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2U.T.I. Unidade Técnica de Imersão L LINGUAGENS E CÓDIGOS C © Hexag Sistema de Ensino, 2018 Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino. São Paulo, 2018 Todos os direitos reservados. 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Este material tem o objetivo de verificar se você aprendeu os conteúdos estudados nos livros 3 e 4, oferecendo-lhe uma seleção de questões dissertativas ideais para exercitar suas memória e escrita, já que é fundamental estar sempre pronto a realizar as provas de 2ª fase dos vestibulares. Além disso, este material também traz sínteses do que você observou em sala de aula, ajudando-lhe ainda mais a compreender os itens que, eventualmente, não tenham ficado claros e a relembrar os pontos que foram esquecidos. Aproveite para aprimorar seus conhecimentos. Bons estudos! Herlan Fellini U.T.I. 2 Gramática e Interpretação de Texto ÍNDICE GRAMÁTICA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO 5 LITERATURA 35 OBRAS LITERÁRIAS 59 INGLÊS 79 REDAÇÃO 89 U.T.I. 2 Gramática e Interpretação de Texto ÍNDICE GRAMÁTICA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO 5 LITERATURA 35 OBRAS LITERÁRIAS 59 INGLÊS 79 REDAÇÃO 89 7 Advérbio, numerAl, preposição e interjeição Advérbio Advérbio é uma palavra invariável que se associa a verbos, a adjetivos ou a outros advérbios, cada qual com intenções bastante específicas. § Associa-se a verbos para indicar com maior precisão as circunstâncias da ação verbal. Exemplo: Paula viajou ontem. (O advérbio “ontem” indica com maior precisão quando Paula viajou.) § Associa-se a adjetivos para intensificar o adjetivo já apresentado. Exemplo: Roberto ficou bastante preocupado. (O advérbio “bastante” intensifica o adjetivo preocupado.) § Associa-se a advérbios para intensificar outro advérbio já apresentado. Exemplo: O jogador do Corinthians está se recuperando muito bem. (O advérbio “muito” intensifica outro advérbio: “bem”.) Classificação dos advérbios Os advérbios estabelecem diferentes relações semânticas, que são as seguintes: § de lugar – aqui, antes, dentro, ali, adiante, fora, acolá, atrás, além, lá, detrás, aquém, cá, acima, onde, perto, aí, abaixo, aonde, longe, debaixo, algures, defronte, nenhures, adentro, afora, alhures, aquém, embaixo, ex- ternamente, a distância, a distância de, de longe, de perto, em cima, à direita, à esquerda, ao lado, em volta. § de tempo – hoje, logo, primeiro, ontem, tarde, outrora, amanhã, cedo, depois, ainda, antigamente, an- tes, doravante, nunca, então, ora, jamais, agora, sempre, já, enfim, afinal, amiúde, breve, constantemente, imediatamente, primeiramente, provisoriamente, sucessivamente, às vezes, à tarde, à noite, de manhã, de repente, de vez em quando, de quando em quando, a qualquer momento, de tempos em tempos, em breve, hoje em dia. § de modo – bem, mal, assim, melhor, pior, depressa, debalde, devagar, às pressas, às claras, às cegas, à toa, à vontade, às escondidas, aos poucos, desse jeito, desse modo, dessa maneira, em geral, frente a frente, lado a lado, a pé, de cor, em vão, e a maior parte dos que terminam em -mente: calmamente, tristemente, propositadamente, pacientemente, amorosamente, docemente, escandalosamente, bondosamente, genero- samente. § de afirmação – sim, certamente, realmente, decerto, efetivamente, certo, decididamente, deveras, indubi- tavelmente. § de negação – não, nem, nunca, jamais, de modo algum, de forma alguma, tampouco, de jeito nenhum. § de dúvida – acaso, porventura, possivelmente, provavelmente, talvez, casualmente, por certo, quem sabe. § de intensidade – muito, demais, pouco, tão, em excesso, bastante, mais, menos, demasiado, quanto, quão, tanto, que (quão), tudo, nada, todo, quase, de todo, de muito, por completo, extremamente, intensamente, grandemente, bem (aplicado a propriedades graduáveis). 8 § interrogativos – onde, aonde, donde, quando, como, por que, empregadas em interrogações diretas ou indiretas. Entende-se por interrogações diretas aquelas em que as palavras em destaque iniciam uma frase interrogativa. Já as interrogações indiretas são aquelas em que os termos destacados não iniciam a frase. Interrogação direta Interrogação indireta Como isso aconteceu? Queria saber como isso aconteceu. Onde ela mora? Precisava saber onde ela mora. Por que ela não veio? Quero entender por que ela não veio. Aonde você vai? Quero saber aonde você vai. Donde vem esse rapaz? Necessito entender donde vem esse rapaz. Quando que chega a carta? Quero saber quando chega a carta. Locução adverbial Locuções adverbiais são expressões formadas a partir de duas ou mais palavras que exercem função adverbial. Geralmente, são iniciadas por uma preposição, seguida de outra palavra como substantivo, advérbio ou verbo, e que seja capaz de indicar a circunstância. § de lugar: à esquerda, à direita, de longe, de perto, para dentro, por aqui. § de afirmação: por certo, sem dúvida. § de modo: às pressas, passo a passo, de cor, em vão, em geral, frente a frente. § de tempo: à noite, de dia, de vez em quando, à tarde, hoje em dia, nunca mais. O advérbio aplicado ao texto As principais aplicações dos advérbios ao texto, e que respondem a questões semânticas importantes, são as dos advérbios frásicos x advérbios extrafrásicos, além da distribuição de advérbios modais (terminados em -mente). Advérbios frásicos São aqueles que modificam um elemento específico da frase. Não apresentam marcas de deslocamento (vírgulas). Exemplo: O veículo corre muito. Advérbios extrafrásicos São aqueles que são exteriores à frase, estão no âmbito da enunciação e, geralmente, deslocados por vírgula. Exemplo: Ele, infelizmente, não jogou bem hoje. Observação: Os advérbios extrafrásicos funcionam como elementos de avaliação do enunciador acerca do conteúdo enunciado. Distribuição textual de advérbios modais (mais de um advérbio terminado em “-mente”) Quando temos uma frase que congrega mais de um advérbio terminado em “-mente”, deve-se fazer a contração dos advérbios centrais (retirar o termo “-mente”) e preservar apenas o último advérbio flexionado. Errado: Ele saiu calmamente, sorrateiramente e rapidamente. Certo: Ele saiu calma, sorrateira e rapidamente. 9 NumerAlNumeral é a classe de palavra que se relaciona diretamente com o substantivo, atribui-lhe quantidade, situa-o em determinada sequência e com ele mantém vínculo morfossintático, isto é, o numeral é considerado um sintagma nominal. Exemplo: Os cinco ingressos devem ser distribuídos aos vencedores. (cinco é um atributo numérico do substantivo ingressos) O numeral traduz em palavras as quantidades indicadas pelos números. Se a expressão for escrita apenas em números, não será tratada de numerais, mas de algarismos. Exemplos: Ele foi aprovado em primeiro lugar. (primeiro é o algarismo empregado para formar numerais escritos) Usei um quarto do meu salário para pagar as contas. (um quarto é o algarismo empregado para formar numerais escritos) IMPORTANTE! Algumas palavras são consideradas numerais, se denotarem ideia de quantidade, proporção ou ordenação. Exemplos Passou-se uma década até alcançarmos a democracia. Comprei meia dúzia de ovos para o bolo. Classificação de numerais § Cardinais: indicam contagem, medida. Exemplo: A medida do quarto é de trinta metros. § Ordinais: indicam a ordem ou o lugar da coisa ou pessoa numa série dada. Exemplo: Verifique o segundo contato da agenda. § Multiplicativos: indicam multiplicação da coisa ou pessoa, quantas vezes a quantidade dela foi aumentada. Exemplo: Apareceu um triplo de convidados a mais que o esperado. § Fracionários: indicam parte de um inteiro da coisa ou pessoa. Exemplo: Dois terços dos alunos foram aprovados na primeira fase da prova. PrePosição A preposição é utilizada para estabelecer relações de sentido entre dois ou mais termos de uma oração. Trata-se de um processo de conexão entre os elementos que foram ligados pela preposição. Exemplo: Comprou os bilhetes da rifa com o troco do lanche, (da: contração da preposição “de” com o artigo “a” / com: preposição isolada / do: contração da preposição “de” com o artigo “o”) As preposições são invariáveis, ou seja, não se flexionam em gênero, número ou grau. Mas elas se contraem com outras palavras, como vimos no exemplo anterior. Ao se juntar ao artigo, elas passam a estabelecer concor- dância em gênero e número com essas palavras. Importante lembrar que não se trata de uma variação própria da preposição, mas da palavra com a qual ela se funde. 10 A relação estabelecida pelas preposições pressupõe um primeiro elemento – chamado antecedente – e um segundo – chamado consequente. Aquele é o que exige a preposição, também chamado termo regente; o segundo é o termo regido por ela, também chamado de termo regido pela preposição. O antecedente ou termo regente de preposição pode ser: § Substantivo: bloco de cimento. § Adjetivo: contente com o desempenho. § Advérbio: preciso imediatamente de um curativo . § Pronome: quem de vocês fez isso? § Verbo: gostar de matemática. Classificação das preposições § Essenciais – palavras que atuam exclusivamente como preposição. São elas: a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para, perante, por, sem, sob, sobre. § Acidentais – palavras de outras classes gramaticais que atuam como preposições. São elas: como, confor- me, consoante, durante, exceto, feito, mediante, segundo. iNterjeição Interjeição é a palavra invariável que manifesta sensações, emoções, sentimentos, ordens, chamamentos ou es- tados de espírito, revelando as reações das pessoas. Classificação § Admiração ou surpresa: Puxa! Vixe! Caramba! Nossa! Céus! Eita! § Alegria: Viva! Oba! Que beleza! Eba! § Aplauso: Viva! Bravo! Parabéns! § Chamamento: Alô! Ei! Oi! Psiu! Socorro! § Concordância: Claro! Certo! Ok! § Dor: Ai! Ui! Ah! Oh! § Lamento: Que pena! Ai coitado! § Saudação: Olá! Oi! Adeus! § Silêncio: Silêncio! Basta! Chega! 11 Conjunções CoNjuNções CoordeNAtivAs As conjunções coordenativas conectam orações sem estabelecer uma relação de dependência (uma função sintá- tica). De acordo com um critério lógico-semântico, elas se classificam assim: § Aditivas – estabelecem uma relação de soma, de adição entre os termos. § Principais conjunções aditivas: e, nem, não só... mas também, não só... como também, bem como, não só... mas ainda. Exemplos: Ele saiu cedo e levou a carteira. Ela não só saiu cedo como também passou na farmácia. § Adversativas – estabelecem uma relação de contraste, de oposição entre os termos. § Principais conjunções adversativas: mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto, não obstante. Exemplo: Tentou vender os livros usados, mas não conseguiu. § Alternativas – estabelecem uma relação de alternância, de escolha ou de exclusão entre os termos: § Principais conjunções alternativas: ou, ou... ou, ora... ora, já... já, quer... quer, seja... seja, talvez... talvez. Exemplo: Ou você chega logo, ou vou embora para minha casa. § Conclusivas – estabelecem uma relação de conclusão a respeito de um fato dado no mundo. § Principais conjunções conclusivas: logo, portanto, por conseguinte, por isso, assim, pois (depois do verbo e entre vírgulas). Exemplo: Estava muito irritado, portanto, preferiu conversar mais tarde. § Explicativas – estabelecem uma relação de explicação sobre um fato que ainda não ocorreu no mundo. § Principais conjunções explicativas: que, porque, porquanto, pois (antes do verbo). Exemplo: Não fique irritado, porque a conversa pode tomar outros rumos. CoNjuNções subordiNAtivAs As conjunções subordinativas ligam duas orações, das quais uma é necessariamente dependente da outra, desem- penhando em relação a esta uma função sintática. São classificadas como: § Causais – introduzem a oração que é causa da ocorrência da oração principal. § Principais conjunções causais: porque, que, pois que, visto que, uma vez que, porquanto, já que, desde que, como (no início da frase). Exemplo: Ele não fez as compras porque não havia trazido a carteira. § Concessivas – introduzem a oração que expressa ideia contrária à da principal. § Principais conjunções concessivas: embora, ainda que, apesar de que, se bem que, mesmo que, por mais que, posto que, conquanto. Exemplo: Embora fosse arriscado, investimos em ações. 12 § Condicionais – introduzem uma oração que indica a hipótese ou a condição para ocorrência da principal. § Principais conjunções condicionais: se, caso, contanto que, salvo se, a não ser que, desde que, a menos que, sem que. Exemplo: Caso precise de algum empréstimo, procure um banco. § Conformativas – introduzem uma oração que exprime a conformidade de um fato com outro. § Principais conjunções conformativas: conforme, como (conforme), segundo, consoante. Exemplo: As coisas nem sempre ocorrem como queremos. § Finais – introduzem uma oração que expressa a finalidade ou o objetivo com que se realiza a principal. § Principais conjunções finais: para que, a fim de que, que, porque (para que), que. Exemplo: Mande o e-mail para que todos compareçam no horário correto. § Proporcionais – introduzem uma oração que expressa um fato relacionado proporcionalmente à ocorrên- cia da principal. § Principais conjunções proporcionais: à medida que, à proporção que, ao passo que – e as combina- ções: quanto mais... (mais), quanto menos... (menos), quanto menos... (mais), quanto menos... (menos). Exemplo: Os problemas saem do controle à medida que não são resolvidos. § Temporais – introduzem orações que acrescentam uma circunstância de tempo ao fato expresso na oração principal. § Principais conjunções temporais: quando, enquanto, antes que, depois que, logo que, todas as vezes que, desde que, sempre que, assim que, agora que, mal (assim que) Exemplo: Ele nos atendeu assim que começamos a reclamar. § Comparativas – introduzem orações que expressam ideia de comparação em relação à oração principal. § Principais conjunções comparativas: como, assim como, tal como, como se, (tão)... como, tanto como, tanto quanto, do que, quanto, tal, qual, tal qual, que nem,que (combinado com menos ou mais). Exemplo: A seleção fez mais gols hoje que no jogo anterior. § Consecutivas – introduzem orações que expressam consequência em relação à principal. § Principais conjunções consecutivas: de sorte que, de modo que, sem que (que não), de forma que, de jeito que, que (cujo antecedente na oração principal seja tal, tão, cada, tanto, tamanho). Exemplo: Dormiu tanto que ficou com dores no pescoço. CoNjuNções iNtegrANtes As conjunções integrantes introduzem as orações subordinadas substantivas. Ocorrem com os termos “que” e “se”. Exemplos: Espero que você volte (espero sua volta). Não sei se ele voltará (não sei da sua volta). Dica Para confirmar se uma conjunção é do tipo integrante, deve-se substituir os termos “que” ou “se”, e o restante da oração que os acompanha, pelo pronome “isso”. Exemplo: É necessário que se mudem os pensamentos. isso 13 textos CientífiCos, téCniCos, publiCitários e o gênero jornAlístiCos textos CieNtífiCos Os textos científicos têm como principal objetivo colocar o público não especializado em contato com pesquisas científicas e tecnológicas. São predominantemente informativos, trazendo dados interessantes sobre alguma pes- quisa realizada pela comunidade científica. Em geral, são textos produzidos por especialistas em alguma área (ou com o apoio destes) e devem possuir uma linguagem mais acessível, menos técnica; para que estejam ao alcance do leitor. textos téCNiCos Os textos técnicos são aqueles utilizados não apenas como elemento informativo, mas principalmente como ele- mento instrucional (que ensina alguém a fazer algo a respeito de algum assunto). É um tipo de texto que muitos confundem com o texto de divulgação científica, uma vez que ambos são escritos por um especialista da área. Mas há uma diferença essencial: no texto técnico há a preferência por uma linguagem mais especializada (complexa), enquanto os textos de divulgação científica têm como objetivo apresentar para o grande público uma pesquisa científica/técnica em linguagem mais acessível. Essa diferença na abordagem se dá justamente por conta dos ob- jetivos finais desses textos: científico informa e divulga; técnico informa e ensina. textos PubliCitários O gênero publicitário Entende-se por gênero publicitário aquele que tem como objetivo principal fazer com que o interlocutor/ouvinte tome parte em alguma causa, seja comprar um produto ou aderir a uma ideia. São textos de cunho persuasivo, por isso estão completamente ligados à função apelativa/conativa da linguagem. Os textos publicitários estão fortemente inseridos na sociedade contemporânea, e por esse motivo estão presentes em muitos vestibulares. Ao lado do gênero jornalístico, é dos que apresenta maior número de questões registradas nos vestibulares. texto jorNAlístiCo Dos vários tipos de gêneros existentes, o jornalístico é um dos mais amplos, pois envolve características pertencentes a vários tipos de composição textual. Por esse motivo é também um dos gêneros mais trabalhados em provas de vesti- bulares e no Enem. O nosso objetivo nesta aula é conhecer os elementos que compõem o gênero jornalístico (notícia, entrevista, reportagem, editorial, entre outros) e discutir algumas marcas textuais que são recorrentes nos vestibulares. 14 A notícia A notícia é um dos elementos que compõem o gênero jornalístico. Está espalhada pelos mais diversos meios de comunicação (jornais, revistas, rádio, internet). Tecnicamente, podemos dizer que a notícia se caracteriza pelo puro registro de fatos, sem que haja a emissão de opinião da pessoa que a escreve. O objetivo básico de uma notícia é transmitir informações a um leitor de maneira objetiva e precisa. A partir dessa definição, podemos inferir que a notícia trabalha pelos mesmos termos da função referencial da linguagem (buscar informações de um referente no mundo, e transmiti-las objetivamente). Reportagem A reportagem também é um tipo de gênero jornalístico que costuma apresentar textos mais longos e bastante detalhados. A reportagem costuma retratar a observação direta de um repórter sobre acontecimentos e situações específicas. Vejamos a definição de reportagem dada pelo Manual da redação da Folha de S.Paulo: Reportagens têm por objetivo transmitir ao leitor, de maneira ágil, informações novas, objetivas (que possam ser constatadas por terceiros) e precisas sobre fatos, personagens, ideias e produtos relevantes. Para tanto, elas se valem de ganchos oriundos da realidade, acrescidos de uma hipótese de trabalho e de investigação jornalística. Manual da redação, Folha de São Paulo. 7ª edição. São Paulo: Publifolha, 2001. Pg. 24. A partir daí podemos constituir um movimento de comparação entre a reportagem e a notícia, vista ante- riormente: enquanto a notícia preza pela total objetividade (referencialidade), a reportagem permite subjetivações mais variadas, de acordo com o tema da reportagem. Em termos mais claros, dependendo do que está sendo abordado na reportagem, a pessoa que a escreve pode imprimir características mais pessoais. É claro que, em reportagens de cunho político, por exemplo, espera-se que a escrita seja mais objetiva, para que não se pense que o repórter escreve sem a imparcialidade que o assunto pede. Artigo de opinião e editorial Os artigos de opinião e editoriais também são parte do gênero jornalístico e têm como característica serem textos que articulam notícias a partir de elementos argumentativos. Existem algumas pequenas diferenças entre os dois estilos de texto. O artigo expressa um ponto de vista da pessoa que o assina, e geralmente aborda questões sociais, políticas e culturais. Sua condução é feita com elementos argumentativos que tentam persuadir o leitor da opinião que está sendo apresentada. Já o editorial manifesta a opinião não de um indivíduo, mas de um órgão de imprensa como um todo, por esse motivo não é assinado por um particular (não expressa ponto de vista particular). Costumam abordar temas de grande projeção nacional ou internacional, também sobre temas sociais, políticos ou culturais. Embora sua condução também apresente elementos argumentativos de persuasão, o editorial costuma ser mais equilibrado e informativo do que o artigo de opinião. 15 textos em verso, em prosA e CrôniCAs textos em verso Muitos vestibulares, atualmente, fazem uso dos gêneros literários para construir questões de interpretação de textos. Ou seja, as questões não abordam necessariamente um conhecimento profundo sobre a obra (seu enredo), mas exigem do candidato um trabalho mais acurado com as questões estruturais e também com a compreensão do conteúdo de algum poema ou trecho de livro. Nessa primeira aula, daremos ênfase às características dos textos em verso (os poemas). O poema O poema é um gênero textual de cunho bastante subjetivo, que se constrói não apenas com ideias ou sentimentos, mas que articula combinações de palavras que, na maioria dos casos, constituem sentidos variados. Essas combi- nações de palavras costumam ser distribuídas em um “corpo” bastante complexo, dotado de vários elementos que conheceremos mais adiante, como o verso, a estrofe (elementos estruturais), a rima, o ritmo (elementos sonoros), entre outros. O jogo de palavras realizado nos poemas (de fortes marcas denotativas) muitas vezes imprime difi- culdades de interpretação. textos em ProsA Denominamos prosa um texto construído prioritariamente com parágrafos (se escrito em versos, teremos um texto poético), que apresenta maior extensão que um poema, por exemplo. § Romance: entende-se por romance uma composição textual longa, em prosa, que desenvolve algum tipo de enredo, linear ou fragmentado, que costuma apresentar volume significativo de informações ao leitor. Não há regras pré-determinadas para a composição das partes de um romance, mas o final, por exemplo, costuma ser uma espécie de enfraquecimento dos vários elementosque foram sendo “amarrados” na his- tória. No romance não costuma haver clímax ao final da narrativa. Na prosa brasileira são conhecidas como romances obras como Memórias póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro, Vidas secas, Capitães da areia, Iracema, Til. Ou seja, textos narrativos de maior extensão, com enredo variado, que apresentam algum tipo de “amarração” em sua estrutura. § Novela: entende-se por novela uma composição textual em prosa de menor extensão do que o romance, mas costumeiramente maior que um conto. Em relação ao romance, podemos dizer que a novela apresenta maior economia de recursos narrativos. Já em comparação ao conto, pode-se dizer que a novela possui um maior desenvolvimento tanto de enredo, quanto de personagens. Dessa maneira, podemos concluir que a novela seria uma forma intermediária entre o conto e o romance. Em geral, trata-se de uma narrativa em que as ações giram em torno de um único personagem (o romance costuma apresentar maior número de tramas e linhas narrativas). Não é um gênero muito praticado entre os prosadores brasileiros, embora tenha- mos, mais contemporaneamente, grandes obras nesse estilo, como A hora da estrela, de Clarice Lispector; Um copo de cólera, de Raduan Nassar; ou O invasor, de Marçal Aquino. Na Europa, esse gênero deu origem a grandes clássicos, como A metamorfose, de Kafka; Morte em Veneza, de Thomas Mann; e A morte de Ivan Ilitch, de Tolstói. 16 § Conto: entende-se por conto uma composição textual em prosa mais curta que a novela ou o romance. Por possuir um espaço de desenvolvimento menor, o conto costuma apresentar uma estrutura bastante fechada, em que o enredo se desenvolve com maior velocidade, sem desdobramento de conflitos secundários (como habitualmente acontece com o romance). Caracteriza-se por deixar várias questões a cargo da interpretação do leitor, e também por possuir um clímax mais próximo de seu fim. Trata-se de um gênero muito trabalhado por prosadores brasileiros, pois seus processos de ficcionalidade costumam alcançar tanto elementos mais “materiais”, quanto elementos mais fantasiosos (os contos fantásticos, por exemplo). Há autores que de- senvolveram a totalidade de suas obras em contos, como é o caso do escritor Murilo Rubião. Outros grandes contistas brasileiros são Machado de Assis, Mário de Andrade, Clarice Lispector e Guimarães Rosa. § Drama: entende-se por drama uma composição textual em prosa que realiza uma figuração/representação de ações ou histórias. Habitualmente, são textos para serem encenados em peças (no teatro). Sua estrutura pode ser dividida em capítulos denominados “atos” (1º ato, 2º ato etc.), e apresenta dimensões variadas, que levam em conta o tempo de apresentação da obra ao público. Muito se discute a respeito das diferenças que podem existir entre o texto dramático escrito e aquilo que é representado em um palco. A ideia geral seria que se seguisse o mais fielmente possível o texto que foi produzido pelo autor, no entanto, os diretores de peças têm a liberdade de realizar modificações variadas no enredo ou nas composições cenográficas. Não é dos gêneros mais trabalhados pelos prosadores brasileiros, embora existam produções de grande qualidade que se tornaram famosas por virarem filmes. É o caso das peças Lisbela e o prisioneiro, de Osman Lins, O auto da compadecida, de Ariano Suassuna, ou Eles não usam black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri. CrôNiCAs A crônica é um gênero que transita entre a literatura e o jornalismo. É conduzido a partir da observação subjetiva de fatos cotidianos que são relatados ao leitor. Há, por parte do cronista, um desejo de oferecer não apenas um relato de um acontecimento, mas uma reflexão/interpretação sobre o ocorrido. Nesse sentido, a crônica acaba por revelar ao leitor elementos que estão por trás das aparências ou que não são percebidos pelo senso comum. Trata- -se de um gênero marcadamente opinativo, em que a subjetividade do escritor vem à tona. termos essenCiAis dA orAção: sujeito e prediCAdo Sujeito é o termo que concorda, em número e pessoa, com o verbo da oração. Em grande número de casos, o sujeito da oração é também o agente da ação expressa pelo verbo, mas essa não deve ser a base de definição conceitual, uma vez que há orações para as quais não se pode atribuir ao sujeito essa função de agente. Exemplos: Ele viajou para o interior de São Paulo. (viajou está no singular para concordar com ele. O conteúdo do verbo expressa uma ação.) Eles viajaram para o interior de São Paulo. (viajaram está no plural para concordar com eles. O conteúdo do verbo expressa uma ação.) Ele está no interior de São Paulo. (está está no singular para concordar com ele; no entanto, o conteúdo do verbo não expressa uma ação.) Eles vivem no interior de São Paulo. (vivem está no plural para concordar com eles; no entanto, o conteúdo do verbo não expressa uma ação.) 17 Observação: as gramáticas normativas determinam o sujeito e o predicado como termos essenciais; no entanto, deve-se observar que o termo constante em toda oração é o verbo. Exemplos: Choveu o dia todo. (verbo que indica um fenômeno natural.) Chorou. (verbo que indica uma ação e permite a possível identificação do sujeito através da desinência.) Classificação do sujeito O sujeito das orações pode ser determinado ou indeterminado. 