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AULA 4 PROTEÇÃO E GOVERNANÇA DE DADOS Prof. Daniel Freitas 2 TEMA 1 – IMPLANTANDO O COMPLIANCE DE DADOS As últimas aulas contextualizaram a importância do tema da proteção da privacidade e dos dados pessoais e apresentaram a importância de um bom programa de boas práticas e governança para implantação da proteção exigida legalmente. Anteriormente, aprendemos um pouco acerca dos programas de compliance, ferramenta utilizada no ambiente público e privado para implantação de regras de conformidade e integridade, com valores éticos e morais, e da própria legislação existente, em diversos âmbitos empresariais, como licitações, direito ambiental, trabalhista etc. Embora, em geral, os programas de compliance deem ênfase a políticas anticorrupção e defesa da concorrência, um programa desta espécie deve ser adotado sempre que verificado um risco razoável de violação à legislação ou possibilidade de condutas antiéticas, estabelecendo valores e padrões de comportamento específicos para a empresa promotora. É imprescindível a criação de sistemas de vigilância, supervisão e investigação sobre as atividades da sociedade, de modo a assegurar o respeito às obrigações legais e possibilitar a intervenção adequada diante da identificação de problemas e ameaças. Ainda, é primordial o aprendizado acerca da implementação de um adequado e abrangente programa de integridade em proteção de dados. Como estudamos, os programas de compliance têm o objetivo de fazer com que as empresas foquem em aumentar o nível de qualidade dos processos, produtos ou serviços existentes e também de comportamentos. Em tese, são programas voluntários (alguns mercados específicos como o bancário e o farmacêutico podem ter ações mandatórias) e, portanto, não há nenhuma norma ou legislação pátria que exija a implementação do programa por empresas privadas. Aliás, uma exceção pode ser observada nos casos em que se exige o programa implantado em empresas que participam de processos de licitação, como ocorre no Estado do Rio de Janeiro. Também observam-se diversas empresas multinacionais sujeitas a normas de outros países cuja existência de programas de integridade é obrigatória (empresas sujeitas ao FCPA – EUA, ou ao UK Bribery Act). 3 Assim, implementar um programa de compliance é um forte mecanismo de proteção empresarial. Nesse caso, os objetivos éticos sobrepõem-se a objetivos financeiros, e cada indivíduo, pessoa física ou jurídica, compromete-se com as normas internas de compliance. Também não deixa de ser uma forma de se imputar à empresa um autopoliciamento, já que o programa servirá como controle interno para monitoramento e aderência das normas internas e externas por parte de seus funcionários. Pode, ainda, ser utilizado como controle do ambiente de trabalho, evitando situações que possam eventualmente reduzir a qualidade de trabalho e atrair consideráveis riscos legais e empresariais. Em síntese, compliance não trata apenas de cumprir e obedecer leis, mas seu alcance deve ser compreendido de forma ampla e sistemática como um instrumento de mitigação de riscos, preservação de valores éticos e de sustentabilidade corporativa, e preservação e continuidade dos negócios no interesse dos stakeholders (partes interessadas). Os programas de compliance exigem investimentos, como tempo e dinheiro, todavia, o retorno será garantido porque serão efetivos no seguinte sentido: auxiliam a análise mais acurada do comportamento dos funcionários; ajudam a aumentar e prevenir atos ilícitos ou antiéticos; estimulam a rápida reação em situações críticas de forma eficaz e eficiente; melhoram a qualidade, eficiência e consistência dos serviços; transmitem segurança aos funcionários, para que possam relatar problemas e esperar investigações e ações corretivas; ajudam na melhora da comunicação interna; criam processos que permitem a imediata e profunda investigação de acusações; apresentam compromisso da empresa com conduta ética e de responsabilidade corporativa; minimizam perdas financeiras, sejam relativas às indenizações, impostos e eventuais multas a serem aplicadas; ajudam a consolidar ou melhorar a reputação da empresa em relação à integridade e qualidade, aumentando ainda sua competividade no mercado. 