Prévia do material em texto
JADIR FÉLIX DA SILVA TEMAS DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA E ECLESIÁSTICA SÃO GONÇALO 2006 UMA PALAVRA SOBRE O TRABALHO Este trabalho, TEMAS DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA E ECLESIÁSTICA, é resultado de pesquisa, resumo de textos usados e extraídos de vários autores, estudos e reflexões sobre vários temas de Teologia Sistemática e Eclesiologia. A finalidade é oferecer as informações que julgamos necessárias e que possam contribuir para a formação acadêmica, despertando o interesse para aprofundamento de estudos e pesquisas, na área em que o estudante mais desejar. Não é um trabalho de caráter conclusivo, é uma tentativa de fornecer ao iniciante, nos assuntos, algo que possa levá-los a compreender melhor os temas propostos e despertar o interesse para conhecê-los com mais profundidade, portanto estará sempre sendo revisado. O ponto de partida e a base fundamental para as considerações de todos os temas aqui focalizados é a Bíblia. São citados argumentos de fontes diversas para mostrar o pensamento de alguns sobre determinados temas em comparação com os ensinos das Sagradas Escrituras. Nenhum ponto de vista defendido por qualquer autor citado, na referência bibliográfica, que não tenha respaldo bíblico, merece ser acatado como verdade absoluta, mas simplesmente como informativo e ponto de vista pessoal. Entendemos que todos os temas teológicos são bíblicos. Não existe teologia sem a Bíblia e ela só alcança o seu valor se houver fundamento nas Sagradas Escrituras. Em Deus está a origem de toda base teológica e para compreendermos melhor os temas da teologia é necessário conhecermos o que a Bíblia nos revela sobre a pessoa de Deus. Este trabalho foi preparado tendo em vista as aulas que se pretendia administrar para os alunos do Seminário Teológico Batista Gonçalense. O Seminário Teológico Batista Gonçalense, tem dado ênfase ao conhecimento teológico, visando à solidificação doutrinária dos seus alunos e uma base sólida para que possam desempenhar com eficiência e convicção o ministério proposto. Pr. Jadir Félix da Silva. 2 SUMÁRIO PARTE I TEOLOGIA SISTEMÁTICA CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO A TEOLOGIA SISTEMÁTICA..................11 1. Definição de Teologia................................................................................................. 11 2. Objetivo da teologia Sistemática................................................................................. 12 3. Relação da Teologia com outras disciplinas............................................................... 12 3.1. Relação da Teologia com a Religião........................................................................ 13 3.2. Concepções de Religião........................................................................................... 13 3.2.1. Século XIX............................................................................................................ 13 3.2.2. Iluminismo............................................................................................................ 14 4. Fontes da teologia....................................................................................................... 17 4.1. As Escrituras e a Natureza....................................................................................... 17 4.1.1. Teologia Natural................................................................................................... 17 4.1.2. Teologia Natural Suplementar.............................................................................. 17 4.1.3. As Escrituras, o Padrão Final de Apelo................................................................ 17 4.1.4. A Teologia das Escrituras não é Antinatural........................................................ 18 4.2. As Escrituras e o Racionalismo............................................................................... 19 4.3. As Escrituras e o Misticismo................................................................................... 19 4.3.1. Os cristãos evangélicos são chamados místicos................................................... 20 4.3.2. Diferença entre o misticismo e a doutrina do iluminismo espiritual.................... 20 4.3.3. Falso misticismo................................................................................................... 20 4.4. As Escrituras e o Romanismo.................................................................................. 21 5. Divisão da Teologia.................................................................................................... 21 5.1. Teologia Bíblica....................................................................................................... 21 5.2. Teologia Histórica.................................................................................................... 21 5.3. Teologia Sistemática................................................................................................ 21 5.4. Teologia Prática....................................................................................................... 22 5.5. Tipos de teologia...................................................................................................... 22 5.5.1. Teologia Liberal.................................................................................................... 22 5.5.2. Teologia da Libertação......................................................................................... 31 5.5.3. Teologia da Cruz................................................................................................... 35 5.5.4. Teologia Natural................................................................................................... 35 5.5.5. Teologia Exegética............................................................................................... 35 5.5.6. Teologia Bíblica................................................................................................... 35 5.5.7. Teologia Histórica................................................................................................ 35 5.5.8. Teologia Dogmática............................................................................................. 36 5.5.9. Teologia Prática................................................................................................... 36 5.5.10. Teologia de Processo......................................................................................... 36 5.5.11. Teologia da Esperança...................................................................................... 36 5.5.12. Teologia da Evolução....................................................................................... 36 5.5.13. Teologia da Libertação..................................................................................... 37 5.5.14. Teologia da Prosperidade.................................................................................. 37 5.5.15. Teologia das Religiões...................................................................................... 37 3 5.5.16. Teologia Sistemática............................................................................................ 38 5.5.17. Teologia Apofática................................................................................................. 38 5.5.18. Teologia Ascética....................................................................................................38 5.5.19. Teologia Moral........................................................................................................38 5.5.20. Teologia católica Romana......................................................................................385.5.21. Teologia Luterana...................................................................................................38 5.5.22. Teologia Anabatista................................................................................................39 5.5.23. Teologia Arminiana................................................................................................39 5.5.24. Teologia Wesleyana................................................................................................39 5.5.25. Teologia Existencial................................................................................................39 5.5.26. TeologiaParística.....................................................................................................39 5.5.27. Teologia Reformada................................................................................................40 5.5.28. Teologia Clássica.....................................................................................................40 6. Método do Estudo da Teologia.................................................................................... 40 6.1. Método Especulativo................................................................................................ 40 6.2. Método Místico........................................................................................................ . 40 6.3. Método Indutivo........................................................................................................ 41 CAPÍTULO II - A REVELAÇÃO E A PALAVRA DE DEUS.................. 41 1. Revelação Geral.......................................................................................................... 41 1.1. Efeitos da revelação Geral....................................................................................... 41 2. Revelação Especial...................................................................................................... 42 2.1. Características da Revelação Especial...................................................................... 42 3. Revelação na Teologia Contemporânea...................................................................... 42 3.1. A revelação mediante a Palavra............................................................................... 42 4. A Doutrina da Palavra de Deus................................................................................... 44 4.1. Conceituação bíblica sobre a Palavra de Deus......................................................... 44 4.2. O Cânon da Escrituras.............................................................................................. 44 4.2.1. O Cânon do Antigo Testamento............................................................................ 44 4.2.2 O Cânon do Novo Testamento............................................................................... 45 4.3. Teorias Sobre a Inspiração....................................................................................... 48 4.3.1. Teoria da Intuição................................................................................................. 48 4.3.2. Teoria da Iluminação............................................................................................ 48 4.3.3. Teoria do Ditado................................................................................................... 48 4.3.4. Teoria da Dinâmica............................................................................................... 48 4.4. A Inerrância das Escrituras...................................................................................... 48 4.4.1. Definição de Inerrância......................................................................................... 48 4.4.2. A inerrância bíblica e o emprego da linguagem comum....................................... 49 4.4.3. Maneira de citar a palavra..................................................................................... 49 4.4.4. A inerrância e as constatações gramaticais incomuns........................................... 49 4.4.5. A importância da inerrância.......................................................................................49 4.4.6. Desafios atuais para a inerrância........................................................................... 50 CAPÍTULO III -A DOUTRINA DE DEUS................................51 1. Conceito....................................................................................................................... 51 2. A existência de Deus................................................................................................... 51 2.1.Transcendência e imanência de Deus............................................................................52 3. Argumentos da Existência de Deus............................................................................. 52 4 3.1. Argumento Cosmológico......................................................................................... 53 3.2. Argumento Teleológico............................................................................................ 53 3.3. Argumento Moral..................................................................................................... 53 3.4. Argumento Ontológico............................................................................................. 54 4. Conhecimento de Deus................................................................................................ 54 5. Atributos de Deus........................................................................................................ 55 5.1. Classificação dos Atributos de Deus........................................................................ 55 5.2. Os Nomes de Deus................................................................................................... 56 5.2.1. No Antigo Testamento.......................................................................................... 56 5.2.2. No Novo Testamento............................................................................................ 57 5.3. Os Atributos Incomunicáveis de Deus.................................................................... 57 5.3.1. Auto-existência de Deus...................................................................................... 57 5.3.2. Imutabilidade de Deus......................................................................................... 57 5.3.3. Unidade de Deus................................................................................................. 58 5.3.4. Eternidade de Deus............................................................................................. 58 5.4. Os Atributos Comunicáveis de Deus..................................................................... 59 5.4.1. Espiritualidade.................................................................................................... 59 5.4.2. Invisibilidade...................................................................................................... 60 5.5. Atributos Intelectuais de Deus.............................................................................. 60 5.5.1. Conhecimento de Deus...................................................................................... 60 5.5.2. Sabedoria de Deus............................................................................................. 60 5.5.3. Veracidade de Deus........................................................................................... 60 5.6. Atributos Morais de Deus.................................................................................... 61 5.6.1. Bondade de Deus.............................................................................................. 61 5.6.2.Justiça de Deus................................................................................................. 62 5.6.3. Zelo de Deus.................................................................................................... 62 5.6.4. Ira de Deus....................................................................................................... 62 5.7. Atributos de Propósito de Deus........................................................................... 62 5.7.1. A Vontade de Deus em Geral................................................................................ 62 5.7.2. O Poder Soberano de Deus.................................................................................... 63 CAPÍTULO IV - DOUTRINA DA TRINDADE...............................................................60 1. Três Reconhecidos como Deus, na Escritura.............................................................. 61 1.1. Indicação da Trindade no Antigo Testamento.......................................................... 61 1.2. Provas do Novo Testamento sobre a Trindade......................................................... 62 2. Três declarações sobre a Trindade............................................................................... 63 2.1. Deus é três pessoas................................................................................................... 63 2.2. Cada Pessoa é Deus.................................................................................................. 63 2.3. Só há um Deus.......................................................................................................... 64 2.3.1. Teoria do modalismo............................................................................................. 64 2.3.2. Teoria gnóstica...................................................................................................... 64 2.3.3. Teoria do arianismo............................................................................................... 64 2.3.4. Teoria do subordinacionismo................................................................................ 65 3. Três Pessoas, uma só Essência................................................................................... 65 CAPÍTULO V - A DOUTRINA DA CRIAÇÃO.............65 1. Prova Bíblica da Doutrina da Criação........................................................................ 66 2. A Idéia da Criação...................................................................................................... 66 5 2.1. A criação, ato do Deus Triúno.................................................................................. 66 2.2. A criação, ato livre de Deus...................................................................................... 66 2.3. A criação, ato temporal de Deus............................................................................... 67 2.4. A criação, ato produzido do nada............................................................................. 67 3. Teorias Incompatíveis com os Ensinamentos das Escrituras...................................... 67 3.1. Teorias Seculares..................................................................................................... 67 3.2. Teoria da Evolução Teísta........................................................................................ 67 3.3. Teoria Darwiniana da Evolução............................................................................... 68 4. Teorias que se opõem à Origem do Mundo................................................................. 68 4.1. Dualismo................................................................................................................... 68 4.2 .Emanação................................................................................................................ 69 4.3. Criação a Partir da Eternidade................................................................................. 69 4.4. A Evolução............................................................................................................... 69 5. O Fim de Deus na Criação........................................................................................... 70 5.1. De Acordo com a Bíblia........................................................................................... 70 5.2. De acordo com a Razão............................................................................................ 70 CAPÍTULO VI - A DOUTRINA DOS ANJOS........................................................ 71 1. Três Tipos de Seres Celestes....................................................................................... 71 1.1. Os querubins............................................................................................................. 71 1.2. Os serafins................................................................................................................ 71 1.3. Os seres viventes...................................................................................................... 71 2. A Natureza dos Anjos................................................................................................. 71 2.1. Os seres são criados................................................................................................. 71 2.2. São seres espirituais................................................................................................. 71 2.3. São seres pessoais.................................................................................................... 72 3. Número e Organização dos Anjos............................................................................... 72 3.1. A organização dos querubins.................................................................................... 72 3.2. A organização dos serafins....................................................................................... 73 3.3. Outras classes de anjos............................................................................................. 73 4. Tarefa dos Anjos.......................................................................................................... 73 5. Os Anjos Maus............................................................................................................ 74 6. O Anjo do Senhor........................................................................................................ 74 7. O Ministério de Jesus.................................................................................................. 74 8. O Cristão e os Demônios............................................................................................. 74 CAPÍTULO VII - A DOUTRINA DA PROVIDÊNCIA....................................................75 1. Definição..................................................................................................................... 75 2. Prova Bíblica............................................................................................................... 75. 3. Prova Racional............................................................................................................. 75 3.1. Argumentos a priori dos atributos de Deus.............................................................. 75 3.2. Argumentos posteriori a partir da natureza e da história......................................... 76 4. Teorias Opostas à Doutrina da Providência................................................................ 76 4.1. Fatalismo.................................................................................................................. 76 4.2. Casualismo...............................................................................................................76 4.3. Providência Geral..................................................................................................... 76 6 CAPÍTULO VIII - A DOUTRINA DO HOMEM........................................................... 77 1. A Origem do Homem.................................................................................................. 77 1.1. Relato Bíblico........................................................................................................... 77 1.2. Teorias Sobre a Origem do Homem......................................................................... 77 1.2.1. Geração Espontânea.............................................................................................. 77 1.2.2 Evolucionista.......................................................................................................... 77 2. A Unidade da Raça Humana....................................................................................... 78 2.1. A Afirmação da Escrituras....................................................................................... 78 2.2. Afirmação da Ciência............................................................................................... 78 2.2.1. Do ponto de vista histórico.................................................................................... 78 2.2.2. Do ponto de vista filológico.................................................................................. 78 2.2.3. Do ponto de vista psicológico............................................................................... 79 2.2.4.Do ponto de vista fisiológico................................................................................. 79 3. Elementos Essenciais da Natureza Humana............................................................... 79 3.1. Teoria Dicotomista.................................................................................................. 79 3.2. Teoria Tricotomista................................................................................................. 79 4. Teorias Sobre a Origem da Alma............................................................................... 80 4.1. Criacionismo........................................................................................................... 80 4.2. Traducianismo......................................................................................................... 80 4.3. Pré-Existencialismo................................................................................................. 81 5. Estado Original do Homem........................................................................................ 81 5.1. Essência do Estado Original do Homem................................................................. 81 5.1.1. Semelhança natural com Deus, ou pessoalidade.................................................. 81 5.1.2. Semelhança moral com Deus, ou Santidade........................................................ 82 IX PARTE – A DOUTRINA DO PECADO................................................................. 82 1. Definição.................................................................................................................... 82 2. Teorias Filosóficas sobre a natureza do pecado.......................................................... 82 2.1. Teoria Dualista......................................................................................................... 82 2.2. Teoria de que o pecado é mera privação.................................................................. 83 2.3. teoria de que o pecado é egoísmo............................................................................. 83 3. Idéias de Pecado, de acordo com a Bíblia................................................................... 84 3.1. O Pecado é o mal, num caráter específico................................................................ 84 3.2. O Pecado tem caráter absoluto;................................................................................ 84 3.3. O pecado é em relação a Deus.................................................................................. 84 3.4. O pecado inclui a culpa e corrupção......................................................................... 84 3.5. O Pecado como hábitos pecaminosos....................................................................... 84 4. A Origem do Pecado................................................................................................... 84 4.1. Ato Pessoal de Adão................................................................................................ 85 4.2. Narrativa bíblica da tentação e queda...................................................................... 85 5. Conseqüências da queda de Adão............................................................................... 85 5.1. A Morte.................................................................................................................... 85 5.2. Exclusão da presença de Deus................................................................................. 85 6. O Pecado de Adão e a sua Posteridade....................................................................... 85 6.1.Conceito de Pelágio sobre o pecado......................................................................... 86 6.1.1. Liberdade da vontade........................................................................................... 86 6.1.2.O pecado consiste na escolha deliberada do mal.................................................. 86 6.1.3. Não existe pecado original................................................................................... 86 7 6.1.4. O pecado de Adão apenas prejudicou a ele próprio............................................. 86 6.1.5. O homem não é contaminado pelo pecado original.............................................. 86 6.1.6. Os homens podem ser salvos sem o evangelho.................................................... 86 6.1.7 Negação da influência do Espírito Santo............................................................... 86 6.1.8. As crianças são destituídas de caráter moral......................................................... 87 6.2. Argumento contra a Doutrina pelagiana................................................................... 87 6.2.1.Contradiz a consciência comum dos homens......................................................... 87 6.2.2. Contraria a natureza moral do homem.................................................................. 87 6.2.3. Confunde liberdade com capacidade..................................................................... 87 6.2.4. Não explica a pecaminosidade universal dos homens........................................... 87 6.2.5. Não satisfaz a natureza humana............................................................................. 87 6.2.6. Torna a redenção impossível................................................................................. 87 6.2.7. É totalmente contrária a Palavra de Deus.............................................................. 87 CAPÍTULO IX - DOUTRINA DA SALVAÇÃO OU SOTERIOLOGIA....................... 87 1. Preparação histórica para a Redenção......................................................................... 87 1.1. Na história do mundo pagão..................................................................................... 87 1.2. Na história de Israel.................................................................................................. 88 2. A Pessoa de Cristo....................................................................................................... 88 2.1. Pontos de Vista sobre a pessoa de Cristo................................................................ 88 2.1.1. Os ebionitas...........................................................................................................88 2.1.2. Os Docetistas......................................................................................................... 88 2.1.3. Os Arianos............................................................................................................. 89 2.1.4. Os Apolinaristas.................................................................................................... 89 2.1.5. Os Nestorianos...................................................................................................... 89 2.1.6. Os Eutiquianos..................................................................................................... 89 2.1.7. A Doutrina Ortodoxa............................................................................................ 89 3. As Duas Naturezas de Cristo....................................................................................... 90 3.1. A Humanidade de Cristo......................................................................................... 90 3.1.1. O nascimento virginal de Cristo......................................................................... 90 3.1.2.Fraquezas e Limitações Humanas......................................................................... 90 3.2. A Divindade de Cristo............................................................................................. 90 4. A Obra Expiatória de Cristo....................................................................................... 91 4.1. A Causa da Expiação............................................................................................... 91 5. Os Ofícios de Cristo.................................................................................................... 92 5.1. Cristo como Profeta.................................................................................................. 92 5.2. Cristo como Sacerdote.............................................................................................. 93 5.3. Cristo como Rei........................................................................................................ 93 CAPÍTULO X - A DOUTRINA DA ELEIÇÃO...........................................................94 1. Definição..................................................................................................................... 94 2. Argumentos que favorecem a doutrina da eleição...................................................... 94 2.1. O direito soberano de Deus...................................................................................... 94 2.2. A maneira de Deus distribuir a sua graça................................................................. 94 2.3. Passagens bíblicas que justificam a doutrina da eleição.......................................... 94 3. Argumentos contrários a doutrina da eleição.............................................................. 95 3.1. Não há opção de aceitar a Cristo.............................................................................. 95 8 3.2. A escolha do homem não é real............................................................................... 96 3.3 Os ímpios não terão chance de crer.......................................................................... 96 3.4. Contraria o ensino bíblico........................................................................................ 96 XII PARTE – A DOUTRINA DA REGENERAÇÃO.................................................. 96 1. Definição..................................................................................................................... 96 2. Regeneração representada na bíblia............................................................................ 96 3. Necessidade da Regeneração...................................................................................... 97 4. Causa Eficiente da Regeneração................................................................................. 97 4.1. A vontade humana .................................................................................................. 97 4.2. A verdade................................................................................................................. 98 4.3. A Atuação Imediata do Espírito Santo, como causa eficiente da regeneração......... 98 4.4. Natureza da Mudança Operada na regeneração........................................................ 98 CAPÍTULO XI – A DOUTRINA DA JUSTIFICAÇÃO.................................................. 98 CAPÍTULO XII - A DOUTRINA DA ADOÇÃO.......................................................... 100 CAPÍTULO XIII – A DOUTRINA DA SANTIFICAÇÃO........................................... 100 1. A santificação, obra progressiva de Deus e do homem............................................... 100 2. A santificação começa na regeneração........................................................................ 100 3. A santificação aumenta durante toda a vida................................................................ 101 4. A santificação se completa com a morte..................................................................... 101 5. Os Agentes da Santificação......................................................................................... 101 CAPÍTULO XIV – A DOUTRINA DAS ÚLTIMAS COISAS OU ESCATOLOGIA. 101 1. Conceito....................................................................................................................... 101 2. A Morte Física............................................................................................................. 102 3. O Estado Intermediário................................................................................................ 108 4. O Sono da Alma.......................................................................................................... 110 5. A Segunda Vinda de Cristo......................................................................................... 110 6. O Milênio.................................................................................................................... 112 6.1. As três principais correntes...................................................................................... 112 6.1.1. Amilenismo........................................................................................................... 112 6.1.2. Pós-milenismo....................................................................................................... 112 6.1.3. Pré-milenismo....................................................................................................... 113 7. Ressurreição................................................................................................................ 114 8. O Juízo Final............................................................................................................... 118 8.1. Natureza do Juízo Final........................................................................................... 119 8.2. O Objetivo do Juízo Final........................................................................................ 119 8.3. Estado Final dos Justos e dos Ímpios...................................................................... 120 8.3.1. Dos justos............................................................................................................. 120 8.3.2. Dos ímpios........................................................................................................... 121 II PARTE ECLESIOLOGIA 1. Histórico do Nome...................................................................................................... 122 9 2. Definição de Igreja...................................................................................................... 122 2.1. Figuras que designam a igreja..................................................................................123 3. A natureza da Igreja.................................................................................................... 123 3.1. A igreja é invisível, ainda que visível...................................................................... 123 3.2. A igreja é local e universal....................................................................................... 124 3.3. Metáforas da igreja................................................................................................... 124 4. Oficiais da igreja.................................................................................................. 124 5.A igreja e o reino de Deus............................................................................................ 124 6. Propósitos da Igreja..................................................................................................... 124 6.1. Em relação a Deus.................................................................................................... 124 6.2. Em relação aos cristãos........................................................................................... 124 6.3. Em relação ao mundo............................................................................................... 124 7. A Origem da Igreja...................................................................................................... 125 8. Governo da Igreja........................................................................................................ 125 8.1. Governo congregacional........................................................................................... 125 8.2. Governo episcopal.................................................................................................... 126 8.3. Governo oligárquico.................................................................................................. 126 8.4. Governo monárquico................................................................................................ 126 9. Ordenação de Oficiais................................................................................................. 126 10. A Disciplina na Igreja................................................................................................ 127 10.1.A finalidade da disciplina eclesiástica..................................................................... 127 10.2. Como deve ser a disciplina eclesiástica ?.............................................................. 127 103. Tipos de disciplina.................................................................................................. 127 10.3.1. Disciplina formativa............................................................................................ 127 10.3.2. Disciplina corretiva............................................................................................. 128 10.3.3. disciplina cirúrgica.............................................................................................. 128 11. A Igreja e Suas Ordenanças.................................................................................... 128 11.1. O Batismo............................................................................................................ 128 11.1.1. Quem deve ser Batizado ?................................................................................ 129 11.1.2. Batismo de Criança........................................................................................... 129 11.2. A Ceia.................................................................................................................. 129 11.2.1. Administração da ceia....................................................................................... 130 11.2.2. Tipos de ceia..................................................................................................... 130 11.2.3. Simbolismo da ceia........................................................................................... 130 12. Relação entre Igrejas Locais................................................................................... 131 12.1. Consultas especiais de interesse comum............................................................. 131 12.2. Modo como uma igreja se relaciona com outra da mesma denominação........... 132 12.3. O Relacionamento da Igreja com igreja de outras denominações....................... 132 12.4. O Relacionamento da Igreja com a Denominação............................................... 132 11.5. O Relacionamento da Igreja com o estado........................................................... 132 13. Características da Igreja........................................................................................... 133 13.1. santidade............................................................................................................... 133 13.2. Unidade................................................................................................................. 133 123.3. Autoridade............................................................................................................ 134 14. A Igreja e os Sacramentos....................................................................................... 134 15. A Igreja e a Prática do Culto................................................................................... 135 15.1. Significado do Culto............................................................................................ 135 15.2. Há vários meios de expressar o culto.................................................................. 135 16. Aspectos Legais da Igreja...................................................................................... 136 16.1.A Igreja e o Pastor................................................................................................ 136 10 17. O Pastor e o Vínculo Empregatício........................................................................ 136 18. Salário Pastoral....................................................................................................... 137 19. Documentos Obrigatórios da Igreja........................................................................ 137 19.1. Estatuto................................................................................................................. 137 19.2. Inscrição no Cadastro do CNPJ............................................................................ 137 19.3. Carimbo do CNPJ................................................................................................. 138 19.4. Livro de inspeção................................................................................................. 138 19.5. Livro Caixa........................................................................................................... 138 19.6. Livro de Ata.......................................................................................................... 138 19.7. Rais....................................................................................................................... 138 19.8. Declaração de Isenção do imposto de renda de pessoa jurídica........................... 138 19.9. Matrícula da igreja no INSS................................................................................. 138 19.10. Inscrição de taxa de funcionamento................................................................... 138 19.11. Ata de Eleição da Última Diretoria.................................................................... 138 19.12. Imposto Sindical Patronal................................................................................... 138 20. Características da Igreja Primitiva........................................................................... 138 20.1. Fraternidade.......................................................................................................... 139 20.2. Autoridade............................................................................................................139 20.3. União.................................................................................................................... 139 20.4. Revestimento Espiritual........................................................................................ 140 20.5. As Ordenanças..................................................................................................... 