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METODOLOGIA DO ENSINO DA FILOSOFIA PADRÃO- RESPOSTA 2 CAPÍTULO I Atividades de Estudo 1 Por que a filosofia também possui um caráter prático? R.: Porque ela não se ocupa somente com o levantamento de problemas relativos ao mundo e à existência, mas por querer resolver esses problemas. Sendo que a busca dessas respostas também implica em uma ação: o ato de filosofar. As motivações filosóficas partem de questões ou problemas reais. O que evidencia o caráter prático da Filosofia, em que as teorias surgem das necessidades de cada filósofo, ao mesmo tempo que as concepções teóricas podem voltar à realidade e orientar a ação dos homens, seja na política, na educação, na ação moral entre outras. 2 Como podemos caracterizar a reflexão filosófica? R.: Uma reflexão filosófica se caracteriza por ser um pensar mais profundo, mais racional, mais sistemático. Um pensar que procura colocar os atributos da racionalidade em seu mais pleno funcionamento. Um pensar que se propõe a dar mais clareza às explicações acerca do mundo, a partir do uso da razão. Assim, a reflexão filosófica se caracteriza por ser um pensar qualificado, racional ao extremo, que envolve tanto o aprofundamento quanto a máxima visão de conjunto possível sobre uma determinada questão. 3 Quem está apto a fazer uma reflexão filosófica? R.: Qualquer pessoa disposta a fazer uma reflexão, independentemente do nível de conhecimento e do grau de profundidade da resposta. Qualquer pessoa pode se fazer certos tipos de perguntas filosóficas e tentar, em alguma medida, respondê-las. 4 Como o docente pode despertar o desejo de filosofar em seus alunos? R.: Por meio de perguntas, pois elas devem constituir a essência da aula. Instigar os alunos com perguntas ajuda tanto a ensinar a questionar a realidade e despertar a dúvida e a curiosidade como os ensina a formular suas próprias questões, abrindo um novo horizonte a ser desvelado. Esse perguntar-se constante pode despertar nos alunos problemas filosóficos, ou seja, questões que os impulsionem a uma reflexão filosófica. 3 5 Quais os dois caminhos metodológicos no ensino de filosofia e como podemos estabelecer uma relação entre eles? R.: A questão do aprender filosofia e do aprender a filosofar. Tratar da história da filosofia se torna necessário para que o estudante no aprendizado do filosofar situe essa área do conhecimento no espaço e no tempo, e não apenas pense como algo em si. O conhecimento da história da filosofia mostrará ao estudante que a forma de conhecimento filosófico é uma construção humana e histórica que surgiu em determinada época e lugar. Ou, por outra via, que a filosofia surgiu em diferentes épocas e lugares, e que é impossível fixar a sua origem a apenas um tempo e lugar na história. Uma metodologia do ensino de Filosofia, que tenha a história da filosofia como centro e referencial, deverá considerar a necessidade de organizar um trabalho com a história da filosofia não como simples transmissão de conhecimentos do passado, mas estabelecer estratégias didático-filosóficas, as quais devem favorecer as apropriações críticas e criativas por parte dos discentes do cabedal filosófico já existentes, para que possam refletir sobre “os problemas com os quais eles se defrontam”, tendo em vista transformá-los. Atividades de estudo 1 O que significa uma formação filosófica libertadora? R.: É o ensino de Filosofia que caminha na direção do livre exercício do pensamento e, portanto, para o exercício da liberdade. A educação filosófica libertadora coloca o aluno no centro do processo da reflexão, faz ele vislumbrar a possibilidade de assumir as rédeas da própria realidade de forma consciente e crítica. Possibilita a formação de sujeitos autônomos, livres a partir do exercício da racionalidade. É uma formação humana que procura desenvolver a capacidade do aluno de se autogerir, de se pôr no mundo de modo crítico. Assim, a formação filosófica libertadora cria espaço para que o indivíduo possa se perceber como “Ser” dotado de existência. A educação libertadora faz com que o homem se veja como parte viva da realidade, e não separado dela. Homem e mundo se fundem, pois um está contido no outro. Essa percepção integrada é que permite o exercício pleno da liberdade, tendo em vista que devolve ao homem a compreensão de que ele também é sujeito participante. 4 2 Como o estudo da história da Filosofia auxilia na formação humana crítica? R.: O estudo da história da Filosofia ajuda a saber pensar a própria realidade, porquanto proporciona uma fabulosa visão de conjunto sobre como a humanidade caminha, e com isso instiga a busca de novas interpretações, na medida em que encontramos problemas conceituais históricos, os quais, podemos romper. Desse modo, permite poder criar algo de verdadeiramente novo, por tomarmos consciência da construção histórica do conhecimento humano. Então, o ensino de Filosofia não deve se esgotar em saber pensar filosoficamente os problemas atuais, mas consiste em dar ao aluno a possibilidade de pensar criticamente os diversos paradigmas construídos ao longo da história, e que ainda estão presentes em nossa sociedade. 3 O que significa a instrumentalização da razão e qual o seu impacto no professor de Filosofia? R.: A especialização instrumentalizou a razão, retirou dela a sua roupagem crítica, e a razão passou a ser usada na expansão da produção, foi usurpada pela necessidade de reprodução do capital. É dentro desse contexto que se insere hoje o professor de Filosofia, em meio a todo esse conflito, entre um saber especializado, instrumentalizado para o mercado, e um saber crítico, que abrange a necessidade de compreensão da totalidade da sociedade, que abrange a ideia de um sujeito que se percebe e atua no mundo. 