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SEMANA 02
PREPARAÇÃO EXTENSIVA PLUS
DELEGADO DE POLÍCIA
SEMANA 02/30
Sumário
META 1 .............................................................................................................................................................. 7
DIREITO PROCESSUAL PENAL: INQUÉRITO POLICIAL (PARTE I) ......................................................................... 7
1. INQUÉRITO POLICIAL ..................................................................................................................................... 8
1.1 Conceito ................................................................................................................................................................... 8
1.1.1 Termo circunstanciado de ocorrência (TCO) ..................................................................................................... 9
1.1.2 Investigação Preliminar ................................................................................................................................... 10
1.2 Conceito tradicional de Inquérito Policial (IP) ........................................................................................................ 10
1.2 Natureza Jurídica .................................................................................................................................................... 15
2. CARACTERÍSTICAS ........................................................................................................................................ 16
3. INÍCIO DO INQUÉRITO POLICIAL .................................................................................................................. 28
META 2 ............................................................................................................................................................ 39
DIREITO PROCESSUAL PENAL: INQUÉRITO POLICIAL (PARTE II) ...................................................................... 39
4. INDICIAMENTO ............................................................................................................................................ 39
4.1 Constituição de Defensor quando o investigado for integrante da segurança pública ou militar – Art. 14-A do CPP.
...................................................................................................................................................................................... 49
5. ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL ................................................................................................ 52
5.1 Arquivamento determinado por juiz incompetente .............................................................................................. 56
5.2 Arquivamento e recorribilidade ............................................................................................................................. 56
5.3 Arquivamento da ação penal privada .................................................................................................................... 58
5.4 Arquivamento implícito .......................................................................................................................................... 58
5.5 Arquivamento indireto ........................................................................................................................................... 59
5.6 Arquivamento e coisa julgada ................................................................................................................................ 59
6. DESARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO E A PROPOSITURA DE AÇÃO PENAL ................................................ 60
7. TRANCAMENTO (OU ENCERRAMENTO ANÔMALO) DO INQUÉRITO POLICIAL ........................................... 63
META 3 ............................................................................................................................................................ 72
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL: LEI DE DROGAS ............................................................................................... 72
1. INTRODUÇÃO (LEI N° 11.343/2006) ............................................................................................................ 73
1.1 Objeto Jurídico e Objeto Material .......................................................................................................................... 73
1.2 Sujeito Ativo ........................................................................................................................................................... 75
1.3 Sujeito Passivo ........................................................................................................................................................ 75
1.4 Elemento Subjetivo ................................................................................................................................................ 75
1.5 Ressalva à proibição de drogas .............................................................................................................................. 76
1.6 Crimes de perigo abstrato x Crimes de perigo concreto ........................................................................................ 77
1.7 Previsão constitucional a respeito da expropriação ............................................................................................... 77
2. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA .................................................................................................................. 78
3. DA REPREENSÃO A PRODUÇÃO NÃO AUTORIZADA E DO TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS. ........................... 80
4. DOS CRIMES E DAS PENAS. .......................................................................................................................... 81
4.1 Porte de Drogas para Uso Pessoal .......................................................................................................................... 81
4.2 Tráfico de Drogas (Art. 33, Caput) .......................................................................................................................... 91
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4.3 Figuras Equiparadas ao Tráfico (Art. 33, §1°) ......................................................................................................... 95
4.4 Induzimento, Instigação ou Auxílio ao Uso de Drogas ........................................................................................... 99
4.5 Cedente Eventual (Art. 33, §3º) ........................................................................................................................... 100
4.6 Tráfico Privilegiado (Art. 33, §4º) ......................................................................................................................... 100
4.7 Tráfico de Maquinário (Art. 34) ............................................................................................................................ 107
4.8 Associação Para o Tráfico ..................................................................................................................................... 109
4.9 Financiamento ao Tráfico ..................................................................................................................................... 111
4.10 Informante Colaborador ..................................................................................................................................... 112
4.11 Prescrever ou Ministrar Drogas Culposamente ................................................................................................. 113
4.12 Conduzir Embarcação ou Aeronave após o Consumo de Drogas ....................................................................... 113
4.13 Causas de Aumento da Pena ..............................................................................................................................114
5. DOSIMETRIA DA PENA ............................................................................................................................... 122
6. PROCEDIMENTO PENAL ............................................................................................................................. 123
7. DA INVESTIGAÇÃO ..................................................................................................................................... 124
7.1. Laudo provisório e definitivo ............................................................................................................................... 124
7.2. Destruição das drogas ......................................................................................................................................... 126
7.3. Prazo do IP na Lei de Drogas ............................................................................................................................... 127
7.4 Procedimentos Investigatórios Especiais ............................................................................................................. 128
7.5 Medidas Assecuratórias ....................................................................................................................................... 129
8. DA INSTRUÇÃO .......................................................................................................................................... 133
META 4 .......................................................................................................................................................... 143
DIREITO CONSTITUCIONAL: REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS (PARTE I) .......................................................... 143
1. HABEAS CORPUS ........................................................................................................................................ 144
2. MANDADO DE SEGURANÇA ...................................................................................................................... 157
3. MANDADO DE INJUNÇÃO .......................................................................................................................... 181
META 5 .......................................................................................................................................................... 194
DIREITO CONSTITUCIONAL: REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS (PARTE II) ......................................................... 194
4. HABEAS DATA ............................................................................................................................................ 194
5. AÇÃO POPULAR (LEI Nº 4.717/65) ............................................................................................................. 198
6. AÇÃO CIVIL PÚBLICA (LEI 7.347/85) .......................................................................................................... 206
7. INQUÉRITO CIVIL ........................................................................................................................................ 217
8. TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA (TAC) ........................................................................................ 219
DIREITO CONSTITUCIONAL: DIREITOS POLÍTICOS ......................................................................................... 223
1. DIREITOS POLÍTICOS .................................................................................................................................. 223
1.1 Direitos Políticos Positivos .................................................................................................................................... 224
1.2 Direitos Eleitorais Negativos ................................................................................................................................ 226
1.3 Privação de Direitos Políticos ............................................................................................................................... 228
1.4. Servidor Público e Exercício do Mandato Eletivo ................................................................................................ 230
2. PARTIDOS POLÍTICOS ................................................................................................................................. 230
DIREITO CONSTITUCIONAL: DIREITOS DA NACIONALIDADE ......................................................................... 235
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1. NACIONALIDADE ........................................................................................................................................ 235
1.1 Espécies de Nacionalidade ................................................................................................................................... 235
1.2 Perda da Nacionalidade ........................................................................................................................................ 237
1.3 Brasileiros Natos x Naturalizados ......................................................................................................................... 239
META 6 – REVISÃO SEMANAL ........................................................................................................................ 242
Direito Processual Penal: Inquérito Policial ................................................................................................................ 242
Legislação Penal Especial: Lei De Drogas .................................................................................................................... 244
Direito Constitucional: Remédios Constitucionais (Parte I) ....................................................................................... 246
Direito Constitucional: Direitos Políticos .................................................................................................................... 248
Direito Constitucional: Direitos Da Nacionalidade ..................................................................................................... 249
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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DA SEMANA 02
META DIA ASSUNTO
1 SEG DIREITO PROCESSUAL PENAL: Inquérito Policial (Parte I)
2 TER DIREITO PROCESSUAL PENAL: Inquérito Policial (Parte II)
3 QUA LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL: Lei de Drogas
4 QUI DIREITO CONSTITUCIONAL: Remédios Constitucionais (Parte I)
5 SEX
DIREITO CONSTITUCIONAL: Remédios Constitucionais (Parte II)
DIREITO CONSTITUCIONAL: Direitos Políticos
DIREITO CONSTITUCIONAL: Direitos da Nacionalidade
6 SÁB/DOM [REVISÃO SEMANAL]
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META 1
DIREITO PROCESSUAL PENAL: INQUÉRITO POLICIAL (PARTE I)
TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA
CF/88
⦁ Art. 5º, LIV, LV e LVI
⦁ Art. 5º, LVII
⦁ Art. 5º, LX a LVVII
⦁ Art. 5º, LXVIII e LXIX da CF/88
⦁ Art. 129, VIII
CPP:
⦁ Art. 3-A, CPP
⦁ Art. 3-B, CPP
⦁ Arts. 4º a 23, CPP
⦁ Art. 28, CPP
⦁ Art. 39, §§3º, 4º e 5º, CPP
⦁ Art. 67, I, CPP
⦁ Art. 107, CPP
⦁ Art. 149, §1º, CPP
⦁ Art. 155 e 158, CP
⦁ Art. 304, §1º, CP
⦁ Art. 311, CPP
⦁ Art. 378, II, CPP
⦁ Art. 395 e 397 do CPP
⦁ Art. 405, §1º, CPP
⦁ Art. 549, CPP
OUTROS DIPLOMAS LEGAIS:
⦁ Lei 12.830/2013
⦁ Lei 12.037/09 – art. 1º a 5º
⦁ Art. 3º, I, 8º e 9º da Lei 9296/96
⦁ Art. 1º, I da Lei 7960/899⦁ Art. 4º-A, 10º e 10º-A da Lei 13.840/2013
⦁ Art. 9º ao Art. 28 do Código de Processo Penal Militar
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⦁ Art. 7º, XIV e XXI do Estatuto da OAB
⦁ Art. 7º, §§10º e 11º do Estatuto da OAB
⦁ Arts. 12, 30 e 32 da Lei de Abuso de Autoridade
⦁ Art. 28 e 51 da Lei de Drogas
⦁ Art. 301, CTB
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO PODEM DEIXAR DE LER
⦁ Art. 5º, LX a LVVII da CF/88
⦁ Art. 3º-B, inc.: IV, VIII, IX, X e XI, CPP
⦁ Art. 5º, caput, §§2º , 4º e 5º, CPP
⦁ Art. 6º, CPP
⦁ Art. 10, CPP
⦁ Art. 13, 13-A e 13-B, CPP
⦁ Art. 14 e 14-A, CPP
⦁ Arts. 16, 17, 18 e 20 do CPP
⦁ Art. 28, CPP
⦁ Art. 395 e 397 do CPP
⦁ Art. 7º, XIV e XXI do Estatuto da OAB
⦁ Lei 12.830/2013 inteira (importantíssima!)
⦁ Art. 3º, IV da Lei 12.037/09
SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA
Súmula Vinculante 14-STF: É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos
elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com
competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.
Súmula 524-STF: Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do Promotor de
Justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas.
1. INQUÉRITO POLICIAL
1.1 Conceito
É procedimento administrativo preparatório para o oferecimento da denúncia que tem como
objetivo a reunião dos elementos de convicção que habilitem o órgão de acusação para a propositura da
ação penal (pública ou privada).
NÃO é processo, pois não há contraditório, e possui natureza inquisitiva, pois decorre da reunião,
em uma mesma pessoa, das funções de iniciar, presidir e decidir o procedimento.
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ATENÇÃO! Pelo princípio da presunção de inocência, a investigação de pessoa em inquérito policial NÃO
pode agravar a pena-base (Súmula 444 STJ).
1.1.1 Termo circunstanciado de ocorrência (TCO)
É um procedimento investigativo substitutivo do inquérito para os casos de flagrante em infrações
penais de menor potencial ofensivo, abarcando todas as contravenções penais e crimes cuja pena máxima
não ultrapasse 02 (dois) anos.
Tem previsão expressa no art. 69 da Lei 9.099/95:
Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo
circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e
a vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.
Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for
imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele
comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de
violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu
afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima.
Exceções à lavratura do TCO: hipóteses em que não será possível lavrar termo circunstanciado de ocorrência.
1) Infrações de menor potencial ofensivo com autoria ignorada → o IP será lavrado mediante portaria,
e não TCO, uma vez que não é possível que o autor do crime (desconhecido) compareça ao JECRIM.
2) Crimes que demandam complexidade na investigação → o IP será lavrado mediante portaria, e não
TCO, uma vez que, nesses casos, não é possível observar os princípios que regem o Juizado Penal,
quais sejam: simplicidade, celeridade e informalidade.
3) Recusa a ser encaminhado para o JECRIM → na hipótese de o indivíduo se recusar a comparecer no
JECRIM, será lavrado APF, e não TCO.
EXCEÇÃO: Crime de porte de drogas para uso pessoal (art. 28, Lei 11.343/06) → ainda que o autor se
recuse a comparecer no JECRIM, será lavrado TCO, uma vez que não é possível impor um título prisional
àquele que pratica o crime.
4) Nos crimes previstos no CTB, quando o autor não presta socorro imediato e integral à vítima → o
IP será lavrado mediante APF, considerando uma interpretação a contrário sensu do art. 301.
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Art. 301. Ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de trânsito de que resulte
vítima, não se imporá a prisão em flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar pronto
e integral socorro àquela.
1.1.2 Investigação Preliminar
O Estado, ao tomar conhecimento de uma infração penal, no uso do seu jus puniendi, dá início à
persecução penal. Assim, o que até então estava somente em um plano abstrato (normas), passa a existir no
plano concreto, através da persecução penal, que pode ser compreendida como “conjunto de atividades
levadas adiante pelo Estado, objetivando a aplicação da norma penal ao infrator da lei”.
Nessa esteira, temos que a persecução penal é composta por uma fase preliminar investigatória e
por uma fase judicial.
A fase preliminar, na maior parte das vezes, é marcada pela existência do Inquérito Policial. O
inquérito policial figura como principal instrumento investigatório. Contudo, não se trata do único meio,
existindo outras formas, por exemplo, as investigações feitas pelo MP, pelas CPIs e TCO.
1.2 Conceito tradicional de Inquérito Policial (IP)
Segundo Renato Brasileiro, o inquérito policial deve ser compreendido como sendo “procedimento
administrativo inquisitório e preparatório, presidido pela autoridade policial, com o objetivo de identificar
fontes de prova e colher elementos de informação quanto à autoria e materialidade da infração penal, a fim
de permitir que o titular da ação penal possa ingressar em juízo”.
a) Presidido pela autoridade policial:
O inquérito policial será presidido pela autoridade policial, referindo-se à “pessoa” do Delegado de
Polícia. Nesse sentido, a Lei nº 12.830/13 – art. 2º. “As funções de polícia judiciária e a apuração das infrações
penais exercidas pelo Delegado de Polícia são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado”.
Ademais, o §1º estipula “Ao Delegado de Polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a
condução da investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei, que
tem como objetivo a apuração das circunstâncias, da materialidade e da autoria das infrações penais”.
Diante dos diplomas legais acima apontados, resta claro que a autoridade policial a qual o CPP faz
menção é a figura do “Delegado de Polícia”, sendo atribuição deste a presidência do Inquérito Policial”.
Confira a dica do professor Tiago Dantas:
https://youtu.be/FXqJ1Qtf87M
https://youtu.be/FXqJ1Qtf87M
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b) Dupla função do inquérito policial:
● Preservação: a preexistência de um inquérito evita a instauração de um processo penal temerário,
resguardando os direitos do acusado injustamente e evitando custos desnecessários para o Estado.
● Preparação: fornece elementos de informação para que o titular da ação penal possa ingressar em
juízo.
Os elementos de informação são úteis para o MP formar sua opinio delicti e para decretar as medidas
cautelares no bojo da investigação.
c) Objetivo do inquérito policial:
O inquérito policial possui a finalidade de identificar fontes de prova e proceder com a colheita de
elementos informativos acerca da materialidade e autoria da infração penal.
Inicialmente, cumpre destacar que as expressões fontes de prova e elementos de informação não
possuem o mesmo sentido.
Nessa linha, fontes de prova são todas pessoas ou coisas que tem algum conhecimento sobre o fato
delituoso. São anteriores ao processo e tem sua existência independentemente do próprio processo (ex.
Lesão corporal, o cadáver).
Atenção! Fonte de prova é tudo que está fora dos autos e que tem algum conhecimentosobre o fato
delituoso. As fontes de prova derivam do fato delituoso independentemente do processo, e são por trazerem
alguma informação sobre a autoria e/ou materialidade do fato delituoso.
Atenção! O conceito de elementos informativos não se confunde com o conceito de provas! O art. 155 do
CPP trouxe a distinção entre os elementos informativos e a prova.
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos
elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares,
não repetíveis e antecipadas.
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→ Prova: aquilo que é produzido em contraditório judicial.
→ Elementos informativos: colhidos na investigação.
→ Exceções: provas cautelares/ não repetíveis e antecipadas - são elementos colhidos na investigação que
têm natureza jurídica de prova.
Vamos esquematizar as diferenças peculiares entre elementos de informação e provas:
Elementos informativos Provas
Colhidos na fase investigatória (IP, PIC, etc.). Em regra, produzido na fase judicial sob o crivo
do contraditório judicial.
É a regra, porque existem situações
excepcionais em que a prova seria produzida
sem ser na fase judicial.
Não é obrigatória a observância do contraditório
e da ampla defesa; (mesmo com o advento da
Lei nº 13.245/2016).
É obrigatória a observância do contraditório e da
ampla defesa.
O juiz deve intervir apenas quando necessário, e
desde que seja provocado nesse sentido.
[Em nosso ordenamento jurídico não se admite
a atuação de ofício do magistrado na fase
investigatória. Não é dotado de iniciativa
acusatória].
A prova deve ser produzida na presença do juiz.
A presença pode ser direta ou remota.
Finalidade: úteis para a decretação de medidas
cautelares e auxiliam na formação da opinio
delicti (convicção do titular da ação penal).
Finalidade: auxiliar na formação da convicção do
juiz. O art. 155 menciona que o juiz deve se valer
da prova para formar sua convicção → Sistema
do livre convencimento motivado.
Obs.1: O fato de o advogado assistir o investigado na fase do inquérito policial NÃO retira daquele a
característica de ser “elemento informativo” – Veremos mais ao abordar a inquisitoriedade como
característica do IP.
Obs.2: O juiz não deve atuar de ofício na fase investigatória, sob pena de violação ao sistema acusatório e do
princípio da imparcialidade. Inclusive, é com base nesse entendimento que o Pacote Anticrime positivou, de
forma expressa, a adoção do Sistema Acusatório pelo nosso Ordenamento Jurídico.
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Art. 3º-A. O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na
fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de
acusação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Desvalor probatório do inquérito policial:
De acordo com Renato Brasileiro, ao longo dos anos, sempre prevaleceu nos Tribunais o
entendimento de que, de modo isolado, elementos produzidos na fase investigatória não podem servir de
fundamento para uma condenação, sob pena de violação da garantia constitucional do contraditório e da
ampla defesa. No entanto, pela letra fria da lei (art. 155, caput do CPP), tais elementos poderiam ser usados
de maneira subsidiária, complementando a prova produzida em juízo sob o crivo do contraditório.
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos
elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares,
não repetíveis e antecipadas. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão observadas as
restrições estabelecidas na lei civil. (Incluído pela Lei nº 11.690, de
2008)
Ressalta-se que é importante ter muito cuidado com esse entendimento. Isso porque o pacote
anticrime trouxe previsão de que os autos ficarão acautelados na secretaria agora, de modo que o juiz, em
tese, não deverá mais ter acesso aos elementos.
Consequências do desvalor probatório do IP:
Ora, se os elementos colhidos em sede de investigação criminal não podem embasar com
exclusividade uma sentença condenatória, no mesmo sentido eventuais vícios constantes do IP não têm o
condão, em regra, de contaminar o processo (justamente pois as informações somente serão utilizadas
como obter dictum de uma decisão).
Nesse contexto, em regra, os vícios do inquérito policial não contaminam a ação penal subsequente.
No entanto, parte da doutrina (majoritária) afirma que, quando estivermos diante das chamadas
provas ilícitas (ex. acesso ao WhatsApp sem autorização judicial), haverá sim a contaminação do processo, já
que tais vícios comprometem a justa causa, que é justamente o lastro probatório mínimo para dar ensejo à
ação penal. Esse é o entendimento consolidado da jurisprudência. Veja:
Via de regra, eventuais irregularidades ocorridas no inquérito policial não
contaminam a ação penal.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/ea9bf866d98db73eb0909fa9c1cc1b11?categoria=12&subcategoria=125&criterio-pesquisa=e
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/ea9bf866d98db73eb0909fa9c1cc1b11?categoria=12&subcategoria=125&criterio-pesquisa=e
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Eventual nulidade na oitiva do acusado no curso da investigação preliminar não tem
o condão de nulificar o recebimento da denúncia e a ação penal deflagrada, quando
existam elementos autônomos que sustentam a decisão impugnada. Ademais, cabe
ressaltar que eventuais vícios na fase extrajudicial não contaminam o processo
penal, dada a natureza meramente informativa do inquérito policial. STJ. 5ª Turma.
AgRg no RHC 124.024/SP. Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 22/09/2020.
Eventuais irregularidades ocorridas no inquérito policial não contaminam a ação
penal. STJ. 6ª Turma. RHC n. 112.336/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em
07/11/2019.
O inquérito policial constitui procedimento administrativo, de caráter informativo,
cuja finalidade consiste em subsidiar eventual denúncia a ser apresentada pelo
Ministério Público, razão pela qual irregularidades ocorridas não implicam, de
regra, nulidade de processo-crime. STF. 1ª Turma.HC 169.348/RS, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 17/12/2019.
Jurisprudência em Teses do STJ - EDIÇÃO N. 69: NULIDADES NO PROCESSO PENAL:
"As nulidades surgidas no curso da investigação preliminar não atingem a ação
penal dela decorrente".
Em 2019, o STF (HC 169348/RS) proferiu decisão no sentido de que não há nulidade na ação penal
instaurada e apurada pela Polícia Federal, quando deveria ter sido conduzida, na realidade, pela polícia civil.
Veja:
“A Polícia Federal, sob a supervisão do Ministério Público estadual e do Juízo de
Direito, conduziu inquérito policial destinado a apurar crimes de competência da
Justiça Estadual. Entendeu-se que a Polícia Federal não tinha atribuição para apurar
tais delitos considerando que não se enquadravam nas hipóteses do art. 144, § 1º
da CF/88 e do art. 1º da Lei nº 10.446/2002. A despeito disso, o STF entendeu que
não havia nulidade na ação penal instaurada com base nos elementos
informativos colhidos. O fato de os crimes de competência da Justiça Estadual
terem sido investigados pela Polícia Federal não geram nulidade. Isso porque esse
procedimento investigatório, presidido por autoridade de Polícia Federal, foi
supervisionadopelo Juízo estadual (juízo competente) e por membro do Ministério
Público estadual (que tinha a atribuição para a causa). O inquérito policial constitui
procedimento administrativo, de caráter meramente informativo e não
obrigatório à regular instauração do processo-crime, cuja finalidade consiste em
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subsidiar eventual denúncia a ser apresentada pelo Ministério Público, razão pela
qual irregularidades ocorridas não implicam, de regra, nulidade de processo-
crime” (Info. 964) - grifo nosso.
O tema é tão importante que ainda há outras decisões no mesmo sentido.
STF (RHC 131450/DF): “(...) A suspeição de autoridade policial não é motivo de
nulidade do processo, pois o inquérito é mera peça informativa, de que se serve o
Ministério Público para o início da ação penal. Assim, é inviável a anulação do
processo penal por alegada irregularidade no inquérito, pois, segundo
jurisprudência firmada no STF, as nulidades processuais estão relacionadas apenas
a defeitos de ordem jurídica pelos quais são afetados os atos praticados ao longo
da ação penal condenatória”.
STF (HC 85.286): “(...) Os vícios existentes no inquérito policial não repercutem na
ação [tecnicamente é processo] penal, que tem instrução probatória própria.
Decisão fundada em outras provas constantes dos autos, e não somente na prova
que se alega obtida por meio ilícito”.
STF (RE-AgR 425.734/MG): “os elementos do inquérito podem influir na formação
do livre convencimento do juiz para a decisão da causa quando complementam
outros indícios e provas que passam pelo crivo do contraditório em juízo”.
CAIU EM PROVA:
(Delegado de PCBA 2022): O inquérito policial é um procedimento preliminar, extrajudicial e preparatório
para a ação penal, sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis; é instaurado pela
polícia judiciária e tem como finalidade a apuração de infração penal e de sua respectiva autoria (item
considerado correto).
1.2 Natureza Jurídica
É um mero procedimento administrativo, razão pela qual os vícios constantes do inquérito não têm
o condão de contaminar o processo penal subsequente, salvo nos casos de provas ilícitas.
Lei nº. 12.830/2013 Art. 2º. As funções de polícia judiciária e a apuração de
infrações penais exercidas pelo Delegado de Polícia são de natureza jurídica,
essenciais e exclusivas de Estado.
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§1º. Ao delegado de polícia, cabe a condução da investigação criminal por meio de
inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei, que tem como objetivo, a
apuração das circunstâncias, da materialidade e da autoria das infrações penais.
Embora a atribuição da presidência do inquérito policial seja exclusiva da polícia, existem outros
meios de investigação que poderão ser feitos por outro órgão, que não a Polícia Judiciária. (Ex. Ministério
Público realiza PIC - Procedimento Investigatório Criminal).
2. CARACTERÍSTICAS
a) Procedimento administrativo de caráter investigatório: Não existe um rito ou uma ordem
determinada pela lei, razão pela qual não é possível o reconhecimento de nulidade procedimental.
b) Preparatório e informativo: Busca apurar indícios de autoria e materialidade para a propositura de
ação penal.
c) Obrigatório: Sempre que tomar conhecimento da ocorrência de infração penal que caiba ação penal
pública incondicionada deverá instaurar o inquérito.
Pergunta de concurso: O Delegado de Polícia pode deixar de lavrar auto de prisão em flagrante, nas
hipóteses em que é cabível? R.: Há divergência doutrinária sobre o tema.
Parte da doutrina afirma que não. Isso porque o delegado de polícia deve fazer um juízo apenas
quanto à tipicidade formal e punibilidade. Em outras palavras: a análise do delegado de polícia restringe-se
tão somente à existência de autoria e materialidade típica e punível, não possuindo qualquer margem de
atuação quanto às excludentes.
Por outro lado, a doutrina moderna vem entendendo que sim! O delegado de polícia possui margem
de atuação para o controle de excludentes cabais da tipicidade, ilicitude e culpabilidade, de modo que pode
deixar de lavrar o auto de prisão em flagrante quando se deparar com tais circunstâncias. Nessa hipótese, o
delegado não lavra o APF, fazendo apenas o registro de ocorrência.
ATENÇÃO: a título de exemplo, a Polícia Civil do Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo atua no
sentido da doutrina moderna, de modo que os delegados de polícia deixam de lavrar o APF quando há
manifesta causa de excludente da tipicidade (formal ou material), ilicitude ou culpabilidade.
d) Indisponível para a autoridade policial: A indisponibilidade do IP está relacionada com a
impossibilidade de o Delegado de Polícia poder arquivá-lo, nos moldes do art. 17 do CPP.
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Fundamento legal: Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar
autos de inquérito.
Eventual arquivamento será promovido pelo MP e deferido pelo juízo.
O Pacote Anticrime (L.13964/19) alterou a sistemática de arquivamento do inquérito policial, transferindo
toda a atribuição para o órgão ministerial. Apesar da mudança, que inclusive está com a eficácia suspensa
por prazo indeterminado, o delegado continua impossibilitado de mandar arquivar os autos do IP,
permanecendo sua indisponibilidade.
e) Dispensável para a persecução penal: O inquérito é uma peça meramente informativa que tem a
finalidade de colher elementos de informação quanto à infração penal e sua autoria. Contudo, caso
o titular da ação penal disponha desse substrato mínimo necessário para o oferecimento da peça
acusatória, o inquérito será dispensável.
Obs.1: Parte da doutrina entende que a dispensabilidade do inquérito policial é um dos fundamentos para a
não contaminação do processo penal por eventuais vícios constantes do IP.
Fundamento Legal:
Art. 39, §5º. O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a
representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação
penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias.
Art. 12 do CPP: O inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que
servir de base a uma ou outra.
Obs.2: Nessa esteira, o STF já decidiu (Info 714), que é possível o oferecimento de ação penal com base em
provas colhidas no âmbito de inquérito civil conduzido por membro do Ministério Público.
Denúncia formulada com base em inquérito civil.
É possível o oferecimento de ação penal (denúncia) com base em provas colhidas
no âmbito de inquérito civil conduzido por membro do Ministério Público. STF.
Plenário. AP 565/RO, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 7 e 8/8/2013 (Info 714).
f) Escrito: Vide art. 9º, CPP, segundo o qual, todas as peças do inquérito policial serão, num só processo,
reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade;
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DICA: Modernamente diz-se que é um procedimento que deve ser documentado, e não escrito.
Documentado porque, hoje, em muitos estados, o inquérito policial é digital. São tomados depoimentos,
declarações, interrogatórios, tudo por áudio visual. Não se tem mais caderno investigatório. As peças não
mais serão enumeradas e rubricadas pela autoridade policial.
Ressalta-se que é necessário documentar e relatar todos os elementos que foram encontrados.
Nesse sentido, dispõe o artigo 9º do Código de Processo Penal:
Art. 9º. Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a
escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadaspela autoridade.
Percebam que o dispositivo diz que ele deve ser escrito, datilografado e rubricado, isso com o
inquérito digital não há mais necessidade alguma, pois todas peças são digitais.
Mas tem previsão legal para isso?
Tem sim, vejam o teor do art. 405, §1º, CPP:
Art. 405, § 1º. Sempre que possível, o registro dos depoimentos do investigado,
indiciado, ofendido e testemunhas será feito pelos meios ou recursos de gravação
magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinada a
obter maior fidelidade das informações.
Percebam que a lei se valeu da expressão investigado e indiciado, denominação técnica do inquérito
policial.
Confira a dica do professor Tiago Dantas:
https://youtu.be/JcAeC2DBOQM
g) Sigiloso: Vide art. 20, caput, CPP.
É cediço que a CF, em seu art. 93, IX garante o direito à publicidade. Contudo, o princípio da
publicidade é válido na fase judicial da persecução penal, e não na fase investigatória. Nas investigações, EM
https://youtu.be/JcAeC2DBOQM
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REGRA, o inquérito policial deve ser conduzido de maneira sigilosa, até mesmo para se garantir a eficácia das
investigações.
O artigo 20, do CPP dispõe que a autoridade assegurará, no inquérito, o sigilo necessário à elucidação
do fato ou exigido pelo interesse da sociedade.
Assim, se a autoridade policial verificar que a publicidade pode causar prejuízo à elucidação dos fatos,
pode decretar o sigilo do inquérito. No entanto, é direito do advogado ter acesso aos autos já documentados
e desde que não frustre diligências em andamento.
A doutrina afirma que o sigilo no inquérito policial possui uma dupla função:
1) Função utilitarista – é importante para assegurar a eficácia das investigações, por exemplo, não pode
divulgar a decretação da interceptação telefônica, sob pena da prova ser prejudicada.
2) Função garantista – é importante para preservar os direitos dos investigados. Ex.: evitar a exposição
midiática do investigado. (presunção de inocência sob a perspectiva da regra de tratamento).
Nesse sentido, o CPP:
Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito, o sigilo necessário à elucidação do
fato ou exigido pelo interesse da sociedade.
⬥ Regra: Durante a investigação preliminar deve tramitar de forma sigilosa, sob pena de frustrar a
eficácia das medidas.
⬥ Exceção: Publicidade – Retrato Falado: O retrato falado chega a ser, inclusive, importante para o
desenvolvimento das investigações a publicidade nesta hipótese. Nesse caso, a publicidade é de caráter
importante para constatar outras pessoas que foram vítimas daquele criminoso.
Acesso do Advogado aos autos do Inquérito Policial:
O advogado tem acesso aos autos do Inquérito Policial? Precisa de procuração? Precisa de
autorização Judicial prévia? Qual o grau de acesso?
O sigilo pode ser:
1) Interno ou endógeno: não podendo ser oponível ao juiz, membro do MP e ao advogado do indiciado.
2) Externo ou exógeno: se opõe a terceiros estranhos aos autos.
O sigilo do inquérito policial é um sigilo, em regra, externo. Ou seja: não é possível opor sigilo às
“partes”, como defensor, membro do MP e juiz. Vejamos:
1) A CF/88 assegura, em seu art. 5º, LXIII, a assistência do advogado, de modo que o direito à defesa é
uma garantia constitucional.
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CF, art. 5º. LXIII – o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de
permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado.
2) O Estatuto da OAB prevê que, em regra, o advogado não precisa de procuração para acessar os autos:
Art. 7º – São direitos do advogado:
XIV – examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação,
MESMO SEM PROCURAÇÃO, autos de flagrante e de investigações de qualquer
natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo
copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital.
§10º. NOS AUTOS SUJEITOS A SIGILO, deve o advogado apresentar procuração para
o exercício dos direitos que trata o inciso XIV.
3) A Súmula vinculante 14 prevê que o advogado tem o direito de acessar as informações que digam
respeito ao direito de defesa, desde que já documentadas nos autos, para que não haja risco ao
comprometimento da eficácia das diligências em curso.
Súmula Vinculante 14. É direito do defensor, no interesse do representado, ter
acesso amplo aos elementos de prova que, JÁ DOCUMENTADOS em procedimento
investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam
respeito ao exercício do direito de defesa.
Estatuto da OAB, Art. 7º § 11º. No caso previsto no inciso XIV, a autoridade
competente poderá delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova
relacionados a diligências em andamento e ainda não documentados nos autos,
quando houver risco de comprometimento da eficiência, da eficácia ou da
finalidade das diligências.
O STF, em decisão veiculada no Info 964, entendeu que a negativa de acesso ao investigado a peças
que digam respeito a dados sigilosos de terceiros, que NÃO POSSUEM RELAÇÃO COM SEU DIREITO DE
DEFESA, não ofende a Súmula Vinculante 14.
Mesmo que a investigação criminal tramite em segredo de justiça será possível que
o investigado tenha acesso amplo autos, inclusive a eventual relatório de
inteligência financeira do COAF, sendo permitido, contudo, que se negue o acesso
a peças que digam respeito a dados de terceiros protegidos pelo segredo de justiça.
Essa restrição parcial não viola a súmula vinculante 14. Isso porque é excessivo o
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acesso de um dos investigados a informações, de caráter privado de diversas
pessoas, que não dizem respeito ao direito de defesa dele. STF. 1ª Turma. Rcl 25872
AgR-AgR/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 17/12/2019 (Info 964).
No mesmo sentido o STJ:
Não ofende o princípio da ampla defesa a negativa de acesso ao conteúdo de
medidas investigativas em curso que ainda não foram documentadas e cujo sigilo,
no momento, é imprescindível à sua efetividade. STJ. 5ª Turma. RHC 136.624-PR,
Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 13/04/2021.
4) O Estatuto da OAB - Lei nº 8.906/94 (redação dada pela Lei nº 13.245/16) passou a prever a
possibilidade de o advogado acompanhar seus clientes durante a apuração das infrações.
Obs.: Isso não altera a natureza inquisitorial do IP. Ou seja: a participação do advogado não se torna
obrigatória, mas apenas facultativa. Na hipótese de o advogado querer acompanhar seu cliente, o Delegado
de polícia não poderá obstar sua participação.
XXI - assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena
de nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e,
subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e probatórios dele
decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no curso da
respectiva apuração: (Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016)
ATENÇÃO: Caso seja injustificadamente negado ao defensor do investigado o acesso ao inquérito policial,
QUAIS MEDIDAS JUDICIAIS são cabíveis, visando à obtenção de acesso aos autos da investigação? (Questão
discursiva da prova de Delegado de Minas Gerais em 2018)
O candidato deveria contextualizar a questão abordando que uma das características do inquérito
policial é o sigilo; que este sigilo possui uma dupla função; que se trata de um sigilo eminentemente externo.
Após contextualizar, deve passar à resposta da questão: São 3 os mecanismos judiciais previstos em caso de
recusa injustificada por parte do Delegado de Polícia:
1) Reclamação ao Supremo Tribunal Federal:em razão da ofensa à SV 14 do STF.
2) Mandado De Segurança: em razão da ofensa ao direito líquido e certo do advogado de ter acesso a
inquérito policial (artigo 7, inciso XIV da lei 8.906/94
3) Habeas Corpus: em razão da ofensa ao art. 5º, LXVIII da CF/88.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13245.htm#art1
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ATENÇÃO: Malgrado o advogado tenha direito de acessar aos autos do inquérito policial, a própria
lei nos traz exceções, como por exemplo, crime onde seja decretado o segredo de justiça, não poderá outro
advogado, senão o do investigado ter acesso aos autos.
Por exemplo, crimes contra a dignidade sexual, pois tramitam em segredo de justiça (art. 234-B),
sendo assim, somente o advogado do investigado pode ter acesso.
Art. 234-B. Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título correrão
em segredo de justiça. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009).
No mesmo sentido, os crimes praticados por Organização Criminosa (Lei 12.850/2013):
Art. 23. O sigilo da investigação poderá ser decretado pela autoridade judicial
competente, para garantia da celeridade e da eficácia das diligências
investigatórias, assegurando-se ao defensor, no interesse do representado, amplo
acesso aos elementos de prova que digam respeito ao exercício do direito de
defesa, devidamente precedido de autorização judicial, ressalvados os referentes
às diligências em andamento.
ATENÇÃO! Não é necessária, mesmo após a Lei 13.245/2016, a intimação prévia da defesa técnica do
investigado para a tomada de depoimentos orais na fase de inquérito policial.
Não é necessária a intimação prévia da defesa técnica do investigado para a tomada de depoimentos
orais na fase de inquérito policial. Não haverá nulidade dos atos processuais caso essa intimação não ocorra.
O inquérito policial é um procedimento informativo, de natureza inquisitorial, destinado
precipuamente à formação da opinio delicti do órgão acusatório.
Logo, no inquérito há uma regular mitigação das garantias do contraditório e da ampla defesa.
Esse entendimento justifica-se porque os elementos de informação colhidos no inquérito não se
prestam, por si sós, a fundamentar uma condenação criminal.
A Lei nº 13.245/2016 implicou um reforço das prerrogativas da defesa técnica, sem, contudo, conferir
ao advogado o direito subjetivo de intimação prévia e tempestiva do calendário de inquirições a ser definido
pela autoridade policial.
STF. 2ª Turma. Pet 7612/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 12/03/2019 (Info 933).
Fonte: Dizer o direito.
Confira a dica do professor Tiago Dantas:
https://youtu.be/neJcGsbdpOg
https://youtu.be/neJcGsbdpOg
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h) Ausência de contraditório (procedimento inquisitorial):
Diferentemente do processo, que é acusatório e exige, para a sua validade, a observância dos
princípios do contraditório e ampla defesa, no inquérito policial esses elementos são apenas acidentais,
perfeitamente dispensáveis. Nas palavras de Renato Brasileiro:
“Cuida-se, a investigação preliminar, de mero procedimento de natureza
administrativa, com caráter instrumental, e não de processo judicial ou
administrativo. Dessa fase pré-processual não resulta a aplicação de uma sanção,
destinando-se tão somente a fornecer elementos para que o titular da ação penal
possa dar início ao processo penal. Logo, ante a impossibilidade de aplicação de
uma sanção como resultado imediato das investigações criminais, como ocorre, por
exemplo, em um processo administrativo disciplinar, não se pode exigir a
observância do contraditório e da ampla defesa nesse momento inicial da
persecução penal” (LIMA, 2017, p. 120).
DICA!
Provas objetivas: NÃO existe a ampla defesa e contraditório em sede de inquérito policial.
Na realidade: PODE existir sim, entretanto, se não existir, o inquérito continua a ser válido ao contrário, do
processo que passa a ser inválido. Um exemplo disso é o artigo 5°, inciso LXIII da CRFB de 1988, que afirma
que o indiciado terá direito ao silêncio e à assistência de um advogado. Assim, isso já mostra um direito
defesa do indiciado.
i) Oficiosidade: Ao tomar conhecimento do crime, a autoridade policial age de ofício, independente de
provocação.
Contudo, há de se ter em mente que, para que a Autoridade Policial haja de ofício, depende da
natureza da ação penal do crime em análise. O Delegado só pode atuar de ofício em crimes cuja ação penal
seja pública incondicionada, porquanto, caso seja condicionada à representação ou de iniciativa privada,
deve aguardar a referida representação ou requerimento para deflagrar o procedimento administrativo.
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Art. 5o Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado:
I - De ofício;
II - Mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a
requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.
§ 5o Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder a
inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la.
Art. 5º.§ 2 Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito
caberá recurso para o chefe de Polícia.
Considerando a oficiosidade do inquérito policial, o STJ decidiu, em 2019 (Info 652) que é possível
deflagrar investigação criminal com base em matéria jornalística.
CAIU EM PROVA:
(Delegado de PCBA 2022): Em regra, a autoridade policial deve instaurar inquérito policial de ofício, sem
aguardar provocação, estando dispensada a anuência dos envolvidos e a necessidade de requerimento ou
requisição de quem quer que seja (item considerado correto).
A presidência da investigação é privativa da polícia judiciária?
A presidência de investigação criminal NÃO é privativa da polícia judiciária, pois outras autoridades podem
presidir a investigação:
● TJ ou PGJ: Inquérito para apurar crime praticado por juiz ou promotor;
● CPI: Inquérito parlamentar;
● Investigação por agentes da Administração;
● Inquérito do CADE;
● Investigação pela comissão de inquérito do BACEN: Segundo o STF, o relatório dessa comissão,
encaminhado ao MP, constitui justa causa para o oferecimento de ação penal.
● Ministério Público: Embora o tema seja polêmico, a 2ª Turma do STF já admitiu que o MP
investigue, sem que isso implique usurpação de função da polícia civil (HC 91661). Outrossim,
promotor que atue investigando na fase preliminar NÃO estará impedido de oferecer denúncia
(Súmula 234 STJ).
● Forças Armadas: nos crimes militares da competência da Justiça Militar da União, as
investigações serão realizadas pelas Forças Armadas através de um inquérito policial militar. Já
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nos crimes militares de competência da Justiça Militar Estadual será competente a Polícia Militar
ou Corpo de Bombeiros.
ATENÇÃO: A presidência da investigação pode não ser privativa da Autoridade Policial, mas a do Inquérito
Policial é, vide Lei 12.830/13!
j) Oficialidade: Somente os órgãos estatais podem presidir o inquérito policial.
k) Procedimento discricionário: discricionariedade significa liberdade de atuação dentro dos
parâmetros legais.
Existe uma liberdade de atuação da Autoridade Policial nos limites traçados pela lei. Por exemplo, ao
teor dos arts. 6 e 7º do CPP, consta um rol exemplificativo de diligências que poderão ser realizadas pelo
Delegado de Polícia. Não há um rito procedimental rígido que deve ser observado pelo Delegado, trata-se de
rol exemplificativo. Assim, a diligência será realizada ou não, a cargo da liberdade de atuaçãoda autoridade.
A discricionariedade não pode ser confundida com arbitrariedade.
Art. 14. O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão requerer
qualquer diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade.
ATENÇÃO: A discricionariedade NÃO É DE CARÁTER ABSOLUTO, de modo que existem diligências que são de
realização obrigatória. Assim, quanto a estas, o delegado não poderia negar a sua realização, como na
hipótese do exame de corpo de delito.
