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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO - UFMA Abordagem Inicial das Intoxicações Agudas Orientadores: Anísio Cavalcante Bruno Oliveira Discentes: Caio Castro Romário Nunes Abordagem Inicial das Intoxicações Agudas SUMÁRIO Introdução e Definições; Etiologia e Fisiopatologia; Achados clínicos; Exames complementares; Diagnóstico diferencial; Tratamentos; Conclusões. 2 Introdução e Definições Dados nacionais não confiáveis sobre o assunto; Subnotificação de intoxicações, fragilidades estruturais dos serviços de saúde; Estados Unidos, estima-se em cerca de dois a três milhões por ano o número de intoxicações agudas; 5% a 10% dos atendimentos nos serviços de emergência, e mais de 5% das internações em terapia intensiva de adultos; Etiologia e Fisiopatologia Os casos que mais chegam ao pronto-socorro são por tentativa de suicídio, e o modo de intoxicação é a ingestão por via oral; Uso de medicamento em dose maior do que a recomendada para obter um efeito mais rápido; Pacientes que usam múltiplas medicações ou tem metabolização diminuída; Além da via oral, podemos encontrar intoxicações oculares, dermatológicas e inalatórias. Achados clínicos A história e o exame físico são extremamente importantes na avaliação inicial e no manejo de intoxicação aguda; Os sinais vitais devem ser anotados no prontuário e reavaliados periodicamente; Deve-se medir a saturação arterial de oxigênio, a glicemia capilar e o nível de consciência; Achados clínicos Particular atenção deve ser dada aos sistemas cardiovascular, respiratório e neurológico; É importante realizar uma investigação detalhada com o paciente e a família acerca de medicamentos ingeridos. Todas as alterações oculares devem ser anotadas; Achados clínicos MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Hiperatividade adrenérgica Intoxicação com hiperatividade adrenérgica, ansiedade, sudorese, taquicardia, hipertensão, pupilas midriáticas; • Dor precordial, infarto do miocárdio, emergência hipertensiva, acidente vascular cerebral, arritmias; • Casos mais graves: hipertermia, rabdomiólise, convulsões. • Procurar sítios de punção (drogas). TOXÍCOS MAIS PROVÁVEIS Anfetaminas, cocaína, derivados de ergotamina, hormônio tireoidiano e inibidores da MAO. Achados clínicos MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Síndrome anticolinérgica • Pode manifestar-se de modo semelhante à intoxicação com hiperatividade adrenérgica: pupila midriática, taquicardia, tremor, agitação, estimulação do SNC, confusão. • Diminuição de ruídos intestinais, retenção urinária. • Pistas: pele seca, quente e avermelhada; pupila bem dilatada com mínima resposta à luz. • Casos mais graves: convulsões, hipertermia, insuficiência respiratória. TOXÍCOS MAIS PROVÁVEIS Antidepressivos tricíclicos, antihistamínicos, antiparkinsonianos, antiespasmódicos e fenotiazinas. Achados clínicos MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Síndrome com hipoatividade • Bradipneia, hipoatividade, rebaixamento do nível de consciência, coma, insuficiência respiratória, hipercapnia, aspiração, coma e morte. TOXÍCOS MAIS PROVÁVEIS Pupila muito miótica: opioides (reverte com naloxona). • Pupila não miótica: álcool e derivados, anticonvulsivantes e benzodiazepínicos. Exames complementares Necessários exames gerais, por exemplo: hemograma, glicemia, eletrólitos, gasometria, função hepática, função renal e urina; Dosagem das substâncias tóxicas, que são testes quantitativos ou qualitativos screening toxicológico, e tem valor limitado na maioria dos casos; • Sintomáticos ou com comorbidades significativas; Exames complementares • Identidade da substância ingerida é desconhecida; • Intoxicações que apresentam potencial significativo de