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A AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL E OS NOVOS CONCEITOS DE APOIO A GESTÃO DA PRODUÇÃO José Alberto Nicolau de Oliveira Depto de Engenharia Elétrica, Universidade Federal do Rio Grande do Norte E-mail: Nicolau@ufrnet.br Resumo – Neste trabalho são analisados alguns conceitos gerais da automação industrial e os seus encaminhamentos nos últimos anos sob a influência dos novos paradigmas de mercado, de planejamento e de gestão da produção. Ênfase será dada à compreensão dos principais conceitos ligados a visão de integração dos vários setores de uma empresa, desde os relacionamentos em chão de fábrica até as novas concepções de negócios e dos sistemas de gerenciamento da produção. São propostas e analisadas duas hierarquias de automação industrial. Abstract - In this work some general concepts of the industrial automation and their directions are analyzed in the last years under the influence of the new market paradigms, of planning and of administration of the production. Emphasis will be given to the understanding of the main tied concepts the vision of integration of the several sections of a company, from the relationships in factory ground to the new conceptions of businesses and of the management systems of the production. They are proposed and analyzed two hierarchies of industrial automation. Palavras chaves – automação, produção, gestão da produção, controle. 1. Introdução Nos últimos anos os esquemas de produção têm sofrido mudanças significativas (Tovar, 1996) quer seja pela crescente competição entre as empresas quer seja pelo enorme desenvolvimento dos sistemas que embarcam microprocessadores e microcontroladores em suas unidades mais básicas de controle às quais, sofrem revolucionárias transformações (Maitelli, 2001). Associa-se a esta evolução o desenvolvimento crescente dos processadores digitais de sinais (DSPs) e das redes de comunicação. O uso do DSP ligado às técnicas de inteligência artificial e de redes neurais permite gradativamente a incorporação de inteligência a unidades terminais de controle tais como sensores e atuadores. Independentemente dos conceitos que direcionam a automação integrada da empresa, todos buscam um lugar comum: o lucro. E este lucro, só poderá vir com o aumento da competitividade. Um sistema automatizado pode contribuir para o aumento da competitividade da empresa através da redução dos custos de pessoal; redução de custos de “stock” (intermediários e terminais – “stock” zero); disponibilização de produto com atraso zero em operação “Just in time”; aumento da qualidade dos produtos; maior disponibilidade dos produtos; aumento da evolutilidade e aumento da flexibilidade da produção (Tovar, 1996). Estes objetivos têm sido buscados de formas diferenciadas durante as últimas décadas. Destacam-se quatro fatores que têm contribuído significativamente, para o desenvolvimento dos sistemas de fabricação (Rocha, 2001): o aumento das expectativas dos clientes; a globalização da cooperação e dos mercados; o incremento das pressões sociais, notadamente questões ecológicas e o aumento da complexidade tecnológica. Todos estes aspectos implicam num considerável aumento da freqüência de concepção dos produtos e da reprogramação dos sistemas de fabricação. No entanto, a reprogramação dos sistemas de fabricação é uma tarefa complexa que envolve um tempo de ativação elevado, nomeadamente na definição dos passos necessários para a fabricação de um novo produto, no sequenciamento de novas tarefas e na reprogramação das diferentes máquinas. Por este motivo, o aumento da flexibilidade dos sistemas de fabricação assume uma importância crescente de forma a permitir aumento de eficiência e de produtividade voltadas à competitividade. 