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1 Lucas Moreira Cunha 72C RESUMO TÓRAX + ABDOME TÓRAX • A cavidade torácica e sua parede tem o formato de cone truncado; a porção superior é mais estreita e a circunferência aumenta inferiormente, alcançando seu diâmetro máximo na junção com a parte abdominal do tronco. Além disso, o assoalho da cavidade torácica (diafragma) apresenta uma evaginação inferior causada pelas vísceras da cavidade abdominal. Em consequência, aproximadamente a metade inferior da parede torácica circunda e protege as vísceras abdominais, e não as torácicas. Assim, o tórax e a sua cavidade são muito menores do que sugere a aparência externa do peito. • Ademais, nós podemos subdividir o tórax em duas cavidades pulmonares e um mediastino central. O mediastino central, por sua vez, pode ser dividido por uma linha transversa (ângulo esternal ➔ T4) que o subdivide em mediastino superior e inferior. Por fim, o mediastino inferior ainda pode ser subdividido pelo saco pericárdico em mediastino anterior, médio e posterior. 1. Parede Torácica Ântero-Lateral: • A parede torácica ântero-lateral contém os seguintes músculos: I. Intercostais Externos: • Origem: borda inferior de cada uma das 11 primeiras costelas • Inserção: borda superior da costela abaixo, indo de lateral para medial e diante. • Ação: elevam as costelas, assim, aumentando o diâmetro ântero-posterior do tórax. Deste modo, é considerado um músculo da inspiração. • Inervação: nervo intercostais ou toracoabdominais correspondentes • OBS: este músculo está ausente na porção intercartilagínea dos quatro ou cinco espaços intercostais superiores. • OBS 2: como a primeira costela não possuí um intercostal externo quem faz o seu levantamento são os escalenos. 2 Lucas Moreira Cunha 72C II. Intercostais Internos: • Origem: borda inferior das costelas e cartilagens costais. • Inserção: borda superior das costelas e cartilagens costais, indo de medial para lateral e para trás. Estes músculos estendem-se das extremidades mediais dos espaços intercostais, para o ângulo das costelas, onde dão lugar às membranas intercostais internas. • Ação: abaixam forçadamente as costelas, assim, auxiliando quando ocorre uma expiração forçada. Apenas na porção intercartilagínea dos quatro ou cinco espaços intercostais superiores, onde não há músculos intercostais externos, é que este músculo possuí uma ação inversa, aqui auxiliando no levantamento das costelas e, deste modo, atuando como músculo da inspiração • Inervação: nervos intercostais ou toracoabdominais correspondentes III. Intercostais Íntimos: são considerados partes dos intercostais interno, dos quais estão separados pelos nervos e vasos intercostais. Não são bem desenvolvidos e podem estar ausentes nos espaços intercostais superiores, sendo que nas extremidades anteriores dos espaços mais inferiores encontram-se fundidos com o diafragma. • Origem: lado interno do sulco da costela de cima • Inserção: borda superior da costela de baixo • Ação: insignificante. • Inervação: nervos intercostais ou toracoabdominais IV. Subcostais: • Origem: bordas inferiores das costelas, nas proximidades de seus ângulos • Inserção: bordas superiores da segunda ou terceira (ou seja, eles pulam uma ou duas costelas antes da sua inserção), costela abaixo • Ação: levantam as costelas, ou seja, são músculos da inspiração • Inervação: nervos intercostais e toracoabdominais V. Transverso do Tórax (esternocostal): 3 Lucas Moreira Cunha 72C • Origem: cintas aponeuróticas da face posterior do processo xifóide ou do corpo do esterno • Inserção: face interna da segunda à sexta cartilagem costais. • Ação: função expiratória insignificantes • Inervação: nervos intercostais correspondentes. VI. Diafragma: é o músculo mais importante da respiração, mas não é essencial. Separa a cavidade abdominal da torácica. Cada metade da porção muscular do diafragma é dividida em três: esternal, costal e lombar, sendo todas elas estão inseridas no centro tendíneo, uma estrutura de forma trifoliada (folhetos esquerdo, médio e direito) logo abaixo do coração, e não tem inserções ósseas. O tendão contém o forame para a VCI. • Parte Esternal: são estreitas cintas que se originam por trás do processo xifoide e se dirigem para o centro tendíneo. De cada lado, um pequeno espaço, conhecido como trígono esternocostal, está localizado entre as porções esternal e costal, e dá passagem aos vasos epigástricos superiores e a alguns vasos linfáticos. • Parte Costal: estas porções que formam as cúpulas direita e esquerda, surgem da superfície externa das seis cartilagens costais inferiores e das quatro costelas mais inferiores. As fibras inserem-se nas partes ântero-laterais do centro tendíneo. 4 Lucas Moreira Cunha 72C • Parte Lombar: cada parte lombar origina-se de dois arcos fibrosos e dos corpos das vértebras lombares mais altas. Esses arcos ganham o nome de ligamentos arqueados medial e lateral, sendo que o medial é o espessamento da fáscia sobre a parte mais alta do psoas maior, enquanto o lateral é o espessamento da fáscia sobre a porção superior do quadrado lombar. As fibras musculares sobem, vindas de ambos os ligamentos, ao centro tendíneo. ➢ A porção da parte costal do diafragma que nasce das 11 e 12 costelas está em geral separada da porção lombar por intervalo denominado trígono vertebrocostal, sendo ocupado por uma tela de TC frouxo, que separa a pleura, acima, da glândula suprarrenal e da extremidade superior do rim, abaixo. ➢ A parte do diafragma que surge das vértebras lombares forma dois pilares musculares que sobem até o centro tendíneo. O pilar direito nasce das três ou quatro vértebras superiores, e o pilar esquerdo das duas ou três vértebras superiores. Os pilares unem-se adiante da aorta por uma arcada fibrosa, o ligamento arqueado mediano, formando por meio deste o hiato aórtico. O pilar direito (na maioria dos casos), mais largo, divide-se em torno do esôfago, assim, formando uma alça que volta e ajuda a formar o hiato esofágico. • Conteúdos dos Hiatos: ➢ Hiato Aórtico: que fica por trás dos pilares e dá passagem à aorta, ducto torácico e, também, aos nervos esplâncnicos maiores. ➢ Hiato Esofágico: localizado atrás do pilar direito, ele dá passagem ao esôfago e aos nervos vagos (uma vez que inerva o esôfago). ➢ Forame da VCI: dá passagem à VCI, ao nervo frênico direito e aos vasos linfáticos do fígado. ➢ Os nervos esplâncnicos, o tronco simpático, os vasos e nervos subcostais, os vasos epigástricos superiores, os vasos musculofrênicos e as veias ázigos e hemiázigos perfuram o diafragma. • Inervação: o diafragma e a pleura e pericárdio adjacentes são inervados pelo nervo frênico. 5 Lucas Moreira Cunha 72C • Ação: o diafragma desce quando se contrai, e arrasta o centro tendíneo para baixo. Assim, o volume do tórax é aumentado e a pressão intratorácica diminuída. Entretanto o volume da cavidade abdominal é diminuído, e a pressão aumentada. ➢ Os soluços são contrações espasmódicas do diafragma • Artéria Torácica Interna (ou Mamária Interna): é a única artéria descendente ramo direto da subclávia. Ela nasce da primeira porção da subclávia, passa para baixo, adiante e medialmente, por trás do ECM, da clavícula e das veias subclávia e jugular interna. Repousa sobre a pleura, que fica por trás, e é cruzada pelo nervo frênico, que lhe fornece filamentos e que passa, obliquamente, do seu lado lateral para medial. Passa para baixo, através do tórax, por trás das seis cartilagens costais superiores e dos músculos intercostais internos sobrepostos, lateralmente ao esterno. Atrás, repousa sobre a pleura, exceto onde está separada desta pelo músculo transverso do tórax; ela é acompanhada por duas veias satélites e por vasos linfáticos. Seus ramos são:I. Artéria Epigástrica Superior e Musculofrênica: são seus dois ramos terminais (se divide mais ou menos ao nível do fim do processo xifóide), sendo a epigástrica superior mais medial e a musculofrênica mais lateral ➔ penetra o trígono esternocostal para depois se anastomosar com a artéria epigástrica inferior. II. Artéria Pericardiofrênica: nasce na porção superior do tórax, acompanha o nervo frênico até o diafragma e ajuda a suprir a pleura e o pericárdio. 6 Lucas Moreira Cunha 72C III. Ramos Intercostais Anteriores: são em número de dois em cada lado dos seis espaços intercostais superiores. Ambos correm lateralmente; o superior anastomosa-se com a artéria intercostal posterior e, o inferior, com o ramo colateral da intercostal posterior. Corre junto com a veia intercostal anterior e o nervo intercostal ➔ NAV, ou seja, nervo superior, anterior no meio e veia inferior. IV. Ramo Perfurante: está localizado em cada lado dos seis espaços intercostais superiores. Eles acompanham os ramos cutâneos anteriores dos nervos intercostais que suprem o músculo peitoral maior e o cútis que o reveste. O segundo, o terceiro e o quarto fornecem ramos mamários. • Artéria Intercostal Suprema: esta artéria nasce do tronco tireocervical da subclávia e, a seguir, desce adiante do colo da primeira costela. O tronco simpático está no seu contorno medial, o primeiro nervo torácico no lateral. Dá a primeira artéria intercostal posterior na borda inferior do colo da primeira costela e continua diante do colo da segunda costela, para tornar-se a segunda artéria intercostal posterior. • Artérias Intercostais Posteriores: as duas primeiras intercostais posteriores nascem da intercostal suprema; as nove restantes, da porção dorsal da aorta. As artérias direitas passam diante da coluna vertebral e são, portanto, mais longos do que as esquerdas. A maioria delas passa por trás esôfago, do ducto torácico e da hemiázigos ou da hemiázigos acessórias. Tanto as artérias direitas quanto as esquerdas ficam por trás da pleura e são cruzadas pelos troncos simpáticos; Depois de passar por diante ou por 7 Lucas Moreira Cunha 72C trás de um nervo intercostal, cada artéria alcança o ângulo da costela acima. Então, penetra no sulco da costela, onde fica entre o nervo e a veia correspondentes, e caminha para frente, entre os músculos interno e íntimo. Na extremidade anterior do espaço intercostal, seus ramos terminais anastomosam-se com os ramos intercostais anteriores das artérias torácica interna e a musculofrênica. As 10 e 11 artérias entram na parede abdominal e ai anastomosam-se com os ramos da epigástrica superior, subcostal e lombares. 2. Cavidade Pulmonar: 2.1. Pleuras: • Cada pulmão é revestido por um Saco Pleural seroso formado por duas pleuras: a pleura visceral (não é possível a sua dissecação), que reveste toda a superfície pulmonar, e a sua pleura parietal, que reveste as cavidades pulmonares • A cavidade pleural, um espaço virtual entre as camadas de pleura, contém uma camada capilar de líquido pleural seroso, que lubrifica as superfícies pleurais e permite que as camadas da pleura deslizem uma sobre a outra. A tensão desse líquido pleural também proporciona a coesão que mantém a superfície pulmonar em contanto com a parede torácica; assim, o pulmão se expande e enche de ar quando o tórax expande. • No hilo do pulmão (local onde estruturas que formam a raiz do pulmão como brônquios e vasos pulmonares entram e saem) a pleura visceral é contínua com a parietal. 8 Lucas Moreira Cunha 72C 2.2. Pulmões: 2.2.1. Pulmão Direito: possuí duas fissuras, oblíqua direita e horizontal (as duas partem do hilo) que o dividem em 3 lobos: superior, médio e inferior. Ademais, ele é maior e mais pesado que o esquerdo, porém é mais curto e mais largo, porque a cúpula direita do diafragma é mais alta (fígado) e o coração está voltado para a esquerda. • Hilo Pulmão Direito: contém as seguintes estruturas: (1) brônquio principal direito ➔ mais largo, curto e vertical (que depois se divide em brônquio lobar superior e intermédio. Este último, que, por sua vez, dá origem aos brônquios lobares médio e inferior); (2) artéria pulmonar direita (subdivide-se em artérias lobar superior e intermédia ➔ lobar média e inferior); (3) duas veias pulmonares direitas; e (4) as pequenas artérias bronquiais direitas (ramos da aorta torácica) ➔ em sentido anti- horário organizam-se em BAV. . 