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<p>A TEORIA DA POLÍTICA</p><p>MONETÁRIA DO MODELO</p><p>MONETARISTA</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Em oposição à velha tradição keynesiana, Milton Friedman, o maior expoente</p><p>do monetarismo, tentou demonstrar durante as décadas de 1950 e 1960 que a</p><p>moeda importa. Segundo Friedman, é possível reduzir a taxa de desemprego</p><p>com políticas monetárias expansionistas, ainda que apenas temporariamente.</p><p>Daí vem a denominação dessa corrente, o monetarismo, em oposição ao fisca-</p><p>lismo keynesiano. Friedman apoia suas ideias no tripé: taxa natural de desem-</p><p>prego, curva de Phillips e expectativas adaptativas.</p><p>Inicialmente, este capítulo apresenta a teoria que sustenta a hipótese da</p><p>existência de uma taxa natural de desemprego na economia que é o ponto de</p><p>partida para a construção da teoria da política monetária friedmaniana. Poste-</p><p>riormente, apresenta-se a teoria da curva de Phillips com expectativas adaptati-</p><p>vas, isto é, expectativas em que os agentes levam em conta somente as informa-</p><p>ções sobre o passado. Uma versão especial da curva de Phillips, chamada de</p><p>aceleracionista, também é tratada no capítulo. Por último, apresentam-se duas</p><p>proposições friedmanianas. A primeira é que apesar de a política monetária ser</p><p>eficaz para alterar variáveis reais, ela não deve ser utilizada para este fim. A se-</p><p>gunda, que todo processo inflacionário tem causa monetária e que, portanto,</p><p>uma política monetária contracionista é a única solução desinflacionista, a qual</p><p>terá como efeito, necessariamente, o aumento do desemprego.</p><p>9.1. A TAXA NATURAL DE DESEMPREGO</p><p>A hipótese da existência de uma taxa natural de desemprego é o ponto de par-</p><p>tida para a construção da teoria da política monetária friedmaniana. Quando a</p><p>economia está em repouso, isto é, não está sob o efeito de nenhuma interven-</p><p>ção de política macroeconômica, a sua taxa corrente de desemprego é igual à</p><p>taxa natural. O termo natural foi usado, por Friedman, no sentido wicksellia-</p><p>no: separar as causas de natureza estrutural e institucional das causas interven-</p><p>cionistas-monetárias. Portanto, a taxa natural é aquela taxa de desemprego que</p><p>incorpora as características estruturais e institucionais do mercado de trabalho</p><p>CAPÍTULO</p><p>9</p><p>e do mercado de bens, tais como a tecnologia, as imperfeições, as variações sazonais na demanda e oferta,</p><p>o custo e o tempo de coletar informações sobre vagas disponíveis e o custo e o tempo de mobilidade de</p><p>um emprego para outro – entre outras características. Quando a economia possui uma taxa de desem-</p><p>prego igual à sua taxa natural, somente vigoram o desemprego friccional e o desemprego voluntário.</p><p>Em seguida, o significado desses dois tipos de desemprego é explicado.</p><p>O desemprego friccional é aquele em que os trabalhadores estão apenas temporariamente de-</p><p>sempregados, isto é, estão em transição entre um emprego e outro. Por um lado, os trabalhadores</p><p>possuem diferentes habilidades e anseios salariais, por outro, para os diversos postos de trabalho</p><p>são exigidos diferentes conhecimentos e são oferecidas diferenciadas remunerações. Contudo, as</p><p>informações entre os candidatos e os empresários que estão oferecendo as vagas com determinadas</p><p>características não são instantâneas. Há ainda que se considerar que a mobilidade geográfica dos</p><p>trabalhadores e os processos de admissão das empresas não são imediatos. Assim, o desemprego</p><p>existente em função de incompatibilidades passageiras entre os trabalhadores e as vagas é chamado</p><p>de desemprego friccional.</p><p>O desemprego voluntário é aquele em que os trabalhadores estão decididamente desempregados</p><p>porque consideram que não vale a pena trabalhar pelo salário real que lhes é oferecido. Tanto as horas</p><p>livres para o lazer proporcionado pelo desemprego quanto os bens adquiridos com o salário pago pelo</p><p>trabalho proporcionam satisfação. Os trabalhadores cujas preferências indicam que a satisfação das</p><p>horas livres é maior que aquela que poderia ser proporcionada pelo salário real em vigor decidem vo-</p><p>luntariamente por não trabalhar. Os trabalhadores que estão empregados têm preferências inversas.