4 Como a sociedade voltada para a produção e o consumo em massa trata a educação e a formação humana? R.: Nessa sociedade, voltada para a produção e o consumo em massa, a superficialidade ganha espaço, e a formação reflexiva não é mais adequada. A educação não precisa formar indivíduos críticos e conscientes. Essa sociedade fundada no efêmero não necessita de sujeitos ativos, criadores de sua realidade. Atividades de estudo 1 Quais as dificuldades enfrentadas atualmente pelo ensino de Filosofia? R.: O descaso pela educação e pela formação filosófica ficam evidentes numa sociedade marcada pelo consumo e pela produção em massa. Assim, o grau 5 de dificuldade encontrado para se ensinar Filosofia aumenta, pois vivemos em uma sociedade em que o apreço por um conhecimento mais aprofundado da realidade soa como uma perda de tempo diante da ideia de que tudo precisa ter uma utilidade imediata. É evidente que a Filosofia é extremamente útil para a vida nessa sociedade, porém, para que se perceba essa utilidade, é necessário que se pare para pensar, atitude muito rara atualmente. 2 Qual a contradição existente entre o significado mais singelo de Filosofia e a tradição? R.: O seu significado mais singelo é o amor à sabedoria. O problema é no fato de que o amor talvez não esteja no campo da razão. Ao longo de dois milênios, o conhecimento se colocou como algo divergente aos sentimentos, mas, na prática, o conhecimento talvez nunca pôde se separar efetivamente deles, e essa é a contradição. Entender essas questões aparentemente contraditórias nos remete ao pensar dialeticamente, em que o conhecimento do mundo não pode ser separado dele mesmo, como nos fez pensar a razão e a ciência ocidental até então. 3 Em que consiste o método de abstração científica do real usado pela tradição ocidental, quais suas limitações e como superá-lo? R.: A abstração científica é um processo do conhecimento de análise do mundo, porém, o processo de sua compreensão não se esgota na abstração, na separação da parte do todo para análise aprofundada. Ele precisa retornar para o real, num processo chamado de síntese, em que o que havia sido subtraído retorna, volta à totalidade doreal, volta ao seu contexto, às suas mais diversas relações. Esse retorno, depois da análise, é um retorno mais claro que o anterior, daí se faz uma outra abstração, esclarece-se outros aspectos, e se retorna ao real, mais acessível. Esse movimento se repete até que o caos do começo desapareça, e apareça aos olhos críticos do homem uma realidade mais conhecida, mais compreensível do que a do início do movimento. 4 O que significa pensar uma educação humanizadora e como ela pode mudar a concepção de ensino de Filosofia? R.: Significa ter uma visão mais ampla do ser humano e de sua relação com o conhecimento. É necessário entender que ser humano não é só pensamento, e que o pensamento tem uma ligação direta com o sentir, pois pensar desperta sentimentos e sentir desperta pensamentos. É evidente que a sala de aula trata do aspecto cognitivo do ser humano, porém, isso não significa dizer que o aluno está desprovido de sentimentos, emoções, desejos, angústias, entre outros, 6 em sala de aula. Tanto professor como alunos carregam consigo a totalidade do seu ser. Pensar envolve sentir, sentir envolve pensar. E no ensino de Filosofia o pensar precisa carregar consigo o desejo de saber, as angústias devem se transformar em motivações para conhecer e assim sucessivamente. Enquanto professor, que se propõe a ensinar Filosofia, é necessário ter consciência da relação afetiva, do amor ao conhecimento que carece despertar nos alunos. Talvez não se possa ensinar a amar, mas seja possível ajudar a despertar o amor ao conhecimento. Talvez possa ajudar eles a sentirem o prazer da descoberta. E se conseguir, todo o resto estará certamente mais favorável a acontecer. 5 Quais as dificuldades de se fazer a síntese e a diferença entre dialética e a teoria da complexidade? R.: A dificuldade de fazer a síntese está na dificuldade de retornar ao todo a parte abstraída do real, pois o todo traz consigo a complexidade do real. É preciso enfrentar a complexidade do conhecimento e da vida, e o antagônico não se apresenta como excludente, pelo contrário, como destaca Morin (2013, p. 108): “Trata-se de três imperativos. Como tudo que é complexo, são antagônicos e, ao mesmo tempo, complementares uns aos outros.” Na abordagem dialética, trata-se do processo de mudança como um momento negativo. Já a teoria da complexidade vai entender que os contrários se complementam, criando algo novo. O que a dialética entende como síntese dos contrários, a unidade do múltiplo, a teoria da complexidade, entende como complementariedade. Atividades de estudo 1 Quais os argumentos de Adorno sobre o porquê de nossa sociedade gerar pessoas capazes de se tornarem algozes? R.: Semelhante aos prisioneiros de Caverna de Platão, atualmente somos prisioneiros da “sociedade administrada”. A noção de “sociedade administrada” de Adorno funciona como a Caverna de Platão. Em tal sociedade, que é a nossa sociedade industrial, há um véu ideológico (produzido, como explica o marxismo, pela reificação e pelo fetichismo) que cobre os rostos de todos nós. Esse véu, como as sombras na Caverna de Platão, faz com que enxerguemos o que não é o real como sendo o real. Estamos em uma situação na qual nos imaginamos como sujeitos quando na verdade somos objetos. Porém, diferentemente da situação do prisioneiro de Caverna de Platão, estamos envolvidos por algo bem pior. Se fugimos da Caverna encontramos a luz, e ficamos mais cegos ainda, pois a luz é muito forte: a luz natural da razão, ela própria, é mais que uma aliada do mundo moderno no que ele tem de dominador e opressor, ela é a própria 7 mãe do mundo moderno e, sendo uma luz forte, cega-nos. O Iluminismo cega. Contra os fenômenos ideológicos de nossa sociedade atual — o capitalismo em sua fase monopolista e/ou a “sociedade administrada”, que nos faz ficar prisioneiros de nossa ciência e de nossa tecnologia. 