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<p>FUNDAMENTOS DO TURISMO</p><p>AULA 2</p><p>Prof. Ewerton Lemos Gomes</p><p>2</p><p>CONVERSA INICIAL</p><p>Os fundamentos do turismo não se restringem somente aos fatos</p><p>históricos, teorias ou estruturas do turismo. Estudar os “fundamentos” de um</p><p>conteúdo também é compreender que pertence ao mundo e aos acontecimentos</p><p>do planeta.</p><p>O objetivo geral desta etapa é compreender como a sustentabilidade está</p><p>inserida no turismo, contextualizando suas relações com o mundo e com as</p><p>viagens, entender que a sustentabilidade não pode ser pautada somente por um</p><p>“pensamento verde”, mas que deve ser estendida a toda uma gama de ações</p><p>em nosso cotidiano, seja como planejadores do turismo ou turistas.</p><p>Os pontos estruturais desta etapa serão abordados de forma a</p><p>complementar o entendimento sobre o conceito e a aplicação do pensamento</p><p>sustentável no turismo. São tópicos desta etapa: sustentabilidade e turismo,</p><p>bases e histórico da sustentabilidade, turismo sustentável, premissas e</p><p>condicionantes de turismo sustentável e, por fim, responsabilidade</p><p>socioambiental no turismo.</p><p>CONTEXTUALIZANDO</p><p>Imagine um mundo em que o conceito de sustentabilidade não tivesse</p><p>sido inventado. Parece estranho pensar em algo assim, uma vez que somos</p><p>constantemente bombardeados por informa��ões sobre movimentos</p><p>sustentáveis, ações para salvar o planeta, dicas de economia de água e luz etc.</p><p>tudo em prol de um bem maior: salvar o planeta.</p><p>No entanto, a pergunta que nos leva a pensar todos os dias sobre o que</p><p>é ser sustentável deve ser mais profunda. É necessário desmistificar alguns</p><p>conceitos e fundar bases para entender o real paradigma da sustentabilidade,</p><p>dar uma forma ao pensamento e colocar as ações sustentáveis em prática.</p><p>Iniciamos esta etapa com os questionamentos: Até onde vai a</p><p>sustentabilidade? O que envolve e dita os atos sustentáveis? Essas são duas</p><p>reflexões que devem ser pensadas ao longo do que será discutido nos</p><p>parágrafos a seguir.</p><p>Ainda pensando na questão da sustentabilidade, quero que vocês reflitam</p><p>sobre mais uma pergunta: O que é ser sustentável no turismo? Vamos nos apoiar</p><p>em algumas reflexões do nosso dia a dia para responder a essa questão.</p><p>3</p><p>Atentem-se para o que vocês já fazem de forma sustentável e juntem isso com</p><p>as informações que serão apresentadas nos tópicos seguintes.</p><p>TEMA 1 – SUSTENTABILIDADE E TURISMO</p><p>A relação entre sustentabilidade e turismo não é nova. As discussões</p><p>sobre esses temas têm vigorado desde o estabelecimento de agendas</p><p>sustentáveis no mundo, tal como a ECO 92 (ou Rio 92) – Conferência das</p><p>Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento que foi realizada no</p><p>Rio de Janeiro (Born, 1992). O turismo foi considerado por alguns teóricos como</p><p>uma atividade limpa, chamado até mesmo de “a indústria sem chaminés”, hoje</p><p>há um consenso de que não é bem assim, apesar de o turismo poluir muito</p><p>menos do que outras atividades econômicas.</p><p>Apesar de toda essa sincronicidade entre as temáticas, é válido destacar</p><p>que o turismo sustentável não pode ser resumido somente ao meio ambiente.</p><p>Ser sustentável e aplicar o conceito de sustentabilidade ao turismo vai muito</p><p>além do verde. Hanai (2012) destaca que o desenvolvimento do turismo sempre</p><p>foi pautado por reflexões que envolveram a sustentabilidade, seja por meio de</p><p>críticas a modos massificados de turismo ou valorização cultural de povos</p><p>receptivos. O turismo se apresenta como uma atividade econômica que deve ser</p><p>pautada a todo momento pela sustentabilidade.