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1 Disciplina: Fundamentos teóricos e metodológicos da matemática Autora: M.e Renata Burgo Fedato Revisão de Conteúdos: Thiago Costa Campos/Sérgio Antonio Zanvettor Júnior Revisão Ortográfica: Esp. Alexandre Kramer Morgenterm Ano: 2019 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Renata Burgo Fedato Fundamentos teóricos e metodológicos da matemática 1ª Edição 2019 Curitiba, PR Editora São Braz 3 Editora São Braz Rua Cláudio Chatagnier, 112 Curitiba – Paraná – 82520-590 Fone: (41) 3123-9000 Coordenador Técnico Editorial Marcelo Alvino da Silva Revisão de Conteúdos Thiago Costa Campos Sérgio Antonio Zanvettor Júnior Revisão Ortográfica Alexandre Kramer Morgentern Desenvolvimento Iconográfico Juliana Emy Akiyoshi Eleutério FICHA CATALOGRÁFICA FEDATO, Renata Burgo. Fundamentos teóricos e metodológicos da matemática / Renata Burgo Fedato. – Curitiba: Editora São Braz, 2019. 115 p. ISBN: 978-85-5475-403-7 1.Aprendizado 2. Matemática. 3. Metodologia. Material didático da disciplina de fundamentos teóricos e metodológicos da matemática – Faculdade São Braz (FSB), 2019. Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos, o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade São Braz 5 Sumário Prefácio ..................................................................................................... 07 Aula 1 – Alfabetização, letramento matemático e o Pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) ....................................................... 08 Apresentação da Aula 1 ............................................................................. 08 1.1 Alfabetização e letramento ............................................................ 09 1.1.1 Alfabetização matemática .......................................................... 15 1.1.2 Pacto nacional pela alfabetização na idade certa (PNAIC) ......... 22 Conclusão da aula 1 ................................................................................... 28 Aula 2 – Reflexões gerais sobre a educação matemática .......................... 29 Apresentação da Aula 2 ............................................................................. 29 2.1 Diferença entre educadores matemáticos e matemáticos ............. 30 2.2 Escola Nova no Brasil: o que mudou? ........................................... 32 2.3 O professor e seu papel ................................................................. 35 Conclusão da aula 2 ................................................................................... 39 Aula 3 – Teorias de situações didáticas e o contrato didático, aproximações básicas ............................................................................... 40 Apresentação da Aula 3 ............................................................................ 40 3.1 Fundamentos e teoria ................................................................... 41 3.2 Situações didáticas ....................................................................... 42 3.3 Contrato didático ........................................................................... 48 3.3.1 Os modelos de contrato ............................................................. 51 Conclusão da aula 3 ................................................................................... 52 Aula 4 – As estruturas aditivas: adição e subtração na sala de aula ........... 53 Apresentação da Aula 4 ............................................................................. 53 4.1 Esquema de ação de Piaget .......................................................... 53 4.2 Maneiras do dia a dia para aprender matemática .......................... 54 4.3 Objetivos do ensino da matemática ............................................... 57 4.4 Material concreto manipulável ....................................................... 59 Conclusão da aula 4 ................................................................................... 64 Aula 5 – Geometria do espaço real e matemático ....................................... 65 Apresentação da aula 5 ............................................................................. 65 5.1 Introdução básica da geometria .................................................... 65 5.2 Fase de alfabetização ................................................................... 68 5.3 Espaço e forma - Eixos estruturantes ............................................ 70 6 5.4 Elementos geométricos na natureza ............................................. 74 Conclusão da aula 5 ................................................................................... 77 Aula 6 – Educação matemática realística ................................................... 79 Apresentação da aula 6 ............................................................................. 79 6.1 Contexto histórico da matemática realística .................................. 79 6.2 Matemática conectada .................................................................. 80 Conclusão da aula 6 ................................................................................... 92 Aula 7 – A calculadora na sala de aula ....................................................... 92 Apresentação da aula 7 ............................................................................. 92 7.1 Ponto de vista dos educadores ...................................................... 93 7.2 O bom uso da calculadora depende de você, professor ................ 96 7.3 A matemática perante o PCN ........................................................ 97 7.4 A matemática e as profissões ........................................................ 98 Conclusão da aula 7 ................................................................................... 100 Aula 8 – Jogos para ensinar matemática .................................................... 101 Apresentação da aula 8 ............................................................................. 101 8.1 Benefícios dos jogos didáticos para o ensino da matemática ........ 102 8.1.1 Desenvolvimento do raciocínio .................................................. 103 8.1.2 Agregar prazer às aulas de matemática .....................................103 8.1.3 Criar maior vínculo entre professor e aluno ................................ 104 8.1.4 Incentivar o aluno a tomar decisões ........................................... 104 8.2 Sugestão de jogos para o aprendizado matemático ...................... 105 8.3 Por quê incluir jogos na matemática? ............................................ 107 Conclusão da aula 8 ................................................................................... 108 Índice remissivo ......................................................................................... 110 Referências................................................................................................. 113 7 Prefácio Olá estudante, tudo bem? O tema que iremos abordar hoje será sobre as reflexões do ensino da matemática nas escolas. Este tema é muito importante, pois é comum ouvirmos muitos estudantes e até mesmo professores dizendo que não gostam de matemática e muito menos de ensinar a matemática. Mas como futuros Pedagogos não teremos escolha, a não ser estudar e nos aprimorarmos. Certamente, após nossas aulas você verá que este “monstro” que ronda a Matemática não existe. Enquanto professores, vamos tentar refletir sobre a Matemática, suas implicações, suas atividades para que possamos criar outra experiência aos nossos alunos, uma experiência que se tenha orgulho e prazer em ser relatada aos demais. Não se esqueça de que sua interação em nosso ambiente virtual de aprendizagem é extremamente importante para a sua formação, por isso, utilize nosso ambiente virtual o máximo que puder, pois estaremos sempre a sua disposição, para que você realmente aprenda, sane duvidas e consiga atuar como Pedagogo de forma exemplar na sociedade. 8 Aula 1 – Alfabetização, letramento matemático e o Pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) Apresentação da aula 1 Olá! Tudo bem? Você já deve estar se perguntando sobre como podemos falar em alfabetização Matemática, já que este termo é muito mais utilizado quando queremos alfabetizar as crianças ou até mesmo os adultos na língua portuguesa. Além disso, você também deve estar se perguntando sobre o significado da palavra letramento e sua relação com a matemática. Pois bem, para refletirmos sobre este assunto, alfabetização e letramento na matemática, precisamos recordar que a Matemática é instrumento base necessário para ampliar nosso repertório de interpretação e comunicação com o mundo. Portanto, sabemos que a Matemática está presente nas atividades humanas há muito tempo, e que nas ocasiões cotidianas, as competências matemáticas, ou seja, as habilidades de somar, subtrair, interpretar, entre outras são situações que exigem os conhecimentos matemáticos complexos. Para trazermos para você alguns exemplos de que a Matemática sempre esteve ao nosso lado, basta recorrermos aos grandes cientistas de épocas distantes como Einstein, Galileu Galilei, Thomas Edison, entre outros. Eles utilizaram os conhecimentos matemáticos, lógicos e dedutivos para conseguirem desenvolver suas teorias. Assim, caro estudante, podemos e devemos abandonar a ideia de que a Matemática é penosa, difícil e, às vezes, impossível. Quando pensamos sobre o ensino da Matemática, devemos sempre relacioná-lo com as questões do dia a dia. Você pode me questionar e/ou afirmar: eu não uso a Matemática frequentemente, engano seu, usa sim, e muito. Veja só algumas situações em que a utilizamos e que, certamente, nem sabemos que utilizamos seus conhecimentos: Localizar-se com o mapa ou com GPS, utiliza noção espacial e identificação de formas geométricas; 9 Quando analisamos se o nosso carro caberá na vaga de estacionamento, estamos projetando e calculando as possibilidades que existem de estacionar o carro; Quando viajamos e calculamos a gasolina para a quantidade de quilômetros que iremos percorrer, estamos utilizando a probabilidade e, certamente, as operações básicas da Matemática; Quando precisamos pegar um ônibus ou até mesmo ligar para um táxi, estamos lendo e interpretando os números. Enfim, você percebeu que é praticamente impossível negar a utilização da Matemática em nosso dia a dia, não é? E fica difícil quando não dominamos sua utilização e seus conhecimentos. Portanto, sabemos que como futuros professores podemos e devemos propor o ensino de uma Matemática mais contextualizada e útil para nossos alunos, principalmente quando sabemos que o enfoque da alfabetização está na Língua portuguesa e que a alfabetização matemática deixa a desejar quando se fala em leitura e escrita desta área. O que vem a ser os conceitos de Alfabetização e Letramento. Vamos conhecê-lo? Então, vamos lá! 1.1 Alfabetização e letramento Certamente você já deve saber que a escrita é um dos maiores legados das gerações anteriores. No entanto, tem se constituído como um grande problema para as crianças, pois a escrita é um objeto social a ser apreendido pelo uso, e cada vez mais as pessoas deixam a leitura e a escrita para optar pelos meios mais instantâneos de comunicação, como a televisão, a internet, entre outros. Desta forma, o universo escrito, ou seja, a escrita, tornou-se um objeto referente somente à escola, e seu ensino e aprendizagem tinham como objetivo o desenvolver da “tecnologia da escrita”, ou seja, capacidade de decodificar sinais gráficos, transformando-os em sons, quando falamos da escrita pensamos na capacidade de decodificar os sons da fala, transformando-os em sinais gráficos. Assim, foi formando o conceito, ao longo da história, de alfabetização. 10 Contudo, caro estudante, podemos pensar no resultado disso. Você imagina uma sociedade capaz apenas de decodificar os símbolos? Certamente que não, por isso que a partir de 1980 o conceito de alfabetização foi ampliado. O domínio entre grafemas e fonemas não bastava mais, já que desde então se tenta construir um sentido para a criança por meio de um processo ativo de aprendizagem. Vocabulário Fonemas: é a menor unidade sonora do sistema fonológico de uma língua. Fonologia é a disciplina que estuda cada um dos sons da voz. Cada fonema tem a função de estabelecer uma diferença de significado entre uma palavra e outra. Grafemas: é o nome dado a unidade fundamental ou mínima de um sistema de escrita, podendo representar um fonema nas escritas alfabéticas, uma sílaba nas escritas silábicas ou uma ideia em uma escrita. O grafema é a unidade formal mínima da escrita. Com os estudos de Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1984), Psicogênese da língua escrita, a concepção do processo de construção da representação da língua escrita, pela criança, deixa de ser considerada como dependente de estímulos externos para aprender o sistema da escrita. Curiosidade A reconstrução do termo alfabetizar foi possível por meio dos estudos sobre a psicogênese da aquisição da língua escrita, particularmente com os trabalhos de Emília Ferreiro e Ana Teberosky. Portanto, podemos afirmar que até a década de 1980 entendia-se alfabetização pela capacidade de codificar e decodificar os códigos da língua escrita e falada, ou seja, a aquisição do sistema convencional de escrita, e que a ênfase estava na cópia, excluindo as possibilidades de recriar. Você já vivenciou a seguinte situação quando era criança; o professor passava um monte de coisas no quadro para copiar, ele acreditava que por meio da cópia você estaria aprendendo a ler e escrever? Pois bem, eu mesma passei por isso, 11 lembro até hoje que entrava em desespero porque a professora nos aterrorizava gritando que iria apagar o quadro para, claro, passar ainda mais conteúdo. Essa situação, nos mostra que não era o professor o culpado pelasua crença, mas sim as teorias que indicavam a cópia e a decoreba para aprender a ler e escrever antes de 1980. Sala de aula antiga Fonte: https://st.depositphotos.com/1022027/2014/i/950/depositphotos_20143047-stoc k-photo-a-1959-classroom-photo-with.jpg Desta maneira, houve a necessidade de reconfigurar as práticas sociais escolares para além do simples domínio da ortografia e da escrita. Com o passar do tempo a necessidade do domínio do uso social da língua foi se estendendo, e, conforme Soares (2007), “revelou-se insuficiente” o alfabetizar, integrado ao termo alfabetização funcional. Todavia, mesmo com a nova inserção do termo “funcional”, ainda foi necessário ampliar o significado do termo, pois, como afirma Soares: [...] alfabetizar é muito mais que apenas ensinar a codificar e decodificar”, e outras semelhantes. A insuficiência desses recursos para criar objetivos e procedimentos de ensino e de aprendizagem que efetivamente ampliassem o significado de alfabetização, alfabetizar, alfabetizado, é que pode justificar o surgimento da palavra letramento, consequência da necessidade de destacar e claramente configurar, nomeando-os comportamentos e práticas de uso do sistema de escrita, em situações sociais em que a leitura e ou a escrita estejam envolvidas (SOARES, 2007, p. 96-97). Mas você deve se perguntar, como ficam as escolas diante dessas mudanças? Como todo processo de mudança exige tempo, sabemos que a 12 forma como a escola vem nos apresentando a escrita e a leitura, tem sido muito desvinculada de sua real necessidade e utilidade. O ato de ler e escrever circunscreve uma atividade prazerosa e útil, desde que não seja apresentada de maneira repetitiva e sem finalidades, como cópias e “decorebas” que se transformam em atividades monótonas e desestimulantes a qualquer indivíduo, como mencionei a você o que acontecia comigo na época de estudante da educação básica. Ferreiro (1993) relata que: A ênfase praticamente exclusiva na cópia, durante as etapas iniciais da aprendizagem, excluindo as tentativas de criar representações para séries de unidades linguísticas similares (listas) ou para mensagens sintaticamente elaboradas (textos), faz com que a escrita se apresente como um objeto alheio à própria capacidade de compreensão. Está ali para ser copiado, reproduzido, porém, não compreendido, nem recriado (FERREIRO, 1993, p. 19). Mas é a partir de 1990 que o termo letramento foi se configurando numa nova abordagem ao processo de alfabetização, tornando-o mais completo e capaz de reconstruir a interação com a língua, suas práticas e usos sociais. Você certamente sabe que é comum retomarmos nossas ideias de leitura e escrita somente para as aulas de língua portuguesa, pois de certa forma, esta disciplina sempre foi o espaço formal para exercitar e concretizar as práticas de leitura e escrita. Contudo, sabemos que a escrita discursiva auxilia no processo de compreensão das mais variadas disciplinas e/ou matérias da escola, ou seja, a geografia, a história, a ciências, até mesmo as artes utilizam a escrita e a leitura, então porque poderíamos deixar de fora a matemática? Certamente a matemática está inserida nesse contexto de leitura e escrita, já que são necessários contextualizações e interpretações de situações problema, tanto do dia a dia, como das situações formais de ensino. Mas infelizmente, eu e você constatamos cada vez mais que a prática da escrita e da leitura nas aulas de matemática não são enfatizadas, como se estes fatores não auxiliassem na compreensão da lógica e seus precursores. A matemática e sua aprendizagem não pode abandonar a escrita e a leitura, não é mesmo? Pontes (2007) afirma que a linguagem matemática é admirada pela sua praticidade, mas que não deve comprometer o desenvolvimento de habilidades importantes na formação do cidadão. Desta forma, estudante, não se pode enfatizar somente a linguagem matemática nas aulas, mas sim utilizar 13 os diversos recursos de interpretação para que se torne uma aula com sentido e prazer. Devemos trabalhar a matemática de maneira simultânea à alfabetização e o letramento matemático. Provavelmente você concordará que a linguagem matemática e seus símbolos não são de fácil compreensão, exige muita dedicação, treinamento, compreensão, interpretação, dedução entre outros fatores que nos permitam compreender sua utilização e função, por isso, converter a linguagem matemática e seus símbolos numa escrita discursiva, ao modo do aluno, utilizando até mesmo, dependendo da idade, os desenhos, são formas de registros que facilitam a compreensão da linguagem matemática. Valorizar as práticas escritas na aula de matemática favorecem o abandono da cultura da valorização de resultados enfatizados mecanicamente nas aulas, que ainda não utilizam o entendimento de alfabetização e letramento em matemática. É importante que tenhamos a distinção dos termos alfabetização e letramento, pois segundo Soares (1998): Alfabetizar e letrar são duas ações distintas, mas não inseparáveis, ao contrário: o ideal seria alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, de modo que o indivíduo se tornasse, ao mesmo tempo, alfabetizado e letrado (SOARES, 1998, p. 47). Desta maneira, cabe a escola oportunizar ao aluno o trabalho com diferentes gêneros textuais, criando situações em que o aluno seja o autor de diferentes textos, para que isso ocorra é preciso um trabalho sistemático e reflexivo dos professores, com o papel de disponibilizar vários meios em que a leitura e a escrita se mostrem como utilidades sociais e sobre as práticas textuais para que o aluno a faça de forma autônoma e crítica. Não se pode negar que atualmente a escola exerce um papel fundamental na aprendizagem do ser humano e que talvez seja o único local que a criança tenha contato com o mundo letrado, não é mesmo? O trabalho com diferentes gêneros textuais recai sobre o letramento, ou seja, saber utilizar o recurso da língua escrita e falada nas situações diárias. Já vivenciei situações em que amigos meus tinham dificuldades em ler e interpretar placas de trânsito, por exemplo. Isso é muito comum, principalmente quando nos deparamos com aquelas em que a palavra “exceto” é inserida. 14 Placa de trânsito Fonte: https://www.geografos.com.br/placas-de-transito/placa-proibido-virar-esquerda. jpg Parece bobeira, não é mesmo? Mas até mesmo nas placas de trânsito a interpretação de símbolos e ideias estão implícitas. E assim é o mundo das crianças, em que se depararão com diversas situações em que seja necessária a utilização da escrita para que transmitam um recado, uma receita, ou até mesmo realizem a leitura de uma placa de trânsito. Articular o ensino da Matemática com as variadas práticas e necessidades sociais é imprescindível quando se entende que a interdisciplinaridade tem que se fazer presente nas diversas áreas do saber científico ou tecnológico. Mas como integrar a matemática com as outras áreas de conhecimento? Ora, por exemplo, se você quer refletir com seus alunos sobre uma cidade sustentável, trabalhando com as ciências e as diversas formas de geração de energia limpa, por exemplo, você poderia sugerir que os alunos elaborassem um gráfico de consumo ao longo de um ano de suas contas de luz. Assim, estaria trabalhando a consciência ambiental e certamente a leitura de gráficos e estimativas, aplicando a Matemática nas Ciências Naturais. Desta forma, percebe-se que o trabalho com os gêneros textuais envolve o conhecimento do propósito comunicativo, pois como afirma Bakhtin (2000), os gêneros são maleáveis e se adaptam as necessidades humanas, aos diversos eventos de letramento do dia a dia, por isso o fato de não se trabalharcom modelos na escrita. Vejamos alguns exemplos de gêneros textuais: Bilhetes que os pais colam na porta de geladeira para lembrar alguém de fazer algo; 15 Fábulas, textos narrativos; Descrição de animais, objetos, paisagens, entre outros; Comentários; textos opinativos; Bulas de remédio, textos instrucionais; Receitas; Propagandas em outdoors, textos publicitários; Cartas. Estes são alguns exemplos que em sala podemos trabalhar com os diferentes gêneros literários, incluindo a matemática, propiciando a alfabetização e o letramento. 