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Processo Penal I
Prof. Me. Gustavo Antonio Nelson Baldan
Processo Penal I
Persecução Criminal - Inquérito Policial
Praticada uma infração penal (crime ou contravenção) nasce para o Estado o poder-dever de investigação e, se for o caso de punição dos envolvidos, com eventual aplicação da lei penal sancionatória;
Esse poder-dever é a persecução penal (persecutio criminis – perseguição do crime), que comporta 2 fases:
Fase pré-processual (informativa, preliminar, inquisitiva, persecução criminal fora do juízo);
Fase processual (ação penal, persecução penal em juízo).
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Fase Pré-Processual: é a fase de investigação criminal, também chamada de investigação criminal preliminar, que antecede a instauração da ação penal. Esta fase é destinada à coleta de elementos relativos à materialidade (existência do crime) e autoria ou participação na infração penal. O inquérito policial é a principal (mas não a única) forma de investigação criminal;
Fase Processual: é o momento da persecução penal em juízo, a ação penal. Destinada para, se for o caso, impor a sanção penal aos autores da infração penal.
Processo Penal I
Processo Penal I
Inquérito Policial
O inquérito policial é um procedimento administrativo preliminar, presidido pela Autoridade Policial (art. 2º, § 1º, da Lei nº 12.830/13), que tem por objetivo a apuração da autoria, da materialidade (existência) da infração penal e suas circunstâncias, e sua finalidade é contribuir a formação do convencimento (opinio delicti) do titular da ação penal.
Atribuição da Polícia Federal: art. 144, inciso I e § 1º, CF;
Atribuição da Polícia Civil: art. 144, inciso IV e § 4º, CF;
Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria.
Parágrafo único. A competência definida neste artigo não excluirá a de autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função.
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A presidência da investigação de natureza criminal, como se percebe, não é privativa da polícia judiciária. Outras autoridades administrativas podem presidir investigação:
 inquéritos parlamentares presididos pelas CPI’s;
 atuação das polícias legislativas. A propósito: Súmula 397, STF: “o poder de polícia da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, em caso de crime cometido nas suas dependências, compreende, consoante o regimento, a prisão em flagrante do acusado e a realização do inquérito”;
 inquéritos militares presididos por oficiais de carreira (art. 9º, CPPM);
 investigação de crimes cometidos por de membros do Ministério Público, que será por um membro do próprio MP (art. 18, LC 75/93 e art. 41, Lei 8.625/93); 
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 investigação de delitos praticados por magistrados, que será conduzida pelo próprio Poder Judiciário (art. 35, LC 35/1979);
 investigação de delitos praticados nas dependências do Tribunal;
 investigação de autoridades que gozam de foro por prerrogativa de função. O Supremo Tribunal Federal entende que o início da investigação e o indiciamento pressupõe autorização do Tribunal onde a autoridade será julgada (Inq. 2.411);
 investigações presididas pelo Ministério Público (inquérito ministerial ou PIC – Procedimento Investigativo Criminal). O Supremo Tribunal Federal, através da 2ª Turma, admitiu que o MP investigue, o que não implica usurpação de função da polícia civil (HC 91.661). Em decisão plenária, ratificou a atividade investigativa do MP, que “dispõe de competência para promover, por autoridade própria e por prazo razoável, investigação de natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado (...)” (RE 593.727).
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ATENÇÃO: O Supremo Tribunal Federal, nos autos do RE 593.727/MG, acerca do poder de investigação pelo Ministério Público, fixou a seguinte tese de repercussão geral: Tema 184 - Poder de investigação do Ministério Público: O Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por prazo razoável, investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado, observadas, sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais de que se acham investidos, em nosso País, os Advogados (Lei 8.906/1994, art. 7º, notadamente os incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da possibilidade – sempre presente no Estado democrático de Direito – do permanente controle jurisdicional dos atos, necessariamente documentados (Súmula Vinculante 14), praticados pelos membros dessa Instituição.
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Fique atento à pegadinha de bancas concursos.
Note, o Ministério Público possui atribuição para presidir Inquérito Ministerial ou PIC – Procedimento Investigativo Criminal, e não Inquérito Policial.
Como esse tema foi abordado em concurso? No concurso do CESPE para Juiz Substituto do PI, foi considerado errado o seguinte enunciado: “O membro do MP possui legitimidade para proceder, diretamente, à colheita de elementos de convicção para subsidiar a propositura da ação penal, inclusive a presidência de inquérito policial”.
