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FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Professor: Me. Geandro de Souza Alves dos Santos Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho Diretoria de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha Head de Produção de Conteúdos Rodolfo Pinelli Head de Planejamento de Ensino Camilla Cocchia Gerência de Produção de Conteúdos Gabriel Araújo Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Supervisão de Projetos Especiais Daniel F. Hey Projeto Gráfico Thayla Guimarães Design Gráfico Flávia Thaís Pedroso Qualidade Textual Ivy Mariel Valsecchi DIREÇÃO Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; SANTOS, Geandro de Souza Alves dos . Fundamentos e História da Educação do Campo e suas Concepções. Geandro de Souza Alves dos Santos. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017. 27 p. “Pós-graduação Universo - EaD”. 1. Educação. 2. Fundamentos. 3. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 370 CIP - NBR 12899 - AACR/2 01 02 03 sumário 06| PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO DE CAMPO E EDUCAÇÃO RURAL 12| A PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA 16| EDUCAÇÃO DO CAMPO E FORMAÇÃO OMNILATERAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Compreender a trajetória da Educação do Campo como política pública. • Analisar os conceitos teóricos e metodológicos da Educação do Campo, seu espaço e lugar. • Refletir sobre como se dá o processo de construção da escola do campo e suas especificidades. PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Pressupostos teóricos da Educação do Campo e Educação Rural. • A pedagogia da alternância. • Educação do Campo e formação omnilateral. FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO INTRODUÇÃO introdução Neste estudo conheceremos algumas das especificidades teóricas da Educação do Campo e ressaltaremos sua importância. As discussões em torno dessa área estão fundamentadas em pressupostos desenvolvidos entre os povos do campo, os movimentos sociais e a sociedade organizada. Esperamos que ao final desta Unidade você compreenda que a Educação do Campo refere-se a uma proposta concreta, palpável e que é demarcada historicamente por lutas e resistências; não se trata somente de um conceito, mas também de politica pública presente na história da educação brasileira e na relação conflituosa provocada pelos interesses das oligarquias e dos sujeitos do campo e da cidade. Trazemos, então, nesta unidade, dois apontamentos distintos: um sobre as demandas por direito, sendo que apresentamos como exemplo um fundamento que permeia a Educação do Campo como politica pública: a pedagogia da alternância. Não obstante, é preciso caracterizar nosso objeto de estudo teoricamente, com conceitos que delineiam a Educação do Campo como proposta educacional libertadora, construída para e pelos sujeitos do campo que transformam seu meio através do trabalho. Assim, o outro apontamento refere-se à Educação do Campo enquanto proposta de formação omnilateral. Pós-Universo 6 pressupostos teóricos da educação de campo e educação rural Pós-Universo 7 Neste tópico, discutiremos as questões norteadoras sobre o conceito de Educação do Campo versus o de Educação Rural. Quais conceitos e práticas as diferenciam? Como e por que desenvolver uma educação essencialmente feita pelos e para os sujeitos do campo? Tais considerações apontam para o fato de que são propostas educacionais díspares; enquanto uma revela a educação segundo os interesses do estado, que marca sua presença por meio de uma politica pública alicerçada nos interesses do capital, a outra se consolida na contramão deste modelo, sendo articulada, discutida e desenvolvida pelos movimentos sociais e pela sociedade organizada nacional e internacional, configurando-se, assim, como uma Educação do Campo. A Educação Rural é marcada pelo viés da compensação histórica pelo atraso no campo e desconsidera as especificações e a realidade campesina. De acordo com Souza e Reis (2009), quando se trata de educação rural, as políticas públicas são utilizadas como meio de compensação e