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27PROMILITARES.COM.BR
GÊNEROS LITERÁRIOS: UM ESTUDO DOS 
GÊNEROS NARRATIVO E DRAMÁTICO
No módulo anterior, aprendemos as características do gênero 
lírico, bem como do gênero épico. Percebemos, além disso, que o 
estudo dos gêneros literários leva em consideração as estruturas fixas 
de um texto sem associá-lo a uma escola literária. 
Neste módulo, analisaremos os textos que foram escritos para 
contar uma história e também para serem encenados. Quais são os 
elementos necessários para narrar uma história? Como podemos 
organizar e estruturar um texto a fim de transformá-lo em peça 
teatral? 
GÊNERO NARRATIVO
Nomeamos por gênero narrativo os textos que têm por objetivo 
narrar uma ficção. No texto narrativo, o autor cria um mundo ficcional 
em que personagens, inseridos em um tempo e espaço específicos, 
desenvolvem ações (enredo) que serão contadas em primeira ou 
terceira pessoa por narrador. 
Vejamos, então, os elementos necessários para elaborar uma 
narrativa ficcional.
ENREDO
É a sequência de ações (trama) que será desenvolvida em uma 
história.
NARRADOR
Ser de caráter ficcional (faz parte da narrativa) que relata a história.
FOCO NARRATIVO
1ª PESSOA
O narrador está inserido na trama e dela participa de forma 
integral ou parcial. 
• Narrador personagem principal: conta a própria história, 
contaminando a narrativa com a sua visão pessoal sobre o fato 
narrado. Veja o exemplo extraído do capítulo inicial do livro Dom 
Casmurro:
Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei 
no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e 
de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da Lua 
e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os 
versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, 
que, como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto 
bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso. 
• Narrador personagem secundário: não é o protagonista da 
obra, mas está perto dele. Observe o exemplo retirado do livro Um 
estudo em vermelho que narra as peripécias de Sherlock Holmes:
Encontramo-nos no dia seguinte, conforme o combinado, e 
fomos ver o apartamento no número 221-B da Baker Street, que 
consistia em dois confortáveis quartos de dormir e uma espaçosa 
sala de estar, alegremente mobiliada e iluminada por duas amplas 
janelas. Ele preenchia tão bem as nossas necessidades e seu preço 
era tão módico, dividido por dois, que imediatamente o alugamos e 
recebemos a chave, Nessa mesma tarde mandei vir do hotel as minhas 
coisas, e na manhã seguinte Sherlock chegou com as suas várias 
caixas e maletas. Durante um dia ou dois estivemos ocupados com a 
arrumação dos nossos objetos pessoais. Feito isso, começamos, pouco 
a pouco, a nos adaptar ao nosso novo ambiente.
3ª PESSOA
O narrador está fora dos acontecimentos narrados, por isso, 
possui certo distanciamento da narrativa.
• Narrador onisciente: possui total ciência de tudo o que 
acontece, sendo assim, sabe com precisão dos sentimentos e dos 
pensamentos dos personagens. Analise o fragmento retirado do 
romance de Senhora de José de Alencar:
Aurélia concentra-se de todo dentro de si; ninguém ao ver essa 
gentil menina, na aparência tão calma e tranquila, acreditaria que 
nesse momento ela agita e resolve o problema de sua existência; e 
prepara-se para sacrificar irremediavelmente todo o seu futuro.
• Narrador observador: relata tudo que os olhos são capazes 
de observar, não sabe nada sobre o íntimo dos personagens. 
Possui olhar objetivo para descrever cenas e personagens. Veja o 
exemplo presente em Iracema de José de Alencar:
Iracema passou entre as árvores, silenciosa como uma sombra: seu 
olhar cintilante coava entre as folhas, qual frouxos raios de estrelas; 
ela escutava o silêncio profundo da noite e aspirava as auras sutis que 
aflavam. Parou. Uma sombra resvalava entre as ramas; e nas folhas 
crepitava um passo ligeiro, se não era o roer de algum inseto. A pouco 
e pouco o tênue rumor foi crescendo e a sombra avultou.
TIPOS DE DISCURSO
É como se caracteriza as diferentes formas que o narrador possui 
para apresentar as falas dos personagens.
DISCURSO DIRETO
É a transcrição fiel da fala dos personagens. É introduzido por meio 
de aspas, travessões e emprega verbos dicendi (verbos de elocução).
Exemplo:
Maurício saudou, com silenciosa admiração, esta minha vida 
avisada malícia. E imediatamente, para meu príncipe: - Há três anos 
que não te vejo Jacinto... Como tem sido possível, neste Paris que é 
um aldeola, e que tu atravancas?
DISCURSO INDIRETO
O narrador, em vez de retratar as falas de forma direta, as 
reproduz mediante o atributo de suas próprias palavras, colocando-se 
na condição de intermediário frente à ocorrência.
Exemplo:
Maurício disse que não via Jacinto há três anos.
DISCURSO INDIRETO LIVRE
As formas direta e indireta fundem-se por meio de um processo 
em que o narrador insere discretamente a fala ou os pensamentos do 
personagem em sua fala. Embora ele não participe da história, instala-
se dentro de suas personagens, confundindo sua voz com a delas.
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GÊNEROS LITERÁRIOS: UM ESTUDO DOS GÊNEROS NARRATIVO E DRAMÁTICO
PROMILITARES.COM.BR
Exemplo:
Olhava-a, abria-a e chegava mesmo a aspirar-lhe o perfume 
do forro, misto de verbena e de fumo. A quem pertenceria?... Ao 
Visconde. Era talvez presente da amante.
Observação
Alguns textos são narrados por meio do fluxo de consciência. Essa 
estratégia foi magistralmente desenvolvida pelo célebre escritor 
James Joyce, sendo um recurso estilístico muito valioso. Trata-
se de uma forma de narrar que apresenta diretamente todo o 
pensamento de uma personagem, expõe-se a história dentro da 
mente dela. Isso faz com que o desenrolar dos fatos se torne, por 
vezes, mais confuso para o leitor. Observe o fragmento retirado do 
livro A paixão segundo G.H. de Clarice Lispector:
A lembrança de minha pobreza em criança, com percevejos, 
goteiras, baratas e ratos, era de como um meu passado pré-
histórico, eu já havia vivido com os primeiros bichos da Terra. 
Uma barata? Muitas? Mas quantas?! Perguntei-me em cólera. 
Vagueei o olhar pelo quarto nu. Nenhum ruído, nenhum sinal: 
mas quantas? Nenhum ruído e, no entanto, eu bem sentia uma 
ressonância enfática, que era a do silêncio roçando o silêncio. A 
hostilidade me tomara. É mais do que não gostar de baratas: eu 
não as quero. Além de que são a miniatura de um animal enorme. 
A hostilidade crescia. 
Não fora eu quem repelira o quarto, como havia por um 
instante sentido à porta. O quarto, com sua barata secreta, é que 
me repelira. De início eu fora rejeitada pela visão de uma nudez 
tão forte como a de uma miragem; pois não fora a miragem de 
um oásis que eu tivera, mas a miragem de um deserto. Depois 
eu fora imobilizada pela mensagem dura na parede: as figuras de 
mão espalmada haviam sido um dos sucessivos vigias à entrada 
do sarcófago. E agora eu entendia que a barata e Janair eram os 
verdadeiros habitantes do quarto.
É como se o autor “largasse” a personagem, deixando-a entregue a 
si mesma, às suas divagações, resultando um texto que realiza uma 
associação livre de ideias, de feitio incoerente, desconexo, sem os 
nexos ou enlaces sintáticos de um texto “bem comportado”.  No 
fluxo de consciência o pensamento simplesmente flui, pois a 
personagem não pensa de maneira ordenada.
PERSONAGEM
Aqueles que desempenham as ações na narrativa.
TEMPO
O tempo tem papel imprescindível em uma narrativa. Situa-nos 
na história, seja ele o tempo marcado por datas e horas ou o tempo 
percebido pela personagem. A sua função é a de nos manter situados, 
de maneira que possamos entender melhor os fatos. 
TEMPO CRONOLÓGICO 
Marca-se de acordo com o ritmo do relógio, pelo movimento 
do sol, pelo calendário, estação do ano, etc. É um tempo objetivo e 
facilmente notado pelo leitor. 
Seriam nove horas do dia. Um sol ardente de março esbate-se nas 
venezianas que vestem as sacadasde uma sala, nas Laranjeiras
TEMPO PSICOLÓGICO
Não obedece à cronologia, ou seja, não mantém nenhuma 
relação com o tempo propriamente dito, ele transcorre no interior 
de cada personagem e é determinado pelo desejo ou imaginação do 
próprio personagem (ou do narrador), de acordo com suas vivências 
subjetivas, angústias e ansiedades. O tempo psicológico é o tempo 
interior e pode ser alongado ou encurtado de acordo com o estado de 
espírito em que se encontra, ele muda de pessoa para pessoa. 
Exemplo:
Os minutos voavam, ao contrário do que costumam fazer, quando 
são de espera; ouvi bater onze horas, mas quase sem dar por elas, 
um acaso.
ESPAÇO
É o ambiente por onde circulam personagens e onde se desenrola 
o enredo. 
