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<p>CURRÍCULOS E PROJETOS</p><p>PEDAGÓGICOS</p><p>Unidade 2</p><p>Currículo: tipos e</p><p>concepções</p><p>CEO</p><p>DAVID LIRA STEPHEN BARROS</p><p>Diretora Editorial</p><p>ALESSANDRA FERREIRA</p><p>Gerente Editorial</p><p>LAURA KRISTINA FRANCO DOS SANTOS</p><p>Projeto Gráfico</p><p>TIAGO DA ROCHA</p><p>Autoria</p><p>MARLY SAVIOLI</p><p>TATIANE KUCKEL</p><p>4 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>A</p><p>U</p><p>TO</p><p>RI</p><p>A</p><p>Marly Savioli</p><p>Olá! Meu nome é Marly Savioli e sou mestre em Educação,</p><p>pós-graduada em Ética, Valores e Cidadania na Escola, graduada</p><p>em Pedagogia, especializada em Administração Escolar e</p><p>Supervisão Escolar com uma experiência técnico-profissional na</p><p>área educacional de mais de 35 anos.</p><p>Como educadora exerci nas escolas diversos papéis,</p><p>tais como: professora, orientadora educacional, coordenadora</p><p>pedagógica, vice-diretora e diretora.</p><p>Por acreditar nas pessoas e na capacidade de mudar</p><p>o mundo por meio da educação, atualmente trabalho para a</p><p>Fundação Lemann, como formadora de educadores e gestores</p><p>educacionais, orientando e subsidiando seus trabalhos com</p><p>caminhos mais eficazes.</p><p>Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito</p><p>estudo e trabalho. Conte comigo!</p><p>Tatiane Kuckel</p><p>Olá. Meu nome é Tatiane Kuckel e sou Mestre em Educação</p><p>e Novas Tecnologias. Sou formada em Desenho pela Escola de</p><p>Música e Belas Artes do Paraná e em Gestão da Informação pela</p><p>Universidade Federal do Paraná.</p><p>Tenho mais de 15 anos de experiência em processos</p><p>e projetos para EAD, arte visuais, sistemas de informação,</p><p>monitoramento informacional e games.</p><p>Possuo trabalhos publicados nas linhas de Inteligência</p><p>Artificial, EaD, Gamificação e Artes visuais. Atualmente, sou</p><p>Gerente de Projetos e Inovação na Onilearning.</p><p>5CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>ÍC</p><p>O</p><p>N</p><p>ES</p><p>Esses ícones aparecerão em sua trilha de aprendizagem nos seguintes casos:</p><p>OBJETIVO</p><p>No início do</p><p>desenvolvimento</p><p>de uma nova</p><p>competência. DEFINIÇÃO</p><p>Caso haja a</p><p>necessidade de</p><p>apresentar um novo</p><p>conceito.</p><p>NOTA</p><p>Quando são</p><p>necessárias</p><p>observações ou</p><p>complementações. IMPORTANTE</p><p>Se as observações</p><p>escritas tiverem que</p><p>ser priorizadas.</p><p>EXPLICANDO</p><p>MELHOR</p><p>Se algo precisar ser</p><p>melhor explicado ou</p><p>detalhado. VOCÊ SABIA?</p><p>Se existirem</p><p>curiosidades e</p><p>indagações lúdicas</p><p>sobre o tema em</p><p>estudo.</p><p>SAIBA MAIS</p><p>Existência de</p><p>textos, referências</p><p>bibliográficas e links</p><p>para aprofundar seu</p><p>conhecimento.</p><p>ACESSE</p><p>Se for preciso acessar</p><p>sites para fazer</p><p>downloads, assistir</p><p>vídeos, ler textos ou</p><p>ouvir podcasts.</p><p>REFLITA</p><p>Se houver a</p><p>necessidade de</p><p>chamar a atenção</p><p>sobre algo a</p><p>ser refletido ou</p><p>discutido.</p><p>RESUMINDO</p><p>Quando for preciso</p><p>fazer um resumo</p><p>cumulativo das últimas</p><p>abordagens.</p><p>ATIVIDADES</p><p>Quando alguma</p><p>atividade de</p><p>autoaprendizagem</p><p>for aplicada. TESTANDO</p><p>Quando uma</p><p>competência é</p><p>concluída e questões</p><p>são explicadas.</p><p>6 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Currículo escolar ...................................................................... 9</p><p>Currículo como campo de estudo: as teorias curriculares ........................ 11</p><p>Teoria Tradicional ..............................................................................................14</p><p>Teoria Crítica ........................................................................................19</p><p>Teoria pós-crítica ...............................................................................................24</p><p>Diferentes tipos de currículo: diálogos e conflitos .............. 29</p><p>Currículo formal .................................................................................................31</p><p>Currículo real ......................................................................................................33</p><p>Currículo oculto ..................................................................................................36</p><p>As concepções de currículo em políticas públicas (leis,</p><p>diretrizes e orientações curriculares) ................................... 40</p><p>Políticas Educacionais no Brasil: .....................................................................40</p><p>Base Nacional Comum Curricular (BNCC): .................................................... 45</p><p>Políticas públicas e avaliação ...........................................................................47</p><p>Desafios Futuros: ...............................................................................................51</p><p>O currículo como produção social e as noções de currículo</p><p>oculto ....................................................................................... 55</p><p>O Currículo Oculto e sua Relevância na Formação Cognitiva e Social do</p><p>Aluno ....................................................................................................................58</p><p>Explorando o Currículo como Produção Social ........................................... 61</p><p>Cultura, Educação e Currículo: ........................................................................64</p><p>SU</p><p>M</p><p>Á</p><p>RI</p><p>O</p><p>7CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>A</p><p>PR</p><p>ES</p><p>EN</p><p>TA</p><p>ÇÃ</p><p>O</p><p>Você sabia que o estudo dos currículos, programas</p><p>e projetos pedagógicos desempenha um papel fundamental</p><p>na educação? Essa área é essencial para moldar o futuro da</p><p>aprendizagem e da formação de estudantes em todo o mundo.</p><p>Nos próximos anos, a educação estará cada vez mais em foco, e</p><p>profissionais que compreendem os princípios do currículo escolar</p><p>e as teorias curriculares estarão em alta demanda.</p><p>Nesta unidade letiva, vamos explorar o fascinante campo</p><p>do currículo escolar, abordando desde as teorias curriculares</p><p>clássicas até as mais contemporâneas. Você mergulhará nas</p><p>diferentes concepções de currículo, desde o formal até o</p><p>oculto, e entenderá como as políticas públicas influenciam o</p><p>desenvolvimento educacional. Além disso, vamos desvendar</p><p>o currículo como uma produção social e discutir as noções de</p><p>currículo oculto.</p><p>Ao longo deste e-book, você terá a oportunidade de</p><p>explorar profundamente o mundo do currículo e sua importância</p><p>na educação. Vamos iniciar essa jornada juntos!</p><p>8 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>O</p><p>BJ</p><p>ET</p><p>IV</p><p>O</p><p>S</p><p>Olá. Seja muito bem-vindo a nossa Unidade 2! Nosso</p><p>objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes</p><p>competências profissionais até o término desta etapa de estudos:</p><p>1. Explicar a fundamentação teórica do currículo;</p><p>2. Reconhecer diferentes tipos de currículos e sua</p><p>influência na aprendizagem;</p><p>3. Analisar as concepções de currículo em Políticas</p><p>Públicas (leis, diretrizes e orientações curriculares);</p><p>4. Reconhecer o currículo como produção social no</p><p>processo de formação cidadã.</p><p>Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao</p><p>conhecimento? Ao trabalho!</p><p>9CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Currículo escolar</p><p>OBJETIVO</p><p>Ao término deste capítulo, você será capaz de</p><p>entender como funciona o campo de estudo do</p><p>currículo escolar e suas teorias curriculares. Essa</p><p>compreensão será fundamental para o exercício</p><p>de sua profissão na área educacional. Aqueles que</p><p>tentaram mergulhar na complexidade do currículo</p><p>sem a devida instrução muitas vezes se viram diante</p><p>de desafios e dilemas. Mas não se preocupe, estamos</p><p>aqui para guiá-lo nessa jornada de conhecimento.</p><p>Neste capítulo, exploraremos o vasto universo</p><p>do currículo escolar, desde suas origens na teoria</p><p>tradicional até as perspectivas críticas e pós-críticas</p><p>mais contemporâneas. Compreender essas teorias é</p><p>essencial para qualquer profissional da educação que</p><p>deseja impactar positivamente o processo de ensino-</p><p>aprendizagem. Estamos prestes a iniciar uma jornada</p><p>fascinante pelo mundo do currículo. Motivado para</p><p>desenvolver essa competência? Vamos lá. Avante!</p><p>Sabemos que o currículo ultrapassa os limites de ser um</p><p>mero documento, que geralmente é “engavetado”. E por que as</p><p>pessoas usam o termo “engavetado”?</p><p>É comum os profissionais elaborarem documentos de</p><p>forma mecânica, pré-moldadas, com modelos já instituídos, ou</p><p>até mesmo copiados, apenas para cumprir uma normatização,</p><p>aos valores, às normas e atitudes que</p><p>são transmitidos de forma não intencional durante a experiência</p><p>educacional. Esses elementos podem ser observados nas interações</p><p>entre alunos e professores, nas dinâmicas de poder dentro da</p><p>escola e nas normas culturais que permeiam o ambiente escolar.</p><p>A relevância do currículo oculto na formação cognitiva e</p><p>social dos alunos é notável. Ele molda a percepção dos alunos sobre</p><p>a sociedade, a cultura, a moral e a ética. Por meio das interações</p><p>diárias na escola, os alunos absorvem implicitamente valores e</p><p>atitudes que influenciam seu desenvolvimento cognitivo e social.</p><p>Imagem 2.17 – O currículo oculto e sua relevância na formação cognitiva e social do aluno</p><p>Fonte: Elaborado pela autoria a partir de IA (2023)</p><p>59CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>A teoria crítica de ensino, como discutida por Carr e</p><p>Kemmis, destaca a importância de analisar as estruturas de poder</p><p>e as influências sociais na educação. Nesse contexto, o currículo</p><p>oculto desempenha um papel significativo, uma vez que revela</p><p>as dinâmicas de poder não declaradas na escola. A análise crítica</p><p>do currículo oculto ajuda a identificar desigualdades e injustiças</p><p>presentes no ambiente escolar.</p><p>Para aplicar essa compreensão na prática educacional, é</p><p>essencial que os educadores estejam cientes do currículo oculto e</p><p>trabalhem para torná-lo mais inclusivo e equitativo. Isso envolve</p><p>promover um ambiente escolar onde todas as mensagens implícitas</p><p>sejam examinadas à luz dos princípios da justiça social e da igualdade.</p><p>A reflexão contínua sobre o currículo oculto pode levar a mudanças</p><p>positivas na cultura escolar e na formação dos alunos.</p><p>O currículo oculto desempenha um papel significativo</p><p>na formação cognitiva e social dos alunos, influenciando suas</p><p>percepções, seus valores e suas atitudes de maneira não</p><p>intencional. A compreensão desse conceito é fundamental para</p><p>uma educação mais consciente e equitativa, alinhada com os</p><p>princípios da teoria crítica de ensino.</p><p>O currículo oculto é uma parte fundamental da experiência</p><p>educacional, mas muitas vezes é negligenciado ou subestimado.</p><p>Ele consiste em mensagens não intencionais, normas sociais não</p><p>declaradas e valores que são transmitidos aos alunos enquanto</p><p>eles frequentam a escola. Essas influências podem ser tão</p><p>poderosas quanto o currículo formalmente prescrito e podem</p><p>moldar profundamente a cognição e a socialização dos alunos.</p><p>De acordo com Fonseca e Pinto (2017), o currículo</p><p>oculto desempenha um papel essencial na formação cognitiva</p><p>dos alunos, uma vez que eles são expostos a valores culturais,</p><p>preconceitos, normas sociais e expectativas que podem afetar</p><p>60 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>sua maneira de pensar e processar informações. Por exemplo,</p><p>atitudes discriminatórias ou estereótipos presentes no ambiente</p><p>escolar podem influenciar negativamente a forma como os alunos</p><p>percebem a si mesmos e aos outros.