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Alunos com necessidades educacionais especiais: deficiência intelectual APRESENTAÇÃO O público-alvo da Educação Especial é classificado a partir de três grupos distintos, que são: pessoas com deficiência, pessoas com transtornos globais do desenvolvimento e pessoas com altas habilidades/superdotação. Todos esses sujeitos têm garantido por lei o Atendimento Educacional Especializado – AEE. Isso significa que esses sujeitos têm necessidades educacionais especiais. Por isso, é fundamental que o professor fique atento às necessidades de cada aluno. Reconhecendo as especificidades de cada sujeito, é possível garantir que esse tenha aprendizagens significativas. Nesta Unidade de Aprendizagem, trataremos da deficiência intelectual e de algumas necessidades educacionais especiais decorrentes dessa deficiência. Essas necessidades estão associadas às capacidades cognitivas, emocionais e comportamentais dos indivíduos. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer as principais características e as necessidades educacionais especiais dos alunos com deficiência intelectual. • Identificar as dificuldades enfrentadas na busca de uma prática educacional inclusiva junto aos alunos com deficiência intelectual. • Definir o funcionamento do Atendimento Educacional Especializado (AEE) à luz do paradigma inclusivo. • INFOGRÁFICO A oferta do Atendimento Educacional Especializado para os alunos com deficiência intelectual é fundamental quando falamos em Educação Inclusiva. O AEE, além de atender esses alunos, realizando as flexibilizações curriculares necessárias para a promoção da aprendizagem, também se configura como uma rede de apoio aos professores da turma regular. O AEEcaracteriza-se como um serviço pedagógico que opera na oferta de recursos de acessibilidade que visam à participação e à aprendizagem dos alunos público-alvo da educação especial no ensino regular. A Resolução nº. 4/2009 CNE/CEB, no seu artigo 5º, determina que o Atendimento Educacional Especializado seja realizado prioritariamente na sala de recursos multifuncionais. Acompanhe, neste Infográfico, os principais tipos de atendimento realizados pelo AEE. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! CONTEÚDO DO LIVRO A deficiência intelectual tem sido diagnosticada principalmente por duas áreas, a saber: da medicina e da psicologia. A área da medicina é baseada nas concepções organicistas de deficiência, ou seja, a ênfase está baseada na dimensão biológica. No entanto, a psicologia procura explicar a deficiência intelectual a partir de diagnósticos psicométricos, ou seja, instrumentos que buscam mensurar as suas capacidades. A Organização Mundial de Saúde (1993) classifica a deficiência intelectual a partir de dois componentes, que são: a idade cronológica do sujeito e a cultura social. Isso significa que para que o sujeito seja diagnosticado com deficiência intelectual, ele deve apresentar um funcionamento intelectual abaixo da média, manifestado já na primeira infância e também na incapacidade de se adaptar às demandas culturais da sociedade. Independentemente da forma como esses sujeitos são diagnosticados ou não, eles têm necessidades educacionais especiais que precisam ser pensadas para que eles tenham aprendizagens significativas e sejam incluídos na escola regular. Para entender mais sobre esse assunto, leia o capítulo Alunos público-alvo da educação especial: deficiências intelectuais, da obra Educação Inclusiva: Fundamentos e Metodologia. Boa leitura. EDUCAÇÃO INCLUSIVA: FUNDAMENTOS E METODOLOGIAS Caroline Forte Chequím Alunos com necessidades educacionais especiais: deficiência intelectual Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer as principais características e as necessidades educacionais especiais dos alunos com deficiência intelectual. � Identificar as dificuldades enfrentadas na educação de alunos com deficiência intelectual. � Definir o funcionamento do atendimento educacional especializado à luz do paradigma inclusivo. Introdução Desenvolver a prática pedagógica na perspectiva inclusiva implica envolvimento, reflexão, mudança de atitudes por parte dos profis- sionais. Significa estar aberto à construção