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03/11/2018 1 Preservação e Conservação de Alimentos Prof. Paulo Henrique Machado de Sousa Universidade Federal do Ceará Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos Conservação de Alimentos pelo Uso do Calor Que métodos de conservação pelo calor vocês conhecem? Métodos de conservação de alimentos Como escolher o método “ideal”? - Natureza do alimento (pH, Aa, nutrientes...); - Tempo pelo qual se deseja conservá-lo e condições de estocagem e distribuição (cadeia do frio); - Custos/benefícios do processo; - Elementos de deterioração envolvidos; - Qualidade e quantidade do produto final desejado. Alguns dos princípios envolvidos na conservação de alimentos: 1) Prevenção/diminuição da decomposição microbiana: - Ausência de microrganismos – Assepsia; - Remoção de microrganismos – filtração por membranas; - Inibição do crescimento de atividade dos microganismos; - Destruição de microrganismos: esterilização, pasteurização. Alguns dos princípios envolvidos na conservação de alimentos: 2) Prevenção/diminuição da auto-decomposição: - Destruição ou inativação de enzimas; - Prevenção/diminuição de reações químicas. 3) Prevenção das lesões ocasionadas por insetos, animais superiores, causas mecânicas, etc. Descongelamento; Esterilização; Branqueamento; Desidratação; Secagem; Assamento; Pasteurização; Liofilização; Fritura; Concentração; Cozimento; Extrusão; Tratamento térmico. Importância de Transferência de Calor em Alimentos 03/11/2018 2 Conservação de Alimentos pelo Calor Objetivos: Redução da carga microbiana; Inativação/desnaturação de enzimas. Objetivos secundários: Desenvolver alimentos diferenciados; Melhor tratamento térmico: Garanta a ausência de patógenos; Assegure a vida de prateleira desejada. Seleção Baseada: - no binômio tempo-temperatura para: - Inativar microrganismos patógenos e deteriorantes mais resistentes; - propriedades de transferência de calor do alimento e da embalagem. Tempo-temperatura Tratamentos térmicos: baseados em um binômio tempo- temperatura. temperatura tempo de tratamento Alta temperatura, tempo curto: mais indicados para minimizar danos térmicos às propriedades sensoriais e nutricionais. Margem de segurança para alimentos de baixa acidez: Assume-se a presença de Clostridium botulinum (termoresistente e formador de esporos). Destruição térmica de microrganismos D: tempo requerido, a uma dada temperatura, para destruir 90% de uma população. No d e mi cro rga nis mo s so bre viv en tes 1510 104 103 102 101 100 D tempo (a T constante) Modos de Transferência de Calor Condução Convecção Radiação Na maioria das aplicações, os três tipos de transferências ocorrem simultaneamente. Porém, um tipo pode ser mais importante. Modos de transferência de calor Condução: transferência por contato entre partículas. Convecção: movimento da massa do produto Porção aquecida: menos densa sobe toda a massa circula Radiação: ondas eletromagnéticas. Convecção Condução Radiação 03/11/2018 3 Produtos líquidos: convecção (no produto) e condução (paredes da lata). Produtos sólidos: predomina a condução. Modos de transferência de calor Ponto frio Último ponto a atingir a temperatura de esterilização dentro de um recipiente. Para assegurar esterilidade, o ponto frio deve ser submetido ao binômio tempo-temperatura previsto. Em sólidos (condução): centro geométrico. Em líquidos (convecção): ~¼ da altura da lata. termopar termopar condução convecção Formas de tratamento térmico Branqueamento Pasteurização Esterilização comercial Pode ser realizado antes ou depois do acondicionamento em embalagens. Embalagens ideais: Boas condutoras de calor; Ata resistência térmica; Sistema de fechamento seguro (evitar a recontaminação do produto); Pode ser realizado o tratamento térmico antes do envase (mais rápido). Envase em condições assépticas Branqueamento Objetivos: Inativar enzimas em hortaliças e algumas frutas (antes de processamentos posteriores) - pré-tratamento Entre o preparo da matéria prima e as operações posteriores Esterilização pelo calor, secagem, congelamento Branqueamento Outros efeitos: combinar com o descascamento e/ou limpeza do alimento; reduzir a carga microbiana da superfície; amaciar os tecidos vegetais, facilitando o acondicionamento nos recipientes; remover ar dos espaços intercelulares, auxiliando a etapa