Prévia do material em texto
1 RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS – ÁREA 1 AULA 02 – REAÇÕES 1. ESTRUTURAS COM ARTICULAÇÕES – RÓTULAS Rótulas são dispositivos de ligação articulada entre elementos de uma estrutura que impedem deslocamentos lineares relativos entre os elementos, mas não restringem rotações. Conseqüentemente, forças internas desenvolvem-se na rótula representando a ação mútua entre os elementos no intuito de evitar os deslocamentos relativos nestes pontos. Além disso, como não há qualquer restrição quanto às rotações, o momento nas rótulas é nulo. Para que a condição estática seja obtida, a estrutura deve estar em equilíbrio interna e externamente. Estas articulações podem ser tanto internas como também externas à estrutura. A rótula é dita interna quando representa uma articulação entre elementos que compõe a estrutura e externa quando liga a estrutura ao meio externo, sendo geralmente reproduzidas por apoios de segunda classe neste caso. Além da aplicação como elementos de ligação em treliças, rótulas são também empregadas em diversos tipos de estruturas. No conjunto de 2 barras mostrado ao lado, observa-se que a articulação em B proíbe os deslocamentos da barra AB em relação à barra BC. Entretanto, a barra AB (ou BC) pode girar livremente em torno da rótula já que a mesma não oferece nenhuma restrição a giros. Uma vez que não é possível a existência de deslocamentos lineares relativos na rótula, forças internas de reação desenvolvem-se internamente. O uso de rótulas deve ser feito com cuidado, pois dependendo da disposição das rótulas a estrutura pode tornar-se hipostática. Além disso, problemas que originalmente são hiperestáticos, com a adição de rótulas acabam tornando-se isostáticos. Nas ilustrações ao lado, observa-se que no caso (a) a barra à direita da rótula mantém o equilíbrio interno pela presença do apoio. Já no caso (b), a mesma barra não pode manter o equilíbrio interno, pois a disposição do apoio, neste caso, não impede a rotação da barra, tornando a estrutura hipostática. (a) (b) As forças internas nas rótulas têm a função de manter unidas as diversas partes da estrutura junto às articulações. Elas não afetam o equilíbrio externo, pois se cancelam de acordo com a terceira Lei de Newton (ação e reação). Como o momento é nulo nestas articulações, a presença de rótulas internas implica em equações adicionais ao sistema de equações de equilíbrio estático. Para o cálculo de reações vinculares em problemas envolvendo rótulas são utilizados dois métodos: a) rompendo as rótulas e verificando o equilíbrio interno das partes; b) impondo momento nulo nas rótulas. Na figura abaixo são indicadas as formas de atuação das cargas sobre rótulas através de casos práticos que mostram o funcionamento da articulação. No caso de forças, ao utilizar-se o método de romper rótulas é possível aplicar a força em uma ou em outra parte da estrutura, nunca nas duas partes simultaneamente, a menos que a força seja então dividida entre as partes. No caso de momento aplicado em rótulas, deve-se observar claramente em qual das partes da estrutura está 2 agindo o momento, uma vez que momentos não podem ser transmitidos de uma parte para outra da estrutura através da articulação. 2. SOLUÇÃO DE PROBLEMAS COM ARTICULAÇÕES ROMPENDO AS RÓTULAS Neste método, a determinação de reações de estruturas com rótulas internas é obtida rompendo as rótulas e trabalhando com cada uma das partes da estrutura. Para cada uma destas partes devem ser aplicadas as equações de equilíbrio para verificação da condição estática em nível local (equilibro interno). No local das rótulas, um par de forças deve ser imposto para representar a ação da articulação, sempre segundo os princípios da terceira Lei de Newton (ação e reação). No exemplo mostrado abaixo, obtém-se as reações de apoio de uma viga com uma rótula. Como o número de reações vinculares é igual a 4, tem-se inicialmente a impressão de tratar-se de um problema hiperestático. No entanto, a rótula irá acrescentar uma equação (momento nulo a rótula) ao sistema de equações de equilíbrio da estática de corpos rígidos no plano (3 equações), formando assim um sistema de 4 equações para 4 incógnitas. Outra forma de verificar se o problema é isostático é somar as reações externas (4 reações) com as forças internas das rótulas (1 rótula � 2 reações) e comparar com as equações de equilíbrio disponíveis, ou seja, 3 equações para cada parte da estrutura. A resolução é iniciada rompendo-se a articulação, dividindo a estrutura em duas partes (AB e BC). Para a parte BC, têm-se as seguintes equações de equilíbrio (observe a aplicação das forças internas na rótula – HB e VB): B0 H 0 (1)xF = ⇒ =∑ B C 20 V V P 0 (2)yF = ⇒ + − =∑ C 2 2 2 C 2 0 V . P .0,5. 0 V 0,5.P (3) B zM l l= ⇒ − = ⇒ = ∑ Agora é repetido o procedimento com a parte AB da estrutura, aplicando as forças internas na rótula em sentidos contrários aos utilizados na parte BC. 3 A B0 H H (4)xF = ⇒ =∑ A B 10 V V P 0 (5)yF = ⇒ − − =∑ A B 1 1 10 M V . P .0,7. 0 (6)AzM l l= ⇒ − − =∑ Substituindo o resultado da equação (3) nas equações (2), (5) e (6), obtém-se, respectivamente: B 2 A 1 2 A 2 1 1 1 V 0,5.P V P 0,5.P M 0,5.P . P .0,7.l l = = + = + 3. SOLUÇÃO DE PROBLEMAS COM ARTICULAÇÕES IMPONDO MOMENTO NULO NAS RÓTULAS Neste método as reações são obtidas utilizando-se as equações de equilíbrio externo da estrutura juntamente com equações de somatório de momentos nulos nas rótulas. Cada rótula representa, na verdade, um grau de liberdade extra para a estrutura, correspondendo ao giro relativo das barras vinculadas pela articulação. Resolvendo o problema anterior através do presente método, inicia-se com as equações de equilíbrio externo: A0 H 0 (1)xF = ⇒ =∑ A C 1 20 V V P P 0 (2)yF = ⇒ + − − =∑ C 1 2 2 2 1 1 1 A 0 V .( ) P .(0,5. ) P .0,7. M 0 (3) A zM l l l l l = ⇒ + − + − + = ∑ Como são 4 as incógnitas do problema, necessita-se de mais uma equação, que vem da imposição do momento nulo na rótula. Para isso, adota-se uma das equações a seguir: 0 0 Besq z Bdir z M M = = ∑ ∑ Ou seja, toma-se a parte à esquerda ou à direita da rótula e impõe-se a soma de momentos igual a zero na rótula (ponto B) para aquela configuração escolhida. Tomando a parte da estrutura à esquerda da rótula, obtém-se: A A 1 1 10 M V . P .0,3. 0 (4)BesqzM l l= ⇒ − + =∑ 4 Optando pela parte da estrutura à direita da rótula, tem-se: C 2 2 2 C 20 V . P .0,5. 0 V 0,5.P (5)BdirzM l l= ⇒ − = ⇒ =∑ Empregando a equação (4) ou a equação (5) juntamente com as equações (1), (2) e (3), chega-se à mesma solução obtida anteriormente, ou seja: A A 1 2 C 2 A 2 1 1 1 H 0 V P 0,5.P V 0,5.P M 0,5.P . P .0,7.l l = = + = = + EXERCÍCIOS: 1 – Determine a força atuante na barra BD e as reações em C e em D: Equações de equilíbrio externo: D C0 H H (1)xF = ⇒ =∑ D C D C0 V V 350 0 V V 350 (2)yF = ⇒ + − = ⇒ + =∑ C C C C H0 150.V 75.H 0 V (3) 2 D zM = ⇒ + = ⇒ = −∑ Aplicando a condição de momento nulo na rótula para o trecho BD da estrutura: , D D D D0 100.V 75.H 0 V 0,75.H (4)B BDzM = ⇒ − + = ⇒ =∑ Substituindo as equações (3) e (4) na equação (2), obtém-se: D C0 0,75.H 0,5H 350 (5)DzM = ⇒ − =∑ Substituindo a equação (1) na equação (5), tem-se que: DH 1400N= . 5 Logo: CH 1400N= , CV 700N= − e DV 1050N= . Como a barra BD é uma barra bi-articulada com carga apenas nas rótulas, a força atuante está direcionada segundo a direção de seu próprio eixo, como ocorre nas barras de uma treliça. Portanto: 2 2 BD D DF H V 1750N= + = Uma solução alternativa seria aplicar a condiçãode momento nulo na rótula para o trecho ABC da estrutura: , C C0 100.350 50.V 0 V 700B ABCzM N= ⇒ + = ⇒ = −∑ Aplicando este resultado às equações de equilíbrio externo, chega-se à mesma solução obtida anteriormente. 2 – Para a estrutura abaixo determine as reações nos vínculos A e D: Neste problema temos um engaste em A e um apoio de 2ª classe em D, totalizando 5 incógnitas. Na medida em que temos também 2 rótulas (em B e em C), o total de equações disponíveis é 5, possibilitando assim a solução pelos métodos da Estática. Mesmo que os apoios sejam inclinados, as reações de força podem ser descritas segundo as direções x e y do plano, pois em ambos os apoios há restrição total de translações. Substituindo as cargas distribuídas pelas respectivas forças equivalentes, obtém-se o seguinte sistema: 1 10 .4 40 kNp m kN m = = 2 20 .4 40 2 kN m mp kN= = 2 2 3 30 . 