O Delegado de Polícia só pode indeferir requerimentos quando se tratarem de diligências
impertinentes e protelatórias, não podendo indeferir as relevantes, como, por exemplo, o exame de corpo
de delito.
Nesse sentido, o artigo 158, CPP dispõe que quando a infração deixar vestígios, o exame de corpo de
delito é imprescindível.
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo
de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
Confira a dica do professor Tiago Dantas:
https://youtu.be/MHshCzspgT0
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l) Temporário: obviamente o IP tem prazo para finalizar. Doutrina moderna defende que a garantia da
razoável duração do processo também se aplica ao inquérito policial, evitando-se com isso inquéritos
“eternos”.
Ressalvados os prazos previstos em leis especiais, em regra, temos o seguinte cenário:
∘ Indiciado preso (inclusive preso provisório) - 10 dias (art. 10);
∘ Indiciado solto - 30 dias.
Prazo para concluir o inquérito policial:
Indiciado preso Indiciado solto
Regra Geral (art. 10, CPP) 10 dias 30 dias (prorrogável)
Polícia Federal 15 dias (prorrogáveis por
mais 15)
30 dias
Crimes contra a economia
popular
10 dias 10 dias
Lei de drogas 30 dias (prorrogáveis por
mais 30)
90 dias (prorrogáveis por mais
90 dias)
Inquéritos Militares 20 dias 40 dias (prorrogáveis por mais
20).
CAIU EM PROVA:
Delegado do Estado de Minas Gerais 2021: Acerca dos prazos para encerramento de inquéritos policiais,
considerando o disposto no Título II do CPP (“Do Inquérito Policial”) e a legislação extravagante, é CORRETO
afirmar que caso um dos investigados seja preso preventivamente no curso das investigações, a Autoridade
Policial terá, como regra, o prazo de 10 dias após o cumprimento da ordem de prisão para finalizar o inquérito
(item considerado correto).
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Delegado do Estado do Espírito Santo 2022: O prazo para o delegado de polícia civil concluir o inquérito
policial é de trinta dias, se o indiciado estiver solto, configurando constrangimento ilegal a superação desse
prazo sem autorização judicial, por se tratar de prazo próprio (item considerado incorreto).
O Pacote Anticrime trouxe a possibilidade de o Juiz das Garantias prorrogar o inquérito policial na hipótese
de investigado preso – o que não era admitido pela doutrina majoritária.
Assim, o juiz das garantias poderá determinar a prorrogação do inquérito policial por até 15 dias, mediante
representação da autoridade policial, ouvido o Ministério Público, possibilitando a conclusão das
investigações.
Destaca-se, que após o escoamento do prazo de 25 dias (10 + 15 e prorrogação), se não houver conclusão
das investigações, a prisão será imediatamente relaxada.
Art. 3º, § 2º Se o investigado estiver preso, o juiz das garantias poderá, mediante representação da
autoridade policial e ouvido o Ministério Público, prorrogar, uma única vez, a duração do inquérito por até
15 (quinze) dias, após o que, se ainda assim a investigação não for concluída, a prisão será imediatamente
relaxada.
ATENÇÃO! O art. 3º está com a eficácia suspensa por prazo indeterminado!
m) Unidirecional: Ao finalizar os autos do IP devem ser direcionados ao MP, pois ele é o titular da ação
penal (art. 129, I da CF/88). Enviar os autos do IP ao juiz, conforme preconiza o CPP, segundo a
doutrina majoritária, violaria o sistema acusatório e a imparcialidade do juízo.
Art. 19. Nos crimes em que não couber ação pública, os autos do inquérito serão
remetidos ao juízo competente, onde aguardarão a iniciativa do ofendido ou de seu
representante legal, ou serão entregues ao requerente, se o pedir, mediante
traslado.
DICA!
Para uma prova discursiva, deve ser abordada a crítica e a característica da unidirecionalidade, entretanto,
se for uma prova objetiva, marque que o IP é encaminhado ao juízo (juiz de garantias).
CAIU EM PROVA:
(Delegado de PCRJ 2022): O inquérito policial é atividade investigatória realizada por órgãos oficiais, não
podendo ficar a cargo do particular, ainda que a titularidade do exercício da ação penal pelo crime
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investigado seja atribuída ao ofendido. Considerando-se as características do inquérito policial, é correto
afirmar que o texto anterior discorre sobre:
A) o procedimento escrito do inquérito policial.
B) a indisponibilidade do inquérito policial.
C) a oficiosidade do inquérito policial.
D) a oficialidade do inquérito policial.
E) a dispensabilidade do inquérito policial.
GABARITO: LETRA D.
(Delegado de PCRJ 2022): Assinale a opção correta, acerca de inquérito policial.
A) A autoridade policial que preside o inquérito policial para apurar crime de ação penal pública pode,
fundamentadamente, decidir sobre a conveniência e(ou) oportunidade de diligências requisitadas pelo
Ministério Público.
B) O inquérito policial, consoante o princípio da oficialidade, poderá ser instaurado apenas de ofício pela
autoridade policial ou mediante requisição do Ministério Público.
C) Com base em denúncia anônima de fato criminoso, a autoridade policial pode, independentemente de
apuração prévia, instaurar inquérito policial com fundamento exclusivo naquela informação anônima.
D) Não se permite ao indiciado qualquer tipo de intervenção probatória durante o inquérito policial.
E) O investigado deve ter acesso a todos os elementos já documentados nos autos do inquérito policial,
ressalvadas as diligências em andamento cuja eficácia dependa do sigilo.
GABARITO: LETRA E.
3. INÍCIO DO INQUÉRITO POLICIAL
Previsão legal: art. 5º, I do CPP.
É possível a instauração de ofício do inquérito através:
(i) Portaria;
(ii) Ato de prisão em flagrante;
(iii) Termo circunstanciado (JECRIM) → nos casos de IMPO.
a) De ofício pela autoridade policial, conforme art. 5º, I, CPP, por meio de notitia criminis, que se subdivide
em:
I. Notitia criminis de cognição imediata (ou espontânea): a autoridade policial toma conhecimento de
um fato delituoso por meio de suas atividades rotineiras;
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II. Notitia criminis de cognição mediata (ou provocada): a autoridade policial toma conhecimento de
uma infração penal através de um expediente escrito feito por terceiro;
III. Notitia criminis de cognição coercitiva: ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento do
fato delituoso por meio da apresentação do indivíduo preso em flagrante.
ATENÇÃO! Delatio criminis: É a comunicação da prática de crime à autoridade policial. Pode ser:
● Delatio criminis simples: É a comunicação, por qualquer do povo, à autoridade policial, sobre o
conhecimento da existência de infração penal (art. 5º, §3º, CPP);
● Delatio criminis postulatória: É a representação do ofendido ou seu representante legal,
manifestação pela qual a vítima ou seu representante legal autorizam o Estado a instaurar o
inquérito.
● Delação anônima/apócrifa (Notitia criminis inqualificada): O STF entendeu que não autoriza o início
do inquérito.Porém, o Poder Público, provocado por delação anônima (“disque-denúncia”), pode
adotar medidas informais destinadas a apurar, previamente, a possível ocorrência de eventual
situação de ilicitude penal. Se constatada a infração penal, pode iniciar o inquérito, não pela mera
delação apócrifa, mas pela investigação e constatação da prática de um crime.
STF: Considerando a vedação ao anonimato (art. 5º, IV da CF/88), NÃO é possível a instauração de IP
com base unicamente em denúncia anônima, dada a ausência de elementos idôneos sobre a existência de
infração penal.
A jurisprudência do STF foi além da instauração de inquérito policial com base em notícia anônima:
Não é possível decretar medida de busca e apreensão com base unicamente em
“denúncia anônima” (STF. 1ª Turma. HC 106152/MS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado
em 29/3/2016 (Info 819).
Não é possível decretar interceptação telefônica com base unicamente em
“denúncia anônima”. (STJ. 6ª Turma. HC 204.778/SP, Rel. Min. Og Fernandes,
julgado em 04/10/2012).
Diante de uma notícia anônima, o Delegado de Polícia deve instaurar uma VPI (Verificação da
Procedência da Informação - art. 5, §3º, CPP), e, procedente a informação, instaurar o devido IP.
§ 3o Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração
penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la
à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das informações, mandará
instaurar inquérito.
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Vamos entender mais sobre a VPI (verificação da procedência da informação):
Trata-se de um instrumento investigatório simplificado para verificar a verossimilhança da notitia
crimins e a viabilidade da investigação, e servir de impeditivo de instauração de inquéritos policiais
infundados.
Como sabemos o inquérito policial não pode ser arquivado pelo Delegado de Polícia (art. 17, CPP),
então com o escopo de instaurar inquéritos sem base para a justa causa, o CPP trouxe esse instituto
investigatório.
A própria jurisprudência reconhece o instituto da VPI:
“A instauração de VPI (Verificação de Procedência das Informações) não constitui
constrangimento ilegal, eis que tem por escopo investigar a origem de delatio
criminis anônima, antes de dar causa à abertura de inquérito policial.” (STJ, HC
103566 RJ). “Destacou-se, de início, entendimento da Corte no sentido de que a
denúncia anônima, por si só, não serviria para fundamentar a instauração de
inquérito policial, mas que, a partir dela, poderia a polícia realizar diligências
preliminares para apurar a veracidade das informações obtidas anonimamente e,
então, instaurar o procedimento investigatório propriamente dito. (STF, HC
95244/PE, Rel. Min. Dias Toffoli, 23.3.2010) – Precedentes: STF, RE 492480/SP; STJ,
HC 103566/RJ; STF, HC 84827/TO; STJ, HC 94546/RJ; STJ, HC 53703/RJ; STJ – HC
64096/PR; STJ, HC 44649/SP.
PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. NOTÍCIA ANÔNIMA DE CRIME. APURAÇÃO.
EM MAIS DE UMA DELEGACIA. AUSÊNCIA DE INSTRUÇÃO ADEQUADA DO HABEAS
CORPUS. VPI (VERIFICAÇÃO DE PROCEDÊNCIA DAS INFORMAÇÕES). AUSÊNCIA DE
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. PEDIDO PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESSA
EXTENSÃO, DENEGADO.
1. A instrução adequada do habeas corpus cabe ao impetrante, se ele não
providencia as peças necessárias, não há como verificar se há ou não mais de uma
Delegacia de Polícia apurando o mesmo fato, supostamente criminoso.
2. A instauração de VPI (Verificação de Procedência das Informações) não
constitui constrangimento ilegal, eis que tem por escopo investigar a origem de
delatio criminis anônima, antes de dar causa à abertura de inquérito policial.
Características da VPI:
1) Se procedente a informação deve o delegado de polícia instaurar o inquérito policial
imediatamente, desde que o crime seja de ação penal pública incondicionada;
2) A simplicidade, celeridade e a informalidade são inerentes à VPI, não devendo conter expressões
ou conteúdos do inquérito;
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3) Basta uma ordem da autoridade policial para que algum policial (agente ou investigador) faça o
levantamento de vida pregressa do “noticiado anonimamente”, local do suposto crime e ao final da diligência
prévia confecciona um relatório policial opinando sobre o fato;
4) As peças constantes da VPI devem acompanhar o inquérito policial ou outro procedimento (TC).
CAIU EM PROVA:
(Delegado do Estado do Espírito Santo 2022): Diante de notitia criminis inqualificada, antes de determinar a
abertura do inquérito policial, o delegado de polícia deve promover a diligência de verificação de procedência
das
informações, a fim de evitar delação inescrupulosa - item considerado correto.
DICA: Sobre o arquivamento direto da VPI pelo Delegado de Polícia, há certa divergência na doutrina no
sentido de que o delegado não poderia arquivar diretamente a VPI.
Nesse sentido, professor André Luiz Nicolitt (Nicolitt, André, 5ª ed. pág.190): “Ocorre que seja qual for o
nome que se dê, estaremos sempre diante de um procedimento investigatório e, por tal razão, submetido a
controle do Ministério Público, não podendo ser arquivado em sede policial”
O fundamento do professor Nicolitt encontra amparo no art. 28, CPP:
Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do
inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões
invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a
denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de
arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.
Em sentido contrário Adriano Souza Costa e Henrique Hoffmann (Temas Avançados de Polícia Judiciária, 3ª
ed, pág. 87): “A VPI pode ser arquivada diretamente pela autoridade policial a quem cabe o controle,
fiscalização, apreciação e decisão da VPI, mediante despacho fundamentado, constatada a inocorrência de
fato delituoso”.
Confira a dica do professor Tiago Dantas:
https://youtu.be/qNeFF0By_lU
https://youtu.be/qNeFF0By_lU
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b) Requisição do juiz ou MP, do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo nas ações privadas
e nas ações públicas subsidiárias: Conforme art. 5º, II, CPP.
A instauração do inquérito nos casos de requisição judicial ou ministerial tem natureza jurídica de
um ato administrativo complexo.
É plenamente constitucional o MP requerer a instauração do inquérito, conforme artigo 129, VII da
CF/88. Enquanto titular da ação penal pública e, portanto, destinatário final dos elementos de informação
colhidos em sede de IPL, pode o MP requisitar ao delegado a realização de diligências imprescindíveis à
formação de sua opinio delicti. Cuida-se (a requisição) de uma exigência para a realização de algo, com
fundamento da lei, não podendo ser confundida com uma ordem haja vista não haver relação de hierarquia
entre MP e Polícia. Se legal, o delegado de polícia tem o dever de realizá-la em apreço ao princípio da
obrigatoriedade que impõe às autoridades estatais, inclusive, um dever de agir de ofício diante da notícia de
infração penal.
Destaques:
(1) Delegado de polícia pode recusar a requisição de instauração de IPL feita pelo MP ou juiz?
R. Sim. A requisição não é vinculada ao delegado, ou seja, ele pode recusar, mas para isso será
necessário a fundamentação em eventual manifesta ilegalidade ou arbitrariedade dessa requisição.
Isso porque o delegado é agente da administração pública tendo compromisso com a legalidade. O
que o delegado não pode é negar cumprimento a uma requisiçãode instauração porque
simplesmente discorda. → (RE 205473, 1998 – STF) Ex.: requisição de instauração de IPL com base,
exclusivamente, uma denúncia anônima seria um caso em que o delegado poderia recusar, de forma
fundamentada, o cumprimento da requisição sob o argumento da ilegalidade.
(2) Requisição não é causa de prevenção – se a requisição partir do juiz, ele não se torna prevento por uma
razão de principiológica, por ofensa a garantia do juiz natural. Ademais, não existe previsão legal para a
prevenção nessas hipóteses, como se pode extrair dos artigos 75 e 83 do CPP.
(3) Qual é a autoridade coatora para eventual HC trancativo de inquérito? Se for um habeas corpus
trancativo de inquérito requisitado por juiz ou MP será encaminhado para onde?
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1ª Posição majoritária/ Tribunais Superiores - Como se trata de uma requisição (ordem), a autoridade
coatora é o requisitante de modo que o habeas corpus deverá ser endereçado para o TJ ou TRF
respectivo.
2ª Posição minoritária - Entende-se o delegado como autoridade coatora porque, embora pudesse
recusar a requisição, a ela aderiu, concretizando o delegado, portanto, a ilegalidade. Assim,
eventual habeas corpus seria encaminhado à primeira instância, estando impedido o juiz, por
ventura requisitante, de conhecê-lo por força do artigo 252, inciso IV do CPP, não sendo exagerado
afirmar que a hipótese seria, inclusive, de incompatibilidade.
(4) (IN)CONSTITUCIONALIDADE DA REQUISIÇÃO JUDICIAL:
1ª Doutrina Majoritária - Entende que a requisição judicial de instauração de inquérito não foi
recepcionada pelo artigo 129, inciso I da CF/88, pois a instauração do inquérito se trata de atividade
persecutória do Estado, devendo, portanto, o magistrado se manter afastado em apreço ao sistema
acusatório.
2ª Posição – A requisição judicial não viola a Constituição pois encerra uma valoração precária e uma
cognição sumária incapaz de comprometer a imparcialidade do juiz.
A (im) possibilidade de instauração de inquérito de ofício pela autoridade judiciária e o Inq.4.781
do STF (Inquérito das Fake News).
Ensina Renato Brasileiro que “Em um sistema acusatório como o nosso, onde há nítida separação das
funções de investigar (e acusar), defender e julgar (CPP, art. 3º-A, incluído pela Lei n. 13.964/19), não se pode
permitir que o juiz instaure ou requisite a instauração de um inquérito policial.” Logo, deparando-se com
informações acerca da prática de ilícito penal, incumbe ao magistrado tão somente encaminhá-las ao órgão
do Ministério Público, nos termos do art. 40 do CPP.
Art. 40. Quando, em autos ou papéis de que conhecerem, os juízes ou tribunais
verificarem a existência de crime de ação pública, remeterão ao Ministério Público as
cópias e os documentos necessários ao oferecimento da denúncia.
Nesse contexto, vale destacar a polêmica decisão do STF no bojo do Inq. 4.781 – chamado de
inquérito das Fake News – em que o Min. Dias Tofoli determinou de ofício a instauração de um inquérito
“para apurar a existência de notícias fraudulentas (“fake News”), denunciações caluniosas, ameaças e
infrações revestidas de animus caluniandi, difamandi e injuriandi, que estariam supostamente atingindo a
honorabilidade e a segurança daquela Corte, de seus membros e familiares” (Portaria GP n. 69, de
14/03/2019 – Inq. 4.781), designando, para a condução do feito, o eminente Ministro Alexandre de Moraes.
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É constitucional a Portaria GP 69/2019, por meio da qual o Presidente do STF
determinou a instauração do Inquérito 4781, com o intuito de apurar a existência
de notícias fraudulentas (fake news), denunciações caluniosas, ameaças e atos
que podem configurar crimes contra a honra e atingir a honorabilidade e a
segurança do STF, de seus membros e familiares.
Também é constitucional o art. 43 do Regimento Interno do STF, que foi
recepcionado pela CF/88 como lei ordinária.
O STF, contudo, afirmou que o referido inquérito, para ser constitucional, deve
cumprir as seguintes condicionantes:
a) o procedimento deve ser acompanhado pelo Ministério Público;
b) deve ser integralmente observado o Enunciado 14 da Súmula Vinculante.
c) o objeto do inquérito deve se limitar a investigar manifestações que acarretem
risco efetivo à independência do Poder Judiciário (art. 2º da CF/88). Isso pode
ocorrer por meio de ameaças aos membros do STF e a seus familiares ou por atos
que atentem contra os Poderes instituídos, contra o Estado de Direito e contra a
democracia; e, por fim,
d) a investigação deve respeitar a proteção da liberdade de expressão e de
imprensa, excluindo do escopo do inquérito matérias jornalísticas e postagens,
compartilhamentos ou outras manifestações (inclusive pessoais) na internet, feitas
anonimamente ou não, desde que não integrem esquemas de financiamento e
divulgação em massa nas redes sociais.
O art. 43 do RISTF prevê o seguinte: “Art. 43. Ocorrendo infração à lei penal na sede
ou dependência do Tribunal, o Presidente instaurará inquérito, se envolver
autoridade ou pessoa sujeita à sua jurisdição, ou delegará esta atribuição a outro
Ministro.” Muito embora o dispositivo exija que os fatos apurados ocorram na
“sede ou dependência” do próprio STF, o caráter difuso dos crimes cometidos por
meio da internet permite estender (ampliar) o conceito de “sede”, uma vez que o
STF exerce jurisdição em todo o território nacional. Logo, os crimes objeto do
inquérito, contra a honra e, portanto, formais, cometidos em ambiente virtual,
podem ser considerados como cometidos na sede ou dependência do STF. STF.
Plenário. ADPF 572 MC/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 17 e 18/6/2020 (Info
982).
c) Requisição do juiz ou MP, do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo nas ações privadas
e nas ações públicas subsidiárias: Conforme art. 5º, II, 2ª parte do CPP:
Se crime de ação privada, o inquérito só pode ser iniciado se houver requerimento.
Recurso do despacho que indefere requerimento: recurso para o Chefe de Polícia (art. 5º, § 2º, CPP).
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d) Representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo nas ações penais públicas
condicionadas: Nos crimes de ação pública condicionada o IP só pode ser iniciado se houver representação.
CAIU EM PROVA:
(Delegado de PCMG 2021): Considerando as hipóteses de requerimento do ofendido para a abertura de
inquérito policial em crimes de ação pública, é CORRETO afirmar que o inquérito, nos crimes em que a ação
pública depender de representação, poderá sem ela ser iniciado (item considerado incorreto).
Inquérito policial e crimes contra a ordem tributária
INFORMATIVO 601 STF: Enquanto não encerrada, na instância fiscal, o respectivo
processo administrativo, não se mostraria possível a instauração da persecução
penal nos delitos contra a ordem tributária, tipificados no art. 1º, da Lei nº
8.137/90. A razão é que o procedimento fiscal constitui o crédito tributário. Logo,
enquanto não concluído, há atipicidade penal.
Obs.: Se, além do crime contra a ordem tributária, houver delitos, subjacentes na investigação, nada obsta a
instauração do inquérito policial, ainda que seja crime contra a ordem tributária:
MINISTÉRIO PÚBLICO E DE NÃO-CONSTITUIÇÃO DEFINITIVA DO CRÉDITO
TRIBUTÁRIO. FALTA DE JUSTA CAUSA NÃO CARACTERIZADA. ORDEM DENEGADA.
1. (…) 2. ILEGALIDADE DA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL ANTE A FALTA DE
CONSTITUIÇÃO DEFINITIVA DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. NÃO OCORRÊNCIA NA
ESPÉCIE. De fato, a partir do precedente firmado no HC 81.611/DF, formou-se,
nesta Corte, jurisprudência remansosa no sentido de que o crime de sonegação
fiscal(art. 1º, incisos I a IV, da Lei 8.137/1990) somente se consuma com o
lançamento definitivo. No entanto, o presente caso não versa, propriamente,
sobre sonegação de tributos, mas, sim, de crimes supostamente praticados por
servidores públicos em detrimento da administração tributária. Anoto que o
procedimento investigatório foi instaurado pelo Parquet com o escopo de apurar
o envolvimento de servidores públicos da Receita estadual na prática de atos
criminosos, ora solicitando ou recebendo vantagem indevida para deixar de
lançar tributo, ora alterando ou falsificando nota fiscal, de modo a simular crédito
tributário. Daí, plenamente razoável concluir pela razoabilidade da instauração
da persecução penal. Insta lembrar que um dos argumentos que motivaram a
mudança de orientação na jurisprudência desta Corte foi a possibilidade de o
contribuinte extinguir a punibilidade pelo pagamento, situação esta que sequer se
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aproxima da hipótese dos autos. 3. ORDEM DENEGADA.” (HC 84.965, Rel. Min.
Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJe de 11/04/2012).
“AGRAVO INTERNO. RECLAMAÇÃO. ALEGADA OFENSA À SÚMULA VINCULANTE 24.
INEXISTÊNCIA NO CASO CONCRETO. 1. A instauração de inquérito policial para
apurar outros crimes, além do previsto no art. 1º da Lei 8.137/1990, não ofende
o estabelecido no que enunciado pela Súmula Vinculante 24. 2. Reclamação, cuja
finalidade tem previsão constitucional taxativa, não admite o aprofundamento
sobre matérias fáticas. 3. A concessão de habeas corpus ex officio pelo STF somente
é cabível nas hipóteses em que ele poderia concedê-lo a pedido (art. 102, I, ‘i’, da
Constituição Federal), sob pena de supressão de instância. 4. Agravo interno a que
se nega provimento.” (Rcl 24.768-AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, Primeira
Turma, DJe de 01/09/2017)
4. Providências a serem tomadas pela autoridade policial (arts. 6º e 7º)
É rol NÃO taxativo:
Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade
policial deverá:
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e
conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais;
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos
peritos criminais;
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas
circunstâncias;
IV - ouvir o ofendido;
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo
III do Título Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas
testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura;
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a
quaisquer outras perícias;
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível,
e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes;
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar
e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do
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crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a
apreciação do seu temperamento e caráter.
X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem
alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados
dos filhos, indicado pela pessoa presa.
Art. 7o Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de
determinado modo, a autoridade policial poderá proceder à reprodução simulada
dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem pública.
Entendimentos jurisprudenciais importantes:
(1) A condução coercitiva para fins de identificação datiloscópica em face de recusa imotivada do
indiciado NÃO constitui constrangimento ilegal.
(2) Súmula 522 STJ: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica,
ainda que em situação de alegada autodefesa.
(3) STF: não é possível a condução coercitiva por parte do investigado PARA INTERROGATÓRIO.
Contudo, a Suprema Corte nada disse sobre testemunhas.
O CPP, ao tratar sobre a condução coercitiva, prevê o seguinte:
Art. 260. Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório,
reconhecimento ou qualquer outro ato que, sem ele, não possa ser realizado, a
autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua presença.
O STF declarou que a expressão “para o interrogatório” prevista no art. 260 do CPP não foi
recepcionada pela Constituição Federal.
Assim, não se pode fazer a condução coercitiva do investigado ou réu com o objetivo de submetê-lo
ao interrogatório sobre os fatos.
STF. Plenário. ADPF 395/DF e ADPF 444/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em
13 e 14/6/2018 (Info 906).
Obs.1: Importante esclarecer que o julgado acima tratou apenas da condução coercitiva de investigados e
réus à presença da autoridade policial ou judicial para serem interrogados.
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Assim, não foi analisada a condução de outras pessoas como testemunhas, ou mesmo de
investigados ou réus para atos diversos do interrogatório, como o reconhecimento de pessoas ou coisas. Isso
significa que, a princípio, essas outras espécies de condução coercitiva continuam sendo permitidas.
Obs.2: Insta salientar que a nova Lei de Abuso de Autoridade (Lei 13.869/19), em seu art. 10, restou tipificado
o crime de abuso a autoridade que conduzir coercitivamente, tanto o investigado quanto a testemunha:
Art. 10. Decretar a condução coercitiva de testemunha ou investigado
manifestamente descabida ou sem prévia intimação de comparecimento ao juízo:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Pedido de novas diligências: Segundo art. 16, deve ser feito diretamente entre MP e delegado, salvo
nas hipóteses de necessidade de autorização judicial se precisar de autorização, a exemplo da interceptação
telefônica.
Art. 16. O Ministério Público não poderá requerer a devolução do inquérito à
autoridade policial, senão para novas diligências, imprescindíveis ao oferecimento
da denúncia.
CAIU EM PROVA:
(Delegado de PCMG 2021): Sobre o inquérito policial, é CORRETO afirmar:
A) Não caberá qualquer recurso em face do despacho da autoridade policial que indeferir a abertura de
inquérito policial.
B) O acesso do advogado independe de procuração do investigado, mesmo que os autos do inquérito policial
estejam conclusos à autoridade policial.
C) O inquérito policial pode ser instaurado de ofício pela autoridade policial ou por requisição do Ministério
Público, em casos de crime de ação penal pública condicionada à representação, desde que haja repercussão
social do fato.
D) O representante do Ministério Público, com atuação na área de investigação criminal, pode avocar a
presidência do inquérito policial, em sede de controle difuso da atividade policial.
GABARITO: LETRA B.
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META 2
DIREITO PROCESSUAL PENAL: INQUÉRITO POLICIAL (PARTE II)
4. INDICIAMENTO
a) Conceito:
De acordo com o professor Francisco Sannini “é o ato formal, de atribuição exclusiva da autoridade
de Polícia Judiciária, que ao longo da investigação forma o seu livre convencimento no sentido de que há
indícios suficientes de que um suspeito tenha praticado determinado crime”.
● O Indiciamento deve ser, necessariamente, fundamentado em despacho;
● Deve ser apontado pelo delegado a autoria, materialidade e circunstâncias fáticas do fato criminoso.
b) Fundamento legal:
Por muito tempo não haviaregramento acerca do ato de indiciamento no IP. Contudo, com o advento
da Lei 12.830/2013, trouxe a pormenorização da imputação formal do investigado. Essa lei é de leitura
obrigatória para o concurso.
O art. 2º, §6º, trouxe expressamente os pressupostos para indiciar alguém.
Art. 2º As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exercidas
pelo delegado de polícia são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado.
(...)
§ 6º O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato
fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a
autoria, materialidade e suas circunstâncias.
c) Sujeito ativo e passivo
c.1. Sujeito Ativo:
É ato privativo do delegado de polícia, como é o presidente do inquérito policial, obviamente é ele a
autoridade com atribuição para o indiciamento.
É por meio do indiciamento que a autoridade policial aponta determinada pessoa como a autora do
ilícito em apuração. Por se tratar de medida ínsita à fase investigatória, por meio da qual o delegado de
polícia externa o seu convencimento sobre a autoria dos fatos apurados, não se admite que seja requerida
ou determinada pelo magistrado, já que tal procedimento obrigaria o presidente do inquérito à conclusão
de que determinado indivíduo seria o responsável pela prática criminosa, em nítida violação ao sistema
acusatório adotado pelo ordenamento jurídico pátrio.
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O magistrado não pode requisitar o indiciamento em investigação criminal. Isso porque o
indiciamento constitui atribuição exclusiva da autoridade policial.
Nesse sentido o STF/STJ:
Indiciamento é atribuição exclusiva da autoridade policial. STJ. 5ª Turma. RHC
47.984SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 4/11/2014 (Info 552). STF. 2ª Turma.
HC 115015/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 27/8/2013 (Info 717).
No caso julgado pelo STF, o juiz determinou à autoridade policial que fizesse o indiciamento formal
de algumas pessoas. A 2ª Turma do STF concedeu habeas corpus para anular esse indiciamento, deixando
claro que não cabe ao juiz tomar essa providência.
Nesse mesmo sentido é a inteligência do art. 2º, § 6º, da Lei 12.830/2013, que afirma que o
indiciamento é ato inserto na esfera de atribuições da polícia judiciária. STJ. 5ª Turma. RHC 47.984-SP, Rel.
Min. Jorge Mussi, julgado em 4/11/2014 (Info 552)
Na doutrina, Prof. Guilherme Nucci: “(...) não cabe ao promotor ou ao juiz exigir, através de
requisição, que alguém seja indiciado pela autoridade policial, porque seria o mesmo que demandar à força
que o presidente do inquérito conclua ser aquele o autor do delito. Ora, querendo, pode o promotor
denunciar qualquer suspeito envolvido na investigação criminal (...)” (NUCCI, Guilherme de Souza. Manual
de Processo Penal e execução penal. São Paulo: RT, 2006, p. 139).
CAIU EM PROVA:
(Delegado de PCMS 2021): Segundo entendimento jurisprudencial dominante, o magistrado pode requisitar
ao Delegado de Polícia o indiciamento de investigados, inexistindo, para tanto, violação ao sistema acusatório
(item considerado incorreto).
c.2. Sujeito passivo:
Via de regra, qualquer pessoa pode ser indiciada. Entretanto, algumas autoridades estão afastadas
por lei de tal ato, como por exemplo membros do MP e membros da magistratura.
O art. 41, II da Lei 8625/93, diz que se houver indícios de crime praticados por membros do MP, os
autos do IP policial devem ser encaminhados ao Procurador Geral de Justiça a quem competir dar andamento
às investigações. No mesmo sentido é a Lei Orgânica da magistratura, em seu art. 33, parágrafo único da LC
nº 35/79, onde aos autos deverão ser remetidos ao TJ competente.
Contudo, a lei menciona expressamente que essas autoridades não poderão ser indiciadas no curso
da investigação, nada falando acerca do indiciamento em Auto de Prisão em Flagrante.
Lei complementar 35/79:
Art. 33 - São prerrogativas do magistrado:
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II - não ser preso senão por ordem escrita do Tribunal ou do órgão especial
competente para o julgamento, salvo em flagrante de crime inafiançável, caso em
que a autoridade fará imediata comunicação e apresentação do magistrado ao
Presidente do Tribunal a que esteja vinculado (vetado);
Parágrafo único - Quando, no curso de investigação, houver indício da prática de
crime por parte do magistrado, a autoridade policial, civil ou militar, remeterá os
respectivos autos ao Tribunal ou órgão especial competente para o julgamento, a
fim de que prossiga na investigação.
Lei nº 8.625/93:
Art. 41. Constituem prerrogativas dos membros do Ministério Público, no exercício
de sua função, além de outras previstas na Lei Orgânica:
II - não ser indiciado em inquérito policial, observado o disposto no parágrafo
único deste artigo;
Parágrafo único. Quando no curso de investigação, houver indício da prática de
infração penal por parte de membro do Ministério Público, a autoridade policial,
civil ou militar remeterá, imediatamente, sob pena de responsabilidade, os
respectivos autos ao Procurador-Geral de Justiça, a quem competirá dar
prosseguimento à apuração.
Segue um artigo de autoria do Delegado de Polícia/PR e colaborador do Dedicação Delta, Tiago
Dantas, sobre indiciamento de promotor e juiz.
https://jus.com.br/artigos/44741/o-indiciamento-de-juiz-e-de-promotor-realizado-pelo-delegado-de-
policiahttps://jus.com.br/artigos/44741/o-indiciamento-de-juiz-e-de-promotor-realizado-pelo-delegado-
de-policia
d) Consequências do indiciamento
1. A primeira consequência é de ordem prática, visto que o nome do indiciado irá constar do banco de
dados da polícia na condição de indiciado. Significa que caso ele seja abordado e realizada alguma
consulta, o policial verificará que ele foi o alvo central de determinada investigação.
2. A segunda consequência é no aspecto jurídico, pois as medidas cautelares pessoais dependem da
prova da materialidade do crime e indícios mínimos de autoria, ou seja, dos mesmos elementos do
indiciamento, e naturalmente, pode ser objeto de cautelares aflitivas no curso do inquérito policial.
Indica ainda que provavelmente o indiciado será submetido à fase da persecução penal.
3. E, por fim, sob o prisma social o ato de indiciamento coloca uma marca na pessoa do indiciado, que
o desqualifica perante a sociedade, refletindo na vida profissional, familiar e social.
https://jus.com.br/artigos/44741/o-indiciamento-de-juiz-e-de-promotor-realizado-pelo-delegado-de-policia
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Atenção! Foi objeto de pergunta no concurso de DPC/ES em 2022:
“Conceitue indiciamento e discorra sobre suas características e seus efeitos negativos à luz da
jurisprudência do STF.”
A banca CEBRASPE trouxe como padrão de resposta a respeito dos “efeitos negativos à luz da
jurisprudência do STF” o seguinte:
“O indiciamento traz reflexos importantes na esfera jurídica de seu sujeito passivo.
Além de haver grande prejuízo ao indiciado em sua dimensão moral, pois passa a
figurar como pessoa formalmente investigada no âmbito criminal, o ato gera
registros no instituto de identificação, conforme expressamente previsto no art. 23
do CPP: “Ao fazer a remessa dos autos do inquérito ao juiz competente, a
autoridade policial oficiará ao Instituto de Identificação e Estatística, ou repartição
congênere, mencionando o juízo a que tiverem sido distribuídos, e os dados
relativos à infração penal e à pessoa do indiciado.”Além disso, há previsão expressa
na Lei n.º 9.613/1998 do afastamento do servidor público indiciado por suposta
prática do crime de lavagem de capitais: “Art. 17-D: Em caso de indiciamento de
servidor público, este será afastado, sem prejuízo de remuneração e demais
direitos previstos em lei, até que o juiz competente autorize, em decisão
fundamentada, o seu retorno”. Todavia esse dispositivo foi declarado
inconstitucional pelo STF na ADI 4911: “5. Sendo o indiciamento ato dispensável
para o ajuizamento de ação penal, a norma que determina o afastamento
automático de servidores públicos, por força da opinio delicti da autoridade
policial, quebra a isonomia entre acusados indiciados e não indiciados, ainda que
denunciados nas mesmas circunstâncias. Ressalte-se, ainda, a possibilidade de
promoção de arquivamento do inquérito policial mesmo nas hipóteses de
indiciamento do investigado. 6. Ação Direta julgada procedente”. (ADI 4911,
Relator(a): EDSON FACHIN, Relator(a) p/ Acórdão: ALEXANDRE DE MORAES,
Tribunal Pleno, julgado em 23/11/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-285 DIVULG
02-12-2020 PUBLIC 03-12-2020) Por fim, destaque-se que a Lei n.º 10.826/2003
estabelece que “Art. 4.º Para adquirir arma de fogo de uso permitido o interessado
deverá, além de declarar a efetiva necessidade, atender aos seguintes requisitos: I
– comprovação de idoneidade, com a apresentação de certidões negativas de
antecedentes criminais fornecidas pela Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral
e de não estar respondendo a inquérito policial ou a processo criminal, que poderão
ser fornecidas por meios eletrônicos”, de forma que eventualmente um indiciado
poderá ter a autorização negada em razão dos registros de inquérito contra si.”
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Obs.1: Caso o indiciado não seja condenado ou o IP seja arquivado, o ato de indiciamento deve ser cancelado,
com o escopo de assegurar a presunção de inocência e o princípio da dignidade da pessoa humana.
Obs.2: Na hipótese de surgirem novos elementos informativos que indiquem que outra pessoa foi a autora
do crime investigado, pode o delegado de polícia promover o desindiciamento?
Trata-se do ato de cassação ou revogação de anterior indiciamento. R.: Em que pese haver
divergência doutrinária, para as provas de delegado de polícia prevalece que sim. Os delegados de polícia
são agentes da Administração Pública e possuem o poder de autotutela, estampado na súmula 473 do STF,
de modo que podem rever seus atos quando eivados de vício.
Nesse sentido, o desindiciamento pode ser feito, não apenas pelo Delegado, mas também pelo Poder
Judiciário, uma vez verificada a ilegalidade daquele indiciamento.
Em outras palavras: O indiciamento é privativo do Delegado, mas o desindiciamento pode ser feito
pelo próprio Delegado, mas também poderá ser feito pelo Poder Judiciário se reconhecido constrangimento
ilegal no julgamento de um Habeas corpus.
e) Momento do indiciamento:
Via de regra, o momento adequado para o ato de indiciamento ocorre quando a autoridade policial
reúne os elementos de convicção, que indicam a autoria e materialidade do crime investigado.
Não há, na lei, um momento específico para indiciar. Assim, o indiciamento pode ser feito no início
do inquérito policial – nas hipóteses de flagrante delito, em que o indiciamento é automático, durante as
investigações ou, ainda, ao final, dentro do relatório expedido pelo delegado de polícia.
Destaca Renato Brasileiro que:
“Dada a importância do indiciamento como condição para o exercício do direito de
defesa na fase investigatória e a possibilidade do advento de prejuízos à pessoa do
indiciado, afigura-se indispensável a presença de elementos informativos acerca da
materialidade e da autoria do delito. Destarte, o indiciamento só pode ocorrer a
partir do momento em que reunidos elementos suficientes que apontem para a
autoria da infração penal, quando, então, o delegado de polícia deve cientificar o
investigado, atribuindo-lhe, fundamentadamente, a condição jurídica de
“indiciado”, respeitadas todas as garantias constitucionais e legais. Não se trata,
pois, de ato arbitrário nem discricionário, já que, presentes elementos informativos
apontando na direção do investigado, não resta à autoridade policial outra opção
senão seu indiciamento.” (in Manual de Processo Penal, edição 2020, página 224)
Parte da doutrina (professor Leonardo Marcondes) entende que o ato de indiciamento não deveria
ser ao final, devendo ocorrer no instante imediatamente anterior ao interrogatório.
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Já outra corrente, defendida por Aury Lopes Jr, afirma que o ato de indiciamento deve ocorrer logo
após o ato de interrogatório. Isso porque o ato de indiciamento tem um efeito negativo e não pode ser um
ato de surpresa de tal condição, que, caso feito ao final do inquérito policial, nada poderia fazer o indiciado
acerca do apontamento formal.
Independentemente do momento de indiciamento, o certo é que ele NÃO pode ser realizado após o
oferecimento da denúncia, sob pena de configurar abuso de autoridade e constrangimento ilegal.
CAIU EM PROVA:
(Delegado do Estado do Espírito Santo 2022): Havendo repercussão interestadual que exija repressão
uniforme, o delegado da Polícia Federal poderá apurar crimes cuja apuração seja de competência da justiça
estadual, não havendo mácula apta a invalidar a produção de prova - item considerado correto.
f) Indiciamento em crime de menor potencial ofensivo:
Como o indiciamento acarreta diversos efeitos deletérios ao suspeito, a sua consonância deve
guardar conexão com o ordenamento jurídico.
Como os crimes de IMPO devem observância aos institutos despenalizadores, não é adequado o ato
do indiciamento nesses crimes, haja vista que nem pode haver processo por força da transação penal, quiçá
indiciamento. Nesses crimes, a prática é o ato de um simples apontamento, como nos casos de adolescentes
em prática de ato infracional.
g) Espécies de indiciamento
1) Indiciamento material: é um ato decisório do delegado de polícia, onde ele expõe um substrato fáticos e
jurídicos que justificam a imputação do crime ao investigado. Ou seja, nada mais é do que a fundamentação
do ato do indiciamento. É a análise técnica-jurídica.
2) Indiciamento formal: é constituído por peças essenciais para formar a convicção da autoridade para o
indiciamento material. Peças como: 1) boletim de vida pregressa; b) auto de qualificação e interrogatório.
3) Indiciamento coercitivo: é aquele decorrente do APF, uma vez que os pressupostos do indiciamento são
quase os mesmos da lavratura do auto de prisão em flagrante. Quem é preso em flagrante, inevitavelmente
está indiciado. Pois, diante do flagrante, temos a prova da materialidade do crime, indícios de autoria e
circunstâncias fáticas. Nesse momento não realizamos um juízo de certeza e sim de mera probabilidade.
DICA: delegado de polícia trabalha com indícios e não com provas, pois quem trabalha com prova é juiz e
MP.
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4) Indiciamento indireto: é aquele realizado quando o investigado não é encontrado, estando em local
incerto e não sabido.
5) Indiciamento direto: é aquele realizado quando o investigado é encontrado e está presente.
6) Indiciamento complexo: trata-se de procedimento adotado em situações em que o investigado dispõe
por foro por prerrogativa de função.
Logo, se a decisão sobre o ato de indiciamento não pode ser tomada de forma direta pelo delegado
de polícia, dependendo de manifestação do judiciário, obviamente estamos diante de um ato complexo, em
analogia com a classificação em relação aos atos administrativos.Efeito prodrômico do indiciamento
Ainda com base nos ensinamentos dos administrativistas, o efeito preliminar do ato administrativo (efeito
indireto) é que a representação pelo indiciamento de alguém com foro por prerrogativa de função faz surgir
o dever da autoridade judicial se manifestar para que o ato se aperfeiçoe.
A representação constitui uma exposição dos fatos, seguida de uma sugestão jurídica fundamentada.
Indiciamento envolvendo autoridades com foro por prerrogativa de função:
Em regra, a autoridade com foro por prerrogativa de função pode ser indiciada.
Existem duas exceções previstas em lei de autoridades que não podem ser
indiciadas:
a) Magistrados (art. 33, parágrafo único, da LC 35/79);
b) Membros do Ministério Público (art. 18, parágrafo único, da LC 75/93 e art. 41,
parágrafo único, da Lei nº 8.625/93).
