxigênio e, por último, ocluir a saída e verificar se há vazamento. Durante o uso da máscara e bolsa, deve-se fazer o posicionamento adequado da mão, utilizando a técnica do C e do E. Para isso, colocar o indicador e o polegar, fazendo um C no topo da máscara, com o intuito de vedar à máscara à face da criança; e o terceiro, quarto e quinto dedo ao longo da mandíbula de forma a elevá-la para a frente, como abertura da via aérea. Em relação ao uso da oximetria de pulso, deve-se sempre avaliar se o dado informado realmente condiz com a clínica do paciente. Alguns parâmetros podem afetar a leitura da oximetria, como por exemplo, extremidades frias, desidratação e presença de tempo de enchimento capilar prolongado. Descomplicando o PALSE-book 55 MÓDULO V: Emergências cardiovasculares Identificação do Choque na Emergência Pediátrica A intervenção rápida na criança chocada pode prevenir a insuficiência cardiopulmonar e, consequentemente a PCR. No choque ocorre uma transferência inadequada de oxigênio aos tecidos levando a um metabolismo anaeróbio com disfunção progressiva dos órgãos. Fisiopatologia do Choque A saturação de oxigênio venoso central é utilizada como parâmetro do equilíbrio entre a demanda metabólica e a transferência de oxigênio e o ideal é que permaneça acima de 70%. Se houver aumento da demanda e / ou diminuição da transferência de oxigênio haverá uma queda na saturação de oxigênio venoso central. Essa transferência de oxigênio aos tecidos depende do conteúdo arterial de oxigênio, do débito cardíaco e da distribuição adequada para os tecidos.O débito cardíaco é o produto entre o volume sistólico e a frequência cardíaca. O volume sistólico é a quantidade de sangue ejetado pelo coração e é determinado por 3 fatores: pré-carga, que representa o retorno venoso de sangue ao coração, a contratilidade do miocárdico e a pós-carga, que é a resistência à ejeção do fluxo sanguíneo. Mecanismos Compensatórios Quando ocorre esse desequilíbrio entre oferta e demanda de oxigênio, alguns mecanismos compensatórios tentam reestabelecer a transferência adequada de oxigênio aos tecidos. No exame físico, pode-se identificar esses mecanismos através da taquicardia, da pele mosqueada, fria e pálida com preenchimento capilar retardado e pulsos periféricos finos secundários ao aumento da resistência vascular sistêmica. A oligúria, vômitos e íleo intestinal são vistos quando há um aumento da resistência vascular renal e esplâncnica. Já os sinais de hipoperfusão cerebral variam desde ansiedade e inquietação até torpor e coma. Em pacientes pediátricos, o débito cardíaco é mais dependente da frequência cardíaca do que do volume de ejeção, devido à sua menor massa muscular miocárdica. Assim, a criança compensa a diminuição do débito cardíaco pela taquicardia. Mas, como a frequência cardíaca basal já é elevada, há uma maior a probabilidade de que esta resposta seja inadequada. Classificação do Choque Quanto à evolução: Descomplicando o PALSE-book 56 ● Choque compensado: apesar de ter hipoperfusão tecidual, a pressão arterial se mantém normal através dos mecanismoscompensatórios. O paciente apresenta taquicardia, oligúria e retardo do preenchimento capilar. Se reconhecido e tratado nessa fase, as chances de sobrevida sem sequelas são bem maiores. ● Choque descompensado: há uma hipoperfusão tecidual associado a hipotensão. O paciente apresenta alteração da consciência e aparência anormal, pele marmoreada, extremidades frias, pulsos periféricos ausentes e centrais diminuídos. Aqui, as medidas terapêut icas devem ser agress ivas , porque a morbimortalidade é muito alta. É importante ressaltar que, em crianças, a hipotensão e a bradicardia são sinais tardios de choque em criança e o primeiro sinal é a taquicardia sem hipotensão. ● Choque irreversível: é definido pela disfunção orgânica e celular com falência de múltiplos órgãos. Quanto a etiologia: Choque Hipovolêmico: observa-se diminuição da pré-carga e do DC, mas com contratilidade miocárdica normal e pós-carga aumentada. A criança apresenta taquicardia com pulsos periféricos fracos e centrais normais, pele fria, pálida, mosqueada e pegajosa, extremidades frias e oligúria. Um sinal importante no exame físico é a PA normal, mas com pressão de pulso estreita, ou seja a diferença entre a PA sistólica e PA diastólica é pequena. Choque Cardiogênico: também apresenta uma pré-carga variável de acordo com a patologia e uma pós-carga aumentada. Além disso, a contratilidade é reduzida. O choque cardiogênico resulta de uma falência da contratilidade miocárdica com queda importante do débito cardíaco. Assim, os mecanismos compensatórios aumentam o consumo de oxigênio e agravam mais ainda o choque. A criança apresenta maior esforço respiratório decorrente do edema pulmonar, taquicardia, pulsos fracos, pele fria, mosqueada e pegajosa. Nesse tipo de choque, o esforço respiratório está aumentado, podendo apresentar ter retrações, gemidos, uso de musculatura acessória e cianose. Choque obstrutivo: caracteriza-se por uma obstrução mecânica à ejeção ventricular ou restrição aguda do enchimento ventricular. As causas mais comuns são o pneumotórax hipertensivo, tamponamento cardíaco, cardiopatias com obstrução esquerda dependentes do canal arterial e embolia pulmonar maciça. No pneumotórax hipertensivo podemos ver desconforto respiratório importante com hiperresonância e hiperextensão do lado afetado. O pulso paradoxal também está presente, com diminuição de 10mmHg da PAS durante a inspiração, além da evolução rápida da taquicardia para bradicardia e hipotensão. No tamponamento cardíaco há diminuição do retorno sistêmico e pulmonar. Um sinal importante é o abafamento de bulhas cardíacas, além da pressão de pulso diminuída e pulso paradoxal. Descomplicando o PALSE-book 57 Choque Distributivo: ocorre alteração do tônus vasomotor com redução da resistência vascular sistêmica. Os sinais de má perfusão periférica são os mais evidentes, além de hipotensão precoce secundária à vasodilatação sistêmica e perda de volume para terceiro espaço por extravasamento capilar. A pré-carga é variável de acordo com a patologia e a pós-carga está aumentada Dentre a classificação de distributivo estão: choque anafilático, neurogênico e séptico. No choque anafilático, além da vasodilatação arterial e venosa, há também aumento da permeabilidade capilar e vasoconstricção pulmonar. Os sinais e sintomas incluem Angioedema, estridor e / ou sibilios pulmonares levando a uma com obstrução anatômica e funcional das vias aéreas, hipotensão, taquicardia, ansiedade e agitação, urticária, náuseas e vômitos. No choque neurogênico há perda generalizada do tônus muscular levando a vasodilatação, hipotensão com alargamento da pressão de pulso e hipotermia. O que chama atenção é a bradicardia ou ausência de taquicardia compensatória, pois a inervação simpática do músculo cardíaco também está comprometida. Pra diferenciar do choque hipovolêmico é só lembrar que no hipovolêmico temos taquicardia compensatória como um dos primeiros sinais, além da pressão de pulso estreita. Além disso, a história ajuda no diagnostico, porque geralmente o choque neurogênico é causado por alguma lesão aguda da coluna cervical superior. No choque séptico temos vasodilatação arterial e venosa, maior permeabilidade capilar, hipovolemia absoluta e relativa e também menor contratilidade miocárdica. Na fase inicial o alto debito cardíaco associado à baixa resistenia vascular sistêmica levam a um hiperdinamismo, conhecido como “choque quente”. Observamos extremidades quentes, pulsos amplos, vasodilatação, perfusão periférica rápida, taquicardia, taquipneia, aumento da pressão de pulso e acidose metabólica. À medida que progride com hipovolemia e descompensação hemodinâmica, ocorre a diminuição do débito cardíaco, o chamado choque fr io. Nessa fase observamos extremidades frias, pulsos finos, vasoconstrição, perfusão periférica lenta, hipotensão, oligoanúria, diminuição da saturação venosa mista, aumento da resistência vascular periférica, piora da acidose metabólica e alterações importantes do estado mental como torpor e coma. O “choque frio” é extemamente grave. Quando não tratado prontamente, progride para falência de múltiplos órgãos e morte. Um achado clínico importante é a presença de petequias e purpuras no chopque septico. Descomplicando o PALSE-book 58 Sinais e Sintomas A. Via Aérea: nos três tipos de choque pode estar desde patente até não preservável. B. Respiração: Taquipneia em todos os tipos, mas desconforto respiratório está presente só nos choques cardiogênico ou obstrutivos. C. Circulação: Taquicardia e oligúria estão presente em todos os tipos. Nos choques hipovolêmico, cardiogênico e obstrutivo a pele está fria e pálida com pulsos fracos, tempo de preenchimento capilar retardado e pressão de pulso estreita. Apenas no choque distributivo podemos ver pele quente ou fria, pulso oscilante ou fraco e preenchimento capilar e pressão de pulso variáveis. ● D. Exame neurológico: Em todos os choques pode ter alteração do nível da consciência, assim como a temperatura pode ser variável. Descomplicando o PALSE-book 59 Choque em Pediatria Diagnóstico O diagnóstico do choque é basicamente clínico. É muito importante a avaliação adequada para reconhecimento precoce dos sinais de má perfusão e dos mecanismos compensatórios. Sinais e Sintomas As manifestações clínicas dependem de alguns fatores como os mecanismoscompensatórios, destacando-se a taquicardia. Este é o sinal mais precoce e alerta para reconhecimento do choque. Alterações relacionadas à diminuição do débito cardíaco apresentam-se com pulsos débeis e de baixa amplitude e com oligúria, caracterizada pela diuresea tíbia distal (acima do maléolo medial), fêmur distal, espinha ilíaca anterossuperior e, em crianças mais velhas e adolescentes, o úmero também é uma opção. Tíbia proximal: posicionar a perna com ligeira rotação externa, palpar a tuberosidade da tíbia e realizar punção em 1 a 3 cm abaixo dessa proeminência óssea. Descomplicando o PALSE-book 63 Técnica A agulha do trocarte manual deve ser inserida perpendicular com movimento de torção com a mão e no momento em que a agulha implanta no canal medular ouve-se um “clique” e há diminuição da resistência. Para todos os dispositivos de acesso IO, a aspiração de medula confirma o posicionamento,Quando não for possível realizar a aspiração, a cânula deve ser lavada com 10 ml de fluido. Depois disso, remove-se o trocarte ou o dispositivo e segura-se a agulha à pele, fixando a travade segurança em torno da agulha. A ferida deve ser coberta com um curativo estéril. Complicações Por conta do procedimento, existe um pequeno risco de embolia de medula óssea na inserção. As agulhas IO devem ser substituídas, o mais rápido possível, por acesso vascular de longo prazo, porque se usadas por