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RESUMO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO A relação entre Homem, Educação, Trabalho e História pode ser interpretada da seguinte forma: a História é a interpretação da ação transformadora do homem através do tempo; o Trabalho é a ação transformadora do homem sobre a natureza; a Educação é a ação transformadora do conhecimento. Existem vários tipos de Educação. Quando se pensa em Educação, imagina-se, em um primeiro momento, uma sala de aula com alunos e professores interagindo. É certo ou errado pensar dessa forma? O que você pensa sobre o assunto? Na realidade a Educação existe em todos os lugares e acontece a todo tempo. Ela é livre e pode ser expressa por meio de gestos, modos de agir, problematização de ideias, crenças, trabalho, família. Contemplando-a dentro de âmbito maior, verifica-se que a Educação se desenvolve de acordo com a geração e a cultura em que o indivíduo está inserido. Muitas vezes a Educação se processa associada à cultura de um povo. Antigamente a Educação era passada entre gerações através de exemplos de comportamentos e crenças que seguiam as tradições. Por exemplo: embora os índios não possuíssem escolas nas tribos, os ensinamentos dos antepassados eram transmitidos para os mais novos; por meio desse tipo de Educação o conhecimento era repassado de geração para geração. Sob esse ponto de vista, pode-se dizer que a Educação é um ponto chave dentro da produção de crenças e está intrinsecamente ligada à cultura de cada sociedade. Entretanto é preciso considerar também a existência da Educação com vistas ao desenvolvimento intelectual. Nesse caso, podemos falar sobre a Educação dada nas escolas, que é mais sistematizada, imposta por um sistema centralizador de poder, e que, muitas vezes, utiliza esse poder para controlar o saber e, assim, reforçar a desigualdade social. “A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais” Examinando o assunto, é possível discutir a importância da História para a Educação e concluir que, na verdade, é a de denunciar as formas ideológicas que utilizam a Educação como instrumento de poder. É através da História da Educação que podemos analisar e questionar a realidade educacional, por meio de investigações e estudos, tornando, assim, a ação educacional mais clara e transparente. Somente agindo de forma reflexiva, criticando os valores novos e os decadentes, teremos condições para responder a questões como: ”Que tipo de homem queremos formar?” O homem é feito de tempo, ou seja, o homem faz a história e é feito de história. Conhecer o homem é uma forma de situá-lo no tempo e no espaço, acompanhado de seus costumes, línguas e valores próprios do espaço e do tempo em que está inserido. A Educação deve ser concebida em um sentido mais amplo do que aquele que imaginamos. Ela está presente em vários aspectos de nossa vida, e é preciso ter ciência de que existem vários tipos de educação que atuam sobre o ser humano. Nós recebemos educação desde que nascemos, nos mais simples ensinamentos, mas ela também pode ocorrer de forma sistematizada ou intelectualizada; o importante é que sempre deverá estar de acordo com a cultura em que estamos inseridos. De acordo com Brandão, A educação pode existir livre e, entre todos, pode ser uma das maneiras que as pessoas criam para tornar comum, como saber, como ideia, como crença, aquilo que é comunitário, como bem, como trabalho ou como vida, é também uma geração do modo de vida dos grupos sociais. (BRANDÃO, p25) A Educação participa do processo de produção de crenças e ideias, envolvendo as trocas e contribuindo para a formação dos grupos sociais. Pedagogia É a ação do homem quando ele transmite ou modifica a herança cultural de forma crítica, ou seja, a pedagogia pode ser entendida como uma teoria crítica da Educação. História História é uma palavra de origem grega, que significa investigação, informação. “A história é um profeta com o olhar voltado para trás: pelo que foi e contra o que foi, anuncia o que será”. (Eduardo Galeano) O primeiro recurso de que a História se valeu para explicar fatos e os aspectos gerais da condição humana foi o mito, relato simbólico transmitido pela tradição oral. Por exemplo: nas sociedades tribais da África, não existiam investigações e o conceito de História era apenas passado de geração para geração, dentro de um mesmo contexto. Eles acreditavam que os fenômenos eram criação dos mitos, atribuída a deuses. Assim como os índios, acreditavam e cultuavam os seus deuses, entre eles o Sol, a Lua, o trovão, etc. As crianças, nessas sociedades, aprendiam imitando o comportamento dos adultos nas atividades diárias e nas cerimônias dos rituais. Para esses povos, os acontecimentos da vida da comunidade não eram significativos, porque eles relacionavam o passado aos tempos primordiais, em que os deuses realizavam seus feitos extraordinários. Vendo por esse olhar, fazer história é recontar os mitos. Nessas sociedades os adultos ocupavam-se da caça e da pesca, do pastoreio e da agricultura, e as crianças aprendiam “para a vida e por meio da vida”, sem que houvesse alguém destinado a ensiná- las, pois o saber era universal e todos os membros da tribo tinham o mesmo conhecimento. O homem primitivo era guerreiro por sua natureza, e daí decorriam os valores apreciados pela comunidade e que eram objetos da educação. Com as transformações ocorridas nas tribos, como a invenção dos barcos, por exemplo, surgia a necessidade de certa especialização, pois a construção de um barco implicava em conhecimentos não adquiridos pela e em sociedade. Dessa forma foi preciso que alguém aprendesse a construir esse barco. Assim, o saber passou a não ser mais universal, mas, sim, um privilégio de quem aprendeu a construir o barco. Os gregos também acreditavam na concepção dos deuses como criadores e condutores do destino do homem. Na sociedade grega cultivavam-se diversas religiões. Para melhor entender a história da Grécia, ela pode ser dividida em quatro períodos. 1- Tempos Homéricos (Séc. XII ao VIII a. C.) Aristocracia proprietária de terras; Sistema escravista. 2- Período Arcaico (Séc. VIII e VI a. C.) Período marcado pela aparição da filosofia, que surge como uma forma de problematizar e discutir a realidade, e não questioná-la através do mito, “Deuses”. Sócrates Os principais filósofos : Sócrates, Platão e Aristóteles. Surgimento das cidades-estados, também denominadas “Polis”. 10% da população participavam da democracia. 3- Período Clássico (Séc. IV e V a.c) Apogeu da civilização Grega; Surgimento da Escrita e da Escola; Criação da arte e da literatura; Surgimento dos sofistas – denominados professores da sabedoria, que, por exigirem remuneração para ensinar, não eram bem vistos pelos filósofos. 4- Período Helenístico (Séc. III e II a.c) Junção entre Grécia e Roma; Apropriação, pelos romanos, do território e da cultura grega após a morte de Alexandre, em 323 a.C.; Conhecimentos como gramática, filosofia, geometria, aritmética, música são passados como educação. A Pedagogia Grega e a Concepção de Educação para os Filósofos O termo “pedagogo”, de origem grega, tem a seguinte explicação etimológica: Paidagogos Pai (criança), dagogos (conduzir) Refere-se ao escravo que acompanhava a criança à escola. A educação grega estava voltada, em um primeiro momento, para o desenvolvimento do belo, para a formação do indivíduo de acordo com o ideal de beleza, priorizando a educação física direcionada paraos esportes. Com a aparição dos filósofos, surgiram alguns questionamentos sobre a existência humana. Após se descobrir que o homem seria capaz de projetar o seu próprio destino, a preocupação voltou-se para a formação desse homem. Os filósofos gregos pensavam em algumas questões importantes sobre a Educação. Sócrates, por exemplo, questionava os seguintes aspectos: O que é melhor ensinar? Como é melhor ensinar? Para que ensinar? Para Sócrates, a sabedoria começava com o reconhecimento da própria ignorância, e isso ele reflete na sua famosa frase: “Só sei que nada sei.” Sócrates não deixou nenhuma obra escrita; quem escreveu sua trajetória foi Platão, seu amigo e discípulo. Sócrates acreditava que, para absorver o conhecimento, seria necessário definir rigorosamente o que se fala, através dos conceitos. Exemplo: para se compreender o enunciado “Diante dos atos de coragem”, é preciso descobrir o que é coragem, e, quando isso se dá, chegamos à definição do seu conceito; só, então, compreendemos o seu significado. Para ele, a Educação deve estar voltada para a vida moral; o diálogo; a capacidade de pensar; a análise do conteúdo. Já Platão acreditava que a educação não serviria apenas se alcançar o conhecimento de fora para dentro, mas também para despertar, no indivíduo, o que ele já sabia. Para Aristóteles, a Educação tinha a finalidade de ajudar o homem a alcançar a plenitude e a realização do seu ser; ele acreditava que o elemento essencial para se desenvolver a Educação devia estar na natureza, no hábito e na razão. Com base nessa reflexão, os gregos descobriram a especificação histórica e iniciaram um processo no qual pensavam em escrever somente o que achavam ser verdade. A história passou a ser vista como mestra da vida, levando os homens a compreenderem o seu próprio destino, ou seja, o homem era entendido como resultado da produção da sua própria cultura. “O homem se insere no tempo: o presente humano não se esgota na ação que realiza, mas adquire sentido pelo passado e pelo futuro”. (Aranha, 1996) Em 323 a.C., os romanos apropriaram-se do território e da cultura grega. Vamos entender como foi esse processo. A Educação Romana A história de Roma pode ser dividida em três períodos políticos: 1- Realeza (de 753 a 509 a.C.) Desenvolvimento do comércio; Realeza em que os reis tinham uma vida mais rural; Substituição da posse de terra pela propriedade privada e surgimento da divisão de classes (plebeus e aristocratas); Aristocracia de nascimento denominada (patrícios); Aristocracia determinada pela riqueza, através do enriquecimento dos plebeus. Os plebeus eram os camponeses, comerciantes, artesãos. 2- República (de 509 a 27 a. C.) Os patrícios no comando de cargos políticos; O enriquecimento da plebe; A criação das escolas elementares, que recebiam as crianças dos 7 aos 12 anos; Educação mais moral que intelectual; 3- Império (de 27 a.C. a 476 d.C.) Desenvolvimento cultural e urbano; No século I a. C., estímulo à criação de escolas municipais em todo o Império, por iniciativa do Estado. Aparição do cristianismo, destinado apenas aos escravos e plebeus; Em 313, permissão para o culto ao cristianismo; Final do séc. IV, estabelecimento do cristianismo como religião oficial; Educação no Império: privilégio da elite dominante; Objetivo do conhecimento estabelecido: dar respostas A Educação a questões práticas da sociedade; Educação heróico–patrícia: preparação do guerreiro, aos 16 anos, com o encaminhamento do jovem para a formação militar ou política; Decadência do Império. Idade Média A FORMAÇÃO DO HOMEM DE FÉ Com a decadência do Império, a religião passou a predominar, exercendo influência política e espiritual Período de mil anos (de 476 a 1453); Alta Idade Média (período em que surge à formação religiosa e começa existir a razão); Baixa Idade Média (burgueses viviam nas cidades, chamadas “burgos”, denominação da qual se origina o termo “burguês”, que significa o homem da cidade); O escravismo e o feudalismo; Predomínio da agricultura e do artesanato; A Sociedade: na Idade Média, a nobreza era composta por Marqueses, Condes, Viscondes, Barões e Cavalheiros; A Educação Os monges eram os únicos letrados; foram eles os responsáveis pelas traduções das obras gregas, que foram escondidas pela Igreja. Para os Servos, destinava-se uma formação cristã, com base na poesia, história e música. A Pedagogia e a Religião Filosofia dos padres da Igreja, que perdurou do séc. II ao V. Duas filosofias predominaram nesse período: a Filosofia “Patrística” e a Filosofia “Escolástica”. A Filosofia “Patrística” é a filosofia elaborada pelos padres da Igreja. A Pedagogia era traduzida através da religião, formando os homens iluminados, ou seja, os bons cristãos. A educação surgiu com um único fundamento: o da salvação da alma para a vida eterna. A principal figura desse período foi Santo Agostinho (354-430). Para Santo Agostinho, o saber não é transmitido ao aluno, pois a verdade é uma experiência que não vem do exterior, mas sim de dentro de cada um. Toda educação é uma autoeducação, possibilitada pela iluminação divina. A Filosofia “Escolástica”: escolas cristãs - do séc. IX a XIV. O termo “escolástico” vem de “escola”, “autoridade – Papa”. Era o início do período das trevas. A Escolástica é a mais alta expressão da filosofia cristã medieval. O método escolástico era constituído por: leitura, comentários, questões, discussões sobre o livro sagrado: a “Bíblia”. “Os parâmetros de educação na Idade Média se fundam na concepção do homem como criatura divina, de passagem pela Terra e que devem cuidar, em primeiro lugar, da salvação da alma e da vida eterna” (Arruda, 1996, p. 73). A principal figura deste período foi São Tomás de Aquino (1225 -1274). Para ele, a Educação é uma atividade que torna realidade aquilo que é potencial, processo que o próprio educando desenvolve com o auxílio do mestre, atualizando as suas próprias potencialidades. RENASCIMENTO – REFORMA - Século XVI O espírito renovador manifesta-se, na religião, através de Martinho Lutero (14831546), e faz surgir, na Alemanha, a Reforma Protestante, com ideais de mudanças. Martinho Lutero (1483-1546) nasceu em uma modesta família de mineradores, seguiu seus estudos religiosos num mosteiro agostiniano, porém, em uma viagem à Itália, em 1510, ficou impressionado com a corrupção dominante nas esferas de poder do clero. A repugnância por tudo o que viu fê-lo afastar-se da Igreja Católica. Em 1517, publicou 95 teses sobre os abusos e as pretensões da Igreja oficial, iniciando uma tormentosa relação com Roma. A Reforma valorizava a religiosidade interior e o princípio da liberdade de leitura do texto sagrado, resultando, para todo cristão, a posse de instrumentos elementares de cultura e a necessidade de difundir essa posse em nível popular. O objetivo era o de estabelecer um vínculo direto entre Deus e o fiel. Em sua base, havia certa aversão pela hierarquia eclesiástica, considerada responsável pela desordem disciplinar e pela corrupção que dominava a Igreja em Roma; Martinho Lutero recebia o apoio dos nobres que estavam interessados no confisco do clero. A Educação tornou-se importante instrumento para a divulgação da Reforma. Lutero priorizou a gratuidade da instrução para todos, defendendo uma educação pública, sob responsabilidade do Estado. Propunha uma Educação através de jogos, exercícios físicos, música (seus corais tornaram-se famosos), e recomendava o estudo damatemática e da história além de valorizar a literatura. “Se não existissem nem a alma nem o Paraíso nem o Inferno, e ainda se não se deve levar em consideração apenas as questões temporais, haveria igualmente necessidade de boas escolas masculinas e femininas, e isso para poder dispor de homens capazes de governar bem e mulheres em condições de conduzir bem suas casas.” (Martinho Lutero) Para Lutero, a lei de Deus não podia ser mantida através de punhos e armas, mas apenas com a cabeça e com os livros. Contra-Reforma Com a ruptura realizada pelos protestantes, mais precisamente por Martinho Lutero, a Igreja Católica procurou meios para reverter o quadro, pois estava perdendo os seus fiéis. Através de uma eleição, o Papa Paulo III Farnese convocou um concílio, chamado Concílio de Trento (1546-1563), com o intento de dar corpo às reivindicações. Esse Concílio reafirmava os princípios da fé e a supremacia Papal e determinava a criação de seminários para formar padres. O Concílio procurou determinar alguns pontos essenciais para a Igreja, como estudos bíblicos e teológico- filosóficos, com o objetivo de desenvolver as ordens religiosas. O objetivo era frear o avanço da heresia protestante e propagar a religião católica nos países do Novo Mundo. Esse movimento teve grande influência tanto cultural quanto pedagógica, pois a Igreja passou a dar importância não só à educação eclesiástica, mas também à educação dos jovens descendentes dos grupos dirigentes. O elemento mais importante da Pedagogia, na Contrarreforma, foi a proliferação de modelos de colégios e internatos espalhados pelo mundo. As ordens iniciaram com 144 e chegaram a 1749 colégios. Em 1534, foi fundada a Companhia de Jesus, por Inácio de Loyola (1491-1556), um militar espanhol que, ao recuperar-se de um ferimento ocasionado em uma batalha, colocouse a serviço da fé. A Pedagogia dos Jesuítas estava voltada ao preparo rigoroso da mente (memorização) e direcionava a formação para o magistério através de manuais, normas e informações bibliográficas. Em 1550, foi fundado o Colégio Romano, para a formação do mestre. O resultado dessa experiência definiu-se através do documento “Organização dos Planos de estudos”, chamado Ratio Studiorum. Um trecho desse documento mostra o manual de regras: “Repetições em casa. Todos os dias, exceto os sábados, os dias feriados e os festivos, designe uma hora de repetição aos nossos escolásticos para que assim se exercitem as inteligências e melhor se esclareçam as dificuldades ocorrentes. Assim um ou dois sejam avisados com antecedência para repetir a lição de memória, mas só por um quarto de hora; em seguida um ou dois formulem objeções e outros tantos respondam; se ainda sobrar tempo, proponham-se dúvidas. E para que sobre, procure o professor”. (Franca, 1952, p.145). Não davam importância à história, à geografia e à matemática, pois consideravam ciências vãs. “Exclui-se da educação os conhecimentos históricos e os científicos, a menos que a história fosse deturpada de tal forma que ficasse irreconhecível ou a ciência fosse tão superficial, que mais parecesse uma brincadeira de salão”. (PONCE) Do fim