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Língua Portuguesa
ENEM 1
LINGUAGEM
Como estudar língua(gem) para o Enem?
Para alcançar uma boa nota na prova de ‘Linguagens,
códigos e suas tecnologias’ o aluno deve ser conectado com
a sociedade, com a comunicação com o mundo. Assim,
precisa dominar a língua(gem) e saber aplicá-la na vivência
em eventos sociais. O destaque será a interpretação textual,
atividade que requer muita atenção à leitura, visto que as
questões mesclam apreensão e compreensão texto. Desse
modo, em alguns momentos, nem tudo está explícito no
texto – precisa-se inferir, deduzir, relacionar algumas
informações para resolver as questões.
UNIDADE 1
LINGUAGEM:
A linguagem é todo sistema verbal e não verbal pré-
estabelecido que nos permite a realização da comunicação.
Pode ser percebida pelos diversos órgãos dos sentidos, o que
leva a distinguirem-se várias espécies ou tipos: linguagem
visual, corporal, gestual, etc., ou, ainda, outras mais
complexas, constituídas, ao mesmo tempo, de elementos
diversos. Os elementos constitutivos da linguagem são, pois,
gestos, sinais, sons, símbolos ou palavras, usados para
representar conceitos, ideias, significados e pensamentos.
Características do sistema verbal e não-verbal:
a) Verbal: o destaque na comunicação são as palavras.
b) Não-verbal: não considera as palavras, mas outros
sinais. Como exemplo de linguagem não-verbal são os
sinais de trânsito, gestos faciais, gestos corporais, etc.
Observe alguns exemplos:
Cartão vermelho – falta grave no futebol.
Charge do autor Tacho – exemplo de linguagem verbal
(óxente, polo norte 2100) e não verbal (imagem: sol,
cactus, pinguim).
Semáforo – indica ações através das cores
Placas de trânsito – à frente “proibido andar de bicicleta”,
atrás “quebra-molas”.
Símbolo que se coloca na porta para indicar “sanitário
masculino”.
Imagem indicativa de “silêncio”.
Mista ou híbrida
Linguagem mista é o uso simultâneo da linguagem verbal
e da linguagem não-verbal, usando palavras escritas e
figuras ao mesmo tempo.
Língua: é um código, um sistema organizado de signos,
que possibilita a comunicação.
A língua é um código aceito por convenção. Por isso, um
indivíduo, isoladamente, não consegue modificá-la. As
transformações da língua são ocasionadas por alterações
linguísticas surgidas em comunidades ou grupos sociais.
Além disso, a língua é usada tanto na escrita quanto na
fala. No entanto, a fala e a escrita são usos distintos da
língua”, pois os indivíduos não falam e escrevem da
mesma forma.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
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FIQUE LIGADO NO ENEM!
A língua falada livre, concreta, não apresenta grande
preocupação gramatical, tem vocabulário reduzido,
constantemente renovado, e que pode contar com outros
recursos extralingüísticos, como os gestos, as expressões
faciais, a postura. A língua escrita, ao contrário, é abstrata,
conservadora, refletida e exige maior esforço para elaboração e
obediência às regras gramaticais. Seu vocabulário deve ser
preciso e apurado.
Tanto a língua falada/oral quanto a língua escrita apresentam
níveis ou registros: Em situações formais, a expressão se dá
coma utilização de uma língua mais gramatical, com pronúncia
cuidada. Em situações menos tensas, como a do meio familiar,
a língua adquire características de informalidade, e as
preocupações com a clareza e a correção tornam-se menos
rigorosas.
Exercícios
01 - (ENEM)
A publicidade, de uma forma geral, alia elementos verbais
e imagéticos na constituição de seus textos. Nessa peça
publicitária, cujo tema é a sustentabilidade, o autor
procura convencer o leitor a
a) assumir uma atitude reflexiva diante dos fenômenos
naturais.
b) evitar o consumo excessivo de produtos reutilizáveis.
c) aderir à onda sustentável, evitando o consumo
excessivo.
d) abraçar a campanha, desenvolvendo projetos
sustentáveis.
e) consumir produtos de modo responsável e ecológico.
UNIDADE 2
NÍVEIS DE LINGUAGEM
Os níveis de linguagem variam de acordo com o
contexto onde se está emitindo uma comunicação, alguns
dos principais fatores que determinam o nível de
linguagem utilizado podem ser a origem e posição social
do falante, o local e a ocasião em que o interlocutor se
encontra, a região do país onde o mesmo adquiriu sua
maneira de falar, e também se a linguagem utilizada é a
falada ou a escrita. Quem realmente determina os níveis
de linguagem a serem utilizados são os usuários da língua.
Classificação: os níveis de linguagem são classificados de
acordo com o contexto em que se encontram, os principais
exemplos de níveis de linguagem estudados são: a
linguagem coloquial, informal ou popular, a linguagem
culta, formal ou padrão, a linguagem grupal, linguagem
vulgar e a linguagem regional.
Linguagem coloquial, informal: É a expressão mais
espontânea do falante, sai naturalmente e sem
policiamento da fala, por isso mesmo que geralmente não
está de acordo com as normas gramaticais da língua e está
sempre carregada de vícios de linguagem como solecismo
(erros de regência, concordância e colocação), barbarismo
(erros na pronúncia ou grafia), ambigüidade, cacofonia e
pleonasmo. Outras características marcantes da linguagem
coloquial são as expressões vulgares e as gírias.
A linguagem popular é usada geralmente durante as
conversações diárias entre amigos, situações informais e
descontraídas, programas de TV (principalmente nos de
auditório) e novelas. A linguagem informal também se
manifesta na forma escrita, como quando escrevemos um
bilhete, uma carta e principalmente na internet, quando
utilizamos o MSN, Orkut, Twitter, blogs etc.
Linguagem culta, formal ou padrão
A linguagem culta obedece às regras da gramática. Reflete
mais prestígio social e cultural devido ao nível de
instrução exigido para o seu uso. Normalmente dominado
por classes sociais e intelectuais mais prestigiadas. Ela é
mais artificial, mais estável e menos sujeita a variações.
A norma padrão está presente em todo povo civilizado,
pois ela é quem assegura a unidade lingüística de uma
nação. Por isso é ensinada nas escolas, devido à sua
importância político-cultural. É regida pelas gramáticas
normativas.
A linguagem culta é utilizada pelas pessoas que detém
maior nível de instrução, nivelado pelos estudos e/ou
hábito da leitura. Ela é mais comumente utilizada na
linguagem escrita e literária. A linguagem formal está
presente em sermões, discursos, textos científicos,
noticiários de TV, programas culturais etc.
Língua Portuguesa
ENEM 3
Linguagem grupal
A linguagem grupal é aquela própria de grupos
fechados, ou seja, apenas quem faz parte do grupo em
questão pode entender com total clareza as mensagens que
estão sendo passadas. A linguagem grupal pode ser de
natureza social ou etária. Elas são classificadas em técnica
(jargão) ou gírias.
A linguagem grupal pode ser encontrada em grupos
sociais, profissionais, culturais etc. Podemos usar como
exemplos as gírias utilizadas pelos surfistas, traficantes
dos morros cariocas, marginais das grandes cidades,
prostitutas, homossexuais, pichadores etc. Além das
gírias, temos os jargões, que são linguagens técnicas que
só são entendidas por quem faz parte do grupo
profissional que atua na área, ou que ao menos seja
instruído para isso. Dentre os jargões podemos
exemplificar a linguagem dos hackers, dos geeks, nerds, o
juridiquês, economês etc.
Linguagem vulgar
A linguagem vulgar infringe quase que totalmente as
convenções gramaticais, ela está ligada aos grupos
extremamente incultos, como analfabetos e pessoas que
não tem nenhum ou quase nenhum contato com centros
civilizados.
Exercícios
01 - (Enem)
Aí, galera
Jogadores de futebol podemser vítimas de estereotipação.
Por exemplo, você pode imaginar um jogador de futebol
dizendo ‘estereotipação’? E, no entanto, por que não?
– Aí, campeão. Uma palavrinha pra galera.
– Minha saudação aos aficionados do clube aos demais
esportistas, aqui presentes ou no recesso dos seus lares.
– Como é?
– Aí, galera.
– Quais são as instruções do técnico?
– Nosso treinador vaticinou que, com um trabalho de
contenção coordenada, com energia otimizada, na zona de
preparação, aumentam as probabilidades de, recuperado o
esférico, concatenarmos um contragolpe agudo com
parcimônia de meios e extrema objetividade, valendo-nos
da desestruturação momentânea do sistema oposto,
surpreendido pela reversão inesperada do fluxo da ação.
– Ahn?
– É pra dividir no meio e ir pra cima pra pegá eles sem
calça.
– Certo. Você quer dizer mais alguma coisa?
– Posso dirigir uma mensagem de caráter sentimental,
algo banal, talvez mesmo previsível e piegas, a uma
pessoa à qual sou ligado por razões, inclusive, genéticas?
– Pode.
– Uma saudação para a minha genitora.
– Como é?
– Alô, mamãe!
– Estou vendo que você é um, um...
– Um jogador que confunde o entrevistador, pois não
corresponde à expectativa de que o atleta seja um ser algo
primitivo com dificuldade de expressão e assim sabota a
estereotipação?
– Estereoquê?
– Um chato?
– Isso.
(VERISSIMO, Luis Fernando. In: Correio Brasiliense,
12/maio/1998.)
O texto mostra uma situação em que a linguagem usada é
inadequada ao contexto. Considerando as diferenças entre
língua oral e língua escrita, assinale a opção que
representa também uma inadequação da linguagem usada
ao contexto:
a) “O carro bateu e capotô, mas num deu pra vê direito.”
(Um pedestre que assistiu ao acidente comenta com o
outro que vai passando.)
b) “E aí, ô meu! Como vai essa força?” (Um jovem que
fala para um amigo.)
c) “Só um instante, por favor. Eu gostaria de fazer uma
observação.” (Alguém comenta em um uma reunião de
trabalho.)
d) “Venho manifestar meu interesse em candidatar-me ao
cargo de secretária executiva desta conceituada
empresa.” (Alguém que escreve uma carta
candidatando-se a um emprego.)
e) “Porque se a gente não resolve as coisas como têm que
ser, a gente corre o risco de termos, num futuro
próximo, muito pouca comida nos lares brasileiros.”
(Um professor universitário em um congresso
internacional.)
UNIDADE 3
ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO
o locutor (aquele que diz algo a alguém)
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
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o interlocutor (aquele com quem o locutor se
comunica)
a mensagem (o texto, isto é, o que foi transmitido
entre os falantes)
o código (a língua portuguesa)
o canal (a língua oral, ou seja, o meio físico que
conduz a mensagem até o interlocutor)
o referente (o assunto da mensagem)
Esses elementos podem ser esquematizados:
FUNÇÕES DA LINGUAGEM
Partindo dos elementos da comunicação, existem as
chamadas funções da linguagem, que são muito úteis
para a análise e produção de textos. As seis funções são:
Função referencial (ou denotativa)
É aquela centralizada no referente, pois o emissor oferece
informações da realidade. Objetiva, direta, denotativa,
prevalecendo a terceira pessoa do singular. Linguagem
usada na ciência, na arte realista, no jornal, no “campo” do
referente e das notícias de jornal e livros científicos.
Ex: Numa cesta de vime temos um cacho de uvas, duas
laranjas, dois limões, uma maçã verde, uma maçã
vermelha e uma pêra.
Função emotiva (ou expressiva)
É aquela centralizada no emissor, revelando sua opinião,
sua emoção. Nela prevalece a primeira pessoa do singular,
interjeições e exclamações. É a linguagem das biografias,
memórias, poesias líricas e cartas de amor. Primeira
pessoa do singular (eu), Emoções, Interjeições;
Exclamações; Blog; Autobiografia; Cartas de amor.
Ex: a) Ah, que coisa boa!
b) Tenho um pouco de medo...
c) Nós te amamos!
Função apelativa (ou conativa)
É aquela que centraliza-se no receptor; o emissor procura
influenciar o comportamento do receptor. Como o emissor
se dirige ao receptor, é comum o uso de tu e você, ou o
nome da pessoa, além de vocativos e imperativos. Usada
nos discursos, sermões e propagandas que se dirigem
diretamente ao consumidor. Segunda pessoa do singular,
Imperativo; Figuras de linguagem, Discursos políticos,
Sermões, Promoção em pontos de venda - Propaganda.
Função Fática
É aquela centralizada no canal, tendo como objetivo
prolongar ou não o contato com o receptor, ou testar a
eficiência do canal. Linguagem das falas telefônicas,
saudações e similares. Interjeições, Lugar comum,
Saudações, Comentários sobre o clima.
Ex: - Olá, como vai, tudo bem? - Alô, quem está falando?
Função poética
É aquela centralizada na mensagem, revelando recursos
imaginativos criados pelo emissor. Afetiva, sugestiva,
conotativa, ela é metafórica. Valorizam-se as palavras,
suas combinações. É a linguagem figurada apresentada em
obras literárias, letras de música, em algumas
propagandas. Subjetivida de Figuras de linguagem,
Brincadeiras com o código, Poesia, Letras de música.
Exemplo:
Tecendo a manhã - João Cabral de Melo Neto
Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará
sempre se outros galos. De um que apanhe esse grito que
ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito
que um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que
com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus
gritos de galo, para que a manhã, desde uma tela tênue, se
vá tecendo, entre todos os galos.
Função metalinguística
É aquela centralizada no código, usando a linguagem para
falar dela mesma. A poesia que fala da poesia, da sua
função e do poeta, um texto que comenta outro texto.
Principalmente os dicionários são repositórios de
metalinguagem. Referência ao próprio código, Poesia
sobre poesia, Propaganda sobre propaganda, Dicionário.
Ex: - Não entendi o que é metalinguagem, você poderia
explicar novamente, por favor? - Metalinguagem é usar os
recursos da língua para explicar alguma teoria, um
conceito, um filme, um relato, etc.
Língua Portuguesa
ENEM 5
FIQUE LIGADO NO ENEM!
Em um mesmo texto, duas ou mais funções podem ocorrer
simultaneamente:
Exemplo:
* uma poesia em que o autor discorre sobre o que ele sente ao
escrever poesias pode conter as linguagens poética, emotiva e
metalinguística ao mesmo tempo.
Exercícios
01 - (Enem) A biosfera, que reúne todos os ambientes
onde se desenvolvem os seres vivos, se divide em
unidades menores chamadas ecossistemas, que podem ser
uma floresta, um deserto e até um lago. Um ecossistema
tem múltiplos mecanismos que regulam o número de
organismos dentro dele, controlando sua reprodução,
crescimento e migrações. DUARTE, M.O guia dos
curiosos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
Predomina no texto a função da linguagem:
a) emotiva, porque o autor expressa seu sentimento em
relação à ecologia.
b) fática, porque o texto testa o funcionamento do canal de
comunicação.
c) poética, porque o texto chama a atenção para os
recursos de linguagem.
d) referencial, porque o texto trata de noções e
informações conceituais.
e) conativa, porque o texto procura orientar
comportamentos do leitor.
UNIDADE 4
VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS
É possível pensar a língua como um grande conjunto de
variedades. As diferenças perceptíveis no usa da língua
caracterizam as diferenças linguísticas, que são
decorrentes de distintos fatores.
Entre os fatores que a ela se relacionam destacam-se
os níveis da fala, que são basicamente dois: O nível de
formalidade e o de informalidade.
Compondo o quadro do padrão informal da linguagem,
estão as chamadas variedades linguísticas, as quais
representamas variações de acordo com as condições
sociais, culturais, regionais e históricas em que é
utilizada. Dentre elas destacam-se:
Variações históricas:
Dado o dinamismo que a língua apresenta, a mesma sofre
transformações ao longo do tempo. Um exemplo bastante
representativo é a questão da ortografia, se levarmos em
consideração a palavra farmácia, uma vez que a mesma
era grafada com “ph”, contrapondo-se à linguagem dos
internautas, a qual fundamenta-se pela supressão do
vocábulos.
Analisemos, pois, o fragmento exposto:
Antigamente
“Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e
eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos:
completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas,
mesmo sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes,
arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do
balaio."
Carlos Drummond de Andrade
Comparando-o à modernidade, percebemos um
vocabulário antiquado.
Variações regionais:
São os chamados dialetos, que são as marcas
determinantes referentes a diferentes regiões. Como
exemplo, citamos a palavra mandioca que, em certos
lugares, recebe outras nomenclaturas, tais
como: macaxeira e aipim. Figurando também esta
modalidade estão os sotaques, ligados às características
orais da linguagem.
Variações sociais ou culturais:
Estão diretamente ligadas aos grupos sociais de uma
maneira geral e também ao grau de instrução de uma
determinada pessoa. Como exemplo, citamos as gírias, os
jargões e o linguajar caipira.
As gírias pertencem ao vocabulário específico de certos
grupos, como os surfistas, cantores de rap, tatuadores,
entre outros.
Os jargões estão relacionados ao profissionalismo,
caracterizando um linguajar técnico. Representando a
classe, podemos citar os médicos, advogados,
profissionais da área de informática, dentre outros.
Vejamos um poema e o trecho de uma música para
entendermos melhor sobre o assunto:
Vício na fala
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados.
Oswald de Andrade
FIQUE LIGADO NO ENEM!
No livro "Preconceito Linguístico" o autor Marcos Bagno,
defende com vigor a língua viva e verdadeiramente falada no
Brasil.
"O preconceito linguístico está ligado, em boa medida, à
confusão que foi criada, no curso da história, entre a língua e
gramática normativa". Marcos Bagno diz que a língua é como
um rio que se renova, enquanto a gramática normativa é como a
água do igapó, que envelhece, não gera vida nova a não ser
que venham as inundações.
Segundo o autor, o preconceito linguístico vem sendo
alimentado diariamente pelos meios de comunicação, que
pretendem ensinar o que é "certo" e o que é "errado", sem falar,
é claro nos instrumentos tradicionais de ensino da língua, ou
seja a gramática normativa e os livros didáticos.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
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A substituição do haver por ter em construções existenciais, no
português do Brasil, corresponde a um dos processos mais
característicos da história da língua portuguesa, paralelo ao que
já ocorrera em relação à ampliação do domínio de ter na área
semântica de “posse”, no final da fase arcaica. Mattos e Silva
(2001:136) analisa as vitórias de ter sobre haver e discute a
emergência de ter existencial, tomando por base a obra
pedagógica de João de Barros. Em textos escritos nos anos
quarenta e cinquenta do século XVI, encontram-se evidências,
embora raras, tanto de ter “existencial”, não mencionado pelos
clássicos estudos de sintaxe histórica, quanto de haver como
verbo existencial com concordância, lembrado por Ivo Castro, e
anotado como “novidade” no século XVIII por Said Ali.
Como se vê, nada é categórico e um purismo estreito só revela
um conhecimento deficiente da língua.
Há mais perguntas que respostas. Pode-se conceber uma
norma única e prescritiva? É válido confundir o bom uso e a
norma com a própria língua e dessa forma fazer uma avaliação
crítica e hierarquizante de outros usos e, através deles, dos
usuários? Substitui-se uma norma por outra?
CALLOU, D. A propósito de norma, correção e preconceito linguístico: do
presente para o passado, In: Cadernos de Letras da UFF, no 36, 2008.
Disponível em: www.uff.br. Acesso em: 26 fev. 2012 (adaptado).
Para a autora, a substituição de “haver” por “ter” em diferentes
contextos evidencia que
A) o estabelecimento de uma norma prescinde de uma pesquisa
histórica.
B) os estudos clássicos de sintaxe histórica enfatizam a
variação e a mudança na língua.
C) a avaliação crítica e hierarquizante dos usos da língua
fundamenta a definição da norma.
D) a adoção de uma única norma revela uma atitude adequada
para os estudos linguísticos.
E) os comportamentos puristas são prejudiciais à compreensão
da constituição linguística.
Exercícios
01 – (Enem) S.O.S Português
Por que pronunciamos muitas palavras de um jeito
diferente da escrita? Pode-se refletir sobre esse aspecto da
língua com base em duas perspectivas. Na primeira delas,
fala e escrita são dicotômicas, o que restringe o ensino da
língua ao código. Daí vem o entendimento de que a escrita
é mais complexa que a fala, e seu ensino restringe-se ao
conhecimento das regras gramaticais, sem a preocupação
com situações de uso. Outra abordagem permite encarar as
diferenças como um produto distinto de duas modalidades
da língua: a oral e a escrita. A questão é que nem sempre
nos damos conta disso.
S.O.S Português. Nova Escola. São Paulo: Abril, Ano
XXV, nº- 231, abr. 2010 (fragmento adaptado).
O assunto tratado no fragmento é relativo à língua
portuguesa e foi publicado em uma revista destinada a
professores. Entre as características próprias desse tipo de
texto, identificam-se marcas linguísticas próprias do uso
a) regional, pela presença de léxico de determinada
região do Brasil.
b) literário, pela conformidade com as normas da
gramática.
c) técnico, por meio de expressões próprias de textos
científicos.
d) coloquial, por meio do registro de informalidade.
e) oral, por meio do uso de expressões típicas da
oralidade.
UNIDADE 5
FIGURAS DE LINGUAGEM
São recursos que tornam as mensagens que emitimos mais
expressivas. Subdividem-se em figuras de som,figuras de
palavras, figuras de pensamento e figuras de construção.
A seguir, veremos as principais figuras de cada um dos
tipos:
ALITERAÇÃO – é a repetição ordenada de consoantes
de mesmo som, podendo sugerir, além do próprio jogo de
som, a ideia de movimento.
Ex.: “A brisa do Brasil beija e balança” (Castro Alves,
“O Navio Negreiro”).
ONOMATOPEIA – é a imitação de determinado som a
partir da criação de uma palavra.
Ex.: “Um forró de pé-de-serra
Fogueira, milho e balão,
Um tum-tum-tum de pilão,
Um cabritinho que berra(...)”
(Jessier Quirino, “Paisagem de Interior”)
METÁFORA – Consiste na utilização de uma palavra
para designar outra, com base em traços de similaridade
entre os seus conceitos. É a realização de uma comparação
implícita, sem o emprego de um termo comparativo.
Ex.: “O amor é pedra no abismo, a meio passo entre
o mal e o bem” (Zeca Baleiro, “Cigarro”)
CATACRESE – É o emprego de palavras com um
sentido diferente do real, mas cujo uso reiterado torna
imperceptível o sentido figurado.
Ex.: “O pé da mesa”, “A perna da calça”, “Embarcar
no avião”, etc.
METONÍMIA – Assim como na metáfora, emprega-se
um termo para designar outro, cujo conceito guarda uma
relação lógica com o termo empregado. Substitui-se, por
exemplo, o autor pela obra, a parte pelo todo, a marca pelo
produto, etc.
Ex.: “Devolva o Neruda que você me tomou, e nunca
leu (...)” (Chico Buarque, “Trocando em Miúdos”)
Aqui, refere-se ao autor Pablo Neruda em lugar da obra.
ANTONOMÁSIA ou PERÍFRASE - É a utilização de
uma expressão caracterizadorapara designar um nome
próprio.
Ex.: “O poeta dos escravos”, referindo-se a Castro
Alves;
“A cidade maravilhosa”, em lugar de Rio de
Janeiro.
Língua Portuguesa
ENEM 7
SINESTESIA - É uma derivação da metáfora e ocorre
quando numa mesma expressão misturam-se sensações
percebidas por diferentes órgãos de sentidos.
Ex.: “Você tem uma voz macia.” (a voz é percebida
pela audição e a maciez, pelo tato)
“Sinto o cheiro doce da paixão.” (o cheiro é
olfativo, enquanto o doce é percebido pelo paladar)
ELIPSE – ocorre quando da omissão proposital de um
termo facilmente identificável através do contexto ou de
elementos presentes na própria oração.
Ex.: “No jardim, flores secas e cores mortas” (há
omissão de havia)
EUFEMISMO – é a suavização de uma expressão por
meio da sua substituição por outra mais polida e sutil.
Ex.: “João bateu as botas.” (em vez de : João
morreu.)
“Ela é uma dama da noite.” (em vez de: Ela é
uma prostituta.)
HIPÉRBOLE – é o exagero enfático de uma ideia.
Ex.: “Estou morrendo de sede.”
“Ele ganha rios de dinheiro.”
PROSOPOPEIA ou PERSONIFICAÇÃO – é a
atribuição de predicados próprios dos seres vivos a seres
inanimados.
Ex.: “A noite chora a sua ausência.”
“Esta cama me convida ao sono.”
ANTÍTESE – é a oposição de frases, orações ou palavras
de sentido contrário.
Ex.: “Onde queres prazer sou o que dói (...)”
(Caetano Veloso, “Quereres”)
“És velho na idade e jovem na alma.”
IRONIA - é o uso de um termo com a finalidade de
expressar o oposto do que este significa, dando um efeito
humorístico ou crítico à mensagem.
Ex.: “Moça linda,, bem tratada, três séculos de família,
burra como uma porta: um amor” (Mário de Andrade)
GRADAÇÃO – é a apresentação de ideias numa
sequência ascendente (clímax) ou descendente
(anticlímax).
Ex.: “Um coração chagado de desejos
Latejando, batendo, restrugindo.”
(Vicente de Carvalho).
FIQUE LIGADO NO ENEM!
DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO
Uma palavra é tomada no sentido denotativo quando é
entendida no seu sentido literal, na sua significação básica, sem
que se leve em conta o contexto em que está inserida. Toma-se
o sentido conotativo quando se faz uma análise contextual da
palavra, admitindo-se a associação valorativa a outros conceitos
possíveis.
Exercícios
01 – (Enem)
Cidade grande
Que beleza, Montes Claros.
Como cresceu Montes Claros.
Quanta indústria em Montes Claros.
Montes Claros cresceu tanto,
ficou urbe tão notória,
prima-rica do Rio de Janeiro,
que já tem cinco favelas
por enquanto, e mais promete.
(Carlos Drummond de Andrade)
Entre os recursos expressivos empregados no texto,
destaca-se a
a) metalinguagem, que consiste em fazer a linguagem
referir-se à própria linguagem.
b) intertextualidade, na qual o texto retoma e reelabora
outros textos.
c) ironia, que consiste em se dizer o contrário do que se
pensa, com intenção crítica.
d) denotação, caracterizada pelo uso das palavras em seu
sentido próprio e objetivo.
UNIDADE 6
INTERPRETAÇÃO I
(primeiros procedimentos)
É notório que nas provas do Enem existe um predomínio
das questões referentes à interpretação de textos
de textos, que se diferem quanto ao tipo: podem solicitar
apenas apreensão de sentidos ou a plena compreensão
textual.
O total entendimento de um texto solicita duas ações:
Apreensão: captura dos sentidos apresentados ao longo
do texto-base. Para isso, é necessário ressaltar que o
sentido de um trecho do texto não é autônomo, mas
depende das partes com as quais está relacionado. Para
uma melhor apreensão, deve-se considerar contexto em
que se enquadra o segmento proposto para análise.
Compreensão consiste na percepção das correlações entre
os sentidos inscritos no texto e outros sentidos já definidos
e abordados em outros textos do cenário cultural. Sendo
assim, a instância da compreensão pressupõe a da
apreensão.
FIQUE LIGADO NO ENEM!
Devemos saber associar texto e contexto, pois as
circunstâncias em que um texto é produzido são fundamentais
para a sua plena compreensão. Tratando-se de textos verbais,
o sucesso do total entendimento também é fruto da
compreensão do significado das palavras no texto e dos
mecanismos linguísticos empregados na sua constituição.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
8
Domínio do código
Deve-se conhecer os signos utilizados para a construção
do sentido do texto, bem como o modo como eles podem
combinar-se entre si, levando sempre em conta o contexto.
Nas questões que apresentam linguagem mista, ou seja,
em que a linguagem verbal vem associada a linguagens
não verbais, os códigos se complementam e a
interpretação exige o domínio das regras de ambos.
Repertório
Compreende-se como todo tipo de conhecimento
acumulado ao longo da vida escolar, transmitidos pelas
várias disciplinas, e também os que são adquiridos com a
participação na vida social e a assimilação de seus
saberes e valores.
O repertório é a bagagem de conhecimento que possibilita
a percepção de correlações entre os sentidos
inscritos no texto sob interpretação e outros textos
(verbais ou não verbais) conhecidos ao longo da vivência
cultural.