sua implantação muitas vezes se dá sem a utilização de um projeto que objetive atender suas especificações. Trata-se, então, simplesmente da presença da escola no meio rural, sendo que muitas vezes desconsideram-se as questões culturais das comunidades em que estas escolas funcionam, bem como a realidade do educando, os interesses de desenvolvimento local e as lutas e conquistas no âmbito político e ideológico. Para Ribeiro (2012), a Educação Rural pode ser caracterizada por sua dissonância em relação às características e identidades dos sujeitos do campo. Trata-se simplesmente de uma escola urbana inserida no meio rural, desconsiderando-se as questões relativas às identidades culturais, meios de produção e sociedade. Nesse sentido, vejamos o exposto por tal autor: “ Compreendida no interior das relações sociais de produção capitalista, a escola, tanto urbana quanto rural, tem suas finalidades, programas, conteúdos e métodos definidos pelo setor industrial, pelas demandas de formação para o trabalho neste setor, bem como pelas linguagens e costumes a ele ligados. Sendo assim, a escola não incorpora questões relacionadas ao trabalho produtivo, seja porque, no caso, o trabalho agrícola é excluído de suas preocupações, seja porque sua natureza não é a de formar para um trabalho concreto, uma vez que a existência do desemprego não garante este ou aquele trabalho para quem estuda (RIBEIRO, 2012, p. 296). Pós-Universo 8 Se refletirmos um pouco sobre este trecho, é possível chegarmos à conclusão de que uma Educação Rural, ou seja, no campo (e não do campo), desconsidera seus aspectos de ligação com o meio no qual os sujeitos estão inseridos, as necessidades, especificidades, dificuldades encontradas em termos de escolarização e, principalmente, a necessidade de representatividade da identidade de quem vive no campo. A Educação Rural instituída pelo Estado tem como proposito a escolarização, a compensação pelo que se considera um atraso e busca levar para o meio rural a realidade urbana de produtivismo e formação para o trabalho. “ Compreendemos que a Educação do Campo busca olhar os sujeitos e considerar as diferenças de acúmulos de cada um/a e nisso consiste perceber que o campo necessita de uma educação que seja pensada olhando para suas especificidades e, portanto, o currículo urbano não dá conta de contemplar, tornando-se incapaz de enxergar esse espaço com suas características e funções específicas, e, nem por isso, menos importante, fazendo dele um apêndice do urbano, como se só existisse produção de conhecimento em um determinado lugar que, neste caso, é na cidade (FARIAS, 2014, p. 88). Durante a década de 1990, os movimentos sociais e organismos nacionais e internacionais pela educação expressaram novas perspectivas para a educação brasileira, ou seja, da construção de uma sociedade mais igualitária, bem como a proposta de uma Educação do Campo, disseminando a esperança de sua implantação efetiva. Neste período, foram expressas também as interferências de organismos como a Unesco e o Banco Mundial, que articulavam a educação de acordo com as demandas da Organização das Nações Unidas (ONU) (SANTOS, 2016).Pós-Universo 9 “ É o neoliberalismo que a seu modo ditava as regras da economia e da educação brasileira, durante o período de transição e após ele, o que não foi capaz de frear o novo olhar que surgia dos movimentos sociais e das universidades públicas, de uma educação que respeitasse as peculiaridades dos povos do campo. O que se presencia é uma educação que aparece como elemento urgente nas pautas dos governos, dos movimentos sociais e da sociedade como um todo. É a Educação do Campo que se afirma a partir de ações concretas, na maioria, iniciativas dos movimentos sociais do campo, Universidades e entidades apoiadoras [...] (SANTOS, 2016, p. 41). Segundo Shelling (1991), a concepção de uma Educação essencialmente construída a partir dos interesses dos povos do campo, com valorização de sua identidade, produção cultural e modo de vida tem sido pauta de discussões, sobretudo dos movimentos pela reforma agrária e de atuação no campo, que objetivam sua valorização enquanto