de novos conhecimentos, buscando a melhor maneira de atender às necessidades educacionais desses alunos. A base para consolidação dessas mudanças é a formação continuada dos profissionais. Neste capítulo, você vai aprender como a educação especial na perspectiva da educação inclusiva define as necessidades educacionais especiais, com ênfase na deficiência intelectual, distúrbios emocionais e comportamentais. Além disso, você vai encontrar reflexões sobre a prática educacional inclusiva. Por fim, você poderá entender sobre a organização, o público-alvo e o funcionamento do atendimento educacional espe- cializado (AEE) na perspectiva da educação inclusiva. A educação especial e as necessidades educacionais especiais A educação inclusiva é atualmente um dos temas discutidos com significa- tiva relevância no cenário educacional brasileiro. A partir de 2008, com a publicação da atual Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), as discussões em torno desse movi- mento educacional se intensificaram. As diretrizes dessa política reafirmam o direito de todos os alunos de participarem e de construírem aprendizagens na escola regular, independentemente da especificidade das suas necessidades educacionais. A partir da publicação da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008), o paralelismo entre educação especial e ensino comum sai de cena, abrindo espaço para que a educação especial se institua como uma modalidade de ensino, cujo serviço oferecido é o AEE. Nessa ótica, a educação especial assume que as diferenças individuais fazem parte da diversidade humana e que, por isso, a aprendizagem deve ser pensada a partir das necessidades de cada indivíduo. Nesse contexto, o termo “necessidades educacionais especiais” é utilizado para caracterizar aqueles alunos cujas necessidades decorrem de sua capacidade ou de suas dificuldades relacionadas ao processo de aprender. Tais dificuldades podem ser associadas a problemas de ordem cognitiva, física, emocional, sensorial ou social. Nesse contexto, é necessária a adoção de estratégias e flexibili- zações pedagógicas para que o estudante possa aprender e desenvolver as suas habilidades. É possível que muitas crianças vivenciem, em algum momento de sua escolarização, dificuldades na aquisição do conhecimento, chamando atenção para a necessidade de um olhar mais pontual do professor. Uma necessidade educacional especial não necessariamente está associada a uma deficiência; ela pode estar relacionada tanto às características individuais do sujeito, como ao ambiente social e à realidade educacional nos quais ele está inserido. Alunos com necessidades educacionais especiais: deficiência intelectual2 O pesquisador Luís de Miranda Correia (1999) nomeia as necessidades educacionais especiais como "necessidades educativas especiais (NEE)". De acordo com ele, podem ser permanentes ou temporárias e são definidas conforme as modificações e flexi- bilizações necessárias para que o aluno acompanhe o processo de aprendizagem. NEEs permanentes exigem modificação significativa do currículo, que se mantém durante toda ou grande parte da trajetória escolar do aluno. Incluem-se nesse grupo os estudantes cujas alterações significativas no seu desenvolvimento foram ocasionadas por problemas orgânicos ou funcionais, ou por déficits socioculturais e econômicos graves. A NEE temporária impõe uma modificação parcial do currículo, de acordo com as características do aluno, que se mantém durante determinada fase do seu percurso escolar — por exemplo,problemas de leitura, escrita ou cálculo ou dificuldades no desenvolvimento motor, perceptivo, linguístico ou socioemocional. Correia (1999, p. 51) diz que as necessidades educativas especiais podem ser de caráter: [...] intelectual – enquadram-se nesse grupo alunos com deficiência intelectual, bem como os indivíduos com altas habilidades, cujo po- tencial de aprendizagem é superior à média. processológico – abrange alunos com dificuldades de aprendizagem relacionadas com a recepção, organização e expressão de informação. Esses alunos caracterizam-se por um desempenho abaixo da média em apenas algumas áreas acadêmicas. emocional – encontram-se aqui os alunos com perturbações