1. Sujeito determinado é aquele que pode ser identificado com precisão a partir da concordância verbal. Ele pode ser: a) Simples, se apresentar apenas um núcleo (a palavra principal do sujeito, que encerra essencialmente a significação) ligado diretamente ao verbo, estabelecendo uma relação de concordância com ele. Exemplo: As pessoas saíram pelas ruas em protesto. Observação: O sujeito é simples, se o verbo da oração referir-se a apenas um elemento, seja ele um substantivo (singular ou plural), um pronome ou um numeral. Não confundir sujeito simples com a noção de singular. Exemplos: O segundo andar possui sala de reunião. Todos correram em direção ao ônibus. b) Composto, se apresentar dois ou mais núcleos ligados diretamente ao verbo, estabelecendo uma rela- ção de concordância com ele. Exemplo: Brigadeiro e caipirinha são especialidades tipicamente brasileiras. c) Oculto (elíptico ou desinencial): O sujeito oculto ocorre quando o sujeito não está expresso na oração, mas é possível identificá-lo por meio da terminação do verbo. Exemplos: Resolvi meus os problemas com o fisco. – Sujeito oculto: (eu resolvi) Estávamos cansados do trabalho. – Sujeito oculto: (nós estávamos) 2. Sujeito indeterminado: é aquele que, embora existindo, não é possível determiná-lo nem pelo contexto, nem pela terminação do verbo. Há três maneiras diferentes de indeterminar o sujeito de uma oração: a) com verbo na terceira pessoa do plural, sem que ele se refira a nenhum termo identificado ante- riormente (nem em outra oração). Exemplos: Proibiram a entrada de menores. Estão transferindo as crianças de lugar. b) com verbo na voz ativa e na terceira pessoa do singular seguido do pronome se, pronome esse que atua como índice de indeterminação do sujeito. Essa construção ocorre com verbos que não apresentam complemento direto (verbos intransitivos, transitivos indiretos e de ligação). O verbo obrigatoriamente fica na terceira pessoa do singular. Exemplos: Vive-se melhor após o avanço da tecnologia. (verbo intransitivo) Precisa-se de vendedores com prática. (verbo transitivo indireto) No dia da prova, sempre se fica nervoso. (verbo de ligação) 18 c) com o verbo no infinitivo impessoal: Exemplos: Era penoso estudar Direito e Economia, simultaneamente. É bom assistir a filmes antigos. 3. Orações sem sujeito são formadas apenas pelo predicado e articulam-se a partir de um verbo impessoal. Por isso se diz que o sujeito é inexistente. Observe a estrutura destas orações. Exemplos: Havia borboletas no jardim. Nevou muito este ano em Santa Catarina.ATENÇÃO! Os verbos impessoais devem ser usados sempre na terceira pessoa do singular. Cuidado com os verbos fazer e haver usados impessoalmente: não se deve empregá-los no plural. Exemplos: Faz muitos anos que nos conhecemos. Deve fazer dias quentes na Bahia. Há muitas pessoas interessadas na vaga. Houve muitas pessoas interessadas na vaga. Observação: O verbo existir é pessoal, portanto, admite sujeito que concorda com ele. PrediCAdo É o termo da oração que faz uma afirmação sobre o sujeito; diz-se, portanto, que se trata de uma predicação sobre o sujeito. No caso das orações sem sujeito, a predicação é genérica. Tudo o que constitui as orações, à exceção do sujeito e do vocativo, faz parte do predicado. Os predicados devem conter necessariamente um verbo, mas o núcleo do predicado (termo que detém o sentido propriamente) pode ser um verbo, um nome ou a junção dos dois. Tipos de predicado A partir de estruturas que se assemelham às dos exemplos anteriores, podem-se classificar os predicados em três categorias: 1. Predicado verbal tem, como núcleo, uma forma verbal. a) A estudante gosta de viajar nas férias. Predicado: gosta de viajar nas férias Núcleo: gosta b) Todo domingo à tarde ele vai ao cinema. Predicado: vai ao cinema Núcleo: vai 2. Predicado nominal tem, como núcleo, uma forma nominal (adjetivo ou locução adjetiva). Os verbos que ocorrem nos predicados nominais são sempre de ligação. Importante: Os termos que constituem o núcleo dos predicados nominais denominam-se predica- tivos do sujeito. Exemplo: O filme foi emocionante. Predicado: foi emocionante Núcleo: emocionante (adjetivo que dá informação sobre o substantivo sujeito. Sintaticamente, esse adjeti- vo recebe a função de predicativo do sujeito). 19 Exemplo: Ficaram animados com a programação para o final de semana. Predicado: ficaram animados com a programação para o final de semana. Núcleo: animados (adjetivo que dá informação sobre o sujeito oculto. Sintaticamente, este adjetivo recebe a função de predicativo do sujeito). 3. Predicado verbo-nominal tem dois núcleos: um núcleo constituído de uma forma verbal e um núcleo constituído de uma forma nominal. Exemplo: Os alunos chegaram cansados. Predicado: chegaram cansados Núcleo verbal: chegaram Núcleo nominal: cansados Predicativo do sujeito e predicativo do objeto É importante sistematizar a definição de predicativo, função sintática relacionada à ocorrência, nas orações, de predicados nominais ou verbo-nominais. Denomina-se predicativo a palavra ou locução de natureza nominal que constitui o núcleo de um predicado nominal ou o núcleo de um predicado verbo-nominal. O predicativo pode se referir ao sujeito da oração – predicativo do sujeito –, no caso dos predicados nominais, ou ao objeto da oração – predicativo do objeto –, no caso dos predicados verbo-nominais. Exemplos: Ana saiu enfurecida. Predicado: saiu enfurecida. Núcleo: enfurecida (predicativo do sujeito) Eles julgaram o criminoso culpado. Predicado: julgaram o criminoso culpado Núcleo verbal: julgaram. Núcleo nominal: culpado (predicativo do objeto). termos integrAntes e termos ACessórios termos iNtegrANtes dA orAção 1. Complementos verbais completam o sentido de verbos transitivos diretos e transitivos indiretos. § Objeto direto é o termo que completa o sentido do verbo transitivo direto, ligando-se a ele sem o auxílio da preposição. Exemplo: Os professores fizeram as resoluções dos exercícios. O objeto direto pode ser constituído: a) por um substantivo ou expressão substantivada. Exemplos: O agricultor cultiva a terra. Unimos o útil ao agradável. 20 b) pelos pronomes oblíquos o, a, os, as, me, te, se, nos, vos. Exemplos: Espero-o na minha formatura. Ela me ama. Observação: Os pronomes oblíquos empregados no interior de um mesmo enunciado têm a função de objeto direto pleonástico. Aqueles livros (objeto direto) na estante, eu os (objeto direto pleonástico do mesmo verbo) comprei na loja nova do shopping. § Objeto indireto é o termo que completa o sentido de um verbo transitivo indireto. Vincula-se indiretamen- te aos verbos mediante uma preposição. Exemplo: Gostava de Matemática e Física. 2. Complemento nominal – nomes (substantivos e adjetivos) e alguns advérbios, da mesma forma que os verbos, podem exigir um complemento para integrar seu sentido. Tais complementos de nomes são chama- dos complementos nominais e vêm sempre antecedidos por preposição. § Substantivo complemento nominal Exemplo: Ela tem orgulho da filha. § Adjetivo complemento nominal Exemplo: Ana estava consciente de sua escolha. § Advérbio complemento nominal Exemplo: O juiz decidiu favoravelmente ao acusado. Observação: O complemento nominal representa o recebedor, o paciente, o alvo da declaração expressa por um nome. É regido pelas mesmas preposições do objeto indireto. Difere dele apenas porque, em vez de complementar verbos complementa nomes (substantivos, adjetivos) e alguns advérbios terminados em -mente. Os complementos nominais mantêm com os nomes o mesmo tipo de relação que os objetos mantêm com os verbos transitivos. Eles são necessários para complementar o sentido dos nomes. 3. Agente da passiva é o termo da frase que pratica a ação expressa pelo verbo na voz passiva analítica (construída com o verbo ser). Vem regido comumente da preposição por e eventualmente da preposição de. Exemplo: A vencedora foi escolhida pelos jurados. sujeito paciente voz passiva verbo Agente da passiva Ao passar a frase da voz passiva para a voz ativa, o agente da passiva recebe o nome de sujeito: Exemplo: Os jurados escolheram a vencedora. sujeito verbo objeto direto voz ativa Exemplo: A empresa foi comprada pela concorrente. sujeito paciente verbo Agente da passiva voz passiva O concorrente comprou a empresa. sujeito verbo objeto direto voz ativa 21 termos ACessórios dA orAção Existem termos que, apesar de dispensáveis na estrutura básica da oração, são importantes para a compreensão do enunciado. Ao acrescentarem informações novas, esses termos: § caracterizam o ser; § determinam os substantivos; e § exprimem circunstância. São termos acessórios da oração: § o adjunto adverbial § o adjunto adnominal § o aposto § o vocativo Adjunto adverbial Como o próprio nome indica, trata-se de advérbio ou locução adverbial associados a verbos, adjetivos ou a outro advérbio, acrescentando circunstâncias específicas (no caso de verbos) ou intensificando seu sentido no contexto. Exemplos: Eles lutaram muito por seus direitos. Ele é muito inteligente. Falou-se muito mal daquele filme. Nessas três orações, o termo “muito” é adjunto adverbial de intensidade. No primeiro caso, muito intensifica a forma verbal lutaram, que é núcleo do predicado verbal. No segundo, muito intensifica o adjetivo inteligente, que é o núcleo do predicativo do sujeito. Na terceira oração, muito intensifica o advérbio mal, que é o núcleo do adjunto adverbial de modo. Exemplos: Amanhã, vou de bicicleta ao trabalho. Os termos em destaque estão indicando as seguintes circunstâncias: § amanhã indica tempo § de bicicleta indica meio § ao trabalho indica lugar Classificação do adjunto adverbial Há algumas circunstâncias que o adjunto adverbial pode expressar: § Acréscimo: Além de conhecimentos em Matemática, eram necessários também conhecimentos em Química. § Afirmação: Ele viajará com certeza. § Assunto: Falávamos sobre cotas. (ou de cotas, ou a respeito de cotas). § Causa: Com a falta de chuvas, a seca propagou-se. § Companhia: Foi ao cinema com a namorada. § Concessão: Apesar da dificuldade do exercício, conseguiu resolvê-lo. § Condição: Sem autorização, a criança não poderá embarcar. § Conformidade: Seguem os relatórios, conforme o combinado (ou segundo o combinado). § Dúvida: Talvez seja melhor sair mais cedo. § Fim,finalidade: Viajei a trabalho. 22 § Frequência: Sempre ocupava o mesmo lugar à mesa. § Instrumento: A redação deve ser feita à caneta. § Intensidade: A aluna estudava bastante. § Lugar: Estou em casa. § Matéria: A cadeira é feita de aço. § Meio: Atravessou a cidade de ônibus. § Modo: Fique à vontade para fazer seus comentários. § Negação: Não se deve esquecer o horário da consulta. § Tempo: O expediente é das 8h às 17h. Adjunto adnominal É o termo que determina, especifica ou explica um substantivo. O adjunto adnominal tem função adjetiva na oração, a qual pode ser desempenhada por adjetivos, locuções adjetivas, artigos, pronomes adjetivos e numerais adjetivos. Exemplo: O médico prescreveu dois remédios ao paciente. Sujeito objeto direto objeto indireto Nessa oração, os substantivos médico, remédio e paciente são núcleos, respectivamente, do sujeito deter- minado simples, do objeto direto e do objeto indireto. Ao redor de cada um desses substantivos, agrupam-se os adjuntos adnominais: O artigo o refere-se a médico; O numeral dois refere-se ao substantivo remédios; O artigo o (em ao), refere-se a paciente. Os adjuntos adnominais costumam ser expressos por: § Adjetivos: crianças tagarelas, políticos corruptos; § Locuções adjetivas: anéis de ouro, livro de histórias; § Artigos definidos e indefinidos: o papel, os papéis, um papel, uns papéis; § Pronomes possessivos: meu carro; § Pronomes demonstrativos: este carro; § Pronomes indefinidos: algum carro; § Pronomes Interrogativos: qual chave?; § Pronomes relativos: na biblioteca cujos livros estão em mau estado; § Numerais adjetivos: trezentos e cinquenta soldados. Distinção entre adjunto adnominal e complemento nominal É comum confundir o adjunto adnominal, na forma de locução adjetiva, com o complemento nominal. Para evitar que isso ocorra, considere o seguinte: a) Somente os substantivos podem ser acompanhados de adjuntos adnominais; os complementos nomi- nais podem ligar-se a substantivos, adjetivos e advérbios. O termo ligado por preposição a um adjetivo ou a um advérbio só pode ser complemento nominal. Se não houver preposição ligando os termos, será um adjunto adnominal. b) O complemento nominal equivale a um complemento verbal, ou seja, mantém relação exclusivamente com os substantivos cujos significados transitam. Portanto, seu valor é passivo, é sobre ele que recai a ação. O adjunto adnominal tem sempre valor ativo. Exemplo: Ana tem muito amor à mãe. 23 A expressão à mãe classifica-se como complemento nominal, uma vez que mãe é paciente de amar, recebe a ação de amar. Exemplo: Ana é um amor de mãe. A expressão de mãe é adjunto adnominal, uma vez que mãe é agente de amar, pratica a ação de amar. Aposto É um termo que, acrescentado a outro termo da oração, tem a função de ampliar, resumir, explicar ou desenvolver mais o conteúdo do termo ao qual se refere. Exemplo: Ontem, domingo, passaram o dia no parque. Domingo é aposto do adjunto adverbial de tempo "ontem". Diz-se que o aposto é sintaticamente equiva- lente ao termo a que se relaciona porque pode substituí-lo: Exemplo: Domingo passaram o dia no parque. Verifica-se, portanto, que, se "ontem" for eliminado, o substantivo "domingo" assume a função de adjunto adverbial de tempo. Exemplo: Gosto de todos os tipos de música: rock, blues, chorinho, samba etc. objeto indireto aposto do objeto indireto Se for retirado o objeto da oração, seu aposto passa a exercer essa função: Exemplo: Gosto de rock, blues, chorinho, samba, etc. objeto indireto Observação: O aposto tem a mesma função sintática do termo ao qual se relaciona. Classificação do aposto De acordo com a relação que estabelece com o termo a que se refere, o aposto pode ser classificado em: a) explicativo: A Linguística, ciência da linguagem, fornece subsídios importantes para o conhecimen- to da língua materna. b) enumerativo: A vida se compõe de muitas coisas: amor, trabalho e dinheiro. c) resumidor ou recapitulativo: Vida digna, cidadania plena, igualdade de oportunidades, tudo isso está na base de um país melhor. d) comparativo: Drummond e Guimarães Rosa são dois grandes escritores, aquele na poesia e este na prosa. Além desses, há o aposto especificativo, que difere dos demais porque não é marcado por sinais de pontua- ção (vírgula ou dois-pontos). O aposto especificativo individualiza um substantivo de sentido genérico, prendendo- -se a ele diretamente ou por meio de uma preposição, sem que haja pausa na entonação da frase. Exemplos: O poeta Carlos Dummond de Andrade criou obra de expressão simples. A rua Augusta é um dos pontos turísticos de São Paulo. 24 Vocativo É um termo que não tem relação sintática com outro termo da oração. Não pertence, portanto, nem ao sujeito nem ao predicado. É o termo que serve para chamar, invocar ou interpelar um ouvinte real ou hipotético. Em razão de seu caráter, geralmente se relaciona à segunda pessoa do discurso. Exemplo: Não se esqueça de marcar todas as respostas no gabarito, pessoal! vocativo Exemplo: A vida, minha filha, é feita de escolhas. vocativo Nessas orações, os termos destacados são vocativos: indicam e nomeiam o interlocutor a quem se está dirigindo a palavra. Observações: o vocativo pode vir antecedido por interjeições de apelo, tais como ó, olá, eh! etc. Ó mar salgado! Quanto do teu sal são lágrimas de Portugal. Olá prezado cliente! Entramos em contato para apresentar novos produtos. Distinção entre vocativo e aposto O vocativo não mantém relação sintática com outro termo da oração. Exemplo: Pessoal, vamos estudar mais. Vocativo O aposto mantém relação sintática com outro termo da oração. Exemplo: A vida de Marylin Monroe, artista hollywoodiana, foi muito conturbada. sujeito aposto leiturA de imAgens QuAdriNho e tiriNhAs As histórias em quadrinhos são um conjunto narrativo (entendido como uma forma de arte sequencial gráfica) que mescla linguagem verbal (texto) e linguagem não verbal (imagem). É um gênero bastante popular entre crianças e adolescentes, e tem se tornado cada vez mais popular também entre os adultos, especialmente pela capacidade que as histórias possuem de representar uma quantidade significativa de situações sociais. As histórias em quadrinhos são, em geral, publicadas no formato de revistas, livros ou em tiras veiculadas em revistas e jornais. Aliás, tendo em vista as dimensões do vestibular (elaborado com provas que não possuem grande espaço), o tipo mais comum de quadrinho que encontramos são as “tiras”. As tiras São entendidas como tiras os segmentos de história em quadrinhos publicados em jornais ou revistas num curto espaço de página, habitualmente na horizontal (atualmente, há também formatos verticais ou com duas ou mais tiras). É um gênero textual que surgiu nos Estados Unidos para dar conta da falta de espaço que havia nos jornais para a publicação de cruzadas e outros passatempos. O nome "tira” (ou “tirinha", como a conhecemos no Brasil) remete ao formato do texto, que parece um "recorte" horizontal de jornal. 25 Trata-se de um gênero textual que mais comumente apresenta temática humorística, mas também encon- traremos (especialmente no vestibular) tirinhas de cunho social ou político, satíricas ou metafísicas (que propõem reflexões existenciais). Vejamos alguns exemplos: (Tirinha de humor – “Níquel Náusea” de Fernando Gonsales) Mais recentemente, as tiras (e os quadrinhos como um todo) têm sido objeto de inúmeras pesquisas sobre comunicação em cursos de graduação e pós-graduação. Encontram-se com facilidade artigos e outras publicações destinados aos estudos deste gênero. Por esse motivo, os quadrinhos tem sido muito explorados no vestibular. ChArges e CArtuNs Charges e cartuns são elementos comunicativos que se assemelhamaos quadrinhos por trabalharem com os cam- pos de comunicação verbal (texto) e não verbal (imagem), mas, ao mesmo tempo, se diferenciam por não consti- tuírem um processo narrativo. Tanto a charge, quanto o cartum, focalizam situações de comunicação específicas, geralmente focalizadas em um único quadro. A charge Charge é um termo de origem francesa que significa “carga”. Recebe esse nome por conta da “carga” satírica que sua informação comporta. A função da charge é relatar costumes humanos, satirizando situações que são parte de um contexto cultural, político, econômico e social bastante específico. Por essa razão, para que consigamos entender a charge, é necessário que conheçamos os “alvos” que elas procuram atingir; em geral, pessoas ligadas à vida pública, como políticos, artistas, atletas, entre outros. O fato de a charge tratar de contextos muito específicos faz com que ela possua um caráter mais perecível, pois, fora de seu contexto de origem, ela provavelmente perderá parte de força comunicativa; no entanto, por conta mesmo da relação contextual, funciona como um valoroso elemento de registro histórico. Trata-se, portanto, de um gênero que, trabalhando com as linguagens verbal e não verbal, precisa estar em consonância com os conhecimentos de mundo do interlocutor, uma vez que o entendimento da mensagem só será efetivado se houver compreensão de contextos determinados. (Charge de Laerte Coutinho cuja compreensão depende de conhecimento histórico sobre os processos de colonização em território brasileiro.) 26 O cartum O cartum é conhecido por ser uma espécie de anedota gráfica, que, assim como a charge, mescla linguagem verbal e não verbal para atingir seus objetivos. A diferença crucial entre a charge e o cartum reside no fato de que sua finalidade discursiva é a de satirizar costumes humanos, valendo-se de personagens que representam pessoas comuns, sem que haja a preocupação com um contexto específico, atual ou momentâneo. Em relação à charge, pode-se dizer que o cartum tem um caráter mais universal, pois aborda situações atemporais, que seriam reconhecidas por qualquer pessoa, independentemente do contexto abordado. Trata-se, portanto, de um gênero que, trabalhando com as linguagens verbal e não verbal, não depende de conhecimento de mundo mais específico, pois aborda situações mais amplas. Vejamos alguns exemplos: (Novamente um trabalho de Laerte. É possível notar que o tema do cartum tem caráter mais universal. Neste caso, percebemos um processo de prole- tarização por conta da redução contínua de salários, algo que pode acontecer em qualquer lugar do mundo, a qualquer tempo.) imAgeNs Podemos entender por imagem qualquer tentativa de representação, reprodução ou imitação da forma de uma pessoa ou de um objeto, cujo objetivo é comunicar algo a partir de alguma intencionalidade. É um processo que pode ser prioritariamente visual, ou pode também mesclar linguagem verbal e não verbal. O conceito de imagem abarca todo e qualquer objeto que possa ser percebido, tanto visualmente, quanto esteticamente. Historicamente, tivemos duas fortes teorias filosóficas que tentaram dar conta da “ideia” de imagem. A primeira foi concebida por Platão, que considerava a imagem, como sendo uma projeção que aparecia em nossa mente. Mais adiante, Aristóteles considerou a imagem como sendo um movimento de aquisição pelos sentidos, a representação mental de um objeto real. Embora seja uma controvérsia bastante antiga, ela dura até os dias de hoje, com acepções positivas, pois contribui para um entendimento mais amplo e preciso de um conceito que envolve domínios ligados à arte, ao registro fotográfico, à pintura, ao desenho, à gravura ou qualquer outra forma visual de expressão da ideia (propagandas, placas, infográficos, entre outros elementos). No momento contemporâneo, há um grande volume de imagens circulando em nossa sociedade, que che- gam até nossos olhos por meio de diversos estímulos visuais: anúncios publicitários, cartazes, ou qualquer outro material impresso; os memes de internet, transmissões televisivas, obras artísticas, imagens arquitetônicas, e até mesmo representações sagradas. Linguagem visual e seus processos de análise Realizar a análise de um estímulo visual requer bastante atenção ao seu conjunto. Se na análise discursiva preci- samos estar atentos a outros fatores para além do texto, como quem é o autor, o gênero selecionado, a data da publicação ou o período em que um trabalho foi realizado; para a análise visual devemos, também, considerar tudo que compõe a imagem: se o tipo de traço remete a algum período, se é colorida ou em preto e branco, se sua composição é simples ou mais complexa, suas marcas de autoria, entre outros fatores. 27 u.t.i. - sAlA TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO O DISCURSO Natividade é que não teve distrações de espécie alguma. Toda ela estava nos filhos, e agora espe- cialmente na carta e no discurso. Começou por não dar resposta às 1efusões políticas de Paulo; foi um dos conselhos do conselheiro. Quando o filho tornou pelas férias tinha esquecido a carta que escrevera. O discurso é que ele não esqueceu, mas quem é que esquece os discursos que faz? Se são bons, a memória os grava em bronze; se ruins, deixam tal ou qual amargor que dura muito. 2O melhor dos remédios, no segundo caso, é supô-los excelentes, e, se a razão não aceita esta imaginação, consul- tar pessoas que a aceitem, e crer nelas. A opinião é um velho óleo incorruptível. Paulo tinha talento. O discurso naquele dia podia pecar aqui ou ali por alguma ênfase, e uma ou outra ideia vulgar e exausta. Tinha talento Paulo. Em suma, o discurso era bom. Santos achou-o excelente, leu-o aos amigos e resolveu transcrevê-lo nos jornais. 3Natividade não se opôs, mas en- tendia que algumas palavras deviam ser cortadas. – Cortadas, por quê? perguntou Santos, e ficou esperando a resposta. – Pois você não vê, Agostinho; estas palavras têm sentido republicano, explicou ela relendo a frase que a afligira. Santos ouvia-as ler, leu-as para si, e não deixou de lhe achar razão. Entretanto, não havia de as suprimir. – Pois não se transcreve o discurso. – Ah! isso não! O discurso é magnífico, e não há de morrer em S. Paulo; é preciso que a Corte o leia, e as províncias também, e até não se me daria fazê-lo traduzir em francês. Em francês, pode ser que fique ainda melhor. – Mas, Agostinho, isto pode fazer mal à carreira do rapaz; o imperador pode ser que não goste... Pedro, que assistia desde alguns instantes ao debate, interveio docemente para dizer que os re- ceios da mãe não tinham base; era bom pôr a frase toda, e, a rigor, não diferia muito do que os liberais diziam em 1848. – Um monarquista liberal pode muito bem assinar esse trecho, concluiu ele depois de reler as palavras do irmão. – Justamente! 4assentiu o pai. 5Natividade, que em tudo via a inimizade dos gêmeos, suspeitou que o intuito de Pedro fosse justamente comprometer Paulo. Olhou para ele a ver se lhe descobria essa intenção torcida, mas a cara do filho tinha então o aspecto do entusiasmo. Pedro lia trechos do discurso, acentuando as belezas, repetindo as frases mais novas, cantando as mais redondas, revolvendo-as na boca, tudo com tão boa sombra que a mãe perdeu a suspeita, e a impressão do discurso foi resolvida. Também se tirou uma edição em folheto, e o pai mandou encadernar ricamente sete exemplares, que levou aos ministros, e um ainda mais rico para a Regente. MACHADO DE ASSIS Esaú e Jacó. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997. 1efusão − manifestação expansiva de sentimentos 4assentir − concordar 1. (UERJ 2017) Natividade, que em tudo via a inimizade dos gêmeos, suspeitou que o intuito de Pedro fosse justamente comprometer Paulo. Olhou para ele a ver se lhe descobria essa intenção torcida, mas a cara do filho tinha então o aspecto do entusiasmo. Pedro lia trechos do discurso, acentuando as belezas, repetindo as frases mais novas, cantando as mais redondas,revolvendo- -as na boca, tudo com tão boa sombra que a mãe perdeu a suspeita, e a impressão do discurso foi resolvida. (ref. 5) Nesse trecho, observa-se que Pedro, mesmo com posição política contrária à de Paulo, lê com en- tusiasmo o discurso do irmão, trocando de lugar com ele. Essa troca de papéis sugere uma crítica acerca da política daquela época. Explicite essa crítica. Aponte, ainda, a relação de sentido que a oração sublinhada estabelece com a anterior. 