mais de 24h podem gerar complicações. Não se deve realizar a punção em pele infectada, lesada ou queimada, por conta do risco de osteomielite, e não se deve inserir em placa de crescimento, pelo risco de lesão da epífise óssea. Por fim, o posicionamento inadequado pode ocasionar extravasamento. Descomplicando o PALSE-book 64 Analgesia e Sedação Pediátrica O objetivo da sedação e analgesia é reduzir a ansiedade, promover a hipnose e, se possível, a amnésia. Hipnose e sedação podem ser entendidas como diminuição do estado de alerta, sendo a hipnose um estado semelhante ao sono. Já a analgesia visa reduzir a resposta do paciente a estímulos dolorosos. A capacidade da criança em cooperar depende da idade cronológica e desenvolvimento cognitivo. Os pacientes ideais para sedação fora do centro cirúrgico são os que não apresentam comorbidades ou doenças de base controlada, ou seja ASA I e ASA II, segundo a classificação da sociedade americana de anestesiologia. Tempo de Jejum Antes de realizar sedação eletiva em qualquer paciente, deve-se atentar ao tempo de jejum necessário, para diminuir a probabilidade de estômago cheio e proteger a via aérea do paciente. São duas horas de jejum para líquidos claros, quatro horas para leite materno, seis horas para leite artificial e oito horas para sólidos. Indicações As indicações para realização de sedação e analgesia são as situações nas quais o paciente precisa de tranquilidade e pouca reatividade, ou nas quais são esperados estímulos dolorosos. Procedimentos de imagem relativamente prolongados, como ressonância magnética e medicina nuclear, e invasivos, como acessos venosos profundos, endoscopia ou colonoscopia, quando em pacientes muito jovens ou com algum grau de atraso do desenvolvimento, quase sempre requerem sedação. A sedação para manipulação de vias áreas requer cautela, uma vez que o objetivo pode ser justamente preservar a reatividade através dos reflexos, não permitindo uma sedação profunda. Estratificação da Sedação É possível estratificar a sedação em quatro graus: Grau leve: o paciente apresenta estado de consciência e reflexo de vias áreas, estando apenas relaxado. ● Grau moderado: o paciente encontra-se cooperativo, responsivo a estímulos verbais e táteis, com algum grau de comprometimento do padrão respiratório. Descomplicando o PALSE-book 65 ● Estado Profundo:a resposta vem ao estímulo repetitivo ou a dor, sendo possivelmente necessária a intervenção da via aérea pois a ventilação espontânea pode não ser adequada. Há também perda dos reflexos de proteção ● Anestesia Geral: todos os reflexos estão abolidos e a ventilação mecânica quase sempre é necessária. Escalas de Avaliação Para aval iar se a sedação e analgesia estão satisfatórias, existem duas escalas que podem ser aplicadas. A primeira é a NIPS, Escala de Dor Neonatal, recomendada para recém nascidos internados em unidades de terapia intensiva e a segunda é a escala Hannallah, para todas as faixas etárias. A escala de NIPS utiliza seis parâmetros baseados na observação do paciente. O ajuste da analgesia e sedação será sempre necessário quando a pontuação for superior a 3 pontos. Alteração da expressão facial, choro, respiração, reatividade dos membros e estado de alerta somam, cada um, 1 ponto. Quando houver choro vigoroso, soma-se 2 pontos. A escala de Hannallah engloba parâmetros clínicos e o ajuste deve ser feito quando a pontuação for superior a 6 pontos. Somam-se um ponto quando houver oscilação positiva da pressão arterial sistólica e 2 pontos quando oscilar 20% acima do basal. O choro acrescenta um ponto, e se for inconsolável, 2 pontos. Agitação leve, um ponto, e histérica, 2 pontos. A pontuação de extremos vale para a verbalização e postura, sendo 1 ponto para dor leve e sem localização e 2 pontos para dor moderada e localizada. Uma outra escala utilizada é a de Ramsay, que avalia a resposta do paciente ao estímulo tátil moderado (tapa nos ombros), e vai até 5 pontos, sendo o ideal entre 3 e 2 pontos. Ao contrário das tabelas anteriores, esses valores não são somados. No estado comatoso, semelhante ao da anestesia geral, o paciente não responde a estímulos. Adormecido, equivalente a sedação moderada, 2 pontos. No estado calmo, 3 pontos, equivalente a sedação leve. A partir de 4 pontos temos um paciente agitado ou extremamente agitado, colocando acessos venosos e ele próprio em risco. Vias de Administração e Medicamentos Para então realizar um procedimento de sedação e analgesia que mantenha as escalas anteriores em níveis satisfatórios, devemos optar por drogas de curta duração e alto índice terapêutico, sempre com preferência para a via endovenosa. Quando o paciente não for cooperativo, pode-se optar por via intramuscular. Descomplicando o PALSE-book 66 A anestesia local é recomendada para analgesia em pequenas biópsias. A prilocaína e lidocaína, disponíveis na forma tópica, pode ser utilizada para anestesia da pele intacta, porém pode levar até uma hora e meia para atingir a analgesia adequada. Já a lidocaína pode ser utilizada via intradérmica ou em gel para diminuir a reatividade das mucosas.Para analgesia sistêmica, os opióides são recomendados, são eles: Morfina: é um fármaco seguro e recomendado para dor moderada, com potente efeito de analgesia e relativo efeito hipnótico. A dose recomendada é 0,15mg/kg, sendo dose máxima de 15 mg. As ampolas disponíveis nos hospitais geralmente são de 0,2 mg, para raquianestesia – 1 mg, para peridural – e 10 mg para injeção endovenosa. Uma dica é diluir a ampola de 10 mg em 10 ml. Cada 1ml corresponderá a 1 mg de morfina. ● Fentanil: chega a ser 100x mais potente do que a morfina, e é comumente associado a benzodiazepínicos para sedação. A dose é de 1 a 3 microgramas por quilo por hora, levando 1 a 3 minutos para fazer efeito. As ampolas de fentanil utilizadas geralmente apresentam concentração de 50 microgramas por ml. Doses elevadas podem induzir anestesia geral e rigidez muscular. ● Sulfentanil: apresenta potência maior que a do fentanil, sendo a dose recomendada de 0,7 a 1mg/ kg. Pode também apresentar rigidez torácica. ● Meperidina: apresenta 10% da potência da morfina, podendo ser administrada via oral ou venosa, nas doses de 1 a 2 mg/kg a cada três horas. Os efeitos colaterais são indesejáveis, com euforia, agitação, tremores, mioclonias e taquicardia supraventricular. Não deve ser utilizada em recém nascidos. ● Metadona: é um agonista sintético potente semelhante a morfina, podendo ser utilizada com segurança em doses de 0,1 a 0,2 mg/kg/dose. ● Codeína e Tramadol: são recomendados para analgesia via oral em caso de dor leve a moderada. Além do mane jo da dor, para obter h ipnose adequada pode-se fazer uso dos benzodiazepínicos,fármacos lipossolúveis que atravessam a barreira hematoencefálica. Possuem a vantagem de instalação rápida, principalmente quando combinados com opióides, como o fentanil. A metabolização é hepática, e o mecanismo de ação é a ativação dos receptores GABA, responsáveis pela polarização neuronal. São eles: Diazepam: pode ser utilizado tanto por via endonvenosa quanto intramuscular. A dose recomendada é 0,1 a 0,2 mg/kg. Pode levar a depressão respiratória, hipotensão, bradicardia ou excitação paradoxal. Como desvantagem, apresenta meia vida prolongada. Midazolam: pode ser administrado tanto por via endovenosa e intramuscular quanto por via oral. As doses são até 0,5 mg/kg EV, 0,15 mg/kg IM e 0,75 mg/ kg VO. Tem a vantagem de causar amnésia e apresenta meia vida mais curta do que o diazepam. Descomplicando o PALSE-book 67 Outras opções de hipnóticos, incluem: Propofol: anestésico intravenoso mais comum para hipnose ou indução de anestesia geral. A dose recomendada é 1 – 3 mg/kg em bolus via EV. Não é indicado para menores de três anos. Pode causar dor no local da injeção, sendo recomendado administração prévia de lidocaína endovenosa. O mecanismo de ação é através da potencialização do receptor GABAa. O tempo de duração é curto, cerca de 5 a 10 minutos. ● Tiopental: potente barbitúrico, indicado em casos de hipertensão intracraniana, estado de mal convulsivo, traumatismo craniano. Dose de 3 – 5 mg kg ● Cetamina: potente analgésico e hipnótico dissociativo (estado no qual o paciente mantém os olhos abertos com nistagmo). Deve ser utilizado juntamente com benzodiazepínicos devido ao risco de alucinações. O mecanismo de ação é o antagonismo não competitivo do receptor um antagonista não competitivo do receptor glutamatérgico do tipo NMDA. Preserva os reflexos, recomendada para pacientes com reatividade de via aérea, como os asmáticos, devido ao relaxamento broncoalveolar. Porém, pode levar a sialorréia, hipertensão, taquicardia e aumento do fluxo sanguíneo cerebral. Descomplicando o PALSE-book 68 MÓDULO VI: Arritmias em Pediatria Arritmias Sustentáveis: Quando Considerar? Para afirmar que a arritmia é sustentável, é necessário pelo menos um dos critérios abaixo: Persistência do ritmo no monitor por mais do que 30 segundos, mesmo que o paciente esteja estável hemodinamicamente. ● Instabilidade hemodinâmica independente do tempo de persistência do ritmo. É importante ressaltar que um mesmo ritmo pode ser considerado sustentável pelo fator tempo e pelo fator hemodinâmico, ou seja, apresentar esses dois fatores que caracteriza um ritmo como sustentável em uma mesma situação. Pode-se citar como exemplo uma taquicardia ventricular monomórfica com instabilidade hemodinâmica e que o ritmo persiste por mais de 30 segundos na tela do monitor. Nesse caso, o paciente apresentará um ritmo sustentável tanto pelo fator da instabilidade hemodinâmica, quanto pelo fator tempo. Descomplicando o PALSE-book 69 MÓDULO VII: Cuidados Pós-Ressuscitação em Pediatria Situações Especiais de PCR em pediatria A parada cardiorrespiratória em crianças é comumente associada ao trauma, ao afogamento, a anafilaxia, a cardiopatia congênita e a hipertensão pulmonar. Trauma As causas mais comuns de PCR por trauma em pediatria são: hipóxia, obstrução das vias aéreas ou lesão traqueobrônquica; lesão de órgãos vitais, lesão cerebral ou cervical superior; diminuição do débito cardíaco ou atividade elétrica sem pulso secundária ao pneumotórax hipertensivo, tamponamento cardíaco ou hemorragia maciça. A PCR pós-trauma é mais significativa na PCR extra hospitalar e a ressuscitação volumétrica inadequada é responsável pela maioria das mortes pós- trauma. Nesse contexto, os fatores que podem melhorar a sobrevivência são o tratamento correto das lesões penetrantes e o transporte rápido para um centro de trauma. As técnicas do SBV e SAV no trauma são semelhantes à PCR não traumática, com foco na circulação, vias aéreas e respiração. Diante de uma PCR pós-trauma, além da RCP de alta qualidade e do uso do DEA, é muito importante controlar a hemorragia com pressão direta ou torniquete. Para a abertura