</p><p>Eles avaliam que os bens-salário geram uma satisfação superior às horas de lazer devido à condição</p><p>de desemprego voluntário. Enfim, quando a taxa de desemprego da economia é igual à sua taxa natu-</p><p>ral, todos estão satisfazendo as suas preferências, empregados ou não. Não existe, então, desemprego</p><p>involuntário.</p><p>Tanto Friedman quanto os novos clássicos (cujas ideias serão discutidas no próximo capítulo) enfa-</p><p>tizam que a taxa natural não é imutável, nem inalterável. Muitas das características estruturais ou insti-</p><p>tucionais de uma economia, incluindo as preferências dos agentes, podem mudar com o passar do tem-</p><p>po, assim, mudando a taxa natural de desemprego. E muitas das características institucionais podem ser</p><p>alteradas, por exemplo, podem ser melhorados os processos de informação sobre a oferta de vagas dis-</p><p>poníveis, alterando dessa forma a taxa natural de desemprego.</p><p>De acordo com o arcabouço teórico monetarista, a taxa corrente de desemprego corresponde à taxa</p><p>natural de desemprego quando o conjunto de trabalhadores (empregados ou não) está obtendo satisfa-</p><p>ção plena. A hipótese da taxa natural pode ser resumida na noção de que existe um único ponto de de-</p><p>semprego (friccional e voluntário) de equilíbrio na economia em que os agentes têm as suas preferên-</p><p>cias satisfeitas. Será visto que quando a economia se encontra em posição de desequilíbrio, isto é, a sua</p><p>taxa corrente de desemprego é diferente da taxa natural, existirão trabalhadores cujas preferências não</p><p>estão sendo satisfeitas.</p><p>Como o ponto de equilíbrio econômico é único, diz-se que o equilíbrio possui a propriedade da</p><p>unicidade. Diz-se ainda que o equilíbrio é estável ou, equivalentemente, que possui a propriedade</p><p>da estabilidade, porque a taxa corrente de desemprego converge em direção à taxa natural na ausência</p><p>de intervenções monetárias. Tal propriedade vigora, dado que o monetarismo considera que os merca-</p><p>dos se equilibram via variações em preços e salários, que são considerados plenamente flexíveis. Todos</p><p>os detalhes sobre esse processo de convergência serão discutidos nas duas próximas seções.</p><p>O Gráfico 9.1 resume algumas das ideias até aqui expostas sobre a taxa natural de desemprego. A</p><p>taxa natural de desemprego muda ao longo do tempo em função, por exemplo, de mudanças nas prefe-</p><p>rências dos trabalhadores entre lazer e trabalho e de melhorias em outras condições, entre elas uma mo-</p><p>bilidade geográfica maior dos trabalhadores ou a busca de empregos e empregados via Internet. O grá-</p><p>fico mostra também que somente existe, para cada período t, um único ponto de equilíbrio econômico,</p><p>o ponto em que existe a coincidência entre a taxa natural e a taxa corrente de desemprego. E, por último,</p><p>pode-se perceber que a taxa corrente de desemprego gravita em torno da taxa natural de desemprego, o</p><p>que indica que vigora a propriedade da estabilidade.</p><p>114 A Teoria da Política Monetária do Modelo Monetarista ELSEVIER</p><p>9.2. A CURVA DE PHILLIPS COM EXPECTATIVAS ADAPTATIVAS</p><p>No modelo monetarista, os trabalhadores formam expectativas de preços utilizando-se exclusivamente</p><p>de infomações sobre o passado. A fórmula apresentada a seguir é um dos exemplos de processos de for-</p><p>mação de expectativas consistentes com o modelo, que são chamadas genericamente de expectativas</p><p>adaptativas:</p><p>� �P Pt</p><p>e</p><p>t� �1 (1)</p><p>Na equação 1, a expectativa de inflação para o período t é exatamente a inflação do período imedia-</p><p>tamente anterior. No Apêndice deste capítulo, é desenvolvida uma fórmula, também compatível com o</p><p>modelo monetarista, em que o agente forma suas expectativas de inflação com base na expectativa que</p><p>teve para o período anterior e no erro que cometeu, isto é, faz uma média ponderada entre a sua expecta-</p><p>tiva de inflação para o período anterior e a inflação efetiva nesse período.