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SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................3 
2 NOÇÕES HISTÓRICAS DA ÉTICA..................................................................4 
3 DEFINIÇÃO DE ÉTICA......................................................................................5 
3.1 MORAL ..........................................................................................................7 
3.2 ÉTICA E MORAL..........................................................................................10 
4 A ÉTICA E SUAS RAMIFICAÇÕES.................................................................13 
4.1 ÉTICA NORMATIVA E SUAS DIVISÕES.....................................................14 
4.1.1 Éticas Deontológicas.................................................................................14 
4.1.2 Éticas Teleológicas...................................................................................20 
5 ORIGENS DA ÉTICA CRISTÃ: O ÉTHOS BÍBLICO......................................25 
5.1 AS FONTES DO ÉTHOS BÍBLICO..............................................................25 
6 ÉTICA CRISTÃ................................................................................................27 
6.1 OS FUNDAMENTOS DA ÉTICA CRISTÃ....................................................30 
6.2 PRINCÍPIOS ÉTICOS CRISTÃOS...............................................................33 
6.2.1 Princípio da ternura e do vigor...................................................................35 
6.2.2 Princípio da conduta de amor a todas as pessoas.....................................36 
6.2.3 Princípio da licitude e da conveniência......................................................37 
6.2.4 Princípio da tolerância...............................................................................38 
6.2.5 Princípio do respeito e companheirismo cristão.........................................39 
6.2.6 Princípio do respeito ao mais fraco............................................................40 
7 REFERÊNCIAS...............................................................................................41 
 
 
 
 
 
 
3 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Prezado Aluno! 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é 
semelhante ao da sala de aula presencial. em uma sala de aula, é raro – quase 
improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao 
professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o 
tema tratado. o comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos 
ouvirem e todos ouvirão a resposta. no espaço virtual, é a mesma coisa. Não 
hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de 
atendimento que serão respondidas em tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. no caso da 
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à 
execução das avaliações propostas. a vantagem é que poderá reservar o dia da 
semana e a hora que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
2 NOÇÕES HISTÓRICAS DA ÉTICA 
 
Segundo José Adriano (2007), como disciplina filosófica, a história da 
ética é mais limitada no tempo do que a história das ideias morais da 
humanidade. As ideias morais da humanidade dizem respeito a todas as normas 
que pautaram a conduta humana desde tempos longínquos. 
Desta forma, a descrição dos diversos grupos de ideias morais é tema de 
que se ocupam disciplinas como a sociologia e a antropologia. Contudo, a 
existência de ideias morais e de atitudes morais não implica a presença de uma 
disciplina filosófica particular. Assim, por exemplo, podem estudar-se as atitudes 
e ideias morais de diversos povos primitivos, ou dos povos orientais, ou dos 
judeus, ou dos egípcios, sem que o material resultante deva forçosamente 
enquadrar-se na história da ética. (ADRIANO, 2007). 
Por isso, pode-se dizer que a história da ética se enquadra perfeitamente 
no âmbito da história da filosofia. Pode-se dizer ainda que a história da ética 
adquire uma considerável amplitude, porquanto fica difícil, com frequência, 
estabelecer uma separação rigorosa entre os sistemas morais – objeto próprio 
da ética – e o conjunto de normas e atitudes de caráter moral predominantes 
numa dada sociedade ou numa determinada fase histórica. (ADRIANO, 2007). 
No intuito de solucionar este impasse, os historiadores da ética limitaram 
seu estudo àquelas ideias de caráter moral que possuem uma base filosófica, ou 
seja, que, em vez de se darem simplesmente como supostas, são examinadas 
em seus fundamentos e filosoficamente justificadas. O decisivo é que haja uma 
explicação racional das ideias ou das normas adotadas. Por este motivo, os 
historiadores da ética costumam seguir os mesmos procedimentos e adotar as 
mesmas divisões propostas pelos historiadores da filosofia. (ADRIANO, 2007). 
Com o fim de responder aos problemas básicos apresentados pelas 
relações entre os homens e em particular pelo seu comportamento moral efetivo, 
é que nasceram e se desenvolveram, em diferentes épocas e sociedades, as 
doutrinas éticas fundamentais. Por isso, existe uma estreita vinculação entre os 
conceitos morais e a realidade humana, social, sujeita historicamente à 
mudança. Por conseguinte, não se pode considerar as doutrinas éticas 
 
5 
 
isoladamente, mas dentro de um processo de mudança e de sucessão que 
constitui propriamente a sua história. (ADRIANO, 2007). 
Portanto, ética e história, relacionam-se duplamente: a) com a vida social 
e, dentro desta, com as morais concretas que são um dos seus aspectos; b) com 
a sua história própria, já que cada doutrina está em conexão com as anteriores, 
tomando posição contra elas ou integrando alguns problemas e soluções 
precedentes, ou com as doutrinas posteriores, prolongando-se ou enriquecendo-
se nelas. (ADRIANO, 2007). 
Consubstanciando a relação entre ética e história, José Adriano (2007) 
assevera: 
 
“Em toda moral elaboram-se princípios, valores e normas. Mudando 
radicalmente a vida social, muda também a vida moral. Os princípios, 
valores ou normas encarnados nela entram em crise e exigem a sua 
justificação ou a sua substituição por outros. Surge então, a 
necessidade de novas reflexões ou de uma nova teoria moral, pois os 
conceitos, valores e normas vigentes se tornam problemáticos. Assim 
se explica a aparição e sucessão de doutrinas éticas fundamentais em 
conexão com a mudança e a sucessão de estruturas sociais, e, dentro 
delas, da vida moral.” (p. 11). 
 
 
3 DEFINIÇÃO DE ÉTICA 
 
 
Fonte: anttenado.antt.gov.br 
 
Em seu sentido etimológico, sabe-se que o termo ética é oriundo do 
vocábulo grego ethe, e significava originalmente costumes. Aristóteles, porém, 
http://anttenado.antt.gov.br/
 
6 
 
emprega-o para caracterizar a parte da filosofia que busca problematizar a 
conduta humana. Nesse sentido, a ética não pode ser tomada como mero 
sinônimo de moral; antes, deve ser enfocada como a disciplina que a tem por 
objeto. Na academia pós-moderna, é conhecida também como metaética, que 
pode ser definida como a especulação que a ética faz de si mesma. (ANDRADE, 
2015). 
Andrade (2015), salienta que que fora dos círculos acadêmicos, a ética 
ainda é vista como sinônimo de moral, de modo que ele a define como: “[...] 
conjunto de normas e preceitos valorativos, cuja missão é orientar o indivíduo, 
em particular, e a sociedade, como um todo, a trabalhar pelo bem comum. Logo, 
pode-se falar de uma ética política, médica, pessoal, etc.” 
Para Megale (1989, p.169 apud DIAS, 2014) ética é “o que de mais justo 
existe”. Estas palavras, que são sem dúvida muito fortes, pretendem afirmar 
dentro do possível,tudo aquilo que move a dinâmica e a justificação na 
elaboração deste texto. (DIAS, 2014). 
Segundo Finkler, Caetano e Ramos (2013), a percepção de ética é 
evidenciada sob dois enfoques que refletem distintas concepções que 
coexistem, ainda que uma delas seja a predominante, a saber: 
 
“[...] a da ética que embasa a Deontologia. Deontos significa "deve ser" 
e o que deve ser é um dever. Trata-se, portanto, da ética dos deveres 
- uma ética normativa, prescritiva, que determina o que deve ser feito. 
Com essa fundamentação, a ética é entendida como fazer o bem e, 
por conseguinte, não fazer o mal; fazer o correto; fazer apenas o que 
é legalmente permitido; obedecer a um código estabelecido; e adotar 
determinada postura profissional.” 
 
Mas, comumente, entende-se que ética é a teoria sobre a prática moral; 
uma reflexão teórica que analisa e critica os fundamentos e princípios que regem 
um determinado sistema moral. Abbagnano (apud ADRIANO, 2007) diz que a 
ética é, “em geral, a ciência da conduta” e Sanchez Vasques (apud ADRIANO, 
2007) amplia a definição, afirmando que “a ética é a teoria ou ciência do 
comportamento moral dos homens em sociedade. Ou seja, é a ciência de uma 
forma específica de comportamento humano.” 
A definição se esclarece na distinção. Fato é que, as questões teóricas 
éticas não se identificam com os problemas práticos morais, apesar de estarem 
estritamente relacionados. Isto posto, não se deve confundir a ética e a moral. A 
 
7 
 
ética não cria a moral, não obstante seja certo que toda moral supõe princípios, 
normas ou regras de comportamento. Conclui-se, assim, que não é a ética que 
estabelece os princípios numa determinada comunidade. (ADRIANO, 2007). 
Nesse sentido, explica José Adriano (2007): 
 
“A ética se depara com uma experiência histórico-social no terreno da 
moral, ou seja, com uma série de práticas morais já em vigor e, partindo 
delas, procura determinar a essência da moral, sua origem, as 
condições objetivas e subjetivas do ato moral, as fontes da avaliação 
moral, a natureza e a função dos juízos morais, os critérios de 
justificação destes juízos e o princípio que rege a mudança e a 
sucessão de diferentes sistemas morais.” (p. 10). 
 
 
3.1 Moral 
 
 
Fonte: www.significados.com.br 
 
Assim como a ética, a palavra moral também deriva do grego ethos, 
indicando “os costumes, os hábitos e os comportamentos concretos das 
pessoas”, que posteriormente os latinos passaram a chamar de mores, donde 
se deriva moral. Conforme o escritor Leonardo Boff (apud PIMENTEL, 2012), 
pode-se fazer a seguinte definição: 
 
“A moral é parte da vida concreta. Trata da prática real das pessoas 
que se expressam por costumes, hábitos e valores culturalmente 
estabelecidos. Uma pessoa é moral quando age em conformidade com 
os costumes e valores consagrados. Estes podem, eventualmente, ser 
questionados pela ética. Uma pessoa pode ser moral (segue os 
costumes até por conveniência) mas não necessariamente ética 
(obedece a convicções e princípios).” 
 
http://www.significados.com.br/
 
8 
 
A moral faz parte da filosofia e encontra-se dentro da ética, mas não está 
ligada diretamente aos valores do indivíduo, como a ética, mas aos atos 
humanos, aos bons costumes e aos deveres do homem dentro da sociedade a 
qual ele pertence. 
Nesse sentido, pode-se dizer que um indivíduo moral deve, em geral, 
seguir as regras de conduta impostas pelo meio em que vive, para que assim 
mantenha uma sintonia com os que o rodeiam, procedendo sempre conforme a 
honestidade e a justiça estabelecida pelo meio, mesmo que esta conduta não 
represente exatamente os seus ideais, mas que seja o ideal para o meio que o 
cerca. (PIMENTEL, 2012). 
De acordo com alguns autores clássicos que desenvolveram estudos 
sobre a moral, ela é definida “como a relação essencial com a norma ou lei” 
(DUSSEL, 1986, p. 44 apud PIMENTEL, 2012), porém, “Kant exigia amar a lei” 
(Ibidem). 
Para Kant, a moral não é algo tão simples ao ponto de dizer que basta 
agir de acordo com as regras sociais ou leis que nos cercam, pois não está ligada 
aos bons costumes de cada povo, e sim, a moral deve seguir um princípio 
universal, incondicional, válida por si mesma como uma máxima que pudesse 
fazê-la desejar tornar-se uma lei universal (PIAGET; MACEDO, 1996 apud 
PIMENTEL, 2012): 
 
“A moral tem que indicar como “bom” ou como “certo” algo que possa 
aparecer assim (bom, certo) para o maior número de pessoas possível, 
ou seja, para toda e qualquer pessoa desse mundo, em qualquer lugar. 
A moral indicaria, como princípio, um dever necessário a todos, assim, 
universal! (Ibidem, p. 38 apud PIMENTEL, 2012). 
 
