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Teorias Administrativas e Organizacionais Sulivan Desirée Fischer Gilson Rihan Karkotli UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – NEaD Teorias Administrativas e Organizacionais Livro-texto EaD Natal/RN 2011 .eériseD naviluS ,rehcsiF t925F Teorias administrativas e organizacionais / Sulivan Desirée Fischer, Gilson Rihan Karkotli. – Natal: EdunP, 2011. 274p. : il. ; 20 cm Ebook – Livro eletrônico disponível on-line. ISBN 978-85-61140-74-8 1. Administração - teorias. I. Karkotli, Gilson Rihan. II.Título. 856 UDC FSCB/PnU/NR DIRIGENTES DA UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP Reitoria Sâmela Soraya Gomes de Oliveira Pró-Reitoria de Graduação e Ação Comunitária Sandra Amaral de Araújo Pró-Reitoria de Pesquisa, Extensão e Pós-Graduação Aarão Lyra NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DA UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP Coordenação Geral Barney Silveira Arruda Luciana Lopes Xavier Coordenação Pedagógica Edilene Cândido da Silva Coordenação de Produção de Recursos Didáticos Michelle Cristine Mazzetto Betti Coordenação de Produção de Vídeos Bruna Werner Gabriel Coordenação de Logística Helionara Lucena Nunes Revisão de Linguagem e Estrutura em EaD Priscilla Carla Silveira Menezes Thalyta Mabel Nobre Barbosa Úrsula Andréa de Araújo Silva Apoio Acadêmico Flávia Helena Miranda de Araújo Freire Assistente Administrativo Eliane Ferreira de Santana Gabriella Souza de Azevedo Gibson Marcelo Galvão de Sousa Giselly Jordan Virginia Portella Sulivan Desirée Fischer Gilson Rihan Karkotli Teorias Administrativas e Organizacionais 1a Edição Natal/RN 2011 EQUIPE DE PRODUÇÃO DE RECURSOS DIDÁTICOS DA UnP Coordenação de Produção de Recursos Didáticos Michelle Cristine Mazzetto Betti Revisão de Linguagem e Estrutura em EaD Priscilla Carla Silveira Menezes Ilustração do Mascote Lucio Masaaki Matsuno EQUIPE DE PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO Delinea - Tecnologia Educacional Coordenação Pedagógica Margarete Lazzaris Kleis Coordenação de Editoração Charlie Anderson Olsen Larissa Kleis Pereira Coordenação de Revisão e Linguagem em EaD Simone Regina Dias Revisão Gramatical e Linguagem em EaD Luzinete Carpin Niedzieluk Coordenação de Diagramação Cristina Assumpção Diagramação Valdir Siqueira Ilustrações Alexandre Beck SULIVAN DESIRÉE FISCHER Sou graduada em Administração (1991) e especialista em Gestão da Qualidade (1996) pela Fundação Universidade Regional de Blumenau, Mestre em Administração (2002) pela Universidade do Estado de Santa Catarina e doutoranda em Administração pela Universidade Federal da Bahia. Atuei durante 12 anos na Administração Pública, e sou docente da Faculdade Estácio de Sá de Santa Catarina. Na graduação, ministro disciplinas de Teoria geral da administração e Funções administrativas e coordeno o Curso de Pós-graduação (Lato Sensu) de Gestão em Recursos humanos na Faculdade Estácio de Sá de Santa Catarina. Sou professora efetiva no Centro de Ciências da Administração na Universidade do Estado de Santa Catarina. Presto consultoria a empresas públicas e privadas na área de organização administrativa. Sou responsável pela produção dos capítulos 1 ao 6 e espero que você aprenda muito na trajetória desta disciplina. GILSON RIHAN KARKOTLI Olá! Sou Doutor em Responsabilidade Social Empresarial pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC e Mestre em Gestão de Negócios. Especialista em Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM/SP). Fiz aperfeiçoamento em Estudos Avançados de Marketing na Universidade Católica de Los Angeles – UCLA (EUA). Administrador pela Fundação Armando Álvares Penteado FAAP/SP. Bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí e Especialista em Processo e Direito do Trabalho. Especialista em Gestão de Ensino à Distância. Autor de 22 livros nas áreas de administração, direito, gestão em diversas áreas, meio ambiente, responsabilidade social. Desde 2005, sou professor efetivo da Universidade Municipal de São José. E fiquei responsável pela construção dos capítulos 7 e 8. CO N H EC EN D O O A U TO R CO N H EC EN D O O A U TO R TEORIAS ADMINISTRATIVAS E ORGANIZACIONAIS Este livro-texto foi elaborado para facilitar sua aprendizagem sobre as teorias administrativas e organizacionais. Ele é um convite a você para desvendar o estado da arte em administração. Para um melhor aproveitamento dos conteúdos, a leitura dessa apostila deve ser realizada sempre utilizando seu imaginário, procurando identificar, a partir dos conceitos e teorias, situações já experimentadas. É igualmente importante que você desenvolva todas as etapas que compõem cada capítulo. Teorias Administrativas e Organizacionais é considerada uma disciplina fundamental, de uso para diferentes áreas do conhecimento. Seu objeto de estudo são as organizações em geral. O conteúdo abordado nessa disciplina oferece ao leitor uma visão ampla sobre os diferentes conceitos e abordagens que revestem o campo. Vivemos em uma sociedade permeada de organizações, em crescente complexidade, que precisam ser administradas. Cada um de nós interage com diferentes organizações diariamente e durante a vida toda, o que eleva a importância da tarefa de administrar. Na atualidade, as organizações são bastante heterogêneas, diversificadas, com estruturas, tamanho e objetivos diferenciados, o que requer formas diferenciadas e inovadoras para gerir as organizações, pois disso depende a vida e prosperidade delas e das pessoas que nelas trabalham. As teorias administrativas e organizacionais, ao oferecer conceitos, teorias, técnicas e ferramentas, podem ajudar nesse processo, por meio da aplicação de diferentes conhecimentos provenientes das diferentes teorias. Importante ressaltar que as teorias administrativas e organizacionais são fruto de uma época, em resposta aos problemas que surgiram em um determinado momento. O seu sucesso depende do discernimento de um gestor à sua aplicação prática. CO N H EC EN D O A D IS CI PL IN A CO N H EC EN D O A D IS CI PL IN A Desta forma, para que você possa se tornar um administrador bem sucedido, é importante que vá além de adquirir os conhecimentos teóricos, também esteja capacitado para enfrentar desafios. Administrar uma organização não envolve somente o uso de teorias, técnicas e ferramentas. Envolve principalmente a habilidade de coordenar pessoas. Por isso, é fundamental que durante toda a leitura dessa apostila, você realize as atividades práticas constantes em cada capítulo. Isto lhe proporcionará maior reflexão e ajudará no desenvolvimento de suas habilidades e competências. Capítulo 1 - Introdução à Teoria Geral da Administração ........................ 13 1.1 Contextualizando .......................................................................................................... 13 1.2 Conhecendo a teoria .................................................................................................... 14 1.2.1 Administração como ciência, arte ou ideologia ....................................... 15 1.2.2 A importância da administração e suas perspectivas ............................ 17 1.2.3 As funções administrativas: planejamento, organização, direção e controle .......................................................................................................... 20 1.2.4 Habilidades e papéis administrativos ........................................................... 22Habilidades técnicas, humanas e conceituais .........................................................................22 Papéis interpessoais, informacionais e decisórios .................................................................24 1.2.5 Efi ciência e efi cácia organizacionais ............................................................. 26 1.2.6 As organizações e seu ambiente .................................................................... 27 Ambiente geral ou macroambiente e ambiente tarefa .......................................................28 1.2.7 Antecedentes históricos da administração ................................................ 30 Infl uência fi losófi ca............................................................................................................................31 Igreja Católica ......................................................................................................................................32 Organização militar ...........................................................................................................................33 Revolução Industrial .........................................................................................................................33 1.2.8 A racionalização do trabalho e o aumento da produtividade ............. 35 1.3 Aplicando a teoria na prática .................................................................................... 38 1.4 Para saber mais .............................................................................................................. 41 1.5 Relembrando .................................................................................................................. 42 1.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................ 43 Onde encontrar ..................................................................................................................... 45 Capítulo 2 - A abordagem clássica da administração .............................. 47 2.1 Contextualizando .......................................................................................................... 47 2.2 Conhecendo a teoria .................................................................................................... 47 2.2.1 Teoria da administração científi ca ................................................................. 47 2.2.2 As origens da administração científi ca ....................................................... 50 2.2.3 Características, princípios e postulados da Teoria da administração científi ca ............................................................................................... 50 2.2.4 Críticas à Teoria da administração científi ca .............................................. 58 2.2.5 Teoria clássica da administração .................................................................... 63 2.2.6 Origens da Teoria clássica da administração ............................................. 64 2.2.7 As funções básicas da empresa ...................................................................... 64 2.2.8 Princípios da Teoria clássica da administração .......................................... 67 2.2.9 Críticas à Teoria clássica da administração ................................................. 72 2.3 Aplicando a teoria na prática ..................................................................................... 