2.2.2. Pulmão Esquerdo: possuí apenas uma única fissura oblíqua esquerda, que o divide em lobos esquerdos, superior e inferior. A margem anterior deste pulmão possuí uma incisura cardíaca profunda. Esta impressão costuma estar localizada na face anteroinferior do lobo superior e geralmente molda a parte mais inferior e anterior do lobo superior, transformando-o em um processo estreito e linguiforme: a língula. Ademais, na face medial este pulmão ainda possuí uma grande impressão cardíaca. 9 Lucas Moreira Cunha 72C • Hilo do Pulmão Esquerdo: contém as seguintes estruturas: (1) brônquio principal esquerdo ➔ mais longo e delgado; (2) artéria pulmonar esquerda; (3) as duas veias pulmonares esquerdas; e (4) as pequenas artérias brônquicas esquerdas ➔ num sentido anti-horário organiza-se em AVB. • As artérias bronquiais são responsáveis pela nutrição dos pulmões. As duas artérias bronquiais esquerdas geralmente se originam diretamente da parte torácica da aorta. Já a artéria bronquial direita, única, pode se originar diretamente da aorta, mas geralmente sua origem é indireta, seja através da parte proximal de uma das artérias intercostais posteriores superiores (geralmente a terceira intercostal posterior direita) ou de um tronco comum com a artéria bronquial superior esquerda. Ademais, veia bronquial direita drena para a veia ázigo, e a veia bronquial esquerda para a hemiázigo acessória ou a veia intercostal superior esquerda, assim, ambas acabam por desaguar na veia cava superior. 3. Mediastino Superior: • É composto pelos grandes vasos e seus ramos, o timo, os nervos vago e frênico, o esôfago e a traqueia. 3.1. Grandes Vasos: 10 Lucas Moreira Cunha 72C • Veias Braquiocefálicas: estas formam-se posteriormente às articulações esternoclaviculares pela união das veias jugular interna e subclávia. No nível da margem inferior da primeira cartilagem costal direita, as veias braquiocefálicas unem-se para formar a VCS. OBS: a veia braquiocefálica direita recebe o ducto torácico. • Veia Cava Superior: conduz sangue de todas as estruturas superiores do tórax, exceto os pulmões e o coração. Segue inferiormente e termina no nível da terceira cartilagem costal, quando entra no AD do coração. Além disto, recebe a veia ázigo. • Aorta Ascendente: possuí um diâmetro aproximado de 2,5cm, começa no óstio da aorta. Seus únicos ramos são as coronárias, originadas nos seios da aorta. • Arco da Aorta: é a continuação curva da parte ascendente da aorta, inicia-se posteriormente à segunda articulação esternocostal direita, no nível do ângulo do esterno. Ele se curva em sentido superior, posterior, para a esquerda e, depois, inferior. O arco da aorta ascende anteriormente à artéria pulmonar direita e à bifurcação da traqueia, atingindo seu ápice no lado esquerdo da traqueia e esôfago, quando passa sobre a raiz do pulmão. O arco desce posteriormente à raiz do pulmão esquerdo, ao lado da vértebra T IV, e termina formando a parte torácica da aorta, posteriormente à segunda articulação esternocostal esquerda. Dá origem aos seguintes ramos: (1) artéria braquiocefálica direita; (2) artéria carótida comum esquerda; e (3) artéria subclávia esquerda ➔ ligamento arterial: ducto arterial fibrosado. Este ducto era responsável por ligar a raiz da artéria pulmonar esquerda ao arco da aorta. 11 Lucas Moreira Cunha 72C3.2. Nervos Frênico e Vago: • Nervo Vago Direito: entra no tórax anteriormente à subclávia direita, onde dá origem ao nervo laríngeo recorrente, que dá uma volta ao redor da subclávia direita e ascende entre a traqueia e o esôfago para suprir a laringe. O NVD segue postero inferiormente através do mediastino anterior, no lado direito da traqueia. A seguir, passa posteriormente à veia braquiocefálica direita, VCS e raiz do pulmão. Aqui divide-se em muitos ramos que contribuem para o plexo pulmonar direito. Após gerar o plexo, o NVD deixa aqui como um único nervo e segue para o esôfago, onde se divide novamente e cede fibras para o plexo esofágico. • Nervo Vago Esquerdo: entra no mediastino entre a carótida esquerda e a subclávia esquerda, e quando chega ao lado esquerdo do arco da aorta, o NVE diverge posteriormente ao nervo frênico. O NVE se curva medialmente na margem inferior do arco da aorta, emite o nervo laríngeo recorrente esquerdo, que segue inferiormente ao arco da aorta, imediatamente lateral ao ligamento arterial, e ascende até a laringe, no sulco entre a traqueia e o esôfago ➔ por conta disto aneurismas aórticos tendem a dar rouquidão. O NVE segue posteriormente à raiz do pulmão esquerdo, onde se divide em muitos ramos para o plexo pulmonar esquerdo. Este nervo deixa esse plexo como um único tronco e segue até o esôfago, onde se junta às fibras do NVD no plexo esofágico. • Nervo Frênico Direito: segue à direita da veia braquiocefálica direita, VCS e pericárdio sobre o AD. Também segue anteriormente à raiz do pulmão direito e desce no lado direito da VCI até o diafragma, o qual perfura perto do óstio da veia cava inferior. • Nervo Frênico Esquerdo: desce entre a artéria subclávia esquerda e a artéria carótida comum esquerda. Cruza a face esquerda do arco da aorta anteriormente ao nervo vago esquerdo e passa sobre a veia intercostal superior esquerda. Depois, desce anteriormente à raiz do pulmão esquerdo e segue ao longo do pericárdio fibroso, superficial ao átrio e ventrículo esquerdos, onde perfura o diafragma à esquerda do pericárdio fibroso. 12 Lucas Moreira Cunha 72C 4. Mediastino Inferior Anterior: • Possuí como conteúdos apenas: os vasos torácicos internos, nervos frênicos, linfonodos paraesternais e os vasos pericárdio-frênicos. 5. Mediastino Inferior Médio: • Possuí como conteúdo, basicamente o saco pericárdico (possuí inervação somática ➔ em casos de pericardite a dor é localizada), ou seja, o coração e suas coronárias. 5.1. Coração: 5.1.1. Átrio Direito: esta câmara cardíaca forma a margem direita do coração e recebe sangue pouco oxigenado da VCS, VCI e seio coronário. A aurícula direita é uma bolsa muscular cônica que se projeta do AD como uma câmara adicional, aumenta a capacidade do átrio e se superpõe à parte ascendente da aorta. Na sua anatomia interna observa-se: • Uma parte posterior lisa, de paredes finas, onde se abrem as veias cavas e o seio coronário. Ainda há nesta parte uma fossa oval, um vestígio do antigo forame 13 Lucas Moreira Cunha 72C oval que se encontra presenta durante a circulação fetal. A única parte lisa rugosa é a da aurícula direita. • Uma parte anterior muscular, rugosa, formada pelos músculos pectíneos. • As partes lisa e áspera da parede atrial são separadas externamente pelo sulco terminal e internamente por uma crista transversal, a crista vertical. • O seio coronário, um tronco venoso curto que recebe a maioria das veias cardíacas, situa-se entre o óstio da válvula tricúspide e da VCI. • Vale ressaltar que a pressão nesta câmara é chamada de Pressão Venosa Central (PVC) e, na maioria dos casos, possuí um valor próximo de 0mmHg (valores aumentados representam uma insuficiência do coração direito). 5.1.2. Ventrículo Direito: forma a maior parte da face esternocostal do coração, uma pequena parte da face diafragmática e quase toda a margem inferior do coração. Além disto, sua parede possuí cerca de 0,5cm de espessura, e esta câmara é responsável por bombear sangue para a circulação pulmonar. Na sua anatomia interna podemos encontrar: • Superiormente, afilia-se e forma um cone arterial, que conduz ao tronco pulmonar • No VD existem elevações musculares irregulares, as trabéculas cárneas na face interior; e músculos papilares na face externa da câmara • O VD é separado do AD pela Valva Tricúspide. O óstio desta valva é circundado por um dos anéis fibrosos do esqueleto fibroso do coração, que mantém o calibre do óstio constante, resistindo à dilatação que poderia resultar da passagem de sangue através dele por pressões variadas. ➢ As Cordas Tendíneas fixam-se às superfícies anterior, posterior e septal desta valva e originam-se dos músculos papilares. Estas “cordas“ quando tensionadas 14 Lucas Moreira Cunha 72C pelo músculos papilares (sístole ventricular) são responsáveis por evitar o abaulamento da valva e , por consequência, o refluxo de sangue para o AD. • Músculo Papilar Anterior: É o maior e mais proeminente dos três músculos, origina-se da parte anterior do VD, suas cordas tendíneas se fixam nas válvulas anterior e posterior da valva tricúspide • Músculo Papilar Posterior: é menor que o anterior e origina-se da parede inferior do VD, e suas cordas tendíneas se fixam nas válvulas posterior e septal da valva tricúspide • Músculo Papilar Septal: origina-se do septo interventricular, e suas cordas tendíneas se fixam às válvulas anterior e septal • Trabécula Septomarginal: é um feixe muscular curto que atravessa o ventrículo direito da parte inferior do SIV até o músculo papilar anterior. Essa trabécula é importante para a condução do ramo direito do feixe de His, o que é fundamental para permitir a contração coordenada do músculo papilar anterior. 5.1.3. Átrio Esquerdo: esta câmara recebe as veias pulmonares. Na sua anatomia interna destaca-se: • A aurícula esquerda muscular, tubular, sua parede trabeculada de músculos pectíneos, forma a parte superior da margem esquerda do coração e cavalga a raiz do tronco pulmonar • O AE apresenta uma maior parte com paredes lisas e uma aurícula muscular menor, contendo músculos pectíneos. • Uma parede ligeiramente mais espessa que a do AD 15 Lucas Moreira Cunha 72C 5.1.4. Ventrículo Esquerdo: este forma o ápice do coração, quase toda a face pulmonar esquerda e a maior parte da face diafragmática. Na sua anatomia interna destaca-se: • Paredes duas a três vezes mais espessas que as paredes do VD ➔ normalmente 1,5 cm. • Paredes cobertas principalmente por Trabéculas Cárneas que são mais finas e numerosas do que as do VD • Músculos Papilares Anteriores e Posteriores maiores que os do VD. • Uma parte de saída, superoanteriormente, não muscular, de parede lisa, o vestíbulo da Aorta, levando ao óstio da aorta. • A valva mitral tem duas válvulas, anterior e posterior. Esta valva está localizada posteriormente ao esterno, no nível da quarta cartilagem costal. Cada uma de suas válvulas recebe cordas tendíneas de mais de um músculo papilar. 16 Lucas Moreira Cunha 72C 5.1.5. Vascularização do Coração: a vascularização do coração é realizada pelas artérias coronárias direita e esquerda, do seguinte modo: • Coronária Direita: origina-se do seio da aorta direito da parte ascendente da aorta e passa para o lado direito do tronco pulmonar, seguindo pelo sulco coronário. Próximo de sua origem, a ACD emite um ramo ascendente para o nó sinusal, que irriga o nó SA. A ACD então desce no sulco coronário e emite o ramo marginal direito, que irriga a margem direita do coração enquanto segue em direção ao ápice do coração, porém sem alcançá-lo. Após emitir esse ramo, a artéria segue para a esquerda e contínua no sulco coronário até a face posterior do coração. Na face anterior da Cruzdo Coração (a junção dos septos interatrial e interventricular entre as quatro câmaras cardíacas) a ACD dá origem ao ramo do nó AV, que irriga este nó. Já na face posterior, a ACD dá origem ao grande ramo interventricular posterior (artéria descendente posterior), que desce no sulco interventricular posterior. • Coronária Esquerda: origina-se do seio da aorta esquerdo da parte ascendente da aorta e passa entre a aurícula esquerda e o lado esquerdo do tronco pulmonar. Quando a ACE entra no sulco coronário, na extremidade superior do sulco IV anterior, a ACE divide- se em dois ramos, o ramo interventricular anterior (ou descendente anterior) e o ramo circunflexo. O ramo AV anterior segue ao longo do sulco AV até o ápice do coração. A seguir, faz a volta ao redor da margem inferior e costume fazer anastomose 17 Lucas Moreira Cunha 72C com o ramo IV posterior da artéria coronária direita. Em muitas pessoas, o ramo IV anterior dá origem ao ramo lateral (artéria diagonal), que desce sobre a face anterior do coração. O ramo circunflexo da ACE, menor, acompanha o sulco coronário ao redor da margem esquerda até a face posterior do coração. O ramo marginal esquerdo do ramo circunflexo acompanha a margem esquerda do coração e supre o VE. Na maioria das vezes, o ramo circunflexo termina no sulco coronário na face posterior do coração antes de chegar à crux cordis (cruz de Has), mas em aproximadamente 30% das pessoas, ele continua como um ramo que segue dentro do sulco IV posterior ou adjacente a ele • Drenagem do Coração: o coração é drenado principalmente por veias que se abrem no seio coronário. O seio coronário, a principal veia do coração, é um canal venoso largo que segue da esquerda para a direita na parte posterior do sulco coronário. O seio recebe a veia cardíaca magna em sua extremidade esquerda e a veia IV posterior e a veia cardíaca parva em sua extremidade direita. Além disso, o seio também recebe a veia posterior do VE e a veia marginal esquerda ➢ A veia cardíaca magna é a principal tributária do seio coronário. Sua primeira parte, a veia IV anterior começa no ápice do coração e ascende com o ramo IV anterior da ACE. No sulco coronário, vira-se para a esquerda, e sua segunda parte segue ao redor do lado esquerdo do coração com o ramo circunflexo da ACE para chegar ao seio coronário (aqui ocorre algo inusitado, uma vez que, o sangue está fluindo no mesmo sentido num par formado por uma artéria). Uma veia posterior do VE desagua na esquerda do seio coronário, próximo à entrada da veia magna 18 Lucas Moreira Cunha 72C ➢ A veia IV posterior (cardíaca média) acompanha o ramo IV posterior da ACD. Uma veia cardíaca parva acompanha o ramo marginal direito da ACD. Assim, essas duas veias drenam a maioria das áreas supridas pela ACD. 6. Mediastino Posterior: • O mediastino posterior possuí como conteúdos: a aorta torácica, o esôfago, os nervos vagos (aqui formando o plexo esofágico), as veias ázigo e hemiázigo, os vasos pulmonares e o ducto torácico. 