</p><p>Um exemplo que pode ser trazido para pensar essa relação são os</p><p>passeios ecológicos educativos, desde a escola, somos levados inúmeras vezes</p><p>a fazendas ou parques, nessas visitas, sempre procuram nos ensinar a respeitar</p><p>o meio ambiente, os animais, as pessoas que moram no lugar e os modos de</p><p>vida; essa situação embrionária já começa a gerar um pensamento sobre a</p><p>importância da sustentabilidade no turismo (Hanai, 2012).</p><p>Ainda nesse caminho sobre a sustentabilidade e o turismo, deve-se</p><p>estabelecer uma consciência de que sustentabilidade não pode ser restrita ao</p><p>ambiente (pré-conceito amplamente divulgado). A sustentabilidade se apoia em</p><p>três pilares distintos: ambiental, econômico e social (Buarque, 2004).</p><p>O grande desafio do turismo é fazer com que nenhum desses pilares saia</p><p>prejudicado na operacionalização da atividade. Não se pode “pender” para</p><p>nenhum dos lados, visto que, se um deles for considerado mais ou menos</p><p>importante, a estrutura do desenvolvimento turístico sustentável será abalada.</p><p>4</p><p>Desta forma, o conceito de sustentabilidade no turismo deve ser</p><p>operacionalizado com o intuito de gerar “uma maior equidade social, um nível</p><p>elevado de conservação ambiental e uma maior racionalidade (eficiência)</p><p>econômica” (Hanai, 2012, p. 200). Adequar a atividade turística aos três pilares</p><p>é um desafio bastante grande para os planejadores, tendo em vista uma</p><p>sociedade que busca cada vez mais lucro em detrimento dos demais pilares.</p><p>Algo a se ressaltar nessa relação de longa data entre turismo e</p><p>sustentabilidade é o papel do profissional de turismo. O profissional de turismo</p><p>deve compreender que o turismo é, como já falamos em conteúdo anterior, um</p><p>sistema amplo e aberto. Se alguma das partes for prejudicada pelo mau</p><p>planejamento de ações sustentáveis, todo o sistema será abalado, logo, haverá</p><p>uma falsa sensação de dever cumprido e uma fragmentação que não atenderá</p><p>aos objetivos reais da sustentabilidade (Leff, 2002).</p><p>Ainda que sejam boas as intenções de um profissional de turismo ao</p><p>aplicar o conceito de sustentabilidade ao seu empreendimento ou destino, é</p><p>necessário que haja clareza dos impactos para todos os envolvidos. Desta</p><p>forma, é importante exemplificar algumas ações que devem ser fontes</p><p>inspiradoras para um trabalho pautado pela sustentabilidade, sendo elas:</p><p>“justiça social, redução de desigualdades, crescimento econômico</p><p>planejado, [...] redução da degradação ambiental e conservação ambiental;</p><p>usos e manejos conscientes e adequados dos recursos, participação</p><p>efetiva da sociedade na tomada de decisões” (HanaI, 2012, p. 201, grifo</p><p>nosso).</p><p>Caso essas ações sejam seguidas com afinco, são grandes as chances</p><p>de se aproximar de uma relação positiva entre o turismo e a sustentabilidade,</p><p>entendendo que ela deve permear amplamente todo o processo de</p><p>planejamento e execução do turismo. Cabe, por fim, ao profissional de turismo,</p><p>entender que a sustentabilidade não deve ser um conceito de vitrine, é preciso</p><p>encarar a heterogeneidade da atividade, dos desafios e colocar a</p><p>sustentabilidade em prática frente ao também complexo desenvolvimento</p><p>turístico.</p><p>TEMA 2 – BASES E HISTÓRICO DA SUSTENTABILIDADE</p><p>O conceito de sustentabilidade não veio pronto ou foi definido por um</p><p>único autor. As bases e a história da sustentabilidade – não só no turismo –</p><p>5</p><p>datam de uma longa reflexão sobre como criar uma relação harmoniosa entre o</p><p>homem e o planeta.</p><p>2.1 Histórico do conceito</p><p>Se voltarmos ao início dos tempos, encontraremos em textos gregos e</p><p>medievais algumas das reflexões sobre o homem e a natureza, mas não é essa</p><p>a nossa intenção. Avançaremos um pouco no tempo e começaremos a discutir</p><p>as bases e o histórico de formação a partir de acontecimentos da era moderna.</p><p>O histórico da discussão sobre o conceito de sustentabilidade emergiu</p><p>após a Revolução Industrial, ainda que houvesse uma preocupação com o</p><p>planeta, a ideia de que os recursos naturais eram finitos só surgiu após uma</p><p>percepção de que o meio ambiente estava em risco.