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DIREITO AMBIENTAL
POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS
SUMÁRIO
1. Introdução	3
2. Outorga do direito de uso dos recursos hídricos	10
3. Cobrança pelo uso de recursos hídricos	12
4. Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos	13
5. Agência Nacional de Águas	15
6. Infrações administrativas	15
DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO	16
BIBLIOGRAFIA UTILIZADA	17
ATUALIZADO EM 23/10/2020[footnoteRef:1] [1: As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos, porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos eventos anteriormente citados. ] 
POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS – LEI 9.433/1997
1. Introdução
A Lei n. 9.433, de 8 de janeiro de 1997, instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos, criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e regulamentou o inciso XIX do art. 21 da CF.
Art. 21. Compete à União:
XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso;           
#ATENÇÃO: Há ainda o Decreto n. 24.643, de 10 de julho de 1934, que dispõe sobre o Código de Águas, e a Lei n. 7.841, de 8 de agosto de 1945, que dispõe sobre o Código de Águas Minerais. O Código de Águas, apesar de muito antigo, encontra-se ainda em vigor, porém muitos de seus artigos estão superados por leis posteriores. Cuida-se do primeiro diploma legal e disciplina o aproveitamento industrial das águas e a exploração da energia hidráulica. O decreto, como se vê, preocupava-se mais com a quantidade do que com a qualidade das águas. A gestão das águas atualmente encontra-se disciplinada pela Política Nacional dos Recursos Hídricos (Lei n. 9.433/97).
Atualmente prevalece que inexistem águas de propriedade particular no Brasil, uma vez que, de acordo com os artigos 20, III, VI e VIII, e 26, I, da CRFB, as águas, quando não forem bens da União, serão dos Estados e, por analogia, do Distrito Federal, não havendo previsão de titularidade municipal.
Os recursos hídricos abrangem as águas superficiais e as águas subterrâneas, os estuários e o mar territorial.
#SELIGA:
	RECURSOS HÍDRICOS
	ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
	são as águas originadas do interior do solo (lençol freático).
	ÁGUAS SUPERFICIAIS
	são as águas encontradas na superfície da terra (fluentes, emergentes e em depósito). Estas dividem-se em águas internas (rios, lagos, lagoas, baías etc.) e águas externas (mar territorial).
	ESTUÁRIOS
	são as baías formadas pela junção do mar com os rios localizados nas proximidades dos oceanos, onde se misturam as águas fluviais e as marítimas. É a foz de um rio.
	MAR TERRITORIAL
	é a faixa marítima de doze milhas de largura do litoral brasileiro.
A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes fundamentos:
#TEMQUESABER:
	FUNDAMENTOS DOS RECURSOS HÍDRICOS
	a água é um bem de domínio público
	a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico
	em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais
	a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas
	a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos
	a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades
#SELIGA: podemos conceituar poluição hídrica como a degradação da qualidade ambiental resultante da atividade que direta ou indiretamente lance matérias ou energia nas águas em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos. Em outras palavras, é a alteração dos elementos constitutivos da água, tornando-a imprópria ao consumo ou à utilização para outros fins.
A regra fundamental é de que a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas (art. 1º, IV, da Lei n. 9.433/97). 
Contudo, há permissivo legal para a instituição de prioridades no uso da água pelos Planos de Recursos Hídricos, na forma do artigo 7º, VIII, da Lei 9.433/1997. Na hipótese do enfrentamento de situações de escassez, já há uma ordem de preferência de utilização para o consumo humano (para atender necessidades básicas, e não supérfluas) e a dessedentação de animais (esta prioridade possui carga biocêntrica), sendo válida a adoção de medidas administrativas restritivas temporárias.