6.1. Aorta Torácica Descendente: a aorta aqui dá os seguintes ramos: (1) ramos esofágicos (ramos do plano anterior do vaso); (2) artérias bronquiais (ramos pares da face lateral do vaso); (3) nove artérias intercostais posteriores (plano póstero-lateral do vaso); (4) artérias subcostais; (5) artérias frênicas superiores; e (6) ramos pericárdicos. 6.2. Esôfago: o esôfago desce do mediastino superior para o posterior, seguindo posteriormente e à direita do arco da aorta e posteriormente ao pericárdio e AE. A seguir, desvia-se para a esquerda e atravessa o hiato esofágico no diafragma no nível da vértebra T X anteriormente à aorta. 19 Lucas Moreira Cunha 72C RELEMBRE O CONTEÚDO DE CADA PORÇÃO DO TÓRAX REGIÃO CONTEÚDOS Mediastino Superior VCI, veias braquiocefálicas, ducto torácico, veias ázigo e hemiázigo acessória, aorta ascendente, arco da aorta, tronco braquiocéfalico direito, artéria carótida comum esquerda, artéria subclávia esquerda, nervos frênico e vago, timo, traqueia e esôfago. Mediastino Inferior Anterior Vasos torácicos internos, nervos frênicos, vasos pericárdio-frênicos e linfonodos paraesternais. Mediastino Inferior Médio Saco pericárdico, coração e artérias coronárias Mediastino Inferior Posterior Aorta descendente e seus ramos, nervo vago, esôfago, veias ázigo e hemiázigo, vasos pulmonares, tronco simpático e ducto torácico 20 Lucas Moreira Cunha 72C CAVIDADE ABDOMINAL E PERITONEU: 1. Abdome e Cavidade Abdominal: • Abdome: o abdome propriamente dito localiza-se entre o tórax e a pelve. A parede abdominal consiste, anteriormente, do músculo reto abdominal, dos músculos abdominais, e das aponeuroses de três músculos: obliquo externo, obliquo interno e transverso). As partes laterais são formadas por estes três músculos, e, em parte, pelo músculo ilíaco, e pelos ossos do quadril. Posteriormente, ela é formada pelos corpos e, entre estes, pelos discos intervertebrais, pilares do diafragma, músculo psoas maior e menor, lateralmente, e, ainda mais lateralmente, pelo quadrado lombar, e, em parte, pelos músculos ilíacos e ossos do quadril. ➢ OBS: o músculo da parede abdominal mais anterior e superficial é o obliquo externo e sua aponeurose; se for feita uma incisão observaremos mais lateralmente o obliquo interno, e, mais medialmente o reto abdominal com suas intersecções tendinosas; por fim, se uma incisão mais profunda for feita, deste modo, retirando os músculos acima citados, será possível observar o transverso do abdome (ver pranchas 252, 253 e 254 do Netter). • Cavidade Abdominal: a cavidade abdominal propriamente dita está separada da cavidade torácica, superiormente, pelo diafragma, e da cavidade pelvina, inferiormente e posteriormente, por um plano arbitrário que passa através das linhas terminais da pelve óssea ( a chamada “abertura superior da pelve”). Esta cavidade contém os seguintes órgãos: estômago, intestino, fígado, pâncreas, rim, ureteres, baço, glândulas supra-renais, e partes dos plexos autônomos. 1.1. Parede Abdominal Anterolateral: • Abaixo da tela subcutânea do abdome (local onde é realizado a lipoaspiração), nós podemos subdividir a parede anterolateral em três camadas de músculos: (1) na primeira encontramos o músculo oblíquo externo do abdome ➔ a parte inferior da aponeurose deste músculo estende como o ligamento inguinal (entre a espinha ilíaca ântero-superior e o tubérculo púbico); e a aponeurose do músculo reto do 21 Lucas Moreira Cunha 72C abdome; (2) abaixo desta camada podemos encontrar o músculo oblíquo interno do abdome e o reto do abdome; e (3) por fim, abaixo desta encontramos o transverso do abdome. • Ademais, vale ressaltar que o reto do abdome é envolvido por duas bainhas: uma anterior e outra posterior: (1) a bainha anterior é formada, principalmente, por uma junção das bainhas dos músculos oblíquo externo e interno do abdome ➔ esta bainha reveste o reto por toda sua extensão; e (2) e uma bainha posterior que é formada pelas bainhas dos músculos oblíquo interno e transverso do abdome ➔ vale ressaltar que abaixo do nível da linha arqueada (meio caminho entre umbigo e a sínfise púbica) a bainha posterior desaparece, deste modo, tornando esta região mais exposta a lesões. Por fim, vale ressaltar que os vasos epigástricos inferiores 22 Lucas Moreira Cunha 72C localizam-se primeiramente entre a bainha posterior e o músculo reto do abdome, e depois entram na matéria deste músculo. • Canal Inguinal: o canal inguinal é um local de passagem localizado acima do ligamento inguinal, no qual encontram-se: o nervo ílioinguinal, o funículo espermático (homens) e o ligamento redondo do útero (mulheres). Os limites do canal inguinal são ANT: aponeurose dooblíquo externo; LAT: fibras musculares do oblíquo externo; POST: aponeurose do transverso e fáscia transversal; ACIMA: fibras arqueadas do oblíquo interno e transverso; ABAIXO: ligamento inguinal e lacunar; R.A POST: vasos epigástricos inferiores. Assim sendo, imediatamente acima do ponto inguinal médio, o funículo espermático atravessa o ânulo inguinal profundo, que é um orifício em forma de fenda na fáscia transversal. O funículo então corre inferiormente na direção inferior e medial no canal inguinal e emerge através do ânulo inguinal superficial, que é uma abertura triangular na aponeurose do obliquo externo. 23 Lucas Moreira Cunha 72C ➢ Hérnias Inguinais: o conteúdo das hérnias inguinais, na maioria dos casos, ou uma parte do omento maior (mais comum de todos) ou uma porção do intestino delgado (OBS: necessita de tratamento rápido, pois pode dificultar vascularização, assim, podendo chegar a ocasionar uma necrose desta porção), e mais raramente uma porção do intestino grosso (mais difícil de se encontrar por conta de ser uma órgão na sua maioria retro peritoneal e, deste modo, mais fixo). Ademais, ainda é possível subdividir as hérnias inguinais em dois tipos: (1) hérnias indiretas ➔ aqueles que o conteúdo herniado está dentro do funículo espermático, deste modo, estando envolvido pela fáscia cremastérica. Isto ocorre, pois o conteúdo herniado penetra no canal inguinal no nível do anel inguinal profundo; e (2) hérnias diretas ➔ aquelas que o conteúdo não está envolvido pelo funículo espermático, deste modo, se expelindo pelo ânulo inguinal superficial. • Ligamentos da Região Inguinal: este grupo é composto por três ligamentos: (1) o próprio ligamento inguinal (de Poupart), que é um espessamento da fáscia do músculo externo do abdome. Sua origem é na espinha ilíaca ântero-superior, e sua fixação no tubérculo púbico; (2) o ligamento lacunar (de Gimbernat), que é uma reflexão triangular do ligamento inguinal refletido posteriormente. Assim sendo, sua origem é o tubérculo púbico e a sua inserção é a linha pectínea; e (3) o ligamento pectíneo (de Cooper), que é formado pelo periósteo do ramo superior do púbis espessado pela fáscia transversal e pela aponeurose do músculo transverso. 24 Lucas Moreira Cunha 72C • Triângulo de Hesselbach: é um espaço triangular contido na região inguinal, que é delimitado: (1) medialmente pela borda lateral do reto do abdome; (2) súpero- lateralmente pelos vasos epigástricos inferiores; e (3) inferiormente pelo ligamento inguinal ➔ visto posteriormente. OBS: hérnias inguinais indiretas se encontram pressionadas contra o espaço deste triângulo. • Trígono de Hessert: é um trígono na região inguinal que está contido no espaço triangular de Hesselbach. Este trígono é delimitado: (1) lateralmente pelos vasos epigástricos inferiores antes destes atravessarem a bainha posterior do reto do abdome; (2) inferiormente pelo ligamento inguinal; (3) superiormente pela borda inferior do músculo oblíquo interno do abdome; e (4) medialmente borda lateral do músculo reto do abdome ➔ está região é como se fosse o assoalho da região inguinal e, por consequência, do canal inguinal. Figura 1 – triângulo pontilhado ➔ triângulo de Hesselbach; trígono delimitado pelas linhas brancas ➔ trígono de Hessert • Canal Femoral: é um espaço em forma de cone abaixo do ligamento inguinal e medial à bainha femoral, onde a veia femoral pode expandir-se em momentos de maior retorno venoso, tal como, por exemplo, de exercício. Este canal é limitado do seguinte modo: (1) superiormente, ligamento inguinal; (2) lateralmente, ligamento lacunar; (3) medialmente, veia femoral; e (4) inferiormente, pelo ligamento pectíneo. 25 Lucas Moreira Cunha 72C • Por fim, caso realizemos uma vista posterior da parede ântero-lateral do abdome visualizaremos: (1) acima do nível umbilical: o ligamento falciforme do fígado e o ligamento redondo (veia umbilical obliterada); e (2) abaixo do nível umbilical três ligamentos: (2.1) um ligamento mediano ➔ o ligamento umbilical mediano, anteriormente o úraco; (2.2) um ligamento medial a cada lado ➔ ligamento umbilical medial, que é basicamente a artéria umbilical fibrosada; e (2.3) um ligamento lateral a cada lado ➔ ligamento umbilical lateral, que, por sua vez, é uma prega que contém os vasos epigástricos inferiores. 1.2. Quadrantes e Planos da Parede Abdominal Anterolateral: • Primeiramente, vale ressaltar que dores referidas e mal localizadas em qualquer subdivisão do abdome são sinais de dor visceral (p. ex, cólica ou inflamação do 26 Lucas Moreira Cunha 72C apêndice). Por outro lado, quando a dor passa a ser localizada, isto é um sinal de irritação do peritoneu, o que, na maioria dos casos, significa um rompimento de alguma víscera com extravasamento do seu conteúdo, ou então uma hemorragia interna ➔ sinal de algo mais grave ou progressão de uma doença (p. ex, uma apendicite que evolui de dor referida para localizada, provavelmente, significa que houve o rompimento do apêndice). • Quadrantes Abdominais: a parede abdominal pode ser dividida em quatro quadrantes por meio de duas linhas, uma longitudinal e outra transversal, que passam sobre a cicatriz umbilical. • Divisão da Parede Abdominal por Planos: a parede abdominal é dividida em nove espaços: a região central é chamada de região umbilical ou mesogástrio; a região mais superior à esta primeira (acima de um plano traçado abaixo da última costela), chamada de epigástrio; a região abaixa da umbilical (abaixo de um plano traçado entre as duas cristas ilíacas) chamada de hipogástrio; ao lado da região umbilical os chamados flancos; abaixo destas últimas, as chamadas regiões inguinais; e por fim, acima dos flancos, os chamados hipocôndrios. 27 Lucas Moreira Cunha 72C 2. Peritoneu: pranchas 270 – 275 do Netter: 2.1. Definição: o peritoneu é uma membrana serosa que forma um saco seroso entre suas duas lâminas visceral (reveste os órgãos) e parietal, deste modo, forrando a parede abdominal e os órgãos contidos nesta. Assim sendo, todos os órgãos contidos na cavidade abdominal e envolvidos pelo peritônio visceral são denominados intraperitoneais, enquanto os que estão situados posteriormente ao peritônio posterior (logo, são cobertos pelo peritônio apenas na sua porção anterior) são retroperitoneais. As formações peritoneais se dão por quatro tipos: os mesos, os ligamentos, os omentos e as fáscias de coalescência. OBS: a cavidade peritoneal do homem é um saco completamente fechado. Na mulher, as tubas uterinas abrem-se no seu interior. Estas tubas também abrem se no útero, e, por esta razão, a cavidade peritoneal comunica-se diretamente com o exterior do corpo. 