das vias aéreas, deve-se realizar elevação do queixo e anteriorização da mandíbula, estabilizando a cabeça e o pescoço, principalmente se houver suspeita de lesão cervical. A ventilação com bolsa - válvula - máscara e 100% de oxigênio é melhor realizada quando se tem dois socorristas, para estabilização adequada da cabeça e do pescoço. A intubação deve ser realizada com posição neutra. Em caso de suspeita de pneumotórax hipertensivo, é importante realizar punção torácica. Em re lação a c i rcu lação, d iante de choque hipovolêmico, é fundamental realizar ressuscitação volumétrica rápida intravenosa ou intraóssea. Diante de tamponamento cardíaco, deve-se estar preparado para realização de pericardiocentese. Além disso, quando a criança evolui com bradicardia e hipotensão refratária, deve-se pensar em choque neurogênico, e, nesse caso, o tratamento correto é com vasopressor. Descomplicando o PALSE-book 70 Afogamento No afogamento, a RCP mantém a sequência da SBV em pediatria, mas é importante lembrar da possível lesão cervical, da hipotermia e da abertura das vias aéreas ainda na água, se for possível. As ventilações devem ser iniciadas imediatamente e as compressões assim que a criança estiver sobre uma superfície rígida. Além disso, o socorrista tem que estar preparado para realizar aspiração da via aérea porque é muito comum aspirar vômito. Por último, a descompressão gástrica é muito importante depois de estabelecer uma via aérea avançada. Se a temperatura corporal central forAssim que ocorre o retorno da circulação espontânea após uma PCR, choque grave ou insuficiência respiratória, é muito importante adotar medidas para avaliação e suporte desse paciente para evitar a progressão da morbimortalidade. Para o tratamento pós-PCR é importante identificar e tratar as disfunções sistêmicas. Na primeira fase continuamos oferecendo suporte avançado de vida e situações potencialmente fatais. Aqui a gente se concentra no ABC da reanimação garantindo via aérea, respiração e circulação. Cuidados Pós-PCR em Pediatria Na segunda fase oferecemos um tratamento mais amplo direcionado a vários órgãos, inclusive com controle da temperatura. As metas do tratamento são: otimizar oxigenação, ventilação e função cardiopulmonar, prevenir lesão de órgãos secundários, identificar e tratar doença aguda, adotar medidas que melhorem a condição neurológica e minimizar o risco de piora durante o transporte. Então temos que avaliar e tratar alterações relacionadas aos sistemas respiratório, cardiovascular e neurológico. Para o sistema respiratório temos a meta de manter oxigenação adequada com saturação de oxigênio entre 94 e 100%, evitando a hipo e hiperóxia. Além disso, temos que tentar manter a ventilação e PaCO2 adequadas de acordo com a história clínica da criança. Para monitorização usamos a saturimetria de pulso, frequência e ritmo cardíacos e a canografia se estiver entubado. No exame físico, temos que ver a expansibilidade torácica e o padrão respiratório. Outros exames importantes são a gasometria arterial e raio-x de tórax. Como conduzir então o tratamento do sistema respiratório? Para a oxigenação adequada temos que fornecer Fio2 adequada, intubar se necessário e reajustar parâmetros da VM ou da pressão expiratória positiva final. A SO2 tem que ficar entre 94 e 100% e PaCo2 Descomplicando o PALSE-book 72 entre 35 e 45 mmHg. A dor pode ser controlada com analgésicos como fentanil ou morfina e a sedação com lorazepam e Diazepam ajudam a diminuir a ansiedade. Os bloqueadores neuromusculares são usados em casos com necessidade de VM alta, assincronia entre ventilador e paciente ou via aérea difícil. Já o tratamento do sistema cardiovascular tem os objetivos de restaurar e manter a pré- carga, tratar disfunção miocárdica, controlar arritmias, diminuir a demanda metabólica, manter PA e perfusão normais, e níveis adequados de SO2 e PO2. Precisamos então monitorar a oximetria de pulso, frequência e ritmo cardíacos, PA e pressão de pulso, débito urinário e temperatura. Se estiver em cuidados intensivos também temos que saber a pressão venosa em cateter central, saturação o2 venosa central, oxigenação por espectroscopia se disponível e função cardíaca através do ecocardiograma. Os exames necessários são gasometria arterial, hemoglobina. Glicemia, eletrólitos, creatinina, cálcio e lactato. Além, claro, do raio-x de tórax e ECG com 12 derivações. Dentre os parâmetros para otimizar a perfusão a gente tem: pré-carga, contratilidade, pós- carga e FC. Para melhorar a pré-carga damos fluidos, para contratilidade iniciamos inotrópicos ou vasodilatadores, além de corrigir distúrbios hidroeletrolíticos e ácido-basicos, para pós-carga administramos vasopressores ou vasodilatadores. Já para controlar a FC podemos administrar antiarrítmicos ou cronotrópicos como epinefrina, além de corrigir hipóxia e fazer estimulação. O que fazer então nessa etapa? Primeiro estabelecemos um acesso vascular seguro (IV ou IO) para bolus com cristaloides entre 10 e 20 ml/kg ou 5 a 10ml/kg se houver sinais de ICC. Se for necessário podemos dar colóide ou concentrado de hemácias. A hipotensão e disfunção cardíaca devem ser tratadas agressivamente como inotrópicos e aminas para evitar lesão multissistêmica secundária. Aqui também é importante identificar e tratar as possíveis causas de choque e PCR lembrando a regra dos Hs e Ts. Como hipovolemia, hipóxia, hipoglicemia, hipo ou hipercalemia, hipotermia, hidrogênio ou acidose, tensão tórax, tamponamento, toxinas, trombose e trauma. Se, mesmo com as medidas iniciais, o paciente mantiver choque hipotensivo temos que iniciar aminas contínuas como epinefrina de 0,1 a 1,0 mcg/kg/min, dopamina 10 a 20 mcg/kg/min e/ou norepinefrina de 0,1 a 2 mcg/kg/min. Descomplicando o PALSE-book 73 Se o quadro permanece com choque normotensivo as aminas de escolha são dobutamina e/ou dopamina nas doses de 2 a 20 mg/kg/min, epinefrina em dose baixa entre 0,1 e 0,3 mcg/kg/min e ou inodilatadores como milrinona entre 0,25 e 0,75 mcg /kg/min ou amrinona. Já o soro de manutenção deve ter glicose e KCL. O KCL só não deve ser administrado se houver hipercalemia, insuficiência renal, lesão muscular e acidose intensa. A regra 4-2-1 é muito usada para abordagem rápida de fluidoterapia e manutenção. Crianças até 10 kg infundimos 4 ml/kg/h, entre 10 e 20 kg 40 ml/kg/h + 2ml/kg/hora por kg de peso entre 10 e 20kg e acima de 20 kg 60ml/kg + 1ml por kg por hora para cada kg acima de 20kg. Falando agora do sistema neurológico pessoal, a gente tem como meta manter a perfusão cerebral adequada, manter normoglicemia, tratar agressivamente a febre e considerar hipotermia em alguns casos, tratar a hipertensão intracraniana e crises convulsivas. Temos que monitorar a temperatura, FC e PA além de fazer sempre avaliações neurológicas identificando convulsões, sinais de herniação e achados anormais. Os exames são glicemia capilar, eletrólitos e cálcio. Também podemos fazer exames toxicológicos, liquor, TC e EEG se for necessário. Então devemos monitorar e tratar agitação, convulsões e hipoglicemia. O controle da temperatura é muito importante. A demanda metabólica aumenta em 10 a 13% para cada grau celsius acima do normal. Não podemos reaquecer rápido o paciente que esteja com temperatura entre 32° e 37° C pós-PCR, exceto se a hipotermia estiver contribuindo com o quadro. Na hipotermia terapêutica, mantemos temperatura entre 32° e 34° C. Está indicada em bebês e crianças pós-PCR extra hospitalar por 2 a 5 dias. Na PCR hospitalar não existem evidências que justifiquem seu uso ainda. Para PIC elevada, mantemos cabeceira elevada a 30°, ventilação adequada para normocapnia, período curto de hiperventilação se houver sinais de herniação iminente e manitol ou solução salina hipertônica na síndrome de herniação aguda. A intervenção neurocirúrgica deve ser realizada se houver indicação. Descomplicando o PALSE-book 75 Em membro com sinais de infecção. Em membro com sinais de síndrome compartimental. Em membro com tempo de enchimento capilar prolongado. Em membro com distorção anatômica grave. Choque hipovolêmico. Choque cardiogênico. Doença do tecido pulmonar. Obstrução de vias aéreas. Frequência cardíaca de 85 bpm. Frequência respiratória de 35 irpm. Pressão arterial de 70/40 mmHg. Nenhuma das anteriores. Permitir o retorno total do tórax após cada compressão. Sempre realizar compressões com apenas uma mão. Verificar os pulsos durante a RCP. Manter frequência de compressões em torno de 90 compressões por minuto. a. a. a. a. b. b. b. b. c. c. c. c. d. d. d. d. 01. O acesso intraósseo pode ser uma boa opção para a emergência. Em qual cenário poderíamos utilizá-lo? 03. Você está atendendo um paciente pediátrico que deu entrada no serviço com desconforto respiratório agudo. O familiar responsável descreve que o paciente estava jantando em restaurante quando começou a sentir-se mal. Ele alega ainda histórico de alergias alimentares. Qual é a hipótese mais provável? 04. Você está atendendo uma criança de 10 anos no Pronto Atendimento. Ele queixa-se de tonturas e náusea. Nega outros sinais ou sintomas. Para esta faixa etária, qual seria um achado no exame físico dito normal? 02. Você está liderando o atendimento de uma PCR pediátrica. Qual ação representa um componente de uma RCP de alta qualidade? Descomplicando o PALSE-book 76 Sibilos. Estridor. Crepitações.6 Ventilação Em ambiente Extra-hospitalar pode ser feito através de uma máscara de bolso ocluindo boca e nariz, ou se não tiver um dispositivo de barreira, boca – boca + nariz, em menores de 1 ano, ou boca a boca, ocluindo as narinas para maiores de 1 ano. Cada ventilação de resgate deve durar 1 segundo e devemos ver elevação do tórax. Em ambiente Intra-Hospitalar, pode-se utilizar a bolsa - válvula - máscara com reservatório de oxigênio sem cobrir os olhos e nem sobrepor o queixo. É fundamental vedar bem a máscara à face usando a técnica E- C. O tamanho é escolhido pelo peso e tamanho, sendo pediátrico de 7 a 30 Kg e adulto após 30 Kg. A intubação orotraqueal deve ser estabelecida assim que possível. Na parada respiratória, realiza-se Ventilação de Resgate, ou seja, uma ventilação a cada 2 a 3 segundos, sendo 20 a 30 por minuto, até que a respiração espontânea seja retomada. Na PCR, realiza-se a mesma frequência, sendo 20 a 30 ventilações por minuto em assincronia com as compressões. Desfibrilador Externo Automático (DEA) O DEA deve ser utilizado assim que disponível. O atenuador de carga diminui em dois terços a energia do choque. O uso de pás pediátricas é indicado até a idade de 8 anos. Algumas pás são usadas na posição frontal e posterior e outras anterolateral (direita- esquerda). Em bebês, o ideal é usar desfibrilador manual. Caso não tenha redutor de carga ou as pás pediátricas, pode usar as pás de adultos tomando cuidado para que elas