</p><p>Os primeiros marcos de discussão sobre a sustentabilidade datam das</p><p>Conferências das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em</p><p>Estocolmo (Suécia) em 1972. Essa conferência lançou bases de reflexão para</p><p>um pensamento sustentável e buscou criar um ambiente de discussão frente aos</p><p>problemas do planeta.</p><p>Seguindo o caminho de</p><p>discussões sobre o ambiente, em 1983, a</p><p>Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento gerou o Relatório</p><p>de Brundtland em que usou, pela primeira vez, o conceito de “desenvolvimento</p><p>sustentável”. Posteriormente, a discussão ganhou novos ares durante a</p><p>Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento –</p><p>ECO 92/Rio 92, realizada no Rio de Janeiro em 1992.</p><p>Ao final da conferência foram lançadas as 21 proposições, conhecidas</p><p>como Agenda 21, o histórico foi findado recentemente a partir das reflexões</p><p>sobre o conceito de sustentabilidade e seus desdobramentos com a Conferência</p><p>de Kyoto, em 1997, em que foi firmado o protocolo de Kyoto, que discorre sobre</p><p>a redução da emissão de gases de efeito estuda na atmosfera (Hanai, 2012;</p><p>Sachs, 2002; Boff, 2017).</p><p>O histórico ainda foi expandido com encontros posteriores, ocorridos com</p><p>o estabelecimento de metas para o desenvolvimento sustentável, criando, assim,</p><p>a Agenda 2030 (Figura 1), composta por 17 objetivos que abarcam as bases e</p><p>metas para a implementação da sustentabilidade no planeta, o compromisso de</p><p>construção dessas metas foi firmado durante a Rio +20, realizada em 2012,</p><p>encerrando sua construção coletiva das metas em 2015 (Boff, 2017).</p><p>6</p><p>Figura 1 – Agenda 2030</p><p>Fonte: Nações Unidas Brasil, 2021. .</p><p>Todas essas discussões podem ser paralelamente acompanhadas pelo</p><p>setor do turismo. Estabelecer metas mundiais de desenvolvimento sustentável</p><p>também criou um novo paradigma para a atividade turística. O paralelo com a</p><p>sustentabilidade trouxe naturalmente uma divisão entre o turismo industrial e o</p><p>pós-turismo, caracterizado pela diminuição dos impactos negativos, afinal, agora</p><p>há uma agenda a ser seguida. Isso permitiu que a atividade tomasse novos</p><p>rumos e fossem desenvolvidas, de maneira mais consciente, atentando a novos</p><p>modelos de turismo, pautados na valorização do ambiente natural, como o</p><p>ecoturismo, turismo rural e outras derivações.</p><p>Ao refletir sobre a trajetória histórica das agendas mundiais de</p><p>preservação ambiental, percebe-se a importância do conceito de</p><p>sustentabilidade para o turismo (Azevedo-Irving et al., 2005).</p><p>2.2 Bases da sustentabilidade</p><p>Definir o conceito de sustentabilidade é uma tarefa bastante complicada</p><p>devido às várias faces e frentes teóricas que se apropriam do termo. Tendo isso</p><p>em mente, discutiremos algumas das bases desse conceito, buscando uma</p><p>reflexão que leve em conta as necessidades do turismo e a aplicabilidade do</p><p>conceito na atividade.</p><p>É válido lembrar que a sustentabilidade não pode ser restrita ao verde,</p><p>isto é, meio ambiente, em uma concepção mais ampla, as bases da</p><p>7</p><p>sustentabilidade devem estar pautadas no tripé social, econômico e ambiental,</p><p>conforme indica a Figura 2 (Hanai, 2012).</p><p>Além disso, a base para entender a sustentabilidade está contida em</p><p>princípios, ou seja, no desenvolvimento de sistemas sustentáveis com objetivos</p><p>claros, considerando que tudo está interligado e merece a devida atenção de</p><p>acordo com os contextos vigentes. Em outras palavras, sustentabilidade está</p><p>ligada à capacidade de transformar e adaptar, permitindo que o conceito flua e</p><p>encontre no meio uma forma de evoluir, coproduzir e sustentar os sistemas</p><p>naturais (Jiménez-Herrero, 2006). Na Figura 2, podemos ver com mais clareza</p><p>o que cada área da tríade da sustentabilidade representa.