Excetuadas as hipóteses legais, é plenamente possível o indiciamento de
autoridades com foro por prerrogativa de função (não há dispositivo legal que vede
expressamente o indiciamento). No entanto, para isso, é indispensável que a
autoridade policial obtenha uma autorização do Tribunal competente para julgar
esta autoridade. Ex: em um inquérito criminal que tramita no STJ para apurar crime
praticado por Governador de Estado, o Delegado de Polícia constata que já existem
elementos suficientes para realizar o indiciamento do investigado. Diante disso, a
autoridade policial deverá requerer ao Ministro Relator do inquérito no STJ
autorização para realizar o indiciamento do referido Governador.
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/2d579dc29360d8bbfbb4aa541de5afa9?categoria=12&subcategoria=125
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Chamo atenção para o fato de que não é o Ministro Relator quem irá fazer o
indiciamento. Este ato é privativo da autoridade policial. O Ministro Relator irá
apenas autorizar que o Delegado realize o indiciamento. STF. Decisão monocrática.
HC 133835 MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 18/04/2016 (Info 825).
Portanto, a partir do momento em que determinado titular de foro por prerrogativa
de função passe a figurar como suspeito em procedimento investigatório, impõe-
se a autorização do Tribunal (por meio do Relator) para o prosseguimento das
investigações. Assim, caso a autoridade policial que preside determinada
investigação pretenda intimar autoridade que possui foro por prerrogativa de
função, em razão de outro depoente ter afirmado que o mesmo teria cometido fato
criminoso, deve o feito ser encaminhado previamente ao respectivo Tribunal, por
estar caracterizado procedimento de natureza investigatória contra titular de foro
por prerrogativa de função ( STF, Pleno, Inq.2.842/DF, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, DJe 41 26/02/2014) Agora, se houver simples menção ao nome de
um parlamentar federal, em depoimentos prestados por investigados, sem maiores
elementos acerca de seu envolvimento no fato delituoso, não há falar em
necessidade de remessa dos autos ao Supremo Tribunal Federal para o
processamento do inquérito (STF, 2ª Turma, HC 82.647/PR, Rel. Min. Carlos Velloso,
DJ 25/04/2003)
Existe decisão monocrática mais recente em sentido contrário: De acordo com o
Plenário do STF, é nulo o indiciamento de detentor de prerrogativa de foro,
realizado por Delegado de Polícia, sem que a investigação tenha sido previamente
autorizada por Ministro-Relator do STF (Pet 3.825-QO, Red. p/o Acórdão Min.
Gilmar Mendes). Diversa é a hipótese em que o inquérito foi instaurado com
autorização e tramitou, desde o início, sob supervisão de Ministro do STF, tendo o
indiciamento ocorrido somente no relatório final do inquérito. Nesses casos, o
indiciamento é legítimo e independe de autorização judicial prévia. Em primeiro
lugar, porque não existe risco algum à preservação da competência do STF
relacionada às autoridades com prerrogativa de foro, já que o inquérito foi
autorizado e supervisionado pelo Relator. Em segundo lugar, porque o
indiciamento é ato privativo da autoridade policial (Lei nº 12.830/2013, art. 2º, §
6º) e inerente à sua atuação, sendo vedada a interferência do Poder Judiciário
sobre essa atribuição, sob pena de subversão do modelo constitucional acusatório,
baseado na separação entre as funções de investigar, acusar e julgar. Em terceiro
lugar, porque conferir o privilégio de não poder ser indiciado apenas a
determinadas autoridades, sem razoável fundamento constitucional ou legal,
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configuraria uma violação aos princípios da igualdade e da república. Em suma: a
autoridade policial tem o dever de, ao final da investigação, apresentar sua
conclusão. E, quando for o caso, indicar a autoria, materialidade e circunstâncias
dos fatos que apurou, procedendo ao indiciamento. STF. Decisão monocrática. Inq
4621, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 23/10/2018.
Fonte: Dizer o Direito
Aproveitando o tema acerca do foro por prerrogativa de função, vamos ver como
ficam os reflexos da nova decisão do STF na investigação criminal…
RESTRIÇÃO DO FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO E REFLEXO NA
INVESTIGAÇÃO E INDICIAMENTO DE AUTORIDADES COM FORO
As normas da Constituição de 1988 que estabelecem as hipóteses de foro por
prerrogativa de função devem ser interpretadas restritivamente, aplicando-se
apenas aos crimes que tenham sido praticados durante o exercício do cargo e em
razão dele. Assim, por exemplo, se o crime foi praticado antes de o indivíduo ser
diplomado como Deputado Federal, não se justifica a competência do STF, devendo
ele ser julgado pela 1ª instância mesmo ocupando o cargo de parlamentar federal.
Além disso, mesmo que o crime tenha sido cometido após a investidura no
mandato, se o delito não apresentar relação direta com as funções exercidas,
também não haverá foro privilegiado.
Foi fixada, portanto, a seguinte tese:
(1) O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos
durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas.
STF. Plenário. AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018.
(2) Após o final da instrução processual, com a publicação do despacho de
intimação para apresentação de alegações finais, a competência para processar e
julgar ações penais não será mais afetada em razão de o agente público vir a
ocupar outro cargo ou deixar o cargo que ocupava, qualquer que seja o motivo.
STF. Plenário. AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018.
STF adotou uma interpretação restritiva do foro de prerrogativa de função previsto na CF para os
parlamentares federais. O foro foi idealizado como instrumento destinado a garantir o livre exercício de
certas funções públicas e não para acobertar pessoas ocupantes do cargo. Estendê-lo aos crimes cometidos
antes da diplomação ou sem contexto funcional desnatura o instituto, transformando-o em instrumento
de privilégio pessoal, ferindo o princípio da igualdade. normas que estabelecem restrições ao princípio da
igualdade devem ser interpretadas restritivamente.
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O STF fez uma redução teleológica – uma interpretação teleológica restritiva do art. 102, I, b e c da
CF c/c art. 53, §1º.
Redução teleológica ou técnica da “dissociação” consiste em reduzir o campo de aplicação de uma
disposição normativa a somente a uma ou a algumas das situações de fato que a interpretação literal prevê
para adequá-la à finalidade da norma.
Antes, diante da interpretação literal do foro, o STF entendia que toda a investigação de autoridade
com foro no STF deveria ser supervisionada pelo Ministro-relator, exigindo desde a autorização prévia para
a instaurar e autorizaçãopara promover o indiciamento.
Agora, diante da redução teleológica, só subsistirá a supervisão judicial do Ministro se o crime for
depois da diplomação e com nexo funcional. Tratando-se de infração penal praticada antes da diplomação,
ou durante o mandato, mas despida de nexo funcional, o STF não intervirá em nada, sendo a condução das
investigações livre pela Polícia Civil ou Federal, sem necessidade de autorização para instauração, autorização
para indiciar, etc.
Investigações criminais envolvendo Deputados Federais e Senadores DEPOIS da AP 937 QO
Situação Atribuição para investigar
Se o crime foi praticado antes da diplomação ● Polícia (Civil ou Federal) ou MP.
● Não há necessidade de autorização do
STF
● Medidas cautelares são deferidas pelo
juízo de 1ª instância (ex: quebra de sigilo)
Se o crime foi praticado depois da diplomação
(durante o exercício do cargo), mas o delito não
tem relação com as funções desempenhadas.
Ex: homicídio culposo no trânsito.
Se o crime foi praticado depois da diplomação
(durante o exercício do cargo) e o delito está
relacionado com as funções desempenhadas.
Ex: corrupção passiva.
● Polícia Federal e Procuradoria Geral da
República, com supervisão judicial do
STF.
● Há necessidade de autorização do STF
para o início das investigações.
Fonte: Dizer o Direito
Veja as dicas do nosso professor Tiago Dantas:
https://youtu.be/2cj1Pcuu7ew
https://youtu.be/2cj1Pcuu7ew
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4.1 Constituição de Defensor quando o investigado for integrante da segurança pública ou militar – Art.
14-A do CPP.
💣 Alteração promovida pelo Pacote Anticrime!
“Art. 14-A. Nos casos em que servidores vinculados às instituições dispostas no art.
144 da Constituição Federal figurarem como investigados em inquéritos policiais,
inquéritos policiais militares e demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for
a investigação de fatos relacionados ao uso da força letal praticados no exercício
profissional, de forma consumada ou tentada, incluindo as situações dispostas no
art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), o
indiciado poderá constituir defensor.
§ 1º Para os casos previstos no caput deste artigo, o investigado deverá ser citado
da instauração do procedimento investigatório, podendo constituir defensor no
prazo de até 48 (quarenta e oito) horas a contar do recebimento da citação.
§ 2º Esgotado o prazo disposto no § 1º deste artigo com ausência de nomeação de
defensor pelo investigado, a autoridade responsável pela investigação deverá
intimar a instituição a que estava vinculado o investigado à época da ocorrência dos
fatos, para que essa, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, indique defensor para
a representação do investigado.
§3º Havendo necessidade de indicação de defensor nos termos do §2º deste artigo,
a defesa caberá preferencialmente à Defensoria Pública, e, nos locais em que ela
não estiver instalada, a União ou a Unidade da Federação correspondente à
respectiva competência territorial do procedimento instaurado deverá
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disponibilizar profissional para acompanhamento e realização de todos os atos
relacionados à defesa administrativa do investigado.
§4º A indicação do profissional a que se refere o §3º deste artigo deverá ser
precedida de manifestação de que não existe defensor público lotado na área
territorial onde tramita o inquérito e com atribuição para nele atuar, hipótese em
que poderá ser indicado profissional que não integre os quadros próprios da
Administração.
§5º Na hipótese de não atuação da Defensoria Pública, os custos com o patrocínio
dos interesses dos investigados nos procedimentos de que trata este artigo
correrão por conta do orçamento próprio da instituição a que esteja vinculado à
época da ocorrência dos fatos investigado.
§ 6º As disposições constantes deste artigo se aplicam aos servidores militares
vinculados às instituições dispostas no art. 142 da Constituição Federal, desde que
os fatos investigados digam respeito a missões para a Garantia da Lei e da Ordem.”.
A lei 13.964/19 incorporou no Código de Processo Penal uma sistemática que já era prevista no
âmbito da União, que era a possibilidade da AGU realizar a defesa judicial de agentes públicos (MP872,
transformada na lei ordinária 13.841/19).
Com a nova sistemática, a Autoridade Policial ao identificar que o suspeito é agente de segurança
pública ou militar e os fatos relacionados ao uso da força letal praticados no exercício profissional, deverá
citar o investigado (leia-se: intimar), para que o investigado constitua defensor em até 48h.
Esgotado o prazo e não nomeado o defensor pelo investigado, a Autoridade Policial deverá intimar
a instituição a que estava vinculado o investigado à época da ocorrência dos fatos, para que essa, no prazo
de 48h, indique defensor para a representação do investigado.
Inicialmente, foram vetados os §§3º a 5º, no entanto o Congresso Nacional procedeu à derrubada
do veto, de modo que tais parágrafos voltaram a produzir efeitos!
Assim, operando-se o decurso do prazo de 48h a contar do recebimento da notificação, essa
atribuição recairá, preferencialmente, sobre a Defensoria Pública (CPP, art. 14-A, §3º). Na eventualidade de
não haver Defensor Público na área territorial onde tramita o procedimento investigatório e com atribuição
para nele atuar, deverá ser lavrada uma manifestação nesse sentido, quando, então, será possível a
indicação de um profissional da advocacia que não integra os quadros próprios da Administração para
acompanhar e realizar todos os atos relacionados à defesa administrativa do investigado (CPP, art. 14-A, §4º).
Nesse caso, os custos com o patrocínio dos interesses dos investigados correrão por conta do orçamento
próprio da instituição a que o servidor estivesse vinculado à época da ocorrência dos fatos investigados
(CPP, art. 14-A, §5º).
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art142
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Vamos a um resumo do procedimento:
O autor Renato Brasileiro, em seu Manual de Processo Penal, destaca que:
(1) O art. 14-A do CPP foi introduzido em um contexto crescente de proteção da ampla defesa no curso da
investigação preliminar:
▪ Constituição Federal;
▪ Art. 7º, XXI do Estatuto da OAB;
▪ Art. 15, II da Lei 13.869/19 – considera crime de abuso de autoridade prosseguir com o
interrogatório de pessoa que tenha optado por ser assistida por advogado ou defensor
público, sem a presença do seu patrono → Renato Brasileiro diz que desde a entrada em
vigor desse crime (25.01.2020), se o investigado optar pela presença de um defensor, não
mais se poderá admitir a realização de nenhum interrogatório sem a presença deste;
(2) A constituição de defensor pelo servidor não é condição sine qua non para o prosseguimento das
investigações. Ainda que o investigado não tenha constituído advogado e ainda que a instituição a que
o agente público estava vinculado à época dos fatos não indique defensor para a sua representação, isso
jamais poderá funcionar como óbice ao prosseguimento das investigações.
(3) Uma vez constituído o defensor, incide os termos na Súmula Vinculante 14.
(4) Há uma impropriedade técnica no uso do termo “citação” – sabidamente conhecido como ato de
comunicação processual que dá ciência ao acusado acerca da instauração de um processo criminal –
contra a sua pessoa, chamando-o para se defender. O ideal é substituir o termo citado por notificado,
notificação esta que poderá ser feita por qualquer meio de comunicação.
O professor Rogério Sanches destaca que:Investigado:
Agente de
Segurança
ou militar
Fato: uso letal
da força no
execício da
função
Cita-se
(intimação) o
investigado
para
constituir
defensor em
Investigado
não nemeia
defensor no
prazo
Caso o
investigado
não nomeie
defensor no
prazo de 48H
Intima-se a
instituição
para que
nomeie
defensor no
prazo de 48H
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O art. 14-A do CPP determina que o investigado seja citado da instauração do
procedimento, em razão do que pode constituir defensor no prazo de até 48
(quarenta e oito) horas a contar do recebimento da citação (§ 1º). De acordo com
o § 2º, se, esgotado o prazo sem a nomeação de defensor pelo investigado, a
autoridade responsável pela investigação deve intimar a instituição a que estava
vinculado o investigado à época da ocorrência dos fatos, para que essa, no mesmo
prazo, indique defensor para a representação.
A regra é criticada por parte da doutrina em face das seguintes razões:
a. viola a cláusula constitucional isonômica, pois restringe a garantia anunciada aos agentes públicos
investigados por “fatos relacionados ao uso da força letal”, em evidente discriminação aos demais
servidores da segurança pública investigados por ações diversas;
b. dificulta a investigação de fatos graves, pois a falta de nomeação de defensor pelo investigado no
início da apuração administrativa resulta na suspensão da persecução inquisitorial até o saneamento
da exigência imposta pela lei;
c. desvio de finalidade no campo da assistência judiciária gratuita, assegurada, nos termos do art. 5°,
inc. LXXIV, da CF/88, àqueles que comprovam a insuficiência de recursos para arcar com o pagamento
dos honorários atinentes à prestação de serviços de defesa técnica por advogados particulares;
d. afronta a cláusula constitucional de prévia dotação orçamentária. As instituições militares
estaduais, tanto como as instituições civis de segurança pública, não contam com orçamento próprio.
A solução para o problema seria a implementação de assistência jurídica a seus integrantes; e, por
consequência, seriam necessárias a criação de um corpo jurídico de defensores e a consecutiva
contratação de pessoal, mediante lei, com respectiva previsão de recursos financeiros à criação de
cargos e funções próprios para o exercício de defesa técnica ao efetivo militar e civil.
5. ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL
a) Conceito: O arquivamento do inquérito policial é uma decisão judicial, muito embora ainda não haja um
processo judicial em curso. Ele depende de pedido de promoção de arquivamento feito pelo MP, que será
apreciado pelo juiz (Renato Brasileiro) - regulamento anterior ao Pacote Anticrime.
b) Natureza jurídica: Em verdade, o arquivamento é um ato subjetivamente complexo, que envolve prévio
requerimento formulado pelo órgão do Ministério Público e posterior decisão da autoridade judiciária.
Quando o juiz homologa a promoção de arquivamento se incorpora a natureza de decisão judicial do
arquivamento do inquérito policial.
Contudo, o professor André Luiz Nicolitt, diz ser um ato administrativo, porquanto embora seja uma
decisão do juízo, ele não está na função tipicamente jurisdicional e sim administrativa (Nicolitt, André, 5ª ed.
Pág 205). Utilizam, ainda, a Súmula 524 do STF que faz referência a “despacho”.
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Súmula 524/STF: Arquivado o inquérito policial por despacho do juiz, a
requerimento do promotor de justiça não pode a ação penal ser iniciada sem novas
provas.
Pergunta de prova oral (Delegado SC/2015):
Onde está o fundamento legal no CPP do arquivamento do inquérito policial? R: Não há no CPP um
dispositivo específico sobre as hipóteses de arquivamento. Entretanto, a doutrina se vale da combinação dos
artigos 395 c/c 397, ambos do CPP, pois são as hipóteses de rejeição da denúncia e absolvição sumária, ,
decisões que são pautadas em um juízo de cognição sumária e podem, à luz do art. 3º do CPP, serem aplicadas
por analogia à decisão que determina o arquivamento do inquérito policial.
c) Hipóteses: Como o CPP não trata as hipóteses de arquivamento, se aplica, por analogia, o tratamento da
rejeição da denúncia/queixa a absolvição sumária (art. 395 e 397, CPP):
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando:
I - for manifestamente inepta;
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.
Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste
Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar:
I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato;
II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo
inimputabilidade;
III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou
IV - extinta a punibilidade do agente.
Vamos analisar os incisos dos dispositivos legais:
● Atipicidade formal ou material
∘ Atipicidade Formal: juízo de adequação, verificar se a conduta se adequa ao tipo penal, ocorre
quando conduta não se encaixa em nenhum tipo penal.
∘ Atipicidade Material: princípio da insignificância ou bagatela. Exemplo: âmbito tributário penal,
STF e STJ até 20 mil é insignificante, conduta atípica.
∘ Excludente da ilicitude/Excludente da culpabilidade, SALVO inimputabilidade.
No caso de inimputável, deve ser denunciado, porém com pedido de absolvição imprópria →
medida de segurança.
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Obs: Na dúvida, de acordo com a doutrina majoritária, o promotor deve denunciar (in dubio pro societate).
Mas o juiz, na dúvida, na hora da sentença, quanto às descriminantes ou exculpantes, deve absolver (in dubio
pro reo).
● Causa extintiva da punibilidade
Questão interessante diz respeito a CERTIDÃO DE ÓBITO FALSA. Como promotor, quando juntar
certidão de óbito, é melhor requisitar ao cartório para comprovar. Todavia, o próprio cartório pode não
possuir a certidão correta, visto que o agente pode ter feito uso de atestado de óbito falso.
Caso o juiz venha a extinguir a punibilidade com esta certidão de óbito falsa, de acordo com o STF,
como a decisão se baseou em um ATO INEXISTENTE, não será considerada válida, podendo então o indivíduo
ser processado novamente.
● Ausência de elementos informativos quanto à autoria e materialidade
Grande parte dos arquivamentos. Ocorre quando as investigações não avançam em autoria e
materialidade e aí o MP promove o arquivamento com o juízo.
d) Coisa julgada na decisão de arquivamento
COISA JULGADA NA DECISÃO DE ARQUIVAMENTO
Com a Lei 13.964/19, fica esvaziada a discussão sobre a coisa julgada na decisão de arquivamento, que passa
a ser, ao final, do órgão de revisão ministerial. Portanto, poderá o mesmo órgão, decidir sobre o seu
desarquivamento, não mais cabendo ao juiz.
Medidas cautelares concedidas para suspender sine die a eficácia:
(a) Da implantação do juiz das garantias e seus consectários (Artigos 3º-A, 3º-B, 3º-C, 3º-D, 3ª-E, 3º-F, do
Código de Processo Penal); (b) Da alteração do juiz sentenciante que conheceu de prova declarada
inadmissível (157, §5º, do Código de Processo Penal); (c) Da alteração do procedimento de arquivamento
do inquérito policial (28, caput, Código de Processo Penal); e(d) Da liberalização da prisão pela não
realização da audiência de custódia no prazo de 24 horas (Artigo 310, §4°, do Código de Processo
Penal);
A nova sistemática do arquivamento do inquérito policial foi suspensa por decisão do STF, sendo assim,
vamos manter os comentários da sistemática atual e faremos as anotações pertinentesà mudança, caso ela
passe a vigorar em algum momento.
A coisa julgada ocorre quando estamos diante de uma decisão judicial que não comporta mais
recurso, tornando-se imutável.
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∘ Coisa julgada formal: é a imutabilidade da decisão no processo em que foi proferida. Neste processo
não poderá ser modificada, mas em outro sim.
∘ Coisa julgada material: pressupõe a formal, é a imutabilidade da decisão fora do processo no qual
aquela foi proferida.
A depender do fundamento utilizado na promoção de arquivamento irá ocorrer coisa julgada formal
ou coisa julgada formal e material.
A seguir reproduzimos o quadro sobre as hipóteses de coisa julgada no arquivamento do IP:
Fundamento do arquivamento Espécie de coisa julgada
a) Ausência de pressupostos processuais ou de
condições da ação
Coisa julgada formal
b) Falta de justa causa Coisa julgada formal
c) Excludente de ilicitude Divergência jurisprudencial
STJ: Coisa julgada material
STF: Coisa julgada formal
d) Excludente de culpabilidade Coisa julgada material (exceto inimputabilidade)
e) Excludente de punibilidade Coisa julgada material (exceto no caso de certidão de
óbito falsa)
f) Atipicidade do fato Coisa julgada formal e material
O STF pode, de ofício, arquivar inquérito quando, mesmo esgotados os prazos
para a conclusão das diligências, não foram reunidos indícios mínimos de autoria
ou materialidade.
O STF pode, de ofício, arquivar inquérito quando verificar que, mesmo após terem
sido feitas diligências de investigação e terem sido descumpridos os prazos para a
instrução do inquérito, não foram reunidos indícios mínimos de autoria ou
materialidade (art. 231, § 4º, “e”, do RISTF). A pendência de investigação, por prazo
irrazoável, sem amparo em suspeita contundente, ofende o direito à razoável
duração do processo (art. 5º, LXXVIII, da CF/88) e a dignidade da pessoa humana
(art. 1º, III, da CF/88). Caso concreto: tramitava, no STF, um inquérito para apurar
suposto delito praticado por Deputado Federal. O Ministro Relator já havia
autorizado a realização de diversas diligências investigatórias, além de ter aceitado
a prorrogação do prazo de conclusão das investigações. Apesar disso, não foram
reunidos indícios mínimos de autoria e materialidade. Com o fim do foro por
prerrogativa de função para este Deputado, a PGR requereu a remessa dos autos à
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1ª instância. O STF, contudo, negou o pedido e arquivou o inquérito, de ofício,
alegando que já foram tentadas diversas diligências investigatórias e, mesmo assim,
sem êxito. Logo, a declinação de competência para a 1ª instância a fim de que lá
sejam continuadas as investigações seria uma medida fadada ao insucesso e
representaria apenas protelar o inevitável. STF. 2ª Turma. Inq 4420/DF, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 21/8/2018 (Info 912).
No mesmo sentido: STF. Decisão monocrática. INQ 4.442, Rel. Min. Roberto
Barroso, Dje 12/06/2018.
A decisão de arquivamento de inquérito policial lastreada na atipicidade do fato
toma força de coisa julgada material, sendo manifestamente incabível a
reabertura do feito por meio de correição parcial (HC 173594 AgR, Relator(a):
ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 03/05/2021, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-087 DIVULG 06-05-2021 PUBLIC 07-05-2021).
Atenção! Existe doutrina minoritária que defende que a decisão de arquivamento nunca fará coisa
julgada, seja formal, seja material. Como o arquivamento não é ato jurisdicional típico, desenvolvendo-se em
uma etapa pré-processual, não haveria de se falar em coisa julgada. (André Nicolitt e Afrânio Silva Jardim)
5.1 Arquivamento determinado por juiz incompetente
Alguns doutrinadores entendem que não haveria a produção de coisa julgada formal ou material.
No entanto, prevalece nos Tribunais que a decisão dada por juízo absolutamente incompetente não
é inexistente, mas, no máximo, nula. Caso a nulidade não tenha sido proclamada no momento oportuno, a
decisão terá o condão de produzir seus efeitos válidos.
Precedente: STF: “(...) A decisão que determina o arquivamento do inquérito
policial, quando fundado o pedido do Ministério Público em que o fato nele
apurado não constitui crime, mais que preclusão, produz coisa julgada material,
que - ainda quando emanada a decisão de juiz absolutamente incompetente -,
impede a instauração de processo que tenha por objeto o mesmo episódio (...)”
(STF, 1ª Turma, HC 83.346/SP, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. 17/05/2005, DJ
19/08/2005).
5.2 Arquivamento e recorribilidade
Antes da reforma (L.13964/19), a decisão que deferia o arquivamento NÃO cabia recurso.
Exceções:
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a) Crimes contra a economia popular ou contra a saúde pública: Existe previsão de reexame
necessário, também chamado de recurso de ofício (duplo grau obrigatório) - Art. 7º da lei 1521/51.
LCCEP - Art. 7º. Os juízes recorrerão de ofício sempre que absolverem os acusados
em processo por crime contra a economia popular ou contra a saúde pública, ou
quando determinarem o ARQUIVAMENTO dos autos do respectivo inquérito
policial.
Não se aplica ao tráfico de drogas, mesmo sendo um crime contra a saúde, em razão da
especialidade.
A nosso ver o dispositivo foi tacitamente revogado, visto que a decisão final sobre o arquivamento é do órgão
ministerial de revisão, não mais cabendo ao juiz.
b) Contravenções do jogo do bicho e corrida de cavalos fora do hipódromo: Cabe RESE. LCP
(1508/51) art. 6º§único.
LCP Art. 6º Quando qualquer do povo provocar a iniciativa do Ministério Público,
nos termos do Art. 27 do Código do Processo Penal, para o processo tratado nesta
lei, a representação, depois do registro pelo distribuidor do juízo, será por este
enviada, incontinenti, ao Promotor Público, para os fins legais. Parágrafo único. Se
a representação for ARQUIVADA, poderá o seu autor interpor recurso no sentido
estrito.
O dispositivo deve ser interpretado na forma do Art. 28, §1º do CPP, devendo o recurso ser encaminhado ao
órgão ministerial de revisão.
c) Juiz arquiva o inquérito de ofício sem iniciativa do MP.
Essa é uma hipótese (ou medo) que não faz mais muito sentido, porque de qualquer forma o
arquivamento será submetido ao órgão ministerial de revisão. Antes a doutrina sustentava o cabimento de
correição parcial, com a reforma, nos parece que faltaria interesse de agir, visto que a decisão poderá ser
revista pelo órgão ministerial de revisão.
d) Arquivamento nas hipóteses de atribuição originária do PGJ:
Lei n. 8.625/93, art. 12: “O Colégio de Procuradores de Justiça é composto por todos
os Procuradores de Justiça, competindo-lhe: (…) XI - rever, mediante requerimento
de legítimo interessado, nos termos da Lei Orgânica, decisão de arquivamento de
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inquérito policial ou peças de informações determinada pelo Procurador-Geral de
Justiça, nos casos de sua atribuição originária”.
Com a reforma (L.13964/19) a atribuição para a revisão sobre o arquivamento passa a ser do órgão
ministerial de revisão (Art.28 do CPP).
Com a lei 13964/19, além das hipóteses de recursos que foram mantidas, a vítima ou seu representante
legal poderão recorrer, no prazo de 30 dias do recebimento da comunicação, submetendo a matéria ao
órgão de revisão ministerial (nova redação art. 28 do CPP);
5.3 Arquivamento da ação penal privada
Ocorre por pedido expresso do querelante, que será considerado renúncia e acarretará a extinção
da punibilidade, ou com o transcurso do prazo decadencial de 6 meses para exercício do direito de queixa
(art.38, CPP).
5.4 Arquivamento implícito
Na lição de Afrânio Silva Jardim, referência no assunto: “entende-se por arquivamento implícito o
fenômeno de ordem processual decorrente de o titular da ação penal deixar de incluir na denúncia algum
fato investigado ou algum dos indiciados, sem expressa manifestação ou justificação deste procedimento.
Este arquivamento se consuma quando o juiz não se pronuncia na forma do art. 28 com relação ao que foi
omitido na peça acusatória”
Como se pode perceber, a doutrina que defende o arquivamento implícito parte da existência de
duas omissões: o promotor deixa de incluir na denúncia algum fato investigado (arquivamento implícito
objetivo) ou algum dos indiciados (arquivamento implícito subjetivo), sem justificação ou expressa
manifestação deste procedimento e o magistrado também se omite, deixando de aplicar a regra do art. 28
do CPP. É dessa conjugação de omissões que surge a defesa pela admissão do arquivamento implícito. E o
argumento reside no princípio da obrigatoriedade da ação penal pública → em apreço ao princípio da
obrigatoriedade da ação penal pública, se o MP não inclui na denúncia todos os crimes e ou indiciados é
porque reconheceu implicitamente a falta de justa causa. E se o juiz recebe a denúncia sem ressalvas é
porque implicitamente comungou da mesma orientação operando-se a partir do recebimento da denúncia
o arquivamento implícito.
Quando se consuma o arquivamento implícito?
R: De acordo com o professor Afrânio Silva Jardim, ocorre quando o juiz deixa de se arvorar do art.
28, em relação ao que foi omitido na denúncia, ocorre o arquivamento tácito.
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ATENÇÃO: A jurisprudência e doutrina majoritária NÃO admitem o arquivamento implícito, porque a simples
omissão não implica arquivamento e o pedido de arquivamento deve ser fundamentado. Todo arquivamento
somente produz efeito se for um arquivamento explícito. Havendo omissão a respeito de um dado objetivo
ou subjetivo do inquérito, deve-se presumir que as investigações, quanto a parte omissa, continuam em
aberto.
Uma grande questão é saber como deverá atuar o juiz em caso de omissão do Ministério Público, tendo em
vista que o juiz não mais exerce o controle sobre o princípio da obrigatoriedade da ação penal pública e a
sistemática do antigo art. 28 foi substituída pelo controle realizado pelo órgão ministerial de revisão. Diante
das mudanças, acreditamos que não mais há que se falar em arquivamento implícito no processo penal (que
já não era aceito pelos Tribunais Superiores, de qualquer forma).
5.5 Arquivamento indireto
Ocorre quando o magistrado não concorda com o pedido de declinação de atribuição formulado
pelo órgão ministerial. O juiz recebe a manifestação como se fosse um pedido de arquivamento e aplica, por
analogia, o art. 28 do CPP, leia-se, homologa ou não e, caso não homologue, remete os autos PGJ.
Essa sistemática permanece vigente mesmo com a L. 13964/19. Isso porque o Art. 28 do CPP, alterado pela
referida lei, permanece com sua eficácia suspensa em decisão do STF na ADI 6298.
Caso o STF julgue o mérito e a norma volte a produzir efeitos, não fará mais sentido falarmos em
arquivamento indireto, visto que a providência de arquivamento passará a ser realizada exclusivamente no
âmbito do Ministério Público, não mais o juiz exercendo qualquer tipo de controle.
5.6 Arquivamento e coisa julgada
Prevalece na doutrina que o arquivamento NÃO se submete à coisa julgada material, e ao surgirem
novas provas, o MP pode oferecer denúncia, desde que não tenha sido extinta a punibilidade por alguma das
hipóteses do art. 107, CP.
ATENÇÃO! Excepcionalmente, o arquivamento será definitivo, quando motivado, por exemplo, pela
prescrição ou, conforme já entendeu o STF, pela certeza da atipicidade do fato. Ressalta-se a divergência
entre os Tribunais acerca da coisa julgada no tocante ao reconhecimento da excludente de ilicitude. Para o
STJ faz sim coisa julgada material, não podendo ser revista.
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Com a reforma (Lei 13964/19) e o reforço argumentativo no sentido de que a decisão possui natureza
administrativa, nos parece que a posição da doutrina permanece atual. Ou seja, se antes já não fazia coisa
julgada material, muito menos fará agora.
6. DESARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO E A PROPOSITURA DE AÇÃO PENAL
Conforme dispõe o art. 18 do CPP, o inquérito só pode ser desarquivado se a autoridade policial tiver
obtido notícias de provas novas.
Cumpre destacar que a possibilidade de desarquivamento pressupõe que a decisão de arquivamento
tenha se pautado em hipótese que apenas formou coisa julgada formal (ex.: arquivamento por falta de lastro
probatório) posto que pautada na cláusula rebus sic stantibus: mantidos os pressupostos fáticos que serviram
de amparo ao arquivamento, esta decisão deve ser mantida; modificando-se o panorama probatório, nada
impede o desarquivamento do inquérito policial.
Art. 18, CPP: Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade
judiciária, por falta de base para a denúncia, a autoridade policial poderá proceder
a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia.
ATENÇÃO: NÃO CONFUNDA!
Para o delegado de polícia proceder a novas pesquisas, dando continuidade às investigações – basta
que haja NOTÍCIAS de provas novas. Por outro lado, para o Ministério Público dar início a uma nova ação
penal, não basta haver notícias de provas novas, é necessário que existam efetivamente PROVAS NOVAS.
Esse é o entendimento cristalizado na Súmula 524 do STF:
Súmula 524 STF: Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a
requerimento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem
novas provas.
Conforme ensina Renato Brasileiro, desarquivamento não é a mesma coisa que oferecer a denúncia.
▪ Desarquivar → significa reabrir as investigações, sendo suficiente para tal a notícia de provas novas.
▪ Oferecer denúncia → necessidade de SURGIMENTO DE PROVAS NOVAS.
Quem é responsável pelo desarquivamento do inquérito policial?
Há doutrinadores que entendem que é a autoridade policial. De acordo com o art. 18 do CPP, depois
de arquivado o inquérito por falta de base para a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas
pesquisas, se de outras provas tiver notícia. Por questões práticas, como os autos do inquérito policial ficam
arquivados perante o Poder Judiciário – leia-se, juiz das garantias –, tão logo tome conhecimento da notícia
de provas novas, deve a autoridade policial representar ao Ministério Público, solicitando o desarquivamento
físico dos autos para que possa proceder a novas investigações.
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Porém, a doutrina majoritária defende que o desarquivamento compete ao Ministério Público, titular
da ação penal pública, e, por consequência, destinatário final das investigações policiais. Diante de notícia de
prova nova a ele encaminhada, seja pela autoridade policial, seja por terceiros, deve promover o
desarquivamento, solicitando à autoridade judiciária o desarquivamento físico dos autos. Caso haja
dificuldades no desarquivamento físico dos autos do inquérito policial, nada impede que o Ministério Público
requisite a instauração de outra investigação policial.
Qual seria o conceito de provas novas?
Conforme jurisprudência e doutrina majoritária, provas novas são aquelas provas CAPAZES DE
ALTERAR O CONTEXTO PROBATÓRIO dentro do qual foi proferida a decisão de arquivamento.
De acordo com a doutrina, há duas espécies de provas novas:
a) prova formalmente nova → prova que já era conhecida, mas ganhou nova versão após o
arquivamento. Ex.: mudançano depoimento testemunhal
b) prova materialmente/substancialmente nova → é a prova inédita, desconhecida, que estava oculta
por ocasião do arquivamento.
Como já se pronunciou o STJ,
“três são os requisitos necessários à caracterização da prova autorizadora do
desarquivamento de inquérito policial (artigo 18 do CPP): a) que seja formalmente
nova, isto é, sejam apresentados novos fatos, anteriormente desconhecidos; b) que
seja substancialmente nova, isto é, tenha idoneidade para alterar o juízo
anteriormente proferido sobre a desnecessidade da persecução penal; c) seja apta
a produzir alteração no panorama probatório dentro do qual foi concebido e
acolhido o pedido de arquivamento. Preenchidos os requisitos – isto é, tida a nova
prova por pertinente aos motivos declarados para o arquivamento do inquérito
policial, colhidos novos depoimentos, ainda que de testemunha anteriormente
ouvida, e diante da retificação do testemunho anteriormente prestado –, é de se
concluir pela ocorrência de novas provas, suficientes para o desarquivamento do
inquérito policial e o consequente oferecimento da denúncia”. (STJ, 6ª Turma, RHC
18.561/ES, Rel. Min. Hélio Quaglia Barbosa, j. 11/04/2006).
Atenção! O STJ tem precedente afirmando que “mudança de entendimento jurisprudencial sobre aspectos
jurídicos da situação fática apreciada no procedimento investigatório arquivado não autoriza o
desarquivamento do inquérito policial” (STJ, Corte Especial, Apn 311/RO, Rel. Min. Humberto Gomes de
Barros, j. 02/08/2006)
Qual é a natureza jurídica de “provas novas”?
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A descoberta de provas novas funciona como condição de procedibilidade para o exercício da ação penal.
Entendimentos jurisprudenciais:
O MP dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por prazo
razoável, investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e
garantias que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação
do Estado, observadas, sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva
constitucional de jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais que se acham
investidos, em nosso País, os advogados (…) (STF: RE 593727).
As notícias anônimas não autorizam, por si sós, a propositura de ação penal ou
mesmo, na fase de investigação preliminar, o emprego de métodos invasivos de
investigação, como interceptação telefônica ou busca a apreensão. Entretanto, elas
podem constituir fonte de informação e de provas que não podem ser
simplesmente descartadas pelo Poder Judiciário (STF: HC 106152).
O magistrado não pode requisitar o indiciamento em investigação criminal. Isso
porque o indiciamento constitui atribuição exclusiva da autoridade policial (STF:
RHC 47984).
As investigações envolvendo autoridades com foro privativo no STF somente
podem ser iniciadas após autorização formal do STF. De igual modo, as diligências
investigatórias precisam ser previamente requeridas e autorizadas pelo STF (STF:
Inq 3387). Contudo, investigação envolvendo autoridades com foro privativo em
outros tribunais não exige prévia autorização judicial (STJ: REsp 1563962).
O arquivamento de inquérito policial por excludente de ilicitude realizado com base
em provas fraudadas não faz coisa julgada material (STF: HC 87395).
CAIU EM PROVA:
(Delegado de PCPB 2022): Em regra, é possível desarquivar o inquérito policial quando fundamentado na
A) atipicidade do fato.
B) falta de justa causa para a ação penal.
C) decadência do direito de representação do ofendido.
D) comprovação de coação moral irresistível.
E) menoridade do autor do fato.
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GABARITO: LETRA B.
7. TRANCAMENTO (OU ENCERRAMENTO ANÔMALO) DO INQUÉRITO POLICIAL
Como visto acima, o arquivamento resulta de um consenso entre o MP e o Juiz.
O trancamento, por sua vez, é determinado pelo juiz (não há consenso) quando a mera tramitação
do IP configura um constrangimento ilegal contra o paciente.
Segundo Renato Brasileiro, trata-se de medida de força que acarreta a extinção prematura das
investigações quando a mera tramitação do inquérito configurar constrangimento ilegal.
O trancamento do IP é uma medida de natureza excepcional, somente sendo possível quando:
∘ Não houver qualquer dúvida sobre a atipicidade (formal/material) da conduta.
∘ Presença de causa extintiva da punibilidade.
∘ Ausência de justa causa.
Salienta-se que o instrumento adequado para o trancamento do IP será:
● Habeas corpus – apenas nos casos em que há risco à liberdade de locomoção.
● Mandado de segurança – nos casos de pessoa jurídica, em que não há risco à liberdade de locomoção
CF, art. 5º, LXVIII: “conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se
achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por
ilegalidade ou abuso de poder”.
Súmula 693 STF: “Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de
multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária
seja a única cominada”.
Por fim, a competência para o julgamento de eventual habeas corpus será: (Questão prova oral do
Estado do Amapá, 2017):
● Inquérito instaurado pelo Delegado de Polícia (autoridade coatora): juiz de primeira instância.
● Inquérito instaurado por requisição do Ministério Público (autoridade coatora): Tribunal competente
para irá julgar originariamente.
CAIU EM PROVA:
(Delegado de Polícia Civil do RN/2021) No curso de inquérito policial, a autoridade policial indiciou Napoleão
pela prática do crime de homicídio qualificado, em que pese os elementos de informação colhidos
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demonstrassem de maneira clara que o investigado agiu em legítima defesa. Visando combater tal decisão e
buscar o “trancamento” do inquérito policial, o advogado de Napoleão poderá:
A) interpor recurso para o chefe de polícia;
B) impetrar habeas corpus, sendo competente para julgamento um juiz de 1º grau;
C) impetrar habeas corpus, sendo competente para julgamento o Tribunal de Justiça respectivo;
D) interpor recurso em sentido estrito, sendo competente para julgamento um juiz de 1º grau;
E) impetrar habeas corpus para análise pelo chefe de polícia.
GABARITO: LETRA B
NOVA SISTEMÁTICA DO ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL
Antes da reforma Após a L.13964/19
Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de
apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do
inquérito policial ou de quaisquer peças de
informação, o juiz, no caso de considerar
improcedentes as razões invocadas, fará remessa do
inquérito ou peças de informação ao procurador-
geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro
órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou
insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então
estará o juiz obrigado a atender.
Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial
ou de quaisquer elementos informativos da mesma
natureza, o órgão do Ministério Público comunicará à
vítima, ao investigado e à autoridade policial e
encaminhará os autos para a instância de revisão
ministerial para fins de homologação, na forma da lei.
§ 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar
com o arquivamento do inquérito policial, poderá, no
prazo de 30 (trinta) dias do recebimento da comunicação,
submeter a matéria à revisão da instância competente do
órgão ministerial, conforme dispuser a respectiva lei
orgânica.
§ 2º Nas ações penais relativas a crimes praticados em
detrimento da União, Estados e Municípios, a revisão do
arquivamento do inquérito policial poderá ser provocada
pela chefia do órgão a quem couber a sua representaçãojudicial. ” (NR)
ANTES DO PACOTE ANTICRIME (ESSA SISTEMÁTICA AINDA ESTÁ EM VIGOR, DEVIDO À EFICÁCIA
SUSPENSA DA NOVA REDAÇÃO DO ART. 28):
O art. 28 representava um CONTROLE JUDICIAL sobre o arquivamento (Princípio da Devolução), que
possuía 2 funções:
1ª: controle judicial externo do Princípio da Obrigatoriedade (que rege as ações penais públicas);
2ª: mecanismo de controle externo do próprio Ministério Público.
Como funcionava?
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● Ministério Público promove o arquivamento → Se o Juiz concordar, ele HOMOLOGA a decisão de
arquivamento.
● Ministério Público promove o arquivamento → Se o juiz não concordar, ele encaminha para o
Procurador Geral.
Opções que podem ser adotadas pelo Procurador Geral:
1) Ratificar o arquivamento – hipótese em que o juiz é obrigado a aceitar e deferir;
2) Oferecer denúncia;
3) Designar para que outro promotor ofereça denúncia.
Nessa última hipótese, existe divergência doutrinária se a designação do Procurador Geral vincula o
novo promotor. Em outras palavras: o promotor designado é obrigado a oferecer denúncia?