75 2.4 Para saber mais .............................................................................................................. 76 2.5 Relembrando .................................................................................................................. 76 2.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................ 78 Onde encontrar ..................................................................................................................... 80 SU M Á RI O SU M Á RI O Capítulo 3 - A abordagem humanística da administração e a behaviorista ................ 81 3.1 Contextualizando ................................................................................................................................... 81 3.2 Conhecendo a teoria ............................................................................................................................. 82 3.2.1 Abordagem humanística da administração: Teoria das relações humanas, comportamental e de desenvolvimento organizacional.......................................................... 82 3.2.2 Teoria das relações humanas ................................................................................................... 82 As origens da Teoria das relações humanas ........................................................................................................... 83 3.2.3 A experiência de Hawthorne .................................................................................................... 84 Conclusões da experiência de Hawthorne ............................................................................................................. 89 3.2.4 Teoria comportamental .............................................................................................................. 90 As origens da Teoria comportamental .................................................................................................................... 90 3.2.5 Teorias da motivação ................................................................................................................... 92 3.2.6 Estilos de administração ...........................................................................................................100 3.2.7 Liderança ........................................................................................................................................102 3.2.8 Processo decisório ......................................................................................................................104 3.2.9 Teoria do desenvolvimento organizacional (DO) ............................................................105 As origens da Teoria do desenvolvimento organizacional ............................................................................106 O processo de desenvolvimento organizacional ..............................................................................................106 Críticas à Teoria do desenvolvimento organizacional .....................................................................................108 3.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................109 3.4 Para saber mais .....................................................................................................................................110 3.5 Relembrando .........................................................................................................................................110 3.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................112 Onde encontrar ............................................................................................................................................113 Capítulo 4 - A abordagem neoclássica da administração .........................................115 4.1 Contextualizando .................................................................................................................................115 4.2 Conhecendo a teoria ...........................................................................................................................115 4.2.1 Origens e características da Teoria neoclássica ................................................................1164.2.2 Princípios básicos da organização ........................................................................................118 4.2.3 Centralização versus descentralização ................................................................................121 4.2.4 Funções do administrador .......................................................................................................122 4.2.5 Tipos de organização .................................................................................................................126 4.2.6 Departamentalização ................................................................................................................127 4.2.7 Administração por objetivos – APO .....................................................................................131 4.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................137 4.4 Para saber mais .....................................................................................................................................139 4.5 Relembrando .........................................................................................................................................139 4.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................140 Onde encontrar ............................................................................................................................................140 Capítulo 5 - A abordagem estruturalista da administração .....................................141 5.1 Contextualizando .................................................................................................................................141 5.2 Conhecendo a teoria ...........................................................................................................................141 5.2.1 Teoria burocrática .......................................................................................................................142 5.2.2 As origens da teoria burocrática ............................................................................................143 5.2.3 Tipos de autoridade ...................................................................................................................144 5.2.4 Tipos de poder .............................................................................................................................145 5.2.5 Características da burocracia ..................................................................................................146 5.2.6 Vantagens da burocracia ..........................................................................................................150 5.2.7 Disfunções da burocracia .........................................................................................................151 5.2.8 Teoria estruturalista ....................................................................................................................158 5.2.9 As origens da Teoria estruturalista ........................................................................................159 5.2.10 Principais aspectos do estruturalismo ..............................................................................160 5.2.11 Características do estruturalismo ......................................................................................167 5.2.12 Críticas ao estruturalismo ......................................................................................................168 5.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................168 5.4 Para saber mais .....................................................................................................................................169 5.5 Relembrando .........................................................................................................................................170 5.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................171 Onde encontrar ............................................................................................................................................172 Capítulo 6 - A abordagem sistêmica e contingencial da administração ..................173 6.1 Contextualizando .................................................................................................................................173 6.2 Conhecendo a teoria ...........................................................................................................................173 6.2.1 Teoria de sistemas .......................................................................................................................174 6.2.2 As origens da Teoria de sistemas ...........................................................................................174 6.2.3 Conceitos de sistemas ...............................................................................................................176 A organização como sistema aberto .....................................................................................................................179 6.2.4 Críticas à Teoria de sistemas ....................................................................................................181 6.2.5 Teoria da contingência ..............................................................................................................182 6.2.6 As origens da Teoria da contingência ..................................................................................186 6.2.7 Tipologias de ambientes ..........................................................................................................196 6.2.8 Críticas à Teoria da contingência ...........................................................................................197 6.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................199 6.4 Para saber mais .....................................................................................................................................200 6.5 Relembrando .........................................................................................................................................200 6.