</p><p>Além disso, o currículo oculto tem implicações significativas</p><p>na formação social dos alunos. As interações cotidianas na</p><p>escola, como aquelas entre colegas e entre alunos e professores,</p><p>contribuem para a construção das relações sociais e para o</p><p>desenvolvimento das habilidades interpessoais dos alunos.</p><p>Portanto, as normas sociais não declaradas e as dinâmicas de</p><p>poder presentes no currículo oculto desempenham um papel</p><p>importante na socialização dos alunos.</p><p>Nesse contexto, a perspectiva de Hall (1997) sobre a</p><p>centralidade da cultura na sociedade moderna se torna relevante.</p><p>O currículo oculto reflete e transmite elementos da cultura,</p><p>influenciando a visão de mundo dos alunos. É importante reconhecer</p><p>que a cultura não é estática, ela está em constante evolução, e o</p><p>currículo oculto pode refletir essas mudanças culturais.</p><p>A conscientização sobre o currículo oculto é fundamental</p><p>para educadores, administradores escolares e formuladores de</p><p>políticas. É preciso reconhecer que a formação cognitiva e social dos</p><p>alunos não é apenas moldada pelo que é ensinado explicitamente,</p><p>mas também pelo ambiente escolar e pelas mensagens implícitas</p><p>que ele transmite.</p><p>Portanto, para garantir uma educação equitativa e</p><p>inclusiva, é crucial que as escolas promovam a conscientização</p><p>sobre o currículo oculto, analisem criticamente suas influências e</p><p>trabalhem para criar ambientes escolares que sejam acolhedores,</p><p>justos e que promovam o desenvolvimento integral dos alunos.</p><p>61CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Em resumo, o currículo oculto desempenha um papel</p><p>fundamental na formação cognitiva e social dos alunos,</p><p>influenciando suas percepções, atitudes e relações interpessoais.</p><p>Compreender e abordar o currículo oculto é essencial para</p><p>promover uma educação de qualidade que prepare os alunos</p><p>para uma participação significativa na sociedade contemporânea.</p><p>Explorando o Currículo como</p><p>Produção Social</p><p>O currículo não é simplesmente um conjunto de disciplinas</p><p>ou conteúdo a serem ensinados; ele é, em grande medida, uma</p><p>produção social que reflete as normas, os valores e ideologias de</p><p>uma sociedade. De acordo com Carr e Kemmis (1988), a teoria</p><p>crítica da educação enfatiza que o currículo carrega consigo uma</p><p>carga ideológica que pode influenciar a maneira como os alunos</p><p>percebem o mundo.</p><p>A ideia de que o currículo é uma produção social é</p><p>especialmente relevante quando consideramos como ele é</p><p>moldado por diferentes atores e contextos. Libâneo, Oliveira e</p><p>Toschi (2003) argumentam que a organização e gestão escolar</p><p>desempenham um papel significativo na definição do currículo.</p><p>As decisões sobre quais conteúdos ensinar, como avaliar o</p><p>desempenho dos alunos e como abordar questões culturais são</p><p>influenciadas por uma variedade de atores, incluindo professores,</p><p>diretores, pais e órgãos governamentais.</p><p>62 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Imagem 2.18 – O currículo como produção social</p><p>Fonte: Elaborado pelo autor a partir de IA (2023)</p><p>Além disso, o currículo como produção social não é</p><p>estático, está sujeito a mudanças ao longo do tempo. As mudanças</p><p>na sociedade, os avanços tecnológicos e movimentos sociais</p><p>podem influenciar a evolução do currículo. Como observado por</p><p>Hall (1997), a cultura desempenha um papel central na sociedade,</p><p>e o currículo reflete as mudanças culturais.</p><p>A compreensão do currículo como produção social também</p><p>nos leva a considerar como diferentes grupos sociais podem ser</p><p>representados ou negligenciados no currículo. Moreira e Candau</p><p>(2008) discutem a importância do multiculturalismo nas práticas</p><p>pedagógicas e argumentam que o currículo deve ser sensível às</p><p>diferenças culturais e étnicas dos alunos.</p><p>63CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Portanto, ao explorar o currículo como produção social,</p><p>estamos reconhecendo que ele não é um artefato isolado, mas</p><p>uma manifestação da sociedade em que estamos inseridos. Isso</p><p>nos leva a considerar questões importantes, como equidade na</p><p>educação, inclusão de diferentes perspectivas e a necessidade de</p><p>uma abordagem crítica ao currículo.</p><p>Nas seções subsequentes deste capítulo, examinaremos</p><p>especificamente o currículo oculto e suas implicações na formação</p><p>cognitiva e social dos alunos, bem como a relação entre cultura,</p><p>educação e currículo. Esses tópicos nos ajudarão a aprofundar</p><p>nossa compreensão do currículo como uma produção social</p><p>complexa e dinâmica.</p><p>O currículo oculto é um conceito essencial quando</p><p>discutimos a educação, pois se refere às influências não intencionais</p><p>e não explícitas que moldam a experiência educacional dos</p><p>alunos. De acordo com Pacheco (2013), o currículo oculto engloba</p><p>valores, normas, atitudes e comportamentos que são transmitidos</p><p>indiretamente por meio da cultura escolar, das interações entre os</p><p>membros da comunidade escolar e do ambiente escolar em si.</p><p>A relevância do currículo oculto na formação cognitiva e</p><p>social dos alunos é significativa, pois, muitas vezes, desempenha</p><p>um papel crucial na socialização dos</p><p>estudantes. Por meio das</p><p>interações diárias na escola, os alunos absorvem valores culturais,</p><p>normas sociais e atitudes que podem influenciar profundamente</p><p>sua visão de mundo e seu comportamento.</p><p>O trabalho de Fonseca e Pinto (2017) destaca que o currículo</p><p>oculto não se limita ao conteúdo acadêmico, mas também se</p><p>estende às relações interpessoais na escola. Por exemplo, atitudes</p><p>de respeito, cooperação e tolerância podem ser transmitidas de</p><p>forma não explícita, mas poderosa, por meio das interações entre</p><p>alunos e professores.</p><p>64 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>É importante notar que o currículo oculto pode tanto</p><p>reforçar quanto desafiar as desigualdades sociais. Santos e</p><p>Moreira (1996) apontam que as práticas e valores escolares podem</p><p>refletir as hierarquias sociais existentes, perpetuando assimetrias</p><p>de poder. No entanto, também é possível utilizar o currículo oculto</p><p>de forma consciente para promover a igualdade e a inclusão.</p><p>A compreensão do currículo oculto e sua relevância</p><p>na formação dos alunos é fundamental para educadores e</p><p>gestores escolares. Isso porque, ao reconhecer as influências não</p><p>intencionais que ocorrem na escola, é possível tomar medidas</p><p>para garantir que essas influências sejam positivas e construtivas.</p><p>Cultura, Educação e Currículo:</p><p>A cultura desempenha um papel fundamental na formação</p><p>do currículo, influenciando os valores, crenças e perspectivas que</p><p>são transmitidos aos alunos. Como mencionado por Moreira</p><p>(2003), o currículo não é apenas um conjunto de conteúdos</p><p>acadêmicos, mas também um espaço onde diferentes culturas se</p><p>encontram e interagem.</p><p>A cultura é dinâmica e está em constante evolução, e isso</p><p>se reflete no currículo escolar. À medida que a sociedade muda,</p><p>o currículo deve acompanhar essas mudanças para permanecer</p><p>relevante e eficaz. Isso significa que a cultura desempenha um</p><p>papel ativo na construção do currículo, moldando o que é ensinado</p><p>e como é ensinado.</p><p>Além disso, a cultura também está intrinsecamente</p><p>ligada à identidade dos alunos. Como destacado por Libâneo,</p><p>Oliveira e Toschi (2003), a educação deve levar em consideração</p><p>a diversidade cultural dos alunos e garantir que seus valores e</p><p>identidades sejam respeitados e valorizados.</p><p>65CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>A compreensão da relação entre cultura, educação e currículo</p><p>é essencial para educadores, uma vez que isso influencia diretamente</p><p>a forma como eles projetam e entregam o ensino. Promover uma</p><p>educação culturalmente sensível e inclusiva é fundamental para criar</p><p>um ambiente de aprendizado enriquecedor e equitativo.</p><p>À medida que exploramos os desafios futuros no campo</p><p>do currículo, torna-se evidente que o cenário educacional está em</p><p>constante transformação. Neste segmento, discutiremos alguns</p><p>dos desafios que se apresentam e como as políticas públicas</p><p>desempenham um papel crucial na moldagem desse cenário.</p><p>1. Adaptação às Mudanças Tecnológicas: o avanço</p><p>tecnológico é uma realidade inevitável. A educação</p><p>enfrenta o desafio de se adaptar a essas mudanças,</p><p>incorporando tecnologias de forma eficaz no currículo</p><p>e garantindo que todos os alunos tenham acesso</p><p>igualitário a recursos tecnológicos.</p><p>2. Diversidade Cultural e Inclusão: a sociedade é cada</p><p>vez mais diversa, e a escola deve ser um espaço inclusivo</p><p>que valorize e respeite essa diversidade. O desafio</p><p>está em desenvolver currículos que reconheçam e</p><p>incorporem diferentes perspectivas culturais, étnicas e</p><p>sociais.</p><p>3. Formação de Professores: a formação de professores</p><p>desempenha um papel crucial na qualidade da</p><p>educação. É essencial investir na formação de docentes</p><p>para que estejam preparados para enfrentar os desafios</p><p>contemporâneos, incluindo o uso de tecnologia e o</p><p>atendimento à diversidade.</p><p>4. Avaliação Educacional: as políticas públicas</p><p>têm buscado aprimorar os sistemas de avaliação</p><p>educacional. O desafio é desenvolver avaliações que</p><p>66 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>forneçam dados úteis para a melhoria do ensino, em</p><p>vez de simplesmente impor pressão sobre escolas e</p><p>professores.</p><p>5. Equidade Educacional: garantir que todos os alunos</p><p>tenham acesso a uma educação de qualidade continua</p><p>sendo um desafio. Políticas públicas devem ser</p><p>direcionadas para reduzir as disparidades educacionais</p><p>e socioeconômicas.</p><p>6. Sustentabilidade: a educação deve considerar</p><p>questões de sustentabilidade ambiental e preparar</p><p>os alunos para enfrentar os desafios relacionados às</p><p>mudanças climáticas e à preservação do meio ambiente.</p><p>7. Envolvimento da Comunidade: o envolvimento da</p><p>comunidade na educação é fundamental. Políticas</p><p>públicas devem promover parcerias entre escolas,</p><p>famílias e comunidades para criar um ambiente de</p><p>aprendizado enriquecedor.</p><p>8. Currículo Flexível: o currículo deve ser flexível o</p><p>suficiente para se adaptar às necessidades e aos</p><p>interesses dos alunos. Isso requer uma abordagem</p><p>mais personalizada da educação.</p><p>À medida que enfrentamos esses desafios futuros, é</p><p>essencial que as políticas públicas sejam orientadas para promover</p><p>uma educação de qualidade, inclusiva e adaptada às demandas</p><p>da sociedade contemporânea. A colaboração entre educadores,</p><p>pesquisadores, formuladores de políticas e a comunidade em</p><p>geral desempenha um papel vital na superação desses desafios e</p><p>na construção de um sistema educacional mais eficaz e equitativo.</p><p>Afinal, a educação é um pilar fundamental para o desenvolvimento</p><p>de qualquer nação.</p><p>67CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>RESUMINDO</p><p>No decorrer deste capítulo, exploramos</p><p>profundamente a natureza do currículo como uma</p><p>produção social, revelando como ele vai além do</p><p>conteúdo formal ensinado nas escolas.</p><p>Iniciamos nossa jornada discutindo o “currículo</p><p>oculto”, aquele conjunto de valores, normas e</p><p>ideias que são implicitamente transmitidos aos</p><p>alunos por meio da cultura escolar. Destacamos sua</p><p>importância na formação cognitiva e social do aluno,</p><p>influenciando seu desenvolvimento pessoal e social.</p><p>Em seguida, adentramos na ideia de que o currículo</p><p>é uma construção social, moldada por diversos</p><p>atores e influências. Analisamos como ele reflete</p><p>as normas culturais e as políticas educacionais,</p><p>e como pode ser adaptado para atender às</p><p>necessidades locais.