sujeitos ativos, que constroem cultura e identidade, sendo “ [...] que o homem não só se adapta ao mundo, como também o transforma. Essa transformação ocorre em dois níveis: em primeiro lugar no nível da interação do homem com a natureza e como ser da natureza, modificando o ambiente natural com o uso de ferramentas (SHELLING, 1991, p. 32). De acordo com Passador (2006, p. 115): “ Na verdade, não existe educação rural, mas, sim, fragmentos da educação escolar urbana introduzida no meio rural. A própria educação escolar é uma instituição emissária do poder que se concentra na cidade e subordina a vida do homem do campo. Politicas e projetos de educação rural capazes de “fixar o homem na terra” são ilusórios, pois trabalhadores rurais abandonam seu trabalho e seu local de vida e moradia porque não há mais condições politicas e econômicas de reprodução familiar. Pós-Universo 10 Frente a essas considerações é possível questionar: como e para que uma Educação do Campo? Seria realmente necessária a sua construção? A Educação Rural, segundo os pressupostos das demandas do Estado e do mercado não seria suficiente para construir uma escola que possibilite o desenvolvimento? Qual desenvolvimento? A resposta pode ser encontrada a partir da análise deste excerto de Molina (2006, p. 11): “ A Educação do Campo originou-se no processo de luta dos movimentos sociais camponeses e, por isso, traz de forma clara sua intencionalidade maior: a construção de uma sociedade sem desigualdades, com justiça social. Ela se configura como uma reação organizada dos camponeses ao processo de expropriação de suas terras e de seu trabalho pelo avanço do modelo agrícola hegemônico na sociedade brasileira, estruturado a partir do agronegócio. A luta dos trabalhadores para garantir o direito à escolarização e ao conhecimento faz parte das suas estratégias de resistência, construídas na perspectiva de manter seus territórios de vida, trabalho e identidade, e surgiu como reação ao histórico conjunto de ações educacionais que, sob a denominação de Educação Rural, não só mantiveram o quadro precário de escolarização no campo, como também contribuíram para perpetuar as desigualdades sociais naquele território. O trecho indica que em uma escola do campo deve prevalecer um projeto que busque o fortalecimento das lutas campesinas, do conhecimento humano, do saber científico, teórico e pratico e resguarde o direito de acesso à educação pública de qualidade e à produção do conhecimento universal humano, ao mesmo tempo em que fortaleça as possibilidades de formação para a criticidade e utilização dos saberes (MOLINA, 2003). Uma educação que se identifique com a identidade camponesa pode ser desenvolvida a partir de politicas públicas que não busquem apenas uma compensação, mas sim a garantia de direitos. Configura-se aí um dos grandes desafios da Educação do Campo: a manifestação dos direitos, uma proposta inovadora construída a partir dos olhares dos povos do campo, que é expressa em lei. Pós-Universo 11 Quais as principais características de uma Educação do Campo? E quais se assemelham ou destoam da chamada Educação Rural ou no Campo? reflita Pensemos: a escola é o local no qual o conhecimento humano é passado adiante. Tudo o que o homem constrói com seu trabalho, com sua habilidade de pensar e que, portanto, nos diferencia dos animais, conforme destaca Dimenstein (2001), pode e precisa ser utilizado como elemento de desenvolvimento social, ou seja, pressupõe- se um direito de acesso aos saberes construídos pela humanidade, afinal, (2+2 = 4) a somatória de dois mais dois é igual a quatro e este e outros conhecimentos precisam ser adquiridos tanto na escola urbana quanto na escola do campo. É, portanto, o preconceito que faz com que a educação no meio rural seja muitas vezes relegada ao atraso, ao rústico (rural), ao anti-tecnológico e científico, como se o campo não pudesse significar um ambiente de desenvolvimento humano. Diferenças entre a Educação Rural e a Educação do Campo Educação Rural • Criada pelo Estado sob uma ótica assistencialista ou de ordenamento social a partir de um modelo de dominação da elite fundiária; • Propõe