</p><p>Partindo-se de uma situação de equilíbrio, em que o estoque de moeda tenha sido mantido constan-</p><p>te por vários períodos, uma expansão monetária provocará uma redução da taxa corrente de desempre-</p><p>go em relação à taxa</p><p>natural, se as expectativas são formadas tal como na equação 1. Caso haja uma ex-</p><p>pansão monetária, os empresários podem oferecer um salário nominal mais elevado aos trabalhadores</p><p>que estão voluntariamente desempregados. Estes, por sua vez, pensarão que um salário nominal mais</p><p>elevado representa um salário real mais elevado. Suas expectativas são de que não haverá inflação por-</p><p>que os preços estavam constantes no passado, já que o estoque de moeda não foi alterado por vários pe-</p><p>ríodos. No modelo monetarista, o nível de preços é função direta do estoque de moeda. Dessa forma, al-</p><p>guns trabalhadores, antes ociosos, aceitarão trabalhar pelo novo salário esperado. Outros ainda conti-</p><p>nuarão considerando que o salário real esperado mais elevado não proporcionará mais satisfação que as</p><p>horas de lazer e, então, continuarão a manter a sua condição de desemprego voluntário.</p><p>Dentre aqueles trabalhadores que até então estavam na condição de desempregados voluntariamen-</p><p>te, alguns pensarão que o salário esperado gerará mais satisfação do que as horas de lazer que têm des-</p><p>frutado, e, por isso, preferirão trabalhar, abandonando a condição de desempregados. A consequência é</p><p>que a taxa corrente de desemprego torna-se menor do que a taxa natural. Entretanto, o salário nominal</p><p>mais elevado não representará um salário real mais elevado porque os preços estão aumentando em fun-</p><p>ção da expansão do estoque de moeda. Haverá uma decepção de expectativas – afinal, não havia expec-</p><p>tativas de qualquer inflação, tal como mostra a equação 1.</p><p>A Teoria da Política Monetária do Modelo Monetarista 115</p><p>t</p><p>Un</p><p>Un</p><p>Ut</p><p>Ut</p><p>= Taxa Natural de Desemprego</p><p>= Taxa Corrente de Desemprego</p><p>U</p><p>GRÁFICO 9.1</p><p>A Taxa Natural de Desemprego e a Taxa Corrente de Desemprego</p><p>Os trabalhadores, contudo, somente perceberão que estavam sofrendo de ilusão monetária quando</p><p>estiverem realizando suas compras. Nesse momento, irão perceber que o salário que receberam não pode</p><p>adquirir os bens e serviços que gerariam mais satisfação do que o lazer que estavam desfrutando enquanto</p><p>estavam ociosos. A elevação de preços, somente percebida a posteriori, fez com que o aumento nominal</p><p>de salários não representasse um aumento real. Desfeita a ilusão monetária, os trabalhadores decidem re-</p><p>tornar ao desemprego voluntário que lhes proporcionava um nível mais elevado de satisfação do que o</p><p>emprego é capaz de proporcionar. Em suma, uma expansão monetária (tal como esta que foi descrita) re-</p><p>duz o desemprego. Entretanto, reduz também o nível de satisfação dos trabalhadores que estavam mone-</p><p>tariamente iludidos. Por isso, quando a ilusão se desfaz, o desemprego se recompõe.</p><p>A chamada curva de Phillips versão Friedman, apresentada no Gráfico 9.2, pode expressar os resul-</p><p>tados de uma política monetária expansionista em que se parte de uma situação de equilíbrio sem de-</p><p>cepção de expectativas – o ponto A, onde a taxa corrente de desemprego é igual à taxa natural de de-</p><p>semprego. Neste ponto, a inflação esperada é igual à inflação efetiva; portanto, a inflação do presente é</p><p>igual à inflação do passado. Quando os trabalhadores subestimam a inflação futura em razão de uma polí-</p><p>tica monetária expansionista, o desemprego se reduz, por exemplo, para o ponto B, onde a taxa corrente</p><p>de desemprego é menor do que a taxa natural. A curva de Phillips indica que quanto maior for a decepção</p><p>de expectativas, maior será a diferença entre a taxa corrente e a taxa natural de desemprego.</p><p>9.3. A CURVA DE PHILLIPS ACELERACIONISTA</p><p>Pode-se perceber que, após ter sido implementada uma política monetária que aumenta a taxa de inflação</p><p>e reduz o desemprego, os trabalhadores sempre acabam percebendo que foram iludidos e retornam à con-</p><p>dição original de desempregados voluntariamente em que sua satisfação era maximizada. Percebe-se que,</p><p>de fato, este equilíbrio é estável. O desemprego aumenta novamente e a taxa corrente volta a igualar-se à</p><p>taxa natural. Para que o desemprego permaneça abaixo da taxa natural é necessário que os trabalhadores</p><p>sejam iludidos continuamente. Para tanto, é necessário que seja implementada uma política de aumento</p><p>das variações positivas do estoque de moeda. Tal política aumentará continuamente a taxa de inflação,</p><p>isto é, irá acelerar a velocidade de crescimento do preços. Somente assim os trabalhadores subestimarão a</p><p>inflação futura de forma permanente. A inflação presente será sempre maior do que a inflação passada e a</p><p>taxa corrente de desemprego permanecerá em um nível inferior à taxa natural de desemprego.