Desta forma, o que é considerado bom para o indivíduo deve ser bom 
para o seu próximo, o que é aplicado como punição para o próximo também deve 
ser aplicado para o indivíduo, indiferente de ser conveniente ou não, deve seguir 
a base de que tudo o que é válido para si, deve valer para o outro também, e 
vice-versa. (PIMENTEL, 2012). 
Ainda, de acordo com Kant, para ser moralmente correto, não basta que 
o indivíduo siga uma lei imposta por terceiros como se ela fosse o indicador da 
ordem, mesmo que isso lhe traga alguma conveniência. É preciso que o 
 
9 
 
indivíduo tenha o discernimento necessário para tomar decisões e ter atitudes 
que o levem a um bem comum. Assim, a “corretude” ou “bondade” de um ato 
não deve estar ligada a uma lei, regra ou norma a ser obedecida, mas deve ser 
levado em conta o porquê de obedecê-la, dando ênfase ao princípio da 
obediência e não ao ato dela. (PIMENTEL, 2012). 
Kant entende também que a moral conduz inevitavelmente à religião, 
tendo Deus como um legislador moral poderoso, que impõem suas leis, 
deixando-as claras, inclusive com suas recompensas e punições, e que ao 
mesmo tempo dá aos homens a oportunidade de tomarem suas próprias 
decisões, que por sua vez, podem ser moral ou não. Kant (apud PIMENTEL, 
2012) afirma: 
 
“A religião não se distingue em ponto algum da moral quanto à matéria, 
quanto ao objecto, pois tem em geral a ver com deveres, mas distingui-
se dela só formalmente, ou seja, é uma legislação da razão para 
proporcionar à moral, graças a idéia de Deus engendrada a partir 
desta, uma influência sobre a vontade humana para o cumprimento de 
todos os seus deveres.” 
 
Mesmo que haja algum questionamento sobre se é moral ou não atender 
o desejo de um único legislador, no caso Deus, avalia-se também a finalidade 
de tudo levando-se em conta que Deus não institui leis para que Ele mesmo seja 
beneficiado por elas, mas que existe um bem universal a partir delas e a Sua 
vontade objetiva que a própria humanidade seja beneficiada. (PIMENTEL, 2012). 
Seguindo um pensamento distinto do de Kant, o autor Enrique D. Dussel 
(apud PIMENTEL, 2012) fala sobre um sistema moral vigente que indica que, 
para que tenha um bom convívio no âmbito do meio social, o indivíduo precisa 
se dispor a cumprir as normas impostas a fim de que todos sigam em uma 
mesma direção, tenham as mesmas responsabilidades/obrigações e sejam 
julgados da mesma forma, de modo tal que tenha-se um parâmetro para 
identificar os que estão certos e os que estão errados. Destaca: 
 
“Assim aparece um sistema moral “vigente” (não importa que na sua 
origem, e para a sua subsistência, haja um pecado original e 
institucional de dominação em todos os níveis). Quem cumprir este 
sistema em suas práticas, suas normas, seus valores, suas virtudes, 
suas leis, é um homem bom, justo, benemerente, louvado pelos 
semelhantes.” (DUSSEL, 1986 apud PIMENTEL, 2012). 
 
 
10 
 
Assim, mesmo que a lei seja oriunda de algo considerado como não ideal, 
se ela atingir um objetivo comum, aquele que a cumprir passa a ser moral. Seria 
como dizer que o fim justifica o meio. Dussel (apud PIMENTEL, 2012) também 
faz referência quanto aos casos em que as leis acabam sendo voláteis e afirma 
que não são elas quem determinamcomo deve ser o meio, mas o meio acaba 
determinado como devem ser as leis. Com isso, o certo hoje pode ser 
considerado errado amanhã e vice-versa, fazendo com que o indivíduo que 
segue as leis de hoje, amanhã tenha que decidir se permanecerá seguindo o 
que acreditava ser correto ou se redefinirá seus conceitos para se manter dentro 
dos padrões sociais e ser considerado moral mantendo a sua consciência 
tranquila, pois mesmo a lei sendo perversa, é aprovada pelo sistema. 
Para Pimentel (2012), a prática de inversão dos atos morais ocorre por 
influência do legislador humano com a justificativa de readequação da sociedade 
e é realizada pela igreja para que ela também tenha uma readequação social. 
Em relação às igrejas que seguem o evangelho como base, Dussel (1986 apud 
PIMENTEL, 2012) destaca que deve ser observado que ele “não pode evoluir”, 
já que as exigências dele devem ser válidas e seguidas em qualquer época ou 
situação, pois representam princípios absolutos, indiferente da fase em que se 
encontra a humanidade ou dos conceitos impostos pelo homem. 
 
 
3.2 Ética e Moral 
 
 
Fonte: monitoriajuridica.com 
 
As palavras, ética e moral, comumente são confundidas como se tivessem 
o mesmo sentido. Apesar de ambas derivarem de ethos e a filosofia indicar que 
 
11 
 
a moral está dentro da ética, as duas são distintas e cada qual possui sua 
importância. 
Explicando cada uma das palavras, Boff (apud PIMENTEL, 2012) 
apresenta a ideia de que a ética está ligada ao caráter, princípios e valores 
próprios do indivíduo, enquanto a moral é a realização dos atos do indivíduo 
dentro dos costumes, hábitos e valores culturalmente estabelecidos dentro da 
sociedade. Neste sentido, o indivíduo pode tomar decisões com seu ponto de 
vista ético ainda que, nesta decisão, não haja moral e vice-versa. 
Já Yves de La Taille (2016) tece as seguintes considerações a respeito 
da diferenciação das duas terminologias (moral e ética); 
 
“[...] reservarei o conceito de moral ao sistema de valores que se 
traduzem por princípios e regras cuja aplicação prática é considerada 
um dever e, logo, a não aplicação, uma transgressão condenável. 
Nota-se que essa é a definição habitual de moral, seja qual for o seu 
conteúdo: ser justo, ser fiel, ser honesto, defender a própria honra, 
casar virgem, etc., correspondem, para quem legitima tais princípios e 
regras, a deveres, a imperativos. Portanto, a pergunta moral é: “Como 
devo agir?”. Do ponto de vista psicológico, à moral corresponde um 
sentimento especial: o da obrigatoriedade. 
 
A pergunta da ética será, no presente texto, outra, a saber: “Que vida 
eu quero viver?”. Reconhece-se aqui o clássico tema da “vida boa”. E 
verifica-se também a relação entre ética e a construção de si mesmo, 
pois a resposta à pergunta “que vida eu quero viver?” implica também 
responder a essa outra pergunta: “Quem eu quero ser?”.” 
 
Taille (2016) faz o seguinte questionamento ainda: “Uma engloba a 
outra?”, e responde: “A ética engloba a moral porque, como bem lembrado por 
Comte-Sponville, decidir que vida viver e quem ser é também escolher que 
deveres vão ser legitimados”. 
Também para a filosofia, a moral vem de dentro da ética, porém, a própria 
ética questiona a moral no que tange agir contra os seus princípios para atender 
algo estabelecido, pois isso não seria uma vontade genuína do indivíduo e, 
portanto, perderia o valor, uma vez que, seria necessário agir com ética – com 
consciência e aceitação – para que este ato se tornasse moral – sincero, não 
demagógico. (PIMENTEL, 2012). 
De acordo com Dussel (1986, p. 63 apud PIMENTEL, 2012, p. 866), 
“Jesus, de fato, se opõe a toda ‘moral’ de dominação. Opõe-se ao vigente ‘moral’ 
em nome do absoluto transcendental e horizonte crítico de toda ‘moral’: o ‘ético’”. 
 
12 
 
O autor faz uma breve relação entre a ética e a moral, apontando em que 
consiste a ética: 
 
“É a práxis – como ação e relação – para o outro como outro, como 
pessoa, como sagrado, absoluto. O ético não é regido pelas normas 
morais, pelo que o sistema indica como bom; rege-se pelo que o pobre 
reclama, pelas necessidades do oprimido, pela luta contra a 
dominação, as estruturas, as relações estabelecidas pelo “Príncipe 
deste mundo”.” (DUSSEL, 1986, p.63-64 apud PIMENTEL, 2012). 
 
E complementa: 
 
“O ético é assim transcendental ao moral. As morais são relativas: há 
moralidade asteca, hispânica, capitalista. Cada uma justifica a práxis 
de dominação como boa. A ética é uma, é absoluta: vale para toda 
situação e para todas as épocas.” (DUSSEL, 1986, p. 64 apud 
PIMENTEL, 2012). 
 
Destarte, sempre que a ordem moral deixa de atender ao bem comum 
para realizar práticas dominantes, deixa de ser ético porque não representa mais 
uma “ordem futura de libertação, as exigências de justiça com respeito ao pobre, 
ao oprimido, e seu projeto de salvação” (DUSSEL, 1986, p. 40 apud PIMENTEL, 
2012), bem como sempre que um indivíduo ético deixa de seguir algo que pode 
ser bom para a moral, porque acredita que é ruim para a sua ética, ele passa a 
ser imoral para o meio em que vive. 
Denota-se, assim, que mesmo sendo diferentes em seu sentido final, 
tanto a ética quanto a moral devem estar presentes na vida do indivíduo para 
que ele tenha uma participação satisfatória e ativa em seu meio social, bem 
como em seu relacionamento com seu próximo, pois ainda que cada indivíduo 
tenha suas próprias convicções, jamais conseguirá viver sozinho ignorando o 
fato de que precisará interagir com outros. Desta forma, o indivíduo deve estar 
ciente de que deve respeitar as convicções alheias, tendo em vista que faz parte 
de um sistema que é alimentado por suas escolhas, sendo elas éticas ou não, 
morais ou não, mas sempre determinantes para o desenvolvimento do mundo e 
para a continuidade da espécie humana. (PIMENTEL, 2012). 
 