#DEOLHONAJURIS: Ambiental. Constitucional. Administrativo. Remessa oficial. Ação cautelar inominada. Águas públicas. Período de escassez de chuvas. Medidas restritivas ao uso de água. Restabelecimento da acumulação hídrica. Liberação para o consumo a juízo técnico do DNOCS. 1. A adoção de medidas restritivas ao uso de águas públicas é necessária durante o período de escassez de chuvas. Restabelecidos os níveis de acumulação hídrica, deve haver a liberação para o consumo, a juízo técnico do DNOCS. 2. Remessa oficial improvida.” (TRF 5.ª Região, REO 460.909, de 10.09.2009).
Este bem ambiental é tão precioso que a Organização das Nações Unidas, no dia 22 de março de 1992, instituiu dez princípios direcionados a toda humanidade, além de criar o “Dia Mundial da Água”:
“1. A água faz parte do patrimônio do planeta. Cada continente, cada povo, cada nação, cada região, cada cidade, cada cidadão é plenamente responsável aos olhos de todos.
2. A água é a seiva de nosso planeta. Ela é condição essencial de vida de todo vegetal, animal ou ser humano. Sem ela não poderíamos conceber como são a atmosfera, o clima, a vegetação, a cultura ou a agricultura.
3. Os recursos naturais de transformação da água potável são lentos, frágeis e muito limitados. Assim, a água deve ser manipulada com racionalidade, precaução e parcimônia.
4. O equilíbrio e o futuro de nosso planeta dependem da preservação da água e de seus ciclos. Estes devem permanecer intactos e funcionando normalmente para garantir a continuidade da vida sobre a Terra. Este equilíbrio depende, em particular, da preservação dos mares e oceanos, por onde os ciclos começam.
5. A água não é somente herança de nossos predecessores; ela é, sobretudo, um empréstimo aos nossos sucessores. Sua proteção constitui uma necessidade vital, assim como a obrigação moral do homem para com as gerações presentes e futuras.
6. A água não é uma doação gratuita da natureza; ela tem um valor econômico; precisa-se saber que ela é, algumas vezes, rara e dispendiosa e que pode muito bem escassear em qualquer região do mundo.
7. A água não deve ser desperdiçada, nem poluída, nem envenenada. De maneira geral, sua utilização deve ser feita com consciência e discernimento para que não se chegue a uma situação de esgotamento ou de deterioração da qualidade das reservas atualmente disponíveis.
8. A utilização da água implica em respeito à lei. Sua proteção constitui uma obrigação jurídica para todo homem ou grupo social que a utiliza. Esta questão não deve ser ignorada nem pelo homem nem pelo Estado.
9. A gestão da água impõe um equilíbrio entre os imperativos de sua proteção e as necessidades de ordem econômica, sanitária e social.
10. O planejamento da gestão da água deve levar em conta a solidariedade e o consenso em razão de sua distribuição desigual sobre a Terra”.
#SELIGA: A Conferência Internacional sobre Água e Meio Ambiente, ocorrida em Dublin, na Irlanda, no ano de 1992, lançou as bases para que a discussão ganhasse fôlego na Rio/92, assim como na Conferência de Bonn, em 2001, também conhecida como Dublin+10.
A gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar coma participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades (art. 1º, VI, da Lei n. 9.433/97). É o Comitê da Bacia Hidrográfica — órgão colegiado heterogêneo — que estabelece as prioridades sobre a gestão, o consumo, a recuperação ou o tratamento dos recursos hídricos de determinada região.
Os objetivos dos recursos hídricos encontram-se expressamente arrolados no art. 2º, I, II e III, da Lei n. 9.433/97.
#SELIGA:
	OBJETIVOS DA POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS
	assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos
	a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável
	a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais
	incentivar e promover a captação, a preservação e o aproveitamento de águas pluviais
A preocupação com a disponibilidade de águas de boa qualidade para as futuras gerações realiza o Princípio do Pacto Intergeracional ou Equidade, por meio da sua utilização sustentável, sendo finalidade da PNRH.
