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2011 Contabilidade internaCional Prof.ª Aline Fernandes de Oliveira Czesnat Copyright © UNIASSELVI 2011 Elaboração: Prof.a Aline Fernandes de Oliveira Czesnat Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 657 C998c Czesnat, Aline Fernandes de Oliveira Contabilidade internacional /Aline Fernandes de Oliveira Czesnat. Indaial : Uniasselvi, 2011. 225 p. : il. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-496-6 1. Contabilidade internacional. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci III apresentação Caro(a) acadêmico(a)! A contabilidade vem passando por várias mudanças nos últimos anos. Nesse sentido, no ano de 2007, a Lei das Sociedades por Ações sofreu alterações. Estas mudanças ocorridas na normatização da contabilidade tiveram como objetivo harmonizar as normas contábeis nacionais às normas contábeis internacionais. Assim, o objetivo do processo de harmonização é fazer com que as informações contábeis disponibilizadas aos usuários não sejam tão diferentes, independente do país onde se encontram. Pensando nisso, elaborou-se este Caderno de Estudos, que permitirá ao(à) acadêmico(a) obter um conhecimento a respeito do processo de harmonização contábil e seu reflexo nas normas contábeis brasileiras. Assim, a fim de atingir este objetivo, este caderno foi dividido em três unidades, a saber: a Unidade 1 foi dividida em quatro tópicos, em que o primeiro aborda desde a evolução do ensino da contabilidade no Brasil, ao surgimento da lei das sociedades anônimas, ou Lei nº 6.404/76 e sua reformulação pela Lei nº 11.638/2007. No Tópico 2 é apresentado o processo de harmonização das normas contábeis brasileiras às normas contábeis internacionais, suas vantagens e desvantagens e as principais dificuldades encontradas pelo Brasil neste processo, assim como as informações contábeis, suas caraterísticas e seus usuários. Já no tópico terceiro são discutidos os principais órgãos nacionais e internacionais responsáveis pela harmonização contábil, seguido pela apresentação das normas contábeis internacionais, conhecidas como IFRS. Encerrando-se o Tópico 4, abordam-se as principais divergências encontrados no critério de reconhecimento e mensuração na contabilidade nacional e internacional. A Unidade 2 compreende o início da convergência das demonstrações contábeis brasileiras para as demonstrações contábeis internacionais. Neste capítulo foram abordados o BP, a DRE e a DMPL. Assim, esta unidade foi dividida em cinco tópicos. O Tópico 1 apresenta o Pronunciamento Técnico 26, que trata da apresentação das demonstrações contábeis; no Tópico 2 é apresentado o balanço patrimonial e sua nova estrutura, seus grupos, suas alterações como exclusões e introdução de novos grupos. Aborda-se também o teste de recuperabilidade aplicado ao grupo do imobilizado e do intangível. No Tópico 3 são apresentadas as alterações sofridas no grupo do passivo e no patrimônio líquido, também com exclusões e introdução de novas contas. No Tópico 4, estão as demonstrações do resultado do exercício, com suas alterações e o novo modelo de DRE. E por fim, no Tópico 5 é apresentado IV o DMPL, com as movimentações que afetam e não afetam as contas do patrimônio líquido de uma organização, o pronunciamento contábil que trata especificamente desta demonstração e suas formas de elaboração. Na terceira e última unidade do Caderno de Estudos, tratou-se sobre as novas demonstrações contábeis incluídas entre as demonstrações contábeis obrigatórias pela Lei nº 11.638/2007 e também sobre as notas explicativas. Assim, esta unidade foi dividida entre três tópicos. No Tópico 1 foi apresentada a DFC, seu conceito, suas contas, formas de elaboração e por fim os modelos de cada método. No Tópico 2 é apresentada a DVA, seguem o conceito e objetivo, empresas obrigadas a sua elaboração e publicação, as contas presentes nesta demonstração contábil e por fim sua forma de elaboração. No último tópico desta unidade, foram discutidas as notas explicativas que acompanham as demonstrações contábeis obrigatórias. Apresentando os assuntos que devem compor as notas explicativas, tanto na visão da legislação contábil quanto na visão do Comitê de Pronunciamentos Contábeis como na visão da Comissão de Valores Mobiliários. Nas unidades deste Caderno de Estudos, apresentou-se um breve resumo sobre a contabilidade internacional. Nesse sentido, espera-se que o acadêmico(a) tenha um conhecimento sobre as novidades trazidas pela contabilidade internacional na contabilidade nacional, ampliando seu conhecimento quanto as alterações que as normas contábeis estão passando. Prof.ª Aline Fernandes de Oliveira Czesnat V Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 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Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA VI VII UNIDADE 1 – PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL ........................... 1 TÓPICO 1 – CRESCIMENTO DO ENSINO E DA CONTABILIDADE NO BRASIL ............... 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 EVOLUÇÃO DO ENSINO CONTÁBIL NO BRASIL ................................................................... 3 2.1 LEI DAS SOCIEDADES ANÔNIMAS OU LEI Nº 6.404 DE 1976 ............................................ 5 2.1.1 Noções gerais de uma sociedade anônima ......................................................................... 8 2.1.2 Classificação das S.A. ............................................................................................................. 9 2.1.3 Sociedade anônima aberta ..................................................................................................... 9 2.2 CENÁRIO CONTÁBIL HOJE: SURGIMENTO DA LEI Nº 11.638/2007 ................................. 10 2.3 SOCIEDADE DE GRANDE PORTE ............................................................................................. 13 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 16 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 17 TÓPICO 2 – A HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL ..............................................................................19 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 19 2 PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO DAS NORMAS CONTÁBEIS NACIONAIS ÀS NORMAIS CONTÁBEIS INTERNACIONAIS .............................................................................. 20 2.1 VANTAGENS E DESVANTAGENS DA HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL ............................ 21 2.2 RAZÕES QUE LEVAM AS DIFERENÇAS INTERNACIONAIS .............................................. 23 2.2.1 Aspectos do sistema legal do país ........................................................................................ 24 2.2.2 Influência e status da profissão contábil .............................................................................. 26 2.2.3 Ensino contábil e estrutura teórica contábil ........................................................................ 27 2.3 INFORMAÇÃO CONTÁBIL .......................................................................................................... 28 2.3.1 Características qualitativas da informação contábil .......................................................... 30 2.3.2 Usuários e suas características .............................................................................................. 36 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 39 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 40 TÓPICO 3 – ÓRGÃOS RESPONSÁVEIS PELO PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL ................................................................................................... 43 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 43 2 ORGANISMOS NACIONAIS RESPONSÁVEIS PELA HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL ..... 44 2.1 CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE – CFC ............................................................. 44 2.2 COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS - CPC ....................................................... 45 2.3 COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS – CVM.................................................................... 48 2.4 INSTITUTO DOS AUDITORES INDEPENDENTES DO BRASIL – IBRACON ..................... 51 2.5 ORGANISMOS INTERNACIONAIS RESPONSÁVEIS PELA HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL ........................................................................................................................................ 52 2.6 INTERNATIONAL ACCOUNTING STANDARDS BOARD – IASB .......................................... 52 2.6.1 International Financial Reporting Standards - IFRS ............................................................... 54 2.7 FINANCIAL ACCOUNTING STANDARDS BOARD - FASB ..................................................... 57 2.8 SECURITIES AND EXCHANGE COMMISSION – SEC ............................................................. 58 2.9 THE INTERNATIONAL ORGANIZATION OF SECURITIES COMMISSION - IOSCO (Organização Mundial das Comissões de Valores Mobiliários) ............................................... 58 sumário VIII 2.10 ORGANIZATION FOR ECONOMIC COOPERATION AND DEVELOPMENT - OECD (Organização para Desenvolvimento e Cooperação Econômica) .......................................... 59 2.11 EUROPEAN UNION - UNIÃO EUROPEIA (EU) ..................................................................... 60 2.12 THE INTERNATIONAL FEDERATION OF ACCOUNTANTS – IFAC FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE CONTADORES) .................................................................................. 60 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 62 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 63 TÓPICO 4 – PRINCIPAIS DIVERGÊNCIAS NO CRITÉRIO DE RECONHECIMENTO E MENSURAÇÃO ENTRE AS NORMAS INTERNACIONAIS E NACIONAIS ... 65 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 65 2 PRINCIPAIS DIVERGÊNCIAS NO CRITÉRIO DE RECONHECIMENTO E MENSURAÇÃO ENTRE AS NORMAS INTERNACIONAIS E NACIONAIS ....................... 66 2.1 PESQUISA E DESENVOLVIMENTO ........................................................................................... 66 2.2 CONTABILIZAÇÃO DO LEASING FINANCEIRO................................................................... 68 2.3 CONTABILIZAÇÃO DO GOODWILL ........................................................................................ 70 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 72 RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 74 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 75 UNIDADE 2 – ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS ..... 77 TÓPICO 1 – PRONUNCIAMENTO TÉCNICO CONTÁBIL 26: APRESENTAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS .............................................................................. 79 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 79 2 PRONUNCIAMENTO TÉCNICO 26 – CPC 26............................................................................... 79 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 82 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 83 TÓPICO 2 – BALANÇO PATRIMONIAL ........................................................................................... 85 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 85 2 BALANÇO PATRIMONIAL .............................................................................................................. 85 2.1 ATIVO CIRCULANTE .................................................................................................................... 88 2.2 ATIVO NÃO CIRCULANTE .......................................................................................................... 89 2.2.1 Imobilizado .............................................................................................................................. 90 2.2.2 Mensuração do custo.............................................................................................................. 91 2.2.3 Avaliação do ativo imobilizado ............................................................................................ 92 2.3 EXTINÇÃO DA CONTA ATIVO DIFERIDO .............................................................................. 93 2.4 ATIVO INTANGÍVEL ..................................................................................................................... 94 2.4.1 Definição de ativo intangível ................................................................................................ 95 2.4.2 Reconhecimento e mensuração do ativo intangível .......................................................... 96 2.4.3 Mensuração do ativo intangível após o seu reconhecimento .......................................... 97 2.4.4 Vida útil dos ativos intangíveis ............................................................................................ 97 2.4.5 Amortização do ativo intangível .......................................................................................... 98 2.4.6 Exemplosde ativos intangíveis ............................................................................................ 99 2.5 TESTE DE RECUPERABILIDADE DO ATIVO (IMPAIRMENT) .............................................. 99 2.5.1 Exemplo prático desta situação, evidenciado por Coelho e Lins (2010) ......................... 101 2.5.2 Contabilização da perda ........................................................................................................ 102 2.6 COMPARAÇÃO DA ESTRUTURA DO ATIVO ANTES E DEPOIS DA ALTERAÇÃO ....... 103 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 105 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 106 IX TÓPICO 3 – PASSIVO E PATRIMÔNIO LÍQUIDO ........................................................................ 109 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 109 2 PASSIVO ................................................................................................................................................ 109 2.1 PASSIVO CIRCULANTE ................................................................................................................ 109 2.2 PASSIVO NÃO CIRCULANTE ..................................................................................................... 110 2.3 AVALIAÇÃO DO PASSIVO ........................................................................................................... 110 2.4 COMPARAÇÃO DA ESTRUTURA DO PASSIVO ANTES E DEPOIS DAS ALTERAÇÕES .................................................................................................................................. 110 2.5 PATRIMÔNIO LÍQUIDO ................................................................................................................ 111 2.5.1 Exclusão de contas do PL ...................................................................................................... 111 2.5.2 Novas contas do patrimônio líquido ................................................................................... 113 2.5.2.1 Criação da conta de Ajuste de Avaliação Patrimonial (AAP) .............................. 114 2.5.2.2 Exemplo do lançamento em uma conta de Ajuste de Avaliação Patrimonial (AAP) apresentado por FIPECAFI, (2010) .............................................................. 114 2.5.3 Criação da conta de Reserva de Incentivos Fiscais ............................................................ 115 2.5.4 Classificação da conta ações em tesouraria ......................................................................... 116 2.6 COMPARAÇÃO DA ESTRUTURA DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO ANTES DE DEPOIS DAS ALTERAÇÕES ......................................................................................................................... 117 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 118 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 119 TÓPICO 4 – DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO ........................................ 121 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 121 2 DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO ............................................................. 121 2.1 ALTERAÇÕES NA APRESENTAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES DO RESULTADO DO EXERCÍCIO ....................................................................................................................................... 122 2.2 REGIME DE CAIXA E O REGIME DE COMPETÊNCIA .......................................................... 123 2.3 COMPARAÇÃO DA ESTRUTURA DA DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO ANTES DE DEPOIS DAS ALTERAÇÕES .............................................................. 123 RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 125 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 126 TÓPICO 5 – DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO ............... 129 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 129 2 DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO - DMPL .................... 129 2.1 MOVIMENTAÇÕES QUE AFETAM AS CONTAS DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO ................ 130 2.2 MOVIMENTAÇÕES QUE NÃO AFETAM O PATRIMÔNIO LÍQUIDO ................................ 131 2.3 DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO SEGUNDO O CPC 26 ........................................................................................................................................... 131 2.4 ELABORAÇÃO DA DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO ........................................................................................................................................... 132 2.5 ESTRUTURA DA DMPL COM A LEI Nº 11.638/07 ................................................................... 141 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 146 RESUMO DO TÓPICO 5........................................................................................................................ 149 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 150 UNIDADE 3 – NOVA DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E COMPLEMENTOS ..................... 153 TÓPICO 1 – DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA .............................................................. 155 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 155 2 DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA - DFC ...................................................................... 156 X 2.1 EMPRESAS OBRIGADAS A ELABORAR A DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA - DFC .................................................................................................................................... 156 2.2 OBJETIVOS E FINALIDADES DA DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA – DFC ..... 157 2.2.1 Caixa e equivalentes de caixa ................................................................................................ 158 2.3 TRANSAÇÕES QUE AFETAM O CAIXA ................................................................................... 159 2.4 CLASSIFICAÇÃO DAS MOVIMENTAÇÕES EM FLUXO DE ATIVIDADES ....................... 160 2.4.1 Atividades operacionais ......................................................................................................... 160 2.4.2 Atividades de investimento ................................................................................................... 162 2.4.3 Atividade de financiamento .................................................................................................. 164 2.5 MOVIMENTAÇÕES DE INVESTIMENTO E DE FINANCIAMENTOS QUE NÃO AFETAM O CAIXA DA EMPRESA .............................................................................................. 165 2.6 MÉTODOS DE ELABORAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA .......................................................... 165 2.6.1 Método a ser elaborado no Brasil ......................................................................................... 166 2.6.2 Método direto ......................................................................................................................... 166 2.6.3 Método indireto..................................................................................................................... 167 2.7 DIFERENÇAS ENTRE OS MÉTODOS DIRETO E INDIRETO ................................................. 167 2.8 VANTAGENS E DESVANTAGENS ENTRE OS DOIS MÉTODOS .......................................... 168 2.9 ESTRUTURA DA DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA .............................................. 169 2.9.1 Elaboração da demonstração do fluxo de caixa pelo método direto .............................. 170 2.9.2 Elaboração da Demonstração do Fluxo de Caixa pelo Método Indireto ........................ 180 2.9.2.1 Técnica para demonstrar as atividades operacionais ........................................... 181 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 184 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 185 TÓPICO 2 – DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO ..................................................... 187 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 187 2 DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO - DVA ............................................................ 187 2.1 OBJETIVO, FINALIDADE E CARACTERÍSTICAS DA DVA .................................................. 187 2.2 OBRIGATORIEDADE DA DVA .................................................................................................... 189 2.3 VALOR ADICIONADO .................................................................................................................. 190 2.4 ÍNDICES QUE O VALOR ADICIONADO SERVE COMO IMPORTANTE INDICADOR ... 190 2.5 COMPOSIÇÃO DA RIQUEZA DA DEMONSTRADA NA DVA ............................................ 192 2.5.1 Riqueza criada pela própria empresa .................................................................................. 192 2.5.2 Riqueza recebida em transferência ....................................................................................... 192 2.6 ELABORAÇÃO DA DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO .................................. 193 2.7 MODELO DA DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO ............................................ 193 2.7.1 Componentes da DVA ........................................................................................................... 194 2.8 EXEMPLO DE ELABORAÇÃO DA DVA .................................................................................... 197 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 202 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 203 TÓPICO 3 – NOTAS EXPLICATIVAS ................................................................................................. 207 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 207 2 NOTAS EXPLICATIVAS ..................................................................................................................... 207 2.1 NOTAS EXPLICATIVAS CONFORME A LEI DAS SOCIEDADES POR AÇÕES .................. 208 2.2 NOTAS EXPLICATIVAS DE ACORDO COM O CPC ................................................................ 210 2.3 NOTAS EXPLICATIVAS DE ACORDO COM A CVM .............................................................. 211 2.4 INFORMAÇÕES CONTIDAS NAS NOTAS EXPLICATIVAS .................................................. 213 2.4.1 Critérios de avaliação ............................................................................................................ 213 2.4.2 Investimentos em outras empresas quando relevante ...................................................... 214 2.4.3 Ônus, garantias e outras responsabilidades eventuais ou contingentes ........................ 214 2.4.4 Taxa, data de vencimento, e outras garantias ..................................................................... 214 XI 2.4.5 Ações do capital social ........................................................................................................... 215 2.4.6 Opção de compra de ações .................................................................................................... 215 2.4.7 Ajuste de exercícios anteriores .............................................................................................. 215 2.4.8 Eventos subsequentes ............................................................................................................ 215 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 216 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 218 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 219 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 221 1 UNIDADE 1 PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você será capaz de: • proporcional ao(à) acadêmico(a) o conhecimento sobre as mudanças ocor- ridas no cenário contábil nacional devido ao processo de harmonização contábil mundial. Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No final de cada um deles, você encontrará atividades que o(a) auxiliarão na apropriação dos conhecimentos. TÓPICO 1 – CRESCIMENTO DO ENSINO E DA CONTABILIDADE NO BRASIL TÓPICO 2 – A HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL TÓPICO 3 – ÓRGÃOS RESPONSÁVEIS PELO PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL TÓPICO 4 – PRINCIPAIS DIVERGÊNCIAS NO CRITÉRIO DE RECONHECIMENTO E MENSURAÇÃO ENTRE AS NORMAS INTERNACIONAIS E NACIONAIS 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 CRESCIMENTO DO ENSINO E DA CONTABILIDADE NO BRASIL 1 INTRODUÇÃO O cenário contábil no Brasil está passando por uma grande mudança nos últimos anos. No ano 2000 foi enviado ao Poder Legislativo um projeto de lei no qual se tinha o objetivo de alterar a lei das Sociedades Anônimas, Lei nº 6.404/76. Em 2007, tal projeto de lei foi aprovado, sendo criada a Lei nº 11.638 de 2007. Esta nova legislação teve como objetivo fazer alterações na lei das Sociedades Anônimas atualizando as regras contábeis nacionais, as normas contábeis internacionais, levando o Brasil à harmonização contábil mundial. Porém, antes de se adentrar no processo de convergência às normas internacionais, é preciso compreender que o ensino da contabilidade no Brasil e o cenário normatizado, ou seja, a legislação na qual as empresas brasileiras estão sujeitas. Para isto faz-se uma breve excursão à criação e à evolução do ensino da contabilidade no Brasil, à legislação das Sociedades Anônimas e à criação do novo grupo de empresas classificados como Sociedades de Grande Porte. 2 EVOLUÇÃO DO ENSINO CONTÁBIL NO BRASIL O ensino da contabilidade no Brasil, como conhecemos, é algo recente, podendo datá-lo do século XX. No entanto, em 15 de julho de 1809, foi dado o primeiro passo ao ensino da contabilidade no país. Neste ano foi promulgado um alvará às escolas de comércio da época, para lecionarem contabilidade, intituladas de “aulas práticas”. Mais tarde, em 1863, o já criado Instituto Comercial do Rio de Janeiro começa a oferecer a disciplina “Escrituração Mercantil”, a fim de tornar seus alunos aptos a realizarem a escrituração contábil. A criação do primeiro Código Comercial Brasileiro em 1850 pode ser considerada o ponto de partida para o ensino oficial da contabilidade na Brasil, uma vez que: “A promulgaçãodo primeiro Código Comercial Brasileiro por meio da Lei nº 556, de 25 de junho de 1850, trouxe a obrigatoriedade de as empresas manterem a escrituração contábil, seguirem uma ordem uniforme para os registros contábeis UNIDADE 1 | PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL 4 e o levantamento, ao final de cada ano, dos balanços gerais. Ao determinar o uso das partidas dobradas reforça a necessidade do ensino comercial [...]”. (PELEIAS; BACCI, 2004, p. 41 e 42). Porém, a primeira escola especializada no ensino da contabilidade, segundo Iudícibus (2004), surgiu em 1902, com a criação da Escola Alvares Penteado. No entanto, apenas em 1931 foi criado o primeiro curso de contabilidade propriamente dito. Este curso tinha objetivo de formar profissionais técnicos em contabilidade e perito contador. Para a formação do técnico, a durabilidade do curso era de dois anos e para formação do perito contador, o curso tinha durabilidade de três anos. O primeiro curso superior de Ciências Contábeis e Atuarias do Brasil foi aprovado pelo Decreto-lei nº 7.988 de 1945. Em 1946, de acordo com Robles Junior e Marion (1998), surgiam o Conselho Federal de Contabilidade e a Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas (FCEA) posteriormente denominada Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), instituição onde surgiu o primeiro núcleo de pesquisa contábil e, mais tarde, em 1970, o primeiro curso de pós-graduação em Ciências Contábeis do Brasil. (PELEIAS et al., 2007). Com a criação da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) os cursos de bacharelado em Ciências Contábeis passaram a ter uma grade curricular de quatro anos. De acordo com Robles Junior e Marion (1998, p. 15), apenas em 1962, a grade curricular do curso de contabilidade volta a ter nova alteração, quando passou a ser separado em dois ciclos de ensino intitulados de “ciclo de formação básica e ciclo de formação profissional”, conforme apresentado no quadro a seguir: Ciclo de formação básica Matemática, Estatística, Direito e Economia Ciclo de formação profissional Contabilidade Geral, Contabilidade Comercial, Contabilidade de Custos, Auditoria e Análise de Balanço, Técnica Comercial, Administração e Direito Tributário. QUADRO 1 – CICLO DE FORMAÇÃO BÁSICA E PROFISSIONAL FONTE: Adaptado de: Robles Junior e Marion (1998) No ano de 1992, nova alteração na legislação institui considerações sobre o conteúdo e durabilidade dos cursos de contabilidade, trazendo ainda normas para as instituições de ensino superior formar seus currículos, a fim de delimitar um perfil de profissional contábil que desejam formar. (ROBLES JÚNIO R; MARION, 1998). Segundo Niyama (2008, p. 4), “a qualidade da educação na área contábil tem significativo impacto na qualidade e no tipo de informação, bem como no sistema contábil de gerar informação”. Ainda de acordo com o mesmo autor, a TÓPICO 1 | CRESCIMENTO DO ENSINO E DA CONTABILIDADE NO BRASIL 5 influência da escola italiana prevaleceu fortemente até os meados da década de 70, até a vigência da Lei nº 6.404/76, que veio estabelecer critérios e procedimentos contábeis predominantemente influenciados pelas escolas norte-americanas de contabilidade. 2.1 LEI DAS SOCIEDADES ANÔNIMAS OU LEI Nº 6.404 DE 1976 A Lei nº 6.404/76, conhecida como a Lei das Sociedades Anônimas (S/A), data de 15 de dezembro de 1976. Para compreendermos esta legislação, é preciso entender que o cenário econômico do país estava alterando, isto é, na década de 70 o mercado financeiro estava nascendo e ocorria a reforma bancária, porém, para que este cenário ocorresse alguns passos foram dados, segundo Niyama (2008): • As demonstrações contábeis das companhias abertas passaram a ser verificadas por auditores independentes obrigatoriamente. • O Banco Central do Brasil publicou sua Circular nº 179/72, que padronizava a forma e a estrutura das demonstrações contábeis para a publicação pelas empresas classificadas como companhias abertas. • O cenário contábil passou a sofrer forte influência da escola norte-americana, sendo demonstrado pelo começo dos estudos sobre os princípios contábeis. Com o surgimento da Lei das Sociedades Anônimas, a contabilidade passou a ter novidades, como por exemplo, a criação dos registros auxiliares para atender a exigências fiscais e o dever de observar os princípios contábeis para a escrituração mercantil (NIYAMA, 2008). Esta legislação resultou em um verdadeiro aprimoramento e revolução da área contábil. (FIPECAFI, 2007). Segundo Martins, Martins e Martins (2007, p. 19), entre as novidades trazidas pela lei das S/A encontramos: Equivalência patrimonial, consolidação, correção monetária, eliminação das antigas contas de “pendente” do ativo e passivo, nomenclatura mais avançada (eliminação dos ilógicos “fundos” de depreciação, devedores duvidosos e outros), classificação mais moderna, introdução da demonstração das origens e aplicações de recursos e da mutação do patrimônio líquido, segregação entre demonstração do resultado e dos lucros ou prejuízos acumulados etc. Além de suprir e acrescentar algumas contas e trazer novos procedimentos contábeis, a legislação tratava também dos aspectos do mercado financeiro. Entre estes aspectos encontramos as características das companhias classificadas como Sociedades Anônimas ou Sociedade por Ações. Várias são as formas de se constituir uma empresa. Nesse sentido, no quadro a seguir estão apresentadas as várias formas de constituição de uma empresa: UNIDADE 1 | PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL 6 Sociedade Espécie de sócio. Responsabilidade do sócio. Administração. Nome. Formação do nome. Constituição do capital. Em comandita espécie. Comanditado;Comanditário. Limitada para o comanditado; Limitada para o comanditário. Um ou mais sócio. Razão social. Nome de um ou mais comanditados; + e companhia no fim. Todos os sócios. Em nome Coletivo. Solidários. Ilimitada para todos os sócios. Um ou mais sócios indicados no contrato. Razão social. Nome de um ou + sócios; + e companhia no fim se faltar algum nome. Todos os sócios. Em cota de participação. Sócio ostensivo; Sócio participante. Exclusiva do sócio ostensivo, que atua em nome próprio perante terceiros. Sócio ostensivo (o participante não responde perante terceiros). Não há (a sociedade não tem personalidade jurídica). Não há. Todos os sócios. Em comandita por ações. Comanditado;Comanditário. Ilimitada para o comanditado; Limitada para o comendatário. Um ou + sócios comanditados escolhidos em assembleia. Razão social ou denominação social opcional. Nome de um ou + comanditados ou nome de fantasia + comandita p/ ações no fim. Todos os sócios. Anônima ou companhia. Acionistas. Limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas. Diretoria e conselho de administração ou apenas diretoria. Denominação social. Nome de fantasia + companhia ou S/A. Todos os sócios. Por cotas de responsabilidade limitadas. Cotistas. Limitada ou capital subscrito; Os cotistas são solidários pelo capital a realizar. Um ou + pessoas designadas no contrato ou ato separado. Razão social ou denominação social. Nome de um sócio ou + sócios + limitada ou nome de fantasia + limitada. Todos os sócios. QUADRO 2 – FORMAS DE CONSTITUIR UMA EMPRESA FONTE: Adaptado de: Ferreira (2010). De uma forma geral, as empresas são regidas pelo novo Código Civil de acordo com a Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. No entanto, as empresa classificadas como Sociedades Anônimas possuem uma legislação específica denominada Lei das Sociedades por Ações, Lei nº 6.404 de 1976. Segundo Niyama (2008, p. 8), “de uma forma geral, as empresas brasileiras classificam-se em dois grandes grupos: as sociedades anônimas e as sociedades por quota de responsabilidade limitada”. De acordo com o exposto no Quadro2, as sociedades anônimas possuem seu capital dividido em ações, responsabilizando os acionistas, (como são chamados dos donos deste tipo de empresa) apenas pela parte que lhe cabe ao capital, ou seja, a responsabilidade do acionista fica limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas por ele. (FERREIRA, 2010). TÓPICO 1 | CRESCIMENTO DO ENSINO E DA CONTABILIDADE NO BRASIL 7 No que se referente às ações de uma S/A, elas são classificadas como ações ordinárias e ações preferenciais. Destaca-se que este tipo de classificação também é apresentado no mercado financeiro de outros países, como por exemplo, o mercado financeiro dos Estados Unidos da América. Dependendo do tipo de ações que o sócio possua ela lhe conferirá certas vantagens e direitos, evidenciando assim, o interesse do portador da ação na companhia, conforme apresentado no quadro a seguir: Tipo de Ação Interesse do portador Direitos e vantagens PREFERENCIAL Remuneração Tem o direito de receber os dividendos antes dos outros sócios (aqueles que possuem ações ordinárias), preferência em receber o capital caso a empresa seja dissolvida, possui a vantagem de fixa um dividendo mínimo. ORDINÁRIA Controle Dá ao sócio o direito a voto, ou seja, este tipo de ação confere ao sócio o direito de decidir sobre a destinação dos resultados, elegem a diretoria e as alterações no estatuto da empresa, aprovam as demonstrações contábeis e por fim, deliberam sobre as ações da empresa. QUADRO 3 – TIPOS DE AÇÕES FONTE: Adaptado de: Assaf Neto (2001) Conforme se observa no quadro anterior, os investimentos realizados nas sociedades por ações podem ser separados em dois objetivos, ou seja, quando se compra ações preferências, o maior interesse gira em torno do recebimento dos dividendos, enquanto o interesse das pessoas que compram ações ordinárias se concentrará no controle, isto é, o poder de decisão que este tipo de ação lhe confere. Para que uma S/A negocie suas ações na bolsa de valores é preciso que ela esteja devidamente registrada no órgão responsável. No Brasil seu registro deve ser feito na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A venda ou não das ações da companhia no mercado financeiro qualificará esta empresa como companhia de capital aberto ou fechado. Uma S/A aberta (CIA. ABERTA) é aquela que negocia suas ações no mercado de valores mobiliários, já uma S/A fechada (CIA. FECHADA) é aquela que suas ações não foram aceitas para negociação no mercado de valores mobiliários. (art. 4º Lei nº 6.404/76). Quanto às responsabilidades legais das Sociedades Anônimas, elas devem publicar suas demonstrações financeiras, no formato exigido pela legislação societária, possuir transparência referente ao aumento de capital e alterações dos UNIDADE 1 | PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL 8 membros de sua diretoria e constituir um conselho fiscal. (NIYAMA, 2008). Ainda de acordo com o mesmo autor, as CIAs. abertas têm o dever de publicar suas demonstrações financeiras anualmente e a enviar a CVM trimestralmente suas demonstrações. 2.1.1 Noções gerais de uma sociedade anônima I – CONCEITO A sociedade anônima ou companhia terá o capital dividido em ações, do mesmo valor nominal, e a responsabilidade dos sócios ou acionistas será limitada ao valor das ações subscritas ou adquiridas. II – CARACTERÍSTICAS a) O capital social é dividido em ações. b) Responsabilidade dos sócios limitada ao preço de emissão. c) Formada no mínimo por dois sócios. III – O OBJETO SOCIAL Objeto social é o fim comum a que os sócios ou acionistas aderem e se vinculam, visando à organização de uma atividade para promovê-lo e atingi-lo. O objeto social da empresa deve ser definido no estatuto. A sociedade somente se obriga dentro dos limites do objeto social. Os atos da administração que ultrapassarem esses poderes são ultra vires e, como tal, nulos de pleno direito. A sociedade anônima será sempre uma sociedade mercantil, não existe a possibilidade de ter a S/A um objeto civil ou ainda misto, civil e comercial. Será sempre comercial. IV – DENOMINAÇÃO DA S.A. As S.A. não possuem firma ou razão social. Este tipo de empresa possuem hoje apenas um nome comercial ou denominação comercial. Entretanto, poderá a denominação apresentar o nome do fundador da empresa apenas como firma de homenagem, não dizendo que fundador ou seus herdeiros sejam responsáveis por estas empresas classificadas como S.A. A sociedade será designada por denominação acrescida das palavras “sociedade anônima” ou “companhia”, por extenso ou abreviada S.A. ou Cia. A denominação social é protegida, se a denominação for idêntica ou semelhante a de companhia já existente, assistirá à prejudicada o direito de requerer a modificação, por via administrativa ou em juízo, e demandar as perdas e danos resultantes. TÓPICO 1 | CRESCIMENTO DO ENSINO E DA CONTABILIDADE NO BRASIL 9 2.1.2 Classificação das S.A. I – ESPÉCIES DE S.A. São elas: • Sociedade anônima de capital fechado. • Sociedade anônima de capital aberto. II – SOCIEDADE ANÔNIMA FECHADA As S.A. fechadas são muito usadas por empresas de pequeno e médio porte e como tal, são constituídas nitidamente cum intuitu personae, isto é, têm em vista o caráter pessoal dos sócios, ou a sua qualidade de parentesco. As S.A. fechadas se assemelham as Ltda. Sendo assim, os estatutos das S.A. podem impor limitações à circulação das ações nominativas contanto que: a) Regulem minuciosamente tais limitações. b) Não impeçam a sua negociação, nem sujeite o acionista ao arbítrio da administração da sociedade ou da maioria dos acionistas. 2.1.3 Sociedade anônima aberta As S.A. abertas são aquelas que simplesmente possuam valores mobiliários de sua emissão admitidos à negociação em bolsa ou no mercado de balcão. Estes tipos de S.A. são destinados às grandes companhias. Nas últimas décadas, o cenário econômico e financeiro mundial vem mudando devido à globalização dos mercados. Em consequência muitas empresas brasileiras puderam, além de negociar suas ações no mercado financeiro nacional, passar a negociar suas ações no mercado financeiro do exterior. Assim, elas tinham que estar adequadas às exigências contábeis daquele país, a fim de disponibilizarem as informações para os investidores estrangeiros. Nesse sentido, as empresas se viram numa situação em que elas precisavam manter duas contabilidades, ou seja, uma que suprisse as exigências da legislação e do fisco nacional e outra para a elaboração das demonstrações e demais relatórios, de acordo com as exigências do país com que estava negociando sua companhia. Concomitantemente, aumentavam as discussões sobre os princípios fundamentais da contabilidade. Assim, tornava-se imprescindível que a legislação contábil brasileira precisava mudar, a fim de diminuir os custos contábeis e UNIDADE 1 | PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL 10 aumentar a confiabilidade nas informações e empresas nacionais que negociavam no balcão de valores estrangeiros. Nesse sentido, no ano de 2000, sob iniciativa da CVM, foi encaminhado a Executivo o Projeto de Lei nº 3.741, que mais tarde viria a se tornar a Lei nº 11.638. 2.2 CENÁRIO CONTÁBIL HOJE: SURGIMENTO DA LEI Nº 11.638/2007 Do Projeto de Lei nº 3.741, nasceria, mais tarde, a Lei nº 11.638 de 2007, que alterou e revogou alguns artigos da Lei das Sociedades por Ações (S.A.) e da Lei nº 6.385/76. Na visão de Azevedo (2009, p.26) a: Finalidade maior era possibilitar a eliminação de algumas barreiras regulatórias que impediam a inserção total das companhias abertas no processo de convergência internacional, além de aumentar o grau de transparência das demonstrações financeiras em geral, inclusive em relação às chamadas sociedades de grande porte não constituídas sob a forma de sociedade por ações. O cenário contábil no Brasil está sendo alterado. Com a aprovação da Lei nº 11.638, em 28 de dezembro de 2007, que entrou em vigor no dia 1 de janeiro de 2008,alguns métodos de reconhecimento e procedimentos já institucionalizados na contabilidade nacional sofreram alterações. O objetivo da referida legislação foi o de atualizar as regras contábeis nacionais à nova realidade da economia brasileira e facilitar o processo de harmonização das normas contábeis brasileiras às normas internacionais de contabilidade, mais especificamente às normas internacionais editadas pelo IASB (International Acconting Standards Boards), assunto que será tratado mais adiante neste caderno. ESTUDOS FU TUROS Mais adiante, neste Caderno de Estudos, será visto em detalhe o IASB (International Acconting Standards Boards). As alterações realizadas pela Lei nº 11.638/07 na lei das S.A. levaram a mudanças fundamentais, principalmente a assuntos referentes ao conteúdo e formato das demonstrações contábeis, apoiada pela Deliberação da CVM nº 506/06 e mais tarde pela Medida Provisória nº 449/2008, transformada na Lei nº 11.941, no ano de 2009. A Medida Provisória nasceu de uma dificuldade quanto ao texto da Lei nº 11.638/07 (FIPECAFI, 2010). TÓPICO 1 | CRESCIMENTO DO ENSINO E DA CONTABILIDADE NO BRASIL 11 A nova Lei nº 11.638/07 determinava em seu artigo 177, inciso 7º que os ajustes realizados com objetivo de convergir as normas contábeis brasileiras para as normas contábeis internacionais não poderiam servir de base para incidência de impostos e qualquer contribuição ou qualquer outro efeito tributário. No entanto, a própria Receita Federal manifestou sua dificuldade em reconhecer tal neutralidade tributária. Assim, o Governo editou a Medida Provisória nº 449/2008 com que reconhece a total neutralidade tributária referida pela lei nº 11.638/07 e aproveitou para corrigir certos desvios que ocorreram devido a mudanças do cenário mundial durante os tramites da nova legislação no executivo. (FIPECAFI, 2009). A seguir, no quadro, estão apresentadas as principais novidades trazidas pela Lei nº 11.638/07 e pela MP nº 449/2008: Novidade Onde encontrar 1 Inclusão de duas novas demonstrações contábeis: Demonstração do Fluxo de Caixa e a Demonstração do valor Adicionado. Lei nº 11.683/07 arts. 176/188 da Lei nº 6.404/76 (CPC 03 e 09). 2 Novos grupos dentro do Ativo e Passivo no Balanço Patrimonial. MP nº 449/08, art. 36 e arts. 178/ 179 da Lei nº 6404/76; (CPC 13). 3 Criação de uma nova conta: Intangível. Lei nº 11.683/07 arts. 178/179 da Lei nº 6.404/76 (CPC 04). 4 Imobilizado. Classificam-se também no imobilizado, inclusive os bens decorrentes de operações que transfiram à companhia os benefícios, riscos e controle desses bens/ Arrendamento mercantil. Lei nº 11.683/07 art. 179 da Lei nº 6.404/76 (CPC 27 e 06). 5 Redução do ativo ao valor recuperável/ Análise da Recuperação. Lei nº 11.683/07 art. 183 da Lei nº 6.404/76 (CPC 01) 6 Eliminação da conta do Ativo Deferido. MP nº 449/08, art. 37 e inciso X do art. 65 e Lei nº 6404/76, art. 299. 7 Eliminação da conta de Resultado de Exercícios Futuros. MP nº 449/08, art. 37 e inciso X do art. 65 e Lei nº 6404/76, art. 299 - B. 8 Nova conta de PL: Ajuste de Avaliação Patrimonial. Lei nº 11.683/07 art. 178/182 da Lei nº 6.404/76 e MP nº. 449/08 art. 36 e 57. 9 Eliminação da conta de Reserva de Capital/ Vedada a constituição de Reserva de Capital no BP/ Subvenções de Investimentos e Doações/ Prêmio recebido na emissão de debêntures. Lei nº 11.683/07 arts. 178/182 da Lei nº 6.404/76 (CPC 07). QUADRO 4 – PRINCIPAIS NOVIDADES TRAZIDAS PELA LEI Nº 11.638/07 E MP Nº 449/2008 UNIDADE 1 | PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL 12 10 Vedada a abertura da conta de Reavaliação de Bens. Lei nº 11.683/07 arts. 178/182 da Lei nº 6.404/76 11 Vedada a abertura ou permanência da conta Lucros Acumulados no BP, a destinação dos lucros seguir critério da CVM. Lei nº 11.683/07 arts. 176/178 da Lei nº 6.404/76 e MP nº 449. 12 Classificação da conta Ações e Tesouraria no PL. Lei nº 11.683/07 art. 178 da Lei nº 6.404/76. 13 Criação da Conta Reserva de Incentivos Fiscais no PL. Lei nº 11.683/07 art. 195 da Lei nº 6.404/76. 14 Na conta Reserva de Lucros – a realizar criada nova base/ Limite do saldo das Reservas de Lucros. Lei nº 11.683/07 art. 195 - A da Lei nº 6.404/76. 15 Novo critério de avaliação de ativos, em relação às aplicações em instrumentos financeiros, inclusive derivativos – Valor Justo. Lei nº 11.683/07 art. 182 da Lei nº 6.404/76 (CPC 14). 16 Novo critério de avaliação das operações de longo prazo – Valor Presente. Lei nº 11.683/07 arts. 183/184 da Lei nº 6.404/76 (CPC 12). 17 Eliminação da expressão não operacional da Demonstração do Resultado do Exercício/Participação nos lucros incluir parte beneficiária. Lei nº 11.683/07 art. 187 da Lei nº 6.404/76 e MP nº 449, arts. 36 e 58. 18 Transformação, Incorporação, Fusão e Cisão – avaliação e contabilização a critério da CVM. Lei nº 11.683/07 art. 226 da Lei nº 6.404/76 e MP nº 449. 19 Nova definição de Coligada/Novo critério na Metodologia de Equivalência Patrimonial. Lei nº 11.683/07 arts. 248/243 da Lei nº 6.404/76 e MP nº 449, art. 36. 20 Critério de avaliação e contabilização de Operações societárias – critério da CVM. MP nº 449, art. 37. 21 Correção do texto das Demonstrações Financeiras Consolidadas. MP nº 449, art. 36. 22 Incorporações de Ações – subsidiária integral – critério da CVM. MP nº 449, art. 36. 23 Consórcio de empresa – correção do texto. MP nº 449, art. 36. 24 Instituições Financeiras (Cia. Aberta) seguir a legislação bancária. MP nº 449, art. 59. 25 Melhor transparência nas informações contábeis nas Notas Explicativas. MP nº 449, art. 36 2 art. 176 da Lei nº 6.404/76. 