Exemplo:
No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa 
gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um 
momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo 
do Uraricoera, que a índia, tapanhumas pariu uma criança feia. Essa 
criança é que chamaram de Macunaíma.
GÊNERO DRAMÁTICO
A palavra “drama” vem do grego e significa “ação”. Ao gênero 
dramático pertencem os textos, em poesia ou em prosa, feitos para 
serem encenados. Por isso, os atores possuem muita importância, já 
que a instância de enunciação é a própria fala do personagem, 
conduzindo o público para dentro da trama e apresentando os 
acontecimentos. 
A essência do teatro é, então, a ação direta das personagens, que 
se manifesta em suas próprias falas. Na Antiguidade e na Idade Média, 
as peças dramáticas organizavam as falas em versos. A partir do 
Romantismo, o verso foi cedendo lugar para a estrutura em formato 
de prosa. 
Além das falas que são marcadas pelo discurso direto, as 
didascálias (rubricas) são recursos usados. Servem como uma espécie 
de anotação, indicando aos atores e aos outros funcionários do teatro, 
detalhes da cena. Aparecem sempre grafadas de forma diferente seja 
por meio de letras maiúsculas, seja em itálico, seja entre parênteses. 
Observe o exemplo a fim de entender melhor a estrutura.
SEGUNDO QUADRO
Uma sala da prefeitura. O ambiente é modesto. Durante a 
mutação, ouve-se um dobrado e vivas a Odorico, “viva o prefeito” etc. 
Estão em cena Dorotéa, Juju, Dirceu, Dulcinéa, o vigário e Odorico. 
Este último, à janela, discursa.
ODORICO – Povo sucupirano! Agoramente já investido no cargo 
de Prefeito, aqui estou para receber a confirmação, a ratificação, a 
autenticação e por que não dizer a sagração do povo que me elegeu.
Aplausos vêm de fora.
ODORICO – Eu prometi que o meu primeiro ato como prefeito 
seria ordenar a construção do cemitério.
Aplausos, aos quais se incorporam as personagens em cena.
ODORICO – (Continuando o discurso:) Botando de lado os 
entretantos e partindo pros finalmente, é uma alegria poder anunciar 
que prafrentemente vocês lá poderão morrer descansados, tranquilos 
e desconstrangidos, na certeza de que vão ser sepultados aqui mesmo, 
nesta terra morna e cheirosa de Sucupira. E quem votou em mim, 
basta dizer isso ao padre na hora da extrema-unção, que tem enterro 
e cova de graça, conforme o prometido.
GOMES, D. O bem amado. Rio de Janeiro: Ediouro, 2012.
No fragmento da peça, os termos entre parênteses e em itálico 
são as rubricas. É importante notar também que o texto se organiza 
em falas.
O gênero dramático compreende as seguintes modalidades:
• Tragédia: representação de um fato trágico, suscetível de 
despertar compaixão e terror. 
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GÊNEROS LITERÁRIOS: UM ESTUDO DOS GÊNEROS NARRATIVO E DRAMÁTICO
PROMILITARES.COM.BR
• Comédia: representação de um fato inspirado na vida e no 
sentimento comum, de riso fácil, em geral criticando costumes.
• Tragicomédia: mistura-se elementos trágicos e cômicos.
• Farsa: pequena peça teatral de caráter caricatural, que critica a 
sociedade e os costumes. Ela baseia-se no lema latino Ridendo 
castigat mores (Rindo, castigam-se os costumes) e ganha maior 
espaço na Idade Média 
• Auto: uma peça curta, geralmente de conteúdo religioso ou 
profano, e, sobretudo, simbólico, uma vez que seus personagens 
não eram humanos, e sim, entidades abstratas, caracterizadas 
pela hipocrisia, bondade, luxúria, virtude, dentre outras. Eram 
representadas por ocasião das grandes festas religiosas, nos 
pátios, no interior das igrejas e nas praças.
EXERCÍCIOS DE
FIXAÇÃO
01. Leia.
MORTE E VIDA SEVERINA
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas
e iguais também porque o sangue,
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
(João Cabral de Melo Neto)
Em “Morte e Vida Severina”, o drama do homem nordestino aparece 
como símbolo da condição humana. O poema foi escrito para ser 
encenado no teatro e seu subtítulo (Auto de Natal pernambucano) 
registra as influências que a estrutura do texto medieval exercia sobre 
João Cabral de Melo Neto em sua elaboração poética. Considerando 
o trecho anterior e a intenção do autor ao escrevê-lo, as características 
do gênero dramático estão presentes na
a) composição dramática dos povos subdesenvolvidos em busca da 
libertação.
b) composição literária destinada à apresentação por atores no 
palco.
c) presença de personagens que estão interligados com a situação 
de exclusão social.
d) trajetória do retirante Severino em busca por melhores condições 
de vida.
e) Visão que o autor deseja expor, dialogando com outros textos de 
cunho dramático.
02. Leia o texto a seguir, retirado de O auto da compadecida, de 
Ariano Suassuna.
PADRE: - É, você não vê mal nenhum, mas quem me garante que 
o bispo também não vê?
SACRISTÃO: - O bispo?
PADRE: - Sim, o bispo. É um grande administrador, uma águia a 
quem nada escapa.
JOÃO GRILO: - Ah, é um grande administrador? Então pode 
deixar tudo por minha conta, que eu garanto.
PADRE: - Você garante?
JOÃO GRILO: - Garanto. Eu teria medo se fosse o anterior, que era 
um santo homem. Só o jeito que ele tinha de olhar para a gente me 
fazia tirar o chapéu. Mas com esses grandes administradores eu me 
entendo que é uma beleza. [...]
(SUASSUNA, Ariano. Auto da compadecida. Rio de Janeiro: Agir, 1976. - Fragmento)
O texto é classificado, de acordo com os gêneros literários tradicionais, 
como pertencente ao gênero dramático. Uma característica que 
justifica essa classificação é
a) a ausência de um narrador onisciente, que conte toda a história 
para o público.
b) a designação da fala do personagem, com o respectivo nome no 
início da linha.
c) a utilização do discurso direto, com a reprodução integral das 
falas dos personagens.
d) o diálogo entre pessoas comuns, do povo, como representação 
da cultura popular.
e) o uso de metáforas, tais como na frase “uma águia a quem nada 
escapa.”
03. Um homem foi bater à porta do rei e disse-lhe: “Dá-me um barco”. 
A casa do rei tinha muitas mais portas, mas aquela era a das petições. 
Como o rei passava todo o tempo sentado à porta dos obséquios 
(entenda-se, os obséquios que lhe faziam a ele), de cada vez que ouvia 
alguém a chamar à porta das petições fingia-se desentendido, e só 
quando o ressoar contínuo da aldraba de bronze se tornava, mais do 
que notório, escandaloso, tirando o sossego à vizinhança (as pessoas 
começavam a murmurar: “Que rei temos nós, que não atende”), é 
que dava ordem ao primeiro-secretário para ir saber o que queria o 
impetrante, que não havia maneira de se calar.
(SARAMAGO, José. O Conto da Ilha Desconhecida. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.)
O narrador presente no fragmento classifica-se como
a) intruso.
b) observador.
c) onisciente.
d) protagonista.
e) testemunha.
04. Leia o texto a seguir e resolva a questão
SEXA
- Pai…
- Hmmm?- Como é o feminino de sexo?
- O quê?
- O feminino de sexo.
- Não tem.
- Sexo não tem feminino?
- Não.
- Só tem sexo masculino?
- É. Quer dizer, não. Existem dois sexos. Masculino e feminino.
- E como é o feminino de sexo?
- Não tem feminino. Sexo é sempre masculino.
- Mas tu mesmo disse que tem sexo masculino e feminino.
- O sexo pode ser masculino ou feminino. A palavra “sexo” é 
masculina. O sexo masculino, o sexo feminino.
- Não devia ser “a sexa”?
- Não.
- Por que não?
- Porque não! Desculpe. Porque não. “Sexo” é sempre masculino.
- O sexo da mulher é masculino?
- É. Não! O sexo da mulher é feminino.
- E como é o feminino?
- Sexo mesmo. Igual ao do homem.
- O sexo da mulher é igual ao do homem?
- É. Quer dizer… Olha aqui. Tem o sexo masculino e o sexo 
feminino, certo?
- Certo.
- São duas coisas diferentes.
- Então como é o feminino de sexo?
- É igual ao masculino.
- Mas não são diferentes?
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GÊNEROS LITERÁRIOS: UM ESTUDO DOS GÊNEROS NARRATIVO E DRAMÁTICO
PROMILITARES.COM.BR
- Não. Ou, são! Mas a palavra é a mesma. Muda o sexo, mas não 
muda a palavra.
- Mas então não muda o sexo. É sempre masculino.
- A “palavra” é masculina.
- Não. “A palavra” é feminina. Se fosse masculina seria “O pal…”
- Chega! Vai brincar, vai.
O garoto sai e a mãe entra. O pai comenta:
- Temos que ficar de olho nesse guri…
- Por quê?
- Ele só pensa em gramática.