</p><p>Por fim, examinamos a interconexão entre</p><p>cultura, educação e currículo, destacando como</p><p>a cultura desempenha um papel fundamental na</p><p>criação e interpretação do currículo. Vimos como</p><p>a educação é um espaço onde diferentes culturas</p><p>se encontram e como o currículo pode promover a</p><p>diversidade e a compreensão intercultural.</p><p>Esperamos que você tenha adquirido um</p><p>entendimento mais profundo do currículo como</p><p>uma construção social complexa e das implicações</p><p>do currículo oculto na formação dos alunos. Continue</p><p>sua jornada de aprendizado, pois há muito mais a</p><p>explorar no campo da educação e do currículo.</p><p>68 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>RE</p><p>FE</p><p>RÊ</p><p>N</p><p>CI</p><p>A</p><p>S</p><p>CARR, W.; KEMMIS, S. Teoria Crítica de la Enseñanza. Barcelona:</p><p>Ediciones Martínez Roca, 1988.</p><p>FONSECA, L. E. G.; PINTO, F. de C. O currículo oculto e sua importância</p><p>na formação cognitiva e social do aluno. Projeção e Docência, v. 8,</p><p>n. 1, p. 59, 2017. Disponível em: http://revista.faculdadeprojecao.</p><p>edu.br/index.php/Projecao3/article/viewFile/862/713. Acesso em:</p><p>24 nov. 2020.</p><p>FRANCO, G.; VALE, L. A importância e influência do setor de</p><p>compras nas organizações. TecHojeI, [s.d]. Disponível em: http://</p><p>www.techoje.com.br/site/techoje/categoria/detalhe_artigo/1004.</p><p>Acesso em: 04 jul. 2020.</p><p>HALL, S. A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções de</p><p>nosso tempo. Educação & Realidade, Porto Alegre, 1997, v. 22, n.</p><p>2, p. 15-46, 1997.</p><p>HORKHEIMER, M. Critical theory: selected essays. New York:</p><p>Continuum, 1972b. p. 188 - 243.</p><p>LIBÂNEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F. de; TOSCHI, M. S. As áreas de atuação</p><p>da organização e da gestão escolar para melhor aprendizagem dos</p><p>alunos. In: Educação escolar: políticas, estrutura</p><p>e organização.</p><p>São Paulo: Cortez, 2003. p. 355-378.</p><p>LIBÂNEO, A. C. Organização e gestão da escola: teoria e prática.</p><p>Goiânia: Editora Alternativa, 2001.</p><p>MOREIRA, A. F. B. Currículo, diferença cultura e diálogo. Educação</p><p>e Sociedade, Campinas: CEDES, v. 23, n. 79, p. 15-38, 2003.</p><p>MOREIRA, A. F. B; CANDAU, V. M. (orgs.). Multiculturalismo:</p><p>diferenças culturais e práticas pedagógicas. Petrópolis, RJ: Vozes,</p><p>2008.</p><p>PACHECO, J. A. Teoria (pós) crítica: passado, presente e futuro</p><p>a partir de uma análise dos estudos curriculares. Revista</p><p>e-Curriculum, São Paulo, v.11, n. 1, abr.2013.</p><p>http://revista.faculdadeprojecao.edu.br/https://scorm.onilearning.com.br/scorm.php?scorm=487783a9ef36ee2502cce208958674e2&estudante=0&nome=&licao=&sessao=2t1r86gt7d139top32l87kqhfk/Projecao3/article/viewFile/862/713</p><p>http://revista.faculdadeprojecao.edu.br/https://scorm.onilearning.com.br/scorm.php?scorm=487783a9ef36ee2502cce208958674e2&estudante=0&nome=&licao=&sessao=2t1r86gt7d139top32l87kqhfk/Projecao3/article/viewFile/862/713</p><p>69CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>SANTOS, L. L. C. P; MOREIRA, A. F. Currículo: questões de</p><p>seleção e organização do conhecimento. In: Caderno Ideias,</p><p>São Paulo, n. 26, 1996.</p><p>Currículo escolar</p><p>Currículo como campo de estudo: as teorias curriculares</p><p>Teoria Tradicional</p><p>Teoria Crítica</p><p>Teoria pós-crítica</p><p>Diferentes tipos de currículo: diálogos e conflitos</p><p>Currículo formal</p><p>Currículo real</p><p>Currículo oculto</p><p>As concepções de currículo em políticas públicas (leis, diretrizes e orientações curriculares)</p><p>Políticas Educacionais no Brasil:</p><p>Base Nacional Comum Curricular (BNCC):</p><p>Políticas públicas e avaliação</p><p>Desafios Futuros:</p><p>O currículo como produção social e as noções de currículo oculto</p><p>O Currículo Oculto e sua Relevância na Formação Cognitiva e Social do Aluno</p><p>Explorando o Currículo como Produção Social</p><p>Cultura, Educação e Currículo:</p><p>uma exigência de instâncias superiores. No caso da escola, essa</p><p>exigência viria da Secretaria da Educação, orientada pelo MEC</p><p>(Ministério da Educação e Cultura).</p><p>O currículo faz parte da vida escolar, e é muito comum</p><p>que os profissionais da área da educação apenas o reproduzam</p><p>todos os anos e deixem em suas gavetas, caso alguma autoridade</p><p>as solicite.</p><p>10 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Se pensarmos bem, nenhum documento deveria ter esse</p><p>fim. Se ele existe, foi porque estudiosos o criaram e defenderam</p><p>sua existência e sua importância.</p><p>O currículo, em especial, não pode ser esse tipo de</p><p>documento, pois ele deve ser nosso norteador para um Projeto</p><p>Político Pedagógico e sua utilização deve ser constante, sempre</p><p>com objetivo de guiar as ações pedagógicas, tanto quanto</p><p>acompanhamento e supervisão da prática.</p><p>Quando os profissionais da área entenderem sua</p><p>importância, nunca mais será “engavetado”, e provavelmente</p><p>fixarão em um quadro ao alcance da visão de todos, com</p><p>constante abertura para observação.</p><p>Essa percepção erronia da função do documento,</p><p>provém da falta de informação e até mesmo da influência</p><p>histórica.</p><p>Muitos profissionais acreditam ainda que é uma</p><p>mera relação de conteúdos a serem seguidos no programa</p><p>de cada professor.</p><p>O currículo escolar atualmente é entendido como mais</p><p>um seguimento formador da sociedade, em que seus objetivos</p><p>andam lado a lado com a estrutura sociopolítica.</p><p>Imagem 2.1 – Influência política no currículo escolar</p><p>Política e Sociedade Currículo escolar</p><p>influencia</p><p>Fonte - Elaborada pela autoria (2020)</p><p>Dada a sua influência na formação do indivíduo, o currículo</p><p>começou a ser motivo de estudos, e conhecer suas teorias</p><p>claramente ajudará na percepção do que o fundamenta e, mais</p><p>11CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>que isso, poderemos questionar e aperfeiçoar sua efetividade e</p><p>eficiência.</p><p>Na unidade 1, tivemos uma breve explanação sobre alguns</p><p>períodos históricos e sua influência no currículo, apresentando</p><p>mais claramente o currículo tecnicista e o progressista.</p><p>Vamos agora entender melhor a história e os contextos</p><p>que levaram a evolução dessas concepções de currículos.</p><p>Lopes (2006, contracapa):</p><p>[...] o currículo se tece em cada escola com</p><p>a carga de seus participantes, que trazem</p><p>para cada ação pedagógica de sua cultura</p><p>e de sua memória de outras escolas e de</p><p>outros cotidianos nos quais vive. É nessa</p><p>grande rede cotidiana, formada de múltiplas</p><p>redes de subjetividade, que cada um de nós</p><p>traçamos nossas histórias de aluno/aluna e de</p><p>professor/professora. O grande tapete que é</p><p>o currículo de cada escola, também sabemos</p><p>todos, nos enreda com os outros, formando</p><p>tramas diferentes e mais belas ou menos</p><p>belas, de acordo com as relações culturais</p><p>que mantemos e do tipo de memória que nós</p><p>temos de escola [...].</p><p>Currículo como campo de estudo:</p><p>as teorias curriculares</p><p>Os estudos sobre currículos estão intrinsicamente ligados</p><p>à história e ao entendimento de como preparar o cidadão e</p><p>trabalhador.</p><p>12 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>VOCÊ SABIA?</p><p>O currículo pode ser organizado de forma</p><p>a manipular e formatar as impressões dos</p><p>estudantes. Por exemplo: são manipulados para</p><p>acreditar que uma determinada postura é correta</p><p>e não contestável.</p><p>Quando se trata do conceito de manipulação, observamos</p><p>que o sentimento não é de credibilidade, pois, de acordo com</p><p>o Dicionário Aurélio, manipular, é palavra de origem do latim</p><p>manipulare, e significa dar formato a algo, produzir, forjar,</p><p>maquinar, fazer funcionar; pôr em movimento; acionar, controlar,</p><p>dominar.</p><p>Imagem 2.2 – Educação como instrumento de formatação do pensamento</p><p>Fonte: Elaborado pela autoria a partir de IA (2023)</p><p>13CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Apesar de atualmente muitos profissionais da educação</p><p>já entenderem que foram moldados em uma escola tradicional</p><p>e as posturas ali apresentadas não cabem mais à realidade atual,</p><p>vários de nossos comportamentos podem ser gerados por prévias</p><p>manipulações. Isso significa que ficamos tão condicionados a certos</p><p>comportamentos e paradigmas que mesmo inconscientemente</p><p>reproduzimos aquilo que nos foi incutido.</p><p>Isso não descarta a vida escolar, que, mesmo após a idade</p><p>adulta e mais consciente, agimos e acreditamos em determinadas</p><p>propostas, como resquícios da manipulação ocorrida em</p><p>determinados períodos históricos.</p><p>SAIBA MAIS</p><p>Quer entender melhor como pode funcionar a</p><p>manipulação, mesmo que de forma subliminar?</p><p>Recomendamos a leitura de: “Maquiavel Pedagogo</p><p>ou o ministério da reforma psicológica”, de Pascal</p><p>Bernardin.</p><p>Entendendo que nossos futuros profissionais precisam</p><p>desmistificar esses conceitos arraigados, questionando-os e</p><p>aprendendo a suprimir o que não vale a pena, devemos nos</p><p>aprofundar nas teorias de currículo, conhecendo-as e entendendo-</p><p>as. Por isso, vamos agora nesse caminho.</p><p>IMPORTANTE</p><p>O currículo está intimamente ligado à proposta</p><p>social e política. A visão do cidadão que se quer</p><p>forjar precisa estar incorporada a esse currículo.</p><p>Silva (2007, p.15, 16) afirma que: “Um currículo busca</p><p>precisamente modificar as pessoas que ‘seguir’ aquele currículo”. Ainda</p><p>reforça: “Além de uma questão de conhecimento, o currículo é uma</p><p>questão que se concentram também as teorias do currículo”.</p><p>14 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>As formas de entender o que é currículo, e como esse</p><p>entendimento é significativo na vida escolar, serão influenciadas por:</p><p>• Ênfase da natureza da aprendizagem;</p><p>• Do conhecimento;</p><p>• Da cultura;</p><p>• Da sociedade;</p><p>• Da natureza humana.</p><p>Teoria Tradicional</p><p>A palavra “tradicional” se relaciona a repetição de</p><p>determinados hábitos, costumes, culturas em geral.</p><p>É tradicional no Brasil termos em junho as “festas juninas”.</p><p>Essas festas celebram São João, São Pedro e São Antônio e são</p><p>realizadas mesmo antes da era Cristã. É isso que chamamos de</p><p>tradição: repetir hábitos e costumes arraigados a nossa cultura.</p><p>Na educação, essa teoria refere-se aos preceitos escolares</p><p>que vamos discorrer agora.</p><p>O currículo tradicional se concentra no intelecto, no</p><p>conhecimento, considerando o ser humano como imutável.</p><p>O ensino é organizado de maneira rígida, mecanizada,</p><p>descontextualizada, valorizando o conteúdo e o conhecimento</p><p>centrado no professor.</p><p>15CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Imagem 2.3 – Ensino é centralizado no professor. Conhecimento é via de mão única</p><p>Fonte: Elaborado pela autoria a partir de IA (2023)</p><p>Defendia-se que o ensino era um processo de</p><p>condicionamento, e a aprendizagem consistia em modificar o</p><p>desempenho.</p><p>Todos os estudantes eram iguais e com capacidade de</p><p>assimilação igual a um adulto.</p><p>A avaliação tinha por objetivo quantificar o aprendizado</p><p>do estudante, sem gerar nenhuma reflexão quanto ao trabalho</p><p>do professor. Podemos dizer que até hoje muitos professores</p><p>pensam dessa forma, não é mesmo?</p><p>A teoria tradicional se identifica como: “neutras, científicas,</p><p>desinteressadas” (Silva, 2007, p. 16).</p><p>16 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Podemos afirmar que essa forma de se identificar é uma</p><p>contradição, já que se efetiva de forma influenciadora.</p><p>A alegação de ser neutra e desinteressada é incompatível</p><p>com a história que ela apresenta.</p><p>Vamos relembrar um pouco sobre a visão histórica que a</p><p>concebia. Estamos falando de uma educação voltada para a elite,</p><p>em que a exclusão é evidente e reforçada pelo sistema escolar.</p><p>Imagem 2.4 – Estratificação Social</p><p>Fonte: Elaborado pela autoria a partir de IA (2023)</p><p>Constata-se que esse sistema “funciona como mecanismo</p><p>de exclusão natural dos dominados, que não tendo a sua cultura</p><p>reconhecida acabam conformando-se com o fracasso escolar”</p><p>(Moita, 2004, p. 5).