do século XVI até o início do século XVIII, ninguém se atreveu a discordar da Companhia de Jesus. Em 1549, através de Manuel da Nóbrega, a Companhia de Jesus chegou a Salvador com o objetivo de criar a escola de ler e escrever, promover a catequese dos índios e propiciar educação aos filhos de colonos e formação de novos sacerdotes e da elite intelectual. Por interesses políticos, os jesuítas foram expulsos de vários países, e o Papa Clemente XIV extinguiu a Companhia de Jesus em 1773. O Sistema educacional sofreu uma desestabilização, porque os jesuítas possuíam muitos colégios. RENASCIMENTO: HUMANISMO - Séculos XV e XVI Época de transição – educação, religião, ciência, produção filosófica A Renascença europeia foi o período compreendido entre os séculos XV e XVI e tem esse nome por representar a retomada dos valores greco-romanos. Houve uma retomada das fontes da cultura grega, sem a intermediação dos comentadores da Igreja. A curiosidade era aguçada para a observação direta dos fatos, com redobrado interesse pelo corpo e pela natureza. Foram ampliados os conhecimentos da anatomia, na medicina, com a prática da dissecação de cadáveres humanos, até então proibida pela Igreja. Intensificou-se a criação nas artes em geral, como pintura, arquitetura, escultura e literatura. A Itália destacou-se como centro da nova produção cultural. Esse período da história distinguiu-se pela busca da individualidade, caracterizada pelo poder da razão de cada um para estabelecer seu próprio caminho. O homem foi buscar, na ciência, a explicação para a sua existência, buscando fundamento em uma cultura mais rica de conhecimentos, acesso à qual, na Idade Média, lhe foi negado. A educação procurou bases não religiosas, a fim de se tornar instrumento adequado para a difusão dos valores burgueses. Dentro do movimento humanístico destacam-se: Juan Luis Vives (1492-1540) - Humanista espanhol, que lecionou na Universidade de Oxford e escreveu uma copiosa obra pedagógica. Seu principal trabalho foi o Tratado do Ensino. Embora tivesse escrito sobre a educação da mulher, considerava fundamental sua presença no lar. Recomendava o cuidado com o corpo e a atenção com o aspecto psicológico no ensino. Reconhecia a importância da observação dos fatos e da ação como meio de aprendizagem Erasmo de Rotterdam (1467-1536) - De origem holandesa, apesar de ser cristão pertencente à ordem dos Agostinianos, criticou severamente a Igreja corrupta e autoritária. Erasmo buscou, nos clássicos, as fontes da sabedoria grega, embora não desprezasse a ciência. Defendia o respeito e o amadurecimento da criança e por isso criticava a educação vigente, excessivamente severa. Recomendava o cuidado com a graduação do ensino e o abandono das práticas de castigos corporais. Para Erasmo, as crianças deveriam aprender se divertindo, sem a preocupação com resultados imediatos. François Rabelais (1494-1553) - Frade beneditino e médico francês. Buscou resgatar o saber greco-latino, com igual cuidado pelos estudos da ciência, e criticou a tradição escolástica de maneira irônica e saborosa. Rabelais não escreveu uma obra propriamente pedagógica, mas, nos romances satíricos Gargantua e Pantagruel, deixou transparecer suas ideias a respeito da Educação. Michel de Montaigne (1533-1592) - Nasceu no castelo de Montaigne, propriedade da sua família; pertencia a uma família francesa da burguesia enriquecida com a posse de terras e propriedades, conseguindo, assim, um título de nobreza. Montaigne lia com facilidade as obras latinas. Ao descrever a si próprio e refletir sobre suas experiências, traçou o perfil da natureza humana, apresentando o homem com suas interrogações, dúvidas e contradições, o que encaminhou seu pensamento para certo ceticismo. Ceticismo é uma doutrina segundo a qual o homem nada pode conhecer com certeza; os céticos concluem pela suspensão do juízo e pela dúvida permanente. “Só nos esforçamos por guarnecer a memória, deixando de lado, e vazios, juízo e consciência. Assim como os pássaros vão, às vezes, em busca de grão que trazem aos filhotes sem sequer sentir- lhe o gosto, vão nossos mestres pilhando a ciência nos livros e a trazendo na ponta da língua tão somente para vomitá-la e lançá-la ao vento. Tudo se submeterá ao exame da criança e nada se lhe enfiará na cabeça por simples autoridade e crédito”. (Montaigne, 1972. p. 71-78Pode-se perceber, em seu trabalho, a defesa de uma vida laica, diferente do que ensinavam os monges da Idade Média. Na esfera da Educação, Montaigne critica o trabalho com a memória.A Importância da História da Educação Através dessa visão histórica, foi possível verificar que a trajetória da Educação passa por vários contextos, em sua maioria relacionados com a política do período em que estão inseridos, portanto uma das principais ideias, ao se estudar a história da Educação, é situá-la dentro dos períodos históricos, para que se possa entender o processo educacional, uma vez que este sempre se vincula à política de cada período. Sendo assim podemos dizer que a Educação é um ato político, porque é intencional. Como exemplo, podemos mencionar como o tema da abolição dos escravos foi tratado em diferentes períodos. Durante muito tempo, a escola tradicional ensinou que a abolição dos escravos foi fruto da ação dos abolicionistas (geralmente brancos) que culminou com a assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, pela qual a princesa Isabel outorga a liberdade aos negros. Não havia nenhuma menção à ação de Zumbi e de seus companheiros nos Quilombos dos Palmares, nem a centenas de outros gestos de rebeldia que desapareceram da memória do país como “irrelevantes”. Hoje esse quadro já foi revisto e Zumbi está presente em muitos livros didáticos. O objetivo é justamente este: que façamos uma reflexão crítica desse ensino histórico, A importância da HISTÓRIA para a Educação é a de denunciar as formas ideológicas que utilizam a Educação como instrumento de poder. Dessa forma, podemos levantar questionamentos e elaborar análises da realidade educacional, por meio de investigações, tornando, assim, a ação educacional mais clara. A história nos traz o conhecimento dos fatos antigos e dos novos, dando-nos ferramentas para que a ideia de uma educação inovadora não fique apenas no papel, não seja apenas uma intenção e, sim, uma reforma concreta para a educação atual. A importância do estudo da história, para o pedagogo, está justamente na identificação dessas fases, para que se possa entender os fatos ocorridos no passado e como eles afetam o nosso presente, e, através desse entendimento, aprender o que é possível fazer no sentido de contribuir para que, no futuro, possamos ter a Educação tão sonhada por todos, que vise a uma transformação social. O estudo da História da Educação implica na investigação de ordem econômica, política e social do país, pois é dessa forma que vamos compreender a problemática educacional. O homem tem o seu olhar voltado para a Terra Com a expansão das novas técnicas de produção, foi preciso que a atenção se voltasse ao ensino, e era urgente que ele se processasse com rapidez, pois se fazia necessário que a sociedade adquirisse os conhecimentos elementares, com base nos fatos da realidade, para corresponder ao desenvolvimento que se priorizava para a época. De acordo com essa visão, não fazia sentido associar a educação à religião, nem aos interesses apenas de uma classe, priorizando o ensino apenas para a aristocracia. A educação devia partir da compreensão das coisas e não apenas das palavras, ou seja, era preciso ensinar segundo do conceito de que a teoria e a prática devem caminhar juntas. Dentro dessa perspectiva nasceu a pedagogia realista, com o objetivo de dar respostas rápidas aos problemas da sociedade. A pedagogia realista foi representada por João Amós Comênio (15921670). Surgiram, nesse mesmo período, as ideias liberais de John Locke (1632 1704), enriquecendo os direitos da sociedade. A batalha por tornar o ensino púbico de responsabilidade do Estado foi um marco do período chamado de Século das Luzes (Iluminismo), que recebeu essa denominação porque representou o poder da razão humana ao interpretar e reorganizar o mundo de acordo com suas próprias ideias, sem intervenção da religião. O iluminismo foi um período rico em reflexões pedagógicas. O homem, em estado de natureza, seria livre, independente, e a educação visualizaria o aspecto intelectual e manteria seu interesse voltado para o aluno. Dentro dessa perspectiva, Jean Jacques Rousseau abordou a pedagogia naturalista. No século XIX, já com uma maturidade adquirida, a ciência apareceu como parte integrante da concepção do saber, própria do pensamento positivista expresso por Auguste Comte (1798-1857). O Positivismo baseava-se em fatos reais e na experiência, não admitindo a dúvida. O Positivismo desenvolveu-se no século XIX, com August Comte, priorizando a ideia de que a confiança do homem estava no conhecimento científico e considerando o homem o único capaz de descobrir as leis do universo. Já o pensamento pragmatista, constituído por uma escola de Filosofia, com origens nos EUA e na Grã-Bretanha, caracterizava-se pela descrença no fatalismo e pela certeza de que só a ação humana, movida pela inteligência e pela energia, podia alterar os limites da condição humana. A sociedade passou por momentos de dificuldades, enfrentando revoluções e, nesse instante, surgiram algumas organizações de trabalhadores. Essas associações foram criadas para defender os interesses dos trabalhadores. Nesse contexto nascia a teoria marxista ou do materialismo histórico-dialético. Foi um período da história em que se defendia, sob um ponto de vista político, a ideia de que a educação é universal e politécnica. Era o pensamento socialista. Por fim, desenvolveu-se o pensamento construtivista, que recusou a tradicional concepção metafísica de uma natureza humana universal, essencial e estática. De acordo com o construtivismo, o homem se faz pela interação social, pelas relações entre os homens e por sua ação sobre o mundo. O homem é um ser histórico-social e, por isso, a maneira como deve apreender a realidade é um processo dinâmico, que se expressa de formas diferentes no tempo. A história é entendida como experiência do indivíduo ou do grupo a que ele pertence: sempre que surgem fatores novos, as antigas estruturas lógicas se desfazem, sendo necessárias outras formas de equilíbrio. A Pedagogia Realista - João Amós Comênio O realismo pedagógico privilegiava a experiência e acreditava em uma pedagogia que não fosse formal e retórica. Fundamentada por essa visão, a educação partia da compreensão das coisas e não das palavras; a educação física era valorizada. A principal figura desse momento foi: João Amós Comênio, que nasceu em 1592, na República Tcheca, estudou na Alemanha, seguiu carreira religiosa, escreveu obras filosóficas e pedagógicas e morreu em 1670. A principal obra de Comênio foi o livro Didática Magna. Sua proposta era tornar a aprendizagem atraente e eficaz, organizando as tarefas dentro de três ideias que fundamentavam as bases da sua didática: a naturalidade, a intuição e a autoatividade. De acordo com Comênio, a questão que se colocava era: em vez de abrirmos os livros mortos, por que não abrirmos os livros da natureza? Para a época era novidade qualquer tipo de organização do trabalho didático e Comênio elaborou manuais, detalhando como deveria ser o procedimento do mestre para trabalhar de acordo com a capacidade de assimilação dos alunos. A aprendizagem tinha como ponto de partida aquilo que já era conhecido pelo aluno e deveria progredir do simples para o complexo, do concreto para o abstrato, privilegiando a educação dos sentidos. A organização do sistema escolar tinha por base os seguintes parâmetros: 1- a idade dos educandos ; 2- o lugar em que estavam inseridos; 3- o objetivo das ações. Sua concepção era ensinar tudo a todos, ensinar para a vida, atingindo a sabedoria universal. O ensino deveria estar voltado para a prática, a fim de que houvesse progresso intelectual, moral e espiritual capaz de aproximar o homem de Deus. O aluno deveria adquirir um saber geral e integrado, ainda simplificado nos ensinos elementares. Nos outros graus, o conhecimento possibilitariaa análise crítica e a invenção. Comênio acreditava que a educação faria o aluno pensar por si mesmo, não como simples espectador, mas como ator. Pode-se dizer que o pensamento de Comênio tinha um caráter inovador, de sabor atual, apesar da época em que viveu. Era um período rico em reflexões pedagógicas e um dos aspectos marcantes estava na pedagogia política, centrada no esforço para tornar a escola livre de interesses de classe e da responsabilidade do Estado. Dentro desse contexto, surgiu John Locke (1632-1704), que contrariava a antiga educação e trazia as ideias políticas liberais, fazendo restrições à interferência do Estado na vida dos cidadãos e defendendo o direito da iniciativa privada. Locke priorizava a formação do homem gentil e valorizava a Educação Física, a História, a Geografia, a Geometria e as Ciências Naturais. Para Locke, a educação se concentraria muito mais no caráter do que na formação intelectual, portanto apresentou uma tríplice proposta para a educação: o desenvolvimento físico, moral e intelectual, caracterizando o “gentleman”, o gentil-homem. O seu pensamento pode ser resumido pela seguinte expressão: “Legitimidade do poder”. Todos seriam livres, iguais e independentes. Locke desenvolveu uma concepção empirista, afirmando que nada está no espírito que não tenha passado primeiro pelos sentidos. A EDUCAÇÃO FEMININA NO ILUMINISMO Para uma camada da sociedade, a educação era ministrada através das seguintes disciplinas: gramática, poesia, história e leitura de obras religiosas, tornando a educação prazerosa. Para outra camada, a educação era extremamente religiosa e moral, enriquecendo a vida doméstica. Alguns filósofos, chamados de enciclopedistas, contribuíram para o desenvolvimento do pensamento iluminista nesse período. São eles: Denis Diderot (Langres, 5 de outubro de 1713 – Paris, 31 de julho de 1784): filósofo e escritor francês; também priorizou a aprendizagem de um ofício, assim como John Locke. Jean le Rond d'Alembert (Paris, 1717 — 1783): filósofo, matemático e físico francês; teve participação na edição da Encyclopédie, a primeira enciclopédia publicada na Europa. François-Marie Arouet, mais conhecido como Voltaire (Paris, 1694 - 1778): escritor, filósofo iluminista, conhecido pela sua perspicácia e espirituosidade na defesa das liberdades civil, religiosa e do livre comércio. Claude Adrien Helvétius (Paris, 1715 - 1771): filósofo e literato francês. A amizade com o enciclopedista D’Alembert abriu-lhe as portas da Academia de Berlim. Deixou diversas obras publicadas postumamente, entre elas: Verdadeiro sentido do sistema da natureza e Do homem e Das faculdades intelectuais e de sua educação. O pensamento educacional de Jean Jacques Rousseau Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), natural de Genebra, Suíça, filósofo, escritor, teórico político e um compositor musical autodidata, foi uma das figuras marcantes do Iluminismo. Abandonou sua terra natal aos 16 anos, levou uma vida conturbada, andando por diversos lugares até se fixar em Paris com os enciclopedistas, tornando-se muito amigo de Diderot. Em 1762, publicou Emílio e Contrato social. Essas obras foram condenadas em Paris e Rousseau foi obrigado a fugir, iniciando uma longa peregrinação. Segundo Rousseau, todo homem nasce bom e a sociedade é que o corrompe Ele acreditava que a criança não deveria ser encarada como um adulto em miniatura. Para ele, a educação deveria estar voltada para a vida, para a ação e para a curiosidade. Elaborou uma nova imagem da infância, vista como próxima do homem por natureza, articulando-a em etapas que iam da primeira infância à adolescência. A criança devia aprender a pensar respeitando seu desenvolvimento interno e natural. Sua principal obra foi Emílio, na qual relata a educação de um jovem acompanhado por seu preceptor (mestre). Essa educação acontecia longe da sociedade corrupta, priorizando a pedagogia naturalista. A educação apresentada na obra mostra a busca por uma espontaneidade original, livre da escravidão aos hábitos exteriores, a fim de formar o homem dono de si mesmo, agindo por interesses naturais e não por constrangimento exterior e artificial. Essa obra foi escrita em um período de dez anos e está dividida em cinco livros. O primeiro livro é dedicado à idade infantil, caracterizada por uma educação higiênica e capaz de não criar, no menino, hábitos não naturais e danosos. O segundo é dedicado à idade dos três aos doze anos e retrata uma infância caracterizada pela fraqueza, em razão da dependência, pela curiosidade e pela liberdade. Nessa fase destacou-se a importância de o educador perder algum tempo e intervir para ensinar a Emílio algumas noções essenciais, priorizando o fortalecimento do corpo e o uso correto dos sentidos, além de um pouco de desenho e geometria. O terceiro livro entra na idade que chamaríamos, hoje, de pré-adolescência, caracterizada por Rousseau como idade do útil. O quarto livro trata da adolescência de Emílio; o despertar das paixões e a atenção com os outros homens. As matérias aprendidas nessa fase deveriam ser: história, moral e religião. O quinto livro mostra o final feliz de Emílio com Sofia, seu amor. Emílio vai viver entre os homens, procurando ser, para eles, o benfeitor. Para Rousseau, o homem não se reduz à dimensão intelectual, como se a natureza pudesse ser apenas razão e reflexão. Entende, dessa forma, que os sentidos como emoções, instintos, sentimentos são anteriores ao pensar elaborado, portanto são mais dignos de confiança do que os hábitos de pensamento inculcados pela sociedade. Educação Pragmatista O termo pragmatismo deriva da palavra grega, Prágma, que significa ação, do qual vêm as nossas palavras “prática e prático”. A visão do pragmatismo recai sobre o concreto e o adequado, e destaca os fatos, a ação e o