Cabe ressaltar que só devemos aliar leitura, interpretação e
conhecimento de mundo se o texto assim solicitar, pois,
do contrário, cometeremos um equívoco.
Intertextualidade
Relação que um texto estabelece – através de referência
implícita ou explícita – com um ou mais textos produzidos
anteriormente. Entende-se aqui o texto em sentido amplo:
verbal, não verbal, oral, enfim toda forma de comunicação
entre um emissor e um receptor para dizer que a
intertextualidade parte de um conhecimento de mundo
prévio.
Tipos de intertextualidade
A comunicação entre os textos pode ocorrer de variadas
formas. Para observarmos tais tipos, partimos do seguinte
texto:
Canção do exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite–
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Poesia do poeta romântico Gonçalves Dias. Percebe-se
claramente uma visão ufanista e saudosista da terra natal.
Paráfrase
Termo grego “para-phrasis”, que significa a repetição de
uma sentença. Esse tipo de relação intertextual consiste
em reproduzir um texto ou parte dele explicitamente, com
outras palavras, sem que a ideia original seja alterada.
Nova Canção do Exílio
Carlos Drummond de Andrade
Um sabiá
na palmeira, longe.
Estas aves cantam
um outro canto.
O céu cintila
sobre flores úmidas.
Vozes na mata,
e o maior amor.
Só, na noite,
seria feliz:
um sabiá,
na palmeira, longe.
Onde é tudo belo
e fantástico,
só, na noite,
seria feliz.
(Um sabiá,
na palmeira, longe.)
Ainda um grito de vida e
voltar
para onde é tudo belo
e fantástico:
a palmeira, o sabiá,
o longe.
Paródia: o texto original é retomado, de forma que seu
sentido passa a ser alterado. Normalmente, a paródia
apresenta um tom crítico, muitas vezes, marcado por
ironia.
Canção do exílio
Murilo Mendes
Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Língua Portuguesa
ENEM 9
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
Citação acontece quando há uma transcrição de um
texto ao longo de outro, marcada normalmente pelo uso
de aspas. Vejam, na tirinha a seguir, um exemplo de
citação:
Epígrafe
Termo grego “epi = posição superior”; “graphé =
escrita”. Esse tipo de intertextualidade ocorre quando um
autor recorre a algum trecho de um texto já existente, para
introduzir o seu texto. É um trecho introdutório para
outro que venha a ser produzido. A famosa “Canção do
exílio” possui uma epígrafe, com versos de um escritor
alemão – Wolfgang Goethe:
Kennst du das Land, wo die Citronen blühen,
Im dunkeln die Gold-Orangen glühen,
Kennst du es wohl? — Dahin, dahin!
Möcht ich... ziehn.
Goethe
Canção do exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
(...)
Tradução da epígrafe feita pelo poeta Manuel Bandeira:
[Conheces o país onde florescem as laranjeiras?
Ardem na escura fronde os frutos de ouro...
Conhecê-lo? Para lá, para lá quisera eu ir!]
Goethe
Exercícios
01 – (Enem) Quem não passou pela experiência de estar
lendo um texto e defrontar-se com passagens já lidas em
outros? Os textos conversam entre si em um diálogo
constante. Esse fenômeno tem a denominação de
intertextualidade. Leia os seguintes textos:
I.
Quando nasci, um anjo torto
Desses que vivem na sombra
Disse: Vai Carlos! Ser “gauche” na vida
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. Rio
de Janeiro: Nova Aguilar, 1964)
II.
Quando nasci veio um anjo safado
O chato dum querubim
E decretou que eu tava predestinado
A ser errado assim
Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim.
(BUARQUE, Chico. Letra e Música. São Paulo: Cia das
Letras, 1989)III. Quando nasci u
III.
Quando nasci um anjo esbelto
Desses que tocam trombeta, anunciou:
Vai carregar bandeira.
Carga muito pesada pra mulher
Esta espécie ainda envergonhada.
(PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro: Guanabara,
1986)
Adélia Prado e Chico Buarque estabelecem
intertextualidade, em relação a Carlos Drummond de
Andrade, por
a) reiteração de imagens.
b) oposição de idéias.
c) falta de criatividade.
d) negação dos versos.
e) ausência de recursos.
UNIDADE 7
INTERPRETAÇÃO II
IDENTIFIQUE GÊNERO, REFERÊNCIAS E
OUTROS DETALHES
Após a leitura e ao fazer questionamentos para si sobre o
que está estudando, o aluno deve identificar cada detalhe
disposto no texto. Saber se é uma reportagem ou outro
gênero, é uma forma, ou seja, identificar característica
importantes do texto são vitais para uma melhor
interpretação.
Gêneros x Tipos Textuais
Ao longo de nossa vivência enquanto falantes, temos a
oportunidade de convivermos com uma enorme
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
10
diversidade de textos. Basta sairmos às ruas que tão logo
está confirmada esta ocorrência. São panfletos, outdoors,
cartazes, dentre outros. Podemos classificar os textos
sob duas vertentes: os gêneros e os tipos textuais.
Antigamente, os vestibulares solicitavam a produção
utilizando propostas pautadas nos tipos. Hoje em dia, o
foco maior tem sido nos gêneros. Para um melhor
desempenho nas provas, veremos ambos:
Os gêneros textuais estão diretamente ligados às
situações cotidianas de comunicação, fortalecendo os
relacionamentos interpessoais por meio da troca de
informações. Tais situações referem-se à finalidade que
possui cada texto, sendo estas, inúmeras. Alguns
exemplos: texto utilizadas para a comunicação:
propagandas, cartas, bulas de remédio, canções, artigos de
jornal, rótulos, receitas, charges etc.
Para a identificação de um gênero, deve-se levar em conta
três critérios básicos: o conteúdo, o estilo e a estrutura
de composição.
No caso do gênero “bula de remédio”, por exemplo,o
conteúdo do texto deve ser marcado por informações
sobre o medicamento em questão. O estilo deve ser
objetivo, formal, caracterizado pela linguagem técnica. A
forma de composição desse texto apresenta uma
estrutura típica: “formas farmacêuticas e apresentações”
(em frasco, comprimido ou em pomada, por exemplo),
“composições”(aspectos químicos do produto),
“informação ao paciente” (ação esperada, prazo de
validade, reações adversas), “contraindicações e
precauções” etc. Sem essas características de conteúdo,
estilo e estrutura, um texto não pode ser classificado como
“bula de remédio”.
Os gêneros textuais são fenômenos históricos, que nascem
e se desenvolvem no seio de dada cultura, de certa
sociedade: a “bula de remédio” é um tipo de texto que não
existe, por exemplo, em comunidades primitivas, que
desconhecem a alopatia, a ciência e a escrita.
O surgimento de novas tecnologias é um fator que
impulsiona o surgimento de novos gêneros: se não
existisse o telefone, não existiria o gênero conversa
telefônica; se não existissem o computador e a internet,
não haveria o bate-papo virtual, o e-mail e o blogue.
Os gêneros servem de modelo de escrita para o
enunciador (aquele que fala ou escreve) e funcionam
como horizonte de leitura para o interlocutor: do mesmo
modo que orientam como escrever, orientam também
como o texto deve ser lido e interpretado. Como cada
gênero apresenta suas próprias características, cada gênero
determina o que se deve e o que se pode dizer, o que se
deve e o que se pode interpretar. Cada profissão, cada
esfera da atividade humana tem seus gêneros: advogados
escrevem petições, médicos interpretam radiografias,
arquitetos desenham plantas, cozinheiros preparam
receitas, professores dão aulas. Saber ler com
desenvoltura é ser capaz de interpretar e de produzir textos
pertencentes a diferentes gêneros que circulam na
sociedade no dia a dia.
Na escola, os conteúdos das diversas disciplinas são
transmitidos por meio de gêneros diversos, como gráficos,
poemas, canções, quadros, documentos históricos,
histórias em quadrinhos, grafites, etc.
11. Importante ter sempre em mente: conhecer as
características de cada gênero ajuda tanto a interpretá-los
quanto a produzi-los. Já a classificação em tipos textuais,
relaciona-se com a natureza linguística expressa pelos
mesmos, classificando-se em instrucionais/injuntivos,
narrativos, descritivos e dissertativos.
Textos da tradição escolar
Além do conhecimento dos gêneros textuais, para ter um
bom desempenho na produção escrita e na interpretação
textual é necessário também o reconhecimento das
características dos tipos de texto mais comuns na tradição
escolar: a injunção, a descrição, a narração e a
dissertação
Texto instrucional/ injuntivo: Indica como realizar uma
ação. Utiliza linguagem objetiva e simples. Os verbos são,
na sua maioria, empregados no modo imperativo, porém
nota-se também o uso do infinitivo e o uso do futuro do
presente do modo indicativo. Ex: ordens; pedidos; súplica;
desejo; manuais e instruções para montagem ou uso de
aparelhos e instrumentos; textos com regras de
comportamento; textos de orientação (ex: recomendações
de trânsito); receitas, cartões com votos e desejos (de
natal, aniversário, etc.).
Texto descritivo: é um retrato verbal. Então para que esse
tipo de texto seja bem-sucedido, deve ser capaz de fazercom que o leitor visualize o que ou em está sendo
descrito.
Compare:
a) A casa é pequena. Nela, há somente um dormitório, um
banheiro, sala, cozinha e uma área de serviço. O jardim,
embora também seja pequeno, é bonito e repleto de flores.
b) A casa é pequena. Nela, há somente meu aconchegante
cantinho de dormir, um banheiro, sala para acolher meus
amigos quando me presenteiam com sua visita. Há
também o meu terror: a cozinha. É nela que fica o
fantasma das colorias – a geladeira! A área de serviço é o
beco do trabalho! O jardim é um encanto. Lindo e
colorido!
I - Descrição Objetiva
É aquela em que o observador apresenta o tema-núcleo de
maneira impessoal, empregando a representação fiel ao
aspecto exterior.
I - Descrição Subjetiva
É aquela em que o observador apresenta o tema-núcleo de
maneira pessoal, empregando a imaginação e externando
suas impressões pessoais.
Texto narrativo: tem sua base em fatos, ações as quais
fazem com que o enredo se desenvolva. Para que a
narrativa tenha sucesso, é imprescindível que haja o
conhecimento do tema e se defina o enredo, para só então
escolher os personagens. Por quê? Porque a escolha
prévia dos personagens é “um convite” à prolixidade, pois
acabamos preocupando-nos com a participação de cada
Língua Portuguesa
ENEM 11
um deles e nos esquecemos de enriquecer nosso
desenvolvimento.
ELEMENTOS DA NARRATIVA
I – Enredo (apresentação, conflito, desfecho. Destaque:
‘Clímax’)
II – Narrador (1ª ou 3ª pessoa)
III – Personagem (principais, secundários)
IV – Tempo (cronológico, histórico, psicológico, do discurso)
V - Espaço
Além do narrador, outras vozes podem surgir no texto.
Para inserir falas, faz-se uso do que chamamos
discurso, que podem se apresentar de diferentes
formas:
Discurso direto: reproduz fiel e literalmente algo dito por
alguém. Normalmente usa-se aspas ou travessões para
demarcar a reprodução da fala de outra pessoa.
Exemplo: “Não gosto disso” – disse a menina em tom
zangado.
Discurso indireto: o narrador, usando suas próprias
palavras, conta o que foi dito por outra pessoa. Temos
então uma mistura de vozes, pois as falas dos personagens
passam pela elaboração da fala do narrador.
Exemplo: A menina disse em tom zangado, que não
gostava daquilo.
Discurso indireto livre: É um discurso misto onde há uma
maior liberdade, o narrador insere a fala do personagem de
forma sutil, sem fazer uso das marcas do discurso direto. É
necessário que se tenha atenção para não confundir a fala
do narrador com a fala do personagem, pois esta surge de
repente em meio a fala do narrador.
Exemplo: A menina perambulava pela sala irritada e
zangada. Eu não gosto disso! E parecia que ninguém a
ouvia.
Dissertação é um texto que se caracteriza pela exposição,
defesa de uma idéia que será analisada e discutida a partir
de um ponto de vista. Para tal defesa o autor do texto
dissertativo trabalha com argumentos, com fatos, com
dados, os quais utiliza para reforçar ou justificar o
desenvolvimento de suas idéias. Organiza-se, geralmente,
em três partes:
Introdução - onde você explicita o assunto a ser
discutido, com a apresentação de uma idéia ou de um
ponto de vista que pretende defender.
Desenvolvimento ou argumentação - em que irá
desenvolver seu ponto de vista. Para isso, deve
argumentar, fornecer dados, trabalhar exemplos, se
necessário.
Conclusão - em que dará um fecho coerente com o
desenvolvimento e com os argumentos apresentados. Em
geral, a conclusão é uma retomada da idéia apresentada na
introdução, agora com mais ênfase, de forma mais
conclusiva, onde não deve aparecer nenhuma idéia nova,
uma vez que você está fechando o texto.
FIQUE LIGADO NO ENEM!
Reconhecer os tipos e/ou gêneros textuais pode ser uma
excelente estratégia para interpretar os textos da prova do
Enem. Uma vez que você domina a estrutura e a linguagem,
fica mais rápido e mais fácil entender o texto e responder ao
solicitado na questão.
Depois, é interessante identificar a autoria, descobrindo se é de
algum jornalista conhecido ou de alguma autoridade, por
exemplo.
Exercícios
01 – (Enem)
Câncer 21/06 a 21/07
O eclipse em seu signo vai desencadear mudanças na sua
autoestima e no seu modo de agir. O corpo indicará onde
você falha – se anda engolindo sapos, a área gástrica se
ressentirá. O que ficou guardado virá à tona, pois este
novo ciclo exige uma “desintoxicação”. Seja comedida em
suas ações, já que precisará de energia para se recompor.
Há preocupação com a família, e a comunicação entre os
irmãos trava. Lembre-se: palavra preciosa é palavra dita
na hora certa. Isso ajuda também na vida amorosa, que
será testada. Melhor conter as expectativas e ter calma,
avaliando as próprias carências de modo maduro. Sentirá
vontade de olhar além das questões materiais – sua
confiança virá da intimidade com os assuntos da alma.
Revista Cláudia. Nº 7, ano 48, jul. 2009.
O reconhecimento dos diferentes gêneros textuais, seu
contexto de uso, sua função específica, seu objetivo
comunicativo e seu formato mais comum relacionam-
se aos conhecimentos construídos socioculturalmente.
A análise dos elementos constitutivos desse texto
demonstra que sua função é
a) vender um produto anunciado.
b) informar sobre astronomia.
c) ensinar os cuidados com a saúde.
d) expor a opinião de leitores em um jornal.
e) aconselhar sobre amor, família, saúde, trabalho.
UNIDADE 8
Interpretação Textual – Questões
metalinguísticas
A metalinguagem (uma das funções da linguagem, já
abordada em aulas anteriores) consiste em usar a
linguagem para fazer comentários sobre a própria
linguagem utilizada num texto.
Em resumo: A "metalinguagem" nada mais é do que
usar um tipo de linguagem para falar dela própria. Ou
seja: um filme sobre um filme, um livro sobre um livro,
uma música sobre uma música, uma pintura com a
imagem de alguém pintando, um desenhando com alguém
desenhando e assim por diante.
Nas provas do Enem, são uma constante, nesse tipo de
questão, aquelas relativas à variação linguística. Sem usar
nomenclatura ou termos específicos, as questões que
envolvem metalinguagem cobram a identificação de
determinada particularidade linguística presente no texto
ou a explicação de quais recursos de linguagem foram
acionados para produzir determinado sentido ou efeito de
sentido.
http://www.simplesmenteportugues.com.br/2009/11/tipos-de-discurso-direto-indireto-e.html
http://www.simplesmenteportugues.com.br/2009/11/tipos-de-discurso-direto-indireto-e.html
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
12
É comum também aparecerem questões que envolvam
metalinguagem e literatura, uma vez que seu uso é
bastante comum entre os escritores.
Vale ressaltar que a metalinguagem não é exclusividade
de textos verbais, como vemos nos exemplos abaixo:
Um poema metalinguístico.
Um aviso que fala do próprio aviso.
Uma escultura fazendo uma escultura.
FIQUE LIGADO NO ENEM!
Outros possíveis tipos questões do Enem
• Questões de simples apreensão: incluem-se neste grupo as
questões que contêm, no interior do próprio texto, todos os
dados
• Questões de compreensão entre textos explícitos na prova,
que propõem um texto como base e solicitam que se
reconheçam relações estabelecidas (de compatibilidade ou
incompatibilidade) entre ele e outro (ou outros).
• Questões de compreensão entre textos explícitos e textos a
serem referidos via memória.
Trata-se também de questões que exigem compreensão, isto é,
capacidade de correlacionar dados e conhecimentos contidos
em textos diferentes. O texto de referência vem sempre
explícito, e solicita comentários, operações ou julgamentos
sobre ele com base em textos referidos que não constam
explicitamente na prova, mas são pressupostos como
conhecidos. O sucessonesse tipo de questão requer que o
aluno tenha na memória aqueles textos carregados dos
conhecimentos considerados úteis para quem sai do Ensino
Médio e se dispõe a continuaros estudos superiores, seja de
conhecimentos gerais, seja de disciplinas relacionadas ao
currículo escolar.
Outras dicas:
Avaliação da leitura correta
No ENEM, avalia-se a competência da leitura por meio de
testes a respeito de um texto. O leitor deve ser capaz de
distinguir as alternativas que contêm interpretações
corretas das que contêm interpretações erradas. Devem ser
consideradas corretas as que encontram sustentação no
que vem exposto no texto; erradas, as que contêm
distorções interpretativas.
As alternativas corretas podem ser de vários tipos:
• Reprodução literal do que vem explícito no texto – é o
tipo mais fácil de reconhecer como interpretação
correta do texto. Na verdade não exige esforço
interpretativo além da alfabetização, pois se trata
de uma cópia do que vem exposto no texto. Há, no
entanto, alternativas que reproduzem literalmente trechos
do texto, mas que reclamam competências interpretativas
mais sofisticadas do que o mero reconhecimento da cópia.
Trata-se de transcrições literais para o leitor escolher qual
delas traduz ou exemplifica melhor determinado
significado ou efeito de sentido.
• Paráfrase de palavras ou expressões do texto –
alternativa que traduz por meio de outras palavras o
significado de uma palavra, uma expressão ou ainda um
segmento mais extenso de um texto.
• Explicitação de sentidos pressupostos – trata-se de um
tipo de alternativa que traduz significados que,
embora não venham expressos por palavras contidas nos
enunciados, estão implicados sob a forma de pressupostos
ou subentendidos por trás das palavras expressas.
Língua Portuguesa
ENEM 13
Exercícios
01 – (ENEM)
Não tem tradução
[...]
Lá no morro, se eu fizer uma falseta
A Risoleta desiste logo do francês e do inglês
A gíria que o nosso morro criou
Bem cedo a cidade aceitou e usou
[...]
Essa gente hoje em dia que tem mania de exibição
Não entende que o samba não tem tradução no idioma
francês
Tudo aquilo que o malandro pronuncia
Com voz macia é brasileiro, já passou de português
Amor lá no morro é amor pra chuchu
As rimas do samba não são I love you
E esse negócio de alô, alô boy e alô Johnny
Só pode ser conversa de telefone
ROSA, N. In: SOBRAL, João J. V. A tradução dos bambas. Revista
Língua Portuguesa. Ano 4, no 54. São Paulo: Segmento, abr. 2010
(fragmento).
As canções de Noel Rosa, compositor brasileiro de Vila
Isabel, apesar de revelarem uma aguçada preocupação
do artista com seu tempo e com as mudanças político-
culturais no Brasil, no início dos anos 1920, ainda são
modernas. Nesse fragmento do samba Não tem
tradução, por meio do recurso da metalinguagem, o
poeta propõe
a) incorporar novos costumes de origem francesa e
americana, juntamente com vocábulos estrangeiros.
b) respeitar e preservar o português padrão como forma
de fortalecimento do idioma do Brasil.
c) valorizar a fala popular brasileira como patrimônio
linguístico e forma legítima de identidade nacional.
d) mudar os valores sociais vigentes à época, com o
advento do novo e quente ritmo da música popular
brasileira.
e) ironizar a malandragem carioca, aculturada pela
invasão de valores étnicos de sociedades mais
desenvolvidas.
UNIDADE 9
GRAMÁTICA NO ENEM
A gramática no ENEM é cobrada de maneira semântica,
portanto não se baseia apenas em nomenclaturas. O
candidato deve mostrar a sua habilidade de leitura e
interpretação, compreender as diferentes formas de
expressão, ler os diferentes tipos de textos
contextualizando-os aos momentos histórico-socio-
cultural. Portanto deve apresentar habilidades amplas de
interpretação, seja de textos verbais quanto dos não-
verbais.
Sendo assim é importante que o leitor demonstre
conhecimentos muito mais amplos que apenas aqueles
relacionados à “decoreba”, mas sim à aplicação delas na
construção de sentidos.
Para isso vamos analisar alguns assuntos gramaticais e
como eles são cobrados no ENEM.
CONJUNÇÕES
De acordo com o tipo de relação que
estabelecem, as conjunções podem ser
classificadas em coordenativas e subordinativas.
No primeiro caso, os elementos ligados pela
conjunção podem ser isolados um do outro. Esse
isolamento, no entanto, não acarreta perda da
unidade de sentido que cada um dos elementos
possui. Já no segundo caso, cada um dos
elementos ligados pela conjunção depende da
existência do outro.
CONJUNÇÕES COORDENATIVAS
CONJUNÇÕES SUBORDINATIVA
Veja um exemplo
(Armandinho / Facebook)
No caso acima, as conjunções são usadas no segundo
quadrinho ("e"), com o sentido e adição, unindo as
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
14
palavras "muitos"; e no 3o quadrinho ("quando"), com o
valor semântico de tempo. Veja que as conjunções
contribuem para a progressão textual, desenvolvendo a
história e, no caso do quadrinho, sendo fundamental para a
formação do humor da tirinha.
Além das conjunções, há as locuções conjuntivas. É o
conjunto de palavras que possui o mesmo valor de uma
conjunção.
Exercícios
Disponível em: http://clubedamafalda.blogspot.com.br.
01- (ENEM- 2013) Nessa charge, o recurso
morfossintático que colabora para o efeito de humor está
indicado pelo(a):
a) emprego de uma oração adversativa, que orienta a
quebra da expectativa ao final.
b) uso de conjunção aditiva, que cria uma relação de causa
e efeito entre as ações.
c) retomada do substantivo “mãe”, que desfaz a
ambiguidade dos sentidos a ele atribuídos.
d) utilização da forma pronominal “la”, que reflete um
tratamento formal do filho em relação à “mãe”.
e) repetição da forma verbal “é”, que reforça a relação de
adição existente entre as orações.
Veja o texto a seguir:
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
02- No poema “E agora, José?”, de Carlos Drummond de
Andrade, o trecho em destaque está construído com base
nos sentidos estabelecidos pelas conjunções,
respectivamente, de
a)adição e oposição
b)condição e adição
c)condição e oposição
d)consequência e adição
e)condição e adição
03- A palavra mesmo pode assumir diferentes
significados, de acordo com sua função na frase.
Assinale a alternativa em que o sentido de mesmo
equivale ao que se verifica na frase a seguir.
“Aos poucos, as ideias iam ficando mais claras, mesmo
que ainda sentisse fortes dores de cabeça e no corpo.”
a) Escute! Há mesmo necessidade de você vir?
b) Não quero ser o mesmo que você.
c) Irá assim mesmo.
d) Não percebeu nada, mesmo estando atento.
e) Não, mesmo! Fique aí!
UNIDADE 10
VERBOS
Os verbos são responsáveis não apenas para indicar ação,
estado ou fenômeno da natureza; podem também
expressar sentimentos, acidentes...
Ex: Eu amo a vida. (sentimento)
Cai na rua. (acidente)
São divididos em três modos verbais, nove tempos e
ainda ordem afirmativa e negativa. Abaixo tabela das
desinências verbais
Presente do indicativo ___________________ __________________________
Pretérito perfeito do indicativo ___________________ __________________________
Pretérito imperf. do indicativo
(1ª conj.) VA (VE)
(2ª e 3ª conj.) — IA (IE)
Pretérito mais-que-perf. Ind. RE/RA (ÁTONOS)
Futuro do presente do ind. RE/RA (TÔNICOS)
Futuro do pretérito do ind. RIA (RIE)
Presente do subjuntivo
(1ª conj.) E
(2ª e 3ª conj.) — A
Pretérito imperfeito subj. SSE
Futuro do subjuntivo R
Infinitivo impessoal R
Gerúndio NDO
Particípio DO, TO, SO
SINGULAR PLURAL
Língua PortuguesaENEM 15
D nº p 1ª 2ª 3ª 1ª 2ª 3ª
Presente. do indicativo o s mos is/des m
Pretérito Perfeito do ind. i ste u mos stes ram
Os olhos brasileiros de Darwin
Quando o alemão Fritz Müller chegou ao interior de
Santa Catarina, em 1852, era como se pousasse em outro
planeta. Um planeta onde ele realizou estudos minuciosos,
que lhe renderam fama internacional e o apelido de
“príncipe dos exploradores” – cortesia de seu ídolo e fã,
Charles Darwin.
O fascínio pela fauna e flora abaixo do Equador foi o
que atraiu o médico e filósofo de 31 anos ao vale do Itajaí,
um deserto verde verde onde dois anos antes Hermann
Blumenau havia criado uma colônia alemã batizada com
seu sobrenome.
GOMES, S. Superinteressante, julho de 2009.
04- (UFSC – adaptado) Em relação ao texto é correto
afirmar que:
a) As formas verbais “chegou”, “realizou” e “renderam”
representam uma sequência cronológica de eventos;
b) a locução verbal “havia criado”, equivalente a
“criara”, representa um tempo passado posterior a
“atraiu”.
c) O segundo parágrafo do texto pode ser reescrito da
seguinte maneira, sem alteração das relações sintático-
semânticas: “O que atraiu o médico e filósofo de 31
anos ao vale do Itajaí, dois anos antes, foi o fascínio
pela fauna e flora do deserto verde no qual Hermann
Blumenau viria a criar uma colônia alemã abaixo do
Equador, que seria batizada com seu sobrenome”.
d) A forma verbal “era” apresenta ideia de fato totalmente
acabado.
e) Há predomínio de verbos flexionados em um tempo
verbal que representa fatos em andamento.
FUVEST 2014 –
REVELAÇÃO DO SUBÚRBIO
Quando vou para Minas, gosto de ficar de pé, contra a
vidraça do carro*,
Vendo o subúrbio passar.
O subúrbio todo se condensa para ser visto depressa,
Com medo de não repararmos suficientemente
Em suas luzes que mal têm tempo de brilhar.
A noite come o subúrbio e logo o devolve,
Ele reage, luta, se esforça,
Até que vem o campo onde pela manhã repontam laranjais
E à noite só existe a tristeza do Brasil.
Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo,
1940.
(*) carro: vagão ferroviário para passageiros.
05- Considerados no contexto, dentre os mais de dez
verbos no presente, empregados no poema, exprimem
ideia, respectivamente, de habitualidade e continuidade
a) “gosto” e “repontam”.
b) “condensa” e “esforça”.
c) “vou” e “existe”.
d) “têm” e “devolve”.
e) “reage” e “luta”.
UNIDADE 11
PONTUAÇÃO
Na língua portuguesa, a ordem normal dos termos em uma
frase é:
sujeito – verbo – complemento verbal –
adjuntos adverbiais
Se os termos da oração se dispõem assim, dizemos que
ocorre ordem direta.
Você conquistará sua aprovação em breve
Suj. Verbo Comp. Verbal Adj. Adv.
Caso ocorra alguma alteração nessa sequência, teremos a
ordem indireta.
Em breve, você conquistará sua aprovação!
Termo
Deslocado
Quando a oração está na ordem direta, não se separam
seus termos imediatos por vírgulas. Ou seja, não devemos
separar:
- o sujeito do verbo
- o verbo de seu(s) complemento(s)
- o nome de seu(s) complemento(s) ou adjunto(s)
A VÍRGULA será utilizada no interior da oração para
separar:
1 – expressões de caráter explicativo ou corretivo
Ex.: Não teremos aula amanhã, ou melhor, depois de
amanhã.
2 – conjunções coordenativas intercaladas
Ex.: Sua atitude, no entanto, pareceu-nos incoerente.