</p><p>A curva de Phillips versão Friedman aceleracionista, apresentada no Gráfico 9.3, é capaz de descre-</p><p>ver a situação em que o desemprego permanece abaixo do desemprego natural. Na curva de Phillips K,</p><p>116 A Teoria da Política Monetária do Modelo Monetarista ELSEVIER</p><p>P – P</p><p>e• •</p><p>Un Ut</p><p>A</p><p>B</p><p>GRÁFICO 9.2</p><p>A Curva de Phillips Versão Friedman</p><p>os trabalhadores possuem uma determinada expectativa inflacionária que é � ’P e � 0. A economia está,</p><p>inicialmente, no ponto A, em que a inflação efetiva confirma as expectativas e a taxa de desemprego é</p><p>igual à taxa natural. Se uma expansão monetária provoca uma taxa de inflação superior à inflação espe-</p><p>rada, a economia se desloca, por exemplo, para o ponto B, em que a taxa corrente de desemprego (U*) é</p><p>menor do que a taxa natural e a taxa de inflação efetiva é � �’ ’P P e� � 0.</p><p>Ainda no ponto B, os trabalhadores percebem que a variação de preços superou as suas expectati-</p><p>vas. Assim, a economia se deslocaria do ponto B para o ponto C, em que a taxa corrente de desemprego</p><p>seria novamente igual à taxa natural de desemprego. A política monetária implementada deslocaria a</p><p>curva de Phillips da economia de K para L. O novo ponto de equilíbrio da economia seria subótimo por-</p><p>que os agentes teriam que conviver com uma taxa constante de inflação � ’P . Na curva L, as expectativas</p><p>inflacionárias incorporaram a inflação que ocorreu no período em que a economia se deslocou de A</p><p>para B. A expectativa inflacionária da curva L é � ”P e .</p><p>Para que a taxa de desemprego permaneça no nível U*, antes que a economia retorne ao ponto de</p><p>equilíbrio C, uma nova política com uma taxa de expansão monetária superior à taxa da política que fez</p><p>a economia se deslocar de A para B deve ser implementada. A política monetária deve ter essa caracte-</p><p>rística expansionista porque é necessário que uma inflação superior a � ’P ocorra já que, agora, no ponto</p><p>B, a expectativa inflacionária é a mesma do ponto C, isto é, � �” ’P Pe � .</p><p>Se, então, uma política monetária que provoque aceleração da inflação é implementada, a econo-</p><p>mia se deslocará, por exemplo, para o ponto D (e não para o ponto C) em que a taxa de desemprego é in-</p><p>ferior à taxa natural. Ainda no ponto D, os trabalhadores percebem que a variação de preços superou as</p><p>suas expectativas. Assim, a economia se deslocaria do ponto D para o ponto E, em que a taxa corrente</p><p>de desemprego seria novamente igual à taxa natural de desemprego. Na curva M, a nova curva de Phil-</p><p>lips da economia, as expectativas inflacionárias incorporaram a inflação que ocorreu no período em que</p><p>a economia se deslocou de B para D. A expectativa inflacionária da curva M é � ’”P e . É importante ressal-</p><p>tar que � � �’” ” ’P P Pe e e� � = 0. Se o mesmo procedimento monetário, isto é, uma política que torne a infla-</p><p>ção crescente é implementado diante da situação expectacional do ponto D, a economia se deslocará</p><p>deste ponto para o ponto F e não para o ponto E.</p><p>Em resumo, para que a taxa corrente de desemprego (U*) seja mantida é necessário que os trabalha-</p><p>dores sejam, de forma permanente, iludidos. Para tanto, o governo deveria ampliar a variação do esto-</p><p>que de moeda que realizou no período anterior. Sendo assim, as expectativas dos trabalhadores subesti-</p><p>mariam a inflação futura e o desemprego permaneceria abaixo da taxa natural.