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OcupacaO
ROGÉRIO SGANZERLA
Ideias e imagens de um dos cineastas mais 
importantes do Brasil estão na Ocupação 
Rogério Sganzerla. Realizada pelo Itaú 
Cultural, a exposição é uma oportunidade 
de o público conhecer o universo criativo 
da obra de Sganzerla, por meio de seus 
filmes, documentos e roteiros originais 
datilografados, marcados, reescritos à mão. 
Anotações, referências aos artistas e aos 
personagens que o inspiraram, além de fotos 
e objetos pessoais, compõem a montagem. 
Parte da exposição, esta publicação traz 
textos atuais de críticos, pesquisadores 
e daqueles que compartilharam com Rogério 
Sganzerla sua energia, suas histórias de vida, 
afeto, trabalhos, ideias, filmes. Com uma obra 
enigmática, cuidadosa no que se refere ao som 
e à construção de poesia em imagens, Sganzerla 
reposicionou a história do cinema brasileiro 
no mundo. Os caminhos e os percalços dessa 
trajetória são contados nos relatos, na 
entrevista, nas fotografias de acervo e nos 
desenhos a seguir, numa homenagem afetiva ao 
cineasta que aos 22 anos realizou O Bandido 
da Luz Vermelha, considerado pela Unesco um 
Patrimônio Cultural da Humanidade.
 
 Instituto Itaú Cultural
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Pré-OcuPaçãO 
de um visiOnáriO
Joel Pizzini
Rogério está no ar, na tela e no papel. A Ocupação 
Rogério Sganzerla pinta numa esquina de ponta da 
Avenida Paulista, evoca os signos do caos, atravessa o 
perigo negro do abismo e joga luz nas trevas através do 
mistério da criação.
Não estava escrito em lugar nenhum qual o destino que 
aguardava aquele guri, que até os 5 anos não falava, aos 
7 já lançava um livro de contos e aos 11 aprontava 
o primeiro roteiro de longa metragem.
Conta sua mãe, Dona Zenaide, que Rogério, lá em Santa 
Catarina, quando criança, adorava brincar de mágica e 
hipnotizar os amigos. O que ela não adivinhava, contudo, 
é que seu filho ganharia o mundo, tirando “o cinema do 
quarto de brinquedos” e revelando, em quatro filmes, 
verdades e mentiras da passagem do mago Orson Welles 
pelo Brasil. 
A cinefilia de Sganzerla aflorou aos 13 anos, no Colégio 
dos Irmãos Maristas em Florianópolis, onde o padre 
Andreotti, ao perceber que seu aluno não tinha pendor 
para atividades físicas, o estimulou a frequentar o 
cineclube, que exibia um atrevido repertório de John 
Ford e Rene Claire a Rossellini.
A escolha de Rogério pelo cinema se definiu em 1961, na 
mudança para São Paulo, após sobreviver a um trágico 
acidente de carro em Joaçaba. Decidiu se instalar 
numa pensão na Pauliceia aos 15 anos e virou rato da 
Cinemateca enquanto fazia direito no Mackenzie, curso 
que abandonou dois anos depois, ao ser convidado por 
Décio de Almeida para escrever no festejado Suplemento 
Literário do Estadão. Através da crítica, fez cinema 
com a máquina de escrever, não diferenciando o “escrever 
sobre cinema do escrever cinema”.
Depois fundou, com Maurice Capovilla, uma página de 
cinema no Jornal da Tarde, tornou-se, ainda, redator da 
revista Visão, da Folha da Tarde e do Última Hora. Nesse 
período conheceu Andrea Tonacci e realizou seu primeiro 
filme de ficção, curiosamente chamado Documentário, 
que conquistou o disputado Prêmio JB Mesbla. Entregue 
pela atriz Helena Ignez, sua futura esposa e parceira, 
o prêmio lhe rendeu uma viagem para Cannes, que ele 
aproveitou para a cobertura do festival. Na viagem de 
volta, escreveu no navio o roteiro de O Bandido da Luz 
Vermelha. O resto é mar.
A trajetória errática de Rogério desse ponto em diante 
todos conhecem: lançado em 1967, O Bandido provocou 
enorme impacto, arrebatou vários prêmios no Festival de 
Brasília, transformou-se em clássico outsider e, como 
não bastasse, virou fenômeno de público, autenticando 
a utopia de Oswald de Andrade – fabricar biscoito fino 
para o deleite das massas. Antes de tudo, o filme 
profetiza o AI-5 (“decretado o estado de sítio no país”, 
brada a locutora de rádio) e inova na incorporação do 
pop, do kitsch, de clichês, subgêneros e HQs.
E, quando todos pensavam que estacionaria na sombra 
do próprio mito, Rogério apostou, em 1969, todas 
as suas fichas no popular e sofisticado A Mulher de 
Todos, um ousado modelo de indústria de Sganzerla para 
o audiovisual brasileiro – conforme o sócio e amigo 
Júlio Bressane.
Um primor de roteiro, A Mulher de Todos escancara o 
talento de Helena Ignez, que revoluciona a arte de 
interpretar, explodindo os limites do enquadramento. 
Na sequência vem a radicalidade setentista da 
produtora Belair, que transpôs o deserto vigente no 
país e legou seis longas – marcantes viagens em apenas 
três meses de estrada. Da lavra de Sganzerla, três 
pérolas: Carnaval na Lama (desaparecido em mostra no 
Jeau de Paume, em Paris, em 1992), Copacabana Mon 
Amour e Sem Essa, Aranha.
Enquanto filmavam com olhos livres e rompiam nós 
narrativos, o tempo se fechou e Rogério, Helena e 
Júlio se viram forçados a se exilar no Velho Mundo, 
onde concluíram parte dos filmes, que foram exibidos 
em Londres.
Na volta ao trópico, no vácuo da contracultura, adotando 
seu singular método pré-colombiano, Rogério lançou com 
Helena o Abismu, salto no escuro que em 30 anos ainda 
reverbera com frescor sob a fuselagem sonora de Jimi 
Hendrix e a performance transcendental de Zé Bonitinho.
O sonho acabou? No embalo dos esquisitos anos 1980, 
das aberturas políticas, da redemocratização e da 
globalização à vista, só um cidadão pode nos salvar: 
Welles. Ao lado, naturalmente, de três signos centrais 
do cinema de Sganzerla: Hendrix (desde Abismu), Oswald de 
Andrade (Perigo Negro) e Noel Rosa, inspirador de dois 
filmes: Noel por Noel (1980) e Isto É Noel Rosa (1990).
Desse modo, Rogério Sganzerla dedica-se de corpo e 
alma a compor uma tetralogia sobre a passagem entre 
nós do cineasta norte-americano Orson Welles, nos anos 
1940, quando It’s All True é abortado por contrariar 
interesses de políticos brasileiros e norte-americanos 
de suspeita vizinhança.
Na primeira sessão do copião de O Signo do Caos em 
São Paulo foi que me aproximei mais de Rogério, que 
conhecia desde 1980, nos tempos de universidade, em 
Curitiba, quando apresentou seu 
filme Brasil, debatido, com a 
presença dele, em nossa turma de 
jornalismo. De lá pra cá, breves 
encontros, mas para mim intensos 
papos lunáticos.
Que mistérios tem Rogério?
Enfant terrible,internaciona-
lista,cineasta com suingue que 
saiu determinado da província 
para desburocratizar mentes e 
desafinar o coro dos contentes 
com um corte cínico-utópico na 
cena audiovisual contemporânea. 
Para ser vista com olhos 
livres e sensibilidade atenta 
(parafraseando Oswald de 
Andrade), apresentamos pela 
primeira vez em nosso país 
parte significativa da vasta 
produção intelectual-criativa 
de Rogério Sganzerla, cuja 
memorabilia é revisitada 
e a vida-obra escancarada 
nos roteiros inéditos e nos 
caderninhos em que desde 
criança anunciava o crítico que 
se afirmaria na adolescência.
A Ocupação Rogério Sganzerla é 
composta de nichos-sequência 
que compõem a trajetória do 
artista, homem e pensador. 
Sem cronologia rígida, a 
montagem espelha a lógica 
cinematográfica, onde coabitam 
livremente tempos, ideias, 
formas, sons. Por se tratar de 
um artista transgressor, que 
permanentemente rompeu esquemas, 
decidimos sinalizar, ao invés 
de demarcar, resguardando assim 
a dimensão enigmática de seus 
escritos e registros fílmicos. 
Os espaços da exposição evitam 
o tom saudosista e valorizam 
aspectos pictóricos e gráficos 
recorrentes na obra do autor. 
Uma projeção exibe em quatrotelas pequenos filmes que 
buscam conexões na filmografia 
de Sganzerla, evidenciando 
seu estilo, características 
dos personagens e diálogos 
marcantes. Trata-se de um 
eixo central expositivo que 
proporciona ao visitante uma 
experiência sensorial que 
pretende antes despertar o 
interesse pela retrospectiva 
do diretor.
A exposição extrapola as 
fronteiras do espaço e se 
prolonga no plano virtual, 
criando uma rede de dezenas 
de relatos através do site 
(www.itaucultural.org.br/
ocupacao), que permitirá uma 
compreensão mais abrangente do 
universo existencial e inventivo 
de Rogério, amplificando o 
alcance de sua obra. Na fase 
de prospecção e pesquisa, 
cerca de 4 mil imagens foram 
digitalizadas do acervo 
familiar, de instituições 
e de companheiros e amigos 
profissionais, para consequente 
seleção da curadoria. Os 
personagens “sganzerlianos”, 
com respectivos verbetes, 
ganham destaque na mostra, 
que revelará cenas familiares 
e exibirá o material bruto 
de dois filmes do cineasta 
catarinense: um inacabado, Fora 
do Baralho (1971), rodado no 
deserto do Saara, e Carnaval 
na Lama (1970), desaparecido 
em uma mostra que homenageava 
Hélio Oiticica em Paris, em 
1992. Outro achado precioso é A 
Alma do Povo Vista pelo Artista 
(1991), filme-ensaio sobre a 
arte de Newton Cavalcanti, cujos 
originais estão desaparecidos, 
mas uma cópia recém-encontrada 
sem som será exibida. 
Os três signos medulares na 
constelação de Rogério – Noel 
Rosa, Orson Welles e Jimi 
Hendrix – ganharão espaços 
específicos. Atenção para o 
canto dedicado a Hendrix, que 
é o experimento interativo 
da mostra: uma guitarra com 
dispositivo midi, disponível 
para qualquer visitante tentado 
a aguçar o imaginário musical 
inerente ao cinema de RG. A 
guitarra emitirá sons e imagens 
em inesperadas combinações.
 
O mar, elemento significativo 
nos filmes de Rogério, inundará 
uma tela sob forma de projeção, 
que o espectador descortinará 
ao incursionar no ambiente. 
O público estará, então, no 
interior de uma sala-tela-
caixa, onde o imaginário do 
gênio protagoniza a cena, os 
personagens divagam e a luz 
projeta signos e profecias que 
refletem o novo milênio.
Concebida sob uma perspectiva 
contemporânea, a Ocupação 
Rogério Sganzerla persegue três 
linhas de fuga: luz, abismo e 
caos – nodais no universo do 
autor. Sua plenitude da poética 
poderá também ser compartilhada 
em retrospectiva completa do 
cineasta, debates com íntimos 
conhecedores de sua trajetória 
no Brasil e no exterior, por 
meio de portal eletrônico, 
livros e esta publicação: ecos 
do espírito da mostra. 
Através da mobilização da 
família, que generosamente 
abriu seu acervo, de amigos e 
colaboradores e entidades de 
preservação, e do envolvimento 
da equipe do Itaú Cultural, 
ocupa-se, enfim, um espaço 
privilegiado para a expansão da 
linguagem de Rogério Sganzerla. 
E justo na cidade que Rogério 
filmou compulsivamente com 
sua máquina de escrever desde 
adolescente e onde produziu as 
obras-primas, O Bandido da Luz 
Vermelha e A Mulher de Todos, 
que agora voltam reconhecidas 
para inscrever sua luz própria.
A Ocupação Rogério Sganzerla é 
uma iniciativa sem precedentes 
sobre um artista visionário que 
transita na terceira margem 
do cinema, intransigente em 
seu ideário e que finalmente 
recebe um tratamento à altura 
da contribuição para o cinema 
brasileiro com que sonhamos 
(neste caso, sua vida vale o 
sonho). Um evento de fôlego, 
que proporcionará a fruição 
de uma obra singular, radical 
e ainda pouco acessível ao 
público, por dificuldades 
de distribuição. Esperamos 
que em breve este esforço 
lance sólidas bases para a 
sistematização do inventário 
documental do artista, criando, 
assim, condições para um 
diagnóstico que desencadeie uma 
ação urgente e efetiva para a 
restauração desse patrimônio 
audiovisual sem limites.
Autor de Glauces (2001) e Helena Zero 
(2006) – ensaio sobre Helena Ignez –, 
Joel Pizzini é casado com Paloma Rocha, 
enteada de Rogério Sganzerla. Ao lado da 
esposa, dirigiu Elogio da Luz (2003), 
sobre a vida e a obra do cineasta. 
Colaborou na montagem de Luz nas Trevas 
(inédito), de Helena Ignez, com roteiro 
de Sganzerla. Diretor de 500 Almas 
(2004) e vencedor de mais de 20 prêmios 
em festivais nacionais e internacionais, 
Joel Pizzini é o curador da Ocupação 
Rogério Sganzerla. 
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QuandO Palavra 
e imagem 
cOnvergem 
sObre O eixO 
dOs sentidOs
Roberto Moreira S. Cruz
Mais uma vez o cinema está 
exposto. No espaço e nas telas 
desta Ocupação. E nada mais 
apropriado que o escolhido fosse 
um realizador que em sua visão 
vertical da realidade brasileira 
construiu uma das mais originais 
e criativas filmografias do 
cinema nacional.
Rogério Sganzerla é de uma 
geração de artistas que 
viraram do avesso os dogmas 
estabelecidos das regras de 
conduta da cultura brasileira. 
Realizou aos 22 anos, em plena 
época da ditadura, um filme 
improvável e revolucionário em 
sua forma e conteúdo. O Bandido 
da Luz Vermelha é atemporal 
e, aos olhos congestionados 
da cultura da imagem 
contemporânea, ainda brilha e 
ofusca pela sua originalidade. 
Em seguida produziu, em 1969, 
A Mulher de Todos, filme feito 
e perfeito para Helena Ignez, 
sua companheira por 34 anos e 
com quem teve Sinai Sganzerla e 
Djin Sganzerla. Ao lado de Júlio 
Bressane e da própria Helena 
Ignez na experiência Belair, 
uma produtora independente e 
anarquista, que em três meses 
produziu seis filmes, realizou 
Copacabana Mon Amour, Sem 
Essa, Aranha e Carnaval na Lama 
(filme desaparecido e cujos 
negativos estão parcialmente 
deteriorados). Cinema como 
resultado da força criativa de 
uma geração interessada antes de 
tudo no exercício da liberdade 
de criação.
Exilado como tantos outros, 
viajou para a Europa e a 
África, onde filmou com a mesma 
intensidade criativa o material 
bruto do projeto inacabado 
Fora do Baralho. Ao regressar 
ao Brasil, retornou ao cinema 
com Abismu (1977), filme que 
reúne em atuações antológicas 
Wilson Grey, José Mojica Marins, 
Jorge Loredo e Norma Bengell. 
Foi nesse mesmo período que 
Sganzerla passou a se dedicar 
a uma vasta pesquisa sobre a 
presença de Orson Welles no 
Brasil, fato que ele referenciou 
nos filmes-ensaio Nem Tudo É 
Verdade, Linguagem de Orson 
Welles, Tudo É Brasil e O Signo 
do Caos. Com o mesmo olhar 
crítico e criativo, contou a 
história de Noel Rosa e celebrou 
Jimi Hendrix.
Apesar do reconhecimento, a 
obra de Rogério Sganzerla está 
pouco preservada na memória 
audiovisual do país, e resgatá-
la nesta exposição significa 
atualizar o que já se sabe 
sobre sua cinematografia, mas 
fundamentalmente o que pouco 
se mostrou e se pesquisou. 
Sganzerla era antes de tudo um 
homem da palavra e das ideias. 
Foi crítico de cinema, colaborou 
nos principais jornais do 
país,1 deixou escritos roteiros 
inéditos e refletiu de forma 
brilhante sobre a necessidade de 
pensar e de fazer um cinema que 
fosse genuinamente brasileiro.
Quando começamos a trabalhar 
no projeto desta exposição, 
um tesouro foi imediatamente 
revelado. O acervo particular 
do cineasta estava intocado 
desde sua morte, em 2004. O 
interesse em descobrir o que 
estava guardado naquelas dezenas 
de caixas, pastas e arquivos 
de um cineasta da envergadura 
de Sganzerla motivou o convite 
para a família do cineasta 
se aventurar na construção 
coletiva desta exposição. Com 
a contribuição do curador Joel 
Pizzini, de Helena Ignez, Sinai 
Sganzerla, Djin Sganzerla e de 
uma equipe de pesquisadores, 
iniciou-se o processo de 
averiguação, manipulação e 
levantamento de milhares de 
páginas,anotações, manuscritos, 
1 Com o apoio do Itaú Cultural, a editora da Universidade Federal de Santa Catarina 
(UFSC) prepara uma edição especial em dois volumes das críticas e dos artigos 
publicados por Rogério Sganzerla nos jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo.
roteiros, cadernos, fotografias 
e sequências de filme. À medida 
que todo esse material era 
mexido e remexido, foi então 
se descobrindo um conjunto de 
rascunhos e textos, muitos 
deles desconhecidos da própria 
família, com traços evidentes de 
que, para o cineasta, a escrita 
servia de guia para suas ideias 
e para a elaboração de suas 
imagens. O próprio Sganzerla 
reconhecia em seus depoimentos 
que a escrita era a primeira 
etapa para a constituição do 
enunciado audiovisual. Como ele 
próprio afirmava: “Fazer cinema 
é como descrever um movimento 
impetuoso numa folha em branco 
pegando fogo”.
Perceber as características 
desses textos, a forma muitas 
vezes aleatória e repetida com 
que as ideias eram escritas 
e anotadas, leva a supor 
que uma análise mais detida 
e metódica desses arquivos 
poderia revelar, sem dúvida 
alguma, outra abordagem sobre 
a linguagem e a narrativa de 
seus filmes. Desconheço alguma 
argumentação crítica que tenha 
se debruçado sobre a obra do 
cineasta a partir da hipótese 
de aproximação de sua linguagem 
audiovisual com sua escrita. 
Nesse sentido, a Ocupação 
Rogério Sganzerla quer trazer 
ao público essa dimensão 
sinestésica de seu cinema, em 
que palavra e imagem convergem 
sobre o eixo dos sentidos e se 
cruzam no campo da ambiguidade. 
Não é difícil notar que essa 
confluência nebulosa e pouco 
elucidativa entre imagem em 
movimento, língua e fala está 
na própria atonalidade narrativa 
de seus filmes, carregados de 
maneirismos, irreverência e 
contrastes estilísticos. 
Ver e ler os roteiros e as 
anotações de filmes como O 
Bandido da Luz Vermelha, A 
Mulher de Todos e Nem Tudo 
É Verdade é um exercício 
prazeroso e ao mesmo tempo 
desafiador, uma aventura da 
leitura que evoca as imagens em 
movimento e vice-versa! 