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ATENÇÃO
O art. 26, do Código de Processo Penal, no sentido de que “a ação penal, nas contravenções, será iniciada com o auto de prisão em flagrante ou por meio de portaria expedida pela autoridade judiciária ou policial”, previa em nosso ordenamento jurídico o chamado procedimento judicialiforme, não foi recepcionado pela atual Constituição Federal
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Natureza Jurídica
Procedimento administrativo de caráter informativo e preparatório da fase processual penal. Importante destacar que se trata, efetivamente, de procedimento, e não de processo administrativo.
Características
Escrito: nos termos do art. 9º, do CPP: “Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade”;
Inquisitivo: no inquérito policial não há observância ao contraditório. À vista disso, a vítima e/ou indiciado podem requerer diligência, mas estas serão realizadas, ou não, a juízo da autoridade policial (art. 14, CPP). Inclusive, tanto é assim, que o art. 107 do CPP, não admite seja suscitada a suspeição da autoridade policial. 
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Discricionariedade: a autoridade policial não é obrigada a seguir sequência predeterminada de atos, cabendo ao delegado de polícia conduzir a investigação da melhor forma que aprouver. É dizer: cada investigação é única, e por isso que a autoridade policial deve realizar os atos na sequência que melhor lhe parecer para o esclarecimento dos fato. A propósito, o art. 6º, do CPP, traz uma série de atos (diligências) que não são de observância obrigatória, tampouco a sequência ali prevista;
Sigiloso: ao contrário do que no processo, o inquérito não comporta publicidade, sendo procedimento essencialmente sigiloso, nos termos do art. 20, do CPP. O sigilo aqui tratado evita a divulgação de informações essenciais do inquérito ao público em geral, por intermédio do sistema midiático. O sigilo não se estende ao advogado (art. 7º, XII a XV e § 1º, da Lei nº 8.906/94), desde que não se trata de investigação em segredo de justiça, tampouco ao advogado do investigado (SV 14);
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Fique atento às bancas de concursos.
A Súmula Vinculante 14, possui a seguinte redação: É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.
Como esse tema foi abordado em concurso? No concurso do CESPE para Delegado de Polícia do RJ, foi considerado correto o seguinte enunciado: “O investigado deve teracesso a todos os elementos já documentados nos autos do inquérito policial, ressalvadas as diligências em andamento cuja eficácia dependa do sigilo”.
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ATENÇÃO: tal ponto já foi objeto de bancas de concursos
(CESPE - 2017 - TRE-BA - Analista Judiciário – Área Administrativa) Indiciado em determinado inquérito policial, Pedro requereu, por meio de seu advogado, acesso aos autos da investigação. O requerimento foi negado pelo delegado de polícia. Nessa situação hipotética, a decisão da autoridade policial está
a) correta, pois, sendo procedimento inquisitório, não há de se falar em assistência de advogado no curso do inquérito policial.
b) incorreta, pois o exercício do direito de defesa e contraditório são plenamente aplicáveis ao inquérito policial.
c) incorreta, pois afronta o princípio da publicidade, igualmente aplicável às ações penais em curso e aos inquéritos policiais.
d) correta, pois o inquérito policial, sendo procedimento inquisitório, deve ser mantido em sigilo até o ajuizamento da ação penal.
e) incorreta, pois o acesso do indiciado, por meio de seu advogado, aos autos do procedimento investigatório é garantia de seu direito de defesa.
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Oficialidade: o inquérito policial é atribuição da polícia judiciária, órgão oficial do Estado, O art. 2º, da Lei 12.830/2013 dispõe que “as funções penais exercidas pelo delegado de polícia são de natureza pública, essenciais e exclusivas do Estado”;
Oficiosidade: havendo crime de ação penal pública incondicionada (e.g. homicídio, roubo), a autoridade policial deve atuar de ofício, instaurando o inquérito e apurando prontamente os fatos. Já nos crimes de ação penal pública condicionada à representação (e.g. lesão corporal leve) e ação penal privada (e.g. calúnia, difamação e injúria), deverá a vítima ou seu representante legal representar (autorizar) a atuação da autoridade policial;
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ATENÇÃO: tal ponto já foi objeto de bancas de concursos
(CESPE/CEBRASPE – PC RJ – Delegado de Polícia Civil 2022) O inquérito policial é atividade investigatória realizada por órgãos oficiais, não podendo ficar a cargo do particular, ainda que a titularidade do exercício da ação penal pelo crime investigado seja atribuída ao ofendido. Considerando-se as características do inquérito policial, é correto afirmar que o texto anterior discorre sobre:
a) O procedimento escrito do inquérito policial.
b) A indisponibilidade do inquérito policial.
c) A oficiosidade do inquérito policial.
d) A oficialidade do inquérito policial.
e) A dispensabilidade do inquérito policial.