1.1.1 Alfabetização matemática Você já deve saber que o Brasil ocupa os últimos lugares no rendimento do ensino da Matemática, não é mesmo? Por isso, a discussão sobre o currículo de Matemática está presente de forma efetiva nos dias atuais e cada vez mais utilizam provas que medem o desempenho de vários países em relação ao seu ensino. Isso posto, mostra que, cada vez mais, o Brasil necessita ampliar sua discussão e sua prática em relação a alfabetização matemática. Os países com maior índice nos resultados provam que a matemática é trabalhada de diversas maneiras e de forma transdisciplinar, ou seja, a matemática do dia a dia está presente nas escolas. Como afirma Lopes (2014): Frente aos resultados recentes, observa-se, no currículo da maioria dos países que estão bem posicionados nesses exames internacionais, uma preocupação maior em saber quais competências matemáticas os estudantes adquiriram para enfrentar problemas realistas, problemas autênticos da vida cotidiana, do universo das crianças e do mundo do trabalho, problemas que tratam das relações da Matemática com as demandas sociais, como o consumo responsável, o meio ambiente e a cultura, entre outras aplicações (LOPES, 2014, p.4). Você sabia que o Brasil possui os cadernos do Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa que contempla a Matemática, assim como as diversas orientações do Programa Nacional do Livro Didático PNLD em que 16 percebemos que a Matemática é tratada de maneira ampla e contextualizada. Mas o que podemos entender por uma forma ampla e contextualizada? Segundo Lopes (2014), o enfoque da matemática no dia a dia e suas orientações podem parecer novidade, no entanto, quando nos aprofundamos na história da educação matemática, constatamos que se trata de uma “velha novidade”, contudo, desconhecida por uma parcela de docentes privados, na formação inicial, do contato com a matemática contextualizada. Muitos professores acabam executando aquilo que viveram na sua época de aluno. Isso não pode ser aceito, pois com a Era do Conhecimento em que vivemos, com o auxílio da tecnologia e da velocidade com que o conhecimento anda atualmente, devemos sempre visitar novas possibilidades de ensino, de aprendizagem, de metodologias, entre outros. Assim, caro estudante, você há de concordar comigo de que o termo alfabetização matemática necessita de muitos estudos e aprofundamentos, pois o enfoque à alfabetização ainda é dado pela área da língua portuguesa e não pela matemática. Você certamente também percebe que o ensino da matemática ainda é desvinculado da alfabetização, ou seja, o conhecimento matemático não é contemplado e nem associado com a leitura e com a escrita do dia a dia nas práticas escolares, raramente vemos aulas de receitas, culinárias, jogos matemáticos, jogos com frações ou jogos de cartas que podem ser associados ao ensino da língua. A autora Danyluk (1998) afirma que a leitura e a escrita são tipos de expressões presentes no mundo, capazes de fundamentar os atos humanos na sua compreensão, interpretação e comunicação de experiências vividas. Portanto, podemos entender que o ato de ler e escrever não pode ser reduzido apenas pela prática de palavras escritas, mas sim a atitudes que envolvam toda a necessidade de se expressar diante do mundo e se comunicar com os outros. O sentido do que se lê adquire significado no contexto, ou seja, no mundo, lugar onde se insere o homem e aquilo que é dito. Portanto, é no contexto que o leitor percebe o sentido e atribui significado para aquilo que a linguagem mostra (DANYLUK, 1998, p. 13). Você certamente concordará que a linguagem matemática está presente desde os primeiros anos de vida das crianças, assim como, a língua materna em diversas situações do cotidiano, antes mesmo de iniciar na vida escolar, pois: 17 A leitura matemática do mundo parece ser uma das características da espécie humana. O homem age matematicamente, por razões que os cientistas da cognição ainda não podem dar uma explicação satisfatória. Assim como falamos, matematizamos. Linguagem é a capacidade organizacional de expressar o nosso agir. Ao falar damos espaço para que nossa criatividade se manifeste, organizando e transmitindo o imaginário (D’AMBRÓSIO IN DANYLUK, 2002, p.11). Portanto, define-se, alfabetização matemática, como a ação inicial de ler e escrever, compreender e interpretar seus domínios básicos, bem como, expressar-se com sua linguagem específica. Como afirma Danyluk (1998) “Ser alfabetizado em matemática, então, é entender o que se lê e escrever o que se entende a respeito das primeiras noções de aritmética, geometria e lógica”. Número de crianças de acordo com a idade Fonte: acervo do autor (2019). Este registro acima nos deixa claro que a alfabetização matemática está inserida não só na educação infantil como também nas séries iniciais por meio da introdução das primeiras noções matemáticas que representam o ingresso aos fundamentos necessários para o bom desenvolvimento dos alunos, como a noção da construção de gráficos, somas, multiplicações entre outros. Mas você deve estar se perguntando porque será que as crianças já demonstram receios em relação a matemática? Ora, basta pensarmos que a forma como esses fundamentos são iniciados com as crianças podem determinar uma boa ou má relação que se estabelecerá com a matemática durante e após a vivência escolar. Você pode fazer uma retrospectiva em sua própria vida escolar e rever, hoje como um futuro profissional da educação, a forma como a sua professora lhe ensinou. Acredito que dificilmente você afirmará 18 que sua relação com a matemática foi prazerosa, pois o ensino da matemática ainda precisa de muitas modificações para que o prazer seja seu aliado à sua aprendizagem. Mas é por isso que estamos aqui aprendendo, não é mesmo? Você certamente fará a diferença no futuro. Sala de aula de matemática Fonte: acervo do autor (2019). Então, é preciso compreender que a sistematização do conhecimento matemático depende das experiências e das relações que cada um formará em sua experiência escolar. Vocabulário Sistematização do conhecimento: a capacidade de pensar, construir categorias de pensamento e de lógicas a partir da informação recebida. Quando afirmamos que estamos sistematizando conhecimentos é que estamos sendo capazes de agir e pensar sobre o que aprendemos, é a escola quem ocupa o lugar central desta sistematização de conhecimento, diante de suas várias práticas de ensino. Sendo assim, um dos motivos pelos quais há tanto desinteresse pela aprendizagem da matemática é que muitas vezes os professores privilegiam sua concepção formalista. Mas o que vem a ser concepção formalista em matemática? Você já reparou que para muitos matemáticos, ela se resume a fórmulas, métodos e regras? Isso seria o seu formalismo, se perguntássemos 19 aos formalistas o que é matemática, eles nos responderiam: axiomas, definições e teoremas. Portanto, imagine só, ensinar a matemática baseada neste formalismo seria muito desgastante não é mesmo? A excessividade simbólica e algorítmica que permeia os conhecimentos que exigem o domínio de fórmulas, métodos e regras, sem que se faça a relaçãode interpretação e compreensão das ideias apresentadas no contexto matemático vivido pela situação problema, a torna desgastante e desmotivante. Mas para Gómez (2003) a linguagem matemática carrega dois significados, o formal e o referencial, observe: Um deles, estritamente formal, que obedece a regras internas do próprio sistema e se caracteriza pela sua autonomia do real (contrastação empírica). E uma outra dimensão de significado que poderíamos chamar de referencial, o qual permite associar os símbolos matemáticos às situações reais e torná-los úteis para, entre outras coisas, resolver problemas (GÓMEZ, 2003, p. 24). A partir dessa distinção entre os significados é que se deve atentar para as formas de ensino que ocorrem em sala de aula, será que estamos aplicando a matemática formal ou o que o autor chama de referencial, que é quando adicionamos aos conteúdos matemáticos as situações reais do dia a dia? Enquanto professores, devemos sempre estimular, cada vez mais, os questionamentos e as comunicações de ideias, favorecendo assim a comunicação matemática. Já imaginou você dando aula de matemática e o silêncio imperando em sua sala de aula? Você deve estar se perguntando, mas isso é ruim? Bem, vamos analisar, quando pensamos em uma aula de matemática, geralmente com 30 alunos em sala para o ensino fundamental, temos 30 “cabeças” pensando, formulando, criando hipóteses, raciocinando de diferentes maneiras, não é mesmo? Enquanto professores, deve-se prevalecer o diálogo para que os alunos nos contêm o que está pensando, como ele está pensando, em qual resultado chegou, porque pensou daquela forma, entre outras possibilidades. Isso sim, seria uma aula com movimento de aprendizagem. Smole e Diniz (2007) nos alertam para a ausência de comunicação durante as aulas de matemática: A predominância do silêncio, no sentido da ausência de comunicação, ainda é comum nas aulas de matemática. O excesso de cálculos mecânicos, a ênfase em procedimentos e a linguagem usada para ensinar matemática são alguns dos fatores que tornam a comunicação pouco frequente ou quase inexistente (SMOLE; DINIZ, 2007, p. 15). 20 O império do silêncio nas aulas de matemática incute a ideia de que o conhecimento está restrito somente a figura do professor e que os alunos recebem passivamente esta transmissão, já que não ocupam lugar de construtores e detentores do conhecimento. Desta maneira, cabe ao aluno memorizar, aplicar e repetir as regras que lhes foram apresentadas. Quadro cheio de fórmulas Fonte: https://img.freepik.com/free-vector/open-math-book_23-2147506741.jpg?size=3 38&ext=jpg Já imaginou uma aula de Matemática assim como na imagem? Você tendo de copiar tudo o que está no quadro e não entendendo nada? Devemos, enquanto futuro professores, nos preocupar com isso, pois, certamente corremos o risco de achar que nossos alunos dominam o assunto e simplesmente o enxergarmos como meros copiadores de conteúdo, o que não está certo, não é mesmo? Quando visamos a construção do aprendizado na perspectiva da alfabetização matemática, pensamos que as aulas devem ser rodeadas de discussões e trocas de ideias, favorecendo as diversas formas de resolução de um determinado problema e estimulando os alunos a resolvê-los com seus próprios recursos, criando espaços de análise de procedimentos e soluções 21 errôneas ou não, discutindo estratégias de resolução que permitam sistematizar, reutilizar e/ou ampliar o que foi aprendido. A construção do conhecimento, por meio do debate, deve ocorrer de forma democrática. Aplicando práticas básicas e essenciais para o aprendizado, saberemos como cada aluno pensa, produzindo assim, conhecimento. Resolução de problemas Fonte: Mabel Panizza & cols (2006, p.128). Observem como uma aula de matemática pode ser produtiva. A professora nesta situação compartilhou as diferentes maneiras de resolver um problema, sem antes mesmo de validá-los como correto ou não, porque neste momento o objetivo era discutir as possíveis formas de resolução. Então percebam que a aluna “ALMA” faz uma representação gráfica e depois uma soma repetida de 15. “LAURA” se baseou em repetidas adições. Esses são alguns exemplos de como a Matemática pode envolver os alunos, sem que todos pensem da mesma forma para se obter o resultado. Segundo Danyluk (1998), as pessoas devem se sentir construtoras e capazes de lidar com a matemática: A matemática, enquanto componente curricular, não pode ser tratada estritamente como uma língua formal. Assim como a matemática, também língua materna, deve ter seu ensino viabilizado na medida em que as pessoas se sintam construtoras e capazes de lidar com esses conhecimentos de modo geral e deixem, por isso, de ser meras usuárias dos mesmos. Isto é, a técnica e o significado são dois componentes necessários na aprendizagem; segundo Machado, 22 porém, a técnica não deve causar dano ao significado. Se assim for, a língua materna e a matemática servirão apenas como mero instrumento de mecanização (DANYLUK, 1998, p. 44). O conhecimento lógico matemático é favorecido quando há questionamentos e uma relação nada arbitrária entre professor e aluno. Ou seja, segundo Kamii (1998), a aritmética não precisa ser ensinada de uma geração a outra, pois este conhecimento se estabelece a partir das relações feitas pela criança. Portanto, segundo Kamii: Um princípio fundamental no âmbito lógico-matemático é o de evitar o reforço da resposta certa e a correção das respostas erradas, mas ao invés disso, encorajar a troca de ideias entre as crianças [...]. Quando a criança é confrontada com a ideia de outra criança, conflitante com a sua, geralmente é motivada a pensar outra vez sobre o problema, a retificar sua ideia ou encontrar um argumento para defende-la (KAMII, 1998, p. 62-64). Portanto, caro estudante, quando pensamos numa aula de matemática, não foque sua prática nas correções dos exercícios, como se isso fosse o que garantisse o bom ou mal desempenho dos alunos. Pelo contrário, dialogue, pergunte, porque, como você pensou, como chegou a esse resultado, mostre para seus colegas, estimule ao máximo todas as possibilidades de resolução, mesmo quando incorretas, pois por meio do erro é que repensamos e refazemos de acordo com o esperado, principalmente quando se fala em aprendizagem da matemática, onde a tentativa e o erro pode ser instrumentos ótimos de ensino. 1.1.2 Pacto Nacional Pela Alfabetização Na Idade Certa - PNAIC Visando a alfabetização dos alunos das séries iniciais do ciclo básico I é que o governo brasileiro assumiu o compromisso do Plano de Desenvolvimento da Educação, o PDE de 2007, firmado por todos os estados e municípios com o governo federal e meta do novo Plano Nacional de Educação, em discussão no Congresso Nacional. Assim, o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa tem como objetivo a alfabetização, tanto em Língua Portuguesa, como em Matemática até o 3º ano do ensino fundamental, oito anos de idade, para todas as crianças das escolas municipais e estaduais do Brasil. 23 Mídias Você já ouviu falar em Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa? Veja, no link abaixo, o vídeo do Ministério da Educação (MEC) que lhe explica um pouco mais sobre este conteúdo. https://www.youtube.com/watch?v=gAOoh9VmXd8 Mas você deve estar se perguntando, e o que o governo tem feito para alcançar esta meta? Para que isso ocorra, o governo realiza a formação continuada e presencial, para professores alfabetizadores, e distribui recursos materiais, do MEC, voltados para a alfabetização e o letramento dos alunos. Mas o que significa estar alfabetizado segundo o governo brasileiro? Significa: [...] ser capaz de interagir por meio de textos escritos em diferentes situações. Significa ler e produzir textos para atendera diferentes propósitos. A criança alfabetizada compreende o sistema alfabético de escrita, sendo capaz de ler e escrever, com autonomia, textos de circulação social que tratem de temáticas familiares ao aprendiz [...]. A aprendizagem da leitura e da escrita deve ocorrer em situações em que as crianças se apropriem de conhecimentos que compõem a base nacional comum para o ensino fundamental de nove anos (linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e ensino religioso) (BRASIL, 2014, p.17). Para esse pacto, conta-se com diversos recursos que dentre eles o mais importante é a formação continuada de professores que dispõe dos seguintes eixos: Vocabulário Formação continuada: os autores que mais falam sobre este termo são Candau (1997), Nascimento (2000) e Pimenta (2002). Formação continuada diz respeito aos estudos, pesquisas, e reflexão que formam o profissional mesmo quando este já deixou o ambiente formal de ensino, ou seja, diz respeito ao constante contato com novas concepções e aprendizagens caracterizando um processo permanente de aperfeiçoamento para os saberes da prática. A prática da reflexividade: pautada na ação prática/teoria/prática, operacionalizada na análise de práticas de salas de aulas, aliadas à 24 reflexão teórica e reelaboração das práticas. Vamos explicar melhor este conceito (BRASIL, 2014, p. 10). Relação prática-teoria-prática = formação continuada Fonte: o autor (2019). Perceba estudante, que na imagem anterior temos a sensação do movimento das engrenagens, não é mesmo? Para que este movimento aconteça, a teoria e prática devem se conversar, mas como assim? Observe que a engrenagem laranja é o que movimenta a verde e a azul, portanto, poderíamos dizer que sem a teoria, a prática acabaria não se desenvolvendo. Mas, porque temos duas práticas nesse movimento? Porque a prática pode existir sem a teoria, contudo quando a prática é isenta de teoria ela é uma só, mas quando toma para si o alicerce da teoria ela se renova e cria uma nova prática. Isso é o que denominamos de formação continuada, extremamente necessária ao professor e a qualquer profissional que deseja se atualizar e construir novos conhecimentos. Esta é a prática da reflexividade que abordamos no tópico acima, ou seja, para uma nova prática ser gerada, é necessário que ela esteja apoiada em uma 25 teoria, numa pesquisa, na promoção do conhecer, para que daí, por meio da reflexão surja uma nova prática, ou seja, a reelaboração da prática. Outro eixo necessário para a formação continuada dos professores é: A constituição da identidade profissional: efetivada em momentos de reflexão sobre as memórias do professor, enquanto sujeito de um processo mais amplo, procurando auxiliá-lo a perceber-se em constante processo de formação (BRASIL, 2014, p. 10). Nenhum profissional pode ser desconsiderado do seu processo de formação, ou seja, toda a experiência adquirida com o tempo ajuda na formação do sujeito. Essa é a constituição da identidade profissional, onde as experiências que o professor adquiriu ao longo de sua vida, só tem a contribuir com o seu processo de formação. Sua história de vida, experiência familiar, social, cultural, religiosa, econômica. Tudo influencia na constituição da identidade do ser. A socialização: operacionalizada na criação e fortalecimento de grupos de estudo durante as formações que, espera-se, transcenda o momento presencial, diminuindo o isolamento profissional, intrínseco à profissão de professor, que, em geral, mantém contato com pais, alunos e diretores, mas não com seus pares (BRASIL, 2014, p. 11). Construindo conhecimento sozinho Fonte: https://www.bancocultural.com.br/wp-content/uploads/2017/02/Literatura_02.jpg 26 Você certamente já deve ter ouvido a seguinte frase: “nenhum homem é uma ilha”. Mas o que isso tem a ver com nossa aula, com o ensino de matemática e com o PNAIC? Bem, o terceiro eixo necessário para o desenvolvimento do pacto nacional de alfabetização na idade certa, tem como eixo a socialização dos conhecimentos por meio de grupos de estudo. Então vamos pensar um pouquinho, se sou um professor e quero inserir novas práticas no ensino, como farei isso sozinho se não tenho ninguém para compartilhar ideias comigo, ou até mesmo para me dizer se já tentou tal atividade e se deu certo ou não? A imagem acima, do menino sobre o livro, lendo outro livro embaixo de uma árvore nos dá a sensação de solidão, o que, às vezes acontece no meio dos professores, pois o isolamento profissional entre os docentes ainda é uma característica marcante. É claro que o professor nunca está sozinho, não é isso que estamos afirmando, mas as vezes seu relacionamento se dá muito mais com pais dos alunos e com os próprios alunos, do que com os colegas de trabalho, da onde podem surgir ideias e novos projetos. O engajamento: privilegiar o gosto em continuar a aprender é uma das metas primordiais da formação continuada e certamente faz parte da melhoria de atuação em qualquer profissão (BRASIL, 2014, p. 11). Nenhum professor pode alegar que já sabe tudo, pelo contrário. Sabemos que estamos na Era do Conhecimento e que devido as intensas transformações científicas e tecnológicas o conhecimento e as informações estão se alterando rapidamente não é mesmo? Por isso, quanto mais cultivarmos o gosto pelo aprendizado, pela pesquisa, pela curiosidade, melhor se tornará a atuação dos professores ou de qualquer profissional. Esse é um dos eixos fundamentais para o estabelecimento do Pacto- PNAIC. A colaboração: para além da socialização, trata-se de um elemento fundamental no processo de formação. Através da colaboração, busca- se a formação de uma rede que visa ao aprendizado coletivo, por meio do qual os professores exercitem a participação, o respeito, a solidariedade, a apropriação e o pertencimento (BRASIL, 2014, p. 11). Esses eixos são princípios que ajudam a romper com o modelo da pedagogia conservadora, presente nas práticas atuais dos docentes e que como 27 afirma Behrens (2007), conservar essa prática pedagógica “pode limitar nossa visão de mundo quando homens e mulheres resistem ao processo de mudanças e insistem em se manter no paradigma conservador” (BEHRENS; OLIARI, 2007, p.54-55). A pedagogia conservadora restringe conhecimento Fonte: https://st2.depositphotos.com/1037921/7312/i/950/depositphotos_73121311-sto ck-photo-overprotective-mother.jpg Todavia, ainda que a formação continuada “não seja o único vetor de uma profissionalização progressiva do ofício de professor, continua sendo um dos propulsores que permitem elevar o nível de competência dos profissionais” (PERRENOUD, 2002, p. 12). Visando à formação continuada dos professores é que os cadernos temáticos do Pacto revelam aos docentes a importância dos registros e das representações pictográficas, como: tabelas, gráficos, diagramas, relatórios, produção de cartazes, gibis entre outros. Evidenciando ao professor que toda forma de registro pressupõe um leitor e um escritor. Desta maneira, é que “Quando as crianças escrevem ou desenham o que vivenciaram, elas estão em intenso letramento com gestos, 28 sons (enativos), grafismos, desenhos, rabiscos (icônicos) e letras, números e fórmulas lógicas” (KISHIMOTO, apud Caderno 1 PNAIC Mat, p. 22). Vocabulário Enativo: O termo "enativismo" tem um significado próximo a "enação", definido como "a maneira como um sujeito de percepção combina criativamente suas ações com os requisitos de sua situação". Saiba mais Para ampliar seus estudos, leia, no link abaixo, o artigo: O pacto nacional pela alfabetização na idade certa (PNAIC) como política educacional. http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/download/471/716 Conclusão da aula 1Desta maneira, os cadernos do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa contemplam sugestões de como devem ser a organização do trabalho pedagógico, as diferentes formas de planejamento, a organização das salas de aulas, sugestões de leituras, vídeos e entrevistas que possam favorecer o bom desempenho e auxílio ao professor em sala de aula, para que se alcance a meta prevista pelo Pacto. O Brasil está tendo mudanças significativas, nossos professores estão sendo formados visando a melhoria do ensino da matemática com a alfabetização e o letramento, como algo indissociável. Atividade de aprendizagem Para uma melhor compreensão, faça uma pesquisa sobre a pedagogia conversadora e veja a base de ensino, ou seja, a didática dela e compare com o sistema de ensino aplicado atualmente. Qual sua conclusão? 