toxicidade sistêmica; • Ingestão intencional (tentativa de suicídio). Exames complementares Hipótese diagnóstica versus exames complementares específicos: Eletrocardiografia; Radiografia; Gasometria; Lactato arterial; Gap osmolar; Ânion gap aumentado. Diagnóstico diferencial Qualquer doença de manifestação aguda entra no diagnóstico diferencial de uma intoxicação aguda; • Traumas: especialmente de coluna cervical e cranioencefálico; • Infecções: meningite, encefalite, abscesso cerebral, sepse; • Lesões do sistema nervoso central: acidente vascular cerebral isquêmico ou hemorrágico, hematoma subdural e tumor. Diagnóstico diferencial • Distúrbios metabólicos: hipercalcemia, hiponatremia, uremia, insuficiência hepática, hipoglicemia, hiperglicemia, cetoacidose diabética; • Outros: síndromes hipertérmicas, transtornos psiquiátricos, hipotireoidismo, hipertireoidismo, anafilaxia, doença coronariana isquêmica, embolia pulmonar, arritmias. Tratamento (VELASCO, 2013) Prevenir a absorção Administrar antídotos* Acelerar a eliminação Suporte clínico Suporte avançado de vida Quando suspeitar? Quadro inexplicado, de início súbito, com alteração do nível de consciência, convulsões, alteração hemodinâmica ou respiratória História inicial de certeza ou suspeita com agente potencialmente tóxico (BRASIL, 2016) Conduta geral Segurança da cena EPI’s (BRASIL, 2016) ACENA (BRASIL, 2016) Avaliação primária A: via érea Aspiração Via aérea definitiva B: ventilação: FR ↑↓, regularidade, ausculta Oximetria SpO² < 94%: Oxigênio C: FC, ritmo, PA, pele (cor, temp., hidrat.), mucosas (secas, ↑salivação), sudorese, tempo de enchimento capilar Acesso venoso calibroso Avaliação da impressão inicial: Inconsciente > CAB (PCR) (BRASIL, 2016; VELASCO, 2013) C - Compressões A – Via aérea B – Ventilação D – Desfibrilar Avaliação primária D: Estado neurológico: pupilas, nível de consciência, tônus musc., convulsão Posição de recuperação (exceto trauma) > evitar aspiração (BRASIL, 2016) Avaliação secundária SAMPLA S - Sinais e sintomas A - Alergias M - Medicações P - Passado médico/comorbidades L - Última ingestão de líquidos ou alimentos A - Ambiente e eventos IMPORTANTE! Disponibilidade de substâncias potencialmente tóxicas ou medicamentos Quantidade, tempo, misturas, acidental/intencional Locais e atividades recentes/profissão Início dos sintomas (BRASIL, 2016) Avaliação secundária Exame físico detalhado, atenção para: Cavidade oral/nasal: hálito, corrosão e hidratação Temperatura Sinais de maus tratos: ingesta provocada? Glicemia > corrigir Monitorização (BRASIL, 2016) Avaliação Identificar a síndrome tóxica Identificar o agente causal Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox) (0800.722.6001) (BRASIL, 2016; SÃO PAULO, 2017) Tratamento (VELASCO, 2013) Prevenir a absorção Administrar antídotos* Acelerar a eliminação Suporte clínico Tratamento: Descontaminação Objetivo: Prevenir a absorção de mais droga (VELASCO, 2013) Lavagem gástrica Método Sonda orogástrica (A: 18-22; C:10-14) - Testar DLE, cabeça em nível inferior NaCl 0,9% (100-250 mL) Aguardar a drenagem ou pressão negativa Repetir até retorno apenas do soro Eficácia: até no máximo 1 hora (OLIVEIRA, 2003; VELASCO, 2013) Lavagem gástrica Contraindicações Ácidos, bases e solventes Risco de perfuração e sangramentos Baixo nível de consciência (IOT antes) Complicações Broncoaspiração TR: Sondagem de via aérea (hipóxia, laceração) TG: Lesões esofágica, perfuração gástrica (OLIVEIRA, 2003; VELASCO, 2013) Carvão ativado Método 1 g de carvão/kg peso (25 a 100 g) Água, soro fisiológico ou manitol. >> 8 mL/g de carvão Múltiplas doses: 0,5g/Kg, 4/4 h Fenobarbital, carbamazepina, dapsona e outras Após LG ou isolado Mais eficaz que a LG (OLIVEIRA, 2003; VELASCO, 2013) Carvão ativado