4 Em suma, Bertoccelli (2019, p. 39) aponta que o programa de compliance: integra um sistema complexo e organizado de procedimento de controle de riscos e preservação de valores intangíveis que deve ser coerente com a estrutura societária, o compromisso efetivo da sua liderança e estratégia da empresa, como elemento, cuja adoção resulta na criação de um ambiente de segurança jurídica e confiança indispensável para a boa tomada de decisão. Com a decisão da empresa por sua implantação, deve ser escolhido o profissional responsável pelo compliance internamente, que trabalhará com uma equipe ou estrutura terceirizada de implantação das novas políticas. Sendo assim, um bom programa de compliance poderá apresentar os seguintes elementos (extraídos de guidelines, como CGU e CADE): I. Análise do ambiente interno (identificação): é a base do programa, que ocorre antes de sua implementação efetiva. Informa as características principais da empresa, funcionários e atividade exercida, nível de integridade, valores éticos difundidos, além do padrão de recursos humanos adotados. II. Análise dos riscos: traça o risco e as possibilidades de sua ocorrência. O mapeamento dos riscos consiste na identificação dos eventos possíveis de causar efeitos problemáticos relacionados à atividade estabelecida. Esse mapeamento deverá ser realizado à luz das obrigações da atividade, de modo que a atividade de compliance também se submete às leis, regulamentações e entendimentos harmônicos jurisprudenciais. Aqui já se pode vislumbrar o leque de atividades da empresa que envolvem recebimento e tratamento de dados de terceiros. Tal análise deve se dar em conjunto com o setor pertinente e o funcionário designado para tais cuidados, nos termos da Lei Geral de Proteção de Dados (DPO – Data Protection Officer). III. Comprometimento da alta direção: o sucesso ou fracasso de um programa de compliance depende do “número um” da organização (CEO, dono, presidente ou outra posição equivalente). A liderança ocupa posição de destaque desde a introdução do programa, já que, por seu exemplo, o compliance se instala na organização como um todo. IV. Elaboração de documentos escritos: elaboração de documentos de referência ao programa. É importante a redação do código de conduta – documento genérico que concentra os valores éticos que servem como 5 base para a empresa, além de sua missão; e do código de procedimentos, que define a atuação concreta da empresa para cumprir o código de conduta. Tais códigos deverão contemplar as atividades empresariais que envolvem coleta, manuseio, tratamento e as demais práticas que manipulam dados, sejam amplos ou sensíveis. Deverão ser mencionadas as atribuições de cada setor, seus responsáveis, a forma de proteção e guarda dos dados tratados, com as sanções pertinentes pela má utilização. V. Canais de denúncia e sistemas de premiação: meios de comunicação interna estabelecidos na entidade para que os funcionários ou terceiros possam denunciar irregularidades cometidas no âmbito da empresa. Fundam-se em pressupostos básicos de anonimato e inexistência de represália aos denunciantes. VI. Procedimentos sancionatórios: procedimentos estabelecidos previamente para aplicação de sanções, após apuração de irregularidades. VII. Aplicação de um setor efetivo de comunicação, treinamento e sensibilização: os códigos elaborados devem ser difundidos para as partes internas e externas da empresa, sendo necessário que os sujeitos que negociam com ela (fornecedores, clientes) tenham conhecimentode seu conteúdo. VIII. Avaliação, monitoramento e auditoria para assegurar a efetividade do programa: a efetividade depende da constante monitoração, análise e avaliação do programa, sendo importante que haja um controle e verificação de seu funcionamento concreto, feito de preferência por auditores externos independentes. IX. Aplicação do programa com fornecedores e prestadores de serviços: a pessoa jurídica deve preocupar-se com seus parceiros comerciais e averiguar se eles também mantêm regras de proteção a valores éticos e integridade. Especificamente em relação à proteção de dados, é imprescindível que as partes envolvidas no processo de implementação das regras de integridade tenham conhecimento das regras citadas anteriormente, em especial, a LGPD e a GDPR (nos casos que envolvem negociações com a comunidade europeia). A atenção minuciosa deve se dar em toda espécie de coleta de dados, na portaria da empresa, no acesso à própria página virtual, ou no cadastro de compras, fornecedores, clientes, alvos de propostas de marketing etc. 6 Como já mencionado, é importante que seja estabelecido no código de conduta da empresa quais serão as medidas adotadas para se prevenir, no mínimo: o vazamento de informações, a perda de dados e a adulteração de cadastros. É também imprescindível