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................201 Onde encontrar ............................................................................................................................................203 Capítulo 7 - Teoria organizacional ..............................................................................205 7.1 Contextualizando .................................................................................................................................205 7.2 Conhecendo a teoria ...........................................................................................................................206 7.2.1 Contextualização da teoria organizacional ......................................................................206 7.2.2 O que é tecnologia? ...................................................................................................................212 7.2.3 A tecnologia da informação: forças e limitações .............................................................214 7.2.4 Mudanças: desafi os da gestão diante do avanço de novas tecnologias ................217 7.2.5 Panorama conceitual sobre cultura e clima organizacional ........................................219 7.2.6 Níveis de análise da cultura organizacional ......................................................................2227.2.7 Introdução aos conceitos e técnicas de clima organizacional ...................................230 7.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................233 7.4 Para saber mais .....................................................................................................................................234 7.5 Relembrando .........................................................................................................................................235 7.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................236 Onde encontrar ............................................................................................................................................237 Capítulo 8 - Poder nas organizações e as metáforas organizacionais ..................... 239 8.1 Contextualizando .................................................................................................................................239 8.2 Conhecendo a teoria ...........................................................................................................................239 8.2.1 Conhecendo o poder e as metáforas organizacionais ..................................................239 8.2.2 Aprofundando conceitos básicos sobre poder: o poder pessoal e o poder organizacional ....................................................................................................................244 8.2.3 Poder e autoridade .....................................................................................................................245 8.2.4 Fontes de poder ..........................................................................................................................252 8.2.5 As organizações vistas como máquinas .............................................................................256 8.2.6 As organizações vistas como organismos .........................................................................260 8.2.7 As organizações vistas como cérebros ................................................................................261 8.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................264 8.4 Para saber mais .....................................................................................................................................265 8.5 Relembrando .........................................................................................................................................266 8.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................267 Onde encontrar ............................................................................................................................................267 Referências ....................................................................................................................269 Capítulo 1 13Teorias Administrativas e Organizacionais TEORIAS ADMINISTRATIVAS E ORGANIZACIONAIS CAPÍTULO 11 1.1 Contextualizando O objetivo deste capítulo é apresentar os conceitos iniciais de administração para que você possa, pouco a pouco, ir assimilando os conteúdos teóricos que revestem o campo da administração. Inicialmente, apresentamos os diferentes entendimentos acerca da administração para, a partir desta compreensão, avançarmos neste campo. Este capítulo, além de situar o leitor de que a administração é uma ciência social aplicada, também explora a importância da administração no contexto atual e suas perspectivas futuras. É demonstrado ao leitor que o desempenho das tarefas administrativas depende fortemente de um conjunto de papéis e habilidades que uma pessoa imbuída dessa tarefa deve possuir. As ideias iniciais exploradas neste capítulo buscam demonstrar a você, leitor, que desde os primórdios da administração – como nos ensinamentos realizados pelos filósofos, na organização militar, etc. – os princípios administrativos já eram empregados. E que a racionalização do trabalho e o aumento da produtividade são fruto de estudos realizados visando desenvolver métodos científicos em substituição à improvisação na forma de realizar o trabalho. Ao final deste capítulo, você deverá ser capaz de identificar o campo em que se situa a administração, deverá saber definir eficiência e eficácia e explicar a importância da administração para o contexto atual. Além disso, você deverá ser capaz de caracterizar as funções, os papéis e habilidades exigidos das pessoas que exercem tarefas administrativas e reconhecer a influência dos primórdios da administração às teorias administrativas e organizacionais. Capítulo 1 14 Teorias Administrativas e Organizacionais 1.2 Conhecendo a teoria A Teoria Geral da Administração (TGA) é o campo do conhecimento que estuda as organizações, públicas ou privadas, com ou sem fins lucrativos. Seu estudo trata da administração das organizações. Maximiano (2009, p. 8) expõe que “as teorias da administração são conhecimentos organizados, produzidos pela experiência prática das organizações”. A história dos estudos da administração tem relevado uma evolução no pensamento administrativo, causado pelas mudanças no ambiente que exigem soluções diferentes. As teorias desenvolvidas apresentam diferentes contribuições, e juntas formam um processo cumulativo de conhecimento a respeito das organizações. É importante compreender que elas foram desenvolvidas a partir de uma necessidade vivenciada em determinada época, mas que, independente disto, todas as teorias são válidas, apesar de que quando a estudamos isoladamente possa nos parecer, algumas vezes, uma visão míope. A TGA estuda a administração das organizações que, segundo Chiavenato (2003), do ponto de vista da interação e da interdependência dos principais componentes se constituem nas seis variáveis: tarefas, estrutura, pessoas, tecnologia, ambiente e competitividade. LEMBRETELEMBRETE Importante lembrar que estas variáveis foram sendo incorporadas à medida que os estudos das teorias administrativas e organizacionais foram sendo desenvolvidos.O atual desafio da administração, conforme Chiavenato (2003), é o de adequar e integrar estas seis variáveis. Buscando delinear um pouco a natureza do campo da administração e familiarizar você, estudante, com os conceitos, apresentamos no próximo tópico as diferentes interpretações de classificação da administração. Capítulo 1 15Teorias Administrativas e Organizacionais 1.2.1 A administração como ciência, arte ou ideologia Existem inúmeras interpretações sobre o modo de classificar a administração que incitam questionamentos sobre os diferentes entendimentos neste campo, revelando uma diversidade de ideias. Sob o ponto de vista do caráter das ideias e da natureza do conhecimento, a administração vem sendo entendida como arte, ideologia e ciência. A administração como arte é entendida como um conjunto de habilidades consideradas inerentes ao indivíduo; sua ênfase recai sobre o discurso do talento natural. Seu princípio está fundamentado na prática, na ação, um fazer que se aprende, na medida em que se executa (FRANÇA FILHO, 2004). Esta comparação da administração como arte apóia-se na retórica de que ambos, o administrador e o artista, possuem características inatas que o conduzem ao exercício de suas atividades profissionais, podendo ser exercidas sem a obtenção de um conhecimento formal. Para fundamentar esta concepção, são contadas estórias e histórias de“grandes administradores” de sucesso que construíram impérios. Este modo de pensar tem sido rejeitado por muitos teóricos e, segundo França Filho (2004), requer reflexões mais aprofundadas. Pensar a administração como arte, na percepção deste autor, requer, por um lado, um estudo aprofundado sobre as trajetórias pessoais e a dinâmica organizacional e, por outro, é preciso considerar as condições do êxito profissional em gestão, em comparação ao contexto atual ao passado. Efetivamente, a administração como ideologia, na leitura de França Filho (2004), envolve um entendimento mais complexo das organizações, que representaria um conjunto de normas, de valores e de ideias que justificam posições sociais desiguais. Deste entendimento, a administração busca concretizar os interesses dos proprietários e, diante disto, haverá sempre interesses divergentes entre capital e trabalho. Esta realidade requer uma compreensão das organizações como um sistema de atividade política em que a administração é um sistema de dominação. Capítulo 1 16 Teorias Administrativas e Organizacionais Esta interpretação da administração como ideologia, baseada no entendimento como forma de dominação, segundo França Filho (2004), ganha consistência quando se realiza uma análise etimológica do termo: administração - ad do latim – significa direção, tendência para e minister também do latim, quer dizer mais baixo, inferior ou subordinado. Por fim, ao pensar a administração como ciência, é necessário compreender, inicialmente, o significado do termo. Muitas pessoas empregam a palavra ciência no seu dia-a-dia, de forma coloquial, sem, muitas vezes conhecer o seu verdadeiro significado. No Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2009, p. 463), encontramos o termo ciência definido como um “corpo de conhecimentos sistematizados adquiridos via observação, identificação, pesquisa e explicação de determinadas categorias de fenômenos e fatos, e formulação metódica e racionalmente”. A ciência está preocupada em substituir o “achismo” por conhecimento sistematizado, aprofundado, adquirido por meio da reflexão ou experiência, baseado em provas, obedecendo a princípios que legitimem sua validade. A palavra ciência provém do latim scire, que significa tão somente conhecer. Seu objetivo é descrever os fenômenos do mundo real. Podemos dividir a ciência em pura e aplicada. A ciência pura se preocupa com a atividade científica exclusivamente intelectual, sem aplicação prática ou técnica. Isto significa dizer que a preocupação da ciência pura se limita à descrição do fenômeno. Já a ciência aplicada visa à aplicação prática e/ou técnica de resultados científicos (FRANÇA FILHO, 2004). A administração é uma ciência aplicada, ou melhor, uma ciência social aplicada, seu objeto de estudo são as sociedades humanas situadas em diferentes espaços e sob diferentes aspectos. A preocupação da administração está relacionada à aplicação do conhecimento, dos aspectos relacionados ao indivíduo e a sociedade da qual é parte integrante. A par disto, para que se possa considerar a administração como ciência, é necessária a existência de um objeto de estudo. Este objeto de estudo da administração são as organizações. A preocupação da administração enquanto ciência social aplicada está no estudo das organizações como um fenômeno social, que busca dialogar com outras disciplinas do conhecimento científico, como a psicologia, a sociologia, a economia, a antropologia, entre outras, buscando compreender o fenômeno social (FRANÇA FILHO, 2004). Capítulo 1 17Teorias Administrativas e Organizacionais Figura 1 - Formas de abordagem da administração Arte Ideologia Ciência Administração Agora que você já sabe que a administração é uma ciência social aplicada, convém avançar na busca de um entendimento sobre a importância da administração e as perspectivas futuras que este campo reserva. 