Da mesma forma, reconhecer 
nos manuscritos os indícios 
de uma sequência ou a opção 
por uma fala específica de um 
personagem incita a percepção 
e a curiosidade de como 
tantas ideias viraram filmes! 
E que filmes!
Roteiros inéditos, originais 
de seus artigos e críticas, 
fragmentos e material bruto 
de filmes inacabados, objetos 
e equipamentos utilizados na 
realização de seus filmes 
constituem-se em referências 
e signos de sua cinematografia. 
A Ocupação Rogério Sganzerla 
é uma experiência multissen- 
sorial, em que o cinema está 
expresso em sua dimensão plural 
de linguagens e sentidos. Em 
que as imagens, as palavras e 
os sons estão interpenetrados 
numa atmosfera sensorial e 
reflexiva, envolvidos pela 
força autoral e criativa de um 
cineasta com “C” maiúsculo.
Roberto Moreira S. Cruz é gerente do 
Núcleo de Audiovisual do Instituto Itaú 
Cultural desde 2001, onde organiza e 
coordena projetos nas áreas de cinema 
e vídeo. É mestre em comunicação e 
cultura pela Universidade Federal do 
Rio de Janeiro (UFRJ) e doutorando em 
comunicação e semiótica pela Pontifícia 
Universidade Católica de São Paulo 
(PUC/SP), onde desenvolve pesquisa 
sobre cinema, narrativa e projeções 
no contexto da arte contemporânea. Foi 
professor assistente da Pontifícia 
Universidade Católica de Minas Gerais 
(PUC/MG) no curso de comunicação social 
entre os anos de 1989 e 2001. 
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FluxO 
ininterruPtO de 
energia criativa
Djin Sganzerla
João Gilberto, de quem meu 
pai tanto gostava, cantou a 
saudade de forma singular. 
É com esse sentimento que 
“não sai de mim”, misturado a 
uma grande alegria, que vivo 
este ano de 2010. Um ano de 
reencontros e expansão. Um ano 
que culmina nesta “ocupação”, 
iniciativa belíssima do Itaú 
Cultural, com curadoria do Joel 
Pizzini, em que o público terá 
a chance de conhecer melhor 
essa personalidade, esse grande 
artista, escritor, cineasta 
único, Rogério Sganzerla. 
Em abril estive com Helena 
Ignez e Sinai Sganzerla 
no 12o Festival de Cinema 
Bafici, em Buenos Aires, onde 
Rogério recebeu uma importante 
retrospectiva. Um festival 
instigante, de excelente 
curadoria, sua obra sendo 
“redescoberta” por um público 
encantado, interessantíssimas 
análises, salas lotadas, 
diversos convites internacionais 
– França, Alemanha, Áustria e 
uma retrospectiva completa no 
Lincoln Center, a convite do 
curador americano Scott Foundas, 
que disse que seus filmes eram 
absolutamente geniais. 
Tive a oportunidade de 
rever Nem Tudo É Verdade, 
uma poesia em movimento. Um 
filme magistral, com absoluta 
originalidade e liberdade, 
reconstrói a vinda do Orson 
Welles ao Brasil. Assistindo ao 
filme, me senti conversando com 
meu pai, vendo-o transformar em 
cinema tudo o que passava por 
suas mãos, fluxo ininterrupto 
de energia criativa.
Depois da sessão, Quintin, 
crítico de cinema e ex-diretor 
do Bafici, veio emocionado 
conversar conosco. Contou que, 
em 2004, Roberto Turigliatto, 
então diretor do Festival 
de Turim, perguntou se ele 
conhecia a obra do Sganzerla, 
que em sua opinião era maior 
que Godard. Quintin respondeu 
que assistira apenas ao 
Bandido e achou que havia no 
comentário certo exagero. Mas 
agora, depois de acompanhar a 
retrospectiva de Sganzerla, 
percebia que Turigliatto 
estava certo, Rogério era 
maior que Godard.
Assim tem sido seu reconhe- 
cimento. No ano passado, uma 
belíssima retrospectiva na 
Índia, e meses antes na Itália, 
em Trieste, entre tantas outras. 
Agora, em junho de 2010, 
Copacabana Mon Amour participa 
do 28o Festival de Munique. Os 
filmes seguem depois para a 
França e para Viena. 
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No Brasil, o Itaú Cultural 
faz a mais completa das 
retrospectivas, como o próprio 
nome diz, uma Ocupação Rogério 
Sganzerla. Apresenta esse 
multiartista em sua completude: 
roteiros originais ainda não 
filmados, objetos pessoais, 
filmes, fotos de diversas fases 
de sua vida, debates sobre a 
obra etc. Somados a isso, o 
relançamento do CD da trilha 
original do Copacabana Mon Amour 
e a publicação de dois livros 
com artigos e críticas que 
escreveu no Suplemento Literário 
do Estado de S. Paulo, na Folha 
de S. Paulo e no Jornal da 
Tarde. Meu sincero e carinhoso 
agradecimento a Joel Pizzini, 
esse curador/artista.
Lembrei-me das nossas últimas 
caminhadas pelo centro de São 
Paulo, ele falando como filmaria 
o Bandido 2 (Luz nas Trevas), 
percebia como tudo ao seu redor 
era motivo de inspiração. Vimos 
um rapaz que consertava uma 
porta com um maçarico e meu 
pai logo comentou que criaria 
uma cena do Bandido usando 
um maçarico para acender um 
cigarro... Pouco tempo depois, 
no final de sua doença, comentou 
que somente uma câmera poderia 
salvá-lo. 
Hoje, em paralelo ao que mais 
amo fazer na vida, que é atuar, 
administro junto com minha mãe e 
com Sinai a Mercúrio Produções 
(em São Paulo). Em paralelo aos 
projetos que criamos, vejo esse 
nosso trabalho de difundir, 
preservar e relançar sua obra 
como um serviço ao cinema 
brasileiro, mantendo vivo o 
legado de um dos seus principais 
artistas. E ao mesmo tempo um 
hino de amor aos dois, pais 
queridos, que tanto fizeram e 
fazem pela nossa cultura.
Revendo o material que foi 
entregue ao Itaú Cultural 
para compor a Ocupação Rogério 
Sganzerla, encontrei cartas 
magistrais que não conhecia, 
como o cartão carinhoso que ele 
enviou de Firenze para o Júlio 
Bressane, mandando um beijo 
para a “linda Helena”, então 
namorada do Júlio; como a carta 
que enviou à Sinai,que na época 
tinha 9 anos, contando que 
estava em um festival e que iria 
encontrar ninguém mais, ninguém 
menos do que mister Welles...
Quando me convidaram para 
escrever, pensei no que dizer.
Lembro-me de um sonho que 
tive alguns meses depois de 
sua partida; ele filmava, 
filmava, com uma alegria, um 
contentamento enorme, como um 
menino em cima de uma árvore. 
O próprio sonho parecia ser 
enquadrado pela sua câmera. 
Senti que ele estava fazendo, 
onde quer que estivesse, o que 
sempre mais gostou.
E as projeções de sua obra nós 
fazemos aqui.
Djin Sganzerla é atriz, estreou no cinema no 
longa-metragem O Signo do Caos, de Rogério 
Sganzerla. Premiada pela Associação Paulista 
de Críticos de Arte (APCA) como Melhor Atriz 
de Cinema de 2008, pelo filme Meu Nome É 
Dindi, de Bruno Safadi. Também recebeu, entre 
outros, o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante 
do 39o Festival de Cinema de Brasília, pelo 
filme A Falsa Loura, de Carlos Reichenbach. 
Trabalha ao lado da sua mãe e da irmã na 
Mercúrio Produções, que lança neste ano o 
Luz nas Trevas – A Volta do Bandido da Luz 
Vermelha, filme em que faz a protagonista 
feminina, Jane. 
foto: Marcos B
onisson
Cronologia
1946
Rogério Sganzerla nasce em Joaçaba, no interior de 
Santa Catarina, no dia 4 de maio.
1964-1965
Muda-se para São Paulo para cursar as faculdades de 
direito e administração. Inicia a atividade de crítico 
de cinema no Suplemento Literário do jornal 
O Estado de S. Paulo.
1967
Estreia na direção com o curta-metragem 
Documentário, que recebe o Prêmio JB Mesbla de 
Melhor Curta, o que lhe dá direito a ir ao Festival de 
Cannes. No retorno de navio ao Brasil, Rogério lê nos 
jornais brasileiros a bordo as notícias sobre um fora 
da lei conhecido como “Bandido da Luz Vermelha”, 
que agia em São Paulo. Como vinha escrevendo um 
roteiro sobre um criminoso de traços semelhantes, 
decide adaptar sua história à daquele personagem 
tão frequente na crônica policial da época.
1968
Realiza O Bandido da Luz Vermelha, seu primeiro 
longa-metragem, um dos mais premiados filmes 
brasileiros de todos os tempos. Posteriormente, 
na condição de clássico, é indicado pela Unesco 
como Patrimônio Cultural da Humanidade. Na 
filmagem, inicia sua relação com Helena Ignez, atriz 
considerada musa do Cinema Novo e que se tornou 
sua parceira artística afetiva por toda a vida.
1969
Lança A Mulher de Todos, seu segundo longa-
metragem, estrelado, entre outros, por Helena Ignez, 
Paulo Villaça e Jô Soares. Sucesso de bilheteria. Ao 
apresentá-lo no Festival de Cinema de Brasília de 
1969, aproxima-se de Júlio Bressane, que exibia seu 
O Anjo Nasceu. Realiza dois filmes com a codireção de 
Álvaro de Moya: os curtas HQ e Quadrinhos no Brasil.
1970
Em parceria com Júlio Bressane e Helena Ignez, funda 
a produtora Belair – que em apenas três meses realiza 
seis filmes. Sganzerla dirige três deles: Copacabana 
Mon Amour (com trilha original de Gilberto Gil), Sem 
Essa, Aranha e Carnaval na Lama (ou Betty Bomba, a 
Exibicionista), filmado, em parte, em Nova York. Exilado, 
Rogério Sganzerla segue com Helena Ignez para 
Londres. Depois, para Marrocos, Argélia, Tunísia, Níger, 
Nigéria, Daomé (atual Benin) e Senegal, onde o casal 
se estabelece por algum tempo.
1971
No deserto do Saara, filma o documentário 
inacabado Fora do Baralho.
1972
Em 25 de outubro nasce Sinai, sua primeira filha com 
Helena Ignez.
1976
Em 27 de fevereiro nasce Djin, sua segunda filha com 
Helena Ignez. Realiza o curta-metragem documental 
Viagem e Descrição do Rio Guanabara por Ocasião 
da França Antártica (Villegaignon), premiado pela 
Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro.
1977
Dirige Abismu, primeiro longa após um considerável 
intervalo. Na verdade, é o único lançado entre 1971 
e 1985. No elenco, Zé Bonitinho, Wilson Grey e José 
Mojica Marins.
1978
Realiza o curta-metragem Mudança de Hendrix. 
Participa como codiretor e montador do filme Horror 
Palace Hotel, de Jairo Ferreira.
1980
Realiza o curta-metragem Noel por Noel, primeiro filme 
seu sobre Noel Rosa. Edita Um Sorriso, Por Favor, filme 
de José Sette sobre o universo gráfico de Goeldi.
1981
Realiza o curta-metragem Brasil, com participação de 
João Gilberto, Caetano Veloso e Gilberto Gil.
1984
O documentário O Petróleo Nasceu na Bahia é lançado 
e premiado nos Festivais de Caxambu e Gramado.
1986
Lança o longa-metragem Nem Tudo É Verdade. Trata-
se do início de sua tetralogia sobre a vinda de Orson 
Welles ao Brasil (em 1942).
1990
Dirige o curta-metragem Isto É Noel Rosa. Realiza dois 
vídeos sobre artistas plásticos: A Alma do Povo Vista 
pelo Artista (sobre Newton Cavalcanti) e Anônimo e 
Incomum (sobre Antonio Manuel).
1991
Realiza o curta-metragem Linguagem de Orson Welles.
1992
Dirige o episódio Perigo Negro, que integra o 
longa-metragem Oswaldianas, baseado em 
Oswald de Andrade.
1998
Lança o ensaio documental em longa-metragem 
Tudo É Brasil.
2003
Após muitas dificuldades, conclui O Signo do Caos, o 
último da tetralogia sobre a vinda de Orson Welles 
ao Brasil, lançado e premiado no Festival de Brasília. É 
seu último filme. 
2004
Falece no dia 9 de janeiro. Deixa uma obra extensa 
de filmes e muitos escritos, na qual há roteiros não 
filmados, como o do longa-metragem Luz nas Trevas 
– Revolta de Luz Vermelha. A partir desse roteiro, cinco 
anos depois se iniciam as filmagens da continuação 
da trajetória do Bandido da Luz Vermelha, sob a 
direção de Helena Ignez e Ícaro Martins. Atualmente, 
encontra-se em fase de finalização.
Filmografia
Documentário – 1967
O Bandido da Luz Vermelha – 1968
A Mulher de Todos – 1969
Histórias em Quadrinhos (Comics) – 1969
Quadrinhos no Brasil – 1969
Copacabana Mon Amour – 1970
Sem Essa, Aranha – 1970
Carnaval na Lama (ou Betty Bomba, a Exibicionista) – 1970
Fora do Baralho – 1971
Viagem e Descrição do Rio Guanabara por Ocasião da 
França Antártica – 1976
Ritos Populares, Umbanda no Brasil – 1977
Abismu – 1977
Mudança de Hendrix – 1977
Noel por Noel – 1980
Brasil – 1981
A Cidade do Salvador (Petróleo Jorrou na Bahia) – 1981
Irani – 1983
Nem Tudo É Verdade – 1986
Isto É Noel Rosa – 1990
Newton Cavalcanti: A Alma do Povo Vista pelo Artista – 1991
Anônimo e Incomum – 1990
Linguagem de Orson Welles – 1990
América: o Grande Acerto de Vespúcio – 1992
Perigo Negro – 1992
Deuses no Juruá –1997
Tudo É Brasil – 1998
B2 – 2001
Informação H. J. Koellreutter – 2003
O Signo do Caos – 2003
ZOnk! crash! bOOm! 
OrsOn, Oswald, nOel e 
JOãO na sganZerlândia 
ou tamanhO nãO é 
dOcumentO ou um POucO 
de lOucura Previne um 
excessO de tOlice
Steve Berg
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B2
“Uma nação que negligencia as percepções de seus 
artistas entra em declínio e depois de certo tempo cessa 
de existir para apenas sobreviver.”
Ezra Pound 
Rarissimamente exibidos e mais raramente ainda objetos 
de qualquer reflexão crítica ou teórica dentro ou fora 
do Brasil, não surpreenderá a ninguém que os 20 curtas 
e médias-metragens dirigidos por Rogério Sganzerla ao 
longo de 37 anos (quatro dos quais estão desaparecidos 
ou em estado de deterioração) constituam a parte menos 
conhecida de uma filmografia por si só (e por um período 
de tempo quase obsceno) quase secreta. De Documentário 
(1967) até Informação H. J. Koellreutter (2003), o que 
salta aos olhos quando assistimos a esses filmes é sua 
profunda coerência e inte(g)ração com o restante da obra 
cinematográfica do autor [Eliot: “Em meu princípio está 
meu fim”: dois anos antes da explosão do Bandido através 
da fórmula Urânio=Mercury e 37 antes de O Signo do Caos, 
Documentário já contém referênciasa Orson Welles – em 
cartaz afixado à porta de um cinema, como integrante 
do elenco de O Terceiro Homem (1949), e em portrait/
homage que ocupa toda a tela por um instante] – seja 
pela mestria com a qual o autor navega por vasta gama 
de gêneros, temas e formatos (ficção, documentário, 
biografias romanceadas, musicais, institucionais e 
didáticos em bitolas de 16 e 35 milímetros e em vídeo 
com uso particularmente inspirado e dinâmico do table 
top), seja pela autoria de um cinema que se INVENTA 
apesar e por causa da precariedade de recursos, 
constante exercício de profundidade reflexiva e verve 
criadora raras na história do cinema brasileiro. Por esses 
20 curtas e médias-metragens desfilam todas as grandes e 
pequenas obsessões do cineasta (por enumeração caótica: 
a história do Brasil, Orson Welles, Oswald de Andrade, 
a questão da cultura, os quadrinhos, Noel Rosa, João 
Gilberto, o FAZER artístico, a umbanda e o próprio cinema). 
imagens: frames do filme O Bandido da Luz Vermelha
A poética
A) LOGOPOEIA (a dança do intelecto entre as palavras): 
se o revolucionário Sem Essa, Aranha levou quase 40 anos 
para chegar ao grande público por meio de lançamento 
em DVD, o Sganzerla absolutamente clássico e seco (em 
termos de vocabulário da imagem e do corte) de Perigo 
Negro (1992), magistral filmagem do único roteiro 
cinematográfico do imenso Oswald de Andrade, escrito 
para integrar um dos três volumes inacabados de seu 
romance mural Marco Zero (1943-1946), é uma OBRA-
PRIMA totalmente desconhecida de todos a não ser dos 
mais devotos “sganzerlianos” – uma tragédia amarga e 
cômica que só dói quando a gente ri e reitera o tema 
da ascensão e queda do gênio precoce, encenada por um 
incrível elenco de estrelas trouvées, que inclui desde 
Helena Ignez até Abraão Farc, Paloma Rocha, Guará, 
Conceição Senna, Ruddy, Paulo Moura, Jorge Salomão, 
Antonio Abujamra e Sandro Solviatti, entre outros.
B) MELOPOEIA (a ênfase no SOM): os dois filmes sobre 
Noel Rosa (Noel por Noel e Isto É Noel Rosa, de 1980 e 
1990, respectivamente). João Gilberto, Caetano Veloso, 
Gilberto Gil e Maria Bethânia em Brasil (1981). Do 
começo de Helena surge mais um fim (o último curta) – 
da formação da atriz na Universidade Federal da Bahia 
(UFBA) ressurge o professor, compositor e esteta 
Koellreutter: depoimentos com música. MOTZ EL SON. 
C) PHANOPOEIA (a poesia de IMAGENS VISUAIS), o lado 
POP: metralhadora de imagens em table top e narração 
nonstop em Histórias em Quadrinhos (Comics), de 1969. 
O domínio total em que se fundem história e presente na 
estratégia-mor “sganzerliana” de SELEÇÃO e COMBINAÇÃO 
de imagens, quando a fotografia e o material de 
arquivo cinematográfico SE VOLTAM SOBRE SI MESMOS, 
obsessivamente, em eterno retorno, círculos concêntricos 
de informação e possibilidade provindos de pedras/
provocações atiradas no espelho d’água da imagem da 
memória nacional. Trechos de Umbanda no Brasil ressurgem 
em Brasil. Linguagem de Orson Welles (1990) e Isto É 
Noel Rosa dão sequência a um jogo de espelhos cósmico 
– as mesmas imagens de arquivo que neles aparecem 
reaparecerão, reordenadas, em Tudo É Brasil (1998). O 
anti-institucional pós-tropicalista A Cidade do Salvador 
(Petróleo Jorrou na Bahia) (1981) pertence a essa 
categoria, bem como o martelo nietzschiano e as urnas 
quentes de Antonio Manuel que integram Anônimo e Incomum 
(1990), nas quais NADA e PIGMENTOS e TINTA se somam 
às participações aforísticas de Helena Ignez e Nonatho 
Freire e à fotografia das TELAS de Antonio Manuel – 
comprovantes do olho colorístico do cineasta, bem como 
ocorre em Deuses no Juruá (1997), com suas máscaras 
gregas, seus índios e suas cores saturadas. No outro 
extremo do espectro imagético, as cores delicadas dos 
cartógrafos em Viagem e Descrição do Rio Guanabara por 
Ocasião da França Antártica (1976) e os focos de luz e 
fumaça de América: o Grande Acerto de Vespúcio (1992), 
com interpretações icônicas e antológicas dos brilhantes 
atores-fetiches Paulo Villaça, como Villegagnon, e 
Otávio Terceiro, como Américo Vespúcio. 
