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10/09/2020 Livro Digital - Organização do Trabalho Educativo em Ambiente não Escolar https://livrodigital.uniasselvi.com.br/PED16_org_do_trab_educativo_em_ambiente_nao_escolar/unidade1.html?topico=1 1/18 A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS A partir desta unidade, você será capaz de: • conhecer o conceito e a aplicação da Pedagogia Diferenciada de Philippe Perrenoud; • identi�car os espaços educativos em ambientes não escolares a partir da compreensão do conceito de educação não formal; • rea�rmar a identidade do pedagogo diante do per�l de atuação direcionado à educação não formal; • traçar a importância do estabelecimento dos vínculos entre aluno e professor. Unidade 1 - Tópico 1 10/09/2020 Livro Digital - Organização do Trabalho Educativo em Ambiente não Escolar https://livrodigital.uniasselvi.com.br/PED16_org_do_trab_educativo_em_ambiente_nao_escolar/unidade1.html?topico=1 2/18 Tópico 1 A PEDAGOGIA DIFERENCIADA E A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL Tópico 2 CONHECENDO OS ESPAÇOS NÃO ESCOLARES Tópico 3 A IDENTIDADE DO PEDAGOGO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES Tópico 4 A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES PROFESSOR E ALUNO NA CONSTRUÇÃO DOS SABERES A PEDAGOGIA DIFERENCIADA E A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL Unidade 1 - Tópico 1 10/09/2020 Livro Digital - Organização do Trabalho Educativo em Ambiente não Escolar https://livrodigital.uniasselvi.com.br/PED16_org_do_trab_educativo_em_ambiente_nao_escolar/unidade1.html?topico=1 3/18 1 INTRODUÇÃO Para iniciarmos o estudo relacionado à educação não formal, faz-se necessário termos clareza de alguns conceitos básicos, que darão suporte a esta modalidade educativa. Para tanto, discutiremos, neste primeiro tópico, alguns aspectos que marcam a importância da educação não formal na atuação do pedagogo, bem como a contribuição na forti�cação das relações entre a escola e a comunidade. 2 PHILIPPE PERRENOUD: UM NOME DE EXPRESSÃO DA PEDAGOGIA DIFERENCIADA Para compreendermos o que virá a seguir, passaremos a conhecer um pouco mais sobre o estudioso Philippe Perrenoud e sua contribuição no que condiz aos aspectos relevantes da Pedagogia Diferenciada. FIGURA 1 – PHILIPPE PERRENOUD FONTE: Disponível em <https://bit.ly/3539GRE>. Acesso em: 13 jan. 2014. De acordo com Paula (2011), Philippe Perrenoud é sociólogo e antropólogo com doutorado nestas duas áreas. Sua atuação concentra-se às relacionadas ao currículo, práticas pedagógicas e instituições de formação, nas faculdades de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Genebra. Para Perrenoud, o sucesso e o fracasso escolar não são exclusivos ao ambiente escolar, ou seja, o estudioso considera que cada aprendizado objetiva preparar os alunos para enfrentarem as etapas subsequentes ao currículo escolar, tornando o aluno capaz de mobilizar suas aquisições escolares fora do ambiente escolar, tornando assim qualquer ambiente pedagógico, independente de quaisquer situações. Perrenoud, conforme Paula (2011), reforça que o problema da transposição didática ou da construção das competências, vem de encontro a uma proposta Unidade 1 - Tópico 1 10/09/2020 Livro Digital - Organização do Trabalho Educativo em Ambiente não Escolar https://livrodigital.uniasselvi.com.br/PED16_org_do_trab_educativo_em_ambiente_nao_escolar/unidade1.html?topico=1 4/18 norteadora em relação ao desenvolvimento signi�cativo do potencial dos alunos, tanto dentro, quanto fora do ambiente escolar. Para ele, competência signi�ca capacidade de agir de maneira e�caz em um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimento, mas sem limitar-se a ela; lembrando que o mundo do trabalho se apoia na noção de competência e que a escola deve seguir estes passos no intuito de buscar a modernização e a inserção, na corrente de valores da economia de mercado. Em suas obras, Perrenoud abarca o conceito de competência, porém enfoca que não há uma de�nição clara e objetiva do seu signi�cado. Para este estudioso existem três aspectos do que pode vir a ser competência: desempenho, hábito e sucesso. Perrenoud em sua proposta, enfatiza também, que quando os professores aceitam a ideia de competência, consideram-se encarregados de dar conhecimentos básicos aos