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(1015-1176) Efeitos da Interposição do Recurso

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759.
760.
§ 79. EFEITOS DA INTERPOSIÇÃO DO RECURSO
Sumár io: 759. Efeitos básicos do  recurso: devolutivo  e  suspensivo. 760. Efeito
substitutivo. 761. Efeito translativo. 762. Efeito expansivo.
Efeitos básicos do recurso: devolutivo e suspensivo
Os  recursos  podem  ter,  em  princípio,  dois  efeitos  básicos:  o  devolutivo  e  o
suspensivo.  Pelo  primeiro,  reabre-se  a  oportunidade  de  reapreciar  e  novamente
julgar  questão  já  decidida;  e,  pelo  segundo,  impede-se  ao  decisório  impugnado
produzir seus naturais efeitos enquanto não solucionado o recurso interposto.
Em  regra,  nenhuma  questão,  depois  de  solucionada  em  juízo,  pode  ser
novamente  decidida,  porque  se  forma  em  torno  do  pronunciamento  jurisdicional  a
preclusão  pro  iudicato  (NCPC,  art.  505,  caput),261  requisito  necessário  a  que  o
processo caminhe sempre para frente, sem retrocesso, rumo à solução do  litígio. O
mecanismo  dos  recursos,  porém,  tem  sempre  a  força  de  impedir  a  imediata
ocorrência da preclusão e, assim, pelo efeito devolutivo, inerente ao sistema, dá-se o
restabelecimento do poder de apreciar a mesma questão, pelo mesmo órgão  judicial
que  a  decidiu  ou  por  outro  hierarquicamente  superior. Não  se  pode,  logicamente,
conceber um  recurso que não  restabeleça, no  todo ou  em parte,  a possibilidade de
rejulgamento. E nisso consiste o denominado efeito devolutivo dos recursos.
Já  o  efeito  suspensivo  (impedimento  da  imediata  execução  do  decisório
impugnado), que era a regra geral para o Código de 1973, passou a ser a exceção no
novo CPC, prevista apenas para a apelação (art. 1.012, caput).262 Assim é que o art.
995  dispõe  que  “os  recursos  não  impedem  a  eficácia  da  decisão,  salvo  disposição
legal  ou  decisão  judicial  em  sentido  diverso”. Apenas  excepcionalmente  a  decisão
será suspensa, “se da imediata produção de seus efeitos houver risco de dano grave,
de  difícil  ou  impossível  reparação,  e  ficar  demonstrada  a  probabilidade  de
provimento  do  recurso”  (parágrafo  único  do  art.  995).  Isto,  todavia,  dependerá
sempre de decisão do relator, caso a caso.
Efeito substitutivo
1241
(a)
(b)
761.
A par dos efeitos devolutivo e suspensivo, um outro efeito – o substitutivo – é
atribuído pelo art. 1.008 do NCPC263 aos  recursos em geral. Consiste ele na  força
do  julgamento  de  qualquer  recurso  de  substituir,  para  todos  os  efeitos,  a  decisão
recorrida,  nos  limites  da  impugnação.  Trata-se  de  um  derivativo  do  efeito
devolutivo. Se ao órgão ad quem é dado reexaminar e redecidir a matéria cogitada no
decisório impugnado, torna-se necessário que somente um julgamento a seu respeito
prevaleça  no  processo.  A  última  decisão,  portanto,  i.e.,  a  do  recurso,  é  que
prevalecerá.
Para  que  a  substituição  ocorra,  todavia,  hão  de  ser  observados  alguns
requisitos:
o recurso deverá ter sido conhecido e julgado pelo mérito; se o caso for de
não admissão do recurso, por questão preliminar, ou se o julgamento for de
anulação  do  julgado  recorrido,  não  haverá  como  o  decidido  no  recurso
substituir a decisão originária;
deverá  o  novo  julgamento  compreender  todo  o  tema  que  foi  objeto  da
decisão recorrida; se a impugnação tiver sido parcial, a substituição operará
nos limites da devolução apenas.
É irrelevante, in casu, que o recurso julgado pelo mérito tenha sido provido ou
improvido.  Em  qualquer  caso  (até mesmo  quando  de  fato  resulte  “confirmada”  a
decisão recorrida), o decidido na instância recursal é que prevalecerá e que irá fazer
coisa julgada.
É  possível,  outrossim,  que  a  mesma  matéria  seja  objeto  de  sucessivas
impugnações recursais no mesmo processo. Ocorrendo tal, cada julgamento substitui
o  precedente  e  apenas  o  último  prevalece  para  operar  a  coisa  julgada  e  para  sub-
meter-se a eventual  rescisória. No caso de a sentença  recorrida cogitar do mérito e
ter  acarretado  revogação  de  anterior  antecipação  de  tutela,  já  se  decidiu  que  a
cassação  do  julgado,  em  via  recursal,  “implica  o  restabelecimento  dos  efeitos  da
medida antecipatória”.264 Mesmo que não o diga expressamente, o efeito maior do
julgamento  substitutivo,  alcança  a  restauração  completa  do  status  quo,  inclusive  a
medida tutelar de urgência, no entendimento do TJMG.265
Efeito translativo
Por força do efeito devolutivo, em regra o recurso transfere o conhecimento da
causa  para  o  juízo  recursal  nos  limites  da  impugnação  formulada  pelo  recorrente,
1242
uma vez que se admite o ataque à decisão “no todo ou em parte” (NCPC, art. 1.002),
e  que  o  julgamento  do  tribunal  deva  substituir  a  decisão  impugnada  “no  que  tiver
sido objeto do recurso” (art. 1.008).
Reconhece-se que o  recurso, como desdobramento do direito de ação,  rege-se
pelo  princípio  dispositivo. Daí  que  cabe  à  parte  definir  o  objeto  da  impugnação,
limitando a devolução de conhecimento da causa ao tribunal àquilo que o recor-rente
lhe haja transferido por meio do efeito devolutivo.
Além, contudo, da transferência compreendida nos termos do recurso, exis-tem
matérias  de  que  o  tribunal  ad  quem  poderá  conhecer,  independentemente  da
devolução operada pela vontade impugnante do recorrente. Trata-se das questões de
ordem  pública,  como  aquelas  ligadas  às  condições  da  ação  e  aos  pressupostos
processuais, e outras que, por força de lei, os tribunais têm de apreciar e resolver ex
officio, a qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição (art. 485, § 3º).
A afetação de  tais  temas à cognição do  tribunal ad quem recebe da dou-trina a
denominação de efeito  translativo do  recurso, para diferenciar do  efeito devolutivo
provocado  pela  vontade  do  recorrente.  Enquanto  o  efeito  devolutivo  emana  do
princípio dispositivo  (que  impera  enquanto  se  acha  em  jogo  interesses disponíveis
da  parte),  o  efeito  translativo  (que  de  certa  forma  conecta-se  com  o  efeito
devolutivo)  é  uma  decorrência  direta  do  princípio  inquisitivo,  que  atua  no  direito
processual nos domínios do interesse coletivo, ultrapassando a esfera dos interesses
individuais em conflito no processo.
Essa eficácia  recursal, que é comum a  todos os  recursos,  inclusive o extraor-
dinário  e  o  especial,  faz  que,  uma  vez  conhecido  o  recurso,  o  tribunal  superior,
constatando  a  ausência  de  algum  pressuposto  processual,  de  alguma  condição  da
ação,  possa  apreciá-la  de  ofício.266  Em  outros  termos,  o  efeito  translativo,  que
amplia e complementa o efeito devolutivo, se apresenta como consectário do ca-ráter
publicista do processo contemporâneo, para permitir ao órgão de superior instância o
exame, mesmo  sem  constar  das  razões  ou  contrarrazões  recursais,  de  questões  de
ordem pública, nos termos dos arts. 485, § 3º, e 1.013, I a IV.
Não há, na Constituição  (que define os casos de admissibilidade dos  recursos
extraordinário  e  especial),  nada  que  vede  a  incidência  do  efeito  translativo  nos
domínios dos recursos excepcionais endereçados aos Tribunais Superiores. O que se
acha definido na Constituição  são os  casos de  admissibilidade de  tais  recursos. O
seu alcance e seus efeitos são matérias que se comportam na disciplina do Código de
Processo Civil e na legislação infraconstitucional que cuidam do tema.
1243
762.
O  efeito  translativo,  definido  na  lei  comum,  nada  tem  a  ver  com  o  poder  da
parte  de  definir  o  objeto  da  impugnação  recursal,  que  se  presta  para  justificar  a
exigência de prequestionamento dos temas cabíveis no objeto dos recursos especial e
extraordinário. O  efeito  em  questão  é  algo  que  existe  primariamente  na  esfera  de
atribuições  de  qualquer  órgão  jurisdicional  que  assuma  a  função  de  decidir  emqualquer processo, não importa o grau de jurisdição em que ele esteja tramitando.267
Por  isso,  “uma  vez  conhecido  o  recurso  extraordinário/especial,  poderá  o  tribunal
examinar todas as matérias que possam ser examinadas a qualquer tempo, inclusive
a prescrição, a decadência e as questões de ordem pública de que trata o § 3º, do art.
267 do CPC [NCPC, art. 485, § 3º]”.268
Embora não haja uniformidade de entendimento na jurisprudência do STF e do
STJ,  a  boa  doutrina  tem  prevalecido,  pelo menos  na  área  do STJ,  como  se  vê  do
seguinte aresto, que pode ser qualificado como emblemático:
“Em  virtude  da  sua  natureza  excepcional,  decorrente  das  limitadas
hipóteses de cabimento (Constituição, art. 105, III), o recurso especial tem
efeito  devolutivo  restrito,  subordinado  à  matéria  efetivamente
prequestionada, explícita ou implicitamente, no tribunal de origem.
2.  Todavia,  embora  com  devolutividade  limitada,  já  que  destinado,
fundamentalmente,  a  assegurar  a  inteireza  e  a  uniformidade  do  direito
federal  infraconstitucional,  o  recurso  especial  não  é  uma  via meramente
consultiva,  nem  um  palco  de  desfile  de  teses  meramente  acadêmicas.
Também na instância extraordinária o Tribunal está vinculado a uma causa
e, portanto, a uma situação em espécie (Súmula 456 do STF; Art. 257 do
RISTJ).
3. Assim, quando eventual nulidade processual ou  falta de condição
da  ação  ou  de  pressuposto  processual  impede,  a  toda  evidência,  que  o
julgamento do recurso cumpra sua função de ser útil ao desfecho da causa,
cabe  ao  tribunal,  mesmo  de  ofício,  conhecer  da  matéria,  nos  termos
previstos no art. 267, § 3º e no art. 301, § 4º do CPC. Nesses limites é de
ser  reconhecido  o  efeito  translativo  como  inerente  também  ao  recurso
especial”.269
Efeito expansivo
Outra  variação  do  efeito  devolutivo  do  recurso  é  o  denominado  efeito
expansivo,  que  é  explicitado  na  disciplina  da  apelação. O  efeito  em  questão,  que
1244
261
262
263
264
delimita a área de cognição e decisão dos Tribunais Superiores, na espécie, consiste
em  reconhecer que a devolução operada pelo  recurso “não  se  restringe às questões
resolvidas na sentença, compreendendo também as que poderiam ter sido deci-didas,
seja porque  suscitadas pelas partes,  seja porque conhecíveis de ofício  (§ 2º do art.
515/CPC) [NCPC, art. 1.013, § 2º]”.270
É possível, em doutrina, falar-se em duas dimensões para a expansão do efeito
recursal:  (i)  uma  no  plano  horizontal,  que  permite  a  abordagem  pelo  tribu-nal  ad
quem de questões novas, como as de ordem pública e os pedidos que não chegaram a
ser  enfrentados  pelo  julgado  recorrido  (art.  1.013,  §  2º);  e,  (ii)  outra  no  plano
vertical, que atinge as questões precedentes levantadas no processo e que interferem,
ou deveriam interferir, em caráter prejudicial, na decisão recorrida (art. 1.013, § 1º).
A regra cogitada foi traçada para o recurso de apelação, mas sua extensão para
os  recursos especial e extraordinário se  impõe, visto que  também nestes o  tribunal
ad quem, uma vez admitido o apelo, terá de “julgar o processo, aplicando o direito”
(NCPC, art. 1.034, caput).
Dessa  nova  disposição  legal  –  que manda  “julgar  o  processo”,  e  não  apenas
reexaminar  o  “julgamento  da  causa”  realizado  na  instância  de  origem  –,  decorre  a
necessidade de o Tribunal Superior apreciar, de ofício, os pressupostos processuais
e  as  condições  da  ação,  porque  verificada  sua  inobservância  não  será  possível  o
pronunciamento válido sobre o mérito do processo. Haverá, também, de enfren-tar e
decidir os pedidos que acaso não chegaram a ser apreciados pelo decisório recorrido,
sempre que  tal se  imponha para que a  resolução do mérito, agora a seu cargo, seja
completa. Faltando condições para que  isto  se dê, pelo menos o processo não  será
extinto na  instância  extraordinária ou  especial. Os  autos baixarão  ao  juízo  local,  a
fim  de  se  solucionarem  as  questões  remanescentes  ao  julgado  do  recurso
excepcional.271  O  tema  será  mais  extensamente  abordado  quando  se  analisar  o
recurso de apelação (item nº 767).
CPC/1973, art. 471, caput.
Mesmo no caso da apelação, o NCPC exclui do efeito suspensivo numerosas situações,
como, por exemplo, a da sentença que confirma, concede ou revoga tutela provisória e a
que julga improcedentes os embargos do executado (art. 1.012, § 1º, III e V).
CPC/1973, art. 512.
TJMG, 8ª Câm. Cível, Ap. 1.0024.08.196814-1/011, Rel. Des. Edgard Penna Amorim, ac.
1245
265
266
267
268
269
270
271
05.07.2012, DJe 17.07.2012.
TJMG, Apelação cit.
OLIVEIRA, Gleydson Kleber Lopes de. Recurso especial. São Paulo: RT, 2002, p. 342;
SOUZA,  Bernardo  Pimentel  de.  Introdução  aos  recursos  cíveis  e  à  ação  rescisória.
Brasília: Brasília Jurí-dica, 2000, p. 313; PESSOA, Roberto D’Orea. Juízo de mérito e
grau  de  cognição  nos  recursos  de  estrito  direito.  In: NERY  JR., Nelson; WAMBIER,
Teresa  Arruda  Alvim  (coords.).  Aspectos  polêmicos  e  atuais  dos  recursos  cíveis  e
assuntos afins. São Paulo: RT, 2006, v. 10, p. 502.
Em  relação  à  cognosvibilidade das questões de ordem pública no  âmbito dos  recursos
extraordinário e especial, “o quesito do prequestionamento pode ter-se por inexigível, até
em homenagem à lógica do processo e à ordem jurídica justa” (MANCUSO, Rodolfo de
Camargo. Recurso extraordinário e recurso especial. 10. ed. São Paulo: RT, 2007, p. 311).
DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de direito processual
civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais. 5. ed. Salvador:
JusPodivm, 2008, v. 3, p. 281. Nesse sentido: GOES, Gisele Santos Fernandes. Recurso
especial,  extraordinário  e  embargos  de  divergência:  efeito  translativo  ou  correlação
recursal? Revista Dialética de Direito Processual, n. 22, São Paulo, p. 64, jan. 2005.
STJ,  1ª  T., REsp  609.144/SC, Rel. Min.  Teori Albino  Zavascki,  ac.  06.05.2004, DJU
24.05.2004, p. 197. No mesmo sentido: STJ, 1ª T., REsp 109.474/DF, Rel. Min. Humberto
Gomes de Barros, ac. 09.09.1997, DJU 20.10.1997, p. 52.978.
STJ,  4ª  T.,  REsp  136.550/MG,  Rel.  Min.  Cesar  Asfor  Rocha,  ac.  23.11.1999,  DJU
08.03.2000, p. 118. No mesmo sentido: STJ, 3ª T., REsp 536.964/RS, Rel. Min. Humberto
Gomes de Barros, ac. 04.05.2006, DJU 29.05.2006, p. 230.
A apelação devolve ao  tribunal as questões  impugnadas pelas partes, as apreciadas de
ofício (questões de ordem pública) “e aquelas suscitadas e não examinadas” (STJ, 2ª T.,
REsp 1.189.458/ RJ, Rel. Min. Humberto Martins, ac. 25.05.2010, DJe 07.06.2010). Diante
de pedidos sucessivos, “o Tribunal, ao julgar a apelação, deve observar os ditames do art.
515 do CPC [NCPC, art. 1.013, § 2º], podendo examinar as teses suscitadas e discutidas
no processo, mesmo que a sentença não as  tenha  julgado por  inteiro” (STJ, 2ª T., REsp
363.655/MS, Rel. Min. Eliana Calmon, ac. 19.09.2002, DJU 16.06.2003, p. 280).
1246
763.
§ 80. A APELAÇÃO
Sumár io:  763.  Conceito.  764.  O  novo  CPC  e  a  superação  das  dificuldades
conceituais do Código anterior em relação à sentença. 765. Apelação e decisões
incidentais excluídas das hipóteses de agravo de instrumento. 766. Interposição da
apelação. 767. Efeitos da apelação. 768. Questão  relevante a  respeito do efeito
devolutivo  da  apelação  contra  sentença  terminativa.  769.  Questão  de  fato  e
questão  de  direito.  770. Vinculação  do  tribunal  ao  dever  de  julgar  o mérito  na
hipótese do § 3º do art. 1.013. 770-A. Posição consolidada do STJ. 771. Prescrição
e decadência. 772. A apelação e as nulidades sanáveis do processo. 773. Tutela
provisória e o efeito suspensivo da apelação. 774. Recebimento da apelação. 775.
A irrecorribilidade da sentença proferida em conformidadecom súmula do STJ ou
do  STF.  776.  Juízo  de  retratação:  reexame  da  matéria  decidida  na  sentença
apelada  por  ato  de  seu  próprio  prolator.  777.  Deserção.  778.  Prazo  para
interposição da apelação. 779. Interposição de apelação antes do julgamento dos
embargos de declaração. 780. Julgamento em segunda instância.
Conceito
São  sentenças  finais  ou  simplesmente  “sentenças”  são  pronunciamentos
judiciais  que  encerram  a  fase  cognitiva  do  procedimento  comum,  bem  como
extinguem  a  execução.  Distingue  a  doutrina  entre  sentença  definitiva  e  sentença
terminativa,  conforme  o  encerramento  da  relação  processual  se  dê  com  ou  sem
julgamento do mérito da causa.
O Código de 1973, em seu texto originário, unificou os conceitos de sentença e
de  recurso cabível. Se se põe  termo ao processo, haja ou não decisão do mérito, o
caso será sempre de sentença  (CPC/1973, art. 162, § 1º). E o  recurso  interponível
também  será  sempre um  só: o de  apelação  (CPC/1973,  art. 513). O Código  atual
manteve a mesma sistemática do anterior (NCPC, art. 1.009).
Apelação,  portanto,  é  o  recurso  que  se  interpõe  das  sentenças  dos  juízes  de
primeiro grau de jurisdição para levar a causa ao reexame dos tribunais do segundo
grau,  visando  a  obter  uma  reforma  total  ou  parcial  da  decisão  impugnada,272  ou
mesmo sua invalidação.
São  apeláveis  tanto  as  sentenças  proferidas  em  procedimentos  contenciosos
1247
764.
como as dos feitos de  jurisdição voluntária. Também nos procedimentos  incidentes
ou  acessórios,  como  habilitação,  restauração  de  autos  etc.,  a  apelação  é  o  recurso
cabível  contra  a  sentença  que  os  encerrar. O mesmo,  todavia,  não  ocorre  com  o
julgamento de simples incidentes do processo, a exemplo da exibição de documento
ou  coisa  e  das  tutelas  provisórias,  já  que  in  casu  ocorrem  apenas  decisões
interlocutórias.
O novo CPC e a superação das dificuldades conceituais do
Código anterior em relação à sentença
Depois da última reforma operada pela Lei nº 11.232, de 22.12.2005, o CPC de
1973 adotou como definição da sentença, em lugar de ato judicial que põe termo ao
processo, a de “ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267
e  269”. A  justificativa  para  a  nova  conceituação  adveio  da  circunstância  de  terem
sido unificados os procedimentos de conhecimento e de cumprimento da sentença, o
que  levou o  legislador a pensar que aquele ato decisório não poderia mais ser visto
como o que encerra o processo.
Esse  entendimento  tomou  como ponto de partida,  indevidamente, o objeto da
decisão,  entrando  em  colisão  com  o  sistema  recursal.  Neste,  a  apelação  não  era
usada para impugnar essa ou aquela matéria, mas toda e qualquer sentença, fosse de
mérito  ou  terminativa.  Com  a  conceituação  inovada  de  sentença,  criou--se  uma
dificuldade de custosa solução. É que nem sempre as matérias tomadas pela reforma
como  padrão  de  identificação  da  sentença  eram,  necessariamente,  solucionadas  em
ato judicial da espécie.
O novo CPC,  sem  embargo de  continuar  adotando o  caráter de procedimento
unitário para a cognição e a execução, logrou definir a sentença levando em conta as
fases  de  desenvolvimento  do  processo  unificado,  sem  embaraçar-se  com  o  objeto
decidido. Com  efeito,  para  a  lei  atual,  sentença  é  “o  pronunciamento  por meio  do
qual  o  juiz,  com  fundamento  nos  arts.  485  e  487,  põe  fim  à  fase  cognitiva  do
procedimento comum, bem como extingue a execução (art. 203, § 1º).273
Como se vê, a nova lei foi bastante clara e objetiva na conceituação. Assim, se
o  ato  decisório  é  proferido  durante  a marcha  processual,  sem  colocar  fim  à  fase
cognitiva ou à execução,  trata-se de decisão  interlocutória, que desafia o recurso de
agravo  de  instrumento. Se,  contudo,  a  decisão  finaliza  a  atividade  jurisdicional  da
primeira  instância,  é  sentença,  contra  a  qual  deve  ser  interposto  o  recurso  de
apelação.
1248
765.
766.
O entendimento é complementado pelo § 5º do art. 356,274 que determina que a
decisão  que  julga  parcialmente  o mérito,  de  forma  antecipada,  é  impugnável  por
meio  de  agravo  de  instrumento. Ou  seja,  a  decisão  que,  julgando  parcialmente  o
mérito,  não  coloca  fim  à  fase  de  cognição,  desafia  agravo  de  instrumento  e,  não,
apelação.  Ao  contrário,  a  decisão  que  extingue  o  processo  é  sempre  sentença,
apreciando ou não o mérito da causa. O recurso, portanto, será a apelação, qualquer
que sejam as questões decididas (NCPC, art. 1.009).
Apelação e decisões incidentais excluídas das hipóteses de agravo
de instrumento
O  NCPC  aboliu  a  figura  do  agravo  retido,  interposto  em  face  de  decisão
proferida pelo  juiz de primeiro grau, que, se não  fosse  reformada pelo magistrado,
era objeto de análise pelo  tribunal, caso o  recurso  fosse  reiterado em preliminar de
apelação ou de contrarrazões de apelação (art. 523 do CPC/1973).
A  nova  sistemática,  embora  semelhante  à  anterior,  afasta  a  necessidade  de
interposição  imediata  de  recurso,  para  impedir  a  preclusão.  Agora,  se  a  matéria
incidental decidida pelo magistrado a quo não constar do rol  taxativo do art. 1.015,
que  autoriza  a  interposição  de  agravo  de  instrumento,  a  parte  prejudicada  deverá
aguardar  a  prolação  da  sentença  para,  em  preliminar  de  apelação  ou  nas
contrarrazões,  requerer  a  sua  reforma  (art. 1.009, § 1º).275 Vale dizer,  a preclusão
sobre  a  matéria  somente  ocorrerá  se  não  for  posteriormente  impugnada  em
preliminar de apelação ou nas contrarrazões.
Se  a parte prejudicada pela decisão  interlocutória  for vencida na  ação, deverá
arguir  a matéria  em  preliminar  de  apelação,  sendo  a  parte  contrária  intimada  para
contrarrazoar.  Se,  contudo,  a  sentença  lhe  for  favorável,  a  impugnação  poderá
ocorrer em sede de contrarrazões de eventual apelação interposta pela parte contrária.
Nessa  última  hipótese,  o  vencedor manejaria,  na  verdade,  um  recurso  eventual  e
subordinado, visto que só seria apreciado caso o  recurso do vencido  fosse provido
para  reformar  a  sentença.  Ou  seja,  a  impugnação  do  apelado  teria  o  papel  de
condicionar o julgamento da pretensão do apelante ao prévio exame das preliminares
suscitadas nas contrarrazões da parte vencedora no decisório de primeiro grau.
Outrossim,  para  cumprir-se  o  contraditório,  sendo  a  matéria  suscitada  em
preliminar  de  contrarrazões,  o  apelante  será  intimado  para,  em  quinze  dias,
manifestar-se a respeito (art. 1.009, § 2º).276
Interposição da apelação
1249
(a)
(b)
(c)
(d)
O  recurso  de  apelação  será  interposto  contra  a  sentença  (art.  1.009,  caput).
Como  se  viu  (itens  nos  349  e  351,  vol.  I),  a  sistemática  atual  não  classifica  a
sentença em razão do conteúdo das questões nela decididas, mas, sim, em função do
momento  no  qual  foi  proferida.  Se  a  decisão  puser  fim  à  fase  cognitiva  do
procedimento  comum  ou  extinguir  a  execução  (art.  203,  §  1º),  desafiará  apelação.
Nessa esteira, ainda que a questão decidida em sentença seja daquelas  impugnáveis
por meio  de  agravo,  nos  termos  do  art.  1.015,  do NCPC,  deverá  ser  interposto  o
recurso de apelação para discuti-la (art. 1.009, § 3º).277
Imagine-se,  assim,  que  o  juiz  tenha  cassado  a  tutela  provisória  na  própria
sentença. Muito  embora  a matéria  conste  do  inciso  I,  do  art.  1.015,  como  sen-do
impugnável por meio de agravo de instrumento, deverá ser abrangida pela apelação.
Vale  dizer,  não  haverá  interposição  de  dois  recursos  distintos  contra  a  mesma
decisão. Nesse sentido, o § 5º do art. 1.013 é expresso: “o capítulo da sentença que
confirma, concede ourevoga a tutela provisória é impugnável na apelação”.278
O apelante deve manifestar seu recurso por meio de petição dirigida ao juiz de
primeiro grau, que conterá (art. 1.010):279
os nomes e a qualificação das partes (inciso I);
a exposição do fato e do direito (inciso II);
as razões do pedido de reforma ou de decretação de nulidade (inciso III); e
o pedido de nova decisão (inciso IV).
“A apelação deve ser interposta, obrigatoriamente, por petição, não se po-dendo
considerar tal aquela que é feita por cota lançada em espaço em branco dos autos”.280
A  jurisprudência  tem,  porém,  admitido  a  interposição  do  recurso  por  tele-
grama, desde que  atendidos os  requisitos  legais. E  a Lei nº 9.800, de 26.05.1999,
franqueou, também, o uso de fac-símile (ou “fax”) para todas as petições, inclusive
as dos  recursos, desde que se  faça chegar ao  tribunal, até cinco dias depois do  fim
do  respectivo  prazo,  o  original  da  peça  retransmitida magneticamente  (ver  item  nº
338 do vol. I).
O pedido de nova decisão pode referir-se a um novo pronunciamento de mérito
favorável ao apelante, ou apenas à invalidação da sentença por nulidade. “A falta das
razões do pedido de nova decisão impede o conhecimento da apelação”.281
Quanto  ao  prazo  para  interposição  do  recurso,  o  novo Código,  na  esteira  do
anterior, pôs fim à controvérsia que existia sobre o tema. Não basta ser despa-chada
1250
767.
a petição dentro do prazo legal. É preciso que o recurso seja protocolado no Cartório
dentro do citado prazo. Se foi submetida a prévio despacho do juiz, é indispensável
que seja entregue em cartório antes do vencimento do prazo de recurso (NCPC, art.
1.003, § 3º).282
Documentos, em regra, só poderão acompanhar a petição da apelação, ou suas
contrarrazões,  quando  se  destinarem  a  provar  fatos  novos,  dentro  da  exceção
permitida pelos arts. 435 e 1.014.283
A doutrina preconizava que “nessa hipótese e somente nela é  lícito ao apelante
que  já  era  parte  no  processo  produzir  documentos  com  a  interposição  do  recurso.
Documentos que se refiram a fatos já alegados perante o órgão a quo devem ter sido
juntos  aos  autos  pelas  partes  nas  oportunidades  próprias,  consoante  as  regras  dos
arts. 434 e 435 do NCPC.284 O  terceiro prejudicado que apela, naturalmente, pode
sempre  instruir  o  recurso  com  os  documentos  de  que  disponha:  visto  que  não  era
parte, não teve qualquer oportunidade anterior de produzir prova, e contra ele não se
operou preclusão”285 (veja-se o nº 732 do vol. I).
A jurisprudência atual, todavia, adota posição mais liberal, entendendo que “as
restrições dos arts. 396 e 397  [NCPC, arts. 434 e 435]  só  se aplicam, a  rigor aos
documentos  tidos  como  pressupostos  da  causa,  de  sorte  que  quanto  aos  demais
podem  ser produzidos a qualquer  tempo, desde que não haja má-fé e  se  respeite a
regra do contraditório”.286
Efeitos da apelação
A apelação tem, ordinariamente, duplo efeito: o devolutivo e o suspensivo.
I – Efeito devolutivo
“A  apelação  devolverá  ao  tribunal  o  conhecimento  da  matéria  impugnada”
(NCPC,  art. 1.013,  caput).287 Visa  esse  recurso  a  obter  um  novo  pronunciamento
sobre a causa, com reforma total ou parcial da sentença do juiz de primeiro grau. As
questões de fato e de direito  tratadas no processo, sejam de natureza substancial ou
processual, voltam a ser conhecidas e examinadas pelo tribunal.
A apelação, no entanto, pode ser parcial ou total, conforme a impugnação atinja
toda a sentença ou apenas parte dela. Sendo parcial, a devolução abrangerá apenas a
matéria impugnada.288
Nem mesmo  a  circunstância  de  se  tratar  de matéria  de  ordem  pública  deve
ensejar  reexame  livre pela  instância  recursal. Se o  tema corresponde a um capítulo
distinto da  sentença e o  recurso ataca apenas outro capítulo, não  se pode deixar de
1251
reconhecer a  formação de coisa  julgada a  impedir o  rejulgamento pelo Tribunal no
tocante ao que não foi objeto de recurso. A matéria de ordem pública se devolve por
força de profundidade do efeito da apelação, quando figura como antecedente lógico
do  tema  deduzido  no  recurso  e,  quando,  além  disso,  não  esteja  afetada  pela  coisa
julgada.  É  importante  ter  em  conta  que  o  recurso  pode  compreender,  em
profundidade,  matérias  prejudiciais  não  tratadas  na  impugnação  formulada  pelo
recorrente. Não pode, todavia, desempenhar função rescisória diante dos capítulos da
sentença  já  transitados  em  julgado, mesmo  que  esteja  em  jogo  questão  de  ordem
pública,  pois  as  decisões  em  torno  de  questões  dessa  natureza  não  são  imunes  ao
princípio da coisa julgada.
Dentro  do  âmbito  da  devolução,  o  tribunal  apreciará  todas  as  questões  sus-
citadas  e  discutidas  no  processo,  ainda  que  não  tenham  sido  solucionadas  pela
sentença  recorrida, desde que  relativas ao capítulo  impugnado  (art. 1.013, § 1º).289-
290
Em matéria  de  efeito  devolutivo,  portanto,  urge  fazer  uma  distinção  entre  a
extensão e a profundidade da devolução:
(a) A extensão é limitada pelo pedido do recorrente, visto que nenhum  juiz ou
órgão  judicial pode prestar a  tutela  jurisdicional  senão quando  requerida pela parte
(art.  2º);291  por  isso,  o  art.  1.013  afirma  que  a  apelação  devolverá  ao  tribu-nal  a
“matéria impugnada”, o que quer dizer que, em seu julgamento, o acórdão deverá se
limitar a acolher ou rejeitar o que lhe for requerido pelo apelante (por exemplo: se se
requereu  a  reforma  parcial,  não  poderá  haver  a  reforma  total;  se  pediu  a
improcedência da demanda, não se poderá decretar a prescrição, contra a vontade do
apelante;  se pediu apenas a prescrição, não caberá a  improcedência da causa;  se  se
pediu  para  excluir  juros,  não  se  poderá  cancelar  correção monetária  ou multa,  e
assim por diante.
(b)  A  profundidade  abrange  os  antecedentes  lógico-jurídicos  da  decisão
impugnada,  de maneira  que,  fixada  a  extensão  do  objeto  do  recurso  pelo  reque-
rimento formulado pela parte apelante, todas as questões suscitadas no processo que
podem  interferir  assim  em  seu  acolhimento  como  em  sua  rejeição  terão  de  ser
levadas em conta pelo tribunal (art. 1.013, § 1º).292
Nessa ordem de ideias, qualquer que seja o pedido do recorrente, terá sempre o
tribunal  possibilidade  de  examinar  as  questões  pertinentes  aos  pressupostos
processuais  e  às  condições da  ação, visto que  são matérias de ordem pública  con-
dicionadoras  da  formação  e  desenvolvimento  válidos  do  processo,  bem  como  de
1252
qualquer  provimento  jurisdicional  de mérito  (motivo  pelo  qual  são  conhecíveis  e
solucionáveis a qualquer  tempo e grau de  jurisdição, a requerimento de parte ou de
ofício) (art. 485, § 3º).293-294
Não  são, portanto,  apenas  as questões preliminares que  se devolvem  implici-
tamente. São, também, todas as prejudiciais de mérito propostas antes da sentença e
que deveriam influir na acolhida ou rejeição do pedido, ainda que o juiz a quo não as
tenha enfrentado ou solucionado  (art. 1.013, § 1º). É o que se passa, por exemplo,
com a cumulação de pedidos conexos e consequentes. O  juiz, negando o primeiro,
deixa  de  examinar  os  demais.  Recorrendo  a  parte  vencida  e  logrando  reformar  a
sentença para acolher o primeiro pedido,  terá o  tribunal de completar o  julgamento
decidindo  os  demais  pedidos  conexos  prejudicados  pela  decisão  de  primeira
instância.  Por  exemplo:  pedia-se,  originariamente,  a  anulação  do  contrato,  a
condenação  a  perdas  e  danos,  e  restituição  do  bem  negociado,  e  lucros  cessantes.
Como a sentença denegou a anulação, todos os demais pedidos do autor nem sequer
foram  por  ela  cogitados. Ao  tribunal,  porém,  não  é  lícito  limitar  o  julgamento  da
apelação ao tema daanulação. Se entender que é o caso de acolhê-la, terá também de
prosseguir  na  análise  das  outras  pretensões  consequenciais  (perdas  e  danos,
restituição,  lucros  cessantes),  pouco  importando  que  tais  temas  não  tenham  sido
julgados na instância de origem.
Ainda, em matéria de profundidade do efeito devolutivo, o § 2º do art. 1.013295
cuida  do  caso  de  multiplicidade  de  fundamentos  para  o  pedido.  O  juiz  acolheu
apenas  um  e  deu  pela  procedência  da  ação.  Impugnada  a  sentença  em  apelação,  o
tribunal pode reconhecer a procedência do apelo quanto ao fundamento da sen-tença,
mas  deixar  de  dar-lhe  provimento,  porque  a  matéria  não  acolhida  pelo  juiz  de
primeiro  grau  se  apresenta  suficiente  para  assegurar  a  procedência  da  ação.  O
mesmo  pode  acontecer,  também,  com  a  defesa,  quando  se  fundamente  em  razões
múltiplas e seja acolhida em face de apenas uma delas.296
(c) Efeito  translativo: competência originária do  tribunal para  julgar  em  ins-
tância única o mérito da causa
Se o juiz extingue o processo sem julgamento de mérito, naturalmente o objeto
da  sentença  ficou  restrito  a  questão  preliminar. Recorrendo  a  parte  para  impugnar
tão somente o conteúdo do decisório de primeiro grau, não poderia, a nosso ver, o
tribunal, depois de cassada a sentença, passar a julgar o mérito da causa, sem que a
parte o  tivesse  requerido. Aí  já não  se  trataria de  se aprofundar no  julgamento das
questões  que  lhe  foram  devolvidas  pelo  recurso,  mas  de  ampliar  o  seu  objeto,
dando-lhe extensão maior do que lhe emprestara o requerimento da parte.
1253
Sempre entendemos que era preciso estar atento para não ofender o princípio da
disponibilidade  da  tutela  jurisdicional  e  o  da  adstrição  do  julgamento  ao  pedido
(princípio da congruência).
Entretanto, o § 3º do art. 1.013 permite que o  tribunal, ao  julgar o  recurso de
apelação, decida desde  logo o mérito da causa,  sem aguardar o pronunciamento do
juízo  de  primeiro  grau,  quando:  (i)  reformar  sentença  que  não  tenha  resolvido  o
mérito; (ii) decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites
do  pedido  ou  da  causa  de  pedir;  (iii)  constatar  a  omissão  no  exame  de  um  dos
pedidos;  e  (iv)  decretar  a  nulidade  por  falta  de  fundamentação.  Tal  técnica  se
estendeu  para  o  caso  de  o  tribunal  reformar  a  sentença  que  houver  reconhecido  a
decadência  ou  a  prescrição,  quando  for  possível  o  exame  das  demais  questões
debatidas, sem retorno do processo ao juízo de primeiro grau (art. 1.013, § 4º).297-298
Isso,  porém,  ainda  sob  nosso  ponto  de  vista,  não  queria  dizer  que  a  questão  de
mérito  não  suscitada  na  apelação  pudesse  ser  inserida  de  ofício  pelo  tribunal  no
julgamento do recurso. O objeto do recurso quem define é o recorrente. Sua exten-
são mede-se pelo pedido nele formulado. A profundidade da apreciação do pedido é
que  pode  ir  além  das matérias  lembradas  nas  razões  recursais;  nunca,  porém,  o
próprio objeto do apelo. No entanto, como  já  informamos, o entendimento do STJ,
formado no  regime do Código de 1973, era muito  liberal ao permitir o  julgamento
do mérito no caso ora em apreciação e, ao que parece, o NCPC  inclina-se pela  tese
do  julgamento da  “causa madura”,  sem  expressa  exigência de  esgotamento do pri-
meiro grau de  jurisdição, a seu respeito. Entretanto, continuávamos pensando que a
exegese  da  regra  legal merecia  uma  releitura  em  face  das  normas  fundamentais,
como intentávamos demonstrar no item nº 770 adiante.
(d) Vedação de suscitar  novas questões de fato
Quanto às questões de fato, a regra é que a apelação fica restrita às alegadas e
provadas no processo antes da sentença. O recurso devolve o conhecimento da causa
tal qual foi apreciada pelo juiz de primeiro grau. Pode, todavia, ter ocorrido impos-
sibilidade de suscitação do fato pelo interessado, antes da sentença. Assim provada a
ocorrência de força maior, poderá o apelante apresentar fato novo perante o tribunal
(art. 1.014).299 Caberá, todavia, ao recorrente provar não só o fato como o motivo de
força maior que o impediu de argui-lo no momento processual adequado.300
Não cabe ao juiz a quo interferir na questão do fato novo, nem impedir a subida
do recurso que nele se baseie. A questão será inteiramente apreciada e decidida pelo
tribunal ad quem.
1254
(a)
(b)
(c)
(d)
(e)
(f)
(e) A reformatio in pejus não é admitida, embora omisso o Código. A dou-trina
é uniforme em repelir o julgamento do tribunal que piore a situação do apelante, sem
que tenha a outra parte também recorrido. Como lembra Rogério Lauria Tucci, “não
se  pode  perder  de  vista  que,  tanto  quanto  o  juiz  de  primeira  instância,  o  órgão
colegiado de segundo grau, apesar de  investido dos mesmos poderes para conhecer
do processo e da  lide, não pode manifestar-se sobre o que não constituía objeto do
pedido – do ‘pedido de nova decisão’... e, outrossim, que, com a instituição do apelo
incidental sob a rubrica de recurso adesivo, previsto no art. 500... [NCPC, art. 997],
já não mais pode subsistir qualquer dúvida sobre a vedação da  reforma para pior”,
pois, como observa Barbosa Moreira, “a  função do  recurso adesivo é  justamente a
de levar ao conhecimento do tribunal matéria que, só por força do recurso principal,
não se devolveria”.301 Sobre a parte da sentença que não  foi objeto de  recurso pelo
adversário do apelante, e que even-tualmente poderia ser alterada em prejuízo deste,
incidiu  a  coisa  julgada,  diante  de  inércia  daquele  a  que  a  reforma  da  sentença
favoreceria. Assim, não há que  se pensar  em  reformatio  in pejus,  já que qualquer
providência dessa natureza esbarraria na res iudicata.
II – Efeito suspensivo
A  apelação  normalmente  suspende  os  efeitos  da  sentença,  seja  esta  condena-
tória, declaratória ou constitutiva. “Efeito suspensivo, assim, consiste na suspensão
da eficácia natural da sentença, isto é, dos seus efeitos normais”.302
Via  de  regra,  a  apelação  tem  o  duplo  efeito  suspensivo  e  devolutivo.  Há
exceções, no entanto. O § 1º do art. 1.012303 enumera seis casos em que o efeito de
apelação  é  apenas  devolutivo,  de  maneira  que  é  possível  a  execução  provisória
enquanto estiver pendente o recurso. Assim, será recebida só no efeito devolutivo a
sentença que:
homologa a divisão ou demarcação de terras (inciso I);
condena a pagar alimentos (inciso II);
extingue  sem  resolução do mérito ou  julga  improcedentes os embargos do
executado (inciso III);
julga procedente o pedido de instituição de arbitragem (inciso IV);
confirma, concede ou revoga tutela provisória (inciso V);
decreta a interdição (inciso VI).
Mesmo  nas  hipóteses  expressamente  previstas  em  que  a  apelação  tem  efeito
1255
(a)
(b)
768.
apenas devolutivo, diante das particularidades da causa, demonstrando o apelante a
probabilidade  de  provimento  do  recurso,  evidenciada  pela  relevância  de  sua  fun-
damentação,  e havendo  risco de dano grave ou de difícil  reparação, pode o  relator
determinar  a  suspensão  da  eficácia  da  sentença  (art.  1.012,  §  4º).304 Para  tanto,  o
apelante formulará o requerimento em petição separada, com a seguinte destinação:
o pedido será dirigido ao tribunal, se feito no período compreendido entre a
interposição  da  apelação  e  sua  distribuição. Nessa  hipótese,  será  sorteado
um relator para apreciá-lo, ficando ele prevento para a apelação;
endereçar-se-á  ao  relator  da  apelação,  se  já  distribuída  no  tribunal  (art.
1.012, § 3º).305
O pedido de  suspensão  terá de demonstrar:  (i) a probabilidade de provimento
do recurso; e (ii) a ocorrência de risco de “dano grave ou de difícil reparação” (§ 4º).
Em outros termos, caberá ao apelante demonstrara configuração do fumus boni iuris
e do periculum in mora, em grau que não permita aguardar o normal julgamento do
recurso.
Nos  casos  em  que  a  apelação  não  é  recebida  no  efeito  suspensivo,  o  apelado
poderá  promover  o  pedido  de  cumprimento  provisório  do  julgado,  logo  após  a
publicação da sentença (art. 1.012, § 2º).306
Questão relevante a respeito do efeito devolutivo da apelação
contra sentença terminativa
Conforme visto no item nº 767 retro, o § 3º do art. 1.013 do NCPC, a exemplo
do  que  já  ocorria  no Código  de  1973  (art.  515,  §  3º),  permite  que  o  tribunal,  ao
julgar o  recurso de apelação, decida desde  logo o mérito da causa,  sem aguardar o
pronunciamento  do  juízo  de  primeiro  grau,  quando:  (i)  reformar  sentença que não
tenha  resolvido  o  mérito;  (ii)  decretar  a  nulidade  da  sentença  por  não  ser  ela
congruente com os limites do pedido ou da causa de pedir (sentenças ultra ou extra
petita);  (iii)  constatar  a  omissão  no  exame  de  um  dos  pedidos;  e  (iv)  decretar  a
nulidade por  falta de  fundamentação. Essa  técnica  também se estendeu para o caso
de  o  tribunal  reformar  a  sentença  que  houver  reconhecido  a  decadência  ou  a
prescrição, quando for possível o exame das demais questões debatidas, sem retorno
do processo ao juízo de primeiro grau (art. 1.013, § 4º).
O novo Código, destarte, ampliou a possibilidade de  julgamento de mérito da
causa pelo tribunal, bastando que esta esteja “em condições de imediato julgamento”.
1256
É  o  que  se  costuma  chamar  de  “causa madura”,  entendida  como  tal  aquela  cujo
objeto  já  foi suficientemente debatido na  instância de origem, mesmo que nela não
se tenha decidido o mérito.
Não basta, portanto, que a questão de mérito a decidir seja apenas de direito; é
necessário que o processo esteja maduro para a solução do mérito da causa. Mesmo
que não haja prova a ser produzida, não poderá o Tribunal enfrentá-lo no julgamento
da  apelação  formulada  contra  a  sentença  terminativa,  se  uma  das  partes  ainda  não
teve  oportunidade  processual  adequada  para  debater  a  questão  de mérito.  Estar  o
processo  em  condições  de  imediato  julgamento  significa,  em  outras  palavras,  não
apenas envolver o mérito da causa questão só de direito que se deve levar em conta,
mas  também  a necessidade de  cumprir o  contraditório. Tomem-se  como  exemplos
os  casos  de  extinção  por  indeferimento  da  inicial,  ou  os  ocorridos  na  fase  de
saneamento antes de completar o debate sobre o mérito e sobre as provas cabíveis.
Em casos como estes, obviamente, o processo não  terá ainda alcançado o momento
apropriado  para  o  julgamento  do mérito.  Os  autos  terão  de  retornar  ao  juízo  de
origem a fim de que o debate e a instrução probatória se completem.
Se,  todavia, o debate  amplo  já  se deu  em primeiro grau  entre os  litigantes, o
Tri-bunal estará em condições de  julgar o mérito, e deverá  fazê-lo, sempre que  for
afastada a preliminar causadora da sentença  terminativa, e que a parte  interessada o
requeira.
Nisso não há ofensa à garantia do duplo grau de  jurisdição, mesmo porque  tal
garantia  não  é  absoluta  nem  figura  expressamente  entre  as  que  a  Constituição
considera inerentes ao devido processo legal.307
O NCPC  incluiu, expressamente, em  tal possibilidade, as sentenças  incomple-
tas, como as citra petita e as que acolhem preliminar de mérito, sem solucionar as
demais questões de fundo propostas pelas partes (art. 1.013, § 3º, II). Se o tribunal
está autorizado a  julgar o mérito da causa, quando o  juiz extingue o processo  sem
apreciá-lo,  razão  não  há  para  impedi-lo  de  assim  agir  quando  o  juiz  tenha  senten-
ciado  apenas  sobre  parte  das  questões  de  fundo.  O  fim  de  economia  processual
justificador da regra do art. 1.013, § 3º, está tão presente no caso da apelação contra
sentença terminativa quanto na sentença definitiva parcial ou incompleta.
A regra estatuída pelo § 3º do art. 515 do CPC/1973, e mantida no § 3º do art.
1.013 do NCPC,  tem sido estendida analogicamente pelo STJ ao recurso ordinário,
no  caso  de  extinção  de  mandado  de  segurança  de  competência  originária  dos
tribunais de segundo grau de jurisdição.308 O STF, todavia, entende não ser aplicável
1257
769.
(a)
(b)
770.
a  medida  ao  recurso  ordinário  interposto  contra  acórdão  do  STF  em  relação  a
mandado  de  segurança,  para  prestigiar  a  competência  definida,  na  espécie,  no
próprio texto constitucional, evitando-se, assim, o salto de grau de jurisdição.309
Questão de fato e questão de direito
No regime do Código de 1973, para o mecanismo de  julgamento pelo  tribunal
sobre  o  mérito  ainda  não  resolvido  na  primeira  instância,  estabeleciam-se  dois
requisitos (art. 515, § 3º):
versar a causa apenas sobre questão de direito; e
processo maduro para julgamento de mérito.
Se houvesse instrução probatória, mesmo encerrada, não se aplicaria, portanto,
a regra do art. 515, § 3º. Haveria questão de fato a acertar, mediante apreciação do
quadro  probatório  controvertido.  Instalou-se,  entretanto,  divergência  a  respeito  da
possibilidade  de  considerar-se  questão  de  direito  aquela  estabelecida  na  causa  em
que a instrução probatória já se completara (causa madura). Para o STJ, finalmente,
na aplicação do § 3º do art. 515, “caso propiciado o contraditório e a ampla defesa,
com  regular e completa  instrução do processo, deve  [o  tribunal]  julgar o mérito da
causa, mesmo que para tanto seja necessária apreciação do acervo probatório”.310
O NCPC  não  repetiu  o  requisito  da  questão  de  direito, mantendo,  apenas,  a
necessidade de o processo estar “em condições de imediato julgamento” (art. 1.013,
§ 3º). Com isso, superada restou a divergência, prevalecendo a orientação já traçada
pelo STJ.
Vinculação do tribunal ao dever de julgar o mérito na hipótese
do § 3º do art. 1.013
À  época  do Código  de  1973,  o  §  3º  do  art.  515  dizia  que  naqueles  casos  “o
tribunal  pode  julgar  desde  logo  a  lide”.  A  inserção,  de  imediato,  gerou  séria
polêmica  entre  os  processualistas:  ao  falar  a  lei  em  “poder”  o  Tribunal,  no
julgamento da  apelação  contra  a  sentença  terminativa,  enfrentar o mérito da  causa,
estar-se-ia criando uma faculdade ou um dever para o juízo de segundo grau?
O  entendimento predominante  era no  sentido de poder-se  extrair  as  seguintes
conclusões: (i) o  referido dispositivo não criou  simples  faculdade para o Tribunal,
que  tem o dever de enfrentar o mérito da causa, quando configurados os  requisitos
1258
legais para tanto; (ii) o julgamento de mérito, no entanto, deveria ser pleiteado pelo
recorrente,  para  que  se  tornasse  objeto  da  devolução  operada  pela  apelação  ao
Tribunal ad quem.
O novo CPC aderiu à exegese dominante, uma vez que dispôs, expressamente,
no  §  3º  do  art.  1.013,  que,  “se  o  processo  estiver  em  condições  de  imediato
julgamento,  o  tribunal  deve  decidir  desde  logo  o mérito”. Não  obstante,  é  de  se
ressaltar o prestígio que o NCPC dedica aos princípios constitucionais do processo,
enunciados com ênfase no rol de suas normas fundamentais, onde merecem destaque
o princípio dispositivo  (art. 2º) e a garantia do contraditório efetivo  (arts. 9º e 10).
Com isso, veda o julgamento sobre questões não propostas pela parte e as decisões
sobre  questões  não  previamente  submetidas  à  audiência  de  ambas  as  partes,  bem
como as decisões com base em fundamento a respeito do qual não se lhes tenha dado
oportunidade de se manifestar, ainda quando se trate de matéria sobre a qual se deva
decidir de ofício.
Ora,  se  a  parte  vencida  recorre  pedindo  apenas  a  anulação  ou  cassação  da
sentença que extinguiu o processo sem apreciação do mérito, não nos parecelícito ao
tribunal o enfrentamento de questão de mérito que não  tenha  integrado o pedido do
recorrente e, por isso, não tenha passado pelo contraditório da apelação.311
Deve-se  ressaltar, sempre, que “a devolutividade da apelação e, de  resto, a de
qualquer recurso é definida pela parte recorrente”.312 Se a profundidade com que se
examinam as questões recursais é definida pela  lei (art. 1.013, § 1º), a extensão do
efeito devolutivo cabe exclusivamente à parte. “A extensão é,  repita-se,  fixada pelo
recorrente,  nas  razões  de  seu  apelo”.313 A  lei,  aliás,  exige  que  da  petição  recursal
conste  o  “pedido  de  nova  decisão”  e  “a  exposição  do  fato  e  do  direito”,  que  o
justifiquem (CPC, art. 1.010, II e IV).
Daí por que “o Tribunal, concordando ser caso de análise do mérito, somente
poderá dele conhecer após dar provimento ao apelo na parte que impugna a sentença
termi-nativa,  na  hipótese  de  o  apelante  requerê-lo  expressamente  em  suas  razões
recursais”.314
Ao  se  atribuir  ao  Tribunal,  em  exegese  ao  §  3º  do  art.  1.013,  o  poder  de
proferir decisão de mérito sobre tema (o mérito) que não foi objeto de requerimento
e  de-bate  no  procedimento  recursal,  estar-seá  afrontando  direito  das  partes,
sobretudo do litigante que vier a experimentar derrota.315
Em  sentido  contrário, pensa Cândido Dinamarco que o Tribunal, mesmo  jul-
gando o mérito  sem pedido do apelante e contra  sua posição no  litígio, não haverá
1259
770-A.
(a)
“quebra do due process of law, nem exclusão do contraditório, porque o julgamento
feito pelo Tribunal incidirá sobre o processo precisamente no ponto em que incidiria
a  sentença  do  juiz  inferior”.316  É  certo  que,  já  estando  maduro  o  processo  para
sentença de mérito, o retorno dos autos para que o juiz de primeiro grau decidisse o
mérito, não  se  reabrirá  instrução e debate no  juízo a quo. Mas a parte sucumbente
terá opor-tunidade de  rediscutir  a  causa perante o  tribunal,  enriquecendo o debate,
com nova argumentação. É certo,  também, que o duplo grau de  jurisdição pode ser
suprimido  pela  lei. Mas  isto  deverá  ser  feito  por  dispositivo  expresso  e  de  fundo
razoável. Não  é  aceitável,  todavia,  que  podendo  o  apelante  definir  a  extensão  do
recurso, venha o Tribunal a decidir questão que  intencionalmente a parte recorrente
não  quis  incluir  na  devolução  recursal.  Cabendo-lhe  o  poder  legal  de  fixar  o
conteúdo da apelação  (art. 1.013, caput), não é de aplicar-se o § 3º do mesmo art.
1.013,  quando  o  recurso  contra  a  sentença  terminativa  não  contenha  pedido  de
apreciação do mérito da causa.