</p><p>17CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>A teoria tradicional reforça a divisão de classes,</p><p>apresentando as disciplinas de forma compartimentada, e os</p><p>valores exteriorizados reforçam ideias</p><p>da classe dominante.</p><p>Se o ensino é preparado na linguagem de uma classe</p><p>dominante, os poucos estudantes de classes menos favorecidas</p><p>não aprendem como os demais, reforçando mais ainda as</p><p>diferenças sociais e a manutenção das classes.</p><p>As verdades apresentadas na escola são inquestionáveis</p><p>reforçando a ideia de imobilidade social, e preparando os</p><p>estudantes para trabalhos repetitivos e inquestionáveis também.</p><p>Os estudos de Bobbit (início do sec. XX) apontam para uma</p><p>educação empresarial, comercial ou industrial:</p><p>O que implementa o currículo tem assim duas</p><p>funções importantes a desempenhar – por um</p><p>lado, determinar quais os desejos do mercado</p><p>de consumo, em termos de produto acabado</p><p>e, por outro lado, determinar a forma mais</p><p>eficiente de elaborar o produto acabado –</p><p>funções estas intimamente relacionadas com</p><p>a noção de controle de padrões [...]. (Bobbit,</p><p>2004, p. 21)</p><p>Podemos notar que o currículo tradicional é fechado e</p><p>aponta para um ensino não reflexivo. Silva (2010, p. 24) relata que:</p><p>[...] na perspectiva de Bobbit, a questão do</p><p>currículo se transforma numa questão de</p><p>organização. O currículo é simplesmente</p><p>uma mecânica. [...] Numa perspectiva que</p><p>considera que as finalidades da educação</p><p>estão dadas pelas exigências profissionais</p><p>da vida adulta, o currículo se resume a uma</p><p>questão de desenvolvimento, a uma questão</p><p>18 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>técnica. Tal como na indústria, é fundamental,</p><p>na educação, de acordo com Bobbit, que se</p><p>estabeleçam padrões. O estabelecimento</p><p>de padrões é tão importante na educação</p><p>quanto numa usina de aços. [...] a educação é</p><p>um processo de moldagem.</p><p>É deduzível, assim, que a educação e seu currículo</p><p>tradicional é uma forma de manter a dominação das classes, é</p><p>uma estratégia de manutenção do poder e, dessa forma, não</p><p>será um currículo neutro e muito menos desinteressado como se</p><p>autodenomina.</p><p>Importante abrir um espaço de reflexão para que</p><p>ponderemos sobre a influência que sofremos até hoje desse tipo</p><p>de currículo, que vivenciamos fortemente na época do militarismo</p><p>no Brasil e que, até hoje, rege muitas escolas.</p><p>Muito comum, professores ainda entenderem o currículo</p><p>como um simples documento e que sua disciplina pode ser</p><p>desenvolvida de forma descomprometida das demais e sua</p><p>autoridade será sempre inquestionável, reforçando, assim, o</p><p>sistema social em que predomina a divisão de classes e a</p><p>impossibilidade de diálogo ou ascensão social.</p><p>REFLITA</p><p>Qual a postura de seus professores na educação</p><p>básica? A maioria deles trabalhava de forma</p><p>interdisciplinar e propiciando uma postura crítica</p><p>do conhecimento? Ou simplesmente passavam o</p><p>conhecimento científico de forma estática? Como</p><p>esses professores foram influenciados em sua vida</p><p>escolar por seus professores? Existem resquícios de</p><p>uma escola tradicional em sua forma de lecionar?</p><p>19CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Como tudo evoluiu, vamos agora entender como o</p><p>currículo evoluiu a partir dessa concepção tradicional.</p><p>Teoria Crítica</p><p>Em negação à ordem preestabelecida pela sociedade</p><p>tradicional, onde existe uma verdadeira manutenção das classes</p><p>poderosas, políticas e socialmente, surge a teoria crítica, que busca</p><p>uma sociedade mais justa.</p><p>Influenciada por alemães marxistas, a partir dos anos</p><p>1920, que desenvolveram pesquisas geradas pelo capitalismo</p><p>contemporâneo, o ocidente recebe essas reflexões nos anos 1940</p><p>aos 1970 do século passado.</p><p>Max Horkheimer, um filósofo marxista, foi um dos pais</p><p>fundadores da Escola de Frankfurt, a qual incorporava toda a</p><p>moderna Teoria Crítica da Sociedade e que, em grande escala, se</p><p>caracterizada como neomarxista.</p><p>Horkheimer, junto com Jürgen Habermas, Theodor W.</p><p>Adorno, Herbert Marcuse e Erich Fromm, para citar apenas alguns,</p><p>criaram a Escola de Frankfurt e seu Instituto para Pesquisa Social,</p><p>uma instituição que moldou o pensamento cultural do Ocidente</p><p>como um todo e da Alemanha em particular.</p><p>Marx Horkheimer, em 1937, usa o termo “Teoria Crítica”</p><p>em um de seus artigos, fugindo da força que a ideias marxistas se</p><p>encerravam no materialismo histórico usada por ortodoxos, e que</p><p>era rejeitada por muitos na sociedade.</p><p>https://pt.wikipedia.org/wiki/Max_Horkheimer</p><p>https://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_de_Frankfurt</p><p>https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_cr%C3%ADtica_da_sociedade</p><p>https://pt.wikipedia.org/wiki/J%C3%BCrgen_Habermas</p><p>https://pt.wikipedia.org/wiki/Theodor_W._Adorno</p><p>https://pt.wikipedia.org/wiki/Theodor_W._Adorno</p><p>https://pt.wikipedia.org/wiki/Herbert_Marcuse</p><p>https://pt.wikipedia.org/wiki/Erich_Fromm</p><p>https://pt.wikipedia.org/wiki/Instituto_para_Pesquisa_Social</p><p>20 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Imagem 2.5 – Intelectuais que fundaram a Escola de Frankfurt</p><p>Friedrich Pollock</p><p>Herbert Marcuse Walter Benjamin Erich Fromm</p><p>Theodor W. Adorno Jürgen Habermas Max Horkheimer</p><p>Fonte: Baseada em Todo Estudo (s.d, on-line)</p><p>Explorando o marxismo filosófico, cultural, político e</p><p>psicológico, Horkheimer tenta mostrar que o marxismo poderia</p><p>não ser extremista e economista.</p><p>Diz Horkheimer, no ensaio “Filosofia e Teoria Crítica”,</p><p>também em 1937:</p><p>Os sistemas das disciplinas contêm os</p><p>conhecimentos de tal forma que, sob</p><p>circunstâncias dadas, são aplicáveis ao maior</p><p>número possível de ocasiões. A gênese social</p><p>dos problemas, as situações reais nas quais a</p><p>ciência é empregada e os fins perseguidos em</p><p>sua aplicação, são por ela mesma consideradas</p><p>exteriores. A teoria crítica da sociedade, ao</p><p>contrário, tem como objeto os homens como</p><p>produtores de todas as suas formas históricas</p><p>de vida. As situações efetivas, nas quais a ciência</p><p>21CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>se baseia, não são para ela uma coisa dada, cujo</p><p>único problema estaria na mera constatação e</p><p>previsão segundo as leis da probabilidade. O</p><p>que é dado não depende apenas da natureza,</p><p>mas também do poder do homem sobre ele. Os</p><p>objetos e a espécie de percepção, a formulação</p><p>de questões e o sentido da resposta dão provas</p><p>da atividade humana e do grau de seu poder.</p><p>(Horkheimer, 1972, p. 188)</p><p>Há de se mencionar que, no Brasil, ainda existe um número</p><p>grande de pesquisadores que dialogam com a Teoria Crítica em</p><p>suas investigações científicas.</p><p>Diante desse histórico, o que tudo isso influenciou a escola</p><p>e o seu currículo?</p><p>Os estudiosos passaram a defender a ideia de que os</p><p>estudantes tinham mais capacidade para aprender, entender,</p><p>questionar, se posicionar diante do conhecimento. Diferente do</p><p>currículo tradicional, o currículo referente à Teoria Crítica propõe</p><p>conhecimento para ser apropriado de forma que seja útil na vida</p><p>do estudante. Não é mais uma questão de decoração. Na Teoria</p><p>Tradicional a aprendizagem dependia de repetição; agora, na Teoria</p><p>Crítica, a aprendizagem precisa estar contextualizada com a realidade</p><p>do estudante, e transformá-lo em um pesquisador das informações,</p><p>podendo aceitá-la ou mesmo questioná-la e transformá-la.</p><p>22 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Imagem 2.6 – Relação dialética entre professor e estudantes</p><p>Fonte: Elaborado pela autoria a partir de IA (2023)</p><p>Essa forma de ensinar despertará no estudante uma</p><p>postura social mais significativa e que busca de condições</p><p>melhores de vida, deixando de ser uma pessoa manipulável e sem</p><p>esperança de mobilidade social.</p><p>Em verdade, a teoria crítica é fundamental na reconstrução</p><p>da educação, que persegue um interesse educativo racional e</p><p>de formas democráticas da vida social (Carr, 1985-1993; Carr;</p><p>Kemmis, 1988).</p><p>Nesse caso, a Teoria Curricular Crítica explora a reflexão</p><p>sobre as práticas políticas e culturais, trazendo a percepção do</p><p>currículo como instrumento de conflito entre identidade e poder:</p><p>“será sempre polêmico aplicar ao mundo da escolaridade um</p><p>conjunto de pressupostos prévios que não reflitam a natureza</p><p>dessa mesma escolaridade e não ponderem a função social,</p><p>política e cultural da educação” (Pacheco, 1996, p. 42).</p><p>23CURRÍCULOS E PROJETOS</p><p>PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Imagem 2.7 – Explicação do professor não compreensível pelo aluno</p><p>Fonte: Elaborado pela autoria a partir de IA (2023)</p><p>Como podemos observar na figura, se o professor</p><p>negligenciar as características do aluno, de sua origem, sua</p><p>cultura, seus conhecimentos prévios, correrá o risco de que falem</p><p>linguagens diferentes dentro da sala de aula e o professor pode</p><p>não atingir seu objetivo pedagógico.</p><p>Na Teoria Crítica, defende-se que é mais fácil aprender</p><p>quando o ensino se traduz em verdades, em significativos</p><p>encaminhamentos.</p><p>Antes, a formação cidadã era para aceitar a estrutura</p><p>imposta. Na Teoria Crítica, a formação é de um cidadão pensante,</p><p>crítico e capaz de modificar sua realidade.</p><p>24 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Teoria pós-crítica</p><p>Diante da complexidade em que vivemos atualmente,</p><p>onde as verdades são relativas e as certezas são questionáveis,</p><p>as diferenças se acentuam e devem ser relevantes nas ideias de</p><p>currículos escolares.</p><p>As ambiguidades encontradas em sala de aula nos levam</p><p>a sentir saudades de um tempo em que o currículo era construído</p><p>pensando na igualdade, e não na singularidade dos sujeitos.</p><p>Essa realidade social contemporânea nos leva a</p><p>compreender que hoje é impossível prever um cidadão</p><p>único que possa transformar a sociedade.</p><p>Esse cenário de incertezas nos direciona a pensar em</p><p>um currículo que atenda toda peculiaridade e fluidez atual, que</p><p>incorpore a tecnologia que se transforma rapidamente. Qual é a</p><p>verdade que deve ser ensinada?</p><p>Se a verdade é questionada, o conhecimento automaticamente</p><p>também é, assim como o Projeto Político Pedagógico.</p><p>A teoria pós-crítica defende a formação da identidade e</p><p>da singularidade, não existindo verdade absoluta. As ideias e os</p><p>conhecimentos podem e devem ser analisados, e não estudados</p><p>como verdades.</p><p>Refletindo sobre essas informações, podemos afirmar que</p><p>a teoria pós-crítica, em oposição à teoria crítica, não acredita em</p><p>uma sociedade de igualdades e estabilidade social. Porém defende</p><p>a aceitação da sociedade composta por diferenças.</p><p>25CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Segundo Pacheco (2013, on-line, apud Priestley, 2011, p.</p><p>221-237):</p><p>Com os pressupostos da abordagem realista,</p><p>o pensamento curricular segue parâmetros</p><p>consensualmente definidos em torno de</p><p>registos universais, perspectivando-se</p><p>em formas de análise crítica de práticas</p><p>curriculares centradas no conhecimento do</p><p>quotidiano.</p><p>Moreira (2003, p.10) sintetiza características comuns</p><p>acerca do ideário pós-moderno:</p><p>• O abandono das grandes narrativas;</p><p>• A descrença em uma consciência unitária, homogênea,</p><p>centrada;</p><p>• A rejeição da ideia de utopia;</p><p>• A preocupação com a linguagem e com a subjetividade;</p><p>• A visão de que todo discurso está saturado de poder;</p><p>• A celebração da diferença.</p><p>Considerando todos esses aspectos, podemos dizer que o</p><p>currículo escolar deve se ajustar a realidade social, étnica, cultural,</p><p>gênero, e todo e qualquer elemento que venha trazer posições</p><p>diferenciadas de entender a vida.