a elaboração de um código de procedimentos que seja adotado nas negociações com terceiros, visando atender a todas as obrigações. Nos referidos códigos, de maneira escrita, deverão constar, entre outros possíveis, os seguintes deveres: Dever de identificação (know your client): a exemplo do que ocorre na Lei n. 9613/98 – que dispõe sobre os crimes de lavagem de dinheiro (art. 10, I), as empresas e instituições deverão identificar formalmente todas as pessoas com as quais se relacionam. Isso pode-se dar por meio de fichas cadastrais e documentos, os quais devem sempre estar atualizados. Com esse expediente, permite-se identificar com quem se está travando determinada relação negocial. Além da identificação do cliente, é preciso que seja realizada a identificação dos demais sujeitos que participam da negociação (procurador, destinatário final), de forma a respeitar a legislação de proteção de dados. Dever de diligência (due dilligence): visa aprofundar os aspectos negociais e pessoais do cliente, pois, além de se conhecer o cliente, é necessário também conhecer a atividade por ele exercida e a finalidade da realização de determinada operação. Deve ser cumprido de acordo com o grau de risco que o sujeito e a atividade exercida oferecem. Ex.: visita pessoal à sede da empresa e elaboração de um relatório por escrito para que fiquem documentadas e arquivadas as observações formuladas. Dever de registro e consentimento: registro das operações, sejam elas efetivamente realizadas ou somente propostas, com o devido consentimento da parte daquele que concede informações. Ex.: identificação da data de inserção de dados pessoais, atividades envolvidas com o cadastro, como finalidade e utilização, setores autorizados etc. Dever de exame: análise da suspeição ou não da operação realizada, atentando-se para operações com indicativos que possam configurar, por exemplo, fraudes em licitações ou lavagem de ativos, vazamento potencial de dados, repasse indevido de informações a terceiros. A detecção das operações suspeitas pode se dar manualmente, pelo funcionário 7 responsável pelo programa de compliance, ou, ainda, de forma automática, por meio de sistemas automatizados de alerta. Constituem operações taxativamente suspeitas aquelas previstas em resoluções do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF). Já as operações suspeitas não catalogadas tratam-se daquelas suspeitas por suas características, como partes envolvidas, valores, forma de realização, instrumentos utilizados ou falta de fundamento econômico ou legal. Dever de comunicação: intrinsicamente relacionado ao dever de exame. Isso porque, uma vez que o sujeito tenha realizado o dever de exame e identificado alguma operação suspeita, estará obrigado a informar o fato ao COAF ou ao órgão regulador próprio (prática já adotada pelos profissionais da contabilidade anualmente em demonstração criada para tal finalidade). Dever de conservação: dever que os sujeitos obrigados por lei têm de conservarem documentos que comprovem o cumprimento dos deveres de identificação, diligência e registro. Dever de sigilo: comunicações a órgãos externos (COAF) e outras entidades, quando permitidas (ou determinadas) por lei, devem ser sigilosas, o que implica ausência de informação ao cliente. Isso porque é claro que, se o cliente estiver realizando uma operação indevida, sua comunicação poderá comprometer a tomada de medidas pelo órgão competente. Dever de colaboração: os sujeitos internos obrigados devem atender às recomendações, de modo a auxiliarem, no que for possível, na elucidação dos fatos e prevenção da lavagem. Dever de recusa: caso o cliente se recuse a prestar todas as informações necessárias, deverá a empresa recusar-se a realizar o negócio? Não, desde que o dever de recusa seja também informado ao órgão regulatório. Dever de abstenção: interrupção da relação de negócios com o cliente quando o sujeito detectar indícios de práticas ilícitas. Difere-se da recusa porque, nesse caso, não estão presentes ou não foram fornecidos os elementos idôneos, para modo de identificação. Em suma, a implantação de um programa de compliance é um trabalho minucioso e profissional, sendo que seus encarregados devem ter uma visão holística do negócio, da legislação e do mercado para que o programa tenha a devida eficácia. 