</p><p>A Teoria da Política Monetária do Modelo Monetarista 117</p><p>A</p><p>C</p><p>E</p><p>B</p><p>D</p><p>U</p><p>M(</p><p>•</p><p>P</p><p>e' ' ')</p><p>L(</p><p>•</p><p>P</p><p>e' ')</p><p>K(</p><p>•</p><p>P = 0)</p><p>e'</p><p>•</p><p>P'</p><p>•</p><p>P' '</p><p>•</p><p>P' ' '</p><p>•</p><p>P</p><p>U* Un</p><p>F</p><p>GRÁFICO 9.3</p><p>A Curva de Phillips</p><p>Versão Friedman Aceleracionista</p><p>9.4. FRIEDMAN E O ATIVISMO MONETÁRIO</p><p>Como já visto, no modelo de Friedman, a variação do nível de preços é função direta da expansão mo-</p><p>netária. Assim, salários reais esperados superiores aos vigentes seriam apenas uma ilusão passageira</p><p>para os trabalhadores. Estes abandonariam o desemprego voluntário porque estavam iludidos. Se ob-</p><p>servaram alguma variação de preços, avaliaram que tal variação (decorrente do expansionismo monetá-</p><p>rio) era relativa, mas em realidade era absoluta. Então, uma política monetária eficaz em relação ao</p><p>nível de emprego seria aquela capaz de iludir os trabalhadores. Mais ainda, a política monetária somen-</p><p>te seria eficaz em relação ao desemprego durante o período de ilusão. Desfeita esta sensação, os traba-</p><p>lhadores que foram iludidos retornariam à condição de desempregados voluntários, isto é, a economia</p><p>retornaria à posição original única de equilíbrio em que a taxa corrente de desemprego se igualaria à</p><p>taxa natural. Portanto, costuma-se dizer que, no modelo monetarista, a política monetária somente é efi-</p><p>caz no curto prazo. No longo prazo, seria neutra, somente alteraria o valor nominal das variáveis preço,</p><p>salário e outras. Como a política monetária não é capaz de alterar em definitivo a situação da economia,</p><p>Friedman se opõe ao seu uso.</p><p>Para manter a taxa corrente de desemprego abaixo da taxa natural, como visto na seção anterior, os</p><p>dirigentes do Banco Central deveriam manter os trabalhadores em permanente estado de ilusão mone-</p><p>tária. Dado que no modelo friedmaniano os agentes econômicos formam expectativas do tipo adaptati-</p><p>vas, isto somente seria possível se a inflação fosse crescente. Somente uma inflação em aceleração im-</p><p>pediria a adaptação dos trabalhadores às variações de preços registradas – criando, consequentemente,</p><p>um contexto de contínua ilusão monetária. Em tal contexto, os trabalhadores teriam suas preferências</p><p>individuais não satisfeitas em virtude dos cálculos incorretos que realizam quando comparam a satisfa-</p><p>ção que os salários esperados podem oferecer e a satisfação proporcionada pelas horas de lazer. Já que</p><p>uma política de expansionismo monetário pode reduzir o nível de satisfação individual dos trabalhado-</p><p>res, Friedman se opõe ao seu uso.</p><p>Ademais, o monetarismo identificou dois tipos de defasagens, na condução da política monetária,</p><p>que formam a base de outros de seus argumentos contrários à sua utilização. A primeira defasagem,</p><p>também chamada de defasagem interna, refere-se ao intervalo de tempo que transcorre entre um cho-</p><p>que econômico (que aumenta o desemprego, por exemplo) e a ação das autoridades monetárias em res-</p><p>posta ao distúrbio. Tal defasagem ocorre porque há uma demora no reconhecimento do problema e na</p><p>implementação das medidas corretivas. A segunda, chamada de defasagem externa, é decorrente do in-</p><p>tervalo que ocorre entre a implementação das medidas e os seus efeitos sobre a economia. Esta última</p><p>acontece porque as políticas monetárias não exercem um impacto imediato sobre as variáveis reais da</p><p>economia. Tais defasagens podem transformar a política monetária em uma fonte desestabilizadora.</p><p>Por exemplo, em uma fase recessiva, implementa-se uma política monetária expansionista. Suponha-</p><p>mos que as condições econômicas sejam favoráveis à recuperação da economia exatamente no momen-</p><p>to em que os efeitos da política monetária começam a se tornar reais. O resultado é um superaquecimen-</p><p>to. Nesse caso, segundo Friedman, a tentativa de estabilizar teria sido malsucedida: apenas teria inverti-</p><p>do o sentido do desequilíbrio.</p><p>Enfim, “tarde demais e em demasia tem sido a prática geral” quanto à política monetária, segun-</p><p>do Friedman, no seu célebre artigo intitulado The Role of Monetary Policy, publicado na American</p><p>Economic Review, em março de 1968. Portanto, ele concluiu no mesmo texto que, apesar de eficaz, a</p><p>política monetária pode ser perigosamente desestabilizadora. Friedman resumiu sua posição na se-</p><p>guinte passagem:</p><p>“... a razão da propensão ao exagero parece clara: a falha das autoridades em não levar em conta o hia-</p><p>to entre suas ações e os efeitos subsequentes sobre a economia. Elas tendem a determinar as suas</p><p>ações pelas condições de hoje – mas suas ações afetarão a economia unicamente seis, nove, doze ou</p><p>quinze meses mais tarde. Então, elas se sentem impelidas a pisar no freio, ou no acelerador, confor-</p><p>me o caso, de forma violenta.”