</p><p>Figura 2 – Tripé da sustentabilidade: união sustentável entre sociedade,</p><p>economia e meio ambiente</p><p>Fonte: Grupo de pesquisa RECICLOS/CNPq-UFOP, 2021.</p><p>O conceito de sustentabilidade apresenta muitas bases além das já</p><p>citadas, no entanto, as ações para que a sustentabilidade ocorra é que fazem</p><p>com que o conceito seja aplicável. Sachs (2002) define oito tipos de</p><p>sustentabilidade: 1) social, 2) cultural, 3) ecológica, 4) ambiental, 5) territorial, 6)</p><p>8</p><p>econômica, 7-8) política (nacional e internacional) cada uma destas com uma</p><p>ampla gama de bases e objetivos que devem ser buscados com o intuito de uma</p><p>“sustentabilidade maior” (Hanai, 2012).</p><p>O que importa esclarecer é que deve haver um pensamento holístico</p><p>quando tratamos do conceito de sustentabilidade alinhado ao turismo. Pensar</p><p>num todo, composto de pequenas partes que não podem ser impactadas de</p><p>forma desigual. Só assim entenderemos que as bases devem ser sólidas nas</p><p>três áreas a fim de alcançar um bem comum e uma atividade turística realmente</p><p>sustentável.</p><p>TEMA 3 – TURISMO SUSTENTÁVEL</p><p>Agora que já entendemos um pouco sobre o que é a sustentabilidade,</p><p>vamos nos debruçar sobre o conceito e a operacionalização do chamado turismo</p><p>sustentável. Um desdobramento da atividade turística que deve ser encarado</p><p>como parte integrante de toda e qualquer atividade desenvolvida em um destino,</p><p>afinal, é importante buscar ser sustentável em tudo que fizermos como</p><p>planejadores ou turistas.</p><p>Por definição, o turismo sustentável é aquele que “atende às</p><p>necessidades dos turistas de hoje e das regiões receptoras, ao mesmo tempo</p><p>em que protege e amplia oportunidades para o futuro” (OMT, 2003, p. 24). O</p><p>conceito proposto pela Organização Mundial do Turismo é bastante geral em</p><p>questões de abrangência, mas é preciso ter em mente o que o conceito acarreta</p><p>ao se pensar em cada parte do desenvolvimento sustentável, isto é, atender aos</p><p>anseios e necessidades que estejam alinhadas ao tripé sustentável (Hanai,</p><p>2012; Silva-Melo; Silva; Sales-Melo, 2021).</p><p>Exercer uma atividade turística sustentável é compreender que sempre</p><p>será necessário atender aos desejos do mercado (lucro), da sociedade (bem-</p><p>estar social) e do meio ambiente (preservação). Se focarmos nossa atenção</p><p>nesses três pontos, teremos um começo bastante positivo para entender o que</p><p>é o turismo sustentável.</p><p>Como não estamos falando de um tipo de turismo, mas de uma “ação</p><p>turística”, é válido destacar que esse conceito pode ser expandido para outras</p><p>áreas em que o turismo se desenvolve e afeta, tais como movimentos culturais,</p><p>históricos e religiosos (Candiotto, 2009).</p><p>9</p><p>Ainda que se busque um horizonte sobre como operacionalizar o turismo</p><p>sustentável, ainda existem muitas visões sobre o que ele realmente representa.</p><p>Autores como Swarbrooke (2000) defendem a tese de que o conceito não tem</p><p>uma definição única.</p><p>Para isso, o autor cita outros pesquisadores, Dowers (1965) falava sobre</p><p>o impacto do tempo livre, Young (1973) discutiu os efeitos negativos do turismo,</p><p>Mathieson e Wall (1982) abordaram os impactos do turismo, Murphy (1985)</p><p>debruçou-se sobre a interação entre turismo e comunidades locais, Krippendorf</p><p>(1987) refletiu sobre o impacto do turismo na visão do turista (Swarbrooke, 2000).</p><p>Todos os autores citados contribuíram para as discussões em torno da</p><p>sustentabilidade no contexto do turismo. Para autores mais contemporâneos,</p><p>como Butler (1989) e Milne (1998), as proposições apontam as divergências e</p><p>contrapontos entre o turismo (convencional) e o turismo sustentável.