29 Aula 2- Reflexões gerais sobre a educação matemática Apresentação da aula 2 Olá! Estudante. Seja bem-vindo a nossa segunda aula. Vou apresentar nesta aula um pouco mais sobre o que vem a ser a educação matemática e as suas várias práticas em sala de aula. Você deve estar imaginando se para falarmos em matemática temos que ser matemáticos, certo? Muitas vezes enquanto professores e pedagogos imaginamos que devemos dominar todas as matérias, como história, geografia, português, ciências naturais, entre outras, para então, entrarmos em sala de aula. Mas vamos pensar um pouco, se dominássemos todas estas áreas do conhecimento, deveríamos então fazer a graduação nas várias licenciaturas, não é? Para dominar por completo a história deveríamos fazer a licenciatura em história, para geografia, a licenciatura em geografia, e assim por diante, ainda mais quando pensamos em matemática. Contudo, quando pensamos no pedagogo e em seus domínios, sabemos que durante a graduação aprendemos as diversas didáticas do ensino da língua portuguesa, matemática, história entre outras. Então vamos refletir, precisamos dominar a sua didática, não é mesmo? Certamente o domínio básico destas disciplinas nos sãos ofertadas durante a graduação de pedagogia, pois, o foco principal é na didática, e, é por isso, que quando falamos em ensino de matemática a partir de pedagogos, não estamos em momento algum defendendo o domínio total da matemática em si, mas principalmente de sua didática, para que seja acessível aos nossos alunos e compreensível. Você certamente já se deparou com alguns profissionais licenciados que não possuem a didática em sala de aula, não é? Ao longo da minha experiência enquanto pedagoga, trabalhei com vários professores licenciados que não dominavam a didática do ensino, mas dominavam o conteúdo em si. A partir disso, é que devemos compreender que cabe ao pedagogo o domínio das didáticas, para assim atuar em sala de aula da melhor maneira possível, para que os alunos compreendam o que está sendo transmitido, o que muitas vezes não ocorre com aquele professor especializado, que tem o domínio do conteúdo, mas não consegue transmiti-lo. 30 Obviamente não estou dizendo que o pedagogo deve dominar somente as didáticas e assim conseguirá aplicar os conhecimentos das outras áreas. Estou afirmando que não teremos, enquanto pedagogos, o domínio de um matemático ou de um geógrafo para dar as aulas, compreendem? Certamente, a partir do momento em que escolhemos ser professores pedagogos estamos cientes de que devemos sempre continuar a estudar e estar atento para todas as áreas de conhecimento, contudo, não temos a obrigação de dominar as áreas de ensino, como os profissionais que se habilitam para elas. Então, geralmente observamos que o professor de matemática é chamado de matemático, será que está correto? Acreditamos que esta nomeação não está de acordo, pois as práticas profissionais de um e de outro são bem distintas. Fiorentini e Lorenzato (2012) afirmam que embora estes profissionais tenham a matemática em comum, os olhares direcionados a este campo de saber podem ser diferentes, mesmo quando pensam sobre o ensino desta matéria. 2.1 Diferença entre educadores matemáticos e matemáticos Vamos analisar um pouco as práticas do matemático: concebe a matemática como um fim em si mesma, ou seja, a matemática para os matemáticos não se caracteriza como um instrumento para se “chegar a algum lugar”. Além disso, os matemáticos tendem a promover a educação para a matemática, ou seja, a serviço da matemática, priorizando os conteúdos formais com perspectivas para a formação de novos pesquisadores em matemática. Já os educadores matemáticos concebem a matemática como um meio, um instrumento relevante para a formação intelectual e social do indivíduo, seja criança, jovens e adultos, além de é claro, os professores do ensino fundamental e médio, e, é por isso, que promovem a educação pela matemática e não para a matemática. Na tabela a seguir veja as principais diferenças entre educadores matemáticos e matemáticos. 31 DIFERENCIAÇÃO DOS MATEMÁTICOS PARA OS EDUCADORES MATEMÁTICOS Matemáticos Educadores Matemáticos Tem a matemática como um fim em si mesma. Matemática como um meio/instrumento para formação intelectual e social. Promove a educação para a matemática. Promove a educação pela matemática. Prioriza os conteúdos formais; matemática pura e aplicada. Coloca a matemática a serviço da educação; métodos interpretativos e analíticos. Matemática como ciência milenar. Área emergente de estudos, recém- nascida. Fonte: elaborado pelo autor (FIORENTINI; LORENZATO, 2012) adaptado pelo DI (2019). Percebam então, a diferenciação entre a utilidade e os conceitos que os educadores matemáticos e os próprios matemáticos tem de sua ciência. O que nos importa aqui é compreendermos que estamos nos formando enquanto educadores matemáticos, visando sempre a matemática como um instrumento de formação, capacitação social, cultural e intelectual dos nossos futuros alunos. De acordo com Fiorentini e Lorenzato (2012, p4): A matemática e a educação matemática possuem objetos distintos de estudo, cada qual com sua problemática específica, tendo suas próprias questões investigativas [...]. Por ora, é possível dizer que a Educação Matemática é uma área de conhecimento das ciências sociais ou humanas, que estuda o ensino e a aprendizagem da matemática [...] envolve o domínio do conteúdo específico (a matemática) e o domínio das ideais e processos pedagógicos relativos a transmissão/assimilação e/ou à apropriação/construção do saber matemático escolar. Desta forma, podemos conceber que estamos falando de educação matemática para nossa atuação em sala de aula, pois certamente teremos sim de utilizar os conteúdos específicos da matemática, mas de mãos dadas com o domínio das ideias dos processos pedagógicos que envolvem a transmissão e assimilação do saber matemático escolar. Compreende-se, portanto, a educação matemática como uma relação entre o saber específico e o saber pedagógico da matemática. 32 Então, a partir de agora que já compreendemos e discutimos sobre o domínio da ciência matemática e da educação matemática, focaremos nossa atenção a respeito do ensino desta matemática nas escolas. Pensando nos professores que ensinam a matemática diariamente nas escolas, devemos refletir sobre a posição do Brasil frente ao ensino e a aprendizagem da matemática, pois, o Brasil possui uma extensa gama de pesquisas com produções acadêmicas na área de educação matemática, mas deixa muito a desejar quando falamos da sua aplicação em sala de aula. por meio das avaliações sistêmicas nacionais e internacionais, aparecemos com gravíssimos problemas no ensino e na aprendizagem nesta área do conhecimento. Contudo, sabemos que por muito tempo a Matemática foi ensinada aos alunos como uma simples matéria desvinculada de qualquer sentido, focandoapenas na memorização e no treinamento dos alunos, e dependendo da cultura escolar que adentramos podemos encontrar ainda estas práticas em sala de aula. Mas, o que mudou então? Será que o que existe hoje, com a tentativa de inserir jogos matemáticos, problemas que contextualizem o ensino da matemática, entre outras práticas, é recente? Nunca antes na história do ensino da matemática, ela foi contemplada de maneira a valorizar o aprendizado do aluno e somente agora nos surge esta ideia? Por isso, é extremamente importante que façamos uma viagem na história, ou seja, uma retomada ao longo da história para compreendermos o que temos hoje sobre o ensino da Matemática e suas aplicações no dia a dia dos nossos alunos. Vamos então compreender um pouquinho mais sobre o ensino da matemática e os movimentos que deixaram rastros pedagógicos ao que hoje compreendemos de ensino atual da matemática. 2.2 Escola Nova no Brasil: o que mudou? Você já ouviu falar em Escola Nova no Brasil? Foi um movimento disseminado em inúmeros países e que semeava uma escola mais democrática com melhor qualidade. Segundo Ghiraldelli (1994), “Entre 1930 e 1937, o Brasil viveu um dos períodos de maior radicalização política de sua história”, pois 33 muitos projetos na direção de um novo Brasil, com novos modelos de educação e reestruturações políticas estavam sendo analisadas e colocadas em prática para que um novo Brasil pudesse surgir. A partir daí, após intensa luta por novas reestruturações, surge o modelo “Escola Nova” que deixa de lado o modelo tradicional de ensino, era liderado pelos católicos defensores da “Pedagogia Tradicional” que se baseava na memorização com ensino mais intuitivo, valorização da memorização onde o professor era a figura central de todo processo de ensino e aprendizagem. A “Escola Nova” trouxe para a escola um modelo de ensino e aprendizagem mais significativo tanto para o aluno quanto para o professor. Enquanto o modelo de ensino tradicional, chamado por Saviani (1998) de “intelectualista e enciclopédico”, tinha sua atenção direcionada à figura do professor, trabalhava com conteúdo que em nada faziam sentido ao aluno, separado da sua experiência enquanto indivíduo e da sua realidade social. A chamada escola ou pedagogia tradicional se fez presente no Brasil até o fim do século XIX. O professor ocupa a centralidade de todo o processo, centralizasse na memorização de conteúdos e enfatiza-se muito a exposição dos conteúdos de forma verbal. O esforço do aluno era seu principal aliado ao êxito, ou seja, se o aluno não se esforçasse na memorização e na cansativa repetição de exercícios, não obteria resultados bons e certamente a responsabilidade do seu insucesso era do próprio aluno e nunca do professor. Neste período, a escola estava centrada na formação moral e intelectual dos alunos, por meio de normas extremamente rígidas com muita disciplina. Em busca, portanto, de novas formas de atuação nas escolas e no ensino, é que a partir do século XIX, na busca da superação do modelo tradicional surge a grande intenção de tornar a escola um lugar diferente, em que fosse permitido ao aluno uma postura mais ativa, em que conseguisse elaborar seu próprio conhecimento, tornando a criança o centro do processo de ensino e não mais o professor. A partir daí é que falamos em oferecer situações aos alunos, ou seja, para Vidal (2000): Devia a escola, assim, oferecer situações em que o aluno, a partir da visão (observação), mas também da ação (experimentação) pudesse elaborar seu próprio saber. Aprofunda-se aqui a viagem iniciada pelo ensino intuitivo no fim do século XIX, na organização das práticas 34 escolares. Deslocando-se do “ouvir” para o “ver”, agora o ensino associava “ver” a “fazer” (VIDAL, 2000, p. 498). Portanto, o que você deve compreender aqui é que o grande foco foi se alterando do professor para o aluno, ou seja, a busca em proporcionar uma escola diferente, com situações em que o aluno pudesse experenciar, viver e observar. Foram práticas mais valorizadas que começaram a tomar a frente dos processos educativos deste período. Como nos afirma Vidal (2000), o deslocar-se do ouvir para o ver e agora do ver para o fazer, nos traz excelentíssimas contribuições nas modificações dos processos de ensino, colocando realmente o aluno enquanto autor de sua aprendizagem e não mais mero espectador de conteúdo. Cabe ressaltar que o Movimento da Escola Nova promoveu modernizações da conduta educativa e melhorias nos saberes escolares, considerando que não trouxe à educação um novo modelo escolar, como algo novamente enrijecido, estático, mas sim, novas configurações de um trabalho educacional e de uma nova cultura escolar (VIDAL, 2000). Para que você compreenda um pouco mais das alterações que o Movimento da “Escola Nova” trouxe para a educação no Brasil, não posso deixar de comentar sobre o conceito de aluno “tábula rasa”, muito utilizado quando queremos enfatizar que o papel do aluno, quando visto a partir desta perspectiva, seria como uma folha de papel em branco, e o professor seria o mestre, que ajudaria a escrever nesta folha, ou seja, nesta visão, o aluno seria desprovido de qualquer conhecimento, sendo tratado como um mero receptor de conhecimento. Com o Movimento da Escola Nova, os educadores passaram a perceber os alunos não são mais como uma tábula rasa, mas como um sujeito capaz de receber e passar conhecimentos, portanto, os alunos começaram a ser vistos como o centro do processo e não mais como receptor de saberes (VIDAL, 2000). Dessa forma, a escola trocou seu foco principal, antes o ensino, e agora a aprendizagem. Portanto, você deve ter percebido que é importante entendermos um pouco mais da história do ensino da matemática, para não cometermos o erro de afirmarmos que nunca antes era oferecido jogos aos alunos, ou atividades 35 que promovessem outras formas de ensino para além da memorização e repetição. O que vemos atualmente, é que infelizmente professores não procuram deixar suas aulas mais prazerosas e diversificadas, pois isso dá muito trabalho, exigindo pesquisas e muitas leituras. Mas veja bem, se você escolheu ser professor, deve ter em sua mente que a pesquisa e a leitura lhe ajudará no processo de ensino e aprendizagem de seus alunos, e nada é mais gratificante, ao professor, do que perceber que seus alunos estão conseguindo se desempenhar nas atividades e compreender a matemática para além da sala de aula, não é mesmo? Portanto, dedique-se muito, para realmente fazer a diferença em nosso país, principalmente quando falamos do ensino da matemática. Mídias Para compreender um pouco mais sobre o Movimento da Escola Nova no Brasil, sugiro que assista ao vídeo, no link abaixo, da Univesp que trata sobre o assunto de maneira clara e objetiva. https://www.youtube.com/watch?v=Lr5xe2LXoqs 2.3 O professor e seu papel Agora que você já viu um pouco do modo de ensinar da pedagogia tradicional e sabe que o professor e o aluno eram mero espectadores deste processo, onde o professor ensinava numa forma vertical e o aluno era o elemento passivo neste processo, certamente você concorda comigo que hoje em dia não dá mais para ser assim. O aluno deve participar ativamente das aulas, mas o que vem a ser participar ativamente? Vamos imaginar uma situação de sala de aula para você compreender melhor. Imagine que os alunos estão retornando do recreio para entrarem na sala de aula e começarem a estudar matemática. Estes alunos têm em média 7 anos de idade e estão no 2º ano do ensino fundamental I. A professora para iniciar a aula já pede para que os alunos peguem o livro de matemática e abram em determinada página. Esta página do livro está 36 introduzindo às formas geométricas. A introdução apresenta as formas geométricase seus nomes, e as crianças já se deparam com o seguinte exercício que você vê abaixo. Enumere as seguintes formas geométricas: 1. Círculo; 2. Quadrado; 3. Triângulo; 4. Retângulo; 5. Losango; 6. Trapézio. Formas geométricas Fonte: acervo do autor (2019). A atividade anterior foi um exemplo de como nós podemos “matar” a vontade de aprender de um estudante. Você imagina o porquê? Veja bem, se você tem a sua disposição as formas geométricas para ensinar, já parou para pensar em como o seu aluno poderá aprender de forma ativa, mesmo que ele tenha apenas sete anos de idade? Observe, como será que esta mesma atividade poderia ser mais atrativa e mais ativa para seu aluno? O que poderíamos fazer para que ele não ficasse somente preenchendo as formas com 37 seus respectivos nomes, mas que fosse elaborando seu pensamento sobre cada uma das formas. O que pretendo com este exemplo é demonstrar a você, que muitas atividades nos sãos apresentados, principalmente, pela facilidade da internet hoje em dia, mas que muitas vezes devemos recriá-las, pensando sempre em nosso aluno, em nossa criança em sala de aula e na forma como ela vai interagir com o conhecimento que você, professor, está lhe apresentando. Então vejam lá, vamos recriar a atividade do livro didático? Mãos à obra! Vou ajudar você a pensar nos seguintes aspectos para que este mesmo exercício seja aplicado em sala, mas com a participação ativa da criança. Para isso leve em consideração as seguintes reflexões: De que forma o meu aluno pode construir conhecimento a partir desta imagem? Como posso fazer com que o aluno reflita sobre as diferentes formas geométricas apresentadas na imagem? O que o aluno pode perguntar para saber as características de cada forma geométrica? Existem semelhanças e diferenças nas formas? Quais? Estas perguntas são disparadoras para que você realmente faça uma análise do exercício proposto. Minha ideia é que você poderia sugerir um “jogo de adivinhações de figuras”. Mas como assim? Primeiramente você tem que ter como objetivo que seus alunos identifiquem e expliquem as características de certas figuras, de modo que outro aluno possa reconhecê-las. A partir daí, o professor ou um colega dirá que está pensando em uma das formas geométricas apresentadas na figura, mas não diz qual. Os alunos têm de elaborar perguntas que só possam ser respondidas com “sim ou não”. Diante das perguntas e das respostas que o professor ou outro colega for lhe dando, as crianças descobrirão de que figura se trata. Exemplo de perguntas: Esta figura que você pensou tem 4 lados? Ela não tem cantos? Ela tem linhas tortas, entre outros. Estas são exemplos de perguntas que podem surgir. Vejam que a partir delas, eu já estou trabalhando com as características das formas e não preciso ficar escrevendo no quadro, milhares de vezes, as características de um triângulo e outras formas para que a criança decore, mas 38 sim permitir que as atividades sejam dadas às crianças para fazê-las pensar a partir de um problema, e não simplesmente a partir de um nome e de sua identificação, como proposto na primeira forma de apresentação. Certamente você há de concordar comigo que mesmo que a atividade acima, trabalhada da maneira tradicional, colocando apenas os nomes nas respectivas figuras geométricas, sem envolver todo o jogo de adivinhações do qual propomos, é útil sim, como uma maneira de fixar o conteúdo. Obviamente a memorização auxilia no processo de aprendizagem, contudo devemos tomar muito cuidado com a memorização para que ela seja um recurso de assimilação do que já foi explorado e não uma ferramenta inicial de aprendizagem. Mas como assim, por exemplo, se você quer ensinar a tabuada aos seus alunos, certamente em algum momento terá de recorrer a memorização dela, mas antes deste processo de memorização, precisamos trabalhar centenas de vezes com a compreensão de todo processo multiplicativo, que envolva situações- problemas em que a criança sinta a utilidade social daquele conteúdo, e após isso, recorrer ao processo de memorização. Portanto, sabemos que a relação do professor com a aprendizagem mecânica se dá devido a sua formação acadêmica e por isso, nesta aula, estou trazendo para você a real necessidade em se alterar estas práticas. O professor Pedro Demo trabalha com o termo “instrucionismo” e alerta que esta forma de ensino, baseada na instrução, já não pode sobreviver em nossa sociedade, frente as demandas sociais e intelectuais que existem, “[...] mero ensino, autoritário, imposto de fora e acolhido pelo estudante na posição de objeto”. Saiba mais Para aprofundar seus estudos, leia o texto de Pedro Demo intitulado de Conhecimento e aprendizagem, atualidade de Paulo Freire, no link abaixo: http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/torres/demo.pdf Portanto, ainda seguindo o pensamento deste autor, é importante compreender que a aprendizagem é processo “dinâmico, complexo não linear, de teor autopoiético, hermenêutico, tipicamente interpretativo, fundado na 39 condição de sujeito que participa desconstruindo e reconstruindo conhecimento” (DEMO, 2004, p.60). Concluindo nossa linha de raciocínio sobre a aprendizagem mecânica e o ensino instrucionista, você deve sempre ter em mente a sua postura em sala de aula. Qual papel você está ocupando? Em qual papel seus alunos estão atuando? São alunos que estão participando do processo de ensino e aprendizagem de maneira ativa, ou simplesmente estão assistindo aulas, que não passam de uma mera transmissão de conteúdos prontos e acabados em si, que somente copiam e reproduzem atividades que são estipuladas pela figura do professor? Para responder estas perguntas e refletir sobre elas, você deve observar se, enquanto professor, você também faz o movimento de aprendizagem, portanto, manter e instigar o hábito de ler, estudar, pesquisar e elaborar devem ser práticas, tanto do aluno quanto do professor, visando sempre a autonomia do aprender. Conclusão da aula 2 Portanto, caro estudante, é importante sempre revisar as teorias e os materiais que você tem a sua disposição para exercitar o ato de estudar e pesquisar, já que você viu no decorrer da nossa aula a sua real importância. Assim, é importante que você compreenda que não dominaremos todas as áreas de conhecimento, mas que elas são essenciais para a nossa formação profissional. Relembre que como apontado no início da nossa aula, tratei com você sobre a necessidade de nos formarmos enquanto educadores de matemática e não matemáticos, já que existe grande diferença na maneira de lidar com o conhecimento e com o ensino na sala de aula. Além disso, você também me acompanhou na viagem histórica que fizemos no século XIX sobre o ensino da matemática e vimos que propor jogos e colocar o aluno como centro da aprendizagem não é novidade, como muitos acreditam e propagam, já que vimos que esta mudança no ensino e na aprendizagem já foi sugerida e defendida no século XIX, eu e você temos, de certa forma, uma obrigação, enquanto professores atuais, para não cometermos os erros do passado. 