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Orçamento Empresarial
Orçamento Empresarial
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Henrique Martins Rocha
1ª Edição
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Sumário
Orçamento Empresarial
Para início de conversa… ................................................................................ 3
Objetivo ......................................................................................................... 3
1. Planejamento Econômico e Financeiro ................................................ 4
2. Princípios de Planejamento ...................................................................... 5
3. Etapas de Elaboração do Orçamento (Peças Orçamentárias) ....... 9
Referências ........................................................................................................ 13
Para início de conversa…
Podemos interpretar a palavra “orçar” como calcular e/ou estimar o
preço ou valor de alguma coisa. Assim, inicialmente, podemos supor
que orçamento empresarial seja calcular ou estimar os custos em uma
empresa: seus custos de produção, custos dos produtos etc. Ainda que
tal suposição não seja totalmente errônea, ela é muito limitada, pois o
orçamento não se limita aos custos, mas sim a todos os resultados das
atividades da empresa: do que ela compra, do que armazena, do que
produz, do que vende, seus investimentos e financiamentos etc.
Então se trata de uma mistura de contabilidade de custos com análise
de demonstrações contábeis? Também não. Ainda que lide com registros
de valores, enquanto a contabilidade financeira foca na análise dos
registros e fatos ocorridos, o orçamento aponta para o futuro: ou
seja, dentro de uma lógica de relações de causa e efeito, registra as
estimativas dos resultados da empresa, quanto às suas vendas, gastos,
investimentos, financiamentos e fluxo de caixa da empresa, podendo,
a partir daí, não somente os resultados finais, prevendo como serão as
demonstrações contábeis da empresa, como servido como instrumento
de monitoramento e controle, suportando a gestão e as tomadas de
decisão do negócio.
Objetivo
Compreender as etapas do orçamento empresarial.
Orçamento Empresarial 3
1. Planejamento Econômico e Financeiro
A palavra “planejamento” é facilmente associada à ideia de estabelecer
antecipadamente ações para alcançar determinado objetivo. Por
exemplo, planejamos uma viagem, como o objetivo de visitarmos algum
lugar, planejamos uma ida ao cinema com o objetivo de nos divertirmos
etc.
Mas, se “planejamos” atividades mais simples e corriqueiras, é razoável
supor que o planejamento é uma necessidade para as empresas: na
verdade, a complexidade existente na gestão empresarial exige que
o planejamento seja muito mais abrangente e rigoroso, não havendo
espaço para uma gestão calcada no improviso.
Já em 1964, Mattos chamou a atenção para o fato de que “Na verdade,
a economia nacional cresce porque crescem e ganham complexidade
as empresas que, no seu conjunto, compõem a economia nacional”.
(MATTOS, 1964, p.32)
Dessa forma, você pode perceber que as atividades de planejamento são
cruciais para as empresas poderem alcançar seus objetivos, se manterem
ativas e competitivas.
Sem planejamento, não há um “rumo”, uma clara direção a ser seguida
e, consequentemente, qualquer coisa pode acontecer: a empresa seria
como um barco a deriva, podendo ser levado a qualquer lugar por força
das marés, ventos, etc. E, em uma situação como essa, da mesma forma
que o barco pode ser lançado contra rochas, areais etc., as empresas “à
deriva” podem sofrer danos irreparáveis e “afundar”.
A lógica do planejamento prevê o estabelecimento de ações a serem
executadas, em sequências específicas, utilizando recursos materiais e
imateriais previamente definidos, de forma a alcançar os objetivos. Na
verdade, tal configuração permite que o planejamento possa cumprir
duas funções.
Servir de “balão de ensaio” para estratégias: Se o plano que elaboramos
nos mostra ser possível alcançar determinado objetivo, podemos inferir
que, ao menos teoricamente, o objetivo pode ser atingido. Por mais
óbvio que isso seja, o fato é que, se não conseguimos elaborar um plano
que nos mostre ser possível alcançar um objetivo, é preferível abortar
qualquer ação nesse sentido (Você iniciaria uma viagem sabendo que
não conseguiria chegar ao destino? Iria ao cinema se soubesse que não
conseguiria assistir ao filme por alguma razão?).
▪ Servir de base para a implementação: Se o plano é elaborado
para nos mostrar o que deve ser feito (e como deve ser feito) para
alcançarmos os objetivos que motivaram sua elaboração, os passos a
serem seguidos devem ser, consequentemente, os previstos no plano.
▪ Mas, o que seria o planejamento econômico e financeiro nas
empresas? Bem, da mesma forma que as pessoas e famílias planejam
Orçamento Empresarial 4
o “dinheiro”, isto é, o quanto devem receber (e quando), bem como o
que vão gastar e poupar, também as empresas precisam desenvolver
planos que garantam a sua continuidade e sobrevivência, isto é,
planos que mostrem quais objetivos específicos podem ser atingidos
(por exemplo, lucro e rentabilidade).
É comum (mas não obrigatório e consensual) que, no contexto
empresarial, o planejamento econômico esteja relacionado à gestão
de gastos e lucratividade, enquanto o planejamento financeiro tenha
relação e foco no planejamento do fluxo de caixa.
Vamos ver o que faz um analista econômico financeiro?
Uma vaga de emprego em tal função (CATHO, s.d.) nos mostra que tal
analista “Realiza o levantamento, análise e consolidação das informações
para elaborar o planejamento orçamentário da empresa, consolida
projeções de receitas, pesquisa desvios entre previsão e realizado e
estuda cenários de negócios e viabilidade econômica de projetos”.
Mas, planejar é suficiente? Ou seja, um bom planejamento e uma
execução que siga fielmente o que foi determinado no plano é garantia
de sucesso? A resposta é: não! Precisamos “fechar um ciclo”, incluindo as
atividades de controle, como veremos a seguir.
2. Princípios de Planejamento
Padoveze e Taranto (2009) indicam uma sequência hierárquica
do processo de gestão empresarial, composta pelo Planejamento
Estratégico, Planejamento Operacional, Planejamento de Programação,
Execução e Controle.
Vamos explorar tal conceito, mas, para isso, precisamos discutir os níveis
hierárquicos de análise e decisões: usualmente classificamos como níveis
estratégico, tático e operacional. Se pensarmos no organograma de uma
empresa, temos uma forma piramidal: uma base larga, representando um
grande número de pessoas e funções, que vai se afunilando conforme
subimos os níveis, até chegarmos ao topo da pirâmide.
Em todos os níveis, as pessoas tomam decisões. Tal afirmação pode
causar estranheza, visto associarmos a ideia das atividades operacionais
como sendo de mera execução do que é determinado. Mas, mesmo um
operador de uma linha de produção que siga uma rotina previamente
detalhada no seu procedimento de trabalho, toma decisões. Por exemplo,
se ele identifica um problema, ele decide avisar ao supervisor; se ele
percebe uma oportunidade de melhorar as condições de trabalho, ele
decide fazer uma sugestão (ao supervisor diretamente, ou em uma
caixa de sugestões, caso exista); se ele tem sede, pode decidir se afastar
do posto de trabalho de imediato para beber água, ou esperar alguns
momentos até terminar determinada atividade etc.
Orçamento Empresarial 5
Assim, podemos inferir que, se na base da pirâmide temos uma grande
quantidade de decisões, elas, por outro lado, são pouco abrangentes,
afetando usualmente somente o posto de trabalho e/ou a rotina que está
sendo executada. São, também, decisões relacionadas ao curto prazo. Já
no topo da pirâmide, as decisões são mais abrangentes,não mais
apareceriam, mas teríamos de pagar os R$ 1.900,00 restantes das
compras do mês 2, bem a primeira parte (R$ 800,00) das compras do
mês 3. Ou seja, pagaríamos 1.900 + 800 = R$ 3.700,00, permanecendo
os demais R$ 800,00 a serem pagos no mês 5, e assim sucessivamente.
2. Orçamento de Custo de Mão de Obra
Os produtos manufaturados, bem como diversos serviços que são
prestados, dependem da utilização de mão de obra direta. Por exemplo,
a usinagem de matérias-primas para as transformar em peças e
componentes, a montagem e teste de conjuntos e produtos finais etc.
Ou seja, a mão de obra direta agrega valor diretamente às matérias-
primas e, consequentemente, deve ser considerada no cálculo do custo
do produto vendido (ou custo do serviço prestado). Dessa forma, como
citam Lobato e Azevedo (1994, p.52). “Os custos apurados de mão de
obra direta – MOD – servem de base para as projeções do fluxo de
caixa e do resultado do exercício”. Além disso, “Com base nos dados
levantados, o departamento de pessoal poderá planejar o período
de férias bem como as contratações e demissões a serem efetuadas
durante o período”. (ibid, p.52)
Tal processo se inicia com a determinação do tempo previsto para a
produção de cada item, o denominado tempo padrão. Normalmente,
desenvolvido pelo pessoal de Engenharia de Métodos, o tempo padrão
pode ser estimado com base em cronometragem, dados históricos ou
padrões, bem como amostragem do trabalho.
Vamos tomar como exemplo, a fábrica Shorts & Shirts e os volumes
previstos de produção para cada um de seus produtos. Imaginemos
que a Engenharia analisou o processo produtivo e identificou que cada
camisa demanda 0,65 minuto no setor de corte, 2,18 minutos no setor
de costura e 0,88 minuto no setor de preparação e embalagem, ao passo
que cada short demanda para ser produzido de respectivamente 1,03;
2,63 e 0,43 minutos. O levantamento dos custos de hora trabalhada da
mão de obra dos três setores mostra que são de, respectivamente, R$
11,03; R$ 15,33; e R$ 9,21.
Vamos ver como fica, então, o orçamento de mão de obra direta para
os dois produtos, detalhados nas Tabelas 6 e 7 (fique atento com a
conversão de unidades, visto que os tempos foram informados em
minutos e o valor foi fornecido em horas).
Orçamento Empresarial 13
Mês
MOD (camisas)
Demanda Corte Custo Costura Custo Embalagem Custo Total
1 1000 650 R$ 119,49 2180
R$
556,99
880 R$ 135,08 R$ 811,56
2 1200 780 R$ 143,39 2616
R$
668,39
1056 R$ 162,10 R$ 973,87
3 1400 910 R$ 167,29 3052
R$
779,79
1232 R$ 189,11
R$
1.136,19
4 800 520 R$ 95,59 1744
R$
445,59
704 R$ 108,06 R$ 649,25
5 1100 715 R$ 131,44 2398
R$
612,69
968 R$ 148,59 R$ 892,72
Tabela 6: Orçamento de MOD para camisas. Fonte: Elaborado pelo autor.
Mês
MOD (shorts)
Demanda Corte Custo Costura Custo Embalagem Custo Total
1 1000 1030 R$189,35 2630 R$671,97 430 R$66,01 R$ 927,32
2 1200 1236 R$227,22 3156 R$806,36 516 R$79,21 R$1.112,78
3 1400 1442 R$265,09 3682 R$940,75 602 R$92,41 R$1.298,25
4 800 824 R$151,48 2104 R$537,57 344 R$52,80 R$ 741,85
5 1100 1133 R$208,28 2893 R$739,16 473 R$72,61 R$1.020,05
Tabela 7: Orçamento de MOD para shorts. Fonte: Elaborado pelo autor.
Além disso, fazemos a totalização para compor o orçamento de mão de
obra, como mostrado na Tabela 8.
Mês MOD
1 R$ 1.738,88
2 R$ 2.086,66
3 R$ 2.434,43
4 R$ 1.391,10
5 R$ 1.912,77
Tabela 8: Orçamento de MOD consolidado. Fonte: Elaborado pelo autor.
Observe, também, que podemos calcular o custo da MOD para cada
unidade de produto, bastando dividir os valores totais pelas quantidades.
Dessa forma, o valor agregado pela MOD em cada camisa é de
aproximadamente R$ 0,81, enquanto nos shorts é de aproximadamente
R$ 0,93.
Orçamento Empresarial 14
3. Orçamento de Custos Indiretos
Os custos indiretos se referem aos custos relacionados à atividade-fim,
mas que não são referentes às matérias-primas ou mão de obra direta.
De acordo com Lobato e Azevedo (1994, p.57), são compostos por:
▪ Mão de obra indireta: Despesas com supervisão, pessoal de limpeza,
apontadores, pessoal de recebimento e almoxarifado, inspeção.
▪ Suprimentos de operação: Combustíveis, lubrificantes, demais
materiais não alocados diretamente em função de difícil identificação
com o produto ou em virtude de não ser economicamente viável a
alocação direta.
▪ Despesas com ferramentas perecíveis: Diversas ferramentas utilizadas
no processo produtivo que perdem sua utilidade com o uso.
▪ Manutenção e reparo: Serviços de manutenção ou reparo de imóveis
e equipamentos.
▪ Encargos sociais: INSS, provisão de férias, provisão de 13° salário,
seguro, PIS, etc.
▪ Materiais defeituosos: Materiais não aprovados no controle de
qualidade.
▪ Outros custos: Viagens, diárias, impostos, aluguéis, telefones,
depreciações, fretes etc.
Não confundir os custos indiretos com despesas comerciais,
administrativas e financeiras. Os custos indiretos são referentes ao custo
de produtos vendidos.
Para desenvolvermos o orçamento de custos indiretos, devemos estimar
tais custos e classificá-los como sendo fixos (não variam linearmente
com a quantidade) ou variáveis (variam em relação direta com a
quantidade produzida). Vamos supor que a Shorts & Shirts tenha a
seguinte composição de custos indiretos:
CI Classificação
Valor
por mês por camisa por short
Salários e
benefícios da
supervisão
F R$ 8.000,00
Depreciação F R$ 10.000,00
Suprimentos V R$ 0,11 R$0,02
Energia elétrica F R$ 5.000,00
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Telefone F R$ 2.000,00
Material de
embalagem V R$ 0,44 R$ 0,38
Aluguel F R$ 5.000,00
Tabela 9: Custos indiretos. Fonte: Elaborado pelo autor.
Podemos, a partir de tais informações, compor o orçamento de custos
indiretos, multiplicando os custos variáveis unitários pelos volumes e
adicionando os custos fixos, como apresentado na Tabela 10.
Mês
Volume CV
CF Total
camisas shorts camisas shorts
1 1000 1500 R$ 550,00 R$ 600,00 R$ 30.000,00 R$ 31.150,00
2 1200 2100 R$ 660,00 R$ 840,00 R$ 30.000,00 R$ 31.500,00
3 1400 1800 R$ 770,00 R$ 720,00 R$ 30.000,00 R$ 31.490,00
4 800 1450 R$ 440,00 R$ 580,00 R$ 30.000,00 R$ 31.020,00
5 1100 1780 R$ 605,00 R$ 712,00 R$ 30.000,00 R$ 31.317,00
Tabela 10: Orçamento de custos indiretos. Fonte: Elaborado pelo autor.
Como você viu, o orçamento de compra de matérias-primas é uma peça
fundamental no processo orçamentário, pois se presta a identificar
o quanto deve ser adquirido de cada insumo necessário à produção,
respeitando não somente as necessidades dos processos, mas as
limitações que podem ser impostas pela cadeia de suprimentos, na
forma de lotes mínimos, prazos de suprimento etc.
Além disso, é preciso considerar fatores de conveniência a práticas
adequadas de gestão da própria organização, tais como preocupações
com estoques de segurança que garantam a continuidade de atividade,
mesmo em situações extremas, o cálculo do lotes econômicos para
fabricação e aquisições, de forma a propiciar o menor custo total pela
equalização dos custos de manutenção do estoque e dos custos de
processamentos de pedidos etc.
Também, outros custos indiretos, bem como a mão de obra direta
precisam ser detalhadamente analisados, de forma a integrar o
conjunto de informações necessárias à adequada gestão de tais peças
orçamentárias.
Orçamento Empresarial 16
Referências
FREZATTI, F. Orçamento empresarial: planejamento e controle gerencial.
6 ed. São Paulo: Atlas, 2017.
LOBATO, D. M.; AZEVEDO, H. M. Orçamento empresarial. Rio de Janeiro:
Fundação Getúlio Vargas, 1994.
MOREIRA, D. A. Administração da produção e operações. 2 ed. São Paulo:
Cengage Learning, 2009.
Orçamento Empresarial 17
Orçamento Empresarial
Orçamento Empresarial 3
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Sumário
Orçamento Empresarial 3
Para início de conversa… ................................................................................ 3
Objetivo ......................................................................................................... 3
1. Orçamento de Custos Fabris ..................................................................... 4
2. Orçamento dos Custos dos Produtos Vendidos ................................ 6
3. Orçamento de Despesas Comerciais, Administrativas e
Financeiras .................................................................................................... 9
Referências ........................................................................................................11
Para início de conversa…
A análise e gestão de qualquer tipo de negócio passa pela verificação
de viabilidade técnica (é possível fazer?), de viabilidade comercial (há
mercado para consumir os produtos e serviços a serem oferecidos?)
e econômico-financeira (é esperado gerar lucros? Os lucros gerarão
retorno sobre o capital investido? Haverá geração de riqueza e fluxo de
caixa que sustentem a continuidade do negócio?).
Para a análise de viabilidade financeira, é necessário analisar as receitas
previstas e compará-las com os custos para produção e comercialização
dos produtos, mercadorias e serviços. Entretanto, a expectativa de um
bom resultado quanto aos custos não é suficiente para que a decisão de
investimento seja tomada: há de se pensar, também, nos gastos para o
funcionamento do negócio. Ou seja, além de apurarmos a expectativa de
um ganho sobre o produto, dado na forma da diferença entre as receitas
previstas e o custo do produto vendido, precisamos ficar atentos aos
gastos para efetuar a venda em si, manter a estrutura da empresa em
funcionamento, ter gastos com telefone, água, bancos etc. Na verdade,
tais fatores podem transformar uma expectativa de lucro e rentabilidade
em perdas substanciais para a empresa.
Por isso, é importante que, junto ao orçamento de receitas e de custos,
tenhamos, também, as peças orçamentárias de despesas comerciais,
administrativas e financeiras.
Objetivo
Elaborar os orçamentos: custos fabris, custos dos produtos vendidos,
despesas comerciais administrativas e financeiras
Orçamento Empresarial 3
1. Orçamento de Custos Fabris
Os custos fabris englobam os custos de matérias primas, os custos de
mão de obra direta e os custos indiretos de produção. Mas, quando
tratamos dos custos indiretos, é importante estarmos atentos a algumas
sutilezas e especificidades.
Primeiramente precisamos destacar que a separação formal que a
Contabilidade faz entre o que é “custo” e o que é “despesa” pode ter pouca
relevância no processo orçamentário (ao menos até o momento em que
forem feitas as projeções dos relatórios contábeis), visto que ambos
são, em termos práticos, dinheiro que “sai” da empresa. Na verdade, há
a área de conhecimento e de estudo denominada Contabilidade de
Custos, a qual trata, de fato, tanto dos custos quanto das despesas (seu
entendimento e suporte às tomadas de gestão).
Outro aspecto diz respeito ao fato de que há gastos (sejam eles custos
ou despesas) fixos e variáveis, os quais sofrem efeitos das variações nos
volumes produzidos e comercializados e podem ter comportamentos
mutáveis. É o caso, por exemplo, dos custos que permanecem fixos até
determinado volume e variáveis acima dele (por exemplo, os valores
de franquia de contas de luz e água, acima do qual há a cobrança por
consumo). Ou, ainda, custos que permanecem estáveis (fixos) dentro
de determinadas faixas de uso, mas variam de faixa para faixa (por
exemplo, aluguel de equipamentos ou serviços por faixa de tempo, com
estacionamento com preço fixo até uma hora, outro preço fixo entre uma
e três horas etc.).
A própria mão de obra direta é um fator que pode gerar certa complicação
no processo orçamentário, pois, apesar de ser calculada com base no
uso, variações de demanda fazem com que a utilização da capacidade
instalada varie e, consequentemente, os custos. Observe que a folha
de pagamento da mão de obra direta, saldo por efeito de admissões
ou demissões, permanece constante ao longo do tempo. No entanto, a
alocação de tais gastos aos produtos, na forma de mão de obra direta,
ocorre pela utilização prevista, como você pode ver no Gráfico 1.
Gráfico 1: Variação dos custos de mão de obra direta e da ociosidade em função do volume.
Fonte: Elaborado pelo autor.
100
80
60
40
20
0
45 45 45 45 46 51 60 73 90 100
Volume
Ociosidade
Gastos variáveis totais
MOD x ociosidade em função do volume
Orçamento Empresarial 4
Dessa forma, ainda que consigamos custear a MOD para os produtos, a
ociosidade acaba recaindo sobre a estrutura da empresa. Na verdade, tal
lógica se aplica a qualquer gasto fixo: ainda que o aumento de volume
reduza os custos fixos unitários (isto é, calculados para cada unidade de
produto), devemos lembrar que a ociosidade dos gastos fixos é repassada
como gasto de produto final, por compor os gastos da empresa.
“Na indústria, o orçamento de gastos variáveis por unidade está
intimamente ligado ao orçamento da produção, que envolve programação
produtiva, gerenciamento da capacidade disponível, gerenciamento de
estoques e orçamento de materiais”. (COELHO; PONTES, 2018, p.56)
Nesse sentido, uma prática bastante comum é a de utilizar o método de
custeio variável para auxiliar a construção das peças orçamentárias. A
lógica de tal método de custeio é o de não considerar os gastos fixos na
composição dos custos de produtos e serviços: eles seriam considerados
tão somente como gastos da infraestrutura de funcionamento do
negócio.
Ou seja, a composição de gastos e resultados seguiria a lógica mostrada
abaixo.
RECEITA
(CUSTOS VARIÁVEIS)
(DESPESAS VARIÁVEIS)
MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO
(CUSTOS FIXOS)
(DESPESAS FIXAS)
LAIR
Observe que, nesse caso, precisamos pensar em custos variáveis em
função do volume produzido, enquanto as despesas variáveis usualmente
são função da receita (exemplo: comissões de vendas). De forma para
compatibilizarmos as unidades e permitir que os cálculos sejam feitos
de forma correta, o mais comum é que calculemos os custos unitários
(dividindo valores totais pelo volume produzido) e transformemos toda
a base de cálculo como sendo em função da receita.
Quanto aos gastos fixos, uma prática comum nas empresas é a de criação
de centros de custos (CC), facilitando enormemente o planejamento e
previsão dos gastos fixos: cada CC tem a responsabilidade de prever
seus gastos, os quais, se aprovados pela Alta Administração, compõem
o cálculo dos gastos fixos da empresa. E, a partir desse ponto, os CC são
responsáveis por monitorar seus gastos, gerenciando, assim, sua parte
no orçamento.
De acordo com Coelho e Pontes (2018), há três tipos de gastos fixos,
de acordo com suas características:
Orçamento Empresarial 5
Comprometidos - Ligados à estrutura da empresa como um todo e
que tendem a permanecerem inalterados. Exemplos: valor do aluguel,
depreciação, manutenção predial etc.
Padrão – Correlacionados ao resultado obtido, sendo possível medir
sua eficiência. Exemplo: quantidade de funcionários necessária para
atender à determinada demanda, tomando por base o tempo unitário
previsto para cada atividade, a partir do que poderiam ser estimados os
gastos com salários, encargos etc. Importante destacar que não estamos
falando de gastos variáveis, pois não variam em relação direta com a
quantidade.
Discricionários - Não possuem correlação com os resultados obtidos,
não sendo possível, portanto, medir sua eficiência. Exemplos: serviços
específicos, treinamento e consultorias etc.
2. Orçamento dos Custos dos Produtos
Vendidos
Ainda que reconheçamos o custo dos produtos vendidos (CPV)como um
elemento resultante dos registros contábeis presente no Demonstrativo
de Resultados do Exercício (DRE), como mostrado na Figura 1, dentro
do escopo do processo orçamentário, ele é um elemento de projeção e
controle. Figura 2: Integração entre os demonstrativos contábeis projetados.
Fonte: Adaptado de Frezatti (2017).
ATIVO PASSIVO E PL
CIRCULANTE CIRCULANTE
LONGO
PRAZO LONGO
PRAZO
ATIVO PASSIVO E PL
CIRCULANTE CIRCULANTE
LONGO
PRAZO LONGO
PRAZO
RECEITAS
CPV
MARGEM BRUTA
DESPESAS
RESULTADO
OPERACIONAL
OUTROS
RESULTADO ANTES
DO IR
IR
RESULTADO LÍQUIDO
APÓS IR
OPERACIONAL
DE BENS DE CAPITAL
DO ACIONISTA
FINANCEIRO
BALANÇO PATRIMONIAL
EM 31/12/20X1
DEMONSTRAÇÃO
DE RESULTADOS DO
PERÍODO
BALANÇO PATRIMONIAL
EM 31/12/20X2
FLUXO DE CAIXA DO
PERÍODO
Orçamento Empresarial 6
Lembre-se de que a legislação e as práticas geralmente aceitas preveem
que o CPV e o DRE, como um todo, devem englobar todos os custos
referentes aos produtos comercializados, sejam eles fixos ou variáveis.