 
 
 
13 
 
4 A ÉTICA E SUAS RAMIFICAÇÕES 
 
Como saber filosófico a ética pode ser dividida em três campos principais 
de estudo: a metaética, a ética normativa e a ética aplicada. 
O objeto da metaética, na visão de Borges, Dall’agnol e Dutra (2002 apud 
LOPES 2017), se difere daquele da ética normativa, haja vista que ele não 
pretende determinar o que deve ser feito, mas investiga a natureza dos princípios 
morais, levando a indagações sobre o agir correto, se os preceitos defendidos 
pelas diversas teorias da ética são objetivos e absolutos, tais como: liberdade, 
justiça, bem, bondade, felicidade, moralidade, entre outros conceitos. 
Borges, Dall’agnol e Dutra, 2002 (apud LOPES, 2017) afirmam que a 
metaética lida com questões tais como: “qual é o estado motivacional de alguém 
que faz um juízo moral? Que tipo de conexão há entre fazer um juízo moral e 
agir de acordo com as prescrições desse juízo? E assim por diante.” 
E continuam: 
 
“[...] As propostas em metaética são diversificadas e tendem tanto para 
o realismo (a ideia de que os valores morais existem objetivamente e 
não dependem de nossas opiniões sobre eles) como para o 
antirrealismo (defende que princípios morais são meras construções 
humanas, convenientes para a convivência em sociedade).” 
 
Por sua vez, a ética normativa, segundo Mauter (2005 apud LOPES, 
2017), “tem como objetivo a investigação racional ou uma teoria sobre padrões 
de comportamento, do que é certo ou errado, do bom e do mau”. 
Para Lopes (2017) o tipo de investigação levantada pela ética normativa 
e a teoria que daí resulta não descrevem o modo como as pessoas pensam ou 
se comportam; antes, indica o modo como devem pensar e se comportar. Daí 
surge segundo ele o termo ética normativa, pois a mesma formula normas 
válidas de conduta e avaliação de caráter. 
Já a ética aplicada diz respeito à aplicação de princípios extraídos da ética 
normativa para a solução de problemas do cotidiano, procurando resolver 
problemas práticos, com os princípios da ética normativa (BORGES; 
DALL’AGNOL;DUTRA, 2002 apud LOPES, 2017). 
 
 
14 
 
4.1 ÉTICA NORMATIVA E SUAS DIVISÕES 
 
De acordo com Oliveira (2016) as correntes da ética normativa podem ser 
divididas em duas categorias: a ética teleológica e a ética deontológica. A ética 
teleológica preocupa-se em determinar o que é correto de acordo com as 
finalidades que se pretende atingir, já a ética deontológica procura determinar o 
que é correto, não segundo a finalidade, mas sim guiando-se pelas regras e 
normas em que se fundamenta a ação. 
 
 
4.1.1 - Éticas Deontológicas 
 
Segundo a ética deontológica, a análise das consequências de um ato ou 
comportamento não deve influir no julgamento moral sobre as ações das 
pessoas (BORGES; DALL’AGNOL; DUTRA, 2002 apud LOPES, 2017). 
 
“Uma teoria ética recebe o nome de deontológica (do grego déon, 
dever) quando o valor de uma ação não depende exclusivamente das 
consequências da própria ação ou da regra com a qual se conforma” 
(LEITE, 2010 apud LOPES, 2017). 
 
Oliveira (2016) destaca que para as éticas deontológicas, algo deve ser 
feito ou não independentemente dos resultados que possam daí advir, ou seja, 
na expressão de F. von Kutschera (1982 apud OLIVEIRA, 2016), “o valor de uma 
ação se determina somente a partir do valor da maneira de agir, que se realiza 
com isto”. 
Ato contínuo, o que caracteriza então uma ética deontológica é que o 
correto, que é aqui a categoria fundamental, não depende do bem e tem 
prioridade sobre ele, consequentemente as ações são em si mesmas boas ou 
más independentemente das consequências que provocam. Então, aqui estão 
em primeiro plano prescrições, proibições e permissões. (OLIVEIRA, 2016). 
Em outras palavras, tem-se que a teoria deontológica prescreve que o 
dever em cada caso específico deve ser determinado por regras que são válidas 
independentemente das consequências decorrentes de sua aplicação. 
 
15 
 
A ética deontológica divide-se em ética intuicionista, ética do discurso, 
ética do dever e contratualismo moral. (OLIVEIRA, 2016). 
 
 
a) Ética intuicionista 
 
Consoante Lopes (2017) a ética intuicionista crê na possibilidade do ser 
humano ter conhecimento imediato sobre o que é correto ou não. Afirma que 
intuitivamente o homem possui conhecimento sobre o certo e o errado, sem que 
haja discussões sobre tais princípios, visto que não é pela razão que indivíduos 
justificam suas crenças. 
 
“[...] o intuicionista, segue a ideia de que já temos opiniões bem 
justificadas para utilizarmos nas questões morais tradicionais, 
faltando apenas sistematizá-las coerentemente” (BONELLA, 
2010 apud LOPES, 2017). 
 
O intuicionismo moral apresenta um ponto favorável, tendo em vista que 
versa sobre uma teoria fiel ao fato de que as pessoas normalmente possuem um 
senso do que é correto ou errado, instintivamente. Em contrapartida, como ponto 
negativo, tal afirmação impossibilita qualquer argumentação no campo da 
moralidade, visto que apela à intuição e não à razão (BORGES; DALL’ AGNOL; 
DUTRA, 2002 apud LOPES, 2017). 
Intuir algo é apreendê-lo diretamente, sem necessidade de algum 
processo de raciocínio, diferente do processo dedutivo, por exemplo. Portanto, 
o intuicionismo em ética propõe que, por intuição, podemos reconhecer certas 
proposições morais como auto-evidentes. Outra característica das doutrinas 
intuicionistas é a aceitação da autonomia da ética: associada ao realismo moral, 
a tese da autonomia da ética propõe que os fatos morais não podem ser 
explicados ou reduzidos a termos não éticos. (LOPES, 2017). 
A crítica ao intuicionismo pauta-se no fato de que ele pode ser utilizado 
para justificar ações incompatíveis com a concepção coletiva, haja vista que há 
certo subjetivismo em relação à interpretação das intuições. 
 
 
 
16 
 
b) A Ética do discurso 
 
A ética do discurso tem sua origem nos trabalhos teóricos de Karl-Otto 
Apel e Jürgen Habermas, que constituem exemplo único de parceria e de crítica 
mútua no horizonte da filosofia contemporânea. 
A ética do discurso pretende determinar o que é correto a partir de uma 
comunidade ideal de comunicação. Ou seja, deve haver uma sociedade 
organizada de tal modo que possam surgir discussões democráticas a respeito 
dos conceitos e aplicações éticas. (BORGES; DALL’AGNOL; DUTRA, 2002 
apud LOPES, 2017). 
Para a ética do discurso o processo de compreensão mútua está ligado a 
uma premissa básica, onde deverá haver o assentimento racional motivado ao 
conteúdo que se deseja proferir. 
 
“O agir comunicativo pode ser compreendido como um processo 
circular no qual o ator é as duas coisas ao mesmo tempo: ele é o 
iniciador, que domina as situações por meio de ações imputáveis; ao 
mesmo tempo, ele é também o produto das tradições nas quais se 
encontra, dos grupos solidários as quais pertence e dos processos de 
socialização nos quais ele cria.” (HABERMAS, 1989, p.166 apud 
LOPES, 2017). 
 
No entendimento de Siebeneichler (2018) a ética do discurso caracteriza-
se como “uma posição filosófica que lança mão de um procedimento 
argumentativo, também caracterizado como discurso, a fim de solucionar 
problemas, dilemas ou conflitos morais na atual sociedade complexa, 
globalizada e multicultural”. Para ele, “ela somente entra em ação, por assim 
dizer, quando há conflitos reais sobre normas. Mas não tem como objetivo a 
criação de princípios éticos ou normas morais. Ela apenas estabelece como 
critério um princípio discursivo ou princípio D”. 
A ética do discurso introduz uma distinção rígida entre ética e moral. 
Segundo esta linha de pensamento, as questões éticas têm de ser entendidas 
no sentido da ética de Aristóteles, isto é, enquanto questões referentes à 
felicidade e às preferências valorativas de uma pessoa ou de um grupo, ao passo 
que as questões morais envolvem o dever de respeitar a todos os seres 
humanos sem exceção. (SIEBENEICHLER, 2018). 
 
17 
 
c) Ética do dever 
 
A ética kantiana está centrada na noção de dever; a ideia da vontade e 
do dever estão alicerçadas pela liberdade do homem. Ela passa por um critério 
de universalização, porém a ação “é realizada não apenas conforme um princípio 
objetivo de determinação válido universalmente, mas também pelo dever, com 
um sentimento de respeito pela própria lei moral.” (TERRA, 2004, p. 13,14 apud 
NASCIMENTO, LOPES, 2015). 
A ideia de dever é central para a compreensão do pensamento kantiano, 
e decorre da possibilidade de agirmos de acordo com leis morais universais, 
absolutas e formais. Universais, porque vigoram para todos os homens e em 
todos os tempos; absolutas, porque não comportam exceções; e formais, porque 
são “puras fórmulas de dever-ser”, devendo ser obedecidas não em razão de 
outras consequências ou finalidades, mas sim porque são intrinsecamente 
valiosas. (COMPARATO, 2006, p. 289 apud LAGO, 2014) 
Em outras palavras, pode-se dizer que o dever gera uma obrigação, 
forçando-o a fazer o que talvez não quisesse ou que pelo menos não o agradaria 
porque o homem é imperfeito e carrega em si sentimentos contraditórios. Mas o 
dever, força, obriga a fazer aquilo que favorece a liberdade do homem, 
exercendo sua autonomia, isto é, a sua liberdade, permitindo que seja tomada a 
melhor atitude, a mais racional. (VALLS, 2010 apud LOPES, 2017). 
A ética do dever pretende discriminar o que é certo ou errado moralmente, 
utilizando-se de uma noção chamada de imperativo. 
Há dois tipos de imperativos: o hipotético e o categórico. O imperativo 
hipotético afirma o seguinte: se quiser atingir determinado fim, age desta ou 
daquela maneira (KENNY, 2010 apud LOPES, 2017). O imperativo hipotético 
determina como deve ser a ação para se chegar a um fim específico. Ele está 
subordinado a uma condição, correspondendo a meios para se evitar algum 
castigo ou para se alcançar alguma recompensa. E de tal forma enuncia um 
mandamento, enquanto o mesmo está subordinado a condições específicas.(COBRA, 2010 apud LOPES, 2017). 
Em resumo, o imperativo hipotético afirma que, se quisermos atingir 
determinado fim, devemos agir desta ou daquela maneira. (LAGO, 2014). 
 