40 Para encerrar nossa aula, convido você a sempre analisar a sua prática de ensino e o seu processo interminável de aprendizagem. Atividade de aprendizagem Você certamente refletiu sobre nossa aula e muitas lembranças de professores que lhe ensinaram durante a sua vida escolar básica lhe vieram a mente, não é mesmo? Lembrar da sua vida enquanto aluno é muito importante, pois fará você refletir, hoje, sobre sua prática enquanto professor. Para auxiliar neste processo de reflexão, extremamente importante, sugiro que você entreviste alguns professores da educação básica ou mesmo da educação infantil e perceba na fala destes professores sobre como eles se relacionam comos alunos e com o conteúdo que está lecionando. Certamente você não estará julgando este professor, porque não é seu papel, mas esta atividade de entrevistar e refletir sobre as respostas que lhe serão dadas, lhe ajudará a perceber novas práticas ou até mesmo, práticas que necessitam ser reformuladas e recriadas por você, quando for atuar com seus alunos em sala de aula. Aula 3 - Teorias de situações didáticas e o contrato didático, aproximações básicas Apresentação da aula 3 Olá! Caro estudante! Seja bem-vindo à nossa aula sobre as situações didáticas dos matemáticos franceses, mais especificamente do pai da didática da Matemática. Nesta aula, estudaremos um pouco sobre a teoria das situações didáticas do francês Guy Brousseau. Esta teoria é muito valiosa quando pretendemos que nossos alunos sejam realmente alunos participativos nas aulas de matemática, e que compreendam todo o processo de ensino e aprendizado com verdadeiro sentido e utilidade. Você deve ter vivenciado situações em sua vida escolar, assim como eu, em que se perguntava: (para que preciso aprender isso?), diante de um quadro cheio de contas para resolver, não é mesmo? Mas fique tranquilo, que em nossa aula lhe mostrarei todos os porquês em se alterar 41 nossa didática, para que faça sentido a você, enquanto futuro professor, e ao seu aluno. Certamente não teremos como pretensão esgotar todo o assunto, já que é uma teoria que exige muitos estudos dos quais você pode se aprofundar posteriormente, mas abordarei nesta aula os conceitos e os termos que são mencionados no livro Ensinar matemática na Educação Infantil e nas Séries Iniciais: análises e propostas de Mabel Panizza e colaboradores, essencial para sua prática enquanto futuro professor. Vamos lá? 3.1 Fundamentos e teoria Panizza (2006) afirma que a didática da matemática da escola francesa nasceu nos anos 1970, como resultado de muitas preocupações de um grupo de investigadores, em sua maioria matemáticos, que queriam interpretar e descobrir fenômenos e processos ligados a transmissão e aquisição do conhecimento. Sabe-se que a teoria das situações didáticas está baseada numa concepção construtivista, no sentido piagetiano, de aprendizado. Como afirma Brousseau (1986), o aluno aprende adaptando-se a um meio que é recheado de contradições e dificuldades que geram desequilíbrios, assim como se percebe na própria sociedade em que vivemos. Este saber, fruto de uma adaptação do aluno, irá se manifestar por novas respostas, comprovando assim a sua real aprendizagem. Então vamos falar um pouco mais sobre esta teoria e seus fundamentos. Esta teoria atribui uma significativa importância para as “situações” na construção do conhecimento e na didática. Mas, o que vem a ser didática da matemática para este grupo de estudiosos franceses? A didática da matemática nesta teoria, segundo Teixeira e Passos (2013), seria a arte em conceber e conduzir diversas condições que podem vir a gerar ou determinar um aprendizado de um saber matemático. Ou seja, várias situações didáticas de ensino que auxiliem para o progresso na construção do conhecimento da matemática. Por isso, as interações em sala de aula para Brousseau, são essenciais, permitindo aquisições e aperfeiçoamentos do conhecimento matemático. Assim, segundo Teixeira e Passos (2013) o objeto 42 central de estudo nessa teoria de Brousseau não é o sujeito cognitivo, mas sim as situações didáticas que são identificadas nas interações entre o professor, o aluno e o saber. Os erros cometidos pelos alunos, nessa teoria, constituem-se como uma valiosa fonte de informação para a elaboração de boas questões ou para novas situações problemas que possam receber, mais aparentemente, os objetivos desejáveis. Guy Brousseau (1933), matemático francês, considerado o pai da didática da matemática. Desenvolveu uma teoria para compreender as relações que se operam na sala de aula. Os educadores e os educandos são atores da relação ensino- aprendizagem. A Teoria das Situações Didáticas se baseia na ideia de que cada conhecimento ou saber, pode ser determinado por uma situação. Portanto, dependendo da teoria que assumimos em sala de aula, o erro pode significar o fracasso do aluno, ou até mesmo uma constatação de que ele não sabe e não compreendeu o assunto. Contudo, nesta importante teoria das situações didáticas, o erro tem papel primordial na aprendizagem do aluno e principalmente para o professor, pois a partir do erro é que novas situações de elaboração de atividades e objetivos podem ser feitos. Para isso é que trago esta teoria para refletirmos, pois você, como futuro professor, será responsável por criar estas situações didáticas, ajudando na compreensão dos conceitos matemáticos, por parte dos alunos, e na reflexão de como pode criar situações didáticas que favoreçam o aperfeiçoamento do conhecimento do seu aluno. 3.2 Situações didáticas As situações didáticas são organizadas por Brousseau a partir de três tipos diferentes, entre eles estão: ação, formulação e validação. Esses momentos das situações didáticas ocorrem ao mesmo tempo, e não separados, mas organizou-se assim por acreditar que melhor seria compreendido. 43 Situação de Ação: é o aluno que atua sobre o meio, ou seja, é ele quem toma as decisões a partir de seu conhecimento implícito; Situação de Formulação: esta pode ser de um aluno ou de um grupo de alunos e emissores que vão formular uma mensagem destinada a outro aluno ou grupo, esse, por sua vez será o receptor, o qual deve compreender a mensagem e agir de acordo com o conhecimento que a própria mensagem traz; Situação de Validação: dois alunos ou um grupo deve anunciar premissas, declarações que podem se colocar a favor ou contra aquelas afirmações propostas. Vamos entender assim, as afirmações de um grupo são submetidas as considerações de outro grupo, que deverão ser capazes de sancionar, isto é, aceitar, rejeitar, pedir provas, contrapor entre outros. Vocabulário Conhecimento implícito: é aquele que faz parte da nossa experiência acumulada, mas que não conseguimos descrevê-lo, estruturá-lo e comunicar aos outros. Então, Brousseau (1986) diz que a situação é de ação quando aquilo que se exige dos alunos é que ponham em jogo meios de ação, o que é próprio das situações de formulação, visto que é o caráter da necessidade que a formulação de uma mensagem possui; as situações de validação exigem, necessariamente, não apenas a formulação, mas também a validação de juízos por parte dos alunos. Outra situação explanada por Brousseau em sua teoria é a institucionalização, mas o que vem a ser isso? Para Brousseau (1986) é a validação, ou seja, a consideração oficial por parte do aluno e da aprendizagem dele por parte do professor, se tornando um fenômeno essencial de todo o processo didático. Segundo as palavras de Brousseau (2008), prover de sentido um saber. 44 Se institucionalizar é uma assimilação de conteúdo e de saberes, podemos afirmar que esta prática seria estritamente tradicional, não é mesmo? Não. Se afirmássemos isso, estaríamos cometendo um grande erro, porque quando no ensino tradicional o professor se ocupa de explicar para a criança o que ele quer que ela faça, e daí se verifica o que aprendeu e se aprendeu, na institucionalização baseada na construtivismo estamos, enquanto professores não somente explicando o que queremos dos alunos, mas sim lhes apresentando o objetivo, e estamos, antes de tudo, criando sentido para aquele saber, da qual, a partir do momento em que recapitulamos, sistematizamos, ordenamos, e vinculamos o que foi produzido enquanto conhecimento ao longo do trabalho dos alunos e do seu próprio saber cultural. Mas então, esta institucionalização ocorre em situações de ensinotradicionais? Sim, quando o professor se ocupa apenas do cumprimento dos passos: explicar, dar exemplos, exercitar, verificar se aprendeu, assim como demonstrado na imagem abaixo. Passos ensino tradicional Fonte: elaborado pelo autor (2019). Enquanto que neste processo de institucionalização, baseado no construtivismo, o objetivo do professor se torna claro e explícito. Assim, o duplo e conhecimento (do aluno e do professor) constitui a institucionalização, que é, de certa forma, complementar ao processo de devolução. Cria: sentido-utilidade-reflexões Fonte: elaborado pelo autor (2019). Explica TREINA COBRA 45 A institucionalização está dentro do que Brousseau classifica como situações adidáticas. Mas o que vem a ser uma situação adidática? Bem, vamos pensar o seguinte, geralmente em sala de aula achamos que o professor é a figura central de todo o ensino, não é mesmo? Porém, com a teoria das situações adidáticas, a não intervenção do professor em relação ao saber tem um espaço muito valioso e não deixa, em momento algum, de ser uma situação e um momento de aprendizagem. É importante trazer a consideração de Brousseau (1996), quando nos afirma sobre o trabalho intelectual dos alunos, que deve se dividir em momentos de atividades cientificas, ou seja, compreender a matemática não basta aprender definições e teoremas, mas sim, reconhecer ocasiões em que eles possam ser utilizados e aplicados; aceitando a ideia de que fazer matemática implica resolver problemas, formulando, reformulando e agindo sobre estes conhecimentos. Para Brousseau (1996) cabe ao professor “imaginar e propor aos alunos situações que eles possam viver e nas quais os conhecimentos apareçam como a solução ótima e passível de ser descoberta para os problemas colocados”. Portanto, a situação adidática defendida por Brousseau (1996), chama a atenção para quando o aluno for capaz de aplicar os conhecimentos por si próprio, fora de todo o contexto de ensino, e como afirma o autor com suas próprias palavras, “sem qualquer indicação intencional” a isso sim, podemos chamar de situação adidática. Mas quais atividades devemos propor aos nossos alunos para que possam ser aplicadas as situações didáticas e adidáticas? Certamente, você concordará comigo que as atividades de simples memorização e resolução direta, em nada auxiliarão no processo de assimilação de conteúdo e compreensão de significados, não é mesmo? Vejam só, abaixo temos uma página de um livro didático que podemos classifica-la como tradicional. Reflita comigo o porquê. Saiba mais Para ampliar seus estudos leia, no link abaixo, o artigo: Uma Situação a-didática em Sala de Aula para introduzir a noção de multiplicação. http://www.enrede.ufscar.br/participantes_arquivos/E4_POMMER_RE.pdf 46 A atividade que trouxe para refletirmos faz parte dos estudos de Wagner M. Pommer e Clarice P. C. R. Pommer, intitulado de Uma Situação a-didática em Sala de Aula para introduzir a noção de multiplicação, que foi indicado no parágrafo anterior, publicado pela UFSCAR. Observem a primeira atividade proposta aos alunos de 2º ano do ensino fundamental I: Para esta atividade foram disponibilizados aos alunos uma embalagem de leite longa vida (aberta na face superior) de volume 1 litro (sem graduação) e um copo de plástico vazio. Atividade proposta ao 2º ano do E. F. I. Fonte: Pommer e Pommer (2010). Os autores destacam que atividades de estimativa já foram contempladas em sala de aula, não sendo o primeiro contato dos alunos com este tipo de exercícios. Portanto, sabe-se que os alunos realizaram a atividade individualmente, estimando a quantidade de copos de leite que caberiam na embalagem de um litro. Observe uma das resoluções apresentadas pelos alunos: Resolução situação-problema Fonte: Pommer e Pommer (2010). 47 Observe que a criança utilizou a sua estratégia para obter um resultado, não é mesmo? Neste momento não houve a interferência do professor, ela o fez sozinha, criando sua própria estratégia, mas aí entra o papel do professor provocador, alterando o cenário, possibilitando reflexões e não, meramente, corrigindo o resultado, como no ensino tradicional. Observe: Primeira interferência: provocação do professor-pesquisador Fonte: Pommer e Pommer (2010). E assim os alunos tiveram a oportunidade de pensar melhor em suas estratégias e alterar ou manter seus resultados. Veja só, aqui estamos falando de provocação, reestruturação de conhecimento, possibilidades de respostas, de raciocínio, que são essenciais para as situações didáticas e adidáticas de ensino, que comentei com você acima em nosso material. Você consegue perceber isso? Perceba que os momentos de formulação, validação e ação foram permitidos aos alunos, pois veja os depoimentos abaixo: Respostas dos alunos Fonte: Pommer e Pommer (2010) 48 A partir daí, uma nova oportunidade de reflexão e alteração de estratégias foram possibilitadas, alterando resultados, mantendo estratégias e refletindo sobre sua ação na situação-problema. Terceira etapa da atividade Fonte: Pommer e Pommer (2010). Saiba mais Leia a reportagem, no link abaixo, da Revista Nova Escola intitulada de “Guy Brousseau: referência na didática da Matemática” e veja que com os estudos desse grandioso educador, novas formas de ensino e aprendizagem foram feitas para o ensino da Matemática. https://novaescola.org.br/conteudo/2664/guy-brousseau-referencia-na-didatica- da-matematica Veja que mais uma provocação foi feita e uma importante alteração na atividade que é: pense e registre. Neste momento, com estes “comandos” foi dado como auxílio à criança a utilização da representação pictográfica, desenho. Vale ressaltar que o objetivo didático nesta aula era observar a noção multiplicativa dos alunos o que fica bem claro nas conclusões deste trabalho, confira. Coloquei esta atividade a sua disposição para que você e eu pudéssemos refletir um pouco mais sobre as verdadeiras situações didáticas em sala de aula e do real valor das provocações no ensino da matemática. 3.3 Contrato didático O contrato didático definido por Brousseau é o que define as regras de funcionamento da relação dentro das situações didáticas. 49 Vocabulário Contrato didático: “um conjunto de comportamentos (específicos) do professor que são esperados pelos alunos, e um conjunto de comportamentos do aluno que são esperados pelo professor” (Brousseau, 1986, p. 38). Quando pensamos em contrato, você há de concordar comigo que estamos falando de mais uma pessoa, certo? Na educação, tema abordado nesta aula, estamos falando da relação que o professor estabelece com o aluno e vice e versa. Mas como assim, existe um contrato entre professor e aluno? Para Brousseau sim, porque o direito de falar, de ouvir, a forma como o professor se relaciona com o aluno, a maneira como este aluno se relaciona com o professor, tudo está fazendo parte de um contrato didático, denominado por Brousseau (1986). Portanto, para você entender melhor sobre este contrato, pense nas regras que estabelecemos em salas de aula com o aluno, com o professor e claro, com o conhecimento. Se eu e você olharmos um pouquinho para trás na história da educação, veremos que as relações nas salas de aula eram indesejáveis. Johnson (1981) afirma que eram vistas como influências negativas sobre o rendimento escolar, e que deviam ser evitadas e até mesmo eliminadas. Eu posso contar a vocês que não existia uma relação de igualdade com a minha professora. Ou seja, ela sempre sabia, e nós éramos sempre o que tínhamos a aprender do jeito dela e no momento em que ela quisesse. A interação adultos e crianças era sempre de superioridade hierarquizada, não é mesmo? Eu enquanto aluna, tinha certeza de que era incapazde construir um conhecimento e minha professora era a única detentora deste saber. Contudo, hoje você deve perceber esta prática de forma mais isolada, não é? Certamente você concordará comigo que não se extinguiu em sua totalidade, ainda temos professores que se relacionam desta forma com seus alunos e com o conhecimento, contudo, com os avanços dos estudos da psicologia e da educação, temos grandes e significativos apoios para a construção do conhecimento pelo o aluno, sendo visto como capaz de compartilhar 50 conhecimentos na interação aluno e aluno, demonstrando para nós que entre eles também existe aprendizagem e ensino. Para ficar mais claro o conceito sobre o contrato didático, devemos saber que ele permite e caracteriza um espaço de discussão, negociações, rupturas e renegociações, portanto, o erro neste cenário é fator de aprendizado e não reprovação. Mas vamos refletir, se eu não conheço o contrato didático, então ele não existirá ou não existe nas aulas destes professores que não conhecem esta teoria? A resposta é sim, ele existe, porque o contrato são as regras que estão presentes em todo processo de ensino e aprendizagem, independentemente do professor conhecer ou não o contrato didático, ou seja, de maneira consciente ou inconsciente ele acontece. Triângulo das situações didáticas proposto por Brousseau Fonte: Nóbrega (2010). Existem 3 modelos de contrato didático que indicam diferentes maneiras de relacionamento entre a tríade, professor-aluno-conhecimento. Observe a imagem abaixo, ela disponibiliza os vértices (cantos) como sendo cada qual o seu personagem, então temos o professor, o aluno e o conhecimento, contudo este triângulo deve ser imaginado no chão, porque o aluno não está no topo, mas sim numa relação de igualdade, pois compõe um vértice da figura, assim como o professor e o conhecimento. Menezes (2006) afirma que a relação triangular não pode ser analisada como polos, mas sim como vértices, pois têm relações direta com todos os outros. O saber se relacionar tanto com o aluno quanto com o professor. O aluno, se relaciona com o professor e com o saber. Ao mesmo tempo em que o 51 professor se relaciona com o saber e com o aluno. E por fim, todos se relacionam entre si de maneira equilibrada, que ocorre situada num determinado tempo e contexto, como nos mostra as flechas tracejadas sobre o triângulo. Saiba mais Para aprofundar seus estudos, confira a reportagem disponibilizada no link abaixo pela Revista Nova Escola, intitulada de “Contrato didático: o ‘não dito’ é essencial”. https://novaescola.org.br/conteudo/568/contrato-didatico-o-nao-dito-e-essencial 3.3.1 Os modelos de contrato Brousseau apresenta três modelos de contrato didático quando reflete sobre a postura do professor perante o aluno e a sua valorização do conhecimento e o saber. O primeiro modelo didático é aquele em que o conteúdo se torna o grande foco do ensino e da aprendizagem. Dessa forma, o professor ocupa lugar central na relação com o conhecimento e com o aluno. Segundo Beltrão, Souza e Silva (2010), o aluno não tem como participar deste processo, já que, quem domina e determina é o professor. Certamente você se lembrará de alguma situação que você já vivenciou ou até mesmo conhece profissionais que se portam desta maneira, ou seja, acredita que o aluno não sabe nada e não domina nada do que ele ainda vai ensinar. A avaliação neste tipo de contrato, como fica? Segundo os autores mencionados acima, nesse tipo de contrato, é na prova e nos exercícios que a exigência se torna superior ao nível que foi apresentado nas aulas. A avaliação será usada como um instrumento controlador de ações que o professor julgue indesejadas por parte dos alunos, punitiva. No segundo modelo, a relação aluno e saber se faz mais presente e o professor entra em cena somente para acompanhamentos. Entende-se que o aluno deve ter autonomia e condição suficiente para buscar seu próprio conhecimento, não será papel do professor a transmissão deste saber. Geralmente, baseados neste modelo de contrato didático, estão as aulas realizadas em grupo. 52 No terceiro modelo enfatiza-se o saber e o aluno, mas o professor ocupa espaço diferenciado, intervindo nas relações didáticas, mas não sendo o detentor do conhecimento. Aí se propõe situações desafiadoras, de acordo com o nível cognitivo da turma, valorizando-se a construção do conhecimento coletivo e individual. Mídias Vale a pena conferir a série de Leitura comentada do artigo Contrato didático: 'o não dito' é essencial, no link abaixo, com os comentários de Saddo Ag Almouloud, professor da PUC-SP, e por Priscila Monteiro, consultora de Nova Escola. https://www.youtube.com/watch?v=lR2uUcV7Tcg&t=56s Conclusão da aula 3 Vimos a importância em conhecer um pouco mais sobre o ensino da matemática e sua didática, não é mesmo? As relações didáticas que estabelecemos com os alunos, o contrato didático que muitas vezes passa despercebido por nós e que pode ser uma valiosa ferramenta de reflexão e auxílio para o ensino da matemática e de demais matérias. Lembre-se que a forma de atuar em sala de aula fará toda a diferença para aprendizagem do aluno, podendo, enquanto futuro professor, torná-la significativa ou uma experiência negativa. Por isso, quanto mais estudarmos e pesquisarmos, seremos capazes de ser figuras significativas e memoráveis a aqueles que “passarem” por nossas mãos sob nossa forma de ensinar. Atividade de aprendizagem Reflita sobre as práticas pedagógicas pelas quais você vivenciou enquanto aluno, tanto na fase da sua infância, como na fase da adolescência. Para isso, identifique os tipos de contrato didático que os seus professores aplicavam com sua turma. Reveja os três modelos e tente enquadrar cada um dos professores dos quais se lembra. Feito isso, que tal observar um pouco mais se as suas convicções e seus conhecimentos estão adequados com a teoria de Brousseau quanto as situações didáticas e suas fases? Volte no início da nossa aula e reveja os princípios de Brousseau e tente enxergá-los na prática, ou enquanto aluno, ou enquanto futuro professor. Será interessante e valioso para sua formação. 53 Aula 4 - As estruturas aditivas: adição e subtração na sala de aula Apresentação da aula 4 Olá! Caro estudante! Hoje vamos abordar um assunto um pouco polêmico, mas depois da nossa aula, “estruturas aditivas: adição e subtração na sala de aula”, certamente vamos concordar mais amplamente que a matemática pode ser maravilhosa! A verdade é que a matemática está em tudo no nosso cotidiano. Ela está presente na música, nos astros, no bordado, nas receitas, nos exercícios físicos, enfim, em tudo. Sabemos que Piaget nos deixou uma das mais importantes contribuições para a educação matemática, a sua teoria de que a compreensão das operações aritméticas tem origem nos esquemas de ação das crianças, dos quais as crianças começam a entender que adição é juntar e subtração é retirar. 4.1 Esquema de ação de Piaget Quando você pergunta para uma criança de 5 ou 6 anos, “se você tem 2 balas e eu te der mais 4, com quantas balas você ficará”? Para te responder, certamente ela contará nos dedinhos da sua mão 2 + 4 e chegará a conclusão de que terá 6 balas. Isso é o “esquema de ação” do qual Piaget nos deixou. A criança considera a ação e não os objetos para a resolução. Soma e subtração com os dedos Fonte: https://www.recantodasletras.com.br/usuarios/631/fotos/870430.gif 54 E se fosse uma subtração, ela esconderia os dedos necessários para a retirada do número de balas sugerido. A criança ainda pode usar além dos dedos, pauzinhos, as próprias balas, tracinhos no papel entre outros. Assim, o ensino da matemática deveser construído, a partir do cotidiano. As operações de adição e subtração acontecem naturalmente no ambiente da criança, você pode criar situações do seu dia a dia para ensiná-la. Por exemplo, em uma mesa coloque 3 lápis, em seguida peça para a criança colocar mais 3 lápis, pergunte a ela quantos lápis tem na mesa? A criança somará contando todos os lápis da mesa, se você puser novamente os 6 lápis na mesa e tirar 4, ela contará os que restaram para lhe responder quantos lápis tem na mesa. É importante que cada ação esteja bem clara para a criança. Lembre-se que a matemática está sempre presente nas coisas corriqueiras da nossa vida. Objetos do dia a dia ajudam na inserção à matemática Fonte: https://static7.depositphotos.com/1000619/733/i/450/depositphotos_7332421-st ock-photo-group-of-education-theme-objects.jpg 4.2 Maneiras do dia a dia para aprender matemática Você poderá levar seus alunos ao supermercado, e durante essa visita, você vai observar a infinidade de aprendizado que este estabelecimento oferece para as crianças, por exemplo, pergunte aos alunos: 55 Quantos ovos tem numa dúzia? Quantas maçãs são necessárias para formar 1kg? Quanto custa 1 litro de leite? Com essas e outras perguntas você conseguirá ensinar matemática no supermercado e as crianças vão adorar o passeio. No supermercado é fácil inserir a criança no mundo da matemática Fonte: https://st.depositphotos.com/1000291/2162/i/450/depositphotos_21625283-stoc k-photo-family-with-child-shopping-fruits.jpg Você poderá escolher um dia e levar seus alunos ao shopping. Lá combine com eles o seu plano de ação. Leve-os na praça de alimentação e peça uma pizza e comece a questionar: Quantos pedaços a nossa pizza terá que ter para que cada um de nós coma dois pedaços? Quanto vai custar a pizza mais um copo de suco para cada um? Qual será o valor total do nosso almoço? Durante a refeição você estará ensinando matemática sem que eles se aborreçam. Você terá combinado previamente com os pais um valor (igual para cada criança) em dinheiro para cada criança levar, e ainda no shopping, observe como cada um deseja gastar seu dinheiro fazendo as contas e de quanto vai custar e quanto vai sobrar do valor inicial. Vai ser muito divertido para as crianças poderem dispor do seu montante como quiserem e assim perceberão o real valor dos objetos, coisas que não percebem quando são os pais que compram. 