Portanto, o CPV não serve apenas para fins de gestão, mas também fiscais.
Dessa forma, mesmo que utilizemos o método de custeio variável para
nossas atividades de planejamento, análise e controle do processo
orçamentário, tais cálculos não são aceitos na elaboração dos relatórios
contábeis da empresa, sendo necessário converter os dados para que
possam haver os registros como os que seriam obtidos pelo uso do
método de custeio por absorção.
Aqui, cabe recordarmos as definições dos métodos de custeio, de acordo
com Martins (2003) e Frezatti (2017):
Por absorção (também conhecido como Custeio Integral): Todos os
custos são distribuídos pelos produtos. Ou seja, todos os custos fixos
devem ser absorvidos pelos produtos. Assim, todos os custos, fixos e
variáveis, transitam pelos estoques antes de se constituírem em custos
dos produtos vendidos, utilizando, para isso, critérios de rateio que, por
sua arbitrariedade, podem gerar distorções.
Por departamentalização: Nesse caso, os custos indiretos dos setores
ou centros de custo são atribuídos de acordo com critérios predefinidos
aos outros departamentos ou centros, de forma que há uma acumulação
dos custos conforme avançamos nesse processo, até cobrirmos todos os
setores. Em seguida, atribuímos os custos indiretos (que, agora, estão
alocados somente aos departamentos de produção) aos produtos, de
acordo com critérios especificados. Ou seja, é uma forma mais detalhada
do método por absorção.
Custeio por Atividades (Activity Based Costing): Pode contribuir para
a redução das distorções provocadas pela figura de alguns tipos de
rateios sem critérios com racionalidade econômica: os custos indiretos
são atribuídos às atividades exercidas na empresa, de tal forma que o
total de custos dos departamentos seja transformado em total de custos
das atividades. Feito isso, os custos das atividades são atribuídos aos
diferentes produtos, de acordo com o “uso” que tais produtos fazem de
tais atividades. Ou seja, a racionalidade do que gera custos existir por
exercer atividades e o de que tais atividades são necessárias à produção
dos produtos, proporciona uma lógica de relacionamento entre os
recursos consumidos e os produtos gerados.
Variável: Nesse método, são alocados, a cada produto gerado, somente
os custos variáveis, ou seja, aqueles que variam em relação direta com
a variação da produção e venda. Nesse caso, os demais custos são
lançados para o período (exercício), não transitando pelos estoques.
Orçamento Empresarial 7
Direto: Difere do método variável, pois são alocados a cada produto
somente os custos diretos, ou seja, aqueles que se consomem na
geração dos produtos, sejam fixos ou variáveis.
Mas, antes de discutirmos o CPV, vale lembrar que ele se aplica
usualmente às empresas do ramo industrial. Ainda que não sejam
regras fixas, temos:
CPV (Custo dos Produtos Vendidos): para empresas que “produzem”
(industrializam) os produtos que são comercializados. Assim, devem ser
considerados os gastos com produção, e não somente compras, ou seja:
CPV = Estoque Inicial + Insumos aplicados nos produtos vendidos
(matéria-prima, embalagens etc.) + Mão de obra aplicada nos produtos
vendidos + Gastos gerais de fabricação aplicada nos produtos vendidos
(energia, depreciação etc.) – Estoque Final.
Para identificação de tais fatores, será necessário estabelecer
componentes e quantidades do processo produtivo.
CMV (Custos das Mercadorias vendidas): Para empresas que
comercializam produtos que não são produzidos por elas. Ou seja, não
há a industrialização e, por tal razão, os produtos são entendidos como
“mercadorias” vendidas. Refere-se, assim, especificamente, aos produtos
adquiridos pela empresa para revenda, como costuma acontecer no
comércio, De forma simplificada, podemos dizer que CMV = Estoque
Inicial + Compras - Estoque Final.
CSV (Custos de Serviços Vendidos) ou CSP (Custos dos Serviços
Prestados): aplicado a empresas, obviamente, de prestação de serviços.
Dessa forma, o CPV (e, de forma análoga, o CMV e CSV, já que os cálculos
de CPV, do CMV e do CSV são parecidos) representa o valor da obtenção
e processamento da mercadoria, levando em consideração a aquisição
de matérias- -primas, o processo de industrialização e correlatos. Seu
cálculo mensura os itens vendidos e não os que ficaram em estoque. Ou
seja:
CPV = Estoque Inicial + Produção – Estoque Final
Por exemplo, se temos 500 unidades de um produto em estoque, são
produzidas mais 1.500 unidades de produto e, ao final do exercício, há,
em estoque, 550 unidades, foram vendidas 1.450 unidades do produto
(500 + 1500 – 550 = 1.450) e, se o custo de cada unidade é de R$ 100,00,
o CPV será de R$ 145.000.
Por mais óbvia que seja tal análise, é importante destacar que tomar por
base somente o dinheiro que entra na empresa pelas suas vendas, pode
gerar uma visão distorcida das finanças. Afinal, podemos estar recebendo
“muito” por algo que nos custou “muito mais”.
Assim, o Custo do Produto Vendido inclui todos os gastos para produzir e
armazenar um produto, até que ele seja vendido. Como parte do processo
orçamentário, é fácil perceber que o orçamento dos CPV tem como base
Orçamento Empresarial 8
as informações oriundas de outras peças orçamentárias, para podermos
trabalhar com a projeção de vendas, de produção, de consumo e compras
de matérias primas, mão de obra direta e custos indiretos.
3. Orçamento de Despesas Comerciais,
Administrativas e Financeiras
O cálculo do CPV não exaure as necessidades de informações para
planejamento e controle do orçamento, afinal, o CPV não engloba todos
os gastos para comercialização do produto e manutenção das atividades
da empresa.
Desta forma, deve haver o orçamento de despesas comerciais,
administrativas e financeiras, visando o planejamento e controle de tais
elementos.
O orçamento de despesas comerciais engloba as despesas referentes
às atividades comerciais da empresa: salários/encargos da equipe de
vendas e marketing, gastos com pesquisa de mercado, administração de
vendas etc. Ou seja, leva em consideração a venda, publicidade, promoção
de vendas e armazenagem, inclusive, despesas incorridas após a ocasião
da venda ou custos de preenchimento dos pedidos, tais como despesas
de embarque, expedição, comissões de vendedores e custos tributários,
fretes da distribuição etc.
‘‘ O Orçamento de despesas de vendas visa dimensionar os recursos necessários para
dar suporte às vendas orçadas. A maioria das despesas de vendas é de natureza
fixa. Algumas despesas de vendas e distribuição são variáveis, isto é, variam em
função do volume de vendas. Por exemplo, as comissões de vendedores e fretes
de distribuição podem aumentar à medida que aumenta o volume de vendas.
(HOJI, 2017, p.444)’’
Os centros de custos administrativos incluem a alta direção da empresa
e as operações de staff não relacionadas às atividades de produção,
marketing e, na maioria das empresas,Pesquisa e Desenvolvimento
(P&D). Isso se deve ao fato de as empresas optarem por ter o orçamento
de P&D como uma peça orçamentária separada ou, mais comumente,
como parte do orçamento de investimentos.
No que tange ao orçamento de P&D, a empresa deve (LOBATO: AZEVEDO,
1994, p.60):
▪ Decidir o nível de comprometimento financeiro para pesquisa e
desenvolvimento ao longo dos próximos anos.
▪ Decidir as direções do esforço de pesquisa e desenvolvimento.
▪ Avaliar a eficácia do grupo de pesquisa e desenvolvimento.
▪ Decidir quanto ao valor dos fundos que serão colocados à disposição
de P&D ao longo de um período de anos.
Orçamento Empresarial 9
O orçamento de despesas administrativas tem a finalidade de determinar
os recursos que serão despendidos com a gestão da empresa” (HOJI, 2017,
p.444). Incorpora as despesas de setores como Recursos Humanos (RH),
Finanças, Segurança, Informática etc. Aluguéis e condomínios, gastos
referentes ao material de escritório, telefone, água, energia elétrica etc.
fazem parte das despesas administrativas.
Cabe aos setores e departamentos fornecerem os valores previstos de
gastos, seja com base em dados históricos e/ou discricionários, para
compor a peça orçamentária específica. Se aprovado pelo responsável
pelo processo orçamentário, além de servir de base para o planejamento
do orçamento, será utilizado, também, como instrumento de gestão para
controle do orçamento, além de servir de entrada para o processo de
elaboração dos relatórios financeiros projetados.
Já o orçamento de despesas financeiras, que em algumas empresas é
incorporado ao orçamento de despesas administrativas, para efeito de
simplificação, engloba gastos como taxas bancárias, pagamento de juros
etc. Importante destacar que os gastos com salários e benefícios dos
empregados dos setores financeiros da empresa, bem como quaisquer
outros gastos em tais setores não se caracteriza como despesas
financeiras: são despesas administrativas.
Como você pôde perceber, há diversos aspectos a serem considerados
no processo orçamentário, que vão além das estimativas de vendas e
receitas, quantidade a ser produzida, matérias-primas a serem utilizadas
e adquiridas, mão de obra utilizada, bem como custos indiretos diversos.
A manutenção das operações, implicando em gastos fabris, compõem
um total de fatores a serem considerados quanto à elaboração dos
orçamentos do custo de produtos vendidos. Entretanto, a ele precisam
ser incorporados, também, gastos referentes à comercialização, na forma
dos orçamentos de despesas comerciais, administrativas e financeiras,
elementos fundamentais a serem considerados no processo de
planejamento e controle do orçamento empresarial.
Orçamento Empresarial 10
Referências
COELHO, F. S.; PONTES, R. M. Orçamento e controle. Rio de Janeiro:
Fundação Getúlio Vargas, 2018.
FREZATTI, F. Orçamento empresarial: planejamento e controle gerencial.
6 ed. São Paulo: Atlas, 2017.
HOJI, M. Administração financeira e orçamentária: matemática financeira
aplicada, estratégias financeiras, orçamento empresarial. 12 ed. São
Paulo: Atlas, 2017.
LOBATO, D. M.; AZEVEDO, H. M. Orçamento empresarial. Rio de Janeiro:
Fundação Getúlio Vargas, 1994.
MARTINS, E. Contabilidade de custos. 9 ed. São Paulo: Atlas, 2003.
Orçamento Empresarial 11
Orçamento Empresarial
Orçamento Empresarial 4
Desenvolvimento do material
Henrique Martins Rocha
1ª Edição
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Sumário
Orçamento Empresarial 4
Para início de conversa… ................................................................................ 3
Objetivo ......................................................................................................... 3
1. Orçamento do Fluxo de Caixa .................................................................. 4
2. Orçamento de Capital: Investimento e Financiamento ................. 8
Referências ......................................................................................................... 12
Para início de conversa…
Ainda que os lançamentos contábeis sejam de vital importância na
gestão de qualquer organização, o que, de fato, mantém a saúde
financeira dos empreendimentos é uma boa gestão do fluxo de caixa,
isto é, garantir que sempre haja recursos necessários e suficientes para
a manutenção das atividades do dia a dia e a capacidade de honrar
compromissos diversos (pagamento de fornecedores, salários, tributos,
etc.). Por exemplo, uma empresa lucrativa pode se tornar insolvente caso
não disponha de recursos para garantir tais pagamentos.
Assim sendo, o processo orçamentário precisa obrigatoriamente
prever as entradas e saídas ao longo do exercício, de forma a
estabelecer as necessidades (como a necessidade de capital de giro),
bem como disponibilidades e, dessa forma, estabelecer as bases para
gerenciamento do fluxo de caixa e suportar as tomadas de decisão dos
gestores. Decisões sobre investimento e financiamento dependem de
tais previsões.
Nesse sentido, outra importante peça orçamentária é o orçamento de
capital, o qual, quando alinhado com o plano estratégico da organização,
identifica os investimentos a serem feitos (por exemplo, expansões,
aquisições, desenvolvimento de novos produtos e serviços, etc.), bem
como a origem dos recursos necessários.
Objetivo
Elaborar orçamentos: fluxo de caixa e capital.
Orçamento Empresarial 3
1. Orçamento do Fluxo de Caixa
Ainda que a geração e manutenção do lucro sejam elementos
essenciais para atender os interesses de acionistas e investidores, sem
os quais a continuidade de atuação das empresas e comprometida,
dificuldades no fluxo de caixa (os quais podem até ser gerados pela
ausência continuada de lucros, mas usualmente têm, também, outras
causas) são o grande vilão nos pedidos de falência.
A explicação para tal aspecto se deve ao fato de que o lucro é
uma “sobra” da receita menos os custos e despesas, mas tanto a
receita quanto custos e despesas não necessariamente implicam
movimentação de caixa, mas, sim, entradas e saídas de ativos. Dessa
forma,
‘‘ Se a empresa obtém lucro, mas está destruindo caixa, sinaliza que o lucro
está impactando outras contas do ativo ou passivo. Por exemplo, se as contas
a receber (ativo) aumentarem consideravelmente, significa que o caixa deixou
de receber tal valor (provavelmente por existir um prazo de recebimento alto).
Já a conta fornecedores (passivo) diminuir substancialmente, significa que está
ocorrendo saída de caixa (provavelmente por existir um prazo de pagamento
baixo). (COELHO; PONTES, 2018, p.77)’’
Por isso, o orçamento de caixa, peça orçamentária que se baseia
em valores orçados nas demais peças, ganha importância como
instrumento de gestão em qualquer organização.
O orçamento de caixa – ou fluxo de caixa projetado consiste em uma estimativa
dos recebimentos e dos pagamentos de caixa, provenientes dos níveis de atividades
planejados e do uso dos recursos que foram considerados nos vários orçamentos
examinados.
O orçamento de caixa é um completo estudo das implicações financeiras do
planejamento das saídas de natureza corrente e de capital durante o ano. (LOBATO;
AZEVEDO, 1994, p.63)
Lobato e Azevedo (1994), como também Coelho e Pontes (2018), listam
os objetivos do orçamento de caixa:
▪ Avaliar a capacidade de gerar fluxos de caixa positivos, suficientes
para honrar compromissos e financiar investimentos.
▪ Determinar a previsão dos recebimentos e desembolsos de cada
período.
▪ Prever o saldo de caixa ao término de cada período considerado.
▪ Medir a taxa de conversão do lucro em caixa.
▪ Mensurar o grau de confiabilidade dos valores estimados nos
orçamentos diversos do processo orçamentário (visto que o
orçamento de caixa se baseia neles).
▪ Analisar ograu de dependência das dívidas de curto prazo, isto é, se
o saldo de caixa estaria comprometido com o pagamento de dívidas
de curto prazo, prejudicando a capacidade de pagamento de gastos
operacionais e investimentos.
Orçamento Empresarial 4
▪ Servir de demonstrativo para concessão de crédito.
▪ Suportar o processo de tomada de decisão dos gestores (ex.: conceder
ou não descontos).
O orçamento de caixa lida com três vetores: o fluxo de caixa operacional;
das decisões de investimento; e das decisões de financiamento. Neste
momento, vamos discutir o primeiro e, para tanto, vamos analisar o fluxo
apresentado na Figura 1.
Figura 1. Capital de giro no ativo circulante. Fonte: Adaptado de Hoji (2017).
1
2
3
4 CAIXA
ESTOQUE DE
MATÉRIAS-PRIMAS
DUPLICATAS A
RECEBER
ESTOQUE DE
PRODUTOS
ACABADOS
Lucro
Despesas Outros custos
Como você pode observar, o caixa é utilizado para aquisição de matérias-
primas, as quais são utilizadas no processo produtivo, gerando produtos
e serviços. Para tanto, devem haver os gastos com mão de obra direta,
bem como outros gastos fabris.
Após um período de estocagem (sobre os quais incorrem gastos de
movimentação e de armazenagem), há a venda dos produtos, gerando
receita. No entanto, tal receita não necessariamente significa entrada
imediata de caixa, o que, de fato, só ocorrerá mediante o pagamento das
duplicatas/faturas. E esse é um ponto importante, pois, sendo um ciclo,
os eventos não ocorrem simultaneamente; há uma defasagem entre as
entradas e saídas de caixa.
Tais defasagens podem ser mais bem explicadas se utilizarmos uma
representação gráfica em uma linha de tempo, como mostrado a seguir,
na Figura 2.
Orçamento Empresarial 5
Figura 2. Ciclo financeiro. Fonte: Adaptado de Santos (2019).
Imagine uma empresa que compra determinada mercadoria ou matéria-
prima em uma data específica (que será o início mostrado na Figura 2).
Esse material será recebido, processado (caso seja uma indústria) e ficará
estocado até o momento da venda (mostrado na figura como “Entrega”),
quando será reconhecida a receita. O intervalo de tempo entre a compra
e a venda é denominado ciclo econômico (CE).
Prazo de pagamento
Ciclo operacional
Ciclo econômico
Entrega
Pagamento fornecedor
Início
Recebimento do cliente
Prazo de recebimento
Tempo
Ciclo financeiro
Mas, observe que, como citado anteriormente, a venda não representa
entrada de caixa. Por exemplo, se na venda é emitida uma fatura a ser
paga 30 dias após, somente após esse período (denominado prazo de
recebimento – PR) é que haverá, de fato, recebimento no caixa. Dessa
forma, o intervalo de tempo entre a compra e o recebimento de caixa
oriundo da mesma (chamado de ciclo operacional – CO) é dado pela
soma de CE com PR:
CO = CE + PR
Contudo, observe que o fato de ter havido a compra também não significa
que haja um efeito imediato sobre o caixa (saída de caixa), pois a compra
usualmente também é faturada para pagamento futuro, havendo, dessa
forma, um prazo de pagamento (PP). E o aspecto mais relevante da figura
mostrada é justamente o intervalo entre tal pagamento e o recebimento,
ao qual se dá o nome de ciclo financeiro (CF) ou ciclo de caixa (CC),
que representa o período de tempo em que há uma “descapitalização”
da empresa, visto que ela paga, isto é, desembolsa dinheiro e precisa se
manter em funcionamento até receber.
O CF é calculado, então, da seguinte forma:
CF = CO - PP
Orçamento Empresarial 6
É fácil perceber que quanto maior o CF, maiores serão as dificuldades
da empresa, pois ela precisa se “autofinanciar” por mais tempo, exigindo,
portanto, maior capital de giro. Dessa forma, quanto menor o CE e o PR,
menor o CO, o que auxilia a reduzir a necessidade de capital de giro
(NCG). O aumento no PP surte o mesmo efeito e, assim, se torna fácil
compreender as vantagens de se “receber o mais cedo possível”, “pagar
o mais tarde possível” e ter o menor tempo de processamento e de
estoque possível.
Mas a visão dos ciclos mostrada na Figura 2 é uma forma simplificada,
pois identifica os ciclos de um único item, quando a realidade de uma
empresa é bastante diferente: a cada momento há diferentes COs e
CFs se iniciando e se concluindo. Assim sendo, o orçamento de caixa
se presta a compilar todas as entradas e saídas de caixa previstas ao
longo do período, de forma a serem identificadas, como anteriormente
citado, as necessidades e disponibilidades ao longo do tempo. Com tais
informações, a Tesouraria consegue gerenciar adequadamente o caixa
da empresa.
Há duas formas de calcular o fluxo de caixa de uma empresa: método
direto e método indireto. No primeiro caso, a Tesouraria monitora as
entradas e saídas de caixa (muitas vezes, em bases diárias) e projeta o
fluxo de caixa com base em tais informações.
Por exemplo, se a empresa XYZ efetua uma venda de R$ 300.000,00,
recebendo 70% à vista, tendo custos e despesas de R$ 200.000,00, pagos
50% à vista, isso representaria uma entrada de caixa de R$ 210.000,00
(70% da receita) e uma saída de R$ 100.000,00 (50% dos custos e
despesas), refletindo, portanto em uma variação no fluxo de caixa de R$
110.000,00.
Já no método indireto, o fluxo de caixa é preparado a partir dos
lançamentos contábeis, ajustando-os de acordo com o diferimento dos
recebimentos ou pagamentos. Partindo do mesmo exemplo, o método
iniciaria pelo lucro de R$ 100.000,00. Mas, como houve um aumento de
R$ 90.000,00 em contas a receber (30% do valor da venda), esse valor
seria deduzido do lucro, visto tratar-se de um montante de caixa não
recebido (por isso negativo, em termos de geração de caixa)
Mas, ao mesmo tempo, o contas a pagar aumentou R$ 100.000,00, visto
que 50% dos custos/despesas não saíram do caixa. Assim, isso representa
um acréscimo de caixa (positivo em termos de geração de caixa). Temos,
então:
Lucro R$ 100.000,00
Aumento de CAR -R$ 90.000,00
Redução de CAP R$ 100.000,00
Fluxo de caixa R$ 110.000,00
Orçamento Empresarial 7
É importante destacar que o fluxo de caixa, na verdade, é dividido em
três partes:
Fluxo de caixa operacional: Resultado de todas as entradas e saídas
relativas às operações, ou seja, recebimento das receitas e pagamento
dos gastos (inclusive projetos não ativados).
Fluxo de caixa da decisão de investimento: Resultado de todas as
entradas e saídas dos investimentos de curto, médio e longo prazos.
Fluxo de caixa da decisão de financiamento: Resultado de todas as
entradas e saídas dos financiamentos de curto, médio e longo prazos,
ou seja, há entrada no caixa quando a empresa capta dinheiro por meio
de capital de terceiros ou capital próprio, e a saída ocorre quando a
empresa paga alguma dessas captações, seja amortização financeira,
juros ou dividendos.
Vamos estudar os dois últimos a seguir.
2. Orçamento de Capital: Investimento e
Financiamento
O orçamento de investimentos trata das atividades distintas do dia a dia,
isto é, da rotina operacional. Seu foco está nas mudanças do que está hoje
estabelecido e em funcionamento na empresa, englobando o plano de
investimentos de ativos de longo prazo (FREZATTI, 2017). Por exemplo,
se uma montadora de automóveis identifica em seu planejamento
estratégico a oportunidade e conveniência do lançamento de um novo
modelo de veículo, até que tal modelo esteja em produção e sendo
comercializado, a empresa precisará investir no desenvolvimento do
modelo em si e, também, em toda a estrutura que viabilize sua produção
e comercialização (linha de produção, ferramentas, fornecedores,
treinamento de mão de obra, concessionárias, etc.). A estas atividades
que antecedem as atividades contínuas (operacionais), dá-se o nome de
projeto.
Assim, a definição mais usual de projeto é a de um esforço temporário
(tem início e fim bem definidos) empreendido para criar um produto,
serviço ou resultado exclusivo. O gerenciamento dos projetos ocorre
por meio da gestão de seus processos, havendo processos de iniciação,
planejamento,execução, controle e encerramento, que abrangem dez
áreas de conhecimento:
▪ Gerenciamento da integração do projeto.
▪ Gerenciamento do escopo do projeto.
▪ Gerenciamento do cronograma do projeto.
▪ Gerenciamento dos custos do projeto.
▪ Gerenciamento da qualidade do projeto.
Orçamento Empresarial 8
▪ Gerenciamento dos recursos do projeto.
▪ Gerenciamento das comunicações do projeto.
▪ Gerenciamento dos riscos do projeto.
▪ Gerenciamento das aquisições do projeto.
▪ Gerenciamento das partes interessadas do projeto.
Todos os projetos, que são oriundos do planejamento estratégico da
empresa, são precedidos pelo orçamento, para compor o fluxo de caixa
da empresa, determinando a necessidade de pagamentos (investimentos,
sejam eles ativados ou não) e forma de financiamento.
Pelo seu cunho estratégico, os projetos são usualmente analisados e a
responsabilidade pela aprovação cabe à direção das organizações.
‘‘ O orçamento de capital (capital budget) contempla os projetos identificados,
analisados e escolhidos dentre as várias opções de propostas de investimentos
da entidade. Em outras palavras, a análise de adequação financeira deve ter
sido feita no planejamento estratégico para que o momento do orçamento
sirva apenas para a implementação de uma decisão já tomada. (FREZATTI, 2017,
p.60)’’
Fatores a serem considerados no orçamento de investimentos:
▪ Impacto na lucratividade e rentabilidade de vários exercícios.
▪ Valores às vezes vultosos e análise prévia do investimento.
A análise prévia engloba aspectos técnicos, mas, principalmente, de
viabilidade econômico financeira. Os investimentos em projetos se
justificam por necessidades e/ou uma expectativa de benefícios e
ganhos para a organização, tais como:
Investimentos para manutenção do nível de atividade: Aquisições de
bens, reforma ou construção com a finalidade de reposição de bens ou
recuperação de instalações com baixa capacidade em função do uso
existentes. Muitas vezes são investimentos de menor porte e, por isso,
contabilmente, não são classificados como investimentos de capital,
mas sim gastos do período. Exemplo: Campanhas de novos produtos ou
serviços, treinamentos para a aplicação de novas tecnologias, mudança
de processos administrativos, transferência das atividades para novo
local, projetos de pesquisa, entre outros.