18 
 
O imperativo categórico, por sua vez, diz o seguinte: “[...] a ação é moral, 
se a regra da ação puder ser tomada como regra universal, ou seja, se puder ser 
observada e seguida por todos os seres humanos, sem contradição”. (BORGES; 
DALL’ AGNOL; DUTRA, 2002, p. 12 apud LOPES, 2017). 
A partir da premissa: “Aja de maneira tal que a máxima de tua ação 
sempre possa valer como princípio de uma lei universal” é que de Immanuel Kant 
criou o “imperativo categórico”. Ao buscar fundamentar na razão os princípios 
gerais da ação humana, Kant elaborou as bases de toda a ética moderna. 
(LOPES, 2017). 
Kant oferece uma formulação complementar do imperativo categórico: 
‘age de tal modo que trates sempre a humanidade, quer que seja sua pessoa 
quer na dos outros, nunca unicamente como meio, mas sempre ao mesmo 
tempo como um fim’ (KENNY, 2008 apud LOPES, 2017). Em tal formulação é 
notável a presença da dignidade humana, “a pessoa humana não pode ser 
reduzida à condição de simples coisa, utilizável como meio ou instrumento de 
ação de outro ser humano”. (COMPARATO, 2006, p. 501 apud LOPES, 2017). 
Entre as críticas recebidas à doutrina Kantiana, encontra-se o fato de Kant 
apenas dizer o que não deve ser feito e de quais são as finalidades a que a vida 
deve ser dedicada, deste modo não concede nenhum rumo sobre qual seria um 
modo digno de viver. Apenas indicaria qualquer modo que não fosse contrário 
às suas proibições (BORGES, DALL’AGNOLLO, DUTRA, 2002 apud LOPES, 
2017). 
Outra crítica à teoria de Kant, segundo expõe LOPES (2017) é a carência 
de aproximação entre o imperativo (a priori – quando uma ideia não depende e 
não precisa da experiência para se estabelecer) e a realidade concreta. 
 
 
d) Contratualismo moral 
 
No contratualismo moral as regras da justiça são as que regem as 
principais instituições de uma sociedade. De acordo com esta corrente, as regras 
da justiça que devem reger as principais instituições de uma sociedade 
decorreriam de um contrato hipotético em que os contratantes ignoram 
 
19 
 
previamente a posição que ocupam em tal sociedade (BORGES; 
DALL’AGNOLLO; DUTRA, 2002 apud LOPES, 2017). 
O contratualismo moral inspirou-se, em certa medida, na ética kantiana e 
é defendido na teoria de John Rawls, na obra “Uma teoria da justiça”. O pensador 
americano John Rawls evoca a justiça como base de um novo contrato social. 
“A justiça não é nem uma virtude nem um direito, mas sim um princípio fundador 
de uma sociedade bem ordenada” (PEGORATO, 2005, p.68 apud LOPES, 
2017). 
A ética política de Rawls é uma tentativa de solução de um conflito básico, 
de ordem social: a disputa dos bens produzidos por uma comunidade política. 
Sendo os bens produzidos quantitativamente limitados e os cidadãos não 
possuindo um apetite moderado, torna-se necessário a intervenção de um 
princípio que ordene a distribuição dos bens (RAWLS, 2000 apud LOPES, 2017). 
A teoria ética de Rawls concentra-se na seguinte questão: 
 
“[...] Como ter uma sociedade moderna ordenada de acordo com os 
princípios da justiça? Ele elabora duas situações hipotéticas, o que 
chama de “posição original” e “véu da ignorância”. Na posição original, 
cada um dos participantes do contrato social encontra-se inteiramente 
livre de influências de pessoas ou grupos, guardando apenas 
conhecimento de fatos gerais sobre os homens e a sociedade. No “véu 
da ignorância”, supõe-se que os participantes ignorem todas as 
diferenças existentes entre si, ficam assim esquecidos de sua própria 
condição social e de seus companheiros, são postos também entre 
parênteses todos os dotes naturais que cada um possua, assim como 
suas concepções próprias de bem-estar social e individual.” (RAWLS, 
2000 apud LOPES, 2017). 
 
Salienta-se que Rawls (2000 apud LOPES, 2017) não examina a justiça 
em geral, a ele interessa a justiça sob o aspecto da distribuição das vantagens 
e ônus sociais, limitando-se aos princípios da justiça, destinados a servir-se de 
regras para uma sociedade bem ordenada. Assim, supõe-se que cada cidadão 
aja com justiça, limitando até mesmo sua liberdade, estabelecendo limites ao 
seu exercício. 
Para Oliveira (2016) a teoria da justiça se fundamenta através de um 
procedimento de construção que conduz aos dois princípios básicos da justiça 
política, que são precisamente o objeto do acordo original e que por conseguinte 
regulam todos os outros acordos, pactos, contratos, numa palavra, todas as 
formas de cooperação social. 
 
20 
 
Na visão de Apel e Verantwortung (1999 apud OLIVEIRA, 2016), a 
intenção de Rawls é fundamentar a justiça como o resultado de uma escolha 
livre num contrato original, entendendo a liberdade, de acordo com a tradição 
britânica e no sentido da teoria estratégica dos jogos de escolha racional, como 
liberdade de arbítrio do interesse próprio; então, ele se vê obrigado, para poder 
garantir de antemão a equidade da escolha racional, a impor condições de 
equidade, o que faz do procedimento um círculo vicioso. 
 
 
4.1.2 Éticas Teleológicas. 
 
Numa ética teleológica a qualidade moral das ações depende das 
consequências produzidas (daí porque se falar aqui de “consequencialismo”) e 
seu conceito central é o de bem de tal modo que aqui se põe, em primeiro plano, 
uma ordem objetiva de bens e valores. Temos no seio desta, diferentes formas 
de ética e também formas diferenciadas de fundamentação da ética. (OLIVEIRA, 
2016). 
Suas principais subdivisões são: a ética consequencialista (supracitada), 
que se baseia nas consequências da ação, e a ética das virtudes, que considera 
o caráter individual ou virtuoso do indivíduo. 
 
 
a) Ética Consequencialista 
 
A ética consequencialista avalia se uma conduta é correta ou incorreta 
analisando, tão somente, as consequências advindas daquela ação, não 
fazendo juízo de valor a respeito do caráter e da real intenção do agente. As 
teorias consequencialistas desconsideram a importância do caráter moral, 
preocupando-se, tão somente, com os efeitos do ato. (SANTOS; FILHO, 2017). 
Para o consequencialismo ético, as consequências de uma ação são 
determinantes para o juízo moral e a responsabilização do sujeito de uma ação. 
Nahra (2014 apud ZAPPELLINI, 2017) considera que o 
consequencialismo se distingue pelo fato de que as propriedades normativas de 
 
21 
 
uma ação dependem de suas consequências. O valor moral da ação é 
extrínseco, pois os seus resultados a tornam boas ou más (NAHRA, 2014 apud 
ZAPPELLINE, 2017). 
Brink (2006 apud ZAPPELLINI, 2017) acrescenta que, no 
consequencialismo, as ações são julgadas moralmente em termos de promoção 
do bem; o dever é julgado por meio de práticas de ações que promovam o bem, 
e a virtude, por meio da disposição de agir de modo a provocar boas 
consequências. 
O egoísmo ético e o utilitarismo são as duas principais correntes do 
consequencialismo, sendo o utilitarismo a forma de consequencialismo mais 
influente conforme defende Daniel Nery da Cruz (2018). 
Ambas as correntes citadas defendem a ideia de que o ser humano deve 
agir de forma a produzir consequências boas, no entanto a diferença que 
consiste entre as duas é que para o egoísmo ético, o ser humano deve agir para 
seu próprio benefício, enquanto para o utilitarismo, o ser humano deve agir em 
função do interesse comum. 
Com relação ao egoísmo ético, pode-se enumerar três posturas típicas: 
a) o indivíduo entende que as ações de todos devem convir com seu interesse 
individual; b) o indivíduo age apenas segundo seu interesse individual, sem que 
a ação ou o interesse de outros seja objeto de sua preocupação ética; c) o 
indivíduo crê que cada pessoa deve sempre agir de acordo com seu interesse 
próprio [...] (BORGES; DALL’AGNOLLO; DUTRA,2002, p. 9 apud LOPES, 
2017). 
Resumidamente, Pereira (2017) explica que, “o egoísmo racional 
estabelece que todo agente deve, racionalmente, fazer aquilo que é do seu 
interesse”. 
Com as afirmações acima enunciadas, Lopes (2017) faz as seguintes 
ponderações: 
 
“[...] percebe-se que a principal vantagem do egoísmo ético é a 
facilidade em determinar o próprio interesse, comparando-se com a 
dificuldade de se determinar o interesse coletivo, ou aquilo que traria 
maior benefício a todos. O problema que surge com a primeira e a 
segunda versão é que ambas são benéficas apenas para um indivíduo 
ou para um grupo de indivíduos, não podendo ser aplicada à 
humanidade em geral. 
 
22 
 
O problema com a terceira forma é que, se a mesma estivesse vigente, 
não comportaria normas ou ações com validade universal, visto que 
muitas vezes as pessoas têm interesses excludentes. 
Se o egoísmo ético assinala que o indivíduo deva agir de acordo com 
seus interesses próprios, o utilitarismo assinala que cada indivíduo 
deve agir de forma a proporcionar o maior bem ou a maior felicidade 
para todos que o circunda.” 
 
No que se refere ao utilitarismo, tem-se que este apresenta pelo menos 
cinco traços básicos (BORGES; DALL’AGNOLLO; DUTRA, 2002 apud LOPES, 
2017): 
 
“[...] a) considera as consequências das ações para assim estabelecer 
se as mesmas são corretas ou não; b) apresenta uma função 
maximizadora daquilo que é considerado valioso em si mesmo; c) 
apresenta uma visão igualitária dos agentes morais; d) apresenta uma 
tentativa de universalização na distribuição de bens; e) apresenta uma 
concepção natural sobre o bem-estar”. 
 
Certamente um dos méritos do utilitarismo é levar em conta as 
consequências da ação, pois as mesmas constituem o que entendemos por 
responsabilidade moral. Quando alguém é responsabilizado por algo, não se 
considera apenas o ato praticado, mas também o resultado do mesmo. (LOPES, 
2017). 
O utilitarismo está comprometido com a tese de que deve sempre ser feito 
o melhor possível, partindo da pressuposição de que se algo é bom, não seria 
razoável produzi-lo em pequenas porções, pois quanto mais se tiver do que é 
bom, melhor pra todos. Deve-se lembrar de o que deve ser maximizado não é o 
nosso próprio bem, mas a maior felicidade para o maior número possível. Tal 
função maximizadora do utilitarismo o torna uma teoria ética com certa tendência 
perfeccionista. (LOPES, 2017). 
Outro elemento fundamental da teoria ética utilitarista é a sua efetiva 
preocupação com o bem-estar dos agentes. A diminuição extrema do sofrimento 
é um ideal do mais alto valor, por isso o utilitarismo é uma teoria ética que prima 
pela qualidade de vida e bem-estar dos agentes. (LOPES, 2017). 
 