56 A divisão de alimentos é uma ótima forma de ensino Fonte: https://static5.depositphotos.com/1037987/476/i/450/depositphotos_4769930-st ock-photo-four-young-children-indoors-with.jpg Outro método divertido e muito significativo é fazer uma viagem por meio do mapa. Comece deixando que os alunos decidam para onde será a viagem. Escolhido o local, localizem no mapa e observem: Quantos quilômetros terão de “percorrer” até chegar? Pergunte a eles em quantas cidades vocês irão “passar”? Se passarão por algum rio e quais? Quantos litros de gasolina irão gastar? O mapa estimula a usarmos lógica Fonte: https://st2.depositphotos.com/1115531/5639/i/950/depositphotos_56392587-sto ck-photo-little-girl-considering-a-world.jpg 57 Você conseguiu perceber que além da matemática seus alunos ainda aprenderão alguns detalhes de geografia? Durante essa “viagem” aproveite e converse com seus alunos se eles já conhecem o local, qual a cultura de lá, como é o clima, apenas para terem um diálogo para criar mais afinidade entre você e eles. 4.3 Objetivos do ensino da matemática Segundo Nascimento et al (2014), o raciocínio lógico é um dos maiores objetivos do ensino da matemática, pois aprender números é mais do que contar nos dedos, por isso o conhecimento matemático não pode ser baseado em memorização. A criança traz de casa por meio dos seus viveres, muitas experiências aplicáveis na matemática, cabe ao professor aproveitar essas vivências e ensinar matemática de uma forma mais envolvente. De acordo com o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (RCNEI) (BRASIL, 1998), é muito importante que o educador conheça o perfil de cada criança para construir suas atividades. O maior objetivo do educador deve ser o de despertar na criança a curiosidade e o interesse pelas atividades da sala de aula. Capacitação das crianças em sala de aula Fonte: https://img.freepik.com/vector-gratis/maestro-estudiantes-objetos-escolares_130 8-3075.jpg?size=626&ext=jpg 58 Portanto, caberá a você futuramente estar preparado para captar a personalidade e o perfil de cada aluno para melhor desempenhar o seu papel de educador. O RCNEI (BRASIL, 1998), afirma que as crianças na faixa de 6 anos devem ser capazes de: Reconhecer os números, a contagem oral, somar, subtrair e ter certas noções espaciais; Conseguir comunicar suas ideias matemáticas; Ter confiança para criar suas estratégias. A criança deve ser capaz de enxergar a matemática como uma forma útil e divertida de ver o mundo. As contas nos dedos, a soma das balas, a subtração dos lápis, todo esse mundo tão inerente à vivencia das crianças também deve ser preenchido com fantasias e alegrias. Eu consigo me lembrar da minha primeira cartilha, era linda! Consigo até me ver fazendo o caminho da dona A e o Z da zabumba, era colorida e divertida, apesar de não ser o método ideal de ensino, pelo seu lado lúdico, a cartilha conseguiu imprimir na minha mente um momento prazeroso na hora do aprendizado. Imagine hoje, em que já aprendemos tanto em metodologia, o quanto você pode fazer por uma criança. Procurei organizar para você alguns problemas matemáticos de séries diferentes, apenas para que você consiga assimilar alguns exercícios agradáveis que ensinam matemática. Segundo Nunes Et Al (2009), as atividades aqui sugeridas estão ligadas a três objetivos dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), que são: Utilizar a matemática para expressar, interpretar e introduzir ideias; Utilizar fontes de informação para construir conhecimentos; Questionar a realidade. Assim, as atividades que seguem obedecem esses objetivos. São exemplos que mostram a vivencia da criança, sua realidade, seu cotidiano. 59 4.4 Material concreto manipulável O uso de material concreto para o ensino da matemática propicia aulas mais proativas, uma vez que existe o concreto, que pode ser segurado nas mãos e não só na imaginação. De acordo com Novello et al (2009), existem diferentes possibilidades para o uso desse material, podemos destacar alguns materiais mais utilizados, que são: Blocos lógicos: serve para trabalhar as operações básicas; Ábaco: sistema de numeração decimal que facilita a adição e subtração. As aulas de matemática ficam com certeza mais animadas e coloridas com o auxílio desses materiais, no entanto, como qualquer outro objeto ou método, tudo vai estar nas mãos do professor, em como ele oferecerá essa estratégia para as crianças, entre outras possibilidades. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997) também destacam a utilização de materiais concretos pelos professores como um recurso facultativo que pode facilitar o processo de ensino aprendizagem. Mídias No link abaixo, um vídeo de demonstração do uso do ábaco como uma curiosidade. Assista, é bem explicativo. Adição e Subtração do ábaco. https://www.youtube.com/watch?v=Hjf1H2ZaWtc Aprendendo a Somar: é um jogo que possibilita que a criança aprenda a realizar suas primeiras operações matemáticas, a adição e a subtração, de maneira divertida, tangível e indubitável. É um brinquedo versátil, que se adapta às etapas de aprendizado da matemática, pelas quais, passam as crianças em idade pré-escolar. Inicialmente, elas se divertem explorando diferentes maneiras de empilharos blocos. Em seguida, percebem que empilhar blocos de tamanhos diferentes 60 pode resultar em torres de igual altura. As cartelas ajudam a encontrar as primeiras relações de igualdade na soma. Recomendado para crianças de 4 a 6 anos. Jogo aprendendo a somar Fonte: https://www.picclickimg.com/d/l400/pict/292982128689_/Moon-Balance-Blocks -Parent-child-Interactive-Game-Stacking-Jenga.jpg Jogo com a caixa: Paulo tem 12 brinquedos. Quatro estão fora da caixa. Os outros estão dentro da caixa. Quantos brinquedos ele tem dentro da caixa? Jogo com a caixa Fonte: acervo do autor (2019). 61 Esse problema é bem simples e prático, une o juntar e retirar. As crianças vão precisar retirar a parte que está à vista para saber quantos estão dentro da caixa. Esse problema pode ser usado para as crianças do ensino pré-escolar e da primeira série. Jogo de tabuleiro: Num jogo de tabuleiro, Alice está jogando, tirou um 4 e agora está na casinha 13. Em que casinha Alice estava antes? Jogo de tabuleiro Fonte: https://st3.depositphotos.com/9876904/14042/v/1600/depositphotos_14042966 0-stock-illustration-boardgame-template-with-kids-in.jpg Para este tipo de problema, os alunos poderão resolver contando 4 casinhas para trás, provocando reflexões de adição e subtração, outros poderão tentar adivinhar o ponto de partida e contar para a frente. Você poderá usar essa situação para que eles comparem os métodos de resolução. Soma ou subtração por meio de alimentos: Sandra tinha alguns biscoitos. Sua avó lhe deu mais 2. Agora Sandra tem 8 biscoitos. Quantos biscoitos Sandra tinha antes? 62 Unidades de biscoitos Fonte: https://img.freepik.com/vrije-vector/donuts-tekening-vrij_23-2147487044.jpg?siz e=338&ext=jpg 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Use a linha numérica (acima) para o aluno mostrar como encontrou a resposta. Contagem de brinquedos entre duas crianças: Jaqueline tem 3 brinquedos. Daniela tem 8 brinquedos. Quem tem mais brinquedos? Quantos brinquedos ela tem a mais? Marque na linha numérica o número de brinquedos de Jaqueline. Marque na linha numérica o número de brinquedos de Daniela. Verifique sua resposta: quantos brinquedos ela tem a mais? Contagem de brinquedos Fonte: acervo do autor (2019). 63 Este é um problema comparativo, (com a reta numérica formal e não natural como nos outros exemplos) onde o aluno pode buscar diferentes resoluções. Esses exemplos mostram que há muitos métodos de desenvolvimento para serem utilizados para o aprendizado, mostram também a necessidade de se formar professores interessados e comprometidos com o aprendizado dos seus alunos. Antes de encerrar nossa aula quero ainda lhe falar sobre como Nascimento; et al (2014) nos enfatiza da necessidade da criança em desenvolver sua autonomia, e da sua capacidade de aprender por si mesma. A autonomia se desenvolve com a liberdade de ação e de pensar, valores que o professor deve oferecer à criança para que com mais segurança em si mesma ela possa aprender de uma forma mais conscienciosa. Vale lembrar também que a sala de aula deve ser um local estimulante, alegre, colorido, com claridade e acolhedor. É o local de “trabalho” e de comunicação dos pequenos aprendizes, portanto, deve oferecer a eles espaço para as artes, leitura, para “viagens” ao mundo, por meio de histórias e realidade, e ao mundo das fantasias, onde tudo se pode por meio da leitura. O espaço físico da escola também é um ambiente precioso para as crianças, onde elas podem ter contato com a natureza, criar um jardim ou uma horta, ter contato com outras crianças da mesma escola, praticar esportes e claro, brincar. Voltando um pouco a falar de problemas matemáticos, lembrei-me de um fato em que o professor ofereceu a seus alunos (já maiores) um problema sem solução. Os alunos ficaram “horas” tentando uma resolução, porque não cabia no entender deles que o professor quisesse que eles apenas “pensassem” e não que ficassem restritos, limitados a oferecer um resultado que não existia. Veja a importância de fazer com que seu aluno aprenda a pensar. Saiba mais Muito tem se falado do método de Xangai de ensino da matemática, no link abaixo, há uma reportagem para que você conheça essa revolucionária forma de ensinar matemática. http://veja.abril.com.br/educacao/o-metodo-dos-melhores-professores-de-mate matica-do-mundo/ http://veja.abril.com.br/educacao/o-metodo-dos-melhores-professores-de-matematica-do-mundo/ http://veja.abril.com.br/educacao/o-metodo-dos-melhores-professores-de-matematica-do-mundo/ 64 Conclusão da aula 4 Os conceitos de adição e subtração foram abordados de maneira suave e agradável, tornando a criança capaz de coordenar sua atividade prática com os números. É tão mágico poder fazer parte do mundo encantado da criança e participarmos dele oferecendo o conhecimento e o saber àquela criança que ainda não fazia parte do universo escolar. Vê-la usar os dedinhos para somar, comer balas, usar lápis, comer biscoitos, fazer tracinhos, entre outros. Um mundo tão ingênuo do qual com muita cautela e carinho podemos fazer parte. Os dedinhos que hoje contam, amanhã construirão edifícios, escreverão com giz, ou salvarão vidas, e você terá parte nisso. Pensar nisso nos dá uma sensação de dever cumprido, não é mesmo? Assim então, concluímos nossa aula de hoje. Espero que esta aula tenha lhe trazido um novo ânimo para empenhar todo esse aprendizado na busca do melhor ensino de matemática para aqueles que virão a ser seus alunos. Apresentei várias maneiras de instigar o aluno a gostar da matemática, quebrando os preconceitos de que é uma matéria cansativa e difícil. Você e eu vimos que com dedicação, renovação, entusiasmo e confiança nas crianças, os professores conseguirão o almejado título de mestre, não no sentido acadêmico, mas no sentido da vida. Mestre, aquele que faz diferença na vida dos alunos, o que é lembrado por toda a vida do estudante como alguém que não só passou por sua vida, mas que fez parte dela e lhe ofereceu seus primeiros ensinamentos didáticos acrescentando valores significativos para o seu futuro. Atividade de aprendizagem Que tal elaborar algumas situações-problemas pensando em seus alunos e depois observar se todos os contextos que apontamos em nossa aula foram respeitados? Será interessante este exercício, pois você conseguirá ser o próprio corretor de sua atividade e ao mesmo tempo refletir sobre ela. Veja que muitos exercícios de livros estão fora da realidade das crianças, por isso, procure criar situações-problemas que você acredita que faça parte do mundo de seus futuros alunos e pesquise sempre mais para que sua prática transforme nossa realidade do ensino da Matemática no Brasil. 65 Aula 5 - Geometria do espaço real e matemático Apresentação da aula 5 Olá! Aluno. Nesta aula temos o objetivo de fazer você refletir sobre o ensino da Geometria nos dias atuais e sobre as ferramentas de ensino que temos ao nosso dispor, para além dos livros didáticos. Para que estes objetivos sejam atingidos, trouxe para nossa aula dois materiais que são referenciais no Brasil, como pressuposto a alfabetização matemática na perspectiva do letramento, em consonância com o material de formação em linguagem. Dessa forma, a alfabetização matemática é entendida como um instrumento para a leitura do mundo, superando a simples decodificação dos números e a resolução das quatro operações básicas. Os Cadernos de Alfabetização Matemática e o caderno de Geometria produzido pelo Pacto de Alfabetização na Idade Certa (PNAIC). Estes documentos nos auxiliarão nas reflexões acerca do ensino da geometria na matemática. Relembro você, caro estudante, que sua dedicaçãoe esforço durante esta disciplina fará de você um Pedagogo capacitado para lidar com as diversas situações do dia a dia em sala de aula, por isso, aproveite todos os recursos que o ambiente virtual de aprendizagem lhe oferece, bem como, não deixe de visitar, ler e assistir as mídias que sugeri para você no decorrer da nossa aula. Estas sugestões com certeza lhe ajudarão a sanar as dúvidas e ter mais confiança em sua prática enquanto docente. 5.1 Introdução básica da geometria Você já refletiu sobre como surgiu os primeiros conhecimentos a respeito das ideias geométricas na humanidade? Vou tentar lhe mostrar o outro lado da matemática, o da geometria. Após esta aula, com certeza você desmistificará, ou seja, abandonará alguns receios que temos com a geometria e seu ensino. Será realmente valorizada por você quando descobrir como aplicá-lo em sala de aula com o seu verdadeiro sentido científico. 66 Guimaraes (2013) assinala que as necessidades em se locomover e se localizar no espaço, bem como, reconhecer os espaços, fizeram com que utilizassem as formas geométricas para produzirem materiais como instrumentos e utensílios para sobrevivência e vivência. A demarcação de terras, de espaço e o estoque de água, exigiam conhecimentos oriundos da geometria. Surgindo como forma racional de transformação do mundo ao seu redor (MUNIZ, 2014). Vocabulário Oriundo: de onde veio, tem como sinônimos indo, derivado, resultante. Segundo Grando (2008), o ato de buscar, refletir, analisar, sobre os seus deslocamentos, as estratégias da caça, da colheita e do plantio, assim como, a criação de ferramentas surgiram com a produção do conhecimento geométrico. O fazer as construções foi dando noção de retas, curvas e de posições como vertical, horizontal, diagonal, paralela, entre outros. Saiba mais Indico a obra A geometria nos primeiros anos escolares: história e perspectivas atuais, organizada por Maria Celia Leme da Silva e Wagner Rodrigues Valente, no link abaixo, em que nos contam a história do ensino da Geometria desde o século XIX até os dias atuais, nos mostrando como foi composto o currículo de Geometria ao longo dos tempos e como nos convida a uma reflexão do seu ensino nos dias atuais. https://books.google.com.br/books?id=9HiADwAAQBAJ&lpg=PT5&ots=MMpjz5 tl-B&dq=A%20geometria%20nos%20primeiros%20anos%20escolares%3A%20 hist%C3%B3ria%20e%20perspectivas%20atuais%E2%80%9D%20organizada %20por%20Maria%20Celia%20Leme%20da%20Silva%20e%20Wagner%20Ro drigues%20Valente&hl=pt-BR&pg=PP1#v=onepage&q&f=false Mas, e atualmente, o que ensinar, que conteúdos geométricos devemos contribuir para a formação do nosso aluno? Segundo Toledo e Toledo (1997) a geometria consegue despertar bastante interesse nas crianças, pois é um campo 67 fértil para se trabalhar contribuindo com a aprendizagem de números e medidas no ensino da matemática. Por isso, devemos sempre estimular o manuseio dos objetos, das formas, ou seja, trabalhar com o concreto na geometria também, para que o aluno consiga abstrair. Segundo Lopes (1998), acreditava-se que o simples “escutar”’ das definições das formas geométricas e de seus detalhes seria suficiente para que a criança elaborasse seu conhecimento, contudo, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (2000), o ponto de partida para a criança começar a sua compreensão do espaço em que está inserida é seu próprio corpo. Importante Os Parâmetros Curriculares Nacionais ressaltam que desde cedo há uma estruturação para a construção de um sistema de coordenadas ao seu próprio corpo. Uma fase voltada totalmente a ela, por isso, chamamos de fase egocêntrica, isto é, para se situar, a criança não considera outro elemento, sendo somente o seu corpo como ponto de referência. Com o tempo, ela adquire noções de que os diferentes aspectos dos objetos são características de um mesmo elemento, ou seja, aos poucos se forma a consciência do ato de movimento do seu corpo (BRASIL, 2000, p. 125 e 126). É aí que entra a figura do professor, que como gosto de chamar de professor-provocador, pois será seu papel trabalhar com situações que coloque o seu aluno para perceber outros pontos de referência além do seu próprio corpo. Mas de que forma o professor pode fazer isso? Bem vamos analisar com calma, se nós sempre trabalharmos com os materiais que chamamos de concreto, dificilmente esta criança será capaz de abstrair em seu raciocínio, certo? Então, o que nos compete, enquanto educadores, é que tenhamos sempre em mente o equilíbrio de nossas ações e seus objetivos de acordo com a idade do aluno. Então veja bem, quando digo que a criança deve ser capaz de ir perdendo seu ponto de referência principal, que é seu corpo, estou afirmando que por meio das atividades com o concreto, aos poucos, vão se tornando abstratas, mas é importante saber que, como nos afirma o documento PCN’S (2010), o pensamento geométrico se desenvolve inicialmente por meio da visualização, ou seja, o espaço é reconhecido pela criança por aquilo que está ao seu redor, já 68 as figuras geométricas são reconhecidas por suas formas, aparência física em sua totalidade e não em suas partes ou propriedades. Portanto, mais uma vez concluímos que aulas expositivas em que não colocam a criança para experimentar, estimar, conjecturar, manipular, principalmente no ensino da geometria, dificilmente contribuirão com a construção da aprendizagem. Lopes (1998) nos chama a atenção de como a criança poderia então atuar na geometria e a autora propõe que seja por meio do montar, desmontar, construir, compor, decompor, desenhar objetos em tamanhos reais, enfim, várias possibilidades em que a criança manipule e crie. Porém, você e eu sabemos que o ensino da geometria tem se reduzido a memorização de figuras, mapas, fórmulas de áreas e volumes entre outros. Este cenário você já deve ter vivido em sua experiência escolar, ou conhece muitos alunos que passaram e ainda passam por estas formas de ensino. Por isso, precisamos alterar estas práticas por meio dos nossos conhecimentos acerca do ensino da geometria para não cairmos no mesmo erro, não é mesmo? 5.2 Fase de alfabetização Mas então, quando pensamos na fase de alfabetização, o que podemos propor aos nossos alunos? Bem, primeiramente, antes de irmos diretamente para as respostas, vamos analisar o que um aluno em fase de alfabetização precisa dominar? Será que ele já precisa dominar o nome correto das formas e suas características, ângulos, ou, antes disso, precisa primeiramente compreender as noções topológicas? Mas o que vem a ser “questões topológicas”? As relações/questões topológicas são as que estabelecem uma ordem espacial: de vizinhança, de dentro e fora e que devem ser desenvolvidas a partir do próprio ponto de vista da criança. Segundo Pereira e Calsa (2013): O caráter topológico implica uma organização gradativa das ideias geométricas, iniciando-se pelo reconhecimento de objetos familiares; em seguida, pelas relações de vizinhança, separação, ordem, envolvimento e continuidade desses objetos. Mais tarde, são 69 construídas, quase que simultaneamente, as relações projetivas e euclidianas (PEREIRA e CALSA ,2013, p. 139). Saiba mais Para aprender um pouco mais sobre as relações projetivas e euclidianas que são aprendidas após as relações topológicas desenvolvida por Piaget, leia no link abaixo o artigo: Tomada de consciência: possibilidade de prevenção de dificuldades na construção do espaço topológico em alunos de educação infantil http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psicoped/v30n93/04.pdf Portanto, desenvolvendo as noções topológicas como dentro e fora, que se caracterizam como essencialmente práticas, podemos por meio das brincadeiras fazer com que as crianças dominem seu espaço e estabeleçam relações com ele. Envolver primeiramenteo corpo do aluno como ponto de referência para depois partir para ambientes maiores, como a escola, o bairro, a cidade, o país entre outros Portanto, as relações espaciais topológicas são estabelecidas no espaço próximo como: dentro, fora, ao lado, em frente, longe, perto; são praticadas no dia a dia e desenvolvem as noções geométricas. Assim nós temos a lateralidade, anterioridade e a profundidade, que são relações topológicas elementares para o aprendizado. Vocabulário Lateralidade: noção de direita e esquerda, a direita de quem? E a esquerda de quem? Anterioridade: noção de ordem e sucessão dos objetos no espaço, como antes de, depois de, em frente a, atrás de. Profundidade: noção de posição com relação à variação na vertical, ou seja, em cima de, abaixo de, debaixo de, sobre, no alto, entre outros. Estas são algumas das noções topológicas que devem estar muito bem desenvolvidas e compreendidas pelos alunos antes mesmo de inserirmos atividades com a geometria euclidiana, ou seja, com a apresentação de fórmulas, esquemas geométricos, ângulos entre outros. 