</p><p>De qualquer modo, o fato é que não é possível estabelecer uma dicotomia</p><p>de conceitos, não existe só turismo ou só o turismo sustentável, é necessário</p><p>que os dois caminhem juntos para que a atividade possa ser sustentável como</p><p>um todo (Swarbrooke, 2000; Candiotto, 2009).</p><p>Por fim, pode-se dizer que o turismo sustentável é uma discussão/ação</p><p>que ainda pode gerar muitos frutos benéficos para o desenvolvimento da</p><p>atividade. Lembrando sempre que é necessário aliar o planejamento ao fazer</p><p>turístico, não deixando que as ações se percam em meio ao lucro (Silva-Melo;</p><p>Silva; Sales-Melo, 2021).</p><p>TEMA 4 – PREMISSAS E CONDICIONANTES DO TURISMO SUSTENTÁVEL</p><p>Ao longo desta etapa, procuramos esclarecer que o conceito de</p><p>sustentabilidade vai além da ideia ambiental, no entanto, no turismo, essa ideia</p><p>acabou se fixando de forma muito conveniente aos tipos de atividade que são</p><p>realizadas e permeadas pela equidade conceitual: sustentável</p><p>= meio</p><p>ambiente. Nesta parte do conteúdo, iremos buscar mostrar que não basta</p><p>apenas pensar no meio ambiente, o foco será nas outras duas vertentes da</p><p>sustentabilidade (social e econômica), demonstrando que é necessário ir além</p><p>para o alcance de uma “sustentabilidade plena”.</p><p>Apesar de o foco ambiental ser fator preponderante, as garantias sociais</p><p>e econômicas também são muito importantes para o turismo, haja visto que, por</p><p>10</p><p>ser uma atividade econômica, o turismo também é fonte de sustento para muitas</p><p>pessoas (Hanai, 2012).</p><p>Segundo o Programa Ambiental das Nações Unidas – UNEP e a</p><p>Organização Mundial do Turismo – OMT (UNEP/WTO, 2005, tradução nossa),</p><p>além das diretrizes ambientais, recomenda-se que sejam atendidos os seguintes</p><p>quesitos para a implementação de um turismo mais sustentável</p><p>O respeito à autenticidade sociocultural das comunidades anfitriãs,</p><p>com o compromisso de conservação de seu patrimônio construído e</p><p>seu estilo de vida e valores tradicionais, e fortalecimento da</p><p>compreensão cultural e tolerância</p><p>A garantia de operações econômicas viáveis (eficiência e crescimento</p><p>de longo prazo), com a geração de benefícios socioeconômicos</p><p>distribuídos para todos os atores envolvidos (elevação da qualidade de</p><p>vida e equidade social), incluindo oportunidades de emprego estável e</p><p>obtenção de investimentos e serviços sociais, de maneira que</p><p>contribuam à redução da pobreza.</p><p>Pautando nossa visão nessas duas diretrizes, pode-se notar que o</p><p>conceito de sustentabilidade turística realmente se amplia ao pensarmos nos</p><p>impactos que a atividade irá gerar em seu meio. Cada parte das diretrizes nos</p><p>dá uma nova dimensão de como agir e encarar o turismo, seja pensando em</p><p>políticas turísticas ou procurando reestruturar a atividade em alguma localidade.</p><p>Como um exemplo prático dessa necessidade de se olhar amplamente</p><p>para o conceito, Rosa e Silva (2017) tratam em seu artigo sobre a</p><p>sustentabilidade ambiental em hotéis, apesar do enfoque ser no ambiental, as</p><p>autoras assumem em seu texto que o setor hoteleiro é um dos expoentes nos</p><p>outros dois setores (econômico e social). Reitera-se então a ideia de que o</p><p>turismo é composto não só pelo meio ambiente, mas por uma gama de serviços</p><p>e estruturas que também devem atender aos demais pontos da sustentabilidade.</p><p>Os turistas são outro fator de impacto a ser considerado em uma</p><p>operação turística sustentável. As pessoas estão cada vez mais conscientes e</p><p>preocupadas em deixar um impacto positivo em suas escolhas (passeios, hotel,</p><p>empresas etc.), o alerta deve ser aceso para que os planejadores, gerentes ou</p><p>governantes de turismo unam esforços para transformar os meios sociais e</p><p>econômicos de seus empreendimentos ou destinos (Oliveira et al., 2016).