seus alunos, pensando que antes de mobilizá-los em determinada situação, devem prestar-lhes informações básicas e metódicas no contexto do saber. Desta forma o estudioso inicia a discussão sobre uma das suas linhas de trabalho a transposição didática, assunto que trataremos no decorrer de nossos estudos. Acadêmico(a)! A �m de esclarecer uma das áreas de formação deste estudioso, veremos o conceito de Antropologia, que é a ciência que estuda o homem e as implicações e características de sua evolução física (Antropologia Biológica), social (Antropologia Social), ou cultural (Antropologia Cultural). A palavra antropologia deriva das palavras gregas antropos (humano, ou homem) + logos (pensamento ou razão). Esta é uma ciência tardia que surgiu, ou se constituiu como disciplina cientí�ca, em meados do século XIX, a partir das descobertas de Darwin e sua teoria evolucionista, quando se concentrava na elaboração de teorias sobre a evolução do homem, sociedade e cultura. O homem não era mais fruto da criação Divina, então os cientistas começaram a procurar pela sua origem: o chamado “elo perdido”, que ligaria o homem moderno a seus ancestrais hominídeos. Com o tempo, os estudos sobre o homem ganharam forma, os cientistas começaram a se interessar pelos grupos humanos primitivos e seus costumes, cultura e características, passando a entender o homem não mais como uma criação de Deus, mas da natureza. FONTE: Disponível em: <https://bit.ly/2RYYgJ8>. Acesso em: 13 jan. 2014. Unidade 1 - Tópico 1 https://bit.ly/2RYYgJ8 10/09/2020 Livro Digital - Organização do Trabalho Educativo em Ambiente não Escolar https://livrodigital.uniasselvi.com.br/PED16_org_do_trab_educativo_em_ambiente_nao_escolar/unidade1.html?topico=1 5/18 3 A PEDAGOGIA DIFERENCIADA Antes de abordarmos a pedagogia aplicada aos ambientes não formais, vamos concentrar nossos estudos na pedagogia diferenciada como uma maneira de transpormos nossa visão além dos métodos clássicos. Para Perrenoud (2000) diferenciar (no aspecto social) signi�ca lutar pelas desigualdades diante do espaço escolar, objetivando elevar o nível do ensino. Diante deste pressuposto, nós pedagogos, devemos ir muito além dos conteúdos, valorizando as experiências vivenciadas pelos alunos, objetivando acrescentar também estes conhecimentos, inserindo-os no currículo. O pedagogo que apresenta sensibilidade aos níveis de fracasso escolar, preocupa- se com a forma de ajustar suas aulas às características individuais dos alunos, buscando novos métodos de ensino que respeitem a diversidade. Permanecendo rígido aos métodos tradicionais e posteriormente aplicando-os da mesma forma a todos os alunos, o pedagogo estará sendo indiferente às diferenças. Perrenoud (2000) deixa claras as consequências a partir do momento em que o pedagogo: a) Evidencia o êxito daqueles que dispõem de maiores condições e acesso a estímulos culturais, dos códigos, do nível de desenvolvimento, das atitudes, dos interesses e apoios que permitem um aprendizado mais ágil que re�etem nas notas das provas.b) Provoca o fracasso nos que não dispõem das mesmas condições, convencendo-os de que são incapazes de aprender, fazendo-os acreditar que o fracasso é sinal de insu�ciência pessoal mais do que da inadequação da escola. Acadêmico(a)! Você já presenciou ou vivenciou estas situações enquanto frequentava a escola regular? Saiba que a forma como o sucesso e o fracasso escolar é exposta pelos professores, in�uenciam diretamente na construção da personalidade do estudante, principalmente no que tange à sua autoestima. Procure re�etir sobre sua postura em relação a esta problemática enquanto futuro educador. O �lme Escola de Rock retrata esta questão do reforçamento realizado pelo professor referente ao sucesso ou fracasso escolar. Unidade 1- Tópico 1 10/09/2020 Livro Digital - Organização do Trabalho Educativo em Ambiente não Escolar https://livrodigital.uniasselvi.com.br/PED16_org_do_trab_educativo_em_ambiente_nao_escolar/unidade1.html?topico=1 6/18 Dewey Finn (Jack Black) é um músico que acaba de ser demitido de sua banda. Cheio de dívidas para pagar e sem ter o que fazer, ele aceita dar aulas como professor substituto em uma escola particular de disciplina rígida. Logo Dewey se torna um exemplo para seus alunos, sendo que alguns deles se juntam ao professor para montar uma banda