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Indisponibilidade: a persecução penal é de ordem pública, e uma vez instaurado o inquérito policial não pode o delegado dele dispor. Se diante de uma circunstância fática, o delegado de polícia percebe que não houve crime, nem em tese, não deve iniciar o inquérito policial. Daí que a autoridade policial não está obrigada a instaurar o inquérito policial. Porém, uma vez instaurado, não pode arquivá-lo por expressa vedação contida no art. 17, do CPP: a autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito;
Obrigatório: o inquérito policial é obrigatório para a autoridade policial. Isso significa que, sendo narrado em tese fato típico antijurídico e culpável, a autoridade policial tem o dever funcionar de instaurar o inquérito policial;
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Dispensável: o inquérito policial destina-se, apenas, à colheita de elementos de informação relacionados à prova da materialidade do fato e indícios de autoria ou participação. Caso o titular da ação penal já disponha de tais elementos, não há necessidade de se recorrer ao inquérito. Ora, tanto é assim que o art. 12, do CPP dispõe que “o inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou outra”;
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Valor Probatório do Inquérito Policial
A finalidade principal do inquérito policial é ade fornecer elementos para que o titular da ação penal possa ingressar em juízo com a ação penal. Em virtude disso, segundo Fernando Capez, “o inquérito tem valor probatório meramente relativo, pois serve de base para a denúncia e para as medidas cautelares, mas não serve sozinho para sustentar sentença condenatória, pois os elementos colhidos no inquérito o foram de modo inquisitivo, sem contraditório e ampla defesa.”
Tanto é assim que o art. 155, do CPP dispõe que: “o juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas”
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Atribuição
Nos termos do art. 4º, do CPP, a “polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria”;
Essa atribuição pode ser fixada quer pelo lugar da consumação da infração (ratione loci), quer pela natureza desta (ratione materiae);
 Assim, a autoridade policial não poderá praticar qualquer ato fora dos limites da sua circunscrição, devendo, se assim necessitar, solicitar, por precatória, ou por rogatória, conforme o caso, a cooperação da autoridade local com atribuições para tanto;
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Entretanto, sendo o inquérito um procedimento inquisitivo, onde não há qualquer julgamento, mas apenas colheita de elementos informativos, é inaplicável ao inquérito policial o disposto no art. 5º, inciso LIII, da CF (ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente)
A norma constitucional não prevê o direito de o suspeito ser investigado pelo delegado previamente indicado. À vista disso, não se pode falar em princípio do “delegado natural”, muito menos em nulidade dos atos investigatórios realizados fora da circunscrição da autoridade policial;
É pacífico na doutrina e na jurisprudência que o inquérito policial é mera peça de informação, cujos vícios não contaminam a ação penal. Por essas razões, não há qualquer nulidade em o inquérito policial ser presidido por autoridade policial incompetente, nem possibilidade de relaxamento da prisão em flagrante por esse motivo (STJ, 6ª T., HC 6.418-PR, rel. Min. Anselmo Santiago, DJU, 23 mar. 1998, p. 169; STJ, 6ª T., RHC 7.268-SP, rel. Min. Fernando Gonçalves, DJU, 4 maio 1998, p. 207).
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AUTORIDADE DE OUTRA CIRCUNSCRIÇÃO: “1. Pedido de anulação do inquérito policial e, consequentemente, a ação penal por ‘incompetência’ da autoridade policial, haja vista que os fatos ocorreram em circunscrição diversa do local em que foi instaurado. 2. As atribuições no âmbito da polícia judiciária não se submetem aos mesmos rigores previstos para a divisão de competência, haja vista que a autoridade policial pode empreender diligências em circunscrição diversa, independentemente da expedição de precatória e requisição” (STJ, HC 200500811093, DJe, 27 mar. 2006)
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