141 20.6. O Sustento Financeiro.......................................................................................... 141 21. A Igreja e os Dons espirituais................................................................................. 142 21.1. Passagens bíblicas que apresentam os dons espirituais........................................ 142 21.2. O propósito dos dons espirituais........................................................................... 143 21.2.1. Os dons são concedidos para glorificar a Deus................................................. 143 21.2.2. Os dons são dados para equipar os membros do corpo de Cristo..................... 143 21.2.3. Os dons são dados para edificação.................................................................... 143 21.3. A importância dos dons espirituais....................................................................... 143 21.3.1. Os dons espirituais constituem uma doutrina relevante.................................... 143 21.3.2. A doutrina dos dons espirituais engrandece a soberania de Deus..................... 143 21.3.3. A doutrina é valiosa para o crescimento do corpo de Cristo............................. 143 21.3.4. A doutrina dos dons espirituais é de suma importância para cada crente......... 143 21.4. A durabilidade dos dons espirituais..................................................................... 144 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................... 146 11 PARTE I TEOLOGIA SISTEMÁTICA CAPÍTULO I INTRODUÇÃO À TEOLOGIA SISTEMÁTICA O termo Teologia, etimologicamente é composto de duas palavras gregas: Theos (Deus) e Logos (palavra, fala, expressão). Tanto Cristo, a Palavra Viva, como a Bíblia, a Palavra Escrita, são o logos de Deus. A teologia é uma palavra, uma fala ou expressão sobre Deus; uma doutrina sobre Deus. É o estudo sobre a revelação de Deus que é a expressão dos Seus pensamentos; é o estudo sobre Deus, sua obra e sua revelação. Embora não encontremos nas Escrituras a palavra teologia, ela é bíblica, em seu caráter. Em Rom. 3:2 encontramos Ta logia – Ton Theon (os oráculos de Deus); em I Pedro 4:11 encontramos Logia Theon (oráculos de Deus), e em Lucas 8:21 temos Ton Logon Ton Theon (a Palavra de Deus). Nenhuma consideração sobre Deus seria completa se não abordasse Suas obras e Seus caminhos no universo que Ele criou, além de Sua Pessoa. Deus se revelou na criação e nas Escrituras e a verdade achada pelas ciências naturais e sociais, por cristão ou não cristão, não é verdade profana, é verdade sagrada de Deus (Cl. 2:3). Toda verdade é verdade de Deus onde quer que ela esteja localizada. Toda verdade, onde quer que seja encontrada, tem peso e valor iguais como verdade, como qualquer outra verdade. 1. Definições de Teologia a) Chafer: Uma ciência que segue um esquema ou uma ordem humana de desenvolvimento doutrinário e que tem o propósito de incorporar no seu sistema a verdade a respeito de Deus e o Seu universo a partir de toda e qualquer fonte (Lewis Sperry Chafer). b) Chafer: Teologia sistemática pode ser definida como a coleção cientificamente arrumada, comparada, exibida e defendida de todos os fatos de toda e qualquer fonte referentes a Deus e às Suas obras. Ela é temática porque segue uma forma de tese humanamente idealizada, e apresenta e verifica a verdade como verdade (Lewis Sperry Chafer). c) Alexander: A ciência de Deus... um resumo da verdade religiosa cientificamente arranjada, ou uma coleção filosófica de todo o conhecimento religioso (W. Lindsay Alexander). d) Hodge: A teologia sistemática tem por objetivo sistematizar os fatos da Bíblia, e averiguar os princípios ou verdades gerais que tais fatos envolvem (Charles Hodge). e) Strong: A ciência de Deus e dos relacionamentos de Deus com o universo (A. H. Strong). f) Thomas: A ciência é a expressão técnica das leis da natureza; a teologia é a expressão técnica da revelação de Deus. Faz parte da teologia examinar todos os fatos espirituais da revelação, calcular o seu valor e arranjá-los em um corpo de ensinamentos. A doutrina, assim, corresponde às generalizações da ciência (W. H. Griffith Thomas). g) Shedd: Uma ciência que se preocupa com o infinito e o finito, com Deus e o universo. O material, portanto, que abrange é mais vasto do que qualquer outra ciência. Também é a mais necessária de todas as ciências (W. G. T). h) Tillich; Teologia é a interpretação metódica dos conteúdos da fé cristã. 12 2. Objetivo da Teologia Sistemática No estudo da Teologia Sistemática, o que se pretende é selecionar fatos que nos façam conhecer melhor a pessoa de Deus, as Suas relações com o universo, e organizá-los num sistema racional. A finalidade da Teologia Sistemática não é criar fatos, mas descobri-los e organizá-los num sistema. A Teologia Sistemática descobre fatos e relações, mas não cria os fatos; trata de fatos objetivos e suas relações, assim a disposição destes fatos não é opcional, mas determinada pela natureza da matéria de que ela trata. A verdadeira teologia repensa os pensamentos de Deus e os põe na disposição de Deus. A razão básica para estudar Teologia Sistemática, é que ela nos capacita a ensinar a nós mesmos e a outros o que a Bíblia toda diz. O estudo da Teologia Sistemática nos ajuda a vencer nossas idéias erradas. Se existem áreas em que nosso entendimento do ensino da Bíblia é inadequado, é útil para nós o fato de sermos confrontados com o peso total do ensino das Escrituras sobre o assunto, de modo que sejamos convencidos mais rapidamente, mesmo contra nossas inclinações iniciais erradas. Estudar Teologia Sistemática ajuda a nos tornarmos capazes de tomar decisões melhores em novas questões de doutrinas que possam surgir. Estudar Teologia Sistemática irá nos ajudar a crescer como cristãos. Quanto mais soubermos a respeito de Deus, de Sua Palavra, do Seu relacionamento com o mundo e com a humanidade, mais vamos confiar nEle e obedecer-lhe mais prontamente. 3. Relação da Teologia com outras disciplinas A preocupação em definir Teologia Sistemática é responder o que a Bíblia como um todo nos ensina sobre qualquer tópico. Para entendermos o que a Bíblia nos diz acerca de vários assuntos Teológicos não podemos nos prender na Teologia Histórica (estudo histórico de como os cristãos em diferentes períodos entenderam vários tópicos teológicos), nem na Teologia Filosófica (estudo de tópicos teológicos, em grande parte, sem o uso da Bíblia, mas mediante o emprego dos instrumentos e métodos do universo), nem na Apologética (que fornece uma defesa da veracidade da fé cristã com o propósito de convencer incrédulos). Ao longo dos nossos estudos estaremos abordando questões históricas, filosóficas e apologéticas. Isto porque o estudo histórico nos informa sobre as percepções obtidas e os erros cometidos anteriormente por outras na compreensão das Escrituras; o estudo filosófico ajuda-nos a entender formas corretas ou erradas de pensamentos comuns em nossa cultura e em outras; e o estudo apologético ajuda-nos a aplicar os ensinos das Escrituras contra as objeções levantadas por incrédulos. Mesmo que os estudos históricos e filosóficos contribuam para nossa compreensão de questões teológicas, só as Escrituras Sagradas têm a autoridade final para definir aquilo em que devemos crer. A Teologia Sistemática também se diferencia da Teologia do AntigoTestamento, da Teologia do Novo Testamento e da Teologia Bíblica. Essas três disciplinas organizam seus tópicos historicamente e na ordem em que são apresentadas na Bíblia. Exemplo: Qual o ensino de Deuteronômio sobre a oração? Qual o ensino dos Salmos sobre oração? Qual o ensino de Isaías sobre oração? Qual o ensino do Evangelho de João sobre oração? Qual o ensino das Epístolas de Paulo sobre oração? 13 A Teologia Bíblica da atenção especial aos ensinos de autores específicos e seções da Bíblia e ao papel de cada ensino no desenvolvimento histórico do ensino sobre oração através da história do Antigo Testamento e, depois, do Novo Testamento. 3.1. Relação da Teologia com a Religião É impossível a existência da Teologia sem a religião. É necessário que tenhamos uma idéia clara de religião, pois dela depende a teologia. Religião é a vida do homem nas suas relações sobre-humanas. Isto é, a vida do homem em relação ao Poder que o criou, à autoridade suprema acima dele e ao ser invisível com quem o homem é capaz de ter comunhão. Religião é vida em Deus. A religião é sempre a vida do homem como um ser dependente de um poder, responsável para com uma autoridade e adaptável a uma comunhão íntima com uma realidade invisível. Religião é vida, Teologia é doutrina. A religião precede a teologia. O ser humano é essencialmente religioso. Religião é reelegere “reexaminar”, “ponderar cuidadosamente”. Seu sentido original é “observância reverente” (dos deveres para com os deuses). 3.2. Concepções de Religião 3.2.1. Século XIX. A sociedade do século XIX experimentou profundas mudanças. Foi um século marcado pelas modificações nas artes, nos conceitos científicos, na produção de bens de consumo, etc. Foi um século dos grandes prospectos e das máquinas, do materialismo e do material, da declaração da morte de Deus e do drama. O papado estava passando por grande humilhação. Em 1801, Napoleão, Imperador da França, acertou com o Papa Pio VII a concordata, tratado que definia as relações da igreja católica romana na França com o governo. Segundo esse tratado a igreja ficava sujeita ao estado, ou pelo menos a ele atrelada e dele dependente. Após a queda de Napoleão, Pio VII voltou a Roma e os estados papais foram restabelecidos. A igreja católica, não obstante sofrendo certas pressões no século XVIII e início do século XIX, resistiu às influências modernizantes e continuou praticando todos os seus elementos medievais. A hostilidade do papado ao progresso do mundo moderno manifestou- se de várias maneiras, desde o começo do século XIX e encontrou sua máxima expressão no SILABUS de Pio IX, publicado em 1864. Nesse documento, o Papa denuncia como “erros”, vários elementos, tais como a liberdade de consciência e de culto. O Papa demonstrava a sua revolta com as novas idéias surgidas, inclusive do ponto de vista teológico. A Reforma era o primeiro momento da Teologia Moderna e se constituía no oferecer de uma nova era teológica. O segundo momento da Teologia se evidenciou na teologia Liberal que penetra na Teologia Contemporânea. A Teologia Contemporânea surge sob as hostilidades de teólogos liberais e neo-ortodoxos. Muitos indicam Friedrich Schleiermacher (1768-1834) como o pai da Teologia Moderna. Schleiermacher elaborou uma teologia à luz do romantismo, quando o romantismo passou, a sua teologia também passou, entretanto, deixou marcas que duram até os dias de hoje. Durante os anos de 1800 a 1821, Schleiermacher atuando como pregador e professor de Teologia Sistemática, formulou a sua obra prima de Teologia Sistemática. Ele aproveitou as idéias principais do Iluminismo e Romantismo e as incorporou em um sistema teológico. Para ele cada indivíduo deve desenvolver-se como uma pessoa, distinta da outra. A vida 14 humana envolve uma tensão entre a dependência e a independência. Cada um precisa afirmar sua individualidade. Além dessa auto-afirmação, cada pessoa vive num estado de dependência e esta dependência é a base da vida religiosa de cada pessoa. O homem sente-se dependente não somente de outras pessoas, mas também do infinito, do tudo, do universo, enfim, de Deus. Ele valorizou os sentimentos piedosos que apreciava desde sua formação pietista, dizendo que os sentimentos piedosos equivaliam ao senso de consciência absoluta de Deus. Schleiermacher iniciou a Teologia Liberal Protestante, um movimento que desenvolveu durante o século XIX. A Teologia Liberal protestante diminuiu o peso doutrinário da fé. E pouco enfatiza o pecado, tendo uma visão otimista, embora pouco profunda, da natureza humana A partir de 1850, um grupo de teólogos trabalhava por uma teologia reduzida, mas que fosse voltada para questões éticas. Por isso, esses teólogos rejeitaram o sistema que herdaram de Schleiermacher. A Teologia Liberal protestante recebeu sua expressão plena do professor Albrecht Ritschl (1822-1889). A Teologia Moderna é marcada pelo revisionismo, isto é, um movimento teológico moderno que tinha como objetivo a busca do Cristo histórico, por isso pretendiam fazer uma biografia corrigida de Cristo, e Ritschl é o primeiro dos revisionistas. Entre 1870 e 1874, Ritschl publicou, em três volumes, sua obra-prima: Die Christliche Lehre von der Rechtfertigung und Versohnung (A Doutrina Cristã da Justificação e Reconciliação). Os três volumes desta obra falam sobre (1) Novo Testamento; (2) História do Cristianismo; (3) Teologia Sistemática. Ritschl argumentou que os ortodoxos dos seus dias erraram por confundirem a doutrina cristã com a metafísica. Ele eliminou a metafísica da teologia. Rejeitando a metafísica ele estava indo contra a ortodoxia protestante. Também Ritschl atacou o misticismo e assim fazendo, ele estava atacando o pietismo, como uma infiltração do misticismo no pensamento cristão. Isto era outra ala do protestantismo alemão. Teólogos do século XIX como Albrecht Ritschl (1822-1889) e Ernst Troeltsch (1865- 1923) procuravam encontrar o espaço da teologia no mundo pós-Kantiano. Talvez tenha sido o teólogo suíço Karl Barth (1886-1968) quem alcançou o melhor resultado nesta direção. Barth, inspirado por críticos como Soren Kierkegaard (1813-1855), Friedrich Nietzsch (1844- 1900), Wilhelm Herrmann (1946-1922) e Albert Schweitzer (1875-1965), deu início a uma teologia não iluminista e pós-Kantiana que não se evaporasse à medida que fosse produzida, que não fosse redutível a nada além da teologia cristã propriamente e da revelação de Deus em Cristo Jesus. Na teologia de Barth, não é a infinita bondade de Deus que é salientada, como na teologia deísta, mas o juízo divino sobre tudo que se revela humano, sobremodo humano, inclusive a religião A teologia moderna foi construída com base em Kant e Hegel. A teologia liberal foi constituída nos pressupostos iluministas racionalistas. A forma da teologia liberal encontra-se no idealismo gnóstico de Kant. A teologia contemporânea tem base em Soren Kierkgaard, Heidegger, Nietzche e Marx. Dentro da teologia contemporânea destacam-se: Karl Barth, Brunerr, Paul Tillich, Bultmann, Oscar Culmann, Bonhofer, todos estes, entre os protestantes. Entre os ortodoxos: Bulgakov, Floroswsky e Lossoky. Entre os católicos: Teilhard de Chardin, Guardini Ranner, Lonergan, Schilebuckk, Von Balthasar e outros. 3.2.2. Iluminismo É um movimento cultural que se desenvolveu na Inglaterra, Holanda e França, nos séculos XVII e XVIII. Defendia o domínio da razão sobre a visão teocêntrica que dominava a Europa desde a Idade Média. 15 O iluminismo marcou o cumprimento da transição entre a era antiga e a moderna. Os pensadores não estavam mais dispostos a aceitar os antigosdogmas, baseando-se apenas no fato de que pertenciam ao sistema recebido através da doutrina da igreja. Isto destronou a hierarquia eclesiástica e abalou suas fundações de autoridade. Nessa época procurou-se alcançar o equilíbrio entre as verdades da transcendência e imanência divinas. Os defensores do Iluminismo acreditavam que o pensamento racional deveria substituir as crenças religiosas e o misticismo que, segundo eles, bloqueavam a evolução do homem. O homem deveria ser o centro e passar a buscar respostas para as questões que, até então, eram justificadas somente pela fé. O francês René Descartes (1596-1650) é considerado o pai do racionalismo. Em sua obra “Discurso do Método”, ele recomenda, para se chegar à verdade, que se duvide de tudo, mesmo das coisas, aparentemente verdadeiras. A partir da dúvida racional pode-se alcançar a compreensão do mundo, e mesmo de Deus. Tipificou o início da Idade da Razão e influenciou grandemente o pensamento subseqüente. Desse tempo em diante, o sujeito pensante, e não a revelação divina passou a ser o ponto de partida para a filosofia. Os teólogos sentiram a necessidade ou de construir sobre a fundação da filosofia racionalista, aceitando a primazia da razão ou de negar que a razão por si só, é capaz de gerar conhecimento sobre as realidades eternas. A ênfase na voz interior da razão, ao invés de na voz de Deus vinda do alto, criou o pano de fundo para a valorização da imanência, que é característica da teologia moderna a partir de Descartes. A razão foi o primeiro princípio do Iluminismo. Foi dada uma ênfase muito forte à capacidade racional do ser humano. O princípio da razão, portanto, referia-se à capacidade humana de aprender com a ordem fundamental de todo universo. A Idade da Razão marcou a emancipação da cultura em relação ao domínio da igreja e do cristianismo. O movimento em direção à autonomia veio como resultado inevitável da nova mentalidade da época, dando início a outra visão da natureza da religião. A “religião natural” do Iluminismo ou a religião da razão substituiu o enfoque característico da Idade Média e da Reforma sobre o dogma e a doutrina. O caminho intelectual para a primazia da religião natural sobre a religião revelada foi aberto pelo empirismo britânico de John Locke. Os teólogos deístas desejam reduzir a religião a seus elementos mais básicos, universais e, portanto, racionais. Eles diziam que pelo fato de a religião natural ser racional, todas as religiões, inclusive o cristianismo, deveriam estar em conformidade com ela. Como resultado, os vários dogmas da igreja considerados revelação já não serviam mais de parâmetros. Ao invés disso, as doutrinas deveriam ser avaliadas através da comparação com a religião da razão. O resultado foi uma religião que consistia em um número mínimo de dogmas para se crer. O Deus dos deístas era uma divindade distante e radicalmente transcendente. Ainda assim, a perspectiva do Iluminismo esforça-se para ligar Deus à natureza e à razão humana de forma tão próxima que a transcendência de Deus acabou fundindo-se com a imanência dentro do universo ordenado da criação e da razão. Ao invés de olhar além do mundo para encontrar Deus, o iluminismo voltou-se para dentro. No fim do século XVIII, a Era do Iluminismo já havia completado o seu ciclo, especialmente na Inglaterra. Muitos pensadores concluíram que a razão é uma resposta inadequada para as questões básicas sobre Deus, moralidade e sentido da vida. Os três transformadores da teologia do século XIX foram os alemães: Immanuel Kant, G.W.F.Hegel e Friedrich Schleiermacher. Eles eram parecidos, no sentido de que cada um buscava criar um espaço para o elemento religioso da vida. Porém diferenciam acentuadamente, pois cada um propunha uma dimensão distinta como essência da religião, a 16 moral (Kant) a sua principal obra foi “Crítica da Razão Pura” (1781) a intelectual (Hegel) e a intuitiva (Schleiermacher). Kant, no prefácio à segunda edição da sua obra Crítica da razão pura, ele diz: ”Só a critica pode cortar pela raiz o materialismo, o fatalismo, o ateísmo, a incredulidade dos espíritos fortes, o fatalismo e a superstição, que podem tornar nocivos a todos e, por último, também o idealismo e o ceticismo que são, sobretudo, perigosos para as escolas e dificilmente se propagam no público’.1 Kant argumentava que o homem não é apenas um ser de experiências sensoriais, mas é também um ser moral. O mundo é, na verdade, um palco no qual os seres humanos desempenham seus papéis; é uma esfera de valor moral. A cristologia de Kant foi moldada por sua visão da religião como sendo essencialmente ética. Para ele, o cristianismo não passava de um meio para o estabelecimento do bem comum ético, um estágio dentro da introdução gradual da “fé religiosa pura”. Kant argumentava que para a religião era fundamental certa dimensão particular da existência humana, a experiência do condicionamento moral que estava ligado ao aspecto prático da razão. Para Kant, a esfera moral é o âmbito apropriado para a religião. Kant não foi capaz de superar certas tendências destrutivas do seu tempo. Ele procurou definir religião como a devoção a um legislador transcendente cuja vontade deve ser o objetivo da humanidade. Hegel propôs superar obstáculos impostos pelo iluminismo sobre o empreendimento teológico, através da construção de uma grande fusão da teologia com a filosofia. Para ele, religião é pensamento no sentido de que se concentra no conhecimento de Deus. A religião e a filosofia buscam apresentar a mesma verdade, mas de maneira diferentes. A religião apropria- se da verdade na forma de imagem e representações, enquanto a filosofia capta a mesma verdade em sua “necessidade racional”. A visão de Hegel sobre a unidade entre Deus e o mundo foi uma forte opção para a teologia. Ele afirmou: “Sem o mundo, Deus não é Deus”. Queria dizer que Deus não é um ser auto-suficiente em si mesmo, Ele precisa do mundo para sua realização própria. A história do mundo também é a história de Deus. Schleiermacher elevava a vida intuitiva, uma experiência humana especial que ele chamava de “sentimento”, à posição de fundamento teológico. Ele procurou basear a teologia na experiência humana para mostrar que a religião está enraizada a uma experiência essencial para a verdadeira humanidade e é idêntica a ela; buscou reconstruir a doutrina cristã de modo que não exaltasse a Deus às causas da humanidade, mas unisse os dois de maneira intrínseca. A verdadeira fonte da reflexão teológica era a experiência religiosa. Schleiermacher defendia a religião como elemento fundamental para a natureza humana e que não podia ser reduzida a qualquer outra coisa; tentou mostrar que a essência da religião encontra-se num “elemento fundamental, distinto e integrativo da vida e da cultura humana”, o sentimento de dependência total em algo infinito que se manifesta nas coisas finitas e através delas. Ele igualou religião a sentimento; dizia que a verdadeira essência da religião está “na consciência imediata da existência finita de todas as coisas no infinito e através dele”. D 4. Fontes da Teologia 1 17 Devemos aprender de tudo o que nos possa ensinar alguma verdade acerca de Deus e das suas relações com o universo. O material da Teologia Sistemática pode vir de toda criação. Em nossa teologia cristã a fonte principal, naturalmente, é a revelação de Cristo. Em três grandes classes, pode se dividir as fontes da nossa teologia, a saber: 1) de Cristo, 2) do universo, 3) da história. É pela revelação cristã que podemos compreender o que está revelado no universo físico. Explicar o universodo ponto de vista de Deus, é relativamente fácil; mas explicar Deus do ponto de vista do universo, é absolutamente impossível. O próprio Deus deve ser a única fonte do conhecimento a respeito de seu ser e relações. A teologia é um resumo e explicação do conteúdo das revelações que Deus faz de si mesmo. Em primeiro lugar, a revelação de Deus na natureza; em segundo lugar, e supremamente, a revelação nas Escrituras. Só podemos conhecer a Deus na medida em que Ele se revela. Conhecemos o Deus imanente, mas o Deus transcendente não conhecemos. Schurman declara: “A Bíblia é uma lente através da qual se vê o Deus vivo. Mas ela é inútil quando você desvia dela os olhos”. 4.1. As Escrituras e a Natureza Natureza aqui significa não somente os fatos físicos ou os fatos relativos às substâncias, propriedades, forças e leis do mundo material, mas também os fatos espirituais ou fatos relativos à contribuição intelectual e moral do homem e o arranjo ordenado da sociedade e história humanas. Empregamos aqui a palavra “natureza” no sentido comum, incluindo o homem. O homem só pertence à natureza a respeito do seu corpo. Um outro emprego da palavra natureza a torna somente um complexo de forças e seres sob a lei de causa e efeito. 4.1.1. Teologia natural – o universo é uma fonte da teologia. As Escrituras afirmam que Deus se revelou na natureza. Testemunho externo: Salmos 19:1-3 “Os céus proclamam a glória de Deus...”; Atos 14:17 “Não se deixou a si mesmo sem testemunho, beneficiando-vos lá do céu, dando-vos chuvas e tempos frutíferos”; Rom.1:20 “Porque as coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder como a sua divindade, se entendem e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas”. Testemunho interno: Rom.1:19 “O que de Deus se pode conhecer neles se manifesta”; Rom. 1:32 “Conhecendo a justiça de Deus”; Rom. 2:15 “mostram a obra da lei escrita no seu coração”. 4.1.2. Teologia natural suplementada – a revelação cristã é a principal fonte da Teologia. A revelação de Deus na natureza não supre todo o conhecimento de que um pecador necessita (Atos 17:23; Ef.3:9). Esta revelação é suplementada por outra na qual os atributos divinos e as misericordiosas provisões, só obscuramente projetadas na natureza, tornam-se conhecidas ao homem. Esta última revelação consiste em uma série de eventos sobrenaturais e comunicações cujo registro é apresentado nas Escrituras. 4.1.3. As Escrituras, o Padrão Final de Apelo – a ciência e a Escritura lançam luz uma sobre a outra. O mesmo Espírito Divino que deu ambas as revelações ainda está presente capacitando o crente a interpretar uma pela outra e, assim, progressivamente chegar ao conhecimento da verdade. Por causa da nossa adequação e por causa do pecado, o registro total das comunicações de Deus, passado nas Escrituras, é fonte mais fidedigna da teologia do que nossas conclusões a partir da natureza, ou nossas impressões particulares do ensino do Espírito. A Escritura representa a obra do Espírito, não concedendo uma nova verdade, mas uma iluminação da mente para que perceba a plenitude do sentido que se encontra em volto na verdade, já revelada. Cristo é a verdade em quem estão escondidos todos os tesouros da 18 sabedoria e ciência. Jesus diz (Cl.2:3) que o Espírito Santo “há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar”. Entendemos que revelação cristã é a manifestação de Deus na pessoa e no trabalho de Jesus Cristo e, a preparação para a sua segunda vinda. As revelações mais acentuadas são as que se realizaram em Cristo, no que Ele era, no que Ele disse e no que fez. Após haver Jesus cumprido a sua missão, os seus discípulos, esclarecidos pelo Espírito Santo, revelaram claramente o plano de salvação ao qual Jesus viera dar cumprimento e também os efeitos da sua vinda sobre a raça humana. Podemos dizer que a revelação foi feita na vida de Jesus. Esta é a revelação completa e perfeita. Não foi feita primeiramente nas Escrituras ou palavras, mas em vida que se traduziu em atos. Êxodo 4:2-8 - Deus se revelando por meio de ato. Veja João 2:14-16. Todo o Antigo Testamento consta mais o que Deus fez do que o que Deus disse (Josué 23:3-6). Quando Deus se revelou em Cristo, seguiu o mesmo método. As Escrituras são o resultado da revelação de Deus. Deus revelou-se primeiramente na vida dos seus servos e estes depois transmitiram, por meio das Escrituras, essas revelações à posteridade. Portanto, as Escrituras são também revelações de Deus a nós. II Cor. 3:3. A encarnação é o grande princípio da revelação de Deus. Deus não queria tão somente revelar os seus pensamentos, senão também manifestar sua própria pessoa ao homem. Para conseguir isso, o único método possível era o de encarnar a Verdade numa pessoa divina o que se realizou em Jesus Cristo, que não só ensinou, mas também viveu a verdade toda a respeito de Deus. A revelação em Cristo foi completa, porque nEle e por meio dEle Deus disse tudo quanto tinha que dizer (Col.1:9; João 14:9). Jesus é a Palavra final de Deus-Pai. Por meio de Jesus abriu Deus e esgotou todo o tesouro da suas revelações e, por isso, nada mais devemos esperar além daquilo que nos trouxe Jesus. Noutro sentido, a revelação de Deus não está completa, considerando que o homem não compreendeu ainda a Jesus em toda a integridade de sua personalidade e não penetrou ainda em todas as verdades que Ele ensinou e praticou. Do ponto de vista do homem há muita coisa que aprender de Deus. Jesus mesmo disse que ia para o Pai e que o outro Consolador haveria de vir completar a revelação de Deus. A revelação está completa em Cristo. nEle se encerra tudo o que Deus tinha que manifestar ao mundo. É verdade que não nos temos apropriado desta revelação em toda a sua plenitude, mas temos a promessa de instruídos pelo Espírito Santo, compreender inteiramente a suprema revelação de Deus em Cristo Jesus. Deus se utilizou de muitos meios para se revelar, como lemos em Hebreus 1:1. Não devemos supor que na Bíblia temos tudo quanto Deus queria revelar. Seria impossível conter em livro tudo o que Deus quisesse revelar (João 21:25). Na Bíblia está o suficiente para servir-nos de guia e autoridade em todas as questões que acaso surjam em nossa vida. 4.1.4. A Teologia das Escrituras não é Antinatural – a Escritura tem o mesmo autor que a natureza, os mesmos princípios são ilustrados em uma como na outra. Todas as doutrinas da Bíblia têm sua razão na mesma natureza de Deus que constitui a base de todas as coisas materiais. O cristianismo é uma dispensação suplementar, não contradizendo ou corrigindo erros na teologia natural, porem de modo mais perfeito revelando a verdade. O cristianismo é o plano base no qual toda a criação é edificada, a verdade original e eterna cuja teologia natural é apenas uma expressão parcial. 4.2. As Escrituras e o Racionalismo 19 As Escrituras apelam para a razão em seu amplo sentido, incluindo o poder da mente de reconhecer Deus e as relações morais, não no sentido estrito de um simples raciocínio ou o exercício da faculdade puramente lógica. Por raciocínio entende-se o sistema ou teoria que atribui a razão autoridade indevida em questões religiosas. O racionalismo surgiu sob diferentes formas: 1) Racionalismo deísta, que nega ou a possibilidade ou o fato de qualquer revelação supernatural, e mantêm que a razão é tanto a fonte quanto a base de todo conhecimento e convicção religiosa. 2) Revelação supernatural – é aquele embora admita a possibilidade e o fato de uma revelação supernatural e que tal revelação está contida nas Escrituras cristãs, não obstante mantêm que as verdades reveladas são as verdades da razão, isto é, as verdades que a razão pode compreender e demonstrar.3) Dogmatismo, admite que muitas das verdades da revelação estão ocultas à razão humana e só devem ser aceitas mediante autoridade. Não obstante afirma que estas verdades, quando reveladas, admitem ser filosoficamente explicadas e estabelecidas, e emanam da esfera da fé para a do conhecimento. O racionalismo, em todas as suas formas procede da esfera do teísmo, isto é, a crença num Deus pessoal extraterreno. O oficio apropriado da razão, no sentido amplo é: a) Fornecer as idéias primárias de espaço, tempo, causa, substância, desígnio, justiça e Deus, que são as condições de todo o subseqüente conhecimento; b) Julgar com relação à necessidade de uma revelação especial e sobrenatural da parte do homem; c) Examinar as credencias da comunicação que professam ser tal revelação ou dos documentos que professam registrá-la; d) Avaliar e reduzir a um sistema os fatos da revelação, quando estes foram achados apropriadamente atestados; e) Deduzir destes fatos suas conclusões naturais e lógicas. Assim a própria razão prepara o caminho para uma revelação acima da razão e garante uma confiança em tal revelação quando dada. A razão pode reconhecer a verdade depois que ela se tornou conhecida. O racionalismo sustenta que a razão é a fonte última de toda verdade religiosa enquanto a Escritura é a autoridade só naquilo que suas revelações concordam com as conclusões prévias da razão ou pode ser demonstrada racionalmente. Cada forma de racionalismo comete ao menos um dos seguintes erros: a) Confundir a razão com o simples raciocínio ou com o exercício da inteligência lógica; b) Ignorar a necessidade de um sentimento santo como condição de toda a correta razão nos assuntos religiosos; c) Negação da nossa dependência das revelações de Deus no nosso estado presente de pecado; d) Considerar a razão desapoiada, mesmo em seu estado normal e dasapaixonada, como capaz de descobrir, compreender e demonstrar toda a verdade religiosa. 4.3. As Escrituras e o Misticismo Os que ignoram ou rejeitam a orientação das Escrituras e presumem serem guiados por uma influência divina interna para o conhecimento e obediência da verdade, são chamados entusiastas. Esse termo tem sido superado pela palavra místico. A palavra misticismo tem sido usada em sentido muito vago e indefinido. A etimologia não determina seu significado. Um místico era um iniciado no conhecimento dos mistérios gregos, alguém a quem as coisas secretas haviam sido reveladas. No sentido amplo do termo, místico é alguém que alega ver ou conhecer o que está oculto a outras pessoas, seja esse conhecimento obtido por intuição imediada, seja por revelação interior. São os que alegam estar sob a imediata orientação de Deus ou de seu Espírito. 20 Há uma iluminação das mentes de todos os crentes pelo Espírito Santo, contudo, o Espírito não faz nenhuma revelação nova da verdade já revelada por Cristo na natureza e nas Escrituras. A obra iluminadora do Espírito é, portanto, a de abrir as mentes dos homens para entenderem as revelações prévias de Cristo. Como um iniciado nos mistérios do cristianismo, cada crente verdadeiro pode ser chamado de místico. O verdadeiro misticismo é o mais alto conhecimento e comunhão que o Espírito Santo concede através do uso da natureza e da Escritura como meio subordinado e principal. Místico = iniciado, de “fechar os olhos”, provavelmente para que a alma possa ter a visão interior da verdade. Porém, a verdade divina é um “mistério”, não só como algo em que alguém deve iniciar-se, mas como (Ef.3:19) – ultrapassando o pleno conhecimento, mesmo para o crente (Rom. 11:25). 4.3.1. Os cristãos evangélicos são chamados místicos Como todos os cristãos evangélicos admitem uma influência supernatural do Espírito de Deus na alma e reconhecem uma forma mais elevada de conhecimento, santidade e comunhão com Deus, como efeito dessa influência eles são estigmatizados como místicos por aqueles que descartam toda e qualquer forma supernatural de cristianismo. Bretschneider define misticismo como “crença numa operação contínua de Deus na alma, garantida pelo exercício religioso especial, produzindo iluminação, santidade e beatitude”. Os teólogos evangélicos até concordam com esse ponto de vista, como Lange e Nitsch, eles dizem que “cada crente genuíno é um místico”. 4.3.2. Diferença entre o misticismo e a doutrina do iluminismo espiritual O misticismo não deve ser confundido com a doutrina da iluminação espiritual. As Escrituras nos ensinam que o homem natural não recebe as coisas do Espírito de Deus porque são loucuras para eles, para qualquer conhecimento salvívico da verdade, há necessidade de um ensino interior supernatural do Espírito, produzindo o que as Escrituras chamam de “discernimento espiritual”. A iluminação espiritual e misticismo diferem quanto ao seu objetivo. O objetivo do ensino interior do Espírito é capacitar-nos a discernir a verdade e a excelência do que já se revelou objetivamente na Bíblia. A iluminação alegada pelo místico comunica a verdade independentemente de sua revelação objetiva. Não se destina a capacitar-nos para apreciar o que já conhecemos, mas a comunicar novo conhecimento. Outra diferença está na maneira em que esse objetivo dever ser alcançado. O ensino interior do Espírito deve ser buscado pela oração e pelo diligente uso dos meios designados. As intuições do místico são baseadas na negligência de todos os meios, na supressão de toda a atividade interior e exterior e na espera passiva pelo influxo de Deus na alma. A terceira diferença está em seus efeitos. O efeito da iluminação espiritual consiste em que a Palavra habita em nós “em toda sabedoria e entendimento espiritual” (Col.1:9). O que habita na mente do místico são as suas próprias imaginações, o caráter das quais depende de seu próprio estado subjetivo; e o que quer que sejam, são produtos do homem, não de Deus. 4.3.3. Falso misticismo O misticismo como se usa comumente o termo, erra ao sustentar a aquisição do conhecimento religioso pela comunicação direta de Deus e da absorção passiva das atividades humanas, na divina. Parcial ou totalmente perde de vista: a) os órgãos externos da revelação, da natureza e das Escrituras; b) a atividade dos poderes humanos na recepção de todo conhecimento religioso; c) a personalidade do homem e, por conseqüência, a personalidade de Deus. O Espírito Santo opera através da verdade revelada exteriormente na natureza e na Escritura (At. 14:17; Rom.1:20; At.7:51; Ef.6:17). 21 O nosso culto dever ser “um culto racional” (Rom.12:1); a ação cega e arbitrária é inconsistente com o espírito do cristianismo. Este tipo de ação nos torna vítimas de temporário sentimento e presa do engano satânico. 4.4. As Escrituras e o Romanismo O romanismo comete o duplo erro de a) tornar a igreja, e não a Escritura, a fonte imediata e suficiente do conhecimento religioso; b) fazer a relação do individuo com Cristo depender de sua relação com a igreja, ao invés de fazer tal relação com a igreja depender, seguir e expressar sua relação com Cristo. Para o catolicismo, as Escrituras não são o completo e final, padrão de fé e pratica. Deus dá ao mundo, de tempo em tempo, através de papas, concílios, novas comunicações da verdade. Cipriano diz: “quem não tem a igreja como sua mãe não tem Deus como seu Pai”. O romanismo diz que a igreja é antes da Bíblia e que o mesmo corpo que deu a verdade no princípio pode fazer acréscimos à verdade. A Palavra de Deus existe antes que fosse escrita e por aquela palavra os primeiros discípulos bem como os posteriores foram gerados (I Pe.1:23). Em I Timóteo 3:15 diz que “a igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade”. Aigreja é a proclamadora da verdade, eleita por Deus (Fil.2:16). Os romanistas rejeitam a doutrina do racionalismo que faz da razão humana a fonte ou o padrão da verdade religiosa; rejeitam a doutrina mística de que a verdade divina é revelada a cada pessoa pelo Espírito Santo. Admitem uma revelação objetiva, supernatural. Dizem que esta revelação é em parte escrita e em parte não escrita, isto é, a regra de fé inclui tanto a Escritura quanto a tradição. 5. Divisão da Teologia Comumente a Teologia se divide em: Bíblica, Histórica, Sistemática e Prática. 5.1. Teologia Bíblica É a parte da teologia que se ocupa com a exposição do conteúdo dos ensinos dos autores bíblicos. A teologia bíblica tem como objetivo ordenar e classificar os fatos da revelação limitando-se às Escrituras quanto ao seu material e tratando a doutrina só na medida em que ela se desenvolveu até o fim da era apostólica. O material exclusivo da Teologia Bíblica é a Bíblia, serve-se da exegese bíblica. Subdivide em Teologia do AT e do NT. 5.2. Teologia Histórica É o estudo do desenvolvimento das doutrinas bíblicas no curso da história da igreja, ou seja, desde o tempo dos apóstolos até os nossos dias e dá conta dos resultados deste desenvolvimento na vida da igreja, focalizando as origens, o progresso e as aberrações doutrinárias. Pode ser subdividida em Teologia Patrística, Medieval, Teologia dos Reformadores, Teologia Contemporânea e os movimentos mais atuais como Teologia da Libertação, da Prosperidade e outras. 5.3. Teologia Sistemática É o estudo de toda a verdade cristã, no aspecto mais abrangente e sistemático tomando por base principal o material fornecido pelas Teologias bíblica e histórica, servindo-se também de outros ramos de conhecimento como a Filosofia, a História, a Psicologia, a ciência, na medida em que esses ramos do saber humano podem ajudar no esclarecimento de verdade tratada na revelação. 22 A Teologia Sistemática não é completamente uniforme e homogênea, deferindo em alguns aspectos das verdades reveladas, porque há pontos doutrinários que outros teólogos sustentam de modo diferente, com base na mesma fonte. 5.4. Teologia Prática É um sistema de verdades consideradas como um meio de renovar e santificar o homem ou, em outras palavras, a teologia em sua disseminação e reforço, sempre objetivando uma vida espiritual mais profunda. A Teologia Prática trata da aplicação das doutrinas na vida dos cristãos e da igreja. A este departamento pertencem a teologia, a homilética, o evangelismo, a ética e a teologia pastoral. 