 
 
 
 
23 
 
b) Ética das Virtudes 
 
A filósofa britânica Julia Annas (1946 - apud ZAPPELLINI, 2017) afirma 
que “a ética das virtudes, cuja formulação inicial se deve a Aristóteles, foi o 
principal padrão adotado pelos filósofos morais até o século XVIII, quando as 
formulações consequencialista (a partir de Jeremy Bentham) e deontológica (de 
Immanuel Kant) se tornam conhecidas (ANNAS, 2006)”. 
Ela apresenta uma bela definição da virtude, afirmando tratar-se de uma 
disposição para agir de uma determinada maneira; essa disposição é informada 
ou guiada pela razão e é construída pelas escolhas feitas pelo agente. Em outras 
palavras, a virtude consiste numa disposição de fazer as coisas certas pela razão 
certa e da maneira apropriada, tornando-se aquilo que um agente moral 
consciente sabe ser o que é certo fazer (ANNAS, 2006 apud ZAPPELLINI, 2017). 
As virtudes, de acordo com Sousa (2009 apud ZAPPELLINI, 2017), 
definem a vontade do agente e fazem com que ele atinja o bem; elas são, dessa 
forma, essenciais para uma vida bem-sucedida, uma vez que fazem parte do 
caráter (que é um virtude) e ajudam a pessoa a alcançar a excelência. 
É preciso ter em mente que o bem só será alcançado se as ações forem 
praticadas de acordo com a razão informada pela virtude em praticar atos 
baseados na virtude (SOLOMON, 2006 apud ZAPPELLINI, 2017): Paviani e 
Sangalli (2014 apud ZAPPELLINI, 2017) afirmam categoricamente que a 
pergunta central da ética da virtude é como devo agir. 
A resposta a essa pergunta, por sua vez, consiste em agir bem, agir de 
acordo com uma lei moral fundamentada em obrigações ou no maior bem 
possível, tendo sempre em mente que esse bem é próprio do ser humano 
(PAVIANI; SANGALLI, 2014 apud ZAPPELLINI, 2017). 
Solomon (2006 apud ZAPPELLINI, 2017) defende a ética das virtudes 
com base na ideia de que ela não apenas define o que é certo, mas também o 
que é bom. 
Essas visões modernas da virtude possuem fundamento em Aristóteles, 
a partir de sua obra Ética a Nicômaco. Para ele (1985, p. 11 apud LOPES, 2017), 
“[...] o objetivo da ética seria então determinar qual é o bem supremo para as 
criaturas humanas (a felicidade) e qual a finalidade da vida humana [...]”. 
 
24 
 
Assim, a noção aristotélica de virtude, conforme Sangalli e Stefani (2012 
apud ZAPPELLINI, 2017), “é a de uma disposição humana em realizar coisas 
boas, atualizada pela prática constante e capaz de formar o caráter e controlar 
as paixões humanas”. 
No entanto, Zappelini (2017) ressalta que a prática da virtude não é 
exatamente simples: 
 
“[...] ela se equilibra entre dois tipos de vícios, um deles causado pelo excesso 
e outro pela falta, e, embora Aristóteles use a expressão justo meio para 
designar essa posição de equilíbrio, ela não é equidistante do excesso e da 
escassez; assim, o homem virtuoso precisa da razão, pois precisa calcular o 
que é a virtude em cada situação, e a razão é auxiliada pelo hábito (é preciso 
praticar a virtude para solucionar os problemas de como agir, bem como 
desenvolver a capacidade de ação)m fazendo com que uma ação virtuosa 
em determinado contexto não o seja em outro – mas o homem virtuoso sabe 
como agir (SANGALLI; STEFANI, 2012). 
 
Solomon (2006 apud ZAPPELLINI, 2017) apresenta, então, a lista de 
virtudes que um ser humano deve possuir: “a coragem, a temperança, a 
liberalidade, a magnificência, o orgulho, o bom temperamento, a amizade, o 
amor à verdade, a sabedoria, a vergonha e a justiça”. 
Referida lista, segundo Solomon (2006 apud ZAPPELLINI, 2017), “é muito 
calcada no modelo do bom cidadão ateniense contemporâneo de Aristóteles, e 
precisa de atualização. Além disso, ela desconsidera as virtudes cardeais 
cristãs, como a fé, a esperança e a caridade”. 
Inobstante não poder mensurar as incontáveis tentativas de modernizar a 
lista de Aristóteles, cabe-nos apenas mencionar uma formulação muito 
interessante, feita pelo filósofo francês André Comte-Sponville (1952 – ). Ele 
considera as virtudes como: 
 
“[...] forças ou disposições para agir, que, em seu uso moral, conduzem 
o ser humano à excelência, e afirma que, embora seja necessária a 
reflexão para o verdadeiro uso da virtude, o aspecto fundamental 
reside na prática: para aprender o que é a virtude, é preciso 
materializá-la em atos” (COMTESPONVILLE, 2001 apud ZAPPELLINI, 
2017). 
 
 
 
 
 
25 
 
5 ORIGENS DA ÉTICA CRISTÃ: O ÉTHOS BÍBLICO 
 
 
Fonte: misericordia.org.br 
 
Antes de falar numa ética cristã é preciso falar de um éthos bíblico, já que 
é sobre ele que está sistematizada a ética cristã. Não é um éthos racionalmente 
demonstrável. É, isso sim, uma moralidade fundada na obediência à Palavra de 
Deus e sujeita (essa moralidade) à fé. No dizer de Schelkle, “é uma moralidade 
construída sobre o risco da fé, de cujo caráter ela participa”. (RINCON ORDUÑA, 
1983 apud ADRIANO, 2007). 
 
5.1 As fontes do éthos bíblico 
 
Segundo José Adriano (2007) a primeira coisa é constatar que a Aliança1 
tem caráter essencialmente moral. Ela constitui o fundamento mais importante 
da moral bíblica. Em segundo lugar, ele aponta que deve-se destacar a Teologia 
da Criação por ter criado todo o mundoe todos os povos. Iahweh2 exerce seu 
 
1 In casu, refere-se à relação/acordo entre Deus e os homens, especialmente aquela firmada 
entre Deus e Moisés no intuito de libertar o povo de Israel do Egito e estabelecê-lo na terra de 
Canaã (a terra prometida). 
2 Usado primariamente para representar o Nome Sagrado (Teônimo hebraico) de Deus. 
https://misericordia.org.br/
 
26 
 
domínio sobre toda a história e sobre todas as nações, daí a consequência de 
tipo moral. 
O autor explica que na composição do éthos bíblico veterotestamentário 
entram outras três fontes éticas: natural, sociológica e popular. Essas fontes 
eram constituídas tanto pelo ambiente beduíno e a vida sedentária dos 
cultivadores como a vida religiosa dos povos vizinhos. 
José Adriano (2007) ainda comenta que: 
 
“O éthos do AT, no entanto, acrescenta um elemento novo e 
predominante: a opção por Iahweh e pela fidelidade à Aliança. Essa 
opção traz em seu bojo um princípio unificador que assegura o 
nascimento e a sobrevivência do Povo da Aliança; um princípio seletivo 
que promove a consciência recíproca entre as tribos, marginalizando e 
excluindo tudo o que era contrário a Aliança; princípio de 
sistematização do éthos reduzindo todas as exigências morais ao 
princípio ético último do amor a Deus e ao próximo (Dt 6, 4-5; Lv 
19,18).” 
 
Deve-se entender, pois, que o éthos tradicional das tribos foi submetido à 
autoridade legitimadora de Deus e da assimilação do patrimônio ético da 
humanidade contemporânea nos marcos da experiência histórico-salvífica de 
Israel. A fé presente em Israel operou uma seleção e uma interpretação religiosa 
dos preceitos já conhecidos e reconheceu no comportamento moral o valor de 
um ato de obediência ao Deus da Aliança. (ADRIANO, 2007). 
Por fim, José Adriano destaca os postulados do Éthos 
veterotestamentário, quais sejam: 
 
“a) Acatamento do domínio absoluto e transcendente de Deus sobre o 
mundo, sobre os homens e sobre o Povo de Israel; b) Convicção de 
que a norma máxima de conduta para o israelita era a vontade de 
Iahweh manifestada na Lei; c) Os códigos legais se situam no contexto 
da Aliança do Sinai, adquirindo, por isso mesmo, um caráter de credo 
ético; d) O conceito de comunidade que deriva não só da solidariedade 
(como fator sociológico), mas especialmente do fato de que os 
israelitas, ao selarem a Aliança com Iahweh no Sinai, adquiriram a 
consciência de que formavam o Povo de Deus; e) o interesse pelo 
indivíduo considerado como membro da comunidade (concepção 
antropocêntrica do mundo: o homem foi colocado no centro da criação 
e feito imagem e semelhança de Deus. Desse modo, qualquer que 
fosse sua categoria social, o homem era considerado como membro 
de Israel).” 
 
 
 
 
27 
 
6 ÉTICA CRISTÃ 
 
 
Fonte: www.gospelprime.com.br 
 
Segundo Pallister (1985, p. 2 apud Cavalcanti, 2016) a Ética Cristã pode 
ser conceituada como “o estudo dos deveres humanos, de acordo com a vida e 
os ensinos de Jesus”. Jesus Cristo, através do seu modo de vida e exemplo, é 
a autoridade suprema da ética cristã, cujos ensinamentos devem ser ensinados 
e vividos. (PALLISTER, 1985, p. 15 apud CAVALCANTI, 2016). 
Andrade (2015), a sua vez, a define como “a ciência que tem por objetivo 
orientar não apenas o cristão, mas também o não cristão, quanto às 
reivindicações da Bíblia Sagrada acerca de sua conduta pessoal, familiar e 
pública”. 
A Ética Cristã é considerada ciência por apresentar de maneira clara, 
metódica e racional, as verdades absolutas da Bíblia Sagrada à sociedade. Logo, 
não é uma mera reflexão acerca das reivindicações morais da Bíblia Sagrada. 
(ANDRADE, 2015). 
Assim, pode-se afirmar que, o que da base e consistência à Ética Cristã 
é a Bíblia Sagrada, de padrão infalível, imutável e inerrante. (LIMA, 2006 apud 
CAVALCANTI, 2016). “São os valores absolutos, provenientes do ser divino, 
criador de todas as coisas, presentes nas Escrituras, que dão solidez e 
atemporalidade aos princípios cristãos éticos que podem e devem ser aplicados 
a qualquer época da história da humanidade” (CAVALCANTI, 2016). 
http://www.gospelprime.com.br/
 
28 
 
Nos comentários de Pimentel (2012): 
 
“Na ética cristã, os princípios e valores do indivíduo são norteados pelo 
cristianismo, tendo a fé e a aceitação da palavra de Deus através do 
Cristo como princípio para que o cidadão tome suas decisões de forma 
ética dentro da comunidade, simplesmente pela consciência de que 
graça e ação estão associadas uma a outra, entendendo que não 
existe fé sem boas obras, assim como não existem boas obras sem 
fé”. 
 
