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CONTEÚDO 4 - A formação da autoimagem A imagem corporal é a maneira pela qual nosso corpo aparece para nós mesmos. É a representação mental do nosso próprio corpo. A abordagem da imagem corporal incrementa a convergência de intervenções motoras e psíquicas na busca do desenvolvimento da pessoa. A questão central se refere ao cerne da identidade do ser humano (Tavares, 2003, p.27). Imagem corporal é a figuração do próprio corpo formada e estruturada na mente do mesmo indivíduo, ou seja, a maneira pela qual o corpo se apresenta para si próprio. É o conjunto de sensações sinestésicas construídas pelos sentidos (audição, visão, tato, paladar), oriundos de experiências vivenciadas pelo individuo, onde o referido cria um referencial do seu corpo. A imagem que pode ser visual, motora, auditiva, tátil, entre outras. Toda mudança reconhecível entra na consciência comparando-se com situações já vivenciadas, realizando assim uma avaliação da nova situação que gera uma mudança na Imagem Corporal. A imagem do corpo como "uma representação interna na experiência consciente da informação visual, tátil e motor, da origem corporal". Segundo Cash & Pruzinsky, a imagem corporal pode ser definida como a visão do nosso corpo que produzimos em nossa mente (SCHILDER, 1935). A imagem corporal é definida como a representação mental do próprio corpo (KRUEGER,1990). A Imagem Corporal se desenvolve desde o nascimento até a morte, dentro de uma estrutura complexa e subjetiva, sofrendo modificações que implicam na construção contínua, e reconstrução incessante, resultante do processamento de estímulos. Durante os anos pré-escolares, a criança desenvolve de forma acentuada o seu conceito a respeito da imagem corporal. Com um pensamento e uma linguagem mais abrangentes, começa a reconhecer que a aparência das pessoas pode ser mais ou menos desejável e as diferenças de cor ou raça. Ela conhece o significado das palavras "bonito" e "feio" e reflete a opinião que os outros têm a respeito de sua aparência. Aos cinco anos, por exemplo, a criança já compara sua altura com a de seus pares e pode dar-se conta de ser alta ou baixa, especialmente quando as pessoas se referem a ela, chamando-a de "alta ou baixa para a idade". Apesar de seus progressos no desenvolvimento da imagem corporal, o pré-escolar ainda tem uma noção pouco definida a respeito dos limites do seu corpo, além de possuir escassos conhecimentos de sua anatomia interna. Quanto maior forem os estímulos e as possibilidades de novas experiências do recém- nascido durante toda sua trajetória de vida, mais completa será a sua formação do esquema corporal, principalmente sob o ponto de vista psicomotor. As experiências corporais que determinam a imagem corporal corroboram para a modelação de um esquema que refletirá na adolescência e na vida adulta. Sua forma poderá ser lapidada, porém terá seus elementos da construção inicial preservados, apesar das transformações ocorridas ao longo da vida. Se estrutura sobre a base dos componentes neurológicos em desenvolvimento e maturação onde se liga fundamentalmente. As percepções exteroceptivas, proprioceptivas e interoceptivas que permitem estabelecer, em um momento inicial, a consciência sobre localização espacial total, a capacidade e o funcionamento de uma determinada parte do corpo. Ainda que pareça evidente, é necessário aclarar que o esquema corporal se implanta e evolui, especificamente, sobre a maturação do conjunto neuromusculoesquelético. Se liga ao processo que leva o neonato através das etapas de rastejar, engatinhar e primeiros passos, até ao total domínio da marcha e orientação, as quais são suportadas pelo eixo axial que está localizado na coluna vertebral. A imagem corporal do bebê amadurece aos poucos, na medida em que ele experimenta o toque, a exploração do espaço, a manipulação e contato com objetos. A idéia de separação de seu corpo de outros corpos e objetos se dá gradativamente (LE BOULCH,1987). Krueger (1968) e Piaget (1945) concordam que a percepção da existência do corpo próprio, individual, se dá por volta dos 18 meses Le Boulch enfatiza a grande importância da "fase do espelho", quando a criança vê sua imagem projetada no espelho. Toda identidade pessoal é construída em consonância com a imagem corporal e que abarca tudo aquilo que a pessoa sente e percebe de si mesma Para melhor compreensão entre a autoimagem e a imagem corporal, citamos Silva (2002) que escreve que a autoimagem é o que pensamos de nós mesmos e parte importante dela é nossa imagem corporal. Quando nos referimos a imagem corporal estamos