2. Sistemas Industriais, segmentos da automação e tecnologias associadas Os sistemas industriais dividem-se em dois grupos principais: a industria de manufatura e a industria de processos. No primeiro grupo se enquadram dentre outras as industrias automotiva, eletrônica e de computadores, aeronáutica e têxtil. Já no segundo grupo estão as industrias petroquímica, de produção de energia, de refinaria, farmacêutica e química. De acordo com o tipo de industria, os elementos a monitorar e a atuação também podem se diferencia r. Enquanto nas industrias de processos a presença predominante são os sinais contínuos, na de manufatura temos a predominância de sinais e controles discretos (Tovar, 1996), (Maitelli, 2001). A evolução da tecnologia e dos dispositivos eletrônicos tem norteado a presença dos dispositivos de controle desde os meados da década de 50. Em particular, se destaca, a partir da década de 70, o surgimento dos microprocessadores, micro- controladores e DSPs, os quais propiciaram o desenvolvimento dos controladores lógicos programáveis (CLPs) inicialmente robustos, mas pouco flexíveis . Gradativamente, no entanto, o CLP adquire flexibilização, ao se incorporar aos novos paradigmas de “codesign” (“hardware” e “software”), de lógica programável e dos “embedded systems” (sistemas embarcados). A lógica cablada dá lugar à lógica programável e a incorporação de inteligência aos dispositivos terminais de controle (sensores e atuadores) dispensa ações anteriormente próprias de sistemas supervisórios. A incorporação de elementos de conversão analógica para digital e de digital para analógica nos dis positivos digitais programáveis (microcontroladores e DSPs) encurtam, cada vez mais , os caminhos antes distintos do controle contínuo e do controle discreto, e viabilizam que se tenha numa mesma malha a presença de sensoriamento e atuação de sinais analógicos e digitais. Esta evolução faz com que soluções anteriormente defendidas como as dos Sistemas Digitais de Controle Distribuídos (SDCD) passem a se reder frente às novas definições de redes de campo integradas às redes de informação. Além da redução nos custos, passa a existir uma natural simplificação em procedimentos, análises e tomada de decisões. Novos padrões de redes de chão de fábrica e de informação (proprietários ou abertos) são continuamente buscados por fabricantes e associações. Para tipos ma is específicos de aplicação, alguns provavelmente sairão fortalecidos. Até mesmo o mais barato deles, o Ethernet, segundo Seixas (Seixas Filho, 2001), será uma alternativa para redes de sensores e atuadores onde, não sejam requeridas segurança intrínseca ou alimentação através do cabo. 3. Conceitos evolutivos da manufatura e da gestão da produção O momento atual exige uma visão única (holística) do negócio (Hosenfeld, 1999) onde o ponto chave é a integração de todos os setores da empresa. Enquanto anteriormente (anos 80 e início da década de 90) a automação industrial relacionava apenas o nível de chão de fábrica com o de supervisão, hoje ela tem que estender seus domínios até a gestão da produção integrando os processos de negócios nas suas diversas visões (estratégias, atividades, informação, recursos e organização) como um todo unificado. Os dados agora são transformados em informação de negócio. Todos estes sistemas integrados de automação passam a ser globalizados no termo geral de EPS (“Enterprise Production Systems ”) que incluem os sistemas de execução da manufatura, responsável por todo o acompanhamento da produção, da ordem de produção ao produto final, os sistemas de manutenção, os sistemas de gerenciamento de laboratórios, ou de uma maneira geral, os sistemas capazes de suportar as necessidades de informação para todo o empreendimento. Dentro deste enfoque destaca-se o papel fundamental da gestão da produção. Desde a década de 70, nota-se nas empresas de produção uma tendência no sentido da utilização de sistemas automáticos para a execução de muitas das tarefas relacionadas com as atividades de projeto e fabricação. Estas tecnologias denominam-se de projeto e manufatura assistidos por computador (CAD/CAM). É, no entanto,amplamente reconhecido que o âmbito de aplicação de computadores nas atividades de produção deve ultrapassar o projeto e a manufatura, e passar a incluir ligações ao mercado por parte da empresa. O nome dado a esta utilização mais abrangente é o de Produção Integrada por computador (CIM). Neste conceito as funções de pesquisa e desenvolvimento, projeto, produção, montagem e controle de qualidade estão interligadas. Conseqüentemente, a integração requer que as relações quantitativas entre o projeto do produto, os materiais, o processo de fabricação e as capacidades dos equipamentos estejam bem definidas e sejam compreendidas (Seixas Filho, 2001). Quando o conceito CIM surgiu no início dos anos 80, era entendido fundamentalmente como “Computer Manufacturing”, sendo o termo integração pouco relevante e secundário na altura da implementação. Tinha como pressuposto fundamental que todos os problemas duma empresa poderiam ser resolvidos tecnologicamente, centralizando as atividades, automatizando a planta de manufatura e controlando o processo eletronicamente, o que permitia, sem ser o objetivo, a redução substancial da dependência da fábrica pelo ser humano. O que era realmente importante era a informatização, automatização e diminuição da intervenção do homem. Surgem assim as ilhas de automação, supostamente muito eficientes isoladamente, mas que no conjunto poucas ou nenhuma vantagem competitiva trouxeram às empresas (Rocha. 