8 TEMA 2 – O COMPLIANCE OFFICER O Decreto n. 8420/2015, que regulamentou a Lei n. 12846, em seu art. 42, IX, trouxe, pela primeira vez no ordenamento brasileiro, a figura do responsável pela aplicação do programa de integridade, conhecido como compliance officer. A figura é diferente daquela do DPO – Data Protection Officer, oriunda da GDPR – General Data Protection Regulation, da Europa, criada sob o nome encarregado, no art. 5o, VIII, da Lei 13709/2018. Não obstante, o agente de compliance ou compliance officer exerce um importante papel dentro da empresa, estruturante do programa de integridade. É um profissional dotado de expertise técnica e de gestão, capaz de avaliar os riscos internos e externos da empresa, com o objetivo de prevenir e minimizar os riscos de uma responsabilidade legal na esfera judicial ou administrativa. Trata-se do principal gestor do programa, por isso, além de independência, é importante que o profissional tenha autonomia e certo grau de estabilidade, evitando, assim, que sua atuação seja limitada pelas possíveis represálias que teme sofrer. Não há uma formação acadêmica determinada para o compliance officer. Poderá ser advogado, engenheiro, administrador, economista, entre outras graduações. Todavia, é imprescindível que tenha conhecimentos multi e interdisciplinares, e atue de forma enérgica o suficiente para salvaguardar a aplicação das regras e, ao mesmo tempo, de forma cordial e persuasiva, posto que é necessário convencer as pessoas. Para que se mantenha a boa governança, é também necessária a existência de um comitê de compliance, estruturado para discutir os temas que surgem e também dar o apoio necessário ao compliance officer, incentivando-o a implementar todas as medidas necessárias. Além disso, o agente de compliance deverá se reportar diretamente ao cargo mais alto da corporação, seja o proprietário, conselho de administração, presidente etc. Resumidamente, o profissional de compliance será aquele com o compromisso de agir, visando instruir os indivíduos, convencendo-os sobre a direção correta e obtendo seu apoio, jamais deixando de intervir quando estiverdiante de situações de possível risco à empresa ou às pessoas. Por outro lado, se não for ouvido por meio da utilização de recursos atenciosos e amáveis, deverá adotar postura mais forte e rígida, a fim de garantir a efetividade do programa, por meio do respeito aos seus princípios. 9 Segundo Cruz (2017), os deveres do agente de compliance podem ser assim resumidos: 1) Analisar o programa como um todo, indicando potenciais revisões e alterações a serem feitas na estrutura da empresa. 2) Coordenar e implementar programas de treinamento de funcionários. 3) Liderar investigações de supostas infrações e garantir que as adequadas medidas corretivas sejam tomadas. 4) Desenvolver canais efetivos de comunicação, devendo criar e manter canais de comunicação direta e indireta com todos os funcionários, a fim de encorajá-los a trazer potenciais situações problemáticas ao seu conhecimento, sempre garantindo a confidencialidade e ou anonimato. 5) Criar e reter informações, sendo responsável pela guarda e manutenção de um sistema de informações que garanta uma documentação completa e correta, incluindo políticas e procedimentos específicos para adoção de medidas – guarda, retenção e destruição de informações e documentos, por exemplo. Isso para que, se algum problema surgir, a empresa/instituição tenha condições de demonstrar a eficácia do seu programa, sua efetividade e seus esforços para garantir que as regras sejam cumpridas. 6) Conduzir programas de treinamento. Não é suficiente que as normas sejam escritas e apenas aguardar que os funcionários as cumpram, é necessário educá-los, respeitando, é claro, seus limites – sejam eles culturais, intelectuais ou até formais. 7) Iniciativa de respostas às infrações detectadas e desenvolvimento de ações corretivas. O compliance officer, ao ter ciência de indícios ou suspeitas de infrações, deverá iniciar um processo a partir da investigação imediata a fim de averiguar se houve ou não a violação suspeita e tomar atitudes em caso positivo (plano de ação, devolução de valores e contato com autoridades). 8) Medir a efetividade do programa de compliance, através do constante monitoramento. Em síntese, o agente de compliance deve apresentar as seguintes características primordiais: Conselheiro: uso de conhecimentos técnicos e experiência para apoiar, orientar e responder de maneira adequada às dúvidas que possam surgir. Facilitador: é necessário que se coloque ao lado dos demais participantes da empresa, na busca por soluções cabíveis, atingindo os objetivos da área e garantindo a presença dos princípios éticos da integridade em todos os setores. Defensor: há situações em que deverá agir, estando preparado para defender os princípios do programa de integridade de forma integral, inclusive em detrimento de seu empregador. Sensibilizador: uso de seu poder de argumentação para reunir argumentos convincentes, a fim de alinhar funcionários na mesma direção proposta no programa de compliance. 