Investimentos estratégicos: Essenciais às operações, representam
investimentos de maior porte, relativos à expansão, ampliação, inovação
ou qualquer outro motivo estratégico percebido como relevante no
período orçamentário. Podem, também, ser investimentos em outras
empresas, investimentos em aplicações de longo prazo não ligadas
diretamente à operação.
Projetos requeridos por questões legais, para segurança, meio ambiente
ou outros: Usualmente o foco é limitar e controlar gastos do projeto, de
forma a minimizar as consequências de um investimento compulsório.
Orçamento Empresarial 9
Investimentos na função social da empresa: Tais como programas
de despoluição, restaurantes, alojamentos e áreas de lazer para os
funcionários, etc.
Projetos não essenciais para operação: Também geradores de resultados
financeiros relacionados à visão de oportunidade e de evolução de
negócios.
Melhorias opcionais das condições da empresa: Visando à renovação
tecnológica ou de capacidade, cuja implementação pode ser postergada
ou antecipada, conforme condições financeiras ou de mercado.
Os métodos usualmente utilizados para avaliação dos projetos são:
Payback (PB) Também chamado de payback simples, é um método
que quantifica o tempo previsto para o retorno do investimento feito.
Se o tempo estiver dentro dos limites estabelecidos pela política de
investimentos da empresa, o projeto é aceito.
Payback descontado (PBD) Similar ao PB, porém os valores são trazidos
ao valor presente (em vez de serem utilizados os valores nominais),
utilizando uma taxa de desconto, conhecida como taxa mínima de
atratividade (TMA). A TMA é calculada como uma média ponderada
entre o retorno exigido ou esperado pelo capital próprio e os juros a
serem pagos ao capital de terceiros (após descontado o benefício fiscal
referente à dedução sobre a base de cálculo do imposto de renda). Tal
cálculo recebe o nome de custo médio ponderado do capital (CMPC),
ou por sua sigla em inglês (WACC - Weighted Average Capital Cost).
Importante destacar que o retorno exigido ou esperado pelo capital
próprio leva em consideração em seu cálculo o custo de oportunidade,
ponderado pelo risco envolvido no projeto. Para tanto, utiliza-se o CAPM
(Capital Asset Pricing Model) ou o método de Gordon.
Tais métodos não serão discutidos aqui, por não integrarem o escopo da
disciplina de Orçamento Empresarial. Para saber mais sobre eles, você
pode pesquisar livros e demais materiais sobre Administração Financeira,
Engenharia Econômica e/ou Análise de Viabilidade de Projetos.
Valor Presente Líquido (VPL) Traz os valores ao momento presente,
utilizando a TMA (como no PBD) e compara se o somatório é superior
ao investimento feito (isto é, se o VPL é positivo). Projetos com VPL > 0
devem ser aceitos, ao passo que, se negativo, devem ser rejeitados.
Taxa Interna de Retorno (TIR) Método que calcula uma rentabilidade
hipotética do projeto (considerando as entradas e saídas de caixa ao
longo do tempo) e a compara com a TMA. Dessa forma, a TIR é a taxa de
desconto que faz com que o VPL do projeto seja zero. Caso TIR > TMA, o
projeto seria aceito; caso contrário, rejeitado.
Orçamento Empresarial 10
Índice de lucratividade (IL) Também traz os valores ao momento
presente, como no VPL, fazendo a comparação proporcional com o
investimento. Se IL > 1, significa que o projeto gera mais riqueza do que
exige de investimento, devendo ser aprovado.
De acordo com Padoveze e Taranto (2009), o orçamento dos
financiamentos tem a finalidade de estimar/planejar as captações de
fundos, bem como os gastos para a manutenção desses fundos e os
pagamentos previstos, sejam referentes a capital próprio ou capital de
terceiros. Para tanto, devem ser levantados o tipo de captação e a moeda
de origem, os custos e riscos envolvidos, impostos incidentes, prazo de
carência, etc., tendo influência sobre a estrutura de capital da empresa.
Aspectos a serem considerados:
▪ Tipo de financiamento e sua moeda de origem.
▪ Indexador contratual, se aplicável.
▪ Taxa de juros praticada.
▪ Spread e comissões bancárias.
▪ Tributos incidentes (IOF – Imposto sobre Operações Financeiras, IOC
– Imposto sobre Operações de Câmbio; IRRF – Imposto de Renda
Retido na Fonte sobre Remessas ao Exterior).
▪ Prazos de carência e cronograma de amortização do principal da
dívida e dos juros.
Com o orçamento de investimentos e financiamentos, junto ao orçamento
de caixa, completa-se o conjunto de peças orçamentárias que integram
o orçamento. Como anteriormente citado, as peças orçamentárias são
como peças de um quebra-cabeças: cada uma com suas características
e forma, mas não sendo, de fato, independentes. Ao contrário, as peças
“se encaixam” adequadamente, mediante relações de causa e efeito
(entradas e saídas) até compor o orçamento completo, uma peça única
de elevada relevância em termos estratégicos e que suporta a gestão
das organizações, tanto em termos de planejamento como servindo
como instrumento de monitoramento, suportando constantemente os
processos decisórios da administração.
O orçamento de caixa, de investimentos e financiamentos são as peças
orçamentárias que completam o ciclo de elaboração orçamentária,
utilizando as informações das outras peças e construindo um poderoso
instrumento de gestão para organizações de qualquer área de atuação
e porte.
Em especial, tais orçamentos, que utilizam informações das demais
peças orçamentárias, servem de elo com os relatórios contábeis da
organização. Ou seja, somente por meio de tais peças orçamentárias é
possível estabelecer a lógica do negócio e fazer previsõesassertivas
sobre os resultados da empresa, atendendo a necessidades de gestores,
investidores, parceiros comerciais, fornecedores e outras partes
interessadas.
Orçamento Empresarial 11
Referências
COELHO, F. S.; PONTES, R. M. Orçamento e controle. Rio de Janeiro:
Fundação Getúlio Vargas, 2018.
FREZATTI, F. Orçamento empresarial: planejamento e controle gerencial.
São Paulo: Atlas, 2017.
HOJI, M. Administração financeira e orçamentária: matemática financeira
aplicada, estratégias financeiras, orçamento empresarial. 12. ed. São
Paulo: Atlas, 2017.
LOBATO, D. M.; AZEVEDO, H. M. Orçamento empresarial. Rio de Janeiro:
Fundação Getúlio Vargas, 1994.
PADOVEZE, C. L; TARANTO, F. C. Orçamento empresarial: novos conceitos
e técnicas. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009.
SANTOS, S. A. Identificação da necessidade de capital de giro em projetos
de escopo fechado para o fechamento do ciclo econômico incluso em
uma proposta comercial. 2019. 40 f. Monografia (Especialização em MBA
Executivo em Gestão de Projetos). Fundação Getúlio Vargas, São Paulo,
2019.
Orçamento Empresarial 12
Orçamento Empresarial
Projeção das Demonstrações
Contábeis
Desenvolvimento do material
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Sumário
Projeção das Demonstrações Contábeis
Para início de conversa… ................................................................................ 3
Objetivo ......................................................................................................... 3
1. Balanço Patrimonial .................................................................................... 4
2. Demonstração do Resultado do Exercício .......................................... 6
3. Aplicação Prática ......................................................................................... 7
Referências ......................................................................................................... 13
Para início de conversa…
O orçamento é um relevante instrumento de gestão, aplicável tanto
ao aspecto de planejamento de toda a estrutura e norteamento das
decisões das organizações, como significativo elemento de orientação
e monitoramento do dia a dia, permitindo o controle e suportando
todos os processos de decisão dos gestores.
As previsões de volumes e mix de produtos e serviços a serem
produzidos e comercializados, bem como os resultados subsequentes,
em termos de operações e resultados financeiros, provê aos gestores
um valioso painel de comando das atividades empresariais.
E, nesse sentido, a geração de demonstrações contábeis faz parte das
atividades de gestão, permitindo não somente o uso dos mesmos pelos
tomadores internos de decisão, mas, também viabilizando a análise de
acionistas, credores, instituições financeiras, fornecedores, etc. Ainda
que a versão final de tais demonstrações só possa ser gerada após o
período analisado concluído. Desta forma, após as projeções de vendas,
receitas, gastos, investimentos e financiamentos, podemos desenvolver
o orçamento de caixa e as projeções das demonstrações contábeis.
Objetivo
Elaborar a projeção das demonstrações contábeis.
Orçamento Empresarial 3
1. Balanço Patrimonial
Ainda que a Contabilidade Financeira e a Contabilidade Gerencial e de
Custos tenham finalidades distintas, elas, obviamente, compartilham
conceitos, relatórios e indicadores. Nesse sentido, sendo o orçamento
um instrumento de gestão, ele tem forte vinculação com a Contabilidade
Gerencial. Mas sua utilização não se limita a tal dimensão, compartilhando
técnicas e instrumentos da Contabilidade Financeira, em especial, as
demonstrações contábeis: peças orçamentárias que propiciam a previsão
de vendas, receitas, gastos, investimentos e financiamentos, bem como o
fluxo de caixa, o orçamento permite prover informações suficientes para
gerar previsões das demonstrações contábeis, visto que, como inferido
por Norton e Kaplan (1997), os resultados financeiros são consequência
de aspectos internos na operação da empresa (processos internos
desenvolvidos e executados por pessoas qualificadas, motivadas e com
condições adequadas de trabalho) e fatores externos, referentes ao
mercado.
Como parte do processo orçamentário, a elaboração das projeções das
demonstrações contábeis é usualmente denominada “etapa financeira”,
que prevê a tradução das decisões da fase operacional do processo em
elementos monetários. Por exemplo, o plano de vendas se traduz em
faturamento líquido e bruto, a necessidade de contratação de novos
funcionários em gastos necessários para tal, etc. (FREZATTI, 2017).
Também, de acordo com a lógica do PDCA, a gestão deve ocorrer em
um ciclo que se inicia pelo planejamento, seguido da execução, controle
e, a partir daí, a ação, na forma de tomada de decisão. Assim sendo,
como cita Hoji (2017, p.448), “Antes de apurar os resultados econômico e
financeiro com base em quadros orçamentários, é necessário analisar as
movimentações financeiras das diversas contas patrimoniais e contas de
resultados”.
A elaboração das projeções das demonstrações contábeis tem como
benefício a possibilidade de utilizar relatórios padrão, compreendidos
pelas partes interessadas pelo fato de serem aderentes à legislação
específica, bem como às práticas contábeis geralmente aceitas, ao
contrário do que pode acontecer quando se faz uso de relatórios
customizados da Contabilidade Gerencial, que são únicos para cada
empresa. Por exemplo, a utilização de relatórios financeiros padronizados
quando da solicitação de financiamento de capital de giro junto a
uma instituição financeira é, como regra geral, obrigatório, ainda que,
de acordo com Frezatti (2017), seja comum que o plano de contas das
demonstrações contábeis projetadas seja mais sumarizado do que o
utilizado para demonstrações das informações históricas.
Alguns conceitos e definições necessitam ser dimensionados no
orçamento, bem como utilizados no dia a dia da organização:
Orçamento Empresarial 4
▪ demonstrativos contábeis projetados que proporcionam condições da
consolidação das decisões;
▪ indicadores financeiros que permitem a análise de vários fatores dos
resulta- dos projetados;
▪ conceitos de gastos, investimentos, custos, despesas e perdas para
que os demonstrativos possam ser elaborados;
▪ tratamento dos custos em termos de sistemas de acumulação, sistema
de custeio e métodos de custeio para que seja possível projetar e
acompanhar os custos dos produtos;
▪ centros de responsabilidade.
As demonstrações contábeis permitem uma análise mais abrangente do
processo de planejamento, pelo fato de que nelas existe a possibilidade
de informações comparativas para validação do plano estratégico, visto
que as demonstrações financeiras projetadas indicam a adequação
financeira de todas as decisões planejadas.
‘‘ Por meio de simulações, apuram-se o superávit ou déficit de caixa, o lucro do
exercício, necessidade de capital de giro etc., e, com esses dados, é possível
determinar a capacidade de expansão dos negócios e direcionar os recursos
disponíveis para maximizar o resultado operacional (HOJI, 2017, p.448).’’
O ideal seria que tais relatórios já estivessem disponíveis quando da
elaboração do plano estratégico. No entanto, como sua elaboração
depende das demais peças orçamentárias, as quais, por sinal, dependem
das definições estratégicas, isso não é possível. Assim sendo, os processos
orçamentários mais sofisticados (geralmente empresas mais avançadas
em suas práticas gerenciais e que dispõem de módulos específicos em
seus sistemas de gestão integrados) utilizam planilhas de projeção em
tempo real, em que as projeções são atualizadas a partir da alimentação
de dados ao longo do processo.Desta forma, evita-se a situação em que tais demonstrações surjam
muito tardiamente, após a elaboração do plano estratégico, já como
último passo do processo orçamentário, o que é tardio e inadequado no
gerenciamento de negócio como um todo.
Ainda que tal lógica se aplique a todos os relatórios financeiros, nosso
foco será o de estudar os relatórios mais relevantes, quais sejam, o
Balanço Patrimonial (BP) e a Demonstração do Resultado do Exercício
(DRE). Vamos iniciar nossos estudos pelo BP, que é o relatório que
representa uma fotografia da situação financeira da empresa em
determinado momento (usualmente no fechamento do exercício).
O balanço patrimonial agrupa as principais contas, de acordo com sua
natureza: o ativo representa as aplicações dos recursos, isto é, bens e
direitos, como, por exemplo, caixa, estoques, máquina e equipamentos,
etc., enquanto o passivo e o patrimônio líquido indica as origens dos
recursos, próprios ou de terceiros. As contas do ativo e passivo, junto ao
patrimônio líquido, são apresentadas em ordem decrescente de liquidez
Orçamento Empresarial 5
para o ativo e de exigibilidade para o passivo e patrimônio líquido. O
balanço patrimonial reflete as mudanças dos ativos e a exigibilidade,
resultantes das atividades planejadas, enquanto o balanço patrimonial
projetado é o último estágio da projeção dos resultados orçados da
posição financeira da empresa no final do exercício, sendo “consequência
natural de todos os orçamentos previamente estudados” (COELHO;
PONTES, 2018, p.62). O balanço patrimonial projetado:
▪ ajuda a conferência da montagem das demais peças orçamentárias;
▪ possibilita uma análise econômico-financeira da empresa;
▪ fornece dados para análise da administração do capital de giro da
empresa.
2. Demonstração do Resultado do Exercício
Se o Balanço Patrimonial pode ser comparado com uma fotografia, isto é,
um relato estático e instantâneo em determinado momento da empresa,
a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), também chamada
de Demonstrativo dos Resultados do Exercício, pode ser entendido
como um filme que cobre determinado período de tempo (o exercício),
apresentando, em linhas gerais, o que aconteceu com a organização no
que diz respeito a ganhos e perdas. Ou seja, sendo colocado de uma
forma simplória, a DRE indica se houve lucro ou prejuízo no exercício.
‘‘ A Demonstração de Resultado do Exercício (DRE) é uma demonstração contábil
que apresenta o fluxo de receitas e despesas, que resulta em aumento ou
redução do patrimônio líquido entre duas datas. Ela deve ser apresentada de
forma dedutiva, isto é, inicia-se com a Receita bruta operacional e dela deduzem-
se custos e despesas, para apurar o lucro líquido (HOJI, 2017, p.260).’’
Desta forma, segundo o autor, a DRE é uma das peças mais importantes
do Orçamento, visto que ela reflete o resultado final das operações,
indicando o lucro líquido (ou prejuízo) do período das operações. Assim,
a elaboração do demonstrativo de resultado do exercício projetado visa
possibilitar a projeção do resultado econômico da empresa.
Baseado nas peças orçamentárias anteriores, a DRE projetada possibilita
estimar resultados futuros, considerando diferentes alternativas para
custos e despesas. Para tanto, parte-se do DRE anterior e os resultados
das diversas peças orçamentárias são considerados (inseridos), para
atualizá-lo.
De acordo com Frezatti (2017) recomenda-se a projeção da demonstração
de resultados, do balanço patrimonial e do fluxo de caixa. As razões
para que as entidades não se limitem à projeção da demonstração de
resultados são as seguintes:
▪ separação e identificação do resultado econômico proporcionado pela
demonstração de resultados do resultado financeiro proporcionado
pelo fluxo de caixa. São visões complementares gerenciadas por áreas/
Orçamento Empresarial 6
pessoas diferentes na organização e devem receber o foco necessário.
A posição de saldos proporcionada pelo balanço patrimonial permite
analisar uma parte das ocorrências e seu sequenciamento;
▪ integridade de informações proporcionada pela projeção de um valor
e ele não deixar de ser considerado. Caso uma receita seja projetada
(Demonstração de Resultados) e não recebida, poderá ser encontrada
no contas a receber (Balanço Patrimonial). Caso seja recebida
no mesmo período, entrará no fluxo de caixa projetado. Idem ao
que refere a juros que, sem a projeção do balanço, não podem ser
calculados de forma apropriada.
▪ condições de gerenciamento, pois as consequências das ações podem
ser apresentadas tanto como resultado quanto como investimento/
fonte de recursos e podem ser atribuídas a um gestor. Essa é a base
do accountability esperado pelas organizações.
3. Aplicação Prática
Vamos seguir o passo a passo de um processo orçamentário, o qual
culminará na Projeção das Demonstrações Contábeis. Para tanto, vamos
utilizar os dados disponibilizados por Coelho e Pontes (2018) para uma
empresa fictícia comercial, para a qual foi desenvolvido o orçamento
trimestral de sua única loja. Uma visão geral do processo é mostrado no
fluxo da Figura 01.
Figura 1. Fluxo orçamentário. Fonte: Adaptado de Coelho e Pontes (2018, p.106)
Como política da empresa, o saldo de caixa deve ser de R$8.000,00,
sendo que qualquer excesso de caixa deve ser investido em aplicações
financeiras e qualquer falta de caixa (isto é, abaixo de R$8.000,00) deve
ser captada por meio de empréstimo.
Como as aplicações só podem ser resgatadas ao fim do trimestre,
qualquer saldo que haja de empréstimos deve ser pago no final do
trimestre pelo montante de aplicações financeiras.
Fluxo econômico
Fluxo financeiro
Orçamento da
receita
Política de compra
e estoque
Orçamento
das despesas
operacionais
Orçamento dos
investimentos e
financiamentos
Previsão do
CMV
Política de
recebimento
Política de
pagamento
Demonstração
do fluxo de caixa
projetado
Balanço
patrimonial
projetado
Demonstração
de resultado
projetada
Despesas
e receitas
financeiras
Orçamento Empresarial 7
Dados adicionais:
▪ Remuneração do investimento: 1% a.m. do saldo no início do mês
(deve compor o lucro para cálculo do IR).
▪ Taxa de juros compostos do empréstimo: 2% a.m. do saldo do mês
anterior (deverá ser paga no final do trimestre).
▪ O imposto de renda é de 20% do lucro. Os impostos do último trimestre
deverão ser pagos no início do trimestre seguinte. O imposto sobre a
receita bruta é de 10% e deverá ser pago no mês seguinte.
▪ Política de recebimento: 20% à vista, 60% em 30 dias e 20% em 60
dias.
▪ Desconsiderar devedores duvidosos.
▪ Os custos das mercadorias vendidas correspondem a 60% da receita.
▪ A política de pagamentos prevê 30 dias de prazo.
▪ A política de estoques determina que os estoques finais de julho,
agosto e setembro serão respectivamente, R$90.000,00. R$150.000,00
e R$100.000,00.
▪ Projeção das despesas e seus pagamentos:
▪ despesas variáveis:
▪ comissão de vendas: 10% da venda – paga no mês
seguinte;
▪ outras despesas operacionais: 4% da venda – pagas no
mês em que ocorrem;
▪ despesas fixas:
▪ aluguel, salários etc.: R$20.000,00 por mês – pagos no
início do mês;
▪ depreciação das instalações: R$2.000,00 por mês – não
envolve saída de caixa.
▪ Deseja-se fazer uma campanha de marketing, em agosto, a um custo
de R$10.000,00, com pagamento no próprio mês de agosto. Caso
ocorra lucro, este será transferido para reserva de lucros.
▪ Também é previsto um investimento para aquisição de imobilizado
em setembro, pago à vista (R$30.000,00).
Projeção de vendas:
Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov
R$300.000 R$200.000 R$200.000 R$180.000 R$350.000 R$200.000 R$200.000 R$100.000
Balanço Patrimonial em 30/jun.
Ativo Passivo
Caixa R$8.000 Contas a pagar R$8.000
Aplicações R$200.000 Comissões R$200.000
Contas a Receber R$200.000 Impostos R$200.000
Estoques R$70.000 Empréstimos R$70.000
Orçamento Empresarial 8
Instalações fixas R$100.000Capital próprio R$100.000
(-) Depreciação
acumulada
-R$25.000 Reserva de Lucro -R$25.000
Total R$553.000 Total R$553.000
Os R$200.000,00 de contas a receber do balanço de 30 de junho
compreendem somente as contas das vendas a prazo de maio e junho,
ou seja, 20% das vendas de maio (R$40.000,00) que serão recebidos em
junho e 80% das vendas de junho (R$160.000,00) que serão recebidos
em julho e agosto.
Como a política de pagamentos prevê 30 dias de prazo – o valor de
contas a pagar de julho refere-se aos 60% do valor das compras de
junho de R$75.000,00.
Os impostos a pagar, no valor de R$30.000,00, referem-se ao imposto
de R$20.000,00 sobre a receita de junho, que será pago em julho, e
ao imposto sobre o lucro de R$10.000,00, referente a 20% do lucro do
trimestre anterior de R$50.000,00.
Construindo o orçamento da receita e dos recebimentos.
Mês Vendas
Recebimentos
Mai Jun Jul Ago Set Out Nov
abr R$300.000 R$180.000 R$60.000
mai R$200.000 R$40.000 R$120.000 R$40.000
jun R$200.000 R$40.000 R$120.000 R$40.000
jul R$180.000 R$36.000 R$108.000 R$36.000
ago R$350.000 R$70.000 R$210.000
set R$200.000 R$40.000 R$70.000
vendas
trimestre
R$730.000
R$196.000 R$218.000 R$286.000 R$120.000 R$40.000
R$700.000
Totalização dos
recebimentos no trimestre
seguinte
Cabe lembrar que, com relação à receita de julho, 20% serão recebidos
em julho, 60% em agosto e 20% em setembro, e assim sucessivamente.
Percebe-se que a receita do período foi de R$730.000,00, enquanto os
recebimentos foram de R$700.000,00. O total a ser recebido após esse
trimestre corresponde a 20% das vendas de agosto (que serão recebidos
em outubro) e 80% das vendas de setembro (que serão recebidos em
outubro e novembro), perfazendo R$230.000,00.
Construindo o Orçamento dos impostos sobre receita
Orçamento Empresarial 9
Valores pagos
Jul Ago Set Total
R$20.000 R$18.000 R$35.000 R$73.000
Os impostos pagos em julho (R$20.000,00) são referentes à 10% da
receita de junho, e assim sucessivamente.
Construindo o Orçamento dos custos das mercadorias vendidas, compras
e pagamentos
Cálculo Jun Jul Ago Set
Total
Estoque final R$70.000 R$90.000 R$150.000 R$100.000
+ CMV
(-) Estoque inicial
= Compras
R$108.000 R$210.000 R$120.000 R$438.000
R$70.000 R$90.000 R$150.000
R$128.000 R$270.000 R$70.000
Contas a pagar R$45.000 R$128.000 R$270.000 R$70.000
pagamento R$45.000 R$128.000 R$270.000
Cabe lembrar que os estoques finais dos meses foram definidos pelo
departamento de compras, que o estoque final do mês anterior será o
estoque inicial do mês subsequente, que as compras deverão ser pagas
no mês seguinte e que o CMV foi definido como 60% da receita. Foi,
então calculado quanto deverá ser comprado no período.
Construindo o Orçamento das despesas e seus pagamentos, iniciando
pelas despesas ocorridas no período, as quais serão utilizadas no DRE.
Despesa Jul Ago Set Total
Comissão (10%) R$18.000 R$35.000 R$20.000 R$73.000
Outras (4%) R$7.200 R$14.000 R$8.000 R$29.200
Campanha de
marketing R$10.000 R$10.000
Aluguel, salários, etc. R$20.000 R$20.000 R$20.000 R$60.000
Depreciação R$2.000 R$2.000 R$2.000 R$6.000
Total R$47.200 R$81.000 R$50.000 R$178.200
E as despesas pagas que irão compor o fluxo de caixa, onde se constata
a diferença devido à calendarização dos pagamentos, bem como pelo
fato de a depreciação não influenciar diretamente o fluxo de caixa.