uma escolaridade voltada para o ensino técnico-profissional, definida pelas necessidades do mercado de trabalho; • Pensada a partir do mundo urbano, fica a serviço da modernização do campo; • Retrata o campo a partir do olhar do capital e seus sujeitos de forma estereotipada, inferiorizada. Educação do Campo • Construída pelos e com os sujeitos do campo; • Pensada sob as diferentes esferas: social, política e pedagógica, fundamentada em princípios que valorizam os povos do campo considerando-se o meio em que vivem; • Princípios voltados para o processo de desenvolvimento sustentável; • Pensada a partir da especificidade e do contexto do campo e de seus sujeitos. Fonte: Pires (2012). saiba mais Pós-Universo 12 a pedagogia da alternância Pós-Universo 13 Com base na concepção da Educação do Campo como um direito, discutiremos nesta aula sobre a pedagogia da alternância, uma modalidade de organização escolar que considera as especificidades dos povos do campo, aspectos geográficos, sazonais, climáticos e econômicos, entre outros. Tal modalidade confere ainda uma proposta de adaptação curricular para a Educação no meio rural que considera as necessidades locais e, neste sentido, configura-se como uma possibilidade de garantias de direitos, tanto do acesso quanto da permanência dos sujeitos do campo nas escolas. As adaptações curriculares e de tempo são indispensáveis para a garantia de direitos como o de trabalho, considerando as especificidades produtivas do campo e o direito à frequência nas aulas, pois suas características geográficas e de produção interferem diretamente na dinâmica educacional. Neste sentido, a alternância de horários e calendários conforme previsão legal pode e deve ser realizada como instrumento de garantia de direitos. A pedagogia da alternância consiste na flexibilização do calendário e do currículo, considerando o uso de novos espaços e períodos de aula, o que possibilita a consonância entre trabalho, família, escola e comunidade. Portanto, alternar períodos entre escola e comunidade permite a construção do conhecimento, pois relaciona saberes e práticas utilizadas como meio de produção no campo e conhecimento universal humano (matemática, geografia, história, etc). É o que prevê o Parecer CEB nº 01/2006, do Conselho Nacional de Educação, aprovado em fevereiro de 2006. Nesse sentido, a pedagogia da alternância torna-se uma alternativa para o desenvolvimento da educação básica no meio rural, em consonância com o desenvolvimentoeconômico e social do campo. Como possibilidade alternativa, esta proposta, que surgiu na França na década de 1930, se espalhou por outros países e chegou ao Brasil na década de 1960. Segundo Pessotti (1978), as primeiras experiências com a chamada pedagogia da alternância foram realizadas no Espirito Santo, em 1969, com o objetivo de promover uma educação voltada para os homens do campo, considerando seu nível cultural, social e econômico, bem como seus interesses, oportunizando a frequência escolar segundo a sazonalidade, por meio da modificação dos ciclos e do calendário escolar, sem que houvesse prejuízo ao trabalho agrícola, principalmente em períodos de colheita. Como proposta inovadora, se espalhou pelo país por meio de algumas organizações educacionais nem sempre ligadas ao Estado (QUEIROZ, 1997). Pós-Universo 14 A escola, o conhecimento formal busque a integração das tecnologias de escola, o conhecimento formal busque a integração das tecnologias. reflita É preciso destacar que a produção agrícola está primordialmente ligada às questões de sazonalidade e que os sujeitos que vivem no campo encontram muitas dificuldades para frequentar as escolas: distância, estradas em péssimas condições e intempéries. Estas questões precisam ser levadas para a sala de aula e serem consideradas no processo de formação destes sujeitos. De acordo com Dias (2006, p. 124), “a Pedagogia da Alternância tem como objetivo a formação integral do jovem do campo no aspecto intelectual e profissional”. A metodologia pressupõe a autonomia do sujeito, em que a iniciativa e o trabalho comunitário estão presentes e fazem parte de sua formação. Para