5.5 Tipos de Teologia 5.5.1. Teologia Liberal É difícil definir a Teologia Liberal. No uso popular e no meio de comunicação de massa, o termo se aplica às teologias que negam crenças tradicionais como a inspiração da bíblia ou a concepção virginal. Ela não se vincula a dogmas ou regras. Os liberais são defensores de total liberdade de expressão e pensamento. Eles se voltam para a investigação científica na filosofia e na teologia; defendem o evangelho social ou de práticas nas quais a caridade é o princípio vetor. Os liberais procuravam construir a fé cristã à luz do conhecimento moderno. A teologia cristã precisava adaptar-se à nova mentalidade científica e filosófica sem se perder. A teologia liberal caracterizou-se pelo reconhecimento máximo das afirmações do pensamento moderno; outra característica era sua ênfase na liberdade que o pensador cristão possuía como indivíduo, de criticar e reconstruir crenças tradicionais. Isto implicava na rejeição da autoridade da tradição ou da hierarquia da igreja e do controle exercido por elas sobre a teologia; outra característica é que a teologia liberal concentra-se na dimensão prática ou ética do cristianismo; outra característica é que a maioria dos teólogos liberais procurava basear a teologia em alguma outra fundação que não fosse a autoridade absoluta da Bíblia. Acreditavam que o dogma tradicional da inspiração sobrenatural das Escrituras havia sido irremediavelmente enfraquecido pela pesquisa histórico-crítica. Do ponto de vista histórico, o liberalismo se refere a um movimento do protestantismo que dominou a teologia acadêmica entre o final do século XIX e começo do século XX. Ele surgiu primeiramente na Alemanha entre alunos e seguidores de Schleiermacher e Hegel, e encontrou sua forma de maior influência na escola de Albrecht Ritschl. Há três pensadores da teologia liberal que se destacam: Albrecht Ritschl, Adolf Harnack e Walter Rauschenbusch A Teologia Liberal Clássica. Os liberais estavam decididos a reconstruir a fé cristã à luz do conhecimento moderno. A teologia cristã precisava adaptar-se à nova mentalidade científica e filosófica sem se perder. A teologia liberal caracterizou-se, segundo Claude Weich “pelo reconhecimento máximo das afirmações do pensamento moderno”. Uma segunda característica da teologia liberal era sua ênfase na liberdade que o pensador cristão possuía, como indivíduo, de criticar e reconstruir crenças tradicionais. Isto implica uma rejeição da autoridade da tradição ou da hierarquia da igreja e do controle exercido por elas sobre a teologia. Uma terceira característica da teologia liberal concentra-se na dimensão prática ou ética do Cristianismo. Ritschl e seus seguidores tinham a tendência de evitar aquilo que consideravam especulação vazia e tentavam moralizar a doutrina centrando todo o discurso teológico em torno do conceito do reino de Deus. 23 Uma quarta característica da teologia liberal está no fato de que a maioria dos teólogos liberais procurava basear a teologia em alguma outra fundação que não fosse a autoridade absoluta da Bíblia. As tradições da igreja e grande parte da própria bíblia são como “palha do milho”, que esconde dentro de si os “grãos” preciosos da verdade imutável. Os liberais não desprezavam a bíblia e nem a consideravam completamente sem valor. Para eles, a tarefa da teologia era identificar o grão, a “essência do cristianismo”, e separar toda a palha de idéias culturais e expressões que o envolviam. Para muitos teólogos liberais esta palha significava os milagres, os seres sobrenaturais como anjos e demônios e os acontecimentos apocalípticos. Havia um pensamento de que todos que aderiram à teologia liberal concordaram com a necessidade de se dar força e atualidade renovada ao cristianismo protestante, adaptando-o às necessidades do homem moderno, mesmo que fosse preciso descartar muito daquilo que antes havia sido aceito sem questionamento. KARL BARTH Nasceu em 1886 na Basiléia, Suíça. Estudou teologia na Universidade em Berna, Berlin, tornou-se discípulo do grande teólogo Wilhelm Hermann. Para desespero de seus mestres, depois ele acabou repudiando radicalmente a teologia deles. Em 1908, ele foi ordenado ministro da Igreja Reformada e assumiu um cargo de pastor assistente em Genebra. Ele não se sentia realizado em seu trabalho e, em 1911, mudou-se para uma pequena congregação em Safenwil, uma vila na fronteira entre a Suíça e a Alemanha. Depois de concluir o livro sobre Anselmo de Canterbury, um teólogo escolástico medieval, Barth começou a trabalhar numa teologia sistemática, A Dogmática da Igreja, que ficou inacabada com treze volumes, quando faleceu em casa , na Basiléia em 9 de dezembro de 1068. Foi em Safenwil que Barth fez história na teologia. Ali criou uma revolução teológica, rompendo com a teologia liberal. O fim da teologia do otimismo, que havia permeado o século XIX, foi declarado através da publicação de um comentário sobre a carta aos Romanos escrito por Karl Barth. Barthdesencadeou uma reação contra o liberalismo que dominou o pensamento teológico até depois da metade do século XX. Essa nova direção é conhecida, em termos gerais, como “neo-ortodoxia”. O movimento neo-ortodoxo caracterizou-se pela tentativa dos teólogos de redescobrir o significado para o mundo moderno de certas doutrinas que haviam sido centrais para a antiga ortodoxia cristã. Os teólogos neo-ortodoxos seguiam o liberalismo mais antigo, vendo o iluminismo com naturalidade e, assim como os seus antecessores, aceitando o criticismo bíblico. Os pensadores mais jovens rejeitavam aquilo que consideravam ser a cultura cristã do liberalismo, que surgiu da ênfase na teologia natural. Estavam preocupados com o fato de o liberalismo protestante ter se esforçado tanto para tornar a fé cristã aceitável à mentalidade moderna a ponto de perder o evangelho. A Palavra de Deus, não proclamava mais as boas novas de reconciliação com a humanidade perdida em pecado. A neo-ortodoxia buscava reafirmar esses temas esquecidos em um mundo que, mais uma vez, precisava ouvir Deus falar do além. Em sua busca por reafirmar temas como o pecado humano, a graça divina e uma decisão pessoal, a neo-ortodoxia do século XX procurou inspiração numa voz antiga e ignorada no século XIX que havia falado contra o pensamento dominante de sua época. Era a voz do dinamarquês Soren Kierkegaard. Barth, no seu comentário da Epístola aos Romanos afirmava a validade tanto do método histórico-crítico de estudo das escrituras quanto da doutrina da inspiração verbal, e declarava que se fosse forçado a escolher entre os dois, ficaria com a segunda opção. De 24 acordo com um teólogo da época, a obra de Barth caiu como uma bomba no quintal onde brincavam os teólogos. Barth criticou a teologia liberal por transformar o evangelho em uma mensagem religiosa que fala aos homens de sua própria divindade ao invés de reconhecê-lo como palavra de Deus, uma mensagem que os seres humanos são incapazes de prever ou antecipar, pois vem de um Deus completamente distinto deles. Barth estava propondo uma revolução no método teológico, uma teologia “do alto” para substituir a antiga teologia “de baixo” centralizada no ser humano. Ao longo do comentário, ele enfatiza o caráter distinto de Deus, do evangelho, da eternidade e da salvação. Dizia que estas grandes verdades não podem ser construídas a partir da experiência universal humana ou da razão, mas devem ser recebidas pela revelação de Deus numa atitude de obediência. Barth continuou a escrever artigos e livros que colocavam a Palavra de Deus em confronto com a razão e acusavam o neoprotestantismo liberal de sucumbir à cultura do racionalismo iluminista. Ele argumentava que o maior perigo para o evangelho não era o de ser rejeitado, mas de ser aceito pacificamente e tornar-se inócuo ou transformar-se em apenas mais um patrimônio da cultura e da razão humana. Em1925, Barth foi convidado para ser professor na Universidade de Münster, onde ficou apenas cinco anos, mudando-se para Bonn em 1930. Durante esse período, começou a surgir uma mudança decisiva na ênfase de seus escritos. Mesmo sem deixar de lado sua rejeição à teologia liberal, ele começou a enfatizar mais o “sim” de Deus para a humanidade através de Jesus do que o caráter negativo que havia permeado seu trabalho durante mais de uma década. A única fonte de teologia cristã, segundo Bart, é a Palavra de Deus. Essa Palavra, entretanto, consiste em três formas. A primeira forma é Jesus Cristo e toda a história dos atos de Deus que levaram até a vida de Jesus e estão relacionados a ela, bem como à sua morte e ressurreição. A segunda forma consiste nas Escrituras, a testemunha privilegiada de toda revelação divina. A terceira forma é a proclamação do evangelho através da igreja. A Bíblia é a Palavra de Deus, afirmou Bart, independente de qualquer decisão ou iniciativa humana. Não depende da experiência individual ou das conclusões de estudiosos baseadas em evidências externas ou internas. Para Barth, Jesus Cristo é a única e singular revelação de Deus sobre si mesmo, a Palavra de Deus em pessoa. A revelação é a interpretação de Deus acerca de si mesmo. Se estamos tratando de sua revelação, estamos tratando do próprio Deus e na de uma entidade distinta dele. A realidade de Jesus Cristo está no fato de o próprio Deus encontrar-se presente encarnado. O próprio Deus é Sujeito, sendo e agindo de modo humano. De acordo com Barth, a cruz de Cristo é o acontecimento supremo da entrada de Deus na história da humanidade. Jesus tomou sobre si a ira e a rejeição divinas que a humanidade merecia. Jesus é o homem eleito e rejeitado, sendo que todos os seres humanos estão incluídos nele e são por ele representados. “A rejeição que os homens trouxeram sobre si mesmos, a ira de Deus sob a qual estão todos os homens, a morte que todos os homens deveriam sofrer, Deus, em seu amor pela humanidade, transfere tudo eternamente sobre Aquele através do qual Ele os ama e os elege, Aquele escolhido por Ele para ir adiante deles e tomar seu lugar”2 Jesus é o único objeto da eleição e da maldição de Deus. Nenhum decreto de predestinação dupla divide a humanidade em salva e maldita. Todos estão incluídos em Cristo que é tanto o Deus que elege como o ser humano eleito por ele, e os benefícios de sua obra salvadora estende-se sobre todos eles. “Na eleição de Jesus Cristo, que é a vontade eterna de Deus, Deus oferece ao homem eleição, salvação e vida; e a Si mesmo designa rejeição, 2 25 perdição e morte.” O que está reservado para a humanidade é a vida eterna em comunhão com Deus. EMIL BRUNNER Nasceu em Zurique, na Suíça. Cresceu e foi educado dentro da tradição reformada de Zwinglio e Calvino e recebeu o doutorado em Teologia pela Universidade de Zurique em 1913, onde passou a maior parte de sua vida lecionando teologia, de 1924 até sua aposentadoria em 1955. Brunner morreu na sua cidade natal, em abril de 1966. Brunner, ao lado de Barth e Bultmann formaram um triunvirato de teólogos dialéticos que revolucionaram a disciplina ao reafirmar os temas clássicos da reforma protestante no contexto do século XX. Apesar de sua aliança inicial, eles, mais tarde, entraram em divergências radicais entre si, especialmente nos anos que sucederam a Segunda Guerra Mundial, que marcaram o ápice de sua influência sobre o mundo de língua inglesa. Foi ele quem expôs pela primeira vez a teologia da transcendência de Deus na Inglaterra e nos Estados Unidos. A influência de Brunner se fez sentir pelo uso da sua Dogmática (teologia sistemática), nos seminários americanos e britânicos. A principal preocupação de Brunner era ir contra o movimento teológico do século XIX e começo do século XX em direção a uma espécie de imanência que, nas palavras de Paul Jewett, “considera Deus e o homem metafísica, epistemológica e eticamente contínuos, de forma que o homem possa chegar ao verdadeiro conhecimento de Deus dentro da estrutura de suas próprias capacidades inatas”. Sua teologia é um ataque contínuo a todas as tentativas de se captar o ser de Deus com a razão natural e de modo independente da revelação ou transformar qualquer filosofia humana em uma estrutura necessária para a compreensão da Palavra de Deus.O ponto mais importante da doutrina de Brunner acerca da revelação é que, nela, Deus não comunica algo sobre si mesmo, ele comunica o seu próprio ser. Sua contribuição à teologia contemporânea tem seu lado positivo e original. Começa quando ele identifica a revelação como um “Encontro Eu-Tu” que acontece entre o indivíduo e Deus. Brunnerargumentava que é preciso, antes de tudo fazer-se uma distinção entre a “verdade-objeto” e a “verdade-vós”. A primeira é o conhecimento adequado dos objetos do mundo, enquanto a segunda refere-se ao mundo das pessoas. Para ele, pelo fato de Deus ser pessoal, a verdade e o conhecimento sobre ele deve estar de acordo com o “Tu”. Consequentemente, a verdade cristã deve ser a verdade vista como um encontro, uma verdade que acontece durante a crise gerada pelo encontro entre Deus e a pessoa humana, em que Deus fala e a pessoa responde. Somente essa verdade pode fazer justiça à liberdade e responsabilidade das pessoas. A partir do seu conceito de revelação como um encontro Eu-Tu, toda a abordagem teológica de Brunner passou a ser chamada de “personalismo bíblico”. Para ele, a revelação acontece em dois momentos: historicamente, na encarnação de Deus em Jesus Cristo e, no tempo presente no testemunho interior do Espírito Santo sobre Jesus Cristo que torna um contemporâneo do crente. Brunner oferecia um posicionamento duplo em relação às Escrituras. Por um lado elas são testemunho absolutamente indispensável de Jesus Cristo. Tanto fonte de fé quanto de teologia. Mas por outro lado, as Escrituras não são verbalmente inspiradas por Deus e nem proposição infalível da Palavra à humanidade. Dizia que as Escrituras, primeiro testemunho dos Apóstolos acerca de Cristo, são o “berço onde está deitado Cristo” (Lutero). São a “palavra” inspirada pelo Espírito de Deus. Sendo ao mesmo tempo, uma mensagem humana, seu “caráter humano” significa que possuem a influência da fragilidade e imperfeição de tudo o que é humano. A palavra das escrituras não é a Suprema Corte, tendo em vista que o próprio Jesus Cristo é essa autoridade absoluta; porém, mesmo quando examinamos a doutrina das 26 Escrituras, nos mantemos dentro dessas escrituras não como uma forma de autoridade em si, mas como a fonte de toda verdade que possui a autoridade absoluta. Brunner negava que a Bíblia é uma norma absoluta. Na melhor das hipóteses, ela é apenas uma aproximação dessa norma. Ele insistia na natureza não proporcional da revelação e na ausência de identificação entre a Palavra de Deus e as palavras humanas dentro da Bíblia. Brunner não procurou ser nem radical e nem original no sentido usual das palavras. RUDOLF BULTMANN Rudolf Bultmann era filho mais velho de um pastor luterano na província de Oldenburg, no norte da Alemanha. Seus avós paternos foram missionários na África e seu avô materno também foi pastor no sul da Alemanha. Bultmann foi educado nas melhores universidades da Alemanha (Tübingen, Berlin e Marburg). Sua carreira de professor o levou a Breslau e Giessen, antes de voltar a Marburg em 1921, onde trabalhou até aposentar-se, em 1951. Começou sua carreira acadêmica numa importante conjuntura da história da teologia moderna. Viveu num período de transição. O consenso liberal do século XIX estava se desintegrando e a teologia que viria a dominar a primeira metade do século XX apenas começava a tomar forma. Ele não era um teólogo sistemático, mas sim um estudioso do Novo Testamento. Sua principal preocupação era tornar a fé cristã e a bíblica compreensível à mentalidade moderna. Ele procurou alcançar esse objetivo empregando uma interpretação existencialista do Novo Testamento que vê a imagem do antigo documento como a Palavra de Deus dirigida ao indivíduo e pedindo uma resposta de fé individual. Bultmann considerava-se um aliado de Karl Barth no desafio neo-ortodoxo ao liberalismo. Ele acreditava que a teologia do século XIX havia feito do ser humano, ao invés de Deus, o seu centro. Declarava que podemos conhecer a Deus apenas em resposta à revelação divina, que chega até nós através da Palavra de Deus, o kerygma, dirigida a cada ser humano. Ele interpretou esta mensagem em termos de condição humana, que ele via caracterizada pela ansiedade e até mesmo pelo desespero. Seguia, assim, a idéia do filósofo existencialista Martin Heidegger. Este filósofo dizia que o Novo Testamento não se preocupa com o Jesus da história. Ele focaliza o Cristo da fé. Ele argumentava que, ao invés do Jesus histórico, é o kerygma ou a mensagem da igreja primitiva que é essencial a fé. A fé não é o conhecimento de fatos históricos, mas a resposta pessoal ao Cristo com o qual nos deparamos na mensagem do evangelho, a proclamação do agir de Deus em Jesus. Afirmava que o Jesus histórico em si não deve ser visto como o centro da revelação de Deus. Argumentava que a revelação de Deus está no encontro presente entre o indivíduo e a pregação acerca de Cristo. A única coisa importante sobre os acontecimentos passados é o fato de que, em Jesus, Deus agiu de modo redentor. Outro assunto tratado por Bultmann foi o da escatologia. Ele partiu das descobertas de Johannes Weiss e de Albert Schweitzer, concordava que Jesus e a comunidade primitiva aguardavam a vinda próxima do reino de Deus, uma esperança que não se realizou. Ele dizia que tanto Paulo quanto João haviam falado da vida eterna recebida pela fé como uma realidade presente e existencial e não uma previsão temporal do futuro. Dizia ele que o Novo Testamento refletia o uso de mitos e religiões de mistérios, especialmente o mito da vinda de Deus um redentor, para descrever a obra de Jesus. A teologia liberal defendia a eliminação da mitologia para que fosse possível visualizar as verdades eternas presentes em meio aos mitos. Bultmann dizia que era impossível remover os mitos sem perder o kerygma, a verdadeira mensagem do Novo Testamento. Ele não desejava livrar os textos de seus elementos míticos, mas sim compreender esses elementos corretamente, isto é, de acordo com o seu significado existencial fundamental. Ele julgava 27 esta interpretação necessária por causa do grande abismo que separava a visão de mundo em que os textos antigos haviam sido escritos e a mentalidade moderna; definia o mito como uma forma de pensamento que representa a realidade transcendente em termos deste mundo. Bultmann era favorável a desmitologização, pois isto facilita a tarefa do evangelho de falar às pessoas nos dias de hoje. A sua preocupação maior era de que cada ouvinte do evangelho fosse confrontado existencialmente com a realidade do Deus transcendente O estudo histórico-crítico havia levado à consciência da presença de um grande abismo entre o mudo intelectual dos escritores bíblicos e o mundo moderno. A teologia liberal procurava construir uma ponte entre os textos antigos e a mente moderna através da descoberta de verdades perenes encontradas nos documentos, sendo as mais importantes dessas verdades os princípios éticos ensinados por Jesus. Bultmann considerou ingênua esta visão, no sentido de que ela supunha haver dentro do texto princípios eternos e universais que estavam lá, esperando para serem descobertos por meio da hermenêutica. Ele afirmava que as perguntas que trazemos conosco ao nos posicionarmos diante do texto é que determinam as respostas que receberemos dele e é nossa relação com o assunto que determina nossas questões. Dizia que o abismo entre o texto antigo e o mundo moderno podia ser transposto somente ao empregarmos um pré-entendimento adequado em nossa busca exegética. Para ele o que liga o texto antigo ao leitor é a questão da existência humana. Os povos antigos tinham uma visão espacial de um universo de três andares, sendo que Deus estava no céu, localizado acima da terra e o inferno encontrava-se abaixo da terra. Bultmann argumentava que esta cosmologia é incompatível com nossa visão moderna e científica domundo. A transcendência de Deus não pode ser compreendida em termos espaciais. Ele apresentou uma visão existencial. Transcendência significa que Deus está diante de nós no momento existencial da decisão, dirigindo-se a nós com a sua Palavra e confrontando-nos com o desafio de responder pela fé, criando desse modo a verdadeira existência. Qualquer discussão teórica sobre Deus é impossível, dizia Bultmann, pois falar de Deus exige que estejamos face a face com ele. Incorporou a filosofia existencialista de Martin Heidegger como uma ferramenta de ajuda para o cumprimento da tarefa teológica, pois oferecia tanto o modo básico de levantar a questão respondida pela mensagem do evangelho quanto o sistema de conceitos elementares dentro do qual essa resposta deve ser apresentada, a saber, a esfera da existência humana. Ele viu no existencialismo um meio de oferecer um pré-entendimento necessário a fim de que a verdadeira mensagem do novo Testamento pudesse ser compreendida. Bultmann afirmava que a existência autêntica era produto exclusivo de uma resposta de fé á graça de Deus oferecida na proclamação cristã, sendo essa resposta, em si, um milagre de Deus. Isto nos leva a sua visão sobre kerygma cristão e sua relação com a fé. Em concordância com Paulo, ele afirmava que o kerygma é a pregação da cruz e da ressurreição como o evento salvífico, um evento que forma uma unidade inseparável. Apesar das suas contribuições terem sido de grande valor para muitos pensadores cristãos, a sua proposta continua sendo muito controversa. Isto se torna evidente em três principais pontos: 1. Exegese Unilateral . A afirmação de Bultmann de que o kerygma do Novo Testamento é essencialmente uma mensagem existencial, ao mesmo tempo em que reflete uma preocupação vital com os documentos, acaba limitando aquilo que esses documentos apresentam. Muitos textos não tratam de questões existenciais como insiste a formulação de Bultmann, mas sim de outros temas. O esquema de existência humana também resultou numa separação muito radical entre os acontecimentos históricos do passado e as experiências contemporâneas de fé. Bultmann foi 28 longe demais em sua tentativa de livrar a fé da dependência das descobertas da pesquisa histórica. 2. A Particularidade da Fé A visão muito restrita, apresentada por Bultmann, da mensagem do evangelho, resulta prontamente numa fé igualmente restrita e privatizada. Para ele, a fé é uma decisão pessoal sobre o viver autêntico, compreendida de modo extremamente individualizado. A proposta de Bultmann ressaltou a necessidade de justificação pessoal, mas não conduzia a uma santificação, à dinâmica do viver cristão em si e do crescimento espiritual como discípulo do Senhor dentro de um relacionamento comunitário uns com os outros e com o mundo. 3. A Limitação de Deus Bultmann usou de modo radical o tema da distinção qualitativa infinita, o que levou a uma visão limitada de Deus. Ele equivocou-se quando afirmou que Deus só pode ser conhecido à medida que ele age dentro do indivíduo, ou seja, à medida que ele cria a existência autêntica, de modo que a teologia torna-se a reflexão sobre a experiência do encontro que leva à existência autêntica. Isto significa que não se pode afirmar nada sobre Deus sem que ao mesmo tempo se fale do ser humano. Isto coloca a natureza eterna de Deus fora dos limites da articulação teológica humana. A proposta de Bultmann limita as afirmações sobre o agir de Deus no mundo. Ela classifica a maior parte das afirmações sobre o agir de Deus como sendo mitológicas. Ele insistia que Deus agiu em Cristo “de uma vez por todas em favor do mundo”. O rígido enfoque existencialista de Bultmann, também limitava indevidamente as afirmações cristológicas. REINHOLD NIEBUHR- A transcendência Revelada Através do Mito. Reinhold Niebuhr foi criado no contexto de um ambiente repleto de cristianismo pietista. Seu pai era pastor no Sínodo Evangélico, cujas raízes encontram-se na união das tradições Luteranas e Reformadas na Prússia. Após terminar o ensino médio em Lincoln, Illinois, freqüentou o Elmhurst College e o Éden Seminary antes de ir para Yale, em 1913 onde completou o Bacharel em Teologia e o Mestrado em Ciências Humanas, em1915. Tornou-se pastor de uma congregação constituída, na sua maioria, de operários da montadora Ford. Niebuhr, nunca se viu como um teólogo. Segundo a sua esposa, ele era sobre tudo, um pregador e um pastor; foi também um estudioso da ética social e um apologista e percorreu todo o circuito das universidades e faculdades do país. Nunca chegou a receber as credenciais teológicas acadêmicas tradicionais. O título mais elevado que obteve foi o de Mestre em Ciências Humanas, em Yale. Ainda assim, em termos de impacto, ele é considerado o teólogo norte-americano mais influente da primeira metade do século XX A influência de Niebuhr estendeu-se além da comunidade cristã, pois suas atividades e escritos tiveram impacto sobre todo país. Uma das suas grandes realizações foi ter feito da teologia uma ciência de necessidade e importância secular. Sua presença foi sentida especialmente nos meios sociais e políticos. Sua missão, não era apresentar uma teologia nova e criativa, mas sim aplicar a fé cristã como ele a entendia. Há três temas predominantes relacionados entre si que fazem parte da tarefa básica e central de Niebuhr. Em primeiro lugar, ele estava interessado nas implicações práticas da fé cristã. Seu objetivo fundamental era apresentar o que podia ser compreendido através da tradição cristã dentro da situação moderna e praticar em sua própria vida as convicções resultantes de sua fé. Seu alvo era sempre “determinar a relevância da fé cristã para os problemas contemporâneos”. Ele procurava mostrar a importância e o valor da fé cristã numa sociedade 29 que havia, de um modo geral, rejeitado o evangelho; procurava mostrar que a fé cristã oferece o sentido de vida. Ele afirmava que “não existe um sentido maior de vida que seja capaz de compelir a razão”. Para Niebuhr, a relevância do cristianismo relativizava as outras perspectivas, sendo a principal dentre elas a visão inadequada e otimista do ser humano e da sociedade que dominava a sua época. Em segundo lugar, a justiça social é uma ênfase contínua, presente ao longo de todos os seus escritos. Ele afirmava que, independente de nossas boas intenções, só podemos esperar encontrar uma experiência parcial de justiça em nossa sociedade. A perfeição é um alvo impossível, “a possibilidade impossível” que ainda assim nos confronta no momento presente. Não devemos acreditar que as soluções que propomos para os males sociais ou nosso esforço para mudar a sociedade irão dar início a uma ordem perfeita. Nossas tentativas de lidar com o mal dentro da sociedade acabarão gerando outras injustiças. O melhor que podemos esperar é tornar a situação de hoje mais justa do que era ontem. Em terceiro lugar, Os escritos de Niebuhr exploravam constantemente a condição humana por trás da impossibilidade não apenas de se criar uma sociedade completamente justa, mas também de se alcançar ideal em termos concretos. Ele era atraído pela doutrina da humanidade. A seu ver, os problemas centrais de sua época eram decorrentes da rejeição dos temas antropológicos bíblicos pela tradição liberal predominante, que os havia substituída por falsas doutrinas de perfeição humana e idéias de progresso. Niebuhr, na sua obra A Natureza e Destino do Homem, resume a antropologia bíblica em três teses: 1) O ser humano é uma existência criada e finita, tanto em corpo quanto emespírito; 2) Os seres humanos devem ser vistos, antes de mais nada,do ponto de vista de Deus, ou seja, como imagem de Deus, e não em termos de suas faculdades racionais ou em relação à natureza; 3) )Os seres humanos são pecadores. E, por causa do pecado, eles devem ser amados, mas não considerados dignos de confiança. Para ele, o pecado é um ato da pessoa como um todo, de modo que nenhuma parte do ser humano pode ser exonerada da cumplicidade dessa rebelião contra Deus. O pecado é universal e inevitável, mas não é necessário, de modo que continuamos ser responsáveis por ele. Para Niebuhr, a fé é a aceitação de nossa dependência de Deus, enquanto o pecado é a negação de nossa condição de criaturas. A fé deve continuar sendo um compromisso do indivíduo e não uma conclusão de sua mente. A fé não pode ser provada, só pode ser vivida. PAUL TILLICH Paul Tillich era filho de pastor luterano, nasceu na cidade alemã de Starzeddel, próxima de Berlin, em 20 de agosto de 1886. Estudou em várias universidades importantes da Alemanha, incluindo Halle e Berlin; tornou-se professor de teologia e foi ordenado, ao pastorado, na igreja protestante do Estado. Recebeu um cargo de Privatdozent (tutor) na Universidade de Halle. Tillich; interrompeu seus estudos para servir como capelão, na segunda guerra mundial. Não somente oficializou como ajudou a sepultar vários soldados, inclusive alguns amigos. Ele sofreu dois colapsos nervosos e passou por uma série de crise de dúvida que transformou sua visão de Deus. Depois da guerra, Tillich, aceitou um cargo de professor na prestigiosa Universidade de Berlin e envolveu-se com a política socialista radical. Publicou o livro A Decisão Socialista. De Berlin, mudou-se para Marburg, depois para o Instituto de Tecnologia de Dresden e, finalmente, para a Universidade de Frankfurt onde lecionou filosofia, lutou abertamente contra os nazistas e foi condenado como inimigo do Estado, quando o partido nazista assumiu o poder. Seu livro foi queimado em praça pública em 1933. Nesta ocasião recebeu um convite da Universidade de Columbia e do Union Theological Seminary de Nova 30 York para onde se mudou em 1933. Neste Seminário, ele ficou até se aposentar. Ficou famoso pelos seus sermões e por suas reflexões teológicas sobre todas as áreas da cultura contemporânea. Em 1940, ele recebeu o título de doutor honorís causa da Universidade de Yale e foi citado como “um filósofo entre os teólogos e um teólogo entre os filósofos”. Tillich adquiriu um grande e entusiástico público que suplicava para ouvi-lo. Publicou três volumes de sua Teologia Sistemática, como também a obra A Coragem de Ser e A Dinâmica da Fé. Ao aposentar-se do seminário, Tillich aceitou o convite da Universidade de Harvard para tornar-se “Livre Docente”. Quando estava para fazer uma palestra, centenas de pessoas lotavam o auditório, uma hora antes para garantir um lugar para sentar. Alguns alunos chegavam ficar esperando à beira da calçada, só para vê-lo passar. Ele recebeu doze títulos de doutor honoris causa de importantes universidades americanas e dois de Universidades européias, incluindo a Universidade de Berlin. A notícia da morte de Tillich, em 22 de outubro de 1965, foi publicada em um curto editorial e na primeira página da seção de obituário do New York Times. Poucos teólogos receberam tanta aclamação quanto Tillich. Alguém fala dele como ”uma lenda em seu próprio tempo”. Tillich, constantemente se perturbava por dúvidas sobre sua própria salvação e temia grandemente a morte. Era marcado por grande ambigüidade. Tais ambigüidades ilustram bem as descrições das tensões destrutivas que, de acordo com Tillich, são inerentes à existência finita. Para ele a dúvida é um elemento essencial à fé e a alienação e afastamento encontram- se nos lugares mais profundos da existência humana. Tillich criticava, duramente, as teologias, como o fundamentalismo e a “teologia kerigmática” (neo-ortodoxia) que procuram atirar a mensagem cristã sobre as pessoas como se fosse uma pedra, ao invés de procurar responder aos questionamentos feitos a essa fé pela cultura contemporânea. Para ele, a teologia deve ser uma “teologia de respostas”; ela deve adaptar a mensagem cristã à mentalidade moderna e, ao mesmo tempo, manter sua verdade essencial e caráter singular. Tillich acreditava que, no mínimo, as questões implícitas na existência contemporânea podem e devem ser respondidas pela teologia, quando esta se baseia na evolução divina. Ele acreditava que a filosofia é indispensável à teologia, pois é ela que formula as questões às quais a teologia deve responder e é ela que dá quase toda (se não toda) a forma que essas perguntas devem assumir. O tipo específico da filosofia mais útil para a teologia é a ontologia, especialmente a ontologia existencialista. Em essência, a filosofia é ontologia, o estudo do ser. A filosofia faz a pergunta da realidade como um todo; ela faz a pergunta sobre a estrutura do ser. E ela responde em termos de elementos, leis estruturais e conceitos universais. Ela deve responder em termos ontológicos. A ontologia é absolutamente essencial à teologia apologética contemporânea. Tillich propôs um método para a teologia que fosse ao mesmo tempo fiel à mensagem cristã original e de expressão contemporânea, o método da correlação. Este método explica o conteúdo da fé cristã através de perguntas existenciais e respostas teológicas em independência mútua, numa rejeição consciente de três alternativas inadequadas. O primeiro método “supernaturalista”, ele o julga inadequado pelo fato de ignorar as questões e preocupações daqueles que vão receber a mensagem e, ao mesmo tempo, esperar que a Palavra de Deus crie a possibilidade de compreensão e aceitação de sua verdade; o segundo método “naturalista” ou “humanista” procura deduzir as respostas teológicas do estado natural do ser humano. Para ele este método negligencia a condição separada da existência humana e o fato de que a revelação (que contém a resposta) ser algo falado para o homem e não por ele para ele mesmo; rejeitava o método “dualista” que procurava combinar o sobrenatural com o natural. Tillich propôs o método da correlação, que desintegra a teologia natural dentro da análise da existência e a sobrenatural dentro das respostas dadas às questões implícitas na 31 existência. O método de correlação gira em torno de perguntas e respostas. As perguntas são apresentadas peça filosofia através do exame cuidadoso da existência humana. O teólogo lança mão dos símbolos da revelação divina para formular respostas para as questões implícitas na existência humana, que a filosofia pode descobrir, mas não pode responder. A tarefa principal do teólogo é interpretar as respostas da revelação, de modo que permaneçam fiéis à mensagem cristã original enquanto passam também a ser relevantes para as perguntas dos homens e mulheres seculares modernos. Para Tillich, Deus transcende o mundo e o mundo transcende Deus. Deus é imanente no mundo e o mundo é imanente em Deus. Paradoxalmente, Deus não pode ser condicionado, mas enquanto existir um mundo, Ele não pode estar fora dele e nem o mundo fora de Deus, pois, de outro modo, Ele não seria verdadeiramente infinito e não-condicionado, mas sim limitado e condicionado por algo além dele. Portanto, o mundo existe “dentro” (não no sentido espacial) da vida de Deus e Deus é o ser (mas não a substância) do mundo. Tillich dizia: “Um Deus pessoal não significa que Deus é uma pessoa. Significa que Deus é a base de tudo que é pessoal e que carrega dentro de si o poder ontológicoda personalidade. Ele não é uma pessoa, mas ele não é menos do que pessoal”. De acordo com Tillich, não devemos entender a queda como algo real que aconteceu na história da raça humana ou do indivíduo, mas como um símbolo para a condição universal do ser humano. Na existência humana, está universalmente implícita uma busca por um Novo Ser que irá dar um fim à separação e superar a ansiedade e o desespero, ao reunir-nos com nossa essência. Para Tillich, Cristo é a resposta. Cristo, como símbolo cristão, representa o Novo Ser que, surgindo sob certas condições de existência, transpõe o abismo entre essência e existência. Ele garante uma vida pessoal, na qual o Novo Ser conquistou o antigo ser. Mas ele não garante que seu nome é Jesus de Nazaré. Tillich nega que Jesus era “Deus feito homem”. A doutrina da reencarnação deve ser reinterpretada, de modo a significar que Jesus Cristo foi “o homem essencial que apareceu numa vida pessoal sob a condição da separação existencial”. Para ele. Jesus não era divino e não possuía uma natureza divina. Negava, também, a ressurreição física de Jesus, ao invés disso, preferia falar de uma “teoria da restituição”. O efeito do Novo Ser sobre os discípulos levou a “restituição de Jesus à dignidade de Cristo na mente dos discípulos, após a morte de Jesus. Ele procurou acabar com o caráter literal dos símbolos da preexistência de Jesus como Logos, da concepção virginal, da ascensão de Jesus e da vinda do Espírito Santo. 5.5.2. Teologia da Libertação. Os novos radicais estavam cansados das tentativas dos anos 60 de tratar do questionamento intelectual do ateísmo. Havia uma grande preocupação com os desafios do momento apresentados pela opressão social e econômica. Os radicais, pós anos 60, entendiam que era chegada a hora da teologia unir força com os oprimidos da sociedade e lutar a favor deles. Somente fazendo assim os teólogos poderiam descobrir a realidade de Deus. Isto levou muitos teólogos a apelarem para o tema da libertação. Se Deus é real, diziam este Deus se preocupa na luta em favor dos oprimidos para libertá-los; se o cristianismo é verdadeiro então deve propor uma mensagem de libertação. Foram destacadas três linhas: Teologia Negra, Teologia da Libertação Latino-americana e Teologia Feminista. a) A Teologia Negra. As experiências das pessoas de origem africanas que viveram nos Estados Unidos e nasceram no período da escravidão e da opressão social e econômica que se seguiu deu origem a uma tradição religiosa singular, incluindo diversos temas permanentes: a igualdade de todas as pessoas, a justiça, a vitória final da causa da comunidade grega e a atual experiência de frustração. 32 A principal preocupação da teologia negra era com a situação social e econômica dos negros na América do Norte. Enquanto os teólogos radicais se preocupavam com a relevância intelectual de Deus, os pensadores negros discutiam a relevância do conceito cristão de Deus para as pessoas que eram oprimidas por outras pessoas que se diziam cristãs. Isto coloca a Teologia Negra dentro da Teologia da Libertação. A Teologia Negra é uma Teologia de libertação negra. Ela procura avaliar a situação dos negros à luz da revelação de Deus em Jesus Cristo de modo que a comunidade negra possa perceber que o evangelho é compatível com as suas realizações. A teologia Negra é um fenômeno protestante norte-americano. Seus líderes estudaram em seminário protestante da América do Norte. Wilmore e Cone sugerem que a teologia Negra desenvolveu-se em três estágios: O primeiro estágio (1966-1970) indicou o fim da subordinação das igrejas da raça negra ao protestantismo da raça branca. Os líderes negros debatiam com os líderes brancos questões como integração, amor e uso de violência; No segundo estágio, deixou de focalizar as igrejas negras e se voltou para as instituições acadêmicas, quando os teólogos profissionais entraram em cena. Os pontos principais em questão era o relacionamento entre a libertação e a reconciliação, bem como a teodicéia e o sofrimento; O terceiro estágio começou por volta de 1977. Um ressurgimento do conservadorismo espalhava-se por todo o país. Os assuntos principais foram a relação entre a experiência negra americana e a de outros grupos oprimidos, bem como a implicação política da libertação. Um importante tratado que abriu caminho para o surgimento da teologia Negra foi o estudo feito por Joseph R. Washington Jr. Black Religion: The Negro and Christianity in the United States ( A Religião Negra: Os Negros e o Cristianismo nos Estados Unidos) 1964. Washington apresentou um quadro nada atraente da história e da situação da religião negra na América daquela época. Afirmou ser um fenômeno distinto. Era uma distinção negativa, a perda da herança sócio-econômica dos negros tinha um preço tragicamente alto para a dimensão religiosa de sua vida. Ele desafiou as igrejas negras a fecharem as suas portas e se transferirem para as igrejas dos brancos. Assim as conquistas materiais que estavam sendo realizadas pelos negros poderiam ser igualadas pelo crescimento espiritual. Ao longo da década, a busca dos negros por integração deu lugar ao militarismo negro e a um crescente ataque às igrejas brancas e a seus líderes. Uma das primeiras declarações teológicas da nova militância negra foi um livro de sermões publicado e 1968 por Albert B. Cleage Jr. Ele afirmava que somente uma “ressurreição da igreja negra com seu próprio Messias Negro” poderia servir de centro unificador do povo negro. Ele chamava todos os negros a se livrarem de sua identificação como escravos dos opressores brancos e a se sacrificarem em prol da Nação Negra, mesmo que isto significasse em deixar empregos de prestígio em empresas pertencentes a brancos. Ele afirmava que a Bíblia foi escrita por judeus negros, mas foi corrompida por Paulo em sua tentativa de tornar a mensagem original do Messias Negro mais aceitável para os não crentes europeus. Talvez o teólogo negro mais conhecido e representativo seja James H. Cone, professor de Teologia Sistemática do Union Theological Seminary, em Nova York. Ele compreendeu o sentimento do seu povo e foi o seu porta-voz. Em 1969, publicou a obra Black Theology and Black Power (Teologia Negra e Poder Negro), em 1970 publicou A Black Theology of Liberation (Uma Teologia Negra de Libertação). Procurou aplicar a fé cristã à causa da libertação e colocou em oposição aos defensores mais radicais do poder negro, que rejeitavam completamente o Cristianismo por ser uma religião pertencente ao opressor branco. Cone apresentou uma visão da teologia negra. Consiste na análise da condição negra à luz da revelação de Deus em Jesus, com o propósito de criar um senso de dignidade negra e 33 de oferecer ao povo negro a “alma” necessária para destruir o racismo branco. Ele concordava com Cleage que Cristo é negro e, portanto, a igreja deve tornar-se negra com ele. Para ele, revelação era Deus mostrando a si mesmo para a humanidade numa situação de libertação. A Teologia Negra era problemática por ser etnocêntrica. Os teólogos negros afirmavam abertamente que sua tarefa era devidamente limitada à sua própria comunidade étnica. Era uma teologia feita por negros e para os negros. b) Teologia da libertação Latino-Americana. Em 1968 os bispos da igreja católica romana da América Latina se reuniram na cidade de Medelin, na Colômbia e iniciaram uma revolução teológica. A reunião ficou conhecida como CELAM II ou simplesmente Medelin. Nesta reunião houve uma condenação da aliança tradicional da igreja com os poderes dominantes da América Latina e descreveu a situação naquela parte do mundo como “violência institucionalizada” contra o povo. A CELAM II é consideradao início da “teologia da libertação”. Em 1971, surgiu uma obra que parecia tornar-se o livro texto do novo movimento, A Teologia da Libertação, escrita por um padre peruano e professor de teologia chamado Gustavo Gutiérrez. Em 1979, os bispos reuniram-se novamente para discutir a situação econômica e social da América Latina e para repensar a teologia da libertação resultante do CELAM II. A intenção dos líderes da igreja era de que a CELAM III, também conhecida de “Puebla”, por causa da cidade mexicana onde os bispos se reuniram, oferecesse equilíbrio às posições radicais que haviam sido tomadas anteriormente. Suas intenções não foram concretizadas. Podemos conceituar a Teologia da Libertação como um movimento teológico surgido na América Latina e em outros países do terceiro mundo que toma como ponto de referência a experiência dos pobres e sua luta pela libertação. Durante a década de 60, surgiu na Europa uma proposta intimamente ligada à teologia da esperança de Moltmann, que ficou conhecida como “teologia política”. Seu principal representante foi Johannes Metz que lançou alguns dos fundamentos para o método distintivo da teologia da libertação. Com seus escritos sobre o papel da “práxis” (envolvimento comprometido) política como ponto de partida para a reflexão teológica. Em 1962 a 1965, se reuniu em Roma o II Concílio do Vaticano que revolucionou muitos aspectos da igreja católica, e na opinião de vários estudiosos, abriu a porta para o envolvimento social e político radical de leigos e do clero. No final dos anos 50 e começo dos anos 60, surgiu um crescente desencantamento com o conceito de desenvolvimento econômico como meio adequado de eliminar a pobreza na América Latina. Paulo Freire, no Brasil, afirmou que os próprios pobres devem tomar os primeiros passos para lidar com sua situação e devem se libertar de “sua mentalidade condicionada de dominado” e libertar os ricos de sua “mentalidade condicionada de dominador”. Durante os anos 60 e 70, diversos regimes particularmente duros chegaram ao poder e reprimiram as iniciativas de pessoas como Paulo Freire, acabando tanto com movimentos de justiça social moderados quanto os de esquerda. A distância entre ricos e pobres tornou-se ainda maior. Boa parte da teologia da libertação vem de uma reflexão sobre essa “situação revolucionária” e sobre os papéis que os cristãos devem desempenhar dentro dela. Em setembro de 1984, o Vaticano emitiu um documento criticando a teologia da libertação. O texto, intitulado “Instrução Acerca de Certos Aspectos da Teologia da Libertação”, foi redigido e assinado pelo Cardeal Joseph Ratzinger, Ele advertiu os cristãos sobre os equívocos que ele alegava serem inerentes à teologia da libertação, especialmente sua suposta aceitação de conceitos emprestados do pensamento marxista. Entre os teólogos da libertação estão: Gustavo Gutiérrez, do Peru; Leonardo Boff e Hugo Assmann, do Brasil; José Miranda, do México; Juan Luis Segundo, do Uruguai; e o espanhol Jon Sobrino, em El Salvador; o metodista José Míguez Bonino, da Argentina. 34 Os teólogos da libertação concordam que a característica mais importante da sociedade latino-americana é a pobreza e ela é resultado das estruturas pecaminosas da sociedade, que trabalham para manter a riqueza e o poder extremos de uns poucos à custa da benevolência da maioria. Para esses teólogos a dominação estrangeira e a opressão interna trabalham de mãos dadas e são causas diretas da pobreza. Eles entendem que Deus tem preferência pelos pobres, isto significa que mesmo amando todas as pessoas, Deus se identifica com o pobre, revela-se ao pobre e toma partido do pobre de modo especial. Deus está ao lado dos pobres contra todos os opressores que os dominam e tiram deles sua humanidade. Gutiérrez diz que a teologia da libertação surge e começa com o compromisso com a libertação dos pobres. A teologia da libertação apresenta o marxismo como um auxílio à práxis cristã. Quase todos os teólogos da libertação usam a análise social marxista para compreender a situação da pobreza na América Latina, bem como para oferecer soluções para esse problema. Há um questionamento se é biblicamente ou teologicamente correto afirmar que Deus favorece os pobres, simplesmente porque são pobres. Sam Portaro advertiu que “quando aceitamos a idéia de uma tendência divina, não estamos sendo fiéis ao nosso ministério para com o povo de Deus como um todo”. Muitos críticos apresentam objeções contra o uso do marxismo pela teologia da libertação. Fica caracterizada a impressão de que para os teólogos da libertação, Deus e salvação não passam de elementos sem importância para o poder da libertação e do desenvolvimento em ações sociais em favor dos pobres. c) Teologia Feminista. O movimento feminista que passou a demonstrar uma grande força dentro do cristianismo contemporâneo surgiu quando um grupo de mulheres se reuniu em uma casa para orar, adorar e compartilhar suas histórias de opressão numa sociedade e em igrejas dominadas pelos homens. Elas reuniram em torno de uma mesa com um sino, uma vela e uma bíblia. A dirigente do culto lê passagens bíblicas que falam sobre opressão e o grupo exclama em uníssono: “Fora, demônios, fora!”. Uma mulher usando da palavra declara: “Esses textos e todos os textos opressivos já não têm mais poder sobre nossa vida. Não precisamos mais inventar desculpas para eles ou tentar interpretá-los como fossem palavras da verdade, mas lançamos fora suas mensagens opressivas como expressões do mal e justificativas do mal”3. Uma das teólogas feministas declara: “Quanto mais alguém se torna feminista, mais difícil fica ir à igreja”. As mulheres que escolheram ficar na igreja institucional têm feito pressão para que se use uma linguagem inclusiva nos cultos, de modo que a humanidade não seja identificada pelo termo “homem” e Deus não seja sempre Pai, mas também Mãe, algumas vezes. A arte da igreja também é afetada. Stanley J. Grenz e Roger E.Olson, no Livro “A Teologia do Século 20”, declaram que há uma escultura de “Crista”, “Cristo como uma mulher crucificada, pode ser vista numa catedral em Nova York”. A teologia feminista do final do século 20 compartilha de algumas semelhanças com a teologia negra e a teologia da libertação latino-americana. Como aquelas, a teologia feminista parte de uma situação de opressão, tornando-se uma reflexão crítica de práxis, a experiência de pessoas oprimidas livrando-se da dominação. Existem teólogas feministas judias e também não cristãs que defendem uma forma de paganismo através da adoração da “Deusa Mãe”. Pámela Dickey Young diz que a teologia feminista “procura articular adequadamente o testemunho cristão de fé do ponto de vista das mulheres como um grupo oprimido”. As teólogas feministas discordam, entre si, de pontos relevantes como a autoridade das fontes tradicionais da teologia cristã, como a Bíblia e a tradição da igreja. 3 35 Entre as principais teólogas feministas podemos citar: Elisabeth Schüssler Fiorenza, Rosemary Ruether e Letty Russel. Fazendo uma retrospectiva dos dois mil anos de história cristã e indo um pouco mais além, da história dos hebreus, as teólogas feministas vêem uma história sombria de opressão patriarcal das mulheres; ensinavam que por causa da linguagem de dominação e subordinação encontrada na Bíblia, que reforça as instituições políticas patriarcais, a Bíblia deve ser usada em oposição a si mesma. Isto é, as intérpretes feministas devem “apelar para o Deus cuja autoridade opera através do poder do amor, contra o Deus que governa através do poder patriarcal de dominação”. O ponto mais alto da teologia feminista é sua revisãodetalhada das doutrinas e símbolos tradicionais cristãos. O ponto central da dificuldade está na visão da teologia feminista de autoridade, uma visão que, na verdade, leva à rejeição de qualquer autoridade além daquela exercida pela consciência feminista. A experiência específica das mulheres é o princípio fundamental da verdade teológica. Mesmo que teólogas feministas apelem para a pessoa de Jesus como garantia de suas reformulações doutrinárias, elas sacrificam o direito de chamar suas teologias de “cristãs”, quando colocam a experiência das mulheres como princípio que determina o que é normativo e o que não é na vida e nos ensinamentos de Jesus. 5.5.3. Teologia da Cruz A teologia da cruz representa o estágio pré-reformatório da teologia de Lutero. Na realidade, a teologia da cruz é o princípio de toda teologia de Lutero. Ela representa uma característica de todo o pensamento teológico de Lutero. Para a teologia da cruz, é na cruz de Cristo que se encontra o sentido mais profundo da ação de Deus junto ao mundo. Esta teologia é cristocêntrica. Cristo é o ponto central da reflexão teológica. A doutrina da cruz que determinou o conceito de Deus e de fé, só é compreendida numa vida submissa a cruz. A cruz de Cristo e a cruz do cristão formam uma unidade. O sentido da cruz não se revela ao pensar contemplativo, mas apenas à experiência sofredora. A cruz é o juízo sobre todas as idéias e obras humanas de escolha própria. Face à situação real do ser humano, a cruz representa a inversão radical de todas as suposições humanas. O que é tolo, é sábio; o que é fraco, é forte; o que é vergonha, é glória; o que parece odioso ao ser humano, é desejável e digno de amor e em altíssimo grau. A teologia da cruz não é apenas o pré-estágio pré-reformatório da teologia de Lutero, mas deve ser considerada como marca de todo o pensamento teológico de Lutero. 5.5.4. Teologia Natural . Estuda fatos referentes a Deus e Seu universo que se encontra revelado na natureza. 5.5.5. Teologia Exegética. Estuda o Texto Sagrado e assuntos relacionados, através do estudo das línguas originais, da arqueologia bíblica, da hermenêutica bíblica e da teologia bíblica. 5.5.6. Teologia Bíblica. Investiga a verdade de Deus e o Seu universo no seu desenvolvimento divinamente ordenado e no seu ambiente histórico conforme apresentados nos diversos livros da Bíblia. A teologia bíblica é a exposição do conteúdo doutrinário e ético da Bíblia, conforme originalmente revelada. A teologia bíblica extrai o seu material exclusivamente da Bíblia. 5.5.7. Teologia Histórica. Considera o desenvolvimento histórico da doutrina, mas também investiga as variações sectárias e heréticas da verdade. Ela abrange história bíblica, história da igreja, história das missões, história da doutrina e história dos credos e confissões. 36 5.5.8. Teologia Dogmática É a sistematização e defesa das doutrinas expressas nos símbolos da igreja. Assim temos "Dogmática Cristã", por H. Martensen, com uma exposição e defesa da doutrina luterana; "Teologia Dogmática", por Wm. G. T. Shedd, como uma exposição da Confissão de Westminster e de outros símbolos presbiterianos; e "Teologia Sistemática", por Louis Berkhof, como uma exposição da teologia reformada. 5.5.9. Teologia Prática. Trata da aplicação da verdade aos corações dos homens. Ela busca aplicar à vida prática os ensinamentos das outras teologias, para edificação, educação, e aprimoramento do serviço dos homens. Ela abrange os cursos de homilética, administração da igreja, liturgia, educação cristã e missões. 