2 Quais as características da razão instrumental? R.: Vivemos a época da técnica, da ciência, do pragmatismo, do utilitarismo, a qual valida verdades práticas, objetivas, comprováveis experimentalmente. Essa razão extremamente aplicada é a que foi chamada de razão instrumental, resultado do pensamento linear desenvolvido durante a modernidade. A extrema especialização das mentes humanas produtoras de super tecnologias perdeu a capacidade perceber a totalidade da vida. 3 Quais os problemas gerados por uma visão apenas linear do conhecimento e como superá-los? R.: O problema não é a linearidade do conhecimento, mas que esse tipo de conhecimento sozinho não bastar para a humanidade. Essa extrema especialização das mentes humanas produtoras de super tecnologias perdeu a capacidade perceber a totalidade da vida. A racionalidade do homem o levou para outros caminhos. É necessário fazer o caminho de volta, terminar a lição de casa, retornar ao real, reconhecer a complexidade do mundo para assim desvendá-lo. Para tanto, existem duas abordagens importantes, as quais consideram o real em sua totalidade: a abordagem dialética e a teoria da complexidade. Ambas entendem que os antagonismos e as contradições fazem parte da dinâmica da realidade, daí o seu caráter complexo. A dialética estuda a realidade em seu movimento, não a cristaliza. Já a teoria da complexidade aborda o real como um emaranhado de relações que articulam as partes, em que o conhecimento sobre o real também inclui essas relações, não existindo um único caminho a ser seguido, ou seja, pode-se chegar ao conhecimento por caminhos diversos nesse emaranhado de relações. Desse modo, verifica-se que o caminho para o conhecimento não precisa ser necessariamente linear. 4 Explique como se caracteriza o aspecto temporal da complexidade: R.: Se o conhecimento quiser apreender o real em seu movimento, a temporalidade precisa estar presente, e, portanto, a irreversibilidade inerente ao mundo se apresenta, ou seja, os momentos não se repetem, pois, as relações se modificam e as partes também. Inserir o aspecto temporal na 8 compreensão de mundo significa pensar a realidade em sua complexidade real, significa captar o real em seu movimento, percebendo as peculiaridades de cada momento, das variáveis que ao se transformarem, transformam as relações e consequentemente o todo. CAPÍTULO II Atividades de estudo 1 Como a educação se mostrou fundamental para o homem ao longo da história? R.: A educação se mostrou fundamental para o homem no sentido de permitir que ele não perdesse, de uma geração para a outra, seu modo de viver. Serviu para manter o que já se havia conquistado e permitir a atualização e a descoberta de novos modos de se relacionar, realizar tarefas, interpretar o mundo entre outras coisas. Isso envolve a forma como a sociedade lida com a natureza em busca de recursos necessários à sua existência, na busca de segurança, de conforto etc. e na forma como os homens se relacionam entre si. 2 Como a educação possibilita a vida em sociedade? R.: A educação faz parte do modus operandi da vida em sociedade, sem ela não seria possível se chegar ao modo de vida que se tem hoje. Viver em sociedade pressupõe a relação de ensino e aprendizagem entre os seus membros. Sem essa relação, a humanidade necessitaria redescobrir a cada geração, os modos de fazer e de ser, isso implicaria em um constante retroceder no tempo. Daí a grande importância da educação para a humanidade, ela caracteriza o homem enquanto homem, sendo capaz de contribuir para o desenvolvimento da linguagem e da memória e possibilitando a humanidade chegar ao patamar de desenvolvimento que se tem hoje. 3 Por que a educação passou a ser uma preocupação do Estado? R.: O processo de industrialização e automatização do trabalho junto com o alto grau de especialização, aprimorou os meios de produção, e a educação que antes estava restrita às classes privilegiadas, precisou adentrar as classes populares 9 Para que a produção pudesse se manter, ela necessita não só de uma constante atualizaçãodos conhecimentos mínimos indispensáveis para o trabalho, como também necessita atualizar constantemente a forma como esses conhecimentos devem ser transmitidos. O Estado é acionado pela esfera econômica, no intuito de que se responsabilize em promover a formação básica necessária para que esses trabalhadores, sejam capazes de adentrarem a esfera produtiva. E é deste modo, pressionado pelas elites econômicas, que o Estado assume algumas demandas educacionais, pelo menos o de capacitar seus cidadãos para o exercício das funções produtivas básicas. 4 Explique por que o desenvolvimento da capacidade crítica do homem atualmente vem na contramão do desenvolvimento das forças produtivas? R.: Porque numa uma sociedade em que a produção está voltada para a acumulação de capital e não para a realização efetiva dos bens de consumo, os valores estão invertidos, ou seja, as necessidades humanas são deixadas de lado e o valor passa a ser a acumulação de capital. Deste modo, uma educação que priorize o humano não é adequada para esse tipo de sociedade. 5 Explique a relação entre a necessidade do ensino de Filosofia e a vida em uma sociedade democrática? R.: Numa sociedade democrática, em que todos são considerados cidadãos, livres para fazerem suas escolhas políticas, para se manifestarem e não livres para desconhecerem as leis sobre as quais vivem, faz-se necessário poder exercer de modo crítico e consciente seus direitos e deveres. E é sobre esse aspecto da vida em uma sociedade política e democrática que entra a necessidade do ensino de Filosofia. As competências que a Filosofia é capaz de desenvolver nos homens se coloca além das habilidades e conhecimentos específicos da esfera produtiva, e das exigências básicas do mero saber fazer para o mercado de trabalho. Ela se configura tanto no desejo de querer saber sempre mais, como de se procurar em compreender os contextos não só em suas especificidades, mas abarcando a sua totalidade, pois só deste modo é possível ao homem se colocar enquanto parte ativa e construtora da sociedade em que vive. 10 Atividades de estudo 1 Quais o fatores em torno da ausência e presença do ensino de Filosofia na educação básica brasileira? R.: Verifica-se que o ensino de Filosofia nas escolas brasileiras sofre momentos de inclusões e exclusões ao longo da história da educação. Em momentos de maior repressão política, como no período da ditadura militar, há a sua exclusão e em momentos de mais liberdade democrática, a inclusão. A política está diretamente alinhada aos interesses das elites econômicas, nos momentos de crise, ocorre um enrijecimento do poder e o cerceamento da liberdade de expressão e manifestação. Já nos momentos de maior fartura, a liberdade se amplia, e com ela também a possibilidade de manifestações críticas. Pode-se dizer que o ensino de Filosofia está relacionado diretamente com o pleno exercício da cidadania, numa sociedade que restringe a liberdade de sua população o ensino de Filosofia não é bem-vindo. 