28 2. (Puc-RJ) VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Aqui eu não sou feliz Lá a existência é uma aventura De tal modo inconsequente Que Joana a Louca de Espanha Rainha e falsa demente Vem a ser contraparente Da nora que nunca tive E como farei ginástica Andarei de bicicleta Montarei em burro brabo Subirei no pau-de-sebo Tomarei banhos de mar! E quando estiver cansado Deito na beira do rio Mando chamar a mãe-d’água Pra me contar as histórias Que no tempo de eu menino Rosa vinha me contar Vou-me embora pra Pasárgada Em Pasárgada tem tudo É outra civilização Tem um processo seguro De impedir a concepção Tem telefone automático Tem alcaloide à vontade Tem prostitutas bonitas Para a gente namorar E quando eu estiver mais triste Mas triste de não ter jeito Quando de noite me der Vontade de me matar - Lá sou amigo do rei - Terei a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada. BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1973, pp.127-8. a) Um dos aspectos mais significativos da poesia é a criação de imaginários específicos. A partir dos seguintes versos (“Lá a existência é uma aventura/De tal modo inconsequente”), comente com suas próprias palavras o lugar que Pasárgada ocupa como espaço de ressignificação da existência do eu. b) Indique o gênero literário predominante no poema de Bandeira, justificando com aspectos que o ca- racterizam. 29 TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. A(s) próxima(s) questão(ões) focaliza(m) um excerto de um comentário de Fernando Pessoa (1888-1935) e um poema de Olegário Mariano (1889-1958). Nota preliminar 1 – Em todo o momento de atividade mental acontece em nós um duplo fenômeno de percepção: ao mesmo tempo que temos consciência dum estado de alma, temos diante de nós, impressionando- -nos os sentidos que estão virados para o exterior, uma paisagem qualquer, entendendo por paisa- gem, para conveniência de frases, tudo o que forma o mundo exterior num determinado momento da nossa percepção. 2 – Todo o estado de alma é uma paisagem. Isto é, todo o estado de alma é não só representável por uma paisagem, mas verdadeiramente uma paisagem. Há em nós um espaço interior onde a matéria da nossa vida física se agita. Assim uma tristeza é um lago morto dentro de nós, uma alegria um dia de sol no nosso espírito. E – mesmo que se não queira admitir que todo o estado de alma é uma paisagem – pode ao menos admitir-se que todo o estado de alma se pode representar por uma paisagem. Se eu disser “Há sol nos meus pensamentos”, ninguém compreenderá que os meus pensamentos estão tristes. 3 – Assim tendo nós, ao mesmo tempo, consciência do exterior e do nosso espírito, e sendo o nosso espírito uma paisagem, temos ao mesmo tempo consciência de duas paisagens. Ora essas paisa- gens fundem-se, interpenetram- se, de modo que o nosso estado de alma, seja ele qual for, sofre um pouco da paisagem que estamos vendo – num dia de sol uma alma triste não pode estar tão triste como num dia de chuva – e, também, a paisagem exterior sofre do nosso estado de alma – é de todos os tempos dizer-se, sobretudo em verso, coisas como que “na ausência da amada o sol não brilha”, e outras coisas assim. Obra poética, 1965. Paisagem holandesa Não me sais da memória. És tu, querida amiga, Uma imagem que eu vi numa 1aguarela antiga. Era na Holanda. Um fim de tarde. Um céu lavado. Frondes abrindo no ar um pálio recortado... Um moinho à beira d’água e imensa e desconforme A pincelada verde-azul de um barco enorme. A casaria além... Perto o cais refletindo Uma barra de sombra entre as águas bulindo... E, debruçada ao cais, olhando a tarde imensa, Uma rapariguinha olha as águas e pensa... É loira e triste. Nos seus olhos claros anda A mesma paz que envolve a paisagem da Holanda. Paira o silêncio... Uma ave passa, 2arminho e 3gaza, À flor d’água, acenando adeus com o lenço da asa... É a saudade de Alguém que anda extasiado, a esmo, Com a paisagem da Holanda escondida em si mesmo, Com aquela rapariga a sofrer e a cismar Num pôr de sol que dá vontade de chorar... Ai não ser eu um moinho isolado e tristonho Para viver como na paz de um grande sonho, A refletir a minha vida singular Na água dormente, na água azul do teu olhar... Toda uma vida de poesia, 1957. 1aguarela: aquarela. 2arminho: pele ou pelo do arminho; muito alvo, muito branco, alvura (sentido figurado). 3gaza: tecido fino, transparente, feito de seda ou algodão. 3. (Unesp) O terceiro verso do poema de Olegário Mariano apresenta doze sílabas métricas e é cons- tituído por três segmentos distintos. Transcreva esses três segmentos e, analisando-os um a um, como se fossem versos independentes, aponte o que há de comum e o que há de diferente entre eles, sob os pontos de vista do número de sílabas métricas e das posições dos acentos. 30 4. (Puc - RJ) Platão defendeu, no Banquete, em Fedra e em outros textos, a existência de um espírito místico ou furor enviado pelo céu, através do qual uns poucos eleitos se “inspiravam”: “As maiores bênçãos vêm por intermédio da loucura, aliás, da loucura que é enviada pelo céu.” Possuídas assim por visões transcendentais ou por conhecimentos transcendentais, 1essas pessoas desfrutavam de uma “loucura divina”, que as elevava acima dos mortais. A concepção freudiana do gênio era bastante diferente. Não era uma dádiva dos deuses, mas re- sultado dos processos do inconsciente; não vinha de cima, mas de dentro, das profundezas. [...] A “arte” e a habilidade artística, mais que a inspiração, eram consideradas a marca do artista ou do escritor, e as estruturas de patronagem do mundo das letras tradicional proviam fortes argumentos a favor da conformidade social, em vez de excentricidade do artista. 2Isso não quer dizer que a “imaginação” e o “gênio” visionário estivessem em baixa em terrenos críticos. Mas a teoria clássica, modificada pela psicologia empirista do Iluminismo, insistia que a imaginação não deveria ser obstinada, idiossincrática e visionária, mas residir na sólida formação dos sentidos e ser temperada pelo juízo. O verdadeiro gênio era um impulso orgânico saudável para a combinação das matérias-primas da mente. PORTER, Roy. Uma História Social da Loucura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990. p.81-82. a) A palavra que apresenta comportamentos distintos nos trechos em destaque. Estabeleça a diferença entre os dois empregos. i. “essas pessoas desfrutavam de uma “loucura divina”, que as elevava acima dos mortais” (ref. 1) ii. “Isso não quer dizer que a “imaginação” e o “gênio” visionário estivessem em baixa em terrenos críticos.” (ref. 2) b) Mantendo o mesmo sentido, reescreva a passagem em destaque, de acordo com o que é pedido: O Iluminismo endossou a fé na razão. Durante a segunda metade do século XVII, passou-se a criticar, condenar e massacrar qualquer coisa que fosse considerada irracional. § Use o verbo “efetuar” no lugar do verbo “passar”; § Substitua cada um dos verbos assinalados pela forma nominal correspondente no plural. § Faça outras modificações que julgar necessárias em função das alterações propostas. O Iluminismo endossou a fé na razão. Durante a segunda metade do século XVII, ________________ _________________________. 5. (Fuvest) Examine a seguinte matéria jornalística: Sem-teto usa topo de pontos de ônibus em SP como cama Às 9h desta segunda (17), ninguém dormia no ponto deônibus da rua Augusta com a Caio Prado. Nin- guém a não ser João Paulo Silva, 42, que chegava à oitava hora de sono em cima da parada de coletivos. “Eu sempre durmo em cima desses pontos novos. É gostoso. O teto tem um vidro e uma tela em- baixo, então não dá medo de que quebre. É só colocar um cobertor embaixo, pra ficar menos duro, e ninguém te incomoda”, disse Silva depois de acordar e descer da estrutura. No dia, entretanto, ele estava sem a coberta, “por causa do calor de matar”. Por não ter trabalho em local fixo (“Cato lata, ajudo numa empresa de carreto. Faço o que dá”), ele varia o local de pouso. “Às vezes é aqui no centro, já dormi em Pinheiros e até em Santana. Mas é sempre nos pontos, porque eu não vou dormir na rua”. www1.folha.uol.com.br, 19/03/2014. Adaptado. a) Qual é o efeito de sentido produzido pela associação dos elementos visuais e verbais presentes na imagem acima? Explique. b) O vocábulo “pra”, presente nas declarações atribuídas a João Paulo Silva, é próprio da língua falada corrente e informal. Cite mais dois exemplos de elementos linguísticos com essa mesma característica, também presentes nessas declarações. 31 u.t.i. - e.o. 1. (UEL) Leia o poema a seguir. desencontrários Mandei a palavra rimar, ela não me obedeceu. Falou em mar, em céu, em rosa, em grego, em silêncio, em prosa. Parecia fora de si, a sílaba silenciosa. Mandei a frase sonhar, e ela se foi num labirinto. Fazer poesia, eu sinto, apenas isso. Dar ordens a um exército, para conquistar um império extinto. LEMINSKI, P. Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 190. No que diz respeito aos procedimentos for- mais verificados (rimas, sonoridade e jogos de palavras) e aos sentidos construídos, re- lacione os dois primeiros versos ao restante do poema. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. desencontrários Mandei a palavra rimar, ela não me obedeceu. Falou em mar, em céu, em rosa, em grego, em silêncio, em prosa. Parecia fora de si, a sílaba silenciosa. Mandei a frase sonhar, e ela se foi num labirinto. Fazer poesia, eu sinto, apenas isso. Dar ordens a um exército, para conquistar um império extinto. PAULO LEMINSKI GÓES, F. e MARINS, A. (orgs.) Melhores poemas de Paulo Leminski. São Paulo: Global, 2001. 2. (UERJ) Mandei a palavra rimar, ela não me obedeceu. Falou em mar, em céu, em rosa, em grego, em silêncio, em prosa. (v. 1-4) No fragmento acima, o emprego da palavra “prosa” possibilita duas interpretações dis- tintas do verso sublinhado: uma que reafir- ma o que ele expressa e outra que se opõe a ele. Apresente essas duas possibilidades de in- terpretação. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO MÚSICA E POESIA Luciano Cavalcanti A relação entre música e poesia vem desde a antiguidade. Na cultura da Grécia Antiga, por exemplo, poesia e música eram pratica- mente inseparáveis: a poesia era feita para ser cantada. 1De acordo com a tradição, a música e a poesia nasceram juntas. De fato, a palavra “lírica”, de onde vem a expressão “poema lírico”, significava, originalmente, certo tipo de composição literária feita para ser cantada, fazendo-se acompanhar por instrumento de cordas, de preferência a lira. A partir de então, configuraram-se muitos momentos em que a música e a poesia se uniram. 2Segundo Antônio Medina Rodri- gues, “a grande poesia medieval quase que foi exclusivamente concebida para o canto. 3O Barroco, séculos além, fez os primeiros ensaios operísticos, que iriam recolocar o te- atro no coração da música. 4Depois Mozart, com a Flauta mágica ou D. Giovanni, levaria, como sabemos, esta fusão ao sublime”. Durante muito tempo, a poesia foi destinada à voz e ao ouvido. Na Idade Média, “trova- dor” e “menestrel” eram sinônimos de poe- ta. 5Seria necessário esperar a Idade Moder- na para que a invenção da imprensa, 6e com ela o triunfo da escrita, acentuasse a distin- ção entre música e poesia. A partir do século XVI, a lírica foi abandonando o canto para se destinar, cada vez mais, à leitura silenciosa. Entretanto, mesmo separado da música, o poema continuou preservando traços da- quela antiga união. Certas formas poéticas, ainda vigentes, como o madrigal, o rondó, a balada e a cantiga aludem diretamente às formas musicais. Se a separação de poetas e músicos dividiu a história de um gênero e outro, a poesia não abandonou de vez a mú- sica tanto quanto a música não abandonou de vez a poesia. [...] (Disponível em e-revista.unioeste.br/index.php/ travessias/article/ 2993/2342. Acesso: terça- feira, 12 de novembro de 2013) [adaptado] 3. “De acordo com a tradição, a música e a poe- sia nasceram juntas.” (referência 1) “Segundo Antônio Medina Rodrigues, ‘a grande poesia medieval quase que foi exclu- sivamente concebida para o canto.” (refe- rência 2) “Depois Mozart, com a Flauta mágica ou D. Giovanni, levaria, como sabemos, esta fusão ao sublime.” (referência 4) Os conectivos sublinhados apresentam um mesmo valor semântico. Qual? 32 4. (Fuvest) Na mídia em geral, nos discursos, em mensagens publicitárias, na fala de dife- rentes atores sociais, enfim, nos diversos con- textos em que a comunicação se faz presente, deparamo-nos repetidas vezes com a palavra cidadania. Esse largo uso, porém, não torna seu significado evidente. Ao contrário, o fato de admitir vários empregos deprecia seu va- lor conceitual, isto é, sua capacidade de nos fazer compreender certa ordem de eventos. Assim, pode-se dizer que, contemporanea- mente, a palavra cidadania atende bastante bem a um dos usos possíveis da linguagem, a comunicação, mas caminha em sentido inver- so quando se trata da cognição, do uso cogni- tivo da linguagem. Por que, então, a palavra cidadania é constantemente evocada, se o seu significado é tão pouco esclarecido? Maria Alice Rezende de Carvalho, Cidadania e direitos. a) Segundo o texto, em que consistem o uso comunicativo e o “uso cognitivo” da lingua- gem? Explique resumidamente. b) Responda sucintamente a pergunta que en- cerra o texto: “Por que, então, a palavra ci- dadania é constantemente evocada, se o seu significado é tão pouco esclarecido?” 5. (Puc - RJ) Podemos primeiramente distin- guir dois grandes sentidos da palavra liber- dade. Quando tratamos das relações entre “demo- cracia e liberdade”, ou quando nos pergun- tamos se em tal país se é livre, ou quando invocamos as liberdades políticas, as liberda- des fundamentais, ou ainda quando dizemos de um homem que ele é livre (por oposição a um escravo ou a um preso), referimo-nos ao que se pode chamar liberdade de direito, isto é, em linhas gerais, a ausência de coer- ções externas – as interdições e as obriga- ções – nascidas do Estado, da coletividade ou da sociedade. [...] Há um segundo sentido, que se pode chamar liberdade de fato, por oposição à de direito: não se trata mais de perguntar “é permitido fazer (dizer, pensar)?”, mas “é possível fa- zer (pensar querer...)?”. Não nos referimos mais à ausência de coerções extrínsecas (as leis civis, as obrigações sociais, as regras co- letivas, as interdições...), mas intrínsecas – aquelas que concernem ao próprio sujeito. [...] Com efeito, não basta, por exemplo, que eu viva num país onde há liberdade de viajar ao exterior para poder fazê-lo, mesmo se eu quiser. Posso ser impedido por minha situa- ção social ou simplesmente por meus recur- sos financeiros: passamos aqui do problema formal da liberdade política (a questão do regime) ao problema da justiça econômica (o sistema social), e desta não depende mais apenas a questão da liberdade “formal” (te- mos o direito de fazer?), e sim a questão da liberdade “material” (temos o meio de fa- zer?). Pode haver também outros obstáculos para exercer um direito política e juridica- mente reconhecido; posso, por exemplo, ser deficiente físico, estar doente etc. Seja como for, a característica mais geral dessa liberda- de como “capacidade de fazer o que se quer” é ser gradual – ao contrário da precedente que existe ounão existe – e proporcional aos meios de que dispõe o sujeito – de qualquer ordem que sejam: meios econômicos, físi- cos, culturais etc. Quanto maiores os meios (riqueza, cultura, saúde, força etc.), mais se pode fazer o que se quer, e portanto se é mais, nesse sentido. Texto adaptado de WOLFF, Francis. “A invenção materialista da liberdade”. In: NOVAES, Adauto (org.). O avesso da liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 16-17 a) O texto reporta-se a dois conceitos distintos de liberdade. Identifique-os e, usando suas próprias palavras, explique a diferença que existe entre eles. b) Sem que haja alteração de sentido, reescre- va cada trecho abaixo, observando o início proposto a seguir e fazendo as modificações necessárias. i. Não basta que eu viva num país onde há liberdade de viajar ao exterior para poder fazê-lo, mesmo se eu quiser. Não bastava ______________________. ii. Posso ser impedido de viajar ao exterior por minha situação social. Minha situação social ______________. 6. SONETO DO CORIFEU¹ Vinícius de Moraes São demais os perigos desta vida Para quem tem paixão, principalmente Quando uma Lua chega de repente E se deixa no céu, como esquecida. E se ao luar que atua desvairado Vem se unir uma música qualquer Aí então é preciso ter cuidado Porque deve andar perto uma mulher. Deve andar perto uma mulher que é feita De música, luar e sentimento E que a vida não quer, de tão perfeita. Uma mulher que é como a própria Lua: Tão linda que só espalha sofrimento Tão cheia de pudor que vive nua. (http://www.viniciusdemoraes.com.br/site/article. php3?id_article=1249. Acessado em 10/10/2013.) ¹Corifeu: pessoa de maior destaque ou influ- ência em um grupo; líder do coro. 33 Na construção sintática da última estrofe do texto, o pronome “que” foi empregado com dupla função: ligar orações e substituir um termo antecedente. Transcreva o termo que ele substitui. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES. A MÚSICA POPULAR ENTRA NO PARAÍSO¹ Carlos Drummond de Andrade DEUS – Quem é este baixinho que vem aí, ao som do violão, de copo cheio na mão? São Pedro – Senhor, pelos indícios, só pode ser o vosso servo Vinicius, Menestrel da Gá- vea e dos amores inumeráveis. DEUS – Será que ele vem fazer alaúza no céu, perturbando o coro dos meus anjos-cantores, diplomados pela Schola Cantorum² do mes- tre São Jorge, o Grande? SÃO PEDRO (hesitante) – Bem... Eu acho, com a devida licença, que ele traz um som novo, mais terrestre, menos beatífico, é cer- to, mas com uma suavidade brasileira ins- pirada nos seresteiros seus avós, os quais já têm assentos cativos junto ao vosso trono, Senhor. Coisa mui digna de vossa especial atenção. DEUS – Hum, hum... SÃO PEDRO – Posso continuar, Senhor? [...] Este nasceu diretamente para o amor [...]. Vinicius nasceu com a célula poética, e esta desabrochou em cânticos variados, na voz de seus lábios e na dos instrumentos. Com estes cânticos ele encantou o seu povo. E era um povo necessitado de canto, um canto tão ne- cessitado mesmo! DEUS – Ele deu alegria ao meu povo? SÃO PEDRO (exultante) – Se deu, Senhor! E para isso não precisava sempre compor can- ções alegres. Ia até o fundo das canções tris- tes, mas dava-lhes uma tal doçura e meigui- ce que as pessoas, ouvindo-as, não sabiam se choravam ou se viam consoladas velhas mágoas. Era um coração se desfazendo em música, Senhor. Deu tanta alegria ao povo, que até a última hora de sua vida (esta não chegou a ser longa, mas se alongou em can- ção) trabalhou com seu fiel parceiro Toqui- nho para levar às crianças um tipo musical de felicidade. Morreu, pois, a vosso serviço, Senhor. DEUS (disfarçando a emoção) – Mande en- trar, mande entrar logo esse rapaz. (In: Jornal do Brasil. Crônica de 11 de julho de 1980. Com adaptações.) ¹O texto acima foi escrito em homenagem a Vinícius de Moraes, dois dias após a sua morte. ²Schola Cantorum – escola de canto coral 7. Copie do texto o termo empregado como vo- cativo. 8. Releia a última frase do texto: “Morreu, pois, a vosso serviço, Senhor.”. Que outra conjun- ção de igual valor semântico poderia substi- tuir a conjunção destacada? 9. (Unicamp) NOITE DE AUTÓGRAFOS Ivan Ângelo A leitora, vistosa, usando óculos escuros num ambiente em que não eram necessários, se posta diante do autor sentado do outro lado da mesa de autógrafos e estende-lhe o livro, junto com uma pergunta: – O que é crônica? O escritor considera responder com a célebre tirada de Rubem Braga, “se não é aguda, é crônica”, mas se contém, temendo que ela não goste da brincadeira. (...) Responde com aquele jeito de quem falou disso algumas ve- zes: – É um texto de escritor, necessariamente de escritor, não de jornalista, que a imprensa usa para pôr um pouco de lirismo, de leveza e de emoção no meio daquelas páginas e pá- ginas de dados objetivos, informações, grá- ficos, notícias... É coisa efêmera: jornal dura um dia, revista dura uma semana. Já se prepara para escrever a dedicatória e ela volta a perguntar: – E o livro de crônicas, então? Ele olha a fila, constrangido. Escreve algo brevíssimo, assina e devolve o livro à leitora (...). Ela recebe o volume e não se vai, espe- rando a resposta. Ele abrevia, irônico: – É a crônica tentando escapar da reciclagem do papel. Ela fica com ambição de estante, pretensiosa, quer status literário. Ou então pretensioso é o autor, que acha que ela me- rece ser salva e promovida. (...) – Mais respeito. A crônica é a nossa última reserva de estilo. (Veja São Paulo, São Paulo, 25/07/2012, p. 170.) efêmero: de pouca duração; passageiro, tran- sitório. A certa altura do diálogo, a leitora pergunta ao escritor que dava autógrafos: “– E o livro de crônicas, então?” a) A pergunta da leitora incide sobre uma das características do gênero crônica menciona- das pelo escritor. Explique que característica é esta. b) Explique o funcionamento da palavra então na pergunta em questão, considerando o sentido que esta pergunta expressa. 34 10. (FGV) Leia o seguinte texto. A existência de todo grupo social pressupõe a obtenção de um equilíbrio relativo entre as suas necessidades e os recursos do meio físico, requerendo, da parte do grupo, solu- ções mais ou menos adequadas e completas, das quais depende a eficácia e a própria na- tureza daquele equilíbrio. As soluções, por sua vez, dependem da quantidade e quali- dade das necessidades a serem satisfeitas. São estas, portanto, o verdadeiro ponto de partida, todas as vezes que o sociólogo abor- da o problema das relações do grupo com o meio físico. Com efeito, as necessidades têm um duplo caráter natural e social, pois se a sua ma- nifestação primária são impulsos orgânicos, a satisfação destes se dá por meio de ini- ciativas humanas que vão-se complicando cada vez mais, e dependem do grupo para se configurar. Daí as próprias necessidades se complicarem e perderem em parte o caráter estritamente natural, para se tornarem pro- dutos da sociedade. De tal modo a podermos dizer que as sociedades se caracterizam, an- tes de mais nada, pela natureza das necessi- dades de seus grupos, e os recursos de que dispõem para satisfazê-las. O equilíbrio social depende em grande parte da correlação entre as necessidades e sua sa- tisfação. E sob este ponto de vista, as situa- ções de crise aparecem como dificuldade, ou impossibilidade de correlacioná-las. Antonio Candido, “Os parceiros do Rio Bonito”. a) Segundo o texto, as necessidades dos grupos sociais têm um “duplo caráter”. O que distin- gue um caráter do outro? b) Atenda ao que se pede: b1) O referente dos pronomes sublinhados em “satisfazê-las” e “correlacioná-las” é o mesmo? Explique. b2) Reescreva a frase “todas as vezes que o sociólogo aborda o problema das relações do grupo com o meio físico”, pondo o verbo na voz passiva. U.T.I. 2 Literatura 37 Romantismo em PoRtugal O ROmantismO em PORtugal Partidários do liberalismo de D. Pedro e antimiguelistas, os jovens escritoresAlmeida Garrett e Alexandre Herculano tiveram de exilar-se na Inglaterra e na França, onde tomaram contato com as obras de Lord Byron, Walter Scott e William Shakespeare. De volta, em 1825, Garrett publicou uma biografia romanceada concebida em versos brancos chamada Camões. Com esse poema, introduziu-se o Romantismo em Portugal. Suas características viriam a firmar-se no espírito romântico: versos decassílabos brancos, subjetivismo, nostalgia, melancolia e a grande combinação dos gêneros literários. O Romantismo português durou aproximadamente 40 anos, como nos demais países europeus, o Romantis- mo português atrelou-se ao liberalismo e à ideologia burguesa e assumiu compromissos com o novo público leitor. geRações dO ROmantismO PORtuguês Nos anos caóticos de lutas entre liberais e conservadores, os românticos foram, pouco a pouco, implementando as reformas literárias que modificariam o quadro estético neoclássico português. O Romantismo português conheceu três momentos distintos. A Primeira Geração (Almeida Garrett e Alexandre Herculano), entre os anos de 1825 e 1840, muito contribuiu para a consolidação do liberalismo no país. A Segunda Geração (Camilo Castelo Branco), ultrarromântica, levou o movimento ao exagero, e prevaleceu entre os anos 1840 e 1860. A Terceira Geração (Júlio Dinis), de transição para o Realismo, marcou presença nos anos de 1860. Nesses três momentos, a poesia, o romance, o teatro, a historiografia e o jornalismo se desenvolveram de forma inédita em Portugal. 1ª GERAÇÃO Almeida Garrett § É um dos principais escritores do romantismo português. § Em 1832, participou do cerco à cidade do Porto, empreendido pelos liberais. § Escreveu romances, poesia e teatro. § Viagens na minha terra é um relato-personagem que registra o pitoresco da terra natal. Trata-se de um misto de diário, literatura de viagens, reportagens e ficção, cujo fio narrativo é uma viagem de Lisboa e Santarém. É organizada em capítulos que relatam os acontecimentos e as reflexões do narrador sobre vários assuntos, entre os quais amor, política, curiosidades. Alexandre Herculano § Assim como Garrett, engajou-se na luta ao lado dos pedristas (liberais). § A obra literária de Herculano obedece ao princípio romântico de busca da realidade ideal para o país mediante a reconstituição das formas sociais mais significativas de sua história. Esse historicismo tem sua origem no romantismo histórico e social do escritor inglês Walter Scott e do francês Victor Hugo. § A ficção histórica é constituída por 3 obras: O bobo, que trata da formação de Portugal em meio a uma intriga romântica; Eurico, o presbítero, que registra a situação histórica portuguesa sob o domínio mouro e discute criticamente a questão do celibato clerical; e O monge de Cister, romance que marca o momento histórico da centralização política monárquica. 38 2ª GERAÇÃO Camilo Castelo Branco § Camilo concentrou seus esforços profissionais na carreira de escritor, fonte de seu sustento. Sua vasta obra compreende as temáticas com foco no mistério, nas questões históricas e na crítica aos costumes. § A novela camiliana atende ao gosto popular, com predomínio do ultrarromantismo e do passionalismo, traço distintivo e força artística. O mundo é frustrado sob o ângulo das grandes paixões: Carlota Ângela (1858), Amor de perdição (1863), Amor de salvação (1864), A doida do Candal (1867), O retrato de Ricardina (1868). § A obra que rompe com as características típicas do romantismo é Coração, cabeça e estômago, livro que realiza uma crítica aos costumes como numa antecipação ao realismo. 