▪ 1ª corrente (Claudio Fonteles, Nicolitt, Polastri): possibilidade de recusa → como se trata de
designação, o promotor não pode ser obrigado a subscrever como sua uma opinião delitiva com a
qual discorda, o que ofenderia sua independência funcional
▪ 2ª posição (clássica, ainda dominante): impossibilidade de recusa → na realidade, como a denúncia
é atribuição do Procurador Geral, não se trata de designação, e sim delegação, atuando o promotor
como longa manus do Procurador Geral, o que é suficiente para a preservação da sua independência
funcional (o promotor designado estaria apenas veiculando a opinião delitiva do Procurador Geral).
Atenção à jurisprudência veiculada no Informativo 963 relacionado ao tema:
O Procurador-Geral de Justiça, se entender que é caso de arquivamento do
Procedimento de Investigação Criminal (PIC) por ausência de provas, não precisa
submeter essa decisão de arquivamento à apreciação do Tribunal de Justiça, não
se aplicando, nesta hipótese, o art. 28 do CPP. O arquivamento do PIC, promovido
pelo PGJ, nos casos de sua competência originária, não reclama prévia submissão
ao Poder Judiciário, pois este arquivamento, que é por ausência de provas, não
acarreta coisa julgada material. O chefe do Ministério Público estadual é a
autoridade própria para aferir a legitimidade do arquivamento do PIC. Logo,
descabe a submissão da decisão de arquivamento ao Poder Judiciário. STF. 1ª
Turma. MS 34730/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 10/12/2019 (Info 963).
Ocorre que, com o Pacote Anticrime, as mudanças na sistemática do arquivamento do inquérito
policial foram significativas. A partir de agora, não basta para o arquivamento de investigações criminais a
promoção de arquivamento feita pelo Promotor Natural do feito. Passa a ser necessária, também, a
confirmação (homologação) dessa decisão de arquivamento por órgão de revisão do MP.
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O arquivamento, portanto, será feito em duas etapas, assegurada a cientificação do investigado e da
vítima. Ademais, institui-se a possibilidade de recurso em face dessa decisão de arquivamento.
Trata-se de ato jurídico complexo, pois é produto duas manifestações de vontade, do Ministério
Público, presentado pelo Promotor de Justiça e pela instância de revisão.
Com a mudança, volta à baila a discussão sobre a natureza jurídica da decisão de arquivamento.
Para Afrânio Silva Jardim1, a decisão que determina o arquivamento do inquérito policial tem
natureza de decisão judicial, porque oriunda do Poder Judiciário, em outras palavras, de decisão
administrativa em sentido lato.
Já para Fernando da Costa Tourinho Filho2, que ao comentarem a natureza jurídica de tal decisão não
fundamentam seu entendimento, a aludida decisão tem natureza de despacho judicial de expediente (CPP,
art. 800, III).
Entretanto, diante das alterações, a posição mais coerente nos parece a do Professor Guilherme de
Souza Nucci3:
“Observa-se, entretanto, que o juiz pode, acolhendo parecer do Ministério Público,
no sentido de haver insuficiência de provas para o oferecimento da denúncia,
determinar o arquivamento como providência meramente administrativa. ”
Agora, passa a ser uma decisão de natureza administrativa e que não se submete ao crivo judicial,
em respeito ao sistema acusatório, pois o arquivamento passa a ser realizado apenas no âmbito do MP.
Seguimos.
As mudanças trazidas pela L. 13964/19 vão ao encontro do que a doutrina já clamava, em respeito
ao princípio acusatório4.
“A imparcialidade do juiz, ao contrário, exige dele justamente que se afaste das
atividades preparatórias, para que mantenha seu espírito imune aos preconceitos
que a formulação antecipada de uma tese produz, alheia ao mecanismo do
contraditório, de sorte a avaliar imparcialmente, por ocasião do exame da acusação
formulada, com o oferecimento da denúncia ou queixa, se há justa causa para a
ação penal, isto é, se a acusação não se apresenta como violação ilegítima da
dignidade do acusado. [...] Neste plano, a manutenção do controle, pelo juiz, das
diligências realizadas no inquérito ou peças de informação, e do atendimento,
pelo promotor de justiça, ao princípio da obrigatoriedade da ação penal pública,
naquelas hipóteses em que, ao invés de oferecer denúncia, o membro do
1(Jardim, 2000, pp. 166-167)
2(Filho, pp. 400-401)
3(Nucci, 2019)
4(Prado, 1999, p. 153)
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Ministério Público requer o arquivamento dos autos da investigação, constitui
inequívoca afronta ao princípio acusatório. ”
Abaixo, vamos reestruturar o procedimento após as alterações:
Decisão de arquivamento
O órgão do Ministério Público comunicará à vítima, ao investigado e à autoridade policial.
Após, o órgão do Ministério Público encaminhará os autos para a instância de revisão ministerial para fins
de homologação.
A vítima poderá, no prazo de 30 (trinta) dias do recebimento da comunicação, submeter a matéria à
revisão na instância de revisão ministerial.
Crimes praticados em detrimento da União, Estados e Municípios, a revisão do arquivamento do inquérito
policial poderá ser provocada pela chefia do órgão a quem couber a sua representação judicial.
A primeira observação importante, é que a lei conferiu apenas à vítima a possibilidade de provocar
a instância ministerial de revisão, deixando de fora o investigado e a Autoridade Policial.
Outro ponto é que a lei não mais trata da hipótese em que o juiz discordar do requerimento de
arquivamento, pelo simples fato de que não cabe ao Juiz de Garantias discordar ou não da opinião do
membro do Ministério Público. A decisão de arquivamento fica adstrita ao âmbito do Ministério Público,
isto é, uma providência meramente administrativa, em observância ao sistema acusatório (Art.129, I, da
CRFB e Art. 3º-A do CPP).
Assim, a L. 13964/19 suprimiu o controle judicial sobre o arquivamento da investigação preliminar,
sobre o princípio da obrigatoriedade da ação penal pública e fortaleceu a atuação da vítima. O inquérito será
remetido para homologação ao órgão de revisão no próprio MP e a vítima poderá se manifestar se discordar
do arquivamento.
Conclusão:
▪ Antes do PAC – Promoção de arquivamento pelo MP + Homologação pelo Juiz.
▪ Após o PAC – ORDEM de arquivamento pelo MP + Homologação pela Instância de Revisão Ministerial.
Súmula 524/STF: Arquivado o inquérito policial por despacho do juiz, a
requerimento do promotor de justiça não pode a ação penal ser iniciada sem novas
provas.
Relatório da autoridade policial:
Fundamento legal: art.10 do CPP
Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido
preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta
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hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30
dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela
§ 1o A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará
autos ao juiz competente
§ 2o No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não tiverem sido
inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser encontradas
§ 3o Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade
poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que
serão realizadas no prazo marcado pelo juiz.
Conceito: Cuida-se, o relatório, de peça elaborada pela autoridade policial (Delegado de Polícia), de
conteúdo eminentemente descritivo, onde deve ser feito um esboço das principais diligências realizadas na
investigação criminal.
A produção do relatório policial NÃO é condição sine qua non para o oferecimento da denúncia. Se
nem mesmo o IP é indispensável para o oferecimento da ação penal, imagina o relatório. Contudo, trata-se
de um dever legal do Delegado, sob pena de ser responsabilizado disciplinarmente.
Ocorre que esse raciocínio é ultrapassado. Sempre se disse que delegado de polícia faz apenas juízo
de tipicidade. Contudo, o direito penal adota o conceito analítico de crime. Crime é fato típico, ilícito e
culpável. Portanto, para que haja adequação típica em sentido lato é necessário que todos os elementos do
fato estejam presentes.
Nessa linha, vejamos o dispositivo legal:
Lei 11.343/06 - Art. 52. Findos os prazos a que se refere o art. 51 desta Lei, a
autoridade de polícia judiciária, remetendo os autos do inquérito ao juízo: I -
relatará sumariamente as circunstâncias do fato, justificando as razões que a
levaram à classificação do delito, indicando a quantidade e natureza da substância
ou do produto apreendido, o local e as condições em que se desenvolveu a ação
criminosa, as circunstâncias da prisão, a conduta, a qualificação e os antecedentes
do agente (…)
Esquematizando para as provas objetivas:
▪ Regra: O relatório é peça meramente descritiva, que aborda somente as diligências realizadas.
▪ Exceção: Na Lei de Drogas, o delegado deve emitir um juízo de valor sobre as circunstâncias do crime.
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Para onde o delegado de polícia deve enviar o relatório? O CPP prevê que o relatório deve ser
enviado ao juiz competente (art. 10, §1º do CPP).
Tribunais Superiores: Asseveram a constitucionalidade do dispositivo, uma vez que o
encaminhamento ao juiz é meramente administrativo. O magistrado redireciona automaticamente os autos
ao MP. Isso, portanto, não tem o condão de comprometer o sistema acusatório do processo.
Doutrina majoritária: Doutrina garantista sustenta que o envio do relatório final realizado pelo
delegado ao juiz ofende o sistema acusatório. O certo seria encaminhá-lo diretamente ao MP, por ser ele o
destinatário final do inquérito policial
CAIU EM PROVA:
(Delegado de PCPR 2021): A partir de uma notitia criminis, a autoridade policial da Delegacia de Goioerê/PR
instaurou inquérito policial (IP) em desfavor de L.R. pela prática do crime previsto no art. 171, §2º, inciso III,
do Código Penal (defraudação de penhor). Após várias diligências, a autoridade entendeu que o fato é atípico.
Nesse caso, a autoridade policial deverá elaborar o relatório e encaminhar o IP a juízo (item considerado
correto).
Tramitação direta entre o Delegado de Polícia e o Ministério Público:
Embora se fale, ordinariamente, que o STF tem decisão (ADI 2886/RJ) no sentido de não admitir a
tramitação direta do inquérito policial com investigado solto entre a Polícia e o Ministério Público, na verdade
a decisão do STF não foi no sentido de INADMITIR A TRAMITAÇÃO DIRETA, mas sim declarar o artigo da Lei
Estadual (do MP/RJ) inconstitucional por contrariar previsão expressa em lei federal a qual dispõe acerca do
envio direto dos autos ao juiz (CPP). Tanto é que o STJ já declarou a resolução/portaria do MPF, que prevê a
tramitação direta, constitucional.
Ressalta-se, ainda, que há ação no STF que tramita com reconhecimento de repercussão geral (está
atualmente concluso ao relator RE 660.814) acerca de ato de provimento da Corregedoria-Geral de justiça.
É INCONSTITUCIONAL lei estadual que preveja a tramitação direta do inquérito
policial entre a polícia e o Ministério Público. É CONSTITUCIONAL lei estadual que
preveja a possibilidade de o MP requisitar informações quando o inquérito policial
não for encerrado em 30 dias, tratando-se de indiciado solto. STF. Plenário. ADI
2886/RJ, red. p/ o acórdão Min. Joaquim Barbosa, julgado em 3/4/2014 (Info 741).
Fonte: Dizer o Direito
O STJ, por sua vez, tem precedente no sentido de admitir a tramitação direta entre a Polícia Federal
e o MPF, por atender à garantia da razoável duração do processo, economia processual e eficiência, sem
afastar a cláusula de reserva de jurisdição (Informativo 574, 5ª T. STJ).
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Portaria baixada com fulcro na Res. 63/09 do CJF estabelecendo a tramitação direta do IPL entre
delegacia e MPF é legal:
● Atende a duração razoável do processo e aos postulados da economia processual e eficiência.
● É ciente que a Res. 63/09 do CJF é contestada no STF desde 2009 via ADI 4305.
● É ciente que – em 2014 – o STF via ADI 2886 declarou inconstitucional Lei do RJ que estabelecia a
tramitação direta. Mas, como o julgamento perdurou por muitos anos, iniciando em 2005, houve
mudança de composição da Corte de 3 dos 4 Ministros que foram votos vencidos, panorama que
pode alterar decisões futuras sobre o mesmo tema e impede de afirmar como certa a possível
declaração da inconstitucionalidade da Resolução do CJF objeto da ADI 4.305.
Inf. 574: Não é ilegal a portaria editada por Juiz Federal que, fundada na Res. CJF n.
63/2009, estabelece a tramitação direta de inquérito policial entre a Polícia Federal
e o Ministério Público Federal. De fato, o inquérito policial “qualifica-se como
procedimento administrativo, de caráter pré-processual, ordinariamente
vocacionado a subsidiar, nos casos de infrações perseguíveis mediante ação penal
de iniciativa pública, a atuação persecutória do Ministério Público, que é o
verdadeiro destinatário dos elementos que compõem a ‘informatio delicti’” (STF,
HC 89.837-DF, Segunda Turma, DJe 20/11/2009). Nesse desiderato, a tramitação
direta de inquéritos entre a Polícia Judiciária e o órgão de persecução criminal
traduz expediente que, longe de violar preceitos constitucionais, atende à garantia
da duração razoável do processo – pois lhe assegura célere tramitação –, bem como
aos postulados da economia processual e da eficiência. Ressalte-se que tal
constatação não afasta a necessidade de observância, no bojo de feitos
investigativos, da chamada cláusula de reserva de jurisdição, qual seja, a
necessidade de prévio pronunciamento judicial quando for necessária a adoção de
medidas que possam irradiar efeitos sobre as garantias individuais. Ademais, não
se pode alegar que haveria violação do princípio do contraditório e do princípio da
ampla defesa ao se impedir o acesso dos autos de inquérito pelos advogados, o que
também desrespeitaria o exercício da advocacia como função indispensável à
administração da Justiça e o próprio Estatuto da Advocacia, que garante o amplo
acesso dos autos pelos causídicos. Isso porque o art. 5º da Res. CJF n. 63/2009 prevê
expressamenteque “os advogados e os estagiários de Direito regularmente
inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil terão direito de examinar os autos do
inquérito, devendo, no caso de extração de cópias, apresentar o seu requerimento
por escrito à autoridade competente”. Faz-se mister destacar que, não obstante a
referida Resolução do CJF ser objeto, no STF, de ação direta de
inconstitucionalidade – ADI 4.305 –, o feito, proposto em 2009 pela Associação
Nacional dos Delegados de Polícia Federal, ainda está concluso ao relator, não
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havendo notícia de concessão de pedido liminar. Assim, enquanto não existir
manifestação da Corte Suprema quanto ao tema, deve ser mantida a validade da
Resolução. Registre-se, ademais, que não se olvida a existência de julgado do STF,
nos autos da ADI 2.886, em que se reconhece a inconstitucionalidade de lei
estadual que determinava a tramitação direta do inquérito policial entre o
Ministério Público e a Polícia Judiciária, por entender padecer a legislação de vício
formal. Apesar de o referido julgamento ter sido finalizado em abril de 2014,
convém destacar que se iniciou em junho de 2005, sendo certo que, dos onze
Ministros integrantes da Corte (que votaram ao longo desses nove anos), quatro
ficaram vencidos, e que, dos votos vencedores, três ministros não mais integram o
Tribunal. Assim, não há como afirmar como certa a possível declaração da
inconstitucionalidade da 119 Resolução do CJF objeto da ADI 4.305. (2016 – 5ª
Turma).
Fonte: Dizer o Direito
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META 3
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL: LEI DE DROGAS
TODOS OS ARTIGOS
⦁ Art. 5º, XLVI da CF
⦁ Art. 5º, XLII, CF/88
⦁ Art. 5º, LI, CF/88
⦁ Art. 144, §1º, II, CF/88
⦁ Art. 243, §único, CF/88
⦁ Art. 10, CPP (análise comparativa com o art. 51 da Lei de Drogas)
⦁ Art. 159, §1º, CPP (análise comparativa com o art. 50, §1º da Lei de Drogas)
⦁ Art. 323, II, CPP
⦁ Portaria nº 344/98, Anvisa
⦁ Lei 11.343/06 inteira!
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO PODEM DEIXAR DE LER
⦁ Art. 5º, XLII, CF/88
⦁ Art. 243, §único, CF/88
⦁ Art. 10, CPP (análise comparativa com o art. 51 da Lei de Drogas)
⦁ Art. 159, §1º, CPP (análise comparativa com o art. 50, §1º da Lei de Drogas)
⦁ Art. 323, II, CPP
⦁ Principais artigos da Lei de Drogas:
- Art. 28 (leitura completa! Muito importante!
- Art. 30
- Art. 32, §4º
- Art. 33, principalmente o §4º (alta incidência em provas!)
- Arts. 35 (analisar comparativamente com o art. 288, CP)
- Art. 38 (único crime culposo da Lei)
- Art. 39 (único crime de perigo concreto da Lei)
- Art. 40 (alta incidência em provas!)
- Art. 41 e 42
- Arts. 50, 50-A (alta incidência em provas!)
- Arts. 51 e 53
- Art. 56, §1º
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- Arts. 60, 61 e 62 (muito importantes pois houve mudança legislativa em 2019!)
- Art. 63-A, 63-D e 63-E
- Art. 63-F (muito importante!)
- Art. 70 e art. 72
SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA
Súmula 607-STJ: A majorante do tráfico transnacional de drogas (art. 40, I, da Lei nº 11.343/2006)
configura-se com a prova da destinação internacional das drogas, ainda que não consumada a
transposição de fronteiras.
Súmula 587-STJ: Para a incidência da majorante prevista no artigo 40, V, da Lei 11.343/06, é desnecessária
a efetiva transposição de fronteiras entre estados da federação, sendo suficiente a demonstração
inequívoca da intenção de realizar o tráfico interestadual.
Súmula 501-STJ: É cabível a aplicação retroativa da Lei 11.343/06, desde que o resultado da incidência das
suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei 6.368/76,
sendo vedada a combinação de leis.
1. INTRODUÇÃO (LEI N° 11.343/2006)
“Referido diploma legal institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas — Sisnad;
prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção de usuários e dependentes de
drogas, e estabelece normas para a repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito, além de definir
os respectivos ilícitos penais e regulamentar o procedimento para a sua apuração. As Leis ns. 6.368/76 e
10.409/2002, que tratavam /do tema, foram expressamente revogadas.
No âmbito criminal, as principais inovações foram o tratamento diferenciado em relação ao usuário,
a tipificação de crime específico para a cessão de pequena quantia de droga para consumo conjunto, o
agravamento da pena do tráfico, a criação da figura do tráfico privilegiado, a tipificação do crime de
financiamento ao tráfico, bem como a regulamentação de novo rito processual.”
1.1 Objeto Jurídico e Objeto Material
O bem jurídico tutelado é a saúde pública.
O objeto material é a droga, podendo ser conceituada como vegetais ou substratos dos quais possam
ser extraídas e produzidas drogas.
Apesar de a lei trazer uma conceituação legal, trata-se de conceito genérico que deve ser
complementado através de Portaria da Agência Brasileira de Vigilância Sanitária - Anvisa.
Nesse sentido, considerando que o conceito de “droga” só pode ser extraído com auxílio da portaria
344/1998 da Anvisa, temos uma norma penal em branco heterogênea / própria/ sentido estrito.
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Art. 1º, Parágrafo único. Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as
substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em
lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da
União.
Art. 66. Para fins do disposto no parágrafo único do art. 1º desta Lei, até que seja
atualizada a terminologia da lista mencionada no preceito, denominam-se drogas
substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob controle
especial, da Portaria SVS/MS no 344, de 12 de maio de 1998.
Vamos relembrar as normas penais em branco? A norma penal em branco é aquela cuja
compreensão do preceito primário demanda complementação. Pode ser classificada em:
NORMAL PENAL EM BRANCO HETEROGÊNEA NORMAL PENAL EM BRANCO HOMOGÊNEA
Quando o complemento estiver definido em ato
infralegal.
Quando o complemento estiver definido em lei.
(Divide-se em homóloga – mesma lei - ou heteróloga
– lei distinta).
Portanto, para que seja considerada droga, a substância precisa atender a 2 requisitos:
● Ser capaz de causar dependência;
● Estar prevista como droga, em lei ou em portaria da Anvisa.
Aprofundando para a prova discursiva...
A doutrina majoritária entende que a utilização de normas penais em branco heterogêneas não viola
o princípio da legalidade, desde que o núcleo essencial da conduta esteja descrito na lei.
Na hipótese de determinada “substância” ser excluída do rol que consta da Portaria da Anvisa,
deixando, portanto, de ser considerada droga, devemos sustentar que houve abolitio criminis, com
subsequente retroatividade da lei em benefício do réu.
Entretanto, se determinada substância foi inserida na Portaria em razão de uma situação excepcional
(por exemplo, período pandêmico), não haverá abolitio criminis, mas ultratividade. ,
Nas palavras do Professor Cleber Masson:
→ Caso o complemento detenha natureza permanente, a supressão dessa substância ostentaria natureza
jurídica de alteração benéfica e, portanto, seria dotada de retroatividade benéfica. Ex.: supressão de
substância que compõe a maconha.
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→ Por outro lado, se o complemento ostenta natureza jurídica de norma excepcional ou temporária, aplica-
se o raciocínio atribuível às leis excepcionais e temporárias.Ex.: inclusão temporária da “cola de sapateiro”,
em razão do aumento crescente de uso por parte de pessoas em situação de rua.
Art. 3º, CP. A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as
circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.
1.2 Sujeito Ativo
● Regra geral: crime comum.
● Exceção: Art. 38, Lei 11.343 “Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas necessite
o paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar”.
→ Nesse caso, trata-se de crime próprio, pois somente quem pode praticar a conduta
“PRESCREVER” são médicos e dentistas.
→ Caso o agente esteja exercendo irregularmente a medicina, o tipo penal será também o do
art.33, caput. Vejamos:
STJ - Quando o agente no exercício irregular da medicina prescreve substância
caracterizada como droga, resta configurado, em tese, o delito do art. 282 do
Código Penal - CP, em concurso formal com o do art. 33, caput, da Lei n. 11.
343/2006. (HC 139667/RJ)
1.3 Sujeito Passivo
A Coletividade, logo trata-se do que a doutrina chama de “crime vago”, uma vez que o sujeito passivo
é indeterminado.
1.4 Elemento Subjetivo
● Regra: Dolo.
● Exceção: art. 38 “Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas necessite o paciente,
ou fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar”.
→ Típico exemplo de crime culposo fechado, já que a regra é de que os crimes culposos são
abertos.
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https://scon.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?i=1&b=ACOR&livre=(('HC'.clap.+e+@num='139667')+ou+('HC'+adj+'139667'.suce.))&thesaurus=JURIDICO&fr=veja
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1.5 Ressalva à proibição de drogas
Art. 2º Ficam proibidas, em todo o território nacional, as drogas, bem como o
plantio, a cultura, a colheita e a exploração de vegetais e substratos dos quais
possam ser extraídas ou produzidas drogas, ressalvada a hipótese de autorização
legal ou regulamentar, bem como o que estabelece a Convenção de Viena, das
Nações Unidas, sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971, a respeito de plantas de
uso estritamente ritualístico-religioso.
Parágrafo único. Pode a União autorizar o plantio, a cultura e a colheita dos
vegetais referidos no caput deste artigo, exclusivamente para fins medicinais ou
científicos, em local e prazo predeterminados, mediante fiscalização, respeitadas
as ressalvas supramencionadas.
Convenção de Viena da ONU sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971:
Art. 32. (...) 4. O Estado em cujo território cresçam plantas silvestres que
contenham substâncias psicotrópicas dentre as incluídas na Lista I, e que são
tradicionalmente utilizadas por pequenos grupos, nitidamente caracterizados, em
rituais mágicos ou religiosos, poderão, no momento da assinatura, ratificação ou
adesão, FORMULAR RESERVAS em relação a tais plantas, com respeito às
disposições do artigo 7º, exceto quanto às disposições relativas ao comércio
internacional.
Da leitura do art. 2º da Lei nº 11.343/06 depreende haver uma proibição, em todo o território nacional, do
plantio, da cultura, da colheita e da exploração de vegetais e substratos dos quais possam ser extraídas ou
produzidas drogas. Há, porém, duas ressalvas importantes que podem ser objeto de indagação em prova:
• Plantas de uso estritamente ritualístico-religioso, nos termos.
• Autorização legal ou regulamentar para fins medicinais ou científicos.
Observe que a previsão contida no art. 2º da Lei de Drogas, não autoriza, por si só, a utilização ou o plantio
de substâncias entorpecentes para fins ritualístico-religioso, pois mesmo nessas hipóteses ainda será
necessária autorização legal ou regulamentar.
As condutas de plantar maconha para fins medicinais e importar sementes
para o plantio não preenchem a tipicidade material, motivo pelo qual se faz
possível a expedição de salvo-conduto, desde que comprovada a necessidade
médica do tratamento.
Desde 2015, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária vem autorizando o uso
medicinal de produtos à base de cannabis sativa, havendo, atualmente, autorização
sanitária para o uso de 18 fármacos. De fato, a ANVISA classificou a maconha como
planta medicinal (RDC n. 130/2016) e incluiu medicamentos à base de canabidiol e
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THC que contenham até 30mg/ml de cada uma dessas substâncias na lista A3 da
Portaria n. 344/1998, de modo que a prescrição passou a ser autorizada por meio de
Notificação de Receita A e de Termo de Consentimento Informado do Paciente.
Processo sob segredo judicial, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma,
por unanimidade, julgado em 22/11/2022.
1.6 Crimes de perigo abstrato x Crimes de perigo concreto
Crimes de perigo abstrato - são aqueles que não exigem a efetiva lesão de um bem jurídico ou a
colocação deste bem em risco real e concreto. São tipos penais que descrevem apenas um comportamento,
uma conduta, sem apontar um resultado específico como elemento expresso do injusto penal.
Crimes de perigo concreto – são aqueles que, para a consumação, se exige a comprovação de que
realmente houve perigo ou lesão ao bem jurídico.
● Regra: Os crimes da Lei de Drogas são crimes de perigo abstrato, ou seja, a prática da conduta
prevista em lei não está vinculada à demonstração de existência de perigo concreto, pois há
presunção absoluta de perigo ao bem jurídico.
● Exceção: Art. 39 é considerado crime de perigo concreto, tendo em vista que não basta conduzir a
embarcação ou aeronave após o consumo da droga, devendo demonstrar que efetivamente houve
a exposição do bem jurídico tutelado a perigo concreto de dano.
Art. 39. Conduzir embarcação ou aeronave após o consumo de drogas, expondo a
dano potencial a incolumidade de outrem:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, além da apreensão do veículo,
cassação da habilitação respectiva ou proibição de obtê-la, pelo mesmo prazo da
pena privativa de liberdade aplicada, e pagamento de 200 (duzentos) a 400
(quatrocentos) dias-multa.
1.7 Previsão constitucional a respeito da expropriação
O art. 243 da CR/88 prevê a expropriação de propriedades rurais e urbanas onde forem localizadas
culturas ilegais de plantas psicotrópicas, assim como o confisco de todo e qualquer bem de valor
econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas:
Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem
localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho
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escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a
programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem
prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto
no art. 5º.
Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em
decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de
trabalho escravo será confiscado e reverterá a fundo especial com destinação
específica, na forma da lei.
O STF em sede de repercussão geral reconheceu que a expropriação poderá ser afastada se o
proprietário comprovar que não incorreu em culpa, ainda que in vigilando ou in eligendo.
A expropriação prevista no art. 243 da CF pode ser afastada, desde que o proprietário
comprove que não incorreu em culpa, ainda que in vigilando ou in eligendo”. [RE
635.336, rel. min. Gilmar Mendes, j. 14-12-2016, P, DJE de 15-9-2017, Tema 399.]
A medida de expropriaçãoatingirá toda a propriedade, ainda que o cultivo seja realizado apenas em
parte da propriedade (STF, RE 543.974/MG).
Gabriel Habib defende mesmo que caracterizado como bem de família é possível a expropriação. O
autor argumenta que deve ser aplicado, por analogia, o art. 3º, VI, da Lei nº 8.009/90 que afasta a
impenhorabilidade quando “o bem foi adquirido com produto de crime”.
2. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
O tráfico de drogas é logicamente incompatível com a aplicação do princípio da insignificância e seus
vetores. No entanto, em relação ao crime de porte de drogas para consumo pessoal, previsto no art. 28 da
Lei, há divergência sobre o assunto.
O STJ e a doutrina majoritária entendem que não é possível aplicar o princípio da insignificância nem
mesmo ao crime de porte de drogas para uso pessoal, utilizando 3 argumentos principais:
1) A pequena quantidade de droga já é elementar do crime, não podendo ser valorada para fins da
insignificância.
2) O objeto jurídico é a saúde pública, e não a incolumidade do próprio usuário de drogas,
sobretudo porque o Direito Penal não pune a autolesão (princípio da alteridade)
3) Trata-se de crime de perigo abstrato cujo perigo está absolutamente presumido em lei.
Nesse sentido é o informativo 541 do STJ:
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=13611711
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=13611711
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Não se aplica o princípio da insignificância para o crime de posse/porte de droga
para consumo pessoal (art. 28 da Lei n. 11.343/2006). Para a jurisprudência, não
é possível afastar a tipicidade material do porte de substância entorpecente para
consumo próprio com base no princípio da insignificância, ainda que ínfima a
quantidade de droga apreendida. STJ. 6ª Turma. RHC 35.920-DF, Rel. Min. Rogerio
Schietti Cruz, julgado em 20/5/2014 (Info 541).
Ressalta-se, contudo, que o STF possui um precedente isolado de 2012 no sentido de que é possível
aplicar o princípio da insignificância. No entanto, não se pode afirmar que se trata de posição consolidada da
Corte.
STF - Ao aplicar o princípio da insignificância, a 1ª Turma concedeu habeas corpus
para trancar procedimento penal instaurado contra o réu e invalidar todos os atos
processuais, desde a denúncia até a condenação, por ausência de tipicidade
material da conduta imputada. No caso, o paciente fora condenado, com fulcro no
art. 28, caput, da Lei 11.343/2006, à pena de 3 meses e 15 dias de prestação de
serviços à comunidade por portar 0,6 g de maconha. Destacou-se que a incidência
do postulado da insignificância, de modo a tornar a conduta atípica, exigiria o
preenchimento concomitante dos seguintes requisitos: mínima ofensividade da
conduta do agente; nenhuma periculosidade social da ação; reduzido grau de
reprovabilidade do comportamento; e inexpressividade da lesão jurídica
provocada.( STF HC 110.475)
Em regra, deve se utilizar o entendimento do STJ, inviabilizando a aplicação do princípio da
insignificância nas hipóteses da lei de drogas, entretanto, em uma questão discursiva é importante
mencionar o precedente do STF e citar os vetores (MARI) da aplicação do princípio da insignificância:
● Mínima ofensividade da conduta.
● Ausência de periculosidade social.
● Reduzidíssimo grau de reprovação.
● Inexpressividade da lesão ao bem jurídico.
É atípica a conduta de importar pequena quantidade de sementes de maconha.
STJ. 3ª Seção. EREsp 1624564-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 14/10/2020 (Info 683).
STF. 2ª Turma. HC 144161/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/9/2018 (Info 915).
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CAIU NA PROVA DELEGADO RIO DE JANEIRO 2022! – A aquisição de medicamentos, a importação das
sementes e a posse de utensílios para a produção de maconha para consumo próprio não constituem
infrações previstas na Lei nº 11.343/2006. (item correto).
3. DA REPREENSÃO A PRODUÇÃO NÃO AUTORIZADA E DO TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS.
Art. 31 - É indispensável a licença prévia da autoridade competente para produzir,
extrair, fabricar, transformar, preparar, possuir, manter em depósito, importar,
exportar, reexportar, remeter, transportar, expor, oferecer, vender, comprar,
trocar, ceder ou adquirir, para qualquer fim, drogas ou matéria-prima destinada à
sua preparação, observadas as demais exigências legais
Art. 32. As plantações ilícitas serão imediatamente destruídas pelo delegado de
polícia na forma do art. 50-A, que recolherá quantidade suficiente para exame
pericial, de tudo lavrando auto de levantamento das condições encontradas, com
a delimitação do local, asseguradas as medidas necessárias para a preservação da
prova. (Redação dada pela Lei nº 12.961, de 2014)
§ 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 12.961, de 2014)
§ 2º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 12.961, de 2014)
§ 3º Em caso de ser utilizada a queimada para destruir a plantação, observar-se-á,
além das cautelas necessárias à proteção ao meio ambiente, o disposto no Decreto
nº 2.661, de 8 de julho de 1998, no que couber, dispensada a autorização prévia do
órgão próprio do Sistema Nacional do Meio Ambiente - Sisnama.
§ 4º As glebas cultivadas com plantações ilícitas serão expropriadas, conforme o
disposto no art. 243 da Constituição Federal, de acordo com a legislação em vigor.
É importante salientar que as plantações serão destruídas imediatamente pelo delegado de polícia.
Cuidado para não confundir a destruição imediata da plantação com a destruição da droga propriamente
dita, haja vista que esta depende de outros fatores, como a ocorrência ou não de flagrante, perícia da droga,
dentre outros que serão estudados adiante.
Com relação à licença para a autorização prevista no art. 32, essa é de competência da ANVISA.
Caiu na prova Delegado – PCGO (2022) Com base na Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas), informe se é
verdadeiro (V) ou falso (F) o que se afirma a seguir e assinale a alternativa com a sequência correta.
( ) As plantações ilícitas devem ser imediatamente destruídas pelo delegado de polícia através de
incineração, que recolherá quantidade suficiente para exame pericial, de tudo lavrando auto de
levantamento das condições encontradas, com a delimitação do local, asseguradas as medidas necessárias
para a preservação da prova.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L12961.htm#art1
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L12961.htm#art6
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L12961.htm#art2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L12961.htm#art6
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L12961.htm#art2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D2661.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D2661.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm#art243
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( ) Nos termos da Lei nº 11.343/2006, para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e
estabelecimento da materialidade do delito, é suficiente o laudo de constatação da natureza e quantidade
da droga, firmado por perito oficial ou, na falta deste, por pessoa idônea.
( ) Não será imposta prisão em flagrante a quem trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem
autorização, devendo o autor do fato ser imediatamente encaminhado ao juízo competente ou, na falta
deste, assumir o compromisso de a ele comparecer, lavrando-se termo circunstanciado e providenciando-
se as requisições dos exames e perícias necessários.
Gabarito: Todos os itens corretos!
4. DOS CRIMES E DAS PENAS.
4.1 Porte de Drogas paraUso Pessoal
Art. 28 - Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo,
para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:
I - advertência sobre os efeitos das drogas;
II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.
§1° Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia,
cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de
substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica.
§ 2º Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à
natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que
se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e
aos antecedentes do agente.
a) Condutas:
São incriminadas cinco condutas, tratando-se de tipo penal misto alternativo:
● Adquirir: obter a propriedade, a título oneroso ou gratuito. O mais comum, entretanto, é a
compra;
● Trazer consigo: é sinônimo de portar, conduzir pessoalmente a droga;
● Guardar e ter em depósito: é manter a droga em algum local;
● Transportar: conduzir de um local para outro em algum meio de transporte.
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Há, ainda, a figura equiparada prevista no §1º, a qual a lei conferiu o mesmo tratamento, mas com
objeto material diferente. Em vez de se referir a drogas, refere-se à PLANTAS DESTINADAS À PREPARAÇÃO
DE PEQUENA QUANTIDADE DE DROGA.
● Semear
● Cultivar
● Colher
b) Elementos do Tipo:
▪ Elemento normativo do tipo – “sem autorização ou em desacordo com a autorização legal”. Se
houver autorização, o fato será atípico.
▪ Elemento Subjetivo especial (ou dolo específico) – tanto no caput como no §1º exige-se o dolo
específico, qual seja: PARA CONSUMO PESSOAL (caput) e PARA PREPARAR PEQUENA QUANTIDADE
DE DROGA (§1º).
🕮 Pergunta-se: Como determinar que é voltada ao consumo de PEQUENA quantidade (e não grande
quantidade apta a ensejar o crime de tráfico)?
R.: À luz do art. 28, §2º, para o juiz determinar se a quantidade a consumo pessoal, deverá atentar-se
para:
⦁ Natureza e à quantidade da substância apreendida
⦁ Ao local e às condições em que se desenvolveu a ação
⦁ Às circunstâncias sociais e pessoais do agente
⦁ Conduta e aos antecedentes do agente.
A quantidade de drogas, por si só, não é fator determinante para concluir se era
para consumo pessoal
Nos termos do art. 28, § 2º, da Lei n. 11.343/2006, não é apenas a quantidade de
drogas que constitui fator determinante para a conclusão de que a substância se
destinava a consumo pessoal, mas também o local e as condições em que se
desenvolveu a ação, as circunstâncias sociais e pessoais, bem como a conduta e os
antecedentes do agente. STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 1740201/AM, Rel. Min.
Rogerio Schietti Cruz, julgado em 17/11/2020.
Caiu na prova delegado PCRR – (2022): Para quem transporta, para consumo pessoal, drogas sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, a Lei nº 11.343/2006 – Lei
Antidrogas prevê a pena de advertência sobre os efeitos das drogas. (item correto).
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/ef0b9a69f90b1ab0228784ccc7d52136?categoria=11&subcategoria=123
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/ef0b9a69f90b1ab0228784ccc7d52136?categoria=11&subcategoria=123
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DICA DE PROVA: cuidado para não confundir o §2º do artigo 28 com o art. 52, I, que especifica o relatório a
ser elaborado pelo delegado de polícia.
Art. 52. Findos os prazos a que se refere o art. 51 desta Lei, a autoridade de polícia judiciária, remetendo os
autos do inquérito ao juízo:
I - relatará sumariamente as circunstâncias do fato, justificando as razões que a levaram à classificação do
delito, indicando a quantidade e natureza da substância ou do produto apreendido, o local e as condições
em que se desenvolveu a ação criminosa, as circunstâncias da prisão, a conduta, a qualificação e os
antecedentes do agente.
c) Natureza Jurídica do art. 28
Em que pese o STF tenha deixado claro que o art. 28 tem natureza jurídica de crime, é importante
atentar para os fortes questionamentos doutrinários acerca do tema. Vejamos:
❖ 1ª corrente - STF e doutrina majoritária: Houve uma DESPENALIZAÇÃO do art. 28.
Afirma a que o tipo penal tem natureza jurídica de crime, infração penal, tendo sofrido apenas uma
despenalização (e não descriminalização), sob os seguintes argumentos:
⦁ A lei, ao tratar do tema, classificou a conduta como crime, pois o art. 28 está
topograficamente localizado capítulo “Dos Crimes e das Penas”
⦁ Estabeleceu o rito processual junto ao Juizado Especial Criminal;
⦁ O art. 5º, XLVI da CF/88 autoriza penas diversas das penas privativas de liberdade – reclusão
e detenção.
⦁ Ademais, a não previsão de pena privativa de liberdade em abstrato não a descaracteriza
como crime, pois a finalidade do art. 1° da Lei de Introdução ao CP ao exigir tal previsão era
apenas a de diferenciar os crimes das contravenções penais. Ainda, quando a LICP entrou
em vigor não existiam penas alternativas.
⦁ O art. 30 da Lei de Drogas fala em prescrição, revelando, portanto, se tratar de crime.
Veja a jurisprudência do STJ:
O porte de droga para consumo próprio, previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006,
possui natureza jurídica de crime. O porte de droga para consumo próprio foi
somente despenalizado pela Lei nº 11.343/2006, mas não descriminalizado. Obs:
despenalizar é a medida que tem por objetivo afastar a pena como
tradicionalmente conhecemos, em especial a privativa de liberdade.
Descriminalizar significa deixar de considerar uma conduta como crime (...) (Info
632. STJ).
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❖ 2ª Corrente (LFG) – Houve uma DESCRIMINALIZAÇÃO FORMAL.
Natureza jurídica de infração penal sui generis, com base nos fundamentos seguintes:
⦁ O rótulo do capítulo nem sempre espelha o seu conteúdo. Ex. Lei 1.079/50 que trabalha as
infrações políticas de governadores e Dec. Lei 201/67 que fala de infrações de prefeitos.
⦁ Entende que a reincidência foi utilizada no sentido popular, querendo dizer apenas e tão
somente, repetir o fato.
⦁ Prescrição não é instituto exclusivo de crime. Há prescrição em ilícito civil, em penas
disciplinares e em atos infracionais.
⦁ A Lei de introdução ao CP diz que o crime é punido com reclusão ou detenção e a
contravenção penal é punida com prisão simples.
❖ 3ª Corrente – Alice Bianchini - Descriminalização material.
O art. 28 não é infração penal.
⦁ A lei, ao invés de punir, prefere falar em medidas educativas.
⦁ O não cumprimento das medidas não gera consequência penal.
⦁ Princípio da intervenção mínima.
⦁ A saúde individual é um bem jurídico disponível.
CONCLUSÃO
Despenalização – a conduta continua sendo crime e a resposta estatal continua sendo uma pena, entretanto
há o abrandamento da sanção, não havendo privação de liberdade.
Descriminalização – a conduta deixa de ser crime, opera-se o fenômeno da “abolitio criminis” (revogação
formal do tipo + descontinuidade típico-normativa).
O que ocorreu no delito de porte de drogas para uso foi justamente o fenômeno da despenalização, tendo
em vista que o legislador manteve a natureza de infração penal, porém com sensação mais branda em relação
àquela aplicada pela lei anterior, consubstanciada na advertência sobre os efeitos das drogas, prestação de
serviços à comunidade e medida de comparecimento à programa ou curso educativo.
O RecursoExtraordinário nº 635659, com repercussão geral reconhecida (Tema 506) está pendente de
julgamento e pode descriminalizar o porte de drogas para consumo pessoal.
d) Flagrante delito:
Art. 48, § 2º Tratando-se da conduta prevista no art. 28 desta Lei, não se imporá
prisão em flagrante, devendo o autor do fato ser imediatamente encaminhado ao
juízo competente ou, na falta deste, assumir o compromisso de a ele comparecer,
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lavrando-se termo circunstanciado e providenciando-se as requisições dos exames
e perícias necessários.
§ 3º Se ausente a autoridade judicial, as providências previstas no § 2º deste artigo
serão tomadas de imediato pela autoridade policial, no local em que se encontrar,
vedada a detenção do agente.
Não será imposta ao acusado prisão em flagrante, frente ao disposto no parágrafo segundo do art.
48 da presente lei.
Ressalta-se que a vedação à prisão em flagrante significa apenas que não poderá ser lavrado auto
de prisão em flagrante, o qual funciona como um título prisional. E não cabe a lavratura justamente porque
ao crime do art. 28 não é cominada nenhuma forma de privação da liberdade. No entanto, é possível que o
indivíduo seja capturado e conduzido à delegacia para que seja feito um registro de ocorrência.
Caiu na prova de Delegado do ES/2019!
João Pedro foi abordado por policiais militares que faziam ronda próximo a uma Universidade particular. Ao
perceberem a atitude suspeita de João, os policiais resolveram proceder a revista pessoal e identificaram que
João portava um cigarro de maconha para consumo pessoal. Nessa situação hipotética, a expressão “não se
imporá prisão em flagrante”, descrita no art. 48 da lei 11.343/06, significa que é vedado a autoridade policial:
Efetuar a condução coercitiva até a delegacia de polícia.
Efetuar a lavratura do auto de prisão em flagrante.
Lavrar o termo circunstanciado.
Apreender o objeto de crime.
Realizar a captura do agente.