Constituem diretrizes básicas de ação para a implementação dessa política:
#VEMDETABELINHA:
	DIRETRIZES GERAIS DE AÇÃO PARA IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS
	gestão sistemática dos recursos hídricos, sem dissociação dos aspectos de quantidade e qualidade
	adequação da gestão de recursos hídricos às diversidades físicas, bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais das diversas regiões do País
	integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental
	articulação do planejamento de recursos hídricos com o dos setores usuários e com os planejamentos regional, estadual e nacional
	articulação da gestão de recursos hídricos com a do uso do solo
	integração da gestão das bacias hidrográficas com a dos sistemas estuarinos e zonas costeiras
A União e os Estados deverão se articula com vistas ao gerenciamento dos recursos hídricos de interesse comum.
Constituem instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos:
	INSTRUMENTOS DA POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS
	Planos de Recursos Hídricos
	são os verdadeiros “planos diretores” das bacias hidrográficas (arts. 6º, 7º e 8º da Lei n. 9.433/97).
	enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água
	visa a assegurar às águas qualidade compatível com os usos mais exigentes a que forem destinadas, diminuir os custos de combate à poluição das águas, mediante ações preventivas permanentes (arts. 9º e 10 da Lei n. 9.433/97).
	outorga dos direitos de uso de recursos hídricos
	compete à União definir os critérios de outorga dos direitos de uso de recursos hídricos (art. 21, XIX, da CF); a outorga depende da intervenção do Poder Executivo federal (art. 29, II, da Lei n. 9.433/97) e dos Poderes Executivos estaduais e do Distrito
Federal (art. 30, I, da Lei n. 9.433/97).
	cobrança pelo uso de recursos hídricos
	Objetiva reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real valor, incentivar a racionalização do uso da água e obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e intervenções contemplados nos planos de recursos hídricos (arts. 19, 20, 21 e 22 da Lei n. 9.433/97).
	compensação a municípios
	o art. 24 foi vetado pelo Presidente da República.
	Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos
	é um sistema de coleta, tratamento, armazenamento e recuperação de informações sobre recursos hídricos e fatores intervenientes em sua gestão (arts. 25, 26 e 27 da Lei n. 9.433/97).
#DEOLHONAJURIS:
João é pescador artesanal e vive da pesca que realiza no rio Paranapanema, que faz a divisa dos Estados de São Paulo e Paraná. A empresa "XXX", após vencer a licitação, iniciou a construção de uma usina hidrelétrica neste rio. Ocorre que, após a construção da usina, houve uma grande redução na quantidade de alguns peixes existentes no rio, em especial "pintados", "jaú" e "dourados". Vale ressaltar que estes peixes eram os mais procurados pela população e os que davam maior renda aos pescadores do local. Diante deste fato, João ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra a empresa (concessionária de serviço público) sustentando que a construção da usina lhe causou negativo impacto econômico e sofrimento moral, já que ele não mais poderia exercer sua profissão de pescador. O pescador terá direito à indenização em decorrência deste fato? Danos materiais: SIM. Danos morais: NÃO. STJ. 4ª Turma. REsp 1371834-PR, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 5/11/2015 (Info 574)
A responsabilidade por dano ambiental é OBJETIVA, informada pela teoria do RISCO INTEGRAL. Não são admitidas excludentes de responsabilidade, tais como o caso fortuito, a força maior, fato de terceiro ou culpa exclusiva da vítima. O registro de pescador profissional e o comprovante do recebimento do seguro-defeso são documentos idôneos para demonstrar que a pessoa exerce a atividade de pescador. Logo, com tais documentos é possível ajuizar a ação de indenização por danos ambientais que impossibilitaram a pesca na região. Se uma empresa causou dano ambiental e, em decorrência de tal fato, fez com que determinada pessoa ficasse privada de pescar durante um tempo, isso configura dano moral. O valor a ser arbitrado como dano moral não deverá incluir um caráter punitivo. É inadequado pretender conferir à reparação civil dos danos ambientais caráter punitivo imediato, pois a punição é função que incumbe ao direito penal e administrativo. Assim, não há que se falar em danos punitivos (punitive damages) no caso de danos ambientais. STJ. 2ª Seção. REsp 1354536-SE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/3/2014 (recurso repetitivo) (Info 538).
