Prévia do material em texto
TEORIAS E PRÁTICAS PSICOPEDAGOGIA Flávio Aparecido de Almeida (Org.) editora científica digital CLÍNICA E INSTITUCIONAL 2022 - GUARUJÁ - SP 1ª EDIÇÃO editora científica digital Diagramação e arte Equipe editorial Imagens da capa Adobe Stock - licensed by Editora Científica Digital - 2022 Revisão Autores e Autoras 2022 by Editora Científica Digital Copyright© 2022 Editora Científica Digital Copyright do Texto © 2022 Autores e Autoras Copyright da Edição © 2022 Editora Científica Digital Acesso Livre - Open Access EDITORA CIENTÍFICA DIGITAL LTDA Guarujá - São Paulo - Brasil www.editoracientifica.org - contato@editoracientifica.org Parecer e revisão por pares Os textos que compõem esta obra foram submetidos para avaliação do Conselho Editorial da Editora Científica Digital, bem como revisados por pares, sendo indicados para a publicação. O conteúdo dos capítulos e seus dados e sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e autoras. É permitido o download e compartilhamento desta obra desde que pela origem da publicação e no formato Acesso Livre (Open Access), com os créditos atribuídos aos autores e autoras, mas sem a possibilidade de alteração de nenhuma forma, catalogação em plataformas de acesso restrito e utilização para fins comerciais. Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição-Não Comercial-Sem Derivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0). Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) P974 Psicopedagogia clínica e institucional: teorias e práticas / Flávio Aparecido De Almeida (Organizador). – Guarujá-SP: Científica Digital, 2022. E- BO OK AC ES SO LI VR E O N L INE - IM PR ES SÃ O P RO IBI DA Formato: PDF Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader Modo de acesso: World Wide Web Inclui bibliografia ISBN 978-65-5360-251-9 DOI 10.37885/978-65-5360-251-9 1. Psicologia educacional. I. Almeida, Flávio Aparecido de (Organizador). II. Título. CDD 370.15 Índice para catálogo sistemático: I. Psicologia educacional 2 0 2 2 Elaborado por Janaina Ramos – CRB-8/9166 editora científica digital editora científica digital Direção Editorial Reinaldo Cardoso João Batista Quintela Assistentes Editoriais Erick Braga Freire Bianca Moreira Sandra Cardoso Bibliotecários Maurício Amormino Júnior - CRB-6/2422 Janaina Ramos - CRB-8/9166 Jurídico Dr. Alandelon Cardoso Lima - OAB/SP-307852 C O N SE LH O E D IT O R IA L M es tr es , M es tr as , D ou to re s e D ou to ra s C O R P O E D IT O R IA L Prof. Dr. Carlos Alberto Martins Cordeiro Universidade Federal do Pará Prof. Dr. Rogério de Melo Grillo Universidade Estadual de Campinas Profª. Ma. Eloisa Rosotti Navarro Universidade Federal de São Carlos Prof. Dr. Ernane Rosa Martins Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás Prof. Dr. Rossano Sartori Dal Molin FSG Centro Universitário Prof. Dr. Carlos Alexandre Oelke Universidade Federal do Pampa Prof. Esp. Domingos Bombo Damião Universidade Agostinho Neto - Angola Prof. Me. Reinaldo Eduardo da Silva Sales Instituto Federal do Pará Profª. Ma. Auristela Correa Castro Universidade Federal do Pará Profª. Dra. Dalízia Amaral Cruz Universidade Federal do Pará Profª. Ma. Susana Jorge Ferreira Universidade de Évora, Portugal Prof. Dr. Fabricio Gomes Gonçalves Universidade Federal do Espírito Santo Prof. Me. Erival Gonçalves Prata Universidade Federal do Pará Prof. Me. Gevair Campos Faculdade CNEC Unaí Prof. Me. Flávio Aparecido De Almeida Faculdade Unida de Vitória Prof. Me. Mauro Vinicius Dutra Girão Centro Universitário Inta Prof. Esp. Clóvis Luciano Giacomet Universidade Federal do Amapá Profª. Dra. Giovanna Faria de Moraes Universidade Federal de Uberlândia Prof. Dr. André Cutrim Carvalho Universidade Federal do Pará Prof. Esp. Dennis Soares Leite Universidade de São Paulo Profª. Dra. Silvani Verruck Universidade Federal de Santa Catarina Prof. Me. Osvaldo Contador Junior Faculdade de Tecnologia de Jahu Profª. Dra. Claudia Maria Rinhel-Silva Universidade Paulista Profª. Dra. Silvana Lima Vieira Universidade do Estado da Bahia Profª. Dra. Cristina Berger Fadel Universidade Estadual de Ponta Grossa Profª. Ma. Graciete Barros Silva Universidade Estadual de Roraima Prof. Dr. Carlos Roberto de Lima Universidade Federal de Campina Grande Prof. Dr. Wescley Viana Evangelista Universidade do Estado de Mato Grosso Prof. Dr. Cristiano Marins Universidade Federal Fluminense Prof. Me. Marcelo da Fonseca Ferreira da Silva Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória Prof. Dr. Daniel Luciano Gevehr Faculdades Integradas de Taquara Prof. Me. Silvio Almeida Junior Universidade de Franca Profª. Ma. Juliana Campos Pinheiro Universidade Federal do Rio Grande do Norte Prof. Dr. Raimundo Nonato Ferreira Do Nascimento Universidade Federal do Piaui Prof. Dr. Antônio Marcos Mota Miranda Instituto Evandro Chagas Profª. Dra. Maria Cristina Zago Centro Universitário UNIFAAT Profª. Dra. Samylla Maira Costa Siqueira Universidade Federal da Bahia Profª. Ma. Gloria Maria de Franca Centro Universitário CESMAC Profª. Dra. Carla da Silva Sousa Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano Prof. Me. Dennys Ramon de Melo Fernandes Almeida Universidade Federal do Rio Grande do Norte Prof. Me. Mário Celso Neves De Andrade Universidade de São Paulo Prof. Me. Julianno Pizzano Ayoub Universidade Estadual do Centro-Oeste Prof. Dr. Ricardo Pereira Sepini Universidade Federal de São João Del-Rei Profª. Dra. Maria do Carmo de Sousa Universidade Federal de São Carlos Prof. Me. Flávio Campos de Morais Universidade Federal de Pernambuco Prof. Me. Jonatas Brito de Alencar Neto Universidade Federal do Ceará Prof. Me. Reginaldo da Silva Sales Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará Prof. Me. Moisés de Souza Mendonça Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará Prof. Me. Patrício Francisco da Silva Universidade de Taubaté Profª. Esp. Bianca Anacleto Araújo de Sousa Universidade Federal Rural de Pernambuco Prof. Dr. Pedro Afonso Cortez Universidade Metodista de São Paulo Profª. Ma. Bianca Cerqueira Martins Universidade Federal do Acre Prof. Dr. Vitor Afonso Hoeflich Universidade Federal do Paraná Prof. Dr. Francisco de Sousa Lima Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano Profª. Dra. Sayonara Cotrim Sabioni Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Baiano Profª. Dra. Thais Ranielle Souza de Oliveira Centro Universitário Euroamericano Profª. Dra. Rosemary Laís Galati Universidade Federal de Mato Grosso Profª. Dra. Maria Fernanda Soares Queiroz Universidade Federal de Mato Grosso Prof. Dr. Dioniso de Souza Sampaio Universidade Federal do Pará Prof. Dr. Leonardo Augusto Couto Finelli Universidade Estadual de Montes Claros Profª. Ma. Danielly de Sousa Nóbrega Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Acre Prof. Me. Mauro Luiz Costa Campello Universidade Paulista Profª. Ma. Livia Fernandes dos Santos Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Acre Profª. Dra. Sonia Aparecida Cabral Secretaria da Educação do Estado de São Paulo Profª. Dra. Camila de Moura Vogt Universidade Federal do Pará Prof. Me. José Martins Juliano Eustaquio Universidade de Uberaba Prof. Me. Walmir Fernandes Pereira Miami University of Science and Technology Profª. Dra. Liege Coutinho Goulart Dornellas Universidade Presidente Antônio Carlos Prof. Me. Ticiano Azevedo Bastos Secretaria de Estado da Educação de MG Prof. Dr. Jónata Ferreira De Moura Universidade Federal do Maranhão Profª. Ma. Daniela Remião de Macedo Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa Prof. Dr. Francisco Carlos Alberto Fonteles Holanda Universidade Federal do Pará Profª. Dra. Bruna Almeida da Silva Universidade do Estado do Pará Profª. Ma. Adriana Leite de Andrade Universidade Católica de Petrópolis Profª. Dra. Clecia Simone Gonçalves Rosa Pacheco Instituto Federalque é o tomar conhecimento de algo, o desajuste de um destes aspec- tos pode desencadear a não-aprendizagem em níveis variados, e a todos estes princípios, pode-se ainda apresentar um outro agente gerador de situações ou dificuldades de aprender, o fator econômico que desestrutura a célula família onde se dão as primeiras aprendizagens no meio social, dentre outros fatores. Ademais, de acordo com Fernández, corpo significativo dos profissionais da Psicopedagogia “a aprendizagem é uma construção singular que cada sujeito vai fazendo a partir de seu saber para ir transformando as informações em conhecimento” (2001, p. 124). O ser humano nasce com uma predisposição natural para assimilar o conhecimento, contanto, é importante ratificar que a aprendizagem é um processo individual, cada sujeito aprende da sua maneira, em seu espaço e tempo. Ninguém pode aprender pelo outro, mas, quem aprende também ensina e quem ensina do mesmo modo aprende, já que sempre 34 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br existe uma troca de experiências no meio social, e estes papéis se alternam em dadas cir- cunstâncias globais do desenvolvimento. A FAMÍLIA E A ESCOLA ESTIMULAM A APRENDIZAGEM OU NÃO- -APRENDIZAGEM De acordo com Piletti (1984), é no ambiente familiar que as crianças têm suas primeiras vivências relacionadas ao aprendizado e à educação, muito antes da idade escolar. A fa- mília e a escola influenciam no ser humano os primeiros passos de socialização, assim, a escola pode ser vista como a extensão da família, como se fosse o segundo lar dos apren- dizes. Inclusive, referindo-se a prole, constata-se que uma família problemática, em sua grande maioria, gera indivíduos conflitantes, resultado dos vínculos afetivos dissociativos que se constroem. Em torno desta estrutura sociodinâmica que se consolida na infância, quando mal- formada irá emergir como situações/problemas, tais como; baixa autoestima, estresse e ansiedade, dentre outras características, onde se dão as primeiras exteriorizações na fase de amadurecimento, em virtude de desarranjos familiares. Sob este enfoque, Piaget (1972) postula que tanto os fatores ambientais quanto os orgânicos determinam o processo de aprendizagem, também conceituados por ele de está- gios, deste modo, a família pode ser responsável pelas tramas vinculares que se constituem ao longo do ciclo da vida. Destarte, reverbera Souza em seus estudos, Os primeiros anos de vida da criança, a Primeira Infância, são essenciais para seu desenvolvimento físico, emocional, cognitivo e cultural. A mesma neuroplasticidade que deixa a regulação emocional, a adaptação do compor- tamento e as habilidades vulneráveis ao rompimento precoce por causa de ambientes estressantes, também permite seu desenvolvimento bem-sucedido com intervenções adequadas durante períodos sensíveis na sua maturação (2011, p. 19). Levando em consideração que a personalidade dos indivíduos, de acordo com a Psicologia molda-se de 0 a 7 anos, pondera-se que caso a criança não consiga se estruturar emocionalmente neste período, é fato, pontuar que em alguma fase posterior, ela apresen- tará algum grau de dificuldade na aprendizagem e por conseguinte no seu desenvolvimento, seja escolar ou social, pois efeitos cumulativos diante de momentos sensíveis da vivência irão eclodir. Portanto, é de fundamental importância que a família sirva como alicerce para a formação cognitiva e emocional, partindo de um equilíbrio coletivo para um individual. No séc. XXI, observa-se acentuadas transformações comportamentais no modelo de família padrão; pai, mãe, filhos, e uma inversão de valores gritantes, que vem desarticulando e trazendo à tona questões que eram excepcionais e hoje se tornam cada vez mais rotineiras; 34 35 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br como filhos que agridem pais, pais que têm relações incestuosas com filhos, mães que abandonam seus filhos à deriva, e muito mais, o que comprova uma perda da afetividade, traço marcante dos aspectos emocionais na família que comprometem indivíduos em muitas áreas da formação humana. Como modelo, o seguinte quadro relaciona a afetividade com a inteligência, um outro viés indissociável à aprendizagem (Dolle apud MOKREJS, 1995, p. 05): Quadro 1. Afetividade e inteligência. 8 meses 18 meses 4-6 anos 7-11 anos 12-14 anos 14-18 anos Afetividade tensão distensão tensão distensão tensão distensão Inteligência distensão tensão distensão tensão distensão tensão (1) (2) (3) (4) (5) (6) Fonte: Dolle (1977, p. 46). Este panorama aponta que a afetividade desenvolve estruturas próprias nas diferentes fases da vida, a tensão refere-se aos eventos temporais, como exemplo: Édipo e puber- dade. E a distensão, as estruturas da inteligência que passam a atuar: objeto permanente, estruturas operatórias concretas e estruturas operatórias formais, dentre outros arquétipos. Cabe a escola equacionar a aprendizagem tão esperada pelos pais, a produção do saber, também chamada de educação propriamente formal, que engloba as situações de elaboração da leitura, escrita e cálculos matemáticos, lapidando nos aprendizes habilidades necessárias quanto a autonomia para se viver em uma sociedade tão competitiva, todavia, respeitando o ritmo individual de cada um. A integridade afetiva é uma das condições básicas para que a aprendizagem se proces- se, por isso, os aspectos emocionais são relevantes de serem abordados e investigados. Se há crianças ou jovens que não aprendem, é indispensável um diagnóstico apurado, por parte de um Psicopedagogo, Psicólogo, Pedagogo e/ou uma equipe multidisciplinar, certificando- -se que os aspectos cognitivos e pedagógicos são favoráveis para que haja aprendizagem. Diante da observação e de uma queixa, é necessário cogitar então que os aspectos emocionais podem estar interferindo na aprendizagem, haja vista que o não-aprender é uma resposta de que alguma coisa não vai bem, e essa disfunção pode ser oriunda de desajustes familiares ou ainda da própria escola. Os aspectos emocionais podem ser a causa da não-aprendizagem, mas, também po- dem ser a consequência quando um outro aspecto prevalece, tal qual: o orgânico, cognitivo, pedagógico ou social, e ainda a junção dos mesmos, que podem expressar-se de forma internalizada e/ou externalizada no aprendiz. Do ponto de vista emocional, é necessário para ingressar na escola ao ser cognoscente, os seguintes pré-requisitos, favorecidos pela família: 36 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br 1- saber relacionar-se com a professora e os colegas; 2- reger-se predomi- nantemente pelo princípio de realidade; 3- predomínio do pensamento realista sobre o pensamento mágico; 4- apresentar nível operatório-concreto de pensa- mento; 5- ter bom nível de tolerância à frustração; 6- ter noção de limites, pois a falta destes estrutura a conduta onipotente; 7- possuir hábitos de higiene e de organização; 8- apresentar controle dos impulsos agressivos; 9- ter curiosidade para examinar e aprender o contexto ambiental; 10- ter elaborado a situação simbiótica que promoverá a individuação; 11- autonomia para pesquisar a realidade sem dependência emocional ou/e instrumental; 12- capacidade de identificação para incorporar aprendizagem; 13- autoestima regulada; não apresentar alto nível de ansiedade flutuante, ansiedade de separação ou de ansiedades fóbicas, as quais são bloqueadoras da incorporação de aprendi- zagem (FICHRTNER et al., 1990, p. 61-62). COMO SE FORMAM OS ASPECTOS EMOCIONAIS A subjetividade é marcada por traços únicos, ninguém é igual a ninguém, por isso, é tão difícil estabelecer parâmetros,é tudo muito abstrato, tendo em vista que revelar-se é um ato que parti do próprio sujeito, é um processo de dentro para fora, ora, à subjetividade deve-se perceber a relação inseparável entre a cognição e os recursos emocionais que implicam na construção do conhecimento, e isso é constituída de muita complexidade, nem tudo pode ser explicado pela racionalidade dos fatos. Os Aspectos Emocionais são conceituados por Weiss (2006a) como relações afetivas que podem ser inconscientes, que desencadeiam o aprender ou não-aprender que “pode exprimir-se por uma rejeição ao conhecimento escolar, em trocas, omissões e distorções na leitura ou na escrita, não conseguir calcular em geral” (p. 22). Cumpre, igualmente, valer-se dos enunciados de Gonsalves (2015), As emoções são reações que temos mediante informações que recebemos, sendo que essas informações surgem a partir das relações que estabelecemos com o entorno. A intensidade das emoções, portanto, está na dependência da avaliação realizada sobre a informação recebida que se dá, necessária e dire- tamente relacionada, com nossos conhecimentos prévios, crenças, objetivos pessoais, percepção do ambiente. Assim, para ser desencadeada, a emoção precisa de um estímulo inicial, que pode ser interno (ex. memória episódica) ou externo (ex. situação a qual o indivíduo dá atenção) e que, qualquer que seja a via de acesso, ela é produzida gerando impactos de diversas ordens no organismo (p. 31). Não se pode compreender a afetividade em oposição à razão, consoante com Dolle (1987, p. 89) “é na dialética interativa sujeito-objeto que se constitui e se constrói a dialética da objetividade e da subjetividade onde se percebe que uma compreende sempre a outra e reciprocamente”, ou seja, é fulcral equilíbrio entre os conflitos internos e externos (subje- tividade versus meio), que se constitui desde a relação mãe-bebê. 36 37 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br Para falar da subjetividade, nada melhor que debruçar-se na Psicologia, contanto, esta ciência tem muitas correntes para explicar a metamorfose que se dá no ser humano, deste modo, para esta fundamentação foi eleita a corrente da Psicanálise, com o teórico contumaz e coercitivo quanto as suas descobertas, Sigmund Freud. Revisitam tais postulados, Hall e Lindzey para maior esclarecimento, No vasto domínio do inconsciente se encontram os impulsos, as paixões, as ideias e os sentimentos reprimidos – um imenso subterrâneo de forças vitais e invisíveis que exercem um controle imperioso sobre os pensamentos e ações conscientes do homem (apud Freud, 1984, p. 23). Freud aborda com muita propriedade acerca dos períodos do desenvolvimento emocional, intimamente ligados ao desempenho da aprendizagem, chamado por ele de Desenvolvimento Psicossexual, para este teórico toda a formação do ser humano está ligada direta ou indiretamente à sexualidade. Em síntese, os períodos abaixo estão intrinsecamente ligados aos aspectos emocionais segundo os estudos de Freud (1984) descritos como: 1) Fase oral – período de 0 a 1 ano aproximadamente. É a fase mais caracterizada pela dependência do bebê com a mãe, onde o prazer da recepção oral poderá ser transferida para outros modos de recepção, como o prazer que decorre da aquisição de conhecimentos ou bens. 2) Fase anal: período de 2 a 4 anos. Esta fase quando bem-sucedida é responsável pela criatividade e a produtividade, e quando não, por espécies de traços expulsivos – crueldade, destrutividade desenfreada, explosões e outros atos desordenados. 3) Fase fálica – período de 4 a 6 anos. Surgem as primeiras sensações sexuais e de agressividade, é representada pela vida de fantasia da criança, que acompanha a atividade autoerótica. 4) Fase de latência: período de 6 a 11 anos. É o período em que essa dinâmica de mudança atinge uma relativa estabilidade, diz-se que os impulsos se mantêm reprimidos ou adormecidos. 5) Fase genital – período a partir de 11 anos. A partir desta fase manifestam-se a atração sexual revigorante, a socialização, as atividades de grupo, o interesse profissional e outros. 38 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br Não dá para imaginar os indivíduos como partes fragmentadas, e sim como um todo, logo, as fases do desenvolvimento funcionam como a construção de um edifício, que se mal alicerçado desencadeará problemas no futuro, e se tratando de fraturas nos sujei- tos, estas rupturas poderão refletir na aprendizagem ou em outras áreas constitutivas da interação social. ATÉ QUE PONTO OS ASPECTOS EMOCIONAIS PODEM INTERFERIR NA APRENDIZAGEM Para a Psicopedagogia, dependendo do grau de comprometimento nas fases do de- senvolvimento, há variáveis. A partir de diversas definições sobre dificuldades, distúrbios e transtornos de aprendizagem, recorreu-se a uma escala imaginária para didaticamente se pontuar esses construtos. De 0 a 10 pontos, hipoteticamente se houvesse uma dificuldade de aprendizagem representaria de 0 a 5 pontos, indicando um conflito ou motivo de não- -aprendizagem em um indivíduo que não aprende, portanto, tal adversidade reconhecida, seria possível solucioná-la. Quando o desajuste, ainda considerado como dificuldade é apontado entre 6 e 7, é porque não foi detectado no início da fase de desenvolvimento, assim, já dá sinais de alerta da relevância na qualidade e quantidade dos resultados esperados pelo sujeito. Os distúrbios ou transtornos culminariam entre 8 e 10, atingindo consideravelmente um grau de patologia. Em se tratando das dificuldades de aprendizagem, são quase sempre cabíveis em pequena numeração na escala, interpostos pela família, podem ser acompanhados por Pedagogos e Psicopedagogos. Já os distúrbios ou transtornos são encaminhados aos mé- dicos, podendo os pacientes serem até medicados. Sob condição de que cada campo de estudo faz sua abordagem quanto a conceituação dos vocábulos; dificuldades, distúrbios, transtornos e deficiências. É relevante sinalizar que os aspectos emocionais podem ser tanto a causa, quanto a consequência do contratempo, sendo assim, o importante é descobrir a raiz do problema, e isso só será possível com a ajuda de um profissional, deste modo, corroboram as seguin- tes considerações, As crianças com dificuldade de aprendizagem que estejam com problemas emocionais apresentam sinais de regressões, oposições, narcisismos e ne- gativismos. Este fato acaba por produzir baixa autoestima e fragilidade no autoconceito. Outras características encontradas são impulsividade, e perse- veração, falta de controle, de avaliação crítica, de discernimento, de percepção social, de cooperação, de aceitação e de prudência. De forma geral, pode-se dizer que instabilidade emocional e dependência, tensão nervosa, dificuldade em manter a atenção, inquietude e desobediência, reações comportamentais bruscas e desconcertantes, falta de controle sobre si mesmo, dificuldade de ajustamento à realidade, problemas de comunicação e autoconceito e auto- 38 39 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br estima baixos, com reduzida tolerância à frustração, acabam por ser os pro- blemas emocionais mais contundentes em relação a esse grupo de crianças (FONSECA apud BARTOLOMEU et al., 2006, p. 03). Estes são apenas alguns dos sintomas que poderão se manifestar, ainda existem ou- tros, tais como; ansiedade, agressividade, isolamento, timidez, depressão e até desordem orgânica, dentre outros. A abordagem feita por Fonseca não se limita somente às crianças, pois um indivíduo em qualquer fase da vida poderá também apresentar as mesmas queixas, com essa visão reforça Weiss “o sintoma é, portanto,o que emerge da personalidade em interação com o sistema social” (2006b, p. 28). Analisando-se estas inferências, é possível afirmar que os fatores descritos acima po- deriam, na fase estudantil, ser responsáveis pelos altos índices de atraso intelectual, evasão escolar e reprovações, atrelados a outros fatores, o que justificariam um olhar investigativo do Psicopedagogo. O fracasso escolar ainda demanda muitas problemáticas que vão desde o despreparo da escola para o trabalho com a diversidade e singularidades, assim como, ausência de profissionais especializados para o acompanhamento dos seres cognoscentes sob a pers- pectiva inclusiva para o resgate dos sentidos subjetivos. A POSTURA DO PSICOPEDAGOGO, QUANDO HÁ SUSPEITA DE SITU- AÇÕES DE NÃO-APRENDIZAGEM POR CAUSA DE ASPECTOS EMO- CIONAIS O Psicopedagogo sempre atuará como um investigador, após o primeiro contato com o sujeito ou com o queixoso, com posterior aplicação da anamnese (entrevista), a qual deverá ser minuciosa quanto aos detalhes, pois este profissional trabalha com o processo e não com o resultado dos fatos. Em se tratando de criança, a anamnese deverá ser feita com os pais ou responsáveis e quando não, com o próprio sujeito, para levantamento das primeiras hipóteses. Na sequência, far-se-á aplicação dos testes das áreas; cognitiva, pedagógica e corporal, se os resultados forem satisfatórios, o Psicopedagogo se aterá na aplicação dos testes da área afetivo-social, que consistem em atividades projetivas que simulam situações, o qual o sujeito “projeta” suas agressões, conflitos, medos, esforços e suas ideias características para chegar-se a uma hipótese diagnóstica. Os testes mais comuns da área psicopedagógica são: os desenhos; livre, dos senti- mentos e da figura humana, o EOCA (Entrevista Operatória Centrada na Aprendizagem), o Par Educativo (Uma pessoa que ensina e outra que aprende), Família Quinética (Uma família fazendo alguma coisa), Sessão Lúdica Centrada na Aprendizagem, e demais outros, 40 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br que estimulam no sujeito a troca de experiências e visam “uma compreensão global da sua forma de aprender e dos desvios que estão ocorrendo nesse processo” (PAIN, 1992a). É tarefa do Psicopedagogo mediar os conflitos não resolvidos no indivíduo, assim como estimular o potencial afetivo-emocional e cognitivo através da confiança que deve ser es- tabelecida entre o aprendiz e o profissional, para tanto diz Weiss “tudo nessa comunicação é importante: a palavra, o modo de falar, a atitude, os gestos, a movimentação do corpo etc.” (2006c, p. 34). APÓS O DIAGNÓSTICO, O QUE FAZER? Após ter definido o problema de aprendizagem em sua perspectiva multifatorial, vamos considerar os momentos do processo diagnóstico que procuram obter todos os dados necessários para compreender o significado, a causação e a modalidade da perturbação que em cada caso motiva a demanda assistencial (PAIN, 1992b, p. 35). É elementar ressaltar que cada caso tem suas singularidades, e requer um olhar único, considerando que não se retrata um caso específico e real, faz-se uma hipótese diagnóstica, levando em conta como fator desencadeador da não-aprendizagem um dos aspectos emocionais. Sob proposição, após uma minuciosa investigação nas entrevistas e aplicação dos testes e atividades, é fechado um diagnóstico, é hora de fazer a devolução. Se o queixoso for criança ou adolescente a devolutiva será para os pais ou responsáveis e ainda a escola, e se for adulto para o mesmo. É hora de apresentar as facetas saudáveis do aprendiz, suas dificuldades, e possibili- dades de mudança na busca do prazer e eficiência pelo aprender, em seguida, fazer o en- caminhamento para um Psicólogo, e dependendo da gravidade do caso para um Psiquiatra também, e continuar com o Psicopedagogo para uma intervenção e acompanhamento. A resposta ao tratamento dependerá do próprio desejo do aprendiz de reagir e da fa- mília que deve estar envolvida neste processo, assim, o resignado reagirá, pois terá todo o acompanhamento necessário para isso. Ora, a Psicopedagogia propõe-se a buscar uma resposta para os conflitos na aprendizagem com técnicas de trabalho que podem ser desenvolvidas de maneira individual ou em grupo, para assim resgatar a vontade de aprender, de modo a observar quais fatores, possivelmente, podem contribuir ou não para o processo de ensino-aprendizagem (Anjos; Dias, 2015, p. 2). 40 41 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br CONCLUSÃO Diante dos resultados alcançados neste artigo não se tem a pretensão de esgotar infe- rências a respeito desta temática tão relevante para as fases do desenvolvimento, outrossim, suscitar mais estudos que abordem cientificamente a relação dos aspectos emocionais na formação do ser humano e sua relação íntima com a aprendizagem, sob o viés analítico da Psicopedagogia. É importante ainda pontuar que se fez necessário o entrelaçamento entre as ciên- cias; Pedagogia, Psicologia e Psicopedagogia, a fim de enriquecer a abordagem sobre os conflitos biopsicossociais e validá-la, com um estudo multidisciplinar que trabalha em prol do ensino, aprendizagem dos sujeitos peculiares e mediação de situações de desajustes comportamentais e de aprendizagem. A luz da Psicopedagogia como campo maior deste estudo e análises, ressalta-se o trabalho, diagnóstico, devolutiva e encaminhamento deste profissional para demais outros profissionais competentes da área médica, se tratando em particular de conflitos emocionais. Portanto, este artigo sintetizou, mas, não esgotou um estudo acerca das muitas facetas dos aspectos emocionais que podem comprometer a aprendizagem tendo como premissa que a subjetividade é um universo com muitas possibilidades, fruto das trocas e interações saudáveis entre os aspectos: orgânicos, cognitivos, pedagógicos, sociais e emocionais que precisam acontecer salutarmente para o desenvolvimento harmônico das habilidades e competências nos indivíduos de modo geral. REFERÊNCIAS ANJOS, E. K. O; DIAS, J. R. A. Psicopedagogia: sua história, origem e campo de atuação. Revista Revela, v. 8, nº 18, p. 1-12, 2015. Disponível em https://educacaopublica.cecierj. edu.br/artigos/20/47/o-psicopedagogo-no-contexto-escolar-e-o-processo-de-aprendiza- gem-qual-a-relacao. Acesso em: 01 de nov. de 2022. BARTHOLOMEU, Daniel et al. Dificuldades de aprendizagem na escrita e característi- cas emocionais de crianças. 2006. Disponível em https://www.scielo.br/j/pe/a/XxZdXPn- TC8WmQG5mWCpp58g/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 20 de nov. de 2022. BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introdução ao es- tudo da psicologia. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. DOLLE, Jean Marie. Para compreender Jean Piaget: uma iniciação a Psicologia Genética Piagetiana. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987. https://www.scielo.br/j/pe/a/XxZdXPnTC8WmQG5mWCpp58g/?lang=pt&format=pdf https://www.scielo.br/j/pe/a/XxZdXPnTC8WmQG5mWCpp58g/?lang=pt&format=pdf 42 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br FERNÁNDEZ, A. Y., et. al. Avaliação e intervenção da disortografia baseada na semiologia dos erros: revisão da literatura. Revista CEFC, v. 12, n. 3, 2010. Disponível em https:// search.scielo.org/?lang=pt&q=au:%22Fern%C3%A1ndez,%20Amparo%20Ygual%22. Acesso em: 22 de nov. de 2022. FICHTNER, Nilo et al. Psicopedagogia: O caráter interdisciplinar na formação e atuação profissional. In: Leda Maria Codeço Barone (Org.). Porto Alegre: Artes Médicas, 1990. FONSECA, Vitor da. Introdução às dificuldades de Aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. FREUD, S. Resumo das Obras Completas. Riode Janeiro. São Paulo. Livraria Atheneu, 1984. GONSALVES, Elisa Pereira. Educação e emoções. Campinas/SP: Editora Alínea, 2015. HALL, Calvin S.; LINDZEY, Gardner. Teorias da personalidade. Tradução: Maria Cristina Machado Kupfer. 18ª. ed. São Paulo: E.P.U, v. 1, 1984. MOKREJS, Elisabete. Cognição e afetividade na escola – síntese de três estudos sobre epistemologia genética e psicanálise. Revista da Faculdade de Educação, São Pau- lo, v. 21, n. 2, p. 67, jul/dez. 1995. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/rfe/article/ view/33567/36305. Acesso em: 25 de nov. de 2022. PAIN, Sara. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992. PIAGET, Jean. A epistemologia genética. Petrópolis: Vozes, 1972. PILETTI, N. Psicologia educacional. São Paulo: Ática, 1984. SOUZA, S. R. Saúde integral da criança. In: SOUZA, S. R. (Org.). Fundamentos do desenvolvimento infantil: da gestação aos 3 anos. São Paulo: Fundação Maria Cecília Souto: Vidigal, 2011. WEISS, Maria Lúcia L. Psicopedagogia clínica – uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. 11. ed. Rio de Janeiro: DP & A, 2006. VYGOTSKY, Lev Semenovich. A Formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 2007. https://search.scielo.org/?lang=pt&q=au:%22Fern%C3%A1ndez, Amparo Ygual%22 https://search.scielo.org/?lang=pt&q=au:%22Fern%C3%A1ndez, Amparo Ygual%22 https://www.revistas.usp.br/rfe/article/view/33567/36305 https://www.revistas.usp.br/rfe/article/view/33567/36305 04 '10.37885/221211213 04 Atuação do(a) psicólogo(a) escolar frente a alunos com necessidades especiais de educação Edirlei Machado Dos-Santos Faculdades Integradas de Três Lagoas - FITL Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS Kléia Naiara Peixoto Faculdades Integradas de Três Lagoas - FITL https://dx.doi.org/10.37885/221211213 RESUMO O papel do(a) Psicológo(a) escolar passou por significativas mudanças ao longo do tempo. Nesse sentido, o presente estudo teve como objetivo identificar as intervenções desenvolvi- das pelo(a) Psicólogo(a) Escolar em relação a aprendizagem de alunos com necessidades especiais de educação. Trata-se de uma pesquisa de revisão integrativa realizada a partir das bases de dados LILACS, INDEX-PSI periódicos, PePSIC e SciELO e da busca manual, visando a ampliação da amostra final. Os dados formam coletados em julho de 2021, exclu- sivamente no formato de artigos científicos, publicados no período de 2010 a 2020, tendo como amostra final 17 artigos. Os resumos foram processados pelo software IRaMuTeQ versão 0,7 alpha 2. A Classificação Hierárquica Descendente resultou em cinco classes, possibilitando a construção de dois blocos temáticos: Atuação do(a) Psicólogo(a) Escolar junto aos Professores (Classes 1, 4 e 5) e; Aproximações do(a) Psicólogo(a) Escolar com políticas públicas e práticas inclusivas (Classes 2 e 3). Os dados apontam avanços na atuação do(a) psicólogo(a) escolar a partir do desenvolvimento de ações psicossociais e psicoedu- cativas com alunos com necessidades especiais, porém, alguns desafios no trabalho do(a) psicólogo(a) escolar relacionados à aprendizagem de alunos com necessidades especiais de educação permanecem, indicando a necessidade de novos estudos, com destaque à pesquisa-intervenção. Palavras-chave: Educação Especial, Inclusão Escolar, Psicologia Escolar. 