de exaustão, formando vácuo. Branqueamento Etapas: Aquecimento rápido com tempo e temperatura pré-determinados Resfriamento rápido (temperatura ambiente) 03/11/2018 4 Branqueamento Fatores que influenciam o tempo de branqueamento: Tipo de fruta ou hortaliça; Tamanho dos pedaços; Temperatura de branqueamento; Método de aquecimento Ausência: mudanças indesejáveis nas características sensoriais e nas propriedades nutricionais durante o preparo/estocagem. Branqueamento Insuficiente: pode causar um dano maior do que a ausência Pode romper tecidos e liberar enzimas, sem inativá-las, acelerando o dano ao misturar enzimas e substratos; Pode destruir apenas algumas enzimas – aumentando a atividade de outras enzimas. Branqueamento Enzimas envolvidas: Lipoxigenases; Polifenoloxidases (PPO) Poligalacturonases (PG) Clorofilases Termoresistentes: Catalase e Peroxidase Marcadores de branqueamento (Não causam deterioração do alimento durante a estocagem) Branqueamento Métodos gerais: Passagem por vapor saturado (100º C); Banho de água quente (70-100º C); Branqueamento por microondas. (Pode ser usado em conjunto com o vapor). Branqueamento a vapor Características: Vegetais com ampla área de corte – menores perdas Distribuição não uniforme do calor nas múltiplas camadas do alimento; Superaquecimento do alimento nas extremidades e perdas da textura e outras características sensoriais; Perdas dos nutrientes são reduzidas; Perdas de peso. Pasteurização Homenagem a Louis Pasteur: inativação de m.o. em vinho em temperatura abaixo do ponto de ebulição; Muito utilizada para leite; Objetivo principal: destruição de microrganismos patogênicos; Objetivo secundário: reduzir as taxas de alterações microbiológicas e enzimáticas. Caramelização 03/11/2018 5 Alimentos (acidez) Baixa acidez (pH > 4,5): - Minimizar possíveis riscos à saúde por patógenos; - Aumentar a vida de prateleira. Ex.: leite Acidez elevada (pH < 4,5): - Aumenta a vida de prateleira por deteriorantes; - Inativação de enzimas. Ex.: conserva de frutas. Mudanças nas características sensoriais e no valor nutricional. Pasteurização Presença de microrganismos capazes de crescer Vida de prateleira limitada Combinada a outros métodos de preservação (refrigeração,conservantes...) Padronização Microrganismos; Nutrientes; Enzimas. Equipamentos Pasteurização de alimentos embalados: Diferença entre temperaturas de embalagem e água para vidro: - 20º C – aquecimento; - 10º C – resfriamento; - Resfriamento até 40º C. - Contínuos ou por batelada. Cerveja, sucos de frutas, compotas. Pasteurização de alimentos a granel: - Superfície raspada; - Vasos encaminhados abertos. - Trocador de calor de Placas; - Trocador de calor Tubular. Tipos de Pasteurização Lenta: temperatura baixa por um tempo longo Rápida: temperatura alta por um tempo curto (HTST). HTST: economia de tempo e energia redução das alterações sensoriais do produto Vantagens - HTST 03/11/2018 6 Esterilização comercial Inativação de todos os microrganismos patogênicos e deterioradores que possam crescer sob condições normais de estocagem. Podem sobreviver esporos termorresistentes, que não se multiplicam normalmente no produto. Esterilização comercial esterilização absoluta sabor inaceitável Ex: compotas de frutas vida de prateleira 2 anos. O que limita a vida-de-prateleira: alterações químicas ou físicas. Tratamento térmico - Falhas Binômio tempo-temperatura insuficiente Contaminações pós-processamento Falhas na hermeticidade da embalagem Flutuações na temperatura de estocagem (pasteurizados) deterioração Trocador de Calor de Placas Equipamento mais indicado para suco de frutas; Principalmente com baixo teor de polpa; Suco passa por 4 seções; Vantagens: baixo custo; pouco espaço; fácil manutenção. Característica principal manutenção qualidade final produto Ideal para sucos com alto teor de polpa; Para melhorar a eficiência uso de fluxo a contra-corrente; Podem ser usados para aquecer ou resfriar; Requer maior espaço e pode ser submetido a pressões mais elevadas do que o de placas Trocador de Calor Tubular Bastante usado com sucos de viscosidade maior que o de placas; Também indicado para sucos que vão ser submetidos a extremas temperaturas; Para aquecer usa vapor, água quente ou outro fluido aquecido. Trocador de Calo Superfície Raspada FORMAS DE ENVASE PÓS- TRATAMENTO TÉRMICO 03/11/2018 7 Envase