(Luís Fernando Veríssimo)
Sobre os elementos estruturais da narrativa do texto “Sexa”, de Luís 
Fernando Veríssimo confirma-se pela leitura que
a) a ausência do narrador distancia o texto do gênero narrativo, 
aproximando-o do gênero dramático.
b) as personagens são redondas, imprevisíveis, com grande 
complexidade comportamental.
c) o enredo se constrói pelas várias possibilidades interpretativas dos 
discursos de pai e filho.
d) o foco narrativo é em 1ª pessoa, partindo da dúvida que o menino 
tem quanto ao gênero da palavra.
e) o tempo é psicológico, dependente dos pensamentos do pai do 
garoto.
TEXTO PARA AS QUESTÕES 05 E 06:
PRIMEIRO ATO
PRIMEIRO QUADRO
Zé-do-Burro vai até o centro da praça e aí pousa a sua cruz, 
equilibrando-a na base e num dos braços, como um cavalete. Está 
exausto. Enxuga o suor da testa. 
ZÉ: (Olhando a igreja) É essa. Só pode ser essa.
(Rosa para também, junto aos degraus, cansada, enfastiada e 
deixando já entrever uma revolta que se avoluma).
ROSA: E agora? Está fechada.
ZÉ: É cedo ainda. Vamos esperar que abra.
ROSA: Esperar? Aqui?
ZÉ Não tem outro jeito.
ROSA: (Olha-o com raiva e vai sentar-se num dos degraus. Tira o 
sapato). Estou com cada bolha d’água no pé que dá medo.
ZÉ: Eu também. (Contorce-se num rítus de dor. Despe uma das 
mangas do paletó). Acho que os meus ombros estão em carne viva.
ROSA: Bem feito. Você não quis botar almofadinhas, como eu 
disse.
ZÉ: (Convicto) Não era direito. Quando eu fiz a promessa, não falei 
em almofadinhas.
ROSA: Então: se você não falou, podia ter botado; a santa não ia 
dizer nada.
ZÉ: Não era direito. Eu prometi trazer a cruz nas costas, como 
Jesus. E Jesus não usou almofadinhas.
ROSA: Não usou porque não deixaram.
ZÉ: Não, nesse negócio de milagres, é preciso ser honesto. Se 
a gente embrulha o santo, perde o crédito. De outra vez o santo 
olha, consulta lá os seus assentamentos e diz: - Ah, você é o Zé-
do-Burro, aquele que já me passou a perna! E agora vem me fazer 
nova promessa. Pois vá fazer promessa pro diabo que o carregue, seu 
caloteiro duma figa! E tem mais: santo é como gringo, passou calote 
num, todos os outros ficam sabendo.
ROSA: Será que você ainda pretende fazer outra promessa depois 
desta? Já não chega?...
ZÉ: Sei não... a gente nunca sabe se vai precisar. Por isso, é bom 
ter sempre as contas em dia. (Ele sobe um ou dois degraus. Examina a 
fachada da igreja à procura de uma inscrição). 
ROSA: Que é que você está procurando?
ZÉ: Qualquer coisa escrita... pra a gente saber se essa  é mesmo a 
igreja de Santa Bárbara.
ROSA: E você já viu igreja com letreiro na porta, homem?
ZÉ: É que pode não ser essa...
ROSA: Claro que é essa. Não lembra o que o vigário disse? Uma 
igreja pequena, numa praça, perto duma ladeira...
ZÉ: (Corre os olhos em volta) Se a gente pudesse perguntar a 
alguém...
ROSA: Essa hora está todo o mundo dormindo. (Olha-o quase 
com raiva). Todo o mundo... menos eu, que tive a infelicidade de me 
casar com um pagador de promessas. (Levanta-se e procura convencê-
lo). Escute, Zé... já que a igreja está fechada, a gente podia ir procurar 
um lugar pra dormir. Você já pensou que beleza agora uma cama?...
ZÉ: E a cruz?
ROSA: Você deixava a cruz aí e amanhã, de dia...
ZÉ: Podem roubar...
ROSA: Quem é que vai roubar uma cruz, homem de Deus? Pra 
que serve uma cruz?
ZÉ: Tem tanta maldade no mundo. Era correr um risco muito 
grande, depois de ter quase cumprido a promessa. E você já pensou; 
se me roubassem a cruz, eu ia ter que fazer outra e vir de novo com 
ela nas costas da roça até aqui. Sete léguas.
ROSA: Pra quê? Você explicava à santa que tinha sido roubado, 
ela não ia fazer questão.
ZÉ: É o que você pensa. Quando você vai pagar uma conta no 
armarinho e perde o dinheiro no caminho, o turco perdoa a dívida? 
Uma ova!
ROSA: Mas você já pagou a sua promessa, já trouxe uma cruz de 
madeira da roça até à igreja de Santa Bárbara. Está aí a igreja de Santa 
Bárbara, está aí a cruz. Pronto. Agora, vamos embora.
ZÉ: Mas aqui não é a igreja de Santa Bárbara. A igreja é da porta 
pra dentro.
ROSA: Oxente! Mas a porta está fechada e a culpa não é sua. 
Santa Bárbara deve saber disso, que diabo.
ZÉ: (Pensativo) Só se eu falasse com ela e explicasse a situação...
ROSA: Pois então... fale!
ZÉ: (Ergue os olhos para o céu, medrosamente e chega a entreabrir 
os lábios, como se fosse dirigir-se à santa. Mas perde a coragem) Não, 
não posso...
ROSA: Por que, homem?! Santa Bárbara é tão sua amiga... Você 
não está em dia com ela?
ZÉ: Estou, mas esse negócio de falar com santo é muito 
complicado. Santo nunca responde em língua da gente... não se pode 
saber o que ele pensa. E além do mais, isso também não é direito. Eu 
prometi levar a cruz até dentro da igreja, tenho que levar. Andei sete 
léguas. Não vou me sujar com a santa por causa de meio metro.
ROSA: E pra você não se sujar com a santa, eu vou ter que dormir 
no chão, no “hotel do padre”. (Olha-o com raiva e vai deitar-se num 
dos degraus da escada da igreja). E se tudo isso ainda fosse por 
alguma coisa que valesse a pena...
ZÉ: Você podia não ter vindo. Quando eu fiz a promessa, não falei 
em você, só na cruz.
ROSA: Agora você diz isso. Dissesse antes...
ZÉ: Não me lembrei. Você também não reclamou...
ROSA Sou sua mulher. Tenho que ir pra onde você for...
ZÉ: Então... [...]
(Disponível em: <http://www.clickfacil.net/cf_conteudo)
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GÊNEROS LITERÁRIOS: UM ESTUDO DOS GÊNEROS NARRATIVO E DRAMÁTICO
PROMILITARES.COM.BR
05. No texto acima, é possível perceber vivamente o que está 
acontecendo com as personagens. Trata-se da abertura da peça O 
Pagador de Promessas (1959), de Dias Gomes (1922-1999). O teatro 
pertence ao gênero dramático.
Sobre o fragmento que você leu e sobre esse gênero, constata-se que
a) a ação imprime dinamismo ao texto dramático, que apresenta 
maior fluidez de leitura, quanto mais curtas são as falas das 
personagens e quanto mais breves são as inserções do narrador.
b) a comédia, o drama, o auto, a farsa, a tragédia, são manifestações 
do gênero dramático. Pela forma que se estabelece o diálogo 
entre Zé e Rosa, pode-se inferir que o texto se trata de uma farsa.
c) promessa de Zé imprime um caráter religioso à peça, o que 
recupera elementos dos autos medievais, cujo contraponto 
profano é representado pela personagem Rosa.
d) as rubricas (indicações deixadas pelo autor, para os 
comportamentos dos atores) são o elemento mais importante do 
gênero dramático, e facilitam a compreensão do leitor.
e) o gênero dramático caracteriza-se pela ação. Daí o uso do discurso 
direto, dos verbos no presente e a facilidade de visualizara cena 
que ocorre entre Zé e Rosa.
06. Sobre o fragmento lido, conclui-se que:
a) Rosa e Zé compartilham da mesma fé, e por isso cumpriram a 
promessa de levar a cruz, de sua casa, na roça, até a igreja de 
Santa Bárbara.
b) Rosa representa a inocência da fé popular, acreditando que 
seu marido, Zé, pode “negociar” os elementos acordados da 
promessa dele com Santa Bárbara.
c) Rosa representa a visão machista do período (o texto é de 1959) 
de que uma esposa sempre deve estar ao lado do marido, e o 
fazia de boa vontade.
d) Zé representa a fé simples do povo, que crê no flagelo de algumas 
promessas e compara a relação homem-santo com as relações 
entre os homens.
e) Zé e Rosa divergem com relação à fé: enquanto esta é mais 
maleável e propensa a sacrifícios, aquele é mais objetivo e prático 
em relação aos compromissos assumidos.
07.
NO RESTAURANTE
– Quero lasanha.
Aquele anteprojeto de mulher – quatro anos, no máximo, 
desabrochando na ultraminissaia – entrou decidido no restaurante. 
Não precisava de menu, não precisava de mesa, não precisava de 
nada. Sabia perfeitamente o que queria. Queria lasanha.
O pai, que mal acabara de estacionar o carro em uma vaga de 
milagre, apareceu para dirigir a operação-jantar, que é, ou era, da 
competência dos senhores pais.
– Meu bem, venha cá.
– Quero lasanha.
– Escute aqui, querida. Primeiro, escolhe-se a mesa.