objetivamente discorrendo sobre o corpo físico e é sobre este corpo que a autoimagem é construída e consequentemente, a imagem corporal. Podemos observar, por exemplo, que nem sempre a imagem refletida no espelho é percebida da mesma maneira pela pessoa que se encontra em frente dele. Casos como este são considerados como distorções da autoimagem. O exemplo clássico deste tipo de distorção é das pessoas com anorexia nervosa. Estar bem consigo mesma, ter uma relação saudável com o próprio corpo é a essência para uma vida com equilíbrio. A relação do sujeito com seu corpo é tão importante que Tavares (2003) escreve: Percebemos o mundo e nós mesmos com nosso corpo. Nosso corpo carrega a memória de nossa existência. Cada memória representa uma história de relação com o mundo. Cada memória pode ser revivida, implicando uma pequena mudança em nosso corpo. Percebemos com esse mesmo corpo que se mostra aos outros. Ora nosso foco de percepção está no nosso corpo, ora está no mundo externo. E esse movimento de expansão e recolhimento é dimensionado pela nossa imagem corporal. Todo corpo carrega em si a história de uma existência. No percurso do desenvolvimento humano e na própria trajetória da existência, são deixadas inscritas no corpo as suas marcas. Quanto maior forem os estímulos e as possibilidades de novas experiências do recém-nascido durante sua trajetória de vida, mais completa será a formação do esquema corporal. Pois, as experiências corporais que definem a imagem corporal contribuem para a modelação de um esquema que refletirá na adolescência e na vida adulta. Sobre a imagem corporal, de acordo com diversos autores, a fase da adolescência é considerada como o período mais crítico para a formação da imagem corporal. As transformações corporais nessa fase ocorrem de maneira muito rápida e na maior parte das vezes a maturidade psicológica e a mental não acompanham as mudanças físicas. A autoestima: Auto-estima é o sentimento que a pessoa tem sobre si mesmo como um todo. A auto-estima é uma experiência íntima, é o que o sujeito pensa e sente sobre si mesmo, portanto se define como a auto-avaliação das características do indivíduo (MALLE, 1999). Para BROCKNER (1988), a auto-estima é definida como a auto avaliação favorável das características individuais. O autor formulou a hipótese de que pessoas com baixa auto-estima são mais vulneráveis aos eventos adversos do que pessoas com nível elevado de auto-estima (Beraquet, Areias et al, 2004, p.107). Podemos entender a partir da citação das autoras, que há em todas as pessoas, um potencial favorável ou não para o desenvolvimento da autoestima, tendo em vista que a relação que a pessoa tem consigo mesma pode ser de amor e afeto ou de desprezo e desprazer. Podemos afirmar que pessoas com baixa autoestima são aquelas que apresentam maior dificuldade no relacionamento interpessoal. A crença na vida e no sucesso pessoal são metas inalcançáveis para esse tipo de pessoa, pois o sentimento que os move é o de inferioridade, tanto com relação às pessoas como consigo mesmo. Todo profissional deve estar atento a pessoas que apresentam as características de baixa autoestima, afinal, recuperar-se pode representar algo que não condiz com o seu “merecimento”. Desta forma, o tratamento pode arrastar-se por muito tempo e dificilmente será sentido como uma melhora significativa. As pessoas com lesão medular traumática apresentam uma interrupção brusca no processode desenvolvimento da imagem corporal. O trauma muda a condição do indivíduo. Com isto a imagem corporal sofre grandes mudanças, necessitando de adaptações. A imagem corporal de pessoas com lesão medular encontra-se alterada após a lesão devido a mudanças na percepção corporal causada pelo trauma. Há ainda uma mudança perceptual de seu corpo que aliada a mudanças em suas relações sociais modificam sua imagem corporal. Dor fantasma Quando há a sensação de dor no membro amputado, denomina-se o fenômeno de dor fantasma, que é a consciência de dor na extremidade amputada. Segundo Fisher, a dor no membro fantasma pode ser prevenida quando os pacientes são encorajados a expressar o sofrimento da perda, o que nos remete ao valor não só fisiopatológico, mas emocional da dor fantasma. A elaboração de uma nova imagem corporal pode ocorrer de várias formas. A dor fantasma, mesmo não sendo a forma mais produtiva, é uma dessas. Pela dor, o indivíduo nega a amputação e revive a experiência de ter o corpo intacto. Segundo estudos de Pucher e Frischenschlager, 89,3% dos pacientes com queixas de dor no membro fantasma retrataram-se no desenho de sua autoimagem corporal de forma íntegra.