5.5.10. Teologia de Processo. A Imanência Dentro do Processo. Apesar de ser um fenômeno do século XX, a Teologia de Processo tem as suas raízes no início da tradição intelectual ocidental, na opção dos filósofos gregos por Parmênides ao invés de Heráclito, o Ser ao invés do Tornar-se, como conceito metafísico fundamental. Parmênides (cerca de 515-450 a.C.) foi o grande defensor do Ser. Ele argumentava que o Ser é eterno e a mudança é impossível, pois implica o vir-a-ser de algo que não existia. O principal oponente de Parmênides era Heráclito (cerca de 540-475 a.C.) que enfatizava o Tornar-se. Ele afirmava que “você não pode pisar duas vezes dentro do mesmo rio, pois novas águas estão sempre fluindo em sua direção”. Para ele toda realidade está envolvida numa incessante mudança. A mudança era o seu conceito metafísico fundamental. O objetivo maior da teologia de processo é mostrar a relevância da fé cristã, especialmente os seus conceitos sobre o relacionamento entre Deus e o mundo, numa cultura imbuída do senso de Tornar-se. Um Deus que não pode agir ou ter interação com o mundo teria uma personalidade menos do que significante. A Teologia do processo adotou a metafísica elaborada pelos filósofos do processo para obter os recursos mais adequados para expressar aquilo que a Bíblia entende por Deus e por mundo dentro da moderna estrutura da cosmovisão evolutiva. O deus da metafísica do processo e o Deus da revelação bíblica são, supostamente, o mesmo. A Teologia de Processo diz que um Deus que criou do nada é autocrático, imperial e, conceitualmente, impossível. Esse tipo de Deus não consegue casar com a idéia de um Deus que interage na História e mantém uma relação de amor e ajuda às criaturas. Deus cria junto com o resto do mundo. Segundo pensam, Deus é o pai da criatividade. O mundo para eles está em mudança e Deus também está nesse processo. 5.5.11. Teologia da Esperança. O fundador desse tipo de teologia foi o alemão Jurgen Moltmann que traçou o seu programa em seu famoso livro Theologie Der Hoffring (teologia da Esperança) Esta teologia foge ao inconveniente de considerar a mensagem da ressurreição como mero e inconsistente relato histórico ou como simples apelo à decisão, e procura entender a ressurreição como mensagem promissora que se abre para a história e nos obriga a nos empenharmos por nos transformar a nós próprios e ao mundo. A liberdade outorgada e vivida a partir de Cristo, e a mensagem do Reino de Deus não significam apenas liberdade e santidade interiores. Expressam sempre e por igual o “Shalon” dirigido a todo homem em suas relações sociais, a paz na terra e a libertação de tudo o que é efêmero. Deus não é totalmente diverso de nós. 5.5.12. Teologia da Evolução Seu fundador foi o francês Pierre Teilhard de Chardin. Iniciou sua atividade científica 37 no início do século XX quando o mundo da ciência era decididamente adverso ao mundo da fé e da religião. O estudo científico conduzira Teilhard de Chardin a uma profunda meditação sobre o problema da evolução, origem da sua obra mais importante, Lê Phénomène Humain (O fenômeno Humano), concluído em 1940, e publicado em 1955. Em seu pensamento, a evolução evidente do universo material, que parece esmagar o homem e sua consciência, visa, na realidade, a realizar a passagem da matéria ao espírito, do menos consciente ao mais consciente. O homem é o centro e a razão dessa evolução: sua alma o liga a esse universo, que ela domina, a seus semelhantes e a seu fim último, que é Deus.Ciência e religião não se contradizem, conduzem ambas à perfeição intelectual A intenção de Chardin, em toda a sua obra, é elaborar uma visão cósmica que abarque em um só olhar tanto o mundo da ciência quanto o da fé. Para Chardin, a evolução é uma das maiores descobertas de todos os tempos namedida em que nos coloca em condições de entender a história, seja passada, seja futura. A evolução não está em conflito com o cristianismo; ao contrário, é um argumento muito forte a seu favor, porque ela deve passar através do cristianismo. 5.5.13. Teologia da Libertação. Deu origem a experiência das comunidades cristãs latino-americanas que combatem as injustiças econômicas, sociais, culturais e políticas. A Teologia da Libertação constitui uma nova interpretação da mensagem evangélica, à luz da injustiça social. Apesar do nome, não é propriamente uma teologia, no sentido de política, surgida na Europa na década de 1970, depois que o Concílio Vaticano II (1962- 1965), examinou o problema das relações entre a igreja e o mundo moderno. A característica mais inovadora do movimento foi encarar os problemas políticos como base para a interpretação dos textos bíblicos. A maior ênfase, desta teologia é a figura do Cristo libertador, que veio libertar o homem do pecado, mas também de todas as suas conseqüências, inclusive as injustiças. A mensagem de salvação é interpretada à luz das opressões de que o homem precisa ser libertado. 5.5.14. Teologia da Prosperidade. Esta teologia tem suas origens em duas raízes históricas e filosóficas: o pentecostalismo (Barron,1987; Horn,1989) e várias seitas metafísicas do início do século XX, que floresceram na região de Boston (McConnell,1988). Dessas duas fontes, o pentecostalismo fornece a base onde a teologia encontrou a maior parte de seus adeptos, enquanto os pressupostos filosóficos propriamente ditos foram fornecidos pelas seitas metafísicas. Sua doutrina é radical com relação ao homem físico e espiritual. Saúde e prosperidade são algo vivido dentro da teologia; nem doenças, nem problemas financeiros são da vontade de Deus. O cristão que estiver passando por tais experiências, não tem fé ou está em pecado. A Confissão Positiva é outra corrente da doutrina da teologia da prosperidade, ela garante a realização com fé dos pedidos desejados pelo cristão, mesmo passando por cima da vontade divina, afirma que sempre positivamente, nunca “se Deus quiser”. Isto quando envolve saúde ou bem material. 5.5.15. Teologia das Religiões. Esta teologia destaca um conjunto, um todo, ou seja, um ponto comum. Dentre os conteúdos comuns cita-se a revelação do logos, bem como a interação de Cristo com os diversos credos. Também se destacam os conteúdos de caráter ético e moral, família e mandamentos de Deus. 38 Nas religiões em geral, crê-se em uma vida pós-morte, numa alma imortal, no tormento eterno para os maus e uma recompensa celestial para os bons, um Deus trino ou uma divindade superior, um redentor, um livro sagrado, etc. 5.5.16. Teologia Sistemática Nenhuma exposição sobre Deus seria completa se não contemplasse Suas obras e Seus caminhos no universo que Ele criou, além de Sua Pessoa. Toda ciência provém e mantém relação com o Criador de todas as coisas e com Seu propósito na criação. E toda verdade é verdade de Deus, onde quer que ela seja encontrada. Deus se revelou na criação e nas Escrituras, e a verdade achada pelas ciências naturais e sociais, por cristãos ou profanos, não é verdade profana, é verdade sagrada de Deus (Cl.2:3). Toda verdade, onde quer que seja encontrada, tem peso e valor iguais como verdade, como qualquer outra verdade. Uma verdade pode ser mais útil em dada circunstância, e uma outra em outra, mas ambas têm valor como verdade. Portanto é perfeitamente lícito utilizar-se de outras fontes, enquanto verdade, para o estudo da teologia. O estudo teológico, que incorpora em seu escopo o exame das ciências naturais e sociais, é denominado teologia sistemática. 5.5.17. Teologia Apofática. Esta Teologia apresenta a confissão teológica na qual o homem reconhece que Deus está acima de quaisquer pensamentos ou categorias em que o homem possa tentar enquadrá- Lo e que Sua natureza é transcendental. Logo, o conhecimento acerca de Deus, não pode ser alcançado pelo intelecto, mas somente pelo êxtase de amor, onde a união com Deus e a deificação têm lugar. Observa-se a influência desta Teologia em muitos movimentos neo-pentecostais que incentivam os fiéis a buscarem momentos de êxtase durante seus cultos a fim de buscarem maior contato e revelações de Deus. 5.5.18. Teologia Ascética. Esta Teologia representa uma análise da vida da graça, sob o Espírito Santo, em termos de disciplina, incentivando os fiéis a se purificarem de todo “auto-referência”. Principais características: • O caminho do expurgo – o crente deve buscar livrar-se do egoísmo e dos desejos pessoais. • O caminho da iluminação – o crente, já liberto do seu “eu” busca, através da contemplação da pessoa de Cristo e Suas virtudes, tornar-se cada vez mais parecido com Ele. • O caminho da unificação – o crente busca tomar consciência de sua união com Deus. 5.5.19. Teologia Moral. É o estudo da condição moral humana, em relação aos preceitos da crença teológica. A expressão é um sinônimo virtual da ética cristã, visto que, nessa forma, as proposições teológicas são, naturalmente, importantes como base e normas de conduta ética. A pessoa deve ter um padrão mínimo para ser chamada de cristã. 5.5.20. Teologia Católica Romana A Teologia Católica Romana está estribada em um tripê: A Bíblia, incluindo os livros apócrifos; A Tradição e os ensinos dos Pais da Igreja; e a autoridade Papal, ex cathedra, onde o Papa decide questões doutrinárias e morais. A Bíblia tem um papel secundário em detrimento da própria Igreja que é superior a qualquer outra fonte de autoridade eclesiástica. Essa conjuntura ideológica das cosmovisão teológica gerou os sete sacramentos: batismo, crisma ou confirmação, penitência, eucaristia ou missa, matrimônio, unção de enfermos ou extrema-unção e santas 39 ordens. Os sete sacramentos são uma série de boas obras que os católicos crêem que precisam fazer para alcançar a salvação. 5.5.21. Teologia Luterana O fundamento da Teologia Luterana é formado de : Sola Escritura – Somente a Bíblia; Sola Gratia – Somente a Graça e Sola Fide – Somente a Fé. A Bíblia é a bandeira pela qual o exército de Cristo deve marchar. Ela não fala apenas de Deus, mas é a própria Palavra de Deus.O centro das Escrituras é o Cristo revelado à humanidade. Na questão salvívica o indivíduo nada contribui, sendo destituído do livre arbítrio. Deus é a causa eficiente da obra redentora. 5.5.22. Teologia Anabatista A Teologia Anabatista preconizou o batismo somente para adultos, testificando assim o rompimento do cristão em relação ao mundo e o seu comprometimento em obedecer a Jesus Cristo.. Opunha-se ao controle da religião pelo estado e nutria um enorme zelo missionário. 5.5.23. Teologia Arminiana A Teologia Aeminiana argumenta que os benefícios da graça são oferecidos a todos, em oposição ao princípio calvinsta da condenação predestinada. A ênfase desta Teologia gira em torno da presciência divina, da responsabilidade e livre arbítrio do indivíduo e do poder de Graça capacitadora de Deus. 5.5.24. Teologia Wesleyana. A Teologia de Wesley enfatiza a justificação pela fé através de uma experiência súbita de conversão. Também enfatiza a doutrina da perfeição cristã ou do perfeito amor, segundo a qual é possível a perfeição cristã absoluta, ainda nesta vida. Wesley deixou claro que não propunha perfeição sem pecado, nem a perfeição infalível, mas a possibilidade da santidade no coração. 5.5.25. Teologia Existencial. Esta Teologiaenfatiza o sobrenatural como sendo um mito.. Deus atua no mundo como se não existisse, e não se pode conhecê-lo de nenhum modo objetivo. A Trindade, os milagres de Jesus e sua historicidade, o Velho e o Novo Testamento, as atuações do Espírito Santo, tudo isso, não passam de mitologia. 5.5.26. Teologia Patrística. Nome dado à filosofia cristã dos primeiros séculos, elaborada pelos Pais da Igreja e pelo escritores escolásticos, consiste na elaboração doutrinal das verdades de fé do Cristianismo e na sua defesa contra os ataques dos "pagãos" e contra as heresias. Quando o Cristianismo, para defender-se de ataques polêmicos, teve de esclarecer os próprios pressupostos, apresentou-se como a expressão terminada da verdade que a filosofia grega havia buscado, mas não tinha sido capaz de encontrar plenamente, enquanto a Verdade mesma não tinha ainda se manifestado aos homens, ou seja, enquanto o próprio Deus não havia ainda encarnado, não existia ainda o Senhor. De um lado se procura interpretar o Cristianismo mediante conceitos tomados da filosofia grega, do outro reporta-se ao significado que esta última dá ao Cristianismo. Os primeiros pensadores cristãos, ao mesmo tempo em que se valeram, também se debateram com os filósofos quer com Platão e com Aristóteles, quer, sobretudo, com os estóicos e com os epicureus. Sem perder de vista os ideais da doutrina cristã, eles buscaram encontrar, frente à Filosofia e aos filósofos, o lugar apropriado da reflexão filosófica e do pensar cristão. "É comum a afirmação de que o Cristianismo primitivo sofreu influências de vários setores da Filosofia Grega - de Platão, de Aristóteles, dos epicuristas e dos estóicos - sem que se determine claramente a amplitude e os limites de tais influências. Também é comum dizer-se que os filósofos convertidos ao Cristianismo buscaram dar à doutrina cristã um status filosófico, mas sem o cuidado de salientar as fontes das quais se serviram ou sem analisar os conceitos dos quais se apropriaram..." (SPINELLI, Miguel. Helenização e Recriação de 40 Sentidos. A Filosofia na época da expansão do Cristianismo – Séculos II, III e IV. Porto Alegre: Edipucrs, 2002, p.3). Foram vários autores que se ocuparam dessa tarefa: Justino, Tertuliano, Clemente de Alexandria, Orígenes, Gregório de Nazianzo, Basílio, Gregório de Nissa... Sendo considerado como a figura mais importante dessa corrente de pensamento o cristão Santo Agostinho. É a Teologia dos homens chamados pais da Igreja 5.5.27. Teologia Reformada. A Teologia Reformada tem com ênfase principal a “Sola Escritura”. A Bíblia é a Palavra de Deus e isenta de erros. Deus é soberano sobre todas as coisas. Tudo está sob o domínio de Deus, como Criador e Sustentador do universo. Ele na pode ser limitado por nada. Deus predestinou um certo número de criaturas caídas para serem reconciliadas com Ele mesmo. A salvação pode ser resumida nos cinco pontos do Calvinismo: Depravação Total, Eleição Incondicional, Expiação Limitada, Graça irreversível e Perseverança dos Santos. 5.5.28. Teologia Clássica. A Teologia Clássica caracteriza-se pelo pensamento moderno. Os teólogos clássicos não atribuíam a autoridade total à Bíblia. Usando assim outras fontes. Os teólogos clássicos tinham por objetivo reconstruir o pensamento de crenças tradicionais ditadas pela igreja, levando em consideração a liberdade que o pensador possuía como indivíduo para criticar a hierarquia da igreja. 6. Métodos do Estudo da Teologia Os métodos que se têm aplicado ao estudo da teologia são demasiadamente numerosos para serem considerados separadamente. Cada método determina a natureza do sistema daquela teologia. 6.1. Método Especulativo Este método pressupõe, a priori, determinados princípios, e à luz desses princípios procura determinar o que é e o que deve ser. A especulação decide sobre toda a verdade, ou determina o que é verdadeira a partir das leis da mente, ou dos axiomas envolvidos na constituição do princípio imaginativo dentro de nós. Há três formas gerais nas quais este método especulativo tem sido aplicado à teologia: a) Forma Deísta e Racionalista - É a forma que rejeita qualquer outra fonte de conhecimento das coisas divinas que se encontra na natureza e na constituição da mente humana. b) Forma Dogmática - É o método adotado por aqueles que admitem uma revelação divina supernatural e admitem que tal revelação está contida nas Escrituras, mas reduzem todas as doutrinas assim reveladas às formas de algum sistema filosófico. c) Transcendentalismo - Os que adotam este método são racionalistas no sentido amplo da palavra, visto que não admitem uma fonte mais elevada da verdade além da razão. Os transcendentalistas não admitem nenhuma outra revelação autoritativa além daquela encontrada no homem e no desenvolvimento histórico da raça. Toda verdade precisa ser descoberta e estabelecida por um processo do pensamento. Caso se admita que a Bíblia contém verdade, que seja só até o ponto em que ela coincide com os ensinos da filosofia. 6.2. Método Místico O místico depende mais de impressões internas ou objetivas do que da autoridade e instruções externas. Um tipo mais moderno de misticismo teológico é encontrado em alguns movimentos pentecostais e carismáticos, onde as revelações de Deus são abundantes. A experiência tem seu valor, mas deve sempre ser submetida à prova da Palavra de Deus e não o contrário. Por exemplo, marcar o dia e hora da volta de Jesus é ir de encontro a Palavra de Deus. 41 Segundo este método, a Bíblia não tem autoridade infalível em questões de doutrina. As proposições doutrinais nela contidas não são revelações dadas pelo Espírito Santo. São apenas as formas sob as quais os homens de cultura judaica deram expressão a seus sentimentos e intuições. 6.3. Método Indutivo Este é o método da ciência natural, a saber, a coleção de fatos, a sua classificação e o estudo das leis que os regem. Este é o principal método da teologia. As doutrinas devem ser fundamentadas na Bíblia, mediante o estudo natural e objetivo dos fatos narrados nos textos bíblicos. O dever do teólogo cristão é a averiguar, coletar e combinar todos os fatos que Deus tem revelado concernentes a Ele e à nossa revelação com Ele. Todos esses fatos estão na Bíblia. Isso procede, porque tudo que é revelado, na natureza bem como na constituição do homem concernente a Deus e à nossa relação com Ele, está contido e autorizado nas Escrituras. CAPÍTULO II A REVELAÇÃO E A PALAVRA DE DEUS O termo “revelação” significa a exposição daquilo que anteriormente era desconhecido. Na teologia, revelação é o ato de Deus manifestar a Si mesmo e a sua mensagem ao homem, e o produto dessa manifestação. Não fora a revelação de Deus, o homem não poderia ter conhecimento da divindade. Deus se revelou tanto por meio da criação como também por outros meios. Podemos classificar a revelação em dois grupos: revelação geral e revelação especial. 1. Revelação Geral Revelação geral é a automanifestação de Deus mais abrangente e para toda a humanidade, e ocorre por meio da criação, da natureza humana, da providência e da história. A criação, isto é, a existência do mundo físico revela Deus como Realidade Eterna, seu poder infinito, sua insondável sabedoria (Sl. 8:13; 19:1,2; Is. 40:26; Rom. 1:19,20). O homem, feito a imagem de Deus, reflete, em sua natureza moral e religiosa, o Criador (Gên. 1:26,27; At. 17:28; Rom. 1:32; 2:14,15). De modo geral o homem não vive sem a idéia da divindade e sem religião, pois sabe quehá uma divindade da qual é dependente e à qual terá de prestar contas. Na providência divina, isto é, na constante atividade de Deus em manter e dirigir a criação. Ele também se revela a nós (At.14:17; Mat. 6:26-30). O curso das leis da natureza, mantendo a existência das coisas criadas, mostra ao homem que há uma providência infinita, poderosa, bondosa e sábia, que criou essas leis e as sustenta, tendo em vista um propósito. A história do mundo também manifesta a ação de Deus (Sl. 75:6,7; Dan. 2:20,21; 4:25; Rom. 13:1; At. 17:26,27). Toda a criação, os acontecimentos históricos, os fenômenos da natureza e a consciência humana, manifestam Deus, assim como qualquer obra revela aspectos do seu autor. 1.1. Efeitos da Revelação Geral • Proporciona conhecimento de Deus 42 Pela revelação geral o homem pode alcançar conhecimento de Deus, embora limitado. Refletindo e analisando com base na revelação geral, é possível entender, até certo ponto, a existência de Deus e algumas das suas qualidades características, como soberania, poder, eternidade (Rom. 1:20). É com base nesse conhecimento que surge a Teologia Natural. Dá base para a estrutura da vida moral da sociedade. Na organização da sociedade, as normas morais são aceitas a priori, porque são fundamentadas na “lei escrita em seus corações” (Rom. 2:14,15). Há uma noção de justiça na consciência do homem, e as normas são elaboradas com base na natureza moral humana. • Torna o homem indesculpável diante de Deus A negação do culto ao único Deus e a prática da idolatria e da injustiça não podem ser justificados diante de Deus, mesmo que o individuo só tenha a revelação geral (Rom.1:23-32). 2. Revelação Especial A revelação especial é a manifestação que Deus faz de si mesmo e da sua mensagem a um individuo ou a um grupo por meio de palavras e/ou acontecimentos especiais históricos, tendo em vista um determinado fim, notadamente a redenção. Na revelação especial Deus se serviu de palavras, visões, sonhos (Num.12:6; Gên.28:12-15; 31:11-13;/ Dan.2; Mat.2:12-13; 19-22; Gal.1:12,12; At.9:3-6; 10:10-13; 16:9,10); atos miraculosos, particulares e históricos (Ex. 4:2-5; I Reis 18:24; João 5:36; 20:30,31; Heb.2:1-4); a encarnação do Filho (Jô.1:1-3, 14,18; 14:8,9; Col.2:9; Heb. 1:3). Os principais agentes de Deus que receberam e comunicaram a revelação especial foram os profetas e Jesus Cristo (Heb. 1;1-2).Os profetas duraram até João Batista, depois veio o Filho de Deus. Hoje nós ouvimos Deus através das Escrituras, como antes nos falou através dos profetas, do Filho e dos apóstolos. 2.1. Características da Revelação Especial a) É redentiva - A finalidade da revelação especial é levar o homem de volta para Deus, livre do pecado e de suas conseqüências. b) É gradativa e progressiva - Deus aos poucos foi se revelando como Salvador e dando a conhecer os mistérios da redenção e foi atingindo níveis cada vez maiores no plano espiritual. c) É a revelação de Deus mesmo - É a apresentação de Deus mesmo e o seu comparecimento junto aos indivíduos para tratar de problemas reais na vida das pessoas. d) É cristã - Jesus Cristo não somente é o principal meio dessa revelação como também é o tema que permeia toda a revelação (Deut. 18:15; At. 3:22; Luc. 24:27). Escriturística - A Bíblia é a fonte principal da Teologia, o que nela está contido é o suficiente para nós. 3. Revelação na Teologia Contemporânea No decorrer destes últimos cinqüenta anos, surgiram duas correntes: uma delas ressalta a revelação através da palavra, a outra, através da historia e dos eventos. 3.1. A revelação mediante a Palavra a) Nas décadas de 1920/30, Karl Bart era um defensor destacado da Teologia Dialética. A idéia básica era que Deus é totalmente outro. Deus existe em um plano diferente e de um modo diferente dos homens. Como conseqüência, somente podem conhecê-Lo à medida que Ele se revela a eles. Sendo totalmente outro, há um sentido em que Deus permanece oculto até mesmo na revelação. Quando os homens viam a Jesus com seus próprios olhos, viam a um 43 homem e não a Deus. Quando ouviam as suas palavras, ouviam palavras humanas. O divino não pode ser percebido diretamente, somente pode ser indiretamente. Este conceito de Deus como sendo totalmente outro, tinha uma dupla conseqüência no pensamento de Barth. De um lado significava que a religião humana, como busca humana a Deus não tinha valor, e era pecaminosa. De fato à luz da revelação que Deus fez de si mesmo em Jesus Cristo, podemos ver quão mal orientada esta busca realmente é. Do outro lado, Barth, fala da Teologia Dialética. As palavras da Escritura não são revelação de si mesmas, mas sim, uma testemunha à revelação. Indicam, em termos humanos, aquilo que o homem não pode expressar de modo algum. Na década de 1930, Barth afastou-se da posição rigorosa da Teologia Dialética para favorecer um ponto de vista que via uma correspondência analógica entre a veracidade das nossas palavras acerca de Deus e a realidade do próprio Deus. Dizia que se Deus é totalmente outro, nada mesmo pode ser dito a respeito dEle. Ele seria diferente dos nossos modos de falar e de pensar que nada de apropriado poderia ser dito. À luz da revelação na Escritura, porém, Barth veio a perceber uma correspondência entre nossos conceitos e a realidade de Deus em si mesmo. Se chamamos Deus de nosso “Pai” não queremos dizer que Ele é nosso Pai da mesma maneira que nossos pais humanos. Deus não é um pai no sentido literal. Há, porém, uma correspondência no modo de Ele ser a origem da nossa vida e no modo de Ele cuidar de nós e guiar-nos como seus filhos. Para Barth, Jesus é a Palavra de Deus. É Ele quem revela o Pai. A Escritura também é a Palavra de Deus na medida em que Deus fala aos homens através dela. A Escritura é revelação à medida que revela a Cristo, ou melhor, em que Cristo se revela através dela. A Bíblia é uma produção humana que pode tornar-se objetivável se for “revelada”, “escrita” e “pregada” sob a ação do Espírito Santo. É o Espírito Santo que legitima a palavra humana sobre Deus, do próprio Deus, sempre de modo contemporâneo. b) Na década de 1920, Rudolf Bultmann também estava associado com a Teologia Dialética. Nos anos seguintes a distância entre Barth e Bultmann foi se alargando até formar um abismo. Além de existencialista, há em Bultmann o conceito de singularidade de Deus, isto é, Deus não pode ser tratado como objeto. Cristo é revelado no kérugma da cruz e da ressurreição. A palavra da pregação confronta-se conosco como a palavra de Deus. Não nos cabe questionar suas credenciais. Ao aceitarmos a palavra da pregação como sendo a palavra de Deus e a morte e ressurreição de Cristo como sendo o evento escatológico, recebemos a oportunidade de entendermos a nós mesmos. A fé e a descrença nunca são decisões cegas e arbitrárias. Na medida em que a revelação é transcendente e escatológica, não pode ser comunicada. Pelo contrário, é ocasionada pelo kérygma cristão à medida que recebe a resposta da fé. Tudo foi revelado, na medida em que os olhos do homem estão abertos quanto à sua própria existência e passa a entender-se mais uma vez. A revelação é um ato de Deus, uma ocorrência, e não uma comunicação do conhecimento sobrenatural. c) William Temple rejeitava a idéia de uma revelação proposicional em palavras. Dizia que o que é oferecido à apreensão do homem em qualquer revelação específica não é alguma verdade acerca de Deus, mas sim, o próprio Deus Vivo. Temple foi além de Bultmann ao pensar que a verdade da revelação poderia ser formulada. “Há verdade da revelação, ou seja, proposições que expressam os resultados do pensamento corretoacerca da revelação; mas elas mesmas não são diretamente reveladas”. d) Um escritor que rejeita totalmente a idéia da revelação é F. G. Downing que alega que: “se Deus pretendesse revelar-se em Cristo, nos eventos da sua vida e na sua morte e ressurreição e nos seus ensinos, fracassou. Parece mais fiel supor que esta não fosse sua intenção. Uma revelação daquilo que não pode ser visto agora, não é uma revelação. Podemos crer e confiar 44 que Cristo tornou a revelação de Deus uma possibilidade em algum tipo de futuro. Certamente é um contra-senso até mesmo um contra-senso pernicioso fingir que é um fato presente”. e) estudiosos como B.B. Warfield sustentam o que a Bíblia diz acerca de si mesma e, especialmente da própria atitude de Jesus para com a Escritura como sendo a Palavra de Deus. Jesus veio confirmar e cumprir a lei e os profetas. As Escrituras são a expressão da vontade de Deus. Deus hoje se revela ao homem por meio da sua palavra. 4. A Doutrina da Palavra de Deus 4.1. Conceituação bíblica sobre a Palavra de Deus Às vezes a Bíblia refere-se ao Filho de Deus como “a Palavra de Deus”. Em Apocalipse 19:13 diz: “Está vestido com um manto tingido de sangue e o seu nome é a Palavra de Deus”. João 1:1 diz “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus e a Palavra era Deus”. Às vezes as palavras de Deus tomam a forma de decretos poderosos que causam eventos ou até mesmo trazem coisas à existência. “Disse Deus: haja luz; e houve luz”. (Gen. 1:3). Decreto de Deus é uma palavra divina que faz algo acontecer. A palavra de Deus, às vezes demonstra a comunicação pessoal ou direta de Deus. Deus falou diretamente com Adão antes e depois do pecado (Gen.2:16-17; 3:16-19). Deus falou na concessão dos Dez Mandamentos (Ex. 20:1-3). Na ocasião do batismo de Jesus, Deus falou diretamente (Mat. 3:17). Embora as palavras de Deus de aplicação pessoal sejam sempre vistas nas Escrituras como palavras reais de Deus, são palavras proferidas em linguagem humana comum, que podem ser compreendidas imediatamente, sem intérpretes. Com freqüência, nas Escrituras, Deus levanta profetas para falar por meio deles. Embora sejam palavras humanas, faladas em linguagem humana comum, por seres humanos comuns, sua autoridade e veracidade não sofrem nenhuma redução. São inteiramente palavras de Deus (Deut. 18:18-20). Em várias situações encontramos nas Escrituras as palavras de Deus colocadas em forma escrita. Deus deu a Moisés duas tábuas de pedra em que foram escritos os Dez Mandamentos (Ex. 31:18; 32:16; 34:1, 28). Deus ordenou que suas palavras fossem escritas (Jos. 24:26; Is. 30:8; Jer. 30:2; 36:2-4, 27- 31; 51:60). Jesus disse que o Espírito Santo faria lembrar aos discípulos as palavras que Ele havia falado (Jo.14:26; 16:12-13). Paulo dizia que as palavras que estava escrevendo aos coríntios eram “mandamentos do Senhor” (I Cor. 14:37). 4.2. O Cânon das Escrituras A Bíblia não existia. Ela surgiu entre os hebreus ou israelitas. Por boa parte de sua história este povo não tinha a Bíblia. O que havia era coletâneas heterogêneas de escritos, a maioria sem identidade nem condições bem definidas. O vocábulo grego cânon, que é de origem semítica, originalmente significava instrumento de medir, para mais tarde ser empregado no sentido metafórico de “regra de ação” semelhante. O termo encontrou seu lugar no vocabulário eclesiástico. 4.2.1. O Cânon do Antigo Testamento O registro escrito, dos documentos bíblicos, começou nos primeiros anos do período monárquico, mais ou menos a partir do ano 1000 a.C. Embora muito do que foi escrito tenha sido composto antes e transmitido oralmente. Era o arquivo da história nacional O conteúdo do cânon do Antigo Testamento continuou aumentando até o fim do processo de escrita. Se datarmos Ageu de 520 a.C. e Malaquias por volta de 435 a.C. teremos 45 idéias e datas aproximadas dos últimos profetas do Antigo Testamento. Coincidindo grosso modo com esse período, estão os últimos livros da história do Antigo Testamento. No Novo Testamento, não temos nenhum registro de alguma controvérsia entre Jesus e os judeus sobre a extensão do cânon. Ao que parece, Jesus e seus discípulos, de um lado, e os líderes judeus ou o povo judeu, de outro, estavam plenamente de acordo em que acréscimos ao cânon do Antigo Testamento tinham cessado após os dias de Esdras, Neemias, Ester, Ageu, Zacarias e Malaquias. Esse fato é confirmado pelas citações do Antigo Testamento feitas por Jesus e pelos autores do Novo Testamento. Segundo uma contagem, Jesus e os autores do Novo Testamento citam mais de 295 vezes várias partes das Escrituras do Antigo Testamento como palavra autorizada por Deus, mas nem uma vez sequer citam alguma declaração extraída dos livros apócrifos ou qualquer outro escrito como se tivessem autoridade divina. Que se deve ser dito então acerca dos apócrifos, a coleção dos livros incluídos no cânon pela Igreja Católica Romana, mas excluídos pelo protestantismo? Esses livros nunca foram aceitos como Escrituras pelos judeus, mas ao longo da história inicial da igreja as opiniões se dividiram sobre se eles deviam ou não fazer parte das Escrituras. Na realidade, a evidência cristã mais antiga coloca-se de modo decisivo contra a visão dos apócrifos, como Escrituras, mas o uso desses livros foi se difundindo gradualmente em algumas partes da igreja até o tempo da Reforma. a) O cânon hebraico é composto de 24 livros, dividido em três grupos: a lei (Torah), os profetas (Nebhim) e os escritos (Kethubim). Esta foi a ordem de aceitação dos livros como canônicos: Torah: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômios. Nebhim: Josué, Juízes, Samuel, Reis, Isaías, Jeremias, Ezequiel, Os doze (os nossos profetas menores). Kethubim: Salmos, Provérbios, Jô (poesia), Cantares, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Éster (os cinco rolos), Daniel, Esdras, Neemias, Crônicas (históricos). Obs: São chamados “os cinco rolos” porque cada um foi escrito em um rolo para ser lido nas festividades judaicas: Cantares na Páscoa, Rute no Pentecostes, Eclesiastes na festa dos Tabernáculos, Éster no Purim e Lamentações no aniversário da destruição de Jerusalém. b) O cânon católico é o mesmo da Septuaginta. Divide os livros do Velho Testamento em quatro grupos: Lei, História, Poesia, Profecia. Acrescenta ao conteúdo canônico hebraico, os livros apócrifos, sendo ao todo 46 livros: Lei: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio; Históricos: Josué, Juízes, Rute, I e II Samuel, I e II Reis, I e II Crônicas ou Paralipômeros, Esdras, Neemias, Tobias, Judite, Éster, I e II Macabeus; Poéticos: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cantares, Sabedoria, Eclesiástico; Proféticos: Isaías, Jeremias, Lamentações, Baruque, Ezequiel, Daniel, Amós, Oséias, Joel, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias. Em algumas versões antigas, Samuel e Reis são apresentadas como I, II, III e IV Reis e Esdras e Neemias como I e II Esdras. c) O cânon protestante possui o mesmo conteúdo do cânon hebraico, porém distribuídos em 39 livros diferentes, seguindo, no entanto classificação idêntica ao cânon católico. Assim: Lei: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio; Históricos: Josué, Juízes, Rute, I e II Samuel, I e II Reis, I e II Crônicas, Esdras, Neemias, Éster; Poéticos: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cantares; Proféticos: Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias. 46 4.2.2. O Cânon do Novo Testamento O desenvolvimento do cânon do Novo Testamento começa com os escritos dos apóstolos que receberama capacidade do Espírito Santo para recordar de modo preciso as palavras e os atos de Jesus e interpretá-los corretamente para as gerações posteriores (Jo.14:26). Nos escritos do Apóstolo Paulo é muito freqüente a afirmação de que ele é capaz de proferir palavras do próprio Deus. No estudo do cânon do Novo Testamento, podemos estabelecer os seguintes destaques: 1) Nome - As Escrituras Sagradas são também chamadas de Escritura, Livros Sagrados dos Cristãos, Bíblia (ou Bíblia Sagrada). A palavra “bíblia” tem origem nos termos gregos bíblios (βιβλος) e bíblion (βιβλον), cuja tradução é: muitos livros ou coleção de livros. A Bíblia foi escrita originalmente em três línguas. O Antigo Testamento foi escrito a maior parte em hebraico (língua dos hebreus), e algumas partes em aramaico (língua dos caldeus). O Novo Testamento foi escrito em grego (língua internacional no primeiro século). 2) Revelação – A Bíblia apresenta-se em muitas ocasiões como a palavra de Deus. Isso fica evidenciado, no Antigo Testamento, principalmente quando há o termo “assim diz o Senhor”, usado principalmente em aspectos proféticos. No Antigo Testamento a revelação se dá quando Deus anuncia sua vontade previamente para que quando ela se realizar a majestade de Deus seja exaltada (Isaías 41:23 – 42:9). 3) Inspiração – Paulo afirma que todos os escritos do Antigo Testamento são theopneustos, “inspirados por Deus”. Como se diz que os escritos é que são “inspirados”, essa inspiração deve ser entendida como uma metáfora de palavras faladas das Escrituras. Esse texto bíblico, portanto, afirma de maneira breve o que era evidente em muitas passagens no Antigo Testamento: os escritos do Antigo Testamento são considerados palavras de Deus em forma escrita. Foi Deus quem falou (e ainda fala) cada palavra do Antigo Testamento, embora tenha usado agentes humanos para escrever essas palavras. Na segunda carta de Pedro, o autor incentiva os leitores a atentarem para uma leitura atenciosa do Antigo Testamento. O autor diz que nenhuma dessas profecias veio “por vontade humana”; antes “homens falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo”(2Pe.1:21). Pedro não queria negar completamente a vontade ou personalidade humana na composição das Escrituras (ele afirma que os homens “falaram”); antes, queria dizer que a fonte definitiva de toda profecia nunca foi a decisão de um homem sobre o que gostaria de escrever, mas sim a ação do Espírito Santo na vida do profeta, exercida de formas não especificadas. 4) Verdade – Deus não pode mentir nem falar com falsidade. A essência da autoridade das Escrituras está em sua capacidade de nos compelir a crer nelas e a elas obedecer, fazendo que tal fé e obediência sejam equivalentes a fé e obediência ao próprio Deus (Tito 1.2). Por esse motivo, é necessário considerar a veracidade das Escrituras, pois crer em todas as palavras da Bíblia implica confiança na completa veracidade das Escrituras em que cremos. Embora esse assunto vá ser discutido mais a fundo quando consideramos a inerrância das Escrituras. 5) Autoridade – Em alguns grupos religiosos a Bíblia ocupa um lugar entre várias fontes de autoridade. Para os batistas, a Bíblia é o único documento com autoridade para orientar a fé e a conduta. Isso é importante porque às vezes as pessoas (intencionalmente ou não) tentam substituir as palavras escritas das Escrituras por outro padrão final. Também devemos considerar o que a Bíblia diz sobre si mesma: 1) A Bíblia é a Palavra de Deus em linguagem humana. É o registro da revelação que Deus faz de si mesmo aos homens. Deus fez uma revelação de si mesmo ao homem, com razão podemos presumir que ele não confiará esta revelação totalmente à tradição e falsa interpretação humanas, mas também proverá um registro dela essencialmente fidedigno e suficiente; em outras palavras que o 47 mesmo Espírito que originalmente comunicou a verdade presidirá a sua publicação até onde for necessário para cumprir seu propósito religioso. Toda inteligência natural pressupõe a habitação de Deus no homem e, porque na escritura a atmosfera totalmente prevalecente, com sua constante pressão e esforço para entrar em cada fresta e, em cada canto do mundo, emprega-se como ilustração do impulso do onipotente Espírito de Deus a fim de vivificar e encher de energia cada alma humana. 2) Sendo Deus seu verdadeiro autor, foi escrita por homens inspirados e dirigidos pelo Espírito Santo. Jesus, de quem já se provou não só ser testemunha digna de crédito, mas a revelação perfeita e completa de Deus garante a inspiração do Velho Testamento citando-o na fórmula: “Está escrito”; declarando que nem um jota nem um til dele “se passará” e que a “Escritura não pode ser quebrada”. Jesus comissionou seus apóstolos como mestres e lhes deu promessas de um auxilio sobrenatural do Espírito Santo em seu ensino, como a promessa feita aos profetas do Velho Testamento. Os apóstolos reivindicam ter recebido este Espírito prometido e falar sob a sua influencia com autoridade divina, pondo seus escritos no nível das Escrituras do Velho Testamento. 3) Tem por finalidade revelar os propósitos de Deus, levar os pecadores à salvação, edificar os crentes, e promover a glória de Deus. Contudo, a principal prova da inspiração deve sempre ser encontrada nas características internas das próprias Escrituras como as reveladas pelo Espírito Santo ao sincero inquiridor. O testemunho pelo Espírito Santo combina com o ensino da Bíblia de convencer o mais ávido leitor de que este ensino está como um todo em toda a essência além do poder comunicador do homem e que, portanto, deve ter sido posto por inspiração de Deus em forma permanente e escrita. 4) Seu conteúdo é verdade, sem mescla de erro, e por isso é um perfeito tesouro da instrução divina. Já que as palavras da Bíblia são palavras de Deus. E já que Deus não pode mentir nem falar falsamente, é correto concluir que não há inverdades ou erros em qualquer parte das palavras das Escrituras. “As palavras do Senhor são palavras puras, prata refinada em cadinho de barro, depurada sete vezes” (Sl. 12.6). Jesus pode falar da natureza eterna de suas próprias palavras: “Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão” (Mt. 24.35). A manifestação verbal de Deus é colocada em contraste nítido com toda manifestação verbal humana, pois “Deus não é homem para que minta; nem filho de homem para que se arrependa” (Nm. 23.19). 5) Revela o destino final do mundo e os critérios pelos quais Deus julgará todos os homens. 6) A Bíblia é a autoridade única em matéria de religião, fiel padrão pelo qual devem ser aferidas as doutrinas e a conduta dos homens. A Bíblia é a única autoridade em questões de “fé e prática”. Uma das objeções mais freqüentes é levantada pelos que dizem que o propósito das Escrituras é ensinar-nos só em áreas que dizem respeito à “fé e prática”, ou seja, em áreas diretamente relacionadas com nossa fé religiosa ou com nossa conduta ética. Essa posição abriria a possibilidade de declarações falsas nas Escrituras, por exemplo, em outras áreas, tais como em detalhes históricos secundários ou em fatos científicos – essas áreas, afirmam os que levantam as objeções, não dizem respeito ao propósito da Bíblia. É melhor dizer que o propósito total das Escrituras é dizer tudo o que diz, qualquer que seja o assunto. Cada uma das palavras de Deus nas Escrituras foi por Ele considerada importante para nós. Assim, Deus pronuncia alertas severos para todos os que venham a fazer subtrações daquilo que ele nos disse, ainda que de uma única palavra; não podemos fazer 48 acréscimos às palavras de Deus nem delas subtrair, pois todas fazemparte do propósito divino maior ao nos falar. 7) Ela deve ser interpretada sempre à luz da pessoa e dos ensinos de Jesus Cristo. Se seguirmos a analogia da operação de Deus em outras comunicações do conhecimento, razoavelmente presumiremos que ele preservará o registro de suas revelações em documentos escritos e acessíveis, transmitidos a partir daqueles a quem estas revelações primeiro foram comunicadas, e espera-se que tais documentos mantenham-se corretos e fidedignos a fim de cumprir o seu propósito religioso, a saber, o fornecimento ao honesto inquiridor de um guia rumo a Cristo e à salvação. 4.3. Teorias Sobre a Inspiração 4.3.1. Teoria da Intuição – Sustenta que a inspiração é apenas um desenvolvimento do discernimento da verdade que todos homens possuem em certo grau. O homem constrói à base de sua própria observação. 4.3.2. Teoria da Iluminação – Considera a inspiração simplesmente como uma intensificação e elevação das percepções religiosas do cristão, o mesmo em gênero, apesar de que maior em grau, com a iluminação de cada crente pelo Espírito Santo. 4.3.3 Teoria do Ditado – Esta teoria sustenta que a inspiração constitui em o Espírito Santo possuir as mentes e corpos dos escritores da Bíblia, para que eles se tornem instrumentos passivos ou amanuenses – a pena e não o calígrafo de Deus. 4.3.4. Teoria da Dinâmica – Este ponto de vista verdadeiro, em oposição à primeira destas teorias, sustenta que a inspiração não é simplesmente um fato natural, mas também sobrenatural e que é obra imediata de um Deus pessoal na alma do homem. 4.4. A Inerrância das Escrituras. Esta é a doutrina de que a Bíblia é plenamente confiável em todos os seus ensinos. Se Deus se revelou de modo especial, inspirando os seus servos para que registrassem essa revelação, queremos ter a garantia de que a Bíblia é de fato uma fonte fidedigna desta revelação. O termo inerrância tem significado diferente para pessoas diferentes. 1. A inerrância absoluta sustenta que a Bíblia, inclui análises bem detalhadas de assuntos científicos e históricos. É totalmente verdadeira. Dá a impressão de que os escritos bíblicos têm a intenção de fornecer narrativas que supera qualquer discrepância ou dúvida que possam ser apresentadas. 2. A inerrãncia plena também sustenta que a Bíblia é totalmente verdadeira. Embora não seja o objetivo da bíblia comprovar fatos científicos e históricos, as suas declarações são completamente verdadeiras. Não há diferença essencial entre essa posição e a da inerrância absoluta quanto a maneira de ver a mensagem religiosa, teológica, espiritual. 3.A inerrãncia limitada também considera a Bíblia tanto inerrante como infalível em suas referências doutrinárias. Esta teoria diz que os escritores bíblicos estavam sujeitos às limitações do seu tempo. A referências científicas e históricas contidas na Bíblia refletem o entendimento corrente na época em que a Bíblia foi escrita. A revelação e a inspiração não colocaram os escritores scima do conhecimento habitual.. Deus não lhes revelou a ciência ou a história. A Bíblia não se propõe a ensinar ciência nem história. Mas dentro dos objetivos para os quais foi dada, a Bíblia é plenamente verdadeira e inerrante. 4.4.1. Definição de Inerrância Por inerrância das Escrituras entende-se que as escrituras, nos manuscritos originais não afirmam nada contrários aos fatos. 49 Esta definição diz que a Bíblia sempre diz a verdade, e que sempre há verdade a respeito de todas as coisas de que trata. Tudo que diz a cerca de qualquer assunto é verdade. A Bíblia, quando corretamente interpretada, de acordo com o nível a que a cultura e os meios de comunicação haviam chegado na época em que foi escrita e de acordo com os propósitos a que foi destinada, é plenamente fidedigna em tudo que afirma. 1. A inerrância diz respeito ao que é afirmado ou declarado, não ao que é apenas registrado. A Bíblia registra declarações falsas feitas por ímpios. A presença dessas declarações na Escrituras não significa que seja verdadeira; garante, apenas que estão corretamente registradas. 2. Precisamos julgar a fidedignidade da Escritura de acordo com aquilo que as afirmações significavam no ambiente cultural em que foram expressos. Devemos interpretar a bíblia de acordo com as formas e os padrões de sua própria cultura. Por exemplo, os números, muitas vezes eram usados de maneira simbólica; os nomes dos filhos carregavam significados especiais, etc. 3. As afirmações da Bíblia são plenamente verdadeiras quando julgadas de acordo com o propósito para o qual foram escritas. Em alguns casos, era necessário mudar as paqlavras para comunicar o mesmo significado para pessoas diferentes. Lucas diz: “Glória nas maiores alturas”, Mateus e Marcos dizem:”Hosana nas maiores alturas”. Para os leitores gentios de Lucas, a primeira expressão faria mais sentido que a segunda. 4. Os registros de acontecimentos históricos e assuntos científicos estão mais em linguagem fenomenológicas que técnica. Isto é, o autor relata de acordo com que as coisas aparentam aos olhos. Exemplo: queda do muro de Jericó, abertura do Mar Vermelho, o machado flutuando. O escritor, simplesmente registro o que foi visto. 5. As dificuldades para explicar o texto bíblico não devem ser prejulgados como indícios de erro. Devemos consultar o contexto para muitas vezes entender os textos. 4.4.2. A inerrância bíblica e o emprego da linguagem comum. Queremos nos referir às descrições “científicas” ou “históricas” de fatos ou eventos. A Bíblia pode nos falar que o sol nasce e que a chuva cai, porque pela ótica de quem fala é exatamente o que acontece. Essas palavras descrevem com perfeita veracidade os fenômenos naturais observados por quem fala. As declarações bíblicas podem até não precisar a exatidão de números ou medidas e, ainda assim, são totalmente verdadeiras. A inerrância se refere à fidedignidade dos fatos. 4.4.3. Maneira de citar a palavra. A maneira de alguém citar as palavras de outros é um procedimento que varia de cultura para cultura. O grego escrito na época do Novo Testamento não possuía aspas ou sinais equivalentes de pontuação, e uma citação exata de outra pessoa precisava incluir apenas uma representação correta do conteúdo dito por ela, não se esperava que contivesse todas as palavras de forma exata. Assim, a inerrância é coerente com citações vagas ou livres do Antigo Testamento ou das palavras de Jesus, contanto que o conteúdo não seja falso se comparado à declaração original. Em geral, o autor não dava a entender que estava empregando textualmente as palavras da pessoa citada ou apenas elas, e os primeiros ouvintes também não esperavam citações literais nesses relatos. 