poder, não pretendendo resultados especiais, pois é somente um método, que é anti-intelectualista e privilegia a prática e a experiência, reduzindo o verdadeiro ao útil, ou seja, a verdade será útil desde que sirva para o desenvolvimento do homem e da sociedade. Exemplo: a religião. A principal figura dessa vertente é John Dewey, (1859-1952), filósofo e pedagogo norte-americano, para o qual o pragmatismo se aproxima da filosofia social ou mesmo de uma prática da pesquisa política. O pragmatismo não concorda com a perspectiva de que o intelecto e os conceitos humanos podem, só por si, representar adequadamente a realidade. Caracteriza-se pela oposição à escola tradicional (memorização e predominância do intelectualismo), pelo realce às atividades manuais e ao interesse da criança, e pelo estímulo ao espírito de iniciativa e independência (sociedade democrática). Dewey fundou a escola experimental na Universidade de Chicago, onde a criança aprendia fazendo (Vida-experiência-aprendizagem); o esforço e a disciplina eram frutos do interesse. O fim da educação não é formar a criança de acordo com modelos, nem orientá-la para uma ação futura, mas dar-lhe condições para que resolva por si própria os seus problemas (Dewey). O conhecimento é uma atividade dirigida que não tem fim em si mesmo, mas está voltada para a experiência. Para Dewey, a escola não pode ser uma preparação para a vida, mas é a própria vida. As ideias são hipóteses de ação e são verdadeiras à medida que funcionam como orientadoras da ação. Dessa forma têm valor instrumental para resolver os problemas colocados pela experiência humana. O educador deve descobrir os reais interesses da criança e só avançar na ampliação de seus poderes, apoiando-se nesses interesses. As atividades manuais são importantes, porque apresentam problemas concretos para serem resolvidos.Século XIX- A Educação Positivista Positivismo é um conceito utópico que possui distintos significados, englobando tanto perspectivas filosóficas e científicas do século XIX quanto outras do século XX. O positivismo baseia-se em fatos reais e na experiência, não admitindo a dúvida. O iniciador da corrente positivista foi August Comte, para quem o Positivismo surgiu das crises social e moral do fim da Idade Média e do nascimento da sociedade industrial - processos que tiveram como grande marco a Revolução Francesa (1789-1799). Comte analisa os fenômenos humanos como fatos tanto da natureza quanto das ciências humanas, afastando o preconceito. Segundo ele, as leis da Educação passam por três etapas: 1 - infância: educação informal, livre de uma realidade imaginária; 2 - adolescência: fase de estudo sistemático da ciência; 3 - idade madura. A crítica que se faz é que, na realidade, a educação não seria tão positiva, pois as crianças não imaginariam forças divinas para explicar o mundo e nem os jovens se mostravam muito habituados a abstrações metafísicas. PRINCIPAIS COLABORADORES Herbert Spencer (1820 - 1903) foi um filósofo inglês e um dos representantes do positivismo e da pedagogia individualista. No campo pedagógico, Spencer fez campanha pelo ensino da ciência, combateu a interferência do Estado na Educação e afirmou que o principal objetivo da escola era a construção do caráter. Spencer escreveu a obra A Educação intelectual moral e física, mostrando que o ensino das ciências, como centro da educação, é influenciado pelo naturalismo de Rousseau. John Stuart Mill (1806-1873) foi um filósofo e economista inglês e um dos pensadores liberais mais influentes do século XIX. Devido aos seus trabalhos abordando diversos tópicos, John Stuart Mill tornou-se contribuinte influente do que logo se transformou, formalmente, na nova ciência da Psicologia. Ele combatia a visão mecanicista de seu pai, James Mill, ou seja, a visão de que a mente é passiva e reage mediante o estímulo externo. Para John Stuart Mill, a mente exerce um papel ativo na associação de ideias. A Educação Positivista é caracterizada pela maturidade do espírito humano, pela luta contra o ensino leigo e contra o tradicionalismo da religião. O pensamento socialista A sociedade passando por um momento de dificuldades vê surgirem, decorrentes do caos, algumas organizações de trabalhadores que foram criadas para defender os interesses dos trabalhadores. Nasce, nesse momento, a teoria marxista ou o materialismo histórico-dialético. Esse período da história tratará a pedagogia sob um ponto de vista político, defendendo a visão da educação universal e politécnica. PRINCIPAIS PEDAGOGOS: Pestalozzi, Froebel e Herbart. Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827): pedagogo suíço e educador pioneiro da reforma educacional, conheceu de perto o preconceito social e teve de lutar muito para se tornar conhecido numa sociedade dividida entre nobres e plebeus e entre ricos e pobres. Após a leitura de Emílio, Pestalozzi foi influenciado pelo movimento naturalista e tornou-se um revolucionário, juntando-se aos que criticavam a situação política do país. Como se tornou discípulo de Rousseau, também tinha convicção da bondade e da inocência humanas. Para ele, é tarefa do mestre desenvolver e estimular a espontaneidade do aluno, compreendendo a infância. Em 1891, Pestalozzi concentrou suas ideias sobre educação num livro intitulado Como Gertrudes ensina suas crianças. Pestalozzi foi um dos pioneiros da pedagogia moderna, influenciando profundamente todas as correntes educacionais, e longe está de deixar de ser uma referência. Fundou escolas e buscava cativar a todos para a causa de uma educação capaz de atingir o povo, num tempo em que o ensino era privilégio exclusivo da elite. Em sua escola expunha seu método pedagógico, que preconizava partir do mais fácil e simples para se chegar ao mais difícil e complexo. E continuar daí, medindo, pintando, escrevendo e contando, e assim por diante. Seu interesse sempre foi pela educação das crianças pobres, recolhendo, das ruas, órfãos, mendigos e pequenos ladrões. Sua concepção de educação aliava a formação ao trabalho profissional. Esse sonho durou apenas 5 anos, pois ele não conseguiu apoio para manter financeiramente sua escola. A vida educa. Mas a vida que educa não é uma questão de palavras, e sim de ação (Pestalozzi). Para Pestalozzi a educação não se restringe à formação do homem-gentil, pois ela tem uma função social. Froebel (1782-1852): protestante, religioso convicto, para o qual o educando tem que ser tratado de acordo com sua dignidade de filho de Deus, dentro de um clima de compreensão e liberdade. O educador é obrigado a respeitar o discípulo em toda sua integridade; deve manifestar-se como um guia experimentado e amigo fiel que, com mão flexível, mas firme, exige e orienta. Não é somente um guia, mas também sujeito ativo da educação: dá e recebe; orienta, mas deixa em liberdade; é firme, mas concede. O educador deve conhecer os diversos graus de desenvolvimento do homem para realizar sua tarefa com êxito. Segundo ele, as cinco etapas de desenvolvimento vão desde que o homem nasce até sua adolescência. Para Froebel, o desenvolvimento ocorre segundo as seguintes etapas: a infância; a meninice; a puberdade; a mocidade e a maturidade. Todas estas fases eram igualmente importantes Observava, portanto, a gradação e a continuidade do desenvolvimento, bem como a unidade das fases de crescimento. De acordo com sua pedagogia, a educação da infância se realiza através de três tipos de operações: a ação, o jogo e o trabalho. Seguidor de Pestalozzi, sua principal contribuição pedagógica está na atenção às crianças na fase anterior ao ensino elementar (Jardim da infância). Em 1873, Froebel abriu o primeiro jardim de infância, onde as crianças eram consideradas como plantinhas de um jardim do qual o professor seria o jardineiro. Froebel foi o primeiro educador a enfatizar o brinquedo, a atividade lúdica e a apreender o significado da família nas relações humanas. Observou que, através dos jogos e do brinquedo, a criança estimula seu desenvolvimento sensório- motor e inventa métodos, aperfeiçoando suas habilidades. Desenvolveu uma série de materiais, de acordo com cada fase da criança, para que elas se expressassem. O primeiro foi chamado de dons. Esses materiais tinham o objetivo de despertar a representação da forma, da cor, do movimento e da matéria. Exemplo: A Bola. O segundo: A bola, O cubo e o Cilindro. O terceiro: formado pela divisão dos cubos desmontáveis. Sua concepção de educação segue os seguintes preceitos: • a criança não deve ser iniciada em nenhum novo assunto enquanto não estiver madura para ele. O verdadeiro desenvolvimento advém de atividades espontâneas; • na educação inicial da criança, o brinquedo é um elemento essencial; • os currículos das escolas devem basear-se nas atividades e interesses de cada fase da vida da criança; • a grande tarefa da educação consiste em ajudar o homem a conhecer a si próprio, a viver em paz com a natureza e em união com Deus. É o que ele chamou de educação integral. Sua concepção de ser humano era profundamente religiosa. • Priorizava também a dobradura, o recorte, o canto e a poesia para facilitar a educação moral e religiosa Acreditava que os primeiros anos de vida são básicos para a formação do homem. Johann F. Herbart (1776-1841): filósofo e psicólogo alemão, fundador da pedagogia como uma disciplina acadêmica, pedagogia como ciência. Educação é compreendida como construção. Educação da vontade, sustentadaem três bases: governo (pais e mestres); instrução (desenvolvimento dos interesses) e disciplina (autodeterminação). Foi precursor de uma psicologia experimental aplicada à pedagogia, dentro de uma visão social, com a finalidade de formar o caráter por meio do estabelecimento da vontade, o que se alcança pela instrução (a educação da vontade). Para Herbart, a conduta pedagógica passa por três procedimentos básicos: o governo, a instrução e a disciplina. Governo – controle pela família, depois pelos mestres com o intuito de submeter a crianças às regras do mundo adulto, combinando autoridade e amor, além de manter a criança sempre ocupada. Instrução – o desenvolvimento de interesses, pois estes são um poder ativo que determina quais ideias e experiências receberão atenção. A instrução é concebida como construção, não separando a instrução moral da intelectual. Disciplina – supõe a autodeterminação, característica do amadurecimento moral, que leva à formação do caráter. Herbart, ao observar o insucesso do ensino nas escolas quanto à assimilação, aplicação de métodos, etc., propôs cinco passos para reverter a situação: Preparação - recapitulação do que já foi visto, orientada pelo mestre; Apresentação – o conhecimento novo partindo do concreto; Assimilação – Comparação entre o conhecimento que já possuía e o novo que recebeu, percebendo semelhanças e diferenças; Generalização – passo mais significativo na adolescência, pois o aluno deverá ser capaz de abstrair, chegando a concepções gerais; Aplicação – exercícios por meio dos quais o aluno mostrará o que aprendeu; só assim a massa de ideias adquire sentido vital, deixando de ser mera acumulação inútil de informação . Podemos observar que os cinco passos formalizam o ensino expositivo e a avaliação da escola tradicional. Para Herbart, o conhecimento é oferecido pelo mestre ao aluno, que só posteriormente o aplica à experiência vivida. O controle excessivo passa pelo governo e, consequentemente, para a disciplina, permeando a instrução. Construtivismo A teoria construtivista recusa a tradicional concepção metafísica de uma natureza humana universal, essencial e estática. O homem se faz pela interação social, pelas relações entre os homens e por sua ação sobre o mundo. O homem é um ser histórico-social e, por isso, a aprendizagem da realidade é um processo dinâmico que se expressa de formas diferentes no tempo. A história é entendida como experiência do indivíduo ou do grupo a que ele pertence: sempre que surgem fatores novos, as antigas estruturas lógicas se desfazem, sendo necessárias outras formas de equilibração. JEAN PIAGET (1896-1980) - Nasceu em Genebra, Suíça, e foi considerado o maior expoente do estudo do desenvolvimento cognitivo. Estudou inicialmente Biologia, na Suíça, e, posteriormente, dedicou-se às áreas de Psicologia e Educação. Foi professor de Psicologia na Universidade de Genebra, tornando-se mundialmente reconhecido pela sua revolução epistemológica. Durante sua vida, Piaget escreveu mais de cinquenta livros. Durante seu trabalho, ao analisar os resultados dos testes que aplicava, Piaget percebeu regularidades nas respostas erradas das crianças de mesma faixa etária. Esses dados permitiram o lançamento da hipótese de que o pensamento infantil é qualitativamente diferente do pensamento adulto. Assim sendo, propôs o ensino em estágios (sensório-motor, intuitivo, das operações concretas e das operações abstratas), que representam o desenvolvimento mental da criança (inteligência e afetividade). A extensão desses estágios e períodos é determinada pela idade cronológica: estágio sensório-motor (de 0 a aproximadamente 2 anos);· estágio objetivo-simbólico (aproximadamente de 2 a 6 ou 7 anos); estágio operacional concreto (aproximadamente de 7 a 11 ou 12 anos) e estágio operacional- abstrato ou formal (de 11 ou 12 anos a 14 ou 15 anos). O interesse central de Piaget era a problemática epistemológica, ou seja, como se passa de um estado menor de conhecimento para um estado maior de conhecimento? Uma das contribuições de Piaget para a Pedagogia foi indicar conteúdos adequados a cada estágio do desenvolvimento infantil, sem desrespeitar as reais possibilidades mentais da criança, ou seja, considerando o seu desenvolvimento intelectual e afetivo. EMÍLIA FERREIRO - Emilia Beatriz MarIa Ferreiro Schavi, nasceu na Argentina, em 1936. É psicológa e pedagoga, de nacionalidade argentina, mas radicada no México; é doutora pela Universidade de Genebra, sob a orientação de Jean Piaget. Através dos seus estudos de linguística pôde observar a construção da linguagem escrita e sua natureza; como exemplo, observou as Garatujas, que indicam um processo inicial de construção do sistema representativo da escrita. Além disso, distinguiu os níveis de alfabetização: pré-silábico, silábico, silábico alfabético e alfabético. A partir dela, a criança passa a ser vista como sujeito que interage com a escrita como objeto de conhecimento. As teorias de Emília Ferreiro foram desenvolvidas em conjunto com Ana Teberosky (pedagoga de Barcelona). Graças às suas teorias, hoje, podemos superar as dificuldades enfrentadas por crianças com problemas de aprendizagem. VYGOTSKY (1896-1934). Lev Semenovitch Vygotsky nasceu na Rússia, foi psicólogo e um pensador importante em sua área. Foi pioneiro ao estabelecer a noção de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interações sociais e condições de vida. Foi descoberto pelos meios acadêmicos ocidentais muitos anos após a sua morte, que ocorreu em 1934, por tuberculose, aos 37 anos. Seus estudos focalizam a linha interacionista; a família e a escola; a internalização das atividades; o papel da escola; as zonas de desenvolvimento real e proximal. Para Vygotsky, o aprendizado da criança começa muito antes de ela frequentar a escola; seu aprendizado e desenvolvimento estão inter-relacionados desde o primeiro dia de sua vida. O nível de desenvolvimento real é caracterizado como o nível de desenvolvimento que já está completo: a criança já internalizou determinada função, como, por exemplo, amarrar os sapatos sozinha. Um dos conceitos mais importantes desenvolvidos por Vygotsky é o de Zona de desenvolvimento proximal, que se refere à diferença entre o que a criança consegue realizar sozinha (desenvolvimento real) e aquilo que, embora não consiga realizar sozinha, é capaz de aprender e fazer com a ajuda de uma pessoa mais experiente, um adulto ou uma criança mais velha ou que tenha maior facilidade de aprendizado (desenvolvimento potencial). Citando o mesmo exemplo, digamos que a criança ainda não saiba amarrar os sapatos sozinha, mas aprende a fazê-lo, com a ajuda de um adulto ou de outra criança, ou ainda com algum tipo de explicação. A Zona de Desenvolvimento Proximal é, portanto, tudo o que a criança pode adquirir em termos intelectuais, quando lhe é dado o suporte educacional devido. A Zona de Desenvolvimento Proximal é, portanto, tudo o que a criança pode adquirir em termos intelectuais, quando lhe é dado o suporte educacional devido. “A zona de desenvolvimento proximal define aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que estão presentes em estado embrionário” (Vygotsky, 1989, p. 97). A ênfase em situar quem aprende e aquele que ensina como partícipes de um mesmo processo corrobora com outro conceito-chave na teoria de Vygotsky, o da mediação, como um pressuposto da relação eu-outro social. A relação mediatizada não se dá, necessariamente, pelo outro corpóreo, mas pela possibilidade de interação com signos, símbolos culturais e objetos. Um dos pressupostos básicos desse autor é que o ser humano constitui-se enquanto tal na sua relação com o outro. Para Vygotsky, a aprendizagem relaciona-seao desenvolvimento desde o nascimento, sendo a principal causa para o desabrochar do desenvolvimento do ser. O contexto inicial da educação brasileira insere-se em um universo religioso e político . O período colonial teve uma longa duração e, por muito tempo, esteve sob o domínio do poder da Igreja. Os jesuítas chegaram ao país, enviados pela Companhia de Jesus, com a seguinte missão: catequizar os povos do Novo Mundo. O objetivo era impor a religião católica aos nativos em substituição à cultura indígena. Embora, para a Igreja, os interesses políticos se sobrepusessem aos direitos humanos, as tribos abrigadas pelos jesuítas gozavam de certa proteção, uma vez que esses religiosos impunham respeito e, assim, dificultavam a captura dos índios por aqueles que os queriam como escravos. Quando os jesuítas foram expulsos e retornaram à sua terra de origem, os índios, fechados em sua própria cultura, ficaram à