Mais benemérita de acolhida se me afigura a  lição do próprio mestre Cândido
Dinamarco quando recomenda, em princípio, o prevalecimento da disposição contida
no art. 1.013 caput, em  relação  também aos casos  regidos por  seu § 3º “em nome
das  razões  sistemáticas  inerentes  à  regra  da  correlação  entre  a  decisão  e  o  pedido
(arts.  128  e  460)  [NCPC,  arts.  141  e  492]”.317 Releva  notar,  porém,  que  a Corte
Especial  do  STJ  enfrentou  e  solucionou  a  divergência  instalada  entre  a  2ª  e  a  4ª
Turma, assentando que “a regra do art. 515, § 3º, do CPC [NCPC, art. 1.013, § 3º]
deve  ser  interpretada  em  consonância  com  a preconizada pelo  art. 330,  I, do CPC
[NCPC, art. 355,  I],  razão pela qual, ainda que a questão seja de direito e de  fato,
não havendo necessidade de produzir prova (causa madura), poderá o Tribunal julgar
desde  logo  a  lide,  no  exame  da  apelação  interposta  contra  a  sentença  que  julgara
extinto o processo sem resolução de mérito”.318
Posição consolidada do STJ
Através de  julgamento da Corte Especial, o STJ consolidou seu entendimento
acerca da apelação contra sentença terminativa pronunciada diante de “causa madura”
para  enfrentamento  do mérito,  de  forma  originária  pelo  tribunal  de  segundo  grau.
Superando  todas  as  objeções  doutrinárias  lembradas  nos  itens  767  e  770,  retro,
aquela Alta Corte firmou as seguintes teses:319
“A novidade representada pelo § 3º do art. 515 do Código de Processo Civil
[§  3º  do  art.  1.013  do NCPC]  nada mais  é  do  que  um  atalho,  legitimado
1260
(b)
(c)
(d)
(e)
(f)
771.
pela  aptidão  a  acelerar  os  resultados  do  processo  e  desejável  sempre  que
isso for feito sem prejuízo a qualquer das partes”.
A medida “constituiu mais um  lance da  luta do  legislador contra os males
do  tempo e representa a ruptura com um velho dogma, o do duplo grau de
jurisdição,  que  por  sua  vez  só  se  legitima  quando  for  capaz  de  trazer
benefícios, não demoras desnecessárias”.
“Diante da  expressa possibilidade de o  julgamento da  causa  ser  feito pelo
tribunal  que  acolher  a  apelação  contra  sentença  terminativa,  é  ônus  de
ambas  as partes prequestionar  em  razões ou  contrarrazões  recursais  todos
os pontos que depois pretendam  levar ao Supremo Tribunal Federal ou ao
Superior Tribunal de Justiça. Elas o farão, do mesmo modo como fariam se
a apelação houvesse sido interposta contra uma sentença de mérito.”
Constando  o  sistema  de  norma  expressa  do  direito  positivo,  em  sua
observância  “não  se  vislumbra  o  menor  risco  de  mácula  à  garantia
constitucional do due process of law, porque a  lei é do conhecimento geral
e a ninguém aproveita a alegação de desconhecê-la, ou de não ter previsto a
ocorrência de fatos que ela autoriza (LICC, art. 3º)”.
“A doutrina admite aplicação do art. 515, § 3º, do CPC [art. 1.013, § 3º, do
NCPC] aos Agravos de Instrumento.”
“Por  fim,  de  essencial  relevância  destacar  que  a  jurisprudência  do  STJ
admite a não aplicação da  teoria da causa madura quando for prejudicada a
produção de provas pela parte de forma exauriente.”
Prescrição e decadência
À época do Código de 1973, a inovação do § 3º do art. 515 eliminava, de vez,
uma controvérsia que de  longa data  se mantinha na  jurisprudência. Questionava-se
sobre a extensão do efeito devolutivo no caso de a  sentença apelada  ter acolhido a
prescrição  ou  a  decadência.  Havia  uma  corrente  mais  volumosa  que  negava  ao
Tribunal a possibilidade de, afastada a prejudicial extintiva, prosseguir no exame de
mérito ainda não decidido em primeira instância,320 para não violar o duplo grau de
jurisdição.
A corrente minoritária, contudo, decidia que, sendo de mérito o  julgado acerca
da  prescrição  ou  da  decadência,  os  juízes  do  recurso,  ao  rejeitar  a  prejudicial,
poderiam prosseguir ao julgamento da causa.321
Após a Lei nº 10.352, de 26.12.2001, o dissídio perdeu a  razão de ser. Se até
1261
772.
no  caso  de  decisão  terminativa  o  julgamento  da  apelação  poderia  avançar  sobre  o
mérito ainda não  julgado no  juízo de origem, com muito mais  razão  seria possível
fazê-lo  diante  da  reforma  das  sentenças  baseadas  em  prejudicial  de  prescrição  e
decadência, que já pertencem ao mérito da causa.322
O  novo  Código  reforçou  esse  entendimento  esposado  ao  tempo  do  Código
anterior,  estabelecendo  no  §  4º  do  art.  1.013:  “quando  reformar  sentença  que
reconheça  a  decadência  ou  a  prescrição,  o  tribunal,  se  possível,  julgará  o mérito,
examinando as demais questões, sem determinar o  retorno do processo ao  juízo de
primeiro grau”.
Naturalmente,  será  necessário  atentar  para  o  estágio  do  processo  em  que  se
acolheu a prejudicial, bem como sobre a necessidade de provas ainda por colher para
se examinar o restante das questões de mérito. A causa pode ainda não se encontrar
madura para julgamento dessas novas questões. A lei prevê acolhida da prescrição e
da decadência até na decisão de  indeferimento da petição  inicial. Em qualquer caso
de aplicação do § 4º do art. 1.013 o Tribunal  terá de  ficar atento para não violar o
contraditório  e  nãoimpedir  o  direito  das  partes  à  ampla  defesa. Nesse  sentido,  é
importante ressaltar que o NCPC previu, na hipótese de rejeição da prescrição e da
decadência, o julgamento do mérito pelo tribunal, “se possível”, e não genericamente
em qualquer hipótese.
A apelação e as nulidades sanáveis do processo
A Lei nº 11.276, de 07.02.2006, à época do Código anterior, acrescentou o § 4º
do  art.  515  para  tentar  salvar  as  sentenças  afetadas  por  nulidades  processuais
sanáveis. Previa o dispositivo que, “constatando a ocorrência de nulidade sanável, o
tribunal poderá determinar a realização ou renovação do ato processual, intimadas as
partes;  cumprida  a  diligência,  sempre  que  possível  prosseguirá  o  julgamento  da
apelação”.
O  novo  CPC  repetiu  o  dispositivo,  ampliando  sua  aplicação  para  qualquer
recurso  ou  processo  de  competência  originária  do  tribunal,  uma  vez  que  a  regra
correspondente  está  localizada  no  Capítulo  referente  à  ordem  dos  processos  no
tribunal. Dispõe o § 1º do art. 938 que, “constatada a ocorrência de vício  sanável,
inclusive aquele que possa ser conhecido de ofício, o relator determinará a realização
ou  a  renovação  do  ato  processual,  no  próprio  tribunal  ou  em  primeiro  grau  de
jurisdição,  intimadas  as  partes”.  E  o  §  2º  determina  que,  cumprida  a  diligência,
sempre que possível, o relator prosseguirá no julgamento do recurso.
1262
773.
A  diligência  funda-se  no  princípio  de  economia  processual.  Preocupa-se  em
evitar a anulação de sentenças ou de  recursos, quando o vício detectado mostrar-se
sanável. Em  lugar  de  frustrar  o  recurso  com  a  imediata  decretação  de  nulidade,  o
tribunal  converterá  o  julgamento  em  diligência,  determinando  a  realização  do  ato
faltante  ou  a  renovação  do  ato  defeituoso,  intimando-se  as  partes  para  as
providências cabíveis.323
Somente se não for sanada a nulidade é que seu pronunciamento será feito pelo
tribunal. Superado o defeito, o  recurso será apreciado normalmente em seu mérito.
Sempre  que  possível,  portanto,  serão  evitados  a  invalidação  e  o  retrocesso  do
processo a estágios anteriores à sentença, com repetição de atos e decisões no juízo
de origem.
As  nulidades  sanáveis  de  que  cogita  o  §  2º  do  art.  938  tanto  podem  ser
suscitadas pela parte como conhecidas de ofício pelo tribunal. O que importa é a sua
sanabilidade,  a  tempo  de  salvar  a  sentença,  para  seu  reexame  no  julgamento  do
recurso que já alcançou o tribunal.
Alguns  exemplos  de  nulidades  sanáveis:  havendo  litisconsórcio  necessário,  a
sentença ou o recurso foram intimados apenas a um ou alguns deles; o advogado que
subscreveu  o  recurso  não  juntou  o  competente  substabelecimento;  o  preparo  do
recurso ficou  incompleto, mas o apelante não foi  intimado a completá-lo; o recurso
subiu  sem  ter  dado  oportunidade  ao  apelado  para  contrarrazões;  o  apelado  juntou
documento novo às contrarrazões sem ouvida do apelante; a apelação foi processada
sem que o juiz decidisse os embargos declaratórios tempestivamente interpostos etc.
Tutela provisória e o efeito suspensivo da apelação
Ao  elenco  dos  casos  em  que  a  apelação  não  tem  efeito  suspensivo  (NCPC,
art.  1.012),324  destaca-se  o  inciso  V,  que  contempla  a  sentença  que  “confirma,
concede ou revoga tutela provisória”.
Isso quer dizer que, existindo medida provisória  (conservativa, cautelar ou de
evidência)  já deferida nos moldes dos  arts. 300  e 311,  e que venha  a  ser mantida
pela sentença, a apelação terá de ser recebida apenas no efeito devolutivo, de maneira
a não pôr em dúvida a subsistência do provimento antecipatório.
O texto do art. 1.012, V, cogita da sentença que confirma, concede ou revoga a
tutela provisória. Mas não deve ser diferente o efeito da apelação em caso de a tutela
ser deferida na própria sentença. Uma vez que a tutela provisória não tem momento
prefixado em lei para deferimento, e pode acontecer em qualquer fase do processo e
1263
774.
em qualquer grau de jurisdição, não há motivo para negar ao juiz a possibilidade de
decidi-la  em  capítulo  da  própria  sentença,  desde  que  o  faça  apoiado  nos  seus
pressupostos. E, se a sentença for expressa a respeito de tal provimento, a apelação
acaso manejada haverá de ser recebida apenas no efeito devolutivo.
À época do Código anterior,  já havia  jurisprudência sobre a possibilidade de a
sentença  conter  capítulos  distintos  para  o  mérito  e  a  antecipação  de  tutela.325  O
inconveniente, não enfrentado pelo  legislador,  situava-se no aspecto dos efeitos da
apelação,  ora  devolutivo  e  suspensivo,  ora  apenas  devolutivo,  questão  essa  que
desapareceu  diante  da  inserção  do  inciso VII  no  art.  520  do  CPC/1973,  que  foi
repetido no inciso V do art. 1.012 do NCPC.326 Em qualquer caso, portanto, em que
a  sentença mantenha  (ou  defira  ou  revogue)  a  tutela  provisória,  a  apelação  não  a
suspenderá.
Não  se há, contudo, de pensar que, doravante, o  simples  fato de o  juiz  julgar
procedente uma demanda  já o  autoriza,  imediatamente,  a deferir  a  antecipação dos
efeitos  da  sentença,  sem  aguardar  o  julgamento  da  apelação  eventualmente
interposta.  Em  qualquer  circunstância  em  que  se  atenda  a  requerimento  da  tutela
provisória, ter-seá sempre de observar os requisitos dos arts. 300 e 311.
Recebimento da apelação
I – Pelo juiz de primeiro grau
A  petição  da  apelação  é  dirigida  ao  juiz  prolator  da  sentença  impugnada. No
sistema do Código anterior, ao recebê-la deveria o juiz declarar os efeitos do recurso
(art. 518). O novo Código alterou profundamente essa sistemática, uma vez que ao
juiz  de  primeiro  grau  coube,  apenas,  processar  o  recurso,  abrindo  vista  à  parte
contrária para contrarrazoar. Depois de  realizada essa  formalidade, “os autos  serão
remetidos ao tribunal pelo juiz, independentemente do juízo de admissibilidade” (art.
1.010, § 3º).327
O  recebimento da apelação e a declaração de seus efeitos, portanto, são  feitos
única e exclusivamente pelo tribunal ad quem.
Assim,  interposta  a  apelação,  o  juiz  intimará  o  apelado  para  apresentar  con-
trarrazões,  no  prazo  de  quinze  dias  (art.  1.010,  §  1º).328 Se o  recorrido  interpuser
apelação  adesiva,  o  apelante  será  intimado  para  apresentar  resposta  (art.  1.010,  §
2º).329 Realizadas essas formalidades, o juiz remeterá os autos ao tribunal (§ 3º).
Convém lembrar que uma vez prolatada a sentença e interposto o recurso, o juiz
não  tem, em  regra, como  rever ou modificar o  julgado.330 Todavia, casos especiais
1264
775.
há  em  que  o  próprio  código  permite  o  juízo  de  retratação,  como,  v.g.,  o  do
indeferimento da petição inicial (art. 331 e § 1º)331 e o da improcedência liminar do
pedido (art. 332, § 3º)332 (a respeito dessa sistemática, ver itens nos 564 a 568 do v.
I).
II – Pelo tribunal ad quem
Recebido o  recurso no  tribunal,  será ele  imediatamente distribuído ao  relator,
que deverá: (i) pronunciar-se sobre sua admissibilidade, ou não, e seus efeitos (arts.
932,  III, e 1.012, § 3º,  II);  (ii) decidi-lo monocraticamente,  se  for o caso; ou,  (ii)
elaborar  seu voto para  julgamento do  recurso pelo órgão  colegiado  (art. 1.011).333
Sobre as hipóteses em que o relator poderá julgar monocraticamente a apelação, veja
o item nº 606, retro.
Da decisão do  relator que  admite ou não o  recurso, ou que o  julga monocra-
ticamente, caberá agravo interno para o colegiado (art. 1.021).
Quanto  aos  efeitos  do  recurso,  omitindo  o  relator  declaração  a  respeito,  a
decisão que recebe a apelação deve ser tida como portadora do duplo efeito legal.334
Já se decidiu que “julgados pela mesma sentença ações conexas, uma comportando
recurso em seus dois efeitos,outra no devolutivo apenas, será aplicável o princí-pio
processual  do  maior  benefício  e,  assim,  atribuído  a  tal  recurso,  para  ambas  as
demandas,  também  o  efeito  suspensivo”.335  No  entanto,  é  mais  razoável  a  tese
segundo  a  qual  nada  impede  que  uma  decisão  recorrida  se  submeta  por  partes  a
efeitos recursais distintos. Assim, se numa só sentença são  julgadas duas causas, o
recurso  interposto  pode  suspender  o  efeito  dado  a  uma  delas  e  não  o  fazer  em
relação  a  outra,  se  diversa  é  a  eficácia  particular  que  a  lei  prevê  para  as  duas
situações congregadas: deferida, por exemplo, tutela provisória e julgada procedente,
ao mesmo tempo, a ação principal, a apelação única suspenderá a execução da parte
relativa ao mérito da causa, mas não impedirá a efetivação da medida preventiva.336
A irrecorribilidade da sentença proferida em conformidade com
súmula do STJ ou do STF
À época do Código anterior, a Lei nº 11.276, de 07.02.2006, acrescentou o § 1º
ao art. 518 do CPC/1973, adotando o princípio da denominada  súmula  impeditiva,
segundo o qual “o juiz não receberá o recurso de apelação quando a sentença estiver
em  conformidade  com  súmula  do  Superior  Tribunal  de  Justiça  ou  do  Supremo
Tribunal Federal”.337
A Exposição de Motivos do Ministro da Justiça, que acompanhou a proposta de
1265
alteração  do  art.  518  do CPC/1973,  a  justificou  como  uma  adequação  salutar  que
contribuiria para a redução do número excessivo de impugnações sem possibilidade
de êxito. Trata-se da figura que se  tornou conhecida na  linguagem processual como
“súmula  impeditiva” e que guarda uma certa simetria com a orientação da “súmula
vinculante”, preconizada pela Emenda Constitucional nº 45, de 30.12.2004.
Essa  regra não  foi mantida pelo novo CPC, mas  foi substituída pelos amplos
poderes  dados  ao  relator  no  tribunal,  dentre  os  quais  se  inclui  o  de  decidir
monocraticamente os recursos, para dar ou negar-lhes provimento, quando a decisão
recorrida  ou  o  apelo  forem  contrários  a  súmulas  do  STJ,  STF  ou  do  próprio
tribunal;  ou  a  acórdãos  proferidos  pelo  STJ  e  STF  em  julgamento  de  recursos
repetitivos;  bem  como  a  entendimento  firmado  em  incidente  de  resolução  de
demandas repetitivas ou de assunção de competência (NCPC, art. 932, IV e V).
O  raciocínio determinante  é no  sentido de que,  se  se  admite que uma  súmula
vincule  juízes  e  tribunais,  impedindo-os  de  julgamento  que  a  contrarie,  válido  é,
também,  impedir  a  parte  de  exigir,  invariavelmente,  que  a  apelação  seja  sempre
julgada  pelo  órgão  colegiado  de  segunda  instância.  O  que  se  destaca  é  a  grande
relevância  que  o NCPC  confere  à  jurisprudência  sumulada  pelos  dois mais  altos
tribunais do país. Nos dois casos está em jogo o mesmo valor, qual seja, o prestígio
da Súmula do STJ e do STF pela ordem jurídica.
Afinal, a regra dos incisos IV e V do art. 932 do NCPC não é nada mais do que
a previsão de uma hipótese de sumarização do regime do duplo grau de jurisdição. É
bom  lembrar que o  trancamento ou o provimento da apelação pelo  relator,  in casu,
pressupõe  inteira  fidelidade  da  sentença  à  súmula  do STJ,  do STF  ou  do  próprio
tribunal. É preciso que a decisão seja toda ela assentada na súmula, e não apenas em
parte, de modo que  se esta  serviu  tão  só de argumento utilizado pelo  sentenciante,
para  solucionar  parte  das  questões  deduzidas  no  processo,  havendo  outros  dados
influentes  na  motivação  do  julgado,  não  será  o  caso  de  julgar  o  recurso
monocraticamente. Fora do  tema da súmula,  restariam questões passíveis de ampla
discussão recursal, sem risco de contradizer a matéria sumulada.
Quanto à hipótese de equívoco do relator em considerar a sentença adequável ao
entendimento da súmula, não acarretará ele uma irremediável supressão do direito da
parte de  acesso  ao  colegiado. É que,  segundo o  art. 1.021 do NCPC,  cabe  agravo
interno contra a decisão monocrática proferida pelo relator.
Mediante o  adequado manejo do  agravo  interno, portanto,  a parte prejudicada
pela  equivocada  aplicação  de  súmula  para  sumarizar  a  decisão  de  segundo  grau,
1266
776.
777.
encontraria  remédio  eficiente  para  corrigir  o  error   in  iudicando  cometido
monocraticamente pelo relator e fazer chegar o apelo ao exame do órgão colegiado.
Juízo de retratação: reexame da matéria decidida na sentença
apelada por ato de seu próprio prolator
Publicada a sentença, tem-se como encerrada a tarefa de acertamento a cargo do
juiz. Torna-se, por isso, inalterável o decisório por ato do respectivo julgador, a não
ser que haja  erro material ou de  cálculo  a  corrigir ou que  tenham  sido  interpostos
embargos  de  declaração  para  eliminar  obscuridade,  contradição  ou  omissão  da
sentença (art. 494 do NCPC).338 A possibilidade de reforma do conteúdo do julgado
depende de interposição do recurso de apelação e somente competirá ao Tribunal de
segundo grau,  em  regra. O  efeito devolutivo do  recurso, na  espécie,  redundará  no
deslocamento da causa para o órgão judicante hierarquicamente superior. A apelação,
de regra, é um recurso reiterativo, e não iterativo.
Há, no entanto, alguns casos excepcionais em que,  interposta a apelação, a  lei
abre oportunidade ao juiz para rever sua sentença, podendo, assim, impedir a subida
do processo ao tribunal. Quando, por exemplo, a decisão consistir em indeferimento
da  petição  inicial,  o  art.  331  do  NCPC339  faculta  ao  juiz,  diante  da  apelação
formulada  pelo  autor,  reformar  sua  própria  sentença,  no  prazo  de  cinco  dias.
Somente se o  juízo de retratação não ocorrer é que os autos serão encaminhados ao
tribunal. Se o juiz se retratar, a apelação ficará sem objeto.
Também  na  hipótese  de  processos  seriados,  em  que  o  juiz  é  autorizado  a
proferir sentença de improcedência in limine litis do pedido, antes mesmo da citação
do  réu  (art. 332),340 há previsão  legal de que, ocorrendo  apelação do  autor,  terá o
juiz  a  faculdade  de,  em  cinco  dias,  “retratar-se”.  Nesse  caso,  determinará  o
prosseguimento do processo (art. 332, §§ 3º e 4º).341
Por  fim, o NCPC  também admitiu a  retratação do  juiz na apelação  interposta
contra a decisão que  julga o processo,  sem  resolução de mérito  (art. 485, § 7º).342
Trata-se, pois, de mais um caso em que o  juízo de  retratação em primeiro grau  se
torna possível, no curso da apelação.
Deserção
Denomina-se  deserção  o  efeito  produzido  sobre  o  recurso  pelo  não
cumprimento do requisito do preparo no prazo devido. Sem o pagamento das custas
devidas, o  recurso  torna-se descabido, provocando a coisa  julgada sobre a sentença
1267
778.
apelada.343
O art. 1.007 do NCPC344 abrandou o rigor da deserção, admitindo, inclusive, o
pagamento  em  dobro  do  preparo  e  do  porte  de  remessa  e  retorno,  quando  o
recorrente interpuser o recurso sem o seu devido recolhimento (§ 4º) (sobre o tema,
ver item nº 752 retro).
Segundo a sistemática atual, que retirou do juiz de primeiro grau a competência
para realizar, em  toda a extensão, o  juízo de admissibilidade da apelação, caberá ao
relator a decretação ou não da deserção. Poder-se-ia argumentar que, para as partes,
seria mais  fácil  que  a  análise  e  o  saneamento  da  falta  ou  deficiência  do  preparo
ficasse a cargo do  juiz a quo e, não, do relator. A  lei, no entanto, não excepcionou
nenhuma parcela do juízo de admissibilidade, relegando-o, por completo, à instância
superior. Se fosse dado ao juiz inadmitir o recurso por deserção, também teria de ser
competente  para  indeferi-lo  nos  casos  de  intempestividade  ou  de  manifesto
descabimento. Ademais,  com  a  adoção do protocolo  integrado  (art. 929, parágrafo
único), a parte não teria maior dificuldadeem regularizar o recolhimento do preparo
e  do  porte  de  remessa  e  retorno,  já  que  poderia  fazê-lo  na  comarca  de  origem  e
encaminhar  o  comprovante  ao  tribunal,  sem  necessidade  de  deslocamento  do
advogado para a capital. Por outro  lado, ao se  tolerar que o  juiz pudesse decretar a
deserção, estar-se-ia num dilema grave, pois o Código não prevê recurso contra essa
espécie de decisão,  já que não a menciona no rol do art. 1.015, e  tampouco haveria
como o apelante suscitar o questionamento em preliminar de apelação (art. 1.009, §
1º), afinal, a decisão, na espécie, seria ato posterior àquele recurso.
Prazo para interposição da apelação
O prazo  legal  é de quinze dias,  tanto para  apelar  como para  contra-arrazoar  a
apelação  (art.  1.003,  §  5º,  do NCPC).345 Em  verdade,  o NCPC  estabeleceu  prazo
único  para  todos  os  recursos,  excetuados,  apenas,  os  embargos  de  declaração. Se,
todavia, o prazo é ultrapassado em razão de obstáculo do serviço forense, não pode a
parte  ficar  prejudicada,  dado  que,  durante  o  embaraço  judicial,  não  flui  nenhum
prazo.346
O  prazo  vence-se,  outrossim,  em  cartório.  De  sorte  que,  “sem  embargo  de
haver sido despachada no prazo legal, a apelação fica prejudicada pelo retardamento
da respectiva juntada, por culpa da parte interessada”.347 Mas “não fica prejudicada a
apelação entregue em cartório no prazo legal, embora despachada tardiamente”.348
1268
779.
780.
Interposição de apelação antes do julgamento dos embargos de
declaração
Como já visto no item nº 743 retro, o STJ editou a Súmula nº 418, à época do
Código anterior,  reconhecendo  ser  inadmissível o  recurso especial  interposto antes
da  publicação  do  acórdão  dos  embargos  de  declaração,  sem  posterior  ratificação.
Muito  embora o  entendimento  sumulado versasse  sobre o  recurso  especial,  aquela
Corte Superior o aplicava indiscriminadamente, também, à apelação.349 A orientação
justificava-se pelo fato de que, à semelhança do que ocorre com o recurso especial, o
apelo dirige-se contra o pronunciamento último do juiz de primeiro grau, razão pela
qual a decisão dos embargos  integra a sentença,  fazendo-se necessária a  ratificação
da apelação.350
Ainda  à  época  do  Código  anterior,  esse  entendimento  era  questionado  pela
doutrina,  na  medida  em  que  existem  diferenças  substanciais  entre  o  objetivo  da
apelação  e do  recurso  especial, o que  afastaria  a  aplicação  analógica da Súmula  às
duas espécies recursais. Enquanto o recurso ao tribunal superior visa a estabilização
da  jurisprudência, sendo vedado o simples  reexame das provas, a apelação busca a
correção da justiça da sentença, ampliando a extensão da impugnação.
O NCPC  solucionou a controvérsia, afastando a necessidade de  ratificação de
qualquer recurso interposto antes da publicação do julgamento dos embargos, se eles
forem rejeitados ou não alterarem a conclusão do  julgamento anterior (art. 1.024, §
5º). Por outro lado, caso haja modificação da decisão recorrida, o embargado que já
tiver  interposto  outro  recurso  contra  a  decisão  originária  poderá  complementar  ou
alterar suas razões, nos exatos limites da modificação, no prazo de quinze dias (art.
1.024, § 4º).
Julgamento em segunda instância
O tribunal ad quem, antes de apreciar a apelação, deverá decidir os agravos de
instrumento porventura interpostos no mesmo processo (NCPC, art. 946).351
A  competência  funcional  para  julgar  o  recurso  é  de  câmara  ou  turma  do
tribunal, mas  o  voto  é  tomado  apenas  de  três  juízes,  que  formam  a  denominada
“turma julgadora” (art. 941, § 2º).352 Há, porém, possibilidade de o relator, em casos
de  relevante  questão  de  direito,  com  grande  repercussão  social,  sem  repetição  em
múltiplos processos, propor seja o recurso julgado por um colegiado maior previsto
no  regimento  interno,  dando  lugar  ao  incidente  de  assunção  de  competência  (art.
947) (v. o item nº 605).
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Fluxograma  nº  28 – Apelação (arts. 1.009 a 1.014)
AMARAL SANTOS, Moacyr. Primeiras  linhas de direito processual  civil.  4.  ed. São
Paulo: Max Limonad, 1973, v. III, n. 708.
CPC/1973, art. 162, § 1º.
CPC/1973, sem correspondência.
CPC/1973, sem correspondência.
CPC/1973, sem correspondência.
CPC/1973, sem correspondência.
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CPC/1973, sem correspondência.
CPC/1973, art. 514.
STJ, 1ª T., REsp 1.065.412/RS, Rel. Min. Luiz Fux, ac. 10.11.2009, DJe 14.12.2009.
STF, RE 68.710, Rel. Min. Amaral Santos, RTJ  56/112; STJ, REsp 62.466-5/RJ, Rel. Min.
Eduardo  Ribeiro,  ac.  28.08.1995,  DJU  09.10.1995,  p.  33.553;  STJ,  1ª  T.,  REsp
1.065.412/RS, Rel. Min. Luiz Fux, ac. 10.11.2009, DJe 14.12.2009.
CPC/1973, art. 506, parágrafo único.
CPC/1973, arts. 397 e 517.
CPA/1973, arts. 396 e 397.
BARBOSA MOREIRA,  José  Carlos.  Op.  cit.,  p.  206.  O  STF  decidiu  que  “a  norma
excludente  da  suscitação  de  novas  questões  de  fato,  na  apelação,  não  impede  que  se
juntem documentos às razões, para que os aprecie a instância recursal” (RE 75.946, Rel.
Min. Rodrigues Alckmin, RTJ   67/852).  “A  juntada  de  documentos  com  a  apelação  é
possível, desde que  respeitado o contraditório e  inocorrente a má-fé, com  fulcro no art.
397 do CPC [NCPC, art. 435]” (STJ, 4ª T., AgRg no REsp 785.422/DF, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, ac. 05.04.2011, DJe 12.04.2011).
STJ, 4ª T., REsp 431.716/PB, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, ac. 22.10.2002,
DJU 19.12.2002, p. 370; STJ, 4ª T., AgRg no REsp 785.422/DF, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, ac. 05.04.2011, DJe 12.04.2011.
CPC/1973, art. 515.
Se o recurso se restringe a um determinado ponto, “não é  lícito à Superior Instância se
pronunciar  sobre  assunto  extravagante  ao  âmbito  do  pedido  de  nova  decisão”  (TJMG,
Apel.  13.444,  D.  Jud. MG,  de  27.04.1960).  Pela  mesma  razão,  “não  pode  o  tribunal
pronunciar, no seu julgamento, nulidade não arguida na respectiva interposição” (STF, RE
77.360,  Rel. Min.  Xavier  de  Albuquerque,  D.  Jud. MG  de  26.04.1974).  “A  apelação
transfere  ao  conhecimento  do  tribunal  a  matéria  impugnada,  nos  limites  dessa
impugnação,  salvo matérias  examináveis  de  ofício  pelo  juiz”  (STJ, REsp  48.357/MG,
Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, ac. 13.02.1996, DJU 15.04.1996, p. 11.537). No
mesmo sentido: STJ, REsp 52.991-3/SP, Rel. Min. Barros Monteiro, ac. 04.10.1994, DJU
14.11.1994, p. 30.962; STJ, REsp 7.143-0/ES, Rel. Min. César Rocha, ac. 16.06.1993, DJU
16.08.1993,  p.  15.955;  STJ,  2ª  T.,  REsp  761.534/PR,  Rel.  Min.  Castro  Meira,  ac.
01.10.2009, DJe 09.10.2009.
CPC/1973, art. 515, § 1º.
Segundo  antigo  entendimento,  quando  o  julgamento  de  primeiro  grau  houvesse  se
restringindo  a  questões  preliminares,  não  poderia  o  tribunal,  por  força  da  apelação,
apreciar desde logo o mérito da causa, sob pena de abolir o duplo grau de jurisdição (STF,
RE 71.515, 72.352, 73.716 e Ação Resc. 1.006, RTJ  60/207, 60/828, 62/535 e 86/71; STJ,
REsp 28.515-3/RJ, Rel. Min. Dias Trindade, ac. 03.11.1992, DJU 23.11.1992, p. 21.891;
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STJ, REsp 34.391-8/RJ, Rel. Min. Hélio Mosimann, ac. 15.03.1995, DJU 03.04.1995, p.
8.122. No mesmo sentido: BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao Código
de Processo Civil, vol. V, n. 244, p. 444; MARQUES, José Frederico. Manual de direito
processual civil, vol. III, p. 620). Esse entendimento, entretanto, foi superado quando a Lei
nº 10.352/2001 acrescentou o § 3º ao art. 515 ao CPC/1973, cujo teor foi conservado pelo
NCPC, art. 1.013, § 3º. O alcance, porém, da nova regra deve ser definido em harmonia
com  o  caput  do  artigo,  onde  se  define  oobjeto  da  apelação,  cujo  conhecimento  é
devolvido  ao  tribunal.  Adiante,  no  texto  principal,  essa  harmonização  será  melhor
explicada (v. item nº 767).
CPC/1973, art. 2º.
“Por  força  da  amplitude  e  profundidade  do  efeito  devolutivo  da  apelação,  todas  as
questões suscitadas e discutidas no processo devem ser objeto de apreciação do Tribunal
quando  do  julgamento  da  apelação, mesmo  que  o  Juiz  tenha  acolhido  apenas  um  dos
fundamentos do pedido ou da defesa (art. 515, §§ 1º e 2º, do CPC) [NCPC, art. 1.013, §§ 1º
e  2º]”  (STJ,  2ª T., REsp  1.008.249/DF, Rel. Min. Eliana Calmon,  ac.  15.10.2009, DJe
23.10.2009).
CPC/1973, art. 267, § 3º.
Questões  de  ordem  pública  são  aquelas  que  envolvem  interesses  que  escapam  à
disponibilidade das partes, por afetarem “interesses públicos”, cuja inobservância conduz,
no caso do processo, a nulidades absolutas e cuja decretação independe de provocação da
parte. Podendo, ou devendo ser examinadas de ofício pelo  tribunal, há quem veja, a seu
respeito, um efeito recursal distinto do efeito devolutivo, que, por sua vez, ficaria restrito
ao pedido formulado pelo recorrente. Fala--se em efeito translativo. O problema, porém, é
apenas terminológico. Se é efeito devolutivo o fenômeno de deslocar o conhecimento da
causa, no todo ou em parte, do juízo a quo, para o tribunal ad quem, não há pecado lógico
na  inclusão  das matérias  de  ordem  pública  no  âmbito  da  devolução  de  competência
operada por força do recurso. Quando muito, se poderia especificar um efeito devolutivo
em  sentido  estrito,  compreendendo  o  pedido  formulado  pelo  recorrente  e  um  efeito
devolutivo  em  sentido  lato  abarcando,  genericamente,  a  extensão  do  conhecimento
transferido, em suas múltiplas dimensões, de modo a compreender o suscitado pela parte
e  tudo  o mais  que  a  lei  permite  ao  tribunal  apreciar,  em  razão  do  conhecimento  do
recurso. Assim, o efeito dito translativo não seria mais do que um dos aspectos do efeito
devolutivo lato sensu.
CPC/1973, art. 515, § 2º.
O exame dos “demais”  fundamentos a que alude o art. 515, § 2º, do CPC  [NCPC, art.
1.013,  §  2º],  “independe  de  recurso  próprio  ou  de  pedido  específico  formulado  em
contrarrazões”  (STJ,  1ª T., REsp  1.201.359/AC, Rel. Min. Teori Albino Zavascki,  ac.
05.04.2011. DJe 15.04.2011).
CPC/1973, sem correspondência.
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A  nova  regra  tem  evidente  caráter  de  economia  processual,  com  o  fito  de  abreviar  a
solução do processo. Também o novo Código de Processo Civil francês, de 1975, contém
norma de igual sentido (art. 568) [NCPC, art. 779].
CPC/1973, art. 517.
Quanto às questões de fato alegáveis originariamente na apelação, ou até mesmo depois
de sua interposição, devem ser incluídas as autorizadas pelo art. 462 do CPC [NCPC, art.
493], ou seja, as relativas a fato superveniente. A regra em referência é de aplicar-se não
só ao juízo de 1º grau, mas também ao tribunal (STJ, 4ª T., REsp 12.673-0/RS, Rel. Min.
Sálvio de Figueiredo, ac. 01.09.1992, RSTJ  42/352; STJ, 3ª T., REsp 75.003/RJ, Rel. Min.
Waldemar Zveiter, ac. 26.03.1996, RSTJ  87/237; STJ, 4ª T., REsp 500.182/RJ, Rel. Min.
Luis Felipe Salomão, ac. 03.09.2009, DJe 21.09.2009).
TUCCI, Rogério Lauria. Curso de direito processual – Processo civil de conhecimento-II.
São Paulo: J. Bushastsky, 1976, p. 247.
AMARAL SANTOS, Moacyr. Op. cit., n. 711.
CPC/1973, art. 520.
CPC/1973, sem correspondência.
CPC/1973, sem correspondência.
CPC/1973, art. 521.
Ainda no  regime do CPC anterior, para Bedaque, a autorização da  lei a que o  tribunal
julgue o mérito da causa – mesmo que a apelação tenha sido manifestada contra sentença
apenas  ter-minativa  –  indica  que  o  direito  positivo,  sem  ofender  o  princípio  do
contraditório,  porquanto  a  causa  já  teria  sido  suficientemente  debatida  no  juízo  de
primeiro grau, superou o rigor do duplo grau de jurisdição, excepcionalmente, “em nome
da celeridade processual”. E por ficar o tribunal autorizado a enfrentar originariamente o
mérito  da  causa,  inclusive  no  tocante  a  pedido  não  decidido  pelo  juízo  a quo,  teria  o
legislador, até mesmo, afastado, também excepcionalmente, a vedação da reformatio in
pejus: a parte que recorreu contra uma sentença terminativa pode-ria ver não só cassada a
decisão, como ainda rejeitada sua pretensão de mérito, que não fora colocada como objeto
do  recurso  (BEDAQUE,  José  Roberto  dos  Santos.  Apelação:  questões  sobre
admissibilidade  e  efeitos.  In:  WAMBIER,  Teresa  Arruda  Alvim;  NERY  JÚNIOR,
Nelson (coords.). Aspectos polêmicos e atuais dos  recursos cíveis e de outros meios de
impugnação às decisões  judiciais. São Paulo: RT, 2003, p. 454).  Já na  interpretação do
NCPC, Sandro Marcelo Kozikoski  adota  o mesmo  entendimento  de Bedaque  (O CPC
2015 e a relativização do princípio da proibição da reformatio in pejus. In: DIDIER JR.,
Fredie (coord.). Processo nos tribunais e meios de impugnação às decisões judiciais. 2. ed.
Salvador: JusPodivm, 2016, p. 648-649).
STJ, 1ª T., RMS 15.877, Rel. Min. Teori Zavascki, ac. 18.05.2004, DJU 21.06.2004, p. 163;
STJ, 5ª T., RMS 17.891, Rel.ª Min.ª Laurita Vaz, ac. 24.08.2004, DJU 13.09.2004, p. 264;
STJ, 2ª T., RMS 17.220, Rel.ª Min.ª Eliana Calmon, ac. 28.09.2004, DJU 13.02.2004, p.
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266; STJ, 1ª T., RMS 20.675/RJ, Rel. Min. José Delgado, ac. 14.03.2006, DJU 03.04.2006,
p. 225.
STF, 1ª T., RO em MS 24.789/DF, Rel. Min. Eros Grau, ac. 26.10.2004, DJU 26.11.2004,
RT  834/176;  STF,  1ª  T.,  RE  621.473,  Rel. Min. Marco  Aurélio,  ac.  23.11.2010,  DJe
23.03.2011.
STJ,  4ª  T., REsp  1.179.450/MG, Rel. Min.  Luis  Felipe  Salomão,  ac.  15.05.2012, DJe
28.05.2012, RT 926/840. No mesmo  sentido: STJ, 3ª T., AgRg no Ag 836.287/DF, Rel.
Min. Humberto Gomes  de Barros,  ac.  18.10.2007, DJU  31.10.2007,  p.  325;  STJ,  2ª T.,
REsp 797.989/SC, Rel. Min. Humberto Martins, ac. 22.04.2008, DJU 15.05.2008, LEXSTJ,
v. 227, p. 108; STJ, 5ª T., AgRg no Ag 878.646/ SP, Rel. Min. Laurita Vaz, ac. 18.03.2010,
DJe 12.04.2010; STJ, 1ª T., REsp 1.113.408/SC. Rel. Min. Luiz Fux, ac. 28.09.2010, DJe
08.10.2010; STJ, 6ª T., AgRg nos EDcl no REsp 1.142.225/ PA, Rel. Min. Sebastião Reis
Júnior, ac. 19.06.2012, DJe 29.06.2012.
“O  pedido  do  apelante  para  que  o  tribunal  julgue  o  mérito  da  causa  é  requisito
intransponível para que seja aplicado o novo § 3º do art. 515 [NCPC, art. 1.013, § 3º], sob
pena  de  violação  ao  art.  2º  do  Código  de  Processo  Civil  [NCPC,  art.  2º],  aplicado
analogicamente aos recursos. A incidência do princípio dispositivo, e consequentemente
do efeito devolutivo, neste caso é plena e obrigatória”  (JORGE, Flávio Cheim. Teoria
geral  dos  recursos  cíveis.  Rio  de  Janeiro:  Forense,  2003,  p.  268).  DIDIER  JÚNIOR,
Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de direito processual civil. Salvador:
JusPodivm, 2006, v. III, n. 4.2, p. 88.
CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Inovações no processo civil. São Paulo: Dialética,
2002, n. 6.4, p. 85.
CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Op. cit., n. 6.4, p. 85.
CUNHA, Leonardo José Carneiro Op. cit., n. 6.4, p. 85.
TUCCI,  José Rogério Cruz  e. Lineamentos  da  nova  reforma  do CPC:  Lei  10.352.  de
26.01.2001, Lei nº 10.358, de 27.12.2001. São Paulo: RT, 2002, p. 60.
DINAMARCO, Cândido Rangel. A Reforma da Reforma. São Paulo: Malheiros, 2002, p.
160.
DINAMARCO, Cândido Rangel. A Reforma da Reforma, cit., pp. 159-160. O STJ, porém,
já  decidiu  que,  à  luz  do  art.  515,  §  3º,  do  CPC,  o  tribunal  pode,  independente  de
requerimento da parte, analisar o mérito da causa, ou determinar a baixa dos autos para
que o juiz de 1º grau o faça (REsp. 657.407, 2ª T., Rel.Min. Castro Meira, ac. 21.06.2005,
DJU 05.09.2005, p. 365). No mesmo  sentido: STJ, 4ª T., REsp. 836.932/RO, Rel. Min.
Fernando  Gonçalves,  ac.  06.11.2008,  DJe  24.11.2008;  STJ,  3ª  T.,  AgRg.  no  Ag.
836.287/DF, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, ac. 18.10.2007, DJU 31.10.2007, p.
325. No sentido de ser necessário o pedido da parte: STJ, 5ª T., REsp. 645.213/SP, Rel.
Min. Laurita Vaz, ac. 18.10.2005, DJU de 14.11.2005, p. 382; STJ, 5ª T., RMS 18.910/RJ,
Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, ac. 06.09.2005, DJU de 10.10.2005, p. 398.
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STJ, Corte Especial EREsp 874.507/SC, Rel. Min. Arnaldo Esteve Lima, ac. 19.06.2013,
DJe 01.07.2013.
STJ, Corte Especial, REsp 1.215.368/ES, Rel. Min. Herman Benjamin, ac. 01.06.2016,
DJe 19.09.2016.
STJ, 1ª T., REsp 6.130-0/SP, Rel. Min. Milton Luiz Pereira,  ac. 23.08.1993, p. 16.560;
STJ, 2ª T., REsp 21.008/BA, Rel. Min. Ari Pargendler, ac. 14.03.1996, DJU 22.04.1996, p.
12.556; STJ, 4ª T., REsp 6.643/SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo, ac. 11.09.1991, RSTJ
26/445;  STJ,  5ª  T.,  REsp  97.251/SP,  Rel.  Min.  José  Dantas,  ac.  24.09.1996,  DJU
29.10.1996, p. 41.683.
STJ, 3ª T., REsp 2.306/SP, Rel. Min. Eduardo Ribeiro, ac. 19.06.1990, DJU 24.09.1990, p.
9.978;  STJ,  4ª  T.,  REsp  141.595/PR,  por maioria,  Rel. Min.  César  Asfor  Rocha,  ac.
23.11.1999, DJU 08.05.2000, p. 95.
CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Inovações no processo civil. São Paulo: Dialética,
2002,  n.  6.4,  p.  84-85; STJ,  6ª T., REsp  300.366/SC, Rel. Min. Fontes  de Alencar,  ac.
11.03.2003, DJU 06.10.2003, p. 335.
Também no atual Código de Processo Civil francês, de 1975, há regra similar à do atual §
1º  do  art.  938  de  nosso NCPC,  conferindo  ao  tribunal,  no  caso  de  reconhecimento  da
nulidade de  sentença, o poder de,  em grau de  apelação,  conhecer do pedido  e  julgar  a
causa.
CPC/1973, art. 520.
TJDF, AI 8.741/97, Rel. Des. Mário Machado, Revista  Jurídica, v. 246/74; STJ, 3ª T.,
AgRg no Ag 1.217.740/SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, ac. 17.06.2010, DJe 01.07.2010.
CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Op. cit., n. 6.6, p. 89-90.
CPC/1973, sem correspondência.
CPC/1973, art. 518, caput.
CPC/1973, sem correspondência.
STF, RE 67.311, Rel. Min. Djaci Falcão, RTJ  52/129; STJ, REsp 6.446/RJ, Rel. Min.
Dias Trindade, ac. 10.12.1990, DJU 18.02.1991, p. 1.040; 2º TACiv.-SP, Ag. 385.383/9-00,
Rel.  Juiz  João Batista  Lopes,  ac.  09.08.1993,  JTACiv.-SP  145/254;  STJ,  2ª  T.,  REsp
135.520/SP, Rel. Min. Franciulli Netto, ac. 19.04.2001, DJU 13.08.2001, p. 85.
CPC/1973, art. 296, parágrafo único.
CPC/1973, art. 285-A, § 1º.
CPC/1973, sem correspondência.
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Op. cit., n. 258.
2º TACiv.-SP, M. Seg. 3.894, Rel. Juiz Marino Falcão, RT 452/151; 1º TACiv.-SP, Ap.
711.410-7, Rel. Juiz Cyro Bonilha, ac. 11.03.1998, JTACiv.-SP 171/90.
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BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Op. cit., n. 348, p. 636. No mesmo sentido: NERY
JÚNIOR, Nelson. Código de Processo Civil comentado. 3. ed. São Paulo: RT, 1997, p.
753: “Da sentença que  julga ações conexas, para as quais estão previstos recursos com
efeitos diferentes (para uma: só devolutiva; para outra: duplo efeito), deve ser recebida
também (a apelação) com efeitos diferentes para cada capítulo. É comum o juiz julgar, na
mesma sentença, ação principal e cautelar. Como o CPC, 520, V [de 1973], prevê apenas
o efeito devolutivo da sentença da cautelar, deve receber o recurso, nessa parte, somente
no  efeito  devolutivo  e  no  duplo  efeito  na  parte  que  julgou  a  ação  principal”.  Este
entendimento  também  tem  sido  adotado  pelo  Superior  Tribunal  de  Justiça:  “Julgados
concomitantemente a ação principal e a cautelar, interposta apelação global, ao Juiz cabe
recebê-la com efeitos distintos, a correspondente medida cautelar tão somente no efeito
devolutivo (art. 520, inciso IV, do CPC [de 1973])” (REsp 81.077, 4ª T., Rel. Min. Barros
Monteiro, ac. 26.06.1996, RF 339/298). No mesmo sentido: STJ, REsp 61.609-3/MG, Rel.
Min. Eduardo Ribeiro, ac. 23.04.1996, DJU 03.06.1996, p. 19.249; STJ, 4ª T., AgRg no
REsp 707.365/ SP, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, ac. 27.09.2005, DJU 13.02.2006, p. 823.
A súmula a que se refere o § 1º do art. 518 não é necessariamente a de efeitos vinculantes
(CF, art. 103-A). Basta a existência de súmula nos moldes comuns do STF ou do STJ.
CPC/1973, art. 463.
CPC/1973, art. 296.
CPC/1973, art. 285-A.
CPC/1973, art. 511.
CPC/1973, sem correspondência.
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao Código de Processo Civil. 11. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2003, v. V, n. 219. O prazo de 10 dias, para preparo da apelação,
foi reduzido para 5 dias, pela Lei nº 6.032/1974, art. 10, II, nas causas de competência da
Justiça Federal. As custas do preparo são somente as do recurso e não todas as vencidas
no processo. Mas o recorrente está sujeito ao pagamento dos gastos de primeira e segunda
instâncias, relacionados com a  tramitação do recurso, segundo o regimento de custas, e
não  apenas os de  remessa  e  retorno dos  autos  (TJMG, AI 17.207, Rel. Des. Humberto
Theodoro). STJ, 2ª T., REsp 1.216.685/SP, Rel. Min. Castro Meira, ac. 12.04.2011, DJe
27.04.2011.
CPC/1973, art. 511.
CPC/1973, art. 508.
STJ, 2ª T., REsp 200.482/PR, Rel. Min.  João Otávio de Noronha,  ac. 01.04.2003, DJU
28.04.2003,  p.  181;  STJ,  3ª  T.,  REsp  1.191.059/MA,  Rel.ª Min.ª  Nancy  Andrighi,  ac.
01.09.2011, DJe 09.09.2011; STF, HC 48.877, Rel. Min. Thompson Flores, RTJ  63/339.
“Não  constitui motivo  relevante para  impedir o  início da  fluência do prazo  recursal  a
falha  atribuída  à  empresa  encarregada na  remessa dos  cortes do Diário Oficial”  (STJ,
REsp 155.086/RJ, Rel. Min. Barros Monteiro, ac. 03.02.1998, DJU 04.05.1998, p. 186).
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TJMG, Apel. 28.130, Rel. Des. Natal Campos, D. Jud. MG 14.02.1968; STJ, REsp 34.288-
4/PR, Rel. Min. Flaquer Scartezzini,  ac.  01.09.1993, DJU  27.09.1993,  p.  19.826.  “Não
deve ser considerada intempestiva a protocolização da Apelação, no prazo legal, em Vara
diversa do mesmo Foro, inexistindo má-fé ou intuito de conseguir vantagem processual”
(STJ, 2ª T., AgRg no Ag 775.617/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, ac. 27.05.2008, DJe
13.03.2009).
STF, Súmula nº 428.
STJ,  4ª T., REsp  659.663/MG, Rel. Min. Aldir Passarinho  Júnior,  ac.  01.12.2009, DJe
22.03.2010.
NETTO,  José  Laurindo  de  Souza;  CARDOSO,  Cassiana  Rufato.  A  ratificação  da
apelação  após  o  julgamento  dos  embargos  de  declaração:  uma  exigência  nem  sempre
necessária. Revista de Processo, n. 229, São Paulo, p. 234, mar. 2014.
CPC/1973, art. 559.
CPC/1973, art. 555, caput.
1277
781.
§ 81. AGRAVO DE INSTRUMENTO
Sumár io:  781.  Conceito.  782.  Espécies  de  agravo.  783.  Recorribilidade  das
decisões  interlocutórias. 783-A. Decisão  interlocutória e mandado de segurança.
784.  Agravo  de  instrumento.  785.  Prazo  de  interposição.  786.  Formação  do
instrumento do agravo. 787. Efeitos do agravo de instrumento. 788. Processamento
do  agravo  de  instrumento.  789.  O  contraditório.  790.  Juízo  de  retratação  do
magistrado a quo. 791. Julgamento do recurso pelo colegiado. 792. Encerramento
do feito. 793. Formação da coisa julgada antes do julgamento do agravo.
Conceito
Agravo  de  instrumento  é  o  recurso  cabível  contra  algumas  decisões
interlocutórias  (NCPC,  art.  1.015,  caput),353  ou  seja,  contra  os  pronunciamentos
judiciais de natureza decisória que não  se enquadrem no conceito de  sentença  (art.
203, § 2º).354
Sob  o  nome  de  agravo  de  instrumento,  a  redação  primitiva  do  Código  de
Processo Civil  de  1973  indicavao meio  impugnativo  das  decisões  interlocutórias
prevendo que, a requerimento da parte, o instrumento pudesse não ser formalizado e
que o  recurso  ficasse  retido nos autos, para  futura apreciação  junto com a eventual
apelação  relativa  à  sentença  da  causa. Assim,  estranhamente,  o  agravo  retido  era
regulado como espécie do agravo de instrumento.
Com a Lei nº 9.139, de 30.11.1995, o recurso em questão passou a denominar--
se, à época do Código anterior, simplesmente agravo, que admitia o processamento
sob a forma de retido ou de instrumento.
A maior inovação da lei anterior, todavia, não se deu no plano da nomenclatura
do  agravo, mas  no  seu  processamento,  quando  adotada  a  via  do  instrumento. Ao
contrário dos demais recursos que eram sempre interpostos perante o órgão judicial
responsável  pelo  ato  decisório  impugnado,  para  posterior  encaminhamento  ao
tribunal competente para revisá-lo, o agravo por instrumento deveria ser endereçado
diretamente àquele tribunal (art. 524 do CPC/1973).355
Com essa sistemática, o legislador, à época, teve em mira afastar dois grandes
inconvenientes  que  o  agravo  de  instrumento  tradicional  produzia,  com  acentuada
1278
frequência, a saber: (i) a  longa e penosa  tarefa da  formação e discussão do  recurso
em primeiro grau de  jurisdição, que  fazia que o agravo  fosse o mais complicado e
mais demorado  recurso utilizado no processo civil, em  flagrante contradição com a
natureza interlocutória das decisões por ele impugnadas; (ii) a constante necessidade
do  uso  do  mandado  de  segurança,  em  situação  totalmente  fora  de  sua  elevada
destinação  constitucional,  para  apenas  conseguir  suspender  efeitos  de  decisões
interlocutórias capazes de gerar graves e imediatos prejuízos à parte, já que o agravo
de instrumento não tinha efeito suspensivo, nem contava com um mecanismo interno
que acelerasse o conhecimento da impugnação pelo tribunal ad quem.
A partir da Lei nº 9.139/1995, o agravo de instrumento passou a ser despachado
pelo  relator,  já  em  segunda  instância,  a  ele  competindo,  liminarmente,  apreciar  o
cabimento,  quando  fosse  o  caso,  da  pretensão  do  agravante  de  obter  suspensão
imediata dos efeitos do ato impugnado (art. 527, III, do CPC/1973).
Aquilo que se buscava, penosamente, com o simultâneo manejo do recurso e do
mandado de segurança, passou a ser alcançável, prontamente, pelo simples despacho
da petição recursal, com evidente economia para a justiça e para as partes.
A modernização do agravo continuou por meio de outras alterações do Código
de 1973, operadas pelas Leis nos 10.352, de 26.12.2001,  e 11.187, de 19.10.2005.
Já, então, o que preocupava o legislador era o excesso tumultuário do uso do agravo
de  instrumento,  que,  segundo  reclamos  dos  Tribunais,  embaraçava
inconvenientemente  a  tramitação  e  julgamento  dos  demais  recursos  em  segunda
instância. As  reformas  realizadas  por meio  das Leis  nos 10.352  e 11.187  tiveram,
portanto, o explícito objetivo de reduzir os casos de agravo de instrumento, tornando
prioritário  o  agravo  retido  e  reservando  o  primeiro  apenas  para  questões  graves  e
urgentes.