3ª GERAÇÃO Júlio Dinis § Criava seus personagens sob a lógica dos tipos sociais e substituiu o ultrarromantismo pelas antecipações realistas, em que a oralidade e os comportamentos observáveis passaram a figurar em suas narrativas. No entanto, é estudado ainda no Romantismo, por conta do processo de redenção nas conclusões de suas tramas. § Suas principais obras são: As pupilas do senhor reitor (1867), A morgadinha dos canaviais (1868), Uma família inglesa (1868), Serões da província (1870), Os fidalgos da casa mourisca (1871), Poesias (1873), Inéditos e esparsos (1910) e Teatro inédito (1946-47). Romantismo no BRasil: tRês fases da Poesia as geRações dO ROmantismO Tradicionalmente, são apontadas três gerações de escritores românticos. Essa divisão, contudo, compreende, principalmente, os autores de poesia. Os romancistas não se enquadram muito bem nessa divisão, uma vez que suas obras apresentam traços característicos de mais de uma geração. § Primeira geração: nacionalista, indianista e religiosa, com destaque pra Gonçalves Dias e Gonçalves de Magalhães. § Segunda geração: marcada pelo “mal do século”, apresenta egocentrismo exacerbado, pessimismo, sa- tanismo e atração pela morte. Foi bem representada por Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Junqueira Freire. § Terceira geração: formada pelo grupo condoreiro, desenvolve uma poesia de cunho político e social. A maior expressão desse grupo é Castro Alves. Durante o Segundo Reinado, os românticos foram firmando o projeto de uma literatura autenticamente nacional, liberta da portuguesa. Houve três momentos no desenvolvimento da poesia romântica brasileira, cujos poetas reúnem distintas gerações com características em comum. 39 1ª GERAÇÃO Gonçalves de Magalhães O médico, diplomata, poeta e dramaturgo Domingos José Gonçalves de Magalhães (1811-1882) foi o iniciador do Romantismo na literatura brasileira. Sua meta foi implementar a nova corrente literária no País, com o apoio do imperador D. Pedro II. Gonçalves Dias Gonçalves Dias criou o indianismo romântico, impondo-se como uma das maiores figuras da nossa literatura. Seus versos carregavam eloquência, lirismo, grandiosidade e harmonia. Sua obras poéticas são: Primeiros cantos, Segun- dos cantos, Últimos cantos, Sextilhas de Frei Antão, Dicionário da língua tupi, Os timbiras; as teatrais são: Beatriz Cenei, Leonor de Mendonça, Boabdil e Patkul. Canção do exílio é um dos mais conhecidos poemas de Gonçalves Dias, escrito em Coimbra, em julho de 1843. Além dele, há também o poema indianista I - Juca Pirama, a história do último descendente da tribo tupi feito prisioneiro dos timbiras. O guerreiro seria sacrificado e devorado numa festa canibal. Pelo amor ao pai, já velho e cego, o prisioneiro implora ao chefe dos timbiras que o liberte para cuidar do pai. Julgando-o um covarde, o chefe timbira desiste do sacrifício e solta o prisioneiro. 2ª GERAÇÃO Álvares de Azevedo Álvares de Azevedo (1831-1852) é o principal nome da geração ultrarromântica de nossa poesia. Paulista, fez os estudos básicos no Rio de Janeiro e cursava o quinto ano de Direito, em São Paulo, quando sofreu um acidente (queda de cavalo), cujas complicações o levaram à morte, antes de completar 21 anos. O escritor cultivou a poesia, a prosa e o teatro. Os sete livros, discursos e cartas que produziu foram escritos em apenas quatro anos, período em que era estudante universitário. Além disso, o autor também se utilizou constantemente da ironia, empregada pelo poeta como recurso para quebrar a noção de ordem e abalar as convenções do mundo burguês. Enquanto o lado Caliban do poeta se situa em uma das linhas que compõem o Romantismo – a linha orgíaca e satânica –, a ironia levada às últimas consequências dos poemas de Álvares de Azevedo acessa um veio novo: o antirromântico, o que constitui outro paradoxo. O mais romântico dos nossos românticos lançou o germe da própria superação do Romantismo, ao ironizar algumas das atitudes mais caras à sua geração, como a pieguice amorosa e a idealização do amor e da mulher. Casimiro de Abreu Casimiro de Abreu (1839-1860) é um dos poetas românticos mais populares. Natural de Barra de São João, no Rio de Janeiro, escreveu a maior parte de sua obra poética, Primaveras, em Portugal. Apesar de ligado à segunda geração dapoesia romântica, Casimiro contribuiu para desanuviar o ambiente noturno que Álvares de Azevedo deixara ao morrer, sete anos antes. 40 3ª GERAÇÃO Castro Alves Castro Alves (1847-1871), o “poeta dos escravos”, é considerado a principal expressão condoreira da poesia brasileira. Nascido em Curralinho, hoje Castro Alves (BA), estudou Direito em Recife e em São Paulo. Na evolução da poesia romântica brasileira, sua obra representa um momento de maturidade e de transição. Maturidade em relação a certas atitudes ingênuas das gerações anteriores, como a idealização amorosa e o nacionalismo ufanista, substituída por posturas mais críticas e realistas. Transição porque a perspectiva mais objetiva e crítica com que trata a realidade aponta para o movimento literário subsequente, o Realismo. Castro Alves cultivou a poesia lírica e social, de que são exemplos Espumas flutuantes e A cachoeira de Paulo Afonso; a poesia épica: Os escravos; e o teatro: Gonzaga ou Revolução de Minas. Seus poemas tratavam das questões sociais, da arte engajada e também da temática lírica. Romantismo no BRasil: PRosa Romântica O ROmance bRasileiRO e a busca dO naciOnal Nas décadas que sucederam a Independência do Brasil, os romancistas se empenharam no projeto de construir uma cultura brasileira autônoma, que exigia dos escritores o reconhecimento da identidade de nossa gente, da nossa língua, das nossas tradições e diferenças regionais e culturais. Nessa busca, o romance se voltou para os espaços nacionais, identificados como a selva, o campo e a cida- de, que deram origem, respectivamente, ao romance indianista e histórico (a vida primitiva), ao romance regional (a vida rural) e ao romance urbano (a vida citadina). O mais fértil ficcionista romântico brasileiro foi o cearense José Martiniano de Alencar (1829-1877), cuja meta era formar uma literatura nacional autêntica, que rompesse os vínculos com a lusitana e retratasse a realidade brasileira. Esse objetivo foi alcançado. José de Alencar José de Alencar (1829-1877) foi o principal romancista brasileiro da fase romântica. Sua vasta produção literária compreende vinte romances, oito peças de teatro (como Mãe e O jesuíta, ence- nadas à época), crônicas, escritos políticos e crítica literária. Em razão da abrangência de seus romances, eles foram classificados de acordo com o tema. § Romances indianistas: O guarani (1857); Iracema (1865); e Ubirajara (1874). § Romances regionalistas: O gaúcho (1870); O tronco do ipê (1871); Til (1871); e O sertanejo (1875). § Romances históricos: As minas de prata (dois volumes: 1865 e 1866); Guerra dos mascates (dois volu- mes: 1871 e 1873); Alfarrábios (1873, composto de O garatuja, O ermitão da Glória e A alma de Lázaro). § Romances urbanos (ou “perfis de mulheres”): Cinco minutos (1856); A viuvinha (1857); Lucíola (1862); Diva (1864); A pata da gazela (1870); Sonhos d’ouro; Senhora (1872); e Encarnação (1877). Principais obras: O guarani, 1857, romance histórico-indianista que mostra a convivência entre portugueses e as tribos indígenas da época. A obra se articula a partir de alguns fatos essenciais: a devoção e fidelidade do índio goitacá Peri a Cecília; o amor de Isabel por Álvaro e o amor deste por Cecília. A morte acidental de uma índia aimoré, provocada 41 por D. Diogo, e a consequente revolta e ataque dos Aimorés, ocorre simultaneamente a uma rebelião dos homens de D. Antônio, liderados pelo ex-frei Loredano, homem ambicioso e devasso que queria saquear a casa e raptar Cecília. Iracema, 1865, romance histórico-indianista que desenvolve a lenda da fundação do Ceará e a história de amor entre a índia Iracema e o português Martim. Guardadora dos segredos da Jurema, Iracema faz um voto de cas- tidade, que rompe ao tornar-se esposa de Martim. Abandona sua tribo e segue com ele. Dá à luz um filho – Moacir –, símbolo do homem brasileiro miscigenado. Martim tem de partir para Portugal por um longo tempo. Quando regressa, encontra Iracema à morte. Enterra-a ao pé de uma palmeira e retorna a Portugal, levando consigo o filho. Til, 1871, romance regionalista em que o narrador utiliza descrições pormenorizadas da região e de cenários em torno do rio Piracicaba. A história do romance gira em torno do misterioso nascimento de Berta, uma jovem muito bondosa e bonita que mesmo sendo uma típica heroína romântica, abnega de seus desejos para cuidar daqueles a quem quer bem. Por trás de tudo isso, o romance mostra uma visão patriarcal e senhorial presentes no Brasil escra- vista e patriarcal. Os preconceitos de classe e as relações de poder são enfocadas na obra. Senhora, 1875, romance urbano, é uma das últimas obras escritas por Alencar. Ao tematizar o casamento como forma de ascensão social, o autor deu início à discussão sobre certos valores e comportamentos da sociedade carioca da segunda metade do século XIX. Aurélia Camargo é uma moça pobre e órfã de pai, noiva de Fernando Seixas, bom rapaz, que ambiciona ascender socialmente. Em razão disso, troca Aurélia por outra moça de dote mais valioso. Aurélia passa a desprezar todos os homens. Eis que, com a morte de uma avó, torna-se milionária, e conse- quentemente, uma das mulheres mais cortejadas do Rio de Janeiro. Como vingança, manda oferecer a Seixas um dote de cem contos de réis, sem revelar seu nome, que seria conhecido só no dia do casamento. Seixas aceita e se casa. Na noite de núpcias, Aurélia revela-lhe seu desprezo. Seixas cai em si e percebe o quanto fora vil em sua ganância. Outros autores da prosa romântica brasileira: § Bernardo Guimarães – criou o romance regionalista. ¨ Tornou artísticos os “casos” da literatura oral, valendo-se das técnicas narrativas dos folhetins. Suas obras mais lidas são O seminarista (1872) e A escrava Isaura (1875), construídas com temas básicos dos romances de ênfase social de sua época, respectivamente o celibato clerical e a escravidão. § Visconde de Taunay – É também autor do romance regionalista. Por conta de suas andanças no Mato Grosso, o autorreproduzir com precisão aspectos visuais da paisagem sertaneja, especialmente da fauna e da flora da região. Foi autor do romance Inocência (1872), sua obra-prima, e de livros sobre a guerra e o sertão, como Retirada da Laguna (1871). § Franklin Távora – Nasceu no Ceará e estudou Direito no Rio de Janeiro. Foi um dos mais polêmicos e radicais escritores regionalistas. Rebelou-se contra a “literatura do Sul”, especialmente a de Alencar, seu conterrâneo, alegando que ele se deixava levar pelos modelos estrangeiros – nos romances urbanos – e que, ao dedicar-se a romances regionalistas, nem sequer conhecia a região retratada – em O gaúcho. Com O cabeleira, inaugurou um dos veios mais férteis de nossa ficção regional. Trouxe à tona problemas até então pouco conhecidos em outras regiões do país, como o banditismo, o cangaço, a seca, a miséria, as migrações, mais tarde retomados e aprofundados por Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Jorge Amado. § Joaquim Manuel de Macedo – Foi autor do primeiro romance brasileiro propriamente dito, A moreninha (1844), depois de algumas tentativas malsucedidas no gênero. Embora formado em Medicina, Macedo se dedicou ao jornalismo e à política. A moreninha conferiu-lhe ampla popularidade, mantida com a publica- ção de outros romances. § Manuel Antônio de Almeida – Como escritor, produziu uma única obra. O descompromisso com o su- cesso e um grande senso de humor lhe permitiram criar uma das obras originais do Romantismo brasileiro: Memórias de um sargento de milícias. 42 Realismo em PoRtugal Realismo Romantismo Objetivismo Subjetivismo Descrições e adjetivação objetivas, voltadas para a captação do real como ele é. Descrições e adjetivação idealizantes, voltadas para a elevação do objeto descrito. Linguagem culta e direta. Linguagem culta, e estilo metafórico e poético. Idealização da mulher com qualidades e defeitos. Idealização da mulher, anjo de pureza e perfeição.Amor e sentimentos subordinados aos interesses sociais. Amor sublime e puro, acima de qualquer interesse. Casamento, instituição falida, não passa de contrato de interesses e conveniências. Casamento centrado no relacionamento amoroso. Herói em conflito, enfraquecido, com manias e incertezas. Herói íntegro, de caráter irrepreensível. Narrativa lenta, ao ritmo do tempo psicológico. Narrativa de ação e de aventura. Personagens moldadas psicologicamente. Personagens planas cujos pensamentos e ações são previsíveis. Universalismo. Individualismo, culto do eu. natuRalismO § Linguagem simples. § Clareza, equilíbrio e harmonia na composição. § Narrativa minuciosa. § Emprego de termos regionais. § Longas descrições. § Impessoalidade. § Determinismo. § Objetivismo científico. § Temas sociais patológicos. § Observação e análise da realidade. § Homens encarados sob a ótica animalesca e sensual. § Despreocupação com a moral. § Literatura engajada. O RealismO cientificista Aproximar a verdade social da verdade artística, privilegiando o cotidiano do homem também brutal e animalizado, foi um dos objetivos do Realismo. Conceitualmente, Realismo e Naturalismo confluíram para o ideal positivista do final do século XIX. Era pressuposto desses movimentos submeter o texto artístico à realidade. Ao artista importa- vam a observação e a experiência, não a idealização da realidade que caracterizou o Romantismo. Em tempos de industrialização e da vitória do capitalismo, o culto à ciência criou o ambiente contrário ao sentimentalismo romântico. A ciência passou a ser considerada o único veículo legítimo de conhecimento da realidade, não mais a emoção. Uma literatura “científica”, um recurso de conhecimento da realidade, um espelho fiel do universo. O pensamento positivista do francês Augusto Comte (1798-1857) marcou a atmosfera realista cujo foco foi o saber à luz das leis científicas, superior ao saber teológico ou metafísico. 43 RealismO em PORtugal Foi com a Questão Coimbrã, em 1865, polêmica literária travada pelos jornais de Coimbra, que o Realismo come- çou a ganhar vida em Portugal. Naquela mesma data, o poeta romântico Antônio Feliciano de Castilho, represen- tante da Escola de Lisboa, fez elogios num posfácio à obra Poema da mocidade, de Pinheiro Chagas, e censurou o estilo poético defendido pela Escola Coimbrã, citando os nomes de Antero de Quental e Teófilo Braga. Foi o quanto bastou para que Antero de Quental lhe respondesse mediante folhetos denominados Bom senso e bom gosto e A dignidade das letras e as literaturas oficiais. Linhas de pensamento do Realismo/Naturalismo em Portugal Estas observações procuram sintetizar a produção literária do Realismo/Naturalismo português. Crítica ao tradicionalismo vazio da sociedade portuguesa De acordo com os jovens de Coimbra, o tradicionalismo era resultado de uma educação romântica, convencional e distante da realidade. O escritor tinha uma missão a cumprir: a de comprometer-se com a verdade social. Crítica ao conservadorismo da Igreja Tendo em vista a importância do catolicismo em Portugal, os realistas criticavam seu conservadorismo voltado para o passado, que impedia o desenvolvimento natural da sociedade. A corrupção, as imoralidades e a quebra do celibato eram também tematizados em escopo crítico. Visão objetiva e natural da realidade O escritor realista construía seus personagens mediante tipos concretos, criados pela observação da relação deles com o meio. Seu comportamento deveria ser definido pelos caracteres psicossociais influenciados e adquiridos no ambiente em que viviam. Preocupação com a reforma da sociedade Desejo de democratização do poder político mediante amplas reformas sociais; diagnóstico de problemas sociais e sugestões de soluções reformistas de caráter socialista. Representação da vida contemporânea Estabelecimento de conexões rigorosas de causa e efeito entre os fenômenos observados da realidade social Eça de Queirós José Maria Eça de Queirós (1845-1900) estudou Direito na Universidade de Coimbra, onde conheceu a geração que revolucionou a literatura. Aos 21 anos participou ativamente das Conferências do Cassino Lisbonense. Ingres- sou na vida diplomática e atuou como cônsul em Cuba e na Grã-Bretanha, onde escreveu O crime do padre Amaro e O primo Basílio, romances de maior repercussão em sua carreira literária. 44 As três fases de Eça de Queirós A obra de Eça de Queirós pode ser organizada em três fases: § Primeira fase – de 1865 a 1871 – é considerada a fase de aprendizado, com a produção dos folhetins de gosto popular, reunida mais tarde sob o título de Prosas bárbaras. Neles revela influência de Victor Hugo e Mechelet, uma vez inclinado para os temas históricos. Também em folhetins nasceu seu primeiro romance – O mistério da estrada de Sintra (1871) –, escrito em parceria com Ramalho Ortigão. O método epistolar da escrita – troca de cartas entre os autores – despertou o interesse do público. Nas cartas, os escritores contam a história de um sequestro. Na época, os leitores acreditavam tratar-se de fato verídico. § Segunda fase – de 1871 a 1888 –, chamada Realismo Agudo, deu-se após a publicação de O crime do padre Amaro e Os Maias. Seu objetivo foi assim expresso por Eça de Queirós em carta ao amigo Teófilo Braga: [...] “pintar a sociedade portuguesa e mostrar-lhe, como num espelho, que triste país eles formam. [...] destruir as falsas interpretações e falsas realizações que lhe dá uma sociedade podre”. § Terceira fase – de 1888 a 1900 –, considerada a fase de “nacionalismo nostálgico” ou “realismo fan- tasia”, em que suas obras focam o tradicionalismo das origens de Portugal e uma tentativa de fazer as pazes com o país que tanto criticou. É o caso de A ilustre casa de Ramires. O protagonista Ramires procura colocar-se à altura de seus antepassados medievais e a recompor a própria história. Esta fase compreende também A correspondência de Fradique Mendes e o romance A cidade e as serras. Principais obras: O crime do padre Amaro (1875) Primeiro romance do Realismo português tem o enredo ambientado em Leiria, cidade interiorana do norte de Por- tugal, onde o ingênuo padre Amaro Vieira vai assumir sua paróquia. Hospedado inicialmente na casa da Senhora Joaneira, acaba por se envolver amorosamente com sua filha Amélia. Seus colegas padres não estranham tal rela- ção, o que leva o jovem pároco a perceber que agiam cinicamente. O primo Basílio (1878) Jorge e Luísa são um casal da burguesia lisboeta. Convivem num círculo de amizades formado, entre outros, pelo Conselheiro Acácio, homem apegado a convenções sociais; Dona Felicidade, que nutre uma paixão por ele; e Se- bastião, o melhor amigo de Jorge. Jorge sai em uma viagem de trabalho e durante sua ausência, Luísa recebe a visita de Basílio, seu primo, residente em Paris. Admirado com a beleza da moça, Basílio envolve Luísa em um jogo de sedução, que faz com que ela se imagine vivendo uma das aventuras amorosas de suas leituras românticas. Eles se tornam amantes, passando a trocar cartas de amor. Luísa encontra estímulo na amiga Leopoldina, mulher casada, colecionadora de casos extraconjugais. Toda a movimentação da casa é observada pela governanta Juliana, sempre às voltas com planos de enriquecimento rápido. A cidade e as serras (1901) José Fernandes narra uma história que tem como protagonista um grande amigo seu: Jacinto. Jacinto, que nasceu e sempre viveu em Paris, é rico e herdeiro de fidalgos portugueses, vive a suposta fe- licidade que uma grande renda mensal lhe proporciona. Vive num palacete nos Campos Elísios, no número 202, rodeado por luxo e conforto, mas não está satisfeito e passa boa parte do tempo entediado, mesmo considerando a cultura e a tecnologia os únicos meios de se chegar a suprema felicidade. Devido a um acidente na capelinha da propriedade de Jacinto, em Tormes, Portugal, onde estão enterrados os ossos de seus avós, orico herdeiro retorna à terra natal de seus antepassados. Ao sentir-se útil pela primeira vez, Jacinto reencontra uma grande alegria de viver. Assim, realiza uma série de reformas. 45 Na propriedade constrói boas casas para os empregados, aumenta seus salários e proporciona médico e remédios. Devido a essa atitude, mudanças acontecem em toda a região e trazem prosperidade. Jacinto une-se em matrimônio com a prima de José Fernandes, Joaninha, e juntos têm um casal de filhos. Passe a ser organizado e responsável e nunca mais volta a Paris. RealismO nO bRasil O contexto brasileiro A lição dos contemporâneos portugueses, notadamente Eça de Queirós, e franceses, Stendhal de preferência, foi decisiva para os autores realistas brasileiros fortemente influenciados por eles. A família burguesa já não era mais o único foco da literatura, como havia acontecido no Romantismo. Os realistas ocupavam-se de outras classes sociais e da alma delas. A crise matrimonial, o papel da mulher nas relações sociais e o operariado passam a ser temas e persona- gens nessa literatura. Retratar a vida em sociedade, descrever cenas, ambientes e comportamentos passa a fazer parte considerável das obras literárias. Registrar a realidade torna-se uma prioridade. Os oportunismos disfarçados, as falsas devoções e a moral de aparência são temas que passam a integrar o universo do romance. Tal como em Portugal, o Realismo/Naturalismo no Brasil esteve muito ligado às ideias estéticas, científicas e filosóficas europeias – positivismo, darwinismo, comunismo, cientificismo – que provocaram bastante repercussão. As mudanças que o tempo impôs coincidiram, por sua vez, com o rápido declínio do Segundo Império de Pedro II, após a Guerra do Paraguai. Não só o abolicionismo foi contemporâneo ao Realismo/Naturalismo. O movimento Republicano, em 1870, também propunha trocar o trabalho escravo pela mão de obra imigrante. As campanhas abolicionista e republicana tiveram início a partir de 1870 e formaram um movimento polí- tico que dominou o Brasil e toda a América Latina, voltado para as grandes reivindicações urbanas que já haviam triunfado nos Estados Unidos e na Europa. A aristocracia rural entrava em decadência e a monarquia mostrava-se um regime superado. Principais autores Machado de Assis Órfão aos dez anos, o menino mestiço do Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, estudou em escolas públicas e tratou de instruir-se por conta própria, interessado que era pela leitura. Inteligente e esforçado, Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) aproximou-se de intelectuais e de jornalistas que lhe deram oportunidades. Aos dezesseis anos empregou-se na tipografia de Paula Brito. Aos dezenove já era colaborador assíduo de jornais e revistas cariocas: Correio Mercantil, O espelho, Diário do Rio de Janeiro, Semana Ilustrada, Jornal das Famílias. Em 1867, foi nomeado oficial da Secretaria de Agricultura, enquanto sua carreira de escritor mostrava-se cada vez mais promissora. Casou-se aos trinta anos com a portuguesa Carolina Xavier de Novais. Na passagem do Império para a República, Machado de Assis já era um intelectual respeitável. Formado escritor à luz do Romantismo, com o tempo enveredou para o Realismo, o que, a depender da fase, sua obra seja caracterizada ou romântica, até 1880, ou realista, de então em diante. 46 Primeira fase: ciclo romântico Ao analisar os romances e os contos de Machado de Assis considerados românticos, já se revela a característica que haveria de marcar sua obra. Os acontecimentos são narrados sem precipitação, entremeados de explicações aos leitores por parte do narrador e cheios de considerações sobre os comportamentos. Seus personagens não são lineares como os dos demais românticos. Têm comportamentos imprevistos, fazem maquinações, não são transparentes, mas interesseiros. A estrutura narrativa, no entanto, ainda é linear: tem começo, meio e fim bem demarcados. Fazem parte do ciclo romântico as obras Ressurreição, A mão e a luva, Helena e Iaiá Garcia e os livros de contos Histórias da meia-noite e Contos fluminenses. Segunda fase: ciclo realista Com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, em 1881, Machado de Assis mudou o rumo de sua obra. Amadureceu como escritor e passou a escrever para leitores mais exigentes. Seus personagens tornaram-se mais elaborados, pois eram compostos à luz da Psicologia. Além disso, a técnica de composição do romance foi aperfei- çoada: os capítulos e frases passam a ser mais curtos a fim de estabelecer maior contato com o leitor. Observa-se também uma apurada análise da sociedade brasileira do final do Segundo Império, ambiente no qual o casamento começa a ser um grande alvo da crítica tecida pelo autor. As estruturas narrativas fogem à line- aridade, entremeadas de digressões temporais, intromissões do narrador e a análise apurada dos acontecimentos. Memórias póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó, Memorial de Aires são romances do ciclo realista. Além dos romances, Machado publica cerca de duzentos contos a partir de 1869, começando com os Con- tos fluminenses, publicados em pleno Romantismo. Suas narrativas curtas estão reunidas em Histórias da meia- -noite, Papéis avulsos, Histórias sem data, Várias histórias, Páginas recolhidas, Relíquias da casa velha. Merecem destaque os contos A cartomante, Missa do galo, O alienista, O espelho, Cantiga de esponsais, Noite de almirante, A igreja do diabo, entre outros. A produção poética de Machado de Assis está reunida em Falenas, Crisálidas, Americanas, Ocidentais. Destacam-se as peças de teatro Queda que as mulheres têm para os tolos, Quase ministros e Lição de botânica. Principais obras Memórias póstumas de Brás Cubas (1881) Memórias póstumas de Brás Cubas é o romance iniciador do Realismo na literatura brasileira, assim como da se- gunda fase do escritor. É, sem dúvida, uma das mais importantes obras da literatura brasileira, como marco inicial do Realismo, bem como um desfile de genialidade da escrita do autor. As memórias de Brás Cubas não são cronológicas, optando pelo estilo livre e digressivo. Machado se separa definitivamente do Romantismo, e no próprio Realismo coloca em prática seu estilo pessoal que escolhe como o personagem principal um defunto que vai contar suas memórias. Brás Cubas decide contar aos leitores o que foi sua vida sem esconder nenhuma das mais profundas verdades. Essa sinceridade, livre das moralidades e falsidades sociais, só existiam, porque ele estava morto. Logo, os seus defeitos vão aparecendo a cada página, entrecortadas por situações de ironia e pessimismo. Seus pensamentos são amorais na viagem que faz pela memória de sua própria vida. A esse gênero literário dá-se o nome de sátira menipeia, no qual um morto se dirige aos vivos para criticar a sociedade humana. 