local, sem o conhecimento de seus pais. Assista! FONTE: Disponível em: <https://bit.ly/3bJ7ZuQ>. Acesso em: 13 jan. 2014. Perrenoud (2000) reforça que a pedagogia diferenciada está relacionada à didática, ao questionamento sobre o sentido do trabalho escolar, à relação com os outros saberes e à utilização dos conteúdos ministrados. É bem possível que você já se questionou, no período em que frequentou a escola regular, sobre a importância de aprender fórmulas matemáticas, composições químicas, espaços geográ�cos e até mesmo fatos históricos, buscando um sentido maior do que as reproduções mecanizadas nas avaliações. Em relação às dúvidas a respeito da aplicabilidade das informações, Perrenoud (2000) aponta que é preciso re�etir sobre duas questões: • A primeira refere-se à �nalidade da informação a ser repassada, pois se considerarmos que o objetivo da escola é in�uenciar o mundo, os conhecimentos não transferíveis não despertam interesse. Portanto, para que serve a democratização do acesso ao saber, se não for mobilizável fora da escola? • A segunda refere-se à didática, sendo que a falta de sentido relacionado às aprendizagens origina uma parte das di�culdades deste contexto, pois traz como consequência uma visão limitada sobre dois campos de grande signi�cação: as relações entre os saberes escolares e as práticas sociais. A educação nos provoca a pensarmos nos sentidos relacionados aos conteúdos escolares e, à consciência do trabalhar objetivando favorecer a transferência de conhecimentos no intuito de desenvolver competências. Este posicionamento nos direciona a outra forma de atuarmos, ou seja, buscar e transferir os signi�cados do que queremos ensinar. Podemos arriscar dizer, que Unidade 1 - Tópico 1 https://bit.ly/3bJ7ZuQ 10/09/2020 Livro Digital - Organização do Trabalho Educativo em Ambiente não Escolar https://livrodigital.uniasselvi.com.br/PED16_org_do_trab_educativo_em_ambiente_nao_escolar/unidade1.html?topico=1 7/18 uma parcela dos alunos em fracasso escolar resiste às aprendizagens escolares, por não verem sentido nas informações que o educador fornece. Perrenoud (2000, p. 55) reforça esta questão ao comentar que O melhor a ser dito é que não se deve esperar dominar um saber para perguntar-se o que se poderia fazer com ele! Se uma parte dos jovens adultos oriundos da escolaridade obrigatória lê com muita di�culdade, se alguns correm o risco de tornarem-se analfabetos funcionais, não é apenas por não transferir um savoir-faire adquirido, é simplesmente por não tê-lo realmente construído durante sua escolaridade. Acadêmico(a)! A expressão savoir-faire signi�ca habilidade para executar algo. FONTE: Disponível em: <https://bit.ly/2xVA83c>. Acesso em: 21 jan. 2014. Neste sentido, o educador necessita estar atento ao constatar que o aluno está aquém do esperado para sua idade ou formação, na execução de alguma atividade, para que não corra o risco de rotulá-lo precipitadamente, como incapaz. É interessante questionar o aluno sobre como foram formadas as bases que sustentam aquela atividade, por exemplo: o aluno com di�culdades em matemática pode não ter compreendido as operações fundamentais consideradas simples, como adição, subtração, divisão e multiplicação, sendo esta a causa de sua di�culdade em avançar nos conteúdos mais complexos em relação à disciplina. Um educador comprometido com o processo de aprendizagem, fará o possível para que este educando possa avançar na aprendizagem, buscando métodos alternativos como: aulas extras, encaminhamento a outros pro�ssionais, formulação de uma metodologia mais lúdica e realista etc., evitando movimentar- se de forma desnecessária na busca de culpados pela condição do aluno. É neste momento que Perrenoud (2000) traz a importância do conceito de transferência ao caracterizá-la como a capacidade de um sujeito de reinvestir suas aquisições cognitivas, ao se fazerem necessárias mediante outras situações (que fogem do contexto escolar), considerando que sem o mínimo de transferência, toda aprendizagem seria, portanto, totalmente inútil, visto que corresponderia a uma situação passada e não reprodutível em outra ocasião. Unidade 1 - Tópico 1 10/09/2020 Livro Digital - Organização do Trabalho Educativo em Ambiente não Escolar https://livrodigital.uniasselvi.com.br/PED16_org_do_trab_educativo_em_ambiente_nao_escolar/unidade1.html?topico=1 