45 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br INTRODUÇÃO A construção do presente estudo emergiu das discussões e reflexões emanadas da disciplina de Estágio Supervisionado em Psicologia Escolar. Nesse ínterim, alguns conceitos tornam-se necessários. Sob tal aspecto, historicamente, a inserção do psicólogo escolar se deu a partir de contexto adaptacionista e de correção que tinha como finalidade sanar problemas oriundos desse cenário de formação (OLIVEIRA; MARINHO-ARAÚJO, 2009). Para Dias, Patias e Abaid (2014) levando-se em consideração que o surgimento da Psicologia Escolar ou Educacional se deu concomitantemente ao desenvolvimento da Psicologia como profissão é uma área que se encontra em consolidação. Tal processo exi- ge dos profissionais psicólogos o emprego de conhecimentos psicológicos já adquiridos e a busca por novos conhecimentos no contexto da própria Psicologia e em outras disciplinas como a Educação, a Sociologia e a Filosofia, por exemplo, com o intuito de construir uma prática a partir da complexidade implicada no processo ensino-aprendizagem a partir de suas dimensões históricas e políticas. Segundo Martinez (2010), a atuação do psicólogo no espaço escolar se apresenta, na contemporaneidade, como um objeto de debate e reflexão entre os próprios psicológicos escolares, particularmente, aqueles que se debruçam a investigar e contribuir com o avanço e qualidade necessários ao desenvolvimento do processo educativo. Sua atuação ainda na atualidade tem sido relacionada a elaboração de diagnóstico e ao atendimento de crianças com dificuldades emocionais ou de comportamento, associada ao processo de orientação de pais e professores com o objetivo de auxiliá-los na condução de alunos que apresentam tais condições. Tal característica é vista como resultado do modelo clínico terapêutico de formação e atuação dos psicólogos no cenário brasileiro a partir da forma como sua atividade profissional é representada socialmente. Nessa vertente, a Psicologia Escolar, se apresenta com o objetivo de contribuir para a promoção do desenvolvimento, da aprendizagem e da relação entre ambos os processos. Por outro, lado, historicamente e, por muito tempo, era papel do psicólogo escolar, classifi- car os alunos com dificuldades escolares e sugerir métodos especiais de educação, com a finalidade de ajustá-los aos padrões de “normalidade” ditados pela sociedade (OLIVEIRA; MARINHO-ARAÚJO, 2009). A partir do breve recorte e contextualização anteriores apresentados, observa-se que, embora o processo de atuação do psicólogo escolar tenha passado por uma transição e ganhado outro perfil em relação à sua origem, o cenário escolar nos apresenta alunos com graus distintos de deficiência que podem, em maior ou menor proporção comprometer de forma substancial o seu processo de aprendizagem. Nesse contexto, a atuação do psicólogo como profissional de uma equipe interdisciplinar se apresenta como elemento significativo 46 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br para a construção de atividades educativas psicossociais/psicoeducativas que dará susten- tação ao processo de trabalho de professores e coordenadores pedagógicos. Desse modo, outro aspecto a ser destacado e que se apresenta como cerne do pre- sente estudo refere-se aos alunos com necessidades especiais de educação (NEE). Assim, tem sido demandado dos professores e educadores cada vez mais competências e habili- dades para atuarem na prática cotidiana com classes heterogêneas e, principalmente, com alunos que apresentam problemas de comportamentos. Tal demanda se exacerba se o psicólogo se coloca no cenário escolar com o propósito de colaborar com os professores (SILVA; MENDES, 2012). Nessa perspectiva, Fonseca, Freitas e Negreiros (2018) apontam que se torna rele- vante destacar que o cenário educacional abriga questões acerca da inclusão escolar, cuja premissa básica se volta à efetivação do direito à educação das pessoas público-alvo da Educação Especial na sala comum da escola regular. Esse direito foi conquistado se deu a partir da formulação de legislações e de políticas públicas educacionais, em consequência dos debates acerca da temática. Com isso, a inclusão escolar beneficia tanto o desempenho social do estudante, como o desempenho do repertório básico de leitura e escrita, elementosfundamentais para a in- serção de todos os estudantes na maioria das atividades produzidas em sociedade, o que demonstra um papel necessário ao processo de independência e adaptação aos grupos sociais nos quais tais alunos se inserem (BENITEZ; DOMENICONI, 2018). A partir das vivências realizadas no Estágio de Psicologia Escolar, dos diálogos esta- belecidos com as coordenadoras pedagógicas e do referencial teórico apreendido tomamos como questão norteadora: “Como tem se dado a atuação do(a) Psicólogo(a) escolar em relação a aprendizagem de alunos com necessidades especiais de educação (NEE)?” A fim de responder ao problema de pesquisa, o presente estudo teve como objetivo realizar uma revisão integrativa da literatura acerca da atuação do Psicólogo Escolar em relação a aprendizagem de alunos com NEE. MÉTODO Trata-se de uma pesquisa de revisão integrativa de literatura, modalidade de pesqui- sa bibliográfica de dilatada abordagem metodológica que possibilita a inclusão de estudos experimentais e não-experimentais objetivando uma compreensão ampla acerca do fenô- meno pesquisado. Ademais, traz como característica a oportunidade de combinar dados da literatura teórica e dados empíricos (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010). A partir da definição do problema de pesquisa os autores percorreram as seguintes etapas: 1. Identificação dos descritores e possíveis combinações de busca; 2. Seleção de 46 47 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br bases e bancos de dados e bibliotecas virtuais; 3. Busca dos dados; 4. Elaboração e “lim- peza” do corpus textual (resumos dos artigos selecionados); 5. Processamento dos dados com auxílio do software IRaMuTeQ (Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires) versão 0,7 alpha 2, desenvolvido por Pierre Ratinaud em 2009; 6. Interpretação e discussão dos dados processados pelo IRaMuTeQ. Os dados foram coletados no mês de julho de 2021, com o recorte temporal de 2010 a 2020, sendo selecionadas referências apenas no formato artigo científico. A coleta dos dados foi realizada nas seguintes bases de dados/biblioteca virtual: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS); Index Psi Periódicos, ambas acessadas via Biblioteca Virtual em Saúde (BVS); Portal de Periódicos Eletrônicos de Psicologia (PePSIC), Biblioteca Virtual SciELO (Scientific Electronic Library Online) e busca manual no intuito de encontrar artigos relevantes para o objeto da pesquisa, porém não identificados a partir dos cruzamentos dos descritores nas bases de dados/biblioteca virtual utilizadas. Os descritores empregados para busca foram “school psychology” e “special educa- tion” acompanhados do operador booleano and nas bases LILACS, Index Psi Periódicos e na biblioteca SciELO. No portal eletrônico PePSIC o cruzamento de descritores foi diferente por não ter retornado nenhuma referência, sendo empregado o cruzamento “psicologia” and “educação” and “especial”. O fluxograma (Figura 1) mostra o caminho percorrido para a seleção das publicações que compuseram a amostra do estudo. Os dados foram analisados por meio da construção de blocos temáticos emergidos das classes elaboradas a partir da Classificação Hierárquica Descendente (CHD). No estudo apresenta-se uma representação expressa pela “nuvem de palavras”, a partir de um recorte de lexicografia básica em que é possível ilustrar a recorrência das palavras processadas a partir do corpus textual. Por se tratar de uma pesquisa de revisão integrativa, elaborada a partir de dados se- cundários não houve necessidade de apreciação do projeto de pesquisa por parte do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP). 48 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br Figura 1. Fluxograma de seleção dos estudos segundo o Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta- Analyses (PRISMA) (MOHER et al., 2009) – Três Lagoas, MS, Brasil, 2021. Busca manual 6 Identificação Questão Norteadora Como tem se dado a atuação do Psicólogo escolar em relação a aprendizagem de alunos com necessidades especiais de educação (NEE)? Identificação (artigos identificados pelas buscas de dados) Triagem (Seleção de artigos com base nos critérios de inclusão estabelecidos) Elegibilidade (Seleção de artigos após leitura e análise na integra) Inclusão (Artigos lidos na integra incluídos no estudo) LILACS INDEX-PSI PePSIC SciELO 19 13 55 29 Motivo da exclusão dos artigos: artigos publicados fora do período estabelecido e artigos cujo texto completo não estava acessível. 15 9 21 12 Motivo da exclusão dos artigos: não contemplavam o tema no contexto da pesquisa e artigos duplicados 3 5 2 1 Não houve exclusão de artigos; todos os eleitos se constituíram na amostra final desse estudo. Amostra (n)= 17 RESULTADOS A partir dos critérios de inclusão e exclusão foram selecionados 17 artigos que são apre- sentados a seguir (Quadro 1). Quadro 1. Referências dos artigos que compuseram a amostra final da revisão integrativa, Três Lagoas-MS, 2021. CÓDIGO REFERÊNCIA Artigo 1 Acuna, J. T. (2020). Perspectivas de professores sobre o suporte do psicólogo escolar ao processo de inclusão educacional. Rev. Psicol. UNESP., 2020, 88-100. doi: https://doi.org/10.5935/1984-9044.20200007 Artigo 2 Kranz,C.R.; Campos, H.R. (2020). Special education, psychology and public policies: the diagnosis and the pedagogical practices. Psicol. Esc. Educ., 2020, 24, 1-9. doi: http://doi.org/10.1590/2175-35392020218322 Artigo 3 Fonseca,T. S.; Freitas, C. S.C.; Negreiros, F. (2018) School Psychology and inclusive education: performance with teachers. Ver. Bras. Ed. Esp., 2018, 24(3), 419-432. doi: https://doi.org/10.1590/S1413-65382418000300008 Artigo 4 Andrada, P. C. de; Macedo, P. H.; Gasparelli, T. C.; Canton, F. C. de O.; Rovida, M. B. & Cruz, P. S. G. da. (2018). Possibilidades de intervenção do psicólogo escolar na educação inclusiva. Gerais (Univ. Fed. Juiz Fora), 2018, 11(1), 123-141. doi: https://dx.doi.org/10.36298/gerais2019110110 Artigo 5 Braz-Aquino, F. de S.; Ferreira, I. R. L.; Cavalcante, L. de A. Concepções e práticas de psicólogos escolares e docentes acerca da inclusão escolar. Psicol. ciênc. prof. [online]. 2016, 36(2), 255-266. doi: https://doi. org/10.1590/1982-3703000442014 Artigo 6 Loureto, G. D. L.; Moreno, S. I. R.; Silva, A. C. da; Santos, T. B; Xavier, P. L. O. Psicologia escolar e necessidades especiais: visão dos professores das escolas de Boa Vista, Roraima. Psicol. Argum. 2015, 33(83), 511-525. doi: 10.7213/psicol.argum.33.083.AO06 https://doi.org/10.5935/1984-9044.20200007 http://doi.org/10.1590/2175-35392020218322 https://doi.org/10.1590/S1413-65382418000300008 https://dx.doi.org/10.36298/gerais2019110110 https://doi.org/10.1590/1982-3703000442014 https://doi.org/10.1590/1982-3703000442014 48 49 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br CÓDIGO REFERÊNCIA Artigo 7 Mendes, S. A.; Abreu-Lima, I.; Almeida, L. S. Psicólogos escolares em Portugal: perfil e necessidades de formação. Estud. psicol. (Campinas). 2015, 32(3), 405-416. doi: http://dx.doi.org/10.1590/ 0103-166X2015000300006 Artigo 8 Mattos, L. K. de; Nuernberg, A. H. A intervenção do psicólogo em contextos de educação especial na gran- de Florianópolis. Rev. Bras. Ed. Esp., Marília. 2010, 16(2), 197-214. doi: https://doi.org/10.1590/S1413- 65382010000200004 Artigo 9 Lopes, J.; Almeida, L. da S. Questões e modelos de avaliação e intervenção em Psicologia Escolar: o caso da Europa e América do Norte. Estud. psicol.(Campinas). 2015, 32(1), 75-85. doi: http://dx.doi.org/10.1590/ 0103-166X2015000100007 Artigo 10 Silva, A. M. da; Mendes, E. G. Psicologia e inclusão escolar: novas possibilidades de intervir preventivamente sobre problemas comportamentais. Rev. Bras. Ed. Esp., Marília, 2012, 18(1), 53-70. doi: https://doi.org/10.1590/S1413-65382012000100005 Artigo 11 Anache, A. A. Psicologia Escolar e educação especial: versões, inserções e mediações. Em Aberto, Brasília, 2010, 23(83), 73-93. doi: 10.24109/2176-6673.emaberto.23i83.2252 Artigo 12 Gomes, c.; Souza, V. L. T de. Educação, Psicologia Escolar e inclusão: aproximações necessárias. Rev. Psicope- dagogia, 2011; 28(86), 185-93. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pi- d=S0103-84862011000200009&lng=pt&tlng=pt. Artigo 13 Marinho-Araújo, C. M. Psicologia Escolar: pesquisa e intervenção. Em Aberto, Brasília, 2010, 23(83), 17-35. doi: 10.24109/2176-6673.emaberto.23i83.%25p Artigo 14 Dazzani, M. V. M. A Psicologia Escolar e a educação inclusiva: uma leitura crítica. Psicol. ciênc. prof. 2010, 30(2), 362-375. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pi- d=S1414-98932010000200011&lng=pt&tlng=pt. Artigo 15 Benitez, P.; Domeniconi, C. Atuação do psicólogo na inclusão escolar de estudantes com autismo e deficiência intelectual. Psicol. esc. educ. 2018, 22(1), 163-172. doi: http://dx.doi.org/10.1590/2175-35392018013926 Artigo 16 Cavalcante, L de A.; Braz-Aquino, F. de s. Ações de psicólogos escolares de João Pessoa sobre queixas esco- lares. Psicol. estud. 2013, 18(2), 353-362. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pe/a/dypZL3xpYQnW3F- D7t8VGzwC/?lang=pt# Artigo 17 Barroco, S. M. S.; Souza, M. P. R de. Historical-cultural psychology contributions to the psychologist’s pro- fessional training and practice in the context of inclusive education. Psicol. USP. 2012, 23(1), 111-132. doi: https://doi.org/10.1590/S0103-65642012000100006 Observa-se a partir do quadro anterior que o maior número de artigos publicados acerca do objeto de estudo e considerando o delineamento da pesquisa ocorreu no ano 2010 com 4 artigos (23,5%), seguido dos anos 2015 e 2018 com 3 artigos cada (17,6%). Destaca-se ainda a ausência de produção nas bases consultadas nos anos 2014, 2017 e 2019. O corpus textual processo foi construído a partir dos resumos dos artigos selecionados que compuseram a amostra da pesquisa. A seguir (Figura 2) são apresentadas as classes construídas a partir da CHD com uma retenção do corpus textual de 70,51%. A partir das cinco classes processadas foram elencados dois blocos temáticos: 1. Atuação do Psicólogo Escolar com Professores (Classes 1, 4 e 5) e; 2. A atuação do Psicólogo Escolar, prá- ticas inclusivas e políticas públicas (Classes 2 e 3). http://dx.doi.org/10.1590/0103-166X2015000300006 http://dx.doi.org/10.1590/0103-166X2015000300006 https://doi.org/10.1590/S1413-65382010000200004 https://doi.org/10.1590/S1413-65382010000200004 http://dx.doi.org/10.1590/0103-166X2015000100007 http://dx.doi.org/10.1590/0103-166X2015000100007 https://doi.org/10.1590/S1413-65382012000100005 http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862011000200009&lng=pt&tlng=pt http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862011000200009&lng=pt&tlng=pt http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932010000200011&lng=pt&tlng=pt http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932010000200011&lng=pt&tlng=pt http://dx.doi.org/10.1590/2175-35392018013926 https://www.scielo.br/j/pe/a/dypZL3xpYQnW3FD7t8VGzwC/?lang=pt https://www.scielo.br/j/pe/a/dypZL3xpYQnW3FD7t8VGzwC/?lang=pt https://doi.org/10.1590/S0103-65642012000100006 50 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br Figura 2. Dendograma CDH processado pelo software IRaMuTeQ - Três Lagoas, MS, Brasil, 2021. O software IrRaMuTeQ gerou a “nuvem de palavras” (Figura 3) que não se trata de um dado específico para análise, porém, mostra a partir de uma lexicografia básica a recorrência de palavras no corpus textual submetido ao processamento do software. Figura 3. “Nuvem de palavras “processada pelo software IRaMuTeQ - Três Lagoas, MS, Brasil, 2021. A partir da representação da “nuvem de palavras” observa-se como principal destaque a expressão psicólogo escolar, objeto central da presente pesquisa acompanhada pelos 50 51 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br léxicos mais recorrentes: aluno, professor, formação, intervenção, atuação, prático, escola, educação, NEE, modelo, queixa e inclusão escolar. DISCUSSÃO A partir do processamento do corpus textual pelo IRaMuTeQ, dois blocos temáticos foram construídos e referem-se à atuação do psicólogo escolar junto aos professores e, sua prática cotidiana no cenário escolar permeada pela construção de práticas inclusivas e a efetivação de políticas públicas acerca do tema. Para Acuna (2020) a prática do psicólogo escolar deve considerar além do professor, gestores escolares, alunos e suas famílias (BENITEZ; DOMENICONI, 2018; LOURETO et al., 2015; MENDES; ABREU-LIMA; ALMEIDA, 2015). Salienta que por tratar-se de uma área que agrega diferentes campos do saber psi possibilita ao psicólogo a realização de pesquisa, diagnóstico, intervenção preventiva ou corretiva. Assim, a atuação do psicólogo escolar com alunos com NEE torna-se essencial e traz consigo a possibilidade de comba- ter práticas de culpabilização e marginalização dos alunos que não atendam aos padrões normativos de performance social e acadêmico. Mesmo considerando a atuação do psicólogo escolar num contexto mais clínico ao longo do esquadrinhamento de sua atuação profissional ao longo da história, é importante destacar a sua contribuição acerca da estimulação de um processo reflexivo e de qualificação profissional com professores que atuam com alunos com NEE (KRANZ; CAMPOS, 2020). Desse modo, Kranz e Campos (2010) apontam que tal perspectiva abriria possibilidades de desconstrução de representações por parte de professores sobre o real papel do psicó- logo escolar. Ademais, a prática do psicólogo escolar, compreendida a partir da intervenção clínica apenas contribui para a sustentação da diretriz individual e patologizante do laudo, o que pouco agrega para o desenvolvimento do aluno. Segundo Fonseca, Freitas e Negreiros (2018), a inclusão escolar focaliza o processo ensino-aprendizagem dos alunos com NEE incluindo reflexões de temáticas relacionadas à educação na diversidade, em uma perspectiva de direitos humanos e reflexões acerca dos desdobramentos indispensáveis à sua efetivação, as quais incluem, para uma adequada aprendizagem, a reestruturação do cenário educacional e o envolvimento de todos os mem- bros da comunidade escolar no processo. Assim, o desenvolvimento de mediações inclusivas a partir da possiblidade de ensinar aspectos conceituais sobre o tema aos alunos com deficiência, contribuiria para a ressigni- ficação do conceito individual de deficiência (KRANZ; CAMPOS, 2020). Ademais, a cons- trução de reflexões com a equipe escolar, professores, gestores, alunos e familiares, sobre inclusão se apresenta como uma das ações mais frequentes entre os psicólogos no campo 52 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br da educação. Nessa vertente, o foco desse processo objetiva a desconstrução de estigmas e generalizações relacionadas aos alunos com NEE (ANDRADA et al., 2018). A atuação do psicólogo escolar, principalmente acerca de alunos com NEE deve se sustentar a partir de práticas que favoreçam a inclusão, o que reflete o compromisso pro- fissionalcom a modificação nos processos educativos e possibilita a concretização das transformações necessárias à melhoria da qualidade da educação no país (BRAZ-AQUINO; FERREIRA; CAVALCANTE, 2016). Num estudo em que se buscou a intervenção do psicólogo em contextos de educação especial, os autores observaram que entre as dificuldades apontadas emergiu na fala de um entrevistado que as “dificuldades de ensinagem e recursos adaptados, põem sempre a culpa no aluno e muitas vezes a dificuldade é do professor” (MATTOS; NUERNBERG, 2010, p. 209). A partir do apontamento anterior cabe ao psicólogo escolar construir sua atuação permeada pela promoção da cidadania, “mediando os processos de inclusão escolar, com a finalidade de minimizar as barreiras atitudinais vivenciadas pelos alunos com deficiência que são, em sua maioria, sofrimentos desnecessários, decorrentes de preconceitos e estigmas” (VIVARTA, 2003 apud MATTOS; NUERNBERG, 2010, p. 209). Sobre a atuação do psicólogo pautada a partir da construção e efetivação de políticas públicas no cenário escolar/educacional, Lopes e Almeida (2015) apontam que o desen- volvimento de políticas de inclusão de todos os alunos nas salas de aula regulares é relati- vamente recente. Ademais, a discussão acerca da Psicologia Escolar/Educacional tem se pautado não mais como uma área de aplicação, mas, como um campo de conhecimento que ultrapassa a estrutura física das escolas, destacando-se no contexto das políticas pú- blicas, gestão e sistema de ensino e em outros cenários que se configuram como espaços educacionais (ANACHE, 2010). Barroco e Souza (2012) afirmam que tal possibilidade se apresenta como percurso ao sucesso escolar. Nesse contexto, a construção da prática profissional deve ser delineada a partir de políticas públicas para a educação que sejam imbricadas com investimentos para a estruturação física e funcional dos Sistemas de Ensino, com uma consistente formação de professores e dos demais profissionais que atuam no cenário escolar/educacional. Um movimento de mudança na prática cotidiana em busca da superação da clínica como cerne de seu trabalho no cenário escolar exigi do psicólogo o envolvimento com questões que não são exclusivamente psicológicas, mas também sociológicas, políticas, culturais e pedagógicas. A partir dessa ótica, a Psicologia escolar deve ser arquitetada a partir de po- líticas públicas de proteção à infância e à adolescência (DAZZANI, 2010). Nesse contexto, a atuação do psicólogo escolar deve, para além de identificar a etiologia das queixas escolares, dar destaque às interações sociais constituídas com os alunos, aos 52 53 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br fatores socioculturais, às políticas educacionais vigentes e a forma como se institui o processo de construção do conhecimento, elementos frequentemente desconsiderados nas análises tradicionais ou clínicas das dificuldades no processo de escolarização (CAVALCANTE; BRAZ-AQUINO, 2013), inclusive com os alunos com NEE. Ademais, tal apropriação é significativa para a Psicologia, uma vez que provoca o desenvolvimento de funções psicológicas superiores dos alunos. Outro aspecto relevante, refere-se ao movimento analítico e interventivo por parte das instituições formadoras, em especial, nos cursos de graduação, trazendo propostas adequadas de atuação do psicólogo escolar sustentadas pelos elementos que têm conformado a sociedade e o campo educa- cional. (BARROCO; SOUZA, 2012). Ao buscarmos a apropriação acerca da atuação do psicológico escolar junto aos alunos com NEE é importante destacar que Os caminhos para a intervenção do psicólogo escolar devem, portanto, estar ancorados na compreensão de que as relações sociais originam o processo interdependente de construções e apropriações de significados e sentidos que acontece entre os indivíduos, influenciando, recíproca e/ou complementar- mente, como eles se constituem. Para intervir na complexidade intersubjetiva presente nas instituições educativas, o psicólogo deve fazer uma escolha deliberada e consciente por uma atuação preventiva sustentada por teorias psicológicas cujo enfoque privilegie uma visão de homem e sociedade diale- ticamente constituídos em suas relações históricas e culturais (MARINHO-A- RAÚJO, 2010, p. 27). Pesquisas que abordam as políticas educacionais apontam par uma narrativa da edu- cação como ferramenta para o enfretamento do processo de exclusão social, acrescido da possibilidade de justiça social da escola para todos, inclusive, para os alunos com NEE (GOMES; SOUZA, 2011). Corroboramos com Marinho-Araújo (2010) ao afirmar que acompanhar e publicizar a produção científica da Psicologia Escolar é condição sine qua non para a atualização dos estudos cerca da pesquisa científica na área. Ademais, permite o mapeamento da constru- ção do conhecimento produzido, a organização de bases de dados para guiar pesquisas futuras, o direcionamento de caminhos para o aperfeiçoamento nos processos formativos e, consequentemente na atuação do psicólogo escolar e a criação de políticas públicas emanadas pela produção científica. 54 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br CONSIDERAÇÕES FINAIS O desenvolvimento da presente pesquisa nos permitiu identificar como tem se dado a atuação do psicólogo escolar no recorte temporal de 2010 a 2020 a partir das pesquisas que compuseram a amostra do estudo. A partir da construção delineada foi possível perceber que houve um avanço substancial na forma de pensar e operacionalizar o trabalho cotidiano do psicólogo escolar, transitando de uma atuação essencialmente clínica para outra alicerçada pela produção de práticas psicoeducativas e psicossociais sustentadas pela construção e concretização de políticas públicas, especialmente relacionadas aos alunos com NEE. Alguns desafios se apresentam ao psicólogo escolar na contemporaneidade, dentre eles as fragilidades nos processos formativos na graduação; a falta de compreensão de outros profissionais quando não do próprio psicólogo acerca do real trabalho a ser depreendido no cenário escolar e, particularmente, quando se trata da aprendizagem de alunos com NEE. Reconhecemos as possíveis limitações do presente estudo, considerando que não fez parte da amostra analisada dissertações de mestrado, teses de doutorado e documentos técnicos acerca do tema. Por fim, a presente pesquisa aponta lacunas que persistem no campo de atuação do psicólogo escolar e convida pesquisadores da área a empreender novas pesquisas, com destaque aos estudos do tipo intervenção para que novas experiências e possibilidades se apresentem aos psicólogos que atuam no cenário escolar/educacional. REFERÊNCIAS Acuna, J. T. (2020). Perspectivas de professores sobre o suporte do psicólogo escolar ao processo de inclusão educacional. Rev. Psicol. UNESP., 2020, 88-100. doi: https://doi. org/10.5935/1984-9044.20200007 Anache, A. A. Psicologia Escolar e educação especial: versões, inserções e mediações. Em Aberto, Brasília, 2010, 23(83), 73-93. doi: 10.24109/21766673.emaberto.23i83.2252 Andrada, P. C. de; Macedo, P. H.; Gasparelli, T. C.; Canton, F. C. de O.; Rovida, M. B. & Cruz, P. S. G. da. (2018). Possibilidades de intervenção do psicólogo escolar na edu- cação inclusiva. Gerais (Univ. Fed. Juiz Fora), 2018, 11(1), 123-141. doi: https://dx.doi. org/10.36298/gerais2019110110 Barroco, S. M. S.; Souza, M. P. R de. Historical-cultural psychology contributions to the psychologist’s professional training and practice in the context of inclusive education. Psi- col. USP. 2012, 23(1), 111-132. doi: https://doi.org/10.1590/S0103-65642012000100006 Benitez, P.; Domeniconi, C. Atuação do psicólogo na inclusão escolar de estudantes com autismo e deficiênciaintelectual. Psicol. esc. educ. 2018, 22(1), 163-172. doi: http://dx.doi. org/10.1590/2175-35392018013926 https://doi.org/10.5935/1984-9044.20200007 https://doi.org/10.5935/1984-9044.20200007 https://dx.doi.org/10.36298/gerais2019110110 https://dx.doi.org/10.36298/gerais2019110110 https://doi.org/10.1590/S0103-65642012000100006 http://dx.doi.org/10.1590/2175-35392018013926 http://dx.doi.org/10.1590/2175-35392018013926 54 55 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br Braz-Aquino, F. de S.; Ferreira, I. R. L.; Cavalcante, L. de A. Concepções e práticas de psicólogos escolares e docentes acerca da inclusão escolar. Psicol. ciênc. prof. [online]. 2016, 36(2), 255-266. doi: https://doi.org/10.1590/1982-3703000442014 Cavalcante, L de A.; Braz-Aquino, F. de s. Ações de psicólogos escolares de João Pessoa sobre queixas escolares. Psicol. estud. 2013, 18(2), 353-362. Disponível em: https://www. scielo.br/j/pe/a/dypZL3xpYQnW3FD7t8VGzwC/?lang=pt# Dazzani, M. V. M. A Psicologia Escolar e a educação inclusiva: uma leitura crítica. Psicol. ciênc. prof. 2010, 30(2), 362-375. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?s- cript=sci_arttext&pid=S141498932010000200011&lng=pt&tlng=pt. Fonseca,T. S.; Freitas, C. S.C.; Negreiros, F. (2018) School Psychology and inclusive edu- cation: performance with teachers. Ver. Bras. Ed. Esp., 2018, 24(3), 419-432. doi: https:// doi.org/10.1590/S1413-65382418000300008 Gomes, c.; Souza, V. L. T de. Educação, Psicologia Escolar e inclusão: aproximações necessárias. Rev. Psicopedagogia, 2011; 28(86), 185-93. Disponível em: http://pepsic. bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010384862011000200009&lng=pt&tlng=pt. Kranz,C.R.; Campos, H.R. (2020). Special education, psychology and public policies: the diagnosis and the pedagogical practices. Psicol. Esc. Educ., 2020, 24, 1-9. doi: http://doi. org/10.1590/2175-35392020218322 Lopes, J.; Almeida, L. da S. Questões e modelos de avaliação e intervenção em Psicologia Escolar: o caso da Europa e América do Norte. Estud. psicol. (Campinas). 2015, 32(1), 75-85. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0103-166X2015000100007 Loureto, G. D. L.; Moreno, S. I. R.; Silva, A. C. da; Santos, T. B; Xavier, P. L. O. Psicolo- gia escolar e necessidades especiais: visão dos professores das escolas de Boa Vista, Roraima. Psicol. Argum. 2015, 33(83), 511-525. doi:10.7213/psicol.argum.33.083.AO06 Marinho-Araújo, C. M. Psicologia Escolar: pesquisa e intervenção. Em Aberto, Brasília, 2010, 23(83), 17-35. doi: 10.24109/2176-6673.emaberto.23i83.%25p Mattos, L. K. de; Nuernberg, A. H. A intervenção do psicólogo em contextos de educação especial na grande Florianópolis. Rev. Bras. Ed. Esp., Marília. 2010, 16(2), 197-214. doi: https://doi.org/10.1590/S1413-65382010000200004 Mendes, S. A.; Abreu-Lima, I.; Almeida, L. S. Psicólogos escolares em Portugal: perfil e necessidades de formação. Estud. psicol. (Campinas). 2015, 32(3), 405-416. doi: http:// dx.doi.org/10.1590/0103-166X2015000300006 Moher D.; Liberati A.; Tetzlaff J.; Altman D. G. The PRISMA Group. Preferred reporting items for systematic reviews and meta-analyses: the PRISMA statement. PLoS Med. 2009 Jul;6(7):e1000097. Silva, A. M. da; Mendes, E. G. Psicologia e inclusão escolar: novas possibilidades de intervir preventivamente sobre problemas comportamentais. Rev. Bras. Ed. Esp., Marília, 2012, 18(1), 53-70. doi: https://doi.org/10.1590/S1413-65382012000100005 Souza, M. T. de; Silva, M. D. da; Carvalho, R. de. Integrative review: what is it? How to do it?. Einstein (São Paulo) [online]. 2010, 8(1), 102-106. doi: https://doi.org/10.1590/S1679- 45082010RW1134 https://doi.org/10.1590/1982-3703000442014 https://www.scielo.br/j/pe/a/dypZL3xpYQnW3FD7t8VGzwC/?lang=pt https://www.scielo.br/j/pe/a/dypZL3xpYQnW3FD7t8VGzwC/?lang=pt http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141498932010000200011&lng=pt&tlng=pt http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141498932010000200011&lng=pt&tlng=pt https://doi.org/10.1590/S1413-65382418000300008 https://doi.org/10.1590/S1413-65382418000300008 http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010384862011000200009&lng=pt&tlng=pt http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010384862011000200009&lng=pt&tlng=pt http://doi.org/10.1590/2175-35392020218322 http://doi.org/10.1590/2175-35392020218322 http://dx.doi.org/10.1590/0103-166X2015000100007 https://doi.org/10.1590/S1413-65382010000200004 http://dx.doi.org/10.1590/0103-166X2015000300006 http://dx.doi.org/10.1590/0103-166X2015000300006 https://doi.org/10.1590/S1413-65382012000100005 https://doi.org/10.1590/S1679-45082010RW1134 https://doi.org/10.1590/S1679-45082010RW1134 05 '10.37885/221110788 05 Auto estima e motivação como fatores estratégicos para melhoria no processo de ensino aprendizagem numa escola municipal de fundamental -6º ao 9º ano- DDZ Centro-sul Manaus-AM Ana Luiza Gomes de Oliveira Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI https://dx.doi.org/10.37885/221110788 RESUMO O presente artigo foi fruto de uma investigação realizada como exigência do estágio obri- gatório da Especialização em Neuropsicopedagogia, do Instituto Cosmos/Uniasselvi onde abordou-se o tema Auto estima e Motivação como fatores estratégicos para melhoria no processo de ensino aprendizagem numa Escola Municipal de ensino fundamental -6º ao 9º ano- Divisão Distrital Centro-sul-Manaus, onde buscou-se analisar de que forma os fatores de aprendizagem motivação e autoestima podem impactar na aprendizagem dos alunos do Ensino fundamental II. Buscou-se, desta forma, investigar como os dois fatores impactam no processo de ensino e aprendizagem dos alunos de como a mesma se processa, ou seja, de que maneira os alunos aprendem e também quais os fenômenos que os influenciam. Dentre os teóricos que deram escopo teórico para esta pesquisa, destacamos na temática de Motivação Oliveira (1997), Muniz (2014), Sartório (2009) e no tocante a abordagem sobre Autoestima temos Michelli (2012), Maia (2014), Maturana (2002), Romero (1995) e Relva (2014). O método utilizado para o desenvolvimento desta investigação respaldou-se no méto- do dialético, uma vez que se empreendeu uma interpretação dinâmica da realidade dos atores sociais investigados, não dissociando da análise os aspectos do contexto social e cultural dos envolvidos, bem como análise e reflexão dos fatores de auto estima e motivação como fator de incidência sobre aprendizagem, na tentativa de responder aos elementos indicados pelo corpo docente e equipe diretiva, para que, a partir do aporte teórico obtivéssemos o entendimento e possível superação do problema. Portanto, foi necessária uma escuta ativa das percepções dos professores no momento destinados para esta análise intitulada RADM- Relatório de Alinhamento de Metas e no acompanhamento do trabalho da equipe escolar, no intuito de agregar ao grupo docente, os elementos observados no decorrer da pesquisa, analisando as estratégias de aprendizagem adotadas pelos professores, as possíveis causas das dificuldades de aprendizagem dos alunos e os dados rendimento escola. Palavras-chave: Motivação, Autoestima, Aprendizagem. 58 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br INTRODUÇÃO Considerando que, a escola é a instituição que deve defender a construção integral do homem, como já foi colocado antes, e tem como finalidade assegurar um ensino de qualidade, num ambiente de intensa criatividade e respeito ao próximo, preparando o educando para o exercício da cidadania, a linha de ação pedagógica que a escola segue está fundamen- tada na teoria sociointeracionista, promovendo a integração entre os aspectos cognitivos, emocionais, físicos e sociais do educando. ConformeOliveira (1997 p.117) afirma que existe uma concordância de opiniões entre os pesquisadores de que devem investigar os motivos que levam uma criança a não apren- der, mas que muitos deles divergem quando começam a discutir as causas e a relevância de um fator sobre outro existindo diversos motivos que podem comprometer o proces- so de aprendizagem que estão relacionados aos fatores afetivos e emocionais. Segundo Oliveira (1997, p.122) Alguns alunos apresentam inteligência razoável, mas muitas vezes sofrem com seus fracassos escolares e por isso se fecham tornando mais difíceis a aprendizagem. Muitas vezes são taxados de preguiçosos ou desinteressados. Muitos apresentam falta de segurança, inibição, fala de interesse pela escola. A autoimagem e consequente autoestima estão abaladas e levam a um isola- mento dos alunos, comportamentos agressivos com os colegas e professores. Comumente, os professores nem sempre conseguem expressar-se com clareza diante os problemas de aprendizagem, quando se referem ao nível de identificação, ou mesmo, al- gumas vezes, por falta de conhecimento até mesmo referente a complexidade dos problemas. Quando se referem ao nível dos obstáculos, os professores relatam as interferências sócio afetivas, enfatizando as relações familiares, alegando que a indiferença dos pais, impacta num aluno muito carente afetivamente, apresentando falta de autoestima. A desorganização familiar, a ausência de limites, a agressividade nas relações familiares, as perdas, a falta de interação com materiais gráficos e a pobreza também são elencados como obstáculos. Ainda temos Muniz (2014) afirmando que alunos confiantes e seguros apresentam comportamentos mais produtivos e que a empatia servirá como âncora para despertar os talentos, potencializar habilidades e possibilitar que a aprendizagem ocorra. De acordo com Maturana (2002) É difícil educar para a aceitação e o respeito de si mesmo, que leva à acei- tação e ao respeito pelo outro, assim como à seriedade no fazer? Não, só que isto requer que o professor ou a professora saiba como interagir com os meninos e meninas num processo que não os negue ou castigue, seja pela forma como eles aparecem na relação, seja porque não aparecem como as exigências culturais dizem que deve ser. Esse professor ou professora pode fazê-lo porque, eles também, respeitam a si mesmo e ao outro. 