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ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS Conceito "(...) disciplina da Ciência usada para evocar, medir, analisar e interpretar as reações às características dos alimentos e materiais tal como são percebidas pelos sentidos da visão, olfato, paladar, tato e audição (IFT, 1981)." ● A qualidade dos alimentos produzidos pela indústria alimentícia tem em vista a perceção dos consumidores e comensais a seus produtos, sendo a Análise Sensorial uma ferramenta que pode ser usada no aperfeiçoamento da produção desses alimentos ● Importância na área de alimentos: 1. Seleção de matéria-prima e mudança de fornecedores; 2. Estudar efeito de processos – Controle de etapas de desenvolvimento de um novo produto; 3. Avaliação da qualidade; 4. Estudar estabilidade no armazenamento; 5. Estudar a percepção humana em face aos atributos dos alimentos; 6. Determinar a reação do consumidor a um produto; 7. Avalia a preferência e aceitação do consumidor; 8. Teste de mercado de um produto novo; 9. Redução de custo; 10. Controle de embalagem; 11. Desenvolvimento de produtos para fins especiais, light, enriquecidos, etc ● Importância na área da Saúde: 1. Interação droga-percepção sensorial; 2. Interação ciclos da vida X percepção sensorial; 3. Interação estado de saúde/tratamentos X percepção sensorial; 4. Melhoria da dieta para casos específicos usando artifícios sensoriais. Histórico ● 1ª. Fase (antes de 1940): época artesanal da Indústria de alimentos; ● 2ª. Fase (1940-1950): controle da produção e processo técnicos; ○ Dietas balanceadas para soldados; escala hedônica de 9 pontos. ● 3ª. Fase (1950-1970) – desenvolvimento: ○ atributos primários e órgãos associados; ○ métodos e instrumentos; ○ perfil de sabor; ○ 2º. método descritivo; ○ Brasil: 1967, no Instituto Agronômico de Campinas; no início, apenas para café ● 4ª. Fase (após 1970 até hoje) ○ 1974: Análise Descritiva Quantitativa (ADQ); ○ 1975: definição pelo Institute of Food Technologies (IFT); ○ A partir de 1990: muitos trabalhos publicados em controle de qualidade; ○ Hoje: grande conhecimento de prática sensorial no controle global do produto. Análise Sensorial X Provas Organolépticas Método científico Procedimentos não-científicos "Medir" com os sentidos Registrar sensações Testes sensoriais (com provadores treinados ou não) Experiência dos provadores; Treino e/ou seleção periódicos de provadores Confusão entre qualidade e avaliações hedonísticas Análise estatística dos resultados Sem avaliação da precisão dos resultados ● Sentidos e propriedades sensoriais dos alimentos: ○ Visão: cor, aparência, brilho; ○ Olfato: odor, aroma e/ou fragrância e sabor; ○ Paladar: gosto; ○ Tato: consistência, textura, temperatura, peso, rugosidade; ○ Audição: textura e rugosidade; ○ Paladar e olfato: flavor. ● Ordem em que percebemos as características sensoriais de um produto: 1. Aparência; 2. Odor; 3. Sabor, Som; 4. Textura. ● Terminologias ○ Sentido do Gosto: sensação percebida pelos órgãos gustativos, quando estimulados por determinadas substâncias solúveis; ○ Odor: propriedade organoléptica perceptível pelo órgão olfativo quando certas substâncias voláteis são aspiradas; ○ Aroma: propriedade organoléptica perceptível pelo órgão olfativo via retronasal durante a degustação; ○ Bouquet: conjunto de caracteres específicos de um produto ○ Sabor (flavour): experiência mista, mas unitária das sensações olfativas, gustativas e táteis percebidas durante a degustação. É influenciado pelos efeitos táteis, térmicos, dolorosos e/ou cinestésicos. ● 5 gostos básicos: ○ Doce: sacarose, alfa-aminoácidos, outros CHOs, ○ Salgado: Na+ , Cl– ○ Ácido: ácido cítrico ○ Amargo: compostos de diversas famílias químicas (e.g. quinino), cafeína ○ Umami: glutamato monossódico ■ Do japonês, agradável, delicioso (Kikunae Ikeda); ■ Substâncias: Monossódico, Monofosfato de Inosina e guanilato; ■ Realçam o sabor salgado de forma proporcional à concentração; ■ Até 0,2g/dL realça o sabor doce, após começa a suprimi-lo ligeiramente; ■ > sensibilidade é na temperatura de 20 a 30°C; ○ Adstringente: ácido tânico ○ Metálico: cloreto férrico ● Sensação do gosto/decodificação no cérebro/teorias: estes não são receptores rigorosamente específicos. ● Existe a transposição: um receptor para uma molécula doce, pode não responder para uma outra molécula doce, mas responde a um pouco de amargo ● Saturação: ○ Saturação dos receptores locais; ○ Mecanismos ao nível de sistema nervoso central; ○ Recuperação mais lenta do sentido; ○ Em testes: estímulos fortes com fracos, intervalos. ❖ QUÍMICA DO GOSTO: ➢ Compostos doces possuem um centro eletronegativo ligado a um átomo de hidrogênio (A-H), próximo a outro centro eletronegativo (B) ➢ Exceto: ➢ A distância entre os grupos deve ser de 2,5- 4,0 A ➢ Os grupos eletronegativos fazem ligações de hidrogênio com os receptores dos botões gustativos ➢ Diferenças estruturais que diferenciam os gostos amargo e doce : ➢ Peptídeos doces: Ácido L-aspártico + D-alanina e Ácido L-aspártico + D-alanina + amida ➢ Gosto ácido: moléculas que evocam o gosto ácido possuem grupos eletronegativos A-H e B, que interagem com o receptor sensível ao gosto ácido, por pontes de hidrogênio ➢ Gosto Salgado: a percepção do sabor salgado se dá através dos canais de sódio. ➢ Sabor picante: substâncias (gingerona, capsaicina, piperina) X receptores da língua sensíveis à dor = sensação de pungência ➢ Sensação de frescor: causada pelo estímulo de receptores específicos (mentol e cânfora) ou pelo fato da sua dissolução na boca ser uma reação endotérmica (xilitol). ❖ SENTIDO DO OLFATO ➢ Odor ■ Volatilidade: depende da temperatura, natureza química e superfície; ■ Os odores são percebidos por células receptoras olfativas distribuídas no epitélio olfativo (presente no topo da cavidade nasal); ■ Sugere-se que um conjunto de genes (350 no ser humano) codifica as proteínas associadas aos cerca de 1.300 tipos de receptores de odores específicos ➢ Como “cheirar”? ■ Inspirações moderadas e de curta duração (1 a 2 segundos); ■ Após 2 segundos os receptores se adaptam ao estímulo e é necessário aguardar de 5 a 20 segundos ou mais antes de que uma nova inspiração possa produzir uma percepção completa do odor. ➢ Influência na percepção do odor ■ Fome; ■ Idade: perda de cerca de 1% dos receptores olfativos a cada ano de vida; ■ Pico máximo de sensibilidade: 30 anos. ❖ Tato: ➢ Ocorre por meio de terminações nervosas na superfície da pele, na epiderme, na derme e no tecido subcutâneo, traduzindo-se na sensibilidade ao toque, pressão (receptores de Merkel; corpúsculos de Meissner; corpúsculos de Pacini), calor (Corpúsculos de Ruffini), frio (Corpúsculos de Krausse); ➢ Fibras nervosas presentes nos músculos, tendões e juntas permitem sentir tensões e relaxamentos dos músculos das mãos, maxilares e língua; ➢ Sensibilidade dos lábios, da língua, do rosto e das mãos: >. ➢ Fácil detecção de pequenas diferenças na pressão exercida, tamanho de partículas, temperatura e estímulos químicos. ❖ LABORATÓRIO DE ANÁLISE SENSORIAL ➢ Local longe de odores, barulho e outras interferências; ➢ Cabines individuais e/ou mesa redonda, cor branca ou cores neutras; ➢ Iluminação preferencialmente natural, ou luz fluorescente e luzes coloridas; ➢ Recipientes brancos, limpos e inodoros. ➢ Norma ISO 8586-1 (ISO, 1993): etapas para equipes sensoriais ■ Recrutamento e seleção ■ Treinamento e realização dos principais testes: seleção, seleção para propósitos particulares ■ Monitoramento do desempenho ■ Treinamento para julgadores selecionados ➢ Procedimentos para os testes ■ Horário: duas horas antes ou depois das refeições; ■ Deve ser oferecido água, pão ou biscoito água e sal entre as amostras; ■ As amostras devem ser ordenadas e provadas da esquerda para a direita ou de forma monádica; ■ Nos testes de odor e sabor, iniciar sempre com odor ➢ Preparo das amostras ■ Amostras uniformes; ■ Codificação (3 dígitos ao acaso) (tabela de números aleatórios);■ O número de amostras deve ser escolhido em função da natureza do produto, para que não ocorra a fadiga sensorial (ex.: sorvete – máx. 6 amostras); ■ A ordem de apresentação das amostras deve seguir um delineamento estatístico; ➢ Quantidade de amostra ■ Provas discriminativas (recomendação) ● Líquidos → 16 mL ● Sólido → 28 g ■ Alimentos "pequenos": Bolachas, doce, etc... → uma unidade ■ Alimentos a granel: Arroz, feijão, etc. → 25 g ■ Alimentos líquidos - sopas, molhos, etc. → uma colher: 15 mL ■ Bebidas → até cerca de 50 mL. ❖ FATORES QUE PODEM INFLUENCIAR OS TESTES: ➢ Delineamentos ■ Blocos completos casualizados (erro de ordem de avaliação) ■ Blocos completos balanceados ● nº. de provadores = fatorial do nº. de tratamentos). ● Ex. 4 tratamentos, mínimo de 24 provadores. ■ Quadrados latinos – para evitar muitos provadores ● nº. de provadores = múltiplo de nº. de tratamentos). ● Ex. 4 tratamentos, mínimo de 24 provadores. ■ Blocos incompletos equilibrados ● Para t > 4 ● Provadores recebem uma parte dos tratamentos ➢ Fatores fisiológicos ■ Adaptação: ● temporária dos sentidos do olfato e do gosto devido à exposição prolongada a um determinado estímulo. ● Problemas relacionados ao uso excessivo dos músculos em avaliações de textura ou avaliações táteis ● Adaptação à luz ou cor quando estímulos visuais estão envolvidos. ■ Interação entre os estímulos. ➢ Fatores Psicológicos: ■ Erro de Expectativa ■ Erro do Hábito ■ Erro de Estímulo ■ Erro Lógico ■ Efeito de Halo ➢ Pela ordem de apresentação das amostras: ■ Efeito do Contraste ■ Efeito do Grupo ■ Erro de Tendência Central ■ Efeito de Padrão ■ Erro do Tempo/Tendência de Posição Testes Sensoriais Objetivos Teste Efeito de ordem Probabilidade de acerto ao acaso Nº julgadores Análise dos resultados D I S C R I M I N A T I V O S - Testam se há diferença entre duas ou mais amostras é perceptível ou não - Diferença geral - Intensidades diferentes de um atributo (direcional) - Diferem de padrão estabelecido (controle) - Aplicados quando se testam diferenças pequenas, sutis, entre amostras Comparação pareada/Diferença direcional Saber se uma amostra apresenta um atributo sensorial em maior intensidade do que outra. 2 amostras Indicar qual das duas amostras têm maior intensidade em relação a uma dada propriedade AB, BA ½ ou 50% mínimo 7 especialistas ou 15 selecionados Nº de acertos para estabelecer diferença significativa em níveis de significância, tabelado (monocaudal) Obs.: se avalia preferência (teste afetivo): bicaudal Triangular Verificar se há diferença significativa entre duas amostras que receberam tratamentos diferentes (não há interesse em um atributo específico) 3 amostras codificadas: 2 iguais, 1 diferente Identificar qual a amostra diferente AAB, ABA, BAA, BBA, BAB, ABB ⅓ ou 33,3% Mínimo:12 selecionados Ideal: 20 a 40 Nº de acertos para estabelecer diferença significativa em níveis de significância (tabelado) Duo-trio Verificar se há diferença significativa entre duas amostras que sofreram tratamentos diferente (não há interesse em um atributo específico) 3 amostras, sendo 1 de referência (“amostra padrão”) e 2 codificadas (1 igual a padrão, 1 diferente) Identificar qual amostra é igual à (ou é diferente da) amostra de referência P – AB, P – BA ½ ou 50% Mínimo 7 especialistas ou 15 selecionados Nº de acertos para estabelecer diferença significativa em níveis de significância, tabelado (monocaudal) Dois em cinco Comparar amostras diferentes com poucos julgadores (não há interesse em um atributo específico) 5 amostras codificadas – 2 A e 3 B Dividir as amostras em dois grupos Possibilidade de cansaço (fadiga sensorial) 20 combinações possíveis (3 A e 2 B; 2 A e 3 B) ⅖ ou 2/20 ou 1/10 ou 10% (maior eficiência) Número de provadores pode ser reduzido Qui-quadrado (X²) “A” – “não A” Realizar o reconhecimento de uma amostra diferente em amostras que apresentam variações na aparência ou que deixam sabor residual intenso, ou avaliar a sensibilidade de julgadores – prova de reconhecimento ou prova de percepção (não há interesse em um atributo específico) Apresenta-se ao julgador a amostra de referência A. Em seguida, amostras iguais (A) e diferentes (não-A) são apresentadas aleatoriamente, de forma monádica, ao julgador. Classificar as amostras em A ou não-A - - - Teste de qui-quadrado (X²) 1. Tabela de dupla-entrada 2. Cálculo das frequências esperadas 3. Cálculo de X² calculado 