1.2.2 A importância da administração e suas perspectivas Historicamente, a administração sempre teve seu lugar nas práticas cotidianas do ser humano, mas à medida que a sociedade se tornou complexa, a administração passou a ocupar um lugar central. Foi a partir da complexidade do ambiente, do acelerado ritmo de mudança, do avanço tecnológico que a administração se tornou uma das atividades mais importantes. Complementando, Maximiliano (2009, p. 6) expõe que a “administração é importante em qualquer escala de utilização de recursos para realizar objetivos – individual, familiar, grupal, organizacional ou social”. Chiavenato (2003) acrescenta que esta atividade é realizada em diferentes organizações: seja nas indústrias, no comércio, nas organizações de serviços públicos, nos hospitais, nas universidades, nas instituições militares ou em qualquer outra forma de empreendimento humano. Ela se aplica, segundo o autor, a qualquer tipo ou tamanho de organização. Silva (2008) expõe que a administração é necessária sempre que pessoas estejam trabalhando juntas em uma organização. Apesar de já ter sido mencionada a origem da palavra, é importante você ter claro entendimento do conceito de administração, visto que a palavra sofreu transformações. Na visão de Chiavenato (2003, p. 10), “a tarefa básica da administração é a de fazer as coisas por meio das pessoas de forma eficiente e eficaz”. Silva (2008) expõe que a administração se relaciona com o alcance de objetivos por meio dos esforços de outras pessoas. Capítulo 1 18 Teorias Administrativas e Organizacionais A partir destes conceitos apresentados, é possível perceber que a tarefa de administrar exige cooperação de pessoas com vistas a alcançar um objetivo pretendido. Todavia, para que se consiga a cooperação das pessoas, é necessário que os objetivos sejam interpretados, para serem transformados em ação de forma coordenada. Tudo isso requer, conforme Silva (2008), a aquisição de conhecimentos teóricos e práticos para administrar as organizações. Complementando, o autor acrescenta que os administradores necessitam utilizar teorias administrativas para tomar suas decisões por meio do exercício de planejar, organizar, dirigir e controlar. É por isso que a administração passou a ser cada dia mais importante. É importante relembrar que vivemos em uma sociedade de organizações, em que o ritmo de mudanças se tornou acelerado, a competitividade está cada vez mais acirrada, os clientes estão cada dia mais exigentes e novas demandas exigem novas formas de administrar. Para Chiavenato (2003), a administração vem sendo considerada uma das áreas mais importantes da atividade humana e a chave para a solução dos graves problemas que assolam o mundo moderno. Na atualidade, ela se tornou uma atividade fundamental para a sociedade moderna. Mas você sabe quais são as perspectivas futuras da administração? As perspectivas futuras da administração, ainda na visão de Chiavenato (2003), demonstram que novas arquiteturas organizacionais estão surgindo adequadas às demandas da era pós-industrial. Seu pressuposto está baseado no princípio evolucionário que cada época exige uma forma organizacional adequada. Neste sentido, o autor expõe que o mundo verá o fim da organização burocrática, devido as suas deficiências e a partir dos germes desta se desenvolverão novas formas organizacionais. Para Chiavenato (2003), isto se deve a três aspectos: a) mudanças rápidas e inesperadas no mundo dos negócios nos campos do conhecimento e à explosão populacional, impondo novas e crescentes necessidades, não atendidas pelas organizações na atualidade; Capítulo 1 19Teorias Administrativas e Organizacionais b) crescimento e expansão das organizações, tornando-asmais complexas e globais; c) atividades que exigem pessoas com competências diversas e ao mesmo tempo especializadas envolvem problemas de coordenação e, principalmente, de atualização, reflexo das rápidas mudanças. Para o autor, nos próximos anos, a tarefa administrativa será ainda mais incerta e desafiadora, pois abrangerá uma infinidade de variáveis, de mudanças e transformações carregadas de incertezas. Os problemas se tornarão cada dia mais multifacetados e mais complexos. A atenção do administrador será demandada pelos eventos e pelos grupos, situados dentro e fora da organização. O diagnóstico perceptível e a visão dos problemas pelo administrador se tornarão mais difíceis, pois as informações fornecidas pelos grupos serão algumas vezes contraditórias. Chiavenato (2003) complementa que as exigências, desafios e expectativas que exigirão capacidade do administrador para sua compreensão virão da sociedade, dos clientes, dos fornecedores, das agências regulamentadoras, dos concorrentes, da alta administração, dos subordinados, dos acionistas, etc. Isto tenderá a aumentar ainda mais com a inclusão de novas variáveis, complicando a tarefa administrativa de planejar, organizar, dirigir e controlar uma organização. Somado a isto, sustenta Chiavenato (2003) que vários outros fatores deverão provocar profundos impactos sobre as organizações e suas formas de administrar como: o crescimento das organizações; o acirramento da concorrência; a sofisticação da tecnologia; taxas elevadas de inflação; a globalização da economia internacional e a ampliação da visibilidade das organizações. Agora que você já sabe qual a importância da administração para a sociedade moderna e quais são as perspectivas futuras, vamos conhecer as funções administrativas que devem ser exercidas por quem administra uma organização. Capítulo 1 20 Teorias Administrativas e Organizacionais EXPLORANDOEXPLORANDO Para saber mais sobre as atividades, áreas de atuação e formação de um profissional administrador, consulte: <www.cfa.org.br>. 1.2.3 As funções administrativas Para que as tarefas administrativas sejam realizadas e se alcance os resultados pretendidos, é necessário que os administradores desempenhem suas atividades baseadas nas funções administrativas básicas que constituem o processo administrativo. São elas: planejamento, organização, direção e controle. Na visão de Silva (2008, p. 9), podemos definir: • Planejamento – como a determinação de objetivos e metas para o desempenho organizacional futuro e decisão das tarefas e recursos utilizados para o alcance desses objetivos; • Organização – processo de designação de tarefas, de agrupamentos de tarefas em departamentos e de alocação de recursos para os departamentos; • Direção – influência para que outras pessoas realizem suas tarefas de modo a alcançar os objetivos estabelecidos, envolvendo energização, ativação e persuasão dessas pessoas; • Controle – função que se encarrega de comparar o desempenho atual com os padrões predeterminados, isto é, com o planejado. Vale ressaltar que a função direção é substituída por diferentes autores, como Chiavenato (2003); Dalf (2008); Bateman (2008); Maximiano (2009), pela liderança. Esta é uma visão dos livros norte-americanos. Segundo Silva (2008), é importante compreender que a liderança é uma condição da direção, uma qualificação da direção, e segundo este autor, não deveria ser substituída, pois para ele, pode-se dirigir sem liderar, o que não é a melhor condição. Capítulo 1 21Teorias Administrativas e Organizacionais Deste modo, para que você possa fixar as funções administrativas, apresentamos a figura 2, elaborada a partir de Silva (2008, p. 10): • Planejamento • Organização • Direção • Controle • Estabelcer objetivos e missão • Examinar as alternativas • Determinar as necessidades de recursos • Criar estratégias para o alcance dos objetivos • Desenhar cargos e tarefas específi cas • Criar estrutura organizacional • Defi nir posições de staff • Coordenar as atividades de trabalho • Estabelecer políticas e procedimentos • Defi nir a locação de recursos • Conduzir e motivar os empregados na realização das metas organizacionais • Estabelecer comunicação com os trabalhadores • Apresentar solução dos confl itos • Gerenciar mudanças • Medir desempenho • Estabelecer comparação do desempenho com padrões • Tomar ações necessárias para a melhoria do desempenho Figura 2 - Funções administrativas e suas características Fonte: adaptado de Silva (2008). Importante ter em mente que o exercício das funções administrativas em uma organização irá sofrer alguma variabilidade, face aos aspectos exclusivos de cada organização. Em face disto, é fundamental que as organizações, segundo Chiavenato (2003), sempre que pretendam incluir um novo funcionário em seu quadro administrativo, devem submeter os candidatos a uma infinidade de testes e entrevistas para investigar em profundidade seus conhecimentos, habilidades e competências, suas atitudes e características de personalidade. Estes fatores devem ser considerados porque somente o domínio das funções administrativas que vimos anteriormente não são suficientes. A organização precisa reconhecer quais as habilidades que requer para o desempenho das tarefas administrativas na organização, como também os papéis que este indivíduo deve desempenhar em função do nível hierárquico que estará posicionado na estrutura organizacional. Este é o assunto a ser explorado no próximo tópico. Capítulo 1 22 Teorias Administrativas e Organizacionais 1.2.4 Habilidades e papéis administrativos Habilidades administrativas O trabalho de um administrador é complexo e multidimensional (DAFT, 2008) e o desempenho dele depende, segundo Chiavenato (2003), muito mais das habilidades que o administrador possui e utiliza do que de seus traços de personalidade. CONCEITOCONCEITO “Habilidade é a capacidade de transformar conhecimento em ação e que resulta em um desempenho desejado” (CHIAVENATO, 2003, p. 3). O grau de exigências das habilidades varia em relação ao nível hierárquico que o indivíduo ocupa na organização. Segundo Katz (apud CHIAVENATO, 2003), elas