D) O cinema ESTILHAÇO de Irani (1983) coloca en robe 
de parade o messianismo e a guerra santa no fragmento do 
projeto não realizado sobre a Guerra do Contestado (como 
filmar o conflito armado entre a população cabocla e os 
representantes do poder estadual e federal brasileiro?). 
O misterioso e igualmente inacabado Ritos Populares – 
Umbanda no Brasil (1977-1986), no qual a câmera segue a 
figura do pai de santo Woodrow Wilson da Mata e Silva, 
o Mestre Yapacany da umbanda esotérica, narrando sua 
própria trajetória e a criação da umbanda esotérica em 
passeio por livraria e ruas do centro do Rio de Janeiro 
enquanto um plano do rosto de Cristo num altar torna e 
retorna e cenas de ritual na mata preparam seu próprio 
retorno mais adiante em Brasil (1981).
Ações
Plano de estudo: rever os curtas e médias-metragens de 
Rogério Sganzerla enquanto subsídios para investigação 
sobre narração paramétrica (repetição + imagem não 
significante + adição por subtração). O ESTILO alçado ao 
nível de força MODELADORA do cinema. 
Base do plano de estudo: geografia e (des)memória 
cultural – São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Santa 
Catarina, Brasil. A Urca. 
Plano emergencial “arqueologia do cinema”: localização e 
restauro de Quadrinhos no Brasil, Mudança de Hendrix e 
Newton Cavalcanti – A Alma do Povo Vista pelo Artista. 
Não há outro modo de dizê-lo: os curtas e médias-
metragens de Rogério Sganzerla são simplesmente 
magistrais, os mais ricos jogos de imagem, música e 
significado. Visão, som e sentido. Procurem conhecer 
melhor. VEJAM como fez o artista pra andar pra frente e 
pensar em vertical. VER DE NOVO. MAIS LUZ. 
Steve Berg é tradutor e pesquisador. Fez sua estreia literária na 
Navilouca em 1972. Traduziu para o inglês o “Manifesto Antropófago” 
de Oswald de Andrade e toda a produção textual de Hélio Oiticica 
já publicada em língua inglesa, e é autor de ensaios sobre Douglas 
Sirk, Helena Ignez e os filmes de Belair, entre outros. Organizou 
retrospectivas de recortes da obra de John Ford e Fritz Lang, e foi 
curador da mostra Rossellini TV Utopia. Também acredita que é preciso 
tirar o cinema do quarto de brinquedos. 
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Que mistérios 
tem Helena?
Paolo Gregori e Pedro Jorge
Tarde no centro de São Paulo, escritório da Mercúrio Produções. Entre cartazes 
de filmes, pastas vermelhas com páginas de roteiro e uma varanda repleta 
de plantas, a atriz e diretora de cinema Helena Ignez concede esta entrevista. 
Parceira criativa e companheira de Rogério Sganzerla, ela participou ativamente 
da concepção de sua obra. Agora, como resultado de seu trabalho (ao lado das 
filhas Sinai e Djin), o acervo do cineasta é cada vez mais ampliado e revelado ao 
mundo, como conta ela nesta conversa – um encontro entre três cineastas que, 
em comum, têm a paixão pela obra de Rogério Sganzerla e o desejo forte de 
transformar ideias em cinema.
Antes de entrar nos temas bons, quero falar de um ruim: 
o cinema brasileiro.
É o balcão de favores do cinema brasileiro.
Como foi enfrentar 50 anos de cinema brasileiro? Um 
cinema dominado por políticas e não raro por pessoas 
egocêntricas e metidas a besta e, ao mesmo tempo, você 
conseguir fazer um cinema que é o oposto disso, um 
cinema revolucionário.
O momento é bom, e muito próximo ao começo. Parece estranho, não é? Também é 
um momento de orgulho, de reunir forças. Realmente, é um momento extraordinário. 
Por um lado, que é o lado magnífico dessa história, trata-se do que está acontecendo 
em relação ao cinema de Rogério e o mundo. Há alguns anos atrás eu estive na Nova 
Zelândia, levei O Bandido da Luz Vermelha. Ao mesmo tempo, a Weelington Film Societydeu a O Bandido da Luz Vermelha o título de um dos 50 melhores filmes do século XX. 
Essa descoberta do mundo [em relação ao cinema de Rogério Sganzerla] realmente 
explodiu com a morte dele. É como se tivesse destampado uma panela de pressão e 
então o cinema de Rogério começou a ser distribuído pelo mundo. A minha filha Sinai 
Sganzerla veio realmente conhecer o cinema do pai em 2006, numa casa lotada em 
imagem: frame do filme A Mulher de Todos
Turim, com pessoas sentadas no chão. Antes, ela não tinha podido conhecer a dimensão 
do trabalho do pai no Brasil, e tinha feito com ele a trilha sonora de O Signo do Caos. Então, 
é um momento extremamente radioso e importante. Ao mesmo tempo, esse cinema 
de Rogério se torna popular na juventude. Em alguns lugares, como no Bafici [Buenos 
Aires Festival Internacional de Cinema Independente, em abril deste ano], tivemos casas 
lotadas. Rogério é muito mais visto fora do Brasil. Desde junho do ano passado tenho feito 
constantes viagens para levar a obra dele. Temos ainda um trabalho difícil de recuperação 
e de preservação de seus filmes. Mas considero que, apesar de tudo, o momento é muito 
bom. O Nem Tudo É Verdade foi convidado para uma mostra, no ano que vem, no Lincoln 
Center [em Nova York] e ainda há mais dois convites internacionais para este ano.
Foi preciso o Rogério morrer para acontecer tudo isso?
De alguma forma ele previa isso. Você sabe que só Strindberg lia Nietzsche quando ele estava vivo? 
Isso é uma coisa doida e extremamente dolorosa.
Mas a loucura tem lugar no mundo?
Tem. Dos internacionais consagrados, por exemplo, um filme de que gosto muito é o Anticristo [de 
Lars von Trier, 2009], e aquilo não tem pé nem cabeça. 
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Mas O Bandido da Luz Vermelha 
nem chegou a ir para Cannes.
O reconhecimento dessas genialidades precoces às vezes 
demora um pouco para acontecer. 
A própria trajetória do Orson Welles 
não foi muito diferente da do 
Sganzerla em termos de realização de 
filmes. Pelo tempo de carreira deles 
e pelo número de filmes realizados, 
tudo é muito proporcional.
Será?
Mas veja, Krzysztof Kieslowski 
foi descoberto em Cannes depois de 
praticamente 20 anos de carreira 
como documentarista. O Heneke 
[Michael Heneke] ganhou Palma de 
Ouro [pelo filme Das Weisse Band] no 
ano passado, sendo que o cara faz 
filmes desde a década de 1970. Mas 
esses caras conseguiram sobreviver.
Pois é. Godard conseguiu. Mas ele é um atleta, ele tem 
uma coisa física por trás. E é suíço, o que sempre é 
melhor [risos].
Talvez se Glauber e Rogério 
fossem franceses, eles tivessem 
resistido mais. 
Como o Brasil trata mal seus verdadeiros artistas, não é? 
Eu posso falar porque eu não sou uma dessas pessoas, 
eu tenho outras porções. Mas tenho outra notícia muito 
interessante, o diretor do Festival de Locarno, Olivier Père, 
convidou O Bandido da Luz Vermelha para a edição do 
festival deste ano, em sessão especial. Isso foi muito bom. 
Locarno sempre gostou dos nossos 
marginais, não é?
Acho Locarno realmente encantador.
Como é que você vê esse encontro 
de duas pessoas excepcionais, 
você e o Rogério, que criaram uma 
obra tão voraz? No caso, você 
dando vida às personagens e ele 
escrevendo essas personagens.
Não sei como dizer, talvez dizer não dizendo. Mas, bom, se 
trata de pessoas. Eu, ele e esse encontro.
Uma paixão...
Por aí. Tem essa força. A força também de uma atriz que 
vinha sete anos antes dele vivendo isso, começando 
um movimento, mas de uma forma muito fresh, com 
o Glauber, na Bahia. Na adolescência e na infância eu 
me alimentava do cinema brasileiro, das chanchadas. 
Mas eu não tinha grande tesão por esse cinema. Me 
divertia e tudo, mas não era o que eu queria fazer. Mas 
tinha uma força de uma criação ali que começou com 
O Pátio [o primeiro filme de Glauber Rocha, de 1959] 
e que depois foi distribuída em outros filmes, numa 
criação que tinha bastante autoria, mas que, de qualquer 
forma, era condicionada a um pensamento que nem 
sempre era o meu. Depois disso encontrei com Rogério 
exatamente a liberdade de me expressar completamente 
como artista. Tinha tido um vácuo muito grande talvez 
antes dele, porque essa adolescência com o Glauber 
foi adoravelmente fértil e louca, e estragada por um 
casamento. Éramos dois meninos, com 19 anos, na 
Bahia. O casamento estragou aquela coisa e foi curto. 
Mas teve um período antes dele em que eu encontrei 
essa efervescência toda. Então, quando eu encontrei 
Rogério, eu tinha já esse fogo, esse fogo dessa atriz e 
desse encontro com Glauber, uma forma glauberiana de 
ser artisticamente, e isso encaixou, se tornou no cinema 
que eu fiz como atriz com Rogério. No mais, foi uma 
imensa paixão, um grande amor extraordinário, e que fez 
inclusive com que eu me afastasse de tudo o que faria eu 
me afastar dele, talvez a carreira, talvez ambições nesse 
sentido. Eu queria estar ali, participar daquele momento 
de criação magnífico, que era a nossa presença com 
os filhos, isolados. Nós sempre fomos muito isolados. E 
então teve a ditadura, que nos baniu completamente, e 
depois a Embrafilmes, que nos deixou fora de produção. 
Enquanto isso o Rogério escrevendo. Ele tem uma 
produção literária extraordinária, que vai começar 
também logo a aparecer, assim como os roteiros. E 
agora será publicado um livro com os trabalhos [como 
crítico de cinema] que ele fez para o Estado de S. Paulo. 
Éramos muito afastados do cinema, graças a Deus. O que 
talvez tenha me permitido ter esse frescor de novo de 
retomar [o trabalho dele] após sua morte com a mesma 
intensidade de sempre. Retomar essa vontade de fazer 
cinema. Essa vontade já tinha vindo anteriormente, eu 
fiz um curta, A Reinvenção da Rua, fui movida por uma 
indignação pela situação da parte mais desprovida 
da sociedade, que são os moradores de rua. Então fiz 
a primeira coisa como diretora, diretora no sentido 
de ter uma ideia e me cercar de pessoas para fazer 
aquilo. Eu não sou exatamente uma cinéfila. Eu adoro 
completamente um autor de quem às vezes eu conheço 
apenas um filme só, apesar de ele ter uma obra inteira. Eu 
me interesso por poucas obras e me fixo nelas.
O Rogério já tinha mais isso, 
não, de ser mais cinéfilo?
Ele era completamente conhecedor de cinema, com 17 anos 
ele já conhecia todas as fichas de filmes clássicos, de todo 
o cinema. Esses são o Rogério, o Glauber e o Júlio Bressane. 
Esses são os três que eu conheço que são cineastas e são 
cinéfilos. E tem o Carlão [Reichenbach] também.
Como foi, na realidade, para 
você, ver o Rogério vivendo 
obsessivamente o trabalho do Orson 
Welles? Como era para você essa 
grande paixão dele pelo Welles e 
pelos filmes, você entrou nessa 
história de peito aberto?
Era um enigma, essa convivência com o Rogério era 
uma grande viagem em mar revolto. Quando eu vi pela 
primeira vez um fotograma de O Signo do Caos e na 
mala tinha It’s All True, eu pensei “puxa, de novo”. Não 
era mais uma trilogia. Era o quarto filme. Em Locarno, 
numa mostra sobre Welles, eu ouvi um curador dizer 
que sem os filmes de Rogério a obra de Welles não 
seria completa. Esse trabalho [de Rogério Sganzerla] é 
um enigma, e é um trabalho explosivo de alguém com 
um espírito extremamente cristão, um cristão trágico 
com essa concepção de saber que todo o trabalho dele 
só seria descoberto depois do trabalho final, fechando 
com O Signo do Caos, com o fogo da cremação. Um 
trágico total, desde A Mulher de Todos que ele trabalha 
com a tragédia. 
No final de O Signo do Caos tem-se 
uma repetição com a frase “acabou, 
acabou, acabou”. E parece que era 
o fechamento da própria obra do 
Rogério. Isso foi muito assustador 
para mim.
Pois é, um fechamento dionisíaco, com fogo, com 
alegria, com vibração, “amém,amém”. Quando ele 
ganhou como Melhor Diretor e Melhor Montador com 
O Signo do Caos [no Festival de Brasília em 2003], ele 
ouviu da filha [Djin] esse anúncio. 
Sabe o que eu acho meio doido, 
Helena, é que nas mostras 
internacionais os curadores 
estão vendo os filmes do Rogério 
como se tivessem sido lançados 
hoje, com o olhar da novidade.
É incrível isso, e mostra que são filmes modernos acima 
de tudo. 
E sobre a Belair, Helena, era 
inevitável esse encontro entre 
você, o Bressane e o Sganzerla, o 
trio Belair?
Eu acredito que sim.
Eu lembro que, quando vi o 
Copacabana Mon Amour, no Festival 
de Cinema Latino-Americana [2008, 
em São Paulo], com uma cópia 
restaurada, então a Djin apresentou 
o filme dizendo “Ah, eles usaram 
uma lente que foi do Fellini”. 
Vocês tinham essa magia que passa 
uma coisa que eu não vejo mais, uma 
coisa de ídolo, jovial.
Era uma lente pesada, parecia um fundo de garrafa. Mas 
hoje é difícil manter essa jovialidade, não é? Mas eles 
conseguiam fazer os filmes deles assim.
Na verdade era um cinema 
construtivo, que entrava na 
cabeça de seus ídolos. 
(Pausa para uma conversa entre os entrevistadores 
e Helena Ignez para falarem bastante sobre a nova 
geração de cineastas brasileiros, a exemplo do 
pernambucano Tião e seu filme O Muro.)
Mas vamos voltar ao assunto da 
entrevista, que é falar do Sganzerla.
É que falar da vida é muito interessante, e eu acho que 
foi isso o que me preservou, um interesse múltiplo forte 
que tenho.
Você acha que o que aconteceu com 
o Rogério por dentro foi um pouco 
essa coisa obsessiva pelo cinema? 
Sim, essa obsessão artística nietzschiana das pessoas 
anormais. Claro, porque eu acho que um gênio não é 
normal. Em toda a obra dele, mesmo no mínimo está 
contida a mesma qualidade em todos os filmes. E para 
mim o que me preservou foi ter conseguido arejar, sair. 
E talvez, não sei, mas de alguma maneira com isso eu 
possa até ter preservado a vida de Rogério. Porque na 
família ele podia descansar, e talvez do contrário não 
tivesse sido assim, talvez tivesse sido ainda mais difícil, 
como pode ter sido para o Glauber. Mas o momento é 
este, é de reconhecimento da obra de Rogério. E dessa 
forma Luz nas Trevas [roteiro de Rogério Sganzerla, 
dirigido recentemente por Helena Ignez] é um filme que 
abraça toda a obra de Rogério, é um filme que devora, se 
apodera antropofagicamente – como é da nossa família 
espiritual – a obra de Rogério e devolve a ela outro filme. 
É um filme interessante, rico e contraditório. Porque é 
sobre a justiça, uma comédia criminal sobre a justiça, e 
um filme gay, imensamente gay. 
Como foi organizar esse roteiro?
Foi uma loucura. Eu estou num momento muito 
forte também, porque várias decisões estão em volta 
desse filme e desse roteiro. Luz nas Trevas também foi 
convidado para o Festival de Locarno, em competição 
oficial. E é um filme que nasceu em 2003, pela 
descoberta que eu tive desse trabalho que está ali nas 
pastas vermelhas. E Rogério, que em toda a vida não 
deixou de perder o humor cáustico, um dia me disse 
“Você abriu demais esse baú”. Porque exatamente 
quando ele ia retomar esse trabalho, ele teve a notícia – 
apesar de estar com a saúde boa, normal – do câncer no 
cérebro. Então o médico disse “Eu não sei como o senhor 
está aqui, andando normalmente”. E ele perguntou 
“Quanto tempo de vida eu tenho?”. E o médico falou “15 
dias”. Em vez disso ele viveu oito meses, e foi exatamente 
nesses oito meses que eu extraí força. E dentro daquele 
momento terrível era de onde vinha a alegria; ela vinha 
desse roteiro, da vida, das palavras dele, em um roteiro 
muito engraçado, de um humor muito interessante, com 
falas extraordinárias shakespearianas, tudo isso muito 
entrelaçado em mais de 700 páginas. E no final ele se virou 
e disse “Agora é Helena quem vai fazer”. E eu me vi com 
isso na frente, para organizar e criar e tudo isso dentro de 
um cinema brasileiro, sabendo de todas as dificuldades 
que temos para filmar. E enfim o filme está pronto. No 
mais, é uma produção familiar, a produtora executiva é a 
Sinai Sganzerla, a Djin é a atriz protagonista, em um elenco 
maravilhoso, com grandes atrizes e atores, a exemplo do 
André Guerreiro Lopes, que é também o meu genro, e 
do Ney Matogrosso, companheiro da minha geração, um 
ícone. Então tem essa estrutura familiar, com elementos 
que não são familiares, como a própria pessoa que eu 
convidei para codirigir o filme comigo [Ícaro Martins], que 
vem de uma concepção mais burocrática de cinema. E 
a grande vitória é que o filme não sofre essa influência 
burocrática que é fazer um filme no Brasil, em absoluto. É 
um filme radical, e radical na poesia.
Pedro Jorge dirigiu três curtas-metragens, o último deles o 
documentário A Vermelha Luz do Bandido, sobre a obra de Sganzerla. 
Com a irmã, a diretora Mariana Jorge, codirigiu o documentário 
América Brasil, que acompanha a turnê nacional do cantor Seu Jorge. 
Atualmente é um dos montadores da série televisiva HiperReal (SescTV, 
dirigida por Kiko Goifman). 