emocio- nais ou comportamentais graves (p. ex. psicoses) que põem em causa o sucesso escolar e a segurança dos que o rodeiam. motor – abarca estudantes com limitações físicas ou de mobilidade, por exemplo, a paralisia cerebral, a espinha bífida, a distrofia muscular, amputações, entre outras que afetam a mobilidade. sensorial – abrange alunos cujas capacidades visuais ou auditivas estão comprometidas, por exemplo, pessoas com deficiência visual ou auditiva. Cumpre mencionar que as pessoas com transtornos do espectro do autismo (TEA) e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) também integram o grupo de alunos com necessidades educacionais especiais; portanto, necessitam de um olhar educacional diferenciado (AMERICAN PSYCHIA- TRIC ASSOCIATION, 2014). 3Alunos com necessidades educacionais especiais: deficiência intelectual Alunos com deficiência intelectual Os processos diagnósticos no campo da deficiência intelectual têm sido realiza- dos pela medicina e pela psicologia. Quando produzidos a partir da medicina, referem concepções organicistas de deficiência, com ênfase na dimensão biológica associada à etiologia. Quando produzidos a partir da psicologia, caracterizam-se por serem diagnósticos psicométricos. Em termos conceituais, a partir de uma perspectiva clínica, o conceito de deficiência intelectual apresentado pela Organização Mundial da Saúde (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1993) envolve dois componentes essenciais: a idade cronológica e a cultura social. Em essência, o sujeito deve apresentar um funcionamento intelectual significativamente abaixo da média, que se manifesta desde a primeira infância, assim como incapacidade de se adaptar às demandas culturais da sociedade. Ao considerar o “olhar clínico” da deficiência, observe que o foco dessa definição está na incapacidade do sujeito. Em outras palavras, o indivíduo deve demonstrar incapacidade tanto no funcionamento intelectual como na conduta adaptativa, na comunicação, nos cuidados pessoais, nas habilidades sociais, no desempenho na família e na comunidade, na independência na locomoção, na saúde e segurança, no desempenho escolar, no lazer e no trabalho. Compreender a deficiência intelectual implica pensar a respeito das suas definições conceituais e refletir sobre como ocorre o processo de aprendiza- gem desses sujeitos no ambiente escolar, considerando que compõem o maior percentual de alunos atendidos pela educação especial. Dificuldades enfrentadas na busca por uma prática educacional inclusiva Dando continuidade à reflexão da conceituação de deficiência intelectual e das propostas de atendimento para esses sujeitos, Bridi (2011) aponta os seguintes questionamentos: � Quais concepções de aprendizagem e de deficiência estão presentes no seu entendimento? � O que um diagnóstico clínico pode dizer (quando diz) sobre os processos de aprendizagem desse sujeito? � Qual a relação entre o diagnóstico clínico e a prática pedagógica? Alunos com necessidades educacionais especiais: deficiência intelectual4 Segundo a autora, essas reflexões tornam-se relevantes quando colaboram com a compreensão de que o diagnóstico clínico de deficiência (pautado na in- capacidade) pouco diz sobre a aprendizagem e a vida escolar desse sujeito. Nesse sentido, ela lança outro questionamento: o que a educação tem a dizer sobre as possibilidades de aprendizagem desse indivíduo categorizado com deficiência? A partir dessas reflexões, podemos pensar que um dos desafio da gestão da educação inclusiva é compreender o conceito de deficiência intelectual a partir de elementos pedagógicos. Para tal, é fundamental que haja emba- samento teórico, considerando as questões que envolvem aprendizagem e desenvolvimento. A compreensão da deficiência intelectual a partir de um olhar pedagógico possibilita que o aluno seja identificado dentro da escola como um sujeito capaz de aprender — cabe ao professor identificar nesse aluno um potencial a ser investido. Assim, é necessário que os docentes estejam atentos a essas diferentes formas de olhar os seus alunos e conhecer as suas formas de aprender e se relacionar com o meio. O aluno com deficiência intelectual possivelmente precisará da figura do outro (professor, colega) para mediar os conteúdos e as novas aprendizagens. Esse suporte é fundamental para que ocorra uma melhor compreensão e ampliação dos conceitos e significados durante o processo educacional. A oferta do AEE para o aluno com deficiência intelectual representa um dos suportes para efetivação de propostas inclusivas. O AEE, além de atender o aluno, realizando as flexibilizações necessárias para a promoção da apren- dizagem, também se configura como uma rede de apoio aos professores da turma regular. Esse atendimento pode ser organizado tanto individualmente como em pequenos grupos. É função também do AEE realizar acompanhamentos na sala regular, observações nos diferentes espaços escolares e trocas com os professores, com o objetivo de garantir o acesso aos conteúdos curriculares. O AEE deve pensar juntamente com os professores das turmas regulares o tipo de apoio e/ou estratégia pedagógica de que o aluno necessita, considerando o ritmo e perfil de aprendizagem desse sujeito. 5Alunos com necessidades educacionais especiais: deficiência intelectual Diferentes representações negativas dos professores em relação ao processo de aprendizagem do aluno com deficiência intelectual estão presentes no contexto escolar: � “Eu não vou dar conta de propor atividades diferentes para o fulano, pois ele não aprende.” � “É deficiente, tem problema.” � “Desde a primeira aula percebi que o aluno apresenta comportamento que não corresponde à sua idade.” � “Eu nem sei se ele é alfabetizado.” � “Como vou iniciar um novo conteúdo se o anterior nem foi aprendido pelo aluno.” � “Ele não demonstra estar aprendendo, pois com frequência não compreende as ordens das atividades.” Todas as falas se referem àquilo que o aluno não faz, não aprende, não sabe. Por isso, é fundamental a interlocução do profissional do AEE com os professores das turmas regulares, para que a expectativa em relação à apren- dizagem do aluno seja mais otimista. Assim, o professor passa a olhar para esse sujeito como alguém capaz de produzir conhecimento e que consegue realizar atividades a partir das suas vivências e habilidades. Nessa perspectiva, podemos ter como ponto de partida um planejamento pedagógico que (BRASIL, 2006): � estimule os processos mentais para o desenvolvimento da criatividade, percepção, atenção, memória, imaginação, linguagem e comunicação; � desenvolva o raciocínio lógico ou o pensamento abstrato (capacidade de pensar nos objetos ausentes); � favoreça a construção de conteúdo mental (habilidade de associar ideias, relacionar os conhecimentos); � promova a autonomia para fazer escolhas, ter iniciativa de conhecer o mundo e a si mesmo; � tenha como objetivo engajar o aluno num processo participativo e ativo de aprendizagem; � jamais generalize a capacidade mental dos alunos; � esteja atento às sutilezas que envolvem o processo de apropriação de conhecimento do aluno com deficiência intelectual. Alunos com necessidades educacionais especiais: deficiência intelectual6 Pensar atividadese estratégias pedagógicas que estimulem a aprendizagem do aluno com deficiência intelectual exige envolvimento de todos os sujeitos do processo educacional. Requer também estudo e observação: não há receitas prontas de como fazer. Essa especificidade que envolve as diferenças entre aluno/contexto/professor implicará que cada ambiente escolar organize e desenvolva planos de atendimento específicos e personalizados, de forma que o aluno com deficiência intelectual construa: “[...] a sua inteligência, dentro do quadro de recursos intelectuais que lhe é disponível, tornando-se agente capaz de produzir significado/conhecimento no mundo” (BRASIL, 2006, p. 22). Para compreender melhor a deficiência intelectual, complemente os seus estudos com a leitura disponível no link a seguir. Esse material, além de apresentar outras reflexões a respeito da deficiência intelectual, traz exemplos práticos de trabalhos pedagógicos desenvolvidos com esses alunos. https://goo.gl/yY2g0w Atendimento educacional especializado: definições à luz do paradigma inclusivo Você verá agora a educação especial como modalidade de ensino, bem como o serviço oferecido por ela: o AEE. Entende-se por paradigma o conjunto de normas, crenças e valores fixados e partilhados pelo coletivo social em determinado momento histórico. Em termos educacionais, vivencia-se o paradigma da inclusão, que representa o direito de todos os sujeitos à educação no espaço regular de ensino. Com base nessa perspectiva, dispositivos legais passaram a vigorar, com o objetivo de justificar e assegurar a inclusão escolar. 