GABARITO: LETRA B
Por sua vez, o §3º prevê que o flagrante de uso de drogas será lavrado pela autoridade policial
somente na ausência de juiz.
Nesse sentido, corroborando com a regra prevista no §3º, o Plenário do STF, no bojo da ADI nº 3.907,
decidiu que a autoridade policial pode lavrar termo circunstanciado de ocorrência e requisitar exames e
perícias em caso de flagrante de uso ou posse de entorpecentes para consumo próprio, desde que ausente
a autoridade judicial.5
Por maioria de votos, o colegiado julgou improcedente a ação ajuizada pela Associação dos
Delegados de Polícia do Brasil contra dispositivos da lei de drogas (11.343/06). A associação argumentava,
5 Explicação retirada do site: https://www.migalhas.com.br/quentes/330502/stf-flagrante-de-uso-de-drogas-pode-ser-
lavrado-por-autoridade-policial-somente-na-ausencia-de-juiz. Acesso em 10.08.2020.
http://../Downloads/_blank
https://www.migalhas.com.br/quentes/330502/stf-flagrante-de-uso-de-drogas-pode-ser-lavrado-por-autoridade-policial-somente-na-ausencia-de-juiz
https://www.migalhas.com.br/quentes/330502/stf-flagrante-de-uso-de-drogas-pode-ser-lavrado-por-autoridade-policial-somente-na-ausencia-de-juiz
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entre outros pontos, que a lei conferia aos juízes poderes inquisitivos, com violação dos princípios do
contraditório e da ampla defesa, em confronto com as competências das Polícias Federal e Civil.
Ressalta-se que a maioria dos ministros acompanhou o voto da relatora, ministra Cármen Lúcia, que
explicou que, de acordo com o parágrafo 3º do artigo 48 da lei de drogas, a autoridade policial, em relação a
quem adquirir, guardar ou transportar droga para consumo pessoa, pode lavrar o flagrante e tomar as
providências previstas na lei “se ausente a autoridade judicial”.
Segundo a relatora, presume-se que, presente a autoridade judicial, cabe a ela a adoção dos
procedimentos, até mesmo quanto à lavratura do termo circunstanciado. Em qualquer dos casos, é vedada
a detenção do autor. Essa interpretação, a seu ver, é a que mais se amolda à finalidade dos dispositivos, que
é a despenalização do usuário de drogas.
De acordo com o procedimento previsto na norma, o autor do crime deve, de preferência, ser
encaminhado diretamente ao juízo competente, se disponível, para que ali seja lavrado o termo
circunstanciado de ocorrência e requisitados os exames e perícias necessários. Esse procedimento, segundo
a ministra, afasta a possibilidade de que o usuário de drogas seja preso em flagrante ou detido indevidamente
pela autoridade policial: “As normas foram editadas em benefício do usuário de drogas, visando afastá-lo do
ambiente policial quando possível e evitar que seja indevidamente detido pela autoridade policial”.
A ministra ressaltou ainda que, ao contrário do que alegado pela Adepol, o dispositivo não atribuiu
ao órgão judicial competências de polícia judiciária, pois a lavratura de TCO não configura ato de investigação,
mas peça informativa, com descrição detalhada do fato e as declarações do condutor do flagrante e do autor
do fato.
Os ministros Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes acompanharam a relatora, com a ressalva de
que, do ponto de vista constitucional, a lavratura do termo circunstanciado pela autoridade judicial não é
medida preferencial em relação à atuação da autoridade policial, mas, na prática, medida excepcional.
Veja o julgado disponibilizado pelo Dizer o Direito:
O autor da conduta do art. 28 da LD deve ser encaminhado diretamente ao juiz,
que irá lavrar o termo circunstanciado e fará a requisição dos exames e perícias;
somente se não houver juiz é que tais providências serão tomadas pela
autoridade policial; essa previsão é constitucional. O STF, interpretando os §§ 2º
e 3º do art. 48 da Lei nº 11.343/2006, afirmou que o autor do crime previsto no art.
28 da Lei nº 11.343/2006 deve ser encaminhado imediatamente ao juiz e o próprio
magistrado irá lavrar o termo circunstanciado e requisitar os exames e perícias
necessários. Se não houver disponibilidade do juízo competente, deve o autor ser
encaminhado à autoridade policial, que então adotará essas providências (termo
circunstanciado e requisição). Não há qualquer inconstitucionalidade nessa
previsão. Isso porque a lavratura de termo circunstanciado e a requisição de
exames e perícias não são atividades de investigação. Considerando-se que o termo
circunstanciado não é procedimento investigativo, mas sim uma mera peça
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informativa com descrição detalhada do fato e as declarações do condutor do
flagrante e do autor do fato, deve-se reconhecer que a possibilidade de sua
lavratura pela autoridade judicial (magistrado) não ofende os §§ 1º e 4º do art. 144
da Constituição, nem interfere na imparcialidade do julgador. As normas dos §§ 2º
e 3º do art. 48 da Lei nº 11.343/2006 foram editadas em benefício do usuário de
drogas, visando afastá-lo do ambiente policial, quando possível, e evitar que seja
indevidamente detido pela autoridade policial. STF. Plenário. ADI 3807, Rel. Cármen
Lúcia, julgado em 29/06/2020 (Info 986 – clipping)
CAIU DELEGADO RIO DE JANEIRO 2022
Considerando o disposto na Lei nº 11.343/2006 (lei de drogas) assinale a opção correta: Tratando-se de
conduta prevista no art. 28 dessa lei, não se imporá prisão em flagrante, devendo o autor do fato ser
imediatamente encaminhado ao juízo competente, que lavrará o termo circunstanciado e providenciará as
requisições dos exames periciais necessárias; se ausente o juiz, as providências deverão ser tomadas de
imediato pela autoridade policial, no local em que se encontrar, vedada a detenção do agente. (item correto)
e) Penas aplicadas para oart. 28
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo,
para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:
I - Advertência sobre os efeitos das drogas;
II - Prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento à programa ou curso educativo.
As penas, nas quais não se incluem nenhum mecanismo de privação de liberdade, poderão ser
aplicadas isoladas ou cumulativamente de acordo com o caso concreto, à luz do princípio da individualização
da pena.
● Advertência sobre os efeitos das drogas
● Prestação de serviços à comunidade
● Medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo
Obs.1: Tendo em vista a impossibilidade de aplicação de pena privativa de liberdade, não é cabível ordem de
habeas corpus em favor do usuário que praticou o tipo penal do art.28.
SÚMULA 693, STF - “Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena
de multa, ou relativa a processo em curso por infração penal a que a pena
pecuniária seja a única cominada”.
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Obs.2: A prestação de serviços à comunidade e a medida educativa têm o prazo máximo de 5 meses (art. 28,
§3º). No caso de reincidência específica, o prazo máximo será de 10 meses (art. 28, §4º)
§ 3º As penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo
prazo máximo de 5 (cinco) meses.
§ 4º Em caso de reincidência, as penas previstas nos incisos II e III do caput deste
artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 10 (dez) meses.
Veja, inclusive, a recente jurisprudência sobre o tema:
O art. 28 da Lei nº 11.343/2006 prevê o crime de porte de drogas para consumo
pessoal. Em regra, as penas dos incisos II e III só podem ser aplicadas pelo prazo
máximo de 5 meses. O § 4º prevê que: “em caso de reincidência, as penas previstas
nos incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 10
(dez) meses.” A reincidência de que trata o § 4º é a reincidência específica. Assim,
se um indivíduo já condenado definitivamente por roubo, pratica o crime do art.
28, ele não se enquadra no § 4º. Isso porque se trata de reincidente genérico. O §
4º ao falar de reincidente, está se referindo ao crime do caput do art. 28. STJ. 6ª
Turma. REsp 1771304-ES, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 10/12/2019 (Info
662).
Caso o apenado deixe de cumprir as medidas impostas, poderá o juiz submetê-lo ainda à
admoestação verbal e multa, nessa ordem, como orienta o parágrafo sexto. Ou seja:
1 - Aplica a(s) pena(s) de advertência, prestação de serviços à comunidade e medida educativa
de comparecimento à programa ou curso educativo. Em havendo o descumprimento de tais
medidas, aplica-se:
2 - Admoestação verbal. – Em sendo insuficiente a admoestação verbal:
3 - Multa
§ 6º Para garantia do cumprimento das medidas educativas a que se refere o caput,
nos incisos I, II e III, a que injustificadamente se recuse o agente, poderá o juiz
submetê-lo, sucessivamente a:
I - admoestação verbal;
II - multa.
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Quanto ao prazo prescricional, esse em regra será de 2 anos, sendo observada as regras gerais de
interrupção e suspensão da prescrição, bem como a sua contagem pela metade do prazo na hipótese de o
agente ser menor de 21 anos na data do fato ou maior de 70 anos na data da sentença.
Art. 30. Prescrevem em 2 (dois) anos a imposição e a execução das penas,
observado, no tocante à interrupção do prazo, o disposto nos artigos 107 e
seguintes do código penal.
IMPORTANTE!
Em 2018 houve uma mudança jurisprudencial no sentido de entender que a condenação do agente por
crime do artigo 28 NÃO É APTA A GERAR REINCIDÊNCIA.
A condenação pelo art. 28 da Lei 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio)
NÃO configura reincidência
O porte de droga para consumo próprio, previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006,
possui natureza jurídica de crime. O porte de droga para consumo próprio foi
somente despenalizado pela Lei nº 11.343/2006, mas não descriminalizado. Obs:
despenalizar é a medida que tem por objetivo afastar a pena como
tradicionalmente conhecemos, em especial a privativa de liberdade.
Descriminalizar significa deixar de considerar uma conduta como crime. Mesmo
sendo crime, o STJ entende que a condenação anterior pelo art. 28 da Lei nº
11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência.
Argumento principal: se a contravenção penal, que é punível com pena de prisão
simples, não configura reincidência, mostra-se desproporcional utilizar o art. 28 da
LD para fins de reincidência, considerando que este delito é punido apenas com
“advertência”, “prestação de serviços à comunidade” e “medida educativa”, ou,
seja, sanções menos graves e nas quais não há qualquer possibilidade de conversão
em pena privativa de liberdade pelo descumprimento. Há de se considerar, ainda,
que a própria constitucionalidade do art. 28 da LD está sendo fortemente
questionada. STJ. 5ª Turma. HC 453437/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca,
julgado em 04/10/2018. STJ. 5ª Turma. AgRg-AREsp 1.366.654/SP, Rel. Min. Ribeiro
Dantas, julgado em 13/12/2018. STJ. 6ª Turma. REsp 1672654/SP, Rel. Min. Maria
Thereza de Assis Moura, julgado em 21/08/2018 (Info 632).
Fonte: Dizer o Direito
f) Rito processual
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/c1d53b7a97707b5cd1815c8d228d8ef1?categoria=11&subcategoria=123
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O art. 28 da Lei de Drogas é infração de menor potencial ofensivo. Seu processo e julgamento seguem
o rito sumaríssimo (arts. 60 e seguintes da Lei 9.099/95).
Por ser uma infração de menor potencial ofensivo, admite a concessão de institutos como suspensão
condicional do processo e transação penal.
Obs.: De acordo com o entendimento do STJ, no bojo do informativo 668/2020, o processamento do
réu pela prática da conduta descrita no art. 28 da Lei de Drogas no curso do período de prova deve ser
considerado como causa de revogação facultativa da suspensão condicional do processo. Explicamos:
A Suspensão condicional do processo é um instituto despenalizador oferecido pelo MP ou querelante
ao acusado que tenha sido denunciado por crime cuja pena mínima seja igual ou inferior a 1 ano, e que não
esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, desde que presentes os demais
requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal). Para que seja possível
a proposta de suspensão condicional do processo é necessário o preenchimento dos seguintes requisitos
(art. 89, Lei 9099/95):
1. O réu deve estar sendo acusado por crime cuja pena mínima é igual ou inferior a 1 ano;
2. O réu não pode estar sendo processado ou ter sido condenado por outro crime;
3. Devem estar presentes os demais requisitos que autorizam a suspensão condicional da pena,
previstos no art. 77 do Código Penal.
O cumprimento dos requisitos acarretará a extinção da punibilidade. Por outro lado, o
descumprimento dos requisitos durante o período de prova pode acarretar a revogação obrigatória ou
facultativa do sursi. Veja:
REVOGAÇÃO OBRIGATÓRIA REVOGAÇÃO FACULTATIVA
A suspensão será obrigatoriamente revogada
se, no curso do prazo:
a) o beneficiário vier a ser processado por
outro crime; ou
b) não efetuar, sem motivo justificado, a
reparação do dano
A suspensão poderá ser revogada pelo juiz se:
a) o acusado vier a ser processado,no curso
do prazo, por contravenção, ou
b) descumprir qualquer outra condição
imposta.
Nesse sentido, considerando que a prática de contravenção penal é causa de revogação facultativa
da suspensão condicional do processo, o mesmo tratamento deve ser conferido para o caso de
cometimento do crime do art. 28 da Lei de Drogas. Em outras palavras: Se, durante o período de prova, o
agente pratica o crime do art. 28 da Lei de Drogas, a suspensão condicional do processo será facultativa –
e não obrigatória.
Highlight
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Isso porque mostra-se desproporcional que o mero processamento do réu pela prática do crime
previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006 torne obrigatória a revogação da suspensão condicional do processo
(art. 89, § 3º, da Lei nº 9.099/95), enquanto que o processamento por contravenção penal (que tem efeitos
primários mais deletérios) ocasione a revogação facultativa (art. 89, § 4º, da Lei nº 9.099/95).
Dessa forma, o STJ entendeu ser mais razoável que o fato de o réu estar sendo processado pela
prática do crime previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006 seja analisado como causa facultativa de
revogação do benefício da suspensão condicional do processo.
g) Distinção com relação ao art. 290 do CPM – Princípio da Especialidade
O militar flagrado com substância entorpecente em local sujeito à administração militar, comete o crime
militar previsto no art. 290 do COM, em razão da aplicação do princípio da especialidade.
4.2 Tráfico de Drogas (Art. 33, Caput)
Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender,
expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar,
prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que
gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar:
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a
1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.
a) Considerações Iniciais:
● Objeto jurídico: A saúde pública e o equilíbrio sanitário da coletividade, colocado em risco pela
disseminação de substâncias que provocam dependência e expõem a risco a saúde física e mental
dos usuários.
● Sujeito ativo: “Pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime comum. A coautoria e a participação
são possíveis em todas as condutas descritas no tipo penal” (GONÇALVES; BALTAZAR JUNIOR,
2018, p. 97).
● Trata-se de crime de perigo abstrato, para sua configuração basta a prática de conduta pelo
agente, não necessitando que nenhum bem jurídico seja colocado em perigo, sendo faceta do que
a doutrina convencionou chamar de “antecipação da tutela penal”.
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● Tipo penal misto alternativo, uma vez que o núcleo é composto por vários verbos e a realização
de mais de um deles não enseja concurso de crimes.
● Elemento normativo - “Sem autorização e em desacordo com determinação legal ou
regulamentar”. O tráfico só restará configurado se a conduta for praticado sem autorização legal.
● Não exige conduta finalisticamente voltada à obtenção de lucro.
● Norma penal em branco heterogênea, tendo como complemento a portaria 344/1998 da ANVISA.
● Competência: Em regra, o crime é da justiça estadual. Somente atrairá a competência da justiça
federal quando restar demonstrada a internacionalidade do delito.
Em regra, compete à Justiça Estadual julgar habeas corpus preventivo destinado
a permitir o cultivo e o porte de maconha para fins medicinais
Compete à Justiça Estadual o pedido de habeas corpus preventivo para viabilizar,
para fins medicinais, o cultivo, uso, porte e produção artesanal da Cannabis
(maconha), bem como porte em outra unidade da federação, quando não
demonstrada a internacionalidade da conduta. STJ. 3ª Seção. CC 171.206-SP, Rel.
Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 10/06/2020 (Info 673).
b) Condutas Típicas: (GONÇALVES; BALTAZAR JUNIOR, 2018, p. 98)
Considerando que a maioria dos verbos do tipo são autoexplicativos, iremos conceituar aqui
apenas os que exigem um maior esforço de raciocínio. No entanto, lembramos que é imprescindível a
leitura detalhada de todos os verbos constantes do caput do art. 33, ok?
⦁ IMPORTAR - consiste em fazer entrar o entorpecente no País, por via aérea, marítima ou por terra.
O crime pode ser praticado até pelo correio. O delito consuma-se no momento em que a droga
entra no território nacional. Pelo princípio da especialidade, aplica-se a Lei de Drogas, e não o art.
334 do Código Penal (contrabando ou descaminho), delito que, dessa forma, só pune a importação
de outros produtos proibidos.
⦁ EXPORTAR - é enviar o entorpecente para outro país por qualquer dos meios mencionados.
Remeter é deslocar a droga de um local para outro do território nacional.
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⦁ PREPARAR - consiste em combinar substâncias não entorpecentes, formando uma tóxica pronta
para o uso. Produzir é criar. É a preparação com capacidade criativa, ou seja, que não consista
apenas em misturar outras substâncias.
⦁ FABRICAÇÃO - é a produção por meio industrial. Adquirir é comprar, obter a propriedade, a título
oneroso ou gratuito. Só configura o crime de tráfico se a pessoa adquire com intenção de,
posteriormente, entregar a consumo de outrem. Quem compra droga para uso próprio incide na
conduta prevista no art. 28 — porte de droga para consumo próprio, que possui pena muito mais
branda.
⦁ VENDER - é alienar mediante contraprestação em dinheiro ou outro valor econômico. Expor à
venda consiste em exibir a mercadoria aos interessados na aquisição. Oferecer significa abordar
eventuais compradores e fazê-los saber que possui a droga para venda. O significado das condutas
“guardar” e “ter em depósito” é objeto de controvérsia na doutrina. Com efeito, Nélson Hungria
entende que “ter em depósito” é reter a droga que lhe pertence, enquanto “guardar” é reter a
droga pertencente a terceiro. É esse também o entendimento de Fernando Capez. Para Vicente
Greco Filho, ambas as condutas implicam retenção da substância entorpecente, mas a figura “ter
em depósito” sugere provisoriedade e possibilidade de deslocamento rápido da droga de um local
para outro, enquanto “guardar” tem um sentido, pura e simplesmente, de ocultação.
⦁ TRANSPORTAR - significa conduzir de um local para outro em um meio de transporte e, assim,
difere da conduta “remeter” porque, nesta, não há utilização de meio de transporte viário. Enviar
droga por correio, portanto, constitui “remessa”, exceto se for entre dois países, quando consistirá
em “importação” ou “exportação”. Por sua vez, o motorista de um caminhão que leva a droga de
Campo Grande para São Paulo está “transportando” a mercadoria entorpecente.Trazer consigo é
conduzir pessoalmente a droga. É, provavelmente, a conduta mais comum, porque se configura
quando o agente, por exemplo, traz o entorpecente em seu bolso ou bolsa.
⦁ PRESCREVER - evidentemente, é sinônimo de receitar. Por essa razão, a doutrina costuma
mencionar que se trata de crime próprio, pois só médicos e dentistas podem receitar
medicamentos. Lembre-se de que há substâncias entorpecentes que podem ser vendidas em
farmácias, desde que haja prescrição médica. Porém, se o médico, intencionalmente, prescreve o
entorpecente, apenas para facilitar o acesso à droga, responde por tráfico. O crime consuma-se no
momento em que a receita é entregue ao destinatário. Se alguém, que não é médico ou dentista,
falsifica uma receita e consegue comprar a droga, responde por tráfico na modalidade “adquirir”
com intuito de venda posterior. A prescrição culposa de entorpecente (em dosemaior que a
necessária ou em hipótese em que não é recomendável o seu emprego) caracteriza crime
específico, previsto no art. 38 da Lei de Drogas.
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⦁ MINISTRAR - é aplicar, inocular, introduzir a substância entorpecente no organismo da vítima —
quer via oral, quer injetável. Exemplo: um farmacêutico injeta drogas em determinada pessoa sem
existir prescrição médica para tanto. Fornecer é sinônimo de proporcionar. O fornecimento
pressupõe intenção de entrega continuada do tóxico ao comprador e, por tal razão, difere das
condutas “vender” ou simplesmente “entregar”. O fornecimento e a entrega, ainda que gratuitos,
tipificam o crime.
● Em algumas condutas, estaremos diante de um crime permanente:
✔ Guardar
✔ Transportar
✔ Ter em depósito
✔ Trazer consigo
✔ Expor à venda
Os crimes permanentes protraem o seu momento consumativo no tempo e no espaço, razão pela qual
possibilitam tanto a aplicação da Súmula 711 do STF (aplicação da lei mais grave desde que não cessada a
permanência), bem como a prisão em flagrante a qualquer tempo enquanto não cessada a permanência.
● Na modalidade “adquirir”, a jurisprudência entende que, por se tratar de crime de perigo abstrato, o
crime se consuma independentemente da tradição da coisa. Assim, o mero fato de a droga ter sido
negociada por telefone enseja a aplicação da reprimenda penal. Nesse sentido:
STJ– A conduta consistente em negociar por telefone a aquisição de droga e
disponibilizar veículo para o transporte configura tráfico ilícito de entorpecentes
em sua forma consumada. ( STJ. 6° Turma, HC 212.528/SC)
● Na modalidade “importar”, o STF tem entendimento no sentido de que a importação de pequena
quantidade de sementes de maconha configura conduta atípica.
STF – Não configura crime a importação de pequena quantidade de sementes de
maconha (STF. 2 ° Turma. HC 144161/SP).
ATENÇÃO: Não configura crime a importação de pequena quantidade de sementes de maconha.
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As turmas do STJ divergiam sobre o tema, mas atualmente está pacificado o entendimento de que
“É atípica a conduta de importar pequena quantidade de sementes de maconha” conforme se depreende do
Informativo 683 do STJ (3ª Seção. EREsp 1.624.564-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 14/10/2020).
No mesmo sentido o STF. 2ª Turma. HC 144161/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/9/2018
(Info 915).
A divergência surgiu porque os frutos aquênios da cannabis sativa linneu não apresentam na sua
composição o THC (Tetrahidrocanabinol, também conhecido como THC, é uma substância psicoativa
encontrada na planta Cannabis Sativa, mais popularmente conhecida como maconha).
Frisa-se que a THC é prevista expressamente como droga na Portaria SVS/MS nº 344/1998, da
ANVISA.
Essa informação é relevante porque o rol das substâncias que são consideradas como “droga”, para
fins penais, continua previsto na Portaria SVS/MS nº 344/1998, considerando que ainda não foi editada uma
nova lista.
Perceba que o parágrafo único do art. 1º da Lei nº 11.343/2006 prevê que, para uma substância ser
considerada como "droga", é necessário que possa causar dependência, sendo isso definido em uma lista a
ser elencada em lei ou ato do Poder Executivo federal. Veja:
Art. 1º (...) Parágrafo único. Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as
substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em
lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da
União.
O art. 66 da mesma Lei complementa esta regra:
Art. 66. Para fins do disposto no parágrafo único do art. 1º desta Lei, até que seja
atualizada a terminologia da lista mencionada no preceito, denominam-se drogas
substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob controle
especial, da Portaria SVS/MS nº 344, de 12 de maio de 1998.
Desta forma, a Portaria prevê apenas a planta como sendo droga (e não a sua semente). Assim, a
semente de maconha não pode ser considerada droga pacificando, portanto, a temática nos Tribunais: É
atípica a conduta de importar pequena quantidade de sementes de maconha.
4.3 Figuras Equiparadas ao Tráfico (Art. 33, §1°)
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:
I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda,
oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que
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gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação
de drogas;
II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-
prima para a preparação de drogas;
III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse,
administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda
que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.
IV - vende ou entrega drogas ou matéria-prima, insumo ou produto químico
destinado à preparação de drogas, sem autorização ou em desacordo com a
determinação legal ou regulamentar, a agente policial disfarçado, quando
presentes elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente.
I – TRÁFICO DE MATÉRIA PRIMA
● Objeto material:
✔ Matéria prima
✔ Insumo
✔ Produtos químicos
● Necessidade de exame pericial: A doutrina majoritária entende ser imprescindível a realização de
exame pericial para atestar que o produto é capaz de produzir a droga.
● Princípio da Consunção: O tráfico de matéria prima pode ser absorvido pelo tráfico de drogas se:
(1) forem praticados no mesmo contexto fático, (2) se o tráfico de matéria prima for um meio
necessário para o crime de tráfico de drogas.
Atente-se à recente jurisprudência sobre o tema: STJ – CC 172.464-MS, 3ª Seção, julgado em
16.06.2020:
A conduta de transportar folhas de coca melhor se amolda, em tese e para a
definição de competência, ao tipo descrito no § 1º, I, do art. 33 da Lei nº
11.343/2006, que criminaliza o transporte de matéria-prima destinada à
preparação de drogas. Caso concreto: o agente foi preso com 4,4 kg de folhas de
coca, adquiridas na Bolívia, tendo a substância sido encontrada no estepe do
veículo. As folhas seriam transportadas até Uberlândia/MG para rituais de mascar,
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11343.htm#art33iv
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fazer infusão de chá e até mesmo bolo, rituais esses associados à prática religiosa
indígena de Instituto ao qual pertenceria o acusado. A folha de coca não é
considerada droga; porém pode ser classificada como matéria-prima ou insumo
para sua fabricação. STJ. 3ª Seção. CC 172464-MS, Rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, julgado em 10/06/2020 (Info 673).
II – CULTIVO DE PLANTAS PARA TRÁFICO
● Condutas:
✔ Semear
✔ Cultivar
✔ Colher
● Objeto material: plantas para serem usadas como MATÉRIA PRIMA para a produção de drogas
III – UTILIZAÇÃO DE LOCAL OU BEM PARA TRÁFICO DE DROGAS
● Condutas:
✔ Utilizar
✔ Consentir que alguém utilize (o mero consentimento configura crime!)
● Objeto material: bem ou local que tem a posse/propriedade/guarda
● Crime próprio – só quem tem a posse/propriedade/guarda pode praticar o crime
IV – TRÁFICO DE DROGAS e AGENTE POLICIAL DISFARÇADO
Inserido pelo PACOTE ANTICRIME!
Foi incluído o dispositivo previsto no inciso IV,§1º do Artigo 33, Lei 11.343/06. Lembre-se de que
dispositivo bastante semelhante foi incluído também no Estatuto do Desarmamento, especificamente no
artigo 17 e 18 do referido texto.
Trata-se de regulamentação das hipóteses que poderiam ser tratadas como crime impossível por se
configurarem como flagrante provocado. Ocorre que o próprio legislador nos diz que, nessas hipóteses, seria
possível a prática da infração penal quando houver elementos razoáveis de infração penal preexistente.
Vamos analisar um caso concreto à luz da mudança introduzida?
Ex.: Policial disfarçado aborda potencial traficante de drogas e tenta adquirir determinada
quantidade de droga. O vendedor entrega as drogas ao policial, momento que lhe é dado voz de prisão.
Em regra, aplica-se Súmula 145 do STF, a qual prevê que não há crime quando a preparação do
flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação. Isso porque, no que diz respeito à modalidade
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vender, o crime é impossível, diante da provocação do agente estatal, contudo, caso exista indícios razoáveis
da prática de infração preexistente (ex.: ter a droga em depósito), seria possível a configuração do delito.
Nesse caso, seria possível a prisão caso o traficante, mesmo antes da venda, caso houvesse indícios
suficientes de que tivesse a droga em depósito.
Conclusão: A Lei 13.964/2019 apenas positivou aquilo que já era defendido pela doutrina: a incitação
do agente ativo do crime pela autoridade policial e por seus agentes nem sempre se tratará de delito putativo
por obra do agente provocador, sendo sim possível a configuração de crime, afastando-se a súmula 145 do
STF:
“É muito comum que policiais obtenham informação anônima de que, em certo
local, é praticado tráfico. Assim, estando à paisana, os policiais dirigem-se ao local
indicado, tocam a campainha e, alegando serem usuários, perguntam se há droga
para vender. A pessoa responde afirmativamente, recebe o valor pedido das mãos
dos policiais e, ao retornar com o entorpecente, acaba sendo presa em flagrante.
Seria, nesse caso, aplicável a Súmula 145 do Supremo Tribunal Federal, que diz ser
nulo o flagrante, e, portanto, atípico o fato, quando a preparação do flagrante pela
polícia torna impossível a consumação do delito? Não há dúvida de que, em relação
à compra, a consumação era impossível, já que os policiais não queriam realmente
efetuá-la. Acontece que o flagrante não será nulo porque o traficante, na hipótese,
deverá ser autuado pela conduta anterior — ter a guarda —, que constitui crime
permanente e, conforme já estudado, admite o flagrante em qualquer momento,
sendo, assim, típica a conduta. A encenação feita pelos policiais constitui, portanto,
meio de prova a respeito da intenção de traficância do agente.” (GONÇALVES;
BALTAZAR JUNIOR, 2018, p. 104).
Cuidado com o enunciado 4 da I Jornada de Direito Penal e Processo Penal CJF/STJ, que afasta a
criminalização do art. 33, §1º, inc. IV quando há evidente provocação por parte do policial disfarçado (sem
que haja elementos razoáveis de infração penal preexistente).
Enunciado 4 - Não fica caracterizado o crime do inc. IV do § 1º do art. 33 da Lei n.
11.343/2006, incluído pela Lei Anticrime, quando o policial disfarçado provoca,
induz, estimula ou incita alguém a vender ou a entregar drogas ou matéria-prima,
insumo ou produto químico destinado à sua preparação (flagrante preparado), sob
pena de violação do art. 17 do Código Penal e da Súmula 145 do Supremo Tribunal
Federal.
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4.4 Induzimento, Instigação ou Auxílio ao Uso de Drogas
§ 2º Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga:
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos)
dias-multa.
● Sujeito ativo - é crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa.
● Sujeito passivo - ao lado da coletividade tem-se a pessoa instigada, induzida ou auxiliada.
O induzimento, o auxílio ou a instigação devem ser dirigidos a pessoa determinada ou a pessoas
determinadas;
● Consumação: Prevalece que o crime se aperfeiçoa quando a pessoa incentivada faz efetivo uso da
droga.
Obs.1: Essa modalidade não é equiparada a crime hediondo.
Obs.2: O STF na ADI 4274/DF decidiu que a “Marcha da Maconha” não caracteriza o crime do art. 33, §2º da
Lei de Drogas, por duas razões:
✔ Liberdade de expressão e manifestação do pensamento;
✔ Só existe crime quando o induzimento, o auxílio ou a instigação são dirigidas a pessoa(s)
determinada(s).
STF, ADI 4274) Cabível o pedido de “interpretação conforme à Constituição” de
preceito legal portador de mais de um sentido, dando-se que ao menos um deles é
contrário à Constituição Federal. 2. A utilização do § 3º do art. 33 da Lei
11.343/2006 como fundamento para a proibição judicial de eventos públicos de
defesa da legalização ou da descriminalização do uso de entorpecentes ofende o
direito fundamental de reunião, expressamente outorgado pelo inciso XVI do art.
5º da Carta Magna. Regular exercício das liberdades constitucionais de
manifestação de pensamento e expressão, em sentido lato, além do direito de
acesso à informação (incisos IV, IX e XIV do art. 5º da Constituição Republicana,
respectivamente). 3. Nenhuma lei, seja ela civil ou penal, pode blindar-se contra a
discussão do seu próprio conteúdo. Nem mesmo a Constituição está a salvo da
ampla, livre e aberta discussão dos seus defeitos e das suas virtudes, desde que
sejam obedecidas as condicionantes ao direito constitucional de reunião, tal como
a prévia comunicação às autoridades competentes. 4. Impossibilidade de restrição
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ao direito fundamental de reunião que não se contenha nas duas situações
excepcionais que a própria Constituição prevê: o estado de defesa e o estado de
sítio (art. 136, § 1º, inciso I, alínea “a”, e art. 139, inciso IV). 5. Ação direta julgada
procedente para dar ao § 2º do art. 33 da Lei 11.343/2006 “interpretação
conforme à Constituição” e dele excluir qualquer significado que enseje a
proibição de manifestações e debates públicos acerca da descriminalização ou
legalização do uso de drogas ou de qualquer substância que leve o ser humano
ao entorpecimento episódico, ou então viciado, das suas faculdades psicofísicas.
4.5 Cedente Eventual (Art. 33, §3º)
§ 3º Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu
relacionamento, para juntos a consumirem:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos)
a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28.
● Considerações iniciais:
✔ Não é equiparado a crime hediondo;
✔ Infração de menor potencial ofensivo;
✔ Competência do Juizado Especial Criminal.
● Requisitos (cumulativos)
1) Oferta eventual da droga;
2) Oferta gratuita (inexistência de objetivo de lucro)
→ Esse é denominado um elemento subjetivo negativo do tipo - é situação especial
que não pode estar presente.
3) O destinatário seja do relacionamento de quem oferece a droga;
4) A droga é para consumo conjunto.
● Consumação: Esse crime se consuma com o oferecimento da droga, dispensando-se o efetivo uso
(uso conjunto é um especial fim de agir).
4.6 Tráfico Privilegiado (Art. 33, §4º)
§ 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser
reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Congresso/RSF-05-2012.htmPREPARAÇÃO EXTENSIVA PLUS
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direitos , desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique
às atividades criminosas nem integre organização criminosa.
Em atenção à jurisprudência dos tribunais superiores, é importante frisar que o tráfico privilegiado
não é crime equiparado a hediondo, nesse sentido:
STJ - A Lei n. 13.964/2019, ao promover alterações na Lei de Execução Penal,
apenas afastou o caráter hediondo ou equiparado do tráfico privilegiado, nada
dispondo sobre os demais dispositivos da Lei de Drogas (AgRg no HC 754.913-MG,
Rel. Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 6/12/2022).
STF – O chamado tráfico privilegiado, previsto no parágrafo quarto do art. 33 da lei
13.343/2006 não deve ser considerado crime equiparado ao hediondo (STF.
Plenário. HC 118533).
Inclusive a Lei 13.964/2019 inseriu dispositivo expresso na Lei de Execução Penal (art. 112, §5º)
positivando o entendimento da doutrina e jurisprudência:
§ 5º Não se considera hediondo ou equiparado, para os fins deste artigo, o crime
de tráfico de drogas previsto no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343, de 23 de agosto
de 2006 (tráfico privilegiado).
Este entendimento foi cobrado na última prova de Delegado de Polícia do Estado do Paraná (2021):
2021 – NC UFPR – PC-PR – Delegado de Polícia
Sobre os tipos penais previstos na Lei de Drogas (Lei nº 11.343/2006), e considerando a interpretação
que lhes é dada pelo STJ, assinale a alternativa correta.
O tráfico ilícito de drogas na sua forma privilegiada não é crime equiparado a hediondo. (Item
correto)
● Requisitos do parágrafo 4º:
✔ Agente primário;
✔ De bons antecedentes;
✔ Não se dedique a atividades criminosas;
✔ Não integra organizações criminosas.
De suma importância é lembrar que os requisitos para a concessão da figura privilegiada devem estar
cumulativamente presentes.
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Para a configuração do crime de oferecimento de droga para consumo conjunto, tipificado no art.
33, § 3º, da Lei n. 11.343/2006, é necessária a prática da conduta mediante o dolo “específico” (para juntos
consumirem).
Vamos ver o que a jurisprudência já decidiu sobre o tema (é importantíssimo conhecer todas as
decisões!):
◘ O fato de o acusado por tráfico de drogas ter sido pego com arma de fogo e, inclusive, ter
disparado contra os policiais na ocorrência, não impede a aplicação da causa de diminuição de
pena do tráfico privilegiado, na hipótese de essa circunstância ter sido considerada no crime de
resistência
(HC 493.172, 6ª turma – julgado 25.06.2020). Cuidado! Trata-se de decisão monocrática!
‘Com esse entendimento, a 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça negou agravo
interposto pelo Ministério Público contra decisão monocrática que aplicou a
benesse ao réu, reformando a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo. A corte
paulista havia entendido inviável a redução da pena devido à quantidade de drogas
apreendida e o uso da arma de fogo. "Não se há confundir a teleologia do redutor,
voltado para infratores de menor potencial, de acordo com o intuito do legislador,
o que não é o caso", apontou o acórdão. Monocraticamente, o ministro Antônio
Saldanha Palheiro reformou a decisão.
"O porte de arma de fogo, disparada contra os agentes da segurança pública, não
tem o condão de afastar o privilégio tendo em vista que o agravado, no mesmo
processo, foi condenado pelo crime de resistência. O porte de arma, per si, não
comprovou a dedicação a atividades criminosas, e o mesmo fato não pode ser
valorado duas vezes, sob pena de constatação de odioso bis in idem", afirmou.
Sem o uso da arma para comprovar a dedicação às atividades criminosas, a recusa
ao redutor do tráfico privilegiado restou baseada na quantidade de drogas, o que
não se justifica, segundo a jurisprudência pacífica do STJ. "Entendo, também, que
não é expressiva a quantidade das drogas apreendidas em poder do agravado",
acrescentou o relator, ao citar 122,8g de maconha, 9,5 g de crack e 33,8 g de
cocaína.
Assim, a pena para o crime de tráfico de drogas, que havia sido majorada para
cinco anos de reclusão em regime fechado, volta ao determinado pelo juízo de
primeiro grau, após aplicação do redutor: um ano e oito meses de reclusão. Não se
alterou a pena pelo crime de resistência: dois meses de detenção.’6
6 Explicação retirada da Revista Consultor Jurídico, de 26 de junho de 2020. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2020-jun-
26/crime-resistencia-nao-impede-redutor-trafico-privilegiado-stj. Acesso em 10.08.2020
https://www.conjur.com.br/2020-jun-26/crime-resistencia-nao-impede-redutor-trafico-privilegiado-stj
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◘ Para fins do art. 33, § 4º, da Lei de Drogas, milita em favor do réu a presunção de que ele é
primário, possui bons antecedentes e não se dedica a atividades criminosas nem integra
organização criminosa; o ônus de provar o contrário é do Ministério Público.
A previsão da redução de pena contida no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006
tem como fundamento distinguir o traficante contumaz e profissional daquele
iniciante na vida criminosa, bem como do que se aventura na vida da traficância
por motivos que, por vezes, confundem-se com a sua própria sobrevivência e/ou
de sua família.
Assim, para legitimar a não aplicação do redutor é essencial a fundamentação
corroborada em elementos capazes de afastar um dos requisitos legais, sob pena
de desrespeito ao princípio da individualização da pena e de fundamentação das
decisões judiciais. Desse modo, a habitualidade e o pertencimento a organizações
criminosas deverão ser comprovados, não valendo a simples presunção. Não
havendo prova nesse sentido, o condenado fará jus à redução de pena.
Em outras palavras, militará em favor do réu a presunção de que é primário e de
bons antecedentes e de que não se dedica a atividades criminosas nem integra
organização criminosa. O ônus de provar o contrário é do Ministério Público.
Assim, o STF considerou preenchidas as condições da aplicação da redução de pena,
por se estar diante de ré primária, com bons antecedentes e sem indicação de
pertencimento a organização criminosa. STF. 2ª Turma. HC 154694 AgR/SP, rel.
orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/2/2020
(Info 965).
Fonte: Dizer o direito.
ATENÇÃO!!! Os tribunais divergiam sobre a possibilidade de aplicação do benefício do do § 4º do art. 33 da
Lei de Drogas com base no fato de o acusado ser investigado em inquérito policial ou ser réu em outra ação
penal que ainda não transitou em julgado:
◘ É possível que o juiz negue o benefício do § 4º do art. 33 da Lei de Drogas com base no fato de o
acusado ser investigado em inquérito policial ou ser réu em outra ação penal que ainda não
transitou em julgado?
O tema era divergente, mas FIM DA DIVERGÊNCIA!
Não se pode negar a aplicação da causa de diminuição pelo tráfico privilegiado,
prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006, com fundamento no fato de o réu
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responder a inquéritos policiais ou processos criminais em andamento, mesmo
que estejam em fase recursal, sob pena de violação ao art. 5º, LIV (princípio da
presunção de não culpabilidade).
Não cabe afastar a causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº
11.343/2006 (Lei de Drogas) com base em condenações não alcançadas pela
preclusão maior (coisa julgada).STF. 1ª Turma. HC 166385/MG, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 14/4/2020 (Info 973). STF. 2ª Turma. RE 1.283.996 AgR, Rel.
Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 11/11/2020. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC
676.516/SC, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 19/10/2021. STJ. 6ª
Turma. AgRg no REsp 1936058/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 14/09/2021.
● A prática anterior de atos infracionais pode ser utilizada para afastar a causa de diminuição do art.
33, § 4º, da Lei de Drogas?
Atualmente, temos uma divergência no STF. Para a 1ª Turma do STF:
SIM. É possível a utilização da prática de atos infracionais para afastar a causa de
diminuição, quando se pretendeu a aplicação do redutor de pena do do § 4º do art.
33 da Lei 11.343/2006.
Isso não significa que foram considerados, como crimes, os atos infracionais
praticados. Significa, apenas, que o contexto fático pode comprovar que o requisito
de não dedicação a atividades criminosas não foi preenchido. Isto porque, tudo
indica que a intenção do legislador, ao inserir a redação foi distinguir o traficante
contumaz e profissional daquele iniciante na vida criminosa, bem como daquele
que se aventura na vida da traficância por motivos que, por vezes, confundem-se
com a sua própria sobrevivência e/ou de sua família.
STF. 1ª Turma. HC 192147, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 24/02/2021.
Para a 2ª Turma do STF:
NÃO. A prática anterior de atos infracionais pelo paciente não configura
fundamentação idônea a afastar a minorante do § 4º do art. 33 da Lei 11.343/2006.
Constata-se que a prática de atos infracionais não é suficiente para afastar a
minorante, visto que adolescente não comete crime nem lhe é imputada pena. Nos
termos do Estatuto da Criança e do Adolescente, as medidas aplicadas são
socioeducativas e objetivam a proteção do adolescente que cometeu infração.
Assim, a menção a atos infracionais praticados pelo paciente não configura
fundamentação idônea para afastar a minorante.
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STF. 2ª Turma. HC 191992, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 08/04/2021.
Para o STJ: SIM. O histórico de ato infracional pode ser considerado para afastar a
minorante do art. 33, § 4.º, da Lei n. 11.343/2006, por meio de fundamentação
idônea que aponte a existência de circunstâncias excepcionais, nas quais se
verifique a gravidade de atos pretéritos, devidamente documentados nos autos,
bem como a razoável proximidade temporal com o crime em apuração.
STJ. 3ª Seção. EREsp 1.916.596, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Rel. p/ acórdão Min.
Laurita Vaz, julgado em 08/09/2021 (Info 712)
◘ A habitualidade no crime e o pertencimento a organizações criminosas deverão ser comprovados
pela acusação, não sendo possível que o benefício do tráfico privilegiado (art. 33, § 4º) seja
afastado por simples presunção
A Lei de Drogas prevê, em seu art. 33, § 4º, a figura do “traficante privilegiado”,
também chamada de “traficância menor” ou “traficância eventual”: § 4º Nos
delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas
de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos,
desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às
atividades criminosas nem integre organização criminosa. A habitualidade no crime
e o pertencimento a organizações criminosas deverão ser comprovados pela
acusação, não sendo possível que o benefício seja afastado por simples presunção.