Gimonet (2007) a pedagogia da alternância baseia-se no desenvolvimento do educando e em seu meio, considerando-o sujeito ativo deste processo e privilegiando seus saberes pré-concebidos e conceituados, que são construídos pela sua interação com o meio e com o trabalho. Isso pode ser considerado fundamental para o desenvolvimento do aluno e sua aprendizagem, pois os conceitos adquiridos no trabalho e na produção podem ser utilizados como ferramenta de aprendizagem e de estímulo, conforme Roullier (1980, p. 45). “ A autêntica alternância escola-trabalho não é uma simples justaposição destes dois elementos, mas supõe sua interação refletida: a escola se vê enriquecida pelo trabalho, e o trabalho pela escola. Esta concepção é sem dúvida o elemento característico dos sistemas pedagógicos baseados na alternância: uma concepção criadora. Pós-Universo 15 Há nesse sentido a troca entre os saberes produzidos pela ciência e pelo trabalho desenvolvido no dia a dia, na produção e na interação com a família e a comunidade. Assim: “ a Pedagogia da Alternância promove o desenvolvimento econômico e sociocultural das famílias e consequentemente da comunidade, através de um conhecimento adequado à sua realidade, levando o agricultor a ter acesso a uma moderna tecnologia apropriada ao seu modo de produção, habilitando-o a analisar criticamente sua realidade e nela interferir para modificá-la (GABROWSKI; PACHECO, 2011, p. 5). Considerando o exposto, é possível entender a relação entre a Pedagogia da Alternância e a Educação do Campo. Vale lembrar que são propostas pedagógicas distintas, mas que se completam, já que ambas pressupõem a garantia de direitos, desenvolvimento e valorização da identidade campesina. Um grupo de agricultores franceses insatisfeito com o sistema educacional do país (que em sua opinião não atendia às especificidades de uma Educação para o meio rural) iniciou em 1935 um movimento que resultou no surgimento da Pedagogia da Alternância. Esse grupo destacava a necessidade de uma educação escolar que atendesse às particularidades psicossociais dos adolescentes e que, além da profissionalização em atividades agrícolas também proporcionasse meios para o desenvolvimento social e econômico da sua região. No ensino organizado por esses agricultores com ajuda de um padre católico havia uma alternância, ou seja, tempos em que os jovens permaneciam na escola - que consistia em um espaço cedido pela própria paróquia - com tempos em que permaneciam na propriedade familiar. Na escola o ensino era coordenado por um técnico agrícola; em casa, os pais se responsabilizavam por acompanhar as atividades dos filhos. A ideia básica era conciliar os estudos com o trabalho na propriedade rural da família Fonte: adaptado de Teixeira, Bernartt e Trindade (2008). fatos e dados Pós-Universo 16 educação do campo e formação omnilateral Pós-Universo 17 Neste tópico, trataremos sobre o conceito de formação omnilateral, que fundamenta a Educação do Campo. O termo foi desenvolvido por Marx e amplamente estudado por autores como Frigotto. Segundo o Dicionário de Educação do Campo, de Frigotto (2012), livro indicado aqui por sua importância em definições e conceitos sobre o tema, omnilateral significa “todos os lados, ou dimensões” (FRIGOTTO, 2012, p. 267). No caso, tais dimensões podem ser traduzidas como elementos que envolvem os sentidos humanos e sua relação com o mundo, “sua vida corpórea material e seu desenvolvimento intelectual, cultural, educacional, psicossocial, afetivo, estético e lúdico” (FRIGOTTO, 2012, p. 267). Segundo Marx e Engels, uma formação omnilateral é aquela que se contrapõe à unilateralidade, cujo princípio de formação aponta sempre na mesma direção: no caso, a introdução ao mercado, desconsiderando-se a concepção do trabalho como elemento de construção cultural humana e alienando-o face aos interesses da produção industrial (MARX; ENGELS, 2004). Frente a isso, Cruz (2004, p. 2) aponta que: “ Numa sociedade capitalista fundamentada nos princípios da divisão social do trabalho e da propriedade privada, que relegam o homem à posição de objeto, formar para uma perspectiva omnilateral