26 Recomendação da adoção dos padrões internacionais as Demonstrações Financeiras das Cias. Abertas e Cias. Fechadas Lei nº 11.683/07 e art. 177, § 5º e 6º da Lei nº 6.404/76. 27 Separação da escrituração contábil da fiscal/Contabilidade Societária e Ajustes Fiscais – neutralidade fiscal, por meio da criação temporária do RTT (Regime Tributário Transitório). Lei nº 11.683/07 art. 177 da Lei nº 6.404/76 e MP nº 449, art. 36. (CPC 13). FONTE: Adaptado de: Azevedo (2009). TÓPICO 1 | CRESCIMENTO DO ENSINO E DA CONTABILIDADE NO BRASIL 13 Conforme se observa no quadro anterior, várias foram as novidades apresentadas às empresas pela nova legislação contábil e pela MP nº 449/2008 aos padrões contábeis brasileiros, principalmente referentes às demonstrações contábeis. Quanto à MP 449/2008, uma de suas maiores contribuições pode ser a separação entre aquela contabilidade que tem como objetivo gerar informações para seus usuários externos, daquela contabilidade voltada para uso do fisco, isto é, a contabilidade tributária (FIPECAFI, 2009). Já a Lei nº 11.638/07, sua maior contribuição está na contribuição ao processo de harmonização contábil internacional. Não esquecendo que as alterações realizadas pela Lei nº 11.638/07 na lei das Sociedades por Ações abarcam as empresas de capital aberto, fechado e se estendem às empresas de grande porte. DICAS A Lei nº 11.638 de 2007, a MP nº 449/2008 e a Lei nº 11.941 de 2009 estão disponíveis no site: <www.cpc.org.br>. 2.3 SOCIEDADE DE GRANDE PORTE Sociedades de Grande Porte de acordo com Lei nº 11.638/07, art. 3º, parágrafo único, estabelece que é aquela “sociedade ou conjunto de sociedades sob controle comum que tiver, no exercício social anterior, ativo total superior a R$ 240.000.000,00 (duzentos e quarenta milhões de reais) ou receita bruta anual superior a R$ 300.000.000,00 (trezentos milhões de reais)”. A referida legislação não detalha as características que uma empresa deve ter para se qualificar como uma “Sociedade de Grande Porte” assim, para sua classificação fica a referência do porte da companhia. É importante destacar que o artigo 3º da nova legislação tinha como objetivo incluir as empresas constituídas como limitadas aos seus critérios. Assim, tirava das mãos da empresa a opção, entre outras obrigações, a publicaçãodas suas demonstrações contábeis. Entre as sociedades possíveis de se classificarem como Sociedade de Grande Porte, encontram-se, segundo Azevedo (2009): a) Sociedades Simples (art. 997, CC); inclusive as Cooperativas (art. 1.093 CC); Sociedades em Nome Coletivo (art. 1.039, CC); Sociedade em Comandita Simples (art. 1.045, CC); UNIDADE 1 | PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL 14 b) Sociedade Fechada: Sociedade de Economia Mista (art. 235); Sociedade em Comandita por Ações (art. 280 S/A. e art. 1.090, CC), todas as anteriormente citadas já são S/A, porém, podem também ser enquadradas como Grande Porte, desde que atendam aos requisitos citados acima. Quando a obrigatoriedades, de acordo com o mesmo autor (2009), estas sociedades estão obrigadas, a partir de 2008, a Lei nº 6.404 de 76, porém, apenas ao que diz respeito às regras da escrituração contábil conforme artigo 177, da auditoria também conforme o artigo 177 (inciso 3º) e das demonstrações financeiras conforme artigo 176 da referida legislação. A seguir é apresentado um resumo das determinações da Lei nº 6.404/76 em seus artigos 177 e 179 às empresas de grande porte: • Escrituração Contábil (artigo 177): a realização de sua escrituração deve seguir os princípios contábeis. O regime de competência deve ser aplicado às normas internacionais, à assinatura das demonstrações contábeis e à realização dos ajustes contábeis que devem ser eliminados para fins de apuração fiscal. • Elaboração das Demonstrações Financeiras (artigo 179): as sociedades estão obrigadas à elaboração das seguintes demonstrações: Balanço Patrimonial; Demonstrações do Resultado do Exercício; Demonstrações dos Lucros ou Prejuízos Acumulados (podendo ser incluída a demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido, conforme artigo 189 da referida legislação); Demonstrações do Fluxo de Caixa; Demonstração do Valor Adicionado (apenas para sociedade aberta), Parecer do Auditor Independente; e Notas Explicativas (não esquecendo as diretrizes exigidas pelo Comitê de Pronunciamento Contábil e do Conselho Federal de Contabilidade, e sua consonância com as normas internacionais de contabilidade). • Auditoria Independente (artigo 177, inciso 3º): todas as demonstrações financeiras devem ser auditadas por um auditor independente, este profissional deve ser registrado na Comissão de Valores Mobiliários, conforme exigência da profissão e legislação. A Lei nº 11.638/07 e a Medida Provisória nº 449/2008 levaram às Sociedades de Grande Porte novas exigências, conforme segue: • Vedada a constituição da Reserva de Reavaliação. • Criação da conta do Intangível. • Novo conteúdo para contas do Imobilizado. • Extinção da conta Lucros Acumulados. • Criação da conta Ajuste de Avaliação Patrimonial. • Equivalência Patrimonial nos Investimentos em outras sociedades. • Avaliação do Ativo e Passivo. • Eliminação das contas do Diferido e Resultado do Exercício Futuro (MP 449/2008). TÓPICO 1 | CRESCIMENTO DO ENSINO E DA CONTABILIDADE NO BRASIL 15 • Extinto para fins societários, o termo não operacional da DRE (MP 449/2008). • Novos grupos patrimoniais para Ativo e Passivo (MP 449/2008). • RRT (Regime Tributário Transitório) para 2008/2009 (MP 449/2008). Assim, observa-se que a nova lei, além de abarcar todas as sociedades sujeitas à Lei das Sociedades por Ações é estendida a sociedades de grande porte. 16 Neste tópico, você viu que: • A evolução do ensino da contabilidade no Brasil data do início do século XX. A primeira escola especializada no ensino da contabilidade surgiu em 1902, com a criação da escola Alvares Penteado. O primeiro curso superior de Ciências Contábeis e Atuarias do Brasil foi aprovado apenas em 1945. • Na sequência foi abordada a Lei das Sociedades Anônimas nº 6.404/1976. E as novidades contábeis trazidas às empresas sujeitas a ela, como por exemplo, a criação dos registros auxiliares para atender à exigência fiscal. Destacou-se que tal legislação apresentava também, aspectos referentes ao mercado financeiro, como por exemplo, as características das companhias classificadas como Sociedades Anônimas ou Sociedade por Ações. • Apresentaram-se também, as várias formas de se constituir uma empresa: sociedade em comandita espécie, em nome coletivo, em cota de participação, em comandita por ações, anônima ou companhia e por cotas de responsabilidade limitadas. • Foi dada maior ênfase nas empresas classificadas como Sociedades Anônimas, explorando o seu conceito, características, objetivo social e os tipos de empresas classificadas como S.A. Conjuntamente, explicando a diferença entre os tipos de ações que constituem o capital de tal tipo de organização, ou seja, ações ordinárias e ações preferencias. • Abordou-se o cenário contábil hoje e o surgimento da Lei nº 11.638/07, demonstrando que o objetivo de tal legislação foi o de atualizar as regras contábeis nacionais a nova realidade da economia brasileira e facilitar o processo de harmonização das normas contábeis brasileiras as normas internacionais de contabilidade. Concomitante a isto foram apresentadas as alterações que a Lei nº 11.638/07 fez na Lei nº 6.404/76. • Na sequência, abordaram-se as novas classificações de empresas criadas pela Lei nº 11.638/07, chamadas de Sociedades de Grande Porte. Foi demonstrado o conceito dessas sociedades, como uma empresa se qualifica como tal, as obrigações para estas empresas, como por exemplo, quanto à escrituração contábil, à elaboração das demonstrações contábeis e à auditoria independente. RESUMO DO TÓPICO 1 17 1 A Lei nº 6.404 data de 1976 e ficou conhecida como a Lei das Sociedades por Ações. Assim, com relação a esta legislação é correto afirmar que: I- A criação da nova lei levou as empresas a elaborarem suas demonstrações contábeis de acordo com a escrituração contábil embasadas nos princípios contábeis. II- A Lei das Sociedades por Ações sofreu forte influência da escola americana contábil. III- Entre as novidades trazidas pela lei das Sociedades por Ações encontramos a consolidação do balanço. IV- Esta legislação não se aplica às empresas de capital aberto. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As afirmativas I, II, e III estão corretas. b) ( ) As afirmativas II e III estão corretas. c) ( ) As afirmativas I e III estão corretas. d) ( ) As afirmativas II e IV estão corretas. 2 Com relação à formação do capital das Sociedades Anônimas classifique as afirmativas em V para as verdadeiras e F para as falsas: ( ) O capital deste tipo de empresa é composto de dois tipos de ações: as preferenciais e as ordinárias. ( ) A ações ordinárias dão ao seu dono a preferência no recebimento dos dividendos, já as preferenciais dão aos seus donos o poder de tomar decisões organizacionais. ( ) A negociação das ações deste tipo de empresa apenas é negociado no mercado financeiro do país se a companhia estiver devidamente registrada na Comissão de Valores Mobiliários – CVM. ( ) A responsabilidade dos acionistas das Sociedades Anônimas é proporcional à parte que lhe cabe das ações, ou seja, da sua parte na empresa. 3 Com relação a Lei nº 11.638 de 2007, é correto afirmar que: a) ( ) A referida legislação anulou completamente a lei nº 6.404 de 1976. b) ( ) A referida legislação revogou e alterou apenas alguns artigos da lei nº 6.404 de1976. c) ( ) A referida legislação não tem como objetivo facilitar a harmonização das normas contábeis brasileiras às normas internacionais de contabilidade. d) ( ) Em 2008, entrou em vigor a lei nº 11.638, porém nenhum procedimento contábil foi alterado com a nova legislação. AUTOATIVIDADE 18 4 Algumas novidades foram apresentadas com a aprovação da Lei nº 11.638 de 2007. Assinale as afirmativas CORRETAS: a) ( ) As principais novidades são em relação às demonstrações contábeis. b) ( ) Foi incluída nova definição de empresa coligada. c) ( ) Não foi incluída a definição de Sociedade de Grande Porte, pois já existia tal definição com a Leinº 6.404/76. d) ( ) Recomendação da adoção dos padrões internacionais às demonstrações financeiras; das Cias. abertas e Cias. fechadas. 5 Com relação às Sociedades de Grande Porte, é correto afirmar que: a) ( ) A classificação Sociedade de Grande Porte foi criada com a Lei 11.638/07. b) ( ) Todas as empresas de capital aberto são classificadas como Sociedade de Grande Porte. c) ( ) As empresas classificadas como Sociedade de Grande Porte não são obrigadas a publicarem Demonstrações contábeis. d) ( ) Este tipo de sociedade não pode participar do mercado financeiro do país. 19 TÓPICO 2 A HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A cada dia maior se torna a interdependência entre mercado e países, devido ao avanço da tecnologia da informação e das telecomunicações que estabeleceram este novo cenário, impondo mudanças às empresas atuais para que elas mantenham seus negócios. Nesse contexto, o avanço geográfico das entidades e a busca por novos investidores realçam a importância da qualidade das informações contábeis. As informações contábeis são úteis para os usuários se elas os ajudam no processo de tomada de decisão, contudo, o bom entendimento destas informações é consequência da transparência e clareza das normas em que elas estão inseridas, pois diferentes interpretações levam a pouca credibilidade das informações contábeis. Todavia, cada país adota princípios, regras e procedimentos contábeis próprios que divergem uns dos outros. Tal situação leva a grandes dificuldades de transpor as contas da empresa de um país para outro, tanto no intuito de entrar em um novo mercado ou para efeitos de consolidação. As dificuldades que uma empresa enfrenta ao tentar entrar em um novo mercado começam com as diferenças das normas contábeis de um país para outro, entretanto para que este obstáculo seja transpassado é preciso que muitos outros também sejam deixados de lado, pois as mudanças das normas contábeis não aconteceram de um dia para outro. É preciso burlar diferenças culturais, políticas, jurídicas, profissionais entre outros. Assim, devido à relevância do tema, este capítulo abordará o processo de harmonização das normas contábeis brasileiras às normas contábeis internacionais, evidenciando as principais razões que levam às diferenças internacionais, verificando e avaliando os principais obstáculos no processo de harmonização das normas internacionais, analisando as vantagens e desvantagens da harmonização, as informações contábeis e suas características qualitativas e por fim os usuários e suas características. UNIDADE 1 | PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL 20 2 PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO DAS NORMAS CONTÁBEIS NACIONAIS ÀS NORMAIS CONTÁBEIS INTERNACIONAIS O primeiro passo dado pelo Brasil rumo à harmonização contábil internacional foi no ano de 2007, com a aprovação da Lei nº 11.638. No entanto, a busca pela convergência contábil internacional no Brasil, teve seu início com as mudanças econômicas sentidas com a abertura do mercado brasileiro na década de 1990, que trouxe um aumento do fluxo de capitais estrangeiros entrando no Brasil e o próprio aumento da captação de recursos de empresas brasileiras no mercado de capitais internacional. A fim de se entender o processo de convergência, define-se harmonizar e padronizar: harmonizar é tornar duas ou mais coisas parecidas, porém, conservadas as peculiaridades de cada um. Já padronizar é tornar algo uniformizado, e uniformizar não gera espaço para as singularidades de cada país. (NIYAMA, 2008). Dessa forma, usar o termo “harmonização contábil” é mais apropriado para o processo de convergências das normas brasileiras às normas internacionais, ao invés de falarmos em “padronização contábil”. De acordo com o autor acima citado, a internacionalização das normas contábeis brasileiras é classificada como uma harmonização destas normas e não padronização. A padronização destas geraria uma série de conflitos, ainda maiores do que as enfrentadas pelo processo de harmonização hoje. Estes conflitos decorreriam em função da dificuldade de igualar as normas em países completamente diferentes, seja em questões culturais, fiscais, geográficas e outras. A harmonização contábil não tem o objetivo de acabar com as diferenças entre os países, mas, sim, tornar a contabilidade compreensível, isto é, levar a informação contábil legível e útil em suas decisões independente do seu país de origem. A harmonização contábil se dará por meio da convergência das normas nacionais contábeis às normas contábeis internacionais, mais conhecidas como IFRS. (MOURAD, 2010). A harmonização representa, portanto, o equilíbrio ou ponto intermediário entre o padrão contábil de cada país em relação ao padrão estabelecido pelas normas internacionais de contabilidade. ATENCAO TÓPICO 2 | A HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL 21 Na visão de Niyama (2008), a harmonização contábil é um processo no qual cada país conservará suas particularidades, porém harmonizará seus sistemas contábeis com outros países a fim de facilitar a troca, interpretação e compreensão das informações, contribuindo para redução das diferenças internacionais entre os relatórios contábeis, permitindo assim a comparabilidade das informações contida nestes. O Conselho Federal de Contabilidade, em sua Resolução nº 1.055/05 destaca como principais objetivos da harmonização das normas contábeis: • A redução de riscos em investimentos internacionais quer sob a forma de empréstimos ou participações societárias, além da redução dos riscos comerciais, facilitando um melhor entendimento das demonstrações contábeis por parte dos investidores, financiadores e fornecedores. • Maior facilidade no entendimento da linguagem internacional de contabilidade, com a apresentação de informações mais homogêneas. • Diminuição do custo de capital ocorrido no processo de harmonização. A harmonização contábil deve ser vista como um processo que visa diminuir as diferenças entre as práticas contábeis dos países, sem desconsiderar as diversas diferenças entre eles. 2.1 VANTAGENS E DESVANTAGENS DA HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL O processo de harmonização das normas internacionais de contabilidade proporciona um conjunto de vantagens de natureza contábil, principalmente para os seus usuários. Niyama (2008) afirma que uma das vantagens da harmonização contábil, para países emergentes que buscam investidores e recursos estrangeiros, está no fato destes apresentarem seus relatórios contábeis em padrões internacionais, facilitando assim a leitura das informações presentes. Esses relatórios harmonizados geram certa segurança e maior transparência quando comparados àqueles relatórios ainda não harmonizados. Antunes, Antunes e Penteado (2007) também defendem que a adoção das normas internacionais de contabilidade está associada a benefícios econômicos concretos na forma de atração de maior volume de investimento, uma vez que a demanda por informações contábeis confiáveis e comparáveis para suportar a variedade de transações e operações deste mercado, ou seja, quanto maior a transparência, clareza e compreensibilidade, das informações financeiras das empresas, menor será o risco percebido por um investidor a sua aplicação e também menor será o investimento na empresa para redução de custos. UNIDADE 1 | PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL 22 Mais uma vantagem apresentada pela convergência das normas contábeis aos padrões internacionais, é o aumento da facilidade de comunicação internacional no mundo dos negócios com o uso de uma linguagem contábil bem mais homogênea. Pois, a adoção de padrões contábeis compreensíveis para o universo global dos investidores pode ser visto como um ponto vital no processo de atração de recursos externos. (ANTUNES; ANTUNES; PENTEADO, 2007). Destaca-se ainda, a redução dos custos para empresas multinacionais com matriz e filial sediadas em países diferentes, uma vez que havia um gasto considerável para mantere gerenciar sistemas contábeis diferentes devido às exigências contábeis diversificados. A harmonização facilitará também, a elaboração das demonstrações contábeis consolidadas entre este tipo de matriz e suas filiais, pois era necessária a realização de ajustes devido às diferenças nos critérios contábeis. (NIYAMA, 2008). A internacionalização das normas irá facilitar também as negociações internacionais, contribuindo para fixação de preços e decisão de obtenção de recursos econômicos, tornando os mercados financeiros internacionais mais eficientes. Outra vantagem da harmonização contábil será a possibilidade de aumento do capital das empresas por meio de emissão de ações, pois em função do pequeno valor de resultados que podem ser retidos para o financiamento de novos projetos, o mercado financeiro internacional passa a ser uma saída para a obtenção destes recursos de capitais. Acredita-se também que outra vantagem seria a maior consistência das informações contábeis, segundo Niyama (2008) e consequentemente do mercado financeiro, uma vez que os usuários internos e externos pudessem se basear no mesmo arcabouço de princípios e normas contábeis, pois a adoção de padrões contábeis compreensíveis para o universo global dos investidores é um ponto vital no processo de atração de recursos externos. Mesmo que tenhamos muitas razões para defender a harmonização contábil, ela também desperta algumas desvantagens. Assim, como desvantagem do processo de harmonização contábil encontramos a redução das opções de escolha de práticas contábeis apropriadas ao país. Uma vez que a contabilidade passará a ter um padrão único no seu contexto prático. Destacamos também que o progresso da contabilidade pode sofrer certos danos, pois práticas contábeis bem difundidas nos países serão deixadas de lado. Dessa forma, as diferenças que levam a academia contábil às discussões e estudo das práticas poderão ser esquecidas. Outra desvantagem da harmonização contábil, segundo Antunes, Antunes e Penteado (2007), é que este processo não leva em conta as diferenças fundamentais entre os países, como por exemplo, diferenças de cultura, da economia, religiosa entre outras, e que estas diferenças refletem nas práticas contábeis dos países. E estas diferenças podem dificultar, em muito, uma total harmonização. TÓPICO 2 | A HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL 23 2.2 RAZÕES QUE LEVAM AS DIFERENÇAS INTERNACIONAIS Mesmo a contabilidade sendo considerada a “linguagem dos negócios”, ela não é homogênea entre os países. Várias são as razões que levaram as diferenças das práticas contábeis internacionais. Características culturais, religiosas, políticas, econômicas, sistema legal, profissionais, acadêmicas entre outras são razões que influenciam, diretamente, na forma de reconhecimento e mensuração da contabilidade de um país, e consequentemente levando as práticas contábeis diferenciadas. Nesse sentido, Weffort (2005) elaborou um resumo das principais causas listadas pelos estudiosos do assunto, que levam as divergências nas práticas e normas contábeis, conforme exposto no quadro a seguir: Razões Genéricas Razões Específicas Características e necessidades dos usuários das demonstrações contábeis. - Nível de educação e sofisticação dos usuários (especialmente, do gestor de negócios e da comunidade financeira). - Tipo de sistema de financiamento. - Características das empresas: tamanho, complexidade, multinacionalidade, endividamento etc. Características dos preparadores das demonstrações contábeis (contadores). - Sistema de educação profissional dos contadores. - Status, idade e tamanho da profissão contábil. Modos pelos quais se pode organizar a sociedade sob a qual o modelo contábil se desenvolve. - Sistema político. - Sistema econômico e nível de desenvolvimento. - Sistema jurídico. - Sistema fiscal. Aspectos culturais. - Valores culturais. - Religião. - Linguagem. Outros fatores externos. - Históricos (principalmente, invasões e herança colonial). - Geográficos. - Laços econômicos e políticos. QUADRO 5 – PRINCIPAIS RAZÕES QUE LEVAM ÀS DIVERGÊNCIAS NAS NORMAS E PRÁTICAS CONTÁBEIS ENTRE OS PAÍSES FONTE: Weffort (2005, p. 42) Para colaborar com a autora anteriormente citada, foram diversas pesquisas realizadas a fim de identificar as principais causas das diferenças encontradas nos relatórios contábeis mundo a fora. Nesse sentido, Niyama (2008) apresenta mais sete razões que Elliot e Elliot (2002) listaram como razões que levam às divergências contábeis: UNIDADE 1 | PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL 24 • Aspectos do sistema legal do país; característica da base do direito do país. • A forma como as empresas buscam seus recursos, seja no mercado acionário ou com credores: as empresas normalmente buscam dinheiro em bancos ou outra forma de financiadora ou no mercado financeiro do seu país. • A relação entre o fisco e a contabilidade: a influência que o fisco tem na contabilidade ou vice-versa. • A influência e o status da profissão contábil: o poder que o contador tem de influenciar na elaboração das normas contábeis. • O grau de desenvolvimento do ensino e da teoria da contabilidade: a capacitação do profissional contábil e o desenvolvimento teórico da contabilidade. • Acidentes históricos: descobertas, guerras religiosas e outras. • A forma de comunicação – linguagem: diversas línguas pelo mundo. Dessa forma, as razões que levam as diferenças nas práticas contábeis são consequências de diversas características ambientais, assim elas não devem ficar engessadas, pois as causas anteriormente listadas se entrelaçam, e, na maioria das vezes, uma influência na outra. A ligação entre as causas como, por exemplo, questões culturais e religiosas sempre influenciam na politica de um país, laços econômicos e políticos influenciam no sistema fiscal e assim por diante. Diante disto, Niyama (2008) comenta ser natural que o sistema contábil de um país seja influenciado pelas suas políticas, filosofia, leis entre outros, pois cada país busca proteger seus interesses. 2.2.1 Aspectos do sistema legal do país A característica do sistema legal vigente no país influencia diretamente na contabilidade e consequentemente na adoção das normas internacionais de contabilidade. Entre os autores existe um consenso na classificação do sistema jurídico de um país, onde se diferenciam em dois grandes grupos, sendo chamados de Common-law e Code-law. Os países classificados como países Code-law são aqueles que possuem como base do seu sistema jurídico o direito romano. Entre os aspectos do direito romano está o alto grau de detalhamento das normas e regras apresentadas, onde tudo deve ser rigorosamente encontrado na legislação. A cultura de um país Code-law pode ser vista na contabilidade, isto é, a normatização contábil é fortemente influenciada pelo governo, refletido na legislação tributária. Há pouca flexibilidade na apresentação e elaboração das suas demonstrações. As informações contidas nestes relatórios possuem seu foco em usuários como o credor e o governo, logo um maior protecionismo dos mesmos, pois as empresas buscam seus recursos junto a eles e não no mercado financeiro (investidores). TÓPICO 2 | A HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL 25 2.2.1 Aspectos do sistema legal do país Como reflexo da forte influência do governo na elaboração da legislação contábil, temos uma profissão fraca e pouco influente, ou seja, a sua atuação é voltada para atender às necessidades do governo e dos credores, como bancos. Já países classificados como Common-law são aqueles que possuem sua base jurídica no direito anglo-saxônico. Como forte característica desse modelo destaca-se o pouco detalhamento da legislação e foco principal no que não se deve fazer. Em culturas Common-law, pressupõe-se que, se não está escrito na lei, é aceito. Para países anglo-saxônicos é importante levar em consideração o consenso popular. Assim, sua cultura, costumes e tradições sãofundamentais na hora de resolver um conflito. Quanto às características da contabilidade em países Common-law, observa-se pouca intenção de escrever em lei e engessar as práticas contábeis, pois os aspectos técnicos mudam frequentemente, ainda mais com um mercado altamente dinâmico. Niyama (2008) destaca que as características do modelo anglo-saxônico proporciona uma maior invocação nos relatórios contábeis. O foco das demonstrações contábeis no modelo Common-law são os investidores, diferentemente dos países Code-law. O mesmo autor afirma que foi a Grã-Bretanha a grande disseminadora desse modelo, e consequentemente espalhou o consenso de maior transparência e visando os acionistas destes relatórios, ou seja, as informações publicadas são voltadas para este público, o que não acontece em países do direito romano. As empresas situadas em países Common-law buscam seus recursos no mercado acionários, caracterizando-o como um mercado financeiro forte. Existe pouca influência do governo, isto é, quem legisla em prol da contabilidade são os próprios contadores, e como consequência disto a profissão é considerada forte. Assim, como características dos modelos Common-law e Code-law temos: BLOCO ANGLO-SAXÔNICO BLOCO CONTINENTAL BLOCO ANGLO-SAXÓNICO BLOCO CONTINENTAL Antecedentes • Direito inglês. • Profissão antiga, de grande dimensão e forte. • Grandes mercados de capitais. • Direito romano. • Profissão ainda recente, de pequena dimensão e fraca. • Pequenos mercados de capitais. QUADRO 6 – CARACTERÍSTICAS DOS MODELOS COMMON-LAW E CODE-LAW UNIDADE 1 | PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL 26 Características Contabilísticas Genéricas • Orientada para a imagem verdadeira e apropriada. • Orientada para o investidor. • Muita divulgação. • Separação entre as regras contabilísticas e as fiscais. • Predominam os standards profissionais e a substância sobre a forma. • Orientada para a forma legal. • Orientada para o credor. • Pouca divulgação. • A fiscalidade domina as regras contabilísticas. • Predominam as disposições governamentais e a forma sobre a substância. Características Contabilísticas Específicas • Método da percentagem de acabamento. • Cálculo das amortizações de acordo com períodos de vida útil. • Não existência de reservas legais. • Não existência de provisões para impostos. • Reconhecimento como custos das despesas do primeiro estabelecimento. • Método do contrato acabado. • Cálculo das amortizações de acordo com regras fiscais. • Existência de reservas legais. • Existência de provisões para impostos. • Capitalização das despesas do primeiro estabelecimento. Alguns Exemplos de Países • Austrália. • Canadá. • Dinamarca. • Estados Unidos da América. • Holanda. • Nova Zelândia. • Reino Unido. • Alemanha. • Bélgica. • França. • Grécia. • Itália. • Japão. • Portugal. FONTE: Adaptado de: Amaral (2008, apud NOBES 1996) 2.2.2 Influência e status da profissão contábil No Brasil, a profissão contábil é representada pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e pelo Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON). O amadurecimento da profissão contábil é consequência de vários fatores, porém, podemos destacar duas principais: primeiro a relação da contabilidade com o governo de seu país, e segundo a forma como as empresas captam seus recursos. A forma como as empresas buscam seus recursos classifica o mercado financeiro como sendo forte ou fraco, ou seja, em países onde as companhias captam seus recursos no mercado de ações são classificados como forte, já em países onde as empresas buscam seus recursos junto a bancos e outros credores, o seu mercado de ações são classificados como fraco. TÓPICO 2 | A HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL 27 2.2.2 Influência e status da profissão contábil Niyama (2008) comenta que um mercado de ações forte ou fraca influência na credibilidade das informações publicadas pela contabilidade. Países com um mercado financeiro forte, como por exemplo, Estados Unidos da América e Grã- Bretanha as divulgações contábeis são consideradas confiáveis e tempestivas. O autor comenta ainda que, as informações contábeis são requeridas pelos investidores, são os profissionais que normatizam a profissão e os critérios para o credenciamento dos auditores são estabelecidos pelos contadores. O amadurecimento e a influência da profissão e dos profissionais contábeis nestes países são vistos como fatores positivos, aumentando a confiança nas demonstrações contábeis fornecidas e nos relatórios gerados pela auditoria externa. Já em países que possuem um mercado de ações fraco, isto é, aqueles onde as empresas buscam recursos junto a bancos e outros tipos de credores, as informações contábeis buscam atender às necessidades deste tipo de usuários. Um mercado de ações enfraquecido gera pouca demanda por informações contábeis, consequentemente, os contadores são vistos como fornecedores de informações para o fisco. O fraco status da profissão contábil e a pouca influência dos profissionais geram certa insegurança na qualidade das informações disponibilizadas pela contabilidade e nos relatórios gerados pela auditoria. Nesse sentido, Niyama (2008, p. 29) lembra que os contadores são sempre lembrados “na hora de apresentar declaração do Imposto de Renda ou, no caso dos auditores, por ocasião de quebra ou falência de grandes empresas”. No caso brasileiro, observa-se forte influência do fisco na normatização da profissão contábil, o que baixa a influência dos profissionais na hora de editar suas leis e normas, há de se observar ainda que o status da profissão também é considerado abaixo do desejado, uma vez que órgão de classe contábil no país não “é politicamente forte o suficiente para influenciar órgãos governamentais legalmente autorizados para editar normas contábeis”. (NIYAMA, 2008, p. 29). 2.2.3 Ensino contábil e estrutura teórica contábil Uma estrutura conceitual teórica bastante desenvolvida está relacionada a uma profissão amadurecida e influente e com uma base forte nos princípios e padrões contábeis, ficando longe da influência do governo. Niyama (2008) argumenta que em países Code-law existe pouca flexibilidade na elaboração das demonstrações contábeis devido à forte influência do fisco. Dessa forma, a estrutura teórica também fica empobrecida, pois a intervenção do governo na contabilidade dificulta a inovação dos pesquisadores da área. UNIDADE 1 | PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL 28 Conforme mesmo autor, há um desenvolvimento do arcabouço teórico contábil à medida que a parte prática se desenvolve. Nesse sentido, o Brasil por ser classificado como um país baseado no direito romano, e por possuir um mercado de capitais fraco, onde a maioria dos usuários das informações contábeis são instituições financeiras, o desenvolvimento do arcabouço teórico ficou prejudicado. Porém, com a aprovação da Lei nº 11.638 de 2007 e principalmente com a desvinculação da contabilidade como um todo da área tributária, com a MP 449/08, a contabilidade brasileira está tentando fazer alterações que estimulem o interesse dos pesquisadores, a fim de desenvolver a teoria contábil no país. A forte ligação da contabilidade brasileira com o governo ou o fisco prejudica a divulgação de informações, pois os usuários externos, em maioria são agências financiadoras. A formação dos contadores também é fator importante no desenvolvimento teórico. A separação entre técnico contador e contador graduado, juntamente com o pequeno número de cursos de mestrado e doutorado no país são fatores relevantes para a caracterização do tipo de informação que é prestado pela contabilidade hoje no país. O ensino da contabilidade é pouco atuante na formação dos relatórios financeiros, na visão de Niyama (2008), devido ao: • Baixo número de cursos com qualidade no ensino. • O inexpressivo número de docentes com titulação adequada e formação acadêmica. • A pouca influência gerada pelos órgãos da classee da academia contábil na elaboração das normas e legislação contábil. Já aqueles países que adotam o modelo anglo-saxônico são caracterizados por possuírem uma estrutura teórica bastante desenvolvida, pois os usuários (investidores) são o foco da informação contábil. Nestes lugares, a teoria contábil é estimulada ao desenvolvimento, pois as necessidades dos usuários devem ser atendidas. Assim, o campo de inovação da teoria é bastante amplo. 2.3 INFORMAÇÃO CONTÁBIL Uma informação é a união de dados organizados que juntos tomam sentidos e significado tornando-se úteis ao processo de tomada de decisão. Onde dados são fragmentos ou elementos brutos, que individualmente não levam à compreensão de um fato. Quando os dados são organizados, eles se transformam em informação, por exemplo, os dados gerados pelo estoque permite ter a informação de quando existe a necessidade de compra e venda do material estocado. TÓPICO 2 | A HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL 29 2.3 INFORMAÇÃO CONTÁBIL Em se tratando especificamente das informações das contábeis, “elas resultam do processamento dos dados relacionados ao empreendimento, decorrentes das atividades desenvolvidas na organização”. (RIBEIRO FILHO; LOPES; PEDERNEIRAS, 2009, p. 307). De acordo com os autores acima citados, as informações utilizadas pela contabilidade são colhidas por ferramentas e técnicas de fontes internas e externas à organização. Dessa forma, a contabilidade pode ser vista como um sistema de informação que garante a coleta, o registro, a acumulação e o tratamento das informações, tanto as de caráter financeiro como as de caráter não financeiro. Com as novas alterações na legislação contábil brasileira, está se tentando elevar o nível informacional da contabilidade brasileira. Segundo Niyama (2008), a harmonização das normas contábeis tenta fazer com que as informações divulgadas em nosso país sejam mais amplas, e não tão restrita às agências financiadoras, visando assim aos investidores. A forma mais comum da contabilidade se comunicar com seus usuários e evidenciar as informações contábeis é por meio das demonstrações contábeis. ATENCAO Na visão de Iudícibus, Marion e Farias (2009), a informação contábil é de fundamental importância para uma empresa, porém, para se obtê-la a empresa incorrerá em certo custo. Sabe-se que todo bem econômico gera um custo, e como este as informações não são diferentes, no entanto, o custo incorrido para se obter uma informação deve ser inferior ao benefício trazido por ela. Fazer a relação entre o custo e o benefício da informação gerada nem sempre é fácil, Iudícibus, Marion e Farias (2009) comentam que os gestores sabem da importância de relacionar e mensurar estas duas variáveis, porém, mensurar e relacionar estas duas variáveis é muito difícil. Os mesmos autores acrescentam que na prática, quando os gestores estiverem com dificuldade de relacionar o custo e o beneficio de uma informação (ou de um sistema de informação), a melhor opção é observar os exemplos de outras empresas, priorizando os casos bem sucedidos. Todavia, uma das formas de se avaliar a qualidade das informações contábeis, e, portanto comparar o custo de sua geração com o benefício trazido por ela é analisando algumas das suas qualidades ou características das informações contábeis. (IUDÍCIBUS; MARION; FARIAS, 2009). UNIDADE 1 | PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL 30 2.3.1 Características qualitativas da informação contábil Nas atividades de uma organização, os gestores precisam das informações contábeis para auxiliar na escolha da melhor alternativa a fim de otimizar sua decisão. Porém, para que as informações disponibilizadas sejam úteis, elas devem possuir algumas características qualitativas, que segundo Hendriksen e Van Breda (2007) são elas que tornam a informação relevante para os usuários. Com a busca da harmonização contábil, o Comitê de Pronuncamentos Contábeis adotou integralmente o documento emitido pelo IASB (tratado mais a frete) intitulado Framework for the Preparation and Presentation of Financial Statements, e como consequência publicou o Promunciamento Conceitual Básico – Estrutura Conceitual para a Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis. De acordo com o próprio CPC, este documento traduzido no Brasil como Estrutura Conceitual Básica ou CPC 00, não objetiva ser uma norma, mas, sim, uma linha a ser seguida na elaboração dos pronunciamentos, normas e suas interpretações, principalmente em se tratado da análise e interpretação das informações contábeis, segundo Comitê de Pronunciamentos Contábeis. O CPC 00 não faz comentários a respeito de princípios contábeis, porém, destina especial atenção às características qualitativas da informação contábil, principalmente a primazia da essência sobre a forma. As características tratadas neste documento já constavam, mesmo que na forma um pouco mais dispersa, na estrutura conceitual contáabil anterir à nova legislação e ao processo de harmonização. (CPC 00). Assim, a novidade que o CPC 00 trouxe com relação às características qualitativas das informações contábeis é a união de todas as características das informações em um só documento. Fipecafi (2010) comenta que o ponto primordial com relação a estas características é a questão da primazia da essência sobre a forma na contabilidade. A essência sobre a forma é assunto fortemente divulgado e discutido em países, mas desenvolvidos contabilmente no Brasil. Esta discussão já vinha acontecendo entre os teóricos, porém não com tanto privilégio entre os profissionais. Agora com o processo de harmonização contábil e o CPC 00, tal discussão passou a ser feita em toda a esfera contábil nacional. A estrutura conceitual discorre sobre a elaboração e apresentação das demonstrações contabeis. Assim, ela engloba os objetivos, as características qualitativas da informação contábil, definição, forma de reconhecimento e critérios de medição dos elementos que compõem as demonstrações contábeis. (CPC 00). TÓPICO 2 | A HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL 31 2.3.1 Características qualitativas da informação contábil Nesse sentido, Coelho e Lins (2010, p. 183) afirmam que: No Brasil, as normas contábeis ininiciamente denominadas de princípios contábeis geralmente aceitos, atualmente representam-se apenas como pressupostos básicos e características qualitaticas das DC. Essas mudanças visam o alinhamento às normas internacionais de contabilidade inicialmente com a edição da Lei nº 11.638/07. Ainda de acordo com os mesmos autores, as características da informação são atributos que as tornam útil. Ateriormente à promulgação do CPC 00, a maioria dos autores tratava como características qualitativas das informações contábeis apenas a compreensibilidade, confiabilidade, relevância e comparabilidade. Com a introdução do CPC 00 ficou claro que as características qualitativas como, materialidade, representação adequada, neutralidade, prudência, integridade, primazia da essência sobre a forma também são características qualitativas das informações contábeis. Compreensibilidade A compreensibilidade está ligada com a clareza e objetivismo da informação contábil. Segundo Iudícibus, Marion e Farias (2010), uma informação compreensiva é considerada de fácil entendimento, isto é, as informações contábeis devem ser de fácil compreensão sobre todos os aspectos de determinada operação ou sobre os eventos, sendo expostos de forma clara e objetiva para o usuário a fim de facilitar sua utilização. Quanto a essa característica qualitativa da informação, Mourad (2010) afirma ser compreensível é aquela informação que o usuário entende, no entanto, não se justifica excluir uma informação contábil por ela ser complexa, pois não se deve esquecer que há vários tipos de usuários, e o que pode ser complexo para um pode não ser para outro. Destaca-se ainda, que o usuário, quando interessado em determinada informação contábil, e esta não seja de seu entendimento, tema opção de buscar uma pessoa que entenda do assunto a fim de explicar a informação contida no relatório. Nesse sentido, Mourad (2010) traz o exemplo dos relatórios disponibilizados pelos atuários sobre os planos de benefícios conforme IAS 19. O autor comenta sobre a complexidade das informações contidas neste tipo de relatório, o que o torna de difícil entendimento, pois há uma vasta gama de usuários das informações contábeis, no entanto, caso seja necessário, os interessados buscam um especialista na área que os ajudam no entendimento das informações. As informações exigidas pelas normas internacionais de contabilidade sobre a performance financeira da empresa não deve ser uma barreira para sua divulgação. Na visão de Mourad (2010), os especialistas devem redigi-las de forma clara utilizando uma linguagem que seja comum aos usuários, a fim de torná-la útil à tomada de decisão. UNIDADE 1 | PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL 32 Relevância Uma informação é relevante quando auxilia os usuários na tomada de decisão, isto é, a informação influenciará nas decisões tomadas pelos interessados ajudando-os a avaliar situações passadas, presentes e futuras ou confirmando algum evento do passado. A relevância da informação contábil foi destacada pelo International Accounting Standards Committee (IASC) em seu documento intitulado Framework for the Preparation and Presentation of Financial Statements, como sendo a característica mais importante das informações contábeis (IUDÍCIBUS; MARION; FARIAS, 2010). IMPORTANT E Informação relevante é aquela pertinente à questão que está sendo analisada. A relevância da informação contábil possui dois papéis importantes: o primeiro denominado valor preditivo e o segundo é o valor de feedback. O valor preditivo da informação é aquele que possibilita ao usuário fazer predições corretas sobre o passado e o presente da entidade. A segunda característica, o valor de feedback, visa confirmar ou corrigir expectativas futuras, pois obtendo o resultado de uma decisão passada, esta informação servirá como base para tomar uma decisão futura. (HENDRIKSEN; VAN BREDA, 2007). Iudícibus, Marion e Farias (2010) comentam que o valor preditivo das informações contábeis são constantemente utilizadas, como por exemplo, as informações financeiras passadas são utilizadas para prever a posição financeira futura da entidade, o pagamento de seus fornecedores, funcionários e governo. Nesse sentido, destacamos as demonstrações contábeis, como fonte de informação passada para previsão futura, tanto financeira como econômica da empresa. Porém, para que uma informação seja útil, ela precisa ser oportuna, ou seja, a informação deve estar disponível para a tomada de decisão a tempo, pois deixará de ser oportuna se perder sua capacidade de influenciar na decisão. (CPC 00). Confiabilidade Uma informação contábil será útil apenas se ela foi confiável. A confiabilidade é uma qualidade da informação que busca garantir que ela seja razoavelmente livre de erros e viés. Nesse sentido, FASB (apud HENDRIKSEN; TÓPICO 2 | A HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL 33 VAN BREDA, 2007) comenta uma informação confiável possui as funções de: • Fidelidade na representação: uma informação confiável busca representar fielmente o que foi destinada a representar. • Veracidade: estabelecer como verdadeira. • Neutralidade: sua apresentação é composta de certa neutralidade, ou seja, é a ausência de viés na direção de um resultado determinado. Para Mourad (2010), as informações contidas nas demonstrações contábeis são confiáveis quando elas são obtidas livres de erros no seu preparo, ou seja, aqueles erros consequentes dos processos ou do controle interno. Comparabilidade Uma informação se torna significativa quando sua apresentação possibilita a comparação de uma entidade com outra. O exemplo disto, na identificação de tendência, como posição financeira e patrimonial, os usuários precisam comparar as demonstrações contábeis de uma empresa através do tempo. (IUDÍCIBUS; MARION; FARIAS, 2010). O mesmo ocorre quando se busca comparar uma empresa com outra, isto é, o usuário deverá comparar as informações contidas nas demonstrações contábeis entre empresas a fim de identificar sua posição financeira e patrimonial dentro do mercado ou segmento em que atua. (MOURAD, 2010). Porém, destaca-se ser importante a comunicação da politica contábil utilizada na elaboração das demonstrações contábeis e quaisquer alterações que possam ter ocorrido, a fim de não prejudicar a característica de comparabilidade das informações contábeis. Iudícibus, Marion e Farias (2010) destacam a importância dos usuários identificarem a política contábil utilizada em operações semelhantes dentro de uma mesma empresa de um ano para o outro e em transações semelhantes entre entidades diferentes. Nesse sentido, os autores (2010, p. 47) afirmam que “a adequação aos padrões contábeis nacionais e internacionais, incluindo a evidenciação das políticas utilizadas pela entidade, ajuda a conseguir a comparabilidade”. Mourad (2010, p. 17) exemplifica a comparabilidade da seguinte forma: A utilização de diferentes sistemas de mensuração de estoque gera diferentes resultados. O uso de um método é essencial para permitir aos usuários comparar um período para o outro. Não deve haver mudança de politica contábil, a menos que uma norma ou lei solicite a mudança, ou essa nova mudança seja feita em uma base comparativa (com os devidos efeitos registrados nas demonstrações contábeis anteriores) tornando as demonstrações contábeis mais relevantes e não menos confiáveis para os usuários das demonstrações contábeis em sua tomada de decisão. UNIDADE 1 | PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL 34 Dessa forma, observa-se que os critérios contábeis não devem ser alterados sem exigência de lei ou norma, e o mais importante, a empresa é obrigada a evidenciar em notas explicativas, as alterações que a mudança dos critérios contábeis refletiria nas demonstrações do período anterior. Conjuntamente as qualidades anteriores, o Pronunciamento Conceitual Básico do Comitê de Pronunciamentos Contábeis, a fim de alinhar as normas nacionais as normas internacionais de contabilidade, comenta sobre outras características que a informação contábil deve possuir, sendo elas: representação adequada, neutralidade, prudência e a primazia da essência sobre a forma. Representação adequada Para uma informação ser confiável, ela deve representar adequadamente as transações e demais eventos que ela diz representar. (CPC 00). Neutralidade Uma informação contábil é confiável quando ela é neutra e imparcial. (CPC 00). Prudência No registro das informações contábeis é comum se deparar com incertezas envolvendo alguns eventos, como por exemplo, o recebimento de contas a receber de liquidação duvidosa, o número de reclamações cobertas por garantias que possam ocorrer e entre outras. Assim, a prudência baseia-se na aplicação de certo grau de cautela no exercício dos julgamentos necessários às estimativas em condições de incertezas. (CPC 00). Materialidade A informação é considerada material se a sua omissão ou distorção tiver o poder influenciar as decisões econômicas tomadas pelos seus usuários. Dessa forma, a materialidade irá depender do tamanho do erro ou da consideração das circunstâncias específicas da omissão ou da distorção. (CPC 00). Primazia da essência sobre a forma A fim de que as informações representem os eventos adequadamente, é necessário que os registros sejam contabilizados e apresentados conforme a sua substância e a realidade econômica, e não puramente a sua forma. O atendimento a esse princípio é fundamental para a qualidade das informações contábeis e da representação do fato econômico e posição financeira de qualquer empresa. Na visão da FIPECAFI (2010), o profissional contador e o TÓPICO 2 | A HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL 35 auditor devem, antes de tudo, ter um profundo conhecimentoda operação a ser contabilizada e ter certeza de que o documento formal está representado, de fato, a essência econômica da ocorrência que está sendo contabilizada. A fim de um melhor entendimento da essência sobre a forma, vamos discutir o exemplo elaborado por Coelho e Lins (2010). Os autores discorrem sobre três situações: Situação 1: uma empresa de transporte sediada na cidade do Rio de Janeiro compra um ônibus que realizará o translado entre Rio e São Paulo uma vez por semana. Outra empresa, sediada na região central do país, em um município do interior, compra um ônibus que será utilizado diariamente em ruas sem asfalto e, portanto, com vários buracos ao longo do trajeto. Situação 2: a empresa A compra um automóvel pelo sistema Leasing da empresa B, em 24 parcelas, quando ao final terá o direito de propriedade sobre o veículo. Situação 3: uma entidade cujos clientes ainda têm contas a pagar realiza uma cessão de créditos a uma financeira, com a intenção de antecipar valores. Todavia, fica acordado que a empresa será responsável por possíveis não pagamentos, ou seja, a empresa deverá ressarcir ao banco os valores que os clientes não pagarem. A seguir analisa-se cada uma das três situações anteriores: Analisando a primeira situação, percebe-se que as duas empresas poderiam registrar a depreciação pelo mesmo valor, ou seja, 20% ao ano, de acordo com o método linear aceito pela legislação do imposto de renda. No entanto, fica claro que a empresa, sediada na região central do país terá um desgaste muito maior em seu ônibus, trocando peças com mais frequência e possivelmente trocará seu ônibus em menos tempo que a outra empresa. Dessa forma, mesmo que a norma (forma jurídica) tenha estabelecido um índice igualitário, a situação real (essência) entre as duas empresas é diferenciada. Assim sendo, a utilização de um parâmetro igual para o registro da depreciação dos ônibus nas duas empresas não seria razoável, pois o desgaste aconteceria de forma mais acelerada em uma do que em outra. O mesmo ocorre na situação 2, pois o contrato na estrutura jurídica aponta uma forma de arrendamento (leasing) a transação realizada, porém uma análise da realidade demonstra uma transação de compra e venda financiada. Dessa maneira, fica claro o conflito entre a essência e da forma. A empresa A que fez o financiamento não pode contabilizar o bem financiado em seu patrimônio até o total quitamento das parcelas, pois o bem permanece em nome da outra empresa até se encerrar o financiamento. No entanto, na prática é a empresa A que está utilizando e incorrendo nas despesas do veículo com a manutenção e outras situações. Agora, olhando pela primazia UNIDADE 1 | PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL 36 da essência sobre a forma, o correto seria a empresa A contabilizar o bem em seu ativo imobilizado, mesmo que aos olhos da forma jurídica tal registro não deve acontecer. Na terceira situação deveria ser realizado o registro da provisão pela empresa a fim de registrar a essência da operação, mesmo que na realidade (juridicamente) não haja nenhuma dívida em questão. Assim, os autores comentam que seguir rigidamente os aspectos jurídicos na contabilidade pode descaracterizar a essência econômica dos fatos, conforme visto anteriormente. Considerando o principal objetivo da contabilidade, que é fornecer informação útil e fidedigna sobre o patrimônio a essência econômica deve prevalecer sobre a forma. (COELHO; LINS, 2010). Destaca-se, porém, que não se está estimulando um ato de infração, isto é, infringir a lei, mas sim, observar a real situação do fato econômico, e caso a operação levar a uma distorção da situação econômica e como consequência deturpa a informação contábil, assim descaracterizando a verdade sobre a posição patrimonial da entidade, precisa-se dar prioridade à realidade econômica do fato e não à forma jurídica. (COELHO; LINS, 2010). Integridade Uma informação contábil é útil quando ela é completa, não esquecendo os limites de custo e materialidade. Omitir uma informação pode levar à distorção das informações publicadas ou até mesmo a uma informação mentirosa, assim, torná-la não confiável o e defini-la em termos de sua relevância. (CPC 00). 