Assim, se não houver prova nesse sentido, o condenado fará jus à redução da pena.
A quantidade e a natureza são circunstâncias que, apesar de configurarem
elementos determinantes na definição do quanto haverá de diminuição, não são
elementos que, por si sós, possam indicar o envolvimento com o crime organizado
ou a dedicação a atividades criminosas. Vale ressaltar, por fim, que é possível a
aplicação deste benefício mesmo para condenados por tráfico transnacional de
drogas. STF. 2ª Turma. HC 152001 AgR/MT, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski,
red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 29/10/2019 (Info 958)
◘ Não é possível a fixação de regime de cumprimento de pena fechado ou semiaberto para crime de
tráfico privilegiado de drogas sem a devida justificação
Não é possível a fixação de regime de cumprimento de pena fechado ou semiaberto
para crime de tráfico privilegiado de drogas sem a devida justificação. Não se
admite a fixação automática do regime fechado ou semiaberto pelo simples fato de
ser tráfico de drogas. Não se admite, portanto, que o regime semiaberto tenha sido
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fixado utilizando-se como único fundamento o fato de ser crime de tráfico, não
obstante se tratar de tráfico privilegiado e ser o réu primário, com bons
antecedentes. A gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea
para justificar a fixação do regime mais gravoso. STF. 1ª Turma. HC 163231/SP, rel.
orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
25/6/2019 (Info 945).
ATENÇÃO: Em HC coletivo (HC 596.603), de 08.09.2020, a 6ª Turma do STJ corroborou esta decisão
e garantiu regime aberto para o pequeno traficante.
“Aos condenados que cumprem pena e aos que vierem a ser sancionados pela
prática do crime de tráfico na modalidade privilegiada, não deve ser imposto o
regime inicial fechado para cumprimento de pena, devendo haver pronta
correção aos já assim sentenciados. Esse é o entendimento da 6ª Turma do
Superior Tribunal de Justiça, que concedeu Habeas Corpus coletivo para proibir
que juízes e desembargadores da Justiça de São Paulo apliquem regime fechado
a presos enquadrados no parágrafo 4º do artigo 33 da Lei 11.343/2006 (Lei de
Drogas). Aos que já cumprem pena nessa situação, o Judiciário paulista deve fazer
a devida correção. Para esses casos, a ordem é fixar o regime aberto e determinar
aos juízos da vara de execução competentes que avaliem a substituição da sanção
privativa de liberdade por restritiva de direitos, desde que isso não se torne
excesso de execução. Em relação aos condenados por tráfico privilegiado a penas
menores do que quatro anos, a 6ª Turma determina que os juízos da execução
penal reavaliem com máxima urgência a situação de cada um de modo a verificar
a possibilidade de progressão ao regime aberto em face de eventual detração
penal decorrente do período em que estiveram presos cautelarmente”.7
Em sentido similar:
Deve ser concedida a liberdade provisória a réu primário preso
preventivamente sob a imputação de tráfico de drogas por ter sido encontrado
com 887,89 gramas de maconha e R$ 1.730,00. O STF considerou genéricas as
razões da segregação cautelar do réu. Além disso, reconheceu como de pouca
nocividade a substância entorpecente apreendida (maconha). Reputou que a
prisão de jovens pelo tráfico de pequena quantidade de maconha é mais gravosa
do que a eventual permanência em liberdade, pois serão fatalmente cooptados
ou contaminados por uma criminalidade mais grave ao ingressarem no ambiente
7 Fonte: Conjur. Acesso em 30.09.2020
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htmPREPARAÇÃO EXTENSIVA PLUS
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carcerário. STF. 1ª Turma. HC 140379/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac.
Min. Roberto Barroso, julgado em 23/10/2018 (Info 921).
◘ A grande quantidade de droga, isoladamente, não constitui fundamento idôneo para afastar a causa
de diminuição de pena do art. 33, § 4º da LD
Se o réu é primário e possui bons antecedentes, o juiz pode, mesmo assim, negar o
benefício do art. 33, § 4º da LD argumentando que a quantidade de drogas
encontrada com ele foi muito elevada? O tema é polêmico. 1ª Turma do STF:
encontramos precedentes afirmando que a grande quantidade de droga pode ser
utilizada como circunstância para afastar o benefício. Nesse sentido: não é crível
que o réu, surpreendido com mais de 500 kg de maconha, não esteja integrado, de
alguma forma, a organização criminosa, circunstância que justifica o afastamento
da causa de diminuição prevista no art. 33, §4º, da Lei de Drogas (HC 130981/MS,
Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/10/2016. Info 844). 2ª Turma do STF: a
quantidade de drogas encontrada não constitui, isoladamente, fundamento idôneo
para negar o benefício da redução da pena previsto no art. 33, § 4º, da Lei nº
11.343/2006 (HC 138138/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em
29/11/2016. Info 849). STF. 2ª Turma. RHC 138715/MS, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, julgado em 23/5/2017 (Info 866). STF. 2ª Turma. RHC 148579 AgR,
Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 09/03/2018. STJ. 5ª Turma. AgRg-AREsp
1.292.877, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 16/08/2018. STJ. 6ª
Turma. AgRg-REsp 1.763.113, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
27/11/2018.
◘ O fato de o réu ter ocupação lícita, por si só, não concederá o beneficio caso este se dedique à
atividade criminosa ou não seja primário e de bons antecedentes.
STJ – Ainda que o réu comprove o exercício de atividade profissional licita, se de
forma concomitante ele se dedicava a atividade criminosa, não terá direito a causa
especial de diminuição de pena. ( STJ. 6° Turma. REsp 1.380.741)
4.7 Tráfico de Maquinário (Art. 34)
Art. 34. Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender, distribuir, entregar
a qualquer título, possuir, guardar ou fornecer, ainda que gratuitamente,
maquinário, aparelho, instrumento ou qualquer objeto destinado à fabricação,
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preparação, produção ou transformação de drogas, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 1.200 (mil e duzentos)
a 2.000 (dois mil) dias-multa.
● Objeto material:
✔ Maquinários
✔ Instrumentos
✔ Qualquer outro objeto destinado à fabricação da droga
Nessa hipótese, há uma espécie de antecipação da tutela penal, haja vista que o legislador criminaliza atos
preparatórios que possibilitem a prática do tráfico.
● Algumas condutas configuram crime permanente!
✔ Transportar
✔ Possuir
✔ Guardar
● A doutrina entende que há necessidade de exame pericial para atestar que o aparelho é
apto/capaz de produzir a droga.
● Aplicação do princípio da Consunção:
STF: “Ambos os preceitos buscariam proteger a saúde pública e tipificariam
condutas que — no mesmo contexto fático, evidenciassem o intento de traficância
do agente e a utilização dos aparelhos e insumos para essa mesma finalidade —
poderiam ser consideradas meros atos preparatórios do delito de tráfico previsto
no art. 33, “caput”, da Lei 11.343/2006” (HC 109.708/SP, rel. Min. Teori Zavascki,
2ª Turma, j. 23.6.2015, noticiado no Informativo 791).
STJ - É possível a aplicação do princípio da consunção entre os crimes previstos no
§ 1º do art. 33 e/ou no art. 34 pelo tipificado no caput do art. 33 da Lei 11.
343/2006, desde que não caracterizada a existência de contextos autônomos e
coexistentes, aptos a vulnerar o bem jurídico tutelado de forma distinta. AgInt no
AREsp 1237014/SP
about:blank
about:blank
about:blank
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https://scon.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?i=1&b=ACOR&livre=(('AINTARESP'.clas.+e+@num='1237014')+ou+('AgInt%20no%20AREsp'+adj+'1237014'.suce.))&thesaurus=JURIDICO&fr=veja
https://scon.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?i=1&b=ACOR&livre=(('AINTARESP'.clas.+e+@num='1237014')+ou+('AgInt%20no%20AREsp'+adj+'1237014'.suce.))&thesaurus=JURIDICO&fr=veja
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● De olho na Jurisprudência:
Não é possível que o agente responda pela prática do crime do art. 34 da
Lei 11.343/2006 quando a posse dos instrumentos configura ato
preparatório destinado ao consumo pessoal de entorpecente
Para que se configure a lesão ao bem jurídico tutelado pelo art. 34 da Lei
nº 11.343/2006, a ação de possuir maquinário e/ou objetos deve ter o
especial fim de fabricar, preparar, produzir ou transformar drogas,
visando ao tráfico.
Assim, ainda que o crime previsto no art. 34 da Lei nº 11.343/2006 possa
subsistir de forma autônoma, não é possível que o agente responda pela
prática do referido delito quando a posse dos instrumentos se configura
como ato preparatório destinado ao consumo pessoal de entorpecente.
As condutas previstas no art. 28 da Lei de Drogas recebem tratamento
legislativo mais brando, razão pela qual não há respaldo legal para punir
com maior rigor as ações que antecedem o próprio consumo pessoal do
entorpecente.
STJ. 6ª Turma. RHC 135617-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em
14/09/2021 (Info 709).
4.8 Associação Para o Tráfico
Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente
ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a
1.200 (mil e duzentos) dias-multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre quem se associa
para a prática reiterada do crime definido no art. 36 desta Lei.
● Considerações iniciais:
✔ O crime de associação para o tráfico não é considerado tráfico de drogas
✔ Não é crime equiparado a hediondo
✔ Delito autônomo
● Crime plurissubjetivo ou de concurso necessário
✔ Necessidade de 2 ou mais pessoas
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/5bd53571b97884635d13910db49626bc?categoria=11&subcategoria=123
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✔ No cômputo entram os inimputáveis e eventuais agentes que eventualmente não foram
identificados
✔ Imprescindível que haja a estabilidade e permanência da associação
● Especial fim de agir: A associação deve ser destinada a praticar crimes de tráfico de drogas, ou seja,
os crimes definidos nos:
✔ Art. 33, caput
✔ Art. 33, § 1º (figuras equiparadas)
✔ Art. 34 (tráfico de maquinário)
Não é necessário que os crimes sejam efetivamente praticados, uma vez que se trata de delito
autônomo e formal.
Atenção à jurisprudência quanto ao tema:
STJ - A condenação simultânea nos crimes de tráfico e associação para o tráfico
afasta a incidência da causa especial de diminuição prevista no art. 33, §4º, da Lei
n. 11.343/06 por estar evidenciada dedicação aatividades criminosas ou
participação em organização criminosa. (HC 313015/SC)
CAIU EM CONCURSO:
→ CEBRASPE – PCES/2022 – Delegado de Polícia: Após investigação de local em que, supostamente, se
armazenavam, organizavam e vendiam drogas de forma contínua, foi expedido e cumprido mandado de
busca e
apreensão, a partir do qual a autoridade policial encontrou, dentro de uma residência, dez indivíduos
portando uma quantidade elevada de drogas, bem como três balanças de precisão, que serviam para o
preparo de drogas ilícitas. Nessa situação hipotética, conforme o entendimento do Superior Tribunal de
Justiça, se os referidos indivíduos forem indiciados, eles deverão responder por
(a) tráfico de drogas e associação para o tráfico.
(b) tráfico de drogas e posse de maquinário para preparação de droga.
(c) tráfico de drogas somente.
(d) tráfico de drogas em concurso, com posse de maquinário para preparação de droga, e associação para o
tráfico.
(e) associação para o tráfico em concurso, com posse de maquinário para preparação de droga.
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https://scon.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?i=1&b=ACOR&livre=(('HC'.clap.+e+@num='313015')+ou+('HC'+adj+'313015'.suce.))&thesaurus=JURIDICO&fr=veja
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Resposta: A alternativa “a” está correta.
Cuidado para não confundir!
ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA
(ART. 288, CP)
ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO
(ART. 35, CAPUT DA LD)
QUANTIDADE
DE
INTEGRANTES
Pelo menos 3 pessoas Pelo menos 2 pessoas
FINALIDADE Série indeterminada de
crimes doloso
Apenas 33, caput, §1º e art. 34.
QUANTIDADE
DE CRIMES A
SEREM
PRATICADOS
Associação para série
indeterminada de crimes.
Associação para a pratica de um único
crime ou crimes reiterados
4.9 Financiamento ao Tráfico
Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes previstos nos arts.
33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento de 1.500 (mil e
quinhentos) a 4.000 (quatro mil) dias-multa.
● Condutas:
✔ Financiar
✔ Custear
● Autofinanciamento: O sujeito passivo não pode participar do tráfico de drogas. Se o fizer, responderá
pelo crime do art. 33 com a pena majorada pelo art. 40, VII da mesma Lei.
Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto
a dois terços, se:
VII - o agente financiar ou custear a prática do crime.
STJ - O crime de financiar ou custear o tráfico ilícito de drogas (art. 36 da Lei n.
11.343/2006) é delito autônomo aplicável ao agente que não tem participação
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direta na execução do tráfico e que se limita a fornecer os recursos necessários para
subsidiar as infrações a que se referem os art. 33, caput e § 1º, e art. 34 da Lei de
Drogas. (HC 306136/MG)
STJ - O agente que atua diretamente na traficância e que também financia ou
custeia a aquisição de drogas deve responder pelo crime previsto no art. 33, caput,
com a incidência da causa de aumento de pena prevista no art. 40, inciso VII, da Lei
n. 11.343/2006, afastando-se, por conseguinte, a conduta autônoma prevista no
art. 36 da referida legislação. (HC 306136/MG)
4.10 Informante Colaborador
Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo, organização ou associação
destinados à prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e
34 desta Lei:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento de 300 (trezentos) a 700
(setecentos) dias-multa.
● Sujeito ativo: crime comum – pode ser praticado por qualquer pessoa
→ Se esse colaborador for funcionário público, irá responder pelo art. 37 com causa de aumento do art.
40, II da Lei de Drogas
Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto
a dois terços, se:
II - O agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no desempenho
de missão de educação, poder familiar, guarda ou vigilância;
● Subsidiariedade em relação aos crimes do art. 33 e 35 da Lei de Drogas: Defende a doutrina
majoritária e a jurisprudência que a colaboração prevista no art. 37 tem que ser necessariamente
eventual. Se for permanente e estável: ele integrará a associação ou organização criminosa de modo
que a tarefa de informante passa a integrar a estrutura da associação e a conduta se amoldará ao
crime de associação para o tráfico.
⦁ Colaboração eventual - art. 37, LD.
⦁ Colaboração com estabilidade e permanência - art. 35, caput da LD.
STJ - O crime de colaboração com o tráfico, art. 37 da Lei n. 11.343/2006, é um tipo
penal subsidiário em relação aos delitos dos arts. 33 e 35 e tem como destinatário
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o agente que colabora como informante, de forma esporádica, eventual, sem
vínculo efetivo, para o êxito da atividade de grupo, de associação ou de organização
criminosa destinados à prática de qualquer dos delitos previstos nos arts.
33, caput e § 1º, e 34 da Lei de Drogas. (AgRg no REsp 1738851/RJ)
4.11 Prescrever ou Ministrar Drogas Culposamente
Art. 38. Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas necessite o
paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo com determinação legal
ou regulamenta
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de 50 (cinqüenta)
a 200 (duzentos) dias-multa
Parágrafo único. O juiz comunicará a condenação ao Conselho Federal da categoria
profissional a que pertença o agente.
● Condutas:
✔ Prescrever
✔ Ministrar
● Sujeito ativo: crime próprio
→ Os núcleos prescrever ou ministrar exigem que apenas quem tenha capacidade para
prescrever ou ministrar possam praticar o delito. Exige-se a qualidade especial do agente,
devendo ser médico, dentista, farmacêutico ou profissional de enfermagem.
● Crime culposo:
→ Esse é o único crime culposo na lei de drogas.
→ A prescrição ou ministrar com dolo é conduta que se enquadra no art. 33, caput da LD.
→ Por ser um crime culposo, é inadmissível a tentativa
4.12 Conduzir Embarcação ou Aeronave após o Consumo de Drogas
Art. 39. Conduzir embarcação ou aeronave após o consumo de drogas, expondo a
dano potencial a incolumidade de outrem:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, além da apreensão do veículo,
cassação da habilitação respectiva ou proibição de obtê-la, pelo mesmo prazo da
pena privativa de liberdade aplicada, e pagamento de 200 (duzentos) a 400
(quatrocentos) dias-multa.
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Parágrafo único. As penas de prisão e multa, aplicadas cumulativamente com as
demais, serão de 4 (quatro) a 6 (seis) anos e de 400 (quatrocentos) a 600
(seiscentos) dias-multa, se o veículo referido no caput deste artigo for de transporte
coletivo de passageiros.
● Conduta punível: É a conduta de conduzir embarcação ou aeronave após consumo de drogas,
expondo outrem a dano.
→ Trata-se deCRIME DE PERIGO CONCRETO, de modo que não basta a condução anormal, é
necessário que a condução anormal se dê gerando perigo de dano à incolumidade de
outrem.
● Sujeito ativo: crime comum
● Sujeito passivo:
→ Primário: CRIME VAGO - é a coletividade
→ Secundário: é qualquer pessoa colocada em risco pela conduta do agente.
4.13 Causas de Aumento da Pena
Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto
a dois terços, se:
I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as
circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade do delito;
II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no desempenho
de missão de educação, poder familiar, guarda ou vigilância;
III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de
estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de entidades
estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de
trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de
qualquer natureza, de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de
reinserção social, de unidades militares ou policiais ou em transportes públicos;
IV - o crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça, emprego de arma de
fogo, ou qualquer processo de intimidação difusa ou coletiva;
V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito
Federal;
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VI - sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente ou a quem tenha,
por qualquer motivo, diminuída ou suprimida a capacidade de entendimento e
determinação;
VII - o agente financiar ou custear a prática do crime.
I – TRANSNACIONALIDADE DO DELITO
● Não é necessária a efetiva transposição da fronteira nacional. Basta o intuito de transferir a droga para
outro país com a concretização de todos os atos executórios necessários para tanto.
● Dupla imputação: para ser tráfico internacional, a droga apreendida tem que ser ilícita nos 2 países
envolvido.
Súmula 607/STJ: A majorante do tráfico transnacional de drogas (art. 40, I, da Lei
nº 11.343/2006) configura-se com a prova da destinação internacional das drogas,
ainda que não consumada a transposição de fronteiras. Aprovada em 11/04/2018.
O teor dessa súmula cai muito em prova!!!
Vamos fazer um link com Processo Penal?
A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é firme quanto à necessidade de demonstração de
internacionalidade da conduta agente para reconhecimento da competência da Justiça Federal. STJ.
3ª Seção. CC 169.477/MT, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 12/02/2020
STJ COMPETÊNCIA TRÁFICO INTERNACIONAL DE DROGAS!!!
Na hipótese de importação da droga via correio cumulada com o conhecimento do
destinatário por meio do endereço aposto na correspondência, a Súmula 528/STJ
deve ser flexibilizada para se fixar a competência no Juízo do local de destino da
droga, em favor da facilitação da fase investigativa, da busca da verdade e da
duração razoável do processo. STJ. 3ª Seção. CC 177882-PR, Rel. Min. Joel Ilan
Paciornik, julgado em 26/05/2021 (Info 698).
LOGO APÓS ESSE JULGADO, A 3º SEÇÃO DO STJ CANCELOU o enunciado da súmula 528, que tratava da
competência do juízo federal para julgar crime cometido por pessoa que importou a droga por via postal.
De acordo com o novo entendimento, com o conhecimento do endereço designado para a entrega (por via
postal, a competência para processamento e julgamento deve ser fixada no juízo do local de destino, e não
onde foi apreendida a droga enviada.
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II- O AGENTE PRATICAR O CRIME PREVALECENDO-SE DE
✔ Função pública
✔ No desempenho de missão de educação, poder familiar, guarda ou vigilância;
III - A INFRAÇÃO TIVER SIDO COMETIDA NAS DEPENDÊNCIAS OU IMEDIAÇÕES DE
✔ Estabelecimentos prisionais
✔ Estabelecimentos de ensino
✔ Estabelecimentos hospitalares
✔ Estabelecimentos de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou
beneficentes
✔ De locais de trabalho coletivo
✔ De recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza,
✔ De serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social,
✔ De unidades militares ou policiais
✔ Em transportes públicos;
Atente-se à jurisprudência:
◘ Não incide a causa de aumento de pena prevista no inciso III do art. 40 da Lei nº 11.343/2006 em caso
de tráfico de drogas cometido nas dependências ou nas imediações de igreja
O tráfico de drogas cometido em local próximo a igrejas não foi contemplado pelo
legislador no rol das majorantes previstas no inciso III do art. 40 da Lei nº
11.343/2006, não podendo, portanto, ser utilizado com esse fim tendo em vista
que no Direito Penal incriminador não se admite a analogia in malam partem. Art.
40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a
dois terços, se: III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações
de estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de entidades
estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de
trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de
qualquer natureza, de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de
reinserção social, de unidades militares ou policiais ou em transportes públicos; STJ.
6ª Turma. HC 528851-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 05/05/2020
(Info 671).
◘ Não incide a causa de aumento de pena do art. 40, III, da LD se o crime foi praticado em dia e horário
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/94aada62f90dd50a84ca74304563d5db?categoria=11&subcategoria=123&ano=2020
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no qual a escola estava fechada e não havia pessoas lá.
A prática do delito de tráfico de drogas nas proximidades de estabelecimentos de
ensino (art. 40, III, da Lei 11.343/06) enseja a aplicação da majorante, sendo
desnecessária a prova de que o ilícito visava atingir os frequentadores desse local.
Para a incidência da majorante prevista no art. 40, inciso III, da Lei nº 11.343/2006
é desnecessária a efetiva comprovação de que a mercancia tinha por objetivo
atingir os estudantes, sendo suficiente que a prática ilícita tenha ocorrido em locais
próximos, ou seja, nas imediações de tais estabelecimentos, diante da exposição
de pessoas ao risco inerente à atividade criminosa da narcotraficância. STJ. 6ª
Turma. AgRg no REsp 1558551/MG, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em
12/09/2017. STJ. 6ª Turma. HC 359088/SP. Maria Thereza de Assis Moura, julgado
em 04/10/2016.
Não incide a causa de aumento de pena prevista no art. 40, inciso III, da Lei nº
11.343/2006, se a prática de narcotraficância ocorrer em dia e horário em que não
facilite a prática criminosa e a disseminação de drogas em área de maior
aglomeração de pessoas.
Ex: se o tráfico de drogas é praticado no domingo de madrugada, dia e horário em
que o estabelecimento de ensino não estava funcionando, não deve incidir a
majorante.
STJ. 6ª Turma. REsp 1719792-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado
em 13/03/2018 (Info 622).
◘ Não é necessário que a droga passe por dentro do presídio para que incida a majorante prevista no
art. 40, III, da Lei 11.343/2006
João, de dentro da unidade prisional onde cumpre pena, liderava uma organização
criminosa. Com o uso de telefone celular, ele organizavaa dinâmica do grupo e
comandava o tráfico de drogas, dando ordens para seus comparsas que, de fora do
presídio, executavam a comercialização do entorpecente.João foi condenado por
tráfico de drogas (art. 33 da Lei nº 11.343/2006). Neste caso, ele deverá ter a sua
pena aumentada com base no art. 40, III? SIM. Se o agente comanda o tráfico de
drogas de dentro do presídio, deverá incidir a causa de aumento de pena do art.
40, III, da Lei nº 11.343/2006, mesmo que os efeitos destes atos tenham se
manifestado a quilômetros de distância. Não é necessário que a droga passe por
dentro do presídio para que incida a majorante prevista no art. 40, III, da Lei nº
11.343/2006. Esse dispositivo não faz aexigência de que as drogasefetivamente
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/659b7b42e9c002ce0075077cd55a1623?categoria=11&subcategoria=123&ano=2019
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passem pordentro dos locais que se busca dar maior proteção, mas apenas queo
cometimento dos crimes tenha ocorrido em seu interior. STJ. 5ª Turma. HC 440888-
MS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 15/10/2019 (Info 659).
◘ Ocorrendo o tráfico de drogas nas imediações de presídio, incidirá a causa de aumento do art. 40, III,
da LD, não importando quem seja o comprador
Se o agente vende a droga nas imediações de um presídio, mas o comprador não
era um dos detentos nem qualquer pessoa que estava frequentando o presídio,
ainda assim deverá incidir a causa de aumento do art. 40, III, da Lei nº 11.343/2006?
SIM. A aplicação da causa de aumento prevista no art. 40, III, da Lei nº 11.343/2006
se justifica quando constatada a comercialização de drogas nas dependências ou
imediações de estabelecimentos prisionais, sendo irrelevante se o agente infrator
visa ou não aos frequentadores daquele local. Assim, se o tráfico de drogas ocorrer
nas imediações de um estabelecimento prisional, incidirá a causa de aumento, não
importando quem seja o comprador do entorpecente. STF. 2ª Turma. HC
138944/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 21/3/2017 (Info 858).
◘ No delito de tráfico de drogas praticado nas proximidades das escolas, pode-se, excepcionalmente,
afastar a incidência da majorante do art. 40, inciso II, se as aulas estavam suspensas em razão da
COVID-19.
Sobre a causa especial de aumento de pena em questão, é certo que este Superior
Tribunal possui o entendimento de que, "Para a incidência da majorante prevista
no art. 40, inciso III, da Lei n. 11.343/2006 é desnecessária a efetiva comprovação
de mercancia nos referidos locais, sendo suficiente que a prática ilícita tenha
ocorrido em locais próximos, ou seja, nas imediações de tais estabelecimentos,
diante da exposição de pessoas ao risco inerente à atividade criminosa da
narcotraficância. [...]" (HC 407.487/SP, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura,
6ª T., DJe 15/12/2017).
Contudo, no caso, verifica-se a presença de uma particularidade que, à luz da mens
legis da referida majorante, justifica sua não incidência em desfavor do acusado. A
razão de ser dessa causa especial de aumento de pena é a de punir, com maior
rigor, aquele que, nas imediações ou nas dependências dos locais especificados no
inciso III do art. 40 da Lei n. 11.343/2006, dada a maior aglomeração de pessoas,
tem como mais ágil e facilitada a prática do tráfico de drogas (aqui incluídos
quaisquer dos núcleos previstos no art. 33 da citada lei), justamente porque, em
localidades como tais, é mais fácil ao traficante passar despercebido à fiscalização
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policial, além de ser maior o grau de vulnerabilidade das pessoas reunidas em
determinados lugares.
Contudo, no caso, o tráfico foi cometido 28/04/2020, momento em que as escolas
de ensino do DF estavam fechadas por conta das medidas restritivas de combate à
COVID-19, situação que perdurou entre março de 2020 e agosto de 2021, quando
as aulas presenciais foram retomadas.
Veja-se, portanto, que a proximidade do comércio ilícito de drogas com os
estabelecimentos de ensino e esporte foi, na verdade, um elemento meramente
acidental, sem nenhuma relação real e efetiva com a traficância. Não há nenhum
dado concreto de que haja o réu se aproveitado das facilidades de eventual
aglomeração de estudantes, de professores ou mesmo de casual hipossuficiência
dos alunos da escola para, a partir delas, implementar o seu negócio ilícito e
propagar, com maior facilidade, a venda, a aquisição, a exposição à venda etc. de
drogas. Também não creio se haja incrementado o risco a que se poderiam expor
os alunos da escola e frequentadores do conjunto poliesportivo em razão da
conduta em apreço.
Nesse contexto, por mais que tanto a jurisprudência quanto a doutrina entendam
ser a majorante descrita no inciso III do art. 40 de caráter precipuamente objetivo
(não é, pois, em regra, necessário que se comprove a efetiva mercancia nos locais
elencados na lei, tampouco que a substância entorpecente atinja, diretamente, os
trabalhadores, os estudantes, as pessoas hospitalizadas etc.), não há como perder
de vista a razão de ser da causa especial de aumento de pena em questão. (STJ,
AgRg no HC 728.750-DF, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, por
unanimidade, Julgado em 17/05/2022, DJe de 19/05/2022).
IV - O CRIME TIVER SIDO PRATICADO COM
✔ Violência
✔ Grave ameaça
✔ Emprego de arma de fogo
✔ Qualquer processo de intimidação difusa ou coletiva;
Ratio da majorante: Maior reprovabilidade da conduta, colocando em risco não só a saúde pública, como
também a incolumidade de outras pessoas.
V - CARACTERIZADO O TRÁFICO ENTRE ESTADOS DA FEDERAÇÃO OU ENTRE ESTES E O DISTRITO FEDERAL;
● Tráfico nacional - INTERESTADUAL: Doméstico, interno - porém, interestadual. É exercido entre
Estados da federação ou entre estes e o DF.
https://processo.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?livre=%28%28AGRHC.clas.+ou+%22AgRg+no+HC%22.clap.%29+e+%40num%3D%22728750%22%29+ou+%28%28AGRHC+ou+%22AgRg+no+HC%22%29+adj+%22728750%22%29.suce.
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● Competência
✔ Para julgamento - Justiça Estadual;
✔ Para investigação - atribuição da Polícia Federal;
● Doutrina Majoritária, STJ e 2ª turma do STF: Defendem o mesmo raciocínio do tráfico transnacional,
sendo dispensável a efetiva transposição, desde que haja a clara intenção de remessa da droga para
outra unidade da federação.
Súmula 587, STJ - Para a incidência da majorante prevista no artigo 40, V, da Lei
11.343/06, é desnecessária a efetiva transposição de fronteiras entre estados da
federação, sendo suficiente a demonstração inequívoca da intenção de realizar o
tráfico interestadual.
“PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL RECURSO ESPECIAL. TRÁFICO
DE DROGAS. TRANSNACIONALIDADE E INTERESDUALIDADE. APLICAÇÃO
CUMULATIVA DAS MAJORANTES. CABIMENTO APENAS QUANDO A DROGA
ORIUNDA DO EXTERIOR SE DESTINE AO COMÉRCIO EM MAIS DE UM ESTADO DA
FEDERAÇÃO. RECONHECIMENTO DE QUE HOUVE MERO TRANSPORTE DO
ENTORPECENTE ATÉ O DESTINO. IMPOSSIBILIDADE DA INCIDÊNCIA DA CAUSA DE
AUMENTO PREVISTA NO ART. 40, INCISO V, DA LEI N.º 11.343/2006. I – É cabível a
aplicação cumulativa das causas de aumento relativas à transnacionalidade e à
interestadualidade do delito, previstas nos incisos I e V da Lei de Drogas, quandoevidenciado que a droga proveniente do exterior se destina a mais de um estado
da federação, sendo o intuito dos agentes distribuir o entorpecente estrangeiro
por mais de uma localidade do país. Contudo, entendeu o acórdão recorrido não
ser esta a hipótese. A droga que se destina à unidade federativa que não seja de
fronteira, necessariamente percorrerá mais de um estado. Porém, inexistindo
difusão ilícita do entorpecente no caminho e comprovado que toda droga será
comercializada em um mesmo estado, de fato, não resta configurado o tráfico
interestadual. Precedentes. II – Nessa linha de raciocínio, quando não há difusão
ilícita de drogas em mais de uma unidade federativa, o mero transporte de
entorpecente por estados fronteiriços até o destino final, como na presente
hipótese, é apto a configurar apenas a transnacionalidade do tráfico. Agravo
regimental desprovido” (AgRg no REsp 1744207/TO, Rel. Ministro FELIX FISCHER,
QUINTA TURMA, julgado em 26/06/2018, DJe 01/08/2018).
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VI - SUA PRÁTICA ENVOLVER OU VISAR A ATINGIR CRIANÇA OU ADOLESCENTE OU A QUEM TENHA, POR
QUALQUER MOTIVO, DIMINUÍDA OU SUPRIMIDA A CAPACIDADE DE ENTENDIMENTO E DETERMINAÇÃO
Inf. 576, STJ: A participação do menor pode ser considerada para configurar o crime
de associação para o tráfico (art. 35) e, ao mesmo tempo, para agravar a pena como
causa de aumento do art. 40, VI, da Lei n. 11.343/2006. 6ª T. 2016.
I - A causa de aumento de pena do art. 40, VI, da Lei n. 11.343/2006 pode ser
aplicada tanto para agravar o crime de tráfico de drogas (art. 33) quanto para
agravar o de associação para o tráfico (art. 35) praticados no mesmo contexto. Isso
porque a causa especial de aumento de pena incidiu sobre delitos diversos e
totalmente autônomos, com motivação e finalidades distintas. 6ª T. 2016.
II - O fato de o agente ter envolvido um menor na prática do tráfico e, ainda, tê-lo
retribuído com drogas, para incentivá-lo à traficância ou ao consumo e
dependência, justifica a aplicação, em patamar superior ao mínimo, da causa de
aumento de pena do art. 40, VI, da Lei nº 11.343/2006, ainda que haja fixação de
pena-base no mínimo legal. A aplicação da causa de aumento em patamar acima
do mínimo é plenamente válida, desde que fundamentada na gravidade concreta
do delito.
Atenção:
Na hipótese de o delito praticado pelo agente e pelo menor de 18 anos não estar previsto nos arts.
33 a 37 da Lei de Drogas, o réu poderá ser condenado pelo crime de corrupção de menores, porém, se a
conduta estiver tipificada em um desses artigos (33 a 37), não será possível a condenação por aquele delito,
mas apenas a majoração da sua pena com base no art. 40, VI, da Lei nº 11.343/2006.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.622.781-MT, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
22/11/2016 (Info 595).
Enunciado 5 da I Jornada de Direito Penal e Processo Penal CJF/STJ - Para a aplicação do art. 40, inc. VI, da
Lei n. 11.343/2006, é necessária a prova de que a criança ou adolescente atua ou é utilizada, de qualquer
forma, para a prática do crime, ou figura como vítima, não sendo a mera presença da criança ou adolescente
no contexto delitivo causa suficiente para a incidência da majorante.
VII - O AGENTE FINANCIAR OU CUSTEAR A PRÁTICA DO CRIME
A jurisprudência, em julgados recentes, tem aplicado o inciso VII nos casos de autofinanciamento
para o tráfico: art. 33, caput c/c art. 40, VII;
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Inf. 534, 6ª T. STJ:
Na hipótese de autofinanciamento para o tráfico ilícito de drogas, não há
concurso material entre os crimes de tráfico (art. 33, caput, da Lei 11.343/2006)
e de financiamento ao tráfico (art. 36), devendo, nessa situação, ser o agente
condenado às penas do crime de tráfico com incidência da causa de aumento de
pena prevista no art. 40, VII.
5. DOSIMETRIA DA PENA
Art. 42. O juiz, na fixação das penas, considerará, com preponderância sobre o
previsto no art. 59 do Código Penal, a natureza e a quantidade da substância ou do
produto, a personalidade e a conduta social do agente.
Não subsiste a vedação da fixação de regime diferente do fechado, ou substituição da pena privativa
de liberdade por privativa de direito dentro das hipóteses de cabimento do art. 44 do CP, nesse sentido:
STF – Não é possível a fixação de regime de cumprimento de pena fechado ou
semiaberto para crime de tráfico privilegiado de drogas sem a devida justificação,
a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para justificar a
fixação de regime mais gravoso. (STF. 1° Turma. HC 163231/SP)
STJ – É possível a fixação de regime prisional diferente do fechado para início do
cumprimento de pena imposta ao condenado por tráfico de drogas. (STJ 3 Secção,
EREsp. 1.285.631/ SP).
Veja outras jurisprudências sobre o tema!
◘ Se o réu, não reincidente, for condenado a pena superior a 4 anos e que não exceda a 8 anos, e se as
circunstâncias judiciais forem favoráveis, o juiz deverá fixar o regime semiaberto
O condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 anos e não exceda a 8
anos, tem o direito de cumprir a pena corporal em regime semiaberto (art. 33, § 2°,
b, do CP), caso as circunstâncias judiciais do art. 59 lhe forem favoráveis. Obs: não
importa que a condenação tenha sido por tráfico de drogas. A imposição de regime
de cumprimento de pena mais gravoso deve ser fundamentada, atendendo à
culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos
motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/cf63547fadc1aa6e897a62291e0cb124?categoria=11&subcategoria=123&ano=2017
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comportamento da vítima (art. 33, § 3°, do CP) A gravidade em abstrato do crime
não constitui motivação idônea para justificar a fixação do regime mais gravoso.
STF. 2ª Turma. HC 140441/MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em
28/3/2017 (Info 859).
◘ STJ - Para fins de fixação da pena, não há necessidade de se aferir o grau de pureza da substância
apreendida uma vez que o art. 42 da Lei de Drogas estabelece como critérios "a natureza e a
quantidade da substância".
Súmula 630-STJ: A incidência da atenuante da confissão espontânea no crime de
tráfico ilícito de entorpecentes exige o reconhecimento da traficância pelo acusado,
não bastando a mera admissão da posse ou propriedade para uso próprio. STJ. 3ª
Seção. Aprovada em 24/04/2019, DJe 29/04/2019.
6. PROCEDIMENTO PENAL
Seguem abaixo disposições legais já comentadas anteriormente, mas cuja leitura e a fixação é de
suma importância.
Art. 48. O procedimento relativo aos processos por crimes definidos neste Título
rege-se pelo disposto neste Capítulo, aplicando-se, subsidiariamente, as
disposições do Código de Processo Penal e da Lei de Execução Penal.
§ 1º O agente de qualquer das condutas previstas no art. 28 desta Lei, salvo se
houver concurso com os crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, será
processado e julgado na forma dos arts. 60 e seguintes da Lei nº 9.099, de 26 de
setembro de 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais Criminais.
§ 2º Tratando-se da conduta prevista no art. 28 desta Lei, não se imporá prisão em
flagrante, devendo o autor do fato ser imediatamente encaminhado ao juízo
competente ou, na falta deste, assumir o compromisso de a ele comparecer,
lavrando-se termo circunstanciado e providenciando-se as requisições dos exames
e perícias necessários.
§ 3º Se ausente a autoridadejudicial, as providências previstas no § 2º deste artigo
serão tomadas de imediato pela autoridade policial, no local em que se encontrar,
vedada a detenção do agente.
§ 4º Concluídos os procedimentos de que trata o § 2º deste artigo, o agente será
submetido a exame de corpo de delito, se o requerer ou se a autoridade de polícia
judiciária entender conveniente, e em seguida liberado.
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9099.htm#art60
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9099.htm#art60
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§ 5º Para os fins do disposto no art. 76 da Lei nº 9.099, de 1995, que dispõe sobre
os Juizados Especiais Criminais, o Ministério Público poderá propor a aplicação
imediata de pena prevista no art. 28 desta Lei, a ser especificada na proposta.
Art. 49. Tratando-se de condutas tipificadas nos arts. 33, caput e § 1º , e 34 a 37
desta Lei, o juiz, sempre que as circunstâncias o recomendem, empregará os
instrumentos protetivos de colaboradores e testemunhas previstos na Lei nº 9.807,
de 13 de julho de 1999.
7. DA INVESTIGAÇÃO
O presente ponto é de suma importância, afinal, a investigação é a atividade fim da carreira almejada
por seus estudos, reiterando-se ser importante a leitura dos dispositivos para complementar e fixar o
conteúdo.
Art. 50. Ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade de polícia judiciária fará,
imediatamente, comunicação ao juiz competente, remetendo-lhe cópia do auto
lavrado, do qual será dada vista ao órgão do Ministério Público, em 24 (vinte e
quatro) horas.
§ 1º Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e estabelecimento da
materialidade do delito, é suficiente o laudo de constatação da natureza e
quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na falta deste, por pessoa
idônea.
§ 2º O perito que subscrever o laudo a que se refere o § 1º deste artigo não ficará
impedido de participar da elaboração do laudo definitivo.
CAIU PROVA DELEGADO FEDERAL 2021 - A substância apreendida deve ser submetida à perícia para a
elaboração do laudo de constatação provisório da natureza e da quantidade da droga, análise que deve ser
realizada por perito, o qual, por sua vez, ficará impedido de elaborar o laudo definitivo. (ITEM INCORRETO)
7.1. Laudo provisório e definitivo
O § 1º versa sobre o LAUDO PROVISÓRIO, o qual demonstra a natureza e quantidade da droga
apreendida.
Em se tratando de LAUDO PROVISÓRIO, excepciona-se a regra do Código de Processo Penal e, na
falta de perito oficial, será possível a realização do laudo POR UMA PESSOA IDÔNEA, e não por duas, como
é a regra geral!
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9099.htm#art76
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9807.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9807.htm
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O laudo provisório é suficiente para lavratura do auto de prisão em flagrante e estabelecimento da
materialidade do delito.
Resp. 1544057, 2016: É possível comprovar a materialidade do crime de tráfico de
drogas mesmo sem a apresentação de laudo toxicológico definitivo. A
materialidade do crime fora comprovada pelo laudo prévio, pelo auto de
apreensão, pelos relatos colhidos na audiência de instrução e julgamento, bem
como pela confissão do réu. De acordo com o ministro, o laudo preliminar de
constatação, “assinado por perito criminal, identificando o material apreendido
como cocaína em pó, entorpecente identificável com facilidade mesmo por
narcotestes pré-fabricados”, é uma das exceções em que a materialidade do delito
pode ser provada sem o laudo definitivo. O relator destacou que, dependendo do
grau de complexidade e da novidade da droga apreendida, sua identificação exata
como entorpecente pode exigir a realização de exame mais sofisticado, que
somente é efetuado no laudo definitivo. Porém, no caso julgado, a prova
testemunhal e o laudo toxicológico preliminar foram capazes não apenas de
demonstrar a autoria, mas também de reforçar a evidência da materialidade do
delito.
A jurisprudência do STJ firmou ‘a orientação no sentido da imprescindibilidade do
laudo toxicológico para comprovar a materialidade da infração disciplinar e a
natureza da substância encontrada com o apenado no interior de estabelecimento
prisional’ (HC n. 373.648/MG, Rel. Min. JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA,
julgado em 16/2/2017, DJe 24/2/2017). 3. Agravo regimental desprovido” (STJ,
AgRg no HC 448.115/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em
23/04/2019, DJe 07/05/2019).
No §2º temos a aplicação da regra geral, em que as eventuais nulidades do inquérito não se
comunicam ao processo penal, bem como de que, em razão do contraditório, não é possível alegar
impedimento em sede de procedimento investigatório.
A falta da assinatura do perito criminal no laudo toxicológico é mera irregularidade
que não tem o condão de anular o referido exame. (AgRg no REsp 1753268/MG)
ATENÇÃO! A condenação por tráfico pode ocorrer mesmo que não tenha havido a apreensão da droga
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https://scon.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?i=1&b=ACOR&livre=(('AGRESP'.clas.+e+@num='1753268')+ou+('AgRg%20no%20REsp'+adj+'1753268'.suce.))&thesaurus=JURIDICO&fr=veja
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/5129a5ddcd0dcd755232baa04c231698?categoria=11&subcategoria=123&ano=2018
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A ausência de apreensão da droga não torna a conduta atípica se existirem outros
elementos de prova aptos a comprovarem o crime de tráfico. STJ. 6ª Turma. HC
131455-MT, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 2/8/2012. A
materialidade do crime de tráfico de entorpecentes pode ser atestada por outros
meios idôneos existentes nos autos quando não houve apreensão da droga e não
foi possível realizar o exame pericial, especialmente se encontrado entorpecentes
com outros corréus ou integrantes da organização criminosa. STJ. 5ª Turma. AgRg
no AREsp 1116262/GO, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 06/11/2018.