10 Embora não haja disposição específica na norma a respeito, o profissional de integridade pode ser arrolado criminalmente por sua omissão ou desídia na função. No caso da famosa Ação Penal n. 470, julgada no ano de 2013, pelo Supremo Tribunal Federal, mais conhecida como o caso do “Mensalão”, o ministro Celso de Mello, ao tratar de um dos condenados, considerado compliance officer do Banco Rural, fez questão de salientar em desfavor do sujeito que ele era da “área de controle e compliance”, com vinculação direta nas fraudes no sistema de prevenção à lavagem de dinheiro. Portanto, é evidente a responsabilidade desta função, que deve ser cometida a um profissional de experiência e visão sistêmica da empresa, com o apoio da alta administração e a diligência de valores não somente internos, mas de toda a sociedade na qual estão inseridas as partes envolvidas. TEMA 3 – AVALIANDO UM PROGRAMA DE COMPLIANCE Instalado o programa de compliance dentro da empresa e definido um agente de compliance, deve-se dar início a efetiva promoção da integridade. Nesse sentido, uma das principais preocupações quando se promove a discussão e implantação do compliance consiste na criação de programas que não sejam nominais ou “de fachada”; em outras palavras, aqueles criados apenas para simular um interesse em comprometimento. A adoção de um programa formal não significa que a empresa esteja efetivamente preocupada com o cumprimento da lei ou que esse programa seja realmente eficaz. Todavia, medir a eficácia de um programa de compliance não é tarefa fácil, especialmente porque não existem instrumentos hábeis a medir tais programas em nosso cenário atual, pois a maior parte deles encontra-se em fase preliminar se comparados àqueles vigentes nos Estados Unidos ou na Europa. Podem ser utilizados um ou mais tipos de procedimentos de revisão, levando em consideração o contexto em que são aplicados e também para identificar e avaliar riscos de conduta, ou servir como efetivo teste de controle. Alguns exemplos são: Inspeção de informações ou dados: com exame de registros ou documentos, seja de forma impressa ou eletrônica. Tal conduta fornece elementos de variáveis graus de confiabilidade, conforme sua natureza e fonte, e, no caso de registros e documentos internos, da eficácia dos controles sobre seu preparo. 11 Observação: é a análise de um processo executado por um terceiro. É limitada ao momento em que ocorre, podendo ser prejudicada pela observação estritamente no momento em que certa atividade é executada. Indagação: consiste na busca de informações de pessoas conhecedoras dos procedimentos e controles. Pode ser formulada de forma escrita ou verbal. Nesse último caso, as perguntas devem considerar o conhecimento, a experiência, responsabilidade e qualificações da pessoa entrevistada. Também devem ser formuladas de forma clara, concisa e objetiva, ouvindo o colaborador de forma ativa e eficaz. O chamado walkthrough avalia o entendimento acerca dos controles, bem como a eficácia do desenho programático de cada um dos processos implementados, demonstrando: o fluxo do processo, incluindo principais entradas e saídas; as operações iniciadas, registradas, processadas e relatadas; o desenvolvimento dos controles, especialmente aqueles relacionados à prevenção e detecção de fraudes; a integridade dos subprocessos, averiguando se há distorções observáveis; e o impacto das operações com as partes envolvidas. Os programas de compliance são contínuos e complexos, envolvendo diversas atribuições, e cada uma delas merece uma forma de avaliação específica. Em outras palavras, a implantação, a elaboração dos códigos de conduta e procedimentos, a fase de treinamentos, a compreensão da administração e dos demais colaboradores acerca das ferramentas, e o próprio compliance do compliance merecem a devida atenção na fase de monitoramento e avaliação. O decreto que regulamenta a Lei Anticorrupção previu como critérios de efetividade do programa de integridade o aprimoramento e monitoramento contínuo, para obtenção do benefício de redução de sanções, inclusive para celebração de acordos de leniência (art. 37, IV e art. 42, XV, Decreto n. 8420/2015). Ziliotto e Castro (2019), mencionam a “interação entre as três linhas de defesa” como uma das fontes que apoiam o monitoramento do programa de integridade. A primeira linha defesa é aquela que traz as dificuldades, críticas e dúvidas dos colaboradores envolvidos nos processos estabelecidos pelo programa de compliance. Também trazem novas leis que devem ser aplicadas na empresa, com adequação dos regulamentos internos. 