58 59 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br Na Neurociência reiteram-se que sucesso e/ou fracasso do indivíduo está relacionada a capacidade do mesmo autor gerir suas emoções. Desta forma, ao analisarmos na moti- vação como fator de incidência sobre a aprendizagem fez-se necessário buscar nos diver- sos conceitos aquele que se adequasse a proposta da pesquisa. De acordo com (GRUPO CULTURAL, s.a, p.227) [...] a motivação e o rendimento acadêmico estão relacionados de tal forma, que, muitas vezes, o rendimento pode ser explicado pela motivação do sujei- to. (...). Temos dois tipos de motivação, a saber, a motivação extrínseca que consiste quando o aluno recebe algo positivo do exterior. Falando em escola é muito comum utilizar um sistema de prêmios e castigos. A motivação intrínseca é a que procede do próprio sujeito e abrange as necessidades intelectuais. Um tipo de motivação intrínseca é a motivação de sucesso (grifo do autor), pois é a que faz o estudo ser um fim em si mesmo, gerando sentimento e desejo de competência e autodeterminação. Considerando os dois tipos de motivação muitos teóricos afirmam que o uso excessivo de reforços externos pode motivar alunos até certo tempo, podendo futuramente ter resul- tados negativos porque levam o aluno a perder o interesse intrínseco e só se esforçarão quando receberem algo em troca. Contudo, ao analisarmos a autoestima como fator de incidência sobre a aprendizagem, encontramos aporte em Michelli (2012) que afirma que as condições externas de aprendiza- gem estão intimamente ligadas ao meio que a criança vive, o modo como as experiências lhe são possibilitadas, assim como a velocidade, o ritmo, as oportunidades de experimentos de vida que impactam diretamente na autoestima que compreende a confiança e respeito em si mesmos refletindo nos processos de aprendizagem. De acordo com Maia (2014, p.48) Quando o indivíduo apresenta um saldo positivo de realizações pessoais, familiares e profissionais, o resultado será bem-sucedido e com boa autoes- tima. Do contrário, tendo baixa autoestima, há muitas perdas e frustrações. A autoestima é uma característica do ser humano construída a partir das cons- truções e das reflexões que a criança vai tendo em relação ao mundo e como esse se relaciona com ela ao percorrer o trajeto de sua existência. Envolve a capacidade de refletir sobre si mesmo e avaliar a pessoa que é (...) Um dos fatores mais significativos no êxito na escola é a autoestima, pois o aluno com baixa autoestima, normalmente, considera a escola um local chato, aborrecido, e perde consequentemente, o interesse e a motivação, mas quando é potencializado em suas inte- ligências, habilidades e competências apresenta maior participação nas tarefas de aprendi- zagem. Podemos, ainda, citar Romero (1995, p. 79) 60 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br [...] nos explica sobre a importância do relacionamento com o outro, no âmbito social/escolar em torno da autoestima: [...]sentimentos de fazer parte do grupo, reconhecimento do valor pessoal por parte dos demais e conhecimento das próprias habilidades e competências. É preciso que o sujeito se sinta aceito pelo que é e pelo que pode contribuir, assim como saber sobre si e aquilo que é capaz de desenvolver. Diante do apresentado, podemos estabelecer um diálogo com Relvas (2014) que en- fatiza a importância da Neurociência na formação dos professores no sentido e promover o desafio de identificar como ocorre os processos de funcionamento do sistema nervoso central, de que forma o cérebro e a mente se relacionam transformando informação em conhecimento integrado, contextualizado, significativos, avançando no entendimento do impacto das dimensões afetivas e cognitivas envolvidos no ato da aprendizagem. MÉTODOS O método adotado para esta investigação respaldou-se no método dialético, uma vez que se empreendeu uma interpretação dinâmica da realidade dos atores sociais investiga- dos não dissociando da análise os aspectos do contexto social e cultural dos envolvidos. Quanto os fins da pesquisa, podemos afirmar que, conforme Marques (2009) os métodos de procedimento são aqueles a serem adotados nas etapas concretas da investigação, com finalidade específica para proceder à explicação dos fenômenos investigados. Portanto, ao considerar a realidade investigada, os seus aspectos e dimensões, a pes- quisa aplicada atendeu as necessidades reais apresentadas pela instituição de ensino con- siderando os pressupostos metodológicos apresentados por Fonseca (2006, p.60), quando afirma que esta modalidade de pesquisa favorece a elucidação dos problemas concretos, sejam eles imediatos ou não. No decorrer da intervenção psicopedagógica buscou-se um diagnóstico e planejamento para que fosse realizado uma intervenção adequada. Entendendo a psicopedagogia como um processo investigativo da relação do aluno como conhecimento e seus atores escolares e configura-se como uma problemática de caráter pedagógico e/ou psicológico, incluindo os ligados aos aspectos afetivos e/ou cognitivos. A escolha do tema ocorreu no decorrer dos atendimentos como assessora de gestão, na escola lócus da pesquisa, através da análise onde dos processos de gerenciais das escolas, implementado pelo Sistema de Gestão Integrada - GIDE, do Instituto Áquila – empresa con- tratada pela Prefeitura de Manaus,com o objetivo de, através, da Gestão Integrada (GIDE) possibilitar a aplicação do método PDCA nas escolas e a partir daí diagnosticar as causas dos resultados da dimensão de resultados educacionais entre outros. Portanto, estabelece que os assessores de gestão se reúnam com a equipe escolar para que sejam levantadas 60 61 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br as causas dos resultados do rendimento interno e propostas ações corretivas para reverter o baixo desempenho através da ferramenta RADM – Relatório de Análise de Desvio de Meta. Esta ferramenta contida na fase (A) – Ações corretivas do Método PDCA, tem como principais objetivos: oportunizar a análise dos desvios de resultados estabelecidos pelo pró- prio corpo docente e equipe diretiva, o Levantamento das causas que impactam nos desvios de resultados a definição das contra medidas paro a bloquear as causas raiz identificadas. Sendo que neste momento todos os professores da escola participam da elaboração dos RADMs, até mesmo os professores das turmas/disciplinas que alcançaram as metas, no entendimento de que na elaboração das ações, podem contribuir com sugestões de boas práticas que poderão fazer com que suas turmas alcancem um bom resultado. No decorrer do RADM do segundo bimestre foi diagnosticado um fator comum a grande maioria das turmas de 6º ao 9º ano, onde verificou-se na escola uma porcentagem signi- ficativa de alunos que tem dificuldade em acompanhar a aprendizagem apresentando-se desinteressados em sala de aula sinalizados pelo grupo de professores como alunos des- motivados e sem autoestima, o que gerou as seguintes hipóteses: 1) Quais são os fatores que estão impactando no processo de aprendizagem destes alunos; 2) Qual a percepção dos alunos sobre os conceitos de motivação e autoestima.; 3) De que forma a autoestima e a motivação interferem no processo de ensino apren- dizagem dos alunos. RESULTADOS E DISCUSSÕES Esta pesquisa constituiu-se num trabalho de investigação dos fatores de auto estima e motivação como fator de incidência sobre aprendizagem na tentativa de responder aos elementos indicados pelo corpo docente e equipe diretiva para que, a partir do aporte teórico obtenhamos o entendimento e para superação do problema. Percebeu-se durante o acompanhamento e intervenções junto ao corpo diretiva e docente, que a escola reagia ao problema de aprendizagem dos alunos com uma postura imobilizadora e que desconsiderava a possibilidade de analisar o que interfere em seu de- senvolvimento poderão ser fatores de ordem socioeconômica, educacional, emocional, ao intelectual ou mesmo pela forma que o ensino é conduzido em sala de aula. Portanto, durante a dinâmica realizada através da palestra “Diálogos sobre Autoestima e Motivação foi possibilitado uma reflexão dialogada com os alunos onde os mesmos fo- ram instigados a se identificarem dentre as Inteligências apresentadas, e como elemen- to de reforço da mensagem foi apresentado o Clip ao final a música “Happy” do cantor Pharrell Williams o que causou uma identificação ou a agiu como ancoragem dos conceitos 62 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br apresentados. Os alunos evidenciaram nas avaliações realizadas os seguintes relatos: “Adorei muito a professora fez nossa autoestima levantar.” “Adorei mesmo, muito bom” . “Gostamos de conhecer sobre as inteligências”. “Gostei muito a professora é muito legal também mostrou a inteligência que eu não sabia”. No decorrer da semana posterior da intervenção pode-se perceber uma relativa me- lhoria na disciplina e no comprometimento dos alunos nas atividades em sala de aula. Com base nestes elementos evidenciados durante a pesquisa, a gestão da escola decidiu realizar a premiação dos alunos destaques do 1º e 2º bimestres intitulado “Tapete vermelho” para destacar os alunos que obtiveram as melhores notas no rendimento interno e nas avaliações externas aplicadas na rede municipal de ensino. CONCLUSÃO Diante dos dados evidenciados e na receptividade dos alunos frente a intervenção, percebemos a necessidade de socializar com o corpo docente na reunião de Relatório de Alinhamento de Metas (RADM) do bimestre subsequente, as percepções e falas dos alunos sobre a intervenção. No decorrer da análise enfatizamos a necessidade de se considerar os diferentes ní- veis de desenvolvimento dos alunos e entendimento de suas inteligências, atuando em sua dimensão afetiva ao trabalhar a autoestima e motivação. Portanto, foi realizado acompanha- mento do trabalho da equipe escolar, no intuito de agregar ao grupo docente, os elementos observados no decorrer da pesquisa, analisando as estratégias de aprendizagem adotadas pelos professores, as possíveis causas das dificuldades de aprendizagem dos alunos e os dados rendimento escolar apresentados nos gráficos propostos na Gestão Integrada da Educação (GIDE) assim como na elaboração dos planos de intervenção. Agradecimentos Um agradecimento especial Escola Municipal Antísthenes Oliveira, lócus de minha pesquisa, à equipe gestora, corpo discente e docente. REFERÊNCIAS ARRUDA, M.A et all. Projeto Atenção Brasil: Saúde Mental e desempenho escolar em crianças e adolescentes brasileiros. Análise do resultado e recomendações para o edu- cador com base em evidências científicas. São Paulo: Ribeirão Preto Instituto Glia,2010. FONSECA, Luiz Almir de Menezes. Metodologia Científica. Manaus, s.ed, 2006. 62 63 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br GRUPO CULTURAL. Psicopedagogia Infanto-juvenil - PUBERDADE E ADOLESCÊN- CIA: dos nove aos dezesseis anos, s.a. MARQUES, Dorli João Carlos. Trabalhos Acadêmicos: normas e fundamentos. Manaus: Faculdade Salesiana Dom Bosco,2009. MARCHESI, Alvaro; PALACIOS, Jesús (Org.) Desenvolvimento Psicológico e Educa- ção: Necessidades educativas especiais e aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. MATURANA. Humberto R. Emoções e Linguagem na Educação e na Política. Belo Horizonte: Ed UFMG, 2002. MICHELLI, Claudia Regina Pinto. Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia. Indaial: Uniasselvi, 2012. MUNIZ, MUNIZ, Iana. Neurociências e os exercícios mentais: estimulando a inteligência cria- tiva. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2014. RELVAS, Marta Pires. Sob o Comando do Cérebro: entenda como a Neurociência está no seu dia a dia. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2014. SARTÓRIO, RODRIGO. Neurofisiologia. SC: INDAIAL. UNIASSELVI, 2009. ROMERO, Juan F. As relações sociais das crianças com dificuldades de aprendiza- gem. In: COLL, Cèsar; MARCHESI, Alvaro; PALACIOS, Jesús (Org.) Desenvolvimento Psicológico e Educação: Necessidades educativas especiais e aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. SISTO, Fermino Fernandes. Atuação Psicopedagógica e a aprendizagem. 12ª ed. Rio de Janeiro: Petrópolis, Vozes,2009 06 '10.37885/221111106 06 O psicopedagogo e sua intervenção nas dificuldades de aprendizagem Flávio Aparecido de Almeida Faculdade Unida https://dx.doi.org/10.37885/221111106 RESUMO O trabalho buscou a compreensão e análise da relevância do psicopedagogo e suas inter- venções junto às dificuldades de aprendizagem. Nesse cenário é importante uma verifica- ção capaz de compreender os processos de desenvolvimento e a trilha de aprendizagem, entendendo-se os educandos de forma interdisciplinar, buscando-se embasamento nas diversas áreas de conhecimento e aprendizagem no âmbito escolar e familiar, juntamente com os aspectos afetivo, cognitivo e biológico. O trabalho teve como objetivo geral analisar a influência do psicopedagogo em relação às dificuldades de aprendizagem apresentadas pelas criançasdo Sertão Pernambucano, Prof. Dr. Claudiomir da Silva Santos Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Prof. Dr. Fabrício dos Santos Ritá Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas, Brasil Prof. Me. Ronei Aparecido Barbosa Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Prof. Dr. Julio Onésio Ferreira Melo Universidade Federal de São João Del Rei Prof. Dr. Juliano José Corbi Universidade de São Paulo Profª. Dra. Alessandra de Souza Martins Universidade Estadual de Ponta Grossa Prof. Dr. Francisco Sérgio Lopes Vasconcelos Filho Universidade Federal do Cariri Prof. Dr. Thadeu Borges Souza Santos Universidade do Estado da Bahia Profª. Dra. Francine Náthalie Ferraresi Rodriguess Queluz Universidade São Francisco Profª. Dra. Maria Luzete Costa Cavalcante Universidade Federal do Ceará Profª. Dra. Luciane Martins de Oliveira Matos Faculdade do Ensino Superior de Linhares Profª. Dra. Rosenery Pimentel Nascimento Universidade Federal do Espírito Santo Profª. Esp. Lívia Silveira Duarte Aquino Universidade Federal do Cariri Profª. Dra. Irlane Maia de Oliveira Universidade Federal do Amazonas Profª. Dra. Xaene Maria Fernandes Mendonça Universidade Federal do Pará Profª. Ma. Thaís de Oliveira Carvalho Granado Santos Universidade Federal do Pará C O N SE LH O E D IT O R IA L M es tr es , M es tr as , D ou to re s e D ou to ra s CONSELHO EDITORIAL Prof. Me. Fábio Ferreira de Carvalho Junior Fundação Getúlio Vargas Prof. Me. Anderson Nunes Lopes Universidade Luterana do Brasil Profª. Dra. Iara Margolis Ribeiro Universidade do Minho Prof. Dr. Carlos Alberto da Silva Universidade Federal do Ceara Profª. Dra. Keila de Souza Silva Universidade Estadual de Maringá Prof. Dr. Francisco das Chagas Alves do Nascimento Universidade Federal do Pará Profª. Dra. Réia Sílvia Lemos da Costa e Silva Gomes Universidade Federal do Pará Prof. Dr. Evaldo Martins da Silva Universidade Federal do Pará Prof. Dr. António Bernardo Mendes de Seiça da Providência Santarém Universidade do Minho, Portugal Profª. Dra. Miriam Aparecida Rosa Instituto Federal do Sul de Minas Prof. Dr. Biano Alves de Melo Neto Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano Profª. Dra. Priscyla Lima de Andrade Centro Universitário UniFBV Prof. Dr. Gabriel Jesus Alves de Melo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia Prof. Esp. Marcel Ricardo Nogueira de Oliveira Universidade Estadual do Centro Oeste Prof. Dr. Andre Muniz Afonso Universidade Federal do Paraná Profª. Dr. Laís Conceição Tavares Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará Prof. Me. Rayme Tiago Rodrigues Costa Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará Prof. Dr. Willian Douglas Guilherme Universidade Federal do Tocatins Prof. Me. Valdemir Pereira de Sousa Universidade Federal do Espírito Santo Profª. Dra. Sheylla Susan Moreira da Silva de Almeida Universidade Federal do Amapá Prof. Dr. Arinaldo Pereira Silva Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará Profª. Dra. Ana Maria Aguiar Frias Universidade de Évora, Portugal Profª. Dra. Deise Keller Cavalcante Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro Profª. Esp. Larissa Carvalho de Sousa Instituto Politécnico de Coimbra, Portugal Esp. Daniel dos Reis Pedrosa Instituto Federal de Minas Gerais Prof. Dr. Wiaslan Figueiredo Martins Instituto Federal Goiano Prof. Dr. Lênio José Guerreiro de Faria Universidade Federal do Pará Profª. Dra. Tamara Rocha dos Santos Universidade Federal de Goiás Prof. Dr. Marcos Vinicius Winckler Caldeira Universidade Federal do Espírito Santo Prof. Dr. Gustavo Soares de Souza Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo Profª. Dra. Adriana Cristina Bordignon Universidade Federal do Maranhão Profª. Dra. Norma Suely Evangelista-Barreto Universidade Federal do Recôncavo da Bahia Prof. Me. Larry Oscar Chañi Paucar Universidad Nacional Autónoma Altoandina de Tarma, Peru Prof. Dr. Pedro Andrés Chira Oliva Universidade Federal do Pará Prof. Dr. Daniel Augusto da Silva Fundação Educacional do Município de Assis Profª. Dra. Aleteia Hummes Thaines Faculdades Integradas de Taquara Profª. Dra. Elisangela Lima Andrade Universidade Federal do Pará Prof. Me. Reinaldo Pacheco Santos Universidade Federal do Vale do São Francisco Profª. Ma. Cláudia Catarina Agostinho Hospital Lusíadas Lisboa, Portugal Profª. Dra. Carla Cristina Bauermann Brasil Universidade Federal de Santa Maria Prof. Dr. Humberto Costa Universidade Federal do Paraná Profª. Ma. Ana Paula Felipe Ferreira da Silva Universidade Potiguar Prof. Dr. Ernane José Xavier Costa Universidade de São Paulo Profª. Ma. Fabricia Zanelato Bertolde Universidade Estadual de Santa Cruz Prof. Me. Eliomar Viana Amorim Universidade Estadual de Santa Cruz Profª. Esp. Nássarah Jabur Lot Rodrigues Universidade Estadual Paulista Prof. Dr. José Aderval Aragão Universidade Federal de Sergipe Profª. Ma. Caroline Muñoz Cevada Jeronymo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba Profª. Dra. Aline Silva De Aguiar Universidade Federal de Juiz de Fora Prof. Dr. Renato Moreira Nunes Universidade Federal de Juiz de Fora Prof. Me. Júlio Nonato Silva Nascimento Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará Profª. Dra. Cybelle Pereira de Oliveira Universidade Federal da Paraíba Profª. Ma. Cristianne Kalinne Santos Medeiros Universidade Federal do Rio Grande do Norte Profª. Dra. Fernanda Rezende Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Estudo em Educação Ambiental Profª. Dra. Clara Mockdece Neves Universidade Federal de Juiz de Fora Profª. Ma. Danielle Galdino de Souza Universidade de Brasília Prof. Me. Thyago José Arruda Pacheco Universidade de Brasília Profª. Dra. Flora Magdaline Benitez Romero Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia Profª. Dra. Carline Santos Borges Governo do Estado do Espírito Santo, Secretaria de Estado de Direitos Humanos. Profª. Dra. Rosana Barbosa Castro Universidade Federal de Amazonas Prof. Dr. Wilson José Oliveira de Souza Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho Prof. Dr. Eduardo Nardini Gomes Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho Prof. Dr. José de Souza Rodrigues Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho Prof. Dr. Willian Carboni Viana Universidade do Porto Prof. Dr. Diogo da Silva Cardoso Prefeitura Municipal de Santos Prof. Me. Guilherme Fernando Ribeiro Universidade Tecnológica Federal do Paraná Profª. Dra. Jaisa Klauss Associação Vitoriana de Ensino Superior Prof. Dr. Jeferson Falcão do Amaral Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro- Brasileira Profª. Ma. Ana Carla Mendes Coelho Universidade Federal do Vale do São Francisco Prof. Dr. Octávio Barbosa Neto Universidade Federal do Ceará Profª. Dra. Carolina de Moraes Da Trindade Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará Prof. Me. Ronison Oliveira da Silva Instituto Federal do Amazonas Prof. Dr. Alex Guimarães Sanches Universidade Estadual Paulista Profa. Esp. Vanderlene Pinto Brandão Faculdade de Ciências da Saúde de Unaí Profa. Ma. Maria Das Neves Martins Faculdade de Ciências da Saúde de Unaí Prof. Dr. Joachin Melo Azevedo Neto Universidade de Pernambuco Prof. Dr. André Luís Assunção de Farias Universidade Federal do Pará Profª. Dra. Danielle Mariam Araujo Santos Universidade do Estado do Amazonas Profª. Dra. Raquel Marchesan Universidade Federal do Tocantins Profª. Dra. Thays Zigante Furlan Ribeiro Universidade Estadual de Maringá Prof. Dr. Norbert Fenzl Universidade Federal do Pará Prof. Me. Arleson Eduardo Monte Palma Lopes Universidade Federal do Pará Profa. Ma. Iná Camila Ramos Favacho de Miranda Universidade Federal do Pará Profª. Ma. Ana Lise Costa de Oliveira Santos Secretaria de Educação do Estado da Bahia Prof. Me. Diego Vieira Ramos Centro Universitário Ingá Prof. Dr. Janaildo Soares de Sousa Universidade Federal do Ceará Prof. Dr. Márioe adolescentes. A pesquisa foi desenvolvida por meio de uma revisão bi- bliográfica, tendo sido realizadas pesquisas em livros de variados teóricos relacionados ao assunto, juntamente com pesquisas em sites da internet, trabalhos acadêmicos, artigos e revistas. Dentre o material consultado, foram selecionados os que proporcionaram as res- postas mais adequadas e completas para o assunto abordado. Palavras-chave: Psicopedagogia, Aprendizagem, Intervenção. 66 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br INTRODUÇÃO No contexto contemporâneo, a cada dia tornam-se mais comum os debates envolven- do as dificuldades de aprendizagem envolvendo o desempenho escolar vivenciado pelos educandos. As dificuldades relacionadas ao aprendizado relacionam-se às crianças que vivenciam dificuldades para adquirir algum material teórico, ainda que possuam inteligência considerada normal, e não alguma debilidade de caráter físico, emocional ou social. Diante disso torna-se fundamental a criação de instrumentos eficientes e inovadores para a promoção do saber, da ação de aprender e de uma intervenção psicopedagogica eficaz e de qualidade voltada para o processo de aprendizagem humana que visa a supe- ração das dificuldades de aprendizagem. Os motivos que levam ao não aprendizado podem ser promovidos de diversas for- mas, dentre as quais podem ser destacadas estruturações familiares mais organizadas com base nas necessidades apresentadas pelos alunos em suas residências, juntamente com as dificuldades para ler e escrever, dislexia, além de as vezes ocorrer a escassez de educadores devidamente capacitados para o desenvolvimento nos alunos de metodologias viáveis, capazes de provocar neles o interesse pelo conhecimento nos mais variadas áreas do conhecimento humano. Nesse contexto levanta-se o seguinte questionamento: qual o papel do psicopedagogo e sua intervenção frente ás dificuldades de aprendizagem apre- sentadas pelos alunos? Nesse contexto tem-se o psicopedagogo como um tipo de profissional que busca uma maior compreensão e ações interventivas junto aos alunos em seus aspectos de cognição relacionados às dificuldades de aprendizagem. Em decorrência das necessidades apre- sentadas é possível perceber tratar-se de uma atitude de caráter qualitativo decorrente do psicopedagogo, cujo propósito é o aperfeiçoamento das relações com o processo de apren- dizagem dos estudantes e professores, tanto no âmbito educacional, quanto social e familiar. A pesquisa justifica-se em decorrência dos desafios vivenciados pelos psicopedagogos em relação ao conhecimento humano, situação que provoca a busca por condições que pro- piciem a identificação das causas e consequências que atingem o processo educativo, tanto no contexto educacional, quanto no ambiente familiar, uma vez que existe a necessidade de uma aprendizagem qualitativa direcionada para os educandos abordando seu desempenho a partir de uma aprendizagem relevante junto à sociedade contemporânea. O trabalho teve como objetivo geral analisar a influência do psicopedagogo em relação às dificuldades de aprendizagem apresentadas pelas crianças e adolescentes. Os objetivos específicos foram examinar a psicopedagogia e as intervenções nas dificuldades de apren- dizagem, analisar o papel do psicopedagogo e os aspectos da relação professor e aluno, avaliar a psicopedagogia institucional e as sugestões de intervenção psicopedagógica. 66 67 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br O trabalho foi desenvolvido por meio de uma revisão bibliográfica, tendo sido realizadas pesquisas em livros de variados teóricos relacionados ao assunto, juntamente com pesquisas em sites da internet, trabalhos acadêmicos, artigos e revistas. Dentre o material consultado, foram selecionados os que proporcionaram as respostas mais adequadas e completas para o assunto abordado. A PSICOPEDAGOGIA E AS INTERVENÇÕES NAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM O relacionamento entre família, professor e aluno deve ser visto como um incentivo a mais no ato de obter conhecimento. A psicopedagogia é um termo voltado para o estudo da aprendizagem em suas diversas formas, nos relacionamentos interpessoais e no modo pelo qual crianças e jovens são ejetados na sociedade, ocupando-se da busca em entender o que tanto afeta as crianças e os jovens no seu desenvolvimento cognitivo, na aprendizagem, nas manobras do não aprender e na consolidação do entendimento humano. Segundo Barone (2011), a psicopedagogia na relação de aprendizagem promove a relação com o saber construído, mobilizando o formato de aprendizagem do indivíduo. Desse modo, é importante compreender a área de atuação de quem atua na psicopedagogia. Para Barone (2011), a psicopedagogia cuida da identificação das dificuldades na aprendizagem que acabam comprometendo o raciocínio lógico dos seres humanos. Da mesma maneira também é necessário que a família contribua para a formação intelectual da criança ou do jovem, que por causa da dificuldade em aprender, possa se sentir incapaz para desenvolver sua rotina de aprendizagem. O ideal é que seja feito um trabalho em conjunto com a família ou psicopedagogo e a criança ou jovem quando for diagnosticado o déficit de aprendizagem. Desde o seu nascimento, o ser humano já é incluído em uma instituição social, que começa na família, passando pela escola e por fim pela sociedade (BECKER, 2003). De acordo com a sua existência o indivíduo é integrado a outras instituições. Por meio de várias atuações preventivas o psicopedagogo, junto com os professores, pais, alunos e a comunidade buscam achar as principais causas dos empecilhos de aprendizagem. Para aqueles seres humanos que encontram dificuldades para se desenvolver em um ritmo ace- lerado para obter conhecimento (FERRETTI, 2002). A aprendizagem humana é desenvolvida de acordo com as ações praticadas pela própria pessoa. Já a fonte de aprendizagem é constituída pela manifestação do desejo de aprender do indivíduo. Aprende-se mais facilmente quando se sente prazer no ato da aprendizagem e quando aquilo que é passado possui significado importante ou interessante para o indivíduo. Segundo Bossa (1994), toda pessoa tem capacidade de aprendizagem, de 68 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br assimilação e crescimento progressivo indo de encontro a uma aprendizagem completa, na qual todos colaboram com o saber, seja no lado do educador ou do educando. O aprendizado faz com que sejam acelerados os processos de evolução internos que geralmente atuam quando a criança está interagindo com o meio ambiente e com outros seres. É por meio do processo de aprendizagem que se torna possível o alcance de um alto rendimento, visto que essa qualificação não é concedida por meio de talento, mas sim, dos desenvolvimentos psicomotores. A aprendizagem das crianças e dos jovens de forma a obter-se um desenvolvimento saudável a educação psicomotora é primordial para esse quesito. Devem ser observados, no processo de aprendizado, os componentes internos e externos. Um exemplo desses dois componentes seria o desenvolvimento psíquico e motor, que são bastante diferentes em suas funções, mas que se completam na relação psicomotricidade (COSTA, 2007). Da mesma maneira que um indivíduo é ensinado, também é capaz de ensinar. Dessa forma são traçados significados para a vida. Quando ocorre o ensinamento de algo a alguém, abre-se as portas para que ela consiga sempre aprender algo a mais. A psicopedagogia age de maneira a diminuir as dificuldades de quem não consegue aprender algo, e do mesmo modo ajuda a estimular a evolução de um processo de aprendizagem semqualquer dificul- dade (GLIZ, 2009). Durante o período escolar podem ocorrer dificuldades no aprendizado, tanto na fase inicial quanto no restante do processo, atingindo cada aluno de modo diferente. Sendo fundamental a realização de uma investigação para descobrir o motivo de tal dificuldade. Independentemente do motivo ou da causa da dificuldade no aprendizado é necessário um trabalho em conjunto, tanto da parte do professor, como da família da criança ou do jovem e do psicopedagogo. É necessário fazer uma análise de todos os motivos inerentes à falha cognitiva para se chegar à principal causa da não aprendizagem. Não há constatação real de que as difi- culdades na aprendizagem sejam exclusivas de surdos, retardos mentais, cegos, autistas, disléxicos, dentre outros. Dificuldades no entendimento, sejam elas temporárias ou perma- nentes fazem parte do cotidiano dos alunos independente se serem eles deficientes ou ditos normais, e é manifestada em qualquer fase do processo escolar (PINTO, 2007). Todo indivíduo pode se deparar com barreiras ao longo da vida, mas algumas pessoas necessitam de ajuda para enfrentá-las. É preciso que a vontade dos pais e dos pedagogos sejam mobilizadas, e que eles se unam para proporcionar a disposição de recursos que ajudem a aumentar os níveis de participação e eficiência de modo geral para com os alunos, sem qualquer discriminação com os que tiverem alguma dificuldade no aprendizado. 68 69 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br A dificuldade em aprender não está relacionada exclusivamente a quem possui algum tipo de distúrbio para aprender, que aliás é bastante presente nas crianças e também nos jovens. O psicopedagogo, no desempenho de sua função, deve compreender totalmente os processos de aprendizagem humana, que se integram a outros processos de maneira a sanar as dificuldades do ser humano. Na remoção das barreiras de aprendizado é necessário que sejam dadas oportunidades no ambiente escolar e familiar, para todas as crianças e jovens que precisarem de apoio, dando informações das fases de evolução na aprendizagem de maneira integral. O aprendi- zado é um mecanismo de objetivos mútuos entre o que ensina, o que aprende e o ambiente, no qual, o resultado é fruto de um agir de modo diferente (COSTA, 2007). Com relação ao aprendizado de modo recíproco, os motivos das dificuldades em apren- der podem estar relacionados à própria pessoa que está aprendendo, ou a quem está ensinando, e até mesmo ao ambiente onde acontecem os ensinamentos. Então, caso seja feita uma análise da dificuldade no aprendizado é possível perceber que a causa não está relacionada apenas a um motivo isolado. A maneira de aprender na escola é particular, de acordo com a personalidade do alu- no. No aprendizado, é preciso que se tenha uma personalidade sadia e emocionalmente madura, que já tenha ultrapassado a fase de predominância do desempenho primário. Nesse contexto, por meio das dificuldades de aprendizagem vivenciadas por crianças e jovens, entende-se que esses problemas estão relacionados a fatores emocionais, sociais, autismo, de comportamento, problemas cognitivos, dentre outros (CORREIA, 2005). Quando a dificuldade de aprendizagem é detectada, o psicopedagogo deve fazer uma investigação envolvendo todos os aspectos que podem estar envolvidos de alguma maneira com essa dificuldade, com intuito de interferir na melhor forma possível de se acabar com essa dificuldade. Assim, quem trabalha no ramo da pedagogia deve ter a consciência de que é preciso compreender cada ser humano com um todo, e jamais de maneira isolada acerca de todos os problemas, que de maneira direta ou indireta podem resultar em alguma dificuldade na aprendizagem. É necessário compreender também a criança dentro do meio em que ela convive, entre as pessoas que vivem ao seu redor, de maneira que o psicopedagogo tenha a oportunidade de interagir também com a família, os professores e quem convive com eles no dia a dia. Dessa forma é possível que haja uma melhora absoluta na aprendizagem, já que sem a interação da aprendizagem não é possível o estabelecimento do ensino (FREIRE, 2003). Os problemas na aprendizagem não estão ligados apenas a motivos físicos ou psicoló- gicos. Se faz necessário entendê-los, por meio de um direcionamento multidimensional, na qual seja possível compreender determinados aspectos, sejam eles, afetivos, pedagógicos, 70 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br orgânicos, sociais e cognitivos, passíveis de serem percebidos no meio das conexões so- ciais e escolares. As atitudes acerca dos problemas na aprendizagem devem ser tomadas de modo mais amplo em todo o seu meio escolar e familiar. O INTERVENCIONISMO PSICOPEDAGÓGICO Na psicopedagogia é possível a realização de um trabalho preventivo, em que sua fi- nalidade é evitar as possíveis dificuldades na aprendizagem, e caso não seja possível essa prevenção antes do problema acontecer, com toda sua experiencia adquirida ao longo de sua carreira, o psicopedagogo ao tomar conhecimento da dificuldade no aprendizado deve fazer sua interpretação para que seja feita a devida intervenção. Com essa postura o psico- pedagogo ajudará o ser humano a reorganizar sua história de vida, de forma a recompor o que estava fragmentado e realinhar seu aprendizado. Entre os recursos que podem ser usados pelos psicopedagogos podem ser destacadas a entrevista com a família, a realização de investigação sobre o motivo da consulta, verifica- ção do histórico de vida da criança, contato com a escola e outros profissionais que fazem parte do cotidiano da criança, e se necessário, a realização de encaminhamento a outros profissionais. Todas essas medidas e procedimentos que forem realizados devem ser infor- madas aos pais, para que eles possam acompanhar todo o processo (CARVALHO, 2007). Diante do exposto é válido afirmar que o psicopedagogo necessita ter consciência de seu dever e responsabilidade profissional, e o mais importante saber respeitar, zelar e cuidar de cada ser humano que for cuidado por ele. Sendo assim, devem levar sempre em consideração que cada ser é único, possuindo suas singularidades e particularidades, que necessitam de respeito. A psicopedagogia busca estudar, diagnosticar, compreender, informar e cuidar dos problemas relacionados à aprendizagem, levando-se em conta todas as características ao longo da vida do indivíduo. O PSICOPEDAGOGO E OS ASPECTOS DA RELAÇÃO PROFESSOR E ALUNO Na sala de aula, grande parte dos professores não domina, de forma ampla, os cam- pos metodológicos, científicos e políticos, preocupando-se mais em transmitir o conteúdo do que com o entendimento do aluno quanto ao que lhes foi passado. Fato que pode ser percebido ao se realizar uma análise da aprendizagem, levando-se em consideração os pilares cognitivos e os vários tipos de emoções, sendo utilizado o sentimento presente en- tre a relação de professor e aluno e a maneira que o processo de ensino é feito em função dessa relação (BECKER, 2003). 70 71 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br Segundo Freire (2003), a relação entre aluno e professor é uma relação humana, na qual há alegria, angústia e até mesmo falta de interesse por parte do aluno, quando este se depara com suas dificuldades. Cada ser em uma sala de aula possui uma história diferente, um linguajar diferente, estilo diferente, uma motivação diferente, de acordo com a realidade de cada um. Na vida educativa, dentro do ramo pedagógico, o aluno é quem sempre vai atrás de uma nova determinação olhando pelo lado crítico da cultura implantada, isto é, trata-se de um serhumano em busca de agregar uma nova carga de conhecimento. Contudo, na maioria das vezes o próprio aluno não consegue enxergar esses preceitos, resultando em um comportamento angustiante na sala de aula, visto que, muitos trazem de casa o autoconceito elaborado pela relação de desenvolvimento com os pais ou com aqueles de convivência diária. Na sala de aula, o professor não deve destruir essa relação, pois o que o aluno carrega de seu convívio familiar e social não pode ser suprido de forma brusca, deve ser acrescentado a novas revelações da escola. No contexto contemporâneo, tornou-se comum as acusações referentes ao fato de professores se isentarem da própria culpa, jogando a responsabilidade no aluno ou em seus familiares pelas dificuldades na aprendizagem. Contudo existem fatores que podem ser inves- tigados, pois as causas podem estar no método usado para ensinar, de forma que a atenção e o afeto podem acabar influenciando no assunto em questão. Frente a esses problemas o psicopedagogo tende a fazer uma avaliação da maneira mais eficiente e eficaz possível. Na avaliação do psicopedagogo, no primeiro encontro com o aprendente e sua famí- lia, utiliza-se a técnica da escuta psicopedagógica, que auxilia o psicopedagogo a fazer a captação por meio das conversas, das dinâmicas ou até mesmo do silêncio, com o intuito de descobrir o motivo do não aprendizado (BARONE, 2011). No trabalho desempenhado por esse profissional é possível fazer uma composição de análise referente a cada instituição escolar, proporcionando a elas uma qualidade melhor em relação ao trabalho para os professores, promovendo, ao mesmo tempo, a estimulação das relações interpessoais, manejo no processo de ensino, métodos de trabalho com concepções mais atualizadas e desenvolvimento dinâmico acerca do planejamento da equipe escolar, colaborando para que acima de tudo seja feita uma ampliação no modo de enxergar o aluno por meio dos problemas encontrados no seu caminho de aprendizagem. Por meio do diagnóstico psicopedagógico é possível fazer a identificação dos motivos que causaram ou que estão causando os problemas na aprendizagem, deliberando como instrumento pedagógico as provas operatórias e todo o material pedagógico. É válido ressaltar que a vida contemporânea interfere nas atividades do convívio humano, isso quer dizer que o desenvolvimento de novas tecnologias nas esferas da comunicação afeta diretamente as atividades do professor (BARONE, 2011). 72 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br Diante desse fato, o educador necessita estar preparado para conseguir lidar com essas adversidades visando a inovação de sua maneira de ensino. Com o intuito de obter resultados frente ao fracasso escolar e necessário ir de encontro ao plano de prevenção das escolas, travando uma batalha para que os professores consigam transmitir seu conhe- cimento de forma prazerosa, de maneira que quem esteja aprendendo consiga entender o que for transmitido (CARVALHO, 2007). Ao tomar conhecimento do diagnóstico, o psicopedagogo e a instituição de ensino devem direcionar o ensino para o desenvolvimento não alcançado por aquele aluno que está com dificuldades no aprendizado. Desse modo, o psicopedagogo é construtor de uma espécie de ponte daquilo que o aluno tem conhecimento e o que ele precisa aprender. Nessa trajetória, é importante fazer observação das possibilidades que a criança tem e o quanto ela pode desenvolver nesse percurso. O processo de aprendizagem da criança tem início muito antes da aprendizagem na escola, e tudo o que a criança aprende na escola deriva de uma pré-história, e é com base nessas informações que o educador deve reestruturar sua prática docente, de forma que ela seja consciente, atualizada e concreta. Ao mesmo tempo torna-se possível criar víncu- los afetivos com o aluno, até mesmo com aqueles que, por algum motivo, não apresentam interesse de aprender naquela ocasião (FREIRE, 2003). Ao se aprofundar os estudos relacionados ao sistema escolar e às atividades do edu- cador tende a ocorrer um direcionamento ao começo de tudo, ao universo familiar e todas as suas peculiaridades acerca do desenvolvimento educacional. No decorrer de seu desen- volvimento a criança depende cada vez menos de sua percepção e das situações que a afetam de forma instantânea, influenciando em seu comportamento, de forma que a criança visualiza um objeto, mas age de forma diferente em relação ao que viu (FERRETTI, 2002). Com isso, a criança age de maneira independente daquilo que está enxergando. Como por exemplo, ao brincar, a criança tem o conhecimento para fazer a separação do pensamen- to e objetos, o modo aplicado no momento decorre das ideias, e não por meio das coisas. Dentre os processos de maturidade das crianças estão relacionados os processos humanos de origem nos relacionamentos sociais e entendidos pela sua relevância histórico-cultural, na relação de entender que o ser humano significa o mundo e a si mesmo, por meio das experiências sociais. É importante para o pedagogo compreender a realidade e a maneira de agir, tendo como presunção o intermédio do outro, os instrumentos e as particularidades externas de cada indivíduo, atuando na esfera física e social. O encontro da criança no seu nascimento com o mundo já pode ser considerada uma forma de aprendizagem (CORREA, 2005). 