É possível que o Estado-membro, por meio de decreto e portaria, determine que os usuários dos serviços de água tenham em suas casas, obrigatoriamente, uma conexão com a rede pública de água. O decreto e a portaria estaduais também poderão proibir o abastecimento de água para as casas por meio de poço artesiano, ressalvada a hipótese de inexistência de rede pública de saneamento básico. STJ. 2ª Turma. REsp 1306093-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 28/5/2013 (Info 524).
“A água é bem público de uso comum (art. 1º da Lei n. 9.433/97), motivo pelo qual é insuscetível de apropriação pelo particular (...)” que, na hipótese, “tem, apenas, o direito à exploração das águas subterrâneas mediante autorização do Poder Público cobrada a devida contraprestação (arts. 12, II e 20, da Lei n. 9.433/97). Ausente a autorização para exploração a que o alude o art.12, da Lei n. 9.443/97, atentando-se para o princípio da justa indenização, revela-se ausente o direito à indenização pelo desapossamento de aquífero. A ratio deste entendimento deve-se ao fato de a indenização por desapropriação estar condicionada à inutilidade ou aos prejuízos causados ao bem expropriado, por isso que, em não tendo o proprietário o direito de exploração de lavra ou dos recursos hídricos, afasta-se o direito à indenização respectiva” (REsp 518.744/RN, Relator Ministro Luiz Fux, j. 3-2-2004, DJ, 25-2-2004).
Em demanda que apreciava proteção ambiental e eventual assoreamento de represa, com condenação em reparação ambiental, o Superior Tribunal de Justiça entendeu que “a destruição ambiental verificada nos limites do Reservatório Billings – que serve de água grande parte da cidade de São Paulo –, provocando assoreamentos, somados à destruição da Mata Atlântica, impõe a condenação dos responsáveis, ainda que, para tanto, haja necessidade de se remover famílias instaladas no local de forma clandestina, em decorrência de loteamento irregular implementado na região. Não se trata tão somente de restauração de matas em prejuízo de famílias carentes de recursos financeiros, que, provavelmente deixaram-se enganar pelos idealizadores de loteamentos irregulares na ânsia de obterem moradias mais dignas,mas de preservação de reservatório de abastecimento urbano, que beneficia um número muito maior de pessoas do que as residentes na área de preservação. No conflito entre o interesse público e o particular há de prevalecer aquele em detrimento deste quando impossível a conciliação de ambos” (REsp 403.190/SP, Relator Ministro João Otávio de Noronha, j. 27-6-2006, DJ, 14-8-2006).
“Tributário. ICMS. Fornecimento de água. Não incidência do ICMS. Precedentes. 1. A água fornecida à população, após ser tratada pelas empresas concessionárias, permissionárias ou autorizadas, não caracteriza mercadoria, razão pela qual é insuscetível de cobrança de ICMS. 2. Inteligência do artigo 46 do Código de Águas e do artigo 18 da Lei que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, que determinam ser a concessão do serviço público de distribuição de água canalizada mera outorga que não implica a alienação das águas, uma vez que se trata de bem de uso comum do povo inalienável. 3. Precedente: AgRg no REsp 1.014.113/RJ, Rel. Min. José Delgado, Primeira Turma, julgado em 27.5.2008, DJe 23.6.2008. Agravo regimental improvido.” (STJ, AgREsp 2008.01.01.251-7, 05.10.2009).
“A Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos significou notável avanço na proteção das águas no Brasil e deve ser interpretada segundo seus objetivos e princípios. Três são os objetivos dorsais da Lei 9.433/97, todos eles com repercussão na solução da presente demanda: a preservação da disponibilidade quantitativa e qualitativa de água, para as presentes e futuras gerações; a sustentabilidade dos usos da água, admitidos somente os de cunho racional; e a proteção das pessoas e do meio ambiente contra os eventos hidrológicos críticos, desiderato que ganha maior dimensão em época de mudanças climáticas. Além disso, a Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos apoia-se em uma série de princípios fundamentais, cabendo citar, entre os que incidem diretamente no litígio, o princípio da dominialidade pública (a água, dispõe a lei expressamente, é bem de domínio público), o princípio da finitude (a água é recurso natural limitado) e o princípio da gestão descentralizada e democrática.” REsp 994.120, de 25.08.2009).