Despesa Jul Ago Set Total
Comissão (10%) R$20.000 R$18.000 R$35.000 R$73.000
Outras (4%) R$7.200 R$14.000 R$8.000 R$29.200
Campanha de
marketing R$10.000 R$10.000
Orçamento Empresarial 10
Aluguel, salários, etc. R$20.000 R$20.000 R$20.000 R$60.000
Depreciação R$47.200 R$62.000 R$2.000 R$172.200
E, finalmente, o orçamento de caixa do trimestre da empresa:
Lançamentos Jul Ago Set Total
Caixa inicial R$8.000 R$8.000 R$8.000
+ Entradas R$196.000 R$218.000 R$286.000
= Subtotal(A) R$204.000 R$226.000 R$294.000
Compras R$45.000 R$128.000 R$270.000
Imposto sobre
vendas R$20.000 R$18.000 R$35.000 R$73.000
Imposto sobre lucro R$10.000
Despesas R$47.200 R$62.000 R$63.000
Subtotal
pagamentos(B) R$122.200 R$208.000 R$368.000
Saldo caixa
operacional(A-B) R$81.800 R$18.000 -R$74.000
Aquisição
imobilizado -R$30.000
Aplicações finaceiras R$73.800 R$10.000
Subtotal decisão de
investimento R$73.800 R$10.000 -R$30.000
decisão de
financiamento R$112.000
Saldo final R$8.000 R$8.000 R$8.000
A decisão de investir R$73.800,00 de deveu a ser o valor necessário para
manter R$8.000,00 em caixa (idem R$10.000,00). Por conseguinte, a
decisão de financiar R$112.000,00 teve a mesma finalidade.
No entanto, no final do trimestre, o valor do empréstimo contraído
(R$112.000,00) foi integralmente pago pelas aplicações financeiras
disponíveis, não gerando, portanto, incidência de juros. Por outro lado,
como a empresa possuía recursos aplicados, houve rendimentos das
aplicações, como mostrado a seguir.
Lançamentos Jul Ago Set Total
Inicial R$200.000 R$275.800 R$288.558
+ Aplicações R$73.800 R$10.000
+ Juros(1%) R$2.000 R$2.758 R$2.886 R$7.644
- Pagamentos R$112.000
Orçamento Empresarial 11
= Total R$275.800 R$288.558 R$179.444
Podemos, assim, elaborar a DRE projetada, a qual é mostrada a seguir.
Receita R$ 730.000
(-)Impostos sobre vendas(10%) R$ 73.000
= Receita Líquida R$ 657.000
(-) CMV R$ 438.000
= Lucro Bruto R$ 219.000
(-) Despesas operacionais R$ 178.000
+ Receitas financeiras R$ 7.644
(-)Despesas financeiras R$ 0
= Lucro operacional R$ 48.444
(-) Impostos sobre Lucros(20%) R$ 9.689
= Lucro Líquido R$ 38.755
Em seguida, elaboramos o Balanço Patrimonial projetado.
Ativo Passivo
Caixa R$8.000 Contas a pagar R$70.000
Aplicações R$179.444 Comissões R$20.000
Contas a receber R$230.000 Impostos R$29.689
Estoques R$100.000 Empréstimos R$0
Instalações fixas R$130.000 Capital próprio R$458.000
(-) Depreciação
acumulada -R$31.000 Reserva de lucro R$38.755
Total R$616.444 Total R$616.444
Completamos, assim, a dinâmica das projeções do orçamento de uma
empresa comercial, chegando às projeções das demonstrações contábeis.
Como você percebeu, a geração das projeções das demonstrações
contábeis não é um exercício de adivinhação, nem uma simples lista de
desejos, mas sim uma atividade com razoável grau de complexidade,
pautada em análises dos aspectos estratégicos, táticos e operacionais da
empresa.
A estrutura lógica do processo orçamentário prevê que sejam geradas
previsões de demanda, de receitas, de gastos, de investimentos e
financiamentos e de fluxo de caixa e cada uma das peças orçamentárias
se comunica com as demais, por meio de relações de causa e efeito,
Orçamento Empresarial 12
isto é, com as informações de uma peça alimentando dados para outra
e assim sucessivamente, até que as estratégias da organização sejam
transformadas em elementos quantitativos, monetários.
A partir de tais peças, é possível, também, como último passo de tal
percurso lógico, projetar os resultados finais da organização, na forma
de seus demonstrativos contábeis. Desta forma, tem-se com o processo
orçamentário, a possibilidade de elaborar um sofisticado instrumento
de gestão, que perpassa pelas atividades de planejamento e controle
empresarial.
Referências
COELHO, F. S.; PONTES, R. M. Orçamento e Controle. Rio de Janeiro:
Fundação Getúlio Vargas, 2018.
FREZATTI, F. Orçamento empresarial: planejamento e controle gerencial.
6. ed. São Paulo: Atlas, 2017.
HOJI, M. Administração financeira e orçamentária: matemática financeira
aplicada, estratégias financeiras, orçamento empresarial. 12. ed. São
Paulo: Atlas, 2017.
LOBATO, D. M.; AZEVEDO, H. M. Orçamento Empresarial. Rio de Janeiro:
Fundação Getúlio Vargas, 1994.
NORTON, D.; KAPLAN, R. Estratégia em Ação: Balanced Scorecard, Rio de
Janeiro: Campus, 1997.
Orçamento Empresarial 13
Orçamento Empresarial
Controle Orçamentário
Desenvolvimento do material
Henrique Martins Rocha
1ª Edição
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transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico,
mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia
autorização, por escrito, da Afya.
Sumário
Controle Orçamentário
Para início de conversa… ................................................................................ 3
Objetivo ......................................................................................................... 3
1. Enfoque ......................................................................................................... 4
2. Relacionamento entre Sistemas de Contabilidade e
Orçamento ..................................................................................................... 14
3. Aplicações Práticas .................................................................................... 16
Referências ......................................................................................................... 19
Para início de conversa…
O processo orçamentário é algo complexo e abrangente, lidando com
grande quantidade de variáveis internas e externas para transformar
as estratégias definidas pela empresa em metas quantificáveis, isto
é, transformar as ideias e conceitos do Plano Estratégico em valores
monetários, que envolvem investimentos e gastos previstos para
alcançar resultados de receitas e lucro.
Se o processo de elaboração das peças orçamentárias em si constitui um
instrumento valoroso de gestão, por detalhar fatos e previsões diversos na
forma de um plano de ações e metas, ele de pouco serviria sem um igual
detalhista conjunto de ações de controle que monitora constantemente
as ações e seus resultados, comparando-os continuamente com as
projeções feitas, de forma que permite aos gestores se certificarem de
que o empreendimento caminha na direção planejada e que eventuais
desvios sejam imediatamente detectados, disparando, assim, as ações
dos gestores para correção de rota.
Para tanto, o controle orçamentário prevê não somente o monitoramento
dos resultados finais, mas, também, de todos os elementos que os
influenciam, mediante as inúmeras relações de causa e efeito existentes
nas estruturas empresariais.
Objetivo
Realizar controle orçamentário.
Orçamento Empresarial 3
1. Enfoque
O ciclo de gestão prevê, além do planejamento, a execução e o
controle, de modo que seja dado suporte às ações e às tomadas de
decisão pertinentes. Nesse sentido, o controle é compreendido como o
monitoramento da execução e a comparação de seus resultados com o
que havia sido planejado.
No processo orçamentário, isso não poderia ser diferente, pois, além do
detalhado planejamento, com inúmeras previsões nas diversas peças
orçamentárias, é necessário haver as atividades de controle, de forma
que a empresa disponha de recursos informacionais que detectem
quando algo do planejamento orçamentário está desviando do previsto,
entender o motivo disso e direcionar os seus esforços para que o
problema seja corrigido, como mostrado na Figura 1:
Figura 1. Controle da gestão. Fonte: Adaptado de Lobato e Azevedo (1994).
Controle de Gestão
Formulação do
orçamento do
exercício
Ações
corretivas
Execução das
operações
Controle
concomitante ou análise
das variações
De acordo com os autores Lobato e Azevedo (1994), são pontos-chave do
controle da gestão:
▪ a adoção de ações corretivas;
▪ a formulação do orçamento;
▪ a execução das operações contempladas pelo orçamento;
▪ o controle entre o orçado e o real, que deve ser efetuado
periodicamente – por mês, por trimestre etc.
Lembrando que o plano orçamentário é a expressão quantitativa e formal
do plano estratégico de uma organização, é importante destacar que
a ação de controle não pode ser superficial, comparando tão somente
os “números finais”, visto que os mesmos são uma consequência de
inúmeros outros fatores. Por exemplo, vamos supor a seguinte situação: A
empresa XYZ desenvolve o seu orçamento de receitas, o qual é mostrado
de forma resumida a seguir.
Produto Preço de venda
unitário Quantidade Receita bruta
prevista
A R$11,00 2500 R$27.500,00
B R$230,00 350 R$80.500,00
C R$58,00 1200 R$69.600,00
D R$6,30 5200 R$32.760,00
Orçamento Empresarial 4
E R$110,00 125 R$13.750,00
F R$74,00 500 R$37.000,00
G R$84,00 350 R$29.400,00
H R$5,22 2500 R$13.050,00
I R$13,75 800 R$11.000,00
J R$88,60 400 R$35.440,00
Total R$350.000,00
Ao final do exercício, apurada a situação real, os resultados foram:
Produto Preço de venda
unitário Quantidade Receita bruta prevista
A R$9,55 2316 R$22.117,00
B R$196,18 258 R$50.614,00
C R$49,90 1535 R$76.596,50
D R$5,40 3784 R$20.433,60
E R$111,00 98 R$10.878,00
F R$71,00 798 R$56.658,00
G R$98,05 536 R$52.554,80
H R$8,45 1998 R$16.883,10
I R$11,75 645 R$7.578,75
J R$76,25 468 R$35.685,00
Total R$350.000,00
Podemos dizer que as previsões foram ótimas, extremamente precisas,
visto que a receita foi exatamente a prevista? Observe as tabelas com
atenção, compare-as e reflita. A resposta é não! Repare que nenhum
valor previsto, seja em termos de preço de venda, seja em termos de
receita, foi correto. Óbvio que não há a expectativa de “acertarmos”
as previsões com total exatidão, em virtude da grande quantidade de
fatores e variáveis envolvidas, mas o fato é que há muitas discrepâncias
em termos de valor e quantidade, chegando, em alguns casos, a cerca de
60% (vide o preço do produto H e a quantidade do produto F).
De uma forma simplória, poderíamos até pensar que isso não seria um
problema, visto que, ao final, o total coincidiu com o previsto. Mas, isso
não é verdade: por exemplo, diferenças no preço de venda praticado
podem representar situações em que produtos se tornaram não rentáveis,
isto é, “vendidos com prejuízo”. Da mesma forma, quantidades muito
distintas das previstas podem indicar excesso de estoques gerados, com
baixo giro de mercadorias ou, no outro extremo, esforços significativos
para atender a demandas muito superiores ao previsto, com horas-extra,
frete aéreo etc.
Orçamento Empresarial 5
Isto é, os “detalhes” são mais importantes do que o total quando nos
referimos ao controle orçamentário, afinal, é o orçamento que guia os
gestores nas tomadas de decisão e prioridades, bem como se as metas
definidas são compatíveis com a saúde financeira e operacional, o que é
evidência da importância das atividades de controle.
‘‘ A comparação entre o orçado e o executado não é apenas para entender possíveis
erros ou para encontrar culpados. Nenhum orçamento é exato. Ele é baseado
em dados e estimativas realizadas antes de o período orçado ocorrer, e isso
representa uma de suas limitações. Obviamente, na prática, inúmeras variáveis
irão se comportar de maneira diferente daquela orçada e outras irão acontecer
sem terem sido previstas. Pode ser uma mudança abrupta do dólar, uma greve da
Receita Federal que fez as mercadorias ficarem presas na alfândega, a entrada de
um novo concorrente ou qualquer outro fato que afete o resultado da empresa.
Isso faz com que o orçamento também seja um processo de aprendizagem. Assim
a empresa poderá mapear os riscos existentes em suas atividades. (COELHO;
PONTES, 2018, p.83)’’
Assim, a comparação entre o que foi previsto no orçamento e o que foi,
de fato, realizado, permite que o gestor se aprofunde e compreenda as
causas dos desvios e, principalmente, crie medidas para a retomada
de rumo, ou seja, para que a empresa volte ao caminho previamente
estabelecido (lembre-se de que o ciclo de gestão prevê o planejamento,
execução, controle e ações).
De acordo com Lobato e Azevedo (1994), de tal comparação, resultam
ações, que podem ser:
▪ Corretivas – Dentro do possível e em tempo hábil.
▪ Modificadoras dos objetivos – Caso se mostrem ambiciosos demais.
▪ Auxiliares – Isto é, voltadas para as programações seguintes.
Tais aspectos encontram claro alinhamento com as práticas recomendadas
de gerenciamento de riscos, que preveem a identificação dos riscos,envolvendo a
empresa como um todo ou, ao menos parte significativa da mesma. São,
assim, decisões que envolvem o longo prazo da empresa. Como exemplo
de decisão em tal nível, podemos pensar, por exemplo, em investir ou não
na construção de uma nova fábrica; decidir sobre iniciar as atividades
que permitam à empresa se tornar exportadora; assinar um acordo de
cooperação comercial ou tecnológica etc.
E, consequentemente, se tais decisões são tão amplas, elas ocorrem em
menor quantidade do que no nível operacional. Poderíamos, até mesmo,
caracterizar tais decisões como “microdecisões” e “macrodecisões”,
associadas, respectivamente, ao nível operacional e estratégico (e,
obviamente, o nível tático estaria a meio caminho entre tais extremos,
inclusive quanto ao aspecto de tempo: seriam de médio prazo).
Mas um aspecto importante é o de que tomamos decisões por conta de
alguma motivação. Por exemplo, o operário que exemplificamos acima
tomaria a decisão de avisar ao supervisor motivado pela ocorrência de
algum fato, bem como o chefe executivo de uma corporação tomaria a
decisão de passar a exportar motivado pela oportunidade de aumentar
os ganhos da empresa. E, ainda, um gerente de produção (nível tático)
tomaria a decisão de programar horas extra de trabalho para a equipe
motivado por uma perda de produção pela quebra de uma máquina.
Assim, se planejamos determinada atividade, visando atingir um objetivo
específico, oremos, como discutido anteriormente, executar o que foi
previsto no plano. Mas, apesar disso, as coisas podem não acontecer
exatamente como previsto, isto é, como planejado. Por exemplo,
uma empresa pode fazer uma pesquisa de mercado e, com base nos
resultados, fazer uma previsão de vendas de 100 unidades por dia de
seu produto XYZ. Assim, este poderia ser seu “Plano de Vendas”, que fora
baseado nos estudos feitos e, portanto, de razoável grau de confiança.
Mas, lembre-se que há variáveis diversas envolvidas nas decisões
de compras dos consumidores: o surgimento de um concorrente que
ofereça um produto de melhor qualidade ou com preço diferenciado, um
problema com fornecedores que causem a interrupção no fornecimento,
uma notícia sobre um consumidor que se feriu usando o produto XYZ
etc., são exemplos de possíveis ocorrências que levariam às vendas
a ficarem muito abaixo do planejado. E, obviamente, a empresa não
assistiria passiva a tal impacto: decisões seriam tomadas (implicando,
inclusive, em novo planejamento) quanto a estabelecer uma estratégia
de mercado frente ao novo produto do concorrente, um plano de
recuperação junto aos fornecedores, uma investigação e ações rápidas
junto aos clientes e à mídia sobre o risco do produto (a exemplo do que
vemos sobre o recall de automóveis) etc.
Orçamento Empresarial 6
É fácil perceber que as decisões ocorrem pelo fato de alguma coisa não
ocorrer conforme o planejado. Isso nos abre caminho para identificar
uma terceira função do planejamento, que é o de servir de base de
comparação. Na verdade, chamamos isso de “Controle”: controlamos
as atividades para verificarmos se o que está acontecendo (ou seja,
os resultados da execução dos passos que foram planejados) estão
de acordo com o que foi previsto (ou seja, o que foi planejado). Tal
comparação nos dá uma resposta: tudo está conforme o planejado ou, ao
contrário, há algo diferente, e, a partir de tal resposta, tomamos decisões.
Podemos dizer, de forma simplificada, que, se tudo está conforme o
planejado, ou, ao menos, perto o suficiente (por exemplo, se o plano de
vendas diárias é de 100 unidades, vendermos algumas poucas unidades
a menos ou a mais não é motivo de preocupação), a decisão a ser
tomada é a de continuar conforme o planejado, ao passo que desvios
acentuados (por exemplo, vender 20% a menos que o plano) nos levarão
a outro tipo de decisão, ou seja, ações que busquem reverter o desvio
ocorrido. Repare que é exatamente a situação que ocorre quando, como
exemplificado anteriormente, um gerente de produção programa horas
extras em virtude da perda de produção ocorrida.
Ou seja, temos, na verdade, um ciclo de gestão, cuja finalidade é sempre
o de atingir objetivos: planejamos como atingi-los, executamos o que
foi planejado e comparamos (controlamos) os resultados, para nos
certificarmos que estamos no “caminho certo”. Em caso de desvios no
caminho, agimos para trazermos tudo de volta “ao rumo”.
Essa forma de gerenciar não é nova e foi bastante bem explorada na área
de Qualidade, mediante um modelo criado na década de 1920 por Walter
Andrew Shewhart (1891-1967), visando concretizar transformações nas
empresas, e que ganhou notoriedade a partir de 1950, quando William
Edwards Deming (1900-1993) apresentou o conceito em seminários
sobre controle de qualidade para gestores e engenheiros no Japão.
Tratava-se do modelo hoje conhecido como PDCA (forma abreviada em
inglês de planejar – P -, executar – D -, verificar – C - e agir – A), mostrado
na Figura 01 e utilizado para guiar a melhoria contínua.
Figura 1: Ciclo PDCA. Fonte: Dreamstime.
Orçamento Empresarial 7
Associando o que discutimos até o momento sobre os níveis de decisões
estratégicas, táticas e operacional com a lógica do ciclo de planejamento
- execução - controle - decisões, podemos inferir que, independentemente
do nível hierárquico na empresa, todos planejam, executam, controlam e
tomam decisões para alcançar os objetivos almejados, sejam de longo,
médio ou curto prazo.
Vejamos o modelo apresentado na Figura 2.
Figura 2: Relacionamento entre os elementos no processo de planejamento de uma
organização. Fonte: Adaptado de Steiner apud Frezatti (1979).
Controle do
orçamento
Base de dados
do desempenho
passado
Expectativas
dos interesses
internos
Expectativas
dos interesses
externos
Avaliação:
Riscos, forças,
oportunidades
e ameaças.
Plano estratégico
Visão, missão,
objetivos,
estratégias e
políticas
Planos de
longo prazo
Sistema de
informações
gerenciais
Orçamento
Realizado
Como você pode perceber, o Plano Estratégico da empresa foi
desenvolvido a partir de informações sobre o ambiente externo, bem
como o histórico e interesses e objetivos internos. Mas, como já vimos, o
planejamento por si só não é garantia de sucesso: precisamos controlar
o que ocorre, comparando com o planejado, para que os gestores possam
intervir quando necessário e conveniente.
Na mesma figura, percebemos a posição de destaque do orçamento:
isso pode ser explicado pela íntima relação entre ele e as estratégias
da empresa. Todas as atividades da empresa, desde as mais rotineiras
(ligadas ao nível operacional), até as decisões de nível estratégico
(como o de investir em novas tecnologias ou expandir mercados e
área de atuação), todas envolvem o uso de recursos, em especial
recursos financeiros. Assim, o orçamento pode ser considerado como a
quantificação, em termos monetários, das estratégias empresariais.
Planejar, executar, controlar e tomar decisões sobre o orçamento
significa, em última instância, gerenciar as próprias estratégias, sob uma
ótica quantitativa (monetária), como mostrado na Figura 3.
Orçamento Empresarial 8
Figura 3: Ciclo de gestão. Fonte: Elaborado pelo autor.
É importante destacar que o orçamento como conhecemos, normalmente
engloba ciclos anuais, enquanto o plano estratégico abrange horizontes
mais longos, como pode ser visto na Figura 4.
Objetivos
estratégicos
Planejamento
Qualitativo
(planejamento
estratégico)
Quantitativo
$$$$
(Orçamento)
Execução
Controle
(comparação)
Tomada de
decisão
Figura 4: Horizontes de planejamento. Fonte: Frezatti (2017).
No entanto, isso ocorre por causa da usual ligação entre o orçamento
e os resultados financeiros e, consequentemente, com os relatórios
financeiros, associados aos exercícios. Dessa forma, em termos de
gestão, não há qualquer impedimento quanto a serem desenvolvidos
orçamentos para prazos mais longos.
3. Etapas de Elaboraçãoa
análise e avaliação dos mesmos e, a partir daí, o estabelecimento do
tratamento a ser dado a eles.
É importante destacar que o controle aponta as diferenças, mas não
as causas delas e, por isso, deve ser feito o diagnóstico da causa do
problema. Por exemplo, um desvio do custo variável pode ter como
causa um atraso no processo de compras que exigiu pagamento de
taxas adicionais, um problema no processo produtivo (ineficiência do
maquinário) etc. Compreendendo a dinâmica envolvida e identificadas
as causas, o gestor tem condições de atuar em tempo hábil. Além disso,
o processo traz o benefício de que, com o aprendizado, os próximos
orçamentos possam considerar tais variabilidades.
Uma prática usual é a de dividir a organização em unidades de acordo com
a natureza de atuação: são centros de custo, centros de responsabilidade
ou denominações assemelhadas. Cada centro é controlado com base nas
Orçamento Empresarial 6
previsões e resultados da execução do orçamento, o que pode ocorrer
em bases mensais, diário, por turno, por pedido, dependendo de o centro
ser uma área de produção/geração de receita ou de apoio (contendo
somente gastos).
Também nesse caso, devem-se apurar divergências, identificar as suas
causas e implementar ações corretivas para garantir o alcance das metas.
O gestor deve levar em consideração o contexto, as possíveis implicações
e os recursos disponíveis para estabelecer o ponto ótimo de controle:
como regra geral, um controle mais detalhado é mais complexo e mais
caro para implantar e manter. Por outro lado, propicia maiores chances
de detecção de problemas e uma gestão mais abrangente e assertiva.
Trata-se, portanto, de uma análise de custo-benefício a ser discutida
pela Alta Administração.
Uma prática adotada por diversas empresas é a do gerenciamento
matricial de despesas (GMD), um instrumento gerencial de planejamento
e controle orçamentário da empresa. Nele, a empresa elege responsáveis
para gerenciar os pacotes de gastos (grupos de despesas de uma mesma
natureza e comuns a vários centros de custo) e, ao mesmo tempo, cada
departamento terá um responsável pela prestação de gastos dessas
despesas.
Os dois gestores comparam os gastos com as metas projetadas e
escolhem ações corretivas para os desvios, sendo que o responsável
geral dos pacotes (também denominado subject matter expert) se torna
ponto focal para consultas e orientações diversas, visto que, por lidar com
temas específicos e de forma abrangente (envolvendo toda a empresa),
torna-se um especialista, um consultor interno sobre os temas em que
atua: ele identifica as oportunidades de redução de gastos fixos nos
curto e médio prazos, examinando-os de maneira completa e detalhada.
Cabe ao gerente de pacote:
▪ conhecer a natureza de cada classe de gastos sob a sua
responsabilidade;
▪ definir os parâmetros e os índices de desempenho dos gastos;
▪ negociar os índices com os gerentes dos centros de custos e preparar
junto com eles planos de ação;
▪ atuar como facilitador durante a elaboração dos orçamentos dos
centros de custo;
▪ divulgar as melhores práticas internas entre os diversos centros de
custo da empresa;
▪ preparar, junto ao gerente de cada centro de custo, um relatório das
variações com as propostas de ações corretivas e
▪ supervisionar os gerentes dos centros de custo para o atingimento
das metas.
Orçamento Empresarial 7
A implantação da GMD é fundamentada nos seguintes princípios:
▪ Controle cruzado das despesas.
▪ Todas as despesas orçadas são acompanhadas, simultaneamente, pelo
gestor da área e pelo gestor do pacote de despesas.
▪ Acompanhamento sistemático de um gestor de pacote de gastos e
um gestor de centro de custos.
▪ Difusão das melhores práticas dentro da empresa.
▪ Dupla responsabilidade pelas metas.
Para realizar a avaliação de desempenho, podemos utilizar o orçamento
estático e flexível. O orçamento estático (também chamado de orçamento
mestre) faz a comparação do orçado geral com o realizado, mantendo as
projeções e premissas diversas (ex: volumes, preços etc.) e, dessa forma,
as peças orçamentárias não são alteradas a partir de variações que
ocorram.
Ou seja, ele é o orçamento elaborado no início do exercício orçamentário.
Isso leva a um distanciamento dos valores finais reais, quando
comparados com as projeções, em função do acúmulo de variações ao
longo das diversas peças orçamentárias.