4. Comparação com X² tabelado (GL, p) 5. X² calc > X² tab: existe diferença significativa entre as duas amostra Ordenação Comparar diversas amostras ao mesmo tempo, com relação a um determinado atributo e verificar se diferem entre si. Teste direcional Provador recebe 3 ou mais amostras Ordenar as amostras (em ordem crescente ou decrescente de intensidade) em relação a um dado atributo Teste comparativo e de escolha forçada Não tem caráter quantitativo: não quantifica a intensidade Sujeito a carry-over e fadiga sensorial: perda de eficiência com o aumento do nº de amostras - - Mínimo 5 especialistas ou 15 selecionados Tabela de soma das ordens Diferença mínima significativa (DMS) Comparação múltipla ou diferença do controle Verificar se existe diferença entre várias amostras e uma amostra controle (caráter qualitativo) e 1 amostra controle (C) e 2 ou mais amostras codificadas. Comparar cada amostra com a controle e quantificar o grau de - - 7 especialistas ou 15 treinados ANOVA (amostras e provadores) Teste de comparação de médias de Dunnett Diferença mínima estimar o grau da diferença (caráter quantitativo). diferença, usando uma escala apropriada. Obs.: sempre se introduz uma amostra igual ao controle entre as amostras em teste. Utiliza-se quando existe um número elevado de amostras a analisar. significativa (DMS) A F E T I V O S - Teste de aceitação: grau no qual o consumidor gosta/desgosta de um produto - Teste de preferência: preferência do consumidor por um produto em relação a outros Aplicados: - Comparação entre produtos concorrentes - Desenvolvimento de novos produtos - Otimização da qualidade Qualitativos Quantitativos: Preferência Pareado (Bilateral ou bicaudal) Saber se o provador tem preferência de uma amostra sobre outra Ordenação Pareado ou ordenação múltiplos Pareado Cada provador recebe duas amostras. Indicar a amostra que prefere. Pareado AB, BA - Pareado Mais de 30 (nº elevado) Provadores não treinados Pareado Quantitativos: Aceitação Avaliar o grau com que consumidores gostam ou desgostam de um produto. Obter mais informação sobre um ou mais produtos. Tentativa de tornar "mais objetivas" respostas de natureza intrinsecamente subjetiva. Escala hedônica (7 e 9). A cada provador são fornecidas as diferentes amostras a analisar Classificar cada amostra utilizando uma escala hedônica. FACT – escala de atitude ou de intenção Teste realizado em locais de compra (lojas, supermercados), rua, etc. Inquérito sobre dados pessoais (idade, sexo, educação, rendimento, etc) Inquérito sobre o produto em si. Sobre o preço que - - Segundo Hough et al. (2006), 112 é o nº mínimo de consumidores que devem ser avaliados. Para condições laboratoriais, mais de 30 (nº elevado). Provadores não treinados. Escala do ideal (Just about right) Estatística Descritiva ANOVA Comparação das médias por Tukey Escala do ideal (Just about right) Limite de 70% de respostas para o termo “ideal” Teste Qui-quadrado ou regressão linear simples (ITAL) FACT – escala de atitude ou de intenção Determinar se o consumidor compra o produto, pois o consumidor pode gostar do produto mas não o comprar, devido à: aspectos culturais, socioeconômicos, hábitos de consumo, etc. Escala do ideal (Just about right) Verificar qual é o ideal considerado pelos consumidores de determinado atributo (doçura, amargor, etc.). estaria disposto a pagar pelo produto. Sobre a embalagem, etc. Escala do ideal (Just about right) Expressao quão ideal o produto está em relação à intensidade de um atributo específico. 3 a 5 pontos, âncoras opostas como: “muito fraco” à “muito forte”, no centro o termo “ideal”. Apresenta-se todas as amostras de forma aleatória e pede-se que coloquem em ordem de preferência de concentração para o referido atributo em relação ao que consideram ideal. Mapa de preferência D I S C R I M I N A T I V O S - Descrevem as características sensoriais percebidas (caráter qualitativo) e suas intensidades (caráter quantitativo) - Correlação com dados de aceitabilidade / análises físicas, químicas ou instrumentais: identificar atributos-chave de qualidade ADQ ADQ simplificado Perfil livre Tempo-intensidade