7.2. Destruição das drogas
§ 3º Recebida cópia do auto de prisão em flagrante, o juiz, no prazo de 10 (dez)
dias, certificará a regularidade formal do laudo de constatação e determinará a
destruição das drogas apreendidas, guardando-se amostra necessária à realização
do laudo definitivo. (Incluído pela Lei nº 12.961, de 2014)
§ 4º A destruição das drogas será executada pelo delegado de polícia competente
no prazo de 15 (quinze) dias na presença do Ministério Público e da autoridade
sanitária. (Incluído pela Lei nº 12.961, de 2014)
§ 5º O local será vistoriado antes e depois de efetivada a destruição das drogas
referida no § 3º , sendo lavrado auto circunstanciado pelo delegado de polícia,
certificando-se neste a destruição total delas. (Incluído pela Lei nº 12.961, de 2014)
Repare que o prazo de 15 dias para a destruição da droga pelo delegado de polícia tem como termo
a quo a decisão do juízo! Sendo tal previsão aplicável em hipótese de flagrante.
Caso haja apreensão da droga sem a ocorrência de flagrante, o procedimento deverá ocorrer em 30
dias, contados da data de apreensão.
Art. 50-A. A destruição das drogas apreendidas sem a ocorrência de prisão em
flagrante será feita por incineração, no prazo máximo de 30 (trinta) dias contados
da data da apreensão, guardando-se amostra necessária à realização do laudo
definitivo. (Redação dada pela Lei nº 13.840, de 2019)
Essa questão foi objeto de prova da Prova de Delta/MG em 2018!
Considerando exclusivamente o disposto na Lei nº 11.343/06 acerca do procedimento de destruição de
drogas apreendidas no curso de investigações, é CORRETO afirmar:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L12961.htm#art3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L12961.htm#art3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L12961.htm#art3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13840.htm#art6
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A) Nos termos da Lei nº 11.343/06, a destruição de drogas apreendidas sem a ocorrência de prisão em
flagrante será feita por incineração, no prazo máximo de 30 (trinta) dias contados da data da determinação
judicial.
B) Na hipótese de ocorrência de prisão em flagrante, a Lei nº 11.343/06 estabelece que a destruição das
drogas apreendidas será executada pelo delegado de polícia competente, no prazo de 15 (quinze) dias, na
presença do Ministério Público e da autoridade sanitária, levando em consideração a necessária
determinação judicial para a destruição.
C) Na hipótese de ocorrência de prisão em flagrante, a Lei nº 11.343/06 estabelece que a destruição das
drogas será executada pelo delegado de polícia competente, no prazo de 15 (quinze) dias, sem necessidade
de presença do Ministério Público e da autoridade sanitária, guardando-se amostra necessária à realização
do laudo definitivo.
D) A destruição de drogas apreendidas sem a ocorrência de prisão em flagrante será feita por incineração,
no prazo máximo de 15 (quinze) dias, contados da data da apreensão, guardando-se amostra necessária à
realização do laudo definitivo.
Gabarito: letra B
7.3. Prazo do IP na Lei de Drogas
A lei 11.343 prevê também prazo especial para o inquérito policial, prazo esse que é frequentemente
objeto de cobrança, diferindo da regra geral que prevê 10 dias em caso de investigado preso e 30 em caso
de investigado solto.
Art. 51. O inquérito policial será concluído no prazo de 30 (trinta) dias, se o indiciado
estiver preso, e de 90 (noventa) dias, quando solto.
Parágrafo único. Os prazos a que se refere este artigo podem ser duplicados pelo
juiz, ouvido o Ministério Público, mediante pedido justificado da autoridade de
polícia judiciária.
● Prazo inquérito se o indiciado preso – 30 dias.
● Prazo inquérito se o indiciado solto – 90 dias.
Atenção: ambos os prazos são passíveis de uma duplicação por representação da autoridade policial,
deferimento pelo juiz, ouvido o MP, por ele ser o titular privativo da ação penal pública. Há quem defenda
que essa duplicação do prazo para indiciado preso é inaceitável, pois há claramente uma ofensa à
proporcionalidade sob o ângulo da necessidade, porque é claríssimo o excesso, e, portanto, a desproporção.
A reboque, isso também compromete, por óbvio, a duração razoável da persecução penal (artigo 5º, LXXVIII
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da CR) porque temos aqui a ofensa à duração razoável não só do processo, mas temos ofensa à duração
razoável da persecução penal.
7.4 Procedimentos Investigatórios Especiais
Quanto aos procedimentos investigatórios especiais, são permitidos, em qualquer fase da
persecução penal relativa aos crimes da presente lei.
Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes previstos nesta
Lei, são permitidos, além dos previstos em lei, mediante autorização judicial e
ouvido o Ministério Público, os seguintes procedimentos investigatórios:
I - A infiltração por agentes de polícia, em tarefas de investigação, constituída pelos
órgãos especializados pertinentes
II - A não-atuação policial sobre os portadores de drogas, seus precursores
químicos ou outros produtos utilizados em sua produção, que se encontrem no
território brasileiro, com a finalidade de identificar e responsabilizar maior número
de integrantes de operações de tráfico e distribuição, sem prejuízo da ação penal
cabível.
Parágrafo único. Na hipótese do inciso II deste artigo, a autorização será concedida
desde que sejam conhecidos o itinerário provável e a identificação dos agentes do
delito ou de colaboradores.
a) Infiltração de agentes.
→ É a autoridade policial quem deve requerer a infiltração
→ Somente o agente de polícia judiciária pode ser infiltrado
b) Ação controlada.
→ Também chamado de Flagrante Postergado
→ Consiste no permissivo legal para que a autoridade policial deixe de efetuar a intervenção no
momento em que o agente está em flagrante, para intervir em momento posterior considerado mais
eficaz do ponto de vista probatório.
Ação controlada é uma técnica especial de investigação por meio da qual a
autoridade policial ou administrativa (ex: Receita Federal, corregedorias), mesmo
percebendo que existem indícios da prática de um ato ilícito em curso, retarda
(atrasa, adia, posterga) a intervenção neste crime para um momento posterior,
com o objetivo de conseguir coletar mais provas, descobrir coautores e partícipes
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da empreitada criminosa, recuperar o produto ou proveito da infração ou resgatar,
com segurança, eventuais vítimas. Imagine que a Polícia recebeu informações de
que determinado indivíduo estaria praticando tráfico de drogas. A partir daí, passou
a vigiá-lo, seguindo seu carro, tirando fotografias e verificando onde ele morava.
Em uma dessas oportunidades, houve certeza de que ele estava praticando crime
e foi realizada a sua prisão em flagrante. A defesa do réu alegou que a Polícia
realizou "ação controlada" e que, pelo fato de não ter havido autorização judicial
prévia, ela teria sido ilegal, o que contaminaria toda prova colhida. A tese da defesa
foi aceita pelo STJ? NÃO. A investigação policial que tem como única finalidade
obter informações mais concretas acerca de conduta e de paradeiro de
determinado traficante, sem pretensão de identificar outros suspeitos, não
configura a ação controlada do art. 53, II, da Lei nº 11.343/2006, sendo dispensável
a autorização judicial para a sua realização. STJ. 6ª Turma. RHC 60251-SC, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em 17/9/2015 (Info 570).
c) Colaboração premiada
→ Consiste em uma causa especial de diminuição de pena para o agente que colaborar voluntariamente
com a persecução penal
→ Diminuição de 1/3 a 2/3 da pena
→ Depende da ocorrência de um dos seguintes resultados:
✔ Identificação dos demais coautores e participes
✔ Recuperação total ou parcial do produto do crime
Art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação
policial e o processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes
do crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de
condenação, terá pena reduzida de um terço a dois terços.
7.5 Medidas Assecuratórias
Medidas assecuratórias (em sentido estrito) são medidas cautelares de natureza patrimonial que têm
como objetivo garantir que o acusado não se desfaça de seu patrimônio e, assim, se for definitivamente
condenado, possa arcar com os efeitos secundários extrapenais genéricos da condenação, previstos no art.
91 do CP (indenização quanto aos danos causados pelo crime e perda em favor da União dos instrumentos,
produtos e proveitos do delito).
As medidas assecuratórias são o sequestro, o arresto e a hipoteca legal. A Lei nº 13.840/2019
promoveu mudanças no art. 60 da Lei nº 11.343/2006, que trata sobre medidas assecuratórias que podem
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ser decretadas pelo juiz em processos envolvendo os crimes da Lei de Drogas. Foram três as mudanças mais
importantes nesse dispositivo:
1) O magistrado não pode mais determinar a concessão das medidas assecuratórias de ofício;
2) Foi inserida a previsão expressa de que o assistente de acusação pode requererao juízo a
concessão de medidas assecuratórias;
3) O art. 60 possuías dois parágrafos trazendo regras de procedimento para essas medidas, tendo
revogado esses dispositivos e remetido a regulamentação para o CPP.
ANTES DA LEI Nº 13.840/2019 DEPOIS DA LEI Nº 13.840/2019 (ATUALMENTE)
Art. 60. O juiz, de ofício, a requerimento do
Ministério Público ou mediante representação da
autoridade de polícia judiciária, ouvido o Ministério
Público, havendo indícios suficientes, poderá
decretar, no curso do inquérito ou da ação penal, a
apreensão e outras medidas assecuratórias
relacionadas aos bens móveis e imóveis ou valores
consistentes em produtos dos crimes previstos
nesta Lei, ou que constituam proveito auferido com
sua prática, procedendo-se na forma dos arts. 125 a
144 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de
1941 - Código de Processo Penal.
Art. 60. O juiz, a requerimento do Ministério Público
ou do assistente de acusação, ou mediante
representação da autoridade de polícia judiciária,
poderá decretar, no curso do inquérito ou da ação
penal, a apreensão e outras medidas assecuratórias
nos casos em que haja suspeita de que os bens,
direitos ou valores sejam produto do crime ou
constituam proveito dos crimes previstos nesta Lei,
procedendo-se na forma dos arts. 125 e seguintes
do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 -
Código de Processo Penal
§ 1º Decretadas quaisquer das medidas previstas
neste artigo, o juiz facultará ao acusado que, no
prazo de 5 (cinco) dias, apresente ou requeira a
produção de provas acerca da origem lícita do
produto, bem ou valor objeto da decisão.
Revogado
§ 2º Provada a origem lícita do produto, bem ou
valor, o juiz decidirá pela sua liberação.
Revogado
§ 3º Nenhum pedido de restituição será conhecido
sem o comparecimento pessoal do acusado,
podendo o juiz determinar a prática de atos
necessários à conservação de bens, direitos ou
valores
§ 3º Na hipótese do art. 366 do Decreto-Lei nº
3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de
Processo Penal, o juiz poderá determinar a prática
de atos necessários à conservação dos bens,
direitos ou valores.
Atenção!!! Dia 06/04/22 foi Incluído pela Lei nº 14.322, de 2022 Os arts. 60 e 61 da Lei nº 11.343, de 23 de
agosto de 2006 (Lei Antidrogas), passam a vigorar com as seguintes alterações:
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“Art. 60. § 5º Decretadas quaisquer das medidas previstas no caput deste artigo, o juiz facultará ao acusado
que, no prazo de 5 (cinco) dias, apresente provas, ou requeira a produção delas, acerca da origem lícita do
bem ou do valor objeto da decisão, exceto no caso de veículo apreendido em transporte de droga ilícita.
§ 6º Provada a origem lícita do bem ou do valor, o juiz decidirá por sua liberação, exceto no caso de veículo
apreendido em transporte de droga ilícita, cuja destinação observará o disposto nos arts. 61 e 62 desta Lei,
ressalvado o direito de terceiro de boa-fé.” (NR)
“Art. 61. A apreensão de veículos, embarcações, aeronaves e quaisquer outros meios de transporte e dos
maquinários, utensílios, instrumentos e objetos de qualquer natureza utilizados para a prática, habitual ou
não, dos crimes definidos nesta Lei será imediatamente comunicada pela autoridade de polícia judiciária
responsável pela investigação ao juízo competente.
a) APREENSÃO E DESTINAÇÃO DOS BENS DO INVESTIGADO/ACUSADO
Os arts. 61 e 62 da Lei nº 11.343/2006 tratam sobre a apreensão e utilização dos bens apreendidos.
A Lei nº 13.840/2019 realizou grandes alterações nesses dispositivos.
Art. 61. A apreensão de veículos, embarcações, aeronaves e quaisquer outros
meios de transporte e dos maquinários, utensílios, instrumentos e objetos de
qualquer natureza utilizados para a prática dos crimes definidos nesta Lei será
imediatamente comunicada pela autoridade de polícia judiciária responsável pela
investigação ao juízo competente. (Redação dada pela Lei nº 13.840, de 2019)
§ 1º O juiz, no prazo de 30 (trinta) dias contado da comunicação de que trata
o caput , determinará a alienação dos bens apreendidos, excetuadas as armas, que
serão recolhidas na forma da legislação específica. (Incluído pela Lei nº 13.840,
de 2019)
§ 2º A alienação será realizada em autos apartados, dos quais constará a exposição
sucinta do nexo de instrumentalidade entre o delito e os bens apreendidos, a
descrição e especificação dos objetos, as informações sobre quem os tiver sob
custódia e o local em que se encontrem. (Incluído pela Lei nº 13.840, de
2019)
§ 3º O juiz determinará a avaliação dos bens apreendidos, que será realizada por
oficial de justiça, no prazo de 5 (cinco) dias a contar da autuação, ou, caso sejam
necessários conhecimentos especializados, por avaliador nomeado pelo juiz, em
prazo não superior a 10 (dez) dias. (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019)
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13840.htm#art6
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13840.htm#art6
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13840.htm#art6
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§ 4º Feita a avaliação, o juiz intimará o órgão gestor do Funad, o Ministério Público
e o interessado para se manifestarem no prazo de 5 (cinco) dias e, dirimidas
eventuais divergências, homologará o valor atribuído aos bens. (Incluído pela
Lei nº 13.840, de 2019) [...]
Art. 62. Comprovado o interesse público na utilização de quaisquer dos bens de
que trata o art. 61, os órgãos de polícia judiciária, militar e rodoviária poderão deles
fazer uso, sob sua responsabilidade e com o objetivo de sua conservação, mediante
autorização judicial, ouvido o Ministério Público e garantida a prévia avaliação dos
respectivos bens. (Redação dada pela Lei nº 13.840, de 2019) [...]
Segundo a nova redação do art. 61 da Lei nº 11.343/2006, poderão ser apreendidos:
✔ Veículos
✔ Embarcações
✔ Aeronaves
✔ Quaisquer outros meios de transporte
✔ Maquinários
✔ Utensílios
✔ Instrumentos
✔ Objetos de qualquer natureza utilizados para a prática dos crimes
● Juiz deverá ser imediatamente comunicado: Em caso de apreensão de qualquer desses bens, o
Delegado de Polícia deverá, imediatamente, comunicar o fato ao juízo competente.
● Alienação antecipada: O juiz, no prazo de 30 dias contado da comunicação feita pelo Delegado,
determinará a alienação dos bens apreendidos.
As armas que forem apreendidas não serão alienadas, mas sim recolhidas na forma da legislação
específica.
● Autos apartados: A alienação será realizada em autos apartados. Deverá haver a exposição sucinta
do nexo de instrumentalidade entre o delito e os bens apreendidos, a descrição e especificação dos
objetos, as informações sobre quem os tiver sob custódia e o local em que se encontrem.
● Avaliação dos bens: O juiz determinará a avaliação dos bens apreendidos, que será realizada por
oficial de justiça, no prazo de 5 dias a contar da autuação, ou, caso sejam necessários conhecimentos
especializados, por avaliador nomeado pelo juiz, em prazo não superior a 10 dias.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13840.htm#art6
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13840.htm#art6
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13840.htm#art6
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✔ Feita a avaliação, o juiz intimará o órgão gestor do Funad, o Ministério Público e o
interessado para se manifestarem no prazo de 5 (cinco) dias e, dirimidas eventuais
divergências, homologará o valor atribuído aos bens.✔ Os valores arrecadados, descontadas as despesas do leilão, serão depositados em conta
judicial remunerada e, após sentença condenatória transitada em julgado, serão
revertidos ao Funad.
✔ Providência adicional no caso de veículos, embarcações ou aeronaves: No caso da
alienação de veículos, embarcações ou aeronaves, o juiz ordenará à autoridade ou ao
órgão de registro e controle a expedição de certificado de registro e licenciamento em
favor do arrematante, ficando este livre do pagamento de multas, encargos e tributos
anteriores, sem prejuízo da cobrança de débitos fiscais, os quais permanecem sob
responsabilidade do antigo proprietário.
CAIU NA PROVA DELEGADO FEDERAL 2021 - O confisco e a posterior reversão a fundo especial de bem
apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes exigem prova de habitualidade e reiteração
do uso do bem para a referida finalidade. (ITEM INCORRETO)
Informativo 856 do STF:
É possível o confisco de todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em
decorrência do tráfico de drogas, sem a necessidade de se perquirir a
habitualidade, reiteração do uso do bem para tal finalidade, a sua modificação
para dificultar a descoberta do local do acondicionamento da droga ou qualquer
outro requisito além daqueles previstos expressamente no art. 243, parágrafo
único, da Constituição Federal.(STF. Plenário.RE 638491/PR, Rel. Min. Luiz Fux,
julgado em 17/5/2017 - repercussão geral).
8. DA INSTRUÇÃO
Art. 54. Recebidos em juízo os autos do inquérito policial, de Comissão Parlamentar
de Inquérito ou peças de informação, dar-se-á vista ao Ministério Público para, no
prazo de 10 (dez) dias, adotar uma das seguintes providências:
I - requerer o arquivamento;
II - requisitar as diligências que entender necessárias;
III - oferecer denúncia, arrolar até 5 (cinco) testemunhas e requerer as demais
provas que entender pertinentes.
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Art. 55. Oferecida a denúncia, o juiz ordenará a notificação do acusado para
oferecer defesa prévia, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.
§ 1º Na resposta, consistente em defesa preliminar e exceções, o acusado poderá
argüir preliminares e invocar todas as razões de defesa, oferecer documentos e
justificações, especificar as provas que pretende produzir e, até o número de 5
(cinco), arrolar testemunhas.
§ 2º As exceções serão processadas em apartado, nos termos dos arts. 95 a 113 do
Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal.
§ 3º Se a resposta não for apresentada no prazo, o juiz nomeará defensor para
oferecê-la em 10 (dez) dias, concedendo-lhe vista dos autos no ato de nomeação.
§ 4º Apresentada a defesa, o juiz decidirá em 5 (cinco) dias.
§ 5º Se entender imprescindível, o juiz, no prazo máximo de 10 (dez) dias,
determinará a apresentação do preso, realização de diligências, exames e perícias.
Art. 56. Recebida a denúncia, o juiz designará dia e hora para a audiência de
instrução e julgamento, ordenará a citação pessoal do acusado, a intimação do
Ministério Público, do assistente, se for o caso, e requisitará os laudos periciais.
§ 1º Tratando-se de condutas tipificadas como infração do disposto nos arts. 33,
caput e § 1º , e 34 a 37 desta Lei, o juiz, ao receber a denúncia, poderá decretar o
afastamento cautelar do denunciado de suas atividades, se for funcionário público,
comunicando ao órgão respectivo.
§ 2º A audiência a que se refere o caput deste artigo será realizada dentro dos 30
(trinta) dias seguintes ao recebimento da denúncia, salvo se determinada a
realização de avaliação para atestar dependência de drogas, quando se realizará
em 90 (noventa) dias.
Art. 57. Na audiência de instrução e julgamento, após o interrogatório do acusado
e a inquirição das testemunhas, será dada a palavra, sucessivamente, ao
representante do Ministério Público e ao defensor do acusado, para sustentação
oral, pelo prazo de 20 (vinte) minutos para cada um, prorrogável por mais 10 (dez),
a critério do juiz.
Parágrafo único. Após proceder ao interrogatório, o juiz indagará das partes se
restou algum fato para ser esclarecido, formulando as perguntas correspondentes
se o entender pertinente e relevante.
Art. 58. Encerrados os debates, proferirá o juiz sentença de imediato, ou o fará em
10 (dez) dias, ordenando que os autos para isso lhe sejam conclusos.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689.htm#art95
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689.htm#art95
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ENTENDIMENTOS JURISPRUDENCIAIS RELEVANTES
- Em se tratando do crime de tráfico de entorpecentes, a confissão
espontânea do acusado que admite a propriedade da droga, no entanto
afirma ser destinada a consumo próprio, sendo mero usuário, impossibilita
o reconhecimento da atenuante prevista no art. 65, inciso III, alínea “d”,
do Código Penal.
(STJ. 5ª Turma. HC 488.991/PR, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em
26/03/2019)
O entendimento foi sumulado pelo STJ em 24.04.2019, DJe 29.04.2019:
Súmula 630 - STJ: A incidência da atenuante da confissão espontânea no
crime de tráfico ilícito de entorpecentes exige o reconhecimento da
traficância pelo acusado, não bastando a mera admissão da posse ou
propriedade para uso próprio.
- (STJ HC 453437): A condenação pelo art. 28 da Lei 11.343/2006 (porte de droga
para uso próprio) NÃO configura reincidência.
- (STF HC 127834): o art. 28 da LD não prevê a possibilidade de o condenado receber
pena privativa de liberdade. Assim, não existe possibilidade de que o indivíduo que
responda processo por este delito sofra restrição em sua liberdade de locomoção.
Diante disso, não é possível que a pessoa que responda processo criminal
envolvendo o art. 28 da LD impetre habeas corpus para discutir a imputação.
- (STF HC 107448): se a pessoa é encontrada com drogas, cabe ao Ministério Público
comprovar que o entorpecente era destinado ao tráfico. Não fazendo esta prova,
prevalece a versão do réu de que a droga era pra consumo próprio.
- (STJ HC 131455): a ausência de apreensão da droga não torna a conduta atípica se
existirem outros elementos de prova aptos a comprovarem o crime de tráfico.
- (STF HC 127900): A exigência de realização do interrogatório ao final da instrução
criminal, conforme o art. 400 do CPP é aplicável: • aos processos penais militares;
• aos processos penais eleitorais e • a todos os procedimentos penais regidos por
legislação especial (ex: lei de drogas).
- (STF HC 124107): A simples condição de “mula” não induz automaticamente à
conclusão de que o agente integre organização criminosa, sendo imprescindível,
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para tanto, prova inequívoca do seu envolvimento estável e permanente com o
grupo criminoso. Portanto, a exclusão da causa de diminuição da pena prevista no
§4º do art. 33 da Lei n° 11.343 somente se justifica quando indicados
expressamente os fatos concretos que comprovem que a “mula” integra
organização criminosa.
- (STF HC 111840): o dispositivo que prevê que o regime inicial deve ser
necessariamente fechado nos crimes hediondos e equiparados (como é o tráfico de
drogas) é inconstitucional. O regime poderá ser aberto ou semiaberto, desde que
presentes os requisitos do art. 33, §2°, “b” e “c”, do Código Penal.
-É incabível salvo-conduto para o cultivo da cannabis visando a extração do óleo
medicinal, ainda que na quantidade necessária para o controle da epilepsia, posto
que a autorização fica a cargo da análise do caso concreto pela ANVISA.STJ. 5ª
Turma. RHC 123402-RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
23/03/2021 (Info 690).- A multa mínima prevista no artigo 33 da Lei 11.343/06 é opção legislativa legítima
para a quantificação da pena, não cabendo ao Poder Judiciário alterá-la com
fundamento nos princípios da proporcionalidade, da isonomia e da individualização
da pena.
STF. Plenário. RE 1347158/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/10/2021
(Repercussão Geral – Tema 1.178).
JURISPRUDÊNCIAS EM TESES DO STJ
EDIÇÃO Nº 131: COMPILADO LEI DE DROGAS
1) É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da
incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o
advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976, sendo vedada a combinação de leis.
(Súmula n. 501/STJ)
2) A inobservância do art. 55 da Lei n. 11.343/2006, que determina o recebimento
da denúncia após a apresentação da defesa prévia, constitui nulidade relativa
quando forem demonstrados os prejuízos suportados pela defesa.
3) O laudo pericial definitivo atestando a ilicitude da droga afasta eventuais
irregularidades do laudo preliminar realizado na fase de investigação.
4) A falta da assinatura do perito criminal no laudo toxicológico é mera
irregularidade que não tem o condão de anular o referido exame.
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5) O princípio da insignificância não se aplica aos delitos do art. 33, caput, e do art.
28 da Lei de Drogas, pois tratam-se de crimes de perigo abstrato ou presumido.
6) A conduta de porte de substância entorpecente para consumo próprio, prevista
no art. 28 da Lei n. 11.343/2006, foi apenas despenalizada pela nova Lei de
Drogas, mas não descriminalizada, não havendo, portanto, abolitio criminis.
7) As contravenções penais, puníveis com pena de prisão simples, não geram
reincidência, mostrando-se, portanto, desproporcional que condenações
anteriores pelo delito do art. 28 da Lei n. 11.343/2006 configurem reincidência,
uma vez que não são puníveis com pena privativa de liberdade.
8) O crime de uso de entorpecente para consumo próprio, previsto no art. 28 da Lei
n. 11.343/2006, é de menor potencial ofensivo, o que determina a competência
do Juizado Especial estadual, já que ele não está previsto em tratado internacional
e o art. 70 da Lei n. 11.343/2006 não o inclui dentre os que devem ser julgados
pela justiça federal.
9) A conduta prevista no art. 28 da Lei n. 11.343/2006 admite tanto a transação
penal quanto a suspensão condicional do processo.
10) A posse de substância entorpecente para uso próprio configura crime doloso e
quando cometido no interior do estabelecimento prisional constitui falta grave,
nos termos do art. 52 da Lei de Execução Penal - LEP (Lei n. 7.210/1984).
CUIDADO!
HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. USO DE ENTORPECENTE. CONDUTA NÃO
PREVISTA NO TIPO DO ART. 28 DA LEI DE TÓXICOS. RECONHECIMENTO DE FALTA
GRAVE NOS TERMOS DO ART. 52 DA LEP. IMPOSSIBILIDADE. ORDEM DE HABEAS
CORPUS CONCEDIDA. 1. No caso, o Juízo das Execuções Criminais reconheceu a
prática de falta disciplinar de natureza grave pelo Paciente, porque, quando do
ingresso do recuperando na instituição prisional, foi constatado, por meio de
exame de urina, a utilização da substância popularmente conhecida como
maconha. 2. Embora o Plenário do Supremo Tribunal Federal no julgamento de
questão de ordem suscitada nos autos do RE n.º 430.105 QO/RJ, tenha firmado a
posição no sentido de que constitui crime a conduta prevista no art. 28 da Lei
n.º 11.343/06, a evidencia do uso sem que o Paciente tenha sido surpreendido
na posse de quaisquer substâncias entorpecentes é conduta manifestamente
atípica, posto que não constitui núcleo do tipo do art. 28 da Lei n.º 11.343/2006.
3. Ordem de habeas corpus concedida para reconhecer a atipicidade da
conduta do Paciente e, consequentemente, afastar o reconhecimento da falta
grave nos termos do art. 52 da Lei de Execução Penal. (HC 462.612/MG, Rel.
Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 18/09/2018, DJe 03/10/2018)
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https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10868007/artigo-28-da-lei-n-11343-de-23-de-agosto-de-2006
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/95503/lei-de-t%C3%B3xicos-lei-11343-06
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11697884/artigo-52-da-lei-n-7210-de-11-de-julho-de-1984
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/109222/lei-de-execu%C3%A7%C3%A3o-penal-lei-7210-84
https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/758029/questao-de-ordem-no-recurso-extraordinario-re-qo-430105-rj
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10868007/artigo-28-da-lei-n-11343-de-23-de-agosto-de-2006
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/95503/lei-de-t%C3%B3xicos-lei-11343-06
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10868007/artigo-28-da-lei-n-11343-de-23-de-agosto-de-2006
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/95503/lei-de-t%C3%B3xicos-lei-11343-06
https://canalcienciascriminais.com.br/?s=atipicidade+da+conduta
https://canalcienciascriminais.com.br/?s=atipicidade+da+conduta
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11697884/artigo-52-da-lei-n-7210-de-11-de-julho-de-1984
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/109222/lei-de-execu%C3%A7%C3%A3o-penal-lei-7210-84
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/610742281/habeas-corpus-hc-462612-mg-2018-0196289-0
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11) É imprescindível a confecção do laudo toxicológico para comprovar a
materialidade da infração disciplinar e a natureza da substância encontrada com
o apenado no interior de estabelecimento prisional.
12) A comprovação da materialidade do delito de posse de drogas para uso próprio
(art. 28 da Lei n. 11.343/2006) exige a elaboração de laudo de constatação da
substância entorpecente que evidencie a natureza e a quantidade da substância
apreendida.
13) O tráfico de drogas é crime de ação múltipla e a prática de um dos verbos contidos
no art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006 é suficiente para a consumação do delito.
14) O laudo de constatação preliminar de substância entorpecente constitui condição
de procedibilidade para apuração do crime de tráfico de drogas.
15) Para a configuração do delito de tráfico de drogas previsto no caput do art. 33 da
Lei n. 11.343/2006, é desnecessária a aferição do grau de pureza da substância
apreendida.
16) Não se reconhece a existência de bis in idem na aplicação da causa de aumento
de pena pela transnacionalidade (art. 40, inciso I, da Lei n. 11.343/2006), em razão
do art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006 prever as condutas de "importar" e
"exportar", pois trata-se de tipo penal de ação múltipla, e o simples fato de o
agente "trazer consigo" a droga já conduz à configuração da tipicidade formal do
crime de tráfico.
17) O agente que atua diretamente na traficância e que também financia ou custeia
a aquisição de drogas deve responder pelo crime previsto no art. 33, caput, da Lei
n. 11.343/2006 com a incidência da causa de aumento de pena prevista no art.
40, VII, da Lei n. 11.343/2006, afastando-se, por conseguinte, a conduta
autônoma prevista no art. 36 da referida legislação.
18) É possível a aplicação do princípio da consunção entre os crimes previstos no §
1º do art. 33 e/ou no art. 34 pelo tipificado no caput do art. 33 da Lei n.
11.343/2006, desde que não caracterizada a existência de contextos autônomos
e coexistentes, aptos a vulnerar o bem jurídico tutelado de forma distinta.
19) Quando o agente no exercício irregular da medicina prescreve substância
caracterizada como droga, resta configurado, em tese, o delito do art. 282 doCódigo Penal, em concurso formal com o art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006.
20) O § 3º do art. 33 da Lei n. 11.343/2006 traz tipo específico para aquele que
fornece gratuitamente substância entorpecente a pessoa de seu relacionamento
para juntos a consumirem e, por se tratar de norma penal mais benéfica, deve ser
aplicado retroativamente.
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21) O tráfico ilícito de drogas na sua forma privilegiada (art. 33, § 4º, da Lei n.
11.343/2006) não é crime equiparado a hediondo. (Tese revisada sob o rito do
art. 1.036 do CPC/2015 - TEMA 600)
22) A causa de diminuição de pena prevista no § 4º do art. 33 da Lei de Drogas só
pode ser aplicada se todos os requisitos, cumulativamente, estiverem presentes.
23) É inviável a aplicação da causa especial de diminuição de pena prevista no § 4º
do art. 33 da Lei n. 11.343/2006 quando há condenação simultânea do agente nos
crimes de tráfico de drogas e de associação para o tráfico, por evidenciar a sua
dedicação a atividades criminosas ou a sua participação em organização
criminosa.
24) A condição de "mula" do tráfico, por si só, não afasta a possibilidade de aplicação
da minorante do § 4º do art. 33 da Lei n. 11.343/2006, uma vez que a figura de
transportador da droga não induz, automaticamente, à conclusão de que o agente
integre, de forma estável e permanente, organização criminosa.
25) Diante da ausência de parâmetros legais, é possível que a fração de redução da
causa de diminuição de pena estabelecida no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006
seja modulada em razão da qualidade e da quantidade de droga apreendida, além
das demais circunstâncias do delito.
26) Para a caracterização do crime de associação para o tráfico de drogas (art. 35 da
Lei n. 11.343/2006) é imprescindível o dolo de se associar com estabilidade e
permanência.
27) Para a configuração do crime de associação para o tráfico de drogas, previsto no
art. 35 da Lei n. 11.343/2006, é irrelevante apreensão de drogas na posse direta
do agente.
28) O crime de associação para o tráfico de entorpecentes (art. 35 da Lei n. 11.
343/2006) não figura no rol taxativo de crimes hediondos ou de delitos a eles
equiparados.
29) Em se tratando de condenado pelo delito previsto no art. 14 da Lei n. 6. 368/1976,
deve-se observar as reprimendas mínima e máxima estabelecidas pelo art. 8º da
Lei n. 8.072/1990 (3 a 6 anos de reclusão), por ser norma penal mais benéfica ao
réu, impondo-se, inclusive, se for o caso, a exclusão da pena de multa.
30) O crime de financiar ou custear o tráfico ilícito de drogas (art. 36 da Lei n.
11.343/2006) é delito autônomo aplicável ao agente que não tem participação
direta na execução do tráfico, limitando-se a fornecer os recursos necessários
para subsidiar as infrações a que se referem os art. 33, caput e § 1º, e art. 34 da
Lei de Drogas.
31) O crime de colaboração com o tráfico, art. 37 da Lei n. 11.343/2006, é um tipo
penal subsidiário em relação aos delitos dos arts. 33 e 35 da referida lei e tem
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como destinatário o agente que colabora como informante, de forma esporádica,
eventual, sem vínculo efetivo, para o êxito da atividade de grupo, de associação
ou de organização criminosa destinados à prática de qualquer dos delitos
previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 da Lei de Drogas.
32) A Lei n. 11.343/2006 manteve as condutas descritas no art. 12, § 2º, inciso III, da
Lei n. 6.368/1976, razão pela qual não há que se falar em abolitio criminis.
33) A Lei n. 11.343/2006 aboliu a majorante da associação eventual para o tráfico
prevista no art. 18, III, primeira parte, da Lei n. 6.368/1976.
34) A incidência da majorante da segunda parte do inciso III do art. 18 da Lei n. 6.
368/1976 - "visar [o crime] a menores de 21 (vinte e um) anos" -, segue
contemplada no art. 40, inciso VI, da nova Lei de Drogas - "sua prática envolver
ou visar a atingir criança ou adolescente" -, não restando configurada a abolitio
criminis.
35) O art. 40 da Lei n. 11.343/2006 conferiu tratamento mais favorável às causas
especiais de aumento de pena, devendo ser aplicado retroativamente aos delitos
cometidos sob a égide da Lei n. 6.368/1976.
36) Não acarreta bis in idem a incidência simultânea das majorantes previstas no art.
40 da Lei n. 11.343/2006 aos crimes de tráfico de drogas e de associação para fins
de tráfico, porquanto são delitos autônomos, cujas penas devem ser calculadas e
fixadas separadamente.
37) Para a incidência das majorantes previstas no art. 40, I e V, da Lei n. 11. 343/2006,
é desnecessária a efetiva transposição de fronteiras, sendo suficiente,
respectivamente, a prova de destinação internacional das drogas ou a
demonstração inequívoca da intenção de realizar o tráfico interestadual.
38) É cabível a aplicação cumulativa das causas de aumento relativas à
transnacionalidade e à interestadualidade do delito, previstas nos incisos I e V do
art. 40 da Lei de Drogas, quando evidenciado que a droga proveniente do exterior
se destina a mais de um estado da Federação, sendo o intuito dos agentes
distribuir o entorpecente estrangeiro por mais de uma localidade do país.
39) O rol previsto no inciso III do art. 40 da Lei de Drogas não deve ser encarado como
taxativo, pois o objetivo da referida lei é proteger espaços que promovam a
aglomeração de pessoas, circunstância que facilita a ação criminosa.
40) A causa de aumento de pena prevista no inciso III do art. 40 da Lei de Drogas
possui natureza objetiva e se aplica em função do lugar do cometimento do delito,
sendo despicienda a comprovação efetiva do tráfico nos locais e nas imediações
mencionados no inciso ou que o crime visava a atingir seus frequentadores.
41) A incidência da majorante prevista no art. 40, inciso III, da Lei n. 11.343/2006 deve
ser excepcionalmente afastada na hipótese de não existir nenhuma indicação de
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que houve o aproveitamento da aglomeração de pessoas ou a exposição dos
frequentadores do local para a disseminação de drogas, verificando-se, caso a
caso, as condições de dia, local e horário da prática do delito.
42) Para a caracterização da causa de aumento de pena do art. 40, III, da Lei n. 11.
343/2006, é necessária a efetiva oferta ou a comercialização da droga no interior
de veículo público, não bastando, para a sua incidência, o fato deo agente ter se
utilizado dele como meio de locomoção e de transporte da substância ilícita.
43) A aplicação das majorantes previstas no art. 40 da Lei de Drogas exige motivação
concreta, quando estabelecida acima da fração mínima, não sendo suficiente a
mera indicação do número de causas de aumento.
44) Para fins de fixação da pena, não há necessidade de se aferir o grau de pureza da
substância apreendida uma vez que o art. 42 da Lei de Drogas estabelece como
critérios "a natureza e a quantidade da substância".
45) A natureza e a quantidade da droga não podem ser utilizadas simultaneamente
para justificar o aumento da pena-base e para afastar a redução prevista no §4º
do art. 33 da Lei n. 11.343/2006, sob pena de caracterizar bis in idem.
46) A utilização concomitante da quantidade de droga apreendida para elevar a pena-
base e para afastar a incidência da minorante prevista no § 4º do art. 33 da Lei de
Drogas, por demonstrar que o acusado se dedica a atividades criminosas ou
integra organização criminosa, não configura bis in idem, tratando-se de hipótese
diversa da Repercussão Geral - TEMA 712/STF.
47) Reconhecida a inconstitucionalidade da vedação prevista na parte final do §4º do
art. 33 da Lei de Drogas, inexiste óbice à substituição da pena privativa de
liberdade pela restritiva de direitos aos condenados pelo crime de tráfico de
drogas, desde que preenchidos os requisitos do art. 44 do Código Penal.
48) A utilização da reincidência como agravante genérica é circunstância que afasta a
causa especial de diminuição da pena do crime de tráfico, e não caracteriza bis in
idem.
49) Reconhecida a inconstitucionalidade do § 1º do art. 2º da Lei n. 8.072/1990, é
possível a fixação de regime prisional diferente do fechado para o início do
cumprimento de pena imposta ao condenado por tráfico de drogas, devendo o
magistrado observar as regras previstas no Código Penal para a fixação do regime
prisional.
50) O juiz pode fixar regime inicial mais gravoso do que aquele relacionado
unicamente com o quantum da pena ao considerar a natureza ou a quantidade
da droga.
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51) Configura ofensa ao princípio da proteção integral a aplicação de medida de
semiliberdade ao adolescente pela prática de ato infracional análogo ao crime
previsto no art. 28 da Lei n. 11.343/2006.
52) O ato infracional análogo ao tráfico de drogas, por si só, não conduz
obrigatoriamente à imposição de medida socioeducativa de internação do
adolescente. (Súmula n. 492/STJ)
53) A despeito de não ser considerado hediondo, o crime de associação para o tráfico,
no que se refere à concessão do livramento condicional, deve, em razão do
princípio da especialidade, observar a regra estabelecida pelo art. 44, parágrafo
único, da Lei n. 11.343/2006: cumprimento de 2/3 (dois terços) da pena e vedação
do benefício ao reincidente específico.
54) É possível a concessão de liberdade provisória nos crimes de tráfico ilícito de
entorpecentes.
55) É vedada a concessão de indulto aos condenados por crime hediondo ou por
crime a ele equiparado, entre os quais se insere o delito de tráfico previsto no art.
33, caput e § 1º da Lei n. 11.343/2006, afastando-se a referida vedação na
hipótese de aplicação da causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da mesma
Lei, uma vez que a figura do tráfico privilegiado é desprovida de natureza
hedionda.
56) O requisito objetivo necessário para a progressão de regime prisional aos
condenados em crime de tráfico ilícito de entorpecentes (delito equiparado a
hediondo), praticados antes do advento da Lei n. 11.464/2007, deve ser o previsto
no art. 112 da Lei de Execução Penal (Lei n. 7.210/1984), qual seja, 1/6 (um sexto);
posteriormente, passou-se a exigir o cumprimento de 2/5 da pena pelo réu
primário e 3/5 pelo reincidente.
57) Compete ao juiz federal do local da apreensão da droga remetida do exterior
pela via postal processar e julgar o crime de tráfico internacional. (Súmula n.
528/STJ) (SUMULA CANCELADA)!!!
58) A expropriação de bens em favor da União, decorrente da prática de crime de
tráfico ilícito de entorpecentes, constitui efeito automático da sentença penal
condenatória.
59) Não viola o princípio da dignidade da pessoa humana a revista íntima realizada
conforme as normas administrativas que disciplinam a atividade fiscalizatória,
quando houver fundada suspeita de que o visitante esteja transportando drogas
ou outros itens proibidos para o interior do estabelecimento prisional.
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META 4
DIREITO CONSTITUCIONAL: REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS (PARTE I)
TODOS OS ARTIGOS
CF/88
⦁ Art. 5º, inc. LXVIII a LXXIII,
⦁ Art. 5, inc. LXXVII,
⦁ Art. 102, inc. I, “d”, “i” e “q”
⦁ Art. 102, inc. II, “a”
⦁ Art. 105, inc. I, “b”, “c” e “h”
⦁ Art. 105, inc. II, “a”
⦁ Art. 108, inc. I, “c” e “d”
⦁ Art. 108, inc. VII e VIII
⦁ Art. 121, §3º e §4º, inc. V
⦁ Art. 142, §2º
CPP
⦁ Art. 3-B, inc. XII
⦁ Art. 574, I
⦁ Art. 581, X
⦁ Art. 612
⦁ Arts. 647 a 667
OUTROS DIPLOMAS LEGAIS:
⦁ Lei 9507/97 (habeas data)
⦁ Lei 12.016/2009 (mandado de segurança)
⦁ Lei 13.300/2016 (mandado de injunção)
⦁ Lei 4717/65 (ação popular)
⦁ Art. 23, 24, 30, 32 e 41-A, Lei 8038/90
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO PODEM DEIXAR DE LER!
CF/88
⦁ Art. 5º, inc. LXVIII a LXXIII
⦁ Art. 5, inc. LXXVII
CPP
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⦁ Art. 3º-B, inc. XXII
⦁ Arts. 647, 648, 651
⦁ Art. 654, caput.