asséptico Esterilização do produto: Calor Ultrafiltração Descontaminação da embalagem: Calor Agentes químicos (ex: H2O2) Radiação ultravioleta Radiações ionizantes. zona asséptica para envase embalagem estéril produto estéril Envase asséptico Esterilização Resfriamento rápido Acondicionamento em embalagens descontaminadas, em zona de envase asséptico. Recontaminação: evitada por alta pressão no sistema. Envase asséptico - Vantagens e limitações Maior gama de usos de materiais de embalagem: rígidas (latas, garrafas de vidro) semi-rígidas (garrafas plásticas, cartonados) flexíveis. Escolha do material: f(produto, estabilidade requerida, apelo mercadológico e custo). Alto custo Requerimento de alto nível de controle de assepsia de todo o sistema (superfícies, equipamento etc.) Hot-fill Tratamento térmico Bombeamento do produto ainda quente (>80oC) na embalagem, que é então tampada Embalagem invertida (3 min) e resfriada. Leite - pasteurização Lenta: 63-65oC/30 min batelada OU HTST: 75oC/15-20 s Processo contínuo VP: até 5 dias (refrigeração) Leite - Esterilização - UHT 130-150oC, por 3-5 s Resfriamento rápido Envase asséptico Elimina todas as formas vegetativas Alguns esporos de termófilos podem sobreviver não crescem à temperatura ambiente VP: meses (temperatura ambiente) Redução do tempo de processo melhor qualidade do produto 03/11/2018 8 Subprocessamento Térmico - Tratamento térmico inadequado; - Aquecimento baixo; Tempo de aquecimento foi insuficiente para a esterilização do alimento. Resfriamento Inadequado Deterioração dos alimentos embalados hermeticamente, devido ao processamento inadequado de resfriamento após aquecimento, geralmente feito com água corrente. Deterioração Pré-Processamento - Devido a falhas durante o processamento do alimento, propiciando o desenvolvimento de microorganismos no alimento durante a sua preparação e antes da esterilização. - Experiências demonstram que durante um intervalo de aproximadamente 2 horas entre a preparação e o cozimento do alimento, a contagem bacteriana aumentava em torno de 50%. SOUS VIDE O objetivo da técnica é manter a integridade do alimento, evitando a perda evaporativa de sabores voláteis e de umidade. OBJETIVO SOUS VIDE: ETAPAS DO PROCESSAMENTO Preparo para embalagem Cozimento Pós-cozimento/ Finalização COZIMENTO Cuba de banho-maria (variação de 0,05°C)ou forno combinado (grandes quantidades - aquecimento ñ uniforme); A temperatura da água (cuba de banho-maria) empregada deverá ser um pouco mais elevada que o a temperatura central do alimento desejada (0,5°C). COZIMENTO Para evitar sub-cozimento, é muito importante que os sacos de sous vide estejam completamente submersos e não estejam amontoados. Em temperaturas elevadas é frequente que os sacos plásticos inflem (com vapor d’água), e por isso devem ser mantidos abaixo da água com o auxílio de uma grade ou algum outro objeto restritor. 03/11/2018 9 COZIMENTO Tipo de proteína Mal passado Mal passado/ ao ponto Ao ponto Carne 125°F (51,5°C) 130°F (54,5°C) 140°F (60°C) Pescado 110°F (43,5°C) 120°F (49°C) 140°F (60°C) Tabela de temperatura utilizadas de acordo como ponto de cocção desejado. Fonte: BALDWIN, 2005. COZIMENTO Vegetais Peixes Carnes COZIMENTO Vegetais: Maior tempo para coccionar o interior do alimento; Atenção ao ponto (ñ cozinhar demasiadamente); Preferencia um tipo por saco de sous vide; Uniformizar cocção. COZIMENTO Peixes: Menor tempo de cocção; Controle da a temperatura e tempo para desenvolver os sabores; A faixa de temperatura de cozimento do peixe pode variar de 43°C a 60°C. COZIMENTO Carne: Maior tempo de cocção que peixesm; Eficiente no melhoramento da textura de tecidos resistentes: muscúlo, língua, corações etec.; Mantem a umidade das carnes; Temperatura de cocção varia de 50°C a 60°C (dependendo do ponto de cocção); PÓS – COZIMENTO/ FINALIZAÇÃO Após a cocção dos alimentos nos sacos de sous vide são rapidamente resfriados (para evitar esporulação). Nesta etapa os alimentos podem ser: Resfriados; Congelados ou; Finalizados. 