3 – adjuntos adverbiais intercalados
Ex.: O ator, naquele dia, parecia um pouco nervoso.
4 – aposto intercalado
Ex.: Obama, presidente dos EUA, ficou impressionado
com a receptividade dosdos brasileiros.
Importante: o aposto também pode ser intercalado por
parênteses ou por travessões. Quando está posicionado no
final da frase, pode vir precedido de dois-pontos.
A VÍRGULA também é empregada para indicar o
deslocamento de um termo na frase.
1 – adjunto adverbial
Ex.: No ano passado, fiz a viagem de meus sonhos.
Importante: Se esse adjunto for um simples advérbio, a
vírgula é dispensável.
2 – complemento pleonástico
Ex.: Esse livro, já o li quando cursava o Ensino Médio.
3 – o nome de lugar na indicação de datas
Ex.: Florianópolis, 21 de Setembro de 2003.
Então... Fique de olho se lhe for solicitado que produza
uma carta neste “vestiba”!
A VÍRGULA também é usada para:
1 – separar vocativo
Ex.: Galera, fiquem de olho na pontuação.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
16
Lembre: Quando se quer dar maior ênfase ao vocativo,
pode-se usar ponto de exclamação.
2 – separar termos coordenados assindéticos, ou seja,
ligadas sem emprego de conjunção
Ex.: Seus conselhos me inspiraram tranquilidade,
segurança, paz.
A VÍRGULA entre orações
As orações que formam um período podem ser separadas
por vírgulas ou não, dependendo de sua classificação.
1 – orações subordinadas adjetivas explicativas: sempre
separadas por vírgula.
2 – orações subordinadas adjetivas restritivas: via de regra
não são separadas por vírgula.
Contudo admite-se vírgula ao seu final (Mas nunca antes
delas!) quando:
a) tiverem certa extensão.
Ex.: O homem que foi sequestrado na semana passada em
São José, é um empresário muito conhecido na região.
b) houver sequência de dois verbos.
Ex.: O homem que fuma, vive pouco.
3 – orações subordinadas adverbiais: serão separadas por
vírgula sempre que vierem antes da oração principal.
4 – orações subordinadas substantivas: não devem ser
separadas da principal por meio de vírgula (Com exceção
das apositivas!).
5 – orações coordenadas: são separadas por vírgula
(Exceto as aditivas!)
Exercícios
6. As frases "Antigamente, ia-se à cidade" e "Hoje se vai
ao shopping center" são igualmente iniciadas por advérbio
de tempo. No entanto, separa-se por vírgula o advérbio da
primeira, mas não o da segunda. Tal fato revela:
a) uma distração por parte do emissor, pois o uso da
vírgula é fundamental nessa situação.
b) Um erro grave, visto que não se deve usar vírgula para
separar o advérbio do restante da frase.
c) Que falta, ao autor do texto, o domínio dos sinais de
pontuação.
d) Obrigatoriedade de emprego da vírgula apenas na
primeira frase.
e) Uma escolha estilística do emissor, uma vez que nesse
tipo de construção é facultativo o emprego da vírgula.
7. Considere os períodos I, II e III, pontuados de duas
maneiras diferentes:
I - Os jovens que amam são mais felizes.
Os jovens, que amam, são mais felizes.
II - Eu não fumo por opção.
Eu não fumo, por opção.
III - Os padres rezavam e o povo acompanhava a reza.
Os padres rezavam, e o povo acompanhava a reza.
Com pontuação diferente, ocorre alteração de sentido:
a) Em todos os períodos.
b) Em nenhum dos períodos.
c) Somente nos períodos I e II.
d) Somente nos períodos II e III.
e) Somente nos períodos I e III.
8. Observe as frases:
I - Ele foi, logo eu não fui.
II - O menino, disse ele, não vai.
III - Deus, que é Pai, não nos abandona.
IV - Saindo ele e os demais, os meninos ficarão sós.
Assinale a afirmativa correta.
a) Em I há erro de pontuação.
b) Em II e III as vírgulas podem ser retiradas sem que haja
erro.
c) Na I, caso se mude a vírgula de posição, muda-se o
sentido da frase.
d) Na II, faltam dois pontos depois de disse.
e) N.d.a.
4- No segundo quadrinho da tira há uma vírgula e o
terceiro quadrinho sugere a retirada do sinal de pontuação.
a) Explique o sentido da oração com o sinal de pontuação.
b) Explique o sentido da oração sem o sinal de pontuação.
UNIDADE 12
PRONOMES E COLOCAÇÃO PRONOMINAL
Entre eu e tu ou entre mim e ti?
Para eu fazer ou para mim fazer?
Para ti decidir ou para tu decidires?
Termos coordenados ligados pelas conjunções E, OU,
NEM dispensamvírgula.
Seus conselhos me inspiraram tranquilidade,
segurança e paz.
Se, no entanto, essas conjunções vierem repetidas para
dar ideia de ênfase, a vírgula deverá ser empregada.
Não fazia exercícios de Física, nem de Química, nem
de Matemática, nem de Literatura, mas sonhava ser
aprovado na UFSC.
Compare:
Para mim, passar no vestiba é moleza!
Para eu passar no vestiba, será moleza!
ME – TE – SE – O – A – LHE –
NOS – VOS – OS – AS – LHES
Língua Portuguesa
ENEM 17
Colocação Pronominal
a) Próclise: posicionar o pronome antes do verbo.
Ex.: Não te conheço muito bem.
b) Mesóclise: o pronome “se intromete” no verbo...
Ex.: Algum dia, conhecer-te-ei por completo.
c) Ênclise: o pronome fica após o verbo (Sempre com
hífen!).
Ex.: Conheço-te muito bem, meu amigo!
Regrinhas Básicas
- Jamais devemos iniciar uma oração com esse tipo de
pronome.
- A mesóclise só deve ocorrer em início de orações ou
após vírgulas e com verbos no Futuro do Presente ou do
Pretérito.
- A próclise é obrigatória com:
. vocábulos indicativos de negação (não, nunca, jamais,
nem, tampouco);
. a palavra “que” (independentemente de sua classe
gramatical);
. pronomes indefinidos (tudo, nada, ninguém, alguém...);
. conjunções subordinativas (se, caso, embora...);
. pronomes relativos (que, que, qual, cujo...);
. em + gerúndio (Ex.: Em se tratando de...);
. orações interrogativas, exclamativas ou optativas.
- Então, nos demais casos... Dá-lhe Ênclise!!!
Mas fique atento ao pronome que irá empregar,
principalmente se estiver trabalhando com a terceira pessoa!
RECORDE
VI (=Verbo Intransitivo)
→ não pede objeto
VTD (= Verbo Transitivo Direto)
→ pede OD
VTI ( Verbo Transitivo Indireto)
→ pede OI
VTDI (=Verbo Transitivo Direto e Indireto)
→ pede OD e OI simultaneamente
Pronomes também podem servir como complementos aos
verbos:
Exercícios
1. A frase “Eu queria encontrar ela ainda hoje.” não
respeita as regrinhas de nossa amada gramática de Língua
Portuguesa. Por quê?
2. Como reescrever a frase citada na questão anterior, de
modo a seguir a norma culta?
3. E como inserir o pronome “nos” no período
“Conhecemos naquela festa.”, respeitando a Gramática
Normativa? “Vou convidar todos para minha
formatura!”
4. Seria correto substituirmos o termo sublinhado pelo
pronome “lhes”? Justifique sua resposta:
5. Observando os três primeiros quadrinhos, pode-se
perceber que, no diálogo entre Calvin e sua mãe, uma das
formas verbais não condiz com as demais. Trata-se de:
a) Ides.
b) Pretendes.
c) Tenhais.
d) Segui.
e) Julgais.
6. Indique o que seja correto afirmar acerca da tira acima:
01. O pronome empregado logo na abertura da segunda
fala da Calvin apresenta um erro de acentuação, já que,
sendo átono, não deveria receber acento gráfico.
02. O termo “onde” (último quadrinho) pode ser
substituído por “o qual”, mantendo-se o sentido da
sentença.
04. O pronome destacado em “Vós me julgais mal” exerce
função de objeto direto.
08. Reescrevendo o período “Segui vosso caminho!”, de
modo a introduzir nele um pronome átono, teríamos
“Segui-vos!”.
16. Em “Vós me julgais mal”, o último vocábulo
empregado é indicativo de modo.
Texto 1
O homem disse que tinha de ir embora – antes queria
me ensinar uma coisa muito importante:
- Você quer conhecer o segredo de ser um menino
feliz para o resto da vida.
- Quero – respondi.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
18
O segredo se resumia em três palavras, que ele
pronunciou com intensidade, mãos nos meus ombros e
olhos nos meus olhos:
- Pense nos outros.
Na hora, achei esse segredo meio sem graça. Só bem
mais tarde vim a entender o conselho que tantas vezes na
vida deixei de cumprir. Mas que sempre deu certo quando
me lembrei de segui-lo, fazendo-me feliz como um
menino.
SABINO, Fernando. O menino no espelho.
7. Em relação ao Texto 1, é correto afirmar que:
01. o pronome enclítico empregado no trecho “quando me
lembrei de segui-lo”, exerce função de objeto direto e
resgata o substantivo “conselho”.
02. o trecho “quando me lembrei de segui-lo”, pode ser
substituído por “quando lembrei de segui-lo”, sem
desrespeitar a norma culta.
04. a palavra “que”, nas três ocorrências sublinhadas no
texto, está funcionando como pronome relativo, pois,
ao mesmo tempo em que liga orações, também aponta
para um antecedente.
08. em “como um menino” temos o conectivo “como”
dando ideia de conformidade.
16. a ênclise constante em “fazendo-me feliz como um
menino” é facultativa, uma vez que alterar a colocação
pronominal para qualquer outra posição, também
estaria de acordo com a norma culta.
32. Em “Na hora, achei esse segredo meio sem graça.”,
temos “meio” como um vocábulo invariável
UNIDADE 12
QUE e SE
O termo "se" aparece na frase como:
1. Pronome Reflexivo
Os dois amam-se como
irmãos.
Elas deram-se as mãos.
4. Partícula Expletiva ou de
realce
As moças sorriram-se
agradecidas
O povo riu-se ao ouvir tantas
asneiras.
2. Partícula Apassivadora
Sabe-se que há pessoas
safadinhas.
Doam-se aulas de
Gramática.
5. Parte integrante de verbos
Ele queixou-se do assunto.
Maria referiu-se ao pai.
3. Índice de
Indeterminação do Sujeito
Aqui se vive bem.
Precisa-se de serventes.
6. Substantivo
O se é a palavra que estamos
estudando.
7. Conjunção Subordinativa
Se você não ficar quieto, não vai aprender
a lição.
O termo "que" aparece na frase como:
1. Advérbio
Que fria está sua sala!
5. Conjunção
Penso que está tudo ok.
2. Substantivo
Há um quê de censura no
ar.
6. Pronome Interrogativo
Que você quer comigo?
3. Preposição
Tinha que estudar.
7. Pronome Relativo
A candidata que treinei foi
aprovada
4. Interjeição
Quê! Ela acreditou nisso?
8. Partícula Expletiva ou
de Realce
Que nome que te deram....
Exercícios
1- Classifique as funções da palavra “se” nas frases a
seguir, numerando, convenientemente, os parênteses:
1-Partícula apassivadora.
2- Índice de indeterminação do sujeito.
3- Partícula de realce.
4-Partícula integrante do verbo.
5-Conjunção subordinativa.
( ) “Ela quer saber se eu me sinto realizado”.
(Drummond)
( ) “Acabou-se a confiança no próximo”.
(Drummond)
( ) Suicidou-se, pulando no fim da tarde de um
prédio de 10 andares.
( ) Precisa-se de operários.
( ) “Sentia-se o cheiro da panela no fogo, chiando de
toucinho no braseiro”. (José Lins do Rego)
A sequência correta é:
a) 4-3-5-2-1
b) 5-3-2-4-1
c) 4-5-2-1-3
d) 5-3-4-2-1
e) 5-3-2-1-4
2. Em que oração a palavra "que" é um pronome relativo?
a) Observei um quê de desconfiança em seu olhar.
b) Que resultados você espera com essa atitude?
c) A família é que lhe pagava todos os gastos.
d) O itinerário que seguimos era o mais próximo.
e) Não te intimides que há outros menos capazes.
3. Identifique a frase em que a palavra "se" é pronome
apassivador.
a) Viaja-se pelas praias brasileiras no verão.
b) Os namorados acomodaram-se no sofá, em silêncio.
c) Deixou-se abater com a notícia de sua partida.
d) Proibiam-se as queimadas por todo o território.
e) Vivia-se tranqüilo naqueles confins da serra.
4. Em que frase a palavra "se" é índice de indeterminação
do sujeito?
a) Aqui se aceitam encomendas de doces e salgados.
b) O passante escondeu-se da chuva repentina.
c) Neste restaurante italiano, come-se bastante bem.
d) Os dois garotos protegiam-se da forte ventania.
e) Liquidaram-se as dívidas em pouco tempo
Língua Portuguesa
ENEM 19
UNIDADE 13
CONCORDANCIA VERBAL
Sujeito O verbo concorda Exemplos
Coletivo
Coletivo + expressão no pluralNo singular
Singular ou plural
A multidão invadiu o parque.
A turma de meninos saiu (ou saíram).
Nome próprio no plural Com o artigo O Estados Unidos é um país de 1º mundo.
Os Estados Unidos são um país de 1º mundo.
Mais de um(a) No singular
No plural se a ação for recíproca
Mais de um aluno saiu cedo ontem.
Mais de um aluno se olharam atravessado.
Um dos que No singular, se a ação se refere a
só um ser
No plural, se a ação se refere a
mais de um ser
O Sol é um dos astros que aquece a Terra.
O Sol é um dos astros que brilham.
Pronome relativo que
Pronome relativo quem
Com o pronome que vem antes
Com o pronome que está antes, ou
na 3ª pessoa do singular
Sou eu que pago a conta.
Sou eu quem pago/ paga a conta.
Sujeito Composto O verbo concorda Exemplos
Núcleos antes do verbo No plural A mãe e a filha chegaram.
Núcleos depois do verbo No singular ou plural Chegou/chegaram a mãe e a filha.
Núcleos em graduação No singular ou plural Um olhar, um gesto, um sorriso bastava/bastavam.
Núcleos reduzidos por: tudo,
nada, ninguém, etc.
No singular Pedro, Antônio, Renato, ninguém ficou contente.
Pessoas diferentes Eu + tu = nós
Tu + ele = vós
Eu e tu fomos ao parque.
Tu e ele fostes ao cinema hoje?
Um e outro, nem um nem outro No singular ou no plural Um e outro morreu/morreram.
Nem um nem outro correu/correram.
Nem Maria nem Antônio respondeu/responderam.
Ligados pelas alternativas
ou...ou, nem...nem
No singular, se houver exclusão
No plural, se não houver exclusão
Ou Pedro ou Antônio casará com Maria.
O machado ou a serra destruirão aquela mata.
Núcleos ligados por com Com vírgula: singular
Sem vírgula: singular/plural
O professor, com seus alunos, saiu.
O professor com seus alunos saiu/saíram.
Sujeito O verbo concorda Exemplos
Isto, isso, aquilo, tudo + verbo
de ligação
Como predicativo ou com o sujeito Isto são coisas deles.
Tudo são flores.
Nome próprio + verbo de
ligação
Com o sujeito Maria era as alegrias do pai.
Tempo: (hora, dia) com verbos:
ser, dar, bater, soar
Com a palavra indicadora de
tempo
Hoje é primeiro de abril.
Hoje são primeiro de abril.
Soaram nove horas.
Bateram dez horas.
Preço, quantidade + verbo de
ligação
No singular Dez centavos é pouco.
Dois quilos é muito.
Verbos: ser, estar, haver, fazer e
fenômenos da natureza
No singular Faz dez anos que não faço uma redação.
Ontem nevou em Floripa.
Havia muitos ratos no porão.
Verbos apassivados pelo se Com o sujeito Alugam-se casas.
Consertam-se sapatos.
Indeterminado pelo se No singular Necessita-se de empregadas.
Fala-se em assuntos dramáticos.
Porcentagem No singular
No plural
70% do povo reclamou do presidente.
70% das pessoas reclamaram do presidente.
01. Preencha as lacunas corretamente, flexionando os
verbos entre parênteses.
a) _________o governador e sua filha ontem. (chegar)
b) O governador e sua filha ________ ontem. (chegar)
c) Ele, Zé e eu ____________ à festa ontem. (ir)
d) Zé, tu e ele _____________ à festa ontem. (ir)
e) Casas, florestas, rios, tudo ______ por água abaixo
naquela enxurrada. (ir)
f) _____________-se casas. (alugar – Pres.Ind)
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
20
g) _____________-se de empregadas. (precisar de – Pres.
Ind)
h) _______________ dez acidentes na rua na semana
passada. (haver)
i) _______________ anos que não o vejo. (fazer – Pret.
Perfeito)
j) Naquele dia, 10% das crianças não ____________ na
escola. (aparecer)
k) Naquele dia, 10% do povo ________________o
candidato. (eleger)
l) Vossa Majestade não ____________ sair hoje. (poder –
Pres. Ind)
m) Três reais ____________ muito. (ser – Pres. Ind)
n) Maria _________ as alegrias do pai. (ser – Pres. Ind)
o) A água ou o fogo __________ a casa. (destruir – Pret.
Perf.)
02. Assinale a(s) frase(s) correta(s).
01. Ireis de carro tu, vossos primos e eu.
02. O pai ou o filho assumirá a direção da empresa.
04. Mais de um dos candidatos se insultaram.
08. Faz dez anos todos esses fatos.
16. Faz dez anos que não passamos por aqui.
32. Qual de nós irá sair com você?
03. Marque as alternativas gramaticalmente corretas,
quanto à concordância verbo-nominal.
01. Esta jovem, ela próprio irá a Brasília avistar-se com o
presidente.
02. É necessário a paciência de todos para superarmos
esses problemas.
04. Menos festas, mais trabalho!
08. A poesia que desejas está na página vinte e um.
16. Eram perto do meio-dia, quando Mônica chegou.
32. Não se ouviam murmúrios na sala.
64. Aconteceu, ontem, alguns fatos interessantes.
UNIDADE 14
CONCORDANCIA NOMINAL
Mesmo Elas mesmas resolverão o caso.
Ela não sabia disso mesmo.
Junto Juntos iremos longe.
Iremos junto com ele.
Anexo/Incluso
Próprio
Quite
Leso
Obrigado
As cartas seguem anexas.
As cartas seguem em anexo.
Eles próprios assaltaram o caixa.
Estou quite com você.
Cometeu crimes de lesas-pátrias.
Muito obrigada, diz a menina.
Tal
O filho é tal qual o pai.
Os filhos são tais quais os pais.
O filho é tal quais os pais.
Os filhos são tais qual o pai.
Menos
Alerta
Pseudo
Monstro
Ela estava menos calma que ontem.
Fiquemos alerta ao combate.
As pseudo-atrizes foram presas.
Elas são um monstro.
Só Só as meninas foram embora.
As meninas ficaram sós.
Meio
Maria estava meio doente.
Os fins não justificam os meios.
Comi somente meia melancia.
Bastante Eles estão bastante apaixonados.
Comemos bastantes pêras.
Proibido É proibida a entrada de pessoas feias.
É proibido entrada de pessoas feias.
Caro Compra caro os presentes. (adv.)
Compra os presentes caros. (adj.)
Longe Andei por longes terras. (adj.)
Estavam longe de nós. (adv.)
1. Em que casos a forma entre parênteses deve ficar no
plural?
01. O advogado se muniu de argumentos (bastante) para
inocentar seu cliente.
02. Seguem (anexo) os comprovantes solicitados.
04. Eles ( mesmo) admitiram que tudo não passou de
farsa.
08. Os livros estão muito (caro).
16. Eles vestiram calças (cinza).
32. Encontraram os portões (meio) abertos.
64. Os brinquedos de madeira custam mais (barato).
2. Assinale a alternativa em que a concordância
nominal da frase não atende às normas:
a) Houve bastantes propostas, mas nenhuma agradou aos
participantes.
b) As crianças só se queixavam quando os pais as
deixavam sós.
c) O cabo exigia que as sentinelas se mantivessem alerta e
meio escondidas.
d) Encontrou semimortos pai e filho, bastante feridos no
acidente.
e) Perdido na ilha, alimentava-se de frutas e carne
caprinas, que ali abundavam.
3. Que frases estão de acordo com a modalidade culta?
01. É necessário a tua participação.
02. Não era permitida nenhuma participação.
04. É proibido a passagem de alunos pelo corredor.
08. É preciso calma nesta hora.
16. Será permitida votação em segredo.
32. É necessário paciência.
UNIDADE 15
Como estudar literatura para o Enem?
De forma geral, o ENEM espera que o candidato seja
capaz de construir e aplicar conceitos aprendidos por ele,
levando em conta a interdisciplinaridade. Sendo assim, é
necessário que o conhecimento literário esteja aliado às
relações que são estabelecidas com a história, a política,
até mesmo à geografia e à economia do país.
A estética, a estrutura formal, o modo de expressão
discursiva são observados nas manifestações artísticas,
não só nas literárias, mas em outros segmentos –
principalmente na música, na escultura, na pintura e na
arquitetura.
Língua Portuguesa
ENEM 21
De modo geral, o ENEM avalia o quanto o candidato
conhece a respeito do mundo em que vive, da realidade e da
história de seu país e como se posiciona diante de tudo isso.
A Literatura
Costuma-se definir literatura,em sentindo amplo, como
o conjunto de textos escrito sobre determinado tema.
Nessas aulas, porém, o sentindo dado à palavra literatura
é específico. A literatura que discutimos neste material é
fundamentalmente ficcional e plurissignificativa, o que os
permite classificá-la como arte. Assim, umas das
definições possíveis para o texto literário é a de “obra de
arte que tem como matéria-prima as palavras”. Por meio
das palavras, o autor expressa sua maneira de ver o
mundo, utilizando seu estilo pessoal e influenciado por
tudo o que acontece a sua volta.
FIQUE LIGADO NO ENEM!
Texto literário x Texto não literário
(ou utilitário)
• A Literatura é uma forma de expressão artística. Todo artista
trabalha com uma matéria-prima: o músico, com os sons; o
pintor, com as cores; o escultor, com as formas; o arquiteto,
com os espaços. Os escritores têm como matéria-prima a
palavra. Logo, literatura pode ser vista como a ‘arte da palavra’.
• O que define uma obra como literária não é sua “qualidade”,
já que essa noção é discutível, pois varia de época para
época, de cultura para cultura, mas sua vocação para criar
sentidos através dos recursos formais da linguagem.
• Os textos que consideramos literários apresentam
semelhanças no modo de empregar certos recursos de
linguagem. Os textos utilitários, também chamados de não
literários, são aqueles em que a linguagem é utilizada,
sobretudo, com a intenção de transmitir uma informação. Já
os textos literários são aqueles em que a linguagem é
utilizada não apenas para transmitir uma informação, mas
também para, de alguma forma, proporcionar prazer, reflexão,
comoção, identificação, sublimação, espanto…
• Nos textos literários, a preocupação com o modo de dizer é
muito mais evidente do que nos textos utilitários.
Temas
É natural que encontremos o mesmo tema em diferentes
manifestações literárias (peças de teatro, poemas,
romances, contos ou crônicas) com abordagens diferentes,
dependendo do estilo do autor do gênero escolhido e da
época a que pertence.
Soneto
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o Mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
Luís de Camões
Como uma onda
Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa, tudo sempre passará
A vida vem em ondas como o mar
Num indo e vindo infinito
Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo no mundo
Não adianta fugir
Nem mentir pra si mesmo
Agora
Há tanta vida lá fora, aqui dentro
Sempre como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Lulu Santos e Nelson Motta
(compositores contemporâneos)
FIQUE LIGADO NO ENEM!
Vale destacar também que é comum a prova usar
manifestações artísticas contemporâneas que sofreram
influência de estilos anteriormente consagrados.
Estilos de época
Dessa forma, é possível convencionar que obras
produzidas numa mesma época, sob as mesmas
influências históricas e culturais tendem a ter
características semelhantes. É o grupo de obras produzidas
numa mesma época e sob as mesmas condições que
chamamos de movimento artístico-literário. Todo escritor
é influenciado pelos valores da época em que vive. Como
a História é uma constante mudança, a percepção da
realidade se modifica, e as manifestações artísticas, que
sempre serão influenciadas pelo contexto histórico,
também estão em constante mudança. Uma escola literária
consiste nos escritores que, por terem vivido numa mesma
época, têm a tendência de apresentar características
literárias semelhantes.
PRINCIPAIS ESCOLAS LITERÁRIAS – BRASIL E
PORTUGAL
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
22
FIQUE LIGADO NO ENEM!
Estilo de época diz respeito a uma série de procedimentos
estéticos que caracterizam determinado período histórico –
porque foram usados repetitiva e constantemente, por uma ou
mais geração de escritores.
Estilo individual é a maneira peculiar com que cada escritor
manipula a linguagem literária. Refere-se à capacidade de usar
técnicas para obter um melhor resultado estético.
Exercícios
01- (ENEM) Leia o que disse João Cabral de Melo Neto,
poeta pernambucano, sobre a função de seus textos:
"Falo somente com o que falo: a linguagem enxuta,
contato denso; Falo somente do que falo: a vida seca,
áspera e clara do sertão; Falo somente por quem falo: o
homem sertanejo sobrevivendo na adversidade e na
míngua. Falo somente para quem falo: para os que
precisam ser alertados para a situação da miséria no
Nordeste."
Para João Cabral de Melo Neto, no texto literário,
a) a linguagem do texto deve refletir o tema, e a fala do
autor deve denunciar o fato social para determinados
leitores.
b) a linguagem do texto não deve ter relação com o tema,
e o autor deve ser imparcial para que seu texto seja
lido.
c) o escritor deve saber separar a linguagem do tema e a
perspectiva pessoal da perspectiva do leitor.
d) a linguagem pode ser separada do tema, e o escritor
deve ser o delator do fato social para todos os leitores.
e) a linguagem está além do tema, e o fato social deve ser
a proposta do escritor para convencer o leitor.
UNIDADE 16
GÊNEROS LITERÁRIOS
Os conteúdos literários se organizam assume um gênero.
Existem diversas concepções artísticas na Literatura.
Há textos para divertir, para fazer pensar, para criticar a
sociedade, para emocionar, para jogar com a linguagem.
Cada uma dessas se manifesta por meio dos gêneros
literários. O termo “gênero” origina-se do latim genus,
eris, que significa nascimento, descendência, origem, e
refere-se a um conjunto de características temáticas e
formais intrínsecas às manifestações literárias. Sendo por
muito tempo dividido em três categorias: épico, lírico e
dramático. Tal divisão foi proposta na Grécia antiga (384 -
322 a.C.) pelo filósofo grego Aristóteles.
GÊNERO ÉPICO OU NARRATIVO
Em sua origem, apresenta longos poemas narrativos, com
linguagem elevada, multiplicidade de vozes, assunto
histórico e influência mitológica. Sua marca é o
sentimento dos valores coletivos, ou seja, a história
contada exalta as qualidades e feitos de um povo. São
conhecidos também como epopéias e foram os primeiros
textos narrativos. Histórias como "A Ilíada", "Odisseia",
"Os Lusíadas" e o mais recente "O Senhor dos Anéis" e
"300"
Atualmente, o gênero épico foi praticamente substituído
pela prosa de ficção (fábulas, crônicas, contos, novelas e
romances) e é comumente chamado de gênero narrativo.
GÊNERO LÍRICO
Gênero cuja composição, inicialmente, era acompanhada
por uma lira. Modernamente, visto como expressão de
uma subjetividade, como manifestação poética de algum
tipo de sentimento, o que explicaria sua preferência pela
primeira pessoa gramatical.
GÊNERO DRAMÁTICO
Está associado à arte da representação. O enredo
desenvolve-se por meio da encenação dos atores mediante
a apresentação do espetáculo teatral. Apresenta uma
estrutura teatral, em que não há um narrador explícito e o
texto é conduzido pelas próprias personagens, que se
exprimem em discurso direto.
Neste contexto, figuram-se a participação de elementos
extraverbais, tais como cenário, figurino, iluminação,
sonoplastia, entre outros.
FIQUE LIGADO NO ENEM!
Hoje em dia, cada um dos três gêneros clássicos pode aparecer
em textos em PROSA ou em POESIA.