significa envolver-se na crítica da sociedade; é contrapor-se ao modo capitalista de formação humana; resgatar a dimensão ético - política do projeto de emancipação humana, enfim, é colocar-se a serviço da libertação e humanização dos homens. Em Santos (2016, p. 46), vemos que uma formação omnilateral, “ [...] é aquela que proporciona condições aos indivíduos de compreenderem o significado de seu trabalho, de sua função social a partir das ferramentas oferecidas pela educação, como por exemplo, a compreensão dos direitos e dos deveres sociais, o estudo da realidade social, política, econômica, cultural e ou ambiental. A educação omnilateral, então, permite ao homem o desenvolvimento pleno pelo trabalho; é pelo trabalho que ele se insere na vida em sociedade (NEVES, (2009). Pós-Universo 18 Quando utilizamos a palavra trabalho estamos nos referindo a um conceito desenvolvido por Karl Marx para compreender a atividade humana enquanto modificadora da natureza, ou seja, tudo o que o homem constrói, inventa e modifica para seu uso ou para a sociedade. Não podemos, então, confundir a palavra trabalho exposta neste estudo com a simples atividade laboral mecânica instituída no mundo das fábricas ou da produção de mercadorias para a obtenção de lucro. Destaca-se, ainda, que o trabalho, no sentido contrário, transforma-se também em mercadoria. Fonte: o autor. saiba mais atividades de estudo 1. Tivemos a oportunidade de estudar um modelo de educação direcionado ao campo diferente da concepção de uma educação rural. Sobre isso, marque V para as afirma- tivas verdadeiras e F para as falsas. )( A educação do Campo é um modelo de educação voltada essencialmente para a formação dos sujeitos do meio rural, com o objetivo de garantia de direitos e de- senvolvimento, considerando-se a identidade, cultura e interessesdestes sujeitos. )( A Educação do Campo é uma proposta de educação voltada essencialmente para a formação dos sujeitos do meio rural, com o objetivo de garantia de direitos e desenvolvimento, considerando os aspectos de identidade, cultura e interesses destes sujeitos. )( A educação do Campo é uma vertente de educação voltada essencialmente para a formação dos sujeitos do meio rural, com o objetivo de garantia de direitos e desenvolvimento, considerando os aspectos de identidade, cultura e interesses destes sujeitos. )( Somente pode ser considerada escola do campo aquela que se situa no meio rural. )( Escolas que se localizam no meio urbano, mas que recebem alunos camponeses e que abordam os aspectos da Educação do Campo em sua concepção pedagó- gica, além dos direitos, podem ser consideradas Escolas do Campo. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta da questão: a) F; V; F; F; V. b) V; V; V; V; V. c) V; F; V; F; F. d) F; F; F; F; F. e) V; V; V; F; F. atividades de estudo 2. Sobre a pedagogia da alternância, assinale a alternativa correta: a) É uma proposta educacional que permite a flexibilidade do currículo e da orga- nização escolar. Assim, diminuindo-se os dias letivos e horas de aula é possível realizar o atendimento dos alunos com qualidade. b) Possibilita a garantia de direitos dos sujeitos do campo por meio de adaptações curriculares e de períodos escolares que melhor atendem a demanda do campo, inclusive com a possibilidade de diminuir o tempo das aulas e os dias letivos. c) É uma proposta educacional que viabiliza o acesso e a permanência dos sujeitos do campo nas escolas e portanto garante direitos. d) Não significa garantia de direitos pois legalmente não pode ser aplicada. e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta. 3. Sobre a formação omnilateral, assinale a alternativa correta: a) É uma proposta de educação voltada para os sujeitos do campo. b) É um modelo de educação voltada para os sujeitos do campo. c) É uma concepção educacional essencialmente produzida e pensada para os su- jeitos do campo. d) É uma perspectiva de educação voltada para a formação universal do homem. e) É uma perspectiva de educação voltada para a formação unilateral do homem. resumo Nesta oportunidade estudamos a Educação do Campo enquanto proposta educacional transformadora