podem ser divididas em habilidades técnicas, habilidades humanas e habilidades conceituais. Chiavenato (2003) apresenta a seguinte definição para cada uma delas: • Habilidades técnicas – são o uso de conhecimento especializado e a facilidade na execução de técnicas com o trabalho e com os procedimentos de realização. Envolve funções específicas como contabilidade, programação de computador, engenharia, etc. As habilidades técnicas estão relacionadas com o fazer, isto é, com o trabalho, com o como as coisas são feitas, com processos materiais ou objetos físicos e concretos. É relativamente fácil trabalhar com coisas e com números porque eles são estáticos e inertes, não contestam nem resistem à ação do administrador. • Habilidades humanas – são a capacidade de trabalhar com pessoas e por meio das pessoas, referem-se à facilidade de relacionamento interpessoal e grupal. Envolvem a capacidade de comunicar, motivar, coordenar, liderar, e resolver conflitos pessoais e grupais. As habilidades humanas estão relacionadas com a interação entre as pessoas. O desenvolvimento da cooperação dentro da equipe, o encorajamento da participação, sem medos ou receios, e o envolvimento das pessoas são aspectos típicos de habilidades humanas. Capítulo 1 23Teorias Administrativas e Organizacionais • Habilidades conceituais – são a capacidade de compreensãoe visão do todo organizacional, a facilidade em trabalhar com idéias e conceitos, teorias e abstrações. Um administrador com habilidades conceituais está apto a compreender as várias funções exercidas na organização, complementá- las entre si, como a organização se relaciona com seu ambiente, e como as mudanças em uma parte da organização afetam o restante dela. As habilidades conceituais estão relacionadas com o pensar, com o raciocinar, com o diagnóstico das situações e com a formulação de alternativas de solução dos problemas. Representam as capacidades cognitivas mais sofisticadas do administrador e que lhe permitem planejar o futuro, interpretar a missão, desenvolver a visão e perceber oportunidades onde ninguém enxerga nada. O uso das habilidades varia em relação ao grau que o indivíduo ocupa na hierarquia organizacional. À medida que um indivíduo sobe na escala hierárquica, a exigência das habilidades se altera. As habilidades conceituais são mais exigidas por pessoas que se encontram no topo da pirâmide organizacional como executivos de primeira linha, diretores e presidentes de organizações. Enquanto as habilidades humanas são mais demandadas às pessoas que se encontram no meio da pirâmide organizacional, como os executivos de nível médio, gerentes, supervisores, etc. E as habilidades técnicas são mais exigidas das pessoas que se encontram na base da pirâmide, no nível operacional. Para que você possa compreender melhor e fixar o grau de exigência de cada habilidade em relação ao nível hierárquico, apresentamos a figura 3. Figura 3 - Habilidades administrativas Habilidades Conceituais (capacidade cognitiva, conceitos e ideias abstratas) Habilidades Humanas (relacionamento interpessoal) Habilidades Técnicas (métodos, técnicas e uso de equipamentos) Capítulo 1 24 Teorias Administrativas e Organizacionais Papéis administrativos Henry Mintzberg (1939 apud STONER, 1999) realizou uma ampla pesquisa a respeito dos papéis exercido pelos administradores. Suas conclusões foram agrupadas em três categorias: papéis interpessoais; papéis informacionais e papéis decisórios. Conceitualmente, papéis são conjuntos de expectativas de comportamento de um indivíduo, em situações específicas (SILVA, 2008, p. 15). CONCEITOCONCEITO Papéis são os conjuntos de expectativas de comportamento de um indivíduo, em situações específicas (SILVA, 2008, p. 15). A partir da classificação de Mintzberg, autores como Stoner (1999); Chiavenato (2003); Daft (2008); Silva (2008) definem: • Papéis interpessoais – estão relacionados às relações com outras pessoas e pertencem às habilidades humanas. Mostram como o administrador interage com as pessoas e influencia seus subordinados. Estes papéis dividem-se em três: a) Chefe: representa a organização como o chefe da unidade. Envolve lidar com atividades de cerimoniais e simbólicas. b) Líder: envolve as relações com os subordinados, incluindo a motivação, a comunicação e a influência. Trata do processo comportamental da equipe. Treina, aconselha e orienta a equipe. c) Ligação: mantém redes de comunicação, refere-se ao desenvolvimento de informações tanto dentro como fora da organização. • Papéis informacionais – descrevem as atividades usadas para manter e desenvolver uma rede de informações. Em média, um administrador no nível institucional gasta cerca de 75% do seu tempo trocando informações com outras pessoas dentro e fora da organização. Mostram como o administrador troca e processa a informação. Estes papéis dividem-se em três: Capítulo 1 25Teorias Administrativas e Organizacionais a) Monitor: envolve a procura de informações em uma série de fontes. Acompanha ativamente o ambiente visando obter informações relevantes para o desempenho organizacional. b) Disseminador: transmite informações para terceiros ou membros da organização. c) Interlocutor ou porta-voz: transmite informações para pessoas que estão fora da organização. • Papéis decisórios – envolvem eventos e situações em que o administrador deve fazer uma escolha ou opção. Estes papéis normalmente exigem tanto habilidades humanas como conceituais e mostram como o administrador utiliza a informação em suas decisões. Dividem-se em quatro papéis: a) Empreendedor: inicia mudanças, projetos, ideias, identifica oportunidades, assume riscos, delega responsabilidades de idéias para outros. b) Solucionador de conflitos: resolve conflitos entre subordinados ou departamentos e adapta o grupo diante de crises ou mudanças, toma ação corretiva em disputas ou crises. c) Alocador ou administrador de recursos: decide como alocar, distribuir os recursos organizacionais. d) Negociador: representa a organização em situações que envolvem negociações com sindicatos, vendas, financiamentos, fornecedores, etc. Agora que você já conhece quais são as habilidades e os papéis que um administrador deve exercer, é importante compreender que ele deve realizar isto aplicando os recursos organizacionais de forma eficiente e eficaz. Isto é, o exercício da atividade de administrar envolve fazer as coisas por meio das pessoas, aplicando os recursos de forma eficiente e eficaz. E você sabe o que é eficiência e eficácia? Capítulo 1 26 Teorias Administrativas e Organizacionais Se você não sabe, não se preocupe, vamos desvendar isso juntos. Se você já sabe, ótimo, vamos aprofundar e fixar estes conceitos. 1.2.5 Efi ciência e efi cácia organizacionais Primeiramente, você sabe por que as organizações existem? As organizações existem para suprir as necessidades das pessoas, fornecendo produtos e serviços: água, luz, energia, serviço hospitalar, segurança, educação, diversão, alimentação, etc. Para que elas possam fornecer os bens e serviços que a sociedade necessita e alcançar os objetivos definidos, elas transformam os recursos que têm a seu dispor. São considerados recursos em uma organização: pessoas, informação, conhecimento, espaço, tempo, dinheiro, instalações. A tarefa da administração é garantir que os recursos sejam utlizados de forma eficiente e eficaz. LEMBRETELEMBRETE “Administrar é fazer as coisas por meio das pessoas de maneira eficiente e eficaz” (CHIAVENATO, 2003, p. 10). O indicador de medida do desempenho organizacional é a eficiência e a eficácia. A eficiência é a medida da utilização dos recursos quando se faz alguma coisa. Está relacionada as ‘entradas’ em um processo. Quanto maior as saídas obtidas com as mesmas entradas, maior o grau de eficiência alcançado (SILVA, 2008). Significa fazer bem e corretamente (CHIAVENATO, 2003). A eficácia é a medida de alcance do objetivo ou resultado. Está relacionada à realização das atividades que levem ao alcance dos objetivos/ resultados estabelecidos (CHIAVENATO, 2003; SILVA, 2008). Silva (2008) apresenta alguns elementos que ajudam a fixar as diferenças entre eficiência e eficácia. Veja a figura 4. Capítulo 1 27Teorias Administrativas e Organizacionais • Ênfase nos meios • Realização de tarefas • Resolução de problemas • Treinamento de funcionários EFICIÊNCIA • Ênfase nos resultados • Alcance dos objetivos • Acerto na solução de proposta • Trabalho realizado corretamente EFICÁCIA Figura 4: Elementos que diferenciam efi ciência da efi cácia Fonte: Silva (2008). PRATICANDOPRATICANDO A partir dos conceitos de eficiência e eficácia e suas diferenças, pense em situações práticas que estejam sendo realizadas por pessoas utilizando recursos visando alcançar um resultado. Exemplifique o uso da eficiência e eficácia. Com isso, você poderá aferir graus de eficiência e eficácia. 1.2.6 As organizações e seuambiente Como tem sido explanado desde o início deste capítulo, a tarefa de administrar assumiu uma importância sem precedentes e, isto se deve ao fato de que, vivemos em uma sociedade de organizações. As organizações afetam a vida das pessoas e provocam impactos sobre a sociedade, e também sofrem influências do ambiente. Para um melhor entendimento, convém inicialmente conceituar organização. Para Maximiano (2009, p. 4), “uma organização é um sistema de recursos que procura realizar algum tipo de objetivo (ou conjunto de objetivos)”. Silva (2008) salienta que as organizações são entidades dinâmicas, complexas e, desta forma, podem ser conceituadas de várias formas. Para este autor, o conceito mais comumente encontrado de organização é: “Duas ou mais pessoas, com desejo e disposição de cooperar para o alcance de um objetivo comum” (SILVA, 2008, p. 40). Capítulo 1 28 Teorias Administrativas e Organizacionais A percepção e interpretação do ambiente pelas organizações se dão de forma própria, de acordo com o contexto ambiental do qual participam. Segundo Chiavenato (2003, p. 513), a percepção ambiental é “uma construção ou um conjunto de informações selecionadas e estruturadas em função da experiência anterior, intenções e maneiras de pensar dos dirigentes de cada organização.” Essa percepção dependerá do valor que as pessoas que administram a organização atribuem a cada variável constante do ambiente. O ambiente pode ser desdobrado em ambiente geral ou macroambiente e ambiente tarefa ou microambiente. • O macroambiente ou ambiente geral é mais genérico e comum a todas as organizações. Tudo que ocorre neste ambiente afeta a organização direta ou indiretamente. Ele é constituído, conforme Chiavenato (2003), por: a) Condições tecnológicas: o desenvolvimento tecnológico que ocorre nas outras organizações provoca profundas influências nas organizações, principalmente quando esta tecnologia está sujeita a inovação. As organizações precisam adaptar-se e incorporar tecnologia proveniente do ambiente geral para se manterem competitivas. b) Condições