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Orientação de Dieta Dieta Apesar da grande importância da dieta no processo carioso, muitas vezes esse aspecto do tratamento é negligenciado. Mudanças de hábitos alimentares são frequentemente necessárias no tratamento da doença cárie, e isso por si só é um desafio para a equipe de saúde. O efeito das intervenções dietéticas na mudança de hábitos tem sido discutido atualmente e colocado como limitação no tratamento dos pacientes. A dieta tem um papel-chave no processo carioso, e basear o tratamento da atividade da doença somente na higiene bucal acaba sendo um equívoco comum na prática odontológica. A cárie dentária, como doença de causalidade complexa, é resultado da interação de um conjunto de determinantes biológicos e psicossociais. Crianças com diabetes controlada possuem menor experiência de cárie que crianças saudáveis. •Pessoas que trabalham em confeitarias e padarias possuem prevalência de cárie relativamente alta. •Pacientes portadores da Síndrome de Intole- rância Hereditária à Frutose, na qual os pacientes devem abster-se do uso da frutose e sacarose, apresentavam uma baixa experiên- cia de cárie, com 59% livres da doença. Além destas evidências observacionais, alguns estudos de intervenção também demonstraram a estreita relação entre consumo de açúcar e cárie dentária. •O fator mais importante para a ocorrência de cárie não é a quantidade total ingerida, mas a frequência de consumo de açúcar. •A consistência do alimento desempenha um papel relevante: quanto maior o tempo em que o alimento permanecer na cavidade bucal, mais cariogênico ele será. •Existe uma variabilidade individual, com alguns indivíduos sendo mais suscetíveis ao desenvolvimento da cárie dentária do que outros, mesmo sob condições alimentares semelhantes. O consumo de sacarose aumenta a ocorrência de cárie, porém de maneiras diferentes, de acordo com a forma de consumo. OBS: É importante lembrar que as quedas de pH utilizando-se a frutose e a sacarose são semelhantes. O EFEITO DO FLÚOR NA RELAÇÃO ENTRE DIETA E CÁRIE DENTÁRIA Orientação de Dieta Com a disseminação do flúor por meios de abrangência coletiva (água de abastecimento público fluoretada e sal fluoretado) e com a larga oferta de dentifrícios fluoretados, a relação entre dieta e flúor passou a se alterar gradualmente. No Brasil, observamos modificações significativas na prevalência de cárie a partir da década de 70, com a adição do flúor na água de abastecimento público de algumas cidades, e a partir da década de 90, com a oferta de dentifrícios fluoretados no mercado nacional. Em relação ao consu-mo de açúcar, não pode ser utilizado no manejo dos pacientes com atividade de cárie. Embora o flúor tenha tido um efeito importante na redução da prevalência de cárie, ele não eliminou a doença, não tendo o poder de anular fatores causais importantes, como a dieta cariogênica e a presença de biofilme dental. Assim, a restrição do consumo de açúcar continua sendo uma parte justificável do controle da doença cárie. METABOLISMO DOS CARBOIDRATOS Os carboidratos podem ser classificados, quanto à sua composição química, em monossacarídeos, dissacarídeos e polissacarídeos. Do ponto de vista nutricional, os monossacarídeos e dissacarídeos são classificados como açúcares, e os polissacarídeos, como ami- dos. Os carboidratos mais fortemente associados à cárie dentária são os açúcares, por serem facilmente fermentados pelas bactérias, embora os amidos, alimentos com alto peso molecular, possam ser degradados em moléculas menores, servindo como fonte potencial de nutrientes para as bactérias do biofilme. Diversas espécies bacterianas presentes no biofilme são capazes de metabolizar carboidratos e gerar ácidos que causam a desmineralização dos tecidos dentários. Após o consumo de açúcar, o pH do biofilme bacteriano cai bruscamente, alcançando o nível mínimo em aproximadamente 10 minutos, quando começa a retornar vagarosa- mente à neutralidade, até atingir seus valores basais em aproxima- damente 30 minutos. Sintetizar diversos tipos de polissacarídeos, sendo os polímeros de glicose e os polímeros de frutose os principais: POLÍMEROS DE GLICOSE (GLICANOS): formados pela enzima glicosiltransferase, apresentando-se como uma massa gelatinosa extracelular sobre a superfície da bactéria. Podem apresentar a maioria das ligações na posição α-1.6, sendo denominados “dextra- nos”, ou Orientação de Dieta predominância de ligações α-1.3, sendo chamados “muta- nos”. Os mutanos são altamente insolúveis e rígidos e podem formar agregados fibrosos enquanto os dextranos formam cadeias flexíveis, sendo mais solúveis. POLÍMEROS DE FRUTOSE (FRUTANOS): formados pela enzima frutosiltransferase, são polímeros extracelulares de frutose bastante solúveis, com ligações β-2.6. Estes polímeros são formados em uma extensão menor do que os glicanos. CARIOGENICIDADE DOS ALIMENTOS AÇÚCARES E AMIDOS Diferentemente dos açúcares, os amidos são moléculas grandes e complexas que necessitam da ação enzimática para serem degrada- das em moléculas menores, passíveis de utilização no metabolismo bacteriano. Dessa forma, sua cariogenicidade depende da forma de preparo dos alimentos. Durante o processamento industrial, as moléculas de amido sofrem uma série de modificações denominada gelatinização, como resultado do calor e dos processos mecânicos aos quais elas são submetidas. Quanto maior o grau de gelatiniza- ção do amido, mais suscetível ele estará à degradação enzimática, aumentando o seu potencial cariogênico. Por esta razão, o amido cru promove uma menor queda de pH do que o amido cozido. ALIMENTOS PROTETORES Enquanto alguns alimentos são vistos como “vilões” por apresentarem um alto potencial cariogênico, outros são considerados protetores, como é o caso do leite. Além de possuir lactose, um açúcar menos cariogênico, o leite é conhecido por apresentar fatores de proteção contra cárie como cálcio, fosfato e caseína. Estudos epidemiológicos recentes demonstraram o efeito positivo ou nulo do consumo de leite na ocorrência de cárie. ADOÇANTES Em virtude do reconhecido potencial cariogênico dos açúcares, uma série de adoçantes está disponível no mercado, podendo ser classifi- cados em não calóricos e calóricos. Adoçantes não calóricos, como sacarina, ciclamato e aspartame são comumente utilizados para adoçar refrigerantes, sorvetes e geleias. Por não serem metabolizados pelas bactérias do biofilme, não apresentam potencial cariogênico. DIAGNÓSTICO: COMO REGISTRAR AS INFORMAÇÕES Existem diferentes métodos para registrar as informa- ções referentes à dieta dos pacientes: o diário alimen- tar, a entrevista de 24 horas e questionários específi- cos. No diário alimentar, um formulário é entregue ao paciente e solicita-se que ele registre Orientação de Dieta todos os alimentos e bebidas consumidos por um período que varia de 3 a 7 dias. Deve ser registrado o horário de ingestão e as porções ingeridas de cada alimento. Método comumente utilizado para o registro dos hábitos alimenta- res é a entrevista de 24 horas. Neste caso, o paciente relata verbalmente ao profissional todos os alimentos e bebidas consumidos nas últimas 24 horas. Por ser realizado sem aviso prévio, reduz-se o risco de o paciente modificar suadieta previamente ao registro.