mercê dos bandeirantes e de outros que visavam à escravidão desse povo. Existe a educação de cada categoria de sujeitos de um povo; ela existe em cada povo, ou entre povos que se encontram. Existe entre povos que submetem e dominam outros povos, usando a educação como um recurso a mais de sua dominância (Brandão, 1989, p. 10). As primeiras escolas criadas pelos jesuítas eram frequentadas por filhos de índios e filhos de colonos. No entanto a relação ensino-aprendizagem estabelecida nessas escolas tinha objetivos diferentes: de uma lado, catequizar os indígenas e, de outro, instruir os filhos dos colonos. Com base no documento Radio Studiorum, que organizava as normas e regras que orientavam o processo de educação realizado pelos jesuítas, muitos colégios foram criados e estruturados. Assim sendo, os jesuítas detinham o monopólio da educação e os padres eram preparados e instruídos para ensinar. Dessa forma, durante um longo período, ninguém se atreveu a questionar o ensino estruturado pela Companhia de Jesus. A educação no Brasil sofreu intensa influência europeia, o que teve aspectos positivos e negativos. Por um lado, trouxe para cá os ideais iluministas que fundamentaram algumas reformas educacionais; por outro, essa influência pode ser entendida como uma forma de dominação. A Educação brasileira, em seus passos iniciais, teve erros e acertos, mas deixou uma importante herança para as fases seguintes. Cursos importantes foram criados, os quais formaram vários intelectuais brasileiros que, mais tarde, deram grande contribuição para o desenvolvimento do processo educacional no país. No entanto, observa-se com nitidez que a Educação estava vinculada a um poder central que a usava como instrumento de dominação. A princípio ensinava-se em todo e qualquer lugar; o ensino não acontecia necessariamente em uma sala de aula. Mas, quando houve maior preocupação com a estruturação do ensino, destacou-se o descaso para com a formação dos professores e com o investimento no ensino elementar, contrapondo-se à priorização do ensino superior. A EDUCAÇÃO NO BRASIL: da Colônia ao Império A Educação e a fase política que predominam no período entre a colônia e o Império podem ser compreendidas sem três fases a primeira, a fase de chegada dos jesuítas; a segunda, a das reformas realizadas pelo Marquês de Pombal; e a terceira, a vinda da corte portuguesa ao Brasil , trazida por D. João Vl. A Educação no Brasil inicio- se no período colonial com a chegada, em 1549, dos padres jesuítas a Salvador, mais precisamente com Manuel da Nobrega. Membro da Companhia de Jesus, cujo ensino tinha como objetivo a propagação da fé. Qual a razão da vinda dos jesuítas ao Brasil? Com a ruptura do cristianismo e procurava bases para fazer o protestantismo iniciado por Martinho lutero, Com esse intuito, o Papa Paulo lll Famese fez uma convocação e , assim criou- se o Concílio de trento (1546 – 1563). Em 1534 , Inácio de Loyola (1491 – 1556) fundou a companhia de jesus. A educação orientada pelos jesuítas estava voltadas para a memorização e a formação para educação são definidas no documento “Organização dos Planos d Estudos”, chamado Ratio Studiorum. A intenção era propagar a religião católica pelo países do novo mundo entre eles o Brasil, uma terra a ser colonizada e catequizada. Assim traçaram- se novos rumos para a missão da Companhia de jesus. A ordem religiosa instalou – se no litoral. Penetrando nas indígenas, aprenderam o tupi guarani e fizeram funcionar uma escola de ler e escrever, com o fim de substituir a cultura indígena. João de Aspilcueta Navarro foi o primeiro jesuíta a aprender a língua dos índios. O padre foi um dos primeiros missionários a chegar com a Companhia de Jesus. Na realidade seu nome correto era Juan Azpilikueta, porém, como os portugueses tinham uma grande dificuldade em pronunciálo, acabaram aportuguesando, primeiro chamando-o de Navarro, depois de Aspilcueta Navarro como ficou conhecido. Manoel da Nóbrega e Aspilcueta Navarro juntaram-se a José de Anchieta, que, por sua vez, era o responsável pela organização do ensino dos índios e dos filhos dos colonos. Anchieta, para atrair os alunos, utilizava recursos interessantes, como teatro, música, poesia. É necessário que fique bem claro que todo esse aprendizado tinha como conteúdo principal a religião e a moral cristã. A princípio, a educação iniciou-se com a instrução e a catequese dos índios e dos filhos dos colonos, com o objetivo da formação de novos sacerdotes e da elite intelectual. A educação ou catequese indígena fazia parte de um jogo de interesses que visavam, predominantemente, à integração dos índios ao processo de colonização e à sua conversão ao cristianismo, roubando-lhe sua herança cultural. Porém alguns colonos também queriam os índios para utilizá-los como escravos. Foi um conflito injusto. Por isso é injusto considerar o índio preguiçoso, sem levar em conta que, na sua cultura, tanto o objetivo do trabalho como o seu ritmo são bastante diferentes dos impostos pelos europeus (Aranha, 1996, p. 101). Pode-se dizer que os índios passaram por um processo chamado aculturação, processo pelo qual duas ou mais culturas diferentes originam mudanças importantes numa delas ou em ambas. No caso, a mudanças ocorreram apenas em uma, monopolizando-a. Os jesuítas tinham o apoio do governo de Portugal e, por isso, ganhavam doações de terras para realizarem o trabalho de catequização. Por que será que o governo de Portugal apoiava a Educação? É possível dizer que a Educação podia ser utilizada como uma ferramenta de domínio político e religioso, ou seja, de jogo de interesses sobre aquele que pensava que aprendia. O Brasil precisava desenvolver escolas que contemplassem a educação dos filhos de colonos brancos e mestiços. Dentro do plano de ensino havia aulas de português, religião, música instrumental, canto orfeônico e as aulas de ler e escrever. Uma das marcas da educação colonial era a falta de interesse pelas atividades técnicas e científicas, priorizando as escolas de leitura e escrita. Os colégios de maior influência foram o de Todos os Santos (Bahia), o de São Sebastião (Rio de Janeiro) e o Colégio São Paulo (São Paulo), considerados como centros de formação de religiosos. Esses colégios ministravam as aulas segundo o sistema educacional dos jesuítas. Vamos relembrar a Unidade I, na qual falamos sobre a filosofia da escolástica e a organização dos estudos. Os jesuítas tinham o monopólio do ensino. Durante muito tempo ninguém se atreveu a questionar o ensino ministrado e sistematizado pelos jesuítas, orientado por um conjunto de normas e regras organizadas em um documento chamado, como já mencionamos na Unidade I, de Radio Studiorum.Além do ensino regular, também articulavam um curso básico de Humanidades,em que se estudavam Letras Humanas, Filosofia/Ciência e Teologia. Porém os jovens que pertenciam à elite e que quisessem finalizar os seus estudos tinham que se deslocar para a Europa. No século XVIII, com a decadência da Igreja Católica, denunciava-se o dogmatismo da escolástica e os jesuítas foram expulsos de vários países. O Papa Clemente XIV extinguiu a Companhia de Jesus em 1773. A Companhia de Jesus foi expulsa do Brasil e de Portugal pelo Marquês de Pombal. As reformas realizadas pelo Marquês de Pombal Marquês de Pombal nasceu em Lisboa (1669) e seu nome era Sebastião José de Carvalho e melo. Foi ministro do reino em Portugal e um dos principais responsáveis pelo a expulsão da Companhia de jesus tanto do Brasil quanto de Portugal tinha uma séria de reformas, chamadas de reformas Pombalinas , realizadas em 1772, e que deram início à 2ª fase de Educação no Brasil, período em que o Estado assumiu a responsabilidade pela Educação em Portugal e no Brasil. O sistema educacional, nessa fase sofreu uma desestabilização, porque os jesuítas possuíam muitos colégios e um sistemas de ensino estruturado e, com a sua expulsão, essa estrutura desapareceu. A intenção das reformas pombalinas era inserir o país no mundo moderno, no qual eram valorizadas as ideías propagandas pelo iluminismo. O Iluminismo foi um período muito rico em reflexões pedagógicas. Um dos aspectos mais marcantes estava na Pedagogia Política, como vimos na unidade passada. No contexto do Iluminismo, não fazia sentido atrelar a educação à religião, como nas escolas confessionais, nem aos interesses de uma classe, como queria a aristocracia. A educação pública trouxe, para o ensino no Brasil, pessoas leigas, sem um preparo adequado, representantes de ideias que o Estado defendia, retrocedendo, de certa forma, a educação construída pelos jesuítas, no que se refere à estrutura. As reformas pombalinas introduziram as aulas avulsas (aulas régias) com disciplinas isoladas, como: gramática latina, primeiras letras, retórica, filosofia. Esse período da Educação formou importantes intelectuais para o Brasil, como, por exemplo, José Joaquim de Azeredo Coutinho, que fundou o Seminário de Olinda, em 1800. O Marquês de Pombal assumiu a Universidade de Coimbra dentro dos ideais iluministas e, dessa forma, muitos jovens saíam do Brasil para irem complementar os seus estudos em Coimbra. Não podemos deixar de observar que, nesse período, houve uma grande desestruturação no sistema educacional, talvez causada pelo fato de a Educação não ter sido priorizada dentro de um contexto mais amplo. A vinda da Corte Portuguesa para o Brasil Quando Napoleão invadiu Portugal, a Corte portuguesa veio para o Brasil, trazida por D. João VI, rei de Portugal, e instalou-se na cidade do Rio de Janeiro, que passou a ser a sede do governo. João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís Antônio Domingos Rafael de Bragança. Por incrível que pareça esse era o nome completo de D. João VI. A Educação no Brasil, no período desde a chegada dos jesuítas até sua expulsão e, em seguida, com o processo de desagregação e decadência sofrido durante a vigência do sistema de educação imposto na colônia pelas reformas pombalinas, deixou marcas. Somente com a chegada de D. João VI, as estruturas da política educacional foram modificadas. Com a vinda da família real, em 1808,o ensino superior passou por um processo de organização, uma vez que se pretendia transformar o Brasil e torná-lo semelhante à Corte em Portugal. Por esse motivo, abriram os portos, criaram a Imprensa Régia, o Jardim Botânico, a biblioteca, museu, a escola de artes, o que trouxe uma grande contribuição para o desenvolvimento cultural. Mais adiante, no período do Império deu-se o surgimento de uma nova classe social, a pequena burguesia, com o grande crescimento urbano, as pessoas são levadas para cidades, principalmente de Minas Gerais para trabalhar na exploração dos minérios e na plantação de cana-de-açúcar. Essa nova urbanização exigia uma outra educação para formar pessoas capazes de atuar na política e na administração do país. A educação surgia como um processo de instrumentalizar a classe social emergente. Em 1808 foram criados o curso de Cirurgia, na Bahia, e os cursos de Cirurgia e Anatomia, de Medicina, além da Academia Real Militar, no Rio de Janeiro. O ensino, na Corte, foi estruturado em três níveis: primário (escola de ler e escrever), secundário (aulas régias) e superior. A Corte retornou a Portugal em 1821 e, um ano depois, em 1822, a Independência política no Brasil foi instaurada por D. Pedro I. Após a Constituição de 1824, a Educação passou a contar com as escolas primárias, ginásios e universidades. Porém não havia uma conformidade entre as propostas de ensino. Optou-se pela adoção de um método através do qual os alunos ajudariam uns aos outros mutuamente, ou seja, os mais adiantados ajudariam aqueles que apresentassem dificuldades na aprendizagem; o comando ficaria sempre nas mãos dos mais adiantados. Esse método, conhecido como método lancasteriano, teve início na Índia com Andrew Bell e depois foi recriado na Inglaterra. Em 1838, foi criado o Colégio Pedro II, destaque na época, o qual teve grande importância para a Educação. Foi criado para atender à educação do curso secundário, porém o seu foco passou a ser a preparação para o ensino superior.Com o passar do tempo, o currículo do Colégio foi submetido a várias reformulações, de acordo com as mudanças de concepções e pensamentos que eram trazidas da Europa. Esse currículo era trabalhado segundo um programa que ora priorizava o ensino literário ora, o científico. Em comparação com a educação europeia, observa-se uma inadequação do nível de ensino, pois a qualidade deste ficava muito aquém daquela almejada segundo os padrões europeus. Além de não haver preocupação com a formação científica, o ensino estava mais voltado aos jovens do que às crianças. Em 1850 consolidou-se o Império, iniciando uma nova fase na área da Educação, e, em 1854, criou- se a Inspetoria-Geral da Instrução Primária e Secundária do Município da Corte, com o objetivo de supervisionar o ensino. Após oitenta anos da expulsão dos jesuítas, a iniciativa privada organizou-se para criar colégios dentro dos modelos deixados, por eles, como herança. Um exemplo é o Colégio Caraça, em Minas Gerais, administrado por padres. Os protestantes também trouxeram sua contribuição, criando escolas dentro dos padrões educacionais americanos, como o Colégio Mackenzie, fundado em São Paulo, no ano de 1870, e o Colégio Americano, em Porto Alegre, fundado em 1885, entre outros. A visão de criar, no século XIX, colégios orientados pelos padrões religiosos ia em direção oposta à dos outros países. Percebe-se nessa tendência os resquícios . deixados pela Igreja. Na época os colégios sem vínculos religiosos eram mais inovadores e progressistas. Pouco se falava na formação dos mestres; foram criados alguns cursos normais, com duração de dois anos, em algumas cidades do Rio de Janeiro, como Niterói, da Bahia, do Ceará e de São Paulo. Até esse momento não se falava em educação feminina, pelo simples motivo de que as mulheres, no período do Império, eram submissas em todos os aspectos, dedicando-se apenas às atividades domésticas. Poucas tinham acesso à leitura. Os dados apontam a existência de 174 escolas femininas, somente em 1873, em São Paulo. A Reforma Leôncio de Carvalho, em 1879, significou uma importante renovação para a Educação no período do Império, na medida em que propunha a liberdade no ensino. Leôncio de Carvalho, ministro do Império e professor da Faculdade de Direito de São Paulo, criou o Decreto de nº 7.247, que instituiu a liberdade no ensino. Essa reforma abrangia os ensinosprimário e secundário, no município da Corte, e também o ensino superior, em todo o País. Segundo esse decreto, qualquer pessoa que se sentisse preparada tinha liberdade para formular o seu próprio método e ensinar. A partir daí surgiram os exames vagos e rigorosos, com frequência livre, pois a lei entendia que, no ensino superior, o aluno deveria ter liberdade de frequência e assumir as suas ausências. A lei também estabeleceu a organização do ensino por matérias, ou seja, os alunos poderiam escolher as disciplinas a serem cursadas na escola e as que cursariam fora do ambiente escolar, condicionando o ensino aos exames. Exemplo: vestibular. Dentro do contexto apresentado percebe-se que não houve um grande desenvolvimento na área da Educação; houve, sim, uma sistematização de projetos educacionais que deixaram suas consequências, até os dias de hoje, na Educação Nacional. O contexto educacional do Brasil apropriou-se dos interesses da elite, uma vez que era esta que dominava a estrutura social, e, assim sendo, a Educação seguia os moldes que atendiam aos interesses de quem estava no poder. Foi um período de descaso para com a formação de professores, fato que demonstra a pouca importância dada à educação elementar. O contexto inicial da educação brasileira insere-se em um universo religioso e político O período colonial teve uma longa duração e, por muito tempo, esteve sob o domínio do poder da Igreja. Os jesuítas chegaram ao país, enviados pela Companhia de Jesus, com a seguinte missão: catequizar os povos do Novo Mundo. O objetivo era impor a religião católica aos nativos em substituição à cultura indígena. Embora, para a Igreja, os interesses políticos se sobrepusessem aos direitos humanos, as tribos abrigadas pelos jesuítas gozavam de certa proteção, uma vez que esses religiosos impunham respeito e, assim, dificultavam a captura dos índios por aqueles que os queriam como escravos. Quando os jesuítas foram expulsos e retornaram à sua terra de origem, os índios, fechados em sua própria cultura, ficaram à mercê dos bandeirantes e de outros que visavam à escravidão desse povo. Existe a educação de cada categoria de sujeitos de um povo; ela existe em cada povo, ou entre povos que se encontram. Existe entre povos que submetem e dominam outros povos, usando a educação como um recurso a mais de sua dominância (Brandão, 1989, p. 10). As primeiras escolas criadas pelos jesuítas eram frequentadas por filhos de índios e filhos de colonos. No entanto a relação ensino-aprendizagem estabelecida nessas escolas tinha objetivos diferentes: de uma lado, catequizar os indígenas e, de outro, instruir os filhos dos colonos. Com base no documento Radio Studiorum, que organizava as normas e regras que orientavam o processo de educação realizado pelos jesuítas, muitos colégios foram criados e estruturados. Assim sendo, os jesuítas detinham o monopólio da educação e os padres eram preparados e instruídos para ensinar. Dessa forma, durante um longo período, ninguém se atreveu a questionar o ensino estruturado pela Companhia de Jesus. A educação no Brasil sofreu intensa influência europeia, o que teve aspectos positivos e negativos. Por um lado, trouxe para cá os ideais iluministas que fundamentaram algumas reformas educacionais; por outro, essa influência pode ser entendida como uma forma de dominação. A Educação brasileira, em seus passos iniciais, teve erros e acertos, mas deixou uma importante herança para as fases seguintes. Cursos importantes foram criados, os quais formaram vários intelectuais brasileiros que, mais