70 Agora que já lhe apresentei os domínios básicos que a criança deve desenvolver durante sua infância na educação infantil, vamos analisar um pouco mais sobre o ensino da geometria nos anos iniciais do ensino fundamental. Afinal de contas, você certamente sabe que como Pedagogo, você atuará nas diversas possibilidades que o ensino envolve, não é mesmo? Então, enquanto Pedagogos, podemos percorrer a educação infantil, o ensino fundamental I, o ensino de adultos na Educação de Jovens e Adultos (EJA) e as demais instâncias em que a educação se faça presente, como em ambientes empresariais com a Pedagogia Empresarial. Portanto, minha preocupação agora é capacitá-lo para que você consiga atuar nos diversos campos de atuação, e não somente para uma determinada série ou etapa do desenvolvimento. O que ensinar às crianças do 1º ao 5º ano? Bem, após o bom desenvolvimento das relações topológicas é apropriado trabalhar com o sentido de localização, reconhecimento de figuras, manipulação das formas geométricas, representações espaciais entre outros. Como nos aponta os PCN’S (1997) e o PNAIC (2014), o estudo do espaço e das formas é contemplado no currículo de Matemática no campo da Geometria, do mesmo jeito, o estudo das grandezas e das medidas que permitem a interligação entre os campos da Aritmética, Álgebra e da Geometria. Vamos então analisar um pouco do ensino da Geometria a partir dos PCN’S (1997) e do PNAIC, documentos de referência para o ensino no Brasil. 5.3 Espaço e forma - Eixos estruturantes Sabe-se que na Matemática a Geometria também se insere de maneira muito significativa nos currículos. Além de contemplar os Parâmetros Curriculares Nacionais, é importante que você conheça também o PNAIC, que se trata do Pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa, já comentado com você em nossa primeira aula. Espaço e forma são eixos estruturantes tanto dos PCN’S quanto do PNAIC, visto sua importância na formação dos alunos. Mas vamos entender no que eles se dividem e explicar um pouco melhor sobre eles. 71 ESPAÇO E FORMA Interpretação, a partir de situações-problema (leitura de plantas, croquis, mapas), da posição de pontos e de seus deslocamentos no plano, pelo estudo das representações em um sistema de coordenadas cartesianas; Distinção, em contextos variados, de figuras bidimensionais e 73 tridimensionais, descrevendo algumas de suas características, estabelecendo relações entre elas e utilizando nomenclatura própria; Classificação de figuras tridimensionais e bidimensionais, segundo critérios diversos, como: corpos redondos e poliedros; poliedros regulares e não- regulares; prismas, pirâmides e outros poliedros; círculos, polígonos e outras figuras; número de lados dos polígonos; eixos de simetria de um polígono; paralelismo de lados, medidas de ângulos e de lados; Composição e decomposição de figuras planas; Identificação de diferentes planificações de alguns poliedros; Transformação de uma figura no plano por meio de reflexões, translações e rotações e identificação de medidas que permanecem invariantes nessas transformações (medidas dos lados, dos ângulos, da superfície); Ampliação e redução de figuras planas segundo uma razão e identificação dos elementos que não se alteram (medidas de ângulos) e dos que se modificam (medidas dos lados, do perímetro e da área); Quantificação e estabelecimento de relações entre o número de vértices, faces e arestas de prismas e de pirâmides, da relação desse número com o polígono da base e identificação de algumas propriedades, que caracterizam cada um desses sólidos, em função desses números; Construção da noção de ângulo associada à ideia de mudança de direção e pelo seu reconhecimento em figuras planas; Verificação de que a soma dos ângulos internos de um triângulo é 180º. Fonte: PCN’S (1998) adaptado pelo DI (2019). Mídias Para saber um pouco mais sobre o tema Espaço e forma, veja o vídeo no link abaixo, que contempla o ensino em sua abordagem prática. Vale a pena conferir! https://www.youtube.com/watch?v=1gKR7aitCjM As noções de localização e movimentação no espaço físico podem ser desenvolvidas por meio de brincadeiras que visem as noções de direita, esquerda, abaixo, acima, ao lado de, além das noções topológicas como já citei para você, como dentro, fora e fronteiras que podem ser trabalhadas de maneira interdisciplinar com a geografia, história, educação física, entre outros. O trabalho com as formas geométricas, sejam elas, bidimensionais ou tridimensionais, são essenciais, pois por meio da prática de desmontar ou montar pode se observar a planificação das formas, além de sugerir também o 72 contorno dos sólidos para observar a planificação da base, trabalhar também com malhas triangulares, quadriculadas, desencontradas, como nas imagens abaixo. Malhas quadriculadas e suas possibilidades: Fonte: acervo do autor (2019). Fonte: Siqueira (2013). Fonte: Siqueira (2013). 73 Observe que as imagens demonstram as possibilidades do trabalho com as malhas. Por meio delas conseguimos propor ampliação e redução de figuras, proporcionalmente, além de trabalhar com a malha planificada (malha na madeira com pregos) que segundo Siqueira (2013) podem: Explorar situações/conteúdos/conceitos sobre medidas de comprimento, perímetro, área, frações, construção de números irracionais, construção de figuras geométricas, polígonos, simetria, rotação, translação, ampliação, redução, tangram, ângulos, vértices, vetores, soma de vetores, regra do paralelogramo, entre outras possibilidades para o ensino de matemática, consistindo assim uma excelente ferramenta de apoio para o ensino e aprendizagem de matemática [grifo nosso] (SIQUEIRA, p. 5). Vocabulário Tangram: é um quebra-cabeças geométrico chinês formado por 7 peças, chamadas tans: são 2 triângulos grandes, 2 pequenos, 1 médio, 1 quadrado e 1 paralelogramo. Utilizando todas essas peças sem sobrepô-las, podemos formar várias figuras. Malha triangular e suas possibilidades: Fonte: acervo do autor (2019). Fonte: acervo do autor (2014). 74 Disponibilizei estas imagens para que você consiga visualizar algumas das atividades com as malhas que comentei acima. Elas são de grande representatividade, pois permitem a criatividade do aluno aliada a aprendizagem dos conceitos geométricos. Para os alunos mais novos, de primeiro e segundo ano, podemos propor a reprodução de algumas formas, assim estarão muito atentos para a quantidade de lados, triângulos, quadrados que a figura que desejam reproduzir possua. Vale a pena utilizar este recurso. 5.4 Elementos geométricos na natureza Muito se fala em contemplar a natureza com o ensinoda matemática e da geometria, não é mesmo? Mas como assim? Como andamos tão apressados com nossas tarefas do dia a dia, não reparamos que a natureza propicia diversos estímulos de aprendizagem para nossos alunos. Por exemplo, o favo de mel, a casca da tartaruga, a teia de aranha, o trevo de quatro ou três folhas, enfim, todas estas possibilidades propiciam o trabalho interdisciplinar da geometria com as demais áreas de conhecimento. Vamos sempre inovar para que nossas aulas nos direcionem para o aprendizado com sentido e eficácia. Felix e Azevedo (2015) em seu trabalho intitulado de Geometria: como trabalhar os conceitos geométricos nas séries iniciais do ensino fundamental demonstram as atividades com a natureza e suas relações com a geometria. Mesa em formato geométrico Fonte: http://faip.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/5IUql47VQIzMde H_2015-5-18-22-1-56.pdf 75 Igreja com diversas formas geométricas Fonte: http://faip.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/5IUql47VQIzMde H_2015-5-18-22-1-56.pdf Formas geométrica coloridas por um aluno Fonte: acervo do autor (2019). Utilizando a geometria para replicar Fonte: acervo do autor (2019). Atividade escolar utilizando formas Fonte: acervo do autor (2019). 76 Além destes exemplos, não podemos nos esquecer de trabalhar com artistas e arquitetos que são exemplos em suas áreas de atuação e que nos auxiliam em sala de aula, como Oscar Niemayer, Escher, Alfredo Volpi, Piet Mondrian entre outros. Nos deixam claro a conexão da geometria com a arte, este trabalho com a arte também é proposto no Caderno do PNAIC de Geometria. Mondrian, Composição com vermelho, amarelo e azul. 1921 Fonte: http://arts.recursos.uoc.edu/wp-content/uploads/sites/5/2018/01/20308_34.jpg Escher, Peixes Fonte: https://www.mcescher.com/wp-content/uploads/2013/10/E69-MC-Escher-No-69- FishDuckLizard-1948.jpg 77 Congresso Naciona – Brasília/DF Fonte: https://images.adsttc.com/media/images/55f9/ba65/e58e/cec1/f800/035e/newsl etter/Filipe_Frazao__Shutterstock.com.jpg?1442429518 Alfredo Volpi, Bandeirinha, 1958 Fonte: https://i.pinimg.com/736x/30/4d/c7/304dc7391f1060caec3d797a9de81123--de sign-patterns-contemporary-quilts.jpg Saiba mais Vale a pena você conferir, no link abaixo, o PNAIC - geometria, pois há ideias práticas que podem ser desenvolvidas com os alunos por meio da arte, da cartografia, kirigami, Origami, além da sugestão de materiais virtuais para o ensino da Geometria. https://wp.ufpel.edu.br/antoniomauricio/files/2017/11/5_Caderno-5_pg001- 096.pdf Conclusão da aula 5 Portanto caro estudante, ao longo desta nossa aula, procurei expor a você dois documentos que são referências no auxílio da formação de professores em 78 nosso país, com exemplos práticos de sala de aula. Lembre-se que a Geometria tem seus contextos naturais, ou seja, está em nosso dia a dia e deve ser explorada de maneira prazerosa, lúdica por meio de desenhos, jogos, simulações entre outros. Vale ressaltar que o ensino da Geometria tem suas lacunas nos dias de hoje quando percebemos que suas práticas focalizam a memorização das figuras e seus contextos, sem que situações problemas sejam contempladas em sala de aula, para que o aluno perceba sua real utilidade. Procure sempre inovar em suas aulas, utilize sempre este material como um recurso de pesquisa para que mais conhecimentos possam surgir a partir deste material. Pesquise, estude para que seus alunos carreguem boas memórias em relação as suas aulas de geometria. Não seja um mero reprodutor de conhecimentos que se apoia no livro didático e não sai de lá por nada, crendo que o livro é seu único meio de ensino. Pelo contrário, sugiro que você investigue cada vez mais a geometria que está presente em nossa natureza, e que possa sempre elaborar, junto de seus alunos, novos conhecimentos oriundos de práticas divertidas. Atividade de aprendizagem Convido você a procurar práticas do ensino de geometria entre seus colegas que já atuam nas escolas ou sugiro que você investigue em seu bairro, nas escolas mais próximas, conversando com alguns professores de ensino fundamental I ou até mesmo na Educação Infantil, e lhes questione sobre como está sendo feito o ensino da geometria: que jogos eles utilizam; quais recursos da tecnologia eles contemplam em sala de aula; como trabalham com as malhas quadriculadas ou com as obras de arte, entre outros. Assim, você conseguirá fazer um contraponto a partir do que você aprendeu em nossa aula, bem como, conseguirá refletir sobre as práticas atuais de ensino a partir da sua realidade. 79 Aula 6 − Educação matemática realística Apresentação da aula 6 A abordagem matemática que convido você a discutir e refletir um pouco mais surgiu com o matemático alemão Hans Freudenthal (1905-1990). Surgiu na Holanda no final da década de 1960 começo dos anos 1970. Em oposição ao Movimento da Matemática Moderna (MMM) educadores holandeses procuravam novas propostas curriculares que fossem capazes de modernizar e reformar a Educação Matemática da época. 6.1 Contexto histórico da matemática realística Em busca de reformas curriculares, a Holanda abandonou a abordagem mecanicista, que prevalecia até então na educação matemática. Segundo Ferreira e Buriasco (2016), a Holanda não perseguiu nem a abordagem empirista, que era predominante na Inglaterra e nem a estruturalista dos EUA. Mas o que são estas abordagens, você deve estar querendo saber. Veja, na tabela abaixo, o resumo apresentado por Van den Heuvel-Panhuizen (2010), citado pelas autoras mencionadas anteriormente. ABORDAGENS TRADICIONAIS SEGUNDO VAN DEN HEUVEL-PANHUIZEN Abordagem Características Mecanicista As características desta abordagem são seu foco em cálculos com números simples, e a pouca atenção prestada às aplicações; o que é certamente verdade para o início do processo de aprendizagem. A matemática é ensinada de uma forma automatizada. Estudantes aprendem os procedimentos de uma maneira passo a passo, na qual, o professor demonstra como resolver um problema (VAN DEN HEUVEL-PANHUIZEN, 2010, p. 4, tradução nossa). Empirista Típico deste tipo de educação era que os alunos eram deixados livres para descobrir muito por si próprios e eram estimulados a realizar investigações (VAN DEN HEUVEL-PANHUIZEN, 2010, p. 4, tradução nossa). Estruturalista Este é um método de ensinar matemática que foca em conceitos abstratos, como a teoria dos conjuntos, funções e outras bases diferentes de dez (VAN DEN HEUVEL-PANHUIZEN, 2010, p. 4, tradução nossa). Fonte: Ferreira e Buriasco (2016), adaptado pelo DI (2019). 80 Se contrapondo ao ensino estruturalista, Mecanicista e Empirista, o termo “realístico” se refere, segundo Van Den Heuvel-Panhuizen (2005), como algo que se pode imaginar, realizar, fazer ideia, pois está mais relacionado com o entendimento de imaginação, realização, fazer ideia, tomar consciência que por sua vez pode se “tornar real” na mente dos estudantes, que certamente surgirão outros contextos e situações que os alunos se envolverão e que estas não precisam ser “autenticamente reais”, mas precisam ser imagináveis, realizáveis e concebíveis. Partindo deste pressuposto, Ferreira e Buriasco nos afirmam que Freudenthal (1968) iniciou a discussão sobre o que é matemática e o que deveria ser considerado útil para sua aprendizagem. Para ele, a matemática deve estar conectada com a realidade e ter seu valor humano, sendo relevante para toda a sociedade, assim o aluno deve “fazer matemática” desenvolvendo ferramentas matemáticas para lidar com este fazer. Hans Freudenthal (1905-1990), foi quem deu início a Educação Matemática Realística. Matemático alemão, com interesses emMatemática, Ciência e Literatura. Estudou Matemática e Física na Universidade de Berlim, trazendo grandes contribuições para a área de Geometria, Filosofia, História da Matemática e Educação Matemática. 6.2 Matemática conectada Mas o que eu e você podemos entender por matemática conectada com a realidade e como uma atividade humana? Ora, veja bem, quando nos colocamos a par de um conhecimento que pode ser criado, e imaginado, certamente estamos a frente de uma concepção de ensino que privilegia a ação e a construção humana sobre o conhecimento, ou seja, podemos e somos capazes de reinventá-la, no lugar de sermos apenas receptores da matemática que tanto conhecemos como pronto e acabada em si mesma. Em minha experiência escolar, nunca vivenciei esta prática matemática, em que eu pudesse criar, imaginar e construir conhecimentos a partir desta ciência. Muito pelo contrário, a matemática e as aulas de matemáticas sempre me foram apresentadas como algo pronto, que nada vai mudar, e que se meu comportamento não fosse exatamente o que o professor esperasse de mim, ou 81 seja, sentada na carteira, quieta, copiando do início ao fim da aula, certamente eu não teria boas notas. Ferreira, em sua tese de doutorado, (2013), cita Freudenthal em que explica como devemos entender a matemática como atividade humana, vejamos: É uma atividade de resolução de problemas, de procura por problemas, mas é também uma atividade de organização de um determinado assunto. Este pode ser um assunto da realidade que deve ser organizado de acordo com modelos ou padrões matemáticos caso os problemas da realidade devam ser resolvidos. Também pode ser um assunto matemático, resultados novos ou antigos, de seu próprio país ou de outros, que devem ser organizados de acordo com novas ideias, para serem mais bem compreendidos, em um contexto mais amplo ou por meio de uma abordagem axiomática (FREUDENTHAL, 1971, p. 413-414, tradução nossa). Não sei se você vivenciou a mesma experiência que eu, mas eu me lembro que em minhas aulas de Matemática, quando estava aprendendo, ou melhor, “decorando a tabuada”, eu já me apavorava, pois sabia que quando a professora entrasse na sala de aula, ela iria procurar um número no livro de chamada para iniciar a “tomada de tabuada”. Outra lembrança que tenho é de realizar muitos exercícios de “Arme e efetue” que as vezes vinham acompanhadas de problemas que dificilmente eu entendia, pois tinha dificuldade para interpretá-los. Imagine só, os problemas de matemática antigamente eram assim: João foi a quitanda próximo de sua casa, lá comprou 20 cebolas, 2 dúzias de tomates e 5 batatas. Quantos alimentos João comprou? Analise comigo, na minha época eu não ia a quitanda ou ao que chamávamos de “sacolão”, quem ia era meu pai e minha mãe, e além disso, esse problema, de somar o que o João tinha comprado não fazia sentido nenhum para mim, porque, eu enquanto criança, não tinha interesse nenhum em comprar cebolas, tomates e batatas. Parece cômico, não é? Entender a matemática, assim como Freudenthal, tem de ser uma atividade humana, e não simplesmente uma sucessão de conteúdo a serem ensinados. O problema apresentado por mim acima, não me disponibiliza nenhuma situação de experimentar a matemática como uma atividade humana de criação. 82 Você certamente já viu professores que têm a certeza de estarem ensinando a matemática de forma contextualizada por estarem aplicando as situações-problema, achando que estão matematizando ou problematizando a matemática, porém sem fazer sentido algum para o estudante, não é mesmo? Pensar em uma matemática possível de ser transferida significa pensar que alunos “aprendem” ao armazenar e reproduzir informações (conceitos, objetos matemáticos), assim como, por exemplo, robôs e computadores. Quem “recebe” não participa da escolha de quais informações vai receber e, muito menos, da decisão de quais são importantes para serem “armazenadas”, de quando aplicá-las, para quê e/ou por que elas são relevantes, ou como foram obtidas. Essa poderia ser adjetivada como uma “atividade robótica”, “atividade cibernética”, mas não humana (LOPEZ, 2010, p. 15-16). Vamos analisar esta citação que é tão importante para compreendermos o que podemos entender com aquilo que não se caracteriza como uma atividade humana. Quando Lopez afirma que transferir matemática e pensar que os alunos estão aprendendo com esta transferência, você deve entender que a simples transferência de conteúdo é como se fóssemos programar um computador, ou seja, a partir do momento em que selecionamos o que queremos que o computador execute, basta programá-los e transferir o banco de dados para ele, não é mesmo? E vamos ainda um pouco mais além, porque não damos a possibilidade de o computador saber o porquê que estamos querendo aquilo e nem ao menos explicando o que é mais ou menos importante, estamos apenas transferindo o que queremos. A isso é que não podemos chamar de atividade humana, pois pode ser aditivada, como Lopez nos firma, como sendo uma “atividade robótica, cibernética”, mas não humana. Portanto, explorar situações que possibilitem o reinventar da matemática é essencial, desde que parta da realidade, do sensível, do familiar, do entorno da criança. A essência da teoria de Freudenthal é que os contextos que forem sendo aplicados aos conteúdos de matemática sejam ricos de significados que possibilitem a matematização, ao invés de iniciar a aula com abstrações e definições já prontas e acabadas. Um bom exemplo de definições prontas e acabadas é quando simplesmente sugerimos que as crianças resolvam o algoritmo da adição armada, como na imagem abaixo: 83 Operação de adição Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). Repare que quando a matemática vira somente a leitura de símbolos em uma ação mecânica, os resultados são apenas leituras destes signos, sem nenhuma compreensão da sua real utilização e do seu porquê. Observe que nesta conta, a criança soma as unidades: 8+5= 13 e coloca este resultado, acrescentando a soma de 20+30= 50. Agora, pense, será que em uma situação contextualizada, com uma situação-problema real, que faça parte da significação do aluno, será que realmente este erro existiria? Posso afirmar para você que não, pois certamente muitas informações nesta situação-problema ajudariam o aluno a compreender que ele precisaria somar o que virou dezena com o restante. Então, a partir desta resolução que ao nosso ver parece simples, não é, pois enquanto professores, podemos abrir margens de indução ao erro, achando que estamos fazendo o correto. Portanto, avaliar seu trabalho, refletir, pesquisar são fundamentais. O conceito de matematização da realidade de Freudenthal, faz todo sentido ao que entendemos por uma matemática contextualizada e problematizada, que auxilie na ampliação das conexões matemáticas dos estudantes. O Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa (PNAIC, 2014) nos contempla com a listagens de alguns motivos que justifiquem o trabalho da Matemática a partir do que nos propõe Freudenthal, veja na próxima página: Contextos contribuem para: Introduzir um novo tema ou conceito matemático: usando exemplos de um contexto pode-se deixar um determinado conteúdo matemático mais claro e objetivo; Aprofundar um novo conceito ou procedimento: resolvendo muitos problemas em contextos diferentes, porém, com o mesmo conteúdo matemático os alunos aprendem como usar e aplicar este conteúdo; 2 8 + 3 5 513 84 Mostrar o poder da matemática: compreendendo que distintos problemas estão baseados no mesmo conteúdo matemático; Demonstrar que o aluno domina o conteúdo matemático: quando é capaz de aplica-lo a um contexto não familiar, e/ou em uma tarefa baseada no mesmo conteúdomatemático usado em aulas anteriores; Envolver os alunos no problema: usando problemas da vida real, os alunos podem demonstrar que são alfabetizados em matemática e sabem como usá- la para resolver problemas práticos que surgem de situações da vida diária ou em outras disciplinas escolares. Fonte: PNAIC (2014), adaptado pelo DI (2019). Mas você pode me questionar o seguinte: o que realmente faz parte da vida de um aluno que está iniciando o processo de alfabetização, sendo que em sua realidade ele não faz compras ou não participa da realidade financeira de sua casa? Convido você para entender o que seria então a realidade de um aluno. Veja bem, o primeiro fator que temos de analisar é a condição financeira do aluno, a sua realidade social, para daí elaborarmos situações matematizadas que estejam dentro do seu contexto, além disso, eu e você sabemos que a matemática está em nosso dia a dia de uma maneira muito explícita, não é mesmo: número da casa, embalagens de produtos de supermercado com preços, números de datas e dias do ano, número de calçados, número de roupas, tamanhos, entre outros. Por isso, indico a você que quando for atuar em sala de aula, observe se seu livro didático traz esta realidade, caso contrário, seja você o responsável por matematizar as situações do seu aluno. Observe na sequência alguns contextos realistas que o PNAIC nos traz de uma maneira muito compreensiva e realista: CONTEXTO SITUAÇÃO- PROBLEMA CONTEÚDOS Meu corpo Agrupamentos, contagens nos dedos, medidas com o corpo, simetrias. Contagens, agrupamentos (5 em 5, 10 em 10), medidas não convencionais, simetria, entre outros Minhas coisas Contagem e comparação de figurinhas, bolinhas de gude, bonecos, objetos pessoais (vestimenta, higiene, entre outros). Classificação, formas 2D e 3D, contagens, medidas. 