• No texto em PROSA, o conteúdo não está diretamentesubordinado a questões rítmicas, o que equivale a dizer que as
“linhas” do texto não possuem um tamanho predeterminado
(não têm a forma de versos).
• No texto POÉTICO, isto é, num poema, o conteúdo depende
mais claramente das questões rítmicas; por isso, o tamanho das
“linhas” do texto é predeterminado. Cada “linha” de um poema é
chamada de verso, que se caracteriza por ter um ritmo (número
de sílabas poéticas) que se repete – ou não - no poema.
Observe:
Língua Portuguesa
ENEM 23
*Vale destacar que há classificação para os versos, estrofes,
tipos de rimas (ou ausência delas) com nomenclatura
específica.
Exercícios
01 - (Enem) Gênero dramático é aquele em que o artista
usa como intermediária entre si e o público a
representação. A palavra vem do grego drao (fazer) e quer
dizer ação. A peça teatral é, pois, uma composição
literária destinada à apresentação por atores em um palco,
atuando e dialogando entre si. O texto dramático é
complementado pela atuação dos atores no espetáculo
teatral e possui uma estrutura específica, caracterizada: 1)
pela presença de personagens que devem estar ligados
com lógica uns aos outros e à ação; 2) pela ação dramática
(trama, enredo), que é o conjunto de atos dramáticos,
maneiras de ser e de agir das personagens encadeadas à
unidade do efeito e segundo uma ordem composta de
exposição, conflito, complicação, clímax e desfecho; 3)
pela situação ou ambiente, que é o conjunto de
circunstâncias físicas, sociais, espirituais em que se situa a
ação; 4) pelo tema, ou seja, a ideia que o autor
(dramaturgo) deseja expor, ou sua interpretação real por
meio da representação.
COUTINHO, A. Notas de teoria literária. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1973 (adaptado).
Considerando o texto e analisando os elementos que
constituem um espetáculo teatral, conclui-se que
a) a criação do espetáculo teatral apresenta-se como um
fenômeno de ordem individual, pois não é possível sua
concepção de forma coletiva.
b) O cenário onde se desenrola a ação cênica é concebido
e construído pelo cenógrafo de modo autônomo e
independente do tema da peça e do trabalho
interpretativo dos atores.
c) o texto cênico pode originar-se dos mais variados
gêneros textuais, como contos, lendas, romances,
poesias, crônicas, notícias, imagens e fragmentos
textuais, entre outros.
d) o corpo do ator na cena tem pouca importância na
comunicação teatral, visto que o mais importante é a
expressão verbal, base da comunicação cênica em toda
a trajetória do teatro até os dias atuais.
e) a iluminação e o som de um espetáculo cênico
independem do processo de produção/recepção do
espetáculo teatral, já que se trata de linguagens
artísticas diferentes, agregadas posteriormente à cena
teatral.
UNIDADE 17
AS PRIMEIRAS ESCOLAS LITERÁRIAS:
Estudamos os primeiros movimentos literários em língua
portuguesa, observando as primeiras manifestações em
Portugal e, no decorrer da história, no Brasil.
TROVADORISMO
Contexto histórico:
Primeira Época Medieval
Primeiro movimento literário de língua portuguesa –
Século XII
Feudalismo
Relação de suserania e vassalagem
Marco inicial: o marco inicial do Trovadorismo é a
“Cantiga da Ribeirinha” (conhecida também como
“Cantiga da Garvaia”), escrita por Paio Soares de Taveirós
no ano de 1189.
Trovadores: Na lírica medieval, os trovadores eram os
artistas de origem nobre, que compunham e cantavam,
com o acompanhamento de instrumentos musicais, as
cantigas (poesias cantadas). Estas cantigas eram
manuscritas e reunidas em livros, conhecidos como
Cancioneiros. Temos conhecimento de apenas três
Cancioneiros. São eles: “Cancioneiro da Biblioteca”,
“Cancioneiro da Ajuda” e “Cancioneiro da Vaticana”. Os
trovadores de maior destaque na lírica galego-portuguesa
são: Dom Duarte, Dom Dinis, Paio Soares de Taveirós,
João Garcia de Guilhade, Aires Nunes e Meendinho.
No trovadorismo galego-português, as cantigas são
divididas em: Satíricas (Cantigas de Maldizer e
Cantigas de Escárnio) e Líricas (Cantigas de Amor e
Cantigas de Amigo).
Cantigas de Maldizer: através delas, os trovadores
faziam sátiras diretas, chegando muitas vezes a agressões
verbais. Em algumas situações eram utilizados palavrões.
O nome da pessoa satirizada podia aparecer
explicitamente na cantiga ou não.
Cantigas de Escárnio: nestas cantigas o nome da pessoa
satirizada não aparecia. As sátiras eram feitas de forma
indireta, utilizando-se de duplos sentidos.
Cantigas de Amor: neste tipo de cantiga o trovador
destaca todas as qualidades da mulher amada, colocando-
se numa posição inferior (de vassalo) a ela. O tema mais
comum é o amor não correspondido. As cantigas de amor
reproduzem o sistema hierárquico na época
do feudalismo, pois o trovador passa a ser o vassalo da
amada (suserana) e espera receber um benefício em troca
de seus “serviços” (as trovas, o amor dispensado,
sofrimento pelo amor não correspondido).
Cantigas de Amigo: enquanto nas Cantigas de Amor o
eu-lírico é um homem, nas de Amigo é uma mulher
(embora os escritores fossem homens). A palavra amigo
nestas cantigas tem o significado de namorado. O tema
principal é a lamentação da mulher pela falta do amado.
FIQUE LIGADO NO ENEM!
O Enem costuma apresentar a influencia que os
cancioneiros exercem (eram) na MPB, como no exemplo
abaixo.
Rua,
Espada nua
Boia no céu imensa e amarela
http://amantedaleitura2.blogspot.com.br/2012/10/trovadorismo-origem-do-trovadorismo-os.html
http://www.suapesquisa.com/artesliteratura/trovadorismo.htm
http://www.suapesquisa.com/feudalismo
http://www.suapesquisa.com/artesliteratura/trovadorismo.htm
http://amantedaleitura2.blogspot.com.br/2012/10/trovadorismo-origem-do-trovadorismo-os.html
http://www.suapesquisa.com/datascomemorativas/dia_dos_namorados.htm
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
24
Tão redonda a lua
Como flutua
Vem navegando o azul do firmamento
E no silêncio lento
Um trovador, cheio de estrelas
Escuta agora a canção que eu fiz
Pra te esquecer Luiza
Eu sou apenas um pobre amador
Apaixonado
Um aprendiz do teu amor
[Luísa, Tom Jobim]
*a música aproxima-se das cantigas de amor.
Novelas de Cavalaria
Longas narrativas em verso surgidas na Europa no
século XII. Abordam as aventuras vividas pelos
cavaleiros da Idade Média;
Tradição oral: lidas aos membros da corte;
Difusão da visão de mundo da época;
Harmonia interrompida quando o herói ou um grupo de
homens se vê diante de um desafio;
Herói enfrenta perigos e provas a fim de alcançar seu
objetivo;
Valorização do esforço e da moral do herói.
Exercícios
01 – (Enem) Leia atentamente o trecho de uma música de
Caetano Veloso e, em seguida, assinale a alternativa
correta.
Um amor assim delicado
Você pega e despreza
Não devia ter despertado
Ajoelha e não reza
Dessa coisa que mete medo
Pela sua grandeza
Não sou o único culpado
Disso eu tenho a certeza
Princesa
Surpresa
Você me arrasou
Serpente
Nem sente que me envenenou
Senhora, e agora
Me diga onde eu vou
Senhora
Serpente
Princesa
(...)
a) O texto remete ao lirismo trovadoresco presente nas
cantigas de amigo.
b) O texto apresenta uma clara postura de vassalagem
amorosa.
c) O texto é moderno, com referência clara às raízes da
poesia palaciana.
d) A presença do vocativo “Senhora” remete ao amor
carnal, típico do período feudal.
e) O homem posiciona-se como um herói perante a mulher
amada.
HUMANISMO
O humanismo foi uma época de transição entre a Idade
Média e o Renascimento.
Como o próprio nome já diz, o ser humano passou a ser
valorizado.
Foi nessa época que surgiu uma nova classe social: a
burguesia. Os burgueses não eram nem servos e nem
comerciantes.
Com o aparecimento desta nova classe socialforam
aparecendo as cidades e muitos homens que moravam no
campo se mudaram para morar nestas cidades, como
conseqüência o regime feudal de servidão desapareceu.
Foram criadas novas leis e o poder parou nas mãos
daqueles que, apesar de não serem nobres, eram ricos.
O “status” econômico passou a ser muito valorizado,
muito mais do que o título de nobreza.
As Grandes Navegações trouxeram ao homem confiança
de sua capacidade e vontade de conhecer e descobrir
várias coisas. A religião começou a decair (mas não
desapareceu) e o teocentrismo deu lugar
ao antropocentrismo, ou seja, o homem passou a ser o
centro de tudo e não mais Deus.
Os artistas começaram a dar mais valor às emoções
humanas.
É bom ressaltar que todas essas mudanças não ocorreram
do dia para a noite.
HUMANISMO = TEOCENTRISMO X
ANTROPOCENTRISMO
Algumas manifestações
- Teatro
O teatro foi a manifestação literária onde ficavam mais
claras as características desse período.
Gil Vicente foi o nome que mais se destacou,
ele escreveu mais de 40 peças.
Sua obra pode ser dividida em 2 blocos:
Autos: peças teatrais cujo assunto principal é a religião.
“Auto da alma” e “Trilogia das barcas” são alguns
exemplos.
Farsas: peças cômicas curtas. Enredo baseado no
cotidiano.
“Farsa de Inês Pereira”, “Farsa do velho da horta”, “Quem
tem farelos?” são alguns exemplos.
Poesia
Em 1516 foi publicada a obra “Cancioneiro Geral”, uma
coletânea de poemas de época.
O cancioneiro geral resume 2865 autores que tratam de
diversos assuntos em poemas amorosos, satíricos,
religiosos entre outros.
Prosa
Crônicas: registravam a vida dos personagens
e acontecimentos históricos.
Fernão Lopes foi o mais importante cronista(historiador)
da época, tendo sido considerado o “Pai da História de
Portugal”. Foi também o 1º cronista que atribuiu ao povo
um papel importante nas mudanças da história, essa
importância era, anteriormente atribuída somente à
nobreza.
Obras
“Crônica d’El-Rei D. Pedro”
“Crônica d’El-Rei D. Fernando”
“Crônica d’El-Rei D. João I”
http://www.infoescola.com/literatura/humanismo/
http://www.infoescola.com/historia/feudalismo/
http://www.infoescola.com/literatura/humanismo/
http://www.infoescola.com/filosofia/antropocentrismo/
http://www.infoescola.com/literatura/humanismo/
http://www.infoescola.com/redacao/enredo/
http://www.infoescola.com/livros/a-farsa-de-ines-pereira/
http://www.infoescola.com/literatura/humanismo/
Língua Portuguesa
ENEM 25
A seguir, trecho de “O Auto da barca do Inferno de Gil
Vicente”
Chega o Parvo ao batel do Anjo e diz:
Parvo — Hou da barca!
Anjo — Que me queres?
Parvo — Queres-me passar além?
Anjo — Quem és tu?
Parvo — Samica alguém.
Anjo — Tu passarás, se quiseres; porque em todos teus
fazeres per malícia nom er
Vem um Sapateiro com seu avental e carregado de
formas, e chega ao batel infernal, e diz:
Sapateiro — Hou da barca!
Diabo — Quem vem i? Santo sapateiro honrado, como
vens tão carregado?...
Sapateiro — Mandaram-me vir assim... E para onde é a
viagem?
Diabo — Para o lago dos danados.
Sapateiro — Os que morrem confessados onde têm sua
passagem?
Diabo — Nom cures de mais linguagem! Esta é a tua
barca, esta!
Sapateiro — Renegaria eu da festa e da puta da barcagem!
Como poderá isso ser, confessado e comungado?!...
Diabo — Tu morreste excomungado:
Nom o quiseste dizer.
Esperavas de viver, calaste dous mil enganos... Tu
roubaste bem trint'anos o povo com teu mester. Embarca,
era má para ti, que há já muito que t'espero!Classicismo
ou Quinhentismo
Exercícios
Leia os textos a seguir para responder às questões
de 30 a 33, sabendo que, no texto I (Farsa de Inês
Pereira), a personagem aparece na primeira parte casada
com o marido que a maltrata e a tranca em casa e, na
segunda parte, após a morte do companheiro, Inês, já
casada novamente com Pero Marques, vinga-se dos maus-
tratos anteriores, tratando mal o novo marido. O texto
II circulou pela Internet recentemente.
Texto I
[Ainda casada com o primeiro marido], aqui fica Inês
Pereira só, fechada, trabalhando e cantando esta cantiga:
“Quem bem tem e mal escolhe,
Por mal que lhe venha, não se anoje.”
(Falado)
Juro em todo meu sentido
que, se solteira me vejo,
assim como eu desejo,
que eu saiba escolher marido,
a boa-fé sem mal engano,
pacífico todo o ano,
que ande a meu mandar...
Havia-me eu de vingar
deste mal e deste dano! (...)
[Trecho 2]
[Já casada pela segunda vez] põe-se Inês às costas do
[novo] marido, e diz:
Inês – Marido, assi me levade!
Pero – Ides à vossa vontade?
Inês – Como estar no paraíso! (...)
Canta Inês Pereira:
Inês – “Bem sabedes vós, marido,
quanto vos quero.
Sempre foste percebido
pera cervo (...).”
VICENTE, Gil. Antologia do teatro de Gil
Vicente. Introdução e estudo crítico de Cleonice
Berardinelli. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
Vocabulário
Quem bem tem e mal escolhe, /Por mal que lhe venha, não
se anoje: Quem tem melhor escolha e escolhe mal, por
pior que seja, não se queixe.
Pera: para
Cervo: animal dócil e chifrudo
Lembrando-se de que o texto foi escrito por Gil Vicente
na época do Humanismo, aponte a alternativa que discorre
sobre esse texto de forma correta.
a) A Farsa de Inês Pereira permite-nos perceber que o
principal objetivo de Gil Vicente, ao escrever, era
distrair o público por meio do teatro.
b) Como, no final, a mulher acaba conseguindo fazer o
que planejara – maltratar o novo marido – a peça tem
tendências feministas.
c) A farsa apresentada expõe, de maneira crítica,
singularidades da sociedade pré-renascentista, usando
para isso, em vários momentos, o cômico.
d) Percebe-se, por meio da Farsa de Inês Pereira, que no
teatro de Gil Vicente têm mais importância o vestuário
e o cenário do que o texto.
e) Apesar de pertencer à época do Humanismo, a farsa
possui traços trovadorescos, como o tipo de
relacionamento amoroso apresentado.
RENASCIMENTO
Fim da idade das Trevas – Idade Média
Século XVI – 1527 – Sá Miranda retorna da Itália
trazendo esse estilo novo;
Confiança quanto à capacidade criativa do homem –
expansão marítima
Predomínio do Antropocentrismo
Classicismo ou Quinhentismo
Português: características
Influência dos padrões clássicos: Grécia
Presença de seres mitológicos
Versificação
Predomínio da razão sobre os sentimentos
Universalidade: Arte como expressão de verdades
universais;Classicismo ou Quinhentismo
Português: a epopeia
Os Lusíadas - Luís Vaz de Camões
Proposição: os feitos do povo português: a expansão
marítima
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
26
Invocação: busca de inspiração para o eu poético: as
musas do rio Tejo
Dedicatória: Dom Sebastião (Sebastianismo)
Narração: viagem de Vasco da Gama
Epílogo: lamento pelo fato de sua voz não ser ouvida por
todos os portugueses
Heroi: Vasco da Gama, metonímia do povo português
Argumento: as façanhas dos navegantes portugueses
ilustram a história de superação da nação portuguesa
Presença do maravilhoso: o destino dos navegadores é
definido pelos deuses
Estrutura: 8.816 versos distribuídos em 10 cantos
Canto I
As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia lusitana,
Por mares nunca dantes navegados,
Passaram ainda além da Traprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
E também as memórias gloriosas
Daqueles reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando;
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando
Cantanto espalharei por toda a parte,
Se tanto me ajudar o engenho e a arte
Exercícios
LXXVIII (Camões, 1525?-1580)
Leda serenidadedeleitosa,
Que representa em terra um paraíso;
Entre rubis e perlas doce riso
Debaixo de ouro e neve cor-de-rosa;
Presença moderada e graciosa,
Onde ensinando estão despejo e siso
Que se pode por arte e por aviso,
Como por natureza, ser fermosa;
Fala de quem a morte e a vida pende,
Rara, suave; enfim, Senhora, vossa;
Repouso nela alegre e comedido:
Estas as armas são com que me rende
E me cativa Amor; mas não que possa
Despojar-me da glória de rendido.
CAMÕES, L. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008.
SANZIO, R. (1483-1520). A mulher com o unicórnio. Roma, Galleria
Borghese Disponível em: www.arquipelagos.pt. Acesso em: 29 fev. 2012.
A pintura e o poema, embora sendo produtos de duas
linguagens artísticas diferentes, participaram do
mesmo contexto social e cultural de produção pelo fato
de ambos
a) apresentarem um retrato realista, evidenciado pelo
unicórnio presente na pintura e pelos adjetivos usados
no poema.
b) valorizarem o excesso de enfeites na apresentação
pessoal e na variação de atitudes da mulher, eviden
cidas pelos adjetivos do poema.
c) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela
sobriedade e o equilíbrio, evidenciados pela postura,
expressão e vestimenta da moça e os adjetivos usados
no poema.
d) desprezarem o conceito medieval da idealização da
mulher como base da produção artística, evidenciado
pelos adjetivos usados no poema.
e) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela
emotividade e o conflito interior, evidenciados pela
expressão da moça e pelos adjetivos do poema.
UNIDADE 18
Quinhentismo
É a denominação genérica de todas as manifestações
literárias ocorridas no Brasil durante o século XVI, no
momento em que a cultura europeia foi introduzida no
país. Note que, nesse período, ainda não se trata de
literatura genuinamente brasileira, a qual revele visão do
homem brasileiro. Trata-se de uma literatura ocorrida no
Brasil, ligada ao Brasil, mas que denota a visão, as
ambições e as intenções do homem europeu mercantilista
em busca de novas terras e riquezas. As manifestações
ocorridas se prenderam, basicamente, à descrição da terra
e do índio, ou a textos escritos pelos viajantes, jesuítas e
missionários que aqui estiveram.
Literatura Informativa
A Carta de Caminha inaugura o que se convencionou
chamar de Literatura Informativa sobre o Brasil. Este tipo
de literatura, também conhecido como literatura dos
Língua Portuguesa
ENEM 27
viajantes ou literatura dos cronistas, como consequência
das Grandes Navegações, empenha-se em fazer um
levantamento da “terra nova”, de sua floresta e fauna, de
seus habitantes e costumes, que se apresentaram muito
diferentes dos europeus. Daí ser uma literatura meramente
descritiva e, como tal, sem grande valor literário. A
principal característica da carta é a exaltação da terra,
resultante do assombro do europeu diante do exotismo e
da exuberância de um mundo tropical. Com relação à
linguagem, o louvor a terra transparece no uso exagerado
de adjetivos.
Trecho da carta:
Carta a el-Rei Dom Manuel sobre o achamento do
Brasil
Senhor, posto que o capitão-mor desta vossa frota, e
assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova
do achamento desta Vossa terra nova, que se ora nesta
navegação achou, não deixarei de também dar disso
minha conta. (...)
E assim seguimos nosso caminho, por este mar, de longo,
até terça-feira d’ oitavas de Páscoa, que foram 21 dias
d’Abril, que topamos alguns sinais de terra (...) E à quarta-
feira seguinte, pela manhã, topamos aves, a que chamam
fura-buchos. Neste mesmo dia, a horas de véspera,
houvemos vista de terra, isto é, primeiramente d’um
grande monte, mui alto e redondo, e d’outras serras mais
baixas ao sul dele e de terra chãcom grandes arvoredos, ao
qual monte alto o capitão pôs o nome o Monte Pascoal e à
terra A Terra de Vera Cruz. (...)
E dali houvemos vista d’homens, que andavam pela praia,
de 7 ou 8, segundo os navios pequenos disseram, por
chegaram primeiro. (...) A feição deles é serem pardos,
maneira d'avermelhados, de bons rostos e bons narizes,
bem feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura, nem
estimam nenhuma cousa cobrir nem mostrar
suas vergonhas. E estão acerca disso com tanta inocência
como têm em mostrar o rosto. (...)
FIQUE LIGADO NO ENEM!
Para o leitor de hoje, a literatura informativa satisfaz a
curiosidade a respeito do Brasil nos seus primeiros anos de
vida, oferecendo o encanto das narrativas de viagem. Para os
historiadores, os textos são fontes obrigatórias de pesquisa.
Mais adiante, com o movimento modernista, esses textos foram
retomados pelos escritores brasileiros, como Oswald de
Andrade, como forma de denúncia da exploração a que o país
sofrera desde então.
Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português..
Literatura Jesuítica
Os impérios ibéricos continham em sua expansão uma
profunda ambiguidade. Ao espírito capitalista-mercantil
associavam um certo ideal religioso e salvacionista. Por
essa razão, dezenas de religiosos acompanhavam as
expedições a fim de converter os gentios.
Como consequência da Contrarreforma, chegam, em
1549, os primeiros jesuítas ao Brasil. Incumbidos de
catequizar os índios e de instalar o ensino público no país,
fundaram os primeiros colégios, que foram, durante muito
tempo, a única atividade intelectual existente na colônia.
Do ponto de vista estético, os jesuítas foram responsáveis
pela melhor produção literária do Quinhentismo brasileiro.
Além da poesia de devoção, cultivaram o teatro de caráter
pedagógico, inspirado em passagens bíblicas, e
produziram documentos que informavam aos superiores
na Europa o andamento dos trabalhos.
O instrumento mais utilizado para atingir os objetivos
pretendidos pelos jesuítas (moralizar os costumes dos
brancos colonos e catequizar os índios) foi o teatro. Para
isso, os jesuítas chegaram a aprender a língua tupi,
utilizando-a como veículo de expressão. Os índios não
eram apenas espectadores das peças teatrais, mas também
atores, dançarinos e cantores.
Os principais jesuítas responsáveis pela produção literária
da época foram o padre Manuel da Nóbrega, o missionário
Fernão Cardim e o padre José de Anchieta.
José de Anchieta (1534 - 1597)
Nascido em 1534 na ilha de
Tenerife, Canárias, o padre da
Companhia de Jesus veio para o
Brasil em 1553 e fundou, no ano
seguinte, um colégio na região da
então cidade de São Paulo.
Faleceu na atual cidade de
Anchieta, litoral do Espírito Santo,
em 1597.
Conhecido como o grande piahy ("supremo pajé
branco"), Anchieta deixou como legado a primeira
gramática do tupi-guarani, verdadeira cartilha para o
ensino da língua dos nativos (Arte da gramática da língua
mais usada na costa do Brasil). Destacou-se também por
suas poesias e autos, nos quais misturava a moral religiosa
católica aos costumes dos indígenas.
Entre as peças de teatro da época, destaca-se o Auto de
São Lourenço, escrita pelo padre José de Anchieta. Nela,
o autor conta em três línguas (tupi, português e espanhol)
o martírio de são Lourenço, que preferiu morrer queimado
a renunciar a fé cristã. Anchieta intentou conciliar os
valores católicos com os símbolos primitivos dos
habitantes da terra e com aspectos da nova realidade
americana. O sagrado europeu ligava-se aos mitos
indígenas, sem que isso significasse contradição, pois as
ideias que triunfavam nos espetáculos eram evidentemente
as do padre. A liberdade formal das encenações saltava
aos olhos: o teatro anchietano pressupunha o lúdico, o
jogo coreográfico, a cor, o som.
A obra do padre Anchieta também merece destaque na
poesia. Além de poemas didáticos, com finalidade
catequética, também elaborou poemasque apenas
revelavam sua necessidade de expressão. Os poemas mais
conhecidos de José de Anchieta são: “Do Santíssimo
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
28
Sacramento” e “A Santa Inês”. Veja, abaixo, um trecho do
poema:
A Santa Inês
Cordeirinha linda,
Como folga o povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo!
Cordeirinha santa,
De Jesus querida,
Vossa santa vida
O Diabo espanta.
Exercícios
Leia o texto a seguir para responder à questão.
CARTA DE PERO VAZ
A terra é mui graciosa,
Tão fértil eu nunca vi.
A gente vai passear,
No chão espeta um caniço,
No dia seguinte nasce
Bengala de castão de oiro.
Tem goiabas, melancias.
Banana que nem chuchu.
Quanto aos bichos, tem-nos muitos.
De plumagens mui vistosas.
Tem macaco até demais.
Diamantes tem à vontade,
Esmeralda é para os trouxas.
Reforçai, Senhor, a arca.
Cruzados não faltarão,
Vossa perna encanareis,
Salvo o devido respeito.
Ficarei muito saudoso
Se for embora d'aqui.
(Murilo Mendes)
castão - remate superior de uma bengala;
cruzado - antiga moeda portuguesa;
vossa perna encanareis - a expressão quer dizer que o rei
"estava mal das pernas", isto é, sem dinheiro, "quebrado".
As riquezas do Brasil poderão tirá-lo dessa situação.
Há nesse texto uma sátira à expressão "dar-se-á nela
tudo", contida na Carta de Caminha. Marque a
alternativa que confirma essa tendência.
a) "Tem goiabas, melancias
Banana que nem chuchu."
b) ( ... )
"No chão espeta um caniço,
No dia seguinte nasce
Bengala de castão de oiro."
c) "A terra é mui graciosa
Tão fértil eu nunca vi."
d) "Quanto aos bichos, tem-nos muitos
De plumagens mui vistosas.
Tem macaco até demais."
e) "Diamantes tem à vontade,
Esmeralda é para os trouxas.
Reforçai, Senhor, a arca.
UNIDADE 19
BARROCO
CONTEXTO:
O período conhecido como Barroco, ou Seiscentismo,.
O termo denomina genericamente todas as manifestações
artísticas dos anos 1600 e início dos anos 1700. Além da
literatura, estende-se à música, pintura, escultura e
arquitetura da época.
O Barroco foi um período do século XVI marcado pela
crise dos valores Renascentistas, gerando uma nova visão
de mundo através de lutas religiosas e dualismos entre
espírito e razão.
A Reforma Protestante (1517) contestou as práticas da
Igreja Católica e propôs uma nova relação entre Deus e os
homens. Uma das propostas desse movimento foi a
tradução da Bíblia para os idiomas nacionais, abrindo
caminho para novas interpretações das Escrituras,
deixando a Igreja dividida e enfraquecida. O poder central
da Igreja teve que reagir rapidamente. Em 1563 tem início
a Contrarreforma, que tinha como objetivo combater a
expansão do protestantismo e recuperar os domínios
perdidos. Portanto, a Europa do século XVII reflete a crise
religiosa do século anterior. O homem europeu se vê
dividido entre duas forças opostas: o antropocentrismo o
teocentrismo
O movimento envolve novas formas de arte, abrangendo
diversas manifestações artísticas. O Barroco é a estética
que reflete essa tensão, ou seja, o embate entre a fé e a
razão, entre espiritualismo e materialismo.
Massacre de São Bartolomeu
(Foto: Pintura: François Dubois/Reprodução)
A tela do pintor francês apresenta o momento em que
milhares de protestantes foram mortos em Paris, a mando
dos reis católicos franceses, em 1572.
ARTE BARROCA
O Barroco tem manifestações nas artes plásticas, na
música e na literatura, sendo que cada uma dessas esferas
artísticas tem sua maneira de expressar a dualidade do
homem barroco e sua tentativa de fundir valores
contraditórios, como o gosto pelas coisas terrenas e a
salvação pela fé.
Na escultura, as dobras são agudas, as roupas costumam
ser esvoaçantes e as figuras possuem um certo tom
dramático. Uma das esculturas mais conhecidas do
período é Êxtase de Santa Teresa, feita por Bernini.
Língua Portuguesa
ENEM 29
O Êxtase de Santa Teresa
(Foto: Escultura: Gian Lorenzo Bernini)
Na pintura, é possível identificar o contraste entre claro e
escuro. Como no exemplo abaixo, em que Caravaggio
(pintor italiano) retrata a flagelação de Jesus.