tarde, deram grande contribuição para o desenvolvimento do processo educacional no país. No entanto, observa-se com nitidez que a Educação estava vinculada a um poder central que a usava como instrumento de dominação. A princípio ensinava-se em todo e qualquer lugar; o ensino não acontecia necessariamente em uma sala de aula. Mas, quando houve maior preocupação com a estruturação do ensino, destacou-se o descaso para com a formação dos professores e com o investimento no ensino elementar, contrapondo-se à priorização do ensino superior. A EDUCAÇÃO NO BRASIL : da Colônia ao Império A Educação e a fase política que predominam no período entre a Colônia e o Império podem ser compreendidas sem três fases: a primeira, a fase da chegada dos jesuítas; a segunda, a das reformas realizadas pelo Marquês de Pombal; e a terceira, a vinda da Corte portuguesa ao Brasil, trazida por D. João VI. A Educação no Brasil iniciou-se no período colonial com a chegada, em 1549, dos padres jesuítas a Salvador, mais precisamente com Manuel da Nóbrega, membro da Companhia de Jesus, cujo ensino tinha como objetivo a propagação da fé. Qual a razão da vinda dos jesuítas ao Brasil? Com a ruptura do cristianismo e o avanço do protestantismo iniciado por Martinho Lutero, a Igreja católica procurava bases para frear o protestantismo. Com esse intuito, o Papa Paulo III Farnese fez uma convocação e, assim, criou-se o Concílio de Trento (1546-1563). Em 1534, Inácio de Loyola(1491-1556) fundou a Companhia de Jesus. A educação orientada pelos Jesuítas estava voltada para a memorização e a formação para o magistério, através de manuais, normas e informações bibliográficas. Suas normas para a Educação são definidas no documento “Organização dos Planos de Estudos”, chamado Ratio Studiorum. A intenção era propagar a religião católica pelos países do novo mundo, entre eles o Brasil, uma terra a ser colonizada e catequizada. Assim traçaram-se novos rumos para a missão da Companhia de Jesus. A ordem religiosa instalou-se no litoral. Penetrando nas aldeias indígenas, aprenderam o tupi- guarani e fizeram funcionar uma escola de ler e escrever, com o fim de substituir a cultura indígena. João de Aspilcueta Navarro foi o primeiro jesuíta a aprender a língua dos índios. O padre foi um dos primeiros missionários a chegar com a Companhia de Jesus. Na realidade seu nome correto era Juan Azpilikueta, porém, como os portugueses tinham uma grande dificuldade em pronunciálo, acabaram aportuguesando, primeiro chamando-o de Navarro, depois de Aspilcueta Navarro como ficou conhecido. Manoel da Nóbrega e Aspilcueta Navarro juntaram-se a José de Anchieta, que, por sua vez, era o responsável pela organização do ensino dos índios e dos filhos dos colonos. Anchieta, para atrair os alunos, utilizava recursos interessantes, como teatro, música, poesia. É necessário que fique bem claro que todo esse aprendizado tinha como conteúdo principal a religião e a moral cristã. A princípio, a educação iniciou-se com a instrução e a catequese dos índios e dos filhos dos colonos, com o objetivo da formação de novos sacerdotes e da elite intelectual. A educação ou catequese indígena fazia parte de um jogo de interesses que visavam, predominantemente, à integração dos índios ao processo de colonização e à sua conversão ao cristianismo, roubando-lhe sua herança cultural. Porém alguns colonos também queriam os índios para utilizá-los como escravos. Foi um conflito injusto. Por isso é injusto considerar o índio preguiçoso, sem levar em conta que, na sua cultura, tanto o objetivo do trabalho como o seu ritmo são bastante diferentes dos impostos pelos europeus (Aranha, 1996, p. 101). Pode-se dizer que os índios passaram por um processo chamado aculturação, processo pelo qual duas ou mais culturas diferentes originam mudanças importantes numa delas ou em ambas. No caso, a mudanças ocorreram apenas em uma, monopolizando-a. Os jesuítas tinham o apoio do governo de Portugal e, por isso, ganhavam doações de terras para realizarem o trabalho de catequização. Por que será que o governo de Portugal apoiava a Educação? É possível dizer que a Educação podia ser utilizada como uma ferramenta de domínio políticoe religioso, ou seja, de jogo de interesses sobre aquele que pensava que aprendia. O Brasil precisava desenvolver escolas que contemplassem a educação dos filhos de colonos brancos e mestiços. Dentro do plano de ensino havia aulas de português, religião, música instrumental, canto orfeônico e as aulas de ler e escrever. Uma das marcas da educação colonial era a falta de interesse pelas atividades técnicas e científicas, priorizando as escolas de leitura e escrita. Os colégios de maior influência foram o de Todos os Santos (Bahia), o de São Sebastião (Rio de Janeiro) e o Colégio São Paulo (São Paulo), considerados como centros de formação de religiosos. Esses colégios ministravam as aulas segundo o sistema educacional dos jesuítas. Os jesuítas tinham o monopólio do ensino. Durante muito tempo ninguém se atreveu a questionar o ensino ministrado e sistematizado pelos jesuítas, orientado por um conjunto de normas e regras organizadas em um documento chamado, como já mencionamos na Unidade I, de Radio Studiorum.Além do ensino regular, também articulavam um curso básico de Humanidades, em que se estudavam Letras Humanas, Filosofia/Ciência e Teologia. Porém os jovens que pertenciam à elite e que quisessem finalizar os seus estudos tinham que se deslocar para a Europa. No século XVIII, com a decadência da Igreja Católica, denunciava-se o dogmatismo da escolástica e os jesuítas foram expulsos de vários países. O Papa Clemente XIV extinguiu a Companhia de Jesus em 1773. A Companhia de Jesus foi expulsa do Brasil e de Portugal pelo Marquês de Pombal. As reformas realizadas pelo Marquês de Pombal Marquês de Pombal nasceu em Lisboa (1669) e seu nome era Sebastião José de Carvalho e Melo. Foi ministro do reino em Portugal e um dos principais responsáveis pela a expulsão da Companhia de Jesus tanto do Brasil quanto de Portugal. Tinha uma simpatia pela visão iluminista Realizou uma série de reformas, chamadas de Reformas Pombalinas, realizadas em 1772, e que deram início à 2ª fase da Educação no Brasil, período em que o Estado assumiu a responsabilidade pela Educação em Portugal e no Brasil. O sistema educacional, nessa fase, sofreu uma desestabilização, porque os jesuítas possuíam muitos colégios e um sistema de ensino estruturado e, com a sua expulsão, essa estrutura desapareceu. A intenção das reformas pombalinas era inserir o país no mundo moderno, no qual eram valorizadas as ideias propagadas pelo Iluminismo. O Iluminismo foi um período muito rico em reflexões pedagógicas. Um dos aspectos mais marcantes estava na Pedagogia Política, como vimos na unidade passada. No contexto do Iluminismo, não fazia sentido atrelar a educação à religião, como nas escolas confessionais, nem aos interesses de uma classe, como queria a aristocracia. A educação pública trouxe, para o ensino no Brasil, pessoas leigas, sem um preparo adequado, representantes de ideias que o Estado defendia, retrocedendo, de certa forma, a educação construída pelos jesuítas, no que se refere à estrutura. As reformas pombalinas introduziram as aulas avulsas (aulas régias) com disciplinas isoladas, como: gramática latina, primeiras letras, retórica, filosofia. Esse período da Educação formou importantes intelectuais para o Brasil, como, por exemplo, José Joaquim de Azeredo Coutinho, que fundou o Seminário de Olinda, em 1800. O Marquês de Pombal assumiu a Universidade de Coimbra dentro dos ideais iluministas e, dessa forma, muitos jovens saíam do Brasil para irem complementar os seus estudos em Coimbra. Não podemos deixar de observar que, nesse período, houve uma grande desestruturação no sistema educacional, talvez causada pelo fato de a Educação não ter sido priorizada dentro de um contexto mais amplo. A vinda da Corte Portuguesa para o Brasil Quando Napoleão invadiu Portugal, a Corte portuguesa veio para o Brasil, trazida por D. João VI, rei de Portugal, e instalou-se na cidade do Rio de Janeiro, que passou a ser a sede do governo. João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís Antônio Domingos Rafael de Bragança. Por incrível que pareça esse era o nome completo de D. João VI. A Educação no Brasil, no período desde a chegada dos jesuítas até sua expulsão e, em seguida, com o processo de desagregação e decadência sofrido durante a vigência do sistema de educação imposto na colônia pelas reformas pombalinas, deixou marcas. Somente com a chegada de D. João VI, as estruturas da política educacional foram modificadas. Com a vinda da família real, em 1808,o ensino superior passou por um processo de organização, uma vez que se pretendia transformar o Brasil e torná-lo semelhante à Corte em Portugal. Por esse motivo, abriram os portos, criaram a Imprensa Régia, o Jardim Botânico, a biblioteca, museu, a escola de artes, o que trouxe uma grande contribuição para o desenvolvimento cultural. Mais adiante, no período do Império deu-se o surgimento de uma nova classe social, a pequena burguesia, com o grande crescimento urbano, as pessoas são levadas para cidades, principalmente de Minas Gerais para trabalhar na exploração dos minérios e na plantação de cana-de-açúcar. Essa nova urbanização exigia uma outra educação para formar pessoas capazes de atuar na política e na administração do país. A educação surgia como um processo de instrumentalizar a classe social emergente. Em 1808 foram criados o curso de Cirurgia, na Bahia, e os cursos de Cirurgia e Anatomia, de Medicina, além da Academia Real Militar, no Rio de Janeiro. O ensino, na Corte, foi estruturado em três níveis: primário (escola de ler e escrever), secundário (aulas régias) e superior. A Corte retornou a Portugal em 1821 e, um ano depois, em 1822, a Independência política no Brasil foi instaurada por D. Pedro I. Após a Constituição de 1824, a Educação passou a contar com as escolas primárias, ginásios e universidades. Porém não havia uma conformidade entre as propostas de ensino. Optou-se pela adoção de um método através do qual os alunos ajudariam uns aos outros mutuamente, ou seja, os mais adiantados ajudariam aqueles que apresentassem dificuldades na aprendizagem; o comando ficaria sempre nas mãos dos mais adiantados. Esse método, conhecido como método lancasteriano, teve início na Índia com Andrew Bell e depois foi recriado na Inglaterra. Em 1838, foi criado o Colégio Pedro II, destaque na época, o qual teve grande importância para a Educação. Foi criado para atender à educação do curso secundário, porém o seu foco passou a ser a preparação para o ensino superior.Com o passar do tempo, o currículo do Colégio foi submetido a várias reformulações, de acordo com as mudanças de concepções e pensamentos que eram trazidas da Europa. Esse currículo era trabalhado segundo um programa que ora priorizava o ensino literário ora, o científico. Em comparação com a educação europeia, observa-se uma inadequação do nível de ensino, pois a qualidade deste ficava muito aquém daquela almejada segundo os padrões europeus. Além de não haver preocupação com a formação científica, o ensino estava mais voltado aos jovens do que às crianças. Em 1850 consolidou-se o Império, iniciando uma nova fase na área da Educação, e, em 1854, criou- se a Inspetoria-Geral da Instrução Primária e Secundária do Município da Corte, com o objetivo de supervisionar o ensino. Após oitenta anos da expulsão dos jesuítas, a iniciativa privada organizou-se para criar colégios dentro dos modelos deixados, por eles, como herança. Um exemplo é o Colégio Caraça, em Minas Gerais, administrado por padres. Os protestantes também trouxeram sua contribuição, criando escolas dentro dos padrões educacionais americanos, como o Colégio Mackenzie, fundado em São Paulo, no ano de 1870, e o Colégio Americano, em Porto Alegre, fundado em 1885,entre outros. A visão de criar, no século XIX, colégios orientados pelos padrões religiosos ia em direção oposta à dos outros países. Percebe-se nessa tendência os resquícios deixados pela Igreja. Na época os colégios sem vínculos religiosos eram mais inovadores e progressistas. Pouco se falava na formação dos mestres; foram criados alguns cursos normais, com duração de dois anos, em algumas cidades do Rio de Janeiro, como Niterói, da Bahia, do Ceará e de São Paulo. Até esse momento não se falava em educação feminina, pelo simples motivo de que as mulheres, no período do Império, eram submissas em todos os aspectos, dedicando-se apenas às atividades domésticas. Poucas tinham acesso à leitura. Os dados apontam a existência de 174 escolas femininas, somente em 1873, em São Paulo. A Reforma Leôncio de Carvalho, em 1879, significou uma importante renovação para a Educação no período do Império, na medida em que propunha a liberdade no ensino. Leôncio de Carvalho, ministro do Império e professor da Faculdade de Direito de São Paulo, criou o Decreto de nº 7.247, que instituiu a liberdade no ensino. Essa reforma abrangia os ensinos primário e secundário, no município da Corte, e também o ensino superior, em todo o País. Segundo esse decreto, qualquer pessoa que se sentisse preparada tinha liberdade para formular o seu próprio método e ensinar. A partir daí surgiram os exames vagos e rigorosos, com frequência livre, pois a lei entendia que, no ensino superior, o aluno deveria ter liberdade de frequência e assumir as suas ausências. A lei também estabeleceu a organização do ensino por matérias, ou seja, os alunos poderiam escolher as disciplinas a serem cursadas na escola e as que cursariam fora do ambiente escolar, condicionando o ensino aos exames. Exemplo: vestibular. Dentro do contexto apresentado percebe-se que não houve um grande desenvolvimento na área da Educação; houve, sim, uma sistematização de projetos educacionais que deixaram suas consequências, até os dias de hoje, na Educação Nacional. O contexto educacional do Brasil apropriou-se dos interesses da elite, uma vez que era esta que dominava a estrutura social, e, assim sendo, a Educação seguia os moldes que atendiam aos interesses de quem estava no poder. Foi um período de descaso para com a formação de professores, fato que demonstra a pouca importância dada à educação elementar. A criação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (4024/61). Vivemos um período histórico de extremo desenvolvimento econômico no país, porém, com o Golpe Militar, em 1964, o Brasil passou por uma transformação política, cultural e educacional que trouxe consequências até os dias atuais. Foram vinte anos em que o Brasil perdeu a sua identidade social. A Primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 4024/61, que levou 13 anos para ser aprovada, já estava ultrapassada ao ser legitimada, uma vez que o país, nesse espaço de tempo, passou por um desenvolvimento significativo em vários aspectos. A educação continuava sob o jugo dos interesses de quem estava no poder. Assim sendo, enfatizou- se o ensino para a profissionalização; incluíram-se, novamente, nos currículos escolares, aspectos religiosos, pois a Igreja católica era contra a discussão democrática no ensino; introduziram-se as aulas de OSPB – Organização Social e Política Brasileira e de Educação Moral e Cívica. Ou seja, havia um controle geral sobre o que seria ensinado à população brasileira. Porém, mesmo dentro desse contexto, figuras importantíssimas no quadro educacional brasileiro movimentaram-se no sentido de promover discussões sobre o ensino público e o privado, sobre a educação de jovens e de adultos, sobre a necessidade de possibilitar uma visão mais politizada às pessoas, resultando em algumas ações que visavam transformar a realidade educacional do país. Alguns importantes movimentos como o CPC (Centros Populares Culturais); MCP (Movimento de Cultura Popular); MEB (Movimento de Educação de Base); UNE (União Nacional dos Estudantes) buscaram uma reflexão sobre a sociedade e, por isso, foram extintos pelo Golpe Militar de 1964, uma vez que o governo os encarava como uma ameaça aos seus interesses. Entre esses movimentos, somente o MEB foi mantido, sob a condição de mudar seus objetivos. Fatos importantes contribuíram para o desenvolvimento da educação, como a criação da universidade de Brasília. As reformas realizadas no ensino de 1º e 2º graus mediante a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 5692/71 refletem, em um de seus artigos, a ideologia dos interesses internacionais. O ensino de 1º e 2º graus tem por objetivo geral proporcionar ao educando a formação necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades como elemento de autorrealização, qualificação para o trabalho e preparo para o exercício consciente da cidadania (Art. 1º LDBEN nº 5692/71). Entre os principais idealizadores de uma reforma concreta para a educação brasileira ressaltam-se Paulo Freire, Álvaro Vieira Pinto e Florestan Fernandes, em cuja trajetória observam-se o empenho e a preocupação com a transformação da sociedade através da educação. A Educação no Século XX: O Pensamento Pedagógico e as Políticas Educacionais na Segunda República: A Elaboração da Primeira Ldben A Segunda República O período de 1946 a 1964 foi um período de extremo desenvolvimento para o país, com muitas mudanças no aspecto econômico. Após o Golpe Militar, em 1964, o Brasil passou também por uma transformação cultural e educacional. Em 1948 foi apresentado à Câmara dos Deputados o projeto de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, elaborado por uma comissão de educadores de diversas tendências ideológicas, sob a orientação de Lourenço Filho. Tal projeto idealizava maior autonomia na organização dos sistemas de ensino, porém não foi aprovado pelo Deputado Gustavo Capanema e, por consequência, foi arquivado. Em 1952, o projeto foi retomado pela Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados e a discussão sobre o assunto prolongou-se até 1956, quando foi encaminhado ao plenário. Depois de tanta luta, o projeto foi efetivamente aprovado