Paolo Gregori dirigiu curtas-metragens como Atrás das Grades 
(1993) e Mariga (1995). Ganhador do Prêmio Glauber Rocha no 25o 
Festival Internacional de Cinema de Figueira da Foz, de Portugal (com 
o curta O Feijão e o Sonho, 1996). Seu curta-metragem Tropiabbas 
teve a première mundial em Valência em 2005 e foi exibido em mais 
de 20 países, enquanto O Bebê de Eisenstein foi exibido em Xangai, 
Hamburgo e Montevidéu. Atualmente finaliza seu longa-metragem 
Chuva. É professor na Fundação Armando Alvares Penteado (Faap) e na 
Universidade Anhembi Morumbi.
Edição | Mariana Lacerda
fotos: arquivo da família de Sganzerla
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investigações 
sObre O cinema 
(Ou seJa, O hOmem) 
mOdernO: 
sganZerla críticO
Ruy Gardnier
Observando o século XX, fica difícil afirmar que o 
crítico é um artista frustrado. São muitos os casos 
anteriores ao século passado – Stendhal, Diderot, 
Baudelaire e Machado de Assis, para mencionar apenas 
quatro –, mas este século viveu uma proliferação 
impressionante de artistas que exerceram a atividade 
crítica, como Georges Bataille, Ezra Pound, T.S. 
Eliot, os irmãos Augusto e Haroldo de Campos, 
todo o núcleo da nouvelle vague francesa (Godard, 
Truffaut, Rohmer, Chabrol, Rivette), Glauber Rocha, 
Jonas Mekas, além de incontáveis livros teóricos 
e manifestos que envolvem pensamento crítico 
(Schoenberg, Messiaen, Klee, Kandinski).
Quando um grande artista exerce a atividade crítica, 
inevitavelmente ela se torna uma extensão de sua 
personalidade e de sua força criativa, selecionando 
as afinidades eletivas e afinando os processos de 
pensamento para lapidar as bases de sua arte. Como a 
crítica surge frequentemente nos períodos formativos 
dos cineastas, geralmente antecipando e/ou coincidindo 
com os primeiros roteiros, curtas e longa-metragem 
de estreia, observar o trabalho de um crítico-futuro-
cineasta acaba sendo a mesma coisa que presenciar o 
retrato do artista quando jovem. Com os primeiros 
escritos de Rogério Sganzerla dá-se exatamente isso.
No período mais brilhante de sua crítica, 1964-1967, 
Sganzerla é um jovem intelectual que tenta compreender 
as modificações que o cinema sofreu ao longo da 
década de 1950. Manifestando certamente uma série de 
mutações no globo, o cinema foi do certo ao incerto, 
do mastigado ao obscuro, do simples ao complexo. E o 
jovem Sganzerla criou para si mesmo a tarefa de mapear 
as características desses filmes que davam um sopro de 
renovação ao cinema daquele momento. Onde muitos viram 
gratuidades estilísticas, incoerências narrativas e 
hermetismo esnobe, Sganzerla viu um novo cinema que 
delineava uma nova relação com a imagem (e com os 
personagens, com as tramas,com a duração dos planos 
etc.) e que significava uma nova relação com o mundo. 
Em resumo, o empenho do jovem Sganzerla era explicar o 
cinema moderno.
“Moderno”, para ele, não é uma questão de afetação 
ou de moda: é o cinema que exprime as inquietações de 
seu tempo, no conteúdo e na forma. Vários conceitos 
surgiram em artigos do Suplemento Literário do Estado 
de S. Paulo: “herói fechado”, “câmera cínica”, “cinema 
do corpo”, “tempo solto”, com recorrentes menções ao 
cinema de Fuller, Godard, Resnais, Losey, Antonioni e, 
como precursores, Welles e Hawks. Por trás dos nomes 
“herói fechado” e “câmera cínica” está a ideia de que 
o filme não tem mais a função de explicar o mundo e 
os personagens, e sim a de evidenciar esse caráter de 
incompreensão das coisas, em que tudo que o espectador 
pode fazer é olhar. Isso claramente já antecipa todo 
o fascínio dos personagens-ícones de Sganzerla, 
figuras intencionalmente opacas que funcionam como 
personagens de vaudeville num palco sem chão: no vazio 
do entretenimento, o pitoresco se apresenta em seu furor 
violento (e de cabo a rabo no cinema de Sganzerla há 
uma forte violência do signo ligada à caracterização/
caricaturização dos atores).
Sganzerla memorialista
Nos anos 1980, outro período particularmente prolífico 
de sua atividade crítica, certos questionamentos do 
cinema moderno são retomados, mas a tônica geral é a 
melancolia advinda do rompimento de laços do cinema 
brasileiro com seu braço mais experimental. São 
recorrentes – e altamente justificadas – as reclamações 
de que o cinema brasileiro se rendeu à telenovela 
e esqueceu o que havia de genial em sua tradição 
experimental, prestigiando o “pornosoft” e o naturalismo 
sem ousadias. Na ausência, a seus olhos, de um presente 
vigoroso, Sganzerla transforma-se num memorialista, 
evocando épocas do passado em que o Brasil tinha a 
bossa. Como Ulisses cantando sua longínqua Ítaca, o 
Sganzerla dos anos 1980 é um cineasta que olha para 
o Brasil e vê seu adorado cinema moderno muito longe, 
soterrado pela televisão. O antídoto? Dá-lhe Orson 
Welles, dá-lhe João Gilberto, dá-lhe Noel Rosa, na 
esperança da volta de modernidade e inteligência no 
cinema exercido no Brasil.
no r astro de sganzerla
 uma antifotonovela 
Nasci em Joaçaba (SC). Até os 5 anos 
eu não falava e com 
7 anos eu escrevi um livro de contos i
nfantis...
Eu era um menino barulhento, diferente dos padrões catarinenses...
Com 10 anos comecei 
a fazer roteiro 
de cinema. Fazia um a
trás do outro...
Não tinha cineclube, não tinha nada. Não 
tinha meio nenhum de ir mais longe. 
Resolvi sair. Fui morar em São Paulo...
A partir daí foi um momento de primeiro encontro com o 
cinema. Estudava no Mackenzie e de cara já não acompanhava 
as aulas. Meu interesse era me envolver com cultura.
Com 17 anos comecei a fazer crítica de cinema no 
Suplemento Literário do Estado de S. Paulo... 
Nunca pensei em ser crítico. Sempre quis mesmo foi 
dirigir. Mas gosto do que faço porque, enquanto pude, 
fiz cinema com a máquina de escrever. Não diferencio o 
escrever sobre cinema do escrever cinema. Quando eu fui fazer cinema, tinha, apesar de uma 
grande ingenuidade, uma malícia que os outros caras 
não tinham. Fiz um curta-metragem e viajei para a 
Europa...
Pedro Jorge e Alice Dalgalarrondo
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No retorno ao Brasil, li nos jornais sobre um 
bandido mascarado. 
A onda de violência estava crescendo em São Paulo.
Comecei o argumento do filme na evolução de um garoto no 
mundo do crime...
Fiquei pensando...
E usei o título dos jornais: 
O Bandido da Luz Vermelha
Meu filme é um far-west sobre o Terceiro Mundo. Isto é, 
fusão e mixagem de vários gêneros. Fiz um filme-soma. 
Decretado hoje estado de sítio no país. O dispositivo policial reforça todos os seus 
órgãos de segurança... 
Ninguém sabe quantos assaltos, roubos, incêndios e atentados ao pudor ele 
já praticou. 
Janete Jane, a escandalosa!
Outro dia tive que 
assistir o parto da 
minha cunhada.
O bandido mascarado não respeita a mulher nem a propriedade 
privada. 
Tá falando
com o campeão 
de tiro ao alvo de 
Cuiabá.
Os jornais dizem que eu sou um gênio, um poeta adotado da 
Divina Providência, um santo... Um anjo anunciador... Sei lá... 
Eu sou um BANDIDO NACIONAL... O BANDIDO DA LUZ VERMELHA. 
Vivo de pequenos 
furtos, empréstimo dos 
amigos... Posso dizer de 
boca cheia: eu sou um 
boçal!
E o Terceiro Mundo vai explodir e quem tiver de sapato não 
sobra!
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Janete Jane, a namorada do Luz Vermelha, descobre a verdadeira identidade do 
pistoleiro mascarado. 
Que é que o 
secretário pensa 
da miséria?
JB da Silva, o maior. Candidato à presidência da 
Boca do Lixo. 
Que miséria, meu filho? 
Um país sem miséria é um 
país sem folclore. O que é 
que a gente vai mostrar 
pro turista? Hahaha!!
Até que saí bem no 
retrato falado. 
Prende esse 
anão boçal!
Quem jogou 
a gatinha lá 
de cima?
Fecha o cerco 
e manda bala 
nesse sacana!
Estou esperando uma crítica inventiva, no nível do 
provável, e não da certeza idealista, das especu-
lações sentimentais e das perspectivas do passado 
e do provinciano, principalmente...
Definitivamente, queria esquecer de uma vez, já que O Bandido da Luz Vermelha foi feito para ser visto 
numa poeira... Em São Paulo tive de me manifestar porque picharam e elogiaram sem entender.
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Troquei a grande angular pela teleobjetiva. Meu novo filme é uma comédia 
inspirada na chanchada, onde Helena Ignez é a inimiga nº 1 dos homens. 
O que você quer, Flávio 
Asteca? Quer Angela Carne 
e Osso só pra você? Vamos 
passar o fim de semana na 
Ilha dos Prazeres?
As aventuras
 sexuais de A
ngela Carne 
e Osso, uma 
das dez 
mais megalom
aníacas.
Aquela depravação de 
novo? Antropófagos 
invadem a Guanabara!
Sou o único negro 
milionário do Brasil!
Vampiro, você é um 
bacana!
Angela, meu amor, a 
minha paixão por você 
aumenta de 15 em 15 
minutos.
Me chama de 
bitolado. Vai, BI-TO-
hahaha! 
Dr. Plirtz, proprietário do truste das histórias em 
quadrinhos do país, das minas de prata do Guarujá e 
da rádio emissora El Dólar.
Sim, sou eu mesmo, 
Dr. Plirtz, o grande 
bitolado!
Neste fim de sema-
na vou me dedicar 
aos boçais. 
Será este o marido nacional do 
século XXI? Do XVI ou do XXI?
Angela, meu amor, 
é uma pena que 
vocês não podem 
me dar nada porque 
eu tenho tudo!
Não quero mais 
homem bacana. Só 
dá trabalho. Não 
dá pé!
Mulheres, boa noite. 
Homens, goodbye. 
Alô, garotas, eu sou 
o Zé Bonitinho, pi-
rigote das mulheres,
e só entro em cena 
ao rufo de tambo-
res!!!
Não sou batom, mas estou em 
todas as bocas. Garotas,vou dar 
para vocês um fiapo do meu beijo! 
Engraçado, não, engraçado é um boi 
de dentadura postiça fazendo fiu-fiu 
para uma vaca no brejo!
O trem que o mundo espera apita. Só me interessa 
a profecia. Tudo é uma coisa só e isso é tudo! Sobretudo de uma coisa só vem 
de tudo um pouco. Somos, fomos e criamos, que de tudo é uma só 
mente universal. Para chegar à mente livre, percorri um grande cinema estranho. 
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Sinceramente, a solução mais 
adequada para você é o 
suicídio... Se mata, filho!
O mundo é teu, boçal! De 
vosso recalque só pode vir a 
maior boçalidade possível... No 
abismo se desce ou sobe... Eu 
subo!
Se a verdade estiver no fundo 
de um poço ou de um abismo, 
é preciso buscá-la, porque sem 
chute não há gol!
Na caçapa de Joaçaba 
eu aprendi duas coisas 
em Tupi, firmeza e res-
peito é uma coisa só!
Primeiro mate o seu 
ego, depois venha falar 
comigo!
Aqui no Brasil você 
não precisa dormir 
para sonhar!
Orson Welles me ensinou a não separar a política do crime. 
Para evitar perguntas cretinas, devo dizer 
a todos que continuarei a seguir minhas 
diretrizes fundamentais, que são, nada 
mais nada menos, dar ao cinema uma 
noção de tempo, espaço e profundidade.
Não sou um gênio... Nem tudo é verdade! 
A máquina de filmar é o instrumento mais mentiroso 
inventado pelo homem, disse alguém e tava certo!
Todos os maus filmes já foram feitos. Os burocratas vêm 
liquidando o cinema. Meus filmes são uma propaganda da alma 
e do corpo brasileiro.
Eu acho que o Jimi Hendrix foi um pen-
sador, o homem que colocou nas letras, 
concretamente, a frase “eu posso mudar 
a sua mente”. Isso é a revolução.
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O primeiro livro que 
minha mãe me deu foi 
Sonhos de uma Noite de 
Verão, de Shakespeare. 
Eu tinha 6 anos. 
Sempre me considerei um 
vagabundo, um saltim-
banco, um outsider em 
qualquer lugar do mundo. 
Mr. Welles, o que 
acha da crítica?
Hahahaha!
Detesto todo tipo de 
parasitas!!!
Os astros são meus 
únicos aliados. 
O Brasil é o país 
que produz o melhor 
uísque falsificado do 
mundo! 
As pessoas são in-
críveis, me aplaudem 
até quando estou 
sóbrio!!!
O cara vem filmar o 
berço esplêndido, as 
mulatas... Respeito é 
manga de colete.
To see or not to 
see, that’s the 
question!
A imagem do caos é 
o próprio CAAAAOS!
Para o fechamento, um antifilme. 
Podem recolher todo o material...
O cinema não me 
interessa, mas sim a 
profecia!
Os cinco sentidos são 
tão tolos como uma 
criança, não sabem 
distinguir ilusão da 
realidade, o verdadeiro 
do falso.
Acabou, acabou. Podem jogar tudo fora.
O cinema teria de ser escrito em uma folha em branco pegando fogo 
para poder registrar esse movimento de captação do pensamento de 
um filme durante sua realização. Por um cinema sem limite...
FIM.
Não deram nenhum tostão para 
Noel Rosa.
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Álvaro de Moya
O arOma de curry nO 
meu OlfatO
O arOma de curry nO 
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Conheci Rogério Sganzerla como crítico do Jornal da 
Tarde, onde eu era colaborador, ainda na sede antiga, 
com aquele luminoso noticioso que filmaria em sua obra-
prima, O Bandido da Luz Vermelha, em citação reverente 
ao anúncio da morte de Charles Foster Kane. Suas 
escritas eram ótimas e já revelavam seus diretores 
prediletos, como Samuel Fuller.
Walter George Durst tinha feito um programa na TV Tupi 
focalizando Silki. Ficara impressionado com alguém que 
passava fome para comer. O faquir ficava num esquife 
de vidro na Praça da Sé, sem se alimentar e sem 
água durante dias, atraindo multidões dia após dia. 
Tencionava fazer um filme, mas alguém se antecipou e 
realizou um longa, para frustração de Durst, que não 
gostou da versão. Também entrevistara o Bandido da 
Luz Vermelha na prisão e queria fazer um longa. Ficou 
chateado quando foi anunciada uma versão. Quando, 
porém, viu o que Sganzerla realizara em seu Bandido 
da Luz Vermelha, engoliu, pois reconheceu que dessa 
feita resultara num grande filme. Na minha opinião, um 
dos maiores e melhores longas-metragens da história do 
cinema nacional, tal como A Margem, de Ozualdo Candeias. 
Sganzerla era extremamente criativo e seu filme 
representa uma ruptura na linguagem brasileira – 
equivalente ao que Jean-Luc Godard fez com o cinema 
francês em Acossado. Na montagem, viu um rolo em 35 
milímetros que era um teste de projeção com efeitos de 
sons e imagens, achou legal e incluiu em seu filme. 
Contou-me que, na montagem do som, num estúdio no bairro 
do Sumaré, perto da casa de Hebe Camargo, ouviu tiros, 
estranhou. Ele e o editor notaram que os tiros tinham 
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filmáramos na véspera. Ele lia 
e achava ótimo, perguntava 
quem tinha escrito. “Eu”, 
respondia, candidamente. No 
dia seguinte, o mesmo diálogo, 
até ele acreditar que eu podia 
escrever sem citações. 
Quando filmamos uma vamp de 
Flash Gordon, de costas, 
com um longo vestido preto, 
ele se impressionou com a 
semelhança com uma mulher 
mais velha do que ele com 
quem tivera uma relação. A 
mesma imagem de Alex Raymond 
que Hector Babenco mostrou 
para Sonia Braga compor sua 
personagem em O Beijo da 
Mulher Aranha. Quando filmamos 
alguns quadrinhos nacionais, 
ele observou que era como 
filmar Rolls-Royce e misturar 
com um Aero Willys brasileiro. 
Vamos fazer dois curtas, um 
Comics e outro Quadrinhos 
no Brasil. Escolhi Orpheu 
Paraventi Gregori para fazer 
a locução. Fomos para a Cia. 
Cinematográfica Vera Cruz, ou o 
que sobrara dela, para juntar 
tudo. Ao entrar no terreno, 
o odor de curry vindo de uma 
planta ficou na minha memória.
vindo de fora. Correram para 
a rua e viram um morto caído 
no chão e duas crianças ao 
lado, com gente correndo. 
Era um americano. Tinha 
sido fuzilado – depois de 
julgado pelos terroristas, 
segundo a imprensa – diante 
de seus filhos que iam para a 
escola. Mais tarde, a revista 
americana Time revelou que 
ele era um agente do governo 
norte-americano, a mulher dele 
não era sua esposa, mas uma 
agente também, e aqueles não 
eram seus filhos. Uma falsa 
família hollywoodiana para 
espionar a luta armada contra 
a ditadura militar brasileira. 
Continuamos amigos e em 
contato, mesmo quando não mais 
fez críticas escritas. Depois 
de algum tempo, procurou-me 
e revelou que tinha direito 
de usar a Oxberry da Jota 
Filmes, na Avenida General 
Olimpio da Silveira, para 
fazer um table top e que 
seu curta focalizaria os 
quadrinhos. Convidou-me para 
ser codiretor, redator e 
montar com ele a produção. Não 
tínhamos nenhuma experiência. 
Levei um monte de livros e 
revistas da minha coleção 
particular e filmamosO 
Fantasma. Ele me perguntou 
quantos fotogramas e chutei um 
número qualquer. Quando fomos 
ver as primeiras tomadas na 
Rex Filmes, tudo passou em 
frações de segundos. Como uma 
propaganda subliminar. Ficamos 
perplexos. E aprendemos... 
Escrevia em casa o texto, 
passo a passo, sobre o que 
Só falávamos de Orson Welles, 
de Cidadão Kane. Eram tempos 
de crise. Íamos comer algo 
na cidade de São Bernardo. 
Eu entrava numa loja de 
móveis vazia de fregueses e 
fingia interesse numa mesa 
Luiz XV e perguntava se 
dava para fazer sob medida 
aquelas pernas tortas com 
outro móvel incompatível. O 
vendedor aceitava absurdos, 
desde que concretizasse uma 
venda. Rogério se segurava 
para não rir e tirava sarro 
de mim, já na rua depois de 
prometer voltar mais tarde 
com a patroa. O curta Comics, 
por sorte, foi programado 
para acompanhar o filme de 
Pasolini Teorema e foi muito 
visto. Levei uma cópia para o 
Salão de Comics, em Lucca, foi 
bem recebido, o então diretor 
do Festival de Cinema de San 
Sebastian, Luis Gasca, sugeriu 
que eu mandasse uma cópia 
para a Espanha. Entreguei 
ao Consulado Brasileiro na 
Itália e chegou à península 
ibérica após o término do 
conclave. Gasca lamentou, 
pois teria recebido um prêmio 
internacional, seguramente.