#PRAFIXAR: Atualmente se reconhece a água como um recurso natural renovável (ciclo hidrológico), porém limitado, dotado de economicidade, pois há um custo ambiental no seu uso que deverá ser mensurado pecuniariamente a fim de racionalizar o seu consumo, mas sem privar a população carente do mínimo necessário à sua dignidade.
2. Outorga do direito de uso dos recursos hídricos
A outorga é um dos instrumentos da Política Nacional dos Recursos Hídricos, inserida no art. 5º da Lei n. 9.433/97. Evidentemente, todos têm o direito ao acesso à água para a sua sobrevivência. Isso não significa que não se pode utilizá-la para outras finalidades senão o consumo pessoal. Só que, para isso, é necessária a outorga onerosa pela captação de água de qualquer fonte existente na terra (superficial ou subterrânea). 
Esse pagamento serve para que o Poder Público possa realizar o investimento necessário para preservá-la de forma mais limpa possível. A outorga poderá ser concedida ao interessado para o seu uso privativo mediante o cumprimento de certas condições. Visa-se, com isso, exercer um maior controle dos recursos hídricos.
Compete à Agência Nacional de Águas — ANA — a responsabilidade da concessão da outorga na esfera federal, quando os corpos d’água pertencerem à União, podendo delegar aos Estados e ao Distrito Federal essa competência, se assim entender conveniente.
#ATENÇÃO: A outorga não significa alienação, mas apenas o direito de uso da água de maneira precária. É o Poder Público que irá determinar o período e sua suspensão nos termos legais. A outorga é um ato administrativo, na modalidade de autorização administrativa, que permite aos particulares o uso da água em condições e limites estabelecidos na legislação e por tempo determinado, que não pode ser superior a trinta e cinco anos, renovável (art. 16 da Lei n. 9.433/97).
Art. 12. Estão sujeitos a outorga pelo Poder Público os direitos dos seguintes usos de recursos hídricos:
I - derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo de água para consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo produtivo;
II - extração de água de aqüífero subterrâneo para consumo final ou insumo de processo produtivo;
III - lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final;
IV - aproveitamento dos potenciais hidrelétricos;
V - outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente em um corpo de água.
Não há falar em outorga, ou seja, independe dela, quando o uso dos recursos hídricos atender às necessidades prementes ou insignificantes da população: a) o uso de recursos hídricos para a satisfação das necessidades de pequenos núcleos populacionais, distribuídos no meio rural; b) as derivações, as captações, os lançamentos e as acumulações consideradas insignificantes; e c) as acumulações de volumes de água consideradas insignificantes (art. 12, § 1º, I a III, da Lei n. 9.433/97).
#ATENÇÃO: a outorga não é um direito adquirido, podendo ser revogado sempre que presentes as hipóteses relacionadas na lei.
#SELIGA: a outorga de uso de recursos hídricos é pressuposto para a concessão da licença de instalação e de operação para empreendimentos que utilizem recursos hídricos acima dos limites de isenção, devendo ser previamente exigida pelo órgão do SISNAMA.