2 Qual o espaço do ensino de Filosofia na atual legislação brasileira? R.: Atualmente, no ano de 2019, não existe obrigatoriedade para o ensino de Filosofia nas escolas, só a necessidade de se desenvolver no educando certas competências que o ensino de Filosofia promove. Porém, sem essa obrigatoriedade, o desenvolvimento dessas competências acaba sendo diluído em outras disciplinas da área das Ciências Humanas. Embora a Filosofia não tenha mais o estatuto de uma disciplina obrigatória, não se extingue do currículo, é verdade também que sua função foi diluída na composição curricular por áreas, em um difícil espaço a ser dividido com as disciplinas de História, Geografia e Sociologia. Atividade de estudo 1 Quais consequências podem ser atribuídas ao afastamento do ensino de Filosofia dos bancos escolares? R.: Um argumento mais genérico em torno dessas consequências aponta para as lacunas causadas na formação dos jovens e adolescentes, não só pela ausência da filosofia, assim como das demais disciplinas “humanistas” ceifadas pela ditadura. Esta situação vem ocorrendo no cotidiano escolar, em decorrência da pouca reflexão e consequente dificuldade de pensar dos estudantes, pois diversas 11 gerações foram privadas de todo um conjunto de conhecimentos fundamentais à sua existência. Desarma os futuros alunos de curso superior daquele espírito crítico indispensável ao desenvolvimento das aptidões intelectuais para o exercício de comportamentos mentais, sadios e também desarma os futuros cidadãos de uma plena consciência da condição humana. 2 Qual o impacto no ensino de Filosofia ser tratado apenas como competência a ser desenvolvida nos alunos sem a obrigatoriedade da disciplina? R.: Em estudos estatísticos realizados em 1988, no âmbito das escolas mineiras, pertencentes à rede particular, estadual e municipal, por um grupo de professores do Departamento de Filosofia e Teologia da PUC-MG constatou que, apenas 5% dos professores que se encontravam lecionando filosofia, eram habilitados com curso superior em Filosofia. Esse dado que, de forma geral, elucida a realidade, aponta para uma confirmação de que a qualidade do ensino de Filosofia tem deixado a desejar, agravada pelo fato de que, profissionais de outras áreas estão lecionando a disciplina no ensino médio. 3 Qual a consequência da má qualidade do ensino de Filosofia por profissionais não habilitados para tal tarefa? R.: Cria-se um preconceito em torno da filosofia como conhecimento: ou a Filosofia é confundida com alguma opinião vaga, fantasiosa ou pretensamente teórica, ou é tomada como perspectiva teórica geral de alguma instituição, (filosofia do governo), ou ainda como aprendizado inútil (a filosofia não serve para nada) e utopista, valendo, apenas, como denunciadora dos problemas. Seja como inutilidade frente aos problemas cotidianos, seja como forma de um conhecimento ultrapassado e desconectado da realidade, o núcleo regional da SEAF-RS assim se pronunciou: “[...] a filosofia tornou-se completamente desconhecida pelas novas gerações e considerada como uma forma de conhecimento ultrapassada, antiga, irreal, sem ter nada a ver com o ensino moderno, atual, pragmático, produtivo etc [...]”. (SEAF, 1978, p. 12). Assim, filosofar tornou-se pejorativamente sinônimo de falar de coisas distantes da vida das pessoas, como coisa de quem vive nas nuvens, coisa de desligados, ou então, segundo um dizer italiano “a filosofia é uma ciência com a qual ou sem a qual tudo continua tal e qual” e ainda: “Eu penso na filosofia como se esta fosse um homem, num quarto escuro, procurando um chapéu preto que 12 não está dentro do quarto.” Isto é, a filosofia é uma loucura elegante, algo completamente sem utilidade, podendo ser compreendida como ornamento. Atividades de estudo 1 Por que o campo educacional se constitui um campo de disputa social, e quais interesses prevalecem? R.: A educação se apresenta como um campo de disputa entre os interesses das classes que compõe a sociedade porque além de ser uma prática social, é usada como instrumento de ideológico para a manutenção da estrutura social existente. Nesse campo de disputa, prevalece os interesses da classe detentora do capital, a qual acaba por determinar os rumos tanto da sociedade como da educação. Deste modo, a população, é preparada para a reprodução do capital, ou seja, receber o tanto de instrução necessário para manter a produção de bens e serviços imprescindíveis à acumulação de capital, e claro, à manutenção da riqueza da classe dominante. 2 Qual é o papel da educação enquanto reprodutora do capital? R.: Além de contribuir com a formação técnica dos trabalhadores, a educação também contribui com a formação ideológica, responsável pelo adestramento social, difundindo verdades que mantêm os trabalhadores incapazes de perceber e contestar as condições sociais que lhes são impostas pelo sistema. Assim, esses trabalhadores, sem uma formaçãointelectual consistente, tomam como verdadeiro a imediaticidade fenomênica da sociedade capitalista, ou seja, a necessidade crescente de acumulação de capital traz consigo um aceleramento da produção e do consumo, que aparecem como necessidades reais do homem, mas na verdade são necessidades da acumulação. Não sendo capazes de perceber a real origem da opressão que sofrem e com a construção de falsos discursos sobre o real, tomam como verdade ideias que distorcem a realidade visando a manutenção das relações de exploração. 