</p><p>O currículo, nesse caso, não admite nenhum conhecimento</p><p>como único, precisando ser adaptado às realidades que atende.</p><p>Novamente reafirmamos a importância da BNCC (Base</p><p>Nacional Comum Curricular) ser discutida e customizada para</p><p>o Projeto Político Pedagógico da unidade escolar, sendo este</p><p>26 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>fundamento da prática pedagógica, atendendo as necessidades,</p><p>de acordo com a realidade de seu público-alvo.</p><p>Imagem 2.8 – Exemplo de diferentes públicos</p><p>Etnia: indígena</p><p>Classe social: baixa</p><p>Sexo: heterossexual</p><p>Ritos: pajelança</p><p>Alimentação: caça,</p><p>pesca e agricultura</p><p>Etnia:</p><p>afrodescendente</p><p>Classe social: baixa</p><p>Sexo: heterossexual</p><p>Ritos: cristianismo</p><p>Alimentação: cereais e</p><p>pouca proteína</p><p>Etnia: cigano</p><p>Classe social: média</p><p>Sexo: homossexual</p><p>Ritos: candomblé</p><p>Alimentação: variada</p><p>Fonte: Elaborado pela autoria com imagens do Pixabay (2020)</p><p>27CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>RESUMINDO</p><p>Ao longo deste capítulo, mergulhamos profundamente</p><p>no campo do currículo escolar, explorando suas</p><p>dimensões teóricas e práticas. Como Wilfred Carr e</p><p>Stephen Kemmis destacaram, “A teoria curricular é</p><p>essencial para a compreensão do que acontece na</p><p>prática educacional”. Agora, ao término deste capítulo,</p><p>é hora de resumir o que você aprendeu.</p><p>Conforme ressaltado por Luís Eduardo Gauterio</p><p>Fonseca e Fernanda de Campos Pinto, o currículo</p><p>não é apenas o que está escrito nos documentos,</p><p>mas também o que está implícito, o currículo</p><p>oculto. É essa dimensão oculta que muitas vezes</p><p>molda as percepções e experiências dos alunos.</p><p>Assim, você deve ter aprendido que o currículo</p><p>escolar é uma construção complexa, envolvendo</p><p>também valores, crenças e poder.</p><p>Exploramos três principais teorias curriculares</p><p>ao longo deste capítulo. A Teoria Tradicional,</p><p>exemplificada por Tyler, enfatiza a padronização e</p><p>a transmissão de conhecimento. No entanto, como</p><p>destacou Antônio Flávio B. Moreira, a educação vai</p><p>além da mera transmissão, ela envolve a formação</p><p>integral dos indivíduos.</p><p>A Teoria Crítica, inspirada em pensadores</p><p>como Paulo Freire e Henry Giroux, questiona</p><p>as estruturas de poder na educação e busca a</p><p>transformação social. É uma abordagem que nos</p><p>lembra da importância de questionar o status quo</p><p>e promover a justiça social na educação.</p><p>Por fim, a Teoria pós-crítica nos conduz a uma</p><p>compreensão mais flexível e adaptativa do</p><p>currículo, reconhecendo a diversidade de vozes</p><p>e perspectivas na sala de aula. Como Vera Maria</p><p>Candau e Antônio Flávio B. Moreira observaram,</p><p>a educação multicultural é fundamental para uma</p><p>sociedade plural.</p><p>28 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Neste ponto, você deve ter aprendido que o currículo</p><p>escolar é um reflexo das concepções educacionais</p><p>e das relações de poder em nossa sociedade. Cada</p><p>teoria curricular oferece uma lente diferente para</p><p>examinar essa complexa realidade.</p><p>À medida que avançamos para os próximos</p><p>capítulos, exploraremos diferentes tipos de</p><p>currículo e as políticas públicas que os moldam.</p><p>Prepare-se para uma jornada de aprendizado</p><p>contínuo e reflexão crítica, pois a compreensão</p><p>do currículo escolar é essencial para uma prática</p><p>educacional eficaz e transformadora.</p><p>29CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Diferentes tipos de currículo:</p><p>diálogos e conflitos</p><p>OBJETIVO</p><p>Ao término deste capítulo, você será capaz de</p><p>entender como funcionam os diferentes tipos de</p><p>currículo: o currículo formal, o currículo real e o</p><p>currículo oculto. Compreender esses aspectos é</p><p>fundamental para o exercício da sua profissão</p><p>no campo educacional. As pessoas que tentaram</p><p>navegar por esses caminhos sem a devida</p><p>instrução muitas vezes enfrentaram desafios</p><p>ao entender a complexidade do currículo em</p><p>contextos educacionais.</p><p>Então, está motivado para desenvolver essa</p><p>competência? Vamos explorar juntos os diálogos e</p><p>conflitos que envolvem esses três tipos de currículo,</p><p>preparando-o para uma compreensão mais profunda</p><p>da educação e da prática pedagógica. Avante!</p><p>Nessa trilha em que estamos caminhando chamada</p><p>currículo, nos deparamos com a sociedade que é multicultural.</p><p>IMPORTANTE</p><p>Relaciono o caminho com uma trilha, pois esse</p><p>tipo de caminho geralmente é incerto, tortuoso,</p><p>meio inesperado. Se fosse um trilho, seria reto e</p><p>inflexível.</p><p>O povo brasileiro é originado a partir da miscigenação de</p><p>diferentes etnias. Os índios, afrodescendentes, europeus, asiáticos</p><p>trouxeram junto a sua imigração seus hábitos e costumes,</p><p>gerando, assim, uma sociedade diversa e que só enriquece nossa</p><p>sociedade.</p><p>Abaixo relacionamos algumas questões que trazem</p><p>influências de outras culturas:</p><p>30 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>• Junto com a imigração, surgem diferentes concepções</p><p>de religião, sociedade, vestimentas e alimentação etc.;</p><p>• Em todas as culturas temos ainda pessoas com</p><p>deficiências variadas, que diferem</p><p>entre a deficiência</p><p>física e/ou mental;</p><p>• A orientação sexual de cada indivíduo também tem</p><p>sido reconhecida como um ponto a ser considerado e</p><p>refletido.</p><p>Para além de todas essas características ainda encontramos</p><p>estudantes provenientes de lares diferentes e que trazem consigo,</p><p>além de toda uma cultura, algumas vivências que podem ou não</p><p>ajudar na escola.</p><p>A violência está presente na sociedade e cotidianamente</p><p>em algumas famílias, provindas de uso de drogas lícitas ou ilícitas,</p><p>problemas psicológicos etc.</p><p>Como vimos nos últimos parágrafos, muitas</p><p>são as particularidades silenciadas em nome de uma</p><p>homogeneização imposta pela liberdade capitalista.</p><p>“Verdade, conhecimento, poder, identidade marcam as</p><p>discussões curricular” (Moreira; Candau, 2008, p. 25).</p><p>Um currículo que considere todas essas condições</p><p>perpassa pelas mãos dos educadores, que também carregam</p><p>características pessoais. “Por bem ou por mal a cultura é agora um</p><p>dos elementos mais dinâmicos e mais imprevisíveis da mudança</p><p>histórica no novo milênio” (Hall, 1997, p. 97).</p><p>31CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Como um educador pode ensinar sobre a diversidade sem</p><p>impor sua própria visão de mundo? Como incluir as diferenças em</p><p>sua prática? Como considerar toda a diversidade existente sem</p><p>desconsiderar posturas e entendimentos? O diálogo se faz essencial</p><p>para que haja uma postura neutra e de respeito às diferenças.</p><p>Os conflitos culturais, a violência, a intolerância estará</p><p>sempre presente de formas diferentes, e caberá ao educador se</p><p>reinventar a cada dia para tratar esses assuntos sem impor sua</p><p>própria forma de ver o mundo.</p><p>Para isso, a formação de professores é de extrema</p><p>relevância. OS aspectos citados acima devem ser trabalhados e</p><p>incentivados pela equipe técnico-pedagógica.</p><p>Defendendo um currículo que trate de tantos aspectos,</p><p>conhecemos atualmente três tipos de currículos. São eles:</p><p>• Currículo formal;</p><p>• Currículo real;</p><p>• Currículo oculto.</p><p>Veremos na sequência, de forma mais aprofundada, seus</p><p>conceitos e características.</p><p>Currículo formal</p><p>O currículo formal é aquele estabelecido pela escola e</p><p>está orientado pelas Diretrizes Curriculares Nacional, Estadual e</p><p>Municipal.</p><p>Nesse currículo, serão estabelecidos os conteúdos e</p><p>objetivos a serem desenvolvidos pelos professores em sala de aula.</p><p>32 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Imagem 2.9 – Construção do currículo formal no espaço escolar</p><p>BNCC Diretrizes estaduais</p><p>e municipais</p><p>Projeto político</p><p>pedagógico</p><p>Fonte: Elaborada pela autoria (2020)</p><p>A avaliação escolar reflete exatamente o currículo que foi</p><p>definido.</p><p>Dentro do currículo formal, são definidos os conteúdos</p><p>a serem ensinados e os objetivos a serem alcançados pelos</p><p>professores em sala de aula. Essa estrutura curricular serve como</p><p>um guia para os educadores, fornecendo diretrizes sobre o que</p><p>deve ser ensinado e qual a sequência adequada.</p><p>Em outras palavras, o currículo formal é a versão oficial do</p><p>que os alunos devem aprender em uma determinada instituição</p><p>de ensino. Ele é cuidadosamente planejado e segue as diretrizes</p><p>estabelecidas pelas autoridades educacionais. Além disso, a</p><p>avaliação escolar, que inclui provas e exames, reflete exatamente</p><p>o que foi definido no currículo formal.</p><p>Portanto, o currículo formal desempenha um papel</p><p>crucial na padronização do ensino, garantindo que todos os</p><p>alunos tenham acesso aos mesmos conhecimentos e habilidades,</p><p>independentemente do professor ou da escola que frequentam.</p><p>No entanto, é importante notar que ele representa apenas uma</p><p>parte do que os estudantes realmente aprendem, uma vez que</p><p>outros fatores, como o currículo real e o currículo oculto, também</p><p>desempenham um papel significativo na formação dos alunos.</p><p>33CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>SAIBA MAIS</p><p>Se você deseja saber mais sobre o tema do</p><p>currículo na educação, especialmente os conceitos</p><p>de currículo formal, aqui estão algumas sugestões</p><p>de leitura e recursos adicionais:</p><p>• Portal do Professor (MEC): o Ministério da</p><p>Educação (MEC) disponibiliza diversos materiais</p><p>relacionados ao currículo escolar, incluindo</p><p>orientações e diretrizes curriculares nacionais.</p><p>• Revista e-Curriculum: essa revista acadêmica</p><p>publica artigos relacionados ao campo de</p><p>estudo do currículo, abordando diversas</p><p>perspectivas teóricas e práticas.</p><p>Currículo real</p><p>A partir de um Projeto Político Pedagógico, cabe aos</p><p>professores o desenvolverem em sala de aula.</p><p>Cada professor trará sua forma de ensinar, sua forma de</p><p>ver o mundo e, assim, o currículo formal sofre interferências da</p><p>dinamicidade cotidiana, da experiência do professor, da reação</p><p>dos estudantes diante de um determinado conteúdo.</p><p>Dessa forma, o currículo real é aquele que efetivamente</p><p>acontece na sala de aula e como o estudante o recebe.</p><p>O “currículo real” é um conceito importante no campo</p><p>da educação que se refere à implementação prática do currículo</p><p>em sala de aula. Ele difere do “currículo formal”, que é o currículo</p><p>estabelecido pelas diretrizes curriculares e planos de ensino, pois</p><p>o currículo real leva em consideração a dinâmica da sala de aula,</p><p>a interação entre professores e alunos, as experiências individuais</p><p>dos estudantes e as abordagens de ensino dos educadores.</p><p>http://portal.mec.gov.br/docman/marco-2017-pdf/63363-caderno-capa-14/file</p><p>https://revistas.pucsp.br/https://scorm.onilearning.com.br/scorm.php?scorm=487783a9ef36ee2502cce208958674e2&estudante=0&nome=&licao=&sessao=2t1r86gt7d139top32l87kqhfk/curriculum</p><p>34 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>IMPORTANTE</p><p>O entendimento do “currículo real” é essencial para</p><p>educadores, gestores escolares e formuladores de</p><p>políticas educacionais. Ele destaca a importância</p><p>de reconhecer que o processo de ensino e</p><p>aprendizado vai além do currículo formalmente</p><p>estabelecido. Compreender como o currículo se</p><p>desdobra na prática ajuda a adaptar as estratégias</p><p>de ensino, avaliação e suporte aos alunos de forma</p><p>mais eficaz. Além disso, o currículo real reconhece</p><p>a diversidade de salas de aula e a necessidade</p><p>de flexibilidade para atender às necessidades</p><p>individuais dos alunos.