não se toquem. Descomplicando o PALSE-book 7 Primeiro Passo: Avaliar a segurança da cena e verificar se existe perigo ao socorrista ou para outras vítimas. Depois disso, deve-se verificar a responsividade da vítima. Em crianças dá-se “um tapinha” no tórax ou no ombro chamando a criança. A avaliação da respiração e do pulso deve ser realizada em no máximo 10 segundos. Na criança devemos palpar o pulso carotídeo ou femoral. Segundo Passo: Acionar o SME e buscar o DEA; Se o socorrista presencia a PCR, ele deve ativar imediatamente o SME e buscar o DEA. Se o socorrista não presenciou, ele deve iniciar a RCP por dois minutos, depois acionar o SME e buscar o DEA. Terceiro Passo: RCP de Alta Qualidade com 1 Socorrista. Realizar a sequência C-A-B, ou seja, circulação – via aérea – respiração. As compressões devem ser de 100 a 120 por min, com profundidade mínima de 1/3 do diâmetro anteroposterior do tórax, no mínimo 5cm em crianças e no máximo 6 cm em adolescentes, sempre observando retorno total do tórax para que haja retorno do sangue ao coração entre as compressões. Em crianças menores, utiliza-se a técnica de uma mão e nas maiores a técnica de duas mãos, assim como é feito nos adultos. Suporte Básico de Vida em Criança 1 Socorrista Tratamento Medicamentoso O tratamento medicamentoso na PCR serve para aumentar o fluxo sanguíneo e perfusão coronariana e cerebral, estimular a contratilidade e frequência cardíaca, corrigir uma possível causa da PCR e suprimir ou tratar as arritmias. Os medicamentos mais usados são: epinefrina, amiodarona, lidocaína, magnésio, atropina, cálcio e bicarbonato. A Epinefrina, ou adrenalina, é usada em todos os ritmos de parada. A dose é de 0,01mg/kg IV ou IO (ou seja 0,1ml/kg na concentração de 1: 10.000) e 0,1mg/kg ET (corresponde a 0,1ml/kg na concentração de 1: 1.000). Podendo ser repetida a cada 3 a 5minutos. Em ritmos de FV ou TVSP utiliza-se a Amiodarona (bolus de 5mg/kg até 2x) que tem efeito de bloqueio alfa e beta adrenérgico e altera canais de sódio potássio e cálcio. A Lidocaína, dose de ataque é de 1mg/kg e de manutenção é de 20 a 50mcg/kg/min, suprime as arritmias ventriculares e seu uso foi associado ao retorno da circulação espontânea. O sulfato de magnésio é o de escolha para arritmias secundárias à hipomagnesemia e à Torsades des Pointes na dose de 25 a 50mg/kg. Outras drogas usadas são a Atropina para tratamento da bradicardia sintomática, o Gluconato de cálcio nas hipocalcemias, hipercalemias, hipermagnesemia e overdose de bloqueador dos canais de cálcio. Estabiliza o potencial de ação da membrana celular e o gradiente entre o potássio intracelular e o sódio extracelular e o Bicarbonato de sódio o nos pacientes com hipercalemia sintomática, overdose de tricíclicos. Descomplicando o PALSE-book 8 Na PCR, realiza-se a ventilação a cada 2 a 3 segundos, sendo 20 a 30 ventilações por minuto, em assincronia com as compressões. Quando tiver 1 socorrista a relação compressão/ventilação vai ser sempre de 30:2. Se após dois minutos de RCP, o socorrista ainda estiver sozinho e sem celular e não puder acionar o SME, ele deve deixar a vítima, acionar o SME e pegar o DEA. Quarto Passo: Uso do DEA. O DEA deve ser usado assim que disponível. A posição das pás pode ser frontal e posterior e ou anterolateral (direita-esquerda). Se o ritmo for chocável, deve-se aplicar o choque e reiniciar RCP por dois minutos. Se o ritmo não for chocável, mantém-se a RCP com compressão – ventilação até que o SME chegue. Primeiro Passo: Avaliar a segurança da cena. Mesmo com 2 socorristas é necessário verificar se existe perigo ao socorrista ou para outras vítimas no local. Depois disso, deve- se verificar a responsividade da vítima. Se a criança não responde, enquanto o primeiro socorrista permanece com a vítima, o segundo aciona o SME e busca o DEA. Aquele que fica com a vítima avalia simultaneamente a respiração e os pulsos carotídeo ou femoral em crianças, em no máximo 10 segundos. Segundo Passo: Acionar o SME e buscar o DEA; O segundo socorrista deve acionar o SME e busca o DEA, enquanto o primeiro permanece com a vítima. Terceiro Passo: RCP de Alta Qualidade com 2 Socorristas. A RCP em crianças com 2 socorristas também é realizada com a sequência C-A-B, circulação – via aérea –respiração. As compressões são de 100 a 120 por min, com profundidade mínima de 1/3 do diâmetro anteroposterior do tórax, no mínimo 5cm em crianças e no máximo 6 cm em adolescentes, com retorno total do tórax para que haja retorno do sangue ao coração entre as compressões. Em crianças menores usamos a técnicade uma mão e nas maiores a técnica de duas mãos. Suporte Básico de Vida em Criança 2 Socorristas Na abertura de vias aéreas é fundamental manter o pescoço em posição neutra e deixar o canal auditivo externo nivelado com a parte superior do ombro para ventilação de resgate eficaz. Deve-se inclinar a cabeça, elevar o queixo e anteriorizar a mandíbula. Para facilitar a manobra, pode-se colocar um coxim occipital em crianças maiores. Depois de abrir as vias aéreas, realiza-se a ventilação através de uma máscara de bolso, ocluindo boca e nariz, ou se não tiver um dispositivo de barreira, boca a boca, fechando as narinas. Descomplicando o PALSE-book 9 Para abertura de vias aéreas, mantêm-se o pescoço em posição neutra, inclinando a cabeça, elevando o queixo e anteriorizando a mandíbula. Para facilitar a manobra, podemos colocar um coxim occipital em crianças maiores. Depois de abrir as vias aéreas, realiza-se a ventilação através de uma máscara de bolso, ocluindo boca e nariz, ou se não tiver um dispositivo de barreira, boca a boca, fechando as narinas. Na PCR, realiza-se a ventilação a cada 2 a 3 segundos, sendo 20 a 30 ventilações por minuto, em assincronia com as compressões. Quando são dois socorristas, um socorrista fica responsável pela ventilação e um responsável pelas compressões, sendo a relação compressão/ventilação é 15:2. Quarto Passo: Uso do DEA. O DEA deve ser usado assim que disponível. A posição das pás pode ser frontal e posterior e ou anterolateral (direita- esquerda). Se o ritmo for chocável, deve-se aplicar o choque e reiniciar RCP por dois minutos. Se o ritmo não for chocável, mantém-se a RCP com compressão – ventilação até que o SME chegue. Descomplicando o PALSE-book 10 De acordo com o protocolo americano de 2020, lactentes são aqueles entre 1 mês e 1 ano de idade. Primeiro Passo: Avaliar aRetração subcostal. Cardiogênico. Obstrutivo. Hipovolêmico não hemorrágico. Séptico. Até 5 mL/kg. 5 a 10 mL/kg. 10 a 20 mL/kg. 20 a 30 mL/kg. Obstrução de via aérea superior. Doença do tecido pulmona.r Acometimento pleural. Obstrução de via aérea inferior. a. a. a. a. b. b. b. b. c. c. c. c. d. d. d. d. 05. Em uma criança com desconforto respiratório, qual das opções abaixo melhor sinaliza uma possível doença do tecido pulmonar? 07. Você está atendendo uma criança de 11 anos de idade com diversas lesões cutâneas com aspecto purulento. O paciente apresenta temperatura de 38.9°C, frequência respiratória de 40 irpm, frequência cardíaca de 120 bpm e pressão arterial de 90/50 mmHg. Qual tipo de choque provavelmente ela apresenta? 08. Durante o atendimento de uma criança com choque distributivo, qual a quantidade inicial mais adequada para reposição volêmica? 06. Você está atendendo uma criança que apresenta, ao exame físico, uma fase expiratória prolongada associada a sibilos. Qual a principal hipótese? Descomplicando o PALSE-book 77 Distúrbio cardíaco estrutural. Hipóxia. Distúrbio glicêmico. Quadro infeccioso. Fornecer ventilação com bolsa-válvula-máscara com oxigênio concentrado a 100%. Aplicar o marca-passo transcutâneo. Aplicar epinefrina IV. Realizar intubação orotraqueal imediatamente. Radiografia simples de abdômen. Glicemia capilar. Lactato arterial. íons. Tosse produtiva. Sibilância. Estridor inspiratório. Tosse seca. a. a. a. a. b. b. b. b. c. c. c. c. d. d. d. d. 09. Você está avaliando um bebê de 4 meses de idade que está apresentando bradicardia. Qual a causa mais provável para isso? 11. Uma criança de 6 anos de idade está apresentando quadro de bradicardia sinusal (45 bpm) associado a pressão arterial de 80/40 mmHg e frequência respiratória de 8 irpm. Ela está irresponsiva e saturando 70 % em ar ambiente. Qual o próximo passo? 12. Uma criança de 15 meses vem evoluindo com náusea, vômitos e diarréia há cerca de 48 horas e é levado ao Pronto Socorro com letargia. Qual o primeiro teste diagnóstico a ser solicitado? 10. Qual dos seguintes achados sugere quadro de obstrução de via aérea superior em pediatria? Descomplicando o PALSE-book 78 Acionar o serviço médico de emergência, buscar ajuda e depois iniciar RCP. Iniciar RCP por 2 minutos e depois acionar o serviço médico de emergência e buscar por ajuda. Iniciar RCP ininterruptamente e esperar por ajuda. Iniciar ventilações de resgate por 2 minutos e chamar por ajuda. 100%. 94 a 99%. 90 a 94%. ≥ 85%. 15:2 30:2 15:1 30:1 Realizar desfibrilação com 30 Joules com as pás de adulto imediatamente. Realizar desfibrilação com 30 Joules com pás pediátricas. Aguardar mais 2 minutos para realizar a desfibrilação na próxima avaliação do ritm.o Reiniciar as compressões, por ser um ritmo organizado e aplicar a epinefrina, que é sempre a primeira droga da PCR. a. a. a. a. b. b. b. b. c. c. c. c. d. d. d. d. 13. Você encontra-se sozinho em uma avaliação de um bebê de 2 meses de idade que está irresponsivo, não respira e não tem pulso, qual a ação mais adequada a se fazer? 14. Qual a faixa de saturação desejada para a maioria dos casos após o retorno da circulação espontânea? 15. Qual a relação de compressões e ventilações que deve ser usada para RCP em lactentes com apenas 01 socorrista? 16. Você está realizando RCP em uma criança de 3 anos, 13kg e o monitor cardíaco é instalado e mostra no ritmo abaixo, o que deve ser feito: Descomplicando o PALSE-book 79 Dose: 0,1 mg/kg, ou seja 0,5 mg de epinefrina, deve ser aplicada durante a compressão, seguida de um bolus de 5 ml de soro fisiológico. Dose: 0,01mg/Kg ou seja 0,05 mg de epinefrina, seguida de um bolus de 5 ml de soro fisiológico, não importando o momento da aplicação da droga, que deve ser repetida a cada 3 a 5 minutos. Aplicar 0,5 ml da solução diluída de 1: 10.000, seguida de um bolus de 5 ml de soro fisiológico, durante a compressão. Aplicar 0,5 ml da solução diluída de 1.10.000, seguida de um bolus de 3 ml de soro fisiológico, elevando o membro onde a droga está sendo administrada por 10 segundos para que a droga possa chegar à circulação central. Desfibrilação com 200J. Cardioversão elétrica com 100J. Iniciar RCP de alta qualidade. Checar pulso e responsividade. a. a.b. b. c. c. d. d. 17. Nos 4 ritmos de PCR, a primeira droga a ser preparada deve ser a epinefrina, assim em um bebê de 5 kg, a dose no acesso periférico e os cuidados que devem ser observados são: 18. Dá entrada no pronto socorro um paciente de 11 anos trazido diretamente à sala vermelha inconsciente. O traçado do monitor mostra o seguinte ritmo: Descomplicando o PALSE-book 80 19. Chega a seu serviço de emergência uma criança de 6 anos vítima de afogamento em piscina e que foi atendida pela equipe de suporte básico do atendimento pré-hospitalar, após avaliação inicial você identifica que a criança está muito letárgica ,respiração tipo balancim e cianática, FR: 50 rpm, ritmo balancim, mesmo com máscara de O2 de alta concentração, oximetria não detecta o valor e com estertores crepitantes bilateralmente até o terço médio do pulmão, FC: 160, PA 75X50, Glasgow 10 e T= 35,3°C. Com estes dados podemos afirmar que a classificação do afogamento da criança é grau 4, qual seria a conduta imediata mais adequada: 20. Paciente de 6 anos de idade é encontrado sem responder, sem respirar e sem pulso. Você e um colega iniciam imediatamente as manobras de reanimação cardiopulmonar. Qual a relação compressão-ventilação deve ser utilizada? 