Além disso, a diplomacia 
brasileira perdeu a cópia. 
Ganhamos um prêmio em Manaus. 
Rogério, vivendo no Rio, 
me telefonava e prometia 
uma cópia 16 milímetros e 
esquecia. Saiu em vídeo e 
nada. Até hoje não tenho um 
Comics. Mas ficou na minha 
lembrança a felicidade 
daqueles momentos juntos e o 
aroma de curry no meu olfato.
Álvaro de Moya é jornalista,pesquisador 
e escritor. Publicou o livro Shazam!
(Perspectiva), considerado um clássico 
sobre a trajetória da HQ no Brasil. Foi 
curador de exposições sobre quadrinhos, 
dirigiu ao lado de Rogério Sganzerla 
os documentários História em Quadrinhos 
(Comics) e Quadrinhos no Brasil. im
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cinema 
FOra da lei
Manifesto de Rogério Sganzerla (escrito em 1968, durante 
as filmagens de O Bandido da Luz Vermelha)
1 – Meu filme é um far-west 
sobre o Terceiro Mundo. Isto 
é, fusão e mixagem de vários 
gêneros. Fiz um filme-soma; 
um far-west, mas também 
musical, documentário, 
policial, comédia (ou 
chanchada?) e ficção 
científica. Do documentário, 
a sinceridade (Rossellini); 
do policial, a violência 
(Fuller); da comédia, o 
ritmo anárquico (Sennett, 
Keaton); do western, a 
simplificação brutal dos 
conflitos (Mann).
2 – O Bandido da Luz Vermelha 
persegue, ele, a polícia, 
enquanto os tiras fazem 
reflexões metafísicas, 
meditando sobre a solidão e 
a incomunicabilidade. Quando 
um personagem não pode fazer 
nada, ele avacalha.
3 – Orson Welles me ensinou a não 
separar a política do crime.
4 – Jean-Luc Godard me ensinou a 
filmar tudo pela metade do preço.
5 – Em Glauber Rocha conheci 
o cinema de guerrilha feito à 
base de planos gerais.
6 – Fuller foi quem me mostrou 
como desmontar o cinema 
tradicional através da montagem.
7 – Cineasta do excesso e do 
crime, José Mojica Marins me 
apontou a poesia furiosa dos 
atores do Brás, das cortinas 
e ruínas cafajestes e dos seus 
diálogos aparentemente banais. 
Mojica e o cinema japonês me 
ensinaram a saber ser livre 
e – ao mesmo tempo – acadêmico.
8 – O solitário Murnau me 
ensinou a amar o plano fixo 
acima de todos os travellings.
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9 – É preciso descobrir o segredo 
do cinema de Luís poeta e agitador 
Buñuel, anjo exterminador.
10 – Nunca se esquecendo de Hitchcock, 
Eisenstein e Nicholas Ray.
11 – Porque o que eu queria 
mesmo era fazer um filme mágico 
e cafajeste cujos personagens 
fossem sublimes e boçais, onde 
a estupidez – acima de tudo – 
revelasse as leis secretas da 
alma e do corpo subdesenvolvido. 
Quis fazer um painel sobre a 
sociedade delirante, ameaçada 
por um criminoso solitário. 
Quis dar esse salto porque 
entendi que tinha de filmar 
o possível e o impossível num 
país subdesenvolvido. Meus 
personagens são, todos eles, 
inutilmente boçais – aliás, 
como 80% do cinema brasileiro; 
desde a estupidez trágica do 
Corisco à bobagem de Boca de 
Ouro, passando por Zé do Caixão 
e pelos párias de Barravento.
12 – Estou filmando a vida do 
Bandido da Luz Vermelha como 
poderia estar contando os 
milagres de São João Batista, 
a juventude de Marx ou as 
aventuras de Chateaubriand. É 
um bom pretexto para refletir 
sobre o Brasil da década de 
1960. Nesse painel, a política e 
o crime identificam personagens 
do alto e do baixo mundo.
13 – Tive de fazer cinema fora 
da lei aqui em São Paulo porque 
quis dar um esforço total em 
direção ao filme brasileiro 
liberador, revolucionário também 
nas panorâmicas, na câmara fixa 
e nos cortes secos. O ponto de 
partida de nossos filmes deve 
ser a instabilidade do cinema – 
como também da nossa sociedade, 
da nossa estética, dos nossos 
amores e do nosso sono. Por 
isso, a câmara é indecisa; o 
som fugidio; os personagens 
medrosos. Nesse país tudo é 
possível e por isso o filme pode 
explodir a qualquer momento.
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FragmentOs 
de rOgériO
Hernani Heffner
Os filmes. Os filmes. Os filmes. 
Rogério sempre falou de tudo 
– do cinema, das pessoas do 
cinema, das sacanagens do cinema 
–, mas nada ficou acima dos 
filmes. Falava apaixonadamente, 
obsessivamente, dos seus e de 
todos os outros que considerasse 
instigantes, quer isso 
significasse Luís de Barros ou 
Samuel Fuller. Quase tudo era 
importante em alguma medida. 
Bastava começar uma conversa em 
torno do mais insignificante 
dos filmes, da mais banal 
das cenas, do mais reles dos 
planos, que a fala surgia num 
crescendo de frases rápidas, 
inacabadas, entrecortadas, 
com verbos no subjuntivo ou 
no pretérito imperfeito. O 
pensamento tinha de escoar, 
ganhar vida, apresentar-se de 
forma sugestiva, mas não como 
uma explicação ou uma lição 
de moral estético-histórica. 
A voz elevada, os braços 
agitados, a silhueta algo 
franzina agigantando-se num 
aparente corpanzil que dominava 
o pedaço, queria dar conta do 
que transformava o inerte, o 
monótono, em picada estimulante. 
Coisa de diretor de cinema 
atirado e incisivo que, diziam, 
ele era.
Não nos conhecemos antes por 
causa dos filmes. Ou melhor, foi 
por causa de filmes, mas não 
os seus, que em geral levavam 
(poucos, no início) admiradores 
impactados a se aproximar 
dele. De certa forma, Rogério 
foi se tornando familiar para 
mim por causa de relatos de 
outras pessoas. Uma delas, José 
Marinho, ator “sganzerliano” 
de primeira hora, foi meu 
professor no curso de cinema da 
Universidade Federal Fluminense 
(UFF) no começo dos anos 
1980. “Tarzan” propagandeava 
a maestria do diretor de O 
Bandido da Luz Vermelha. Outra 
pessoa foi Remier Lion, o mais 
antigo entusiasta, enaltecedor 
e profundo admirador que conheci 
da obra e do artista por trás 
da obra que se erigira após o 
sucesso daquele primeiro filme. 
Ele era um garoto quando pirou 
com os filmes e foi atrás 
do realizador daquilo que 
considerava mais do que uma 
lição de cinema, uma lição de 
arte e de vida. Ficaram amigos 
e fui absorvendo um pouco dessa 
relação ao estreitar a minha 
com o futuro programador, 
pesquisador, realizador e globe-
trotter de cinema. 
Já tinha uma pequena ideia de 
quem era Rogério. Conheci-oantes de ele me conhecer, o 
vira no programa Cinemateca, 
transmitido pela antiga TVE do 
Rio de Janeiro no final dos 
1970. Ele e José Carlos Monteiro 
eram os debatedores de uma 
emissão de A Marca da Maldade. 
Não me lembro do que disse, 
mas a imagem desse programa 
em particular ficou na minha 
memória. Não saberia dizer o 
porquê. Vi um filme seu algum 
tempo depois, novamente na 
televisão, antes de encontrá-
lo pessoalmente já nos anos 
1990. Era uma exibição do 
Bandido perdida em algum 
Corujão na Globo e não me 
deixou maiores marcas. Assisti 
mais porque era raro ver filme 
brasileiro na televisão.
Diálogo
A importância do momento 
do qual emergiu – ele não 
gostava dos termos “udigrúdi”, 
marginal etc., que considerava 
ideologicamente perversos, 
alijando a si e aqueles com 
quem mantinha afinidades do 
reconhecimento de uma hegemonia 
artística evidente – só foi 
ficando clara para alguém 
desavisado de uma geração 
posterior como eu ao longo 
dos anos 1980. Um conjunto 
de textos, cursos e sessões 
foi pavimentando a aceitação 
um tanto beletrista daquela 
experiência radical. Na 
época não percebi que o mais 
importante era o diálogo com 
determinada tradição do cinema 
brasileiro, que esse grupo 
reconheceu, resgatou 
e incorporou. 
Tradição que significava diálogo 
com certas formas populares de 
comunicação, de fazer artístico 
e, mais do que isso, com 
certa estética que privilegia 
o espontâneo, o básico, o 
imediato. A pantagruélica 
precariedade não era uma 
condição (subdesenvolvimento e 
quejandos), mas uma expressão 
em aberto, pronta a ser 
elaborada pelos constituintes 
cinematográficos. Naquele 
momento, dentro do métier, 
apenas se prolongava a querela 
com o Cinema Novo, transformada 
em uma dinâmica do tipo 
algozes e vítimas, artistas e 
comerciantes, com e sem acesso 
à Embrafilme etc. Acabaria me 
encantando mais com a descoberta 
(tardia) da sinceridade e da 
plasticidade de uma obra-prima 
como Porto das Caixas do que com 
o que me parecia a repetição da 
estratégia formal de Terra em 
Transe retomada em Sem Essa, 
Aranha (a câmera na mão e a 
mise-en-scène da trajetória 
dos intérpretes). 
Quando conversei com Rogério 
sobre o filme “glauberiano”, 
ele não o endeusou, mas 
categoricamente o colocou no 
seleto clube das obras decisivas 
e artisticamente maduras. 
Minha percepção estritamente 
formalista naquele momento 
mais antigo não me permitiu 
considerar uma revalorização do 
cinema brasileiro popular antigo 
que sua geração realizara e uma 
dimensão de “conteúdo” que já 
tinha feito toda a diferença 
e que não deixava de ter uma 
(nova) presença conceitual.
Nós nos conhecemos de fato por 
causa de um convite que Rogério 
fez a mim e a Lécio Augusto 
Ramos, como pesquisadores ligados 
à Cinédia, para que fossemos à 
sua casa conversar com um par 
de estudantes norte-americanos. 
Isso foi por volta de 1994/1995. 
Os visitantes queriam checar 
a possibilidade da existência 
de uma cópia de Soberba, com a 
montagem do diretor, e não do 
estúdio, e que teria sido enviada 
a Welles aos cuidados de Adhemar 
Gonzaga. Uma vez informado de 
que aparentemente ela nunca 
havia chegado por aqui, passamos 
a conversar sobre o cinema 
“wellesiano” e sobre seu projeto 
brasileiro abortado, tema de Nem 
Tudo É Verdade, minha primeira 
incursão de fato ao universo 
sganzerliano, e de um filme que 
estava preparando, o futuro Tudo 
É Brasil, obra que mais aprecio 
de sua filmografia. 
Não ficamos amigos no pleno 
sentido da palavra, não privei 
de sua intimidade a não ser 
quando Sinai, Djin e Helena 
me pediram que fosse ao seu 
apartamento na Urca organizar os 
rolos de filmes que deixara e a 
documentação que pacientemente 
guardara durante toda a vida. 
Foi tocante descobrir o carinho 
que dedicara às três filhas – a 
terceira é Paloma –, preservando 
os trabalhos escolares e os 
desenhos infantis. Mas não me 
senti à vontade quando comecei 
a ler as doloridas cartas que 
mandava para os pais em Joaçaba. 
Não convivi com ele para 
reivindicar amizade e acessar 
sua vida privada. Desisti e 
reconheci que não tinha mais 
alma de pesquisador. Minhas 
lembranças, portanto, não passam 
por aquele abuso típico do mundo 
das artes, onde todo mundo é 
amigo de todo mundo.
A partir daquele primeiro 
encontro passei a vê-lo mais 
constantemente, sobretudo na 
Cinemateca do Museu de Arte 
Moderna do Rio de Janeiro (MAM/
RJ), onde ingressei em 1996, e 
nos arredores, como o Beco da 
Fome na Cinelândia (encontrei-o 
algumas vezes no restaurante 
Spaghettilândia, que, soube, 
frequentava bastante). Descobri 
o elo profundo que havia 
imagens: frames dos filmes Copacabana Mon Amour, Carnaval na Lama e Sem Essa, Aranha
entre ele e a instituição 
que sustentara a primeira 
apresentação pública dos filmes 
da Belair. Era o mesmo espaço 
que lhe proporcionava o prazer 
de revisitação aos clássicos do 
cinema ou, mais visceralmente, 
ao próprio cinema e também 
lhe fornecia regularmente 
materiais de arquivo para seus 
ensaios de montagem. A mais 
significativa fotografia que 
conheço de Rogério mostra o 
futuro depósito de filmes da 
Cinemateca, em 1979, entupido 
de latas e ele sentado à la 
Kane sobre elas, apresentando-
se em sua Xanadu particular.
Os contatos dele dentro do 
arquivo começaram com Cosme Alves 
Netto nos anos 1970 e, na década 
seguinte, se transferiram para 
Francisco Sérgio Moreira. Pode-
se dizer que apenas me tornei 
“herdeiro” dessa posição de 
interlocutor, que eu descobriria 
no fim do século passado, que 
girava em torno do contato com 
este mundo: o acesso a materiais 
de arquivo e da conservação de 
negativos, cópias e sobras de 
montagem da grande maioria de 
seus filmes. Rogério aparecia 
de vez em quando para as sessões 
regulares da Cinemateca, mais 
raramente para a chamada Ceia dos 
Veteranos – projeções privadas 
de clássicos das matinês de 
outrora feitas por Cosme para 
um seleto grupo –, e aqui e ali 
para conversar pelos corredores e 
pelas salas do lugar, como quem 
não tivesse mais nada para fazer. 
Só retrospectivamente entendi o 
bem que lhe faziam os ambientes 
de cinema.
Rogério era considerado 
um diretor/depositante 
difícil, de gênio explosivo 
e temperamento inconstante. 
Em uma ocasião, conheci sua 
fúria momentânea. Ligou me 
acusando de ter vendido seus 
filmes a produtores franceses. 
Era algo tão estapafúrdio, sem 
sentido, que não considerei 
de fato. Mesmo assim, endureci 
na hora e disse que passasse 
na manhã seguinte, pois estava 
despejando os filmes dele... 
Duas semanas depois nos 
encontramos e conversamos como 
se nada tivesse acontecido. 
Era reflexo da ida da única 
cópia de Carnaval na Lama para 
a França, para uma exibição no 
Musée Jeu de Pomme, e que nunca 
voltou ao Brasil. 
Quando assumi a responsabilidade 
de cuidar do arquivo de filmes, 
ele passou a tratar comigo 
dos assuntos que envolviam 
suas criações futuras e seu 
acervo. E me procurou para saber 
das sobras do Bandido, pois 
pretendia retomar o assunto 
e fazer uma sequência. Reviu 
todo o material na moviola da 
Cinemateca, junto com Remier. Os 
dois também mexeram em uma cópia 
de Copacabana Mon Amour, que 
tinha chegado da antiga Líder, 
onde ficara desde 1980. De ações 
como essas resultavam no mínimo 
novas versões ou ainda novas 
produções, caso de Bandido 2, 
para o qual tive de conseguir 
uma imagem do criminoso real 
sendo preso em 1966. 
Percebi nesse momento que 
Rogério tinha muito pouco 
recurso financeiro para fazer 
frente aos custos desse tipo 
de trabalho e que buscava uma 
receptividade à sua arte que lhe 
permitisse seguir em frente. 
Usava, sobretudo, seus próprios 
filmes como base para novos 
trabalhos, canibalizando sobras 
e eventualmenteos próprios 
negativos de filmes anteriores, 
caso de Fora do Baralho, que já 
não existia como obra desde o 
início dos anos 1990.
Apesar do gesto desesperado, 
tudo era submetido a uma lógica 
e a um rigor que remontam 
ao Bandido original, que 
utiliza criativamente trechos 
de antigos filmes B norte-
americanos, italianos e 
japoneses, passam por filmes 
como Mudança de Hendrix e 
atingem um paroxismo em Tudo 
É Brasil. A manipulação do 
material de arquivo é sobretudo 
um sofisticado exercício de 
ressignificação, operado pela 
montagem cinematográfica. A 
sensibilidade para associações 
rítmicas e visuais, para 
raccords inusitados e para a 
emergência do tempo nos planos 
de outrora retrabalhados 
demonstra a enorme capacidade 
de Rogério em promover novas 
sintaxes para um conjunto de 
imagens que a rigor não mudou 
tanto assim sua natureza ao 
longo dos anos. A face mais 
visível disso é o labirinto 
wellesiano. Hoje é muito comum 
falar em filmes construídos a 
partir de material de arquivo, 
mas essa foi sua perspectiva 
maior ao longo de quase toda a 
carreira. Para mim essa sempre 
foi sua grande arte.
Um último aspecto nos ligou 
mais diretamente. Tratava-se 
da conservação de seus filmes, 
aspecto que passou a preocupá-
lo quando teve acesso aos 
negativos de Carnaval na Lama e 
os trouxe para o Rio. Pediu que 
eu os examinasse e a descoberta 
foi trágica. Era muito tarde para 
fazer qualquer coisa. Olhamos 
os outros filmes e muitos já 
estavam comprometidos em alguma 
medida, mas poderiam (e podem) 
ser salvos sem maiores danos. 
Sua obra pagou o preço de ser 
pequena em produção de materiais, 
em geral negativos e umas poucas 
cópias, às vezes uma ou duas, 
de ser confeccionada a partir 
de filmes virgens diversos, por 
vezes vencidos e mal revelados 
e lavados, e de ser alvo de um 
processo de canibalização que 
ora implica a não existência 
de matrizes regulares, caso 
de Mudança de Hendrix, ora o 
desaparecimento parcial ou total 
de obras mais antigas. 
A reconsideração artística de sua 
obra nos últimos anos acabou por 
consagrá-lo como o grande nome 
do cinema brasileiro junto às 
novas gerações. É uma referência 
inconteste e um ídolo. Falta 
a sustentação desse fato pelas 
próximas décadas, algo que só 
pode ser obtido com a preservação 
integral e benfeita de sua 
filmografia completa. É o desafio 
que nos cabe e ao futuro.
Hernani Heffner é conservador da 
Cinemateca do Museu de Arte Moderna do 
Rio de Janeiro (MAM/RJ) e professor 
de cinema da Pontifícia Universidade 
Católica do Rio de Janeiro (PUC/Rio), 
da Fundação Getulio Vargas do Rio de 
Janeiro (FGV/RJ) e da CineTV-PR, da 
Faculdade de Artes do Paraná (FAP). 
Coordena o projeto de restauração do 
acervo Cinédia e escreveu este texto ao 
som de Carmen Miranda, Cat Power 
e Eliete Negreiros.
Nos meus filmes os atores contribuem 
com novo estilo de interpretação, 
de desincorporação, uma nova técnica 
de reinvenção.