A Flagelação de Cristo
(Foto: Pintura: Caravaggio / Reprodução)
Na música de estilo barroco era comum o uso da
polifonia e do contraponto. Um dos representantes mais
importantes foi Vivaldi, responsável pela composição dos
concertos "As quatro estações".
A arquitetura barroca é lembrada pelo excesso de
ornamentação. O estilo foi muito utilizado na construção
de igrejas. O exemplo abaixo é da Basílica de Santiago de
Compostela.
Basílica do Bom Jesus de Matosinhos, em Contagem
(MG)
A influência barroca manifestou-se claramente nas
pinturas feitas em tetos e paredes de igrejas e palácios. As
cenas e elementos arquitetônicos (colunas, escadas,
balcões, degraus) proporcionavam uma incrível ilusão de
movimento e ampliação de espaço, chegando, em alguns
casos, a dar a impressão de que a pintura era a realidade, e
a parede, de fato, não existisse.
Afresco da Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro
Preto (MG), por Manuel da Costa Athayde
BARROCO NA LITERATURA
CULTISMO – É o jogo de palavras; é o rebuscamento
da forma, é a obsessão pela linguagem culta, erudita, por
meio de inversão da frase (hipérbato), do uso de palavras
difíceis. É o abuso no emprego de figuras de linguagem,
especialmente a metáfora, a antítese e o hipérbato. O
principal cultista do barroco mundial foi o espanhol Luís
de Gôngora. No Brasil, Gregório de Matos.
CONCEPTISMO – É o aspecto construtivo do Barroco,
voltado para o jogo das idéias e dos conceitos. É a
preocupação com as associações inesperadas, seguindo
um raciocínio lógico, racionalista. O principal conceptista
do barroco mundial foi o espanhol Francisco de Quevedo.
No Brasil, padre Antônio Vieira.
BARROCO NO BRASIL
As primeiras manifestações da literatura barroca
brasileira ocorreram na Bahia, centro político e comercial
da colônia durante o ciclo da cana-de-açúcar. Para muitos
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
30
especialistas, os primórdios da literatura brasileira
remontam a esse período. A justificativa é que, no século
XVII, os escritores já nascidos na colônia teriam adaptado
pela primeira vez uma estética europeia à realidade
brasileira, colocando em prática uma espécie de
“abrasileiramento” da linguagem literária.
Didaticamente, o Barroco brasileiro tem seu marco
inicial em 1601, com a publicação do poema
épico Prosopopeia, de Bento Teixeira.
Gregório de Matos (1633-1695)
Produziu sátiras irreverentes, as quais justificam o apelido
“Boca do Inferno”. Envolveu-se em inúmeras aventuras,
foi degredado para Angola, voltou para o Brasil e foi para
Recife.
POESIA RELIGIOSA: mostra o autor envolvido pelo
sentimento de culpa e de arrependimento, implorando
perdão.
“Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque quanto mais tenho delinquido
Vos tem a perdoar mais empenhado.
Se basta a voz irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.”
[...]
POESIA LÍRICA: Mostra-se um poeta
angustiado em face à vida, à religião e ao amor.
Revela sua amada, uma mulher bela que é
constantemente comparada aos elementos da
natureza. Além disso, ao mesmo tempo que o
amor desperta os desejos corporais, o poeta é
assaltado pela culpa e pela angústia do pecado.
“Anjo no nome, Angélica na cara!
Isso é ser flor, e Anjo juntamente:
Ser Angélica flor, e Anjo florente,
Em quem, senão em vós, se uniformara:
Quem vira uma tal flor, que a não cortara,
De verde pé, da rama fluorescente;
E quem um Anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus o não idolatrara?”[...]
POESIA SATÍRICA: mostra a crítica severa de
uma sociedade marcada pela mediocridade e pela
desonestidade, nasce de um sujeito lírico que
adota um ponto de vista conservador e
preconceituoso. Seus poemas satíricos renderam-
lhe o apelido de Boca do Inferno.
“Triste Bahia!
ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi abundante.
A ti tricou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando e, tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.”
[...]
POESIA ERÓTICA: Também alcunhado de
profano, o poeta mostra o uso de palavrões e
alusões obscenas, além de exaltar a sensualidade
e a volúpia das amantes que conquistou na Bahia,
além dos escândalos sexuais envolvendo os
conventos da cidade.
Padre Antônio Vieira (1608-1697)
Por onde passou ficou, ficou conhecido por seus sermões,
discursos orais destinados aos fiéis sobre temas religiosos,
bíblicos e morais. Porém, Antônio Vieira não se limitou à
pregação religiosa, colocando seus sermões a serviço de
suas ideias políticas e ideológicas. Em Portugal ganhou a
antipatia da Inquisição ao defender o retorno dos judeus,
perseguidos pelo tribunal, ao território português, para
driblar a crise econômica. No Brasil, combateu com
radicalismo a escravização dos índios e foi perseguido
pelos colonos.
Escreveu cerca de duzentos sermões em estilo conceptista,
isto é, que privilegia a retórica e o encadeamento lógico de
ideias e conceitos. Estão formalmente divididos em três
partes: Intróito ou Exórdio, a apresentação, introdução
do assunto; desenvolvimento ou argumento: defesa de
uma ideia com base na argumentação; peroração: parte
final, conclusão.
Seus sermões mais famosos são: Sermão da Sexagésima,
Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal
contra as de Holanda, Sermão de Santo Antônio.
FIQUE LIGADO NO ENEM!
Nas artes plásticas, o Barroco manifestou-se tardiamente no
Brasil, pois se tornou viável apenas com o suporte dado pela
descoberta do ouro em Minas Gerais, que resultou na
construção de igrejas de estilo barroco ao longo de todo o
século XVIII. Destaque para Antônio Francisco Lisboa,
Aleijadinho (1730-1814).
Parte do Patrimônio Histórico da Humanidade, as esculturas de
Aleijadinho, com seus olhares penetrantes, têm como
característica a expressividade e a dramaticidade.
Língua Portuguesa
ENEM 31
Exercícios
01- O Barroco se caracteriza pelo movimento contínuo,
curvas e contracurvas, a torção dos corpos e o
planejamento tumultuado, buscando um efeito dramático.
Com base nestas características, indique a alternativa que
contém apenas escultura barroca.
UNIDADE 20
ARCADISMO
O Arcadismo, também conhecido como Setecentismo
ou Neoclacissismo, é o movimento que compreende a
produção literária brasileira na segunda metade do século
XVIII. O nome faz referência à Arcádia, região do sul da
Grécia que, por sua vez, foi nomeada em referência ao
semideus Arcas (filho de Zeus e Calisto), mostrando
assim, desde o princípio, as referências à mitologia grega
que perpassa o movimento.
Profundas mudanças no contexto histórico mundial
caracterizam o período, tais como a ascensão do
Iluminismo, que pressupunha o racionalismo, o progresso
e as ciências. Na América do Norte, ocorre a
Independência dos Estados Unidos, em 1776, abrindo
caminho para vários movimentos de independência ao
longo de toda a América, como foi o caso do Brasil, que
presenciou inúmeras revoluções e inconfidências até a
chegada da Família Real em 1808.
O movimento tem características reformistas, pois seu
intuito era o de dar novos ares às artes e ao ensino, aos
hábitos e atitudes da época. A aristocracia em declínio viu
sua riqueza esvair-se e dar lugar a uma nova organização
econômica liderada pelo pensamento burguês.
Neste período, centro econômico da colônia deslocou-se
do Nordeste para o Sudeste, sendo Vila Rica e Rio de
Janeiro, onde uma pequena burguesia letrada fazia ecoar o
pensamento iluminista francês.
No Brasil, o ano convencionado para o início do
Arcadismo é 1768, quando houve a publicação de Obras,
do poeta Claudio Manoel da Costa.
De acordo com a crítica literária, o arcadismo brasileiro
teve dois momentos: poético e ideológico, sendo o
primeiro caracterizado pelo retorno à tradição clássica
com a utilização dos seus modelos, e valorização da
natureza e da mitologia, e o segundo influenciado pela
filosofia presente no Iluminismo, que traduz a crítica da
burguesia culta aos abusos da nobreza e do clero.
Arcádia Ultramarina
Trata-se de uma sociedade literária fundada na cidade
de Vila Rica (MG), influenciada pela Arcádia italiana
(fundada em 1690) e cujos membros adotavam
pseudônimos, isto é, nomes artísticos, de pastores
cantados na poesia grega ou latina. Por isso que alguns
dos principais nomes do Arcadismo brasileiro publicavam
suas obras com nomes inspirados na mitologia grega e
romana.
Principais características
- inspiração nos modelos clássicos greco-latinos e
renascentistas;
- apreço pelas formas fixas;
- mitologia pagã como elemento estético;
- pastoralismo: poetas simples e humildes;
- bucolismo: busca pelos valores da natureza;
- exaltação da pureza, da ingenuidade e da beleza;
- convencionalismo = repetição de termos desgastados;
- uso de pseudônimos.
Termos em latim
O uso de expressões em latim era comum e estavam
associados ao estilo de vida simples e bucólico.
Inutilia truncat: "cortar o inútil", referência aos excessos
cometidos pelas obras do barroco. No arcadismo, os
poetas primavam pela simplicidade.
Fugere urbem: "fugir da cidade", do escritor clássico
Horácio;
Locus amoenus: "lugar ameno", um refúgio ameno em
detrimento dos centros urbanos monárquicos;
Carpe diem: "aproveitar a vida", o pastor, ciente da
efemeridade do tempo, convida sua amada a aproveitar o
momento presente.
Cabe ressaltar, no entanto, que os membros da Arcádia
eram todos burgueses e habitantes dos centros urbanos.
Por isso a eles são atribuídos um fingimento poético, isto
é, a simulação de sentimentos fictícios.
FIQUE LIGADO NO ENEM!
Um dos principais escritores que influenciaram árcades foi o
poeta latino Horácio, que viveu entre 68 a.C. e 8 a.C., e foi
influenciador do pensamento do “Carpe Diem”, que significa
viver agora, desfrutar do presente, adotado pelo Arcadismo e
permanente até os dias de hoje. Assim, pode aparecer, na
prova, alguma produção atual inspirada em tal lema.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
32
Principais autores e obras:
Poesia Épica
Cláudio Manuel da Costa (Villa Rica)
Santa Rita Durão (‘Caramuru’)
José Basílio da Gama (‘O Uraguai’)
Poesia Lírica
Tomás Antônio Gonzaga (‘As Liras de Marília
de Dirceu’).
Cláudio Manuel da Costa (‘Obras’)
Vale destacar também: Silva Alvarenga e
Alvarenga Peixoto
Poesia Satírica
Tomás Antônio Gonzaga (‘Cartas Chilenas’)
Cláudio Manuel da Costa
Nasceu em Mariana, MG, estudou no Rio de Janeiro e
em Coimbra. Em 1768, publicou Obras, livro de poemas
considerado o marco inicial do Arcadismo brasileiro.
Envolveu-se com a Inconfidência Mineira.
A poesia lírica é a parte mais representativa de sua obra,
principalmente os sonetos. Produziu o poema épico, Vila
Rica, publicado somente em 1839.
Sonetos X
Eu ponho esta sanfona, tu, Palemo,
Porás a ovelha branca, e o cajado;
E ambos ao som da flauta magoado
Podemos competir de extremo a extremo.
Principia, pastor; que eu te não temo;
Inda que sejas tão avantajado
No cântico amebeu: para louvado
Escolhamos embora o velho Alcemo.
Que esperas? Toma a flauta, principia;
Eu quero acompanhar te; os horizontes
Já se enchem de prazer, e de alegria:Parece, que estes prados, e estas fontes
Já sabem, que é o assunto da porfia
Nise, a melhor pastora destes montes.
Tomás Antônio Gonzaga
Nasceu na cidade de Porto, em Portugal, porém, filho de
mãe portuguesa e pai brasileiro, vive parte da vida no
Brasil. Formado em Direito pela Universidade de
Coimbra, muda para o Brasil para trabalhar como ouvidor
e juiz. Aqui, pretendia se casar com a jovem Maria
Dorotéia Joaquina de Seixas Brandão, sua musa Marília.
No entanto, como participara da Inconfidência Mineira,
é preso e levado para o Rio de Janeiro. Quando sai da
prisão, muda-se para Moçambique, na África, onde casa
com Juliana de Sousa Mascarenhas.
Tomás Antônio Gonzaga é o pastor Dirceu, pseudônimo
criado pelo poeta para seu conjunto de liras famosas
intitulado Marília de Dirceu, publicadas em três partes
nos anos de 1792, 1799 e 1812. Nessa obra, Dirceu é o
pastor que cultiva o ideal da vida campestre, que vive
entre ovelhas em uma choupana e aproveita o momento
presente ao lado da amada Marília.
Lira I
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d’expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
As "Cartas Chilenas“
Correspondem a uma coleção de doze cartas, poemas
satíricos que circularam em Vila Rica poucos antes da
Inconfidência Mineira. Assinadas por Critilo (Gonzaga),
habitante de Santiago do Chile (Vila Rica) e endereçadas a
Doroteu (Cláudio Manuel da Costa), residente em Madri.
Critilo narra os desmandos do governador chileno, o
Fanfarrão Minésio (Luís da Cunha Meneses).
Basílio da Gama
José Basílio da Gama era filho do capitão-mor, Manuel da
Costa Villas-Boas e de uma neta de Leonel da Gama
Belles, oficial da Colônia, de quem adotou o nome.
Estudou no Rio de Janeiro, no Colégio dos Jesuítas, mas
com a expulsão da Companhia de Jesus, já noviço,
transferiu-se para o Seminário Episcopal de São José.
"(...) Mais perto
Descobrem que se enrola no seu corpo
Verde serpente, e lhe passeia, e cinge
Pescoço e braços, e lhe lambe o seio.
Fogem de a ver assim, sobressaltados,
E param cheios de temor ao longe;
E nem se atrevem a chamá-la, e temem
Que desperte assustada, e irrite o monstro,
E fuja, e apresse no fugir a morte.
Porém o destro Caitutu, que teme
Do perigo da irmã, sem mais demora
Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes
Soltar o tiro, e vacilou três vezes
Entre a ira e o temor.
[...]
Frei Santa Rita Durão
Mineiro de Mariana, Minas Gerais. Sua obra consiste
basicamente no Caramuru, poema épico do
descobrimento da Bahia, que narra as aventuras de Diogo
Álvares Correia. Entre os personagens destacam-se: o
português Diogo Correia, o Caramuru; e as índias Moema
e Paraguaçu. Moema era apaixonada por Diogo, mas é
Paraguaçu quem se casa com ele. Quando os dois estão
indo para Paris, Moema se lança ao mar nadando atrás do
navio e acaba morrendo afogada.
XLII
Perde o lume dos olhos, pasma e treme,
Pálida a cor, o aspecto moribundo;
Com mão já sem vigor, soltando o leme,
Língua Portuguesa
ENEM 33
Entre as salsas escumas desce ao fundo.
Mas na onda do mar, que irado freme,
Tornando a aparecer desde o profundo,
-Ah! Diogo cruel! – disse com mágoa,
E, sem mais vista ser, sorveu-se n’água.
[...]
Exercícios
01 - Considerando o soneto de Cláudio Manoel da Costa e
os elementos constitutivos do Arcadismo brasileiro,
assinale a opção correta acerca da relação entre o poema e
o momento histórico de sua produção.
a) Os “montes” e “outeiros”, mencionados na primeira
estrofe, são imagens relacionadas à Metrópole, ou seja,
ao lugar onde o poeta se vestiu com traje “rico e fino”.
b) O bucolismo presente nas imagens do poema é
elemento estético do Arcadismo que evidencia a
preocupação do poeta árcade em realizar uma
representação literária realista da vida nacional.
c) A relação de vantagem da “choupana” sobre a
“Cidade”, na terceira estrofe, é formulação literária
que reproduz a condição histórica paradoxalmente
vantajosa da Colônia sobre a Metrópole.
d) A realidade de atraso social, político e econômico do
Brasil Colônia está representada esteticamente no
poema pela referência, na última estrofe, à
transformação do pranto em alegria.
e) A oposição entre a Colônia e a Metrópole, como núcleo
do poema, revela uma contradição vivenciada pelo
poeta, dividido entre a civilidade do mundo urbano da
Metrópole e a rusticidade da terra da Colônia.
UNIDADE 21
ROMANTISMO
Contexto Histórico na Europa
A Liberdade Guiando o Povo (1830), de Eugène Delacroix
Considera-se o marco inicial do romantismo na Europa
a publicação do romance Os sofrimentos do jovem
Werther, do escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe
no ano de 1774. Historicamente, um dos marcos principais
do romantismo foram os movimentos de ideais libertários,
destacando-se
• Revolução Industrial: iniciou-se por volta de 1750, na
Inglaterra, e se alastrou por toda a Europa ao longo do
século XIX. A substituição da produção artesanal pela
indústria, em série, teve como consequência, além da
formação de uma nova classe – o proletariado - , a radical
mudança no estilo de vida.
• Revolução Gloriosa: na Inglaterra, conseguiu instituir, já
no século anterior(1688-89), a Declaração dos Direitos
limitando os poderes do rei às ´prerrogativas do
Parlamento, que passava a ser competente para o
lançamento de impostos, as eleições, a liberdade da
palavra, as instituições judiciais, etc.
• Revolução Francesa: representa a tomada do poder
político pela burguesia. Os ideais revolucionários de
Liberdade e Igualdade espalharam-se pela Europa e pelas
Américas, inspirando outros movimentos.
A Revolução Francesa, responsável pela difusão dos
pensamentos Iluministras na Europa e nas suas colônias,
que tanto inspirou os poetas árcades brasileiros.
Com o processo de industrialização dos grandes centros,
houve um delineamento das classes sociais: a burguesia,
com riquezas provenientes do comércio, e os operários das
indústrias. Logo, a literatura do período foi produzida pela
classe dominante e para a classe dominante, deixando
claro qual a ideologia defendida por seus autores.
CONTEXTO HISTÓRICO BRASILEIRO
Chegada da Família Real Portuguesa a Bahia (1952), de
Candido Portinari
Considera-se que o período romântico no Brasil inicia
em 1836, com a publicação da obra Suspiros Poéticos e
Saudades, do poeta Gonçalves de Magalhães. O
desenvolvimento da literatura brasileira aconteceu a partir
da vinda da Família Real para o Rio de Janeiro que gerou
um forte desenvolvimento artístico e cultural na colônia.
Vem da Europa o desenvolvimento da tipografia, que
possibilitou o desenvolvimento da impressão em grandes
quantidades. No início, os romances eram publicados
diariamente nos jornais de forma fragmentada, assim, a
cada dia um novo capítulo da história era revelado. Esse
esquema, importado para a colônia, ficou conhecido como
"folhetim" ou "romance de folhetim" e deu origem às
telenovelas que conhecemos nos dias de hoje.
Porém, a insatisfação das classes dominantes com o
Império fez com que surgissem tentativas de
independência da metrópole, produzindo um sentimento
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
34
de nacionalismo que culminaria com a Declaração da
Independência, em 1822, por Dom Pedro I.
Outro aspecto importante: o Brasil era uma das poucas
colônias americanas que ainda sustentava o sistema
econômico baseado do trabalho escravo, o que gerou
opiniões controversas por parte dosautores daquela época.
Temos expressões literárias abolicionistas (o poeta
Gonçalves de Magalhães) e outras que tratavam do tema
superficialmente (o romancista Bernardo Guimarães) ou
sequer tocavam na questão.
O que causa uma sensação de estranhamento é o
paradoxo observado no período: ao mesmo tempo em que
ideias sobre o sentimento de nacionalidade aflorava nos
corações dos brasileiros (e demais latino-americanos),
parte da população permanecia na miséria e/ou em
situações de escravidão, sem acesso à emancipação e aos
direitos humanos básicos.
Características gerais do Romantismo:
A liberdade formal e a imaginação criativa ocupam o
lugar das regras de composição clássicas. (Euforia e
medo diante da liberdade, da democratização da arte)
Individualismo, sentimentalismo, egocentrismo,
religião, fantasia, sonho, idade média, idealização,
sonoridade, subjetivismo, melancolia, tédio,
idealização da mulher, fuga da realidade, obsessão
pela morte - escapismo, bem X mal, final feliz (ou
morte como desfecho)
POESIA ROMÂNTICA
A poesia no período costuma ser dividida em três fases,
que constituem as três gerações românticas:
a primeira é a indianista; a segunda,byroniana; a
terceira, condoreira.
• A geração indianista, de cunho altamente nacionalista,
caracterizou-se pela idealização do índio
e pela valorização da natureza brasileira, tendo seu ponto
mais alto na obra do maranhense Antônio
Gonçalves Dias (1823-1864), autor dos Primeiros cantos
(1846).
Canção do exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida, mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Segunda – geração do mal-do-século,
ultrarromântica ou byroniana – influência o poeta
inglês
Lord Byron, que levaria a profundezas extremas a
melancolia e a rebeldia, ao ponto de cantar a morte como
forma de escapar de uma vida indesejada. Negativismo,
desilusão, tédio e dúvida são características da segunda
geração do romantismo. A fuga da realidade é um dos
temas preferidos que se manifesta na exaltação da morte e
nas virgens sonhadoras.
Principais autores: Álvares de Azevedo, Casimiro de
Abreu, Junqueira Freire e Fagundes Varela.
Essa geração foi marcada pelos exageros individualistas,
misturando tédio e referências à morte.
O paulistano Manuel Antônio Álvares de Azevedo
(1831-1852), autorde Lira dos vinte anos (1853), é um dos
garndes nomes dessa geração.
Pálida, à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada1,
Entre nuvens de amor ela dormia!
Era a virgem do mar, na escuma2 fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d’alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!
[...]
Destaca-se também Casimiro José Marque de Abreu,
natural do Rio de Janeiro, autor de ‘As primaveras’, 1859.
Meus oito anos
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
[...]
A terceira geração, conhecida como condoreira ou
hugoana (por influência de Victor Hugo), foi
caracterizada pela liberdade. Nessa época, a poesia
social abriu seu espaço, muitas vezes inspirada no
anseio pela República e pela Abolição. O maior
poeta condoreiro no Brasil foi o baiano Antônio
Frederico de Castro Alves (1847-1871), autor de
Espumas flutuantes (1870). O fragmento a seguir
Língua Portuguesa
ENEM 35
pertence ao canto IV de“Navio negreiro (tragédia no
mar)”, o mais conhecido poema de Castro Alves:
Era um sonho dantesco… O tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros… estalar do açoite…
Legiões de homens negros como a noite
Horrendos a dançar…
Negras mulheres suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães.
Outras, moças… mas nuas, espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas
Em ânsia e mágoas vãs.
(...)
PROSA ROMÂNTICA
Com o desenvolvimento da imprensa, criou-se um público
leitor que impulsionou um grande número de publicações
em folhetins, formato que permitiu o surgimento e
desenvolvimento da prosa romântica, que, ao lado da
poesia, formaram toda a produção literária romântica.
O Romantismo marca o surgimento e a popularização do
romance, da prosa de ficção na Literatura, publicado sob
a forma de folhetins, o que dava características peculiares
aos textos, como o fato de o narrador explicar a todo o
momento os desdobramentos da narrativa, ou de cada
capítulo terminar com um pequeno conflito não resolvido
(para criar expectativa), recursos narrativos hoje utilizados
nas séries televisivas e nas novelas, por exemplo.
É importante destacar que, pelo fato da produção em prosa
ter surgido no Romantismo, o nome romance é
comumente associado ao movimento, muitas vezes sendo
sinônimo de folhetim e de histórias românticas. No
entanto, nem todo o romance é romântico/do Romantismo,
uma vez que romance é apenas uma palavra que designa
um gênero literário narrativo em prosa que teve vários
desdobramentos ao longo do temo, como o romance
realista e o romance naturalista.
Principais características
O romance romântico, mais do que as poesias, queria
responder e atender aos questionamentos sobre a
identidade nacional. A prosa romântica tinha o intuito de
redescobrir o Brasil, trazendo à tona e reconhecendo todos
os espaços que o compunham, não só exaltando uma
característica nacional, como a poesia fazia.
Era comum a presença do flashback, uma volta ao
passado para explicar um fato do presente. O
sentimentalismo era mais visível, uma vez que toda prosa
romântica tem histórias de amor que tentam quebrar
barreiras, terminando no casamento ou na morte (quando
o amor não era possível). Essa idealização de um
amor que quebra barreiras traz à tona a ideia de que o
amor é a única forma das personagens se purificarem.
O conflito narrativo na prosa romântica também tinha
a idealização de um heroi, no entanto, apesar da
coragem, da postura idealista e do desejo de justiça e
moral, este herói esta inserido no contexto do romance ao
qual pertence, podendo também ser uma heroína. O
sentimento das personagens e os conflitos destes são
mostrados na prosa e há também uma ideia muito forte de
bem x mal, verdade x mentira, moral x imoral.
Tipos de romances
Temos quatro tipos de romances no movimento: o
indianista, histórico, regional e urbano e era bem comum
que os escritores da prosa do período caminhassem entre
os vários tipos.
Romance indianista
O romance indianista traz à tona a vida, cultura, crença e
costumes indígenas. O índio surge como herói,
representando o Brasil e os brasileiros, sendo corajoso,
heróico, forte, idealizado. Há uma valorização da natureza
e o espaço onde ocorre a narrativa remete ao natural, à
paisagem brasileira. Exemplos: Iracema, O
Guarani e Ubirajara, todos de José de Alencar.
Romance histórico
O romance histórico traz o retrato de costumes de uma
época passada, sendo um relato que muitas vezes mistura
ficção e realidade. Exemplos: As Minas de Prata e A
Guerra dos Mascates, ambos de José de Alencar. É
importantesaber que romances indianistas também podem
ser considerados históricos.
Romance urbano
Os romances urbanos são os mais lidos até hoje. Em sua
grande maioria, este tipo no Romantismo narrava uma
história que geralmente ocorria nas capitais, na alta
sociedade. Funcionava como crítica aos costumes,
mostrando a sociedade e os interesses desta em uma
determinada época. Os heróis e heroínas deste romance
faziam ou não parte desta alta sociedade e tinham que
superar várias barreiras para a felicidade e a realização do
amor e do casamento (que redimia as personagens de todo
o mal e imoralidade que elas pudessem ter), tal como nos
outros tipos de romances românticos. Exemplos:
Lucíola, Diva, Senhora, A Viuvinha, todos de José de
Alencar; Iaiá Garcia, Helena, A Mão e a Luva, de
Machado de Assis; A Moreninha, de Joaquim Manuel de
Macedo; e Memórias de um Sargento de Milícias, de
Manuel Antônio de Almeida, que surge trazendo à tona os
costumes da periferia, indo na contramão do retrato de
costumes da alta sociedade, algo raro neste tipo de
romance.
Romance regionalista
Por fim, temos o romance regionalista, passado em
ambiente rural, mostrando costumes, valores e cultura
típica de uma região. Este tipo de romance trazia um
maior conhecimento do Brasil sobre si próprio, uma vez
que voltava seu olhar pra regiões diferentes do Brasil,
trazendo à tona sua diversidade.
Neste cenário rural há um herói do campo, sertanejo,
alguém que pertence à sua terra e é o retrato desta. É
bravo e honrado, preza a moral e os costumes de seu
ambiente, colocando-se contrário às liberalidades da
cidade e dos homens de lá. É importante ressaltar que não
há tensão social no romance romântico regionalista, sendo
este apenas um retrato regional de costumes, sem críticas.
Alguns exemplos de romances regionalistas
http://rachacuca.com.br/educacao/literatura/memorias-de-um-sargento-de-milicias/
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
36
são: Inocência, de Visconde de Taunay; O Tronco do Ipê,
Til e O Gaúcho, de José de Alencar; A Escrava Isaura, de
Bernardo Guimarães.
Teatro Romântico
O teatro no Brasil, até então, era proveniente da Europa e
tinha como principal objetivo agradar às elites brasileiras,
que transformavam as apresentações em verdadeiros
eventos sociais, principalmente nas grandes cidades.