72 73 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br Neste propósito, dentre todo o material considerado relevante para que o educador atue, independente de uma atuação em espaços especiais ou comuns, é importante desta- car que as atividades e currículos que atuam potencializando o sujeito, dando maior ênfase as relações sociais, reconhecendo ainda a importância da heterogeneidade da comunidade que é trabalhada. A PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E SUGESTÕES DE INTERVEN- ÇÃO PSICOPEDAGÓGICA O trabalho do psicopedagogo nas instituições tem o intuito de fortalecer a identidade do indivíduo, e resgatar as origens dessas instituições de ensino, no mesmo instante em que busca a sintonização da instituição com a realidade vivida no contexto contemporâneo, adequando-a de acordo com as reais necessidades da comunidade. No decorrer do processo de educação, a intenção é fazer o investimento para desen- volver sua estrutura baseada na ideia de ensino-aprendizagem que seja capaz de ajudar nos relacionamentos interpessoais, além de estimular quem trabalha no ramo educativo. Nesse contexto há a estimulação de uma transformação no ramo educativo, em toda a comunidade inovando a prática escolar, estruturando os conceitos e conteúdo que tenham maior relevância, levando em conta o assunto em questão (BARONE, 2011). É importante reforçar a união entre escola e família, de modo a construir as bases para que o educando possa fazer a construção do seu projeto de vida. O material didático correto a ser usado, após passado por uma rigorosa análise, deve ser usado de forma a orientar o trabalho do educador, evitando-se seu uso exclusivamente como único meio de suas ativi- dades dentro das salas de aula. Para que seja possível a construção de um mundo melhor em relação a qualidade de vida da sociedade, os aprendentes necessitam ser capazes de enxergar o mundo de modo a interpretar, decifrar e conseguir interferir de modo seguro e competente nas tomadas de decisão. AS INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS NA SALA DE AULA E JUNTO À FAMÍLIA Juntamente com toda a equipe da instituição de ensino, o psicopedagogo se mobiliza na busca de construir o espaço concreto de aprendizagem, espaço que é voltado para a visão de processos, a partir do qual todos que estão a volta tendem a se articular e imobilizar para fazer a identificação das principais características que necessitam ser intensificadase hierarquizadas, para que a ação não seja interrompida, e sim que seja continuada impul- sionando a todos na busca do sabe. 74 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br Na formação do ser humano a escola é considerada uma parcela significativa para o crescimento dos indivíduos, e as atividades do psicopedagogo nas instituições de ensino, denominadas psicopedagogia preventiva. Têm-se a função importante de harmonizar os conhecimentos disponíveis, promovendo o desenvolvimento e construindo pressupostos de conduta que estão inseridas em um vasto projeto social, de modo a afastar e reduzir a necessidade de interrupção (SOARES, 2006). Nesse sentido, a escola faz o papel de um dos mediadores neste processo de socia- lização. Acaba se tornando um produto da população em que os indivíduos vivem e partici- pam. Na sala de aula o professor não tem simplesmente o papel de ensinar, mas também de aprender, adquirindo conhecimentos de conteúdos, maneiras diferentes de ensinar, de liderar, de dialogar, aprendendo a ser um cidadão do mundo, atualizado de acordo com a época em que vive e o seu papel de ensinar, que também se torna um papel do aprendente. Quando o professor adota essa postura voltada para a tratativa das dificuldades na aprendizagem acaba atuando de maneira preventiva, evitando que se tornem problemas ver- dadeiros. Nesse processo a família também é de suma importância, pois ao nascer a criança já interage com as pessoas de seu ciclo de convivência, e assim aprendem com o tempo a se socializarem, adquirindo características iguais às dessas pessoas. Geralmente por mais que o indivíduo passe por adaptações e alterações ao longo de sua vida, essas características também influenciam no desenvolvimento intelectual e psicológico deles (FERRETTI, 2002). À medida com que a criança vai se desenvolvendo, ela passa por fases que acabam alterando o meio em que ela vive, resultando em uma vida social mais ampla, e com isso acabam descobrindo novas coisas, se relaciona com pessoas diferentes, aparecendo novi- dades que também influenciam o seu desenvolvimento pessoal. É necessário que os pais deem suporte no dia a dia de seus filhos, para que quando cheguem à escola, eles consigam fazer sua parte junto à sociedade de um modo geral. Na esfera da educação, as instituições de ensino sempre tiveram um papel fundamental, e no contexto contemporâneo, sua função não é somente passar conhecimentos para cida- dania e o trabalho, existe também a necessidade de transmissão dos valores fundamentais para o desenvolvimento do aprendente, dividindo esse papel com a família do indivíduo. No cenário contemporâneo, as instituições de ensino e algumas famílias estão apre- sentando queixas relatando problemas escolares de alunos, as principais reclamações feita pelos docentes abordam a indisciplina na sala de aula, problemas emocionais, agressivida- de, timidez, dentre outros. Diante disso, há a necessidade de fazer uma investigação dos motivos e causas que contribuem de algum jeito para a evolução deste problema, intervindo a melhor forma possível (CARVALHO, 2007). 74 75 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br Logo depois de realizada essa avaliação, é crucial a atuação do psicopedagogo, e diante das dificuldades expostas e sabidas suas origens, propõem-se um projeto para inter- vir ir com recursos estratégias, visando a prestação de auxílio à essa criança para que ela consiga superar suas dificuldades. Desta forma os atendimentos vêm se mostrando muito eficientes em relação ao atingimento desses objetivos. Dentre os procedimentos de intervenção psicopedagógicas que podem ser feitos para minimizar, e até mesmo acabar com as dificuldades na aprendizagem podem ser destacados observar e fazer uma análise com mais atenção e rigorosidade sobre os erros dos alunos, fazer uma reformulação das práticas docentes, para que elas se aproximem ao máximo possível das necessidades dos alunos e atendam de forma completa as dificuldades por eles apresentadas. Nesse contexto recomenda-se ao psicopedagogo uma prática conjunta com o profes- sor e a instituição de ensino, sendo feita uma reflexão acerca da estrutura curricular e sua compatibilização com a estruturação cognitiva, social e afetiva do aprendente com déficit de atenção, pois para os psicopedagogos o ato de aprender está baseado no equilíbrio destas estruturas. Segundo o entendimento de Ferretti (2002), também é importante que seja avaliado o enfoque psicopedagógico na dificuldade de aprender das crianças com déficit de atenção diante do processo para se desenvolver, além do caminho de aprendizagem, estudando o perfil daquele aluno de forma individual, indo atrás de apoio em várias áreas do conhecimen- to, de forma a analisar a aprendizagem no contexto das instituições de ensino e no aspecto afetivo, biológico e cognitivo. Essas são medidas que geralmente são tomadas para que os estudantes superem suas dificuldades, conseguindo absorver de maneira geral os ensinamentos que são passa- dos. Diante disso fica claro que, por meio da intervenção pedagógica, as brechas no nível dos conteúdos das instituições de ensinos são preenchidas, o que de fato é muito útil para criança, se o motivo de seu mau desempenho for pedagógico. CONSIDERAÇÕES FINAIS As pesquisas desenvolvidas para construção deste artigo destacam a relevância do papel desempenhado pelos psicopedagogos a partir de uma interferência psicopedagógica nas dificuldades de aprendizado apresentadas pelos alunos. Dessa forma, os problemas relacionados à aprendizagem promovem uma situação verdadeira junto às instituições edu- cacionais, familiares e a própria sociedade. Apresenta-se fundamental que todas as partes relacionadas ao processo de ensino e aprendizagem sejam influenciados pelo saber, possibilitando dessa forma, uma maior 76 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br compreensão de como ocorre a extensão de fatores internos e externos de caráter escolar e familiar, juntamente com a forma com que se poderão desenvolver os trabalhos visando a redução das dificuldades de aprendizagem. Para que tal propósito seja alcançado é necessário que a instituição escolar recorra aos psicopedagogos para que, de maneira conjunta, desenvolvam um projeto investigativo visando a estruturação de ações, estratégias e intervenções psicopedagógicas capazes de contribuir na redução dos problemas relacionados à aprendizagem, uma vez que os alunos representam o objeto de mudança e de obtenção de aprendizagem. Nesse contexto, cabe ao psicopedagogo manter ativa sua procura por direcionar o educando ao retorno de sua integração ao seu cotidiano normal, sempre valorizando sua in- dividualidade. Podem ser destacadas as vantagens e viabilidades que podem ser propiciadas pela psicopedagogia, visto ser ela capaz de proporcionar mudanças a partir de ações que apoiem e incentivem tais propostas, nas quais os alunos adquirirão um aprendizado viável ao longo de sua vida. O presente trabalho viabilizou analisar a influência do psicopedagogo em relação às dificuldades de aprendizagem apresentadas pelas crianças e adolescentes, porém não se pretendeu esgotar o tema sendo necessária a realização de futuras pesquisas que se proponham ao mesmo tipo de investigação em torno do assunto para expansão do tema em questão. REFERÊNCIAS BARONE, Leda Maria Codeço; MARTINS,Lilian Cassia Basich;CASTANHO, Marisa Irene Siqueira. Psicopedagogia: Teorias da aprendizagem. Casa do Psicologo, São Paulo-SP, 2011 BECKER, Fernando. A origem do conhecimento e aprendizagem escolar. Artmed, Porto Alegre, 2003 p.14-17. BOSSA, Nádia. A Psicopedagogiano Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1994. CARVALHO, Rosita Edler. Removendo Barreiras para à aprendizagem: Educação incluída 7ª Ed. MEDIAÇÃO Porto Alegre, 2007 CORREIA, L.M.; MARTINS, A.P.; Dificuldades de Aprendizagem: Que são? Como entende-las? Rio de Janeiro, 2005 COSTA, Auredite Cardoso. Psicopedagogia e psicomotrocidade: pontos de intercessão nas dificuldades de aprendizagem. 5ª ed. Vozes, Petropolis-RJ, 2007. FERRETTI, João Celso. Avaliação da aprendizagem: construindo uma práxis. In: Te- mas em educação – Futuro Eventos. 1º Livro da Jornada de 2002. FREIRE. P. Pedagogia da autonomia. 27. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2003. 76 77 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br GLIZ, Maria das Graças Sobral. Psicopedagogia: um conhecimento em contínuo pro- cesso de construção. Casa do Psicólogo, São Paulo-SP, 2009 PINTO, Silvia Amaral de Mello. Psicopedagogia: Portal Para a Inserção Social. 3ª Ed. Petrópolis, Vozes, 2007 p. 101-120 SOARES, Dulce Consuelo R. Os vínculos como passaporte da aprendizagem: um encontro D’EUS. Rio de Janeiro: Caravansarai, 2006. 07 '10.37885/221110976 07 Pandemia e a aprendizagem infantil - percepção de pais e professores Alice Ferreira da Silva Alicia Rodrigues Boettger Rocha Mariana Dias Benedetti Maria Rita Polo Gascón Valéria Ribeiro Linard https://dx.doi.org/10.37885/221110976 RESUMO Objetivo: Investigar se a pandemia gerou impactos negativos ou não na aprendizagem infantil por meio da percepção de pais e professores. Método: Para realizar a investigação foram entrevistados 9 adultos, dois pais ou responsáveis e um professor de cada ano do 2º, 3º e 4º do Ensino Fundamental acerca da sua percepção do ensino remoto entre setembro de 2020 à abril de 2021. Resultados: Após a análise de dados, foram criadas categorias com base nos resultados para a discussão, sendo categorias de: Ordem Técnica; Ordem de Aprendizagem; Ordem Social e Ordem Emocional. Conclusão: O presente artigo permite concluir com base na análise dos resultados que a pandemia gerou impactos negativos no processo de aprendizagem infantil em crianças que estão em fase de alfabetização. Palavras-chave: Aprendizagem, Educação à Distância, Desenvolvimento da Criança, COVID- 19, Pandemia do COVID-19, Educação Online. 80 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br INTRODUÇÃO Em 2020 o mundo se encontrou em um dos cenários mais complexos de sua histó- ria, a pandemia do coronavírus 2019 ou COVID-19. De acordo com o Ministério da Saúde (2020), “A COVID-19 é uma doença causada pelo coronavírus, denominado SARS-CoV-2, que apresenta um espectro clínico variando de infecções assintomáticas a quadros graves”. Iser, Silva, Raymundo, Poleto, Schuelter-Trevisol, & Bobinski (2020), informa que a OMS - Organização Mundial da Saúde, ressalta que as variações de manifestações nos indivíduos podem se apresentar de forma leve como um quadro de gripe, como pneumonia ou como síndrome respiratória aguda grave. Para diminuir a circulação do vírus entre a população foram tomadas medidas pre- ventivas, tais como, o isolamento de casos já confirmados, o incentivo a um hábito mais presente de higienização das mãos, uso de máscaras em locais públicos e o distanciamento social (2020). O distanciamento social que buscou diminuir a interação coletiva foi o que mais afetou o dia a dia da população brasileira. Aquino et al. (2020), informam que entre as ações estavam, a interrupção de aulas presenciais em escolas e universidades, restrição de viagens nacionais e internacionais e a proibição de aglomerações. De acordo com a nota técnica Todos Pela Educação (2020, p. 3) “Já são 91% do total de alunos do mundo e mais de 95% da América Latina que estão temporariamente fora da escola devido à Covid-19”. Tanto em escolas de redes públicas, como particulares, as aulas foram suspensas por tempo indeterminado e a solução mais viável encontrada até aquele momento foi transferir o conteúdo e a presença pedagógica para o mundo digital (TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2020, p. 3). No Brasil, o método on-line veio com a intenção de reduzir os prejuízos que desencadearam com a pandemia (2020). As escolas particulares conseguiram ingressar no mundo digital com uma facilidade maior após a suspensão das aulas, já as escolas públicas tiveram seu ingresso em maio de 2020 (MEDEIROS; CARVALHO, 2020, p. 134). Com as aulas suspensas ainda no ano de 2020, os professores tiveram que se encontrar numa situação de reinvenção em suas áreas profissionais, tornando a sua casa o seu ambiente de trabalho em tempo integral, tendo exposições de trabalho improvisadas ou até mesmo jornadas exaustivas. Ainda para os autores Souza et al. (2020), os professores passaram a realizar as suas tarefas por meio de recursos tecnológicos e plataformas digitais sem terem recebidos materiais prévios ou orientações para o uso, exigindo, dessa maneira, que os professores se ajustassem ao novo formato de ensino, adequassem o seu local de trabalho e dividisse sua atenção entre as atividades profissionais e pessoais. Entendendo o papel da escola e os novos desafios dos professores, também é possível compreender que os papéis dos pais e responsáveis são diferentes dos da instituição de ensino 80 81 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br e que não é possível reproduzir as funções de um no ambiente do outro (MACEDO; DE LIMA PESSANHA; DE ALENCAR, 2020). Dessa forma, as autoras informam que um dos desa- fios encarado pelos pais e responsáveis foi a adaptação das funções da escola dentro de casa. De acordo com Carvalho e Medeiros (2020), as mudanças vieram de forma imposta e houve dificuldades de adaptação ao método adotado. Na pesquisa realizada pelos autores, as dificuldades mais relatadas pelos pais durante a pesquisa com o fechamento das escolas foi a dificuldade de acompanhar os estudantes em suas atividades acadêmicas e conciliar as aulas com o home office, sendo essa uma visão de pais de alunos de uma escola particular. Apesar do advento e do fechamento das escolas devido a pandemia de COVID-19, foi necessário a continuidade do cronograma escolar para que milhares de estudantes não ficas- sem sem estudar. Escolas tiveram que adaptar e fornecer suporte pedagógico por sistema remoto. Devido a própria fase do desenvolvimento, muitos estudantes da educação básica, podem não ter tido a maturidade ou condições fundamentais para se comprometer em assis- tir as videoaulas ou realizar as atividades sozinhos, sendo necessário a presença dos pais e de familiares exigindo uma reestruturação quanto ao tempo de trabalho e com os filhos. MÉTODO Critérios para a escolha dos entrevistados. A presente pesquisa caracteriza-se por uma pesquisa de campo do tipo exploratória baseada em análise qualitativa. O procedimento qualitativo consistirá na coleta de dados das informações por meio de uma entrevista semiestruturada com o objetivo de confirmar ou negar a hipótese de estudo. Com isso, teve-se como objetivo principal realizar uma pesquisa de campo do tipo exploratória qualitativa a partir de dois instrumentos construídos pelas autoras, sendo um questionário sociodemográfico e uma entrevista semi-estruturada, com o intuito de investigar e a analisar se a pandemia de COVID-19 gerou impactos negativos ou não no processo de aprendizagem infantil sob uma perspectiva dos pais ou responsáveis e dos professores, pelo cumprimento das atividades pedagógicas com as crianças do 2º ao 4º ano do Ensino Fundamental que estavam no processo de alfabetização em 2020. Critério de inclusão e exclusão dos entrevistados. Assim, a hipóteseé de que a pandemia de COVID-19 gerou impactos negativos no processo de aprendizagem infantil em crianças que estudaram do 2º ano ao 4º ano do Ensino Fundamental no ano de 2020. De acordo com o Ministério da Educação (2018), no 82 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br documento Base Nacional Comum Curricular, a alfabetização deve ocorrer até o 2º ano do ensino fundamental e os seguintes anos iniciais do ensino fundamental são reservados para o desenvolvimento do que foi aprendido durante a alfabetização. Dessa forma, foram escolhidos o 2º ano, 3º ano e 4º ano do ensino fundamental para compreender os impactos no processo de aprendizagem infantil no processo de alfabetização e o seu desenvolvimen- to. Foi eliminado o 1º ano do ensino fundamental, pois entende-se que 2020 foi o primeiro contato dos alunos com o ensino fundamental, contato esse já realizado pelo ensino remoto. Sendo assim, foi optado pelos anos em que as crianças tiveram contato com o processo de aprendizagem de forma presencial, o que ocorreu apenas em 2019. Os critérios de inclusão foram ser brasileiro (a), ter idade igual ou superior a 18 anos e ser pais ou responsáveis por crianças do 2º ao 4º ano do Ensino Fundamental e ser profes- sor de crianças que estavam entre o 2º ao 4º ano do Ensino Fundamental. Foram excluídos da pesquisa todos aqueles que não se enquadram nos critérios de inclusão. As entrevistas foram realizadas no mês de março de 2021 de maneira individual. A pesquisa foi ao todo realizada com nove voluntários, sendo duas mães de alunos do 2º ano, duas mães de alunos do 3º ano e duas mães de alunos do 4º ano. Os dados sociodemográficos das mães encontram-se na Tabela abaixo: Tabela 1. Dados sociodemográficos dos participantes. Item Participantes F.1 F.2 F.3 F.4 F.5 F.6 Idade 48 41 47 35 42 45 Estado Civil Casada Casada Casada Casada Casada Casada Estado de Residência SP SP SP SP SP SP Filho 2ª ano 2ª ano 3ª ano 3ª ano 4ª ano 4ª ano Escola Pública Pública Pública Pública Pública Pública Ocupação Empregada Autônoma Empregada Autônoma Desempregada Empregada Nota. F(1) = familiar; SP = São Paulo Também foram entrevistadas uma professora do 2º ano, uma professora do 3º ano e uma professora do 4º ano. Os dados sociodemográficos das professoras encontram-se na Tabela abaixo: 82 83 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br Tabela 2. Dados sociodemográficos dos participantes. Item Participantes P.1 P.2 P.3 Idade 39 43 33 Estado Civil Divorciada Divorciada Casada Estado de Residência SP SP SP Ano que leciona 2ª ano 3ª ano 4ª ano Escola Particular Particular Pública Nota. P(1) = professor; SP = São Paulo O processo de análise se deu pela construção da análise de conteúdo realizada pela psicóloga Laurence Bardin em sua obra original. De acordo com Laurence Bardin (1977, p. 31) “A análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise de comunicações.” Ainda para a mesma autora Laurence Bardin (1977, p. 31), a análise de conteúdo “Não se trata de um instrumento, mas de um leque de apetrechos; ou, com maior rigor, será um único instrumento, mas marcado por uma grande disparidade de formas e adaptável a um campo de aplicação muito vasto: as comunicações”. Os dados coletados por meio das entrevistas foram analisados conforme as etapas que são necessárias para a realização da análise de conteúdo. De acordo com Machado (2020), a análise de conteúdo possui diferentes fases necessárias para a compreensão do conteúdo, sendo eles: 1) a pré-análise, 2) a exploração do material e 3) o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação. O referencial teórico foi dirigido e formulado com base na Teoria Social Cognitiva de Albert Bandura e artigos científicos sobre as temáticas encontradas na pesquisa. O projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade São Judas com CAAE 40372620.6.0000.008. RESULTADOS E DISCUSSÃO Ao realizar a leitura exaustiva das entrevistas conforme sugerido por Bardin (1977), foi possível encontrar 5 categorias mais presentes nas relações dos entrevistados, sendo elas: 1) Ordem Técnica, pelas dificuldades encontradas durante todo o processo de aprendi- zagem, seja pela falta de conhecimento em relação ao uso dos equipamentos ou pela falta de acessibilidade dos mesmos. 2) Ordem de Aprendizagem, pelas diversas mudanças de planejamento ou dificuldade de atenção e concentração por parte dos estudantes, bem como a reinvenção e adaptação necessária dos entrevistados para que pudesse ser realizadas as atividades, é importante ressaltar que nessa categoria houve percepção positiva e negativa acerca do tema. 3) Ordem Social, pela falta de socialização nas relações humanas que são consideradas importantes para o desenvolvimento humano. 84 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br 4) Ordem Emocional/Psicológica, este é um tópico importante que surgiu durante a coleta de dados, embora não fosse foco do tema de pesquisa, resultando no relato dos en- trevistados em como estavam se sentindo emocionalmente afetados pelas condições vividas. 5) Ordem Ambiental que não foi abordada, pois sua discussão não foi significativa ao objetivo da pesquisa. Para melhor compreensão e facilidade da leitura, os participantes serão identificados como F. 1, F. 2, F. 3, F. 4, F. 5, F. 6, P. 1, P. 2 e P. 3. Sendo F. os familiares e P. os pro- fessores. De acordo com os entrevistados, as escolas públicas e particulares adaptaram as aulas de maneiras diferentes. Na rede privada, os professores mencionaram que as aulas foram adaptadas para o formato de vídeo chamada, na qual o tempo de aula era o mesmo das aulas presenciais e algumas escolas tiveram seu retorno presencial ainda em outubro de 2020. Já na rede pública a adaptação foi diferente, sendo as aulas on-line na televisão em canal aberto. Os professores ficaram encarregados de passar atividades por meio de um drive on-line, onde os alunos baixavam as atividades e as realizavam, logo após adicionavam a atividade realizada novamente ao drive. A comunicação com os professores da rede pública foi principalmente pelo WhatsApp para orientações e auxílio de acordo com as dúvidas dos pais e alunos. Alguns colégios públicos por iniciativa própria criaram outros caminhos para auxiliar no processo de aprendizagem e antes da utilização do drive os pais compareciam presencialmente nas escolas para retirarem as atividades. No início da pandemia e do isolamento social até a realização da presente pesquisa, não houve retorno presencial das atividades de escolas públicas . Ordem Técnica - Pais/responsáveis x Professores Essa categoria teve como objetivo identificar se houve dificuldade por parte dos entrevistados quanto ao uso da tecnologia e os recursos necessários para a realização da aprendizagem. Ainda de acordo com o Decreto Nº 9.057: Art. 1º Para os fins deste Decreto, considera-se educação a distância a modalidade educacional na qual a me- diação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocor- ra com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com pessoal qualificado, com políticas de acesso, com acompanhamento e avaliação compatíveis, entre outros, e desenvolva atividades educativas por estudantes e profissionais da educação que estejam em lugares e tempos diversos. (Decreto Nº 9.057, 2017, p. 1) A distância nessa perspectiva, de acordo com Oliveira e Santos (2020), deve ser en- tendida como uma separação geoespacial entre aqueles que estão envolvidos no processo 84 85 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1- Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br educacional, podendo ser os estudantes como também os professores. Partindo dessa ideia, os autores apresentam dois meios diferentes de se ter educação a distância, por meio de videoconferências, onde os alunos estão juntos, mas em lugares distintos do professor ou por meio da internet, onde alunos e professores estão em locais diferentes e possuem acesso aos materiais e recursos didáticos de maneiras diferentes. Sendo assim, essas duas modalidades evidenciam esses recursos proporcionados pelo Ensino a Distância. Por parte dos pais/responsáveis, foi observado que a maioria relatou que houve difi- culdades na adaptação ao modelo virtual. Foi relatado as dificuldades do não conhecimento de como usar os equipamentos de tecnologia por parte dos pais/responsáveis e dos profes- sores, a falta de aparelhos tecnológicos e instabilidade nos recursos tecnológicos utilizados. Quanto aos professores foi observado que esse público em questão teve mais dificulda- de quanto aos recursos tecnológicos, dividindo as dificuldades nas seguintes subcategorias: Adaptação à forma on-line Com a pandemia, grande parte dos setores e áreas da sociedade se encontraram na obrigação de precisar se reinventar ou se adaptar às suas atividades. Em 2020, a Educação a Distância foi o meio mais viável e alcançável que as instituições de ensino en- contraram para poderem continuar levando o acesso à educação a todas as pessoas (OLIVEIRA; SOUZA, 2020). É possível também afirmar que a maioria dos professores tiveram dificuldades em se adaptar ao ensino on-line, uma vez que muitos deles estavam acostumados apenas com as aulas presenciais e o contato diário com o aluno. É possível identificar essa questão no relato abaixo: P. 1 “ [...] na verdade as ferramentas digitais pra mim foi muito complicado no início [...], então até eu me adaptar eu apanhei bastante, aí foi indo, e a segunda coisa que foi difícil pra mim foi estar pensando em que recurso estar utilizando para chamar a atenção das crianças né.” Acessibilidade ao equipamento A maioria dos professores relataram ter tido dificuldades em relação à mudança das aulas presenciais para o ensino remoto. A maioria relata a falta de recursos necessários para o acesso aos softwares tecnológicos e até mesmo encontrar algo que fosse ideal para cada turma e aprendizado, bem como o avanço das novas ferramentas tecnológicas. Como relatados nos seguintes trechos: P. 3 “ [...] a gente se adaptou, pegou os nossos equipamentos próprios né, essa foi uma dificuldade nossa também, porque a gente teve que adaptar o nosso serviço porque 86 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br até então o estado não nos deu nada, a gente tava fazendo tudo de casa, então a gente teve que adaptar tudo isso pra estar trabalhando com as crianças [...].” P. 1 “nós tivemos que mudar principalmente por conta dos recursos, como eu te disse né, a gente via que não estava funcionando tal recurso, então a gente tinha que pra poder levar a aprendizagem ali pra criança” Pontos positivos dos recursos tecnológicos Quando se trata da rotina, foi notado um aumento na rotina de trabalho e o uso das mídias e digitais como o principal recurso estratégico no auxílio das atividades. Quanto às estratégias educacionais, professores contaram com o apoio dos pais para a realização das atividades, mas também houve um aumento de preocupação quando se trata de organizar um tempo para conversar com os alunos. É importante ressaltar que houve percepção positiva dos três professores acerca das atividades que acontecem on-line, sendo dois de escola particular e um de escola pública. Para os entrevistados, a presença da tecnologia fez com que existisse a possibilidade de manter as aulas e que também houvesse uma maneira de tentar facilitar o contato com o aluno via WhatsApp e aulas realizadas pelo Google Meet. Ordem de Aprendizagem - Pais/responsáveis x Professores Nesta categoria buscou-se analisar a percepção dos pais/responsáveis e professores sobre os aspectos da aprendizagem das crianças durante a pandemia e como isso afetou o desenvolvimento da aprendizagem de cada um. Tabile e Jacometo (2017), informam que a aprendizagem é estruturação particular por meio de mudanças nos comportamentos, sendo um processo complicado que abrange noções cognitivas, emocionais, orgânicas, psicos- sociais e culturais. Afirmam ainda que “O processo de aprendizagem acontece a partir da aquisição de conhecimentos, habilidades, valores e atitudes através do estudo, do ensino ou da experiência” (TABILE; JACOMETO, 2017, p. 79). Lefrançois (2008), informa que Albert Bandura desenvolveu a Teoria Social Cognitiva que é conhecida como aprendizagem por observação. Bandura diz que a aprendizagem acontece com base de um modelo e esse processo de aprendizagem baseia-se na inter- pretação que se faz desse modelo pelas circunstâncias cognitivas e emocionais (TABILE; JACOMETO, 2017). Os modelos orientam o indivíduo a como realizar determinados com- portamentos, assim como conhecer as consequências de suas ações (LEFRANÇOIS, 2008). 86 87 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br Pontos Positivos x Pontos Negativos De acordo com Azevedo (1997), a teoria de Bandura aborda alguns temas que com- põem a Teoria Cognitiva Social na aprendizagem. Um deles é a Teoria da Modelação, na qual ele informa que há três formas de modelação. A primeira é pela aprendizagem observacional de um novo comportamento, que se caracteriza pela necessidade de o modelo inserir informações prévias para que o novo com- portamento ocorra. A segunda é pela facilitação de um comportamento anterior aprendido, que se dá pela expressão de um comportamento aceito pela sociedade, comportamento esse que não acontecia anteriormente por falta de motivação. Já a terceira é a diminuição ou aumento de um comportamento já aprendido, que consiste na observação de um mo- delo que influencie o sujeito a ser mais ou menos propenso a realizar um comportamento (AZEVEDO, 1997). Nos relatos das entrevistas quando se trata de aspectos negativos, a maioria dos pais/responsáveis relataram dificuldades por parte das escolas em oferecer um conteúdo que de fato ajudasse as crianças no processo de alfabetização. Vale ressaltar que os pais/ responsáveis em 2020, tinham seus filhos matriculados em escolas públicas e no decorrer das entrevistas informaram que as dificuldades das escolas se deram pela diretoria de en- sino e não pelo corpo docente da escola. Além disso, há relato por partes dos entrevistados das dificuldades que as crianças tiveram para compreender as atividades e tarefas sem o auxílio do professor, principalmente porque a maioria dos conteúdos tiveram que ser resu- midos e replanejados. Em relação aos aspectos positivos, é possível concluir que a maioria dos pais/res- ponsáveis considera que as únicas ações a serem consideradas positivas são questões de ordem físicas e materiais como a locomoção do aluno, o cuidado mais próximo em relação a saúde, a flexibilidade de poder resolver os problemas com mais praticidade e a facilidade das crianças da nova geração em conseguir aprender rápido a mexer nas novas tecnologias. Compreendendo a Teoria da Modelação, sendo ela a aquisição, aprimoramento e/ou o aumento e diminuição de um comportamento com base em um modelo, entende-se que não houve como realizá-la pelo pouco contato que os alunos tinham com seus professores. Assim, não houve a possibilidade de adicionar novas informações de forma adequada, como também acompanhar a aquisição dos conhecimentos anteriormente estudados. Quanto aos professores entrevistados, a falta de acessibilidade da maioria dos alunos com os recursos tecnológicos,como a adaptação e reinvenção do professor e a redução do conteúdo escolar foram os aspectos mais negativos para a aprendizagem, já nos pon- tos positivos, dois professores relataram haver em relação à aprendizagem, ambos são de escolas particulares e em suas avaliações puderam afirmar que houve aprendizagem por 88 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br parte das crianças nessa nova modalidade de ensino. Como observado por um dos relatos dos professores de escola particular: P. 2 “[...] eu acredito que trouxe, trouxe um positivo sim pra eles, que tanto a gente como teve que se reinventar, eles também na forma de criar novos trabalhos. [...] então o que era antes e o que é hoje você vê que eles, eles, eles estão mais, como eu posso dizer, eles, é como assim estão colocando mais pra fora o que eles sentem, o que eles acham, então isso muitas vezes é positivo.” Nas escolas particulares, na qual dois professores trabalhavam, o contato com o aluno era mais próximo e assim os professores tiveram a oportunidade de inserir novos conhe- cimentos, motivar seus alunos e acompanhar o desenvolvimento deles com os conteúdos abordados em aula. Dificuldade de atenção Lefrançois (2008), informa que processos de atenção, retenção, reprodução motora e motivacionais são incluídos na aprendizagem observacional de um novo comportamento.O autor relata que os processos de atenção se dão pela atenção que o sujeito dá para um possível modelo. A atenção é dada pela importância que o modelo tem para o indivíduo ou a relevância que tal comportamento possui. Outros fatores importantes são a facilidade e dificuldade de emitir o comportamento como também a qualidade do modelo apresentado e o benefício que esse comportamento pode gerar. O autor também explica que compor- tamentos mais complicados de compreender e/ou realizar, muito ou pouco habituais tem a tendência de chamarem menos a atenção do indivíduo. Em seus relatos os professores informaram sua percepção em manter os alunos atento às aulas on-line, relatando que presencialmente já é um trabalho difícil a ser realizado e com as aulas a distância acabou piorando, essa subcategoria portanto foi a considerada mais difícil por parte dos professores. Os pais/responsáveis também notaram que as crianças desviavam sua atenção para outras atividades. Essa piora na atenção pode ter ocorrido pela mudança de ambiente do aluno, de manei- ra que ele teve acesso a outros estímulos mais atrativos, como também menos complicados de compreender e realizar. Forma de Ensino x Mudança no Planejamento Outro ponto abordado por Azevedo (1997), é a aprendizagem de Forma Atuante e Vicariante. A primeira diz respeito a aprendizagem pela execução e a experiência com ela, já na segunda a aprendizagem se dá pela observação direta do modelo, como por leitura e 88 89 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br outros materiais observáveis. Ele complementa que quando a aprendizagem é mais com- plexa é necessário a utilização de ambas em conjunto. A subcategoria forma de ensino foi identificada nas entrevistas realizadas com os pais/ responsáveis e a maioria deles relataram mudanças na forma de ensino utilizada pela esco- la, como diminuição no horário de aula, tarefas mais pontuais, ausência de contato com o professor do aluno, aulas on-line para o Brasil inteiro e muitas vezes o material escolar que se perdia nos drives on-line utilizado pela instituição, como exemplificado no relato abaixo: F. 5 “Porque na verdade elas nem tem aula on-line com a professora, tudo é uma matéria que vem pelo aplicativo Google Class e a gente faz e manda para eles de volta.” Já a subcategoria mudanças de planejamento foi identificada nas entrevistas com os professores que relataram haver a necessidade de mudanças no seu planejamento e reali- zar coisas que antes nunca haviam sido realizadas, como por exemplo tornar as aulas mais lúdicas de maneira a despertar atenção nas crianças, mudanças na realização de atividades práticas de maneira a facilitar a realização dessas, mudanças no horário em relação ao aten- dimento das crianças e na forma como atendê-los, como exemplificado no relato a seguir: P. 3 “[...] mesmo a gente passando as aulas, eles tiverem que, a gente teve que se adaptar a eles em relação a isso né, tivemos que mudar o planejamento em relação às ati- vidades mais práticas, mais fáceis deles tarem entendendo, [...]” Pelas mudanças realizadas na forma de dar aula, os alunos obtiveram aprendiza- gem apenas de forma vicariante, tendo menor experiência nas atividades passadas pelos professores. Auxílio dos pais x Contato com o professor Azevedo (1997), relata que a autoeficácia é a capacidade do indivíduo compreender as habilidades que tem para a realização de seus comportamentos. Lefrançois (2008), diz que o entendimento da autoeficácia se dá por quatro aspectos, sendo os impactos de um comportamento, o resultado de comparações dos comportamentos, a convicção de suas capacidades pela percepção particular e de terceiros e o emocional. E completa que esses aspectos se baseiam, em parte, pelos pais/responsáveis e professores e assim eles devem expor atividades em que há oportunidade de vivenciar o sucesso por parte da criança. Schumuck e Scumuck (1997, apud, LEFRANÇOIS, 2008, p.390) informam que os alunos devem trabalhar tanto individualmente como em grupo a fim de que cada criança se sinta autor da realização de suas atividades, sendo o professor quem irá incentivar esse acontecimento. O autor diz que se o professor relata para o aluno que ele é ou não capaz de realizar uma atividade isso vai influenciar na crença da criança de ela ser capaz ou não de realizar tal atividade. Lefrançois (2008), também comunica que para a 90 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br aprendizagem os professores são um dos modelos mais importantes, sua fala e comporta- mento influenciam na construção da autoeficácia da criança, na qual ela se sinta capaz em suas realizações. Caso não haja uma boa autoeficácia, a criança tende demonstrar menos interesse e se sentir mais ansioso. Nas entrevistas, foi relatado pela maioria dos pais/responsáveis as dificuldades que eles tiveram em auxiliar as crianças em casa nas atividades escolares, muitos relataram a frustração em ser cobrados por algo que eles não foram treinados para fazer, como ser professor. Algumas dificuldades surgiram por parte dos pais/responsáveis, como criar ações que fizessem as crianças terem atenção, além de terem que adaptar suas rotinas conforme a rotina das crianças. Complementando ainda essa temática, muitos pais/responsáveis re- lataram a importância do contato direto com o professor e como a ausência desse contato afetou a aprendizagem, a falta de contato visual, a ausência do professor sentida pelas crianças e o próprio professor das crianças que pudessem acompanhá-las, além disso, um aspecto importante a considerar é que a maioria dos pais/responsáveis relataram que se a pandemia não estivesse em um risco tão alto eles preferiam mandar as crianças para as escolas novamente. Com as aulas em casa os pais/responsáveis foram os responsáveis pelo contato das crianças com a aprendizagem, porém, eles notaram que não obtinham o conhecimento e habilidades técnicas que os professores possuem. Foi notado que houve a falta do professor como modelo, motivador e mediador de conhecimento. Assim, as crianças tiveram menos conhecimento de suas capacidades, podendo ser esse um dos fatores para que os alunos não tivessem interesse nas aulas remotas. Apoio da Escola x Ausência dos Pais/responsáveis Foi conversado com os pais/responsáveiso papel da instituição escolar no processo de aprendizagem. Vale ressaltar que todos os pais/responsáveis entrevistados tinham seus filhos matriculados em escolas públicas, na qual a dinâmica de ensino não é estabelecida apenas pelo corpo docente. A maioria dos pais/responsáveis informaram que os professores e as escolas no qual seus filhos estavam matriculados se esforçaram para atender os alunos da melhor forma, criando estratégias para que a aulas pudessem ser continuadas no formato remoto e tendo auxílio deles. Porém, apesar dos esforços, alguns pais/responsáveis relataram falhas no ensino conforme descrito abaixo: F. 6 “É uma boa escola, mas ainda precisa melhorar mais. Não é por causa da escola, às vezes é o estado que não dá, que não manda mais […] os professores é que são bons, mas não às vezes não manda um ensino melhor. [...] 