8/18 A transferência traz à tona a necessidade de pensarmos em novas formas de demonstração, no que condiz a possibilidade de tornamos os conteúdos menos abstratos e mais próximos da realidade vivenciada naquela comunidade, constituída pelos alunos e suas famílias. Desta maneira estaremos preparando-os para que os conhecimentos adquiridos sejam reinvestidos nos mais variados cenários ao longo do seu desenvolvimento, sendo estes: na vida cotidiana, política, familiar e pessoal. FIGURA 2 – TRANSFÊNCIA DE CONHECIMENTO FORA DA ESCOLA FONTE: Disponível em: <https://bit.ly/2Vu7nUs>. Acesso em: 22 jan. 2014. Desta forma, Perrenoud (2000, p. 57) enfatiza que “globalmente, a importância atribuída à transferência de conhecimentos está ligada à mobilidade das pessoas e ao ritmo de transformação das sociedades”. Porém, não signi�ca dizer que as formas tradicionais de aprendizagem tenham que desaparecer por completo e nem que toda a aquisição precisa ser transferível a situações diferentes para ser digna de interesse; mas que seja considerada e valorizada a bagagem cultural e os saberes da criança ou adulto no decorrer da vida escolar. Pense nisso! 4 BREVE INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO NÃO FORMAL Sendo a educação não formal um dos campos de atuação do pedagogo, torna-se interessante conhecer os momentos mais importantes da construção desta modalidade educacional. Gohn (2011) coloca que até a década de 80, a educação não formal era um campo pouco valorizado no Brasil, tanto nas políticas públicas quanto entre os educadores, pois todas as atenções estavam voltadas à educação formal. Mesmo que de maneira discreta, alguns estudiosos da época, acreditavam que se tratava de uma extensão das atividades escolares e enfatizavam esta ideia. Nesta época, a visão mais otimista lançada à educação não formal, estava relacionada à educação de jovens e adultos, que além de ter um projeto voltado à alfabetização, objetivava integrá-los ao contexto urbano-industrial. Unidade 1 - Tópico 1 https://bit.ly/2Vu7nUs 10/09/2020 Livro Digital - Organização do Trabalho Educativo em Ambiente não Escolar https://livrodigital.uniasselvi.com.br/PED16_org_do_trab_educativo_em_ambiente_nao_escolar/unidade1.html?topico=1 9/18 Gohn (2011, p. 100) enfatiza que: Genericamente, a educação não formal era vista como o conjunto de processos delineados para alcançar a participação de indivíduos e de grupos em áreas denominadas extensão rural, animação comunitária, treinamento vocacional técnico, educação básica, planejamento familiar etc. Os conteúdos a serem adquiridos na aprendizagem via educação não formal, incluíam: atitudes positivas em relação à cooperação na família, trabalho, comunidade, colaboração para o crescimento nacional, progresso etc.; a alfabetização funcional; o conhecimento de habilidades funcionais para o planejamento familiar, sustentação econômica e participação cívica, além de uma visão cientí�ca para compreensão elementar de determinadas áreas especí�cas. Em 1990, esta modalidade passou a destacar-se devido a mudanças signi�cativas na economia, na sociedadee no mundo do trabalho, quando houve uma valorização das questões referentes à aprendizagem em grupos e aos valores culturais que regiam as comunidades naquela época, considerando que as crenças e valores sociais eram determinantes na conduta dos indivíduos. Diante disso, outra forma de pensar a educação não formal estava surgindo, ou seja, era necessário investir em uma nova cultura organizacional que apostasse na aprendizagem de habilidades extraescolares. Gohn (2011) coloca que a instauração desta nova visão foi muito além de con�gurar um novo campo para esta modalidade educacional. Houve organizações importantes posicionando-se em defesa de investimentos nesta área, sendo estas: agências internacionais como a ONU (Organização das Nações Unidas) e a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura). FIGURA 3 – UNESCO FONTE: Disponível em: <https://bit.ly/3eN9Vo2>. Acesso em: 20 jan. 2014. Em 1990, foi realizada na Tailândia, uma conferência em que dois documentos de considerável expressão foram elaborados, sendo denominados “Declaração mundial sobre educação para todos” e “Plano de ação para satisfazer necessidades Unidade 1 - Tópico 1 10/09/2020 Livro Digital - Organização do Trabalho Educativo em Ambiente não Escolar https://livrodigital.uniasselvi.com.br/PED16_org_do_trab_educativo_em_ambiente_nao_escolar/unidade1.html?topico=1 10/18 básicas da aprendizagem”; particularidades relacionadas à América Latina juntamente com experiências de ONGs (Organizações não Governamentais) em programas de educação na região, elencaram novas possibilidades de trabalho destinadas a esta área. Assim, Gohn (2011, p. 101-102) considera que: A partir da de�nição de necessidades básicas de aprendizagem, vistas como “ferramentas essenciais para a aprendizagem” e de seus novos “conteúdos básicos”, abrangendo, além dos conteúdos teóricos e práticos, valores e atitudes para viver e sobreviver, e a desenvolver a capacidade humana, os documentos da conferência ampliam o campo da educação para outras dimensões além da escola. [...] Os documentos prosseguem preconizando a necessidade de mudanças, numa visão ampliada da educação, inovando os canais existentes, fazendo-se alianças e utilizando-se recursos de forma a universalizar o acesso à educação e fomentar a equidade. As ONGs ocupam um lugar de grande destaque no cenário educacional não formal, devido a trabalhos desenvolvidos no âmbito educativo comunitário e intrafamiliar, na área de educação fundamental junto a comunidades indígenas e rurais, bem como em programas de educação para o trabalho voltado a entidades que promovam programas sobre tecnologias apropriadas, autogestão, agricultura sustentável e preservação do meio ambiente. Gohn (2011) destaca que as ONGs são agências que possuem know-how em metodologias, estratégias e programas de ação, tendo se �rmado ao longo das últimas décadas como incentivadoras do trabalho voluntário, bem como destacam-se no resgate do conhecimento, crenças e costumes das culturas locais, adotando uma postura de valorização e não de desprezo. Acadêmico(a)! O termo know-how provém do inglês e signi�ca “saber como”. Ao ser aplicado a alguém que apresenta know-how em alguma atividade, refere-se à pessoa que sabe desempenhar essa tarefa com conhecimento de causa e experiência. FONTE: Disponível em: <https://bit.ly/3eKqSQk>. Acesso em: 17 jan. 2014. Gohn (2011) coloca que ainda na década de 90, o Brasil sofreu com um balanço na economia, provocando uma onda de desemprego motivada por políticas globalizantes, com características excludentes que desestabilizaram o mercado de Unidade 1 - Tópico 1 https://bit.ly/3eKqSQk 10/09/2020 Livro Digital - Organização do Trabalho Educativo em Ambiente não Escolar https://livrodigital.uniasselvi.com.br/PED16_org_do_trab_educativo_em_ambiente_nao_escolar/unidade1.html?topico=1 11/18 trabalho, criando uma situação de precariedade do trabalhador em relação a um sistema de direitos. Os trabalhadores perderam seu status, segurança e, às vezes, a própria identidade, com o �ndar do sistema salarial. Esta situação trouxe à tona o novo modelo desenhado pela ONU em que enfatizava-se o poder do conhecimento e não mais da economia, ou seja, passava- se a exigir das pessoas o domínio de habilidades consideradas básicas, como por exemplo, ter �uência em mais de um idioma, bem como das questões relacionadas à gestão, sejam na carreira pro�ssional, nos con�itos, ou no trabalho em equipe etc.; visando ao planejamento de todos, na vida pessoal e pro�ssional. Além disso, passa-se a exigir do trabalhador um per�l criativo e compreensivo dos processos, além de uma postura �exível às novas ideias, com capacidades que visem ao raciocínio rápido na tomada de decisões e responsabilidade com suas atividades e com as outras pessoas, nos campos relacionados à sociedade e ao meio ambiente. Gohn (2011) ressalta que para a formação desta nova personalidade pro�ssional preparada a enfrentar as demandas deste mercado de trabalho, foram desenvolvidos alguns cursos por certos programas o�ciais, a �m de atender às necessidades básicas do cidadão. Diante do fato do maior problema ser o desemprego, foi preciso alterar políticas públicas, de forma que se priorizasse a retomada do desenvolvimento e a expansão do setor produtivo. Estes cursos �zeram parte das políticas do modelo econômico vigente na época, porém priorizavam os interesses do capital especulativo internacional em detrimento do desenvolvimento nacional. Na prática, a nova organização mundial trouxe benefícios em nível de capacitação pro�ssional e oportunidade de ampliação dos segmentos relacionados à indústria, mas como consequência, a sociedade tornou-se mais competitiva, individualista e violenta, sendo relevante mencionar o aumento considerável de doenças diretamente ligadas ao trabalho. 