Rogério Sganzerla
Helena Ignez 
Atuou em O Bandido da Luz Vermelha (1968), quando iniciou um 
dueto histórico com Rogério Sganzerla, inaugurando uma forma de 
interpretar autoral, antinaturalista, a partir de A Mulher de Todos (1969), 
protagonizando Angela Carne e Osso, a “inimiga número 1 dos homens”. 
Em 1970, fundou com Sganzerla e Júlio Bressane a Belair, produtora 
independente que realizou seis longas-metragens em poucos meses, 
sendo Sem Essa, Aranha, Copacabana Mon Amour (no papel de Sonia 
Silk, a “fera oxigenada”) e Carnaval na Lama (como Betty Bomba, “a 
exibicionista”). Participou como atriz em outros filmes de Rogério, como 
Nem Tudo É Verdade (1986), Perigo Negro (1992) e O Signo do Caos (2003), 
passando para a direção no mesmo ano, com Reivenção da Rua (montado 
por Sganzerla), A Miss e o Dinossauro (2005), Canção de Baal (2008) e Luz 
nas Trevas (2010), com roteiro inédito de Sganzerla. Casada com Rogério 
por 34 anos, com quem teve Sinai Sganzerla e Djin Sganzerla, Helena é 
mãe de Paloma Rocha, com quem contracenou em Perigo Negro (1992).
Paulo Villaça
Rogério Sganzerla encontrou 
em Paulo Villaça o tipo ideal 
para viver o Bandido da 
Luz Vermelha nas telas: “ele 
tinha uma voz grave e a face 
de um Humphrey Bogart 
acaboclado e lembrava muito 
o próprio Bandido”. Atuou 
logo em seguida em A Mulher 
de Todos (1969), na pele de 
um impagável toureiro gay, e 
em Copacabana Mon Amour 
(1970), como Doutor Grillo.
Jô Soares
Jô Soares interpreta um hilário proprietário de um 
truste de histórias em quadrinhos, casado com a 
insaciável Angela Carne e Osso (Helena Ignez), em A 
Mulher de Todos (1969). As figuras do filme parecem 
saídas do imaginário dos gibis fabricados pelo próprio 
Doktor Plirtz, que traz um componente nazista no 
figurino e na postura, vigiando e enredando a mulher 
em jogos eróticos extravagantes. 
Pagano Sobrinho 
Em O Bandido da Luz 
Vermelha, encarna o 
personagem JB da Silva, 
político corrupto, gângster 
e populista que propaga 
soluções cínicas para as 
mazelas do povo. Dessa 
forma, JB da Silva transforma-
se no Rei da Boca, defensor 
da miséria como forma de 
salvaguardar o folclore. 
Otávio Terceiro 
Um dos atores mais identificados com o universo de Rogério Sganzerla, 
Otávio Terceiro é o protagonista de seu último filme, O Signo do Caos 
(2003), que fecha a tetralogia sobre o percurso de Orson Welles no 
Brasil. O personagem é definido pelo autor como uma espécie de 
“agente do caos”, cujo modus operandi é o espírito de transação.
Antonio Pitanga
Rogério Sganzerla propôs a Antonio 
Pitanga viver um milionário negro que 
é seduzido por Angela Carne e Osso 
em A Mulher de Todos (1969). Pitanga 
trabalhou com ele novamente em 
Nem Tudo É Verdade e interpretou 
Justino, personagem do último 
roteiro de Sganzerla, Luz nas Trevas 
(2010), dirigido por Helena Ignez e 
Ícaro Martins, em fase de finalização.
Guará 
Ator em Copacabana Mon Amour 
(1970), técnico de som em Sem 
Essa, Aranha (1970), realizou Perigo 
Negro (1992) e legitimou o antifilme 
O Signo do Caos. Em Copacabana 
Mon Amour, Guará é um malandro 
que tenta a todo custo ser o cafetão 
de Sonia Silk, cercando turistas e 
gringos na Avenida Atlântica. Aos 
pulos diante de dois marinheiros 
na orla de Copacabana, Guará grita: 
“Money, please, money, please... 
American friends... O que estamos 
fazendo aqui na Terra? Qual é o 
destino do homem?”.
Maria Gladys
Aparição marcante em Sem Essa, Aranha (1970), Maria Gladys interpreta 
uma personagem histérica que desce a ladeira do Vidigal, vestida de 
verde-amarelo, gritando: “Eu tô com fome, tô com fome!”. No mesmo 
filme, em plano-sequência antológico, canta desvairadamente um tema 
inventado a partir de uma provocação de Rogério Sganzerla, com quem 
fez, ainda, Carnaval na Lama (1970).
Moreira da Silva
Em Sem Essa, Aranha (1970), Moreira da Silva, o rei da malandragem, aparece 
em uma única sequência, cantando e sambando. Sua presença se enquadra 
incrivelmente na mise-en-scène delirante do filme, em que Zé Bonitinho dá 
as cartas, constatando: “Essa é a pior das épocas!”. Uma alusão ao fantasma da 
ditadura, que meses depois levaria ao exílio Rogério Sganzerla e Helena Ignez. 
Wilson Grey
Ator de mais de 150 filmes, na maior 
parte como coadjuvante, Wilson Grey 
interpreta em Abismu (1977), com viés 
expressionista, o papel de secretário de 
Madame Zero (Norma Bengell). Ao lado 
de José Mojica Marins, como Doutor 
Pierson, persegue um egiptólogo que 
detém um manuscrito com pistas de um 
antigo tesouro.
Othoniel Serra
“Nessas condições, imóvel diante da miséria nacional, o otário só pode seguir 
dopado de sol, de cachaça e de magia.” Othoniel Serra interpreta Vidimar, o 
irmão gay e macumbeiro de Sonia Silk (Helena Ignez), em Copacabana Mon 
Amour (1970); tresloucado, uma espéciede médium esfarrapado. Segundo o 
argumento do filme, “um imbecil, apaixonado pelo patrão, Doutor Grillo (Paulo 
Villaça), a quem mata, com o lúcido desespero de haver destruído seu eu”. 
Norma Bengell
Em Abismu (1977), Norma Bengell protagoniza uma 
das personagens mais interessantes de Rogério 
Sganzerla: Madame Zero. Sua imagem de diva 
vaporosa fumando um enorme charuto tornou-se 
ícone do cinema brasileiro dos anos 1970. 
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Grande Otelo
Aparição luminosa em Nem Tudo É Verdade (1986), o ator Grande Otelo foi 
a figura eleita por Rogério para ocupar o cartaz de Tudo É Brasil, terceiro 
filme que compõe a tetralogia sobre a passagem de Orson Welles pelo 
Brasil. Interpretando a si próprio, Sebastião Prata, pode ser visto além da 
chanchada, como a sobreposição de três signos encarnados pelo artista: o 
comediante das chanchadas, o sambista de Rio Zona Norte (1957), de Nelson 
Pereira dos Santos, e a representação de Otelo, o único protagonista negro 
de Shakespeare, que culminou, inclusive, no nome do ator: Grande Otelo. 
Zé Bonitinho
Personagem marcante em 
Sem Essa, Aranha (1970), em 
que vive Aranha, o último 
capitalista do país, e no 
filme Abismu (1977), como o 
Médium Um, Jorge Loredo 
foi convidado por Rogério 
após a consagração de seu 
personagem Zé Bonitinho 
na televisão brasileira. Nesses 
filmes, Zé Bonitinho ocupa 
um espaço central, com 
monólogos quase metafísicos, 
que conferem relevo à sua 
figura e o transformam por 
vezes em alter ego do próprio 
Rogério Sganzerla.
José Mojica Marins
Em Abismu (1977), José Mojica Marins 
faz o “elogio à boçalidade”, na pele 
do Doutor Pierson. Personagem 
caracterizado como o Zé do 
Caixão, está envolvido numa trama 
arqueológica, perseguindo um 
egiptólogo com um supertelescópio, 
na busca de tesouros e elos perdidos 
com civilizações ancestrais. Autor de 
mais de 40 filmes e ator em cerca de 
20, José Mojica Marins manteve um 
diálogo criativo com Sganzerla, Júlio 
Bressane, Ivan Cardoso, Eliseu Visconti 
e Neville de Almeida.
Luiz Gonzaga 
Em travelling circular e vertiginoso, a câmera acompanha Luiz 
Gonzaga e sua sanfona em Sem Essa, Aranha. O ambiente é 
suburbano, o quintal de uma casa e chão de terra batida. Ao 
som do baião, Helena Ignez, em plano-sequência, vomita um 
dos monólogos mais contundentes de Sganzerla: “Esta terra é 
de araque! O sistema solar é um lixo! Subplaneta! Planetazinho 
metido a besta!”. 
na Suíça, em 2006; no Tekfestival – Rogério Sganzerla’s 
Homage, em Roma, em 2005; e na Mostra Cinema do Caos 
CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; e foi convidada oficial do 
22o Festival de Cinema de Turim, em 2004.
20h debate 1
com Helena Ignez, Joel Pizzini, Júlio Bressane e 
Roberto Turigliatto
quinta 10
17h30 sessão 1
B2
Rogério Sganzerla e Sylvio Renoldi, 11 min, 2001, p&b, 35 mm
Montagem: Rogério Sganzerla e Sylvio Renoldi; elenco: Paulo 
Villaça, Helena Ignez, Lanny Gordin, Gal Costa e Jards Macalé
Curta-metragem realizado a partir das sobras de O Bandido 
da Luz Vermelha e Carnaval na Lama, traz um material que 
evidencia o método de trabalho de Sganzerla, calcado 
em técnicas singulares de montagem. Exibido no 23o 
Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, 
na Itália, em 2005; e na Mostra Cinema do Caos CCBB, 
no Rio de Janeiro, em 2005; e convidado do 20o Festival 
Internacional de Cinema de Fribourg, na Suíça, em 2006.
Sem Essa, Aranha
Rogério Sganzerla, 96 min, 1970, color., 16 mm
Roteiro: Rogério Sganzerla; assistentes de direção: Kleber 
Santos e Ivan Cardoso; produção: Júlio Bressane e Rogério 
Sganzerla; realização: Belair; fotografia e câmera: Edson Santos 
e José Antonio Ventura; montagem: Rogério Sganzerla e Júlio 
Bressane; som: Guará Rodrigues; elenco: Jorge Loredo, Helena 
Ignez, Maria Gladys, Luiz Gonzaga, Moreira da Silva e Aparecida
Considerada obra radical, Sem Essa, Aranha inovou 
tecnicamente aspectos que dizem respeito à interpretação e 
à direção, pautadas, sobretudo, pelo improviso. O filme reflete, 
por meio de planos-sequência, a realidade brasileira em 
1970. Foi exibido no 20o Festival Internacional de Cinema de 
Fribourg, na Suíça, em 2006; na Mostra Cinema do Caos CCBB, 
no Rio de Janeiro, em 2005; e no 23o Festival Internacional de 
Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2005; e foi 
convidado do Festival de Taormina, na Itália, em 1998.
20h debate 1
com Antonio Urano, Helena Ignez, Hernani Heffner e 
Maria Gladys
sexta 11
Elogio da Luz
Joel Pizzini e Paloma Rocha, 54 min, 2003, p&b/color., vídeo
Produção: Canal Brasil
Filme-ensaio sobre Rogério Sganzerla cuja narrativa coloca 
às avessas a cronologia de seus trabalhos, revelando 
as relações entre seu processo criativo e sua trajetória 
como pensador do cinema. Conta com depoimentos 
quarta 9 
18h sessão 1
Documentário 
Rogério Sganzerla, 11 min, 1967, p&b, 16 mm
Numa tarde de ócio nas ruas de São Paulo, dois jovens 
com pouco dinheiro e sem rumo falam sobre o que 
fazer tendo sempre como motivação o próprio cinema. 
A produção recebeu o prêmio JB Mesbla – Viagem a 
Cannes em 1967, foi exibida na Mostra Cinema do Caos 
CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005, e convidada oficial 
do 22o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério 
Sganzerla, na Itália, em 2004.
A Mulher de Todos
Rogério Sganzerla, 92 min, 1969, color./p&b, 35 mm
Roteiro: Rogério Sganzerla; fotografia: Peter Overbeck; 
cenografia: Rogério Sganzerla e Andrea Tonacci; montagem: 
Rogério Sganzerla e Franklin Pereira; música: Ana Carolina 
Soares; produção: Alfredo Palácios e Rogério Sganzerla; 
realização: Servicine e Rogério Sganzerla Produções 
Cinematográficas; som: Julio Perez Caballar; elenco: Helena 
Ignez, Jô Soares, Stênio Garcia, Paulo Villaça, Antonio Pitanga, 
Abrahão Farc, Renato Corrêa e Castro, Thelma Reston, Silvio 
de Campos Filho, José Carlos Cardoso, Antonio Moreira e José 
Agrippino de Paula
Angela Carne e Osso é uma ninfômana casada com o 
Doutor Plirtz, ex-carrasco nazista e dono do truste das 
histórias em quadrinhos no Brasil. Entediada com sua vida, 
passa o tempo colecionando homens no retiro idílico da 
Ilha dos Prazeres. A obra recebeu os prêmios de Melhor 
Montagem e Melhor Atriz (Helena Ignez) no 4o Festival de 
Brasília; o de Melhor Filme no 1o Festival do Norte do Cinema 
Brasileiro; e o de Melhor Filme no Festival de São Carlos. Foi 
exibida no 20o Festival Internacional de Cinema de Fribourg, 
O Itaú Cultural apresenta 
a filmografia de Rogério 
Sganzerla. Serão exibidos 
os trabalhos produzidos 
pelo diretor no período 
de 1968 a 2003, além de 
obras que contam com sua 
participação e retratam seu 
universo criativo.
Programação 
Ocupação Rogério Sganzerla
visitação
quarta 9 junho a domingo 18 julho 2010
terça a sexta 9h às 20h
sábado domingo feriado 11h às 20h 
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de personalidades que conviveram com o cineasta na 
intimidade e nos sets de filmagem. 
Um Sorriso, Por Favor – O Mundo Gráfico de Goeldi
José Sette, 23 min, 1981, color., 16 mm
Montagem: Rogério Sganzerla; direção de arte: Fernando 
Tavares; produção: Mário Drumond; som: João Vargas; edição de 
som: Eliseu Visconti; cenografia: Osvaldo Medeiros
O espírito e o universo gráfico do desenhista e gravador 
brasileiro Oswaldo Goeldi. Sem se ater a preocupações 
biográficas ou didáticas, o filme discute o conteúdo artístico 
e cinematográfico em relação ao movimento expressionista. 
Recebeu os prêmios de Melhor Montagem e Melhor Filme 
no Festival de Brasília em 1981. 
Viagem e Descrição do Rio Guanabara por Ocasião da 
França Antártica
Rogério Sganzerla, 17 min, 1976, p&b/color., 16 mm
Roteiro e produção: Rogério Sganzerla; fotografia: Paulo Sérgio; 
montagem: Ramon Alvarado; diretor de produção: Wilson 
Monteiro Filho; elenco: PauloVillaça
Inspirado em Viagem à Terra do Brasil, de Jean de Léry, o 
curta-metragem acompanha a trajetória do aventureiro 
Nicolas Durand de Villegagnon e a formação da colônia 
francesa no Rio de Janeiro no século XVI. Filmado nos locais 
onde se sucederam os episódios históricos, como o Forte 
Coligny, na Ilha das Cabras, recebeu o prêmio da Secretaria 
de Cultura do Rio de Janeiro no concurso Uma Data para 
Lembrar e foi exibido no 23o Festival de Cinema de Turim – 
Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2005; e na Mostra 
Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005. 
20h sessão 2
Histórias em Quadrinhos (Comics)
Rogério Sganzerla e Álvaro de Moya, 7 min, 1969, p&b/color., 35 mm
Produção: Elyseu Visconti; música: Rogério Sganzerla; 
montagem: Milton da Silva; narração: Orfeu P. Gregori; table 
top: Paulo Pichi; imagem: Rex; som: Vera Cruz
Primeiro documentário em curta-metragem de Sganzerla, aborda 
o universo dos quadrinhos. Guiada pelo texto de caráter histórico 
do especialista Álvaro de Moya, a câmera passeia pelos traços de 
artistas como Will Eisner, Milton Cannif, Alex Raymond e Al Capp. 
Exibido no 23o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério 
Sganzerla, na Itália, em 2005; e na Mostra Cinema do Caos CCBB, 
no Rio de Janeiro, em 2005.
A Mulher de Todos
Rogério Sganzerla, 92 min, 1969, color./p&b, 35 mm
sábado 12
15h sessão 1
Ritos Populares – Umbanda no Brasil
Rogério Sganzerla, 18 min, 1977, color., 16 mm. 
Documentário inacabado
Roteiro e produção: Rogério Sganzerla; fotografia: Tony Ferreira; 
técnico de som: José Sette; montagem: Denise Fontoura; 
narrador: W.W. da Matta e Silva; realização: Tupan Filmes
O registro de um depoimento de Woodrow Wilson da 
Matta e Silva (fundador da Umbanda Esotérica, em 1940) 
é alternado com cenas de transe e de rituais filmadas na 
Tenda Umbandista Oriental, em Itacuruçá. A produção foi 
exibida no 23o Festival de Cinema de Turim – Tribute to 
Rogério Sganzerla, na Itália, em 2005; e na Mostra Cinema 
do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005.
Copacabana Mon Amour
Rogério Sganzerla, 85 min, 1970, color., 35 mm
Roteiro: Rogério Sganzerla; assistente de direção: Guará Rodrigues; 
produção: Rogério Sganzerla e Júlio Bressane; fotografia 
e câmera: Renato Laclete; montagem: Mair Tavares e 
Gilberto Santeiro; trilha sonora original: Gilberto Gil; elenco: 
Helena Ignez, Paulo Villaça, Otoniel Serra, Lilian Lemmertz, 
Joãozinho da Goméia, Laura Gallano e Guará Rodrigues; 
realização: Belair
Sonia Silk, uma mulher perturbada por visões de espíritos, 
perambula por Copacabana com o sonho de ser cantora 
da Rádio Nacional. É o primeiro filme brasileiro em 
cinemascópio, rodado, em boa parte, nas favelas cariocas. 
Foi exibido no 20o Festival Internacional de Cinema de 
Fribourg, na Suíça, em 2006; na Mostra Cinema do Caos 
CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; no 22o e no 23o Festival 
de Cinema de Turim, na Itália, em 2004 e 2005 – Tribute to 
Rogério Sganzerla; e no Tekfestival – Rogério Sganzerla’s 
Homage, em Roma, em 2005. 
17h sessão 2
Informação H. J. Koellreutter
Rogério Sganzerla, 18 min, 2003, color., vídeo
Fotografia: Marcos Bonisson; montagem: Marina Weis; 
mixagem: Ricardo Reis; trechos de composições utilizadas: 
“Tanka II”, de H.J. Koellreutter
Um retrato de Hans-Joachim Koellreutter, aluno de Paul 
Hindemith e mestre de diversos músicos, como Cláudio 
Santoro, Guerra Peixe e Edino Krieger. A produção foi 
exibida no 20o Festival Internacional de Cinema de Fribourg, 
na Suíça, em 2006; no 23o Festival de Cinema de Turim – 
Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2005; e na Mostra 
Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005.