3 Quais são as implicações de uma formação meramente técnico, que despreza o pensamento crítico? R.: A não formação crítica implica em criar uma sociedade de pessoas repetidoras dos discursos dominantes, perpetuando as relações de subjugação. 4 Como a educação pode ajudar a superar a sociedade de classes? 13 R.: Por promover uma formação humana crítica e libertadora. Uma educação que busque a superação dessa sociedade pautada na exploração do homem sobre o homem, onde a educação é restrita e precária e que leve em consideração a autonomia e a emancipação do homem como um todo, com o fim se libertar da condição de exploração e subjugação. Para tanto, faz-se necessário também a superação da visão de sociedade fragmentada entre dominantes e dominados, a partir da efetivação do conceito de universalização e a democratização da educação. Atividades de estudo 1 Quais os fatores estudados são dificultadores do ensino de Filosofia? R. O que se observa é um crescente descaso com a formação crítica e intelectual e a desvalorização do ensino de Filosofia enquanto disciplina necessária para a formação humana. Essa forma de tratar a Filosofia dificulta muito a tarefa do professor em sala de aula, visto que os alunos chegam desinteressados e considerando um aprendizado menos importante que as outras disciplinas. E, sem que haja interesse por parte do aprendiz, o processo aprendizagem é dificultado e acaba não se efetivando. 2 Como a superficialidade do consumo interferem a sociedade como um todo? R. A superficialidade do consumo mexe na cognição dos consumidores, essa volatização das mercadorias liquidifica as relações sociais. A lógica dessa sociedade de mercado acaba por contaminar todas as esferas sociais, difundindo assim a efemeridade inerente ao sistema governado pela lógica da acumulação. Ou seja, numa sociedade em que a produção de bens tem como fim a acumulação, quanto mais se produz, mais se cria a necessidade de se consumir para a acumulação se consolidar. Deste modo, faz-se necessário que a mercadoria seja comprada para que o dono do capital possa obter lucro, caso isso não ocorra, logicamente, o produtor terá prejuízo. Se o comprador vai efetivamente usufruir das características físicas da mercadoria, pouco importa para ao capitalista. Esse movimento, produtor de lucros, acaba por se dar freneticamente, o efeito da necessidade de se produzir mais para lucrar mais, é responsável pela rapidez com que se consome. Deste modo, as relações sociais também acabam seguindo a mesma lógica, tornam-se voláteis e superficiais, assim como as relações de mercado. 14 3 Como o pensamento meramente técnico é capaz de criar alienação? R. Reduzimos problemas de ideias, de objetivos, de qualidade, a problemas de tecnicidade. Admite-se a existência de uma teoria pura, e de uma tecnologia pura, em economia, em educação, em ciência política etc., assim como a existência de uma categoria de especialistas numa política de meios, desligada de uma política de fins. Uma prova de que não é possível isolar a política dos meios da política dos fins, sob o argumento da pura tecnicidade dos meios, está em que os técnicos - nacionais ou estrangeiros - quando não trazem presos organicamente à estrutura de seu pensamento os fins de sua sociedade e de sua cultura, aplicam os seus instrumentos ao status quo do país com o qual colaboram, sem discuti-lo, o que vale como uma homologação pura e simples dos fins que esse status quo já representa. CAPÍTULO III Atividades de estudo 1 O que são paradigmas e como eles se relacionam à metodologia de ensino? R. Os paradigmas são modos de pensar que determinam a percepção de mundo dos sujeitos. São formas de ver o mundo e de pensar a realidade, sejam conscientes ou não, essas formas moldam e direcionam o olhar, atuando como lentes que o direcionam para o que considera mais importante. Como os paradigmas reforçam um determinado olhar sobre a realidade, no contexto da sala de aula eles direcionam o tipo de metodologia a ser empregada pelo professor. Ou seja, as concepções teóricas do docente, o modo como enxerga e entende a realidade e o conhecimento acerca dela serão decisivos quanto a seu modo de ensinar. 2 Por que a epistemologia do professor está diretamente relacionada à metodologia de ensino? R.: Porque a ação pedagógica por ser pensada e planejada sofre interferência direta da epistemologia do professor. Quer dizer, a metodologia de ensino aplicada pelo professor de Filosofia é resultado direto da lente que ele escolheu para olhar a realidade. O modo como o professor dá aula, reflete o modo como 15 ele enxerga e interpreta o real, por isso, é preciso estar atento aos modelos e concepções teóricas próprias, pois elas darão o tom da metodologia aplicada em sala de aula. Por mais que se queira aplicar este ou aquele método, vale checar se realmente ele está coerente e em sintonia com a lente escolhida para olhar o mundo. 3 Qual a relação entre teoria e prática pedagógica? R.: O processo metodológico do ensino consiste num constante movimento entre teoria e prática, a cada ação dada por um modo de pensar, o educador, reflete sobre sua prática, a questiona, a avalia, e refaz a teoria que uma vez modificada, levará a uma nova prática. A reflexão sobre a prática pedagógica, onde os objetivos traçados anteriormente são confrontados com os resultados alcançados, leva a uma constante atualização tanto teórica como prática. Atividades de estudo 1 Por que, segundo Saviani, quando menos se falou em democracia na escola foi quando mais ela esteve presente? R.: Pois, nesse período da educação tradicional, a formação clássica se fazia presente para todas as classes sociais, inclusive as classes populares, dando acesso a uma formação mais sólida a nível científico e humanístico. Neste momento, o ensino era unitário e o mesmo para todas as classes sociais. 