</p><p>118 A Teoria da Política Monetária do Modelo Monetarista ELSEVIER</p><p>Alternativamente ao ativismo monetário (isto é, ao discricionarismo), a proposição de Friedman é</p><p>que a autoridade adote regras para a gestão da moeda. Seu receituário é uma meta de expansão monetá-</p><p>ria publicamente pré-anunciada, algo em torno de 3% a 5% a.a. Isto porque seria melhor ter uma taxa</p><p>fixa, que produziria, segundo Friedman, uma inflação ou uma deflação moderadas – desde que fossem</p><p>constantes – do que sofrer perturbações amplas e irregulares, que são uma decorrência inevitável do</p><p>discricionarismo monetário.</p><p>9.5. OS CUSTOS DA DESINFLAÇÃO E A TAXA DE SACRIFÍCIO</p><p>Como os monetaristas acreditam que a inflação é um fenômeno essencialmente monetário, isto é, que a</p><p>taxa de inflação é proporcional à taxa de variação do estoque de moeda da economia, sugerem que a infla-</p><p>ção deve ser eliminada por intermédio da redução da taxa de crescimento do estoque monetário. Contudo,</p><p>uma redução da taxa de expansão monetária resulta em aumento da taxa corrente de desemprego em rela-</p><p>ção à taxa natural. O dilema enfrentado pelas autoridades monetárias é que quanto maior a contração mo-</p><p>netária visando a uma redução drástica da inflação, maior será o desemprego corrente em relação ao</p><p>desemprego expresso pela taxa natural. Se as autoridades desejarem combater a inflação com menores</p><p>custos sociais, terão que reduzir a inflação gradualmente. Esse problema é apresentado no Gráfico 9.4.</p><p>A seguir são apresentados dois exemplos de políticas anti-inflacionárias compatíveis com o modelo</p><p>monetarista. No primeiro caso, é descrita uma política de redução drástica da inflação e em curto espaço</p><p>de tempo e, no segundo, é dado um exemplo de redução gradual da inflação que consome um tempo</p><p>maior. Cabe ressaltar que outras inúmeras políticas poderiam ser apresentadas, inclusive aquelas que ti-</p><p>vessem como consequência uma redução de salários nominais e preços, pois é a plena flexibilidade des-</p><p>sas variáveis que permite que tais políticas sejam bem-sucedidas.</p><p>A economia está, inicialmente, no ponto A com uma taxa de inflação � ’”P e com sua taxa corrente de</p><p>desemprego coincidindo com a sua taxa natural. Se as autoridades desejarem eliminar a inflação, terão</p><p>que estancar integralmente a variação do estoque de moeda que causa a variação do nível de preços � ’”P .</p><p>Se isto é feito, os salários nominais não poderão ser reajustados. Esta variação nula dos salários nomi-</p><p>nais será interpretada pelos trabalhadores como uma redução dos salários reais, já que suas expectativas</p><p>são � ’”P e > 0. Isto provocará uma redução da oferta de trabalho e um aumento do desemprego, que terá</p><p>uma taxa B que é muito maior do que o desemprego natural.</p><p>Se o governo decide, contudo, baixar gradualmente a inflação (reduzindo a variação do estoque mo-</p><p>netário em relação ao período imediatamente anterior) de � ’”P para � ”P a economia se deslocará inicialmen-</p><p>te para o ponto C’, onde o desemprego resultante dessa política terá taxa D que é maior que a taxa natural</p><p>(mas é inferior a B). Posteriormente, a economia se deslocará para o ponto C. Se as autoridades desejarem</p><p>eliminar a inflação, terão que estancar integralmente a variação do estoque de moeda que causa a variação</p><p>do nível de preços � ”P . Se isto é feito, os salários nominais não poderão sofrer qualquer reajuste. Esta</p><p>variação nula dos salários nominais será interpretada pelos trabalhadores como uma redução dos salários</p><p>reais, já que suas expecativas são � ”P e > 0. Isto provocará uma redução da oferta de trabalho e um aumento</p><p>do desemprego, que retornará à taxa D. Finalmente, a economia</p><p>se deslocará para o ponto E de equilíbrio</p><p>ótimo, com o desemprego coincidindo com o desemprego natural e em que a taxa de inflação é zero.