03/11/2018 10 Na indústria alimentícia, sous vide é utilizado para prolongar a validade de alimentos cozidos. PÓS – COZIMENTO/ FINALIZAÇÃO Congelamento: • Quando congelados (-25°C) podem ser armazenados por longos períodos. • Validade alterada para meses. Refrigeração: • Após o cozimento os alimentos é rapidamente esfriado e refrigerado; • Antes de ser finalizado, o alimento é então reaquecido em uma cuba de banho-maria a aproximadamente 55°C. • Validade de 3 a 4 semanas. Vantagens do processo “sous vide” Minimizar o risco de patógenos alimentares: alimentos sãotratados dentro da embalagem e só são aberto no momento do preparo. Melhorar as características sensoriais do alimento: Qualidade na consistência, mais macio e suculento, cor ressaltada. Não há perda do valor nutricional, pelas baixas temperaturas de cozimento; Vantagens do processo “sous vide” Aumentar a vida útil do produto: produto é pasteurizado; 3 a 4 semanas (meses) e meses (congelado). Maior produtividade; Menor uso de aditivos; Diminuição do desperdício; Produção mais flexível, mais rápido e equipe menor. Vantagens do processo “sous vide” Minimizar o risco de patógenos alimentares (alimentos são tratados dentro da embalagem e só são aberto no momento do preparo). Melhorar as características sensoriais do alimento. Não há perda do valor nutricional. Aumentar a vida útil do produto. Maior produtividade. Diminuição do desperdício. Desvantagens do processo “Sous vide” Processo demorado. Maior gasto de energia. Maior custo de produção. Perigo quando há quebra da cadeia de frio. Equipamentos: “Sous vide” Seladora á vácuo 03/11/2018 11 Equipamentos: “Sous vide” Banho-maria Estudo da atividade antioxidante de beterraba vermelha cozida: micro-ondas, vácuo, ebulição e assamento (Ravichandran et al., 2012). Efeitos dos diferentes métodos de cocção em hortaliças Houve aumento gradual da atividade antioxidante nos ensaios ABTS e DPPH de 1,5 até 3 vezes nos diferentes métodos de cocção. Aumento da atividade antioxidante em até 15%. Vácuo Aumentou até 2 vezes a atividade antioxidante em relação à in natura. Micro-ondas Aumentou até 3 vezes a ativ.antioxidante. Ebulição e assamento Aumento da atividade antioxidante em até 15%. Vácuo Micro-ondas Aumento da atividade antioxidante em até 15%. Vácuo Micro-ondas Vácuo Ebulição e assamento Micro-ondas Vácuo Ebulição e assamento Micro-ondas Vácuo Tecnologias e Perda de Componentes Funcionais e Nutricionais • A estabilidade de nutrientes difere entre os alimentos: • Dependendo da matriz de cada alimento. Branqueamento Branqueamento: a destruição de vitaminas depende do tempo de exposição ao calor e do meio utilizado para transmissão de calor durante o processo (água ou vapor). Pasteurização Utiliza temperaturas abaixo de 100oC, e as perdas dependerão também do tempo de exposição do tratamento. (Sancho, 2006) Teste de média da vitamina C durante o processamento de suco tropical de caju Pasteurização 03/11/2018 12 Cocção de Frutas e Hortaliças (Sucupira, 2012) Atividade antioxidante na “Carne” básica de caju sob diferentes métodos de cocção Retenção de Compostos Fenólicos em hortaliças sob diferentes métodos de cocção Retenção % de compostos fenólicos em sete hortaliças cozidas (Natella et al., 2010) Retenção % da atividade antioxidante total em sete hortaliças cozidas (Natella et al., 2010) Retenção de Antioxidantes em hortaliças sob diferentes métodos de cocção Métodos de cocção em hortaliças Retenção percentual de nutrientes em polpa de abóbora cozida por quatro métodos de cocção (Daiuto et al., 2012) Efeitos dos diferentes métodos de cocção em cenoura Retenção percentual de macronutrientes em cenoura cozida pelo Sous vide (De Oliveira, 2012) 03/11/2018 13 Percentual de perda de componentes funcionais em abóbora cozida por quatro métodos (Da Silva, 2012) Métodos de Cocção Ácido Ascórbico (% perda) Flavonóides amarelos (% perda) Antocianinas Totais (% perda) Carotenóid es (% perda) Polifenóis (% perda) Ebulição 50,04 14,68 25,02 2,26 64,94 Vapor 49,98 18,06 36,04 5,77 55,03 Micro- ondas 49,73 2,82 1,50 24,58 59,57 Sous vide 50,42 30,27 54,37 55,07 49,98 Efeitos dos diferentes métodos de cocção em Abóbora Estudo com brócolis cozido: vapor, micro-ondas, ebulição, refogar, refogar com ebulição (Yuan et al., 2009). Efeitos dos diferentes métodos de cocção em hortaliças Todos os tratamentos, exceto vapor, causaram perda significativa de vitamina C e clorofila. As maiores perdas foram no refogado com ebulição (38%) e ebulição (33%). Houve redução de proteínas totais solúveis e açúcares solúveis em todos os métodos. O vapor foi o melhor método de retenção de nutrientes em brócolis. Dúvidas e questionamentos ?