85 Família Aniversários, jogos com nomes e idades. Classificação, operações básicas, comparação, contagens, agrupamentos. A casa Organização da mesa para o jantar, organização do armário, esboço da planta da casa, explorar sequências numéricas teclando um controle remoto de TV. Agrupamentos, classificação, sequências, formas, medidas, relações geométricas (ângulos, paralelismo, perpendicularismo). A rua e o bairro Localização e numeração da casa, interpretação de códigos, (CEP e prefixos de telefone), leitura e interpretação de mapas, encontrar o melhor caminho para ir de um ponto a outro, formas das construções. Numeração, localização, reta numérica, ordenação, mapas, códigos, formas geométricas, medidas, ângulos. O campo e a praia Problemas sobre quantidades de animais (galinhas, mamíferos, peixes), cálculo de produtividade (galinhas, vacas), cálculo de produção de uma horta, alimentação dos animais. Medidas: distâncias, noção de área, quantidades, custo, operações. Natureza Formato das plantas, flores, rios, campos e montanhas, medidas na natureza: distâncias, altitudes, profundidades. Classificação, simetria, medidas. Animais Bípedes e quadrúpedes, insetos de 6 e de 8 patas, classificação de animais, tamanho e peso dos animais, vida média, tempo de gestação e de incubação. Agrupamentos, regularidades, multiplicações simples por 2, 4, 6 e 8, tempo, operações, medidas. Alimentação Data de validade, receitas de pratos, bolos, sucos, entre outros Agrupamentos, dúzias, estimativas, medida de massa, formas geométricas, simetrias. Noções de proporção. Feiras e mercados Agrupamentos de frutas e legumes, formato das embalagens, custo de uma compra, problemas de troco. Contagens, operações básicas, cálculo mental e estimativa, formas, planificação. 86 Esportes Medidas nos esportes, regras de pontuação, formato das quadras e das bolas, problemas de previsão de pontos máximos, média de pontos (gols, cestas, pontos) em partidas ou campeonatos, problemas de formação de grupos, organização de tabelas de campeonatos. Formas geométricas, contagem e pontuação, noções de probabilidade, tabelas e gráficos, operações básicas, combinatória. Tempo Calendário, unidades de medida de tempo: a hora, o dia, a semana, o mês, o ano, distância entre datas de aniversários, linha do tempo. Agrupamentos (7 em 7, 15 em 15, 24 em 24, 60 em 60, ...), unidades de tempo (minuto, hora, dia, semana, mês, bimestre, semestre, ano ...), operações com unidades de medida de tempo (conversões), divisão. Transportes Problemas de quantidades e medidas com meios de transporte, problemas de custos de tarifas, cálculo de passageiros após várias paradas com subidas e descidas, cálculo de custo de transporte de um grupo, capacidade de meios de transporte. Operações básicas, agrupamentos, sistema monetário (nosso dinheiro). Artes, música, dança Ritmos, músicas, cantigas, parlendas e histórias com temáticas matemáticas, reconhecimento e percepção de figuras geométricas nas artes plásticas, matemática nas festas juninas. Sequências, tempo, espaço, figuras geométricas, simetrias. Jogos, brinquedos e brincadeiras Quebra-cabeças e jogos de visualização, previsão de jogada vencedora, jogos de tabuleiros, de trilha, bingo, memória, dominós, cartas. Lógica, regras, contagem e pontuação, operações básicas, probabilidade, geometria. História e geografia História de contagens e medições, sistemas de numeração, medidas de montanhas, rios, população de cidades e países, mapas. Contagens, distâncias, estatísticas, sistemas de localização. 87 Tecnologias TV, vídeo, celulares, videogames, jogos eletrônicos, calculadoras, computadores, aparelhos domésticos. Sistema de numeração, operações básicas, sequências. Fonte: PNAIC (2014), adaptado pelo DI (2019). Saiba mais Estes são alguns dos exemplos que este material nos traz, confira no link abaixo, caso queria vê-lo na íntegra. https://wp.ufpel.edu.br/antoniomauricio/files/2017/11/8_Caderno-8_pg001- 080.pdf Compreendendo as diversas situações que apresentei a você, vamos então a algumas situações didáticas práticas, para que você possa entender um pouco mais desta matemática contextualizada por meio de situações-problema. O contexto do dinheiro: Vamos pensar o seguinte, o seu aluno certamente não faz compras no supermercado, não é? Porém, sabemos que com a correria do dia a dia, mães e pais trabalham fora, e as reuniões familiares acontecem com mais dificuldade. Com frequência os encontros ocorrem em shoppings, restaurante, lanchonetes, entre outros lugares, o que invocam obrigatoriamente ao consumo, que obviamente falamos de gastos e a utilização do dinheiro. Saiba mais Caso queira saber um pouco mais da Educação financeira e sua relação com o consumo para as crianças, indico o site: Educação financeira, que está no link abaixo. Tem várias dicas de como compreender o consumo, os gastos úteis e fúteis, além de dicas sobre mesadas, doações de tempo e dinheiro. Vale a pena conferir. http://educacaofinanceira.com.br/index.php A partir daí, podemos utilizar a matemática do nosso dia a dia atrelando o sistema de numeração, de modo que haja uma interpelação entre os dois: contextos e conteúdo. Podemos propor: 88 Problemas com dinheiro Organize a classe em grupos de 4. Materiais: Um jogo de notas “fantasia” de dinheiro por aluno. (moedas de 1,00 e notas de 10, 100 e 1.000- vinte notas de cada); Nove cheques “fantasia” para cada 4 alunos para ser completado pelo professor. Primeira etapa do jogo: um aluno será o caixa e possuirá todas as notas desse grupo. Entregue a três alunos três cheques (já completos com os valores) de 3 algarismos e peça que cada um anotea quantidade de seus cheques, em seguida troque o seu cheque com o banco. Lembre-se que cada aluno trocará três vezes, já que possui três valores. Desta maneira o professor deverá perguntar quanto de dinheiro cada aluno reuniu. Segunda etapa do jogo: nesta etapa os alunos deverão preencher a tabela abaixo, com a ressalva de que o caixa do jogo só troca com a menor quantidade possível de notas. Valor cheque para trocar por notas Notas de 1.000 Notas de 100 Notas de 10 Notas de 1 1.348 2.872 6.560 520 Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). Com esta atividade você está instigando seus alunos a perceberem a menor quantidade de notas para formar um número, ou seja, na base 10. Situação problema: coloque seus alunos para pensarem na seguinte situação: Imagine que seu pai ou sua mãe vá até o caixa eletrônico e lá está fixado um lembrete para os que desejam sacar dinheiro. 89 LEMBRETE: ESTE CAIXA SÓ ENTREGA NOTAS DE 1 REAL E DE 100 REAIS, PORQUE ACABARAM AS NOTAS DE 10 REAIS. Sabendo que o caixa sempre entrega a menor quantidade possível de notas, como seu pai e sua mãe receberiam estes valores: a) 3. 241 _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ b) 1.067 _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ c) 8. 974 _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ Outra situação: ESTE CAIXA SÓ ENTREGA NOTAS DE 1 REAL E DE 10 REAIS, PORQUE ACABARAM AS NOTAS DE 100 REAIS. Agora o caixa eletrônico só tem notas de 1 e de 10 reais, e continua entregando sempre a menor quantidade de notas. Como seria entregue a seus pais as seguintes quantidades? a) 1.658 _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ b) 45.723 _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ c) 30.008 _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ Questione seus alunos: É possível resolver as situações apresentadas? 90 De que forma você solucionou? Como você pensou? É possível saber quantas notas serão entregues sem fazer contas? Como você fez? Podemos fazer o cálculo mentalmente, como? Estas perguntas deixei a sua disposição para que você compreenda o verdadeiro sentido de uma aula que considere o raciocínio da criança e não apenas a leitura e resolução dos símbolos matemáticos que tanto vemos por aí. Outra forma muito válida para os alunos é perceber a soma com resultado dez e sua padronização: Tabela de adição Fonte: Elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). Nesta imagem, vemos que o importante é que a criança compreenda 9 + 1= 10 e que 1+ 9 também é igual a 10. Estas são algumas regularidades na matemática que as crianças podem manipular de forma divertida. Outro jogo divertido para que a assimilação da soma dez, depois de longas atividades de compreensão do sistema numérico, podemos fazer a seguinte proposta: Jogo das cartas: Se uma carta me mostra o número... Qual número tem que sair na outra carta para que some 10? 7 91 4 9 Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). Continuando na mesma linha de raciocínio, podemos sugerir o seguinte exercício que está na próxima página. 2 cartas: assinale a correspondência correta. Uma carta me mostra o número... E a outra me mostra o número... Estas cartas não chegam em 10 Estas cartas passam de 10 6 3 4 5 9 2 Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). Outra forma de instigar o raciocínio, independente de memorização, mas focando na aprendizagem do sistema numérico, podemos propor cálculo, como o exemplo: sem fazer a “conta da esquerda”, que número você escreveria nos lugares vazios? Como você entendeu estas questões? Adição: forma diversificada Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). 92 Conclusão da aula 6 Caro estudante, por meio desta aula tivemos como objetivo propor reflexões a você sobre a realidade do ensino da matemática em nosso país, além dos esforços em ampliar o conceito de matemática para além dos livros didáticos. Você percebeu que as várias atividades que propus vão ao encontro do que Freudenthal propõe como matemática realística, sendo este o nosso foco. Sugiro que ao propor atividades aos seus alunos, questione qual o seu objetivo com aquilo, pois, quando fornece atividades sem saber o porquê e o que está trabalhando, não favorecerá o aprendizado de nossas crianças. Tenho certeza de que realizando mais leituras e pesquisas, como as sugeridas neste material, você transformará o ensino e a aprendizagem de seus alunos. Atividade de aprendizagem Escolha um dos conteúdos de Matemática, seja ele, do ensino fundamental ou da educação infantil e elabore um jogo para seus alunos. Utilize a criatividade, escreva o manual de instruções e as regras. Para isso, navegue na internet e procure blogs de professores de Matemática e veja quantos professores também estão neste mesmo anseio em mudar o ensino da Matemática, deixando-o mais prazeroso e gratificante ao aluno. Bom trabalho. Aula 7 - A calculadora na sala de aula Apresentação da aula 7 Já vimos nas aulas anteriores, que vários tipos de objetos usados para ensinar matemática são bem-vindos, porém você estudante, deve ter sempre em mente que não existe nada em termos de objetos e estratégias que irão realmente funcionar se o professor não incorporar a dedicação, a renovação, o incentivo aos alunos, a autoconfiança e a aptidão de estender aos seus alunos a liberdade de criticar e liderar. O dom de levar o conhecimento é louvável, e você estudante que está “chegando agora”, com novo espírito de luta e com 93 energia fluindo de suas mãos e da mente tem o poder de oferecer o melhor! Quando falo a você, sobre oferecer o melhor, quero dizer que tudo o que vimos até agora para o ensino da matemática é fundamental, mas que o melhor, virá de você. É você quem vai ensinar o respeito às diferenças, você que vai buscar o equilíbrio emocional do seu aluno, vai plantar sementes e vai ter que ter sempre a consciência de que melhor do que o desenvolvimento cognitivo é o desenvolvimento humano. Você vai perceber que o estudo da aula de hoje é muito significativo, pois a calculadora é um material de apoio que desperta algumas dúvidas, se não for utilizado da maneira que convém. De acordo com Kistermann (2014), há autores que se opõem ao uso da calculadora, argumentando que as crianças que ainda não dominam a matemática não devem se submeter à facilidade que ela oferece e não deve ser vista como um material suficiente para a correção de erros e como instrumento de auto avaliação. Você e eu vamos analisar então como fazer uso dessa ferramenta de maneira efetiva. Vamos lá? 7.1 Ponto de vista dos educadores Mostrando o lado desfavorável, Santos et al (2004) argumenta que muitos professores condenam o uso da calculadora em sala de aula por considerar que ela prejudica o raciocínio dos alunos, fazendo com que se tornem “preguiçosos”, deixando de desenvolver mentalmente as operações e deixando de aprender a realizá-las manualmente. Calculadora: ajuda ou atrapalha? Fonte: https://image.freepik.com/vetores-gratis/fundo-quiz-com-calculadora-e-lapis_23- 2147599488.jpg 94 A calculadora executa de modo “oculto”, e apresentando rapidamente o resultado. De fato,o uso do raciocínio fica enfraquecido com operações que a máquina realiza sem mostrar o desenvolvimento. Giongo (2008) nos mostra que para algumas escolas a calculadora pode ser um instrumento significativo no processo pedagógico, porém, para outras, o seu uso comprometeria a aprendizagem das crianças. A suposta “preguiça mental”, na qual os alunos poderiam desenvolver com o uso desta ferramenta, poderia prejudicar as crianças no sentido de não mais armar as continhas, porém Giongo (2008) nos enfatiza que esse fato não é determinante para a falta do desenvolvimento desse raciocínio. Um bom método, apresentado pela autora, de uso da calculadora nos anos iniciais, seria começando com a apresentação dela para criar uma familiaridade com as crianças e a calculadora. Pode-se começar, como Klusener (2000) sugere, apresentando a maquininha para os alunos: Demonstre a parte física da calculadora, onde se encontram os sinais matemáticos, quantos dígitos cabem no visor, onde se liga e desliga, onde se apaga somente o último número digitado; Em seguida converse sobre quais as profissões que fazem uso da calculadora diariamente. Onde podemos encontrar a calculadora fora da maquininha; Elabore uma situação-problema, por exemplo, some 29 + 29+ 29+ 29 + 29 + 29, qual é o resultado? Como se consegue esse mesmo resultado usando um menor número de teclas? Como se pode fazer aparecer no visor da calculadora o número 60, sem apertar as teclas 6 e 0? Faça isso apertando o menor número de teclas possíveis. 95 Calculadora padrão Fonte: https://images.freeimages.com/images/large-previews/c53/calculate1240498.jpg Considerando esse tipo de “trabalho” com a calculadora você pode observar o quanto ela pode ser favorável ao desenvolvimento matemático da criança, basta saber utilizá-la da maneira mais pedagógica possível. Vamos então conhecer bons métodos do uso dessa ferramenta. Há várias maneiras de se usar a calculadora em sala de aula de uma maneira agradável e pedagógica: Você pode começar instigando os alunos com algumas perguntas mais fáceis, como os exemplos da revista Nova Escola (2003) como: Quantos dias aproximadamente você já viveu desde o seu nascimento? Quantos alunos há em sua sala? Após a resolução, faça com que os alunos verifiquem os resultados na calculadora, e se houver erros, faça com que eles reflitam sobre. Outra questão que pode ser levantada para que os alunos aprendam a usar as teclas da memória, seria essa: "Fui ao mercado e comprei 3 litros de leite por R$2,20 cada um, 2 pães integrais por R$3,50 cada e paguei com uma nota de R$20,00. Qual foi o meu troco?" Peça aos alunos que tentem resolver o problema utilizando as teclas da memória, e dê algumas dicas: 20 M- 3x2,2 M+ 2x3,5 M+ MRC 96 A nova pergunta A antiga pergunta, “a calculadora deve ser usada nas aulas de matemática”? Já está ultrapassada. A nova pergunta é: “Como” devemos utilizar a calculadora nas aulas de matemática para que se transforme numa ferramenta poderosa no auxílio do ensino aprendizagem? Em resposta à nova pergunta, temos o uso da calculadora para: exploração, correção de erros, resultados imediatos e para agilizar o processo. A exploração de um mesmo cálculo deve ser incentivada com o uso da calculadora, exemplo: 43 + 25 = 44 + 26 = 46 + 27 = 42 + 28 = Em todos os casos das somas acima, os resultados serão sessenta e pouco ou setenta e pouco, peça que os alunos somem mentalmente, coloquem os resultados e em seguida calculem com a calculadora e observem se houve erros e quais são. Será interessante observar os resultados. Mídias No link abaixo, assista a um vídeo de uma professora ensinando aos seus alunos o uso da calculadora: Trabalhando com calculado em sala de aula. https://www.youtube.com/watch?v=nSWb3D3dBoM 7.2 O bom uso da calculadora depende de você, professor Falamos muito sobre o uso das calculadoras em sala de aula, e o que eu espero que tenha ficado claro para você, é que tudo e todos os objetos usados para o ensino vão depender do uso que se faça deles, então, tudo depende da ação do professor. Ao adentrar em uma sala de aula, independente do conteúdo a ser aplicado, você deve estar ansioso pelos resultados positivos daquela aula, e 97 como o nosso assunto de hoje é a calculadora, quando você for apresentá-la a seus alunos, faça de maneira a despertar a curiosidade deles pela nova estratégia a ser utilizada. Na matemática, a linha entre o conteúdo e a estratégia é muito tênue. A estratégia expõe o conteúdo de maneira aprazível. A calculadora como qualquer outro material de apoio vai depender do conteúdo que você expõe e de como você o expõe. Conteúdo, material didático, material de apoio, material concreto, são todos instrumentos de auxilio que deverão ser utilizados de maneira conscienciosa e ponderada pelo professor. Materiais de apoio Fonte: https://as2.ftcdn.net/jpg/00/65/47/15/500_F_65471568_4SsDgNEgfvD3pl0RQ6 58m9zwtaEdZZrU.jpg 7.3 A matemática perante o PCN Os Parâmetros Curriculares Nacionais para a área de matemática no ensino fundamental estão pautados por princípios decorrentes de estudos, pesquisas, práticas e debates desenvolvidos nos últimos anos. Podemos destacar alguns que dizem respeito à nossa aula de hoje: 98 No ensino da Matemática, destacam-se dois aspectos básicos: um consiste em relacionar observações do mundo real com representações (esquemas, tabelas e figuras); outro consiste em relacionar essas representações com princípios e conceitos matemáticos. Nesse processo, a comunicação tem grande importância e deve ser estimulada, levando o aluno a “falar” e a “escrever” sobre Matemática, a trabalhar com representações gráficas, desenhos, construções, a aprender como organizar e tratar dados; O conhecimento matemático deve ser apresentado aos alunos como historicamente construído e em permanente evolução. O contexto histórico possibilita ver a Matemática em sua prática filosófica, científica, social e contribui para a compreensão do lugar que ela tem no mundo. Recursos didáticos como jogos, livros, vídeos, calculadoras, computadores e outros materiais têm um papel importante no processo de ensino e aprendizagem. Contudo, eles precisam estar integrados a situações que levem ao exercício da análise e da reflexão, em última instância, a base da atividade matemática. Saiba mais Você poderá analisar o Parâmetro curriculares nacionais - PCN. Brasília, 1997. http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro03.pdf 7.4 A matemática e as profissões A matemática, ou seja, os cálculos, estão em quase todas as profissões, os profissionais que veremos agora, fazem uso diário da sua calculadora, isso nos certifica que o quanto antes a criança se familiarizar com essa ferramenta, mais inclusa ela estará no futuro mundo das profissões. 99 Mídias Dentre os trabalhos que ganharam expressão na última década, destaca-se o Programa Étnomatemáica, com suas propostas alternativas para a ação pedagógica, entenda como é no link disponível: https://www.youtube.com/watch?v=cjsOPzwvbYA Veja alguns exemplos: Administrador de empresas: é indispensável que o administrador tenha habilidade com cálculos, ele terá que fazer orçamentos, controlar pesquisas e elaborar projetos; Agrônomo: quando se pensa nessa profissão quase se esquece que esse trabalho também exige matemática, pois o agrônomo terá que fazer cálculos de componentes químicos para a fertilização do solo; Arquiteto: arquitetura exige muito conhecimento das áreas exatas, dos cálculos e aptidões múltiplas; Cinema: o cinema também exige muita matemática, um pequeno quadro de um filme criado no computador tem mais de dois milhões de pixels,e para realizar todos os cálculos necessários é indispensável o uso da calculadora; Direito: envolve cálculos para fazer as partilhas, heranças e bens; Metereologia: usa cálculos para discernir os movimentos da atmosfera, equações matemáticas e físicas para interpretar as informações dos satélites e radares metereológicos, medição da velocidade dos ventos, e cálculos para medir a umidade do ar. E assim quase todas as profissões, (incluindo até mesmo a música e turismo), senão todas eventualmente, dependem dos cálculos matemáticos. Teve alguma profissão que surpreendeu você? Pois é, algumas a gente nem imagina que use matemática, e ainda não falamos de todas, a matemática é realmente surpreendente. 100 O cálculo faz parte do dia a dia Fonte: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQSKtfvnQSaIsPfSmB P2anaQQlEZeLhqktwk8DdPZkVw6lheELF Conclusão da aula 7 Pois bem, chegamos ao final de mais uma aula! E quantas novidades vimos, não? Acho que você e eu conseguimos chegar à conclusão de que o uso correto e adequado da calculadora nas salas de aula é um fator indispensável, não é mesmo? As crianças descobrem que com o uso dessa ferramenta elas conseguem desvendar caminhos que não enxergavam antes, “brincam” com as construções e desconstruções dos números. Vimos também que por meio da calculadora a criança pode usar seu raciocínio e sua lógica de maneira diferenciada. E que todo esse contexto depende do professor, que irá apresentar, cobrar, incentivar e tornar sólido todo o conhecimento passado para a criança. Como disse anteriormente, o professor deve estar sempre esperando o resultado positivo daquela aula, e vai depender do conteúdo que ele vai expor e de “como” vai expor. Observamos também, os estudos sobre o uso da calculadora nas salas de aula, quando afirma que: recursos didáticos como jogos, livros, vídeos, calculadoras, computadores e outros materiais têm um papel importante no processo de ensino e aprendizagem. Diante de todo esse respaldo estamos convencidos de que todos os materiais tecnológicos utilizados para o ensino aprendizagem serão bem-vindos. 