Embora alguns escritores já houvessem se arriscado na
dramaturgia brasileira, como Castro Alves e José de
Alencar, cujas obras eram baseadas nas europeias, ainda
não havia uma discussão sobre o perfil do teatro
brasileiro. Foi apenas com Martins Pena que o teatro
passou a refletir as cenas e as problemáticas da realidade
brasileira.
FIQUE LIGADO NO ENEM!
Destaque: José de Alencar é um dos maiores representantes do
romantismo no Brasil e um dos principais nomes da literatura
nacional. O autor ficou marcado por investir em uma literatura
nacional, menos influenciada pelos colonizadores portugueses.
Como resultado, as obras de Alencar apresentam a cultura do
povo, a história e as regiões brasileiras com uma linguagem
inovadora para a época.
Trabalhou como jornalista, como muitos escritores, e teve
atuação também na política, mas foi na literatura que recebeu
maior reconhecimento. Elogiado pelos pares, ficou amigo de
Machado de Assis, que o nomeou patrono da cadeira nº 23 da
Academia Brasileira de Letras, fundada depois de sua morte.
Exercícios
01 - A referência ao escritor maldito, presente no último
quadrinho, pode ser relacionada a um período que, da
Alemanha e da França, no século XIX, espalhou-se por
todo o ocidente, tendo representado no Brasil o fim da
literatura colonial e o início do período nacional da nossa
literatura. Assinale a alternativa em que se encontram o
nome desse estilo de época e o de um de seus mais
significativos autores no Brasil.
a) BARROCO, levando-se em conta, principalmente, os
textos conceptistas do padre Antônio Vieira.
b) Romantismo, sobretudo se forem considerados os
autores da poesia do mal do século, por exemplo,
Álvares de Azevedo.
c) NATURALISMO, na medida em que se considera o
uso, na literatura, do determinismo ambiental para
caracterizar ambientes decadentes descritos nas obras
de autores como Aluisio de Azevedo.
d) PARNASIANISMO, pois foi um movimento que
rompia com o passado artístico e pregava a liberdade
total de expressão, como se pode observar na obra de
Oswald de Andrade.
e) MODERNISMO, movimento que rompia com o
passado artístico e pregava a liberdade total de
expressão, como se pode observar na obra de Oswald
de Andrade.
UNIDADE 22
REALISMO E NATURALISMO
Contexto Histórico
Surgiu a partir da segunda metade do século XIX.
As ideias do Liberalismo e Democracia ganham mais
espaço.
Segunda fase da Revolução Industrial
As ciências evoluem e os métodos de experimentação
e observação da realidade passam a ser vistos como os
únicos capazes de explicar o mundo físico.
Em 1870, iniciam-se os primeiros sintomas da agitação
cultural, sobretudo nas academias de Recife,
SP, Bahia e RJ, devido aos seus contatos frequentes
com as grandes cidades europeias.
Houve também uma transformação no aspecto social
com o surgimento da população urbana, a
desigualdade econômica e o aparecimento do
proletariado.
REALISMO
O início da literatura realista se dá com a publicação do
romance “Madame Bovary” de Gustave Flaubert, na
França, em 1857, o qual é um espelho da realidade
burguesa da época retratado na figura de uma mulher de
classe média. No Brasil, Machado de Assis inicia os ideais
do Realismo com “Memórias Póstumas de Brás Cubas”,
em 18881, um romance psicológico, cuja personagem
principal é Brás Cubas, um defunto-autor que expõe ao
leitor suas experiências pessoais
Características do Realismo
Oposição ao idealismo romântico. Não há
envolvimento sentimental
Representação mais fiel da realidade (como o próprio
nome sugere)
Romance como meio de combate e crítica às
instituições sociais decadentes, como o casamento, por
exemplo.
Os cenários passaram a ser urbanos e o ambiente
social passou a ser valorizado ao invés do natural.
Análise dos valores burgueses com visão crítica
denunciando a hipocrisia e corrupção da classe
Influência dos métodos experimentais
Narrativa minuciosa (com muitos detalhes)
Personagens analisadas psicologicamente
A realidade da população é tratada à luz das teorias
sociológicas emergentes: Positivismo, Determinismo,
Darwinismo e Marxismo.
Não houve uma idealização da figura masculina como
herói e sim uma exposição do homem que trabalha e
que luta para sair de uma condição medíocre.
A linguagem no Realismo é mais simples, sem
preocupações estéticas exacerbadas, de modo a
abranger um público maior.
http://www.infoescola.com/filosofia/liberalismo/
http://www.infoescola.com/sociologia/democracia/
http://www.infoescola.com/literatura/realismo/
http://www.infoescola.com/literatura/realismo/
http://www.infoescola.com/literatura/realismo/
http://www.infoescola.com/redacao/narracao/
Língua Portuguesa
ENEM 37
Principais temáticas – A observação atenta das
paisagens, das pessoas e dos fenômenos é feita com
precisão rigorosa – e, em muitos romances realistas, o
estudo analítico se sobrepõe ao dinamismo das ações. O
mundo burguês, antes visto como a superação dos valores
medievais, passa a ser considerado um universo
extremamente problemático. Ocorrem, também, ataques
contundentes ao conservadorismo da Igreja católica.
Romances de Tese – narrativas que funcionam como uma
espécie de laboratório no qual o escritor desenvolve
estudos acerca da realidade exterior.
Personagens – Em lugar de heróis, as personagens de
romances realistas são pessoas comuns, cheias de
problemas e limitações, geralmente vivendoem ambientes
urbanos. As fronteiras entre o social e o psicológico
muitas vezes determinam o jogo realista de “aparência
versus essência”.
Machado de Assis
É considerado o maior escritor do século XIX, escreveu
romances e contos, mas também aventurou-se pelo mundo
da poesia, teatro, crônica e critica literária.
Nasceu no Rio de Janeiro em 1839 e morreu em 1908. Foi
tipógrafo e revisor tornando-se colaborador da imprensa
da época. Sua infância foi muito pobre e a sua ascensão
artística se deve a muito trabalho e dedicação. Sua esposa,
Carolina Xavier, o incentivou muito na carreira literária,
tanto que foi o primeiro presidente da Academia Brasileira
de Letras. Ainda na fase romântica, escreveu: ”A mão e a
luva”, “Ressurreição”, ”Helena” e “Iaiá Garcia”, que já
revelavam algumas características que futuramente
marcarão a fase realista e madura do autor, como a análise
psicológica dos personagens, o humor, monólogos
interiores e cortes na narrativa (uma das suas principais
características).
“Memórias Póstumas da Brás Cubas” (considerado o
divisor de águas na obra machadiana) “Quincas Borba”,
“Dom Casmurro”, “Esaú e Jacó” e “Memorial de Aires”,
revelam o interesse cada vez maior do autor de aprofundar
a análise do comportamento do homem, revelando
algumas características próprias do ser-humano como a
inveja, a luxúria, o egoísmo e a vaidade, todas encobertas
por uma aparência boa e honesta.
Destacou-se também na produção de contos como a “A
Cartomante”, e crônicas publicadas na Gazeta de Notícias.
Embora suas peças teatrais não tenham o mesmo nível que
seus contos e romances, ele nos deixou “Quase ministro”
e “Os deuses da casaca”.
Como crítico literário, além de vários prefácios e ensaios
destacam-se 3 estudos: “Instinto de nacionalidade”, “A
nova geração” e “O primo Basílio” (a respeito do romance
de mesmo nome de Eça de Queirós).
NATURALISMO
A escola literária naturalista é conhecida como uma
ramificação radical do Realismo que se baseia na
observação fiel da realidade e na experiência, logo, o
indivíduo se determina pelo ambiente e pela
hereditariedade. É no romance naturalista que a
abordagem extremamente aberta do sexo aparece, o que
resultou em algo muito chocante para a sociedade
conservadora da época.
Ao naturalistas acreditavam que o indivíduo é mero
produto da hereditariedade e seu comportamento é fruto
do meio em que vive e sobre o qual age. A perspectiva
evolucionista de Charles Darwin inspirava os naturalistas,
esses acreditavam ser a seleção natural que impulsionava
transformação das espécies.
Assim, predomina nesse tipo de romance o instinto, o
fisiológico e o natural, retratando a agressividade, a
violência, o erotismo como elementos que compõem a
personalidade humana.
O grande nome do naturalismo mundial é o francês Émile
Zola. No Brasil, a prosa naturalista foi influenciada por
Aluísio Azevedo com a obra O mulato, publicado em
1881. Esta marcou o início do Naturalismo brasileiro e a
obra “O cortiço”, também de sua autoria, marcou essa
tendência.
Destaca-se também o escritor Raul Pompéia e seu
romance “O Ateneu”, que ora apresenta características
naturalistas, ora realistas.
Características
A principal característica do Naturalismo é
o cientificismo exagerado que transformou o homem
e a sociedade em objetos de experiências.
Os autores naturalistas criavam narradores oniscientes,
impassíveis para dar apoio à teoria na qual
acreditavam.
Descrições minuciosas e linguagem simples mesclada,
às vezes por expressões fortes agressivas ou por temos
científicos.
Preferência por temas como miséria, adultério, crimes,
problemas sociais (patologia sociais), taras sexuais, e
outras deturpações psíquicas ou físicas. A exploração
de temas patológicos traduz a vontade de analisar
todas as podridões sociais e humanas sem se preocupar
com a reação do público. Tese experimental.
Os naturalistas abordam a existência humana de forma
materialista. O homem é encarado como produto
biológico passando a agir de acordo com seus
instintos, chegando a ser comparado com os animais
(zoomorfização).
Visão determinista do homem (animal, presa de forças
fatais e superiores – meio, herança genética, fisiologia,
momento).
Ao analisar os problemas sociais, o naturalista mostra
uma vontade de reformar a sociedade, ou seja,
denunciar esses problemas era uma forma de tentar
reformar a sociedade.
FIQUE LIGADO NO ENEM!
Realismo Naturalismo
Método de observação da
realidade
Método de experimentação da
realidade
Interpretação psicológica
(dentro pra fora)
Interpretação biológica (fora
para dentro)
Toma como base o indivíduo Toma como base o coletivo
Retrata o universo interior da
personagem
humana: egoísmo, ciúme,
mesquinharia,
Retrata o universo exterior dos
grupos
humanos: os vícios, as taras, as
patologias e
http://www.infoescola.com/livros/helena-machado-assis/
http://www.infoescola.com/livros/iaia-garcia/
http://www.infoescola.com/livros/memorial-de-aires/
http://www.infoescola.com/literatura/a-cartomante/
http://www.infoescola.com/literatura/a-cartomante/
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
38
jogos de interesse, etc.
anormalidades reveladoras do
parentesco entre o
homem e o animal, etc.
Tem maior preocupação com
o técnico
literário, com o estilo e o
apuro da linguagem.
Tem maior preocupação em
retratar os “fatos
da vida”.
Predomínio da narração.
Predomínio da descrição.
O tratamento imparcial e
objetivo dos temas
garante ao leitor um espaço
de interpretação,
de elaboração de suas
próprias conclusões a
respeito das obras.
O tratamento dos temas a partir
de uma visão
determinista conduz e direciona
as conclusões do
leitor e empobrece literalmente.
Narração em 1ª e/ou 3º
pessoa.
Narração em 3ª pessoa.
Pesquise:
Conheça a pintura realista, principalmente as obras de
Gustave Courbet, Daumier e do pré-realista Millet.
Informe-se sobre correntes filosóficas e científicas
como o positivismo, de Augusto Comte; o
determinismo, de Hipolyte Taine; o evolucionismo de
Charles Darwin; o socialismo científico, de Max e
Engels.
Exercícios
01 - (Enem) No trecho abaixo, o narrador, ao descrever a
personagem, critica sutilmente um outro estilo de época: o
romantismo.
“Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis
anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e,
com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe
coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do
tempo, porque isto não é romance, em que o autor
sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e
espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto
nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía
das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e
eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os
fins secretos da criação.”
ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas.
Rio de Janeiro: Jackson,1957.
A frase do texto em que se percebe a crítica do narrador
ao romantismo está transcrita na alternativa:
a) ... o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às
sardas e espinhas ...
b) ... era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça ...
c) Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia
daquele feitiço, precário e eterno, ...
d) Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis
anos ...
e) ... o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins
secretos da criação.
UNIDADE 23
PARNASIANISMO
O Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo foram
movimentos literários contemporâneos: Realismo e
Naturalismo na prosa, e Parnasianismo na poesia.
Enquanto a prosa realista representou uma reação contra a
literatura sentimental dos românticos, a poesia parnasiana
pregou a rejeição do “excesso de lágrimas” e dalinguagem coloquial e declamatória do Romantismo,
valorizando o cuidado formal e a expressão mais contida
dos sentimentos, com um vocabulário elaborado (às vezes,
incompreensível por ser tão culto), racionalista e temática
voltada para assuntos universais.
Origem – O parnasianismo, cujo nome deriva de Le
Parnasse Contemporian, título de uma antologia francesa de
poemas, de 1866, surge na França, no fim do século XIX. O
poeta francês Théophile Gautier é considerado o precursor
do movimento. No Brasil, em 1878, em jornais cariocas,
um ataque à poesia do Romantismo gerou uma polêmica
em versos que ficou conhecida como a Batalha do Parnaso.
Entretanto, considera-se como marco inicial do
Parnasianismo no país o livro de poesias Fanfarras, de
Teófilo Dias, publicado em 1882. O Parnasianismo
prolongou-se até a Semana de Arte Moderna, em 1922.
Contexto Histórico – O movimento parnasiano é
concebido como uma forma de RECUSA ao
sentimentalismo e subjetivismo românticos, numa época
de grande progresso industrial e desenvolvimento
científico. A RACIONALIDADE então em voga motiva
os parnasianos a exaltar a forma e procurar a
PERFEIÇÃO e a BELEZA do verso nas métricas da
ANTIGUIDADE CLÁSSICA.
Características:
Formas poéticas tradicionais: com esquema métrico
rígido, rima, soneto.
Purismo e preciosismo vocabular, com predomínios de
termos eruditos, raros, visando à máxima precisão, e
de construções sintáticas refinadas. Escolha de
palavras no dicionário para escrever o poema com
palavras difíceis.
Tendência descritivista, buscando o máximo de
objetividade na elaboração do poema, assim separando
o sujeito criador do objeto criado.
Postura antirromântica, baseada no binômio:
objetividade temática/culto da forma.
Referências à mitologia greco-latina.
O esteticismo, a depuração formal, o ideal da “arte
pela arte”. O tema não é importante, o que importa é o
jeito de escrever, a forma.
A visão da obra como resultado do trabalho, do
esforço do artista, que se coloca como um ourives que
talha e lapida a joia.
Transpiração no lugar da inspiração romântica. O
escritor precisa trabalhar muito, “suar a camisa”, para
fazer uma boa obra. O poeta é comparado a um
ourives.
http://educacao.globo.com/literatura/assunto/movimentos-literarios/romantismo-primeira-geracao.html
Língua Portuguesa
ENEM 39
Principais Temas
Objetos raros e preciosos, que simbolizam a beleza e a
perfeição, como vasos, estátuas de mármore e joias
Referência à mitologia Greco-romana, aos templos
antigos e descrevem cenas históricas, paisagens etc.
Fazer poético, cultuando a língua e descrevendo o
trabalho poético como resultado de esforço, técnica e
dedicação, em vez de produto da inspiração.
O Parnasianismo brasileiro não é uma exata reprodução
do modelo francês, pois não obedece à mesma
preocupação de objetividade, de cientificismo e de
descrições realistas como na França. Foge do
sentimentalismo romântico, mas não exclui totalmente o
subjetivismo. Sua preferência dominante é pelo verso
alexandrino de tipo francês, com rimas ricas, e pelas
formas fixas, em especial o soneto.
Principais Autores : Tríade parnasiana: Olavo Bilac;
Alberto de Oliveira e Raimundo Corrêa.
Exemplos:
Olavo Bilac:
Profissão de fé
[..] Mais que esse vulto extraordinário,
Que assombra a vista,
Seduz-me um leve relicário
De fino artista.
Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.
[...]
Via Láctea - Soneto XIII
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A Via-Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
[...]
Alberto de Oliveira:
Vaso Chinês
Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.
Fino artista chinês, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.
Mas, talvez por contraste à desventura,
Quem o sabe?... de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura.
Que arte em pintá-la! A gente acaso vendo-a,
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.
Raimundo Corrêa:
As pombas
Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada...
E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...
Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;
No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais...
FIQUE LIGADO NO ENEM!
Destacamos o fato dos parnasianos apresentarem métrica
rígida, formas fixas e rimas ricas. Assim, vale lembrar:
Métrica é a medida de um verso, definida pelo número de
sílabas poéticas (ou métricas) que ele possui.
A sílaba poética nem sempre corresponde a uma sílaba
gramatical. Na divisão (ou contagem) das sílabas poéticas de
um verso, considera-se as emissões de voz do verso como um
todo. Além disso, conta-se apenas até a última sílaba tônica do
verso. Essa contagem é chamada de escansão. Versos sem
métrica são chamados versos livres.
Os parnasianismo trabalhavam com versos rigorosamente
planejados, como o mesmo número de sílabas poéticas.
Formas Fixas: são poemas que apresentam um sistema de
estrofes subordinado a certas regras, modelos clássicos
consagradas, sendo o mais conhecido deles o soneto, formado
por 04 estrofes [dois quartetos – 04 versos – e dois tercetos –
03 versos].
Rima (repetição sonora )pobre se dá entre palavras da mesma
classe gramatical, por exemplo, substantivo com substantivo,
verbo com verbo, adjetivo com adjetivo.
Já a rima rica, é formada por palavras de classes gramaticais
diferentes. Os poetas parnasianos tem apreço pelas rimas ricas.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
40
Exercícios
01 - (Enem)
Ouvir estrelas (Olavo Bilac)
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
perdeste o senso!”
e eu vos direi, no entanto,
que, para ouvi-las, muita vez desperto
e abro as janelas, pálido de espanto!
E conversamos toda a noite, enquanto
a via láctea, como um pálio aberto,
cinti la. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que senti do
tem o que dizem, quando estão contigo?”
E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”
Ouvir estrelas (Bastos Tigre)
Ora, direis, ouvir estrelas! Vejo
que estás beirando a maluquice extrema.
No entanto o certo é que não perco o ensejo
De ouvi-las nos programas de cinema
Não perco fita; e dir-vos-ei sem pejo
que mais eu gozo se escabrozo é o tema.
Uma boca de estrela dando beijo
é, meu amigo, assunto p’ra um poema
Direis agora: Mas, enfim, meu caro,
As estrelas que dizem? Que senti do
têm suas frases de sabor tão raro?
Amigo, aprende inglês para entendê-las,
Pois só sabendo inglês se tem ouvido
Capaz de ouvir e entender estrelas.
A partir da comparação entre os poemas, verifica-se que,
a) No texto de Bilac, a construção do eixo temático se
deu em linguagem denotati va, enquanto no de Tigre,
em linguagem conotativa.
b) No texto deBilac, as estrelas são inacessíveis,
distantes, e no texto de Tigre, são próximas, acessíveis
aos que ouvem e as entendem.
c) No texto de Tigre, a linguagem é mais formal, mais
trabalhada, como se observa no uso de estruturas como
“dir-vos-ei sem pejo” e “ enetendê-las”.
d) No texto de Tigre, percebe-se o uso da linguagem
metalinguísti ca no trecho “Uma boca de estrela dando
beijo/é, meu amigo, assunto p’ra um poema”.
e) No texto de Tigre, a visão romântica apresentada para
alcançar as estrelas é enfatizada na última estrofe de
seu poema e com a recomendação de compreensão de
outras línguas.
UNIDADE 24
SIMBOLISMO
O capitalismo não se desenvolve de maneira uniforme no
mundo, gerando concentração de capital em países como
França, Inglaterra e Estados Unidos, instituindo-se as
grandes potências e o imperialismo econômico. Diante
disso, o mundo volta seu olhar para os interesses
materiais. Entretanto, a classe trabalhadora não obteve
melhorias em suas condições de vida, principalmente por
causa da exploração de mão de obra como meio de auferir
grandes lucros pelos empreendedores capitalistas. Isso
gerou insatisfação e frustração ao homem comum, que
passa a buscar conforto no lado místico e espiritual do
universo.
Tal busca pelo subjetivismo revela-se na arte como um
retorno ao Romantismo, em que o anseio pelo refúgio fora
do mundo real era valorizado. Nesse sentido, o
predomínio da emoção supera o cientificismo e o
objetivismo do período anterior, mas uma emoção
carregada de frustrações e tristezas em decorrência do
momento vivido na época.
Assim, enquanto as correntes estéticas contemporâneas do
Simbolismo (Realismo, Naturalismo e Parnasianismo) são
entusiastas do clima de desenvolvimento científico do fim
do século XIX, o Simbolismo nega essa aproximação e se
opõe à racionalização e aos efeitos da industrialização na
sociedade europeia.
Origens – A publicação do livro de poemas As Flores do
Mal, de Charles Baudelaire, em 1857, é considerado o
marco do movimento na Europa. A expressão
“simbolismo”, no entanto, é criada apenas em 1886, no
Manifesto Simbolista de Jean Moréas. Outros dois poetas
franceses importantes na difusão dos ideais simbolistas na
Europa são Paul Verlaine e Stéphane Mallarmé.
Principais características da produção artística
Predominância da emoção;
O objeto deve estar subentendido, não se mostrando
claramente – daí o "símbolo";
Musicalidade (através de aliterações, assonâncias e
outras figuras de estilo);
Referências a cores, principalmente à branca;
Presença de motivos religiosos; a poesia
representaria uma espécie de ritual;
Sonho, imaginação, misticismo espiritualismo;
Subjetividade;
Culto à forma, trabalho com as possibilidades do
léxico
Uso da figura das figuras de linguagem: sinestesia,
personificação, metáforas;
Abordagem vaga de impressões subjetivas e/ou
sensoriais (Impressionismo), sobretudo na
pintura.
Língua Portuguesa
ENEM 41
Principais autores e suas obras no Brasil
Cruz e Sousa: Broquéis, Missal, Evocações, Faróis,
Últimos sonetos.
Alphonsus de Guimaraens: Setenário das dores de
Nossa Senhora, Câmara ardente, Dona Mística,
Kiriale.
Pedro Kilkerry: Re-visão de Kilkerry(organizado por
Augusto de Campos).
Cruz e Sousa
Filho de escravos libertos, João da Cruz e Sousa nasce em
Florianópolis, em 1861, sendo educado pelos ex-senhores
de seus pais. Após a morte de seus protetores, trabalha
como professor e publica suas primeiras poesias em
jornais locais. Redige o ‘Tribuna Popular’, no qual
combate a escravidão. Em 1885 lança o primeiro livro,
Tropos e Fantasias.
Muda-se para o Rio de Janeiro em 1890, onde publica
Broquéis (1893), obra que dá início ao Simbolismo no
Brasil. Escreve também Missal (1893), Evocações (1898),
Faróis (1900) e Últimos Sonetos (1905). Sua poesia, de
grande musicalidade, é marcada pela sublimação do amor
e pelo sofrimento com o racismo, a pobreza e a doença.
Morre pobre, de tuberculose, em 1898.
FIQUE LIGADO NO ENEM!
Simbolismo nas artes plásticas
Focalizando os aspectos sensoriais e sugestivos do Simbolismo
na literatura e do Impressionismo na pintura e na música. O
objetivo das diferentes modalidades artísticas é a expressão da
vida interior, da "alma das coisas", que a linguagem poética
permite alcançar, por detrás das aparências. A poesia simbolista
sonda os mistérios do mundo e o universo inconsciente por
meio de sugestões, do ritmo musical e do poder encantatório
das palavras. Do mesmo modo, em lugar de representar os
seres e as coisas do mundo de modo objetivo cmo era
tradicional na pintura acadêmica, a força da pintura passou a
residir no poder evocativo das imagens, utilizando um ponto de
vista mais subjetivo, fazendo com que o pintor representasse o
mundo não como ele era, mas como o pintor o tinha captado.
Claude Monet: Crepúsculo em Veneza. (1908)
Exercícios
01 - (Enem)
Cárcere das almas
Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.
Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.
Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!
Nesses silêncios solitários, graves,
que chaveiro do Céu possui as chaves
para abrir-vos as portas do Mistério?!
CRUZ E SOUSA, J. Poesia completa. Florianópolis:
Fundação Catarinense de Cultura /Fundação Banco do
Brasil, 1993.
Os elementos formais e temáticos relacionados ao
contexto cultural do Simbolismo encontrados no
poema Cárcere das almas, de Cruz e Sousa, são
a) a opção pela abordagem, em linguagem simples e
direta, de temas filosóficos.
b) a prevalência do lirismo amoroso e intimista em
relação à temática nacionalista.
c) o refinamento estético da forma poética e o tratamento
metafísico de temas universais.
d) a evidente preocupação do eu lírico com a realidade
social expressa em imagens poéticas inovadoras.
e) a liberdade formal da estrutura poética que dispensa a
rima e a métrica tradicionais em favor de temas do
cotidiano.
UNIDADE 25
PRÉ-MODERNISMO
Tal momento, também conhecido período sincrético,
situa-se, aproximadamente, nas duas primeiras décadas do
séc. XX, precedendo o movimento modernista de 22. Na
verdade, o Pré-Modernismo não corresponde a uma escola
literária, mas sim as produções de alguns escritores que,
não correspondendo a nenhuma das estéticas de fins do
século XIX, tiveram uma produção de impacto,
apresentando novas vertentes estilísticas e/ou temáticas
em nossa literatura.
Contexto histórico
Momento de grande agito no Brasil e no mundo,
destacando-se:
Primeira Guerra Mundial;
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
42
Início do século XX = transformações na maneira de
pensar do homem moderno (ideia de nacionalismo /
nazismo, fascismo e comunismo => intensas
agitações;
Estado de insegurança e relação aos acontecimentos
dos últimos anos do século XIX: expansão e/ou
industrialização dos países europeus;
O nascimento da burguesia urbana, a industrialização e
o surgimento do proletariado;
República Café com leite;
A imigração;
As revoltas da Vacina e da Chibata, no Rio de Janeiro;
Greves operárias em São Paulo;
Fanatismo religioso do Padre Cícero e de Antônio
Conselheiro e o cangaço, no Nordeste;
Revolta de Canudos;
A Guerra do Contestado (na fronteira entre Paraná e
Santa Catarina);
Segregação dos negros pós-abolição;
Política dirigida pela oligarquia rural;
Disputas provincianas como as existentes no Rio
Grande do Sul entremaragatos e republicanos.
O momento histórico brasileiro interferiu na produção
literária, marcando a transição dos valores éticos do século
XIX para uma nova realidade que se desenhava,
essencialmente pautada por uma série de conflitos.
Principais objetivos/características:
Necessidade de transformação nas artes (na temática e
na linguagem literária);
Ruptura com os moldes simbolistas e parnasianos.
Estado de insatisfação do homem em relação à
civilização (caminho traçado pelo homem, pela
humanidade);
Ruptura com o passado para levá-lo de volta às
origens primitivas;
Ruptura com o academicismo
Presença de linguagem coloquial, simples
Exposição da realidade social brasileira
Regionalismo e nacionalismo
Marginalidade das personagens: o sertanejo, o caipira,
o mulato
Temas: fatos históricos, políticos, econômicos e
sociais
No geral, o Pré-Modernismo é uma literatura de
Crítica Social;
RUPTURA COM O PASSADO – Os autores adotaram
inovações que feriam o academicismo;
REGIONALISMO – A realidade rural brasileira é exposta
sem os traços idealizadores do Romantismo. A miséria do
homem do campo é apresentada de forma chocante;
LITERATURA-DENÚNCIA – Os livros são em tom de
denúncia da realidade brasileira. O Brasil oficial é
substituído por um Brasil não oficial (sertão nordestino,
caboclos interioranos, realidade dos subúrbios);
CONTEMPORANEIDADE – A literatura retrata fatos
políticos, situação econômica e social contemporâneos,
diminuindo a distância entre realidade e ficção.
Nesse momento, os escritores assumem uma posição mais
crítica em relação à sociedade e aos modelos literários
anteriores. Por isso, muitos escritores pré-modernos
rompem com a linguagem formal do academicismo e,
além disso, exploram temas históricos, políticos e
econômicos, visto que o Brasil passava por momentos
como a República do café com leite e inúmeras revoltas.
Os Pré Modernistas que se destacaram na prosa
foram: Euclides da Cunha, Graça Aranha, Monteiro
Lobato e Lima Barreto.