A suspensão da outorga pode ser total ou parcial, definitiva ou por prazo determinado. As circunstâncias que podem levar à suspensão da outorga são as seguintes:
#SELIGA:
	SUSPENSÃO DA OUTORGA
	não cumprimento pelo outorgado dos termos da outorga
	tais penalidades decorrem do descumprimento das condições impostas pelo contrato de outorga.
	ausência de uso por três anos consecutivos
	cuida da caducidade da outorga, pelo desuso.
	necessidade premente de água para atender a situações de calamidade, inclusive as decorrentes de condições climáticas adversas
	cuida-se de medida preventiva ou corretiva com a finalidade de manter a quantidade de água para suprir as necessidades da população
em decorrência de eventos climáticos excepcionais, podendo o Poder Público suspender a outorga
temporária ou definitivamente, conforme o caso.
	necessidade de se prevenir ou reverter grave degradação ambiental
	visa-se, neste caso, à proteção da qualidade da água, diferentemente do caso anterior.
	necessidade de se atender a usos prioritários, de interesse coletivo, para os quais não se disponha de fontes alternativas
	trata-se aqui do uso múltiplo das águas, podendo ser suspensa a outorga para possibilitar o uso prioritário que é o consumo humano e animal.
	necessidade de serem mantidas as características de navegabilidade do corpo de água
	esta hipótese relaciona-se, igual à anterior, à situação excepcional, com o fito de viabilizar a navegabilidade dos rios (art. 15, I a VI, da Lei
n. 9.433/97).
#DEOLHONAJURIS: Processual civil. Administrativo. Mandado de segurança. Captação de recursos hídricos. Outorga. Não comprovação. Falta de prova pré-constituída. Atribuição do poder executivo. Dilação probatória. Descabimento. 1. A Lei 9.433/1997, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, estipula que a exploração de recursos hídricos está sujeita a outorga pelo Poder Público (artigo 12), de modo que somente se legitima a questionar judicialmente, em mandado de segurança, ato da autoridade pública que visa impedir a captação de água, quem é detentor de outorga do Poder Público para a referida exploração. 2. A inexistência de comprovação, no ato da impetração, da referida outorga impede o exame de eventual direito líquido e certo do impetrante à captação de recursos hídricos, uma vez que o mandado de segurança pressupõe a juntada aos autos de prova pré-constituída do direito alegado, não podendo haver dilaçãoprobatória, nessa via. 3. A concessão da outorga não pode ser conferida pelo Poder Judiciário, em sede de mandado de segurança, pois, nos termos do artigo 14 da citada Lei, a competência de tal ato é atribuída exclusivamente a autoridade do Poder Executivo Federal, Estadual ou Distrital. Ademais, os requisitos para essa concessão não podem ser aferidos nesta seara processual, que sequer admite dilação probatória. 4. Recurso especial improvido. (STJ, ROMS 200501594346, de 20.06.2007).
3. Cobrança pelo uso de recursos hídricos
O art. 19 da Lei n. 9.433/97 instituiu a cobrança como um dos instrumentos da Política Nacional dos Recursos Hídricos, que tem por objetivo: a) reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real valor; b) incentivar a racionalização do uso da água; e c) obter recursos financeiros para o financiamento dos programas de intervenções contemplados nos planos de recursos hídricos.
#ATENÇÃO: A cobrança do uso dos recursos hídricos, segundo a doutrina, tem natureza de preço público, pois é pago pelo usuário ao Poder Público de um bem de uso comum do povo no interesse particular (para o STJ, a natureza jurídica é de tarifa – REsp 909.894-SE, Relatora Ministra Denise Arruda, j. 3-6-2008).
Na fixação dos valores cobrados deverão ser observados a quantidade de água retirada, bem como o montante de esgotos lançados e sua nocividade ao meio ambiente, sendo os valores arrecadados prioritariamente aplicados na respectiva bacia hidrográfica no financiamento de estudos, programas, projetos ou obras previstos nos Planos de Recursos Hídricos.
#DEOLHONAJURIS: É entendimento do STJ que o faturamento do serviço de fornecimento de água com base na tarifa progressiva, de acordo com as categorias de usuários e as faixas de consumo, é legítimo e atende ao interesse público, porquanto estimula o uso racional dos recursos hídricos.
4. Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos
O Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos é constituído por um conjunto de órgãos e instituições que atuam na gestão dos recursos hídricos na esfera federal, estadual e municipal.