90 91 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br Com os professores, foi discutido sobre a ausência dos pais/responsáveis no momento de auxiliar no processo de aprendizagem. Apesar dos professores terem notado essa au- sência, os motivos foram diferentes na rede pública e na rede privada. Os professores da escola privada contaram que a ausência do pai/responsável se deu nos horários em que a aula ocorria, horário em que muitos estavam trabalhando e por isso não conseguiam acompanhar as aulas com os filhos. Já o professor da escola pública comunicou que a ausência se deu pela dificuldade de se adaptar ao ensino remoto, falta de tempo e por não quererem auxiliar o filho. Na rede pública ainda foi ressaltado que alguns pais/responsáveis também não acompanhavam a educação do filho de forma presencial, pois entendiam que esse era um papel exclusivo da escola, e assim quando migrado para o ensino remoto a postura continuou a mesma. Além dos professores terem dificuldade de auxiliar os alunos, por motivos que lhes fogem ao controle, os professores notaram que houve pais/responsáveis que não tentaram auxiliar no processo de aprendizagem, motivando, mediando o conhecimento e sendo um modelo. Dessa forma, as crianças tiveram menos acesso à aprendizagem e assim menos conhecimento de suas capacidades. Reinvenção Além da dificuldade de atenção das crianças nas aulas on-line, a maioria dos profes- sores relataram que tiveram que se reinventar como profissionais em suas áreas. Os professores que lecionam na escola particular tiveram maior contato com os alunos e ao se reinventarem conseguiram realizar a Modelação para a Instrução. Azevedo (1997), informa que a Modelação para a Instrução é onde o professor explica o comportamento a ser adquirido usando-se de exemplos e demonstrando como se realiza, para então mostrar o resultado aos alunos. Em seguida, o professor irá auxiliá-los a realizar o comportamento verificando se eles compreenderam o que foi solicitado. Por fim, ao notar que os alunos estão realizando de forma correta, o professor só monitora a atividade, deixando os alunos realizarem o comportamento de forma independente. Ordem Social - Pais/responsáveis x Professores Essa categoria foi identificada após a leitura exaustiva do material, na qual há presença na maioria dos relatos de pais/responsáveis e professores sobre o quanto a socialização é importante para o desenvolvimento da aprendizagem e o quanto a falta disso impactou no processo de educação. 92 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br Socialização A maioria dos pais/responsáveis relataram que a falta de interação das crianças com outras crianças foi prejudicial à aprendizagem. Também informaram que os filhos sentiam falta de estar com outras crianças, brincando, conversando e ajudando umas às outras em suas dúvidas, facilidades e dificuldades. Junto à interação com outras crianças, os pais/res- ponsáveis expressaram a necessidade da interação da criança com o professor, tanto pela comunicação do aluno com o professor, como pela postura mais assertiva que o professor tem em sala de aula. Um dos pais/responsáveis ainda ressaltou que a difícil relação do pro- fessor com seu filho influenciou na aprendizagem antes do ensino remoto ser uma realidade. F. 2 “ [...] eles fazem parzinhos com esses outros alunos, então assim, [...] ele fazia par pra ajudar os colegas que tinha dificuldade, então a professora explicava, ele fazia exercício junto, ele ajudava a explicar e ele acha isso muito legal, ele ama ajudar, entendeu. Então o fato de estar junto é necessário.” Socialização também foi um tema notado nas entrevistas realizadas com os profes- sores. Os professores informaram que a interação com os alunos é um fator importante na aprendizagem. A maioria relatou que é necessário criar um vínculo com o aluno para poder transmitir da melhor forma a aprendizagem. Dessa forma, de acordo com o relato dos professores e pais/responsáveis, é neces- sário que haja interação entre os alunos uns com os outros e com o professor. Com essa interação as crianças têm maior proveito da aprendizagem por observação tendo o profes- sor e os outros colegas como modelos. Porém, de acordo com as entrevistas, a interação ocorre melhor nas aulas presenciais, sendo assim, os alunos tiveram déficit no processo de aprendizagem. Ordem Emocional/Psicológica - Pais/responsáveis x Professores x Crianças Essa categoria foi identificada após a leitura exaustiva do material, na qual há presença na maioria dos relatos de pais/responsáveis e professores em como a saúde emocional e psicológica dos alunos, professores e pais/responsáveis influenciaram no desenvolvimen- to da aprendizagem e o quanto as emoções sentidas por ambos os públicos impactou no processo de educação. Emoção e Adaptação das Crianças Para Livingston (1985, apud, NOGUEIRO; SANTOS; FONSECA, 2014, p.8), “os sinto- mas de depressão podem se manifestar de diversas maneiras no ambiente escolar, alguns deles podem ser tristeza, mudança na disposição em realizar as atividades, isolamento, 92 93 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br fracasso escolar, pensamentos negativos e diminuição do rendimento”. Ainda para Nogueira, Santos e Fonseca (2014): [...] as áreas cognitivas, como a atenção e a concentração, são afetadas pela depressão na infância. Ou seja, a criança pode apresentar perda significativa da atenção nas aulas, levando ao desinteresse e dificuldades para se concentrar em determinados conteúdos ocasionando assim dificuldades de aprendizagem. (NOGUEIRA; SANTOS; FONSECA, 2014, p.08) Ambos os pais/responsáveis e professores notaram impactos psicológicos nas crian- ças. A maioria dos pais/responsáveis informaram que os filhos estavam estressados, às vezes não queriam realizar as atividades e que sentiam falta da escola e dos colegas. Os professores da rede pública e privada informaram impactos de forma diferen- te. Na rede privada foi notado que os alunos estavam cansados e por vezes com medo do cenário da pandemia COVID-19. Já na rede pública o professor relatou que os alunos estão convivendo de forma muito próxima às internações e mortes por COVID-19 e que há casos de depressão e tentativa de suicídio por parte dos alunos. P. 3”[...] é que o problema maior das crianças agora não é só a aprendizagem né, eles têm um problema o psicológico que ta gerando muito grande neles, nós mesmo temos casos de crianças que estão com depressão, que tem crianças que estão se suicidando né [...].” Emoções x Apoio A maioria dos pais/responsáveis informaram que se sentiam estressados com o en- sino remoto, pois além das aulas tinham outras atividades na qual requeriam sua atenção. Também informaram que em alguns momentos tiveram que abrir mão de realizaralguma atividade doméstica ou de trabalho por estarem sobrecarregados. Dois pais/responsáveis relataram que chegaram a adoecer. F. 3 “Eu cheguei até a falar para a professora, pelo amor de Deus me ajuda, porque eu não estava mais aguentando, [...] eu me sinto muito sufocada, porque eu preciso fazer as minhas coisas [...].” Dois pais/responsáveis relataram ter tido apoio de outros membros da família com alguns aspectos da educação e um pai/responsável comunicou que chegou a contratar um professor particular para auxiliar na aprendizagem, porém nenhum relatou ter tido ajuda psicológica profissional. Os professores também comunicaram ter tido impacto emocional. Todos os professores relataram ter passado por momentos de choro devido à dificuldade na adaptação ao ensino remoto. Os da rede privada também informaram frustração, agonia e impotência e da rede pública informou estresse. Dois dos professores relataram que chegaram a adoecer. 94 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br P. 3 “[...], mas assim foi muito, foi muito estressante, o meu psicológico fica, fica bem abalado [...], então pra mim foi muito estressante, eu fiquei até um tempo meio doente, a maioria dos professores ficaram [...].” Embora o foco das pesquisadoras não tenha sido abordar impacto na saúde emocio- nal das crianças, pais/responsáveis e professores, é importante ressaltar que surgiu com frequência durante as entrevistas os relatos de mães e professoras quanto ao adoecimento mental sentido por elas em decorrência das mudanças realizadas por conta da pandemia. CONCLUSÃO A partir da análise de dados das 9 entrevistas realizadas, foi possível categorizar os dados de maneira semelhante a formarem cinco categorias mais presentes nos relatos, sendo eles de ordem técnica, aprendizagem, social, emocional e ordem ambiental, sendo a ordem ambiental não abordada com mais detalhes pois sua discussão não foi significativa ao obje- tivo da pesquisa, mas pode ser identificada nas transcrições das entrevistas. Os resultados analisados permitiram concluir que a pandemia gerou sim impactos negativos no processo de aprendizagem infantil, confirmando assim a hipótese de pesquisa. Para os entrevistados houve um déficit na aprendizagem do Ensino Fundamental I, na qual as crianças aprenderam pouco ou nem sequer aprenderam no ano de 2020. Szegö (2021), relatou que em março de 2021 o Brasil se tornou o epicentro do COVID-19, epidemia essa que se complicou no país desde seu início. Notou-se o impacto dela em todos os setores sociais no Brasil e com a educação não seria diferente. Dessa forma, era de se esperar que a educação, a base para o desenvolvimento do ser humano, tivesse sido impactada de forma negativa e as pesquisadoras entendem que o Brasil não teve estrutura para a realização da adaptação do ensino e que as estratégias utilizadas pelas redes públicas de ensino não trouxeram benefícios às crianças, trazendo ainda mais complexidade no processo de alfabetização infantil. Notou-se que estratégias que tentaram se aproximar ao formato presencial, utilizadas pelas escolas particulares, tiveram um resultado positivo em comparação a rede pública. Essas estratégias foram evidenciadas por videochamada com contato direto dos alunos com professores, tendo a apresentação de conteúdo, explicações e exposição de exercícios ao vivo com os alunos, sendo assim mais fácil de identificar as dificuldades trazidas pelos alu- nos. Desse modo, as autoras acreditam que essas estratégias devem ser as mais utilizadas a fim de tentar diminuir o impacto negativo da pandemia na aprendizagem infantil. Quanto às limitações do estudo, as pesquisadoras entendem que a falta de igualdade entre as escolas públicas e particulares dos participantes pode ser caracterizada como uma 94 95 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br limitação, bem como as dificuldades de encontrar materiais atuais sobre o tema e a pouca variação de público das demais regiões do Brasil. REFERÊNCIAS AQUINO, Estela ML et al. Medidas de distanciamento social no controle da pandemia de COVID-19: potenciais impactos e desafios no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, v. 25, n. suppl 1, p. 2423-2446, 2020. Disponível em: https://www.scielosp.org/article/csc/2020. v25suppl1/2423-2446/pt/. Acesso em: 25 de set. 2020 AZEVEDO, Mário. A teoria cognitiva social de Albert Bandura. Lisboa: Faculdade de Ciên- cias da Universidade de Lisboa, p. 1-20, 1997. Disponível em: https://webpages.ciencias. ulisboa.pt/~mdazevedo/materiais/ME&TES/Aprendiz02CognitSoci al.pdf. Acesso em: 19 de abr. 2021 BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo: Definição e Relação com as Outras Ciências. 1ªed. São Paulo: Livraria Martins Fontes; 1977. P. 27-46. BRASIL. Decreto Nº 9.057, de 25 de maio de 2017. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional para educação a distância no Brasil. Lex: Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasil, mai. 2017. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/cci- vil_03/_Ato2015-2018/2017/Decreto/D9057.htm. Acesso em: 25 de set. 2020 CARVALHO, Maria João Cardoso de; MEDEIROS, Renata Cristina Rocha. Educação Bá- sica em Tempos de Pandemia. Revista Pedagogia em Ação, v. 13, n. 1, p. 133-144, 2020. Disponível em: http://periodicos.pucminas.br/index.php/pedagogiacao/article/view/23759. Acesso em: 25 de set. 2020 EDUCAÇÃO ESCOLAR EM TEMPOS DE PANDEMIA. Fundação Carlos Chagas. 2021. Disponível em: https://www.fcc.org.br/fcc/educacao-pesquisa/educacao-escolar-em-tem- pos-de-pandemia-info rme-n-1. Acesso em 19 de abr. 2021 GROSSI, Marcia Gorett Ribeiro; MINODA, Dalva de Souza Minoda; FONSECA, Renata Gadoni Porto. Impacto da pandemia do COVID-19 na educação: reflexos na vida das fa- mílias. Teoria e Prática da Educação, v. 23, n. 3, p. 150-170, 2020. Disponível em: https:// periodicos.uem.br/ojs/index.php/TeorPratEduc/article/view/53672. Acesso em 21 de jun. 2021 ISER, Betine Pinto Moehlecke et al. Definição de caso suspeito da COVID-19: uma revisão narrativa dos sinais e sintomas mais frequentes entre os casos confirmados. Epidemio- logia e Serviços de Saúde, v. 29, 2020. Disponível em: https://www.scielosp.org/article/ ress/2020.v29n3/e2020233/. Acesso em: 25 de set. 2020 LEFRANÇOIS, Guy R. Aprendizagem Social: A teoria Cognitiva Social de Bandura. Teorias da Aprendizagem. 5ª ed. São Paulo: CENGAGE; 2008. P. 371 - 393 LIMA, Larissa. MEC autoriza ensino a distância em cursos presenciais. Ministério da Edu- cação, 2020. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/busca-geral/12-noticias/acoes-progra- mas-e-projetos-637152388/8644 1-mec-autoriza-ensino-a-distancia-em-cursos-presenciais. Acesso 25 de set. 2020 https://www.scielosp.org/article/csc/2020.v25suppl1/2423-2446/pt/ https://www.scielosp.org/article/csc/2020.v25suppl1/2423-2446/pt/ https://webpages.ciencias.ulisboa.pt/~mdazevedo/materiais/ME%26TES/Aprendiz02CognitSocial.pdf https://webpages.ciencias.ulisboa.pt/~mdazevedo/materiais/ME%26TES/Aprendiz02CognitSocial.pdf https://webpages.ciencias.ulisboa.pt/~mdazevedo/materiais/ME%26TES/Aprendiz02CognitSocial.pdf http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Decreto/D9057.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Decreto/D9057.htm http://periodicos.pucminas.br/index.php/pedagogiacao/article/view/23759 https://www.fcc.org.br/fcc/educacao-pesquisa/educacao-escolar-em-tempos-de-pandemia-informe-n-1 https://www.fcc.org.br/fcc/educacao-pesquisa/educacao-escolar-em-tempos-de-pandemia-informe-n-1 https://www.fcc.org.br/fcc/educacao-pesquisa/educacao-escolar-em-tempos-de-pandemia-informe-n-1 https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/TeorPratEduc/article/view/53672 https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/TeorPratEduc/article/view/53672 https://www.scielosp.org/article/ress/2020.v29n3/e2020233/Henrique Gomes Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais, Portugal Profª. Dra. Maria da Luz Ferreira Barros Universidade de Évora, Portugal CONSELHO EDITORIAL Profª. Ma. Eliaidina Wagna Oliveira da Silva Caixa de Assistência dos advogados da OAB-ES Profª. Ma. Maria José Coelho dos Santos Prefeitura Municipal de Serra Profª. Tais Muller Universidade Estadual de Maringá Prof. Me. Eduardo Cesar Amancio Centro Universitário de Tecnologia de Curitiba Profª. Dra. Janine Nicolosi Corrêa Universidade Tecnológica Federal do Paraná Profª. Dra. Tatiana Maria Cecy Gadda Universidade Tecnológica Federal do Paraná Profª. Gabriela da Costa Bonetti Universidade Tecnológica Federal do Paraná Prof. Me. Thales do Rosário De Oliveira Universidade de Brasília Profª. Dra. Maisa Sales Gama Tobias Universidade Federal do Pará Prof. Dr. Pedro Igor Dias Lameira Universidade Federal do Pará Profª. Dra. Geuciane Felipe Guerim Fernandes Universidade Estadual do Norte do Paraná Prof. Me. Teonis Batista da Silva Universidade do Estado da Bahia Profª. Ma. Aline Maria Gonzaga Ruas Universidade Estadual de Montes Claros Profª. Dra. Alessandra Knoll Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial Profª. Ma. Carla Cristina Sordi Universidade Estadual do Ceará Profª. Dra. Caroline Lourenço de Almeida Fundação Educacional do Município de Assis Profª. Dra. Rosângela Gonçalves da Silva Fundação Educacional do Município de Assis Prof. Dr. Marcus Fernando da Silva Praxedes Universidade Federal do Recôncavo da Bahia Prof. Dr. Cleberton Correia Santos Universidade Federal da Grande Dourados Prof. Dr. Leonardo de Carvalho Vidal Instituto Federal do Rio de Janeiro Profª. Dra. Mônica Aparecida Bortolotti Universidade Estadual do Centro Oeste do Paraná Profª. Dra. Lucieny Almohalha Universidade Federal do Triângulo Mineiro Prof. Esp. Layane Caroline Silva Lima Braun Universidade Federal do Pará Profª. Ma. Michelle Cristina Boaventura França Universidade Federal do Pará A presente obra tem por finalidade discutir a atuação do Psicopedagogo Clínico e Institucional, favorecendo assim, uma profunda reflexão acerca da teoria e prática, no que tange o contexto escolar e clínico. No mundo contemporâneo a Psicopedagogia tem conquistado diferentes espaços e tende a crescer devido as necessidades de uma compreensão mais profunda e subjetiva do processo de ensino e aprendizagem. Existem muitos pesquisadores discutindo o tema, nesta obra abrimos espaço para eles divulgarem seus saberes construídos na Academia. A escola se constitui em um cenário onde a diversidade e especificidades se manifestam, e é nela que muitas das vezes a família terá o primeiro feedback em relação a aprendizagem de seu (a) filho (a), o que gera nos genitores sentimentos de frustação, impotência, incompletude, culpa e inconformidade, revolta e até mesmo negação da realidade cognitiva que seu (a) filho (a), pois ao reconhecer algumas fragilidade ou limitação, opõem-se ao projeto narcísico construído por eles mesmos, no desejo de se realizarem através de seu legado geracional. Precisamos urgentemente educar para a vida, a liberdade, a autonomia e o exercício pleno da cidadania do sujeito que aprende e compreende que somos diferentes em todos os sentidos, mais que a nossa capacidade e vontade de aprender nos uni, nos fazem parte de um todo e iguais nas diferenças. Precisamos compreender que todo Ser Humano consegue aprender, o que se precisa ter bem claro é que crianças com Deficiência Intelectual, Autismo e com Transtornos de aprendizagem aprenderão de outras formas e também outros conteúdos, partindo sempre do princípio de ofertar a eles o máximo de autonomia possível. Muitas crianças precisam aprender o autocuidado, a percepção de si mesmos, a se proteger no mundo e isso sim também é dever da escola ensinar, pois a mesma deve deixar de ser meramente uma transmissora de um conteúdo. Desejo uma excelente leitura para todos (as)! Flávio Aparecido de Almeida A P R E SE N T A Ç Ã O SUMÁRIO CAPÍTULO 01 A inclusão dos alunos com discalculia anos iniciais do ensino fundamental Flávio Aparecido de Almeida ' 10.37885/220910112 ......................................................................................................................................................................... 11 CAPÍTULO 02 Alfabetização e letramento e a atuação do psicopedagogo Paulo Roberto Serpa ' 10.37885/221110796 .......................................................................................................................................................................... 19 CAPÍTULO 03 Aspectos emocionais versus aprendizagem: um olhar psicopedagógico Anaizy Moreira de Oliveira Bernardes; Charlene de Jesus Santos Mendonça; Sabrina dos Anjos Almeida ' 10.37885/221211328 .......................................................................................................................................................................... 30 CAPÍTULO 04 Atuação do(a) psicólogo(a) escolar frente a alunos com necessidades especiais de educação Edirlei Machado Dos-Santos; Kléia Naiara Peixoto ' 10.37885/221211213 .......................................................................................................................................................................... 43 CAPÍTULO 05 Auto estima e motivação como fatores estratégicos para melhoria no processo de ensino aprendizagem numa escola municipal de fundamental -6º ao 9º ano- DDZ Centro-sul Manaus-AM Ana Luiza Gomes de Oliveira ' 10.37885/221110788 .......................................................................................................................................................................... 56 CAPÍTULO 06 O psicopedagogo e sua intervenção nas dificuldades de aprendizagem Flávio Aparecido de Almeida ' 10.37885/221111106 .......................................................................................................................................................................... 64 CAPÍTULO 07 Pandemia e a aprendizagem infantil - percepção de pais e professores Alice Ferreira da Silva; Alicia Rodrigues Boettger Rocha; Mariana Dias Benedetti; Maria Rita Polo Gascón; Valéria Ribeiro Linard ' 10.37885/221110976 .......................................................................................................................................................................... 78 SUMÁRIO CAPÍTULO 08 Protocolo Lince de Investigação Neurolinguística (PLIN): instrumento lúdico para conhecer habilidades de leitura e escrita Renata Savastano Ribeiro Jardini; Lydia Savastano Ribeiro Ruiz; Walderlene Ramalho; Andrea Villela de Paula ' 10.37885/221110998 ......................................................................................................................................................................... 97 CAPÍTULO 09 Saúde mental e desenvolvimento infantil: limites entre o normal e o patológico Lany Leide de Castro Rocha Campelo; Aline Raquel de Sousa Ibiapina; Antonio Alberto Ibiapina Costa Filho; Lairton Batista de Oliveira; Mailson Fontes de Carvalho; Margareth Angelo ' 10.37885/221010403 ......................................................................................................................................................................... 114 SOBRE O ORGANIZADOR ................................................................................................................................... 127 ÍNDICE REMISSIVO ............................................................................................................................................. 128 01 '10.37885/220910112 01 A inclusão dos alunos com discalculia anos iniciais do ensino fundamental Flávio Aparecido de Almeida https://dx.doi.org/10.37885/220910112 RESUMO A discalculia um transtorno de aprendizagem, caracterizado por uma inabilidade de realizar operações matemáticas ou aritméticas e falhashttps://www.scielosp.org/article/ress/2020.v29n3/e2020233/ http://portal.mec.gov.br/busca-geral/12-noticias/acoes-programas-e-projetos-637152388/86441-mec-autoriza-ensino-a-distancia-em-cursos-presenciais http://portal.mec.gov.br/busca-geral/12-noticias/acoes-programas-e-projetos-637152388/86441-mec-autoriza-ensino-a-distancia-em-cursos-presenciais http://portal.mec.gov.br/busca-geral/12-noticias/acoes-programas-e-projetos-637152388/86441-mec-autoriza-ensino-a-distancia-em-cursos-presenciais 96 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br MACEDO, Nayara Alves; DE LIMA PESSANHA, Fabiana Nery; DE ALENCAR, Carolina Silva. Escola da pequena infância e alguns paradoxos no contexto da pandemia da CO- VID-19. Olhar de Professor, v. 23, p. 1-6, 2020. Disponível em: https://revistas.apps.uepg. br/index.php/olhardeprofessor/article/view/16035. Acesso em: 14 de out. 2020 MACHADO, Amália. Análise de Conteúdo da Bardin em três etapas simples. Academia [Internet], 2020. Disponível em: https://www.academicapesquisa.com.br/post/an%C3%A- 1lise-de-conte%C3%BAdo-da-bardin-em-tr%C3%AAs-etapas-simples. Acesso em: 02 de abr. 2021 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Base Nacional Comum Curricular - Educação é a base. Base Nacional Comum Curricular, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec. gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 14 de jun. 2021 MINISTÉRIO DA SAÚDE. O que é Covid-19?. O QUE É COVID-19?. Gov.br, 2020. Dis- ponível em: https://coronavirus.saude.gov.br/sobre-a-doenca#o-que-e-covid. Acesso em 25 de set. 2020 NOGUEIRA, Tayrine de Barros; SANTOS, Geovana Maria dos; FONSECA, Grazzieni Clemente. Implicações de depressão no rendimento escolar da criança. Revista Unipacto, 2014. Disponível em: https://revistas.unipacto.com.br/storage/publicacoes/2014/implica- coes_da_depressao_no_rend imento_escolar_da_crianca_14.pdf. Acesso em: 19 de abr. 2021. NOTA TÉCNICA ENSINO A DISTÂNCIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA FRENTE À PANDEMIA DA COVID-19. Todos pela Educação, 2020. Disponível em: https://crianca.mppr.mp.br/ arquivos/File/publi/todos_pela_educacao/nota_tecnica_ensino_a_d istancia_todospelae- ducacao_covid19.pdf. Acesso em 25 de set. 2020 OLIVEIRA, Francisco Ariclene; DOS SANTOS, Ana Maria Sampaio. Construção do Co- nhecimento na Modalidade de Educação a Distância: Descortinando as Potencialidades da EaD no Brasil. EaD em Foco, v. 10, n. 1, 2020. Disponível em: https://eademfoco.cecierj. edu.br/index.php/Revista/article/view/799. Acesso em: 25 de set. 2022 OLIVEIRA, Hudson do Vale de; SOUZA, Francimeire Sales de. Do conteúdo programático ao sistema de avaliação: reflexões educacionais em tempos de pandemia (COVID-19). Boletim de Conjuntura (BOCA), v. 2, n. 5, p. 15-24, 2020. Disponível em: https://revista. ioles.com.br/boca/index.php/revista/article/view/127. Acesso em: 25 de set. 2020. SOUZA, Katia Reis de et al. Trabalho remoto, saúde docente e greve virtual em cenário de pandemia. Trabalho, Educação e Saúde, v. 19, 2020. Disponível em: https://www.scielo. br/j/tes/a/RrndqvwL8b6YSrx6rT5PyFw/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 14 de jun. 2021 SZEGÖ, Thais. Com 300 mil mortos por Covid-19, Brasil faz da sua população um grupo de risco. CNN Brasil, 2021. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/2021/03/24/ como-brasil-se-tornou-epicentro-da-pandemia. Acesso em: 21 de abr. 2021. TABILE, Ariete Fröhlich; JACOMETO, Marisa Claudia Durante. Fatores influenciadores no processo de aprendizagem: um estudo de caso. Revista Psicopedagogia, v. 34, n. 103, p. 75-86, 2017. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pi- d=S0103-84862017000100008. Acesso em 19 de abr. 2021 https://revistas.apps.uepg.br/index.php/olhardeprofessor/article/view/16035 https://revistas.apps.uepg.br/index.php/olhardeprofessor/article/view/16035 https://www.academicapesquisa.com.br/post/an%C3%A1lise-de-conte%C3%BAdo-da-bardin-em-tr%C3%AAs-etapas-simples https://www.academicapesquisa.com.br/post/an%C3%A1lise-de-conte%C3%BAdo-da-bardin-em-tr%C3%AAs-etapas-simples https://www.academicapesquisa.com.br/post/an%C3%A1lise-de-conte%C3%BAdo-da-bardin-em-tr%C3%AAs-etapas-simples http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf https://coronavirus.saude.gov.br/sobre-a-doenca#o-que-e-covid https://revistas.unipacto.com.br/storage/publicacoes/2014/implicacoes_da_depressao_no_rendimento_escolar_da_crianca_14.pdf https://revistas.unipacto.com.br/storage/publicacoes/2014/implicacoes_da_depressao_no_rendimento_escolar_da_crianca_14.pdf https://revistas.unipacto.com.br/storage/publicacoes/2014/implicacoes_da_depressao_no_rendimento_escolar_da_crianca_14.pdf https://crianca.mppr.mp.br/arquivos/File/publi/todos_pela_educacao/nota_tecnica_ensino_a_distancia_todospelaeducacao_covid19.pdf https://crianca.mppr.mp.br/arquivos/File/publi/todos_pela_educacao/nota_tecnica_ensino_a_distancia_todospelaeducacao_covid19.pdf https://crianca.mppr.mp.br/arquivos/File/publi/todos_pela_educacao/nota_tecnica_ensino_a_distancia_todospelaeducacao_covid19.pdf https://crianca.mppr.mp.br/arquivos/File/publi/todos_pela_educacao/nota_tecnica_ensino_a_distancia_todospelaeducacao_covid19.pdf https://eademfoco.cecierj.edu.br/index.php/Revista/article/view/799 https://eademfoco.cecierj.edu.br/index.php/Revista/article/view/799 https://www.scielo.br/j/tes/a/RrndqvwL8b6YSrx6rT5PyFw/?format=pdf&lang=pt https://www.scielo.br/j/tes/a/RrndqvwL8b6YSrx6rT5PyFw/?format=pdf&lang=pt https://www.cnnbrasil.com.br/saude/2021/03/24/como-brasil-se-tornou-epicentro-da-pandemia https://www.cnnbrasil.com.br/saude/2021/03/24/como-brasil-se-tornou-epicentro-da-pandemia https://www.cnnbrasil.com.br/saude/2021/03/24/como-brasil-se-tornou-epicentro-da-pandemia http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862017000100008 http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862017000100008 08 '10.37885/221110998 08 Protoco lo L ince de Invest igação Neurolinguística (PLIN): instrumento lúdico para conhecer habilidades de leitura e escrita Renata Savastano Ribeiro Jardini Lydia Savastano Ribeiro Ruiz Walderlene Ramalho Andrea Villela de Paula Artigo original publicado em: 2015 Rev. Psicopedagogia Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais Lei 9610/98 https://dx.doi.org/10.37885/221110998 RESUMO Método das Boquinhas fonovisuoarticulatório foi desenvolvido pela primeira autora da pes- quisa com o intuito de alfabetizar e reabilitar os distúrbios da leitura/escrita. O jogo Lince de Boquinhas foi idealizado para conhecer e treinar percepção visual, consciência fonológica, memória imediata, memória visual e auditiva, funções visuoespaciais, cognição e leitura/ escrita, dentre outras. A partir das evidências observadas em mais de 10 anos de aplicação clínica desse jogo, foram tabuladas tendências de comportamentos apresentados por indiví- duos sintomáticos dos transtornos dislexia, transtorno no déficit de atenção e hiperatividade e deficiência intelectual, em relação aos mesmos comportamentos em sujeitos assintomáti- cos. Essas evidências foram pareadas aos manuais de diagnóstico e fontes científicas que apresentam classificações categoriais desses transtornos. A partir dessa análise, foram elaboradas 26 questões, com 5 itens cada, que analisam quali e quantitativamente os com- portamentos apresentados e refletem as respostas mais usuais apresentadas, para compor o Protocolo Lince de Investigação Neurolinguística (PLIN). As questões foram agrupadas em 5 blocos de habilidades: consciência fonológica. (HCF); visuoespaciais (HVE); leitura e escrita (HLE); memória imediata (HMI) e cognição (HCO). A fase 1, de dimensionamen- to amostral, contou com 40 crianças do estado do Paraná, entre5 e 12 anos de idade, divididas igualitariamente em 4 grupos, dos transtornos estudados e o grupo controle de assintomáticos. A fase 2, para elaboração de tabelas de tendências de comportamentos, contou com 296 crianças, do Distrito Federal. Os dados foram comparados a fim de verificar se existia diferença estatisticamente significativa entre os quatro grupos estudados, para a publicação do PLIN. Palavras-chave: Protocolos, Leitura, Escrita, Dislexia, Transtorno do Deficit de Atenção com Hiperatividade. 99 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br INTRODUÇÃO Os resultados apresentados pelo Brasil nas avaliações mundiais de educação, em es- pecial em leitura e escrita, têm sido motivo de preocupação para os profissionais envolvidos com as questões da aprendizagem. Educadores, psicólogos, fonoaudiólogos e psicopeda- gogos, dentre outros, buscam explicações, e mais que isto, procuram por alternativas que possam ajudar a melhorar o desempenho dos alunos brasileiros. No entanto, a multiplicidade de abordagens para analisar e mediar o problema tem acarretado ineficiência e desfoque da problemática em si. De acordo com os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) em 2012, quando comparado com os 40 países participantes da pesquisa, o Brasil ocupa o 38º lugar, e no que diz respeito a si próprio, no quesito leitura, perdeu dois pontos em relação aos resultados da pesquisa anterior. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) vem apresentando resultado crescente desde 2005, quando foi criado, pro- gredindo de 3,8 nesta ocasião, para 5,2 na última avaliação feita em 2013. No entanto, os resultados positivos do IDEB ainda não surtiram efeito na leitura e escrita dos brasileiros, como apontado no índice alarmante de 8,5% de alunos que obtiveram nota zero na reda- ção do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) de 2014. Dado esse confirmado com a publicação de que 8,5 milhões de estudantes brasileiros estão com atraso escolar1. É certo que essas avaliações têm como objetivo principal a quantificação, a comparação de dados, mas é preciso que antes haja uma preocupação em identificar as lacunas presentes nos sistemas de ensino que não permitem que sejam contemplados avanços significativos na qualidade da educação. A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OECD)2 define letramento em leitura como sendo a capacidade de compreender, utilizar, refletir e envolver-se com textos escritos, com a função de alcançar uma meta, desenvolver seu conhecimento e seu potencial, e participar da sociedade. Sabe-se que diversas habilidades são necessárias para que se alcance tal capacidade, abrangendo aspectos cognitivos, comunicativos e com- portamentais. Portanto, quando se lida com leitura e escrita, muitos caminhos de aprendi- zagem devem ser trilhados, partindo-se, necessariamente, das habilidades dos aprendizes. Vários autores estudaram essas habilidades3-6, propondo baterias e testes de avaliação, que abrangem a decodificação de palavras, fluência, capacidade cognitiva e metacognitiva, aquisição de vocabulário, percepção, memória, dentre diversas outras habilidades. No en- tanto, como ressalta Salles7, várias avaliações são propostas para avaliar as habilidades relacionadas à aprendizagem escolar, porém nenhuma delas é conclusiva na padronização ou normatização que definam o que é esperado para cada idade, escolaridade, sexo, e 100 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br outras importantes variáveis, acarretando por parte dos educadores “avaliações intuitivas” para conhecer o seu aluno, segundo Nunes et al.8. Oliveira et al.9 pontuam que, para que a obtenção de um perfil diagnóstico de leitura e escrita seja feito com procedimentos objetivos, respeitando-se a soberania clínica, devem ser envolvidas múltiplas áreas de conhecimento, como a Psicopedagogia, Fonoaudiologia, Neuropsicologia, Neurologia e Psicologia, além de contar com entrevistas de pais/cuidado- res e de professores. No entanto, a multiplicidade de enfoques de avaliação não significa necessariamente que haja eficiência e consenso entre os autores na descrição de um perfil dos aprendizes7. Uma revisão sobre os testes usuais para a avaliação do perfil de leitura e escrita foi feita por Oliveira et al.9, onde se observou pouca exploração qualitativa dos resultados nos testes utilizados pelos pesquisadores, focando a análise em valores atribuídos ao desempenho dos participantes e não às áreas defasadas. Os autores chamam atenção que os testes não se limitem à busca por diagnósticos pré-estabelecidos, mas que tentem enfocar a questão etiológica/cognitiva atrelada, proporcionando resultados mais amplos e que contribuam para as intervenções em cada paciente. A proposta corrente ao se tratar de avaliações de aprendizagem inclui baterias de tes- tes, muitas vezes infindáveis e cansativas, por vezes realizadas em situações de estresse de alunos já rotulados pelos inúmeros fracassos acumulados ao longo de sua vida escolar, agravada pela aplicação por profissionais distantes da realidade social e acadêmica do avaliado. Consequentemente, são comuns resultados incoerentes e inconclusivos, que podem sinalizar falsos positivos ou falsos negativos para supostos transtornos detectados, acarretando, por vezes, a patologização e medicalização do ensino, como destacado por Collares & Moysés10 e Meira11 ou, ainda, atendimentos tardios pela grande e longa demanda por tratamentos públicos, que culminam na desvinculação com a situação de aprendizagem real do avaliado. Em oposição a esse paradigma classificatório rígido, a neurociência cognitiva social defende que a avaliação da aprendizagem da leitura e escrita requer que sejam analisados os níveis sociais, cognitivos e neurais envolvidos durante todo o processo de aprendizagem12, em consonância com as concepções que os profissionais possuem das queixas apontadas, respeitando-se as necessidades reais da criança13. Para tanto, é necessário que a avalia- ção diagnóstica seja realizada de forma interdisciplinar, para que venha contribuir de forma decisiva numa intervenção que traga benefícios à tríade criança/família/escola14. Acredita-se que, quando se avalia utilizando como modalidade o brincar, já se está, ao mesmo tempo, abrindo um espaço de cura. Segundo Winnicott15, a brincadeira é universal e está atrelada à saúde, uma vez que facilita o crescimento, os relacionamentos grupais, 100 101 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br podendo ser uma forma de comunicação na psicoterapia. O ambiente lúdico permite ao educador perceber traços da personalidade e do comportamento do educando, o que fa- cilita o planejamento de estratégias pedagógicas, promovendo a motivação para uma me- lhor aprendizagem16. Em uma investigação que envolve ludicidade, se faz necessário que o terapeuta par- ticipe do processo, pela troca com o avaliado, mantendo autenticidades de respostas. Nos jogos reais, é necessário que haja disputa, rivalidade, prazer e frustração, felicidade e tris- teza, sentimentos pertinentes ao envolvente e sedutor objeto de troca e aprendizagens que é o jogo. É nele, no brincar, e somente no brincar, que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral15. Vygotsky17 percebe o brincar como o espaço onde a criança tanto apresenta os sig- nificados sociais e historicamente produzidos como espaços onde ocorre a construção de novos conhecimentos. Durante o processo de jogo, abre-se a possibilidade dos esquemas de pensamento ir se alterando por meio das reflexões da criança sobre o seu desempenho ea observação de como o avaliador faz para chegar a uma determinada resposta. Ao iniciar o jogo, o avaliado apresenta a sua “Zona de Desenvolvimento Real”, mostra como pode jogar, e com a mediação, por meio das explicações e exemplos, a criança ao conectar, suportar e transformar as informações recebidas consegue avançar em seus conhecimentos. Conhecer como a criança lida com essa situação de ganhar/perder é importante para o processo avaliativo, pois remete o terapeuta/avaliador à quantidade e tipo de mediação necessária. Como cita Fernández18, é necessário que a criança adicione as novas informa- ções às já adquiridas e produza um novo conhecimento, e isto acontece de forma natural quando o aprender se mistura ao brincar. Acertar a resposta em um jogo, ou melhor ainda, ganhar, desperta uma sensação de prazer que faz com que o sujeito queira continuar, com que ele se envolva ao objeto de investigação, a despeito de estarem envolvidas situações conflituosas do processo de ensino/aprendizagem. O Protocolo Lince de Investigação Neurolinguística (PLIN)19 vem propor um instrumento aberto aos envolvidos no processo, sejam educadores, especialistas e/ou médicos, para, como objetivo principal, investigar e conhecer as habilidades e suas fragilidades, no que concerne aos pré-requisitos necessários à aquisição da leitura e escrita. Utiliza-se do jogo Lince de Boquinhas20, que, além das habilidades perceptivovisuais, propõe um trabalho com consciência fonológica, espacialidade, memória imediata, cognição e leitura e escrita, permitindo ao investigador conhecer qualitativa e quantitativamente cada habilidade estuda- da. A primeira autora tabulou tendências de comportamentos apresentados por indivíduos sintomáticos de transtornos de leitura e escrita (dislexia, transtorno no déficit de atenção e hiperatividade e deficiência intelectual) em relação aos mesmos comportamentos em sujeitos 102 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br assintomáticos. Essas evidências foram pareadas aos manuais de diagnóstico21,22 e a fontes científicas que apresentam classificações categoriais dos mesmos transtornos e nortearam a elaboração do PLIN. O objetivo deste artigo apresentar o PLIN nas fases de elaboração e construção das tabelas do protocolo, para investigar e comparar as habilidades neurolinguísticas de indiví- duos sintomáticos e assintomáticos para distúrbios da aprendizagem em leitura e escrita, para futura validação. MÉTODO Descrição da amostra Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal do Paraná, com parecer favorável de número 456.547, em 13/11/13. Todos os responsáveis dos partici- pantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e concordaram com a realização da mesma e posterior divulgação dos resultados. Os responsáveis pelas instituições coparticipantes assinaram uma Declaração de Consentimento, em conformidade com a Resolução 196/96. A seleção da amostra do projeto piloto (fase 1), para coleta de dados e determinação estatisticamente do tamanho da amostra necessária para a fase 2, foi realizada a partir de uma população de crianças na faixa etária entre 5 e 12 anos de idade (média de 9 anos e 7 meses), pertencente a uma escola Municipal de Mangueirinha e 4 APAEs das cidades de Manguerinha, Marilândia do Sul, Arapoti e Jaguariaíva, do estado do Paraná. Desta po- pulação, selecionaram-se 40 crianças, sendo 25 (62,5%) meninos e 15 (37,5%) meninas, para participar da pesquisa, as quais foram distribuídas em três grupos: Grupo Controle Assintomático (GCA), contendo dez crianças que não apresentavam dificuldades de apren- dizagem da leitura e escrita, estando de acordo com a relação idade/escolaridade; Grupo Experimental de Dislexia (GDX), contendo dez crianças diagnosticadas com dislexia; Grupo Experimental de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade TDAH (GDA), conten- do dez crianças diagnosticadas com TDAH e Grupo Experimental de Deficiência Intelectual (GDI), contendo dez crianças diagnosticadas com deficiência intelectual. As crianças sintomáticas que constituíram a amostra deste estudo deveriam preencher os seguintes critérios: possuírem laudo médico multidisciplinar atestando a presença do transtorno e relatório de seus professores atestando dificuldades na aprendizagem. Não foi levado em conta, para esse estudo, o tipo de testes realizados para o diagnóstico prévio, nem a presença/ausência de intervenção clínica prévia, nem o uso ou tipo de medicação associada, nem o grau do transtorno presente. Foi excluída desse estudo a presença de 102 103 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br comorbidade entre os transtornos e/ou outros transtornos associados. Os examinadores foram três Multiplicadores de Boquinhas do estado do Paraná, voluntários, selecionados e treinados pela autora principal, profissionais da área da saúde e/ou educação. A aplicação do PLIN foi feita em duas sessões de 45 minutos cada, nas instituições de ensino dos sujeitos, em horário de contra turno. Para a fase 2 do estudo foi verificada a existência estatisticamente de correlação e consistência entre os dados, justificando a formação dos blocos de funções a serem es- tudadas. O dimensionamento amostral dessa fase foi obtido com as análises estatísticas da fase 1, e ficou definido em 296 crianças, sendo 74 de cada grupo. A média de idade do GCA foi de 9 anos e 2 meses, do GDI de 11 anos e 4 meses, do GDX de 9 anos e 4 me- ses e do GDA de 9 anos. Foram estudados 185 (62,5%) meninos e 111 (37,5%) meninas. Mantiveram-se os mesmos critérios de inclusão e exclusão utilizados para a fase 1 e a seleção dos indivíduos foi realizada a partir de uma população da cidade de Brasília e entorno/ DF, contando com 5 escolas municipais, 3 instituições clínicas particulares e 10 examinadores treinados pela autora. Descrição do Protocolo O Jogo Lince de Boquinhas20 apresenta aprovação no Instituto Nacional de Metrologia (Inmetro) e certificação no Instituto Brasileiro de Qualificação e Certificação (IQB), é compos- to de uma caixa com um tabuleiro contendo 116 figuras, balanceadas foneticamente, e 24 boquinhas, (articulemas) do alfabeto, pertencentes ao Método das Boquinhas23, dispostas ordenadamente em linhas e colunas, numeradas as colunas e classificadas alfabeticamente as linhas. As mesmas figuras são também oferecidas individualmente, para serem sortea- das em cada jogada. A partir das evidências observadas em mais de 10 anos de aplicação clínica do Jogo Lince de Boquinhas20, a primeira autora tabulou tendências de comportamentos apresentados por indivíduos sintomáticos das principais e mais frequentes transtornos de aprendizagem, a saber: dislexia, transtorno no déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e deficiência in- telectual, em relação aos mesmos comportamentos em sujeitos assintomáticos. Essas evi- dências foram pareadas aos manuais de diagnóstico21,22 e fontes científicas que apresentam classificações categoriais dos mesmos transtornos. Para o PLIN foram idealizadas 26 formas de se jogar o jogo Lince de Boquinhas (ques- tões de A a Z), para contemplar várias funções neurolinguísticas envolvidas no processo de aquisição da leitura e escrita, que foram subdivididas em 5 blocos de habilidades: consciência fonológica (HCF questões E, F, G, H, J), visuoespaciais (HVE – questões A, K, L, M, N, W), leitura/escrita (HLE – questões S, T, U, V, X, Y), memória imediata (HMI – questões B, P, Q, I) 104 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br e cognição (HCO – questões C, D, R, O). A questão Z serefere a observações comportamen- tais e apenas complementa o PLIN e estudo do examinado. Analisam-se qualitativamente cinco tipos de comportamentos apresentados em cada maneira de se jogar, atribuídos em itens (de 1 a 5). A graduação desses 5 itens foi escrita e estudada de maneira a refletir o comportamento habitual apresentado, respectivamente, nos grupos GCA (item 1), GDX (itens 2 e 3), GDA (itens 3 e 4) e GDI (item 5). Analisa-se quantitativamente cada um desses itens em relação à sua frequência, incluindo-se os limites, nos critérios de Frequentemente/ Sempre (S= maior ou igual a 76% das vezes); Muito (M= de 51% a 75%); Pouco (P= de 26% a 50%) ou Raramente/Nunca (N= menor ou igual a 25%). Na aplicação do PLIN todos os 5 itens, de cada uma das questões, devem ser quantificados. Metodologia de Análise de Dados Por meio do dimensionamento amostral para estimativas de médias, na fase 1, usou-se o erro absoluto de população infinita, associado ao grau de confiança de 95% e uma margem de erro absoluta d, por meio da equação24: N = Zcg^2*S ^2 / d^2 Onde N é o número de integrantes da amostra, Zcg é a abscissa da distribuição nor- mal para um determinado grau de confiança e S é o desvio padrão amostral. Depois do estudo da fase 1, com o tamanho da amostra obtido para 296 indivíduos, passou-se à fase 2, inicialmente calculando estatisticamente qual o peso de cada habilidade em cada item, para os três grupos sintomáticos, comparados ao grupo assintomático, levando-se em con- sideração as frequências de respostas dadas por cada um dos 296 indivíduos. A seguir, por meio do teste de Correlação de Kendall25, verificou-se se existia correlação e consistência entre os dados, justificando a formação dos blocos de funções, descritos anteriormente, HCF, HVE, HLE, HMI e HCO. Construíram-se tabelas, onde se relacionou cada grupo com o grupo controle. Essa comparação, por meio do teste U de Mann-Whitney25, foi para verificar se cada grupo era estatisticamente diferente do grupo controle. Ainda, analisou-se se houve diferenças es- tatisticamente significativas nas respostas às habilidades neurolinguísticas, nos grupos sintomáticos ou se as populações que deram origem a essas amostras eram semelhantes ou não. Por meio do mesmo teste, verificou-se, em cada um dos quatro grupos estudados, a partir de amostras independentes, se a frequência obtida pela aplicação do PLIN não era significativamente diferente da frequência esperada para cada grupo. 104 105 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br Finalmente, empregou-se, para comparar as habilidades neurolinguísticas de indivíduos sintomáticos e assintomáticos, o percentil (medida de posição estatística e sua classificação) sugerido para a probabilidade do indivíduo apresentar ou não o distúrbio. RESULTADOS O cálculo do dimensionamento amostral com alta confiabilidade resultou em N=74 indivíduos em cada um dos grupos, ou seja, 296 crianças no total. Os pesos determinados estatisticamente estiveram coerentes com os manuais de diagnóstico21,22, fontes científicas que apresentam classificações categoriais dos transtornos e os achados clínicos da autora, ou seja: maiores pesos para assintomáticos em todas as habilidades (item 1); maiores pesos em HCO (item 5) para os deficientes intelectuais; maiores pesos em HCF e HLE (itens 2 e 3) para os disléxicos e finalmente, maiores pesos para HMI e HVE (itens 3 e 4) para os TDAH. Pela correlação entre os dados, para cada habilidade e para cada grupo, pelo método de Correlação de Kendall25, constatou-se que na média por habilidade, dos cinco blocos de habilidades neurolinguísticas analisadas, existe correlação e consistência entre os dados que os contém, justificando a formação desses blocos de funções. Na média por habilidade, existem, no mínimo, 86,5% de probabilidade de que os dados estão relacionados. Para a comparação entre o grupo assintomático e cada um dos grupos sintomáticos usou-se a prova U de Mann-Whitney25, nas cinco habilidades, para todos os 74 indivíduos, sendo estudados, respectivamente, os itens 1 e 5 (GCA e GDI), itens 1, 2 e 3 (GCA e GDX), itens 1, 3 e 4 (GCA e GDA). Para todas as comparações sempre foi obtido pa maio- ria das pessoas do grupo, sendo classificado como não pertencendo ao grupo. Entre 15 a 30 Dificuldade simples: Apresenta uma dificuldade simples quando comparado à maioria do grupo. Não é classificado como apresentando o distúrbio. Sugere mediações pedagógicas pontuais. Entre 35 a 55 Baixo: Apresenta um nível leve de problemas quan- do comparado à maioria do grupo. Classifica-se com tendência leve de apresentar o distúrbio e sugerem- -se mediações pedagógicas assistidas. Entre 60 a 85 Médio: Apresenta um nível moderado de problemas quando comparado à maioria do grupo. Classifica-se com tendência moderada de apresentar o distúrbio e sugerem-se encaminhamento para investigação mais acurada e adaptações metodológicas. Entre 90 a 100 Alto: Região onde há maior probabilidade da pessoa pertencer a esse grupo. Sugere encaminhamento para especialista, com orientações de conduta ao mediador. Segundo Godard33, a consciência articulatória é parte da consciência fonológica que habilita o indivíduo a refletir sobre as características articulatórias dos fonemas e a consciên- cia fonoarticulatória é a habilidade responsável pela distinção das articulações dos sons da fala, relacionando-os aos movimentos dos articuladores, podendo favorecer a aprendizagem do sistema de escrita alfabético. No Método das Boquinhas23, a autora defende e se utiliza da consciência fonoarticulatória, baseada nos princípios da Fonologia Articulatória (FAR), que preconiza a unidade fonético-fonológica, ou o gesto articulatório34-36 como a unidade mínima de fala, para facilitar a aquisição da leitura e escrita e o mesmo princípio é aplicado nas questões U e V do PLIN. Corroborando esse pensamento, Vidor-Souza et al.37 estudaram a relação entre os des- vios fonológicos e as habilidades fonoarticulatória e concluíram que as crianças com desvio fonológico apresentam desempenho inferior nas habilidades de consciência fonoarticulatória, se comparadas às crianças com desenvolvimento fonológico normal. As autoras salientam a importância do trabalho de consciência fonológica também envolver fonemas isolados, além de palavras, onde a articulação se faria presente, podendo contribuir à aprendizagem da leitura e escrita. As mesmas autoras38 pesquisaram a consciência fonoarticulatória e as hipóteses de escrita de crianças, e concluíram que existe relação entre consciência fo- noarticulatória e a aquisição da leitura escrita, sugerindo uma investigação acurada dessa consciência nos anos iniciais da alfabetização. Ao contrário das patologias mensuráveis em avaliações laboratoriais e por imagens, as dificuldades e distúrbios atribuídos à leitura e escrita são de diagnóstico indireto, uma vez que envolvem uma complexidade de funções neurolinguísticas e carecem de testes objetivos 108 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br padronizados e aceitos pelo meio científico como válidos e concludentes14. A maioria dos diagnósticos é conferida por equipe multidisciplinar, sendo os achados clínicos, soberanos, fundamentados em testes validados com a complementação e troca entre família e escola9. Muitos fatores interferem na aquisição e desenvolvimento da leitura e escrita de uma criança, como a estimulação oferecida, nível socioeconômico, inteligência geral, recursos pedagógicos, dentre outros, mas é primordial que o educador, além dos médicos e clínicos, tenha competências para investigar, de maneira simples e acessível, as habilidades envolvi- das no processo, a fim de mediá-las adequadamente e pontualmente. Com o conhecimento e informação oferecidos pelo PLIN, o educador capacita-se de competências mais refinadas, podendo contribuir de forma pontual com os pareceres médicos e de especialistas para os casos de tendências apontadas no protocolo. Dessa forma, as condutas e orientações re- cebidas da área da saúde serão mais bem aproveitadas e praticadas no dia-a-dia escolar. Acredita-se que, por meio de qualificação e capacitação proporcionadas pelo estudo do PLIN, os educadores terão a oportunidade de aprofundar os conhecimentos sobre as habilidades relacionadas ao domínio da leitura e escrita, perceber os pontos frágeis da metodologia de alfabetização adotada e a modalidade de aprendizagem do aluno/paciente. Pressupõe-se que indivíduos assintomáticos possuam melhores habilidades que os que apresentam distúrbios, porém o conceito rígido de normalidade não se aplica quando o assunto é aprendizagem, devendo ser analisado como o desempenho esperado para o grupo, devido aos inúmeros fatores envolvidos para essas aquisições e seu desenvolvimento. Por isso, a enorme dificuldade encontrada em se padronizar testes e normatizar escalas, que atendam a diferenças organicoestruturais, socioculturais e regionais dos aprendizes. Este artigo apresenta os resultados iniciais de um protocolo, que requer continuidade com a especificação dos grupos, no intuito de ser validado, objeto de estudo das autoras. A busca por conhecer e investigar as múltiplas formas de se aprender se faz neces- sária, principalmente atrelada à autenticidade e espontaneidade, não contaminada pelas interferências provocadas nos testes estandardizados. E, para isso, o instrumento do jogo é recomendável, posto que abre caminhos para a troca, estabelecida por meio do vínculo comunicativo, onde a busca pela saúde é praticada durante todo o tempo da interação15. De acordo com Maluf39, o ambiente lúdico precisa ser levado a sério para assim contri- buir para o desenvolvimento de competências e habilidades no processo de aprendizagem, pensamento esse corroborado nas instruções do PLIN, que contemplam vídeos tutoriais com a autora, jogando, aplicando e explicando o protocolo com uma criança assintomática. O ato de brincar vai oportunizar as vivências inocentes e simples da essência lúdica, possibilitando à criança o aumento da autoestima, autoconhecimento de suas responsabilidades corporais e culturais, por meio das atividades de socialização. Socialmente o jogo impõe o controle dos 108 109 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br impulsos e a aceitação das regras que são estabelecidas pelos que jogam e não impostas por qualquer estrutura alienante40. A neurociência vem demonstrando o que Winnicott15 já salientava, ou seja, que as emoções são orientadoras da aprendizagem, pois elas indicam ao cérebro o que é impor- tante para o corpo interagir. O envolvimento lúdico nas questões de aprendizagem produz endorfinas, capazes de impulsionar e consolidar as aquisições, sistematizando o conceito de flow (fluxo), onde existe um estado de motivação intrínseca, pela harmonia entre o fazer e o prazer, pelo equilíbrio entre habilidades e desafios, proporcionado pelo estabelecimento de metas e realimentação41. Esse conceito tem sido amplamente estudado nas proposições de games educacionais por Tori42 e outros autores, enfatizando que os jogos são projetados para facilitar essa entrada em flow. Weiss43 discute e diferencia o uso do jogo como instrumento de avaliação diagnóstica e/ou recurso interventivo, destacando a importância da necessidade de se perceber a dife- rença entre a sessão terapêutica e a sessão de avaliação. Ressalta que nesta última podem ser feitas intervenções provocadoras e limitadoras para se observar a reação da criança, servindo como mediação técnica terapêutica. O mesmo é proporcionado no PLIN, onde por meio da técnica de role playing (troca de papéis) a criança pode espelhar e aprender com o comportamento do avaliador. Construir uma ponte entre a saúde e educação, ampliando o diálogo e a troca, tão necessária à aprendizagem, tem sido o objeto de estudo da autora do PLIN, refletida em seus inúmeros materiais e metodologia das Boquinhas44-46. O protocoloaqui apresentado objetiva, indiretamente, ampliar as competências do “ser educador”, para que investigue e conheça, em detalhes, como seu aluno/paciente aprende. A análise dos dados qualitativa e quantitativamente fornece subsídios para que aponte tendências de alterações, que confor- me o caso poderá ser encaminhado para futuro diagnóstico, abrindo o diálogo entre escola e saúde. Com isso, as intervenções específicas necessárias poderão ter direcionamentos mais precoces e fornecer orientações de mediação pedagógica em tempo hábil para que se minimizem os fracassos escolares. Ainda, as tendências de dificuldades simples ficarão restritas ao seu âmbito de atuação, ou seja, a escola, efetivando a mediação, posto que aponta as falhas em cada bloco de habilidades. Com o PLIN, não se pretende que o educador se transforme em especialista, uma vez que suas competências são de âmbito pedagógico, mas ao contrário, pretende-se desmisti- ficar o acesso ao conhecimento, hoje supostamente aprisionado ao academicismo e quatro paredes clínicas. Acredita-se que essa troca seja profícua, trazendo ganhos a ambas as áreas de conhecimento, saúde e educação, cada qual dentro de suas especificidades. Esse trabalho apresenta o início de uma pesquisa, que requer maior profundidade e subdivisão dos 110 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br dados em sexo, faixas etárias e tipo de escolaridade, objeto de estudo das pesquisadoras para uma futura validação. CONCLUSÕES O objetivo inicial desse estudo foi dar início à investigação simples, embora detalha- da, das habilidades neurolinguísticas necessárias à aprendizagem da leitura e escrita, de forma lúdica e prazerosa aos avaliadores e avaliados, por meio de um protocolo acessível a quaisquer buscadores, o PLIN. Não se pretende com isso fornecer dados fechados ou diagnósticos dos transtornos envolvidos, mas tendências de comportamentos, que poderão contribuir com encaminhamentos para avaliações estandardizadas, abrindo o diálogo entre especialistas e educadores, tão necessário à continuidade da eficaz aprendizagem infantil. Agradecimentos Este trabalho só foi possível ser finalizado com a ajuda dos colaboradores e suas instituições responsáveis. A eles o nosso agradecimento: Alessandra Baquete da Cunha, Andressa Saad, Andressa Gonçalves, Aurizenaide Dias, Carolina Luna Victoria, Cláudia Mara, Claudiane Campos, Cristina Garcia, Cristina Ossig da Luz, Edna Moraes, Elizete Medeiros, Iara Miranda Fernandes, Jeanine Cornelia Elgersma, Maria Helena Fonseca, Maristela Amaral, Maura Cecília Albano, Maria Lúcia Silva, Maria Tereza da Costa, Marli Elói, Rosa Jesus, Sandra Gomes, Sérgia Rosana Rodrigues, Sheila Pinheiro, Suze Sabino, Tânia Lúcia Fernandes e Wilcéia Pereira. REFERÊNCIAS Q-Edu. Site de buscas na educação brasileira, 2014. Disponível em: http://www.qedu.org. br/ Acesso em: 12/1/2015 OECD. Organização para a cooperação e o desenvolvimento econômico, 2013. Disponível em: http://data.oecd.org/brazil.htm Acesso em: 12/1/2015 Seabra AG, Capovilla FC. Teste de Competência de Leitura de Palavras e Pseudopalavras (TCLPP). São Paulo: Memnon; 2007. Moojen S, Lamprecht R, Santos RM, Freitas GM, Brodacz R, Siqueira M, et al. CONFIAS: Consciência fonológica instrumento de avaliação sequencial. São Paulo: Casa do Psicó- logo; 2003. Cuetos F, Capellini SA, Oliveira, AM. PROLEC: Provas de avaliação dos processos de leitura. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2013. http://www.qedu.org/ http://data.oecd.org/brazil.htm 110 111 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br Pereira RS, Rocha RM. BACLE: Bateria de Avaliação de Competências Iniciais para a Leitura e Escrita. Lisboa: Edição do Autor; 2012. Salles JF. Habilidades e dificuldades de leitura e escrita em crianças de 2ª série: aborda- gem neuropsicológica cognitiva [Tese de doutorado]. Porto Alegre: Universidade do Rio Grande do Sul; 2005. Nunes T, Buarque L, Bryant P. Dificuldades na aprendizagem na leitura: teoria e prática. São Paulo: Cortez; 2001. Oliveira CR, Rodrigues JC, Fonseca RP. O uso de instrumentos neuropsicológicos na avaliação de dificuldades de aprendizagem. Rev Psicopedagogia 2009;26(79):65-76. Collares CCL, Moysés MAA. Diagnóstico da medicalização do processo de ensino – apren- dizagem na 1ª série do 1º grau no Município de Campinas. Em Aberto. 1992; 11(53):23-8. Meira MEM. A medicalização e a produção da exclusão na educação brasileira à luz da Psicologia Histórico-Cultural, 2009. Disponível em: http://www.vigotski.net/abrapso/2009e- duc-mr-03.pdf Acesso em: 10/1/2015 Ocshner KN, Lieberman MD. The emergence of social cognitive neuroscience. Am Psychol. 2001;56(9):717-34. Cabral E, Sawaya SM. Concepções e atuação profissional diante das queixas escolares: os psicólogos nos serviços públicos de saúde. Estud Psicol. 2001;6(2):143-55. Lima F, Mello RJL, Massoni, I, Ciasca SM. Dificuldades de aprendizagem: queixas escolares e diagnósticos em um serviço de neurologia infantil. Rev Neurociências. 2006; 14:185-90. Winnicott DW. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago; 1975. Kaufmann-Sacchetto K, Madaschi V, Barbosa GHL, Silva PL, Silva RCT, Filipe BTC, et al. O ambiente lúdico como fator motivacional na aprendizagem escolar. Cad Pós-Grad em Dist Des. 2011;11(1):28-36. Vygotsky LS. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes; 2000. Fernández A. O saber em jogo: a psicopedagogia propiciando autorias de pensamento. Porto Alegre: Artmed; 2001. Jardini RSR, Ruiz LSR, 2014. Protocolo Lince de Investigação Neurolinguística. Disponí- vel em: http://loja.metododasboquinhas.com. br/p/73/kit-plin-completo-lince. Acesso em: 10/1/2015 Jardini RSR. Jogo Lince de Boquinhas, 2006. Disponível em: htpp://loja.metododasboqui- nhas.com.br/c/3/jogos Acesso em: 10/1/2015 CID-10. Código Internacional de Doenças, 2014. Disponível em: http://www.cid10.com. br/ Acesso em: 10/1/2015 DSM-5. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. American Psychiatric Association. 5ª ed. São Paulo: Artmed; 2014. Jardini RSR, Vergara FA. Alfabetização de crianças com distúrbios de aprendizagem, por métodos multissensoriais, com ênfase fono-vísuo-articulatória: relato de uma experiência. Pró-Fono Rev Atual Cient. 1997; 9(1):31-4. http://www.vigotski.net/abrapso/2009- http://loja.metododasboquinhas.com/ http://www.cid10.com/ 112 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br Arango HG. Bioestatística teórica e computacional. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2009. Ayres M, Ayres Júnior M. BioEstat 2.0 com CD – Aplicações estatísticas nas áreas das ciências biológicas e médicas. São Paulo: CNPq; 2000. Lyytinen H. In search of the precursors of dyslexia. In: Hulme C, Snowling M, orgs. Dyslexia: biology, cognition and intervention. London: Whurr Publishers; 1997. p.97-107. Capovilla AGS, Gütschow CRD, Capovilla FC. Habilidades cognitivas que predizem com- petência de leitura e escrita. Psicologia: Teoria e Prática 2004;6(2):13-26. Alegria J, Leybaert J, Mousty P. Aquisição da leitura e distúrbios associados: avaliação, tratamento e teoria. In: Grégoire J, Piérart B, orgs. Avaliação dos problemas de leitura: os novos modelos teóricos e suas implicações diagnósticas. Porto Alegre: Artes Médicas; 1997. p.105-24. Capovilla FC, Capovilla AGS. Research on the role of phonology, orthography and cognitive skills upon reading, spelling and dyslexia in Brazilian Portuguese. In: Smythe I, Everatt J, Salter R, orgs. International book on dyslexia. 2nd ed. London: British Dyslexia Association; 2003. p.142-55. Lundberg I, Frost J, Petersen O. Effects of an extensive program for stimulating phono- logical awarenessin preschool children. Reading Research Quarterly. 1988;23:262-84. Vandervelden MC, Siegel LS. Phonological recoding and phoneme awareness in early literacy: a developmental approach. Reading Research Quartely. 1995;30:854-75. Vellutino FR. Dyslexia: theory and practice. Cambridge: MIT Press; 1979. Godard L. Troubles du langage écrit chez les enfants: dyslexie. Fréquences. 2007;18(4):12- 6. Browman C, Goldstein L. Towards an articulatory phonology. Phonol. Yearbook 1986;3: 219-52. Browman C, Goldstein L. Representation and reality: physical systems and phonological structure. J Phon. 1990;18:411-24. Albano EC. O gesto e suas bordas: esboço de fonologia articulatória do português brasi- leiro. Campinas: Mercado das Letras; 2001. Vidor-Souza D, Mota HB, Santos RM. A consciência fonoarticulatória em crianças com desvio fonológico. Rev CEFAC. 2011; 13(2):196-204. Vidor-Souza D, Vieira MJB, Santos RM. Consciência fonoarticulatória e linguagem escrita. Verba Volant. 2011;2(1):129-43. Maluf ACM. Atividades recreativas para divertir e ensinar. 4ª ed. Petrópolis: Vozes; 2008. Antunes C. Jogos para a estimulação das múltiplas inteligências. 12ª ed. Petrópolis: Vo- zes; 2003. Csikszentmihalyi M. Fluxo: the psychology of experience optimal. New York: Harper and Row; 1990. 112 113 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br Tori R. A presença das tecnologias interativas na educação. Revista de Computação e Tecnologia da PUC-SP, 2014. Disponível no URL: file:///C:/Users/Cliente/Downloads/ 38508879-1-PB%20(1).pdf Acesso em: 10/1/2015 Weiss MLL. Psicopedagogia clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendiza- gem escolar. Rio de Janeiro: DP&A; 1999. Jardini RSR. Método das boquinhas: alfabetização e reabilitação dos distúrbios da leitura e escrita (livro 1: fundamentação teórica). São Paulo: Casa do Psicólogo; 2003. Jardini RSR, Souza PT. Alfabetização com Boquinhas: manual do educador. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2005. 09 '10.37885/221010403 09 Saúde mental e desenvolvimento infantil: limites entre o normal e o patológico Lany Leide de Castro Rocha Campelo Aline Raquel de Sousa Ibiapina Antonio Alberto Ibiapina Costa Filho Lairton Batista de Oliveira Mailson Fontes de Carvalho Margareth Angelo https://dx.doi.org/10.37885/221010403 RESUMO O capítulo apresenta uma análise acerca dos sintomas psicopatológicos identificados em crianças de 6 a 12 anos no município de Picos - Piauí. Trata-se de uma pesquisa trans- versal de cunho quantitativo com 117 crianças, cadastradas em uma equipe de Estratégia Saúde da Família, utilizando a Escala de Identificação de Sintomas Psicopatológicos em Escolares. As estatísticas descritivas e inferenciais (Teste qui-quadrado de Pearson, Exato de Fisher e Mann-Whitney) foram tabuladas através do software Statistical Package for the Social Science, versão 20.0. Os resultados apontam o domínio ansiedade com maior número de respostas positivas (60,7%); seguido do domínio comportamento (63%); e do domínio atenção (52%). O domínio com menor média foi o relacionado ao uso de substâncias psicoa- tivas (1,00 ± 0,36). Não houve correlação significativa entre os valores obtidos na EISPE e as variáveis sexo, idade e série escolar. Ressalta-se por fim que conhecimento de sintomas psicopatológicos pode contribuir para a identificação precoce de possíveis problemas de saúde mental na atenção primária à saúde. Palavras-chave: Saúde Mental, Saúde da Criança, Desenvolvimento Infantil. 