“Somente quem crê obedece”: a fé exige como conseqüência a 
obediência (à palavra de Deus). Mas, ao mesmo tempo e 
dialeticamente, “só quem obedece crê”: a fé só existe na obediência e 
nutre-se da obediência à palavra de Deus. Jesus chama ao segmento, 
e o segmento não é somente fé, mas fé e obediência, obediência e fé”. 
(GIBELLINI, 2002 apud PIMENTEL, 2012). 
 
Prosseguindo, Dietrich Bonhoeffer, teólogo polonês que desenvolveu uma 
teologia mais ética do que dogmática, trabalhou na redação de uma obra 
sistemática publicada postumamente por Eberhard Bethge16 em 1949, intitulada 
como Ética, faz a seguinte ponderação sobre a ética cristã (GIBELLINI, 2002 
apud PIMENTEL, 2012): 
 
“A ética não pode ser uma ética dos princípios ou das normas, que é 
preciso primeiro formular e fixar para depois aplicar e estender à 
realidade. O objetivo da ética não é o conhecimento do bem e do mal, 
baseado em princípios e normas [...] e sim o discernimento da vontade 
de Deus em vista da ação concreta.” (GIBELLINI, 2002, p. 111 apud 
PIMENTEL, 2012). 
 
E complementa: 
 
“A ética dos princípios é abstrata e desvinculada da realidade: ela fixa 
uma vez por todas o que é bem e o que é mal; a ética que guia os 
cristãos é concreta e interroga-se sobre o mandamento concreto de 
Deus “hoje”, “aqui”, “entre nós”, “para nós”.” (GIBELLINI, 2002, p. 111 
apud PIMENTEL, 2012). 
 
Desta forma, não existem meios termos ou uma obrigação ditadora em 
relação a ética cristã, uma vez que os mandamentos divinos são claros e serão 
atendidos de forma plena apenas se o indivíduo tiver consciência que deve 
aplicá-lo por convicção, por amor e respeito a Deus, tendo a palavra como valor 
em sua vida e não porque alguém ou algum grupo está lhe dizendo que deve ser 
dessa maneira. (PIMENTEL, 2012). 
 
29 
 
Assim, “o ponto de partida da ética cristã, não é um princípio ou uma 
norma, mas o fato da reconciliação do mundo com Deus realizada em Cristo” 
(GIBELLINI, 2002, p. 111 apud PIMENTEL, 2012), já que Cristo não veio ao 
mundo simplesmente para entregar aos homens programas éticos ou religiosos 
com a finalidade de que o mundo seja configurado nessas bases, “mas configura 
a si e a Igreja, e na Igreja os cristãos, como uma nova humanidade, a fim de que 
por meio deles aconteça a configuração do mundo a Cristo”. (GIBELLINI, 2002, 
p. 112 apud PIMENTEL, 2012). 
 
“A ética cristã não é nem uma ética vitalista, que vive só o “sim” ao 
mundo; nem uma ética da renúncia, que vive somente o “não”, e sim 
uma ética da responsabilidade, que vive a tensão, a unidade polêmica 
entre o sim e o não: “A vida que encontramos em Jesus Cristo sob 
forma do ‘sim’ e do ‘não’ pronunciado para a nossa existência exige 
como resposta uma vida que acolha e unifique aquele ‘sim’ e aquele 
‘não’”. (GIBELLINI, 2002, p. 114 apud PIMENTEL, 2012) 
 
Em vista disso, ainda que amparados pelo livre arbítrio concedido por 
Deus aos homens, não quer dizer que eles têm direito ao “sim” absoluto que 
atenderá a todas as suas vontades como se fosse influenciar apenas em suas 
próprias vidas, ignorando o fato de que cada “sim” deve ser consciente e 
amparado nos propósitos designados por Deus, visto que o “sim” deve trazer em 
sua base o desejo divino, não o desejo estritamente do homem objetivado a 
satisfazerao seu ego e vontades. Do mesmo modo, deve vir a consciência para 
a escolha pelo “não”, amparada pelo discernimento entre o que é bom para Deus 
ou não, e não para o acomodo e omissão do homem. (PIMENTEL, 2012). 
Fato é que, a ética cristã tende a enraizar-se dentro do íntimo do indivíduo 
se tornando uma lei própria que irá orientar as suas escolhas e guiar a sua vida. 
Destarte, levando em consideração que uma das orientações do cristianismo é 
amar ao próximo da mesma forma e com a mesma intensidade que ama a si 
mesmo, seguindo esta ideia, é possível deixar todos os homens em posição de 
igualdade e colocar de lado a obsessão desenfreada pelo poder e superioridade 
sobre o outro, que tanto corrompe e faz mal ao homem e à sociedade, dividindo-
os em grupos e até mesmo individualizando-os, impossibilitando assim, a 
convivência entre eles como irmãos. (PIMENTEL, 2012). 
 
30 
 
Por todo o exposto, pode-se concluir que a ética cristã estuda de forma 
sistemática a vivência prática moral do homem, baseado em seus valores 
cristãos revelados na Bíblia Sagrada. (REIFLER, 2007 apud CAVALCANTI, 
2016). 
 
“Neste ínterim, observa-se que a nascente da ética cristã não está 
voltada para o próprio eu, muito menos para a realidade a sua volta, 
mas para a realidade divina com base em sua revelação presente nas 
Escrituras e com ápice na pessoa e obra de Jesus Cristo. 
BONHOEFFER, 2009 apud CAVALCANTI, 2016). 
 
A Ética Cristã, em sua conjectura geral, portanto, tem viés 
antropocêntrico, ou seja, o ser humano é base, já a ética de caráter cristão é de 
perspectiva teocêntrica, tendo Deus na origem. (CAVALCANTI, 2016). 
Por fim, entende-se a importância da ética em sua conjectura de caráter 
geral para benefício da sociedade, porém, visualiza-se em termos de importância 
e profundidade, a ética cristã como melhor estruturada, organizada, coerente e 
com a presença de valores permanentes para contribuir com a transformação 
social de maneira mais contundente. (CAVALCANTI, 2016). 
Ao fazer a diferenciação dos tipos éticos, Bonhoeffer (2009, p. 125 apud 
CAVALCANTI, 2016) diferencia ambas de maneira mais drástica ao relatar que 
a ética cristã é “divina, santa, sobrenatural”; enquanto que a ética geral é 
“mundana, profana, natural, não cristã”. Já Stanley Grenz (GRENZ, 2006 p. 257 
apud CAVALCANTI, 2016) apresenta a ética cristã como marco evolutivo e 
transformacional para a ética natural. “A ética cristã marca a redenção da ética 
natural; melhor dizendo, sua transformação”. (GRENZ, 2006, p. 257 apud 
CAVALCANTI, 2016). 
 
 
6.1 Os fundamentos da Ética Cristã 
 
Para Cavalcanti (2016) pensar a revelação presente nas Escrituras 
Sagradas de Deus ao seu povo desde os primórdios, de maneira dinâmica e 
crescente, facilitará o entendimento da construção do alicerce ético cristão para 
aplicabilidade na sociedade. Uma revelação progressiva permite a visualização 
do lançamento de bases sólidas de valores e princípios para o bem viver. 
 
31 
 
Neste entendimento, compreende-se que o fundamento da ética cristã, 
segundo referido autor, encontra-se presente no Antigo Testamento (GRENZ, 
2006, p. 69 apud CAVALCANTI, 2016), ou seja, onde o processo de imitação de 
valores permanentes e imutáveis presentes no ser divino, como santidade, 
responsabilidade, amor, fé, honestidade, são disseminados entre o povo modelo 
de Israel, com o intuito de alcançar outras nações, e com isso trazer 
transformação a nível globalizado. 
Já para Quintela (2016), a ética cristã, ao contrário da secular (que tem 
sua origem na filosofia grega), é a ética pautada nas Escrituras Sagradas, 
afetando não somente os costumes, mas também a definição de bem e mal. 
Desta forma, a ética cristã não deixa espaços para o relativismo ético, o egoísmo 
ético, ou para utilitarismo. 
Consoante Quintela (2016) a ética cristã tem como pressuposto a 
metafísica, pois acredita em um Deus único criador, sustentador e direcionador 
do universo. Por ter caráter teísta, ela se encontra no campo da ética normativa, 
que, de acordo com Moreland e Craig (2005, p. 486 apud QUINTELA, 2016), 
“procura oferecer orientação para determinar se ações, atitudes e motivações 
certas ou erradas”. Para Costa (2016, p. 5 apud QUINTELA, 2016), “a missão 
dada por Deus ao homem para ser cumprida aqui na terra é o assunto especial 
da ética cristã”. 
Com uma visão mais abrangente que os autores anteriores, Andrade 
(2015), assevera que “como toda ciência que se preza, a Ética Cristã possui 
bases bem sólidas; [...] e, têm como “fundamentos: a Bíblia Sagrada, a tradição 
da Igreja, as leis humanas e os costumes”. 
 
“a) A Bíblia Sagrada. Sendo a Bíblia Sagrada a nossa única regra 
infálivel de fé e prática, constitui-se ela no principal fundamento da Ética 
Critão. Portanto, todas as nossas decisões têm de ser orientadas por 
suas ordenanças e prescrições. Caso contrário, jamais seremos 
reconhecidos como filhos de Deus. Não basta portar um exemplar da 
Palavra de Deus, nem jurar com a mão sobre o Livro Santo. É urgente 
que lhe sigamos as recomendações e cumpramos-lhes todas as 
demandas. (grifo nosso). 
 
b) Tradição da Igreja. Se, por um lado, não podemos escravizar-nos à 
tradição, por outro, não devemos desprezá-la. Sem o legado dos que 
nos precederam, jamais teríamos conseguido estruturar nosso edifício 
teológico, moral e ético. Logo, é-nos permitido eleger a tradição 
eclesiástica como o segundo fundamento da Ética Cristã.” (grifo nosso). 
 