</p><p>Gerar impactos positivos através da consciência ambiental não é</p><p>somente benéfico para o meio, mas, em questões de marketing, a imagem</p><p>percebida melhorará muito junto ao público; lembrando que as ações devem ser</p><p>11</p><p>realmente sustentáveis e não somente uma fachada para o lucro (Buosi et al,</p><p>2014).</p><p>Por fim, podemos ver que a atividade turística vai muito além das</p><p>questões ambientais. Para sugerir um desenvolvimento sustentável pleno, faz-</p><p>se necessário considerar os outros dois aspectos da sustentabilidade,</p><p>procurando sempre alinhar o planejamento das três áreas para que nenhuma</p><p>saia prejudicada ou receba menos atenção durante a execução de um projeto</p><p>turístico. Lembrando que essas diretrizes devem ser orientadas para contextos</p><p>e vivências específicos, caso contrário, há chances de erro ao tentar implementar</p><p>um modelo sustentável que não seja condizente com a vida de uma região e/ou</p><p>destino turístico.</p><p>TEMA 5 – RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NO TURISMO</p><p>O discurso do planejamento ambiental sustentável é bastante forte em</p><p>alguns locais, mas como funciona isso na prática? Existem locais que já fazem</p><p>isso? Lugares que realmente alinham seus objetivos a partir da</p><p>sustentabilidade? Para a nossa felicidade, sim! E não são poucos os locais que</p><p>se comprometem com desenvolvimento sustentável do turismo, articulando de</p><p>forma plena e gerando impactos positivos em todas as áreas.</p><p>O foco deste tópico será em iniciativas e programas de proteção que</p><p>visam uma difusão do turismo sustentável. O Ministério do Turismo (2007)</p><p>estabelece alguns critérios (Quadro 1) para que os destinos turísticos e/ou</p><p>empreendimentos turísticos busquem um desenvolvimento mais sustentável,</p><p>sendo assim, vamos entender quais são essas diretrizes.</p><p>Quadro 1 – Sete princípios técnicos para o desenvolvimento do turismo</p><p>sustentável</p><p>PRINCÍPIO DESCRIÇÃO</p><p>Respeitar a legislação vigente:</p><p>O turismo deve respeitar a legislação vigente no</p><p>país, em todos os níveis, e as convenções</p><p>internacionais de que o Brasil é signatário</p><p>Garantir os direitos das populações locais:</p><p>O turismo deve buscar promover mecanismos e</p><p>ações de responsabilidade social, ambiental e de</p><p>equidade econômica, inclusive a defesa dos direitos</p><p>humanos de uso da terra, mantendo ou ampliando,</p><p>a médio e longo prazos, a dignidade dos</p><p>trabalhadores e comunidades envolvidas</p><p>Conservar o meio ambiente natural e sua</p><p>diversidade</p><p>Em todas as fases de implementação e operação, o</p><p>turismo deve adotar práticas de mínimo impacto</p><p>sobre o ambiente natural, monitorando e litigando</p><p>12</p><p>efetivamente os impactos, de forma a contribuir para</p><p>a manutenção das dinâmicas e processos naturais</p><p>e seus aspectos paisagísticos, físicos e biológicos,</p><p>considerando o contexto social e econômico</p><p>existente</p><p>Considerar o patrimônio cultural e valores</p><p>locais</p><p>O turismo deve reconhecer e respeitar o patrimônio</p><p>histórico e cultural das regiões e localidades</p><p>receptoras a ser planejado, implementado e</p><p>gerenciado em harmonia com as tradições e valores</p><p>culturais, colaborando para o seu desenvolvimento</p><p>Estimular o desenvolvimento social e</p><p>econômico dos destinos turísticos</p><p>O turismo deve contribuir para o fortalecimento das</p><p>economias locais, a qualificação das pessoas, a</p><p>geração crescente de trabalho, emprego e renda e</p><p>o fomento da capacidade local de desenvolver</p><p>empreendimentos turísticos</p><p>Garantir a qualidade dos produtos, processos</p><p>e atitudes</p><p>O turismo deve avaliar a satisfação do turista e</p><p>verificar a adoção de padrões de higiene,</p><p>segurança, informação, educação ambiental e</p><p>atendimento estabelecidos, documentados,</p><p>divulgados e reconhecidos</p><p>Estabelecer o planejamento e a gestão</p><p>responsáveis</p><p>O turismo deve estabelecer procedimentos éticos de</p><p>negócios, visando engajar a responsabilidade</p><p>social, econômica e ambiental de todos os</p><p>integrantes da atividade, incrementando o</p><p>comprometimento do seu pessoal, fornecedores e</p><p>turistas em assuntos de sustentabilidade, desde a</p><p>elaboração de sua missão, objetivos, estratégias,</p><p>metas, planos e processos de gestão</p><p>Fonte: adaptado pelo autor de Ministério do Turismo – Conteúdo Fundamental: Turismo</p><p>eSustentabilidade, 2007.