4.4.4. A inerrância e as constatações gramaticais incomuns São declarações irregulares quanto à estilística ou à gramática encontradas especialmente no livro de Apocalipse, mas não nos devem incomodar, pois não afetam a fidedignidade das declarações em questão. 50 4.4.5 - A Importância da Inerrância. Alguns afirmam que a inerrância é uma questão irrelevante, falsa ou dispersiva. A inerrância não é um conceito que faz parte da Bíblia. Na Bíblia, o erro é mais uma questão espiritual e moral do que intelectual. 1. A Importância Teológica. Jesus, Paulo e outros ensinadores, no Novo Testamento entendiam que detalhes das escrituras possuíam autoridade e os usavam como tal. Isto demonstra que a Bíblia é completamente inspirada por Deus, mesmo na seleção de detalhes do texto. Sendo Deus um Ser verdadeiro, onisciente, onipotente, podendo usar os recursos que Ele desejar,para sua revelação, jamais deixaria o homem desorientado pelas Escrituras Sagradas. 2. Importância Histórica. Historicamente, a igreja tem se pegado à inerrãncia da Bíblia. Considerando que a História é o laboratório em que a teologia testa suas idéias, devemos que concluir que a descrença na completa fidedignidade da Bíblia é um passo muito sério, não só pelo que faz a essa doutrina, mas ainda mais pelas conseqüências que recaem sobre outras doutrinas. 3. Importância Epistemológica. Se nosso fundamento para conhecer e manter proposições teológicas é o fato de que a Bíblia a ensina, é de maior importância que A bíblia se prove fidedigna em todas as suas declarações. É difícil estabelecer a Trindade ou o nascimento virginal de Cristo com base em argumentos filosóficos ou na dinâmica dos relacionamento interpessoais. 4.4.6. Desafios atuais para a inerrância a) A Bíblia é a única autoridade em questões de fé e prática. Há os que dizem que o propósito das Escrituras é ensinar-nos só em áreas que dizem respeito à “fé e prática”, ou seja, em áreas diretamente relacionadas com nossa fé religiosa ou com nossa conduta ética. As áreas históricas e científicas fogem ao propósito da Bíblia. Entretanto, a Bíblia afirma que toda a Escritura nos é proveitosa (II Tim. 3:16) e que ela é “inspirada por Deus”. Salmos 12:6; Sal. 119:96; Prov. 30:5 dizem que a Bíblia é completamente pura, perfeita e verdadeira. Os autores do Novo Testamento acreditam nos menores detalhes históricos narrados no Velho Testamento. Não vemos nenhuma intenção de separar questões de fé e prática. Parece-nos que a própria Bíblia não permite nenhuma restrição quanto aos tipos de assuntos a respeito dos quais fale com absoluta autoridade e verdade. É melhor dizer que o propósito total das Escrituras é dizer tudo o que diz, qualquer que seja o assunto. Cada uma das palavras de Deus nas Escrituras é por Ele considerada importante para nós. Tudo o que está declarado nas Escrituras está ali, porque Deus queria que nós tomássemos conhecimento, portanto não podemos nada acrescentar nem subtrair. b) O exagero do termo inerrância Os opositores a inerrância da Bíblia dizem que o termo inerrância é exato demais e que no uso comum denota um tipo de precisão científica absoluta que não devemos atribuir às Escrituras. É um termo que não consta da Bíblia, inadequado e que não devemos insistir nele. Devemos observar que nenhum estudioso ao empregar o termo inerrância não empregou para denotar um tipo de precisão científica absoluta. A palavra trindade não está na Bíblia, bem como a palavra encarnação, porém ambos os termos são muito úteis porque nos permite resumir em uma única palavra um conceito verdadeiramente bíblico. A palavra inerrância resume o que queremos dizer da fidedignidade total da Bíblia. c) Não possuímos manuscritos inerrantes 51 Os favoráveis a essa objeção dizem que a inerrância sempre foi atribuída aos primeiros exemplares ou exemplares originais dos documentos bíblicos. Mas nenhum deles sobreviveu. Mesmo em muitos dos versículos em que existem variantes textuais (ou seja, palavras diferentes em diferentes cópias antigas do mesmo versículo), a decisão correta é, muitas vezes bem clara, havendo na realidade bem poucos pontos em que a variante textual é de difícil avaliação e ao mesmo tempo importante para determinação do significado. É extremamente importante afirmar a inerrância dos documentos originais, pois as cópias posteriores foram feitas por homens que não alegaram que suas cópias seriam perfeitas, nem receberam essa garantia de Deus. Mas, os manuscritos originais são aqueles a que se aplicam as alegações de serem as palavras do próprio Deus. CAPÍTULO III A DOUTRINA DE DEUS 1. Conceito Strong: “Deus é o espírito infinito e perfeito em quem todas as coisas têm sua fonte, sustento e fim.” Ebrard: “A fonte eterna de tudo o que é temporal”. Kahnis: “O Espírito Infinito”. John Howe: “Um ser eterno, não causado, independente necessário, que tem poder ativo, vida, sabedoria, bondade e qualquer outra excelência na mais elevada perfeição em si e de si mesma”. Andrew Fuller: “A primeira cousa e o último fim de todas as coisas”. Breve catecismo de Westminster: “Um Espírito infinito, eterno, imutável em seu ser, sabedoria, poder, santidade, justiça, bondade e verdade”. Langston: “Deus é Espírito pessoal, perfeitamente bom, que em santo amor cria, sustenta e dirige tudo”. Tillich: “Deus é a resposta à pergunta implícita na finitude do ser humano; ele é o nome para aquilo que preocupa o ser humano de forma última”. . “Deus é a causa não causada”. Qualquer definição que tentemos apresentar de Deus há de ser imperfeita. O homem é por demais finito para definir o infinito; por demais limitado para definir o ilimitado; é temporal, sem condições de definir o eterno. Com base na revelação cristã, podemos chegar a algumas conclusões, dentro do nosso alcance limitado, de quem é Deus de uma forma mais clara e objetiva. Definir quer dizer delimitar, separar ou distinguir de maneira que a coisa definida seja discriminada de todas as demais coisas. Isso só podemos fazer determinando as características de Deus, o seu gênero, sua diferença específica. Analisando a idéia de Deus, como se acha em nossa mente, fazendo explicação do termo ou nome pelo qual ele se denota. Deus é um ser perfeitíssimo, não uma idéia, mas alguém que possui existência real e objetiva; é um ser dotado de perfeição absoluta distinguindo-se de todos demais seres. O termo “ser” refere-se àquilo que possui uma existência real e substancial. Equivale a substância ou essência. Deus é, em sua natureza uma substância ou essência a qual é infinita, eterna e imutável; o sujeito comum de todas as perfeições divinas e o agente comum de todos os atos divinos. 52 2. A Existência de Deus A existência de Deus é uma verdade primeira, isto é, o conhecimento da existência de Deus é uma intuição racional. Todas as pessoas de qualquer lugar têm uma profunda intuição íntima de que Deus existe, de que são criaturas de Deus e de que Ele é seu criador. Paulo diz que mesmo os gentios descrentes tinham conhecimento de Deus, mas não o honravam como Deus nem lhe eram gratos. (Rom. 1:21) É fato que a grande maioria dos homens, na verdade, tem reconhecido a existência de um ser ou seres espirituais de quem eles supõem depender. As raças e nações que, a princípio, parecem destituídas de tal conhecimento, uniformemente, têm sido encontradas como o possuindo, de modo que nenhuma tribo de que temos conhecimento pode ser considerada desprovida de um objeto de culto. Não há sentido em falar-se do conhecimento de Deus se não se admite que Deus existe. A suposição não é apenas de que há alguma coisa, alguma idéia ou ideal, algum poder ou tendência com propósito a que se possa explicar o nome de Deus, mas que há um ser pessoal autoconsciente, auto-existente, que é a origem de todas as coisas e que transcende a criação inteira, mas ao mesmo tempo é imanente em cada parte da criação. Não significa que a existência de Deus seja passível de uma demonstração lógica que não deixa lugar algum para dúvida; mas significa que embora a verdade da existência de Deus seja aceita pela fé, se baseia numa informação confiável. O cristão aceita a verdade da existência de Deus pela fé. Contudo, essa fé não é cega, mas baseada em provas que se acham primariamente na Escritura com a Palavra de Deus inspirada e, secundariamente na revelação de Deus na natureza. Vê-se Deus em quase todas as páginas das Escrituras Sagradas em que Ele se revelaem palavras e atos. Esta revelação a torna uma fé inteiramente razoável. É somente pela fé que aceitamos a revelação de Deus e que obtemos uma real compreensão do seu conteúdo. Admitindo que haja um universo, que é um todo racional, um sistema de relações de pensamento, admitimos a existência de um pensador absoluto, de cujo pensamento o universo é expressão. No entanto, é o próprio homem criado à imagem de Deus que mais fortemente dá testemunho da existência de Deus. Essa variedade de testemunhos da existência de Deus oriundos de partes diversas do mundo criado indica-nos que, em certo sentido tudo o que existe dá provas da existência 2.1. Trascendência e Imanência de Deus. Deus se relaciona com o mundo como um ser transcendente, isto é, Deus é auto- suficiente e não precisa do mundo. Ele está acima do universo e muito além do mundo que criou “Deus está nos céus, e tu, na terra” (Ec.5:2); Isaias diz que viu o Senhor “...assentado sobre um alto e sublime trono” (Is.6:1). Deus também se relaciona com o mundo como um Ser imanente, isto é, Deus está presente em sua criação. O Senhor está ativo no universo, envolvido nos acontecimentos do mundo e da história. Paulo diz que Deus “...não está longe de cada um de nós” (At.17:27-28). Uma ênfase excessiva na transcendência pode levar a uma teologia que é irrelevante para o contexto cultural que ela deseja alcançar, enquanto uma ênfase exagerada na imanência pode produzir uma teologia presa a uma determinada cultura. A história teológica do século XX começa com o renascimento da ênfase à transcendência, à medida que Karl Barth e outros voltaram a perguntar se havia uma palavra de Deus vinda dos céus que podia ser ouvida depois da guerra. O papel das guerras, nesse século é tão significativo que toda a teologia do século XX foi eclipsada pela questão de saber se somos capazes de lidar com a série de conflitos militares, políticos e sociológicos que vêm assolando o nosso mundo. Tal situação preocupante acaba com a esperança, não apenas de se 53 encontrar a Deus dentro do mundo, como também com a esperança de que a voz de Deus ainda possa chegar até nós vinda lá do alto céu. 3. Argumentos da Existência da Deus Alguns argumentos em favor da existência de Deus foram elaborados no transcurso do tempo. Alguns tiveram apoio na Teologia, outros já tinham sido sugeridos por Platão e Aristóteles, e ainda outros foram acrescentados modernamente por estudiosos da filosofia da religião. 3.1. Argumento Cosmológico. Cada coisa existente no mundo tem que ter uma causa suficiente; sendo assim, o universo também tem que ter uma causa suficiente, isto é, uma causa infinitamente grande, e, esta grandiosa causa, só pode ser Deus. Combate ao argumente: O argumento não produz convicção, em geral. Hume questionou a própria lei de causa e efeito, e Kant assinalou que, se tudo que existe tem uma causa suficiente, isto se aplica também a Deus, e, assim, somos levados a uma corrente sem fim. Além do mais, o argumento não torna necessária a pressuposição de que o cosmo teve uma causa única, uma causa pessoal e absoluta, e, portanto, não prova a existência de Deus. O princípio da causalidade não requer que todas as coisas começadas remontem a uma causa não causada; demanda que atribuamos uma causa, mas não uma causa primeira. Admitindo que a causa do universo não foi em si mesma causada, é impossível mostrar que esta causa não seja finita, como o próprio universo. Martineau, Types, 1.291 declara: “Não é a existência como tal que exige uma causa, mas o surgimento daquilo que não existia anteriormente. A lei intelectual da causalidade é a lei dos fenômenos não da entidade”. Este argumento prova a existência de uma causa do universo infinitamente grande, sem definir o tipo de causa. 3.2. Argumento Teleológico Este argumento concentra-se na evidência da harmonia, da ordem e do planejamento no universo e que esse planejamento dá provas de um propósito, inteligente. Como o universo parece ter sido planejado com um propósito, deve, necessariamente, existir um Deus inteligente e determinado que o criou para funcionar assim. A ordem e a colocação útil, permeando um sistema implicam respectivamente inteligência e propósito como a causa de tal ordem e colocação. Porque a ordem e a colocação útil permeiam o universo, deve existir uma inteligência adequada a dirigir a colocação para fins úteis. Este argumente mostra que todas as coisas têm o seu uso, que a ordem permeia o universo e que os métodos da natureza são racionais. Evidências disto aparecem na correlação dos elementos químicos uns com os outros; na adequação do mundo inanimado que é a base e suporte da vida; nas formas típicas e na unidade do plano que aparece na criação orgânica; na existência e cooperação das leis naturais; na ordem cósmica e compensações. Os contrários a este argumento dizem que ele não pode provar um Deus pessoal. A ordem e colocações úteis do universo só podem ser os mutantes fenômenos de uma inteligência e vontade pessoais, como supõe o panteísmo. A finalidade só pode ser imanente. As colocações úteis do universo poderiam ser resultado da unicidade do conselho, ao invés de a unicidade da essência, na inteligência inventiva. O argumento prova, a partir de suas colocações úteis e exemplos de ordem que claramente tivemos um começo, isto é, a partir da harmonia do universo que existe uma 54 inteligência e uma vontade adequada ao seu plano. O poder causativo transformou-se numa força inteligente e voluntária. 3.3. Argumento Moral Este argumento parte do senso humano do certo e errado, e da necessidade da imposição da justiça, e raciocina que deve, necessariamente, existir um Deus que seja a fonte do senso do que é certo e do que é errado e que vá algum dia impor a justiça a todas as pessoas. O argumento alcança a seguinte dimensão, dada por Strong: 1) A natureza intelectual e moral do homem deve ter tido como seu autor um ser intelectual e moral. 2) A natureza moral do homem prova a existência de um Legislador e um Juiz santo. 3) A natureza emotiva e voluntária do homem prova a existência de um ser que pode fornecer em si um objeto satisfatório do sentimento humano e de um fim que manifestará as mais elevadas atividades do homem e garantirá o seu mais elevado progresso. Só um ser que possui poder, sabedoria, santidade e bondade e tudo isto infinitamente maior do que conhecemos na terra pode atender a demanda da alma humana. Não há dúvida de que tal ser existe. Caso contrário não seria suprida a maior necessidade do homem e a crença em uma mentira seria mais produtiva virtude do que a crença na verdade. Os opositores deste argumento dizem que não pode provar um criador do universo material; não pode provar a infinitude de Deus; não pode provar a misericórdia de Deus. Este argumento tem o seu valor, pois nos assegura a existência de um ser pessoal, que nos dirige em justiça e que é o próprio objeto do sentimento supremo e serviço. 3.4. Argumento Ontológico Este argumento pode ser apresentado em três formas: 1) De Samuel Clark – Espaço e tempo são atributos da substância ou ser. Mas espaço e tempo são, respectivamente, infinitos e eternos. Portanto deve haver uma substância infinita e eterna ou ser a quem pertencem tais atributos. Espaço e tempo não são substâncias nem atributos, mas relações. A doutrina de que o espaço e tempo são atributos ou modos da existência de Deus tende ao panteísmo materialista como o de Spinosa, que defende que a “substância é una e simples” nos é conhecida dos dois atributos: pensamento e extensão; mente = Deus no modo do pensamento; matéria = Deus no modo de extensão. Acontece que espaço e tempo não são atributos damatéria, nem da mente. 2) De Descartes – Temos a idéia de um Ser infinito e perfeito. Esta idéia não pode ser derivada de coisas imperfeitas e finitas. Portanto, deve haver um Ser infinito e perfeito que é a sua causa. Este argumento confunde a idéia de infinito com uma idéia infinita. A idéia que o homem tem do infinito não é infinita, mas finita e de um efeito finito, não podemos argumentar uma causa infinita. 3) De Anselmo – Neste argumento temos a idéia de um Ser absolutamente perfeito. Porém a existência é um atributo da perfeição. Deve existir um ser absolutamente perfeito. Este argumento confunde existência ideal com existência real. Nossas idéias não são a medida da realidade externa. Deus não é uma idéia e conseqüentemente não se pode inferir a partir de simples idéia. A forma de Anselmo é evidente que nos conduz a uma conclusão ideal, não a uma existência real. 55 3.5. Deísmo e Teísmo a) Deismo. O deísmo é um movimento filosófico-religiosa que admite a existência de um Deus criador, mas nega revelação divina; se baseia na razão como a única via capaz de nos assegurar da existência de Deus, rejeitando, para tal fim, o ensinamento ou a prática de qualquer religião organizada, sobre o assunto Os deístas argumentam que Deus é o criador do mundo mas que não intervém nos afazeres do mesmo, embora esta posição não seja estritamente parte da filosofia deísta. Para eles, Deus se revela através da ciência e as leis da natureza. Características do deísmo 1- Creio em Deus, mas não pratico nenhuma religião em particular. 2- Creio que a palavra de Deus é o Universo e a natureza, mas não os livros "sagrados" escritos por Homens. 3- Gosto de usar a razão para imaginar como será Deus e não apenas aceitar que me doutrinem. 4- Acredito que os ideais religiosos devem tentar reconciliar e não contradizer a ciência. 5- Creio que se pode encontrar Deus mais facilmente fora do que dentro de uma igreja. 6- Desfruto da liberdade de procurar uma espiritualidade que me satisfaça. 7- Prefiro guiar minhas opções éticas pela consciência e reflexão racional a aceitar as opções ditadas pelos livros "sagrados" ou autoridades religiosas. 8- Sou um pensador individual, cujas crenças religiosas não se formaram por tradição ou autoridade de outros. 9- Creio que religião e Estado devem estar separados. b). Teismo Teísmo (do grego Theós, "Deus") é um conceito surgido, no século XVII (por R. Cudworth, 1678), que sustenta a crença em Deus, opondo-se ao ateísmo. Podemos dividir o Teísmo em: 1. Monoteísmo: crença em um só Deus. 2. Politeísmo: crença em vários deuses. 3. Henoteísmo: propõe a veneração de um Deus Supremo, mas não nega a existência de outros deuses. Tipos de teísmo: a) Teismo cristão O teísmo cristão é a crença na existência de um Deus único - monoteísmo - como causa primária e transcendental do universo. b) Teismo Agnóstico Um teísta agnóstico é alguém que assume não ter conhecimento da existência de Deus, mas acredita que Ele existe de fato. O teísta agnóstico diz que não sabe se Deus existe ou não, mas que acredita em Deus. c) Teismo aberto Teísmo Aberto é a teologia que nega a onipresença, a onipotência e a onisciência de Deus. Seus defensores apresentam outra definição onde afirmam pretender uma reavaliação do 56 conceito da onisciência de Deus, na qual se afirma que Deus não conhece o futuro completamente, e pode mudar de idéia conforme as circunstâncias. Afirmam também, alguns defensores, que o termo “Todo-poderoso” não pode ser extraído do contexto bíblico pois, segundo eles, a tradução original da palavra do qual é traduzida tal expressão havia se perdido ao longo dos séculos. O Teísmo Aberto tem origem na Teologia do Processo. Surgido na década de 30, a Teologia do Processo, tendo como principais representantes Charles Hartshorne, Alfred North Whitehead e John Cobb, é uma tendência filosófico-teológica chamada panenteísmo, que consiste na aproximação do pensamento teísta e panteísta; herdando as características de tais inovações mais filosóficas que teológicas, surgindo a seguir o Teísmo Aberto. Os principais defensores teólogos são John Sanders e Clark Pinnock. O Teísmo Aberto defende que Deus se relaciona intimamente com o homem, em detrimento de sua onisciência que seria prejudicada com a dádiva do livre arbítrio; Deus saberia o futuro, mas não todo o futuro, pois esse futuro ainda não teria existência na presença de Deus, dado o livre arbítrio do homem concedido por Deus. 4. Conhecimento de Deus A doutrina bíblica é que Deus pode ser conhecido. Embora não possamos conhecer exaustivamente a Deus, podemos conhecer coisas verdadeiras sobre Ele. Tudo que a Bíblia fala sobre Deus é verdadeiro. É verdade dizer que Deus é amor (1João4:8); que Deus é luz, (1 João 1:5); que Deus é espírito, (João 4:24); que Deus é justo ou reto, (Rom. 3:26). Afirmar isso não implica nem exige que saibamos tudo sobre Deus. É significativo perceber que conhecemos o próprio Deus e não meramente fatos sobre Ele ou atos que Ele executa. É diferente o conhecimento de fatos e o conhecimento de pessoas. Alguém diz que não podemos conhecer a Deus, mas somente fatos sobre Ele ou o que Ele faz. Jesus ensina que a vida eterna consiste em conhecer a Deus e a Jesus Cristo, a quem Ele enviou (João 17:3). A promessa da nova aliança é que todos conheçam a Deus (Heb.8:11). Quando se diz que Deus pode ser conhecido, não significa que podemos saber tudo o que é verdadeiro com respeito a Deus. Schelling diz que Deus é conhecido em sua própria natureza por meio de intuição direta da razão superior. Hegel diz que “o homem conhece a Deus só até onde Deus se deixa conhecer ao homem; tal conhecimento é a autoconsciência de Deus, mas também um conhecimento dEle pelo homem, e tal conhecimento dele pelo homem é o conhecimento do homem por Deus”. Nosso conhecimento de Deus é parcial e inadequado. Há infinitamente mais em Deus do que podemos saber, e o que conhecemos, conhecemos imperfeitamente. Todos os homens têm consciência de suas responsabilidades diante de um ser superior a eles próprios, que conhece o que eles são e fazem, e que possui vontade e propósito de galardoar e punir os homens em consonância com suas obras. Portanto, o Deus que nos revela em nossa natureza é um Deus que conhece, quer e age; que galardoa e pune, ou seja, é uma pessoa, um agente inteligente e voluntário, dotado de atributos morais Esta revelação deve fazer-nos conhecer o que Deus realmente é. A Bíblia declara que Deus é justamente o que somos levados a pensar dEle, quando lhe atribuímos as perfeições de nossa própria natureza em um grau infinito. Somos autoconscientes; também Deus o é. Possuímos uma natureza moral, infelizmente muito deformada; Deus possui excelência moral em perfeição infinita. Somos pessoas; Deus também o é. Tudo isso a Bíblia declara ser verdadeiro. A revelação primordial de Deus foi no papel de um Deus pessoal: “ Eu Sou”. Todos os nomes e títulos a Ele atribuídos; todos os atributos que lhe são designados; todas as obras a Ele imputadas são revelações do que Ele realmente é. Ele é o Elohim. O Onipotente, o Santíssimo, o Espírito Onipresente; Ele é o criador, o Preservador, o Soberano de todas as coisas. Ele é nosso Pai. Portanto conhecemos a Deus, embora nenhuma criatura possa discernir o Onipotente em sua perfeição. Podemos 57 conhecer melhor a Deus através da revelação de Jesus Cristo. A revelação que Cristo fez de si próprio foi a manifestação do próprio Deus. As obras de Cristo eram as obras de Deus. O amor, a misericórdia, a ternura, a graça perdoadora, bem como a santidade, a severidade e o poder manifestado por Cristo eram todos, manifestações do que Deus realmente é. 5. Atributos de Deus Os atributos deDeus são características distintivas da natureza divina, inseparáveis da idéia de Deus e que constituem a base e apoio das Suas várias manifestações às Suas criaturas. Os atributos são qualidades objetivamente distintas da essência divina e entre si. Só podemos conceber os atributos como pertencendo a uma essência subjacente que fornece sua base na unidade. Se representarmos Deus como um composto de atributos, pomos em perigo a unidade da divindade. Eles devem distinguir-se de outros poderes ou relações que não pertencem à essência divina universalmente. A essência se revela só através dos atributos. Sem seus atributos, ela é desconhecida. 5.1. Classificação dos Atributos de Deus. São empregados vários métodos para classificar os atributos de Deus, porém os mais usados são: • Atributos incomunicáveis de Deus - São aqueles que Deus não partilha conosco, isto é, não comunica. São os que apresentam Deus como Ser absoluto; • Atributos comunicáveis de Deus – São aqueles que Deus partilha conosco, isto é, comunica. São os que apresentam Deus como o Ser pessoal. A distinção dos atributos de Deus, embora útil, não é perfeita. Isso porque não há atributo de Deus que seja completamente comunicável, nem que seja completamente incomunicável. Isso nós constatamos sobre alguma coisa que já conhecemos de Deus. Por exemplo, a sabedoria de Deus seria um atributo comunicável, pois o homem também pode ser sábio, mas jamais seremos sábios como Deus é sábio. 5.2. Os Nomes de Deus Na Bíblia o nome de uma pessoa é uma descrição do seu caráter. Assim os nomes bíblicos de Deus são diversas descrições do seu caráter. Num sentido mais amplo, o “nome” de Deus se iguala a tudo aquilo que a Bíblia e a criação nos dizem a respeito dEle. Honrar o nome de Deus, portanto, é honrar a Deus. “Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão”, (Êxodo 20:7), é uma ordem para não desonrarmos a reputação de Deus, nem por palavras que digamos sobre Ele de maneira insensata ou deturpadora, nem por ações que não reflitam o Seu verdadeiro caráter. Muitos dos nomes que descrevem parte do caráter divino são tirados da experiência ou das emoções humanas, enquanto muitos outros são tirados do resto da criação natural. Da criação: Deus é comparado a um leão, (Is.31:4), a uma águia (Deut.32:11), a um cordeiro (Is. 53:7), ao sol (Sal.84:11), a estrela da manhã (Apoc.22:16), etc. Da experiência humana: Deus é chamado de noivo ( Is. 61:10), marido (Is. 54:5), pai (Deut.32:6), juiz e rei (Is. 33:22), pastor (Sal.23:1), etc. Podemos dizer que o que a Bíblia diz a respeito de Deus, ela usa linguagem antropomórfica, ou seja, linguagem que fala de Deus em termos humanos. A Bíblia não nos diz tudo sobre o caráter de Deus. Assim, jamais conheceremos o “nome” completo ou pleno de Deus, no sentido de que jamais compreenderemos completamente o caráter de Deus. 5.2.1. No Antigo Testamento 58 1) ‘EL ‘ELOHIM – Em assírio, a forma é Illu, é provavelmente, o nome mais velho dado a Deus, na língua semítica. É o nome mais simples pelo qual Deus é designado no Antigo Testamento. El, possivelmente é derivado do verbo Ul, ser forte, poderoso, ser senhor, ser primeiro. Empregado como nome de Deus sugere Sua eternidade, aquele que existe antes do princípio, Seu poder criador e providência, em sabedoria e onipotência. Ele começou (criou) todas as coisas e as mantém pela palavra do Seu poder (Gên. 16:13; 21:33; 31:13; 35:1,3; 49:25; Sal.42:9; Ex.34:6; etc. O nome Elohim (sing. Eloah) deriva, provavelmente, da mesma raiz do verbo alah, mostra Deus como ser reverenciado, ser temido, ser excelente, ser adorado. Quando é empregado como um nome de Deus, sugere a plenitude de Suas excelências divinas. Aquele que é supremo; Aquele que deve ser reverenciado, temido, adorado, crido. Este nome de Deus só se encontra em hebraico, em conexão com a religião revelada. È a designação geral de Deus, mais comumente usada, aparecendo no plural cerca de três mil vezes, ao passo que, a forma singular é somente cinqüenta e sete vezes, (Gên. 1:1,21,26,27; Is. 10:20; Jos. 24:19; Sal. 7:11; Amós 4:11,12, etc.) 2) EL ELYON – Deus Altíssimo. O nome Elyon vem do verbo alah, que quer dizer subir, ascender, ser elevado, excelente. Os dois nomes combinados aparecem pela primeira vez em Gên. 14:18-22; outras referências (Num. 24:16; Deut. 32:8; Dan. 7:16;,22,25,27). 3) EL SHADDAY – Deus Todo Poderoso, provavelmente deriva de shadad, que significa ser forte, poderoso. Em conexão com el, seria Deus Poderoso ou Deus Todo Poderoso (Gên. 17:1; 28:3; 35:11;48:3;19:25; Êx6:2). 4) ADHONAY – Senhor, é derivado de dun ou de adan ambos significam, julgar, governar, revelam Deus como Governante Todo Poderoso, a quem tudo está sujeito e com quem o homem se relaciona como servo. Sempre que Adhonay é empregado como um nome de Deus, quer Deus fale em revelação de si mesmo, que as pessoas falem a respeito dEle, a idéia básica é a de soberania de Deus, isto é, sua posição é a de supremo governador sobre o universo, (Sal.35:23; 38:15;55:9;68:17;111:8; Is.3:18;6:1;10:23;61:11;etc.) 5) YAHVEH ou YEHOVAH – Yavé ou Jeová – as duas transliterações é pelo fato de haver muita diferença de opinião sobre como os hebreus pronunciavam este nome de Deus. O nome Yahveh vem do imperfeito do verbo ser, ou existir ou tornar; a forma do imperfeito significa o ser ou a existência em continuação (Gên. 4:1). Jeová é mencionado mais de seis mil vezes, no Antigo Testamento. Foi revelado como um nome pactual, exatamente no tempo em que Israel surgiu como nação. Daí em diante foi o nome especial dado a Deus. Sempre foi dito como o mais sagrado e o mais distintivo nome de Deus, o nome incomunicável. 5.2.2. No Novo Testamento 1) THEOS – Dos nomes aplicados a Deus no Novo Testamento, é o mais comum. Geralmente vê-se Theos como um genitivo possessivo, porque em Cristo, Deus pode ser considerado como o Deus de todos e de cada um dos Seus filhos. A idéia nacional do Antigo Testamento deu lugar à idéia individual, na religião. 2) KURIOS – é derivado de kuros, poder. Designa Deus como Poderoso, Senhor, o Possuidor, o Governador que tem poder e autoridade legal. É empregado não somente com referência a Deus, mas também a Cristo. 3) PATER – no sentido geral da idéia de originador ou criador; é empregado nas seguintes passagens: 1Cor.8:6; Ef.3:15; Heb.12:9 e Tg.1:18. Em todos os outros lugares ele serve para expressar a relação especial da Primeira Pessoa da Trindade com Cristo, com o Filho de Deus, seja no sentido metafísico, seja no sentido mediatório, ou a relação ética de Deus com todos os crentes como Seus filhos espirituais. 5.3. Os atributos Incomunicáveis de Deus 5.3.1. Auto-existência de Deus 59 Deus tem em si mesmo a base da Sua existência, os teólogos reformados dizem que Deus é independente. Deus não precisa de nós nem do restante da criação para nada. Deus é absolutamente independente e auto-suficiente (At.17:24-25). Só Deus existe em virtude de Sua própria natureza, como o Deus auto-existente. Ele não só é independente, como também faz tudo depender dEle. Deus é causa sui, Sua existência baseia-se em Si mesmo. Deus existe pela necessidade do Seu próprio ser. Ser é Sua natureza. A idéia da auto-existência de Deus era, geralmente, expressa pelo termo aseitas ( asseidade), significando auto-originado. 5.3.2. Imutabilidade de Deus Deus é imutável no Seu ser, nas suas perfeições, nos seus propósitos e nas suas promessas. Porém Deus age e sente de modos diversos, diante de situações diferentes (Sal.102:25-27;33:11). Na natureza, nos atributos e na vontade de Deus não é possível nenhuma mudança. A razão nosensina que não é possível nenhuma mudança em Deus, visto que qualquer mudança é para melhor ou para pior. Mas em Deus há perfeição absoluta, melhoramento e deterioração são igualmente impossíveis (Êx.3:14; Sal.102:26-28; Is.41:4; 48:12; Mal.3:6; Rom.1:23; Heb.1:11-12; Tg.1:17). Há várias passagens bíblicas que parecem atribuir mudanças a Deus (Êx. 32:9-14; Is.38:1-6; Gên.6:6; 1Sam.15:10). Esses exemplos devem ser entendidos como expressões verdadeiras de atitude ou intenção presente de Deus diante da situação que existe naquele momento. Se a situação muda, então é claro que a expressão de intenção divina também irá mudar. Isso quer dizer que Deus reage de modos diversos a situações diferentes. A imutabilidade divina não deve ser entendida no sentido de imobilidade, como se não houvesse movimento em Deus. A Bíblia nos ensina que Deus entra em multiformes relações com os homens e, por assim dizer, vive sua vida com eles. Ele está cercado de mudanças, mudança nas relações dos homens com ele, mas não há nenhuma mudança em seu Ser, em seus atributos, em seus propósitos, em seus motivos de ação, nem em suas promessas. Se as Escrituras falam do seu arrependimento, de sua mudança de intenção e da alteração que faz de sua relação com pecadores quando esses se arrependem, devemos lembrar de que se trata apenas de um modo antrotopático de falar. Na realidade a mudança não é em Deus, mas no homem e nas relações do homem com Deus. Os pelagianos e arminianos dizem que Deus é sujeito a mudanças, na verdade não em seu Ser, mas em seu conhecimento e em sua vontade, de modo que suas decisões dependem em grande medida das ações do homem; os panteístas dizem que Deus é um eterno vir-a-ser e não um ser absoluto. É importante sustentarmos a doutrina da imutabilidade de Deus contra estes argumentos antibíblicos. 5.3.3. Unidade de Deus Este atributo salienta a unidade e a unicidade de Deus. O fato de que Ele é numericamente um e que, como tal, Ele é único. Implica que existe somente um ser divino que, pela natureza do caso, só pode existir apenas um, e que todos os outros seres têm sua existência dEle, por meio dEle e para Ele. Em várias passagens a Bíblia nos ensina que existe apenas um Deus (I Reis 8:60; I Cor. 8:6; Deut. 6:4; Zc. 14:9; Êx. 15:11; etc.). A natureza divina não é dividida e é indivisível; há um só Espírito infinito e perfeito. A unidade de Deus não é inconsistente com a doutrina da Trindade, pois enquanto esta doutrina sustenta a existência das distinções pessoais na natureza divina, também sustenta que esta natureza divina é numérica e eternamente uma. Este atributo contraria o politeísmo, o triteísmo ou o dualismo, pois que a noção de dois ou mais deuses é autocontraditória, visto que um limita o outro e destrói sua divindade. Os gregos criam num Fado supremo que dirigia tanto os deuses como os homens. Aristóteles dizia que Deus apesar de ser um, tem muitos nomes, porque ele é chamado segundo os estados nos quais ele está sempre se encontrando novamente. 60 5.3.4. Eternidade de Deus Deus não tem principio nem fim, nem sucessão de momentos no seu próprio ser, e percebe todo o tempo com igual realismo. Ele, porem, percebe os acontecimentos no tempo e age no tempo. Essa doutrina é conhecida também como infinitude de Deus com respeito ao tempo. Ser infinito é ser ilimitado, e a doutrina ensina que o tempo não impõe limites em Deus. Deus não é limitado pelo universo. Ele não fica encerrado no universo. A perfeição absoluta de Deus não deve ser considerada num sentido quantitativo, mas qualitativo; ela qualifica todos os atributos comunicáveis de Deus. O poder infinito não é um quantum absoluto, mas sim, uma santidade qualitativa livre de toda limitação e defeito (Mal. 5:48; Rom. 12:2; Cl.1:28; Dt. 32:4; Sal.18:30). A forma em que a Bíblia apresenta a eternidade de Deus é simplesmente a de duração pelos séculos sem fim (Sal.90:2; 102:12; Ef.3:21). A eternidade de Deus pode ser vista com referência ao espaço sendo denominada imensidade. É a perfeição do Ser Divino pela qual Ele transcende todos os limites espaciais e, contudo, está presente em todos os pontos do espaço com todo o seu ser. Deus ocupa o espaço porque ele preenche todo o espaço. Ele não está ausente de nenhuma parte do espaço, nem tampouco está mais presente numa parte que noutra. Em certo sentido, os termos imensidade e onipresença, como são aplicados a Deus, denotam a mesma coisa. Todavia, há um ponto de diferença: imensidade aponta para o fato de que Deus transcende todo o espaço e não está sujeito às suas limitações, ao passo que onipresença denota que Ele preenche todas as partes do espaço com todo o seu ser. O primeiro salienta a transcendência e o último a imanência de Deus. Deus é imanente em todas as suas criaturas, na sua criação inteira, mas de modo nenhum é limitado a esta (I Re.8:27; Is.66:1; At.7:48-49; Sal.139:7-10; Jr.23:23-24; At.17:27-28). O termo onisciência de Deus significa que Ele conhece perfeita e eternamente todas as coisas, quer reais ou possíveis, passadas, presentes e futuras (Sal.147:4; Mat.10:29; Sal.33:13- 15; At.15:8). O termo é empregado num sentido técnico de Deus conhecer todas as coisas pertencentes ao universo da sua criação. O conhecimento de Deus é verdadeiro, correspondendo perfeitamente à realidade das coisas; é eterno compreendido em um ato que independe do tempo na mente divina. A presciência não é em si mesma causativa. Não deve ser confundida com a vontade pré-determinada de Deus. As ações livres não ocorrem porque são previstas, mas são previstas porque ocorrem. Ver uma coisa no futuro não a faz ser mais do que ver uma coisa no passado. A presciência pode e faz pressupor, mas não é pré-determinação. Tomás de Aquino diz “Deus não é a causa de todas as coisas que Ele conhece, visto que as coisas más, que ele conhece não provém dEle”. A onisciência de Deus não tira a responsabilidade do homem na prática de seus atos. A onipotência de Deus significa o poder de Deus fazer todas as coisas que são objeto do seu poder com ou sem o uso de meios. (Gên.17:1-3; Is.44:24; II Cor. 4:6; Ef.1:19; 3:20; etc.). A onipotência não implica poder de fazer o que não é objeto do poder; por exemplo, aquilo que é autocontraditório ou contradiz a natureza de Deus, como mentir, pecar, morrer. Onipotência não implica o exercício de todo o poder da parte de Deus. Deus pode fazer tudo o que Ele quer, mas não quer tudo o que Ele pode. De outra maneira Seu poder seria mera força agindo necessariamente, e Deus seria escravo de Sua onipotência. A onipotência não é instintiva; é uma força utilizada segundo a vontade de Deus. 61 5.4. Os Atributos Comunicáveis de Deus 5.4.1 Espiritualidade Dizer que Deus tem como atributo a espiritualidade é dizer que Ele existe como ser que não é feito de matéria, que não tem partes nem dimensões, incapaz de ser percebido pelos nossos sentidos corpóreos e mais excelente do que qualquer outro tipo de existência. É uma forma de existência muito superior a qualquer coisa que conhecemos (João:4:21,24). Quando se diz que “Deus é Espírito, trata-se, ao menos de uma declaração que visa dizer-nos numa única palavra o que Deus é. Pelo ensino da espiritualidade de Deus entendemos que salienta o fato de que Ele tem um Ser substancial exclusivamente seu e distinto do mundo, e que esse ser substancial é imaterial, invisível e sem composição nem extensão. Todas as qualidades que pertencem a perfeita idéia de Espírito se acham nEle: é um ser auto-consciente e auto- determinante. As passagens bíblicas que parecem atribuir a Deus a posse de partes do corpo e órgãos como olhos e mãos devem ser consideradas como antropomórficas ou simbólicas. Ao lado destas expressões há declarações especificasque representam quaisquer concepções materializadas de Deus, como que “o céu é o seu trono e a terra o escabelo de seus pés” (Is. 66:1), e, que “os céus dos céus não podem contê-lo” (I Re.8:27). A espiritualidade de Deus envolve os dois atributos: vida e pessoalidade. a) Vida – a Bíblia representa Deus como um Deus vivo (Jr.10:10; I Ts.1:9; Jô.5:26). A vida é mais do que energia mental ou energia do intelecto, sentimento e vontade. Deus é o Deus vivo, tendo em seu próprio ser a fonte do ser e da atividade tanto para si como para os outros. Se no homem o espírito implica vida, o espírito em Deus implica vida sem fim e inesgotável. b) Pessoalidade – a Bíblia representa Deus como um ser pessoal. Pessoalidade significa o poder de autoconsciência e autodeterminação. 1) Autoconsciência – é mais do que consciência. O homem não só é consciente de seus próprios atos e estados, mas por abstração e reflexão reconhece o eu que é o sujeito destes atos e estados. 2) Autodeterminação – é mais do que determinação. O homem, em virtude de sua vontade livre, determina sua ação a partir do interior. A si mesmo determina em vista dos motivos, mas sua determinação não é causada por motivos; ele mesmo é a causa. Deus como pessoal, no mais elevado grau de consciência, é autoconsciente e autodeterminante. A vontade divina absolutamente não tem embaraço; a atividade de Deus é constante, intensa e infinita (Jó 23:13). O conhecimento próprio e o senhorio próprio são a dignidade do homem, como também são a dignidade de Deus. 5.4.2 Invisibilidade Dizer que Deus é invisível é dizer que a essência integral de Deus, todo o Seu Ser é espiritual, jamais pode ser vista por nós, embora Deus se revele a nós por meio de coisas visíveis, criadas. (Jó 1:18; 6:46; 1Tim.1:17; 6:16;1Jo4:12). Embora jamais venhamos a ver a essência integral de Deus, mesmo assim Ele nos revela algo de Si mesmo por meio de coisas visíveis, criadas. Na pessoa de Jesus temos a única manifestação visível de Deus, no Novo Testamento. 5.5. Atributos Intelectuais de Deus 5.5.1 Conhecimento de Deus É a perfeição de Deus pela qual Ele, de maneira inteiramente única, conhece-se a Si próprio e a todas as coisas possíveis e reais num só ato eterno e simples (Jo.3:16; I Jo 3:20 ). Em conexão com o conhecimento de Deus, vários pontos pedem consideração: Sua natureza – é arquetípico, o que significa que Deus conhece o universo como ele existe em Sua própria idéia anterior à Sua existência como realidade finita no tempo e no espaço. É um conhecimento caracterizado por perfeição absoluta. Como tal é intuitivo, antes que 62 demonstrativo ou discursivo. È inato e imediato, e não resulta de observação ou de um processo de raciocínio. É simultâneo e não sucessivo, de modo que Ele vê as coisas de uma vez em sua totalidade e não fragmentada uma após outra. É completa e plenamente consciente, enquanto que o conhecimento do homem é sempre parcial. Faz-se distinção entre o conhecimento necessário e o livre conhecimento de Deus. O primeiro é o conhecimento que Deus tem de Si mesmo e de todas as coisas possíveis, um conhecimento que repousa na consciência de Sua onipotência. È chamado necessário, porque não é determinado por uma ação da vontade divina. È conhecido como conhecimento de simples inteligência, em vista do fato de que é pura e simplesmente um ato do intelecto divino, sem nenhuma ação concomitante da vontade divina. 5.5.2. Sabedoria de Deus Dizer que Deus tem sabedoria significa dizer que Ele sempre escolhe as melhores metas e os melhores meios para alcançar essas metas. A Bíblia fala da sabedoria de Deus (Jó 9:4; Rom.16:27; Jó12:13; 1Cor.1:24,30). Sabedoria de Deus é a Sua inteligência como manifestada na adaptação de meios e fim. Ela indica o fato de que Ele sempre busca os melhores fins possíveis, e escolhe os melhores meios para a consecução dos Seus propósitos. 5.5.3. Veracidade de Deus A veracidade divina indica que Ele é o Deus verdadeiro, e que todo o Seu conhecimento e todas as Suas palavras são ao mesmo tempo verdadeiros e o parâmetro definitivo da verdade. Deus Verdadeiro significa que Ele no Seu próprio Ser ou caráter é Aquele que plenamente se conforma à idéia daquilo que Deus deve ser. A veracidade de Deus indica o fato de que ela inclui diversas idéias como verdade, fidedignidade e fidelidade. Deus é tudo que como Deus deveria ser e, como tal, distingui-se de todos os deuses, assim chamados, os quais são chamados ídolos, nulidades e mentiras (Sal.96:5; 97:7; 115:4-8; Is.44:9-10). Há ainda outro aspecto dessa perfeição divina, a fidelidade, em virtude da qual Ele está sempre atento a Sua aliança e cumpre todas as promessas que fez ao Seu povo, Essa fidelidade é a base da Sua confiança, o fundamento da Sua esperança e a causa do Seu regozijo, assim vive o povo de Deus. 5.6. Atributos Morais de Deus 5.6.1. Bondade de Deus A bondade de Deus implica que Ele é o parâmetro definitivo do que é bom e que tudo o que Deus é e faz, é digno de aprovação. A Bíblia nos diz que Deus é a fonte de todo o bem do mundo (Tg.1:17;Sal.145:9:At.14:17). Em relação as suas criaturas, a bondade de Deus pode ser definida como a perfeição de Deus que O leva a tratar benévola e generosamente todas as Suas criaturas. A bondade de Deus está intimamente ligada a várias outras características da Sua natureza: a) Amor – Desde que Deus é absolutamente bom em Si mesmo, Seu amor não pode achar completa satisfação em nenhum objeto em que falta a perfeição absoluta. Ele ama as Suas criaturas racionais por amor a Si mesmo, ou, para expressá-Lo de outra forma, neles Ele se ama a Si mesmo. Ele ama os crentes com amor especial, dado que os vê como Seus filhos espirituais em Cristo. Dizer que Deus tem o amor como atributo, é dizer que Ele se doa eternamente aos outros. “Deus é amor” (1Jo 4:8). b) A Graça de Deus – A graça de Deus é a concessão de bondade a alguém que não tem nenhum direito a ela. A Bíblia, geralmente, emprega a palavra para indicar a imerecida bondade ou amor de Deus aos que perderam o direito a ela e, por natureza, estão sob a 63 sentença de condenação. A graça de Deus é a fonte de todas as bênçãos espirituais concedidas aos pecadores. É pela graça que o caminho da redenção foi aberto, (Rom.3:24; 2Cor.8:9); pela graça os pecadores recebem o dom de Deus em Jesus Cristo, (At.18:27; Ef.2:8); pela graça os pecadores são justificados, (Rom.3:24; 4:16;Tt.3:7); pela graça os pecadores herdam a salvação, (Ef.2:8;Tt.2:1.) c) Misericórdia de Deus – é a bondade ou amor de Deus demonstrado para com os que se acham na miséria ou na desgraça, independentemente dos seus méritos. Em sua misericórdia Deus se revela um Deus compassivo, que tem pena dos que se acham na miséria e está sempre pronto a aliviar a sua desgraça. As ternas misericórdias de Deus estão sobre as Suas obras, (Sl.145:9) e até os que não O temem compartilham delas, (Ef.18:23;32;33:11; Lc.6:35,36), outros termos empregados para expressar a misericórdia de Deus são piedade, compaixão e benignidade. d) Santidade de Deus – É a perfeição de Deus, em virtude da qual Ele eternamente quer manter e mantém a Sua excelência moral, aborrece o pecado, e exige pureza moral em Suas criaturas. Dizer que Deus tem como atributo a santidade, é dizer que Ele é separado do pecado e dedica-se a buscar a Sua própria honra No sentido original, a santidade de Deus, denota que Ele é absolutamente distinto de todas as Suas criaturas, e é exaltado acima delas em majestade infinita. Mas a santidade de Deus tem também um aspecto especificamente ético nas Escrituras. A idéia ética da santidade divina não pode ser dissociada da idéia da majestade-santidadede Deus. A idéia fundamental da santidade ética de Deus também é a de separação, mas, nesse caso, a separação é do mal moral, isto é, do pecado. Em virtude da Sua santidade, Deus não pode ter comunhão com o pecado, João 34:10; Hc1:13. A santidade de Deus é revelada na lei moral, implantada no coração do homem e que fala por meio da consciência e, mais particularmente na revelação especial de Deus. Expressa- se proeminentemente na lei dada a Israel. Essa lei, em todos os seus aspectos, foi dada em Jesus Cristo, que é chamado “O Santo e o Justo”, At. 3:14. Finalmente, a santidade de Deus é também revelada na igreja como o corpo de Cristo. 