 
32 
 
Para Andrade (2015), pois, é possível ter outros cânones da ética cristã 
além da Bíblia Sagrada. Ele afirma que é permitido tê-los desde que não 
contrariem a Palavra de Deus. Contudo, ressalva que somente a Bíblia (Livro 
dos livros) pode e deve ser aceita irrestritamente, ao passo que as outras normas 
e proposições têm de passar pelo crivo dos santos profetas e apóstolos. 
Ele destaca que a tradição, quando bem utilizada, assessora a igreja nos 
dilemas teológicos, morais e éticos. Segundo ele, o apóstolo Paulo reconhece-
lhe a importância: “Nós vos ordenamos, irmãos, em nome do Senhor Jesus 
Cristo, que vos aparteis de todo irmão que ande desordenadamente e não 
segundo a tradição que de nós recebestes?” (2 Ts 3.6). O que não se pode fazer, 
Andrade (2015) alerta, é colocá-la (a tradição) em pé de igualdade com a Bíblia. 
Sobre o terceiro e quarto fundamento da Ética Cristã, Andrade (2015) 
explica: 
 
“C) as leis humanas e os costumes. As leis romanas, segundo 
Tertuliano (160-220), formavam uma barreira contra a ascenção do 
Anticristo, que já naquela época, deixava os cristãos bastante 
apreensivos. Embora hajam sido elaboradas por legisladores alheios à 
comunidade de Israel, espelhavam o cuidado divino em manter a 
ordem entre as nações. Além do mais, segundo Paulo, “não há 
autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem 
foram por ele instituídas”. [...] Mais adiante, reafirma o apóstolo: “De 
modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de 
Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação. Porque 
os magistrados não são para temor, quando se faz o bem, e sim 
quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem 
e terás louvor dela, visto que a autoridade é ministro de Deus para teu 
bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que 
ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o 
que pratica o mal” (Rm 13.2-4). 
 
Logo, segundo Andrade (2015), a Ética Cristã pode fundamentar-se 
também nas legislações humanas. É claro que estas nem sempre refletem a 
justiça divina. Nesse caso, deve-se, para ele, ignorá-las e ficar apenas com a 
Bíblia Sagrada, já que, por exemplo, “um cristão consciente jamais acataria, por 
exemplo, as Leis de Nuremberg que, decretadas pelos nazistas em 1935, 
privaram os judeo-alemães de sua cidadania, tornando-os descartáveis no 
estado hitlerista”. 
Se as leis humanas não contrariam asdivinas, obedeçamo-las, afinal, 
Deus também se utiliza das legislações temporais para fazer cumprir seus 
 
33 
 
decretos eternos. Os cristãos, de acordo com a Epístola a Diogneto, antigo 
documento do século II, “vivem na sua pátria, mas como forasteiros; participam 
de tudo como cristãos e suportam tudo como estrangeiros. Toda pátria 
estrangeira é pátria deles, e cada pátria é estrangeira. Obedecem às leis 
estabelecidas, mas com sua vida ultrapassam as leis”. (ANDRADE, 2015). 
 
 
6.2 Princípios Éticos Cristãos 
 
De acordo com Almada (2015) não há na literatura muitas obras que 
sistematizem princípios cristãos de forma ordenada, mas, há, sim, uma ou outra 
inferência de maneira solta, ratificando segundo ele a ideia de não 
sistematização dos princípios éticos cristãos. Nesse sentido, o teólogo luterano 
Bonhoeffer (2009, p.48 apud ALMADA, 2015, p. 37) na obra “Ética”, diz que: 
 
“O inteligente sabe que a realidade tem limitada receptividade para 
princípios, pois sabe que ela não se estrutura por princípios, mas 
repousa no Deus vivo e criador. Sabe, portanto, também que não se 
pode acudir a realidade como os mais puros princípios nem com a 
melhor das vontades, mas somente com o Deus vivo. Princípios são 
apenas instrumentos na mão de Deus, e que logo são jogados fora 
como imprestáveis. O olhar liberto para Deus e para a realidade tal qual 
subsiste somente em Deus conjuga simplicidade e inteligência. Não há 
verdadeira simplicidade sem inteligência, como não há inteligência 
sem simplicidade”. 
 
O autor Wolfgang Schrage (1994, p. 14 apud ALMADA, 2015) fez sua 
observação a respeito de uma falta de sistemática da ética cristã no Novo 
Testamento, dizendo que: 
 
“Portanto, embora o NT não tenha desenvolvido uma ética sistemática, 
também não se deve conceber o agir da cristandade primitiva de modo 
excessivamente puntiforme e ativista e a ética neotestamentária 
exageradamente em termos de ética situacional ou decisionista. 
Mesmo que não se encontre nenhum sistema fechado de reflexões 
éticas e nenhuma ética concebida racionalmente, não se pode deixar 
de ver a grande valorização da razão e do conhecimento racional 
justamente dentro da ética neotestamentária.” 
 
Assim, como primeira análise na busca pelos princípios éticos cristãos 
tem-se à Bíblia, pilar para a sustentabilidade da religião cristã, a qual, dentre as 
muitas regras morais, traz os Dez Mandamentos. (ALMADA, 2015). 
 
34 
 
O livro sagrado encerra condutas que, a princípio, deveriam ser seguidas 
por todas as pessoas cristãs: 
 
“Fidelidade, humildade e sinceridade são coisas que, a priori, todo 
cristão deseja desenvolver ao lado de Deus. Porém, as coisas que 
realmente desenvolve-se na grande maioria após o conhecimento de 
Seus ensinos, são: desânimo, incredulidade, avareza, orgulho, etc.; 
comportamentos que tornam a parábola do semeador cada vez mais 
atuante (Mateus 13:1-23 cf. João 6:60-66). No geral, isso ocorre 
quando a lei de Deus é rejeitada (Romanos 8:5-8); outros cambaleiam 
por manterem ideias equivocadas sobre ela (cf. Tito 1:13-14).” (IASD 
ON LINE, 2014 apud ANDRADE, 2015). 
 
Também é verdade que não há a necessidade de ser uma pessoa cristã 
e muito menos ser um excelente observador para verificar essas regras morais 
que a Bíblia encerra. Da mesma forma identifica-se nas escrituras, mesmo que 
de forma implícita, princípios éticos que são a base para essas regras de 
condutas que agradem a Deus. Portanto, é necessário distinguir entre regras e 
princípios, veja-se, pois: 
 
“Uma regra define-se por sua especificidade, por ser uma ação 
particular numa situação dada (ou em toda situação). O princípio e a 
norma assinalam o que esta por trás da regra, isto é, as razões e o 
fundamento da regra. O principio tem sentido de “fonte”, ao passo que 
a norma tem sentido de “pauta” ou “modelo”. [...] Os princípios e as 
normas assinalam a orientação e a qualidade da ação humana. 
Surgem de uma relação viva com Deus e o próximo, cimentada no que 
Deus Fez no passado e no que esta fazendo no presente.” (DEIROS, 
2002, p. 14 apud ALMADA, 2015). 
 
As abordagens éticas contemporâneas, dos mais diversos códigos 
profissionais podem ser estudadas pelos cristãos como forma de se avaliar a 
conduta a ser seguida, entretanto, nas palavras do teólogo evangélico Elinaldo 
Lima (apud ALMADA, 2015), “é na Bíblia que se encontram os referenciais éticos 
indispensáveis para um viver santo e digno, em meio a uma sociedade que é 
vista por Deus como reprovável e corrompida”. 
A partir deste ponto se passa a discorrer sobre os princípios éticos cristãos 
que emanam da Bíblia Sagrada. 
 
 
 
 
 
35 
 
6.2.1 Princípio da ternura e do vigor 
 
Leonardo Boff (2012, p. 31 apud ALMADA, 2015), ao construir este 
princípio disse que: “a paixão é um caudal fantástico de energia que, como águas 
de um rio, precisa de margens, de limites e da justa medida”. Tal referência 
reporta à Aristóteles que na obra “Ética a Nicomaco” tece considerações sobre 
essa temperança, conforme se colaciona a seguir: 
 
“Está, pois, suficientemente esclarecido que a virtude moral é um meio-
termo, e em que sentido devemos entender esta expressão; e que é 
um meio-termo entre dois vícios, um dos quais envolve excesso e o 
outro deficiência, e isso porque a sua natureza é visar à mediania nas 
paixões e nos atos. Do que acabamos de dizer segue-se que não é 
fácil ser bom, pois em todas as coisas é difícil encontrar o meio-termo.” 
(ARISTÓTELES, 1991 apud ALMADA, 2015). 
 
E Boff (2012, p.31 apud ALMADA, 2015), continua: “[...] se vigorar a justa 
medida, e a paixão se servir da razão para um autodesenvolvimento regrado, 
então emergem as duas forças que sustentam uma ética promissora: a ternura 
e o vigor”. A ternura tem haver com a preocupação e o zelo com as outras 
pessoas, já o vigor, de acordo com dito autor, suplanta qualquer dificuldade e 
assim esclareceu: 
 
“O vigor abre caminho, supera obstáculos e transforma sonhos em 
realidade. É a contenção sem a dominação, a direção sem a 
intolerância. Ternura e vigor, ou também “animus” e “anima”, 
constroem uma personalidade integrada, capaz de manter unidas as 
contradições e enriquecer com elas. São dois princípios capazes de 
sustentar um humanismo sustentável, fundado na materialidade da 
história e na espiritualização das práticas humanas. Destas premissas 
pode nascer uma ética, capaz de incluir a todos na família humana. 
Essa ética se estrutura ao redor dos valores fundamentais ligados à 
vida, ao seu cuidado, ao trabalho, às relações cooperativas e à cultura 
da não violência e da paz. É um ethos que ama, cuida se 
responsabiliza, se solidariza e se compadece.” (BOFF, 2012, p. 21-32 
apud ALMADA, 2015). 
 
Nesse contexto, escrevendo aos Filipenses, o apóstolo Paulo exorta, 
dizendo que: “seja a vossa moderação conhecida de todos os homens. Perto 
está o senhor.” (Fl 4,5). O termo moderação tem o significado de autocontrole e 
ponderação. A exortação parece ter o intuito de combater posições obstinadas 
e demonstrações de severidade demasiada sobre qualquer coisa. (ALMADA, 
2015). 
 