Art. 32. Fica criado o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, com os seguintes objetivos:
I - coordenar a gestão integrada das águas;
II - arbitrar administrativamente os conflitos relacionados com os recursos hídricos;
III - implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos;
IV - planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dos recursos hídricos;
V - promover a cobrança pelo uso de recursos hídricos.
Compete aos órgãos públicos integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos a responsabilidade de conscientizar a população da importância desse recurso e dos riscos que podem causar as águas contaminadas, bem como estabelecer programas sociais de inclusão social de acesso a esse recurso essencial.
O Conselho Nacional de Recursos Hídricos, presidido pelo Ministro do Meio Ambiente, possui representantes do Poder Público (dos Ministérios e Secretarias da Presidência da República com atuação no gerenciamento ou uso dos recursos hídricos), dos indicados pelos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos, dos usuários e das organizações civis de recursos hídricos.
Art. 34. O Conselho Nacional de Recursos Hídricos é composto por:
I - representantes dos Ministérios e Secretarias da Presidência da República com atuação no gerenciamento ou no uso de recursos hídricos;
II - representantes indicados pelos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos;
III - representantes dos usuários dos recursos hídricos;
IV - representantes das organizações civis de recursos hídricos.
Parágrafo único. O número de representantes do Poder Executivo Federal não poderá exceder à metade mais um do total dos membros do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.
Art. 35. Compete ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos:
I - promover a articulação do planejamento de recursos hídricos com os planejamentos nacional, regional, estaduais e dos setores usuários;
II - arbitrar, em última instância administrativa, os conflitos existentes entre Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos;
III - deliberar sobre os projetos de aproveitamento de recursos hídricos cujas repercussões extrapolem o âmbito dos Estados em que serão implantados;
IV - deliberar sobre as questões que lhe tenham sido encaminhadas pelos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos ou pelos Comitês de Bacia Hidrográfica;
V - analisar propostas de alteração da legislação pertinente a recursos hídricos e à Política Nacional de Recursos Hídricos;
VI - estabelecer diretrizes complementares para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, aplicação de seus instrumentos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos;
VII - aprovar propostas de instituição dos Comitês de Bacia Hidrográfica e estabelecer critérios gerais para a elaboração de seus regimentos;
VIII -  (VETADO)
IX - acompanhar a execução do Plano Nacional de Recursos Hídricos e determinar as providências necessárias ao cumprimento de suas metas;
IX – acompanhar a execução e aprovar o Plano Nacional de Recursos Hídricos e determinar as providências necessárias ao cumprimento de suas metas;                   (Redação dada pela Lei 9.984, de 2000)
X - estabelecer critérios gerais para a outorga de direitos de uso de recursos hídricos e para a cobrança por seu uso.
XI - zelar pela implementação da Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB);                  (Incluído pela Lei nº 12.334, de 2010)
XII - estabelecer diretrizes para implementação da PNSB, aplicação de seus instrumentos e atuação do Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens (SNISB);                     (Incluído pela Lei nº 12.334, de 2010)
XIII - apreciar o Relatório de Segurança de Barragens, fazendo, se necessário, recomendações para melhoria da segurança das obras, bem como encaminhá-lo ao Congresso Nacional.              (Incluído pela Lei nº 12.334, de 2010)
5. Agência Nacional de Águas
A Agência Nacional de Águas – ANA é uma autarquia federal em regime especial criada pela Lei 9.984/2000, que atua como agente normativo e regulador do setor, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, com a função de implementar a PNRH.
A ANA será dirigida por uma Diretoria Colegiada, composta por cinco membros, nomeados pelo Presidente da República, com mandatos não coincidentes de quatro anos, admitida uma única recondução consecutiva, e contará com uma Procuradoria. Os dirigentes da ANA somente perderão o mandato em decorrência de renúncia, de condenação judicial transitada em julgado, ou de decisão definitiva em processo administrativo disciplinar. No entanto, nos primeiros quatro meses da sua gestão, será cabível a exoneração imotivada dos dirigentes da ANA.