legais: a legislação vigente afeta direta ou indiretamente as organizações e auxilia ou impõe restrições às suas operações. Estas leis abrangem caráter comercial, trabalhista, fiscal, civil, etc. que constituem elementos normativos para a vida das organizações. c) Condições políticas: referem-se às decisões e definições políticas tomadas em nível federal, estadual e municipal que influenciam as organizações e que orientam as próprias condições econômicas. d) Condições econômicas: referem-se à conjuntura econômica, ao seu desenvolvimento e a sua retração. Esta variável condiciona fortemente as organizações e constituem-se em aspectos como a inflação, a balança de pagamentos do país, a distribuição de renda interna, etc., que não podem passar despercebidos pelas organizações. Capítulo 1 29Teorias Administrativas e Organizacionais e) Condições demográficas: são os aspectos que determinam as características do mercado atual e futuro, como taxa de crescimento da população, raça, religião, distribuição geográfica, distribuição por sexo e idade, etc. f) Condições ecológicas: estão relacionadas com o quadro demográfico que envolve a organização. O ecossistema refere-se ao sistema de intercâmbio entre os seres vivos e o meio ambiente. Há que lembrar que existe a chamada ecologia social: as organizações influenciam e são influenciadas por aspectos como poluição, clima, transportes, comunicações, etc. g) Condições culturais: a cultura da região penetra a organização por meio das pessoas que participam dela e dos seus consumidores, afetam direta ou indiretamente o ambiente. • Ambiente tarefa: é o ambiente mais próximo à organização, é onde são realizadas as operações da organização. Este ambiente, na visão de Chiavenato (2003), é constituído por: a) Fornecedores de entradas: incluem-se os fornecedores que proporcionam os diferentes tipos de recursos que a organização necessita para trabalhar, como materiais, financeiros, humanos, etc. b) Clientes e usuários: são os consumidores das saídas da organização. c) Concorrentes: são as organizações que competem no mercado, pelos recursos e tomadores de suas saídas. d) Entidades reguladoras: são os órgãos que regulam e fiscalizam as atividades no mercado. Entre eles, estão incluídos: sindicatos, associações de classe, órgãos regulamentadores do governo, de proteção aos consumidores, etc. Cada uma destas variáveis afeta a organização de forma direta ou indiretamente, podendo representar uma oportunidade ou uma ameaça à organização. Capítulo 1 30 Teorias Administrativas e Organizacionais Procure refletir a respeito das atividades realizadas pela organização que você trabalha ou que alguém com quem você tem contato e você conheça trabalhe. Procure identificar quem são os fornecedores, concorrentes, clientes, entidades reguladoras e que tipo de impacto eles podem provocar sobre a organização. REFLEXÃO Figura 5: Ambiente geral e ambiente da tarefa Fonte: Chiavenato (2003). Ambiente de Tarefa Concorrentes Ambiente Geral Condições Tecnológicas Condições legais Condições políticas Condições econômicas Condições ecológicas Condições demográfi cas Condições culturais Fornecedores Empresa Clientes Entidades Reguladoras 1.2.7 Antecedentes históricos da administração A administração reconhecida como ciência ocorre somente no início do século XX, entretanto, existem referências que demonstram práticas administrativas desde a Antiguidade. Recorrendo à memória da história, vamos percorrer o passado na tentativa de identificar a influência dos filósofos, da organização eclesiástica, da organização militar até a Revolução Industrial no pensamento administrativo e nas formas de organização. Capítulo 1 31Teorias Administrativas e Organizacionais Influência filosófica A administração recebeu influência desde a Antiguidade, com os filósofos: Sócrates, Platão, Aristóteles, Francis Bacon, René Descartes, Thomas Hobbes, Jean-Jacques Rousseau, Karl Marx e Friedrich Engels, Adam Smith. Suas ideias, segundo Stoner (1999); Chiavenato (2003) e Silva (2008), podem ser compreendidas por alguns fatos: • Sócrates (470 a.C. – 399 a.C.): expõe seu ponto de vista sobre a administração como uma habilidade pessoal separada do conhecimento técnico e da experiência, em uma discussão com Nicomaquides. • Platão (429 a.C a 347 a.C.): preocupou-se com os problemas políticos inerentes ao desenvolvimento social e cultural do povo grego, especialmente a forma democrática de governo e de administração. • Aristóteles (384 a.C a 322 a.C.): estudou a organização do Estado, distinguindo três formas de Administração pública: Monarquia (governo de um só podendo redundar em tirania); Aristocracia (governo de uma elite podendo redundar em oligarquia); e Democracia (governo do povo podendo degenerar em anarquia). • Francis Bacon (1561 – 1626): preocupava-se com a separação entre o essencial e o acidental ou acessório, antecipando-se ao princípio da administração de prevalência do principal sobre o acessório. • René Descartes (1596 – 1650): em seu livro O discurso do método, descreveu seu método filosófico na divisão do trabalho, na ordem e no controle: princípio da dúvida sistemática ou da evidência (não aceitar como verdadeira coisa alguma, enquanto não houver evidência); princípio da análise da decomposição (subdividir um problema em partes e resolvê-las cada uma separadamente); princípio da síntese da composição (começar pelos assuntos mais simplese fáceis, caminhando gradualmente para os mais difíceis); princípio da enumeração ou da verificação (fazer recontagem, verificações até que esteja seguro de nada haver omitido). • Thomas Hobbes (1588 – 1679): defendia um governo absoluto, pois entendia que, na ausência do governo, os seres humanos tendem a Capítulo 1 32 Teorias Administrativas e Organizacionais viver em guerra permanente para obtenção de meios de subsistência. Em sua obra Leviatã, assinala que o povo renuncia aos seus direitos em favor de um governo que imponha ordem, organize a vida social e garanta a paz. • Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778): desenvolveu a teoria do Contrato Social, no qual o Estado surge de um acordo de vontades. O contrato social significa que os membros de uma sociedade reconhecem a autoridade de um conjunto de regras, de um regime político ou de governantes. Imagina pessoas vivendo de maneira pacífica e cordial, sem atritos. • Karl Marx (1818 – 1883) e Friedrich Engels (1820 – 1895): desenvolvem uma teoria da origem do Estado como resultado da dominação econômica do homem pelo homem. O Estado seria uma forma de coerção imposta por uma classe exploradora. Para eles, a história da humanidade sempre foi a história da luta de classes. Desta forma, os fenômenos históricos são produto das relações econômicas em cada época. • Adam Smith (1723-1790): economista clássico, nascido na Escócia, mostrou extraordinário conhecimento no que se refere à evolução das funções administrativas. Ele deu grande ênfase à divisão do trabalho e seus respectivos benefícios, assim se antecipando em seu século ao enfoque sobre a decomposição de um serviço ou tarefa. Sua principal obra, A riqueza das nações, coloca-o entre os intelectuais do mundo moderno. Suas ideias sobre a divisão do trabalho são fundamentais na simplificação de funções e estudos e estende-se também a áreas como a de produção, por exemplo. Igreja Católica A Igreja Católica Romana é a organização formal mais antiga e foi uma herança do Império romano. Ao longo da história, a Igreja Católica foi estruturando sua organização, sua hierarquia de autoridade, sua assessoria (estado-maior) e sua coordenação funcional, tendo como fonte de inspiração as instituições dos Estados. Este tipo de organização serviu de modelo para muitas organizações (STONER, 1999; CHIAVENATO, 2003; SILVA, 2008). Capítulo 1 33Teorias Administrativas e Organizacionais Organização militar Várias teorias administrativas incorporaram aspectos da organização militar como a organização linear, unidade de comando, a escala hierárquica, a delegação de autoridade, planejamentos e controles centralizados em paralelo a operações descentralizadas (centralização do comando e descentralização da execução), o princípio de direção (todo soldado deve saber perfeitamente o que se espera dele e aquilo que ele deve fazer), disciplina, planejamento estratégico, decisões científicas e a aceitação da incerteza e o planejamento de forma a minimizar esta mesma incerteza. (STONER, 1999; CHIAVENATO, 2003; SILVA, 2008). Revolução Industrial No centro da Revolução industrial está a invenção da máquina a vapor (1736 – 1819) por James Watt, e a sua posterior aplicação à produção marca o início da 1ª Revolução Industrial, com mudanças econômicas, políticas e sociais, inicialmente na Inglaterra. A máquina a vapor, o descaroçador de algodão e o tear mecânico vieram substituir o trabalho do homem e a força motriz do homem, do animal ou da roda d’água. A aplicação da máquina a vapor transformou as oficinas, transportes, comunicações e a agricultura. O artesão deu lugar ao operário e as fábricas basearam-se na divisão do trabalho. Define- se cada vez mais um considerável controle capitalista sobre quase todos os ramos da atividade econômica. A chamada 2ª Revolução Industrial, iniciada em 1860, foi provocada pela fabricação do aço, pelo aperfeiçoamento do dínamo e pela invenção do motor a combustão interna. Suas características eram de: substituição do ferro pelo aço; substituição do vapor pela eletricidade e derivados de petróleo; desenvolvimento da máquina automática; especialização do trabalho; domínio da indústria pela ciência; transformação nos transportes e comunicações (automóveis, aviões); novas formas de organização capitalista com o capitalismo industrial dando lugar ao capitalismo financeiro (dominação da indústria pelas inversões bancárias, acumulação de capital através de trustes e fusões, separação entre propriedade particular e direção das empresas e desenvolvimento das holding companies; expansão da industrialização). Na Revolução Industrial houve uma transferência da habilidade do artesão para a máquina e a substituição da força animal ou humana pela potência Capítulo 1 34 Teorias Administrativas e Organizacionais da máquina a vapor. Proprietários de oficinas, devido à concorrência, passaram a trabalhar para proprietários de oficinas que tinham máquinas. A maquinização provocou a fusão de pequenas oficinas, transformando- se em fábricas. O crescimento acelerado promoveu a diminuição dos custos de produção, propiciando preços competitivos e um alargamento do mercado consumidor. A mecanização do trabalho levou à divisão maior do trabalho e à simplificação de operações, que poderiam ser executadas por pessoas sem qualificação e com enorme simplicidade de controle. Grandes contingentes de operários passaram a trabalhar juntos com elevadas jornadas de trabalho e condições insalubres e perigosas de trabalho. Mas este crescimento era improvisado, baseado