36 
 
6.2.2 Princípio da conduta de amor a todas as pessoas 
 
Conforme Almada (2015), “por este princípio o amor é fundamento para 
qualquer relacionamento, seja com Deus ou com outro ser humano”. Neste 
mesmo sentido o teólogo e pastor evangélico João Arantes (2015 apud 
ALMADA, 2015) relata que: 
 
“Paulo começa a seção ética de sua carta aos Romanos com a 
excelência do “culto racional” e da diversidade dos dons espirituais que 
devem estar a serviço da igreja. Entre os dons espirituais e os degraus 
do comportamento cristão, exatamente no começo de Romanos 12.9, 
ele coloca a pedra angular da ética cristã: “o amor seja sem hipocrisia”. 
O amor, que é realmente o princípio governante da vida cristã, é mais 
do que uma emoção, e é de natureza mais firme do que mero 
sentimentalismo ou pura filantropia. Salomão poetizaesse amor sem 
hipocrisia, dizendo: “Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo 
sobre o teu braço, porque o amor é forte como a morte, e duro como a 
sepultura, o ciúme; as suas brasas são brasas de fogo, são veementes 
labaredas. As muitas águas não poderiam apagar o amor, nem os rios, 
afogá-lo; ainda que alguém desse todos os bens da sua casa pelo amor 
seria de todo desprezado” (Ct 8.6-7).” 
 
E para sustentar tal assertiva recorre-se mais uma vez às escrituras e às 
palavras de Paulo (apud ALMADA, 2015), veja-se, pois: 
 
“13:1 Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não 
tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que 
retine; 13:2 E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos 
os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda fé, de maneira 
tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria; 13:3 
E ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres, 
e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse 
amor, nada disso me aproveitaria; 13:4 O amor é sofredor, é benigno; 
o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se ensoberbece; 
13:5 não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios 
interesses, não se irrita, não suspeita mal; 13:6 não se regozija com a 
injustiça, mas se regozija com a verdade; (1Cor 13,1-6).” 
 
Do versículo supracitado, se depreende a importância do amor e de seus 
desdobramentos. 
Em outras palavras, Paulo (2001, p. 1227 apud Almada, 2015) explica que 
se não houver amor ao próximo, amor à sua profissão e se não colocar amor ao 
que está fazendo, não haverá sentido na vida. Mas, se ao contrário, colocar o 
amor como o carro chefe de tudo serão pessoas melhores e profissionais mais 
promissores. 
 
37 
 
As palavras do teólogo, por sua vez, católico Boff (2012 apud ALMADA, 
2015), anunciam que: 
 
“O ethos que ama funda um novo sentido de viver. Amar o outro é 
darlhe razão de existir. Não há razão para existir. O existir é pura 
gratuidade. Amar o outro é querer que ele exista, porque o amor faz o 
outro importante. “Amar uma pessoa é dizer-lhe: tu não morrerás 
jamais. (G.Marcel), tu deves existir, tu não podes morrer”. Quando 
alguém ou alguma coisa se fazem importantes para o outro, nasce um 
valor que mobiliza todas as energias vitais. É por isso que, quando 
alguém ama, rejuvenesce e tem a sensação de começar a vida de 
novo. O amor é a fonte dos valores.” 
 
Neste mesmo sentido, o teólogo luterano Bonhoeffer (2009, p. 35 apud 
ALMADA, 2015) exprime que “o amor seria, então, um ethos superior de ordem 
pessoal, que entra como complementação e aperfeiçoamento ao lado dos ethos 
inferior a questões de ordem e objetividade”. Ou seja, a ética superior advém da 
proximidade do ser humano com Deus. 
 
 
6.2.3 Princípio da licitude e da conveniência 
 
Por este princípio a liberdade de escolha do cristão é exortada pelo 
apóstolo Paulo (2001, p. 1219 apud ALMADA, 2015) com os seguintes termos: 
“todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as 
coisas me são lícitas; mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas”. (Cor 
6,12). 
A ideia do versículo em questão é de que a pessoa crente não deve fazer 
as coisas simplesmente porque são lícitas, mas porque lhe convém perante 
Deus. A conveniência trata das virtudes, valores e responsabilidades cristãs. 
Neste diapasão, tem-se que: 
 
“Aprendemos que o senso moral pode nos ajudar a separar o certo do 
errado, o falso do verdadeiro, o que deve e o que não deve, do que 
convém ou não convém. A flexibilização das Normas não significa uma 
abertura doutrinária que venha ferir os princípios éticos morais no viver 
cristão. Não podemos, em hipótese alguma, nos deixar dominar pelos 
costumes do mundo, para não sofrer as consequências espirituais”. 
(FERREIRA, 2015 apud ALMADA, 2015). 
 
 
38 
 
Na epístola de Paulo aos Gálatas (2001, p. 1250 apud ALMADA, 2015), 
exortou: “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem 
semear, isso também ceifará”. (Gl 6,7) 
Em resumo, o recado é de que não se pode deixar dominar pelos maus 
costumes do mundo, para não sofrer as consequências espirituais. De outra 
banda, depreende-se que não há mérito ou valor quando a conduta se pauta na 
obrigação, que a virtude está na dedicação voluntariosa. (ALMADA, 2015). 
 
 
6.2.4 Princípio da tolerância 
 
De acordo com este princípio “devemos respeitar as divergentes opiniões; 
quem adota algum costume não julgue o que não o pratica; quem não adota não 
despreze ou desmereça a devoção de seu irmão”. (SERVÃO, 2015 apud 
ALMADA, 2015). 
Paulo (2001, p. 1227 apud ALMADA, 2015) relata na carta aos Romanos 
que: “quem come não despreze a quem não come; e quem não come não julgue 
a quem come; pois Deus o acolheu. Assim, pois, cada um de nós dará conta de 
si mesmo a Deus”. (Rm14,3). 
O alemão Reiner Forst (2015 apud ALMADA, 2015) também tratou o 
assunto tolerância, intencionando chegar a um conceito e oferecer uma resposta 
às indagações de tantos sobre o que é tolerância, e assim se manifestou: 
 
“Já sugeri uma resposta aparentemente simples para essa questão. 
Ela sustenta que os limites da tolerância devem ser postados onde a 
intolerância começa. A tolerância só pode ser exigida em face daqueles 
que são tolerantes; é uma questão de simples reciprocidade.” 
 
No desenvolvimento de seu trabalho o professor Forst (2015 apud 
ALMADA, 2015) cita fragmentos teóricos de vários autores para embasar a sua 
tese, conforme segue: 
 
“Uma breve olhada nos textos clássicos da história da tolerância 
fornece suporte a isso. Pierre Bayle defende a máxima "de que uma 
religião que coage a consciência não tem direito a ser tolerada"³, sendo 
que ele tinha em mente o catolicismo; John Locke conclama que 
"aqueles que não possuírem e professarem o Dever de tolerar todos 
os homens em matéria de simples Religião" não detêm "nenhum direito 
 
39 
 
de ser tolerados pelo Magistrado"4. Ele inclui ainda aqueles "que 
negam a Existência de um Deus" porque "Promessas, Pactos e 
Juramentos, que são os Elos da Sociedade Humana, não podem 
exercer influência sobre um Ateu"5. Rousseau formulou apenas um 
dogma negativo em sua declaração de fé dos cidadãos: o da 
intolerância” 6. E, de acordo com Voltaire, "os homens devem evitar o 
fanatismo para merecerem a tolerância"7. Ele também adverte quanto 
ao ateísmo, pois um "ateu furioso tende a ser uma praga tão grande 
quanto um supersticioso furioso"8. Ambos podem ser evitados por 
meio de "idéias embasadas a respeito da divindade".” 
 
Frente a tais colocações se depreende que o termo ou princípio da 
tolerância não pode ser confundido como aceitação de certas circunstâncias 
onde ser tolerante é ser conivente com certas atitudes discriminatórias como 
bem aponta o professor Forst (2015 apud ALMADA, 2015), a seguir: 
 
“Uma última observação. Por mais importantes que sejam os vários 
clamores por tolerância e audácia cívica, deve-se também ser aqui 
cuidadoso, por exemplo, quando se ouvem apelos por "tolerância para 
com aqueles que pensam e enxergam diferente". Pois se deve lembrar 
que falar de tolerância só faz sentido onde existe uma objeção 
normativa contra certas crenças ou práticas. Esse pode ser o caso de 
pessoas que pensam diferente de nós de um modo eticamente 
relevante. Mas está longe de estar claro quais espécies de razões 
seriam capazes de levar a uma objeção contra alguém 
"aparentemente" diferente. Atitudes desse tipo - contra negros, por 
exemplo - podem estar, ao contrário, baseadas em preconceitos raciais 
e não em qualquer razão sequer minimamente "razoável". Mas então 
requerer a essas pessoas que sejam "tolerantes" corre o risco de 
declarar que seus preconceitos sejam juízos éticos legítimos ou, ao 
menos, razoavelmente possíveis. Para se evitar isso, não se deve 
ambicionar tolerância nesse caso, mas uma dissolução de tais 
preconceitos, o desenvolvimento deum respeito básico. O conceito de 
tolerância sempre foi e continua sendo um conceito ambivalente.” 
 
 
6.2.5 Princípio do respeito e companheirismo cristão 
 
O referido princípio é de suma importância, visto que fala do respeito que 
cada ser humano deve ter para com o próximo e reforça a ideia de convivência 
e companheirismo. Mateus (apud ALMADA, 2015) exorta essa ideia e sua 
importância relatando como um segundo mandamento, dizendo: “e o segundo, 
semelhante a este, é: amarás ao teu próximo como a ti mesmo”. (Mt 22,39). 
Tal exortação traz consigo a ideia de que é preciso se preocupar com o 
semelhante, mas, sobretudo estabelece uma dicotomia nas relações, ou seja, 
 
40 
 
além da necessidade de respeito ao próximo, deve-se ser cordial e optar por 
uma convivência amistosa e leal. (ALMADA, 2015). 
Um autor desconhecido (apud ALMADA, 2015) assim definiu o presente 
princípio: 
 
“O companheirismo cristão ocorre quando dois ou mais cristãos se 
reúnem. O dicionário define o companheirismo como "convivência 
íntima; solidariedade, camaradagem". A comunhão cristã, então, 
envolve uma associação de amizade com outros cristãos. Isso significa 
que você escolhe outros cristãos para serem seus companheiros. “ 
 
 
6.2.6 Princípio do respeito ao mais fraco 
 
Este princípio cristão prega a proteção dos mais fracos e defende nunca 
expô-los a humilhações e ao escárnio. “A Bíblia afirma que não devemos 
escandalizar um irmão mais fraco, mesmo que tenhamos consciência do que 
estamos fazendo não é errado.” (DANIEL, 2009 apud ALMADA, 2015). 
Na bíblia há diversos fragmentos escritos por Paulo (2001 apud ALMADA, 
2015) relacionados a este princípio, como se pode observar em seguida. 
 
“[...] mas, vede que essa liberdade vossa não venha a ser motivo de 
tropeço para os fracos. (1Cor 8,9 ). 
[...] pelo que, se a comida fizer tropeçar a meu irmão, nunca mais 
comerei carne, para não servir de tropeço a meu irmão. (1Cor 8,13) 
[...] ora nós, que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos 
fracos, e não agradar a nós mesmos. (Rm 15,1)” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
41 
 
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