</p><p>Comparando-se o tratamento de choque com o tratamento gradualista, percebe-se que este último</p><p>provoca uma taxa de desemprego bastante inferior à política de choque monetário. Contudo, a transição</p><p>da economia que segue a sequência de pontos A-C’-C-D-E consome um tempo muito superior à se-</p><p>quência A-B-E. Esse é o dilema que as autoridades monetárias têm que enfrentar: se desejam eliminar</p><p>rapidamente a inflação, causarão um enorme desemprego; inversamente, se não desejam criar um ele-</p><p>vado desemprego terão que aceitar a cura da inflação em tempo maior. Do que foi visto até o momento,</p><p>pode-se escrever a seguinte equação:</p><p>� � ( )P P U Ut t t n� � � � ��1 0� � (2)</p><p>A Teoria da Política Monetária do Modelo Monetarista 119</p><p>A equação 2 diz que a desinflação somente pode ser alcançada com o aumento do desemprego em</p><p>relação a taxa natural. Se α for igual a 1 (um), t o período de um ano e a taxa natural de desemprego</p><p>igual a 6%, pode-se dizer que, por exemplo, se a taxa de inflação é de 12%, então, a taxa corrente de de-</p><p>semprego alcançará a taxa de 18%, caso o governo queira reduzir a taxa de inflação para 0% em único</p><p>período, isto é, de um ano para o outro. Esses cálculos são apresentados a seguir:</p><p>0% – 12% = –1(Ut – 6%)</p><p>– 12% = – (Ut – 6%)</p><p>12% = Ut – 6%</p><p>Ut = 18%</p><p>Caso as autoridades monetárias desejassem reduzir gradualmente a variação do nível de preços, po-</p><p>deriam reduzir no primeiro ano a inflação, por exemplo, para 8%. O desemprego atingiria, então, nesta</p><p>primeira fase, 10%. No segundo ano, poderia reduzir de 8% para 4%; o desemprego atingiria novamen-</p><p>te a taxa de 10%. No terceiro ano, poderia eliminar a inflação, e a taxa de desemprego voltaria a atingir</p><p>10%. O dilema é exatamente esse. O governo pode acabar com a inflação de um ano para o outro, mas</p><p>faria a taxa de desemprego crescer de 6% para 18%. Alternativamente, poderia zerar a inflação em três</p><p>anos, somente provocando um desemprego de 10%, somente 4% além da taxa natural de 6%.</p><p>O que foi visto é precisamente o que é chamado de taxa de sacrifício (TS) que é a taxa que mede</p><p>quanto de desemprego além da taxa natural será necessário para se reduzir a inflação em um determinado</p><p>montante. Se no exemplo apresentado, com tratamento de choque, era necessário aumentar o desemprego</p><p>em 12 pontos percentuais (além da taxa natural) para reduzir a inflação em 12 pontos percentuais, diz-se</p><p>que a TS é igual a 1 (um). No exemplo visto, com tratamento gradualista – onde para se reduzir a inflação</p><p>em 4 pontos percentuais por ano é necessário criar um desemprego de 4 pontos percentuais acima da taxa</p><p>natural – diz-se que a TS também é igual a 1 (um). Logo, pode-se escrever a seguinte equação:</p><p>TS</p><p>P P</p><p>U U</p><p>t t</p><p>t n</p><p>�</p><p>�</p><p>�</p><p>��1 �</p><p>ou seja, a taxa de sacrifício é sempre igual a α se as expectativas são adaptativas.</p><p>120 A Teoria da Política Monetária do Modelo Monetarista ELSEVIER</p><p>D</p><p>J(</p><p>•</p><p>P</p><p>e'</p><p>= 0)</p><p>L(</p><p>•</p><p>P</p><p>e' ' ')</p><p>K(</p><p>•</p><p>P</p><p>e' ')</p><p>•</p><p>P</p><p>'</p><p>•</p><p>P</p><p>' '</p><p>•</p><p>P</p><p>' ' '</p><p>Un</p><p>C’C</p><p>A</p><p>UE</p><p>B</p><p>•</p><p>P</p><p>GRÁFICO 9.4</p><p>A Curva de Phillips Versão Friedman: gradualismo e choque</p><p>RESUMO</p><p>1. A hipótese da existência de uma taxa natural de desemprego é o ponto de partida para a construção da teoria da</p><p>política monetária friedmaniana. Quando a economia está em repouso, isto é, não está sob o efeito de nenhu-</p><p>ma intervenção de política macroeconômica, a sua taxa corrente de desemprego é igual à taxa natural. Quando</p><p>a economia possui uma taxa de desemprego igual à sua taxa natural somente vigoram o desemprego friccional</p><p>e o desemprego voluntário.</p><p>2. No modelo monetarista, os trabalhadores formam expectativas de preços utilizando-se exclusivamente de in-</p><p>fomações sobre o passado. A fórmula apresentada a seguir é um dos exemplos de processos de formação de</p><p>expectativas consistentes com o modelo, que são chamadas genericamente de expectativas adaptativas:</p><p>� �P Pt</p><p>e</p><p>t� �1 .</p><p>3. A curva de Phillips com expectativas adaptativas pode mostrar por que a moeda não é neutra durante um de-</p><p>terminado período de tempo. Se há uma expansão monetária, os empresários podem oferecer um salário no-</p><p>minal mais elevado aos trabalhadores que estão voluntariamente desempregados. Estes, por sua vez,</p><p>considerarão que um salário nominal mais elevado representa um salário real mais elevado. Dessa forma, par-</p><p>te dos trabalhadores aceitará trabalhar pelo novo salário esperado.