5 CONCEITUANDO A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL É comum associarmos a educação somente ao ambiente formal (escolar) com suas normativas e diretrizes, mas é necessário lembrar que seu conceito é amplo e vai muito além dos muros das escolas, ou seja, está diretamente associado ao conceito de cultura. Para Gohn (2011) a cultura é concebida como modos, formas e processos de atuação na história, onde é construída, passando constantemente por modi�cações, sendo diretamente in�uenciada por valores que se sedimentam em tradições e são transmitidos de uma geração para outra. Considerando que a Unidade 1 - Tópico 1 10/09/2020 Livro Digital - Organização do Trabalho Educativo em Ambiente não Escolar https://livrodigital.uniasselvi.com.br/PED16_org_do_trab_educativo_em_ambiente_nao_escolar/unidade1.html?topico=1 12/18 educação de um povo consiste no processo de absorção, reelaboração e transformação da cultura existente, entende-se que ela é geradora da cultura política de uma nação. Nos aspectos relacionados à educação não formal, Gohn (2011, p. 106) destaca cinco importantes dimensões que designam este processo: O primeiro envolve a aprendizagem política dos direitos dos indivíduos enquanto cidadãos, isto é, o processo que gera a conscientização dos indivíduos para a compreensão dos seus interesses e do meio social e da natureza que o cerca, por meio da participação em atividades grupais. Participar de um Conselho de escola poderá desenvolver essa aprendizagem. O segundo, a capacitação dos indivíduos para o trabalho, por meio da aprendizagem de habilidades e/ou desenvolvimento de potencialidades. O terceiro, a aprendizagem e exercício de práticas que capacitam os indivíduos a se organizarem com os objetivos comunitários, voltadas para a solução de problemas coletivos cotidianos. [...] O quarto, e não menos importante, é a aprendizagem de conteúdos da escolarização formal, escolar, em formas e espaços diferenciados. Aqui, o ato de ensinar se realiza de forma mais espontânea, e as forças sociais organizadas de uma comunidade têm o poder de interferir na delimitação do conteúdo didático ministrado bem como estabelecer as �nalidades a quese destinam àquelas práticas. O quinto é a educação desenvolvida na e pela mídia, em especial eletrônica. Vivemos em uma época em que as mídias fazem parte do nosso cotidiano e o in�uenciam diretamente, tornando o acesso à informação quase que instantaneamente no ato do acontecimento. A modernização da sociedade trouxe uma aceleração da rotina, provocando vários efeitos colaterais entre eles: frustração, estresse, relações familiares frágeis, ansiedade, doenças de caráter psicossomático etc. Acadêmico(a)! A psicossomática é uma doença caracterizada por sinais e manifestações apresentadas pelo corpo, onde os exames médicos não conseguem descobrir uma origem orgânica ou biológica para o sintoma. FONTE: Disponível em: <https://bit.ly/2yyhqyJ>. Acesso em: 20 jan. 2014. Diante destes atenuantes, a sociedade busca formas alternativas de lidar com a fragilidade expressa no corpo, na procura por cursos que visam trabalhar maneiras de reduzir os impactos da rotina no organismo, como o: autoconhecimento, o relaxamento, a meditação e os alongamentos etc. Estes Unidade 1 - Tópico 1 https://bit.ly/2yyhqyJ 10/09/2020 Livro Digital - Organização do Trabalho Educativo em Ambiente não Escolar https://livrodigital.uniasselvi.com.br/PED16_org_do_trab_educativo_em_ambiente_nao_escolar/unidade1.html?topico=1 13/18 recursos vêm crescendo constantemente, sendo considerados um campo da educação não formal. Conforme Gohn (2011), a educação transmitida pela família, nas relações de amizade, clubes, nos teatros, na leitura de jornais, nos livros, nas revistas, entre outros meios são considerados temas da educação informal. A diferença entre educação não formal e informal é que na primeira existem dois sujeitos, ou seja, fazem parte desta modalidade alcançar objetivos e/ou desenvolver competências. Já a educação informal decorre de processos espontâneos