47 Dom Casmurro (1900) Publicado em 1900, Dom Casmurro é um romance narrado em primeira pessoa. A partir de um flashback da velhice para a adolescência, Bentinho conta sua própria história. Órfão de pai, cresceu num ambiente familiar muito carinhoso – tia Justina, tio Cosme, José Dias. Recebeu todos os cuidados da mãe, D. Glória, que o destinara à vida sacerdotal. Sem vocação, Bentinho não quis ser padre. Namora a vizinha Capitu e quer se casar com ela. D. Glória, presa a uma promessa que fizera, aceita a ideia inteligente de José Dias de enviar um escravo ao seminário para ser ordenado no lugar do Bentinho. Livre do sacerdócio, o moço forma-se em Direito e acaba casando-se mesmo com Capitu. O casal vive muito bem. Bentinho vai progredindo, mantém amizade com Escobar, antigo colega de seminá- rio, e Sancha, sua esposa. A vida segue seu curso. Nasce-lhe um filho, Ezequiel. Escobar morre e, durante o enterro, Bentinho começa a achar Capitu estranha. Surpreende-a contemplando o cadáver de uma forma que ele interpreta como apaixonada. A partir do episódio, Bentinho consome-se em ciúmee o casamento entra em crise. Cada vez mais Ezequiel torna-se parecido com Escobar – o que precipita em Bentinho a certeza de que ele não é seu filho. O casal separa- -se, Capitu e Ezequiel vão para a Europa e algum tempo depois ela morre. Já moço, Ezequiel volta ao Brasil para visitar o pai, que comprova a semelhança do filho com Escobar. Ezequiel morre no estrangeiro. Cada vez mais fechado em sua dúvida, Bentinho ganha o apelido de “Casmurro” e põe-se a escrever a história de sua vida. natuRalismo no BRasil Não é de hoje que a cidade do Rio de Janeiro é dividida entre ricos e pobres, morro e asfalto. Basta ler o romance O cortiço (1890), obra-prima de Aluísio Azevedo (1857-1913), para perceber que os contrastes sociais já faziam parte do dia a dia dos cariocas desde o século XIX. A história revela um efervescente ambiente urbano, construído à luz da observação do cotidiano e sob a influência da literatura francesa – notadamente do romance L’assommoir (A taberna), 1877, do francês Émile Zola (1840-1902), inspirador do naturalismo francês do qual Azevedo é seguidor. Burguesia versus proletariado A segunda metade do século XIX foi caracterizado pela consolidação do poder da burguesia, do materialismo e do crescimento do proletariado. De um lado, o progresso, representado pelo crescimento das cidades; de outro, o crescimento dos bairros pobres onde residiam os operários. Enquanto a burguesia lutava pelo dinheiro e pelo poder, o operário manifestava sua insatisfação e promovia as primeiras greves. Nessa conjuntura nasceram e desenvolve- ram-se as ciências sociais, preconizando o desenvolvimento científico, que levaram à substituição o idealismo e o tradicionalismo pelo materialismo e racionalismo. O método científico passou a ser o meio de análise e compreensão da realidade. Teorias desse naipe de- ram fundamentos ideológicos à literatura realista-naturalista, quais sejam: teoria determinista, de Hippolyte Tai- ni (1825-1893), encarava o comportamento humano como determinado pela hereditariedade, pelo meio e pelo momento; e a teoria evolucionista, de Charles Darwin (1809-1882) defendia a tese de que o homem descende dos animais. As características do naturalismo literário são ligadas à realidade da época cujo tom deixa de ser tão 48 poético e subjetivo, como nas escolas precedentes. Os romances naturalistas revelam: § veracidade – as narrativas buscam seus correspondentes na realidade. § contemporaneidade – essa realidade retratava com fidelidade as personagens reais, vivas, não idealizadas. § detalhismo – a caracterização das personagens e ambientes é minuciosa; o amor é materializado; e a mulher passa a ser vista como objeto de prazer masculino. § denúncia das injustiças sociais – levada pela função social da arte, a literatura denuncia o preconceito, e a ambição humanos. § determinismo e causalidade – busca da explicação lógica para o comportamento das personagens; consi- deração da soma de fatores que justificam suas atitudes; visão de mundo determinista e mecanicista; homem próximo ao animal (zoomorfismo). § linguagem popular e coloquial – emprego de termos e sentidos comuns ao das personagens cotidiana; linguagem é simples, natural e clara. § cientificismo – caracterização e análise objetivas das personagens, consideradas casos a serem analisados. § personagens patológicas – mórbidas, adúlteras, assassinos, bêbadas, miseráveis, doentes, prostitutas procuram comprovar a tese determinista sobre o ser humano. aluísiO azevedO Nasceu em São Luís, no Maranhão, e posteriormente se mudou para o Rio de Janeiro. Produziu folhetins românticos para jornais. Memórias de um condenado e Mistérios da Tijuca foram alguns deles ditados pelas necessidades de sobrevivência. Escreveu também obras mais bem elaboradas à luz da estética realista-naturalista, como Casa de pensão e O cortiço, que consolidaram seu prestígio. Fase romântica Dentre os seus folhetins românticos destacam-se Uma lágrima de mulher; Memórias de um condenado ou A Con- dessa Vésper; Filomena Borges; A mortalha de Azira; Mistério da Tijuca ou Girândola de amores. Fase naturalista Romances: O mulato; Casa de pensão; O homem; O coruja; O cortiço; O livro de uma sogra e os contos Demônios; Pegadas; O touro negro. Considerado o mais importante dos naturalistas brasileiros, em sua obra não há excesso de exploração da patologia humana, como ocorre, por exemplo, na obra do paradigma francês Émile Zola. Aluísio prefere a observação direta da realidade da qual ressalta, sobretudo, a influência que o meio exerce sobre o homem, segundo a teoria determinista de Hippolyte Taine. O cortiço (1890) João Romão é um ganancioso comerciante de origem portuguesa, dono de um armazém, de uma pedreira e de um terreno de bom tamanho, no Rio de Janeiro, onde constrói casinhas de baixo custo para alugar. Bertoleza, uma ex-escrava negra, vive com o português e o ajuda no armazém. Aos poucos, o cortiço que vai se formando e passa a incomodar o vizinho Miranda, dono de uma loja próxi- ma. Chefe de uma família composta pela esposa Estela e pela filha Zulmira, Miranda sempre reclama da situação sórdida do lugar. João Romão, por sua vez, também não aprecia o vizinho e com ele mantém constante rivalidade. 49 Quando Jerônimo, um operário português que trabalha na pedreira, muda-se com a esposa Piedade para lá, a situação começa a sofrer alterações. Jerônimo apaixona-se pela mulata Rita Baiana, comprometida com o capoeirista Firmo. Com a evolução dessa paixão, Firmo e Jerônimo acabam se enfrentando e o português leva uma navalhada do capoeirista. Nesse ínterim, João Romão começa a se interessar por Zulmira, filha do comerciante Miranda – so- nha casar-se com ela e mudar de condição social. Jerônimo, que acaba se juntando a Rita Baiana, arma uma cilada para Firmo e o assassina a pauladas. Moradores do cortiço vizinho, o “Cabeça-de-Gato”, ateiam fogo ao cortiço de João Romão, para vingar a morte do capoeirista. O incêndio, indiretamente, auxilia o português, que o reconstrói, fazendo um cortiço mais novo e mais próspero. Com o tempo, João Romão aproxima-se cada vez mais de Miranda. Só resta tirar a escrava Bertoleza do caminho. Ameaçada de voltar ao cativeiro, a negra suicida-se. João Romão casa-se com Zulmira. Raul Pompeia A posição de Raul Pompeia, ficcionista de alturas geniais, na literatura brasileira é controvertida. A princípio, a críti- ca o julgou pertencente ao Naturalismo, mas as qualidades artísticas presentes em sua obra fazem-no aproximar-se do Simbolismo, ficando a sua arte como a expressão típica, na literatura brasileira, do estilo impressionista. Sua obra mais conhecida é O ateneu. O Ateneu (1888) O romance O Ateneu tem cunho memorialista e ressalta em seu eixo fundamental o estudo psicológico de um ado- lescente. O foco narrativo é centrado em Sérgio, personagem constantemente em conflito com os valores impostos pela direção do internato. Surgem no romance os problemas criados pela educação convencional: a homossexualidade, as revoltas e a corrupção. Oscilando entre ser um diário e um romance, o livro é recheado das experiências do menino Sérgio no internato, dirigido pela mão de ferro do diretor Aristarco de Ramos. Trata-se de quadros narrativos que vão sendo expostos ao leitor. Personagens e situações do colégio são apresentados, desvendando-se um mundo de hipocrisias e falsidades em que até amigos tornam-se delatores. A história do internato passa pela formação sexual e intelectual do adolescente como um reflexo da sociedade e focaliza, ao mesmo tempo, a decadência do regime monárquico-escravocrata brasileiro. No colégio há um sistema de “proteções”, estudantes mais velhos tomam a guarda de mais novos. O sis- tema esconde todo tipo de baixeza, inclusive o assassinato provocado pela criada Ângela. A atmosfera saturada e falsa, forjada pelo diretor Aristarco, contamina a todos, com exceção de D. Ema, esposa do diretor,que é pessoa de muito boa vontade e vem a ser alvo de uma paixão platônica do menino Sérgio. A obra termina com um incêndio provocado pelo estudante Américo. PaRnasianismo Escola literária exclusiva da França e do Brasil, o Parnasianismo originou-se com as antologias poéticas publicadas na França a partir de 1866, sob o título Le Parnasse contemporain (O Parnaso contemporâneo). Os parnasianos interessaram-se apenas por poesia e foram guiados pela estética da “arte pela arte”, pro- posta pelo precursor da escola, o poeta francês Théophile Gautier (1811-1872). 50 A “arte pela arte” estava voltada para o ideal clássico de beleza e harmonia de formas. Para os parnasianos, a estrutura métrica e sonora de seus versos era perfeita, uma vez que predominava neles a técnica do bom versejar em vez da inspiração. No Brasil, o movimento é contemporâneo ao Realismo-Naturalismo, uma vez que os poetas parnasianos compuseram suas obras entre o final do século XIX e o começo do século XX, adotando a moda importada da França. A partir de 1878, no Diário do Rio de Janeiro, os simpatizantes do Realismo entraram em polêmica aberta contra os do Parnasianismo. Esse desentendimento ficou conhecido como Batalha do Parnaso e acabou servindo para divulgar a estética parnasiana, logo alcunhada de “ideia nova”, nos meios artísticos do País. caRacteRísticas da POesia PaRnasiana § Objetividade no tratamento dos temas abordados, baseados na realidade sem subjetivismo e emoção. § Impessoalidade do escritor que não interfere na abordagem dos fatos. § Valorização da estética e busca da perfeição, da beleza em si e da perfeição estética. § Preferência pelas rimas esteticamente ricas. § Linguagem rebuscada e vocabulário vernáculo. § Temas frequentes ligados à mitologia grega e à cultura clássica. § Preferência pelos sonetos. § Valorização da metrificação rigorosa dos versos. § Valorização da descrição de cenas e objetos. PaRnasianOs nO bRasil “A estética parnasiana cristalizou-se entre nós depois da publicação de Fanfarras, de Teófilo Dias, livro em que o movimento antirromântico começa a se definir no espírito e na forma dos parnasianos franceses”, explica Manuel Bandeira, em estudo dedicado ao movimento. Coube, no entanto, à chamada tríade parnasiana, formada por Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac, a consolidação do Parnasianismo brasileiro. simBolismo O Simbolismo correspondeu a uma resposta artística à crise de civilização burguesa da Europa industrializada. Foi uma revolta contra a ideologia tecnocrática do Naturalismo e contra certos dogmas, como o determinismo, por exemplo, que sufocavam a criatividade artística. Essa luta foi instintiva e afetiva, bem como pessimista. O artista dos últimos anos do século XIX negava os valores da sociedade burguesa de forma problemática e autodilacerante, e, além disso, parecia estar descontente consigo mesmo. A arte simbolista apresentou significativa elaboração estética. Apesar de se referir a um mundo decadente, suas formas eram bastante refinadas: procuram servir de refúgio ao artista diante de um mundo marcado pelas práticas burguesas. Por valorizar o mundo inteiro e os valores espirituais, a atitude da arte simbolista é subjetivista, muito semelhante a dos românticos da metade do século XIX. Porém, os simbolistas vão mais além, atingindo as 51 camadas do inconsciente e do subconsciente. Eles retomam o misticismo, o sonho, a fé, numa tentativa de encontrar novos caminhos. Na trilha do desconhecido, o movimento explora a possibilidade de estabelecer relações entre o mundo visível e o invisível, o universo que se pode sentir, mas não revelar, exceto pela representação de sensações. De acordo com o determinismo, os acontecimentos na vida de uma pessoa, bem como suas vontades, es- colhas e comportamentos, eram causados por influência do meio. Em razão disso, as pessoas eram consideradas resultado direto do meio, destituídas de plena liberdade, decisão e escolha. Nascido nesse mesmo contexto, o Impressionismo, movimento artístico francês, caracterizou-se pelo estilo fundamentalmente sensorial, no qual a natureza era encarada não de forma objetiva, mas interpretada. Prevalecia, portanto, a verdade do artista. caRacteRísticas da liteRatuRa simbOlista § A teoria das correspondências. § A realidade ambígua. § A musicalidade. § Metáforas e analogias sensoriais. simbOlismO em PORtugal O marco inicial do Simbolismo em Portugal foi Oaristos, de Eugênio de Castro, em 1890. O prefácio traz um verda- deiro programa de estética simbolista, com base nas ideias do poeta francês Jean Moréas. O término do Simbolismo português deu-se em 1915, quando Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro lançaram a revista Orpheu, que deu início ao movimento modernista. simbOlismO nO bRasil Como o Parnasianismo, o movimento simbolista também se projetou no século XX, sendo que sua influência estendeu-se pelo Pré-modernismo e Modernismo, considerando que houve modernistas neossimbolistas. O decadentismo do final do século XIX reflete-se no Simbolismo do Brasil, se considerar estas três orienta- ções que o nortearam: § Orientação humanístico-social adotada por Cruz e Sousa e continuada, mais tarde, por Augusto dos Anjos: preocupação com os problemas transcendentais do ser humano. § Orientação místico-religiosa adotada por Alphonsus de Guimaraens: temas religiosos distantes do eso- terismo europeu. § Orientação intimista-crepuscular adotada por pré-modernistas e modernistas, como Olegário Mariano, Guilherme de Almeida, Ribeiro Couto, Manuel Bandeira e Cecília Meireles: temas relacionados com o coti- diano, sentimentos melancólicos e gosto pela penumbra. A produção em prosa não vingou no Simbolismo brasileiro, mesmo com a poesia em prosa de Cruz e Sousa, por exemplo. Ficou voltada para a poesia em um momento histórico em que o País estava marcado por frustrações, falta de perspectiva, angústias. 52 u.t.i. - sala 1. (UFG) Leia os textos que seguem: Sub Tegmini Fagi [...] Vem comigo cismar risonho e grave... A poesia - é uma luz... e a alma - uma ave... Querem - trevas e ar. A andorinha, que é a alma - pede o campo. A poesia quer sombra - é o pirilampo... P’ra voar... p’ra brilhar. [...] ALVES, Castro. “Espumas flutuantes”. São Paulo: Ateliê Editorial, 1998. p. 105 poiesis II luz lapidada de ourives segredo incorruptível brilho faz da sua chama meu ideograma MAGALHÃES, Carlos F. F. de. “Perau”. Goiânia: Vieira, 2004. p. 203. A estrofe de Castro Alves e o poema de Carlos Fernando F. de Magalhães apresentam aspectos que os aproximam e os distinguem. Tendo em vista esse fato, indique a) um aspecto comum aos dois textos; b) dois aspectos que os diferenciam. 2. (UFBA) AVES DE ARRIBAÇÃO IV É noite! Treme a lâmpada medrosa Velando a longa noite do poeta... Além, sob as cortinas transparentes Ela dorme... formosa Julieta! Entram pela janela quase aberta Da meia-noite os preguiçosos ventos E a lua beija o seio alvinitente - Flor que abrira das noites aos relentos. O Poeta trabalha!... A fronte pálida Guarda talvez fatídica tristeza... Que importa? A inspiração lhe acende o verso Tendo por musa - o amor e a natureza! E como o cáctus desabrocha o medo Das noites tropicais na mansa calma, A estrofe entreabre a pétala mimosa Perfumada da essência de sua alma. No entanto Ela desperta... num sorriso Ensaia um beijo que perfuma a brisa ... ... A Casta-diva apaga-se nos montes ... Luar de amor! acorda-te, Adalgisa! (ALVES, Castro. OS MELHORES POEMAS DE CASTRO ALVES. Seleção de Lêdo lvo. 4 ed. São Paulo: Global Ed., 1988. p. 78.) Quais as características da lírica romântica - conteúdo e linguagem - presentes na poesia de Castro Alves? Escreva um texto sobre essas características, ilustrando-as com exemplos retirados do poema anterior. 53 3. (Puc - RJ) Texto 1 Beijei na areia os sinais de teus passos, beijei os meus braços que tu havias apertado, beijei a mão que te ultrajara nummomento de loucura, e os meus próprios lábios que roçaram tua face num beijo de perdão. Que suprema delícia, meu Deus, foi para mim a dor que me causavam os meus pulsos magoados pelas tuas mãos! Como abençoei este sofrimento!... Era alguma cousa de ti, um ímpeto de tua alma, a tua cólera e indignação, que tinham ficado em minha pessoa e entravam em mim para tomar posse do que te pertencia. Pedi a Deus que tornasse indelével esse vestígio de tua ira, que me santificara como uma cousa tua! .................................................................. Quero guardar-me toda só para ti. Vem, Augusto: eu te espero. A minha vida terminou; começo agora a viver em ti. (José de Alencar. “Diva”. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996. p.121.) O texto acima é um trecho do último capítulo de “Diva”, romance de Alencar que, ao lado de “Senhora” e “Lucíola”, forma a trilogia de “perfis femininos”. Trata-se de uma carta escrita por Emília, protagonista da estória, ao jovem médico Augusto. A partir da leitura do texto, indique as características românticas presentes no fragmento, justificando com exemplos. 4. (UFMG - Adaptada) Leia este trecho TRECHO 1 O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo. O que aqui está é, mal comparando, semelhante à pintura que se põe tia barba e nos cabelos, e que apenas conserva o hábito eterno, como se diz nas autopsias; o interno não aguenta tinta. MACHADO DE ASSIS, J. M. Dom Casmurro. São Paulo: Globo, 1997. p. 3. A partir da leitura desse trecho, explique como o narrador aborda as possibilidades de a escrita reconstituir o passado. 5. (UNB-Adaptada) O emplasto Um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma ideia no trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais arrojadas cambalhotas. Eu deixei- -me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-te. Essa ideia era nada menos que a invenção de um medicamento sublime, um emplasto anti-hipo- condríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade. Na petição de privilégio que então redigi, chamei a atenção do governo para esse resultado, verda- deiramente cristão. Todavia, não neguei aos amigos as vantagens pecuniárias que deviam resultar da distribuição de um produto de tamanhos e tão profundos efeitos. Agora, porém, que estou cá do outro lado da vida, posso confessar tudo: o que me influiu principalmente foi o gosto de ver impressas nos jornais, mostradores, folhetos, esquinas e, enfim, nas caixinhas do remédio, estas três palavras: Emplasto Brás Cubas. Para que negá-lo? Eu tinha a paixão do arruído, do cartaz, do foguete de lágrimas. Talvez os modestos me arguam esse defeito; fio, porém, que esse talento me hão de reconhecer os hábeis. Assim, a minha ideia trazia duas faces, como as medalhas, uma vi- rada para o público, outra para mim. De um lado, filantropia e lucro; de outro, sede de nomeada. Digamos: — amor da glória. Um tio meu, cônego de prebenda inteira, costumava dizer que o amor da glória temporal era a perdição das almas, que só devem cobiçar a glória eterna. Ao que retorquia outro tio, oficial de um dos antigos terços de infantaria, que o amor da glória era a coisa mais verdadeiramente humana que há no homem e, consequentemente, a sua mais genuína feição. Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas. Obra completa, v. I. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992, p. 514-5 (com adaptações). O trecho acima trata do momento que Brás Cubas, ao descrever a ideia do emplastro, revela a forte preocupação que possuía com a imagem de si mesmo na sociedade. Considerando o contexto da obra, quais outros caminhos o personagem deveria percorrer para que sua boa aparência social fosse man- tida? Ao final de sua vida, essa imagem é conservada? 54 u.t.i. - e.o. 1. (Uflavras) Leia os seguintes fragmentos de “Ma- rília de Dirceu”, de Tomás Antônio Gonzaga. Texto 1 Verás em cima de espaçosa mesa Altos volumes de enredados feitos; Ver-me-ás folhear os grandes livros, E decidir os pleitos. Texto 2 Os Pastores, que habitam este monte, Respeitam o poder do meu cajado; Com tal destreza toco a sanfoninha, Que inveja me tem o próprio Alceste. Responda: Em qual dos fragmentos o sujeito lírico é ca- racterizado de acordo com a convenção arcá- dica? Explique. 2. (UNB) I-Juca Pirama Gonçalves Dias Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi: Sou filho das selvas, Nas selvas cresci; Guerreiros, descendo Da tribo Tupi. Da tribo pujante, Que agora anda errante Por fado inconstante, Guerreiros, nasci; Sou bravo, sou forte, Sou filho do Norte; Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi. Aos golpes do imigo, Meu último amigo, Sem lar, sem abrigo Caiu junto a mi! Com plácido rosto, Sereno e composto, O acerbo desgosto Comigo sofri. Meu pai a meu lado Já cego e quebrado, De penas ralado, Firmava-se em mi: Nós ambos, mesquinhos, Por ínvios caminhos, Cobertos d’espinhos Chegamos aqui! Eu era o seu guia Na noite sombria, A só alegria Que Deus lhe deixou: Em mim se apoiava, Em mim se firmava, Em mim descansava, Que filho lhe sou. Ao velho coitado De penas ralado, Já cego e quebrado, Que resta? – Morrer. Enquanto descreve O giro tão breve Da vida que teve, Deixai-me viver! Não vil, não ignavo, Mas forte, mas bravo, Serei vosso escravo: Aqui virei ter. Guerreiros, não coro Do pranto que choro: Se a vida deploro, Também sei morrer. A partir da leitura do clássico poema do india- nismo brasileiro, Juca Pirama, e com base em seus conhecimentos, responda ao que se pede: a) Por que razão é possível dizer que um poe- ma como Juca Pirama superou o movimento literário anterior? b) Em que medida o esquema rítmico contribui para conteúdo expresso no poema? 3. (UFJF-Pism) TEXTO I SONETO DO EPITÁFIO Lá quando em mim perder a humanidade Mais um daqueles, que não fazem falta, Verbi-gratia – o teólogo, o peralta, Algum duque, ou marquês, ou conde, ou fra- de: Não quero funeral comunidade, Que engrole “sub-venites” em voz alta; Pingados gatarrões, gente de malta, Eu também vos dispenso a caridade: Mas quando ferrugenta enxada edosa Sepulcro me cavar em ermo outeiro, Lavre-me este epitáfio mão piedosa: “Aqui dorme Bocage, o putanheiro; Passou vida folgada, e milagrosa; Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro”. (BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du. In: LAJOLO, Marisa. (Org.) Literatura Comentada: Bocage. São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 91. Ortografia atualizada.) 55 TEXTO II LEMBRANÇA DE MORRER Quando em meu peito rebentar-se a fibra, Que o espírito enlaça à dor vivente, Não derramem por mim nem uma lágrima Em pálpebra demente. E nem desfolhem na matéria impura A flor do vale que adormece ao vento: Não quero que uma nota de alegria Se cale por meu triste passamento. Eu deixo a vida como deixa o tédio Do deserto, o poento caminheiro – Como as horas de um longo pesadelo Que se desfaz ao dobre de um sineiro; Como o desterro de minh’alma errante, Onde o fogo insensato a consumia: Só levo uma saudade – é desses tempos Que amorosa ilusão embelecia. [...] Descansem o meu leito solitário Na floresta dos homens esquecida, À sombra de uma cruz, e escrevam nela: Foi poeta – sonhou – e amou na vida. Sombras do vale, noites da montanha Que minha alma cantou e amava tanto, Protegei o meu corpo abandonado, E no silêncio derramai-lhe canto! Mas quando preludia ave d’aurora E quando à meia-noite o céu repousa, Arvoredos do bosque, abri os ramos. Deixai a lua pratear-me a lousa! (AZEVEDO, Álvares de.Lira dos Vinte anos. In: Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. p. 188-189.) Com base nos textos I e II, responda: a) Quais são as características do soneto de Bo- cage (textoI) que nos permitem identificá- -lo como satírico? b) Os poemas de Bocage (texto I) e Álvares de Azevedo (texto II) tratam diferentemente do mesmo tema. Identifique esse tema e expli- cite as maneiras como cada autor o trata, relacionando-as com o contexto de época. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. VAGABUNDO Eu durmo e vivo ao sol como um cigano, Fumando meu cigarro vaporoso; Nas noites de verão namoro estrelas; Sou pobre, sou mendigo e sou 1ditoso! Ando roto, sem bolsos nem dinheiro Mas tenho na viola uma riqueza: Canto à lua de noite serenatas, E quem vive de amor não tem pobreza. (...) Oito dias lá vão que ando cismado Na donzela que ali defronte mora. Ela ao ver-me sorri tão docemente! Desconfio que a moça me namora!... Tenho por meu palácio as longas ruas; Passeio a gosto e durmo sem temores; Quando bebo, sou rei como um poeta, E o vinho faz sonhar com os amores. O degrau das igrejas é meu trono, Minha pátria é o vento que respiro, Minha mãe é a lua macilenta, E a preguiça a mulher por quem suspiro. Escrevo na parede as minhas rimas, De painéis a carvão adorno a rua; Como as aves do céu e as flores puras Abro meu peito ao sol e durmo à lua. (...) Ora, se por aí alguma bela Bem doirada e amante da preguiça Quiser a 2nívea mão unir à minha, Há de achar-me na Sé, domingo, à Missa. Álvares de Azevedo Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. 1ditoso − feliz 2nívea − branca 4. (UERJ) Na quinta estrofe do poema Vaga- bundo, Álvares de Azevedo, poeta da segun- da geração do Romantismo, aborda um tema muito frequente entre os primeiros român- ticos. Identifique o tema e explique a diferença entre a abordagem desse tema por Álvares de Azevedo e pelos poetas românticos da pri- meira geração. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES. TEXTO A primeira vez que vim ao Rio de Janeiro foi em 1855. Poucos dias depois da minha chegada, um amigo e companheiro de infância, o Dr. Sá, levou-me à festa da Glória; uma das poucas festas populares da corte. Conforme o costu- me, a grande romaria desfilando pela Rua da Lapa e ao longo do cais serpejava nas faldas do outeiro e apinhava-se em torno da poé- tica ermida, cujo âmbito regurgitava com a multidão do povo. Era ave-maria quando chegamos ao adro; perdida a esperança de romper a mole de gente que murava cada uma das portas da igreja, nos resignamos a gozar da fresca viração que vinha do mar, contemplando o delicioso panorama da baía e admirando ou criticando as devotas que também tinham 56 chegado tarde e pareciam satisfeitas com a exibição de seus adornos. Enquanto Sá era disputado pelos numerosos amigos e conhecidos, gozava eu da minha tranquila e independente obscuridade, sen- tado comodamente sobre a pequena muralha e resolvido a estabelecer ali o meu observa- tório. Para um provinciano lançado recém- -lançado-chegado à corte, que melhor festa do que ver passar-lhe pelos olhos, à doce luz da tarde, uma parte da população desta grande cidade, com os seus vários matizes e infinitas gradações? Todas as raças, desde o caucasiano sem mes- cla até o africano puro; todas as posições, desde as ilustrações da política, da fortuna ou do talento, até o proletário humilde e desconhecido; todas as profissões, desde o banqueiro até o mendigo; finalmente, todos os tipos grotescos da sociedade brasileira, desde a arrogante nulidade até a vil lisonja, desfilaram em face de mim, roçando a seda e a casimira pela baeta ou pelo algodão, mis- turando os perfumes delicados às impuras exalações, o fumo aromático do havana às acres baforadas do cigarro de palha. ALENCAR, José de. Lucíola. São Paulo: Editora Ática, 1988, p. 12. 