12 A segunda linha apresenta sugestões de melhoria, ineficiências e inadequações identificadas na primeira linha de defesa, dando suporte às áreas que estão com dificuldades na implantação do programa, ou àquelasque ainda não se ajustaram efetivamente às orientações programáticas. Finalmente, a terceira linha de defesa apresenta os gaps e pontos de auditoria levantados em face das linhas de defesa anteriores, traduzindo a eficácia dos controles estabelecidos pelo programa. A interação entre essas três equipes (ou comitês) demonstra à alta administração a necessidade de melhorias e aprimoramentos a dar eficácia ao programa estabelecido pelo setor competente. O desenvolvimento de indicadores de desempenho também tem a função de avaliar de forma objetiva a evolução do programa de integridade, apresentando quais pontos necessitariam de melhoria ou aprofundamento, aferindo a sua efetividade. A ISO-ABNT 19600:2014 traz a importância da adoção desses indicadores, demonstrando que sua elaboração é um desafio, mas representa parte vital para demonstração da eficácia do sistema de gestão de compliance. A propósito, sobre a ISO (International Organization for Standardization), é oportuno mencionar que, como o próprio nome diz, trata-se de uma entidade internacional de padronização e normatização criada em Genebra, na Suíça, em 1947. Nas décadas de 1980 e 1990, sua marca foi amplamente popularizada, com as normas da Qualidade (ISO 9001) e Meio Ambiente (ISO 14001). Elas contribuíram decisivamente para a disseminação da cultura destes temas, facilitando para as empresas adotarem práticas efetivas a fim de alcançarem objetivos fundamentais, até então desprezados. No Brasil, a ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas – atua como difusora das normas ISO, inclusive por ter participado da criação da entidade internacional. Diversas obras a respeito do tema de compliance trazem outras e mais aprofundadas formas de monitoramento e avaliação do programa, e merecem atenta leitura para o dia a dia das empresas participantes das políticas anticorrupção e de integridade. TEMA 4 – GESTÃO DE RISCOS Risco nada mais é do que a possibilidade de ocorrência de um evento que tenha impactos negativos, provocando perda ou dano, ou, ainda, por consequência, o acionamento do sistema de responsabilidades. Risco difere de incerteza, porque é entendido como um conjunto de probabilidade e analisado sob 13 a perspectiva de um resultado desfavorável, ao passo que a incerteza é analisada em uma perspectiva de resultado favorável (Ferreira, 2016). Do ponto de vista da gestão de riscos, é a maior das preocupações, devendo ser o objetivo máximo evitá-los; ou, em última análise, evitar que haja impacto significativo no cumprimento dos objetivos visados pelos gestores. O grau de risco é a medida do tamanho ou da relevância do risco. Normalmente, é o produto probabilidade de ocorrência x impacto (financeiro ou jurídico). A gestão de riscos é caracterizada por ser uma estratégia relevante para a organização, para que ela encontre o equilíbrio, com enfoque maior em uma atuação preventiva, buscando a mitigação máxima dos riscos e assegurando, ao final, sua sustentabilidade. Somente com o conhecimento do risco é que poderá a empresa ou o órgão exercer boa governança, posto que a noção do risco deve estar inserida dentro de seu enfrentamento diário. Segundo o Decreto n. 9203/2017, aplicável à Administração Pública, gestão de riscos é um processo de natureza permanente, estabelecido, direcionado e monitorado pela alta administração, que contempla as atividades de identificar, avaliar e gerenciar potenciais eventos que possam afetar a organização, destinado a fornecer segurança razoável quanto à realização dos seus objetivos. (Brasil, 2017) Após definirmos o que são riscos e estabelecermos que o gestor precisa evitá-los por meio de gestão e manejo eficientes, é preciso traçar a melhor estratégia de controle. A ideia é que o sistema instalado dê prioridade às ações estratégicas de prevenção da ocorrência de perdas e danos, como medida apta a evitar o acionamento dos mencionados sistemas de responsabilidade. Assim, quanto mais incerteza houver no