21. Qual é o ritmo abaixo: Iniciar reposição volêmica para corrigir a hipotensão. Solicitar a instalação de uma ventilação não invasiva. Aspirar as vias aéreas, iniciar Ventilação com Pressão Positiva. Aquecer a criança é a prioridade. 15:1. 30:2. 15:2. 30:1. BAV de 1º grau. BAV de 2º grau Morbitz 1. BAV de 2º grau Morbitz 2. BAV total. a. a. a. b. b. b. c. c. c.d. d. d. Descomplicando o PALSE-book 81 22. Quando a impressão inicial mostra uma possível Parada cardiorrespiratória (PCR) deve-se: 23. Na PCR, com via aérea avançada devemos manter uma relação de compressão e ventilação de: I n i c i a r i m e d i a t a m e n t e a R e s s u s c i t a ç ã o Cardiorrespiratória pelas compressões torácicas. Solicitar o MOV, que é a primeira medida a ser realizada em qualquer paciente gravemente enfermo Checar a Responsividade, chamar por ajuda e checar o pulso central e a respiração simultaneamente por no mínimo 5 e no máximo 10 segundos; se o pulso estiver ausente e o bebê a criança não respirar ou na presença de gasping iniciar as compressões torácicas. Iniciar imediatamente ventilação com pressão positiva e depois as compressões torácicas, considerando que a principal causa de PCR em Pediatria é a hipóxia. . Realizar 100 a 120 compressões/min e 20 a 30 ventilações /min sem sincronismo. Realizar 100 a 120 compressões/min e 10 ventilações/ min, ou seja, 1 ventilação a cada 6 segundos sem sincronismo. Realizar 15 compressões e depois 2 ventilações, reavaliando a cada 2 min. Realizar 30 compressões e depois 2 ventilações, reavaliando a cada 2 min. a. a. b. b. c. c. d. d. Descomplicando o PALSE-book 82 24. Uma criança de 9 anos dá entrada no pronto socorro irresponsiva e sem pulsos palpáveis. Como você define o traçado abaixo? 25. Uma criança de 4 anos dá entrada no pronto socorro em PCR. Ela pesa cerca de 20kg. Você confirma que o ritmo de PCR é uma fibrilação ventricular. Qual a dosagem inicial da desfibrilação indicada e como orientar a equipe médica? 2 a 4 J/Kg. “Aplique desfibrilação com 40J” 4 a 6 J/Kg. “Aplique desfibrilação com 100J” 6 a 8 J/Kg. “Aplique desfibrilação com 80J” 8 a 10 J/Kg. “Aplique desfibrilação com 40J”BAV de 1º grau. BAV de 2º grau. Bradicardia sinusal. Atividade elétrica sem pulso. a. b. c. d.a. b. c. d. Descomplicando o PALSE-book 83 26. Uma criança de 3 anosdá entrada no pronto socorro irresponsiva. Ao monitorizá-la você percebe o seguinte traçado: 28. Você está atendendo um bebê de 8 meses que apresenta esforço respiratório, febre e tosse. Além disso, você nota presença de estridor, boa saturimetria e pulmões limpos bilateralmente. Sua hipótese é de obstrução de vias aéreas superiores. Qual a próxima conduta? Qual a conduta a ser tomada? 27. Na abordagem inicial da criança irresponsiva, qual o tempo máximo recomendado pela AHA para verificar pulso e respiração antes de iniciar RCP? 29. Você está avaliando uma criança de 8 anos que, após receber determinado medicamento, apresenta- se irresponsiva e com frequência respiratória de 8 incursões por minuto. Ao exame físico ela apresenta- se roncando, com discreta elevação do tórax bilateralmente e SpO2 94% após inserir cateter nasal a 1L/min. Qual a melhor conduta?5 segundos. 10 segundos. 15 segundos. 20 segundos. Proceder a intubação orotraqueal. Aumentar o fluxo de O2. Posicionar adequadamente o paciente e considerar inserir uma cânula orofaríngea. Observar o paciente checando os pulsos a cada 2 minutos. Administrar atropina. Administrar epinefrina. Checar pulsos. Passar marcapasso transcutâneo. Dexametasona IM. Nebulização com Salbutamol. Epinefrina IM. Nebulização com epinefrina. a. a.b. b.c. c.d. d. a. a. b. b. c. c. d. d. Descomplicando o PALSE-book 84 30. Você está atendendo um bebê de 4 meses e suspeita de choque hipovolêmico não hemorrágico secundário à diarréia intensa e vômitos. Você opta por expansão volêmica. Qual a melhor opção abaixo para realizar esta conduta? a. 10 mL/Kg de Ringer lactato. b. 10 mL/kg de Soro fisiológico a 0,9%. c. 20 mL/kg de Soro fisiológico a 0,9%. d. 20 mL/kg de glicose a 5%. R E S P O S T A S 01. 02. 03. 04. 05. 06. 07. 08. 09. 10. 11. 12. 13. 14. 15. C A D A C D D C B C A B B B B 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. A C D C C D C B D A C B D C Csegurança da cena e verificar se existe perigo ao socorrista ou para outras vítimas. Depois disso, deve-se verificar a responsividade da vítima. Em lactentes, dá-se “um tapinha” na planta do pé. A avaliação da respiração e do pulso deve ser realizada em no máximo 10 segundos. Os pulsos do bebê devem ser palpados em posição braquial, na parte interna do braço entre o cotovelo e a axila. Segundo Passo: Acionar o SME e buscar o DEA; Se o socorrista presencia a PCR, ele deve ativar imediatamente o SME e buscar o DEA. Se o socorrista não presenciou, ele deve iniciar a RCP por dois minutos, depois acionar o SME e buscar o DEA. Terceiro Passo: RCP de Alta Qualidade com 1 Socorrista. A RCP em lactentes é semelhante à RCP em crianças, mantendo a sequência C-A-B (circulação – via aérea – respiração). No entanto, a profundidade mínima é de 1/3 do diâmetro anteroposterior do tórax, que em bebês é em torno de 4cm. A compressão cardíaca em lactentes deve ser realizada utilizando 2 dedos ou a técnica de 2 polegares com as mãos circundando o tórax. No lactente, a abertura de vias aéreas e a realização das ventilações devem ser realizadas da mesma maneira que na criança. Assim como na criança, quando tiver apenas um socorrista a relação compressão/ventilação vai ser sempre de 30:2 e se após dois minutos de RCP, o socorrista ainda estiver sozinho e sem celular e não puder acionar o SME, ele deve deixar a vítima, acionar o SME e pegar o DEA. Quarto Passo: Uso do DEA. Nos lactentes, o DEA deve ser utilizado imediatamente após disponibilidade, assim como é realizado na criança. Suporte Básico de Vida em Lactentes 1 Socorrista Descomplicando o PALSE-book 11 De acordo com o protocolo americano de 2020, lactentes são aqueles entre 1 mês e 1 ano de idade. Primeiro Passo: Avaliar a segurança da cena e verificar se existe perigo ao socorrista ou para outras vítimas. Depois disso, deve-se verificar a responsividade da vítima. Em lactentes, dá-se “um tapinha” na planta do pé. Se a vítima está irresponsiva, enquanto o primeiro socorrista permanece com a vítima, o segundo aciona o SME e busca o DEA. Aquele socorrista que fica com a vítima realiza a avaliação da respiração e do pulso deve em no máximo 10 segundos. Os pulsos do bebê devem ser palpados em posição braquial, na parte interna do braço entre o cotovelo e a axila. Segundo Passo: Acionar o SME e buscar o DEA; O segundo socorrista deve acionar o SME e busca o DEA, enquanto o primeiro permanece com a vítima Terceiro Passo: RCP de Alta Qualidade com 1 Socorrista. A RCP em lactentes é semelhante à RCP em crianças, mantendo a sequência C-A-B (circulação – via aérea – respiração). No entanto, a profundidade mínima é de 1/3 do diâmetro anteroposterior do tórax, que embebês é em torno de 4cm. A compressão cardíaca em lactentes deve ser realizada utilizando 2 dedos ou a técnica de 2 polegares com as mãos circundando o tórax. No lactente, a abertura de vias aéreas e a realização das ventilações devem ser realizadas da mesma maneira que na criança. Assim como na criança, quando tiver dois socorrista a relação compressão/ventilação, inicia-se a relação 15:2. Quarto Passo: Uso do DEA. Nos lactentes, o DEA deve ser utilizado imediatamente após disponibilidade, assim como é realizado na criança. Suporte Básico de Vida em Lactentes 2 Socorristas Descomplicando o PALSE-book 12 Na aparência, avalia-se a consciência da criança, a partir da regra mnemônica TICOF: Tônus muscular, Interação com ambiente, Consolabilidade, Olhar e Fala ou Choro da criança. Na respiração, verifica se o paciente respira normalmente, com dificuldade, de forma agônica ou não respira. Além disso, avalia-se frequência e esforço respiratório através de batimento de asas nasais, uso da musculatura acessória e retrações torácicas. Os sons anormais, como sibilos, gemidos e estridores, podem indicar obstrução grave de vias aéreas. Na circulação, avalia-se sinais de má perfusão e /ou má oxigenação através da observados da cor da pele, se está pálida, mosqueada ou mesmo cianótica. Também é importante observar se há sinais de hemorragias internas como petéquias e púrpuras quepodem ser indicativos de infecções potencialmente fatais, e lesões hemorrágicas evidentes que devem ser estancadas. Manejo da Criança com Risco de Vida Se a criança não responde, não respira ou está em gasping, mas tem pulso, deve-se manter via aérea pérvia, iniciar Ventilação de Resgate. Se a criança apresenta ausência de respiração e de pulso ou FCO aumento do esforço respiratório pode ser identificado através do batimento das asas nasais, retrações torácicas e respirações paradoxais. As retrações supraclaviculares e supraesternais são vistas nos quadros piores; enquanto nos distúrbios respiratórios leves e moderadas observa-se apenas retrações subcostais, intercostais e subesternais. O balanço da cabeça e a respiração paradoxal são características de fadiga ou doença neuromuscular e podem ser sinal de deterioração e insuficiência respiratória. Os sons pulmonares indicativos de obstrução alta são estridor e gorgolejo. Já o gemido e ausência de sons indicam gravidade. A expansibilidade torácica deve ser simétrica. Se estiver diminuída ou assimétrica temos que pensar em esforço inadequado, obstrução, pneumotórax, hemotórax, derrame pleural, tampão mucoso ou aspiração de corpo estranho. C. Circulação Na avaliação da circulação, deve-se observar frequência e ritmo cardíaco, pulsos periféricos e centrais, tempo de enchimento capilar, temperatura, cor da pele e pressão arterial. Além