O NCPC, na esteira das alterações anteriores e dos princípios da celeridade e da
efetividade  do  processo,  promoveu  outras modificações  no  recurso,  tais  como:  (i)
elaborou  um  rol  taxativo  de  decisões  que  admitem  a  interposição  do  agravo  de
instrumento (art. 1.015);356 (ii) aboliu o agravo na modalidade retida, determinando
que, para as situações não alcançáveis pelo agravo, a impugnação deverá ser feita em
preliminar de apelação ou contrarrazões de apelação, depois da sentença (art. 1.009,
§ 1º).
O agravo é, outrossim, cabível em  todo e qualquer  tipo de processo,  inclusive
no de execução, assim como no procedimento comum e nos especiais (de jurisdição
voluntária ou contenciosa).
1279
782. Espécies de agravo
I – Agravo de instrumento e agravo interno
O Código  de  1973  previa  duas modalidades  de  agravo, manejáveis  durante  a
tramitação  do  processo  em  primeiro  grau  de  jurisdição:  (i)  agravo  retido  ou  (ii)
agravo de instrumento. O NCPC, como se viu, aboliu o agravo retido, substituindo--
o pela impugnação em preliminar de apelação ou de contrarrazões de apelação (sobre
o  tema, ver  item nº 765, retro). Assim, atualmente, contra a decisão  inter-locutória
proferida pelo juiz a quo cabem o agravo de instrumento ou a apelação, conforme o
caso.
Não  é,  porém,  somente  a  decisão  interlocutória  do  juiz  de  primeira  instância
que desafia agravo. Também nos  tribunais superiores há situações em que se veri-
ficam  decisões  interlocutórias  com  previsão,  no Código,  do  cabimento  de  agravo.
Pela peculiaridade desses casos, há uma disciplina própria a ser observada (NCPC,
art.  1.021).357  A  linguagem  do  novo  Código,  para  distinguir  o  agravo  utilizável
contra decisões  singulares proferidas em  segunda  instância, passou a nominá-lo de
agravo interno.
O  Código  de  1973  admitia  o  agravo  interno  apenas  para  impugnar  algumas
poucas decisões monocráticas proferidas nos tribunais. A nova legislação ampliou a
utilização do  recurso,  admitindo-o  contra qualquer  “decisão proferida pelo  relator”
(art. 1.021, caput).
Na verdade, os agravos interponíveis perante tribunais nem sempre se limitam a
decisões  interlocutórias. Dispondo  os  relatores  de  poder  para  proferir,  em  alguns
casos,  julgamento  de mérito,  o  agravo  interno  então manejável  terá  como  objeto
decisão  que,  obviamente,  não  será  interlocutória, mas  definitiva  ou  final  (é  o  que
ocorre nas situações previstas no art. 932, III a V, do NCPC).358
II – Agravo em recurso especial e em recurso extraordinário
Ainda  nos  tribunais  há  o  agravo  em  recurso  especial  e  em  recurso
extraordinário, que não é  interno nem de  instrumento. Cabe contra certas decisões
singulares  que,  no  tribunal  de  origem,  inadmitem  os  recursos  extraordinários  e
especiais intempes-tivos ou não os excluam da retenção provocada pelos mecanismo
da  repercussão geral ou dos  recursos  repetitivos  (art. 1.042). Não é  interno porque
não  é  julgado  pelo  colegiado  local, mas  pelo  Supremo  Tribunal  Federal  ou  pelo
Superior  Tribunal  de  Justiça,  conforme  se  trate  de  recurso  extraordinário  ou  de
recurso especial. A peculiaridade desse agravo é que seu processamento se dá dentro
dos autos do processo em que o acórdão  recorrido  foi pronunciado. A exemplo do
1280
(a)
(b)
(c)
(d)
(a)
(b)
(c)
783.
que se passa com o recurso de apelação em primeiro grau, o agravo do art. 1.042359
provoca  a  subida  dos  autos  em  sua  totalidade  ao  tribunal  a  que  for  endereçado  o
recurso  (a  regra  vale  tanto  para  o  recurso  extraordinário  como  para  o  recurso
especial).
III – Casos de agravo interno
Eis alguns exemplos mais  frequentes de decisões  singulares pronunciadas em
tribunal que desafiam agravo interno:
decisão do relator que nega seguimento a recurso inadmissível, prejudicado
ou  que  não  tenha  impugnado  especificamente  os  fundamentos  da  decisão
recorrida (art. 932, III);
decisão  do  relator  que  nega  provimento  a  recurso  contrário  a  súmula  do
STF, do STJ ou do próprio tribunal (art. 932, IV, “a”);
decisão do  relator que dá provimento ao  recurso se a decisão  recorrida  for
contrária a  súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de
Justiça ou do próprio tribunal (art. 932, V, “a”).
qualquer  decisão,  no  âmbito  do  Supremo  Tribunal  Federal  e  Superior
Tribunal  de  Justiça,  proferida  por  Presidente  do  Tribunal,  de  Seção,  de
Turma,  ou  de  Relator,  que  cause  gravame  à  parte  (Lei  nº  8.038,  de
28.05.1990, art. 39).
IV – Síntese
Em  síntese,  existem  três  variações  do  agravo  noCódigo  de  Processo  Civil
atual:
o agravo de instrumento;
o agravo em recurso especial e em recurso extraordinário;
o agravo interno.
O primeiro é próprio para atacar algumas decisões interlocutórias proferidas em
primeiro  grau  de  jurisdição,  e  os  dois  últimos,  para  impugnar  decisões  singulares
ocorridas  nos  tribunais.  Observe-se  que,  nos  tribunais  não  há  agravo  contra
julgamentos de órgãos colegiados, mesmo quando decidam questões incidentais.
Recorribilidade das decisões interlocutórias
1281
É impróprio afirmar que há decisões irrecorríveis no sistema do NCPC, apenas
pelo  fato  de  ter  sido  abolido  o  agravo  retido  e  de  o  agravo  de  instrumento  não
abranger todas as decisões interlocutórias proferidas pelos juízes. Com efeito, todas
as  interlocutórias  são  passíveis  de  impugnação  recursal.  O  que  há  são  decisões
imediatamente atacáveis por agravo de  instrumento  (NCPC, art. 1.015)360 e outras
que se sujeitam, mais remotamente, ao recurso de apelação (art. 1.009, § 1º).361
De  tal  sorte  pode-se  reconhecer  que  todas  as  sentenças  desafiam  apelação  e
todas  as  decisões  interlocutórias  são  recorríveis,  ora  por  meio  de  agravo  de
instrumento, ora por meio de apelação.
Por  outro  lado,  a manifestação  recursal  contra  a  decisão  não  agravável  não  é
privativa  da  parte  vencida  e  que  tem  legitimidade  para  interpor  apelação  contra  a
sentença  definitiva  ou  terminativa  (art.  1.009,  caput). O  vencido  recorre  contra  as
decisões  interlocutórias  que,  antes  da  sentença,  lhe  foram  adversas,  por meio  de
preliminares  inseridas  na  apelação,  enquanto  ao  vencedor  é  facultado  impugná-las
nas contrarrazões (art. 1.009, § 1º).362
Quanto  ao  vencedor,  sem  embargo  de  não  lançar  mão  formalmente  de  um
recurso,  na  realidade  veicula  autêntico  recurso  por  meio  das  contrarrazões  da
apelação aforada pelo vencido.  In casu, numa  só peça o vencedor pratica dois atos
processuais:  (i)  responde  à  apelação  do  vencido;  e  (ii)  recorre  das  decisões
interlocutórias não agraváveis pronunciadas antes da sentença.363
O recurso do vencedor, todavia, não é autônomo, visto que adere à apelação do
vencido e sua apreciação, em regra, dependerá do resultado a que chegar a apelação.
Trata-se,  pois,  de  um  recurso  subordinado  e  condicionado;  i.e.,  o  interesse  do
vencedor  perdura  enquanto  subsistir  a  apelação  do  vencido.  Inadmitida  esta  ou
extinta  sem  decisão  de  seu  mérito,  desaparece  a  possibilidade  de  apreciação  da
impugnação  contida  nas  contrarrazões. Daí  falar-se  em  recurso  subordinado. Por
outro lado, se improvida a apelação, quase sempre, desaparecerá também o interesse
do vencedor na apreciação do recurso embutido nas contrarrazões, que somente fora
manifestado  levando  em  conta  a  eventualidade  de  a  sentença  ser  reformada  em
benefício  do  apelante  (ou  seja,  sob  tal  condição).  Por  isso,  se  reconhece  que  o
remédio  impugnativo  previsto  no  art.  1.009,  §  1º,  do NCPC  é,  a  um  só  tempo,
recurso subordinado e recurso condicional.364
Admite-se,  todavia,  que  em  circunstâncias  excepcionais,  possa  o  vencedor
exigir  o  julgamento  das  contrarrazões,  quando  estas  envolverem  pretensões  inde-
pendentes em face do julgamento da apelação, e cuja solução corresponda a legítimo
1282
783-A.
interesse da parte vencedora, ainda que a apelação do vencido seja desprovida.365
Decisão interlocutória e mandado de segurança
No regime primitivo do CPC de 1973, como o agravo de instrumento não tinha
efeito  suspensivo  e  sua  tramitação  era  longa  e  demorada,  tornou-se  pacífico  o
entendimento jurisprudencial de que, nos casos de urgência, o mandado de segurança
era o  remédio ao alcance da parte ameaçada de  lesão grave e  iminente para obter a
pronta suspensão dos efeitos da decisão recorrida.366
Todavia,  depois  que  o  agravo  de  instrumento  passou  a  ser  processado
diretamente no tribunal ad quem, com possibilidade de liminar de plano pelo relator,
inclusive  para  atribuir  efeito  suspensivo  ao  recurso  (CPC/1973,  art.  527,  III),
desapareceu a possibilidade de usar a ação mandamental, como antes se permitia. O
próprio recurso, desde então, contava com mecanismo expedito para atingir o efeito
suspensivo, quando necessário.367
A sistemática procedimental do agravo de instrumento continua sendo a mesma
no  Código  de  2015.  Mas,  embora  o  processamento  ainda  se  dê  diretamente  no
tribunal, surgiu um novo problema: o agravo de  instrumento não é mais admissível
perante todas as decisões interlocutórias, já que o regime do NCPC é o do casuísmo,
em  numerus  clausus.  Fora  das  hipóteses  expressamente  enumeradas  pela  lei,  as
decisões  interlocutórias não  são  impugnáveis,  senão depois da  sentença, através de
preliminar ou contrarrazões da apelação. Não há, pois, nesses casos,  recurso capaz
de  atacar,  de  imediato,  a  ilegalidade  ou  o  abuso  de  poder  praticado  em  decisão
interlocutória.
Uma  vez  que  a  Lei  nº  12.016/2009  permite  a  impetração  do  mandado  de
segurança  contra  ato  judicial  em  face  do  qual  não  caiba  recurso  com  efeito
suspensivo  (art.  5º,  II),  parece  irrecusável  o  enquadramento  das  decisões  não
agraváveis  nesse  permissivo  da  lei  especial.  De  fato,  se  o  recurso  manejável  (a
apelação) é remoto e problemático, a conclusão é de que o decisório, na verdade, não
se apresenta como passível de suspensão  imediata pela via  recursal. Logo, estando
demonstrada  a  lesão  de  direito  líquido  e  certo  da  parte,  causada  pela  decisão
interlocutória não agravável, o remédio com que o lesado pode contar será mesmo o
mandado de segurança, nos termos do art. 5º, II, da Lei nº 12.016/2009.368 Não será
admissível, dentro do processo justo e efetivo, garantido pela ordem constitucional,
deixar  desamparado  o  titular  de  direito  líquido  e  certo  ofendido  por  ato  judicial
abusivo ou ilegal. Daí o cabimento do mandamus, nos termos do direito fundamental
1283
784.
(a)
(b)
(c)
(d)
(e)
(f)
(g)
(h)
(i)
(j)
(k)
(l)
assegurado pelo art. 5º, LXIX, da Constituição.
Agravo de instrumento
O Código de 1973  impunha como regra a  interposição de agravo retido contra
as decisões interlocutórias, admitindo a modalidade de instrumento apenas quando a
decisão  fosse  suscetível  de  causar  à  parte  lesão  grave  e  de  difícil  reparação,  bem
como  nos  casos  de  inadmissão  da  apelação  e  nos  relativos  aos  efeitos  em  que  a
apelação  era  recebida  (art.  522  do  CPC/1973). A  orientação  do  novo  Código  de
Processo Civil foi diversa, na medida em que enumerou um rol taxativo de decisões
que serão impugnadas por meio de agravo de instrumento. Aquelas que não constam
dessa  lista ou de outros dispositivos esparsos do Código deverão  ser questionadas
em sede de preliminar de apelação ou contrarrazões de apelação.
Segundo o art. 1.015 do NCPC, o agravo de  instrumento  será cabível apenas
quando se voltar contra decisão que verse sobre:
tutelas provisórias (inciso I);369
mérito do processo (inciso II);370
rejeição da alegação de convenção de arbitragem (inciso III);371
incidente de desconsideração da personalidade jurídica (inciso IV);372
rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua
revogação (inciso V);373
exibição ou posse de documento ou coisa (inciso VI);374
exclusão de litisconsorte (inciso VII);375
rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio (inciso VIII);376
admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros (inciso IX);377
concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à
execução (inciso X);378
redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º (inciso XI);379outros casos expressamente referidos em lei (inciso XIII).380
Admitem,  ainda,  agravo  de  instrumento  as  decisões  proferidas  na  fase  de
liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de execu-ção e
no  processo  de  inventário  (art.  1.015,  parágrafo  único).381  Isso  porque  esses
procedimentos  terminam  por  decisões  que  não  comportam  apelação.  Assim,  as
1284
785.
interlocutórias ali proferidas não poderão ser impugnadas por meio de preliminar do
apelo ou de suas contrarrazões.
Com efeito, no processo de execução e no cumprimento de  sentença não há a
perspectiva  de  uma  nova  sentença  sobre  o mérito  da  causa,  já  que  o  provimento
esperado  não  é  o  acertamento  do  direito  subjetivo  da  parte,  mas  sua  material
satisfação, que se consumará antes de qualquer sentença, e nem mesmo a posteriori
se submeterá a uma sentença que lhe aprecie o conteúdo e validade. Daí que os atos
executivos  preparatórios  e  finais,  que  provocam  imediatamente  repercussões
patrimoniais  para  os  litigantes,  reclamam  pronta  impugnação  por  agravo  de
instrumento.
No  inventário, a fase que discute a admissão ou não de herdeiros,  termina por
decisão interlocutória e, não, por sentença. O mesmo acontece na fase de liquidação
da  sentença.  É  por  isso  que  os  incidentes  desses  dois  procedimentos  devem  ser
objeto de agravo de instrumento.
A necessidade de comprovação de  risco de  lesão grave e de difícil  reparação,
não  é mais,  no  regime  do CPC/2015,  requisito  para  o  cabimento  do  agravo.  Sua
admissibilidade ocorre pela configuração de alguma das hipóteses nele elencadas.
Prazo de interposição
O  agravo  de  instrumento  segue  o  prazo  geral  de  quinze  dias  previsto  para  a
generalidade  dos  recursos  (NCPC,  art.  1.003,  §  5º).382  A  apuração  de  sua
tempestividade  far-se-á de maneira diversa, conforme a modalidade de  interposição
escolhida pela parte. Se  for por protocolo  integrado ou direto, a petição  terá de ser
ajuizada  dentro  dos  quinze  dias,  apurados  pela  autenticação  da  entrada  no  serviço
competente. Caso se utilize o serviço postal, o  recurso será considerado  interposto
na  data  de  sua  postagem  (art.  1.003,  §  4º). Na  hipótese  de  remessa  eletrônica,  a
tempestividade  será aferida pela data em que a petição  for encaminhada por aquela
via. Se o agravante utilizar o  fac-símile,  terá que proceder à  transmissão dentro do
prazo  legal  do  recurso.  Além  disso,  a  tempestividade  do  agravo  ficará  na
dependência  de  o  original  da  petição  e  os  documentos  que  a  instruem  serem
protocolados no  tribunal até cinco dias depois de  findo aquele prazo  (Lei nº 9.800,
art. 2º).
É  interessante  notar  que  o  prazo,  como  ocorre  em  todas  as  modalidades
recursais, é peremptório e, por  isso, não  se  suspende nem  se  interrompe diante de
eventual  pedido  de  reconsideração  submetido  ao  prolator  da  decisão  recorrida. A
1285
786.
(a)
(b)
(c)
(d)
previsão  legal  de  um  juízo  de  retratação  na  espécie,  não  interfere  na  fluência  do
prazo  de  interposição  do  agravo,  porque  se  trata  de  medida  aplicável  depois  de
interposto o recurso.
Formação do instrumento do agravo
I – Conteúdo e instrução do recurso
Interposto agravo por instrumento, o recurso será processado fora dos autos da
causa onde se deu a decisão  impugnada. O  instrumento será um processado à parte
formado  com  as  razões  e  contrarrazões  dos  litigantes  e  com  as  cópias  das  peças
necessárias à compreensão e julgamento da impugnação.383 A autenticação das peças
reproduzidas no instrumento não depende de certificação do escrivão ou do chefe de
secretaria, cabendo ao próprio advogado declará-la, sob sua responsabilidade pessoal
(NCPC, art. 425, IV).384
O  recurso  será  dirigido  diretamente  ao  tribunal  competente,  por  meio  de
petição que deverá conter os seguintes requisitos (art. 1.016):385
os nomes das partes (inciso I);
a exposição do fato e do direito (inciso II);
as  razões  do  pedido  de  reforma  ou  de  invalidação  da  decisão  e  o  próprio
pedido (inciso III);
o nome e endereço completo dos advogados constantes do processo.
Atualmente,  assim  como  já  ocorria  ao  tempo  do  Código  anterior,  cabe  ao
próprio agravante obter previamente as cópias dos documentos do processo principal
que deverão  instruir o  recurso. Por  isso, a petição de agravo  será, conforme o art.
1.017,386 instruída da seguinte maneira:
(a) peças obrigatórias: (i) cópias da petição  inicial, da contestação, da petição
que  ensejou  a  decisão  agravada,  da  própria  decisão  agravada,  da  certidão  da
respectiva  intimação ou outro documento oficial que comprove a  tempestividade, e
das  procurações  outorgadas  aos  advogados  das  partes  (inciso  I).  A  novidade  do
CPC/2015 diz  respeito à possibilidade de  se  juntar “outro documento oficial” para
comprovar a tempestividade do recurso. Como, por exemplo, o protocolo do agravo
feito no prazo de quinze dia úteis a contar da data da decisão. A omissão da certidão
de intimação, nessa hipótese, é perfeitamente suprida pela força probante do próprio
protocolo. Com efeito, a  jurisprudência à época do Código anterior  já admitia essa
1286
situação, que foi apenas positivada pela nova lei;387 (ii) declaração de inexistência de
qualquer desses documentos acima referidos, feita pelo advogado do agravante, sob
pena  de  sua  responsabilidade  pessoal  (inciso  II);  (iii)  tratando-se  de  causa  de
interesse  da  Fazenda  Nacional,  admite-se  que  o  termo  de  vista  pessoal  ao  seu
procurador  possa  fazer  as  vezes  da  certidão  de  intimação  da  decisão  agravada,
atentando-se ao princípio da instrumentalidade das formas;388
(b)  peças  facultativas:  quaisquer  outras  que  o  agravante  reputar  úteis  para  a
melhor compreensão da questão discutida no agravo (inciso III).
Havendo custas e despesas de porte de retorno, será obrigatória a  instrução da
petição  de  agravo,  também,  com  o  comprovante  do  respectivo  preparo,  conforme
tabela publicada pelos tribunais (art. 1.017, § 1º).389
II – Meios para a interposição do agravo
Controlar-se-á a tempestividade do recurso pelo protocolo, pelo registro pos-tal
ou por fac-símile, conforme a via utilizada para interposição do agravo. Com efeito,
o  recurso poderá ser  interposto:  (i) por protocolo  realizado diretamente no  tribunal
competente para  julgá-lo; (ii) por protocolo na própria comarca, seção ou subseção
judiciárias  (protocolo  integrado);  (iii)  por  postagem,  sob  registro,  com  aviso  de
recebimento; (iv) por transmissão de dados tipo fac-símile, nos termos da lei; ou, (v)
por outra forma prevista em lei, como, por exemplo, por meio eletrônico, quando se
tratar  de  autos  da  espécie  (art.  1.017,  §  2º).  Essa  multiplicidade  de  formas
corresponde à intenção do Código novo de facilitar ao máximo o acesso à justiça.
Se a parte interpuser o recurso por fax, o original deverá ser juntado aos autos
até cinco dias do  término do prazo  recursal  (Lei nº 9.800, art. 2º). Os documentos
obrigatórios ao agravo somente deverão ser juntados nessa oportunidade, ou seja, no
momento do protocolo da peça original (art. 1.017, § 4º).390
Se se  tratar de autos eletrônicos, o agravante é dispensado de anexar as peças
obrigatórias,  facultando-lhe,  contudo,  anexar outros documentos não  constantes do
processo, que entender úteis para a compreensão da controvérsia (§ 5º).391
III – Vícios sanáveis ou ausência de peças obrigatórias no instrumento
Uma vez que o NCPC dá prevalência aos  julgamentos que resolvem o mérito,
em lugar de simplesmente extinguir o processo por questões formais, o art. 1.017, §
3º, determina que, antes de considerar inadmissível o recurso por ausência de peças
obrigatórias oupor algum outro vício sanável, o relator intime o recorrente para que,
em  cinco  dias:  (i)  complete  a  documentação,  ainda  que  a  falta  seja  de  peça
1287
787.
obrigatória, ou, (ii) corrija o defeito.
Entre  os  vícios  corrigíveis  a  jurisprudência  do  STJ  tem  incluído  a  falta  de
assinatura  do  advogado  na  petição  recursal,  sendo,  pois,  caso  de  “ser  concedido
prazo  para  suprimento  da  irregularidade,  conforme  art.  13,  do CPC  [NCPC,  art.
76]”.392
Efeitos do agravo de instrumento
Trata-se  de  recurso  que,  normalmente,  limita-se  ao  efeito  devolutivo:  “os
recursos  não  impedem  a  eficácia  da  decisão,  salvo  disposição  legal  ou  decisão
judicial em sentido diverso” (art. 995).393
No entanto, o efeito suspensivo poderá, em determinados casos, ser concedido
pelo relator. Dois são os requisitos da lei, a serem cumpridos cumulativamente, para
a obtenção desse benefício:  (i) a  imediata produção de efeitos da decisão  recorrida
deverá  gerar  risco  de  dano  grave,  de  difícil  ou  impossível  reparação;  e  (ii)  a
demonstração  da  probabilidade  de  provimento  do  recurso  (arts.  995,  parágrafo
único, e 1.019, I).
Na  lei anterior havia uma especificação de vários casos de presunção de  risco
de  dano  grave,  como  a  prisão  civil,  a  adjudicação  e  remição  de  bens  e  o
levantamento  de  dinheiro  sem  caução  idônea  (art.  558  do  CPC/1973). O  Código
novo não repete  tal previsão, mas é fácil entender que se  trata de casos em que não
haverá  dificuldade  maior  em  configurar  o  motivo  de  suspensão.  O  regime  atual
parece  confiar  ao  relator  a prudente  averiguação de maior ou menor  risco no  caso
concreto, sem limitá-lo ao casuísmo de um rol taxativo.
Em  outros  termos:  os  requisitos  para  obtenção  do  efeito  suspensivo  no
despacho  do  agravo  serão  os  mesmos  que,  já  à  época  do  Código  anterior,  a
jurisprudência  havia  estipulado  para  a  concessão  de  segurança  contra  decisão
judicial, na pendência de recurso com efeito apenas devolutivo: o fumus boni iuris e
o periculum in mora.394
Para  que  o  efeito  suspensivo  seja  dado,  terá  o  agravante  de  formular
requerimento ao relator, o qual poderá ser incluído na petição do agravo ou em peça
separada. A  liminar  em questão  é  ato da  exclusiva  competência do  relator que, de
plano, a concederá, ou não, ao despachar a petição do agravante (art. 1.019, caput).
O relator poderá, ainda, deferir, em antecipação de tutela, total ou parcialmente,
a pretensão  recursal  (art. 1.019,  I). Para  tanto, deverão estar presentes os mesmos
requisitos para a concessão do efeito suspensivo, quais sejam, o fumus boni iuris e o
1288
788.
periculum  in mora. Com  efeito,  não  se  pode  negar  ao  relator  o  poder  de  também
conceder  medida  liminar  positiva,  quando  a  decisão  agravada  for  denegatória  de
providência urgente e de  resultados gravemente danosos para o agravante. No caso
de denegação, pela decisão recorrida, de medida provisória cautelar ou antecipatória,
por exemplo, é inócua a simples suspensão do ato impugnado. Caberá, portanto, ao
relator  tomar  a  providência  pleiteada  pela  parte,  para  que  se  dê  o  inadiável
afastamento do risco de  lesão, antecipando o efeito que se espera do  julgamento do
mérito  do  agravo. É  bom  ressaltar  que  o  poder  de  antecipação  de  tutela  instituído
pelo  art.  300  não  é  privativo  do  juiz  de  primeiro  grau  e  pode  ser  utilizado  em
qualquer fase do processo e em qualquer grau de jurisdição. No caso do agravo, esse
poder está expressamente previsto ao relator no art. 1.019, I.
Se  for  deferido  o  efeito  suspensivo  ou  concedida  a  antecipação  de  tutela,  o
relator ordenará a imediata comunicação ao juiz da causa, para que, de fato, se suste
o cumprimento da decisão interlocutória (art. 1.019, I, in fine).
Processamento do agravo de instrumento
I – Juntada de cópia do agravo no juízo de primeiro grau
O recorrente, após encaminhar o agravo diretamente ao tribunal, requererá, em
três  dias,  a  juntada,  aos  autos  do  processo,  da  cópia  da  petição  recursal,  com  a
relação  dos  documentos  que  a  instruíram,  e,  ainda,  o  comprovante  de  sua
interposição  (art.  1.018,  caput  e  §  2º).395  Essa  diligência  não  tem  o  objetivo  de
intimar a parte contrária, porque  sua cientificação  será promovida diretamente pelo
tribunal  (art.  1.019,  II).  Sua  função  é  apenas  de  documentação  e,  também,  serve
como meio de provocar o magistrado ao juízo de retratação (art. 1.018, § 1º),396 que,
se ocorrido, tornará prejudicado o agravo.
A jurisprudência do STJ, à época do Código anterior, após uma certa oscilação,
se  fixou no sentido de considerar não prejudicial ao conhecimento do agravo o não
cumprimento  da  diligência  em  questão.397  A  Lei  nº  10.352,  de  26.12.2001,
acrescentou  um  parágrafo  ao  art.  526  do  CPC/1973  para  tornar  a  medida  nele
contida um ônus processual cuja inobservância poderia acarretar o não conhecimento
do agravo pelo tribunal.
O NCPC  ignorou  a  antiga  orientação  do  STJ,  uma  vez  que,  num  apego  ao
formalismo,  a  exemplo  da  Lei  nº  10.352,  previu,  expressamente,  que  o
descumprimento  da  juntada  em  primeiro  grau  da  cópia  do  recurso,  “importa
inadmissibi-lidade do agravo de  instrumento”. Todavia, o  rigor da  regra  formal  foi
1289
abrandado pela ressalva de que a inadmissão não poderá ser declarada de ofício pelo
relator,  já  que  ficará  condicionada  à  arguição  e  comprovação  pelo  agravado  (art.
1.018, § 3º).
II – Atos do relator
A distribuição do agravo, no tribunal, deve ocorrer incontinenti, ou seja, como
ato imediato ao protocolo ou ao recebimento do registrado postal. Quando utilizada a
via postal, o invólucro do recurso, onde se acha o registro feito pelo Correio, deverá
ser mantido nos  autos para  facilitar o  exame do  relator  sobre  a  tempestividade do
recurso. Caso não seja possível, por qualquer razão, o uso des-se meio de controle,
haverá  sempre  o  comprovante  de  remessa  cuja  juntada  aos  autos  de  origem  é
obrigatória,  nos  termos  do  art.  1.018.  Para  esse  fim  se  aplicará  ao  relator  a
obrigação de abrir prazo ao agravante para completar a demonstração dos requisitos
do recurso (art. 1.017, § 3º).
Efetuada a distribuição, os autos do agravo  serão  imediatamente conclusos ao
relator sorteado. No despacho da petição poderá ocorrer (art. 1.019):398
(a) o não conhecimento do recurso, por ser ele: (i)  inadmissível (v.g., fora do
prazo legal; ou sem o comprovante do pagamento das custas, quando for o caso; ou,
ainda, quando o ato  impugnado não  for agravável, como  se dá com o despacho de
expediente e a  sentença; enfim,  sempre que não  se puder conhecer do agravo);  (ii)
prejudicado (o agravo perdeu o objeto, em situação como a de  ter o  juiz de origem
retratado a decisão impugnada, ou por ter sido decidida questão prejudicial em outra
sede,  ou,  ainda,  por  ter  havido  desistência  do  agravante);  ou,  (iii)  não  impugnar
especificamente os fundamentos da decisão agravada (art. 932, III);
(b)  o  improvimento  do  recurso,  se:  (i)  for  ele  contrário  a  súmula  do  STF,
do STJ ou do próprio tribunal; (ii) for ele contrário a acórdão proferido pelo STF ou
STJ  em  julgamento  de  recursos  repetitivos;  ou,  (iii)  se  contrariar  entendimento
firmado  em  incidente  de  resolução  de  demandas  repetitivas  ou  de  assunção  de
competência  (art.  932,  IV). O  trancamento  do  recurso  é  permitido  não  apenas  no
despacho  da  inicial,  mas  também  posteriormente,  quando  apurado  o  fato  que
legalmente  o  autoriza,  antes  de  chegar  o  feito  ao  julgamento  do  órgão  colegiado
competente;
(c) o deferimento do processamento do agravo, caso em que, em cinco dias, o
relatordeverá:
(i)  ordenar  a  intimação  do  agravado  pessoalmente,  por  carta  com  aviso  de
recebimento, quando não  tiver procurador constituído, ou pelo Diário da Justiça ou
1290
por carta com aviso de recebimento dirigida ao seu advogado, para que respon-da no
prazo de quinze dias,  facultando-lhe  juntar a documentação que entender necessária
ao julgamento do recurso (art. 1.019, II);
(ii) determinar a  intimação do Ministério Público, preferencialmente por meio
eletrônico, quando  for o caso de  sua  intervenção, para que  se manifeste em quinze
dias (art. 1.019, III).
Havendo  requerimento  de  efeito  suspensivo,  formulado  pelo  agravante,  será,
também,  na  fase  de  despacho  da  petição  de  agravo  que  o  relator  o  apreciará  (art.
1.019, I). O relator suspenderá a decisão  impugnada, quando cabível a providência,
até  o  pronunciamento  do  colegiado  sobre  o  agravo. De  ordinário,  a  suspensão  da
decisão é  suficiente para afastar o  risco de dano, porque o ato do  juiz de primeiro
grau deixará,  temporariamente, de produzir  seus  efeitos. Mas, quando  se  tratar de
decisão negativa, será inócua sua suspensão. Aí, havendo o risco de dano grave e de
difícil reparação, justamente pela falta do deferimento, pelo juiz a quo, da pretensão
do agravante, caberá ao  relator afastar o perigo, por meio de uma  liminar positiva,
de natureza antecipatória.
Cabe também ao relator, segundo a regra geral do art. 932, V, dar provimen-to
ao  agravo,  em  decisão  singular,  quando  a  decisão  recorrida:  (i)  for  contrária  a
súmula do STF, do STJ ou do próprio  tribunal;  (ii)  for contrária a acórdão profe-
rido pelo STF ou STJ em  julgamento de recursos repetitivos; ou, (iii) se contrariar
entendimento  firmado  em  incidente  de  resolução  de  demandas  repetitivas  ou  de
assunção  de  competência.  Em  tal  hipótese,  porém,  haverá  de  ser  resguardado  o
contraditório,  mediante  prévia  intimação  do  agravado  para  responder  ao  recurso.
Sem  essa  providência,  a  decisão  singular  de  provimento  do  agravo  será  nula  por
“quebra dos princípios do contraditório e do devido processo legal”.399
Para contrabalançar os amplos poderes conferidos ao relator, o art. 1.021 prevê,
contra  suas  decisões  singulares,  o  cabimento  de  agravo  interno  para  o  órgão
colegiado competente, no prazo de quinze dias. Por outro lado, para coibir o manejo
abusivo desse agravo interno, o § 4º do referido dispositivo comina multa entre um e
cinco por  cento do valor da  causa  atualizado,  sempre que o  recurso  seja declarado
manifestamente inadmissível ou improcedente, por votação unânime do colegiado.400
A observância efetiva da sistemática de processamento e julgamento do agravo
de  instrumento  pelo  relator  tem  condições  de  proporcionar  um  significativo  passo
rumo  à  desburocratização  e  celeridade  do  processo  de  que  tanto  se  queixa  na
atualidade.
1291
789.
(a)
(b)
A possibilidade de o relator requisitar informações ao juiz da causa (CPC/1973,
art. 527, IV) não foi repetida no NCPC, certamente por considerá-la pouco relevante
para  o  julgamento  do  recurso,  diante  das  peças  que  o  instruem,  e  para  evitar
delongas  desnecessárias  ao  seu  processamento.  Diante  do  caso  concreto,  porém,
podem surgir dúvidas que justifiquem a iniciativa do relator, mesmo com o silêncio
da lei.
O contraditório
Para garantir o contraditório e o tratamento isonômico das partes, o art. 1.019,
II, prevê que o agravado  será  intimado a  responder em quinze dias, prazo  igual ao
conferido  ao  agravante  para  interpor  seu  recurso.  Na  oportunidade,  poderá  o
recorrido juntar a documentação que entender necessária ao julgamento do recurso.
Como o agravo é processado diretamente no tribunal, e, portanto, quase sempre
longe do foro onde corre o processo de origem,  instituiu a  lei duas modalidades de
intimação do advogado do agravado:
intimação pelo correio, com aviso de recebimento, sempre que se  tratar de
comarca  diversa  daquela  em  que  se  encontra  a  sede  do  tribunal,  e  cujo
expediente não seja divulgado pelo Diário da Justiça;
intimação pelo órgão da imprensa oficial, quando se tratar de processo em
curso  na  comarca  da  sede  do  tribunal  ou  em  outra  comarca,  desde  que  o
respectivo expediente seja divulgado pelo Diário da Justiça.
Se  o  agravado  ainda  não  tiver  procurador  constituído  nos  autos,  deverá  ser
intimado pessoalmente, por carta, com aviso de recebimento.
Em qualquer uma das hipóteses, o marco inicial do tempo útil de resposta será
aquele previsto na  regulamentação comum do Código  sobre a contagem de prazos:
data  da  publicação  na  imprensa  ou  juntada  do  aviso  de  recebimento  da  intimação
postal (arts. 272 e 231, I).401
Para  tornar  viável  a  sistemática,  ao  agravante  se  impôs  a  obrigação  de,  na
petição do  recurso,  indicar o nome  e o  endereço  completo de  todos os  advogados,
constantes  do  processo  (art.  1.016,  IV);  e,  ainda,  incluir  entre  os  documentos
obrigatórios  da  petição  recursal  as  cópias  das  procurações  outorgadas  tanto  ao
advogado do próprio agravante como ao do agravado (art. 1.017, I, in fine).
Ao  responder,  o  agravado  terá  oportunidade  de  anexar  às  contrarrazões,  que
1292
790.
serão  encaminhadas  também diretamente  ao  tribunal,  a documentação que  entender
conveniente,  e  que,  a  seu  critério,  possa  ser  útil  à  solução  do  recurso. Com  isso,
manteve-se  a  ampliação,  realizada  pelo  Código  de  1973,  da  possibilidade  de
instrução das contrarrazões do agravado, que poderá ser feita não apenas com cópias
de outras peças do processo, mas com qualquer documento que sirva para contrapor
aos fundamentos do decisório agravado.
Diante dessa ampliação do poder  instrutório do agravado, não poderá o agravo
ser julgado sem que previamente seja ouvido o agravante sobre a documentação nova
(i.e.,  aquela  que  não  seja  simples  reprodução  de  peças  já  existentes  no  processo
principal) (arts. 435 e 437, § 1º).402
Incumbe a cada um deles o ônus processual de instruir seus arrazoados com as
peças  que  forem  necessárias  ou  convenientes.  Fora  desse momento,  não  há mais
oportunidade de produzir outros traslados, salvo embaraço dos serviços forenses ou
da parte contrária, devidamente  justificado (força maior), caso em que se observará
o art. 221.403
A tempestividade da resposta será aferida segundo o mesmo critério empregado
para  a  interposição  do  recurso.  Levar-seá  em  conta  o momento  do  protocolo  no
tribunal ou do registro no correio, se se utilizar a via postal. Vale dizer: o agravado,
a exemplo do que se passa com o agravante, pode protocolar sua  resposta  junto ao
tribunal  ou  enviá-la  pelo  correio,  sob  registro  com  aviso  de  recebimento,  por  fax
(observada a Lei nº 9.800, art. 2º) ou por meio eletrônico (art. 1.017, § 2º).
Juízo de retratação do magistrado a quo
O  juízo  de  retratação,  previsto  no  Código  anterior,  permanece  na  atual
legislação,  como  eventualidade,  já  que  o  novo  Código  nem  sequer  prevê  a
necessidade de o relator requisitar informações ao juiz da causa.
Assim, desde que o agravante, nos  três dias subsequentes à  remessa direta ao
tribunal,  junte  ao processo  a  cópia do  agravo,  está o  juiz  autorizado  a  rever o  ato
impugnado, independentemente de ficar aguardando a resposta do agravado, mesmo
porque esta não lhe será endereçada, mas sim ao tribunal.
De  qualquer maneira,  a  comprovação  de  que  houve  o  recurso  funciona  como
mecanismo de impedimento da preclusão, deixando o tema da decisão interlocutória
em aberto para nova apreciação do magistrado. Convencido do equívoco cometido, o
juiz  poderá  emendá-lo  desde  logo,  comunicando  a  retratação  ao  tribunal.  Nessa
hipótese, o relatorconsiderará prejudicado o recurso (art. 1.018, § 1º).
1293
791.
792.
Como a retratação funciona apenas como expressa causa de extinção do agravo
(art.  1.018,  §  1º),  a  nova  deliberação  do  juiz  de  origem,  como  outra  decisão
interlocutória  que  é,  desafiará  novo  agravo  a  ser  aviado  por  aquele  que  se  tornou
vencido no  incidente. Se, porém,  ao  retratar  a decisão  agravada, o  juiz  extinguir o
processo, seu ato configurará sentença. O recurso, então, haverá de ser a apelação.
Julgamento do recurso pelo colegiado
I – Prazo para julgamento
Para ressaltar o empenho da lei na solução rápida dos agravos de instrumento, o
art. 1.020404 fixou em um mês, contado da  intimação do agravado, o prazo máximo
para  ser  pedido  pelo  relator  “dia  para  julgamento”  (i.e.,  a  inclusão  do  feito  em
pauta). Trata-se, como é óbvio, de um prazo meramente administrativo, sem nenhum
efeito preclusivo, porque estabelecido para o tribunal e não para as partes.
II – Intervenção do Ministério Público
O Ministério Público,  quando  o  agravo  disser  respeito  a  processo  onde  deva
dar-se  sua  intervenção,  terá o prazo de quinze dias para pronunciar-se  (art. 1.019,
III).
III – Sustentação oral
Na sessão de julgamento, os advogados e o membro do Ministério Público, nos
casos  de  sua  intervenção,  poderão  nos  casos  previstos  em  lei  ou  no  regimento
interno do  tribunal, fazer sustentação oral de suas razões, pelo prazo  improrrogável
de quinze minutos cada, depois da exposição da causa pelo  relator  (art. 937).405 O
NCPC (art. 937) enumera os casos de cabimento da sustentação oral, dentre os quais
está o agravo de instrumento contra decisões interlocutórias sobre tutelas provisórias
de  urgência  ou  da  evidência  (inciso VIII).  Portanto,  não  são  todos  os  agravos  de
instrumento que admitem a sustentação oral.
Encerramento do feito
Como  se  trata  de  feito  processado  originariamente  no  tribunal,  caberá  a  seu
regimento  determinar  o  destino  dos  autos  do  agravo  de  instrumento,  i.e.,  se
permanecerão em seus arquivos ou se serão encaminhados ao juízo de primeiro grau
para  apensamento  aos  autos  principais.  Na  primeira  hipótese,  o  tribunal  deverá
oficiar ao juiz da causa, encaminhandolhe cópia da decisão do relator ou do acórdão,
conforme  o  caso.  Na  segunda,  não  haverá  necessidade  de  comunicação  apartada,
1294
793.
porque os próprios autos do agravo servirão como veículo de transmissão do teor do
decisório de segundo grau.406
Formação da coisa julgada antes do julgamento do agravo
Uma  vez  que  o  agravo  não  tem  efeito  suspensivo,  pode  acontecer  que  o
processo chegue à sentença antes do julgamento, pelo Tribunal, do recurso manejado
contra  a  decisão  interlocutória.  Se  a  parte  vencida  interpuser  apelação,  o  órgão
recursal  deverá  julgar  primeiro  o  agravo,  por  seu  caráter  prejudicial  em  face  da
sentença apelada  (NCPC, art. 946).407 É que, sendo provido o agravo, cairá a sen-
tença, ficando prejudicada a apelação.
Diversa,  porém,  é  a  sorte  do  agravo,  se  o  vencido  na  sentença  deixar  de  in-
terpor  a  apelação.  Já  então  prejudicado  restará  o  agravo,  porquanto  da  inércia  da
parte perante o julgamento que põe fim ao processo emana a coisa julgada, ou seja,
torna-se imutável e indiscutível a solução dada à causa (art. 502).408
Aplica-se,  analogicamente,  a  regra  do  art.  1.000,409  ou  seja,  a  aceitação  ex-
pressa  ou  tácita  da  sentença  pelo  vencido  importa  renúncia  ao  direito  de  recorrer.
Ora,  se  a  aceitação  é  superveniente  ao  recurso,  o  efeito  sobre  ele  não  pode  ser
diferente; terá de ser tratado como desistência do agravo pendente. O princípio a ser
observado  é o que manda  levar-se  em  conta o  fato  superveniente, modificativo ou
extintivo, que possa  influir no  julgamento da causa  (art. 493).410 Parece claro que,
deixando de apelar, o vencido aceita a sentença e a faz intangível pela força de coisa
julgada. Logo,  terá adotado supervenientemente atitude  incompatível com a vontade
de  manter  o  agravo  contra  decisão  interlocutória  anterior  à  sentença  não
impugnada.411-408
Diversa  é,  porém,  a  situação  do  processo  em  que  a  parte  vencida  apela  da
sentença  antes  de  ser  definitivamente  julgado  o  seu  agravo  de  instrumento  an-
teriormente  manifestado  contra  decisão  interlocutória  sobre  questão  prejudicial  à
solução  contida  na  sentença  (como,  v.g.,  a  exclusão  de  litisconsorte  arguição  de
incompetência do  juízo prolator da  sentença). Sendo  apreciada  a  apelação  antes do
agravo,  não  se  pode  dizer  que  o  trânsito  em  julgado  da  sentença  preju-dique  o
agravo. Na verdade, persistindo  a  litispendência, nem mesmo  se  chega  a  formar  a
coisa  julgada,  ou,  se  se  entender  que  tal  ocorreu,  ter-seá  uma  coisa  julgada
meramente formal e sujeita à condição resolutiva: se improvido o agravo, consolida-
se  o  decidido  na  sentença;  se  provido,  resolve-se  a  sentença,  por  ele  prejudicada,
voltando o processo ao estágio em que se encontrava no momento em que a decisão
1295
agravada  for  proferida.  No  caso  de  incompetência  proclamada  pelo  acórdão  do
agravo,  os  autos  principais  serão  encaminhados  ao  novo  juízo,  para  que  outra
sentença  seja  prolatada  pelo  juiz  reconhecido  como  competente  pela  instância
superior.413
É  preciso,  portanto,  diferenciar  as  duas  situações:  (i)  a  de  aquiescência  ou
aceitação da sentença, pela parte vencida, posterior ao agravo pendente, postura que
realmente faz extinguir os agravos ainda não decididos por incompatibilidade com a
coisa julgada material formada em torno da posterior sentença. Aí, sim, haverá perda
de objeto do  recurso  anterior,  e o  agravante não  terá mais  interesse para  justificar
seu  julgamento;  e  (ii)  a  de  não  aceitação  da  sentença  impugnada  pelo  próprio
agravante por apelação oportuna. Nesse caso, o agravante não po-derá ser tido como
renunciante  ao  julgamento  do  agravo  e, mesmo  após  decisão  adversa  da  apelação,
conservará o  interesse em ver  julgada a questão prejudicial  tratada na  interlocutória
antes agravada, pois, com seu desate, poderá obter a resolução da sentença, dada em
processo onde a coisa julgada anterior ainda não se aperfeiçoou, justamente em razão
do agravo pendente.414 Se  houve  inversão  na  ordem  cronológica  de  encerrar-se  na
segunda  instância  a  apreciação  dos  recursos  de  agravo  e  apelação,  isto  se  deveu  a
problemas  ou  deficiências  do  próprio  serviço  forense,  não  podendo,  de  maneira
alguma,  redundar  em  prejuízo  para  o  direito  do  agravante  de  ver  eficazmente
apreciada e  julgada a questão prejudicial suscitada no agravo, com seus necessários
efeitos sobre a sentença apelada.
Fluxograma  nº  29 – Agravo de instrumento (arts. 1.015 a 1.020)
1296
353
354
355
356
357
358
CPC/1973, art. 522.
CPC/1973, art. 162, § 2º.
NCPC, art. 1.016.
CPC/1973, art. 522.
CPC/1973, sem correspondência.
CPC/1973, art. 557, caput e § 1º-A.
1297
359
360
361
362
363
364
365
366
367
368
369
CPC/1973, art. 544.
CPC/1973, art. 522.
CPC/1973, sem correspondência.
“O recurso de que se serve a parte para impugnar as interlocutórias não sujeitas a agravo
de  instrumento,  portanto,  é  a  apelação.  Se  for  vencido,  apelará,  impugnando  estas
decisões e a sentença. Se  for vencedor, deve  impugná-las por meio de contrarrazões, e
estas  desempenharão  o  papel  de  recurso”  (WAMBIER,  Teresa  Arruda  Alvim  et  al.
Primeiros comentários ao novo Código de Processo Civil cit., p. 1.440).
CUNHA,  Leonardo  Carneiro  da;  DIDIER  JÚNIOR,  Fredie.  Apelação  contra  decisão
interlo-cutória  não  agravável:a  apelação  do  vencido  e  a  apelação  subordinada  do
vencedor. Revista de Processo, n. 241, São Paulo, p. 237, mar. 2015.
CUNHA, Leonardo Carneiro da; DIDIER JR., Fredie. Op. cit., p. 239.
Cita-se como exemplo o caso da revisão do valor da causa, deliberada pelo juiz durante o
curso  do  processo,  e  que  foi  objeto  de  impugnação  em  contrarrazões  do  recorrido  à
apelação  interposta pelo vencido. Mesmo que a apelação não  tenha vingado, o apelado
continua  tendo  interesse  legítimo  na  revisão  da  respectiva  decisão  interlocutória  não
agravável que lhe foi adversa e cujos efeitos subsistem sobre o cálculo da verba honorária,
qualquer  que  tenha  sido  a  solução  do  apelo  (cf. WAMBIER,  Teresa  Arruda  Alvim;
CONCEIÇÃO,  Maria  Lúcia  Lins;  RIBEIRO,  Leonardo  Ferres  da  Silva;  MELLO,
Rogério Licastro Torres de. Primeiros comentários ao novo Código de Processo Civil.
São Paulo: RT, 2015, p. 1.440).
STJ, 2ª T., RMS 353/SP, Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro, ac. 31.10.1990, RT v. 672,
p.  197,  out./1991;  STF,  Pleno,  RE  76.909/RS,  Rel. Min.  Xavier  de  Albuquerque,  ac.
05.12.1973, DJU 17.05.1974, p. 3.250; STF, 1ª T., RE 92.107/SP, Rel. Min. Oscar Corrêa,
ac. 14.09.1982, DJU 08.10.1982, p. 10.189.
STJ, 4ª T., RMS 12.017/DF, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, ac. 19.08.2003, DJU
29.09.2003, p. 252; STJ, 1ª T., RMS 7.246/RJ, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, ac.
05.09.1996, DJU 21.10.1996, p. 40.201; STJ, 1ª T., RMS 6.685/ES, Rel. Min. Humberto
Gomes de Barros, ac. 16.12.1996, RSTJ n. 95, p. 56, jul./1997; STJ, 4ª T, REsp 299.433/RJ,
Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, ac. 09.10.2001, DJU 04.02.2002, p. 381.
“Não havendo previsão de medida  eficiente  contra o  ato  ilegal, deverá  ser  admitido o
mandado  de  segurança. Deve-se  admitir  o mandado  de  segurança  como  sucedâneo  do
agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas em 1º grau de jurisdição,
à  luz do Código de Processo Civil de 2015, sempre que se demonstrar a  inutilidade do
exame  do  ato  acoimado  de  ilegal  apenas  por  ocasião  do  julgamento  da  apelação”
(MEDINA, José Miguel de Garcia. Direito processual civil moderno. 2. ed. São Paulo:
RT, 2016, p. 1.334).
Tutelas  provisórias  são  aquelas  que  o  novo  Código  prevê  como  urgentes  (medidas
cautelares ou antecipatórias) e medidas de tutela da evidência (arts. 300 e 311). O agravo
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nesses procedimentos cabe  tanto das decisões que deferem como das que  indeferem as
medidas provisórias, no todo ou em parte. Justifica-se o agravo de instrumento na espécie,
“dada a urgência dessas medidas e os sensíveis efeitos produzidos na esfera de direitos e
interesses das partes”, de sorte que “não haveria interesse em se aguardar o julgamento da
apelação” (STJ, 3ª T., RMS 31.445/ AL, Rel. Min. Nancy Andrighi, ac. 06.12.2011, DJe
03.02.2012).
Questão  de mérito  é  qualquer  ponto  controvertido  que  interfira  no  objeto  principal  do
processo, retratado no pedido e na causa de pedir (sobre o tema ver itens nos 77 e 759 do
vol.  I).  Decisão  de  mérito  que  desafia  agravo  ocorre  quando  o  Código  admite
fracionamento da  resolução das questões que  compõem o objeto do processo  (meritum
causae). O art. 356 do NCPC arrola vários casos em que, na fase do julgamento conforme
o estado do processo, o juiz está autorizado a pronunciar julgamento antecipado parcial do
mérito.  São  estes  exemplos  das  decisões  interlocutórias  agraváveis,  na  forma  do  art.
1.015,  II.  Além  deles,  em  qualquer  outra  situação  que  uma  questão  de  mérito  for
submetida  a decisão  imediata do  juiz,  sem prejuízo do prosseguimento do processo, o
agravo  de  instrumento  caberá  (por  exemplo,  a  solução  da  questão  de  redução  ou
ampliação do pedido, ou do reconhecimento parcial dele pelo réu, o indeferimento liminar
da  reconvenção  etc.).  A  propósito,  anota  Roberto  Antônio  Malaquias  que  “o  ato  de
indeferimento da ação de reconvenção é uma decisão interlocutória que estaria suscetível
ao recurso denominado agravo de instrumento”  (MALAQUIAS, Roberto Antônio Darós.
Agravo de instrumento contra o indeferimento liminar da reconvenção à luz do princípio
do duplo grau de jurisdição e das garantias processuais. Revista de Processo, n. 239, São
Paulo, 2015, p. 189).
A  alegação  de  convenção  de  arbitragem  se  faz  em  preliminar  da  contestação,  como
ausência de pressuposto processual para formação e desenvolvimento válido do processo
em juízo (art. 337, X). A decisão interlocutória que rejeita a arguição se dá normalmente
na fase de saneamento e organização do processo (art. 357, I).
O  incidente  de  desconsideração  de  personalidade  jurídica  figura  entre  os  casos  de
intervenção de terceiro, cabendo em qualquer tipo de processo (arts. 133 a 137). O agravo
será admissível tanto quando for deferida, como indeferida a medida.
O pedido de assistência gratuita pode ser formulado na petição inicial, na contestação, na
petição para ingresso de terceiro no processo, em recurso ou em petição simples (art. 99).
A impugnação, por sua vez, poderá ocorrer na contestação, na réplica, nas contrarrazões
de recurso ou por meio de petição simples (art. 100).
A exibição de documento ou coisa integra a fase probatória do processo e regula-se pelos
arts. 396 a 404, cabendo agravo de instrumento contra a decisão que defere ou indefere o
pedido.
A  exclusão  de  litisconsorte  ocorrida  na  fase  de  saneamento,  sem  encerrar  o  processo,
configura decisão interlocutória agravável.
A  limitação  do  litisconsórcio  por  decisão  judicial  cabe  quando  este  é  facultativo  e
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envolva  número  excessivo  de  colitigantes,  capaz  de  comprometer  a  rápida  solução  do
litígio ou dificultar a defesa ou o cumprimento da sentença. E a decisão a esse respeito
pode ocorrer na fase de conhecimento, na liquidação de sentença ou na execução (art. 113,
§  1º).  O  agravo  é  manejável  quando  o  pedido  de  limitação  é  rejeitado,  não  quando
deferido.
As  intervenções de  terceiro consistem na assistência  (art. 121), na denunciação da  lide
(art. 125), no  chamamento  ao processo  (art. 130), na desconsideração da personalidade
jurídica (art. 133) e na participação do amicus curiae (art. 138). O agravo cabe assim na
admissão, como na inadmissão, da intervenção.
Em regra, os embargos à execução não têm efeito suspensivo (art. 919, caput). Entretanto,
este poderá ser, excepcionalmente, concedido, nos termos do art. 919, § 1º.