</p><p>Agora que entendemos um pouco mais sobre como se operacionalizam</p><p>as diretrizes no Brasil, vamos exemplificar por meio de algumas iniciativas</p><p>elencadas pelo próprio Ministério do Turismo do Brasil (Quadro 2).</p><p>Quadro 2 – Iniciativas de turismo sustentável no Brasil</p><p>PROGRAMA/INICIATIVA LOGO</p><p>Braztoa Sustentabilidade – A iniciativa da</p><p>visibilidade a agências e empresas que</p><p>tenham iniciativas sustentáveis.</p><p>Fonte: BRAZTOA Sustentabilidade, 2021.</p><p>Turismo Sustentável no Brasil – Um mapa</p><p>interativo em que é possível ver cada uma</p><p>das iniciativas sustentáveis no Brasil</p><p>Fonte: Turismo Sustentável no Brasil, 2021.</p><p>13</p><p>Programa de Turismo Sustentável RBMA</p><p>– Um programa que visa apoiar o turismo de</p><p>base comunitária no bioma da Mata</p><p>Atlântica. Fomentando processos de</p><p>conscientização e incentivo ao turismo</p><p>consciente.</p><p>Fonte: RBMA, 2021.</p><p>Turismo + Sustentável – Programa</p><p>desenvolvido pela Conservação</p><p>Internacional. Localizado na região de</p><p>Abrolhos, o objetivo do programa</p><p>é fomentar</p><p>o turismo sustentável e proteger os corais da</p><p>região. Fonte: Turismo + Sustentável, 2021.</p><p>Fonte: Gomes, 2021.</p><p>Essas são apenas algumas das inciativas presentes no Brasil. O</p><p>desenvolvimento sustentável deve ser aplicado a cada nova iniciativa e deve ser</p><p>uma fonte de preocupação constante por parte dos destinos, só assim haverá</p><p>um entendimento e operacionalização plenos desse conceito tão diverso.</p><p>Saiba mais</p><p>Quer conhecer um pouco mais sobre a construção conceitual do Turismo</p><p>Sustentável? Sugerimos a leitura deste artigo científico.</p><p>. Acesso em: 11 abr.</p><p>2022.</p><p>TROCANDO IDEIAS</p><p>Como forma de complementar as informações contidas nesta etapa, a</p><p>sugestão para visualizar na prática os conceitos de sustentabilidade e do</p><p>desenvolvimento sustentável no turismo é assistir aos seguintes</p><p>vídeos/documentário:</p><p>1) Mamirauá: qual é a fórmula do desenvolvimento sustentável? Disponível</p><p>em: . Acesso em: 11</p><p>abr. 2022.</p><p>2) O turismo comunitário na Amazônia: iniciativa do Instituto Mamirauá.</p><p>Disponível em: .</p><p>Acesso em: 11 abr. 2022.</p><p>14</p><p>Os vídeos trazem informações sobre a pousada que fica numa área de</p><p>reserva Amazônica, gerida pelo Instituto Mamirauá, uma das referências em</p><p>turismo e pesquisa sobre o desenvolvimento sustentável no mundo.</p><p>NA PRÁTICA</p><p>A atividade desta etapa envolve uma reflexão sobre os problemas e</p><p>possíveis soluções sustentáveis que podem ser aplicadas ao turismo em sua</p><p>cidade e/ou região.</p><p>A intenção deste exercício é fazer com que vocês pensem de forma</p><p>holística em toda a atividade turística que existe em sua cidade. Desta forma,</p><p>vocês devem elencar cinco problemas que afetam essa atividade e sugerir cinco</p><p>soluções baseadas nos conceitos de sustentabilidade (uma para cada</p><p>problema).</p><p>Tenham em mente que as soluções não podem se restringir a apenas</p><p>uma das áreas do desenvolvimento sustentável. Suas soluções devem pautar-</p><p>se na economia, sociedade e meio ambiente, conformando o tripé do</p><p>desenvolvimento sustentável.</p><p>FINALIZANDO</p><p>O conceito de turismo sustentável é oriundo do conceito de</p><p>desenvolvimento sustentável e é justamente por esse motivo é que não possui</p><p>uma definição consensual. À medida que o conceito evoluiu, novas</p><p>preocupações foram sendo incorporadas, no entanto, é fundamental que o</p><p>turismo sustentável é um conceito que envolve as sustentabilidades: ambiental,</p><p>econômica, sociocultural e político-institucional (Lamas et al., 2018).