Contraindicações Ácidos ou bases e solventes Admin de antídotos Baixo nível de consciência (IOT antes) Álcool, metanol, etilenoglicol, cianeto, ferro, lítio e flúor Complicações Broncoaspiração Constipação Obstrução intestinal (OLIVEIRA, 2003; VELASCO, 2013) Irrigação intestinal Método Sonda nasogástrica/enteral Polietilenoglicol 1.500 a 2.000 mL/hora Indicações Drogas de liberaçãoprolongada Ferro, lítio ou potássio >> Contraindicações Agrotóxicos (OLIVEIRA, 2003; VELASCO, 2013) Xarope de ipeca Mecanismo Irrita estômago Centro do vômito PROSCRITO! Danos aos tecidos Impede outros métodos Broncoaspiração (OLIVEIRA, 2003) Antídotos 1-2 mg a cada 15 min. 0,04 mg → 0,4 mg → 2 mg → 10 mg (intervalos: 3 min. 0,1 -0,2 mg em em 15 a 30 seg. (Repetir até 1mg) (colinerg.) (hipoativid.) (hipoativid.) (BRASIL, 2016) Aumento e aceleração da excreção Diurese forçada (Hiper-hidratação) NaCl 1.000 mL 8/8 ou 6/6 h (DU: 100 a 400 mL/hora) Álcool, brometo, cálcio, flúor, potássio e isoniazida Alcalinização da urina (pH>7,5) Soro glicosado (850 mL a 5%) + bicarbonato de sódio (150 mL a 8,4%) 1.000 mL 8/8 ou 6/6 h Fenobarbital, salicilatos, metotrexate e sulfonamidas. (OLIVEIRA, 2003; VELASCO, 2013) Hemodiálise/hemoperfusão Intoxicação grave ou refratária Insuficiência hepática e/ou renal Indicações específicas (VELASCO, 2013) Caso 1 DJ, 23 anos, deu entrada na sala de emergência do HMI com queixas de “coração acelerado”, sudorese, dor no peito opressiva e náuseas há 1 hora, além de discreta cefaleia. Ela se mostrava ansiosa e tinha grande agitação. Referia consumo habitual de XX substância (4x por semana) e, há 2 horas, usou o dobro da dose habitual devido a problema doméstico. Ao exame: PA=190x100 mmHg, FC=112 bpm, FR=26 irpm, SpO2=96% e pulsos simétricos. Pupila midriática. Corrimento nasal. (BRASIL, 2016) Síndrome simpatomimética (hiperadrenérgica) Boa hidratação e suporte cardiovascular Não usar anti-hipertensivos de longa ação! Não usar beta-bloqueadores (piora da vasoconstrição) Benzodiazepínicos Ansiedade e agitação Convulsões SCA e emergências hipertensivas (VELASCO, 2013) Caso 2 TM, 55 anos, foi encontrado pelos familiares extremamente sonolento e confuso, por isso chamaram o SAMU. Próximo ao paciente havia duas cartelas vazias de ***, que usava para tratamento de depressão. Sabe-se que ele tinha ideias recorrentes de morte e que já houve um episódio prévio de tentativa de suicídio com ingestão excessiva de medicamentos. Ao exame: PA=90x60 mmHg, FC=70 bpm, FR=7 irpm, T=34 ºC e pulsos finos. Glasgow=6. Necessitou de IOT. (BRASIL, 2016) Síndrome com hipoatividade Suporte clínico Lavagem gástrica seguida de carvão ativado Antídoto: flumazenil! (CUIDADO: usuários crônicos > abstinência) Dose: 0,1 mg em 1 minuto com diversas repetições até o efeito desejado. Dose máxima: 1 mg. Efeito esperado: adequado reflexo de deglutição (não é deixar o paciente acordado). (VELASCO, 2013) Intoxicação alcóolica Suporte clínico Hipoglicemia: 5 ampolas de glicose a 50% até a correção Manter no soro glicosado a 5%. Profilaxia: tiamina concomitante (200 a 300 mg IM) (VELASCO, 2013) Referências Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Protocolos de Intervenção para o SAMU 192: Serviço de Atendimento Móvel de Urgência. Brasília: Ministério da Saúde, 2a edição, 2016. OLIVEIRA, Renê Donizeti Ribeiro; MENEZES, João Batista. Intoxicações exógenas em clínica médica. Medicina (Ribeirão Preto. Online), v. 36, n. 2/4, p. 472-479, 2003. São Paulo (Cidade). Secretaria Municipal da Saúde. Manual de Toxicologia Clínica: Orientações para assistência e vigilância das intoxicações agudas. São Paulo, 2017. VELASCO, Irineu Tadeu et al. Emergências clínicas: Abordagem prática. Medicina USP. 8. ed. rev. e atual. - Barueri, SP: Manole, 2013. (BRASIL, 2016)