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CLÍNICA DE MAMÍFEROS – COELHOS Os lagomorfos apresentam essa denominação pela presença de um segundo par de incisivos atrás dos primeiros maiores, denominado dente lagomorfo. São animais heterodontes, difiodontes (dentição incompleta até a 5 semana), elodontes (dentes em crescimento continuo por toda a vida), sendo que os incisivos crescem de 3-4mm por semana, e por mês no caso dos PM e molares. Coelhos apresentam 16 dentes de leite e 28 nos adultos. As várias afecções de lagomorgfos tem como predisposição o manejo alimentar. Na maioria das vezes lhes é dado alimento de produção que não tem tudo o que eles precisam para obter sua longevidade normal, sendo que o ideal é que eles comam um pouco de tudo (frutas, verduras, ração e feno). AFECÇÕES BUCODENTÁRIAS 805 dos animais que vão chegar até a clínica vão apresentar. Como há crescimento continuo o desgaste deve ser realizado mediante a presença de sílica na alimentação. Etiologia genética (raças anãs), traumática (fraturas de dente e mandíbula), nutricional (baixo teor de fibra, concentrado em excesso – sensação de saciedade) e metabólica (relação Ca:P, deficiência de raios UVB ou VitD). Há a formação de pontas nos dentes, curvatura anormal das coroas dentarias, íleo paralitico, crescimento anormal das raízes com formação de abscessos, protrusão de canais lacrimas. SC deformação dentaria (Incisivos superiores para cavidade oral, inferiores para o vestíbulo oral, molares e PM superiores para face vestibular e face lingual nos inferiores), ptialismo, anorexia, emagrecimento, dor. Secreção purulenta nasal, CCS, aumentos de volume. As pontas podem acumular sujeiras e formar abscessos. Diagnóstico exame da cavidade oral (pouca capacidade de abertura da boca usar endoscópio, abre-bocas...), RX, TC, anestesia do paciente para realizar o exame de maneira correta. RX exame indispensável, permite avaliar as estruturas intra e extra orais (raízes, ossos adjacentes). Permite o planejamento cirúrgico/terapêutico e prognostico. Mias de 90% dos abscessos de cabeça tem origem odontológica. Animal sedado ou anestesiado e bem posicionado (DV, lateral principalmente), também pode-se fazer as obliquas em 45º e crânio-caudal. As projeções intraorais com cavidade aberta são de difícil realização pela baixa capacidade de abrir. Linhas de avaliação na Lateral 1. Linha da margem rostral do osso nasal até a protuberância occipital externa (avaliar as raízes dentárias superiores). 2. Área de diastema – porção palatina do osso maxilar e platô do osso mandibular. 3. Linha da margem rostral do osso incisivo até 1/3 da bula timpânica (avaliar se a sobrecrescimento das coroas, pois deve passar pela linha de oclusão dos dentes). Linhas de avaliação na DV 1. margem lateral do dente incisivo maxilar até a margem medial do processo angular da mandíbula. 2. Margem lateral do dente incisivo maxilar até a margem lateral da bula timpânica contralateral. Os dentes devem estar dentro dos corredores formados pelas linhas. Em porquinhos da índia na Lateral linhas de avaliação: 1. Margem rostral do osso nasal até a incisura dorsal da bula timpânica. 2. Área de diastema. 3. Linha de oclusão: incisura dorsal da bula timpânica à extremidade em cizel dos dentes incisivos mandibulares. 4. Ramos mandibulares. DV 1. Margem medial do dente incisivo maxilar ao ponto caudolateral da mandíbula ipsilateral – limite caudal do arco zigomático, 1ºPM superior e crista facial. 2. Bordas corticais mediais da mandíbula. Terapia nos incisivos: corte regular dos dentes para o primeiro desgaste, se for alguma muito recorrente e problemático para o animal extração e retirada do tecido germinativo dentário. Se sobrar algo, espera crescer e tira. Molares e pré-molares: são mais difíceis de ser retirados e pode gerar complicações. Por isso se faz a incisão por fora da mandíbula, secciona o osso e tira o dente externamente. Se não conseguir tirar o dente, pode-se fazer o desgaste dentário com uma broca o desgaste pode ser feito até haver a oclusão das mesas dentárias, ou todo o dente. Deixa aberto e vai limpando a ferida com clorex ou iodo tomando-se o cuidado para ele não engolir (comprometimento da microbiota – disbiose). Pós-cirúrgico hospitalização do animal, restituição da alimentação rápida (entram em lipidose muito rápido) com seringa ou sonda esofágica, e manter a hidratação. Controle da dor (são alterações que causam muita dor), AINE e ATB para organismos anaeróbios (metronidazol, penicilinas G, sulfa + trimetoprim). SINDROME GASTROINTESTINAL DOS COELHOS Condições que podem causar a síndrome: impactação gástrica, acúmulo gástrico ou intestinal de gás, impactação intestinal, obstrução intestinal, aderências, neoplasias, pancreatite, doenças hepáticas (lipidose, torção, colangiohepatite). A etiologia da síndrome pode ser primária: dietas pobres em fibras, mudança da dieta, CE, tricobenzoar e estresse. Secundárias quando há alterações dentárias e doenças que cursem com desidratação. Patogenia: quadros de hipomotilidade, desidratação e obstrução. SC depressão, relutância em mover-se, ranger de dentes (dor), postura anormal, hiporexia/anorexia, redução ou ausência da produção de fezes (prognóstico ruim), fezes anormais, excesso de cecotrofos, desidratação, distensão abdominal, timpanismo gástrico, hipotermia, mucosas pálidas, TPC diminuído, alteração do estado mental (deprimido à comatoso). Diagnóstico é muito estressante o manejo destes animais, por isso deve-se levar em consideração a sedação do paciente com midazolam para uma avaliação mais mununciosa. RX bolsões de gás do estômago ao cólon, presença de CE acúmulo de gás caudal e proximal. USG perde acuidade pelo acúmulo gasoso no TGI. Pacientes estáveis avaliar a cada 24h, críticos: 3-4h. Saber se é clinico ou cirúrgico: Médico: bom estado geral, redução do apetite, constipação ou fezes reduzidas, RX: tamanho do estômago normal ou discretamente aumentado, massa heterogênea visível no estômago, frequentemente rodeada por um halo gasoso. Cirúrgico: prostração, anorexia, constipação grave, dor abdominal intensa, RX: estomago muito aumentado e grande volume de fluido. Terapia: hidratação do animal e do conteúdo gastrointestinal, pró-cinéticos (aumentar motilidade SE NÃO HÁ OBSTRUÇÃO), analgesia (opioides causam hipomotilidade, mas o quadro de dor causa mais hipomotilidade que o medicamento, por isso usa-se), controle do gás (sondagem – mensura até a última costela, centese), alimentação. Cirurgia: gastrotomia ou enterotomia, enterectomia e enteroanastomose, se pensa-se em protocolo cirúrgico prognóstico ruim. Prognóstico evolução mediante RX MELHORA: redução do tamanho dos bolsões de gás, mudança na posição dos bolsões, presença de fezes formadas em cólon distal, diminuição da aparência arredondada do estômago. PIORA: acúmulo de gás crescente, áreas de bolsões inalteradas, tamanho do estômago aumentado e mais arredondado. Evolução mediante Exame físico MELHORA: comendo por conta própria, hidratado, fezes de boa aparência, postura normal, retorno a atividade de limpeza, redução de gás a palpação ou percussão. PIORA: anorexia, menor produção ou ausência de fezes, ranger de dentes, desidratação e acúmulo de gás à palpação ou percussão. SARNA PSORÓPTICA Doença de etiologia parasitária, causada pelo ácaro Psoroptes cuniculi. Geralmente acomete orelha, pés e papada, sendo o ectoparasita mais comum, causando dermatite parasitária. NUNCA USAR FIPRONIL EM COELHOS – TÓXICO. O ácaro se alimenta de restos de cerúmen/crostas, e ficam presentes no ambiente. Destroem as camadas da epiderme, cursando com inflamação, exsudação e hiperqueratose. SC prurido intenso, movimentação de cabeça, orelha caída (coelhas com orelha naturalmente caída tem maior predisposição), alterações de odor, exsudato crostoso pela hiperqueratose, escoriações em fase, pescoço ou corpo, em casos graves pode cursar com torção de cabeça e síndrome vestibular. Diagnóstico – manifestações clinicas e lâmina do material(evita raspar a pele- - sensível). Terapia: ivermectina, selamectina, limpeza das orelhas (cuidado com as crostas, não retiras antes de tratar – sangramento), e limpeza do ambiente (quarentena, vassoura de fogo...). DISBIOSE Condição bastante comum, acomete tanto filhotes quanto adultos, associada a alimentação desbalanceada, estase intestinal, inadequada condição higiênico-sanitária, antibioticoterapia inadequada (CUIDADO