2001). Com o tempo e com as primeiras frustrações e fracassos, foi-se iniciando um longo processo de aprendizagem e de adaptação às necessidades tecnologias e sociais da empresa. Inicialmente pensou- se que a solução continuaria a passar pelo uso da tecnologia, pois se constatou a ineficiência das ilhas de automação em nível global, o que poderia potencialmente ser resolvido com a interligação dos sistemas heterogêneos. Desenvolveram-se e implementaram-se então formas de comunicação e interligação, protocolos e formatos de codificação de informação. Contudo, rapidamente se constatou que o verdadeiro problema dos sistemas não se devia a questões puramente tecnológicas. Surgiram então empresas responsáveis pelo acompanhamento do processo, implementação e integração dos diversos componentes tecnológicos que, juntamente com a comunidade científica. desenvolveram metodologias e técnicas de estudo e implementação. A contratação destes “system integrators” permitiu o desenvolvimento e a incorporação de novos conceitos a partir dos anos 80 (Thomas, 2001). Um sistema de produção integrado é constituído por diversos módulos interligados entre si. A capacidade de comunicação entre módulos contribui decisivamente para as capacidades de integração de todo o sistema e, portanto, para o seu desempenho enquanto sistema integrado. Na figura 1 podem ser vistos os componentes mais freqüentemente utilizados, bem como as relações entre eles. Figura 1 CIM – Produção Integrada por Computador CAD – Projeto Assistido por Computador CAPP – Planejamento de Processos Ass. por Computador PPC – Planejamento e Controle da Produção CAE – Engenharia Assistida por Computador CAM – Manufatura Assistida por Computador CAQC – Controle da Qualidade Assistida por Computador MÊS – Sistemas de Execução da Produção FMS – Sistema Flexível da Manufatura A evolução dos sistemas de gestão da produção tem sido no sentido de englobar progressivamente todas as áreas da empresa, permitindo criar sinergias que resultam da possibilidade de partilha permanente da informação, da integração das diversas áreas e do acompanhamento da totalidade dos ciclos de vida dos produtos, desde o projeto até aos serviços de pós- venda. No início dos anos 90, este conceito foi estendido para cobrir áreas, tais como finanças, recursos humanos, gestão de projetos, entre outros, que representam a gama completa de atividades de qualquer empresa. Surgiu assim, a noção de Planejamento de Recursos empresariais (ERP). A utilização de Sistemas de Gestão e Recursos Empresariais (MRP/ERP) vem se tornando cada vez mais comum entre as indústrias. Incluí-se neste contexto, também, o parque fabril brasileiro. As empresas percebem, no entanto, que ainda falta algo para que a tão sonhada melhoria da produtividade e do controle empresarial se torne efetiva. Este elo perdido entre a automação e o ERP é obtido com o MES (“Manufacturing Execution System”), um sistema de gestão automática da produção, que interliga a realidade do chão de fábrica com o sistema de gestão empresarial. Sem ele as informações chegam ao sistema de gestão sempre depois do ocorrido, ou seja, tarde demais . A ligação pelo MES do ERP aos sistemas de monitoração e controle da produção, completa, segundo Seixas (Seixas Filho, 2001) a pirâmide da automação. Com o uso intensivo da Internet, e a crescente globalização de valores, novos conceitos passam a se integrar à gestão da produção como, por exemplo, o de empresa estendida e o de empresa virtual. 