América, o Grande Acerto de Vespúcio
Rogério Sganzerla, 27 min, 1992, color., beta e vídeo
Câmera: Carlos Otávio Jubé; elenco: Otávio Terceiro e 
funcionários do Teatro Carlos Gomes 
Nesta obra experimental que conjuga cinema e 
teatro, Sganzerla recorre a um aparato técnico 
mínimo para deixar o ator Otávio Terceiro exercer o 
papel de Américo Vespúcio. Baseado em uma carta 
do navegador, intitulada “Novus Mundus”, relato 
do descobrimento da América, o vídeo traz um 
monólogo singular. Recebeu o prêmio de Melhor 
Ator (Carlos Otávio Jubé) no CineEsquemanovo, em 
Porto Alegre, em 2007, e foi exibido no 23o Festival de 
Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na 
Itália, em 2005; e na Mostra Cinema do Caos CCBB, no 
Rio de Janeiro, em 2005. 
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Anônimo e Incomum
Rogério Sganzerla, 13 min, 1990, color., vídeo
Roteiro: Rogério Sganzerla; fotografia: Marcos Bonisson; 
trilha sonora original: Fernando Moura; elenco: Helena Ignez 
e Nonatho Freire; realização: Tupan Filmes
O artista plástico Antonio Manuel apresenta seu 
trabalho em cenários como seu ateliê na Rua Alice e a 
Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. As obras do artista se 
alternam com tomadas de telas coloridas, pintadas à 
época da filmagem, e com cenas dramáticas estreladas 
por Helena Ignez e Nonatho Freire. A produção foi 
exibida no 23o Festival de Cinema de Turim – Tribute to 
Rogério Sganzerla, na Itália, em 2005; e na Mostra Cinema 
do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005.
Isto É Noel Rosa
Rogério Sganzerla, 43 min, 1990, color., 35 mm
Montagem: Sylvio Renoldi; fotografia: Dib Lufti; produção 
executiva: Diana Eichbauer; arquivo: Jorge Pereira Vaz; 
imagens: Marcelo Marsilac, Sergio Arena, Newton Gomes e 
José Sette; design: Edmundo Souto; arte-finalista: Ana Rita; 
figurinos: Diana Eichbauer; som direto: Joaquim Santana; 
voz: João Gilberto e Gal Costa; elenco: João Braga
Após Noel por Noel (1980), o sambista carioca é 
novamente retratado por meio de imagens documentais. 
Parte delas mostra o músico em uma caminhada trôpega, 
já tomado pela tuberculose, pelas ruas do Rio de Janeiro 
durante o Carnaval. A produção foi apresentada no 80o 
aniversário do compositor de Vila Isabel e na Galerie 
Nationale du Jeu de Paume, em Paris, em 1993, e exibida 
no 20o Festival Internacional de Cinema de Fribourg, na 
Suíça, em 2006; na Mostra Cinema do Caos CCBB, no 
Rio de Janeiro, em 2005; e no 22o Festival de Cinema de 
Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2004.
20h sessão 3
Documentário 
Rogério Sganzerla, 11 min, 1967, p&b, 16 mm
O Bandido da Luz Vermelha
Rogério Sganzerla, 92 min, 1968, p&b, 35 mm
Roteiro e música: Rogério Sganzerla; fotografia: Peter 
Overbeck e Carlos Ebert; cenografia: Andrea Tonacci; 
montagem: Sylvio Renoldi; som: Júlio Perez Caballar, Mara 
Duvall; elenco: Paulo Villaça, Helena Ignez, Sérgio Hingst, 
Pagano Sobrinho, Sergio Mamberti, Luiz Linhares, Sonia 
Braga, Ítala Nandi, Renato Consorte, Antonio Lima, Maurice 
Copovilla, Ozualdo Candeias, Roberto Luna, José Marinho, 
Carlos Reichenbach, Marie Caroline Whitaker, Renata Souza 
Dantas, Ezequiel Neves e Lola Brah; realização: Rogério 
Sganzerla Produções Cinematográficas
Segundo Sganzerla, O Bandido da Luz Vermelha é “um 
far-west sobre o Terceiro Mundo. Isto é, fusão e mixagem 
de vários gêneros [...] um filme-soma; um far-west, mas 
também musical, documentário, policial, comédia 
ou chanchada [...] e ficção científica”. O longa traça 
um panorama do Brasil por meio da trajetória de um 
foragido da polícia em crise de identidade, compondo 
um painel apocalíptico do país. Recebeu os prêmios de 
Melhor Filme, Direção, Montagem, Diálogo e Figurino 
no 3o Festival de Brasília, em 1968; o prêmio Governador 
do Estado de São Paulo, na categoria especial; o INC 
(Instituto Nacional do Cinema); e o Roquette Pinto. Foi 
convidado oficial do Festival de Turim em 2004 e do 3o 
DLA Film Festival, em Londres, em 2004, e exibido na 
Weelington Film Society, na Nova Zelândia, em 2007; na 
Auckland Film Society, na Nova Zelândia, em 2007; no 
9o Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte, 
em 2007; no 20o Festival Internacionalde Cinema de 
Fribourg, na Suíça, em 2006; no Barbican Center, em 
Londres, em 2006; no 16o Festival Internacional de 
Bobigni, em Paris, em 2005; no Tekfestival – Rogério 
Sganzerla’s Homage, em Roma, em 2005; na Mostra 
Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; no 
Internacional Film Museum Festival, na Áustria, em 2005; 
no 22o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério 
Sganzerla, na Itália, em 2004; no III Discovering Latin 
America Film Festival, em Londres, em 2004; no MoMa, 
em Nova York, em 1999; e no Festival de Cinema de 
Taormina, na Itália, em 1998.
domingo 13
15h sessão 1
Noel por Noel
Rogério Sganzerla, 10 min, 1980, color., 35 mm
Roteiro e produção: Rogério Sganzerla; fotografia: Renato 
Laclete; table top: Edson Lobato; som: Nel-Som; realização: 
Rogério Sganzerla Produções Cinematográficas
Ensaio visual sobre o compositor e sambista carioca, com 
imagens de arquivo do ambiente musical e histórico 
da época, incluindo aspectos pitorescos de Vila Isabel. 
Recebeu o prêmio do Público e de Melhor Montagem 
no Festival de Brasília em 1981 e foi exibido na Mostra 
Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005.
Tudo É Brasil
Rogério Sganzerla, 82 min, 1998, p&b/color., 35 mm
Roteiro: Rogério Sganzerla; edição: Hugo Mader, Mair Tavares, 
Sylvio Renoldi; produção executiva: Rojer Garrido de Madrugo; 
som: Sylvio Renoldi
Um aprofundamento da pesquisa de Sganzerla sobre 
a estada de Orson Welles no Brasil, em 1942, para a 
realização de It’s All True, projeto boicotado pelos estúdios 
de Hollywood. Nele, fragmentos de imagens que registram 
Welles no Rio, em Salvador e em Fortaleza são sobrepostos 
por gravações em áudio de alguns depoimentos 
radiofônicos e de composições interpretadas por artistas 
como Carmen Miranda e Herivelto Martins. Recebeu os 
prêmios de Montagem, Pesquisa Histórica e Crítica no 
Festival de Brasília em 1998; o prêmio de Montagem da 
Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA); e o prêmio 
Marché du Film, do Festival de Cannes, em 1998. Foi 
exibido no Museu Guggenheim em Nova York em 1999; 
no 22o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério 
Sganzerla, na Itália, em 2004; e na Mostra Cinema do 
Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; e foi convidado 
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pela Cinemateca de Munique, na Alemanha, para a Welles 
Conference, sobre a carreira de Orson Welles. 
17h sessão 2
Olho por Olho
Andrea Tonacci, 13 min, 1966, p&b, 16 mm
Roteiro e fotografia: Andrea Tonacci; montagem: Rogério 
Sganzerla; elenco: Francisco Arruda, Ronaldo Ferraz, Sérgio 
Frederico, Daniele Gaudin, Franco Ogassawara e Fábio Sigolo
Um grupo de amigos da classe média circula de carro pela 
cidade de São Paulo, reagindo ao sentimento de impotência e 
frustração que lhes invade a vida. 
Belair
Bruno Safadi e Noa Bressane, 80 min, 2009 , p&b/color, 35mm
Documentário resgata a trajetória da produtora 
cinematográfica Belair Filmes – dos cineastas Júlio Bressane 
e Rogério Sganzerla –, que realizou seis filmes em três meses. 
Os cineastas, censurados pela ditadura militar, saíram do país; 
os filmes ainda hoje são pouco conhecidos. 
20h sessão 3
Irani
Rogério Sganzerla, 8 min, 1983, color., 16 mm
Roteiro: Rogério Sganzerla
Filmagens registram uma festa popular relacionada a uma 
batalha travada na cidade de Irani, marco inicial da Guerra 
do Contestado, em Santa Catarina, em outubro de 1912. A 
produção foi exibida na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio 
de Janeiro, em 2005.
O Signo do Caos
Rogério Sganzerla, 80 min, 2003, p&b/color., 35 mm
Roteiro e produção: Rogério Sganzerla; fotografia: Marcos Bonisson 
e Nélio Ferreira; montagem: Rogério Sganzerla e Sylvio Renoldi; 
trilha sonora: Sinai Sganzerla; direção de arte: Sérgio Reis; elenco: 
Otávio Terceiro, Sálvio do Prado, Helena Ignez, Guará Rodrigues, 
Freddy Ribeiro, Djin Sganzerla, Camila Pitanga, Giovana Gold, 
Eduardo Cabus, Gilson Moura, Felipe Murray, Vera Magalhães, 
Anita Terrana e Ruth Mezek
Ao tratar indiretamente da temporada de Orson Welles no 
Brasil para filmar It’s All True, Sganzerla, em O Signo do Caos, seu 
último filme, prova mais uma vez ser um inovador da linguagem 
cinematográfica com essa reflexão sobre os percalços do cinema 
no Brasil. A produção recebeu os prêmios de Melhor Direção e 
Melhor Montagem no Festival de Brasília em 2003; o de Melhor 
Montagem da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) 
em 2006; e o prêmio Especial do Festival do Rio em 2003. Foi 
convidado oficial do 20o Festival Internacional de Cinema de 
Fribourg, na Suíça, em 2006, e exibido no 9th Film Fest of Mar del 
Plata, em 2006; no Tekfestival – Rogério Sganzerla’s Homage, em 
Roma, em 2005; no Festival Internacional da Procida, na Itália, em 
2005; no 58o Festival Internacional de Cinema de Locarno, na Suíça, 
em 2005; no Presénce et Passé du Cinéma Brésilien, em Paris, em 
2005; na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; 
no 22o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, 
na Itália, em 2004; no Festival de Cinema de Trieste, na Itália; e no 
Festival Internacional de Cinema de Roma, em 2004.
quarta 16
17h sessão 1
Helena Zero
Joel Pizzini, 34 min, 2006, p&b/color., vídeo
Roteiro: Joel Pizzini; assistente de direção: Sinai Sganzerla; 
câmera e fotografia: Eryk Rocha; som: Bruno Espírito Santo; 
edição de som: Alexandre Gwaz e Robson Rumin; montagem: 
Joel Pizzini e Robson Rumin; produção executiva: Paloma 
Rocha; realização: Canal Brasil; música: Jorge Mautner e 
Nelson Jacobina; elenco: Helena Ignez, Gal Costa, Jorge 
Mautner, Jards Macalé e Lanny Gordin
Ensaio documental sobre o universo criativo da atriz e 
cineasta Helena Ignez, que, por meio de um ritual de tai chi 
chuan, evoca e reinventa sua memória.
A Reinvenção da Rua
Helena Ignez, 27 min, 2003, color., vídeo
Roteiro, produção e produção executiva: Helena Ignez; 
fotografia: Marcos Bonisson; câmera: Rogério Sganzerla, 
Marcos Bonisson e Eduardo Barioni; montagem: Rogério 
Sganzerla; edição de som: Rogério Sganzerla; música: Walter 
Smetack; elenco: Vito Acconci; realização: Mercúrio Produções
Primeiro filme de Helena Ignez como diretora, 
homenageia o arquiteto e artista contemporâneo norte-
americano Vito Acconci. 
Perigo Negro
Rogério Sganzerla, 27 min, 1992, color., 35 mm
Adaptação, produção e diálogos adicionais: Rogério 
Sganzerla; argumento original: Oswald de Andrade; fotografia 
e câmera: Nélio Ferreira Lima; montagem: Sylvio Renoldi; 
música: Paulo Moura; instrumentação: Edson Maciel; 
consultoria musical: Otávio Terceiro; elenco: Abrahão Farc, 
Helena Ignez, Antonio Abujamra, Tita, Paloma Rocha, Betina 
Viany, Conceição Senna, Guará Rodrigues, Bayard Tonelli, 
Sandro Solviat Ninho de Morais e Paulo Moura; realização: Tupan 
Filmes, para a Secretaria de Cultura do governo de São Paulo
A trajetória do jogador Perigo Negro, que, em 
franca ascensão, tem sua carreira sabotada por um 
cartola inescrupuloso. Adaptação livre de um roteiro 
cinematográfico escrito por Oswald de Andrade, Perigo 
Negro faz parte do projeto Oswaldianas, que também 
conta com episódios assinados por outros diretores (entre 
eles Júlio Bressane). A produção foi exibida no 20o Festival 
Internacional de Cinema de Fribourg, na Suíça, em 2006; 
no 23o Festival de Cinema de Los Angeles, em 2005; na 
Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; 
e no Festival de Cinema de Taormina, na Itália, em 1998; e 
representou o Brasil na 19a edição do Latin American Film 
Festival, em 2005. 
20h sessão 2
A Miss e o Dinossauro 2005 – Bastidores da Belair
Helena Ignez, 17 min, 2005, color., super-8
Roteiro: Helena Ignez; câmera: Rogério Sganzerla, Júlio 
Bressane, Ivan Cardoso e Helena Ignez; montagem: André 
Guerreiro Lopes; produção executiva: Ester Fér; edição de 
14
som: Pedro Noizyman; vozes em off: Rogério Sganzerla e 
HelenaIgnez; pesquisa: Helena Ignez e Ester Fér; seleção 
musical: Helena Ignez; elenco: Helena Ignez, Maria Gladys, 
Guará Rodrigues, Jorge Loredo, Aparecida, Kleber Santos, Bety 
Faria, Rogério Sganzerla, Júlio Bressane, Ivan Cardoso e Neville 
d’Almeida; realização: Mercúrio Produções
Ao registrar o making of de Cuidado, Madame e Sem Essa, Aranha, 
duas produções simultâneas da Belair, Helena pretendia fazer um 
documentário à época de lançamento dos filmes, o que não foi 
possível. Finalizado em 2005, o projeto tem narração em primeira 
pessoa da atriz e diretora sobre as gravações. 
Canção de Baal
Helena Ignez, 77 min, 2008, color., digital
Roteiro: Helena Ignez (inspirado em Baal, de Bertolt Brecht); 
produção: Sinai Sganzerla, Patrícia Godoy e Ana Oliveira; 
música: Roberto Riberti e Carlos Carega; fotografia: André 
Guerreiro Lopes e Aloysio Raolino; edição: Ricardo Miranda, 
Júlia Martins e Guta Pacheco; elenco: Felipe Kannenberg, 
Djin Sganzerla, Beth Goulart, Michele Matalon e Marcelo 
Lazzaratto; realização: Mercúrio Produções
Baal é um poeta e cantor que recebe de Meck um 
convite para jantar. Lá, ele se torna sarcástico com os 
demais convidados, escandalizando-os ao cortejar a 
mulher do anfitrião.
quinta 17
17h sessão 1
Um Sorriso, Por Favor – O Mundo Gráfico de Goeldi
José Sette, 23 min, 1981, color., 16 mm
Horror Palace Hotel
Jairo Ferreira, 41 min, 1978, color., super-8
Filmagem: Jairo Ferreira e Rogério Sganzerla; narração, 
montagem e finalização: Jairo Ferreira; depoimentos: José 
Mojica Marins, Francisco Luis de Almeida Salles, Rogério 
Sganzerla, Júlio Bressane, Ivan Cardoso, Neville d’Almeida, Rudá 
de Andrade, Elyseu Visconti, Bernardo Vorobov, Dilma Loes, 
Renato Consorte e Satã
Nos bastidores do Festival de Brasília de 1978, cineastas 
como Rogério Sganzerla, Júlio Bressane, Elyseu Visconti e 
José Mojica Marins analisam o cinema no Brasil. Destaque 
para os comentários do crítico Luis de Almeida Salles, 
entrevistado por Sganzerla.
Bom Jesus da Lapa – O Salvador dos Humildes
Elyseu Visconti, 14 min, 1970, color., 35 mm
Fotografia e produção: Elyseu Visconti; montagem: Rogério 
Sganzerla; pesquisa: Ana Tereza Ramos; texto: Ipojuca Pontes
O documentário registra a romaria realizada anualmente 
às margens do Rio São Francisco, na Bahia, em devoção ao 
Bom Jesus da Lapa.
O Pedestre
Otoniel Santos Pereira, 25 min, 1966, p&b, 16 mm
Fotografia e câmera: Andrea Tonacci; montagem: 
Rogério Sganzerla
Ficção futurista adaptada livremente do conto homônimo 
do escritor Ray Bradbury, metaforiza a situação política do 
Brasil, então sob ditadura militar.
20h sessão 2
Brasil
Rogério Sganzerla, 12 min, 1981, color., 35 mm
Roteiro e produção: Rogério Sganzerla; elenco: João Gilberto, 
Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia
O registro dos bastidores da gravação do disco Brasil, de 
João Gilberto, de 1981, com a presença de Caetano Veloso, 
Gilberto Gil e Maria Bethânia no estúdio. Dorival Caymmi, 
Ary Barroso, Grande Otelo e Eros Volúsia, em performances 
raras, e Orson Welles, no Carnaval do Rio, completam 
este curta, que apresenta uma imagem singular do país. 
A produção foi exibida no International Film Museum 
Festival, na Áustria, em 2005; na Mostra Cinema do Caos 
CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; no 22o Festival de 
Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, 
em 2004; e no III Discovering Latin America Film Festival, 
em Londres, em 2004.
Copacabana Mon Amour
Rogério Sganzerla, 85 min, 1970, color., 35 mm
sexta 18
16h sessão 1
Linguagem de Orson Welles
Rogério Sganzerla, 15min, 1990, p&b/color., 35 mm
Montagem: Severino Dadá; música original: João Gilberto; som: 
Roberto Leite; elenco: John Huston, Edmar Morel, Grande Otelo
Único curta-metragem da tetralogia “sganzerliana” sobre 
a vinda do enfant terrible hollywoodiano ao Brasil para 
filmar It’s All True, a obra trabalha com material documental 
(recortes de jornal, fotos etc.) similar ao que seria usado em 
Tudo É Brasil, oito anos depois. A produção foi selecionada 
e apresentada na categoria Especial na 46a (1993) e na 
58a (2005) edições do Festival Internacional de Locarno, 
na Suíça, convidada pela Cinemateca de Munique para 
a Welles Conference – organizada pelo Filmmuseum im 
Münchner Stadtmuseum – e exibida no 23o Festival de 
Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, 
em 2005; e na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de 
Janeiro, em 2005. 