5. (Puc - RJ) No último parágrafo, Alencar con- trasta a seda e o algodão, o havana e o cigar- ro de palha. Explique a natureza desse contraste explici- tando conotações associáveis a tais expres- sões substantivas. 6. (Puc - RJ) O romance “Lucíola”, publicado em 1862, é considerado uma das mais im- portantes obras de José de Alencar. Cite TRÊS aspectos que marcam o estilo de época a que se filia o autor, tendo como referência o fragmento selecionado. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS QUESTÃO. CAPÍTULO LXIII / TABULETA NOVA Era um simples fabricante e vendedor de doces, estimado, afreguesado, respeitado, e principalmente respeitador da ordem públi- ca... - Mas o que é que há? perguntou Aires. - A república está proclamada. - Já há governo? - Penso que já; mas diga-me V. Ex.ª: ouviu alguém acusar-me jamais de atacar o gover- no? Ninguém. Entretanto... Uma fatalidade! Ve- nha em meu socorro. Excelentíssimo. Ajude- -me a sair deste embaraço. A tabuleta está pronta, o nome todo pintado. – “Confeitaria do Império”, a tinta é viva e bonita. O pintor teima em que lhe pague o trabalho, para en- tão fazer outro. Eu, se a obra não estivesse acabada, mudava de título, por mais que me custasse, mas hei de perder o dinheiro que gastei? V. Ex.ª 10 crê que, se ficar “Império”, venham quebrar-me as vidraças? - Isso não sei. - Realmente, não há motivo; é o nome da casa, nome de trinta anos, ninguém a conhe- ce de outro modo. - Mas pode pôr “Confeitaria da República”... - Lembrou-me isso, em caminho, mas tam- bém me lembrou que, se daqui a um ou dous meses, houver nova reviravolta, fico no pon- to em que estou hoje, e perco outra vez o dinheiro. - Tem razão... Sente-se. - Estou bem. - Sente-se e fume um charuto. Custódio recusou o charuto, não fumava. Aceitou a cadeira. Estava no gabinete de trabalho, em que algumas curiosidades lhe chamariam a atenção, se não fosse o atordo- amento do espírito. Continuou a implorar o socorro do vizinho. S. Ex.a, com a grande in- teligência que Deus lhe dera, podia salvá-lo. Aires propôs-lhe um meio-termo, um título que iria com ambas as hipóteses, - “Confei- taria do Governo”. - Tanto serve para um regímen como para outro. [ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó. In: Obra Completa. vol. 3. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1975, p.1028-1029.] 7. (Puc - RJ) O texto consiste no diálogo en- tre o Conselheiro Aires, diplomata, e o co- merciante Custódio, dono da Confeitaria do Império, no momento da proclamação da Re- pública no Brasil. A partir das considerações das duas personagens sobre a possível troca do nome da Confeitaria, comente, com suas próprias palavras, a visão crítica presente na literatura machadeana. TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. TEXTO I Sim, meu pai adorava-me. Minha mãe era uma senhora fraca, de pouco cérebro e mui- to coração, assaz crédula, sinceramente pie- dosa caseira, apesar de bonita, e modesta, apesar de abastada; temente às trovoadas e ao marido. O marido era na terra o seu deus. Da colaboração dessas duas creaturas nasceu a minha educação, que, se tinha alguma cou- sa boa, era no geral viciosa, incompleta e, em partes, negativa. Meu tio cônego fazia às vezes alguns reparos ao irmão; dizia-lhe que 57 ele me dava mais liberdade do que ensino, e mais afeição do que emenda; mas meu pai respondia que aplicava na minha educação um sistema inteiramente superior ao sem- pre usado; e por este modo, sem confundir o irmão, iludia-se a si próprio. (ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas, 1881) TEXTO II Passou pela sala, sem parar avisou ao marido: vamos sair! e bateu a porta do apartamen- to. Antônio mal teve tempo de levantar os olhos do livro e com surpresa espiava a sala já vazia. Catarina! Chamou, mas já se ouvia o ruído do elevador descendo. Aonde foram? perguntou-se inquieto, tossindo e assoando o nariz. Porque sábado era seu, mas ele que- ria que sua mulher e seu filho estivessem em casa enquanto ele tomava o seu sábado. Ca- tarina! chamou aborrecido embora soubesse que ela não poderia mais ouvi-lo. Levantou- -se, foi à janela e um segundo depois enxer- gou sua mulher e seu filho na calçada. (LISPECTOR, Clarice. In: - Laços de Família, 1960) 8. (UFRJ) Os textos I e II apresentam diferen- ças no comportamento dos personagens fe- mininos. Como se manifesta a relação marido/mulher nos textos I e II? 9.(UFV) Considere as seguintes afirmativas: a) “Esforço-me por entrar no espartilho e seguir uma linha reta geométrica: ne- nhum lirismo, nada de reflexões, ausente a personalidade do autor.” Gustav Flau- bert (Cf. BOSI, Alfredo. “História concisa da literatura brasileira.” São Paulo: Cul- trix, 1994. p.169) b) “Em “Thérese Raquin”, eu quis estudar temperamentos e não caracteres. Aí está o livro todo. Escolhi personagens sobera- namente dominadas pelos nervos e pelo sangue, desprovidas de livre-arbítrio, arrastadas a cada ato de sua vida pelas fatalidades da própria carne [...].” Émile Zola (Cf. BOSI, Alfredo. “História concisa da literatura brasileira.” São Paulo: Cul- trix, 1994. p.169) Os princípios estéticos introduzidos por Flaubert e Zola, respectivamente, os men- tores do Realismo e do Naturalismo, ser- vem como parâmetro para que se possam estabelecer as diferenças básicas entre essas duas escolas literárias. Reflita sobre as afirmações dos referidos es- critores franceses e destaque os pontos con- vergentes e divergentes entre as manifesta- ções da prosa de ficção realista-naturalista no Brasil. TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. TEXTO I Rita Baiana Zezé Motta Olha meu nego quero te dizer O que me faz viver O que quase me mata de emoção É uma coisa que me deixa louca Que me enche a boca Que me atormenta o coração Quem sabe um bruxo Me fez um despacho Porque eu não posso sossegar o facho É sempre assim Ai essa coisa que me desatina Me enlouquece, me domina Me tortura e me alucina Olha meu nego Isso não dá sossego E se não tem chamego Eu me devoro toda de paixão Acho que é o clima feiticeiro O Rio de Janeiro que me atormenta O coração Eu nem consigo nem pensar direito Com essa aflição dentro do meu peito Ai essa coisa que me desatina Me enlouquece, me domina Me tortura e me alucina E me dá Uma vontade e uma gana dá Uma saudade da cama dá Quando a danada me chama Maldita de Rita Baiana Num outro dia o português lá da Gamboa O Epitácio da Pessoa Assim à toa se engraçou e disse: “Oh Rita rapariga eu te daria 100 miréis por teu amor” Eu disse: Vê se te enxerga seu galego de uma figa Se eu quisesse vida fácil Punha casa no Estácio Pra Barão e Senador Mas não vendo o meu amor Ah, ah, isso é que não! Olha meu nego quero te dizer Não sei o que fazer Pra me livrar da minha escravidão Até parece que é literatura Que é mentira pura Essa paixão cruel de perdição Mas não me diga que lá vem de novo A sensação Olha meu nego assim eu me comovo Agora não Ai essa coisa que me desatina Me enlouquece, me domina Me tortura e me alucina E me dá Uma vontade e uma gana dá 58 Uma saudade da cama dá Quando a danada me chama Maldita de Rita Baiana Disponível em: <www.letras.mus.br/zeze- motta/240340/>. Acesso em: 3 out. 2012. TEXTO II TEXTO III Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu che- gando aqui: ela era a luz ardente do meio- -dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas brasi- leiras; era a palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti mais doce que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagar- ta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela saudade da terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir den- tro do sangue uma centelha daquele amor setentrional, uma nota daquela música feita de gemidos de prazer, uma larva daquela nu- vem de cantáridas que zumbiam em torno da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosforescência afrodisíaca. AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. Rio de Janeiro: Otto Pierre, 1979. p. 110-111. 10. (UFG) No estabelecimento da coesão textual da letra de canção, a referência ao sentimen- to que move Rita é feita de maneira peculiar. Nesse sentido, responda: a) Que sentimento é esse? b) Considerando-se a progressão das ideias no texto, como a referenciação é promovida? c) Que efeito de sentido o modo de progressão das ideias provoca em quem lê a canção? U.T.I. 2 Obras literárias 61 SonetoS - LuíS Vaz de CamõeS Autor Luís Vaz de Camões (1524-1580) foi um poeta português. Autor do poema “Os Lusíadas”, uma das obras mais importantes da literatura portuguesa, que celebra os feitos marítimos e guerreiros de Portugal. É o maior represen- tante do Classicismo português. Luís de Camões nasceu em Coimbra ou Lisboa, não se sabe o local exato nem o ano de seu nascimento: supõe-se por volta de 1524. Filho de Simão Vaz de Camões e Ana de Sá e Macedo, ingressou no Exército da Coroa de Portugal e em 1547, embarcou como soldado para a África, onde participou da guerra contra os Celtas, no Marrocos, e em combate perdeu o olho direito. Em 1552, de volta à Lisboa frequentou tanto os serões da nobreza como as noitadas populares. Em uma briga, feriu um funcionário real e foi preso. Embarcou para a Índia em 1553, onde participou de várias expedições militares. Em 1556, foi para a China, também em várias expedições. Em 1570, voltou para Lisboa, já com os ma- nuscritos do poema “Os Lusíadas”, que foi publicado em 1572, com a ajuda do rei D. Sebastião. O poema “Os Lusíadas”, funde elementos épicos e líricos e sintetiza as principais marcas do Renascimento português: o humanismo e as expedições ultramarinas. Inspirado em “A Eneida”, de Virgílio, narra fatos heroicos da história de Portugal, em particular a descoberta do caminho marítimo para as Índias por Vasco da Gama. No poema, Camões mescla fatos da História Portuguesa à intrigas dos deuses gregos, que procuram ajudar ou atra- palhar o navegador. Um aspecto que diferencia “Os Lusíadas” das antigas epopeias clássicas é a presença de episódios líricos, sem nenhuma relação com o tema central que é a viagem de Vasco da Gama. Entre os episódios, destaca-se o as- sassinato de Inês de Castro, em 1355, pelos ministros do rei D. Afonso IV de Borgonha, pai de D. Pedro, seu amante. Luís de Camões é o poeta erudito do Renascimento, inspira-se em canções ou trovas populares e escreve poesias que lembram as cantigas medievais. Revela em seus poemas uma sensibilidade para os dramas humanos, amorosos ou existenciais. A maior parte da obra lírica de Camões é composta de sonetos e redondilhas, de uma perfeição geométrica, sem abuso de artifícios, tudo parece estar no lugar correto. No século XVI, em todos os reinos católicos, os livros deveriam ter a aprovação da Inquisição para serem publicados. Isso ocorreu com “Os Lusíadas”, conforme texto de frei Bartolomeu, no qual comenta as características da obra e ressalva que a presença de deuses pagãos não devem preocupar porque não passa de recurso poético do autor. Uma das amadas de Camões foi a jovem chinesa Dinamene, que morreu afogada em um naufrágio. Diz a lenda que Camões conseguiu salvar o manuscrito de “Os Lusíadas”, segurando com uma das mãos e nadando com a outra. Camões escreve vários sonetos lamentando a morte da amada. O mais famoso é “A Saudade do Ser Ama- do”. Camões deixou além de “Os Lusíadas”, um conjunto de poesias líricas, entre elas, “Os Efeitos Contraditórios do Amor” e “O Desconcerto do Mundo”, e as comédias “El-Rei Seleuco”, “Filodemo” e “Anfitriões”. Luís Vaz de Camões morreu em Lisboa, Portugal, no dia 10 de junho 1580, em absoluta pobreza. (Fonte: http://www.e-biografias.net/luis_camoes/ em 14/04/2016) Aspecto formAl - o soneto O soneto é a forma praticada pelo italiano Francesco Petrarca (1304-1374), a grande inspiração de Camões, tanto no conteúdo quanto na forma. No soneto clássico, os versos eram decassílabos. O soneto é uma forma poética fixa que surgiu na Itália. Possui catorze versos, distribuídos em duas estrofes de quatro versos (quartetos) seguidas de duas de três versos (tercetos). 62 temAs Em Camões, a temática do amor espiritualconvive com a do amor carnal. Essa coexistência, por vezes tensa, per- mite perceber o que há de barroco na poesia camoniana. Mas os conflitos encontram sua resolução nos limites da razão clássica. O eu lírico camoniano consegue ser, ao mesmo tempo, intimista (o suficiente para relatar ou referir um conjunto de experiências amorosas particulares) e universal (ao conferir a essas experiências um caráter de reflexão de valor mais amplo). Ainda podemos encontrar recorrência nas referências mitológicas. O “Amor neoplatônico” e o “Desconcerto do mundo” Camões expõe o conflito entre expectativas e realizações humanas. O chamado maneirismo, expressão de contradi- ções. O poeta se enquadra no modelo, como pode ser percebido em sonetos como “Tanto de meu estado de acho incerto” ou “Amor é fogo que arde sem se ver”. Há muito de maneirista também no reconhecimento das limitações da razão no esforço de definição do amor – tema de “Busque amor novas artes, novo engenho”. A amada, associada a um ideal de perfeição que, embora platônica, é possível observar aspectos físicos e carnais: Por exemplo em “Quando da bela vista e doce riso” ou “Alegres campos, verdes arvoredos”. A celebração do amor aparece em “Quem vê, Senhora, claro e manifesto” e em “O tempo acaba o ano, o mês e a hora”, por exemplo. Nessa celebração, o amor físico e o espiritual se misturam, permitindo a convivência de conceitos platônicos, como se pode notar em “Transforma-se o amador na cousa amada”. SermõeS de quarta-feira de Cinza - Padre antônio Vieira Autor “Imperador da língua portuguesa, Foi-nos um céu também.” (Fernando Pessoa – Mensagem) O padre Antônio Vieira foi um escritor do barroco em língua portuguesa oriundo de Portugal junto a Cia. de Jesus no propósito de catequese contrarreformista de Portugal. Autor de mais de 200 sermões, destacando o “Sermão da Sexagésima”, cerca de 500 cartas e profecias que reuniu no livro “Chave dos Profetas”, que nunca acabou. A família de Antônio Vieira veio para o Brasil, especificamente em Salvador, na Bahia, quando ele tinha sete anos. Seu pai era funcionário do império português. Aos 15 anos, ingressou na Companhia de Jesus. 63 Formou-se noviço em 1626, e além de teologia estudou lógica, física, metafísica, matemática e economia. Lecionou humanidades e retórica em Olinda e em 1634 foi ordenado sacerdote, na Bahia. Aos 33 anos, voltou a Portugal com uma comissão de apoio ao novo rei Dom João IV. Nessa época, Portugal passava pela guerra da Restauração da Coroa contra a Espanha. Existiam ainda conflitos contra a Holanda, França e Inglaterra. Em 1643, Vieira foi designado pelo rei Dom João VI para negociar a reconquista das colônias. Suas propos- tas eram conciliar Portugal e Holanda, entregando a província de Pernambuco aos holandeses a título de indeniza- ção; reunir em Portugal os cristãos-novos, isto é, os judeus que estavam espalhados pela Europa, e protegê-los da inquisição. Em troca, os judeus investiriam nos empreendimentos do Império Português. Consideradas absurdas, suas ideias foram rejeitadas e Vieira retornou ao Brasil estabelecendo-se ao norte do Maranhão. Os dois primeiros volumes dos “Sermões” foram publicados em Madri, em 1644, mas a edição es- tava tão ruim que Vieira não a reconheceu como legítima. Em 1661, Padre Vieira foi obrigado a deixar o Maranhão, pressionado pelos senhores de escravos que não concordavam com suas posições contrárias à escravidão indígena. Voltou para Lisboa onde foi condenado pela inquisição em virtude de seus manuscritos “heréticos”: “Quinto Império”; “História do Futuro” e “Chave dos Pro- fetas”. De 1665 a 1667 ficou preso em Coimbra. Em 1669 foi anistiado e seguiu para Roma onde ficou até 1676 sob a proteção da Rainha Cristina da Suécia. Dez anos depois foi publicado oficialmente o primeiro volume dos “Sermões”, em Lisboa. Em 1681 voltou ao Brasil onde passou a dedicar-se à literatura. Padre Antonio Vieira morreu aos 89 anos, na Bahia. sobre A obrA § Sermão de Quarta-feira de Cinza – Ano de 1672 § Sermão de Quarta-feira de Cinza – Ano de 1673, aos 15 de fevereiro, dia da trasladação do mesmo Santo para a Capela Real, que se não pregou por enfermidade do autor. 64 Temática Em três sermões de Quarta-feira de Cinza, data que marca o início do período quaresmal no calendário católico, o jesuíta português Antônio Vieira tratou da morte como cerne da consciência cristã, como objeto de temor que orienta as práticas da existência e ainda como forma última do desejo. Em seu conjunto, os argumentos relativos à eternidade, à hora da morte e às misérias da vida e dos vivos compõem uma dialética afetiva de temor e consolação que está na base de uma surpreendente arte de morrer. Muitos se preocupam somente com a vida na terra, mas esquecem de que ela não é eterna. Vieira revela verdades que poucos são capazes de entender. Nesse curto tempo de vida na Terra, devemos cuidar da nossa alma. Antônio Vieira reflete sobre os modos de ver e viver a vida, usando as palavras com a concisão perfeita da argumentação. Vieira começa usando o tema: “ Memento homo, quia pulvis es, et in pulverem reverentis”, ou seja ‘Lembra-te homem, és pó e ao pó retornarás’, esse é desenvolvido de forma repetitiva em todo o texto, tentando provar que o homem é pó, porque era pó e ao pó voltará, para isso o padre se volta a bíblia e a mitologia fazendo comparações, levanta indagações e responde-as usando uma lógica invejável. O trecho contrapõe os valores do material versus espiritual, que tão ocupados com a vida terrena e cotidiana (coisas materiais) nos esquecemos de verdades simples. O sermão se desenvolve além disso focando na diferença entre os mortos e os vivos – o pó caído (o homem morto) e o pó levantado (o homem vivo) –, reafirmando o tema sob o signo do barroco e do jogo contraditório de palavras. O padre afirma ainda a questão do amor a vida e do medo da morte, recorrendo com base de sustentação do discurso à bíblia, os filósofos, a mitologia e a ciência, tudo como forma de argumentos para provar a grande hi- pocrisia que há no ser humano que se preocupa mais com o que é mortal do que com a imortalidade que é eterna. Coração, Cabeça e eStômago - CamiLo CaSteLo branCo Autor O escritor Camilo Castelo Branco nasceu na freguesia dos Mártires, em Lisboa, Portugal, no dia 16 de março de 1825. Filho de Manuel Joaquim Botelho Castelo Branco e de Jacinta Rosa do Espírito Santo Ferreira, ficou órfão, de mãe, com apenas um ano, e de pai com 10 anos. Sua biografia dramática certamente poderia assemelhar-se a sua obra, especialmente suas tradicionais novelas de cunho passional, do qual ele foi o criador. 65 Composta de mais de cem obras, suas publicações seguem a lógica folhetinesca, abordando temas em novelas satíricas, de terror ou mistério ou históricas e passionais. O ficcionista viveu de literatura e foi um dos primeiros portugueses a viver de sua produção. No ano de 1889, é homenageado na Academia de Lisboa e se torna uma celebridade como escritor. Autor de várias crônicas de cunho irreverente para jornais, recebeu o título de visconde concedido pelo rei de Portugal, D. Luís I. Casou-se aos dezesseis anos de idade, porém, não durou muito e, separado, seguiu para o Porto, em 1843. Lá, ingressou na faculdade de Medicina, mas não finalizou o curso, e se lançou no jornalismo e na vida boemia portuense. Em 1845, publicou seus primeiros trabalhos literários. Foi detido, julgado e, inclusive, preso, em 1852, por protagonizar escândalos amorosos na época, bigamia etc. Porém, em 1856, conheceu o grande amor de sua vida, só que havia mais um problema: Ana Plácido já era casada com um comerciante brasileiro, mas abandonou o marido, em 1859, e foi viver com Camilo. O casal, sempre assolado pelas questões financeiras, foi morar em Lisboa e, depois, em São Miguel de Seide. O ano de 1863 foi decisivo em sua carreira, pois publicou um de seus romances mais renomados, que é Amorde perdição. Suas novelas também reconstituíram um panorama dos costumes de Portugal de seu tempo. Camilo sempre buscou estabelecer profunda sintonia com a cultura do povo português. Tipicamente, viveu os dramas dos relacionamentos burgueses, a ideia de que os relacionamentos são como contratos, em que as pessoas são mercadorias e posses, por isso, a instituição da monogamia tanto o assolava, bem como o influenciava nas tradicionais novelas passionais da segunda geração romântica portuguesa. A tragédia da geração que não aceitou os ditames burgueses, e trouxe (ou levou) da própria vida os temas de suas obras literá- rias, fez com que Camilo Castelo Branco tivesse um fim marcado por uma tragédia: cegueira, em 1887, e suicídio, no dia 1º de junho de 1890. Obras de Camilo Castelo Branco A obra camiliana compreende mais de 250 títulos e sua produção é bastante irregular: alternam-se narrativas bem construídas com outras nem tanto. Apesar dos aspectos novelescos repetitivos que encontramos em boa parte de sua obra, ele não aceita os preconceitos da nobreza ultrapassada, os novos-ricos (os “brasileiros”), os burgueses obcecados pelo dinheiro e o clero venal. § Os mistérios de Lisboa (1854) § Duas épocas na vida (1854) § O livro negro do padre Dinis (1855) § Vingança (1858) § Carlota Ângela (1858) § A morta (1860) § O romance de um homem rico (1861) § Doze casamentos felizes (1861) § Estrelas funestas (1861) § Amor de perdição (1862) § Coração, cabeça e estômago (1862) § Estrelas propícias (1863) § Amor de salvação (1864) § O olho de vidro (1866) § O retrato de Ricardina (1868) § A mulher fatal (1870) § Novelas do Minho (1876) § Perfil do marquês de Pombal (1882) § Vulcões de lama (1886) 66 § Nas trevas (1890) ApresentAção “Coração, cabeça e estômago” Metalinguagem Coração, cabeça e estômago é uma obra romântica da segunda geração, porém ela traz um tom mais real e satírico neste momento ultrarromântico. Trata-se de uma obra metalinguística, um “livro dentro de um livro”, pois se inicia contando a história do próprio livro com o autor explicando e já apresentando o personagem principal. Silvestre ha- via morrido já fazia seis meses, por indigestão. O mesmo deixou dívidas de jogo e, para o autor, manuscritos de um romance autobiográfico. O foco volta-se então para o livro, que é este romance escrito por Silvestre, porém sempre com o dedo do autor, que acresce observações e notas. No livro, o que é chamado de “Nota” pelo autor, pode ser considerado dentro da lógica tradicional do romance com as introjeções do narrador (autor) em caráter digressivo. 67 o eSPeLho - maChado de aSSiS Autor Criador da Academia Brasileira de Letras, o carioca Machado de Assis é o maior escritor brasileiro e reconhecido mundialmente por suas qualidades figurando recorrentemente os principais vestibulares do país. Para se ter uma ideia, a lista unificada da Fuvest-Unicamp de 2010 a 2012 elencava “Dom Casmurro”, e a lista de 2013 a 2015 optou por “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, ambas obras magnas do autor. Sem dúvida, suas obras são as representantes máximas do Realismo, inclusive o início desta Escola literária no Brasil se dá com a publicação de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, em 1881, remodelando a literatura e trazendo conceitos que negaram a prática romântica em voga até então. E é por isso que o “Bruxo do Cosme velho”, como é conhecido Machado, é grande, e entender suas inova- ções é o ponto chave para se dar bem no vestibular. Não podemos esquecer que ele começou escrevendo sobre o molde alencariano, com romances românticos como “Ressurreição”; “A mão e a luva”; “Helena”, “Iaiá Garcia”, mas sem dúvida seu reconhecimento se dá pelas obras Realistas. O diálogo com o leitor, a digressão, a metalinguagem e um mergulho na psicologia do homem montam este conjunto de genialidade temperada por uma ironia refinada que desnuda as aparências da sociedade burguesa com um cinismo elegante que fazem de Machado de Assis um dos maiores nomes da Literatura Mundial. § 1839 – Nasce Joaquim Maria Machado de Assis, no dia 21 de junho, no Rio de Janeiro. Filho do brasileiro Francisco José de Assis e da açoriana Maria Leopoldina Machado de Assis, moradores do morro do Livramento. § 1849 – O autor é cuidado por sua madrinha após o falecimento de sua mãe e de sua única irmã. § 1854 – Seu pai casa-se com Maria Inês da Silva, com quem Machado continuará vivendo após a morte do mesmo. § 1855 – Publica “A palmeira”, seu primeiro trabalho e “Ela”, seu primeiro poema no periódico “Marmota Fluminense”. § 1856 – Entra para a Tipografia Nacional como aprendiz. § 1858 – Estuda francês e latim com o professor Padre Antônio José da Silveira Sarmento. Torna-se o revisor de provas de tipografia e da livraria do jornalista Paula Brito, época em que conhece membros da Sociedade Petalógica, como Manuel Antônio de Almeida, Joaquim Manoel de Macedo. Colabora no jornal O Paraíba, e no Correio Mercantil. § 1864 – Publica “Crisálidas”, seu primeiro livro. § 1867 – Nomeado ajudante do diretor no Diário Oficial. § 1869 – Casa-se com Carolina Augusta Xavier de Novaes. § 1873 – Nomeado o primeiro-oficial da secretaria do Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. § 1878 – Por motivos de doença passa uma temporada em Friburgo. § 1881 – Oficial de Gabinete do ministro da Agricultura, Pedro Luis. § 1888 – Oficial da Ordem da Rosa por decreto do imperador. § 1889 – Diretor na Diretoria do Comércio. § 1897 – É eleito presidente da academia Brasileira de Letras, fundada por ele um ano antes. § 1904 – Torna-se membro da Academia das Ciências, de Lisboa. Morre sua mulher, Carolina Xavier. § 1908 – Falece na cidade do Rio de janeiro em 29 de setembro. 