28 Lucas Moreira Cunha 72C 2.2. Meso: são constituídos de duas lâminas que envolvem uma víscera, contendo vasos sanguíneos e linfáticos, linfonodos e nervos. Como exemplos temos o mesentério, os mesocólons transverso e sigmoide, o mesoapêndice e os mesossalpinges. 2.3. Ligamentos: são expansões peritoneais e entre suas lâminas não encontramos um pedículo vascular importante. São estruturas para fixação, por exemplo, os ligamentos do fígado; ligamento coronário, falciforme, triangulares e hepatorrenal. 2.4. Omentos: os omentos são formações peritoneais que unem duas vísceras vizinhas e, frequentemente, possuem pedículos vasculares, sendo eles dois: (1) o omento menor que une o fígado à curvatura gástrica inferior, sendo composto pelos ligamentos hepatogástrico e hepatoduodenal (importante, pois contém a tríade portal macroscópica); (2) e o omento maior, que se estende da curvatura gástrica maior ao cólon transverso, dobrando-se sobre si mesmo após este último em um folheto quadruplo em forma de avental. Este omento é constituído pelos ligamentosgastrofrênico, gastroesplênico, gastrocólico e esplenorrenal. ➢ OBS: o omento maior tende a mover-se para o local de infecção para tornar-se aderente a esta e assim aumentar a irrigação sanguínea local, assim, formando o chamado plastrão. ➢ Há ainda um “terceiro omento” que por uma confusão na nomenclatura anatômica, acaba por ser denominado de ligamento gastroesplênico. Este ligamento ainda é considerado como limite lateral esquerdo da bolsa omental. 29 Lucas Moreira Cunha 72C 2.5. Fáscias de Coalescência: as fáscias de coalescência são superposições de um meso em uma porção do peritônio parietal, levando-nos a pensar que o órgão em questão é retroperitoneal, mas, cirurgicamente, liberado em uma faixa de deslocamento, o que ocorre nas regiões dos sulcos paracólicos direito e esquerdo. 2.6. Detalhamento do Peritoneu: em sua disposição geral o peritônio possuí uma cavidade propriamente dita, o chamado grande saco. Ele se estende desde o diafragma até o assoalho pelvino; sua parede anterior contém quatro pregas que convergem no umbigo, e duas dispostas lateralmente. A prega superior é o ligamento falciforme, que contém na sua borda livre o ligamento redondo do fígado (a veia umbilical obliterada). As pregas inferiores são: (1) prega umbilical mediana, que se estende da bexiga até o umbigo e recobre o úraco; (2) as duas umbilicais pregas umbilicais mediais, cada uma delas contendo uma artéria umbilical obliterada que se estende da face lateral da bexiga ao umbigo; (3) as duas pregas umbilicais laterais (pregas das artérias epigástricas), que se estendem desde o ânulo inguinal profundo, a cada lado, até a linha arqueada. • Também há um pequeno saco, o chamado de bolsa omental. Limites da bolsa omental ➔ ANT: o omento menor, ou seja, os ligamentos hepatogástrico e hepatoduodenal + parede posterior do estômago; SUP: fígado; POST e INF: pâncreas; LAT ESQ: cauda do pâncreas e baço + ligamento gastroesplênico; LAT DIR: VCI e forame de Winslow. O grande saco se comunica com a bolsa omental pelo forame omental/ epiplóico/ de Winslow (limite lateral direito da bolsa omental), sendo este localizado posteriormente ao ligamento hepatoduodenal. ➢ Limites do Forame de Winslow: os limites são: POST a VCI; ANT o pedículo hepatobiliar; SUP o fígado; e INF a união do duodeno à própria VCI. 30 Lucas Moreira Cunha 72C • A cavidade peritoneal pode ser subdividida em um andar supramesocólico, e um inframesocólico que está abaixo dos mesmos. ESTÔMAGO 1. Parte Abdominal do Esôfago: • A parte mais inferior do esôfago desvia-se para a esquerda e atravessa o hiato esofágico do diafragma, juntando-se ao estômago na sua curvatura menor. Essa junção é conhecida como junção gastroesofágica ou cardioesofágica. Nesta 31 Lucas Moreira Cunha 72C região a passagem do alimento é mais lenta e constituí uma barreira para o refluxo do conteúdo do estômago para o esôfago (quase inexistente). • Acima desta junção, encontra-se um segmento esfinctérico de 1 a 4cm de comprimento, localizado parcialmente no tórax, parcialmente na abertura do diafragma, e também parcialmente no abdome. O segmento se prende ao diafragma pelo ligamento frenoesofágico. O segmento, posteriormente, é caracterizado por uma subdivisão em uma porção tubular superior e uma porção expandida inferior ou vestíbulo. As fibras musculares circulares, em torno da junção entre essas duas porções, compreendem o esfíncter esofágico inferior 2. Divisões do Estômago: • O estômago (do grego gaster; o adjetivo gástrico vem do latim gastricus) apresenta uma parte cárdica, um fundo, um corpo e uma parte pilórica; duas curvaturas, a maior e a menor; duas paredes, a anterior e a posterior; e duas aberturas, a cárdica e a pilórica ➔ a famosa estenose pilórica congênita ocorre nesta abertura. 2.1. Parte Cárdica: a cavidade esofágica junta-se com a do estômago na abertura cárdica, na junção das curvaturas maior e menor. A porção imediatamente adjacente à do estômago é a parte cárdica. Ela se distingue somente pelas glândulas cárdicas na sua mucosa. Não há uma linha externa de demarcação entre a parte cárdica e o fundo ou corpo. 32 Lucas Moreira Cunha 72C 2.2. Fundo Gástrico: o fundo é a parte do estômago acima do nível de entrada do esôfago. Ele frequentemente possuí ar deglutido, sendo por esta razão visível em radiografias simples desta região. A sua mucosa possuí estrutura similar à do corpo, sendo que ambas contém glândulas gástricas propriamente ditas. 2.3. Corpo do Estômago: o corpo é a porção entre o fundo e a parte pilórica. Não há linha de demarcação entre o corpo e o fundo, superiormente, ou entre o corpo e a parte pilórica, inferiormente. 2.4. Parte Pilórica: é a porção revestida pela mucosa que contém glândulas pilóricas. A parte proximal é denominada antro pilórico, e a parte distal, canal pilórico. A abertura pilórica, também denominada de piloro, entre a primeira parte do duodeno e o estômago, é circundada pelo esfíncter pilórico. Este esfíncter pode estar congenitamente espessado, uma condição conhecida como estenose pilórica hipertrófica congênita, e requer intervenção cirúrgica muito precocemente, na infância. 2.5. Curvatura Maior: se estende da cárdia à abertura pilórica, fica à esquerda, tende a ser convexa e muito mais longa. 2.6. Curvatura Menor: a curvatura menor também se estende da cárdia à abertura pilórica, fica à direita, e é mais curta e tende a ser côncava. Esta curvatura frequentemente exibe uma incisura, a incisura angular no seu ponto mais baixo. 2.7. Relações Anatômicas: geralmente (não é 100% das vezes, uma vez que o estômago é um órgão móvel e não apresenta uma posição fixa) ele se relaciona anteriormente com o diafragma, o fígado (mais para anterossuperior) e a parede abdominal anterior. Posteriormente, de cima para baixo, estão o diafragma, a glândula supra-renal esquerda, o pâncreas, uma parte do rim esquerda e o mesocólon transverso. O baço também se relaciona com o estômago, frequentemente na parte superior da curvatura maior mais para posterior. 33 Lucas Moreira Cunha 72C 2.8. Relação Peritoneais: a parte do omento menor entre o fígado e o estômago é conhecida como ligamento gastro-hepático. As duas camadas do omento menor se separam na curvatura menor do estômago, cobrem as superfícies anterior e posterior, e se encontram na curvatura maior. As duas camadas continuam-se para esquerda, desde a parte superior da curvatura maior, como ligamentos gastrofrênicos e gastrolienal (ou gastroesplênica) ➔ prancha 274, e continuam em direção inferior, a partir da parte inferior da curvatura maior, como as duas camadas anteriores do omento maior. 3. Vascularização do Estômago: • A irrigação do estômago é realizada por extensa rede anastomótica formado pelas seguintes: artérias frênicas inferior esquerdo, gástricas esquerda e direita, gastroduodenal, gastro-omentais direita e esquerda, gástrica posterior, gástricas curtas e esplenogástricas. 34 Lucas Moreira Cunha 72C • O tronco céliaco (um dos três ramos ímpares da aorta abdominal ➔ tronco celíaco, mesentéricas superior e inferior) é o principal fornecedor de sangue arterial para o estômago. Este emerge da face anterior da aorta abdominal ao nível ou um pouco abaixo do hiato aórtico do diafragma. Divide-se em três ramos: (1) a artéria gástrica esquerda, que apresenta trajeto ascendente para esquerda, com destino a curvatura gástrica menor; (2) a artéria esplênica que nutre o baço e, através de seus ramos , o próprio estômago e principalmente o pâncreas; e (3) a artéria hepática comum que irriga o fígado e as vias biliares e, por seus ramos, o estômago, o duodeno e a cabeça do pâncreas. • A artéria gástrica esquerda, na curvatura menor, divide-se em ramos anterior, posterior e esofágicos.• A artéria esplênica apresenta os seguintes ramos (1) ramos pancreáticos (as artérias pancreáticas dorsal, magna, e a artéria da cauda do pâncreas); (2) a artéria gastro-omental esquerda; (3) as artérias gástricas curtas (de seis a oito); (4) as artérias esplenogástricas e artéria gástrica posterior (primeiro ramo da artéria esplênica para o estômago, com origem e trajeto retroperitoneal ascendente). • A artéria hepática comum origina a artéria hepática própria e a artéria gastroduodenal. A artéria hepática própria, por sua vez, origina a artéria 35 Lucas Moreira Cunha 72C gástrica direita, que apresenta ramos anteriores e posteriores, que se anastomosam com os correspondentes da artéria gástrica esquerda na curvatura menor. • A artéria gastroduodenal, ramo descendente e terminal da hepática comum, passa posteriormente à primeira porção do duodeno e anteriormente ao pâncreas. Na borda inferior desta porção do duodeno ela divide-se em artérias pancreaticoduodenal anterior e gastro-omental direita. Esta última, entre os dois folhetos do ligamento gastrocólico, segue a curvatura gástrica maior onde se anastomosa com a artéria gastro-omental esquerda. • As artérias gástricas curtas originam-se do hilo do baço, enquanto as esplenogástricas localizam-se no ligamento esplenogástrica e unem o fundo gástrico ao polo superior do baço. • As veias do estômago acompanham as artérias, mas não terminam num tronco único antes de entrar na veia porta. Elas se esvaziam tanto na veia porta como em suas tributárias, de uma maneira extremamente variável. Estas veias também podem drenar para as veias esofágicas, que são tributárias do sistema ázigos. 4. Drenagem Linfática do Estômago: • A drenagem linfática do estômago origina-se da submucosa e, emergindo da serosa, progridem até os linfonodos. Essa drenagem consiste em quatro zonas: I. Zona I ou Gástrica Inferior: a linfa desta região é drenada para os linfonodos omentais e subpilóricos. II. Zona II ou Esplênica: a linfa desta região é drenada para os linfonodos pancreáticos-esplênicos. III. Zona III ou Gástrica Superior: a linfa desta região é drenada para os linfonodos gástricos superiores. 36 Lucas Moreira Cunha 72C IV. Zona IV ou Hepática: a linfa desta região é drenada para os linfonodos suprapilóricos. • Todos os linfonodos acima drenam para os linfonodos celíacos. 5. Inervação do Estômago: • O estômago está inervado pelo plexo celíaco através de plexos ao longo das artérias do estômago, por fibras simpáticas no nervo frênico esquerdo e por ramos gástricos dos troncos vagais anterior (derivado do NVE) e posterior (derivado do NVD) DUODENO, PÂNCREAS E BAÇO 1. Duodeno: • O duodeno é a porção inicial do intestino delgado que se estende do estômago ao jejuno, ou seja do piloro à flexura duodenojejunal ou ângulo de Trietz. Seu comprimento médio é de 26cm e seu diâmetro médio 4cm, apresentando geralmente uma forma de C ou U. Este órgão apresenta uma situação abdominal profundo, mobilidade restrita e conexões com o colédoco e ductos pancreáticos principal e acessório. 37 Lucas Moreira Cunha 72C 1.1. Divisões do Duodeno: o duodeno pode ser divido em partes: (1) superior ou primeiro; (2) descendente ou segunda; (3) horizontal ou inferior; (4) ascendente ou quarta, que termina na flexura duodenojejunal ou ângulo de Trietz. 