5.6.2. Justiça de Deus Significa que Deus sempre age segundo o que é justo e que Ele mesmo é o parâmetro definitivo do que é justo. Todo o que se conforma ao caráter moral de Deus é justo. A justiça se manifesta especialmente em dar a cada homem o que lhe é devido, em tratá-lo de acordo com os seus merecimentos. A inerente retidão de Deus é naturalmente básica para a retidão que Ele revela no trato de Suas criaturas. Justiça e retidão são a santidade transitiva de Deus em virtude da qual Seu tratamento para com as criaturas se conforma com a pureza de Sua natureza, a retidão demandando de todos os seres morais, a conformidade com a perfeição de Deus, e a justiça visitando a inconformidade com aquela perfeição, na perda judicial ou sofrimento. A Bíblia, em geral, dá mais ênfase à recompensa dos justos que a punição dos ímpios. O propósito primordial da punição do pecado é a manutenção do direito e da justiça. 5.6.3. Zelo de Deus Significa que Deus busca continuamente proteger a Sua honra. Deus ordena que Seu povo não se prostre perante ídolos, nem os sirvam, “... porque, eu sou o Senhor teu Deus, Deus zeloso”, Êx.20:5. Ele deseja que a adoração seja dirigida a Ele, e não a falsos deuses, Êx.34:14; Dt.4:24;5:9. Só Deus é infinitamente digno de ser louvado. Perceber esse fato e se deleitar nisso é descobrir o segredo da verdadeira adoração. 5.6.4. Ira de Deus 64 A ira de Deus diante do pecado está intimamente associada à santidade e a justiça de Deus. A ira de Deus significa que Ele odeia intensamente o pecado. Ao pensar na ira de Deus, precisamos ter em mente a Sua paciência, (Sal.103:8-9; Rom.2:4) 5.7. Atributos de Propósito de Deus 5.7.1. A Vontade de Deus em Geral A vontade de Deus é o atributo por meio do qual Ele aprova e decide executar todo ato necessário para a atividade de Si mesmo e de toda a criação. A Bíblia freqüentemente indica a vontade de Deus como razão definitiva ou absoluta para qualquer coisa que acontece. Paulo se refere a Deus como Aquele “que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade”, Ef.1:11. Todas as coisas foram criadas pela vontade de Deus como a causa última de toda criação. Deus tem Suas razões para querer como quer, razões que O induzem a escolher um fim e não outro, e uma série de meios para realizar um fim, em preferência a outros meios. Uma distinção proveitosa aplicada aos aspectos da vontade de Deus é a distinção entre vontade necessária e vontade livre. A vontade necessária de Deus alcança tudo o que Ele tem, obrigatoriamente de desejar conforme a Sua natureza. E o que Deus necessariamente deseja é a Si próprio. Deus eternamente deseja ser, ou quer ser, quem realmente Ele é e o que Ele é. Deus diz: “Eu Sou” ou “Eu Serei o que Serei” (Êx. 3:14). Deus não pode decidir ser diferente do que é, nem deixar de existir. A vontade livre ou livre arbítrio de Deus encerra todas as coisas que Deus decidiu desejar sem, necessariamente, ter de desejar conforme a Sua vontade. Aqui precisamos enquadrar a decisão divina de criar o universo, além de todas as decisões ligadas aos detalhes da criação, como também todos os atos redentores de Deus. Outra distinção aplicada aos diferentes aspectos da vontade divina é a que se faz entre a vontade secreta e a vontade revelada de Deus. A vontade secreta de Deus geralmente inclui decretos ocultos, segundo os quais rege o universo e determina tudo o que irá acontecer. Descobrimos o que Deus decretou quando os acontecimentos de fato ocorrem. Como essa vontade secreta de Deus tem que ver com a decretação dos acontecimentos do mundo, esse aspecto da vontade divina é, às vezes, chamado também, vontade decretatória. A verdade revelada de Deus geralmente abrange Seus mandamentos ou preceitos para nossa conduta moral, tal vontade e ás vezes chamada vontade preceptiva ou vontade mandamental. Essa vontade revelada de Deus é a vontade declarada a respeito do que devem fazer ou do que Deus manda que seja feito. 5.7.2. O Poder Soberano de Deus A soberania de Deus acha expressão não somente na vontade divina, como também na onipotência de Deus, ou em seu poder de executar a sua vontade. Podemos afirmar o poder absoluto de Deus. A Bíblia nos narra que o poder de Deus estende-se além daquilo que é realizado de fato (Gên.18:14; Jr.32:27; Zc.8:6; Mat.3:9; 26:53). Portanto, não se pode dizer que aquilo que Deus não realiza concretamente não lhe é possível realizar. A Bíblia ensina também que há coisas que Deus não pode fazer. Ele não pode mentir, pecar, mudar e não pode negar-se a si próprio (Num.23:19; I Sam.15:29; II Tim.2:13; Heb. 6:18; Tg.1:13,17). CAPÍTULO IV DOUTRINA DA TRINDADE Deus existe eternamente como três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo e cada pessoa é plenamente Deus, e, existe só um Deus. O termo Trindade não se encontra nas Escrituras, apesar de que o conceito que ela expressa é escriturístico. Atribui-se a Tertuliano o primeiro a utilizar o termo. Os montanistas 65 foram os primeiros que formularam a doutrina da Trindade. O termo nos chama atenção para o seguinte: o Pai é Deus, o Filho é Deus o Espírito Santo é Deus e há um só Deus. Quando nos referimos à Trindade queremos falar sobre uma Trindade em unidade e a uma unidade que é trina. A doutrina da Trindade não afirma que as três pessoas estão unidas numa pessoa, ou três seres num só ser ou três deuses num só Deus (triteísmo); nem que Deus se manifesta em três diferentes modos (Trindade modal), mas que há três eternas distinções na substância de Deus. 1. Três Reconhecidos como Deus na Escritura Com base na forma bíblica na apresentação da doutrina podemos destacar o seguinte: a) Há um só Deus Vivo e Verdadeiro. A Bíblia apresenta, por toda parte que Jeová é Deus (Dt. 6:4); (Is. 44:6; Tg. 2:19); b) Na Bíblia todos os títulos e atributos divinos são designados igualmente ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. O mesmo culto divino lhes é prestado, como Deus. Não é mais evidente que o Pai é Deus mais do que o Filho é Deus; nem é a Deidade do Pai e do Filho mais claramente revelada do que a do Espírito Santo. c) Os termos, Pai, Filho e Espírito Santo não expressam diferentes relações de Deus com suas criaturas. O Pai ama o Filho; o Filho ama o Pai; o Espírito Santo testifica do Filho. O Pai, Filho e Espírito Santo são variadamente sujeito e objeto. Agem e são objetos de ação. Nada se acrescenta a estes fatos quando se diz que o Pai, o Filho e o Espírito Santo, são pessoas distintas; porque uma pessoa é um sujeito inteligente que pode agir e ser objeto de ação. d) Embora o Pai, o Filho e o Espírito Santo sejam iguais em substância e iguais em poder e glória, o Pai envia o Filho, o Pai e o Filho enviam o Espírito Santo. É ordem de operação ou execução do planejamento da Trindade sem inferiorizar uma Pessoa a outra. e) Com base na Bíblia, o Pai criou o mundo, o Filho criou o mundo, e o Espírito Santo criou o mundo. O Pai preserva todas as coisas; o Filho sustenta todas as coisas; e o Espírito Santo é a fonte de toda a vida. O Pai cria; o Filho redime; e o Espírito Santo santifica. Trindade significa “Triunidade”ou “três em unidade”. 1.1. Indicação da Trindade no Antigo Testamento Alguns dos primeiros chamados, pais da igreja e alguns teólogos, mais recentes, desconsiderando o caráter progressivo da revelação de Deus, opinaram que a doutrina da Trindade foi revelada completamente no Antigo Testamento. O Antigo Testamento não contém plena revelação da existência Trinitária de Deus, mas contém várias indicações dela. A Bíblia revela a substância Trinitária, em suas várias relações, como uma realidade viva, em certa medida em conexão com as obras da criação e da providência, mas particularmente em relação à obra de redenção. a) Há passagens que ensinam certo tipo de pluralidade em Deus. Emprega-se o substantivo Elohim (plural) para designar Deus (Gên. 1:1). Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança (Gên. 1:26)”, aqui encontramos o verbo e o pronome, ambos na primeira pessoa do plural. Alguns já afirmaram tratar-se de plurais majestáticos, forma de falar que um rei usaria ao dizer, por exemplo: “temos o prazer de atender-lhe o pedido”. Mas, no Antigo Testamento hebraico não se encontram outros exemplos em que um monarca use verbos no plural ou pronomes plurais para referir-se a si mesmo nessa forma de “plural majestático”. Outros dizem que Deus estava falando com os anjos. Mas anjos não participaram da criação do homem, nem foi o homem criado à imagem e semelhança dos anjos. Outros textos como Gên. 3:22; 11:7: Is. 6:8, nos apresentam indicação da pluralidade no próprio Deus. Este emprego do 66 plural no hebraico antigo a Deus freqüentemente se explica como mero plural de dignidade, isto é, alguém que combina em si muitas razões para adoração, também é chamado de “plural quantitativo”, significando grandeza ilimitada. b) Passagem que se refere ao Anjo do Senhor. O anjo de Yahweh se identifica com Yahweh e é identificado por outros como Yahweh. No antigo Testamento a expressão parece designar o Logos preencarnado, cujas manifestações em forma Angélica ou humana prefiguravam sua vinda final em carne. Gên.22:11,16: “O anjo do Senhor”; “por mim mesmo jurei, diz o Senhor” Gên.31:11,13: “e disse-me o Anjo de Deus... Eu sou o Deus de Betel”; Gên. 16:9,13: “Então, lhe disse o Anjo do Senhor... ela chamou o nome do Senhor, que com ela falava: Tu és Deus que vê”; Gên. 48:16-16: “O Deus que me sustentou... o Anjo que me livrou” Ex.3:2,4,5: “E o Anjo do Senhor lhe apareceu... bradou Deus a ele do meio da sarça... tira os teus sapatos de teus pés”; Jz.13:20-22: “O Anjo do Senhor subiu... Manoá e a sua mulher... caíram em terra sobre o seu rosto... Manoá disse... certamente morreremos, porquanto temos visto Deus”. c) Descrevendo o Messias. A Bíblia apresenta como um com Yahweh e em certo sentido Ele é distinto de Yahweh. Isaías 9:6: “Um menino nos nasceu, um filho se nos deu... e o seu nome será Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz”; Miq. 5:2: “Tu, Belém... que és pequena... de ti sairá o que será Senhor em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade”; Sal. 45:6-7: “O teu trono, ó Deus é eterno e perpétuo... por isso, Deus, teu Deus te ungiu”. Não devemos começar a nossa prova da Trindade com uma referência às passagens do Antigo Testamento. Devemos falar dessas passagens, como fornecendo indicações da doutrina, ao invés de prová-la. 1.2. Provas do Novo Testamento sobre a Trindade a) O Pai é reconhecido em muitas passagens bíblicas, como Deus. Ex. Jo. 6:27 “o Pai, Deus, o selou”; I Pe. 1:2 “presciência de Deus, Pai”, etc. b) O Filho é reconhecido como Deus. Em Jo. 1:1 a ausência do artigo demonstra que o termo theos é predicativo. Este predicativo precede o verbo para dar ênfase, indicando progresso, pensamento. O Logos não só estava no principio com Deus, mas era Deus. Jesus, não é simplesmente o único revelador de Deus; Ele é o próprio Deus (Jo.1:18). Em Jo.1:18 “o Deus unigênito” deve-se considerar como a leitura correta e uma clara atribuição da divindade absoluta a Cristo. Cristo aceitou a declaração de Tomé, em Jo.20:28 “Tomé respondeu e disse-lhe: Senhor meu e Deus meu”. As palavras de Tomé, aceitas por Cristo, podem ser consideradas como um justo reconhecimento, da parte de Tomé de que Cristo é o seu Senhor e seu Deus. No Antigo Testamento há descrições de Deus aplicadas a Cristo. Mat. 3:3 “Preparai o caminho do Senhor” é uma citação de Isaías 40:3; João 12:41. Isaias disse isso quando viu a sua glória e falou dele, refere-se a Is.6:1; em Ef.4:7-8 “ a medida do dom de Cristo...levou cativo o cativeiro”, é uma aplicação do que se diz em Sal.68:18, sobre Cristo. Jesus possui atributos próprios de Deus, como vida, existência própria, imutabilidade, verdade, amor santidade eternidade, onipresença, onisciência, onipotência (Jo.1:4;14:16;5:26; Heb.7:16; Ap.3:7;1Jo.3:16; Lc.1:35; Jo.6:69; Heb.7:26; Jo.1:1: Ap.21.6; Mat.28:20; 9:14; Jo.2:24-25; 16:30; At. 1:24; Mat. 28:18; Ap.1:8). Atos próprios de Deus atribuídos a Cristo, como a criação do mundo, o sustento de todas as coisas, a ressurreição final dos mortos e o julgamento de todos os homens: - Criação – Jo. 1:38; I Cor. 8;6; Cl. 1:16; Heb. 1:10. - Criação e sustentação – Jo. 1:3,4; Cl. 1:17. Cristo recebe honra e louvor devidos só a Deus. Além das palavras de Tomé, já referidas, achamos referências nas orações e adoração oferecidas pelas igrejas apostólicas e pós-apostólicas. (Jo. 5:23; 14:14; At. 7:59; Rom. 10:9; I Cor. 11:24,25; Heb. 1:6; Fil. 2:10,11). 67 O nome de Cristo é associado ao de Deus no mesmo pé de igualdade. Isto encontramos na fórmula do batismo, nas bênçãos apostólicas e nas passagens que se diz que a vida eterna depende igualmente de Cristo e de Deus, ou em que os dons espirituais são atribuídos a Cristo do mesmo modo que ao Pai (Mat. 28:19; At. 2:38; Rom. 6:3; I Cor. 1:3; II Cor. 13:13; Gal. 1:3; Ef. 3:14; 6:23). c) O reconhecimento do Espírito Santo como Deus. Referências ao Espírito Santo como sendo Deus (At.5:3,4; I Cor. 3:6; 6:19; 12:4-6). Atributos próprios de Deus aplicados ao Espírito Santo, como vida, verdade, amor, santidade, eternidade, onipresença, onisciência e onipotência. Vida – Rom. 8:2; Verdade – Jo. 16:13; Amor – Rom. 15:30; Santidade – Ef. 4:30; Eternidade – Heb. 9:14; Onipresença – Sal. 139:7; Onisciência – I Cor. 12:11. O Espírito Santo realiza obras próprias de Deus, com referência a criação, regeneração, ressurreição. Criação – Gên. 1:2; Expulsão de demônios – Mat. 12:28; Regeneração – Jo. 3:8; Ressurreição – Rom. 8:11. O Espírito Santo recebe honras que são devidas a Deus (I Cor. 3:16). O Espírito Santo também é associado com Deus como na formula do batismo (Mat. 28:19; II Cor. 13:13; I Pe. 1:2). 2. Três declarações sobre a Trindade 2.1. Deus é três pessoas O fato de ser Deus três pessoas significa que o Pai não é o Filho; são pessoas distintas. Significa também que o Pai não é o Espírito Santo. Essas distinções estão em muitas passagens bíblicas: Jo. 1:1,2; 17:24; I Jo. 2:1; Heb. 7:25; Jo. 14:26; Rom. 8:27; Mat. 28:19; Jo. 16:7. Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo constituem um só Deus. 2.2. Cada Pessoa é Deus Deus Pai é plenamente Deus. Isso é evidente desde o primeiro versículo da Bíblia, quando Deus cria o céu e a terra. Todo contexto bíblico mostra esta verdade. O Filho é plenamente Deus. João 1:1-4 afirma claramente a plena divindade de Jesus. João está falando de algo que já era verdade antes que o mundo fosse criado. Deus Filho sempre foi plenamente Deus. Em João 20:27 Tomé declara Jesus como seu Deus. Tanto João, no modo como escreveu o seu evangelho, quanto o próprio Jesus aprovam o que Tome dissee incentivam a todos os que ouvirem falar da afirmativa de Tomé a crer da mesma maneira que Tomé creu. Outras passagens afirmam a plena divindade de Jesus, como Heb. 1, onde o autor diz que Cristo é a “expressão exata” (charakter) “reprodução exata” da natureza ou ser de Deus, significando que Deus Filho reproduzia o ser ou a natureza de Deus Pai em todos os aspectos. Todos os atributos ou poderes que Deus Pai tem Deus Filho também os tem. O verso 8 do mesmo capitulo também se refere ao Filho como Deus (Heb. 1:10; Sal. 102:25; Tito 2:13; II Pedro 1:4; Rom. 9:5; Is. 9:6; 40:3). O Espírito Santo é plenamente Deus. Em Mateus 28:19 entende-se que o Espírito Santo está classificado no mesmo nível do Pai e do Filho. Pedro, em Atos 5:3,4, afirma para Ananias que o Espírito Santo é Deus. Em I Cor. 3:16 Paulo diz: “Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” em I Cor. 2:10,11 Paulo atribui a característica da onisciência ao Espírito Santo. 2.3 Só há um Deus 68 As três diferentes pessoas da Trindade são um não apenas em propósito e em concordância no que pensam, mas um em essência, um na sua natureza essencial. Deus é um só ser. Em Deut. 6:4-7 lemos: “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força”. Em I Reis 8:60 Salomão ora para que todos os povos da terra saibam que o Senhor é Deus e que não há outro. Há várias passagens no NT que testificam ser Deus um só (I Tim. 2;5;Rom. 3:30; I Cor. 8:6; Tiago 2:19). Os principais erros ligados à Trindade nasceram da negação de uma ou outra das proposições que consideram o assunto. 2.3.1. Teoria do modalismo afirma que existe só uma única pessoa que se revela a nós de três diferentes formas (ou modos). Adeptos do modalismo pregaram que Deus não é de fato três pessoas diferentes, mas uma única pessoa que se revela às pessoas de modos diversos em momentos diferentes. Por ex., o Deus do AT se revelou como Pai. Nos Evangelhos essa mesma pessoa divina se revelou como Filho, na vida e no ministério de Jesus. Depois do Pentecostes, essa mesma pessoa se revelou como o Espírito Santo ativo na igreja. Os defensores da Trindade modal eram os monarquianos, patripassianos ou unitarianos, como eram chamados, indiferentemente. Reconheciam a verdadeira divindade de Cristo, mas negavam quaisquer distinções pessoais da deidade. A mesma pessoa é, simultaneamente, Pai, Filho e Espírito Santo. Os principais defensores desta teoria foram Praxeas, da Ásia Menor, que ensinou esta doutrina em Roma em 200 d.C.; Noltus, de Esmirna, 230 d.C; Beryll, bispo de Bostra, na Arábia, em 250 d.C. e, especialmente Sabélio, presbítero de Ptolemaida, em 250 d.C, devido a quem a teoria passou a ser conhecida como sabelianismo. Esta teoria opunha às evidências das Escrituras, foi rejeitada pelo povo de Deus. 2.3.2. Teoria gnóstica – os gnósticos sustentavam que havia uma série de emanações do ser primordial, de diferentes ordens ou categorias. Apresentavam Cristo como uma das mais elevadas dessas emanações ou eôneos; reduziam Cristo à categoria dos seres dependentes, exaltados acima dos demais da mesma classe em dignidade, mas não em natureza; negavam a verdadeira humanidade de Cristo. Esta teoria foi rejeitada como insatisfatória e herética. 2.3.3. Teoria do arianismo – o termo arianismo vem de Ário, bispo de Alexandria, condenado pelo Concilio de Nicéia em 325 d.C. e que morreu em 356 d.C. Ário pregava que o Pai é o único ser divino absolutamente sem começo. O Filho e o Espírito Santo, através de quem Deus cria e recria, foram criados do nada antes que o mundo fosse feito. Cristo foi chamado Deus porque Ele é o seguinte em relação a Deus e dotado por Deus de poder de criar. Pode-se dizer que o Filho é igual ao Pai ou semelhante ao Pai na sua natureza, mas não se pode dizer que é da mesma natureza do Pai. A teoria de Ário cai de encontro às Escrituras. Apresenta um Deus criado, cuja existência teve um começo e, portanto, pode ter um fim, feito de uma substância que em certa época não era e, portanto, diferente da do Pai, não é Deus, mas criatura finita. Mas a Bíblia fala de Cristo sendo no começo com Deus. 2.3.4. Teoria do subordinacionismo – o subordinacionismo defendia que o Filho era eterno (não criado) e divino, mas não igual ao Pai no seu ser, nos seus atributos. O Filho era inferior ao Pai ou subordinado ao Pai. Orígenes (185-254 d.C), um dos pais da igreja primitiva, advogava uma forma de subordinacionismo ao sustentar que o Filho é inferior ao Pai no seu ser e que deriva eternamente o seu ser do Pai. O Filho foi reduzido à categoria de criatura, a criação, segundo Orígenes, é desde a eternidade. O Logos era a Palavra, o Filho de Deus, gerado antes da criação, desde a eternidade. O Espírito Santo, às vezes é identificado com o Logos; às vezes é 69 representado como substância comum com o Pai e o Filho: às vezes como mero poder ou eficiência de Deus; às vezes como uma pessoa distinta subordinada ao Logos e uma criatura. 3. Três Pessoas, uma só Essência O termo Pessoa expressa a concepção que as Escrituras nos dão da relação entre Pai, Filho e Espírito Santo. A palavra Pessoa é empregada em um sentido qualificado, não no sentido comum, como se aplica a outras pessoas. A palavra “Pessoa” é apenas a expressão imperfeita e inadequada de um fato que transcende a nossa experiência e compreensão. A distinção pessoal em Deus é interior e de unidade. Não se trata de uma distinção que qualifica a unidade ou usurpa o seu lugar, ou o destrói. Não se trata de uma relação de exclusão mutua, mas de inclusão. Nenhuma Pessoa é ou pode ser sem as outras. Os termos Pai e Filho são termos que surgem imediatamente dos fatos temporais da encarnação mais do que as relações eternas do ser divino. As pessoas da divindade têm a mesma natureza ou essência. A essência não dividida de Deus pertence, igualmente, a cada uma das pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo, cada um possui toda a substância e todas as atribuições da divindade. Há uma inter comunhão de pessoas e uma imanência de uma pessoa divina na outra que permite a obra peculiar atribuir-se, com uma simples limitação, a qualquer uma das outras e a manifestação de uma se reconheça na manifestação de outra. Esta inter comunhão, juntamente com a ordem da pessoalidade e operação, explica o emprego ocasional do termo “Pai”, aplicado à divindade toda (Ef.4:6), também explica a designação de Cristo como “o Espírito”, e do Espírito como “ o Espírito de Cristo”( 1Cor. 15:45; Gal. 4:6;Fp.1:19). CAPÍTULO V A DOUTRINA DA CRIAÇÃO Criação é o ato livre do Deus Trino, pelo qual, para Sua glória, Ele fez, sem o uso de matéria preexistente, todo o universo visível e invisível; Deus criou todo o universo, este era, originalmente muito bom, e Ele o criou para glorificar a Si mesmo. A criação não é uma simples idéia de Deus. O plano implica um exercício não só do intelecto, mas também da vontade que não é instintiva e inconsciente, mas pessoal e livre. Antes de Deus iniciar a criação do universo, nada existia além do próprio Deus. Criação é fazer existir aquilo que uma vez não existia, quer em forma, quer em substância; é um ato livre de uma vontade racional, exercido com uma finalidade definida e suficiente. As pessoas da Trindade tiveram parte ativa na criação; O Pai como causa originadora, o Filho como causa mediadora e o Espírito Santo como causa realizadora (Jo.1:3-4; 1Cor.8:6; Cl.1:16; Hb.1:10). A doutrina da criação ex-nihilo e como ato livre de Deus foi aceita pela igreja primitiva. Acha-se em Justino Mártir, Irineu, Tertuliano, Clemente de Alexandria, Orígenese outros. Teófilo foi o primeiro , chamado “ pai da igreja” que salientou o fato de que os dias da criação foram dias literais. Esta opinião foi também de Irineu e Tertuliano e, provavelmente, das primeiras igrejas cristãs. Clemente e Orígenes achavam que a criação tinha sido realizada num momento único e indivisível, entendiam sua descrição como obra de vários dias como um simples recurso literário para descrever a origem das coisas na ordem do seu valor ou da sua conexão lógica. A idéia de uma criação eterna, defendida por Orígenes, geralmente era rejeitada. Durante a controvérsia trinitária ficou evidente que a criação do mundo foi um ato 70 livre do Deus Triúno. Agostinho argumentava que a criação esteve eternamente na vontade de Deus, portanto, não produziu nenhuma mudança nEle. Antes da criação o tempo não existia, dado que o mundo foi trazido à existência juntamente com o tempo. Os reformadores defendiam a doutrina da criação do nada, por um livre ato de Deus, no tempo ou com ele, e consideravam os dias da criação como seis dias literários . No século XVIII, sob a influência do panteísmo e do materialismo, a ciência investiu- se contra a doutrina da criação defendida pelas igrejas cristãs. Substituiu a idéia da absoluta origem por um Fiat divino pela evolução ou desenvolvimento. A origem do mundo foi empurrada para trás, milhares e até milhões de anos, rumo a um passado desconhecido. 1. Prova Bíblica da Doutrina da Criação Um grande número de claras e inequívocas afirmações da Bíblia, falam da doutrina da criação do mundo como um fato histórico A frase “os céus e a terra”, em Gen.1:1, abrange todo o universo. No Sal. 33:6,9 diz: “os céus por sua palavra se fizeram, e, pelo sopro de sua boca, o exército deles..., e tudo se fez; ele ordenou, e tudo passou a existir”. Em Jo.1:3 lemos: “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez”. Entendemos que a expressão “todas as coisas”, subentende, toda criação de Deus. Paulo é claro em Cl. 1:16, quando especifica que todas as partes do universo, as visíveis e as invisíveis, foram criadas. Em Ap. 4: diz que a vontade de Deus foi a razão pela qual as coisas passaram a existir e pela qual foram criadas. 2. A Idéia da Criação É atribuído ao Pai, isto é, a primeira pessoa da Trindade, a origem de todas as coisas. Isso está em harmonia com a descrição do Novo Testamento de que todas as coisas são do Pai, mediante o Filho e no Espírito Santo. A igreja primitiva entendia o verbo criar no sentido estrito de produzir alguma coisa do nada. A criação, no sentido estrito da palavra, pode ser definida como o livre ato de Deus pelo qual Ele, segundo a Sua vontade soberana e para Sua própria glória, produziu no princípio, todo o universo visível e invisível, sem uso de material preexistente, e assim lhe deu uma existência distinta da Sua própria e, ainda assim dele depende. A Bíblia usa a palavra “criar” também em casos em que Deus fez uso de materiais preexistentes, como na criação do sol, da lua, das estrelas, dos animais e do homem. 2.1. A criação Ato do Deus Triúno A Bíblia nos ensina que o trino Deus é o autor da criação. (Gên. 1:1; Is. 40:12; 44:24; 45:12). Embora o Pai esteja em primeiro plano na obra da criação (I Cor. 8:6) esta é também claramente reconhecida como obra do Filho e do Espírito Santo. A participação do Filho na criação é indicada em João 1:3 , I Cor. 8;6; Cl. 1:15-17; e a atividade do Espírito Santo é expressada em Gên. 1:2;João 16:13; 33:4; Sal. 104:30; Is. 40:12- 13. a segunda e a terceira pessoas da Trindade são autores independentes, juntamente com o Pai. A obra da criação não foi dividida entre as três pessoas, mas a obra completa é atribuída a cada uma das pessoas. Todas as coisas são, de uma só vez, oriundas do Pai, por meio do Filho e no Espírito Santo. 2.2. A criação ato livre de Deus A criação é um ato livre de Deus e determinado por Sua soberana vontade. A Bíblia nos ensina que Deus criou todas as coisas segundo a Sua vontade (Ef. 1:11; Ap. 4:11) e que Ele é auto-suficiente e não depende de Suas criaturas, de modo nenhum (João 22:2,3; At. 17:25). 71 2.3. A criação, ato temporal de Deus A Bíblia começa com a seguinte declaração: “No princípio, criou Deus os céus e a terra”, Gên.1:1. É bom tomar a expressão no sentido absoluto, como uma indicação do início de todas as coisas temporais e do próprio tempo; Keil é de opinião que se refere ao princípio da obra da criação. Tecnicamente, não é certo presumir que já existia o tempo quando Deus criou o mundo, e que Ele, em certo ponto desse tempo existente, deu princípio à produção do universo. O tempo é apenas uma das formas de toda a existência criada e, portanto, não poderia existir antes da criação. A Escritura fala desse começo, (Mat.19:4,8; Mc.10:6; Jo.1:1; Hb.1:10; Sal.90:2; Sal.102:25). Antes do princípio, mencionado em Gên.1:1, devemos considerar uma eternidade sem princípio, durante a qual somente Deus existia. Autores há que levantam muitas indagações quanto à ação de Deus nesta eternidade. Algumas sugestões surgiram, na tentativa de responder: 1) Teoria da criação eterna - Conforme alguns (Orígenes, Scotus Erígena, Dorner, Rothe Pfleiderer), Deus tem estado criando desde a eternidade, de sorte que o mundo apesar de ser uma criatura e de ser dependente, é tão eterno como o próprio Deus. Tem-se fundamentado isso na onipotência, na atemporalidade, na imutabilidade e no amor de Deus; mas nenhuma dessas qualidades implica ou envolve, necessariamente, a criação eterna. \esta teoria é contrária às Escrituras. Esta teoria baseia-se na identificação do tempo e a eternidade, quando estes são essencialmente diferentes. 2) Teoria da subjetividade do tempo e da eternidade – Alguns filósofos especulativos (Spinoza, Hegel, Green), alegam que a distinção do tempo e eternidade é puramente subjetiva e se deve a nossa condição finita. Esta teoria torna as realidades objetivas em formas subjetivas de consciência, e reduz toda a história a uma ilusão. O desenvolvimento no tempo é uma realidade, há uma sucessão temporal em nossa vida consciente e na vida da natureza ao nosso redor. As coisas que aconteceram ontem não são as que estão acontecendo hoje. A dificuldade está no nosso entendimento temporal. A eternidade de Deus não é um período de tempo indefinidamente prolongado, mas uma coisa essencialmente diferente, que somos incapazes de conceber. A existência de Deus é atemporal, uma presença eterna. O remoto passado e o mais distante futuro estão ambos presentes nEle. 2.4. A criação, ato produzido do nada Em oposição a todas as teorias que apresentam vãs especulações, a doutrina sustentada pelas Escrituras sobressai com grandiosa sublimidade: “No princípio, criou Deus os céus e a terra”. “O nada do qual Deus cria o mundo são as eternas possibilidades da Sua vontade, que são as fontes de todas realidades do mundo”. Gên.1:1 registra o início da obra da criação, e não apresenta Deus produzindo o mundo com material preexistente. Foi criação do nada. Deus é descrito produzindo todas as coisas pela palavra do Seu poder, (Sal.33:6,9; 148:5;Heb.11:3). 3. Teorias Incompatíveis com os Ensinamentos das Escrituras Abordaremos três tipos de explicação da origem do universo que são incompatíveis com as Escrituras. 3.1. Teorias Seculares Teoria secular é qualquer teoria da origem do universo que não considera que um Deus pessoal e infinito é o responsável pela criação, segundo desígnios inteligentes. A teoria “bigue-bangue” (numa forma secular em que se exclui Deus), bem como quaisquer teorias que defendam que a matéria sempre existiu. 72 3.2. Teoria da Evolução O termo evolução é, comumente, usado para referir-se à “macroevolução”, ou seja, a“teoria geral da evolução”, ou a idéia de que “substâncias não vivas deram origem ao primeiro material vivo, que em seqüência se reproduziu e se diversificou, gerando todos os organismos extintos e existentes”. A atual teoria neodarwinista ainda é essencialmente semelhante à posição original de Dawuin, mas com aperfeiçoamento e modificações devidos a mais de cem anos de pesquisas. Na moderna teoria evolutiva darwinista, a história do desenvolvimento da vida começou quando uma combinação de substâncias químicas presentes na terra gerou espontaneamente uma forma de vida simples, provavelmente unicelular. Essa célula viva se reproduziu, e acabaram surgindo algumas mutações ou diferenças nas novas células geradas. Essas mutações levaram ao desenvolvimento de formas de vidas mais complexas. Um ambiente hostil provocava a morte da maioria delas, mas as que se adaptavam melhor ao habitat sobreviviam e se multiplicavam. Um número crescente de mutação acabou gerando uma variedade cada vez maior de seres vivos, de modo que por meio desse processo de mutação e seleção natural desenvolveram-se na terra todas as complexas formas de vida, a partir de um único organismo extremamente simples. A maior dificuldade de toda teoria evolutiva é explicar como a vida pode ter começado. A geração espontânea mesmo do mais simples organismo capaz de vida independente a partir de materiais inorgânicos na terra não pode ter acontecido pela combinação aleatória de substâncias químicas. É algo que exige desígnio inteligente e engenhosamente tão complexo que nem mesmo o mais avançado laboratório científico do mundo conseguiu fazê-lo. Esta teoria sustenta que a criação é apenas o nome de um processo natural ainda em andamento; a matéria tem em si o poder, sob condição apropriadas, de empreender novas funções e de desenvolver formas orgânicas. Alguns evolucionistas como Haeckel, crêem na eternidade da matéria, e atribuem a origem da vida à geração espontânea. A crença na eternidade da matéria além de ser anticristã e até mesmo ateísta, é também desacreditada. A idéia de que a matéria, com a energia como sua propriedade universal e inseparável, é suficiente para a explicação do mundo, acha pouco apoio nos círculos científicos atuais. Sente-se que um universo material composto de partes finitas (átomos, elétrons, etc.) não pode ser infinito e aquilo que está sujeito a constante mudança não pode ser eterno. Fica cada vez mais claro que a matéria e a força ou energia cegas não podem explicar a vida e a personalidade, a inteligência e a vontade livre. A idéia de geração espontânea é pura hipótese, não somente não verificada, mas também praticamente desacreditada. A lei geral da natureza, ao que parece é: “omne vivum” ou “ex vivo" (tudo que é vivo provém do que é vivo). Devemos ter cuidado com o que ouvimos ou lemos, podendo nos afastar das verdades bíblicas.. Existem duas correntes opostas à interpretação bíblica sobre a criação: 1. Criacionista – afirma que Deus criou todas as coisas e crêem conforme o relato bíblico; 2. Evolucionismo – Não aceitam a criação de Deus, mas na evolução das espécies.. Paleontologia é uma ciência que estuda os fósseis, isto é, o que sobrou de alguns seres vivos que viveram no passado. Às vezes estes seres foram soterrados tão rapidamente que os seus esqueletos permanecem intactos até hoje e se transformaram em pedra, se petrificaram. Os registros fósseis são importantes para responder sobre a origem dos seres vivos. Nunca foi encontrado um fóssil que apoiasse o evolucionismo. De acordo com os evolucionistas, todos os seres vivos vieram de um ancestral comum, ou seja, de uma única espécie de ser e a partir daí surgiram todos os outros. Os 73 seres vivos unicelulares, de uma só célula, se tornaram invertebrados marinhos. Os invertebrados marinhos se transformaram em peixes. Estes peixes, mais tarde, supostamente, vieram para a terra seca e ao invés de morrerem asfixiados se transformaram em répteis. Alguns répteis subiram em árvores e ao invés de cair, aprenderam a voar, se transformando em pássaros. Outros répteis deixaram de por ovos e desenvolveram o seu sistema lactante e se transformaram em mamíferos. Para que esta teoria fosse aprovada teriam que descobrir a existência de fósseis de espécie intermediária, unindo uma espécie à outra. Por exemplo, se os pássaros evoluíram a partir dos répteis deveríamos encontrar fósseis que fossem metade pássaro e metade réptil. O problema, par os evolucionistas, é que esses fósseis não existem, nunca foram encontrados. Darwin, criador da teoria evolucionista, chamou essas espécies de hipotéticas. No seu livro A ORIGEM DAS ESPÉCIES, escreve: “Se a minha teoria estiver certa, uma enorme quantidade de variedades intermediárias deve ter existido, unindo praticamente todas as espécies do mesmo grupo conseqüentemente evidências de sua existência só podem ser achadas nos registros fósseis”. Charles Darwin- Origem do Universo- 1 ed. p/179. Ele sabia que nos registros não continha nenhuma dessas formas intermediárias. Foi por isso que ele lançou algumas perguntas: “Se espécies descenderam de outras espécies por meio de pequenas gradações, por que não vemos em toda parte, inumeráveis formas de transição? Se por esta teoria, inumeráveis formas de transição devem ter existido, por que não as encontramos em grande número na crosta terrestre?” (Origem do Universo-1 ed. p/ 179) Ele pensou que fosse encontrado quando os fósseis fossem examinados mais profundamente Evolucionistas examinaram camadas geológicas, por todo o mundo, por cerca de 140 anos procurando por estes tais fósseis que estavam faltando. Todo esforço terminou em grande desapontamento. Um certo paleontologista inglês, embora fosse evolucionista, admite este fato dizendo “Ao examinarmos o registro fóssil detalhadamente, seja no nível biológico das ordens ou das espécies, não encontramos evolução gradual, mas o súbito surgimento de um grupo em detrimento do outro” A mais antiga camada da terra em que foram encontrados fósseis, é a Camada Cambriana. Que recebe da geologia convencional uma idade de 530 milhões de anos. Nesse período, diferentes animais aparecem de repente. Mais de 37 invertebrados aparecem de repente. Nenhum ser intermediário entre um ser unicelular e um trimobita. Se as espécies existiram, onde estão as formas pré-existente? O paleontologista evolucionista Mark Czarnecki eecreve: “Um dos maiores problemas tem sido o registro de fóssil...este registro nunca forneceu qualquer vestígio das formas intermediárias de Darwin. Pelo contrário, as espécies aparecem e desaparecem repentinamente, e esta anomalia tem fortalecido o argumento criacionista de que cada espécie foi criada por Deus” (Mclean s-19 de janeiro de 1981-p/56. Outra diferença está na idade de tudo. A bíblia fala que “no princípio criou Deus os céus e a terra”. Não sabemos quanto tempo levou desde que os céus e a terra foram criados até que Deus começou a preparar a terra e a compor. Sabemos que desde que Deus criou o primeiro ser até hoje, decorreram 6.000 anos. As rochas podem ser muito antigas, mas os seres viventes, têm aproximadamente, 6.000 anos. Os evolucionistas puseram no tempo o peso da solução para tudo. Por exemplo, se compararmos um tubarão com suposta idade de 400 milhões de anos com um atual, verificamos que a sua estrutura é a mesma, não houve evolução. Há 90 anos passados, os evolucionistas encontraram um fóssil de um peixe chamado Celacantho e comemoram intensamente, durante anosdizendo que era uma espécie que 74 tinha características parecidas com animais terrestres. Chegaram a atribuir ao peixe pernas e pulmões.. O fóssil ficou 30 anos exposto no museu. Fizeram desenho de répteis saindo da água para a terra, apareceram até nos livros didáticos, a figura era de meio peixe e meio réptil. Cientistas estavam mergulhando em águas profundas do Oceano Índico quando encontraram um peixe diferente, capturaram vários peixes e ao estudarem concluíram que se tratava do Celacantho . Isto aconteceu em 1938. O peixe não tinha pernas e nem pulmão como lhe atribuíram.. Este peixe só vive em água profundas do Oceano Índico e nunca sai da água para a terra. 3.3. Teoria da evolução teísta Outros evolucionistas advogam o que chamam de evolução teísta. Defendem a existência de Deus por trás do universo, que age nEle, em geral de acordo com as inalteráveis leis da natureza e por meio de forças físicas somente, mas em algum caso mediante intervenção miraculosa, como por exemplo, no caso do início absoluto, do início da vida e do início da existência racional, como também moral. A evolução teísta é uma contradição de termos e contraria a doutrina bíblica da criação. Desde a publicação do livro: A Origem das Espécies por Meio de Seleção Natural (1859), alguns cristãos têm aceitado que os organismos vivos surgiram pelo processo evolutivo proposto por Darwin, mas que Deus orientou esse processo para que o resultado fosse justamente o que Ele desejava. Essa teoria se chama evolução teísta, porque advoga a crença em Deus e também na evolução. Podemos mencionar também a evolução criadora de Bérgson, e a evolução emergente, de C. Lloyd Morgan. O primeiro é um panteísmo vitalista, cuja teoria envolve a negação da personalidade de Deus; o segundo chega, por fim, a conclusão de que não lhe é possível explicar os emergentes, assim chamados, sem incluir algum fator último, que se poderia chamar “Deus Os evolucionistas acreditam que a manutenção aleatória das coisas vivas conduziu ao desenvolvimento de formas superiores de vida, aqueles que tinham uma vantagem adaptadora (mutação que lhes possibilitasse se adaptar melhor à sobrevivência no seu ambiente) viviam, mas os outros morriam. Eles argumentam que, aprendendo mais e mais sobre o modo como a evolução surgiu, estaremos simplesmente aprendendo cada vez mais sobre o processo que Deus usou para gerar o desenvolvimento das formas de vida. O claro ensino bíblico de que há propósito na obra divina da criação é incompatível com a característica aleatória da teoria evolutiva. A Bíblia mostra um Deus que fazia as coisas deliberadamente, e cada uma delas com um propósito, (Gên.1:24). 4. Teorias que se Opõem à Origem do Mundo 4.1. Dualismo Há duas formas de dualismo: a) A que estabelece dois princípios auto-existentes: Deus e a matéria. Estes são distintos um do outro e ao mesmo tempo coeternos. A matéria é uma substância inconsciente, negativa e imperfeita (às vezes considerada má), está subordinada a Deus e instrumento da Sua vontade, (Platão, Aristóteles, os Gnósticos, os Maniqeus). O dualismo procura mostrar como o Uno se torna múltiplo, como o absoluto dá surgimento ao relativo, como o bem pode coexistir com o mal. Segundo esta teoria, Deus não é o criador, mas apenas o estruturador e artífice do universo. Essa conceituação é errônea em sua idéia fundamental de que era preciso existir alguma substância da qual foi criado o 75 mundo, desde que ex-nihilo nihil fit. Esta máxima só é verdadeira como expressão da idéia de que nenhum evento tem lugar sem alguma causa, e é falsa, se tem o sentido de afirmar que nada poderia ser feito, a não ser com o uso de material preexistente. A doutrina da criação não dispensa uma causa absolutamente suficiente do mundo na vontade soberana de Deus. Criação não é apenas o pensamento de Deus; é também a vontade dEle. Pensamento é a expressão, razão exteriorizada. Vontade é criação a partir do nada no sentido de que não há o emprego de matéria preexistente. É antifilosófico postular duas substâncias eternas, quando uma só causa auto-existente é perfeitamente adequada para explicar todos os fatos. Contradiz nossa noção fundamental de Deus como soberano absoluto supor a existência de qualquer outra substância que independe da vontade dEle. Esta substância com que Deus deve necessariamente operar, porque é, segundo esta teoria, inerentemente má, não só limita o poder de Deus, mas destrói Sua bênção. b) A que sustenta a existência eterna de dois espíritos antagônicos, um mau e outro bom. Neste ponto de vista a matéria não é substância negativa e imperfeita que, contudo, tem existência própria, mas é obra ou instrumento de uma inteligência pessoal positivamente maligna, que combate contra todo o bem. Este é o ponto de vista dos maniqueus. O maniqueísmo compõe-se de cristianismo e da doutrina persa das duas inteligências eternas e opostas. A descrição da matéria como eterna é fundamentalmente falha. Se a matéria fosse eterna, teria que ser infinita em todos os sentidos, pois não poderia ser infinita num aspecto (duração) e finita noutros. Mas é impossível que dois infinitos ou absolutos coexistam. O absoluto e o relativo podem existir simultaneamente, mas só pode haver um ser absoluto e auto-existente. 4.2. Emanação Esta teoria sustenta que o universo é a mesma substância de Deus e produto de sucessivas evoluções do Seu ser; defende que o mundo é uma emanação necessária do Ser divino. De acordo com esta teoria, Deus e o mundo são essencialmente um, sendo este a manifestação fenomênica daquele. Este conceito da origem do mundo, nega a infinidade e a transcendência de Deus por aplicar-lhe um princípio de evolução, de crescimento e progresso, que caracteriza somente o finito e imperfeito e por identificá-lo com o mundo. 4.3. Criação a Partir da Eternidade Esta teoria considera a criação como um ato de Deus na eternidade passada. Orígenes sustenta que Deus é desde a eternidade. O criador do mundo dos espíritos. Pitágoras sustentava que as substâncias e leis da natureza são eternas. A onipotência de Deus não necessita a criação a partir da eternidade. A criação é uma coisa começada. A criação a partir da eternidade é uma contradição de termos e o que é autocontraditório não é objeto de poder. O argumento se apóia em uma falsa concepção de eternidade considerando-a como um prolongamento do tempo num passado infinito. A eternidade não é um tempo sem fim, ou um tempo sem começo, mas superioridade com relação à lei do tempo, visto que a eternidade não é mais passado do que presente e futuro. Não há criação a partir da eternidade. Não havia tempo nenhum antes da criação porque não havia sucessão. 76 Deus é livre da lei do tempo, e por isso, não podemos entender que a criação seja livre de tal lei. O tempo deve ter tido um começo e, porque o universo e o tempo coexistem, a criação não pode ter sido desde a eternidade. 5. O Fim de Deus na Criação Deus acha o Seu propósito em Si mesmo, em Sua própria vontade e prazer em Sua própria glória; em tornar conhecido Seu poder, Sua sabedoria e Seu santo nome. Nos seguintes textos lemos: Rom. 11:36 “Para Ele são todas as coisas; Cl.1:16 “Todas as coisas foram criadas para ele (Cristo)”; Ap. 4:11 “Tu criaste todas as coisas e por tua vontade são e foram criadas”; Is.43:7 “... que criei para a minha glória”. 5.1. De Acordo com a Bíblia A santidade é o atributo fundamental em Deus, fazer-se a Si mesmo, o Seu próprio prazer, Sua glória, Sua manifestação, para o Seu fim na criação, deve achar o Seu principal fim na Sua santidade, Seusustento, expressão e comunicação. É a glória de Deus que o faz glorioso. Não é algo exterior como o louvor e a estima do homem, mas algo interior como a dignidade e o valor de seus próprios atributos. 5.2. De Acordo com a Razão A própria glória de Deus é o único fim verdadeiro e perfeitamente atingido no universo. Ninguém pode frustrar o plano de Deus. Deus receberá glória de cada vida humana. O homem pode glorificar Deus voluntariamente através do amor e obediência, mas, se não fizer isso, será coagido a glorificá-lo pela sua rejeição e castigo. A glória de Deus é intrinsecamente o fim mais valioso. O bem das criaturas é de insignificante importância, comparado com o fim mais valioso. Deus não pode escolher maior fim, Ele deve escolher a Si mesmo como o Seu fim. Isto significa escolher Sua santidade e Sua glória na manifestação da referida santidade. Sua própria glória é o único fim que se harmoniza com a independência e a soberania de Deus. Toda a nossa adoração é apenas uma retribuição do que lhe pertence. Por amor a si mesmo e não por causa da nossa miséria ou das nossas orações Ele nos redime e exalta. Sua própria glória é um fim que abrange e assegura, como fim subordinado, cada interesse do universo. Os interesses do universo estão ligados aos interesses de Deus. A glória de Deus é o fim que num correto sistema moral se propõe às criaturas. Aquele que constitui o centro e o fim de todas as criaturas deve achar seu centro e fim em Si mesmo. CAPÍTUILO VI A DOUTRINA DOS ANJOS Anjos são seres espirituais criados, dotados de juízo moral e alta inteligência, mas desprovidos de corpos físicos. Os anjos não existem desde a eternidade, junto com o universo, Deus criou os anjos. Esdras diz que Deus criou os céus e todo o seu exército (Ne. 9:6). Paulo nos diz que Deus criou as coisas visíveis e invisíveis, por meio de Cristo e para Ele (Cl.1:16). Os anjos são seres espirituais (Hb.1:14), portanto não têm corpos físicos (Lc. 24:39), e por isso não podemos vê-los, são invisíveis nas suas atividades normais. A Bíblia fala dos anjos assumindo uma forma corpórea, para desempenhar atividades específicas, aparecendo a diversas personalidades das escrituras (Mt.28:5; Hb.13:2). 77 Os anjos eram tidos em alta consideração, dotados de liberdade moral e usados por Deus para o bem estar dos homens A Bíblia se refere aos anjos, usando algumas denominações: “filhos de Deus” (Jó 1:6;2:1); “santos” (Sl.89:5,7);” espíritos” (Hb.1:14); “vigilantes” Dn.4:13,17,23); “ tronos”,”soberanias”,” principados”, “potestades” (Cl.1:16) e “poderes” (Ef.1:21). 1. Três Tipos de Seres celestes. A Bíblia dá nome a outros três tipos de seres celestiais: 1.1. Os “querubins”. Os querubins receberam a tarefa de guardar a entrada do Jardim do Éden (Gn.3:24). Deus está entronizado acima dos querubins e viaja com eles (Sl.18:10;Ez.10:1-22). 