Vamos ver um exemplo de orçamento estático, apresentado por Lobato
e Azevedo (1994), referente a uma empresa, que previu produzir 9.000
bolos no mês, prevendo, para isso, os seguintes gastos:
Gasto Valor
9.000 kg de farinha R$34.200,00
2.250 kg de manteiga R$54.000,00
4.500 homens-hora de mão de obra direta R$45.000,00
Custos fixos R$70.000,00
Durante o mês, a empresa produziu 7.000 bolos e seus gastos reais
foram:
Gasto Valor
7.300 kg de farinha R$29.200,00
1.900 kg de manteiga R$47.000,00
3.300 homens-hora de mão de obra direta R$36.300,00
Custos fixos R$70.300,00
O relatório de desempenho poderia ter a seguinte configuração:
Orçado Real Variação OBS
Quantidade 9.000 7.000 2.000 Desfavorável
Farinha R$34.200,00 R$29.200,00 R$5.000,00 Favorável
Manteiga R$54.000,00 R$47.000,00 R$7.000,00 Favorável
Orçamento Empresarial 8
MOD R$45.000,00 R$36.300,00 R$8.700,00 Favorável
Custos Fixos R$70.000,00 R$70.300,00 R$300,00 Desfavorável
Além da vantagem da simplicidade do método, o orçamento estático
tem como benefício o fato de que a comparação é sempre feita a partir
das projeções iniciais, as quais serviram de base para as tomadas de
decisão de todo o planejamento estratégico da organização. E isso cria
um desconforto constante pelo fato de que os afastamentos do previsto
são sempre visíveis, servindo como um instrumento de pressão gerencial
para a busca de soluções a fim de reverter situações desfavoráveis. Por
exemplo, se na preparação das peças orçamentárias foi estabelecida uma
premissa para a taxa de conversão do Dólar para o Real que não ocorreu,
levando a perdas substanciais, o orçamento estático vai mostrar tais
perdas e, por mais que elas sejam explicadas por uma mudança súbita
e inesperada do câmbio, sobre os gestores pesará a responsabilidade de
encontrarem alternativas para melhorarem o resultado da empresa. Em
suma, as vantagens e desvantagens de tal método serão mostradas a
seguir, no Quadro 1:
Orçamento estático
Vantagens Desvantagens
Facilidade para acompanhar as etapas do
planejamento. Depois de elaborado, esse
orçamento não permite modificações. Assim,
é mais simples acompanhar as ações dos
departamentos, uma vez que os recursos de cada
setor não serão modificados.
Inalterabilidade. Já que esse modelo impede
modificações, ele pode afetar a organização
caso surjam alterações nos fluxos de venda.
Nesse caso, os setores seguiriam com os mesmos
valores em seus orçamentos.
Menor tempo de elaboração do orçamento.
Depois que a empresa aprova a versão oficial do
orçamento, este não será alterado. Isso diminui
o período dedicado à manutenção orçamentária,
que inclui revisões e transferências.
Impossibilidade de alterar verbas disponíveis
para marketing e vendas. Essas verbas poderiam
ser flexibilizadas para aproveitar um bom
momento e multiplicar bons resultados. Contudo,
como o orçamento é estático, não permite esse
tipo de alteração.
Atenção redobrada dos gerentes responsáveis.
Esse tipo de orçamento leva os profissionais
responsáveis por ele a prestarem muita atenção
na sua elaboração, focando nas áreas em que
o orçamento não funcionou. Assim, é mais fácil
identificar tendências e desvios de rota.
Perda de valor de peças orçamentárias.
Parcela considerável das peças orçamentárias
pode perder valor para os processos de
acompanhamento, controle e análise das
variações. Elas também perdem relevância como
base para projeções e simulações.
Cultura organizacional com foco na melhoria
contínua e na construção de uma base de
conhecimentosvaliosa. Esses itens contribuem
para a criação dos orçamentos futuros, deixando-
os mais exatos e detalhados.
Quadro 1: Orçamento estático: vantagens e desvantagens. Fonte: Adaptado de Azevedo e Alves (2017).
Orçamento Empresarial 9
O orçamento flexível compara o orçado ao nível da atividade com o
realizado, pois ele considera as variações nas receitas e gastos que devem
ocorrer em função das modificações no nível de atividade. Por exemplo, a
redução dos custos variáveis não necessariamente será uma boa notícia,
caso ela se deva exclusivamente à redução no volume produzido. Ao
isolar as variações em virtude das mudanças de volumes, podemos fazer
uma avaliação mais precisa do desempenho das atividades: seu objetivo
é o de isolar efeitos pontuais nos resultados reais.
No orçamento flexível, os desvios dos objetivos são separados por
categorias: variação de volume, de comercialização, de desempenho, de
preços de venda, de ociosidade e de valores de aquisição de recursos.
Sua lógica é, portanto, a de permitir monitorar e analisar os dados
unitários: os resultados finais são consequência deles e das quantidades
realizadas.
Vamos tomar como exemplo a mesma empresa produzindo bolos: para
o relatório de desempenho, os gastos com farinha, manteiga e mão de
obra direta devem ser comparados com os valores que ocorreriam caso o
planejamento tivesse sido para 7.000 bolos.
Desse modo, o primeiro passo é definir o comportamento dos custos para
produzir bolos. O padrão de um bolo para os custos variáveis é dado por:
Orçado
Quantidade 9.000 Unitário
Farinha R$34.200,00 R$3,80
Manteiga R$54.000,00 R$6,00
MOD R$45.000,00 R$5,00
Total R$14,80
Dessa forma, para o nível de produção efetivamente incorrido, temos:
Quantidade 7.000
Farinha R$26.600,00
Manteiga R$42.000,00
MOD R$35.000,00
Total de CV R$103.600,00
Custos Fixos R$70.000,00
Total de custos R$173.600,00
Temos, assim, o relatório de desempenho, apresentado a seguir:
Orçamento Empresarial 10
Real
Ajustado
ao nível de
atividade
Variação OBS
Quantidade 7.000 7.000 0
Farinha R$29.200,00 R$26.600,00 R$2.600 Desfavorável
Manteiga R$47.000,00 R$42.000,00 R$5.000 Desfavorável
MOD R$36.300,00 R$35.000,00 R$1.300 Desfavorável
Total de CV R$112.500,00 R$103.600,00 R$8.900 Desfavorável
Custos Fixos R$70.300,00 R$70.000,00 R$300 Desfavorável
Variação total R$9.200 Desfavorável
O relatório é revelador! Como você pode observar, os gastos em
termos de farinha e manteiga foram superiores ao previsto para a
quantidade de 7.000 bolos. O mesmo aconteceu com a mão de obra
direta e com os custos fixos, ou seja, há informações que apontam
problemas diversos no processo produtivo, sobre os quais o gestor deve
direcionar sua atenção e buscar formas de melhoria do desempenho.
Uma análise mais detalhada do próprio orçamento flexível provê mais
informações sobre as causas dos resultados desfavoráveis, visto que
(LOBATO; AZEVEDO, 1994, p.80):
▪ O insumo pode ter sido adquirido por um preço diferente do projetado.
▪ A utilização do insumo pode ter demandado uma quantidade diferente
da planejada ou orçada.
Observe que o orçamento inicial previa o uso de 9.000 Kg de farinha, a
um custo de R$ 34.200,00 para produzir 9.000 bolos. Isso significa que
a previsão era a de utilizar 1 Kg de farinha por bolo, a um custo de R$
3,80/Kg. Mas, o gasto real, para produzir 7.000 bolos foi de 7.300 Kg de
farinha, a um custo de R$ 29.200,00. Dessa forma, chegamos à conclusão
de que o gasto foi de 7.300/7.000 = 1,04286 Kg de farinha por bolo, a um
custo de 29.200/7.300 = R$ 4,00 por Kg.
Logo, o resultado, em termos de farinha, foi desfavorável, pois
gastamos mais farinha do que o previsto e, também, pagamos mais por
Kg do que o previsto, Dizemos, então, que tivemos, respectivamente,
variações de eficiência e de preço. Podemos, então, fazer a análise
das variações, tomando por base os seguintes conceitos. (LOBATO;
AZEVEDO, 1994, p.81)
Variação de eficiência → Também chamada variação operacional, é a
quantidade de insumo projetada para a atividade real x custo unitário
projetado do insumo – a quantidade real do insumo x custo unitário
projetado do insumo = quantidade de insumo projetada para a atividade
Orçamento Empresarial 11
real – quantidade real do insumo x custo unitário projetado do insumo. A
variação de eficiência se baseia na diferença das quantidades projetadas
e reais.
Variação de preço → Denominada, também, como variação comercial,
é a quantidade real do insumo x custo unitário projetado do insumo
– quantidade real do insumo x custo unitário real do insumo = custo
unitário projetado do insumo – custo unitário real do insumo x
quantidade real do insumo. A variação de preço tem base no custo de
aquisição, projetado e real.
Dessa forma, efetuando os cálculos, temos:
Variação de eficiência = (7.000 kg – 7.300 kg) x R$ 3,80/kg = R$1.140
(desfavorável); e
Variação de preço = (R$ 3,80/kg – R$ 4,00/kg) x 7.300 kg= R$ 1.460
(desfavorável).
De forma resumida, temos, então, que a variação desfavorável de R$
2.600 na farinha é devida à farinha, como pode ser visto na Figura 2:
Figura 2. Variações de eficiência e preço para a farinha.
Fonte: Adaptado de Lobato e Azevedo (1994).
Como você pode perceber, as informações geradas a partir do orçamento
flexível permitem aos gestores terem uma visão mais clara dos
resultados e das variações sobre o previsto (obviamente, no exemplo,
poderiam ainda ser desdobradas as análises referentes à manteiga e à
mão de obra direta). As vantagens e desvantagens do orçamento flexível
são apresentadas a seguir.
Farinha
Custo real
(R$ 29.200,00)
Custo projetado ao nível real
de atividade
(R$ 26.600,00)
Variação total
(R$ 2.600,00)
Custo real (R$ 4,00/kg)
x
Insumo real (7.300 kg)
Custo projetado (R$ 3,80/kg)
x
Insumo real (7.300 kg)
Custo projetado (R$ 3,80/kg)
x
Insumo real (7.000 kg)
R$29.200 R$27.740 R$26.600
Variação
de preço
(R$ 1.460D)
Variação
de preço
(R$ 1.140D)
Orçamento Empresarial 12
Orçamento estático
Vantagens Desvantagens
Relevância mantida nas peças orçamentárias
relativas a custos, despesas e investimentos.
Aqui, ocorre o contrário do que acontece no
orçamento estático, no qual é usual que as
partes orçamentárias percam a relevância.
No orçamento flexível, se o volume de
vendas ou produção se alterar, as peças não
deixam de fazer sentido.
Necessidade maior de controle nas
alterações no negócio. Esse tipo de
orçamento exige um processo de
monitoramento frequente dos níveis de
atividades da organização.
Peças orçamentárias mais pertinentes e
consistentes com alterações no contexto
em que a empresa está inserida. Isso ocorre,
pois, o orçamento flexível acompanha as
variações de vendas ou produção.
Exigência de adaptação rápida às mudanças.
Os envolvidos precisam estar aptos a
se adequar com agilidade às alterações
causadas por ajustes no orçamento.
Figura 3. Orçamento flexível: vantagens e desvantagens.
Fonte: Adaptado de Azevedo e Alves (2017, p.185).
Como o orçamento flexível é desenvolvido com base no nível real de
atividade, as eventuais diferenças do orçado e do real são explicadas
exclusivamente por variações de precificação e controle de gastos, bem
como a eficiência na utilização de recursos. Horngren et al. (2003, p.267)
mostram um exemplo simples de um orçamento flexível, com base em
diferentes cenários de quantidades.
Unidades 7000 8000 9000
Vendas R$31,00 R$217.000 R$248.000 R$279.000
Custos variáveis de manufatura R$21,00 R$147.000 R$168.000 R$189.000
Despesas de embarque R$0,60 R$4.200 R$4.800 R$5.400
Administrativos R$0,20 R$1.400 R$1.600 R$1.800
Total custos/despesas variáveis R$21,80 R$152.600 R$174.400 R$196.200
Margem de contribuição R$9,20 R$64.400 R$73.600 R$82.800
Custos fixos de manufatura R$37.000 R$37.000 R$37.000 R$37.000
Custos fixos de venda e administrativos R$33.000 R$33.000 R$33.000 R$33.000
Total de custos fixos R$70.000 R$70.000 R$70.000 R$70.000
Lucro operacional-R$5.600 R$3.600 R$12.800
Orçamento Empresarial 13
2. Relacionamento entre Sistemas de
Contabilidade e Orçamento
Lobato e Azevedo (1994) destacam que ainda que o orçamento seja peça
fundamental de gestão nas empresas, o orçamento em si não pode ser
confundido com a própria administração. O orçamento é um instrumento
de gestão, ou seja, uma ferramenta de apoio à gestão, com forte viés nas
etapas de planejamento e de controle. De acordo com Lobato e Azevedo
(1994, p.33), as vantagens do processo orçamentário são:
▪ O fortalecimento do hábito de estudar todos os aspectos envolvidos
antes de serem tomadas as decisões.
▪ O estímulo à participação de todos os responsáveis envolvidos no
plano, bem como de todos os membros da administração na fixação
de objetivos.
▪ O fornecimento de critérios para a alocação de recursos escassos,
tendendo a melhorar a utilização dos recursos, bem como ajustá-los
às atividades prioritárias.
▪ A coordenação e a correlação de todos os esforços.
▪ A revelação dos pontos de eficiência e de ineficiência no desempenho
das unidades, propiciando a geração de eficácia em cada área e na
empresa como um todo.
▪ A obrigatoriedade de avaliar os resultados reais em face dos
resultados orçados de modo que importantes decisões financeiras
possam ser tomadas com maior grau de acerto.
▪ O fato de facilitar a delegação de poderes.
E, a exemplo de frases de impacto como “A estratégia é função de
todos” e “A qualidade é responsabilidade de todos”, é razoável fazermos
a mesma comparação com o orçamento, que deve ser função e
responsabilidade de todos nas organizações. As empresas devem dedicar
especial atenção ao processo orçamentário, visto que ele depende do
apoio da alta administração, tanto na execução quanto no processo de
controle. Também, os esforços da Alta Administração devem prever a
disseminação, a sensibilização sobre a importância e as implicações do
orçamento sobre a gestão da empresa: “Quanto mais arraigado estiver o
processo orçamentário à cultura organizacional das empresas, melhor
será o orçamento e maiores serão os benefícios advindos”. (LOBATO;
AZEVEDO, 1994, p.33)
Tal lógica perpassa por todos os níveis e ramificações da organização,
seguindo um desdobramento lógico, como mostrado na Figura 3, que
chega às demonstrações contábeis, ao controle e à tomada de decisão
pelos gestores.
Orçamento Empresarial 14
Orçamento de
material direto
balanço
patrimonial
planejado
Orçamento
de despesas
administrativas
Orçamento
de P&D
Orçamento de
despesas com
marketing
Orçamento de
investimentos
Orçamento
operacional
Orçamento
financeiro
Orçamento
de vendas
Orçamento
de produção
Orçamento
de compras
Orçamento
de MOD
Orçamento
de custos
indiretos
Fluxo de caixa
projetado DRE projetada
Figura 3: Comunicação contínua entre os diversos níveis da empresa. Fonte: Adaptado de Lobato
e Azevedo (1994).
Essa rede de interligações entre atividades, áreas, níveis e funções exige
que as informações sejam geradas e fluam adequadamente entre as
diferentes peças orçamentárias: falhas nesse processo comprometem
a integridade de todo o sistema orçamentário e mesmo contábil e
de gestão, o que reforça a importância do envolvimento de todos no
processo orçamentário.
Observe que o orçamento de produção, além de alimentar outras
peças orçamentárias (ex: orçamento de material direto etc.), repercute
diretamente na DRE projetada, o mesmo acontecendo com as demais
peças orçamentárias mostradas na Figura 3. Além disso, o orçamento de
investimentos, que também influencia a DRE projetada, serve de entrada
para o fluxo de caixa projetado e para o BP projetado.
Nesse sentido, a utilização de sistemas integrados de gestão se mostra
um valioso aliado à gestão, permitindo que seja feita a integração dos
diversos inputs orçamentários, que podem ser atualizados em tempo real,
gerando relatórios críticos e análises simulatórias de gestão, permitindo
automatizar a geração de demonstrações contábeis projetadas e,
até mesmo, relatórios finais de exercício. Em cenários como esses, a
utilização e análise do orçamento flexível se torna bastante simplificada
e intuitiva.
Crespo e Santos (2015) mostram um exemplo de arquitetura utilizado
até mesmo por micro e pequenas empresas.
Orçamento Empresarial 15
Figura 4: Arquitetura de sistema integrado de gestão. Fonte: Crespo e Santos (2015).
3. Aplicações Práticas
Vamos fazer uma análise de orçamento flexível, baseado em material
de Coelho e Pontes (2018), de um fabricante de camisas, cujo resultado
projetado para o mês é mostrado a seguir.
Clientes
Marketplace
Fornecedores Empresas
parceiras
Central de compras Virtual enterprises engine
DSS
SAA SAC SAG SAJ EDL EF OS Estados e outras
entidades públicas
CRM ERP
Serviços partilhados (SOA) Ligações e entidades públicas
Receitas R$ 40.000
Materiais R$ 162.000
MOD R$ 108.000
Total CV R$ 270.000
Margem de contribuição R$ 270.000
Custos fixos R$ 81.000
Lucro R$ 189.000
Tal projeção era baseada nas seguintes premissas e projeções:
▪ Vendas: 2.000 camisas.
▪ Preço de venda unitário: R$ 27,00.
▪ Material empregado: 2 metros de malha/camisa.
▪ Preço do material: R$ 4,05/metro.
▪ Mão de obra utilizada: 0,5 hora/camisa.
▪ Custo da mão de obra: R$ 10,80/hora.
Os resultados reais são mostrados a seguir:
Orçamento Empresarial 16
Receitas R$ 461.700
Materiais R$ 152.460
MOD R$ 87.480
Total CV R$ 239.940
Margem de contribuição R$ 221.760
Custos fixos R$ 81.000
Lucro R$ 140.760
O volume produzido e comercializado foi de 18.000 camisas; o consumo
de materiais foi de 39.600 m de malha ao valor total de R$ 152.460,00;
e a MOD empregada na produção registrou um consumo de 8.100 horas
ao custo total de R$ 87.480,00.
Calculando o resultado ajustado ao nível da atividade (ou seja, calculando
os valores unitários a partir do orçamento previsto e multiplicando-os
pela quantidade real (18.000 unidades), temos:
Receitas R$ 486.000
Materiais R$ 145.800
MOD R$ 97,200
Total CV R$ 243.000
Margem de contribuição R$ 243.000
Custos fixos R$ 81.000
Lucro R$ 162.000
Colocando os resultados lado a lado e identificando as variações de
eficiência e de preço, temos:
Real Variação
eficiência OBS Ajustado
ao nível
Variação
preço OBS Previsto
Quantidade 18.000 0 18.000 2.000 Desfavorável 20.000
Receitas R$ 461.700 R$ 24.300 Desfavorável R$ 486.000 R$ 54.000 Favorável R$ 540.000
Materiais R$ 152.460 R$ 6.660 Desfavorável R$ 145.800 R$ 16.200 Favorável R$ 162.000
MOD R$ 87.480 R$ 9.720 Favorável R$ 97.200 R$ 10.800 R$ 108.000
Total CV R$ 239.940 R$ 3.060 R$ 243.000 R$ 27.000 R$ 270.000
Margem de
contribuição
R$ 221.760 R$ 21.240 Desfavorável R$ 243.000 R$ 27.000 Desfavorável R$ 270.000
Custos fixos R$ 81.000 R$ 0 R$ 81.000 R$ 0 R$ 81.000
Lucro R$ 140.760 R$ 21.240 Desfavorável R$ 162.000 R$ 27.000 Desfavorável R$ 189.000
Analisando e discutindo as variações:
Orçamento Empresarial 17
A variação de preço desfavorável de R$ 27.000,00 no lucro se deveu à
venda a menor de 2.000 camisas. Como cada camisa tem uma margem
de contribuição de R$ 13,50, essa margem multiplicada pela quantidade
vendida a menor causou essa variação.
Calculando as variações de preço e eficiência dos materiais: o padrão
ajustado ao nível real de atividade foi dado por 18.000 u x 2 m/u =
36.000 m x R$ 4,05/m = 145.800,00, ao passo que o real foi de 39.600 m
x R$ 3,85/m = 152.460,00 (observe que 152.460,00 / 39.600 = 3,85). Com
o insumo real valorado ao custo padrão, temos: 39.600 m x R$ 4,05/m =
160.380,00, assim:
▪ variação de eficiência = 145.800,00 - 160.380,00 = R$ 14.580,00;
▪ variação de preço = 160.380,00 - 152.460,00 = 7.920,00;
▪ Variação total dos materiais: R$ 6.660,00.
A variação favorável de preço ocorreu pela redução do custo unitário de
materiais diretos de R$ 4,05/m para R$ 3,85/m. Essa variação (R$ 0,20),
multiplicada pela quantidade real consumida (39.600 m), proporcionou
um valor de R$ 7.920,00favorável.
A variação desfavorável de eficiência foi ocasionada pelo consumo
além do orçado previamente. Orçaram-se 36.000 m (18.000 un x 2 m)
para produzir 18.000 camisas, quando, na realidade, foram consumidos
39.600 m (39.600 - 36.000 = 3.600 x 4,05 = 14.580,00).
Calculando as variações de preço e eficiência da mão-de-obra direta: o
padrão ajustado ao nível real de atividade foi dado por 18.000 u x 0,5h/u
= 9.000h x R$10,80/h = 97.200,00 m ao passo que o real foi 8.100h x
R$ 10,80/h = 87.480,00 (sendo que 87.480,00 / 8.100 = 10,80). Com o
insumo real valorado ao custo padrão, temos 8.100 h x R$ 10,80/h =
87.480,00. Dessa forma:
▪ Variação de eficiência = 97.200,00 - 87.480,00 = R$ 9.720,00.
▪ Variação de preço = 87.480,00 - 87.480,00 = zero.
▪ Variação total da mão de obra = R$ 9.720,00.
A variação favorável na eficiência da mão de obra ocorreu pela utilização
de um número de horas inferior ao orçado previamente. Orçaram-
se 9.000 horas para produzir 18.000 camisas, quando, na realidade,
foram consumidas somente 8.100 horas: (9.000 - 8.100 = 900 x 10,80 =
9.720,00).
O lucro previsto para o mês foi de R$ 189.000,00. Entretanto, o lucro real
foi de, apenas, R$ 140.760,00. Analisando os resultados apresentados,
podemos detalhar esse diferencial de lucros de R$ 48.240,00 (R$
189.000,00 - R$140.760,00).
Como você viu, o controle orçamentário é tão abrangente quanto o
próprio processo de planejamento das peças orçamentárias. Nele,
comparamos não somente os resultados finais, mas podemos, também,
Orçamento Empresarial 18
desdobrar os resultados em níveis que identificam os fatores que os
compõem. Com isso, além de compreender a dinâmica envolvida na
geração de resultados, é possível identificar as variações e suas causas
principais.
Nesse sentido, a compreensão das relações de causa e efeito pode ser
detalhada em variações em termos de quantidade (por exemplo, variação
de demanda ou de consumo de determinado insumo) e/ou de preços (ex:
custo dos insumos).
A análise de tais fatores permite expandir de forma significativa a
capacidade do orçamento ser utilizado como instrumento de gestão
para qualquer empresa.
Referências
AZEVEDO, I. S. S.; ALVES, A. Orçamento, custos e finanças no setor
público. Porto Alegre: SAGAH, 2017.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR ISO
31000: Gestão de riscos — Princípios e diretrizes. Rio de Janeiro:
ABNT, 2009.
CRESPO, P.; SANTOS, V. Construção de Sistemas Integrados de Gestão
para Micro e Pequenas Empresas. RISTI, Porto, n.15, p.35-49, jun.,
2015. Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1646-98952015000200004&lng=pt&nrm=iso. Acesso
em: 30 dez. 2019.
COELHO, F. S.; PONTES, R. M. Orçamento e Controle. Rio de Janeiro:
Fundação Getúlio Vargas, 2018.
HORNGREN, C. T.; SUNDEM, G. L.; STRATTON, W. O. Contabilidade
gerencial. 12. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2003.
LOBATO, D. M.; AZEVEDO, H. M. Orçamento empresarial. Rio de Janeiro:
Fundação Getúlio Vargas, 1994.
Orçamento Empresarial 19
http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1646-98952015000200004&lng=pt&nrm=iso
http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1646-98952015000200004&lng=pt&nrm=iso
Orçamento Empresarial
Elaboração dos Relatórios e Análise
das Demonstrações Contábeis
Desenvolvimento do material
Henrique Martins Rocha
1ª Edição
Copyright © 2022, Afya.
Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida,
transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico,
mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia
autorização, por escrito, da Afya.