1) Parte Superior: é a porção que recebe quimo ácido do estômago, dirige-se para a direita (medial➔ lateral) e para trás, da região anterior da coluna vertebral para o lado direto da coluna vertebral e VCI. O início da primeira parte do duodeno é determinado de porção livre (também denominada bulbo ou ampola duodenal), porque ela não está presa à parede abdominal posterior; além disso, esta porção também não apresenta pregas circulares. • Esta porção possuí como RA’s anteriores o fígado e o vesícula biliar; posteriormente possuí o ducto biliar, a veia porta, o pâncreas e o pedículo hepático. • Esta porção encontra-se situada no nível de L1/2 e está presa ao fígado pela parte hepatoduodenal do omento menor. Além disso é a única porção do duodeno intraperitoneal, assim sendo, todo o restante do duodeno é retroperitoneal está fixo à parede abdominal posterior e aos órgãos adjacentes. 2) Parte Descendente: a segunda porção do duodeno desce anteriormente aos vasos renais direitos e numa extensão variável do rim direito. Anteriormente estão o fígado, a vesícula biliar, o colón transverso e o intestino delgado. 38 Lucas Moreira Cunha 72C • Está porção é tanto supra quanto infra-mesocólica (é cruzada pela raiz do mesocólon transverso) e apresenta na sua face póstero-medial a abertura da papila maior (abertura da ampola de Vater) ou de Vater, e a papila menor (abertura do ducto pancreático acessório, que drena a porção antero-superior da cabeça do pâncreas) ou de Santorini. • O ducto colédoco se entrelaça com o ducto pancreático e os dois se unem para formar uma ampola hepatopancreática, que se abre no duodeno, na superfície da papila maior. O complexo esfincteriano desta porção, o esfíncter da ampola ou de Oddi, é composto por três músculos: o músculo esfíncter da ampola hepatopancreática; o músculo esfíncter do colédoco; e o músculo esfíncter do ducto pancreático principal. 3) Parte Horizontal: esta porção situada no nível de L2/L3 corre para a esquerda e cruza o músculo psoas maior direto, VCI, aorta, cabeça do pâncreas, o músculo psoas maior esquerdo e os vasos mesentéricos inferiores. Ela está cruzada anteriormente pelos vasos mesentéricos superiores (limite de divisão entre a terceira e a quarta porções do duodeno) e pela raiz do mesentério. 4) Porção Ascendente: esta porção ascende do lado esquerdo da aorta e, então volta-se anteriormente na flexura duodenojejunal ou ângulo de Trietz, que encontra-se sustentada por uma faixa fibromuscular, o ligamento suspensor do duodoeno. 39 Lucas Moreira Cunha 72C 1.2. Irrigação Sanguínea do Duodeno: a irrigação do duodeno é feita em conjunto com uma extensa anastomose formada na cabeça do pâncreas. Esta anastomose é feita do seguinte modo: a artéria gastroduodenal (ramo da hepática comum) emite dois ramos, uma artéria pancreático-duodenal superior posterior e uma artéria pancreático-duodenal superior anterior. Estas duas artérias vão se anastomosar com as artérias pancreático- duodenais inferior posterior e pancreático-duodenal inferior anterior, sendo ambos ramos da artéria mesentérica superior. Deste modo, formando uma circulação colateral entre o tronco celíaco e a artéria mesentérica superior. • A drenagem venosa do duodeno é feita para o sistema porta 1.3.Drenagem Linfática do Duodeno: a drenagem linfática do duodeno é feita de maneira conjunta com a cauda do pâncreas. Deste modo, sendo ambas drenadas para os linfonodos mesentéricos superiores e também para linfonodos da região do piloro (supra-pilóricos, 40 Lucas Moreira Cunha 72C retro-pilóricos e infra-pilóricos), além de também ser drenado para o linfonodo pancreático superior direito. Depois disto, a linfa é levada para o linfonodo celíaco. 1.4.Inervação do Duodeno: o duodeno, em conjunto com o pâncreas e o baço, possuí sua inervação parassimpática pelos ramos anterior e posterior do tronco vagal anterior, e por um ramo celíaco do tronco vagal posterior (este aproveita do trajeto do sistema simpático para chegar à estes órgãos margeando o sistema arterial). A inervação simpática se faz pela distribuição de nervos esplâncnicos que vem do tronco simpático torácico esquerdo, fazendo sinapse nos gânglios celíacos, formando um plexo de nervos que aproveitam do trajeto das artérias para chegarem aos órgãos. 2. Pâncreas: • O pâncreas é uma glândula mista e lobulada. Ele é um órgão retroperitoneal, disposto anteriormenteà parede posterior do abdome de forma transverso, ligeiramente obliquo, ascendente da direita para a esquerda, intimamente relacionado à direita com o duodeno e à esquerda com o baço. Relaciona-se anteriormente com o mesocólon transverso, cólon transverso, estômago, ligamento gastrocólico e posteriormente com os pedículos renais direito e esquerdo, rim esquerdo, VCI, vasos mesentéricos superiores, vasos esplênicos, veia mesentérica inferior (em sua afluência para a veia esplênica), veia porta e aorta. 2.1. Divisões do Pâncreas: anatomicamente o pâncreas é dividido em cabeça, corpo e cauda, sendo que a junção entre a cabeça e o corpo é conhecida como colo (porém, esta porção não é descrita na Nomina Anatomica). 41 Lucas Moreira Cunha 72C I. Cabeça do Pâncreas: esta porção localiza-se no interior da curvatura do duodeno e é coberta, anteriormente, pela parte pilórica do estômago e pela primeira parte do duodeno, e está localizada à direita dos vasos mesentéricos superiores. O chamado processo uncinado é uma prolongação da parte inferior e esquerda da cabeça; ela se projeta em direção superior e para a esquerda, atrás dos vasos mesentéricos superiores. Além disso, a veia mesentérica superior, que está à direita da artéria, passa através da incisura pancreática formada por este processo. II. Corpo do Pâncreas: estende-se lateralmente à esquerda dos vasos mesentéricos superiores até o nível do pedículo renal esquerdo onde começa a se estreitar. III. Cauda do Pâncreas: é formado a partir de um estreitamento do corpo, estando relacionado intimamente com o baço. Esta porção projeta-se no ligamento lieno- renal, no ponto em que ele entra em contato com o baço. 2.2. Irrigação Sanguínea do Pâncreas: a porção da cabeça é irrigada por extensa anastomose já descrita na parte do duodeno (artérias pancreático-duodenais superiores + inferiores). O restante desta glândula é irrigada por uma circulação colateral entre as artérias pancreática dorsal (primeiro ramo constante da esplênica) e pancreática magna (originada também da esplênica, porém na transição do corpo para a cauda) [OBS: esta anastomose entre as duas pancreáticas pode ser denominada de artéria da cauda do pâncreas], a artéria pancreática inferior (primeiro ramo da artéria mesentérica superior), 42 Lucas Moreira Cunha 72C deste modo, percorrendo toda a margem póstero-inferior do pâncreas até se unir à artéria da cauda do pâncreas) e pelos ramos pancreáticos não nomeados da artéria esplênica (artérias emitidas durante o caminho sinuoso que a artéria esplênica faz na porção superior do pâncreas). • A drenagem do pâncreas é feita para o sistema porta. Sistema porta este que se forma atrás do colo do pâncreas pela união das veias esplênica (esta recebendo a veia mesentérica inferior) e mesentérica superior • A veia esplênica possuí uma intima RA com o pâncreas. Deste modo, ela se origina na margem superior da cauda, depois passando para posterior na região do corpo e colo até se unir à mesentérica superior para formar a veia porta. 2.3. Drenagem Linfática do Pâncreas: a drenagem linfática da cabeça e do colo do pâncreas já foi descrita. A drenagem do corpo e da cauda é feita para os linfonodos pancreáticos superiores esquerdos, que depois levam a linfa para os linfonodos esplênicos, que por sua vez, a levam para os linfonodos gastro-omentais esquerdos 3. Baço: • O baço é um órgão vascular, que se localiza contra o diafragma e a nona e décima costelas, sobre o lado esquerdo. Embora o baço não seja um órgão digestivo sua drenagem venosa vai para o sistema porta. Ele é um órgão linfático que filtra sangue, remove ferro da hemoglobina, produz linfócitos e anticorpos, e armazena e libera sangue com uma alta concentração de corpúsculos. • O baço apresenta superfícies diafragmáticas e viscerais, bordas superior e inferior, bordas superior e inferior, e extremidades superior e posterior. A borda superior é chanfrada; as incisuras (geralmente no número de dois até seis) representam os remanescentes da lobulação fetal. • Caso o baço seja palpável abaixo do rebordo costocondral esquerdo, já podemos afirmar que há uma esplenomegalia (pode ser tão grande que o baço pode ser palpável no nível da cicatriz umbilical, ou até mesmo na fossa ilíaca direita) 43 Lucas Moreira Cunha 72C 3.1. Relações Anatômicas do Baço: a superfície diafragma está relacionada com a parte costal do diafragma. A superfície visceral apresenta três faces e um hilo: A. Face Gástrica: esta porção está intimamente com a curvatura maior e parte da face posterior do estômago. B. Hilo: é uma longa fissura presente na parte inferior do baço, que está perfurada pelos vasos esplênicos e gastro-omentais esquerdos, além de também nervos. C. Face Renal: a porção renal da parte inferior da superfície visceral está relacionada com o rim esquerdo e com a glândula supra-renal esquerda. D. Face Cólica: a porção cólica, na extremidade anterior, está relacionada com a flexura cólica esquerda. A cauda do pâncreas pode chegar até o baço, entre a superfície cólica e o hilo. 3.2. Relações Peritoneais: o baço é totalmente circundado por peritoneu, exceto no hilo (todavia, mesmo assim pode sofrer um deslocamento ântero-inferior chamado de ptose esplênica). Este órgão está conectado ao estômago através do ligamento gastrolienal (gastroesplênico), e à parede corporal e ao rim, através do ligamento frenicolienal, sendo a parte inferior denominada ligamento lienorenal (este ligamento dá passagem aos vasos lienais e contém a cauda do pâncreas). • OBS: é importante ressaltar que o baço é um órgão friável, ou seja, se rompe de maneira fácil e causa grandes sangramentos. 44 Lucas Moreira Cunha 72C 3.3. Classificação de Boyd para Esplenomegalias: A. Baço Tipo I: é utilizada quando o baço pode ser palpável abaixo do rebordo costocondral esquerdo ➔ hipocôndrio esquerdo B. Baço tipo II: é utilizada quando o baço pode ser palpável entre o rebordo costocondral esquerdo e a cicatriz umbilical ➔ flanco esquerdo e mesogástrio. C. Baço tipo III: é utilizado quando o baço pode ser palpável no nível da cicatriz umbilical ➔ mesogástrio. D. Baço tipo IV: é utilizado quando o baço pode ser palpável na fossa ilíaca direita. 