2 Quais os problemas do modelo tradicional de ensino? R.: O problema consiste em o modelo tradicional de ensino trata todos do mesmo modo, não considerando as diferenças sociais, e por isso acabou por classificar os alunos de acordo com a própria estrutura social. Evidenciando assim a dificuldade de as classes populares aprenderem, visto que, ao adentrarem à escola não possuem conhecimentos prévios necessários para acompanhar os conteúdos escolares propostos. Por esse motivo, a educação tradicional também foi criticada e considerada autoritária, pelo fato de não possuir uma reflexão acerca do processo de exclusão daqueles que não tinham um bom rendimento escolar. 3 Qual a proposta metodológica da Escola Nova e quais foram os problemas por ela gerados? R.: Na Escola Nova o ensino passou a ser centrado no aluno, os conteúdos e o 16 ritmo com o qual se trabalhava passaram a ser determinados pelas demandas dos alunos, fazendo o professor perder seu papel diretivo no processo de ensino-aprendizagem. O problema desse método mais democrático de ensino é o fato de destituir às classes populares de um conhecimento mais sólido, mais teórico, mais abstrato, que permita o desenvolvimento do pensamento crítico e autônomo. Esse modo de ensino acabou por esvaziar a formação das classes populares. 4 Aonde se encontra o real problema da dificuldade das classes populares acompanharem o sistema de ensino e quais os resultados dos encaminhamentos que foram dados no que diz respeito a essa questão? R.: Na estrutura social vigente,pois uns possuíam mais acesso à cultura letrada e outros quase nenhum acesso, deste modo o resultado escolar acabava por diferenciar uma classe da outra. A classificação em sala de aula ocorrida devido a um problema estrutural, aonde a solução neste caso deveria ser resolvê-lo, e não alterar os conteúdos e o ritmo do ensino para as classes populares, tendo como resultado o aprofundamento da estrutura social desigual. Foi justamente quando se reconheceu que as classes populares precisavam de uma atenção diferenciada que elas sofreram a mutilação conteudista de acesso ao conhecimentos reflexivos e críticos. 5 Quais os problemas que o movimento da Escola Nova trouxe no âmbito educacional posterior? R.: A partir de então a educação começa a caminhar em direção a uma escola dualista, onde se tem uma educação para as elites e outra para as classes populares. Esse dualismo se dava num primeiro momento com os diferentes níveis de ensino, onde as classes populares só ascenderiam no máximo ao ensino secundário não alcançando o nível superior, com ênfase na formação profissional, meramente técnica. O movimento da Escola Nova que pretendia a inclusão das classes populares na estrutura de ensino, teve como resultado o sucateamento do ensino para essas classes, diferenciando-o do ensino das elites. Atividades de estudo 1 O que Bourdieu entende como capital cultural e como ele pode interferir no desempenho escolar do aluno? 17 R.: Segundo Bourdieu, capital cultural é o conjunto de recursos, competências e predisposições herdadas do meio, ou seja, a cultura que o aluno traz da sua experiência familiar, social, entre outras. No que diz respeito ao desempenho na escola, o capital cultural impõe-se “como uma hipótese indispensável para dar conta da desigualdade de desempenho escolar de crianças provenientes das diferentes classes sociais”, o rendimento escolar da ação escolar depende do capital cultural previamente investido pela família”, das disposições e interações individuais. O trabalho escolar, por si só, não é garantia de que a aprendizagem escolar necessariamente ocorrerá. Ela depende de muitos fatores. Assim, não se trata de pensar que alguns alunos têm aptidão, dom para os estudos, enquanto outros não os têm. Mas de considerar que “[...] a aptidão ou o dom, são, também, produtos de um investimento em tempo e em capital cultural. 2 O que envolve uma formação integral que contemple a totalidade do homem, e que impacto ela pode causar no mesmo? R.: A formação integral, que contempla a totalidade do ser humano envolve compreender o homem para além das necessidades de subsistência, incluindo aspectos referentes a sua existência histórica e social, sendo de fundamental importância para despertar o sentimento de autonomia no mesmo pois o estudo e a compreensão de que o hoje é um resultado da ação do homem ao longo do tempo, proporciona a percepção de que se essa realidade foi construída pelos homens, deste modo, sendo homem, logo, o educando se reconhece enquanto construtor da mesma. Essa abordagem coloca o educando no centro do processo histórico, devolvendo a ele a possibilidade de se pôr como sujeito ativo e não passivo de sua realidade. Pois, ao se perceber como construtor de sua própria realidade, recupera o que lhe foi perdido ao longo do tempo, a sua liberdade. 3 Em que consiste o método dialógico na pedagogia de Paulo Freire e como ele pode contribuir para a superação da relação de opressão? R.: O método dialógico de Paulo Freire consiste na valorização da cultura do educando a partir da comunicação, do diálogo, entre educador e educando, recobrando assim a sua autoestima e contribuindo também para o desenvolvimento do senso crítico. Pois, para Paulo Freire, é a partir do diálogo que os homens ganham significação entre eles, se não há possibilidade de diálogo é porque há relação de opressão, de subjugação. Sendo o diálogo uma exigência existencial, a educação não pode ter um caráter autoritário, nem ser um depósito de ideias nos educandos, não pode ser descomprometida com o mundo, nem um processo de imposição de verdades. 