tomando a forma de Lei. Nasceu, assim, a Primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 4024/61. Em 1959, Carlos Lacerda levantou uma discussão sobre o ensino público e o privado, dando apoio ao ensino privado e colocando o Estado como responsável pelos recursos necessários para a educação. Priorizava-se a igualdade entre os setores privados e públicos. Nesse período a Igreja católica assumia a seguinte posição: a escola democrática não educa, apenas instrui. Todo esse movimento significava olhar a educação com interesse, visando à formação de um povo mais culto e crítico, pois somente através da educação o povo pode deixar de ser submisso a ações autoritárias. Por isso existiam os movimentos, com interesses políticos, contra a democratização no ensino; justamente para frear a educação com acesso a todos. Nesse contexto, além do movimento intitulado Manifesto dos Pioneiros da Educação, os pioneiros realizaram, em 1959, o Manifesto dos Educadores. Quando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional foi aprovada, depois de anos de discussão, acabou não contemplando todas as mudanças necessárias, no plano educacional, para acompanhar o desenvolvimento em processo no país, portanto podemos compreendê-la como ultrapassada. O Conselho Federal da Educação exigia a criação de um Plano Nacional de Educação com metas para oito anos. Esse plano destinou-se, especificamente, à ampliação de recursos. Passou por várias revisões e a última, em 1966, destinava recursos para educação de analfabetos com mais de 10 anos e para ginásios orientados para o trabalho. Após o anteprojeto de 1937, aideia do plano ficou só no papel, até 1962, quando foi instituído o primeiro Plano Nacional de Educação, após a primeira LDBEN. Todos esses desencontros aumentam o descompasso entre a estrutura educacional e o sistema econômico. De resto podemos observar como a legislação sempre reflete os interesses apenas das classes representadas no poder (Aranha, 1996. p.205). Após o Golpe Militar, o país entrou em um período conhecido como Período Autoritário (1964- 1985). A política era embasada na indústria e dependia do capital estrangeiro; havia uma redução do poder do Estado sobre a educação, em virtude do crescimento das instituições privadas. Esse quadro mostrava os interesses do capital externo em primeiro plano e as necessidades do povo sempre eram colocadas em segundo plano. Essa visão já havia se iniciado, anteriormente, no Governo de Juscelino Kubitschek, que foi extremamente nacionalista. Dentro do período autoritário, o governo se sentia ameaçado por todos os que não concordavam com a sua posição, e o comunismo era visto como uma das piores ameaças. As décadas de 50 e 60 foram marcadas por uma cultura produzida por grupos sociais que se manifestavam como elemento de transformação social. A Educação, nesse período de desenvolvimento, fundamentava-se na seguinte visão: o ensino deveria ser ministrado para a sociedade de acordo com as exigências do mercado internacional. Entre os anos de 1964 a 1971 foram assinados 12 acordos MEC-USAID, acordos com agências internacionais que serviam de diretrizes para o ensino superior e secundário. Os acordos tinham como principal objetivo diagnosticar e solucionar os problemas da educação brasileira com base na teoria do “capital humano” e dentro de uma visão empresarial. A segunda Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN)nº 5692/71 foi instituída com o objetivo de ajustar a educação brasileira ao modelo tecnicista e autoritário. O governo divulgava para a sociedade civil a ideologia do progresso e a elevação do status através da educação. No Governo Médici (período mais repressivo da história brasileira), travouse um acordo entre o Ministério da Educação e Cultura (MEC) e United States Agency for International Development(USAID), priorizando a assistência técnica e a cooperação financeira à organização do sistema educacional brasileiro. O ensino integrava as escolas primárias e médias. A formação do ensino médio e do ensino técnico profissional era volta da para o mercado de trabalho. Por que existia essa formação tão enfatizada para o trabalho? Pelo simples fato de essa configuração favorecera os interesses do Estado, já que havia a necessidade de mão de obra para abastecer as indústrias; porém era preciso cuidar para que não se abrissem perspectivas de reivindicações salariais. O Estado tinha o poder de decisão para interferir na formação da sociedade e, assim, implantou um projeto educacional tecno militar nas universidades, com cursos semestrais, sistema de créditos, separação das unidades de pesquisa das profissionalizantes, vestibular unificado e classificatório, ciclo básico, licenciaturas curtas, e instituiu o regime de pós-graduação. O ensino no Brasil, nesse período, organizava-se em níveis: primário, médio e superior. Pela Lei 5692/71, o ensino de nível primário agregou-se ao antigo ginásio e passou a constituir o ensino de 1º grau; o ensino médio transformou-se em 2º grau. Foram incorporadas aos currículos, dentro da parte diversificada, as disciplinas de Educação Física, Educação Artística, Educação Moral e Cívica, Programa de Saúde e Ensino Religioso, este obrigatório para os estabelecimentos oficiais e facultativos para os alunos. O Curso Supletivo tinha como objetivo suprir a escolarização regular de adolescentes e adultos que não a tivessem seguido ou concluído na idade apropriada. Já, para o ensino técnico-profissional, a lei 5.692/71 adotou uma orientação flexível, pela qual o aluno poderia optar por uma escola profissionalizante que também o preparasse para ingressar na universidade. Exemplos de órgãos responsáveis pelo ensino profissionalizante são o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, conhecido como SENAI, e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, SENAC. Somente em 1968, por meio da lei nº 5.540, foi estabelecida a organização e a funcionalidade no Ensino Superior. Na década de 1960, ampliaram-se os movimentos que enfatizavam a educação de jovens e adultos. Tomava corpo o processo para a consolidação de uma educação fora do padrão básico. Na década de 50, a educação de jovens e adultos era concebida como uma educação de base, como desenvolvimento comunitário. Duas correntes compreendiam a educação de jovens e adultos: a primeira, a educação libertadora, proposta por Paulo Freire; e a segunda, a educação chamada de funcional, que visava à profissionalização. A história da educação de adultos no Brasil pode ser dividida em três períodos: 1. De 1946 a 1958 – através das Campanhas chamadas cruzadas. 2. A partir de 1958, quando se realizou o 2º Congresso Nacional de Educação de Adultos, com a participação de Paulo Freire, que levou à criação do Plano Nacional de alfabetização de adultos, extinto pelo Golpe Militar de 1964. 3. O governo militar - Campanhas: Cruzadas do ABC (Ação Básica Cristã) e MOBRAL . Alguns educadores marcaram essa fase da educação brasileira trazendo novos conceitos e visões para a Pedagogia. Entre eles destaca-se, por sua grande importância não só para a educação em geral, mas também para o ensino de jovens e adultos, Paulo Freire. Foi alfabetizado no chão do quintal da sua casa, à sombra das mangueiras, com palavras do seu mundo, não do mundo de seus pais. Dizia que a sua alfabetização não foi enfadonha, porque partiu de palavras e frases ligadas à sua experiência de vida, escritas com gravetos no chão de terra do quintal. Tais experiências o marcaram e, assim, ele propunha a alfabetização de adultos voltada ao mundo do adulto. Em 1960, o prefeito da cidade do Recife, Miguel Arraes, organizou o Movimento de Cultura Popular de Pernambuco (MCP) e Paulo Freire foi um dos intelectuais que se engajaram nesse movimento. O MCP trabalhava com a educação popular das crianças e dos adultos e utilizava, como ferramenta, o teatro popular. Foi através desse movimento que Paulo Freire realizou suas primeiras experiências no campo da alfabetização de adultos. Com o golpe militar de 1964, Paulo passou a ser constantemente perseguido pelo governo, que via em seu trabalho uma ameaça comunista e subversiva. Paulo Freire foi preso, permanecendo por 70 dias na prisão, na cidade do Rio de Janeiro. Após ser solto, ficou exilado na Bolívia, Chile, Estados Unidos e África, deixando, no Brasil, esposa e filhos. Retornou ao Brasil em 1980, com 58 anos. Mudou-se com sua família para São Paulo e, a convite de Dom Paulo Evaristo Arns, foi ministrar aulas na PUC (Pontifícia Universidade Católica). De outubro de 1988 até maio de 1991, assumiu o cargo de Secretário da Educação, no mandato da Prefeita Luiza Erundina. Em 1991, após sua saída da Secretaria da Educação, fundou, em São Paulo, o Instituto Paulo Freire, para estender e elaborar suas ideias. O instituto mantém até hoje os arquivos do educador, além de realizar numerosas atividades relacionadas ao legado do pensador e às questões da educação brasileira e mundial. A alfabetização, no contexto apresentado por Paulo Freire, é baseada na utilização de técnicas audiovisuais, facilitando o processo de ensino/aprendizagem aos alfabetizandos e alfabetizados, uma vez que partia da problematização e da pergunta, do diálogo, da leitura e da releitura crítica do mundo. A Pedagogia dialógica, trazida por Paulo Freire, retrata a visão de uma educação libertadora, que consiste no respeito aos educandos, não somente enquanto indivíduos, mas também como expressão de uma prática social,e que tem como ponto de partida a alfabetização. As ideias de Paulo Freire têm todo o delineamento de um pensamento político-pedagógico dialógico e libertador, condizente com atitudes indicativas da autonomia e do intercâmbio dos saberes entre o aprendiz e o educador. Para o educador, as questões e os problemas relacionados à educação não são de ordem pedagógica, mas sim de ordem política. Na sua visão, a educação e o sistema de ensino não modificariam a sociedade, mas a sociedade tem o poder de mudar o sistema instrucional. Afinal o sistema educacional pode ter um papel de destaque numa revolução cultural. Freire chama de revolução a consciente participação do povo; logo a pedagogia crítica contribui para revelar a ideologia esquecida na consciência das pessoas. Em sua principal obra, Pedagogia do Oprimido, Freire traz uma proposta antiautoritária, pela qual professores e alunos ensinam e aprendem juntos, engajados num diálogo permanente. Esse é um processo que não deve acontecer apenas em sala de aula, mas dentro de um circuito cultural constante. Todo educador deve acreditar que é possível ocorrer mudanças, todos devem participar da história, da cultura e da política; ninguém deve ficar neutro, nem estudar por estudar. Todos devem fazer perguntas, ninguém pode ficar alheio. “Ser rebeldes e não ser resignados”. Contribuição mais importante na área educacional A proposta de Paulo Freire é mais do que um método que alfabetiza; é uma ampla e profunda compreensão da educação, que tem como cerne de suas preocupações a sua natureza política. “As qualidades e virtudes são construídas por nós no esforço que nos impomos para diminuir a distância entre o que dizemos e fazemos", escreveu o educador. "Como, na verdade, posso eu continuar falando no respeito à dignidade do educando se o ironizo, se o discrimino, se o inibo com minha arrogância?”. Paulo Freire questiona: o professor tem a preocupação de agir na escola de acordo com os princípios em que acredita? E costuma analisar as próprias atitudes sob esse ponto de vista? As atividades de alfabetização exigem a pesquisa do que Freire chama de “Universo vocabular mínimo” entre os alfabetizandos. As contribuições de Freire deveriam ter alterado o rumo da educação brasileira. Freire, assim como muitos educadores, pensava em uma educação como instrumento para auxiliar o Brasil a realizar as transformações sociais e políticas necessárias. Na Educação de jovens e adultos, defendida por Paulo Freire, o educando é convidado a refletir sobre a sua condição de vida; é levado a perceber a sua contribuição na construção do mundo do qual é parte. O educando passa a ser um sujeito construtor de uma realidade social e política. Sua realidade é o ponto de partida para toda e qualquer busca do conhecimento através da educação. O Método Paulo Freire O método proposto por Paulo Freire funciona, porque não aplica ao adulto o mesmo método de alfabetização aplicado às crianças. O Método consiste em três momentos entrelaçados, dentro do diálogo e da interdisciplinaridade: 1º Momento – A INVESTIGAÇÃO TEMÁTICA - Educador e educando buscam, no universo vocabular do aluno e da sociedade em que ele está inserido, as palavras e temas centrais de sua biografia. As palavras são selecionadas de acordo com a sua função silábica, o valor fonético e principalmente seu significado social para o grupo. 2º Momento- A TEMATIZAÇÃO - Educador e educando buscam o significado social desses temas, tomando consciência do mundo em que vivem, descobrindo novos temas geradores, relacionados com os que foram inicialmente levantados. É nessa fase que são elaboradas as fichas para a decomposição das famílias fonéticas, dando subsídios para a leitura e a escrita. 3º Momento- A PROBLEMATIZAÇÃO - É a hora de formar a visão crítica, partindo para a transformação do contexto vivido. Há uma ida e vinda do concreto para o abstrato e vice-versa, voltando ao concreto para assim problematizá-lo. Evidencia-se a necessidade de uma ação concreta, cultural, política, social, visando à superação de situações-limite. Para pôr o método em prática é preciso trabalhar com a interdisciplinaridade. Um exemplo de desenvolvimento de um trabalho a partir de um tema gerador é este exposto a seguir. Tema gerador: Os seres humanos e o planeta sobreviverão? Trabalho a ser realizado: estudos da realidade, organização do conhecimento, a aplicação do conhecimento através de projetos ou tarefas. Arte-educação: artes visuais, colagem, pintura, modelagem, atividades musicais, as paisagens: naturais e construídas; Debates: A indústria; A luta entre as classes sociais; Padrão de vida; Poluição; Discriminação; Colonização; Direitos humanos; Custo de vida; Computação básica, Porcentagens- Frações; Matemática: colocar em tabelas o custo de vida, a inflação, dados sobre salários. Geografia: mapas, espaço social e físico, migração e explosão da população, urbanização dos bairros. Paulo Freire morreu no dia 2 de maio de 1997, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, de um ataque cardíaco. Outra figura importante no período da Segunda República foi Álvaro Vieira Pinto. Nasceu em Campos, Rio de Janeiro, em 1909. Formou-se em Medicina, em 1932, pela Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro. Cursou Física e Matemática na Universidade do Distrito Federal (UDF).Foi indicado pelo reitor Alceu Amoroso Lima para ensinar lógica matemática, disciplina pela primeira fez oferecida no país. Em 1941, tornou-se colaborador da revista Cultura Política, publicação que reuniu os mais expressivos intelectuais do Estado Novo, assinando a coluna "Estudos e pesquisas científicas". Em meados de 1951, afastou-se da pesquisa médica, na qual se empenhara praticamente desde a sua formatura, para se dedicar exclusivamente ao ensino e ao estudo da Filosofia. Em 1955, a convite de Roland Corbisier, tornou-se chefe do Departamento de Filosofia do recém- criado Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), organizado no âmbito do Ministério da Educação e Cultura. Em 1962, assumiu a direção executiva do ISEB (Instituto Superior de Estudos Brasileiros)e enfrentou uma difícil situação financeira e uma permanente campanha difamatória movida pela imprensa conservadora, tendo à frente o Jornal “O Globo”. A oposição ao ISEB tinha como motor o comprometimento do instituto com as reformas de base defendidas pelo governo do Presidente João Goulart (1961-1964). Com o Golpe Militar, em 1964, que derrubou Goulart, e a repressão desencadeada a seguir, a sede do ISEB foi invadida pelos militares que decretaram sua extinção. Em dezembro de 1968, às vésperas da edição do AI-5 (Ato Institucional nº5), que marcou o endurecimento do regime militar, Álvaro foi exilado do País. Nos anos 70, traduziu obras de autores consagrados sempre usando diferentes pseudônimos. Em 1982, foi publicado seu livro Sete liçõessobre educação de adultos, originado de anotações de aulas ministradas no Chile, em 1966, época do exílio. A cultura brasileira, da forma como estava sendo construída no Brasil, era vista por Vieira Pinto e vários outros intelectuais, como alienada, transplantada, inautêntica, ornamental e marcada pelo complexo de inferioridade colonial. Sua visão de Educação A educação, por ser constituída de intencionalidades, deve ser pensada a partir de uma concepção prévia de homem. A compreensão da realidade está essencialmente relacionada com o posicionamento, com os valores de uma consciência que uma determinada sociedade ou grupo social expressa. Álvaro Vieira Pinto concebia o homem a partir dos aspectos da história natural e da história desse homem enquanto produtor de cultura. Seu pensamento educacionalé de cunho sociológico e filosófico, portanto encontra-se vinculado às questões sociais, políticas e culturais de seu tempo. Suas principais obras são: Consciência e Realidade Nacional; Ideologia e Desenvolvimento Nacional; Sete lições sobre educação de adultos; O Conceito de Tecnologia (2ºVol.); A Questão da Universidade; Ciência e Existência; A Sociologia dos Países Subdesenvolvidos. Álvaro Vieira Pinto faleceu no Rio de Janeiro no dia 11 de junho de 1987. O terceiro educador, que, junto de Paulo Freire e Álvaro Vieira Pinto, marcou esse período é Florestan Fernandes. Nasceu em 1920. Além de político, foi considerado o primeiro sociólogo crítico brasileiro. Iniciou sua formação primária no Grupo Escolar Maria José, em Bela Vista, São Paulo, em 1926; fez o Tiro de Guerra em 1936 e o Curso de Madureza, no Ginásio Riachuelo, em São João da Boa Vista, São Paulo, entre 1938 e 1940. Em 1941, ingressou