2.3.2 Usuários e suas características O objetivo básico da contabilidade é gerar informação para auxiliar o usuário na tomada de decisão. Dessa forma, os usuários das informações contábeis são todos os interessados na empresa, podendo ser uma pessoa jurídica ou física. (FIPECAFI, 2010). Nesse sentido, a estrutura conceitual CPC 00 delimita os usuários da informação contábil como sendo: Investidores: os investidores são os provedores de capital de risco da empresa e seus analistas que estão sempre atentos aos riscos que envolvem os seus investimentos e ao retorno que ele pode trazer. As informações são utilizadas por eles a fim de decidir se devem comprar, manter ou vender os investimentos por eles realizados. Eles também estão interessados em saber se a entidade poderá ou não pagar seus dividendos. TÓPICO 2 | A HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL 37 2.3.2 Usuários e suas características Empregados: estes usuários buscam informações sobre a lucratividade e a estabilidade de seus empregadores. Interessam-se também em informações que os permitam avaliar a capacidade de seus empregadores quanto ao pagamento de sua remuneração, benefícios de aposentadoria e oportunidade de empregos. Empresas financiadoras, fornecedores e outros credores: o interesse desse público gira em torno de informações que o permitam avaliar a capacidade da empresa em pagar seus empréstimos e os respectivos juros no vencimento. Clientes: estes usuários buscam informações sobre a continuidade da empresa, principalmente se dependerem dela como um fornecedor importante. Governo: este está interessado na destinação dos recursos realizados pelas entidades, como também, em colher informações que o auxilie no estabelecimento de regulamentação e políticas fiscais, como também, para que elas serviram de base para identificação de estatísticas, como por exemplo, a renda nacional. Público em geral: as informações das empresas ajudam ao público na identificação da contribuição que elas levam à sociedade e a identificarem o desempenho e desenvolvimento recentes. Os usuários são classificados como usuários internos e externos (IUDÍCIBUS, 2004). São considerados usuários internos, segundo o mesmo autor, todos aqueles envolvidos na atividade de planejar, organizar, dirigir e controlar as operações da entidade. Já os usuários externos são aqueles que não estão envolvidos nas atividades da empresa, porém têm interesse em saber sobre suas operações e sobre sua situação econômica. (IUDÍCIBUS, 2004). O interesse de cada grupo de usuários e de cada usuário nas informações contábeis varia. Nesse sentido, Hendriksen e Van Breda (2007) comentam que há problemas em definir qual o grupo principal de usuários das informações contábeis devido a sua variedade, como também à quantidade e ao tipo de informação ser divulgada, uma vez que, na maioria das vezes, dependerá do usuário a que elas se destinam. No quadro a seguir, estão apresentadas algumas das necessidades dos usuários das informações contábeis: UNIDADE 1 | PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL 38 QUADRO 7 – NECESSIDADES INFORMACIONAIS DOS USUÁRIOS DA CONTABILIDADE Necessidade informacionais dos usuários da contabilidade Usuário Informações Primárias Acionista minoritário Fluxo de dividendos; lucro por ações. Acionista controlador Fluxo de dividendos; manutenção do lucro por ação; valor de marcado das ações; desenvolvimento do negócio. Acionista preferencial Fluxo de dividendos mínimos; lucro por ação. Financiadores Geração de fluxo de caixa; capacidade de líquidas obrigações; avaliação do desempenho da empresa e de seus administradores. Governo Receita e lucros tributáveis; limites operacionais; produtividade; solvência; valor adicionado; beneficio acomunidade. Empregados e sindicatos Lucro; fluxo de caixa; liquidez; continuidade operacional; manutenção ou expansão da capacidade produtiva; investimento social. Administração e gestores Taxa de retorno; situação de liquidez e endividamento e razoáveis; comportamento dos custos de produção, eficiência. Entidades Sociais Plano de benefícios; proteção ao meio ambiente; investimentos sociais. Instituição de pesquisa Rankings diversos. FONTE: Adaptado de: Ribeiro Filho, Lopes e Pederneiras (2010) 39 QUADRO 7 – NECESSIDADES INFORMACIONAIS DOS USUÁRIOS DA CONTABILIDADE RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você viu que: • Foi abordado o processo de harmonização das normas contábeis nacionais e as normas contábeis internacionais. Para isto foi definido o conceito de harmonização e o conceito de padronização. E porque se deve falar em harmonização e não padronização contábil. Destacaram-se ainda os principais objetivos da harmonização contábil, segundo o Conselho Federal de Contabilidade. • Foram demonstradas as vantagens e desvantagens que o processo de convergência das normas contábeis internacionais trará às empresas brasileiras. Entre outras vantagens foi apresentada a diminuição dos custos de publicação de demonstrações contábeis consolidadas e como desvantagem foi destaca que tal processo não leva em consideração as diferenças entre os países. • Na sequência contemplaram-se as razões que levaram as diferenças internacionais entre os países na visão de vários autores. Entre as principais razões, destacando os aspectos do sistema legal, ou seja, os aspectos dos países classificados como Code-Law e Commom-Law, a influência e status da profissão contábil e por fim o ensino e o desenvolvimento da teoria contábil. • Abordou-se, também, a informação contábil como fruto da contabilidade. As características qualitativas das informações contábeis apresentadas no CPC Conceitual Básico. E ainda de acordo com o CPC 00 foram vistos os usuários das informações contábeis e suas características. 40 1 Com relação à convergência das normas contábeis brasileiras às normas internacionais de contabilidade, é correto afirmar que: I- ( ) É mais prudente falar em harmonizar as normas contábeis ao invés de falar em padronizar, pois padronizar geraria mais dificuldade a convergência das normas. II- ( ) A harmonização das normas contábeis busca facilitar a troca, interpretação e compreensão das informações contábeis. III- ( ) Segundo o Conselho Federal de Contabilidade, a harmonização contábil diminuirá os riscos de investimentos internacionais. IV- ( ) A harmonização contábil deve ser vista como um processo que visa diminuir as diferenças entre as práticas contábeis dos países, desconsiderando as diversas diferenças entre eles. Considerando as afirmações anteriores assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A afirmativa II está correta. b) ( ) As afirmativas I e III estão corretas. c) ( ) As afirmativas III e IV estão corretas. d) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas. 2 A harmonização das normas contábeis levará aos países diversas vantagens. Nesse sentido, preencha as lacunas com as opções de palavras a seguir: a) Esses relatórios harmonizados geram certa ____________ e maior ____________ quando comparados a aqueles relatórios ainda ________ harmonizados; b) Mais uma vantagem da harmonização contábil é o __________ da facilidade de ____________ internacional no mundo dos negócios com o uso de uma __________ contábil bem mais homogênea; c) A harmonização facilitará também, a elaboração das demonstrações contábeis _____________ entre ___________ e suas ___________ situadas em países diferentes; d) A adoção das normas internacionais de contabilidade está associada a benefícios ________________ concretos na forma de atração de maior volume de ______________. 1 – aumento. 2 – econômicos. 3 – não. 4 – segurança. 5 – consolidada. 6 – linguagem. 7 – comunicação. AUTOATIVIDADE 41 8 – investimento. 9 – filial. 10 – transparência. 11– matriz. 3 Alguns autores caracterizam os países como Common–law e Code–law, onde cada grupo possui características que não se confundem. Dessa forma, classifique as alternativas a seguir como verdadeiras (V) e falsas (F): ( ) Países classificados como Common-law são conhecidos como países que possuem um profissional contábil independente, ou seja, forte influência do profissional contador na legislação de sua profissão. ( ) Em países classificados como Code-law, a legislação contábil possui forte influência do governo, ou seja, forte influência fiscal em suas normas. ( ) As informações contábeis são voltadas para os investidores em países classificados como Common-law, já em países classificados como Code-law, as informações contábeis são voltadas para credores. ( ) A legislação contábil, em países classificados como Common-law é classificado como progressista, já em países Code-law é classificada como conservadora. 4 Correlacione a coluna das características qualitativas das informações com a segunda coluna: Coluna 1 A - Compreensibilidade. B - Relevância. C - Confiabilidade. D - Prudência. E - Comparabilidade. F - Essência sobre a forma. Coluna 2 ( ) As informações devem ser apresentadas de forma que o usuário as entenda. ( ) É importante que as políticas da empresa sejam mencionadas em seus relatórios a fim de tornar as informações contábeis comparáveis no decorrer dos exercícios. ( ) Esta característica busca garantir que a informação seja razoavelmente livre de erros e de viés. ( ) Uma informação útil quando ela influencia a tomada de decisão do usuário das informações. ( ) Baseia-se na aplicação de certo grau de cautela no exercício dos julgamentos necessários às estimativas em condições de incertezas. ( ) Deve-se observar se a forma jurídica é a real essência do fato econômico. 42 5 Com relação aos usuários da informação contábil, é correto afirmar que: I- A contabilidade deve fornecer informação que leve os usuários à tomada de decisão. II- As características dos usuários da informação contábil nacional e dos usuários da informação contábil internacional são diferentes devido às características do sistema legal do país. III- Como grandes usuários das informações contábeis nacionais temos o governo e as agências financiadoras, por outro lado, em países anglo- saxônicos, temos o acionista ou investidor. IV- Como grandes usuários das informações contábeis nacionais temos o acionista e o investidor e, por outro lado, em países anglo-saxônicos temos o governo e agências financiadoras. Considerando as afirmações anteriores assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As afirmativas II e III estão corretas. b) ( ) Apenas a afirmativa I está correta. c) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas. d) ( ) As afirmativas III e IV estão corretas. 43 TÓPICO 3 ÓRGÃOS RESPONSÁVEIS PELO PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO O processo de convergência mundial às normas contábeis internacionais é um processo sem volta. Aos poucos, país a país passa a adotar as normas contábeis internacionais. Essa adoção não é compulsória, ou seja, não é obrigada aos países. A harmonização das normas contábeis brasileiras às normas contábeis internacionais deu um grande passo com a aprovação da Lei nº 11.638/07, conforme já foi abordado. Porém, cadê destacar o papel dos órgãos da classe contábil que estão participando de tal processo. Nesse sentido, destaca-se o papel do Conselho Federal de Contabilidade nesse processo. O CFC participa ativamente tornando norma os pronunciamentos técnicos elaborados pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis. O CFC juntamente com o IBRACON participam dentro do principal órgão internacional responsável pela harmonização contábil, o IASB, como representante do Brasil em tal organismo. Como um dos principais órgãos brasileiros neste processo destaca-se o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), que foicriado no ano de 2005 com o principal objetivo de estudar as normas contábeis internacionais e trazê-las para nossa realidade. Conjuntamente a estes dois órgãos, temos ainda a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que regulamenta o mercado financeiro brasileiro e o Instituto Brasileiro dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON), também trabalhando ativamente no processo de harmonização contábil. Como principal órgão internacional de contabilidade tem-se o International Accounting Standards Board (IASB), pois este é o organismo responsável pela criação das normas internacionais de contabilidade, conhecidas como International Financial Reporting Standards – IFRS. Colaborando com o IASB, entre os organismos internacionais de contabilidade, para que exista uma harmonização contábil mundial, tem-se: 44 UNIDADE 1 | PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL The International Organization of Securities Commission (IOSCO), Organization for Economic Cooperation and Development (OECD), European Union (EU), The International Federation of Accountants (IFAC), Financial Accounting Standards Board (FASB), Securities and Exchange Commission (SEC). Estes dois últimos organismos são norte-americanos. 2 ORGANISMOS NACIONAIS RESPONSÁVEIS PELA HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL O processo de harmonização contábil precisa ser apoiado pelos organismos da classe contábil para que o movimento seja fortalecido. Assim, no Brasil são vários os órgãos com interesse no sucesso desse processo. Estas entidades participam da convergência contábil por meio de suas normatizações, estudos ou propostas concentram esforços para que as normas contábeis nacionais sejam harmonizadas com as normas internacionais de contabilidade. (NIYAMA, 2008). Entre eles, citamos os mais atuantes, como o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o Banco Central do Brasil (BACEN) e o Instituto Brasileiro dos Auditores Independentes (IBRACON). Porém, destaca-se que muitos outros participam deste processo. 2.1 CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE – CFC O Conselho Federal de Contabilidade foi criado pelo Decreto-Lei nº 9.295, de 27 de maio de 1946. É uma Autarquia Especial de Caráter Corporativista, sem vínculo com a Administração Pública Federal. Sua estrutura, organização e funcionamento são estabelecidos pelo Decreto-Lei nº 9.295/46, normalizado pela Resolução CFC nº 960/03, que aprova o Regulamento Geral dos Conselhos de Contabilidade. O CFC é integrado por 27 conselheiros efetivos e por igual número de suplentes - Lei nº 11.160/05 e tem por finalidade, nos termos da legislação em vigor: • Orientar, normalizar e fiscalizar o exercício da profissão contábil, por intermédio dos Conselhos Regionais de Contabilidade, cada um em sua base jurisdicional, nos Estados e no Distrito Federal. • Representar os CRCs e sob a forma de Conselho Especial de Tomada de Contas, examinar e julgar as contas do CFC, organizadas e prestadas por seu presidente. TÓPICO 3 | ÓRGÃOS RESPONSÁVEIS PELO PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL 45 2.1 CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE – CFC • Registro, fiscalização e desenvolvimento da profissão contábil. Assim, destaca-se que o CFC tem como missão promover o desenvolvimento da profissão contábil, primando pela ética e qualidade na prestação dos serviços; realizando o registro e a fiscalização de profissionais e organizações contábeis; atuando como fator de proteção da sociedade. (CFC, 2011). O papel do Conselho Federal de Contabilidade na harmonização das normas contábeis é fundamental, além de participar juntamente com IBRACON, por meio de representantes, do International Accounting Standards Board – IASB. Este é o órgão máximo dentro da profissão contábil. Nesse sentido, o CFC como protagonista no processo de convergência, criou, no ano de 2005, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis. No ano de 2009, devido à dificuldade e à necessidade de normatizar o processo de convergência às normas internacionais de contabilidade, o CFC, por meio da Resolução nº 1.253/09, aprovou o CPC 37, intitulado “Adoção Inicial das Normas Internacionais de Contabilidade”, como sendo um guia em língua portuguesa e em forma simplificada para atender às necessidades das empresas e do mercado nacional. Ainda no mesmo ano, o CFC normatizou a adoção inicial das normas internacionais para as demonstrações consolidadas por meio da Resolução nº 1.198 de 2009, e o CFC segue acompanhando o Comitê de Pronunciamentos Contábeis no processo de convergência por meio de suas resoluções e normatizações. Assim, é possível perceber o papel fundamental do Conselho Federal de Contabilidade no processo de harmonização contábil, uma vez que, este é o órgão normatizado e fiscalizado da contabilidade no Brasil (CFC, 2011). 2.2 COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS - CPC O CPC foi criado pela Resolução CFC nº 1.055 de 2005. É um órgão suportado pelo Conselho Federal de Contabilidade, porém, com total independência nos seus pronunciamentos. Sua criação foi idealizada pela união dos esforços das seguintes entidades: • ABRASCA - Associação Brasileira das Companhias Abertas. • APIMEC NACIONAL - Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais. • BOVESPA - Bolsa de Valores do Estado de São Paulo. • CFC - Conselho Federal de Contabilidade. • FIPECAFI - Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis Atuariais e Financeiras. • IBRACON - Instituto dos Auditores independentes do Brasil. Cada instituição indica dois membros para participar do CPC, que no total possui 12 indivíduos. Para que seus pronunciamentos sejam aprovados são 46 UNIDADE 1 | PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL necessários 2/3 dos votos. Além da representação pelas seis entidades, o CPC convida para a participação em suas deliberações, membros dos seguintes órgãos: • Banco Central do Brasil. • Comissão de Valores Mobiliários (CVM). • Secretaria da Receita Federal. • Superintendência de Seguros Privados (SUSEP). O modelo do organizacional do CPC é espelhado nos órgãos que mais oferecem resultados do mundo, isto é, com a união dos preparadores das informações contábeis, os auditores destas informações, analistas e usuários, a academia contábil, além do apoio de autarquias como a CVM, BACEN e do Ministério da Fazenda entre outras. O CPC foi criado com os seguintes objetivos: estudo, preparo e emissão de pronunciamentos técnicos sobre procedimentos de contabilidade e a divulgação de informações dessa natureza, para permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando à centralização e uniformização do seu processo de produção, levando sempre em conta a convergência da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais. Como razões para sua criação foram argumentadas: • convergência internacional das normas contábeis (redução de custo de elaboração de relatórios contábeis, redução de riscos e custo nas análises e decisões, redução de custo de capital); • centralizações na emissão de normas dessa natureza (no Brasil diversas entidades o fazem); • representação e processo democráticos na produção dessas informações (produtores da informação contábil, auditor, usuário, intermediário, academia, governo). O Comitê de Pronunciamentos Contábeis é dividido em quatro coordenadorias assim constituídas: • Coordenadoria de Operações. • Coordenadoria de Relações Institucionais. • Coordenadoria de Relações Internacionais. • Coordenadoria Técnica. Quanto à harmonização, as normas internacionais de contabilidade, o CPC será responsável pela convergência das demonstrações para os padrões internacionais do IASB. Nesse sentido, o CPC é responsável pela criação dos documentos intitulados de: Pronunciamentos Técnicos (CPCs), Interpretações e Orientações. Dessa forma, segundo o regimento interno do CPC: TÓPICO 3 | ÓRGÃOS RESPONSÁVEIS PELO PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL 47 • Art.14: Os Pronunciamentos Técnicos estabelecem conceitos doutrinários, estrutura técnica e procedimentos a serem aplicados. • Art. 15: As Interpretações são emitidas para esclarecer, de forma mais ampla, os Pronunciamentos Técnicos. • Art. 16: As Orientações possuem caráter transitório e informativo, destinando- se a dar esclarecimentos sobre a adoção dos Pronunciamentos Técnicos e/ou Interpretações. DICAS Todos dos Pronunciamentos Técnicos, Interpretações e Orientações podem ser acessados no site do CPC: <www.cpc.org.br>. Segundo FIPECAFI (2010, p. 15), quanto aos tramites legais para que os Pronunciamentos Técnicos, também conhecidos pela sigla CPC, sejam normatizados devem: Assim, o processo acordado no Brasil é o de o CPC, primeiramente, emitir seu Pronunciamento Técnico, após discussão com as entidades envolvidas e audiência pública: após tem-se o órgão público (CVM, BACEN, SESUP etc.) ou mesmo privado (CFC etc.) emitindo sua própria resolução acatando e determinando o seguimento desse Pronunciamento do CPC. Assim, fica o Pronunciamento transformado em “norma” a ser seguida pelos que estiverem subordinados a tais órgãos. Com isso, a CVM, por exemplo, emite sua Deliberação (como tem feito desde 1986, com pronunciamentos emitidos pelo IBRACON) aprovando o Pronunciamento do CPC; o próprio CFC emite sua Resolução fazendo o mesmo idem com o BACEN, a SUSEP et al. Segundo Martins, Martins e Martins (2007), é provável que na maioria das situações existam apenas traduções de normas do IASB; em outras, quando for necessário, ajustes serão efetuados sem mudanças substanciais e em casos extremos é que poderá haver alguma não convergência, que deverá ser temporária, ou por razões de ordem legal ou outra a ser devidamente sanada. Destacam ainda, os mesmos autores, que em caso de se detectar que temos condições de emissão de uma norma tecnicamente melhor, ou de que há imperfeições na norma original, deveremos informar imediatamente ao IASB para que eles tenham a oportunidade de efetuar os ajustes, se com eles concordarem. Persistindo eventual divergência uma decisão terá que ser tomada que levará em conta a relevância da matéria e dos valores possivelmente envolvidos, com o objetivo maior da internacionalização das normas e outros, conforme cada caso. 48 UNIDADE 1 | PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL 2.3 COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS – CVM A Comissão de Valores Mobiliários é um órgão que tem por finalidade regular e fiscalizar o mercado de capitais, sendo assim, tem poder de criar normas, mas também de fiscalizar e punir eventuais irregularidades no que possam surgir. (CVM, 2011). A CVM foi criada em 1976, por meio da Lei nº 6.385/76. É uma entidade autárquica e está vinculada ao Ministério da Fazenda. Sua sede está situada na cidade do Rio de Janeiro, e possui duas Superintendências, uma situada na cidade de Brasília e outra na cidade de São Paulo. Sua composição se dá da seguinte forma: um presidente e quatro diretores, que são nomeados pelo Presidente da República. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) foi criada para exercer as seguintes funções: • assegurar o funcionamento eficiente e regular dos mercados de bolsa e de balcão; • proteger os titulares de valores mobiliários contra emissões irregulares e atos ilegais de administradores e acionistas controladores de companhias ou de administradores de carteira de valores mobiliários; • evitar ou coibir modalidades de fraude ou manipulação destinadas a criar condições artificiais de demanda, oferta ou preço de valores mobiliários negociados no mercado; • assegurar o acesso do público a informações sobre valores mobiliários negociados e as companhias que os tenham emitido; • assegurar a observância de práticas comerciais equitativas no mercado de valores mobiliários; • estimular a formação de poupança e sua aplicação em valores mobiliários; • promover a expansão e o funcionamento eficiente e regular do mercado de ações e estimular as aplicações permanentes em ações do capital social das companhias abertas. Dessa forma, é possível observar que sua função da CVM é disciplinar o funcionamento do mercado de valores mobiliários, cuidar da atuação das empresas de capital aberto, dos intermediários financeiros, dos investidores e outros que tenham sua atividade legada ao mercado financeiro. (CVM, 2011). O poder de regular as empresas de capital aberto é expresso na própria Lei das Sociedades por Ações. A legislação dá o poder a CVM de emitir pareceres, instruções e deliberações regulamentando a matéria contábil para as empresas S/A. Segundo Schmidt, Santos e Fernandes (2006, p. 17), a CVM “tem poder para disciplinar, criar normas e fiscalizar a atuação dos diversos agentes integrantes do mercado”, os autores afirmam ainda que “seu poder normalizador abrange TÓPICO 3 | ÓRGÃOS RESPONSÁVEIS PELO PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL 49 2.3 COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS – CVM todas as matérias referentes ao mercado de valores mobiliários, que incluem entre outras as seguintes matérias”: a) registros das companhias abertas; b) registros de distribuições de valores mobiliários; c) credenciamento de auditores independentes e administradores de carteiras de valores mobiliários; d) organização, funcionamentos e operações da bolsa de valores; e) negociação e interpretação no mercado de valores mobiliários; f) administração e carteiras e custódia de valores; g) suspensão ou cancelamento de registro, credenciamento ou autorizações; h) suspensão e emissão, distribuição ou negociação de determinados valores mobiliários ou decretação de recesso de bolsa de valores. A sistemática de registro e credenciamento tem como finalidade levar um fluxo de informação permanente aos interessados (investidores). A apresentação destas informações, por parte das companhias, é periódica, isto é, dependendo do tipo de informação podem ser fornecidas trimestralmente, anualmente e outras. Estas informações podem ser classificadas como financeiras ou fatos relevantes. Como informação financeira entendem-se as informações contábeis e informações de fato relevantes decorrentes de fatos que podem influenciar a decisão do investidor quanto a negociar com valores emitidos pela companhia. (CVM, 2011). A CVM não tem obrigação de fiscalizar qualquer informação disponibilizada pela empresa, no entanto, ela se preocupa com a regularidade e confiabilidade das informações destas, consequentemente normatiza e busca padronizar a forma de apresentação das mesmas. ATENCAO Segundo a própria CVM (2011), quando identificada qualquer irregularidade no mercado de valores mobiliários, a CVM tem competência para apurar, julgar e punir o responsável. Quando a CVM recebe uma denúncia ou suspeita de qualquer irregularidade, ela deverá abrir um inquérito administrativo, colher depoimentos, reunir informações e provas a fim de identificar o responsável. Depois de identificado, ela tem o direito de julgar e punir o/os responsáveis. As penalidades auferidas pela CVM variam de acordo com o delito, elas podem variar de simples advertências, multas, podendo até impossibilitar a empresa ou responsável de atuar no mercado de valores mobiliários. 50 UNIDADE 1 | PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL O papel da CVM no processo de harmonização contábil está concentrado em seus atos e revisões normativas dos procedimentos contábeis, onde esta autarquia busca equiparar os procedimentos nacionais aos internacionais. A CVM leva em consideração a harmonização das normas contábeis e, portanto, procura aperfeiçoar suas normas de modo que convirjam para as práticas internacionais e, para isso, procura acelerar esse processo de regulamentação, uma vez que, a partir de 2010 as companhias abertas devem apresentar suas demonstrações contábeis de acordo com as normas internacionais de contabilidade. Até 2009 essa exigência ficará facultada. (CVM, 2011). Essa harmonização facilitará de certa forma,o acesso das empresas brasileiras às fontes externas de financiamento. Portanto, a CVM não mede esforços para que as demonstrações contábeis estejam de acordo com as normas internacionais. Nesse sentido, a CVM, antes mesmo da aprovação da Lei nº 11.638/07, já vinha sendo influenciada pelas normas contábeis internacionais. A exemplo disto, em 2006, a CVM emitiu a Deliberação nº 506, de 19 de julho de 2006, que tinha como objetivo estabelecer normas sobre o tratamento e divulgação de Seleção das Práticas Contábeis, Mudanças em Práticas Contábeis, Mudanças em Estimativas Contábeis e Correção de Erros. A Deliberação nº 506/06 mantinha correlação com o IAS nº 8 (International Accounting Standard) e evidencia importância e a necessidade de que as práticas contábeis brasileiras sejam convergentes com as práticas contábeis internacionais, seja em função do aumento da transparência e da segurança nas nossas informações financeiras, seja por possibilitar, a um custo mais baixo, o acesso das empresas nacionais às fontes de financiamento externas. No ano de 2007, a CVM emitiu a Instrução CVM nº 457, de 13 de julho de 2007, nela a CVM estabelecia que as companhias de capital aberto deveriam elaborar suas demonstrações contábeis de acordo com as normas internacionais de contabilidade (IFRS) a partir de 2010, no entanto, deixava a critério das empresas a adoção das IFRS a partir de 2009. Com a aprovação da nova Lei das S.A., em 2008, a CVM edita a Medida Provisória nº 449 de 2008, como já falado anteriormente. Esta MP tem como objetivo neutralizar os impactos dos novos métodos e critérios contábeis introduzidos na Lei nº 11.638, de 28 de dezembro de 2007, na apuração das bases de cálculos de tributos federais. TÓPICO 3 | ÓRGÃOS RESPONSÁVEIS PELO PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL 51 2.4 INSTITUTO DOS AUDITORES INDEPENDENTES DO BRASIL – IBRACON O Instituto de Auditores Independentes do Brasil (IBRACON) conta com parcerias de outras entidades nacionais e internacionais, contribuindo com o aperfeiçoamento da profissão dos auditores independentes por meio de divulgações acerca das atividades do profissional bem como do campo de atuação. A função deste órgão é aprimorar e desenvolver por meio de discussões as questões éticas da profissão de auditor e contador, fazendo com que estes profissionais compreendam suas funções de modo que as apliquem corretamente. O IBRACON é um órgão com poder de normatizar a profissão do auditor, isto é, ele emite normas contábeis profissionais. Atua também como representante da classe de auditores diante de órgãos públicos e da sociedade em geral. Possui 130 empresas associadas em vários lugares do Brasil. (IBRACON, 2011). A fim de otimizar seu trabalho, o IBRACON se organiza em grupos, onde cada grupo de trabalho possui uma determinada função. A Comissão Nacional de Normas Técnicas (CNNT). Esta elabora pronunciamentos sobre normas de auditoria e princípios contábeis além de elaborar comunicados e interpretações técnicas. Porém, para isto, estes assuntos devem ser aprovados pela diretoria do IBRACON. Grupo de Trabalho 1 – INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS: tem por objetivo propor soluções técnicas para instituições financeiras da área contábil. Este grupo é constituído por associados do próprio grupo. IBRACON. Grupo de Trabalho 2 – SEGURADORAS: tem por objetivo estudar e analisar temas referentes à auditoria e contabilidade acerca das instituições asseguradas, empresas de capitalização e de entidades abertas de previdência privada. Quando julgam necessário, emitem orientações sobre assuntos relacionados à área. Grupo de Trabalho 3 - Grupo Técnico de Previdência: este grupo tem como atividade promover reuniões periódicas com vários órgãos a fim de discutir assuntos relacionados à auditoria. A participação do IBRACON na convergência das normas contábeis está relacionada a sua participação no CPC e as suas normas reconhecendo os Pronunciamentos Técnicos emitidos pelo CPC. O IBRACON juntamente ao CFC participa, por meio de representantes, do International Accounting Standards Board – IASB. 52 UNIDADE 1 | PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL 2.5 ORGANISMOS INTERNACIONAIS RESPONSÁVEIS PELA HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL A busca pela harmonização contábil mundial tem unido esforços de uma série de entidades da classe contábil, conforme já visto anteriormente, são vários os órgãos nacionais envolvidos, e o mesmo ocorre com os órgãos internacionais de contabilidade. Nesse sentido, podemos listar a participação de órgãos como: o International Accounting Standards Board (IASB), Financial Accounting Standards Board (FASB), The International Organization of Securities Commission (IOSCO), Organization for Economic Cooperation and Development (OECD). 2.6 INTERNATIONAL ACCOUNTING STANDARDS BOARD – IASB O International Accounting Standards Board (IASB) é o atual Colegiado de Padrões Contábeis Internacionais. Até 2001, o IASB era conhecido como International Accounting Standards Committee (IASC) em português Comitê de Normas Internacionais de Contabilidade (IASC). O IASC foi criado em 1973, no Congresso Internacional de Contadores em Melbourne, na Austrália, pelos seguintes países: Austrália, Canadá, França, Alemanha, Japão, México, Holanda, Grã-Bretanha, Irlanda e Estados Unidos da América. (IASB, 2011). Tinha como objetivo desenvolver um novo padrão de normas contábeis internacionais para serem aceitas internacionalmente, segundo Mourad (2010). O IASC foi uma fundação independente, sem fins lucrativos e com recursos próprios que vinham de várias instituições internacionais. Os primeiros pronunciamentos contábeis internacionais foram chamados de IAS, devido ao seu criador, o IASC. Tais pronunciamentos estão em vigor até hoje. De acordo com o mesmo autor, em 2001 o IASC deu espaço para o IASB que assumiu diversos projetos do seu antecessor. Assim, foi constituído o processo de criação e validação das novas normas internacionais de contabilidade a serem emitidas pelo IASB, intituladas de International Financial Reporting Standards ou IFRS. O IASB é uma entidade independente do setor privado, sua sede é localizada em Londres, Grã-Bretanha. Ele é composto por um conselho de membros de mais de 140 organismos de todo o mundo. Os representantes do Brasil no IASB, conforme já visto anteriormente, são o CFC e o IBRACON. Segundo Niyama (2008), o IASB tem como objetivo: TÓPICO 3 | ÓRGÃOS RESPONSÁVEIS PELO PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL 53 • Desenvolver, no interesse público, um conjunto único de normas contábeis globais de alta qualidade, inteligível, exequível, que exijam informações de alta qualidade, transparentes e comparáveis nas demonstrações contábeis e em outros relatórios financeiros, a fim de ajudar os participantes do mercado de capital e outros usuários em todo o mundo a tomar decisões econômicas. • Promover o uso e sua aplicação rigorosa das normas internacionais. • Promover a convergência das normas contábeis locais às normas contábeis internacionais de contabilidade de alta qualidade. Assim, estas normas têm por objetivo a transparência em todos os dados disponibilizados, proporcionando um mercado de capital aberto para negociações, bem como a publicação de padrões contábeis de qualidade. Permitirá também, a comparação dos relatórios contábeis entre diferentes países. (NIYAMA, 2008). O mesmo autor destaca que as IFRS não têm caráter compulsório, ou seja, não são obrigatórias. Estas normas buscam servir de referência para facilitar a harmonização das normas contábeis, e como consequência facilitar o entendimento das informações contábeis pelos investidores, autoridades, e agentes econômicos em geral. Cada uma das normas emitidas pelo IASB trata de assuntos específicos, porém em algumas situações é possível adotar mais de uma norma. Nestes casos, o órgão define um benchmarking que é um procedimento alternativo indicado. Devido a estas situações, as normas contábeisdo IASB foram criticadas por permitirem demasiadas alternativas contábeis para o tratamento de algumas transações e eventos, o que levou o IASB a considerar as seguintes prioridades: • Desenvolver normas contábeis que vão ao encontro das necessidades dos mercados de capitais, em nível internacional e às empresas. • Desenvolvimento e implementação de normas adequadas aos países em desenvolvimento. • Eliminar as diferenças entre normas nacionais e internacionais. Pode-se ser considerada grande dificuldade no estabelecimento de normas por parte do IASB a falta de autoridade que dê suporte aos seus esforços, sendo, pois, uma das maiores críticas que lhe são apontadas (NIYAMA, 2008). É elemento de destaque que existem alguns países que adotam somente as normas internacionais para empresas que necessitam de capital externo, conservando as normas nacionais para fins internos. De acordo com Niyama (2008), a União Europeia aprovou uma decisão de que todas as empresas sediadas nos países-membros devem apresentar suas demonstrações contábeis consolidadas, a partir de 2005. A Bolsa de Nova York 54 UNIDADE 1 | PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL aprovou uma medida semelhante, que permite que empresas estrangeiras lancem suas ações se os relatórios estiverem de acordo com as normas do IASB, também a partir de 2005. O IASB está comprometido em diminuir as diferenças contábeis entre os países. Assim, está empenhado em harmonizar as normas e dos procedimentos contábeis que levam a elaboração das demonstrações contábeis dos países com as IFRS. (MOURAD, 2010). Segundo o mesmo autor, a entidade elaborou o Framework, que inclui vários aspectos relevantes para a preparação das demonstrações contábeis, a seguir: • objetivo das demonstrações contábeis; • as características qualitativas que delimitam a utilidade das informações constantes nas demonstrações contábeis; • definição, reconhecimento e mensuração dos elementos do balanço patrimonial; • conceitos de capital e de custos de capital. O Framework é visto como fundamental para o entendimento das IFRS. Neste documento está incluída a base dos princípios e das definições fundamentais dos diversos elementos do balanço patrimonial em IFRS. Os aspectos das demonstrações contábeis determinadas no Framework são aplicados a todos os segmentos e setores, seja comercial, financeiro, público e privado. No Brasil, encontram-se os elementos do Framework no pronunciamento do CPC intitulado Estrutura Conceitual para a Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis. Documento este constante neste Caderno de Estudos. ATENCAO 2.6.1 International Financial Reporting Standards - IFRS As Normas Internacionais de Contabilidade, que inicialmente eram conhecidas como Internnational Accounting Standards (IAS), pois eram emitidas pelo antigo IASC, a partir de 2001 pararam a ser chamadas de International Financial Reporting Standards (IFRS) e emitidas pelo IASB. Segundo Lemes e Carvalho (2010), as IFRS não tratam apenas questões contábeis, mas buscam abranger todos os aspectos de temas que envolvem as divulgações de desempenho operacional por meio dos balanços, demonstrações do resultado do exercício, demonstrações de fluxo de caixa e notas explicativas. TÓPICO 3 | ÓRGÃOS RESPONSÁVEIS PELO PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL 55 2.6.1 International Financial Reporting Standards - IFRS O processo de nascimento de uma IFRS começa quando o IASB recebe a sugestão de um tema a ser incluído em sua agenda, vindo das mais diversas esferas. A partir deste momento um grupo de profissionais do IASB analisa a questão e busca soluções que possam existir ao redor do mundo. (LEMES; CARVALHO, 2010). Segundo Mourad (2010), como resultado da análise surge uma minuta para discussão, que é um documento resultante de uma audiência pública. Segundo o mesmo autor, quem tiver interesse pode acessar esta minuta e enviar sugestões e comentários ao IASB sobre o referido tema. Após análise das possíveis sugestões enviadas, o IASB reformula a minuta anterior e então delibera a emissão de uma IFRS. Tais normas, juntamente com suas interpretações, são vistas como princípios contábeis que têm como objetivo dar maior transparência nas demonstrações contábeis e aumentar sua comparabilidade para diversas empresas em diferentes países, assim, disponibilizando mais informações para a tomada de decisão pelos usuários dessas informações. (MOURAD 2010). Para Mourad (2010), a adoção das IFRS levam a vários pontos positivos, sendo eles: • maior transparência para os investidores; • maior facilidade para a captação de recursos no mercado; • a adoção das IFRS pelas empresas evidencia maior consistência e modernidade; • facilita para a empresa que já seja de capital aberto em seu país, tornar-se de capital aberto em outro país; • aumenta a comparabilidade entre empresas de mesmo segmento de países diferentes; • as maiores potências mundiais estão adotando as IFRS como única contabilidade no mundo, assim, a transparência está sendo muito considerada; • treinamento de funcionários, que no longo prazo representam uma redução de custo para a empresa; • aumento de divulgação de informações relevantes; • abertura de um mercado de trabalho para contadores brasileiros em outros países; • maior contato com a língua inglesa para elaboração e interpretação das IFRS. Todavia, o mesmo autor destaca alguns pontos negativos na adoção das IFRS, conforme segue: • é possível que ocorra um aumento nos custos, como divulgação de informações contábeis e implementação de sistemas; • será necessário uma quantidade de tempo, possivelmente grande, para que se adequar as novas retinas; 56 UNIDADE 1 | PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL • o aumento da divulgação de informações exigirá que as empresas entendam os impactos para analistas e para o mercado de capitais e decidir sobre as divulgações contábeis críticas sobre sua posição financeira e patrimonial, sobre a gestão de risco, segmento e análises de sensibilidade, pois na prática, a decisão e a geração de tais informações levam tempo na empresa e devem ser aprovadas por diversos departamentos e gerências da entidade. No quadro a seguir, encontram-se as 38 normas internacionais em vigor em 2010: IAS 1 Apresentação das demonstrações contábeis IAS 2 Estoque IAS 7 Demonstração dos Fluxos de Caixa IAS 8 Politicas Contábeis, Mudanças em estimativas Contábeis e Erros IAS 10 Eventos após a data do Balanço IAS 11 Contratos de Construção IAS 12 Imposto de Renda IAS 16 Imobilizado IAS 17 Leasing IAS 18 Receita IAS 19 Benefícios de Empregados IAS 20 Contabilidade e Divulgação para Benefícios Governamentais IAS 21 Efeitos de mudanças da taxa de Câmbio IAS 23 Custos de Empréstimos IAS 24 Divulgação de Partes Relacionadas IAS 26 Contabilidade e Relatórios dos Planos e Benefícios de Aposentadoria IAS 27 Demonstrações Contábeis Consolidadas e Separadas IAS 28 Investimentos em Coligadas IAS 29 Relatórios Contábeis em Economias Hiperinflacionárias IAS 31 Participação em Joint Ventures IAS 32 Instrumentos Financeiros: Apresentação IAS 33 Lucros por Ações IAS 34 Relatórios Contábeis Intermediários IAS 36 Impairment de Ativos IAS 37 Provisões, Passivos Contingentes e Ativos Contingentes IAS 38 Ativos Intangíveis IAS 39 Instrumentos Financeiros: Reconhecimento e Mensuração IAS 40 Propriedades de Investimento IAS 41 Agricultura IFRS 1 Adoção pela Primeira Vez das Normas Internacionais de Relatórios Financeiros IFRS 2 Pagamento com Base em Ações IFRS 3 Combinação de Negócios QUADRO 8 – LISTAS DAS NORMAS INTERNACIONAIS EM VIGOR ATÉ 2010 TÓPICO 3 | ÓRGÃOS RESPONSÁVEIS PELO PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL 57 IFRS 4 Contrato de Seguros IFRS 5 Ativos não Correntes Mantidos para Venda e Operações Descontinuadas IFRS 6 Exploração e Avaliação de Recursos Minerais IFRS 7 Instrumentos Financeiros: Divulgações IFRS 8 Segmentos Operacionais IFRS 9 Instrumentos Financeiros FONTE: Lemes e Carvalho(2010, p. 4) 2.7 FINANCIAL ACCOUNTING STANDARDS BOARD - FASB FASB é o Conselho de Padrões de Contabilidade Financeira que foi criado em 1973, por uma entidade independente, ou seja, os membros não podem estar ligados ao mercado de ações. Assim como o IASB, o FASB, emissor de normas norte-americano, também reconhece a necessidade da harmonização das normas contábeis, tendo assim, uma linguagem única (FASB, 2011). O FASB (2011) emite os seguintes documentos: a) SFAS – Statement of Financial Accounting Standards, é um pronunciamento sobre procedimentos de contabilidade financeira, que estabelece métodos e procedimentos para questões contábeis específicas, criando oficialmente, princípios de contabilidade geralmente aceitos. (GAAP). b) FASIs – FASBA Interpretations (Interpretação do FASB), que modificam ou ampliam tratados em pronunciamentos do FASB. c) TECHNICAL BULLETINS (Boletins Técnicos), que orientam sobre problemas contábeis e demonstrações financeiras. Segundo o próprio FASB (2011), antes de emitir um padrão, a proposta é submetida a um grupo de pessoas que desenvolvem uma discussão acerca do assunto e emitem suas opiniões. Esse grupo de pessoas é composto por contadores públicos, servidores governamentais e membros da academia, por serem pessoas com um alto nível de conhecimento exigido para esta função. Após este processo, é construída uma proposta de padrões de contabilidade e esta é submetida a comentários públicos. Isto facilita para as empresas, pois são informadas anteriormente das futuras alterações, antes mesmo de entrarem em vigor por meio do efetivo pronunciamento do FASB. O FASB, objetiva aproximar as informações das empresas americanas às europeias, visto que as diferenças nas normas contábeis podem prejudicar futuras decisões a serem tomadas pelos interessados em investimento no mercado de capitais. Com uma maior aproximação das informações facilitará o trabalho dos investidores no momento da análise. 