</p><p>4. Como os efeitos reais da política monetária somente permanecem durante o período em que os trabalhadores</p><p>estão sofrendo de ilusão monetária, para que o desemprego permaneça abaixo da taxa natural é necessário que</p><p>os trabalhadores sejam iludidos continuamente. Para tanto, é necessário que a política monetária aumente</p><p>continuamente a taxa de inflação, isto é, deve acelerar a velocidade de crescimento dos preços. Somente assim</p><p>os trabalhadores subestimarão a inflação futura permanentemente. A inflação presente será sempre maior do</p><p>que a inflação passada e a taxa corrente de desemprego permanecerá em um nível inferior à taxa natural de de-</p><p>semprego.</p><p>5. Em um contexto de contínua ilusão monetária, os trabalhadores teriam suas preferências individuais não</p><p>satisfeitas, em virtude dos cálculos incorretos que realizam quando comparam a satisfação que os salários</p><p>esperados podem oferecer e a satisfação proporcionada pelas horas de lazer. Já que uma política de expansio-</p><p>nismo monetário pode reduzir o nível de satisfação individual dos trabalhadores, Friedman opõe-se ao seu</p><p>uso.</p><p>6. Como os monetaristas acreditam que a inflação é um fenômeno essencialmente monetário, isto é, que a taxa</p><p>de inflação é proporcional à taxa de variação do estoque de moeda da economia, sugerem que a inflação deve</p><p>ser eliminada por intemédio da redução da taxa de crescimento do estoque monetário. Contudo, uma redução</p><p>da taxa de expansão monetária resulta em aumento da taxa corrente de desemprego em relação à taxa natural.</p><p>O dilema enfrentado pelas autoridades monetárias é que quanto maior a contração monetária visando a uma</p><p>redução drástica da inflação, maior será o desemprego em relação ao desemprego expresso pela taxa natural.</p><p>Caso as autoridades desejem combater a inflação com menores custos sociais, terão que reduzir a inflação gra-</p><p>dualmente.</p><p>TERMOS-CHAVE</p><p>� Taxa Natural de Desemprego � Taxa Corrente de Desemprego � Desemprego Friccional</p><p>� Desemprego Voluntário � Unicidade do Equilíbrio � Estabilidade do Equilíbrio</p><p>� Expectativas Adaptativas � Curva de Phillips � Aceleracionismo</p><p>� Neutralidade Monetária � Discricionarismo e Regras � Taxa de Sacrifício</p><p>BIBLIOGRAFIA COMENTADA</p><p>Friedman, M. (1968). The Role of Monetary Policy. American Economic Review, março, p. 1-17.</p><p>Esse é o texto mais importante para o entendimento da teoria monetarista da política monetária. Nele, Fried-</p><p>man apresenta a hipótese da taxa natural de desemprego, critica as políticas keynesianas de cunho intervencionis-</p><p>ta e mostra o que a política monetária pode fazer e o que ela não pode fazer.</p><p>A Teoria da Política Monetária do Modelo Monetarista 121</p><p>Friedman, M. (1988). Inflação e desemprego: a novidade da dimensão política. In: Clássicos de Literatura</p><p>Econômica. Rio de Janeiro: Ipea-Inpes.</p><p>Parkin, M. (1992). Adaptative Expectations. In: The New Palgrave Dictionary of Money and Finance. New-</p><p>man, P., Milgate, M. & Eatwell (editors). London: Macmillan.</p><p>Snowdon, B., Vane, H. & Wynarczyk (1994). A Modern Guide to Macroeconomics. Cheltenhan: Edward</p><p>Elgar.</p><p>Esse livro é bastante interessante porque dedica cada um de seus capítulos a uma escola de pensamento ma-</p><p>croeconômico. Como reconhecem seus autores no prefácio, “... a moderna macroeconomia é um tema excitante e</p><p>controverso”. O capítulo 4 do livro é dedicado a apresentar a corrente monetarista. A apresentação é feita a partir</p><p>de três tópicos que são centrais para o monetarismo: (i) a curva de Phillips com expectativas, (ii) a teoria quantita-</p><p>tiva da moeda e (iii) a abordagem do balanço de pagamentos e a determinação</p><p>da taxa de câmbio.</p><p>122 A Teoria da Política Monetária do Modelo Monetarista ELSEVIER</p><p>9 - A teoria da política monetária do modelo monetarista</p><p>Introdução</p><p>A taxa natural de desemprego</p><p>A curva de phillips com expectativas adaptativas</p><p>A curva de phillips aceleracionista</p><p>Friedman e o ativismo monetário</p><p>Os custos da desinflação e a taxa de sacrifício</p>

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