1.2. Os “serafins”. Sl 148.2-5; Cl.1:16 e 1Pe.3:22, falam de maneira clara da criação dos anjos. A ocasião em que foram criados não pode ser fixada precisamente. Os serafins são mencionados em Is.6:2-7 adorando ao Senhor. 1.3. Os seres viventes. Ezequiel e Apocalipse nos falam dos seres viventes que circundam o trono de Deus (Ez.1:5-14; Ap.4:6-8). 2. A Natureza dos Anjos 2.1. Os seres são criados. Alguns querem argumentar que os anjos foram criados antes de todas as coisas, baseados em Jó 38:7, entretanto, o argumento não tem respaldo bíblico, não se tem nenhuma evidência de que alguma coisa tenha sido criada antes da criação dos céus e da terra. A menção da “serpente” em Gen.3:1 implica que a queda de Satanás se deu antes da queda do homem. Entendemos que a criação dos anjos foi antes da criação do homem 2.2. São seres espirituais Os judeus e muitos, dos chamados “pais da Igreja”, atribuem aos anjos corpos tênues, mas a igreja da Idade Média chegou à conclusão de que são seres espirituais puros, portanto não têm corpos, não têm crescimento, idade, e não experimentam a morte. Os anjos não têm carne e ossos (Lc.24:39); não se casam (Mat.22:30); podem estar presente, em grande número, num espaço muito limitado (Lc.8:30); são invisíveis (Cl.1:16). 2.3 São seres pessoais Os anjos são seres espirituais dotados de inteligência e vontade, são superiores aos homens, em conhecimento (Mat.24:36); são seres de natureza moral e estão sob obrigação moral; são recompensados pela obediência e foram punidos pela desobediência. A Bíblia fala dos anjos que permaneceram leais como “santos anjos” Mat.25:31; Mc.8:36; Lc.9:26; At.10:22; Ap.14:10), e retrata os que caíram como mentirosos e pecadores (Jó.8:4; 1Jo.3:6-10). Os anjos bons são chamados “anjos eleitos” (ITim.5:21). Não temos como comprovar a cerca do tempo e do caráter da queda dos anjos. Os anjos bons conservaram o estado original, foram confirmados em sua posição e agora são incapazes de pecar. Os anjos possuem inteligência e poder sobre-humanos, mas são limitados, Mat.24:36 “do dia e da hora ninguém sabe, nem os anjos do céu”. 3. Número e Organização dos Anjos A Bíblia não define o número dos anjos, fala que eles constituem o exército de Deus e que são em grande número. Dt.32:2 “O Senhor...veio com dez milhares de santos”. Sal.68:17 “Os 78 carros de Deus são vinte milhares de milhares”. Ap.5:11 “Ouvi uma voz de muitos anjos... e era o número deles milhões de milhões e milhares de milhares”. A pergunta de Jesus dirigida a um espírito imundo, a resposta foi: “Legião é o meu nome, porque somos muitos” (Mc.5:9,15). Nem sempre as legiões romanas eram numericamente iguais, mas em diferentes ocasiões variavam de 3000 a 6000 legionários. Podemos dizer que os anjos constituem uma inumerável companhia, um poderoso exército. Embora os anjos não constituam um organismo, está claro que estão organizados de algum modo. Isto decorre do fato de que, ao lado do nome geral “anjo”, a Bíblia emprega certos nomes específicos para indicar diferentes classes de anjos. 3.1. A organização dos querubins Os querubins, guardaram o caminho até a árvore da vida (Gen.3:24), sustentam ou ladeiam o trono de Deus (Sl. 80:1; 99;1; Is.37:16). A velocidade do querubin é comparada com o vento (2Sm.22:11; Sl.18:10). Duas réplicas, em madeira, dos querubins, cobertas de ouro e com as asas estendidas, eram colocadas sobre a tampa ou “propiciatório” da arca da aliança, protegendo as coisas santas e formando um pedestal para o trono de Javé (Ex.23:17- 21;37:7-9; Num.7:89). Os querubins adornavam as cortinas interiores do tabernáculo e o véu que separavam o lugar Santo dos Santos Ex.26:1,31) e simbolizavam as hostes celestiais do Senhor Deus dos exércitos (1Sam.4:4; 2Sam.6:2; 2Rs.19:15; 1Cor.13:6). No templo de Salomão, destaca-se o tamanho dos querubins, cujas asas se estendiam por toda a largura do santuário (1Rs.6:22-28; 2Cr.3:10-13) Entre os profetas, somente Ezequiel menciona os querubins. Eles são de ouro sobre os quais descansara a glória do Deus de Israel estavam abandonados agora (Ez.9:3) e Deus se achava entre os querubins vivos que cumpriam todas as vontades dEle (Ez.10; Ez.1:5 e segs.) pois Ele mudara o lugar do Seu Trono para fora do templo. Em Ezequiel, os querubins, também guardam a presença de Deus (Ez.28:14-16). Os querubins se associam especificamente com o trono de Deus, seja no céu, seja no seu equivalente terrestre. Ficam de guarda, sustentam o trono, e agem como velozes mensageiros do Senhor dos exércitos, a quem adoram. Os querubins, em Ap.4 e Ez.1, são representados como seres vivos em várias formas. Estas representações simbólicas servem simplesmente para demonstrar o seu extraordinário poder e majestade. 3.2. A organização dos serafins. Os serafins constituemuma classe de anjo muito próxima da dos querubins. São mencionados somente em Is.6:2,6. São representados simbolicamente em forma humana, mas com seis asas, duas cobrindo o rosto, duas os pés, e duas para a pronta execução das ordens do Senhor Permanecem como servidores em torno do trono do Rei celestial, cantam louvores a Ele e estão sempre prontos a fazer o que Ele manda. Enquanto que os querubins são os anjos poderosos, os serafins podem ser considerados os nobres entre os anjos. Enquanto os querubins defendem a santidade de Deus, os serafins atendem ao propósito da reconciliação, e assim preparam os homens para aproximar-se apropriadamente de Deus. 3.3. Outras classes dos anjos A Bíblia fala de certas classes de anjos que ocupam lugares de autoridade no mundo angelical como Archai e Exousiai (principados e potestades), (Ef.3:10;Cl.2:10), thronoi (tronos), (Cl.1:16), kureotetoi (domínio), (Ef.1:21;Cl.1:16) e dunameis (poderes), (Ef.1:21; 1Pe.3:22). Estes nomes não indicam diferentes espécie de anjos, mas diferenças de classe ou de dignidade entre eles. Nomes específicos: 79 São dois anjos denominados especificamente na Bíblia. Miguel é dito como “arcanjo”, em Judas 9, título que indica soberania ou autoridade e Ap.12:7-8, além de Dn.10:13,21, onde é chamado “Miguel um dos primeiros príncipes” e também parece ser o líder do exército angelical. O anjo Gabriel é mencionado em Dn.8:16 e 9:21 como mensageiro que vem de Deus para falar ao profeta. Gabriel também se identifica como mensageiro de Deus para falar a Zacarias e a Maria em Lc.1:19,26-27. 4. Tarefa dos Anjos A Bíblia nos ensina que os anjos, como servos de Deus executam tarefas designadas. Eles aparecem levando as mensagens de Deus às pessoas (Lc 1:11-19; At.8:26;10:3 8,22;27:23,24). Executam alguns dos juízos de Deus (2Sm.24:16,17; 2Crô.32:21; At.12:23; Ap.16:1; Mt.16:27; Lc.9:26; 2Ts1:7). Os anjos patrulham a terra como representantes de Deus (Zc.1:10-11 e combatem as forças demoníacas, (Dn.10:13;Ap.12:7-8) Os anjos servem diretamente a Deus glorificando-O pelo que Ele é em Si e pela Sua excelência. Desde a entrada do pecado no mundo, os anjos são enviados para dar assistência aos herdeiros da salvação (Hb.1:14). A idéia de que alguns anjos servem de anjo da guarda de crentes, individualmente, não tem apoio da Bíblia. A Bíblia nos alerta para o perigo de receber falsas doutrinas de supostos anjos (Gl.1:8), Paulo faz alerta porque sabe da possibilidade de fraude (2Cor.11:14). Há exemplos bíblicos que nos mostram a clara possibilidade de que agentes satânicos nos tentem, procurando-nos levar a desobedecer aos ensinos bíblicos ou mandamentos de Deus (1Rs.13:9) O encerramento do cânon das Escrituras deve também nos servir de alerta de que Deus não mais fará nenhuma revelação doutrinária, e qualquer pessoa que hoje alegue ter recebido novas revelações doutrinárias de anjos deve ser imediatamente rejeitada. O culto aos anjos (Cl.2:18), era uma das falsas doutrinas ensinadas em Colossos. O anjo que falou a João no livro de Apocalipse exorta a não adorá-lo (Ap.19:10) Não devemos orar aos anjos. Devemos orar somente a Deus, só Ele é capaz de ouvir as orações de todos os seus filhos ao mesmo tempo, em virtude da Sua onisciência e onipotência. Não há exemplo, em toda Bíblia de pessoas que tenham orado aos anjos ou pedido socorro aos anjos. Nosso papel é nos dirigirmos ao Senhor que é o comandante de todas as hostes angelicais. 5. Os Anjos Maus Os anjos maus são aqueles que têm prazer em opor-se a Deus e combater Sua obra. Embora criaturas de Deus, não foram criados como anjos maus. Deus viu tudo que tinha criado, e estava tudo muito bom (Gen. 1:31). Há duas passagens na Bíblia que dão a entender claramente que alguns anjos não mantiveram a sua condição original, mas caíram do estado que tinham sido criados, (2Pe.2:4; Jd.6). O pecado específico desses anjos não foi revelado, mas geralmente se pensa que consiste em se exaltarem contra Deus e aspirarem à autoridade suprema. Satanás aparece, na Bíblia, como o chefe dos anjos decaídos. Ao que parece ele era originalmente um dos poderosos príncipes do mundo angelical e veio a ser o líder dos que se revoltaram contra Deus e caíram. O nome “Satanás” revela-o como o “adversário”, não do homem, em primeiro lugar, mas de Deus. Ele investe contra Adão como a coroa da produção de Deus, e ataca Jesus, quando Ele empreende a obra de restauração. Depois da entrada do 80 pecado, no mundo, ele se tornou Diabolos (o acusador), acusando continuamente o povo de Deus, (Ap.12:10). Ele é apresentado como o originador do pecado (Gen.3:1,4; Jo.8:44; 2Cor.11:3; 1Jo.3:8; Ap.12:9;20:2,10) e aparece como o reconhecido chefe dos que caíram (Mat.25:41;9:34; Ef.2:2.. Ele continua sendo o líder das hostes angelicais que arrastou consigo em sua queda, e as emprega numa desesperada resistência a Cristo e ao Seu reino. Os anjos maus, também possuem poderes sobre-humanos. São poderes das trevas, prestam-se para maldizer a Deus, pelejar contra Ele e Seu Filho, e destruir a Sua obra.. Estão em constante rebelião contra Deus, procuram enganar e desviar até os salvos e animam os pecadores no mal que praticam. São espíritos perdidos e sem esperança, para eles não há arrependimento e nem salvação. 6. O Anjo do Senhor A Bíblia, em vários lugares, especialmente no Antigo Testamento, fala do anjo do Senhor de um modo que sugere ser o próprio Deus, talvez, a Segunda Pessoa da Trindade que em forma humana aparece a várias pessoas. Algumas passagens tratam “o anjo do Senhor” como o próprio Senhor. (Gên.16:10,13; 22:12;31:11,13; Ex.3:2,6). São claros exemplos em que o anjo do Senhor, ou o anjo de Deus aparece como o próprio Deus, talvez mais especificamente como Deus Filho revestido de um corpo humano, por curto tempo a fim de tornar-se visível aos homens. 7. O Ministério de Jesus. Após centenas de anos de incapacidade de alcançar um triunfo real sobre as forças demoníacas, é compreensível que quando Jesus surgiu expulsando demônios, com absoluta autoridade, as pessoas tenham ficado assombradas (Mc.1:27). Jamais se presenciara na história da humanidade tal manifestação de autoridade. Jesus explica que Seu poder sobre os demônios é uma marca distintiva do Seu ministério, inaugurando o domínio do reino de Deus na humanidade de uma maneira nova e potente (Mt.12:28-29). 8. O Cristão e os Demônios O termo possessão demoníaca não é próprio para o ensinamento bíblico. O Novo Testamento fala de gente que “tem demônio” (Mat11:18; Lc.7:33;8:27; Jo.7:20; 8:48,49,52; 10:20), ou de gente que sofre de influência demoníaca, mas jamais usa linguagem que sugira realmente que um demônio “possui” alguém. Se “possuído por demônios”, significa que a vontade da pessoa está completamente dominada por um demônio, de modo que tal pessoa já não tem capacidade de decidir fazer o bem e obedecer a Deus, então diríamos que o cristão não tem possibilidade de ter este domínio, pois, a Bíblia declara que já fomos ressuscitados com Cristo (Rm.6:14). O Crente foi selado pelo Espírito Santo e nenhum outro poder se não o poder de Deus pode estar na vida do Crente (2Cor.1:22; Ef.1:13;4:30). O cristão pode sofrer ataque demoníaco (Lc.4:2; Ef.6:12; Tg.4:7;1Pe.5:8), porém isto não quer dizer que ele não possa vencer a todos. A Bíblia nos dá exemplo de que somos capazes, pelo poder de Deus de sermos mais do que vitoriosos, “Resisti ao Diabo, e ele fugirá de vós” (Tg.4:7). CAPÍTULO VII 81 A DOUTRINA DA PROVIDÊNCIA 1. Definição Doutrina da Providência é a atuação de Deus pela qual Ele faz todosos eventos do universo físico e moral cumprirem o desígnio para o qual Ele o criou. Deus está continuamente envolvido com todas as coisas, por Ele criadas de tal forma que as preserva como elementos existentes, que conservam as propriedades com que Ele as criou; coopera com as coisas criadas em cada ato, dirigindo as suas propriedades características a fim de fazê-las agir como agem; e as orienta no cumprimento dos seus propósitos. A providência além de prover é também uma atuação positiva em conexão com todos os eventos da história. Deus preserva todas as coisas criadas como elementos existentes que conservam as propriedades com que Ele as criou. Em Heb.1:3 diz que Cristo está “sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder”. Um aspecto da providencial preservação divina é o fato de Ele, continuamente nos dar a respiração, a cada momento. A preservação é a manutenção da existência e dos poderes das coisas criadas, providência é um verdadeiro cuidado e controle delas. 2. Prova Bíblica A Bíblia ensina claramente o governo providencial de Deus: a) sobre o universo todo (Sl.103:19; Dn.5:35; Ef.1:11); b) sobre o mundo físico (Jo.37:5;Sl.104:14; 135:6 Mat.5:45); c) sobre a criação irracional (Sl.104:21,28; Mat.6:26;10:29); d) sobre os negócios das nações (Jo.12:23; Sl.22:28; 66:7;At.17:26); e) sobre o nascimento e curso da vida do homem (1Sam.16:1; Sl.139:16; Is.45:5Gl.1:15-16); f) sobre vitórias e fracassos na vida do homem (Sl.75:6-7; Lc.1:52); g) sobre coisas aparentemente acidentais ou insignificantes (Pv.16:33; Mt.10:30); h) na proteção dos justos (Sl.4:8;5:12;63:8;121:3; Rm.8:28); i) no suprimento das necessidades dos povo de Deus (Gn.22:8,14; Dt.8:3; Fp.4:19); j) nas respostas à oração (1Sm1:19; Is.20:5-6;2Cr.33:13; Sl.65:2; Mat.7:7; Lc.18:7-8); k) na exposição e punição dos ímpios (Sl.7:12-13; 11:6) 3. Prova Racional 3.1 Argumentos a priori dos atributos de Deus: a) Da imutabilidade de Deus Este argumento certifica que Deus executará seu eterno plano do universo e a história deste. Mas a execução deste plano não envolve só a criação e a preservação, mas também a providência. b) Da benevolência de Deus. Isto significa que Deus cuidará do universo inteligente que Ele criou. Este cuidar é a inteligência; Da justiça de Deus. Deus deve assegurar a vindicação da lei administrando justiça no universo e punindo os rebeldes. Esta administração da justiça é providência. 3.2. Argumento posteriori a partir dos fatos da natureza e da história: a) O destino exterior dos indivíduos e nação não está inteiramente nas mãos deles, mas ao dispor de uma força superior; 82 b) Não pode ser compreendida, a ordem moral do mundo, sem o reconhecimento de uma providência divina. A mente e a vontade governante são as de Deus. 4. Teorias Opostas à Doutrina da Providência 4.1. Fatalismo. Sustenta a certeza, mas nega a liberdade de autodeterminação humana, substituindo a providência pelo destino. Há algumas objeções a esta doutrina: a) Contradiz o consciente que testifica que somos livres; b) Exalta o poder divino com prejuízo da verdade, da sabedoria, da santidade, do amor de Deus; c) Destrói toda a evidência da personalidade e liberdade de Deus; d) Faz praticamente da necessidade o único Deus e deixa os imperativos da nossa natureza moral sem validade presente ou vindicação futura. Para o fatalista tudo acontece como Deus já havia predito. Quando falamos da providência de Deus, não temos em mente nem Sua presciência, nem a predestinação, mas simplesmente a Sua contínua atividade no mundo para a realização do Seu plano. 4.2. Casualismo. Transfere a liberdade da mente para a natureza. Troca a providência pelo acaso. Podemos reconhecer que há ocorrências triviais na vida que não têm nenhum sentido ou relação conosco e podemos sustentar que a providência põe em ordem cada acaso, assim chamado, para propósito que estão além do nosso conhecimento. Neste sentido, o acaso é coincidência providencial que não podemos entender e com a qual não precisamos nos preocupar. Se o acaso for usado no sentido de causa sem desígnio, é evidentemente insuficiente explicar as seqüências regulares e uniformes da natureza ou do progresso moral da raça humana. Estas coisas mostram uma mente superintendente e designativa, isto é, uma providência. 4.3. Providência Geral. Muitos que reconhecem o controle de Deus sobre os movimentos dos planetas e os destinos das nações negam qualquer arranjo divino nos eventos particulares. Os deístas afirmam que Deus não se afastou totalmente do universo, mas que Sua atividade nele se limita à manutenção das leis gerais. Objeções à teoria: a) O controle geral sobre o curso da natureza e da história é impossível sem o controle sobre as mínimas particularidades que afetam o curso da natureza e da história. b) O amor de Deus que assiste com um cuidado geral o universo, deve também assistir com um cuidado particular os mínimos eventos que afetam a felicidade de Suas criaturas. Pode-se esperar que o amor infinito dê providência a todos, até as mínimas coisas da criação. Sem acreditar neste cuidado particular o homem não pode crer no cuidado geral de Deus. c) Em tempos de perigo pessoal e de notáveis conjunturas de negócios públicos, os homens, indistintamente, atribuem a Deus um controle dos eventos que ocorrem em torno deles. d) A experiência cristã confirma as declarações da Bíblia de que Deus realiza os eventos particulares relativos especialmente ao bem e ao mal do indivíduo. CAPÍTULO VIII A DOUTRIA DO HOMEM 1. A Origem do Homem 1.1. Relato Bíblico 83 Há duas passagens bíblicas que falam da criação do homem (Ge. 1:26-27; 2:7, 21-23). Os relatos destas passagens nos indicam como o homem foi ladeado pelo mundo animal e pelo vegetal e como iniciou a sua história diferente dos demais seres criados A Bíblia nega a idéia de que o homem é produto das forças naturais irracionais. Ela liga a existência do homem a uma causa diferente da simples natureza, isto é, um ato criativo de Deus. O escrito bíblico informa que os peixes, as aves e os animais foram criados por Deus, segundo a espécie de cada um, porém, o homem não foi criado conforme tipos de animais inferiores. Em Gen. 3:7, percebe-se a diferença entre a origem do corpo e da alma. O corpo foi formado do pó da terra; na sua formação Deus se utilizou de material já preexistente, mas na criação da alma houve a produção de uma nova substância. A alma do homem foi uma nova produção de Deus. A combinação dos dois elementos fez com que o homem se tornasse “alma vivente”. O homem foi a coroa da criação de Deus e recebeu, de Deus, o domínio sobre todas as criaturas inferiores. 1.2. Teorias Sobre a Origem do Homem 1.2.1. Geração Espontânea. Antigamente, muitos sustentavam que o homem é uma produção espontânea da terra. Entende-se que a terra estivesse fertilizada com os germes de todos os organismos vivos, os quais eram trazidos à vida sob circunstâncias favoráveis, ou eram considerados instintos para uma vida produtiva que se destinava a indicar a origem de todas as plantas e animais vivos em sua superfície. Os que negam a existência de um Deus pessoal e distinto do mundo, naturalmente negam também a criação do homem. 1.2.2. Evolucionista De acordo com o evolucionismo naturalista do momento, o homem é descendente de animais inferiores, corpo e alma, por um processo completamente natural, dirigido por forças inerentes. Um dos princípios mais importante da teoria é o da rigorosa continuidade entre o mundo animal eo homem. Ela não admite qualquer descontinuidade em nenhum ponto ao longo do curso da evolução O evolucionismo teísta considera a evolução como um método de ação de Deus. A sua apresentação nos dá o parecer de que Deus é apenas chamado para servir de ponte sobre as lacunas que há entre a criação inorgânica e a orgânica. Admite-se a existência de lacunas que a evolução não pode cobrir, então entra uma participação especial de Deus trazendo à existência alguma coisa nova, o que faz com que deixe de ser pura teoria evolucionista. Às vezes se afirma que só o corpo humano foi originado por um processo de evolução dos animais inferiores, e que Deus dotou esse corpo de uma alma racional. Várias são as objeções a esta teoria: 1) É contrária aos ensinamentos da Bíblia A Bíblia ensina de maneira clara que o homem é produto de ato criador direto e especial de Deus. Ela nem mesmo cogita a possibilidade do homem passar por um processo de desenvolvimento de um tronco de animais inferiores. O ensino é claro quando diz que Deus formou o homem do pó da terra (Gen. 2:7). O mesmo texto bíblico, também nos informa que Deus colocou no homem o espírito de vida. O homem foi destacado numa posição elevado nos níveis intelectual, moral e religioso, feito à imagem e semelhança do seu criador. Deus lhe confiou o domínio sobre a criação inferior, não havia equiparação. 2) Não tem base adequada em fatos bem estabelecidos A teoria evolucionista, até o presente momento não passa de uma hipótese em desenvolvimento e não comprovada. Muitos dos representantes do evolucionismo confessam acreditarem na doutrina da linhagem animal do homem, mas hesitam em dizer que não podem falar com segurança do método de operação da sua teoria. Darwin, grande esperança da 84 comprovação da teoria evolucionista, dizia que a sua teoria dependia inteiramente da possibilidade de transmissão dos caracteres adquiridos, e logo veio a ser um dos pontos principais da teoria biológica de Weissmann, que os caracteres adquiridos não são herdados. Esta teoria recebeu grande confirmação em face dos estudos posteriores da genética. Enquanto Darwin pressupunha variações intermináveis de diversas direções, Mendel demonstrou que as variações ou mutações nunca retiram o organismo da espécie e estão sujeitas a uma lei definida. A citologia moderna, em seu estudo da célula, com os seus genes e cromossomos como veículos dos caracteres herdados, confirmou esta idéia. O Dr. Fleischmann, de Erlangen, escreve: “A teoria darwiniana não tem nem um só fato em que se apoiar... é puro produto da imaginação”. Ainda mais forte é a afirmação do Dr. Kidd: “O darwinismo é um composto de espantosa presunção e incomparável ignorância”. Cientistas como Fleming, Dawson, Kelly e Price não hesitam em rejeitar a teoria evolucionista e em aceitar a doutrina da criação. Sobre a origem do homem, diz Sir William Dawson: ‘ Nada sei da origem do homem, exceto o que me diz a Escritura – que Deus o criou. “Nada sei, além disso, e não conheço ninguém que o saiba”. Diz Fleming: “Tudo que no presente a ciência pode dizer à luz do conhecimento humano limitado, e definitivamente afirmado, é que não sabe como, onde e quando foi originado o homem. Se nos há de chegar algum conhecimento disso, haverá, se vier de alguma outra fonte que não a antropologia moderna”. 2. A Unidade da Raça Humana 2.1. A Afirmação das Escrituras A Bíblia ensina, nos seus primeiros capítulos, que a humanidade descende de um único casal. Deus criou Adão e Eva e deu-lhes a ordem de multiplicar e encher a terra. A unidade da raça humana se prende também a unidade genética ou genealógica, “de um só fez toda raça humana para habitar sobre toda a face da terra” (At. 17:26). A mesma verdade é fundamental para a unidade orgânica da raça em Cristo, (Rm 5:12,19; 1Cor.15:21-22). 2.2. Afirmação da Ciência. A ciência confirma a narrativa bíblica, em favor da unidade da raça humana, embora nem sempre os homens da ciência acreditem nisto. Os gregos antigos adotavam a teoria do autoctonismo que dizia ter os homens originados da terra por uma espécie de geração espontânea. Esta teoria é desacreditada; Agassiz propôs a teoria dos Coadamitas que presume ter havido diferentes centro de criação. Em 1655, Peyrerius desenvolveu a teoria dos pré- adamitas que partem da pressuposição de que havia homens antes de Adão ser criado. 2.2.1. Do ponto de vista histórico. As tradições das nações e tribos apontam para uma origem e uma linhagem comuns na Ásia Central. Há um reconhecimento de que as nações européias vieram da Ásia em sucessivas ondas migratórias. Os etnólogos chegaram a conclusão de que os índios da América derivam de fontes mongólicas da Ásia Oriental, ou através da Polinésia ou pelas ilhas Aleutes. 2.2.2. Do ponto de vista filológico. A filologia comparativa aponta uma origem comum de todas as mais importantes línguas e não exclui a possibilidade da derivação das menos importantes. As línguas indo- germânicas têm em suas raízes um idioma primitivo comum, um velho remanescente do qual ainda existe no Sânscrito. Além disso, há prova de que o antigo idioma egípcio é o elo entre a língua indo-européia e a semítica. 2.2.3. Do ponto de vista psicológico. 85 A alma é a parte mais importante da natureza constitucional do homem. A existência de características mentais e morais comuns, tendências e capacidades na predominância de tradições semelhantes e na aplicabilidade universal de uma filosofia e religião, explica-se mais facilmente com o apoio na teoria de uma origem comum. 2.2.4. Do ponto de vista fisiológico. É opinião comum dos fisiólogos que a raça humana constitui uma única espécie. As diferenças que existem entre as variadas famílias da humanidade devem ser consideradas como variedades desta espécie As diversidades de tamanho, cor e conformação física entre as variadas famílias da humanidade são de caráter superficial e podem ser explicadas pelas correspondentes à condição e ambiente. As mudanças observadas e registradas nos tempos históricos mostram que as diferenças citadas podem ser o resultado de lentas diferenças acumuladas a partir de um mesmo tipo original e ancestral. 3. Elementos Essenciais da Natureza Humana 3.1. Teoria Dicotomista. O homem possui uma dupla natureza: corpo e espírito ou alma A consciência testifica que há dois e só dois elementos no homem. Argumento bíblico: O registro da criação do homem no qual, como resultado do sopro do Espírito divino, o corpo torna-se possuído e vitalizado por um só princípio: a alma vivente. Em Gn. 2:7 não diz que o homem era primeiro alma vivente e depois Deus soprou nele um espírito; mas que Deus soprou o espírito e o homem tornou-se alma vivente. (Jo. 27:3; 32:8;33:4) Há passagens em que a alma humana, ou espírito, se distingue tanto do Espírito divino de que procede como do corpo em que habita, (Nm.16:22; Zc.12:1; 1Co.2:11; Hb.12:9; Gn.35:18; 1Re.17:21; Ec.12:7; Tg.2:26). Os dois elementos que constituem a natureza humana não quer dizer que o homem seja dois sujeitos. Cada ato do homem é visto como um ato do homem todo. Não é a alma, mas sim o homem que peca e que é redimido por Cristo. A palavra alma, em Gn.2:7, denota um ser vivo, e é a descrição do homem completo. 3.2. Teoria Tricotomista. Segundo esta teoria, a natureza humana consiste de três partes: corpo, alma e espírito. Alma e espírito são distintos um do outro do mesmo modo que a alma e o corpo. Para os defensores desta teoria, a alma denota a parte imaterial do homem em seus poderes e atividades inferiores; como alma o homem é um indivíduo consciente e em comum com obruto tem uma vida animal, com apetite, imaginação, memória, entendimento. Espírito, por outro lado, denota a parte imaterial do homem em sua mais elevada capacidade e faculdade; como espírito o homem se relaciona com Deus e possui os poderes da razão, consciência e livre vontade que o diferencia do bruto e o constitui responsável e imortal. Em 1Ts.5:23 Paulo fala que o homem é composto de três partes; Hb.4:12, apresenta a alma e espírito como elementos distintos do homem; 1Co.14:14, sugere que a mente faz algo diferente do espírito, portanto sugere que a mente e o pensamento devem ser atribuídos à alma, não ao espírito. Alguns tricotomistas afirmam que o homem e animais têm alma, mas sustentam que é a presença do espírito que nos faz diferentes dos animais. 4. Teorias Sobre a Origem da Alma 4.1. Criacionismo 86 É a concepção de que Deus cria uma nova alma para cada pessoa e a envia ao corpo em algum momento entre a concepção e o nascimento. Aristóteles, Jerônimo e Pelágio defenderam este argumento e modernamente os católicos romanos e os teólogos reformadores defenderam-no também. Argumentam os defensores, que há marcante individualidade na criança que não pode ser explicada como simples reprodução das qualidades existentes nos pais. O criacionismo considera que apenas o corpo se propaga a partir das gerações passadas. É mais coerente com as descrições das Escrituras. O corpo é tirado da terra ao passo que a alma vem diretamente de Deus (Ec.12:7; Is.42:5; Zc.12:1; Hb.12:9; Outro argumento é que esta teoria é mais coerente com a natureza humana e que faz maior justiça à descrição escriturística da pessoa de Cristo. Ele foi verdadeiramente homem, possuindo natureza humana, corpo real e alma racional, fez-se semelhante a nós em todos os pontos, porém sem pecado, Objeções ao argumento criacionista: 1) As passagens usadas em defesa, podem ser consideradas como expressão da atuação mediata de Deus na origem das almas humanas. 2) A Consideração do pai terreno gerando apenas o corpo de seu filho. Não há uma explicação adequada porque os filhos são semelhantes aos seus pais no que se refere ao intelecto e ao espírito do mesmo modo que ao elemento físico. 3) A individualidade do filho, mesmo nos casos mais extremos, pode ser melhor explicada supondo uma lei de variação imprimida na espécie em seu começo, lei cuja operação Deus prevê e supervisiona. 4) Se a alma for, originalmente, possuída de tendências depravadas, faz entender que Deus é o autor direto do mal moral; se sustenta que a alma foi criada pura, faz Deus indiretamente, o autor do mal moral, ensinando que Ele põe a alma pura em um corpo que inevitavelmente se corromperá. 4.2. Traducianismo Esta teoria sustenta que a alma e o corpo da criança são herdados dos pais no momento da concepção. Todas as almas desde Adão são apenas mediatamente criadas por Deus, o sustentador das leis de propagação que foram originariamente estabelecidas por Ele. Este argumento foi proposto por Tertuliano, Rufino, Apolinário e outros, também sustentado por Agostinho. O traducianismo defende que o homem, como espécie, foi criado com Adão. Em Adão a substância da humanidade ainda não estava distribuída. De Adão derivamos nosso ser imaterial assim como o material, por leis naturais de propagação. A reprodução sexual tem como propósito a conservação das variações dentro do limite, e fazer do indivíduo o tipo de espécie e da solidariedade à raça. Os defensores argumentam: a) Parece o melhor ponto de vista, segundo as Escrituras, que representa Deus criando a espécie em Adão (Gn.1:27) e desenvolvendo-a e perpetuando-a através de agentes secundários (Gn,1:28). Só uma vez Deus soprou o fôlego da vida (Gn.2:7; 1Co.11:8; Gn.4:1; 5:3; 46:26; At.17:21; Hb.7:10) b) Analogia da vida vegetal e animal favorece este argumento, nela garante-se o crescimento do número, não por multiplicidade de criação imediata, mas pela derivação natural de novos indivíduos a partir de um pai. c) A observada transmissão de características físicas, mentais e espirituais nas famílias e raças e especialmente as tendências morais uniformemente más e disposições que todos os homens 87 possuem desde o seu nascimento são provas de que na alma assim como no corpo derivamos o nosso ser de um ancestral humano. d) O traducianimo admite uma concorrência divina em todo o desenvolvimento da espécie humana e permite, sob a orientação de uma providência superintendente, progressos especiais em tipo, no nascimento de homens marcados semelhantes aos que podemos supor terem ocorrido na introdução de novas variedades na criação animal. O traducianismo era defendido por Lutero, enquanto Calvino defendia o criacionismo. Objeções ao argumento: a) Ele é contrário à doutrina filosófica da simplicidade da alma. A reprodução da alma parece implicar que a alma do filho se separa da alma dos pais. Além disso, levanta-se a questão se ela se origina da alma do pai ou da mãe, ou de ambos. b) Se em Adão a natureza humana pecou globalmente, e esse pecado foi o verdadeiro pecado de cada parte dessa natureza humana, não se pode fugir à conclusão de que a natureza humana de Cristo também foi pecadora e culpada, porque teria pecado de fato em Adão. 4.3. Pré-Existencialismo Há outra idéia popular chamada pré-existencialismo que diz que as almas das pessoas existem no céu muito antes dos corpos serem concebidos no ventre materno e que Deus depois traz a alma à terra, unindo-a ao corpo do bebê enquanto ele se desenvolve no útero. Para esta teoria não há sustentação bíblica. Antes da concepção no ventre materno, simplesmente não existíamos. Esta teoria contradiz diretamente o relato mosaico da criação do homem à imagem de Deus. Se a alma no seu estado preexistente era consciente e pessoal, é inexplicável que não tivéssemos nenhuma lembrança desta preexistência; se a alma era inconsciente e impessoal a teoria deixa de mostrar como, envolvendo tão vastas conseqüências, o ato moral poderia ter sido praticado. A teoria não derrama nenhuma luz sobre origem do pecado nem sobre a justiça de Deus no Seu trato com o pecado. 5. O Estado Original do Homem As Escrituras representam a natureza do homem vindo da mão de Deus, portanto muito bom, (Gn.1:31). A Bíblia traça um paralelo entre o primeiro estado do homem e o da restauração, (Cl.3:10; Ef. 4:24), 5.1. Essência do Estado Original do Homem. A Bíblia diz que o homem foi criado a imagem de Deus, (Gn.1:26-27), As palavras «imagem« e «semelhança« são empregadas como sinônimo, portanto não se referem a duas coisas diferentes. 5.1.1. Semelhança natural com Deus, ou pessoalidade. O homem foi criado um ser pessoal e é esta pessoalidade que o faz diferente do irracional. Pessoalidade é o duplo poder de conhecer a si mesmo relacionado com o mundo e com Deus e determinar o eu com vista aos fins morais. A imagem de Deus, segundo a qual o homem foi criado, certamente inclui o que geralmente se denomina “justiça original”, ou mais especificamente, justiça e santidade. O Novo Testamento indica muito especificamente a natureza original do homem onde fala dele sendo refeito em Cristo, isto é, como sendo levado de volta a uma condição anterior, ou seja, a um estado de verdadeiro conhecimento, (Cl.3:10), justiça e santidade, (Ef.4:24). Estes três elementos constituem a justiça original perdida por causa do pecado, mas reconquistada em Cristo. 88 Como ser criado à imagem de Deus, o homem tem uma natureza racional e moral que não perdeu com o pecado, mas que foram rompidas pelo pecado. 5.1.2. Semelhança moral com Deus, ou Santidade.O homem foi criado com tal direção de sentimento e vontade que constitui Deus o supremo fim do ser humano e constitui o homem um reflexo finito os atributos morais de Deus. A santidade é o atributo fundamental de Deus, por necessidade este deve ser o principal atributo da sua imagem nos seres morais que ele criou. O homem foi por natureza, dotado daquela justiça original que é a glória máxima da imagem de Deus, e vivia num estado de santidade positiva. A perda deste estado significa realmente uma deterioração e um enfraquecimento da natureza humana CAPÍTULO IX A DOUTRINA DO PECADO 1. Definição. Pecado é deixar de se conformar com a lei moral de Deus, seja em ato, seja em atitude, seja em natureza. Esta definição é em relação a Deus e Sua lei moral. Inclui não só atos individuais, como roubar, mentir ou cometer homicídio, mas também atitudes contrárias àquilo que Deus exige do homem. Em Ex. 20.17, Deus deixa claro que o desejo de roubar ou cometer adultério é também pecado aos seus olhos. Em Mt.5.22,28; Gl.5. 20,22, nos apresentam uma série de atitudes pecaminosas. A vida agradável a Deus é aquela que exibe pureza moral, não só em atos, mas também em desejos íntimos. Várias palavras gregas são usadas para designação de pecado, nenhuma se limita a um simples ato, mas a maioria é uma referência à disposição ou estado. A palavra “hamartia” significa que o homem no pecado não atinge o que ele busca, (1Jo.5:17; Rm. 14:23;Tg.4:17). O pecado como mal moral não só é atribuído aos pensamentos e sentimentos, mas também ao coração de onde origina, (Mt.15:19 e Hb.3:12). O pecado é uma depravação da natureza humana cujos pecados individuais ou ato de transgressão são obra e fruto, (Rm.5:21;6:12). O conceito amplo do pecado abrange uma série de fracassos do homem, desde a transgressão de um único mandamento, até a completa ruína de uma pessoa. A palavra mais comum para pecado é “hamartia”, que designa transgressão contra a moralidade, as leis, os homens ou os deuses. De acordo com Strong, pecado é a falta de conformidade com a lei moral de Deus, quer em ato, disposição ou estado. O pecado é atribuído somente aos agentes racionais e voluntários. O homem tem uma natureza racional submissa à consciência e uma natureza voluntária independente da verdadeira vontade. Todo pecado é voluntário porque surge ou diretamente da vontade ou indiretamente a partir dos sentimentos e desejos perversos que por si mesmos originaram a vontade. A intenção deliberada de pecar é um agravamento da transgressão. As más inclinações e impulsos que aparecem soltos e dirigem a alma antes de estar bem cônscia da sua natureza, são por si mesmos violações da lei divina e indicações de uma depravação interior que, no caso de cada descendente de Adão é a transgressão principal e original. 2. Teorias filosóficas sobre a natureza do pecado 2.1. Teoria dualista Esta teoria pressupõe a existência de um eterno principio do mal e afirma que no homem o espírito representa o principio do bem e o corpo, o principio do mal. Estes dois 89 princípios estão constantemente em conflito. Ambos fazem parte da constituição do homem. O homem tem um espírito (pneuma ) originário do reino da luz; e um corpo com sua vida animal (psiqué e soma), derivado do reino das trevas do pecado, portanto, é um mal físico; a contaminação do espírito por sua união com o corpo material e deve ser vencido por meios físicos, isto é, meios que destruam as influências do corpo sobre a alma. Ex. abstinências, penitências, etc. Esta teoria é inconsistente com o teísmo, ao fazer com que algo fora de Deus seja eterno e independente de sua vontade. Deus deixa de ser infinito e soberano absoluto, limitado por um poder co-eterno que não pode controlar; ela destrói a natureza do pecado como um mal moral, como substância inseparável da natureza do homem; ela tira a responsabilidade do homem, apresentando o pecado como algo inevitável fisicamente. Deus sendo o autor do organismo físico do homem é também originador responsável do pecado humano. 2.2. Teoria de que o pecado é mera privação O pecado deve ser considerado como simples negação ou privação. As limitações do homem fazem o pecado inevitável. O poder e a bondade são idênticos; a carência de virtude, ou o mal é a debilidade ou limitação do ser. O ser é bom; a limitação do ser é má. Esta idéia de pecado está na natureza do sistema panteísta. Se Deus é a única substancia, a única vida, o único agente, então ele é a soma de tudo quanto existe, ou melhor, tudo quanto existe é a manifestação de Deus, se o mal existe ele é uma forma da existência de Deus, como o bem; e não pode ser outra coisa senão um desenvolvimento imperfeito ou a mera limitação do ser. Esta teoria torna o pecado um mal necessário, desde que as criaturas são necessariamente limitadas, e o pecado é uma conseqüência inevitável dessa limitação. Ela ignora a diferença entre o mal físico e o mal moral, comete o grave erro de confundir o possível com o real. Não é a realidade do mal que é necessário para o bem, mas apenas a possibilidade do mal. Procura suprimir a diferença entre o mal moral e o mal físico. Tende a tirar do homem a noção da culpa ou da corrupção do pecado, destruir o sentimento da culpa e cancelar a responsabilidade moral do ser humano. Esta teoria pressupõe a veracidade do sistema panteísta do universo indo de encontro à nossa natureza religiosa que pressupõe um Deus pessoal. Esta teoria contradiz a consciência como a Escritura, negando a responsabilidade humana e transferindo a culpa do pecado da criatura para o Criador. Ao destruir a idéia de pecado, destrói todo sentimento de dever moral, concedendo liberdade irrestrita a todos as paixões pervertidas. 2.3. Teoria de que o pecado é egoísmo Os que defendem esta teoria entendem que o egoísmo é o oposto do altruísmo ou da generosidade; outros o entendem como a escolha do ego, em vez de Deus, como o supremo objeto do amor. Embora todo egoísmo seja pecado, não se pode dizer que o egoísmo é a essência do pecado. Há pecados em que o egoísmo não é princípio dominante. A inimizade para com Deus, a dureza do coração e a incredulidade são pecados hediondos, mas não podem ser simplesmente classificados como egoísmo. O egoísmo é não apenas o amor próprio exagerado que constitui a antítese da benevolência, mas a escolha do eu como o supremo fim que constitui a antítese do supremo amor a Deus. O egoísmo se revela na elevação ao supremo domínio de quaisquer apetites, desejos, ou sentimento do homem natural. O desejo egoísta toma as formas de avareza, ambição, vaidade, orgulho, etc. O sentimento egoísta é a falsidade ou malícia na medida em que espera fazer dos outros seus servos voluntários ou os considera desta forma; é descrença ou inimizade contra Deus, à medida que simplesmente despreza a verdade e o amor de Deus ou concebe a santidade de Deus como resistindo positivamente e punindo-o. 90 3. Idéias de Pecado, de acordo com a Bíblia. 3.1. O Pecado é o mal, num caráter específico. Nem todo mal é pecado. Não se deve confundir o pecado com o mal físico, com aquilo que é danoso ou calamitoso. Acima da esfera física está a esfera ética, na qual é aplicável o contraste entre o bem moral e o mal moral, e é somente nesta esfera que podemos falar de pecado. O pecado é um mal moral. O pecado é o resultado de uma escolha livre, porém má, do homem, (Gn.3:1-6;IS.48:8; Rm.1:18-32; 1Jo.3:4). 3.2. O Pecado tem caráter absoluto. Não há graduação entre o bem e o mal. A transição de um para o outro não é de caráter quantitativo, e sim, qualitativo. Um ser moral bom não se torna mal por uma simples diminuição da sua bondade, mas por uma mudança qualitativa radical, poruma volta ao pecado. O pecado não é um grau menor de bondade, mas um mal positivo. O homem está do lado certo ou do lado errado, (Mt.10:32,33; 12:30; Lc.11:23; Tg.2:10). 3.3. O Pecado é em relação a Deus Pecado é falta de conformidade com a lei de Deus; é a separação de Deus, a oposição a Deus, o ódio a Deus e isto se manifesta em constante transgressão da lei de Deus, em pensamento, palavra e atos, (Rm.1:32; 2:12-14;4:15; Tg 2:9; 1Jo.3:4). 3.4. O pecado inclui a culpa e corrupção A culpa é o estado de merecimento da condenação ou de ser possível de punição pela violação de uma lei ou de uma exigência moral. O pecado é punido e castigado (Mt.6:12; Rm.3:19;5:18; Ef.2:3}. Por corrupção entende-se a corrosiva contaminação inerente a que todo pecador está sujeito. O homem nasce com uma natureza corrupta (Jo.14:4; Jr.17:9; Mt.7:15-20; Rm.8:5-8; Ef.4:17-19). 3.5. O Pecado como hábitos pecaminosos O pecado consiste em uma condição pecaminosa da alma. O estado pecaminoso é a base dos hábitos pecaminosos e estes se manifestam em ações pecaminosas. Os atos pecaminosos repetidos levam ao estabelecimento de hábitos pecaminosos, (Mt.5:22,28; Rm.7:7; Gl.5:17,24) 4. Origem do Pecado. O pecado originou-se no ambiente angelical. Deus criou um grande número de anjos e estes eram todos bons, (Gn.1:31). Houve uma queda em que legiões de anjos se apartaram de Deus. A ocasião exata desta queda mão se sabe. Em 1Jo.3:8, diz que o diabo peca desde o princípio. Segundo as palavras do Apóstolo Paulo à Timóteo em 1Tm.3:6, podemos concluir que com toda a probabilidade que foi o pecado do orgulho, de desejar ser como Deus em poder e autoridade. Esta idéia parece receber o apoio de Jd.6, onde se diz que os que caíram “não guardaram o seu estado original, mas abandonaram o seu próprio domicílio”. Não estavam satisfeitos com a sua parte, com o governo e poder que lhes fora confiado. Se o desejo de serem semelhantes a Deus foi a tentação peculiar que sofreram, isto explica a tentação que foi feita ao homem. 4.1. Ato Pessoal de Adão Existe uma natureza pecaminosa comum à raça e que é a causa das verdadeiras transgressões. A Bíblia faz referência à origem desta natureza como um ato livre dos nossos primeiros pais através do qual eles desobedeceram a Deus, corromperam-se e trouxeram para si e para a sua posteridade, as penalidades da lei de Deus. 4.2. Narrativa bíblica da tentação e queda (Gn. 3:1-7) 91 O primeiro pecado consistiu em Eva optar pela satisfação do seu próprio prazer, sua ambição, ignorando a vontade e recomendação de Deus. O egoísmo inicial consistiu no fato de que Eva deu ouvidos ao tentador, dialogou com ele ao invés de repreendê-lo ou escapar dele, pelo contrário, aceitou a sua proposta, (Gn.3:3). Eva deixou a Palavra de Deus ser contraditada. O tentador põe em dúvida a veracidade de Deus e O acusa de ciúme e fraude, conservando Adão e Eva em posição de ignorância e dependência, (Gn.3:4-5). A mulher assume uma posição de descrença e acalenta o desejo do fruto proibido, como recurso para sua independência e conhecimento. A descrença, o orgulho, a cobiça, surgiram de um espírito de auto-isolamento e busca de si mesmo, (Gn.3:6). Aceitando a tentação, o coração e os seus desejos tinham se corrompidos, a disposição interior manifestou-se em atos. Assim o homem caiu, interiormente, antes do ato exterior, deu surgimento aos pecados dos desejos e estes conduziram ao ato de transgressão (Tg.1:15). 5. Conseqüências da queda de Adão. 5.1. A Morte A morte física ou separação da alma em relação ao corpo. A partir daquele momento da prática do pecado, o homem se tornou uma criatura mortal. A morte começou de uma vez. A ela pertencem as dores que o homem e a mulher sofreriam A partir daquele momento, a graça começou a contrapor-se aos efeitos da queda, afastando o seu terror e tornando-a o portal do céu. A morte será derrotada completamente quando, na ressurreição dos mortos, os corpos dos santos se tornarem imortais. A morte foi também espiritual, isto é, a separação da alma em relação a Deus. Isto implica a separação moral com Deus, a corrupção dos sentimento do homem e a escravização da sua vontade. O homem deixou de ser dono de si mesmo. Antes o seu intelecto e sentimento eram puros. O homem tinha suprema consciência de Deus e via tudo sob a luz de Deus que era o seu Senhor. 5.2. Exclusão da presença de Deus Houve a cessação daquele relacionamento familiar do homem com Deus e a colocação da barreira entre o homem e o seu Criador. A expulsão do casal para que não comesse da árvore da vida tanto é matéria de benevolência como de justiça a fim de impedir a imortalidade do pecado. 