</p><p>Chegamos ao fim de mais uma etapa. Uma etapa que permeará grande</p><p>parte de suas trajetórias como profissional de turismo. O turismo sustentável é</p><p>uma fonte inesgotável de iniciativas. Por meio da operacionalização correta do</p><p>conceito e da atenção aos três princípios da sustentabilidade: econômico, social</p><p>e ambiental, temos uma profunda gama de reflexões e objetivos a traçar quando</p><p>iniciamos um planejamento turístico.</p><p>Ao longo da etapa, foi possível perceber que o conceito é antigo e</p><p>multifacetado, criando uma miríade de possibilidades para a sua aplicação. O</p><p>que deve ficar claro é que a sustentabilidade dever ser pautada por boas</p><p>15</p><p>iniciativas e pela capacidade de abranger a totalidade dos atores sociais que se</p><p>apresentam no turismo.</p><p>A sustentabilidade não pode ser um conceito engessado que fica restrito</p><p>a documentos ou mesmo a um plano em uma gaveta. O desenvolvimento</p><p>sustentável deve ser uma meta a ser alcançada da melhor forma possível,</p><p>procurando sempre respeitar o meio e quem ali vive.</p><p>16</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>AZEVEDO-IRVING et al. Revisitando significados em sustentabilidade no</p><p>planejamento turístico. Caderno Virtual de Turismo, v. 5, n.4, p. 1-7, 2005.</p><p>BOFF, L. Sustentabilidade: o que é – o que não é. Petrópolis: Vozes, 2017.</p><p>BORN, R. H. Turismo e a “ECO 92”. Revista Turismo em Análise, v. 3, n. 1, p.</p><p>7-11, 1992.</p><p>BUARQUE, S. C. Construindo o desenvolvimento local sustentável. Rio de</p><p>Janeiro: Garamond, 2004.</p><p>BUOSI, M. C.; LIMA, S. H. O.; LEOCÁDIO, A. L. A relação entre desenvolvimento</p><p>sustentável e imagem de lugar de um destino turístico: proposição de um modelo</p><p>estrutural. RBTUR, v. 8. n. 2, p. 261-285, 2014.</p><p>BRASIL. Ministério do Turismo. Programa de Regionalização do Turismo –</p><p>Roteiros do Brasil: Turismo e Sustentabilidade/Ministério do Turismo. Brasília,</p><p>2007. 126p.</p><p>CANDIOTTO, L. Z. P. Considerações sobre o conceito de turismo sustentável.</p><p>Revista Formação, v. 1, n. 16, p. 48-59, 2009.</p><p>JIMÉNEZ-HERRERO, L. M. Los procesos de sostenibilidad en España.</p><p>Ambienta, Madrid, p. 8-16, 2006.</p><p>LAMAS, S. et al. Sustentabilidade no Turismo ou Turismo Sustentável: uma</p><p>revisão conceitual. 2018.</p><p>LEFF, E. Epistemologia ambiental. Tradução de Sandra Valenzuela. 2. ed. São</p><p>Paulo: Cortez, 2002.</p><p>OLIVEIRA, J. P. et al. Arquitetura hoteleira sob à ótica da sustentabilidade e da</p><p>hospitalidade do espaço: um estudo sobre a aplicação dos conceitos de</p><p>sustentabilidade e hospitalidade em projetos de hotéis. RBTUR, v. 10, n. 1, p.</p><p>189-209, 2016.</p><p>ROSA, F. S.; SILVA, L. C. Sustentabilidade ambiental em hotéis: análise de</p><p>artigos científicos publicados em periódicos internacionais no período de 1996 a</p><p>2016. RBTUR, v. 11, n. 1, p. 33-60, 2017.</p><p>SACHS, I. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Tradução de José</p><p>Lins Albuquerque Filho. 4. ed. Rio de Janeiro: Garamond, 2002.</p><p>17</p><p>SILVA-MELO, S. R da; SILVA M. E. da.; SALES-MELO, F. V. Consumo e</p><p>sustentabilidade em turismo: panorama, conceitos e métodos aplicados no</p><p>contexto de pesquisas no Brasil. Revista Turismo Contemporâneo, v. 9, n. 2,</p><p>p. 215-229, 2021.</p><p>SWARBROOKE, J. Turismo sustentável: conceitos e impacto ambiental. São</p><p>Paulo: Aleph, 2000.</p><p>UNITED Nations Environment Programe/World Tourism Organization. Making</p><p>tourism more sustainable: a guide for policy makers. Paris, France; Madrid,</p><p>Spain: UNEP/WTO, 2005. 210p.</p><p>Conversa inicial</p><p>Contextualizando</p><p>Trocando ideias</p><p>Na prática</p><p>FINALIZANDO</p><p>REFERÊNCIAS</p>