risco, maior e mais complexa será a estratégia utilizada pelo gestor em sua implementação. Resumidamente, para cada risco identificado e mensurado, cabe definir uma estratégia a ser adotada. Visa-se, portanto, a estruturação de uma matriz de riscos, uma ferramenta importantíssima para a gestão e boa governança. Ela permite aos gestores mensurar, avaliar e ordenar os eventos de riscos que podem afetar o alcance dos objetivos do processo da unidade e, consequentemente, os objetivos estratégicos. Dessa forma, identificado o risco pelo gestor, o primeiro passo para o gerenciamento dos riscos é a estruturação de uma matriz de riscos. Nela, serão calculados os riscos e probabilidade de ocorrência dos impactos, que serão classificados em diversos níveis. 14 Desse modo, a probabilidade de ocorrência do evento será desdobrada em distintos graus: i) quase certo; ii) relativamente possível; e iii) pouco provável; e impactos ou consequência da ocorrência de dados eventos, que podem ser mensurados em: i) impactos de pequenas consequências; ii) impactos de consequências médias; e iii) impactos de consequências graves ou extremas. Feita essa identificação, caberá tomar uma das seguintes decisões em relação ao risco: Aceitação: Não fazer nada. Quando o risco se materializar, apenas lidar com suas consequências. Normalmente, esta estratégia é adotada em riscos de grau baixo ou casos em que qualquer estratégia adotada teria um custo muito superior do que a materialização do risco. Eliminação: Afastar toda e qualquer possibilidade de o risco vir a se materializar. A única forma possível de efetivar tal media é eliminando a fonte do risco. É uma estratégia radical e raramente utilizada. Controle ou minimização: Aplicar mecanismos de controle para que se diminua o grau do risco inerente para níveis aceitáveis. Transferência: Fazer, por exemplo, um seguro, passando o custo do risco para um terceiro, que comumente cobrará um prêmio por aceitá-lo. Importante destacar que o seguro não muda o grau do risco, mas apenas diminui o prejuízo em caso de materialização. Com a estruturação da matriz de riscos, será exercido o controle interno da gestão. Este será implementado, mantido, monitorado e revisado, tendo como escopo a identificação, a avaliação e o gerenciamento de eventuais riscos que possam impactar a consecução dos objetivos estabelecidos pelo gestor. A título de comparação, a governança pública passa necessariamente pela existência e efetividade desse controle interno. Inclusive, o art. 70, caput, da Constituição Brasileira, traz esta previsão, retomando-o no art. 74, que fixa o dever de os Estados Federados, em cada esfera de poder, criarem uma estrutura integrada de controle interno. Seja no âmbito público ou privado, o destaque dado aos órgãos imbuídos de realizar esse controle e zelar pela integridade diz muito sobre o efetivo comprometimento da pessoa jurídica. Por exemplo, a criação de secretarias e controladorias eficientes, retirando-lhe a hierarquia não somente jurídica, mas também política; ou a criação de um setor de compliance isento e com autonomia dentro da empresa. 15 TEMA 5 – COMPLIANCE PÚBLICO: VISÃO GERAL Como as entidades públicas, da administração direta ou indireta, têm a obrigação de realizar a proteção de dados, evidentemente também devem dar o exemplo e utilizar sua estrutura de governança, com a implantação de práticas de compliance em seu dia a dia. Aqui cabem algumas breves considerações sobre a adoção da prática do compliance no ambiente público, que apesar do enfoque notadamente voltado às políticas anticorrupção, também deve começar a preocupar-se (aliás, com a devida antecipação e planejamento) com as questões de segurança acerca dos muitos dados que manipula cotidianamente, em todos os seus diversos setores. Respeitando o princípio da legalidade,é imprescindível analisarmos as normas que tratam do tema nos recentes movimentos no tocante à regulamentação de programas de integridade. As iniciativas legislativas atestam, ainda que de forma embrionária, a conscientização de alguns agentes políticos no sentido da necessidade de aprimoramento estatal e fortalecimento dos princípios constitucionais para proteção da sociedade. Alguns estados da Federação recentemente aprovaram leis no sentido de exigir a introdução de programas de compliance nas empresas que participam de licitações e, mais que especial, contratam com o Poder Público. É o caso da Lei Estadual n. 7.753/2017 – RJ; da Lei Estadual n. 10.793/2017 – ES; e da Lei Distrital n. 6.112/2018 – DF, entre outras. Há