Sumário
Elaboração dos Relatórios e Análise das Demonstrações
Contábeis
Para início de conversa… ................................................................................ 3
Objetivo ......................................................................................................... 3
1. Elaboração dos Relatórios e Análise das Demonstrações
Contábeis ......................................................................................................... 4
Referências ........................................................................................................ 10
Para início de conversa…
Como você viu em nossos estudos, o processo orçamentário trabalha com
um grande volume de informações: são variáveis diversas que envolvem
aspectos internos da organização, como infraestrutura, capacidade
produtiva, política de estoques, etc., bem como aspectos externos, como
demanda, custo dos insumos, taxa de juros, etc.
Ainda que a organização tenha capacidade de interferir nos fatores
internos, ela pouco pode fazer quanto aos externos, mas, ainda
assim, ela deve se planejar para o futuro e, dessa forma, precisa fazer
previsões e estabelecer planos de ação para garantir sua continuidade
e um posicionamento seguro no mercado. Diante disso, o planejamento
estratégico precisa ser robusto, de forma a guiar as ações futuras,
devendo ser quantificado em valores monetários por meio do processo
orçamentário.
Elaborando previsões sobre as vendas, gastos, investimentos e
financiamentos, bem como fluxo de caixa, é possível estabelecer as
bases de gestão e o controle da organização, suportando, assim, os
processos de tomada de decisão dos gestores. Mais que isso, é possível
aprofundar as previsões, elaborando as projeções das demonstrações
contábeis, analisando-as mediante o uso de indicadores de liquidez,
endividamento, lucratividade, rentabilidade e de valor de mercado,
tornando o processo gerencial mais efetivo.
Objetivo
Elaborar os relatórios e analisar as demonstrações contábeis.
Orçamento Empresarial 3
1. Elaboração dos Relatórios e Análise das
Demonstrações Contábeis
O processo orçamentário permite que, a partir da elaboração das
diversas peças orçamentárias, seja construído um potente instrumento
de gestão que compile previsões diversas e sirva de guia às ações da
empresa: o orçamento em si.
Dessa forma, o orçamento, que contém informações, ações e metas
estabelecidas a partir do plano estratégico da empresa, serve não
somente como base de planejamento empresarial, mas, também, como
instrumento de monitoramento e controle, bem como de simulações
que suportam os processos de tomada de decisão por parte das diversas
partes envolvidas, especialmente os gestores.
Além disso, expandindo o rol de aplicações do orçamento, temos a
elaboração das projeções das demonstrações contábeis. A partir delas,
podemos utilizar tais demonstrações para uma aplicação ainda mais
sofisticada: a projeção de indicadores (ou índices) de desempenho da
organização. Normalmente, o uso de indicadores tem como finalidade
permitir que os gestores extraiam tendências e comparem os
indicadores com padrões preestabelecidos, extrapolando o passado para
inferir o que pode acontecer no futuro. Mas, no nosso caso, não iremos
trabalhar com o passado, e sim com as projeções das diversas peças
orçamentárias para, a partir delas, poder identificar eventuais tendências
e, principalmente, apurar se o futuro previsto por meio das projeções
feitas é adequado aos anseios estratégicos da organização, sob a ótica
de sua capacidade e qualidade em termos de liquidez, endividamento,
lucratividade, rentabilidade, gestão de ativos e valor de mercado.
Eleva-se, dessa forma, a capacidade de planejamento, análise, execução,
monitoramento, controle, previsão e tomada de decisão pelos gestores,
como mostrado na Figura 1, a seguir:
Figura 1: Ciclo de gestão. Fonte: Elaborada pelo autor.
Plano
estratégico
Peças
orçamentárias
Projeção das
demonstrações
contábeis
Controle
orçamentário
Análise das
decisões
Análise das
demonstraçõesOrçamento
Execução
Orçamento Empresarial 4
Vamos discutir, inicialmente, sobre a elaboração das projeções das
demonstrações contábeis, em especial o Balanço Patrimonial (BP)
e o Demonstrativo de Resultados do Exercício (DRE), os quais serão
apresentados de formasimplificada no Quadro 1, a seguir:
Ativo Passivo
Ativo circulante (AC)
Ativo Circulante
Financeiro (ACF) Passivo circulante
(PC)
Passivo Circulante
financeiro (PCF)
Ativo Circulante Cíclico
(ACC)
Passivo circulante
cíclico (PCC)
Ativo Realizável a Longo Prazo (ARLP) Passivo exigível a longo prazo (PELP)
Ativo Permanente (AP)
Resultado de exercícios futuros(REF)
Patrimônio Líquido (PL)
Total dos Ativos Total dos passivos
Quadro 1: Apresentação simplificada do Balanço Patrimonial. Fonte: Elaborado pelo autor.
O Balanço Patrimonial consiste na relação, de forma ordenada, dos
ativos, bens e direitos, passivos, obrigações, patrimônio líquido e da
diferença entre os ativos e os passivos de uma empresa.
No Balanço Patrimonial, encontramos:
▪ AC → O ativo circulante possui realização prevista ao longo do
exercício seguinte, ou seja, no período de 12 meses, contemplando
ativos cíclicos relacionados às operações da empresa, como estoques,
duplicatas a receber, etc., e ativos financeiros, como aplicações
financeiras e do caixa da empresa.
▪ ARLP → Apresenta realização após o término do exercício social
seguinte, ou seja, em prazo superior a 12 meses. Exemplos: contas
a receber a longo prazo, despesas antecipadas a longo prazo,
empréstimos concedidos a receber a longo prazo, etc.
▪ AP → Bens corpóreos destinados à continuidade das atividades.
Exemplos: terrenos, edifícios, máquinas e equipamentos, móveis
e utensílios, instalações, obras em andamento destinados ao uso
nas operações.
▪ PC → Vencimento no exercício social seguinte, isto é, no prazo de
12 meses, caracterizado como cíclico (diretamente relacionado
às operações da empresa, como pagamento de funcionários,
fornecedores, impostos, etc.) e financeiro (onerosos, isto é, sobre os
quais pagam-se juros).
▪ PELP → Possui vencimento após o término do exercício social
seguinte, ou seja, no prazo superior a 12 meses. Exemplos:
fornecedores a longo prazo, empréstimos a longo prazo, etc.
▪ REF → Eventuais receitas já recebidas, que efetivamente serão
reconhecidas em períodos futuros por estarem associadas a algum
evento futuro.
Orçamento Empresarial 5
▪ PL → Recursos dos acionistas, ou seja, o Capital Social + reserva de
lucros e/ou prejuízos acumulados.
Receita bruta de vendas
Deduções da receita bruta
Receita líquida
Custo dos produtos vendidos
Lucro bruto
Despesas de vendas
Despesas administrativas e gerais
Depreciação
Lucro operacional
Receitas e despesas financeiras
Receitas e despesas não operacionais
Lucro antes do IR
IR
Lucro líquido
Quadro 2: DRE. Fonte: Elaborado pelo autor.
▪ A DRE é um resumo ordenado de receitas e despesas da empresa
em determinado período, chegando-se ao lucro ou prejuízo. Na DRE,
temos:
▪ Receita bruta (total recebido no exercício) e líquida (descontados
impostos sobre vendas, devoluções, etc.).
▪ Custo dos produtos vendidos (ou custo de mercadorias vendidas,
se atividade comercial, ou ainda custo dos serviços prestados, se
somente serviços).
▪ Despesas operacionais e financeiras.
▪ Imposto de renda/CSLL.
▪ Lucro líquido.
A projeção de tais relatórios pode ser feita a partir dos relatórios já
gerados, isto é, os que refletem a situação do exercício já ocorrido,
adicionando sobre eles as projeções das diversas peças orçamentárias.
As Figuras 2 e 3, a seguir, mostram a relação das diversas peças com os
lançamentos a serem projetados dos relatórios.
Orçamento Empresarial 6
Figura 2: Principais fontes de informação para projeção do BP. Fonte: Elaborada pelo autor.
Figura 3: Principais fontes de informação para projeção do DRE. Fonte: Elaborada pelo autor.
É a partir de tais relatórios que podemos extrair os indicadores. Para
facilitar a compreensão das aplicações, vamos discutir separadamente
os tipos de indicadores existentes.
Receita bruta de vendas
Deduções da receita bruta
Receita líquida
Custo dos produtos vendidos
Lucro bruto
Despesas de vendas
Despesas administrativas e gerais
Depreciação
Lucro operacional
Receitas e despesas financeiras
Receitas e despesas não operacionais
Lucro antes do IR
IR
Lucro líquido
Orçamento de vendas
e receitas
Orçamento de produção de
consumo de matérias-primas,
de custo da mão de obra e
de custos indiretos
Orçamento de despesas
comerciais, administrativas
e financeiras
Orçamento de despesas
comerciais, administrativas
e financeiras
Orçamento de
investimentos e
financiamentos
Orçamento do fluxo
de caixa
Orçamento de custos
fabris e de investimentos
e financiamentos
Ativo Passivo
Ativo circulante (AC)
Ativo Circulante
Financeiro (ACF)
Passivo circulante (PC)
Passivo Circulante
financeiro (PCF)
Ativo Circulante Cíclico
(ACC)
Passivo circulante cíclico
(PCC)
Ativo Realizável a Longo Prazo (ARLP) Passivo exigível a longo prazo (PELP)
Ativo Permanente (AP)
Resultado de exercícios futuros(REF)
Patrimônio Líquido (PL)
Total dos Ativos Total dos passivos
Orçamento de compra
de matérias-primas e do
fluxo de caixa
Orçamento de compra
de matérias-primas e do
fluxo de caixa
Orçamentos de
produção e do fluxo
de caixa
Orçamento de compra
de matérias-primas, de
custo de mão de obra
e do fluxo de caixa
Orçamento de compra
de matérias-primas, de
custo de mão de obra
e do fluxo de caixa
Orçamento de
investimentos e
financiamentos e do
fluxo de caixa
Orçamento de
investimentos e
financiamentos e do
fluxo de caixa
Orçamento Empresarial 7
Indicadores de Liquidez: Também denominados indicadores de Solvência
de Curto Prazo, medem a capacidade de pagamento das obrigações da
empresa, isto é, quanto a empresa dispõe de bens e direitos, realizáveis
em determinado período, em relação às obrigações exigíveis no mesmo
período. Assim, obviamente, quanto maior for a liquidez, melhor será a
situação financeira da empresa.
Nesse grupo, temos os seguintes indicadores:
▪ Capital Circulante Líquido: CCL = AC – PC.
▪ Liquidez Corrente = AC/PC.
▪ Liquidez Geral = (AC+ARLP)/(PC+PELP).
▪ Liquidez Seca = (AC - Estoques)/PC.
▪ Caixa = Caixa/PC.
Indicadores de Endividamento: Também denominados de indicadores
de Solvência de Longo Prazo e de Medidas de Estrutura Patrimonial,
avaliam a composição da estrutura de capital da empresa, isto é, a
proporção entre capital próprio (PL) e de terceiros (passivos), revelando
a política de obtenção de recursos. Esses índices analisam a segurança
que a empresa oferece aos capitais de terceiros. Quanto maior for a
participação de capitais de terceiros nos negócios de uma empresa,
maior será a dependência da empresa em relação a esse capital de
terceiros e maior será o risco a que os terceiros estarão expostos.
Nesse grupo, temos:
▪ Endividamento Geral (IEG) = (Passivo-PL)/Passivo.
▪ Composição das Elegibilidades (CE) = PC/(PC+PELP).
▪ Passivo Oneroso sobre Ativo Total (POSA) = (PCF+PELP)/Ativo.
▪ Composição do Passivo Oneroso (CPO) = PCF/(PCF + PELP).
▪ Cobertura de Juros (CJ) = LAJIR/juros.
▪ Cobertura de Caixa = (LAJIR+depreciação)/juros.
▪ Relação entre as Fontes de Recursos (RFR) = (PC+PELP+REF)/PL.
▪ Imobilização do Patrimônio Líquido (IPL) = AP/PL.
Indicadores de Lucratividade: Medem o desempenho da empresa
em termos de capacidade de gerar lucros. A lucratividade reflete o
percentual da receita que “sobra” como resultado da empresa a cada
período. Consequentemente, quanto maior, melhor.
Nesse grupo, temos:
▪ Margem Bruta (MB) = lucro bruto/receita líquida.
▪ Margem (líquida) de Lucro (ML) = Lucro líquido/Vendas.
Indicadores de Rentabilidade: Medem a capacidade da empresa de
remunerar o capital aplicado, mensurando a eficiência da geração do
lucro em comparação com o que foi investido. Dessa forma, quanto
maior, melhor.
Orçamento Empresarial 8
Nesse grupo, temos:
▪ Retorno do Ativo (ROA) = Lucro líquido/Ativo.
▪ Retorno do Capital Próprio (ROE) ou Rentabilidade do Patrimônio
Líquido (RPL) = Lucro líquido/PL.
▪ Margem Operacional de Lucro (MOL) = Lucro operacional líquido/
receita operacionallíquida.
Indicadores de Gestão de Ativos: Também conhecidos como indicadores
de giros, analisam a eficiência na utilização de ativos, ou seja, a empresa
como um todo, bem como recursos financeiros e materiais.
Nesse grupo, temos:
▪ Giro de Estoque = CMV/estoque.
▪ Prazo Médio de Estoque (PME) = Estoques x 365/CMV ou 365/Giro de
estoque.
▪ Giro de Contas a Receber = Vendas/CAR.
▪ Prazo Médio de Recebimentos (PMR) = CAR x 365/Vendas ou 365/Giro
de contas a receber.
▪ Giro de Contas a Pagar = CMV/Fornecedores.
▪ Prazo Médio de Compras (PMC) = Fornecedores x 365/CMV ou 365/
Giro de contas a pagar.
▪ Giro do Ativo Total ou Rotação do Ativo (RA) = Vendas/Ativo.
Indicadores de Valor de Mercado: Voltados às análises de acionistas e
potenciais investidores no mercado de ações.
Nesse grupo, tempos:
▪ Lucro por Ação (LPA) = Lucro líquido/no ações.
▪ Índice Preço/Lucro (P/L) = Preço por ação/lucro por ação.
▪ Índice Preço/Valor Patrimonial (P/VP) = Valor de mercado das ações/
valor patrimonial das ações.
De acordo com Cardozo e Szuster (1994), a análise das demonstrações
contábeis usualmente utiliza a análise vertical (ou de estrutura) e a
análise horizontal (ou de comportamento), aplicadas nos relatórios
contábeis ou nos próprios indicadores (em valores absolutos ou
quocientes).
A análise vertical mostra a participação percentual de cada item das
demonstrações financeiras em relação ao somatório de seu grupo,
enquanto a análise horizontal toma por base dois ou mais exercícios
para verificar a evolução ou involução de seus componentes.
Observação: não discutiremos, aqui, a construção e avaliações feitas a
partir das análises vertical e horizontal, por serem temas que fogem do
escopo da disciplina. Para maiores informações, consulte os bons livros
de Contabilidade.
Orçamento Empresarial 9
Como você pode perceber, o orçamento é algo mais abrangente do que
aquilo que usualmente é compreendido pela maioria das peças, por
englobar análises diversas, inúmeras previsões e complexos mecanismos
de inter-relação entre variáveis internas e externas à organização, o que
o faz ser um instrumento valioso na gestão de qualquer empreendimento.
Referências
CARDOZO, R. L.; SZUSTER, F. R. Contabilidade geral. Rio de Janeiro:
Fundação Getúlio Vargas, 1994.
LOBATO, D. M.; AZEVEDO, H. M. Orçamento empresarial. Rio de Janeiro:
Fundação Getúlio Vargas, 1994.
OLIVEIRA, U. R. Custos industriais: o instrumento de informações para a
tomada de decisões dentro e fora da empresa. Resende: Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, 2010.
MATARAZZO, D. C. Análise financeira de balanços. 7 ed. São Paulo: Atlas,
2010.
SILVA, J. P. Análise financeira das empresas. 10 ed. São Paulo: Atlas, 2010.
SZUSTER, N. et al. Contabilidade geral: introdução à contabilidade
societária. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2011.
Orçamento Empresarial 10
Orçamento Empresarial
Para início de conversa…
Objetivo
1. Planejamento Econômico e Financeiro
2. Princípios de Planejamento
3. Etapas de Elaboração do Orçamento
(Peças Orçamentárias)
Referências
Orçamento Empresarial 1
Para início de conversa…
Objetivo
1. Orçamento de Receita e Vendas
2. Orçamento de Produção
3. Orçamento de Consumo de Matérias-Primas
Referências
Orçamento Empresarial 2
Para início de conversa…
Objetivo
1. Orçamento de Compras de Matérias-primas
2. Orçamento de Custo de Mão de Obra
3. Orçamento de Custos Indiretos
Referências
Orçamento Empresarial 3
Para início de conversa…
Objetivo
1. Orçamento de Custos Fabris
2. Orçamento dos Custos dos Produtos Vendidos
3. Orçamento de Despesas Comerciais, Administrativas e Financeiras
Referências
Orçamento Empresarial 4
Para início de conversa…
Objetivo
1. Orçamento do Fluxo de Caixa
2. Orçamento de Capital: Investimento e Financiamento
Referências
Projeção das Demonstrações Contábeis
Para início de conversa…
Objetivo
1. Balanço Patrimonial
2. Demonstração do Resultado do Exercício
3. Aplicação Prática
Referências
Controle Orçamentário
Para início de conversa…
Objetivo
1. Enfoque
2. Relacionamento entre Sistemas de Contabilidade e Orçamento
3. Aplicações Práticas
Referências
Elaboração dos Relatórios e Análise das Demonstrações Contábeis
Para início de conversa…
Objetivo
1. Elaboração dos Relatórios e Análise das Demonstrações Contábeis
Referênciasdo Orçamento
(Peças Orçamentárias)
O orçamento é de suma importância para a gestão das empresas. Mas,
do que ele é composto e qual a sua lógica construtiva?
Plano estratégico
Orçamento
Ano x3Ano x2Ano x1Ano x0
Horizonte do orçamento
Horizonte do plano estratégico
Orçamento Empresarial 9
Todos os resultados financeiros são, na verdade, consequências de
decisões não financeiras da empresa. Isto é, o dinheiro que entra
na empresa vem das decisões tomadas pelos clientes, ou seja, suas
decisões de compra, tratando-se, portanto, de um fator externo.
Entretanto, tais decisões são influenciadas pelo que é oferecido a eles,
na forma de produtos e/ou serviços: bons produtos, com qualidade e
durabilidade, visualmente atrativos, confiáveis etc., se oferecidos a um
preço razoável, provavelmente serão comprados. O mesmo acontece
com os serviços: boa qualidade, prazo adequado etc. levam à aceitação
dos mesmos pelos consumidores. Em ambos os casos, o resultado final
é o fluxo financeiro, com o dinheiro gasto pelos consumidores com a
compra chegando às empresas fornecedoras (obviamente, há o aspecto
de tributos, que são recolhidos pelo governo, mas o valor líquido
permanece com a empresa, permitindo que a mesma cumpra seus
compromissos financeiros com fornecedores, empregados etc., além de
gerar um excedente na forma de lucro).
Contudo, os produtos e serviços adequados e atrativos aos clientes só
são gerados mediante a aplicação de processos internos igualmente
adequados, que garantam os prazos, qualidade, custo para produção
etc. Além disso, é importante lembrar que a correta execução de tais
processos, bem como a criação de novos que permitam a melhoria
contínua, dependem das pessoas. Pessoas competentes, motivadas e com
condições apropriadas para exercerem o que se espera delas no trabalho
darão a sustentação necessária a toda a estrutura que culminaria nos
resultados financeiros favoráveis da empresa.
Mas, como capturar essas complexas relações de causa e efeito,
convertendo-as em valores monetários que compõem o orçamento?
Surgem, então, as chamadas “peças orçamentárias: “partes” do orçamento,
como peças de um quebra-cabeças, se completando e compondo um
cenário completo.
A lógica que rege a construção do orçamento prevê o orçamento da
receita, que seria a previsão de entrada de dinheiro mediante as vendas
da empresa. Por mais simples que isso possa parecer, na realidade, é algo
bastante complexo, visto que a receita é função da quantidade vendida
e do preço praticado. Mas, lembre-se de que a decisão sobre a compra
ocorre por vontade dos compradores e não da empresa fornecedora.
Assim, é necessário estimar o quanto os consumidores comprarão de
cada produto ou serviço oferecido.
Não se trata de uma mera questão de apurar dados históricos.
Primeiramente, se estivermos tratando de um novo empreendimento,
simplesmente, não teremos dados sobre o passado. Mesmo que não
seja algo “novo”, não necessariamente o futuro será uma projeção ou
extrapolação do passado: fatores macroeconômicos, movimentações de
concorrentes, mudanças de hábitos dos consumidores, obsolescência
Orçamento Empresarial 10
tecnológica etc. podem imprimir um futuro totalmente diferente. Assim,
tal previsão de demanda está longe de poder ser considerada algo fácil
ou trivial. Além de métodos estatísticos, é usual que análises qualitativas
diversas sejam utilizadas pelas empresas para estimar a demanda futura
de seus produtos e serviços.
Entretanto, esse não é o único aspecto que afeta a receita, há, também, o
preço de venda, que, ao contrário do que se pensa, não é simplesmente
decidido pela vontade da empresa. É necessário levar em consideração
fatores como o custo dos insumos, preços de concorrentes etc., e, dessa
forma, pode sofrer oscilações. Além disso, não podemos esquecer que a
decisão sobre os preços influencia diretamente a demanda, o que torna
tudo muito mais complicado.
Uma vez estabelecido o orçamento da receita e conhecendo a previsão
de demanda, sabemos a quantidade de recursos necessários para
atendermos tal demanda. Isto é, o número de máquinas, operadores,
vendedores, insumos etc. Podemos, então, seguir com a próxima peça
orçamentária: o orçamento de gastos.
No orçamento de gastos, estimamos todos os custos e despesas, fixos
ou variáveis, para atender à demanda estimada. Uma vez mais podemos
subestimar a complexidade envolvida em tal processo, imaginando que,
se sabemos a quantidade (a partir do orçamento de receita) e o preço
pago pelo que necessitamos, prever os gastos seria uma mera questão
de multiplicar preço por quantidade. Porém, o fator complicador reside
em dois aspectos: não sabemos os preços de fato, pois estamos falando
do preço praticado pelos fornecedores no futuro, que podem sofrer
reajustes a partir do preço atual. Além disso, fatores macroeconômicos,
sazonalidades e problemas nas cadeias de suprimentos podem contribuir
para a variação dos preços.
Além disso, as próprias quantidades são previsões. Se em determinado
processo é previsto utilizar 10 quilos de matéria-prima e 10 minutos de
mão de obra direta, aspectos relacionados à produtividade podem fazer
com que sejam utilizados 10,5 quilos e 9,8 minutos, por exemplo, o que
levaria o custo a ser puxado “para cima” pela produtividade em termos
de consumo da matéria-prima e “para baixo” pela produtividade da mão
de obra – que pode estar relacionada à melhoria nos processos e/ou
motivação do pessoal etc.
A próxima peça orçamentária é o orçamento de investimentos
e financiamentos: decisões quanto à demanda – há capacidade
instalada suficiente para atender a demanda? Há a necessidade de
renovação de máquinas e equipamentos? –), bem como preocupações
quanto à obsolescência e necessidade de inovações podem exigir o
desenvolvimento de projetos diversos, para os quais devem ser estimados
os investimentos a serem feitos. Mas, além disso, a origens dos recursos
para tais investimentos também precisa ser definida e estimada (Capital
próprio? Empréstimos? Financiamentos?). E, ainda, as previsões de
Orçamento Empresarial 11
investimentos e financiamentos, as previsões orçamentárias de receitas e
gastos diversos devem ser capturadas na última peça orçamentária, que
trata do orçamento de caixa, a qual não somente compila as entradas e
saídas previstas, mas, também, estabelece as eventuais necessidades de
caixa (necessidade de capital de giro) e excedentes, a partir dos valores e
dos prazos (prazo médio de pagamentos, giros etc.), o que pode implicar
em ajustes no orçamento de investimentos e financiamentos, em um
processo de rodadas iterativas.
Uma vez equacionados todos esses elementos no processo orçamentário,
podem ser elaboradas as demonstrações contábeis previstas (DRE, BP
etc.).
Mas, a conclusão do orçamento, com todas as suas peças, não representa
o final do processo orçamentário: lembre-se de que estamos tratando
de previsões sobre o futuro, ou seja, de “planejamento”. A partir do
planejamento, temos a execução (nesse caso, executar o orçamento é
seguir com o dia a dia da empresa, comprando, pagando, produzindo,
recebendo etc.) e o controle: o orçamento passa a servir, assim, também
como instrumento de controle. As relações entre as atividades da
empresa e seu efeito sobre os resultados do orçamento, possibilitando o
controle orçamentário, podem ser vistas na Figura 5.
Figura 5: Sistema de informações e relacionamento entre a contabilidade e o planejamento.
Fonte: Adaptado de Frezatti (2017).