7Alunos com necessidades educacionais especiais: deficiência intelectual Na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), a educação especial é compreendida como uma modalidade de ensino transversal, ou seja, perpassa todos os níveis de ensino. Nesse sentido, ela atua desde a educação infantil até o ensino superior e realiza o atendimento educacional especializado. Esse atendimento é definido da seguinte forma: O atendimento educacional especializado tem como função identificar, ela- borar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessi- dades específicas. As atividades desenvolvidas no atendimento educacional especializado diferenciam-se daquelas realizadas na sala de aula comum, não sendo substitutivas à escolarização. Esse atendimento complementa e/ou suplementa a formação dos alunos com vistas à autonomia e independência na escola e fora dela (BRASIL, 2008, p. 10). Com base nessa definição, a caracterização desse serviço e do público a que se destina precisa ser compreendida. Afinal, quem é o grupo de alunos que poderá frequentar e ser matriculado no atendimento educacional espe- cializado? Somente os alunos com alguma deficiência? Será que os alunos com dificuldades na leitura e na escrita, aqueles que não conseguem se alfa- betizar, os alunos agitados ou com déficit de atenção e os hiperativos também podem frequentar o AEE? O mesmo questionamento vale para os alunos com dificuldades de conduta, os agressivos e aqueles que têm dificuldades em acompanhar o currículo escolar. Historicamente, a educação especial organizou os seus serviços de forma que todos os alunos com necessidades educacionais especiais eram atendi- dos por essa modalidade de ensino. Porém, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008) — e todas as normativas que se seguiram ao seu lançamento, como a Resolução CNE/ CEB nº. 4/2009, que institui as Diretrizes Operacionais para o atendimento educacional especializado na Educação Básica, na modalidade Educação Especial — define, em seu Artigo 4º, quem são os alunos a quem se destina o atendimento educacional especializado: I – Alunos com deficiência: aqueles que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, intelectual, mental ou sensorial. II – Alunos com transtornos globais do desenvolvimento: aqueles que apresentam um quadro de alterações no desenvolvimento neuropsicomotor, comprometimento nas relações sociais, na comunicação ou estereotipias motoras. Incluem-se nessa definição alunos com autismo clássico, síndrome de Asperger, síndrome de Rett, transtorno Alunos com necessidades educacionais especiais: deficiência intelectual8 desintegrativo da infância (psicoses) e transtornos invasivos sem outra es- pecificação. III – Alunos com altas habilidades/superdotação: aqueles que apresentam um potencial elevado e grande envolvimento com as áreas do conhecimento humano, isoladas ou combinadas: intelectual, liderança, psi- comotora, artes e criatividade (BRASIL, 2009, documento on-line). Assim, os textos legais que normatizam o AEE sublinham claramente um grupo específico de alunos, e não mais todos os alunos que apresen- tam necessidades educacionais especiais. Dessa forma, é importante que você compreenda que sujeitos com dificuldades de aprendizagem, distúrbios emocionais e de comportamento, déficit de atenção, hiperatividade, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, dislexia, entre outros, não fazem parte do público-alvo da educação especial. É importante destacar que a partir da Nota Técnica nº 04/2014 - MEC/ SECADI/DPEE cai a obrigatoriedade da exigência de um laudo médico para incluir os alunos com deficiência ou dificuldades no Atendimento Educacional Especializado - AEE. Nesse sentido, muitos alunos com diversas dificulda- des de aprendizagem têm a garantia de ingresso no AEE, mesmo não tendo nenhuma deficiência