no empirismo. Com a multiplicação das transações e a demanda de força de trabalho, novos problemas de gerência surgiram. O longo período de trabalho em conjunto permitia estreita relação entre os trabalhadores e uma crescente conscientização das condições de trabalho precárias. Logo, as primeiras tensões apareceram. Os Estados passaram a intervir reprimindo ou propondo algumas leis trabalhistas. A administração e a gerência passaram a ser uma preocupação. O capitalista distanciou-se dos operários, gerando problemas sociais e reivindicativos. A gestão de pessoal e a coordenação do esforço produtivo eram aspectos negligenciados pelos empresários. Tudo isso ensejou o aparecimento de inúmeras organizações baseadas no modelo de organização militar ou eclesiástica. A máquina impôs o caráter cooperativo do trabalho, a necessidade de uma regulação social. O uso capitalista das máquinas leva a uma direção autoritária, à regulamentação trabalhista, à extorsão da mais-valia. As organizações e empresas modernas nasceram com a revolução industrial graças à ruptura das estruturas corporativas da Idade Média, ao avanço tecnológico e à substituição da produção artesanal pela industrial (STONER, 1999; CHIAVENATO, 2003; SILVA, 2008). LEMBRETE A Revolução Industrial iniciou na Inglaterra e pode ser dividida em duas épocas: a 1ª Revolução Industrial (1780 a 1860) pode ser chamada de revolução do carvão e do ferro; e a 2ª Revolução Industrial (1860 a 1914) pode ser chamada de revolução do aço e da eletricidade (CHIAVENATO, 2003). Capítulo 1 35Teorias Administrativas e Organizacionais 1.2.8 A racionalização do trabalho e o aumento da produtividade Com a Revolução Industrial, as pequenas oficinas se transformaram em fábricas. Esta nova realidade impôs novas necessidades, como a organização racional do trabalho (ORT), que surge como uma tentativa de substituir os métodos empíricos de realizar o trabalho por um método científico para elevar a produtividade e combater o desperdício. Essa tentativa é realizada por FrederickTaylor (1911) quando observou que os operários executavam suas tarefas por meio da observação de seus companheiros. Para Taylor (1911), sempre existia um método mais rápido e um instrumento mais adequado para se realizar um trabalho. A Teoria da Administração Científica desenvolvida por Frederick W. Taylor é assunto para o capítulo 2 desta apostila. Entretanto, convém neste tópico compreendermos o que é a ORT. A ORT está fundamentada, segundo Chiavenato (2003, p. 57), nos seguintes aspectos: • análise do trabalho e estudo dos tempos e movimentos; • estudo da fadiga humana; • divisão do trabalho e especialização do operário; • desenho de cargos e de tarefas; • incentivos salariais e prêmios de produção; • conceito de homo economicus; • condições ambientais de trabalho, como iluminação, conforto, etc.; • padronização de métodos e máquinas; • supervisão funcional. Agora, trataremos de cada aspecto individualmente. Análise do trabalho e estudo dos tempos e movimentos Para obter a racionalização do trabalho dos operários, o instrumento básico é o estudo dos tempos e movimentos. O trabalho é executado melhor e mais economicamente por meio da análise minuciosa do trabalho, dividindo cada operação da tarefa em uma série ordenada de movimentos simples. Eliminando os movimentos considerados inúteis e simplificando os úteis. A essa análise do trabalho seguia-se o estudo dos tempos e movimentos. Este estudo visa determinar o tempo médio que um operário comum levaria para executar Capítulo 1 36 Teorias Administrativas e Organizacionais uma tarefa, utilizando um cronômetro. Deste tempo médio, novamente eram adicionados os tempos elementares e mortos, ou seja, esperas, tempos de saída do operário na linha de produção, etc., para obter o tempo padrão. Com isso, padronizava-se o método e o tempo padrão para a execução de uma tarefa (CHIAVENATO, 2003). O objetivo deste estudo é eliminar o desperdício e os movimentos inúteis, racionalizar o trabalho e facilitar o treinamento dos operários. Estudo da fadiga humana Gilbreth (apud CHIAVENATO, 2003), ao perceber que a fadiga predispõe o trabalhador a diminuir a produtividade e qualidade do trabalho; que esta acarreta na perda de tempo; no aumento da rotatividade de pessoal; em doenças e acidentes e na diminuição da capacidade de esforço, realizou um estudo sobre os efeitos da fadiga na produtividade do operário. De forma resumida, a fadiga provoca baixa eficiência. A partir dos estudos realizados para reduzir a fadiga, Gilbreth (apud CHIAVENATO, 2003, p. 59) propôs princípios de economia de movimentos que ele classificou em três grupos: 1) relativos ao uso do corpo humano; 2) relativos ao arranjo material do local de trabalho; 3) relativos ao desempenho das ferramentas e do equipamento. Divisão do trabalho e especialização do operário Com a análise do trabalho e o estudo de tempos e movimentos, houve uma reestruturação das operações industriais. Desta reestruturação, para ajustar-se aos padrões descritos (métodos e tempo), o operário passou a realizar apenas uma única tarefa, tornando-se especialista, ou seja, a divisão do trabalho e a especialização do operário passaram a fazer parte da ORT a fim de elevar a produtividade (CHIAVENATO, 2003). Capítulo 1 37Teorias Administrativas e Organizacionais Desenho de cargos e de tarefas O desenho de cargos e de tarefas foi definido primeiramente por Taylor e corresponde à publicação do seu livro: The principles of scientific management (1911), que estudaremos no capítulo 2. Por hora, importante é que você compreenda o conceito de tarefa e cargo para saber o que é desenhar um cargo. Vamos lá? Chiavenato (2003, p. 60) conceitua: “tarefa é toda atividade executada por uma pessoa no seu trabalho dentro da organização. A tarefa constitui a menor unidade possível dentro da divisão do trabalho em uma organização”. Chiavenato (2003, p. 60) conceitua cargo como “o conjunto de tarefas executadas de maneira cíclica ou repetitiva.” Assim, desenhar um cargo significa especificar seu conteúdo – que seriam as tarefas, os métodos de executar as tarefas e definir as relações com os demais cargos existentes. Incentivos salariais e prêmios de produção Taylor, em seus estudos realizados, percebeu que para que um operário colabore com a organização e trabalhe dentro dos padrões definidos, é necessário que haja incentivos salariais e prêmios de produção. A ideia básica consiste em: “o operário que produz pouco ganha pouco e o que produz mais, ganha na proporção de sua produção. O estímulo salarial adicional para que os operários ultrapassem os tempos-padrão é premio de produção” (CHIAVENATO, 2003, p. 61). Esta era a lógica desenvolvida por Taylor. Conceito de homo economicus O conceito de homo economicus está baseado na ideia de homem econômico, isto é, de que toda pessoa é influenciada exclusivamente por recompensas salariais, econômicas e materiais. São elas que influenciam o homem para que ele desenvolva suas atividades buscando o máximo de produtividade. O homem procura o trabalho pelos benefícios materiais e financeiros que ele pode obter e não porque gosta do trabalho. Capítulo 1 38 Teorias Administrativas e Organizacionais Condições ambientais de trabalho Com os estudos desenvolvidos por Taylor, este verificou que a eficiência depende de outros fatores além do incentivo salarial. As condições de trabalho (adequação de instrumentos e ferramentas e layout) também afetam a produtividade, provocam baixa eficiência e elevam a fadiga (CHIAVENATO, 2003). Padronização de métodos e máquinas A ORT padroniza os métodos e processos de trabalho visando reduzir as perdas na produção. Supervisão funcional Nos estudos realizados por Taylor, ele propôs que para organizar racionalmente o trabalho e elevar a produtividade, um operário deve ser supervisionado por uma autoridade que detenha conhecimento específico sobre determinada área, isto é, a supervisão deve ser realizada de acordo com a especialidade de cada superior sobre o operário. Esta seria a forma mais adequada de ORT e elevação da produtividade. 1.3 Aplicando a teoria na prática Para internalizar os conceitos básicos aprendidos neste capítulo, vamos aplicar a teoria na prática. A melhor forma de fazermos isto é imaginarmos uma situação rotineira (fictícia) em que o processo administrativo precisa ser aplicado. Jonas Reinal trabalha em uma empresa de produtos manufaturados e atuava como supervisor de uma área dentro da produção. Devido ao seu desempenho elevado, suas habilidades e seus métodos aplicados ao trabalho, sua área apresentava uma produtividade superior as outras duas divisões dentro do Departamento de Produção. Jonas obteve reconhecimento e foi promovido. Atualmente, é o Diretor de produção, um nível mais elevado. Passou a se reportar diretamente ao Presidente da empresa e este colocou desafios que terão que ser enfrentados por Jonas. Dentre a lista de desafios apresentados pelo Presidente a Jonas, está elevar a produtividade das outras áreas de produção, coordenadas por outros dois supervisores, que segundo diagnóstico efetuado por uma empresa de consultoria contratada está Capítulo 1 39Teorias Administrativas e Organizacionais relacionado ao uso inadequado dos recursos no processo produtivo. Estas duas áreas acabaram afetando todo o desempenho organizacional. A área de Jonas foi destacada pelos consultores como a única dentro do processo produtivo que mantinha níveis elevados de produtividade, por isso, sua promoção. A partir da situação exemplificada, responda: 1) Qual o domínio das habilidades que Jonas possuía antesda sua promoção que o destacava na sua atividade de supervisor? 2) Que tipo de habilidades Jonas deverá desenvolver no exercício de sua nova função como Diretor de Produção? 3) Explique no que ocasiona o uso inadequado dos recursos em um processo produtivo? 4) Apresente sugestões para melhorar o desempenho organizacional e combater o desperdício de recursos. Como resposta padrão para o caso, destaco os principais aspectos. Você pode complementar com soluções adicionais, a partir de experiências vivenciadas e do material referenciado na apostila. 1) Quando Jonas exercia a função de supervisor de produção, por atuar em um nível intermediário, suas atividades diárias exigiam dele a capacidade de trabalhar com pessoas e por meio delas. Jonas passava a maior parte do tempo coordenando as pessoas para o exercício adequado das suas funções, resolvendo conflitos pessoais e grupais para que os problemas não afetassem a produtividade. Jonas também se preocupava com a motivação dos seus subordinados e, para motivá-los, sempre que alguém se destacava, ele elogiava diante dos colegas e desenvolvia o espírito da cooperação dentro da equipe. 