disso, o débito urinário e o nível de consciência também refletem a hemodinâmica do paciente. A F C é a v a l i a d a p e l a a u s c u l t a , p u l s o s , eletrocardiograma (ECG) ou oxímetro. A taquicardia sinusal é uma resposta a vários estímulos adrenérgicos como estresse, febre, dor e ansiedade, mas pode ser o primeiro sinal de choque. A bradicardia pode indicar PCR iminente, principalmente se houver sinais de má perfusão ou 1,5ml/kg/h, enquanto em escolares e adolescente é acima de 1ml/kg/h. D. Exame Neurológico A hipóxia cerebral aguda causa redução da consciência, perda do tônus muscular, convulsões, dilatação da pupila ou irritabilidade e agitação. O exame das pupilas é útil para avaliar a função do tronco encefálico. A diferença no tamanho das pupilas ou a falta de resposta ao estímulo luminoso pode ocorrer devido a trauma ocular ou hipertensão intracraniana. Se uma criança apresentar diminuição na capacidade de responder, deve-se iniciar oxigenoterapia, ventilação, perfusão e glicemia. A hipoglicemiaO acesso intraósseo (IO) é usado para uma expansão volêmica imediata e administração de drogas quando não conseguimos acesso venoso por causa da vasoconstrição periférica. O IO é preferível ao endotraqueal porque além de ser feito em todas as idades, é de rápida realização e, através dele, pode-se administrar qualquer medicamento ou A via endotraqueal pode ser usada para administração de medicações lipossolúveis, dentre eles atropina, naloxona, epinefrina, lidocaína e vasopressina. Desfribilação A desfibrilação deve ser realizada em ritmos chocáveis através do DEA ou desfibrilador manual. Para crianças menores de 10kg, utiliza-se as pás infantis de 4,5cm e acima de 10kg, as pás grandes (8 a 13cm). A carga da energia inicial é de 2J / Kg podendo ser até 4J/ kg. Nas doses seguintes usamos 4J/ Kg podendo chegar até 10J/kg sem exceder a dose máxima do adulto. Logo depois do choque, retorna-se a RCP por 5 ciclos ou 2 minutos, enquanto o desfibrilador recarrega. Tratamento Medicamentoso O tratamento medicamentoso na PCR serve para aumentar o fluxo sanguíneo e perfusão coronariana e cerebral, estimular a contratilidade e frequência cardíaca, corrigir uma possível causa da PCR e suprimir ou tratar as arritmias. Os medicamentos mais usados são: epinefrina, amiodarona, lidocaína, magnésio, atropina, cálcio e bicarbonato. A Epinefrina, ou adrenalina, é usada em todos os ritmos de parada. A dose é de 0,01mg/kg IV ou IO (ou seja 0,1ml/kg na concentração de 1: 10.000) e 0,1mg/kg ET (corresponde a 0,1ml/kg na concentração de 1: 1.000). Podendo ser repetida a cada 3 a 5minutos. Suporte avançado de vida em Pediatria Descomplicando o PALSE-book 19 Em ritmos de FV ou TVSP utiliza-se a Amiodarona (bolus de 5mg/kg até 2x) que tem efeito de bloqueio alfa e beta adrenérgico e altera canais de sódio potássio e cálcio. A Lidocaína, dose de ataque é de 1mg/kg e de manutenção é de 20 a 50mcg/kg/min, suprime as arritmias ventriculares e seu uso foi associado ao retorno da circulação espontânea. Osulfato de magnésio é o de escolha para arritmias secundárias à hipomagnesemia e à Torsades des Pointes na dose de 25 a 50mg/kg. Outras drogas usadas são a Atropina para tratamento da bradicardia sintomática, oGluconato de cálcio nas hipocalcemias, hipercalemias, hipermagnesemia e overdose debloqueador dos canais de cálcio. Estabiliza o potencial de ação da membrana celular e o gradiente entre o potássio intracelular e o sódio extracelular e o Bicarbonato de sódio o nos pacientes com hipercalemia sintomática, overdose de tricíclicos. Para se obter na ressuscitação, é importante manter uma dinâmica adequada da equipe. O objetivo dessa abordagem é compreender as funções do líder e dos outros membros daequipe e como comunicar e atuar diante de uma criança em PCR. Membros da Equipe O ideal para alto desempenho da RCP é uma equipe formada por 6 pessoas. O líder paratomar decisão do tratamento, atribuir funções e assumir as responsabilidades. Umprofissional com treinamento em suporte avançado de vida para iniciar acesso vascularintravenoso ou intraósseo e administrar medicações. Uma pessoa para anotar as ações e cronometrar o tempo. Dentre as funções do triângulo de ressuscitação, o compressor será responsável pelacompressão torácica que deve ser executada por 5 ciclos ou 2 minutos alternando comchoque pelo DEA ou desfibrilador. Outro socorrista será responsável pelo DEA e poralternar com o compressor as massagens cardíacas. E mais um para abrir via aérea,realizar a ventilação e inserir equipamentos necessários para manter via aérea pérvia. O líder deve saber organizar o grupo, definir claramente as funções e dar assistência acada membro da equipe. Também deve treinar, orientar e facilitar o entendimento de todos. Além disso, ele deve explicar o essencial como: comprimir com força adequada erapidez, permitir retorno total do tórax, minimizar interrupções durante as compressõestorácicas e evitar a hiperventilação. Os membros da equipe devem saber com clareza as suas ações, cumprir asresponsabilidades de suas funções, praticar as habilidades da RCP, conhecer osalgoritmos e ter compromisso com o êxito. Se houver assistência disponível, não deveacumular tarefas. Também é importante que cada um saiba de suas limitações, informe o líder e não tente explorar novas habilidades durante a RCP. Dinâmica de Equipe de Ressuscitação em Pediatria Descomplicando o PALSE-book 20 Intervenções Construtivas As intervenções construtivas são sempre importantes. O líder deve realizar intervenções construtivas de acordo com a prioridade e transferir as funções entre membros com menos habilidade para outros executarem a ação. Já os membros podem sugerir fármacos ou doses alternativas e questionar o colega prestes a cometer um erro ou administrar medicação errada. Comunicação em “Circuito Fechado” O líder deve transmitir a atribuição ao socorrista que deve responder por contato verbal ouvisual o recebimento do comando e confirmar a realização da tarefa. O líder deve falar deforma clara, sem murmúrios, frases incompletas ou gritos e berros e não deve dar maistarefas antes de receber a confirmação da execução da tarefa anterior. Os membros também devem comunicar de forma clara, verbalizar a atribuição executada e questionarqualquer ordem se houver dúvida. Descomplicando o PALSE-book 21 Situações Especiais de PCR em pediatria A parada cardiorrespiratória em crianças é comumente associada ao trauma, ao afogamento, a anafilaxia, a cardiopatia congênita e a hipertensão pulmonar. Trauma As causas mais comuns de PCR por trauma em pediatria são: hipóxia , obstrução das vias aéreasou lesão traqueobrônquica; lesão de órgãos vitais, lesão cerebral ou cervical superior; diminuiçãodo débito cardíaco ou atividade elétrica sem pulso secundária ao pneumotórax hipertensivo,tamponamento cardíaco ou hemorragia maciça. A PCR pós-trauma é mais significativa na PCR extra hospitalar e a ressuscitação volumétrica inadequada é responsável pela maioria das mortes pós-trauma. Nesse contexto, os fatores que podem melhorar a sobrevivência são o tratamento correto daslesões penetrantes e o transporte rápido para um centro de trauma. As técnicas do SBV e SAVno trauma são semelhantes à PCR não traumática, com foco na circulação, vias aéreas erespiração. Diante de uma PCR pós-trauma, além da RCP de alta qualidade e do uso do DEA, é muito importante controlar a hemorragia com pressão direta ou torniquete. Para a abertura das vias aéreas, deve-se realizar elevação do queixo e anteriorização da mandíbula, estabilizando a cabeça e o pescoço, principalmente se houver suspeita de lesão cervical. A ventilação com bolsa - válvula - máscara e 100% de oxigênio é melhor realizada quando se tem dois socorristas, para estabilização adequada da cabeça e do pescoço. A intubação deve ser realizada com posição neutra. Em caso de suspeita de pneumotórax hipertensivo, é importante realizar punção torácica. Em relação a circulação, diante de choque hipovolêmico, é fundamental realizar ressuscitação volumétrica rápida intravenosa ou intraóssea. Diante de tamponamento cardíaco, deve-se estar preparado para realização de pericardiocentese. Além disso, quando a criança evolui com bradicardia e hipotensão refratária, deve-se pensar em choque neurogênico, e, nesse caso, o tratamento correto é com vasopressor. Afogamento No afogamento, a RCP mantém a sequência da SBV em pediatria, mas é importante lembrar da possível lesão cervical, da hipotermia e da abertura das vias aéreas ainda na água, se for possível. As ventilações devem ser iniciadas imediatamente e as compressões assim que a criança estiver sobre uma superfície rígida. Além disso, o socorrista tem que estar preparado para realizar aspiração da via aérea porque é muito comum aspirar vômito. Por último, a descompressão gástrica é muito importante depois de estabelecer uma via aérea avançada. Se a temperaturacorporal central forpor corpo estranho, anafilaxia. ● Obstrução de via aérea inferior: classicamente representado pela asma e bronquiolite. ● Doenças do tecido pulmonar : como por exemplo, a pneumonia, edema pulmonar. ● Distúrbios do controle respiratório: representado por distúrbios neurológicos, anormalidades metabólicas e intoxicações. Descomplicando o PALSE-book 26 Laringite Viral Aguda em Crianças O termo “crupe”, ou “síndrome do crupe”, é usado para se referir a um grupo de doenças respiratórias que se manifestam clinicamente por rouquidão; tosse ladrante, metálica, especialmente em crianças; estridor predominantemente inspiratório; e podendo haver graus de desconforto respiratório associado ao quadro. Esses sintomas são consequentes da inflamação da laringe e das vias aéreas subglóticas. Portanto, o nome “crupe” pode abranger não só um quadro de laringite, como também situações em que há uma maior extensão da via aérea acometida, como laringotraqueítes e laringotraqueobronquites, nos casos em que a traqueia e os bronquíolos também são acometidos. Etiologia A etiologia da crupe na grande maioria das vezes é viral. Diversos vírus podem ser responsáveis pela doença, como o vírus sincicial respiratório e o adenovírus. No entanto, a principal causa de crupe viral é o Parainfluenza, especialmente o do tipo 1. É importante destacar que há outras etiologias para a síndrome de crupe, como a traqueíte bacteriana e a crupe espasmódica. Epidemiologia A crupe viral é uma causa comum de obstrução de via aérea superior em crianças, com incidência anual em algumas populações de até 6 casos para cada 100 crianças com menos de 6 anos. Essa doença pode ocorrer ao longo de todo ano, porém tem predomínio no período de outono- inverno. Ela é mais comum no sexo masculino e a idade de maior incidência entre 3 meses e 6 anos, predominando nos menores de 3 anos. Sinais e Sintomas Independente de qual seja o