3.4. Irrigação Sanguínea do Baço: a irrigação sanguínea do baço é realizada que artéria esplênica, que até chegar ao hilo, realiza um trajeto serpenteando a margem superior do corpo e cauda do pâncreas. Geralmente quando chega no hilo, a artéria esplênica já se divide em artérias polares superiores e inferiores. Além disso, ainda há os vasos esplenogástricos, que realizam uma irrigação independente da extremidade posterior do baço • A artéria esplênica pode ser subdividida em quatro segmentos: suprapancreático, pancreático, pré-pancreático e pré-hilar. Esta última se divide em ramos polares, que por sua vez, se ramificam em ramos segmentares • A drenagem venosa do baço é feita por meio da veia esplênica que se origina na confluência de veias que emergem no hilo, em número de cinco a seis, com tributárias como as veias gatro-omental esquerda e gástricas curtas • Os vasos linfáticos do baço são constituídos de uma rede superficial subperitonial e uma perivascular profunda. SISTEMA ÁZIGO E SISTEMA PORTA 1. Sistema Ázigo: p.242 • O sistema venoso ázigo drena as paredes do dorso e toracoabdominais e as vísceras do mediastino. A veia ázigo e sua principal tributária, a veia hemiázigo, geralmente 45 Lucas Moreira Cunha 72C têm origem em “raízes“ oriundas da face posterior da VCI e/ou veia renal, respectivamente, que se fundem com as veias lombares ascendentes. → A veia ázigo forma uma circulação colateral entre a VCI e a VCS, e ascende no mediastino posterior, passando perto das faces direitados corpos das oitos vértebras torácicas inferiores, situando-se à direita do esôfago. Curva-se sobre a face superior da raiz do pulmão direito para unir-se à VCS. Esta veia é formada a partir da união da veia lombar ascendente direita com um ramo da VCI ou da Veia Renal Direita, e recebe a veia subcostal direita e 10 veias intercostais posteriores direitas. Além disso, também recebe e veia hemiázigo, hemiázigo acessória, veias mediastinais, esofágicas e bronquiais direitas ➔ em um caso de hipertensão portal o sangue volta do sistema porta até a veia gástrica esquerda, de onde, por meio de seus ramos esofágicos, passa para o sistema ázigo ➔ por isso, que em casos como estes as pessoas tendem a ter varizes esofágicas. • A veia hemiázigo origina-se no lado esquerdo pela união das veias subcostal e lombar ascendente esquerda; e recebe três veias intercostais posteriores, as veias esofágicas inferiores (estas veias que formam uma circulação colateral com a veia porta) e várias pequenas veias mediastinais → Esta veia ascende no lado esquerdo da coluna, posteriormente à parte torácica da aorta, até a vértebra IX, onde cruza para a direita, posteriormente à aorta, ducto torácico e esôfago e se une à veia ázigo 46 Lucas Moreira Cunha 72C • A veia hemiázigo acessória recebe tributárias das veias dos 4-8 espaços intercostais, e ás vezes, das bronquiais esquerdas. → Esta veia começa na extremidade medial do 4 ou 5 espaços intercostais e desce à esquerda da coluna de T V a T VIII. Ela cruza para a direita sobre a vértebra T VII ou TVIII, posteriormente à parte torácica da aorta e ducto torácico, onde se une à veia ázigo • A veia intercostal superior esquerda, que drena os 1 – 3 espaços intercostais, pode comunicar-se com a veia hemiázigo acessória; entretanto, drena principalmente para a veia braquiocefálica esquerda 2. Sistema Porta: • O sistema porta caracteriza-se por um conjunto de veias pelo qual o sangue venoso do tubo GI (cheio de nutrientes) é drenado pela veia porta, que vai até o fígado e se divide em sucessivos ramos que progridem até seus términos nos sinusóides. • Esta veia é formada atrás do colo do pâncreas pela união das veias mesentérica superior e esplênica (a esplênica recebendo a mesentérica inferior), emergindo da borda inferior do pâncreas e entrando no omento menor pelo ligamento hepatoduodenal. Nesta porção do omento está situada atrás e a esquerda do ducto colédoco e atrás da artéria hepática própria. Entre sua origem e o fígado, a veia porta recebe tributárias do estômago, pâncreas e duodeno, as veias gástricas direita e esquerda, a veia pancreáticoduodenal inferior anterior, veias paraumbilicais, veia pré- pilórica, veia cística, podendo receber, também, as veias pancreaticoduodenal superior e gastro-omental direita. • Nessa formação, a veia mesentérica inferior pode tributar à junção da mesentérica superior com a esplênica ou até mesmo unir-se individualmente à qualquer uma das duas de forma muito variável • Na hipertensão porta, as anastomoses portossistêmicas aumentam de tamanho, sendo as principais: ➢ Entre a veia mesentérica inferior e a VCI 47 Lucas Moreira Cunha 72C ➢ Entre as veias gástricas e o sistema ázigos ➔ veias do plexo esofágico submucoso ➔ varizes esofágicas. ➢ Entre as veias retroperitoneas e sistemas cava e ázigos ➢ Entre as veias paraumbilicais e as veias subcutâneas ➔ veias em aspecto de medusa no abdome. FÍGADO E VESÍCULA BILIAR • O fígado é a maior glândula do corpo, cuja secreção exócrina, denominada bile, possuí uma importante função da emulsificação e consequente digestão de lipídeos no duodeno. Além disso, ele é considerado o segundo maior órgão do corpo (atrás apenas da pele), ocupando o hipocôndrio direito, o epigástrico e geralmente chegando até mesmo ao hipocôndrio esquerdo. Seu peso em um adulto varia de 1 a 3kg. Diante da sua intima relação com o diafragma, o fígado é movimentado com a respiração, e desloca-se de posição com qualquer alteração postural que afete o diafragma 48 Lucas Moreira Cunha 72C 1. Superfície Anterior ou Diafragmática: • Esta porção do fígado é lisa, com uma forma que se amolda ao diafragma. A SD é separada da superfície visceral (SV) ou posterior por uma borda inferior aguda, que é interrompida por uma incisura profunda para o ligamento redondo (antiga veia umbilical + veias paraumbilicais ativas, que conectam o sistema porta às veias subcutâneas). • O fígado, na anatomia clássica, em sua SD pode ser dividido em lobos direito e esquerdo (direito > esquerdo), que estão marcados pela inserção do ligamento falciforme (na SV é demarcado pela fissura para o ligamento venoso, posteriormente, e pela fissura para o ligamento redondo, anteriormente). Assim sendo, as metades direita e esquerda recebem, respectivamente, os ramos direito e esquerdo da veia porta e da artéria hepática própria e dão origem aos ductos hepáticos direito e esquerdo. • A reflexão do peritoneu do diafragma para as partes posterior e anterior da SD forma o ligamento coronário, que fixa o fígado ao diafragma. Este ligamento consiste de uma lâmina superior ou anterior e de outra inferior ou posterior, que se encontra à direita; esta junção constituí o ligamento triangular direito. Estas lâminas divergem em direção à esquerda e envolvem a área triangular nua. As lâminas esquerdas do ligamento falciforme e do omento menor reúnem-se e formam o ligamento triangular esquerdo. • O ligamento falciforme conecta o fígado ao diafragma e à parede anterior do abdome. As duas lâminas deste ligamento em forma de foice envolvem o ligamento redondo e uma porção de coxim gorduroso. 49 Lucas Moreira Cunha 72C 2. Superfície Posterior ou Visceral: • A SV é algo achatada, está voltada para baixo, para trás e para a esquerda. • A fissura para o ligamento redondo estende-se da incisura até a borda inferior do ramo esquerdo da veia hepática. A fissura para o ligamento venoso estende-se desde a porta do fígado (também chamada de hilo hepático) até a VCI. Esta fissura contém o ligamento venoso, o remanescente fibroso do ducto venoso. Na SV os lobos direito e esquerdo estão separados pela fissura para o ligamento venoso, posteriormente, e pela fissura para o ligamento redondo, anteriormente. • A SV apresenta os lobos quadrado e caudado. Estes se destacam, pela forma em H, do grupo de fissuras e sulcos. O lobo quadrado está limitado: (1) superiormente pela porta do fígado; (2) inferiormente pela borda inferior; (3) lateralmente vesícula biliar; e (4) medialmente pela incisura, fissura e pelo próprio ligamento redondo do fígado. Já o lobo caudado (recebe este nome pois se projeta para baixo) é limitado: (1) superiormente pela veia hepática esquerda; (2) inferiormente pela porta do fígado; (3) lateralmente pelo sulco e pela própria VCI; e (4) medialmente pela fissura e ligamento venoso. • A porta ou hilo do fígado é região que contém o pedículo vascular hepático. Pedículo este que contém as seguintes estruturas: (1) ducto hepático comum; (2) ducto cístico (OBS: o hilo pode já conter a união de ambos formando o ducto colédoco); (3) ramos da veia porta; e (4) ramos da artéria hepática comum. • Há na SV uma porção sem peritoneu e em contato direto com o diafragma. Esta parte constituí a área nua do fígado ➔ garante mais fixação ao fígado; ela está limitada, acima e abaixo, por camadas do ligamento coronário (abaixo pelo chamado ligamento hepatorrenal). A área nua é de contorno triangular. Seu ápice está no ligamento triangular direito. Sua base, dirigida pela esquerda, é formada pelo sulco profundo para a VCI. Esta área possui um importante RA, que é a glândula suprarrenal direita, que forma a impressão suprarrenal. • A SV possuí os seguintes RA’s da esquerda para a direita: (1) estômago,formando a impressão gástrica na parte superior do lobo esquerdo; (2) esôfago, formando a impressão esofágica que também se localiza no lobo esquerdo, medialmente à fissura para o ligamento venoso; (3) parte pilórica do estômago, formando a impressão pilórica na porção inferior do lobo esquerdo; (3) a vesícula biliar, formando a fossa para a vesícula biliar lateralmente ao lobo quadrado; (4) o duodeno, formando a 50 Lucas Moreira Cunha 72C impressão duodenal no lobo direito lateralmente à vesícula biliar; (5) o rim direito, formando a grande impressão renal localizada quase que centralmente no lobo direito; e (6) a flexura cólica direita, formando a impressão cólica localizada no lobo direito logo abaixo da impressão renal. 3. Irrigação, Drenagens Sanguínea e Linfática, e Inervação do Fígado: 3.1. Irrigação Sanguínea: o fígado apresenta uma irrigação dupla, a partir da artéria hepática própria e da veia porta, que por sua vez, leva o sangue venoso com nutrientes do canal alimentar para os sinusóides hepáticos. A artéria hepática comum é comumente descrita como ascendendo no omento menor, como a artéria hepática própria, à esquerda do ducto colédoco, anteriormente à veia porta, onde ela se divide em artérias hepáticas direita e esquerda. A direita cruza anteriormente à veia porta, atrás do ducto colédoco, dando origem à artéria cística, e entra no fígado. O ramo esquerdo continua-se com o lobo esquerdo do fígado. • A veia porta ascende atrás do ducto colédoco e da artéria hepática própria. No hilo hepático, ela se divide nos ramos direito e esquerdo e, comumente, dá origem à um ramo adicional para o lobo quadrado. 51 Lucas Moreira Cunha 72C 3.2. Drenagem Sanguínea do Fígado: as veias centrais do fígado drenam num sistema de veias hepáticas que, eventualmente, formam três vasos, as veias hepáticas esquerda, média e direita. A esquerda frequentemente se reúne à média, e se esvazia na VCI. A veia hepática direita, da mesma forma, também se esvazia na VCI. 3.3. Drenagem Linfática do Fígado: os vasos linfáticos superficiais formam uma rede subperitoneal, através da qual os vasos alcançam os linfonodos torácicos internos (após passarem pelos linfonodos pleurais e pulmonares). Ademais, uma outra via para esta linfa é ir em direção aos linfonodos hepáticos, depois seguir os vasos sanguíneos do omento menor e por fim, ir para os linfonodos celíacos, e daí para o ducto torácico interno. Ainda há vasos linfáticos profundos que estão localizados em íntima relação com o tecido conjuntivo deste órgão 3.4. Inervação do Fígado: em grande número, fibras nervosas chegam às vias biliares e ao fígado através de um plexo hepático muito extenso. Este plexo se estende desde o plexo celíaco, recebendo ramos adicionais do tronco vagal anterior. Este plexo apresenta fibras vasomotoras, fibras para músculos lisos e fibras nociceptivas, particularmente para a vesícula biliar. 52 Lucas Moreira Cunha 72C 4. Segmentação Hepática Cirúrgica: • A segmentação cirúrgica do fígado segue a segmentação dos ductos bilíferos e vasos hepáticos. Esta não coincide com a anatomia convencional em lobos que se baseiam em acidentes na superfície hepática. • Primeiramente, a partir da divisão da veia porta em ramos direito e esquerdo, nos temos a divisão em um fígado direito e um esquerdo, separados por um plano médio, que se estende da fossa da vesícula biliar à face lateral esquerda da VCI, a chamada linha de Gantle. • Couinaud dividiu cada lobo em segmentos a partir da divisão dos ramos direito e esquerdo da veia porta, numerando-o de I a VIII. Assim sendo, o fígado esquerdo compreende os segmentos II, III e IV, ficando o I separado. Enquanto, o fígado direito corresponde os segmentos V, VI, VII e VIII. O fígado na face diafragmática é dividido por três planos longitudinais: (1) por um plano direito, chamado de fissura porta direita; (2) um plano medial, que é chamado de fissura principal ou medial e que corresponde à linha de Gantle; (3) e outro esquerdo, chamado de fissura porta esquerda e que corresponde ao ligamento falciforme). Perpendicularmente à estes três ainda há um plano perpendicular. I. Segmento I: o lobo caudado do fígado, estando situado sobre a divisão da veia porta, foi numerado como segmento I ➔ visto apenas na SV. II. Segmento II: o segmento II está presente na SV medialmente à fissura do ligamento venoso, e na SD medialmente ao ligamento falciforme que corresponde à chamada fissura porta esquerda, e superiormente ao segmento III. III. Segmento III: o segmento III está situado na SV medialmente ao ligamento redondo e anteriormente ao segmento II, e na SD está medialmente ao ligamento falciforme e inferiormente ao segmento II. IV. Segmento IV: o segmento IV corresponde ao lobo quadrado da divisão anatômica convencional da SV, ou seja, está lateralmente ao ligamento redondo, anteriormente à porta do fígado, abrangendo a metade esquerda da 53 Lucas Moreira Cunha 72C fossa biliar. Pela SD, corresponde à porção do fígado entre o ligamento falciforme e a linha de Gantle, chamada de fissura principal ou média. V. Segmento V: o segmento V está localizado lateralmente ao segmento IVb, inferiormente ao segmento VIII, medialmente ao segmento VI, e anteriormente ao segmento VIII VI. Segmento VI: o segmento VI está lateralmente ao segmento V e ântero- inferiormente ao segmento VII. VII. Segmento VII: o segmento VII localiza-se posteriormente aos segmentos V e VI, visto na face visceral, e lateralmente ao VIII se observado na face diafragmática. VIII. Segmento VIII: este segmento está localizado apenas na face diafragmática, estando localizado entre os segmentos VII e IVa. • O setor posterior-direito (VII e VI) e o setor anterior-direito (V e VIII) drenam para as veias hepáticas direita e média • O setor medial esquerdo (I e IVb) drenam para a veia hepática média • O segmento IVa em conjunto com o setor lateral-esquerdo (II e III) drenam para a veia hepática esquerda. 