– Não, já escolhi. Lasanha.
Que parada – lia-se na cara do pai. Relutante a garotinha 
condescendeu em sentar-se primeiro, e depois encomendar o prato:
– Vou querer lasanha.
– Filhinha, por que não pedimos camarão? Você gosta tanto de 
camarão.
– Gosto, mas quero lasanha.
– Eu sei, eu sei que você adora camarão. A gente pede uma 
fritada bem bacana de camarão. Tá?
– Quero lasanha, papai. Não quero camarão.
– Vamos fazer uma coisa. Depois do camarão, a gente traça uma 
lasanha. Que tal?
– Você come o camarão e eu como lasanha.
O garçom aproximou-se, e ela foi logo instruindo:
– Quero lasanha.
O pai corrigiu:
– Traga uma fritada de camarão pra dois. Caprichada.
A coisinha amuou. Então não podia querer? Queriam querer em 
nome dela? Por que é proibido comer lasanha? Essas interrogações 
apenas se liam no seu rosto, pois os lábios mantinham reserva. 
Quando o garçom voltou com os pratos e o serviço, ela atacou:
– Moço, tem lasanha?
– Perfeitamente, senhorita.
O pai, no contra-ataque:
– O senhor providenciou a fritada?
– Já sim, doutor.
– De camarões bem grandes?
– Daqueles legais, doutor.
– Bem, então me vê um chinite, e para ela... O que é que você 
quer, meu anjo?
– Uma lasanha.
– Traz um suco de laranja para ela.
Com o chopinho e o suco de laranja, veio a famosa fritada de 
camarão, que, para a surpresa do restaurante inteiro, interessado no 
desenrolar dos acontecimentos, não foi recusada pela senhorita. Ao 
contrário, papou-a, e bem. A silenciosa manducação atestava, ainda 
uma vez, no mundo, a vitória do mais forte.
– Estava uma coisa, hem? – comentou o pai, com um sorriso bem 
alimentado – Sábado que vem a gente repete... Combinado?
– Agora a lasanha, não é, papai?
– Eu estou satisfeito. Uns camarões tão geniais! Mas você vai 
comer, mesmo?
– Eu e você, tá?
– Meu amor, eu...
– Tem de me acompanhar, ouviu? Pede a lasanha.
O pai baixou a cabeça, chamou o garçom, pediu. Aí, um casal, 
na mesa vizinha, bateu palmas. O resto da sala acompanhou. O pai 
não sabia onde se meter. A garotinha, impassível. Se, na conjuntura, o 
poder jovem cambaleia, vem aí, com força total, o poder ultrajovem.
(Carlos Drummond de Andrade. Disponível em: 
http://amorecultura.vilabol.uol.com.br/lasanha.htm )
Um texto é composto a partir de vários tipos de discursos: o discurso 
direto, quando a personagem se pronuncia diretamente; o discurso 
indireto, quando o narrador se pronuncia pela personagem; o indireto 
livre, em que pensamento e fala da personagem “amalgamam-se” ao 
discurso do narrador; e o próprio discurso do narrador.
No texto “No restaurante”, de Carlos Drummond de Andrade, existem 
os quatro tipos de discurso anteriormente descritos. A relação entre 
a expressão retirada do texto e a classificação de seu tipo de discurso 
(colocada entre parênteses) está adequada em:
a) “A coisinha amuou. Então não podia querer? Queriam querer em 
nome dela? Por que é proibido comer lasanha?” (discurso indireto 
livre)
b) “– Agora a lasanha, não é, papai? / – Eu estou satisfeito. Uns 
camarões tão geniais! Mas você vai comer, mesmo?” (discurso 
direto livre)
c) “– Estava uma coisa, hem? – comentou o pai, com um sorriso bem 
alimentado – Sábado que vem, a gente repete... Combinado?” 
(discurso do narrador)
d) “Não precisava de menu, não precisava de mesa, não precisava 
de nada. Sabia perfeitamente o que queria. Queria lasanha.” 
(discurso indireto livre)
e) “O pai baixou a cabeça, chamou o garçom, pediu. Aí, um casal, 
na mesa vizinha, bateu palmas. O resto da sala acompanhou.” 
(discurso direto)
32
GÊNEROS LITERÁRIOS: UM ESTUDO DOS GÊNEROS NARRATIVO E DRAMÁTICO
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08.
ROTINA
Carlos levantou-se, escovou os dentes, fez a barba, vestiu seu 
velho e amarrotado macacão de todos os dias. O dono do posto em 
que trabalhava o advertiu pelo atraso como fizera desde que o havia 
empregado. Só restou a Carlos sorrir um sorriso amarelo. O chefe 
nunca ligara para sua vida medíocre. Dia de pagamento, recebeu o 
que lhe garantia a sua miséria.
O tempo passou. O olhar de Carlos estava diferente: chegou 
ao trabalho sem escovar os dentes, não sorriu, não recebeu salário, 
pegou um fósforo e explodiu o quarteirão. Desde pequeno gostava de 
fogos de artifício, sempre quis ver algo grande.
(TRUZZI, Flávio Sales. “Rotina”. In Expresso 600. 
Edson Rossato (org.) São Paulo: Andross, 2006. p. 85.)
A partir da leitura do texto, a análise dos elementos da narrativa está 
certa, exceto em
a) O narrador do conto é onisciente.
b) O comportamento do protagonista muda.
c) O espaço é físico, externo.
d) O enredo é inverossímil.
e) O tempo é cronológico.
TEXTO PARA AS QUESTÕES 09 E 10:
SUFLÊ DE CHUCHU
Houve uma grande comoção em casa com o primeiro telefonema 
da Duda, à pagar, de Paris. O primeiro telefonema desde que ela 
embarcara, mochila nas costas (a Duda, que em casa não levantava 
nem a sua roupa do chão!), na Varig, contra a vontade do pai e da 
mãe. Você nunca saiu de casa sozinha, minha filha! Você não sabe 
uma palavra de francês! Vou e pronto. E fora.
E agora, depois de semanas de aflição, de “onde anda essa 
menina?”, de “você não devia ter deixado, Eurico!”, vinha o primeiro 
sinal de vida. Da Duda, de Paris.
- Minha filha...
- Não posso falar muito, mãe. Como é que se faz café?
- O quê?
- Café, café. Como é que se faz?
- Não sei, minha filha. Com água, com... Mas onde é que você 
está, Duda?
- Estou trabalhando de “au pair” num apartamento. Ih, não posso 
falar mais. Eles estão chegando. Depois eu ligo. Tchau!
O pai quis saber detalhes. Onde ela estava morando?
- Falou alguma coisa sobre “opér”.
- Deve ser “ópera”. O francês dela não melhorou...
Dias depois, outra ligação. Apressada como a primeira. A Duda 
queria saber como se mudava fralda. Por um momento, a mãe teve 
um pensamento louco. A Duda teve um filho de um francês! Não, 
que bobagem, não dava tempo. Por que você quer saber, minha filha?
- Rápido, mãe. A criança tá borrada!
Ninguém em casa podia imaginar a Duda trocando fraldas. Ela, 
que tinha nojo quando o irmão menor espirrava.
- Pobre criança... - comentou o pai.
Finalmente, um telefonema sem pressa da Duda. Os patrões 
tinham saído, o cagão estava dormindo, ela podia contar o que estava 
lhe acontecendo. “Au pair” era empregada, faz-tudo. E ela fazia 
tudo na casa. A princípio tivera alguma dificuldade com os aparelhos. 
Nunca notara antes, por exemplo, que o aspirador de pó precisava 
ser ligado numa tomada. Mas agora estava uma opér “formidable”. 
E Duda enfatizara a pronúncia francesa. “Formidable”. Os patrões a 
adoravam. E ela tinha prometido que na semana seguinte prepararia 
uma autênticafeijoada brasileira para eles e alguns amigos.
- Mas, Duda, você sabe fazer feijoada?
- Era sobre isso que eu queria falar com você, mãe. Pra começar, 
como é que se faz arroz?
A mãe mal pôde esperar o telefonema que a Duda lhe prometera, 
no dia seguinte ao da feijoada.
- Como foi, minha filha. Conta!
- Formidable! Um sucesso. Para o próximo jantar, vou preparar 
aquela sua moqueca.
- Pegue o peixe... - começou a mãe, animadíssima.
A moqueca também foi um sucesso. Duda contou que uma das amigas 
da sua patroa fora atrás dela, na cozinha, e cochichara uma proposta no seu 
ouvido: o dobro do que ela ganhava ali para ser opér na sua casa. Pelo menos 
fora isso que ela entendera. Mas Duda não pretendia deixar seus patrões. 
Eles eram uns amores. Iam ajudá-la a regularizar a sua situação na França. 
Daquele jeito, disse Duda a sua mãe, ela tão cedo não voltava ao Brasil.