</p><p>Aqui estão algumas características e aspectos relevantes</p><p>do currículo real:</p><p>1. Implementação prática – o currículo real representa</p><p>o que realmente acontece na sala de aula. Ele é</p><p>moldado pela maneira como os professores planejam</p><p>e ministram suas aulas, como os alunos respondem ao</p><p>conteúdo e como a dinâmica da sala de aula influencia</p><p>a entrega do currículo.</p><p>2. Variação – o currículo real pode variar de uma sala de</p><p>aula para outra, mesmo que o currículo formal seja o</p><p>mesmo. Isso ocorre porque cada professor tem sua</p><p>abordagem única de ensino e adapta o currículo às</p><p>necessidades e características de seus alunos.</p><p>3. Influência do professor – os educadores desempenham</p><p>um papel fundamental na determinação do currículo</p><p>real. Sua experiência, estilo de ensino, preferências</p><p>e métodos pedagógicos moldam a forma como o</p><p>conteúdo é apresentado e explorado em sala de aula.</p><p>35CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>4. Resposta dos alunos – as reações dos alunos ao</p><p>currículo, suas perguntas, dúvidas e seus níveis</p><p>de interesse também influenciam o currículo real.</p><p>Professores muitas vezes adaptam suas aulas com</p><p>base no feedback dos alunos.</p><p>5. Contexto cultural – o contexto cultural da sala de aula</p><p>desempenha um papel importante no currículo real.</p><p>Os alunos trazem suas próprias experiências culturais</p><p>para a sala de aula, o que pode afetar a forma como</p><p>eles percebem e se envolvem com o currículo.</p><p>6. Flexibilidade – o currículo real é mais flexível do que</p><p>o currículo formal, pois permite que os professores</p><p>façam ajustes conforme necessário para atender às</p><p>necessidades de aprendizado de seus alunos.</p><p>7. Avaliação – a avaliação dos alunos também faz parte do</p><p>currículo real. Os métodos de avaliação, como testes,</p><p>trabalhos e projetos, são uma parte integrante do</p><p>processo de implementação do currículo.</p><p>Imagem 2.10 – Currículo real</p><p>Didática</p><p>AlunoProfessor</p><p>BNCC + Diretrizes</p><p>Regionais + PPP</p><p>Situações de</p><p>sala de aula</p><p>Fonte: Elaborada pela autoria (2020)</p><p>36 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>É importante que os educadores estejam cientes do</p><p>currículo real e sejam reflexivos em sua prática para garantir que</p><p>ele atenda aos objetivos de aprendizado estabelecidos no currículo</p><p>formal. Além disso, a comunicação aberta entre professores,</p><p>alunos e pais é fundamental para garantir que o currículo real seja</p><p>eficaz e beneficie o processo educacional.</p><p>Currículo oculto</p><p>A aprendizagem não ocorre apenas formalmente.</p><p>Aprendemos conversando, brincando, trabalhando, participando</p><p>interações interpessoais, ou mesmo sofrendo algum tipo de</p><p>prejuízo ou susto.</p><p>IMPORTANTE</p><p>O “currículo oculto” é um componente muitas</p><p>vezes negligenciado, mas de extrema importância</p><p>no contexto educacional. Ele se refere às lições</p><p>não intencionais ou não planejadas que os</p><p>alunos aprendem por meio de interações sociais,</p><p>cultura escolar e ambiente educacional como um</p><p>todo. Compreender o currículo oculto ajuda a</p><p>reconhecer que a educação vai além do conteúdo</p><p>programático e inclui aspectos como valores,</p><p>normas, atitudes e comportamentos que os alunos</p><p>absorvem durante sua jornada escolar.</p><p>Muitas vezes, dentro de uma sala de aula, o professor abre</p><p>espaço para que as pessoas se expressem, inclusive ele mesmo.</p><p>Durante esses momentos, cada indivíduo contribui com sua</p><p>perspectiva e, de forma informal, isso é incorporado ao processo.</p><p>São as culturas e visões de mundo que se refletem nas conversas,</p><p>nos gestos e nas interpretações. Não é à toa que dizem que</p><p>nossas ações nos contam como somos. O exemplo do professor,</p><p>do amigo, da família nos ensina cotidianamente.</p><p>37CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>O currículo oculto geralmente é trabalhado de forma não</p><p>planejada, porém muitos professores usam desse artifício para</p><p>reforçar conteúdos e reflexões intencionalmente.</p><p>Dessa forma, o currículo oculto não está descrito, porém</p><p>ocorre de forma natural ou intencional em sala de aula.</p><p>“O currículo está oculto por que ele não é prescrito, não</p><p>aparece no planejamento, embora se constitua como importante</p><p>fator de aprendizagem” (Libânio, 2001, p. 99-100).</p><p>REFLITA</p><p>Refletir sobre o currículo oculto nos lembra que a</p><p>educação não se limita apenas ao que está nos livros</p><p>didáticos. É uma experiência ampla que molda o</p><p>conhecimento, a identidade, os valores e visão de</p><p>mundo dos alunos. Como educadores e tomadores</p><p>de decisão na educação, é fundamental considerar</p><p>como podemos influenciar positivamente o</p><p>currículo oculto, promovendo uma cultura escolar</p><p>inclusiva, respeitosa e que valorize a diversidade.</p><p>Além disso, a reflexão sobre o currículo oculto</p><p>nos desafia a criar ambientes educacionais que</p><p>incentivem o pensamento crítico, a empatia e</p><p>a cidadania ativa entre os alunos, preparando-</p><p>os para se tornarem membros conscientes e</p><p>responsáveis da sociedade.</p><p>Imagem 2.11 – Currículo oculto</p><p>Oculto</p><p>Escrito Ensinado</p><p>Fonte: Elaborada pela autoria (2020)</p><p>38 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>No entanto, vale ressaltar que o currículo oculto não é</p><p>apenas uma via de transmissão de valores e normas sociais, ele</p><p>também pode ser um espaço de reprodução de desigualdades.</p><p>Por exemplo, se o ambiente escolar não promover a igualdade de</p><p>gênero ou a valorização da diversidade étnica, o currículo oculto</p><p>pode inadvertidamente reforçar estereótipos e preconceitos</p><p>existentes na sociedade.</p><p>Além disso, o esse currículo pode variar de uma escola</p><p>para outra, dependendo da cultura escolar, do corpo docente e</p><p>das interações sociais específicas de cada ambiente educacional.</p><p>Portanto, é fundamental que educadores e gestores escolares</p><p>estejam atentos a como o currículo oculto se manifesta em sua</p><p>escola e busquem promover um ambiente que seja inclusivo,</p><p>respeitoso e enriquecedor para todos os alunos.</p><p>O currículo oculto desempenha um papel crucial na</p><p>formação dos alunos, influenciando também quem se tornam</p><p>como indivíduos. Reconhecer e refletir sobre esse tipo de currículo</p><p>é essencial para garantir uma educação de qualidade que promova</p><p>valores democráticos, respeito à diversidade e cidadania ativa.</p><p>RESUMINDO</p><p>Ao término deste capítulo, esperamos que você</p><p>tenha aprofundado seu conhecimento sobre os</p><p>diferentes tipos de currículo: o formal, o real e o</p><p>oculto. Como afirmou Carr et al. (1988), “o currículo</p><p>é mais do que apenas o que está escrito; é também</p><p>o que é praticado e o que está implícito”. Nesse</p><p>contexto, podemos perceber a complexidade do</p><p>processo educacional e como diferentes fatores</p><p>interagem para moldar a experiência do aluno.</p><p>39CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Ao explorar o currículo formal, compreendemos</p><p>que ele é estabelecido pelas diretrizes educacionais</p><p>e define os conteúdos a serem ensinados. No</p><p>entanto, como destacado por Libâneo (2001),</p><p>o currículo real se desdobra nas salas de aula,</p><p>influenciado pela dinâmica cotidiana, pelas</p><p>experiências dos professores e pelas reações</p><p>dos estudantes. Isso nos mostra que a prática</p><p>pedagógica é única e variável.</p><p>Por fim, o currículo oculto, como mencionado por</p><p>Libâneo (2001), não é prescrito, mas desempenha</p><p>um papel importante na aprendizagem,</p><p>transmitindo valores, normas e até mesmo</p><p>preconceitos. É crucial reconhecer a sua existência</p><p>e promover um ambiente educacional que valorize</p><p>a diversidade e os princípios democráticos.</p><p>Em resumo, você deve ter aprendido que o</p><p>currículo escolar é um campo vasto e multifacetado,</p><p>onde o planejamento formal se encontra com</p><p>a realidade da sala de aula e com os elementos</p><p>não explícitos que moldam a educação. Entender</p><p>essas dimensões é fundamental para educadores,</p><p>gestores e todos aqueles envolvidos na construção</p><p>de uma educação de qualidade, que respeite a</p><p>diversidade e promova o desenvolvimento integral</p><p>dos alunos. Avante na sua jornada de aprendizado!</p><p>40 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>As concepções de currículo</p><p>em políticas públicas (leis,</p><p>diretrizes e orientações</p><p>curriculares)</p><p>OBJETIVO</p><p>Ao término deste capítulo, você estará apto a</p><p>compreender em profundidade as complexas</p><p>interações entre as políticas públicas e a avaliação</p><p>no contexto educacional. Essa competência é</p><p>essencial para todos os profissionais da área</p><p>da educação, uma vez que as políticas públicas</p><p>desempenham um papel crucial na definição das</p><p>diretrizes curriculares, na alocação de recursos e no</p><p>direcionamento das práticas pedagógicas.</p><p>Aqueles que tentaram compreender essas</p><p>dinâmicas sem a orientação adequada muitas</p><p>vezes enfrentaram desafios consideráveis ao</p><p>tentar implementar mudanças efetivas nas</p><p>escolas e nos sistemas de ensino. Portanto, estar</p><p>preparado para navegar nesse cenário complexo é</p><p>fundamental para o sucesso na área da educação.</p><p>Você está motivado para adquirir essa</p><p>competência e desbravar o universo das políticas</p><p>públicas e da avaliação educacional? Se sim, vamos</p><p>juntos embarcar nessa jornada de aprendizado e</p><p>descoberta. Avante!</p><p>Políticas Educacionais no Brasil:</p><p>Políticas Educacionais no Brasil desempenham um papel</p><p>fundamental na orientação e regulação do sistema educacional do</p><p>país. Ao longo das décadas, o Brasil tem implementado diversas</p><p>políticas públicas voltadas para a melhoria da educação em todas</p><p>as suas esferas, desde a educação básica até o ensino superior.</p><p>41CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Uma das marcas mais importantes nesse cenário é a Lei de</p><p>Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n.º 9394/96. Essa lei</p><p>estabeleceu as bases legais para a educação no Brasil, definindo</p><p>questões como a estrutura curricular, a organização das instituições</p><p>de ensino, a formação de professores e a gestão escolar. Ela</p><p>também introduziu a ideia de uma educação inclusiva, que busca</p><p>garantir o acesso de todos os estudantes, incluindo aqueles com</p><p>necessidades especiais, a uma educação</p><p>de qualidade.</p><p>Além disso, o Brasil adotou os Parâmetros Curriculares</p><p>Nacionais (PCNs), que são documentos que orientam as escolas na</p><p>definição de suas grades curriculares. Os PCNs foram elaborados</p><p>para serem um guia para o trabalho docente, fornecendo diretrizes</p><p>sobre o que deve ser ensinado em cada etapa da educação básica.</p><p>No entanto, eles também geram debates e discordâncias, o que</p><p>ressalta a importância do diálogo dentro das escolas para sua</p><p>implementação eficaz.</p><p>Como esses PCNs foram elaborados por um grupo de</p><p>estudiosos, sempre vão gerar discordâncias dependerão de muito</p><p>diálogo dentro das escolas. Mas isso não o faz menos importante.</p><p>As políticas públicas educacionais também lidam com</p><p>questões relacionadas à equidade educacional. O Brasil possui</p><p>uma grande diversidade de escolas, incluindo escolas públicas</p><p>e particulares, que variam em termos de estrutura, recursos e</p><p>qualidade de ensino. Isso cria desafios significativos na busca por</p><p>uma educação equitativa, onde todos os estudantes tenham acesso</p><p>às mesmas oportunidades de aprendizado, independentemente</p><p>de sua origem socioeconômica ou geográfica.</p><p>42 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>REFLITA</p><p>A reflexão sobre as políticas educacionais no Brasil</p><p>nos leva a uma profunda análise da complexidade</p><p>desse cenário. É inegável que o país avançou em</p><p>muitos aspectos, estabelecendo leis e diretrizes</p><p>que visam à melhoria da educação. No entanto,</p><p>também é evidente que existem desafios</p><p>significativos a serem enfrentados.