Nem Tudo É Verdade
Rogério Sganzerla, 95 min, 1986, p&b/color., 35 mm
Roteiro: Rogério Sganzerla; fotografia: Edson Batista, Victor 
Diniz, Carlos Ebert, José Medeiros, Edson Santos e Afonso 
Viana; montagem: Severino Dadá e Denise Fontoura; direção 
de arte e figurinos: Raul Williams; música original: João 
Gilberto; som: Roberto de Carvalho; elenco: Arrigo Barnabé, 
Grande Otelo, Helena Ignez, Nina de Pádua, Mariana de 
Moraes, Vânia Magalhães, Abrahão Farc, Otávio Terceiro, José 
Marinho, Geraldo Francisco, Mário Cravo e Nonatho Freire
Primeiro filme de Sganzerla a tematizar a vinda de Orson 
Welles ao Brasil, em 1942, para filmar It’s All True, projeto 
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boicotado por Hollywood. Arrigo Barnabé interpreta o diretor 
de Cidadão Kane, até então desfrutando como nunca do 
status de maior gênio precoce do cinema. A produção 
recebeu os prêmios de Melhor Montagem e Melhor 
Trilha Sonora no 14o Festival de Gramado, em 1987; 
o prêmio de Melhor Filme no Festival de Caxambu, 
em 1986; o prêmio da Associação Brasileira de 
Cineastas; e o prêmio Abraci, no Fest-Rio, em 1985. O 
filme foi convidado pela Cinemateca de Munique, na 
Alemanha, para a Welles Conference, sobre a carreira 
cinematográfica de Orson Welles, foi convidado oficial 
do 22o Festival de Turim, na Itália, em 2004, e exibido 
no 20o Festival Internacional de Cinema de Fribourg, 
na Suíça, em 2006; no 22o e no 23o Festival de Cinema 
de Turim, na Itália, em 2004 e 2005 – Tribute to Rogério 
Sganzerla; na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de 
Janeiro, em 2005; no Seattle International Film Festival 
em 1987; no Melbourne Film Festival em 1987; no 
Festival Internacional de Cinema de Chicago em 1986; 
no Festival Internacional de Cinema de Berlim; e nas 
redes de TV BBC (Londres) e TF-1 (Paris), em 1986 e 
1985, respectivamente. 
sessão 2
It’s All True: Based on an Unfinished Film by Orson Welles
Bill Krohn, Myron Meisel, Norman Foster, Orson Welles e Richard 
Wilson, 89 min, 1993 
Produção: Régine Konckier, Richard Wilson, Bill Krohn, Myron 
Meisel e Jean-Luc Ormieres; produtor associado: Catherine 
Benamou; fotografia: Gary Graver; edição: Ed Marx; música: Jorge 
Arriagada; narração: Miguel Ferre; elenco: Jeanne Moreau, Orson 
Welles e Carmen Miranda 
Documentário realizado a partir de cenas recuperadas e 
reconstituídas de It’s All True, de Orson Welles, cujas filmagens 
no Brasil, em 1942, foram interrompidas. Originalmente 
composto de três histórias sobre a ordem sociopolítica da 
América Latina (My Friend Bonito, The Story of Samba e Four 
Men on a Raft), o filme de Welles contrariou interesses dos 
governos brasileiro e norte-americano, sendo, então, boicotado. 
debate com Bill Krohn, Catherine Benamou, Ismail Xavier 
e Samuel Paiva
sábado 19
15h sessão 1
A Vermelha Luz do Bandido 
Pedro Jorge, 16 min, 2009, color., beta 
Este documentário radialístico-científico-experimental analisa 
o filme O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla, 
realizado em 1968, além de refletir sobre a atual indústria 
cinematográfica brasileira.
O Bandido da Luz Vermelha
Rogério Sganzerla, 92 min, 1968, p&b, 35 mm
17h sessão 2
A Cidade do Salvador (Petróleo Jorrou na Bahia)
Rogério Sganzerla, 9 min, 1981, p&b, 16 mm
Montagem: Rogério Sganzerla; coprodução: Fundação 
Cultural do Estado da Bahia e Cepoc
Filme-documento sobre as relações de poder entreclasses, 
no contexto sociocultural da Bahia, com base na história 
da exploração do petróleo no estado. Recebeu o prêmio 
de Melhor Filme no Festival de Caxambu em 1985; o 
prêmio Incidental e de Melhor Montagem no Festival de 
Gramado em 1987; e o prêmio Abraci, no Fest-Rio, em 
1985. Foi exibido no Seattle International Film Festival; 
no Melbourne Film Festival em 1987; na Mostra Cinema 
do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; e nas redes 
televisivas BBC (Londres), em 1986, e TF-I (Paris), em 1985.
Sem Essa, Aranha
Rogério Sganzerla, 96 min, 1970, color., 16 mm
20h sessão 3
Deuses no Juruá
Rogério Sganzerla, 15 min, 1997, color., digital
Roteiro, imagens e edição: Maria Maia; música: Villa-Lobos
Trechos de Floresta do Amazonas, do compositor Heitor 
Villa-Lobos, pontuam uma montagem sonora da língua 
grega e das línguas indígenas pano e aruaque. Os índios 
do Juruá e os deuses gregos se confundem e confluem 
nesta obra.
Abismu
Rogério Sganzerla, 80 min, 1977, color., 35 mm
Roteiro, produção e montagem: Rogério Sganzerla; direção 
de produção: Ivan Cardoso; música não original: Jimi 
Hendrix; fotografia: Renato Laclete; som: Dudi Gupper; 
elenco: Norma Bengell, José Mojica Marins, Wilson Grey, 
Jorge Loredo, Edson Machado, Mário Thomar, Mariozinho 
de Oliveira e Satã
Inscrições em algumas das cavernas da Pedra da Gávea, 
que remontam ao período pré-colonial, são o ponto de 
partida para este tributo a Jimi Hendrix e ao poder de 
Mu, divindade fenícia celebrada pelo personagem Zé 
Bonitinho. Este filme marca o retorno de Sganzerla ao 
longa-metragem após um longo período de ausência. 
Foi exibido no 20o Festival Internacional de Cinema de 
Fribourg, na Suíça, em 2006; na Mostra Cinema do Caos 
CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; no 22o Festival de 
Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, 
em 2004; no Festival de Cinema de Roma em 2004; e no 
Festival de Cinema de Trieste, na Itália, em 2004.
Filmes inacabados de Rogério Sganzerla que não 
entraram na mostra:
Carnaval na Lama
Fora do Baralho
Mudança de Hendrix
Newton Cavalcanti: a Alma do Povo Vista pelo Artista
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Biografia dos debatedores
Antonio Urano
Mestre em administração pela Fundação Getulio Vargas 
(FGV), especializou-se em promoção comercial, atuando 
na América Latina por vários anos. Ocupou diversos 
cargos na Embrafilme; empreendeu dezenas de mostras 
nacionais na América Latina; organizou a participação 
do cinema brasileiro em eventos como o mercado do 
filme de Cannes, de Berlim e de Milão; participou do 
esforço pioneiro de comercialização dos direitos de 
filmes brasileiros para países do Leste Europeu e da Ásia; 
formulou projetos para a distribuição e a promoção 
internacional das produções do país; foi consultor de 
vários festivais de cinema; e por três anos foi diretor 
comercial da Riofilme.
Bill Krohn
Crítico e ensaísta norte-americano, publicou os livros 
Hitchcock at Work e Luis Buñuel – Chimera. Foi codiretor 
de It’s All True (1993) e colaborador de Cahiers du Cinéma 
e The Economist. Manteve uma interlocução criativa com 
Sganzerla, a quem define como “um cineasta para o 
novo milênio”.
Catherine Benamou
Formada pela Universidade de Nova York, é professora 
no Departamento de Estudos Étnicos da Universidade 
de Michigan, especialista na obra de Orson Welles e 
em teoria do documentário e autora de Rediscovering 
Orson Welles e It’s All True, uma Odisseia Pan-Americana. 
Admiradora do cinema de Rogério Sganzerla, cultivou 
com ele permanente diálogo, o qual se nutriu do 
mútuo interesse na passagem de Welles pelo Brasil. 
Integrou o projeto de restauração das imagens 
produzidas por esse realizador.
Helena Ignez
Formada pela Escola de Teatro da Bahia, participou 
de montagens de Bertolt Brecht e August Strindberg. 
Estreou no cinema com O Pátio (Glauber Rocha, 1959); 
integrou o elenco de A Grande Feira (Roberto Pires, 
1961), O Grito da Terra (Olney São Paulo, 1964), Assalto 
ao Trem Pagador (Roberto Farias, 1962) e O Padre e a 
Moça (Joaquim Pedro de Andrade, 1965). Casou-se com 
Rogério Sganzerla e, nos anos 1970, fundou, ao lado do 
marido e de Júlio Bressane, a Belair; em 2005 lançou-se 
como diretora com Reinvenção da Rua, montado por 
Sganzerla; celebrou o cinema do diretor em A Miss e o 
Dinossauro (2008), seu segundo filme. Nesse mesmo 
ano, o longa-metragem Canção de Baal (livre adaptação 
de Brecht) marcou sua estreia na ficção e lhe rendeu 
o prêmio da crítica no Festival de Gramado. Em 2009, 
filmou seu segundo longa, Luz nas Trevas, ainda não 
lançado – com roteiro inédito de Sganzerla.
Hernani Heffner
Conservador-chefe da Cinemateca do Museu de Arte 
Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) desde 1996, é 
professor de cinema na Pontifícia Universidade Católica 
do Rio de Janeiro (PUC/RJ), na Fundação Getulio Vargas 
(FGV/RJ) e na Faculdade de Artes do Paraná (FAP), além 
de coordenador do projeto de restauração do acervo 
Cinédia. Trabalha, desde 1986, com pesquisa histórica 
em cinema brasileiro. Publicou vários textos, entre eles 
mais de uma centena de verbetes para a Enciclopédia do 
Cinema Brasileiro; atuou como entrevistador no Museu 
da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (MIS/RJ); realizou 
curadorias e participou de mostras apresentadas pelo 
CCBB do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Brasília, pela 
Caixa Cultural e pelo Serviço Social do Comércio de São 
Paulo (Sesc/SP). 
Ismail Xavier
Crítico, mestre em teoria literária, professor de cinema da 
Universidade de São Paulo (USP) desde 1971 e professor 
visitante na Universidade de Nova York (1995), na 
Universidade de Iowa (1998) e na Universidade Paris III – 
Sorbonne Nouvelle (1999). É autor de obras referenciais 
– entre elas O Discurso Cinematográfico: a Opacidade e a 
Transparência; Sétima Arte: um Culto Moderno; Sertão Mar: 
Glauber Rocha e a Estética da Fome; e Cinema Brasileiro 
Moderno; é conselheiro da Cinemateca Brasileira desde 
1977. Publicou, como coordenador da Coleção Cinema, 
Teatro e Modernidade (Cosac Naify), O Olhar e a Cena – 
Melodrama, Hollywood, Cinema Novo e Nelson Rodrigues 
e Alegorias do Subdesenvolvimento: Cinema Novo, 
Tropicalismo, Cinema Marginal, em que analisa a obra de 
Rogério Sganzerla. 
Joel Pizzini
Autor de ensaios documentais premiados 
internacionalmente, conquistou com os longas 500 
Almas (2004) e Anabazys (inédito) os prêmios de Melhor 
Filme, Som e Fotografia, o prêmio Especial do Júri e o de 
Melhor Montagem, nos festivais do Rio, de Mar del Plata 
e de Brasília. É conselheiro da Escola do Audiovisual de 
Fortaleza; professor da Faculdade de Artes do Paraná 
(FAP); curador da restauração da obra de Glauber Rocha; 
codiretor, com Paloma Rocha, dos documentários 
extras dos DVDs do cineasta; e diretor do novo filme 
Olho Nu (Ney Matogrosso), coproduzido pelo Canal 
Brasil, para quem produziu Elogio da Luz. Foi curador das 
retrospectivas Faces de Cassavetes, Festival Jodorowsky e 
Estratégia do Sonho, o Primeiro Bertolucci; e colaborou na 
montagem de Luz nas Trevas, de Helena Ignez (inédito), 
com base em roteiro de Sganzerla. 
Júlio Bressane
Estreou na direção com o curta Bethânia Bem de 
Perto, em parceria com Eduardo Escorel; em 1967, 
apresentou, no Festival de Brasília, seu primeiro 
longa-metragem, Cara a Cara. Foi premiado em 
outras edições do evento com Tabu (1982), Filme de 
Amor (2003) e Cleópatra (2007). Com Matou a Família 
e Foi ao Cinema e O Anjo Nasceu, ambos produzidos 
em 1969, inaugurou o chamado cinema marginal. 
Fundador da Belair em 1970, exilou-se durante a 
ditadura na Europa, onde rodou Memórias de um 
Estrangulador de Loiras (Londres, 1971); e no Marrocos 
filmou Fada do Oriente (1972). Como ensaísta, 
publicou os livros Alguns (1996), Cinemancia (2000) 
e Fotodrama (2005). Com A Erva do Rato (2008), seu 
trabalho mais recente, participou da Seção Horizontesdo Festival de Veneza, a exemplo de Cleópatra (Melhor 
Filme em Brasília em 2006).
Maria Gladys
Iniciou a carreira no teatro, com Gianni Ratto, e atuou 
nos teatros Jovem, Mesbla e Dulcina. Nos anos 1960, 
trabalhou em Os Fuzis (Ruy Guerra, 1964) e Todas as 
Mulheres do Mundo (Domingos de Oliveira, 1967). 
Radicalizou sua linguagem nos anos 1970, com Sem 
Essa, Aranha, de Rogério Sganzerla, Cuidado, Madame 
e Família do Barulho, de Júlio Bressane. Entre os anos 
1970 e 1990, seguiu sua parceria com Bressane (Gigante 
da América e Brás Cubas); atuou com Paulo Cezar 
Saraceni (Anchieta e Natal da Portela) e Walter Lima Jr., 
fez telenovelas e filmou com jovens realizadores, como 
Bruno Safadi, em Meu Nome É Dindi (2008).
Roberto Turigliatto
Crítico de cinema italiano, é um dos fundadores 
do cineclube Movie Club. Entre 1989 e 1991, 
foi o responsável pela programação da sala 
Museu Nacional de Cinema, em Turim. Teve 
atuação destacada como um dos promotores 
e programadores do Torino Film Festival desde 
sua criação, em 1982, sendo ainda codiretor do 
evento nas edições de 2003 a 2006. Nesse período, 
organizou mostras retrospectivas de Rogério 
Sganzerla e Júlio Bressane. A partir dos anos 1990, 
colaborou como curador na Mostra Internacional 
do Novo Cinema de Pesaro, no Festival de Taormina 
e em várias edições do Festival de Veneza. Desde 
1991, escreve para o programa diário Fuori Orario, 
do canal de televisão italiano RAI3, para o qual já 
concebeu centenas de noites temáticas dedicadas 
ao cinema. Integra o comitê de seleção do Festival 
Internacional de Locarno.
Samuel Paiva
Professor do Departamento de Artes e Comunicação 
da Universidade Federal de São Carlos (DAC/UFSCar), 
onde atua como coordenador no curso de graduação 
e no programa de pós-graduação em imagem e som. 
É doutor em ciências da comunicação pela Escola de 
Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo 
(ECA/USP), autor da tese “A figura de Orson Welles 
no cinema de Rogério Sganzerla”, e colaborador em 
revistas e publicações de cinema e história.
Idealização e organização
Núcleo de Audiovisual do Itaú Cultural
Museografia
Valdy Lopes Jn.
Curadoria
Joel Pizzini
Assistência de curadoria
Djin Sganzerla 
Sinai Sganzerla
Apoio à curadoria
Maria Flor Brazil
Acervo
Família Sganzerla
Desenho sonoro
Edson Secco
Pesquisa
Lucio Branco (RJ)
Anna Karinne Ballalai (RJ)
Sérgio Silva (SP)
Produção (Rio de Janeiro)
Sara Rocha
Assistência (São Paulo)
Vani Fatima
Natalia Meira
Edição de imagens
Claudio Tammela
Assistência de edição de imagens
Renata Catharino 
Leonel Barcelos
Fotografia e imagens do mar
Kim Castro
Programação técnica guitarra
Tommy Terahata
Edição e programação midi para guitarra
Gianni Toyota
Comunicação visual e produção gráfica
Núcleo de Comunicação do Itaú Cultural
Produção e montagem do espaço expositivo
Núcleo de Produção do Itaú Cultural
Produção do site
Núcleo de Comunicação do Itaú Cultural
Captação de depoimentos para site
Fernanda Miranda
Parcerias
Agradecimentos especiais
Helena Ignez, Sinai Sganzerla, Djin Sganzerla, Zenaide 
Sganzerla, Albino Sganzerla, Paloma Rocha e Associação 
Amigos do Tempo Glauber
Agradecimentos
Mercúrio Produções, Polofilme, Carlos Magalhães, Bernardo 
Oliveira, Bruno Safadi, Camila Val (CCBB/SP), Carlos Ebert, 
Cristiane Rezende (CCBB/RJ), Débora Butruce (CTAV), Dib Lufti, 
Hernani Heffner (Cinemateca MAM), José Marinho, José Quental 
(Cinemateca MAM), Lécio Augusto Ramos, Marcos Bonisson, 
Maria Maia, Mislene Martins (CCBB/SP), Noa Bressane, Remier Lion, 
Rosa Dias, Ruy Gardnier, Rodrigo Lima, Rosângela Sodré (CTAV), 
Sérgio Pedrosa (CTAV), Sidnei Pereira (CCBB/RJ), Vani Silva, Acervo/
Museu da Imagem e do Som (MIS/SP) e João Marcos de Almeida
O Itaú Cultural agradece a Helena Ignez, Sinai Sganzerla e 
Djin Sganzerla pela atenção e pela participação efetiva na 
realização deste projeto
Ficha técnica mostra de filmes e debates 
Produção 
Maria Flor Brazil
Núcleo de Audiovisual do Itaú Cultural
Assistente de produção
Halina Agapejev
Expediente revista Ocupação Rogério Sganzerla
Esta revista resulta do trabalho coletivo de Aninha de Fátima (coordenação e concepção), Kety Fernandes Nassar 
(organização e concepção), Yoshiharu Arakaki (direção de arte), Mariana Lacerda (edição), Jahitza Balaniuk 
(produção editorial e concepção), André Seiti (edição de programação), Jader Rosa (ideias). Participam: Joel Pizzini, 
Roberto Cruz, Ruy Gardnier, Hernani Heffner, Djin Sganzerla, Álvaro de Moya e Steve Berg (com textos), além de 
Paolo Gregori, Pedro Jorge (entrevista com Helena Ignez) e Lucio Branco (pesquisador da cronologia e da sinopse 
dos filmes, junto com Steve Berg). João Pinheiro desenhou as ilustrações dos personagens, enquanto Pedro Jorge e 
Alice Dalgalarrondo criaram a antifotonovela. A revisão foi feita por Rachel Reis.
Agradecimentos: Kety Fernandes Nassar, Joel Pizzini, Maria Flor Brazil, Sinai Sganzerla, Djin Sganzerla, Helena Ignez, 
Polyana Lima e Mercúrio Produções. 
Ficha técnica Ocupação Rogério Sganzerla
entrada franca
itaú cultural avenida paulista 149 [estação brigadeiro do metrô] fone 11 2168 1777 atendimento@itaucultural.org.br | itaucultural.org.br | twitter.com/itaucultural | youtube.com/itaucultural
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