⦁ Art. 655 e 656
⦁ Art. 660, §§ 1º e 4º
LEI 9507/97 (HABEAS DATA)
⦁ Art. 4º
⦁ Art. 7º
⦁ Art. 8º, §único
⦁ Art. 19
LEI 12.016/2009 (MANDADO DE SEGURANÇA)
⦁ Art. 1º e 3º
⦁ Art. 6º, caput
⦁ Art. 7º, inc. I e §4º
⦁ Art. 8º a 10º
⦁ Arts. 14 e 20
⦁ Arts. 21 a 23
⦁ Art. 26
LEI 13.300/2016 (MANDADO DE INJUNÇÃO)
⦁ Arts. 2º e 3º
⦁ Art. 8º e 9º
⦁ Arts. 11 a 13
Remédios Constitucionais: são garantias que consubstanciam meios colocados à disposição do
indivíduo para salvaguardar os seus direitos diante de ilegalidade ou abuso de poder cometido pelo Poder
Público.
1. HABEAS CORPUS
a) Previsão normativa: art. 5º, LXVIII, CF/88 e arts. 647 e ss do CPP.
Art. 5º LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar
ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por
ilegalidade ou abuso de poder;
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b) Introdução
Típico de direito de primeira geração, o HC visa a garantir o direito individual de locomoção, por meio
de ordem exarada por órgão do Poder Judiciário, para que seja cessada a ameaça ou coação à liberdade de
locomoção do indivíduo.
No direito inglês, surgiu primeiramente na Magna Charta Libertatum, de 1215 e, no direito brasileiro,
surgiu pela 1ª vez na ConstituiçãoFederal de 1891, permanecendo nas demais constituições subsequentes.
Ressalta-se, contudo, que, inicialmente, e o HC visava proteger outros direitos distintos - e não
apenas a locomoção, por meio da chamada Teoria Brasileira do habeas corpus*. Porém, com a EC n° 1 de
1926, restringiu-se o HC apenas à liberdade de locomoção. Ensina o professor Marcelo Novelino:
Durante a Primeira República, com a introdução desse instituto no sistema
constitucional pátrio, surgiu a denominada “doutrina brasileira do habeas corpus”,
que tinha Rui Barbosa como seu principal expoente. Em face da ausência de outras
garantias constitucionais na Carta de 1891, foi adotada uma interpretação ampla
acerca do cabimento desse mandamus, utilizado em diversas situações de ameaça
a direitos constitucionalmente assegurados – e não apenas à liberdade de
locomoção – decorrentes de ilegalidades ou abusos de poder. À época, o Supremo
Tribunal Federal adotou o entendimento de que a ação contemplava as situações
em que a liberdade de ir e vir era meio para atingir outro direito. A partir da reforma
constitucional de 1926, essa concepção foi superada e o habeas corpus passou a
ser utilizado apenas em seu sentido clássico (NOVELINO, 2017, p. 438).
Sobre o tema, confira a dica da Professora Thaianne:
https://youtu.be/dggvsbK8Ktc
c) Características do HC:
∘ O HC possui natureza dúplice: Ação de natureza penal não condenatória e remédio
constitucional.
https://youtu.be/dggvsbK8Ktc
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∘ Possui autonomia própria
∘ Pode ser impetrado sem que exista processo
∘ Isento de custas
∘ Não exige capacidade postulatória
∘ Admite concessão de pedido liminar
∘ Exige violência ou coação + ilegalidade ou abuso de poder
d) Modalidades - O HC pode ser:
● Repressivo (liberatório): Quando o indivíduo já tiver desrespeitado o seu direito de locomoção;
● Preventivo (salvo-conduto): Quando há apenas ameaça ao seu direito de locomoção.
CAIU EM PROVA – DELTA/PA 2016
Maria, gestante de feto anencéfalo, pretende a obtenção de autorização judicial para realização de aborto.
O Juízo de primeiro grau julgou improcedente o pedido. Pretende, agora, manejar um remédio constitucional
para evitar o cometimento de crime. Para tanto, deverá demandar por meio do seguinte instrumento:
a) ação popular.
b) habeas corpus
c) habeas data
d) mandado de segurança
e) mandado de injunção
Resposta: Letra B
Conforme já definido pelo STJ (HC 56572), a via do habeas corpus é adequada para pleitear a interrupção de
gravidez fora das hipóteses previstas no Código Penal (art. 128, incs. I e II), tendo em vista a real ameaça de
constrição à liberdade ambulatorial, caso a gestante venha a interromper a gravidez sem autorização judicial.
Observação: a questão foi utilizada como um exemplo para o estudo do cabimento do HC preventivo. É
necessário ressaltar que, no julgamento da ADPF nº 54, por 8 votos a 2, os Ministros do STF entenderam que
não é crime interromper a gravidez de fetos anencéfalos.
e) Legitimidade ativa: Universal. Qualquer pessoa pode impetrar HC:
∘ Pessoa física ou jurídica
∘ Nacional ou estrangeira
∘ Independentemente de capacidade civil.
∘ MP e juiz de ofício podem impetrar HC
Obs.1: Exceção ao princípio da inércia jurisdicional: O Juiz de direito, o Desembargador, Ministros,
Turma Recursal e o Tribunal poderão conceder habeas corpus de ofício, no exercício da função jurisdicional.
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Obs.2: Não exige capacidade postulatória do impetrante, de modo que a ação pode ser formulada
sem advogado.
f) Legitimidade passiva: somente pessoa física!
STF: A pessoa jurídica NÃO pode figurar como paciente de HC, pois jamais estará
em jogo a liberdade de locomoção, ainda que se trate da possibilidade de apenação
da pessoa jurídica por crimes ambientais.
Obs.:É possível impetrar HC contra ato do sujeito coator, que tanto poderá ser autoridade pública
quanto agente privado (ex: agente de hospital que ilegalmente impede a saída do paciente).
g) HC e ofensa indireta
STF: Será cabível o HC não só contra ofensa direta, mas também contra ofensa indireta, reflexa ou
potencial ou direito de locomoção, a exemplo do uso do HC para atacar a quebra de sigilo bancário em
procedimento que possa resultar prisão => Se a quebra de sigilo for determinada por autoridade fiscal, no
curso de procedimento administrativo tributário, é incabível HC, pois em processo administrativo NÃO
implica ofensa ao direito de locomoção.
h) Pressupostos ou condições para a concessão de HC
Uma vez conhecido o habeas corpus somente deverá ser concedido em caso de réu preso ou na
iminência de sê-lo, presentes as seguintes condições:
(1) Violação à jurisprudência consolidada do STF;
(2) Violação clara à Constituição; ou
(3) Teratologia na decisão impugnada, caracterizadora de absurdo jurídico.
STF. 1ª Turma. AgRg no HC 200.055, Rel. Min.
Roberto Barroso, julgado em 14/06/2021.
Veja algumas jurisprudências pertinentes!
É inadmissível a intervenção do assistente de acusação na ação de habeas corpus
É inadmissível a intervenção do assistente de acusação na ação de habeas corpus.
Isto porque, inexiste imposição legal de intimação do assistente do Ministério
Público no habeas corpus impetrado em favor do acusado. Ademais, como ele não
integra a relação processual instaurada nessa ação autônoma de natureza
PREPARAÇÃO EXTENSIVA PLUS
DELEGADO DE POLÍCIA
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constitucional, também não possui legitimidade para recorrer de decisões
proferidas em habeas corpus, por não constar essa atividade processual no rol
exaustivo do art. 271 do Código de Processo Penal. STF. 1ª Turma. AgRg no HC
203.737, Rel. Min. Carmem Lúcia, decisão monocrática em 31/08/2021.
Cabe habeas corpus contra a decisão que não homologa ou que homologa apenas
parcialmente o acordo de colaboração premiada. Atualmente, não existe previsão
legal de recurso cabível em face de não homologação ou de homologação parcial
de acordo. Logo, deve ser possível a impetração de habeas corpus. A homologação
do acordo de colaboração premiada é etapa fundamental da sistemática negocial
regulada pela Lei nº 12.850/2013, estando diretamente relacionada com o
exercício do poder punitivo estatal, considerando que nesse acordo estão
regulados os benefícios concedidos ao imputado e os limites à persecução penal.
STF. 2ª Turma. HC 192063/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 2/2/2021 (Info
1004).
CUIDADO! Para o STJ, a decisão que recusa homologação do acordo de colaboração
premiada deve ser atacada por apelação! (Inf. 683)
Quando a liberdade de alguém estiver direta ou indiretamente ameaçada, cabe
habeas corpus ainda que para solucionar questões de natureza processual. STF. 2ª
Turma. HC 163943 AgR/PR, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Ricardo
Lewandowski, julgado em 4/8/2020 (Info 985).
O habeas corpus pode ser empregado para impugnar medidas cautelares de
natureza criminal diversas da prisão. Isso porque, se descumprida a “medida
alternativa”, é possível o estabelecimento da custódia, alcançando-se o direito de
ir e vir. STF. 1ª Turma. HC 170735/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 30/6/2020 (Info 984).
Cabe habeas corpus para questionar a decisão do magistrado que não permite que
os réus delatados apresentem alegações finais somente após os réus colaboradores
(Info 949)
i) Hipóteses em que NÃO é possível o cabimento de HC:
● Impugnar decisões de plenário de qualquer das turmas do STF;
● Impugnar determinação e suspensão dos direitos políticos;
● Impugnar penalidade administrativa de caráterdisciplinar;
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/b9b852ac7bd1776bc5ac5ce3b41d8af7?categoria=12&subcategoria=137
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/b9b852ac7bd1776bc5ac5ce3b41d8af7?categoria=12&subcategoria=137
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● Impugnar decisão condenatória à pena de multa, ou relativa a processo em curso por infração penal
a que a pena pecuniária seja a única cominada (SÚMULA 693 STF);
● Impugnar a determinação de quebra de sigilo telefônico, bancário ou fiscal, se desta medida não
puder resultar condenação à pena privativa de liberdade;
● Discutir o mérito das punições disciplinares militares => STF: NÃO cabe a discussão do mérito, mas
cabe HC para se analisar os pressupostos de legalidade da medida.
● Para discutir processo criminal envolvendo o art. 28 da Lei de Drogas
● Questionar afastamento ou perda de cargos públicos;
● Dirimir controvérsia sobre a guarda de filhos menores;
● Discutir matéria objeto de processo de extradição;
● Questionamento de condenação criminal quando já extinta a pena privativa de liberdade (SÚMULA
692 STF);
● Impedir o cumprimento de decisão que determina o sequestro de bens imóveis;
● Discutir condenação imposta em processo de impeachment;
● Impugnar o mero indiciamento em inquérito policial, desde que presentes indícios de autoria de fato
que configure crime em tese;
● Impugnar omissão de relator na extradição, se fundado em fato ou direito estrangeiro cuja prova não
constava dos autos, nem foi ele provocado a respeito (SÚMULA 692 STF);
● Tutelar o direito à visita em presídio;
● Impugnar decisões monocráticas proferidas por Ministro do Supremo Tribunal Federal. (Info 985 –
clipping)
● Contra ato de Ministro ou outro órgão fracionário fracionário da Corte. STF. Plenário. (HC 170263/DF,
22/06/2020)
● Reexame dos pressupostos de admissibilidade de recurso interposto no STJ.
● Não cabe HC de ofício no bojo de embargos de divergência
● Não cabe HC em ação que apura improbidade administrativa
● Em regra, não cabe habeas corpus contra decisão transitada em julgado (posição majoritária na
jurisprudência – Inf. 892)
● Não cabe HC para impugnar ato normativo que fixa medidas restritivas para prevenir a disseminação
da covid-19
Questões importantes:
É possível a impetração de habeas corpus e a interposição de recurso de forma concomitante?
O habeas corpus, quando impetrado de forma concomitante com o recurso cabível contra o ato
impugnado, será admissível apenas se:
a) For destinado à tutela direta da liberdade de locomoção ou
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/a9fb9e6ef40426e9add520623d521ab8?categoria=12&subcategoria=137
Highlight
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b) Se traduzir pedido diverso do objeto do recurso próprio e que reflita mediatamente na liberdade do
paciente.
Nas demais hipóteses, o habeas corpus não deve ser admitido e o exame das questões idênticas deve
ser reservado ao recurso previsto para a hipótese, ainda que a matéria discutida resvale, por via transversa,
na liberdade individual.
STJ. 3ª Seção. HC 482549-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
11/03/2020 (Info 669).
A concessão do benefício da transação penal impede a impetração de habeas corpus em que se busca
o trancamento da ação penal? Com a celebração da transação penal, o habeas corpus que estava
pendente fica prejudicado ou o TJ deverá julgá-lo mesmo assim?
● STJ: SIM. Fica prejudicado. A concessão do benefício da transação penal impede a impetração de
habeas corpus em que se busca o trancamento da ação penal. STJ. 6ª Turma. HC 495148-DF, Rel.
Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 24/09/2019 (Info 657).
● STF: NÃO. Não impede e o TJ deverá julgar o mérito do habeas corpus. A realização de acordo de
transação penal não enseja a perda de objeto de habeas corpus anteriormente impetrado. A
aceitação do acordo de transação penal não impede o exame de habeas corpus para questionar a
legitimidade da persecução penal. Embora o sistema negocial possa trazer aprimoramentos positivos
em casos de delitos de menor gravidade, a barganha no processo penal pode levar a riscos
consideráveis aos direitos fundamentais do acusado. Assim, o controle judicial é fundamental para a
proteção efetiva dos direitos fundamentais do imputado e para evitar possíveis abusos que
comprometam a decisão voluntária de aceitar a transação. Não há qualquer disposição em lei que
imponha a desistência de recursos ou ações em andamento ou determine a renúncia ao direito de
acesso à Justiça. STF. 2ª Turma. HC 176785/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 17/12/2019
(Info 964).
Com a concessão da suspensão condicional do processo, o habeas corpus que estava pendente fica
prejudicado ou o TRF deverá julgá-lo mesmo assim?
O Tribunal deverá julgar o habeas corpus. É a posição tranquila da jurisprudência:
O fato de o denunciado ter aceitado a proposta de suspensão condicional do
processo formulada pelo Ministério Público (art. 89 da Lei nº 9.099/95) não
constitui empecilho para que seja proposto e julgado habeas corpus em seu favor,
no qual se pede o trancamento da ação penal. Isso porque o réu que está
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cumprindo suspensão condicional do processo fica em liberdade, mas ao mesmo
tempo terá que cumprir determinadas condições impostas pela lei e pelo juiz e, se
desrespeitá-las, o curso do processo penal retomará. Logo, ele tem legitimidade e
interesse de ver o HC ser julgado para extinguir de vez o processo. STJ. 5ª Turma.
RHC 41527-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 3/3/2015 (Info 557).
💣 ATENÇÃO PARA A SÚMULA 648 DO STJ: A superveniência da sentença condenatória prejudica o pedido
de trancamento da ação penal por falta de justa causa feito em habeas corpus.
Vamos entendê-la?
Imagine a seguinte situação hipotética:
O Ministério Público ajuizou ação penal contra João acusando-o da prática de determinado crime. O
juiz recebeu a denúncia e determinou a citação do réu para responder a acusação.
João apresentou resposta escrita alegando que não havia justa causa e que, portanto, ele deveria ser
absolvido sumariamente. O magistrado, contudo, rejeitou o pedido de absolvição sumária e determinou o
início da instrução penal.
João ainda continuava inconformado. Existe algum recurso que ele possa interpor? Cabe algum
recurso contra a decisão do juiz que rejeita o pedido de absolvição sumária?
R: NÃO. Não existe recurso cabível na legislação para esse caso. Diante disso, a jurisprudência admite
a impetração de habeas corpus sob o argumento de que existe risco à liberdade de locomoção.
Desse modo, em nosso exemplo, a defesa de João impetrou habeas corpus no Tribunal de Justiça
pedindo o trancamento da ação penal por falta de justa causa. O Desembargador negou o pedido de liminar
e designou o dia 15/08 para o julgamento do habeas corpus pela Câmara Criminal do TJ. Ocorre que, antes
disso, no dia 08/08, o juiz proferiu sentença condenando o réu.
Diante desse cenário, o que acontece com o julgamento do habeas corpus? O Tribunal de Justiça
irá apreciar o mérito do habeas corpus?
R.: NÃO. A superveniência de sentença condenatória torna prejudicado o pedido feito no habeas
corpus se buscava o trancamento da ação penal sob a alegação de falta de justa causa. A sentença
condenatória analisa a existência de justa causa de forma mais aprofundada, após a instrução penal com
contraditório e ampla defesa. Logo, não faz mais sentido o Tribunal examinar a decisão de rejeição da
absolvição sumária se já há uma nova decisão mais aprofundada. Será essa nova manifestação (sentença)
que precisaráser analisada. Logo, o réu terá que interpor apelação contra a sentença condenatória, recurso
de cognição ampla por meio do qual toda a matéria será devolvida ao Tribunal, que terá a possibilidade de
examinar se a condenação foi acertada, ou não.
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/a2232b5b6b17429cdff8ddc2f14ea8c9?categoria=12&subcategoria=137
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Não é cabível examinar a inépcia da inicial acusatória, bem como a justa causa para
ação penal, após a prolação de sentença condenatória, porquanto todos os
elementos da exordial acusatória, bem como da conduta criminosa, foram
amplamente debatidos pelas instâncias ordinárias, em cognição vertical e
exauriente.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 463.788/SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em
13/11/2018.
O pedido de trancamento do processo por inépcia da denúncia ou por ausência de
justa causa para a persecução penal não é cabível quando já há sentença, pois seria
incoerente analisar a mera higidez formal da acusação ou os indícios da
materialidade delitiva se a própria pretensão condenatória já houver sido acolhida,
depois de uma análise vertical do acervo fático e probatório dos autos.
STJ. 6ª Turma. RHC 32.524/PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
4/10/2016.
E se a sentença tivesse sido absolutória? Se o juiz tivesse absolvido João, o HC também ficaria
prejudicado?
R.: SIM. Com maior razão, o habeas corpus estaria prejudicado, mas agora por outro motivo: falta de
interesse processual já que a providência buscada pela defesa foi alcançada em 1ª instância. Nesse sentido:
A superveniência de sentença absolutória, na linha da orientação firmada nesta Corte, torna prejudicado o
pedido que buscava o trancamento da ação penal sob a alegação de falta de justa causa. STJ. 6ª Turma. AgInt
no RHC 31.478/SP, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 26/03/2019.
Atenção: Ainda em 2021, poucos meses depois do enunciado ser aprovado, o STJ proferiu a seguinte
decisão que pode ser encarada como se fosse uma exceção à Súmula 648:
Se o habeas corpus discutia a quebra na cadeia de custódia da prova da
materialidade, o que teria ocorrido no momento do flagrante, a superveniência da
sentença condenatória não faz com que esse habeas corpus perca o objeto
A superveniência de sentença condenatória não tem o condão de prejudicar habeas
corpus que analisa tese defensiva de que teria havido quebra da cadeia de custódia
da prova, ocorrida ainda na fase inquisitorial e empregada como justa causa para a
própria ação penal. STJ. 6ª Turma. HC 653.515-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, Rel. Acd.
Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 23/11/2021 (Info 720).
Veja a explicação:
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A superveniência de sentença condenatória nem sempre torna prejudicado o
habeas corpus, em razão da perda do seu objeto.
No caso concreto, por exemplo, os fatos que subjazem à discussão trazida pela
defesa acabaram por lastrear a denúncia e toda a persecução penal, além de haver
sido ventilados ainda no limiar do processo e de dizerem respeito à própria justa
causa para a ação penal.
Ao contrário do que ocorre com a prisão preventiva, por exemplo - que tem
natureza rebus sic standibus, isto é, que se caracteriza pelo dinamismo existente
na situação de fato que justifica a medida constritiva, a qual deve submeter-se
sempre a constante avaliação do magistrado -, o caso dos autos traz hipótese em
que houve uma desconformidade entre o procedimento usado na coleta e no
acondicionamento de determinadas substâncias supostamente apreendidas com o
paciente e o modelo previsto no Código de Processo Penal, fenômeno processual,
esse, produzido ainda na fase inquisitorial, que se tornou estático e não modificável
e, mais do que isso, que subsidiou a própria comprovação da materialidade e da
autoria delitivas.
Assim, a superveniência de sentença condenatória não tem o condão de prejudicar
a análise da tese defensiva de que teria havido quebra da cadeia de custódia da
prova, ocorrida ainda na fase inquisitorial e empregada como anteparo ao
oferecimento da denúncia - ou, de forma mais ampla, como justa causa para a
própria ação penal -, máxime quando verificado que a parte alegou a matéria
oportuno tempore, isto é, logo após a sua produção e que essa tese já foi
devidamente examinada e debatida pela instância de origem.
j) Competência
Competência do STF, quando: art. 102, CF/88.
a. O paciente for: Presidente da República, Vice-Presidente da República, membros do Congresso
Nacional, Ministros do STF e Procurador Geral da República (art. 102, I, “b”);
b. O paciente for: Ministros de Estado, Comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica, membros dos
Tribunais Superiores, do TCU e chefes de missão diplomática de caráter permanente (art. 102, I, “c”);
c. O coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou paciente for autoridade ou funcionário cujos
atos estejam diretamente sujeitos à jurisdição do STF, ou se trate de crime sujeito à única instância
(STF) – art. 102, I, “i”;
d. O HC for decidido em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão (Nesse
caso o STF julga em recurso ordinário) – art. 102, II, “a”.
Competência do STJ, quando: art. 105, CF/88.
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a. O coator ou paciente forem os mencionados na alínea “a”: Governador dos Estados e DF/
Desembargadores dos TJ dos Estados e DF/ Membros do Tribunal de Contas dos Estados e DF/
membros do TRF/ membros do TRE/ membros do TRT/ membros dos Conselhos ou Tribunal de
Contas do Município/ membros do MPU que oficiem perante tribunais (art. 105, I, “c”);
b. O coator for tribunal sujeito à jurisdição do STJ ou for Ministro de Estado, Comandante da Marinha,
do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral (art. 105, I, “c”);
c. O HC for decidido em única ou última instância pelos TRF’s ou pelos Tribunais de Justiça dos Estados,
DF ou Territórios, quando a decisão for denegatória. (Nesse caso o STJ julga em recurso ordinário) –
art. 105, II, “a”.
CUIDADO! Ministros de Estado e comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica:
- Quando forem pacientes – competência do STF
- Quando forem autoridades coatoras – competência do STJ
Competência dos TRFs, quando: art. 108, CF/88.
a. A autoridade coatora for juiz federal(art. 108, I, “d”);
b. Julgam, em grau de recurso, causas decididas pelos juízes federais ou estaduais no exercício da
competência federal da área de jurisdição (art. 108, II).
Competência dos juízes federais, quando:
a. O HC for de matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento provier de
autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição (art. 109, VII).
Obs.1: O HC impetrado contra decisão de Turma Recursal dos Juizados Especiais será julgado pelo Tribunal
de Justiça Estadual. O STF superou a Sumula 690!
Sumula 690, STF – superada
Compete originariamente ao Supremo Tribunal Federal o julgamento de "habeas
corpus" contra decisão de Turma Recursal de Juizados Especiais Criminais.
Obs.2:Relator pode determinar, de forma discricionária, que HC seja julgado pelo Plenário do STF (e não pela
Turma)
A competência para julgar determinados habeas corpus é de uma das duas Turmas
do STF (e não do Plenário). Ex: HC contra decisão do STJ, em regra, é de
competência de uma das Turmas do STF. O Ministro Relator do HC no STF, em vez
de submetê-lo à Turma, pode levá-lo para ser julgado pelo Plenário? SIM. Essa
possibilidade encontra-se prevista no art. 6º, II, “c” e no art. 21, XI, do RI/STF. Para
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/5c6287be4de9ff5afeaec72d54436fcf?categoria=12&subcategoria=137https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/5c6287be4de9ff5afeaec72d54436fcf?categoria=12&subcategoria=137
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fazer isso, o Relator precisa fundamentar essa remessa? É necessário que o Relator
apresente uma justificativa para que o caso seja levado ao Plenário? NÃO. É possível
a remessa de habeas corpus ao Plenário do STF, pelo relator, de forma
discricionária, com fundamento no art. 6º, II, “c” e no art. 21, XI, do RI/STF. STF.
Plenário. HC 143333/PR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 11 e 12/4/2018 (Info
897).
k) HC coletivo
O STF admitiu a possibilidade de habeas corpus coletivo. O habeas corpus se presta a salvaguardar
a liberdade. Assim, se o bem jurídico ofendido é o direito de ir e vir, quer pessoal, quer de um grupo
determinado de pessoas, o instrumento processual para resgatá-lo é o habeas corpus, individual ou coletivo.
A ideia de admitir a existência de habeas corpus coletivo está de acordo com a tradição jurídica nacional de
conferir a maior amplitude possível ao remédio heroico (doutrina brasileira do habeas corpus). Apesar de
não haver uma previsão expressa no ordenamento jurídico, existem dois dispositivos legais que,
indiretamente, revelam a possibilidade de habeas corpus coletivo. Trata-se do art. 654, § 2º e do art. 580,
ambos do CPP.
O art. 654, § 2º estabelece que compete aos juízes e tribunais expedir ordem de habeas corpus de
ofício.
O art. 580 do CPP, por sua vez, permite que a ordem concedida em determinado habeas corpus seja
estendida para todos que se encontram na mesma situação. Assim, conclui-se que os juízes ou Tribunais
podem estender para todos que se encontrem na mesma situação a ordem de habeas corpus concedida
individualmente em favor de uma pessoa. Existem mais de 100 milhões de processos no Poder Judiciário, a
cargo de pouco mais de 16 mil juízes, exigindo do STF que prestigie remédios processuais de natureza coletiva
com o objetivo de emprestar a máxima eficácia ao mandamento constitucional da razoável duração do
processo e ao princípio universal da efetividade da prestação jurisdicional.
Diante da inexistência de regramento legal, o STF entendeu que se deve aplicar, por analogia, o art.
12 da Lei nº 13.300/2016, que trata sobre os legitimados para propor mandado de injunção coletivo.
Assim, possuem legitimidade para impetrar habeas corpus coletivo:
1) o Ministério Público;
2) o partido político com representação no Congresso Nacional;
3) a organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em
funcionamento há pelo menos 1 (um) ano;
4) a Defensoria Pública. STF. 2ª Turma.HC 143641/SP. Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em
20/2/2018 (Info 891).
Obs.: O STJ confirmou decisão que mandou soltar todos os presos do país que tiveram liberdade
condicionada à fiança. No habeas corpus coletivo, a DP do Espírito Santo sustentou que, diante do cenário
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de pandemia da Covid-19, deveria ser superada a Súmula 691 do Supremo Tribunal Federal e, nos termos da
Recomendação 62/2020 do CNJ, determinada a soltura imediata de todos os presos do estado que tiveram
o deferimento da liberdade provisória condicionado ao pagamento de fiança. O ministro Sebastião Reis
Júnior votou pela concessão do habeas corpus por reconhecer a plausibilidade jurídica das alegações e a
flagrante ilegalidade da situação desses presos.
Jurisprudência em teses do STJ sobre HC:
1) O STJ não admite que o remédio constitucional seja utilizado em substituição ao
recurso próprio (apelação, agravo em execução, recurso especial), tampouco à
revisão criminal, ressalvadas as situações em que, à vista da flagrante ilegalidade
do ato apontado como coator, em prejuízo da liberdade da paciente, seja cogente
a concessão, de ofício, da ordem de habeas corpus.
2) O conhecimento do habeas corpus pressupõe prova pré-constituída do direito
alegado, devendo a parte demonstrar de maneira inequívoca a pretensão deduzida
e a existência do evidente constrangimento ilegal.
3) O trancamento da ação penal pela via do habeas corpus é medida excepcional,
admissível apenas quando demonstrada a falta de justa causa (materialidade do
crime e indícios de autoria), a atipicidade da conduta ou a extinção da punibilidade.
4) O reexame da dosimetria da pena em sede de habeas corpus somente é possível
quando evidenciada flagrante ilegalidade e não demandar análise do conjunto
probatório..
5) O habeas corpus é ação de rito célere e de cognição sumária, não se prestando
a analisar alegações relativas à absolvição que demandam o revolvimento de
provas.
6) É incabível a impetração de habeas corpus para afastar penas acessórias de
perda de cargo público ou graduação de militar imposta em sentença penal
condenatória, por não existir lesão ou ameaça ao direito de locomoção.
7) O habeas corpus não é a via adequada para o exame aprofundado de provas a
fim de averiguar a condição econômica do devedor, a necessidade do credor e o
eventual excesso do valor dos alimentos, admitindo-se nos casos de flagrante
ilegalidade da prisão civil.
8) Não obstante o disposto no art. 142, § 2º, da CF, admite-se habeas corpus contra
punições disciplinares militares para análise da regularidade formal do
procedimento administrativo ou de manifesta teratologia.
9) A ausência de assinatura do impetrante ou de alguém a seu rogo na inicial de
habeas corpus inviabiliza o seu conhecimento, conforme o art. 654. § 1º, c, do CPP.
10) É cabível habeas corpus preventivo quando há fundado receio de ocorrência de
ofensa iminente à liberdade de locomoção.
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=1480
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10673887/artigo-142-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10673814/par%C3%A1grafo-2-artigo-142-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10611261/artigo-654-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10611229/par%C3%A1grafo-1-artigo-654-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033703/c%C3%B3digo-processo-penal-decreto-lei-3689-41
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11) Não cabe habeas corpus contra decisão que denega liminar, salvo em hipóteses
excepcionais, quando demonstrada flagrante ilegalidade ou teratologia da decisão
impugnada, sob pena de indevida supressão de instância, nos termos da Súmula
691/STF.
12) O julgamento do mérito do habeas corpus resulta na perda do objeto daquele
impetrado na instância superior, na qual é impugnada decisão indeferitória da
liminar.
13) Compete aos Tribunais de Justiça ou aos Tribunais Regionais Federais o
julgamento dos pedidos de habeas corpus quando a autoridade coatora for Turma
Recursal dos Juizados Especiais.
14) A jurisprudência do STJ admite a reiteração do pedido formulado em habeas
corpus com base em fatos ou fundamentos novos.
15) O agravo interno não é cabível contra decisão que defere ou indefere pedido
de liminar em habeas corpus.
16) O habeas corpus não é via idônea para discussão da pena de multa ou prestação
pecuniária, ante a ausência de ameaça ou violação à liberdade de locomoção.
17) O habeas corpus não pode ser impetrado em favor de pessoa jurídica, pois o
writ tem por objetivo salvaguardar a liberdade de locomoção.
18) A jurisprudência tem excepcionado o entendimento de que o habeas corpus
não seria adequado para discutir questões relativas à guarda e adoção de crianças
e adolescentes.2. MANDADO DE SEGURANÇA
Art. 5º, LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e
certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela
ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica
no exercício de atribuições do Poder Público;
a) Previsão legal: Art. 5º, LXIX da CF/88 e Lei 12.016/09
Lei 12.016/09. Art. 1º: Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito
líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que,
ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação
ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e
sejam quais forem as funções que exerça.
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b) Natureza Jurídica: Ação judicial de natureza residual, subsidiária, civil, cabível quando o direito líquido e
certo protegido não for amparado por outros remédios constitucionais.
c) Cabimento: Proteger direito líquido e certo, não amparado por HC ou HD, sempre que, ilegalmente ou
com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la
por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça.
Atenção aos detalhes:
▪ Proteção de direito líquido e certo contra ilegalidade ou abuso de poder por parte de autoridade.
▪ Esse direito líquido e certo não é amparado por HC ou HD
d) NÃO cabe MS:
● De ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independente de caução => Se o MS
for impetrado contra omissão ilegal, descabe a aplicação da restrição deste inciso.
● Decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo;
● Decisão judicial transitada em julgado
É incabível mandado de segurança contra decisão judicial transitada em julgado
(art. 5º, III, da Lei nº 12.016/2009 e Súmula nº 268-STF). No entanto, se a
impetração do mandado de segurança for anterior ao trânsito em julgado da
decisão questionada, mesmo que venha a acontecer, posteriormente, o mérito
do MS deverá ser julgado, não podendo ser invocado o seu não cabimento ou a
perda de objeto. STJ. Corte Especial. EDcl no MS 22.157-DF, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 14/03/2019 (Info 650).
● Contra lei em tese, salvo se produtora de efeitos concretos
● Contra atos de gestão comercial praticados pelos administradores de empresas públicas, sociedades de
economia mista e concessionárias de serviço público, (art. 1º, §2º da Lei 12. 016/09)
§ 2o Não cabe mandado de segurança contra os atos de gestão comercial
praticados pelos administradores de empresas públicas, de sociedade de economia
mista e de concessionárias de serviço público.
O STF reafirmou a constitucionalidade deste dispositivo. Veja:
Não cabe mandado de segurança contra atos de gestão comercial praticados por
administradores de empresas públicas, sociedades de economia mista e
concessionárias de serviço público (art. 1º, § 2º da Lei nº 12.016/2019). STF.
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Plenário. ADI 4296/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre
de Moraes julgado em 9/6/2021 (Info 1021).
Entenda: Trata-se de uma restrição legítima pelo fato de que os atos de gestão
comercial são atos estranhos à ideia da delegação do serviço público em si. Esses
atos se destinam à satisfação de interesses privados na exploração de atividade
econômica, submetendo-se a regime jurídico próprio das empresas
privadas,motive pelo qual não cabe mandado de segurança por força da própria
previsão constitucional – que admite o ajuizamento do mandado de segurança
somente contra atos praticados no desempenho de atribuições do poder publico
(art. 5, LXIX, CF/88)
● O mandado de segurança não se presta ao reexame de fatos e provas analisados pelo CNJ no processo
disciplinar (Info 933)
● Para convalidar a compensação tributária realizada pelo contribuinte (súmula 460 do STJ).
Súmula 460-STJ: É incabível o mandado de segurança para convalidar a compensação tributária realizada
pelo contribuinte
Súmula 213-STJ: O mandado de segurança constitui ação adequada para a declaração do direito à
compensação tributária.
- STJ: É incabível mandado de segurança que tem como pedido autônomo a
declaração de inconstitucionalidade de norma, por se caracterizar mandado de
segurança contra lei em tese.
- STJ: O mandado de segurança não pode ser utilizado com o intuito de obter
provimento genérico aplicável a todos os casos futuros de mesma espécie.
- STF: Não cabe mandado de segurança contra ato de deliberação negativa do
Conselho Nacional de Justiça, por não se tratar de ato que importe a substituição
ou a revisão do ato praticado por outro órgão do Judiciário. (Info 840)
MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA DECISÃO JUDICIAL
Para ser cabível, deve comprovar dois requisitos:
1) Inexistência de recurso adequado à impugnação da decisão judicial;
2) Demonstração de que a decisão é teratológica, por abuso de poder ou ilegalidade.
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CESPE/2019 - É cabível mandado de segurança para proteger direito líquido e certo contra ilegalidade
praticada por diretor de sociedade de economia mista em decisão que homologa o resultado de licitação ou
em atos de gestão comercial. Item incorreto.
d) Direito Líquido e Certo
Segundo Leonardo Carneiro da Cunha, “ausente direito líquido e certo, haverá de
ser extinto o mandado de segurança, sem resolução do mérito, facultando-se à
parte o uso do procedimento comum.” (CUNHA, 2016, p. 508).
● Só cabe MS para direito líquido e certo, demonstrado de plano.
● NÃO cabe dilação probatória no MS.
OBS: A exigência de liquidez e certeza recai sobre a matéria de fato, as quais necessitam de
comprovação de plano. A matéria de direito, por mais complexa que se apresente, pode ser apreciada em
MS.
Súmula 625 – STF - Controvérsia sobre matéria de direito não impede concessão de
mandado de segurança.
Jurisprudência em Teses n. 85: A verificação da existência de direito líquido e certo,
em sede de mandado de segurança, não tem sido admitida em recurso especial,
pois é exigido o reexame da matéria fático-probatória, o que é vedado em razão da
súmula n. 7/STJ.
e) Legitimidade Ativa
● Pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou estrangeiras, domiciliadas ou não no Brasil;
● Universalidades reconhecidas por lei;
● Órgãos públicos de grau superior, na defesa de suas prerrogativas e atribuições;
● Agentes políticos na defesa de suas atribuições e prerrogativas;
● MP, quando o ato emanar de juiz de primeiro grau de jurisdição.
STF (Info 848): O Tribunal de Justiça, mesmo não possuindo personalidade jurídica
própria, detém legitimidade autônoma para ajuizar mandado de segurança contra
ato do Governador do Estado em defesa de sua autonomia institucional. Ex:
mandado de segurança contra ato do Governador que está atrasando o repasse dos
duodécimos devidos ao Poder Judiciário.
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Ministério Público do Tribunal de Contas não possui legitimidade para
impetrar mandado de segurança mesmo que para defender suas prerrogativas
institucionais. O Ministério Público de Contas não tem legitimidade para
impetrar mandado de segurança em face de acórdão do Tribunal de Contas perante
o qual atua. STF. Plenário virtual. RE 1178617 RG, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 25/04/2019 (repercussão geral).
Ilegitimidade ativa do MP para impetrar MS questionando decisão administrativa
que reconheceu a prescrição em processo administrativo. O Procurador-Geralda
República não possui legitimidade ativa para impetrar mandado de segurança com
o objetivo de questionar decisão que reconheça a prescrição da pretensão punitiva
em processo administrativo disciplinar. A legitimidade para impetrar mandado de
segurança pressupõe a titularidade do direito pretensamente lesado ou ameaçado
de lesão por ato de autoridade pública. O Procurador-Geral da República não tem
legitimidade para a impetração, pois não é o titular do direito líquido e certo que
afirmara ultrajado. Para a impetração do MS não basta a demonstração do simples
interesse ou atuação como custos legis, uma vez que os direitos à ordem
democrática e à ordem jurídica não são de titularidade do Ministério Público, mas
de toda a sociedade. STF. 2ª Turma. MS 33736/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado
em 21/6/2016 (Info 831).
Substituição Processual (legitimação extraordinária): O titular de direito líquido e certo decorrente
de direito, em condições idênticas, de terceiro poderá impetrar mandado de segurança a favor do direito
originário, se o seu titular não o fizer, no prazo de 30 (trinta) dias, quando notificado judicialmente.
Ingresso de litisconsorte ativo: pode ocorrer até o despacho da petição inicial (art. 10, §2º, da Lei nº
12.016/09).
Falecimento do impetrante: É pacífico, no STF e no STJ, o entendimento de que o falecimento do
impetrante pessoa natural tem o condão de extinguir o mandado de segurança, sendo incabível na via
mandamental a sucessão e partes em razão da natureza personalíssima da ação. Nesse caso, ainda será
possível o acesso às vias ordinárias.
Entendimento de Leonardo Carneiro da Cunha sobre o falecimento após a fase de
conhecimento: “Tudo indica, todavia, que a morte do impetrante somente causa a
extinção sem resolução do mérito do mandado de segurança se seu falecimento se
operar durante a fase de conhecimento. Caso já tenha havido sentença com
trânsito em julgado, e havendo condenação ao pagamento de valores pecuniários
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/55acf8539596d25624059980986aaa78?categoria=1&palavra-chave=mandado+de+seguran%C3%A7a
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(na hipótese, por exemplo, de o impetrante ostentar a condição de servidor
público), é possível haver a sucessão mortis causa por seu espólio ou sucessores se
o falecimento do impetrante ocorrer já durante a execução. Nesse caso, não haverá
habilitação no mandado de segurança, mas sim num cumprimento de sentença.”
(CUNHA, 2016, p. 525).
-CESPE/2018: O parlamentar tem legitimidade ativa para impetrar mandado de segurança em defesa de
prerrogativa do Congresso Nacional. Item incorreto. Cabe destacar, contudo, que o parlamentar
individualmente tem legitimidade ativa para impetrar mandado de segurança contra ato de processo
legislativo, em controle concreto. (STF MS-24642/DF) (STF -Inform711)
f) Legitimação Passiva
É a pessoa jurídica a qual pertence a autoridade coatora, responsável pela ilegalidade ou abuso de
poder, autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.
● Autoridades públicas de quaisquer poderes da União, Estados, DF e Municípios;
● Representantes ou órgãos de partidos políticos e os administradores de entidades autárquicas;
● Dirigentes de pessoas jurídicas de direito privado, desde que no exercício de atribuições do Poder
Público.
Lei 12.016/09
Art. 1o Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo,
não amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com
abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo
receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais
forem as funções que exerça.
§ 1o Equiparam-se às autoridades, para os efeitos desta Lei, os representantes ou
órgãos de partidos políticos e os administradores de entidades autárquicas, bem
como os dirigentes de pessoas jurídicas ou as pessoas naturais no exercício de
atribuições do poder público, somente no que disser respeito a essas atribuições.
Em se tratando de atribuição delegada, a autoridade coatora será o agente delegado e não a
autoridade delegante =>VIDE SÚMULA 510 STF: Praticado o ato por autoridade, no exercício de competência
delegada, contra ela cabe MS ou medida judicial.
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Segundo Leonardo Carneiro da Cunha, o tema da legitimidade passiva no mandado
de segurança gera divergências doutrinárias, tendo surgido três correntes sobre o
tema:
I- Primeira corrente: defende que a própria autoridade coatora deve ocupar o polo
passivo da demanda, tendo em vista que é quem prestará informações e deverá
cumprir a determinação judicial.
II- Segunda corrente: considera que haverá a formação de litisconsórcio passivo
entre a autoridade e a pessoa jurídica de direito público. Entretanto, essa corrente
não tem aceitação jurisprudencial, já que a autoridade apenas presenta a pessoa
jurídica, não constituindo parte autônoma.
III- Terceira corrente: majoritária na doutrina e na jurisprudência, defende que é a
pessoa jurídica a que pertence a autoridade coatora que detém legitimidade
passiva, tendo em vista que é quem suportará as consequências financeiras da
demanda e contra quem será formada a coisa julgada, de modo que se a autoridade
indicada for subsittuída, não haverá prejuízo para o processo.
STJ: As autarquias possuem autonomia administrativa, financeira e personalidade
jurídica própria, distinta da entidade política à qual estão vinculadas, razão pela
qual seus dirigentes têm legitimidade passiva para figurar como autoridades
coatoras em ação mandamental.
TEORIA DA ENCAMPAÇÃO NO MANDADO DE SEGURANÇA
Quando há indicação errônea da autoridade coatora, é possível aplicar a Teoria da encampação para sanar
tal vício, desde que observados alguns requisitos:
a) Existência de vínculo hierárquico entre a autoridade que prestou as informações e a que ordenou a prática
do ato impugnado;
b) Ausência de modificação de competência estabelecida na CF/88;
c) Defesa do mérito do litígio nas informações prestadas.
g) Liminar em mandado de segurança:
● Da decisão que concede/nega liminar – cabe agravo de instrumento
● Perempção e caducidade da liminar ocorre em 2 hipóteses:
(1) Quando o impetrante cria obstáculo ao normal andamento do processo
(2) Quando o impetrante deixa de promover atos e diligências por mais de 3 dias úteis.
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Art. 8o Será decretada a perempção ou caducidade da medida liminar ex officio ou
a requerimento do Ministério Público quando, concedida a medida, o impetrante
criar obstáculo ao normal andamento do processo ou deixar de promover, por mais
de 3 (três) dias úteis, os atos e as diligências que lhe cumprirem.
● Possibilidade de exigir fiança, caução ou depósito:
Art. 7º Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:
III - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver fundamento
relevante e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja
finalmente deferida,