também leis de âmbito municipal, como em Vila Velha, no Espírito Santo (Lei n. 6050/2018) e, em diversos outros municípios há tramitação de projetos de lei, como em Curitiba, no Paraná (005.00115.2019), Joinville, Santa Catarina (Projeto de Lei n. 431/2017, ainda em tramitação), e São Paulo (PL n. 723/2017). Na Administração Pública indireta, também se encontram algumas normas específicas a respeito da necessidade da implantação de programas nas empresas que participam de certames, por exemplo, a Portaria n. 877/2018, do Ministério de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), e, na Petrobras, o Regulamento de Licitações e Contratos. Torna-se evidente, portanto, que as inúmeras normas aqui referidas apontam para um caminho sem volta à obrigatoriedade de implementação de programas de integridade e compliance nas empresas privadas do Brasil que pretendam contratar com o Poder Público. Trata-se de uma mudança cultural da 16 atuação das empresas, pautada em princípios éticos e voltada para uma maior transparência nas negociações com o Estado. Por outro lado, quando se fala na implantação de programas de integridade no próprio órgão público, a conscientização e enfrentamento também começam a ganhar seu despertar, ainda que de forma aparentemente mais tímida. É o caso das normas estaduais 19.857/2019 – PR, 39.736/2019 – DF, 9.406/2019 – GO (Decreto), 17.715/2019 – SC e 10.691/2018 – do Mato Grosso. O Governo Federal realizou importante movimento nesse sentido por meio da edição do Decreto n. 9.203, de 22 de novembro de 2017, cuja ementa esclarece que o texto trata da implantação da política de governança no âmbito da Administração Pública Direta, autárquica e fundacional. O decreto define governança pública como sendo o conjunto de mecanismos de liderança, estratégia e controle posto em prática para avaliar, direcionar e monitorar a gestão, com vistas à condução de políticas públicas e à prestação de serviços de interesse da sociedade (Brasil, 2017). Já o art. 20-A do Decreto 9.203 orienta que a Controladoria-Geral da União estabelecerá os procedimentos necessários à estruturação, execução e monitoramento do compliance nos órgãos e entidades da administração pública federal direta, autárquica e fundacional. Em 25 de abril de 2018, foi publicada a Portaria CGU n. 1.089, que conceituou as expressões programa de integridade e riscos para a integridade, dividindo a implantação do programa em três fases: a primeira para constituição de uma unidade específica de gestão da integridade; a segunda para elaboração dos planos de integridade, com o conteúdo textualmente definido na Portaria; e, finalmente, a terceira, que trata propriamente da implantação e monitoramento do programa implantado (Brasil, 2018). O programa de integridade é definido pela Portaria como um “conjunto estruturado de medidas institucionais voltadas para a prevenção, detecção, punição e remediação de fraudes e atos de corrupção, em apoio à boa governança”. (Brasil, 2018). Em outras palavras, a adoção das mais modernas práticas de lisura, transparência e boa-fé por parte dos entes públicos é uma medida imprescindível e inafastável, que atende e corrobora para um Estado mais eficiente e protetor de práticas éticas, morais e sustentáveis. A legalidade estrita não é suficiente para regular, ou balizar, a Administração Pública, por isso existem outros princípios e regras hermenêuticas (de interpretação), para atuação eficiente do agente público, seja servidor ou 17 autoridade política. A ideia que se pretende implementar na Administração Pública é a noção de “responsividade estatal” e atuação profissional1, portanto, mais e mais se faz necessária uma postura firme e ética com relação à integridade e conformidade dos valores que o Estado deve veicular. 1 Nesse sentido, Castro (2019, p. 39) aponta que: “sob a ótica da evolução de um modelo de Estado Gerencial, é importante destacar que há que se revelar uma necessária postura responsável do Estado (noção de responsividade), em que não apenas importa o atingimento do fim, mas uma conjugação entre a eficiência estatal e o melhor resultado possível, com a total assunção das responsabilidades do Estado na condução dessa solução”. 18 REFERÊNCIAS ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Disponível em: <www.abnt.org.br>. Acesso em: 25 nov. 2019. BERTOCCELLI, R. de P. Compliance. In: CARVALHO, A. C. et al. (Coord.). Manual de compliance. Rio de Janeiro: Forense, 2019. BRASIL. Constituição (1988). 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