não havendo rigidez metodológica na sua condução. Os espaços de educação não formal se desenvolvem: nas associações de bairro, nos movimentos sociais, nas igrejas, nos sindicatos, nos partidos políticos, nas ONGs, nos espaços culturais e nas próprias escolas. As escolas fazem parte desta modalidade de ensino ao serem palco de atividades culturais abertas à comunidade ou mesmo quando proporcionam aos seus alunos o�cinas temáticas de trabalho como artesanato, teatro etc. FIGURA 4 – OFICINA DE TEATRO FONTE: Disponível em: <https://bit.ly/2Vvce7F>. Acesso em: 20 jan. 2014. Nas atividades relacionadas à educação não formal, as questões referentes às categorias de espaço e tempo recebem outra conotação. Gohn (2011) enfatiza que o espaço, neste caso, é algo criado e recriado segundo os modos de ação previstos nos objetivos maiores que dão sentido ao fato de determinado grupo social estar reunido. Já o tempo não é algo �xado a priori e são respeitadas as diferenças existentes para a absorção e reelaboração dos conteúdos, implícitos e explícitos, no processo de ensino-aprendizagem. A educação não formal busca evitar o enquadramento dos indivíduos que participam desta forma educativa, procurando �exibilizar o currículo com o objetivo de atender à demanda da clientela. Considerando que um dos principais objetivos da educação não formal é o exercício da cidadania, busca, entretanto pensar suas ações voltadas ao coletivo, sendo estas elaboradas em função destes, nos quais destacamos: grupos de trabalhadores, grupos de jovens, adultos, mães, terceira idade etc. Unidade 1 - Tópico 1 10/09/2020 Livro Digital - Organização do Trabalho Educativo em Ambiente não Escolar https://livrodigital.uniasselvi.com.br/PED16_org_do_trab_educativo_em_ambiente_nao_escolar/unidade1.html?topico=1 14/18 Gohn apud Afonso (1992) nos contempla com um quadro comparativo entre as escolas tradicionais (educação formal) e as associações democráticas para o desenvolvimento não formal: QUADRO 1 – COMPARATIVO ENTRE AS ESCOLAS TRADICIONAIS (EDUCAÇÃO FORMAL) E AS ASSOCIAÇÕES DEMOCRÁTICAS PARA O DESENVOLVIMENTO NÃO FORMAL FONTE: AFONSO (1992) Acadêmico(a)! A expressão “status quo” signi�ca o estado atual das coisas. No estado que devem estar as coisas. FONTE: Disponível em: <https://bit.ly/2Kv7SqS>. Acesso em: 20 jan. 2014. Acadêmico(a)! É importante frisar que as duas modalidades educativas (não formal e informal) possuem aspectos considerados positivos e negativos, sendo assim, na prática educativa necessitamos �ltrar as possibilidades que cada uma delas nos oferece. A aprendizagem relacionada à educação não formal se dá através da prática social, sendo pautada no pressuposto que por meio das experiências vivenciadas pelo grupo o aprendizado é originado, considerando que esta prática educativa é de caráter coletivo. Unidade 1 - Tópico 1 https://bit.ly/2Kv7SqS 10/09/2020 Livro Digital - Organização do Trabalho Educativo em Ambiente não Escolar https://livrodigital.uniasselvi.com.br/PED16_org_do_trab_educativo_em_ambiente_nao_escolar/unidade1.html?topico=1 15/18 FIGURA 5 – APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL FONTE: Disponível em: <https://bit.ly/3bxNPnL>. Acesso em: 20 jan. 2014. A respeito disso Gohn (2011, p. 112) nos enfatiza que: A maior importância da educação não formal está na possibilidade de criação de novos conhecimentos, ou seja, a criatividade humana passa pela educação não formal. O agir comunicativo dos indivíduos, voltado para o entendimento dos fatos e fenômenos sociais cotidianos, baseia-se em convicções práticas, muitas delas advindas da moral, elaboradas a partir das experiências anteriores, segundo as tradições e as condições histórico-sociais de determinado tempo e lugar. O conjunto desses elementos fornece a amálgama para a geração de soluções novas, construídas em face dos problemas que o dia a dia coloca nas ações dos homens e das mulheres. A educação não formal proporciona aos seus participantes um espaço importante de re�exão e posteriormente, ações que possam vir a bene�ciar diretamente a comunidade no qual estão inseridos. Para que isso seja concreto, é necessário empenho e determinação dos grupos envolvidos com essa prática educativa, motivando a participação da comunidade. Gohn (2011) considera que é importante esclarecer que os processos metodológicos