A  redistribuição do ônus da prova  se dá por meio de decisão  interlocutória, na  fase de
saneamento e organização do processo (art. 357, III).
Por  exemplo,  é  agravável  a  interlocutória  que  decide  requerimento  de  distinção  em
afetação por recurso repetitivo, para que o recurso especial ou extraordinário da parte não
tenha seu andamento sobrestado (art. 1.037, § 13, I; CPC/1973, sem correspondência). É,
também, agravável a decisão do juiz de primeiro grau que conceder ou denegar a liminar
em mandado de segurança (Lei nº 12.016/2009, art. 7º, § 1º).
CPC/1973, sem correspondência.
CPC/1973, art. 508.
Já antes da dispensa legal, o STJ decidia que a formalidade da autenticação solene não
tinha amparo jurídico (STJ, 4ª T., REsp 248.341/RS, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, ac.
unânime  de  02.05.2000,  DJU  28.08.2000.  No  mesmo  sentido:  STJ,  1ª  T.,  REsp
1.122.560/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, ac. 23.03.2010, DJe 14.04.2010).
CPC/1973, art. 365, IV.
CPC/1973, art. 524.
CPC/1973, art. 525, I.
O STJ, para os efeitos uniformizadores do art. 543-C do CPC [NCPC, art. 1.036], fixou o
seguinte  entendimento:  “A  ausência  da  cópia  da  certidão  de  intimação  da  decisão
agravada não é óbiceao conhecimento do Agravo de Instrumento quando, por outros meios
inequívocos, for possível aferir a tempestividade do recurso, em atendimento ao princípio
da instrumentalidade das for-mas” (STJ, 2ª Seção, REsp 1.409.357/SC, Rel. Min. Sidnei
Beneti, ac. 14.05.2014, DJe 22.05.2014).
STJ, Corte Especial, REsp 1.383.500/SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, ac. 17.02.2016,
DJe 26.02.2016.
CPC/1973, art. 525, § 1º.
CPC/1973, sem correspondência.
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CPC/1973, sem correspondência.
STJ, 1ª T., AgRg no REsp 1.288.052/PE, Rel. Min. Benedito Gonçalves, ac. 20.03.2012,
DJe 23.03.2012. No mesmo sentido: STJ, 4a T., AgRg no REsp 1.260.676/RN, Rel. Min.
Antônio Carlos Ferreira, ac. 12.11.2012, DJe 20.11.2012.
CPC/1973, art. 497.
“A  jurisprudência do STJ pacificou entendimento no sentido de que aviar mandamus  ao
escopo  de  emprestar  efeito  suspensivo  a  recurso  ou  a medida  cautelar  só  tem  guarida
quando se possa vislumbrar presentes no ato judicial os princípios do fumus boni iuris e do
periculum in mora” (STJ, 3ª T., RMS 5.576-0/RJ, Rel. Min. Waldemar Zveiter, ac. unân.
de 13.06.1995, DJU 09.10.1995, p. 33.547). No mesmo sentido: STJ, 2ª T., Ag 784.662/AL,
Rel. Min. João Otávio de Noronha, ac. 07.11.2006, DJU 14.12.2006, p. 332.
CPC/1973, art. 526.
CPC/1973, art. 529.
“Segundo passou a entender o Tribunal, o descumprimento da norma do art. 526 do CPC
[NCPC, art. 1.018] não  impede o conhecimento do agravo”  (STJ, Corte Especial, Emb.
Div.  no  REsp  172.411/RS,  Rel.  Min.  Sálvio  de  Figueiredo,  ac.  15.12.1999,  DJU
28.02.2000, p. 29). No mesmo  sentido: STJ, 3ª T., REsp 299.064/MA, Rel. Min. Nancy
Andrighi, ac. 20.02.2001, DJU 16.03.2001, p. 630; STJ, 5ª T., REsp 307.575/RJ, Rel. Min.
José Arnaldo da Fonseca, ac. 07.11.2002, DJU 02.12.2002, p. 332.
CPC/1973, art. 527.
STJ, 5ª T., REsp 629.441/DF, Rel. Min. Felix Fischer, ac. 17.06.2004, DJU 13.09.2004, p.
285;  STJ,  1ª  T.,  REsp  917.564/RS,  Rel.  Min.  José  Delgado,  ac.  28.08.2007,  DJU
13.09.2007.  p.  173.  Só  não  há  necessidade  de  ouvida  do  agravado,  quando  o
pronunciamento  singular  é  de  rejeição  ou  improvimento  do  agravo,  já  que,  in  casu,  a
decisão é dada em seu benefício. Todavia, “a  inti-mação para a resposta é condição de
validade da decisão monocrática que vem  em prejuízo do  agravado, ou  seja, quando o
relator acolhe o  recurso, dando-lhe provimento  (art. 557, § 1º-A) – NCPC, art. 932, V”
(STJ, 1ª Seção, EREsp 1.038.844/PR, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, ac. 08.08.2008,
DJe 20.10.2008).
Agravo inadmissível, por exemplo, é aquele interposto fora do prazo legal ou contra mero
despacho ordinatório, bem como, aquele a que não correspondam os pressupostos legais de
admissibilidade  do  recurso.  Por  agravo  manifestamente  improcedente,  tem-se  aquele
“interposto com a formulação de pretensões contrárias ao texto legal ou a interpretações
consagradas  na  jurisprudência,  ou  contrárias  às  provas  produzidas  nos  autos”
(NOTARIANO  JÚNIOR,  Antônio;  BRUSCHI,  Gilberto  Gomes.  Agravo  contra  as
decisões de primeiro grau. 2. ed. São Paulo: Método, 2015, p. 42). No mesmo  sentido:
DINAMARCO, Cândido Rangel. A reforma da reforma. São Paulo: Malheiros, 2002, p.
186.
CPC/1973, arts. 236 e 241, I.
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CPC/1973, arts. 397 e 398.
CPC/1973, art. 180.
CPC/1973, art. 528.
CPC/1973, art. 554.
No Tribunal de Justiça de Minas Gerais prevalece a praxe de remeter os autos do agravo
já julgado para arquivamento na comarca de origem.
CPC/1973, art. 559.
CPC/1973, art. 467.
CPC/1973, art. 503.
CPC/1973, art. 462.
“A não interposição do recurso de apelação contra a sentença faz coisa julgada material,
não obstante pendente de julgamento ou provido o agravo, já que a situação determinada
pela sentença permanecerá imutável” (STJ, 2ª T., REsp 204.348/PE, Rel. Min. Francisco
Peçanha Martins,  ac. 27.04.2004, RSTJ  181/147). No mesmo  sentido: STJ, 4ª T., REsp
292.565/RS,  Rel. Min.  Sálvio  de  Figueiredo,  ac.  27.11.2001, DJU  05.08.2002,  p.  347;
TJSP, AI 30.228-0, Rel. Des. Dirceu de Mello, ac. 04.07.1996, JTJSP 187/129. Em sentido
contrário:  STJ,  REsp  182.562,  Rel.  Min.  Demócrito  Reinaldo,  ac.  27.04.1999,  RSTJ
121/112. Em doutrina, merece destaque  a  lição de Teresa Arruda Alvim Wambier, no
sentido de que não pode prevalecer o agravo, na espécie, porque, “escoados os quinze dias
dentro dos quais a apelação deveria ter sido interposta, há o trânsito em julgado” (NERY
JÚNIOR, Nelson; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Aspectos polêmicos  e  atuais dos
recursos cíveis. São Paulo: RT, 2003, v. 7, p. 697).
O STJ já decidiu que o reconhecimento da prejudicialidade da falta de apelação em face
do agravo anterior pode ser afastado, em razão de peculiaridades do caso concreto (STJ, 4ª
T., REsp 1.389.194/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, ac. 20.11.2014, DJe 19.12.2014). A
posição dominante consolidada daquela Corte, porém, é no sentido de que, em regra, “a
superveniên-cia do trânsito em julgado da sentença proferida no feito principal enseja a
perda de objeto de recursos anteriores que versem sobre questões resolvidas por decisão
interlocutória combatida via agravo de instrumento” (STJ, 3ª T., Rel. Min. Ricardo Villas
Bôas  Cueva,  ac.  28.04.2015,  DJe  08.05.2015).  No  mesmo  sentido:  STJ,  3ª  T.,  REsp
1.074.149/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, ac. 01.12.2009, DJe 11.12.2009; STJ, 1ª T., AgRg
no REsp 899.315/PR, Rel. Min. Denise Arruda, ac. 18.12.2007, DJU 07.02.2008, p. 265.
“O efeito devolutivo do agravo de instrumento, interposto contra o despacho saneador, faz
com  que  a  sentença,  proferida  na  causa,  fique  com  sua  eficácia  condicionada  ao
desprovimento do agravo, no que concerne às questões nele ventiladas” (STF, 1ª T., RE
89.980/SP,  Rel.  Min.  Soares  Muñoz,  ac.  24.10.1978,  DJU  10.11.1978,  p.  8.950;  RTJ
91/320). No mesmo  sentido: STF,  1ª T., RE  94.344/BA, Rel. Min. Soares Muñoz,  ac.
16.06.1981, RTJ  101/386.
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414 A  sentença,  quando  proferida  na  pendência  de  recurso  interposto  contra  decisão
interlocutória,  é  considerada  doutrinariamente  “como  um  dos mais  notáveis  casos  de
sentença  condicional”  (VASSALI,  Filippo  E.  La  sentenza  condizionale:  studio  sul
processo  civile. Roma: Athenaeum,  1916,  n.  14,  p.  45. Apud NERY  JÚNIOR, Nelson.
Parecer. Revista de Processo, n. 130/168, dez. 2005).
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794.
795.
§ 82. AGRAVO INTERNO
Sumár io: 794. Conceito. 795. Procedimento. 796. Efeitos do agravo interno. 797.
Sustentação oral. 798. Fungibilidade.
Conceito
Conforme  visto  no  item  nº  782  retro,  segundo  o  NCPC,  não  existe  mais
decisão monocrática  irrecorrível  prolatada  pelo  relator. Nos  termos  do  art.  1.021,
caput,415  “contra  decisão  proferida  pelo  relator  caberá  agravo  interno  para  o
respectivo  órgão  colegiado”.  Isso  porque  mostra-se  inconstitucional  qualquer
barreira  regimental  imaginada  para  impedir  o  reexame  dos  decisuns  singulares  do
relator pelo colegiado competente para a apreciação do recurso primitivo.416
O agravo interno, destarte, preserva o princípio da colegialidade, garantindo que
decisões  singulares  sejam  revistas  pelo  órgão  colegiado  a  quem  toca  o  recurso.417
Afinal,  os  recursos  e  as  causas  de  competência  originária  são  endereçadas  ao
tribunal e não ao relator, de sorte que suas decisões singulares, embora autorizadas,
não suprimem a competência principal do colegiado.
Procedimento
Esse  recurso  é  disciplinado  pelo  art.  1.021  do  NCPC,418  mas  o  seu
processamento  será  regulado  pelos  regimentos  internos  dos  tribunais,  como
determinado pela parte final do caput do referido dispositivo. Eis, em linhas gerais,o procedimento básico do agravo interno:
(a) Ao interpor o recurso, o recorrente deverá impugnar, especificadamente, os
fundamentos  da  decisão  agravada  (art.  1.021,  §  1º).  Não  se  admite,  destarte,
impugnações genéricas, que dificultem a defesa ou a decisão pelo tribunal;419
(b) O agravo será dirigido ao relator que, tão logo receba a petição, intimará o
agravado  para  manifestar-se  no  prazo  de  quinze  dias,  a  fim  de  cumprir  o
contraditório  (art. 1.021, § 2º);  (c) Após a  resposta do  recorrido, ao  relator é dado
retratar-se.  Não  havendo  retratação,  o  relator  levá-lo-á  a  julgamento  pelo  órgão
colegiado, incluindo o recurso em pauta (art. 1.021, § 2º, in fine);
1304
796.
(d)  O  julgamento  do  agravo  interno,  pelo  colegiado,  dependerá  da  prévia
inclusão do recurso em pauta (art. 934 c/c art. 1.021, § 2º), com intimação das partes
na  pessoa  de  seus  advogados,  por  meio  do  Diário  da  Justiça,  observada  a
antecedência mínima de cinco dias úteis (art. 212 c/c art. 935);
(e) Tratando-se de recurso contra decisão do relator, o agravo interno não pode
ser  julgado, no mérito, pelo seu próprio prolator. Aliás, o § 2º do art. 1.021 deixa
claro  que,  não  sendo  o  caso  de  retratação,  “o  relator  levá-lo-á  a  julgamento  pelo
órgão colegiado”. Portanto, apenas em caso de manifesto descabimento do  recurso,
como  se  passa  com  a  intempestividade,  é  que  o  relator  estará  em  condições  de
inadmiti--lo. O § 3º do art. 1.021, que veda ao relator julgar improcedente o agravo
interno limitando-se à reprodução dos fundamentos da decisão agravada, aplica-se ao
voto  condutor  do  julgamento  do  colegiado.  Não  corresponde,  portanto,  a  uma
autorização  a  que  o  relator  julgue  monocraticamente  o  recurso  procedente  ou
improcedente;
(f) Quando, em votação unânime, o órgão colegiado declarar o agravo  interno
manifestamente  inadmissível  ou  improcedente,  condenará  o  agravante  a  pagar  ao
agravado multa  fixada  entre  um  e  cinco  por  cento  do  valor  atualizado  da  causa.
Aplicação  dessa  multa,  todavia,  “não  é  automática,  não  se  tratando  de  mera
decorrência  lógica  do  não  provimento  do  agravo  interno  em  votação  unânime”.
Como  já acentuou o STJ, pressupõe em cada caso concreto análise que conclua, de
plano,  pelo  reconhecimento  de  ter  sido  a  interposição  do  agravo  “abusiva  ou
protelatória”.  A  decisão  deverá  ser  fundamentada  (art.  1.021,  §  4º),  de  modo  a
demonstrar  a  manifesta  inadmissibilidade  ou  improcedência  do  recurso  ao
colegiado;420
(g) Fixada a multa, a  interposição pela parte de qualquer outro  recurso estará
condicionada  ao  depósito  prévio  do  valor  estipulado  pelo  órgão  colegiado.
Entretanto,  estão  dispensados  do  pagamento  prévio  a  Fazenda  Pública  e  o
beneficiário de gratuidade da justiça, cujo pagamento será feito somente ao final (art.
1.021, § 5º).
Efeitos do agravo interno
A  regra  geral  é  de  que,  salvo  a  apelação,  os  recursos  não  tenham  efeito
suspensivo, permitindo, pois, a imediata execução do decisório impugnado (NCPC,
art. 995, caput). Aplicada ao agravo interno, poder-se-ia pensar que seu efeito seria
sempre  o  de  não  impedir  o  cumprimento  da  decisão  monocrática  recorrida.  No
1305
797.
798.
entanto, há um aspecto particular a ser ponderado: o agravo interno, no comum dos
casos,  incide  sobre  o  julgamento  de  outro  recurso,  que  se  poderia  considerar  o
principal. Se  este  suspendeu  a  eficácia  do  julgado  primitivamente  impugnado,  não
poderia  o  incidente  do  agravo  interno  gerar  efeito  diverso. Assim,  “se  o  recurso
julgado pelo  relator  já detinha efeito suspensivo da eficácia da decisão  recorrida, o
agravo apenas prolongará esse efeito na sua pendência; diversamente, se não detinha
esse  efeito,  não  será  o  agravo  interno  que  o  conferirá”.421  Se  convier  à  parte
suspender os efeitos que o recurso principal não afetou, nem o agravo interno o fez,
deverá manejar pedido cautelar para obtê-lo.422
Sustentação oral
Na sessão de julgamento colegiado do agravo interno, em regra, não se admite a
sustentação oral dos advogados e do membro do Ministério Público, nos casos de
sua  intervenção  (NCPC, art. 937). Quando, porém, o  recurso  for  interposto contra
decisão singular do relator que extinga a ação rescisória, o mandado de segurança ou
a  reclamação,  o NCPC  permite,  excepcionalmente,  a  sustentação  oral  (art.  937,  §
3º).423
Fungibilidade
O  novo  CPC  previu  mais  um  caso  de  fungibilidade  recursal,  agora
especificamente  entre os  embargos de declaração  e o  agravo  interno  (art. 1.024, §
3º).424Assim, caso o órgão julgador entenda que os embargos de declaração opostos
pela parte não são o meio  impugnativo adequado, poderá conhecê-los como agravo
interno. Nesse caso, deverá determinar previamente a  intimação do  recorrente para
que, no prazo de cinco dias, complemente as razões recursais, a fim de que adequá-
las ao art. 1.021, § 1º, ou seja, para que  impugne especificadamente os argumentos
da decisão recorrida.
A  nova  regra  processual  teve  duplo  propósito  de  combater:  (i)  a  chamada
jurisprudência  defensiva  que,  no  caso,  considerava  inadmissível  embargos
declaratórios contra decisões singulares do relator; e (ii) a má aplicação do princípio
da  fungibilidade,  conhecendo,  na  espécie,  os  embargos  declaratórios  como  agravo
regimental,  de  imediato.425  A  um  só  tempo,  o  NCPC  entende  cabíveis  os
declaratórios  se a decisão  singular do  relator  se enquadrar nos permissivos do art.
1.022,426  ou  seja,  for  obscura,  omissa,  contraditória  ou  contiver  erro material;  e
admite  a  fungibilidade  entre  eles  e  o  agravo  interno  se  a  parte  manejá-los  com
1306
finalidade infringente.
O principal da nova sistemática  legal consiste no  resguardo da ampla defesa e
do contraditório, na aplicação da  fungibilidade permitida. Como acontecia na praxe
antiga,  o  conhecimento  direto  dos  declaratórios  como  agravo  interno  causava
inegável  cerceamento de defesa  ao  embargante, uma vez que  a matéria  arguida  em
embargos de declaração é enfocada e discutida de maneira muito mais restrita do que
aquela que deve constar do recurso adequado (i.e., o agravo  interno). Daí  ter o § 3º
do art. 1.024 determinado que, ao proceder à fungibilidade, o relator deverá intimar
o  recorrente  para,  no  prazo  de  cinco  dias,  complementar  as  razões  recursais,  de
maneira a ajustá-las às exigências do recurso de agravo interno.
Fluxograma  nº  30 – Agravo interno (art. 1.021)
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415
416
Nota: Cabe  também  agravo  interno  contra  decisão  do  presidente  ou  do  vice-presidente  do
tribunal local, nos casos de negação de seguimento a recurso especial ou extraordinário com
base no art. 1.030, I, e de sobrestamento de recursos em regime repetitivo, com base no art.
1.030, III.
CPC/1973, sem correspondência.
STF, Pleno, Repres. 1.299/GO, Rel. Min. Célio Borja, ac. 21.08.1956, RTJ  119/980; STF,
1ª T., RE 85.201/MT, Rel. Min. Rodrigues Alckmin, ac. 06.05.1977, RTJ  83/240; STF, 1ª
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T., RE 112.405/ GO, Rel. Min. Oscar Corrêa, ac. 24.03.1987, RTJ  121/373.
MENDONÇA, Ricardo Magalhães de. Revisão das decisões monocráticas do relator no
julgamento antecipado do recurso: breve análise do agravo interno previsto nos Códigos
de Processo Civil vigente e projetado. Revista Dialética de Direito Processual, n. 145, p.
101, abr. 2015.
CPC/1973, sem correspondência.
WAMBIER,  Teresa  Arruda  Alvim  et  al.  Primeiros  comentários  ao  novo  Código  de
Processo Civil cit., p. 1.464.
STJ, 2ª Seção, AgInt nos EREsp 1.120.356/RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,  ac.
24.08.2016, DJe 29.08.2016.MENDONÇA, Ricardo Magalhães de. Revisão das decisões monocráticas do relator cit.,
p. 105.
Idem, ibidem.
CPC/1973, sem correspondência.
CPC/1973, sem correspondência.
“Em homenagem aos princípios da economia processual e da  fungibilidade, devem  ser
recebidos como agravo regimental os embargos de declaração que contenham exclusivo
intuito  infringente”  (STJ,  4ª  T.,  EDcl  no AREsp  678.883/PR, Rel. Min. Maria  Isabel
Gallotti, ac. 16.06.2015, DJe 22.06.2015).
CPC/1973, art. 535.
1309
799.
§ 83. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
Sumár io:  799.  Conceito  e  cabimento.  800.  Pressupostos  dos  embargos  de
declaração. 801. Obscuridade no julgamento. 802. Contradição. 803. Omissão. 804.
Hipóteses  de  omissão.  805.  Erro  material.  806.  Compreensão  extensiva  do
cabimento  dos  embargos  de  declaração.  807.  Procedimento.  808.
Prequestionamento.  809.  Efeito  interruptivo.  810. Recurso  interposto  antes  dos
embargos de declaração. 811. Efeito suspensivo especial. 811-A. Possibilidade de
concessão  de  efeito  suspensivo.  812.  Efeito  integrativo.  813.  Embargos
manifestamente protelatórios.
Conceito e cabimento
Dá-se o nome de embargos de declaração ao  recurso destinado a pedir ao  juiz
ou  tribunal  prolator  da  decisão  que  afaste  obscuridade,  supra  omissão,  elimine
contradição existente no julgado ou corrija erro material.427
Qualquer  decisão  judicial  comporta  embargos  declaratórios,  porque,  como
destaca Barbosa Moreira, é  inconcebível que  fiquem sem  remédio a obscuridade, a
contradição a omissão ou o erro material existente no pronunciamento jurisdicional.
Não  tem a mínima relevância  ter sido a decisão proferida por  juiz de primeiro grau
ou tribunal superior, monocrática ou colegiada, em processo de conhecimento ou de
execução; nem importa que a decisão seja terminativa, final ou interlocutória.428
São  cabíveis  ditos  embargos  até  mesmo  da  decisão  que  tenha  solucionado
anteriores  embargos  declaratórios,  desde,  é  claro,  que  não  se  trate  de  repetir
simplesmente  o  que  fora  arguido  no  primeiro  recurso.  É  preciso  que  se  aponte
defeito  (obscuridade,  omissão,  contradição  ou  erro  material)  no  julgamento  dos
próprios embargos.
Com  a  Lei  nº  8.950,  de  13.12.1994,  ainda  sob  a  égide  do  Código  anterior,
eliminou-se  a  distinção  procedimental  entre  os  embargos  de  declaração  contra
sentença e os manejados contra acórdãos. A disciplina do recurso passou a ser única
e ficou concentrada nos arts. 535 a 538 do CPC/1973.429 O novo Código manteve a
unidade  de  disciplina  e  foi  mais  claro  ao  prever,  expressamente,  que  “cabem
embargos  de  declaração  contra  qualquer   decisão  judicial”  (NCPC,  art.  1.022,
1310
800.
801.
caput). Corrigiu,  destarte,  a  imperfeição  da  legislação  anterior  que  falava,  apenas,
em  acórdão  ou  sentença,  o  que  dava  margem  a  discussões  doutrinárias  e
jurisprudenciais  (CPC/1973,  art.  535),  principalmente  a  propósito  de  decisões
monocráticas.430
Releva  destacar  que  se  trata  de  recurso  com  fundamentação  vinculada,  vale
dizer,  somente  pode  ser  oposto  nas  hipóteses  restritas  previstas  em  lei.431  Se  a
decisão embargada não contiver os vícios elencados no art. 1.022, a parte haverá de
interpor outro recurso, mas, não, os embargos de declaração. Ademais, como o seu
objetivo não é  reformar ou cassar a decisão, mas,  tão  somente, aclará-la, qualquer
das partes tem interesse para utilizá-lo, seja o vencedor ou o vencido.
Pressupostos dos embargos de declaração
O  pressuposto  de  admissibilidade  dessa  espécie  de  recurso  é  a  existência  de
obscuridade ou contradição na decisão; de omissão de algum ponto sobre que devia
pronunciar-se o juiz ou tribunal, ou erro material (NCPC, art. 1.022, I, II e III).432
Se  o  caso  é  de  omissão,  o  julgamento  dos  embargos  supri-la-á,  decidindo  a
questão  que,  por  lapso,  escapou  à  decisão  embargada. No  caso  de  obscuridade  ou
contradição, o decisório  será  expungido,  eliminando-se o defeito nele detectado.433
Tratando-se de erro material, o juiz irá corrigi-lo.
Em qualquer caso, a substância do julgado será mantida, visto que os embargos
de declaração não visam à  reforma do acórdão,434 ou da sentença. No entanto, será
inevitável alguma alteração no conteúdo do  julgado, principalmente quando se  tiver
de  eliminar  omissão  ou  contradição. O  que,  todavia,  se  impõe  ao  julgamento  dos
embargos de declaração é que não se proceda a um novo julgamento da causa, pois a
tanto não se destina esse  remédio  recursal. As eventuais novidades  introduzidas no
decisório  primitivo  não  podem  ir  além  do  estritamente  necessário  à  eliminação  da
obscuridade  ou  contradição,  ao  suprimento  da  omissão  ou  à  correção  do  erro
material.435
Obscuridade no julgamento
A obscuridade caracteriza-se pela falta de clareza, pela confusão das ideias, pela
dificuldade  no  entendimento  de  algo.  Como  registra  Bondioli,  para  os  fins  dos
embargos  de  declaração,  “decisão  obscura  é  aquela  consubstanciada  em  texto  de
difícil compreensão e ininteligível na sua integralidade. É caracterizada, assim, pela
impossibilidade  de  apreensão  total  de  seu  conteúdo,  em  razão  de  um  defeito  na
1311
802.
fórmula  empregada  pelo  juiz  para  a  veiculação  de  seu  raciocínio  no  deslinde  das
questões que lhe são submetidas”.436
Não há obscuridade apenas quando o  julgador, na decisão, utiliza má  redação,
segundo  as  regras  gramaticais  ou mediante  emprego  de  palavras  inadequadas  para
precisar o enunciado sentencial; ela está presente também quando, na composição do
texto, se depara com uma conjuntura lógico-jurídica que evidencia “imperfeições na
própria  ideia que norteia o  julgamento”. Ou seja: os enunciados confusos, no plano
jurídico, se apresentam como “consequência de desordem, hesitação nas convicções
do  julgador”.437 O  quadro,  em  seu  conjunto  é  de  obscuridade,  não  de  palavras  ou
frases, mas das ideias reveladas caoticamente na formulação do decisório.438
É  farta  a  inteligência  doutrinária  acerca  do  tema.  Para  Araújo  Cintra,  por
exemplo, a obscuridade cogitada no art. 1.022, I, do NCPC,  tanto pode decorrer da
simples imperfeição na “expressão do pensamento do juiz” como pode “proceder da
incompleta formação do convencimento do juiz a respeito das questões de fato ou de
direito  submetidas  à  sua  apreciação”.  De  maneira  que  “se  o  pensamento  do
magistrado  hesita  quanto  à  melhor  solução  a  dar  a  uma  determinada  questão,  a
expressão do seu pensamento tende a refletir a sua vacilação”.439
No mesmo sentido, ensina Vicente Greco Filho que a obscuridade  impugnável
pelos  embargos  de  declaração  “pode  decorrer  de  simples  defeito  redacional  ou
mesmo  de má  formulação  de  conceitos”.440  Também Moniz  de Aragão  entrevê  a
falta  de  clareza  na  simples  expressão  do  juízo,  como  vício  da  sentença,  e  a
obscuridade  como  vício  localizado  no  “próprio  raciocínio”  utilizado  pelo  julgador
(i.e., “um vício de julgamento”).441
Essas  ilogicidades,  incongruências  e  dubiedades  na  formulação  do  ato
sentencial, quando conduzem a um alto grau de obscuridade, ensejam o emprego dos
embargos de declaração, com possibilidades maiores do que o mero aclaramento do
julgado;  a  atuação  do  juiz,  na  supressão  da  ambiguidade,  pode  se  prestar  “para
atribuir  efeitos  modificativos  aos  embargos”,442  se  estes  forem  consequência  do
saneamento da decisão embargada.
É  importante  ressaltar,  outrossim,  que  a  dubiedade  a  ser  corrigida  pelos
embargos  não  é  exclusiva  do  dispositivo  da  sentença.  Pode  situar-se  na
fundamentação, no dispositivo ou em ambos, como advertem Barbosa Moreira443 e
Pontes de Miranda.444Contradição
1312
803.
A decisão  judicial é um ato  lógico, de maneira que entre as conclusões e suas
premissas  não  pode  haver  contradição  alguma. Os  argumentos  e  os  resultados  do
decisório devem ser harmônicos e congruentes. Se no decisório acham-se presentes
“proposições  entre  si  inconciliáveis”,  impõe-se  o  recurso  aos  embargos  de
declaração.445
Distingue-se  a  contradição  da  obscuridade:  aquela  ocorre  quanto  são
inconciliáveis  duas  ou mais  proposições  do  decisório. A  conclusão,  por  exemplo,
não pode contradizer a  fundamentação da  sentença.446 Mas, se os  fundamentos são
imprecisos  ou  incompreensíveis,  tornando  difícil  sua  harmonização  com  o
dispositivo da sentença, o caso não é, propriamente, de julgamento contaminado por
contradição, mas sim por obscuridade.447
Para Calamandrei a consequência da contradição, assim como da obscuridade, é
a  ineficácia do  julgado e sua  inaptidão para pacificar o  litígio, em  total prejuízo do
“acesso  à  ordem  jurídica  justa”.  A  sentença  contaminada  por  proposições
contraditórias  se  torna  ineficaz  porque  elas  reciprocamente  se  neutralizam  e  se
eliminam. Em outras palavras, a ineficácia da sentença assim viciada decorre do fato
de a “indecisão” (o litígio) ter sido acertada com a “incerteza”.448
Enfim, a contradição é sempre um gravíssimo vício da decisão judicial, mesmo
quando  fique  restrita  à  fundamentação.  É  que  fundamentação  contraditória  se
equipara à própria ausência de motivação, na lição de Calamandrei.449
Omissão
Configura-se a omissão quando o ato decisório deixa de apreciar matéria sobre
o  qual  teria  de manifestar-se.450  É  induvidoso,  portanto,  o  direito  processual  de
nosso  tempo, que  “é direito da parte obter  [da  Justiça]  comentário  sobre  todos os
pontos levantados nos embargos declaratórios”, de modo que “é nulo, por ofen-sa ao
art.  535,  do  CPC  [NCPC,  art.  1.022],  o  acórdão  que  silencia  sobre  questão
formulada nos embargos declaratórios”.451
No  processo  justo,  instituído  e  garantido  pelo  Estado  Democrático,  o  con-
traditório  deve  ser  completo,  desde  o  diálogo  da  propositura  da  demanda  até  a
resposta jurisdicional. Como o acesso à justiça há de ser pleno (CF, art. 5º, XXXV),
pois  não  é  dado  ao  litigante  praticar  a  autotutela mediante  suas  próprias  forças,
nenhuma  questão  relevante  para  a  justa  composição  do  litígio  pode  deixar  de  ser
apreciada e ponderada pelo  juiz. A  resposta do órgão  judicial não é arbitrária, nem
mesmo  discricionária.  Tem  de  ser  “suficiente  e  adequada”  diante  das  pretensões
1313
contrapostas,  devendo  a motivação  do  decisório  abarcar  as  questões  de  fato  e  de
direito  integrantes  do  litígio.  As  garantias  do  processo  e  da  tutela  jurisdicional
constituem  direitos  fundamentais  assegurados  pela Constituição,  com  destaque  ao
dever de proferir decisões adequadamente  fundamentadas,  sob pena de nulidade do
julgamento (CF/1988, art. 93, IX).452
Grave não é apenas a falta de resposta a um pedido do autor ou a uma defesa do
réu;  é  também  igualmente  grave  a  análise  incompleta  dos  fundamentos  das
pretensões  deduzidas  em  juízo.  Nesta  última  situação,  há  uma  resposta  judicial
àquelas pretensões, mas uma resposta imperfeita e insuficiente para cumprir o dever
constitucional de fundamentação imposto ao Judiciário em todas as suas decisões.
Se  decidir  aquém  da  demanda,  reduzindo  indevidamente  o  pedido  ou  os
fundamentos postos pelas partes, ou por  alguma delas, o  juiz  infringirá  a garantia
constitucional da ação e de acesso à justiça (CR/1988, art. 5º, XXXV), como adverte
Cândido Dinamarco.453
Decorre  diretamente  da  garantia  do  devido  processo  legal  (CR/1988,  art.  5º,
LIV)  a  obrigatoriedade  de  que  a  motivação  da  decisão  judicial  (CR/1988,
art. 93, IX) tenha extensão e profundidade para “justificar suficiente e racionalmente
o des-linde dado  à  causa”.454 E  isto  só  acontecerá  quando,  no  dizer  de Taruffo,  a
sentença ostentar a completeza da motivação.455
Qualquer  falha ou omissão no campo da apreciação das pretensões e  respecti-
vos  fundamentos deduzidos em  juízo vicia a  sentença em elemento essencial à  sua
validade e eficácia. Ainda que alguns argumentos tenham sido trabalhados pelo juiz,
a  análise  incompleta  diante  das  questões  propostas  pelas  partes  significa  que  a
fundamentação não terá sido adequada, o que “implica insuficiência de motiva-ção e
autoriza a oposição de embargos de declaração”. Se tal se passa no primeiro grau de
jurisdição, muito mais grave se torna a lacunosidade dos julgamentos dos tribunais,
visto  que,  as  instâncias  especiais  e  extraordinárias  não  apreciam  recursos  sobre
matérias não enfrentadas pelo segundo grau de jurisdição.456
Não merece acolhida a  tese, às vezes  invocada pela  jurisprudência à época do
Código  anterior,  de  que  o  tribunal  não  está  obrigado  a  responder  a  todos  os
argumentos da parte, bastando  justificar as razões adotadas para chegar à conclusão
adotada  pelo  decisório. O NCPC  foi  bem  claro,  no  art.  489,  §  1º,  IV,457  não  se
consi-derar  fundamentada  a  decisão  que  “não  enfrentar  todos  os  argumentos
deduzidos  no  processo  capazes  de,  em  tese,  infirmar  a  conclusão  adotada  pelo
julgador”.
1314
804.
(a)
(b)
(i)
(ii)
Se  remanesce  alguma questão  arguida pelo  litigante  cuja  solução  se  apresente
potencialmente  capaz  de  influir  na  eventual  composição  do  litígio,  o  tribunal  não
pode  deixar  de  enfrentá-la.  Se  se  ignorar  essa  imposição  do  sistema  do  contradi-
tório e da completude obrigatória da apreensão e resolução do conflito deduzido em
juízo  e  se  der  ao  privilégio  de  escolher  as  questões  a  compor,  dentre  as  diversas
formuladas  pelo  litigante,  o  juiz  ou  tribunal  estará  proferindo  decisão  incompleta,
deficiente e passível de nulidade. Os embargos de declaração são,  in casu, o remé-
dio  recursal, específico para  sanar esse  tipo de vício de  julgamento, e completar o
ato  judicial,  tornando-o  congruente  com  as  questões  validamente  deduzidas  no
processo. Com  isso  se  alcança  não  só  um  decisório  completo,  como  se  cumpre  o
dever  constitucional  de  que  as  decisões  judiciais  sejam  sempre  adequadamente
fundamentadas, sob pena de nulidade (CF, art. 93, IX).
O  novo Código  foi  expresso,  ainda,  em  determinar  ser  cabível  os  embargos
para  suprir omissão de ponto ou questão  sobre a qual o  juiz deveria pronunciar de
ofício  (art.  1.022,  II).  Resolveu,  assim,  controvérsia  que  existia  à  época  da
legislação  anterior  acerca  da  possibilidade  ou  não  de  a  parte  arguir  em  embargos
matéria não debatida ainda nos autos, mas que, por ser de ordem pública, podia ser
conhecida  pelo  magistrado  de  ofício.458  Em  tal  hipótese,  os  embargos  assumem
feitio  infringente,  para  permitir  a  cassação  do  julgamento  impugnado,  podendo,
outrossim, determinar, se for o caso, nova apreciação do recurso principal.459
Hipóteses de omissão
O  novo  Código  deu  maior  e  mais  explícita  dimensão  às  decisões  omissas,
passando  no  parágrafo  único  do  art.  1.022460  a  considerar  como  tais  os  seguintes
julgados:
o  que  deixe  de  se manifestar  sobre  tese  firmada  em  julgamento  de  casos
repetitivos  ou  em  incidente  de  assunção  de  competência  aplicável  ao  caso
sob julgamento (inciso I);
o que incorra em qualquer uma das seguintes condutas (inciso II):
o  que  se  limite  à  indicação,  à  reprodução  ou  à  paráfrase  de  ato
normativo,  sem  explicar  sua  relação  com  a  causa  ou  a  questão
decidida;
o  que  empregue  conceitos  jurídicos  indeterminados,  sem  explicar  o
motivo concreto de sua incidência nocaso;
1315
(iii)
(iv)
(v)
(vi)
805.
o  que  invoque motivos  que  se  prestariam  a  justificar  qualquer  outra
decisão;
o  que  não  enfrente  todos  os  argumentos  deduzidos  no  processo
capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
o  que  se  limite  a  invocar  precedente  ou  enunciado  de  súmula,  sem
identificar  seus  fundamentos  determinantes  nem  demonstrar  que  o
caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; e,
o  que  deixe  de  seguir  enunciado  de  súmula,  jurisprudência  ou
precedente  invocado  pela  parte,  sem  demonstrar  a  existência  de
distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento (art.
489, § 1º) (tratamos mais detalhadamente do tema no item nº 766 do v.
I).
A  legislação  nova  foi  severa  e minuciosa  na  repulsa  à  tolerância  com  que  os
tribunais vinham compactuando com verdadeiros simulacros de  fundamentação, em
largo uso na praxe dos juízos de primeiro grau e nos tribunais superiores. Por isso a
enumeração explícita do NCPC das situações em que não se deva considerar como
fundamentada a decisão, sendo ela, portanto, omissa. Em todas essas situações, são
cabíveis  os  embargos  de  declaração,  para  forçar  o  órgão  judicante  a  completar  o
decisório.
Erro material
O  novo  CPC  acrescentou  uma  outra  hipótese  ao  rol  de  cabimentos  dos
embargos,  estabelecendo,  expressamente,  serem  admissíveis  para  corrigir  erro
material,  ou  seja,  aquele  manifesto,  visível,  facilmente  verificável  (NCPC,  art.
1.022, III).461 A jurisprudência, à época da codificação anterior, já vinha ampliando
as hipóteses de cabimento desse recurso, de modo a permitir seu emprego com o fim
corrigir  erro  material  no  decisum.462  De  tal  sorte  que  a  nova  legislação  apenas
positivou o entendimento jurisprudencial dominante.
A  rigor, o erro material consiste na “dissonância  flagrante entre a vontade do
julgador e a sua exteriorização; num defeito mínimo de expressão, que não interfere
no  julgamento  da  causa  e  na  ideia  nele  veiculada  (por  exemplo,  2  +  2  =  5)”.463
Ocorre  essa modalidade  de  erro  quando  a  declaração,  de  fato,  não  corresponde  à
vontade real do declarante. Assim, e ainda a rigor, não se enquadram nessa categoria
a  inobservância de  regras processuais e os erros de  julgamento, vale dizer, o error
1316
in  procedendo  e  o  error   in  iudicando.464  E  desse modo,  o NCPC,  visto  em  sua
literalidade, não teria chegado a incluir entre os casos de embargos de declaração, os
chamados  “erros  evidentes”,  que  acontecem  quando  o  juiz,  ao  decidir,  incorre  em
equívoco manifesto na análise dos fatos ou na aplicação do direito.
Lembra  Rodrigo Mazzei,  a  propósito,  que  o  erro  admitido  pelo  novo  CPC
como corrigível por meio dos declaratórios poderia, a exemplo do que se passa no
Código português, incluir o error  in iudicando.465 Assim, no conceito de erro, para
efeito dos embargos, estaria incluída a premissa equivocada, que a jurisprudência já
vinha  dando  como  vício  corrigível  no  espaço  dos  declaratórios,466  inclusive  no
âmbito da justiça do trabalho.467
Ressalte-se, no entanto, que além de se prestar ao reconhecimento de nulidade
de  ordem  pública  e  da  correção  do  erro material,  os  embargos  de  declaração  têm
sofrido uma ampliação de cabimento por obra pretoriana, em nome dos moder-nos
princípios da instrumentalidade e da efetividade do processo. Em caso, por exemplo,
de  contraste  entre  o  acórdão  embargado  e  a  jurisprudência  pacífica  do  STJ,  já
decidiu  aquela  alta  Corte  que  a modificação  do  julgado  pelo  tribunal  de  origem,
embora  ofenda  o  art.  1.022,  não  merece  ser  sancionada  com  a  decretação  de
nulidade. A prevalência da regra instrumental somente retardaria e tornaria mais cara
e  penosa  a  obtenção  da  tutela  jurisdicional.  Cassar  um  julgamento,  para  que  a
mesma matéria retorne, por meio do recurso especial, ao conhecimento do STJ, para
afinal  receber  solução  exatamente  igual  a  que  prevaleceu  no  julgamento  dos
declaratórios,  entraria  em  atrito  com  a  teleologia  do  processo  justo,  fundada  na
garantia de  celeridade,  efetividade  e  razoabilidade da duração do processo.468 Com
isso,  o  STJ  preferiu manter,  na  particularidade  do  caso,  um  acórdão  de  tri-bunal
inferior, que na  literalidade da  lei processual estaria exorbitando os  limites do art.
535 do CPC/1973 (NCPC, art. 1.022), mas que, à evidência aplicou no mérito  tese
corretíssima,  avaliada  pela  própria  jurisprudência  da  Corte  Superior.  Nota-se,
portanto, uma  tendência de  reconhecer, na  jurisprudência, um papel mais prático  e
mais  amplo  aos  embargos  de  declaração,  sem,  é  claro,  ignorar  os  limites  do  art.
1.022  do  NCPC,  na  ausência  de  razões  relevantes  que  justifiquem  sua  pontual
inobservância.
Nessa  mesma  perspectiva,  nos  últimos  tempos,  os  tribunais  superiores  têm
admitido que os embargos de declaração se prestem a corrigir decisão contaminada
por  “escancarado  engano”  formado  a  partir  do  desconhecimento  de  determinada
circunstância evidente nos autos ou de premissa totalmente equivocada. O equívoco,
em tais casos, seria tão acentuado que o reparo não exigiria um verdadeiro reexame
1317
806.
(a)
(b)
nem um profundo rejulgamento da causa. Um simples alerta mostrar-se-ia suficiente
para a necessária reformulação do entendimento equivocadamente manifestado. Esse
avançado emprego dos embargos de declaração não pode ser desprezado na aplicação
do novo Código, como já se advertiu em doutrina.469
Compreensão extensiva do cabimento dos embargos de
declaração
O  art.  1.022  do NCPC  alargou  as  hipóteses  de  cabimento  dos  embargos  de
declaração, seguindo a  tendência da  jurisprudência à época da  legislação anterior de
ampliação do cabimento dos declaratórios de modo a alcançar situações que, a rigor,
não  se  enquadrariam  no  casuísmo  do  art.  535  do  CPC/1973.  De  longa  data  os
tribunais  construíram  a  tese  de  ser  o  erro  material  passível  de  correção  por
intermédio dos embargos de declaração, o que agora está expresso no NCPC. Não se
deteve,  porém,  a  criação  jurisprudencial  apenas  no  erro material. Mais  ampliou  o
uso do  recurso do  art. 1.022 para  alcançar o  erro de  fato  e  até de direito, quando
qualificável  como  “erro manifesto”.470 Argumenta-se, para  justificar  a  correção do
equívoco  grave  e  evidente,  com  o  princípio  da  economia  processual,  já  que  os
embargos  teriam, nesses casos especialíssimos, o papel de evitar o ajuizamento de
futura ação rescisória, de efeitos facilmente previsíveis.
Em dois outros acórdãos, o STJ assentou:
em caso de  ter  sido  reconhecido um contrato no pressuposto de que havia
um  início de prova  escrita, os  embargos, que demonstraram  só  existir no
processo  prova  testemunhal,  foram  providos  para modificar  o  julgamento
de mérito, por ter sido resultado de “erro manifesto”;471
em  caso  de  deferimento  de  índice  de  atualização monetária  não  pleiteado
pelo  recorrente,  também  foram  acolhidos  e  providos  os  embargos  para
“corrigir o erro evidente”.472
A  invocação  de  premissas  equivocadas  no  acórdão  tem  sido  reiteradamente
admitida  como  “erro material”,  ou  “erro  de  fato”  capaz  de  justificar  a  reforma  do
acórdão por meio de embargos de declaração.473
Tomando como ponto de partida a  jurisprudência do STJ e a nova  redação do
art. 1.022 do NCPC, parece certo que, em relação aos casos legais de cabimento dos
embargos de declaração, deve-se evitar a  interpretação  literal e restritiva, para fazer
prevalecer  maior  utilidade  e  funcionalidade  do  recurso  integrativo.  Por  exemplo,
1318
(a)
(b)
(c)
(d)
cabem as seguintes ponderações:
a  obscuridadedo  julgado  não  deve  ser  visualizada  apenas  nas  palavras  e
frases  do  decisório,  mas  também  na  forma  desconexa  de  organizar  o
raciocínio  na  construção  dos  fundamentos  que  devem  alicerçar  as
conclusões do julgado;
nas  contradições,  deve-se  avançar  a  avaliação  para  além  dos  contrastes
entre  conclusões  e  premissas. A  coerência  deve  instalar-se  sobre  todo  o
arcabouço  lógico da sentença,  tanto na apreciação dos fatos e provas como
das questões de direito, em  razão da conduta de boa-fé e  lealdade exigida,
pelo moderno processo  justo, não  só das partes mas  também dos  juízes e
tribunais.  Não  se  admite  contradição  entre  a  conduta  que  antecede  à
sentença e aquela que se observou no julgamento de mérito;474
por  fim,  as  omissões  justificadoras  dos  embargos  de  declaração  podem
referir-se  tanto  aos  pedidos  como  aos  seus  fundamentos,  e  podem  se
apresentar como  falta  total de consideração à questão de  fato ou de direito
arguida no processo, como na apreciação apenas de parte das pretensões e
respectivos  fundamentos.  A  fundamentação  do  decisório  há  de  conter
resposta completa e adequada a  todos os argumentos  relevantes deduzidos
em  juízo. Assim, a omissão a corrigir por meio de embargos declaratórios
pode ser total ou parcial, referindo-se aos pedidos ou aos fundamentos que
os sustentem;
são cabíveis, ainda os embargos de declaração para corrigir erro material ou
de fato, configurador de premissa falsa ou equivocada adotada pela decisão
embargada.475
Com esse comportamento, a  jurisprudência  tem  transformado os embargos de
declaração num poderoso e eficiente  instrumento de extirpação dos erros cometidos
nas  decisões,  de  maneira  grave  e  evidente.  Segundo  o  espírito  da  tutela  justa  e
efetiva, assegurada pela ordem constitucional democrática, não há  justificativa para
se recusar a aplicação de um procedimento idôneo para superar, de pronto, tais erros
judiciais,  principalmente  quando  não  houver  outro  recurso  para  a  reforma  do
decisório  equivocado,  ou  quando  o  recurso  existente  for  de  problemática  eficácia
para evitar o prejuízo imediato e certo do litigante.
Nessa quadra evolutiva do direito processual civil, os erros conspícuos, mesmo
ultrapassando  literalmente os estritos  limites dos erros materiais,  têm sido  tratados
1319
807.
como sanáveis em sede de embargos de declaração, e tudo conspira para que devam
continuar a sê-lo no regime do novo CPC, com as devidas cautelas.
Convém,  por  último,  registrar  que  as  duas  turmas  do  STF,  em  decisões
recentíssimas, pronunciadas no final da vacatio legis, do NCPC e nos primeiros dias
de  sua  vigência,  acentuaram  a  tendência  jurisprudencial  de  elastecer  os  casos  de
admissibilidade  dos  embargos  declaratórios,  admitindo  seu  emprego  para  corrigir
erros evidentes, ainda que não enquadrados com exatidão no casuísmo do Código.
Trata-se  de  interpretação  e  aplicação  dos  instrumentos  processuais,  de  maneira
funcional  e  teleológica, mais  atenta  às metas da  tutela  jurisdicional  justa do que  à
subserviência às formalidades legais. Nessa linha:
(a)  a  1ª  Turma  acolheu  os  embargos  de  declaração  para  reconhecer  o  erro
cometido  no  provimento  do  recurso,  consistente  em  aplicar  “teto  financeiro”  a
empregado de sociedade de economia mista estadual (CEDAE), quando, na verdade,
“possui  autonomia  financeira”.  O  recurso  extraordinário  que  não  havia  sido
conhecido, por força dos declaratórios acabou sendo conhecido e provido.476
(b)  a  2ª  Turma,  por  sua  vez,  através  de  decisão  do  Relator  Min.  Teori
Zavascki, acolheu embargos declaratórios para reconhecer o erro cometido acerca do
índice  de  correção monetária  aplicado  no  julgamento  do  recurso  extraordinário  e
reformou  a  decisão  embargada,  dando  dessa  forma  efeito  infringente  aos
embargos.477
Procedimento
I – Proposição dos embargos
Os embargos de declaração devem ser propostos no prazo de cinco dias,  tanto
no  caso  de  decisão  de  primeiro  grau,  como  de  tribunal. Contar-se-á  em  dobro  se
houver litisconsortes, com diferentes advogados.478
A  petição  do  embargante  será  endereçada  ao  juiz  ou  ao  relator,  com  precisa
indicação  do  erro,  obscuridade,  contradição  ou  omissão  (art.  1.023  caput).479 Que
justifique a pretendida declaração. Não há preparo.
II – Julgamento
Em regra, sem audiência da parte contrária, o  juiz decidirá o recurso em cinco
dias.
Nos  tribunais,  o  julgamento  caberá  ao mesmo  órgão  que  proferiu  o  acórdão
embargado.  Para  tanto,  o  relator  apresentará  os  embargos  em  mesa  na  sessão
1320
808.
subsequente, proferindo seu voto. Se não houver julgamento nessa sessão, o recurso
será  incluído em pauta automaticamente  (art. 1.024, § 1º).480 Quer  isso dizer que o
relator  do  acórdão  impugnado  continuará  sendo  o  relator  para  o  julgamento  dos
embargos declaratórios. Não  lhe cabe, portanto,  julgar monocraticamente embargos
de declaração opostos a decisório do colegiado.
O NCPC, contudo, tem regra no sentido de que se o recurso for oposto contra
decisão singular do  relator ou outra unipessoal proferida em  tribunal, o prolator da
decisão  embargada  decidi-lo-á  monocraticamente  (art.  1.024,  §  2º).  Vale  dizer,
nesses casos, não há cabimento de serem os embargos julgados pelo órgão especial.
O  recurso  será  sempre decidido pelo mesmo órgão  singular que proferiu a decisão
impugnada.481
III – Contraditório
Em  regra,  não  há  contraditório  após  a  interposição  do  recurso,  pois  os
embargos  de  declaração  não  se  destinam  a  um  novo  julgamento  da  causa,  mas
apenas ao aperfeiçoamento do decisório já proferido.
Havendo, porém, casos em que o suprimento de lacuna ou a eliminação do erro
ou da contradição possa  implicar modificação da decisão embargada, deverá o  juiz
intimar  o  embargado  para,  querendo,  manifestar-se  no  prazo  de  cinco  dias  (art.
1.023, § 2º).482
Registre-se que há uma corrente que defende entendimento muito mais amplo,
segundo o qual o  contraditório deveria  ser observado  em qualquer  situação,  e não
apenas nos casos em que se pleiteia modificação da decisão embargada.483
Prequestionamento
O novo Código superou o drama frequentemente enfrentado pela parte que tem
de atender a exigência de prequestionamento como  requisito de admissibilidade do
recurso especial e do recurso extraordinário, e encontra resistência do tribunal a quo
a  pronunciar-se  sobre  os  embargos  de  declaração,  havidos  como  necessários  pela
jurisprudência do STF e do STJ.
Para não deixar desamparado o recorrente, dispôs o art. 1.025:484 “consideram--
se  incluídos no acórdão os elementos que o embargante suscitou, para  fins de pré-
questionamento,  ainda  que  os  embargos  de  declaração  sejam  inadmitidos  ou
rejeitados,  caso o  tribunal  superior  considere  existentes  erro, omissão,  contradição
ou obscuridade”.
Com  essa  inovação,  desde  que  se  considere  realmente  ocorrente  no  acórdão
1321
809.
embargado,  erro,  omissão,  contradição  ou  obscuridade,  considerar-se-ão
prequestionados os elementos apontados pelo embargante, ainda que o Tribunal de
origem não admita os embargos. Vale dizer, o Tribunal Superior deverá considerar
“incluídos no acórdão os elementos que o recorrente afirma deverem constar, se os
embargos de declaração tiverem sido indevidamente inadmitidos”.485
Com essa postura, o novo CPC adotou orientação que  já vinha sendo aplicada
pelo STF, segundo sua Súmula nº 356,486 no sentido de ser suficiente a oposição de
embargos de declaração pela parte, para  se entender  realizado o prequestionamento
necessário para a viabilidade do recurso extraordinário.
A nosso ver, a tese do novo CPC a respeito do prequestionamentose afina com
o  posicionamento  que  já  vinha  sendo  adotado  pelo  STF,  segundo  o  qual,  se  o
tribunal  de  origem  se  recusa  a  suprir,  em  embargos  declaratórios  devidamente
manifestados, omissão efetivamente ocorrida, deve o requisito do prequestionamento
ser dado como superado.487 Portanto, à luz do art. 1.025 do NCPC, o julgamento do
recurso extraordinário ou especial não deve  limitar-se ao  reconhecimento da ofensa
cometida  às  regras  dos  declaratórios,  a  fim  de  impor  ao  tribunal  de  origem  outro
julgamento  ao  recurso  aclarador,  como  prevalecia  na  jurisprudência  do  STJ
anteriormente ao Código atual.488
Nos  termos da  lei nova, o que ocorre é o  reconhecimento de estar superado o
requisito do prequestionamento, na espécie, malgrado a omissão  indevida cometida
pelo  tribunal  a  quo.  Caberá,  assim,  ao  tribunal  superior  (STF  ou  STJ)  julgar  o
recurso extraordinário ou especial e não devolver o processo à inferior instância para
novo julgamento dos embargos.