68 A obrA Papéis Avulsos Papéis avulsos, lançado em 1882, é o terceiro livro do escritor Machado de Assis, em sua fase realista. A obra é decisiva em sua produção, pois junto com Memórias Póstumas de Brás Cubas, romance de 1881, apresenta sua fase realista mais severa no plano da ironia e crítica burguesa. Papéis avulsos apresenta o gênero conto, com uma junção de exímias histórias. O título sugere casualidade, porém sabe-se que não há inocência na obra de Machado de Assis, no arranjo dos escritos, tem-se a postura implacável e sutil na representação das bases contraditórias e violentas da sociedade burguesa sob a égide de uma textura fina e tênue do conceito de civilidade. O livro, entre tantas questões, apresenta a maneira que Machado de Assis evoca o materialismo e os cultos vazios da sociedade do século XIX. O Conto O Espelho “Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro… Espantem-se à vontade, podem ficar de boca aberta, dar de ombros, tudo; não admito réplica. Se me replicarem, acabo o charuto e vou dormir. A alma exterior pode ser um espírito, um fluido, um homem, muitos homens, um objeto, uma operação. Há casos, por exemplo, em que um simples botão de camisa é a alma exterior de uma pessoa; — e assim também a polca, o voltarete, um livro, uma máquina, um par de botas, uma cavatina, um tambor, etc. Está claro que o ofício dessa segunda alma é transmitir a vida, como a primeira; as duas completam o homem, que é, metafisicamente falando, uma laranja. Quem perde uma das metades, perde naturalmente metade da existência; e casos há, não raros, em que a perda da alma exterior implica a da existência inteira.” ( Trecho de “O espelho” de Machado de Assis) 69 O conto começa na descrição de um ambiente de discussão provocado por quatro ou cinco senhores que investi- gam as questões imateriais sobre a alma e o universo. Entre eles está Jacobina, o casmurro, que parece apático, distante da conversa. Jacobina considerava esse exercício intelectual vindo da natureza besta, animal do homem, embora seja polido em sociedade. Quando um dos quatro cavalheiros exige uma posição de Jacobina, ele anuncia que falará sobrea alma humana, tomando a palavra adiante. Diz que cada pessoa possui não uma, mas duas almas humanas: uma que se dirige do interior ao exterior e outra que realiza seu curso no sentido contrário, – de fora para dentro. Ambas as almas se completam como duas metades de uma laranja, uma vez que a alma exterior pode se materializar como um livro, um botão, um espetáculo, um evento ou qualquer outro objeto exterior no processo de introversão. Jacobina desenvolve ainda que há casos em que essa mesma alma exterior pode se perder, o que implica para o sujeito em perder metade de sua existência real, bem como um homem rico que perde seu dinheiro, ou uma pessoa qualquer que perde algo, exterior a si. Jacobina diz que contará uma história para provar sua teoria com o silêncio de seus companheiros, para evitar futuras discussões. Jacobina fora pobre na infância e conta que foi nomeado alferes da Guarda Nacional, fato este que mudou muitas coisas para sua família e demais cidadãos. Sua tia Marcolina lhe cobriu de regalias quando foi passar um tempo com a mesma. Ela se orgulhava da patente conquistada por Jacobina. Certo dia, ela trouxe para seu quarto um espelho grande e bonito, proveniente da Família Real Portuguesa. "Se lhes disser que o entusiasmo da tia Marcolina chegou ao ponto de mandar pôr no meu quarto um grande espelho, obra rica e magnífica, que destoava do resto da casa, cuja mobília era modesta e simples... Era um espelho que lhe dera a madrinha, e que esta herdara da mãe, que o comprara a uma das fidalgas vindas em 1808 com a corte de D. João VI. Não sei o que havia nisso de verdade; era a tradição" Todas estas regalias desequilibraram o recém alferes projetando sua alma exterior (sempre mutável) para as cortesias e bons tratos que o circundavam. Logo, a percepção que Jacobina passou a ter de si mesmo foi elaborada por aqueles exteriores a ele. Por isso, ele passa a comportar-se a partir de uma personalidade arrogante, ligada ao luxo da sociedade e apoiada no espírito da mocidade. Restou para Jacobina um resto de humanidade ligada aos deveres de patente: “O alferes eliminou o homem”. “Houve choro e ranger de dentes”. Era um rapaz pobre; seu fardamento foi dado por amigos e depois disso passou a ser visto como o cargo que ocupava na guarda nacional, “o alferes eliminou o homem”. Sua tia Marcolina recebe notícias da doença de sua filha e viaja para vê-la, deixando-o sozinho e os escravos aproveitam para abandonar a casa, logo Jacobina fica sozinho e reflete sobre as sombras da solidão. Os dias foram angustiados pela repentina consciência de perda da sua alma exterior, já que sua alma interior se tornou altamente dependente daquela. Num momento preciso o alferes decide olhar o espelho (algo que não fazia havia algum tem- po) e encontra o reflexo de uma imagem corrompida e difusa. O vidro, cuja função é tão-somente a reflexão de um objeto em sua porção exterior, exibiu o quanto a identidade de Jacobina (sua patente) estava danificada em razão da ausência dos outros. Não se reconhecer diante do espelho levou Jacobina a negar aquela imagem em busca de uma forma para enxergar a si mesmo com nitidez. Em função disso, resolve vestir a farda de alferes – a surpresa – , desta vez pôde ver com clareza os contornos, as formas e os detalhes. Ficou se admirando buscando evitar a solidão e a ideia de se ver distante de sua patente, recuperando, sua alma exterior que o preenchia. Voltando ao salão, Jacobina termina sua história, deixa os cavalheiros em silêncio reflexivo, e vai embora, evitando possíveis discussões que desprezava. 70 O espelho e contradição humana O subtítulo da obra O Espelho, de Machado de Assis, esboça em uma nova “teoria da alma humana”, um estudo sobre o espírito contraditório do homem, metaforizada no espelho. O conto apoia-se na ideia de dualidade da alma – externa e interna –, do homem como um ser dividido entre o consciente e o inconsciente. O espelho aparece cheio de significados que vão da filosofia à mitologia – no conto –, representando a alma exterior de Jacobina. Machado trata da alma humana e, como todo grande escritor, da alma nacional do Brasil, como se observa no trecho a seguir: "O espelho estava naturalmente muito velho, mas via-se-lhe ainda o ouro, comido em parte pelo tempo, uns delfins esculpidos nos ângulos superiores da moldura, uns enfeites de madrepérola e outros caprichos do artis- ta. Tudo velho, mas bom". Personagens e ação A história da personagem Jacobina, apesar de linear, é interrompida por questionamentos dos outros cavalheiros que o ouviam com atenção e uma única vez é interrompido pelo narrador em terceira pessoa. Jacobina segue o ca- minho narrativo oriundo da tradição bíblica, mitológica, literária e filosófica para melhor expor os acontecimentos. § Jacobina – Alferes e personagem principal. § Marcolina – tia de Jacobina. § Quatro ou cinco cavalheiros – acompanham a explanação existencialista de Jacobina. § Escravos – Fogem na ausência de tia Marcolina CaminhoS CruzadoS ApresentAção Caminhos Cruzados é um romance escrito por Erico Verissimo, escritor brasileiro do século XX. Publicado em 1935 como forma de crítica à sociedade da época, também é conhecido por retratar o Rio Grande do Sul. Porto Alegre, na década de 30, é uma cidade em constante desenvolvimento: a cada dia, o número de habitantes aumentava, a constante força da política reverberava com desenvoltura e a elevada chegada de pessoas cultas na cidade a tornava um ícone no Brasil. Caminhos Cruzados é, evidentemente, um livro de protesto que marca a inconformidade do romancista ante as desigualdades, injustiças e absurdos da sociedade burguesa. Não é, pois, de admirar que seu autor tenha sido desde logo apontado por críticos e leitores primários como um agente da propaganda comunista. tipologiA romAnescA Romance urbano de introspecção psicológica Uma cidade inteira aparece nas páginas do livro. A técnica de Veríssimo, nesse momento um autor jovem, mas já com domínio da prática romanesca, é a composição de murais, muitos deles fortemente descritivos que, unidos, compõem uma trama de misérias, opressão social e hipocrisia. Dessa forma, pode-se destacar dois aspectos no livro: Aproximação do texto com as artes plásticas, anunciada aliás pelo próprio autor, em prefácio de 1964; A proximidade do livro com os outros romancistas da década de 1930, todos voltados para uma temática de tom social. 71 núcleos nArrAtivos Nesta obra, enquanto apresenta os personagens, cada um vivenciando uma determinada situação, o autor deixa claro sua neutralidade ao não apontar nenhum predileto ou que tenha uma importância maior que outro qualquer. Todos eles, de uma maneira independente, possuem sua própria significância, mas que estando na mesma localização, emaranham suas condições umas nas outras com a mesma displicência que encontramos diversas pessoas em nosso dia a dia, na rua ou no trabalho, e constroem o enredo adequado para a iniciação do drama que tem a finalidade de criticar as injustiças da sociedade. A história é composta por vários núcleos de personagens que se cruzam, relacionam-se, trombam-se, mas, no fundo, não se conhecem. O formato lembra um pouco o de uma novela. Cada núcleo tem as suas particularidades, os seus personagens, o seu enredo, os seus problemas e as suas esperanças. Esperança essa que é a única característica em comum entre essas pessoas, além disso é ela que move-os em busca de algo que nem eles sabem o que é. a hora e Vez de auguSto matraga - guimaraeS roSa sAgArAnA ApresentAção O protagonista do conto é conhecido como Augusto Matraga, seu nome verdadeiro é Augusto Esteves, filho do Co- ronel Afonsão Esteves, das Pindaíbas e do Saco-da-Embira, também chamado de Nhô Augusto. Caracterizado com o maior valentão do lugar, por perversidade, briga e debocha de todos. Bolina a mulher dos outros e não se preocupa com sua mulher, Dona Dionóra, nem com sua filha, Mimita,bem como com sua fazenda, que entra em ruína. Dionóra, em função disto, foge com Ovídio Moura levando a filha, e seus bate-paus, nome dado aos seus capangas, que por serem mal remunerados, vão trabalhar justamente para seu maior inimigo; o Major Consilva. Ele fica sabendo do fato por Quim Recadeiro e resolve matar Dionóra e Ovídio, mas no caminho é atacado numa emboscada, por seus inimigos, que depois de baterem nele, o marcam com ferro de gado em brasa. Quase inconsciente, no momento em que vai ser assassinado, junta suas últimas forças e se joga no despenhadeiro do rancho do Barranco. Obviamente, dado os ataques e tamanho da queda, todos acharam que ele tinha morrido. Porém, é salvo por um casal de negros velhos: a mãe Quitéria e o pai Serapião, que tratam de Nhô Augusto, que se recupera, porém fica com várias sequelas. 72 Inicia então, no povoado do Tombador uma vida nova, para onde levou os pretos, seus protetores. Tudo isso serve para que ele se regenere e leve uma vida de trabalho, penitência e oração. Sonha com um Deus valentão e começa a fazer o bem. Depois de seis anos, recebe notícias de sua ex-família por intermédio de Tião da Thereza: Dionóra, vive feliz e pretende se casar com Ovídio, a sua filha, Mimita, foi ludibriada por um caixeiro viajante e se entregou na perdição. Com essas notícias, Matraga sofre e sente saudades. Num certo dia surge a figura de Joãozinho Bem-Bem, um famoso jagunço, com seus capangas: Flosino Ca- peta, Zeferino, Tim Tatu-tá-te-vendo, Juruminho e Epifânio. Matraga hospeda-os com grande dedicação, mas nega o convite de Bem-Bem de seguir junto com bando, ele quer ir para o céu. Matraga despede-se do casal de velhinhos que o salvaram e parte montado num jumento, sem saber para onde ir, se deixando levar pelo destino. Recuperado e resignado, chega ao Arraial do Rala-Coco, reencontrando Joãozinho Bem-Bem e seu bando em ação, eles estavam por cometer uma cruel execução de vingança contra a família de um assassino. Momento chave na narrativa, Augusto Matraga desperta para a sua hora e vez: tentando fazer justiça, se coloca contra o chefe do bando, tomado de uma força nova, inclusive matando vários capangas. Acaba num duelo particular com Joãozinho Bem-Bem e ambos morrem. Nessa hora, Augusto Matraga é reconhecido por seu antigos conhecidos. temAs e principAis conflitos O conto revela dois pontos fundamentais do sertão que Guimarães soube muito bem abordar nesta obra: a violên- cia e o misticismo, numa lógica que subscreve a interminável luta do bem e do mal. É importante ficar atento às minúcias técnicas da genialidade de Guimarães Rosa. Além disso, atente a uma questão estrutural. Uma tríade fundamental da obra: Nomes O personagem principal tem três nomes: § Augusto Matraga; § Augusto Esteves; § Nhô Augusto. Espaços Os espaços onde sucedem os fatos e as fases de sua vida também são três: § Murici, onde vive inicialmente; § o Tombador, onde faz penitência; § o Rala-Coco, lugarejo próximo a Murici, onde encontra sua hora e vez. 73 Companhias Matraga vive em trios: § Na praça: com duas prostitutas; § Em casa: ele vive com a mulher e a filha; § Depois de ter sido surrado: vive com um casal de pretos; § No final: ele, Joãozinho Bem-Bem e o velho a quem protege. foco nArrAtivo O conto “A hora e vez de Augusto Matraga” de Guimarães Rosa, possui foco narrativo em terceira pessoa. Algumas vezes substituindo o discurso indireto pelo discurso direto como no exemplo: “Mas, a vergonheira atrasada? E o castigo? O padre bem que tinha falado: — “Você, em toda sua vida, não tem feito senão pecados muito graves, e Deus mandou estes sofrimentos só para um pecador poder ter a ideia do que o fogo do inferno é!...” Sim, era melhor rezar mais, trabalhar mais e escorar firme, para poder alcançar o reino-do-céu. Mas o mais terrível era que o desmazelo de alma em que se achava não lhe deixava esperança nenhuma do jeito de que o Céu podia ser. — Desonrado, desmerecido, marcado a ferro feito rês, mãe Quitéria, e assim tão mole, tão sem homência, será que eu posso mesmo entrar no céu?!... — Não fala fácil, meu filho!... Dei’stá: debaixo do angu tem molho, e atrás de morro tem morro. — Isso sim... Cada um tem a sua vez, e a minha hora há-de chegar!...” tempo A obra inserida na Terceira Geração Modernista, é um reflexo do Brasil sertanejo do final do século XX. Guimarães Rosa retrata aquilo que ele viu e pesquisou em suas andanças pelo norte de Minas Gerais, numa época de muito descaso com a população mais pobre. Neste sentido, é possível mapear os acontecimentos num determinado tempo, muito em função destas análises primeiras. Porém, é importante elencar que o tempo da narrativa se dá em função das transformações de Augusto Matraga, no decorrer da trama. Há uma marcação de tempo importante que é de sua resignação, ele vive seis anos com os velhos pretos até se dar conta de que tinha saudades de sua família e de que era de fato um sujeito bom. espAço O sertão de Minas Gerais é o espaço primordial da produção rosíana. Neste conto os lugares em que transcorrem as fases são marcantes, pois através deles se dá o processo de transformação do personagem, passando por Murici, onde vive inicialmente, o Tombador, onde faz penitência e o Rala-Coco, lugarejo próximo a Murici, onde encontra sua hora e vez. Além disso, ele também vive inicialmente, na praça, depois em uma casa com a mulher e a filha. Há o espaço da emboscada, típico entroncamento do sertão onde foi surrado e marcado a ferro. Logo após, vive com um casal de pretos; e, no final, aparece um último trio: ele, Joãozinho Bem-Bem e o velho a quem protege. 74 personAgens Augusto Esteves Matraga É o personagem principal do conto e possui uma peculiaridade de projeção mítica que é de mudar o seu nome de acordo com as passagens significativas de sua vida. Depois de ter sido mau em sua vida, mulherengo e violento, ele se transforma num homem bom, religioso e trabalhador. Perde fortuna, a esposa e a filha por conta de seu compor- tamento. Inclusive, em alguma ocasião tendo quase perdido a vida. Depois de uma surra aplicada pelos capangas do Major Consilva, Matraga sentiu-se renascer como outro homem. Foi obrigado a esconder-se dos inimigos num sítio com um casal de pretos velhos que o salvou. O final de sua trajetória se dá com ele matando o famoso chefe de jagunços Joãozinho Bem-Bem para salvar uma família inocente, e por consequência, morrendo. § Joãozinho Bem-Bem § Quim Recadeiro § Dona Dionóra § Mitinha § Major Consilva § Tião da Thereza Outros personagens Angélica, Sariema, pai Serapião, mãe Quitéria, Juruminho, Teófilo Sussuarana, etc. 75 u.t.i. - SaLa 1. Nos sonetos de Luiz Vaz de Camões há uma abordagem temática específica. Determine quais são as duas linhas de conduta temática abordadas em sua fase lírica. 2. O livro póstumo denominado “Rimas” de Luiz Vaz de Camões compila boa parte de sua obra, inclu- sive os sonetos de sua fase lírica. Camões faleceu no ano de 1580. “Rimas” foi publicado em que ano? 3. Durante o conto “A hora e vez de Augusto Matraga” da obra Sagarana, o escritor Guimarães Rosa opta por nomear o personagem principal de três maneiras diferentes. Responda qual o motivo desta opção discursiva. 4. Qual a contraposição fundamental o pregador Antônio Vieira apresenta em seus sermões de “Quar- ta-feira de cinza”? 5. Determine o motivo pelo qual a obra “Coração, cabeça e estômago” é metalinguística. 6. Qual a função do reflexo de Jacobina no que diz respeito a relação entre sua alma e sua vestimenta no conto “O Espelho” de Machado de Assis? 7. Qual a característica comum aos vários núcleos narrativos da obra “Caminhos Cruzados” de Erico Verissimo? 76 u.t.i. - e.o. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES Soneto 168 O tempo acaba o ano, o mês e a hora, A força, a arte, a manha, a fortaleza; O tempo acaba a fama e a riqueza, O tempo o mesmo tempo de si chora; O tempo buscae acaba o onde mora Qualquer ingratidão, qualquer dureza; Mas não pode acabar minha tristeza, Enquanto não quiserdes vós, Senhora. O tempo o claro dia torna escuro E o mais ledo prazer em choro triste; O tempo, a tempestade em grão bonança. Mas de abrandar o tempo estou seguro O peito de diamante, onde consiste A pena e o prazer desta esperança. CAMÕES, Luís de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003, p. 545. 1. (UFJF-PISM) Explique em que consiste a “es- perança” do eu lírico, mencionada no último verso do “Soneto 168”, de Camões. 2. (UFJF-PISM) A posição da mulher em relação ao eu lírico, no “Soneto 168”, de Camões, baseia-se em uma tradição poética que tam- bém encontra ecos no Romantismo. Expli- que, com base nessa afirmação, como a figu- ra feminina é retratada no texto. 3. (UFSCar) O trigo que semeou o pregador evangélico, diz Cristo que é a palavra de Deus. Os espinhos, as pedras, o caminho e a terra boa, em que o trigo caiu, são os di- versos corações dos homens. Os espinhos são os corações embaraçados com cuidados, com riquezas, com delícias; e nestes afoga-se a palavra de Deus. As pedras são os corações duros e obstinados; e nestes seca-se a pala- vra de Deus, e se nasce, não cria raízes. Os caminhos são os corações inquietos e pertur- bados com a passagem e tropel das coisas do mundo, umas que vão, outras que vêm, ou- tras que atravessam, e todas passam; e nes- tes é pisada a palavra de Deus, porque ou a desatendem, ou a desprezam. Finalmente, a terra boa são os corações bons, ou os homens de bom coração; e nestes prende e frutifica a palavra divina, com tanta fecundidade e abundância, que se colhe cento por um... (Padre Vieira, “Sermão da Sexagésima”) Pode-se dizer que os sermões de Vieira re- vestem-se de um jogo intelectual no qual se vê o prazer estético do autor para pregar a palavra de Deus, por meio de uma linguagem altamente elaborada. a) Um dos recursos bastante utilizado por Viei- ra é o de disseminação e recolha, por meio do qual o autor “lança” os elementos e de- pois os retoma, um a um, explicando-os. Transcreva o período em que Vieira faz esse lançamento dos elementos e indique os ter- mos aos quais eles vão sendo comparados. b) Explique que comparação conduz o fio argu- mentativo do Padre Vieira neste trecho. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES Ora, suposto que já somos pó, e não pode dei- xar de ser, pois Deus o disse, perguntar-me- -eis, e com muita razão, em que nos distin- guimos logo os vivos dos mortos? Os mortos são pó, nós também somos pó: em que nos distinguimos uns dos outros? Distinguimo- -nos os vivos dos mortos, assim como se dis- tingue o pó do pó. Os vivos são pó levantado, os mortos são pó caído, os vivos são pó que anda, os mortos são pó que jaz: Hic jacet1. Estão essas praças no verão cobertas de pó: dá um pé-de-vento, levanta-se o pó no ar e que faz? O que fazem os vivos, e muito vivos. NÃO AQUIETA O PÓ, NEM PODE ESTAR QUEDO: ANDA, CORRE, VOA; ENTRA POR ESTA RUA, SAI POR AQUELA; JÁ VAI ADIANTE, JÁ TORNA ATRÁS; TUDO ENCHE, TUDO COBRE, TUDO EN- VOLVE, TUDO PERTURBA, TUDO TOMA, TUDO CEGA, TUDO PENETRA, EM TUDO E POR TUDO SE METE, SEM AQUIETAR NEM SOSSEGAR UM MOMENTO, ENQUANTO O VENTO DURA. Acal- mou o vento: cai o pó, e onde o vento parou, ali fica; ou dentro de casa, ou na rua, ou em cima de um telhado, ou no mar, ou no rio, ou no monte, ou na campanha. Não é assim? Assim é. (VIEIRA, Antônio. Trecho do Cap. V do Sermão da Quarta-Feira de Cinza. Apud: Sermões de Padre Antônio Vieira. São Paulo: Núcleo, 1994, p.123-4.) 1 - Hic jacet: aqui jaz. 4. (UFSCar) Em Padre Vieira fundem-se a for- mação jesuítica e a estética barroca, que se materializam em sermões considerados a expressão máxima do Barroco em prosa reli- giosa em língua portuguesa, e uma das mais importantes expressões ideológicas e literá- rias da Contrarreforma. a) Comente os recursos de linguagem que con- ferem ao texto características do Barroco. b) Antes de iniciar sua pregação, Vieira fun- damenta-se num argumento que, do ponto de vista religioso, mostra-se incontestável. Transcreva esse argumento. 77 5. (UFSCar) Segundo o “Novo Dicionário Auré- lio Básico da Língua Portuguesa”, “sermão” é um “discurso religioso geralmente pregado no púlpito”. a) De que forma o autor reproduz, no texto escrito, características próprias do discurso falado? b) O texto apresenta uma relação de oposição entre estaticidade e movimento. Indique, no trecho destacado em maiúsculo, qual dessas ideias é abordada e a forma de construção de período utilizada para exprimi-la. 6. (Fuvest) Dê argumentos que permitam con- siderar o Padre Antônio Vieira como um ex- poente tanto da Literatura Portuguesa quan- to da Literatura Brasileira. 7. Sabe-se que Coração, cabeça e estômago é uma obra atípica na produção ficcional de Camilo Castelo Branco. Em relação a essa obra, assinale a alternativa em que todas as características listadas são corretas. a) Inclusão da edição do livro como parte do jogo narrativo; sátira da poesia e das mo- tivações espirituais; caracterização do herói como alguém incapaz de amar. b) Paródia da vida romântica e natural; espiri- tualização das necessidades do corpo; trans- formação do herói ao longo da narrativa. c) Descrição da formação do indivíduo; carica- tura dos valores e sentimentos românticos; impossibilidade de adaptação do herói à vida social. d) Caricatura das questões relacionadas ao es- pírito e à posição social; elogio irônico das motivações fisiológicas; ridicularização do herói. 8. Segundo o narrador do romance “Coração, Cabeça e Estômago” de Camilo Castelo Bran- co, a personagem Silvestre deixou seus ma- nuscritos para serem publicados por dois motivos. Quais são eles? 9. O romance “Coração, Cabeça e Estômago” de Camilo Castelo Branco é divido em três par- tes como indica o título. Na parte do coração, a personagem de Silvestre vive suas paixões. Responda a quantidade de mulheres por quem ele se apaixona e o que esse número representa. 10. Na construção da sua argumentação, Jacobi- na se vale de alguns argumentos: o primeiro refere-se à laranja; o segundo, ao judeu; o terceiro, sobre a mulher que tinha sua alma externa bastante volúvel. Por fim, se vale de sua própria experiência de vida ocorrida há alguns anos atrás, aos vinte e cinco anos de idade. Explique o significado da “laranja”. 11. Jacobina, durante um encontro em que ele e mais quatro amigos participavam para discutir questões de alta transcendência, um dos te- mas era a alma. Instigado a opinar, uma vez que raramente falava, Jacobina defende a ideia de que existem duas almas: uma alma interior e uma alma exterior. Segundo ele, como se caracteriza a alma interior e a alma exterior? 12. (Fuvest) Dê argumentos que permitam con- siderar o Padre Antônio Vieira como um ex- poente tanto da Literatura Portuguesa quan- to da Literatura Brasileira. 13. Leia o soneto abaixo, de Luís de Camões. “Enquanto quis Fortuna que tivesse esperança de algum contentamento, o gosto de um suave pensamento me fez que seus efeitos escrevesse. Porém, temendo Amor que aviso desse minha escritura a algum juízo isento, escureceu-me o engenho com tormento, para que seus enganos não dissesse. Ó vós, que Amor obriga a ser sujeitos a diversas vontades! Quando lerdes num breve livro casos tão diversos, verdades puras são, e não defeitos... E sabei que, segundo o amor tiverdes, Tereis o entendimento de meus versos!” a) Nos dois quartetos do soneto acima, duas di- vindades são contrapostas por exercerem um poder sobre o eu lírico. Identifique as duas divindades e explique o poder que elas exer- cem sobre a experiência amorosa do eu lírico. b) Um soneto é uma composição poética com- posta de 14 versos. Sua forma é fixa e seus últimos versos encerram o núcleo temático ou a ideia principal do poema. Qual é a ideia formulada nos dois últimos versos desse so- neto de Camões, levando-se em consideração o conjuntodo poema. U.T.I. 2 Inglês 81 U.T.I. - Sala TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES. INTO THE WOODS BECAUSE OF EXTRAORDINARILY LOW BIRTHRATES, EUROPE WILL LOSE 41 MILLION PEOPLE BY 2030. (By Stefan Theil) Germans are getting used to a new kind of immigrant. In 1998, a pack of wolves crossed the shallow Neisse River in the Polish-German border. In the empty landscape of Eastern Saxony, speckled with abandoned strip mines and declining villages, the wolves found plenty of deer and rarely encountered humans. They multiplied so quickly that a second pack has since split off, co- lonizing a second-growth pine forest 30 kilometers further west. Soon, says local wildlife biologist Gesa Kluth, a third pack will likely form, possibly heading northward in the direction of Berlin. Wolves returning to the heart of Europe? A hundred years ago, a burgeoning, land-hungry po- pulation killed off the last of Germany’s wolves. Today, it’s the local humans whose numbers are under threat. Wolf-country villages like Boxberg and Weisswasser are emptying out, thanks to the region’s ultralow birthrate and continued rural flight. Nearby Hoyerswerda is Germany’s fastest- -shrinking town, losing 25,000 of its 70,000 residents in the last 15 years. Such numbers are a harbinger of the future. Home to 22 of the world’s 25 lowest-birthrate coun- tries, Europe will lose 41 million people by 2030 even with continued immigration, according to the latest U.N. Population Division report. The biggest decline will hit rural Europe. As Italians, Spaniards, Germans and others produce barely half the children needed to maintain the status quo - and rural flight continues to suck people into Europe’s suburbs and cities - the country-side will lose close to a third of its population, say both the United Nations and the EU. “It’s a triple time bomb”, says University of Lisbon demographer Nuno da Costa. “Too few children, too many old people and too many of the remaining young people still leaving the village.” (Newsweek, July 4, 2005.) 