É preciso compreender, portanto, o que se passava no coração da 
mãe quando a Duda telefonou para saber como era a sua receita de 
suflê de chuchu. Quase não usavam o chuchu na França, e a Duda 
dissera a seus patrões que suflê de chuchu era um prato típico brasileiro 
e sua receita era passada de geração a geração na floresta onde o 
chuchu, inclusive, era considerado afrodisíaco. Coração de mãe é um 
pouco como as Caraíbas. Ventos se cruzam, correntes se chocam, é 
uma área de tumultos naturais. A própria dona daquele coração não 
saberia descrever os vários impulsos que o percorreram no segundo que 
precedeu sua decisão de dar à filha a receita errada, a receita de um 
fracasso. De um lado o desejo de que a filha fizesse bonito e também 
- por que não admitir? - uma certa curiosidade com a repercussão do 
seu suflê de chuchu na terra, afinal, dos suflês, do outro o medo de 
que a filha nunca mais voltasse, que a Duda se consagrasse como a 
melhor opér da Europa e não voltasse nunca mais. Todo o destino num 
suflê. A mãe deu a receita errada. Com o coração apertado. Proporções 
grotescamente deformadas. A receita de uma bomba.
Passaram-se dias, semanas, sem uma notícia da Duda. A mãe 
imaginando o pior. Casais intoxicados. Jantar em Paris acaba no 
hospital. Brasileira presa. Prato selvagem enluta famílias, receita 
infernal atribuída à mãe de trabalhadora clandestina, Interpol 
mobilizada. Ou imaginando a chegada de Duda em casa, desiludida 
com sua aventura parisiense, sua carreira de opér encerrada sem 
glória, mas pronta para tentar outra vez o vestibular.
O que veio foi outro telefonema da Duda, um mês depois. 
Apressada de novo. No fundo, o som de bongôs e maracas.
- Mãe, pergunta pro pai como é a letra de Cubanacã!
- Minha filha...
- Pergunta, é do tempo dele. Rápido que eu preciso pro meu 
número.
Também houve um certo conflito no coração do pai, quando 
ouviu a pergunta. Arrá, ela sempre fizera pouco do seu gosto musical 
e agora precisava dele. Mas o segundo impulso venceu:
- Diz pra essa menina voltar pra casa. JÁ!
(VERÍSSIMO, Luís Fernando. “Suflê de Chuchu”. 
In: Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva)
09. Um dos elementos do conto “Suflê de Chuchu”, de Luís 
Fernando Veríssimo, é o enredo. Este, por sua vez, divide-se em início, 
desenvolvimento, clímax e desfecho.
Sobre as partes do enredo, assinale a alternativa correta.
a) O início vai da abertura do conto até “Da Duda, de Paris.”
b) O desenvolvimento vai de “E agora, depois de semanas de aflição 
(...)” até “era considerado afrodisíaco.”
c) O desenvolvimento vai de “E agora, depois de semanas de aflição 
(...)” até “é uma área de tumultos naturais.
d) O clímax vai de “A própria dona daquele coração (...)” até “(...) e 
não voltasse nunca mais.”
e) O desfecho vai de “A receita de uma bomba.” ao final do conto.
33
GÊNEROS LITERÁRIOS: UM ESTUDO DOS GÊNEROS NARRATIVO E DRAMÁTICO
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10. Sobre os elementos da narrativa que compõem o conto “Suflê 
de Chuchu”, de Luís Fernando Veríssimo, assinale a alternativa cuja 
análise está incorreta.
a) O tempo da narrativa é cronológico, de quando Duda parte até o 
último telefonema para seus pais.
b) O espaço é psicológico, imaginado pelas desgraças que a mãe de 
Duda imagina acontecerem em Paris.
c) O narrador é onisciente, havendo a larga ocorrência do discurso 
indireto livre.
d) Duda é uma personagem previsível, uma adolescente contempo-
rânea, sem grandes conflitos.
e) O ponto alto do enredo dá-se no momento em que o narrador 
apresenta os conflitos dos corações maternos.
EXERCÍCIOS DE
TREINAMENTO
01. (ESPCEX/AMAN) Leia o trecho do romance São Bernardo e dê o 
que se pede.
(...)
O que estou é velho. Cinquenta anos pelo S. Pedro. Cinquenta 
anos perdidos, cinquenta anos gastos sem objetivo, a maltratar-me 
e a maltratar os outros. O resultado é que endureci, calejei, e não é 
um arranhão que penetra esta casca espessa e vem ferir cá dentro a 
sensibilidade embotada.
(...)
Cinquenta anos! Quantas horas inúteis! Consumir-se uma pessoa 
a vida inteira sem saber para quê! Comer e dormir como um porco! 
Levantar-se cedo todas as manhãs e sair correndo, procurando 
comida! E depois guardar comida para os filhos, para os netos, para 
muitas gerações. Que estupidez! Que porcaria! Não é bom vir o diabo 
e levar tudo?
(...)
Penso em Madalena com insistência. Se fosse possível recomeçar-
mos... Para que enganar-me? Se fosse possível recomeçarmos, acon-
teceria exatamente o que aconteceu. Não consigo modificar-me, é o 
que mais me aflige.
(...)
Foi este modo de vida que me inutilizou. Sou um aleijado. Devo 
ter um coração miúdo, lacunas no cérebro, nervos diferentes dos 
nervos dos outros homens. E um nariz enorme, uma boca enorme, 
dedos enormes.
(...)
(RAMOS, Graciliano. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 1990.)
Quanto ao trecho lido, é correto afirmar que 
a) há predomínio de uma visão ufanista do narrador.
b) o intimismo dificulta uma visão crítica.
c) a abordagem universal permite alcançar à dimensão regional.
d) a incapacidade de modificar o modo de vida revela traços deter-
ministas.
e) o narrador externo explora conflitos internos do personagem.
02. (ESPCEX/AMAN) Leia o trecho do conto O Peru de Natal e responda.
O nosso primeiro Natal em família, depois da morte de meu pai, 
acontecida cinco meses antes, foi de consequências decisivas para a 
felicidade familiar. Nós sempre fôramos familiarmente felizes, nesse 
sentido muito abstrato da felicidade: gente honesta, sem crimes, 
lar sem brigas internas nem graves dificuldades econômicas. Mas, 
devido principalmente à natureza cinzenta de meu pai, ser desprovido 
de qualquer lirismo, duma exemplaridade incapaz, acolchoado no 
medíocre, sempre nos faltara aquele aproveitamento da vida, aquele 
gosto pelas felicidades materiais, um vinho bom, uma estação de águas, 
aquisição de geladeira, coisas assim. Meu pai fora de um bom errado, 
quase dramático, o puro-sangue dos desmancha-prazeres.
Morreu meu pai sentimos muito etc. Quando chegamos nas 
proximidades do Natal, eu já estava que não podia mais pra afastar 
aquela memória obstruente do morto, que parecia ter sistematizado pra 
sempre a obrigação de uma lembrança dolorosa em cada almoço, em 
cada gesto da família... A dor já estava sendo cultivada pelas aparências, 
e eu, que sempre gostara apenas regularmente de meu pai, mais por 
instinto de filho que por espontaneidade de amor, me via a ponto de 
aborrecer o bom do morto.
Foi decerto por isso que me nasceu, esta sim, espontaneamente, 
a ideia de fazer uma das minhas chamadas “loucuras”. Essa fora, 
aliás, e desde muito cedo, a minha esplêndida conquista contra o 
ambiente familiar. Desde cedinho, desde os tempos de ginásio, em que 
arranjava regularmente uma reprovação todos os anos; desde o beijo às 
escondidas, numa prima, aos dez anos...eu consegui no reformatório 
do lar e vasta parentagem, a fama conciliatória de “louco”. “É doido 
coitado!” (…)
Foi lembrando isso que arrebentei com uma das minhas 
“loucuras”:
– Bom, no Natal, quero comer peru.
Houve um desses espantos que ninguémnão imagina.
(ANDRADE, M. In: MORICONI, I. Os cem melhores contos brasileiros do século. 
São Paulo: Objetiva, 2000 - fragmento)
Nesse fragmento, o universo ficcional constitui 
a) o ponto de vista externo do narrador, que valoriza a célula 
dramática das novelas românticas.
b) característica da primeira geração modernista, que repudiava o 
conservadorismo.
c) a temática da prosa de costumes, enaltecendo a primeira geração 
romântica.
d) uma temática nacionalista ao exaltar o conservadorismo.
e) a valorização do sistema patriarcal.
03. (MACKENZIE)
Chicó – Por que essa raiva dela?
João Grilo – Ó homem sem vergonha! Você inda pergunta? Está 
esquecido de que ela o deixou? Está esquecido da exploração que eles 
fazem conosco naquela padaria do inferno? Pensam que são o cão só 
porque enriqueceram, mas um dia hão de pagar. E a raiva que eu tenho 
é porque quando estava doente, me acabando em cima de uma cama, 
via passar o prato de comida que ela mandava para o cachorro. Até 
carne passada na manteiga tinha.
Para mim nada, João Grilo que se danasse. Um dia eu me vingo.
Chicó – João, deixe de ser vingativo que você se desgraça. 
Qualquer dia você inda se mete numa embrulhada séria.
(Ariano Suassuna, Auto da Compadecida)
Considere as seguintes afirmações.
I. O texto de Ariano Suassuna recupera aspectos da tradição dramática 
medieval, afastando-se, portanto, da estética clássica de origem 
greco-romana.
II. A palavra Auto, título da obra, por si só sugere que se trata de peça 
teatral de tradição popular, aspecto confirmado pela caracterização 
das personagens.