Efeito interruptivo
Segundo o texto primitivo do art. 538 do CPC/1973, os embargos de declaração
suspendiam  o  prazo  para  a  interposição  de  outros  recursos,  efeito  que  valia  tanto
para o embargante como para a parte contrária, e até para terceiros prejudi-cados.489
Com a nova  redação dada ao dispositivo do Código anterior pela Lei nº 8.950, de
13.12.1994, os embargos passaram a ter efeito interruptivo em relação ao prazo dos
demais recursos.490 Esse  efeito  foi mantido  pelo NCPC,  ao  dispor,  no  art.  1.026,
que  “os  embargos  de  declaração  não  possuem  efeito  suspensivo  e  interrompem  o
prazo para a interposição de recurso”.
Após  o  julgamento  dos  declaratórios,  portanto,  recomeça-se  a  contagem  por
inteiro  do  prazo  para  interposição  do  outro  recurso  cabível  na  espécie  contra  a
1322
decisão  embargada.  A  reabertura  do  prazo  deve  beneficiar  todos  que  tenham
legitimação  para  recorrer,  e  não  apenas  o  embargante.  Interrompe-se  o  prazo  do
recurso principal na data do ajuizamento dos embargos e permanece sem fluir até a
intimação do aresto que os decidir.491
Considerando que os embargos de declaração não se destinam ao reexame das
questões já decididas, o Superior Tribunal de Justiça tem acentuado, reiteradamente,
que se a parte usar o recurso fora dos permissivos do art. 1.022, e o empregar para
simplesmente encobrir o verdadeiro pedido de  reconsideração,  será  o  caso  de  não
lhes  reconhecer  a  força  interruptiva  do  prazo  do  recurso  principal  prevista  no  art.
1.026.492  Ou  seja:  a  jurisprudência  do  STJ  no  sentido  de  que  “os  embargos  de
declaração, ainda que rejeitados,  interrompem o prazo recursal não pode servir para
mascarar  meros  pedidos  de  reconsideração  nomeados  de  ‘embargos  de
declaração’”.493
Todavia,  instalada  divergência  entre  as  Turmas,494  a  questão  foi  levada  à
apreciação da Corte Especial do STJ, a qual, por decisão unânime, repeliu a tese da
possibilidade  de  tratar  os  embargos  declaratórios  como  mero  “pedido  de  re-
consideração”. Ainda  que  o  objetivo  tenha  sido  puramente  infringente  da  decisão
embargada, aquela Alta Corte considerou a tese em foco como violadora do art. 538
do CPC/1973 (art. 1.026 do CPC/2015).
Os fundamentos do acórdão da Corte Especial, que teve o fito de uniformizar a
jurisprudência do STJ, foram os seguintes:
“(...)  2. Tal  descabida mutação:  a)  não  atende  a  nenhuma  pre-visão
legal,  tampouco aos  requisitos de aplicação do princípio da  fungibilidade
recursal; b)  traz  surpresa  e  insegurança  jurídica  ao  ju-risdicionado, pois,
apesar de  interposto  tempestivamente o recurso cabível, ficará à mercê da
subjetividade do magistrado; c) acarreta ao embargante grave sanção sem
respaldo  legal,  qual  seja  a  não  interrup-ção  de  prazo  para  posteriores
recursos,  aniquilando  o  direito  da  parte  embargante,  o  que  supera  a
penalidade objetiva positivada no art. 538, parágrafo único, do CPC.
3. A única hipótese de os embargos de declaração, mesmo con-tendo
pedido  de  efeitos  modificativos,  não  interromperem  o  prazo  para
posteriores  recursos  é  a  de  intempestividade,  que  conduz  ao  não
conhecimento do recurso.
4.  Assim  como  inexiste  respaldo  legal  para  se  acolher  pedido  de
reconsideração  como  embargos  de  declaração,  tampouco  há  arrimo  legal
1323
810.
para  se  receber  os  aclaratórios  como  pedido  de  reconsideração. Não  se
pode  transformar um  recurso  taxativamente previsto no art. 535 do CPC
em  uma  figura  atípica,  ‘pedido  de  reconsideração’,  que  não  possui
previsão legal ou regimental”.495
Relevante, por fim, é a distinção feita pelo STJ entre o efeito dos embargos de
declaração diante dos prazos de  recurso e de contestação, quando, por exemplo,  se
está perante decisão de medida liminar anterior à citação. Para aquela Corte “os em-
bargos  de  declaração  interrompem  o  prazo  para  a  interposição  de  outros  recursos,
por  qualquer  das  partes,  nos  termos  do  art.  538  do CPC/73”.  “Tendo  em  vista  a
natureza jurídica diversa da contestação e do recurso, não se aplica a interrupção do
prazo  para  oferecimento  da  contestação,  estando  configurada  a  revelia”.
Fundamentou-se,  o  aresto,  no  argumento  de  que  “a  contestação  possui  natureza
jurídica de defesa. O recurso, por sua vez, é uma continuação do exercício do direito
de ação, representan-do remédio voluntário  idôneo a ensejar a reanálise de decisões
judiciais  proferidas  dentro  de  um  mesmo  processo.  Denota-se,  portanto,  que  a
contestação  e  o  recurso  possuem  naturezas  jurídicas  distintas  (...)”496. Daí  porque
não se pode aplicar uma suspensão específica do prazo de recurso a um prazo típico
de defesa.
Recurso interposto antes dos embargos de declaração
Que ocorre se uma parte já havia interposto o recurso principal, quando a outra
lançou mão dos embargos de declaração? Duas  são as  situações a considerar:  (i) o
objeto  dos  embargos  não  interfere  no  do  recurso  principal,  de  maneira  que  o
julgamento  daqueles  nada  alterou  quanto  à  matéria  impugnada  no  último;  (ii)  o
objeto  dos  embargos  incide  sobre  questões  enfocadas  no  recurso  principal.  No
primeiro  caso,  não  haverá  necessidade  de  ser  renovado  ou  ratificado  o  recurso
anteriormente  interposto;497  no  segundo,  todavia,  a  reiteração  se  faz  necessária,
porque, uma vez julgados e acolhidos os embargos, a decisão recorrida já não será a
mesma que o recurso principal antes atacara498 (ver, retro, o nº 743).
O  problema  que  suscitou  divergências  no  passado,  no  regime  do  NCPC  é
objeto  de  regulação  clara  e  precisa:  não  pode  o  recurso  interposto  antes  dos
embargos  de  declaração  ser  tratado  como  intempestivo  e  sujeito  à  obrigatória
reiteração após resolução dos aclaratórios. Mesmo que haja modificação da decisão
originária,  ter--se-á  de  abrir,  obrigatoriamente,  prazo  de  quinze  dias  para  que  o
recorrente  possa  alterar  suas  razões,  compatibilizando-as  com  o  teor  do  último
1324
811.
julgado (NCPC, art. 1.024, § 4º). Por outro lado, o novo Código é também expresso
na  previsão  de  que,  independentemente  de  ratificação,  o  primitivo  recurso  será
normalmente conhecido e  julgado, “se os embargos de declaração  forem  rejeitados
ou  não  alterarem  a  conclusão  do  julgamento  anterior”  (art.  1.024,  §  5º).  Sobre  o
tema, ver, retro, o item nº 743.
O  STJ  chegou  a  sumular  sua  jurisprudência,  com  o  seguinte  enunciado:  “É
inadmissível  o  recurso  especial  interposto  antes  da  publicação  do  acórdão  dos
embargos  de  declaração,  sem  posterior  ratificação”  (Súmula  nº  418).  A  Corte
Especial  daquele  tribunal,  no  entanto,  em  questão  de  ordem  suscitadano  REsp
1.129.215/DF,  firmou  entendimento  de  que  “a  única  interpretação  cabível  para  o
enunciado  da  Súmula  418  do  STJ  é  aquela  que  prevê  o  ônus  da  ratificação  do
recurso  interposto  na  pendência  de  embargos  declaratórios  apenas  quando  houver
alteração na conclusão do julgamento anterior”.499
Efeito suspensivo especial
A regra básica do NCPC é que todo recurso, em princípio, tem apenas o efeito
devolutivo,  não  suspendendo  a  eficácia  da  decisão  recorrida  (NCPC,  art.  995),  de
modo que não  impede a preclusão nem o  imediato cumprimento da decisão  judicial
impugnada.  Enquanto  o  efeito  devolutivo  é  constante,  o  suspensivo  só  ocorre
quando a lei o preveja ou o autorize em norma especial, como ressalva o citado art.
995, no caput e no parágrafo único.
Ao  tratar  especificamente  dos  embargos  de  declaração,  a  lei  nova  dispôs  que
eles “não possuem efeito suspensivo” (art. 1.026, caput, primeira parte). Afastou-se,
portanto, de  forte doutrina  existente  à  época do Código  anterior, que  reconhecia  a
força  suspensiva desse  recurso.500 Destarte, os  embargos de declaração não  têm o
condão de suspender a eficácia da decisão recorrida.
Com a nova disciplina, a oposição de embargos não  impede a  interposição do
recurso principal. Todavia, o conhecimento e o processamento deste último se darão
apenas depois de  julgados os embargos, criando-se assim um  intervalo  suspensivo
no  tocante  ao  recurso  principal  apenas,  já  que  se  estabelece  uma  relação  de
condicionamento  ou  de  prejudicialidade  lógica  entre  os  dois  recursos manejáveis
contra a mesma decisão.
É  nulo,  portanto,  o  julgamento  do  recurso  principal  antes  de  decididos  os
embargos de declaração. Isto porque é vedada a prática de atos processuais enquanto
suspenso  o  processo.  O  ato  atingido  pelos  embargos  fica  com  o  seu  teor
1325
811-A.
(a)
(b)
condicionado ao resultado dos declaratórios.
Julgar o recurso principal antes dos embargos declaratórios importa julgar algo
sem objeto definido, ou seja, julgar algo que pode ser ou não ser aquilo que se ataca
pela via recursal. Enquanto não se resolvem os embargos, não se tem o que rejulgar
em  segundo  grau.  E  se  tal  acontecer,  ter-se-á  configurado  o  risco  de  decidir,  no
tribunal,  sobre  ato  diverso  daquele  que  efetivamente  foi  praticado  na  instância
inferior.
Esse  efeito  suspensivo  especial  dos  declaratórios,  que  não  afeta  o  processo
como um todo, mas apenas o recurso principal, é uma imposição lógica e necessária,
para  evitar  a  incongruência  e  a  contradição  que  podem  advir  da  concomitância  do
processamento e resolução dos declaratórios e do recurso principal diante da mesma
decisão.
Possibilidade de concessão de efeito suspensivo
Muito  embora  os  embargos  de  declaração  não  tenham,  em  regra,  efeito
suspensivo, – permitindo por isso o imediato cumprimento da decisão embargada –,
o  §  1º  do  art.  1.026  autoriza,  em  caráter  excepcional,  a  suspensão  da  eficácia  da
referida decisão em duas hipóteses:
quando demonstrada a probabilidade de provimento dos embargos ou,
quando  relevante  a  fundamentação  dos  embargos,  houver  risco  de  dano
grave  ou  de  difícil  reparação,501  que  naturalmente  não  possa  aguardar  o
julgamento do recurso.
Ocorre, por exemplo, o caso da letra (a) quando a probabilidade de reforma da
decisão embargada se  torna evidente, diante de  inocultável contradição ou omissão,
nela  contida,  de  sorte  que  o  sentido  e  alcance  efetivos  do  decisório  somente  se
determinem e se fixem depois de solucionados os embargos.
A hipótese da letra (b) pode ser exemplificada com a ocorrência de embargos de
efeitos  infringentes,  manejados  com  relevante  fundamentação,  num  quadro
processual  em  que  a  imediata  execução  da  decisão  embargada  crie,  para  o
embargante,  risco  de  dano  grave  ou  de  difícil  reparação.  Trata-se,  portanto,  de
conjuntura  autorizadora  da  tutela  de  urgência,  em  que  a  suspensão  dos  efeitos  da
decisão embargada ocorre a partir da conjugação dos requisitos do fumus boni iuris
(relevante  fundamentação  dos  embargos)  e  do  periculum  in mora  (risco  de  dano
grave e iminente).
1326
812.
813.
Naturalmente,  nunca  se  haverá  de  conceder  efeito  suspensivo  quando  os
embargos tiverem sido manifestados fora das hipóteses do art. 1.022 e com evidente
intenção procrastinatória. É bom  lembrar que  em  certos  casos,  a  intensa má-fé do
recorrente  torna  inútil  a  multa  do  art.  1.026,  §§  2º  e  3º;  e  autorizada  se  torna,
segundo o STF e o STJ, a recusa até mesmo do efeito interruptivo dos declaratórios.
Em  tal  situação,  provoca-se  o  trânsito  em  julgado  do  decisório  embargado,  bem
como  sua  imediata  execução.502  O  novo  Código  endossa  tal  orientação  quando
determina  que  “não  serão  admitidos  novos  embargos  de  declaração  se  os  2  (dois)
anteriores  houverem  sido  considerados  protelatórios”  (art.  1.026,  §  4º). Com  essa
reação firme, a lei procura reprimir o abuso processual.
Efeito integrativo
O  julgamento dos embargos de declaração não goza de autonomia em  face da
decisão embargada. O seu papel é de complementá-la ou aperfeiçoá-la, tornando--se
parte  integrante dela. Fala-se,  a propósito, no  efeito  integrativo  ostentado  por  esta
particular modalidade recursal.
O Superior Tribunal de Justiça interpretou muito bem a natureza dos embargos
de declaração, in verbis:
“A decisão proferida  em grau de  embargos declaratórios  (tenha ou não  efeito
modificativo)  é  meramente  integrativa  do  acórdão  embargado,  não  possuindo
natureza autônoma, sem liame com este”.503
Isso quer dizer que não se pode recorrer separadamente da decisão embargada e
da  decisão  dos  embargos.  Uma  vez  julgados  os  embargos,  somente  existe  uma
decisão recorrível: aquela resultante do somatório dos dois decisórios. Não se há de
pensar sequer em efeito substitutivo,  tal como ocorre, por exemplo, com o  recurso
de apelação ou os recursos especial e extraordinário.
Mesmo quando, por meio dos embargos, se chega excepcionalmente a alguma
modificação  do  que  fora  anteriormente  decidido,  não  se  pode  retirar  dos
declaratórios  a  natureza  integrativa  da  sentença  ou  do  acórdão  embargado.
Continuará  o  novo  julgamento  a  ser  parte  integrante  daquele  que  o  antecedeu  e
justificou o pronunciamento complementar.504
Embargos manifestamente protelatórios
I – Sanções aplicáveis aos embargos protelatórios
Os embargos de declaração terão sempre efeito de impedir o fluxo do prazo de
1327
outros  recursos.  Mas,  quando  o  embargante  utilizar  o  recurso  como  medida
manifestamente  protelatória,  o  juiz  ou  o  tribunal,  reconhecendo  a  ilicitude  da
conduta,  condenará  o  embargante  a  pagar  ao  embargado  multa,  que  não  poderá
exceder de dois por  cento  sobre o valor  atualizado da  causa  (NCPC,  art. 1.026, §
2º).505  No  caso,  porém,  de  reiteração  dos  embargos  protelatórios,  a  multa  será
elevada a até dez por cento do valor atualizado da causa, e, além disso, o embargante
temerário, para  interpor qualquer outro  recurso,  ficará  sujeito ao depósito do valor
da  multa  (NCPC,  art.  1.026,  §  3º).506  Só  estão  liberados  do  depósito  prévio  a
Fazenda Pública e o beneficiário de gratuidade da justiça, que recolherão a multa ao
final.
À época do Código anterior, a  fim de uniformizar a configuração dos embar-
gos  que  provocam  a  aplicação  da multa  prevista  no  art.  538,  parágrafo  único,  do
CPC/1973,507 o STJ fixou, de acordo com o art. 543-C do CPC/1973,508 o seguinte
entendimento: “Caracterizam-se como protelatórios os embargos de declaração que
visam  rediscutir  matéria  já  apreciada  e  decidida  pelacorte  de  origem  em  con-
formidade com súmula do STJ ou STF ou, ainda, precedente  julgado pelo  rito dos
arts. 543-C e 543-B, do CPC”.509 O entendimento continua perfeitamente aplicável à
nova legislação, muito embora outras situações também possam configurar o manejo
protelatório  do  referido  recurso,  segundo  apreciação  de  peculiaridades  dos  casos
concretos. O enunciado do precedente do STJ deve ser visto como exemplificativo e
não exaustivo.
II – Embargos de prequestionamento para recursos especial e extraordinário
Não  devem  ser  qualificados  como  protelatórios,  segundo  a  jurisprudência,  os
embargos  manifestados  com  o  propósito  de  atender  à  exigência  de  preques-
tionamento  para  recurso  especial  ou  extraordinário.510  Também,  salvo  o  caso  de
evidente  má-fé,  não  se  pode  considerar  “pedido  de  reconsideração”  sem  força
interruptiva  do  prazo  de  recurso,  aquele  formulado  por  meio  de  embargos  de
declaração para obter o  referido prequestionamento  (aplicação da Súmula nº 98 do
STJ).
III – Aplicação da penalidade aos embargos protelatórios
A aplicação da penalidade em análise deve  se  fazer ex officio pelo  tribunal ou
pelo juiz. Se houver omissão a respeito da pena, o embargado poderá lançar mão de
novos embargos declaratórios para compelir o órgão  judicial a suprir a falta.511 Em
qualquer caso a decisão  sancionatória deverá  ser devidamente  fundamentada, como
1328
ressalta o § 2º do art. 1.026 do NCPC.
Segundo entendimento consolidado do STJ, para fins do art. 1.036 do NCPC,
“a  multa  prevista  no  artigo  538,  parágrafo  único,  do  Código  de  Processo  Civil
(NCPC, art. 1.026, §§ 2º e 3º) tem caráter eminentemente administrativo – pu-nindo
conduta que ofende a dignidade do tribunal e a função pública do processo –, sendo
possível  sua  cumulação  com  a  sanção prevista nos  artigos 17, VII,  e 18, § 2º, do
Código  de  Processo  Civil  (NCPC,  arts.  80,  VII  e  81,  §  3º),  de  natureza
reparatória”.512
Releva destacar, outrossim, que o STJ já decidiu pela interpretação restritiva da
aplicação  da multa,  alcançando  apenas  “qualquer  outro  recurso  da mesma  cadeia
recursal”,  inibindo a  reiteração “de  recursos sucessivos sobre a questão  já decidida
no processo”, não sendo admissível inibir “também a interposição de recursos contra
novas decisões que venham a ser proferidas no processo”.513
Por  fim,  dispôs  a  nova  legislação  não  serem  admitidos  novos  embargos  de
declaração se os dois anteriores tiverem sido considerados protelatórios (art. 1.026,
§  4º).514  O  consectário  desse  preceito  é  que  os  novos  embargos  abusiva-mente
manejados  não  terão  força  de  impedir  o  trânsito  em  julgado  da  decisão
indevidamente recorrida.
Fluxograma  nº  31 – Embargos de declaração no primeiro grau de jurisdição (arts.
1.022 a 1.026)
1329
Fluxograma  nº  32 – Embargos de declaração a julgados de tribunal (arts. 1.022 a
1.026)
1330
427 AMARAL SANTOS, Moacyr. Primeiras  linhas de direito processual  civil.  4.  ed. São
Paulo: Max Limonad, 1973, v. III, n. 761.
1331
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BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao Código de Processo Civil. 11. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2003, v. V, n. 306.
NCPC, arts. 1.022 a 1.026.
“É firme a jurisprudência desta Corte no sentido de não ter como cabíveis embargos de
declaração contra despacho do relator...” (STF, Pleno, Pet 1.245-3-SP Edcl-Ag, Rel. Min.
Moreira Alves,  ac.  22.04.1998, DJU  22.05.1998,  p.  5. No mesmo  sentido:  STJ,  Corte
Especial, EDcl nos EREsp 117.134/MG, Rel. Min. Vicente Leal,  ac. 29.06.2001, DJU
22.10.2001, p. 260). Em sentido contrário: “As decisões exaradas pelo relator expõem-se a
embargos  declaratórios,  opostos  no  escopo  de  obviar  omissões  e  contradições  ou
obscuridades  –  tudo  em  homenagem  ao  princípio  da  motivação”  (STJ,  1ª  T.,  REsp
190.488/RS, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, ac. 1º. 12.1998, DJU 22.03.1999, p. 93;
STJ,  4ª  T.,  RMS  12.172/MA,  Rel. Min.  Ruy  Rosado  de Aguiar,  ac.  15.02.2001, DJU
02.04.2001, p. 294).
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim et al. Primeiros comentários ao novo Código cit., p.
1466.
CPC/1973, art. 535, I e II.
Caso interessante de contradição foi reconhecido pelo STJ, num acórdão em que, a um só
tempo, proclamava a necessidade de prova pericial como indispensável à elucidação da
controvérsia, e se concluía  julgando a causa, em sentido contrário ao apurado na prova
técnica, sem fazer qualquer apreciação em torno da existência do laudo técnico e de suas
conclusões. Suscitada a contradição, o STJ reconheceu a “violação do art. 535, I, do CPC
[NCPC, art. 1.021, I], por permanecer omisso [o Tribunal a quo] no ponto, mesmo após a
interposição dos aclaratórios”. O Recurso Especial foi provido “para cassar o acórdão” e
determinar  que  outro  fosse  proferido  “em  atenção  às  conclusões  exaradas  no  laudo
pericial”  (STJ,  3ª T., REsp  1.143.851, Rel. Min. Nancy Andrighi,  ac.  24.05.2011, DJe
02.08.2011).
“Os embargos declaratórios não são cabíveis para a modificação do  julgado que não se
apresenta  omisso,  contraditório  ou  obscuro”  (STJ,  2ª  T.,  EDcl  no  AgRg  no  REsp
1.230.127/SP,  Rel.  Min.  Humberto  Martins,  ac.  24.05.2011,  DJe  01.06.2011).  Nesse
sentido: STF, 2ª T., RE 567.673 AgR-ED, Rel.ª Min.ª Ellen Gracie, ac. 14.12.2010, DJe
07.02.2011.  Já  se  decidiu,  contudo,  que  “Os  embargos  declaratórios  são  cabíveis  nas
hipóteses de omissão, obscuridade, contradição, ou ainda, quando verificado erro material
no julgado” (STJ, 2ª T., EDcl no REsp 1.177.092/RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques,
ac.  02.06.2011,  DJe  09.06.2011;  STF,  Pleno,  AI  775.798  AgR--ED,  Rel.  Min.  Cezar
Peluso,  ac. 23.02.2011, DJe 11.04.2011. Advirta-se, porém, que  “a dúvida que  enseja  a
declaração não é a dúvida subjetiva, residente tão só na mente do embargante, mas aquela
objetiva  resultante  de  ambiguidade,  dubiedade  ou  indeterminação  das  proposições,
inibidoras  da  apreensão  do  sentido”  (STF,  AI  90.344,  Rel. Min.  Rafael Mayer,  RTJ
105/1.047; RE 94.988, Rel. Min. Moreira Alves, RTJ  104/360). STJ, 1ª Seção, PET nos
EDcl nos EDcl nos EDcl nos EDcl no AgRg nos EREsp 611.938/RS, Rel. Min. Humberto
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Martins, ac. 10.12.2008, DJe 19.12.2008.
“Os embargos de declaração só podem  ter efeitos  infringentes quando estes  resultarem
diretamente de omissão ou  contradição do  acórdão”  (STJ, EDcl.  em AGMC 1.228/SP,
Rel. Min. Ari Pargendler, ac. 23.09.1998, DJU 16.11.1998, p. 3). No mesmo sentido: STJ,
EDcl. no Emb. Div. no REsp 19.683/SP, Rel. Min. Peçanha Martins, ac. 06.11.1998, DJU
29.03.1999, p. 59; STJ, 3ª T., EDcl no AgRg no CC 98.778/SP, Rel. Min. Sebastião Reis
Júnior, ac. 24.08.2011, DJe 02.09.2011.
BONDIOLI, Luis Guilherme Aidar. Embargos de declaração. São Paulo: Saraiva, 2005, p.
101.
BONDIOLI, Luis Guilherme Aidar. Op. cit., loc. cit.
Um exemplo de sentença obscura por imperfeição do enunciado é aquela que condena o
réu ao pagamento de indenização de perdas e danos segundo as verbas constantes de certo
documento  dos  autos,  do  qual,  porém,  contém  valores  heterogêneos,  muitos  deles
imprestáveis ou inadequados para a correta quantificação dos danos a reparar.
ARAÚJO CINTRA, Antônio Carlos de. Sobre os embargos de declaração. Revista dos
Tribunais, v. 595, p. 15, maio 1985.
GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. 9. ed. São Paulo: Saraiva,
1995, v. II, n. 55, p. 237.
MONIZ DE ARAGÃO, Egas Dirceu. Embargos de declaração. Revista dos Tribunais, v.
633, jul. 1988, p. 15-16.
BONDIOLI, Luis Guilherme Aidar. Op. cit., p. 102.
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao Código de Processo Civil. 10. ed.
Rio de Janeiro: Forense,2002, v. V, n. 300, p. 545.
PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentários  ao Código  de  Processo
Civil. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000, t. VII, p. 323.
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao Código de Processo Civil. 10. ed.
Rio  de  Janeiro:  Forense,  2002,  v.  V,  p.  537.  “O  dispositivo  deve  sempre  ser  um
consequente lógico da fundamentação e com ela estar afinado na sua integralidade. E os
fundamentos expressos nas razões de decidir também devem ser coerentes entre si, assim
como  a  parte  dispositiva  deve  manter  uma  coerência  interna”  (BONDIOLI,  Luis
Guilherme Aidar. Op. cit., p. 110).
A motivação e o dispositivo devem ser “lógicos e congruentes, de modo a constituírem
elementos  inseparáveis  de  um  ato  unitário,  que  se  interpretam  e  se  iluminam
reciprocamente”  (LIEBMAN,  Enrico  Tullio.  Manuale  di  diritto  processuale  civile.
Milano: A. Giuffrè, 1974, v. II, n. 270, p. 212-213).
“A contradição estendida da fundamentação ao dispositivo representa um caso não só de
contradição, mas também de obscuridade, tendo em vista que será impossível determinar
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em que direção  tencionou decidir o magistrado, pois estarão convivendo  lado a  lado no
mesmo  ato  decisório  duas  linhas  de  argumentação  que  conduzem  a  soluções  díspares,
com  a  expressão de  ambas na parte dispositiva,  em  situação  semelhante  à de decisão
passível de mais de uma interpretação” (BONDIOLI, Luis Guilherme Aidar. Op. cit., p.
113).
CALAMANDREI, Piero. La cassazione civile. Opere giuridiche. Napoli: Morano, 1976,
v. II, parte III, n. 114, p. 319-320.
“Tanto vale a absoluta falta de motivação, quanto uma motivação apenas aparente, que
seja uma série de frases insignificantes ou contraditórias, as quais em substância não dão
justificação alguma ao dispositivo” (CALAMANDREI, Piero. Op. cit., v. II, parte 4ª, n.
121, p. 350).
DINAMARCO,  Cândido  Rangel.  Instituições  de  direito  processual  civil.  São  Paulo:
Malheiros, 2001, v. III, n. 1.238, p. 686.
STJ, 1ª T., REsp 152.347/SP, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, ac. 19.11.1998, DJU
15.03.1999,  p.  96.  Segundo  igual  entendimento,  assentou  a  Suprema  Corte  que  “os
provimentos  judiciais,  como  ato  de  inteligência,  devem  mostrar-se  completos  (g.n.),
expungidas as dúvidas nefastas ao entendimento que  lhes é próprio. Por  isso mesmo, o
órgão  investido  do  ofício  ju-dicante  deve  receber  os  embargos  declaratórios  como
oportunidade ótima (g.n.) para possível elucidação quanto ao alcance do que for decidido”
(STF,  Pleno,  ADIn  1.098  EDcl/SP,  Rel.  Min.  Marco  Aurélio,  ac.  25.05.1995,  DJU
29.09.1995, p. 31.904).
“Ofende o art. 535, II, do CPC, o acórdão que, em resposta lacônica, rejeita os embargos
de-claratórios, sem  tratar das questões neles  formuladas”  (STJ, 1ª T., REsp 67.943/RS,
Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, ac. 13.12.1995, DJU 04.03.1996, p. 5.361).
“Tal  é  a  fórmula  sistemática  e  global  da  regra  de  correlação  entre  o  provimento
jurisdicional e a demanda, a qual se apresenta com a dupla face de veto a excessos e de
exigência  de  inteireza  na  oferta  da  tutela  jurisdicional”  (DINAMARCO,  Cândido
Rangel. Instituições de direito processual civil. São Paulo: Malheiros, 2001, v. II, n. 456,
p. 139).
BONDIOLI, Luis Guilherme Aidar. Embargos de declaração cit., p. 120.
TARUFFO, Michele. La motivazione della sentenza civile. Padova: CEDAM, 1975, p. 55.
Para  Barbosa Moreira,  é  inegável  o  interesse  da  parte  diante  do  julgado  de  segunda
instância, em instar o tribunal a manifestar-se sobre inapreciados fundamentos a seu favor
(até mesmo  quando  vencedora),  a  fim  de  possibilitar  discussões  em  torno  do  assunto
perante  o  órgão  ad quem  (Comentários  ao  Código  de  Processo  Civil.  10.  ed.  Rio  de
Janeiro: Forense, 2002, v. V, n. 301, p, 547).
CPC/1973, sem correspondência.
O Superior Tribunal  de  Justiça  já  entendeu  ser  possível  a  oposição  de  embargos  para
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suscitar questão que o juiz poderia ter conhecido de ofício (STJ, 6ª T., EDcl no AgRg no
REsp 982.011/ SC, Rel. Min. Rogério Schietti, ac. 19.09.2013, DJe 27.09.2013; STJ, 2ª T.,
REsp 1.225.624/RJ, Rel. Min. Castro Meira, ac. 18.10.2011, DJe 03.11.2011). Entretanto,
também  já  decidiu  que  não  se  pode  inovar  nos  embargos  para  trazer  questão  jamais
debatida nos autos (STJ, 2ª T., AgRg no AREsp 557.560/PB, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, ac. 07.10.2014, DJe 15.10.2014; STJ, 2ª T., EDcl no REsp 1.343.129/SC, Rel.
Min. Herman Benjamin, ac. 01.04.2014, DJe 15.04.2014).
“(...) As questões cognoscíveis de ofício na instância ordinária devem ser analisadas nos
embargos  declaratórios  apresentados  na  origem,  independentemente  da  ocorrência  de
omissão”  (STJ,  3ª  T.,  AgRg  no  REsp  1.218.007/MT,  Rel.  Min.  Moura  Ribeiro,  ac.
05.05.2015, DJe 13.05.2015).
CPC/1973, sem correspondência.
WAMBIER,  Teresa  Arruda  Alvim;  CONCEIÇÃO,  Maria  Lúcia  Lins;  RIBEIRO,
Leonardo Ferres da Silva; MELLO, Rogério Licastro Torres de. Primeiros  comentários
ao novo Código de Processo Civil. São Paulo: RT, 2015, p. 1.475.
STJ, 3ª T., EDcl. no AgRg no AREsp 523.100/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, ac.
04.12.2014, DJe  11.12.2014;  STJ,  Corte  Especial,  EDcl  na  SEC  2.410/EX,  Rel. Min.
Nancy Andrighi, ac. 21.05.2014, DJe 28.05.2014.
BONDIOLI, Luis Guilherme Aidar. Novidades em matéria de embargos de declaração no
CPC de 2015. Revista do Advogado, São Paulo, n. 126, p. 153, maio 2015.
Idem, ibidem.
MAZZEI,  Rodrigo.  Embargos  de  declaração  e  agravo  interno  no  Projeto  de  CPC
(Substitutivo de Lavra do Deputado Paulo Teixeira): algumas sugestões para retificações
do texto projetado. Revista de Processo, v. 221, p. 255,  jul. 2013. O dispositivo do atual
Código Português (2013) que trata da matéria é o art. 616º, nº 2: “2 – Não cabendo recurso
da decisão, é ainda lícito a qualquer das partes requerer a reforma da sentença quando, por
manifesto lapso do juiz (g.n.): a) Tenha ocorrido erro na determinação da norma aplicável
ou na qualificação jurídica dos factos; b) Constem do processo documentos ou outro meio
de prova plena que, só por si, impliquem necessariamente decisão diversa da proferida”.
MONTEIRO NETO, Nelson. Âmbito dos embargos de declaração. Revista de Processo,
232, p. 203, jun. 2014.
MAZZEI, Rodrigo. Comentários  ao  art.  1.022.  In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim;
DIDIER  JR.,  Fredie;  TALAMINI,  Eduardo; DANTAS, Bruno. Breves  comentários  ao
novo Código de Processo Civil. São Paulo: RT, 2015, p. 2.276.
“Seria  excessivo  rigor  processual  restabelecer  um  acórdão  incorreto, meramente  para
privi-legiar a aplicação pura do art. 535 do CPC [NCPC, art. 1.022]. Tal medida obrigaria
a  parte,  que  atualmente  sagrou-se  vitoriosa  no  processo,  a  interpor  um  novo  recurso
especial, movi-mentando  toda  a máquina  judiciária, para  atingir  exatamente o mesmo
resultado prático que  já obteve.  Isso  implicaria um desperdício de  tempo e de  recursos
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públicos incompatível com a atual tendência em prol de um processo efetivo” (STJ, 3ª T.,
REsp 970.190/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, ac. 20.05.2008, DJe 15.08.2008). O aresto
apoiou-se  na  mesma  linha  de  praticidade  e  efetividade  anteriormente  adotada  pela
mesma Turma  julgadora,  a propósito das nulidades processuais  em geral:  “O processo
civil  foi  criado para possibilitar que  se profiram decisões de mérito, não para  ser,  ele
mesmo, objeto das decisões que proporciona. A extinção de processos por meros óbices
processuais deve ser sempre medida de exceção”  (STJ, 3ª T., REsp 802.497/ MG, Rel.
Min. Nancy Andrighi, ac. 15.05.2008,DJe 24.11.2008).
BONDIOLI, Luis Guilherme Aidar. Novidades em matéria de embargos de declaração
cit.,  p.  153.  Para  Rodrigo Mazzei,  o  fato  de  nos  arts.  1.023  e  1.025  o  NCPC  falar
simplesmente em “erro” e não mais em “erro material”, autoriza a interpretação de que
está admitindo o cabimento dos embargos de declaração para “outros tipos de erro” além
dos limites estritos do erro material (MAZZEI, Rodrigo. Comentários cit., p. 2.276).
Teresa  Arruda  Alvim  Wambier  cita  exemplo  da  jurisprudência  do  STJ  em  que  os
embargos  de  declaração  foram  admitidos  para  corrigir  decisão  acerca  de  correção
monetária, que,  se prevalecesse, geraria  intolerável  enriquecimento  sem  causa. O  erro
cometido  foi  qualificado  de  “manifesto”  (STJ,  4ª T., EDREsp  259.260/RS, Rel. Min.
Sálvio  de  Figueiredo  Teixeira,  ac.  26.06.2001,  DJU  20.08.2001,  p.  472;  WAMBIER,
Teresa Arruda Alvim. Omissão judicial e embargos de declaração. São Paulo: RT, 2005,
p. 97).
STJ, 5ª T., EDREsp 255.709/SP, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, ac. 13.09.2000, DJU
23.10.2000, p. 169.
STJ, 5ª T., REsp 199.046/SP, Rel. Min. Gilson Dipp, ac. 16.03.2000, DJU 10.04.2000, p.
108.
STJ,  1ª  T.,  AgRg  nos  EInf  nos  EDcl  no  REsp  912.564/SP,  Rel.  Min.  Teori  Albino
Zavascki, ac. 08.04.2008, DJe 17.04.2008; STJ, 3ª T., REsp 883.119/RN, Rel. Min. Nancy
Andrighi,  ac.  04.09.2008,  DJe  16.09.2008.  O  TJMG  já  teve  oportunidade  de  adotar  a
orientação traçada pelo STJ: “É permitido ao julgador, em caráter excepcional, atribuir
efeitos infringentes aos embargos de declaração, para correção de premissa equivocada,
com base em erro de fato, sobre o qual tenha se fundado o julgado embargado, quando tal
for  decisivo  para  o  resultado  do  julgamento”  (TJMG,  10ª  Câm.  Cív.,  ED-Cv
1.0024.01.566861-9/004, Rel. Des. Paulo Roberto Pereira da Silva, j. 26.02.2013).
O  STJ,  por  exemplo,  reconheceu  contradição,  num  acórdão  em  que,  a  um  só  tempo,
proclamava  a  necessidade  de  prova  pericial  como  indispensável  à  elucidação  da
controvérsia,  e  concluía  julgando  a  causa,  em  sentido  contrário  ao  apurado  na  prova
técnica, sem fazer qualquer apreciação em torno da existência do laudo técnico e de suas
conclusões. Suscitada a contradição, o STJ reconheceu a “violação do art. 535, I, do CPC
[NCPC, art. 1.022, I], por permanecer omisso [o Tribunal a quo] no ponto, mesmo após a
interposição dos aclaratórios”. O recurso especial foi provido “para cassar o acórdão” e
determinar  que  outro  fosse  proferido  “em  atenção  às  conclusões  exaradas  no  laudo
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pericial”  (STJ,  3ª T., REsp  1.143.851, Rel. Min. Nancy Andrighi,  ac.  24.05.2011, DJe
02.08.2011).
“Embargos  declaratórios. Erro material.  Prescrição.  1  – Demonstrado  o  erro material,
deve  o  recurso  de  embargos  de  declaração  ser  acolhido  para  integrar  o  acórdão.  2  –
Embargos de declaração acolhidos com efeitos infringentes para reduzir o julgamento aos
termos do pedido formulado no recurso especial” (STJ, 2ª T., EDcl nos EDcl nos EDcl no
REsp 357.317/SP, Rel. Min.  João Otávio de Noronha, DJU  22.11.2007).  “Embargos  de
declaração.  Equívoco.  Existência.  Efeitos  infringentes.  Cabimento.  I  –  Constatado
equívoco  na  decisão  embargada,  é  possível  a  concessão  de  efeitos modificativos  aos
embargos  de  declaração.  II  –  Tempestividade  do  agravo  demonstrada  por  meio  de
documento trazido na formação do instrumento, em razão de feriado municipal. Embargos
acolhidos,  com  efeitos  infringentes,  para  dar  provimento  ao  agravo  de  instrumento,
determinando  sua  convolação  em  recurso  especial”  (STJ, 3ª T., EDcl no AgRg no Ag
640.808/PR, Rel. Min. Castro Filho, DJU 10.09.2007).
STF, 1ª T., ARE 660.089 ED/RJ, Decisão do Relator Min. Roberto Barroso de 15.02.2016,
DJe 23.02.2016.
STF, 2ª T., RE 817.100 ED/RS, Decisão do Relator Min. Teori Zavascki de 04.04.2016,
DJe 08.04.2016.
NCPC, art. 229; CPC/1973, art. 191.
CPC/1973, art. 536.
CPC/1973, art. 537.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim et al. Primeiros comentários ao novo Código cit., p.
1.478.
CPC/1973, sem correspondência.
MAZZEI,  Rodrigo.  Embargos  de  declaração  e  agravo  interno  no  Projeto  de  CPC
(Substitutivo de Lavra do Deputado Paulo Teixeira): algumas sugestões para retificações
do texto projetado. Revista de Processo, v. 221, jul. 2013, p. 269.
CPC/1973, sem correspondência.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Embargos de declaração e omissão do juiz. 2. ed. São
Paulo: RT, 2014, p. 225.
“O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos declaratórios, não
pode  ser objeto de  recurso  extraordinário, por  faltar o  requisito do prequestionamento”
(Súmula nº 356 do STF).
“A  falta  de  manifestação  do  tribunal  a  quo  sobre  as  normas  discutidas  no  recurso
extraordinário  não  impede,  em  princípio,  o  seu  exame  pelo  STF,  se  a  parte  buscou  o
suprimento da omissão mediante embargos declaratórios (Súmula nº 356) (...)” (STF, 1ª
T., AI 198.631 AgR/PA, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, a c. 11.11.1997, DJU 19.12.1997,
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p. 48).
STJ,  1ª  T.,  REsp  1.111.976/DF,  Rel.  Min.  Benedito  Gonçalves,  ac.  06.08.2009,  DJe
19.08.2009; STJ,  5ª T., REsp  509.953/RS, Rel. Min.  Jorge Scartezzini,  ac.  04.12.2003,
DJU 08.03.2004, p. 319.
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Op. cit., n. 306.
Mesmo no caso de não conhecimento por serem considerados incabíveis os embargos, o
prazo para  interposição dos outros  recursos  sofrerá  interrupção  (STJ, REsp 153.324/RS,
Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, ac. 29.04.1998, DJU 22.06.1998, p. 94). Quando, porém, o
recurso  for  extemporâneo,  não  haverá  aquela  interrupção, mesmo  porque  o  prazo  teria
vencido antes da manifestação dos declaratórios (STF, AgRg. em RE 160.322-5/SP, Rel.
Min. Celso de Mello, ac. 25.05.1993, DJU 18.06.1993, p. 12.118). STJ, 3ª T., AgRg no
REsp 816.537/PR, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, ac. 25.09.2007, DJU 15.10.2007,
p. 258.
O novo prazo começa a ser contado no primeiro dia útil seguinte ao que foi publicado o
aresto  dos  embargos  (STJ,  4ª T., REsp  107.212/DF, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha,  ac.
17.06.1997, DJU 08.09.1997, p. 42.509). Reinicia-se a contagem do prazo, observando-se o
art. 184 [NCPC, art. 224], isto é, “com a exclusão do dia em que se deu a intimação da
decisão proferida nos embargos” (STF, RE 92.781, Pleno, Rel. Min. Cunha Peixoto, ac.
23.10.1980, Boletim Jurídico da CEF, n. 22 mar. 1981, p. 2-3).
“Os  embargos  de  declaração  com  a  finalidade  de  pedido  de  reconsideração  não
interrompem  o  prazo  recursal”  (STJ,  2ª  T.,  REsp  1.073.647/PR,  Rel. Min.  Humberto
Martins,  ac.  07.10.2008,  DJe  04.11.2008.  No  mesmo  sentido:  STJ,  1ª  T.,  REsp
984.724/MG, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, ac. 20.05.2008, DJe 02.06.2008; STJ, 6ª T.,
AgRg no REsp 1.108.166/SC, Rel. Min. Og Fernandes, ac. 20.10.2009, DJe 09.11.2009;
STJ,  2ª  T.,  REsp  1.214.060/GO,  Rel.  Min.  Mauro  Campbell,  ac.  23.11.2010,  DJe
28.09.2010; STJ, 2ª T., REsp 1.214.060/PR, Rel. Min. Herman Benjamin, ac. 23.11.2010,
DJe 04.02.2011; STJ, 1ª T., AgRg no Ag no REsp 187.507/MG, Rel. Min. Arnaldo Esteves
Lima, ac. 13.11.2012, DJe 23.11.2012).
STJ, 2ª T., REsp 964.235/PI, Rel. Min. Castro Meira, ac. 20.09.2007, DJU 04.10.2007, p.
226.
No  sentido da  tese  antiga: STJ, 4ª T., AREsp 468.743/RJ, Rel. Min. Raul Araújo,  ac.
08.04.2014, DJe 13.05.2014; STJ, 3ª T., AgRg no REsp 1.505.346/SP, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, ac. 02.06.2015, DJe 16.06.2015. Rejeitando a tese: STJ, 2ª T., AgRg no
Ag 1.433.214/RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, ac. 28.04.2015, DJe 1º.07.2015; STJ, 3ª T.,
AgRg  nos  EDcl  no  AREsp  101.940/  RS,  Rel. Min.  Paulode  Tarso  Sanseverino,  ac.
12.11.2013, DJe 20.11.2013; STJ, 1ª T., REsp 1.213.153/SC, Rel. Min. Napoleão Nunes
Maia Filho, ac. 15.09.2011, DJe 10.10.2011.
STJ, Corte Especial, REsp  1.522.347/ES, Rel. Min. Raul Araújo,  ac.  16.09.2015, DJe
16.12.2015.
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STJ,  3ª  T.,  REsp  1.542.510/MS,  Rel.  Min.  Nancy  Andrighi,  ac.  27.09.2016,  DJe
07.10.2016.
“Pelas  peculiaridades  da  espécie,  não  se  tem  por  extemporânea  a  apelação  interposta
antes do julgamento dos declaratórios apresentados pela parte contrária, uma vez que os
pontos  da  sentença  que  foram  atacados  na  apelação  em  nada  foram  alterados  pelo
decisum dos  aclaratórios, que, por  ser meramente  integrativo,  apenas  complementou o
primeiro decisório, sem dar-lhe qualquer outro conteúdo, principalmente modificativo, no
atinente  àqueles  tópicos”  (STJ,  4ª  T.,  REsp  280.427/RJ,  Rel. Min.  César  Rocha,  ac.
19.02.2002, DJU de 26.08.2002, p. 226).
Se os dois recursos tiverem o mesmo objeto, a apelação não pode, em regra, ser interposta
antes  do  julgamento  dos  embargos,  principalmente  se  estes  exercerem  algum  tipo  de
eficácia modificativa sobre o decisório embargado. Nesse caso, “não ofende o art. 465 do
CPC  (hoje  art. 538 – NCPC,  art. 1.026) o  acórdão que deixa de  conhecer de  apelação
interposta  antes de  concluído o  julgamento da  causa,  se,  após  a  rejeição de  embargos
declaratórios, não é reiterada a sua interposição, a significar a renúncia tácita do recurso”
(STJ, 3ª T., REsp 9.629/SP, Rel. Min. Dias Trindade, ac. 14.05.1991, DJU 17.06.1991, p.
8.205). “É prematura a interposição de recurso especial antes do julgamento dos embargos
de  declaração,  momento  em  que  ainda  não  esgotada  a  instância  ordinária  e  que  se
encontra interrompido o lapso recursal” (STJ, Corte Especial, REsp 776.265/SC, Rel. p/
acórdão Min. César Asfor Rocha, ac. 18.04.2007, DJU 06.08.2007).
STJ, Corte Especial, AgRg nos EAREsp 300.967/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, ac.
16.09.2015, DJe 20.11.2015.
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Op. cit., n. 306, p. 559.
CPC/1973, sem correspondência.
“Descabimento  de  embargos  protelatórios  que  constitui  abuso  do  direito  de  recorrer  e
autoriza a imediata devolução dos autos à origem para a imediata execução do acórdão no
recurso especial embargado. Precedentes do Supremo Tribunal Federal” (STJ, 5ª T., EDcl
nos EDcl nos EDcl nos EDcl nos EDcl no AgRg no REsp 731.024/RN, Rel. Min. Gilson
Dipp, ac. 26.10.2010, DJe 22.11.2010. No mesmo sentido: STJ, 3ª T., EDcl nos EDcl nos
EDcl  no  AgRg  no  Ag  720.839/GO,  Rel.  Min.  Sidnei  Beneti,  ac.  07.06.2011,  DJe
08.06.2011). “A reiteração de embargos de declaração, sem que se registre qualquer dos
pressupostos legais de embargabilidade (CPC, art. 535 – NCPC, art. 1.022), reveste-se de
caráter abusivo e evidencia o intuito protelatório que anima a conduta processual da parte
recorrente (...) constitui fim ilícito que desqualifica o comportamento processual da parte
recorrente e que autoriza, em consequência, o imediato cumprimento da decisão emanada
desta  Colenda  Segunda  Turma,  independentemente  da  publicação  do  acórdão
consubstanciador do respectivo julgamento e de eventual interposição de novos embargos
de declaração ou de qualquer outra espécie recursal. Precedentes” (STF, 2ª T., AI 222.179
– AgR-ED-ED-ED-ED, Rel. Min. Celso de Mello, ac. 09.03.2010, DJe 09.04.2010).
STJ, 1ª T., EDcl no REsp 15.072/DF, Rel. Min. Demócrito Reinaldo, ac. 17.02.1993, DJU
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22.03.1993, p. 4.510, DJ  31.05.1993, p. 10.628).
“Conceber-se um acórdão pertinente aos embargos declaratórios como autônomos, sem
liame  algum  com o originário da  apelação,  é  tarefa  evidentemente  impossível,  ante o
sistema processual vigente” (voto condutor do ac. dos EDcl no REsp 15.072/DF cit.).
CPC/1973, art. 538, parágrafo único.
Segundo  jurisprudência do STJ, “a parte  final do parágrafo único do art. 538 do CPC –
NCPC, art. 1.026, que condiciona ao prévio depósito da multa a ‘interposição de qualquer
outro recurso’, deve ser  interpretada restritivamente, alcançando apenas ‘qualquer outro
recurso’ da mesma  cadeia  recursal. É que  a  sanção prevista na norma  tem  a  evidente
finalidade de  inibir  a  reiteração de  recursos  sucessivos  sobre  a questão  já decidida no
processo. Não é  legítima, portanto, a sua aplicação à base de  interpretação ampliativa,
para  inibir  também a  interposição de  recursos contra novas decisões que venham a ser
proferidas  no  processo”.  Assim,  “a  falta  de  depósito  da  multa  imposta  em  face  de
reiteração de  embargos declaratórios de  acórdão que  julgou decisão  interlocutória não
inibe  a  interposição  de  apelação  contra  a  superveniente  sentença  que  julgou  a  causa”
(STJ,  1ª  T.,  REsp  1.129.590/MS,  Rel.  Min.  Teori  Zavascki,  ac.  20.10.2011,  DJe
25.10.2011). Em doutrina Nelson Monteiro Neto, invocando precedentes do STF, critica a
interpretação restritiva do STJ, com argumentação consistente (Reiteração de embargos
protelatórios, multa  processual  e  admissibilidade  “de  qualquer  outro  recurso”. Revista
Dialética de Direito Processual, n. 107, p. 65-70, fev. 2012).
NCPC, art. 1.026, §§ 2º e 3º.
NCPC, art. 1.036.
STJ,  2ª  Seção,  REsp  1.410.839/SC,  Rel.  Min.  Sidnei  Beneti,  ac.  14.05.2014,  DJe
22.05.2014.
STJ, Súmula nº 98.
BARBOSA  MOREIRA,  José  Carlos.  Op.  cit.,  loc.  cit.  Uma  vez  que  os  embargos
declaratórios  se destinam  a  aperfeiçoar  a prestação  jurisdicional, não  se deve  aplicar,
com excessivo rigor, a pena prevista para recurso manifestamente protelatório. “A multa
cominada no art. 538, parágrafo único, do CPC [NCPC, art. 1.026, §§ 2º e 3º], reserva-se à
hipótese em que se faz evidente o abuso” (STJ, 1ª T., REsp 8.970/SP, Rel. Min. Gomes de
Barros, ac. 18.12.1991, RSTJ  30/379). Mas é cabível a aplicação da multa por expediente
protelatório quando “o embargante não demonstrou qualquer dos vícios do art. 535 do CPC
[NCPC, art. 1.022], mas apenas revelou a intenção de rediscutir, com efeitos infringentes,
a  tese  lançada no voto”  (STJ, 1ª Seção, EDcl no REsp 1.104.775/RS, Rel. Min. Castro
Meira, ac. 14.10.2009, DJe 22.10.2009).
STJ,  Corte  Especial,  REsp  1.250.739/PA,  Rel.  p/  ac. Min.  Luís  Felipe  Salomão,  ac.
04.12.2013, DJe 17.03.2014.
STJ, 1ª T., REsp 1.129.590/MS, Rel. Min. Teori Albino Zavascki,  ac. 20.10.2011, DJe
25.10.2011.
1340
514 CPC/1973, sem correspondência.
1341
814.
(a)
(b)
Capítulo XXVIII
RECURSOS PARA O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E PARA O
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
§ 84. RECURSO ORDINÁRIO
Sumár io: 814. Introito. 815. Recurso ordinário para o Supremo Tribunal Federal.
816. Recurso ordinário para o STJ.
Introito
Além da dualidade de  instâncias ordinárias, entre os  juízes de primeiro grau e
os Tribunais de  segundo grau,  existe,  também, no  sistema processual brasileiro,  a
possibilidade de recursos extremos ou excepcionais, para dois órgãos superiores que
formam  a  cúpula  do Poder  Judiciário  nacional,  ou  seja,  para  o Supremo Tribunal
Federal  e  para  o  Superior  Tribunal  de  Justiça. O  primeiro  deles  se  encarrega  da
matéria constitucional e o segundo, dos temas infraconstitucionais de direito federal.
Cabe-lhes,  porém,  em  princípio,  o  exame  não  dos  fatos  controvertidos,  nem
tampouco das provas existentes no processo, nem mesmo da  justiça ou  injustiça do
julgado  recorrido, mas apenas e  tão somente da  revisão das  teses  jurídicas  federais
envolvidas no julgamento impugnado.
A  par  dessa  revisão  puramente  jurídica  das  questões  debatidas,  há  na
Constituição  Federal  previsão  de  alguns  casos  em  que  se  admitem  recursos
ordinários também para os doismais elevados Tribunais do País.
Em  matéria  civil,  a  Carta Magna  prevê,  para  o  Supremo  Tribunal  Federal,
então, dois tipos de competência recursal, a saber:
recurso ordinário, nos casos do art. 102, II, “a”;
recurso extraordinário, nos casos do art. 102, III.
Com a criação do Superior Tribunal de Justiça, a Constituição Federal de 1988
transferiu-lhe parte da competência originária e recursal antes confiada ao Supremo
Tribunal  Federal,  que,  então,  assumiu  quase  que  apenas  a  função  de  Corte
1342
(a)
(b)
815.
constitucional.
Para o Superior Tribunal de Justiça, os recursos previstos na nova Carta são os
seguintes, em matéria civil:
I – recurso ordinário, em duas hipóteses, a saber:
nos  casos  de mandado  de  segurança,  denegados  em  julgamento  de  única
instância  pelos  Tribunais  Regionais  Federais  ou  pelos  Tribunais  dos
Estados, Distrito Federal e Territórios (art. 105, II, “b”);
nas causas,  julgadas em primeiro grau pela Justiça Federal, em que  forem
partes  Estado  estrangeiro  ou  organismo  internacional,  de  um  lado,  e,  de
outro, Município ou pessoa  residente ou domiciliada no País  (art. 105,  II,
“c”);
II – recurso especial, nas causas decididas em única ou última instância, pelos
Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados, do Distrito Federal e
Territórios, nas  três hipóteses do  art. 105,  III, da Constituição Federal, que  serão
examinados no tópico seguinte.