diagnosticada. De acordo com a Declaração de Salamanca: [...] o termo "necessidades educacionais especiais" refere-se a todas aquelas crianças ou jovens cujas necessidades educacionais especiais se originam em função de deficiências ou dificuldades de aprendiza- gem. Muitas crianças experimentam dificuldades de aprendizagem e, portanto, possuem necessidades educacionais especiais em algum ponto durante a sua escolarização (NAÇÕES UNIDAS, 1994, docu- mento on-line). A partir da compreensão do grupo de alunos que poderá frequentar o AEE, esse serviço é organizado de forma complementar e/ou suplementar ao ensino regular — ou seja, não substitui a escolarização. Portanto, o atendimento educacional especializado caracteriza-se como um serviço pedagógico que opera na oferta de recursos de acessibilidade que visam à participação e aprendizagem dos alunos público-alvo da educação especial no ensino regular. 9Alunos com necessidades educacionais especiais: deficiência intelectual O Decreto nº. 7.611/2011, no Art. 30, dispõe sobre os objetivos do atendimento educacional especializado: I ‒ prover condições de acesso, participação e aprendizagem no ensino regular e garantir serviços de apoio especializados de acordo com as necessidades individuais dos estudantes; II ‒ garantir a transversalidade das ações da educação especial no ensino regular; III ‒ fomentar o desenvolvimento de recursos didáticos e pedagógicos que eliminem as barreiras no processo de ensino e aprendizagem; IV ‒ assegurar condições para a continuidade de estudos nos demais níveis, etapas e modalidades de ensino (BRASIL, 2011, documento on-line). Uma questão importante a ser pontuada se refere ao local onde é oferecido o atendimento educacional especializado. Para responder esse questionamento, novamente se faz necessário olhar para os documentos normativos que orien- tam a educação inclusiva no nosso país. Conforme o Artigo 5º da Resolução CNE/CEB nº. 4/2009: O AEE é realizado prioritariamente, na sala de recursos multifuncionais da própria escola ou em outra escola de ensino regular, no turno inverso da escolarização, não sendo substitutivo às classes comuns, podendo ser realizado, também em centro de atendimento educacional especializado da rede pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas coma Secretaria de Educação ou órgão equivalente dos Estados, Distrito Federal ou dos Municípios (BRASIL, 2009, documento on-line). A orientação desse fragmento sublinha que o AEE deve ser realizado, prioritariamente, na sala de recursos multifuncionais da escola em que o aluno com deficiência, transtorno global do desenvolvimento ou altas habilidades/ superdotação está matriculado. Isso se justifica pela interlocução necessária entre o professor do AEE e os professores do ensino comum, considerando que essa articulação beneficia o processo de aprendizagem do aluno, uma vez que possibilita que o professor do AEE acompanhe ativamente esse processo. Desse modo, ele pode identificar os recursos pedagógicos e de acessibilidade necessários para a promoção da aprendizagem e apoiar o professor do ensino comum no gerenciamento das estratégias necessárias para apoiar a aprendi- zagem do aluno. Alunos com necessidades educacionais especiais: deficiência intelectual10 Ideais que caminham ao encontro das perspectivas inclusivas desenvolvem as suas práticas no sentido de colocar-se à disposição do aluno que por muito tempo foi considerado como um fracasso escolar. As salas de recursos multifuncionais são ambientes dotados de equipamentos, mobi- liários e materiais didáticos e pedagógicos para a oferta do atendimento educacional especializado. A União prestará apoio técnico e financeiro aos sistemas públicos de ensino dos Estados, Municípios e Distrito Federal, e a instituições comunitárias, con- fessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, com a finalidade de ampliar a oferta do atendimento educacional especializado aos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, matriculados na rede pública de ensino regular (BRASIL, 2011). AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-V-TR: manual de diagnóstico e estatística das perturbações mentais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. BRASIL. Decreto nº. 7.611, de 17 de novembro de 2011. Dispõe sobre a Educação Especial, o atendimento educacional especializado e dá outras providências. 