III. O teor crítico da fala da personagem, entre outros aspectos, 
remete ao teatro humanista de Gil Vicente, autor de vários autos, 
como, por exemplo, o Auto da barca do inferno.
Assinale:
34
GÊNEROS LITERÁRIOS: UM ESTUDO DOS GÊNEROS NARRATIVO E DRAMÁTICO
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a) se todas estiverem corretas.
b) se apenas I e II estiverem corretas.
c) se apenas II estiver correta.
d) se apenas II e III estiverem corretas.
e) se todas estiverem incorretas.
04. (PUC-PR)
AUTO DO FRADE
FREI CANECA:
– Sob o céu de tanta luz
que aqui é de praia ainda,
leve, clara, luminosa
por vir do Pina e de Olinda,
que jogam verde e azul
sob o céu de alma marinha,
sob o sol inabitável
que dirá Sofia um dia,
vou revivendo os quintais
que dispensam sesta amiga
detrás das fachadas magras
com sombras gordas e líquidas.
Na iminência da morte na forca,
Frei Caneca despede-se se da vida.
(NETO, João Cabral de Melo. AUTO DO FRADE. Ano de edição: 2010. 1ª Edição)
O trecho citado representa:
a) um raro momento lírico da peça.
b) a combinação de teatro e poesia, em que sobressai o tom lírico 
associado à memória e à visualidade.
c) a despedida amarga de um inocente prestes a ser executado.
d) o tom poético sem dramaticidade que marca todo o texto de 
“Auto do Frade”.
e) a descrição da natureza funciona como oposição barroca aos 
minutos que antecedem à morte de Frei Caneca.
05. (ESPCEX/AMAN) Leia o texto abaixo e responda o que se pede.
(...)
– Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta.
Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza 
iam admirar-se ouvindo-o falar só. E, pensando bem, ele não era 
homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros. 
Vermelho, queimando, tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos 
ruivos; mas como vivia em terra alheia, cuidava de animais alheios, 
descobria-se, encolhia-se na presença dos brancos e julgava-se cabra.
Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém 
tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando:
– Você é um bicho, Fabiano.
Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho, capaz 
de vencer dificuldades.
(Fragmento de Vidas Secas, de Graciliano Ramos.)
A partir do texto apresentado, é correto afirmar que o personagem 
Fabiano
a) subestima-se pela própria condição animal.
b) questiona a própria condição humana.
c) valoriza-se como ser humano.
d) sente vergonha da condição animal.
e) abomina a própria condição animal.
06. (IFAL) Leia o fragmento abaixo e responda à questão.
Não queria arrancar-lhe as ilusões. Também ele, em criança, e ainda 
depois, foi supersticioso, teve um arsenal inteiro de crendices, que a mãe 
lhe incutiu e que aos vinte anos desapareceram. No dia em que deixou 
cair toda essa vegetação parasita, e ficou só o tronco da religião, ele, 
como tivesse recebido da mãe ambos os ensinos, envolveu-os na mesma 
dúvida, e logo depois em uma só negação total. Camilo não acreditava 
em nada. Por quê? Não poderia dizê-lo, não possuía um só argumento; 
limitava-se a negar tudo. E digo mal, porque negar é ainda afirmar, e 
ele não formulava incredulidade; diante do mistério, contentou-se em 
levantar os ombros, e foi andando.
(MACHADO DE ASSIS. Obras completas em quatro volumes, 
 volume 2. São Paulo: Editora Nova Aguilar, 2015, p. 435) 
Em relação às descrenças de Camilo, há uma opinião do narrador em: 
a) “[…] diante do mistério, contentou-se em levantar os ombros, e 
foi andando.”
b) “Camilo não acreditava em nada. Por quê? Não poderia dizê-lo 
[...]”
c) “E digo mal, porque negar é ainda afirmar, e ele não formulava 
a incredulidade.”
d) “No dia em que deixou cair toda essa vegetação parasita, e ficou 
só o tronco da religião.”
e) “Também ele, em criança, e ainda depois foi supersticioso.”
07. (ENEM 2017)
SEGUNDO QUADRO
Uma sala da prefeitura. O ambiente é modesto. Durante a 
mutação, ouve-se um dobrado e vivas a Odorico, “viva o prefeito” etc. 
Estão em cena Dorotéa, Juju, Dirceu, Dulcinéa, o vigário e Odorico. 
Este último, à janela, discursa.
ODORICO – Povo sucupirano! Agoramente já investido no cargo 
de Prefeito, aqui estou para receber a confirmação, a ratificação, a 
autenticação e por que não dizer a sagração do povo que me elegeu.
Aplausos vêm de fora.
ODORICO – Eu prometi que o meu primeiro ato como prefeito 
seria ordenar a construção do cemitério.
Aplausos, aos quais se incorporam as personagens em cena.
ODORICO – (Continuando o discurso:) Botando de lado os 
entretantos e partindo pros finalmente, é uma alegria poder anunciar 
que prafrentemente vocês lá poderão morrer descansados, tranquilos 
e desconstrangidos, na certeza de que vão ser sepultados aqui mesmo, 
nesta terra morna e cheirosa de Sucupira. E quem votou em mim, 
basta dizer isso ao padre na hora da extrema-unção, que tem enterro 
e cova de graça, conforme o prometido.
(GOMES, D. O bem amado. Rio de Janeiro: Ediouro, 2012.)
O gênero peça teatral tem o entretenimento como uma de suas 
funções. Outra função relevante do gênero, explícita nesse trecho de 
O bem amado, é 
a) criticar satiricamente o comportamento de pessoas públicas.
b) denunciar a escassez de recursos públicos nas prefeituras do 
interior.
c) censurar a falta de domínio da língua padrão em eventos sociais. 
d) despertar a preocupação da plateia com a expectativa de vida dos 
Cidadãos.
e) questionar o apoio irrestrito de agentes públicos aos gestores 
governamentais.
08. (ENEM 2016)
LIÇÕES DE MOTIM
DONA COTINHA – É claro! Só gosta de solidão quem nasceu pra 
ser solitário. Só o solitário gosta de solidão. Quem vive só e não gosta 
da solidão não é um solitário, é só um desacompanhado. (A reflexão 
escorrega lá pro fundo da alma.) Solidão é vocação, besta de quem 
pensa que é sina. Por isso, tem de ser valorizada. E não é qualquer 
um que pode ser solitário, não. Ah, mas não é mesmo! É preciso ter 
35
GÊNEROS LITERÁRIOS: UM ESTUDO DOS GÊNEROS NARRATIVO E DRAMÁTICO
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competência pra isso. (De súbito, pedagógica, volta-se para o homem.) 
É como poesia, sabe, moço? Tem de ser recitada em voz alta, que é pra 
gente sentir o gosto. (Faz uma pausa.) Você gosta de poesia? (O homem 
torna a se debater. A velha interrompe o discurso e volta a lhe dar as 
costas, como sempre, impassível. O homem, mais uma vez, cansado, 
desiste.) Bem, como eu ia dizendo, pra viver bem com a solidão temos 
de ser proprietários dela e não inquilinos,me entende? Quem é inquilino 
da solidão não passa de um abandonado. É isso aí.
(ZORZETFI, H. Lições de motim. Goiânia: Kelps. 2010 - adaptado).
Nesse trecho, o que caracteriza Lições de motim como texto teatral?
a) O tom melancólico presente na cena.
b) As perguntas retóricas da personagem.
c) A interferência do narrador no desfecho da cena.
d) O uso de rubricas para construir a ação dramática.
e) As analogias sobre a solidão feitas pela personagem.
09. (ENEM 2014) FABIANA, arrepelando-se de raiva — Hum! Ora, eis 
aí está para que se casou meu filho, e trouxe a mulher para minha 
casa. É isto constantemente. Não sabe o senhor meu filho que quem 
casa quer casa... Já não posso, não posso, não posso! (Batendo com o 
pé). Um dia arrebento, e então veremos!
(PENA, M. Quem casa quer casa. www.dominiopubiico.gov.br. 
Acesso em: 7 dez. 2012.)
As rubricas em itálico, como as trazidas no trecho de Martins Pena, em 
uma atuação teatral, constituem
a) necessidade, porque as encenações precisam ser fiéis às diretrizes 
do autor.
b) possibilidade, porque o texto pode ser mudado, assim como 
outros elementos.
c) preciosismo, porque são irrelevantes para o texto ou para a 
encenação.
d) exigência, porque elas determinam as características do texto 
teatral.
e) imposição, porque elas anulam a autonomia do diretor.
10. (ESPCEX/AMAN) Leia o trecho a seguir e responda.
“O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que 
situado sertão é por os campos-gerais a fora a dentro, eles dizem, fim 
de rumo, terras altas, demais do Urucúia. Toleima. Para os de Corinto 
e do Curvelo, então, o aqui não é dito sertão? Ah, que tem maior! 
Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um 
pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde 
criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade. O 
Urucúia vem dos montões oestes. Mas, hoje, que na beira dele, tudo 
dá – fazendões de fazendas, almargem de vargens de bom render, as 
vazantes; culturas que vão de mata em mata, madeiras de grossura, até 
ainda virgens dessas lá há. Os gerais corre em volta. Esses gerais são 
sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão 
ou pães, é questão de opiniães... O sertão está em toda parte.”