58 UNIDADE 1 | PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL 2.8 SECURITIES AND EXCHANGE COMMISSION – SEC A função principal da SEC é proteger os investidores e manter a integridade dos mercados de valores. Devido a um número sempre crescente de novos investidores que está acontecendo é necessária a proteção do futuro do mercado de valores (SEC). As leis e regulamentos que regem o setor de transações de valores nos Estados Unidos se originam em um princípio muito claro: todos os investidores, grandes instituições e os cidadãos, deverão ter acesso a certos dados concretos acerca de seus investimentos, antes de negociá-los. Para alcançar este objetivo, a SEC exige das empresas com títulos negociáveis que ofereçam todas as suas informações financeiras a sua disposição. (NIYAMA, 2008). Isto proporciona uma plataforma comum de conhecimentos para todos os investidores que a utilizam e julgam se devem comprar, vender, com segurança. Somente através do fluxo constante de informações oportunas e abrangentes, os investidores poderão tomar sua decisão sobre seus investimentos (SEC). A SEC supervisiona também outros participantes do mundo das bolsas e mercados financeiros, incluindo as bolsas de valores, das corretoras, e fundos mútuos. A principal preocupação da SEC é promover a divulgação de informações importantes relacionadas com o mercado, mantendo negociação justa, bem como a proteção contra a fraude. (NIYAMA, 2008). Esta instituição regula o formato e o conteúdo das demonstrações contábeis das companhias abertas nos Estados Unidos da América, sendo ela a forma similar da Comissão de Valores Mobiliários brasileira. Tal instituição reconhece como sendo obrigatórios os pronunciamentos do FASB. 2.9 THE INTERNATIONAL ORGANIZATION OF SECURITIES COMMISSION - IOSCO (Organização Mundial das Comissões de Valores Mobiliários) Diferente dos órgãos já mencionados, o IOSCO não está voltado diretamente para normatização contábil. O seu papel é incentivar e promover o desenvolvimento e a integridade do mercado de capitais por meio de uma rigorosa aplicação das normas de contabilidade internacionais, buscando desta forma, atuação justa, eficiente e íntegra. O IOSCO é formado por 115 órgãos reguladores e segundo Niyama (2008), abrange em torno de 85% do movimento global do mercado de capitais do mundo. Anualmente organiza eventos e conferências que contam com a participação da CVM. TÓPICO 3 | ÓRGÃOS RESPONSÁVEIS PELO PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL 59 2.8 SECURITIES AND EXCHANGE COMMISSION – SEC Conforme Niyama (2008), seus objetivos são: • Auxiliar para a promoção de altos padrões de regulamentação de mercado de capitais, refletindo um mercado justo, eficiente e sadio. • Fomentar a troca de informações e experiências visando ao desenvolvimento do mercado de capitais domésticos. • Estabelecer padrões e efetivo monitoramento de transações internacionais, envolvendo títulos. • Fomentar a integridade do mercado por meio de uma rigorosa aplicação de padrões regulatórios. Em 1995, as companhias que transacionavam no mercado de capitais foram obrigadas a adotar as normas internacionais de contabilidade. Regra estabelecida pela IOSCO, que aparentemente, segundo Niyama (2008), facilitou para as empresas que pretendiam entrar no mercado norte-americano, cujas bolsas têm exigido demonstrações contábeis elaboradas com base no USGAAP (Generally Accepted Accounting Principles of USA - Princípios Contábeis Geralmente aceitos). Os USGAAP se preocupam em dimensionar as atividades econômicas. Desenvolveram-se quando surgiram indagações a respeito da execução destas atividades. 2.10 ORGANIZATION FOR ECONOMIC COOPERATION AND DEVELOPMENT - OECD (Organização para Desenvolvimento e Cooperação Econômica) O OECD foi fundado em 1960, com a adesão de 20 países. Hoje é formada por 30 países e é conhecido também como “Clube dos Ricos”, isso porque esses países são responsáveis pela produção de mais de dois terços do PIB (Produto Interno Bruto) mundial. (NIYAMA, 2008). As publicações envolvem questões econômicas e sociais, tais como macroeconômicas, comércio, educação e ciência. Seu papel é incentivar a harmonização das práticas contábeis, bem como agir como mediador para que os países membros possam se consultar a respeito de problemas econômicos preocupantes, como por exemplo, balança de pagamentos. (NIYAMA, 2008). Segundo Niyama (2008), a OECD possui um Grupo de Trabalho de Padrões Contábeis, que apoia esforços de entidades regionais, nacionais e internacionais para promover a harmonização contábil e atua como uma espécie de fórum de debates para troca de opiniões com as Nações Unidas, no que diz respeito à matéria contábil e relatórios financeiros. 60 UNIDADE 1 | PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL 2.11 EUROPEAN UNION - UNIÃO EUROPEIA (EU) A União Europeia originou-se em Roma, por meio da assinatura do Tratado de Roma, em 25 de Março de 1957, tendo como países fundadores França, Alemanha, Holanda, Luxemburgo, Bélgica e Itália, instituindo-se, então, a Comunidade Econômica Europeia (CEE). A harmonização das normas contábeis foi introduzida como parte integrante do programa de harmonização das leis empresariais. Necessidade surgida em função do objetivo principal que é fundamentado no desenvolvimento de um mercado único. O objetivo do programa de harmonização, contudo, não era a uniformização das leis, mas sim a sua equivalência e comparabilidade. O programa de harmonização tem sido feito através de instrumentos legais dirigidos aos Estados membros, que são obrigados a transpor para as normas nacionais o seu conteúdo, dentro de um determinado período de tempo. (NIYAMA, 2008). Segundo o mesmo autor, esta capacidade legal de introduzir alterações no sistema contábil de um país, a partir do exterior, é única no mundo. Nenhuma outra organização em nível mundial tem esse poder. Como consequência deste tipo de influência, há muita discussão e negociação entre os representantes de cadapaís na elaboração destes instrumentos legais. Estes instrumentos legais são inicialmente preparados pela Federation des Experts Comptables Européens (FEE), mas aprovadas pela Comissão Europeia após longo e complexo processo de negociação política. Muitas vezes estes instrumentos possuem várias opções para o tratamento da mesma situação e conteúdos que, em função de compromissos políticos, muitas vezes são mesmo contraditórios. Porém em 2002, a União Europeia passou a obrigar as empresas dos seus países membros que têm suas ações negociadas em Bolsas de Valores a utilizar as normas do IASB, objetivando a eliminação do tempo a ser despendido na adaptação a outras normas internas. 2.12 THE INTERNATIONAL FEDERATION OF ACCOUNTANTS – IFAC FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE CONTADORES) IFAC foi fundada em 1977, é uma organização não governamental sem fins lucrativos com sua sede em Nova York. É vista como um organismo que representa a classe contábil. Conta com a participação de 157 membros, e possui diversas atividades, e entre tais atividades está a de organizar o Congresso Internacional de Contadores. TÓPICO 3 | ÓRGÃOS RESPONSÁVEIS PELO PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL 61 2.11 EUROPEAN UNION - UNIÃO EUROPEIA (EU) A IFAC se empenha em proteger os interesses públicos desenvolvendo seus trabalhos de modo a estreitar o relacionamento da profissão contábil e buscando a convergência internacional dos padrões contábeis. (NIYAMA, 2008). Esta entidade organiza-se em comitês que desenvolvem diversas atividades. Segundo NIYAMA (2008), a IFAC publica padrões profissionais e guias de recomendação por intermédio destes: Comitê de Padrões de Auditoria: possui a finalidade normatizar padrões de auditoria, de controle de qualidade, de segurança da informação e serviços correlatos ao trabalho de auditoria, contribui também para a uniformidade das práticas profissionais em nível mundial. Comitê de Educação: sua finalidade é atuar como agente catalizador junto a países desenvolvidos ou em desenvolvimento ou naqueles cujas economias que estejam em fase de transição para aperfeiçoamento da educação na área contábil, por intermédio de programas ou estabelecimento de padrões ou guias de recomendação. Comitê de ética: sua finalidade é estabelecer o Código de Ética para Contadores, em nível global, servindo de modelo para que órgãos profissionais de classe em cada país possam editar seus códigos de ética. Comitê de Contadores Profissionais para Gerenciamento dos negócios: referido comitê sucede ao Comitê de Contabilidade Financeira e Gerencial e sua finalidade é a de orientar contadores em matéria de gerenciamento de atividades, tais como: ABM, Balanced Scorecard, orçamento, governança corporativa, gestão de custos, capital intelectual, entre outros. Comitê do Setor Público: é o responsável pela edição dos padrões contábeis internacionais do setor público, incluindo aspectos de auditoria para os governos locais, regionais e nacional. Comitê de Auditores Transnacionais: é um comitê executivo, cuja finalidade é identificar problemas na prática de auditoria, tais como controle de qualidade, práticas de auditoria, independência, treinamento e desenvolvimento e, finalmente, atuar de forma interativa entre firmas de auditoria multinacionais e reguladores internacionais com relação à qualidade dos trabalhos de auditoria e transparência dos atos. Como atividade principal a IFAC emite orientação técnica e profissional e promotora de adoção dos pronunciamentos do IASB. A IFAC e o IASB são constituídos pelos mesmos membros, mas são organizações distintas. O objetivo da IFAC é fazer com que haja um maior contato entre as organizações de modo que se fixem os procedimentos e as normas contábeis semelhantes para que a harmonização ocorra. 62 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, foram abordados os principais organismos responsáveis pela harmonização contábil mundial, tanto os nacionais como os internacionais. • Como principais organismos nacionais responsáveis pelo processo de harmonização das normas contábeis brasileiras às normas contábeis internacionais foram destacados: – Conselho Federal de Contabilidade (CFC): com seu objetivo, finalidade e participação no processo de convergência às normas internacionais. – Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC): com seu objetivo, finalidade e participação no processo de convergência às normas internacionais. – Comissão de Valores Mobiliários (CVM): com seu objetivo, finalidade e participação no processo de convergência às normas internacionais. – Instituto Brasileiro dos Auditores Independentes (IBRACON): com seu objetivo, finalidade e participação no processo de convergência às normas internacionais. • Como principais órgãos internacionais responsáveis pelos processos de harmonização contábeis mundiais, foram abordados: – International Accounting Standards Board (IASB): com seu objetivo, finalidade e participação no processo de convergência às normas internacionais. • Neste momento foram destacadas as normas contábeis internacionais conhecidas como International Financial Reporting Standards – IFRS, apresentando conceitos, objetivos e a finalidade. Foi destacado que tais normas não são compulsórias aos países, mas, sim, facultativos, ou seja, é opção do país se adequar a elas ou não. • Seguindo os órgãos internacionais responsáveis pelo processo de harmonização contábil foram apresentados: – Financial Accounting Standards Board (FASB): com seu objetivo, finalidade e participação no processo de convergência às normas internacionais. – Securities and Exchange Commission (SEC): com seu objetivo, finalidade e participação no processo de convergência às normas internacionais. – The International Organization of Securities Commission (IOSCO): com seu objetivo, finalidade e participação no processo de convergência às normas internacionais. – Organization for Economic Cooperation and Development (OECD): com seu objetivo, finalidade e participação no processo de convergência às normas internacionais. – European Union - União Europeia (EU): com seu objetivo, finalidade e participação no processo de convergência às normas internacionais. – The International Federation of Accountants (IFAC): com seu objetivo, finalidade e participação no processo de convergência às normas internacionais. 63 1 Qual das alternativas apresenta apenas órgãos nacionais que estão participando do processo de harmonização das normas contábeis? a) ( ) CPC – IBRACON – CVM. b) ( ) CVM – CPC – IASB. c) ( ) FASB – SEC – IOSCO. d) ( ) IFAC – CPC – CFC. 2 Qual das alternativas apresenta apenas órgãos internacionais que estão participando do processo de harmonização das normas contábeis? a) ( ) IASB – FASB – CFC. b) ( ) IOSCO – IFAC – CVM. c) ( ) IFAC – IASB – SEC. d) ( ) CPC – SEC – OECD. 3 Várias são as entidades participantes do processo de harmonização contábil, tanto nacionais como internacionais. Dessa forma é correto afirmar que: a) ( ) Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é o órgão responsável por fiscalizar e normatiza o mercado de capitais, porém não tem poder para punir as empresas irregulares do mercado de capitais. b) ( ) O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) é o órgão responsável por publicar as novas normas contábeis, conhecidas como CPC. No futuro, após as normas contábeis estarem completamente harmonizadas, este órgão não terá mais função e consequentemente, segundo sua própria legislação, ele será extinto. c) ( ) O IBRACON, órgão responsável pelo registro de todos os contadores brasileiros, tem como finalidade a normatização da auditoria externa. d) ( ) O Conselho Federal de Contabilidade (CFC) tem poder de fiscalizar os profissionais de contabilidade e ele utiliza os Conselhos Regionais de Contabilidade para esta função. 4 Com relação ao Comitê de Pronunciamentos Contábeis, é correto afirmar que: I- Este órgão é o responsável pela emissão das novas normas contábeis,ou seja, fica sobre sua responsabilidade a publicação das normas nacionais de contabilidade em harmonização com as normas internacionais de contabilidade. II - Caso este órgão identifique a possibilidade de uma emissão de uma norma técnica melhor ou alguma irregularidade nas normas internacionais, o CPC deve informar ao IASB para que os ajustes sejam feitos, caso o IASB concorde. AUTOATIVIDADE 64 III- Este órgão publica juntamente com seus pronunciamentos as interpretações e orientações, que visam colaborar com o entendimento das novas normas. IV- A criação deste órgão foi no ano de 2005, cinco anos anteriormente a reformulação da lei das Sociedades por Ações. Com relação a estas afirmações é CORRETO afirmar que: a) ( ) As afirmativas I, III e IV estão corretas. b) ( ) As afirmativas I, II e IV estão corretas. c) ( ) As afirmativas II e III estão corretas. d) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas. 5 Com relação aos organismos internacionais de contabilidade, é CORRETO afirmar que: a) ( ) O IASB é o atual colegiado de padrões contábeis internacionais. Dessa forma, vários países têm seus representantes dentro do IASB, defendendo seus interesses e ajudando na elaboração das normas. Nesse sentido, representando o Brasil dentro do IASB, temos os órgãos CFC e IBRACON. b) ( ) O FASB, órgão europeu é responsável pela emissão das normas contábeis em seu país. c) ( ) A SEC pode ser comparada a nossa CVM, ou seja, entre outras responsabilidades tem a obrigação de proteger os investidores do mercado de ações europeu. d) ( ) O IASB é responsável pela elaboração das normas internacionais de contabilidade conhecidas como IFRS e estas normas têm caráter compulsório a todos os demais países. 65 TÓPICO 4 PRINCIPAIS DIVERGÊNCIAS NO CRITÉRIO DE RECONHECIMENTO E MENSURAÇÃO ENTRE AS NORMAS INTERNACIONAIS E NACIONAIS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO O Brasil está passando pelo processo de convergência às normas internacionais de contabilidade. Este é um processo que demorará algum tempo a se concretizar por completo, pois existe uma série de divergências entre os países, seja em se tratando das normas propriamente ditas ou características anteriormente listadas. Pelo Brasil ter uma estrutura de legislação contábil atrelada ao governo gera algumas divergências entre as normas contábeis nacionais às normas contábeis internacionais. Entre as divergências mais comentadas entre os autores está a questão do reconhecimento de pesquisa e desenvolvimento, o reconhecimento do arrendamento mercantil e o Goodwill. Com relação à pesquisa e desenvolvimento temos divergência em relação às normas internacionais com o tempo aceito para a amortização dos gastos relativos à fase de desenvolvimento. As normas internacionais aceitam que os gastos relativos à fase do desenvolvimento do projeto sejam até quatro anos. Já a legislação brasileira aceita a amortização do mesmo gasto em até dez anos. Em se tratando do leasing ou arrendamento mercantil, como é tratado no Brasil, a legislação contábil determina que seja seguida a forma jurídica do bem, ou seja, de acordo com as características do contrato do arrendamento, seja, financeiro ou operacional. Enquanto que as normas internacionais orientam para a questão da essência sobre a forma. Quanto à questão do Goodwill, a divergência entre as normas contábeis nacionais e internacionais está novamente na amortização deste valor. Novamente encontramos divergência no tempo de amortização nas normas do Brasil e nas normas internacionais. 66 UNIDADE 1 | PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL 2 PRINCIPAIS DIVERGÊNCIAS NO CRITÉRIO DE RECONHECIMENTO E MENSURAÇÃO ENTRE AS NORMAS INTERNACIONAIS E NACIONAIS Com o processo de harmonização contábil tendo sido iniciado no Brasil, algumas transações realizadas pelas empresas têm gerado discussões devido aos procedimentos e forma de mensuração destas transações. Entre elas encontramos o tratamento da Pesquisa e Desenvolvimento, contabilização do Leasing Financeiro e Goodwill. (NIYAMA, 2008). 2.1 PESQUISA E DESENVOLVIMENTO De acordo com o IASB (2011), pesquisa e desenvolvimento possuem as seguintes definições: Pesquisa: é o esforço para se descobrir novas informações que contribuirão para a criação de um novo produto, serviço, processo ou técnica ou aperfeiçoamento de um já existente. Desenvolvimento: é a aplicação de recursos voltada para um plano ou projeto para aperfeiçoamento de um produto, serviço, processo ou técnica, já anteriormente existente. A questão que gera discussão na visão contábil é se tais gastos devem ser tratados como ativo ou serem tratados como despesa do período incorrido. (NIYAMA, 2008). Segundo o mesmo autor, a teoria contábil comenta que algumas despesas produzem efeito e têm o poder de beneficiar vários exercícios, e como consequência disso devem ser reconhecidas na mesma proporção que as receitas são obtidas ou a medida que os seus benefícios são auferidos. O autor segue comentando que os gastos com pesquisa e desenvolvimento são cada vez mais significativos, citando como principal as indústrias químicas e farmacêuticas. Nas normas internacionais de contabilidade, os gastos com pesquisa são tratados como despesas quando incorridos, porém os gastos com desenvolvimento quando atenderem às condições listadas a seguir devem ser tratadas como ativo: CONDIÇÕES 1 O produto ou processo em questão é claramente definido. 2 Os custos que são atribuídos podem ser identificados separadamente e mensurados com base segura. 3 A característica técnica do produto ou processo pode ser claramente identificada. 4 A empresa pretende produzir, disponibilizar no mercado ou utilizá-la internamente. TÓPICO 4 | PRINCIPAIS DIVERGÊNCIAS NO CRITÉRIO DE RECO. E MENSURAÇÃO ENTRE AS NORMAS INT. E NACIONAIS 67 2.1 PESQUISA E DESENVOLVIMENTO 5 O produto ou processo possui mercado próprio, caso seja utilizado internamente a empresa tem condição de comprovar sua utilidade ou benefício. 6 A empresa tem recurso para terminar o projeto. Os gastos com desenvolvimento que não atenderem às condições anteriormente citadas devem ser tratados como despesa do período. ATENCAO Para as normas internacionais se tais gastos forem capitalizados devem se amortizados com base sistêmica, considerando o período em que tais produtos forem inicialmente comercializados ou se o processo está pronto para utilização. A amortização tem prazo máximo de quatro anos. Já no Brasil, segundo FIPECAFI (2010), a empresa deve identificar se o ativo está na fase de pesquisa ou de desenvolvimento. Os autores seguem afirmando que caso haja dificuldade em identificar qual a fase que o ativo se encontre, os gastos envolvidos nesse processo devem ser considerados como decorrente da fase de pesquisa. Os gastos incorridos na fase do desenvolvimento devem ser reconhecidos no ativo somente se forem capazes de demonstrar: viabilidade técnica para conclusão; intenção de concluir o intangível; capacidade de usá-lo ou vendê-lo; mensuração da forma como este ativo deve gerar benefícios econômicos futuros; disponibilidade de recursos para terminar o desenvolvimento; capacidade de mensurar com segurança os gastos atribuíveis. Segundo a legislação e normatização nacional brasileira, os gastos com desenvolvimento devem ser capitalizados como ativo e amortizados durante o período esperado de futuros benefícios econômicos, porém não superior a dez anos. A CVM exige das empesas constante do mercado que vinculem e comprovem a capitalização destes gastos com a obtenção de receitas adicional no futuro. Há ainda algumas situações, na legislação nacional, que tais gastos podem ser tratados como despesas. Já os custos que a empresa incorrer para manter um produto, que já existente no mercado, atraente para o cliente e para o mercado, esses custos não deveram ser ativados, mais sim registrado como despesa do período. Os custos com desenvolvimento que são ativados estão relacionadosnormalmente com o projeto, produção e teste de novos produtos. (FIPECAFI, 2010). 68 UNIDADE 1 | PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL Ainda na visão de FIPECAFI (2010) um aspecto fundamental a ser levado em conta no registro contábil dos gastos com desenvolvimento de produto e sua amortização é incerteza da viabilidade e do período que o beneficio será trazido, isto é, o atendimento do principio da confrontação de receitas e despesas. Como consequência disto tais gastos são normalmente registrados como despesa do período em que são incorridos, com exceção de quando for possível evidenciar a viabilidade técnica e comercial do produto e comprovar a existência de recursos financeiros suficientes para a sua produção e comercialização, assim, consequentemente reduzindo a margem de incertezas da geração de benefícios econômicos futuros. (FIPECAFI, 2010). 2.2 CONTABILIZAÇÃO DO LEASING FINANCEIRO Como característica do Leasing, tanto no âmbito nacional como internacional, temos o leasing financeiro e o leasing operacional. Quanto ao tratamento contábil na maioria dos países do leasing financeiro segue a classificação como uma compra a prazo (arrendatária) e financiamento (arrendadora), já o leasing operacional segue o tratamento de um aluguel. (NIYAMA, 2008). A grande questão do leasing financeiro é em relação à primazia da essência sobre a forma, isto é, quem irá registrar como ativo o objeto do leasing? (NIYAMA, 2008). O mesmo autor segue afirmando que em uma visão legalista dos ativos, um bem não pode ser registrado como um ativo se não for de propriedade da empresa, assim consequentemente é a arrendadora que deve registrar este bem como seu ativo. Porém, para aqueles autores que defendem a visão econômica dos ativos, a essência deve prevalecer sobre a natureza jurídica da operação, isto é, a arrendatária que deve registrar o bem, mesmo que o ativo não seja de sua propriedade, pois é ela que está auferindo os benefícios econômicos e não a arrendadora. Assim, para o IASB se a transação caracterizar em essência uma compra a prazo financiada, o bem arrendado deve ser capitalizado pela arrendatária em seu ativo imobilizado em contrapartida a uma obrigação no passivo. O mesmo autor cita exemplos mencionados pelo IASB (2011) para se classificar um leasing financeiro: 1 no contrato tem que estar prevista a transferência da propriedade para a arrendatária; 2 o contrato tem que prever uma cláusula de opção de compra com um valor abaixo do mercado do bem; 3 o prazo estipulado no contrato do leasing cobre a maior parte da vida econômica estimada do bem arrendado; TÓPICO 4 | PRINCIPAIS DIVERGÊNCIAS NO CRITÉRIO DE RECO. E MENSURAÇÃO ENTRE AS NORMAS INT. E NACIONAIS 69 2.2 CONTABILIZAÇÃO DO LEASING FINANCEIRO 4 o valor dos presentes pagamentos do leasing representa o valor de mercado (fair value) do bem arrendado; 5 o bem arrendado possui natureza especializada, de modo que apenas a arrendatária pode utilizá-lo sem que modificações substanciais sejam necessárias. No Brasil, as operações de leasing são regulamentadas pela Lei nº 6.099 de 1974, em que ficou denominado como arrendamento mercantil, e sua fiscalização é função do Banco Central do Brasil – BACEN, que estabeleceu critérios para sua classificação como arrendamento mercantil como financeiro e operacional. O arrendamento mercantil financeiro deve apresentar as seguintes características, segundo Niyama (2008): • Garantia do valor residual, base para a opção de compra. Normalmente este valor é um valor fixo ou percentual do ativo arrendado, em que sua representação é o valor mínimo contratualmente devido pela arrendatária, excrescendo ou não a opção de compra. • Valor residual, base para a opção de compra, que um valor significativamente abaixo do mercado do bem arrendado. • Todos os riscos e benefícios trazidos pelo uso do bem arrendado são transferidos para a arrendatária. • Pagamento antecipado do valor residual garantido em única parcela ou durante a vigência contratual. • O valor presente dos pagamentos mínimos decorrentes é de contraprestações a receber e do valor residual garantido é igual ou maior ao valor de mercado do bem arrendado no início do contrato. No Brasil, mesmo um arrendamento mercantil apresentando características predominantemente financeiras, elas são contabilizadas como um aluguel a fim de obedecer à legislação fiscal, seja na arrendatária ou na arrendadora. No entanto, o Conselho Federal de Contabilidade editou a Resolução 921-01 (NBC T 10-2), contrapondo ao fisco, determinando a contabilização do arrendamento mercantil com características financeiras como financiamento de um bem. Nesse sentido, o CFC adotou os parâmetros similares ao do IASB (2011), a ver: • A contraprestação e outros pagamentos previstos no contrato, devidos pela arrendatária, são suficientes para que o arrendador recupere o custo do bem arrendado durante o prazo contratual da operação e somando-se a isto, obtenha retorno sobre os recursos investidos. • O valor residual ou a parcela principal que não estão incluídas nas parcelas a serem pagas pela arrendatária servirá de base para a opção de compra do em que foi arrendado, e significativamente abaixo do mercado. • O bem que foi arrendado é específico de tal maneira que somente o arrendatário pode utilizá-lo em suas atividades. 70 UNIDADE 1 | PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL Na visão do Conselho Federal de Contabilidade e do Comitê de Pronunciamentos Contábeis, um arrendamento mercantil é classificado como financeiro quando há a transferência substancial dos riscos e benefícios inerentes à propriedade de um ativo, mesmo que o título de propriedade venha ou não a ser transferido. Assim, os pagamentos das prestações do arrendamento mercantil financeiro não se caracterizaram como uma despesa e consequentemente serão registradas: parte como amortização parcial do saldo devedor da dívida e parte como pagamento de encargos financeiros, assim, o ativo deve ser depreciado pela sua vida útil e não pelo prazo de contrato. (AZEVEDO, 2009). A essência sobre a forma deve prevalecer na classificação e na contabilização do arrendamento mercantil assim como nas demais operações. Na situação em que os riscos e os benefícios específicos da propriedade de um ativo arrendado são transferidos ao arrendatário, a contabilização deve ocorrer como uma venda financiada, segundo Azevedo (2009). Para o mesmo autor, se os riscos e os benefícios permanecerem para o arrendador devem ser reconhecidos como arrendamento operacional. A classificação como arrendamento mercantil financeiro ou operacional deve ser no início do arrendamento e deve ser classificado de acordo com sua essência. 2.3 CONTABILIZAÇÃO DO GOODWILL Antes de entramos na questão do Goodwill, vamos definir o que é um ativo intangível, uma vez que este ativo pertence a este grupo de ativos. Para as normas internacionais de contabilidade um ativo intangível “é um ativo identificável, sem substância física para uso na produção ou fornecimento de bens e/ou serviço, para ser alugado a terceiros ou para propósitos administrativos”. (NIYAMA, 2008, p. 64). A norma internacional que trata do ativo intangível é a IAS 38, e de acordo com Niyama (2008), esta norma a empresa deve reconhecer como um ativo intangível se e somente se: • Se for provável que os benefícios econômicos futuros, que são atribuíveis ao ativo, permaneça na entidade. • O custo deste ativo pode ser mensurável com certa confiabilidade. TÓPICO 4 | PRINCIPAIS DIVERGÊNCIAS NO CRITÉRIO DE RECO. E MENSURAÇÃO ENTRE AS NORMAS INT. E NACIONAIS 71 ESTUDOS FU TUROS O ativo intangível será visto mais profundamente na Unidade 2 deste Caderno de Estudos, em que será tratado o Balanço Patrimonial. Neste momento será falado apenas de uma de suas possíveis contas. Como regra geral, o IAS 38 exige que o ativo intangível seja amortizado em base sistêmica, de acordo com a melhor estimativa de vidaútil, não superior a 20 anos. Porém, quando a estimativa de vida útil do ativo for superior a 20 anos a empresa deve: • Amortizar o ativo intangível durante a melhor estimativa de sua vida útil. • Deve estimar o valor que o ativo intangível pode ser recuperado anualmente, a fim de identificar uma possível existência de perda por impairment. • Mostrar as razões que levaram a empresa a estimar a vida útil do ativo intangível superior a 20 anos. Niyama (2008, p. 65) afirma que “costuma-se afirmar que o Goodwill é um intangível que presumidamente permite a empresa auferir ganhos para os quais os ativos tangíveis isoladamente não teriam esta capacidade”. O mesmo autor argumenta que nesta linha, portanto, se incluem itens como boa reputação, imagem competência da administração, clientela etc. Assim, o Goodwill é a diferença ou excesso pago entre o valor contábil das ações e o valor de mercado dos ativos líquidos, ou ainda o direito sobre os lucros futuros esperado da companhia. Este tipo de ativo intangível é mais comumente adquirido como resultado de renegociação de empresas, isto é, na compra de parte ou na totalidade de uma empresa pela outra, conhecido como ágio. Nesse sentido, a principal questão que envolve o Goodwill é se: a) Ele deve ser reconhecido como ativo e amortizado de acordo com sua expectativa de ganhos futuros. b) Deve ser baixado contra a conta de Patrimônio Líquido ou resultado do exercício. Outra divergência referente ao Goodwill entre as normas brasileiras e as normas internacionais está em relação ao tempo de amortização. No Brasil, o Goodwill caracterizado como ágio deve ser amortizado de acordo com a sua vida útil, e não superior a 10 anos. No entanto, a legislação fiscal admite a inclusão do Goodwill como ativo e com amortização de até cinco anos. 72 UNIDADE 1 | PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL MUNDIAL LEITURA COMPLEMENTAR IMPACTO DA CONVERGÊNCIA PARA AS IFRS NA ANÁLISE FINANCEIRA: UM ESTUDO EM EMPRESAS BRASILEIRAS DE CAPITAL ABERTO João Estevão Barbosa Neto; Warley de Oliveira Dias; Laura Edith Taboada Pinheiro A globalização da economia mundial, principalmente em termos de captação de recursos internacionais, tem causado a necessidade de uma harmonização da contabilidade, uma vez que os investidores e demais usuários esperam que as informações contábeis sejam transparentes, confiáveis, relevantes e comparáveis no âmbito internacional com outras sociedades. (DELOITTE, 2007). Na visão de Niyama (2005), o contexto de expansão dos mercados faz com que a harmonização contábil em todo o mundo seja necessária, pelo fato de que uma mesma transação possa ser registrada de forma diferente, dependendo do país de origem, gerando dificuldades na análise e comparação do desempenho e situação financeira das organizações. Na percepção de Weffort (2005), a harmonização contábil pode ocorrer em dois âmbitos: nas práticas (harmonização de fato) e nas normas (harmonização de direito). A harmonização de fato diz respeito a uma efetiva aplicação dos procedimentos recomendados internacionalmente nas práticas contábeis locais, enquanto a harmonização de direito refere-se, de modo simplificado, à incorporação, na legislação nacional, do conteúdo das normas internacionais, tornando determinado procedimento contábil obrigatório, permitido ou proibido. Essas duas formas de harmonização podem ocorrer concomitantemente em determinados países. Nesse sentido, a harmonização contábil no âmbito global, por meio da adoção das IFRS como padrão internacional, teve seu maior impulso no ano de 2001, quando a União Europeia determinou a adoção dos pronunciamentos emitidos pelo IASB para todas as demonstrações consolidadas das empresas listadas nos bolsas de valores europeias a partir de 2005. Outro fator que vem impulsionando a adoção das IFRS no mundo refere-se aos acordos celebrados entre o IASB e o FASB, nos anos de 2002 e 2006, com busca à eliminação de divergências entre o padrão internacional e o padrão norte-americano (US GAAP). Assim, entre outras questões, estabeleceu- se um conjunto de condições adequadas, para que até 2008 fosse removida a exigência de reconciliação das IFRS para os US GAAP nas demonstrações financeiras das companhias estrangeiras registradas nos Estados Unidos (DELOITTE, 2007). Tal exigência foi atendida em novembro de 2007. TÓPICO 4 | PRINCIPAIS DIVERGÊNCIAS NO CRITÉRIO DE RECO. E MENSURAÇÃO ENTRE AS NORMAS INT. E NACIONAIS 73 Contudo, o processo de convergência das normas contábeis brasileiras para as normas internacionais de contabilidade iniciou-se, efetivamente, com a promulgação da Lei no 11.638/07. A partir de então, ao longo de 2007 e 2008, foram emitidos pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis 14 CPCs, aprovados pela CVM até esse período, os quais tiveram que ser observados pelas empresas abertas e outras sociedades de grande porte ao elaborar as demonstrações contábeis referentes aos exercícios encerrados a partir de dezembro de 2008. Destaca-se, ainda, o Comunicado nº 14.259/06 do Banco Central do Brasil (BACEN) e a Circular nº 357 da Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), que tornam obrigatória a elaboração e publicação de demonstrações financeiras consolidadas em IFRS a partir de 31 de dezembro de 2010 para as instituições por eles reguladas. Estudos sobre os impactos nas demonstrações financeiras da transição para as IFRS vêm sendo desenvolvidos em vários países. Assim, Costa e Lopes (2008) estudaram o impacto da transição para as IFRS sobre a comparabilidade da informação financeira nas empresas portuguesas cotadas em bolsa. Os resultados mostram que existem diferenças relevantes em várias rubricas das demonstrações financeiras e inclusive em alguns índices contábeis. Callao, Jarne e Laínez (2007) analisaram os efeitos da transição para IAS/ IFRS no que concerne à comparabilidade e à relevância da informação financeira na Espanha. Os resultados demonstram que a comparabilidade local se deteriorou e que não se verificou um aumento da relevância da informação financeira para os operadores no mercado de capitais local, devido ao hiato entre o valor contábil e o valor de mercado da empresa ser ainda maior com a aplicação das IFRS. No Brasil, destaca-se o estudo realizado por Klann et al. (2008), cujo objetivo foi analisar o impacto das diferenças entre as normas contábeis brasileiras e as normas contábeis americanas nos indicadores de desempenho de empresas brasileiras. Os resultados demonstraram que os indicadores de desempenho das organizações analisadas não foram afetados significativamente pelas divergências entre as normas contábeis entre os dois países. FONTE: Revista Contabilidade Vista & Revista, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, v. 20, n. 4, p. 131-153, out./dez. 2009. 74 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico foi visto que: • As principais divergências entre as normas internacionais e nacionais de contabilidade, como o tratamento contábil da Pesquisa e Desenvolvimento, a contabilização do leasing, conhecido no Brasil como Arrendamento mercantil, e finalizando a contabilização do Goodwill. • Destacou-se que, quando a empresa classificar como ativo os gastos ocorridos na fase de desenvolvimento de um produto, tais gastos devem ser amortizados em bases sistêmicas no máximo em 4 anos. Em se tratando das normas brasileiras de contabilidade, na legislação e normatização nacional brasileira, os gastos com desenvolvimento devem ser capitalizados como ativo e amortizados durante o período esperado de futuros benefícios econômicos, porém não superior a 10 anos. • Demonstrou-se também o conceito de leasing ou arrendamento mercantil, assim como a apresentação de um arrendamento mercantil classificado como financeiro e classificado como operacional. • Foi tratado que a diferença na questão do arrendamento mercantil entre as normas brasileiras e as normas internacionais está no reconhecimento da essência sobre a forma, ou seja, nalegislação brasileira o arrendamento mercantil segue a forma jurídica já nas normas internacionais ele segue a essência de fato. • Tratou-se ainda do Goodwill. Apresentado conceitos e seus objetivos. Foi demonstrado que a diferença entre as normas nacionais e internacionais de contabilidade em se tratando do Goodwill é se ele deve ser reconhecido como ativo e amortizado de acordo com sua expectativa de ganhos futuros, se ele deve ser baixado contra a conta de Patrimônio Líquido ou resultado do exercício e por fim com relação a sua amortização. 75 AUTOATIVIDADE 1 Segundo as normas internacionais de contabilidade, os gastos com pesquisa devem ser considerados como despesas, porém quando atenderem a certas condições poderão se ativados. Com relação a estas condições, é correto afirmar que: a) ( ) Observar se as características técnicas do produto ou processo podem ser claramente identificadas é condição para classificar tal gasto como ativo. b) ( ) A clara definição do produto ou processo em questão não é considerada uma dessas questões. c) ( ) O fato de a empresa ter recursos para terminar o projeto, não classifica tais gastos como ativo. d) ( ) A empresa pretende produzir, disponibilizar no mercado ou utilizá-la internamente não é condição para a classificar tal gasto como ativo. 2 Analise as situações expostas e as classifique como sendo um Leasing Financeiro ou Leasing Operacional de acordo com as normas do IFRS: ( ) Financeiro ou ( ) Operacional - A entidade A aluga um automóvel para a diretoria. O prazo do aluguel é de 24 meses com opção de compra do veículo no final do contrato de aluguel pelo seu valor residual, considerando um valor mínimo de 1% do valor do preço de mercado do automóvel. A vida útil do veículo é de 30 anos. ( ) Financeiro ou ( ) Operacional - A entidade C aluga uma de suas propriedades a terceiros durante o prazo de dez meses. ( ) Financeiro ou ( ) Operacional - A entidade J aluga uma turbina que foi projetada exclusivamente pela entidade G para atender a especificações detalhadas fornecidas pela entidade J, volume de operação e capacidade instalada específica da operação. A turbina dificilmente seria vendida a um terceiro sem ser substancialmente modificada. 3 Com relação à pesquisa e desenvolvimento, é correto afirmar que: I- A fase de desenvolvimento é o esforço para se descobrir novas informações que contribuirão para a criação de um novo produto, serviço, processo ou técnica ou aperfeiçoamento de um já existente. II- A fase da pesquisa é a aplicação de recursos voltada para um plano ou projeto para aperfeiçoamento de um produto, serviço, processo ou técnica, já anteriormente existente. III- Nas normas internacionais de contabilidade os gastos com pesquisa são tratados como despesas quando incorridos. IV- Nas normas internacionais de contabilidade os gastos com pesquisa são tratados como ativos quando incorridos. 76 Com relação a estas afirmações é correto afirmar que: a) ( ) As afirmativas II e IV estão corretas. b) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas. c) ( ) Apenas a alternativa III está correta. d) ( ) Apenas a alternativa I está correta. 4 Com relação ao Gooddwill encontramos divergências entre as normas contábeis brasileiras e as normas contábeis internacionais em se tratando de: a) ( ) No conceito de Goodwill. b) ( ) No tempo de amortização. c) ( ) Na forma em que se adquire um Goodwill. d) ( ) As normas internacionais entendem que o Goodwill deve trazer benefícios futuros à empresa e as normas brasileiras não consideram tais benefícios. 5 Existem várias divergências entre as normas internacionais e nacionais de contabilidade. Nesse sentido é correto afirmar que: a) ( ) As operações com arrendamento mercantil ou leasing, de pesquisa e desenvolvimento e a contabilização do Goodwill podem ser considerados exemplos das divergências entre as normas internacionais e nacionais de contabilidade. b) ( ) Em nossa legislação encontramos divergência entre as normas internacionais e nacionais apenas com relação à contabilização do Goodwill e nenhuma outra questão. c) ( ) A legislação contábil nacional reconhece o arrendamento mercantil (leasing) apenas como arrendamento mercantil operacional, no Brasil não existe o arrendamento mercantil classificado como financeiro. d) ( ) A legislação contábil internacional reconhece o arrendamento mercantil (leasing) apenas como arrendamento mercantil financeiro, ou seja, não existe o arrendamento mercantil classificado como operacional. 77 UNIDADE 2 ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você será capaz de: • compreender as alterações sofridas pelas demonstrações contábeis devido às mudanças na legislação; • elaborar, entender e interpretar o balanço patrimônio, a demonstração do resultado do exercício e a demonstração das mutações do patrimônio lí- quido. Assim como torná-lo apto a discutir as razões destas mudanças e seu benefício trazido a ciências contábeis. Esta unidade está dividida em cinco tópicos. No final de cada um deles, você encontrará atividades que o(a) auxiliarão na apropriação dos conhecimentos. TÓPICO 1 – PRONUNCIAMNENTO TÉCNICO CONTÁBIL 26: APRESENTAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS TÓPICO 2 – BALANÇO PATRIMONIAL TÓPICO 3 – PASSIVO E PATRIMÔNIO LÍQUIDO TÓPICO 4 – DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO TÓPICO 5 – DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO 78 79 TÓPICO 1 PRONUNCIAMENTO TÉCNICO CONTÁBIL 26: APRESENTAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) foi criado com o objetivo de estudar, preparar e de emitir os pronunciamentos técnicos sobre procedimentos de contabilidade. Tem como finalidade permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando à centralização e uniformização do seu processo de produção, levando sempre em conta a convergência da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais. Dessa forma, entre outros pronunciamentos técnicos encontra-se o CPC 26. O objetivo de tal CPC é a apresentação das demonstrações contábeis. Neste documento estão definidas as demonstrações contábeis obrigatórias e a sua forma de apresentação. Assim, torna-se importante ter conhecimento deste pronunciamento contábil para que não ocorram erros na hora de elaborações das demonstrações contábeis que levarão as informações contábeis aos usuários externos. 2 PRONUNCIAMENTO TÉCNICO 26 – CPC 26 Conforme já comentado anteriormente, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) foi criado com o objetivo de estudar, preparar e de emitir os pronunciamentos técnicos sobre procedimentos de Contabilidade e a divulgação de informações dessa natureza, a fim de permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando à centralização e uniformização do seu processo de produção, levando sempre em conta a convergência da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais. Assim, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis elabora os pronunciamentos técnicos com o objetivo de estabelecer conceitos doutrinários, estruturas técnicas e procedimentos a serem aplicados. Nesse sentido foi redigido o CPC 26 (2011), que trata sobre a apresentação das demonstrações contábeis. O principal objetivo do CPC 26 (2011) é definir a base para apresentação das demonstrações contábeis, inclusive as separadas e as demonstrações consolidadas, a fim de garantir a comparabilidade entre exercícios da mesma entidade e entre entidades diferentes. UNIDADE 2 | ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 80 DICAS O CPC 26 completo está disponível no sítio do próprio CPC: <www.cpc.org.br>. Neste mesmo documento, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) definiu como conjunto das demonstrações obrigatórias o balanço patrimonial, a demonstração do resultado do exercício, a demonstração das mutações do patrimôniolíquido, a demonstração do resultado abrangente, a demonstração do fluxo de caixa, a demonstração do valor adicionado para algumas empresas e as notas explicativas. Tais demonstrações devem ser apresentadas pelo menos anualmente, evidenciando apropriadamente a posição financeira e patrimonial das entidades seu desempenho financeiro e o fluxo de caixa das empresas. O CPC 26 (2011) determina ainda que em praticamente todas as circunstâncias a representação adequada conforme a Estrutura Conceitual para a Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis contida no Pronunciamento Conceitual Básico do CPC é conseguida pela conformidade com as práticas contábeis brasileiras ensejadas pelos Pronunciamentos, Interpretações e Orientações do CPC. Todavia, caso a administração da empresa chegue à conclusão de que a conformidade com um requisito de um Pronunciamento, Interpretação ou Orientação conduziria a uma apresentação tão enganosa que entraria em conflito com o objetivo das demonstrações contábeis estabelecido na Estrutura Conceitual para a Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis, a entidade pode não aplicar esse requisito, a não ser que esse procedimento seja terminantemente vedado do ponto de vista legal e regulatório. Entre outros pontos, o CPC 26 (2011) comenta que as empresas devem apresentar seus ativos e passivos separados em circulantes e não circulantes, exceto quando uma apresentação baseada na liquidez proporcionar informação confiável e mais relevante, como é o caso de certas instituições financeiras. O CPC 26 (2011) entende que o ativo circulante é aquele que estiver para ser realizado no decurso normal do ciclo operacional da entidade, ou estiver mantido essencialmente com o propósito de ser negociado ou estiver para ser realizado até doze meses da data do balanço ou for caixa ou equivalente de caixa. Com relação às receitas e despesas reconhecidas no exercício, o CPC 26 (2011) comenta que sua apresentação deve estar constante na demonstração do resultado do exercício a não ser que outro pronunciamento ou interpretação exija diferente. TÓPICO 1 | PRONUNCIAMENTO TÉCNICO CONTÁBIL 26: APRESENTAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 81 Com relação à demonstração do resultado abrangente, o CPC 26 (2011) entende que caso esta demonstração esteja inserida na demonstração das mutações do patrimônio líquido, não será necessário sua publicação em separado. Já as notas explicativas, que acompanham as demonstrações contábeis, devem apresentar as informações que são requeridas pelo pronunciamento, interpretações e orientações que não tenham sido apresentadas nas demonstrações contábeis. Estas informações devem ser adicionais e relevantes para os tomadores de decisão. Comenta ainda, que a essência econômica deve prevalecer sobre a forma jurídica quando esta não representar aquela e isso colocar em risco o objetivo das demonstrações contábeis estabelecido no Pronunciamento Conceitual Básico Estrutura Conceitual para a Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis. 82 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico foi abordado: • O Pronunciamento Técnico 26 ou CPC 26. Este CPC trata especificamente da apresentação das demonstrações contábeis. Assim, o CPC 26 tem como principal objetivo definir a base para apresentação das demonstrações contábeis, inclusive as separadas e as demonstrações consolidadas, a fim de garantir a comparabilidade entre exercícios da mesma entidade e entre entidades diferentes. • Foram apresentadas também as demonstrações obrigatórias de acordo com o CPC 26. Quando elas devem ser apresentadas, a separação em circulante e não circulante do ativo e do passivo. Tratou da apresentação das receitas e despesas. Levantou que nas notas explicativas devem constar informações complementares, as encontradas nas demonstrações contábeis. • Demonstrou-se que o CPC 26 afirma que deve prevalecer a essência sobre a forma quando não apresentar risco a informações contábeis contidas nas demonstrações contábeis. 