18 4 Como o método dialógico pode ser usado na sala de aula de filosofia? R.: A capacidade de problematização sobre o ensino de filosofia é uma das competências essenciais que um professor de filosofia pode utilizar para despertar o desejo dos alunos rumo a uma tentativa de elaboração de uma resposta, estimulando, dessa forma, o pensamento crítico do aluno. A filosofia não surgiu do nada como uma simples abstração ou devaneio desvinculado da realidade vigente dos primeiros pensadores, ela nasceu a partir de problemas concretos que foram constatados pelos filósofos e que se esforçaram tentando responder essas mesmas questões à luz de seu tempo. Desse modo, os professores podem incitar os seus alunos à medida que conseguem fazer em sua prática docente com que um determinado conteúdo de filosofia apresente- se como um problema que pode e deve ser pensado pelos alunos, fazendo com que eles se sintam inquietos e busquem dar algum tipo de solução, estimulando assim uma reflexão crítica e a capacidade de filosofar por parte dos educandos. Atividades de estudo 1 Por que para Bourdieu e Passeron a escola não é um espaço neutro? R.: Conforme Bourdieu e Passeron, a escola não é um espaço neutro, pois sendo um espaço de convencimento, de imposição de ideias, em que as pessoas são levadas a agir e a pensar de uma determinada maneira imposta, sem se darem conta de que agem e pensam sobre coação, ela acaba dissimulando uma verdadeira violência simbólica. 2 Qual a relação entre as classes sociais e a escola segundo Baudelot e Establet e como isso ocorre na sociedade capitalista? R.: Baudelot e Establet apresentam a tese da teoria dualista da escola, pois entendem que em uma sociedade dividida em classes não seria possível se ter uma escola unitária. Desse modo, se faz necessário duas escolas radicalmente diferentes, opostas, heterogêneas e antagonistas. “As duas grandes redes de escolaridade são a SS (secundária superior) e a PP (primária profissional), que corresponderiam à divisão da sociedade em burguesia e proletariado” Assim, a escola, reafirma a diferença entre as classes sociais separando o trabalho intelectual (SS) do trabalho manual (PP), e assegura a manutenção da estrutura capitalista de produção. “A divisão em redes não se dá no final da escolarização, como se poderia supor, pois desde o começo os filhos dos proletários estão destinados a não atingir níveis superiores, encaminhando-se para as atividades manuais. 19 3 Por que segundo Saviani o Brasil não possui um sistema educacional? R.: Para Saviani o Brasil não possui um sistema educacional pois sua organização encontra-se desprovida de planejamento e intencionalidade claras, apresentando incoerências internas e externas. Devido ao fato de os professores não participarem ativamente do processo decisório não ocorre a construção de uma educação voltada para a realidade em que vivem. Recebem ordens de cima, desconexas entre si e baseadas em teorias produzidas fora do contexto brasileiro. Tem-se como resultado uma estrutura educacional incoerente tanto internamente, pelas decisões desencontradas, como externamente, pois ao trazerem de fora teorias pedagógicas que não dizem respeito a realidade brasileira acabam não atingindo os resultados desejados. Assim, Saviani, irá propor uma teoria educacional que abarque essa realidade. 4 Com a teoria histórico-crítica entende a educação? R.: A Pedagogia Histórico-Crítica entende que a escola deve ser um lugar de socialização por meio da apropriação do conhecimento produzido histórica e socialmente, sendo capaz de formar cidadãos críticos e ativos socialmente, “... o ponto de partida e o de chegada do processo educativo é sempre a prática social”. Atividades de estudo 1 Qual método a pedagogia histórico-crítica utiliza em sua prática educacional e como ele funciona? R.: Como práticapedagógica Saviani propõe o método científico dialético da economia e política utilizado por Marx. O que pretende é partir de uma visão caótica do todo a uma visão da totalidade do real rica em determinações e relações numerosas, pela mediação da análise, ou seja, das abstrações e determinações mais simples. Assim, o método de ensino se constituiria em partir de uma visão caótica da sociedade, fazendo abstrações simples, e retornar à realidade social, até que ela apareça com clareza aos olhos do educando. Fazendo esse movimento de análise e síntese se chegaria a uma visão da totalidade viva, ou seja, da compreensão da própria realidade, esse seria o papel da educação, desvendar o real. 2 Quais transformações Saviani propõe que a educação possibilite como prática social, e qual a condição que não valeria a pena desencadear a ação pedagógica? 20 R.: Saviani entende que o processo educativo deve possibilitar a passagem da desigualdade à igualdade. Portanto, só é possível considerar o processo educativo em seu conjunto como democrático sob a condição de se distinguir a democracia como possibilidade no ponto de partida e a democracia como realidade no ponto de chegada. Para ele democracia é uma conquista, não um dado. Parte-se de uma afirmação das condições de igualdade para ter como ponto de chegada a igualdade enquanto uma realidade. A negação dessas condições como uma possibilidade no ponto de chegada inviabiliza o trabalho pedagógico. “Isto porque, se eu não admito que a desigualdade é uma igualdade possível, ou seja, se não acredito que a desigualdade pode ser convertida em igualdade pela mediação da educação, obviamente não em termos isolados, mas articulada com as demais modalidades que configuram a prática global, então, não vale a pena desencadear a ação pedagógica” (SAVIANI, 2003, p. 78). 3 Em que consiste o método dialógico de Paulo Freire e a que prática educativa ele se contrapõe? R.: O método dialógico consiste não só em ajudar na condução do pensamento do aluno para a reflexão sobre a própria realidade, mas em fazer esse aluno se perceber enquanto ser, na medida em que ele é posto numa relação horizontal, pois para que o diálogo aconteça, não pode haver relação de opressão. Assim, o educando se percebe enquanto sujeito. Ele se contrapõe à educação bancária, na qual os conteúdos são depositados nos educandos de modo arbitrário a eles. Esse tipo de método educacional parte do pressuposto que os alunos são seres passivos, vazios de conhecimento, e que a escola é responsável em depositar neles os conhecimentos necessários para a vida em sociedade. 