6. O Pecado de Adão e a sua Posteridade Todos os seres humanos são pecadores, todos são, por natureza depravados, culpados e condenáveis e que a transgressão dos nossos primeiros pais, com relação à raça humana, foi o primeiro pecado. Temos que considerar a conexão entre o pecado de Adão e a depravação, culpa e condenação da raça. A Bíblia ensina que a transgressão dos nossos primeiros pais constituiu pecadora a sua posteridade (Rm. 5:12,16,19; Ef.2:3). O pecado de Adão é a causa e base da depravação, culpa e condenação de toda a sua posteridade. O pecado de Adão é o pecado da raça (ICo..15:22). Todos os membros da raça humana estavam representados por Adão no tempo da provação, no Jardim do Éden, por isso nos tornamos responsáveis por uma natureza depravada que pessoal e conscientemente não originamos. Como resultado, temos o problema do pecado original e o problema da imputação. Imputação de pecado é, não a arbitrária acusação a alguém daquilo por que não é, naturalmente, responsável, mas que a culpa de alguém é dele mesmo, quer em virtude dos seus atos individuais, quer em virtude da conexão 92 com a raça. Pecado original significa a participação no pecado comum da raça do qual Deus nos acusa em virtude de nossa descendência de Adão, o primeiro pai e cabeça. Além da culpa legal que Deus nos imputa por causa do pecado de Adão, também herdamos uma natureza pecaminosa como conseqüência do pecado dele. Essa natureza pecaminosa herdada é, às vezes, denominada simplesmente “pecado original”. Ao considerarmos o pecado da raça, devemos considerar o seguinte: que o pecado real, em que o agente pessoal reafirma a subjacente determinação da sua vontade, é mais culpado que o pecado original sozinho; que nenhum ser humano é condenado por causa do pecado original; mas que todos os que, como as crianças ou os incapazes mentalmente, não cometem transgressões pessoais, são salvos através da aplicação da expiação de Cristo; o pecado racial foi cometido pelo primeiro pai, a partir de então, toda humanidade nasce no mesmo estado em que ele caiu de depravação, culpa e condenação. 6.1. Conceito de Pelágio sobre o pecado. Pelágio se baseia na capacidade do homem. Deus ordenou ao homem que praticasse o bem e este deve ter capacidade para fazê-lo. O homem deve ser capaz de decidir sobre a prática do bem ou do mal. Se vai praticar o bem ou o mal depende exclusivamente da sua vontade livre e independente. O pecado é fruto de uma escolha deliberada do mal, escolha feita voluntariamente. A doutrina pelagiana envolve: 6.1.1. Liberdade da vontade A convicção de que os homens não podem se responsabilizar por nada que não esteja em seu poder. A liberdade da vontade é o poder plenário, em cada ocasião e em cada momento, de escolher entre o bem e o mal, e de ser santo ou ímpio; 6.1.2. O pecado consiste na escolha deliberada do mal. Pressupõe conhecimento do que é mal, bem como o pleno poder de escolhê-lo ou rejeitá-lo; 6.1.3. Não existe pecado original.Não pode existir o chamado pecado original, ou corrupção inerente e hereditária. Os homens nascem no mundo, desde a queda, no mesmo estado em que Adão foi criado; 6.1.4. O pecado de Adão apenas prejudicou a ele próprio. Negou haver alguma relação causal entre o pecado de Adão e a pecaminosidade da raça, ou que a morte fosse um mal penal, Adão teria morrido pela constituição de sua natureza, tivesse pecado ou não; 6.1.5. O homem não é contaminado pelo pecado original. Os homens vivem sem a contaminação do pecado original, e por isso têm poder para fazer tudo o que Deus exige; podem viver sem pecado ou se em determinado momento transgridem, podem voltar a Deus e obedecer perfeitamente a todos os seus mandamentos; 6.1.6. Os homens podem ser salvos sem o evangelho. O livre arbítrio, no sentido de capacidade, pertence essencialmente ao homem, do mesmo modo que a razão. Os homens podem obedecer às leis de maneira plena e alcançar a vida eterna; 6.1.7. Negação da influência do Espírito Santo Nega a necessidade da graça no sentido da influência sobrenatural do Espírito Santo. 6.1.8. As crianças são destituídas de caráter moral. As criancinhas se acham destituídas de caráter moral, em seu caso, o castigo não pode nem simbolizar nem afetar a remissão de pecado. 6.2. Argumento contra a doutrina pelagiana: 6.2.1. Contradiz a consciência comum dos homens. Todo o sistema da doutrina contradiz a consciência comum dos homens. Não é verdade que nossa obrigação esteja limitada por nossa capacidade; 93 6.2.2. Contraria a natureza moral do homem. Segundo a natureza moral do homem, não é verdade que nada é pecaminoso, exceto a transgressão deliberada de uma lei conhecida; 6.2.3. Confunde liberdade com capacidade. A doutrina confunde liberdade com capacidade, ou que faz com que a liberdade de um agente livre consiste no poder de determinar seu caráter por volição. 6.2.4. Não explica a pecaminosidade universal dos homens. Deixa sem explicação a pecaminosidade universal dos homens, o que não pode ser negado. 6.2.5. Não satisfaz a natureza humana. Não satisfaz as necessidades mais profundas e universais da natureza humana. 6.2.6. Torna a redenção impossível. Torna a redenção (no sentido de libertação do pecado) desnecessária ou impossível. 6.2.7. É totalmente contrária a Palavra de Deus. CAPÍTULO X DOUTRINA DA SALVAÇÃO OU SOTERIOLOGIA 1. Preparação histórica para a Redenção. A redenção da humanidade é uma determinação de Deus desde a eternidade. Desde a queda de Adão até a vinda de Cristo, a história da raça foi providencialmente arranjada, no sentido de preparar o caminho da redenção. 1.1. Na história do mundo pagão Esta preparação mostrou a verdadeira natureza do pecado e a profundidade da ignorância espiritual e a natureza da depravação a que a raça deixada ao léu do seu destino deve cair; a falta de poder da raça humana para preservar ou readquirir um adequado conhecimento de Deus ou livrar-se do pecado valendo-se da filosofia ou da arte. A Bíblia reconhece Jó, Balaão, Melquisedeque como exemplos de sacerdócio ou de comunicação divina fora dos limites do povo escolhido. Paulo fala dos cretenses como tendo “um próprio profeta” (Tt. 1.12), provavelmente Epimênedes (596 a.C.) a quem Platão chama de “homem de Deus”. Clemente de Alexandria dizia: “o mesmo Deus que forneceu os dois concertos foi o que deu a filosofia aos gregos, pela qual o Onipotente é glorificado entre os gregos”. Bruce declara que “havia uma certa luz mesmo para os pagãos, embora o paganismo como um todo era um fracasso. Porém até o seu próprio fracasso era uma preparação para o recebimento da verdadeira religião” 1.2. Na história de Israel. Foi um povo separado dos outros desde os tempos de Abrão e educado em três grandes verdades: 1) A majestade de Deus em sua unidade, competência e santidade; 2) A pecaminosidade do homem e sua desesperança moral; 3) A certeza de uma salvação vindoura. Tal educação foi direcionada pelo uso de três agentes: a) A Lei . A legislação mosaica através das suas teofanias e milagres cultivava a fé num Deus pessoal e onipotente e Juiz; através das suas determinações e ameaças despertava o senso do pecado; através do seu sistema sacerdotal e sacrificial inspirava a esperança de algum processo de salvação e acesso a Deus. A educação dos judeus, antes de tudo, se opera através da lei. Na história universal como na individual, a lei deve preceder o evangelho. O conhecimento do pecado deve 94 preparar uma auspiciosa entrada para o conhecimento de um Salvador. Enquanto o pagão estava estudando as obras de Deus, o povo escolhido estudava o próprio Deus. b) Profecia. Era de duas espécies: 1) verbal, começando pelo proto-evangelho, no jardim e estendendo-se pelos quatrocentos anos que precedem a vinda de Cristo; 2) Típica, em pessoas como Adão, Melquisedeque, José, Moisés, Josué, Davi, Salomão, Jonas, e na prática de atos tais como o sacrifício de Isaque, o levantamento de serpente, no deserto. Cristo deveria ser verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus, profeta, sacerdote e rei, humilhado e exaltado. Quando a profecia se tornasse completa, passaria o breve intervalo e, a seguir, ele, de quem Moisés na lei, e os profetas escreveram, verdadeiramente viria. c) Juízo. Os repetidos castigos divinos por causa da idolatria culminara com a ruína do reino e cativeiro dos judeus. O exílio teve dois principais efeitos: 1) religioso – dando ao monoteísmo firme raiz no coração do povo e levando ao estabelecimento do sistema de sinagoga pelo qual o monoteísmo, daí em diante se preservou e se propagou; 2) civil – convertendo os judeus de um povo agrícola em comerciantes, espalhando-os entre todas as nações e, finalmente imbuídos do espírito da lei e organização romana tornaram-se prontos para receberem o evangelho. 2. A Pessoa de Cristo O Plano de redenção deveria ser executado por um Mediador que reúne em si tanto a natureza humana como a divina. 2.1. Pontos de Vista sobre a Pessoa de Cristo. 2.1.1. Os ebionitas Os ebionitas negavam a divindade de Cristo. Jesus teria nascido normalmente de José e Maria e fora ungido por Deus, com o Espírito Santo, pela ocasião do seu batismo, recebendo a filiação divina. Os ebionitas eram um judaísmo sob disfarce da igreja cristâ e a negação da divindade de Cristo ocasionada pela aparente inconpatibilidade com o monoteísmo. Cristo era, para eles, Judeu crente, fiel, piedoso, profeta e mestre inigualável. A dificuldade que os ebionitas encontravam para aceitar a divindade de Cristo, reside na fidelidade ao monoteísmo judaico, isto é, em conciliar a divindade de Cristo com a revelação bíblica da unidade e unicidade de Deus. Os ebionitas vão de encontro ao evangelho de João que afirma que o Verbo era Deus que tomou a forma de homem. 2.1.2. Os Docetistas. Era uma corrente de pensamento que incorporava as idéias gnósticas de que Cristo não teria um verdadeiro corpo. Para eles, a matéria é má, em si mesma, incapaz e desnecessária para a salvação. A matéria é radicalmente oposta ao espírito. Por isso Deus, o Espírito perfeitíssimo, transcendente, imutável, não pode assumir qualquer parcela de matéria. Se Jesus era Deus, seu corpo humano só podia ser aparente, seria um fantasma. O docetismo era uma filosofia pagã, introduzida na igreja. Contraria o que diz 1Jo.4:1-3 “ ... Todo espírito que reconhece que Jesus Cristo veio na Carne é de Deus; todo espírito que não reconhece Jesus não é de Deus”. 2.1.3. Os Arianos - (Ário, condenado em Nice, 325). Negavam a integridade da natureza divina em Cristo. Para criar o mundo, Deus criou antes um ser intermediáriopara servir de instrumento da criação. Este ser intermediário é o Logos. O Logos é superior e anterior a todas as criaturas, mas não é eterno. O Logos se encarnou e se tornou a alma de Cristo, que foi adotado como filho de Deus. Se Jesus foi gerado quer dizer que ouve um tempo em que não era, razão pela qual não pode ser coeterno. 95 A Bíblia diz, nos primeiros versículos do evangelho de João que no princípio o Logos estava com Deus e o Logos era Deus, tudo foi feito por intermédio dEle. O Logos se fez carne e habitou entre nós. 2.1.4. Os Apolinaristas - (Apolinário, condenado em Constantinopla, 381) Os Apolinaristas negavam a integridade da natureza humana de Cristo. Afirmavam que o verbo encarnando-se ocupara o lugar da alma humana de Jesus. Em Jesus, o lugar da alma espiritual é preenchido pelo Logos. Deste modo só o corpo é realmente humano. Apolinário eliminou a alma de Jesus, introduzindo em seu lugar o Logos. Só assim se explicaria a divindade de Cristo, sua impecabilidade e imutabilidade. Para que Cristo existisse sem pecado seria preciso que uma alma ou um espírito viesse nele guiar a carne que assumira para tornar-se semelhante a nós. A humanidade de Cristo não é completa ou perfeita. Se a alma espiritual de Jesus foi substituída pelo Verbo, este torna-se parte integrante da natureza humana e é, por isso, diminuído em sua divindade, o que é impossível. Segundo Apolinário o Verbo Eterno uniu em si não uma natureza completa, mas uma natureza animal, irracional, humana. 2.1.5. Os Nestorianos - (Nestório, exonerado do patriarcado de Constantinopla, 431) Negavam a união real entre as naturezas divina e humana em Cristo, tornando-a mais uma unidade moral do que orgânica. Diziam existir em Cristo duas naturezas e duas pessoas. Existem, portanto duas filiações: uma natural, humana, outra divina, sobrenatural, gerada por Deus. Entre as duas naturezas não existe união intrínseca, mas apenas uma união moral. Jesus de Nazaré não deve ser chamado Deus, visto que é apenas um homem em quem habita o Logos divino. Maria não é mãe de Deus, mas do homem, Jesus. Sustentavam, então, que havia duas naturezas e duas pessoas ao invés de duas naturezas em uma pessoa. 2.1.6. Os Eutiquianos - (Eutiques, condenado em Calcedônia, 451) Negavam a distinção e coexistência das duas naturezas de Cristo e defendiam uma mistura de ambas, as naturezas, o que constituía uma terceira natureza. Sustentavam que na união das naturezas, a natureza divina absorvera a natureza humana, de tal forma que não se podia falar senão de uma única natureza, em Cristo Jesus: a natureza divina. Ao se encarnar, o Filho de Deus converteu a humanidade de Jesus numa substância divina e eterna. Os eutiquianos foram chamados de monofisistas porque reduziam as duas naturezas em uma 2.1.7. A Doutrina Ortodoxa - (Promulgada em Calcedônia, 451) Sustenta que na pessoa de Cristo há duas naturezas, uma humana e uma divina, cada uma em sua plenitude e integridade e que estas duas naturezas estão orgânica e indissoluvelmente unidas sem, contudo, resultar em uma terceira natureza. Concluímos que há uma integridade das duas naturezas e que há uma união das duas naturezas em uma só pessoa. 3. As Duas Naturezas de Cristo 3.1. A Humanidade de Cristo 3.1.1. O nascimento virginal de Cristo. As Escrituras afirmam claramente que Jesus foi concebido no ventre de sua mãe, Maria, por obra miraculosa do Espírito Santo e sem a intervenção de um pai humano, (Mt. 1:18,20,24,25). Foi concebido de maneira sobrenatural. A promessa de Gen 3:15, Deus torna possível pelo Seu poder, não pelo esforço humano. O nascimento virginal possibilitou a união da plena divindade e da plena humanidade em uma só pessoa. Este foi o meio empregado por Deus para enviar o Seu Filho ao mundo como homem, (Jo. 3:16; Gl.4:4). 96 O nascimento virginal também tornou possível a verdadeira humanidade de Cristo, sem a herança do pecado. Jesus não descendeu de Adão de maneira exata pela qual todos os seres humanos descendem e isso nos ajuda a compreender por a culpa legal e a corrupção moral que pertencem a todo ser humano, não pertencem a Cristo. Jesus era livre tanto da depravação hereditária como do verdadeiro pecado, oferecendo o padrão moral que todos os homens, progressivamente, devem ter como alvo a ser alcançado. 3.1.2. Fraquezas e Limitações Humanas. Jesus possuía um corpo humano, nasceu como nascem todos os bebês, (Lc. 2:7). Ele passou da infância para a maturidade assim como crescem todas as crianças, (Lc. 2:40). Jesus experimentou as experiências físicas que todo ser humano experimenta. Ele teve cansaço, fome, sede, fraqueza física, sono, amor, compaixão, ira,ansiedade, temor, lamento, choro, oração, etc.(Jo. 4:6; 19:28; Mt. 4:2,11; Lc.23:26,46). Ele possuía os elementos essenciais da natureza humana de que se constituem atualmente um corpo material e uma alma racional, (Mt.26:26,38; Jo. 11:33. Jesus estava sujeito ás leis ordinárias do desenvolvimento humano, tanto no corpo como na alma (crescia e se fortalecia em espírito; interrogava, crescia em sabedoria e em estatura; aprendeu a obediência; sofreu sendo tentado; aperfeiçoou-se através do sofrimento). Ele sofreu e morreu, transpirou sangue; rendeu o espírito, seu corpo foi cravado e dele saíram sangue e água. 3.2. A Divindade de Cristo Para que seja completado o ensino bíblico a respeito da pessoa de Jesus, precisamos declarar que Ele era plenamente Deus como também, plenamente homem. A palavra Deus, foi algumas vezes aplicada referindo-se a Cristo. Em vários textos a palavra Deus, é empregada para fazer referência àquele que é criador do céu e da terra, o governador de tudo que existe ( Jo.1:1,18;20:28; Rm. 9:5: Tt.2:13; Hb.1:8; 2Pe.!:1). Outra palavra aplicada a Cristo é Senhor. O anjo aos pastores de Belém, “hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lc. 2:11); quando Maria chegou para visitar Isabel, esta disse: “E de onde me provém que me venha visitar a mãe do meu Senhor” (Lc. 1:43). O próprio Jesus faz prova da sua divindade quando diz em Apocalípse 22:13 “Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim “. Jesus exercia poderes e prerrogativas divinos demonstrados em seus atributos. Sua onipotência foi demonstrada quando acalmou a tempestade (Mt.8:26-27); quando multiplicou os pães e peixes (Mt.14:19); quando transformou a água em vinho (Jo.2:1-11); Sua eternidade foi demonstrada quando Ele mesmo diz: “antes que Abraão existisse, Eu Sou” (Jô. 8:58). Além da referência de Apocalipse, no mesmo livro Ele declara “Eu Sou o Alfa e o Ômega” (Ap. 1:8); Sua onisciência foi demonstrada no fato de conhecer os pensamentos das pessoas (Mc.2:8); viu Natanael debaixo da figueira, distante de onde Ele estava (Jô.1:48); desde o princípio sabia quem o havia de trair (Jo.6:64); A soberania divina foi demonstrada quando demonstrou autoridade exclusiva de Deus perdoando pecados (Mc. 2:5-7). Sua imortalidade foi demonstrada quando fala aos judeus “Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei” (Jo.2:19), Sua ressurreição, é prova cabal da sua imortalidade. Outra prova da divindade de Cristo é que Ele é achado digno de ser cultuado (Fp. 2:9-11; Hb.1:6; Ap.5:12,13). Alguns teólogos da Alemanha ( a partir de 1860-1880 e da Inglaterra (a partir de 1890- 1910) defenderam a “teoria da Kenosis” de que Cristo abriu mão de alguns atributos divinos enquanto estava sobre a terra como homem com base em Fp.2:7. Parece que a melhor compreensão desta passagem é que Jesus deixando a condição e os privilégios que possuía no céu, esvaziou-se ou humilhou-se por nós vivendo como verdadeiro homem, tendo todas as características humanas, exceto o pecado. Jesus viveu comoservo, porém sua divindade era 97 completa. Ele poderia até não querer usar determinados atributos, mas perder nunca, se não deixaria de ser Deus. Jesus abriu mão do constante exercício de todos seus atributos, fazendo uso quando lhe era necessário. 4. A Obra Expiatória de Cristo “Expiação é a obra que Cristo realizou em sua vida para obter nossa salvação” (Wayne Grudem). Enquanto o amor de Cristo explica sua voluntariedade de suportar o sofrimento por nós, só a sua santidade fornece a razão para a constituição do universo e da natureza humana que torna o sofrimento necessário. Com respeito a nós o seu sofrimento é substitutivo, visto que a sua divindade e a sua impecaminosidade o capacitam a fazer por nós o que nunca poderíamos fazer por nós mesmos. O sofrimento do Cristo encarnado é a manifestação do sofrimento eterno de Deus no tempo e no espaço por causa do pecado humano. O sacrifício histórico de nosso Senhor não é só a revelação final do coração de Deus, mas também a manifestação da lei da vida universal, a lei de que o pecado traz sofrimento a todos em conexão com ela é que nós só podemos vencer o pecado em nós mesmos e no mundo entrando em comunhão com os sofrimentos de Cristo e com a vitória de Cristo, ou, em outras palavras, pela união com ele através da fé. 4.1. A Causa da Expiação. A Bíblia aponta para duas causas da expiação: o amor e a justiça de Deus. O amor de Deus como uma das causas da expiação está descrito em Jo.3:16, verso por todos conhecido. A segunda causa, a justiça de Deus, exigia que o Senhor encontrasse um meio pelo qual a pena pelos nossos pecados fosse paga (Rm. 3:25). Deus não podia nos aceitar, em comunhão se a culpa não fosse paga. Tanto o amor como a justiça de Deus foram fundamentais para que a expiação acontecesse e nós tivéssemos lugar juntos a Ele. Cristo deveria viver uma vida de completa obediência a Deus afim de que pudesse obter a justiça por nós. Ele tinha que obedecer à lei ao longo de toda sua vida por nós, de modo que os méritos de sua perfeita obediência fossem contados em nosso favor. A pena que Cristo suportou ao pagar nossos pecados foi um sofrimento tanto em seu corpo como em sua alma, tanto físico como espiritual. Embora o sofrimento de Cristo culminasse com a sua morte na Cruz, o seu sacrifício foi durante toda a sua vida. Quanto mais perto da cruz estava mais intensificava o seu sofrimento (Mt. 26:38). Jesus experimentou vários aspectos de dor: 1) A dor física - A morte por crucificação era uma das formas mais dolorosas que se podia imaginar. Quando os braços de um criminoso eram estendidos e fixados por pregos na cruz, ele tinha de sustentar a maior parte do peso do corpo com os braços. A caixa torácica era forçada para cima e para fora, tornando difícil o ato de expirar a fim de inspirar o ar fresco. Mas quando a ânsia da vítima por oxigênio se tornava insuportável, ela tinha que pressionar a si mesma para cima com os pés, dando um apoio mais natural para o peso do corpo, tirando dos braços parte do peso e permitindo que a caixa torácica se contraísse de modo mais normal. Ao forçar o corpo para cima, o criminoso podia deter a sufocação, mas isso era extremamente doloroso, pois exigia que colocasse o peso do corpo sobre os pregos que prendiam os pés e que flexionasse os cotovelos e os pressionasse para cima sobre os pregos cravados nos pulsos. As costas do criminoso, rasgadas repetidas vezes por chicoteamento anterior à execução, era esfregada contra a cruz de madeira a cada respiração (Epístola 101, de Sêneca para Lucílio). 2) A dor de carregar o pecado - Mais horrível do que a dor do sofrimento físico que Jesus suportou, foi a dor psicológica de carregar a culpa pelo nosso pecado. Em obediência ao Pai e 98 movido por seu amor por nós, Jesus tomou sobre si mesmo todos os pecados daquele que algum dia seria salvo. Tudo o que Ele odiava de modo mais profundo foi derramado completamente sobre Ele. A Bíblia fala algumas vezes que nossos pecados foram colocados sobre Cristo (Is.53:6,12; Jô. 1:29). Jesus pagou a nossa culpa e assumiu a nossa condenação. 3) A dor de suportar a ira de Deus - Deus Pai o Poderoso Criador, o Senhor do universo, derramou sobre Jesus a fúria da Sua ira. Jesus se tornou objeto de intenso ódio e da vingança contra o pecado que Deus tinha guardado com paciência desde o início do mundo. Romanos 3:25 nos diz que Deus propôs Cristo como “propiciação”, palavra que significa “sacrifício que sofre a ira de Deus até o fim e, dessa maneira, transforma a ira de Deus contra nós em favor”No calvário, a horrível pena do pecado da humanidade foi retirada, em Cristo assumindo a culpa com a morte substitutiva. 5. Os Ofícios de Cristo A Bíblia representa os ofícios de Cristo em três números: profético, sacerdotal e real. Estes três ofícios expressam idéias completamente distintas O profeta, o sacerdote e o rei do Antigo Testamento simbolizavam a figura de quem deveria combinar estas variadas atividades, em si mesmo. 5.1. Cristo como Profeta. Devemos evitar a estreita interpretação que tornaria o profeta um preditor dos eventos futuros. Devemos entender o profeta como um intérprete inspirado ou revelador da vontade divina, um meio de comunicação entre Deus e o homem. Não é um preditor,mas um porta voz. O profeta, geralmente reunia três métodos para desempenhar a sua função: ensino, predição e operação de milagres. Em sua função profética, Jesus agiu dentro destas três áreas (At.3:22; Mt.13:57; Lc.13:33: João 6:14). Ele ensinava (Mt.5:7); operava milagres (Mt.8:9); proferia predição (Mt.24:25). Quando Jesus ressuscitou o filho da viúva da Naim, as pessoas disseram que havia um grande profeta em seu meio (Lc.7:16).Quando Jesus falou com a samaritana sobre a intimidade de sua vida, ela respondeu que percebia que ele era profeta (Jo.4:19). A reação do homem cego, curado no templo, foi semelhante, (Jo.9:17). Pedro identifica Cristo como o profeta predito por Moisés (At.3:22-23, citando Dt.18:15) Jesus é, de fato, o profeta predito por Moisés. Jesus era aquela sobre quem foram feitas as profecias do Antigo Testamento. Quando Jesus falou com os discípulos no caminho de Emaús, Ele os conduziu por todo o Antigo Testamento, mostrando como as profecias apontavam para Ele (Lc.24:27). A palavra do Senhor veio aos profetas do Antigo Testamento, mas Jesus falou com sua própria autoridade como o Verbo eterno de Deus. 5.2. Cristo como Sacerdote. O sacerdote era uma pessoa divinamente indicada para interceder a Deus em favor do povo. Primeiro oferecia sacrifício e, em segundo lugar fazia a intercessão. A Bíblia nos diz que Cristo obedeceu e sofreu em nosso lugar, se fazendo sacrifício pelo pecador, para satisfazer uma demanda imanente da santidade divina para o perdão e restauração da culpa do pecado da humanidade. Na lei mosaica verificamos que o sacrifício de uma oferta de sangue envolvia o sofrimento da vítima não trazida pela alma simplesmente grata, mas pela alma de uma consciência abalada. A verdadeira importância do sacrifício, como se evidencia tanto nas fontes gentílicas como judaicas, abrangia três elementos: Primeiro, a satisfação da divindade ofendida ou 99 propiciação oferecida à santidade violada; segundo, da substituição do sofrimento e morte da parte do inocente para a merecida punição da culpa e terceiro, a comunhão da vida entre o ofertante e a vítima. Hb. 7:23-25 fala do sacerdócio de Cristo. A intercessão de Cristo tem os seguintes objetivos: a). Intercessão geral que garante a todos os homens alguns benefícios temporais da obra expiatória, b). A intercessão especial que asseguraa aceitação divina das pessoas que crêem e a concessão divina de todas as dádivas necessárias à sua salvação. Jesus ofereceu um sacrifício perfeito pelo pecado. Foi um sacrifício definitivo e completo que jamais precisaria ser repetido (Hb. 9:26, 12, 24-28;10: 1-2,10,12,14; 13:12). Como nosso perfeito sumo sacerdote, Jesus nos conduz à presença de Deus de sorte que não temos necessidade de outro meio para nos conduzir a Deus. Os que viveram no Antigo Testamento, nem sequer podiam entrar na primeira parte do templo, o lugar santo, pois apenas os sacerdotes tinham acesso a este lugar. Quanto a parte interior do templo, o santo dos santos, somente o sumo sacerdote podia entrar, uma vez por ano (Hb 9:1). Mas quando Jesus ofereceu o sacrifício perfeito pelos pecados, a cortina ou o véu do templo que fechava o lugar santo dos santos, se rasgou, de alto a baixo (Lc. 23:45), indicando, de modo simbólico que o caminho de acesso a Deus tinha sido aberto com a morte de Cristo e quem quiser pode ir a Ele sem nenhum embaraço. Jesus intercede por nós (Hb. 7:25) e Paulo confirma essa intercessão em Rm. 8:34. 5.3. Cristo como Rei No Antigo Testamento, o rei tinha autoridade para governar a nação de Israel. No Novo Testamento, Jesus nasceu para ser rei dos judeus (Mt.2:2), mas recusou todas as tentativas feitas pelo povo para fazê-lo um rei terreno com um poder político e militar. Ele declarou: “O meu reino não é deste mundo” (Jo. 18:36a). Jesus é o verdadeiro rei do povo de Deus. Após a sua ressurreição Deus lhe deu toda autoridade, no céu e na terra e exaltou sobre todas as coisas ( Ef. 1:20-22; Mt.18:18; 1 Co.15:25). O reinado de Cristo é soberania do redentor divino-humano que lhe pertencia por direito desde o momento do seu nascimento, mas que foi exercido plenamente a partir da sua entrada para o estado de exaltação. Em virtude do seu ofício real, Cristo dirige todas as coisas no céu e na terra para a glória e execução do propósito salvador de Deus. Em relação ao universo, em toda a sua extensão, o reino de Cristo é um reino de poder; Ele sustenta, governa e julga o mundo (Sl. 2:6-8; Hb.2:8-9; Mt.25:31-32). Com relação a sua igreja militante, é o reino da graça; Ele funda, legisla, administra, defende e amplia sua igreja na terra (Hb. 1:8; Ef. 1:22-23). Com relação à igreja triunfante, é um reino de glória; Ele recompensa o seu povo redimido com a sua plena revelação da complementação do seu reino na ressurreição e no juízo Jo. 17:24; 1Pd.3:21-22; 2Pd.1:11). CAPÍTULO XI A DOUTRINA DA ELEIÇÃO 1. Definição Eleição é um ato de Deus, antes da criação, pelo qual, em seu soberano agrado, Ele elege as pessoas para serem salvas, não por causa de algum mérito antevisto nelas, mas somente pela graça e pela sua suprema boa vontade. Deus escolheu o homem para alcançar a salvação, desde a fundação do mundo. Com base na graça de Deus, favor imerecido, todas as pessoas foram escolhidas para serem 100 alcançadas por Cristo, regeneradas pelo Espírito Santo e salvas da condenação do pecado. Este é um plano que vem desde a eternidade. Alguns entendem que Deus tem, desde a criação eleito algumas pessoas para a salvação e conseqüentemente as outras para a perdição. 2. Argumentos que favorecem a doutrina da eleição. 2.1 O direito soberano de Deus. Deus tem o direito soberano de conceder mais graça a um do que a outro (Mt.20: 12- 15; Rm 9:20,21); Aprouve a Deus exercer este direito ao tratar os homens (Sl.147:20; Rm 3:1-2). 2.2. A maneira de Deus distribuir a sua graça. Deus tem alguma outra razão além da de salvar tantos quantos possíveis da maneira em que ele distribui a sua graça (Mt 21:21; Rm.9:22,23). Há citação de alguns textos na tentativa de explicar que Deus já havia predestinado alguns para a salvação. Lucas escreve em Atos 13:48, "e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna". Em Rm 8: 28-30, lemos : "Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito, Portanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conforme à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esse também justificou; a aos que justificou, a esses também glorificou". 2.3. Passagens bíblicas que justificam a doutrina da eleição Os que defendem a idéia da eleição procuram usar algumas passagens da Bíblia para se justificarem, vejamos: a) Afirmativa do propósito de Deus de salvar algumas pessoas (Mc.13:27;Lc.18:7; At13:48; Rm.9:22; 1Co.16:15; Rm.13:1;10:42; Rm.9:11-16; Ef.1:4,5,9,11; Cl.3:12; 2Ts.2:13); b) Em conexão com a declaração da presciência de Deus relativa a estas pessoas, ou escolha para torná-las objeto de sua atenção e cuidado (Rm.27:30; 1Pd. 1:1-2; Gn.18:19; 1Co.8:3; Gl.4:9; 1Ts.5:12-13;1Pd.1:20). c) Esta escolha é matéria da graça, ou favor imerecido, concedido na eternidade passada (Ef1:5-8; 2:8; 2Tm.1:9). d) O Pai deu algumas pessoas ao Filho, para ser a sua possessão peculiar (Jo.6:37; 17:2,6,9; Ef.1:14; 1Pd.2:9). e) O fato de os que crêem estarem unidos assim a Cristo, se deve totalmente a Deus (Jo.6:44;1Co.1:30). f) Que aqueles cujos nomes estão escritos no livro da vida e só eles serão alvos (Fp.4:13; Ap.20:15;21:27). g) Que estes são destinados como discípulos para alguns servos de Deus (At.17:4; 18:9-10). h) São portadores de uma vocação especial de Deus (Rm.8:28-30; 9:23,24; 11:29; 1Co.1:24- 29; Gl.1:15-16). i) Nasceram para o Reino de Deus, não em virtude da vontade do homem, mas de Deus (Jo.1:13;Tg.1:18; 1Jo 4:10). j) Recebem o arrependimento como dom de Deus (At. 5:31; 11:18; 2Tm.2:25; Sl.51:10). l) A fé, um dom de Deus (Jo.6:65;At.15:8-9; 1Co.12:9; Gl.5:22; Fl.2:13; Ef.6:23; Jo 3:8; 1Co. 12:3; Tt.1:1). m) Santidade e boas obras são dons de Deus (Ef.1:4; 2:9-10; 1Pd.1:2). A doutrina da Eleição não é fatalista, nem mecanicista. No fatalismo, não importa o que venhamos a fazer, as coisas continuarão seguindo o seu curso pré-determinado; é inútil o esforço ou a escolha importante que deve ser feita, ainda 101 que seja em favor de Cristo, nada vai mudar o plano da predestinação. As mudanças que ocorrerem não farão diferença alguma. Se aceitarmos o sistema fatalista, não haverá salvação para ninguém, porque todos os pecadores estão sentenciados a pena de morte espiritual. Num sistema mecanicista o quadro é de um universo impessoal, no qual todas as coisas que acontecem foram determinadas por uma força impessoal há muito tempo, e o universo funciona de um modo tão mecânico que os seres humanos estão mais para máquinas ou robôs do que para pessoas de verdade; a personalidade humana estaria reduzida ao nível de uma máquina que simplesmente funciona em harmonia com planos predeterminados e em resposta a causas e influências igualmente predeterminadas. O Novo Testamento apresenta a realização da nossa salvação como algo efetuado por um Deus pessoal, numa comunhão pessoal com suas criaturas. Deus, "nos predestinou para Ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade" (Ef. 1:5) O ato da eleição da parte de Deus não foi nem impessoal, nem mecanicista, mas permeado por amor pessoal por aqueles que foram resgatados pelo sacrifício de Jesus Cristo. Em Jo 1:12 diz que quantos (indistintamente) receberam a Jesus, foram feitos filhos de Deus, pela fé. Em Mt. 11:28 Jesus declara: "Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei" O convite à salvação é para todos. "O Espírito e noiva dizem: Vem! Aquele que ouvediga:Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida" (Ap.22:17). Em contraste com a idéia fatalista, percebemos um ensino diferente no Novo Testamento. Nós não apenas fazemos conscientemente nossas escolhas reais, mas própria escolha é uma escolha real, porque afetam o curso dos eventos no mundo, tanto na história da vida pessoal como também na vida de outras pessoas que sofrem as influências dessas escolhas. "Quem nele crê não é julgado; o que não crê está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus" (Jo.3:18) A nossa decisão pessoal de crer ou não em Cristo tem conseqüências eternas. Deus nos predestinou para Ele, "nos predestinou para ele para adoção de filhos" (Ef1:5). Deus derramou sobre o homem o seu grande amor e a sua graça, não porque anteviu no homem a sua capacidade de crer ou algum mérito. 3. Argumentos contrários a doutrina da eleição. 3.1. Não há opção de aceitar a Cristo. Este ponto de vista nega todos os convites do evangelho que apelam à vontade do homem e exigem que as pessoas façam uma escolha pessoal e voluntária respondendo ao convite de Cristo. Nossas escolhas são voluntárias porque são o que queremos e o que decidimos fazer. 3.2. A escolha do homem não é real. Se o homem tem que concordar com aquilo que Deus escolheu, antecipadamente para ele, então o homem perdeu a autonomia das suas decisões, Volta a idéia de um robô, não tem decisão própria e sua vontade própria não é respeitada. 3.3. Os ímpios não terão chance de crer. Se Deus já decretou, desde a eternidade que algumas pessoas não creriam então houve chance para crer e o sacrifício do Calvário não foi para dar oportunidades a todos os pecadores de alcançarem a salvação. Isto contraria todo contexto bíblico da salvação proposta por Deus. 102 3.4. Contraria o ensino bíblico. Em Jo 3:16, Deus amou o mundo e deu seu Filho para salvar a todos que nele crêem. Paulo escreve a respeito de Deus: “...o qual deseja que todos sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade" (1Tm2:4). Pedro escreve: "Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento" ( 2Pd.3:9). CAPÍTULO XII A DOUTRINA DA REGENERAÇÃO 1. Definição Regeneração é o ato de Deus, pelo qual ele nos concede nova vida espiritual, ou novo nascimento (Jo.3:3-8). A regeneração, ou novo nascimento, é o lado divino da mudança de vida que se conhece como conversão. Regeneração é Deus voltando a alma para Ele mesmo; enquanto conversão é a volta da alma para Deus. Estas duas partes de operação de Deus são simultâneas. Deus garante o exercício inicial desta disposição em vista da verdade; nesta mudança é a própria alma que age. Em muitas passagens a mudança é atribuída totalmente ao poder de Deus; trata-se de uma mudança na disposição fundamental da alma; não se empregam meios. Em outras passagens, encontramos referência à verdade como um agente utilizado pelo Espírito Santo e a mente age em função desta verdade (Ef.2:5-6). No ato da regeneração não há intervenção humana, a ação é exclusivamente de Deus (Jo.1:13). Aqui João está dizendo que os filhos de Deus são os que nascem de Deus. No ato da conversão, entra a participação do homem. Jesus ensinou em Jo.3:8 que quem faz a obra da regeneração é o Espírito Santo. Temos outras passagens bíblicas que nos indicam a participação do Deus Pai na regeneração. (Ef. 2:5; Cl.2:13; Tg.1:17:18; 1Pd. 1:3). Assim sendo podemos concluir que Deus Pai e Deus Espírito Santo, ambos operam a regeneração, no homem. 2. Regeneração representada na Bíblia. a) É uma mudança indispensável à salvação do pecador. “Necessário vos é nascer de novo” (Jo. 3:7); “nem a circuncisão, nem a incircuncisão tem virtude alguma, mas o ser uma nova criatura”(Gl 6:15) b) É uma mudança íntima na vida de uma pessoa. “Aquele que não nascer de novo não pode ver o reino de Deus” (Jo 3:3); “apresentai-vos a Deus, como vivos dentre os mortos” (Rm. 6:13), Etc. c) É uma mudança na disposição direcional. “Ou dizeis que a árvore é boa e o seu fruto, bom, ou dizeis que a árvore é má e o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore” (Mt.12:33,35); (Mt.15:19; At 16:14; Rm 6:17; Sl.51:10). d) É uma mudança na alma. “Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente co Cristo” (Ef.2:5); “Ele vos tirou da potestade das trevas e vos transportou para o reino do filho do seu amor” (Cl.1:13; Ef. 4:23-24). e) É uma mudança instantânea, reconhecida em seus resultados. “Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida” (Jo. 5:24). “Aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus” (Jo. 3:5; Fl. 2:12-13; 2Pe. 1:10: 1Pe.1:23) f) É uma mudança que se completa através da união da alma com Cristo. “Por que a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte” (Rm. 8:2); “Se alguém está em Cristo nova criatura é” (2Co. 5:17). 103 3. Necessidade da Regeneração a) A santidade, ou conformidade com o atributo moral fundamental de Deus, é condição indispensável para garantir o favor divino, para alcançar a paz na consciência e preparar a alma para as associações e aplicações da bênção. b) A condição da humanidade universal tanto por sua natureza depravada e, chegada à consciência moral, como a culpa da verdadeira transgressão é precisamente o oposto da santidade sem a qual a alma não pode existir na relação normal com Deus, consigo mesma, ou com os seres santos. Devemos nascer de cima de um modo tão verdadeiro como precisamos ser gerados por nossos pais terrenos, ou não poderemos ver o reino de Deus. c) Requer-se a toda ser humana uma mudança radical interna que constitui seu caráter. A santidade não pode ser alcançada, como defendem os panteístas, por um simples crescimento ou desenvolvimento natural, porque as tendências naturais do homem estão totalmente na direção do egoísmo, Deve haver uma co0nversão nas mais íntimas disposições e princípios de ação, se ele quer ver o Reino de Deus. 4. Causa Eficiente da Regeneração Consideremos três pontos de vista da causa eficiente da regeneração: 4.1. A vontade humana. Este ponto de vista toma duas formas, seja a vontade considerada um ato independente das influências especiais da verdade, seja em conjunção com elas ao serem aplicadas por Deus. Os pelagianos sustentam a primeira e os arminianos a segunda. 1) Ao ponto de vista pelagiano de que a regeneração é um ato exclusivo do homem e é idêntico à auto-reforma, fazemos a seguinte objeção: a depravação do pecador consiste em um estado fixo dos sentimentos, determinante do caráter da vontade, soma-se uma incapacidade moral. Sem renovação dos sentimentos de que surge toda ação moral, o homem nem escolheria a santidade, nem aceitaria a salvação. A vontade do ser humano, praticamente, é a sombra dos seus sentimentos. É inútil pensar na vontade do ser humano separada dos seus sentimentos e trazê-lo para Deus. A mudança do homem não deve estar na vontade transitória, mas nas profundas fontes de ação, inclinação fundamental dos sentimentos e da vontade. 2) Ao ponto de vista arminiano, de que é um ato do homem em cooperação com as influências divinas aplicadas através da verdade, objetamos dizendo que por este meio não se concebe nenhum início de santidade. Desde que o egoísmo do homem e os sentimentos perversos são imutáveis, não é possível nenhuma escolha de Deus, a não ser a que procededo desejo supremo de interesse de si mesmo e felicidade. O homem extremamente inclinado para a gratificação própria não pode ver em Deus, ou no seu serviço, o que quer que seja que produza sua felicidade; ou se ele pudesse ver nisso alguma vantagem, sua escolha de Deus ou de seu serviço, a partir de tal motivo, não seria uma escolha santa e, portanto, não poderia ser um começo de santidade. 4.2. A verdade. Segundo este ponto de vista a verdade como sistema de motivos é a causa direta e imediata da falta de santidade para a santidade. Podemos fazer objeção a este ponto de vista por duas razões: 1) Erroneamente consideram os motivos como totalmente exteriores à mente que é influenciada por eles. Os motivos se compõem de apresentações exteriores e disposições interiores. Os sentimentos da alma é que nos tornam certas sugestões atraentes e outras repugnantes. 104 2) Só quando se ama a verdade é que ela pode tornar-se motivo de santidade. O ponto de vista contrário implica que não é a verdade que o pecador detesta, mas algum elemento de erro que se mistura a ela. 4.3. A Atuação Imediata do Espírito Santo, como causa eficiente da regeneração. Quando se afirma ser o Espírito Santo o autor da regeneração, não quer dizer que ele age sem qualquer instrumentação. Há, sem dúvida, uma força operadora do poder de Deus no coração do pecador mudando o seu caráter moral. Apesar de operada em conjunção com a apresentação da verdade ao intelecto, a regeneração difere da persuasão por ser uma atuação imediata de Deus. 4.4. Natureza da Mudança Operada na Regeneração a) Implica numa mudança em que a disposição governante se torna santa. Não é mudança na substância do corpo ou da alma. A regeneração não é mudança física. Regenerar é dar uma nova direção ou tendência às forças do sentimento que o homem possuía anteriormente. Na verdade, há uma união da alma com Cristo; Cristo habita no coração renovado. O efeito da nossa união com Cristo é que a nossa individualidade é ampliada e exaltada (Jo. 10:10). A regeneração envolve uma iluminação do entendimento e retificação da vontade. A regeneração é uma restauração das tendências originais na direção de Deus as quais se perderam com a queda. b) É uma mudança instantânea na região da alma e conhecida só em seus resultados. A regeneração não é uma obra gradual. A convicção do pecado é um antecedente comum, se não invariável da regeneração. A mudança é reconhecida indiretamente em seus resultados. O lado humano ou aspecto da regeneração é a conversão. CAPÍTULO XIII A DOUTRINA DA JUSTIFICAÇÃO É o ato judicial, pelo qual, por causa de Cristo a quem o pecador está unido pela fé, Deus declara que o pecador não mais está exposto à pena da lei, mas restaurado ao seu favor. A palavra justificar indica que a justificação é uma declaração legal de Deus. Isto fica claro quando a justificação é contrastada com a condenação (Rm 8:33-34). Essa declaração legal de Deus significa que Ele declara que nós não temos penalidade a pagar pelo pecado, incluindo os pecados do presente, do passado e do futuro. Paulo diz que Deus é “O justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm.3:26), e que “o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei” (Rm.3:28). Diz mais: “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso senhor Jesus Cristo” ( Rm. 5:1); “O homem não é justificado por obras da lei e sim mediante a fé em cristo Jesus” (Gl.2:16). Justificação é um ato instantâneo e legal da parte de Deus, pelo qual Ele considera os nossos pecados perdoados e a justiça de Cristo como pertencente a nós e declara-nos justos à vista dele Justificação é uma declaração legal, da parte de Deus. O verbo justificar tem vários significados, mas o mais comum e “declarar justo”. Ocasionalmente se refere a uma declaração pessoal de que o caráter moral da pessoa está em conformidade com a lei. Justificação é um ato judicial de Deus. A justificação remove a culpa do pecado e restaura o pecador a todos os direitos filiais envolvidos em seu estado de filho de Deus, incluindo uma herança eterna; não se repete e não é um processo. O significado não é tornar 105 justo, mas declarar justo. Na justificação, Deus declara que as exigências da lei foram satisfeitas com respeito ao homem e que ele agora está livre da sua condenação. A idéia de que a justificação é uma declaração legal fica de modo claro quando contrastamos a justificação com a condenação (Rm. 8:33). Condenar alguém é declarar a pessoa culpada. O oposto da condenação é a justificação que é uma declaração da inocência da pessoa, em relação a sua culpa. No Antigo Testamento, o verbo justificar sustenta o mesmo significado. Lemos sobre os juízes “justificando ao justo e condenando ao culpado” (Dt.25:1); Justificar é, portanto, declarar inocente e condenar, é declarar culpado, (Prov. 17:15;Is. 5:23). A declaração legal de Deus, a cerca do pecador que crer em Cristo como Salvador, significa que não há penalidade a pagar pelo pecado “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”, (Rm.8:1). O crente não está sujeito a nenhuma acusação ou condenação, “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? (Rm.8:33-34). Deus nos imputa a justiça de Cristo, isto é, Ele considera a justiça de Cristo como pertencente a nós, “Abraão creu em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça” (Rm.4:3) Quando Adão pecou, sua culpa foi imputada a nós; quando Cristo sofreu e morreu pelos nossos pecados, nosso pecado foi imputado a Cristo. Ele pagou a pena do nosso pecado. Na justificação, a justiça de Cristo é imputada a nós e, portanto, Deus a considera pertencente a nós. Não que tenhamos justiça própria, mas a justiça de Cristo foi-nos generosamente concedida. Paulo diz que Deus fez com que se nos tornasse sabedoria e justiça, e santificação, e redenção (1Co1:30). A justificação nos alcança pela graça de Deus que é o favor imerecido que Deus faz chegar ao homem. Nós somos completamente incapazes de merecer o favor de Deus, a única maneira de sermos declarados justos é se Deus gratuitamente nos proporcionar a salvação pela graça, “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef.2:8-9; Tt.3:7). Deus imputou nossos pecados a Cristo e a justiça de Cristo a nós, somente pela graça ou favor que nós jamais merecemos. Deus nunca nos fará pagar a pena do pecado perdoado. Naturalmente podemos sofrer as conseqüências do pecado,,como os males físicos, emocionais e até morais, conforme as circunstâncias. Deus pode nos disciplinar, se continuarmos a agir de modo desobediente (Hb. 12:5-11). Ele faz isso por amor e para o nosso próprio bem. Somos declarados justos para sempre, sem condenação de pecado passado, presente ou futuro. CAPÍTULO XIV A DOUTRINA DA ADOÇÃO Adoção é um ato de Deus por meio do qual Ele faz o homem membro de sua família No Evangelho de João, capítulo 1:12 nos diz: “Mas,a todos quantos o receberam, deu- lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome”. Em contraste com esta afirmação, os que não crêem em Cristo são “filhos da ira” (Ef.2:3) e “filhos da desobediência” (Ef.2:2; 5:1). Jesus falou aos judeus que o rejeitaram e alegavam que Deus era o pai deles, “se Deus fosse, de fato, vosso pai, certamente, me havíeis de amar... vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhes os desejos” (Jo.8:41-44). O apóstolo Paulo diz: “Pois todos que são