54 Lucas Moreira Cunha 72C 4.1. Tipos de Hepatectomias: a) Hepatectomia Direita: é a exérese de todo o fígado direito (V, VI, VII e VIII) b) Hepatectomia Esquerda: é a exérese de todo o fígado esquerdo (II, III e IV) mais o segmento I c) Hepatectomia Direita Estendida (Trisegmentectomia Direita): há a exérese de todo o fígado direito mais o segmento IV, preservando, assim, apenas os segmentos II e III d) Hepatectomia Esquerda Estendida (Trisegmentectomia Esquerda): há a exérese de todo o fígado esquerdo mais os segmentos VIII e V, preservando, assim, apenas os segmentos VII e VI e) Hepatectomia Lateral Esquerda: há a exérese apenas dos segmentos II e III. 5. Vesícula Biliar: • A vesícula biliar se localiza na fossa biliar da SV do fígado, onde está coberta inferior e lateralmente pelo peritoneu. A principal parte da vesícula é denominada de corpo; a terminação inferior cega é denominada de fundo; e uma pequena dilatação entre o corpo e o colo é denominada de infundíbulo. Acima, o colo da vesícula biliar junta o corpo com o ducto cístico. A mucosa do ducto cístico e do colo da vesícula biliar apresenta- se sob a forma de pregas espirais. As do ducto são tão regulares que são denominadas valvas espirais. • As RA’s da vesícula biliar são: acima, com o fígado; posteriormente, com a primeira e a segunda porções do duodeno; inferiormente, com o cólon transverso; e anteriormente, com a parede abdominal anterior. • A irrigação sanguínea desta vesícula e de toda a via biliar extra-hepática provém da artéria cística, que irriga a vesícula biliar, e dos ramos das artérias pancreaticoduodenal superior posterior, retroduodenal e hepáticas direita e esquerda. 6. Vias Biliares Extra-Hepáticas: I. Ducto Cístico: o ducto císticose origina da porção do colo da vesícula biliar e corre em direção posterior e inferior, juntando-se com o ducto hepático comum para formar o ducto colédoco. 55 Lucas Moreira Cunha 72C II. Ductos Hepáticos: os ductos hepáticos direito e esquerdo (comumente mais largo) deixam as suas metades hepáticas correspondentes e se unem para formar o ducto hepático comum. Este corre em direção inferior e para a direita, indo reunir-se com o ducto cístico para formar o ducto colédoco. III. Ducto Colédoco: o ducto colédoco corre a borda livre do omento menor, atrás da primeira parte do duodeno, e atravessa a cabeça do pâncreas até se juntar com o ducto pancreático maior e formar a ampola hepatopancreática de Vater. Devido ao seu trajeto, delimitamos quatro porções neste ducto: (1) supraduodenal, localizada no interior do ligamento hepatoduodenal, juntamente com a artéria hepática própria e a veia porta; (2) retroduodenal, lateralmente à artéria gastroduodenal; (3) pancreática; e (4) retropancreática. • Triângulo Hepatocístico ou de Calot: é um espaço triangular cujos os limites são: (1) base ➔ borda inferior do fígado; (2) limite lateral ➔ ducto cístico; (3) limite medial ➔ ducto hepático comum; e (4) ápice ➔ encontro do ducto cístico com o hepático comum para formar o colédoco. O conteúdo deste triangulo são: (1) a artéria hepática direita; (2) a artéria cística; (3) o ducto hepático direito; e (4) o linfonodo cístico. 56 Lucas Moreira Cunha 72C JEJUNO E ÍLEO 1. Características Gerais de Jejuno e Íleo: • O jejuno e o íleo constituem a porção enovelada do intestino delgado, que ocupa quase todo o andar infra-mesocólico e possuí de 6 a 7 metros, além de também ser uma porção totalmente intraperitoneal. O jejuno constituí os dois quintos proximais desta porção enovelada, enquanto o íleo representa cerca dos três quintos distais. É importante destacar que não há um marcador externo bem definido da transição de jejuno para íleo ➔ consideramos que o jejuno seria uma porção mais rosácea que o íleo, uma vez que considera-se que ele é mais vascularizado em virtude das suas artérias de maior diâmetro. • As grandes diferenças que encontramos entre jejuno e íleo são as seguintes: (1) o jejuno apresenta pregas circulares denominadas de: valvas de Kerckring, enquanto o íleo é mais liso e possuí mais nódulos linfáticos solitários, que comumente se agregam dando origem à placa de Peyer; (2) o jejuno é mais vascularizado e possuí paredes mais espessas que em comparação com o íleo. • O jejuno começa na flexura duodenojejunal. Esta flexura em questão, é mantida por um ligamento, denominado de ligamento de Treitz ou suspensor do duodeno. Este ligamento é formado por uma reflexão de peritônio, anteriormente ao chamado músculo suspensor do duodeno. Esse músculo suspensor do duodeno deriva do braço direito do hiato esofágico e do pilar 57 Lucas Moreira Cunha 72C esquerdo do diafragma. Assim sendo, esta flexura é móvel, e com a contração do diafragma ela pode ser elevada e fechada. • O jejuno e o íleo estão presos à parede abdominal posterior pelo mesentério. Eles são muito mais longos que a raiz do mesentério e estão dispostos em novelos ou alças. Estas alças ocupam a maior parte da cavidade abdominal e parte da cavidade pelvina. O jejuno e o íleo são muito mais móveis do que qualquer outra parte do canal alimentar, e qualquer alça pode ocupar qualquer porção na cavidade abdominal. As alças da parte superior do jejuno tendem a ficar no quadrante superior esquerdo, enquanto que a parte terminal do íleo no quadrante inferior direito. 2. Mesentério: • A raiz do mesentério (sua borda livre que encontra-se presa à parede abdominal) dispõe-se em direção inferior e para a direita (vai da flexura duodenojejunal até a junção ileocólico, anteriormente à articulação sacro-ilíaca direita). Esta lâmina dupla de peritônio, encontra-se, em forma de leque, conectando o jejuno e o íleo à parede abdominal posterior. • O mesentério contém entre suas duas lâminas vasos mesentéricos superiores, nervos, linfonodos e vasos, além de uma quantidade variável de tecido adiposo • Na parede abdominal posterior, a parte inferior da camada direita do mesentério passa imediatamente sobre o cólon ascendente; a parte superior torna-se contínua com a camada inferior do mesocólon transverso. A camada esquerda do mesentério passa para a esquerda, sobre o cólon descendente. 58 Lucas Moreira Cunha 72C 3. Irrigação Arterial, Drenagem Venosa e Linfática, e Inervação do Jejuno e do Íleo: • A irrigação arterial do jejuno e do íleo provém da convexidade da artéria mesentérica superior, que desce na parte mais anterior da raiz do mesentério. Nesta convexidade emerge um número variável de artérias jejunais e ileais, sendo que as jejunais são menos numerosas, mais calibrosas e mais longas que as ileais ➔ torna o jejuno mais rosáceo que o íleo. Por outro lado, as ileais possuem um número de arcadas anastomóticas mais numerosas, podendo ser de primeira, segunda, terceira, ou até mesmo, de quarta ordem, enquanto as arcadas vasculares das jejunais são, no máximo, de segunda ordem. 59 Lucas Moreira Cunha 72C • A drenagem venosa do jejuno e do íleo é feita por meio de veias jejunais e ileais que tributam na convexidade da veia mesentérica superior, drenando, então o sangue do intestino delgado para o sistema porta • A drenagem linfática do jejuno e do íleo é feita por meio de vasos linfáticos subserosos e submucosos, que levam a sua linfa até linfonodos mesentéricos. Estes linfonodos mesentéricos vão gerar vasos que levam a sua linfa até linfonodos mesentéricos superiores, dai indo para o tronco intestinal que por fim, desemboca na cisterna do quilo (situada póstero-medialmente à aorta e VCI, abaixo do diafragma). • A inervação autonômica do jejuno e do íleo se faz através do plexo mesentérico superior, que se origina de ramos que saem do gânglio mesentérico superior. Gânglio este, que recebe estímulos tanto da via simpática em sinapse, quanto da via parassimpática apenas de passagem, que provém dos plexos celíacos e mesmo, de ramos do nervo vago através dos troncos vagais. INTESTINO GROSSO • O intestino grosso consiste de cécum, cólon, que apresenta partes ascendente, transversa, descendente e sigmóide, reto e canal anal. Bolhas de ar e gás são frequentemente observadas no intestino grosso em radiografias simples, especialmente no cécum, cólon ascendente e parte distal do cólon transverso 60 Lucas Moreira Cunha 72C • Os apêndices epiplóicos/ omentais são pequenas massas de gordura envolvidas por peritoneu, que se salientam na superfície do cólon, e estão ausentes no reto • A camada longitudinal externa de músculo no IG é espessada e três faixas, as taenia coli, a tênia livre anterioriormente, e as tênias omental do colo e mesocólica do colo, posteriormente, todas se iniciando na base do apêndice vermiforme. Elas estão bem delimitadas no cécum e no cólon ascendente. As suas posições no cólon transverso são variáveis: elas são menos conspícuas e tendem a se tornar difusas no cólon descendente, e são bastante indistintas no cólon sigmóide. No reto, estas tênias se hipertrofiam e se espalham, formando uma musculatura lisa longitudinal que recobre todo o reto. • A maior parte do IG está caracterizado por saculações, denominadas haustros, que são formados de forma dinâmica pela constrição da musculatura circular do IG, com ajuda da constrição ou expansão das tênias 1. Cécum: • É a parte de fundo cego do IG que se une ao íleo por meio da junção ileocecal. O cécum se localiza na fossa ilíaca direita de pode alcançar o nível pelvino, principalmente quando o individuo está de pé. • O cécum é um órgão intraperitoneal, que se encontra preso à paredeabdominal posterior por meio de uma prega, a cada lado de sua face posterior. • A parte terminal do íleo amiúde penetra no IG póstero-medialmente. O óstio ileocecal apresenta duas pregas ou lábios, uma acima e outra abaixo, que formam a chamada válvula iliocólica. Estas pregas se juntam em suas partes terminais como o frênulo da valva ileocecal, em torno da circunferência do intestino, desta maneira delimitando a junção cecocólica. É importante destacar que esta válvula pode estar sob a forma de uma papila ileal (pode haver uma projeção de musculatura na região dos lábios), e encontra-se geralmente 61 Lucas Moreira Cunha 72C fechada in vivo (aberta apenas em lactentes e idosos ➔ gases do IG podem refluir para o ID, levando muitas vezes à cólicas) 1.1. Apêndice Vermiforme: o apêndice, caracteristicamente, origina-se da face póstero-medial do cécum, na junção das três tênias, cerca de 1 a 2 abaixo do ílio. Ele apresenta de 9 a 10 cm de comprimento. Esta estrutura não apresenta saculações e tem uma capa muscular longitudinal sem tênias. A sua mucosa está grandemente infiltrada por tecido linfoide (assim sendo, se inflama facilmente por obstruções do seu óstio por, por exemplo, um fecaloma). O apêndice apresenta uma posição variável e pode ser classificado em anterior, em posição ilial ou pelvina, ou posterior em posição subcecal, retrocecal, ou retrocólica. Os apêndices também podem ser fixos (retrocecais ou retrocólicos, deste modo, sendo mantidos por uma prega peritoneal de aderência à face posterior do cécum ou do cólon) ou livres • O apêndice apresenta uma projeção peritoneal, o chamado mesoapêndice, que dá passagem à artéria apendicular. 62 Lucas Moreira Cunha 72C • Em casos de apendicite o ponto de sensibilidade máxima à palpação pode ser em qualquer lugar do quadrante inferior direito. McBurney originalmente descreveu este ponto sobre uma linha que vai da espinha ilíaca ântero- superior até o umbigo. 