na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, formandose em Ciências Sociais, em 1943, ano em que escreveu seu primeiro artigo para o jornal O Estado de São Paulo, intitulado “O Negro na Tradição Oral”. Iniciou sua carreira docente em 1945, como assistente do Professor Fernando de Azevedo, na cadeira de Sociologia II. Foi assistente catedrático, livre docente e professor titular da cadeira de Sociologia, substituindo o sociólogo e professor francês Roger Bastideem, em caráter interino até 1964, ano em que se efetivou na cátedra, com a tese “A integração do negro na sociedade de classes”. Como o título da obra permite entrever, o período caracteriza-se pelo estudo da inserção da sociedade nacional na civilização moderna, em um programa de pesquisa voltado para o desenvolvimento de uma sociologia brasileira. Nesse âmbito, orientou dezenas de dissertações e teses acerca dos processos de industrialização e mudança social no país e teorizou os dilemas do subdesenvolvimento capitalista. Nos termos da reforma universitária coordenada pelos militares, produziu diagnósticos substanciais sobre a situação educacional e a questão da universidade pública, identificando os obstáculos históricos e sociais ao desenvolvimento da ciência e da cultura na sociedade brasileira inserida na periferia do capitalismo monopolista. Preso político no presídio do Exército em São Paulo (1964), ao ser libertado tornou-se Professor Catedrático na USP, efetivado por concurso de Títulos e provas (1965).Novamente preso (1965), foi solto no ano seguinte através de um Habeas Corpus. Afastado de suas atividades na USP através do Ato Institucional nº 5, da ditadura militar (1969), ficou exilado no Canadá (1969-1970). Voltou ao Brasil (1972), passando a trabalhar como professor de cursos de Extensão Cultural. Foi professor visitante da Universidade de Yale (1977), até ser, no final desse ano, contratado como Professor da PUC, SP, da qual se tornou Professor Titular em 1978. Elegeu-se Deputado Federal Constituinte (1986) pelo Partido dos Trabalhadores (1987-1990), no qual se destacou na defesa da Escola Pública e no projeto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Ainda foi reeleito Deputado Federal em 1990, também pelo Partido dos Trabalhadores (1991-1994). Defensor da Escola Pública, sempre foi ligado aos movimentos sociais e reivindicatórios e às organizações políticas de esquerda. O nome de Florestan Fernandes está obrigatoriamente associado à pesquisa sociológica no Brasil e na América Latina. Com mais de cinquenta obras publicadas, ele transformou o pensamento social no país e estabeleceu um novo estilo de investigação sociológica, marcado pelo rigor analítico e crítico e um novo padrão de atuação intelectual. Florestan começou a escrever no final dos anos 40 e, ao longo de sua vida, publicou mais de 50 livros e centenas de artigos Suas principais obras foram: Organização social dos morjocas(1949); A função social da guerra na sociedade morjocas(1952); A etnologia e a sociologia no Brasil (1958) (resenhas e questionamentos sobre a produção das Ciências Sociais no Brasil, até os anos 50); Fundamentos empíricos da explicação sociológica(1959); Mudanças sociais no Brasil(1960) (nesta obra Florestan faz um panorama de seu trabalho e retrata o Brasil); Folclore e mudança social na cidade de São Paulo(1961) (esta obra reúne trabalhos e pesquisas realizadas nos anos em que Florestan foi aluno de Roger Bastide, na USP, dedicados a várias manifestações de cultura popular entre crianças da cidade de São Paulo); A integração do negro na sociedade de classes (1964) (estudo das relações raciais no Brasil); Sociedade de classes e subdesenvolvimento (1968); A investigação etnológica no Brasil e outros ensaios (1975) (reedição, em volume, de artigos anteriormente publicados em revistas científicas e dedicados à produção recente da antropologia brasileira); A revolução burguesa no Brasil: Ensaio de Interpretação Sociológica(1975). Faleceu no dia 10 de agosto de 1995, em São Paulo, seis dias após um transplante de fígado mal sucedido.] A Pedagogia histórico-crítica, a Constituição Federal e a LDBEN 9394/96 O contexto histórico apresentado nesta unidade mostra a ruptura do regime autoritário e o reestabelecimento da democracia no país. Na área da Educação, algumas conquistas são alcançadas, entre elas a retomada da disciplina de Filosofia nos currículos escolares e uma nova visão pedagógica, apoiada na Pedagogia histórico- crítica que prioriza um saber construído histórica, social e culturalmente, em que cada indivíduo produz a sua própria cultura e a sua história, ou seja, um saber de produção individual. Desenvolve- se, então, um respeito pelo saber de cada um. Outro aspecto muito importante, dentro desse contexto é que o trabalhado realizado dentro das escolas públicas promove maior conscientização das classes menos favorecidas sobre a importância do respeito mútuo. Outra conquista do período é a Constituição Federal de 1988, que trata, em seu Capítulo III, Seção I, da Educação. Os seus artigos 205 a 214 estabelecem a educação como direito de todos e dever do Estado e da família. Dispõem, também, que a Educação deve ser promovida e incentivada por toda a sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Após um longo período de discussão foi aprovada, no Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96, que teve como relator Darcy Ribeiro. A LDBN 9394/96apresenta, no seu TÍTULO II, os Princípios e Fins da Educação Nacional, especificados nos seguintes artigos: Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 3º. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; VI - gratuidade do ensino público; VII - valorização do profissional da educação escolar; VIII - gestão democrática do ensino público; IX - garantia de padrão de qualidade; X - valorização da experiência extraescolar; XI - a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. Nesse contexto é muito importante a atuação de alguns educadores e intelectuais no cenário da Educação brasileira. Darcy Ribeiro, além se ser o relator da LDBEN 99394/96, destaca-se principalmente por trabalhos desenvolvidos nas áreas de educação, sociologia e antropologia. A visão antiautoritáriade Maurício Tragtenbergé o guia de toda a sua atuação como intelectual. Moacir Gadotti dá continuidade ao trabalho de Paulo Freire, a quem denomina “Mestre Maior", o qual ensina que "mudar é difícil, mas é possível e urgente". Dermeval Saviani é filósofo da educação, fundador de uma pedagogia dialética que denominou Pedagogia histórico-crítica. Preocupa–se com o alcance político da ação pedagógica enquanto estratégia de construção da contra ideologia, sem, no entanto, confundir esta ação com uma ação propriamente política. Segundo a Pedagogia histórico-crítica, cada indivíduo produz a sua própria cultura e a sua própria história. A Pedagogia histórico-crítica proporciona ao aluno absorver o conhecimento como processo de sua própria produção. Guiomar Namo de Mello, relatora do Parecer das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, participou também da elaboração das Diretrizes Curriculares da Educação Profissional e das Diretrizes Curriculares Nacionais para Formação de Professores da Educação Básica em Nível Superior. Marilena Chauí é reconhecida não só pela produção acadêmica, mas também pela participação efetiva no contexto do pensamento e da política brasileira. Seu livro, um Convite à Filosofia, tornou-se uma introdução surpreendente ao filosofar e é referência praticamente obrigatória para o Ensino Médio. Magda Soares coloca como seu principal foco de atenção a questão do letramento e aponta a diferença entre alfabetizar e letrar. Segundo sua visão, é de grande importância alfabetizar em um contexto em que a leitura e a escrita tenham sentido para o aluno. A educação nos dias atuais deve voltar sua atenção para os avanços tecnológicos e exercer a liberdade de experimentar novas metodologias, novos pensamentos educacionais, novas possibilidades. A Educação No Século XX: Ditadura Militar, Nova República e os Desafios Contemporâneos da Educação e da Pedagogia nos Dias Atuais Na Unidade V falamos sobre um momento da história que compreende a Segunda República (1946- 1964) e demos ênfase à elaboração da Primeira LDBEN (4024/61) e ao período autoritário (1964- 1985), em que se deu a promulgação da Segunda LDBEN 5692/71, a qual reduziu a continuidade da educação no ensino superior, uma vez que priorizava o Ensino Médio voltado à profissionalização. Em decorrência dessa Lei, o fracasso escolar começou a se instalar na educação. Dentro desse contexto, a educação brasileira precisava de uma reformulação. Teve início, então, um momento de intensa discussão a respeito da redemocratização do ensino e da democratização do País, em busca da retomada da educação idealizada na Primeira República, ou seja, uma educação leiga, gratuita e pública. Sendo assim, na década de 70, educadores brasileiros iniciaram um trabalho voltado a uma nova visão da Educação sob a orientação do que se chamou de “pedagogia histórico crítica”. Por volta de 1980, os nossos intelectuais exilados por causa do Regime Militar começaram a retornar ao Brasil, uma vez que o regime autoritário entrava em declínio. Os educadores iniciaram um processo de retomada dos currículos escolares, principalmente dentro do que chamavam de educação popular. Entre esses educadores, alguns devem ser destacados: Darcy Ribeiro, Maurício Tragtenberg, Moacir Gadotti, Guiomar Namo de Mello e Dermeval Saviani. Nesse momento a sociedade lutava em busca da liberdade e de sua identidade nacional, criando um dos movimentos históricos mais importantes do país e que acabou, de vez, com o autoritarismo militar: o movimento conhecido como “Diretas Já”. O primeiro Presidente do Brasil eleito através do voto direto, após a ditadura militar, foi Tancredo Neves, porém, em virtude de sua morte, quem assumiu a liderança do país foi o seu vice José Sarney. Em virtude desse fato histórico, os movimentos sociais e os partidos extintos por causa do Regime Militar voltaram a fazer parte do cenário político brasileiro. Dentro da educação, tornou-se importante o curso de Magistério, já que o Brasil apresentava um quadro de fracasso escolar, e, assim sendo, era imprescindível concentrar esforços na formação de professores. Foram, então, criados os CEFAMS (Centros Específicos de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério). Em 1988, surgiu outro evento histórico muito importante para os novos rumos do país: a promulgação da nova Constituição brasileira, Carta Magna do Estado, que contém normas sobre a formação dos poderes públicos, sobre os direitos e deveres dos cidadãos, etc. A Constituição brasileira foi aprovada no dia 27 de julho de 1988 e promulgada no dia 05 de outubro de 1988. Seu principal objetivo era democratizar a sociedade brasileira e consolidar a ruptura com a Ditadura Militar. Em 1990, a Conferência de Educação para Todos, realizada na cidade de Jomtien, na Tailândia, aprovou a Declaração Mundial de Educação para Todos. Em 1995, o Ministério da Educação empenhou-se na elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e, em 1996, com a reformulação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, foi aprovada a LDBEN 9394/96. O Presidente da República escreveu: Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei. Com essa reformulação, os currículos escolares passaram a especificar os temas transversais (ética, orientação sexual, saúde, meio ambiente, pluralidade cultural) a serem aplicados no ensino e a estabelecer a necessidade da interdisciplinaridade, trabalho interessantíssimo que insere a educação em um contexto extremamente atual, dentro de uma visão global do ensino em que todas as disciplinas são complementares entre si. É importante conhecer a trajetória de alguns educadores que trouxeram grandes contribuições para a educação brasileira. Um deles é Darcy Ribeiro (1922 — 1997), antropólogo, escritor e político brasileiro, conhecido por seu foco sobre a questão indígena e sobre a educação de um modo geral no país. Participou, juntamente com o amigo Anísio Teixeira, da defesa da escola pública, da discussão de Lei de Diretrizes e Bases da Educação e da criação da Universidade de Brasília, no início dos anos sessenta. Foi Diretor de Estudos Sociais do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais do MEC (1957-1961); presidente da Associação Brasileira de Antropologia; Ministro da Educação e Chefe da Casa Civil do Governo João Goulart. Porém, com o golpe militar de1964, teve os direitos políticos cassados e exilou-se, retornando ao Brasil em 1976, quando voltou a se dedicar à educação e à política. Foi eleito vice-governador do Estado do Rio de Janeiro em 1982, pelo partido PDT.[Também foi o idealizador da Universidade Estadual do Norte Fluminense. Publicou vários livros, muitos deles sobre os povos indígenas. Darcy Ribeiro acumulou vários cargos, como o de Secretário de Estado da Cultura e Coordenador do Programa Especial de Educação. Criou, planejou e dirigiu, no governo de Leonel Brizola, a implantação dos Centros Integrados de Ensino Público (CIEP), um projeto pedagógico visionário e revolucionário no Brasil, que tinha como base a Escola Parque criada por Anísio Teixeira. Criou também a Biblioteca Pública Estadual, a Casa França-Brasil, a Casa Laura Alvim e o Sambódromo, onde colocou 200 salas de aula para fazê-lo funcionar, também, como uma enorme escola primária. Os centros (CIEP) prestavam assistência em tempo integral às crianças, proporcionando, inclusive, atividades recreativas e culturais para além do ensino formal, concretizando os projetos idealizados por Anísio. Pode-se dizer que, muito antes de os políticos de direita incorporarem o discurso referente à importância da Educação para o desenvolvimento brasileiro, Darcye Leonel Brizola já divulgavam estas ideias. Em 1990, foi eleito senador da República, função que exerceu defendendo vários projetos, entre eles uma lei dos transplantes que tornou possível usar órgãos dos mortos para salvar os vivos. Publicou, pelo Senado Federal, a Revista Carta, na qual os principais problemas do Brasil e do mundo são analisados e discutidos. Colaborou para a criação do Memorial da América Latina, edificado em São Paulo. Viveu em vários países da América Latina, conduzindo programas de reforma universitária. Foi professor de Antropologia da Universidade Oriental do Uruguai; assessor do presidente Salvador Allende, no Chile, e de Velasco Alvarado, no Peru. Diante de tudo o que realizou, ainda tinha uma mágoa profunda: dizia que havia somado mais fracassos em sua vida do que vitórias. Tinha a frustração de não ter conseguido alfabetizar todas as crianças brasileiras e de não ter, em sua luta, conseguido salvar os índios. Sua morte, após um lento processo de luta contra um câncer, foi anunciada em 1992 e comoveu todo o Brasil em torno de sua figura. Outro nome de destaque nesse cenário é o do polêmico Maurício Tragtenberg (19291998).Neto de imigrantes judeus fixados no interior do Rio Grande do Sul, iniciou sua aprendizagem em português, espanhol, esperanto e russo. Frequentou o grupo escolar em Porto Alegre, mas não foi além da terceira série do curso primário.Após a morte precoce do pai, transferiu-se com sua mãe para São Paulo, onde, ainda jovem, começou a trabalhar. Maurício falava de sua formação, que se deu de forma bastante interessante,com muito humor. Dizia que ela se concretizara em um bar, na Rua Ribeiro de Lima, frequentado por trabalhadores de várias origens que ali estabeleciam relações sociais e políticas. Filiou-se ao PBC (Partido Barsileiro Comunista), mas foi expulso com base em um artigo que proibia ao militante contato direto ou indireto com trotskistas ou com a obra de Leon Trótsky, autor por ele lido e relido. O trotskismo é uma doutrina marxista baseada no pensamento político e revolucionário do ucraniano Leon Tróstky. Maurício atribuía seu interesse político à sua origem; dizia que sua condição de judeu dentro da sociedade levou-o ao interesse precoce pela política; interesse esseque o remeteu à leitura de obras de autores como Plínio Salgado, Tasso da Silveira e outros. Passou a frequentar cursos aos finais de semana, fornecidos pelo PSB (Partido Socialista Brasileiro), ganhando seu primeiro livro de nível universitário, a História Econômica e Social da Idade Média, de Henri Pirenne. Trabalhou no Departamento das Águas de São Paulo, onde adquiriu experiência prática com a burocracia, diante da qual ficou indignado por conhecer de perto o jogo de interesses que a envolvia, como, por exemplo, a distribuição de cargos por apadrinhamento. Posteriormente, inspirando-se em Max Weber, criticou essa burocracia em seu livro Burocracia e Ideologia. Nesse período de sua vida, frequentava a Biblioteca Municipal Mário de Andrade, onde lhe foi possível ler o que lhe interessava e discutir assuntos diversos com um grupo de intelectuais que também frequentavam a biblioteca, entre eles, Antônio Cândido, que o convenceu a prestar vestibular na USP. No meio acadêmico, Tragtenberg ficou conhecido como autodidata, o que era apenas parcialmente verdadeiro, embora ele próprio costumasse alardear, provocativamente, o seu "primário incompleto". Ficou conhecido como autodidata, pelo simples fato de não ter uma formação acadêmica, mas elaborou, em 150 dias, uma monografia que foi aprovada pelo Prof. João da Cruz Costa, permitindo, assim, que ele prestasse o vestibular e ingressasse na Universidade de São Paulo (USP). Por seu espírito rebelde e senso de humor frequentemente sarcástico, mas, sobretudo, por sua profunda generosidade intelectual, deixou publicados, pelo menos,oito livros e inúmeros artigos em jornais e revistas de grande circulação no país, abrangendo diversos assuntos como educação, política, sociologia, história e administração. Através de uma crítica incisiva ao modelo pedagógico burocrático, Tragtenberg chegou à teoria da Pedagogia Libertária, que se expressa pelo questionamento de toda