83 AUTOATIVIDADE 1 Está entre as demonstrações obrigatórias, de acordo com o CPC 26: a) ( ) Balanço Patrimonial e Balanço Social. b) ( ) Demonstração do Resultado do Exercício e Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos. c) ( ) Demonstração do Fluxo de Caixa e o Balanço Patrimonial. d) ( ) Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos e Balanço Social. 2 É correto afirmar que: a) ( ) O objetivo do CPC 26 é definir a base para apresentação das demonstrações contábeis. b) ( ) O objetivo do CPC 26 é definir apenas as demonstrações contábeis obrigatórias. c) ( ) O objetivo do CPC 26 é apenas definir as demonstrações contábeis consolidadas obrigatórias. d) ( ) O objetivo do CPC 26 é definir o que é o significado do ativo e o significa passivo. 3 Preencha as lacunas com as palavras a seguir: De acordo com o __________ as organizações devem ____________ seus __________ e ____________ separados em ____________ e ______________, a não ser quando uma apresentação baseada na liquidez proporcionar _____________ confiável e mais relevante. a) ativos. b) pronunciamento contábil 26. c) passivos. d) informações. e) demonstrar. f) não circulante. g) circulante. 4 Com relação às notas explicativas, o CPC 26 afirma que: a) ( ) Elas não precisam acompanhar as demonstrações contábeis a não ser que seja necessário. b) ( ) As informações nas notas explicativas devem ser relevantes ao processo de tomada de decisão dos usuários. c) ( ) As informações contidas nas notas explicativas não precisam levar em consideração o CPC 26. d) ( ) As informações constantes nas notas explicativas devem apresentar informações que já estejam nas demonstrações contábeis. 84 5 Com relação à essência sobre a forma, o CPC 26 comenta que: a) ( ) A essência não deve prevalecer sobre a forma. b) ( ) A forma deve prevalecer sobre a essência. c) ( ) A empresa não precisa levar em consideração a essência sobre a forma na hora de elaborar suas informações contábeis. d) ( ) A essência deve prevalecer sobre a forma jurídica, quando esta não distorcer as informações contábeis. 85 TÓPICO 2 BALANÇO PATRIMONIAL UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Nesse capítulo será tratado sobre o balanço patrimonial. Esta demonstração faz parte do conjunto de demonstrações contábeis de publicação obrigatória. No balanço patrimonial de uma organização encontramos os bem, diretos e obrigações da empresa. Diferente das demais demonstrações, esta demonstração é considerada uma demonstração estática, pois evidencia os bens, diretos e obrigações da empresa naquele exato momento, ou seja, evidencia a estrutura patrimonial em um determinado momento. As informações encontram-se dispostas pelo seu grau de liquidez. Com a aprovação da Lei nº 11.638/07, os grupos do ativo e do passivo no balanço patrimonial devem ser dispostos em circulantes e não circulante. No grupo do circulante encontram-se as contas que se realizaram no próximo exercício, já no grupo dos não circulantes estão dispostas as contas que serão realizadas no exercício seguinte. Como objetivo, esta demonstração destina-se a evidenciar os elementos destinados a mensurar e explicar a posição patrimonial e financeira da empresa, isto é, evidencia a composição do patrimônio da empresa naquela data. 2 BALANÇO PATRIMONIAL Segundo Iudícibus, Marion e Farias (2009), o Balanço Patrimonial evidencia o saldo das contas de uma empresa após todos os lançamentos das operações de um exercício social terem sido realizados, após todos os provisionamentos e ajustes, assim como o encerramento das receitas e despesas terem sido executados. O objetivo do balanço patrimonial é demonstrar a posição financeira e patrimonial da entidade em determinada data, evidenciando assim, uma posição estática. A Lei nº 6.404/76, no art. 178 – Consolidado com as alterações da Lei nº 11.638/07 e MP nº 449/08 apresentam: Art. 178. No balanço, as constas serão calcificadas segundo os elementosdo patrimônio que registrem, e agrupadas de modo a facilitar o conhecimento e a análise da situação financeira da companhia. §1º No ATIVO, as contas serão dispostas em ordem decrescente de grau de liquidez dos elementos nelas registradas, nos seguintes grupos: UNIDADE 2 | ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 86 I – ATIVO CIRCULANTE; e (Incluindo pela MP nº 449/08). II – ATIVO NÃO CIRCULANTE, composto por ativo realizável a longo prazo, investimento, imobilizado e intangível (Incluindo pela MP 449/08) § 2º No PASSIVO, as contas serão classificadas nos seguintes grupos: I – PASSIVO CISRULANTE; (Incluindo pela MP 449/08). II – PASSIVO NÃO CIRCULANTE; e (Incluindo pela MP 449/08). III – PATRIMÔNIO LÍQUIDO, dividido em capital social, reservas de capital, ajustes de avaliação patrimonial, reservas de lucros, ações em tesouraria e prejuízos acumulados. (Incluindo pela MP 449/08). § 3º Os saldos devedores e credores que a companhia não tiver direito de compensar serão classificados separadamente. É possível observar que o Ativo, Passivo e o Patrimônio Líquido passaram a ter nova composição com a aprovação da lei nº 11.638/07 e pela MP nº 449/08, a seguir é apresentada a nova e a antiga estrutura do balanço patrimonial para comparação: BALANÇO PATRIMONIAL ATIVO PASSIVO + PATRIMONIO LÍQUIDO ATIVO CIRCULANTE ATIVO NÃO CIRCULANTE Realizado a longo prazo Investimento Imobilizado Intangível PASSIVO CIRCULANTE PASSIVO NÃO CICULANTE PATRIMONIO LÍQUIDO Capital Social Reservas de Capital Ajuste de Avaliação Patrimonial Reservas de Lucros Ações em Tesouraria Prejuízos Acumulados FONTE: Lei n° 11.638/07 TABELA 1 – ESTRUTURA DO BALANÇO PATRIMONIAL SEGUNDO A NOVA LEI N° 11.638/07 BALANÇO PATRIMONIAL ATIVO PASSIVO + PATRIMONIO LÍQUIDO ATIVO CIRCULANTE ATIVO REALIZADO A LONGO PRAZO PERMANENTE Investimento Imobilizado Diferido PASSIVO CIRCULANTE PASSIVO EXIGIVÉL A LONGO PRAZO RESULTADO DE EXERCICIOS FUTUROS PATRIMONIO LÍQUIDO Capital Reserva de Incentivos Fiscais Reservas de Reavaliação Reservas de Lucros Lucros ou Prejuízos Acumulados TABELA 2 – ESTRUTURA DO BALANÇO PATRIMONIAL SEGUNDO A LEI N° 6.404/76 FONTE: Lei n° 6.404/76 TÓPICO 2 | BALANÇO PATRIMONIAL 87 TABELA 1 – ESTRUTURA DO BALANÇO PATRIMONIAL SEGUNDO A NOVA LEI N° 11.638/07 Observando as duas estruturas apresentadas do balanço patrimonial, notam-se alterações na sua estrutura, isto é, segundo a Lei nº 11.638/07, o balanço patrimonial deve ser composto em grupo de circulante e não circulante, tanto no ativo quanto no passivo. Na nova estrutura observa-se a inclusão do ativo intangível e a exclusão do permanente e do diferido no grupo do ativo. No grupo do passivo foi alterada a nomenclatura do grupo exigível a longo prazo para não circulante. No grupo do patrimônio líquido foram incluídas novas contas, como por exemplo, ajuste de avaliação patrimonial, e foi excluída a Reserva de Reavaliação e de Incentivos Ficais. Ainda quanto ao Patrimônio Líquido não se apresenta mais a conta de lucros, apenas se apresenta os prejuízos, segundo a Lei nº 11.638/07. A FIPECAFI (2010) destaca a importância de se apresentar o balanço patrimonial com as contas classificadas de forma ordenada e uniforme, dessa forma permitindo aos usuários uma adequada análise e interpretação da situação patrimonial e financeira da empresa. Dentro do grupo do ativo não se deve deixar de respeitar a ordem de liquidez decrescente das contas, no passivo a respeitar a ordem decrescente de prioridade de pagamento das exigibilidades. Os mesmos autores comentam que o ativo e do passivo devem seguir o regime de competência para seus registros e suas avaliações, seguindo estritamente tais orientações: Contas a Receber. O valor dos títulos menos estimativos para perdas para reduzi-los ao valor provável de realização. Aplicação em instrumentos financeiros e em direitos e títulos de crédito (temporário). Pelo valor justo ou pelo custo amortizado (valor inicial acrescidos dos juros e outros rendimentos cabíveis), neste caso ajustado ao valor provável de realização, se este for menor. Estoques. O custo de aquisição ou de fabricação, reduzido pelas estimativas de perdas para ajustá-lo ao preço de mercado, quando este for menor. Nos produtos agrícolas e em certas commodities, ao valor presente. Ativo imobilizado. O custo de aquisição deduzida a depreciação, pelo desgaste ou perda de utilidade ou amortização ou exaustão. Periodicamente deve ser realizada a análise sobre a recuperação dos valores registrados. Os ativos biológicos, ao valor justo. Investimentos relevantes em coligadas e controladas (incluindo Joint Ventures). Pelo método de equivalência patrimonial, ou seja, com base no valor do patrimônio líquido da coligada ou controlada proporcionalmente à participação acionária. Quando de controlada, obrigatória a consolidação quando Joint Ventures, a consolidação proporcional. Outros investimentos Societários. Igual aos instrumentos financeiros, não pode mais ao custo. QUADRO 9 – ORIENTAÇÃO PARA REGISTRO DE CONTAS UNIDADE 2 | ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 88 Intangíveis. Pelo custo incorrido na aquisição deduzido do saldo da respectiva conta de amortização, quando aplicável, ajustado ao valor recuperável se este for. Exigibilidades. Pelos valores conhecidos ou calculáveis para as obrigações, encargos e riscos, incluindo o Imposto de Renda e dividendos obrigatórios propostos. Para alguns instrumentos financeiros, como a maioria dos empréstimos e financiamentos sujeitos à atualização monetária ou pagáveis em moeda estrangeira, pelos valores atualizados, pelos valores atualizadas até a data do balanço e ajustados por demais encargos, como juros (custo amortizado). Para outros instrumentos financeiros, pelo valor justo. Patrimônio Líquido. Valor residual composto por dois grandes conjuntos: transações com sócios e resultado abrangente. Mas não tem critério próprio de avaliação atribuído aos ativos e passivos. FONTE: Adaptado de: FIPECAFI (2010) 2.1 ATIVO CIRCULANTE O artigo 178 de Lei nº 6.404/76 determina que as contas do ativo sejam apresentadas em ordem decrescente de grau de liquidez. Nesse sentido, as contas de disponibilidades são as primeiras a serem apresentadas no balanço patrimonial, ou, conforme definido no artigo 179, dentro do ativo circulante. A referida legislação entende que a titulação disponibilidades deve ser usada para caracterizar dinheiro em caixa, banco e valores equivalentes como cheque em mãos ou em trânsito que representam dinheiro para a empresa. Porém as normas internacionais utilizam, com muito mais frequência, o conceito de Caixa e Equivalentes de Caixa. Neste conceito de Caixa e Equivalentes de Caixa, as IFRS englobam as disponibilidades, isto é, disponibilidade que pode ser convertida em dinheiro em curto prazo e sem risco. Os equivalentes de caixa são mantidos para serem utilizados nas necessidades de curto prazo e não para investimentos. (FIPECAFI 2010). Todavia, os mesmos autores afirmam que os investimentos podem ser classificados como equivalentes de caixa desde que tenham seus vencimentos em curto prazo, ou como exemplo, até 90 dias a contar da data da contratação. Quando se trata de investimentos em outras empresas não podem ser classificados como equivalentes de caixa, a não ser que ele seja, em essência, um equivalente de caixa, como por exemplo, ações preferenciais com seu resgate definido no curto prazo e que atendam às definições de curto prazo. TÓPICO 2 | BALANÇO PATRIMONIAL 89 Resumidamente, os investimentos como as aplicações em títulos de liquidez imediata e aplicações financeiras resgatáveis em até 90 dias, podem ser classificadas como equivalentes de caixa. Assim, observa-se que a novidade no circulante está apenas na nomenclatura a de Equivalentes de Caixa, em se tratando das normas internacionais de contabilidade. 2.2 ATIVO NÃO CIRCULANTE A novidade trazida pela harmonização das normas contábeisnacionais às internacionais neste grupo foi a criação deste novo grupo denominado Ativo Não Circulante (ANC). Este grupo é composto do Ativo Realizado a Longo Prazo, Investimento, Imobilizado e o Intangível. Criou-se também, uma nova conta denominado Ativo Intangível, assim como um novo conteúdo do Imobilizado. Neste grupo não se utiliza mais a expressão Ativo Permanente e foi extinta a conta de Ativo Diferido. A Lei nº 6.404/76 em seu art. 179 – consolidado com as alterações da Lei nº 11.638/07 e MP nº 449/2008, trouxe os novos textos: Art. 179. As contas serão classificadas do seguinte modo: I – no ativo circulante: mesmo texto da Lei nº 6.404/76, não houve alteração; II – no ativo realizado a longo prazo: mesmo texto da Lei nº 6.404/76, não houve alteração; III – em investimentos: mesmo texto da Lei nº 6.404/76, não houve alteração; IV – no ativo imobilizado: os direitos que tenham por objetivo os bens corpóreos destinados à manutenção das atividades da companhia ou da empresa ou exercidos com a finalidade, inclusive os decorrentes de operações que transfiram à companhia os benefícios, riscos e controle desse bem; (Redação dada pela Lei nº 11.638/07). VI – ativo intangível: os direitos que tenham por objetivos bens incorpóreos destinados à manutenção da companhia ou exercício com essa finalidade, inclusive o fundo de comércios adquirido. (Incluído pela Lei nº 11.638/07). Com o objetivo de estar de acordo com as normas internacionais de contabilidade, foram específicas as novas definições nas seguintes contas: • No ativo imobilizado foi acrescido além dos “bens corpóreos” acrescentou- se ao final do texto contido no inciso IV do artigo 179, também os “inclusive os decorrentes de operações em que há transferência de benefícios, controle e risco desses bens” (Lei nº 11.638/07 e artigo 179, IV da Lei nº 6.404/76). • Ativo diferido: eliminado da estrutura do balanço. Caso a empresa apresentasse valores nessa conta em 31.12.2008, e devido a sua natureza não fosse possível alocar em outro grupo de contas, o valor poderá permanecer no ativo sob UNIDADE 2 | ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 90 a mesma classificação até sua total amortização, sujeito à analise sobre a recuperabilidade de que trata o § 3º do art. 183 da Lei nº 6.404/76 (art. 37 da MP nº 449/08). • Inclusão do Ativo: separa os bens corpóreos dos bens incorpóreos, neste incluindo o Goodwill (fundo de comércio) adquirido. No entanto destaca-se que em se tratando de empresas abertas, o grupo do ativo intangível já existia, conforme Deliberação CVM nº 488/2005 (Lei nº 11.638/07). 2.2.1 Imobilizado Conforme já visto, serão classificados no Imobilizado os direitos que tenham por objetivo os bens corpóreos destinados à manutenção das atividades da companhia ou da empresa ou exercidos com a finalidade, inclusive os decorrentes de operações que transfiram à companhia os benefícios, riscos e controle desses bens, conforme a Lei nº 11.683/07. Segundo a FIPECAFI (2010), no CPC 27, que trata do ativo imobilizado, aprovado pela Deliberação CVM nº 583/09 e tornado obrigatório pela Resolução CFC nº 1.177/09, definiu o imobilizado como sendo um ativo tangível que é mantido para o uso na produção ou fornecimento de mercadoria ou serviço para aluguel a outros, ou para fins administrativos e que se espera utilizar por mais de um ano. DICAS O CPC nº 27 está disponível no sítio: <www.cpc.org.br>, a Deliberação CVM nº 583/09 em: <www.cvm.gov.br> e Resolução CFC nº 1.177/09 em: <www.cfc.org.br>. Segundo Azevedo (2009), entre as novidades incluídas pela Lei nº 11.638/07 no texto que conceitua ativo imobilizado, nós encontramos: a) Neste grupo serão classificados apenas bens corpóreos, assim, os bens incorpóreos que se encontrassem neste grupo (caso houvesse) deverão ser reclassificados para o grupo dos Intangíveis. b) O texto da lei introduziu que os bens “decorrentes de operações que transfiram à companhia os benefícios, riscos e controle desses bens” passam a ser classificados no Imobilizado, ou seja, independente de haver a transferência da propriedade do bem para a empresa os gastos decorridos com estes bens devem ser registrados no Imobilizado. TÓPICO 2 | BALANÇO PATRIMONIAL 91 A grande alteração no conceito do Ativo Imobilizado é decorrente da nova bandeira defendida pela contabilidade internacional, isto é, a essência sobre a forma. Segundo o mesmo autor, sabe-se que a primazia da essência sobre a forma é condição importante para a qualidade das informações contábeis, é também uma das melhores formas de apresentar a real condição econômica, financeira da entidade. Foi com base neste princípio que ocorreu a alteração no conceito do Ativo Imobilizado, quando a Lei nº 11.638/07 obriga a imobilizar os bens patrimoniais cujos riscos, benefícios e controle passam a uma entidade, mesmo que sem a transferência de sua titularidade jurídica (Orientação OCPC nº 2/2009, item 4). Azevedo (2009) observa que a partir do momento no qual a lei obriga o registro no Imobilizado dos bens que são decorrentes de transferência de benefícios, riscos e controle, e não da propriedade jurídica tem-se a guinada da forma sobre a essência. O mesmo autor afirma ser fundamental a essência prevalecer sobre a forma quando esta distorce a realidade econômica da empresa. Dessa maneira, percebe-se que a legislação contábil nacional está avançando rumo às normas internacionais de contabilidade e não apenas nas normas propriamente ditas, mas também em filosofia, e como consequência há toda uma nova forma de fazer a analisar as demonstrações contábeis nunca vistas antes no Brasil. (AZEVEDO, 2009). 2.2.2 Mensuração do custo Um imobilizado deve ser reconhecido pelo seu valor de custo, assim, “o custo de um item do imobilizado é o preço equivalente em moeda na data do reconhecimento”. (LEMES; CARVALHO, 2010, p. 69). Os mesmo autores afirmam ainda que o ativo imobilizado deve ser mantido pelo seu valor de custo diminuindo a depreciação acumulada e as perdas por impairment reconhecidas. Assim, observa-se que os ativos imobilizados também sofrem perdas de seu valor recuperável. A fim de se determinar se o ativo imobilizado deve ter seu valor reduzido ao valor recuperável, ou seja, se ele teve perda por impairment, à orientação da IAS 36, que trata do assunto deve ser observada, assim como o CPC 01. Assim, o teste de recuperabilidade tem como objetivo assegurar que os ativos não estejam registrados contabilmente por um valor maior do que aquele passível de ser recuperado seja por uso ou venda. UNIDADE 2 | ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 92 ESTUDOS FU TUROS O teste de recuperabilidade ou Test Impairment será visto mais a frente neste Caderno de Estudos. 2.2.3 Avaliação do ativo imobilizado Conforme já foi visto anteriormente, o ativo imobilizado deve ser avaliado pelo seu valor de custos de aquisição com suas devidas deduções, que corresponde ao saldo da depreciação, amortização ou exaustão. A depreciação é o valor do desgaste de um ativo registrado periodicamente em conta redutora chamada depreciação. Tal registro corresponde à perda de valor do direito de bens físicos, seja por desgaste, perda de utilidade, ação da natureza ou obsolescência. O ativo imobilizado decorrente de investimentos de longo prazo deve ser ajustado a valor presente, já os demais ativos apenas quando houver efeito relevante. O ajuste a valor presente deve ser realizado com base em taxa de juros que reflitam as melhores avaliações do mercado. Azevedo (2010) comenta que a intenção de se ajustar um crédito e uma obrigação a valor presente é a necessidade de se obter valores que realmente os representem na época de operação e não apenas a eliminar a expectativa de rendimento ou encargo futuro embutido nestes ativos e passivos. O mesmo autor afirma que o ajuste a valor presente busca solucionar questões de juros embutidos nos preços das operações a prazo. Quando realizadauma negociação de longo prazo com juros embutidos, o autor afirma ser comum a contabilidade reduzir o valor do ativo a valor presente por meio de uma taxa de mercado. • A exemplo de uma operação de cálculo a valor presente temos (Azevedo, 2010): Uma empresa tem um direito a receber no Ativo Realizado a Longo Prazo no valo de R$ 150.000,00 pelo prazo de 18 meses, com juros embutidos de 18%. - Valor Presente = Valor nominal (:) (1 + Taxa unitária de juros) [150.000,00 (:) (1 + 0,18)] [150.000,00 (:) 1,18] O valor presente R$ 127.118,64 representa o valor sem os juros a transcorrer nos próximos 18 meses. Isto significa que a diferença de 22.881,36 (150.000,00 – 127.118,64) será tratada como receita financeira no resultado de exercício, apropriando-se mensalmente ao longo dos 18 meses [R$ 22.881,36 (:) 18 = 1.271,18 por mês]. TÓPICO 2 | BALANÇO PATRIMONIAL 93 2.2.3 Avaliação do ativo imobilizado • Lançamentos Contábeis: D – AÑC 150.000,00 C – (-) Retificadora / AÑC 127.118,64 C – Resultado do exercício (Receita Financeira) 22.881,36 Neste momento é preciso destacar que a nova legislação, além de introduzir o conceito de valor presente também introduziu o conceito de valor justo. O valor presente (presente value), conforme visto, é considerada a estimativa de valor corrente de um fluxo de caixa futuro, no curso normal das operações. Já o valor justo (fair value) corresponde ao valor que um ativo pode ser negociado ou um passivo pode ser liquidado, devendo ser entre partes interessadas, que conhecem o negócio e independentes entre si, sem se caracterizar uma transação compulsória ou fatores que levam a pressão para liquidação. Valor presente e valor justo não são sinônimos. ATENCAO Será aplicado o teste de recuperabilidade caso existam reais evidências de que os ativos registrados estão avaliados por valores não recuperáveis no futuro, assim, a empresa deve reconhecer imediatamente a perda por impairment em contas de provisão. 2.3 EXTINÇÃO DA CONTA ATIVO DIFERIDO A Lei nº 11.638/07, num primeiro momento, havia apenas modificado o conceito do ativo diferido, porém ela acabou desaparecendo das normas contábeis brasileiras (Temática Contábil IOB nº 7/09). As contas que se encontravam no ativo diferido devem ser realocadas ou desaparecerão. No caso de despesas pré-operacionais, como os gastos para manter o maquinário funcionando deverão ser tratados como custos destes ativos imobilizados e não poderão mais ser ativados. Outras despesas pré-operacionais. Despesas com treinamento de pessoal da administração, vendas e outros deverão ir diretamente para resultado. Isto por causa da grande dificuldade de vincular estes gastos que se tornaram despesas com suas respectivas receitas, o que na prática tornava sua amortização sistemática bastante arbitrária. (AZEVEDO, 2009) . UNIDADE 2 | ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 94 As benfeitorias realizadas em propriedade de terceiros, segundo o mesmo autor, deverão ser alocadas no imobilizado quando, como acontece na maioria dos casos, estiverem vinculadas a divisórias, obras, construções e reformas com ampliação e outras formas corpóreas que se integrarem ao imobilizado, que juridicamente não é da entidade. Já os gastos com software, programas e outros exigirá certa análise antes de sua reclassificação. Quando um software ou programa for parte integrante da máquina, e esta não operar sem tais ativos, o gasto deve ser vinculado ao próprio ativo imobilizado. Entretanto, quando os programas, software e outros tiverem vida própria devem ser contabilizados no ativo intangível. Com a extinção do diferido, o ágio, que anteriormente era classificado nesta conta, necessariamente muda de lugar, segundo Azevedo (2009, p.113): • Genuinamente à expectativa de geração de rentabilidade futura (goodwill), irão para o ativo intangível. • Quando for a diferença entre o valor de mercado e o valor contábil de ativos e passivos da empresa adquirida, irão para a conta investimento. Por fim, observa-se que mais poderá ser classificado ou poderá permanecer na conta de Ativo Diferido. 2.4 ATIVO INTANGÍVEL Na busca pela harmonização contábil internacional, a Lei nº 11.638/07 criou um novo grupo de contas classificado no Ativo Não Circulante após o Imobilizado, chamado de Ativo Intangível. Este grupo tem como objetivo, segundo Braga e Almeida (2008, p. 45) “contemplar direitos que tenham como objeto bens incorpóreos destinados à manutenção da companhia ou exercício com essa finalidade, inclusive o fundo de comércio adquirido”. Coelho e Lins (2010, p. 71) conceituam o ativo intangível como “qualquer bem ou direito da empresa que a ela traz retorno patrimonial, econômico ou financeiro, que é invisível, incorpóreo e resultado da capacidade intelectual da empresa na sua construção ou utilização”. O CPC que trata do Ativo Intangível é o CPC 04, IAS 38 e Resolução CFC nº 1.139/2008. ATENCAO TÓPICO 2 | BALANÇO PATRIMONIAL 95 Para classificar um ativo como ativo intangível é exigido que a empresa demonstre que ele atende a dois requisitos (item 18 do CPC 04, e IAS 38 e Resolução CFC nº 1.139/208): a) A definição de ativo intangível. b) Os critérios de reconhecimento. 2.4.1 Definição de ativo intangível Para que um ativo seja reconhecido como um ativo intangível ele deve atender a três critérios específicos: identificação, controle e geração de benefícios econômicos. Um ativo intangível atende à identificação quando os gastos sobre esse ativo podem ser separadamente identificáveis de forma a serem distintos de outros ativos intangíveis, ou seja, quando ele: • Pode ser separado da empresa e vendido, transferido, licenciado, alugado ou trocado, individualmente ou em conjunto com um ativo, um contrato ou um passivo relacionado. • É resultado de um direito contratual ou outros direitos legais, mesmo que tais direitos não possam ser transferidos ou separados da entidade ou de outro direito e obrigação. A definição de um ativo intangível exige que ele seja identificável para poder diferenciá-lo do ágio ou goodwill. ATENCAO Quanto ao controle, ele acontece quando a empresa tem o direito sobre o benefício econômico futuro do ativo e reduz o acesso de terceiros a aqueles benefícios. Nesse sentido, Lemes e Carvalho (2010) mostram como exemplo o controle sobre um conhecimento industrial, quando uma entidade pode exercer o controle ao manter um segredo sobre determinado conhecimento técnico e de mercado por meio da confidencialidade dos seus funcionários. Assim como qualquer outro ativo, o ativo intangível para que seja reconhecido contabilmente deve proporcional a empresa um benefício econômico futuro, por meio de seu emprego nas atividades da entidade que o controla. Esses UNIDADE 2 | ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 96 benefícios futuros não incluem somente receita, sejam de vendas, de produto ou serviço, mas também por meio da redução dos custos ou de outros benefícios que resultem da utilidade do ativo intangível. A exemplo disto, temos a redução dos custos de produção de um determinado bem pela entidade, sem necessariamente aumentar as receitas, quando empregado o uso de certo conhecimento intelectual na melhoria do processo produtivo daquele bem. (LEMES; CARVALHO, 2010). 2.4.2 Reconhecimento e mensuração do ativo intangível O CPC 04 (2011) exige o reconhecimento de um ativo intangível como tal além dos critérios anteriormente tratados, deve satisfazer os seguintes critérios de reconhecimento: a) Probabilidade de que os benefícios econômicos futuros atribuíveis aos ativos serão gerados em favor da entidade. b) O seu custo possa ser mensurado com segurança. De acordo com a Resolução CFC nº 1.139/08 na avaliação da probabilidade de geração de benefícios futuros do intangível, a entidade deve buscar premissas confiáveis e que representem a melhor estimativa em relação ao conjunto de condições econômicas que existirão durante a vida útil doativo. E para julgar o grau de certeza dos fluxos dos benefícios futuros do bem, a empresa deve utilizar as evidências que estão disponíveis no momento do reconhecimento inicial, principalmente, as evidências externas. Aqueles ativos intangíveis adquiridos separadamente, isto é, ativo intangível que não foi gerado por meio de combinação de negócios, deve ser mensurado primeiramente pelo preço de custo. Sendo que este custo compreende, segundo Lemes e Carvalho (2010): • O preço de compra, inclusive os impostos de importação do ativo e impostos não recuperáveis, depois de deduzidos os descontos comerciais e os abatimentos. • Todos os custos atribuíveis diretamente à preparação do ativo para o uso, como exemplo, custos de benefícios de empregados, honorários profissionais, e outros. Já o custo de um ativo intangível adquirido por meio de uma combinação de negócio, é o valor justo na data da aquisição, onde este valor justo deve refletir a expectativa da empresa referente aos benefícios econômicos futuros, mesmo que a empresa tenha algumas incertezas quanto ao momento e montante dessas entradas. (IFRS 3). TÓPICO 2 | BALANÇO PATRIMONIAL 97 Com relação à estimativa de valor justo deste tipo de ativo, os mesmos autores comentam que a empresa deve basear o valor justo do ativo intangível adquirido por meio de uma combinação de negócio no prelo cotado no mercado, porém, caso esse não seja possível, outra opção será cota seu valor por meio de transações recentes de ativos similares. 2.4.3 Mensuração do ativo intangível após o seu reconhecimento Após o reconhecimento inicial do ativo intangível, o bem poderá ser mantido pelo valor de custo ou ser reavaliado. De acordo com a FIPECAFI (2010), a possibilidade de o ativo intangível ser mensurado, utilizando como base seu valor reavaliado apenas poderá ser realizado se a lei permitir. Os mesmos autores destacam que segundo a Lei nº 6.404/76 a reavaliação dos ativos intangíveis e tangíveis não é permitida. Mesmo nos países que adotam as normas internacionais de contabilidade, a possibilidade de mensurar os ativos intangíveis de acordo com seu valor reavaliado, não é muito comum, pois a maioria dos ativos intangíveis não possui um mercado muito ativo. Dessa forma, esta prática é muito pouco utilizada. (MOURAD, 2010). O pronunciamento 04 do CPC assevera que o ativo intangível após seu reconhecimento inicial deverá ser mensurado pelo seu valor de custo menos a amortização acumulada e as possíveis perdas com que forem estimadas pelo teste de recuperabilidade (impairment). 2.4.4 Vida útil dos ativos intangíveis A vida útil de um ativo intangível deve ser classificada em definida ou indefinida. Segundo Lemes e Carvalho (2010, p. 203) “a vida útil de um ativo será considerada indefinida se a entidade concluir, após análises, que não existe nenhum período de tempo previsível para o reconhecimento de benefícios econômicos futuros daquele ativo”. Dessa maneira, percebe-se que quando o ativo intangível tem sua vida útil considerada indefinida não quer dizer que ele não irá acabar ou extinguir-se, mas que a empresa não consegue prever esse tempo. Para Braga e Almeida (2008) um ativo intangível com vida útil definida são aqueles que possuem um período de tempo limitado de benefícios econômicos para a sociedade. UNIDADE 2 | ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 98 Um ativo intangível de vida útil indefinida não deve ser amortizado. ATENCAO 2.4.5 Amortização do ativo intangível Com relação à amortização de um ativo intangível, o CPC 04 deixa claro que se um intangível tem sua vida útil definida deve ser amortizado, já o ativo intangível que possui sua vida útil indefinida não deve ser amortizado. Segundo as normas internacionais de contabilidade, os ativos intangíveis adquiridos de terceiros são capitalizados no ativo da empresa e amortizado ao logo da sua vida útil quando todos os critérios de reconhecimento e separabilidade do IAS 38 são atendidos. Já aqueles ativos intangíveis que possuem vida útil não identificável não são amortizados, e o seu valor de recuperação é calculado, no mínimo, uma vez ao ano. Conforme já foi mostrado, o CPC 04 trata a amortização dos ativos intangíveis da mesma forma que as IFRS, ou seja, são tratados com duas abordagens. Caso a vida útil do bem seja conhecida (determinada), utiliza-se a amortização, porém, se a vida útil do bem não seja conhecida ou sua delimitação seja impossível determinar de forma confiável será então utilizada a abordagem do teste de recuperabilidade ou impairment como é conhecido em inglês. A FIPECAFI (2010) aponta que as novas práticas de contabilidade adotadas no Brasil, o goodwill ou ágio por expectativa de rentabilidade futura não deve ser amortizado, porém, seu valor contábil deve ser submetido ao teste de recuperabilidade ou impairment, nas considerações do CPC 01. Porém, os mesmos autores destacam que, mesmo o goodwill não podendo ser amortizado para fins contábeis na apuração do lucro tributável, no LALUR as companhias poderão continuar com a amortização desse ágio e se beneficiando dos benefícios fiscais, até ser mudada a legislação fiscal. Lemes e Carvalho (2010) comentam que o valor de amortização de um ativo com vida útil definida deve ser alocado com base sistêmica pelo seu prazo de vida útil. Os mesmos autores seguem afirmando que a amortização deste intangível começa quando ele estiver pronto para o uso e se encerra no momento em que for baixado (ou reclassificado) para venda, nas formas do IFRS 5. O CPC 04 (2011) apresenta que o método de amortização utilizado deve refletir o padrão de consumo pela entidade dos benefícios econômicos futuros. Se não for possível determinar esse padrão com segurança, deve ser utilizado o método linear. A despesa de amortização para cada período deve ser reconhecida TÓPICO 2 | BALANÇO PATRIMONIAL 99 no resultado, a não ser que outra norma ou pronunciamento contábil permita ou exija a sua inclusão no valor contábil de outro ativo. O período de amortização e o método de amortização para um ativo intangível, com vida útil, definida devem ser revistos pelo menos no final de cada exercício social. 2.4.6 Exemplos de ativos intangíveis Como exemplos de ativos intangíveis o CPC 04 (2011) apresenta: marcas; títulos de periódicos; softwares; licenças e franquias; direitos autorais, patentes e outros direitos de propriedade industrial, de serviços e operacionais; receitas, fórmulas, modelos, projetos e protótipos; e ativos intangíveis em desenvolvimento, softwares, patentes, direitos autorais, direitos sobre filmes cinematográficos, listas de clientes, direitos sobre hipotecas, licenças de pesca, quotas de importação, franquias, relacionamentos com clientes ou fornecedores, fidelidade de clientes, participação no mercado e direitos de comercialização. 2.5 TESTE DE RECUPERABILIDADE DO ATIVO (IMPAIRMENT) Com a aprovação da Lei nº 11.638/07 veio a obrigatoriedade de realizar, periodicamente, uma análise sobre a recuperação dos valores registrados nos grupos do Balanço Patrimonial imobilizado e no intangível. Essa análise tem o objetivo de, segundo Azevedo (2009): • registrar as perdas de valor de capital aplicado quando houver decisão de interromper os empreendimentos ou atividades a que se destinavam; ou • registradas as perdas de valor de capital aplicado quando comprovado de que não poderão produzir resultados suficientes para recuperação desse valor; ou • revisados e ajustados os critérios utilizados para determinar a vida útil econômica estimada e para cálculo da depreciação, exaustão e amortização. O teste de recuperabilidade, conforme já explanado anteriormente, tem o objetivo de manter o ativo registrado pelo seu valor de recuperação, esse valor de recuperação seja pelo uso ou por venda. Assim, caso existam indícios de que o ativo esteja contabilmente registrado por um valor não recuperável no futuro, a empresa deve reconhecer imediatamentesua perda por meio da constituição da Provisão para Perdas (§ 3º, art. 183 da Lei nº 6.404/76, Deliberação CVM nº 52/07 e Resolução CFC nº 1.110/07). Assim, a empresa que comprovar por meios de documentos, que ela possui um ativo registrado contabilmente por um valor desvalorizado deverá calcular o valor recuperável e contabilizar a diferença, ou seja, a perda de valor, em uma conta de provisão de ajuste ao valor recuperável. (AZEVEDO, 2010). Segundo o CPC 01 (2011), algumas questões podem dar indícios de que houve desvalorização. E estes indícios podem vir tanto de fontes internas como fontes externas a empresas: UNIDADE 2 | ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 100 • Fontes externas: a) durante o período, o valor de mercado de um ativo diminui sensivelmente, mas do que seria de se esperar como resultado da passagem do tempo do uso normal; b) mudanças significativas no efeito adverso sobre a entidade ocorreram durante o período, ou ocorrerão em futuro próximo, no ambiente tecnológico, de mercado, econômico, legal, no qual a entidade opera ou no mercado para o qual o ativo é utilizado; c) as taxas de juros de mercado ou outras taxas de mercado de retorno sobre o investimentos aumentaram durante o período, e esses aumentos provavelmente afetaram a taxa de desconto usada no calculo do valor de uso de um ativo ou diminuirão significativamente o valor recuperável do ativo; d) o valor contábil do patrimônio líquido da empresa é maior que o valor de suas ações no mercado. • Fontes internas: a) evidência disponível de obsolescência ou dano físico de um ativo; b) mudanças significativas, com efeitos adversos sobre a entidade, ocorreram durante o período, ou devem ocorrer em um futuro próximo, na medida ou maneira em que um ativo é ou será usado. Essas mudanças incluem o ativo que se torna inativo, planos para descontinuidade ou para reestruturação da operação a qual uma ativo pertence, planos para baixa de um ativo antes da data anteriormente esperada e reavaliação da vida útil de um ativo como finita ao invés de indefinida; e c) evidência disponível, proveniente de relatório interno, que indique o desempenho econômico de um ativo é, ou será pior que o esperado. FONTE: Disponível em: <http://www.cpc.org.br/pdf/cpc01-audiencia-publica.pdf>. Acesso em: 16 nov. 2011. O mesmo autor segue afirmando que hoje não é mais aceitável, pelas novas práticas contábeis, que uma entidade tenha em seu balanço patrimonial um ativo registrado por um valor maior ao que ele é capaz de produzir de caixa, seja na sua venda ou na sua utilização. Um ativo está desvalorizando quando seu valor contábil excede o seu valor recuperável, com isso nasce a obrigatoriedade de reconhecer a sua desvalorização, lançado no referido valor apurado em conta de provisão para perda. (AZEVEDO, 2010). ATENCAO TÓPICO 2 | BALANÇO PATRIMONIAL 101 Quando se constata a perda do valor de recuperação de um ativo, a entidade deve reconhecer imediatamente a perda em seu resultado, por meio de uma provisão de perda, o que significa que o valor contábil excedeu o valor de recuperável. 2.5.1 Exemplo prático desta situação, evidenciado por Coelho e Lins (2010) Uma empresa adquire um bem por R$ 20.000,00 com tempo de vida útil estimado em dez anos, após o primeiro ano verifica-se o seguinte: O valor contábil do bem é de R$ 18.000,00, pois considera 2.000,00 como depreciação desse primeiro ano. No entanto, pelo fato do surgimento de um novo modelo com muitas funções complementares, o bem logo perde valor de mercado. Com o mercado bastante ativo desse bem, em uma situação de venda, a empresa conseguiria o valor de R$ 12.000,00 pela venda deste bem. Assim, percebe-se que o ativo está desvalorizando. Desta maneira, pode-se afirmar que o ativo está se desvalorizando quando o seu valor contábil é superior ao valor recuperável. A desvalorização, no exemplo dado, equivale a R$ 6.000,00. Neste caso, houve uma perda por impairment no valor de R$ 6.000,00. Esse procedimento deve ser realizado, pelo menos, a cada fim de exercício social, caso haja indícios de que os valores registrados no ativo imobilizado e no intangível tenham desvalorizado (item 8 da Resolução CFC nº 1.110/07). Azevedo (2010) assevera que as entidades sujeitas à analise periódica dos valores registrados nos ativos imobilizado e intangível são: • Empresas classificadas como Sociedades Anônimas (Cia. Aberta). • Cia. Fechada. • Sociedade de Grande Porte. • Sociedade Seguradoras. • Instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Bacen. • Administradoras de consórcios. UNIDADE 2 | ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 102 2.5.2 Contabilização da perda A seguir, exemplos de contabilização de perda por teste de recuperabilidade apresentadas por Azevedo (2010, p. 216-218): Exemplo 1 – Provisão para Perda total do ativo Reconhecer a desvalorização quando o ativo estiver contabilizado por valor não recuperável no futuro. 1 – Posição inicial do bem em 31.12.20X8 Ativo Não Circulante Imobilizado Máquina X R$ 500.000,00 (-) Depreciação Acumulada (R$ 200.000,00) (=) Valor Contábil R$ 300.000,00 2 – A empresa constatou que existe evidência clara de que se deseja interromper o empreendimento a que se destinava essa máquina X. Realiza-se a contabilização da provisão para a perda: Debita – Perda por Desvalorização da Máquina X (conta de resultado) R$ 300.000,00 Credita – Provisão par perda Máquina X (conta redutora do imobilizado) R$ 300.000,00 3 – Posição final em 31.12.20X8 após o ajuste de recuperabilidade Ativo Não Circulante Imobilizado Máquina X R$ 500.000,00 (-) Depreciação Acumulada (R$ 200.000,00) (-) Provisão para perda (R$ 300.000,00) (=) Valor contábil -0- Neste exemplo, o bem foi completamente inutilizado pela empresa. Assim, deve-se reconhecer a perda do valor que o bem estava registrado. Exemplo 2 – Provisão para Perda parcial do ativo 1 – Posição inicial do bem em 31.12.20X8 TÓPICO 2 | BALANÇO PATRIMONIAL 103 Ativo Não Circulante Imobilizado Equipamento Y R$ 700.000,00 (-) Depreciação Acumulada (R$ 280.000,00) (=) Valor contábil R$ 420.000,00 2 – A empresa contatou que este bem não poderá produzir resultados suficientes para recuperação desse valor, consequentemente entende, embasado em estudos e indicações previstas no item 10 da Resolução CFC nº 1.110/02, que 30% do valor contábil (420.000,00 x 30% = 126.000,00) não serão recuperados por meio de venda futura desse bem. Assim, realiza-se a contabilização da provisão para perda: Ativo Não Circulante Imobilizado Equipamento Y R$ 700.000,00 (-) Depreciação Acumulada (R$ 280.000,00) (-) Provisão para Perda (R$ 126.000,00) (=) Valor contábil R$ 294.000,00 Neste exemplo, a empresa percebe que o equipamento Y perde 30% de seu valor contábil, ou seja, R$ 126.000,00 devemos ser baixados de seu valor na hora de registrar o bem no patrimônio da empresa. Debita – Perda por Desvalorização do Equipamento Y (conta de resultado) R$ 126.000,00 Credita- Provisão par perda Equipamento Y (conta redutora do imobilizado) R$ 126.000,00 3 – Posição final do bem em 31.12.20X8 2.6 COMPARAÇÃO DA ESTRUTURA DO ATIVO ANTES E DEPOIS DA ALTERAÇÃO A estrutura evidenciada a seguir apresenta o ativo contido no balanço patrimonial antes e depois das alterações trazidas pela Lei nº 11.638/07. UNIDADE 2 | ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 104 QUADRO 10 – ESTRUTURA DO ATIVO ANTES E DEPOIS DA ALTERAÇÃO ATIVO – ANTES ATIVO – DEPOIS ATIVO CIRCULANTE a) Disponibilidades. b) Direitos realizáveis no exercício social subsequente. c) Aplicações de recursos em despesas do exercício seguinte. ATIVO CIRCULANTE a) Disponibilidades. b) Direitos realizáveis no exercício social subsequente. c) Aplicações de recursos em despesas do exercício seguinte. ATIVO REALIZADO A LONGO PRAZO Direitos realizáveis após o término do exercício seguinte, assim como os derivados de vendas, adiantamentosou empréstimos a sociedades coligadas ou controladas, diretores, acionistas ou participantes no lucro da empresa, que não constituírem negócios usuais na exploração do objeto da entidade. ATIVO NÃO CIRCULANTE a) Realizável a longo Prazo: Direitos realizáveis após o término do exercício seguinte, assim como os derivados de vendas, adiantamentos ou empréstimos a sociedades coligadas ou controladas, diretores, acionistas ou participantes no lucro da empresa, que não constituírem negócios usuais na exploração do objeto da entidade. b) Investimento. c) Imobilizado. d) Intangível. ATIVO PERMANENTE a) Investimento: participações permanentes em outras empresas e os direitos de qualquer natureza, que não possam ser classificáveis no ativo circulante e que não se destinem a manutenção da atividade da companhia ou da empresa. b) Imobilizado: direitos que tenham por objeto bens destinados à manutenção das atividades da empresa e da companhia ou exercidos com essa finalidade, inclusive os de propriedade industrial e comercial. c) Diferido: aplicação de recursos em despesas que contribuirão para a formação do resultado de mais de um exercício social, juros pagos ou creditados aos acionistas durante o período que anteceder o início das operações sociais. Por fim, conforme evidenciado no quadro anterior, observa-se que a estrutura do ativo, constante no balanço patrimonial, sofreu alterações com a aprovação da Lei nº 11.638/07 e com o processo de harmonização das normas contábeis nacionais as normas internacionais de contabilidade. FONTE: Adaptado de Azevedo (2010) 105 QUADRO 10 – ESTRUTURA DO ATIVO ANTES E DEPOIS DA ALTERAÇÃO RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você viu que: • Foi demonstrado o balanço patrimonial da empresa. Abordou-se que com a nova legislação contábil a estrutura do balanço passou por alterações. Estas alterações foram em relação à extinção de antigos grupos patrimoniais, como por exemplo, do ativo permanente e do ativo diferido. • Porém, houve novas inclusões, como por exemplo, a do ativo intangível. Destacou-se também que o grupo do ativo passou a ser apresentado com a separação em circulante e não circulante. • Ainda no grupo do ativo, observou-se que as maiores alterações estão no grupo do não circulante. Destacaram-se alterações no conceito do ativo imobilizado. Novo entendimento na forma de sua avaliação. Foram introduzidos novos conceitos, como por exemplo, valor de presente e valor justo para se realizar a avaliação de um bem do imobilizado. • Foi observada a introdução do ativo intangível, com seu conceito, formas de definição, mensuração e reconhecimento. Ainda, neste tópico, discutiu-se a questão da vida útil de um intangível e sua forma de amortização. • Abordou-se, também, o teste de recuperabilidade dos ativos imobilizados e intangíveis, ou test impairment, como é conhecido em inglês. Assim, como exemplo prático de aplicação do teste. 