2 2 84,85p kN m kN= + = Equações de equilíbrio externo: A D A D0 H H 84,85.cos 45º 0 H H 60 (1)xF = ⇒ + − = ⇒ + =∑ A D A D0 V V 40 40 84,85.sen45º 0 V V 140 (2)yF = ⇒ + − − − = ⇒ + =∑ A D A D 0 M 10.V 2.40 6,67.40 80 9.84,85.sen45º 2.84,85.cos45º 0 M 10.V 686,79 (3) A zM = ⇒ + − − + − + = ⇒ + = ∑ Aplicando a condição de momento nulo na rótula B para o trecho AB da estrutura: 6 , A A A A A A0 M 4.V 3.H 2.40 0 M 4.V 3.H 80 (4)B ABzM = ⇒ − + + = ⇒ − + = −∑ Aplicando a condição de momento nulo na rótula C para o trecho CD da estrutura (observe que o momento em C está aplicado à esquerda da rótula): , D D D D0 2.V 3.H 1,414.84,85 0 2.V 3.H 119,98 (5)C CDzM = ⇒ + − = ⇒ + =∑ Montando o sistema na forma matricial, obtém-se: A A A D D H1 0 0 1 0 60 V0 1 0 0 1 140 M0 0 1 0 10 686,79 H3 4 1 0 0 80 V0 0 0 3 2 119,98 = − − Resolvendo o sistema, obtém-se: A A A D D H 64, 47 V 73,3 M 19,77 H 4, 47 V 66,7 kN kN kN kN kN = = = = − = 3 – Determine as reações nos vínculos A e D do pórtico abaixo: Neste exercício será adotado o método de romper rótulas para a solução do problema. Portanto, a estrutura do pórtico será dividida, junto à articulação, em dois trechos: ABC e CD. Observe que a carga distribuída estende-se por todo o trecho BCD, com carga concentrada equivalente aplicada em C, na projeção do centróide da carga retangular. Entretanto, ao romper a estrutura, devemos lembrar que a articulação não é capaz de transmitir momentos de um lado para outra da rótula. Assim, teremos duas cargas concentradas equivalentes neste caso, uma para o trecho BC e outra para o trecho CD. Além disso, devemos também observar que o momento de 150 kN.m, aplicado na rótula, age no trecho CD apenas. O número total de incógnitas é 6: 4 reações externas + 2 forças internas na rótula; o número de equações disponíveis é também 6, 3 equações de equilíbrio para cada parte da estrutura decomposta. 7 Equações de equilíbrio interno – trecho ABC: 0 Cx Ax 0 (1)xF = ⇒ + =∑ 0 Ay 120 100 Cy 0 (2)yF = ⇒ − − + =∑ , 0 Am 120.2 100.4 Cy.4 Cx.5 0 (3) A ABC zM = ⇒ − − + − = ∑ Equações de equilíbrio interno – trecho CD: 0 Cx 0 (4)xF = ⇒ − =∑ 0 Cy 120 Dy 0 (5)yF = ⇒ − − + =∑ , 0 150 120.2 Dy.4 0 Dy 97,5 (6) C CD zM kN = ⇒ − − + = ⇒ = ∑ Com o resultado da equação (6), obtém-se da equação (5): Cy 22,5kN= − . Voltando para as equações (1), (2) e (3) com estes resultados, chega-se à solução para as demais reações: Ax 0 Ay 242,5 Am 730 . kN kN m = = = 4 – Determine as reações nos apoios da viga abaixo: O primeiro passo para a solução do problema é substituir a carga distribuída por uma carga concentrada equivalente, que terá módulo igual à área abaixo da curva que descreve a distribuição do carregamento e ponto de aplicação no centróide desta área. A posição do centróide da área abaixo da função de carga é dada por: 4 0 4 0 .100.cos 8 100.cos 8 c x x dx xdA x xdA dx pi pi = = ∫∫ ∫ ∫ 8 Aplicando o método de integração por partes: 44 2 0 0 4 0 8 64100. . .sen 100. .cos 8 8 8100. .sen 8 c x x x x x pi pi pi pi pi pi − − = 1, 45cx m⇒ = O módulo da força concentrada equivalente é dado por: 44 0 0 8100.cos 100. .sen 8 8 x xF dA dxpi pi pi = = = ∫ ∫ 254,65F N⇒ = Como a estrutura apresenta uma articulação no ponto C, será adotado o método de romper rótulas para a obtenção das reações nos vínculos. Neste exercício, a viga será decomposta junto à articulação nas partes AC e CD. O total número de incógnitas é 6: 4 reações externas + 2 forças internas na rótula. O número de equações disponíveis será também igual a 6, ou seja, 3 equações de equilíbrio interno para cada trecho. Equações de equilíbrio interno – trecho AC: 0 Cx 0 (1)xF = ⇒ =∑ 0 Ay 254,65 Cy 0 (2)yF = ⇒ − + =∑ , 0 254,65.3,55 Ay.5 0 Ay = 180,8 (3) C AC zM N = ⇒ − = ⇒ ∑ Com o resultado da equação (3), obtém-se da equação (2): Cy 73,85kN= . Equações de equilíbrio interno – trecho CD (observe que o momento aplicado na rótula age apenas no trecho CD): 0 Dx Cx 0 (4)xF = ⇒ − =∑ 0 Dy 73,85 0 Dy 73,85 (5)yF kN= ⇒ − = ⇒ =∑ , 0 500 73,85.3 0 M 278,45 . (6) C CD zM M N m = ⇒ − + + = ⇒ = ∑