Neste capítulo, vimos que o orçamento é algo bem mais amplo que
uma mera cotação, não somente porque, além da estimativa de
gastos, o orçamento engloba a previsão de receitas, de investimentos
e financiamentos, bem como a previsão de caixa, podendo, inclusive,
servir de base para a geração das demonstrações contábeis esperadas/
previstas.
Porém, mais do que uma mera coletânea de estimativas, o orçamento as
vincula sob a ótica de relações de causae efeito diversas, o que permite
seu uso de forma mais nobre do que de mero coletor de registros. Ao
Sistema fiscal
Suprimentos
Contas a pagar
Ativo Fixo
Faturamento
Estocagem
Contabilidade
Orçamento Controle orçamentário
Custeio
Produção
Contas a receber
Orçamento Empresarial 12
contrário, o orçamento é uma ferramenta de gestão estratégica das
organizações, ao estabelecer bases de cálculo que envolvem variáveis
diversas, “explicando o funcionamento” da empresa e dando suporte ao
planejamento das atividades, bem como seus resultados.
Além disso, o orçamento, como peça de planejamento, ainda se presta
à função de elemento de controle, uma vez que a riqueza de detalhes
com que é construído permite comparações futuras, municiando os
gestores com uma eficiente forma de gestão, de alertas de desvios, bem
como fornecendo insumos para análise das decisões a serem tomadas e
simulação de seus efeitos.
Referências
ANDRADE, F. F. O método de melhorias PDCA. 169 f. Dissertação (Mestrado
em Engenharia) –: Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.
CATHO. O que faz um analista econômico financeiro? Disponível em
https://www.catho.com.br/profissoes/analista-economico-financeiro/.
Acesso em: 25 ago. 2019.
FREZATTI, F. Orçamento empresarial: planejamento e controle gerencial.
6 ed. São Paulo: Atlas, 2017.
MATTOS, W. C. de. Planejamento econômico-financeiro das empresas. Rev.
adm. empres., São Paulo, v.4, n.11, p.31-81, jun., 1964. Disponível em
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-759019
64000200001&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 24 ago. 2019.
NORTON, D.; KAPLAN, R. Estratégia em ação: Balanced Scorecard. Rio de
Janeiro: Campus, 1997.
PADOVEZE, C. L.; TARANTO, F. C. Orçamento empresarial: novos conceitos
e técnicas. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009.
WALTON, M. Made in USA: O método deming de administração. Rio de
Janeiro: Saraiva, 1989.
Orçamento Empresarial 13
https://www.catho.com.br/profissoes/analista-economico-financeiro/
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-75901964000200001&lng=en&nrm=iso.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-75901964000200001&lng=en&nrm=iso.
Orçamento Empresarial
Orçamento Empresarial 1
Desenvolvimento do material
Henrique Martins Rocha
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transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico,
mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia
autorização, por escrito, da Afya.
Sumário
Orçamento Empresarial 1
Para início de conversa… ................................................................................ 3
Objetivo ......................................................................................................... 3
1. Orçamento de Receita e Vendas .............................................................. 4
2. Orçamento de Produção ........................................................................... 11
3. Orçamento de Consumo de Matérias-Primas .................................... 12
Referências ......................................................................................................... 15
Para início de conversa…
Um aspecto importante que precisamos considerar no ambiente
empresarial é o de que, em um mundo atual de acirrada competição,
crescente globalização e informações disponíveis a todos em segundos,
não há mais espaço para as empresas imporem seus produtos, serviços e
preços aos consumidores.
A lógica atual é a de que os consumidores são bem informados e, dessa
forma, só aceitarão comprar de uma empresa caso ela ofereça a melhor
opção em termos de qualidade, prazo de entrega, durabilidade e preço.
Você percebe, assim, que o “poder” está ao lado de quem compra e não
de quem vende. Dessa forma, a estratégia das empresas deve focar no
ambiente externo (clientes, mercados, fornecedores, concorrentes, etc.)
e, a partir daí, estabelecer ações que garantam a sua sobrevivência e
sucesso. Nesse contexto, o processo orçamentário deve refletir tal
lógica, verificando as “decisões” previstas dos consumidores: o que
eles comprarão e em que quantidade. É a partir desse cenário que
surge o orçamento de receita e vendas, o qual provê as informações
necessárias para estabelecer o que deve ser produzido, bem como o que
será utilizado nesse processo, ou seja, o orçamento de produção e de
consumo de matérias-primas.
Objetivo
Elaborar os orçamentos: vendas, produção, consumo e matérias-primas.
Orçamento Empresarial 3
1. Orçamento de Receita e Vendas
O orçamento é um instrumento de gestão abrangente voltado ao
planejamento e controle empresarial, composto por diversas partes
que se interligam de forma lógica. Nesse sentido, Lobato e Azevedo
(1994) conceituam a ideia de “Orçamento Operacional”, a qual engloba
diversos elementos relacionados às atividades executadas nas empresas,
entendendo como os recursos captados e investidos são utilizados pela
empresa no intuito de atingir as suas metas atuais e futuras, na forma
de ciclos periódicos (normalmente anuais) de planejamento, execução e
controle.
De acordo com os autores, o orçamento operacional compreende os
seguintes “sub-orçamentos” (ou orçamentos específicos):
▪ Orçamento de vendas.
▪ Orçamento de produção.
▪ Orçamento de material direto.
▪ Orçamento de compras.
▪ Orçamento de mão de obra direta.
▪ Orçamento de custos indiretos.
▪ Orçamento de despesas administrativas.
▪ Orçamento de P&D.
▪ Orçamento de despesas de marketing.
▪ Orçamento de investimentos.
É comum que haja confusão entre o orçamento de vendas e o orçamento
de receitas. Ainda que não seja um consenso entre os autores, a palavra
“vendas” é frequentemente associada à quantidade de produtos e/
ou serviços vendidos. A previsão dessas quantidades é feita a partir de
métodos qualitativos (ou discricionários) e quantitativos (ou estatísticos).
Os métodos qualitativos se baseiam em julgamentos, isto é, em opiniões
de pessoas ou grupos com conhecimento e experiência sobre as
dinâmicas do mercado, geralmente profissionais como especialistas em
mercado, estudiosos diversos, gerentes de marketing e vendas ou, até
mesmo, clientes e fornecedores. Trata-se de métodos com alto grau de
subjetividade, visto não se baseiam em qualquer inferência estatística,
mas são bastante úteis quando não dispomos ou não temos confiança
em alguns dados, ou, ainda, quando queremos ouvir opiniões sobre
possibilidades não óbvias (por exemplo, fenômenos que possam levar a
uma mudança de tendência).
Mesmo lidando com tal faceta de subjetividade, isso não significa que
tais métodos necessariamente desestruturados, apresentando-se como
meros palpites. Ao contrário, grandes organizações usam técnicas
extremamente sofisticadas para fazer previsões. Dentre elas, podemos
destacar o Método Delphi e o Método de Cenários Prospectivos.
Orçamento Empresarial 4
O método Delphi foi desenvolvido por Olaf Helmer e Norman Dalker,
pesquisadores da Rand Corporation, na década de 50. Por meio dele,
torna-se possível coletar as opiniões de um grupo de especialistas
utilizando questionários estruturados em rodadas sucessivas (BAXTER,
2003; OKOLI; PAWLOWSKI, 2004; VERGARA, 2005). A cada rodada,
é possível observar o posicionamento dos participantes diante de
enquetes e votações, bem como a coleta e a consolidação de resultados
e justificativas.
De acordo com Scott (1998) e Linstone e Turoff (2002), o método permite
lidar com problemas complexos quando não é possível utilizar técnicas
analíticas precisas ou reunir os especialistas consultados para que haja
interação entre eles com troca de opiniões e ideias.
Já os cenários prospectivos, também conhecidos como previsão visionária,
que também tiveram seu desenvolvimento na Rand, nos anos 50, sob a
tutela de Herman Kahn, um de seus pesquisadores, partem da premissa
de que as organizaçõesprecisam se preparar para o futuro, isto é, fazer
escolhas hoje sobre o que acontecerá posteriormente. No entanto, essa
tomada de decisão é dificultada pela incerteza e, muitas vezes, pela
imprevisibilidade do futuro. Os denominados cenários prospectivos
seriam, então, exercícios de elaboração de possíveis futuros:
‘‘ ao exercitar as possibilidades existentes, a organização pode visualizar como ela
se enquadraria – afetando e sendo afetada pelas potenciais circunstâncias dos
diferentes futuros. Ao agir desta forma, a organização diminui a possibilidade
de surpresas, ao deparar-se com futuros que possam ter sido pensados antes.
(ROCHA; OLIVEIRA, 2006, p.4)’’
Na verdade, os cenários prospectivos se enquadram no que se caracteriza
como “métodos causais”, nos quais, mais do que buscar por um número,
um valor previsto, procura-se identificar as dinâmicas de mercado e os
fatores setoriais que regem os diversos fenômenos e as variáveis que
as determinam (as variáveis causais, como o PIB, taxa de juros, nível de
empregos, quantidade de alvarás expedidos, etc.), de forma a estabelecer
as relações de causa e efeito existentes entre elas e, a partir disso, fazer
previsões de vendas. Geralmente, as vendas são afetadas por quatro
fatores básicos, de acordo com Lobato e Azevedo (1994):
▪ Tendências de crescimento.
▪ Flutuações cíclicas do negócio.
▪ Flutuações sazonais.
▪ Variações irregulares na demanda.
A lógica do método se aproxima do conceito dos métodos estatísticos,
os quais trabalham com séries temporais, isto é, com dados históricos
de demanda e variáveis correlatas, procurando prever o futuro com base
nos dados do passado.
Orçamento Empresarial 5
Vamos tomar como exemplo o conjunto de valores apresentados por
Coelho e Pontes (2018), mostrado na Tabela 1.
Ano Crescimento das vendas
2007 2,0%
2008 3,0%
2009 6,0%
2010 4,0%
2011 3,0%
2012 6,0%
2013 2,0%
2014 0,5%
2015 4,0%
2016 1,0%
2017 0,0%
2018 -1,0%
Tabela 1: Crescimento das vendas. Fonte: Adaptado de Coelho e Pontes (2018).
Você consegue perceber algum fenômeno? Teria condições de fazer
alguma previsão para a demanda de 2019?
Bem, vamos te ajudar! Vamos plotar os valores em um gráfico:
Gráfico 1: Variação nas vendas. Fonte: Adaptado de Coelho e Pontes (2018).
E agora, o que você percebe? Bem, parece haver uma oscilação (talvez
algum tipo de sazonalidade), mas também é possível perceber uma
tendência de queda. Para facilitar a visualização, vamos acrescentar uma
linha de tendência no gráfico, como no exemplo a seguir.
6,0%
4,0%
2,0%
0,0%
-2,0%
Crescimento das vendas
20
07
20
08
20
09
20
10
20
11
20
12
20
13
20
14
20
15
20
16
20
17
20
18
Orçamento Empresarial 6
Gráfico 2: Variação nas vendas com linha de tendência.
Fonte: Adaptado de Coelho e Pontes (2018).
Mas a linha de tendência não é algo arbitrário, desenhado de forma
subjetiva calcada em percepção visual: ela se baseia no conceito de
Mínimos Quadrados, o qual busca identificar uma linha de tendência
que represente uma sequência de pontos da melhor forma possível,
minimizando a soma dos quadrados das diferenças entre o valor
estimado (na citada reta) e os valores reais. Tal técnica utiliza o método
conhecido como regressão linear, não somente para traçar a reta de
tendência, mas, também, para identificar a equação que a define.
6,0%
4,0%
2,0%
0,0%
-2,0%
Crescimento das vendas
20
07
20
08
20
09
20
10
20
11
20
12
20
13
20
14
20
15
20
16
20
17
20
18
A equação no exemplo é y = - 0,0037 x + 7,5195, sendo, obviamente,
o valor de x, o ano, e o valor de y, o percentual previsto. Ao
substituir, na equação, x por 2019, podemos obter a previsão do
crescimento das vendas com base na projeção da linha de tendência
(aproximadamente 0,5%).
Os cálculos de regressão linear não serão apresentados aqui por fugirem
do escopo de nossa disciplina, mas você pode aprender mais sobre
esse tema em livros sobre Estatística, assim como pode criar retas
de tendência e identificar suas equações utilizando o Excel, que foi a
ferramenta usada para criar o exemplo mostrado a você.
O valor calculado pode ser claramente percebido como o valor resultante
da projeção da linha de tendência por mais um período, isto é, mais um
ano (no caso, 2019), como pode ser verificado no gráfico a seguir.
Orçamento Empresarial 7
Gráfico 3: Variação nas vendas com linha de tendência estendida para 2019.
Fonte: Adaptado de Coelho e Pontes (2018).
Mas o viés matemático de tais inferências ainda é limitado. Afinal,
apesar projetarmos o valor futuro esperado, estamos ignorando o
que causaria tal tendência. Nesse sentido, Coelho e Pontes (2018)
levantam a possibilidade de a demanda ser influenciada pelo PIB e
pelo investimento feito em Marketing, variáveis realmente pertinentes.
Vamos, então, adicionar os valores referentes a essas variáveis:
Ano Crescimento das
vendas Crescimento PIB Investimento MKT
2007 2,0% 3,1% R$ 200.000
2008 3,0% 4,0% R$ 230.000
2009 6,0% 6,0% R$ 250.000
2010 4,0% 5,0% R$ 200.000
2011 3,0% -0,2% R$ 250.000
2012 6,0% 7,6% R$ 300.000
2013 2,0% 3,9% R$ 160.000
2014 0,5% 1,9% R$ 160.000
2015 4,0% 3,0% R$ 220.000
2016 1,0% 0,1% R$ 200.000
2017 0,0% -3,1% R$ 160.000
2018 -1,0% -3,6% R$ 140.000
Tabela 2: Crescimento das vendas. Fonte: Adaptado de Coelho e Pontes (2018).
6,0%
4,0%
2,0%
0,0%
-2,0%
Crescimento das vendas
20
07
20
08
20
09
20
10
20
11
20
12
20
13
20
14
20
15
20
16
20
17
20
18
20
19
Orçamento Empresarial 8
Vamos ver como fica o gráfico?
Gráfico 4: Variação nas vendas, PIB e investimento em marketing.
Fonte: Adaptado de Coelho e Pontes (2018).
E agora, o que você percebe? Olhe atentamente para o gráfico.
Você nota que o desempenho das vendas acompanha muito
proximamente a variação do PIB e o investimento feito em Marketing?
Mas, para que essa percepção seja menos subjetiva, vamos verificar se as
variáveis têm correlação, isto é, se uma variação influencia a outra. Para
tanto, vamos traçar os gráficos de dispersão.
10,0%
8,0%
6,0%
4,0%
2,0%
0.0%
-2,0%
-4,0%
-6,0%
R$350.000
R$300.000
R$250.000
R$200.000
R$150.000
R$100.000
R$50.000
R$ -
Crescimento das vendas
20
07
20
08
20
09
20
10
20
11
20
12
20
13
20
14
20
15
20
16
20
17
20
18
Crescimento das vendas
Crescimento do PIB
R$200.000
Gráfico 5: Diagrama de dispersão vendas x PIB. Fonte: Elaborado pelo autor.
Gráfico 6: Diagrama de dispersão vendas x investimento em marketing.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Diagrama da dispersão (PIB x Vendas)
7,0%
6,0%
5,0%
4,0%
3,0%
2,0%
1,0%
0,0%
-1,0%
-2,0%
Cre
sci
me
nto
ve
nd
as
Crescimento PIB
- 6 ,0% -4 ,0% -2 ,0% 0 ,0% 2 ,0% 4 ,0% 6 ,0% 8 ,0% 10 ,0%
Diagrama da dispersão (MKT x Vendas)
7,0%
6,0%
5,0%
4,0%
3,0%
2,0%
1,0%
0,0%
-1,0%
-2,0%
Cr
es
cim
en
to
ve
nd
as
R$
10
0.
00
0
R$
15
0.
00
0
R$
20
0.
00
0
R$
25
0.
00
0
R$
30
0.
00
0
R$
35
0.
00
0
Investimento em Marketing
Orçamento Empresarial 9
Você percebe que as variáveis têm uma correlação positiva, isto é,
que quando há um aumento do PIB, há, também, um crescimento de
demanda, da mesma forma que ao haver um aumento no investimento
em Marketing, ocorre, também, uma tendência de aumento das vendas?
Mas, novamente, para que não dependamos de uma análise visual, que
tem certo grau de subjetividade, vamos, também, calcular o coeficiente
de correlação (os cálculos não serão demonstrados, por fugir ao escopo
de nossa disciplina. Mas, você pode encontrar a fórmula em qualquer
bom livro de Estatística e, além disso, pode calcular simplesmente
usando a fórmula específica no Excel).
Encontramos, então, 0,865 e 0,869 para, respectivamente, a correlação
entre o PIB e as vendas e os investimentos em Marketing e vendas, o
que caracteriza, em ambos os casos, um alto nível de correlação, isto é,
uma alta influência de tais variáveis sobreas vendas.
Na verdade, utilizando a técnica de regressão multivariada, a qual
permite calcular a influência de diversas variáveis sobre outra (como no
nosso exemplo, em que analisamos a influência do PIB e do investimento
em marketing sobre o crescimento das vendas), podemos calcular a
equação que rege o crescimento das vendas em função dos valores das
outras variáveis.
A equação que estabelece o crescimento de vendas, com base nos dados
informados é:
Crescimento projetado de vendas = 0,00000024127 × (valor projetado
em campanha de marketing) + 0,3826869 × taxa de crescimento
projetada do PIB – 0,0338826.
Assim, caso a projeção do PIB para 2019 for de +0,50% e a empresa
planeje investir R$ 200.000,00 em marketing, por exemplo, teríamos o
crescimento projetado de vendas = (0,00000024127 × $ 200.000,00) +
(0,3826869 × 0,50%) – 0,0338826 = 1,628%.
Uma vez estabelecida a previsão de demanda, isto é, as quantidades de
cada produto ou serviço, podemos avançar para concluir o orçamento de
receita, o qual, a grosso modo, seria construído mediante a multiplicação
das quantidades estimadas de vendas pelo preço de venda a ser
praticado.
Isso pode parecer uma análise simples (uma vez que se tenham as
quantidades já estimadas), mas, na realidade, é importante lembrar,
primeiramente, que o processo de precificação não é algo trivial. Nele,
deve-se considerar não somente os custos (de forma que não se venda
produtos com margem negativa), mas, também, os preços praticados pela
concorrência (não adianta termos um preço que cubra nossos custos
e nos gere uma margem de lucro se os consumidores tiverem uma
Orçamento Empresarial 10
alternativa equivalente a um preço menor, optando, portanto, por não
comprar) e a própria percepção de valor dos consumidores (ou seja, de
nada adianta termos um preço que cobre nossos custos e que é melhor
que o dos concorrentes se os consumidores não têm qualquer interesse
pelo produto que comercializamos).
Além disso, é importante lembrar que, por conta do efeito da elasticidade
preço-demanda, o preço estabelecido pode afetar a quantidade estimada
de vendas. Além disso, movimentações de mercado (por exemplo, novos
concorrentes, promoções, etc.) podem exigir mudanças nos preços
praticados.
Como você pode perceber, o orçamento de receita e vendas é bastante
complexo. Na verdade, é a peça orçamentária de maior dificuldade e,
também, a mais importante, pois todas as demais peças dependem dela
para serem desenvolvidas.
2. Orçamento de Produção
O orçamento de produção é a peça orçamentária necessária à
identificação e dimensionamento dos recursos indispensáveis ao
processo produtivo, incluindo a capacidade instalada. Busca, assim,
estabelecer as necessidades ao atendimento da demanda e demais
parâmetros funcionais da empresa, tomando por base o orçamento de
vendas (PADOVEZE; TARANTO, 2009).
O encadeamento lógico das peças é apresentado na Figura 1.
Figura 1: Plano de suprimentos, produção e estoque. Fonte: Frezatti (2017).
Planos de Suprimentos, Produção e Estoques(PSPE)
Plano de
vendas
Produtos
acabados
Estocagem
Produtos
em processo Materiais
Plano de
produção
Plano de
investimento
Plano de
suprimentos
Plano de
MOD(*)
Plano de
GIF (**)
Custo de
produção
* Mão de obra direta
** Gastos indiretos de fabricação
Orçamento Empresarial 11
Nesse sentido, é necessário desdobrar o volume de vendas previsto,
integrando-o a um calendário, de forma que os “picos” de volume possam
ser identificados (os quais podem ocorrer a partir de uma questão de
sazonalidade). Por exemplo, para um fabricante de cervejas que tenha
uma previsão de venda de 12 milhões de latinhas no ano, não faz
sentido assumir uma demanda mensal de 1 milhão de unidades, visto
que o consumo nos meses mais quentes é superior ao do inverno, além
do fato de que em períodos como Carnaval, Ano Novo, etc., o volume
consumido é ainda maior.
Se a capacidade instalada for inferior aos volumes de pico, antes de
pensar em expansão de capacidade (seja de instalações/infraestrutura,
equipamentos e/ou mão de obra), que é um processo demorado e
custoso, alternativas como utilização de horas ou turnos extras de
trabalho e subcontratação devem ser estudadas (LOBATO; AZEVEDO,
1994).
Segundo os autores, o volume de produção é estabelecido de acordo
com o seguinte cálculo:
Quantidade a ser produzida (projeção do volume de produção) =
Quantidade a ser vendida (vendas previstas) - Estoques iniciais previstos
+ Estoques finais estabelecidos.
Ou seja, se em determinado período temos uma previsão de venda
de 1.000 unidades de um produto específico e contamos com 200 em
estoque, a princípio deveríamos produzir somente 800 unidades. Mas, se
não queremos terminar o período com estoque “zerado”, desejando, por
exemplo, manter 100 unidades em estoque, deveríamos produzir, então,
900 unidades. E, caso os processos de produção e venda ocorram como
previsto, as 100 unidades finais representariam o estoque inicial previsto
para o período seguinte, e assim sucessivamente.
3. Orçamento de Consumo de Matérias-Primas
Como desdobramento natural do volume planejado de produção, há o
orçamento de insumos necessários para atender tais volumes, conhecido
como orçamento de matérias-primas ou orçamento de materiais diretos.
“Os materiais diretos são todos os materiais fisicamente identificados
como parte dos produtos acabados, que podem ser associados aos
produtos acabados de modo economicamente viável” (LOBATO:
AZEVEDO, 1994, p.48).
Importante destacar que o orçamento de matérias-primas faz parte
de uma peça maior que engloba, também, o orçamento de estoque de
materiais, o orçamento de compra de materiais e o orçamento de saldo
de contas a pagar aos fornecedores (PADOVEZE; TARANTO, 2009).
Orçamento Empresarial 12
O desenvolvimento do orçamento de matérias-primas depende da
existência da estrutura dos produtos, conhecida como BOM (Bill of
Materials, ou, em português, lista de materiais), que decompõe o produto
em componentes até chegar ao nível dos insumos básicos. Vamos
compreender o que é o BOM e como ele é utilizado. Para isso, vamos
imaginar um produto bastante simples: um carrinho de brinquedo,
composto de corpo, eixos e rodas, como mostrado na Figura 2.
Figura 2: Carrinho de brinquedo. Fonte: Elaborado pelo autor.
Supondo que tais componentes sejam produzidos na própria empresa a
partir de resinas plásticas (corpo e rodas) e arame de aço (eixos), o BOM
do brinquedo poderia ser:
▪ 1. Carro
▪ 1.1. Corpo (1x)
▪ 1.1.1. Resina colorida (300 gr)
▪ 1.2. Eixo montado (2x)
▪ 1.2.1. Eixo (1x)
▪ 1.2.1.1. Arame (15 cm)
▪ 1.2.2. Roda (2x)
▪ 1.2.2.1. Resina preta (50 gr)
Vamos compreender a lógica do BOM, seguindo a estrutura exemplificada:
cada carrinho é composto de 1 corpo e 2 eixos montados. E cada corpo é
produzido utilizando 300 gr de resina colorida (que é uma das matérias-
primas). Além disso, cada eixo montado é composto por 1 eixo e 2 rodas,
sendo que o eixo é fabricado utilizando-se 15 cm de arame, e cada roda
utiliza 50 gr de resina preta (ambos sendo matérias-primas).
Desta forma, cada carrinho produzido utiliza:
▪ 300 gr de resina colorida.
▪ 30 cm de arame (2 x 15 cm).
▪ 200 gr de resina preta (2 x 2 x 50 gr).
Orçamento Empresarial 13
A partir do BOM, podemos desenvolver o plano de matérias-primas,
baseados no conhecimento sobre a produção. Por exemplo, para
atendermos a um volume de 1.000 unidades de carrinho, basta
multiplicar a quantidade de matérias-primas do BOM por 1.000,
resultando, assim, em:
▪ 300 kg de resina colorida.
▪ 300 metros de arame.
▪ 200 kg de resina preta.