1. (Espm) We can infer from the text that: a) In the last 15 years the population rate has declined all over Europe. b) Immigration has helped solve population growth problems in Europe. c) Birth rate has started growing in Europe’s big cities. d) In the future some rural areas in Europe will experience extremely low population rates. e) The UN has advised European countries to change their demographic policies. 2. (Espm) “a burgeoning, land-hungry population killed off the last of Germany’s wolves”, in the second paragraph, most likely refers to: a) Farmers interested in commercializing wild animals. b) An expanding population interested in land use. c) Biologists fighting against the extermination of endangered species. d) People having to kill animals for survival. e Empty landscapes. 3. (Espm) The triple time bomb mentioned by Nuno da Costa most likely refers to: a) Lack of schools, lack of facilities to attend the elderly, lack of jobs for the youngsters. b) Low marriage rate, high death rate, only the elderly stay in the countryside. c) Low birthrate, aging people, rural exodus. d) Couples that do not want to have children, elderly who are living longer, youngsters staying in the villages because there are no jobs in the big cities. e) High mortality rate among children, low mortality rate among the elderly, rural depopulation. 82 TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. Driverless automobiles - The car that parks itself CARS that need no driver are just around the corner according to researchers who have been tes- ting vehicles bristling with aerials and cameras on public roads in America. However, researchers do not make cars, so it will be up to firms that do to bring the technology to market. And car- makers are a conservative bunch. Still, slowly and steadily the autonomous car will arrive, with the help of an increasing number of automated driving aids. A Swedish carmaker has recently demonstrated one such feature: a car that really does park itself. Some cars already have systems that assist with parking, but these are not completely autono- mous. They can identify an empty parallel-parking space and steer into it while the driver uses the brake. The Swedish system, however, lets the driver get out and use a smartphone application to instruct the vehicle to park. The car then 1trundles off, manoeuvres into a parking place and sends a message to the driver to inform him where it is. The driver can collect the car in person or use his phone to call it back to where he dropped it off. Autonomous parking could thus be provi- ded at places like shopping centers and airports, which are controlled areas in which automated vehicles can be managed more easily than on open highways. In the past, designs for doing this have relied on car parks being fitted with buried guide wires that a vehicle can follow to an empty bay. That, though, creates 2a chicken-and-egg problem: car-park operators will not invest in such infrastructure until there is a sufficient number of suitably equipped cars on the road. Drivers, conversely, will not want to buy self-parking cars if there is nowhere to use them. This means, as a safety engineer working on the project observes, that for autonomous parking to work most of the technology will have to be in the car itself. The test car, which looks like a normal car, therefore uses on-board GPS mapping, cameras with image-recognition software, and radar sensors to find its own way around a car park and avoid pedestrians and non-autonomous vehicles. The same engineer says the system is five to ten years from commercial deployment. If it proves a success then infrastructure might adapt to it, for instance by packing cars into tighter spaces. If there is no one in them there is no need to make room for their doors to open. Driverless cars would also need to communicate with one another, to enhance safety. That, too, is coming. 3A number of carmakers are developing wireless networking systems through which vehicles can exchange data, such as their speed, their steering angle and even their weight, to forewarn anti-collision systems and safety devices if an accident looks likely. In the USA, for example, a carmaker recently tested a brake light that can provide an early war- ning to other motorists. If the brakes are applied hard in an emergency, a signal is broadcast. This illuminates a warning light in the dashboard of suitably equipped following vehicles, even if they are out of sight around a bend or not immediately behind the vehicle doing the braking. The American company has been testing this system as part of a collaborative research project with several European carmakers. 4They have put a fleet of 150 experimental vehicles on the roa- ds. When they tested a group of these, the Americans found the technology let drivers brake much earlier, helping avoid collisions. A driverless car would be able to react even faster. Another member of the research group has been testing driverless cars on roads around Munich— including belting down some of Germany’s high-speed autobahns. 5The ordinary-looking models use a variety of self-contained guidance systems. These include cameras mounted on the upper windscreen, which can identify road markings, signs and various obstacles likely to be encounte- red on roads. The German cars also use a radar, to gauge how far the vehicle is from other cars and potential obstacles, and a lidar, which works like a radar but at optical frequencies. The lidar employs laser beams to scan the road ahead and builds up from the reflections a three-dimensional image of what this looks like. The image is processed by a computer in the vehicle, which also collects and compares data from a high-accuracy GPS unit. A series of ultrasonic sonars similar to those used in vehicles to provide parking assistance are placed around the car to add to the virtualpicture. And just to make sure, a set of accelerometers provide an inertial navigation system that double- -checks the vehicle’s position on the road. 6Although these cars can be switched to an autonomous driving mode, they are still required to have someone in the driving seat who can take over in the event of any difficulty. Some cars can steer themselves, slow down, brake and accelerate, even changing lanes to overtake slower vehicles. From the print edition: Science and Technology Jun 29th 2013 83 4. (PUCRJ) The author uses the phrasal verb “trundles off” (ref. 1) that could be replaced by a) rolls fast. b) stops rolling. c) rolls slowly. d) does not roll. e) does not start. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. How Exercise Can Calm Anxiety In an eye-opening demonstration of nature’s ingenuity, researchers at an American University recently discovered that exercise creates vibrant new brain cells — and then shuts them down when they shouldn’t be in action. For some time, scientists studying exercise have been puzzled by physical activity’s two seemingly incompatible effects on the brain. On the one hand, exercise is known to prompt the creation of new and very excitable brain cells. At the same time, exercise can induce an overall pattern of calm in certain parts of the brain. Most of us probably don’t realize that neurons are born with certain predispositions. Some, often the younger ones, are by nature easily excited. They fire with almost any provocation, which is laudable if you wish to speed thinking and memory formation. 1But that feature is less desirable during times of everyday stress. If a stressor does not involve a life-or-death decision and require immediate physical action, then having lots of excitable neurons firing all at once can be counter- productive, inducing anxiety. Studies in animals have shown that physical exercise creates excitable neurons in abundance, especially in the hippocampus, a portion of the brain known to be involved in thinking and emo- tional responses. But exercise also has been found to reduce anxiety in both people and animals. How can an activity simultaneously create ideal neurological conditions for anxiety and leave practitioners with a deep-rooted calm, the Princeton researchers wondered? So they gathered adult mice, injected them with a substance that marks newborn cells in the brain, and for six weeks, allowed half of them to run at will on little wheels, 2while the others sat quietly in their cages. Afterward, the scientists determined each group’s baseline nervousness. 3Given access to cages with open, well-lighted areas, as well as shadowy corners, the running mice were more willing to cautiously explore and spend time in open areas, an indication that they were more confident and less anxious than the sedentary animals. The researchers also checked the brains of some of the runners and the sedentary mice to determi- ne how many and what varieties of new neurons they contained. As expected, the runners’ brains teemed with many new, excitable neurons. The sedentary mice’s brains also contained similar, volatile newborn cells, but not in such profusion. The runners’ brains, however, also had a notable number of new neurons specifically designed to release the neurotransmitter GABA, which inhibits brain activity, keeping other neurons from firing easily. In effect, these are nanny neurons, designed to shush and quiet activity in the brain. In the runners’ brains, there were large new populations of these cells in a portion of the hip- pocampus, the ventral region, associated with the processing of emotions. The rest of the hippo- campus, the dorsal region, is more involved with thinking and memory. What role these nanny neurons were playing in the animals’ brains and subsequent behavior was not altogether clear. So the scientists next gently placed the remaining mice in ice-cold water for five minutes. Mice do not enjoy cold water. 4They find immersion stressful and anxiety-inducing, although it is not life- -threatening. Then the scientists checked these animals’ brains. They were looking for markers, known as immediate early genes, that indicate a neuron has recently fired. They found them, in profusion. In both the physically fit and the sedentary mice, large numbers of the excitable cells had fired in response to the cold bath. Emotionally, the animals had become fired up by the stress. But with the runners, it didn’t last long. 5Their brains, unlike those of the sedentary animals, showed evidence that the shushing neurons also had been activated in large numbers, releasing GABA, calming the excitable neurons’ activity and presumably keeping unne- cessary anxiety at bay. In effect, the runners’ brains had responded to the relatively minor stress of a cold bath with a quick rush of worry and a concomitant, overarching calm. 84 What all of this suggests is that the hippocampus of runners is vastly different from that of se- dentary animals. Not only are there more excitatory neurons and more excitatory synapses, but the inhibitory neurons are more likely to become activated, presumably to dampen the excitatory neurons, in response to stress. It’s important to note that this study examined long-term training responses. The runners’ wheels had been locked for 24 hours before their cold bath, so they would gain no acute calming effect from exercise. Instead, the difference in stress response between the runners and the sedentary animals reflected fundamental remodeling of their brains. Of course, as we all know, mice are not men or women. But other studies show that physical exerci- se reduces anxiety in humans, which suggests that similar remodeling takes place in the brains of people who work out. It won’t be a huge stretch to suggest that the hippocampus of active people 6might be less susceptible to certain undesirable aspects of stress than those of sedentary people. By Gretchen Reynolds Adapted from: http://well.blogs.nytimes.com/2013/07/03/how-exercise-can-calm-anxiety/?src=me Retrieved on 03/07/2013 5. (PUCRJ) At the end of the text (ref. 6), “might” suggests a) certainty. b) obligation. c) quality. d) possibility. e) ability. 85 U.T.I. - E.O. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES. Cholera attacks the intestines, causing nausea and severe diarrhea that has been likened to a hemorrhage. It can kill within hours. The epidemic has appeared and reappeared across the globe in many forms since at least the ninth century. But the last time it struck in South America was 1895. The Pan-American Health Organization warns that the new strain, known as El Tor, is likely to kill 40.000 Latin Americans and infect another 6 million by 1995. El Tor’s path is impossible to predict. Borne by human travelers and cargoes of raw fish and produ- ce, cholera can show up as a surprise visitor almost anywhere. Last week four people fell ill with cholera in New Jersey - victims of contaminated shellfish from Peru. But in general, developed countries are susceptible only to isolated outbreaks. It is the hot, humid, sewerless slums of Latin America that are now most vulnerable to epidemic. Newsweek - 1991 1. (Fuvest) Quais os meios de propagação da doença mencionados no texto? 2. (Fuvest) Qual a advertência feita pela Organização Pan-americana de Saúde? 3. (Fuvest) De acordo com o texto, de que forma são afetados pela doença os países desenvolvidos? E os da América Latina? TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES. BLACK PLAGUE IN HOLLYWOOD We take for granted today that attractive speech is an essential part of any actor’s equipment. In motion pictures this was not always so. When sound movies arrived in the late 1920s, a whole generation of motion picture actors was wiped out with a sweep of the scythe, as if a black plague had swept through Hollywood. There had been no need for the stars of silent pictures to speak well. After all, their fans could not hearthem. Sound caught these cinematic dinosaurs unprepared. One promising star, for the first time hearing her recorded voice, took an overdose of sleeping pills. Corinne Griffith, dream girl of a generation of motion picture goers, retired permanently after reading Time’s unkind comment: “Pretty Corinne Griffith talks through her nose”. Just before sound tracks and motion picture film were wedded, John Gilbert, successor of Rudolph Valentino as the Casanova of the silver screen, signed a four-year contract at a million dollars a year. In his first picture under the new arrangement, Gilbert’s thin, reedy tenor evoked snickers of derision from the same moviegoers who had cheered his passionate lovemaking only a year before. The car picture canceled out the eye picture, and brought a great career to and end. Speech can change your life. Dorothy Sarnoff 4. (Fuvest) Qual foi o comentário do Time e o que fez Corinne Griffith após lê-lo? 5. (Fuvest) Qual a mudança significativa que ocorreu em Hollywood com o advento dos filmes sonoros? 6. (Fuvest) Qual o significado da frase “the car picture canceled out the eye picture”? 7. (Fac. Albert Einstein - Medicina) 86 Na tirinha acima, o personagem da direita a) está arrependido da infração cometida. b) está se aconselhando com um psiquiatra. c) ficou frustrado com o resultado da aplicação financeira da infração cometida. d) culpa as vozes em sua cabeça pela infração. 8. (Fac. Albert Einstein - Medicina 2016) Pro- cesso de produção de “nuggets” mais saudá- veis: 1. A worker feeds chickens at Kee Song Bro- thers’ drugfree poultry farm in Yong Peng. 2. A researcher counts Lactobacillus colonies forming in a Petri dish. 3. A researcher shows Petri dishes contai- ning Lactobacillus colonies forming. 4. A researcher shows Lactobacillus fermen- ted powder to be mixed with chicken feed. Escolha a alternativa que apresenta a ordem correta das figuras que ilustram o processo descrito: a) 1a - 2b - 3c - 4d b) 1c - 2a - 3b - 4d c) 1d - 2c - 3b - 4a d) 1c - 2d - 3b - 4a 9. (Fac. Albert Einstein - Medicina 2016) The Growing Generational Divide Disponível em: http://www.nytimes.com/2015/05/08/ opinion/the-growing-generationaldivide.html?ref=opinion Acessado em 10/09/2015. Adaptado para fins educacionais. By SILAS HOUSE BEREA, Ky. - I WAS always with older folks when I was very young. They called me “Little Man” and told me I was “an old soul.” I worked in the garden with my grandparents, learned how to count money with Old Man Hoskins at the local store, and overheard the tales of my ancient neighbors. But it was the stories of my fierce aunt, Sis, that were my favorite. Unfortunately, it seems there are fewer oppor- tunities for different generations to interact now. The 2010 United States census shows that Appalachia, where I live, has some of the lowest levels of age segregation in the nation. Yet even here I notice a shift away from the intergenerational activity I enjoyed as a child in the 1980s. Read the text “The growing generational divi- de” and write a paragraph in Portuguese com- paring what the author’s and your childhood were like. Use standard written language. 10. (Fac. Albert Einstein - Medicin 2016) 87 Olhando o gráfico acima você diria que ele a) não mostra apenas os números de casos de ebola confirmados. b) representa um ano de dados sobre casos de ebola. c) representa o número total de casos confir- mados de ebola nos três países. d) mostra que todos os casos de ebola estão estabilizados nos três países em agosto de 2015. 11. (Enem 2ª aplicação 2016) New vaccine could fight nicotine addiction Cigarette smokers who are having trouble quitting because of nicotine’s addictive po- wer may some day be able to receive a novel antibody-producing vaccine to help them kick the habit. The average cigarette contains about di- fferent chemicals that — when burned and inhaled — cause the serious health proble- ms associated with smoking. But it is the nicotine in cigarettes that, like other addic- tive substances, stimulates rewards centers in the brain and hooks smokers to the plea- surable but dangerous routine. Ronald Crystal, who chairs the department of genetic medicine at Weill-Cornell Medical College in New York, where researchers are developing a nicotine vaccine, said the idea is to stimulate the smoker’s immune system to produce antibodies or immune proteins to destroy the nicotine molecule before it rea- ches the brain. BERMAN, J. Disponível em: www.voanews. com. Acesso em: 2 jul. 2012. Muitas pessoas tentam parar de fumar, mas fracassam e sucumbem ao vício. Na tentati- va de ajudar os fumantes, pesquisadores da Weill-Cornell Medical College estão desen- volvendo uma vacina que a) diminua o risco de o fumante se tornar de- pendente da nicotina. b) seja produzida a partir de moléculas de nico- tina. c) substitua a sensação de prazer oferecida pelo cigarro. d) ative a produção de anticorpos para comba- ter a nicotina. e) controle os estímulos cerebrais do hábito de fumar. U.T.I. 2 Redação 91 Pensador Michel Montaigne “Que perigo haveria se os mais sábios viessem assim decidir os nossos, dependendo dos casos, e depois de um exame com os próprios olhos, sem obrigação de se referirem a precedentes e de criar outros? Para cada pé seu sapato”. (...) “Quantas condenações vi mais criminosas que o crime? Tudo isso me faz relembrar estas opiniões dos antigos: que é obrigado a agir mal no varejo quem quiser agir bem no atacado, e a cometer injustiça nas pequenas coisas quem quiser fazer justiça nas grandes (...)”. MONTAIGNE, Michel de. Os ensaios: uma seleção. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. Michel de Montaigne faz uma avaliação crítica sobre a prática do julgamento. Para ele, trata-se de gerar disputa e divisão, pois o impulso de julgar é em si um reflexo da tolice do homem que, “em seu ódio à igualdade, têm falta de equidade”. O filósofo se refere à sabedoria e equidade na tomada de decisões, utó- picas em sua visão,pois há sempre subjetividade e interesses individuais envolvidos em uma condenação. A imparcialidade é inerente à condição humana, e nem sempre os fins justificam os meios. Mandando bem no Enem Declaração Nacional dos Direitos Humanos Artigo III Todo ser humano tem direito à vida, a liberdade e à segurança pessoal. Artigo V Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante. Artigo X Todo ser humano tem direito,em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte de um tribunal in- dependente e imparcial, para decidir sobre os seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele. Artigo XI 1.Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que a sua culpa- bilidade tenha sido provada de acordo com a lei,em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa. EnEm 92 ProPosta TEXTO I Professor é agredido por aluno dentro de sala de aula em São Paulo Um professor foi agredido por um aluno dentro da sala de aula na Zona Sul de São Paulo. No vídeo que circula nas redes sociais, o estudante dá um soco e um chute no docente da Escola Estadual Antônio de Alcântara Machado, na última quarta-feira. Nas imagens, o professor aparece sentado enquanto o aluno está em pé. O professor se levanta e o aluno dá um soco no rosto dele e depois um chute. Em seguida, outros alunos tentam conter o agressor. O vídeo foi divulgado com uma legenda dizendo que o professor merecia apanhar porque ele “era folgado”. A Secretaria Estadual de Educação informou que a direção da escola acionou os responsáveis do aluno e a Ronda Escolar, da Polícia Militar, que registrou a ocorrência. Em nota, a secretaria disse que “prestou todo o apoio ao professor para que pudesse fazer o boletimde ocorrência e o exame de corpo de delito”. Retirado de: <https://extra.globo.com/casos-de-policia/professor-agredido-por- aluno-dentro-de-sala-de-aula-em-sao-paulo-22141118.html> TEXTO II Aluno processa professor por celular retirado em sala de aula e perde A polêmica do uso de celular em sala de aula chegou nos tribunais depois que um aluno processou o seu professor por ter tomado o aparelho no meio de uma aula. O episódio aconteceu em Tobias Barreto, no Sergipe, e teve a decisão do juiz Elieser Siqueira de Souza Junior a favor do docente. O magistrado aproveitou a sentença para criticar as novelas, reality-shows e a ostentação, conside- rados pelo magistrado como contra educação. “Julgar procedente esta demanda é desferir uma bofetada na reserva moral e educacional deste país, privilegiando a alienação e a contra educação, as novelas, os ‘realitys shows’, a ostentação, o ‘bullying‘ intelectivo, o ócio improdutivo, enfim, toda a massa intelectivamente improdutiva que vem assolando os lares do país, fazendo às vezes de educadores, ensinando falsos valores e implo- dindo a educação brasileira”, afirmou o juiz. A ação foi movida pelo aluno Thiago Anderson Souza, representado por sua mãe Silenilma Eunide Reis, que, segundo consta nos autos do processo, passou por “sentimento de impotência, revolta, além de um enorme desgaste físico e emocional” após ter o celular retirado pelo professor Odilon Oliveira Neto. O estudante disse que apenas utilizava o aparelho para ver o horário. Porém, perante outras provas, o juiz não acreditou na versão de Thiago. “Vemos que os elementos colhidos apontam para o fato de que o Autor não foi ‘ver a hora’. O mes- mo admitiu que o celular se encontrava com os fones de ouvido plugados e que, no momento em que o professor tomou o referido aparelho, desconectou os fones e... começou a tocar música”. Em depoimento, o professor e a coordenadora do colégio afirmaram que não foi a primeira vez que o aluno foi chamado a atenção para o uso do aparelho em sala de aula. O juiz apontou que, para além da proibição do colégio, existem normas do Conselho Municipal de Educação que proíbem o uso do celular em sala de aula, exceto para atividades pedagógicas. Retirado de: https://oglobo.globo.com/sociedade/tecnologia/aluno-processa- professor-por-celular-retirado-em-sala-de-aula-perde-12718573 93 TEXTO III TEXTO IV Professores culpam pais e alunos por nota baixa O aluno não aprende porque os pais não o acompanham? Para 88% dos professores do nível fun- damental da rede pública no país, sim. Quase 81% também acreditam que um aluno não vai bem na escola porque não se esforça. Os dados fazem parte de um levantamento feito pelo Movimento Todos Pela Educação em respostas dadas por professores da rede pública na Prova Brasil, do Inep. E levantam a questão: num sistema educacional público com má remuneração para o magistério e escolas mal equipadas, que recebem estudantes em que a própria família já tem, em geral, baixa escolaridade e frágil nível cultural, de quem é a culpa pelo mau aluno? No Questionário do Professor da Prova Brasil de 2009, os professores receberam uma lista de pos- síveis causas para problemas de aprendizagem dos estudantes, para dizer com quais causas mais concordavam. Quase todos concordaram com as respostas “Falta de assistência e acompanhamento da família nos deveres de casa e pesquisas do aluno” e “Desinteresse e falta de esforço do aluno”. Respostas que poderiam mostrar a responsabilidade do professor ou da escola — “Baixo salário dos professores, que gera insatisfação e desestímulo para a atividade docente” e “Escola oferece poucas oportunidades de desenvolvimento do aluno” — tiveram 30,5% e 27,4%, respectivamente. — Como a educação depende de vários setores, é esperado que um jogue a responsabilidade para o outro. Se você for perguntar para muitos pais, eles vão dizer que a escola não ensina direito. Mas, apesar de esperada essa responsabilização do outro, é preocupante que o professor coloque a culpa na família, se pensarmos que, nas escolas públicas, em diversas vezes não lidamos com crianças imersas no mundo letrado. Jogar a culpa para a família, nesses casos, é o professor falar “não con- sigo lutar contra isso”. Nesse tipo de realidade, a função da escola pública é essa mesmo, é exercer um papel que a família e o meio em que o aluno vive não estão conseguindo cumprir. O contrário seria condenar a criança pobre a não aprender — analisa Priscila Cruz, diretora-executiva do Todos Pela Educação. 94 TEXTO V A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em norma padrão da língua portuguesa sobre o tema: Os desafios dos professores brasileiros na contemporaneidade. Apresen- te proposta de intervenção, que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.