Quanto ao trecho, é correto afirmar que
a) não há ponto de vista do narrador, que apenas relata as impressões 
alheias.
b) apresenta alguns neologismos, como “toleima”, “almargem”, 
“opiniães” e “oestes”.
c) não há abordagem universal, a passagem constitui apenas uma 
descrição do sertão.
d) o trecho transpõe os limites do regional, alcançando a dimensão 
universal.
e) transparece todo misticismo sertanejo, baseado apenas nos dois 
extremos: o bem e o mal.
EXERCÍCIOS DE
COMBATE
01. Certa vez minha mãe surrou-me com uma corda nodosa que me 
pintou as costas de manchas sangrentas. Moído, virando a cabeça 
com dificuldade, eu distinguia nas costelas grandes lanhos vermelhos. 
Deitaram-me, enrolaram-me em panos molhados com água de sal – e 
houve uma discussão na família. Minha avó, que nos visitava, condenou o 
procedimento da filha e esta afligiu-se. Irritada, ferira-me à toa, sem querer. 
Não guardei ódio a minha mãe: o culpado era o nó.
(RAMOS, G. Infância. Rio de Janeiro: Record, 1998.)
Num texto narrativo, a sequência dos fatos contribui para a progressão 
temática. No fragmento, esse processo é indicado
a) pela a alternância das pessoas do discurso que determinam o foco 
narrativo.
b) utilização de formas verbais que marcam tempos narrativos 
variados.
c) indeterminação dos sujeitos de ações que caracterizam os eventos 
narrados.
d) justaposição de frases que relacionam semanticamente os 
acontecimentos narrados.
e) recorrência de expressões adverbiais que organizam temporal-
mente a narrativa.
02. Somente uns tufos secos de capim empedrados crescem na silenciosa 
baixada que se perde de vista. Somente uma árvore, grande e esgalhada 
mas com pouquíssimas folhas, abre-se em farrapos de sombra. Único ser 
nas cercanias, a mulher é magra, ossuda, seu rosto está lanhado de vento. 
Não se vê o cabelo, coberto por um pano desidratado. Mas seus olhos, a 
boca, a pele – tudo é de uma aridez sufocante. Ela está de pé. A seu lado 
está uma pedra. O sol explode.
Ela estava de pé no fim do mundo. Como se andasse para 
aquela baixada largando para trás suas noções de si mesma. Não 
tem retratos na memória. Desapossada e despojada, não se abate em 
autoacusações e remorsos. Vive.
Sua sombra somente é que lhe faz companhia. Sua sombra, que 
se derrama em traços grossos na areia, é que adoça como um gesto a 
claridade esquelética. A mulher esvaziada emudece, se dessangra, se 
cristaliza, se mineraliza. Já é quase de pedra como a pedra a seu lado. 
Mas os traços de sua sombra caminham e, tornando-se mais longos 
e finos, esticam-se para os farrapos de sombra da ossatura da árvore, 
com os quais se enlaçam.
(FRÓES, L. Vertigens: obra reunida. Rio de Janeiro: Rocco. 1998.)
Na apresentação da paisagem e da personagem, o narrador estabelece 
uma correlação de sentidos em que esses elementos se entrelaçam
Nesse processo, a condição humana configura-se 
a) amalgamada pelo processo comum de desertificação e de solidão. 
b) fortalecida pela adversidade extensiva à terra e aos seres vivos.
c) redimensionada pela intensidade da luz e da exuberância local.
d) imersa num drama existencial de identidade e de origem.
e) imobilizada pela escassez e pela opressão do ambiente.
03. (PUC-CAMP)
− Quer assunto para um conto? – perguntou o Eneias, cercando-me 
no corredor.
Sorri.
− Não, obrigado.
− Mas é assunto ótimo, verdadeiro, vivido, acontecido, 
interessantíssimo!
36
GÊNEROS LITERÁRIOS: UM ESTUDO DOS GÊNEROS NARRATIVO E DRAMÁTICO
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− Não, não é preciso... Fica para outra vez...
− Você está com pressa?
− Muita!
− Bem, de outra vez será. 1Dá um conto estupendo. E com esta 
vantagem: aconteceu... É só florear um pouco.
2− Está bem...Então...até logo...Tenho que apanhar o elevador...
3Quando me despedia, surge um terceiro. Prendendo-me à prosa. 
Desmoralizando-me a pressa.
− Então, que há de novo?
− Estávamos batendo papo... Eu estava cedendo, de graça, um 
assunto notável para um conto. Tão bom, que até comecei a esboçá-
lo, 4há tempos. Mas conto não é gênero meu − continuou o Eneias, os 
olhos azuis transbordando de generosidade.
5− Sobre o quê? − perguntou o outro.
Eu estava frio. Não havia remédio. Tinha que ouvir, mais uma vez, 
o assunto.
− Um caso passado. Conheceu o Melo, que foi dono de uma 
grande torrefação aqui em São Paulo, e tinha uma ou várias fazendas 
pelo interior?
Pergunta dirigida a mim. Era mais fácil concordar.
(In: Omelete em Bombaim, 1946. Disponível em: www.academia.org.br) 
É correta a seguinte observação:
a) O fragmento transcrito mostra que essa narrativa reproduz uma 
cena bastante curta como se fosse captada mecanicamente por 
um cinegrafista, sem a presença da subjetividade de um narrador. 
b) A narrativa que se caracteriza pelo ritmo acelerado, em decorrência 
da grande presença da fala direta entre personagens, conta 
com a presença de um narrador que, onisciente, faz algumas 
intromissões no relato.
c) Em relato realizado estritamente por meio de diálogos, as 
informações são transmitidas ao leitor pelo que falam ou fazem 
as personagens que participam da cena representada.
d) O trecho é metalinguístico, pois uma personagem, Eneias, centra 
seu interesse em convencer, com fundamentos, um contista 
a escrever sobre fatos verídicos; o objetivo da personagem é 
legítimo, porque a veracidade do fato narrado é que caracteriza a 
narrativa como literária.
e) No conto, os comentários de Eneias permitem compreender o que 
esta personagem entende que seja um conto, demonstrando seu 
desconhecimento de que, numa produção literária, a forma não 
constitui simples ornamento, mas produz sentidos.
04. Leia o texto e observe a figura a seguir.
Para Tadeusz Kantor (Polônia, 1915-1990), nada expressamelhor 
a vida do que a ausência de vida, sendo a morte um processo que 
está muito distante do religioso-sobrenatural. Ela é a condição finita 
da temporalidade que fundamenta o sentido da existência e que 
permeia o tempo todo a vida humana. Em sua concepção, o teatro se 
constrói na ação e não pelo aparato de reprodução literária. Um texto 
dramático, não fechado, não conclusivo.
(Adaptado de: CINTRA, W. F. A. A morte como poética no teatro de Tadeusz Kantor. 
In: VI Congresso de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas, 2010.)
(Cena da peça A classe morta, Tadeusz Kantor, 1975. Imagem disponível em: 
<http://www.caleidoscopio.art.br/cultural/teatro/teatrocontemporaneo/tadeusz-
kantor-fases-a-classe-morta-partequatro.html>. Acesso em 28 maio 2017.)
Com base no texto, na figura e nos conhecimentos sobre o teatro, na 
relação entre obra e contexto e na arte contemporânea, considere as 
afirmativas a seguir.
I. A proposição teatral de Kantor se dá de acordo com a ideia de 
mimesis e, para ele, a função do teatro é demonstrar, a partir 
da definição das personagens e das suas falas, o modo como o 
homem e a arte se constituem na vida cotidiana.
II. É perceptível, na disposição dos objetos em cena e dos atores, o 
modo como o autor evoca o sentido de vida e morte, intensificado 
pela atmosfera criada por esses elementos.
III. A concepção teatral de Kantor considera o texto não como 
determinante de toda ação, mas como guia; nesse sentido, o 
processo de construção da peça é um fator importante, ficando 
de lado a representação da vida e, em jogo, sua presentificação.
IV. Em A classe morta, a morte é elevada à condição de elemento 
estético e, como elemento, constitui um processo criativo que 
nada tem de sobrenatural e se institui como realidade sensível.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
05.
VIANNA
(Bem sério, mas neutro, autoritário) – E aqui, antes de continuar 
este espetáculo, é necessário que façamos uma advertência a todos e 
a cada um. Neste momento, achamos fundamental que cada um tome 
uma posição definida. Sem que cada um tome uma posição definida, 
não é possível continuarmos. É fundamental que cada um tome uma 
posição, seja para a esquerda, seja para a direita. Admitimos mesmo 
que alguns tomem uma posição neutra, fiquem de braços cruzados. 
Mas é preciso que cada um, uma vez tomada sua posição, fique nela! 
Porque senão, companheiros, as cadeiras do teatro rangem muito e 
ninguém ouve nada.
(FERNANDES, Millôr; RANGEL, Flávio. Liberdade, liberdade. 
Porto Alegre: LP&M Pocket, 2013. p. 31.)