Euclides da Cunha (1866-1909)
Euclides Rodrigues da Cunha foi um escritor, poeta,
ensaísta, jornalista, historiador, sociólogo, geógrafo, poeta
e engenheiro brasileiro. Ocupou a cadeira 7 na Academia
Brasileira de Letras de 1903 a 1906.
Publicou "Os Sertões: Campanha de Canudos" em 1902,
obra regionalista, dividida em três partes: A Terra, o
Homem, A Luta; retrata a vida do sertanejo e a Guerra de
Canudos (1896-1897) no interior da Bahia.
Graça Aranha (1868-1931)
José Pereira da Graça Aranha foi um escritor e diplomata
maranhense. Um dos fundadores da Academia Brasileira
de Letras e um dos organizadores da Semana de Arte
Moderna de 1922.
Sua obra que merece destaque é "Canaã" publicada em
1902 cuja obra aborda a migração alemã no estado do
espírito Santo. Outras obras que merecem destaque:
Malazarte (1914), A Estética da Vida (1921) e Espírito
Moderno (1925).
Monteiro Lobato (1882-1948)
José Bento Renato Monteiro Lobato foi um escritor,
editor, ensaísta e tradutor brasileiro. Um dos mais
influentes escritores do século XX, Monteiro Lobato ficou
muito conhecido por suas obras infantis de caráter
educativo como, por exemplo, a sério de livros do Sítio do
Picapau Amarelo.
Em 1918 publica "Urupês" uma coletânea regionalista de
contos e crônicas. Já em 1919 publica "Cidades Mortas"
livro de contos que retrata a queda do Ciclo do Café.
Lima Barreto (1881-1922)
Afonso Henriques de Lima Barreto, conhecido como
Lima Barreto, foi um escritor e jornalista brasileiro. Autor
de uma obra critica veiculada aos temas sociais, o escritor
rompe com o nacionalista ufanista e faz criticas ao
positivismo.
Sua obra que merece destaque é o "Triste Fim de
Policarpo Quaresma" escrito numa linguagem coloquial, o
autor faz crítica à sociedade urbana da época, em que
critica a sociedade urbana da época.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Burguesia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Burguesia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Proletariado
http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolta_da_Vacina
http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolta_da_Chibata
http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_de_Janeiro
http://pt.wikipedia.org/wiki/Padre_C%C3%ADcero
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B4nio_Conselheiro
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B4nio_Conselheiro
http://pt.wikipedia.org/wiki/Canga%C3%A7o
http://pt.wikipedia.org/wiki/Nordeste_do_Brasil
http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_do_Contestado
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fronteira
http://pt.wikipedia.org/wiki/Paran%C3%A1
http://pt.wikipedia.org/wiki/Santa_Catarina
http://pt.wikipedia.org/wiki/Aboli%C3%A7%C3%A3o_da_escravatura
http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Grande_do_Sul
http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Grande_do_Sul
http://pt.wikipedia.org/wiki/Maragatos
http://www.todamateria.com.br/arcadismo/
http://www.todamateria.com.br/politica-do-cafe-com-leite/
Língua Portuguesa
ENEM 43
FIQUE LIGADO NO ENEM!
Augusto dos Anjos – Poeta singular.
O autor utiliza características formais pertencentes ao
parnasianismo e ao simbolismo, mas o conteúdo busca
aproximação com a realidade, uma vez que as formas métricas
são bem rígidas, mas os versos já apresentam certas
características realistas. E o amor, tão caro aos românticos, é
visto com ceticismo.
É possível perceber a melancolia e o pessimismo nos escritos
de Augusto dos Anjos. Outra característica do autor é a
utilização de muitos termos científicos e médicos.
Lançou o livro de poemas “Eu” em 1912 (período dito pré-
moderno), foi a única obra publicada em vida. O livro marca um
período pré-modernista da literatura nacional. Um dos
personagens dos seus poema, inclusive, não era uma pessoa e
sim um pé de tamarindo.
Exercícios
01 - Fragmento de Triste fim de Policarpo Quaresma
"Policarpo era patriota. Desde moço, aí pelos vinte anos, o
amor da Pátria tomou-o todo inteiro. Não fora o amor
comum, palrador e vazio; fora um sentimento sério, grave
e absorvente. ( ... ) o que o patriotismo o fez pensar, foi
num conhecimento inteiro de Brasil. ( ... ) Não se sabia
bem onde nascera, mas não fora decerto em São Paulo,
nem no Rio Grande do Sul, nem no Pará. Errava quem
quisesse encontrar nele qualquer regionalismo: Quaresma
era antes de tudo brasileiro."
BARRETO, Lima. "Triste fim de Policarpo Quaresma".
São Paulo: Scipione, 1997.
Este fragmento de "Triste Fim de Policarpo Quaresma"
ilustra uma das características mais marcantes do Pré-
Modernismo que é o:
a) Desejo de compreender a complexa realidade nacional.
b) nacionalismo ufanista e exagerado, herdado do
Romantismo.
c) resgate de padrões estéticos e metafísicos do
Simbolismo.
d) nacionalismo utópico e exagerado, herdado do
Parnasianismo.
e) subjetivismo poético, tão bem representado pelo
protagonista.
UNIDADE 26
VANGUARDAS EUROPEIAS
As vanguardas europeias foram manifestações artístico-
literárias surgidas na Europa, nas duas primeiras décadas
do Século XX, e vieram provocar uma ruptura da arte
moderna com a tradição cultural do século anterior.
Com o advento da tecnologia, as consequências da
Revolução Industrial, a Primeira Guerra Mundial e
atmosfera política que resultou destes grandes
acontecimentos, surgiu um sentimento nacionalista, um
progresso espantoso das grandes potências mundiais, e
uma disputa pelo poder. Várias correntes ideológicas
foram criadas, como o nazismo, o fascismo e o
comunismo, e também com a mesma terminação “ismo”
surgiram os movimentos artísticos que chamamos de
vanguardas. Todos pautavam-se no mesmo objetivo, que
era o questionamento, a quebra dos padrões, o protesto
contra a arte conservadora, a criação de novos padrões
estéticos, que fossem mais coerentes com a realidade
histórica e social do século que surgia. Estas
manifestações se destacaram por sua radicalidade, a qual
proporcionouque influenciassem a arte em todo o mundo.
São elas: Expressionismo, Cubismo, Futurismo, Dadaísmo
e Surrealismo.
Futurismo: Surgiu através do Manifesto Futurista, criado
pelo italiano Tommaso Matinetti em 1909. Suas
proposições eram negar o passado, o academicismo e
trazer o interesse ideológico, a pesquisa, a
experimentação, a técnica e a tecnologia para a arte.
Propunha “a destruição da sintaxe”, eliminando os
adjetivos, advérbios. Usar os substantivos como nascem.
Trocar sinais de pontuação por símbolos matemáticos e
notas musicais. Marinneti pregava o desapego ao
tradicionalismo, especialmente quanto à sintaxe da língua.
Nas artes, de modo geral, o Futurismo exaltava:
• a velocidade, o progresso;
• a coragem, a audácia e a revolta;
• o soco e a bofetada;
• a guerra – única higiene do mundo.
unique forms of continuity in space
Umberto Boccioni 1913
Ode ao burguês
(Fragemento)
Eu insulto o burguês! O burguês-níquel
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros!
Que vivem dentro de muros sem pulos,
https://www.google.com.br/search?biw=1366&bih=641&q=umberto+boccioni&stick=H4sIAAAAAAAAAGOovnz8BQMDgwUHnxCXfq6-gXFGdmFKhRIniG2YG5-XpCWbnWylX5ZZXJqYE59YVKIPxOX5RdlWQDqzuGTxU_XVTDPmvl-SvIPB1uTs0gWPTcsBH3IpwFUAAAA&sa=X&ei=IODSU5jZD8GwyASTg4LgBA&sqi=2&ved=0CMQBEJsTKAIwGA
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
44
E gemem sangue de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os “Printemps” com as unhas!
[...]
Álvaro de Campos
Expressionismo: Surgido em 1912, expressava a agitação
e inquietação que buscava subverter a estética da época.
Pela primeira vez apareceu na livraria de arte der Sturm,
em Berlim, expressando, como o nome diz, a renovação
cultural que já estava em curso na Alemanha e em toda a
Europa. O objetivo era expor a subjetividade do mundo
interior do artista, e isto implicava no distanciamento da
beleza, seja pela “caricatura” (resultado da distorção da
imagem), seja pela expressão do sofrimento humano como
pobreza, violência, paixão, visão da morte e outros
sofrimentos humanos.
Edvard Munch, ‘O grito’, 1893.
O morcego
Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela igneo e escaldante molho.
"Vou mandar levantar outra parede..."
— Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!
Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh'alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!
A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!
[Augusto dos Anjos]
Cubismo: Teve maior representatividade entre os anos de
1907 e 1914, mais especificamente na pintura. Seu
propósito era decompor, fragmentar as formas
geométricas. Investia na subjetividade de interpretação das
obras, afirmando que um mesmo objeto poderia ser visto
de vários ângulos. Na literatura, caracteriza-se pela
representação de uma realidade fragmentada, que é
retratada por palavras dispostas simultaneamente, com o
objetivo de formar uma imagem. Os principais artistas que
representaram esta vanguarda foram: Pablo Picasso,
Fernand Léger, André de Lothe, Juan Gris e Georges
Braque, na pintura, e Apollinaire e Cendras na literatura.
1907, com a tela Les Demoiselles d''Avignon, de Pablo
Picasso
Poema concreto de Guillaume Apollinaire
1908
Dadaísmo: Surgiu em 1916 em plena Primeira Guerra
Mundial, a partir do encontro de alguns artistas refugiados
que buscaram produzir algo que chocasse a burguesia. É
mais um reflexo das emoções causadas pela Guerra, tais
como revolta, agressividade e indignação. Objetos comuns
do cotidiano são apresentados de uma nova forma e dentro
de um contexto artístico;
Irreverência artística;
Combate às formas de arte institucionalizadas;
Crítica ao capitalismo e ao consumismo;
Ênfase no absurdo, nos temas e nos conteúdos sem
lógica;
Língua Portuguesa
ENEM 45
Uso de vários formatos de expressão (objetos do
cotidiano, sons, fotografias, poesias, músicas, jornais,
etc.) na composição das obras de artes plásticas;
Forte caráter pessimista e irônico, principalmente com
relação aos acontecimentos políticos do mundo.
Na literatura, se caracteriza pela agressividade verbal, pela
desordem nas palavras, pelo recorte a incoerência, a
quebra da lógica e do racionalismo, e pelo abandono das
regras formais do fazer poético: rima, ritmo, etc.
A Fonte, 1917 / Marcel Duchamp
Para fazer um poema dadaísta
Pegue um jornal,
Pegue uma tesoura,
Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja
dar ao seu
poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida com atenção algumas palavras que
formam este
artigo e meta-os no saco.
Agite suavemente,
Tire em seguida cada pedaço um após o outro.
Copie conscienciosamente na ordem em que elas são
tirada do saco.
O poema se parecerá com você.
E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma
sensibilidade
graciosa, ainda que incompreendido do público.
Tristan Tzara
Surrealismo: Esta vanguarda surgiu após a Primeira
Guerra, na França, mais precisamente em 1924. Trouxe
para a arte concepções freudianas, relacionadas à
psicanálise. Segundo esta vanguarda, a arte deve surgir do
inconsciente sem que haja interferências da razão.
Trabalha frequentemente com elementos como a fantasia,
o devaneio e a loucura. Os escritores do surrealismo
rejeitaram o romance e a poesia em estilos tradicionais e
que representavam os valores sociais da burguesia. As
poesias e textos deste movimento são marcados pela livre
associação de ideias, frases montadas com palavras
recortadas de revistas e jornais e muitas imagens e ideias
do inconsciente.
Rosa mediativa, Salvador Dali. (1958)
Pré-história
Mamãe vestida de rendas
Tocava piano no caos.
Uma noite abriu as asas
Cansada de tanto som,
Equilibrou-se no azul,
De tonta não mais olhou
Para mim, para ninguém!
Caí no álbum de retratos.
(Murilo Mendes)
FIQUE LIGADO NO ENEM!
No Brasil não poderia ser diferente, uma vez que este era o
exato momento da história em que as manifestações artísticas
estavam crescendo em nosso país, e que a maioria dos artistas
se espelhavam nas tendências europeias, fosse para imitar-
lhes, fosse para combater-lhes.
As vanguardas europeias passaram pela Literatura Brasileira
deixando sua contribuição, especialmente ao somarem com a
Semana de Arte Moderna e o movimento modernista, pois
juntos vieram romper com a antiga estética que até então
reinava em nosso país.
Exercícios
01 - (Enem)
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
46
O quadro Les Demoiselles d’Avignon (1907), de Pablo
Picasso, representa o rompimento com a estética clássica e
a revolução da arte no início do século XX. Essa nova
tendência se caracteriza pela
a) pintura de modelos em planos irregulares.
b) mulher como temática central da obra.
c) cena representada por vários modelos.
d) oposição entre tons claros e escuros.
e) nudez explorada como objeto de arte.
UNIDADE 27
MODERNISMO
O modernismo foi um movimento literário e artístico do
início do séc. XX, cujo objetivo era o rompimento com o
tradicionalismo (parnasianismo, simbolismo e a arte
acadêmica), a libertação estética, a experimentação
constante e, principalmente, a independência cultural do
Brasil. Apesarda força do movimento literário
modernista, a base dessa corrente estética se encontra nas
artes plásticas, com destaque para a pintura.
No Brasil, este movimento possui como marco
simbólico a Semana de Arte Moderna, realizada em 1922,
na cidade de São Paulo, devido ao Centenário da
Independência. No entanto, devemos lembrar que o
modernismo já começou a se mostrar presente muito antes
do movimento de 1922, seja com alguns elementos do
pré-modernismo ou nas primeiras manifestações
inspiradas nas Vanguardas Europeias.
A Semana de Arte Moderna trouxe um rompimento,
uma destruição das estruturas clássicas, acadêmicas,
harmônicas, e por esse motivo tem caráter anárquico e
destruidor. Mário de Andrade chamou a primeira fase do
Modernismo de “fase da destruição”, já que é totalmente
contrária ao parnasianismo ou simbolismo das décadas
anteriores. Os artistas têm em comum a busca pela
origem, daí vem o nacionalismo e acarreta a volta às
origens e valorização do índio brasileiro. Manuel
Bandeira publica, respectivamente, em 1917 e em 1919,
"A cinza das Horas" e "Carnaval". Em 1921, durante o
grandioso lançamento de "As máscaras", de Menotti del
Picchia, Oswald de Andrade conclama a chegada do
momento da revolução modernista no Brasil. Também em
21, Di Cavalcanti expõe seus desenhos e caricaturas na
mostra "Fantoches da Meia-Noite"; Mário de Andrade
compõe sua série "Mestres do Passado", em que analisa a
poesia parnasiana, considerada, então, referência de fazer
poético.
Cartazes de divulgação da Semana de Arte Moderna, de 1922
O evento aconteceu entre 13 a 17 de fevereiro, quando
os artistas referidos apresentaram sua arte moderna,
sobretudo, à intelectualidade paulistana, sob a chancela do
notabilizado pré-modernista Graça Aranha. O objetivo do
evento era, claramente, chocar os presentes,
ressignificando o próprio conceito de arte. Com esculturas
e pinturas transgressoras, no Teatro Municipal de São
Paulo, conferências de Graça Aranha, Menochi del
Picchia, a declamação de "Os sapos", de Manuel
Bandeira, crítica satirizante aberta aos parnasianos e
Heitor Villa-Lobos apresentando-se de roupa formal e
chinelo. O evento gerou ferozes críticas conservadoras, o
que era, desde o princípio, seu objetivo.
A primeira fase modernista também é marcada pelos
manifestos nacionalistas. Podemos destacá-los da seguinte
forma:
• Manifesto Pau-Brasil: escrito por Oswald de Andrade,
publicado no jornal “Correio da Manhã”, em 18 de março
de 1924, apresentou uma proposta de literatura vinculada
à realidade brasileira e às características culturais do povo
brasileiro, com a intenção de causar um sentimento
nacionalista, uma retomada de consciência nacional.
• Antropofagia: publicado entre os meses de maio de
1928 e fevereiro de 1929, sob direção de Antônio de
Alcântara Machado, surgiu como nova etapa do
nacionalismo “Pau-Brasil” e resposta ao “Verde-
Amarelismo”. Sua origem se dá a partir de uma tela feita
por Tarsila do Amaral, em janeiro de 1928, batizada de
Abaporu ( aba= homem e poru = que come). Assinado por
Oswald de Andrade, tinha, como diz Antônio Cândido,
“uma atitude brasileira de devoração ritual dos valores
europeus, a fim de superar a civilização patriarcal e
capitalista, com suas normas rígidas no plano social e os
seus recalques impostos, no plano psicológico”
• Verde-Amarelismo: este movimento surgiu como
resposta ao “nacionalismo afrancesado” do Pau-Brasil, em
1926, apresentado, principalmente, por Oswald de
Andrade, liderado por Plínio Salgado. O principal objetivo
http://educacao.globo.com/literatura/autores/oswald-de-andrade.html
Língua Portuguesa
ENEM 47
era o de propor um nacionalismo puro, primitivo, sem
qualquer tipo de influência.
• Anta: parte do movimento Verde-Amarelismo,
representa a proposta do nacionalismo primitivo elegendo
como símbolo nacional a “anta”, além de vangloriar a
língua indígena “tupi”.
Através das características desses manifestos, temos por
análise a identificação de duas posturas nacionalistas
distintas: de um lado o nacionalismo consciente, crítico da
realidade brasileira, e de outro um nacionalismo ufanista,
utópico, exacerbado.
Principais características 1ª fase:
Linguagem coloquial, [com inclusão de gírias, dialetos]
cotidiano, negação da tradição cultural antipurista,
antiacademicista, antiparnasianismo, verso livre, verso
branco, nacionalismo crítico, ironia, sarcasmo,
irreverência, poema-piada, liberdade de criação, direito à
pesquisa – folclore.
Principais escritores da 1ª fase do Modernismo: Mário
de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira,
Antônio de Alcântara Machado.
Oswald de Andrade pode ser considerado o mais
modernista dos modernistas, devido ao experimentalismo
formal que caracterizou sua obra e que o colocou sempre
no centro das discussões
sobre arte moderna no Brasil. Oswald, além de ter
participado ativamente da Semana de 22, foi o primeiro
escritor a compor um romance de acordo com os preceitos
do Modernismo: trata-se de Memórias sentimentais de
João Miramar, obra de 1924 que dissolve os limites entre
prosa e poesia. Mais tarde, em 1933, ele ainda escreveria
outro romance modernista: Serafim Ponte Grande. Ainda
compôs manifestos, como o Pau-Brasil (1924) e o
Antropófago (1928), peças de teatro, como O homem e o
cavalo (1934) e O rei da vela (1937), e livros de poemas,
como Poesiaau-Brasil (1925) e Primeiro caderno de
poesia do aluno Oswald de Andrade (1927).
“Menina e moça
Gostei de todas as festas
Porque esse negócio de missa
E procissão
É só para os olhares
Vou agora triste no trem
Com aquela paixão
No coração
Vou emagrecer
Junto às palmeiras
Malditas
Da fazenda”
Oswald de Andrade, Pau-Brasil.
Mário de Andrade foi o grande ativista político-cultural
do Modernismo, tendo feito de tudo um pouco: romance,
poesia, crítica, conto, ensaio. Sua obra sugere que ele
buscava as novidades artísticas da mesma forma que se
aprofundava nas tradições literárias, o que confirma seu
ecletismo cultural e artístico. As duas paixões de Mário
foram a cidade de São Paulo e o Brasil. Pauliceia
desvairada (1922) e Lira paulistana (1946) tematizam
São Paulo; Clã do jabuti (1927) e Macunaíma (1928), o
Brasil. Macunaíma é sua obra mais importante. Nela, um
narrador ágil e parodista vai apresentando lendas
folclóricas revisitadas e misturando gêneros literários, ao
mesmo tempo em que o protagonista, “o herói sem
nenhum caráter”, representa um povo se formando, ainda
sem características próprias definidas,
“No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de
nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite.
Houve um momento em que o silêncio foi tão grande
escutando o murmurejo do Urarico era, que a índia
tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que
chamaram de Macunaíma. Já na meninice fez coisas de
sarapantar. De primeiro passou mais de seis anos não
falando. Si o incitavam a falar, exclamava:
– Ai! que preguiça!...
e não dizia mais nada. [...] Vivia deitado mas si punha os
olhos em dinheiro, Macunaíma dandava pra ganhar
vintém. E também espertava quando a família ia tomar
banho no rio, todos juntos e nus. Passava o tempo do
banho dando mergulho, e as mulheres soltavam gritos
gozados por causa dos guaiamuns diz-que habitando a
água doce por lá.”
Mário de Andrade, Macunaíma.
Manuel Bandeira é o grande poeta dos primeiros anos
modernistas, e sua obra, de alguma forma, reflete sua
biografia, sempre marcada pela luta contra a tuberculose.
A primeira fase da poesia de Bandeira é melancólica e
pessimista, principalmente em seu livro de estreia, A cinza
das horas. Num segundo momento, abraçando mais
abertamente a causa modernista, ele se torna bem-
humorado e espirituoso, em Libertinagem e Estrelada
manhã. Por fim, nos seus últimos livros, Bandeira se
revela maduro e disposto a brincadeiras experimentalistas,
como, por exemplo, em Belo Belo e Lira dos
cinquent’anos.
A poesia de Bandeira valoriza basicamente três temas: o
amor, que é muitas vezes visto na perspectiva
Erótica; a infância, que se mistura com as lembranças do
Recife; a morte, que anda junto às referências à
tuberculose.
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
48
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
[...]
Manuel Bandeira, Libertinagem.
2ª FASE (1930)
O 2º Tempo modernista, que vai de 1930 a 1945, é
conhecido como a fase de consolidação do Modernismo
brasileiro. Nessa fase, a literatura veio mais amadurecida,
sem os excessos que marcaram a Semana de Arte
Moderna. A arte era engajada e buscava refletir a
realidade brasileira. Historicamente, trata-se de um
período político conturbado: no Brasil, a ditadura Vargas,
com avanços econômicos e trabalhistas, mas sérios
problemas em termos políticos (perseguições, falta de
liberdade de expressão, etc.); no mundo, a crise após a
quebra na Bolsa de Nova York e a Segunda Guerra
Mundial. A geração de 30 não deixou de lado as
novidades artísticas cunhadas pela Semana de 22,
misturando- as a uma crítica social mais sistemática, ao
marxismo, ao existencialismo e ao surrealismo. A
linguagem manteve-se próxima da popular e as obras
apresentaram-se em prosa e poesia. Esta privilegia o
sentimento humano, enquanto aquela, a crítica social.
Principais representantes: Os principais nomes da prosa
são: Jorge Amado, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos,
José Lins do Rego e Érico Veríssimo. Na poesia: Cecília
Meireles, Vinicius de Moraes, Jorge de Lima, Murilo
Mendes.
A prosa da 2ª fase abandona, em certa medida, a postura
vanguardista dos primeiros anos do Modernismo, uma vez
que os escritores se preocuparam em fazer uma literatura
claramente de denúncia social, sobretudo no que diz
respeito às desigualdades regionais do país. Do ponto de
vista da linguagem, a geração de 30 continuou a
aproveitar os registros orais na literatura, mas sem os
exageros do 1º tempo. Do ponto de vista da estrutura da
narrativa, voltou à tona o romance concebido no século
XIX,
REGIONALISMO DE 30
Engajamento religioso e social – literatura de denúncia
das condições humanas; tendência neorrealista;
coloquialismo; nacionalismo; cotidiano; romance
psicológico
Temas apresentados por região: Coronelismo, Cacau na
Bahia, Cana-de-açúcar, Seca no Ceará e em Alagoas,
Misticismo e candomblé, Cangaço, Os pampas gaúchos
Autores: Jorge Amado, Rachel de Queiroz, Graciliano
Ramos , José Lins do Rego e Erico Veríssimo.
Graciliano Ramos é considerado o maior representante
da geração neo-realista nordestina, sua obra é considerada
como "clássica" pela qualidade literária. Seus romances
tratam tanto do social (miséria, fome, seca, latifúndio),
como do psicológico (opressão, medo, angústia etc.).
Linguagem condensada, sem retórica, obra neo-realista:
romance crítico, de tensão entre a personagem e o meio
(natureza e sociedade), romance de esquerda. Em março
de 1936, sob suspeita de ter participado da ANL (Aliança
Nacional Libertadora), Graciliano foi preso pela polícia de
Getúlio Vargas. Levado para a prisão de ilha Grande (RJ),
ficou lá um ano sem acusação formal. A experiência na
prisão foi relatada em "Memórias do Cárcere".
Principais obras: São Bernardo, Vidas Secas, Memórias
do Cárcere, Angústia.
Vidas Secas: história de uma família de retirantes que vive
em pleno agreste os sofrimentos da estiagem. Universo
pobre de um homem (Fabiano), uma mulher (Sinhá
Vitória), os filhos e uma cachorra (Baleia).
Fabiano, Sinhá Vitória e os filhos são exemplos de seres
convertidos em criaturas, animalizados, brutalizados por
causa da precariedade de suas condições de vida, enquanto
abandonam a terra onde nasceram, ressequida, estéril,
procuravam na cidade uma forma de sobrevivência.
Um trecho da obra que ilustra a perda de humanidade de
Fabiano: "Os seus pés duros quebravam espinhos e não
sentiam a quentura da terra. Montado, confundia-se com o
cavalo(...)."
Ao longo deste romance, é muito comum as vozes do
narrador e das personagens se confundirem, através do
discurso indireto livre, um dos mais importantes recursos
narrativos de Graciliano Ramos, cuja retórica, e de muitos
verbalismos, parece se alojar no interior das personagens,
fundindo homem e paisagem, ação e processos mentais.
Por essas razões, Graciliano Ramos significa a maturidade
de nossa ficção regionalista, a expressão literária, a
dimensão política, universal de nossos problemas
aparentemente locais.
José Lins do Rego escreveu obras que compõem os
chamados romances do ciclo da cana-de-açúcar. Neles o
autor recompõe sua infância, tendo sido descendente de
grandes proprietários canavieiros do nordeste. Escritos em
primeira pessoa, estes romances retratam literalmente a
crise de tradição e a necessidade de modernização, a
transformação do Engenho em usina. Esse tema é
especialmente abordado em Fogo Morto (não faz parte do
ciclo), que é escrito em terceira pessoa. Nele, o autor
mostra as relações psicológicas dos vários tipos sociais (o
velho Senhor, a Sinhá, o trabalhador jagunço etc.) perante
uma usina de "Fogo Morto", isto é, parada, morta,
decadente.
Principais obras: Fogo Morto, Usina, Menino do Engenho.
Érico Veríssimo nasceu no Rio Grande do Sul, em Porto
Alegre entrou em contato com a vida literária e iniciou-se
no jornalismo, começou a publicar romances. ‘Fantoches’
foi o primeiro (Contos que exibem estrutura de peças de
teatro), mas Clarissa foi a primeira obra que o tornou
popular.
1º fase: Romance urbano - Visão otimista, linguagem
simples, cotidiano da vida urbana dePorto Alegre,
apresentação de problemas sociais, morais e humanos.
Iniciou-se com a publicação de Clarissa, depois vieram:
Caminhos Cruzados, Música ao longe, Um lugar ao sol,
Olhai os lírios do campo, Saga, E o resto é silêncio.
2° fase: Romance histórico - Inicia-se com a obra O
Tempo e o Vento, aborda a formação do Rio Grande do
Sul desde as sua origens.(no século XVIII) até 1946.
A obra é composta de três partes:
http://elaineruizcederj.blogspot.com.br/2011/01/segunda-fase-do-modernismo-1930-1945.html
http://elaineruizcederj.blogspot.com.br/2011/01/segunda-fase-do-modernismo-1930-1945.html
Língua Portuguesa
ENEM 49
- O continente (1949)
- O retrato (1951)
- O arquipélago (1961)
3° fase: Romance político - Temas políticos e
engajamento social.
O prisioneiro
- O senhor embaixador
- Incidente em Antares
Rachel de Queiroz nasceu em Fortaleza, Ceará, ainda não
tinha completado vinte anos quando publicou seu primeiro
romance, ‘O Quinze’. Rachel foi a primeira mulher a ser
eleita para a Academia Brasileira de Letras.