4 Como o método dialógico pode contribuir no ensino de Filosofia? R.: O método dialógico de Freire ajuda o professor de Filosofia a se aproximar não só da linguagem dos alunos como também dos seus conceitos e significações acerca do mundo. Pois a partir deles será possível pensar numa abordagem capaz de atingir os alunos cognitivamente e despertar neles o desejo de conhecer. É preciso conhecer o universo cognitivo dos alunos para poder junto com eles construir novas significações assim, a aprendizagem deixa de ser mecânica, voltada apenas para a memorização. 5 Qual o papel dos organizadores prévios para uma aprendizagem significativa e como eles podem ser aplicados na sala de aula de Filosofia? R.: Ausubel destaca a importância dos organizadores prévios para que a 21 aprendizagem deixe de ser mecânica e passe a ser significativa. Esses organizadores prévios precisam levar em conta o conhecimento prévio que os alunos trazem para a sala de aula, para a partir deles construir pontes cognitivas capazes de conduzir o conhecimento do aluno até o conhecimento que se pretende que ele alcance. Os organizadores prévios consistem na ambientação necessária para se introduzir um novo conhecimento, essa ambientação ou preparação cognitiva dos alunos parte dos conhecimentos já consolidados nos alunos em direção à construção de novos significados. No que diz respeito ao ensino de Filosofia, trata-se de partir da visão de mundo dos alunos, do conhecimento do dia a dia deles, em direção a um conhecimento mais profundo e mais reflexivo. 6 Qual a contribuição do método dialético para a educação? R.: Ao aplicar a dialética como método de ensino, verifica-se a necessidade de um constante movimento de reperspectivação das abordagens de ensino, na medida em que o professor procura melhorar suas abordagens para melhor atingir os alunos. Outro aspecto importante é considerar o movimento do real como fator preponderante na sala de aula. À medida que a escola reflete a sociedade e ela se encontra sempre em movimento, logo a dinâmica da sala de aula precisa acompanhar o movimento do real, de modo que a forma ou o modo como os conteúdos são trabalhados também seguem esse fluxo de mudança. Assim, tratar a dialética enquanto método de ensino, inclui considerar o movimento no processo de construção do conhecimento acerca da realidade em movimento. Esse método parte de uma realidade que se apresenta como caótica para a compreensão humana, a uma realidade mais clara, não mais caótica. Para isso utiliza-se de mais dois métodos: análise e síntese. O método dialético aplicado à educação consiste em educar o homem para a transformação, para o amanhã, trazendo a percepção do homem enquanto um ser coletivo, social e histórico, que compreende o movimento inerente à realidade social, e se reconhece como capaz de fazer a contradição histórica necessária para o movimento de transformação social. Atividades de estudo 1 Segundo Gadotti, qual a perspectiva de classe que método dialético traz para a educação? R.: Trata-se de pôr a pedagogia sobre outros trilhos, uma pedagogia que não se comprometa com os interesses burgueses, reacionários, mas se comprometa com os interesses das classes subalternas, com os interesses revolucionários 22 das classes populares. Essa perspectiva nos permite evitar a utopia da consciência, que entende por solucionar o conflito entre a pedagogia idealista e a pedagogia da existência através da formação da consciência. 2 Quais os problemas da avaliação quantitativa? R.: Quando se estabelece um critério quantitativo para expressar qualidade, alguns equívocos acabam ocorrendo. A necessidade de se gerar uma média numérica camufla os conhecimentos que o aluno deixou de aprender, dificultando o processo diagnóstico da avaliação para encaminhamentos necessários à aprendizagem dos conteúdos não aprendidos. Segundo Luckesi, O contrabando entre qualidade e quantidade é uma forma pela qual os alunos podem ser aprovados sem deter os conhecimentos necessários numa unidade de ensino. Essa transformação indevida de qualidade em quantidade impossibilita ao professor diagnosticar a real situação do aluno e, consequentemente, ao aluno de tomar consciência de sua situação em termos de aprendizagem. Fatos esses que dificultam o avanço do aluno, uma vez que não estão sendo utilizados instrumentos para que ele possa progredir na apropriação ativa dos conhecimentos. 3 Por que a avaliação quantitativa acaba se transformando em um instrumento autoritário? R.: Pois, a avaliação acaba se transformando em um instrumento classificatório, tornando a relação entre aluno e professor autoritária, onde o professor avalia, não para diagnosticar pontos que precisam ser melhorados, mas para situar o aluno numa escala de conhecimento. Deste modo, o momento da avaliação se transforma em um acerto de contas entre professor e aluno. 4 Como a avaliação deve ser concebida dentro de uma relação democrática entre professor e aluno? R.: Quando o seu objetivo é promover o homem, quando ela procura servir à real aprendizagem do aluno e não a uma mera classificação. Por isso ela precisa estar presente durante todo processo de ensino, e não como uma forma de matematizar a aprendizagem no final do processo, onde já não há mais tempo hábil de se dar os encaminhamentos necessários. Deste modo deveser usada para verificar se o processo de ensino e aprendizagem está acontecendo. Se os alunos não aprendem, a metodologia de ensino deve ser modificada, ou os conteúdos anteriores, necessários para a aquisição de determinado conhecimento, precisam ser revistos. Ou seja, 23 a avaliação deverá ser assumida como um instrumento de compreensão do estágio de aprendizagem em que se encontra o aluno, tendo em vista tomar decisões suficientes e satisfatórias para que possa avançar no seu processo de aprendizagem.