Na fala transcrita, há um sentido político associado ao contexto dos 
primeiros anos do regime militar no Brasil. Esse sentido se expressa 
no emprego
37
GÊNEROS LITERÁRIOS: UM ESTUDO DOS GÊNEROS NARRATIVO E DRAMÁTICO
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a) da expressão “posição neutra”, para satirizar a ideologia do 
partido Aliança Renovadora Nacional.
b) das expressões “posição definida” e “de braços cruzados”, para 
criticar a extinção dos partidos políticos.
c) da ordem “fique nela!”, que denuncia o poder de repressão dos 
anos de chumbo do governo militar.
d) da rubrica “Bem sério, mas neutro, autoritário”, que ironiza a 
direção dada ao país pelo presidente Garrastazu Médici.
e) dos termos “esquerda” e “direita”, para cobrar uma posição da 
sociedade diante da restrição das liberdades individuais.
06.
QUERÔ
DELEGADO — Então desce ele. Vê o que arrancam desse sacana.
SARARÁ — Só que tem um porém. Ele é menor.
DELEGADO — Então vai com jeito. Depois a gente entrega pro 
juiz.
(Luz apaga no delegado e acende no repórter, que se dirige ao 
público.)
REPÓRTER — E o Querô foi espremido, empilhado, esmagado 
de corpo e alma num cubículo imundo, com outros meninos. 
Meninos todos espremidos, empilhados, esmagados de corpo e alma, 
alucinados pelos seus desesperos, cegados por muitas aflições. Muitos 
meninos, com seus desesperos e seus ódios, empilhados, espremidos, 
esmagados de corpo e alma no imundo cubículo do reformatório. E 
foi lá que o Querô cresceu.
(MARCOS, P. Melhor teatro. São Paulo: Global, 2003 - fragmento).
No discurso do repórter, a repetição causa um efeito de sentido de 
intensificação, construindo a ideia de
a) opressão física e moral, que gera rancor nos meninos.
b) repressão policial e social, que gera apatia nos meninos.
c) polêmica judicial e midiática, que gera confusão entre os meninos.
d) concepção educacional e carcerária, que gera comoção nos 
meninos.
e) informação crítica e jornalística, que gera indignação entre os 
meninos.
07. O fragmento abaixo pertence ao gênero dramático.
MICROFONE - Buzina de automóvel. Rumor de derrapagem violenta.
Som de vidraças partidas. Silencio. Assistência. Silencio.
VOZ DE ALAIDE (microfone) - Clessi... Clessi...
(Luz em resistência no plano da alucinação. 3 mesas, 3 mulheres 
escandalosamente pintadas, com vestidos berrantes e compridos. 
Decotes. Duas delas dançam ao som de uma vitrola invisível, dando 
uma vaga sugestão lésbica. Alaíde, uma jovem senhora, vestida com 
sobriedade e bom gosto, aparece no centro da cena. Vestido cinzento 
e uma bolsa vermelha.)
ALAIDE (nervosa) - Quero falar com Madame Clessi! Ela está?
(Fala à 1ª mulher que, numa das três mesas, faz “paciência”. A 
mulher não responde.)
ALAIDE (com angústia) - Madame Clessi está? - pode-me dizer?
ALAIDE (com ar ingênuo) - Não responde! (com doçura) Não quer 
responder?
(Silêncio da outra.)”
(RODRIGUES, Nelson. Teatro completo I. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981. p. 109.)
Nesse gênero literário, o narrador é
a) onisciente.
b) inexistente.
c) observador.
d) personagem.
e) distante.
08. Associe os gêneros literários às suas respectivas características.
1 – Gênero lírico
2 – Gênero épico
3 – Gênero dramático
( ) Exteriorização dos valores e 
sentimentos coletivos.
( ) Representação de fatos com presença 
física de atores.
( ) Manifestação de sentimentos pessoais 
predominando, assim, a função emotiva.
A sequência correta, de cima para baixo, é
a) 3 – 2 – 1.
b) 2 – 3 – 1.
c) 2 – 1 – 3.
d) 1 – 3 – 2.
e) 1 – 2 – 3.
09. Leia atentamente o trecho de Conto de verão nº 2: Bandeira 
Branca, de Luis Fernando Verissimo.
Ele: tirolês. Ela: odalisca. Eram de culturas muito diferentes, não 
podia dar certo. Mas tinham só quatro anos e se entenderam. No 
mundo dos quatro anos todos se entendem, de um jeito ou de outro. 
Em vez de dançarem, pularem e entrarem no cordão, resistiram a 
todos os apelos desesperados das mães e ficaram sentados no chão, 
fazendo um montinho de confete, serpentina e poeira, até serem 
arrastados para casa, sob ameaças de jamais serem levados a outro 
baile de Carnaval.
Encontraram-se de novo no baile infantil do clube, no ano seguinte. 
Ele com o mesmo tirolês, agora apertado nos fundilhos, ela de egípcia. 
Tentaram recomeçar o montinho, mas dessa vez as mães reagiram e os 
dois foram obrigados a dançar, pular e entrar no cordão, sob ameaça de 
levarem uns tapas. Passaram o tempo todo de mãos dadas.
Só no terceiro Carnaval se falaram.
– Como é teu nome?
– Janice. E o teu? – Píndaro.
– O quê?!
– Píndaro.
– Que nome!
Ele de legionário romano, ela de índia americana.
(VERISSIMO, Luis Fernando. Histórias brasileiras de verão. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999.)
A partir da interpretação do trecho acima, assinale a alternativa 
incorreta.
a) O conto apresenta um narrador em terceira pessoa.
b) Embora não descreva o ambiente de forma detalhada, o narrador 
apresenta algumas informações que permitem ao leitor identificar 
o espaço onde se passa a história narrada.
c) O narrador deixa claro, desde o início, que há uma perfeita 
harmonia entre as duas personagens, uma vez que elas combinam 
em absolutamente todos os aspectos.
d) A narrativa utiliza-se do discursodireto para apresentar os 
diálogos das personagens.
e) O narrador indica claramente a passagem do tempo, que é 
apresentado em uma ordem cronológica direta.
10. (UERJ)
Há alguns meses fui convidado a visitar o Museu da Ciência de La 
Coruña, na Galícia. Ao final da visita, o 1curador anunciou que tinha 
uma surpresa para mim e me conduziu ao 2planetário. Um planetário 
sempre é um lugar sugestivo, porque, quando se apagam as luzes, 
temos a impressão de estar num deserto sob um céu estrelado. Mas 
naquela noite algo especial me aguardava.
De repente a sala ficou inteiramente às escuras, e ouvi um lindo 
acalanto de Manuel de Falla. Lentamente (embora um pouco mais 
depressa do que na realidade, já que a apresentação durou ao todo 
quinze minutos) o céu sobre minha cabeça se pôs a rodar. Era o céu 
que aparecera sobre minha cidade natal – Alessandria, na Itália – na 
noite de 5 para 6 de janeiro de 1932, quando nasci. 3Quase hiper-
realisticamente vivenciei a primeira noite de minha vida.
38
GÊNEROS LITERÁRIOS: UM ESTUDO DOS GÊNEROS NARRATIVO E DRAMÁTICO
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Vivenciei-a pela primeira vez, pois não tinha visto essa primeira 
noite. Provavelmente nem minha mãe a viu, exausta como estava 
depois de me dar à luz; mas talvez meu pai a tenha visto, ao sair para 
o terraço, um pouco agitado com o fato maravilhoso (pelo menos 
para ele) que testemunhara e ajudara a produzir.
O planetário usava um artifício mecânico que se pode encontrar 
em muitos lugares. Outras pessoas talvez tenham passado por uma 
experiência semelhante. Mas vocês hão de me perdoar se durante 
aqueles quinze minutos tive a impressão de ser o único homem desde 
o início dos tempos que havia tido o privilégio de se encontrar com seu 
próprio começo. Eu estava tão feliz que tive a sensação – quase o desejo 
– de que podia, deveria morrer naquele exato momento e que qualquer 
outro momento teria sido inadequado. Teria morrido alegremente, pois 
vivera a mais bela história que li em toda a minha vida.
4Talvez eu tivesse encontrado a história que todos nós procuramos 
nas páginas dos livros e nas telas dos cinemas: uma história na qual 
as estrelas e eu éramos os protagonistas. Era ficção porque a história 
fora reinventada pelo curador; era História porque recontava o que 
acontecera no cosmos num momento do passado; era vida real 
porque eu era real e não uma personagem de romance.
(Umberto Eco. Adaptado de Seis passeios pelos bosques da ficção. 
Tradução: Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.)
1curador − responsável pelo museu.
2planetário − local onde é possível reproduzir o movimento dos astros.
Umberto Eco narra, no segundo parágrafo do texto, uma experiência 
surpreendente que vivenciou.
Pode-se compreender essa experiência pela relação que se estabelece 
entre os seguintes elementos:
a) tempo cronológico e reconstrução ficcional.
b) avanço tecnológico e ilusão cinematográfica.
c) registro documental e sonho cotidiano.
d) narrativa biográfica e história universal.
GABARITO
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
01. B
02. B
03. C
04. C
05. E
06. D
07. A
08. D
09. C
10. B
EXERCÍCIOS DE TREINAMENTO
01. D
02. B
03. A
04. B
05. B
06. C
07. A
08. D
09. B
10. D
EXERCÍCIOS DE COMBATE
01. B
02. A
03. E
04. E
05. E
06. A
07. B
08. B
09. C
10. A
ANOTAÇÕES

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