Obviamente, trata-se de um cálculo bastante fácil, tendo em vista a
simplicidade do produto. Mas, é fácil perceber o quão complexo isso pode
se tornar: basta imaginar o mesmo exercício considerando, em vez de um
carro de brinquedo, um veículo de verdade. Nesse caso, os itens a serem
calculados são milhares e bem diferentes uns dos outros, demodo que
esse processo só será viável com o uso de sistemas integrados de gestão
para lidar com um volume tão grande de informações. Considerando que
o computador é uma tecnologia relativamente recente, imagine, então, a
dificuldade dos planejadores de compras e produção da fábrica de Henry
Ford no início do século passado: tudo tinha de ser calculado “à mão”.
Além disso, tais cálculos precisam levar em consideração os estoques
já existentes, bem como o estoque que desejamos manter no final do
período, exatamente como vimos no orçamento de produção, o que traz
um grau adicional de complexidade aos cálculos.
Como você deve ter percebido, a construção do orçamento prevê a coleta
de informações diversas (além de estimativas sobre outras), que vão
compondo as diversas peças orçamentárias.
Tais peças se interligam, também, de forma lógica. Por exemplo, a partir
da previsão do volume de vendas, desenvolvemos o orçamento de
receita. Mas é a partir de tais volumes que também estabelecemos o
orçamento de produção e, baseados neles, o orçamento de consumo de
matérias-primas.
Ou seja, as diversas peças orçamentárias vão se desdobrando, prevendo,
planejando e servindo de instrumento de controle e gestão para todos
os setores e atividades da empresa.
Orçamento Empresarial 14
Referências
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produtos. 2 ed. São Paulo: Edgard Blüncher, 2003.
COELHO, F. S.; PONTES, R. M. Orçamento e controle. Rio de Janeiro:
Fundação Getúlio Vargas, 2018.
FREZATTI, F. Orçamento empresarial: planejamento e controle gerencial.
6 ed. São Paulo: Atlas, 2017.
LINSTONE, H. A.; TUROFF, M. The delphi method – techniques and
applications. Information Systems Department, College of Computing
Sciences, New Jersey Institute of Technology, University Heights, 2002,
616p.
LOBATO, D. M.; AZEVEDO, H. M. Orçamento empresarial. Rio de Janeiro:
Fundação Getúlio Vargas, 1994.
OKOLI, C.; PAWLOWSKI, S. D. The delphi method as a research tool:
an example, design considerations and applications. Information &
Management, 42, 2004, p.15-29.
PADOVEZE, C. L.; TARANTO, F. C. Orçamento empresarial: novos conceitos
e técnicas. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009.
ROCHA, H. M.; OLIVEIRA, U. R. Cenários Prospectivos para o
Gerenciamento de Riscos e Incertezas: uma Ferramenta a ser Explorada
pelas Organizações. In: XIII SIMPEP, 2006, Bauru. XIII Simpósio de
Engenharia de Produção. Bauru: UNESP-FEB, 2006. Anais...
SCOTT, G. M. An empirical analysis of advanced technology – new product
development issues, 1998. Proceedings of the Thirty-First Hawaii
International Conference on System Sciences, v. 6, jan. p.15-22. 1998.
VERGARA, S. Métodos de pesquisa em administração. São Paulo: Atlas,
2005.
Orçamento Empresarial 15
Orçamento Empresarial
Orçamento Empresarial 2
Desenvolvimento do material
Henrique Martins Rocha
1ª Edição
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Sumário
Orçamento Empresarial 2
Para início de conversa… ................................................................................ 3
Objetivo ......................................................................................................... 3
1. Orçamento de Compras de Matérias-primas ...................................... 4
2. Orçamento de Custo de Mão de Obra ................................................... 13
3. Orçamento de Custos Indiretos ............................................................... 15
Referências ......................................................................................................... 17
Para início de conversa…
A dinâmica envolvida na produção de bens e serviços é composta por
uma intrincada composição de fatores e fenômenos diversos. A empresa
precisa receber insumos específicos, na quantidade e momentos
necessários e utilizar a sua estrutura física composta por máquinas,
equipamentos e instalações, bem como mão de obra apropriada, para
transformar os insumos nos produtos que serão comercializados e
chegarão aos consumidores.
Mas isso não é um processo fácil, pois envolve, a partir da previsão de
demandas dos diferentes produtos, estabelecer os recursos necessários
para atendê-las. Por exemplo, quais insumos são necessários, quanto
já dispomos deles, qual a quantidade de mão de obra necessária
para executar tais processamentos dos insumos, que outros recursos
utilizaremos etc. são alguns questionamentos que surgem no
planejamento do ciclo produtivo. Mas, principalmente, é preciso
converter tais informações em dados numéricos, em especial, em valores
monetários, para compor, junto ao orçamento das receitas, o instrumento
de gestão (planejamento e controle) das variáveis que estabelecerão os
resultados operacionais da organização.
E é isso que veremos aqui, abordando o orçamento de compra de
matérias-primas, mão de obra direta e custos indiretos.
Objetivo
Elaborar os orçamentos: compras matérias-primas, custo de mão de
obra, custos indiretos.
Orçamento Empresarial 3
1. Orçamento de Compras de Matérias-primas
A produção de bens depende da utilização de insumos diversos: energia,
água, matérias-primas etc. E, obviamente, a quantidade dos insumos
depende do volume a ser produzido. Por exemplo, se a produção de uma
cadeira exige o uso de 0,1 lata de verniz para acabamento, a produção
de 1.000 cadeiras utilizaria 1.000 x 0,1 = 100 latas de verniz.
Dessa forma, as empresas precisam não somente planejar a sua
produção, isto é, que produtos produzir, em que quantidade e quando,
mas, também precisam planejar seus insumos necessários, de tal forma
que possam planejar a aquisição e estocagem dos mesmos, em especial,
peças, componentes e matérias-primas (FREZATTI, 2017).
Nesse sentido, a vinculação entre as necessidades das matérias-primas
e suas aquisições parece ser óbvia: compramos o que precisamos, na
quantidade que precisamos e quando precisamos. Mas, não é tão simples
assim, por razões diversas:
▪ As matérias-primas usualmente têm unidades mínimas não
fracionáveis. Por exemplo, se um fabricante de barras de aço que
abastece o mercado com varas de 5 metros, não temos como comprar
dele um total de 103 metros de barra de aço, mesmo que essa seja a
nossa necessidade: compramos 100 metros (20 barras) ou 105 metros
(21 barras).
▪ Além disso, é comum a existência de lotes mínimos de fornecimento
por parte dos fabricantes. Isso acontece por razão de limitações no
processo produtivo (o set-up das máquinas e equipamentos pode
ser excessivamente demorado e complexo para justificar a produção
de lotes pequenos de produção), por razões de padronização de
embalagem (quando, por exemplo, a matéria-prima é fornecida em
cestos, engradados, fardos etc.) ou por limitações no próprio processo
de comercialização: o custo administrativo de processamento dos
pedidos pode se tornar proibitivo para quantidades pequenas.
▪ Também, em condições específicas, pode haver um limite de
volume máximo a ser fornecido: limitações logísticas/de transporte,
limites na capacidade produtiva de subfornecedores, situações de
desabastecimento (que pode levar os fornecedores a contingenciar
os volumes das entregas, garantindo que todos os seus clientes
recebam, ao menos parcialmente, os insumos necessários a manter
suas operações) etc.
Observe que, no exemplo das barras de aço, elas podem ser fornecidas,
por exemplo, em amarrados de 10 barras fixadas com contas de aço
e um lote mínimo de 30 barras (3 conjuntos cintados com 10 barras
cada). Ou seja, nesse caso, ainda que nossa necessidade fosse de
somente 103 metros, precisaríamos adquirir o equivalente a 300
metros de barras de aço.
Orçamento Empresarial 4
Você deve estar se perguntando: mas se eu adquirir 300 metros de
barras, mas só utilizarei103 metros, o que faço com o resto? Bem, não
há uma resposta única para tal situação:
▪ Se houver perspectiva de utilizar tal material no futuro, as “sobras”
devem permanecer estocadas até o momento do uso (desde que
não seja um material perecível, ou de vida de prateleira limitada
como tintas, vernizes, cola etc.). Tal alternativa, obviamente, gera um
impacto sobre o inventário e, consequentemente, sobre os giros da
empresa, mas pode ser a alternativa menos traumática.
▪ Podemos fazer uma pesquisa para identificar a possibilidade de
comprar de distribuidores ou fracionadores, de quem poderíamos
comprar quantidades menores, ainda que a um custo unitário maior.
Por exemplo, se o amarrado com 10 barras comprado diretamente
do fabricante tiver um custo de R$ 1.000,00 (ou seja, R$ 100,00 por
barra), enquanto a barra unitária vendida por um distribuidor custa
R$ 130,00, a compra do lote mínimo de barras do fabricante nos
custaria 3 x 1.000 = R$ 3.000,00, ao passo que comprando 21 barras
do distribuidor, isso representaria somente 21 x 130 = R$ 2.730,00
(uma economia de 9%, apesar do custo unitário da barra ser 30%
superior).
▪ Existe, ainda, a possibilidade de compras solidárias, isto é, mais de
uma empresa comprando do fabricante, de forma a partilharem as
quantidades de um lote mínimo e os custos de aquisição. Trata-se
de um processo, no em tanto, que adiciona certa complexidade no
processo de compra em si, bem como na logística de entrega.
▪ Também, de forma a atenuar os impactos da compra em excesso,
pode ser desenvolvido o processo de venda das sobras. No entanto,
trata-se, usualmente, de um processo complexo por não estar ligado
à atividade principal da empresa, além do fato de que os preços de
revenda não costumam ser atrativos.
▪ Por último, pode ser processada a baixa do material excedente, o que
representa um impacto nos resultados da empresa.
Dessa forma, como você pode perceber, são muitos aspectos a serem
analisados e muitas variáveis envolvidas. Porém, há, ainda, mais fatores
a serem considerados. Por exemplo, a existência de um estoque inicial e/
ou a intenção de não exaurir totalmente o material ao fim da produção
(ou seja, gerar um estoque final, diferente de zero). Por exemplo, na
situação das barras de aço, se dispuséssemos de 2 barras em estoque,
nossa real necessidade seria de 103 – (2 x 5) = 93 metros (ou seja, 18,6
≈ 19 barras).
Se, além disso, quiséssemos manter um estoque residual de 5 barras
após produzida a quantidade planejada, a quantidade a ser adquirida
deveria ser de 19 + 5 = 24 barras. A decisão de prever uma “sobra” está
usualmente relacionada ao conceito de estoque de segurança (também
conhecido como estoque mínimo), isto é, haver a cobertura para
eventuais variações na demanda: ainda que isso cause um aumento no
Orçamento Empresarial 5
nível médio de estoque e, consequentemente, no custo de manutenção
de estoques, tais impactos costumam ser menores do que as eventuais
perdas de vendas e insatisfações de clientes por incapacidade de atender
a demandas por falta de matérias-primas.
Observe o gráfico a seguir. Nele, você pode identificar o tempo
transcorrido entre o momento do pedido e o efetivo recebimento do
material adquirido, ou seja, o Lead Time (LT) de recebimento.
Gráfico 1: Variação de estoque ao longo do tempo. Fonte: Elaborado pelo autor.
Estoque
tL T
No entanto, se houver uma aceleração na demanda, isto é, se o
consumo se tornar mais intenso, há o risco de desabastecimento,
não sendo possível atender aos clientes até que seja recebido mais
material, como mostrado a seguir:
Gráfico 2: Variação de estoque ao longo do tempo, com período de desabastecimento.
Fonte: Elaborado pelo autor.
A previsão de um estoque de segurança (ES) é a solução normalmente
utilizada para reduzir tal risco: é previsto uma sobra proposital de
estoque, o qual supriria as necessidades até o recebimento do novo lote
de material, como mostrado a seguir:
Estoque
tL T
Orçamento Empresarial 6
Gráfico 3: Variação de estoque ao longo do tempo, com estoque de segurança.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Também pode ser previsto um tamanho de lote de produção específico,
baseado nos custos totais. Nesse caso, considera-se que, se por um lado,
o aumento do tamanho dos lotes faz com que haja um aumento no custo
de manutenção de estoques (pois mais material fica “parado” por mais
tempo, aguardando que os lotes se completem). Por outro lado, há um
melhor aproveitamento dos processos administrativos de compras ou do
set-up de produção, visto que, a partir do mesmo processo ou do mesmo
set-up, mais unidades serão produzidas ou adquiridas. Isto é, caminham
em direções opostas e a composição que apresenta e menor custo
total (somatório do custo de manutenção de estoque com o custo do
processamento de pedidos ou de produção pode ser calculado mediante
a equação de lote econômico, apresentada a seguir (MOREIRA, 2009).
Estoque
tL T
{E S
Sendo:
Q - o tamanho do lote econômico (em quantidade de unidades de
produto).
D - o demanda no período analisado (por exemplo, anual ou mensal).
Cp - o custo unitário do processamento do pedido (incluindo o gasto
com mão de obra indireta necessária ao processamento).
Ce - o custo unitário de estocagem ao longo do tempo analisado (na
forma de um valor fixo, ou como percentual do valor do item).
Vamos tomar como exemplo a seguinte situação: o produto XYZ é
adquirido e estocado, representando um custo unitário de inventário
de R$ 120,00. O custo do processamento do pedido de compras
e recebimento do material (entrar em contato com o fornecedor,
solicitar cotação, receber a mesma, emitir ordem de compra, fazer
acompanhamento, receber, conferir e armazenar o material, processar a
fatura para atualização dos controles de inventário e para programar
contas a pagar etc.), é de R$ 100,00.
2. . p
e
D C
Q
C
=
Orçamento Empresarial 7
Supondo uma demanda anual de 1.200 unidades e que o custo de
oportunidade de manutenção do estoque seja de 20% a.a., substituímos
os valores na equação:
Ou seja, deveríamos comprar o item XYZ em lotes de 100 unidades de
cada vez (ou seja, 12 lotes anuais de 100 unidades cada). Tal composição
representaria o seguinte custo total anual:
▪ Como seriam emitidos 12 pedidos no ano, o custo total administrativo
seria de 12 x R$ 100 = R$ 1.200,00.
▪ Recebendo lotes de 100 unidades, teríamos ao longo do ano um
estoque médio equivalente a 50 unidades (lembre-se de que
receberíamos 100 unidades, as quais seriam consumidas ao longo do
mês, até “zerar” o estoque, quando haveria o recebimento de novo lote
de 100. Isto é, a quantidade estocada variaria continuamente entre 0
e 100 unidades); daí a média de 50), desconsiderando algum eventual
estoque de segurança.
▪ Podemos dizer, assim, que teríamos em média o equivalente de 50
unidades do XYZ em estoque ao longo do ano, isto é 50 x 120 = R$
6.000,00, Considerando o custo de oportunidade de 20% a.a., isso
representaria um gasto anual de 0,2 x 6.000 = R$ 1.200,00.
2 1.200 100 100
0,2 120
x xQ
x
= =
Assim sendo, o custo total anual com o XYZ, além do próprio custo de
aquisição do mesmo (1.200 x 120 = R$ 144.000,00) seria de R$ 1.200,00
para processamento dos pedidos e mais R$ 1.200,00 de custo de
manutenção de estoques, totalizando R$ 2.400,00 ao ano.
O que aconteceria se optássemos por trabalhar com tamanhos de lote
diferentes do lote econômico? Bem, vamos supor que, preocupados com
o elevado custo de manutenção do estoque, resolvêssemos trabalhar
com lotes menores, por exemplo, 60 unidades. Nessa nova situação,
nosso estoque médio passaria a ser de 60/2 = 30 unidades do XYX, ou 30
x 120 = R$360,00, o que, considerando o custo de oportunidade de 20%
a.a. implicaria em 0,2 x 360 = R$720,00 por ano. Uma redução no custo
de manutenção de estoque, de fato, bastante significativa.
No entanto, lotes menores de compra representariam que precisaríamos
comprar com maior frequência, istoé, processar uma maior quantidade
de pedidos por ano. Com a demanda anual de 1.200 unidades,
precisaríamos processar 1.200 ÷ 60 = 20 pedidos/ano, a um custo total
de 20 x 100 = R$ 2.000.
Observe, então, que, apesar da redução do custo de manutenção do
estoque, houve um salto significativo no custo anual de processamento
de pedidos, e o custo total passou a ser de 720 + 2.000 = R$ 2.720,00
(13,3% superior ao que teríamos se mantivéssemos as compras em
quantidades de acordo com o lote econômico calculado.
Orçamento Empresarial 8
Obviamente, o contrário também ocorre: um aumento no lote de compra,
passando, por exemplo, para 120 unidades, reduziria o custo anual de
processamento de pedidos (10 pedidos, ao custo de R$ 100,00 representa
um total de R$1.000,00), mas aumentaria o custo de manutenção de
estoques (estoque médio de 60 unidades, ou R$ 7.200,00, a 20% a.a.
significaria um custo anual de manutenção de estoques de 0,2 x 7.200 =
R$ 1.440,00), de tal forma que o custo total anual superaria o custo se
fosse utilizado o lote econômico.
Tal fenômeno pode ser observado no gráfico a seguir:
Gráfico 4: Variação dos custos em função do tamanho do lote de compra.
Fonte: Elaborado pelo autor.
R$ 7.000
R$ 6,000
R$ 5.000
R$ 4.000
R$ 3.000
R$ 2.000
R$ 1.000
R$
20 60
Custo do pedido
Custo de manutenção
do estoque
Custo Total
Variação do custo em função do tamanho do lote
100 140 180 220 260 300
É perceptível que os lotes pequenos implicam em baixos custos
de manutenção de estoque, o que é óbvio, pelo fato de que pouco
material permanece estocado (ou seja, é pouco “dinheiro parado”). No
entanto, a compra frequente faz com que o custo total dos processos
administrativos seja bastante elevado.
Por outro lado, lotes “grandes” têm efeito oposto, com aumento do custo
de manutenção de estoques e diminuição no custo dos pedidos. Dessa
forma, não devemos nos preocupar com tais custos de forma isolada,
mas sim em identificar o ponto ótimo de custo total. Como se pode ver,
há um ponto de inflexão no mesmo, quando trabalhamos com o lote
econômico calculado (100 unidades do XYZ) e temos o menor custo
total possível nessas condições: R$ 2.400,00/ano.
Vamos discutir e exemplificar todas as situações discutidas em uma
empresa fictícia: uma fábrica de roupas, a Shorts & Shirts, que produz
camisas e shorts. Para efeito de simplificação, vamos assumir que as
peças são de tamanho único e que utilizam um único tecido para cada
produto e uma única linha para costura, como mostrado a seguir.
Tecido para camisas:
Unidade: rolo de 50 metros
Unidade de compra: rolo unitário
Lote mínimo de compra: 5 rolos
Quantidade por camisa: 0,02 rolo
Custo do rolo: R$ 100,00
Orçamento Empresarial 9
Lote econômico: 10 rolos
Estoque inicial: 50 rolos
Tecido para shorts:
Unidade: rolo de 50 metros
Unidade de compra: par de rolos
Lote mínimo de compras: 10 pares de rolos
Quantidade por short: 0,01 rolo
Custo do rolo: R$ 150,00
Lote econômico: 6 pares de rolo
Estoque inicial: 30 rolos (15 pares)
Linha:
Unidade: carretel de 20 metros
Unidade de compra: pacote com 10 carretéis
Lote mínimo de compras: 10 pacotes
Quantidade por camisa: 0,01 carretel
Quantidade por short: 0,02 carretel
Custo do carretel: R$5,00
Lote econômico: 20 pacotes
Estoque inicial: 100 carretéis (10 pacotes)
Também para efeito de simplificação, vamos assumir que a empresa
não prevê sobras de materiais. Vamos ver, então, quais deveriam ser os
volumes comprados a cada mês, tendo por base as demandas mensais
de cada produto.
Mês
Demanda prevista Estoque
inicial
Compra
(rolos) Estoque final
peças rolos
1 1000 20 50 0 30
2 1200 24 30 0 6
3 1400 28 6 22 0
4 800 16 0 16 0
5 1100 22 0 22 0
Tabela 1: Previsão de demanda e planejamento de compras de tecido para camisas.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Repare que o estoque inicial era suficiente para que as compras só
fossem necessárias a partir do 3º mês. E as necessidades eram superiores
ao lote mínimo de compras (5 rolos).
Considerando o lote econômico de 10 rolos, as compras poderiam
ocorrer, então, em sequências de 6 lotes (60 rolos), para atender o plano
previsto (11 + 16 + 22 = 60 rolos). Vamos ver, agora, a situação dos shorts.
Orçamento Empresarial 10
Mês
Demanda prevista Estoque
inicial
Compra
(pares) Estoque final
peças rolos pares
1 1500 15 7,5 15 0 7,5
2 2100 21 10,5 7,5 10 7
3 1800 18 9 7 10 8
4 1450 14,5 7,25 8 0 0,75
5 1780 17,8 8,9 0,75 10 1,85
Tabela 2: Previsão de demanda e planejamento de compras de tecido para shorts.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Repare que, neste caso, como o lote mínimo é superior ao lote econômico,
a empresa fica limitada a comprar em quantidades maiores do que seria
o mais econômico para ela, ou seja, 10 pares de rolo ao invés de 6. Note,
também, que já não foi mais possível terminar os períodos com estoque
zero.
E, agora, vamos calcular as demandas acumuladas de linha para as
camisas e shorts e, a partir das demais informações, planejar as compras,
como mostrado na tabela a seguir:
Mês
Demanda prevista
Estoque
inicial
Compra
(pacotes)
Estoque
final
camisas carretéis shorts carretéis Total pacotes
1 1000 10 1500 30 40 4 10 0 6
2 1200 12 2100 42 54 5,4 6 0 0,6
3 1400 14 1800 36 50 5 0,6 20 15,6
4 800 8 1450 29 37 3,7 15,6 0 11,9
5 1100 11 1780 35,6 46,6 4,66 11,9 0 7,24
Tabela 3: Previsão de demanda e planejamento de compras para linha.
Fonte: Elaborado pelo autor.
No caso da linha, foi possível planejar as aquisições de acordo com o
lote econômico (20 pacotes). Ainda que tenha gerado uma sobra, como
discutimos anteriormente, a redução no custo administrativo com a
aquisição compensa tal impacto no custo de manutenção de estoques,
resultando, portanto, em um menor custo total.
Vamos, agora, consolidar as informações, para composição do orçamento
de compras de matérias-primas para atender à produção e demanda até
o quinto mês.
Orçamento Empresarial 11
Mês
Tecido camisa Tecido short Linha
Total
qde Valor qde Valor qde Valor
1 0 R$ - 0 R$ - 0 R$ - R$ -
2 0 R$ - 10 R$ 1.500,00 0 R$ - R$ 1.500,00
3 22 R$ 2.200,00 10 R$ 1.500,00 20 R$ 100,00 R$ 3.800,00
4 16 R$ 1.600,00 0 R$ - 0 R$ - R$ 1.600,00
5 22 R$ 2.200,00 10 R$ 1.500,00 0 R$ - R$ 3.700,00
Tabela 4: Orçamento de compras de matérias-primas. Fonte: Elaborado pelo autor.
Importante notar que, as indicações de mês 1, mês 2 etc., não
necessariamente significam que as compras ocorrerão dentro do próprio
mês. Na verdade, o que vemos na Tabela 4, é a previsão de quantidades a
serem compradas e cada item e quanto isso representaria, mas o “quando”
tais compras ocorreriam dependerá das políticas de compras da própria
empresa, bem como do lead time dos fornecedores. Por exemplo, se a
compra ocorrer um mês antes da necessidade de uso, as quantidades e
valores apresentados seriam refletidos nos meses 0, 1, 2, 3 e 4.
Também é importante destacar que os valores não representam
necessariamente desembolsos: isso dependerá, obviamente, de quando
a compra ocorrerá, bem como das condições de vendas estabelecidas
pelos fornecedores. Por exemplo, se os fornecedores fazem as vendas
com 50% a serem pagos com 30 dias e o restante com 60 dias, teríamos
a seguinte situação:
Mês Compras Pagamento Fornecedores
0 R$ - R$ - R$ -
1 R$ 1.500,00 R$ - R$ -
2 R$ 3.800,00 R$ 750,00 R$ 750,00
3 R$ 1.600,00 R$ 2.650,00 R$ 1.900,00
4 R$ 3.700,00 R$ 2.700,00 R$ 800,00
5 ???? R$ 2.650,00 R$ 1.850,00
Tabela 5: Orçamento de pagamentos das matérias-primas. Fonte: Elaborado pelo autor.
Isto é, para a produção do mês 2, necessitamos de R$ 1.500,00 em
matérias-primas (vide Tabela 4), que seria adquirida no mês 1. Metade
do valor (R$ 750,00) seria pago em 30 dias (mês 2) e metade com 60
Orçamento Empresarial 12
dias (mês 3), sendo lançado, então como “Fornecedores” (contas a pagar).
E no mês 2, compraríamos mais R$ 3.800,00, que seguiriam a mesma
lógica.
Dessa forma, no mês 4, os R$ 750,00 pagos no mês 3