106 AUTOATIVIDADE 1 Com relação à nova estrutura do balanço patrimonial apresentado pela Lei nº 11.638/07, é correto afirmar que: a) ( ) Apenas no grupo do ativo existe a separação entre ativo circulante e ativo não circulante. b) ( ) No grupo do patrimônio líquido também é observada a apresentação entre patrimônio líquido circulante e patrimônio líquido não circulante. c) ( ) O passivo será apresentado apenas com passivo circulante. d) ( ) Tanto o ativo quanto o grupo do passivo devem ser apresentados em circulante e não circulante. 2 O grupo do ativo intangível foi criado pela Lei nº 11.638/07, assim com relação a este novo grupo do ativo é correto afirmar que: I- O ativo intangível deve sempre ser amortizado independente de a empresa definir sua vida útil como definida ou indefinida. II- O ativo intangível não deve ser amortizado pela empresa, mas sim realizado o teste de recuperabilidade mais de uma vez ao ano. III- O ativo intangível não deve ser amortizado pela empresa quando ela definir sua vida útil. IV- O ativo intangível deve ser amortizado pela empresa quando definir sua vida útil, porém quando o ativo intangível tiver sua vida útil considerada indefinida, a empresa deve aplicar o teste de recuperabilidade pelo menos uma vez ao ano. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As afirmativas I e II estão corretas. b) ( ) As afirmativas II e III estão corretas. c) ( ) As afirmativas I e III estão corretas. d) ( ) As afirmativas I, II e IV estão corretas. 3 Com relação ao teste de recuperabilidade é correto afirmar que: I- O teste de recuperabilidade deve ser realizado apenas nos ativos imobilizados. II- O teste de recuperabilidade tem o objetivo de manter o ativo registrado pelo seu valor de recuperação, esse valor de recuperação seja pelo uso ou por venda. III- O teste de recuperabilidade deve ser realizado ao menos uma vez ao ano, caso haja indícios de que os valores registrados no ativo imobilizado e no intangível tenham desvalorizado. IV- Caso a empresa realize o teste de recuperabilidade e ela constate que houve uma perda de valor do seu ativo, a entidade deve reconhecer imediatamente esta perda. 107 Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Apenas a afirmativa I está correta. b) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas. c) ( ) As afirmativas II, III e IV estão corretas. d) ( ) As afirmativas II e III estão corretas. 4 No dia 31/12/10, a Cia. Alvorada apresentou os seguintes dados de seu ativo imobilizado: Ativo Não Circulante Imobilizado Equipamento K R$ 200.000,00 (-) Depreciação Acumulada (R$ 50.000,00) (=) Valor Contábil R$ 150.000,00 Neste mesmo dia, a Cia. Alvorada constatou que evidencia claramente que se deseja interromper o empreendimento a que se destinava esse equipamento. Nesse sentido, assinale a alternativa que melhor evidencia o registro contábil da provisão para perda desta máquina: a) ( ) Debita – Perda por desvalorização do equipamento K (conta de resultado) – 150.000. Credita – Provisão para perda equipamento K (conta redutora do imobilizado) – 150.000. b) ( ) Debita – Perda por desvalorização do equipamento K (conta de resultado) – 200.000. Credita – Provisão para perda equipamento K (conta redutora do imobilizado) – 200.000. c) ( ) Debita – Provisão para perda por equipamento K (conta redutora do imobilizado) – 150.000. Credita – Perda por desvalorização do equipamento K (conta de resultado) – 150.000. d) ( ) Debita – Provisão para perda por equipamento K (conta redutora do imobilizado) – 200.000. Credita – Perda por desvalorização do equipamento K (conta de resultado) – 200.000. 5 A Cia. Alfa apresenta os seguintes dados em 31/01/X0: Ativo Não Circulante Intangível Valor contábil do ativo R$ 20.000,00 Valor máximo recuperável R$ 14.000,00 Perda por desvalorização R$ 6.000,00 108 De posse dos dados acima, assinale qual alternativa melhor evidencia o registro contábil que a Cia. Alfa deve demonstrar pela perda do bem do ativo intangível? a) ( ) Debita – Perda por desvalorização do ativo intangível (resultado) – 14.000. Credita – Provisão para perda ativo intangível (conta redutora do ativo intangível) – 14.000. b) ( ) Debita – Perda por desvalorização do ativo intangível (resultado) – 6.000. Credita – Provisão para perda ativo intangível (conta redutora do ativo intangível) – 6.000. c) ( ) Debita – Provisão para perda ativo intangível (conta redutora do ativo intangível) – 14.000. Credita - Perda por desvalorização do ativo intangível (resultado) – 14.000. d) ( ) Debita – Perda por desvalorização do ativo intangível (conta redutora do ativo intangível) – 6.000. Credita – Provisão para perda ativo intangível (resultado) – 6.000. 109 TÓPICO 3 PASSIVO E PATRIMÔNIO LÍQUIDO UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Neste tópico serão apresentados o passivo e o patrimônio líquido da empresa. No passivo são visualizadas todas as obrigações da empresa, já no patrimônio líquido é visto o capital próprio da organização. Assim, como o ativo, o passivo tambémé separado em circulante e não circulante. No circulante, encontram-se as obrigações referentes ao próximo exercício e no grupo não circulante, encontram-se as obrigações que se realizarão no exercício seguinte. Tal segregação não acontece no patrimônio líquido da organização, ou seja, este grupo é apresentado, também de acordo com a liquidez das contas, porém, não é segregada em circulante e não circulante. O grupo do passivo evidencia aos usuários quanto a empresa deve a terceiros, já o patrimônio líquido mostra os recursos que os proprietários da empresa aplicam na organização. 2 PASSIVO Passivo são as obrigações da companhia. E assim como as contas do ativo, as do grupo do passivo também serão apresentadas de acordo com seu grau de liquidez. A grande alteração no passivo ocorreu na sua forma de apresentação, onde a partir da Lei nº 11.638/07 apresentado em passivo circulante e passivo não circulante. 2.1 PASSIVO CIRCULANTE No passivo circulante encontramos as obrigações da companhia, inclusive financiamentos para aquisição de direitos do ativo não circulante, serão classificados no passivo circulante quando se vencerem no exercício seguinte (art.178/180 da Lei nº 6.404/76 e art. 36 da MP nº 449/08). 110 UNIDADE 2 | ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 2.2 PASSIVO NÃO CIRCULANTE O passivo não circulante (PÑC) foi criado pela Lei nº 11.638/07. Até então esse grupo era conhecido como passivo exigível a longo prazo. Neste grupo, encontramos as seguintes contas: obrigações da companhia, financiamentos para aquisição de direitos do ativo não circulante, serão classificados no passivo não circulante se tiverem vencimento em prazo maior, observando o dispositivo no paragrafo único do art. 179 (art.178/180 da Lei nº 6.404/76 e art. 36 da MP nº 449/08). Outra alteração no passivo foi a extinção da conta resultado do exercício futuro. Os valores encontrados nesta conta até 2008 deveriam ser reclassificados para passivo não circulante em contas de receitas diferidas (art. 37 MP nº 449/08). 2.3 AVALIAÇÃO DO PASSIVO Segundo Coelho e Lins (2010), os critérios de avaliação das contas do passivo serão: a) As obrigações da companhia, encargos e riscos, conhecidos ou calculáveis, inclusive Imposto de Renda a pagar com base no resultado do exercício, serão computados pelo valor de atualização até a data do balanço. b) As obrigações em moeda estrangeira, com clausura de equivalência cambial, serão convertidas em moeda nacional à taxa de câmbio em vigor na bata do balanço. c) As obrigações, encargos e riscos classificados no passivo não circulante serão ajustados ao seu valor presente, sendo os demais ajustados quando houver efeito relevante. 2.4 COMPARAÇÃO DA ESTRUTURA DO PASSIVO ANTES E DEPOIS DAS ALTERAÇÕES PASSIVO – ANTES PASSIVO – DEPOIS PASSIVO CIRCULANTE No passivo circulante, encontramos as obrigações da companhia, inclusive financiamentos para aquisição de direitos do ativo não circulante, serão classificados no passivo circulante quando se vencerem no exercício seguinte. PASSIVO CIRCULANTE No passivo circulante, encontramos as obrigações da companhia, inclusive financiamentos para aquisição de direitos do ativo não circulante, serão classificados no passivo circulante quando se vencerem no exercício seguinte. QUADRO 11 – ESTRUTURA DO PASSIVO ANTES E DEPOIS DA ALTERAÇÃO TÓPICO 3 | PASSIVO E PATRIMÔNIO LÍQUIDO 111 FONTE: Adaptado de: Azevedo (2010) Conforme evidenciado no quadro anterior, as alterações no passivo com a aprovação da Lei nº 11.638/07 foram na sua estrutura, onde antes tínhamos passivo circulante e passivo exigível a longo prazo e resultado de exercício futuro, e agora temos passivo circulante e passivo não circulante. PASSICO EXIGIVÉL A LONGO PRAZO O passivo não circulante (PÑC) foi criado pela Lei nº 11.638/07. Até então, esse grupo era conhecido como Passivo Exigível a Longo Prazo. Neste grupo, encontramos as seguintes contas: obrigações da companhia, financiamentos para aquisição de direitos do ativo não circulante, serão classificados no passivo não circulante se tiverem vencimento em prazo maior, observando o dispositivo no parágrafo único do art. 179. PASSIVO NÃO CIRCULANTE O passivo não circulante (PÑC) foi criado pela Lei nº 11.638/07. Até então esse grupo era conhecido como Passivo Exigível a Longo Prazo. Neste grupo encontramos as seguintes contas: obrigações da companhia, financiamentos para aquisição de direitos do ativo não circulante, serão classificados no passivo não circulante se tiverem vencimento em prazo maior, observando o dispositivo no parágrafo único do art. 179. RESULTADO DE EXERCICIO FUTURO 2.5 PATRIMÔNIO LÍQUIDO Segundo Marion (2009), no patrimônio líquido estão evidenciados os recursos que os proprietários aplicaram na empresa. E assim, como nos demais grupos patrimoniais houve alterações introduzidas no grupo do patrimônio líquido pela Lei nº 11.338/07. E como resultado algumas foram excluídas e outras foram criadas neste grupo patrimonial. 2.5.1 Exclusão de contas do PL Conforme a Lei nº 11.638/07, foram excluídas as seguintes contas do patrimônio líquido: a) A reserva de capital de prêmios para debêntures. b) A reserva de capital de doações e subvenções governamentais para investimentos. c) Reservas de reavaliação. d) E reclassificação ou distribuição da conta lucro acumulados. • Extinção da conta de Reserva de Capital de Prêmio para debêntures A extinção da reserva de capital de prêmio de debêntures foi justificada por se entender que o prêmio recebido, normalmente, faz parte das condições de negociação, em função da atratividade desse papel ou de sua precificação, como por exemplo, a fixação da taxa de juros acima do mercado. 112 UNIDADE 2 | ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS Assim, os valores dessa conta seriam reconhecidos como receitas não realizadas e o mais correto seria tratar como receita de exercício futuro, porém, tal conta foi extinta também conforme visto no capítulo do Passivo, sendo substituída por uma conta de passivo (passivo não circulante). Com a extinção de tal conta a lei teve como objetivo corrigir uma distorção contábil contida na legislação societária e alinhar as normas contábeis nacionais às normas contábeis internacionais. (BRAGA; ALMEIDA, 2008). • Extinção da conta de Reserva de Capital de doações e subvenções governamentais para investimentos A exclusão da reserva de capital de doação e subvenções governamentais para investimentos ocorreu por se entender que o registro das doações e subvenções recebido pelas empresas vindo do governo devem ser registradas como receita e não como reserva. Assim, segundo Azevedo (2010), as justificativas para tal tratamento contábil destes valores foram as seguintes: • Tais valores não devem ser creditadas diretamente no patrimônio líquido da empresa por se entender que as subvenções e doações são valores recebidos de uma fonte diversa de acionistas. • As subvenções governamentais quase sempre estão atreladas a algum tipo de custo, isto é, a entidade tem o direito de recebê-las desde que realiza determinadas condições e obrigações impostas pelo governo, e estas condições e obrigações implicam ou implicaram uma despesa imediata ou futura para a empresa. Assim, a partir do ano de 2008, as subvenções governamentais devem ser registradas como receita (conta de resultado) e confrontadas com as despesas que a subvenção pretender compensar, utilizando base sistêmica para tal procedimento. Porém, o mesmo autor (2010, p. 154) destaca que a Lei nº 11.638/07 em seu art. 2º permite que: a assembleia geral, por proposta dos órgãos administração, possa destinar para a conta de Reserva de Incentivos Fiscais a parcela do lucro líquido decorrente de doações ou subvenções governamentais para investimentos, que poderá ser excluída da base de calculo do dividendo obrigatório. (art.195-A). Os valores da conta de reserva de debêntures eas das doações e subvenção governamentais podem se mantidas em suas respectivas contas até que seus valores sejam totalmente utilizadas, conforme previsto na Lei nº 11.638/07. • Extinção da Reserva de Reavaliação Em se tratando da conta de reserva de reavaliação, a nova lei extinguiu qualquer possibilidade de uma sociedade por ações realizarem qualquer reavaliação espontânea de seu ativo imobilizado. TÓPICO 3 | PASSIVO E PATRIMÔNIO LÍQUIDO 113 Caso uma entidade tenha saldo nesta conta, a Lei nº 11.638/07 apresentou duas opções para a empresa, sendo elas: a) Poderá manter os valores existentes nessas reservas que deverão ser realizados de acordo com as novas regras, ou; b) Estornar este saldo até o encerramento do exercício social em que a nova legislação entrou em vigor, isto é, as empresas tinham até o final do exercício social de 2008. O mesmo autor destaque que a extinção de reavaliação por empresas de capital aberto no Brasil não acompanha as normas internacionais, pois as IFRS permitem a reavaliação de ativos imobilizados conforme IAS16 item 2, ou seja, a norma internacional permite a reavaliação do imobilizado pelo seu valor justo. As normas internacionais permitem também, porém em casos raros, a reavaliação de ativos intangíveis. • Reclassificação ou distribuição da conta Lucro Acumulados A conta lucros acumulados que fazia parte do grupo do patrimônio líquido não aparece mais no balanço patrimonial. O mesmo autor comenta que os valores existem nesta conta em 31/12/2008 deveriam ser reclassificados para a conta de Reserva de Lucros, com sua destinação certa ou distribuído como dividendos. A esse respeito o Conselho Federal de Contabilidade pronunciou-se esclarecendo que apenas as sociedades por ações estão obrigadas a não manter saldos positivos nestas contas (CFC nº 1.157/09, item 115). Assim, é permitido que as demais entidades, exceto as sociedades anônimas e de grande porte, a apresentação da conta lucros acumulados no balanço patrimonial com saldo positivo. Destaca-se que a Lei nº 11.638/07 não eliminou a conta lucros acumulados, mas, sim a tornou de natureza transitória. Porém, a conta e a demonstração com sua movimentação devem fazer parte da demonstração das mutações do patrimônio líquido. 2.5.2 Novas contas do patrimônio líquido A seguir serão apresentadas as contas criadas e as que passaram a integrar o patrimônio líquido segundo a nova legislação contábil (Lei nº 11.638/07). Dessa forma, serão apresentadas as seguintes novidades: • Criação da conta de Ajuste de Avaliação Patrimonial. • Criação da conta de Reserva de Incentivos Fiscais. • Classificação das Ações em Tesouraria. 114 UNIDADE 2 | ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 2.5.2.1 Criação da conta de Ajuste de Avaliação Patrimonial (AAP) A criação da conta de Ajuste de Avaliação Patrimonial (AAP) foi criada pela nova legislação com o objetivo de receber a contrapartida de aumento ou diminuição de valores dos elementos do ativo e do passivo do resultado de sua avaliação a valor justo, enquanto ainda não forem computadas no resultado, seguindo o regime de competência. (FIPECAFI, 2010). De acordo com os mesmo autores, serão registradas na conta de AAP as variações do preço de mercado dos instrumentos financeiros mantidos para vendas futuras, assim como a diferença de valores dos ativos e passivos avaliados a preço de mercado em reorganização societária. O saldo da conta de AAP pode ser tanto credor como devedor. ATENCAO À medida que os ativos e passivos forem realizados, os seus referidos saldos na conta de AAP devam ser transferidos para o resultado do exercício. 2.5.2.2 Exemplo do lançamento em uma conta de Ajuste de Avaliação Patrimonial (AAP) apresentado por FIPECAFI, (2010) Admite-se que a companhia X tenha adquirido um instrumento financeiro para venda futura. Assim, este bem foi classificado para venda pelo valor de R$ 1.000,00. Após determinado período, este bem rendeu juros de R$ 300,00, e passou a ter um valor de mercado de R$ 1.500,00. Assim temos os seguintes lançamentos contábeis: a) Aquisição do instrumento financeiro Aquisição do Instrumento Financeiro Débito Crédito Instrumento Financeiro 1.000,00 Caixa ou Banco 1.000,00 TÓPICO 3 | PASSIVO E PATRIMÔNIO LÍQUIDO 115 Neste momento estamos registrando a compra do instrumento financeiros no grupo do ativo. b) Registro dos juros e atualização a valor de mercado Registro dos juros e atualização a valor de mercado Débito Crédito Instrumento Financeiro 500,00 Receita de Juros 300,00 Ajuste de Avaliação Patrimonial 200,00 Neste momento estamos registrando o ganho de juros incorrido no período e o ajuste a valor justo do instrumento financeiro de 200,00. c) Venda do Instrumento Financeiro Venda do Instrumento Financeiro Débito Crédito Caixa ou Banco 1.500,00 Instrumento Financeiro 1.500,00 Ajuste de Avaliação Patrimonial 200,00 Ganho da venda de Instrumento Financeiros (conta dentre as receitas financeiras) 200,00 Neste momento estamos registrando a baixa do instrumento financeiro vendido, e o ganho tido pela avaliação a valor justo do bem de R$ 200,00. 2.5.3 Criação da conta de Reserva de Incentivos Fiscais Dentro do grupo do patrimônio líquido foi criada também a conta de Reserva de Incentivos Ficais. A lei nº 11.638/07 adicionou à redação da Lei 6.404/76 o art. 195-A: “a assembleia geral poderá, por proposta dos órgãos de administração, destinar para a reserva de incentivos fiscais a parcela do lucro líquido decorrente de doações ou subvenções governamentais para investimento, que poderá ser excluída da base de cálculo do dividendo obrigatório”. O CPC 07 – Subvenção e Assistência Governamentais que trata deste assunto. ATENCAO 116 UNIDADE 2 | ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS O objetivo da criação desta reserva é possibilitar as companhias abertas a registrarem as doações e subvenções para investimento no resultado do exercício e não mais na reserva de capital, conforme já estabelecido nas normas internacionais de contabilidade. (AZEVEDO, 2009). Além do alinhamento da Lei nº 11.638/07, as normas internacionais de contabilidade, além de outras justificativas dos valores de subvenções e governamentais receberem o tratamento como se fossem receita, isto porque são pelo fato destas subvenções serem provenientes de outros fundos e não os dos sócios, assim não têm razão de serem registradas como patrimônio líquido. Outra razão mora no fato destas subvenções, com raras exceções, serem gratuitas, e por fim, olha-se a essência sobre a forma, pois assim como os demais tributos são registrados no resultado, as subvenções podem ser vistas como uma extensão da política fiscal da empresa, e em consequência disso, deve ser lançada em resultado. A exemplo de subvenções governamentais, Azevedo (2010) cita: • Assistência governamental: é a ação do governo com objetivo de fornecer determinado beneficio econômico a uma empresa desde que ela atenda a critérios específicos estabelecidos. • Subvenção Governamental: é uma contribuição que normalmente assume caráter pecuniário, mas que não é restrita a esse tipo apenas, que o governo concede a uma empresa geralmente em troca de cumprimento passado ou futuro de algumas condições relacionadas às atividades operacionais da companhia. • Isenções tributárias: são benefícios dados às empresas que são caracterizados como subvenções de investimento na forma de dispensa legal do pagamento de tributos sob qualquer forma jurídica. • Empréstimos subsidiados: é quando o credor (normalmente o governo) abre mão do recebimento total ou parcial do empréstimo ou dos juros mediante o cumprimento de algumas condições. 2.5.4 Classificação da conta ações em tesouraria A conta ações em tesouraria representam as ações que a empresa compra dela mesma. De acordo com a Lei nº 11.638/07, tal conta passou a fazer parte do grupo do patrimônio líquido. No entanto, sua apresentação no balanço patrimonialé de conta retificadora do grupo do patrimônio líquido, para efeito de evidenciar a origem dos recursos aplicados na sua aquisição. TÓPICO 3 | PASSIVO E PATRIMÔNIO LÍQUIDO 117 2.6 COMPARAÇÃO DA ESTRUTURA DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO ANTES DE DEPOIS DAS ALTERAÇÕES PATRIMÔNIO LIQUÍDO - ANTES PATRIMÔNIO LIQUÍDO - DEPOIS Capital Social Capital Social Não havia antes (-) Gastos com emissão de ações Reserva de Capital Ágio na emissão de ações Reserva de Capital Ágio na emissão de ações Ágio na incorporação Ágio na incorporação Alienação de partes beneficiárias Alienação de partes beneficiárias Alienação de bônus de subscrição Alienação de bônus de subscrição Resultado da correção monetária do capital realizado Resultado da correção monetária do capital realizado Não havia antes Opções outorgadas reconhecidas Premio na emissão de debentures Eliminada após a alteração Doações e subvenções para investimentos Eliminada após a alteração Reservas de Reavaliação Eliminada após a alteração Reserva de Lucros Reserva Legal Reserva de Lucros Reserva Legal Reserva Estatutária Reserva Estatutária Reserva para Contingencias Reserva para Contingências Reservas de Lucros a Realizar Reservas de Lucros a Realizar Reserva de Lucros para Expansão Reserva de Lucros para Expansão Reserva Especial para Dividendos obrigatórios não distribuídos Reserva Especial para Dividendos obrigatórios não distribuídos Não havia antes da alteração Reserva de Incentivos Fiscais Não tinha definição (-) Ações em Tesouraria (retificadora de Reserva Lucros utilizada para tal fim) Não havia antes da alteração Ajuste de Avaliação Patrimonial Não havia antes da alteração Ajuste Acumulados de Conversão Lucros ou prejuízos acumulados Prejuízos acumulados QUADRO 12 – ESTRUTURA DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO ANTES E DEPOIS DA ALTERAÇÃO FONTE: Adaptado de: Azevedo (2010) No quadro anterior estão expostas as alterações corridas no grupo do Patrimônio Líquido após a aprovação da Lei nº 11.638/07. 118 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico foi visto que: • As informações que se encontram no passivo circulante e as informações que se encontram no passivo não circulante. Conjuntamente a isto foi apresentada a forma de se avaliar o passivo de contas do passivo. Na sequência foram mostradas comparações da estrutura do passivo antes e depois à reformulação da legislação contábil. • Na sequência foi visto o patrimônio líquido da organização. Contas que foram excluídas, como por exemplo, Reserva de Capital de Prêmios para Debêntures e outras. Assim, como as novas inclusões feitas neste mesmo grupo, como por exemplo, a conta de Ajuste de Avaliação Patrimonial. 119 1 No passivo circulante devem ser registrados: a) ( ) Valores a receber dos clientes. b) ( ) Dívidas para com os sócios da empresa. c) ( ) Obrigações que a empresa terá que saldar em até 24 meses. d) ( ) Dívidas da empresa com os seus fornecedores a pagar em até 12 meses. 2 O passivo circulante: a) ( ) É constituído pelas obrigações da entidade, inclusive financiamentos para a aquisição de bens e direitos, com vencimentos previstos para o decorrer do exercício social seguinte a data do balanço. b) ( ) É formado por receitas de exercícios futuros, diminuídas dos custos e despesas a elas correspondentes. c) ( ) É formado por obrigações da entidade com vencimento previstos para após o termino do exercício social seguinte a data do balanço. d) ( ) Representa o volume de recursos aplicados pelos sócios ou acionistas na entidade a longo prazo. 3 Com a aprovação da nova legislação contábil, o grupo do Patrimônio Líquido também sofreu algumas alterações, nesse sentido, analise as afirmativas que seguem: I- Foi extinta a conta de Ajuste de Avaliação Patrimonial. II- A conta de Reserva de Capital de doações e subvenções governamentais para investimentos foi extinta, pois se entende que seus valores deverão ser contabilizados como receitas no resultado da entidade. III- A Conta Lucros acumulados que fazia parte do grupo do patrimônio líquido não aparece mais no balanço patrimonial e seus lucros deveriam ser reclassificados para a conta de Reserva de Lucros, com sua destinação certa ou distribuição como dividendos. IV- Dentro do grupo do patrimônio líquido foi criado também à conta de Reserva de Incentivos Ficais. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As afirmativas I e IV estão corretas. b) ( ) As afirmativas II e III estão corretas. c) ( ) As afirmativas II, III e IV estão corretas. d) ( ) As afirmativas I e III estão corretas. AUTOATIVIDADE 120 4 Matematicamente, o patrimônio líquido pode ser expresso por: a) ( ) PL = Ativo – Passivo. b) ( ) PL = Passivo – Ativo. c) ( ) PL = Ativo = Passivo. d) ( ) PL = Ativo + passivo. 5 Ações em Tesouraria é uma das contas representativas do patrimônio líquido e corresponde ao montante de ações: a) ( ) De emissão da própria e por ela recomprado no mercado. b) ( ) Que a empresa compra de outras entidades. c) ( ) Próprias que a empresa não disponibiliza no mercado. d) ( ) Que a empresa disponibiliza para venda via área de tesouraria. 121 TÓPICO 4 DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Na demonstração do resultado do exercício, a empresa evidencia todas as suas receitas, sejam elas, operacionais, financeiras e outras receitas, assim como o custo das mercadorias vendidas, isto é, quanto custou para a organização produzir o objeto de venda, por fim as suas despesas. A demonstração do resultado do exercício é considerada por muitos como a demonstração contábil mais importante da empresa, pois nesta demonstração encontram-se informações a respeito das receitas e despesas, ou seja, relaciona as informações a respeito do desempenho da organização. De uma forma geral, os gestores das organizações tentam conhecer as suas receitas e despesas, ao máximo, a fim de otimizar o resultado da organização. Enquanto que os acionistas ou sócios buscam esta demonstração a fim de avaliar o retorno do seu capital investido. 2 DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO A Demonstração do Resultado do Exercício é uma apresentação resumida das operações da realizadas pela empresa que ocorreram durante o exercício social, de forma a demonstrar o resultado líquido do período, incluindo o que se denominam de receitas e despesas realizadas. No art. 187 da Lei nº 6.404/76 estão estabelecidos os critérios para a elaboração da Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) consolidado com as alterações da Lei nº 11.638/07 e da MP nº 449/08: Art. 187. A demonstração do resultado do exercício discriminará: I – a receita bruta das vendas e serviços, as deduções das vendas, os abatimentos e os impostos; II – a receita liquida das vendas e serviços, o custo das mercadorias e serviços vendidos e o lucro bruto; III – as despesas com as vendas, as despesas financeiras, deduzidas das receitas, as despesas gerais e administrativas, e outras despesas operacionais; IV – lucro ou prejuízo operacional, as outras receitas e as outras despesas; (Redação dada pela MP nº 449/08); 122 UNIDADE 2 | ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS V – o resultado do exercício antes do Imposto de Renda e a provisão para o imposto; VI – as participações de debentures, empregados, administradores e partes beneficiárias, mesmo na forma de instrumentos financeiros, e de instituições ou fundo de assistência ou previdência de empregados, que não se caracterizem como despesa; (Redação dada pela MP nº 449/08); VII – Lucro ou prejuízo líquido do exercício e o seu montante por ações do capital social. § 1º Na determinação do resultado do exercício serão computados: a) As receitas e os rendimentos ganhos no período, independentemente da sua realização em moeda; e b) Os custos, despesas, encargos e perdas, pagos ou incorridos, correspondentes a essas receitas e rendimentos. § 2º (Revogado pela Lei nº 11.638/07). 2.1 ALTERAÇÕES NA APRESENTAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES DO RESULTADO DO EXERCÍCIO Asalterações introduzidas pela Lei nº 11.638/07 e pela MP nº 449/08 apresentaram nova redação ao inc. VI do art. 187 da Lei nº 6.404/76. Assim, consequentemente a nova legislação passou a permitir que seja apresentado na DRE quando não se caracterizem como despesas as seguintes participações: • Participações de debêntures. • Empregados, administradores. • Partes beneficiárias. • Instrumentos financeiros. • Instituições ou fundos de assistência ou previdência de empregados. A MP nº 449/08 inseriu mais uma regra das normas contábeis internacionais às normas contábeis nacionais, isto é, a não segregação dos resultados em operacionais e não operacionais. Consequentemente, as entidades terão que apresentar as “outras receitas/despesas operacionais” no grupo operacional e não mais após a linha de “resultado operacional” (Resolução CFC nº 1.157/09 e OCPC nº 2/09). O inciso 2 do artigo 187 da Lei nº 6.404/76 revogado pela Lei nº 11.638/07 tratava da reavaliação de ativos, e conforme já mencionado anteriormente, procedimentos sobre reavaliação de espontânea de bens do ativo imobilizado foram eliminados pela Lei nº 11.638/07. Com relação DRE, o CPC 26 fala da possibilidade de evidência em tal demonstração suas contas não pela função, como por exemplo, administrativas, vendas, custos dos produtos vendidos e outros, mas, sim, pela sua natureza, isto é, material consumido, mão de obra, aluguel e outros. Porém destacamos que a legislação em vigor determina a sua apresentação de acordo com as funções. TÓPICO 4 | DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO 123 2.2 REGIME DE CAIXA E O REGIME DE COMPETÊNCIA A demonstração do resultado do exercício pode ser elaborada pelo regime de caixa ou pelo regime de competência. Todavia, apenas pelo regime de competência é aceito pelo fisco e pelas normas contábeis, na hora de publicar tal demonstração. (BORINELLI; PIMENTEL, 2010). Segundo os mesmos autores, o regime de caixa mede o fluxo financeiro da organização. É elaborado de acordo com as entradas e saídas do dinheiro da empresa, isto é, o regime de caixa apura o resultado no momento em que acontecem as entradas e as saídas do caixa da companhia. O regime de competência é considerado a receita obtida pela empresa, independente deste valor tem entrado no caixa da empresa, importando apenas o período em que a receita foi ganha. O mesmo ocorre com as despesas, ou seja, são reconhecidas no momento em que a empresa incorre na despesa, não importando se a empresa desembolsou, no exato momento ou não, o seu valor. (MARION, 2009). 2.3 COMPARAÇÃO DA ESTRUTURA DA DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO ANTES DE DEPOIS DAS ALTERAÇÕES QUADRO 13 – ESTRUTURA DA DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO ANTES E DEPOIS DA ALTERAÇÃO DRE - ANTES DRE - DEPOIS Receita Operacional Bruta Receita Receita Operacional Bruta Receita (-) Deduções e abatimentos da Receita bruta (-) Deduções e abatimentos da Receita bruta (-) Devolução de vendas/ Impostos e Contribuições incidentes sobre venda (-) Devolução de vendas/ Impostos e Contribuições incidentes sobre venda (-) Descontos/abatimentos (-) Descontos/abatimentos (=) Receita Operacional Líquida (=) Receita Operacional Líquida (-) Custos produtos vendidos (-) Custos produtos vendidos (-) Custo das Mercadorias Vendidas (-) Custo das Mercadorias Vendidas (-) Custo dos Serviços prestados (-) Custo dos Serviços prestados (-) Custo dos Serviços prestados (-) Custo dos Serviços prestados (-) Despesas Operacionais (-) Despesas Operacionais (-) Despesas com vendas (-) Despesas com vendas (-) Despesas Administrativas (-) Despesas Administrativas (-) Despesas Tributários (-) Despesas Tributários (+/-) Receita e Despesas Operacionais (+/-) Receita e Despesas Operacionais (-) Despesas Financeiras (-) Despesas Financeiras (+) Receitas Financeiras (+) Receitas Financeiras (+/-) Variações Cambiais (+/-) Variações Cambiais 124 UNIDADE 2 | ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS (+/-) Outras receitas ou (despesas) Financeira (+/-) Outras receitas ou (despesas) (=) Resultado Operacional Não existe mais esta separação (-) Despesas não operacionais Não existe mais esta separação (+) Receitas não operacionais Não existe mais esta separação (=) Lucro Líquido Antes do Imposto de Renda e da Contribuição Social (=) Lucro Líquido Antes do Imposto de Renda e da Contribuição Social (-) Provisão para Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o Lucro (-) Provisão para Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o Lucro (=) Lucro Líquido pós-provisão e Antes das Participações (=) Lucro Líquido pós-provisão e Antes das Participações (-) Participações de Administradores, Empregados, Debêntures, Partes Beneficiárias, Contribuição Estatutária. (-) Participações de Debêntures, Empregados, Administradores e Partes beneficiárias e Fundo de Assistência e Previdência de Empregados (=) Lucro Líquido do Exercício (=) Lucro Líquido do Exercício FONTE: A autora (2011) No quadro anterior estão apresentadas as alterações introduzidas pela aprovação da Lei nº 11.638/07 na estrutura da Demonstração do Resultado do Exercício. 125 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico, você viu que: • Foi abordada a demonstração do resultado do exercício. Foram vistas as alterações pela qual tais demonstrações passaram com a aprovação da nova legislação contábil. • Foi evidenciada também a demonstração do resultado do exercício de acordo com o art. 187 da Lei nº 6.404/76 e pela Lei nº 11.638/07 e pela MP nº 449/08. Foram destacadas as novas legislações que alteraram a antiga redação da Lei nº 6.404/76 que tratava da DRE. • Observaram-se as alterações ocorridas, como por exemplo, a introdução na DRE de certas contas, quando atenderem às condições da lei, como, por exemplo, a introdução da conta de partes beneficiárias e instrumentos financeiros, quando não se caracterizarem como despesas. • Não mais se separa a DRE em resultados operacionais e não operacionais, a partir de 2008, a apresentação destas contas serão apenas em outras receitas e despesas operacionais. • Abordou-se o regime de caixa e o de competência, mostrando que a empresa pode elaborar esta demonstração pelos dois regimes, porém, para o fisco (governo) e para elaboração da DRE, para fins de publicação, deve ser adotado o regime de competência e não o de caixa. Ficando o regime de caixa apenas para fins gerenciais. 126 1 Com a reformulação da Lei das Sociedades por Ações, a contabilidade brasileira se encontra em um processo de harmonização, e neste processo as demonstrações contábeis também passaram por algumas alterações. Dessa forma, com relação à Demonstração do Resultado do Exercício, é correto afirmar que: I- A Demonstração do Resultado do Exercício é uma apresentação resumida das operações realizadas pela empresa que ocorreram durante o exercício social. II- Não existe mais a segregação dos resultados em operacionais e não operacionais. III- O CPC 26 possibilita a apresentação das contas na DRE de acordo com as suas funções. IV- O CPC 26 possibilita a apresentação das contas na DRE de acordo com a natureza. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As afirmativas III e IV estão corretas. b) ( ) As afirmativas I e III estão corretas. c) ( ) As afirmativas I e II estão corretas. d) ( ) As afirmativas II e IV estão corretas. 2 Como exemplos de eventos que são contemplados na demonstração do resultado do exercício de uma empresa comercial têm-se: I- Receitas brutas de vendas. II- Reserva Legal. III- Receitas Financeiras. IV- Despesas com vendas. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As afirmativas I e II estão corretas. b) ( ) As afirmativas III e IV estão corretas. c) ( ) As afirmativas I, III e IV estão corretas. d) ( ) Apenas a afirmativa II está correta. 3 Uma característica do regime de competência é: a) ( ) Receita recebida. b) ( ) Aquisição de despesa. c) ( ) Pagamento de despesa. d) ( ) Consumo de despesa. AUTOATIVIDADE 127 4 Sobre a demonstraçãodo resultado do exercício é correto afirmar que: a) ( ) É uma demonstração estática pelo fato de ser levantada trimestralmente ou anualmente, dependendo do tipo de empresa. b) ( ) Tem como finalidade demonstrar o lucro da entidade e sua composição, não podendo, portanto, ser elaborada quando há prejuízo. c) ( ) É a demonstração que evidencia o resultado obtido pela entidade, por meio do confronto entre as receitas e despesas ocorridas ao longo de um período de tempo. d) ( ) É a demonstração que evidencia os bens, direitos e obrigações obtidos pela empresa, por meio do confronto entre as receitas e despesas ocorridas ao longo de um período de tempo. 5 Com relação ao regime de competência é correto afirmar que: a) ( ) É aceito somente pelo fisco. b) ( ) É aceito somente pelos contabilistas. c) ( ) É optativo. d) ( ) Pelo fisco e contabilistas. 128 129 TÓPICO 5 DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Neste capítulo será abordada a demonstração das mutações do patrimônio líquido. Com a reformulação da lei das Sociedades Anônimas, a DMPL passou a ser obrigatória. Anteriormente esta demonstração era facultativa, desde que a empresa publicasse a demonstração dos lucros e prejuízos acumulados não era necessário a publicação da DMPL. A demonstração das mutações do patrimônio líquido tem como objetivo explicar e descrever as mudanças ocorridas nas contas do patrimônio líquido da empresa. Assim, será possível perceber nesta demonstração a destinação do lucro apurado pela organização. Serão demonstrados conceitos, objetivos, contas que serão movimentadas e contas que mesmo fazendo parte do patrimônio líquido a sua movimentação não alteram o valor do mesmo. Buscará ainda, evidenciar a forma de elaboração uma demonstração do resultado do exercício. Será feito um breve comentário da DMPL na visão do Comitê de Pronunciamentos Contábeis. 2 DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO - DMPL A Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) evidencia a movimentação de todas as contas do patrimônio líquido que ocorreram no exercício social. Consequentemente, todos os aumentos ou diminuições ocorridas nas contas do PL serão evidenciados nesta demonstração. Tal demonstração não era obrigatória pela Lei nº 6.404/76, porém a CVM por meio de sua Resolução 59/86 exigia sua publicação para as empresas de capital aberto. Todavia, com o CPC 26 – Apresentação das Demonstrações Contábeis, aprovado pela Deliberação CVM nº 595/09 e pela Resolução CFC nº 1.185/09 a publicação da Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido passou a ser obrigatória para as empresas sujeitas a tal legislação. 130 UNIDADE 2 | ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS No CPC 26 – Apresentação das Demonstrações Contábeis – você encontra detalhes da apresentação e do conteúdo da DMPL. ATENCAO De acordo com FIPECAFI (2010), a DMPL, podemos identificar: • Aumento/diminuição de capital social da empresa. • Constituição e/ou reversão da reserva de capital. • Formação e utilidade das reservas originadas do lucro. • Contrapartidas de ajustes de avaliação patrimonial em contas de ativo e passivo decorrentes de avaliação a valor justo. • Compras de ações pela própria empresa para serem mantidas em tesouraria. • Movimento da conta prejuízo acumulados. Segundo os mesmo autores, a DMPL guarda se relaciona fortemente com a DRE, pois o resultado apurado na DRE tem sua contrapartida no patrimônio líquido, assim, a destinação deste valor também deve ser evidenciada na DMPL. (FIPECAFI, 2010). Segundo FIPECAFI (2010), a DMPL é de suma importância, pois demonstra a formação das reservas e sua utilização, inclusive as reservas que não são originadas por lucros, também são importantes no entendimento do cálculo dos dividendos obrigatórios. Os mesmo autores destacam ainda que a DMPL é vital para as empresas que possuem investimentos em coligadas e controladas, e avaliam seus investimentos pelo método de equivalência patrimonial. 2.1 MOVIMENTAÇÕES QUE AFETAM AS CONTAS DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO Conforme FIPECAFI (2010), a seguir serão listados inúmeras situações que podem afetar as contas do patrimônio líquido levando-as assim a variações: a) Aumento pelo lucro ou diminuição pelo prejuízo líquido do exercício. b) Redução por dividendos. c) Diminuição por pagamento ou crédito de juros sobre o capital próprio. d) Aumento (quando a lei permite) por reavaliação de ativos. e) Acréscimo por doações ou subvenções para investimentos recebidos (após transacionarem por resultados). f) Aumento por substituição ou integralização de capital. g) Aumento pelo recebimento de valores que excederam o valor nominal das ações integralizadas ou pelo preço de emissão das ações sem valor nominal. TÓPICO 5 | DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO 131 h) Aumento devido ao valor de alienação de partes beneficiárias e bônus de subscrição. i) Aumento devido a prêmios recebidos na emissão de debentures (após transitar por resultado). j) Diminuição por ações próprias adquiridas ou acréscimo por suas vendas. k) Aumento ou diminuição devido a ajustes de exercícios anteriores. l) Diminuição por reversão da reserva de lucros a realizar para a conta de dividendos a pagar. m) Aumento ou diminuição por outros resultados abrangentes. n) Diminuição por gastos de emissão de ações. o) Ajuste de avaliação patrimonial. p) Ganhos ou perdas acumulados na conversão etc. 2.2 MOVIMENTAÇÕES QUE NÃO AFETAM O PATRIMÔNIO LÍQUIDO Há movimentações que são realizadas no decorrer do exercício social pela empresa que não afetaram seu patrimônio líquido segundo FIPECAFI (2010), conforme segue: a) Aumento de capital com a utilização de lucros ou de reservas. b) Apropriação do lucro líquido do exercício, por meio da conta de lucros acumulados, para formação de reservas, como reserva legal, reserva de lucros a realizar, reserva estatutária e outras. c) A reversão de reservas patrimoniais para a conta lucros ou prejuízos acumulados (conta transitória). d) Compensação de prejuízo com reservas etc. Existem movimentações na conta do patrimônio líquido que não alterarão o seu valor, conforme explanado anteriormente. ATENCAO 2.3 DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO SEGUNDO O CPC 26 O modelo da DMPL apresentado no anexo do CPC 26 que já incluía a Demonstração dos Lucros e Prejuízos Acumulados sofreu uma retificação e com isso incluiu na DMPL a Demonstração do Resultado Abrangente e uma nova forma de apresentar as mutações do patrimônio líquido, sendo: 132 UNIDADE 2 | ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS • Transações de capital com os sócios; e • Resultado abrangente. Segundo o CPC 26 (2011), o Resultado Abrangente é “a mutação que ocorre no patrimônio líquido durante o período que resulta de transações e outros eventos que são derivados de transações com os sócios na sua qualidade de proprietários”. Assim, o grupo do resultado abrangente é exposto com três componente básicos: • Resultado líquido do período. • Outros resultados abrangentes. • Reclassificação para o resultado. Destaca-se que a empresa que optar por não incluir a Demonstração do Resultado Abrangente na DMPL, ainda será necessário a inclusão de uma coluna onde seja evidenciado o resultado abrangente da entidade, e a empresa estará assim, obrigada a publicar a Demonstração do Resultado Abrangente à parte, juntamente com as demonstrações obrigatórias. 2.4 ELABORAÇÃO DA DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO A elaboração desta demonstração é bastante simplificada, basta que sejam evidenciadas de forma ordenada as movimentações ocorridas no PL da empresa durante o exercício social. Assim, deve-se abrir um papel de trabalho onde tenham colunas e linhas. Nas colunas serão incluídas as contas ou subgrupos, onde na primeira coluna encontram-se as movimentações ou descrição da natureza das transações e na última coluna constará o patrimônio líquidototal: A seguir está evidencia uma DMPL simplificada para entendimento, de acordo com Marion (2009): Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido TÓPICO 5 | DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO 133 Movimentação Capital Realizado Reservas De Capital Reservas De Incentivos Fiscais Reservas de lucros Lucros Acumulados Total Ágio na emissão de ações le ga l Es ta tu tá ri a p/ c on tin ge nc ia is O rç am en tá ri a Lu cr os re al iz ad os Saldos iniciais (+ ou -) Ajuste de Exercício Anteriores Aumento de Capital QUADRO 14 – MODELO SIMPLIFICADO DE DMPL FONTE: Adaptado de: Marion (2009) Conforme evidenciado no quadro anterior, as linhas verticais da Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido serão compostas pelas contas ou subgrupos do patrimônio líquido da empresa. Já as linhas horizontais da DMPL estarão listadas as movimentações das contas do patrimônio líquido do exercício social, conforme segue: Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido Movimentação Capital Realizado Reservas De Capital Reservas De Incentivos Fiscais Reservas de lucros Lucros Acumulados Total Ágio na emissão de ações le ga l Es ta tu tá ri a p/ c on tin ge nc ia is O rç am en tá ri a Lu cr os re al iz ad os Saldos iniciais (+ ou -) Ajuste de Exercício Anteriores Aumento de Capital Reversão de Reservas Lucro Líquido do Exercício QUADRO 15 – MODELO SIMPLIFICADO COMPLETO DE DMPL 134 UNIDADE 2 | ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS Proposta da Administração de destinação do lucro Reserva Legal Reserva Estatutária Reserva orçamentária Reserva p/ contingencias Reserva de lucros a realizar Dividendos Saldo em XXX FONTE: Adaptado de: Marion (2009) As movimentações evidenciadas nas linhas horizontais da DMPL correspondem às contas do patrimônio líquido da empresa que foram movimentadas no decorrer do exercício social. Observe que a primeira linha horizontal está reservada para os saldos iniciais, ou seja, os saldos constantes no balanço patrimonial do grupo do patrimônio líquido do exercício anterior. Somando ao final, na coluna total, os saldos das contas ou subgrupos para que seja preenchida a coluna do total do patrimônio líquido. Na sequência são realizadas as adições e/ou diminuições de acordo com as movimentações ocorridas. No exemplo 1 a seguir, vamos admitir que o Capital em 31/12/X0 fosse de R$ 7.000.000 e que no decorrer do período houvesse um aumento com a utilização de R$ 1.000.000 de Reservas Estatutárias, cujo saldo inicial seria de R$ 1.500.000: Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido TÓPICO 5 | DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO 135 Movimentação Capital Realizado Reservas De Capital Reservas De Incentivos Fiscais Reservas de lucros Lucros Acumulados Total Le ga l Es ta tu tá ri a p/ c on tin ge nc ia is O rç am en tá ri a Lu cr os re al iz ad os Saldos iniciais 7.000 1.500 8.500 (+ ou -) Ajuste de Exercício Anteriores Aumento de Capital 1.000 (1.000) Proposta da Administração de destinação do lucro Reserva Legal Reserva Estatutária Dividendos Saldo em 31/12/X1 8.000 500 8.500 QUADRO 16 – MOVIMENTAÇÃO DE RESERVA ESTATUTÁRIA NA DMPL FONTE: Adaptado de: Marion (2009) Neste exemplo foi realizado uma movimentação na conta patrimônio líquido, evidenciando um aumento no Capital e uma diminuição na conta de Reserva Estatutária. Observe que os saldos iniciais totalizavam R$ 8.500,00, isto é, no início do exercício, a conta do patrimônio líquido na coluna total tinha um saldo de R$ 8.500 (7.000 + 1.500) e que no final do exercício não houve alteração neste valor. Este fato ocorreu porque a movimentação na conta do PL foi apenas uma permuta entre as contas de reserva, assim são uma diminuição ou aumento das contas. A seguir é apresentado o Balanço Patrimonial da Cia. Adventista que servirá como base para a sua elaboração da Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido: Balanço Patrimonial em 31/12/X1 Cia. Adventista 136 UNIDADE 2 | ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS Ativo 31/12/X0 31/12/X1 Passivo e PL 31/12/X0 31/12/X1 Circulante Circulante Não Circulante Não Circulante Realizável a LP Patrimônio Líquido Capital 7.000 8.000 Reservas de Capital Investimentos Ágio na emissão de ações 2.800 Reserva de Lucro Imobilizado Reserva Legal 70 220 Reserva Estatutária 2.100 1.400 Reserva p/Contingencia 140 395 Intangível Reserva Orçamentária 28 303 Reserva de Lucros a Realizar 14 109 Lucros Acumulados 905 2.305 Total do PL 10.302 15.577 Total do Ativo Total do Passivo + PL 10.257 15.532 QUADRO 17 – BALANÇO PATRIMONIAL CIA. ADVENTISTA EM 31/12/X1 FONTE: Adaptado de: Marion (2009) No exemplo 2 será estruturada a DMPL da Cia. Adventista de acordo com as movimentações ocorridas no grupo do patrimônio líquido da Cia. Adventista demonstrado em seu balanço patrimonial. Vamos admitir também que a Cia. adventista poderia ter a conta lucro acumulado com saldo no patrimônio líquido. Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido em 31/12/X1 Cia. Adventista TÓPICO 5 | DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO 137 Movimentação Capital Realizado Reservas De Capital Reservas De Incentivos Fiscais Reservas de lucros Lucros Acumulados Total Ágio na emissão de ações le ga l Es ta tu tá ri a p/ c on tin ge nc ia is O rç am en tá ri a Lu cr os re al iz ad os Saldos iniciais 7.000 - - 70 2.100 140 28 14 950 10.302 (+ ou -) Ajuste de Exercício Anteriores (+) retificações de erros 280 280 Doações 2.800 2.800 Aumento de Capital 1.000 (1.000) Reversão de reservas Lucro Líquido do Exercício 3.000 3.000 Proposta da Administração de destinação do lucro Reserva Legal 150 (150) - Reserva Estatutária 300 (300) Reserva p/ Contingências 255 (255) Reserva Orçamentaria 275 (275) Reserva de lucros a realizar 95 (95) Dividendos ($0,225 / ação) (805) (805) Saldo em 31/12/X1 8.000 2.800 - 220 1.400 395 303 109 2.350 15.577 QUADRO 18 – DMPL DA CIA. ADVENTISTA DE RESERVA ESTATUTÁRIA NA DMPL FONTE: Adaptado de: Marion (2009) 138 UNIDADE 2 | ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS Conforme observado no quadro anterior, a DMPL da Cia. Adventista inicia-se com a inclusão dos saldos do patrimônio líquido do ano X0. Na sequência, realizado um aumento devido ao ajuste de exercício anteriores no valor de $ 208 e de ágio na emissão de ações no valor de $ 2.800. Houve uma movimentação no valor de $ 1.000 transferidos de reservas estatutárias para capital, o que não afeta o patrimônio líquido, pois representa apenas uma permuta de capital. A seguir são realizadas as alterações ocorridas nas contas do patrimônio líquido da empresa, ou seja, as destinações sugeridas pela administração. Na DMPL, nas linhas horizontais estão os valores referentes às diferenças entre os saldos das contas no ano X0 para o ano X1, por exemplo, Reserva legal ano X0 tinha o valor de $ 70 no ano X1 o valor de $ 220, assim na linha horizontal da reserva legal conta $150 (220-70) que foi a destinação do lucro para esta reserva. O mesmo ocorreu nas demais destinações da conta lucros. Assim, na coluna Lucros Acumulados serão evidenciados os valores entre parênteses demonstrando uma redução, pois foram realizadas as destinações do lucro sugeridas pela administração da Cia. Adventista. A última linha horizontal da DMPL será composta pela soma e diminuições das suas respectivas colunas, e conforme se observava, é exatamente igual aos valores do patrimônio líquido do balanço patrimonial da Cia. Adventista no ano X1. Para as entidades sujeitas à Lei nº 11.638/07, a conta lucros acumulados não aparece mais no balanço patrimonial. Assim, no exemplo 3 será realizada uma DMPL para as empresas sujeitas a tal legislação onde não poderia existir saldo na conta lucros acumulados. A Cia. Nova Realidade teve um lucro de R$ 2.800,00no exercício de 20X8. Este lucro foi totalmente destinado para: 5% para Reserva Legal – (2.800 x 5% = 140) 20% para Reserva Estatutária - (20% x 2.800 = 560) 15% para Reserva Orçamentária – (15% x 2.800 = 420) Reserva de Lucros a Realizar – 480 Reserva para Contingências – 0 Dividendos – 1.200 QUADRO 19 – DESTINAÇÃO DOS LUCROS ACUMULADOS NA CIA. REALIDADE FONTE: Adaptado de: Marion (2009) TÓPICO 5 | DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO 139 No período de 20X8, ocorreu um aumento de capital totalmente integralizado em dinheiro no total de R$ 2.000,00, conforme exposto no Quadro 20. Patrimônio Líquido em 31/12/X7 Capital 5.000 Reserva de Capital 540 Reserva Legal 260 Reserva Estatutária 500 Reserva para Contingências 280 Reserva Orçamentária 320 Reserva de Lucros a Realizar 100 Total do PL 7.000 QUADRO 20 – PATRIMÔNIO LÍQUIDO DA CIA. REALIDADE EM 31/12/X7 FONTE: Adaptado de: Marion (2009) No quadro anterior estão os valores do patrimônio líquido da Cia. Realidade em 31/12/X7. No quadro a seguir, está exposto o patrimônio líquido da Cia. Realidade nos anos de X7 e X8. Patrimônio Líquido em 31/12/x7 31/12/x8 Capital 5.000 7.000 Reserva de Capital 540 540 Reserva Legal 260 400 Reserva Estatutária 500 1.060 Reserva para Contingências 280 280 Reserva Orçamentária 320 740 Reserva de Lucros a Realizar 100 580 Total do PL 7.000 10.600 QUADRO 21 – PATRIMÔNIO LÍQUIDO DA CIA. REALIDADE EM 31/12/X7 E 31/12/X8 FONTE: Adaptado de: Marion (2009) A seguir demonstra-se a DMPL da Cia. Realidade de acordo com as movimentações no patrimônio líquido mostrado nos Quadros 19 e 20: Demonstrações das Mutações do Patrimônio Líquido em 31/12/X8 Cia. Realidade 140 UNIDADE 2 | ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS Movimentação Capital Realizado Reservas De Capital Reservas De Incentivos Fiscais Reservas de lucros Lucros Acumulados Total Ágio na emissão de ações le ga l Es ta tu tá ri a p/ c on tin ge nc ia is O rç am en tá ri a Lu cr os re al iz ad os Saldos iniciais 5.000 540 - 260 500 280 320 100 7.000 (+ ou -) Ajuste de Exercício Anteriores (+) retificações de erros Doações Aumento de Capital 2.000 2.000 Reversão de reservas Lucro Líquido do Exercício 2.800 2.800 Proposta da Administração de destinação do lucro Reserva Legal 140 (140) - Reserva Estatutária 560 (560) Reserva p/ Contingências - - Reserva Orçamentária 420 (420) Reserva de lucros a realizar 480 (480) Dividendos (1.200) (1.200) Saldo em 31/12/X1 7.000 540 - 400 1.060 280 740 580 - 10.600 QUADRO 22 – DMPL DA CIA. REALIDADE EM 31/12/X8 FONTE: Adaptado de: Marion (2009) TÓPICO 5 | DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO 141 Na primeira linha encontramos os valores do patrimônio líquido da Cia. Realidade no ano X7. A seguir, na linha de aumento de capital, observa-se o aumento no valor de R$ 2.000,00. Na sequência são realizadas todas as destinações do saldo da conta lucros acumulados, sugeridos pela administração, conforme Quadro 17, isto é, o saldo da conta lucros acumulados no valor de R$ 2.800,00 foram completamente destinado as suas respectivas reservas, zerando a coluna Lucros Acumulados. A destinação de todo o saldo da conta lucros acumulados é exigência da Lei nº 11.638/07. ATENCAO 2.5 ESTRUTURA DA DMPL COM A LEI Nº 11.638/07 Com as alterações da nova legislação contábil ocorreram algumas alterações na estrutura da DMPL. Assim, de acordo com FIPECAFI (2010), podemos apresentar a nova DMPL com a seguinte estrutura: Capital Social Integralizado Reserva de Capital, Opções Outorgadas e Ações em Tesouraria (1) Reserva de Lucros (2) Lucros ou prejuízo acumulados (2) Outros Resultados Abrangentes (3) Patrimônio Líquido dos Sócios da Controladora Participação dos não controladores no Part. Liq. Das Controladas Patrimônio Líquido Consolidado Saldos iniciais 1.000.000 80.000 300.000 0 270.000 1.650.000 158.000 1.808.000 Aumento de Capital 500.000 (50.000) (100.000) 350.000 32.000 382.000 Gastos na emissão de ações (7.000) (7.000) (7.000) Opções Outorgadas Reconhecidas (30.000) (30.000) 30.000 Ações em tesouraria adquiridas (20.000) (20.000) (20.000) Ações em tesouraria vendidas 60.000 60.000 60.000 Dividendos (162.000) (162.000) (132.000) (175.000) Transações de capital com os sócios 251.000 18.800 269.800 Lucro Líquido do Exercício 250.000 250.000 22.000 272.000 QUADRO 23 – MODELO DMPL CPC 26 142 UNIDADE 2 | ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS Ajuste instrumentos financeiros (60.000) (60.000) (60.000) Tributos s/ ajustes instrum. Financeiros 20.000 20.000 20.000 Eq. Patrim. s/ ganhos abrang. De Coligadas 24.000 24.000 6.000 30.000 Ajuste de Conversão do Período 260.000 260.000 260.000 Trib. s/ajustes de conv. Do período (90.000) (90.000) (90.000) Outros Resultados Abrangentes 154.000 6.000 160.000 Reclassif. p/Res. Aj. Instrum. Financeiros 10.600 10.600 10.600 Resultado Abrangente total 414.600 28.000 442.600 Constituição de Reservas 140.000 (140.000) Realização da Reserva Reavaliação 78.800 (78.800) Trib. Sobre Real. Da Res. De Reavaliação (26.800) 26.800 Saldos Finais 1.500.000 33.000 340.000 250.000 632.600 3.075.200 138.800 3.393.000 FONTE: Adaptado de: FIPECAFI (2010) Conforme apresentado no quadro anterior, a DMPL apresentou uma evolução na última coluna representada pelo patrimônio líquido consolidado de 1.808.000 para 2.520.400. Tal variação ocorreu devido a dois fatores: as transações com os sócios no valor de R$ 269.800 (382.000 – 7.000 + 30.000 – 20.000 + 60.000 – 175.200) e do resultado abrangente no valor de R$ 442.600 (272.000 + 160.000 + 10.600), onde os 272.000 são os resultados líquidos do período, os 160.000 representam outros resultados abrangentes e mais 10.600 que são efeitos de uma reclassificação. Cabe destacar que as reclassificações para o resultado do período não alteram o patrimônio líquido da empresa, todavia por aumentarem ou diminuírem o resultado líquido necessitam ter uma contrapartida evidenciada. Assim, no exemplo mostrado anteriormente houve uma transferência no valor de R$ 10.600,00 de prejuízo que constava como outros resultados abrangentes para o resultado do período. Assim, antes da transferência, o resultado líquido era de R$ 260.600,00 que, subtraído o prejuízo de R$ 10.600,00 passou a ser reconhecido no resultado o valor de R$ 250.000,00. Dessa forma, a transferência do prejuízo de R$ 10.600,00 dos resultados abrangentes para o resultado do período não altera o total do TÓPICO 5 | DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO 143 patrimônio líquido, no entanto, como o resultado é evidenciado pelo valor subtraindo esse prejuízo (10.600,00), então é necessário recolocá-la na DMPL da empresa. Os autores seguem explicando que na linha Lucro Líquido do Período o valor demonstrado na DMPL será de 272.000 (250.000 + 22.000), pois segundo o CPC 26 o lucro líquido consolidado do período deve, obrigatoriamente, demonstrar a parte que pertence aos sócios da controladora (250.000) e a parte que pertence aos que são sócios apenas das controladas (22.000). O CPC 26 (2011) exige ainda a evidenciação quanto ao resultado abrangente total (442.600) representado pela evidenciação do valor da parte dos sócios da controladora no valor de R$ 414.600,00 mais a parte dos sócios não controladores (sócios minoritários) nas controladas no valor de R$ 28.000,00. Os valores que estão expostos na DMPL, após o resultado abrangente total, correspondem às mutações internas do patrimônio líquido. Os saldos que complementam a segunda, terceira e a quinta colunas devem ser evidenciados em quadro à parte ou em nota adicional. Estas notas adicionais podem ser assim apresentadas: a) Saldos finais (iniciais): Reserva Excedente de Capital R$ 80.000,00; Gastos com Emissão de Ações R$ 7.000,00; Reserva de Subvenção de Investimentos R$ 10.000,00(30.000 – 20.000); Ações em Tesouraria R$ 50.000,00 e Opções Outorgadas Reconhecidas R$ 60.000,00. Total R$ 93.000,00. Estes mesmos valores podem ser apresentados em forma de quadro, conforme segue: Reserva de Capital, Opções Outorgadas e Ações em Tesouraria (1) Reserva de excedente de capital Gastos na Emissão de Ações Reserva de Subvenção de Investimentos Ações em Tesouraria Opções Outorgadas Reconhecidas Contas do Grupo (1) Saldos Inícios 50.000 (5.000) 100.000 (70.000) 5.000 80.000 Aumento de Capital (35.000) (15.000) (50.000) Gastos com Emissão de Ações (7.000) (7.000) Opções Outorgadas Reconhecidas 30.000 30.000 Ações em Tesouraria (20.000) (20.000) Ações em tesouraria Vendidas 60.000 60.000 Saldos Finais 15.000 (12.000) 85.000 (30.000) 35.000 93.000 QUADRO 24 – MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO INTERNO FONTE: Adaptado de: FIPECAFI (2010) 144 UNIDADE 2 | ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS b) Saldos finais: Reserva Legal R$ 88.000,00; Reserva de Incentivos Fiscais R$ 52.000,00 e Reserva de Retenção de Lucros R$ 200.000,00. Total 340.000,00. Estes mesmos valores podem ser apresentados em forma de quadro, conforme segue: Reserva de Lucros (2) Reserva Legal Reserva p/ Extensão Reserva de Incentivos Fiscais Contas do Grupo (2) Saldos Inícios 110.000 90.000 100.000 300.000 Aumento de Capital (100.000) (100.000) Constituição de Reservas 12.500 108.500 19.000 140.000 Saldos Finais 122.500 198.500 19.000 340.000 QUADRO 25 – MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO INTERNO FONTE: Adaptado de: FIPECAFI (2010) O saldo inicial de 300.000 corresponde ao somatório de todos os saldos iniciais, isto é, 110 + 90.000 + 100.000 = 300.000; o valor de 140.000 corresponde a 88.000 + 52.000 = 140.000. c) Os valores finais: Reserva de Reavaliação R$ 234.600,00; Ajuste a Avaliação Patrimonial R$ 68.000,00 e Ajuste de Conversão Acumulada R$ (80.000,00). Total R$ 382.600.00. Estes mesmos valores podem ser apresentados em forma de quadro, conforme segue: Outros Resultados Abrangentes (3) Reservas de Reavaliação Ajustes de Avaliação Patrimonial Ajuste de Conversão Acumulados Contas do Grupo (3) Saldos Iniciais 195.000 125.000 (50.000) 270.000 Ajuste Instrumentos Financeiros (60.000) (60.000) Tributos s/ ajustes instrumentos Financeiros 20.000 20.000 Eq. Patrimonial s/ganhos abrangente de Coligadas 24.000 24.000 Ajuste de Conversão do Período 260.000 260.000 Tributos s/ajustes de conversão do período (90.000) (90.000) QUADRO 26 – DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO ABRANGENTE TÓPICO 5 | DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO 145 FONTE: Adaptado de: FIPECAFI (2010) No quadro anterior, observam-se as movimentações da Demonstração do Resultado Abrangente, de acordo com o exemplo apresentado pela FIPECAFI (2010), que deve constar na DMPL segundo a Lei nº 11.638/07. Reclassificação para Resultado Ajuste Instrumento. Financeiro 10.600 10.600 Reclassificação da Reserva Reavaliação (78.800) (78.800) Tributos sobre a Reavaliação da Reserva de Reavaliação 26.800 26.800 Saldos Finais 143.000 119.600 120.000 382.600 146 UNIDADE 2 | ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS LEITURA COMPLEMENTAR AVALIAÇÃO DE MARCAS: UMA APLICAÇÃO AO CASO BOMBRIL Érica Saião Caputo, Marcelo Álvaro da Silva Macedo e Heloísa Guimarães Peixoto Nogueira Na transição da sociedade industrial para a sociedade do conhecimento (NUNES; HAIGH, 2003; TERRA, 2000) em meados da década de 1980, verificou- se com as grandes fusões e aquisições nos Estados Unidos e Europa que, muitas vezes, o valor negociado nas aquisições era maior que a soma dos ativos tangíveis da empresa (planta industrial, máquinas e equipamentos), atribuindo-se essa diferença à contribuição dos ativos intangíveis (goodwill) na composição do seu valor (NUNES; HAIGH, 2003; MARTINS, 2000). Um exemplo clássico foi a compra da Kraft pela Philip Morris, em 1988, por US$ 12,6 bilhões – seis vezes o que a empresa valia contabilmente (AAKER, 1998; KLEIN, 2006). No Brasil, esse fenômeno foi observado na aquisição da Kibon pela Unilever, em 1997, por US$ 930 milhões, quando seus resultados no ano anterior atingiram as cifras de US$ 332 milhões de faturamento e US$ 75 milhões de lucro líquido, numa demonstração clara de que também fora considerado nessa equação o papel dos ativos intangíveis da empresa – o reconhecimento da marca Kibon, o know-how, o relacionamento com os clientes, entre outros (MARTINS; BLECHER, 1997). Ao longo dos anos, os ativos intangíveis têm se tornado os principais responsáveis pela geração de valor nas empresas. Isso porque em um ambiente competitivo os ativos tangíveis são rapidamente reproduzidos e podem tornar-se obsoletos facilmente, diante do avanço tecnológico. Já os ativos intangíveis são difíceis de serem copiados no curto prazo, devido ao tempo requerido na sua construção e consolidação. Dentre os ativos intangíveis, a marca é o que assume maior importância. Um estudo desenvolvido pela Brand Finance, consultoria especializada em marcas, considerando as marcas mais valorizadas do mundo, incluindo Coca- Cola, Microsoft, IBM, GE, dentre outras, demonstra que a marca vem aumentando sua representatividade no valor da empresa, sendo estimado que esse índice irá atingir mais de 60% em 2010 (NUNES; HAIGH, 2003). O valor da marca (ou brand equity) tornou-se um dos principais assuntos do mundo dos negócios. Nos últimos 10 anos surgiram diversas ferramentas e técnicas para medir e avaliar o valor da marca, e a expressão brand equity tornou-se recorrente entre os especialistas em marketing (NUNES; HAIGH, 2003; TROIANO, 2003; AAKER, 1998). Porém, sempre que se discutem questões relativas à marca surgem dúvidas. Será que deter uma marca forte representa uma vantagem competitiva TÓPICO 5 | DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO 147 perante os concorrentes, já que a marca é um ativo que alavanca o resultado do negócio, seja pela manutenção dos clientes, seja pela prática de preços premium e margens operacionais superiores a empresas do setor que não desfrutam do mesmo reconhecimento da marca? Será que a força da marca caracteriza-se como fator de decisão dos clientes na ausência de outras diferenças? Aaker (1998) afirma que a marca influencia as avaliações dos clientes em relação a produtos e serviços, sendo capaz de diferenciar as organizações. Mesmo que o consumidor não conheça o produto ou serviço, estará mais propenso a comprá-lo se tiver referências positivas da marca que o produto ostenta, tornando o reconhecimento da marca, e não a commodity em si, o principal fator influenciador de sua decisão. Mas como podemos mensurar o valor da marca para a empresa? É neste contexto repleto de indagações que esta pesquisa tem como objetivo aplicar uma metodologia de avaliação, adaptada de Ozório (2003), para valorar uma marca considerada forte, em um segmento em que o produto basicamente não tem diferenciação, sendo caracterizado como uma commodity, que é o setor de esponja de lã de aço, no caso a marca Bombril. Ao analisar o ativo marca em um segmento “comoditizado”, pretende-se fomentar a reflexão de que a marca contribui para o desempenho econômico da empresa, agregando valor ao negócio. O modelo aplicado foi baseado na premissa de que uma marca forte permite que a empresa pratique preços superiores aos das empresas que não detêm o mesmo reconhecimento de marca (preços premium); considera um comparativo entre os fluxos de caixa referentes a uma empresa de marca forte e uma empresa sem o atributo marca, calculado pelo valor presente do preço premium (com relação a um produto genérico) pago por clientes em uma determinada categoria. A partir da premissa de que uma marca forte possibilita a prática de preços superiores às marcas que não usufruem do mesmo reconhecimento, foi possível estimar o valor da marca Bombril, considerando o critério de preço premium, ou seja, o sobre preço obtido pela Bombrilem relação ao preço médio praticado pelas empresas do setor que não possuem marca forte. Esse critério indica o quanto o consumidor está disposto a pagar pela marca em comparação a outra que tenha uma oferta similar. Conclui-se que é possível quantificar o valor de uma marca a partir dessa premissa, tendo sido a marca Bombril valorada em R$ 190 milhões. Além disso, através de uma discussão sobre o papel da marca para o negócio, pôde-se evidenciar que uma marca forte agrega valor para a empresa, pelo elo estabelecido com clientes, fornecedores e distribuidores, que garantem a sua sustentabilidade mesmo em momentos de crise, como a recentemente vivenciada pela Bombril. Conhecer o valor da marca e monitorar o seu desempenho permite adequar as estratégias da empresa, analisando o retorno de suas ações e investimentos com base no reflexo para o seu valor, consequentemente contribuindo para o 148 UNIDADE 2 | ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS resultado do negócio. Portanto, a avaliação sistemática da marca constitui-se um norte para orientar a estratégia da empresa, visando ao seu resultado futuro. A Bombril durante anos esteve alheia às ações da concorrência no segmento de lã de aço, mantendo sua liderança com quase 90% de participação de mercado. A concorrente Assolan se lançou no mercado justamente no período em que a empresa enfrentava a maior crise financeira, além da ausência da mídia, devido ao corte nas ações de publicidade. Mesmo com a consolidação no mercado da marca Assolan, a Bombril se recupera da crise, mantendo sua posição de líder do setor com mais de 60% de participação. Seus administradores atribuem essa recuperação à força da marca Bombril. FONTE: Publicado na Revista de Administração Eletrônica - RAE-eletrônica, v. 7, n. 2, Art. 21, jul./ dez. 2008. 149 RESUMO DO TÓPICO 5 Neste tópico foi visto: • A demonstração das mutações do patrimônio líquido. Seu conceito e sua obrigatoriedade. Seu objetivo, ou seja, evidenciar a movimentação de todas as contas do patrimônio líquido que ocorreram no exercício social. • Na sequência encontram-se as movimentações que afetam o patrimônio líquido e movimentações que não o afetam. Foi demonstrado também, a visão do Comitê de Pronunciamentos Contábeis a respeito da demonstração das mutações do patrimônio líquido. • E por fim, foi elaborado, detalhadamente, um exemplo de DMPL de acordo com Marion (2009), a fim de facilitar a visualização desta demonstração. Encerrando o capítulo está exposta uma DMPL, segundo CPC 26 elaborado pela FIPECAFI (2010). 150 1 Com relação à Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido, é correto afirmar que: I- A Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) evidencia a movimentação de todas as contas do patrimônio líquido que ocorreram no exercício social. II- Apenas os aumentos ocorridos nas contas do PL serão evidenciados nesta demonstração. III- Tal demonstração não era obrigatória pela Lei nº 6.404/76. IV- DMPL é de suma importância, pois demonstra a formação das reservas e sua utilização, inclusive as reservas que não são originadas por lucros. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As afirmativas I e III estão corretas. b) ( ) As afirmativas I, III e IV estão corretas. c) ( ) As afirmativas II, III e IV estão corretas. d) ( ) Apenas a afirmativa IV está correta. 2 Não são exemplos de contas pertencentes ao patrimônio líquido de uma empresa: a) ( ) Capital social e reservas de capital. b) ( ) Aplicações financeiras e empréstimos. c) ( ) Prejuízos acumulados e reservas de lucros. d) ( ) Capital a integralizar e ações em tesouraria. 3 Com relação à exigibilidade da DMPL, é correto afirmar que: a) ( ) A Lei nº 6.404/76 exigia a publicação da DMPL para as empresas sujeitas a tal legislação. b) ( ) A CVM nunca exigiu a publicação da DMPL para as empresas sujeitas a tal legislação. c) ( ) A Resolução do CFC 1.185/09 exige a publicação da DMPL para as empresas sujeitas a tal legislação. d) ( ) A Resolução do CFC 1.185/09 diz ser facultativa a publicação da DMPL para as empresas sujeitas a tal legislação. 4 São exemplos de eventos que são contemplados na demonstração das mutações do patrimônio líquido: I- Movimentações da conta prejuízos acumulados. II- Aumento e/ou diminuição de provisões de reserva de capital. III- Formação e utilização das reservas originadas do lucro. IV- Constituição e /ou reversão de reserva de capital. AUTOATIVIDADE 151 Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Apenas a afirmativa III está correta. b) ( ) As afirmativas I, III e IV estão corretas. c) ( ) As afirmativas I, II e IV estão corretas. d) ( ) Apenas a afirmativa IV está correta. 5 Na elaboração da DMPL, alguns itens podem alterar o valor total do patrimônio líquido, Assim, qual movimentação irá alterar o valor do patrimônio líquido? I- Reversão de reservas patrimoniais. II- Aumento de capital com utilização de reservas. III- Aumento de capital com integralização de ativos. IV- Apropriação de lucro líquido do exercício, destinando-o para formação de reservas. As afirmativas verdadeiras são: a) ( ) As afirmativas I e II estão corretas. b) ( ) As afirmativas II e IV estão corretas. c) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas. d) ( ) Apenas a afirmativa IV está correta. 6 Durante o ano de X1 foram registrados as seguintes movimentações no patrimônio líquido de uma empresa: Ajuste de avaliação patrimonial por valorização de títulos e valores mobiliários 1.500,00 Aumento de capital em dinheiro 8.000,00 Aumento de capital com reservas 6.000,00 Lucro líquido do período Distribuição de dividendos 4.000,00 Reserva de lucros 3.000,00 Dados esses valores a variação líquida do patrimônio líquido a ser evidenciada na demonstração das mutações do patrimônio líquido corresponde a: a) ( ) R$ 12.500,00. b) ( ) R$ 11.000,00. c) ( ) R$ 21.500,00. d) ( ) R$ 26.500,00. 152 153 UNIDADE 3 NOVA DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E COMPLEMENTOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • fazer com que o(a) acadêmico(a) esteja preparado para a elaboração e in- terpretação da demonstração do fluxo de caixa e da demonstração do va- lor adicionado; • capacitá-lo(a) a discutir as contas e os ajustes pelos quais estas demonstra- ções passam, assim como torná-lo apto a utilizá-lo na tomada de decisão; • e por fim, levar ao conhecimento do acadêmico o complemento as de- monstrações contábeis, conhecidas como notas explicativas, contas que devem constar e assuntos a serem tratados. Esta unidade está dividida em três tópicos. No final de cada um deles, você encontrará atividades que o(a) auxiliarão na apropriação dos conhecimentos. TÓPICO 1 – DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA TÓPICO 2 – DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO TÓPICO 3 – NOTAS EXPLICATIVAS 154 155 TÓPICO 1 DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Com a modificação da legislação contábil tivemos a introdução da demonstração do fluxo de caixa entre as demonstrações obrigatórias. Assim, quando a empresa estiver enquadrada nesta legislação deverá apresentar entre as suas demonstrações compulsórias a DFC. A demonstração do fluxo de caixa tem como objetivo evidenciar toda a origem do dinheiro e equivalente de caixa que tenha entrado no caixa da empresa, assim como evidenciar também toda a aplicação ou saída do dinheiro do caixa da organização que tenha ocorrido no exercício. Na elaboração desta demonstração, as entradas e saídas do caixa e equivalentes, isto é, as movimentações que afetam o caixa e seu equivalente devem ser apresentadas em três grandes fluxos de atividades, sendo eles: fluxo de atividades operacionais, fluxo de atividades de investimento e fluxo de atividades financeiras. O fluxo de atividade operacional, normalmente está relacionado com o objetivo fim da empresa, seja vender, prestar serviço ou industrializar. Assim, todas as movimentações que afetem, seja entrando ou saindodo caixa e seu equivalente e que esteja relacionado ao objetivo fim da organização, devem ser classificadas como um fluxo de atividade operacional. Quanto ao fluxo de atividade de investimento está relacionada à compra ou venda dos ativos de longo prazo e investimento que não seja incluído nos equivalentes de caixa utilizado para produzir bens e serviços. Assim, todas estas movimentações, que afetaram o caixa, tanto para mais ou para menos, deverão estar incluídos no fluxo de atividade de investimento. Já o fluxo de atividade de financiamento é aquele que resulta em mudanças no tamanho e na elaboração do capital próprio e endividamento da organização. Logo, toda a movimentação, para mais ou para menos, que afetar o caixa e seu equivalente e que resulte de uma atividade de financiamento deverá ser demonstrado neste fluxo de atividade. (CPC 03, 2011). Uma das utilidades em separar a demonstração do fluxo de caixa em fluxo de atividades está na possibilidade de avaliação de cada um desses fluxos UNIDADE 3 | NOVA DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E COMPLEMENTOS 156 e identificar de onde vem a maior parte do caixa e seu equivalente de caixa da empresa. Como forma de elaboração, a legislação e os órgãos reguladores adotam duas possibilidades, conhecidas como método direto e método indireto. Porém, destaca-se que nem a legislação ou qualquer órgão regulador brasileiro exige que as empresas publiquem a sua demonstração do fluxo de caixa por um ou outro método, isto é, fica a escolha da empresa o método a ser utilizado por ela. 2 DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA - DFC Para que as normas contábeis nacionais estejam alinhadas às normas internacionais a Demonstração do Fluxo de Caixa passou a fazer parte do conjunto obrigatório de demonstrações contábeis a partir da aprovação da Lei nº 11.638/07. Com a publicação de tal demonstração, as empresas não mais estão obrigadas a publicar a Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR). De uma forma geral, a demonstração do fluxo de caixa evidencia a origem de todo o dinheiro e equivalentes de caixa que entraram no caixa da empresa e toda a aplicação do dinheiro que saiu do caixa em determinado período, demonstra ainda o resultado o fluxo financeiro da organização. (MARION, 2009). A Demonstração do Fluxo de Caixa é regulamentada pela Resolução CFC nº 1.125/08 e nº 1.296/10, pela CVM na sua Deliberação nº 547/08 e pelo BACEN (Banco Central do Brasil) em sua Resolução nº 3.64/08 e pelo CPC nº 9/08. 2.1 EMPRESAS OBRIGADAS A ELABORAR A DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA - DFC As empresas classificadas como capital aberto deverão auditar e publicar a partir de 01/01/2008 a demonstração do fluxo de caixa. Conjuntamente a estas empresas as organizações classificadas como de capital fechado também, estarão sujeitas à obrigatoriedade da elaboração e publicação de tal demonstração. (AZEVEDO, 2010). Porém, quando uma companhia fechada tiver seu patrimônio líquido na data do balanço patrimonial inferior a R$ 2.000.000,00, ela estará isenta à elaboração e publicação da demonstração do fluxo de caixa. As sociedades de grande porte também deverão auditar e publicar a DFC, nos pré-requisitos da legislação societária, uma vez que elas estão sujeitas a tal legislação, ou seja, a Lei nº 6.404/76 e a Lei nº 11.638/07. Ainda estão obrigadas a elaborar esta demonstração as Sociedades Mistas (S.A. art. 235 da Lei nº 6.404/76). As Sociedades Comandita por Ações (S.A. art. 280 da Lei nº 6.404/76). TÓPICO 1 | DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA 157 2 DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA - DFC 2.2 OBJETIVOS E FINALIDADES DA DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA – DFC Na visão de Azevedo (2009), o objetivo de uma demonstração do fluxo de caixa tornar transparente a situação financeira de uma entidade, assim proporcionar aos usuários uma visão relevante das movimentações de entradas e saídas de caixa e equivalentes de caixa de uma organização, em determinado momento. Segundo FIPECAFI (2010), a análise da DFC, junto com as demais demonstrações contábeis possibilita a todos os usuários a: • avaliarem a capacidade de a empresa gerar futuros fluxos líquidos positivos de caixa; • avaliar a capacidade da empresa em honrar com seus compromissos, com o pagamento dos dividendos e retornar empréstimos obtidos; • avaliarem a liquidez, solvência e a flexibilidade da empresa; • avaliarem a taxa de conversão de lucro em caixa; • avaliarem a desempenho operacional de diferentes empresas, pois elimina os efeitos de distintos tratamentos contábeis para as mesmas transações e eventos; • avaliarem a precisão das estimativas passadas de fluxos futuros de caixa; • avaliarem os efeitos, sobre a posição financeira da entidade, das transações de investimentos e de financiamentos etc. • demonstrar de onde (origem) e aonde (destino) está sendo investido o dinheiro; • demonstrar as necessidades da entidade de financiamentos. Como finalidade da DFC, Azevedo (2009) comenta que esta demonstração evidencia como a empresa gera e aplica seus recursos de caixa e seus equivalentes nas atividades desenvolvidas. Já como função da DFC, o mesmo autor afirma que ela controla os fluxos de entrada e saída de caixa e seu equivalente, dessa forma, gera uma melhor gestão dos recursos obtidos pela organização, uma adequada transparência das operações e possibilita ainda que a empresa tenha desvios financeiros. UNIDADE 3 | NOVA DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E COMPLEMENTOS 158 2.2.1 Caixa e equivalentes de caixa Para fins de demonstração do fluxo de caixa o conceito de caixa foi ampliado, segundo FIPECAFI (2010), com o objetivo de contemplar também os investimentos considerados equivalentes de caixa. Os autores argumentam que tal alteração ocorre devido ao entendimento de que as empresas, de uma forma geral, aplicam as sobras dos caixas em investimentos temporários de curto prazo, a fim de evitar as perdas a que tais valores estariam sujeitos quando expostas em contas não remuneradas. Assim, o CPC 03 – Demonstração do Fluxo de Caixa, o caixa engloba numerários em espécie e depósitos bancários disponíveis, já os equivalentes de caixa são as aplicações financeiras de curto prazo, de alta liquidez que são prontamente conversíveis em um montante conhecido de caixa e que estão sujeitas a um insignificante risco de mudança de valor. Dessa forma, para que um investimento seja classificado como um equivalente de caixa é necessário o atendimento dos três pré-requisitos: a) ser de curto prazo; b) ser de alta liquidez; c) apresentar insignificante risco de mudança de valor. O CPC 03 (2011) não limita os investimentos considerados como equivalentes de caixa, porém menciona como tal os investimentos que tenham vencimento em até três meses em relação a sua aquisição. O conceito de equivalente de caixa equivale utilizado pelo CPC é o mesmo conceito estipulado pelo IASB e FASB. Destaca-se que os investimentos que estiverem a três meses, ou menos, de seu vencimento não poderão ser reclassificados como equivalentes de caixa, pois o fato de efetuar essa reclassificação sugere efeito no fluxo de caixa e na realidade isto não ocorre. Como nem todo investimento que atenda às definições devem ser tratadas como equivalentes de caixa, a FIPECAFI (2010) recomendam observar a prática da empresa na gestão do caixa e destes investimentos. Como existe uma variedade muito grande dessa gestão, o FASB recomenda a evidenciação em notas explicativas dos critérios que a empresa considera na definição de suas aplicações em equivalente de caixa. Quanto ao IASB, este órgão exige que as empresas descrevam seus investimentos, e não os critérios, nas notas explicativas. Quanto ao CPC 03 (2011), este exige que as entidades evidenciem os componentes de caixa e equivalentes de caixa, como também a politica que ela adota para sua determinação. TÓPICO 1 | DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA 159 O pronunciamento técnico que trata da Demonstração do Fluxo de Caixa é o CPC 03 – Demonstraçãode Fluxo de Caixa, a que você poderá ter acesso pelo sitio: <www. cpc.org.br>. ATENCAO 2.3 TRANSAÇÕES QUE AFETAM O CAIXA Na sequência serão evidenciados os principais movimentos realizados pela empresa que afetam o caixa de uma entidade, segundo Marion (2009). Movimentos que aumentam o caixa a) Integralização do capital pelos sócios ou acionistas: a integralização pelos sócios ou acionistas em dinheiro afeta o caixa da empresa, porém se esta integralização for realizada em móveis, estoque ou outro que não seja dinheiro, tal movimentação não afetará o caixa. b) Empréstimos bancários e financiamentos: são os recursos financeiros de uma empresa financeira. Comumente estes empréstimos são utilizados como capital de giro (circulante) e financiamentos para a aquisição de ativo imobilizado. c) Venda de itens do ativo não circulante: tal movimentação não é comum, porém há empresas que realizam a venda de um imobilizado, assim teremos uma entrada de recursos financeiros. d) Venda à vista e recebimento de duplicatas a receber: esta é a principal fonte de recurso do caixa de uma organização. e) Outras entradas: juros recebidos, dividendos recebidos de outras entidades, indenizações de seguros recebidas etc. Movimentos que diminuem o caixa a) Pagamento de dividendos aos acionistas: se os investimentos realizados pelos acionistas representam uma entrada no caixa, o pagamento de dividendos a estes representam uma saída do caixa. b) Pagamentos de juros e amortização da dívida: tanto o resgate das obrigações junto à instituição financeira quanto os encargos financeiros (juros, comissões etc.), significam uma saída de caixa. c) Aquisição de item do ativo imobilizado, investimento e intangível: as aquisições à vista de itens do imobilizado e de seus subgrupos representam uma saída do caixa. d) Compra à vista e pagamentos a fornecedores: estas saídas representam as saídas numerárias referentes à matéria-prima e material secundário. e) Pagamento de despesas/custo, contas a pagar e outros: estes desembolsos referentes a despesas administrativas, de vendas, com itens do custo e outros representam uma saída do caixa. UNIDADE 3 | NOVA DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E COMPLEMENTOS 160 Movimentos que não afetam o caixa a) Depreciação, Amortização e Exaustão: são meras reduções do ativo e elas não afetam o caixa da empresa. b) Provisão para devedores duvidosos: são estimativas de prováveis perdas com clientes e elas não afetam o caixa da empresa. c) Acréscimo (ou diminuições) de itens de investimentos pelo método de equivalência patrimonial: não afeta o caixa da empresa. 2.4 CLASSIFICAÇÃO DAS MOVIMENTAÇÕES EM FLUXO DE ATIVIDADES Para que exista um alinhamento entre as normas nacionais e internacionais de contabilidade com relação à Demonstração do Fluxo de Caixa, esta demonstração deve ser apresentada classificando as movimentações do caixa e equivalente em três grandes fluxos de atividades, sendo eles: atividades operacionais, atividades de investimentos e atividades de financiamentos. A apresentação da DFC em fluxos de atividades leva aos usuários informações que tornam possível uma avaliação do impacto das atividades da empresa em sua posição patrimonial e o montante do caixa e de seu equivalente de caixa. Esta forma de apresentação possibilita também, uma avaliação na relação entre estas atividades, ou seja, de onde vem a maior parte do caixa e equivalentes de caixa da empresa de atividades operacionais, de investimento ou de financiamento. (FIPECAFI, 2010). 2.4.1 Atividades operacionais As atividades operacionais são consideradas as principais atividades que geram receita na empresa. Assim observa-se que estas contas são o resultado do objetivo fim da entidade. Azevedo (2009) argumenta que este grupo também deve ser composto por outras receitas que resultem de atividades que não sejam de investimentos e de financiamentos. FIPECAFI (2010) afirma que estas movimentações operacionais, normalmente são transações que estão relacionadas na demonstração do resultado do exercício. Marion (2009) segue complementando que a relação entre as movimentações operacionais demonstradas na DFC e na DRE, faz com que estas duas demonstrações contábeis estejam mais ligadas uma à outra. O Comitê de Pronunciamentos Contábeis em seu CPC 03 (2011) também comenta o fluxo de atividades operacionais que é o indicador chave da extensão em que as operações da entidade têm gerado suficientes fluxos de caixa para amortizar empréstimos, manter a capacidade operacional da entidade, pagar TÓPICO 1 | DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA 161 dividendos (ou juros sobre o capital próprio, que no Brasil se assemelham a dividendos) e fazer novos investimentos sem recorrer a fontes externas de financiamento. As informações sobre os componentes específicos dos fluxos de caixa operacionais históricos são úteis, em conjunto com outras informações, na projeção de futuros fluxos de caixa operacionais. Como exemplos de fluxo de caixa que decorrem de atividades operacionais, a Resolução CFC nº 1.296/10 apresenta: (a) recebimentos de caixa pela venda de mercadorias e pela prestação de serviços; (b) recebimentos de caixa decorrentes de royalties, honorários, comissões e outras receitas; (c) pagamentos de caixa a fornecedores de mercadorias e serviços; (d) pagamentos de caixa a empregados ou por conta de empregados; (e) recebimentos e pagamentos de caixa por seguradora de prêmios e sinistros, anuidades e outros benefícios da apólice; (f) pagamentos ou restituição de caixa de impostos sobre a renda, a menos que possam ser especificamente identificados com as atividades de financiamento ou de investimento; e recebimentos e pagamentos de caixa de contratos mantidos para negociação imediata ou disponíveis para venda futura. Entre esses fluxos de caixas classificados como atividades operacionais, temos o fluxo considerado como entrada e temos o fluxo considerado como saída. Nesse sentido, como exemplo de movimentações de entradas classificadas como atividades operacionais FIPECAFI (2010) apresenta: • recebimento pela venda de produtos e serviços à vista; • recebimento de juros sobre empréstimos concedidos e sobre aplicações financeiras em outras entidades; • recebimento de dividendos e juros sobre capital próprio pela participação no patrimônio da outra empresa; • qualquer outro recebimento que não seja originário de transações definidas como de investimento e de financiamento, como por exemplo: reembolso de fornecedores, indenizações de sinistro, exceto aquelas diretamente relacionada a atividades de investimentos, como o sinistro em uma edificação, por exemplo; • recebimento de aluguéis, royalties, direito de franquia e vendas de ativos produzidos ou adquiridos para esse fim (como no caso de venda de carros destinados a aluguel). Como exemplo de movimentações de saídas classificadas como atividades operacionais, FIPECAFI (2010) apresenta: • pagamentos a fornecedores referentes ao suprimento de mercadorias ou matéria-prima e outros materiais para produzir o bem de venda; UNIDADE 3 | NOVA DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E COMPLEMENTOS 162 • pagamento aos fornecedores de outros insumos de produção, incluindo serviços prestados a terceiros; • pagamento ao governo federal, estadual e municipal, referente a impostos, multas alfandegárias e outros tributos e taxas, exceto quando especificamente identificados como as atividades de financiamento ou de investimento; • pagamento de juros (despesas financeiras) dos financiamentos (comerciais e bancários) obtidos; • pagamento para produção ou aquisição de ativos destinados a aluguel e subsequente venda (como no caso de compras de veículos destinados a aluguel e na sequência venda). 2.4.2 Atividades de investimento As atividades de investimento são referentes ao aumento ou diminuição, ou seja, aquisição e/ou venda de ativos de longo prazo e investimento não incluído nos equivalentes de caixa que a empresa utilizapara produzir bens ou serviços. A divulgação em separado dos fluxos de caixa decorrentes das atividades de investimento é importante porque tais fluxos de caixa representam a extensão em que dispêndios de recursos são feitos pela entidade com a finalidade de gerar receitas e fluxos de caixa no futuro. De acordo com a Resolução CFC nº 1.296/10, a divulgação em separado dos fluxos de caixa advindos das atividades de investimento é importante em função de tais fluxos de caixa representarem a extensão em que os dispêndios de recursos são feitos pela entidade com a finalidade de gerar lucros e fluxos de caixa no futuro. Somente desembolsos que resultam em ativo reconhecido nas demonstrações contábeis são passíveis de classificação como atividades de investimento. Assim, como exemplos de fluxos de caixa advindos das atividades operacionais, a Resolução CFC nº 1.296/10 classifica como fluxo de caixa de atividade de investimento: (a) pagamentos em caixa para aquisição de ativo imobilizado, intangíveis e outros ativos de longo prazo. Esses pagamentos incluem aqueles relacionados aos custos de desenvolvimento ativados e aos ativos imobilizados de construção própria; (b) recebimentos de caixa resultantes da venda de ativo imobilizado, intangíveis e outros ativos de longo prazo; (c) pagamentos em caixa para aquisição de instrumentos patrimoniais ou instrumentos de dívida de outras entidades e participações societárias em joint ventures (exceto aqueles pagamentos referentes a títulos considerados como equivalentes de caixa ou aqueles mantidos para negociação imediata ou futura); TÓPICO 1 | DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA 163 2.4.2 Atividades de investimento (d) recebimentos de caixa provenientes da venda de instrumentos patrimoniais ou instrumentos de dívida de outras entidades e participações societárias em joint ventures (exceto aqueles recebimentos referentes aos títulos considerados como equivalentes de caixa e aqueles mantidos para negociação imediata ou futura); (e) adiantamentos em caixa e empréstimos feitos a terceiros (exceto aqueles adiantamentos e empréstimos feitos por instituição financeira); (f) recebimentos de caixa pela liquidação de adiantamentos ou amortização de empréstimos concedidos a terceiros (exceto aqueles adiantamentos e empréstimos de instituição financeira); (g) pagamentos em caixa por contratos futuros, a termo, de opção e swap, exceto quando tais contratos forem mantidos para negociação imediata ou futura, ou os pagamentos forem classificados como atividades de financiamento; e (h) recebimentos de caixa por contratos futuros, a termo, de opção e swap, exceto quando tais contratos forem mantidos para negociação imediata ou venda futura, ou os recebimentos forem classificados como atividades de financiamento. Entre esses fluxos de caixas classificados como atividades de investimento, assim como nos fluxos operacionais, temos o fluxo considerado como entrada e temos o fluxo considerado como saída. Nesse sentido, como exemplo de movimentações de entradas classificadas como atividades operacionais, FIPECAFI (2010) apresenta: • recebimento resultantes de vendas de imobilizado, intangível e de outros ativos não circulantes utilizados na produção; • recebimento pela venda de participações em outras empresas ou instrumentos de dívidas de outras entidades e participações societárias em Joint Ventures, exceto os recebimentos referentes a títulos e mantidos para negociação; • resgate do principal de aplicações financeiras não classificadas como equivalentes de caixa; • recebimento referente a contratos futuros, a termo, de opção e swap, exceto quando tais contratos forem mantidos para negociação imediata ou venda futura ou quando classificado como atividade de financiamento; • recebimento de caixa por liquidação de adiantamento de amortização de empréstimos concedidos a terceiros (exceto adiantamentos e empréstimos de uma instituição financeira). Como exemplo de movimentações de saídas classificadas como atividades de investimento FIPECAFI (2010) apresenta: • pagamento, no momento da compra ou da data próxima a esta, de terceiros, edificações, equipamentos ou outros ativos fixos utilizados na produção referente à aquisição de ativos imobilizado; o mesmo com relação a ativo intangível ou propriedade para investimento; • pagamentos pela aquisição de títulos patrimoniais de outras empresa ou instrumentos de dívida de outras entidades e participações societárias em UNIDADE 3 | NOVA DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E COMPLEMENTOS 164 Joint Ventures, exceto os desembolsos referentes a títulos classificados como equivalentes de caixa ou mantidos para negociação; • desembolso dos empréstimos concedidos pela empresa e pagamento pela aquisição de títulos de investimentos de outras entidades; • pagamentos de contratos futuros, a termo, de opção e swap, exceto quando tais contratos forem mantidos para negociação imediata ou venda futura, exceto quando classificados como atividades de financiamento; • adiantamento de caixa e empréstimos feitos a terceiros (exceto adiantamento e empréstimos feitos por instituição financeira). 