com a associações de ATBS – pela potencialização do efeito e toxidez) Penicilina e cefalosporinas APENAS INJETÁVEL. Sulfas, fluorquinolonas e tetraciclinas são bem toleradas pelos coelhos. FAZER probióticos junto. Patogenia clostridium perfringens. SC morte súbita, fezes pastosas e com muco. Na necropsia conteúdo cecal alterado com bastante líquido e gases fétidos. Diagnóstico histórico, manifestações, exame necroscópico, fezes pastosas e com muco. Isolamento da toxina. Terapia hospitalização, aquecimento, fluidoterapia, ATB (metronidazol, sulfa + trimetoprim), probióticos (de cães por que não tem no BR o específico, Yakult, ou shake de fezes e cecotrofos de outro coelho saudável). PASTEURELOSE Doença frequente de prognóstico muito ruim. Os animais se infectam por aerossóis ou fômites contaminados, e láparos com o leite. Etiologia Pateurella multocida sorotipo A: quadros respiratórios. E B: septicemia. PRIMEIRO DIFERENCIAL DE CÁSEO. ZOONOSE. Gera uma toxina dermonecrótica adesão e colonização das vias aeres superiores (cavidade nasal), podendo ir para: Tuba auditiva orelha média orelha interna síndrome vestibular. Canal lacrimal conjuntivite. Conchas nasais rinite. Traqueia brônquios pulmões. Sangue sepse, endocardite, orquite, piometra/endometrite. Ou em subcutâneo levar a formação de abscessos. SC não vê a secreção no nariz pois o animal se limpa, mas nos membros tem. Muitas vezes o animal é assintomático e o proprietário trouxe por que deu torcicolo. F. RESPIRATÓRIA AGUDA: rinite e sinusite, secreção nasal serosa ou mucopurulenta, dispneia e espirros, conjuntivite. CORIZA CRÔNICA: coriza, secreção mucopurulenta (imunossupressão), secreção na face medial dos membros torácicos. ORELHA MÉDIA: pode ser assintomático, apresentar prurido em orelha, torcicolo, ataxia e nistagmo. PULMONAR CRÔNICA: pode ser assintomático, mas se sintomático vai apresentar anorexia, emagrecimento, fadigas, pode ter mastite e piometra. Diferencial importante Streptococcus zooepidermicus. Diagnóstico quadro clínico, exame necroscópico, bacteriologia (é de difícil crescimento, animal vão a óbito antes de crescer), PCR (agente comensal), sorologia. Terapia ATB sistêmico (cloranfenicol, fluorquinolnas, gentamicina, tetraciclina, sulfa + trimetoprim), ATB colírio (ciprofloxacino), nebulização com gentamicina, hidratação mais alimentação. PODODERMATITE EM COELHOS Doença frequente correlata ao manejo errado destes animais. De etiologia associada a bactérias comuns a pele e tem a qualidade do substrato, umidade, sujidades, obesidade e sedentarismo como fatores predisponentes. Patogenia: SC lesões exsudativas, crostas, avermelhamento, abscessos (aumentos de volume), emagrecimento, linfadenopatia, dor a palpação, relutância em movimentar-se. Pode ter quadros de osteomielite com facilidade (é uma fina camada de pele que separa o osso do meio externo). Diagnóstico RX, manifestações clínicas, cultura e antibiograma. Terapia controlar os fatores predisponentes, melhorar o ambiente, analgesia, ATB sistêmico, nas lesões: debridar, limpar, remover as crostas, uso de solução antisséptica (clorexdine). Forrar os ambientes, fornecendo-o áreas limpas e macias, uso de curativos/botas, uso de colar (tira de manhã para que ingira os cecotrofos), controle do peso. ENCEFALITOZOONOSE Zoonose, causada pelo Encephalitozoom cuniculi, fungo/microsporidio, cuja transmissão pode ser horizontal através da ingestão ou inalação, ou vertical pela placenta. Patogenia: pulmão, fígado e rins (lesão renal excreção renal), pode acometer SNC em fase tardia, e ocular em fase embrionária. SC Forma oftálmica: uveíte, catarata, panoftalmia. Forma nervosa: ataxia, encefalite, tremores, torcicolo (60%), epilepsia, paresia, rotação, ocorrem principalmente após eventos estressantes. Forma renal: poliuria e polidipsia, emagrecimento, desidratação e letargia. Diagnóstico: manifestações, histologia (tricrômico de masson), coloração de amostra de fezes e urina, ELISA e PCR (alguns animais podem ser assintomáticos, então vão eliminar, mas não está associado a infecção ativa). Terapia: não é muito efetivo, mas há resultados positivos utilizando albendazol e fenbendazol, nas formas agudas de SNC e ocular AINE e ciclizina.