e libertadora, criada e pensada pelos sujeitos do campo, movimentos sociais e sociedade organizada. Ao descrever os pressupostos teóricos da Educação do Campo acredita-se ser possível demarcá-la em contraposição à chamada Educação Rural, apontada aqui meramente como um projeto de compensação histórica pelo atraso e descaso estatal para com o meio rural, pois tende a desconsiderar os interesses, identidades e cultura dos sujeitos do campo. Por considerar também de suma importância discutir a questão da garantia de direitos no âmbito da Educação do Campo, as especificidades do meio rural e as dificuldades de acesso e permanência dos sujeitos do campo na escola, apresentou-se aqui a Pedagogia da Alternância como instrumento que leve estes aspectos em consideração. Ao percorrermos o universo teórico da Educação do Campo buscamos destacá-la como instrumento de transformação social pelo viés educacional, oposta à Educação urbanocêntrica, principalmente por tratar-se de uma educação voltada para as liberdades, desenvolvimento econômico e para uma formação universal do homem, com o reconhecimento de seus direitos, ou seja, uma formação omnilateral, que compreende um ser humano consciente de sua identidade e saberes, de seu papel na comunidade e que possa conduzir seu trabalho de modo não alienado. material complementar Cidadão de Papel – A infância, a Adolescência e os direitos humanos no Brasil. Contribuições para a Construção de um Projeto de Educação do Campo Autor: Gilberto Dimenstein Editora: Ática Sinopse: O jornalista Gilberto Dimenstein, articulista da Folha de S.Paulo, faz um retrato cortante sobre os direitos humanos no Brasil e abre a discussão sobre a cidadania no livro “O Cidadão de Papel” (Ática, 2005, 21ª edição). Passo a passo, Dimenstein revela como funciona nossa sociedade, como lidamos com os direitos das crianças e adolescentes e questões como a desnutrição, o desemprego, a violência, a fome, o desenvolvimento da economia e a crise da educação. Dimenstein parte do princípio de que a cidadania no Brasil é extremamente frágil, quase sempre com direitos assegurados apenas no papel. “Apesar de todos os avanços, a regra é a exclusão social, a incapacidade de oferecer um mínimo de igualdade de oportunidades às pessoas”, justifica. A proposta do livro é informar o leitor sobre como essas questões são tratadas no Brasil e contribuir para que os jovens possam mudar a realidade e construir uma sociedade verdadeiramente democrática. Na Web Paulo Freire aponta desafios e motivos para a construção de uma educação libertadora, em que a práxis aponte para a construção de uma pedagogia voltada à identidade camponesa, de seus interesses, a partir de seu conhecimento e construída por e para estes sujeitos. Web: <https://youtu.be/60c1RapBN7U>. referências ARROYO, Miguel Gonzalés. Formação de educadores do campo. In: CALDART, Roseli Salete et al (orgs.). Dicionário da Educação do Campo. Rio de Janeiro, São Paulo: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Expressão Popular, 2012. CRUZ, Rosângela Gonçalves Padilha Coelho. Formação omnilateral: perspectivas para o trabalho pedagógico crítico-emancipatório. Universidade de Passo Fundo, 2004. DIAS, Regina Arruda. Pedagogia da Alternância: Participação da sociedade civil na construção de uma educação sustentável e cidadã. In: QUEIROZ, João Batista Pereira; SILVA, Virgínia Costa; PACHECO, Zuleika (orgs.). Pedagogia da Alternância: Construindo a Educação do Campo. Goiânia: Editora da UCG, 2006. DIMENSTEIN, Gilberto. Cidadão de Papel. Ática, São Paulo, 2001. FARIAS, Maria Isabel. Os processos de territorialização e desterritorialização da Educação do Campo no sudoeste do Paraná. 2014. 129 p. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2014. GIMONET, Jean-Claude. Praticar e compreender a Pedagogia da Alternância dos CEFFAs. Rio de Janeiro: Vozes, 2007. MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Textos sobre educação e ensino. Trad. Rubens Eduardo Frias. São Paulo: Centauro, 2004. MOLINA, Mônica Castagna. Educação do Campo e Pesquisa: questões para reflexão. 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