‘O Quinze’ - O romance projetou nacionalmente o nome
de Rachel de Queiroz. Retomando o tema da seca, que já
fora tratado em outros romances, Rachel deu-lhe maior
dimensão social, sem deixar de lado a análise psicológica
de algumas personagens.
A marcha penosa e trágica da família de Chico Bento, que
representa o retirante, constitui o núcleo dramático da
obra. A par disso, desenvolve-se o drama da
impossibilidade de comunicação afetiva entre Vicente e
Conceição; ele, um dono de fazenda sensível àmiséria
que o rodeia, mas impotente para eliminá-la; ela, uma
moça da cidade atraída pela figura livre e franca de
Vicente, mas que não consegue penetrar em seu mundo
rude, quase selvagem.
Principais obras: O Quinze, João Miguel, Caminho de
pedras, As três Marias, Dôra Doralina, Memorial de Maria
Moura.
Jorge Amado nasceu na Bahia, é o autor mais adaptado
da televisão brasileira, quase sempre interessado em
abordar problemas sociais e políticos, sua extensa obra
trata tanto da região cacaueira da Bahia como da zona
urbana de Salvador, era um hábil fixador de tipos
humanos, costumes e festas populares.
Principais obras: Jubiabá, Mar Morto, Capitães de areia,
Terras do sem-fim, Gabriela, cravo e canela, Os velhos
marinheiros, Dona flor e seus dois maridos, Tenda dos
milagres, Tieta do Agreste.
Terras do sem-fim - Este romance aborda a época da
fixação e expansão das fazendas de cacau em São Jorge
dos Ilhéus.
Com a cobiça e o desejo de enriquecimento, surgem as
lutas entre dois fazendeiros: o coronel Horácio da Silveira
e Juca Badaró, da família dos Badarós, a mais rica da
região. Ambas disputam as terras incultas de modo
violento, principalmente Horácio, para quem as armas
eram as únicas leis.
Ao lado dessa linha principal do enredo, há o drama de
Ester, esposa de Horácio, educada em outro meio e com
outros sonhos, e que não se acostuma com a vida fechada
e cercada de perigos que leva na fazenda, sempre
sobressaltada pelos ruídos da mata e pelos crimes. Quando
conhece Virgílio, um novo advogado que passa a
frequentar sua casa, vê nele a figura de seus sonhos de
adolescente, perdidos com o casamento com Horácio.
Acaba por tornar-se sua amante.
A estrutura do livro mantém um suspense na sequencia
dos fatos que envolvem as lutas entre fazendeiros e
capangas e o drama íntimo de Ester. No final, ela morre de
tifo enquanto Virgílio, mais tarde, é assassinado por
Horácio que ficara sabendo de tudo. Com a posse do
Sequeiro Grande, Horácio torna-se o principal chefe de
São Jorge do Ilhéus.
POESIA
Ampliação da temática: Social nacional para o Universal,
Poemas de tendência mística, Revalorização de estilos
anteriores, neossimbolismo.
Principais autores: Carlos Drummond de Andrade,
Cecília Meireles e Vinícius de Moraes.
FIQUE LIGADO NO ENEM!
O poeta Carlos Drummond de Andrade é o ‘campeão’ de
presenças na prova do Enem. Seus textos já ilustraram
questões da prova 16 vezes.
Carlos Drummond de Andrade é considerado o maior poeta
brasileiro do século XX. Foi também admirável cronista; sua
prosa é distinta pela força da linguagem poética, que dá forma
aos registros do cotidiano e da memória. Poeta "nascido
intelectualmente dentro do Modernismo, sem laivo de passado e
nem perigo de volta a ele", como observou Antonio Candido,
Drummond produziu extensa obra, em que a poesia de enfoque
social e a poesia relativa ao indivíduo se mesclaram e se
fundiram. Para José Guilherme Merquior (1941 - 1991),
Drummond é uma das grandes "fundações" do Modernismo;
segundo o crítico, "este poeta renovou a linguagem e o
endereço de nossa lírica. Depois dele, uma e outra se abriram a
modos mais objetivos de direção social, que já não cabem no
subjetivismo anterior. O humanista dos primeiros livros deu ao
lirismo uma agudeza reflexiva e irônica que o virou pelo avesso;
o autor de A Rosa do Povo passou a emocionar-se com os
sentimentos coletivos, e finalmente o terceiro Drummond,
de Claro Enigma considerado, fundou entre nós a grande
meditação poética sobre as razões da existência, a pensativa
poesia sobre a condição humana e as recentes significações do
Neo-Humanismo contemporâneo."
Murilo Mendes também estreou como autor modernista,
mas sua trajetória poética foi bastante diferente da de
Drummond. "Poeta dos contrários", segundo Antonio
Candido, Mendes "começou pela poesia humorística e,
depois de sofrer a impregnação surrealista, voltou à fé
católica, passando a uma expressão cheia de sentimento
do mistério e transcendência, com o mais completo senso
do insólito da nossa poesia contemporânea. Afinal, tendeu
para o verso breve e descarnado, guardando o toque de
fantasmagoria que é um de seus encantos."
Cecília Meireles foi bastante influenciada pela "corrente
espiritualista" da qual participou Murilo Mendes, corrente
divulgada pelos intelectuais cariocas que se agruparam em
torno da revista Festa, de tendência neo-simbolista. É a
principal voz feminina da poesia brasileira e, de acordo
com Luciana Ategagno Picchio, "uma das vozes femininas
mais puras de expressão portuguesa de todos os tempos".
Sua obra poética é caracterizada pela reflexão filosófica, a
musicalidade dos versos, a atmosfera fluida e etérea; entre
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
50
seus temas mais caros estão a transitoriedade das coisas, a
efemeridade da vida, a fugacidade do tempo.
Jorge de Lima iniciou como poeta neoparnasiano, e
depois de tornar-se adepto da estética Modernista
produziu, em um primeiro momento, poesia social, e em
uma segunda fase, poesia de expressão religiosa. Para José
Aderaldo Castello, a fase da poesia social, composta dos
"poemas negros" e "telúricos", reflete "o Nordeste
açucareiro dos engenhos tradicionais, com os quais se
relacionam aquelas ?realidades de nossa alma imensa?" e
envolve "a presença africana". Já a segunda fase,
caracterizada pela religiosidade, "é atemporalizada e
distanciada da objetividade da primeira fase".
Vinicius de Moraes, um dos mais populares poetas
brasileiros, também foi influenciado pela "corrente
espiritualista" e pelo Neo-Simbolismo no início de sua
produção poética, mas com o passar do tempo sua obra
passou a tematizar o amor sensual e os problemas sociais.
Antonio Candido elencou, entre as principais
características do autor, "a peculiaríssima ligação que
estabeleceu entre o mar, a praia e a vida amorosa; a
mistura do vocabulário familiar com uma espécie de casto
impudor; a invenção de um léxico do amor físico que
abole qualquer diferença entre ele e o que é considerado
não-físico. E mais um uso próprio do ritmo de romance
popular, quem sabe inspirado inicialmente em García
Lorca. E uma reconstrução do soneto. (...)."
Exercícios
01 - (Enem)
Confidência do Itabirano
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e
[comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e
[sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
ANDRADE, C. D. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova
Aguilar, 2003.
Carlos Drummond de Andrade é um dos expoentes do
movimento modernista brasileiro. Com seus poemas,
penetrou fundo na alma do Brasil e trabalhou
poeticamente as inquietudes e os dilemas humanos. Sua
poesia é feita de uma relação tensa entre o universal e o
particular, como se percebe claramente na construção do
poema Confidência do Itabirano. Tendo em vista os
procedimentos de construção do texto literário e as
concepções artísticas modernistas, conclui-se que o poema
acima
a) representa a fase heroica do modernismo, devido ao
tom contestatório e à utilização de expressões e usos
linguísticos típicos da oralidade.
b) apresenta uma característica importantedo gênero
lírico, que é a apresentação objetiva de fatos e dados
históricos.
c) evidencia uma tensão histórica entre o “eu” e a sua
comunidade, por intermédio de imagens que
representam a forma como a sociedade e o mundo
colaboram para a constituição do indivíduo.
d) critica, por meio de um discurso irônico, a posição de
inutilidade do poeta e da poesia em comparação com
as prendas resgatadas de Itabira.
e) apresenta influências românticas, uma vez que trata da
individualidade, da saudade da infância e do amor pela
terra natal, por meio de recursos retóricos pomposos.
UNIDADE 28
3ª Fase do Modernismo (1945 – 1960)
Em 1945 houve o termino da 2° Guerra Mundial, milhões
de mortos na Europa, o holocausto, a queda de Hitler, o
homem que ordenou a morte de milhões de judeus nos
campos de concentração, as bombas atômicas, que
causaram a morte instantânea de milhões de japoneses, e
posteriormente destruiu a vida de outros. Como se não
fosse suficiente Guerra Fria entre o pólo capitalista e o
socialista, deixou no ar a ameaça de uma Guerra Nuclear
que colocaria toda a humanidade em risco.
Com o fim da ditadura Vargas em 1945, teve início a
redemocratização brasileira. Para a arte, foi um período de
particular efervescência. No terreno das artes visuais,
destacou-se a obra de Oscar Niemeyer, arquiteto
responsável pela construção da nova capital, Brasília,
inaugurada em 1960. O esforço de interiorização da vida
nacional e as ousadias arquitetônicas da cidade foram
representativos da retomada de temas e de pesquisas
formais, que atingiu a literatura nas obras de autores como
Guimarães Rosa, João
Cabral de Melo Neto e Clarice Lispector.
Poesia: Propunham um acentuado rigor formal, o que
lembra muito o Parnasianismo. Adotam uma linguagem
mais erudita e uma temática mais universal. Exemplo:
João Cabral de Melo Neto.
Prosa: tanto no romance quanto nos contos existe a busca
de uma literatura intimista, de sondagem psicológica,
introspectiva e ao mesmo tempo. Promove-se a análise e
observação do cotidiano; as “linhas” do fantástico,
literatura psicológica / intimista, tendências a reflexões
metafísicas. Além disso, o regionalismo adquire uma nova
dimensão através da recriação dos costumes e da fala
sertaneja penetra fundo na psicologia do jagunço do Brasil
central.
Língua Portuguesa
ENEM 51
João Cabral de Melo Neto: Estreou em 1942 com Pedra
do Sono de forte influência de Carlos Drummond de
Andrade e Murilo Mendes. Ao publicar O Engenheiro, em
1945, traça os rumos definitivos de sua obra. Em 1956,
escreve o poema dramático Morte e Vida Severina, que,
encenado em 1966, com músicas de Chico Buarque,
consagra-o definitivamente.
No início da carreira, apresenta um tendência à
objetividade, convivendo com imagens surrealistas e
relativas aos sonhos: aos poucos, afasta-se da influência
surrealista e aprofunda a tendência à substantivação, à
economia da linguagem, submetendo as palavras a um
processo crescente de depuração, com uso de metáforas,
personificações e alegorias; a partir de 1945, influenciado
por uma concepção arquitetônica, procede à
geometrização do poema, aproximando a arte do Poeta à
do Engenheiro; o repúdio ao sentimentalismo e ao
irracionalismo leva-o à elaboração do poema objeto.
Questiona o próprio ato de escrever e a função da poesia;
na década de 50, surge e amadurece a preocupação
política e principalmente a denúncia social do Nordeste e
sua gente: os retirantes, as tradições e o folclore regional,
a estrutura agrária canavieira, injusta e desigual. Aparece
ainda a paisagem
da Espanha, que apresenta pontos em comum com o
cenário nordestino. Mantém viva e atuante a reflexão
sobre a Arte em suas várias manifestações, como a pintura
e a literatura.
Trecho de ‘Morte e vida Severina’:
“E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença é que a morte severina
ataca em qualquer idade, e até gente não nascida).”
João Guimarães Rosa: Mineiro, formou-se em Medicina
e clinicou pelo interior, foi ministro e pela carreira
diplomática esteve em Hamburgo, Bogotá e ParisSua obra
extremamente inovadora e original. Seu livro, Sagarana
(1946), vem colocar uma espécie de marco divisor na
literatura moderna do Brasil: é uma obra que se pode
chamar de renovadora da linguagem literária. Seu
experimentalismo estético, aliando narrativas de cunho
regionalista a uma linguagem inovadora e transfigurada,
veio transformar completamente o panorama da nossa
literatura. Principais Obras: Sagarana, Corpo de baile,
Grande sertão: veredas, Primeiras histórias, Tutaméia
(Terceiras histórias), Estas histórias, Ave, palavra.
Grande sertão veredas, considerado a obra prima do autor:
o livro narra as memórias de Riobaldo, personagem
principal, ex-jagunço, que assume a liderança do grupo
após a morte do chefe Joca Ramiro. Conta a um doutor
que nunca aparece, através de seu caráter insólito e
ambíguo; na primeira parte do livro, Riobaldo faz um
relato "caótico" e desconexo de vários fatos sempre
expondo suas inquietações filosóficas enquanto que na
segunda parte as ideias de Riobaldo são mais organizadas.
A ambiguidade e o caráter ambivalente de Riobaldo,
assim como o de outros personagens, dominam o
romance.
O sertão criado por Guimarães Rosa é uma realidade
geográfica, social, política e psicológica. Nesse espaço
(sertão-mundo), o sertanejo não é apenas o homem de
uma região e de uma época específicas, mas homem
universal defrontando-se com problemas eternos: o bem e
o mal; o amor; a violência; a existência ou não de Deus e
do Diabo etc. Por isso classifica-se seu regionalismo como
regionalismo universalista.
Clarice Lispector: Ucraniana, veio para o Brasil ainda
bebê. Formou-se em direito mas viveu muito fora do
Brasil pela carreira diplomática do marido, dedicando-se
assim aos filhos e à literatura. Voltou ao Brasil separada e
lançou vários livros.
Características de suas obras: sondagem dos mecanismos
mais profundos da mente humana; técnica
“impressionista” de apreensão da realidade interior
(predominância de impressões, de sensações); introdução
da técnica do fluxo da consciência; quebra os limites
espaço x temporais e o conceito de verossimilhança,
fundindo presente e passado, realidade e desejo na mente
dos personagens, cruzando vários eixos e planos
narrativos sem ordem ou lógica aparente.
Suas principais personagens são mulheres, mas não se
limitam ao espaço do ambiente familiar, busca atingir
valores essenciais humanos e universais tais como a
falsidade de das relações humanas, o jogo das aparências,
o esvaziamento do mundo familiar, as carências afetivas e
as inseguranças delas decorrentes, a alienação, a condição
da mulher, a coexistência dos contrastes, das
ambiguidades, das contradições do ser; características
físicas das personagens diluem-se: muitas nem nome
apresentam. Há o predomínio do tempo psicológico e,
portanto, subversão do tempo cronológico; as ações
passam a ter importância secundária, servindo
principalmente como ilustração de características
psicológicas das personagens (introspecção psicológica).
Destaca-se a presença da epifania (“revelação”):
aparentemente equilibradas e bem ajustadas, subitamente
as personagens sentem um estranhamento frente a um fato
banal da realidade. Nesse momento, mergulham num
fluxo de consciência, do qual emergem sentindo-se
diferentes em relação a si mesmas e ao mundo que as
rodeia; esse desequilíbrio momentâneo por certo mudará
sua vida definitivamente.Pode-se destacar ainda a fusão de prosa e poesia, com
emprego de figuras de linguagem: metáforas; antíteses (eu
x não-eu, ser x não ser); paradoxos; símbolos e alegorias;
aliterações e sinestesias, bem como
uso de metalinguagem em associação com os processos
intimistas e psicológicos, político-sociais, filosóficos e
existenciais (A Hora da Estrela, 1977).
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
52
Principais Obras: Perto do coração selvagem, Laços de
família, A maça no escuro, A legião estrangeira, A paixão
segundo G. H., Felicidade clandestina, A hora da estrela.
Tendências contemporâneas: uma nova ruptura
Em 1964, com o Golpe Militar, o Brasil recebe um ciclo
de presidentes militares, eleitos indiretamente. Até 1968, a
atividade cultural ainda se mantém dinâmica, mas com a
decretação do Ato Institucional Nº 5 (AI-5) e a instituição
da censura prévia, muitos artistas e intelectuais são
obrigados a deixar o país. Embora autores das fases
anteriores continuassem produzindo, houve uma ruptura.
Algumas das manifestações dessa ruptura foram tão
radicais que nos fazem lembrar a geração de 22. Muitas
são as tendências que marcam a literatura contemporânea
brasileira.
Concretismo: Surge em 1956, com a publicação da
revista Noigrandes. Esse movimento radicalizou a
proposta de valorização da forma na poesia, incorporando
a ela os signos da sociedade moderna. Foi representado e
idealizado por Haroldo de Campos, Augusto de Campos e
Décio Pignatari.
Neoconcretismo: Em consonância com as propostas dos
artistas plásticos Hélio Oiticica e Lygia Clark, surge
como desdobramento do Concretismo. Esse movimento
foi fundado por Ferreira Gullar que propunha a
necessária participação (interação) do leitor na construção
do texto.
Poesia-Práxis: movimento liderado por Mário Chamie,
que a partir de 1961 começou a adotar a palavra como
organismo vivo gerador de novos organismos vivos, ou
seja, de novas palavras.
Poema-processo: Coloca em segundo plano o signo
verbal, em detrimento dos signos gráficos. Surgiu em
1967 e foi idealizado por Wlademir Dias-Pino.
Poesia social: No contexto do golpe militar de 1964,
surge uma poesia engajada e política, representada,
entre outros, por Ferreira Gullar, Tiago de Melo e Geir
Campos.
Tropicalismo: Originou-se, ainda na década de 60, nos
festivais de M. P. B. realizados pela TV Record, que
projetaram no cenário nacional, os jovens Caetano Veloso,
Gilberto Gil, o grupo Os Mutantes e Tom Zé, apoiados em
textos de Torquato Neto e Capinam e nos arranjos do
maestro Rogério Duprat. Com humor, irreverência,
atitudes rebeldes e anarquistas os tropicalistas procuravam
combater o nacionalismo ingênuo que dominava o cenário
brasileiro, retomando o ideário e as propostas do
Movimento Antropofágico de Oswald de Andrade.
Apresentavam ironia e paródia, humor e fragmentação da
realidade; enunciação de flashes cinematográficos
aparentemente desconexos, ruptura com os padrões
tradicionais da linguagem.Suas influências foram
fundamentais na música, mas repercutiram também na
literatura e no teatro. Com o AI-5, seus representantes
foram perseguidos e exilados.
Poesia marginal: Surgiu na década de 1970, é chamada
de “marginal” porque não possuía vínculos
com editoras ou distribuidoras para edição e/ou
publicação, ou seja, era produção independente, de
“publicação alternativa” das obras e pela temática do
humor e da irreverência em relação às grandes questões da
época. Torna-se assim manifestação de denuncia e de
protesto, uma explosão de literatura geradora de poemas
espontâneos, mal-acabados, irônicos, coloquiais, que
falam do mundo imediato do próprio poeta, zombam da
cultura, escarnecem a própria literatura. São seus
representantes: Chacal, Charles, Paulo Leminski, Ledusha,
Ronaldo Bastos, Cacaso, Francisco Alvim, Glauco
matoso, Roberto Piva, entre outros.
Prosaísmo: Manuel de Barros e Adélia Prado se
diferenciaram por criar uma literatura marcada pela
expressão lírica muito particular de seus mundos, seja pela
reinvenção das palavras, pela valorização do prosaico,
pela exigência do exercício diferenciado do olhar do
leitor.
Destacam-se, na denominada “poesia independente” e na
produção contemporânea, Ana Cristina César, César,
Alice Ruiz, Antônio Cícero, José Paulo Paes, além de
Eucanã Ferraz, Frederico Barbosa e Ar- Alice Ruiz,
Antônio Cícero, José Paulo Paes, além de Eucanã Ferraz,
Frederico Barbosa e Alice Ruiz, Antônio Cícero, José
Paulo Paes, Eucanã Ferraz, Frederico Barbosa e Arnaldo
Antunes.
Prosa
Com o desenvolvimento das novas tecnologias, na
literatura não havia mais a separação entre a arte culta e a
arte popular, o que importava no momento era a
comunicabilidade. Houve uma incorporação entre todas as
estéticas passadas de forma inovadora. E como forma de
tornar os problemas sociais mais leves, investe-se no
humor e no erotismo, muitas vezes, problemas sérios são
tratados com humor. Na prosa brasileira, destacamos o
conto, a crônica e o romance
Os romances contemporâneos são diversificados, estão
entre o antigo e o moderno, podendo ser apontadas várias
tendências, entra elas: O ultrarrealismo ou realismo
feroz, que ressalta a violência, usando a técnica do
impacto o seu cenário é o urbano, seus principais autores
são: Paulo Lins, (Cidade de Deus) Rubem Fonseca e João
Antonio. O regionalismo, onde é a sobrevivência do
regionalismo, destaca-se o autor João Ubaldo Ribeiro. O
romance histórico, ficção e a verdade lado a lado, usam-
se episódios históricos, adaptando- o para a ficção. Ana
Miranda ganhou notoriedade quando falamos dessa
tendência literária no contexto contemporâneo, com o
Livro Boca do Inferno, onde a história passa-se no seculo
XVII, na Guerra dos Emboabas (Paulistas e Portugueses
disputam o ouro em Minas Gerais )
As correntes imigratórias, onde são os conflitos e as
experiências de imigrantes e seus desentendes. Raduan
Nassar, que escreveu Lavoura arcaica, que descreve a a
desagregação de uma família libanesa. Outro autor é
Milton Hatoum, que conta em prosa a história de
imigrantes libaneses na Amazônia. Outra tendência que
merece destaque é a daqueles autores que questionam o
narrar e suas normas e que se empenham na desconstrução
da narrativa tradicional, manejando a intertextualidade, a
colagem e a montagem e, em alguns casos, até recorrendo
a ilustrações. Muitos nomes podem ser citados, como o de
João Gilberto Noll, Chico Buarque de Hollanda e
Bernardo Carvalho.
http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=4664171620992638223
http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=4664171620992638223
http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=4664171620992638223
Língua Portuguesa
ENEM 53
O conto passa a ter um papel relevante na literatura,
talvez como forma de explorar a semelhança entre esta e a
notícia pela facilidade dos textos serem curtos e
apresentarem elementos do cotidiano urbano
contemporâneo, como a violência, a religião, a moral, etc.
Autores: Dalton Trevisan, Sérgio Sant’anna, Ricardo
Ramos, Domingos Pellegrini Jr. E Inácio de Loyola
Brandão, Murilo Rubião e J.J. Veiga, Moacyr Scliar, Caio
Fernando Abreu, Lygia Fagundes Teles, Autran Dourado,
Luiz Vilela, Fernando Sabino, Heloísa Seixas e Otto Lara
Rezende, entre outros.
Outro tipo de gênero narrativo muito popular na literatura
contemporânea é a crônica. Rubem Braga, Otto Lara
Resende, Paulo Mendes Campos e Fernando Sabino foram
alguns escritores que ajudaram a manter vivo o prestígio
do gênero. Na atualidade, merecem destaque Carlos
Heitor Cony, Luis Fernando Veríssimo e Martha Medeiros
pela legião de leitores que conquistaram.
Teatro contemporâneo
O teatro no mundo atual
Tudo começou com a peça “Vestido de Noiva” de Nelson
Rodrigues. Antes, a produção teatral brasileiranão tinha
muita relevância. Na maioria das vezes, as peças exibidas
no teatro eram estrangeiras. A peça é apresentada com
uma linguagem criativa, foi dividida em três planos: o da
realidade, o da alucinação e o da memória. Essa divisão
representou uma inovação nunca vista no palco. É
considerada pelos críticos a obra que melhor se encaixa na
definição de peça psicológica. Dez anos depois da peça
Vestido de Noiva, surge no teatro brasileiro, Jorge
Andrade, com a peça A moratória, que também significou
uma inovação ao trazer o Brasil rural para o teatro. Essa
tendência foi seguida por outros dramaturgos.
Em 1957, Ariano Suassuna atribui à sociedade rural um
novo tratamento, fundindo em sua obra tendências opostas
como: o espontâneo e o elaborado, o popular e o erudito.
A peça O auto da compadecida é um exemplo bem-
sucedido. A peça conta histórias folclóricas associadas a
manifestações de religiosidade. É uma obra inspirada nas
obras de Gil Vicente.
A partir daí, surgiram outros dramaturgos que
revolucionaram e revolucionam o teatro brasileiro.
Surge o teatro de arena, que trouxe para o palco os
problemas sociais causados pela industrialização da
sociedade brasileira. Fizeram parte dessa tendência:
Gianfrancesco Guarnieri ( Eles não usam blak-tie-1958),
Oduvaldo Viana Filho ( Rasga coração), Dias Gomes ( O
pagador de promessas). Na década de 60, aparece mais um
autor revolucionário, Plínio Marcos, com as peças Dois
perdidos numa noite suja e Navalha na carne, que traz à
tona o problema da marginalidade e a hipocrisia da
sociedade brasileira.
Nos anos 70, inicia-se o teatro experimental, com
interpretações mais despojadas e de criação coletiva. A
primeira obra escrita nessa tendência foi Trate-me leão
(1977), dirigido por Vaz Pereira, Regina Casé e Luis
Fernando Guimarães. Era uma peça para a qual não havia
cenário e muitas passagens eram improvisadas.
Mais recentemente, o teatro do “besteirol” (esquetes
criados para explorar situações cômicas da vida cotidiana)
tem ajudado a dramaturgia brasileira a cair novamente nas
graças do público. Peças como Batalha de arroz num
ringue para dois, de Mauro Rasi, e Como encher um
biquíni selvagem, Miguel Falabella, tornaram-se sucesso
imediato, lotando centenas de apresentações feitas ao
longo dos anos.
Hoje, o teatro brasileiro conta com vários autores de
grande estilo que produzem peças dramática e cômica
maravilhosas. Entre eles destacamos Juca de Oliveira,
Maria adelaide Amaral, Walcyr Carrasco, Leilah
Assunção, Millôr Fernandes, Fernando Bonassi , Naum
Alves de Souza, Mário Bortolotto e Rubens Rewald.
De 1980 para cá, além da permanência de autores surgidos
em outras fases, registra-se a estreia de diversos escritores.
Prevalece a temática urbana, flagrando a violência, a
exclusão social e os desequilíbrios psicológicos
decorrentes de um contexto social caótico.
Exercícios
TEXTO I
O meu nome é Severino,
não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias,
mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem fala
ora a Vossas Senhorias?
MELO NETO, J. C. Obra completa. Rio de Janeiro:
Aguilar, 1994 (fragmento).
TEXTO II
João Cabral, que já emprestara sua voz ao rio, transfere-a,
aqui, ao retirante Severino, que, como o Capibaribe,
também segue no caminho do Recife. A auto apresentação
do personagem, na fala inicial do texto, nos mostra um
Severino que, quanto mais se define, menos se
individualiza, pois seus traços biográficos são sempre
partilhados por outros homens.
SECCHIN, A. C. João Cabral: a poesia
do menos. Rio de Janeiro: Topbooks, 1999 (fragmento)
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
54
Com base no trecho de Morte e Vida Severina (Texto I) e
na análise crítica (Texto II), observa-se que a relação entre
o texto poético e o contexto social a que ele faz referência
aponta para um problema social expresso literariamente
pela pergunta “Como então dizer quem fala / ora a Vossas
Senhorias?“. A resposta à pergunta expressa no poema é
dada por meio da
a) descrição minuciosa dos traços biográficos do
personagem-narrador.
b) construção da figura do retirante nordestino como um
homem resignado com a sua situação.
c) representação, na figura do personagem-narrador, de
outros Severinos que compartilham sua condição.
d) apresentação do personagem-narrador como uma
projeção do próprio poeta, em sua crise existencial.
e) descrição de Severino, que, apesar de humilde,
orgulha-se de ser descendente do coronel Zacarias.
GABARITO
Unidades Gabarito
1 E
2 E
3 E
4 C
5 C
6 A
7 E
8 C
9 Gramática
10 Gramática
11 Gramática
12 Gramática
13 Gramática
14 Gramática
15 A
16 C
17 B, C, C
18 B
19 A
20 E
21 B
22 A
23 A
24 C
25 A
26 A
27 C
28 C