2.4.3 Atividade de financiamento Os fluxos de caixa das atividades de financiamento são aqueles que resultam em mudanças no tamanho e na elaboração do capital própria e endividamento da empresa. Segundo a Resolução CFC nº 1.296/10, a divulgação separada dos fluxos de caixa advindos das atividades de financiamento é importante por ser útil na predição de exigências de fluxos futuros de caixa por parte de fornecedores de capital à entidade. FIPECAFI (2010) complementa a utilidade da segregação em fluxo de caixa das atividades de financiamento afirmando que este fluxo é útil para avaliar a capacidade da entidade na utilização de recursos externos para financiar as atividades operacionais e de financiamento. Assim, como exemplos de fluxos de caixa das atividades operacionais e de investimento a Resolução CFC nº 1.296/10 classifica como fluxo de caixa de atividades de financiamento: a) caixa recebido pela emissão de ações ou outros instrumentos patrimoniais; b) pagamentos em caixa a investidores para adquirir ou resgatar ações da entidade; c) caixa recebido pela emissão de debêntures, empréstimos, notas promissórias, outros títulos de dívida, hipotecas e outros empréstimos de curto e longo prazos; d) amortização de empréstimos e financiamentos; e e) pagamentos em caixa pelo arrendatário para redução do passivo relativo a arrendamento mercantil financeiro. Entre esses fluxos de caixas classificados como atividades de financiamento, assim como nos fluxos operacionais e de investimento, temos o fluxo considerado como entrada e temos o fluxo considerado como saída. Nesse sentido, como exemplo de movimentações de entradas classificadas como atividades operacionais, FIPECAFI (2010) apresenta: TÓPICO 1 | DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA 165 2.4.3 Atividade de financiamento • venda de ações emitidas; • empréstimos obtidos no mercado via emissão de letras hipotecárias, notas promissórias, debêntures ou outros instrumentos de dívida, de curto ou longo prazo; • recebimento de contribuição de caráter permanente ou temporário, que por expressa determinação dos doadores, tem a finalidade escrita de adquirir, construir ou expandir a planta instalada, aí incluindo equipamentos ou outros ativos de longa duração necessária à produção. Como exemplo de movimentações de saídas classificadas como atividades de financiamento, FIPECAFI (2010) apresenta: • pagamento de dividendos e juros sobre capital próprio ou outras distribuições aos donos, inclusive o resgate de ações da própria empresa; • pagamento de empréstimos obtidos (exceto juros); • pagamento do principal referente a imobilizado adquirido a prazo, pagamento do principal do arrendamento mercantil financeiro. 2.5 MOVIMENTAÇÕES DE INVESTIMENTO E DE FINANCIAMENTOS QUE NÃO AFETAM O CAIXA DA EMPRESA Segundo Marion (2009),há movimentações nas atividades de investimento e de financiamento que não afetam o caixa da empresa e assim devem ser evidenciadas em Notas Explicativas, sendo elas: • dívidas convertidas em aumento de capital; • compra de imobilizado por meio de passivo específico, podendo ser letras hipotecárias, contrato de alienação fiduciária etc.; • compra de imobilizado por meio de contrato de arrendamento mercantil; • bens obtidos por doações; • quando da troca de passivo ou ativo não caixa por outro ativo ou passivo não caixa. 2.6 MÉTODOS DE ELABORAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA Para elaboração da demonstração do fluxo de caixa existem dois métodos, um chamado de método direto e outro chamado de método indireto. No método direto, a demonstração do fluxo de caixa é elaborada a partir das movimentações do caixa e seus equivalentes. No método indireto, a demonstração do fluxo de caixa será elaborada a partir do lucro ou prejuízo do exercício (DRE). A exigência que a nova legislação faz referente a elaborações da DFC é apenas na sua apresentação nos três fluxos comentados anteriormente, fluxo operacional, de investimento e de financiamento. UNIDADE 3 | NOVA DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E COMPLEMENTOS 166 2.6.1 Método a ser elaborado no Brasil Com relação à escolha do método que a empresa irá optar na hora de elaborar a demonstração do fluxo de caixa, a lei não é rigorosa, porém devem observar as normatizações específicas e os órgãos reguladores, pois estes órgãos podem estabelecer o modelo de DFC que eles julgarem mais adequados para atenderem às necessidades das informações dos usuários. (AZEVEDO, 2009). Assim, com relação ao método direto e indireto, temos: IBRACON: para este órgão, segundo sua NPC nº 20/1999, a demonstração do fluxo de caixa pode ser apresentada sob as duas formas, porém o IBRACON sugere que seja adotado o método indireto. CVM: ela permite que a empresa escolha entre os dois métodos, porém encoraja que as entidades optem pelo método direto. CPC: o Comitê de Pronunciamentos Contábeis deixou, também, por escolha da empresa o método a ser adotado. CFC: assim como os demais, o Conselho Federal de Contabilidade também deixa por opção da empresa a escolha do método de elaboração da demonstração do fluxo de caixa, porém em sua Resolução nº 1.159/09, o CFC incentiva a adoção do método indireto. BACEN: este também deixa a critério da empresa o método de elaboração da DFC. 2.6.2 Método direto Marion (2009) comenta que o fluxo de caixa elaborado pelo método direto também pode ser chamado de fluxo de caixa no sentido restrito. O autor afirma ainda que neste método será dispendido maior esforço, pois deverá ser feito todo o trabalho de segregação das movimentações financeiras, assim necessitando de todo o controle para esse fim. Com relação ao método direto, Azevedo (2009) comenta que ele apresenta todas as entradas (origens) e todas as saídas (aplicações) de numerários de caixa e de equivalentes de caixa a fim de justificar a variação encontrada nessa conta. A FIPECAFI (2010) afirma que o modelo direto de elaboração da DFC explica as entradas e as saídas brutas de dinheiro dos principais componentes das atividades operacionais da empresa. Seguem comentando que o saldo final destas operações devem expressar o volume líquido de caixa consumido pelas operações durante um período. TÓPICO 1 | DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA 167 2.6.2 Método direto 2.6.3 Método indireto O método de elaboração indireto da Demonstração do Fluxo faz a conciliação entre o lucro líquido do exercício e o caixa gerado pelas operações da empresa. Segundo Iudícibus (2010), neste método, parte-se do lucro líquido evidenciado na Demonstração do Resultado do Exercício, realizando-se os ajustes necessários, para chegar às disponibilidades geradas pela entidade. Assim, a elaboração da DFC pelo método indireto se inicia pelo lucro líquido evidenciado na DRE até chegar ao fluxo de caixa, realizando os ajustes dos valores que não afetam o caixa da empresa. Azevedo (2009) afirma que neste método existe a vantagem da conciliação entre o lucro líquido e o caixa da companhia. Independente do método utilizado pela empresa na elaboração da Demonstração do Fluxo de Caixa, o resultado apurado é o mesmo, tanto pelo método indireto e no método direto. ATENCAO FIPECAFI (2010) asseveram a necessidades de retirar do lucro líquido os itens que tenham efeito no caixa de atividades de investimento ou se financiamento, como por exemplo, depreciação, amortização de intangíveis, ganhos ou perdas na venda de imobilizados e/ou operações em descontinuidades, devem ser retirados também, ganhos ou perdas na baixa de empréstimos. Os ajustes realizados no lucro líquido quando a demonstração do fluxo de caixa é elaborado pelo método indireto ocorrem porque o lucro líquido (ou prejuízo líquido) é retirado da DRE e esta última demonstração é elaborada pelo regime de competência, ou seja, neste resultado líquido foram lançados contabilmente todas as despesas e receitas incorridas no período, mas não efetivamente foram realizadas (pagas ou recebidas). 2.7 DIFERENÇAS ENTRE OS MÉTODOS DIRETO E INDIRETO As principais diferenças entre os dois métodos de elaboração da demonstração do fluxo de caixa será evidenciado de acordo com Azevedo (2009): 1ª diferença: a principal diferença entre os dois métodos está apenas no fluxo de atividade operacional. UNIDADE 3 | NOVA DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E COMPLEMENTOS 168 2ª diferença: no método indireto o fluxo de caixa operacional é iniciado pelo lucro ou prejuízo líquido do exercício, em seguida, são realizados os ajustes a fim de chegar ao mesmo valor obtido pelo método direto. No método direto, o fluxo de caixa das atividades operacionais é indicado pela demonstração de todas as movimentações ocorridas no caixa e equivalente de caixa. 3ª diferença: pelo método direto, na atividade operacional estão demonstradas todas as movimentações de recebimento e de pagamento diretamente realizado pelo caixa e equivalente de caixa da empresa, isto é, evidencia toda a origem e a aplicação do dinheiro da organização. 4ª diferença: no método indireto, não são demonstradas as movimentações do caixa e equivalente de caixa, porém deve mostrar a mesma importância de fluxo de caixa líquido das atividades operacionais indiretamente, ajustando o lucro líquido para reconciliá-lo ao fluxo de caixa líquido das atividades operacionais, eliminando os efeitos: a) das transações que não envolveram o caixa da empresa, como, depreciação, provisões, impostos diferidos, variações cambiais não realizadas, resultado de equivalência patrimonial em investimento e participações de minoritários b) qualquer deferimento ou outras apropriações por competência sobre recebimento ou pagamentos operacionais passados ou futuros. c) de mudanças ocorridas no estoque no decorrer do período e nas contas operacionais a receber e a pagar. d) e de todos os outros itens cujo efeito sobre o caixa seja decorrente de atividades de investimento ou de atividade de financiamento. Nos fluxos de atividade de investimento e de financiamento não existe diferença, independente do método escolhido pela empresa na elaboração da demonstração do fluxo de caixa, ou seja, componentes e valores são iguais. ATENCAO 2.8 VANTAGENS E DESVANTAGENS ENTRE OS DOIS MÉTODOS Destaca-se que não há como dizer qual o método é o melhor, pois os dois geram informações importantes sobre o caixa e o equivalente de caixa de uma empresa. Enfatizamos também, que o resultado final evidenciado pela demonstração do fluxo de caixa é o mesmo independente do método escolhido pela organização, assim como o valor final apresentado nos fluxos de atividade operacional, de investimento e de financiamento. (AZEVEDO, 2009). TÓPICO 1 | DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA 169 Todavia, existem algumas vantagens e desvantagens entre os dois métodos, de acordo com Azevedo (2009), sendo elas: Vantagens do método direto: • criacondições favoráveis para que a classificações dos recebimentos e pagamentos sigam critérios técnicos/gerenciais e não fiscais; • facilita que a empresa desenvolva a cultura de administrar a organização utilizando as informações do caixa da organização; • as informações do caixa podem estar disponíveis diariamente nas empresas. Desvantagens do método direto: • gerar um custo adicional para se classificar ou controlar os recebimentos e pagamentos; • falta de experiência do profissional das áreas contábeis e financeiras. Vantagens do método indireto: • há baixo custo na sua elaboração, pois neste método se utiliza o balanço patrimonial do início do período e o balanço patrimonial do final do período, a demonstração do resultado do exercício e outras informações contábeis complementares; • concilia o lucro líquido, aquele alcançado pelo regime de competência, com o fluxo de caixa operacional líquido, elaborado pelo regime de caixa, evidenciando como se compõe esta diferença entre eles. Desvantagens do método indireto: • gasta-se mais tempo para gerar as informações pelo regime de competência e depois mais tempo para convertê-las pelo regime de caixa; • quando houver interferência da legislação fiscal na contabilidade da empresa, deve-se ter o cuidado de eliminar os seus respectivos efeitos. 2.9 ESTRUTURA DA DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA Como foi visto anteriormente, a Demonstração do Fluxo de Caixa pode ser elaborado por dois métodos, ou seja, pelo método direto e pelo método indireto. Porém, em ambos os casos, nesta demonstração, são evidenciados três fluxos de atividades, sendo eles: fluxo de atividade operacional, fluxo de atividade de investimento e fluxo de atividade de financiamento. Assim, temos: Demonstração do Fluxo de Caixa UNIDADE 3 | NOVA DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E COMPLEMENTOS 170 Método Direto Método Indireto 1. Fluxo Operacional 1. Fluxo Operacional (+/-) toda movimentação de entrada e saída de dinheiro das contas: a) Caixa b) Bancos c) Equivalentes (=) Fluxo operacional Parte do Lucro Líquido do Exercício (+/-) Ajustes de valores contidos na DRE que não influenciam no caixa/banco (+/-) Ajustes das contas patrimoniais operacionais (exceto caixa/banco e inv./ Imob./Int.) (=) Fluxo operacional. 2. Fluxo de Investimento 2. Fluxo de Investimento 3. Fluxo de Financiamento 3. Fluxo de Financiamento (=) Variações do Caixa/Banco e equivalentes (1+2+3) (=) Variações do Caixa/ Banco e equivalentes (1+2+3) Saldo final das contas Caixa/ Banco e equivalentes Saldo final das contas Caixa/ Banco e equivalentes Saldo inicial das contas Caixa/ Banco e equivalentes Saldo inicial das contas Caixa/ Banco e equivalentes (+/-) variação das contas Caixa/ Banco e equivalentes (+/-) variação das contas Caixa/ Banco e equivalentes QUADRO 27 – ESTRUTURA DA DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA FONTE: Adaptado de: Azevedo (2009) De acordo com a estrutura apresentada da DFC no quadro anterior, observa-se que independente do método escolhido, a DFC deverá conter os três fluxos de caixa: operacional, investimento e do financiamento. 2.9.1 Elaboração da demonstração do fluxo de caixa pelo método direto Como já vimos anteriormente, a elaboração da DFC pelo método direto consiste em apurar e informar as entradas e saídas de caixa das atividades operacionais por seu recebimento de vendas. A demonstração do fluxo de caixa será elaborada de acordo com o exemplo apresentado por Marion (2009). Para se elaborar uma DFC é necessário ter as seguintes demonstrações contábeis: • Balanço Patrimonial. • Demonstração do Resultado do Exercício. • Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados. TÓPICO 1 | DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA 171 Assim, iremos admitir que a empresa Alfa (empresa comercial) apresentasse as seguintes Demonstrações Financeiras: Balanço Patrimonial Cia. Alfa Ativo Passivo e Patrimônio Líquido 31/12/ X1 31/12/ X2 31/12/ X1 31/12/ X2 Circulante Circulante Disponível (1) 1.500 2.300 Fornecedores (8) 1.000 2.000 Duplicatas a Receber (2) 500 1.000 Empréstimos bancários (9) 1.000 1.470 Estoque 1.000 1.500 Imposto de Renda a Pagar (10) - 1.050 Total do Circulante 3.000 4.800 Total do Circulante 2.000 4.520 Não Circulante Imobilizado Patrimônio Liquido Móveis e Utensílios (4) 1.200 1.500 Capital (11) 4.500 6.000 (-) Depreciação acumulada (5) (200) (320) Lucros Acumulados (12) - 1.100 Terreno (6) 2.000 3.000 Investimento Participação em outras empresas (7) 500 2.640 Total 3.500 6.820 Total do Ativo 3.500 6.820 Passivo + PL 6.500 11.620 QUADRO 28 – BALANÇO PATRIMONIAL CIA. ALFA FONTE: Adaptado de: Marion (2009) UNIDADE 3 | NOVA DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E COMPLEMENTOS 172 Demonstração do Resultado do Exercício Cia. Alfa Receita Bruta (13) 10.000 (-) CMV (14) (5.500) Lucro Bruto 4.500 (-) Despesas Operacionais Vendas (15) (500) Administrativa (16) (380) Depreciação (17) (120) Outras despesas (18) (500) Lucro Operacional 3.000 (-) Provisão Para Imposto de Renda (19) (1.050) Lucro Líquido 1.950 QUADRO 29 – DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO DA CIA. ALFA FONTE: Adaptado de: Marion (2009) Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados Cia. Alfa Saldo em 1/1/X2 0 (+) Lucro do Exercício 1.950 (-) Distribuição de Dividendos (850) Saldo em 31/12/X2 1.100 QUADRO 30 – DEMONSTRAÇÃO DOS LUCROS OU PREJUÍZOS ACUMULADOS DA CIA. ALFA FONTE: Adaptado de: Marion (2009) Observação: Já vimos que pela nova legislação (Lei nº 11.638/07) não deveriam constar valores nesta conta, ou seja, o saldo deveria ser zero. Porém, para título de elaboração da DFC, vamos considerar que a Cia. Alfa não está sujeita a esta legislação. Elaboração da Demonstração do Fluxo de Caixa da Cia. Alfa A DFC consiste em analisar item por item que afetou o caixa da empresa no período. Assim, o primeiro passo é identificar qual foi a variação do caixa entre os períodos, para então identificarmos os motivos de tal variação. Variação do Caixa TÓPICO 1 | DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA 173 (1) Disponível 31/12/X11.500 31/12/X2 2.300 Aumento 800 QUADRO 28 – VARIAÇÃO DO CAIXA NO PERÍODO DE X1 PARA X2 FONTE: Adaptado de: Marion (2009) Sabemos que é exatamente a conta objeto de análise. Neste caso identificado como disponibilidade. De acordo com o observado no quadro anterior, o caixa da Cia. Alfa teve uma variação, do período de X1 para X2 de 800. Assim, identificamos um aumento do ano X1 para o ano X2 nas disponibilidades da empresa de 800 (2.300 – 1.500). Agora iremos analisar item a item a fim de identificar os motivos que contribuíram para o acréscimo no disponível da Cia. Alfa no valor de 800. Observa-se que a conta Duplicatas a Receber origina-se de vendas a prazo. Dessa forma, há uma ligação forte entre essas duas variáveis, ou seja, se não existir a receita a prazo não existirá a duplicatas a receber. Assim, nossa análise será conjunta: Duplicata a Receber + Vendas a Prazo. Notamos que na DRE o valor de receita bruta é de 10.000. Não há como saber ser esse valor é originário de vendas a prazo ou vendas à vista. Porém, o que interessa para a Demonstração do Fluxo de Caixa é o quanto entrou em dinheiro decorrente de vendas. Assim, não importa se as vendas foram a prazo ou à vista. Para identificarmos o quanto entrou de dinheiro no caixa da Cia. Alfa decorrente de vendas no ano de X2, podemos partir de dois raciocínios: (2) Duplicatas a receber 31/12/X1500 31/12/X2 1.000 QUADRO 31 – VARIAÇÃO DA CONTA DUPLICATAS A RECEBER DE X1 PARA X2 FONTE: Adaptado de: Marion (2009) No início de X2, a Cia. Alfa tem a receber o valor de R$ 500,00 referentes a vendas de 20X1. Admitindo-se que ela tenha recebido totalmente essas duplicatas em X2, então entraram no caixa da empresa o valor de R$ 500,00. Assim, não se tem mais nada de duplicatas a receber de X1. Portanto, o saldo de 1.000 em 31/12/ X2 refere-se apenas e exclusivamente às vendas de X2. Dessa forma, se a Cia. Alfa vendeu 10.000 em X2 e tem a receber o valor de 1.000 (saldoda conta duplicatas a receber em 31/12/X2 – BP), entraram no caixa da empresa o valor de 9.000 decorrentes dessas vendas (10.000 vendido – 1.000 a receber). UNIDADE 3 | NOVA DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E COMPLEMENTOS 174 Logo: em X2 entraram para o caixa: 500 decorrentes das vendas de X1 9.000 decorrentes das vendas de X2 9.500 total do recebimento. (2b) Outra forma de analisarmos seria considerando que as vendas de X2 foram realizadas totalmente a prazo. Nesse caso, teríamos: 500 referentes a duplicatas a receber no início de X2; + 10.000 referentes a vendas a prazo em 20X2; 10.500 - total de duplicatas a receber em 31/12/20X2. Observando o balanço patrimonial da Cia. Alfa não há 10.500 em duplicatas a receber, há apenas o valor de 1.000. Logo significa que a empresa recebeu a diferença, isto é, 9.500 (10.500 – 1.000). (3) Estoque 31/12/X11.000 31/12/X2 1.500 QUADRO 32 – VARIAÇÃO DA CONTA ESTOQUE DE X1 PARA X2 FONTE: Adaptado de: Marion (2009) Segundo Marion (2009), a conta estoque, por si só, não influencia no fluxo de caixa. No momento que em o estoque se forma há um desembolso referente à compra de matérias-primas, material secundário ou referente a custos no caso de indústria. Entretanto, consideramos cada componente individualmente. Na venda do estoque se observa a relação entre a venda à vista ou no futuro (duplicatas a receber) vendas à prazo. Assim, este já foi considerado. (4) Móveis e Utensílios 31/12/X11.200 31/12/X2 1.500 QUADRO 33 – VARIAÇÃO DA CONTA MÓVEIS E UTENSÍLIOS DE X1 PARA X2 FONTE: Adaptado de: Marion (2009) A conta Móveis e Utensílios aumentou em R$ 300,00. Isto significa que a Cia. Alfa comprou mais destes móveis e utensílios. Assim, houve um pagamento para essa compra (saída de dinheiro), pelo valor de R$ 300,00. Todavia, surge a preocupação em saber se a compra foi à vista com recursos próprios ou financiada. Assim, uma preocupação básica é saber se a empresa comprou este imobilizado à vista (tendo uma saída de caixa) ou se foi financiada. TÓPICO 1 | DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA 175 Quando a compra ocorre com pagamento à vista, não haverá dificuldade em elaborar o DFC da empresa. Quando financiada a compra duas possibilidades podem ocorrer. A primeira quando a empresa busca financiamentos de instituições financeiras e compra o bem ou direto a vista, a segunda, mesmo sendo a menos comum, é o financiamento destes itens pelo vendedor. Na ocorrência da primeira hipótese, o dinheiro é creditado pela empresa financeira na conta da organização solicitante. Quando a organização compra à vista, haverá uma entrada de dinheiro no caixa na sua liberação do dinheiro pela empresa financiadora e uma saída de dinheiro do caixa por ocasião da compra. Na segunda possibilidade, há uma obrigação com o fornecedor do bem ou direito comprado. Dessa forma, haverá saída parcial de dinheiro do caixa quando há, por exemplo, uma entrada (uma primeira parte do pagamento. Outra saída do caixa acontecerá por ocasião da amortização da dívida). (5) Depreciação 31/12/X1200 31/12/X2 320 QUADRO 34 – VARIAÇÃO DA CONTA DEPRECIAÇÃO DE X1 PARA X2 FONTE: Adaptado de: Marion (2009) A depreciação é uma parcela do valor do bem do imobilizado considerado como despesa ou custo. O valor é decorrente, normalmente, do consumo deste bem. Dessa forma, como a depreciação é considerada custo ou despesa, este valor não afeta o caixa da empresa, pois é um fenômeno econômico e não financeiro. Dessa forma, a depreciação não é considerada na elaboração da Demonstração do Fluxo de Caixa. (6) Terrenos 31/12/X12.000 31/12/X2 3.000 QUADRO 35 – VARIAÇÃO DA CONTA TERRENOS DE X1 PARA X2 FONTE: Adaptado de: Marion (2009) A empresa adquiriu um novo terreno pelo valor de R$ 1.000 (3.000 – 2.000), assim, há uma saída do caixa no valor de R$ 1.000,00. Afirma-se que houve uma saída do caixa, pois não há divida referente a terrenos no passivo da empresa, seja no circulante ou no longo prazo. UNIDADE 3 | NOVA DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E COMPLEMENTOS 176 Considera-se que neste exemplo não haja equivalência patrimonial, assim conclui-se que houve uma saída (aplicação) do caixa da empresa na compra de ações no valor de R$ 2.140,00 (2.640 – 500). Neste momento foi analisada a última movimentação constante no ativo do balanço patrimonial da Cia. Alfa. Agora se passa a analisar as movimentações ocorridas no passivo da empresa. (8) Fornecedores 31/12/X11.000 31/12/X2 2.000 QUADRO 37 – VARIAÇÃO DA CONTA FORNECEDORES DE X1 PARA X2 FONTE: Adaptado de: Marion (2009) (7) Participação em outras empresas 31/12/X1500 31/12/X2 2.640 QUADRO 36 – VARIAÇÃO DA CONTA PARTICIPAÇÃO EM OUTRAS EMPRESAS DE X1 PARA X2 FONTE: Adaptado de: Marion (2009) A análise desta conta é aproximada à análise da conta de duplicatas a receber. A conta Fornecedores existe apenas por causa de compras a prazo, derivante de compras de matéria-prima (caso seja uma indústria) ou mercadoria para revenda (caso seja um comércio). Para efeito do fluxo de caixa não é relevante identificar se as compras foram realizadas à vista ou a prazo, mas, sim, quanto foi pago ao fornecedor referente a tal compra. Para isto é preciso identificar o valor de compra. As demonstrações não evidenciam tal valor, porém a DRE mostra o valor dos Custos de Mercadorias Vendidas, e o Balanço Patrimonial mostra os valores dos estoques iniciais e finais. Sabendo-se que o Custo de Mercadorias Vendidas em uma empresa comercial é dado pela fórmula: CVM = EI + COMPRAS – EF, ou seja, o CVM é o quanto custou a mercadoria (preço de aquisição) temos: CVM = EI + COMPRAS – EF 5.500 (DRE) = 1.000 (BP X1) + COMPRAS – 1.500 (BP X2) 5.500 = Compras – 500 Compras = 6.000 De posse do valor das compras, admita-se que o saldo dos fornecedores no início do período de X1 (1.000) foi pago em X2. Logo, houve uma saída do caixa no valor de 1.000. Portanto, o saldo a pagar no período de X2 no valor de 2.000, refere-se exclusivamente às aquisições realizadas neste exercício, isto é, X2. TÓPICO 1 | DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA 177 Assim, se o total da compra foi de 6.000, foram pagos o valores de 4.000 (6.000 comprados – 2.000 a pagar). Então o valor total de saída do caixa foi o valor de 5.000, ou seja, R$ 1.000,00 (referentes às compras de X1) + R$ 4.000,00 (referentes às compras de X2). Outra forma de analisar a saída de caixa referente ao pagamento de compras é admitindo-se que todas as compras foram realizadas a prazo: R$ 1.000,00 referente a fornecedores a pagar no início de X1 R$ 6.000,00 referentes a compras a prazo em X2 R$ 7.000,00 o total da conta Fornecedores a pagar em 31/12/X2, caso a Cia. Alfa não tivesse pago nada em termos de compra de mercadorias no decorrer do ano. Observando o balanço patrimonial da Cia. Alfa no em 31/12/X2, observa- se que a empresa possui em sua conta Fornecedores em X2 o valor de R$ 2.000,00 apenas, logo significa que a empresa pagou a diferença, isto é, pagou o valor de R$ 5.000,00 (7.000 – 2.000) em X2. Assim, há uma saída (aplicação) do caixa no valor de R$ 5.000,00. (9) Empréstimos bancários 31/12/X11.000 31/12/X2 1.470 QUADRO 38 – VARIAÇÃO DA CONTA EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS DE X1 PARA X2 FONTE: Adaptado de: Marion (2009) Houve um aumento da conta empréstimos bancários entre 31/12/X1 para 31/12/X2, significa em a Cia. Alfa obteve um empréstimo no valor de R$ 470,00. Logo, entra no caixa da empresa o valor de R$ 470,00. No entanto, a conta empréstimo bancário e financiamento pode aumentar devido à atualização da dívida, como por exemplo, por motivo da variação cambial. Enquanto essas obrigações não forem pagas, não afetam o caixa. (10) Imposto de Renda a Pagar 31/12/X10 31/12/X2 1.050 QUADRO 39 – VARIAÇÃO DA CONTA IMPOSTO DE RENDA A PAGAR DE X1 PARA X2 FONTE: Adaptado de: Marion (2009) Neste momento, este valor não afeta o caixa, pois se trata apenas do reconhecimento de uma dívida com o governo. Este valor afetará o caixa na ocasião de seu pagamento. UNIDADE 3 | NOVADEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E COMPLEMENTOS 178 (11) Imposto de Renda a Pagar 31/12/X14.500 31/12/X2 6.000 QUADRO 40 – VARIAÇÃO DA CONTA DE CAPITAL DE X1 PARA X2 FONTE: Adaptado de: Marion (2009) Houve uma variação da conta capital no valor de R$ 1.500,00 (6.000 – 4.500) com recurso dos próprios acionistas. Normalmente, nestes casos, o capital é integralizado em dinheiro, representando uma entrada no caixa da empresa. Logo temos uma entrada de dinheiro no caixa da empresa no valor de R$ 1.500,00. (12) Lucros Acumulados 31/12/X10 31/12/X2 1.100 QUADRO 41 – VARIAÇÃO DA CONTA DE LUCROS ACUMULADAS DE X1 PARA X2 FONTE: Adaptado de: Marion (2009) Normalmente tal conta não afeta o caixa da empresa. Não esquecendo que os lucros e as reservas são originárias de receitas e esta conta já foi considerada como entrada para o caixa quando analisada a conta Duplicatas a receber. Analisado o Balanço Patrimonial da empresa passa-se a analisar a Demonstração do Resultado do Exercício: (13) Receita Bruta: já foi analisada conjuntamente com a conta Duplicatas a Receber (2). (14) Custos das Mercadorias Vendidas: já analisada com a conta Fornecedores (8). (15) Despesas Operacionais: significa que todas as despesas foram pagas, pois não há obrigações referentes a despesas de vendas evidenciadas no passivo circulante da empresa, logo temos uma saída do caixa da empresa no valor de R$ 500,00. (16) Despesas Administrativas: significa que todas as despesas foram pagas, pois não há obrigações referentes a despesas administrativas evidenciadas no passivo circulante da empresa, logo temos uma saída do caixa da empresa no valor de R$ 380,00. (17) Depreciação: conforme já visto não afeta o caixa da empresa. (18) Despesas Financeiras: significa que todas as despesas foram pagas, pois não há obrigações referentes a despesas de vendas evidenciadas no passivo circulante da empresa, logo temos uma saída do caixa da empresa no valor de R$ 500,00. TÓPICO 1 | DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA 179 (19) Provisão para Imposto de Renda: não houve, ainda, saída do caixa da empresa, pois tal dívida está evidenciada no passivo circulante da Cia. Alfa, logo não foi pago ainda. (20) Distribuição de Dividendos: Afeta o caixa da empresa, houve um desembolso. Todavia, note que os dividendos distribuídos já foram pagos, uma vez que não constam como dívida no passivo circulante da empresa. No quadro a seguir, encontram-se todas as entradas e saídas de dinheiro que afetaram o caixa da Cia. Alfa: Saldo inicial em 20X2 1.050 (+) Entradas (Fontes de recursos) Recebimento de vendas 9.500 Empréstimos Bancários 470 Integralização de Capital 1.500 Total de entradas 11.470 (-) Saídas (Aplicações de recursos) Aquisição de Móveis e Utensílios (300) Aquisição de Terrenos (1.000) Aquisição de novas ações (2.140) Pagamento de compras (5.000) Despesas com vendas (500) Despesas Administrativas (380) Despesas Financeiras (500) Dividendos (850) Total de Saídas 10.670 Excesso de entras sobre as saídas (11.470 – 10.670) 800 Saldo final em 20X2 (1.500 + 800) 2.300 (1) QUADRO 42 – DEMONSTRAÇÃO DAS ENTRADAS E SAÍDAS DA CIA. ALFA EM X2 FONTE: Adaptado de: Marion (2009) Assim, a Demonstração do Fluxo de Caixa da Cia. Alfa será: Demonstração do Fluxo de Caixa Cia. Alfa 31/12/20X2 UNIDADE 3 | NOVA DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E COMPLEMENTOS 180 Período de 20X2 Em R$ mil a) Atividades Operacionais Recebimento de vendas 9.500 (-) Pagamentos de Compras (5.500) Caixa Bruto obtido nas Operações 4.000 (-) Despesas Operacionais pagas de vendas (500) (-) Despesas Administrativas (380) Caixa Gerado no Negócio 3.120 (-) Despesas Financeiras Pagas (500) Caixa Gerado após as Operações Financeiras 2.620 b) Atividades de Investimentos (-) Aquisição de Imobilizado e Investimentos Móveis e Utensílios (300) Terrenos (1.000) Novas ações (2.140) (3.440) d) Atividades de Financiamentos Integralização de Capital 1.500 Empréstimos Bancários 470 (-) Dividendos Pagos (850) 1.120 Resultado Final de Caixa 800 Saldo existente em 31/12/X1 1.500 Saldo existente em 31/12/X2 1.800 QUADRO 43 – DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA DA CIA. ALFA EM 31/12/X2 FONTE: Adaptado de: Marion (2009) No quadro anterior está a Demonstração do Fluxo de Caixa da Cia. Alfa demonstrando a variação de R$ 800,00 que a empresa teve em seu caixa do exercício de X1 para X2. 2.9.2 Elaboração da Demonstração do Fluxo de Caixa pelo Método Indireto Como as atividades de investimento e de financiamento na demonstração do fluxo de caixa são obtidas da mesma forma, será apresentada maior ênfase nas atividades operacionais, que conforme visto, é neste fluxo que se diferenciam os dois métodos. A elaboração deste método também será de acordo com Marion (2009): TÓPICO 1 | DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA 181 O modelo indireto será elaborado com as mesmas informações, ou seja, balanço patrimonial, DRE a DLPA, utilizado para elaboração do método direto. ATENCAO 2.9.2.1 Técnica para demonstrar as atividades operacionais a) Ajuste do lucro líquido referente a despesas não desembolsáveis: Existem valores que são subtraídos do lucro líquido obtido na demonstração do resultado do exercício, porém não representam um desembolso (saída de dinheiro) de fato. Por este motivo, a depreciação deve ser somada novamente, pois este item é econômico e não financeiro, ou seja, a depreciação não dignifica um desembolso de fato, mas, sim, um fato econômico. Ajuste do Lucro Líquido no Circulante • quando a empresa aumenta o seu estoque com dinheiro, leva a uma redução do caixa. • maior número de duplicatas a receber significa retardar o recebimento de dinheiro no caixa. • redução dos valores do estoque e duplicatas a receber significa maior recursos no caixa. • quando os clientes, por exemplo, antecipam pagamentos, diminui-se o montante de duplicatas a receber, com isso aumenta-se o caixa da empresa, pois o cliente paga sua dívida. • no entanto, quando existe um aumento na conta de fornecedores no passivo circulante, há mais crédito, evita-se saídas de dinheiro do caixa da empresa, e ela poderá trabalhar com este dinheiro (a reciproca é verdadeira). • quando há uma redução no impostos a recolher, o dinheiro que será usado para este pagamento poderá ser usado para outro pagamento. Assim, como regra geral, temos: a) AUMENTO no ativo circulante provoca uso de dinheiro (caixa); as REDUÇÕES do ativo circulante produzem caixa (origem de caixa). b) AUMENTO do passivo circulante evitam saídas de mais dinheiro, aumentando o caixa. REDUÇÃO do passivo circulante significa que o pagamento foi realizado, reduzindo o caixa. c) Para calcular as variações líquidas, basta diminuir o saldo anterior do saldo atual das contas do circulante (ATIVO e PASSIVO). UNIDADE 3 | NOVA DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E COMPLEMENTOS 182 Cálculo das Atividades Operacionais a) Cálculo do lucro financeiro Lucro líquido apurado na demonstração do resultado do exercício em X2: 1.950 + Depreciação 120 Lucro Líquido Financeiro 2.070 b) Cálculo das variações do circulante (capital de giro) Ativo 31/12/X2 31/12/X1 Variações Reflexo no caixa Duplicatas a receber 500 1.000 500 Adia recebimentos: reduz o caixa Estoque 1.000 1.500 500 Mais compras: reduz o caixa Passivo Fornecedores 1.000 2.000 1.000 Adia pagamentos: favorece o caixa Empréstimos bancários 1.000 1.470 470 Tratado como atividade de financiamentoImposto de renda a pagar 0 1.050 1.050 Posterga pagamento: favorece o caixa QUADRO 44 – VARIAÇÃO DO CIRCULANTE DE X1 PARA X2 FONTE: Adaptado de: Marion (2009) c) Estrutura das Atividades Operacionais Lucro Líquido do Exercício + (Provisões) 1.950 + Depreciação 120 Lucro financeiro 2.070 Variação no Circulante (Capital de Giro) Aumento de duplicatas a receber (500) Aumento de estoque (500) Aumento de fornecedores 1.000 Aumento de imposto a pagar 1.050 1.050 Caixa gerado nas Atividades Operacionais 3.120 QUADRO 45 – ESTRUTURA DAS ATIVIDADES OPERACIONAIS EM 31/12/X2 FONTE: Adaptado de: Marion (2009) A seguir é apresentada a Demonstração do Fluxo de Caixa da empresa: TÓPICO 1 | DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA 183 c) Estrutura das Atividades Operacionais QUADRO 46 – DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA DA CIA ALFA EM 31/12/X2 Período de 20X2 Em R$ mil Atividades Operacionais Lucro Líquido do Exercício 1.950 + Depreciação 120 Lucro que afeta o caixa 2.070 Variação do Circulante Ativo: Aumento de Duplicatas a receber (reduz o caixa) (500) Aumento de estoque (reduz o caixa) (500) Passivo: Aumento de Fornecedores (melhora o caixa) 1.000 Aumento de Imposto a Pagar (melhora o caixa) 1.050 1.050 Caixa Gerado nos Negócios 3.120 Atividades de Investimentos Aquisição de Imobilizado e Investimentos Móveis e Utensílios (300) Terrenos (1.000) Novas ações (2.140) (3.440) Atividades de Financiamentos Integralização de Capital 1.500 Empréstimos Bancários 470 Dividendos Pagos (850) 1.120 Resultado Final de Caixa 800 Saldo existente em 31/12/X1 1.500 Saldo existente em 31/12/X2 2.300 FONTE: Adaptado de: Marion (2009) No quadro anterior está apresentada a Demonstração do Fluxo de Caixa da Cia. Alfa em 31/12/X2, elaborado pelo método indireto. 184 Neste tópico, você viu que: • Contemplou a Demonstração do Fluxo de Caixa. Inicialmente buscou mostrar o que é evidenciado nesta demonstração. Na sequência foram demonstradas as empresas obrigadas à publicação e elaboração da DFC. Verificou-se também, a definição e a finalidade da Demonstração do Fluxo de Caixa. • Depois de esclarecido o que é o fluxo de caixa e sua finalidade, foram abordadas as transações que afetam o caixa da empresa, separando-as em movimentos que aumentam, movimentos que diminuem e movimentos que não afetam o caixa da organização. • Apresentaram-se, ainda, as definições, de acordo com a literatura, das atividades operacionais, atividades de investimento e atividades de financiamento que são os fluxos de atividades que devem ser apresentados em uma DFC. Nesse sentido foram apresentadas, de acordo com a legislação, as movimentações de caixa que são classificadas dentro de cada fluxo de atividades. • Na sequência, apresentaram-se os métodos de elaborações do fluxo de caixa, sendo os métodos diretos e indiretos. Foram demonstradas as diferenças entre os dois métodos e as vantagens e desvantagens de cada um deles. • Por fim, foi demonstrada, de acordo com Marion (2009), a forma de elaboração de uma Demonstração de Fluxo de Caixa pelo método direto e uma Demonstração do Fluxo de Caixa pelo método indireto. RESUMO DO TÓPICO 1 185 1 Com relação à obrigatoriedade da publicação da demonstração do fluxo de caixa, é correto afirmar que: a) ( ) É obrigatória apenas para sociedades classificadas como grande porte. b) ( ) É obrigatória para microempresas. c) ( ) É obrigatória apenas para empresas financeiras. d) ( ) É obrigatória para todas as empresas classificadas como Sociedade Anônima. 2 A análise de uma demonstração do fluxo de caixa possibilita ao usuário verificar vários pontos com relação ao caixa e equivalente de caixa da empresa. Assim é correto afirmar que: a) ( ) A sua análise possibilita ao usuário avaliar a capacidade da empresa em gerar caixa e futuros lucros de caixa. b) ( ) A sua análise torna possível verificar apenas a variação do caixa da empresa e não dos equivalentes de caixa da organização. c) ( ) A análise dessa demonstração permite apenas verificar como foi consumido o caixa, porém não possibilita a análise de sua geração. d) ( ) A análise da DFC possibilita verificar apenas a origem do dinheiro da empresa e não a sua aplicação. 3 Indique qual alternativa contém apenas transações que afetam o caixa da empresa: a) ( ) Equivalência patrimonial e depreciação. b) ( ) Depreciação integralização do capital pelos sócios em dinheiro. c) ( ) Venda de imobilizado à vista e amortização de dívida de longo prazo. d) ( ) Baixa no ativo não circulante e variação cambial dos passivos do longo prazo. 4 Sobre a utilização dos métodos diretos e indiretos para elaboração da demonstração dos fluxos de caixa, é correto afirmar que a diferença entre eles está: a) ( ) Na forma de composição do saldo total das variações de caixa no período. b) ( ) Na forma de apresentação dos fluxos de caixa das atividades operacionais. c) ( ) No fato do método indireto evidenciar todas as transações que não afetam o caixa no período. d) ( ) No fato de o método direto partir diretamente do resultado do exercício, enquanto o indireto utiliza este resultado apenas indiretamente. AUTOATIVIDADE 186 5 Sobre a classificação das movimentações de caixa, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Compra à vista do ativo imobilizado é uma atividade de investimento. b) ( ) Recebimento de dividendos é considerado como atividade de financiamento. c) ( ) Compra à vista com a intenção de revenda é considerada como atividade de investimento. d) ( ) Pagamento de tributos e encargos financeiros é classificado como de financiamento. 6 Com relação à demonstração do fluxo de caixa elaborado pelo método direto, é correto afirmar que: a) ( ) Não são explicadas as entradas e saídas totais de dinheiro. b) ( ) Evidencia a variação de todas as contas do balanço patrimonial. c) ( ) Não faz a conciliação entre o fluxo líquido de caixa e o lucro liquido do período. d) ( ) Parte-se dos componentes da demonstração do resultado do exercício e adicionam-se as variações nas contas patrimoniais circulante vinculadas às operações. 7 Com relação à utilização dos métodos diretos e indiretos para elaboração da DFC, é correto afirmar que a diferença entre eles está: a) ( ) Na forma de composição do saldo total da variação de caixa no período. b) ( ) Na forma de apresentação dos fluxos de caixa das atividades operacionais. c) ( ) No fato de o método direto evidenciar todas as transações que não afetam o caixa no período. d) ( ) No fato de o método direto partir diretamente do resultado do exercício, enquanto o método indireto utiliza este resultado apenas indiretamente. 187 TÓPICO 2 DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Nos últimos tempos observou-se um aumento nos tipos de informações que as empresas estão divulgando. Entre estas informações encontram-se as de cunho socioambiental. Como grande divulgador das ações de responsabilidade social e ambiental das empresas, temos o Balanço Social, que é uma demonstração contábil que tem como objetivo demonstrar as ações sociais e ambientais realizadas pelas empresas. Porém, destaca-se que a publicação do Balanço Social não é obrigatória. Como demonstração que tenha um objetivo um pouco mais social e que também seja obrigatória, a Lei nº 11.638/07 obriga que as empresas abertas divulguem a Demonstração do Valor Adicionado. Esta demonstração tem como objetivo demonstrar o valor da riqueza gerada pela empresae como esta riqueza está sendo distribuída. 2 DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO - DVA 2.1 OBJETIVO, FINALIDADE E CARACTERÍSTICAS DA DVA Segundo Borinelli e Pimentel (2010), a demonstração do valor adicionado pode ser visto como um dos componentes do balanço social, porém, busca ter um enfoque mais econômico. O grande objetivo da demonstração do valor adicionado é evidenciar o valor da riqueza gerada pelas atividades da empresa e como a organização está distribuindo, entre os funcionários, proprietários, sócios, acionistas, financiadores externos e governo, esta riqueza. De acordo com o CPC 09 – Demonstração do Valor Adicionado, o valor adicionado representa a riqueza criada pela empresa, de forma geral medida pela diferença entre o valor das vendas e os insumos adquiridos de terceiros. Inclui também, o valor adicionado recebido em transferência, ou seja, produzidos por terceiros e transferidos à entidade. 188 UNIDADE 3 | NOVA DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E COMPLEMENTOS O CPC que trata da Demonstração do Valor Adicionado é o CPC 09, disponível no sitio: <www.cpc.org.br>. ATENCAO A segmentação da distribuição da riqueza da empresa está em: força de trabalho, fornecedores de capital e governo. Dessa forma, observa-se que a DVA busca informar sobre a geração e distribuição da riqueza da organização em determinado período, demonstrando o quanto deste valor a empresa adiciona aos insumos que ela compra e como está a distribuição aos agentes que contribuíram para que esse acréscimo acontecesse. (BORINELLI; PIMENTEL, 2010). Segundo Azevedo (2009, p. 131), a DVA tem como objetivo evidenciar o “grau de envolvimento da empresa em relação à sociedade que a acolhe, devendo ser entendido como um instrumento no processo de reflexão sobre as atividades das empresas e dos indivíduos no contexto da comunidade como um todo”. O mesmo autor segue afirmando que a DVA é um importante referencial de informações sobre a política de recursos humanos adotados pela organização, como também nas decisões de incentivos fiscais é importante referência de informações no auxílio sobre novos investimentos e no desenvolvimento de uma cidadania. FIPECAFI (2010) assevera que esta demonstração tem fundamentos macroeconômicos, onde tenta mostrar a parcela de distribuição que a organização tem na formação do PIB (Produto Interno Bruto). A DVA apresenta o quanto a empresa agrega valor aos insumos adquiridos de terceiros e que são vendidos ou consumidos durante um determinado período. De acordo com Azevedo (2009), a DVA demonstra, na primeira parte, a riqueza criada, ou seja, a diferença entre as receitas de vendas, serviços e utilidades subtraídas dos valores dos bens, serviços e utilidades adquiridos de terceiros. A esse valor adicionam-se os valores recebidos em transferências de terceiros, como as que derivam de juros, equivalência patrimonial, royalties e outras. Assim, essa riqueza que foi obtida pela organização, em sua distribuição é evidenciada a que foi repassado, ou seja, ao trabalho (salários, honorários etc.), ao capital de terceiros, ao capital próprio (distribuído e recebido) e ao governo. Dessa forma, é evidenciado um pedaço do PIB produzido pela empresa. (AZEVEDO, 2009). FIPECAFI (2010) destaque que na forma de calcular o PIB existem diferenças sob o ponto de vista econômico e contábil. Para estes autores, na TÓPICO 2 | DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO 189 visão econômica, o cálculo do PIB baseia-se na produção, já na visão contábil, o cálculo do PIB baseia-se em conceitos contábeis da realização da receita, isto é, no regime de competência, e por essa razão existirá diferença temporal entre os dois conceitos. Nesse sentido, Azevedo (2009) afirma que a diferença poderá ser tanto menor quanto maior for a diferença entre o estoque inicial e final para o período considerado, ou seja, se for considerada a inexistência de estoque inicial e final, os valores que serão encontrados com os dois conceitos tenderão a se encontrar. Quanto às informações disponibilizadas pela DVA, segundo FIPECAFI (2010), elas poderão colaborar para: • analisar a capacidade de geração de valor e forma de distribuição das riquezas de cada empresa; • permitir a análise de desempenho econômico da organização; • auxiliar no cálculo do PIB e de indicadores sociais; • fornecer informações sobre os benefícios obtidos por cada um dos fatores de produção e governo; • auxiliar a empresa a informar sua contribuição na formação da riqueza à região, Estado, país e etc., em que está situada. Para Borinelli e Pimentel (2010), os interessados poderão encontrar as seguintes informações na demonstração do valor adicionado: • riqueza gerada pela entidade; • forma de distribuição dessa riqueza entre os seguintes agentes: ᵒ governo: impostos pagos; ᵒ trabalhadores: remuneração pagas; ᵒ financiadores externos: juros e aluguéis pagos; ᵒ proprietários, sócios e acionistas: lucros e dividendos ou juros sobre o capital próprio distribuído; ᵒ riqueza não distribuída: lucros retidos. 2.2 OBRIGATORIEDADE DA DVA A elaboração e publicação da demonstração do valor adicionado passaram a ser obrigatórias no Brasil, com a Lei nº 11.638/07, que introduziu o item V no art. 176 da Lei nº 6.404/76 a todas as empresas abertas. Porém, FIPECAFI (2010) afirma a publicação da DVA já era incentiva pela CVM. O Conselho Federal de Contabilidade, por meio de sua Resolução nº 1.138/2008, elaborou e aprovou a NBC T 3.7, que trata da DVA. O Pronunciamento Técnico CPC 09 regulou a apresentação da demonstração do valor adicionado, exigida pela Lei nº 11.638/07. 190 UNIDADE 3 | NOVA DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E COMPLEMENTOS A Comissão de Valores Mobiliários – CVM aprovou o CPC 09, que trata da DVA por meio de sua Deliberação CVM nº 557/2008. A nova legislação contábil trouxe como obrigatória a elaboração e divulgação da demonstração do valor adicionada às seguintes empresas, segundo Azevedo (2009): • Empresa S.A. de capital aberto: a obrigatoriedade desta demonstração contábil ficou apenas para as empresas de capital aberto, ficando facultativa para as demais sociedades de capital fechado ou limitado. Com relação às Sociedades de Grande Porte, é facultativa a elaboração da DVA, pois a Lei nº 11.638/07 direcionou apenas as empresas de capital aberto S.A. Às demais sociedades também é facultativa a elaboração desta demonstração contábil. 2.3 VALOR ADICIONADO O valor adicionado pode ser chamado de valor agregado. Assim, este valor adicionado pode ser entendido como a riqueza que a empresa adiciona nos insumos adquiridos de terceiros em determinado período. (BORINELLI; PIMENTEL, 2010). A Resolução CFC nº 1.138/2008 define valor adicionado como aquele valor que representa a riqueza criada pela empresa, de forma geral, medida pela diferença entre o valor das vendas e os insumos adquiridos de terceiros. Inclui também o valor adicionado recebido em transferência, ou seja, produzido por terceiros e transferido à entidade. Ainda conforme os mesmo autores, a forma que a entidade agrega valor a estes insumos são por meio de sua produção, ou seja, a empresa compra os insumos de seus fornecedores, agrega valor e os transforma em produtos. A fase de agregação de valor pode ser considerada desde o momento de compra dos insumos ou recursos até o momento em que o produto passa para as mãos dos consumidores. 2.4 ÍNDICES QUE O VALOR ADICIONADO SERVE COMO IMPORTANTE INDICADOR Segundo Marion (2009) a demonstração do valor adicionado possui uma forte potência na hora de analisar uma série de indicadores. Assim, vários são os índices que o valor adicionado colabora com sua análise, conforme segue, (MARION, 2009): TÓPICO 2 | DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO 191 a) Potencial do ativo em gerar riqueza: o objetivo deste índice é o de identificar quanto cada real investido nos ativos da empresa trará de riqueza que será distribuída para vários setores que se relacionam com a empresa, assim temos: Valor Adicionado