Nos  recursos  ordinários,  ao  contrário  do  que  se  passa  nos  extraordinários  e
especiais, a devolução ao Tribunal ad quem é a mais ampla possível. Abrange  tanto
a matéria  fática  como  a de direito,  ensejando, por  isso, uma  completa  revisão,  em
todos  os  níveis,  do  que  se  decidiu  no  Tribunal  inferior.  E  a  admissibilidade  do
recurso não se  limita a situações específicas como as dos arts. 102,  III, e 105,  III,
da Constituição. Alcança todo e qualquer caso de sucumbência. Basta estar vencida a
parte para poder  interpor o  recurso ordinário, como acontece em qualquer  situação
comum de dualidade de graus de jurisdição.
A  disciplina  procedimental  de  todos  os  recursos  para  o  Supremo  Tribunal
Federal  e  Superior  Tribunal  de  Justiça  constava  da  Lei  nº  8.038,  de  28.05.1990,
cujos arts. 13 a 18, 26 a 29 e 38 foram revogados pelo NCPC. Com a Lei nº 8.950,
de 13.12.1994,  foi o  tema  reincorporado ao  texto codificado, constando atualmente
dos arts. 1.027 a 1.043 do NCPC.1
Recurso ordinário para o Supremo Tribunal Federal
I – Cabimento
As  ações  de  mandado  de  segurança,  habeas  data  e  mandado  de  injunção,
quando  julgadas em única  instância pelos Tribunais Superiores  (STJ, TST, STM e
1343
TSE),  desafiam,  normalmente,  recurso  extraordinário  para  o  Supremo  Tribunal
Federal,  se  atendidos  os  requisitos  do  art.  102,  III,  da  Constituição  Federal.  Se,
porém, forem denegadas, haverá possibilidade de recurso ordinário para a Suprema
Corte (Constituição Federal, art. 102, II, e Lei nº 12.016/2009, art. 18).
Só  as  decisões  coletivas  dos  Tribunais,  e  não  as  singulares  de  Relatores  e
Presidentes,  desafiam  recurso  ordinário.  Assim,  a  decisão  do  agravo  interno
interposto  contra  decisum  do  relator  é  que  será  objeto  de  recurso  ordinário.  Por
outro  lado,  não  interessa  a  natureza  da  questão  jurídica  enfrentada  no  acórdão,  se
constitucional  ou  se  infraconstitucional.  Se  se  trata  de  decisão  enquadrada  no  art.
102,  II,  da  Carta  Magna,  o  caso  é  de  recurso  ordinário  e  não  de  recurso
extraordinário.
Convém  ficar  bem  claro  que  não  são  todas  as  decisões  de mandados  de  se-
gurança  de  competência  originária  de  tribunais  superiores  que  desafiam  recurso
ordinário para o STF, mas unicamente aquelas de caráter denegatório (CF, art. 102,
II). Por decisão denegatória, entende-se, na espécie, tanto a que não admite a ação de
segurança como a que a julga improcedente.2
II – Requisitos de admissibilidade
Para  o  recurso  ordinário,  os  requisitos  de  admissibilidade  são  os  comuns  a
qualquer  recurso  e  não  aqueles  especiais  exigidos  para  o  recurso  extraordinário.
Assim, ao autor,  repelido em sua pretensão, bastará apoiar-se na sucumbência para
demonstrar seu interesse de recorrer e sua legitimidade para tanto.
III – Interposição
O recurso ordinário deve ser interposto perante o Tribunal Superior de ori-gem.
Ao receber o recurso, o presidente ou vice-presidente intimará o recorrido para que,
em  quinze  dias,  apresente  suas  contrarrazões  (NCPC,  art.  1.028,  §  2º).3  O
contraditório, destarte, será realizado no órgão ad quem.
Findo o prazo de contrarrazões, os autos serão remetidos ao STF, “independen-
temente  de  juízo  de  admissibilidade”  (art.  1.028,  §  3º).4  Tal  como  se  dá  com  a
apelação e o agravo de instrumento, o novo Código aboliu o juízo de admissibilidade
provisório,  já  que  o  exame  do  cabimento  do  recurso  foi  atribuído  unicamente  ao
tribunal  ad  quem.  Desta  forma,  a  sistemática  do  NCPC  é  a  de  um  só  juízo  de
admissibilidade.
Distribuído o  recurso, poderá o Relator, nos  termos do  art. 932,  III,  IV  e V
(RISTF, art. 21, XX, § 1º), não conhecer dele, negar-lhe ou dar-lhe provimento, em
1344
(a)
(b)
816.
decisão monocrática,  da  qual  caberá  agravo  interno  para  o Colegiado  (NCPC,  art.
1.021) (sobre o cabimento da decisão singular, na espécie, ver, retro, o item 606).
IV – Julgamento do mérito
Uma vez que o  recurso ordinário  se  assemelha  à  apelação, o NCPC  autoriza,
expressamente, que o STF decida, desde logo, o mérito do recurso (art. 1.013, § 3º),
ainda  quando  a  extinção  do  processo  tenha  ocorrido  sem  resolução  do  mérito,
sempre que a ação estiver em condições de  imediato  julgamento  (art. 1.027, § 2º)5
(ver item nº 770 retro).
V – Concessão de efeito suspensivo
O recurso ordinário, como os recursos em geral, não possui efeito suspensivo.
Entretanto, o recorrente poderá pedir a suspensão dos efeitos da decisão impugnada
com base no art. 1.027, § 2º c/c o art. 1.029, § 5º:
o  pedido  se  dirigirá  ao  STF  (na  pessoa  de  seu  presidente),  no  período
compreendido entre a publicação da decisão de admissão do  recurso e  sua
distribuição (art.1.029, § 5º, I), ou
ao relator, no STF, se o recurso já houver sido distribuído (art. 1.029, § 5º,
II).
Quando o pedido de efeito suspensivo é dirigido ao STF, procede-se ao sorteio
de um relator para o incidente, o qual ficará prevento para o posterior processamento
do extraordinário (NCPC, art. 1.029, § 5º, I).
Para alcançar a suspensão em causa não há necessidade de uma ação cautelar,
nos  moldes  tradicionais.  Embora  se  trate  de  providência  tipicamente  cautelar  ou
antecipatória,  a  pretensão  da  parte  é  veiculada  por  simples  petição,  cabendo  o
julgamento ao relator, com recurso de agravo interno para o colegiado competente.
VI – Fungibilidade
Segundo  jurisprudência  do  STF,  consolidada  sob  o  regime  do  CPC/1973,
ocorre  erro  grosseiro  na  interposição  de  recurso  ordinário  quando  cabível  o
extraordinário, o que impossibilita a aplicação do princípio da fungibilidade recursal,
por inexistente dúvida objetiva a respeito de qual o recurso adequado.6
Recurso ordinário para o STJ
I – Cabimento
1345
O  art.  1.027,  II,  “a”  e  “b”,  do NCPC  repetiu  as  hipóteses  de  cabimento  do
recurso ordinário para o STJ constantes na Constituição Federal. Convém  ressaltar
que somente as decisões coletivas dos Tribunais, e não as singulares de Relatores e
Presidentes,  desafiam  recurso  ordinário.  Assim,  a  decisão  do  agravo  interno
interposto perante o colegiado contra decisum monocrático do  relator é que poderá
ser objeto de recurso ordinário.
II – Requisitos de admissibilidadeOs recursos ordinários  interpostos nos processos em que forem partes, de um
lado,  Estado  estrangeiro  ou  organismo  internacional  e,  de  outro,  Município  ou
pessoa  residente  ou  domiciliada  no  País,  processam-se  segundo  o  rito  comum  de
apelação e de agravo de instrumento (quando a decisão for daquelas elencadas no art.
1.015), inclusive no que diz respeito aos requisitos de admissibilidade, aplicando-se
as disposições do NCPC relativas àqueles recursos e do Regimento interno do STJ,
conforme determina o art. 1.028, caput e § 1º, do NCPC.7
Aliás, no caso da letra “c” do art. 105, II, da Constituição, o recurso ordinário é
a própria apelação que se  interpõe diretamente da sentença de primeiro grau para o
Superior Tribunal de  Justiça,  em  lugar do Tribunal Regional Federal  (RISTJ,  art.
249); o mesmo ocorre em relação ao agravo de  instrumento  interposto das decisões
interlocutórias  proferidas  em  tais  demandas  (RISTJ,  art.  253).  Na  verdade,  nas
causas  da  Justiça  Federal  de  primeira  instância,  em  que  o  Estado  estrangeiro  ou
organismo  internacional  atuarem  como  parte,  o  STJ  desempenha,  de  forma
ordinária, o papel de órgão de segundo grau de jurisdição.8 Daí por que não se deve
empregar,  in  casu,  a  denominação  de  recurso  ordinário, mas  a  de  apelação  e  de
agravo, pois não são outros os recursos cabíveis segundo a previsão do art. 105, II,
“c”, da Constituição;  e  é  assim que os nomeia o Regimento  Interno do STJ  (arts.
249 e 253).
Já nos casos de mandado de segurança, aludidos no art. 105, II, “b”, da Cons-
tituição  (art.  1.027,  II,  “a”,  do NCPC),9 não  se pode  falar  em  apelação, porque o
recurso ordinário é manejado contra acórdão, e a definição  legal de apelação é a de
recurso  interponível  contra  sentença  (NCPC,  art.  1.009).  Por  isso,  o  RISTJ,  ao
classificar os diversos  recursos ordinários,  fala em  recurso ordinário em mandado
de segurança, e apelação civil, e agravo de instrumento, nos demais casos.
III – Interposição
O recurso ordinário contra decisão proferida, em  instância única, por  tri-bunal
1346
de segundo grau, em mandado de segurança, deve ser  interposto perante o  tribunal
de  origem.  Ao  receber  o  recurso,  o  presidente  ou  vice-presidente  intimará  o
recorrido para que, em quinze dias, apresente suas contrarrazões (art. 1.028, § 2º).10
O contraditório, destarte, será realizado no órgão ad quem.
Findo  o  prazo  de  contrarrazões,  os  autos  serão  remetidos  ao  STJ,  “indepen-
dentemente de  juízo de admissibilidade” (art. 1.028, § 3º).11 Tal como se dá com a
apelação  e  o  agravo  de  instrumento,  o  novo Código  aboliu  o  juízo  de  admissibi-
lidade  provisório  no  juízo  da  causa,  já  que  o  exame  do  cabimento  do  recurso  foi
atribuído unicamente ao tribunal ad quem. Desta forma, a sistemática do NCPC é a
de um só juízo de admissibilidade.
IV – Recurso adesivo
Nos  casos  de  sucumbência  recíproca  prevê  a  lei  a  possibilidade  de  uma  das
partes aderir ao recurso da outra, no prazo de contrarrazões (NCPC, art. 997, § 2º I),
em  se  tratando  apenas  de  apelação,  recurso  extraordinário  e  recurso  especial  (art.
997, § 2º,  II). Diante de  tal  limitação, admissível é o adesivo ao  recurso ordinário
interposto nas causas em que figurem como partes Estado estrangeiro ou organismo
internacional, uma vez que  a  esse  recurso  se  aplica  toda  a  sistemática da  apelação
(art. 1.028, caput). Já quanto ao recurso ordinário em mandado de segurança, não há
como enquadrá-lo nas regras de cabimento da adesão recursal, pela impossi-bilidade
de  tratá-lo, quer como apelação, quer como recurso extraordinário ou especial. Não
se lhe estende, portanto, o regime excepcional do art. 997, §§ 1º e 2º.
V – Julgamento do mérito
Ao relator, além do juízo sobre o cabimento do recurso ordinário, cabe julgá--lo
pelo mérito, nos casos do art. 932, IV e V, do NCPC, e art. 34, XVIII, do RISTJ.
Dessa decisão monocrática, caberá agravo interno (art. 1.021, caput).
Não  tendo  sido  inadmitido  nem  resolvido  pelo  mérito  preliminarmente,  o
relator,  ouvido  o Ministério  Público,  pedirá  dia  para  o  julgamento  do  colegiado
(RISTJ, arts. 250 e 254).
Uma vez que o recurso ordinário, em essência, se assemelha à apelação, fica o
STJ, no  julgamento colegiado, autorizado a decidir, desde  logo, o mérito da causa
(art.  1.013,  §  3º),  ainda  quando  a  decisão  recorrida  tenha  decretado  a  extinção  do
processo sem  resolução do mérito, sempre que a ação estiver madura, ou  seja, em
condições de imediato julgamento (art. 1.027, § 2º)12 (ver item nº 770 retro).
VI – Concessão de efeito suspensivo
1347
O recurso ordinário, como os recursos em geral, não possui efeito suspen-sivo.
Entretanto, o recorrente poderá pedir a suspensão dos efeitos da decisão impugnada,
endereçando-se:  (i)  diretamente  ao  STJ,  no  período  compreendido  entre  a
interposição  do  recurso  e  sua  distribuição;  ou  (ii)  ao  relator,  no  STJ,  se  já
distribuído o recurso (art. 1.027, § 2º).
Fluxograma  nº  33 – Recurso ordinário para o STF e para o STJ (arts. 1.027 e
1.028)
1348
Nota: O recurso ordinário assume a forma de agravo de instrumento ou de apelação naquelas
ações que correm no 1º grau de jurisdição, com o 2º grau atribuído constitucionalmente ao STJ
(CF, art. 105, II, “c”; NCPC, art. 1.027, II, “b” e § 1º, e 1.028, caput).
1349
1
2
3
4
5
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7
8
9
10
11
12
CPC/1973, arts. 539 a 546.
WAMBIER,  Teresa  Arruda  Alvim  et  al.  Primeiros  comentários  ao  novo  Código  de
Processo Civil cit., p. 1.487.
CPC/1973, sem correspondência.
CPC/1973, sem correspondência.
CPC/1973, sem correspondência.
STF, 2ª T., ARE 673.726/RO, Rel. Min. Teori Zavascki, ac. 19.09.2013, DJe 01.10.2013.
CPC/1973, art. 540.
STJ, 3ª T., Ag. 12.262/GO, Rel. Min. Nilson Naves, ac. 09.12.1991, RSTJ  36/37; STJ, 6ª
T., Ag 1.199.659/SP, Rel. Min. Og Fernandes, ac. 14.04.2011, DJe 02.05.2011.
CPC/1973, art. 539, II, “a”.
CPC/1973, sem correspondência.
CPC/1973, sem correspondência.
CPC/1973, sem correspondência.
1350
817.
§ 85. RECURSO EXTRAORDINÁRIO E ESPECIAL
Sumár io:  817.  Recurso  extraordinário.  818.  Pressupostos  do  recurso
extraordinário. 819. Repercussão geral das questões constitucionais debatidas no
recurso  extraordinário.  820.  Conceituação  legal  de  decisão  que  oferece
repercussão geral. 821. Procedimento no STF. 822. Reflexos da decisão acerca da
repercussão geral. 823. O procedimento regimental de apreciação da arguição de
repercussão geral pelo Plenário do STF. 824. Formas de solução tácita da arguição
de repercussão geral. 825. Procedimentos a serem adotados após o reconhecimento
da  repercussão  geral.  826.  Função  do  recurso  extraordinário.  827.  Efeitos  do
recurso  extraordinário.  828.  Processamento  do  recurso  extraordinário.  829.  O
preparo dos recursos para o STF e para o STJ. 830. O recurso extraordinário por via
eletrônica. 831.  Julgamento do  recurso e  julgamento da causa. 832.  Julgamento
incompleto do recurso extraordinário, no juízo de revisão. 833. Poderes do relator.
834.  Recurso  especial  para  o  STJ.  835.  Jurisprudência  formada  antes  da
Constituição de 1988. 836. Jurisprudência do STJ formada após a Constituição de
1988. 836-A. Juízo de cassação e juízo de reexame, no âmbito do recurso especial.
Controle  de  constitucionalidade.  837.  Recurso  especial  fundado  em  dissídio
jurisprudencial.  838. Obtenção  de  efeito  suspensivo  excepcional  para  o  recurso
especial. 839. Concomitância de  recurso extraordinário e  recurso especial. 840.
Fungibilidade  entre  o  recurso  especial  e  o  recurso  extraordinário.  840-A.
Cabimento de recurso extraordinário contra decisão do STJ em recurso especial.
841. Preferência do julgamento domérito dos recursos especial e extraordinário.
842. Recurso especial e recurso extraordinário adesivo.
Recurso extraordinário
Entre nós, o  recurso extraordinário se apresenta como uma criação do Direito
Constitucional  brasileiro,  inspirado  no  Judiciary  Act  do  Direito  norte-americano.
Sua  finalidade  é manter, dentro do  sistema  federal  e da descentralização do Poder
Judiciário, a autoridade e a unidade da Constituição.13
O cabimento do  recurso está previsto no art. 102,  III, “a”, “b”, “c” e “d”, da
Constituição  da  República,  que  o  admite  nas  causas  julgadas  por  outros  órgãos
judiciais, em única ou última instância, quando a decisão recorrida:
1351
(a)
(b)
(c)
(d)
818.
contrariar dispositivo da Constituição Federal;14
declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
julgar  válida  lei  ou  ato  do  governo  local  contestado  em  face  da
Constituição;15
julgar válida lei local contestada em face de lei federal.16
Trata-se de um  recurso excepcional, admissível apenas em hipóteses  restritas,
previstas na Constituição com o fito específico de tutelar a autoridade e aplicação da
Carta  Magna.  Dessas  características  é  que  adveio  a  denominação  de  “recurso
extraordinário”,  adotada  inicialmente  no  Regimento  Interno  do  Supremo  Tribunal
Federal, e, posteriormente, consagrada pelas diversas Constituições da República, a
partir de 1934.
Desde a EC nº 45/2004, além dos requisitos enumerados nas alíneas do  inciso
III do art. 102 da CF, ficou a admissibilidade do recurso extraordinário dependente
de  demonstração,  pela  parte,  de  repercussão  geral  das  questões  constitucionais
discutidas no caso (CF, art. 102, § 3º) (v., adiante, os itens nos 819 a 822).
Pressupostos do recurso extraordinário
A admissibilidade do recurso extraordinário pressupõe:
(a)  O  julgamento  da  causa,  em  última  ou  única  instância,  entendida  como
causa  tanto  a  que  envolve  decisão  final  de mérito,  como  a  questão  resolvida  em
decisão  interlocutória.  Excluem-se,  no  entanto,  da  área  de  cabimento  do
extraordinário, os acórdãos que deferem  tutela provisória, uma vez que a definição
de periculum  in mora e fumus boni  iuris, além de precária, envolve essencialmente
matéria  fática,  não  compatível  com  o  objetivo  daquele  recurso  (STF,  Súmula  nº
735).
A  Constituição,  outrossim,  não  condiciona  o  cabimento  do  extraordinário  à
ocorrência  de  julgamento  final  de  tribunal.  Exige  apenas  que  se  trate  de  causa
decidida em única ou última instância. Em hipótese de causas de alçada, portanto,
pode  haver  recurso  de  sentença  do  juízo  de  primeiro  grau  diretamente  para  o
Supremo Tribunal Federal.17
(b) A  existência  de  questão  federal  constitucional,  i.e.,  uma  controvérsia  em
torno da  aplicação da Constituição da República. A questão  apreciável pela via do
recurso  extraordinário  somente  pode  ser  uma  questão  de  direito,  i.e.,  um  ponto
controvertido que envolva diretamente a interpretação e aplicação da lei. Se o que se
1352
debate são os fatos (e sua veracidade),  tem-se a questão de fato que é prejudicial à
questão  de  direito  e  que  não  pode  ser  renovada  por meio  do  extraordinário.18 A
questão  federal,  para  justificar  o  cabimento  do  recurso  extraordinário,  não  exige
prévia suscitação pela parte, mas deve já figurar no decisório recorrido; i.e., deve ter
sido  anteriormente  enfrentada  pelo  tribunal  a  quo.  Nesse  sentido,  fala-se  em
prequestionamento como  requisito de admissibilidade do extraordinário. É, aliás, o
que  se  extrai  da  regra  constitucional  que  exige,  para  ser  conhecido  esse  recurso,
verse ele sobre “causa decidida”, na instância de origem.
(c)  A  demonstração  da  repercussão  geral  das  questões  constitucionais
discutidas no caso,  requisito  esse  que,  todavia,  somente  prevalece  em  relação  aos
recursos  extraordinários  interpostos  contra  decisões  publicadas  a  partir  da
regulamentação da matéria pelo RISTF.19
(d) A observância do prazo legal de interposição do recurso extraordinário, que
é  de  quinze  dias,  a  contar  da  intimação  do  julgamento  impugnado  (NCPC,  art.
1.003, caput e § 5º).20 O STF, no regime do CPC/1973, considerava intempestivo o
recurso manifestado antes do  julgamento dos embargos de declaração, se não fosse
posteriormente  ratificado.21 Essa  questão  foi  superada  por  regulamentação  diversa
adotada pelo NCPC, cujo art. 218, § 4º, dispõe  textualmente que “será considerado
tempestivo o ato praticado antes do termo inicial do prazo” (ver, retro, item nº 742).
(e) A  existência  do  prequestionamento. Quanto  à  questão  constitucional,  não
pode  ela  ser  suscitada  originariamente  no  próprio  recurso  extraordinário. O  apelo
extremo  só  será  admissível  se  o  tema  nele  versado  tiver  sido  objeto  de  debate  e
apreciação  na  instância  originária.  Por  isso,  se  a  decisão  impugnada  tiver  sido
omissa  a  seu  respeito  ou  se  a  pretensa  ofensa  à  Constituição  tiver  origem  em
posicionamento  do  órgão  julgador  adotado  pela  vez  primeira  no  próprio  julgado
recorrido,  deverá  a  parte,  antes  de  interpor  o  recurso  extraordinário,  provocar  o
pronunciamento  sobre  a  questão  constitucional  por  meio  de  embargos  de  de-
claração.22 Mesmo  quando  a  alegada  ofensa  à  Constituição  surge  na  prolação  do
próprio  acórdão,  “impõe-se  a  imposição  de  embargos  declaratórios,  a  fim  de  que
seja  suprido  o  requisito  do  prequestionamento”23  (sobre  o  prequestionamento
realizado em embargos de declaração, ver itens nos 808, retro, e 836, infra).
Para ter-se configurada a questão constitucional é ainda necessário que a ofensa
invocada  pelo  recorrente  tenha-se  dado  diretamente  contra  a  regra  traçada  pela
Constituição,  e  não  tenha  decorrido,  intermediariamente,  de  atentado  às  regras
infraconstitucionais.  É  o  que  se  acha  sintetizado  na  Súmula  nº  636  do  STF,  in
verbis:
1353
“Não  cabe  recurso  extraordinário  por  contrariedade  ao  prin-cípio
constitucional da legalidade, quando a sua verificação pressu-ponha rever a
interpretação dada a normas infraconstitucionais pela decisão recorrida”.
Justifica-se  a  exigência  do  prequestionamento  da  questão  constitucional  (tese
debatida  na  decisão  recorrida)  porque  a  Constituição  instituiu  o  recurso
extraordinário  para  apreciação  de  “causas  decididas  em  única  ou  última  instância”
(art.  102,  III).  Cumpre,  pois,  ao  recorrente  demonstrar,  necessariamente,  que  a
questão  ventilada  no  extraordinário  (i.e.,  a  causa)  foi  objeto  de  apreciação  e
julgamento na  instância ordinária. O que se busca com esse remédio excepcional é,
na verdade, um rejulgamento da causa, no  tocante à questão de direito nela contida.
Isso, obviamente,  só pode acontecer em  face de questão anteriormente  já decidida.
Daí  a  exigência  do STF  de  prequestionamento,  na  origem,  da  tese  constitucional,
como  requisito  de  admissibilidade  do  recurso  extraordinário  (Súmulas  nos  282  e
356).24  Mesmo  as  questões  de  ordem  pública  que  os  tribunais,  nas  instâncias
ordinárias, podem conhecer de ofício, quando se trata do recurso extraordinário não
são  apreciáveis  pelo  STF,  se  não  passaram  pelo  crivo  do  preques-tionamento.  É
tranquila a jurisprudência daquela Alta Corte sobre essa matéria.25
No  regime  do  Código  anterior,  não  se  tinha  como  prequestionada  a matéria
constante  apenas de  algum voto vencido  (Súmula nº 320/STJ). O Código de 2015
adotou  orientação  em  sentido  contrário,  dispondo  que  “o  voto  vencido  será  ne-
cessariamente declarado e considerado parte integrante do acórdão para todos os fins
legais, inclusive de prequestionamento” (art. 941, § 3º).
(f)Quanto à  tempestividade do recurso extraordinário (quinze dias, confor-me
o art. 1.003), o STF, ao tempo do Código anterior, impunha ao recorrente o ônus de
comprovar,  no  ato  da  respectiva  interposição  na  instância  de  origem,  a  eventual
ocorrência de feriado local que pudesse ter influenciado na determinação do término
do prazo  legal.26 A  jurisprudência da  referida Corte considerava  inad-missível que
tal  evento  fosse demonstrado posteriormente, quando o processo  já  se  encontrasse
na  superior  instância.27 A orientação  foi  adotada pelo NCPC, que, no § 6º do  art.
1.003,28  impõe  ao  recorrente  comprovar  a  ocorrência  de  feriado  local  no  ato  de
interposição  do  recurso.  A  regra,  todavia,  não  deve  ser  aplicada  de  forma
excessivamente rígida.
Em  função  da  instrumentalidade  das  formas  e  da  garantia  constitucional  de
acesso  à  justiça, o Supremo Tribunal Federal,  ainda  à  época do CPC/1973, houve
por bem rever sua antiga jurisprudência, passando a permitir que o feriado local ou a
1354
819.
suspensão  de  expediente  do  tribunal  de  origem  pudessem  ser  comprovados
posteriormente  à  interposição  do  extraordinário,  inclusive  em  sede  de  agravo
regimental.29
Em  seguida, o Superior Tribunal de  Justiça, que acompanhava em matéria de
recurso  especial  a mesma  orientação,  adotou  também  a mudança  de  entendimento
ocorrida no Supremo Tribunal Federal.30 Portanto,  atualmente,  admite-se,  tanto no
processamento  do  recurso  extraordinário  como  do  especial,  que  a  causa  de
prorrogação do prazo recursal, por motivo  local, seja comprovada não só no ato de
interposição do recurso, mas  também ulteriormente, quando a dúvida a seu respeito
surgir, durante  a  tramitação do processo no Tribunal  ad quem.31 Sem  embargo  da
regra do § 6º do art. 1.003 do NCPC, a orientação deve permanecer no  regime da
nova legislação, uma vez que o § 3º do art. 1.029 do mesmo estatuto, permite que o
STF  determine  a  correção  de  vícios  que  não  se  reputem  graves,  desestimulando  a
jurisprudência defensiva e estimulando a sanação de falhas formais.32
Ainda no tocante à tempestividade, o STF já decidiu que o carimbo ilegível do
protocolo não é motivo, por si só, para a declaração de intempestividade do recurso,
quando  for  possível  aferir  a  tempestividade  por  outros  meios.  Entende  a  Corte
Superior que o defeito, nesse  caso,  é do órgão  jurisdicional, de  tal  sorte que  se  a
tempestividade  do  recurso  puder  ser  aferida  por  outros  elementos  acostados  aos
autos, não pode “a parte  jurisdicionada  sofrer prejuízo por um defeito ao qual não
deu causa”.33
Repercussão geral das questões constitucionais debatidas no
recurso extraordinário
O  regime da Constituição anterior ensejou a criação da arguição de  relevância
como mecanismo de filtragem do recurso extraordinário, expediente que a Carta de
1988 repeliu.
A  matriz  constitucional  do  recurso  extraordinário  veio,  porém,  a  sofrer
significativas alterações por força da Emenda nº 45, de 30.12.2004, dentre elas a que
figurou  no  novo  §  3º  acrescido  ao  art.  102  da  Constituição.  Por  força  desse
dispositivo,  doravante  caberá  à  parte  fazer,  em  seu  recurso,  a  demonstração  da
“repercussão  geral  das  questões  constitucionais  discutidas  no  caso”. À  luz  desse
dado, o STF poderá, por voto de dois terços de seus membros, “recusar” o recurso.
Ou  seja:  está  o  Tribunal  autorizado  a  não  conhecer  do  recurso  extraordinário  se,
preliminarmente,  entender  que  não  restou  demonstrada  a  “repercussão  geral”  das
1355
questões sobre que versa o apelo extremo.34
Foi,  sem  dúvida,  a  necessidade  de  controlar  e  reduzir  o  sempre  crescente  e
intolerável  volume  de  recursos  da  espécie  que  passou  a  assoberbar  o  Supremo
Tribunal  a  ponto  de  comprometer  o  bom  desempenho  de  sua  missão  de  Corte
Constitucional,  que  inspirou  e  justificou  a  reforma  operada  pela  EC  nº  45.  Essa
preocupação  com  a  redução  do  número  de  recursos  endereçados  às  Cortes  Su-
premas de  Justiça não é um  fenômeno  local,  já que  tem  se manifestado em vários
países. Lembra, a propósito, Andrea Proto Pisani, a respeito do direito italiano, que
as Cortes de Cassação, gênero a que se filiam em certos aspectos  tribunais como o
STF e o STJ brasileiros, se destinam institucionalmente a garantir a uniformidade da
aplicação da  lei  federal nos Estados organizados de maneira  federativa, e com  isso
cumprir-se  a  garantia  constitucional  de  igualdade  de  todos  perante  a  lei. Acontece
que o acesso indiscriminado a esses tribunais provoca seu crescimento numérico e o
congestionamento  de  seus  serviços,  com  o  que,  além  da  intolerável  demora  na
resposta jurisdicional definitiva, se acaba por produzir decisões divergentes entre os
diversos órgãos fracionários em que a Corte se vê forçada a instituir. De tal maneira
o tratamento igualitário que justificaria a existência desses tribunais superiores acaba
sendo inviabilizado, diante da inevitabilidade de divergência in-terna na interpretação
e aplicação da  lei federal. É assim que se  justifica a adoção de critérios de redução
drástica  do  volume  de  processos  que  vão  ter  aos  tribunais  de  último  grau  de
jurisdição, limitando-os apenas àqueles que versem sobre questões relevantes de alta
repercussão nacional.35
A  regulamentação  do  dispositivo  constitucional  encontra-se  no  art.  1.035,  do
NCPC e seus parágrafos,36 onde foram  traçadas regras de definição do que se deva
entender por repercussão geral das questões constitucionais debatidas no processo;
e  instituíram-se  regras  simplificadoras  da  tramitação  de  outros  extraordinários
pendentes com veiculação de igual controvérsia.
Disciplinando o direito intertemporal, à época do CPC/1973, o art. 4º da Lei nº
11.418/2006 dispôs que  sua aplicação dar-seia aos  recursos  interpostos a partir do
primeiro dia de sua vigência, ou seja, a partir do dia 18.02.2007. Continuam fora da
sistemática da  repercussão geral  todos os  recursos  extraordinários pendentes  antes
daquela data, que estejam tramitando nas instâncias locais ou no STF.37
É de se ressaltar que o controle de admissibilidade criado pelo novo § 3º do art.
102 da Constituição é específico do recurso extraordinário, pelo que não poderá ser
estendido  ao  recurso  ordinário  perante  o  STF,  e  tampouco  ao  especial  e  outros
recursos manejáveis no âmbito do STJ.
1356
820.
A apreciação da ocorrência  (ou não) de  repercussão geral é exclusiva do STF
(art. 1.035, § 2º).38 A competência é do Pleno, por decisão de pelo menos oito de
seus onze Ministros (art. 102, § 3º, da CF). Essa decisão é irrecorrível (NCPC, art.
1.035, caput).39 Não obstante, é inequívoca a possibilidade de oposição de embargos
de  declaração,  se  presentes  os  requisitos  legais  dessa modalidade  recursal,  porque
incide  na  espécie,  a  norma  do  art.  93,  IX,  da  Constituição,  que  obriga  a
fundamentação adequada das decisões judiciais.40 Aliás, é importante ressaltar que o
novo CPC aboliu o juízo de admissibilidade do recurso extraordinário no tribunal de
origem, reservando-o, em regra, para o próprio STF.
Conceituação legal de decisão que oferece repercussão geral
Para  justificar  o  recurso  extraordinário,  não  basta  ter  havido  discussão
constitucional  no  julgado  recorrido.  O  STF  não  conhecerá  do  recurso  “quando  a
questão constitucional nele versada não tiver repercussão geral” (NCPC, art. 1.035,
caput).
Por  repercussão  geral,  a  lei  entende  aquela  que  se  origina  de  questões  “que
ultrapassem  os  interesses  subjetivos  do  processo”,  por  envolver  controvérsias  que
vão além do direito  individual ou pessoal das partes. É preciso que, objetivamente,
as questões repercutam fora do processoe se mostrem “relevantes do ponto de vista
econômico,  político,  social  ou  jurídico”  (art.  1.035,  §  1º).41  Para  que  o
extraordinário,  portanto,  tenha  acesso  ao  STF,  incumbe  ao  recorrente  demonstrar,
em preliminar do recurso, a existência da repercussão geral (art. 1.035, § 2º).42 Não
pode  se  dar  de  ofício  tal  reconhecimento.  A  arguição  pela  parte  é  pressuposto
processual, de maneira que, não cumprido, o recurso será fatalmente não conhecido.
A apreciação da matéria, por outro  lado, será exclusiva do STF,  isto é, não passará
pelo  crivo  do  tribunal  de  origem;  e  seu  pronunciamento  dar-seá  em  decisão
irrecorrível (art. 1.035, caput).43
A avaliação da repercussão geral in concreto se faz sobre a questão debatida no
recurso. Não há necessidade da coexistência de numerosos processos sobre a mesma
questão. Ainda  que  só  um  recurso  extraordinário  exista  entre  partes  singulares,  é
possível  que  a  matéria  nele  cogitada  envolva  tema,  cuja  solução,  ultrapasse  o
interesse  individual  delas,  repercutindo  significativamente  no  plano  social  e
jurídico.44  Vale  dizer:  embora  inexistente  a  multiplicidade  de  recursos,  deverá  a
questão de direito envolver  interesses de um grande número de pessoas, ainda que
não configurado o interesse de massa.45
1357
821.
Há na  lei a previsão de alguns casos em que a  repercussão geral é categorica-
mente  assentada. São  eles,  de  acordo  com  o  art.  1.035,  §  3º,  I  e  III:  (i)  qualquer
decisão recorrida que tenha contrariado súmula ou jurisprudência dominante do STF
(inciso  I),  (ii)  decisão  de  qualquer  tribunal  que  tenha  reconhecido  a
inconstitucionalidade  de  tratado  ou  de  lei  federal,  nos  termos  do  art.  97  da
Constituição Federal (inciso III).46 A súmula, in casu, não precisa ser a vinculante,
mas  apenas  a  que  retrate  jurispru-dência  assentada,  pois, mesmo  sem  súmula,  a
repercussão  geral  estará  configurada  em  qualquer  julgamento  que  afronte
“jurisprudência dominante” do STF.
Por jurisprudência dominante, deve-se ter a que resulta de posição pacífica, seja
porque não há acórdãos divergentes, seja porque as eventuais divergências já tenham
se pacificado no seio do STF.
O STF, em sua página na Internet, divulga vários casos em que a repercussão
geral, diante de processos múltiplos, já foi reconhecida naquela Corte, versando em
sua  maioria  sobre  questões  tributárias  e  previdenciárias  (RE  559.607,  559.943,
560.626,  561.908,  566.471,  564.413  e  567.932),  e  algumas  de  remuneração  de
servidores  públicos  (RE  561.836  e  570.177)  ou  problemas  de  saúde,  na  ordem
social (RE 566.471).47
Por  fim,  presume-se  haver  repercussão  geral  se  o  recurso  impugnar  acórdão
que  tenha  reconhecido  a  inconstitucionalidade  de  tratado  ou  lei  federal,  proferida
pelo  voto  da  maioria  absoluta  dos  membros  do  Pleno  ou  do  órgão  especial  de
Tribunal de segundo grau (art. 97 da CF).
Procedimento no STF
Ao Plenário compete declarar a ausência de repercussão geral, por voto de dois
terços de seus membros (CF, art. 102, § 3º). Pelo menos oito dos onze ministros do
STF  devem  negar  a  repercussão,  para  que  o  recurso  extraordinário  não  seja
admitido.48
Negada a  repercussão geral, a decisão do Pleno valerá para  todos os  recursos
sobre matéria  idêntica,  ainda  pendentes  de  apreciação.  O  presidente  ou  vice-pre-
sidente do tribunal de origem negará seguimento a todos os recursos sobrestados na
origem que versem sobre matéria idêntica (art. 1.035, § 8º).49
Pode o  relator, durante a análise da  repercussão geral, permitir  intervenção de
terceiros  interessados,  por  meio  de  procurador  habilitado,  de  acordo  com  o  que
dispuser o Regimento  Interno do STF  (art. 1.035, § 4º).50 Essas manifestações  se
1358
(a)
(b)
(i)
(ii)
(iii)
(iv)
(c)
(i)
(ii)
justificam em face da repercussão que o julgamento pode ter sobre outros recursos,
além  daquele  sub  apretiatione  no  momento  (art.  1.036).51  É  um  dos  casos,
outrossim, em que a intervenção do amicus curiae se torna cabível.
Depois  de  certa  vivência  da  repercussão  geral,  o  Supremo  Tribunal  Federal,
pelo  seu  Pleno,  em  11.06.2008,  tomou  deliberações  acerca  do  procedimento  de
aplicação  desse  requisito  do  recurso  extraordinário,  principalmente  em  relação  à
jurisprudência já pacificada da Corte, que podem ser assim sintetizadas:
Simplificação  do  procedimento:  decidiu  que  o  dispositivo  da  repercussão
geral, criado em 2004 pela Emenda Constitucional 45, poderá ser aplicado
pelo Plenário da Corte a recursos extraordinários que discutem matérias  já
pacificadas pelo STF, sem que esses processos  tenham de ser distribuídos
para um relator.
Preconizou quatro medidas possíveis a observar  em  relação aos  recursos
extraordinários:
versando os  recursos  sobre matérias  já  julgadas pelo STF,  serão eles
enviados para a Presidência do Tribunal, que, antes da distribuição do
processo, levará a questão ao Plenário;
no Plenário, caberá aos Ministros aplicar a jurisprudência da Corte; ou
rediscutir a matéria; ou então
simplesmente  determinar  o  seguimento  normal  do  recurso,  caso  se
identifique que a questão não foi ainda discutida pelo Plenário.
Reflexos  sobre  outros  recursos:  nos  casos  em  que  for  confirmada  a
jurisprudência dominante, o STF negará a distribuição ao recurso e a todos
os  demais  que  tratem  sobre  a  mesma  matéria.  Com  isso,  os  Tribunais
poderão exercer o chamado juízo de retratação, ou seja:
aplicar a decisão do STF; ou
considerar  prejudicados  os  recursos  sobre  a  matéria,  quando  o
Supremo não reformar a decisão.
O  objetivo  da  decisão  do  Plenário  da  Suprema  Corte  foi  declaradamente
acelerar o trâmite dos recursos extraordinários e evitar a subida de um outro tipo de
recurso  ao  STF  –  o  agravo  nos  próprios  autos,  de  que  cogita  o  art.  544  do
CPC/1973 (NCPC, art. 1.042).
1359
822. Reflexos da decisão acerca da repercussão geral
I – Sobre processos em curso em grau inferior  de jurisdição
“Reconhecida  a  repercussão  geral,  o  relator  no  Supremo  Tribunal  Federal
determinará  a  suspensão  do  processamento  de  todos  os  processos  pendentes,
individuais  ou  coletivos,  que  versem  sobre  a  questão  e  tramitem  em  território
nacional”  (NCPC,  art.  1.035,  §  5º).  A  regra  tem  o  duplo  objetivo  de  economia
processual, simplificando a resolução dos múltiplos casos pendentes, e de assegurar
a  isonomia,  proporcionando  condição  a  que  todos  sejam  solucionados  segundo  a
mesma tese.
II – Sobre outros recursos extraordinários em curso
Reconhecida  a  repercussão  geral  em  um  recurso  extraordinário,  havendo  no
STF  outros  que  versem  sobre  questão  igual,  observar-se-á  a  sistemática  do
julgamento dos recursos repetitivos (NCPC, arts. 1.036 e ss.). A propósito, prevê o
art. 1.036, caput,52 que  ao Regimento  Interno do STF  cabe disciplinar o modo de
tratar a multiplicidade de recursos com fundamento em  idêntica controvérsia,  tendo
em  vista  permitir  que  o  julgamento  de  um  caso  possa  refletir  sobre  os  demais,
simplificando as respectivas tramitações.
Havendo diversos  recursos  extraordinários  em processamento na origem, que
tratam  da  mesma  controvérsia,  deverá  o  tribunal  local  selecionar  dois  ou  mais
recursos  que  a  representem  para  encaminhá-los  ao  STF.  Os  demais  ficarão
sobrestados  na  origem  até  o  pronunciamento  definitivo  do Supremo  (art.  1.036,  §
1º).53
Duas  situações  distintas  podem  ocorrer  no  pronunciamento  do STF:  (i)  pode
ser  negada  a  repercussão  geral;  ou  (ii)  pode  ela  ser  reconhecida. Na  primei-ra,  o
extraordinário  não  será  apreciado  pelo  STF  (NCPC,  art.  1.035,  caput);e,  na
segunda,  será  julgado  pelo mérito,  por  aquela  Corte  Superior  (art.  1.035,  §  9º).
Acontecerão, nesse último caso, duas decisões, em acórdãos distintos, uma sobre a
admissibilidade do recurso extraordinário e outra sobre sua procedência ou não.
Ocorrendo  a  negativa  de  repercussão  geral,  pelo  STF,  todos  os  recursos
sobrestados  na  origem  “serão  considerados  automaticamente  inadmitidos”  (art.
1.039, parágrafo único).54 Não chegarão, pois, a subir ao STF.
Se  o STF  julgou  o mérito  do  extraordinário,  poderão  surgir  nos  tribunais  de
origem,  duas  situações:  os  acórdãos  recorridos  retidos  poderão  estar  em  confor-
midade  ou  desconformidade  com  a  tese  firmada  pela  Suprema  Corte.  Caberá  às
1360
(a)
(b)
instâncias locais,55 uma das seguintes decisões:
se o julgado recorrido estiver conforme ao que decidiu o STF, o recurso ex-
traordinário  suspenso  no  tribunal  de  origem,  terá  seu  seguimento  negado
pelo presidente ou vice-presidente daquele tribunal (NCPC, art. 1.040, I);
se estiver em desacordo, os autos retornarão ao órgão do tribunal local que
proferiu o acórdão  recorrido, para  juízo de  reexame daquilo que  tiver sido
decidido no processo de competência originária, na  remessa necessária, ou
no recurso anteriormente julgado (art. 1.040, II).
Como  se vê, a  repercussão geral, editada com o  fito de  reduzir o excessivo e
intolerável  volume  de  recursos  a  cargo  do STF,  não  teve  como  objeto  principal  e
imediato os extraordinários manejados de maneira isolada por um ou outro litigante.
O  que  se  ataca,  de maneira  frontal,  são,  quase  sempre,  as  causas  seriadas  ou  a
constante  repetição  das mesmas  questões  em  sucessivos  processos,  que  levam  à
Suprema  Corte  milhares  de  recursos  substancialmente  iguais,  o  que  é  muito
frequente, v.g., em  temas de direito público, como os pertinentes aos  sistemas  tri-
butário  e  previdenciário,  e  ao  funcionalismo  público. A  exigência  de  repercussão
geral em processos  isolados, e não  repetidos em causas  similares, na verdade, não
reduz  o  número  de  processos  no  STF,  porque,  de  uma  forma  ou  de  outra,  teria
aquela Corte de enfrentar  todos os  recursos para decidir  sobre a ausência do novo
requisito de conhecimento do extraordinário.
O  grande  efeito  redutor  dar-se-á  pelos  mecanismos  de  represamento  dos
recursos  iguais nas  instâncias de origem, os quais,  à  luz do  julgado paradigma do
STF, se extinguirão sem subir à sua apreciação (art. 1.039, parágrafo único); e ainda
pela  extensão  do  julgado  negativo  do  STF  de  um  recurso  a  todos  os  demais  em
tramitação sobre a mesma questão (art. 1.035, § 8º). A página do STF na Internet, a
título  de  orientação  aos  jurisdicionados,  ressalta  que  a  exigência  da  “repercussão
geral”,  como  requisito  de  admissibilidade  do  recurso  extraordinário,  tem  as
seguintes  finalidades: “a)  firmar o papel do STF como Corte Constitucional e não
como  instância recursal; b) ensejar que o STF só analise questões relevantes para a
ordem  constitucional,  cuja  solução  extrapole  o  interesse  subjetivo  das  partes;  c)
fazer  com  que  o  STF  decida  uma  única  vez  cada  questão  constitucional,  não  se
pronunciando em outros processos com idêntica matéria”.
III – Desistência do recurso após reconhecimento da repercussão geral
1361
823.
Como o julgamento do recurso extraordinário de repercussão geral, se destina,
quase  sempre,  a  repercutir  sobre  uma  série  de  outros  recursos  sobrestados  para
aguardar o pronunciamento definitivo do STF (art. 1.035, § 5º), surge o problema de
ser possível ou não à parte desistir do recurso adotado pelo tribunal como padrão.
Muito  se  discutiu  sobre  o  tema  ao  tempo  do  CPC/1973.  O  novo  Código
enfrentou expressamente a matéria, adotando, a nosso ver, o melhor entendimento,
em  seu  art.  998,  segundo  o  qual  o  fato  de  o  processo  estar  inserido  na  cadeia  de
recursos repetitivos, por si só, não priva a parte do direito de desistir de seu apelo,
direito  esse  amplamente  assegurado  pelo  caput  do  dispositivo.56  Sua  deliberação,
todavia, não impedirá o STF de prosseguir na apreciação da tese de direito envolvida
na  arguição de  repercussão geral. Na dinâmica dos  recursos  repetitivos  e daqueles
que contêm repercussão geral, o julgamento do objeto do extraordinário ultrapassa o
interesse do recorrente, como se vê do disposto no § 1º do art. 1.035. Logo, mesmo
que  ocorra  a  desistência  do  recurso  padrão,  persistirá  o  interesse  coletivo,
relacionado  com  os  demais  recursos  que  se  acham  sobrestados,  no  aguardo  do
pronunciamento  do  STF  (art.  1.036,  §  1º). É  o  que  determina,  de  forma  clara,  o
parágrafo único do  art. 998,  ao  assegurar que  a questão,  cuja  repercussão geral  já
tenha  sido  reconhecida,  será  examinada  pelo  STF,  sem  embargo  de  ter  a  parte
desistido de seu recurso.
O procedimento regimental de apreciação da arguição de
repercussão geral pelo Plenário do STF
O  novo  Código  de  Processo  Civil  confere  ao  Regimento  Interno  do  STF
regulamentar as atribuições dos Ministros, das Turmas e de outros órgãos da-quele
Tribunal  na  análise  da  repercussão  geral,  principalmente  quando  inserida  na
sistemática dos recursos repetitivos (NCPC, arts. 1.035, § 5º, e 1.036, caput).
A  Emenda Regimental  nº  21/2007  cuidou  de  disciplinar  a matéria  dentro  do
RISTF  e,  assim,  estipulou  como  o  relator  acolheria  a  manifestação  do  Plenário
recomendada pelo  art. 102, § 3º, da Constituição. Para  tanto,  instituiu-se um pro-
cedimento eletrônico de comunicação entre o  relator do extraordinário e os demais
Ministros  que  compõem  o  Plenário,  o  qual  prescinde  de  sessão  de  julgamento  e
lavratura de acórdão específico para o incidente da arguição de repercussão geral da
questão constitucional debatida.
Após  recebimento  da  manifestação,  os  diversos Ministros  terão  o  prazo  de
vinte  dias  para  endereçarem  seus  pronunciamentos  ao  relator,  também  por  meio
1362
824.
eletrônico (RISTF, art. 324). Decorrido o prazo sem manifestações suficientes para
a recusa do recurso, “reputar-se-á existente a repercussão geral” (RISTF, art. 324, §
1º). Quer isto dizer que a rejeição tem sempre de ser expressa e fundamentada. Mas
o reconhecimento da repercussão pode ser presumido diante do silêncio dos votantes
que se abstêm de pronunciar sobre a arguição feita na preliminar do recurso.
A súmula da decisão sobre a  repercussão geral, de acordo com o § 11 do art.
1.035 do NCPC, será publicada no Diário Oficial e valerá como acórdão.
Pode-se estranhar o processamento e  julgamento do  incidente sem a realização
de  uma  sessão  do  Plenário  no  sentido  tradicional  e  sem  a  lavratura  de  acórdão
específico. Acontece que a Constituição, ao cuidar da repercussão geral, não exigiu
nada  além da  “manifestação de dois  terços” dos membros do STF para  recusar os
recursos  que  não  evidenciassem  tal  repercussão.  Não  se  impôs,  assim,  que  a
solenidade  da  sessão  de  julgamento  e  a  lavratura  de  acórdão  fossem  requisitos
indispensáveis  para  decidir  o  incidente.  Aliás,  a  desnecessidade  de  acórdão  foi
prevista,  expressamente, no  art. 1.035, § 11, do NCPC,57 onde  se  contenta  com  a
publicação de súmula da decisão a  respeito da preliminar em  torno da  repercussão.
Ademais, já consta de lei a autorização para a ampla adoção do processo eletrô-nico
na  Justiça  brasileira,  cujos  moldes  práticos  de  implantação  foram  confiados  à
regulamentação  dos Tribunais  na  esfera  de  suas  circunscrições  (Lei  nº  11.419,  de
19.12.2006, art. 18).
Não  se  entrevê,  portanto,  ilegalidade  na  sistemática  de  intercâmbio  eletrônico
adotado pelo RISTF para formação doquorum de rejeição, ou não, do incidente sub
apretiatione.
Havendo processos ou  recursos sobrestados, nos  termos do art. 1.035, § 5º, é
após a resolução do caso padrão, proceder-se-á quanto aos demais segundo as regras
gerais dos recursos extraordinários repetitivos (arts. 1.036 e ss.)
Formas de solução tácita da arguição de repercussão geral
Por  meio  de  disposições  de  seu  Regimento  Interno,  o  Supremo  Tribunal
Federal  instituiu  o  apelidado  “plenário  eletrônico”,  segundo  o  qual  a  comunicação
entre  o  relator  e  os  demais  ministros,  para  deliberar  acerca  da  negativa  de
repercussão  geral,  será  feita  por  via  eletrônica  (RISTF,  arts.  323  e  324). Dentro
dessa sistemática virtual, duas formas de solução tácita ou implícita foram adotadas,
para propiciar que o simples silêncio dos membros do colegiado fosse havido como
manifestação eficaz na solução do incidente (RISTF, art. 324, §§ 1º e 2º).
1363
(a)
(b)
825.
Cabe ao  relator, de  início,  fazer a distinção entre  recurso que enfrenta matéria
efetivamente  constitucional  e  aquele  que,  na  verdade,  discute  direito
infraconstitucional,  a  pretexto  de  arguir  ofensa  à  norma  constitucional.  Feita
distinção do  tema central do extraordinário, passar-seá à ouvida do plenário por via
eletrônica,  devendo  os ministros  se manifestarem,  perante  o  relator,  no  prazo  de
vinte dias, pela mesma via (RISTF, art. 324, caput).
É nesse “plenário eletrônico” que a solução do incidente pode ocorrer por meio
do  simples  silêncio  dos ministros  na  fase  em  que  lhes  cabia  pronunciar  sobre  a
repercussão. Duas são as hipóteses regimentais:
se  a  questão  foi  reconhecida  como  constitucional  pelo  relator,  e  este  não
receber, no prazo de vinte dias, o voto eletrônico de todos os ministros, de
modo  a  atingir  o  quorum  de  dois  terços  do  colegiado,  necessário  para
rejeitar  a  repercussão  geral,  esta  será  tida  como  automaticamente
reconhecida (RISTF, art. 324, § 1º);
se a matéria do extraordinário  for considerada como  infraconstitucional, o
fato  de  os ministros  não  se manifestarem  no  referido  prazo  de  vinte  dias
será  interpretado  como não reconhecimento  da  repercussão  geral  (RISTF,
art. 324, § 2º).
Há, pois, possibilidade de o  “plenário  eletrônico”, pelo  silêncio dos votantes,
tanto reconhecer como negar a repercussão geral. O que é importante, nesse tema, é
a qualificação da matéria sobre que versa o extraordinário.
Procedimentos a serem adotados após o reconhecimento da
repercussão geral
I – Sobrestamento dos processos que versem sobre a mesma questão
Uma vez que a  repercussão geral caracteriza-se por ser questão  relevante, que
ultrapasse  os  interesses  subjetivos  do  processo,  o  seu  reconhecimento  pelo  STF
pode  impactar  outras  ações  em  andamento  perante  os  diversos  tribunais  pátrios.
Destarte, reconhecida a repercussão geral, o relator no STF determinará a suspensão
do  processamento  de  todos  os  processos  pendentes,  individuais  ou  coletivos,  que
versem sobre a questão e tramitem no território nacional (NCPC, art. 1.035, § 5º).58
Embora a lei não estabeleça expressamente, o relator do STF deverá comu-nicar
os  tribunais  pátrios,  de  preferência  por  meio  eletrônico,  acerca  da  matéria
1364
considerada  de  repercussão  geral,  para  que  os  presidentes  ou  vice-presidentes
possam  cumprir  a determinação de  suspensão dos processos  em  curso perante  sua
jurisdição, em primeira ou segunda instâncias.
II – Recurso contra decisão de sobrestamento
Não prevê a  lei recurso manejável contra a deliberação do Relator no STF que
ordena a suspensão prevista no § 5º do art. 1.035. À  falta de  recurso próprio a ser
endereçado ao STF, o caso será de adotar-se o agravo interno, previsto no art. 1.021
do NCPC.
Destarte,  se  tiver ocorrido  equívoco na  inserção do processo na  série dos  re-
cursos  repetitivos, visto que a parte discute questão que, na verdade, não se  iguala
àquela em que se trava o debate sobre a repercussão geral, o interessado lançará mão
do agravo interno para que o próprio relator ou o órgão colegiado reveja a decisão.