As suas competências específicas vêm listadas em um extenso rol constante do artigo 4º da Lei 9.984/2000. A ANA poderá delegar ou atribuir a agências de água ou de bacia hidrográfica a execução de atividades de sua competência.
6. Infrações administrativas
A Lei de Recursos Hídricos previu uma série de condutas ilícitas consideradas como infrações administrativas, com as sanções de advertência; imposição de multa (simples ou diária) de R$ 100,00 a R$ 10.000,00 e o embargo (provisório ou definitivo).
Art. 49. Constitui infração das normas de utilização de recursos hídricos superficiais ou subterrâneos:
I - derivar ou utilizar recursos hídricos para qualquer finalidade, sem a respectiva outorga de direito de uso;
II - iniciar a implantação ou implantar empreendimento relacionado com a derivação ou a utilização de recursos hídricos, superficiais ou subterrâneos, que implique alterações no regime, quantidade ou qualidade dos mesmos, sem autorização dos órgãos ou entidades competentes;
III -  (VETADO)
IV - utilizar-se dos recursos hídricos ou executar obras ou serviços relacionados com os mesmos em desacordo com as condições estabelecidas na outorga;
V - perfurar poços para extração de água subterrâneaou operá-los sem a devida autorização;
VI - fraudar as medições dos volumes de água utilizados ou declarar valores diferentes dos medidos;
VII - infringir normas estabelecidas no regulamento desta Lei e nos regulamentos administrativos, compreendendo instruções e procedimentos fixados pelos órgãos ou entidades competentes;
VIII - obstar ou dificultar a ação fiscalizadora das autoridades competentes no exercício de suas funções.
Art. 50. Por infração de qualquer disposição legal ou regulamentar referente à execução de obras e serviços hidráulicos, derivação ou utilização de recursos hídricos, ou pelo não atendimento das solicitações feitas, o infrator, a critério da autoridade competente, ficará sujeito às seguintes penalidades, independentemente de sua ordem de enumeração:    (Redação dada pela Lei nº 14.066, de 2020)
I - advertência por escrito, na qual serão estabelecidos prazos para correção das irregularidades;
II - multa, simples ou diária, proporcional à gravidade da infração, de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais);   (Redação dada pela Lei nº 14.066, de 2020)
III - embargo provisório, por prazo determinado, para execução de serviços e obras necessárias ao efetivo cumprimento das condições de outorga ou para o cumprimento de normas referentes ao uso, controle, conservação e proteção dos recursos hídricos;
IV - embargo definitivo, com revogação da outorga, se for o caso, para repor incontinenti, no seu antigo estado, os recursos hídricos, leitos e margens, nos termos dos arts. 58 e 59 do Código de Águas ou tamponar os poços de extração de água subterrânea.
§ 1º Sempre que da infração cometida resultar prejuízo a serviço público de abastecimento de água, riscos à saúde ou à vida, perecimento de bens ou animais, ou prejuízos de qualquer natureza a terceiros, a multa a ser aplicada nunca será inferior à metade do valor máximo cominado em abstrato.
§ 2º No caso dos incisos III e IV, independentemente da pena de multa, serão cobradas do infrator as despesas em que incorrer a Administração para tornar efetivas as medidas previstas nos citados incisos, na forma dos arts. 36, 53, 56 e 58 do Código de Águas, sem prejuízo de responder pela indenização dos danos a que der causa.
§ 3º Da aplicação das sanções previstas neste título caberá recurso à autoridade administrativa competente, nos termos do regulamento.
§ 4º Em caso de reincidência, a multa será aplicada em dobro.
	DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO
	DIPLOMA
	DISPOSITIVO
	Lei 9.433/1997
	Integralmente (especialmente os arts. 1º a 23)
	BIBLIOGRAFIA UTILIZADA
Direito Ambiental Esquematizado, Frederico Amado.
Manual de Direito Ambiental, Luís Paulo Sirvinskas.
Manual de Direito Ambiental, Terence Trennepohl.
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