</p><p>Há de se reconhecer que no itinerário de nossas reflexões,</p><p>cabe-nos considerar que existem uma imensidão de escolas em</p><p>nosso território brasileiro. Somos 208.494.900 habitantes no Brasil</p><p>(2018). Segundo divulgação do MEC, em 2018, o país contava com</p><p>184,1 mil escolas — e a maior parte (112,9 mil, o que equivale a</p><p>dois terços) é de responsabilidade Municipal.</p><p>Podemos dividi-las da seguinte forma:</p><p>• Colégios particulares - 21,7%;</p><p>• Instituições de ensino com Ensino Fundamental - 116</p><p>mil escolas;</p><p>• Instituições de ensino com Ensino Médio - 28,5 mil</p><p>escolas.</p><p>Outro aspecto referente a esse assunto diz respeito às</p><p>diferenças da escola particular e pública. De forma geral, as</p><p>primeiras oferecem uma estrutura diferenciadas aos professores</p><p>e alunos, além de uma diversidade de materiais e recursos, como</p><p>laboratórios para estudos de diferentes áreas, lousas interativas e</p><p>material em 3D.</p><p>Já nas escolas públicas tanto a infraestrutura quanto a</p><p>disponibilidade de recursos são mais escassas. Encontramos</p><p>escolas de sapê, barro, lata, tijolos, a céu aberto. Consideremos</p><p>também que muitos lugares não têm nem saneamento básico,</p><p>quanto mais acesso à internet.</p><p>43CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Imagem 2.12 – Diferentes escolas brasileiras</p><p>Fonte: Freepik</p><p>A formação dos professores que atendem os diferentes</p><p>núcleos escolares também difere. Existem regiões que, na falta de</p><p>alguém graduado, as aulas são atribuídas as pessoas que apenas</p><p>aceitam o encargo de instruir.</p><p>Segundo Débora Brito, repórter da agência Brasil, em maio</p><p>de 2018, quatro em cada 10 professores que estão em sala de aula</p><p>hoje no nosso país não têm a formação adequada para lecionar.</p><p>Qual estudante (da escola pública ou privada) terá mais</p><p>possibilidade de aprender e competir no mercado contemporâneo?</p><p>O que podemos esperar do nosso sistema educacional enquanto</p><p>preparatório para a formação do cidadão?</p><p>Dentro dessa realidade ainda as políticas públicas</p><p>brasileiras sempre foram influenciadas pelas ideias curriculares</p><p>estrangeiras, e hoje, entendendo as nossas peculiaridades, os</p><p>principais autores do currículo brasileiro reconhecem as influências</p><p>e ressaltam a importância de sua adequação à nossa realidade. Por</p><p>outro lado, sustentam que devemos ser mais críticos em relação a</p><p>44 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>esse discurso e precisamos desenvolver análises mais adequadas</p><p>ao contexto brasileiro (Santos; Moreira, 1996).</p><p>O Banco Mundial, outro influenciador de nossa educação,</p><p>também oferece subsídios para o desenvolvimento educacional,</p><p>dando prevalência à lógica financeira sobre a social.</p><p>Um dos aspectos enfatizados pelo Banco Mundial é o</p><p>monitoramento dos resultados escolares, pretendendo a melhoria</p><p>na qualidade do ensino. As “avaliações externas”, propostas pelo</p><p>MEC, vêm atender essa preocupação.</p><p>Os últimos governos também sofrem influência das</p><p>ideologias neoliberais e políticas adaptadas à nossa realidade.</p><p>A globalização instaurada a partir nos anos 1990, também</p><p>afeta a construção curricular.</p><p>Diante de todos os estudos que realizamos até agora, e</p><p>somadas as diferentes possibilidades locais e a formação de</p><p>professores, podemos garantir que todas as escolas proporcionam</p><p>as mesmas condições de aprendizado para todos os estudantes?</p><p>Pensando em todos os aspectos pontuados, é importante</p><p>entender que o currículo de hoje influenciará na postura do cidadão</p><p>que moverá nosso país daqui a 15 anos aproximadamente.</p><p>Imagem 2.13 – Evolução da força de trabalho</p><p>Fonte: Elaborada pela autoria (2020)</p><p>Observando a figura anterior, podemos lembrar que</p><p>mesmo as atividades profissionais estão mudando rapidamente</p><p>45CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>em função da informatização. Cabe-nos pensar em uma escola</p><p>que contemple todos os fatores que evoluem.</p><p>Apesar de ser muitas vezes contestada, não há dúvidas</p><p>sobre a necessidade de uma política educacional que atenda</p><p>às necessidades atuais, mas também preveja o que estará</p><p>acontecendo no futuro. Qualificar a educação no Brasil é</p><p>fundamental para um futuro mais equilibrado.</p><p>Partindo do setor político a legislação educacional, cabe a</p><p>ele também instrumentalizá-lo e fiscalizá-lo.</p><p>Tentando evitar que determinados ensinamentos fossem</p><p>esquecidos, ou mesmo subjugados em determinados espaços, o</p><p>MEC definiu a Base Nacional Comum, pensando em garantir aos</p><p>alunos do Ensino Básico de todo o país as mesmas possibilidades</p><p>de aprendizagem, mesmo que customizados para sua realidade.</p><p>Isso garante que diante de um Exame Nacional, ou uma seleção</p><p>qualquer, as pessoas possuam as mesmas condições de</p><p>competitividade.</p><p>Questionados sobre a importância de se contar com a</p><p>percepção da sociedade e o os representantes do chamado “Chão</p><p>de escola”, a BNCC abriu espaço para o diálogo em várias esferas.</p><p>Base Nacional Comum Curricular</p><p>(BNCC):</p><p>A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento</p><p>que desempenha um papel fundamental no contexto educacional</p><p>brasileiro. Seu conceito e seus objetivos visam estabelecer</p><p>diretrizes claras para o que os estudantes devem aprender em</p><p>cada etapa da educação básica, desde a Educação Infantil até o</p><p>Ensino Médio.</p><p>46 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>O principal objetivo da BNCC é garantir que todos os</p><p>estudantes do país tenham acesso a uma educação de qualidade,</p><p>independentemente da localização geográfica, origem social</p><p>ou do tipo de instituição de ensino. Ela busca estabelecer um</p><p>conjunto comum de conhecimentos, competências e habilidades</p><p>que todos os estudantes devem adquirir ao longo de sua trajetória</p><p>educacional.</p><p>Imagem 2.14 – BNCC e trajetória educacional</p><p>Fonte: Freepik</p><p>A BNCC desempenha um papel crucial na promoção</p><p>da equidade na educação, pois estabelece um padrão mínimo</p><p>de aprendizado que todas as escolas devem seguir. Isso ajuda</p><p>a reduzir as desigualdades educacionais que existem no país,</p><p>garantindo que todos os estudantes tenham acesso a uma</p><p>educação de qualidade.</p><p>Além disso, a BNCC promove o diálogo com a sociedade</p><p>e com os profissionais da educação. Ela foi elaborada com a</p><p>47CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>participação de especialistas, professores, gestores educacionais</p><p>e outros atores envolvidos na área da educação. Isso garante</p><p>que a BNCC seja construída de forma colaborativa e leve em</p><p>consideração diferentes perspectivas e experiências.</p><p>A abordagem mais abrangente da BNCC também inclui</p><p>a flexibilidade</p><p>necessária para que as escolas e os professores</p><p>possam adaptar os currículos de acordo com as necessidades</p><p>locais e as características de seus estudantes. Isso permite uma</p><p>implementação mais efetiva das diretrizes curriculares, levando</p><p>em conta a diversidade cultural e regional do país.</p><p>Em resumo, a BNCC é um instrumento fundamental para</p><p>a promoção da qualidade e equidade na educação brasileira. Ela</p><p>estabelece um conjunto comum de conhecimentos e competências,</p><p>promove o diálogo com a sociedade e os profissionais da educação</p><p>e oferece flexibilidade para a adaptação curricular, tudo com o</p><p>objetivo de garantir uma educação de qualidade para todos os</p><p>estudantes do Brasil.</p><p>Políticas públicas e avaliação</p><p>As políticas públicas também influenciaram notadamente</p><p>as avaliações, que influenciaram consequentemente os currículos.</p><p>Em primeira instância precisamos refletir sobre a</p><p>importância da avaliação e o que ela objetiva no sistema escolar.</p><p>A avaliação vem trazer informações sobre os alunos, sua</p><p>aprendizagem, suas dificuldades específicas, e, a partir da análise</p><p>dessas avaliações, o planejamento poderá ser norteado.</p><p>Como avaliar é um outro aspecto de extrema profundidade,</p><p>mas não pretendemos esgotar esse assunto aqui, e sim questionar</p><p>a influência das Políticas Públicas na avaliação e no currículo.</p><p>48 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Vamos entender melhor? A partir do momento em que</p><p>são implementadas nas escolas públicas o SAEB (Sistema Nacional</p><p>de Avaliação da Educação Básica), SINAES (Sistema Nacional de</p><p>Avaliação do Ensino Superior), os resultados acabam gerando um</p><p>ranking entre as escolas. Para atingir melhores resultados, muitas</p><p>unidades escolares transformam seus currículos em réplicas</p><p>dessas avaliações, preparando os estudantes para realizá-las</p><p>com maestria. Infelizmente, muitas vezes são trabalhados de</p><p>forma inadequada e não atingem o seu maior objetivo, que é a</p><p>aprendizagem.</p><p>O foco do ensino em rankings forjados por avaliações</p><p>externas tira o foco da aprendizagem. Se a escola não souber</p><p>conduzir e dialogar com essas informações, o currículo será</p><p>transformado para atender somente essas exigências, e, como já</p><p>sabemos, a educação trata de questões muito mais amplas.</p><p>Imagem 2.15 – Página do Site do Qedu</p><p>6</p><p>País</p><p>Meta do país</p><p>Anos iniciais teve evolução consistente</p><p>desde a criação do Ideb</p><p>5</p><p>4</p><p>Fonte: Qedu (s.d, on-line)</p><p>No Brasil, existem algumas ferramentas e plataformas que</p><p>reúnem os principais dados públicos do Ensino Básico, permitindo</p><p>o acesso a informações relevantes sobre a educação no país.</p><p>Dentre as principais, destacam-se:</p><p>1. INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas</p><p>Educacionais Anísio Teixeira): o INEP é uma autarquia</p><p>federal vinculada ao Ministério da Educação (MEC) que</p><p>coleta, analisa e disponibiliza dados educacionais,</p><p>49CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>incluindo informações sobre o Ensino Básico. O portal</p><p>do INEP oferece acesso a uma variedade de indicadores</p><p>e estatísticas educacionais, como o Censo Escolar, o</p><p>IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e</p><p>o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio).</p><p>2. Portal QEdu: o QEdu é uma plataforma que reúne</p><p>informações sobre escolas, professores e alunos da</p><p>Educação Básica no Brasil. Ele disponibiliza dados sobre</p><p>o desempenho das escolas em avaliações, como o IDEB</p><p>e o SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica),</p><p>permitindo que pais, alunos e gestores educacionais</p><p>acessem informações relevantes sobre a qualidade da</p><p>educação em diferentes regiões do país.</p><p>3. Plataforma Geoeduc: a Geoeduc é uma plataforma</p><p>de georreferenciamento que permite visualizar</p><p>dados educacionais em mapas interativos. Ela reúne</p><p>informações sobre escolas, alunos e desempenho</p><p>escolar, facilitando a análise geoespacial da educação</p><p>no Brasil.</p><p>4. Dados Abertos do Governo: o governo brasileiro</p><p>disponibiliza diversos conjuntos de dados educacionais</p><p>em formato aberto, que podem ser acessados por meio</p><p>de portais de dados abertos. Esses conjuntos incluem</p><p>informações sobre escolas, matrículas, desempenho</p><p>escolar e muito mais. Esses dados são valiosos para</p><p>pesquisadores, desenvolvedores e interessados em</p><p>análises educacionais.</p><p>Essas ferramentas e plataformas desempenham</p><p>um papel fundamental na promoção da transparência e no</p><p>acesso à informação educacional. Elas permitem que gestores,</p><p>pesquisadores, educadores e a sociedade em geral acompanhem</p><p>50 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>e avaliem a qualidade da educação no Brasil, identificando desafios</p><p>e oportunidades de melhoria no sistema educacional. Além disso,</p><p>contribuem para a formulação e o monitoramento de políticas</p><p>públicas educacionais mais eficazes.