2. Cólon Ascendente: • O cólon ascendente estende-se, em direção superior, na fossa ilíaca direita e sobre a parede abdominal posterior, até a flexura cólica (ou hepática) direita, onde se relaciona superiormente com o fígado e posteriormente com o rim direito. O cólon ascendente é uma porção retroperitoneal (seu meso coalesceu com a parede abdominal posterior) do trato GI, sendo recoberto anteriormente por uma projeção da camada direita do mesentérico. 3. Cólon Transverso: • O cólon transverso origina-se a partir da flexura cólica direita, estendendo-se, não apenas de maneira transversa, mas também obliqua e ascendente, para a esquerda até a flexura cólica (ou esplênica) esquerda, onde se relaciona superiormente com o baço e posteriormente com o rim esquerdo. Esta flexura pode ser presa ao diafragma por um ligamento frenicocólico. • Mesocólon Transverso: é uma prega de peritoneu que passa em direção anterior desde o pâncreas, envolvendo parte do cólon transverso. A sua camada superior está aderente ou fundida com o omento maior. Suas camadas mais inferiores cobrem a parte mais inferior do pâncreas, e as terceira e quarta partes do duodeno continuam-se com a camada direita do mesentério. Os vasos sanguíneos, linfáticos e nervos do cólon transverso estão contidos entre as camadas do cólon transverso. 4. Cólon Descendente: • O cólon descendente se origina a partir da flexura cólica esquerda, não apresenta um mesocólon (também se coalesceu com a parede abdominal posterior), assim sendo, uma porção retroperitoneal do trato IG (é recoberto 63 Lucas Moreira Cunha 72C anteriormente por uma projeção da camada esquerda do mesentério), e descende até a abertura superior da pelve, onde se inícia o cólon sigmoide. Vale destacar que o cólon descendente, muito por conta do trajeto ascendente do cólon transverso, é maior que o ascendente. • À esquerda do cólon descendente, por conta da formação de uma fáscia de coalescência, há a formação de um sulco paracólico esquerdo, ou goteira paracólica esquerda 5. Cólon Sigmoide: • O cólon sigmoide, também denominado de cólon pelvino, se origina a partir da abertura superior da pelve à esquerda, e, diferentemente do cólon descendente, apresenta um mesocólon sigmoide, deste modo, sendo considerado uma porção intraperitoneal do IG. O cólon sigmoide então apresenta um trajeto sinuoso e medial, terminando na transição com o reto, que, por convenção, se faz anteriormente à S3 ➔ não possui haustrações, tênias e possuí apenas poucos apêndices epiplóicos. 6. Irrigação Arterial, Drenagem Venosa e Linfática, e Inervação do IG: • A irrigação do IG é feita pelas duas artérias mesentéricas: superior (emerge da aorta alguns cm abaixo do tronco celíaco, posteriormente à cabeça do pâncreas na sua transição com o colo) e inferior (emerge da face ântero-lateral esquerda da aorta abdominal). ➢ A mesentérica superior descreve um trajeto convexo para a esquerda e côncavo para a direita. Face côncava esta, onde há a emergência de artérias para a parte direita do IG, ínfero-superiormente as artérias são: (1) a artéria ileocólica (dá origem à artéria apendicular); (2) a artéria cólica direita; e (3), na raiz do mesocólon transverso, a artéria cólica média, que nutre o cólon transverso e possuí ramos para a flexura cólica direita, deste modo, fazendo arcadas anastomóticas justa e para-cólicas com as duas outros dois ramos, e com o próprio termino da mesentérica superior. 64 Lucas Moreira Cunha 72C ➢ A mesentérica inferior é mais curta e delgada que a superior, e descreve um trajeto para a esquerda inferiormente (quando cruza os ramos ilíacos da aorta, ela troca seu nome trocado para artéria retal superior), fazendo uma leve convexidade para a esquerda e uma concavidade para a direita. Os ramos da mesentérica inferior, indo de superior para inferior são: (1) a artéria cólica esquerda, que emite ramos ascendente, para a flexura cólica esquerda, e transverso, para a transição do cólon descendente com o sigmoide, e comumente até mesmo um ramo sigmoideo; e (2) as artérias sigmoideas, que podem estar em número de 1 até 7. As artérias cólicas média e esquerda, e as sigmoideas se anastomosam e formam uma arcada anastomótica para-cólica à direita ➢ As duas arcadas anastomóticas se comunicam e recebem o nome de artéria marginal ou de Drummond, que percorre todo o IG e forma uma irrigação colateral entre as duas mesentéricas (esta arcada impede que, em casos de obstrução da mesentérica inferior, o seu território infarte, deste modo, passando a ser irrigação pela mesentérica superior, por meio da artéria marginal. Todavia, em casos de obstrução da mesentérica superior, a inferior não consegue suprir a demanda do seu território e, por consequência, haverá um infarto do cécum, cólon ascendente e parte do transverso). Além desta principal, ainda são relatadas outras duas arcadas anastomóticas entre as artérias mesentéricas superior e inferior: I. Arcada de Riolan: (nem sempre presente), que é formada por um ramo da cólica esquerda que se anastomosa com a cólica média. Deste modo, estando localizada na raiz do mesocólon transverso; II. Arcada Anastomótica Central de Moscovich: que é uma arcada formada por uma artéria mais calibrosa e medial que a de Riolan, e que também une as artérias cólicas média e esquerda. 65 Lucas Moreira Cunha 72C ➢ Há inúmeras variações anatômicas quando se diz respeito às artérias do IG. Assim sendo, as artérias cólicas direita e média podem se originar de um tronco comum, bem como a cólica direita e ileocólica. Podemos ainda ter a ausência de uma das artérias cólicas, ou uma contribuição da cólica média para o território da cólica esquerda. Por fim, a cólica esquerda pode emitir um ramo ascendente e medial que se anastomosa com a cólica média, o chamado ramode Riolan. • A drenagem venosa do IG é feita por meio das veias mesentéricas superior e inferior. A veia mesentérica inferior se une à esplênica, formando assim, um tronco que depois se reúne à mesentérica superior, para por fim, dar origem à veia porta hepática. • A drenagem linfática do cécum e dos cólons, excluindo-se o reto, é feita por meio de vasos linfáticos que vão diretamente para linfonodos epicólicos e linfonodos no peritoneu que acompanham as artérias cólicas. À direita, os linfonodos mesentéricos superiores drenam para troncos intestinal, que por sua vez, levam a linfa para a cisterna do quilo. À esquerda, os linfonodos sigmoideos, retais superiores, cólicos esquerdos e mesentéricos inferiores levam a sua linfa também para pequenos troncos intestinais, que por sua vez, levam a linfa para a cisterna do quilo 66 Lucas Moreira Cunha 72C • A inervação autônoma do IG, na sua parte esquerda, não possuí a participação do nervo vago na sua via parassimpática. No intestino grosso à direita a via simpática chega pelo plexo mesentérico superior. Porém, este plexo mesentérico, juntamente com a via parassimpática do lado esquerdo, formam um outro plexo, o chamado plexo hipogástrico, sendo que este se divide em dois ramos inferiores que vão para os órgãos pélvicos, inclusive, o reto. RELEMBRE OS RAMOS ÍMPARES DA AORTA ABDOMINAL: ARTÉRIA RAMOS Tronco Celíaco Dá origem aos seguintes ramos: (1) artéria gástrica esquerda; (2) artéria esplênica (que, por sua vez, dá origem a artérias pancreáticas, gástricas curtas, gastroesplênicas e gatro-omental esquerda); e (3) hepática comum ➔ se divide em (3.1) hepática própria, que, por sua vez, se divide em hepáticas direita (dá origem à artéria cística) e esquerda; e (3.2) gastroduodenal que origina a artéria pancreáticoduodenal superior e a gastro- omental direita. Mesentérica Superior Pode ser dividida em uma porção côncava (à direita) e uma convexa (à esquerda), todavia, antes desta divisão ela já origina a artéria pancreáticaduodenal inferior. Assim sendo, a porção côncava origina: (1) a artéria ileocecal (irriga o cécum), que, por sua vez, origina a artéria apendicular; (2) a artéria cólica direita (irriga o cólon ascedente); e (3) a artéria cólica média (irriga metade do cólon transverso). Por 67 Lucas Moreira Cunha 72C outro lado, a sua porção convexa origina: (1) artérias jejunais ➔formam arcadas de menor ordem, porém são mais calibrosos, deste modo, irrigando mais fortemente o jejuno, assim, dando o um aspecto mais rosáceo que o íleo; e (2) as artérias ileais ➔ formam arcadas de maior ordem, porém são menos calibrosas. Mesentérica Inferior A artéria mesentérica inferior dá origem aos seguintes ramos: (1) artérias sigmóideas; (2) artéria cólica esquerda (irriga metade do cólon transverso e o cólon descendente); e (3) a artéria retal superior. Arcada Marginal de Drummond É uma rede anastomótica entre as artérias mesentéricas superior e inferior. É formada por uma rede anastomótica, que encontra-se marginal às porções do IG e, deste modo, une as cólicas direita, média e esquerda. Esta arcada dá origem a artérias retas. OBS: em algumas pessoas pode ter também uma arcada de Riolan, que é uma comunicação direta entre as cólicas esquerda e média. 68 Lucas Moreira Cunha 72C RETO E CANAL ANAL 1. Reto: • O reto é a parte do intestino grosso entre o cólon sigmoide e o canal anal. A junção retossigmóidea está arbitrariamente localizada no nível da parte média do sacro, e pode estar marcada por uma constrição. O limite mais inferior do reto está na face superior do diafragma pelvino. A junção anorretal é marcada pelo músculo puborretal, que forma uma alça em torno deste. • O reto é mais estreito na junção com o cólon sigmoide. Sua parte mais alargada, a ampola do reto, está localizada imediatamente acima do diafragma pelvino e é capaz de considerável tensão. • O reto está localizado na parte dorsal da cavidade pélvica e segue a curvatura do cóccix. A curvatura resultante, ântero-posterior, é denominada flexura sacral. Uma outra flexura ântero-posterior está localizada na junção do reto com o ânus e recebe o nome de flexura perineal. • Observamos no reto a existência de três pregas semilunares e transversais, também denominadas de valvas, que são formadas por projeções de mucosa, submucosa e também de músculo liso da camada circular interna. • Em sua aparência externa, o reto pode ser distinguido pela ausência de um mesentério e de haustros. Além disso, as tênias do cólon difundem-se sobre o reto para uma túnica longitudinal mais completa de músculo liso. • O reto é considerado uma porção retroperitoneal do IG 69 Lucas Moreira Cunha 72C 1.1. Relações do Reto na Cavidade Pelvina: • No Homem, está relacionado anteriormente com a bexiga, a próstata e as vesículas seminais. No homem então, está em relação posterior com a escavação peritoneal retovesical. Além deste recesso, ainda há um anterior à bexiga, o chamado recesso pré-vesical • Na Mulher, está relacionado anteriormente com a vagina e o útero. Na mulher, devido a presença do útero, os recessos peritoneais são três: (1) um recesso pré-vesical; (2) um recesso vesicouterino; e (3) um retouterino, também chamado de fundo de saco de Douglas 70 Lucas Moreira Cunha 72C 1.2. Irrigação do Reto: a irrigação arterial do reto se faz em suas porções superior, média e inferior, sendo composta por uma rica rede anastomótica intramuscular. Na parte superior, temos a vascularização fornecida pela artéria retal superior; na parte média, temos a vascularização fornecida pela artéria retal média (ramo da artéria ilíaca inferior); e por fim, na parte inferior, juntamente com o canal anal, temos uma vascularização feita por ramos da artéria pudenda interna 1.3. Drenagem Venosa do Reto: a parte superior drena para a veia mesentérica inferior, enquanto as partes média e inferior, através do plexo retal interno ou externo, drenam para tributárias da VCI. 2. Canal Anal: • O canal anal é anatomicamente definido como a parte do IG que se estende da linha pectínea (limite arbitrário superior do canal anal, que se situa no nível do músculo pubofemoral) até o ânus • Acima da linha pectínea há as chamadas colunas anais, que guardam as chamadas criptas anais, que por sua vez, são a saída de glândulas secretoras de muco, além de também apresentar uma exuberância do plexo venoso hemorroidário • O complexo de esfíncter’s da transição reto-canal anal é composto por: (1) um esfíncter anal interno, de musculatura lisa e, por consequência, 71 Lucas Moreira Cunha 72C contração involuntária; e (2) um esfíncter anal externo, de musculatura esquelética e, por consequência, contração voluntária.