e qualquer relação de poder estabelecida no processo educativo e das estruturas que proporcionam as condições para que essas relações se reproduzam no cotidiano das instituições escolares. Outra importante figura no cenário educacional é Moacir Gadotti, seguidor de Paulo Freire. Nasceu na cidade de Rodeio, no ano de 1941. Foi professor titular da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) desde 1991. Atualmente é Diretor do Instituto Paulo Freire em São Paulo. Gadotti é licenciado em Pedagogia e Filosofia, Mestre em Filosofia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Doutor em Ciências da Educação pela Universidade de Genebra e Livre Docente pela Unicamp. Discípulo de Paulo Freire, tem contribuído de forma significativa para a reflexão sobre a educação em geral. Moacir Gadotti, além de amigo pessoal de Paulo Freire, foi também Chefe de Gabinete, quando Freire assumiu a Secretaria da Educação, na Prefeitura comandada por Luiza Erundina.Dessa amizade nasceu uma nova esperança para a educação brasileira, pois eram dois educadores totalmente comprometidos com a educação, principalmente com a educação de jovens e adultos. Ambos manifestavam a esperança de que é possível acabar com a opressão, com a miséria e com a ignorância, transformando o mundo em um lugar mais justo para se viver. Gadotti aposta na educação como parte integrante da formação daqueles que precisam ser libertos da opressão: os oprimidos e os que com eles lutam. Não se pode acreditar em um discurso que fale dos oprimidos, sem mostrar que há um mundo possível e mais justo. Utilizando a expressão de Paulo Freire, Gadotti acredita que existe, de um lado, uma educação da reprodução da sociedade, uma educação como prática da domesticação e, no outro extremo, uma educação contemplada como transformação, uma educação como prática da libertação. O professor deve caminhar lado a lado com a transformação da sociedade; ele não é um ente abstrato, ausente, mas, sim, uma presença atuante, participante e dirigente, que organiza, concretiza a ideologia da classe que representa esperança. Pela educação, é possível mudar o mundo, a começar pela sala de aula, pois grandes transformações não sedão apenas como resultantes dos grandes gestos, mas também a partir de iniciativas cotidianas, simples e persistentes. Portanto, não há excludência entre o projeto pessoal e o coletivo: ambos se completam dialeticamente. Gadotti aponta algumas categorias expressas na práxis pedagógica, como: cidadania; planetariedade; sustentabilidade; virtualidade; globalização; transdisciplinariedade. Dermeval Saviani, pedagogo e filósofo, nasceu em Santo Antônio de Posse, em 25 de dezembro de 1943. Estudou no Seminário de Aparecida, em São Paulo, onde concluiu, em 1962, o Curso Colegial; fez parte do movimento Juventude Operária Católica (JOC), envolvendo-se em todas as transformações que estavam acontecendo no período em que se processava a renúncia de Jânio Quadros. Continuou os estudos de Filosofia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São Bento da PUC/SP, que era um reduto de estudantes burgueses. Trabalhava, naquela época, no Banco Bandeirantes e vivenciou profundas mudanças na sociedade, causadas pelo Golpe Militar em 1964. Deixou o Banco e foi lecionar Filosofia em escolas públicas. Ainda no ano de 1966, passou a trabalhar em um órgão da Secretaria da Educação de São Paulo. Em 1967 foi professor do Curso de Pedagogia da PUC/SP e ajudou a criar os Cursos de Mestrado e Doutorado em Filosofia da Educação nessa Instituição. Em 1970 foi lecionar na recém-criada Universidade Federal de São Carlos, onde ajudou a implantar,em 1976, o Mestrado em Educação, em convênio com a Fundação Carlos Chagas. Concluiu, em 1971, o Doutorado em Filosofia da Educação, na área de Ciências Humanas, na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de São Bento, da PUC/SP. Em 1978 retornou como professor da PUC/SP e ajudou a criar o Doutorado em Educação nessa Instituição. Em 1979 ajudou a criar a ANDE – Associação Nacional de Educação. Foi o fundador da ANPED e do CEDES. Em 1986 concluiu a Livre Docência em História da Educação, na área de Ciências Humanas, na Faculdade de Educação da UNICAMP. Em 1988 participou da elaboração de um anteprojeto da LDBEN 9394/960- Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Atualmente é professor na UNICAMP, está envolvido com diversos projetos educacionais e de pesquisa. Dermeval Saviani sempre defendeu, de forma sistemática e intransigente, a escola pública; sempre se preocupou em analisar a prática educacional inserida num processo político social, mas sempre com uma visão de organização, do pensar sobre a ação e sob uma perspectiva de globalidade. A Pedagogia histórico-crítica está pautada em algumas reflexões sobre o conceito de educação e de escola que implicam questões como a identificação das formas desenvolvidas em que se expressa o saber objetivo, produzido historicamente, reconhecendo as condições de sua produção e compreendendo as suas principais manifestações, bem como as tendências atuais de transformação. Para Saviani, a educação é a apropriação do conhecimento, que se adquire através da transmissão para os educandos. O educador acredita na liberdade da sociedade através do desenvolvimento e da capacidade dos indivíduos de se organizarem em busca da harmonia comum. Neste contexto histórico é necessário também conhecer a atuação de Guiomar Namo de Mello e sua importância para a educação brasileira. Guiomar formou-se em Pedagogia, pela USP, no ano de 1966; fez mestrado e doutorado em Educação na PUC/SP entre os anos de 1976 e 1980, e pós-doutorado no Institute of Education da London University em 1991-1992. Trabalhou durante dez anos em escolas públicas estaduais; iniciou sua carreira como professora de ensino superior na PUC-SP, onde, de 1969 a 1985, respondeu pelas cadeiras de Psicologia Escolar e Psicologia Social, ministrando aulas de Psicologia Social, para cursos de pós-graduação, e de Metodologia de Pesquisa e Teorias da Educação Escolar, para o curso de graduação em Educação. Trabalhou como professora visitante na UNICAMP, na Universidade Federal de São Carlos e na Universidade Federal de Minas Gerais. Paralelamente à sua atividade docente, trabalhou mais de 10 anos como Pesquisadora na Fundação Carlos Chagas. No Departamento de Pesquisas Educacionais, dedicou-se ao estudo da educação como política pública, coordenando um grupo de pesquisadores que, a pedido da FINEP(Financiadora de Estudos Projetos), realizou a primeira análise abrangente da educação básica brasileira no período de 60 a 80. Em 1982 foi nomeada Secretária Municipal de Educação de São Paulo, cargo que ocupou até o final do mandato do Prefeito Mario Covas, em 1985. Na Secretaria Municipal de Educação de São Paulo liderou a implementação de inovações gerenciais e pedagógicas entre as quais se destacam: a proposta pedagógica das Escolas Municipais de Primeiro Grau e de Educação Infantil; a reestruturação da carreira do magistério municipal, com mecanismos de incentivos para que os professores permanecessem na docência; o Regimento Escolar que criou os Conselhos de Escola, abrindo espaço para a participação das famílias e comunidades na gestão escolar. Essas inovações – juntamente com outras experiências desse período – serviram de inspiração para a Constituinte de 1988 e para as reformas educacionais dos anos 90. Em 1986 elegeu-se Deputada Estadual de São Paulo. No Legislativo Paulista foi Presidente da Comissão de Educação e coordenou os trabalhos de elaboração da Constituição do Estado de São Paulo na área de políticas sociais e educação. Nesse período foi, ainda, assessora para assuntos educacionais do Senador Mário Covas, líder da Constituinte Nacional. Em 1990 e 1991 foi consultora no processo de preparação de projetos do Banco Mundial de Investimento em Educação na região Nordeste e no Estado de Minas Gerais. De 1992 a 1996 viveu no exterior, o primeiro ano em Londres, para concluir seu Pós-Doutorado, e os seguintes em Washington, onde trabalhou como Especialista Senior em Educação no Banco Mundial e no Banco Interamericano de Desenvolvimento. Em ambas as instituições gerenciou ou assessorou a preparação de projetos de investimento do setor público em educação na Argentina, no Paraguai, Equador, Uruguai e Bolívia. Em 1997 regressou ao Brasil para assumir a Direção Executiva da Fundação Victor Civita, uma organização sem fins lucrativos mantida pelo Grupo Abril que se dedica a publicações especializadas para professores de educação básica. Nessa posição vem exercendo a Direção Editorial da revista Nova Escola e de outras publicações especializadas entre as quais se destaca a Ofício de Professor. Em 1997 foi nomeada pelo Presidente Fernando Henrique para o cargo de Conselheira do Conselho Nacional de Educação (CNE) -Câmara de Educação Básica. De 1998 a 2000 deu consultoria a vários projetos educacionais entre os quais se destacam: a implementação da reforma curricular do Ensino Médio na SEMTEC (Secretaria de Educação Média e Tecnológica)/MEC; o projeto do Centro de Referência em Educação Governador Mário Covas, na Secretaria de Educação do Estado de São Paulo; a elaboração da proposta do MEC para reforma curricular dos cursos de formação de professores em nível superior, no MEC. Guiomar Namo de Mello é educadora, pesquisadora, ex-secretária municipal da educação da cidade de São Paulo, ex-deputada estadual, assessora de projetos de reforma educacional no Brasil e no exterior. Hoje atua como diretora da EBRAP – Escola Brasileira de Professores. A EBRAP é uma empresa dedicada a estudos, iniciativas e projetos na área de educação inicial e continuada de professores da educação básica. Guiomar presta consultoria para a empresa na área de projetos de formação inicial de professores da educação básica em nível superior, presenciais e a distância. Alguns projetos educacionais em andamento são: Grupo Pitágoras: produção de material para cursos de formação de professores da educação básica; Secretaria Municipal de Educação de São Paulo: um estudo da gestão pedagógica das escolas municipais; Sistema de Ensino COC: revisão dos materiais de alunos e professores que estão sendo utilizados junto a escolas de redes municipais, em várias regiões do Estado de São Paulo e do país. Secretaria de Educação do Estado de São Paulo: reelaboração da proposta curricular de 5ª a 8ª série e de ensino médio; formulação da política de Educação Profissional da Secretaria. Outro ícone da educação brasileira é Marilena de Sousa Chauí. Nasceu no dia 4 de setembro de 1941, em Pindorama, São Paulo. Filha do jornalista Nicolau Chauí e da professora Laura de Souza Chauí. É casada com o historiador da Unicamp Michael Hall. Marilena iniciou seus estudos no Grupo Escolar de Pindorama, interior paulista, onde realizou o curso primário. Ela deu sequência à sua formação secundária no Colégio Nossa Senhora do Calvário, na cidade de Catanduva, concluindo-a no Colégio Estadual Presidente Roosevelt, na capital. É graduada em Filosofia, Especialista em Licenciatura, Mestre e Doutora em Filosofia. Já foi Secretária Municipal da Cultura na cidade de São Paulo durante o mandato da ex-prefeita Luiza Erundina (1988-1992), porém saiu frustrada com os limites da ação administrativa e preferiu concentrar as atenções na vida acadêmica. Em uma entrevista para o programa Roda Viva, da TV Cultura, exibido em 1999, Marilena expôs seu pensamento demonstrando seu descontentamento com a política.que a melhor maneira de se participar da atividade política é através de intervenções públicas, debates, polêmicas, participação nas atividades de discussão do partido, mas eu não tenho nenhuma vocação para atividade administrativa. Foi um sacrifício para mim, foi muito complicado, foi muito difícil e não é o meu lugar. Marilena é Presidente da Associação Nacional de Estudos Filosóficos do século XVII, Doutora Honoris Causa pela Universidade de Paris VIII e Doutora Honoris Causa pela Universidad Nacional de Córdoba, da Argentina. Atualmente ela desenvolve, dentro da Faculdade de Filosofia da USP, uma pesquisa que recebe o nome de A elaboração espinosana de uma ciência dos afetos – ruptura com a tradição da contingência e afirmação da necessidade. Em sua obra é possível encontrar temas como ideologia, cultura, universidade pública, entre outros. Expressa seu pensamento a respeito da Filosofia da seguinte forma: Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar guiar pela submissão às ideias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da história for útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil; se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes que os seres humanos são capazes. (Marilena Chauí) Marilena Chauí é, sob vários aspectos, uma das personalidades mais admiráveis do país, pois a formação de nossos Departamentos de Filosofia deriva da linha de atuação da pensadora. Sua ativa participação nas discussões sobre os rumos da Educação brasileira atesta a continuidade do seu engajamento, que vai além dos muros da USP, onde leciona há mais de 40 anos. Na sua visão, o Estado deve encarar a Educação como um investimento social e político e não sob o prisma de gasto público. Magda Becker Soares é a outra educadora de destaque no panorama da educação no Brasil. Mineira de Belo Horizonte, graduada em letras Neolatinas e doutorada em Didática pela Universidade Federal de Minas . Atualmente´r membro da associação nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Educação, membro do comitê Assessor do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico , conselheira da communitee economique europeen e professora titular da Universidade federal de Minas Gerais. Sua experiência com a Educação está ligada à área de Ensino- Aprendizagem, língua Portuguesa e Linguística Aplicada. Em um artigo publicado no jonal Diário do Grande ABC, em 29 de agosto de 2003, ela destaca que letras é mais que alfabetizar; é ensinar a ler e escrever dentro de um contexto no qual a escrita e a leitura tenham sentido e façam parte da vida do aluno. Explica que, ao olharmos historicamente para as últimas décadas, podemos observar que o termo alfabetização, sempre entendido, de uma forma restrita, como aprendizagem do sistema de escrita, foi ampliado; já não basta aprender a ler e escrever, é necessário mais que isso para ir além da alfabetização funcional (denominação dada à alfabetização das pessoas que sabem ler e escrever, mas não sabem fazer uso da leitura e da escrita). O aluno precisa saber fazer uso das atividades de leitura e escrita e envolve- se com elas. Magda defende que para a adaptação adequada ao ato de ler e escrever, “é preciso compreender, inserir- se , avaliar apreciar a escrita e a leitura”. O que é letramento? Letramento não é um gancho em que se pendura cada som enunciado, não é treinamento repetitivo de uma habilidade, nem um martelo quebrando blocos de gramática. Letramento é diversão, é leitura à luz de vela ou lá fora, à luz do sol. São notícias sobre o presidente, O tempo, os artistas da TV e mesmo Mônica e Cebolinha nos jornais de domingo. É uma receita de biscoito, uma lista de compras, recados colados na geladeira, um bilhete de amor, telegramas de parabéns e cartas de velhos amigos. é viajar para países desconhecidos, sem deixar sua cama, e rir e chorar com personagens, heróis e grandes amigos. E um atlas do mundo, sinais de trânsito, caças ao tesouro, manuais, instruções, guias, e orientações em bulas de remédios, para que você não fique perdido. Letramento é, sobretudo, um mapa do coração do homem, um mapa de quem você é, e de tudo que você pode ser. Alfabetização = ação de ensinar/aprender a ler e a escrever. Letramento = estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais que usam a escrita. Após a apresentação do contexto da Educação Brasileira nos períodos que compreendem a Primeira República, a Segunda República e a Nova República, é possível concluir que a educação sempre esteve envolvida por interesses políticos, apesar dos esforços dos intelectuais brasileiros e das políticas públicas que poderiam servir para consolidar a nossa educação. No entanto, podemos dizer que houve conquistas e que estamos caminhando para alcançar efetivamente a educação tão almejada por nossos educadores. Voltando o olhar para os dias atuais, assistimos, com a chegada dos avanços tecnológicos, ao surgimento de uma nova sociedade, que exige uma educação voltada para a tecnologia. Dessa forma a mídia e a Internet, entre outras ferramentas, tornam-se agentes não só de informação, mas também de educação. Um dos aspectos mais importantes nesse quadro é o papel do educador, que, por exigência de sua posição no cenário educacional, deve estar constantemente atualizado. Tanto nas escolas públicas, quanto nas particulares, os alunos não apresentam mais os comportamentos de submissão relatados nas unidades estudadas; pelo contrário, além de trazerem consigo uma bagagem histórica e cultural, trazem também a informação. Por isso, o educador deve incorporar ao seu trabalho as ferramentas que propagam as informações e usá-las de acordo com a sua concepção de educação. A luta por uma escola democrática conseguiu resultados positivos, mesmo que muita coisa ainda esteja apenas no papel, pois a sociedade brasileira precisa ainda aprender a fazer uso pleno da democracia. Vivemos uma época em que a educação, além de ser considerada universal e um direito de todos, também deve ser continuada, reflexiva e crítica. Percebemos, então, que os nossos educadores não lutaram em vão, pois conquistamos o direito e o dever de um trabalho docente crítico, reflexivo e criativo. Dessa forma faz-se necessária a formação do pedagogo reflexivo, sempre aberto e disposto a lutar pela concretização dos ideais pelos quais lutaram e ainda lutam os educadores brasileiros interessados em uma educação libertadora capaz de transformar e humanizar a sociedade brasileira, já tão sofrida. BIBLIOGRAFIA: APOSTILA CRUZEIRO DO SUL..I a VI ABRIL/2018 IRACI DOMINGUES