2011. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/d7611.htm>. Acesso em: 29 jul. 2018. BRASIL. Ministério da Educação. Educação inclusiva: atendimento educacional espe- cializado para a deficiência mental. Brasília: MEC, 2006. Disponível em: <http://portal. mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/defmental.pdf>. Acesso em: 29 jul. 2018. BRASIL. Ministério da Educação. Política nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, 2008. Disponível em: <http://portal.mec.gov. br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf>. Acesso em: 29 jul. 2018. BRASIL. Resolução nº. 4, de 2 de outubro de 2009. Institui Diretrizes Operacionais para o atendimento educacional especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial. 2009. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rceb004_09. pdf>. Acesso em: 29 jul. 2018. BRIDI, F. R. de S. Processos de identificação e diagnóstico: os alunos com deficiência mental no contexto do atendimento educacional especializado. Tese (Doutorado) – Universi- 11Alunos com necessidades educacionais especiais: deficiência intelectual dade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011. Disponível em: <https://lume. ufrgs.br/handle/10183/36337>. Acesso em: 29 jul. 2018. CORREIA, L. Alunos com necessidades educativas especiais nas classes regulares. Porto: Porto, 1999. GARDNER, H. Inteligência: um conceito reformulado. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000. GARDNER, H. Inteligências múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. NAÇÕES UNIDAS. Declaração de Salamanca e enquadramento da acção na área das necessidades educativas especiais. Salamanca: UNESCO, 1994. Disponível em: <http:// redeinclusao.pt/media/fl_9.pdf>. Acesso em: 24 jul. 2018. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Classificação de transtornos mentais e de compor- tamento da CID-10. Porto Alegre: Artmed, 1993. SMITH, D. D. Introdução à educação especial: ensinar em tempos de inclusão. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. Leituras recomendadas GOMES, A. L. L. et al. Formação continuada a distância de professores para o atendimento educacional especializado: deficiência mental. Brasília: MEC, 2007. Disponível em: <http:// portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_dm.pdf>. Acesso em: 29 jul. 2018. ORRÚ, S. E. Aprendizes com autismo: aprendizagem por eixos de interesse em espaços não excludentes. Petrópolis: Vozes, 2016. Alunos com necessidades educacionais especiais: deficiência intelectual12 DICA DO PROFESSOR As necessidades educacionais especiais dos sujeitos com algum tipo de deficiência intelectual são particularmente complexas. Isso porque as mesmas podem estar relacionadas a vários fatores, tanto de ordem cognitiva, física, emocional, sensorial ou social. No vídeo da Dica do Professor, você verá a importância do Atendimento Educacional Especializado – AEE e o quanto o trabalho em equipe é fundamental para que esses alunos aprendam. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! NA PRÁTICA A educação inclusiva de alunos com deficiência intelectual enfrenta preconceitos. Os profissionais e uma parcela da sociedade pensam que, por um lado, não seria proveitoso para o deficiente intelectual acompanhar o ritmo de uma sala de aula comum e, por outro, esse próprio ritmo poderia ser quebrado na presença de um ou mais alunos com a mesma deficiência. Ora, na prática, o modelo de ensino convencional, em que os alunos desenvolvem as mesmas tarefas, compartilham do mesmo ritmo e são recompensados ou advertidos de acordo com certo nível de acertos dentro do processo avaliativo, não pode ser considerado um modelo para a educação inclusiva. Como é, então, que preparamos escolas, salas, aulas e materiais didáticos para essa nova realidade pautada na inclusão? A solução é: reinventar-se. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Educação Inclusiva: Atendimento Educacional Especializado para a Deficiência Mental Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!