A hipótese ora aventada, no entanto, será de rara aplicação prática no STF, uma
vez  que  a  ordem  de  suspensão  é  dada  pelo  relator  de  forma  genérica,  sem  in-
dividualizar um ou outro recurso pendente. Na maioria das vezes, a suspensão será
concretizada  por  deliberação  de  órgão  do  tribunal  local,  contra  quem,  portanto,  se
deverá manejar o  agravo  interno. O  recurso  somente  será  cogitável perante o STF
quando o  relator do extraordinário de  repercussão geral  individualizar o processo a
ser suspenso, nos termos do art. 1.035, § 5º. Aos demais casos, aplicar-se-á, a regra
do  art.  1.037,  §  13,  II,  que  prevê  o  agravo  interno  contra  decisão  do  relator  que
indefere o pedido de  exclusão do  recurso  extraordinário que  se pretende de objeto
distinto daquele cogitado no caso paradigma.
III – Recurso contra decisão de sobrestamento de recurso intempestivo
A  fim  de  evitar  o  indevido  atraso  do  trânsito  em  julgado  de  recursos
extraordinários intempestivos, o novo Código permite que o interessado requeira, ao
presidente  ou  vice-presidente  do  tribunal  de  origem,  que  exclua  o  processo  da
decisão  de  sobrestamento  e  inadmita  o  apelo  extremo  intempestivo  (art.  1.035,
§ 6º).59 Antes,  porém,  da  decisão,  atendendo  ao  princípio  do  contraditório,  deverá
ser ouvido o recorrente, em cinco dias.
Portanto, o presidente ou vice-presidente do tribunal a quo, quando provo-cado
por  requerimento  do  recorrido,  poderá,  adotar  uma  das  seguintes  soluções:  (i)
acolher  o  pedido,  inadmitindo  o  recurso  extraordinário  extemporâneo;  ou,  (ii)
indeferir o requerimento e, por conseguinte, manterá o sobrestamento do andamento
do  recurso  até  ulterior  decisão  do  STF.  Na  segunda  hipótese,  a  decisão  de
1365
826.
indeferimento desafiará agravo interno (art. 1.021),60 conforme previsão expressa do
art. 1.035, § 7º.61 Na hipótese de inadmissão do extraordinário, até então sobrestado,
o  recurso cabível  será ora agravo para o STF, ora agravo  interno para o colegiado
local,  conforme  o  fundamento  adotado  pelo  julgador  monocrático  (arts.  1.042  e
1.035, § 7º, com a redação da Lei nº 13.256/2016 (sobre o agravo, ver itens nos 851
a 856 a seguir).
IV  –  Julgamento  do  recurso  extraordinário  cuja  repercussão  geral  foi
reconhecida
Para  impedir  a  eternização  dos  processos  paralisados  (art.  1.035,  §  5º),  o
NCPC  prevê  o  prazo máximo  de  um  ano  para  que  o  STF  julgue  o  recurso,  cuja
repercussão  geral  tiver  sido  reconhecida  (art.  1.035,  §  9º).62  É  certo  que  referido
prazo  é  impróprio,  não  trazendo  consequências  para  o  STF  em  caso  de
descumprimento. Mas, para facilitar o  julgamento dentro do referido prazo, prevê a
nova  legislação  que  o  apelo  extremo,  enquadrável  nessa  situação,  terá  preferência
sobre os demais feitos em trâmite perante a Corte Suprema. Essa preferência apenas
não existirá em  face de processos que envolvam  réu preso e os pedidos de habeas
corpus (§ 9º, in fine).
O  art. 1.035, § 10, previa que  se o  julgamento do  recurso  extraordinário não
ocorresse  no  prazo  de  um  ano  a  contar  do  reconhecimento  da  repercussão  geral,
deveria  cessar,  em  todo  o  território  nacional,  a  suspensão  dos  processos  que
versavam  sobre  a  questão,  ficando  restabelecido  o  seu  curso  normal.  A  Lei  nº
13.256/2016,  no  entanto,  revogou  o  dispositivo,  de  modo  que  agora  não  existe
predeterminação legal da duração do sobrestamento ordenado pelo art. 1.035, § 5º.
Função do recurso extraordinário
O  Supremo  Tribunal  Federal,  diante  dos  pressupostos  do  recurso
extraordinário,realiza,  por meio  desse  remédio  processual,  a  função  de  tutelar  a
autoridade e a integridade da lei magna federal.63
Tem, assim, o recurso extraordinário, uma finalidade “eminentemente política”.
Mas,  nada  obstante,  essa  função  especial  não  lhe  retira  o  “caráter  de  instituto
processual destinado à  impugnação de decisões  judiciárias, a  fim de se obter a sua
reforma”.64 Isso porque, conhecendo do recurso e dando-lhe provimento, a Suprema
Corte,  a  um  só  tempo,  terá  tutelado  a  autoridade  e  unidade  da  lei  federal
(especificamente  das  normas  constitucionais)  bem  como  proferido  nova  decisão
sobre o caso concreto.65
1366
827.
Diante dessa dupla  função exercida pelo Supremo Tribunal Federal, por meio
do  recurso extraordinário, a doutrina costuma qualificar esse  remedium  juris como
“um instituto de direito processual constitucional” (Frederico Marques).
Efeitos do recurso extraordinário
A  interposição  e  o  recebimento  do  recurso  extraordinário  geram  efeitos  de
natureza apenas devolutiva,  limitados à “questão  federal” controvertida. Não  fica a
Suprema Corte investida de cognição quanto à matéria de fato, nem quanto a outras
questões  de  direito  não  abrangidas  pela  impugnação  do  recorrente  e  pelos  limites
fixados pela Constituição para o âmbito do recurso.66
Por não apresentar eficácia  suspensiva, o  recurso extraordinário não  impede a
execução  do  acórdão  recorrido  (NCPC,  art.  995).67  Nesse  caso,  a  execução  será
provisória.  No  regime  do  CPC  de  1939,  o  STF  editou  a  Súmula  nº  228,  que
considerava  definitiva  a  execução  de  sentença  na  pendência  do  recurso
extraordinário.  A motivação  de  tal  entendimento  ligava-se  ao  fato  de  que  aquele
velho Código nada dispunha a  respeito dos efeitos do questionado  recurso. Desde,
porém, o Código de 1973 que se  tornou certo que o recurso extraordinário, como a
generalidade dos recursos, não tem efeito suspensivo e que a execução provisória se
aplica às decisões impugnadas por meio de recurso apenas devolutivo. Essa situação
normativa é mantida pelo NCPC (arts. 520 e 995). Daí o acerto dos ensinamentos de
Luiz  Antônio  de  Andrade68  e  Barbosa  Moreira69  de  que,  desde  o  CPC/1973,  é
provisória a execução de sentença na pendência do recurso extraordinário, não mais
prevalecendo o enunciado da Súmula nº 228/STF.
O  juízo  competente  para  a  execução,  contudo,  nunca  será  o  do  recurso, mas
sempre o da causa (NCPC, art. 516, I e II),70 a quem a parte deverá recorrer se lhe
interessar  promover,  por  conta  e  risco,  a  execução  provisória,  observado  o
procedimento constante do art. 522.71
I  –  Tutela  de  urgência  no  recurso  extraordinário  para  obtenção  do  efeito
suspensivo
O  recurso  especial  e  o  extraordinário  não  gozam  de  eficácia  suspensiva,  por
isso permitem que a decisão recorrida possa ser de imediato posta em execução. Se
do temor desse cumprimento provisório surge o perigo para a eficácia do julgamento
final  do  apelo,  configurado  estará  o  primeiro  requisito  da  tutela  de  urgência,  o
periculum in mora.
Mas,  para  obter  a medida  cautelar  de  suspensão  da  decisão  recorrida,  cum-
1367
(a)
(b)
(c)
prirá, ainda, à parte demonstrar o fumus boni iuris, que, na espécie, se revelará pela
relevância dos fundamentos do recurso, ou seja, a possibilidade aparente de cassação
ou reforma do acórdão impugnado.
A  previsão  de  cabimento  da  concessão  cautelar  de  efeito  suspensivo  aos  re-
cursos extraordinário e especial, além de enquadrar-se na  teoria geral das  tutelas de
urgência, encontra apoio específico no art. 1.029, § 5º, do NCPC.
O Novo Código  aboliu  a  ação  cautelar,  de modo  que  a  parte  interessada  for-
mulará,  incidentemente no processo, por meio de petição avulsa, o requerimento de
atribuição de efeito suspensivo aos recursos em tela, quando cabível.
Matéria  de muita  discussão,  ao  tempo  do Código  de  1973,  era  a  relacionada
com  a  competência para processar  e decidir o pedido de  efeito  suspensivo para os
recursos  extraordinário  e  especial.  O  STF  chegou  a  sumular  seu  entendimento,
estabelecendo  que  a  competência  em  questão  caberia  ao  presidente  do Tribunal  de
origem, enquanto não pronunciado o juízo de admissibilidade do recurso (Súmula nº
635).  Somente  após  tal  juízo  é  que  a  competência  cautelar  se  firmaria  no  STF
(Súmula  nº  634). O  novo Código  tratou  do  tema,  de modo  explícito  e  claro,  nos
termos  do  art.  1.029,  §  5º,  I,  II  e  III  (redação  alterada  pela Lei  nº  13.256/2016),
estatuindo o seguinte:
O requerimento de concessão do efeito suspensivo a recurso extraor-dinário
ou a recurso especial será processado no  tribunal superior res-pectivo, “no
período compreendido entre a publicação da decisão de admissão do recurso
e  sua  distribuição”.  Nesse  caso,  o  relator   designado  para  o  exame  da
medida cautelar ficará prevento para o julgamento do recurso (inciso I).
Se o  recurso  já  tiver  sido distribuído no  tribunal  superior, a competên-cia
para a medida cautelar caberá ao respectivo relator  (inciso II).
No período compreendido entre a interposição do recurso e a publicação da
decisão  que  o  admitir,  a  competência  caberá  ao  presidente  ou  vice-
presidente do  tribunal  recorrido  (inciso  III). Essa competência, por  força
do mesmo dispositivo, prevalece, ainda, para o caso de recurso sobrestado,
nos termos do art. 1.037 (recursos repetitivos).
É bom registrar que o sobrestamento do recurso, para aguardo da resolução de
caso  representativo da  controvérsia no STJ,  já  foi, no  regime do Código  anterior,
reconhecido  como  não  impedimento  a  que  a  parte  requeira  a medida  cautelar  para
suspender os efeitos do acórdão  recorrido,  se o  requisito do periculum  in mora se
1368
828.
afigure presente, assim como a relevância dos fundamentos do recurso.72
Também o STF  já havia decidido que, na mesma circunstância, era possível a
ação cautelar, atribuindo-a, porém, ao Tribunal de origem, “quando o apelo extremo
estiver sobrestado em face do reconhecimento da existência de repercussão geral da
matéria constitucional nele tratada”.73
No  Tribunal  Superior,  a  competência  para  conhecer  do  pedido  de  tutela  de
urgência é do relator, ao qual foi distribuído o recurso (art. 1.029, § 5º, II). Se ainda
não houve a distribuição do  recurso, será designado  relator para a medida cautelar,
que ficará prevento para julgá-lo (art. 1.029, § 5º, I, in fine, com a redação da Lei nº
13.256/2016).
Ocorrida interposição simultânea dos recursos especial e extraordinário, caberá
ao STJ o exame do pedido de efeito suspensivo, porque é para ele que os autos serão
remetidos (art. 1.031). O STF só tomará conhecimento da causa depois de concluído
o julgamento do STJ (art. 1.031, § 1º).
Observe-se,  por  fim,  que  o  efeito  suspensivo  pleiteado,  em  regra  é  apenas
negativo, ou seja, destina-se tão somente a impedir a execução do acórdão recorrido;
pode,  porém,  ser  também  ativo;  vale  dizer,  à  parte  é  dado  requerer  a  tutela
antecipada, para que o STF conceda, provisoriamente, o que se pediu, mas que  foi
indeferido pela decisão recorrida.74
Processamento do recurso extraordinário
I – Interposição
A  parte  vencida  terá  o  prazo  de  quinze  dias  para  interpor  o  recurso
extraordinário (NCPC, art. 1.003, § 5º),75 perante o presidente ou vice-presidente do
tribunal onde se pronunciou o acórdão recorrido (art. 1.029).76
Já  à  época  do Código  anterior,  com  a  alteração  do  art.  542  feita  pela Lei  nº
10.352,  fora  eliminada  a  obrigatoriedade  de  ser  a  petição  do  extraordinário  pro-
tocolada  na  secretaria  do  tribunal  de  origem,  abrindo-se  oportunidade  ao  uso  dos
protocolos descentralizados,desde que o tribunal delegasse tais atribuições a ofícios
de  justiça  de  primeiro  grau  (CPC/1973,  art.  547,  parágrafo  único). Após  alguma
divergência  entre  as  Cortes  Superiores,  assentou-se  que  os  protocolos  integrados
aplicavam-se a todos e quaisquer recursos, inclusive o extraordinário e o especial.77
O NCPC adotou a mesma orientação do anterior, ao estabelecer, no parágrafo
único do art. 929, que “a critério do  tribunal, os serviços de protocolo poderão ser
descentralizados, mediante delegação a ofícios de justiça de primeiro grau”.
1369
II – Contraditório
Recebida  a  petição  do  recurso,  o  recorrido  será  intimado  para  apresentar
contrarrazões no prazo de quinze dias (art. 1.030, caput).78
III – Juízo de admissibilidade
À época do Código anterior, após a manifestação do recorrido o presidente ou
vice-presidente do tribunal realizaria o juízo de admissibilidade, admitindo ou não o
recurso (CPC/1973, art. 542, § 1º). Se fosse admitido, o processo era reme-tido ao
STF,  onde  se  processaria  segundo  o  disposto  em  seu  Regimento  Interno.  Se
ocorresse inadmissão, caberia agravo nos próprios autos, no prazo de dez dias, para
a Suprema Corte (CPC/1973, art. 544).
O sistema  legal era de duplo controle de admissibilidade do recurso extraordi-
nário: um no Tribunal de origem e outro no Supremo Tribunal Federal, sendo que o
primeiro não vinculava o Tribunal ad quem,  ao qual  era possível  reapreciar  toda  a
matéria de cabimento do  recurso,  fosse para confirmá-lo,  fosse para  reformá-lo. O
STF  só  não  teria  como  alterar  o  decisório  local  se  este  fosse  de  inadmissão  do
extraordinário, e a parte prejudicada deixasse de manejar o agravo do art. 544. Aí,
ocorreria  o  trânsito  em  julgado  do  acórdão  recorrido,  sem  que  o  STF  tivesse
assumido competência para conhecê-lo.
O NCPC, em seu  texto original, pretendeu uniformizar o sistema de um único
regime  de  admissibilidade,  a  ser  exercitado  apenas  pelo  tribunal  destinatário  do
recurso (ver, retro, o nº 738). Previa, nesse sentido, o primitivo parágrafo único do
art. 1.030 que,  apresentadas  as  contrarrazões pelo  recorrido,  a  remessa do  recurso
extraordinário ou especial ao tribunal superior dar-se-ia “independentemente de juízo
de admissibilidade”, no tribunal de origem.
Antes, porém, que o Código novo entrasse em vigência, a Lei nº 13.256/2016
alterou  o  regime  procedimental  dos  recursos  em  questão,  para  reimplantar  a
duplicidade  de  juízo  de  admissibilidade,  dispondo,  o  novo  texto  do  art.  1.030, V,
que  ao  presidente  ou  ao  vice-presidente  do  tribunal  recorrido  compete  “realizar  o
juízo de admissibilidade e, se positivo, remeter o feito ao Supremo Tribunal Federal
ou ao Superior Tribunal de Justiça”.
Continua, portanto, condicionada a subida dos recursos extremos aos tribunais
superiores, ao conhecimento do apelo pelo presidente ou vice-presidente do tribunal
no  qual  a  decisão  impugnada  foi  pronunciada.  Trata-se,  porém,  de  um  juízo
provisório, destinado a sofrer reexame pelo tribunal superior, a quem a lei reserva o
poder de dar a última palavra sobre a matéria, sem ficar vinculado ao primitivo juízo
1370
(a)
(b)
(c)
(a)
(b)
(c)
de admissibilidade acontecido no tribunal a quo.
IV  –  Casos  em  que  não  ocorrerá  o  juízo  de  admissibilidade  no  tribunal
recorrido, com a subida do feito ao tribunal superior
Prevê o art. 1.030, V, do NCPC, na redação da Lei nº 13.256/2016, que, para
realizar-se juízo de admissibilidade do recurso extraordinário ou do recurso especial,
na  instância  de  origem,  com  remessa  do  feito  ao  tribunal  superior  competente,  é
necessário:
que  o  recurso  ainda  não  tenha  sido  submetido  ao  regime  de  repercussão
geral ou de julgamento de recursos repetitivos (art. 1.030, V, “a”), pois, se
o  apelo  tiver  como  tema  questão  já  figurante  em  tal  sistemática,  o  seu
destino será o sobrestamento para aguardar a solução dos casos paradigma;
ou
que “o recurso tenha sido selecionado como representativo da controvérsia”
(art. 1.030, V,  “b”), o que, naturalmente, pressupõe  tenha  sido positivo o
juízo de admissibilidade (art. 1.030, V); ou
que, após a fixação do entendimento do STF (ou do STJ, se for o caso) em
regime de repercussão geral ou de recurso repetitivo, o órgão julgador local
prolator  do  acórdão  em  sentido  diverso  “tenha  refutado  o  juízo  de
retratação” (art. 1.030, V, “c”).
V – Juízo de admissibilidade negativo no tribunal recorrido
Prevê o art. 1.030, em seu novo  texto, algumas situações em que o presidente
ou  o  vice-presidente  do  tribunal  recorrido  deverá  negar   seguimento  ao  recurso
extraordinário ou especial. Fala-se, na espécie, em “não admissibilidade” do recurso
decretada na instância ordinária. Essa competência será exercida quando ocorrer uma
das seguintes hipóteses:
quando o recurso extraordinário versar sobre questão constitucional a que
o STF já recusou o reconhecimento de repercussão geral (art. 1.030, I, “a”,
primeira parte);
quando o recurso extraordinário  tenha sido  interposto contra acórdão “que
esteja  em  conformidade  com  entendimento  do  Supremo  Tribunal  Federal
exarado no regime de repercussão geral” (art. 1.030, I, “a”, segunda parte);
quando o recurso extraordinário (ou, também, o recurso especial) impugna
1371
(a)
(b)
(a)
acórdão proferido em conformidade com entendimento do STF exarado no
regime  de  recursos  repetitivos.  Igual  regra  aplica-se  ao  recurso  especial,
perante  entendimento  do  STJ,  também  manifestado  no  mesmo  regime
recursal (art. 1.030, I, “b”)
VI  –  Recursos  manejáveis  em  face  do  juízo  que  inadmite  o  recurso
extraordinário (ou o especial)
Com base na sistemática que a Lei nº 13.256/2016 introduziu no NCPC, o juízo
de  admissibilidade  dos  recursos  extraordinário  e  especial,  sujeita-se  ao  seguinte
regime:
o  juízo  positivo  (i.  é,  aquele  com  que  o  presidente  ou  o  vice-presidente
acolhe  o  recurso  extremo)  é  irrecorrível,  embora  o  tribunal  superior
continue com o poder de revê-lo;
quando o  juízo  for negativo, ou  seja, quando o  recurso  for  inadmitido no
tribunal  de  origem,  a  decisão  do  presidente  ou  do  vice-presidente  será
sempre recorrível, mas nem sempre pela mesma via impugnativa, pois: (i) o
recurso será o agravo interno, se o fundamento da inadmissão consistir em
aplicação de entendimento firmado em regime de repercussão geral; ou em
recursos  repetitivos;  caso  em  que  a  solução  será  dada  pelo  colegiado  do
tribunal local, sem possibilidade de o caso chegar à apreciação dos tribunais
superiores  (NCPC,  art.  1.030,  I);  (ii)  se  a  negativa  de  seguimento  do
recurso extraordinário ou do especial, se der por razão que não se relacione
com  teses oriundas de decisão proferidas em  regime de  repercussão geral,
ou  de  recursos  repetitivos,  caberá  o  agravo  endereçado  diretamente  ao
tribunal  superior  destinatário  do  recurso  inadmitido  (NCPC,  art.  1.042,
caput).
VII – Outros poderes do presidente ou vice-presidente do tribunal recorrido
Fixado  o  entendimento  do  STF  no  regime  de  repercussão  geral  ou  de
recursos  repetitivos,  se  o  presidente  ou  vice-presidente  do  tribunal
recorrido se deparar com recurso manifestado contra acórdão divergente da
tese  assentada  pela  Suprema  Corte  nos  referidos  regimes,  caber-lhe  á
“encaminhar  o  processo  ao  órgão  julgador  para  realização  do  juízo  de
retratação”  (art. 1.030,  II). Esse  juízo de  retratação  faz parte da dinâmica
1372
(b)
(c)
829.
procedimental  do  julgamento  dos  recursos  extraordinário  e  especial  e  é
preconizado pelo art. 1.040, II.
Uma  vez  deflagrado  o  processamento  de  recursos  em  caráter  repetitivo,  e
não  tendo ainda ocorridoa decisão do STF  sobre a questão constitucional
discutida,  caberá  ao  presidente  ou  vice-presidente  do  tribunal  de  origem
sobrestar  o recurso extraordinário que volte a debater a mesma matéria (art.
1.030,  III).  Igual  providência  caberá  em  relação  às  questões
infraconstitucionais  disputadas,  perante  o  STJ,  em  recursos  especiais
repetitivos.
Compete,  ainda,  ao  presidente  ou  vice-presidente  referido,  selecionar
recurso representativo de controvérsia constitucional ou infraconstitucional,
para  remessa  aos  tribunais  superiores,  nos moldes  do  §  6º,  do  art.  1.036
(art. 1.030, IV). Tal diligência pressupõe requisição do relator, no  tribunal
superior,  autorizada  pelo  art.  1.037,  III,  dos  recursos  repetitivos,  para
ampliar o espectro dos paradigmas.
O preparo dos recursos para o STF e para o STJ
Os  recursos  para  o  Supremo  Tribunal  Federal,  inclusive  o  extraordinário,
sempre se sujeitaram a preparo, que compreende o pagamento de custas e despesas
de remessa e retorno. Em resolução, o STF fixa e revê periodicamente as tabelas de
custas  e  despesas  recursais,  cujo  recolhimento  se  faz  antecipadamente,  junto  ao
tribunal de onde se origina o recurso.
O  recurso  especial  não  se  sujeitava  a  custas,  mas  apenas  às  despesas  de
remessa  e  retorno.  A  partir,  entretanto,  da  Lei  nº  11.636,  de  28.12.2007,
regulamentada pela Resolução nº 1, do Superior Tribunal de  Justiça, publicada no
DJU de 18.01.2008, as custas também são devidas no recurso especial, assim como
em outros recursos interpostos para aquele tribunal. Segundo a referida Resolução, a
cobrança das custas entrou em vigor no dia 27 de março de 2008. O valor de  tais
custas consta de  tabela baixada pela própria Lei nº 11.636, que prevê  sua correção
anual  segundo  a  variação  do  IPCA  do  IBGE  (Lei  nº  11.636,  art.  2º,  parágrafo
único). O STJ promove a atualização periódica por meio de Resolução, tal como se
passa no STF.
O  formulário  e  a  conta  de  recolhimento  das  despesas  recursais  constam  de
Resoluções do STF e do STJ, relativas às tabelas de custas e de porte de remessa e
devolução dos autos.79
1373
830.
831.
Tanto  na  esfera  do  STF  como  na  do  STJ,  excluem-se  da  obrigatoriedade  do
preparo os recursos que, por expressa disposição de lei, sejam isentos desses gastos,
ou de antecipação de despesas processuais. É o caso, v.g., dos feitos amparados pela
assistência  judiciária gratuita  (NCPC,  art. 82),80 bem como dos  recursos em geral
quando interpostos pela Fazenda Pública ou pelo Ministério Público (art. 91).81
O recurso extraordinário por via eletrônica
O STF, de acordo com a autorização do art. 18 da Lei nº 11.419/2006, instituiu
o  e-STF  (software)  como  instrumento  de  processamento  eletrônico  do  recurso
extraordinário,  que  assim  pode  ser  resumido:  (i)  a  petição  física  endereçada  ao
tribunal de origem será nele digitalizada e, em seguida,  transmitida eletronicamente
ao Supremo Tribunal Federal, por meio do e-STF (Resolução nº 427, de 20.04.2010,
art. 23); (ii) o mesmo acontecerá com as peças que  formarão o processo eletrônico
para apreciação do recurso extraordinário pelo STF (Res. nº 427, art. 24);82 (iii) os
autos físicos não mais subirão ao STF (Res. nº 427, art. 28); (iv) uma vez transitado
em  julgado o  recurso extraordinário, o STF  transmitirá à origem os autos virtuais,
para  fins  de  impressão  e  juntada  aos  autos  físicos  (parágrafo  único  do  citado  art.
28).
Julgamento do recurso e julgamento da causa
O  último  recurso  autorizado  pelo  processo,  para  atingir  o Tribunal maior  da
estrutura do Poder Judiciário, nem sempre exerce mesmo papel. Em alguns países, a
corte suprema cumpre função que consiste apenas em anular o  julgamento  irregular
proferido  no  tribunal  inferior. Atribui-se  a  esse  órgão  superior  a  denominação  de
Tribunal de Cassação. O  rejulgamento da  causa não  é  feito por  ele, de modo que,
cassada a decisão recorrida, o processo é enviado a outro tribunal a quem se atribui a
competência de julgar a questão anteriormente tratada no acórdão invalidado.
No Brasil,  o  recurso  extraordinário  (e  também  o  especial)  destina-se  tanto  a
invalidar  julgamento impugnado como, se necessário, a rejulgar  a causa. Vale dizer:
entre nós, o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça  têm poder
tanto de cassação como de revisão do julgamento da causa.
É o que declara a Súmula nº 456 do STF: “O Supremo Tribunal Federal, co-
nhecendo do recurso extraordinário, julgará a causa, aplicando o direito à espécie”.
No mesmo sentido, dispõe o art. 257 do regimento interno do STJ, a pro-pósito
do  recurso  especial:  “No  julgamento  do  recurso  especial,  verificar-seá,
1374
preliminarmente,  se  o  recurso  é  cabível.  Decidida  a  preliminar  pela  negativa,  a
Turma  não  conhecerá  do  recurso;  se  pela  afirmativa,  julgará  a  causa,  aplicando  o
direito à espécie”.
O NCPC positivou o entendimento sumular do STF e do regimento interno do
STJ, ao dispor, no art. 1.034,83 que “admitido o recurso extraordinário ou o recurso
especial  o  Supremo Tribunal  Federal  ou  o  Superior Tribunal  de  Justiça  julgará  o
processo, aplicando o direito”.
No novo julgamento da causa, o STF e o STJ, naturalmente, terão de examinar
o fato em que se achava apoiada a decisão cassada. Isto, porém, não quer dizer que
possa  reavaliar  os  fatos  para  formar  nova  e  diversa  convicção  sobre  a  respectiva
veracida-de.84 Os  fatos  que  são  levados  em  conta  são  exatamente  aqueles  fixados
pelo  tribunal de origem. O novo exame se  limita a verificar qual foi a versão fática
assentada  no  julgado  originário  para  sobre  ela  fazer  incidir  a  tese  de  direito
considerada  correta,  em  lugar  da  tese  incorreta  aplicada  pelo  tribunal  inferior.85 É
soberana a decisão local sobre a questão fática, de sorte que, de acordo com o STF,
se  apresenta  inadmissível  o  reexame  de  provas  e  fatos  em  sede  de  recurso
extraordinário.86
Julgar  a  causa,  dentro  do  recurso  extraordinário  ou  especial,  portanto,  tem
sentido menor  do  que  aquele  referente  ao  ato  do  tribunal  de  origem.  Este,  sim,
examina amplamente todas as questões de fato e de direito que a causa envolve. Os
tribunais superiores não fazem, senão sobre a questão de direito, uma avaliação e um
julgamento amplo. Fixada a tese de direito, esta será simplesmente aplicada sobre os
fatos  acertados  no  decisório  originário,  para  que  o  rejulgamento  da  causa  se
realize.87
É  importante,  todavia, respeitar-se o direito à prova, o contraditório e a ampla
defesa. Se para avançar sobre a solução de questões não apreciadas pelo  tribunal a
quo,  o STF  depende  de  provas  ainda  por  colher,  ou  se  o  processo  ainda  não  está
maduro,  por  inexistência  de  debate  adequado  sobre  as  questões  novas  a  enfrentar,
não  lhe  compete  julgá-las. A Corte  Superior,  depois  de  provido  o  extraordinário,
haverá  de  remeter  o  feito  à  instância  originária,  atribuindo-lhe  a  incumbência  de
completar  a  instrução  probatória  ou  o  contraditório,  bem  como  de  julgar  a  causa
novamente, segundo as exigências do devido processo legal.
Somente em casos especiais os  recursos extraordinários e especiais  levam em
conta fatos não avaliados pela instância anterior. É o que, por exemplo, se dá quando
a causa compreende vários pedidos e a decisão cassada solucionou apenas aquele que
1375
832.
tinha  natureza  prejudicial  em  face  dos  demais. Ocorrendo  a  cassação,  o  Tribunal
Superior  terá  de  julgar  os  demais  pedidos,  i.e.,  aqueles  que  não  che-garam  a  ser
decididos  no  acórdão  originário,  e  cuja  solução,  na  última  instância,  dependerá,
naturalmente,  de  avaliação  de  suporte  fáticopróprio,  até  então  não  enfrentado  no
processo.88 O mesmo se dá com as causas em que o pedido ou a defesa se apresenta
apoiada  em  causa  de  pedir  (fundamentação)  múltipla.89  Tudo,  porém,  haverá  de
corresponder  a uma  causa madura, na  sua  totalidade, ou  seja,  as novas questões  a
enfrentar no julgamento do recurso extraordinário ou especial já deverão ter passado
por suficiente contraditório e provas.
Em tais excepcionalidades, o STF ou o STJ examinará a prova dos autos, mas
não a reexaminará a ponto de ignorar as questões de fato já definitivamente julgadas
pelo tribunal a quo.
Se se apresenta admissível a sujeição dos recursos extraordinário e especial ao
efeito devolutivo previsto nos §§ 1º e 2º do art. 1.013 do NCPC,90 o mesmo não se
passa  com  o  §  3º  daquele  dispositivo. É  que,  tendo  o  tribunal  de  origem  julgado
apenas questão processual própria de sentença terminativa, não teria o STF ou o STJ
como enfrentar o mérito da causa. Não tendo havido nem mesmo começo de exame
das  questões  de  mérito  na  instância  de  origem,  faltaria  o  pressuposto  do
prequestionamento,  ou  seja,  não  se  estaria  diante  de  causa  decidida  em  única  ou
última  instância  (CF, arts. 102,  II, e 105,  III).91 Em outros  termos: “Sob pena de
supressão  de  instância  e  de  desrespeito  à  necessidade  de  prequestionamento,  este
Superior  Tribunal  de  Justiça  não  se  encontra  autorizado  a  avançar  no  exame  da
matéria de  fundo que não  foi debatida no  acórdão  recorrido,  ainda que  se  trate de
‘causa madura’”.92
Julgamento incompleto do recurso extraordinário, no juízo de
revisão
O  fato de o extraordinário não  ter no direito constitucional brasileiro apenas a
natureza de  recurso de cassação  (como ocorre geralmente na Europa), mas  também
de revisão, gera muita controvérsia, tanto na doutrina, como na jurisprudência, e na
prática  do  Supremo Tribunal  Federal  (e  também  no  Superior Tribunal  de  Justiça,
quando se  trata de  recurso especial) é muito comum prevalecer apenas a  função de
cassação,  ou  seja:  o  recurso  é  provido  para  invalidar  o  decisório  impugnado,
voltando o processo ao tribunal de origem para que a causa seja por ele rejulgada.
O certo, contudo, é que, em hipótese alguma, pode o  recorrente, vitorioso no
1376
juízo  de  cassação,  ficar  privado  do  rejulgamento  da  causa  (Súmula  nº  456/STF;
RISTJ, art. 257). O STF tem tomado, nos últimos tempos, posição firme a respeito,
que se acha retratada, por exemplo, no RE 346.736/DF:
“1.  Em  nosso  sistema  processual,  o  recurso  extraordinário  tem
natureza  revisional,  e  não  de  cassação,  a  significar  que  ‘o  Supremo
Tribunal  Federal,  conhecendo  o  recurso  extraordinário,  julgará  a  causa,
aplicando o direito  à  espécie’  (Súmula 456). Conhecer, na  linguagem da
Súmula,  significa  não  apenas  superar  positivamente  os  requisitos
extrínsecos  e  intrínsecos  de  admissibilidade,  mas  também  afirmar  a
existência  de  violação,  pelo  acórdão  recorrido,  da  norma  constitucional
invocada  pelo  recorrente.  2.  Sendo  assim,  o  julgamento  do  recurso  do
extraordinário  comporta,  a  rigor,  três  etapas  sucessivas,  cada  uma  delas
subordinada  à  superação  positiva  da  que  lhe  antecede:  (a)  a  do  juízo  de
admissibilidade, semelhante à dos recursos ordinários; (b) a do juízo sobre
a  alegação  de  ofensa  a  direito  constitucional  (que  na  terminologia  da
Súmula 456/STF também compõe o juízo de conhecimento); e, finalmente,
se for o caso, (c) a do julgamento da causa, ‘aplicando o direito à espécie’.
3.  Esse  ‘julgamento  da  causa’  consiste  na  apreciação  de  outros
fundamentos que,  invocados nas  instâncias ordinárias, não compuseram o
objeto  do  recurso  extraordinário, mas  que,  ‘conhecido’  o  recurso  (vale
dizer,  acolhido  o  fundamento  constitucional  nele  invocado  pelo
recorrente),  passam  a  constituir  matéria  de  apreciação  inafastável,  sob
pena de não ficar completa a prestação jurisdicional. Nada impede que, em
casos  assim,  o  STF,  em  vez  de  ele  próprio  desde  logo  ‘julgar  a  causa,
aplicando o direito à espécie’, opte por  remeter esse  julgamento ao  juízo
recorrido, como frequentemente o faz”.93
O  NCPC  acolheu  esse  entendimento  do  STF,  no  parágrafo  único  do  art.
1.034,94 ao dispor que, “admitido o recurso extraordinário ou o recurso especial por
um  fundamento,  devolve-se  ao  tribunal  superior  o  conhecimento  dos  demais
fundamentos para a solução do capítulo impugnado”.
Assim,  perante  o  dever  de  rejulgar  a  causa,  após  o  provimento  do  recurso
extraordinário,  não  pode  o STF  escusar-se  de  enfrentar  nem mesmo  questões  não
decididas pelo  tribunal de origem, se este decidira apenas parte do objeto  litigioso,
por meio  de  acolhimento  de matéria  prejudicial  a  outras  questões  ligadas  à  res  in
1377
833.
iudicium  deducta.95  “É  que,  tendo  acolhido  o  fundamento  constitucional  invocado
pelo recorrente (ou, no dizer da Súmula nº 456, tendo ‘conhecido’ o recurso), cum-
pre ao STF o dever  indeclinável de  ‘julgar a causa, aplicando o direito à espécie’”,
como consta do referido aresto. Aduz mais o voto do Min. Zavascki:
“Alarga-se,  portanto,  em  casos  tais  o  âmbito  horizontal  de  devo-
lutividade  do  recurso  extraordinário,  para  abranger  todas  as  questões
jurídicas submetidas à cognição do acórdão recorrido, mesmo as que, por
desnecessário,  não  tenham  sido  por  ele  examinadas.  Aplica-se,  aqui,
analogicamente, por inafastável imposição do sistema, o dis-posto no § 2º
do  art.  515  do  CPC  [NCPC,  art.  1.013,  §  2º]:  ‘quando  o  pedido  ou  a
defesa  tiver mais de um  fundamento e o  juiz acolher apenas um deles, a
apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais’”.96
Segundo  esse  posicionamento  jurisprudencial,  nada  impede  que,  em  alguns
casos, o STF, em vez de ele próprio “julgar a causa”, desde  logo, opte por remeter
esse julgamento ao juízo recorrido, o que, aliás, ocorre com frequência. “Todavia, o
que  não  pode,  sob  pena  de  incorrer  em  grave  insuficiência  na  prestação  jurisdi-
cional,  é  dar  por  definitivamente  julgada  a  causa,  sem  efetuar,  ou  propiciar  que  o
tribunal recorrido efetue, o exame de um fundamento  legitimamente  invocado e que
pode conduzir a um juízo favorável à parte que o invocou”.97
Verificada  essa  deficiência  no  aresto  do  STF  (ou  do  STJ),  o  caso  é  de
aperfeiçoá--lo,  mediante  a  acolhida  de  embargos  de  declaração,  com  efeitos
infringentes, cujo resultado haverá de ser o suprimento da lacuna, seja por imediato
julgamento da causa na própria  instância extraordinária,  seja por ordem de  retorno
do  processo  ao  tribunal  de  origem  a  fim  de  que  este  examine  a  questão  não
enfrentada no acórdão recorrido.98
Poderes do relator
Em  todos  os  feitos  do  Supremo Tribunal  Federal  e  do  Superior Tribunal  de
Justiça,  a  lei  reconhece  ao  relator  o  poder  de  decisão  singular,  enfrentando  até
mesmo as questões de mérito, em situações de manifesta  improcedência do pedido
ou do  recurso, especialmente quando a pretensão contrariar Súmula  jurisprudencial
do respectivo Tribunal.
À época do Código anterior, o art. 38 da Lei nº 8.038 dispunha expressamente
que  “o  relator,  no  Supremo Tribunal  Federal  ou  no  Superior Tribunal  de  Justiça,
1378
(a)
(b)
(c)
834.
decidirá  o  pedido  ou  o  recurso  que  haja  perdido  seu  objeto,  bem  como  negará
seguimento  a  pedido  ou  recurso  manifestamente  intempestivo,  incabível  ou
improcedente, ou, ainda, que contrariar, nas questões predominantemente de direito,
Súmula  do  respectivo Tribunal”. Contra  essa  decisão,  a  parte  poderia  agravar,  no
prazo de cinco dias, para o colegiado (art. 39 da referida Lei).
Écerto que o art. 38 da Lei nº 8.038 foi revogado pelo inciso IV do art. 1.072
do NCPC. Essa circunstância, contudo, não afetou os poderes conferidos ao relator
no STJ e no STF, uma vez que estão expressamente previstos no art. 932, III, IV e
V, do NCPC, que trata, de maneira geral, das prerrogativas do relator.
Assim, é dado ao relator (art. 932):
não  conhecer  de  recurso  inadmissível,  prejudicado  ou  que  não  tenha
impugnado  especificamente  os  fundamentos  da  decisão  recorrida  (inciso
III);
negar provimento a  recurso que  for contrário a  (inciso  IV):  (i)  súmula do
STF,  do STJ  ou  do  próprio  tribunal;  (ii)  acórdão  proferido  pelo  STF  ou
pelo STJ em julgamento de recursos repetitivos; (iii) entendimento firmado
em  incidente  de  resolução  de  demandas  repetitivas  ou  de  assunção  de
competência;
dar  provimento  ao  próprio  recurso,  se  a  decisão  recorrida  for  contrária  a
(inciso V): (i) súmula do STF, do STJ ou do próprio tribunal; (ii) acórdão
proferido pelo STF ou pelo STJ em julgamento de recursos repetitivos; (iii)
entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou
de assunção de competência.
Da  decisão  do  relator  caberá  agravo  interno  para  o  colegiado,  no  prazo  de
quinze dias (art. 1.021).99
Recurso especial para o STJ
I – Cabimento do recurso especial
A  função  do  recurso  especial,  que  antes  era  desempenhada  pelo  recurso
extraordinário,  é  a manutenção  da  autoridade  e  unidade  da  lei  federal,  tendo  em
vista  que  na  Federação  existem múltiplos  organismos  judiciários  encarregados  de
aplicar o direito positivo elaborado pela União.100
Daí que não basta o inconformismo da parte sucumbente para forçar o reexame
1379
do  julgamento  de  tribunal  local  pelo  Superior  Tribunal  de  Justiça,  por  meio  do
recurso especial. Dito remédio de  impugnação processual só  terá cabi-mento dentro
de uma  função política, qual seja, a de  resolver uma questão federal controvertida.
Por meio dele não  se  suscitam nem  se  resolvem questões de  fato nem questões de
direito local.
Entretanto,  é preciso  fazer uma distinção  entre  a verificação da ocorrência do
fato e o exame dos efeitos jurídicos do fato certo ou inconteste. Saber se ocor-reu ou
não,  ou  como  ocorreu  certo  fato,  é matéria  própria  da  análise  da  prova;  é  o  que
tecnicamente  se denomina questão de fato, que não  se  inclui no âmbito do  recurso
especial. Quando, porém,  a  controvérsia gira, não  em  torno da ocorrência do  fato,
mas da atribuição dos efeitos jurídicos que lhe correspondem, a questão é de direito,
e, portanto, pode ser debatida no especial.101
II – Elasticidade do conceito de questão de direito
A  limitação de apreciação apenas às questões de direito no âmbito do  recurso
especial somente pode ser vista como relativa, já que, na maioria dos casos, é quase
impossível  examinar  a  questão  jurídica  deduzida  em  juízo  sem  vinculá-la  ao
respectivo  suporte  fático. Daí considerar a  jurisprudência do STJ como questão de
direito aquela relacionada à valoração dos fatos incontroversos ou bem delineados no
processo.102
Além disso, há de  se  ter  em  conta  a utilização  crescente pelo direito positivo
contemporâneo  de  “conceitos  juridicamente  indeterminados”,  “conceitos  vagos”  e
“cláusulas  gerais”.  Conceitos,  por  exemplo,  como  de  “boa-fé  objetiva”,  “função
social do contrato”, “usos e costumes”, “crise econômica”, “intenção manifestamente
protelatória”,  “conduta  desleal”  e  tantos  outros  presentes  a  toda  hora  nos  textos
normativos  exigem  do  aplicador  da  lei  enfocar  diretamente  a  situação  fática  sobre
que incidem, sob pena de não ter como definir e aplicar o próprio comando legal.
As controvérsias surgem justamente no esforço exegético para subsumir ou não
o mundo  fático  à  compreensão do próprio  alcance da  regra de direito. A  atividade
intelectual,  in casu, nunca  ficará  restrita à  interpretação apenas ao  texto da  lei. São
os  fatos  é que, na  experiência  jurisprudencial,  conduzirão o Tribunal  a  considerar,
por  exemplo,  abusiva  uma  cláusula  contratual,  ou  excessiva  uma  verba  honorária,
ou, ainda, irrisória uma reparação de dano moral.
Nestas e  tantas outras hipóteses  regidas por normas veiculadoras de cláusulas
gerais ou fundadas em conceitos vagos, será impossível ao STJ avaliar a ofensa à lei
federal  sem  a  análise  adequada  dos  fatos  sobre  os  quais  se  apoiou  o  decisório
1380
(a)
(b)
(c)
835.
recorrido.
Aliás, o STJ tem se mostrado sensível à necessidade de observar tal orienta-ção
em  várias  situações  particulares,  embora  não  tenha  ainda  logrado  estabelecer  um
posicionamento mais amplo e generalizante em torno da matéria,103 como pensamos
se deva fazer.
III – Casuísmo constitucional
Nos precisos  termos do art. 105,  III, da nova Constituição,  somente caberá o
recurso especial, quando o acórdão recorrido:
contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhe vigência;
julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal;104
der  à  lei  federal  interpretação  divergente  da  que  lhe  haja  atribuído  outro
tribunal.
O  procedimento  a  observar  na  tramitação  do  recurso  especial  é,  em  regra,  o
mesmo  previsto  para  o  recurso  extraordinário  (v.  retro  os  nos  828  e  ss.).  As
diferenças surgem no tocante aos pressupostos particulares da repercussão geral, no
caso  do  extraordinário  (v.,  retro,  os  nºs  819,  820  e  821),  e  às  peculiaridades  das
causas repetitivas, no âmbito do recurso especial (v. adiante os nos 845, 846 e 847).
Quanto ao controle da  tempestividade do  recurso especial, cuja  interposição é
cabível  no  prazo  de  quinze  dias  (NCPC,  art.  1.003,  §  5º)  veja-se  o  item  nº  818,
retro, onde se aborda, principalmente, o problema da prorrogação do termo final do
referido  prazo,  quando  provocado  por  feriado  local  ou  suspensão  de  expediente
forense no Tribunal de origem.
Jurisprudência formada antes da Constituição de 1988
Por  se  tratar de mero desdobramento do antigo  recurso extraordinário, deverá
prevalecer,  também  para  o  recurso  especial,  a  jurisprudência  assentada  pelo  STF,
pelo menos  enquanto  o  STJ  não  adotar,  eventualmente,  outro  posicionamento  em
face de algum ou outro  tema específico. Eis alguns exemplos de orientação  traçada
para o recurso extraordinário e que tem sido adotada no recurso especial:
(a) decisão que deu  razoável  interpretação à  lei, ainda que não  seja a melhor,
não  autoriza  recurso  extraordinário  por  negativa  de  vigência  de  lei  federal  (STF,
Súmula nº 400);
(b)  julgados  do  mesmo  tribunal  não  servem  para  fundamentar  recurso
1381
836.
extraordinário por divergência jurisprudencial (STF, Súmula nº 369);
(c)  é  inadmissível  recurso  extraordinário  quando  a  deficiência  na  sua
fundamentação não permitir a exata compreensão da controvérsia  (STF, Súmula nº
284);
(d)  é  inadmissível  recurso  extraordinário  quando  não  ventilada,  na  decisão
recorrida,  a  questão  federal  suscitada  (STF,  Súmula  nº  282),  salvo  se  houver
impossibilidade do prequestionamento, por  ter  a violação  à  lei  federal ocorrido no
próprio  julgamento  em  que  se  proferiu  o  acórdão  recorrido  (exemplo:  julgamento
ultra  ou  extra  petita,  julgamento  nulo  etc.)  (STF,  acs.  in RT  620/216,  626/239  e
614/232);105
(e)  não  se  conhece  do  recurso  extraordinário  interposto  sem  especificação  do
permissivo constitucional;106
(f)  interposto  o  recurso  extraordinário  por  mais  de  um  dos  fundamentos
previstos  na  Constituição,  a  admissão  apenas  por  um  deles  não  prejudica  o  seu
conhecimento  por  qualquer  dos  outros  (STF,  Súmula  nº  292). Também  quando  o
recurso envolver váriasquestões autônomas e  for admitido, na  instância de origem
em  relação  apenas  a  parte  delas,  o  STF  não  ficará  impedido  de  apreciar  todas,
independentemente de interposição de agravo de instrumento (STF, Súmula nº 528);
(g)  simples  interpretação  de  contrato  não  dá  lugar  a  recurso  extraordinário
(STF, Súmula nº 454);
(h)  é  inadmissível  o  recurso  extraordinário,  quando  couber,  na  Justiça  de
origem, recurso ordinário da decisão impugnada (STF, Súmula nº 281);
(i)  para  simples  reexame  da  prova  não  cabe  recurso  extraordinário  (STF,
Súmula  nº  279).  Mas  admite-se  sua  interposição  para  corrigir  inexata  valoração
jurídica da prova disponível no processo.107
Jurisprudência do STJ formada após a Constituição de 1988
Após  longo  tempo  de  funcionamento  do  STJ,  a  experiência  nos  revela  que
algumas  exigências  traçadas  com  muito  rigor  pela  antiga  jurisprudência  do  STF
foram,  de  certa  forma,  abrandadas  pelo  novo  Tribunal.  Assim,  por  exemplo,  o
prequestionamento  não  foi  dispensado,  mas  teve  sua  configuração  admitida  em
termos muito mais flexíveis. Eis a posição do STJ a respeito do tema:
(a) “É o prequestionamento pressuposto de cabimento do recurso. À sua falta,
torna-se inadmissível o recurso especial”.108 Esse entendimento já se consolidou no
Superior Tribunal de Justiça, encontrando apoio em jurisprudência sumulada.109
1382
(b)  “Em  tema  de  prequestionamento,  o  que  deve  ser  exigido  é  apenas  que  a
questão haja  sido posta na  instância ordinária. Se  isto ocorreu,  tem-se  a  figura do
prequestionamento  implícito,  que  é  o  quanto  basta”.110  (c)  “Para  efeito  de
prequestionamento, não basta que a questão federal seja suscitada pela parte, sendo
necessário o seu debate pelo tribunal de origem”.111
(d)  “Incompleto  o  julgamento,  conquanto  interpostos  os  embargos  declarató-
rios, persistente a omissão, o conhecimento do recurso especial exige a arguição de
contrariedade ou negativa de vigência ao art. 535, I e II, CPC [NCPC, art. 1.022, I e
II], a fim de que, se procedente, a instância ordinária ultime o exame pedido”.112 In
casu, o provimento do especial provoca a nulidade do aresto  impugnado, “para que
outro  acórdão  seja  proferido  com  o  esclarecimento  das  omissões”.113 Não  pode  o
STJ  enfrentar  a  questão  omitida  na  instância  de  origem,  por  ausência  do
indispensável  prequestionamento.114  Essa  orientação,  contudo,  não  irá  mais
prevalecer,  uma  vez  que  o  art.  1.025,  do  NCPC,  determina  que  “consideram-se
incluídos  no  acórdão  os  elementos  que  o  embargante  suscitou,  para  fins  de  pré-
questionamento,  ainda  que  os  embargos  de  declaração  sejam  inadmitidos  ou
rejeitados,  caso o  tribunal  superior  considere  existentes  erro, omissão,  contradição
ou obscuridade”.
(e)  Quando  não  se  trata  de  omissão, mas  de  vício  ou  defeito  intrínseco  do
próprio  acórdão  recorrido,  a  jurisprudência  do  STJ  oscila:  às  vezes  dispensa  o
prequestionamento,115  outras  vezes  exige  o  prévio  manejo  dos  embargos  decla-
ratórios.116  A meu  ver,  a melhor  corrente  é  aquela  que,  na  espécie,  dispensa  os
embargos de declaração, por  inúteis e desnecessários.117 Mas, se se cumprir a exi-
gência de tais embargos, não será razoável que, à vista da recusa de conhecê-los pelo
Tribunal  a  quo,  venha  o  STJ  a  anular  o  julgamento,  tal  como  faz  na  hipótese  de
questão  omitida. Mais  razoável  é  a  solução  que  tem  sido  adotada  pelo  STF,  qual
seja, tem-se como satisfeito o prequestionamento, com ou sem o pronunciamento do
Tribunal de origem quanto ao defeito intrínseco de seu acórdão, porque a parte fez o
que  lhe  competia para  configuração do  requisito do prequestionamento  e não pode
ser  punida  pela  desídia  que  não  a  sua  (cf.  item  nº  818  e  suas  notas).  Essa  é  a
orientação do NCPC, art. 1.025.
(f)  Discute-se  sobre  ser,  ou  não,  o  prequestionamento  condição  para  que  o
Superior Tribunal de Justiça examine questão de ordem pública não enfrentada pelo
acórdão  impugnado por meio de  recurso  especial, havendo  correntes  em  ambos os
sentidos.118 O  entendimento  que  se  coloca  numa  posição  intermediária  parece  ser
bem razoável: o STJ poderia apreciar, de ofício, questão de ordem pública como as
1383
condições da ação, desde que tenha sido conhecido o especial, caso em que lhe cabe
aplicar  o  direito  à  espécie.  O  tema  incluir-se-ia  no  efeito  devolutivo  em
profundidade,  que  abrange  os  pressupostos  do  julgamento  a  ser  reexaminado.119
Esse, a certa altura, aparentava ser o pensamento predominante no STJ. Advertia--
se, no entanto,  sobre a necessidade de entendê-lo cum grano  salis, para que  fosse
mantida a fidelidade ao sistema recursal traçado pela Constituição, e se evitasse que
o  recurso  especial  se  tornasse  palco  de  uma  terceira  e  ampla  instância,  o  que
desfiguraria,  por  completo,  sua  função  institucional.120No  entanto,  convocada  a
pacificar  a  controvérsia  interna  sobre  a matéria,  a Corte Especial do STJ,  em  em-
bargos de divergência, firmou a  tese de que, mesmo para a apreciação das questões
de  ordem  pública  em  sede  de  recurso  especial,  “é  necessário  o  cumprimento  do
requisito  do  prequestionamento”.121  Ou  seja,  o  STJ  passou  a  adotar  a  mesma
posição que o STF segue, em matéria de recurso extraordinário.
(g) Ainda sobre o mesmo  tema, entende-se que o prequestionamento deve ser
pesquisado no acórdão  recorrido, e não em voto  individual discordante, ou seja, “a
questão  federal  somente  ventilada  no  voto  vencido  não  atende  ao  requi-sito  do
prequestionamento”  (STJ,  Súmula  nº  320). Esse  entendimento  sumulado,  todavia,
foi  repelido  pelo  NCPC,  cujo  art.  941,  §  3º,  dispõe  expressamente  que  “o  voto
vencido  será  necessariamente  declarado  e  considerado  parte  integrante  do  acórdão
para  todos  os  fins  legais,  inclusive  de  prequestionamento”.  Não  vigora  mais,
portanto, o enunciado da Súmula nº 320 do STJ.