101 E para finalizar, ficamos admirados com certas profissões que fazem uso da matemática, sem que se perceba, como a música e como o turismo, que usa cálculos com porcentagens para descontos de diárias de hotel, identificar o percentual de ocupação em hotéis, taxis, eventos, entre outros. Ainda lembro de você também que o curso de automação industrial conta com as disciplinas de álgebra linear, cálculo, estatística e lógica, bem mais do que se pensava não é mesmo? O curso de estatística conta com todos esses conteúdos e acrescenta a probabilidade. Atividade de aprendizagem GINCANA: para a realização dessa atividade será necessária: calculadora, balões de festa, papel onde serão impressas ou escritas à mão algumas contas que fazem parte do conteúdo das aulas de matemática dos alunos, quadro e giz ou papel e caneta para anotações. PREPARAÇÃO: escreva num pedaço de papel algumas contas matemáticas a serem resolvidas, enrole o papel e coloque dentro de cada balão, coloque um pouco de farinha dentro também. Encha o balão e amarre a boca, deixe alguns balões só com farinha, sem o papel com os cálculos. A turma será separada em dois grupos e cada grupo terá um líder. Os líderes lançam a sorte e escolhem um representante do seu grupo para resolver os cálculos, um representante do outro grupo estoura o balão (se o balão estiver sem papel de cálculo, o aluno que iria responder ganha o ponto assim mesmo) e se tiver o papel com o cálculo, espera-se que o aluno consiga resolvê-lo com o menor tempo possível, para isso ele pode usar a calculadora ou não. Mas, se usar a calculadora o tempo será contado em dobro. O grupo que resolver em menos tempo ganhará a gincana. Esse tipo de atividade contribui para que a participação do aluno seja efetiva. Aula 8 - Jogos para ensinar matemática Apresentação da aula 8 Olá! Seja bem-vindo à nossa última aula. Nessa aula você conhecerá alguns tipos de jogos usados no ensino da matemática que chamem a atenção das crianças para o despertar dessa disciplina, com um interesse renovado. 102 Cabe a você, apresentar jogos que sejam realmente produtivos, que consiga manter o compromisso das crianças com a situação ensino- aprendizagem. Você deve ter em mente que o jogo é um recurso didático, que deverá ter regras e que envolvam conhecimentos matemáticos, ou seja, o jogo deve propor problemas, que para solucioná-los o aluno precise de conhecimentos numéricos. Segundo Quaranta e Wolman (2003), a intenção de incluir os jogos nas escolas é de se conseguir um aprendizado mais participativo, onde os alunos interagem em prol do conhecimento. As situações criadas pelos jogos contribuem para a construção do conhecimento, não só da disciplina em questão como também para o desenvolvimento social do aluno, uma vez que este, por meio dos jogos, consegue uma maior comunicação entre você, professor, e os colegas de sala, e isso influenciará também em sua vida social. O jogo promove, também, o desafio da adversidade, a conquista pelo prêmio final, criando nos alunos, um desejo de sobressair-se e de alcançar novos limites, tanto físicos como mentais, é aí que você, professor, entra com seus conhecimentos didáticos e pedagógicos para que essa adversidade permaneça somente dentro do jogo, e assim que terminar, acabe também com a possível contrariedade entre os jogadores. O objetivo de aplicar jogos nas aulas de matemática é incentivar os alunos com uma nova estratégia de ensino, para por meio dos jogos, aplicar o conteúdo do aprendizado. A partir de agora, vamos descobrir juntos os benefícios dos jogos no aprendizado. Vamos lá? 8.1 Benefícios dos jogos didáticos para o ensino da matemática O jogo deve ser apresentado aos alunos quando eles já tiverem conhecimento do conteúdo que será utilizado. Dessa maneira, você conseguirá a concentração deles e irá garantir o maior aprendizado do conceito em questão. Vamos então aos benefícios que o jogo nos traz em sala de aula: Desenvolvimento do raciocínio; Agregar prazer às aulas de matemática; Criar maior vínculo entre professor e aluno; 103 Propiciar o interesse ativo no conteúdo; Fixar a matéria já estudada; Auxiliar o aluno a desenvolver estratégias; Incentivar o aluno a tomar decisões; Conscientizar os alunos para a socialização; Desenvolver a criatividade; Construir a individualidade. 8.1.1 Desenvolvimento do raciocínio Os jogos no aprendizado infantil são boas fontes de estímulo ao desenvolvimento cognitivo, afetivo, social, motor e emocional. Por meio dele, as crianças podem se auto afirmar, ganhar mais confiança frente a desafios, chegando até mesmo a aumentar o amor-próprio, pois por meio da adversidade ela encontra novos caminhos que a levem à vitória, senão hoje, ela permanece no aguardo do próximo jogo, para sua “revanche”. Piaget relacionou o jogo aos processos de assimilação e acomodação, com a aptidão de a criança transformar a si mesma e a sua realidade. Cabe ao professor selecionar os jogos que serão apresentados às crianças, os quais devem estar na sua faixa de conhecimento, devendo incentivar as crianças a se concentrarem no jogo, para conseguirem autonomia por meio das alternativas e reflexões encontradas por elas mesmas. A sua intervenção nos momentos de desafio, dando algumas dicas, por exemplo, é fundamental para garantir que seus alunos construam o conhecimento. 8.1.2 Agregar prazer às aulas de matemática Os jogos aplicados no aprendizado, segundo Quaranta e Wolman (2003), não devem ser jogados uma vez só, mas sim várias vezes, para que a criança consiga avançar naquela produção, e isso causa mais prazer aos alunos, poisse eles não conseguirem avançar uma vez, sempre vai ter a próxima para tentar. Por meio dos jogos a criança se solta, usa a imaginação, estimula a cooperação (se for um jogo onde se joga em duplas ou grupos), além de aprenderem a seguir regras de uma maneira mais leve e divertida. 104 Ao observar crianças jogando, mesmo na escola com sentido de aprendizado, nota-se uma alegria constante, concentração, risos, um ambiente bem diferente das aulas pouco ativas de matemática. Há prazer e alegria, isso, além de facilitar o aprendizado, ainda envolve o sentimento da criança para ligar toda essa diversão à matemática. 8.1.3 Criar maior vínculo entre professor e aluno A boa relação entre o professor e o aluno é fundamental para o aprendizado da criança. Alguns professores deixam uma semente no coração do aluno, consigo me lembrar de uma professora que era enérgica, porém se dedicava com muito carinho e atenção no momento do ensino, foi quando eu comecei a entender a matemática de uma forma amistosa, assim, consegui aprender e dominar os números. A interação do professor no momento do jogo, pode determinar a visão de alguns alunos sobre o tema proposto. Uma participação animada, encorajadora, com muito incentivo, e claro, também autoridade na dose certa, serão essenciais. Além de ajudar no aprendizado, auxilia também na formação do futuro cidadão. Mídias Sugiro que você assista, no link abaixo, ao filme Ao mestre com carinho, um filme de 1967, mas que nos deixa conforme alguns comentários, com mais vontade de ser professor. O filme trata do difícil relacionamento de um professor com seus alunos, mas que com muita sabedoria, ele consegue reverter a hostilidade em uma verdadeira amizade. https://www.youtube.com/watch?v=bI9Vnr9-ra0 8.1.4 Incentivar o aluno a tomar decisões Ajudar a criança a formar um senso crítico e construir sua autonomia é trabalho de pais e professores. A autonomia requer segurança e confiança em si mesmo, a tomada de decisões vai fazer parte da vida de uma pessoa desde a infância até a velhice. É muito importante desenvolver na criança a sua autoconfiança e autoestima, para que daí possa surgir a sua autonomia, que vai 105 lhe trazer vários benefícios durante toda a sua vida. Saber tomar decisões no trabalho com segurança vai colaborar muito para a ascensão da vida profissional de uma pessoa. Assim também na sua vida pessoal, a autonomia lhe renderá resultados mais benéficos em relação a todas as suas decisões pessoais. Saiba mais Para aprofundar seu estudo, sugiro a leitura, no link abaixo, de um texto da Faber Castell, A construção da autonomia em sala de aula: o desafio da mudança. Fonte: http://educacao.faber-castell.com.br/professores/trocando-ideias/a-const rucao-da-autonomia-em-sala-de-aula-o-desafio-da-mudanca/ 8.2 Sugestão de jogos para o aprendizado matemático Jogo das caixas: O professor deverá separar a sala em dois ambientes e os alunos em dois grupos, um em cada ambiente. Em cada ambiente deverá ter uma prateleira e nove caixas coloridas: preta, amarela, azul, vermelha, verde, laranja, rosa, branca e roxa (todas deverão ter o mesmo tamanho). Em um dos ambientes os alunos deverão organizar as caixas na prateleira da maneira que escolherem. O jogo começa assim: a turma das caixas organizadas vai dando as dicas (esquerda, direita, para cima, para baixo), de acordo com a organização que eles fizeram para que a outra turma, sem conseguir visualizar a arrumação das caixas no outro ambiente, consiga a mesma arrumação na sua prateleira. O professor determinará o tempo para a duração do desafio e após este tempo (em minutos), o cronômetro irá parar e conta-se quantas caixas ficaram na mesma colocação das caixas da turma que davam as dicas, repetir o jogo quantas vezes quiser, e no final ganhará quem usou menos tempo e organizou mais caixas iguais as da outra turma. A matemática estará presente nas dicas de esquerda, direita; para cima, para baixo; nas ordens das cores, na memorização e no limite de tempo determinado para o término das tarefas. 106 Jogo da memória: O professor deverá separar a turma em dois grupos. Estima-se que esse jogo possa ser apresentado para crianças a partir de 4 anos. O grupo A será responsável pela confecção de desenhos em 15 cartas, distribuídas pelo professor. O modelo dos desenhos estará numa lista, que o professor entregará para o grupo A. Nesta lista deverá estar os dados dos desenhos como nome do objeto, cores e tamanho. Para o grupo B, o professor também distribuirá 15 cartas com a mesma lista de modelo dos desenhos do grupo A. O desafio é que os dois grupos sem ver o desenho do outro, apenas com a descrição da lista, consigam desenhar nas cartas os objetos iguais para que se possa formar um jogo da memória. Exemplo: Grupo A desenha em uma das cartas, segundo instruções da lista, uma bola grande verde e vermelha, a bola do grupo B deverá ser do mesmo tamanho e com o mesmo estilo das cores, listras, ou flores entre outros No momento que o professor pedir, os dois grupos mostrarão a carta correspondente ao mesmo desenho e verão que estão diferentes, a partir disso, deverão desenhar novamente até que os dois desenhos sejam iguais. Quando todas as 15 cartas tiverem outras 15 com desenhos iguais começará o jogo da memória. Modelos de corujas Fonte: https://image.freepik.com/vetores-gratis/jogo-dos-personagens-de-coruja_23-21 47612585.jpg Observe que o intuito do jogo da memória já faz parte desde a confecção das cartas até quando os alunos olharem para a carta do outro grupo e tentarem 107 fazer o mesmo desenho. Observação, memorização, habilidade, percepção, são conceitos da matemática trabalhados nesse jogo. Note na ilustração a seguir, que existem várias maneiras de representar o mesmo “objeto”. 8.3 Por quê incluir os jogos na matemática? Depois de abordarmos o tema dos jogos no ensino da matemática, podemos ainda nos perguntar “por quê incluir os jogos na matemática”? Segundo Chaves (2009), a falta de interesse pela matemática é ainda grande reclamação dos professores, para eles as fórmulas, conceitos e definições, são transmissões que não atingem o esperado pelo docente. Assim, aguçar os interesses dos alunos pela matemática passou a ser um ponto crucial no processo ensino aprendizagem. O gosto pelo lúdico, como diz a autora, é inerente ao ser humano, assim cabe ao professor organizar sua aula com o foco no interesse do aluno, para que o conteúdo se torne mais atrativo e participativo. Os Parâmetros Curriculares Nacionais para a área de Matemática no ensino fundamental estão pautados por princípios decorrentes de estudos, pesquisas, práticas e debates desenvolvidos nos últimos anos. Um dos objetivos do PCN é este: “recursos didáticos como jogos, livros, vídeos, calculadoras, computadores e outros materiais têm um papel importante no processo de ensino e aprendizagem. Contudo, eles precisam estar integrados a situações que levem ao exercício da análise e da reflexão, em última instância, a base da atividade matemática”. Ainda, segundo Chaves (2009), o ser humano se distingue dos animais em vários fatores, um deles é a nossa capacidade de socialização e interação com a sociedade. Esse é um dos benefícios dos jogos, eles nos levam ao contato com a vida social. É bem óbvio que os professores devem estar bem preparados para a inclusão de jogos no ensino aprendizagem da matemática, pois essa capacitação exige interação, conhecimento da metodologia dos jogos e a sua constante participação com saberes e incentivos. Para Chaves (2009), para trabalhar com o lúdico, no caso, os jogos, cabe ao professor: Desafiar seus alunos para uma problemática; 108 Discutir com os alunos a razão do que está sendo feito; Motivar-se comos alunos; Possibilitar a liderança aos alunos, conforme eles dominam os jogos; Relatar suas experiências para que outros professores possam agregar conhecimentos. Podemos nos certificar, portanto, que a inclusão dos jogos para o ensino da matemática é uma contribuição enriquecedora tanto para os alunos quanto para os professores. Curiosidade Deixo aqui para você estudante, no link abaixo, uma história interessante sobre a Origem dos sinais matemáticos. http://www.vocesabia.net/ciencia/matematica/origem-dos-sinais-matematicos/ Em Matemática a BNCC previu mudanças específicas na disciplina, e propõe cinco unidades temáticas, correlacionadas, que orientam a formulação de habilidades a serem desenvolvidas ao longo do Ensino Fundamental. São elas: números, álgebra, geometria, grandezas e medidas e probabilidade e estatística. Deve-se reconhecer a Matemática como associada a diferentes culturas e ciências para solucionar questões de caráter tecnológico e produtivo, contemplando a interdisciplinaridade. Na área de Matemática, a BNCC inventiva que os alunos entendam e tragam os problemas para a vida real com criatividade, pensamento crítico e colaboração. A responsabilidade do professor aqui não é apenas ensinar a calcular, mas sim mostrar aos alunos o que está por trás das operações e que existem relações entre essas operações. Conclusão da aula 8 Para concluir nossa aula, gostaria que você estudante refletisse quantas vezes já ouviu reclamações sobre a matemática, ou talvez você mesmo já tenha se deparado com uma certa indisposição para o aprendizado dessa disciplina. 109 Uma matéria fantástica, engrandecedora e sensacional, quanto a matemática, que nos leva a construção desde pequenas casas até enormes edifícios, navios, aviões. A matemática que sofre tantos preconceitos pela forma como foi aplicada até hoje merece nossos profundos estudos de como libertá-la desse estigma. Pois a nossa saúde, nossos trabalhos, nossa alimentação, tudo depende da maravilhosa matemática. Vimos na nossa aula que desde crianças podemos desenvolver, com a ajuda de nossos professores, o gosto por esta disciplina, por meio de dinâmicas, trabalhos em grupos e os jogos. O vínculo criado entre o professor e o aluno durante os jogos, a liberdade de ação e de tomada de decisão das crianças no momento exato de dar um passo à frente no jogo para sua conquista diária, bem como o prazer e a alegria que o jogo pode proporcionar no aprendizado da matemática. Com tudo isso, devo concordar com Chaves (2009), quando ela cita a afirmação do PCN que: Finalmente, um aspecto relevante nos jogos é o desafio genuíno que eles provocam no aluno, que gera interesse e prazer. Por isso é importante que os jogos façam parte da cultura escolar, cabendo ao professor analisar e avaliar a potencialidade educativa dos diferentes jogos e o aspecto curricular que se deseja desenvolver. (PCN,1997, p. 48,49). Atividades de Aprendizagem Bem, depois de tudo que vimos na nossa aula, espero que você estudante, como futuro professor, e esteja ansioso para colocar em prática o conteúdo da nossa aula. Podemos ver o quanto o jogo pode ser um diferencial para você trazer à sua (futura) turma novas energias de aprendizado, onde o conteúdo será apresentado com mais entusiasmo e disposição, atraindo o aluno para o aprendizado da matemática, meio que embutido, nas brincadeiras e alegria dos jogos. Para que você possa alcançar uma maior fixação do conteúdo da nossa aula, sugiro que você faça uma pesquisa sobre professores que buscam inovação no seu modo de aplicar o conteúdo, podem ser professores que estão bem perto de você ou pesquise em filmes, reportagens ou livros. São extensos os campos de pesquisa nessa área, vá em frente, faça sua exploração de ideias, e já comece a preparar seu “diário de bordo” para uso futuro e se destacar como um professor inovador! 110 Índice Remissivo A calculadora na sala de aula ..................................................................... (Efetividade; ferramenta; método) 92 A matemática e as profissões .................................................................... (Cálculo; ferramenta; profissões) 98 A matemática perante o PCN ..................................................................... (Debates; pesquisas; práticas) 97 Agregar prazer às aulas de matemática ..................................................... (Criatividade; liberdade; produção de conhecimento) 103 Alfabetização e Letramento ....................................................................... (Criança; escrita; problema) 09 Alfabetização, letramento matemático e o Pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa, (PNAIC) ...................................................... (Alfabetização; instrumento base; matemática) 08 Alfabetização Matemática .......................................................................... (Conhecimento; debate; decoreba) 15 As estruturas aditivas: adição e subtração na sala de aula ......................... (Ação das crianças; Compreensão; operações) 53 Benefícios dos jogos didáticos para o ensino da matemática ..................... (Benefícios; concentração; desenvolvimento) 102 Contexto histórico da matemática realística ............................................... (Empirista; estruturalista; mecanicista) 79 Contrato didático ........................................................................................ (Conhecimento; regras; relação) 48 Criar maior vínculo entre professor e aluno ................................................ (Aprendizado; boa relação; inspiração) 104 Desenvolvimento do raciocínio .................................................................. (Capacidade; confiança; crescimento pessoal) 103 Diferença entre educadores matemáticos e matemáticos .......................... (Formação intelectual; matemática; pesquisadores;) 30 Educação matemática realística ................................................................ (Educação; modernizar; reformas) 79 Elementos geométricos na natureza .......................................................... (Geometria; integração; natureza) 74 Escola Nova no Brasil: o que mudou? ........................................................ (Conhecimento próprio; pedagogia tradicional; reestruturação política) 32 111 Espaço e forma - Eixos estruturantes ......................................................... (Criatividade; diferenças; formas geométricas) 70 Esquema de ação do Piaget ...................................................................... (Cotidiano; objeto; resolução) 53 Fase de alfabetização ................................................................................ (Domínios básicos; educação; noções topológicas) 68 Fundamentos e teoria ................................................................................ (Aprendizado; construtivismo; estudiosos franceses) 41 Geometria do espaço real e matemático .................................................... (Ferramentas de ensino; geometria; matemática) 65 Incentivar o aluno a tomar decisões ........................................................... (Autonomia; benefícios; coragem) 104 Introdução básica da geometria ................................................................. (Corpo humano; divisão de terras; necessidades) 65 Jogos para ensinar matemática ................................................................. (Conhecimento; criança; jogos) 101 Maneiras do dia a dia para aprender matemática ....................................... (Alimentos; divisão; mapa) 54 Matemática conectada ............................................................................... (Atividade humana; conexões matemáticas;integração) 80 Material concreto manipulável ................................................................... (Estratégia; proatividade; recurso facultativo) 59 O bom uso da calculadora depende de você, professor ............................. (Estratégia; material de apoio; resultados positivos) 96 O professor e seu papel ............................................................................. (Aluno; atividade; participação) 35 Objetivos do ensino da matemática ........................................................... (Educação infantil; raciocínio lógico; vivência) 57 Os modelos de contrato ............................................................................. (Aprendizagem; grupo; saber) 51 Pacto Nacional Pela Alfabetização Na Idade Certa (PNAIC) ..................... (Alunos; língua portuguesa; matemática) 22 Ponto de vista dos educadores .................................................................. (Calculadora; dificultador; facilitador) 93 Por quê incluir jogos na matemática? ......................................................... (Exercício; recurso didático, reflexão) 107 Reflexões gerais sobre a educação matemática ........................................ 29 112 (Didática; domínio; pedagogo) Situações didáticas .................................................................................... (Ação; formulação; validação) 42 Sugestão de jogos para o aprendizado matemático ................................... (Alunos; grupos; jogos) 105 Teorias de situações didáticas e o contrato didático, aproximações básicas ...................................................................................................... (Didática; matemática; teoria) 40 113 Referências ARAUJO, D. L. Gemma; et al. Oficina Brincar e Educar: Jogos Matemáticos. Viçosa, Mg, 2009. <http://www.uesb.br/mat/semat/seemat_arquivos/docs/o5. pdf>. BELTRAO, R. C.; SOUZA, C. M. P.; SILVA, C. P. S. Contrato Didático e Suas Influências na Sala de Aula. Educ. Matem. Pesq., São Paulo, v.12, n.2, pp.335- 353, 2010. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/emp/article/view File/2812/3309. Acesso em: 04 Jul. 2017. BRAS, M. Fernanda. História da Geometria Hiperbólica. UFMG. Belo Horizonte. 2009. p. 10- 34. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. Brasília, 2000. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro03.pdf. Acesso em: 04 Jun. 2018. _______. 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