vírus causador, ele geralmente infecta primeiro o epitélio da nasofaringe, e depois se dissemina para o epitélio respiratório da laringe, podendo chegar à traqueia e até mesmo ao epitélio bronco-alveolar, gerando inflamação e edema, causando obstrução das vias aéreas. Então, a crupe geralmente é precedida por sinais de nasofaringite aguda, tais quais coriza, obstrução nasal e tosse leve. Após 12 a 48 horas do início desses sintomas, o paciente evolui com sintomas mais característicos da doença, como tosse rouca ou ladrante - muitas vezes descritas pelos cuidadores como tosse de cachorro-, além de febre e estridor, podendo ser mais intensos à noite e que podem se agravar com o choro e a agitação da criança. Descomplicando o PALSE-book 27 Em casos mais severos, pode haver alteração de frequência cardíaca e respiratória, alémda presença de esforço respiratório. Diagnóstico Por possuir sintomatologia tão característica, como a tosse ladrante e o estridor, o diagnóstico da crupe é basicamente clínico. Exames de imagem e exames laboratoriais não são necessários, exceto quando se suspeita de outros possíveis diagnósticos diferenciais para o caso. Mas, pra fins acadêmicos, é pertinente falar que a radiografia cervical dos pacientes com laringotraqueite podem apresentar um achado clássico de estreitamento do espaço subglótico chamado de sinal da ponta de lápis ou de torre de igreja. No entanto, a sua ausência não exclui de forma alguma o diagnóstico de crupe. Diagnósticos Diferenciais O principais diagnósticos diferenciais são: Traqueíte bacteriana: sintomas como o estridor respiratório são secundários a uma membrana de secreção bacteriana na traquéia e que deve ser suspeitada quando a criança se encontra toxemiada e com sintomas não responsivos a terapia tradicional da crupe; ●Aspiração de corpo estranho: que deve ser suspeitado em pacientes que subitamente iniciam sinais de obstrução de vias aéreas superiores, sem histórico de pródromos gripais; Epiglotite aguda: incidência reduzida após a difusão da vacinação contra o Haemophilus tipo B e pode ser diferenciado da crupe pois o paciente se apresenta mais toxemiado, com uma salivação mais intensa e sem a tosse ladrante. Além de outros diagnósticos como reação anafilática e abscesso em região de faringe. Manejo Inicial Assim que é feito o diagnóstico, devemos caracterizar a crupe em: leve, moderada e grave. Usando como parâmetros o estridor e o esforço respiratório, além da entrada de ar, da cor do paciente e do seu nível de consciência. Crupe Leve: paciente não apresenta estridor em repouso, não apresenta esforço respiratório ou apresenta apenas esforço leve. ● Crupe moderada: o paciente possui estridor em repouso e esforço respiratório leve, porém sem agitação. ● Crupe grave: paciente apresenta esforço respiratório importante, estridor em repouso - embora esse possa diminuir devido à redução significativa da entrada de ar por causa da maior obstrução da via aérea- e alteração do comportamento, estando muito ansioso e agitado. Descomplicando o PALSE-book 28 Algumas literaturas incluem uma quarta categoria denominada falência respiratória iminente, na qual se enquadraria aquele paciente em fadiga, com letargia ou redução do nível de consciência, alteração importante da frequência cardíaca, entrada de ar muito reduzida, além de cianose. Tratamento A finalidade maior do tratamento é manter a via aérea desse paciente pérvia. Inicialmente, é importante deixar a criança tranquila, pois o choro e agitação podem gerar piora clínica. Além disso, o controle térmico também ajuda na redução do esforço respiratório. A oxigenoterapia deve ser fornecida, seja por cateter, máscara ou outro dispositivo, sempre que a saturação do paciente estiver abaixo de 92%. Lembrando sempre que a intubação desse paciente é complicada principalmente pelo edema local e pelo maior risco de obstrução da via aérea, podendo ser necessária uma cânula traqueal menor que a recomendada para a idade. Como não há um tratamento voltado especificamente para combater o vírus responsável pela crupe, os fármacos empregados visam diminuir a inflamação e edema das vias aéreas, além de dar o suporte respiratório necessário ao paciente. Então, o tratamento farmacológico da crupe se baseia primordialmente no uso de corticoides e de nebulização com epinefrina. Os corticoides são comprovadamente benéficos, independente da gravidade da laringite, por reduzirem o número de internações, a necessidade de intubação e o número de retornos a centros médicos, quando se comparado com placebo. Sua ação se dá por meio do seu potencial anti- inflamatório, com alguns estudos sinalizando a possibilidade de haver também um efeito vasoconstritor, gerando uma redução do edema e inflamação da laringe. O efeito geralmente começa a ser percebido dentro das primeiras 6 horas após sua administração. O corticoide mais utilizado é a dexametasona, que pode ser dada por via oral, IM ou EV, geralmente em dose única de 0,15 a 0,6 mg por kg. Outros corticoides usados, são menos eficientes que a dexametasona, porém ainda sim são efetivos, como a budesonida inalatória e a prednisolona oral. Essa última tem uma vantagem em relação a dexa oral por ser mais palatável. No entanto, a recorrência dos sintomas é maior se comparado com a dexa. Já a micronebulização com adrenalina é reservada para aqueles pacientes com crupe moderada ou grave, e deve ser feito imediatamente, por ter uma ação de alívio mais imediata que o corticoide. Seu mecanismo de ação ocorre pela constrição das arteríolas capilares da mucosa respiratória, com efeitos na redução do estridor e esforço respiratório, dentro de 10 minutos após sua administração. Descomplicando o PALSE-book 29 Esse efeito perdura por até 2 horas, podendo o paciente retornar aos sintomas iniciais após esse período, não alterando assim a história natural da crupe, embora alguns estudos demonstrem uma redução no número de intubações e mortes com seu uso. A dose geralmenteusada é de 0,5ml/kg de epinefrina não diluída, dada via nebulizador em 15 minutos, com dose máxima de 5 mls da mesma. Embora a experiência clínica sugira que em casos severos pode se optar pela repetição de micro com adrenalina a cada 2 horas , alguns estudos demonstram um aumento de chance de taquicardia ventricular em crianças que recebem a micro repetidamente. Vale lembrar que não há redução de efeitos colaterais se comparar o uso da epinefrina comum com a epinefrina racêmica. Critérios para Hospitalização Para pacientes com crupe leve, deve-se prescrever dexametasona (IM ou VO), podendo liberar o paciente sem necessidade de observação, desde que com orientação adequada dos cuidadores sobre os sinais de alarme que, quando presentes, indicam a necessidade de procurar um serviço médico. Já para as crianças com quadros moderados e severos da doença, deve-se fornecer a dexametasona pela via menos invasiva possível, além de realizar a micronebulização com epinefrina. Caso necessário, a oxigenoterapia deve ser iniciada. Devemos então avaliar a resposta do paciente a essas medidas iniciais, para saber se vai ser necessário novas medidas, como repetir micro com adrenalina, ou até mesmo se será necessário a hospitalização do paciente, inclusive em unidade de terapia intensiva. Nos casos em que o paciente responde bem, com melhora dos sintomas, é preciso observá-lo por pelo menos 3 a 4 horas antes de liberá-lo para casa. São critérios para hospitalização do paciente: ● Paciente toxemiados, desidratados ou com alteração da consciência ● Pacientes com falência respiratória iminente ● Pacientes com crupe moderada ou severa não responsiva a micro com adrenalina e o uso de corticoide. Pacientes dependentes de oxigenoterapia. Descomplicando o PALSE-book 30 Urticária, Enantema e Anafilaxia na Infância As doenças exantemáticas são extremamente comuns na pratica pediátrica, sendo importante saber seus diagnósticos diferenciais. Urticária e Enantema A urticária caracteriza-se por erupções eritemato- papulosas de forma e tamanhos variados na derme superficial, associadas a prurido intenso, de início súbito e remissão em 24 horas sem sequelas. O enantema é caracterizado por edema súbito e alterações na derme profunda e tecido subcutâneo, acometendo pálpebras, lábios, genitálias e mucosas e remissão em 72horas. ● Epidemiologia e Etiologia A urticária acomete cerca de 20% da população em alguma época da vida. Ainda há grande dificuldade em se estabelecer a verdadeira etiologia da doença. Fisiopatologia As manifestações clínicas da urticária são decorrentes da estimulação dos mastócitos e seus mediadores através de mecanismos imunológicos e não imunológicos. Após ativação dos mastócitos há liberação de mediadores como histamina, prostaglandinas, o que justifica o eritema, edema e prurido. Classificação A urticária é classificada em aguda e crônica. Urticária aguda é definida quando a resolução ocorre em menos de seis semanas. Já a urticária crônica se dá quando a resolução ocorre acima de seis semanas. Na urticária aguda as três principais causas são infecções, alergias a drogas (sobretudo betalactâmicos, sulfas e anticonvulsivantes), alimentos (leite, ovo, grãos, castanhas e frutos do mar) e picadas de inseto. Nas urticárias crônicas na faixa etária pediátrica algumas causas são mais comuns como: alergias a fármacos e alimentos; doenças sistêmicas como tireoidites, vasculites, lúpus eritematoso sistêmico, neoplasias e infecções; além de causas físicas como dermografismo, induzida pelo frio, e colinérgicas causadas por exercício, banhos quentes, sudorese e ansiedade. Diagnóstico O diagnóstico é clínico. Na anamnese é importante avaliar: tempo de início, frequência e duração das lesões; presença de angioedema; sintomas associados (prurido e dor); história familiar e possível relação com agentes desencadeadores. Na grande maioria das vezes não são necessários exames complementares na urticária aguda. Para urticárias crônicas são necessários exames laboratoriais tais como: hemograma, proteína C reativa, teste de função renal, hepática e tireoidiana, anticorpos anti-tireoglobulina e anti-peroxidase, FAN, urina rotina e parasitológico de fezes. Descomplicando o PALSE-book 31 ● Reação aguda, de evolução rápida (minutos a horas), com envolvimento de pele/mucosas acompanhada de dificuldade respiratória e/ ou hipotensão arterial. ● Reação aguda com envolvimento de dois ou mais dos seguintes sinais: pele/mucosas: prurido/ urticária e/ ou angioedema / dificuldade respiratória / hipotensão arterial / sintomas gastrintestinais persistentes. ● Redução da pressão arterial (PA): em crianças PA baixa para a idade, ou queda de 30% na PA sistólica. Em adolescentes e adultos: PA 30% na PA sistólica. O início geralmente é súbito, 5-30 minutos após a exposição ao agente causal. É importante ressaltar que reações