Merece, outrossim, registrar a tomada de posição do STJ a respeito de algumas
questões referentes ao novo recurso especial, como, v.g.:
(a) “A pretensão de simples  reexame de prova não enseja  recurso especial”122
(Súmula  nº  7  do  STJ).  “Somente  o  erro  de  direito  quanto  ao  valor  da  prova,  in
abstrato, dá azo ao conhecimento do recurso especial”.123
Dessa maneira, não se considera, para fins de recurso especial, como ma-téria
de fato ou de reexame de prova, mas como questão de direito, a arguição de recusa
de  efeito  a  uma  perícia  realizada  com  rigorosa  observância  dos  pro-cedimentos
legais.124 E, da mesma  forma,  se, dentro do quadro probatório dos autos, o  fato é
certo, e o que se questiona, no especial, é a não aplicação a ele do dispositivo  legal
pertinente, o que houve foi, realmente, negativa de vigência do referido preceito.125
Por outro lado, o STJ tem feito uma distinção entre juízo de admissibilidade e
juízo  de mérito,  no  processamento  do  recurso  especial.  Para  decidir  sobre  o  ca-
bimento ou não do  especial, o  juízo deve  restringir-se  às questões de direito; mas
1384
“superado o juízo de admissibilidade, o recurso especial comporta efeito devolutivo
amplo, porquanto cumpre ao Tribunal  julgar a causa, aplicando o direito à espécie
(art. 257 do RISTJ; Súmula nº 456 do STF)”.126 Vale dizer: ao decidir o mérito do
especial,  o  STJ  realiza  um  juízo  de  revisão,  não  tendo  como  evitar  o  exame  dos
fatos sobre os quais haverá de aplicar as regras de direito material pertinentes.127
(b)  “Inexiste  espaço, no  âmbito do  recurso  especial, para  apreciação de  acór-
dão, no ponto em que interpretou norma estadual”.128
(c) “Inadmite-se o recurso especial, quando o aresto recorridoassenta em mais
de um fundamento suficiente, autônomo, e o mesmo não abrange todos eles”.129 Por
igual motivo, “é  inadmissível  recurso especial, quando o acórdão  recorrido assenta
em  fundamentos constitucional e  infraconstitucional, qualquer deles  suficiente, por
si só, para mantê-lo, e a parte vencida não manifesta recurso extraordinário”.130
(d) “A simples interpretação de cláusula contratual não enseja recurso especial”
(Súmula nº 5, do STJ).
(e) O  acórdão  que  dá  razoável  interpretação  à  lei  federal  (Súmula  nº  400  do
STF) não autoriza a  interposição de  recurso especial.131 Registra-se, contudo, uma
tendência no STJ a afastar a  incidência da Súmula nº 400 do STF, que  já chegou a
ser  considerada  como  “incompatível  com  a  teleologia  do  sistema  recursal
introduzido pela Constituição de 1988”.132
(f)  “O  conhecimento  do  recurso  especial,  tendo  como  causa  dissídio  de
jurisprudência,  requer  demonstração  analítica  para  comprovar  a  identidade  do
suporte fático”.133
(g)  “A  divergência  entre  julgados  do  mesmo  Tribunal  não  enseja  recurso
especial” (Súmula nº 13 do STJ).
(h) Ocorre  inépcia do recurso especial, “quando apontadas como divergentes –
alínea ‘c’ – decisões do primeiro grau”.134
(i)  Admite-se  o  recurso  especial  por  ofensa  à  lei  federal  nos  casos  de
arbitramento  de  reparação  de  dano moral,  sob  o  argumento  de  que  esse  tipo  de
indenização “não pode escapar ao controle do Superior Tribunal de Justiça”.135
(j)  “Não  cabe  recurso  especial  contra decisão proferida por órgão de  segundo
grau  dos  juizados  especiais”  (Súmula  nº  203  do  STJ).  A  razão  desse  enunciado
prende--se  à  regra  constitucional  que  somente  autoriza  o  recurso  especial  contra
causas  decididas  por  tribunais  de  segunda  instância  (CF,  art.  105,  III). Como  as
Turmas  Recursais  dos  Juizados  Especiais  dos  Estados  não  são  Tribunais,  suas
decisões ficam fora do âmbito de cabimento do recurso especial. O STF, no entanto,
1385
836-A.
decidiu  que  não  pode  persistir  divergência  dos  Juizados  Especiais  com  a
jurisprudência  assentada  pelo  STJ,  tendo  em  conta  sua  função  constitucional  de
intérprete máximo da lei federal ordinária. Por isso, verificada a contradição de teses
oriundas das Turmas Recursais com o posicionamento do STJ, o impasse haverá de
ser  superado  por meio  da  reclamação  constitucional  prevista  no  art.  105,  I,  f,  da
CF.136
(k)  “É  inadmissível  o  recurso  especial  interposto  antes  da  publicação  do
acórdão dos embargos de declaração, sem posterior  ratificação”  (Súmula nº 418 do
STJ). Essa orientação, contudo, não poderá prevalecer com a vigência do NCPC, em
razão do disposto no art. 1.024, § 5º, que dispõe ser desnecessária a ratificação se os
embargos  de  declaração  forem  rejeitados  ou  não  alterarem  a  conclusão  do
julgamento anterior (ver item nº 810).
Quanto  ao  procedimento  do  recurso  especial,  o Código  o  submete  à mesma
tramitação do recurso extraordinário, seja na instância de origem, seja na de destino
(arts. 1.029 e 1.030).137 Aplica-se, destarte, ao recurso especial tudo o que se expôs
nos itens nos 828 e 829, retro.
A  técnica  e  o  objeto  do  julgamento  do  recurso  especial,  que  conjugam
possibilidade de cassação do acórdão impugnado e rejulgamento da causa, observam
a mesma sistemática já exposta em relação ao recurso extraordinário (v., retro, o nº
831).
Juízo de cassação e juízo de reexame, no âmbito do recurso
especial.  Controle de constitucionalidade
Como  já visto no  item 831, o STJ, ao  julgar o  recurso especial, pelo mérito,
não  se  restringe  ao  juízo  de  cassação,  pois  pode  ir  até  o  rejulgamento  da  causa
(juízo de reexame).
Devendo, após admitido o recurso especial, ser julgado o processo, “aplicando
o direito”  (NCPC, art. 1.034), não há como  impedir o STJ de analisar os aspectos
da  constitucionalidade  da  norma  que  se  pretende  aplicar  à  solução  do  litígio. Ao
julgar  a  causa,  “aplicando  o  direito”,  é  claro  que  qualquer  tribunal  terá,
necessariamente,  de  verificar  a  validade  da  norma  que  fundamenta  a  pretensão  do
recorrente.
No  Estado  de  Direito,  submetido  à  supremacia  da  Constituição,  o  controle
difuso da constitucionalidade é dever que toca a todo juiz. Não é possível, pois, que
o STJ, como Corte Superior que é, tenha menos poder que um juiz de primeiro grau.
1386
Não há, no  reconhecimento de  tal poder ao STJ,  invasão alguma à competência do
STF, mas  apenas  afirmação  de  exercício  comum  de  controle  constitucional  difuso
confiado, pela própria Carta Magna, a todo e qualquer juiz ou tribunal. É que o STJ
para  cumprir  o  art.  1.034  do  NCPC  e  aplicar  o  direito  infraconstitucional  ao
julgamento do processo, como todos os órgãos jurisdicionais, realiza uma atividade
de concretização da norma ordinária, na qual “estará envolvida, de forma explícita ou
não,  uma  operação  mental  de  controle  da  constitucionalidade”,  na  lição  de  Luís
Roberto Barroso. Explica o constitucionalista:
“A  razão  é  simples  de  demonstrar. Quando  uma  pretensão  jurídica
funda-se em uma norma que não integra a Constituição – uma lei ordinária
–,  o  intérprete,  antes  de  aplicá-la,  deverá  certificar-se  de  que  ela  é
constitucional”.138
É  certo que o  recurso  especial,  endereçado  ao STJ,  está previsto  constitucio-
nalmente  para  combater  as  ofensas  à  legislação  infraconstitucional,  assim  como  o
recurso  extraordinário  tem  por  função  garantir  a  autoridade  da Constituição. Mas
como defender o direito comum sem aferir sua validade perante a ordem suprema da
Constituição?
De fato, não se pode  interpor um recurso especial  tendo como objeto apenas a
inconstitucionalidade da lei aplicada no julgamento do tribunal a quo. Recurso de tal
natureza  não  passaria  pelo  filtro  do  juízo  de  admissibilidade.  No  entanto,  se  o
especial  foi  conhecido  por  reconhecimento  de  ofensa  manifesta  à  lei
infraconstitucional,  a  questão  de  sua  validade  diante  da  Constituição  terá  de  ser,
necessariamente,  avaliada  pelo  STJ,  antes  de  proceder  à  respectiva  aplicação  no
julgamento do processo, preconizado pelo art. 1.034 do NCPC.
Em  conclusão:  não  se  pode,  sem  ferir  a  estrutura  constitucional  do  Poder
Judiciário, suprimir do STJ, no julgamento de mérito do recurso especial que passou
pelo  juízo de  admissibilidade, nos  termos do  art. 1.034 do CPC/2015, o poder de
realizar  o  necessário  “contraste  do  direito  infraconstitucional  à  Constituição  da
República, base e fundamento das demais  leis presentes no nosso ordenamento”,139
porque, “num ordenamento jurídico que se pauta pela supremacia da Constitui-ção, a
averiguação  da  constitucionalidade  da  lei  infraconstitucional  é  decorrência  do
desempenho normal da função judicial, que comporta na interpretação e na aplicação
do Direito.140 E não há de ser diferente no julgamento do recurso especial pelo STJ.
1387
837. Recurso especial fundado em dissídio jurisprudencial
Na hipótese de  recurso especial  fundado em dissídio  jurisprudencial  (CF, art.
105, III, “c”),  impunha o parágrafo único do art. 541 do CPC/1973 ao recorrente a
necessidade de provar  a divergência,  instruindo  sua petição  com  certidão ou  cópia
autenticada, ou  ainda utilizando  citação de  repositório de  jurisprudência, oficial ou
credenciado,  em  que  tiver  sido  publicada  a  decisão  divergente,  tudo  seguido  de
menção às circunstâncias “que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados”.
De  acordo  com  o  art.  255,  §  1º,  do Regimento  Interno  do  STJ,  alterado  em
12.08.2002,  a  autenticação  das  cópias  dos  acórdãos  divergentes  passou  a  ser
admitida  mediante  “declaração  de  autenticidade  dopróprio  advogado,  sob  sua
responsabilidade  pessoal”.  Adotou-se,  portanto,  o  mesmo  critério  que  a  Lei  nº
11.382,  de  06.12.2006,  recomenda  para  a  autenticação  de  quaisquer  cópias
reprográficas de peças do processo (NCPC, art. 425, IV),141 e que a Lei nº 12.322,
de  09.09.2010,  determina  para  as  peças  utilizáveis  no  procedimento  da  execução
provisória (NCPC, art. 522, parágrafo único).142
Uma  outra  importante  inovação  do  texto  do  parágrafo  único  do  art.  541  do
CPC/1973 foi feita pela Lei nº 11.341, de 07.08.2006. Consagrando orientação que
já vinha  sendo  seguida pelo Superior Tribunal de  Justiça  (cf. v.  I,  item nº 338), o
Código  de  1973,  passou  a  permitir  que  a  divergência  jurisprudencial  pudesse  ser
comprovada  com  utilização  de mídia  eletrônica. Recorrendo  ao  site  do STJ  ou  de
outro  Tribunal,  na  Internet,  a  parte  poderia  obter  cópia,  considerada  oficial,  para
instruir  o  recurso  especial,  em  comprovação  da  divergência  necessária  quando
interposto  com  apoio  na  letra  “c”  do  permissivo  constitucional. O  posicionamento
foi mantido pelo NCPC, no § 1º do art. 1.029.
Assim,  o  recorrente  hoje  pode,  para  tanto,  utilizar:  (i)  certidão  do  acórdão--
paradigma passada pela secretaria judicial; (ii) cópia autenticada pelo advogado; (iii)
citação de  texto publicado em  repositório de  jurisprudência, oficial ou credenciado;
(iv) cópia obtida na rede mundial de computadores, em fonte do próprio tribunal ou
credenciada para a divulgação de seus acórdãos.143
O NCPC, na redação original do § 2º de seu art. 1.029, dispunha que o recurso
especial,  quando  fundado  em  dissídio  jurisprudencial,  não  poderia  ser  inadmitido
mediante  “fundamento  genérico”  de  serem  diferentes  às  circunstâncias  fáticas  nas
duas decisões cotejadas. O desconhecimento do  recurso,  in casu,  teria de  ser  feito
mediante demonstração da necessária  “existência da distinção”. Tal dispositivo  foi
revogado  pelo  art.  3º,  II,  da  Lei  nº  13.256/2016.  O  expediente  legislativo,  no
1388
838.
(a)
(b)
(c)
entanto,  foi  inútil,  visto  que  subsiste  a  regra  geral,  aplicável  a  toda  e  qualquer
decisão,  que  considera  não  fundamentada  aquela  que  se  limita  genericamente  a
indicar,  reproduzir  ou  parafrasear  ato  normativo,  “sem  explicar  sua  relação  com  a
questão decidida” (NCPC, art. 489, § 1º, I).
Logo, continua contaminada de nulidade por  falta de fundamentação  (CF, art.
93, IX), a decisão que rejeita o recurso especial, em caso de dissídio jurisprudencial,
sem demonstrar como são diferentes os suportes fáticos das decisões confrontadas.
Nem  se  diga  que  se  está  imputando  tarefa  impossível  ou  difícil  ao  julgador. Para
declarar  que  inexiste  identidade  quadro  fático,  bastará  que,  em  poucas  linhas,  se
aponte  quais  foram  os  fatos  em  que  se  apoiou  o  acórdão  paradigma  (cuja  cópia
obrigatoriamente  constará  dos  autos),  e  quais  os  constantes  da  motivação  do
decisório recorrido. Trata-se de exigência singela, mas que assume alta significação
para  respeitar-se o contraditório efetivo e  facilitar à parte o exercício do direito de
impugnar,  adequadamente,  o  decisório  que  lhe  foi  adverso,  por  via  do  recurso
cabível. Aliás,  o  dever  imposto  ao  julgador  é  simétrico  ao  que  o  art.  1.029,  §  1º
atribui  ao  recorrente,  de  “mencionar  as  circunstâncias  que  identifiquem  ou
assemelhem  os  casos  confrontados”.  Se  a  parte  deve  demonstrar  analiticamente  a
semelhança, o juiz que a recusa também há de fazê-lo da mesma maneira.
Obtenção de efeito suspensivo excepcional para o recurso
especial
O recurso especial, assim como o extraordinário,  tem efeito apenas devolutivo
(NCPC,  art.  995). Contudo,  a  ele  também  é  dado  conferir  efeito  suspensivo,  nos
termos  do  art.  1.029,  §  5º,  sempre  que  houver  risco  de  dano  grave,  de  difícil  ou
impossível reparação, e restar demonstrada a probabilidade de provimento do apelo.
Caberá ao recorrente requerer a concessão de efeito suspensivo:
ao  STJ,  no  período  compreendido  entre  a  publicação  da  decisão  de
admissão  do  recurso  e  sua  distribuição. Nesse  caso,  o  relator  designado
para decidir o requerimento ficará prevento para julgar o apelo;
ao relator, se já distribuído o recurso; ou,
ao  presidente  ou  vice-presidente  do  tribunal  recorrido,  no  período
compreendido entre a  interposição do  recurso e a publicação da decisão de
admissão do  recurso.  Igual competência prevalece,  também, para os casos
de recursos repetitivos sobrestados (art. 1.029, § 5º, com a redação da Lei
1389
839.
840.
nº 13.256/2016)144 (sobre o tema, ver item nº 827 retro).
Concomitância de recurso extraordinário e recurso especial
Um só acórdão local pode incorrer tanto nas hipóteses do recurso extraordinário
como  nas  do  recurso  especial.  Quando  isto  se  der,  o  prazo  de  quinze  dias  será
comum para a interposição de ambos os recursos, mas a parte terá de elaborar duas
petições  distintas  (NCPC,  art.  1.029,  caput,  in  fine).145  O  recorrido  também
produzirá  contrarrazões  separadas  e  o  presidente  ou  vice-presidente,  uma  vez
admitidos os recursos, enviará os autos ao Superior Tribunal de Justiça (art. 1.031,
caput).
Na  sistemática  do  Código,  apresentadas  ou  não  as  contrarrazões  aos  dois
recursos, os autos subirão em primeiro  lugar ao STJ, para  julgamento do especial.
Depois  de  decidido  este,  é  que  haverá  a  remessa  para  o  STF,  para  apreciação  do
extraordinário,  salvo  se,  com  a  solução do primeiro,  restar prejudicado o  segundo
(art. 1.031, § 1º).
O  relator  do  STJ  pode  entender  que  a  matéria  do  recurso  extraordinário  é
prejudicial  ao  recurso  especial. Permite-se,  em  tal  conjuntura,  o  sobrestamento  do
recurso a cargo do STJ, com a  remessa dos autos ao STF,  invertendo-se, então, a
ordem de apreciação dos recursos (art. 1.031, § 2º).146 O Supremo Tribunal, todavia,
não fica submetido forçosamente ao que se deliberou no STJ, pois a lei reconhece ao
relator  do STF  o  poder  de  reexame  da  questionada  prejudicialidade  e,  se  concluir
pela sua inexistência, devolverá os autos, por meio de decisão irrecorrível, a fim de
que  o  recurso  especial  seja  julgado  normalmente  em  primeiro  lugar  (art.  1.031,  §
3º). Entre o que decide o relator do recurso especial e o que pronuncia o relator do
extraordinário, como se vê, a última palavra é dada por este. Não há conflito, nem é
preciso ouvir-se o Tribunal. O que decidir o  relator do  recurso  extraordinário,  em
decisão  singular, prevalecerá  a  respeito da ordem de  julgamento dos dois  recursos
concorrentes.
Fungibilidade entre o recurso especial e o recurso extraordinário
O  novo  Código  consagrou,  nos  arts.  1.032  e  1.033,147  a  fungibilidade  no
tocante à  interposição de recurso especial e extraordinário. O objetivo do  legislador
foi evitar a jurisprudência defensiva, em que um tribunal afirmava ser a competência
para julgar o recurso do outro e, em razão disso, nenhum dos dois julgava.148
Com  efeito, muitas  vezes,  a  questão  discutida  no  acórdão  recorrido  pode  ser
1390
840-A.
analisada sob a ótica constitucional e  infraconstitucional. Ocorre que nem sempre é
fácil verificar claramente a distinção entre uma e outra. É o que se verifica quando o
recorrente alega não  ter sido  respeitado o contraditório nas  instâncias ordinárias. A
matéria,  embora  constitucional  (art.  5º,  LV),  também  encontra  disposição  na
legislação  infraconstitucional  (NCPC, arts. 7º e 9º). Assim, o  recorrente  interpõe o
recurso  especial  e  o  extraordinário  para  que  as  Cortes  Superiores  analisem  a
questão. Entretanto, nenhum dos tribunais admite o respectivo recurso, por entenderque a competência para analisar o tema é da outra corte.
Para resolver situações como essa é que o NCPC permite que o relator, no STJ,
entendendo que o recurso especial versa sobre questão constitucional, conceda prazo
de  quinze  dias  para  que  o  recorrente  demonstre  a  existência  de  repercussão  geral
(requisito  para  o  recurso  extraordinário)  e  se  manifeste  sobre  a  questão
constitucional (art. 1.032).149 Cumprida essa exigência, o relator remeterá o recurso
ao  STF  que,  em  juízo  de  admissibilidade,  poderá  devolvê-lo  ao  STJ  (parágrafo
único).
Por outro  lado, determina que o relator, no STF, considerando como reflexa a
ofensa à Constituição Federal afirmada no  recurso extraordinário, o  remeta ao STJ
para julgamento como recurso especial (art. 1.033).150
Com isso, restou claro para o NCPC, no campo dos recursos excepcionais, ser
irrelevante o equívoco da parte em usar o especial em lugar do extraordinário e vice
e versa, pois sempre será possível a conversão do inadequado no adequado.
Cabimento de recurso extraordinário contra decisão do STJ em
recurso especial
Ocorrendo no acórdão do tribunal de segundo grau ofensa tanto à Constituição
como à lei infraconstitucional, o manejo dos recursos extraordinário e especial deve
ser  simultâneo  (NCPC,  art. 1.031). Não  se  admite que  a parte vencida  interponha
apenas  o  especial  e  deixe  para  questionar  a  matéria  constitucional  depois  do
julgamento  do  STJ,  na  eventualidade  do  insucesso  do  recurso  que  lhe  foi
endereçado.
Sendo o  recurso extraordinário cabível desde a época do decisório do  tribunal
de  origem,  ocorre  preclusão  do  direito  de  manejá-lo  –  como  é  de  tranquilo
entendimento jurisprudencial – se a parte não o interpuser no momento adequado. E
mesmo que tenham sido oportunamente manifestados os dois apelos extremos, mas
o especial  tenha sido  inadmitido na origem, sem que o recorrente  tivesse  interposto
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841.
o  necessário  agravo,  o  STF  não  conhecerá  do  extraordinário,  em  virtude  da
preclusão do  apelo dirigido  ao STJ, visto  como questão prejudicial.151 É que  se o
acórdão  tem  fundamentos,  tanto  suficientes  no  direito  infraconstitucional  como  no
direito  constitucional,  não  cabe  ao  STF  apreciar  a  questão  constitucional.  O
decisório  recorrido,  com  efeito,  poderá  substituir  apenas  pela  base
infraconstitucional, cujo exame haveria de  ter  sido  feito pelo STJ, e não mais  será
possível  realizá-lo  porque  o  especial  não  foi  interposto  ou  não  foi  conhecido,  e  o
STF não tem competência para fazê-lo.
No  entanto,  há  caso  em  que  se  torna  viável  o  extraordinário  para  atacar
diretamente o acórdão do STJ pronunciado em  julgamento de recurso especial. Isto
ocorrerá quando a ofensa à norma constitucional  for cometida não pelo acórdão do
tribunal de segundo grau, mas pelo próprio STJ.  In casu, não  se poderia exigir da
parte que manejasse o extraordinário simultaneamente com o especial, pois nenhum
ultraje à ordem constitucional teria sido praticado pelo tribunal de origem.
Explica-se, em tal conjuntura, o cabimento do extraordinário porque o STJ, ao
decidir  o  especial,  teria  enveredado  pelo  terreno  constitucional,  área  de  exclusiva
competência  do  STF.  A  hipótese  de  cabimento  do  extraordinário  posterior  ao
julgamento  do  especial,  portanto,  se  verifica  quando  o STJ  aplica  originariamente
norma  constitucional,  a  pretexto  de  julgar  o  especial,  transbordando  do  tema
infraconstitucional, e o faz de maneira ofensiva ao preceito da Lei Maior.152
Outro caso em que o acórdão do STJ desafia recurso extraordinário para o STF
é aquele em que o recurso especial não é conhecido, com apoio em “premissas que
conflitem, diretamente com o que dispõe o art. 105, III, da Carta Política”.153
Preferência do julgamento do mérito dos recursos especial e
extraordinário
O novo Código adotou posição menos  formalista do que a  legislação anterior
preferindo, sempre que possível, o  julgamento da causa pelo mérito  (arts. 4º e 6º).
Para  tanto, admite a superação de defeitos meramente formais, sempre que  isto não
causar prejuízo às partes e viabilizar o julgamento definitivo da lide.
Nessa esteira, o art. 1.029, § 3º,154 autoriza que o STF e o STJ desconsiderem
vício  formal  de  recurso  tempestivo  ou  determine  sua  correção,  desde  que  não  o
repute grave. Essa inovação do Código visa desestimular a jurisprudência defensiva
que  se  instaurou  sob  a  égide da  legislação  anterior, numa  tentativa de diminuir os
recursos interpostos para as Cortes Superiores.
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É  o  chamado  efeito  consuntivo  das  formas  e  das  formalidades  do  processo.
Deste modo, “a imperfeição é elipticamente desconsiderada, pela eficácia consuntiva,
conhecendo-se  o  recurso  e  julgando  seu  mérito,  sem  qualquer  consideração  ou
ligação entre o beneficiado pelo descompasso e o resultado do julgamento”.155
Recurso especial e recurso extraordinário adesivo
Conforme salientamos no § 78, sobre as disposições gerais relativas a recursos
civis,  quando  houver  sucumbência  recíproca,  as  duas  partes  podem  impugnar  a
decisão.  Algumas  vezes,  contudo,  embora  não  completamente  satisfeita,  a  parte
poderia conformar-se com o  julgamento da ação se  tivesse a certeza de que a outra
também  o  aceitaria. Uma  vez  que  não  existe  garantia  nesse  sentido,  o NCPC,  a
exemplo  do  anterior,  previu  a  figura  do  recurso  adesivo  (art.  997).156  Com  esse
remédio processual, o recorrido pode fazer sua adesão ao recurso da parte contrária,
depois  de  vencido  o  prazo  adequado  para  o  recurso  próprio. Adesão,  na  espécie,
significa que o novo  recorrente se vale da existência do  recurso do adversário para
legitimar a interposição do seu, fora do tempo legal.
O  recurso  adesivo  é  admissível  na  apelação,  no  recurso  extraordinário  e  no
recurso  especial  (art. 997,  II). Em qualquer uma dessas modalidades  recursais, os
requisitos do apelo adesivo  são os mesmos:  (i) deve haver sucumbência  recíproca;
(ii) fica subordinado ao recurso principal; e, (iii) aplicam-se a ele as mesmas regras
do recurso independente quanto às condições de admissibilidade e de julgamento no
tribunal (sobre o tema, ver item nº 756 retro).
No tocante ao recurso especial e extraordinário adesivo, é importante ressaltar o
que  a  doutrina  denomina  de  recurso  adesivo  condicionado  cruzado,  vislumbrado
para  a hipótese de  a decisão  admitir  a  interposição de mais de um  recurso. Nessa
situação,  a  parte  pode  aderir  a  espécie  recursal  diversa,  cujo  apelo  será  analisado
apenas se o  recurso principal  for acolhido. Pense-se no caso de o pedido se  fundar
em questão constitucional e federal. A decisão, embora favorável ao autor, baseou--
se  no  fundamento  federal,  repelindo  o  constitucional.  Não  terá  ele,  portanto,
interesse  em  interpor  recurso  extraordinário  imediatamente.  Entretanto,  caso  o
recurso especial aviado pela parte contrária seja provido, o autor  terá  interesse para
discutir  a  questão  constitucional,  que  poderá  lhe  favorecer.  Nessa  hipótese,  a
doutrina  admite  que  o  autor  interponha  recurso  extraordinário  adesivo  a  recurso
especial,  que  será  “condicionado,  isto  é,  interposto  ad  cautelam,  para  ser  julgado
unicamente  no  caso  de  convencer-se  o  órgão  ad  quem  da  procedência  do  pedido
principal”.157
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Fluxograma  nº  34 – Recurso extraordinário (arts. 1.029 a 1.035)
Nota: Há possibilidade de concessão de efeito suspensivo ao recurso extraordinário:
a) pelo presidente ou vice-presidente do tribunal local, antes do juízo de admissibilidade (art.
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1.029, § 5º, III).
b) por relator sorteado no STF antes da subida dos autos (art. 1.029, § 5º, I).
c) por relator do REapós a subida dos autos (art. 1.029, § 5º, II).
Fluxograma  nº  35 – Recurso especial (arts. 1.029 a 1.035)
Nota: Há possibilidade de concessão de efeito suspensivo ao recurso especial:
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a) pelo presidente ou vice-presidente do tribunal local, antes do juízo de admissibilidade (art.
1.029, § 5º, III).
b) por relator sorteado no STJ antes da subida dos autos (art. 1.029, § 5º, I).
c) por relator do REsp após a subida dos autos (art. 1.029, § 5º, II).
AMARAL SANTOS, Moacyr. Primeiras  linhas de direito processual  civil.  4.  ed. São
Paulo: Max Limonad, 1973, v. III, n. 779. Pode haver recurso extraordinário de decisão de
qualquer  outro  tribunal,  até mesmo  do  Superior Tribunal  de  Justiça.  Por  outro  lado,  a
Constituição  revogada  somente  admitia  recurso  extraordinário  contra  acórdãos  de
tribunais. A Carta 1988, no entanto, de um lado limita o recurso à matéria constitucional
apenas,  e  de  outro  fala  genericamente  em  “causas  decididas  em  única  ou  última
instância” (art. 102, III). Logo, passou a caber o apelo extremo contra qualquer sentença
de  instância  única,  inclusive  de  juiz  singular,  em  hipótese  de  julgamento  irrecorrível
(causas  de  alçada)  desde,  é  claro,  que  o  objeto  da  impugnação  recursal  seja matéria
constitucional federal.
“É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em mais de
um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles” (STF, Súmula nº 283).
“Interposto o  recurso  extraordinário por mais de um dos  fundamentos  indicados no  art.
101,  nº  III,  da  Constituição,  a  admissão  apenas  por  um  deles  não  prejudica  o  seu
conhecimento por qualquer dos outros” (STF, Súmula nº 292). Na CF atual a referência da
Súmula corresponde ao art. 102, III.
A  hipótese  da  letra  d  foi  acrescida  pela Emenda Constitucional  nº  45,  de  30.12.2004.
Prevaleceu, na inovação, o critério de tratar como questão constitucional o conflito de lei
local com  lei federal. Anteriormente, o  tema figurava na competência do STJ (CF, art.
105, III, “b”). “Ora, se entre uma lei federal e uma lei estadual ou municipal, a decisão
optar  pela  aplicação  da  última  por  entender  que  a  norma  central  regulou matéria  de
competência  local,  é  evidente  que  a  terá  considerado  inconstitucional,  o  que  basta  à
admissão do  recurso  extraordinário pela  letra b do  art. 102,  III, da Constituição,  como
aliás ocorreu neste processo” (STF, Pleno, AI 132.755, QO/ SP, Rel. Min. Moreira Alves,
Rel. p/acórdão Min. Dias Toffoli, ac. 19.11.2009, DJe 26.02.2010).
STF, 1ª T., RE 140.075/DF, Rel. Min. Sydney Sanches, ac. 06.09.1995, DJU 22.09.1995, p.
30.599; 2ª T., AI 153.367-AgRg, Rel. Min. Carlos Velloso, ac. 04.10.1993, RTJ  156/644; 2ª
T., RE 140.427/DF, Rel. Min. Carlos Velloso, ac. 31.05.1994, RTJ  159/963. Também dos
julgados dos Juizados Especiais, que não desafiam apelação ou agravo para os Tribunais
de Justiça, cabem recurso extraordinário para o Supremo Tribunal Federal (STF, Pleno,
Recl. 476/GO, Rel. Min. Carlos Velloso, ac. 20.09.1995, RTJ  162/830). A matéria  já se
acha  sumulada: “É cabível  recurso ex-traordinário contra decisão proferida por  juiz de
primeiro grau nas  causas de  alçada, ou por  turma  recursal de  juizado  especial  cível  e
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criminal”  (STF, Súmula nº 640). Mas  é  indispensável que,  contra  a  sentença,  antes  se
tenha  interposto o  recurso  interno para a  turma de que cogita o art. 41, § 1º, da Lei nº
9.099,  de  26.09.1995,  pois  sem  isso  não  se  terá  configurado  o  julgamento  “em  última
instância”,  exigido  pela  CF  para  viabilizar  o  recurso  extraordinário  (art.  102,  caput)
[NCPC, art. 54].
“Inadmissibilidade de reexame de provas e fatos em sede recursal extraordinária (Súmula
nº 279/STF)” (STF, 2ª T., AgR no RE c/ Ag 705.643/MS, Rel. Min. Celso de Mello, ac.
16.10.2012, DJe 13.11.2012, p. 34).
“Assim  sendo,  a  exigência  da  demonstração  formal  e  fundamentada,  no  recurso
extraordinário,  da  repercussão  geral  das  questões  constitucionais  discutidas  só  incide
quando a intimação do acórdão recorrido tenha ocorrido a partir de 03 de maio de 2007,
data da publicação da Emenda Regimental nº 21, de 30 de abril de 2007” (STF, Pleno, AI
664.567 QO/RS, Rel. Mil. Sepúlveda Pertence, ac. 18.06.2007, DJU 06.09.2007, p. 37).
CPC/1973, art. 508.
STF, 2ª T., RE 447.090 AgRg, Rel. Min. Carlos Velloso, ac. 31.05.2005, DJU 24.06.2005,
p. 68; STF, 1ª T., AI 742.611 AgRg, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, ac. 23.03.2011, DJe
13.04.2011.
STF, Súmulas nos 282 e 356. AI 141.223/BA, 1ª T., Rel. Min. Ilmar Galvão, ac. 28.08.1992,
RTJ   144/344-345; AI  120.682/RJ,  1ª T., Rel. Min. Moreira Alves,  ac.  25.09.1987, RTJ
123/383. “É firme a jurisprudência desta Corte no sentido de que, se a ofensa à Lei Maior
exsurgir com a prolação do acórdão dissentido, faz-se necessária a oposição de embargos
declaratórios  para  propiciar  o  debate  da  matéria  perante  o  juízo  a  quo.  Tendo  sido
observada essa providência pela embargante, não há que falar na  impossibilidade de se
conhecer do  recurso extraordinário devido à ausência de prequestionamento da matéria
constitucional  suscitada”  (STF, EDcl. no RE 223.521-1/RS, 2ª T., Rel. Min. Maurício
Corrêa,  DJU  09.04.1999,  p.  33).  “A  teor  da  Súmula  456,  o  que  se  reputa  não
prequestionado é o ponto indevidamente omitido pelo acórdão pri-mitivo sobre o qual ‘não
foram  opostos  embargos  declaratórios’. Mas,  se  opostos,  o Tribunal  a quo  se  recuse  a
suprir a omissão, por entendê-la inexistente, nada mais se pode exigir da parte” (STF, RE
176.626-3/SP, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJU  11.12.1998. No mesmo  sentido: RE
210.638-1/SP, Rel. Min.  Sepúlveda  Pertence, DJU  19.06.1998,  p.  11).  STF,  1ª  T., RE
231.452, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, ac. 31.08.2004, DJU 24.09.2004, p. 43.
STF, 1ª T., RE 230.109 AgR, Rel.ª Min.ª Ellen Gracie, ac. 18.03.2003, DJU 04.04.2003.
“Questão não decidida na instância inferior não enseja revisão por meio de RE: o que não
foi decidido não pode ser redecidido (revisto). Daí por que tem razão o STF quando exige
o pre-questionamento da questão constitucional, para que possa conhecer do RE (STF 282
e 356)” (NERY JÚNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo
Civil comentado. 10. ed. São Paulo: RT, 2007, p. 924).
STF,  1ª  T.,  ARE  822.344-AgRg/SP,  Rel. Min.  Roberto  Barroso,  ac.  10.02.2015,  DJe
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09.03.2015;STF,  2ª  T.,  RE  554.680-AgR/AM,  Rel.  Min.  Ricardo  Lewandowski,  ac.
05.08.2014, DJe 15.08.2014; STF, 1a T., RE  801.065-AgR/PR, Rel. Min. Luiz Fux,  ac.
13.05.2014, DJe 29.05.2014.
STF,  Pleno,  AI-AgRg  621.919/PR,  Rel.  Min  Ellen  Gracie,  ac.  11.10.2006,  DJU
19.12.2006, p. 35; STF, 2ª T., AI 680.906/MG, Rel. Min. Cezar Peluso, ac. 25.11.2008, DJe
19.12.2008.
STF,  Pleno,  RE  536.881/MG  –  AgRg,  Rel.  Min.  Eros  Grau,  ac.  08.10.2008,  DJe
12.12.2008.
CPC/1973, sem correspondência.
STF,  Pleno, AgRg  no  RE  626.358/MG,  Rel. Min.  Cezar  Peluso,  ac.  22.03.2012, DJe
23.08.2012.
STJ,  Corte  Especial,  AgRg  no  Ag  no  REsp  137.141/SE,  Rel.  Min.  Antônio  Carlos
Ferreira, ac. 19.08.2012, DJe 15.10.2012.
STF,  Pleno, AgRg  no  RE  626.358/MG,  Rel. Min.  Cezar  Peluso,  ac.  22.03.2012, DJe
23.08.2012.
WAMBIER,  Teresa  Arruda  Alvim  et  al.  Primeiros  comentários  ao  novo  Código  de
Processo Civil cit., p. 1.498.
STF, 1ª T., RE 611.743 AgR/PR, Rel. Min. Luiz Fux, ac. 25.09.2012, DJe 06.11.2012.
No âmbito da  legislação  trabalhista ocorreu, anteriormente,  introdução na CLT do art.
896-A,  pela  Medida  Provisória  nº  2.226,  de  04.09.2001,  que  instituiu  o  requisito  da
“transcendência” da matériatratada no Recurso de Revista  interposto para o TST. Há,
porém,  a ADI  nº  2.527  interposta  pela OAB  contra  dita Medida Provisória,  ainda  não
julgada pelo STF.
PISANI,  Andrea  Proto.  Principio  d’eguaglianza  e  ricorso  per  cassazione.  Revista  de
Processo, São Paulo, v. 191, p. 201-210, jan. 2011.
CPC/1973, arts. 543-A e 543-B.
Como a aplicação da exigência da repercussão geral ficou subordinada a estabelecimento
de nor-mas necessárias a serem introduzidas no Regimento Interno do Supremo Tribunal
Federal (Lei nº 11.418/2006, art. 3º), entendeu aquela Corte que o referido pressuposto de
admissibilidade  seria  exigido  apenas  para  os  recursos  extraordinários  interpostos  de
acórdãos publicados a partir de 3 de maio de 2007, data da entrada em vigor da Emenda
Regimental  21/07  ao  RISTF  (QO  AI  nº  664.567/  RS),  que  estabeleceu  as  normas
necessárias à execução das disposições  legais e constitucionais  sobre o novo  instituto.
Assim, os recursos extraordinários anteriores não devem ter seu seguimento dene-gado por
ausência da demonstração da  repercussão geral. No entanto, os  recursos extraordinários
anteriores  e  posteriores,  quando múltiplos,  sujeitam-se  a  sobrestamento,  retratação  e
reconhecimento de prejuízo, podendo ser devolvidos à origem, se  já pendentes no STF,
sempre que versarem sobre temas com repercussão geral reconhecida pelo STF (art. 543-
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B,  §§  1º  e  3º  [NCPC,  art.  1.036], RE-QO AI  715.423, Min. Gilmar Mendes; RE-QO
540.410, Rel. Min. Cézar Peluso). Nesse sentido: STF, 2ª T., RE 478.450, Rel. Min. Cezar
Peluso, ac. 11.01.2008, DJe 05.12.2008.
CPC/1973, art. 543-A, § 2º.
CPC/1973, art. 543-A, caput.
PINHO,  Humberto  Dalla  Bernardina;  SANTANA,  Ana  Carolina  Squadri.  O  writ  of
certiorari e sua influência sobre o instituto da repercussão geral do recurso extraordinário.
Revista de Processo, n. 235, São Paulo, set. 2014, p. 396.
CPC/1973, art. 543-A, § 1º.
CPC/1973, art. 543-A, § 2º.
De acordo com o STF, não basta ao recorrente alegar que a matéria ventilada no recurso
extraordinário  tem  repercussão  geral.  “Cabe  à  parte  recorrente  demonstrar  de  forma
expressa e clara as circunstâncias que poderiam configurar a  relevância – do ponto de
vista econômico, político, social ou jurídico – das questões constitucionais invocadas no
recurso  extraordinário”,  sob  pena  de  inviabilizá-lo  (STF  –  1ª  T., AgRg  no RE  c/ Ag
637.634/GO, Rel. Min. Luiz Fux, ac. 07.02.2012, Rev. Jurídica LEX 55/212).
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Primeiros comentários cit., p. 1.506.
STJ,  PETREQ  no  REsp  1.060.210,  Decisão  monocrática,  Rel.  Min.  Luiz  Fux,  j.
29.11.2010, DJe 16.12.2010.
O  texto primitivo do art. 1.035, § 3º,  II,  incluía entre os casos de  repercussão geral as
decisões  proferidas  em  julgamento  de  casos  respectivos.  O  dispositivo,  todavia,  foi
revogado pela Lei nº 13.256/2016.
Tomando como exemplo os casos mais frequentes de repercussão geral admitida, o STF
tem reconhecido a relevância jurídica da questão sobre tributos, quase sempre “tendo em
conta os princípios constitucionais tributários da isonomia e da uniformidade geográfica”,
princípios  esses  que,  obviamente,  envolvem  interesses  gerais,  e  que  transcendem  o
interesse individual do recorrente (STF, Pleno, QO no AgRg no RE 614.232/RS e no RE
614.406/RS, Rel.ª Min.ª Ellen Gracie, ac. 20.10.2010, DJe 04.03.2011; STF, Pleno, RE
540.829/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, ac. 26.08.2010, DJe 15.10.2010).
Não  adotou  o NCPC  a  regra  do  art.  543-A,  §  4º,  do CPC/1973,  de  que  a  decisão  da
existência  da  repercussão  geral  por,  no mínimo,  quatro  votos  da Turma,  dispensaria  a
remessa do recurso à apreciação do Plenário. No sistema atual, portanto, o extraordinário
sempre irá ao Plenário, a fim de avaliação da preliminar de repercussão geral suscitada
pela parte.
CPC/1973, art. 543-A, § 5º.
CPC/1973, art. 543-A, § 6º.
CPC/1973, art. 543-B.
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CPC/1973, art. 543-B, caput.
CPC/1973, art. 543-B, § 1º.
CPC/1973, art. 543-B, § 2º.
As  instâncias  locais  que  poderão  apreciar  os  recursos  sobrestados  e,  eventualmente,
exercitar  o  juízo  de  retratação  são  os Tribunais  Federais  ou Estaduais,  as Turmas  de
Uniformização de  Jurisprudência, nos  Juizados Especiais Federais  (Lei nº 10.259/2001,
art. 14, § 2º), e as Turmas Recursais, nos Juizados Especiais Federais ou Estaduais (Lei nº
9.099/1995, art. 41, § 1º; Lei nº 10.259/2001, art. 14, caput).
CPC/1973, art. 501.
CPC/1973, art. 543-A, § 7º.
CPC/1973, sem correspondência.
CPC/1973, sem correspondência.
CPC/1973, art. 532.
CPC/1973, sem correspondência.
CPC/1973, sem correspondência.
PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Apud AMARAL SANTOS, Moacyr. Op.
cit., n. 784.
AMARAL SANTOS, Moacyr. Op. cit., v. III, n. 784.
“Admitido o recurso extraordinário ou o recurso especial, o Supremo Tribunal Federal ou
o superior Tribunal de Justiça julgará o processo, aplicando o direito” (NCPC, art. 1.034,
caput).
“Não  se  conhece  de  recurso  extraordinário  contra  acórdão  da  justiça  local  que,
examinando  fatos  e  dando  as  razões  de  seu  convencimento,  decide  não  ter  havido
simulação na venda de ascendente a descendente” (STF, RE 51.438, Rel. Gonçalves de
Oliveira, Revista  Forense  209/86).  “Não  se  conhece  do  recurso  extraordinário  contra
decisão que, baseada nas provas dos autos, anula nota promissória eivada de simulação
fraudulenta”  (STF, RE  37.722, Rel. Min. Barros Monteiro, Revista  Forense  202/137).
Nesse  sentido: STF, RE 140.979-7/GO, Rel. Min. Marco Aurélio,  ac. 22.04.1997, DJU
27.06.1997,  p.  30.244;  STF, RE  171.419-1/SP, Rel. Min.  Ilmar Galvão,  ac.  03.12.1996,
DJU 14.03.1997, p. 6.914; STF, 2ª T., RE 632.973 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, ac.
02.08.2011, DJe 31.08.2011.
CPC/1973, art. 497.
ANDRADE, Luis Antonio de. Aspectos e inovações do Código de Processo Civil. Rio de
Janeiro: Francisco Alves, 1974, n. 327, p. 276.
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao Código de Processo Civil. 16. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2012, v. V, n. 158, p. 284.
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CPC/1973, art. 475-P, I e II.
CPC/1973, art. 475-O, § 3º.
STJ, 2ª T., MC 15.142/SP, Rel. Min. Humberto Martins, ac. 04.11.2010, DJe 17.11.2010.
STF,  Pleno,  AC  2.177  MC-QO,  Rel.  Min.  Ellen  Gracie,  Humberto  Martins,  ac.
12.11.2005, DJe 20.02.2009..
WAMBIER,  Teresa  Arruda  Alvim;  CONCEIÇÃO,  Maria  Lúcia  Lins;  RIBEIRO,
Leonardo Ferres da Silva; MELLO, Rogério Licastro Torres de. Primeiros  comentários
ao novo Código de Processo Civil. São Paulo: RT, 2015, p. 1.497.
CPC/1973, art. 508.
CPC/1973, art. 541.
STF,  Pleno,  AgRg.  no  AI  476.260/SP,  Rel. Min.  Carlos  Britto,  ac.  23.02.2006,  DJU
16.06.2006, p. 5; STF, 2ª T., RE 420.618 AgR, Rel. Min. Ayres Britto, ac. 26.04.2011, DJe
02.09.2011; STJ, Corte Especial, AgRg no Ag 792.846/SP, Rel. Min. Francisco Falcão,
Rel. p/ Acórdão Min. Luiz Fux, ac. 21.05.2008, DJe 03.11.2008.
CPC/1973, art. 542.
A  jurisprudência  do  STJ  tem  sido  no  sentido  de  recusar,  nos  recursos  que  lhe  são
endereçados, a comprovação do preparo por meio de “comprovantes bancários emitidos
pela  internet”,  ao  argumento  de  que  esses  documentos  “somente  possuem  veracidade
entre a agência bancária e o correntista, não possuindo fé pública e,  tampouco, aptidão
para  comprovar  o  recolhimento  do  preparo  recursal”  (STJ,  3ª  T.,  AgRg  no  AREsp
55.918/DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, ac. 21.03.2013, DJe 26.03.2013). No
mesmo sentido: STJ, 2ª T., AgRg no AREsp315.018/MG, Rel. Min. Castro Meira, ac.
27.08.2013, DJe 04.09.2013; STJ, 3ª T., AgRg no AREsp 200.925/SC, Rel. Min. Paulo de
Tarso Sanseverino, ac. 02.05.2013, DJe 08.05.2013. No entanto, a 4ª Turma diverge, para
reconhecer a possibilidade da comprovação do preparo por meio de guia (GRU simples)
paga por meio da internet, como, aliás, se acha autorizado no site do Tesouro Nacional, a
que se reporta a Resolução do STJ nº 4/2010 (STJ, 4ª T., AgRg no REsp 1.232.385/MG,
Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, ac. 06.06.2013, DJe 22.08.2013).
CPC/1973, art. 19.
CPC/1973, art. 27.
STF, Resolução  nº  344/2007:  “Art.  15. O Recurso  Extraordinário  ingressará  no  e-STF
instruído com as seguintes peças, segundo o que couber no caso: I – decisões proferidas
em primeira instância; II – recursos para a segunda instância; III – decisões proferidas em
segunda instância; IV – recursos para os tribunais superiores; V – decisões proferidas nos
tribunais  superiores; VI  –  certidão  de  intimação  da  decisão  recorrida; VII  – Recurso
Extraordinário; VIII  –  contrarrazões  ao Recurso Extraordinário  ou  certidão  de  sua  não
apresentação;  IX  –  procurações  outorgadas  aos  advogados  das  partes  e  respectivos
substabelecimentos. § 1º Os autos originariamente eletrônicos  ingressarão no e-STF  em
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sua  integralidade. § 2º O(A) Relator(a)  poderá:  I  –  requisitar  a  transmissão  de  outras
peças ou a remessa dos autos físicos; II – determinar a exclusão de peças indevidamente
juntadas aos autos. § 3º As peças processuais e petições eletrônicas enviadas deverão ser
gravadas em  formato compatível com o e-STF. § 4º Os documentos,  cuja digitalização
seja  tecnicamente  inviável em  razão do grande volume ou por motivo de  ilegibilidade,
deverão ser apresentados ao cartório ou à secretaria no prazo de até 10 (dez) dias contado
do envio de comunicado eletrônico do fato à parte interessada, sendo eles devolvidos após
o trânsito em julgado da decisão”.
CPC/1973, sem correspondência.
“Para simples reexame de prova não cabe o recurso extraordinário” (STF, Súmula nº 279).
“A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial” (STJ, Súmula nº
7).
Eduardo Ribeiro, analisando a hipótese em que o acórdão recorrido não havia esgotado as
questões de mérito, observou que o STJ, depois de prover o recurso especial, haveria de
“pros-seguir  no  exame  da  causa  para  saber  se  o  acórdão  não  deveria  ser mantido  por
alguma outra razão que não foi objeto de consideração na origem”. A parte, obviamente,
não  poderia  ser  privada  da  apreciação  de  “relevante  fundamento  de  seu  direito”
oportunamente  invocado. Daí  que,  no  exemplo  analisado,  o  STJ  passou  ao  exame  da
referida matéria, “não  importando que, para  isso,  tivesse de examinar matéria de fato”.
Alertou,  todavia,  para  o  limite  a  ser  respeitado:  “o  que  não  se  pode,  no  especial  é
modificar  os  fundamentos  fáticos  da  decisão  recorrida,  rever  provas  já  analisadas”
(OLIVEIRA,  Eduardo  Ribeiro  de.  Recurso  Especial.  In:  FONTES,  Renata  Barbosa
(coord.). Temas de direito: homenagem ao Ministro Humberto Gomes de Barros. Rio de
Janeiro: Forense, 2000, p. 56).
STF, 2ª T., AgR no RE c/ Ag 705.643/MS, Rel. Min. Celso de Mello, ac. 16.10.2012, DJe
13.11.2012, p. 34.
“Superado  o  juízo  de  admissibilidade  e  verificada  a  efetiva  ocorrência  do  error  iuris
atacado pelo recurso, o tribunal de superposição deve julgar a causa com base em todos os
elementos  de  prova  constantes  nos  autos,  ainda  que  não  mencionados  no  acórdão
recorrido, desde que  respeite dois  limites. O primeiro consiste na garantia do direito  à
prova, assegurado consti-tucionalmente pela cláusula do devido processo legal, de modo
que se o julgamento integral da causa, após a fixação da tese jurídica correta, depender de
prova ainda não produzida, o tribunal de superposição deve devolver os autos para que o
juízo de primeira  instância, ou o  tribunal de origem, complete a  instrução probatória e
profira nova decisão. O segundo  limite são os pontos de  fato  já decididos pelo  tribunal
local, porque este é soberano quanto à matéria fática decidida no acórdão – é vedado o
reexame, não o exame. Aliás, tais fatos já foram aceitos como verdadeiros pelo tribunal
de  superposição  no momento  de  verificar  a  existência  de  uma  questão  de  direito  que
superasse  a  barreira  de  admissibilidade,  especialmente  se  o  recurso  invocou  erro  na
subsunção do  fato à norma  (qualificação  jurídica do  fato)”  (FONSECA, João Francisco
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Naves da. Exame dos fatos nos recursos extraordinário e especial. São Paulo: Saraiva,
2012, n. 24, p. 100-102).
O recurso especial ou o extraordinário, quando tenha de ensejar o “julgamento da causa”,
ob-servará, analogicamente, a regra do § 1º do art. 515 do CPC [NCPC, art. 1.013, § 1º],
traçada para a apelação, segundo o qual, por força de efeito devolutivo, serão objeto de
apreciação  e  julgamento  pelo  tribunal  “todas  as  questões  suscitadas  e  discutidas  no
processo, ainda que a sentença não tenha julgado por inteiro”.
Recorre-se à regra do § 2º do art. 515 do CPC [NCPC, art. 1.013, § 2º]: “Quando o pedido
ou a defesa tiver mais de um fundamento, e o juiz acolher apenas um deles, a apelação
devolverá  ao  tribunal  o  conhecimento  dos  demais”.  Por  isso,  também  nas  instâncias
extraordinárias, “se o tribunal local acolheu apenas uma das causas de pedir declinadas
na inicial, declarando pro-cedente o pedido formulado pelo autor, não é lícito ao STJ, no
julgamento de  recurso  especial do  réu,  simplesmente declarar ofensa  à  lei  e  afastar o
fundamento  em  que  se  baseou  o  acórdão  recorrido  para  julgar  improcedente  o  pedido.
Nessa situação, deve o STJ aplicar o direito à espécie, apreciando as outras causas de
pedir  lançadas  na  inicial,  ainda  que  sobre  elas  não  tenha  se manifestado  a  instância
precedente,  podendo  negar  provimento  ao  recurso  especial  e manter  a  procedência  do
pedido  inicial”  (STJ,  Corte  Especial,  ED  no  REsp  58.265,  Rel.  p/  ac.  Min.  Barros
Monteiro, ac. 05.12.2007, DJU 07.08.2008).
CPC/1973, art. 515, §§ 1º e 2º.
STJ,  1ª  T.,  AgRg.  no  REsp  988.034/DF,  Rel.  Min.  Luiz  Fux,  ac.  22.04.2008,  DJe
08.10.2008;  STJ,  2ª  T.,  EDcl.  no  REsp  524.889/PR,  Rel.  Min.  Eliana  Calmon,  ac.
06.04.2006, DJU 22.05.2006, p. 179. Há, no entanto, acórdãos do STJ em sentido contrário:
STJ, 1ª T., REsp 761.379, Rel. Min. José Delgado, ac. 16.08.2005, DJU 12.09.2005, p. 256;
STJ, 3ª T., REsp 337.094, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros,  ac. 29.11.2005, DJU
19.12.2005, p. 393; STJ, 1ª T., EREsp 1.062.962/SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, ac.
28.10.2009, DJe 06.11.2009.
STJ, 2ª T., AgRg. no REsp 1.063.110/SP, Rel. Min. Castro Meira,  ac. 06.11.2008, DJe
01.12.2008.
STF,  2ª  Turma,  EDcl  no  AgRg  no  RE  346.736/DF,  Rel.  Min.  Teori  Zavascki,  ac.
04.06.2013, DJe 18.06.2013, Rev. de Processo 223/406, set. 2013.
CPC/1973, sem correspondência.
Segundo Nelson Nery Júnior, “aplicar o direito à espécie é exatamente  julgar a causa,
examinando amplamente todas as questões suscitadas e discutidas nos autos, inclusive as
de  ordem  pública  que  não  tiverem  sido  examinadas  pelas  instâncias  ordinárias.  (...)
removido o óbice constitu-cional da causa decidida  (CF 102,  III e 105,  III), o que só se
exige  para  o  juízo  de  cassação  dos  RE  e  REsp,  o  STF  e  o  STJ  ficam  libres  para
amplamente, rever a causa” (NERY JÚNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos. 7. ed.
São Paulo: RT, 2014, p. 422).
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STF, acórdão cit., RP 223/410.
Idem, ibidem.
Idem, ibidem.
CPC/1973, art. 545.
O Recurso Especial somente é admissível contra

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