</p><p>Além disso, essas ferramentas e plataformas têm um</p><p>papel crucial no fortalecimento do diálogo entre os diversos atores</p><p>envolvidos na educação, incluindo gestores públicos, professores,</p><p>estudantes, pais e a sociedade em geral. A disponibilidade de</p><p>dados e informações acessíveis promove a transparência nas</p><p>ações do governo e das instituições educacionais, permitindo</p><p>que a sociedade acompanhe de perto o andamento das políticas</p><p>educacionais.</p><p>O Portal QEdu, por exemplo, oferece informações</p><p>detalhadas sobre o desempenho das escolas em avaliações</p><p>nacionais e estaduais. Isso não apenas auxilia os pais na escolha</p><p>de escolas para seus filhos, mas também possibilita que gestores</p><p>escolares identifiquem áreas que necessitam de melhorias e</p><p>compartilhem boas práticas educacionais.</p><p>A plataforma Geoeduc, por sua vez, fornece uma</p><p>abordagem geoespacial única para a análise de dados educacionais.</p><p>Isso permite identificar padrões espaciais e geográficos de</p><p>desempenho escolar, o que pode ser valioso para a alocação de</p><p>recursos e tomada de decisões baseadas em evidências.</p><p>No contexto das políticas públicas educacionais, a</p><p>disponibilidade de dados abertos do governo e outras informações</p><p>facilita o planejamento, o monitoramento e a avaliação de</p><p>iniciativas educacionais. Isso ajuda os formuladores de políticas</p><p>a entender melhor os desafios educacionais e a adaptar suas</p><p>abordagens de acordo com as necessidades locais e regionais.</p><p>51CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Em resumo, as ferramentas e plataformas que reúnem</p><p>dados públicos do Ensino Básico desempenham um papel</p><p>fundamental na promoção da transparência, na melhoria da</p><p>qualidade da educação e no fortalecimento do diálogo entre</p><p>os diferentes atores envolvidos. Elas contribuem para uma</p><p>gestão mais eficaz e informada da educação no Brasil, visando</p><p>sempre aprimorar o sistema educacional e garantir melhores</p><p>oportunidades de aprendizado para todos os estudantes.</p><p>Desafios Futuros:</p><p>Os desafios futuros no contexto das políticas públicas e</p><p>da avaliação educacional no Brasil são complexos e requerem um</p><p>compromisso contínuo com a melhoria da qualidade da educação.</p><p>Alguns dos principais desafios que enfrentamos incluem:</p><p>1. Desigualdades Regionais – o Brasil é um país vasto e</p><p>diverso, e as desigualdades regionais continuam a ser</p><p>um grande obstáculo para a equidade na educação.</p><p>Garantir que todas as regiões tenham acesso a recursos</p><p>adequados e à qualidade educacional é essencial.</p><p>2. Qualidade do Ensino – a qualidade do ensino é um</p><p>ponto crítico. É necessário investir na formação de</p><p>professores, na atualização de métodos pedagógicos</p><p>e no desenvolvimento de currículos alinhados com as</p><p>necessidades atuais e futuras.</p><p>3. Avaliação Justa – as avaliações educacionais devem</p><p>ser justas e precisas, evitando vieses culturais e</p><p>socioeconômicos. Além disso, é importante garantir</p><p>que os resultados das avaliações sejam usados para</p><p>promover melhorias reais nas escolas, em vez de</p><p>simplesmente responsabilizar os educadores.</p><p>52 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>4. Participação da Sociedade – o envolvimento da</p><p>sociedade civil e dos profissionais da educação é</p><p>fundamental para o desenvolvimento e a implementação</p><p>de políticas educacionais</p><p>eficazes. É preciso promover o</p><p>diálogo e a participação ativa de todos os interessados.</p><p>5. Tecnologia e Inovação – o uso da tecnologia e a</p><p>inovação pedagógica são desafios e oportunidades. É</p><p>importante incorporar esses elementos de forma eficaz</p><p>na educação, garantindo que todos os estudantes</p><p>tenham acesso às ferramentas necessárias.</p><p>6. Formação de Professores – a formação inicial e</p><p>contínua de professores é fundamental. É preciso</p><p>investir em programas de desenvolvimento profissional</p><p>que os preparem para lidar com os desafios da sala de</p><p>aula moderna.</p><p>7. Gestão Eficiente – a gestão escolar eficiente e</p><p>transparente é essencial para o sucesso educacional.</p><p>Isso inclui a alocação adequada de recursos, o</p><p>monitoramento de resultados e a tomada de decisões</p><p>informadas.</p><p>8. Inclusão e Diversidade – garantir que todos os</p><p>estudantes, independentemente de suas origens,</p><p>habilidades ou necessidades especiais, tenham acesso</p><p>a uma educação inclusiva e de qualidade é um desafio</p><p>crítico.</p><p>9. Avaliação de Impacto – avaliar o impacto real das políticas</p><p>públicas educacionais é essencial. Devemos ser capazes</p><p>de medir como essas políticas afetam os resultados de</p><p>aprendizado e fazer ajustes com base nas evidências.</p><p>53CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>10. Recursos Financeiros – a alocação de recursos</p><p>financeiros adequados para a educação é fundamental.</p><p>Isso inclui investimentos em infraestrutura escolar,</p><p>materiais didáticos, tecnologia e remuneração</p><p>adequada para os profissionais da educação.</p><p>Enfrentar esses desafios exigirá uma abordagem</p><p>colaborativa e de longo prazo, envolvendo governo, profissionais</p><p>da educação, pais, estudantes e a sociedade como um todo. A</p><p>busca constante pela melhoria da educação é fundamental para o</p><p>desenvolvimento do país.</p><p>À medida que o mundo evolui, é fundamental que as políticas</p><p>educacionais acompanhem essas mudanças e se adaptem para</p><p>atender às necessidades dos estudantes e da sociedade como um todo.</p><p>A educação é uma das chaves para o progresso e o desenvolvimento</p><p>de qualquer nação, e investir nela é investir no futuro.</p><p>RESUMINDO</p><p>E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu</p><p>mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de</p><p>que você realmente entendeu o tema de estudo</p><p>deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos.</p><p>Iniciamos nossa jornada compreendendo a</p><p>importância das políticas educacionais no Brasil.</p><p>Desde a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases</p><p>da Educação Nacional (LDB), a educação brasileira</p><p>deu passos significativos na definição de suas</p><p>diretrizes pedagógicas. No entanto, também</p><p>observamos as disparidades entre escolas públicas</p><p>e privadas, destacando a necessidade de equidade</p><p>no acesso à educação.</p><p>54 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Você deve ter aprendido que a educação no Brasil</p><p>é influenciada por políticas públicas que moldam</p><p>o currículo, como a BNCC, e que a avaliação</p><p>desempenha um papel fundamental na busca pela</p><p>qualidade educacional.</p><p>Analisamos a relação intrincada entre as políticas</p><p>públicas e a avaliação educacional. As avaliações</p><p>externas, propostas pelo Ministério da Educação,</p><p>desempenham um papel crucial na busca pela</p><p>melhoria da qualidade do ensino. Também</p><p>reconhecemos a importância da avaliação</p><p>formativa para o aprendizado contínuo dos</p><p>estudantes e professores.</p><p>Além disso, enfrentamos desafios significativos,</p><p>mas também temos a oportunidade de moldar o</p><p>futuro da educação no país. Continue sua jornada</p><p>de aprendizado e descoberta, pois a educação é a</p><p>chave para um futuro melhor.</p><p>55CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>O currículo como produção</p><p>social e as noções de currículo</p><p>oculto</p><p>OBJETIVO</p><p>Ao término deste capítulo, você será capaz de</p><p>compreender a complexa interação entre o</p><p>currículo como produção social e as noções de</p><p>currículo oculto, bem como a sua importância na</p><p>educação. Essa competência é fundamental para</p><p>profissionais da área da educação, pois permite</p><p>uma análise aprofundada das influências sociais,</p><p>culturais e ocultas que moldam o processo</p><p>educacional. Aqueles que tentaram explorar esses</p><p>conceitos sem a orientação adequada muitas</p><p>vezes enfrentaram desafios na compreensão da</p><p>dinâmica curricular. Portanto, estar preparado</p><p>para desbravar esse campo é essencial para o</p><p>sucesso na área da educação. Você está motivado</p><p>para adquirir essa competência e aprofundar</p><p>seu conhecimento sobre o currículo como</p><p>produção social e as noções de currículo oculto?</p><p>Se sim, vamos juntos embarcar nessa jornada de</p><p>aprendizado e descoberta. Avante!</p><p>Vamos considerar que a escola é uma simulação da</p><p>sociedade e que nela aprendemos a dividir espaços, materiais,</p><p>respeito, obedecer a regras entre outras coisas que envolvem</p><p>nossa vida social.</p><p>É por meio da escola que muitas pessoas tecem seus</p><p>primeiros contatos sociais, e conviver socialmente talvez seja a lição</p><p>mais importante que temos nesse espaço. Essas aprendizagens,</p><p>que são apreendidas no domínio do não dito, mas da ação,</p><p>constituem-se nos conteúdos do currículo oculto ou escondido,</p><p>como afirma Perrenoud (1995).</p><p>56 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Fonseca e Pinto (2017, on-line) descrevem que:</p><p>A escola é um lugar privilegiado no qual um</p><p>conjunto de atividades é desenvolvido de</p><p>forma metódica, continuada e sistemática,</p><p>correspondendo à formação inicial do</p><p>indivíduo, dando a ele condições de se</p><p>posicionar frente ao mundo que o cerca. A este</p><p>conjunto de conhecimentos que emergem da</p><p>escola chamamos currículo.</p><p>Valorizando essa verdade, a escola não é mais simples</p><p>reprodutora de conhecimentos e, como dito anteriormente, deve</p><p>abordar em seu currículo temas transversais como sexualidade,</p><p>respeito, convivências, meio ambiente etc.</p><p>O currículo oculto pode ser entendido como aquela</p><p>aprendizagem informal, que não foi planejada, porém algumas</p><p>correntes defendem que existem aprendizagens que podem</p><p>ser planejadas, para serem apropriadas de forma imperceptível</p><p>pelo aluno.</p><p>Notando que um estudante sofre de bullying, o professor</p><p>poderá pensar em trabalhar conteúdos que façam os alunos</p><p>pensarem sobre o assunto, sem mesmo tocar no caso específico</p><p>desse aluno.</p><p>Assim, há elementos que podem ser incluídos no currículo</p><p>e que devem ser abordados em sala de aula por meio de um</p><p>currículo implícito, de modo a atender às necessidades específicas</p><p>tanto da escola quanto da sociedade.</p><p>É exatamente dessa forma que o currículo produz pessoas</p><p>aptas a viverem em sociedade e exercerem seus direitos.</p><p>Esperamos que nenhuma escola ou professor negligencie</p><p>isso em seu trabalho.</p><p>57CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Imagem 2.16 – Expandir reflexões morais por meio de um conteúdo histórico</p><p>CURRÍCULO REAL</p><p>Quem eram os escravos?</p><p>Quem os escravizava?</p><p>Por quê?</p><p>Quando foram libertos?</p><p>Condições de vida de um escravo.</p><p>CURRÍCULO OCULTO</p><p>O que era mais importante para os</p><p>donos de escravos?</p><p>A humanidade das pessoas</p><p>era considerada nesse tipo de</p><p>dominação?</p><p>Fonte: Elaborado pela autoria (2023)</p><p>SAIBA MAIS</p><p>Quer conhecer mais sobre isso? Leia o artigo</p><p>“Currículo e políticas públicas: reflexões pertinentes</p><p>aos processos contemporâneos de formação e</p><p>prática docente no contexto da interdisciplinaridade”.</p><p>Ele explora a interdisciplinaridade na prática docente,</p><p>abordando a influência que os professores sofrem das</p><p>políticas públicas educacionais e a trajetória curricular</p><p>que molda suas abordagens. Disponível em:</p><p>https://periodicos.ufpb.br/ojs2/https://scorm.onilearning.com.br/scorm.php?scorm=487783a9ef36ee2502cce208958674e2&estudante=0&nome=&licao=&sessao=2t1r86gt7d139top32l87kqhfk/rec/article/download/9095/4783/</p><p>58 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>O Currículo Oculto e sua</p><p>Relevância na Formação</p><p>Cognitiva e Social do Aluno</p><p>O currículo oculto é uma dimensão crucial do ambiente</p><p>escolar que não é explicitamente definida nos planos de estudo,</p><p>mas desempenha um papel significativo na educação dos alunos.</p><p>Ele se refere às mensagens,</p>