116 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br INTRODUÇÃO Os problemas de saúde mental na infância podem interferir negativamente no desen- volvimento escolar e na própria autonomia do futuro adulto, com a possibilidade de se tornar crônicos, com impactos negativos e crítico a nível familiar, educativo e social. Na atualidade, a incidência destes problemas têm aumentado em torno de 15-30%, constituindo preocupação para a saúde pública frente aos impactos destes na vida adulta (SANTOS, 2015). A interação da criança com os membros da família e com a rede social em que está inserida, contribui para o desenvolvimento psicossocial. É durante a idade pré-escolar, que serão estabelecidas uma relação de maior afetividade com os familiares, além do aprimo- ramento das habilidades de condutas, representações mentais e sentimentais, bem como, no desenvolvimento da moral e da personalidade (autoestima, autocontrole, etc.). Após alcançarem a idade escolar, a escola passa a ser um âmbito de socialização, encarregado pela transmissão do saber organizado e da construção cultural (DEL PRETTE, 2017). Dados epidemiológicos apontam uma prevalência de 20% de perturbações psiquiátricas na população infanto-juvenil, considerando os problemas emocionais e comportamentais como os mais frequentes e passíveis de cuidados (SANTOS, 2015). Estudo desenvolvido com uma amostra de 823 crianças com idade entre 6 e 11 anos de idade, identificou que 49% tinham problemas de saúde mental, sendo 30,7% problemas internalizantes, e 18,3% problemas externalizantes. Nesse sentido, percebe-se que estes problemas interferem ne- gativamente tanto na vida interna, quanto na vida externa da criança (FATORI et al., 2018). Dada sua magnitude, tal problema torna-se preocupação frequente dos serviços de atenção à saúde, especialmente no contexto da atenção primária à saúde, responsável pelo acompanhamento do crescimento e desenvolvimento de crianças cadastradas em seu território. Neste espaço, são firmados comprometimento e a responsabilidade de resolução dos problemas que afetam a saúde da população infantil, possibilitando o reconhecimento e a interposição nos fatores de risco que levam as crianças ao adoecimento mental, por meio do desenvolvimento de ações intersetoriais e práticas interdisciplinares em saúde mental, e assim esse reconhecimento e atendimento poderá ser visto como uma forma mais promis- sora do cuidado em saúde mental na atenção básica (OLIVEIRA et al., 2017). Nesse sentido, é válido destacar que os profissionais que compõem equipes de saúde da família (eSF), especificamente o enfermeiro, são responsável pelo acompanhamento do desenvolvimento da criança e identificação de alguns problemas, como por exemplo atraso no desenvolvimento da comunicação, alterações de humor e/ou comportamentais, tendência ao isolamento social, déficit no aprendizado entre outros achados, de modo a identificar precocemente estes problemas e garantir um diagnóstico e intervenções o mais 116 117 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br rápido possível, afim de obter um bom prognóstico das crianças que apresentarem sinais sugestivos de transtornos (BARROS, 2008). O acompanhamento e tratamento de crianças com problemas mentais tem ressaltada importância no âmbito da estratégia saúde da família (ESF), pois através do acolhimento, escuta individual e familiar e da aplicação de terapias interventivas é possível o estabeleci- mento de vínculo e aproximação com esse público, além de estimular um acompanhamento de forma ativa e envolvimento de toda a equipe nesse processo (MENEZES; AVELINO, 2016). Nesta perspectiva, o presente estudo apresenta uma análise dos sintomas psicopatológicos identificados em crianças de 6 a 12 anos em um município do Piauí. METODOLOGIA Trata-se de um estudo transversal de cunho quantitativo, realizado em com crianças cadastradas em uma equipe de Estratégia Saúde da Família no Piauí, Brasil. Foram incluídas crianças com idade de 6 a 12 anos, cadastradas na eSF, ter a permis- são por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido de um familiar responsável. Considerandoque a Escala de Identificação de Sintomas Psicopatológicos em Escolares (EISP) é um instrumento que permite a identificação de sintomas psicopatológicos a partir da perspectiva da criança, devendo ser respondido pela mesma, é necessário que ela possua habilidades cognitivas para compreender suas próprias emoções e responder ao que lhe é perguntado. Assim, foram excluídas do estudo crianças com déficit intelectual grave e crianças em acompanhamento psiquiátrico ou outras condições de saúde quando estas as impossibilitaram compreender e responder a escala. Os dados foram coletados em uma unidade básica de saúde do município de Picos-PI, no período de novembro a dezembro de 2017. Aplicou-se a EISPE nas crianças com idades entre 6 e 12 anos cadastradas na respectiva equipe. Instrumento validado no Brasil para a investigação de sintomas psicopatológicos em crianças em idade escolar - 6 a 12 anos, a EISPE é composta por 23 itens relacionados a 6 domínios: ansiedade (2 itens), transtornos de humor (3 itens), condutas sociais (4 itens), atenção/atividade motora (4 itens), padrões alimentares (5 itens) e uso/abuso de substân- cias psicoativas (5 itens). Dentre os 23 itens, 4 correspondem a afirmativas com sentido positivo (itens 12, 15, 17 e 19), aos quais serão atribuídas as pontuações: Sempre (1 ponto), às vezes (2 pontos) e nunca (3 pontos). As 19 afirmações com sentido negativo possuem sua pontuação invertida, permitindo a atribuição de um mesmo sentido para todos os itens. Dessa forma, considerando a soma de pontos das crianças nos itens da escala final, a escala permite inferir sobre a gravidade da sintomatologia psiquiátrica apresentada pela criança 118 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br (pontuação acima de 46), e a necessidade da mesma ser encaminhada para acompanha- mento especializado (BITTENCOURT e VARGAS, 2017). Para identificar o número total de crianças pertencentes à faixa etária estipulada e o endereço residencial de cada uma delas, o estudo utilizou informações obtidas na Secretaria de Saúde do Município e análise manual das fichas de cadastro das famílias disponibilizadas pelos cinco agentes comunitários de saúde (ACS) em concordância com a enfermeira da eSF. Ainda com a colaboração dos ACS, foram afixados cartazes informativos sobre a pesquisa no mural da Unidade Básica de Saúde e distribuídos convites impressos nas residências das famílias das crianças a fim de sensibilizar a comunidade sobre importância do cuidado da saúde mental das crianças. Por meio dos convites impressos foi possível a realização de 122 residências, onde residiam as 158 crianças escolares cadastradas na equipe a fim de convidá-las pessoalmente a participar da pesquisa. Das 158 crianças, 21 não foram encontradas em seus domicílios após três visitas, sendo automaticamente excluídas do estudo. Das 137 crianças contata- das, 9 não puderam ser convidadas por não terem a autorização de um adulto responsável (não autorizaram sua participação por acreditarem que as mesmas não necessitavam de avaliação) e 8 não aceitaram participar do estudo. Das 120 crianças que tiveram permissão e aceitaram participar, três não atenderam aos critérios de inclusão no que se refere à cognição preservada e por não conseguirem concluir as entrevistas foram excluídas do estudo, restando 117 crianças participantes, o equivalente a 74% da população selecionada. A maioria das crianças respondeu às perguntas da EISPE na presença de um ou ambos os pais ou outros familiares (irmãos, tios, primos, avós, padrinhos) em seu próprio domicílio na ocasião da visita da pesquisadora, enquanto 17 familiares optaram por agendar uma data e levar suas crianças até a UBS, onde a entrevista aconteceu numa sala privativa na presença de um ou ambos os pais. O tempo de aplicação da escala com cada criança variou de 5 a 25 minutos. Os dados foram analisados por meio de análise descritiva. Para tanto foram inseridos em um banco de dados do programa SPSS (Statistical Package for the Social Science), versão 20.0, segundo codificação previamente determinada. Os resultados foram analisados com auxílio de estatístico, segundo os objetivos e metodologia proposta, com os testes des- critos a seguir: - As variáveis dicotômicas foram avaliadas por meio do teste qui-quadrado com correção de Yates ou teste Fischer quando apropriado; As variáveis contínuas foram avaliadas por meio do teste t de Student ou Mann Whitney, quando apropriado; No modelo de regressão foram selecionadas variáveis que apresentaram p≤0,25 nas análises bivaria- das; O nível de significância delimitado foi α = 0,05. 118 119 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br A pesquisa obteve autorização do Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP) para sua realização, respeitados os aspectos ético-legais relativos à pesquisa com seres humanos em atendimento da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2012). As crianças participantes e seus responsáveis receberam informações detalhadas sobre a pesquisa e a partir de então os responsáveis pela criança que aceitaram participar do estudo e que permitiram a participação da criança assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). As crianças autorizadas por seus responsáveis a participar do estudo manifestaram a anuência por meio da assinatura do Termo de Assentimento. RESULTADOS Entre 117 crianças, constatou-se um maior predomínio do sexo masculino (54,7%), com idade média de 8,97 anos (±2,00) e maior participação de crianças cursando o ensino fundamental (91,5%) (Tabela 1). Tabela 1. Distribuição das variáveis demográficas da amostra de crianças (n = 117) que responderam a EISPE. Picos – PI, novembro – janeiro, 2017/2018. Variáveis n % Média ± DP* Sexo Masculino 64 54,7 Feminino 53 45,3 Idade 8,97 ± 2,00 Série escolar Sem escola 1 0,8 Ensino infantil 9 7,7 Ensino fundamental 107 91,5 * DP: desvio-padrão. Fonte: dados da pesquisa. A tabela 2 apresenta a descrição das respostas ao instrumento conforme os domínios ansiedade, humor, comportamento, atenção, comportamento alimentar e uso de substâncias psicoativas. O domínio ansiedade foi o que apresentou o maior número de respostas posi- tivas, demonstrando que a maioria das crianças às vezes se sente preocupada ou ansiosa demais (60,7%); seguido do domínio comportamento, que evidenciou que muitas crianças às vezes tem facilidade em cumprir regras (63%); e do domínio atenção, que evidenciou que a maioria das crianças às vezes é agitada (52%). Os demais domínios obtiveram pontuações pouco expressivas com relação aos sintomas psicopatológicos investigados (tabela 2). 120 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br Tabela 2. Descrição das respostas obtidas em relação à EISPE na amostra estudada (n = 117). Picos – PI, novembro – janeiro, 2017/2018. Sempre Às vezes Nunca n % n % n % Ansiedade Me sinto preocupado ou ansioso demais 20 17,1 71 60,7 26 22,2 As preocupações que tenho me fazem perder a atenção e me atrapalham 3 2,6 41 35 73 62,4 Humor Penso em me machucar - - 8 6,8 109 93,2 Estou a maior parte do tempo triste 3 2,6 41 35 73 62,4 Me sinto sozinho 4 3,4 27 23,1 86 73,5 Comportamento Eu me arrependo depois que me comporto mal* 59 50,4 50 42,7 8 6,9 Participo de brigas com meus amigos 3 2,6 24 20,5 90 76,9 Sou esquentado 23 19,7 49 41,8 45 38,5 Tenho facilidade em cumprir regras* 50 42,7 63 53,8 4 3,5 Atenção Eu me distraio facilmente 7 6 41 35 69 59 Eu termino as tarefas que comecei* 86 73,5 29 24,8 2 1,7 Sou agitado 26 22,2 52 44,5 39 33,3 Eu presto atençãofacilmente nas aulas* 77 65,8 35 29,9 5 4,3 Comportamento alimentar Quando como demais, fico triste 3 2,6 6 5,1 108 92,3 Tenho medo de ficar gordo 25 21,4 17 14,5 75 64,1 Estou sempre pensando em comida 18 15,4 41 35 58 49,6 Como muito e passo mal 2 1,7 40 34,2 75 64,1 O meu peso me incomoda 4 3,4 14 12 99 84,6 Uso de substâncias Fumo cigarro - - - - 117 100 Tomo bebida alcóolica - - - - 117 100 Fumo maconha - - - - 117 100 Uso crack - - - - 117 100 Tenho vontade de beber, fumar ou usar droga - - 4 3,4 113 96,6 * Itens positivos. Fonte: dados da pesquisa. O gráfico 1 apresenta os dados obtidos na escala conforme os domínios. Destaca-se que o domínio ansiedade foi o que obteve a maior média de respostas positivas, embora não se tenha identificado crianças sintomáticas entre as respondentes da escala, enquanto o domínio com menor média foi o relacionado ao uso de substâncias psicoativas, evidenciando que na população investigada o uso dessas substâncias é pouco expressivo (1,00 ± 0,36), conforme também evidenciado na tabela 2, que aponta que apenas 3,4% das crianças às vezes tem vontade de beber ou fumar. 120 121 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br Gráfico 1. Identificação da média obtida nos domínios da EISPE (n = 117). Picos – PI, novembro – janeiro, 2017/2018. Fonte: dados da pesquisa. O gráfico 2 trata da dispersão dos valores que cada uma das crianças alcançou den- tro da escala de forma geral. Destaca-se aqui que não houve uma variação muito grande dos valores obtidos na escala, que teve uma média de 31,23 pontos com desvio padrão de ± 3,97, o que significa que quase todos os respondentes obtiveram valores semelhantes, sendo que o mínimo foi 24 e o máximo foi 42 pontos. O Alpha de Cronbach que avalia a consistência interna da escala, foi de 0,636, o que implica dizer que a escala apresentou uma baixa consistência interna diante do cenário e população do estudo. Gráfico 2. Dispersão dos valores obtidos na EISPE segundo cada participante do estudo (n = 117). Picos – PI, novembro- janeiro, 2017/2018. Fonte: dados da pesquisa. 122 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br Com relação ao cruzamento dos dados dos valores obtidos na escala com as variáveis demográficas (variável com distribuição não-normal, segundo teste de Kolmogorov-Smirnov (p=0,008), utilizando-se testes não paramétricos), observou-se que: Idade - Correlação de Spearman - o valor de sp (valor teste) foi - 0,006, o que significa que há uma correlação negativa, ou seja, à medida que a idade aumenta, a pontuação na escala diminui. As crianças mais jovens apresentaram uma pontuação maior na escala, es- tando mais próximas da pontuação que as caracterizaria como sintomáticas, enquanto as mais velhas apresentaram pontuações mais baixas, estando mais próximas da pontuação que as caracterizaria como assintomáticas. Tal correlação, todavia, não se mostrou estatis- ticamente significante visto que o valor do p foi 0,951. Sexo - Teste de Mann-Whitney - o sexo masculino obteve uma média maior na escala (31,94) em comparação com o feminino (30,38), todavia, como o valor de p foi 0,060, ou seja, não significativo, não é possível afirmar que os meninos alcançaram pontuações mais próximas de sintomática. Série escolar - Teste de Kruskal-Wallis - a média de ensino fundamental foi maior (31,34 ± 4,08), embora o valor do teste também tenha sido não significativo. Assim, conforme apresentado na Tabela 3, não houve correlação significativa entre os valores obtidos na EISPE e as variáveis sexo, idade e série escolar. Tabela 3. Análise dos aspectos demográficos relacionados à EISPE (n = 117). Picos – PI, novembro - janeiro, 2017/2018. EISPE p-valor Média ± DP* rs a Idade -0,006 0,951 Sexo 0,060 b Masculino 31,94 ± 4,15 Feminino 30,38 ± 3,59 Série Escolar 0,576 c Sem escola 32 Ensino infantil 29,89 ± 2,47 Ensino fundamental 31,34 ± 4,08 * DP: desvio-padrão. a Coeficiente de Correlação de Spearman. b Teste de Mann-Whitney. c Teste de Kruskal-Wallis. Fonte: dados da pesquisa. DISCUSSÃO A análise das informações obtidas por meio da EISPE revelou que as crianças não apresentam, conforme o instrumento, sintomatologia suficiente para serem classificadas como sintomáticas, visto que a média de pontos foi 31,23 +_3,97, com pontuação mínima 24 e máxima 42 pontos (Gráfico 2). No entanto, entre os sintomas investigados, os relacionados 122 123 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br a ansiedade foram os que mais se destacaram, seguido de sintomas de alterações compor- tamentais e de atenção, prevalência encontrada também em estudo realizado por Vitolo et al. (2005). Sintomas relacionados a alterações do padrão de comportamento alimentar, humor e uso de substâncias psicoativas, nesta sequência, foram menos expressivos neste estudo. A ansiedade é um estado emocional passível de ser vivenciado por qualquer indiví- duo quando se sente ameaçado ou inseguro diante de algo (LOUREIRO, 2014). É natural que as crianças em idade escolar a experimentem ao longo do seu desenvolvimento, haja visto que, apesar de este ser um período em que já desenvolveram maior confiança para enfrentar os desafios do mundo exterior, a sua relativa liberdade para explorar o mundo das proximidades, da comunidade e da escola sem a estreita supervisão dos pais, permite que elas experimentem vulnerabilidades, testem suas novas capacidades, e vivenciem os conflitos próprios dos relacionamentos (BERGER, 2016). As manifestações de ansiedade tendem a desempenhar uma função adaptativa à nor- malidade por meio de adaptações frente aos eventos estressores, possibilitando convivên- cia ou perspectivas de desenvolvimento de estratégias para superá-los (SALUM JÚNIOR; ALVARENGA; MANFRO, 2012). Por outro lado, podem ser consideradas preocupantes ou patológicas quando passam a interferir nas atividades do cotidiano e nas relações interpes- soais do sujeito, que pode apresentar alterações emocionais, cognitivas, comportamentais e físicas mais duradouras (LAFER et al., 2012). A identificação precoce e tratamento baseado em habilidades parentais, reestrutura- ção cognitiva e exposição in vivo de crianças altamente sintomáticas ou com familiares de primeiro grau afetados tem impacto significativo quanto a redução da frequência e gravidade dos transtornos de ansiedade, demonstrando que mesmo intervenções breves mostram-se promissoras quando se pensa em alterar a trajetória de ansiedade e distúrbios relacionados em crianças (RAPEE et al., 2010). As preocupações referentes a dificuldades de aprendizagem e ao cumprimento de responsabilidades escolares, podem ser indicativas de ansiedade relacionada a compe- tência, que se transitória, pode ser considerada benigna, porém ao se configurar como patológica, pode causar prejuízos na vida acadêmica e saúde mental da criança, assim a sua identificação precoce pode evitar repercussões negativas como faltas e evasão escolar e busca constante de serviços médicos e surgimento de problemas psiquiátricos na vida adulta (LAFER et al., 2012). Preocupações com a saúde, bem-estar da família, conflitos conjugais ou até mesmo o medo da morte de familiares próximos, tais como o pai ou a mãe podem ser indicativas de preocupação com o bem-estar e segurança física da família, todavia, podem ser indícios de https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Rapee RM%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=20810472 124 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br que a criança está sofrendo com a ansiedadede separação, quadro comum na infância e adolescência (ESTANISLAU e BRESSAN, 2014). De acordo com Benetti (2006), a ocorrência de conflito conjugal associada a episódios de violência entre o casal, constitui-se em uma das formas mais negativas de interação e expressão afetiva, com graves consequências para o desenvolvimento infantil conforme a frequência, a intensidade, o conteúdo e a forma de resolução dos conflitos. Tais prejuízos ao desenvolvimento envolvem o surgimento de problemas de saúde mental, como evidenciado em estudos epidemiológicos desenvolvidos em escolas e comunidades brasileiras reunidos por Assis et al., (2009), constatando que problemas de saúde mental são muito frequentes em crianças e adolescentes vítimas e testemunhas de violência. Em relação ao domínio de comportamento (63%) das crianças em idade escolar pas- sam a dar preferência ao convívio com os amigos, compreende melhor a percepção de sua imagem corporal e das características e enfrentam padrões que podem leva-la ou não a ser aceita pelos grupos aos quais faz ou deseja fazer parte, levando-os a se preocupar com o julgamento dos colegas, por não possuir uma aparência física compatível com o que é aceito pelo grupo, o que pode tornar-se um problema, interferindo negativamente na sua autoestima, ou seja, essa criança pode desenvolver comportamentos violentos de brigas com os colegas; frente a estes entraves, essa criança tem facilidade de cumprir com regras (BOYD; BEE, 2011). Sintomas de desatenção (52%) ocuparam o terceiro lugar entre os identificados na EISPE. Esses sintomas são auto identificados pela criança quanto a distratibilidade, dificul- dade de completar tarefas, agitação e dificuldade de manter-se atentas às aulas, repercu- tindo na maioria das vezes em problemas de aprendizagem (POLANCZYK; ROHDE, 2012), comumente associados a autoestima baixa e habilidades sociais insatisfatórias (VIDEBECK, 2012). Assim, conhecer o que a criança pensa sobre si mesma é um passo importante para pensar estratégias interventivas em saúde mental, no sentindo de garantir adequada atenção à saúde biopsicossocial. É fato que transtornos psiquiátricos não são facilmente identificados, sobretudo em crianças, visto que a depender da fase de desenvolvimento em que se encontram, lhes faltam habilidades cognitivas e verbais para compreender e descrever o que sentem, ou mesmo distinguir sintomas incomuns ou indesejados e sentimentos e sensações normais, além do que, comportamentos normais em certas idades podem ser indicativos de problemas em outras (VIDEBECK, 2012). Nesse sentido, destacamos a importância do trabalho realizado na Atenção Primária à Saúde, especificamente através da ESF, que considerando seus princípios e diretrizes de trabalho realizado em proximidade aos indivíduos e famílias, possibilita a identificação e 124 125 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br consequente intervenção oportuna nos fatores correlacionados à saúde mental das crianças e famílias (OLIVEIRA et al., 2017). CONSIDERAÇÕES FINAIS O conhecimento de sintomas psicopatológicos que podem contribuir para a identificação precoce de problemas de saúde mental a nível da atenção primária em saúde permite que os profissionais de saúde planejem suas ações de cuidado de forma a prover uma melhor assistência às crianças e suas famílias buscando recursos na própria família e comunidade ou em níveis mais elevados de assistência, quando necessário. Nessa direção, faz-se necessário que os profissionais de saúde se inclinem a pres- tação de cuidados cada vez mais eficazes a esta população, utilizando as ferramentas e instrumentais adequados ao atendimento a criança, de forma ética e social, elaborando estratégias interventivas com o escopo de tratá-los (ASSIS et al., 2015). Destaque-se que ao possibilitar investigação de questões relacionadas aos sentimentos e emoções, ao auto- conceito, à qualidade das interações sociais e outros preditores da saúde mental da criança permitindo-a expressar-se e ser compreendida, a EISPE configura-se como um instrumento auxiliar importante para a identificação de sintomas preditores de problemas nas crianças e na sua relação com o mundo que a cerca. REFERÊNCIAS ASSIS, M. M. A. et al. Comprehensive health care: dilemmas and challenges in nursing. Rev Bras Enferm [Internet], v. 68, n. 2, p. 333-8, 2015. ASSIS, S.G.; AVANCI, J.Q.; OLIVEIRA, R.V. C. Desigualdades socioeconômicas e saúde mental infantil. Rev Saúde Pública, v. 43, Supl. 1, p. 92-100, 2009. BARROS, F. C.; VICTORA, C. G. Maternal-child health in Pelotas, Rio Grande do Sul Sta- te, Brazil: major conclusions from comparisons of the 1982, 1993, and 2004 birth cohorts. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 24, n. 3, 2008. BATISTA, K. A.; OLIVEIRA, P. R. S. A saúde mental infantil na atenção primária: reflexões acerca das práticas de cuidado desenvolvidas no município de Horizonte-CE. Pesquisas e Práticas Psicossociais, v.12, n. 3, set./dez. de 2017. BITTENCOURT, M.N.; VARGAS, D. Construção e validação da Escala de Identificação de Sintomas Psicopatológicos em Escolares (EISPE). Jornal Brasileiro de Psiquiatria [online], v. 66, n. 2, pp. 65-72, 2017. BOYD, D.; BEE, H. A criança em crescimento. Porto Alegre: Artmed, 2011. 624p. BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Diretrizes e normas reguladoras de pesquisa en- volvendo seres humano. Resolução 466 /2012. Brasília, 2012. 126 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno de Atenção Básica nº 33 – Saúde da Criança: Crescimento e Desenvolvimento. Brasília, DF, 2012. DEL PRETTE, Z. A. P.; DEL PRETTE, A. Psicologia das habilidades sociais na infância: teoria e prática. Petropolis, RJ: Editora Vozes, 2017. ESTANISLAU, G.M.; BRESSAN, R.A. Saúde Mental na Escola: O que os Educadores Devem Saber. Porto Alegre: Artmed, 2014. FATORI et al Childhood Mental Health Problems in Primary Care. Ciência & Saúde Coletiva, v. 23, n. 9, p. 3013-3020, 2018. FERRIOLLI, S. H. T.; MARTURANO, E. M.; PUNTEL, L. P. Family context and child mental health problems in the Family Health Program. Rev Saúde Pública, v. 41, n. 2, p. 251- 259, 2007. FLEITLICH, B., GOODMAN, R. Social factors associated with child mental health pro- blems in Brazil: cross sectional survey. BMJ, v. 323, p. 599-600, set., 2001. LOUREIRO L. Primeira ajuda em saúde mental. Coimbra: Escola de Enfermagem de Coimbra, 2014. 127.p. MATTOS, P.; ROHDE, L.A.; POLANCZYK, G.V. ADHD is undertreated in Brazil. Brazilian Journal of Psychiatry [online], v. 34, n. 4, pp. 513-514, 2012. MENEZES, K. K. P.; AVELINO, P. R. Grupos operativos na atenção primária à saúde como prática de discussão e educação: uma revisão. Cad. Saúde Colet., v.24, n. 1, p. 124-130, 2016. OLIVEIRA, E. C. et al. O cuidado em saúde mental no território: concepções de profissio- nais da atenção básica. Esc. Anna Nery, v. 21, n. 3, p.1-7, 2017. SANTOS, M, C. Problemas de Saúde Mental em Crianças e Adolescentes - Identificar, Avaliar e Intervir. Lisboa: Edições Sílabo- Lda, 2015. VIDEBECK, S.L. Enfermagem em saúde mental e psiquiatria. Porto Alegre: Artmed, 2012. VITOLO, Y.L.C et al. Crenças e atitudes educativas dos pais e problemas de saúde mental em escolares. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 39, n. 5, p. 716-724, 2005. 127 Ensino de Filosofia: estratégias, perspectivas e limitações em pesquisa - ISBN 978-65-5360-242-7 - Vol. 2 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br SOBRE O ORGANIZADOR Flávio Aparecido de Almeida Possui graduação em Psicologia pelo Centro Universitário Faminas(2015), graduação em Pedagogia pela Faculdade do Noroeste de Minas(2010), graduação em Filosofia pela Faculdade Entre Rios do Piauí(2015), graduaçãono raciocínio lógico-matemático, que tem cada dia mais aumentado no contexto escolar, dificultando a aprendizagem da matemática, levando muitos alunos ao fracasso nessa disciplina. O objetivo da pesquisa é investigar as principais causas da discalculia nas turmas dos anos iniciais do Ensino Fundamental e como os professores se posicionam frente ao enfrentamento dessa dificuldade e inclusão desses alunos. A pesquisa contou com autores tais como: Conclui-se que o professor necessita ter um olhar cuidadoso sobre o aluno discálculo conhecendo as dificuldades individuais de cada aluno para que possa intervir colaborando na aprendizagem e no resgate da da autoestima e consequentemente de sua inclusão. Palavras-chave: Discalculia, Aprendizagem, Matemática. 13 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br INTRODUÇÃO A discalculia tem sido um distúrbio de aprendizagem que nas últimas décadas tem con- tribuido para reforçar as dificuldade de aprendizagem dos alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental, em especial na aprendizagem da matemática. A discalculia é um transtorno de aprendizagem, caracterizado por uma inabilidade de realizar operações matemáticas ou aritméticas e falhas no raciocínio lógico matemática. Muitos professores reclamam que não sabem lidar com esse tipo de distúrbio, pois consideram que a formação inicial não possibilitou o aprofundamento sobre o tema e as pos- síveis alternativas de intervenção que possam contribuir para o enfrentamento da discalculia. O desconhecimento e a falta de informações aprofundadas sobre a temática vêm cola- borando para fortalecer a não aprendizagem da matemática por parte do aluno, ampliando a aversão dos mesmos pela disciplina, assim como aumentar os níveis de reprovação e de rótulos sobre os alunos que não conseguem aprender de forma eficaz. É necessário que a escola busque refletir sobre a disciplina matemática, a forma como ela vem sendo trabalhada pelos professores, as metodologias adotadas e as principais di- ficuldades que justifiquem o aluno não aprender. Para tal, cabe ao professor conhecer as bases teóricas que explicam a discalculia, assim como ela se manifesta no cotidiano do aluno e a necessidade da avaliação do professor e da equipe psicopedagógica para juntos descobrirem, analisarem e trabalhar as dificuldades individuais apresentadas por cada aluno. Por ser um transtorno complexo, se faz necessário o trabalho conjunto da escola, do professor com os demais especialistas visando as especificidades de cada caso. Dessa forma, o objetivo da pesquisa é analisar as principais causas da discalculia nas turmas do Ensino Fundamental I, e como vem sendo realizada a inclusão desses alunos Subsidia essa temática a pesquisa bibliográfica, mostrando a necessidade de revisão na forma como a matemática vem sendo trabalhada pelos professores nos anos iniciais e as estratégias e metodologias aplicadas que colaboram para sanar essas dificuldades e incluir esses alunos. DESENVOLVIMENTO A palavra discalculia, tem sua origem do grego dis=difícil e do latim calculare, cálculo, ou seja, dificuldades no manuseamento em matemática ou aritmética. Há várias formas de se conceituar a discalculia. Não existe uma definição única entre os vários autores sobre tema, o que gera uma imprecisão conceitual. Alguns conceituam-na com dificuldade de 14 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br aprendizagem matemática; transtornos; distúrbio; no campo neurológico como má formação nas partes do cérebro responsável pelo reconhecimento dos símbolos (VILA; LARA, 2020). Gonçalves e Ovídeo (2017) possibilitam construirmos uma conjectura sobre a impor- tância de dominamos os conceitos, descrevendo-a como uma ferramenta cognitiva funda- mental para a construção do conhecimento, dirigindo a atenção para o estudo de níveis de conceituação encontrados nos sujeitos pesquisados. Assim investigar os diferentes conceitos é como iniciar o processo de conhecimento, julgando que seria uns dos caminhos possíveis para o professor definir e conhecer a discalculia. Partindo da ordem cronológica das pesquisas temos a definição de Marques (2017), classifica-a com uma dificuldade em matemática, como resultado do comprometimento de partes específica do cérebro envolvido na cognição matemática, mas uma dificuldade geral na função cognitiva. Por outro lado Ciasca (2013) relata que a discalculia é uma dificuldade específica com a matemática e não se relaciona com a ausência das habilidades matemáticas básicas de contagem, e sim com a capacidade em relacionar com o mundo. Deste modo, as crianças com discalculia no processo de aprendizagem, apresentarão dificuldades em compreender conceitos numéricos simples, falta de percepção intuitiva dos números e entrave em executar procedimentos numéricos. Na concepção de Estanislau e Bressan (2017) é um transtorno de aprendizagem es- pecifico, de origem no desenvolvimento da aquisição de habilidades aritméticas. Em con- formidade Capovila (2015) descreve que representa uma dificuldade de aprendizagem na compreensão de conceitos matemáticos, princípios de contagem ou aritmética. Para Bastos (2016, p. 21) “A discalculia pode ser descrita como déficits na aprendiza- gem de matemática, os quais podem incluir dificuldades em entender e lembrar o conceito de numeral, os relacionamentos numéricos e os obstáculos em aprender e aplicar a com- preensão de problemas linguísticos”. As pesquisas desenvolvidas por Capovilla (2015) defende que esse transtorno ocorre devido uma alteração do senso numérico, ou seja, na compreensão da linha numérica, no processamento temporal, processamento visoespacial. Para Cozenza (2017), a alteração encontra-se nos sistemas cognitivos gerais, como na fluência do procedimento dos cálculos, atenção, memória e ansiedade matemática. Nesse aspecto, há várias formas de conceituar a discalculia, por sua própria natureza, não é um conceito acabado que se dá por definir de formar única. Podemos notar que em todas as definições tem em usual, a assiduidade de dificuldades em matemática a hipótese de que estes são causados por disfunção cerebral. Como uma forma de sintetizar o conceito de discalculia, temos que ela se relacionar com a incapacidade 14 15 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br de compreender a noção de quantidade, na habilidade contar e realizar computações sim- ples. Que os mesmos individuos com discalculia podem até saber contar, mas não distinguir que é maior ou menor. Vale ressaltar, que a discalculia pode esta associada com algumas comorbidades, como a dislexia e a hiperatividade. Quem possui essa dificuldade específica de aprendizagem possui desde que nasceu. Quanto antes ser diagnosticada, melhor, diante de intervenção, os alunos dificilmente acompanharão os conteúdos de matemática. Os problemas com a linguagem matemática ainda é um entraves ao sucesso escolar no Brasil e estão presentes em todos os ciclos da Educação Básica, de descendência em descendência a matemática é perpetuada como a disciplina mais temida e odiada, o que corrobora para a aceitação das dificuldades em aprendizagem matemática como um contexto “normal” na fase escolar da criança. Um desses entraves é devido à discalculia, considerado um dos transtornos de aprendizagem que provoca o surgimento de dificuldades na aprendizagem matemática (MARQUES, 2017). As informações sobre discalculia têm tido uma penetração tão lenta no Brasil, onde muitos professores não sabem distinguir se os alunos apresentam dificuldade procedimental do cálculo ou se refere realmente às caracterisiticas da discalculia. Em alguns casos sãoem História pela Universidade do Estado de Minas Gerais(2008), especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Universidade Candido Mendes(2013), especialização em Gestão de Processos Educativos: Supervisão e Inspeção Escolar pela Universidade do Estado de Minas Gerais(2009), especialização em Psicologia Comportamental e Cognitiva pela FAVENI-FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE(2020), especialização em Ensino Religioso pela Faculdade do Noroeste de Minas(2010), especialização em História do Brasil pela Universidade Candido Mendes(2012), especialização em Psicologia Existencial Humanista e Fenomemológica pela FAVENI-FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE(2020), especialização em Gestão Escolar (Administração, Supervisão, Orientação e Inspeção) pela FAVENI-FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE(2020), especialização em Psicologia Escolar e Educacional pela FAVENI-FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE(2020), especialização em Neuropsicopedagogia pela Universidade Candido Mendes(2015), especialização em Educação Inclusiva, Especial e Políticas de Inclusão pela Universidade Candido Mendes(2012), especialização em Psicologia Social pela Faculdade Mantenense dos Vales Gerais(2017), especialização em Gestão em Saúde Mental pela Universidade Candido Mendes(2012), especialização em Docência do Ensino Superior pela Universidade Candido Mendes(2016), especialização em Neuropsicologia pela Universidade Candido Mendes(2016), especialização em Ética e Filosofia Política pela Faculdade Mantenense dos Vales Gerais(2017) e mestrado-profissionalizante em Ciências das Religiões pela Faculdade Unida de Vitória(2020). Atualmente é Psicólogo Clínico do Consultório de Psicologia, Psicólogo do Abrigo Institucional de Espera Feliz, Membro de comitê assessor do Núcleo de Pesquisa em Ensino e Tecnologia, Professor de Pós-Graduação do Instituto Superior de Educação Verde Norte, Membro de corpo editorial da Editora Científica Digital e Inspetor Escolar da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Espera Feliz - MG. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia Social. Atuando principalmente nos seguintes temas:Ciências das Religiões; Psicologia da Religião, Subjetividade; Experiencia Religiosa, Coping religioso; Qualidade de vida, Religião, Cultura e Diversidade, Psicologia, Religião e Psicopatologia e Religião, Educação e Direitos Humanos. Lattes: http://lattes.cnpq.br/2192204324890376 128 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br ÍNDICE REMISSIVO VENDA PROIBIDA - acesso livre - OPEN ACCESS www.editoracientifica.org | contato@editoracientifica.org editora científica digital https://twitter.com/EditoraCientfi1 https://www.youtube.com/channel/UCjN42grxlbW3gllZHhbxTqA https://www.editoracientifica.org mailto:contato%40editoracientifica.org?subject= https://www.facebook.com/editoracientifica https://www.instagram.com/editoracientifica/ 01 A inclusão dos alunos com discalculia anos iniciais do ensino fundamental Flávio Aparecido de Almeida 10.37885/220910112 02 Alfabetização e letramento e a atuação do psicopedagogo Paulo Roberto Serpa 10.37885/221110796 03 Aspectos emocionais versus aprendizagem: um olhar psicopedagógico Anaizy Moreira de Oliveira Bernardes Charlene de Jesus Santos Mendonça Sabrina dos Anjos Almeida 10.37885/221211328 04 Atuação do(a) psicólogo(a) escolar frente a alunos com necessidades especiais de educação Edirlei Machado Dos-Santos Kléia Naiara Peixoto 10.37885/221211213 05 Auto estima e motivação como fatores estratégicos para melhoria no processo de ensino aprendizagem numa escola municipal de fundamental -6º ao 9º ano- DDZ Centro-sul Manaus-AM Ana Luiza Gomes de Oliveira 10.37885/221110788 06 O psicopedagogo e sua intervenção nas dificuldades de aprendizagem Flávio Aparecido de Almeida 10.37885/221111106 07 Pandemia e a aprendizagem infantil - percepção de pais e professores Alice Ferreira da Silva Alicia Rodrigues Boettger Rocha Mariana Dias Benedetti Maria Rita Polo Gascón Valéria Ribeiro Linard 10.37885/221110976 08 Protocolo Lince de Investigação Neurolinguística (PLIN): instrumento lúdico para conhecer habilidades de leitura e escrita Renata Savastano Ribeiro Jardini Lydia Savastano Ribeiro Ruiz Walderlene Ramalho Andrea Villela de Paula 10.37885/221110998 09 Saúde mental e desenvolvimento infantil: limites entre o normal e o patológico Lany Leide de Castro Rocha Campelo Aline Raquel de Sousa Ibiapina Antonio Alberto Ibiapina Costa Filho Lairton Batista de Oliveira Mailson Fontes de Carvalho Margareth Angelo 10.37885/221010403 SOBRE O ORGANIZADOR ÍNDICE REMISSIVOtão sutis, que os professores não conseguem identificar com exatidão. Assim, torna-se impres- cindível conhecer os impactos da discalculia e observar se eles vão além da vida escolar, mas também na vida cotidiana. Para as crianças que possuem discalculia a matemática e seus conceitos são como uma língua estrangeira desconhecida (FARIAS; GRACINO, 2019). As crianças com discalculia apresentam falhas para adquirir proficiências adequadas no domínio cognitivo matemático, apresentando imperfeição na estabilidade emocional. As mes- mas possuem inteligência dentro ou acima da média e várias potencialidades. Mesmo assim, são incapazes de identificar os sinais matemáticos. Vale ressaltar, que ela não ocorre devido à ausência de habilidades matemáticas, pois muitos esforçam e não conseguem superar tais dificuldades que persistem. As causas da discalculia não são totalmente conhecidas, supõem que ela é causada pela disfunção de processos matemáticos e regiões do cérebro envolvidas no processamento matemáti- co (ROTTA, 2017). Nesse contexto, o professor do Ensino Fundamental, ao ensinar matemática, necessita estar informado e atento para perceber se o aluno apresenta uma dificuldade apenas no procedimento dos cálculos ou discalculia, definida como uma dificuldade no aprendizado dos números, que prejudica a fluência para o cálculo e o pensamento aritmético. Daí a 16 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br necessidade dele ter conhecimento das caracterisiticas da discalculia, como ela se manifesta e as posíveis formas de intervenção. Segundo aponta Bastos (2016, p. 74): O educador deverá ser perceptível, pois nem todas as dificuldades apresenta- das pelos alunos, podem ser diagnosticadas como discalculia. Desse modo, o professor cônscio, saberá diferenciar e buscar novas metodologias, pois, caso a criança apresente esta dificuldade deverá ser encaminhado para equipe multidisciplinar para que possa ser avaliada e seu diagnóstico levantado. A discalculia afeta o desenvolvimento do aluno na área de matemática, ao qual o aluno não consegue acompanhar os demais colegas. Sua evidência pode ocorrer a partir do início da sucessão formal no aprender conceitos matemáticos, mais visíveis durante o 6º e 7º anos do Ensino Fundamental. Em alguns casos, a criança pode estar no mesmo nível dos seus colegas de turma e só manifestar da difculdade posteriormente. De acordo com Gonçalves e Olividio (2017), as crianças com discalculia têm dificuldades para escrever problemas matemáticos, mas conseguem aprender conceitos práticos das aplicações funcionais. Mesmo, o não aprender matemática, aparenta não afligir, é necessário que o professor note os primeiros sinais da discalculia. Essa identificação requer certa pre- mência, pois o quanto antes for diagnosticado, mais fácil torna-se o processo de intervenção. Deste modo, crianças com discalculia, tendem a desenvolver ansiedade à matemática, sintetizando-a, temos que a mesma é uma aversão a matemática, dificultando mais ainda a aquisição de habilidades básicas nesta disciplina. Caso não ocorra uma intervenção, existe uma probabilidade de problemas agrava ao longo prazo (VILA;LARA, 2020). Mediante a incapacidade de lidar com os números, ao constante insucesso na apren- dizagem da matemática. Existe uma hipótese considerada que a discalculia pode favorecer a possibilidade de adquirir ansiedade matemática. Como enfatiza Consenza (2017), as dificuldades com a matemática pode trazer medo e ansiedade. Nesse contexto Freitas e Silva (2018, p. 43) conceituam que: A ansiedade matemática é o nome dado ao sentimento de tensão e medo que algumas crianças e adultos os alunos com experiência matemática. Favore- cendo o desenvolvimento de um sentimento de fracasso, cujo contato com a matemática, gera uma sensação despazerosa. Diferente da discalculia, a criança não nasce e nem tem tendência a apresenta an- siedade matemática. Essa fobia a matemática, é uma dificuldade adquirida no processo escolar, cujo aluno se sente fisiologicamente indisposto a realização de operações básica e cognitivamente incapaz de resolvê-las. 16 17 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br Os alunos que possuem ansiedade matemática, em sua grande maioria, apresentam desinteresse, desânimo, incredibilidade na própria capacidade e de realizar tarefas mate- máticas com sucesso. Para Cozenza (2017) os alunos discálculicos, embora apresentem limitações nas ex- periências cotidianas que envolvam conceitos matemáticos, na capacidade de compreensão de numerosidade, contagem e aritmética, são capazes de desenvolver habilidades cognitivas que não exigem habilidades matemáticas. Sabemos que todos os seres humanos possuíram nove inteligências: linguística ou verbal, a lógica matemática, a espacial, a musical, a cinestésica corporal, a naturalista, interpessoal e a intrapessoal. As mais visualizadas no contexto escolar são a lógica mate- mática e a verbal. Porém, a inteligência lógica matemática pode está afetada com a pre- sença da discalculia. Nessa perspectiva Rotta (2017), define a inteligência lógica matemática como a que determina a habilidade para o raciocínio lógico-matemático. Lógico dedutivo e para a com- preensão de cadeias de raciocínios bem como a capacidade de solucionar, problemas envolvendo numéricos e elementos numéricos. De uma forma sintetizada podemos afirmar que essa inteligência esta interligada com a facilidade de resolução de cálculos e problemas matemáticos, na percepção de figuras geométricas e espaços. Marques (2017) salienta que existem alguns casos, em que a inteligência lógica ma- temática aparece muito elevada e o indivíduo, mesmo sem estímulos adequados pode fazê-la brilhar. Porém é valido lembrar, para alguns alunos obter sucesso na aprendizagem matemática, precisa de estimula-lá. Mas é notável enfatizar que a inteligência lógica matemática nos alunos discálculicos encontra-se deparadas com barreiras que impedem o aprendizado da matemática. De posse do conhecimento, das limitações apresentadas pelos alunos que possuem essa dificuldade perseverante e pervasivo na aquisição do conhecimento matemático, para que os mesmos venham a construir os conceitos matemáticos, é notável intervir. Os alunos que possuem discalculia podem se beneficiar de um treinamento especí- fico para desenvolver a capacidade de identificar e manipular quantidades. Diante disso, temos os jogos, que podem ser um favorável recurso para a estimulação da inteligência lógica matemática. CONCLUSÃO A partir de pesquisa bibliográfica constatou-se que a discalculia tem sido um problema que vem afetando os alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental nas matemática e contribuido para reforçar os rotulos e a exclusão. São muitos os desafios encontrados pelos 18 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br docentes devido à falta de conhecimento e do apoio familiar, todavia, acarreta na naturali- zação das dificuldades perseverante e pervasivo da matemática. É preciso que os professores adotem práticas, estratégias e metodologias que viabilizem a identificação dos vestígios da discalculia, estimulando novos olhares, para que o quanto antes o aluno seja identificado e consiga obter sucesso na aprendizagem matemática. Acredita-se que a revisão do currículo de matemática adotado possa ser revisto e que a matemática ao ser trabalhada na escola possa ser contextualizada, as aulas dina- micas, criaticas, apoiadas pelo uso de práticas lúdicas que levem o aluno a construir sua propria aprendizagem. REFERÊNCIAS BASTOS, J. A. O cérebro e a matemática. São Paulo: edição do autor, 2016. CAPOVILLA, F.C. Transtornos de aprendizagem: progresso em avaliação e intervenção preventiva e remediativa. 2 ed. São Paulo: Memnon, 2015. CIASCA, Silvia Maria. Distúrbios de aprendizagem proposta de avaliação interdisci- plinar. São Paulo: casa do psicólogo, 2013. COSENZA, Ramon M. Neurociência e educação: como o cérebro aprender. A fileira dos números 109-116 p. Porto Alegre: Artmed, 2017. ESTANISLAU, Gustavo M.; BRESSAN, Rodrigo Affonseca (Org.). Saúde Mental na Es- cola. Porto Alegre: Artmed, 2017. FARIAS, D. R. S. de; GRACINO, E. R.; Dificuldades e distúrbios de aprendizagem. 1. ed. Curitiba: Intersaberes, 2019. FREITAS, I. B.; SILVA, M. C. Dificuldade em aprendizagem matemática: A manifestação da Discalculia. 2018. Disponível em: . Acesso em 23 de março de 2022. GONÇALVES, A. J. OIVIDIO, J. Dificuldade De Aprendizagem. Revista Maiêutica, Indaial, v. 5, n. 01, p. 43-48, 2017. Disponível em: . Acesso em 20/02/2022. MARQUES, Teresa Paula. Clínica da Infância: Conselhos práticos de psicologia infantil. Alfragide: Oficina do livro, 2017. ROTTA, Newra Tellecha. Discalculia: transtorno especifico da habilidade em matemática. Porto Alegre: Artmed: 2017. VILA, L. A. B.; LARA, I. C. M. Discalculia: um mapeamento de artigos brasileiros. Abakos, Belo Horizonte, v. 6, n. 1, p. 35-56, nov. 2020. http://www.psicologia.com.pt/artigos/ver_artigo%3e. Acesso http://www.psicologia.com.pt/artigos/ver_artigo%3e. Acesso 02 '10.37885/221110796 02 Alfabetização e letramento e a atuação do psicopedagogo Paulo Roberto Serpa Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI https://dx.doi.org/10.37885/221110796 RESUMO Presente no contexto curso de especialização em Alfabetização e Letramento e a Psicopedagogia Institucional, esta pesquisa tem por objetivo principal, investigar os conceitos essenciais de alfabetização e letramento, e outros que norteiam as ações do psicopedagogo institucional frente ao processo de ensino-aprendizagem. Para tanto, foram apresentados e discutidos os conceitos de alfabetização, letramento e psicopedagogia no âmbito esco- lar. A metodologia aplicada foi qualitativa do tipo bibliográfica. Pontua-se, como resultado desta pesquisa, o entendimento de que a atuação do psicopedagogo no ambiente escolar é imprescindível para a alfabetização, de inclusão, e de outros referentes ao processo de ensino-aprendizagem na instituição, buscando atuar por metodologias e estratégias que estimulem relações entre a comunidade, professores, funcionários, e principalmente os alunos. Conclui-se que, a atuação do psicopedagogo institucional contribui para o desen- volvimento e aprendizagem geral dos alunos, bem como, contribui na ação dos professores alfabetizadores e equipe pedagógica. Palavras-chave: Alfabetização e Letramento, Psicopedagogia Institucional, Ação Psicopedagógica. 21 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br INTRODUÇÃO Será tratado neste trabalho sobre o processo de alfabetização e letramento, bem como, da atuação do psicopedagogo frente às dificuldades e problemas de aprendizagem identificados neste processo. De acordo com investigado, o psicopedagogo institucional tem o papel de estudar as modalidades de ensino-aprendizagem utilizadas na instituição escolar, avaliando as atividades que interfiram na aprendizagem, por isso, ele irá atuar juntamente com todos os profissionais que cuidam da escola (CASSIANI, 2009). A Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) define “a Psicopedagogia como uma área de conhecimento e pesquisa de natureza interdisciplinar, voltada para os processos de ensino-aprendizagem, que integram diagnóstico e intervenção, em situações que envolvam esses processos no plano individual, grupal e institucional” (CASSIANI, 2009, p. 7). A partir disto, observa-se que esta pesquisa é relevante no sentindo de relacionar a alfabetização e o letramento, a atuação do psicopedagogo institucional. Para tanto, foi utilizada nesta pesquisa a metodologia qualitativa do tipo bibliográfica, que conforme Macedo (1994) permite ao pesquisador agrupar o conhecimento espalho e recuperar as informações quando quiser. Ainda, a revisão bibliográfica foi realizada a partir de pesquisas no Google Acadêmico, sendo uma dissertação e uma tese, além de outros trabalhos já disponíveis nos arquivos pessoais do pesquisador, que foram utilizados para a fundamentação no decorrer da pesquisa. A partir disso, é apresentado como problemática deste trabalho o seguinte questiona- mento: como ocorre a atuação do psicopedagogo no processo de alfabetização? Visando responder esse questionamento, foi elaborado o objetivo geral desta produção, que é de: investigar os conceitos essenciais de alfabetização e letramento, e outros que norteiam as ações do psicopedagogo institucional frente ao processo de ensino-aprendizagem. Como forma de contribuir para responder o questionamento apresentado e alcançar o objetivo da pesquisa, este trabalho foi organizado da seguinte maneira: a segunda seção, na sequência, foi destinada a apresentar subsídios para o entendimento do que seriam a alfa- betização e o letramento; na terceira seção, é apresentada alguns elementos que nos fazem refletir sobre a atuação do profissional psicopedagogo no ambiente escolar; seguindo para as considerações frente ao estudo, e; conclui-se com as referências utilizadas na pesquisa. 22 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br A ALFABETIZAÇÃO E O LETRAMENTO No decorrer desta seção, serão tratados de alguns conceitos essenciais a cerca da Alfabetização e Letramento, conceitos estes, muito importantes para prática pedagógica do professor alfabetizador. A partir das leituras realizadas, é possível constatar que o processo pedagógico en- volvendo a escola moderna, impulsionou-se com a expansão do comércio burguês para o trabalho manufatureiro, isso, porque nesse novo modelo de comércio já eram requeridos novos conhecimentos sobre os materiais necessários para produção, os mecanismos, o gerenciamento tanto de pessoas, quanto de materiais, os registros de compra e venda, ou seja, o próprio mercado. Neste momento histórico, o manual didático ou cartilha, era o meio que auxiliava o professor a alfabetizar seus alunos. E este, seguia a lógica de organização do mercado, onde, não se tinha mais a necessidade de se aprofundar em um dado conhecimento e sim, apresentar uma instrução geral para os cidadãos. Tal como a manufatura, que abandona o artesão, conhecedor da arte de ela- borar seu produto com maestria, e o substitui pelo trabalhador, que realiza tarefas parceladas no processo coletivo de trabalho, Comenius concebe a simplificação do trabalho do professor pelo emprego do manual didático como instrumento do ensino. O livro didático difere dos livros científicos ao apresentar o conhecimento não com a profundidade das fontes originais, mas compendia- do em fórmulas e definições que introduzem o aprendiz nos primeiros passos da instrução científica. (CAVAZOTTI, 2009, p. 12). Com isso, através deste manual ou cartilha, o aluno era alfabetizado, ele aprendia a ler e a escrever a partir de atividades e exercidos repetitivos que estimulavam sua memória. No entanto, de acordo com Cavazotti (2009, p. 11): Na escola atual, as mudanças tecnológicas dos meios e conteúdos da comu- nicação, produzidas no interior do processo de expansão e globalização das relações sociais capitalistas, exigem a inserção do alfabetizando nas práticas sociais de leitura e escrita, que chamamos de letramento, ultrapassando a mera aquisição da técnica do ler e escrever. A concepção de Letramento, que vai além do ato de ler e escrever busca dar acesso às informaçõespresentes no contexto social (o meio), inserindo práticas sociais de leitura e de escrita. O letramento de um aluno, não é apenas ensina-lo a ler e a escrever, mas também, forma-lo cultural e cientificamente. Klein (2000, p.11) amplia a concepção de letramento, explicando que: 22 23 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br [...] não há dúvida que o letramento é, hoje, uma das condições necessárias para a realização do cidadão: ela o insere num círculo extremamente rico de informações, sem as quais ele, inclusive, nem poderia exercer livre e cons- cientemente sua vontade […] o homem contemporâneo é afetado por outros homens, fatos e processos por vezes tão distantes de seu cotidiano que so- mente uma rede muito complexa de informações pode dar conta de situá-lo, minimamente, na teia de relações em que se encontra inserido. Nesse sentido, o letramento visa tornar o aluno ao mesmo tempo, alfabetizado e letra- do. Isso, porque, conforme evidenciado nas leituras, a alfabetização restringe-se ao ato de aprender a ler e a escrever. Com isso, atualmente tem-se o entendimento de que o a aquisição da linguagem es- crita é uma produção social e histórica. De acordo com o estudado, percebe-se, portanto, que a apropriação da linguagem escrita, passa a ser a representação de uma representa- ção. Ou seja, a linguagem é a representação da realidade, e a escrita seria a representa- ção da linguagem. O professor nesse momento passa a ser o mediador deste processo, que de acordo com Vygotsky, o professor fica vinculado à esfera do nível de desenvolvimento potencial, local onde o aluno recebe determinadas orientações para que possa solucionar os proble- mas a ele apresentados. Também, pode-se perceber um contraponto entre o aprendizado e o desenvolvimento da criança. Nesta sinergia, entende-se que apesar de haver momentos mais propícios para aprendizagem de determinados conteúdos, não significa que eles não possam ser apresen- tados aos poucos aos alunos, de modo a se familiarizem com o objeto de conhecimento. Por isso, de acordo com Cavazotti (2009, p. 47): As crianças pequenas, que ainda não sabem ler a língua escrita, mantêm contato com material gráfico presente no ambiente cotidiano onde vivem – pinturas, sinais e propagandas – e se apropriam de seu significado, ainda que de forma limitada. Também manuseiam textos que circulam em seu meio, e são capazes de antecipar o sentido que eles contêm a partir das ilustrações que o acompanham. Dessa forma, embora não realizem plenamente a leitura, estabelecem interação com alguns elementos do texto escrito. E complementa afirmando: Para que os alunos adquiram competência como escritores, isto é, sejam capazes de escrever com qualidade verbal e correção linguística, o ensino da língua escrita tem como eixo central, desde o momento inicial da alfabetização, as atividades com o texto. Desse modo, não se pode deixar para propor as atividades, que desenvolvem a produção do texto escrito, somente quando os alunos já souberem grafar as palavras de forma independente. (CAVAZOTTI, 2009, p. 65). 24 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br Cabe salientar, que é necessário reconhecer o conhecimento linguístico da própria criança e de sua comunidade, ao passo, que não deixa de valorizar a linguagem formal. Diferentes possibilidades de procedimentos pedagógicos nessa direção são essenciais para o processo de alfabetização das crianças. Cavazotti (2009, p. 76) complementa indicando que: A prática da análise linguística pode partir do texto produzido pela própria criança ou de um texto selecionado pelo professor. No seu próprio texto, a criança pode encontrar, com a mediação do professor, os elementos que lhe permitam entender as diferenças linguísticas e as diversas possibilidades de expressão para dizer a mesma coisa. A compreensão das características da linguagem formal na escrita, em comparação com a coloquial, usual na ora- lidade, constitui prática pedagógica relevante para que o aluno se aproprie desse código linguístico. Com isso, percebe-se que métodos atuais de alfabetização transcendem antigas prá- ticas alfabetizadoras e/ou métodos tradicionais. Sendo que, agora, o contexto da realidade do aluno é essencial para o seu próprio aprendizado. Por isso, permitir que o aluno construa seu próprio conhecimento, seus textos, e desenvolva sua oralidade com a mediação do professor, é fundamental no processo de alfabetização e letramento. A ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO NO AMBIENTE ESCOLAR No decorrer desta seção serão tratados de alguns conceitos muito importantes para a prática profissional do psicopedagogo institucional, conceitos esses, que dentro das escolas, contribuem para o entendimento da sua atuação no processo de alfabetização, na prática pedagógica dos professores e dando suporte a equipe pedagógica. Para iniciarmos, cabe reconhecermos o início da psicopedagogia, que conforme afirma Sampaio (2008, p. 19), “A gênese da Psicopedagogia, bem como o seu sentido, se deve à idéia de fracasso escolar. Uma retrospectiva para compreender sua origem e evolução nos leva a remontar à França do século XIX”. Já respeito do termo, psicopedagogia, o mesmo autor indica que “Ele nasce da preo- cupação com a educação dos portadores de deficiências sensoriais, debilidade mental e outros problemas que comprometiam a aprendizagem” (SAMPAIO, 2008, p. 24). Ainda, de acordo com Noffs (2016), a psicopedagogia foi inserida em 2002 no item 2394- 5, dos Programadores, Avaliadores e Orientadores de Ensino da grande área Educação da Classificação Brasileira de Ocupações - CBO do Ministério do Trabalho e Emprego - MTE. De acordo com o investigado, a atuação do psicopedagogo se faz necessária em dife- rentes situações presentes no ambiente escolar, dentre elas, pode-se destacar o fracasso escolar. Em que, conforme destacado: 24 25 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br Os problemas de aprendizagem aparecem durante os anos escolares, par- ticularmente em crianças. E é verdade que as dificuldades e os fracassos escolares repercutem em toda a personalidade e instalam a criança em uma situação de marginalidade em relação ao acesso às manifestações culturais e, muitas vezes, às futuras oportunidades sociais e de trabalho. (CENGAGE LEARNING, 2016, p. 62). Ao tratar do termo dificuldade de aprendizagem, Cassiani (2009, p. 24) também destaca que este é: [...] freqüentemente utilizado por professores e por equipes escolares para caracterizar a não aprendizagem ou o fracasso escolar de crianças e de ado- lescentes. Tem sido estudado pelos mais diversos profissionais preocupados com a escola, na busca de uma identificação dos fatores que interferem dire- tamente no sucesso escolar, a fim de melhorar o ensino no país. Frente a esta situação, esse profissional pode intervir de maneira longitudinal, ou seja, ele pode realizar trabalhos preventivos para que não ocorra fracasso do aluno, acompa- nhando seu desempenho e desenvolvimento ao longo do processo educativo estabelecido durante o ano, bem como, contribuir no planejamento e elaboração de estratégias para avaliação e recuperação do mesmo. Ainda assim, no caso do fracasso escolar, o profissional psicopedagogo vai estará agindo nas dificuldades apresentadas no ano anterior (ano de repetência), acompanhando e orientando novamente a equipe pedagógica e professores para que o aluno possa ter melhores oportunidades de desempenho. Nesse processo, é importante ressaltar dois conceitos fundantes da prática psicope- dagógica, o diagnóstico e a intervenção: Diagnóstico psicopedagógico – processo através do qual se descreve,clas- sifica, explica, o comportamento de um sujeito no contexto de aprendizagem. Intervenção psicopedagógica – conjunto de práticas institucionalizadas apli- cadas no campo da aprendizagem, seja como prevenção e tratamento de transtornos, seja como uma modificação do processo de aprendizagem escolar. (CENGAGE LEARNING, 2016, p. 27). Sampaio (2008, p. 36) indica que: A necessidade do diagnóstico se justifica pelo fato de necessitarmos conhe- cer o sujeito por meio de suas condutas, seu discurso e da história que nos é revelada por ele e seus pais. É verdade que esse momento corresponde ao início do processo com a criança ou o adolescente, no entanto o atendimento também é acompanhado dessa atitude de pesquisa (própria do diagnóstico), pois, ao longo do tratamento, nos acuamos em compreender certos elementos significativos da fala, da ação do sujeito, de suas produções. O diagnóstico também necessário, pois é por meio dele que o psicopedagogo estabelece um projeto de trabalho. 26 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br E complementa: A intervenção psicopedagógica acontece mediante um trabalho individualizado com a criança, geralmente duas vezes por semana. Há trocas regulares com os pais, para conscientizá-los de sua participação no sintoma do filho, ajudan- do-os a criar novos espaços de expressão para ele. Essa troca também visa a colher informações sobre as transformações que eles vão observando na criança ou no adolescente ao longo do tratamento. Observações que podem nos orientar na condução do tratamento. (SAMPAIO, 2008, p. 46). Conforme observado, o psicopedagogo pode atuar no diagnóstico das dificuldades de aprendizagem apresentadas pelos educandos, assim como, intervir nas práticas institu- cionalizadas de currículo, auxiliando os professores e a equipe pedagógica na escolha por métodos de ensino e estratégias mais adequados, que contemplem os diferentes saberes dos alunos, ou seja, este profissional estará contribuindo na modificação do planejamento das ações voltadas ao processo de aprendizagem escolar. Como constatado no decorrer do texto, o psicopedagogo também pode intervir nos pro- cessos avaliativos que verificam a aprendizagem dos alunos e contribuir na sua elaboração e reelaboração. No caso das recuperações paralelas, traçando melhores estratégias tanto na formulação das questões e organização das avaliações, como nos tipos de avaliações e suas diferentes possibilidades de aplicação aos educandos. Por isso, em alguns momentos, sua função pode ser de esclarecer ou relembrar os professores e equipe pedagógica, de algumas das dimensões que compõe o processo de aprendizagem, pois este é muito complexo, envolvendo além das dimensões psicológicas e pedagógicas do processo aprendizagem. Faz-se necessário levar em conta as dimensões: biológica, cognitiva, e social (CENGAGE LEARNING, 2016). Cassiani (2009, p. 40) acrescenta que se encontram alunos com diferentes dificuldades de aprendizagem, podendo destacar, problemas situacionais de aprendizagem, de compor- tamento, emocionais, de comunicação, físicos, de visão e de audição, e problemas múltiplos. Nesse sentido, a presença do psicopedagogo pode ser essencial também em outros momentos do trabalho educativo, assim como, nos conselhos de classe, nas reuniões de pais, e na formação continuada dos profissionais da educação. Nestes momentos, o psicopeda- gogo estaria contribuindo na elaboração de metas e ações necessárias a aprendizagem dos alunos, bem como, contribuindo com falas sobre sua atuação com os educandos que atende, e o trabalho desempenhado para o sucesso dos mesmos dentro do ambiente educacional. Logo, por ser um profissional que desenvolve sua prática essencialmente no trato das dificuldades de aprendizagem, o psicopedagogo também passa a ser essencial no processo de inclusão escolar. 26 27 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br Isso inclui desde orientação e assessoramento a docente e famílias, coor- denação de especialistas para planejar estratégias comuns para lidar com o caso em questão, até adaptações de currículo no caso de dificuldades mais severas, permitindo, assim, a integração de alunos portadores de necessidades educacionais especiais. (CENGAGE LEARNING, 2016, p. 11). Neste processo, o psicopedagogo estará contribuindo na identificação das reais dificul- dades de aprendizagem e/ou necessidades especiais do aluno, realizando atendimento tanto em classe, como fora da mesma, propondo estratégias e projetos para a integração desses educandos, bem como, agindo na qualificação dos professores para o seu atendimento. Faz-se necessário ainda, definir o que seria problema de aprendizagem, o que, de acordo com os textos estudados, seria: [...] uma desordem que pode afetar a habilidade de uma pessoa em adquirir, entender, organizar e armazenar informações verbais ou não verbais. Essa desordem prejudica a aprendizagem de indivíduos que têm um nível de inteli- gência média ou superior à média. Tal problema pode levar uma pessoa a ter dificuldades em aprender e a usar certas habilidades. (CENGAGE LEARNING, 2016, p. 59). Ainda, de acordo com o estudo, o profissional psicopedagogo pode exercer sua prática a partir de duas vertentes: a curativa ou terapêutica e a preventiva. O psicopedagogo curativo irá tratar o problema de aprendizagem do aluno, reinte- grando-o e readaptando-o à situação de sala de aula. Suas necessidades e ritmos serão respeitados. [...] Já a psicopedagogia preventiva, diferentemente da curativa, é uma prática que busca evitar que dificuldades de aprendizagem ocorram. Ela toma como base a observação e a análise de uma situação concreta, reconhecendo os obstáculos e os elementos que podem facilitar a aprendizagem. Possui como semelhança em relação à psicopedagogia curativa, o fato de ela também poder ser desenvolvida de forma individual ou em grupo. (CENGAGE LEARNING, 2016, p. 71). Por fim, a partir dos estudados realizados, é notado que a ação do psicopedagogo contribui no trabalho docente e da equipe pedagógica, rompendo desta maneira com méto- dos tradicionais de ensino e aprendizagem. Com isso, o aluno volta a ser o foco central do processo educativo, com ou sem dificuldades de aprendizagem. CONSIDERAÇÕES Conforme exposto na seção que trata da alfabetização e letramento, foi observado que existem nuanças que definem e diferenciam os dois termos. Ainda assim, ambos apresentam a necessidade de proporcionar acesso ao conhecimento, pois atualmente, as mudanças 28 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br tecnológicas do mundo moderno demandam de sujeitos aptos principalmente nas práticas de leitura e escrita. Contudo, é comum observar professores e equipes escolares utilizarem do termo difi- culdades de aprendizagem para caracterizarem o fracasso escolar dos educandos. Frente a isso, o psicopedagogo é o profissional que estuda e busca a identificação dos fatores que interferem diretamente no sucesso escolar, a fim de melhorar o ensino no ambiente escolar evitando o fracasso escolar. Para que isso ocorra é necessário a sua atuação além de ser direta com o educan- do, mas também, com os professores e equipe pedagógica, que pode ser promovido a partir de reuniões periódicas, contribuindo assim, em tudo aquilo que envolve o processo de ensino-aprendizagem, ou seja, o psicopedagogo orienta e assessora o corpo docente, coordenação de especialistas e famílias, a fim de planejar estratégias integradas para lidar com a situação em questão. A partir do exposto, acredita-se que esta pesquisa contribui por apresentar e discutir os conceitos de alfabetização,letramento e psicopedagogia no âmbito escolar. Tão por isso, acredita-se ter sido sanada no decorrer do trabalho a problemática da pesquisa que consis- tia em investigar como ocorre a atuação do psicopedagogo no processo de alfabetização. Pontua-se, como resultado desta pesquisa, e respondendo a problemática inicial, o entendimento de que a atuação do profissional psicopedagogo no ambiente escolar é im- prescindível para que os sujeitos da aprendizagem (docentes, discentes, equipe pedagógica) possam estabelecer soluções frente aos desafios do ensino e da aprendizagem. REFERÊNCIAS CASSIANI, S. A psicopedagogia no contexto escolar: um estudo em Grupos de Apoio. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação. Campinas, SP: [s.n.], 2009. CAVAZOTTI, M. A. Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização. Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2009. CENGAGE LEARNING. Psicopedagogia clínica e institucional [recurso eletrônico]. São Paulo, SP: Cengage Learning, 2016. MACEDO, N. D. de. Iniciação à pesquisa bibliográfica: guia do estudante para a funda- mentação do trabalho de pesquisa. 2. Ed. São Paulo: Edições Loyola. 1994. NOFFS, N. de A. A formação e regulamentação das atividades em Psicopedagogia. Rev. Psicopedagogia 2016; 33(100): 110-20. KLEIN, L. R. Proposta Metodológica de Língua Portuguesa. Campo Grande. Secretaria de Estado de Educação/Governo Popular, 2000. (Série Fundamentos Político-pedagógicos). 28 29 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br SAMPAIO, Maria Luísa Carvalho de Almeida. A desordem das gerações e a recusa escolar: estudos de casos de adolescentes em psicopedagogia. Tese (Doutorado em Educação) Universidade de São Paulo. Faculdade de Educação. São Paulo, 2008. 03 '10.37885/221211328 03 Aspectos emocionais versus aprendizagem: um olhar psicopedagógico Anaizy Moreira de Oliveira Bernardes Centro Universitário do Maranhão - UNICEUMA Charlene de Jesus Santos Mendonça Universidade Estadual do Maranhão - UEMA Sabrina dos Anjos Almeida Universidade Federal do Maranhão - UFMA https://dx.doi.org/10.37885/221211328 RESUMO Os Aspectos Emocionais são responsáveis por uma grande parcela de dificuldades, distúr- bios e transtornos de aprendizagem que tem origem em sua grande maioria na família e na escola. Diante desta prerrogativa, o presente artigo constitui-se de uma revisão de literatura que tem por proposta fomentar mais estudos científicos voltados para a compreensão de como os aspectos emocionais podem afetar a aprendizagem, sob o olhar da Psicopedagogia. Deste modo, levantou-se algumas hipóteses. Como se dá o processo de aprendizagem dos aprendizes? Como se formam os aspectos emocionais e como eles podem ser a causa e/ou consequência da não-aprendizagem? Como a Psicopedagogia pode intervir? A construção deste trabalho parte a priori da pesquisa bibliográfica, com respaldo na análise exploratória, utilizando-se do viés metodológico qualitativo para uma coleta de dados criteriosa para uma pesquisa acadêmica. As considerações finais desta investigação reafirmam a importância da Psicopedagogia como um campo de estudo e profissional, ressaltando o trabalho, diagnós- tico, encaminhamentos e devolutiva deste profissional para o queixoso, família e/ou escola. Palavras-chave: Aspectos Emocionais, Aprendizagem, Família, Escola, Psicopedagogia. 32 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br INTRODUÇÃO O ser humano é enigmático, indiscutivelmente surpreendente, seu psiquismo ainda refuta muitas pesquisas para uma melhor compreensão de como se dá a formação biop- sicossocial que delineia suas relações sociais. Assim, almeja-se que haja uma queda nos autos índices de conflitos emocionais ainda não compreendidos e/ou explicados, que afetam diretamente o processo de aprendizagem no âmbito educacional, por conseguinte social. O presente artigo constitui-se de uma revisão de literatura que tem por proposta fomen- tar mais estudos científicos voltados para a compreensão de como os aspectos emocionais podem afetar a aprendizagem, sob o olhar da Psicopedagogia. Fazendo bom uso de teorias e autores renomados para uma fundamentação válida, foram eleitos: Lev Vygotsky e Jean Piaget da Pedagogia, Jean Marie Dolle e Sigmund Freud da Psicologia, dentre outros; Lúcia Weiss e Sara Pain da Psicopedagogia, para uma análise multidisciplinar. Após pesquisas de cunho científico, e recortes literários, levantou-se algumas hipóteses. Como se dá o processo de aprendizagem dos aprendizes? Como se formam os aspectos emocionais e como eles podem ser a causa e/ou consequência da não-aprendizagem? Como a Psicopedagogia pode intervir? Tendo em vista que a subjetividade é constituída da relação inerente da cognição e dos fatores emocionais que se alicerçam na família e se estendem à escola, é que se justifica as inferências levantadas neste artigo sob o olhar maior da Psicopedagogia e o acompanhamento de fato deste profissional que está apto para trabalhar com as situações de não-aprendizagem escolares. A construção deste trabalho parte a priori da pesquisa bibliográfica para o levantamento de hipóteses e assertivas sobre este tema, propugnando a investigação a partir de teorias que se consolidaram ao longo da verificação de notáveis autores para facilitar a veracidade dos fatos apresentados. Com respaldo na análise exploratória, utilizando-se do viés me- todológico qualitativo para uma coleta de dados criteriosa para uma pesquisa acadêmica. As considerações finais deste trabalho reafirmam a importância da Psicopedagogia como campo de destaque para este estudo e análises, ressaltando o trabalho, diagnóstico, encaminhamentos e devolutiva deste profissional para o queixoso, família e/ou escola. O PROCESSO DE APRENDIZAGEM Discutir acerca de um tema tão amplo quanto aspectos emocionais versus aprendi- zagem nos remete a alguns teóricos célebres para o levantamento de algumas hipóteses ou assertivas à luz da Psicopedagogia, nosso campo de destaque neste trabalho. Esta 32 33 Psicopedagogia Clínica e Institucional: teorias e práticas - ISBN 978-65-5360-251-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br área profissional que trabalha de modo preventivo e mediador com situações de dificul- dades, distúrbios e transtornos da aprendizagem resultantes do impedimento ou bloqueio do conhecimento. Na concepção de Vygotsky “o aprendizado humano pressupõe uma natureza social específica e um processo através do qual as crianças penetram na vida intelectual daqueles que as cercam” (2007, p. 100). Para o autor a sapiência é fruto das interações sociais, tais aspectos se complementam, são descritos por ele como Zona de Desenvolvimento Real, Zona de Desenvolvimento Proximal e Zona de Desenvolvimento Potencial, não obstante, para que o indivíduo possa se relacionar com o meio e seus pares, ele precisa primeiramente estar bem consigo mesmo. A partir destas inferências, é primordial refutar que há várias teorias que se somam ou divergem na tentativa de explicar como se dá o processo de aprendizagem ou busca do conhecimento nos indivíduos, para tanto, segue conjuntamente a classificação abaixo de (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008), tal qual: • Aspectos orgânicos para a construção biofisiológica do sujeito; • Aspectos cognitivos “interação entre o organismo e o meio”, os chamados fatores intelectuais; • Aspectos sociais ligados à perspectiva da sociedade e a cultura; • Aspectos pedagógicos necessários para a aprendizagem formal com base na escola; • Aspectos emocionais somando-se a afetividade para as reações inconscientes que partem da subjetividade. O entrelaçamento desses fatores resulta na construção do Desenvolvimento Humano, através da aquisição