bifásicas podem ocorrer de 8 a 12 horas em até 10% dos casos. Diagnóstico O diagnóstico é clínico e a anamneses deve ser detalhada. Para confirmação da etiologia são necessários exames complementares após resolução do quadro agudo. Etiologia Na maioria das vezes, a anafilaxia é desencadeada por mecanismo imunologicamente mediado por IgE contra diferentes antígenos. Entretanto, outros mecanismos imunológicos podem ocorrer, como no caso de reações por imunocomplexos circulantes. Tratamento Na abordagem inicial o principal fator é identificar e remover a causa. O tratamento farmacológico é feito com anti-histamínicos orais atuando na redução do prurido e das lesões cutâneas. Os anti-histamínicos de segunda geração são a primeira opção de tratamento e incluem: desloratadina, levocetirizina, fexofenadina e ebastina. Os corticosteroides são utilizados em casos de difícil resolução, sendo a prednisolona a primeira escolha na dose de 1 a 2 mg/kg/dia por 3 a 7 dias. Os anti-leucotrienos são, também, uma opção para urticárias crônicas. Em crianças com urticária crônica de difícil resolução podem ser utilizadas medicações com ação imunossupressora. Sinais e Sintomas De acordo com a World Allergy Organization podemos definir a anafilaxia da seguinte forma. Anafilaxia Anafi laxia é uma reação de hipersensibi l idade multissistêmica aguda, potencialmente fatal. O espectro das manifestações clínicas compreende desde reações leves até graves e fatais. Pode acometer pele, olhos, sistema respiratório, gastrointestinal, cardiovascular e neurológico. Descomplicando o PALSE-book 32 Manejo Inicial Por ser uma emergência médica a anafilaxia requer o pronto reconhecimento do quadro clínico para preservar a permeabilidade das vias respiratórias, manter a pressão sanguínea e a oxigenação. Tratamento Medicamentoso Adrenalina é a droga de escolha para anafilaxia. Utiliza-se solução de 1:1000 administrada IM a cada 10 ou 20minutos. A dose para crianças é de 0,01mg/kg até o máximo de 0,3mg. Adrenalina deve ser aplicada precocemente no manejo da reação e a dose titulada à resposta clínica. Expansão volumétrica endovenosa com solução salina ou ringer lactacto deve ser realizada prontamente. Adultos e adolescentes devem receber 1-2 litros e crianças 5-10ml/ kg nos primeiros 5 minutos e 30ml/kg na primeira hora. A taxa de infusão é regulada pelo pulso e pressão arterial. Via aérea: Garantir via aérea pérvia; Respiração: Ventilação e Oxigenação; Circulação: Estabelecer acesso venoso e administrar solução isotônica como solução salina. Manter paciente em decúbito dorsal realizar elevação dos membros; Minimizar ou eliminar a exposição ao agente causal; Outros fármacos usados são os ●2-Agonistas inalatórios como salbutamol ou fenoterol, que ajudam quando há broncoespasmo associado. Antihistamínicos não são úteis para o manejo inicial da anafilaxia, mas podem ser associados após a estabilização do paciente. Os corticosteroides são tradicionalmente administrados,porém têm pouca ou nenhuma ação no tratamento agudo da anafilaxia. São mais indicados para prevenir recidiva ou anafilaxia protraída. Os mais usados são metilprednisona na dose de 1-2 mg/kg/dia EV, hidrocortisona 20mg/kg/dia EV ou prednisona na na dose de 0,5-2 mg/kg/dia VO. Descomplicando o PALSE-book 33 Bronquiolite Viral Aguda A Bronquiolite Aguda é a principal causa de internação dos menores de 1 ano de idade. Trata-se de uma síndrome clínica de desconforto respiratório por infecção de vias aéreas inferiores, que ocorre mais comumente em crianças menores de 2 anos de idade. Ela é caracterizada por uma inflamação aguda, edema e necrose das células do epitélio das pequenas vias aéreas do trato respiratório de lactentes levando a uma maior produção de muco e obstrução dessas vias. Etiologia Sua ocorrência tem caráter sazonal, sendo mais frequente nos meses de abril e agosto aqui no hemisfério sul, no nosso período de outono-inverno. O agente etiológico mais associado a essa doença é o Vírus Sincicial Respiratório. Outros vírus também podem gerar a doença como o rinovírus, pneumovirus, influenza, adenovírus e parainfluenza. A transmissão desses agentes etiológicos ocorre através do contato direto com secreções respiratórias de pessoas infectadas ou indiretas, através de objetos ou superfícies contaminadas. Sinais e Sintomas Geralmente o quadro de bronquiolite é precedido por sinais de infecção de via aérea superior caracterizada clinicamente por rinorréia e obstrução nasal, progredindo para infecção de via aérea inferior com inflamação, o que resulta num quadro de taquipneia, tosse importante, sibilos e/ou crepitações. A maioria dos casos evolui bem com resolução espontânea e sem maiores complicações em 3 a 4 semanas. No entanto, em uma porcentagem dos pacientes, especialmente aqueles com fatores de risco, como prematuros, cardiopatas ou pneumopatas, pode haver complicações importantes como apnéia e insuficiência respiratória. Diagnóstico O diagnóstico da bronquiolite é essencialmente clínico. Uma boa anamnese e um exame físico adequado vão ajudar não só na diferenciação de uma bronquiolite de outras doenças, como também na compreensão de sua gravidade. A bronquiolite deve sempre ser suspeitada em crianças menores de 2 anos, com história de pródromos gripais, que evoluíram com piora do padrão respiratório, podendo apresentar ao exame físico taquipnéia, esforço respiratório e alteração da ausculta, como a presença de sibilos e crepitações. Descomplicando o PALSE-book 34 Não há necessidade de exames laboratoriais ou de imagem, como a radiografia de tórax. Esses exames só devem ser solicitados em caso de suspeita de complicações, como por exemplo a atelectasia, ou possíveis diagnósticos diferenciais, como pneumonia bacteriana, aspiração de corpo estranho ou cardiopatia congênita. Da mesma forma, não há necessidade da realização rotineira de testes específicos para detecção viral, exceto em determinadas situações, como por exemplo, quando se pretende realizar um estudo epidemiológico das infecções respiratórias em um determinado grupo populacional. Manejo O primeiro passo é diferenciar as crianças que podem ser liberadas para casa daquelas nas quais o tratamento deverá ser feito intra-hospitalar. Geralmente são critérios para a hospitalização: Estado geral alterado, ou seja, aquele paciente toxemiado, desidratado, letárgico ou que não consegue se alimentar. Comprometimento moderado a grave do aparelho respiratório, que pode ser caracterizado pela presença de esforço respiratório, taquipnéia importante (geralmente acima 70 irpm), dispneia e cianose. ● Em casos de Apnéia. ● Na presença de Hipoxemia. ● E em situações envolvendo Questão social, como a Incapacidade dos pais de cuidaradequadamente da criança em casa. É importante considerar também a hospitalização em crianças muito prematuras, especialmente abaixo de 32 semanas, e aquelas com comorbidades importantes. Então, pacientes que não possuem esses critérios de internação, ou seja, aqueles que apresentam uma bronquiolite mais leve, sem sinais de gravidade, podem ser tratados em casa com medidas de suporte. Nesses casos orienta-se hidratar a criança de maneira adequada, manter a sua alimentação normal, fazer higiene nasal com soro fisiológico e usar antitérmicos, se necessário. É muito importante orientar os cuidadores com relação aos sinais e sintomas de alarme como sinais de piora do cansaço, alteração do estado geral e do nível de consciência, que podem indicar uma piora clínica do criança e a necessidade de uma reavaliação médica. Além disso, cabe ao médico também orientar que, na maioria das vezes, o quadro é autolimitado, com resolução em até 28 dias, podendo estender um pouco mais em alguns casos. Descomplicando o PALSE-book 35 Mesmo nos casos em que a hospitalização se faz necessária, a terapêutica é basicamente de suporte, pois não há, até o momento, um tratamento específico que modifique significativamente o curso da doença ou a resolução dos sintomas. Dentre as medidas de suporte a gente pode destacar: A hidratação adequada dos pacientes: Muitas vezes sendo necessária a soroterapia EV devido a dificuldade de ingestão ou devido ao risco de aspiração em crianças com taquidispnéia importante. Cuidados nasais com o objetivo de reduzir a obstrução de vias aéreas superiores, melhorando a respiração do paciente e facilitando sua alimentação. Essa desobstrução pode ser feita através da lavagem nasal com soro fisiológico ou ainda com aspiração mecânica, desde que ela seja leve e superficial para não irritar e danificar a mucosa nasal. ● A oxigenioterapia também é uma medida de suporte fundamental, sendo indicada naqueles pacientes cujo a saturação esta baixa. Algumas diretrizes orientam o início do suporte de oxigênio em pacientes com saturação abaixo de 92% e outros são mais permissivos iniciando o O2 quando a saturação está abaixo de 90%. Quando necessário esse suporte pode ser fornecido desde cateters nasais, em casos mais simples, até CPAP, VNI ou mesmo via aérea avançada em casos mais graves. O pac ien te i n te rnado deve se r reava l i ado constantemente, com atenção especial a seu padrão respiratório e nível de hidratação. Sua alta hospitalar será possível quando o paciente estiver mantendo um bom estado geral, tolerando bem líquidos por via oral, apresentando melhora do padrão respiratório (ou seja sem taquipneia ou esforço importante) mantendo oxigenação adequada e quando os pais ou responsáveis estiverem seguros para continuar cuidando da criança em casa. Terapias Alternativas Algumas outras terapias merecem ser discutidas: Fisioterapia respiratória: não é recomendada de rotina para os pacientes com bronquiolite. No entanto, ela pode ser de muita ajuda em pacientes com comorbidades (como distúrbios neuromusculares por exemplo) que possuem dificuldade para excretar secreção. Uso de broncodilatadores de curta duração, como o salbutamol: apesar de nãotermos evidências científicas que nos mostram benefício consistente com o uso dessa medicação, e seu uso não ser recomendado, na prática clínica ainda é muito comum de se ver o seu uso. Isso provavelmente se deve ao fato de a diferenciação entre uma bronquiolite e um quadro inicial de asma ser extremamente complicada e difícil, Descomplicando o PALSE-book 36 especialmente no primeiro episódio de sibilância. De uma forma geral, os guidelines nãoindicam o seu uso em pacientes com suspeita de bronquiolite. No entanto, alguns protocolos abrem uma brecha ao dizer que em pacientes com bronquiolite grave pode se tentar fazer uma terapia de prova com broncodilatadores e avaliar a resposta do paciente a essa medicação. O uso de corticoides também não é indicado em pacientes com bronquiolite por não apresentar nenhum benefício. Outra terapia comumente usada em pacientes com bronquiolite é a micronebulização com solução