4. Concepção de uma solução de automação industrial. Segundo Seixas (Seixas Filho, 2000), “o primeiro passo ao se conceber uma solução qualquer de automação é desenhar a arquitetura do sistema, organizando seus elementos vitais: unidades remotas de aquisição de dados; PLCs, instrumentos; atuadores, sistema de supervisão, etc, em torno de redes de comunicação de dados apropriados. A escolha da arquitetura irá determinar o sucesso de um sistema em termos de alcançar os seus objetivos de desempenho, modularidade, expansibilidade, etc.” Embora fique claro que as soluções irão depender muito das limitações de cada projeto existem duas proposições que certamente são as mais praticadas. Na primeira delas, existem duas hierarquias de redes: uma rede de informação e uma rede de controle. Na segunda proposição existe a presença de três redes: uma de dispositivos para “linkar” sensores e atuadores aos controladores , uma rede de controle que une os controladores e uma rede de informação. Nas duas proposições, o nível mais alto da arquitetura é representado pela rede de informação. Em grandes corporações é natural a escolha de um “backbone” de grande capacidade para interligação dos sistemas de ERP (“Interprise Resource planning”), “supply chain” (gerenciamento da cadeia de suprimentos) e EPS (“Interprise production Systems ”). Este “backbone” nas duas soluções pode ser representado, por seu menor custo e simplicidade, por uma Ethernet 100- baseT, utilizando como meio de transmissão cabo par trançado nível 5e. Na primeira topologia, a rede de controle, interliga diretamente os sistemas industriais de nível 2 ou sistemas supervisórios (SCADA) aos sistemas de nível 1 representados por CLPs e remotas de aquisição de dados. Alguns equipamentos de nível 3 como sistemas PIMS e MES também podem ser ligados a este barramento. As estações clientes se comunicam com seus servidores através da rede de informação e as estações servidoras se comunicam com os CLPs através da rede de controle (figura 2). Figura 2. CIM Estendido Funções de negócio CAE CAM CAQC MES FMS CIM CAD CAPP PPC 100 Mbps Switch 100Base-T Switch 100Base-T Servidor MES Servidor SCADA Cliente MES Cliente SCAD A Switch 100Base-T CLP 1 CLP 2 CLP 3 Hub 100Base-T Servid or ERP MES Caso a rede de comunicação seja mesmo a Ethernet, é recomendável isolar o tráfego de controle do tráfego de informação através de “switchs”. Além de evitar os problemas de divisão de banda, os “switchs” assegurarão a criação de uma rede Ethernet livre de colisões (esta concepção é mais freqüentemente denominada de rede Ethernet Industrial) Como exemplo da segunda proposição é mostrado uma hierarquia de rede aberta em que a Ethernet é usada como rede de informação, a ARCNET é usada como rede de controle e a CAN é usada como rede de dispositivo (Thomazs, 1999).Figura 3. Ressalte-se que o uso de dispositivos e redes heterogêneas, de fabricantes distintos, deixa o usuário de controle menos dependente e força os fornecedores a manterem seus elementos construtivos dentro de padrões internacionais. 5 – Conclusão Dentro do contexto apresentado observa-se que a automação industrial, sob a forte influência da evolução tecnológica trazida, principalmente, pelos dispositivos microporcessados e DSPs e pelas novas definições de padrões de comunicação conseguiu se adaptar aos paradigmas que envolvem os modernos conceitos de manufatura, de gestão de produção e de visão única do negócio. A pirâmide da automação, que integra o chão de fábrica ao processo de negócio está bem compactada e sua integrada organização viabiliza sistemas mais flexíveis, controláveis e que podem levar a um alto grau de competitividade. 6 – Bibliografia ROZENFELD,H.(1999) Integração de Empresas / CIM. Disponível em, www.numa.org.br/conhecimentos/conhecimentos_port/pag_c onhec/intcim.html. SEIXAS FILHO. Constantino (2000). A Automação nos anos 2000. Uma análise das novas fronteiras da automação. Em www.cpdee.ufmg.br/~seixas/PaginaII/Download/DownloadFi les/Conai2000Automacao.PDF. THOMAS. George. (1999). Proposed Network Hierarchy for Open Control. Em http://www.ccontrol.com/whitepaper.htm SEIXAS FILHO. Constantino (2000). Arquiteturas de Sistemas de Automação – Uma Introdução. Disponível em http://www.cpdee.ufmg.br/~seixas/ ROCHA. João M. S. da. (2001). Gestão da Produção Apoiada por Computador. Disponível em www.dei.isep.ipp.pt/~jsr/gpac%2000-01/GPAC2.pdf THOMAS. George. (2001) Implementation of a Control Project. Disponível em www.ccontrols.com TOVAR. Eduardo. (1996). Introdução a Informática Industrial. Disponível em www.dei.isep.ipp.pt/~emt/infind/ii_1a.pdf MAITELLI. André (2001). Automação Industrial. Disponível em ftp://ftp.dca.ufrn.br/pub/users/maitelli/controle1/ GUEDES. Luiz Affonso. (2003). Redes para automação Industrial. Disponível em ftp://ftp.dca.ufrn.br/pub/users/affonso/DCA447/