utilizados na educação não formal estão pouco relacionados à leitura e à escrita, ou seja, a discussão e a troca de ideias se dão por meio dos saberes disponíveis, no passado e presente e são consideradas prioridades nesta modalidade. Estes momentos possibilitam aos participantes a expressão de seus desejos, emoções e pensamentos, que por algum motivo (carência socioeconômica, direito individual, demanda não atendida) permaneceram calados. Acadêmico(a)! A educação não formal exige do pedagogo um pensamento crítico e aberto às diferentes situações que irão fazer parte do seu cotidiano; pois como vimos anteriormente, as modalidades educativas estão separadas somente por conceitos teóricos, porém a realidade as une. Unidade 1 - Tópico 1 https://bit.ly/3bxNPnL 10/09/2020 Livro Digital - Organização do Trabalho Educativo em Ambiente não Escolar https://livrodigital.uniasselvi.com.br/PED16_org_do_trab_educativo_em_ambiente_nao_escolar/unidade1.html?topico=1 16/18 Resumo do Tópico Pensar a escola hoje é reconhecer a existência de demandas individuais e coletivas, orientando para a liberdade do sujeito, preparando-o para o exercício do diálogo democrático e para as mudanças sociais. Buscar desenvolver a capacidade do sujeito em compreender o outro em sua cultura, deve fazer parte do conteúdo programático das atividades a serem desenvolvidas, quebrando paradigmas. Neste tópico, você aprendeu que: • Para Perrenoud (2000), o sucesso e o fracasso escolar não são exclusivos ao ambiente escolar, pois o estudioso considera que cada aprendizado objetiva preparar os alunos para enfrentarem as etapas subsequentes ao currículo escolar, tornando o aluno capaz de mobilizar suas aquisições escolares fora do ambiente escolar, tornando qualquer ambiente, um ambiente pedagógico, independente de quaisquersituações. • O conceito de competência enfocado por Perrenoud diz que não há uma de�nição clara e objetiva do seu signi�cado, sendo que para o estudioso existem três aspectos do que pode vir a ser competência, como: desempenho, hábitos e sucesso. • Perrenoud (2000) nos coloca ainda que a pedagogia diferenciada está relacionada com: a didática, o questionamento sobre o sentido do trabalho escolar, a relação com os outros saberes e a utilização dos conteúdos ministrados. • Um educador comprometido com o processo de aprendizagem, fará o possível para que este educando possa avançar na aprendizagem, buscando métodos alternativos como: aulas extras, encaminhamento a outro pro�ssional, formulação de uma metodologia mais lúdica e realista etc., evitando movimentar-se de forma desnecessária na busca de culpados pela condição do aluno. • A diferença entre educação não formal e informal é que na primeira existem dois sujeitos, ou seja, fazem parte desta modalidade alcançar objetivos e/ou desenvolver competências. Já a educação informal decorre de processos espontâneos não havendo rigidez metodológica na sua condução. • ONGs são agências que possuem know-how em metodologias, estratégias e programas de ação, tendo se �rmado ao longo das últimas décadas como Unidade 1 - Tópico 1 10/09/2020 Livro Digital - Organização do Trabalho Educativo em Ambiente não Escolar https://livrodigital.uniasselvi.com.br/PED16_org_do_trab_educativo_em_ambiente_nao_escolar/unidade1.html?topico=1 17/18 Autoatividades Responder incentivadoras do trabalho voluntário. Elas se destacam no resgate do conhecimento, crenças e costumes das culturas locais, adotando uma postura de valorização e não de desprezo. UNIDADE 1 - TÓPICO 1 1 Para Perrenoud (2000) diferenciar signi�ca lutar pelas desigualdades diante do espaço escolar, objetivando elevar o nível do ensino. Desta forma, como o pro�ssional da educação precisa trabalhar este conceito de diferenciar? 2 Como você, acadêmico(a), visualiza a educação não formal e como ela acontece dentro desta estrutura? Exempli�que. Unidade 1 - Tópico 1 10/09/2020 Livro Digital - Organização do Trabalho Educativo em Ambiente não Escolar https://livrodigital.uniasselvi.com.br/PED16_org_do_trab_educativo_em_ambiente_nao_escolar/unidade1.html?topico=1 18/18 Responder Apresentação Tópico 2 Conteúdo escrito por: Todos os direitos reservados © 2019 Prof.ª Mônica Conzatti Unidade 1 - Tópico 1 https://livrodigital.uniasselvi.com.br/PED16_org_do_trab_educativo_em_ambiente_nao_escolar/index.html