2) Agora que Jonas subiu na escala hierárquica e passou a ocupar um nível mais elevado na organização, terá que desenvolver novas habilidades. Ele terá que compreender a organização como um todo e ter uma visão geral da área de produção. Antes, Jonas era supervisor de uma área dentro da produção, agora ele é responsável pela unidade de produção, isto requer que desenvolva mais a habilidade conceitual em detrimento da habilidade pessoal que antes tomava a maior parte do seu dia. Jonas terá que desenvolver a habilidade de trabalhar Capítulo 1 40 Teorias Administrativas e Organizacionais com abstrações, com teorias, com conceitos, com ideias e compreender as várias funções exercidas na organização, complementá-las entre si. Compreender como a organização se relaciona com seu ambiente e como as mudanças podem afetar a organização como um todo. Ele terá que aprender a lidar com situações que exigiam raciocínio sistêmico, deverá pensar no futuro da organização, planejar este futuro, traçar metas, interpretar a visão e identificar oportunidades e ameaças que possam afetar a organização. 3) Primeiramente convém relembrar o que são recursos. São considerados recursos em uma organização: pessoas, informação, conhecimento, espaço, tempo, dinheiro, instalações. O uso inadequado dos recursos ocasiona em baixa eficiência. Eficiência é a medida da utilização dos recursos quando se faz alguma coisa. Sua ênfase está no meio, na forma como são utilizados os recursos. Ela está relacionada às ‘entradas’ em um processo. Quanto maior as saídas obtidas com as mesmas entradas, maior o grau de eficiência alcançado. Eficiência significa fazer bem e corretamente as coisas. A baixa eficiência pode estar relacionada a muitos fatores como a falta de treinamento das pessoas, o uso inadequado dos equipamentos, a falta de métodos para realizar o trabalho que provocam desperdício de tempo e matéria prima, entre outros. 4) Para melhor o desempenho organizacional, é necessário elevar a eficiência e a eficácia. Eficácia está relacionada aos resultados, são as saídas. Dentre as alternativas para se obter melhoria no desempenho organizacional e combater o desperdício, está a organização racional do trabalho. Ela compreende a aplicação de métodos científicos ao trabalhos e consiste na análise do trabalho aplicando o estudo dos tempos e movimentos. Este estudo consiste na análise minuciosa do trabalho, em que se divide cada operação da tarefa em uma série ordenada de movimentos simples. O objetivo é eliminar os movimentos considerados inúteis e simplificar os úteis. A essa análise do trabalho segue-se o estudo dos tempos e movimentos. Este estudo visa definir um tempo padrão para a execução de cada atividade. É realizado utilizando um cronômetro para medir o tempo. Com a análise do trabalho e o estudo de tempos e movimentos, tem- se uma reestruturação das operações de produção e desta reestruturação o operário passa a realizar apenas uma única tarefa, tornando-se especialista, ou seja, a divisão do trabalho e a especialização do operário passarão a fazer parte da ORT a fim de elevar a produtividade e reduzir o desperdício. A padronização dos métodos e das máquinas também deve ser observada. A aplicação destes Capítulo 1 41Teorias Administrativas e Organizacionais métodos reduzirá a fadiga humana que provoca baixa eficiência. Adicionado a isto, a empresa pode premiar os operários que produzam acima do padrão concedendo a eles prêmios materiais e financeiros como forma de incentivo à elevação da produtividade e eliminação dos desperdícios. 1.4 Para saber mais Para aprofundar seu conhecimento sobre a influência dos filósofos no pensamento administrativo, leia: Título: Discurso do método Autor: DESCARTES, R. Editora: José Olympio, RJ Ano: 1985 O livro propõe um modelo quase matemático para conduzir o pensamento humano, uma vez que a matemática tem por característica a certeza, a ausência de dúvidas. A ideia de Descartes era encontrar um método universal para buscar a verdade. Título: A república Autor: Platão Editora: Edipro, SP Ano: 1994 Neste livro, Platão idealiza uma cidade, onde os dirigentes e os guardiões representam a encarnação da pura racionalidade. Deixando de lado as utopias da república ideal, convém apreciar o esforço de Platão em desvendar os vínculos que ligam os destinos das pessoas ao destino da cidade. Título: Na senda da excelência. 2 Autor: PETERS, T; WATERMAN, R. Editora: Dom Quixote Ano: 1987 Este livro é um best-seller, e o autor inicia o livro com a seguinte frase: “Não existem empresas excelentes.” Título: A riqueza das nações Autor: SMITH, A. Editora: Martins Fontes, SP Ano: 2003 Você também pode acessar: <http://www.economiabr.net/biografia/ smith.html>. Adam Smith, neste livro, procurou demonstrar que a riqueza das nações é resultado da atuação dos indivíduos que, motivados apenas pelo seu próprio interesse, promoviam o crescimento econômico. Capítulo 1 42 Teorias Administrativas e Organizacionais 1.5 Relembrando Neste capítulo, você aprendeu que a administração é uma ciência social aplicada e seu objeto de estudo são as organizações como fenômeno social. A administração se tornou uma das atividades mais importantes e passou a ocupar lugar central à medida que a sociedade de tornou complexa, em função do ritmo acelerado de mudanças, do avanço tecnológico, etc. As funções administrativas básicas que constituem o processo administrativo são: planejamento, organização, direção e controle. Planejar é estabelecer objetivos, traçar metas; organizar é desenhar cargos e tarefas, definir a estrutura organizacional; dirigir é conduzir as pessoas e motivá- las, resolver conflitos; e controlar é checar, verificar, medir o desempenho, estabelecer padrões de comparação para medir o desempenho. A Administração pode ser conceituada como “administrar é fazer as coisas por meio das pessoas de maneira eficiente e eficaz” (CHIAVENATO, 2003, p. 10). Eficiência é a medida da utilização dos recursos quando se faz alguma coisa. Ela está relacionada as ‘entradas’ em um processo. Quanto maior as saídas obtidas com as mesmas entradas, maior o grau de eficiência alcançado (SILVA, 2008). Eficácia é a medida de alcance do objetivo ou resultado. Ela está relacionada à realização das atividades que levem ao alcance dos objetivos/ resultados estabelecidos (CHIAVENATO, 2003; SILVA, 2008). Você aprendeu também que: • recursos: são informações, matéria-prima, mão-de-obra, financeiro, instalações, etc;• habilidades conceituais abrangem capacidade cognitiva, conceitos e ideias abstratas; habilidades humanas envolvem relacionamentos interpessoais e habilidades técnicas compreendem métodos, técnicas e uso de equipamentos; • os papéis exercidos pelos administradores podem ser classificados como papéis interpessoais, papéis informacionais e papéias decisórios. Capítulo 1 43Teorias Administrativas e Organizacionais A partir da leitura deste capítulo, você aprendeu que historicamente muitos princípios administrativos eram ensinados pelos filósofos e aplicados pelas antigas instituições como a igreja e a organização militar, mas que os estudos da administração como ciência são recentes. Foi a partir da Revolução Industrial e da transformaçâo das pequenas oficinas em fábricas que surge a tentativa de substituir os métodos empíricos de realizar o trabalho por um método científico para elevar a produtividade e combater o desperdício. Com isto, tem-se a organização racional do trabalho e o desenvolvimento das primeiras teorias administrativas, que serão exploradas no capítulo 2 desta apostila. 1.6 Testando os seus conhecimentos 1) O conceito de administrar pode ser formulado de várias maneiras, entretanto para que ele possa ser válido, deve possuir alguns elementos chaves. Quais são os elementos chaves para tornar válido um conceito de administração? 2) Para que uma organização obtenha desempenho elevado, é necessário que ela seja eficiente e eficaz. Testando seus conhecimentos adquiridos sobre eficiência e eficácia, faça a correlação adequada dos conceitos. a) Eficiência b) Eficácia ( ) É a medida da utilização dos recursos quando se faz alguma coisa; refere-se à relação entre as “entradas” e “saídas” num processo. ( ) Ênfase nos meios, na realização de tarefas, na resolução de problemas. ( ) Está relacionada ao uso dos recursos organizacionais de modo que resulte em alto desempenho de saídas e em altos níveis de satisfação. ( ) Ênfase nos resultados, consecução dos objetivos, acerto na solução proposta. Capítulo 1 44 Teorias Administrativas e Organizacionais 3) Papéis são conjuntos de expectativas de comportamento de um indivíduo, em situações específicas (SILVA, 2008, p. 15). Conhecendo as (03) três categorias de papéis exercidos pelos administradores, faça a correlação entre os papéis, considerando seus desdobramentos e as situações. I. papéis interpessoais II. papéis informacionais III. papéis decisórios ( ) A organização está passando por um processo de fusão e uma série de conflitos se instalaram na organização e foi designado um interlocutor para administrar a crise. Que tipo de papel ele deverá desempenhar? ( ) A organização Lacerda ampliou sua área de atuação e em face disto contratou um número bastante expressivo de novos funcionários. Esta nova equipe de funcionários recém contratados não conhece os procedimentos para a realização das atividades. Que tipo de papel seria o mais adequado a um administrador numa situação como esta? ( ) A R&K atua no setor de detergentes e está mudando seu negócio para atuar área de cosméticos. Esta decisão veio a partir de um planejamento em que foram identificadas oportunidades. Esta informação, até pouco tempo atrás, era sigilosa, mas diante da necessidade de ampliar o capital financeiro para o investimento pretendido, tomou-se a decisão de anunciar esta mudança. Que tipo de papel o Presidente deverá exercer para obter êxito? Capítulo 1 45Teorias Administrativas e Organizacionais Onde encontrar BATEMAN, T. S. Administração: construindo vantagem competitiva. São Paulo: Atlas, 1998. CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. DAFT, R. L. Organizações: teoria e projetos. 9. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2008. FRANÇA FILHO, G. C. Para um olhar epistemológico da administração: problematizando o seu objeto. In: SANTOS, R. S. (Org.). A administração política como campo do conhecimento. São Paulo/Salvador: Mandacaru, 2004. HOUAISS, A.; VILLAR, M. S.; FRANCO, F. M. de M. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. MAXIMIANO, A. C. A Teoria geral da administração: da revolução urbana a revolução digital. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2009. SILVA, R. O. da. Teorias da administração. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008. STONER, J. A. F.; FREEMAN, R. E. Administração. 5. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1999. Capítulo 1 46 Teorias Administrativas e Organizacionais Capítulo 2 47Teorias Administrativas e Organizacionais A ABORDAGEM CLÁSSICA DA ADMINISTRAÇÃO CAPÍTULO 22 2.1 Contextualizando A abordagem clássica da administração é integrada pela Teoria da administração científica e pela Teoria clássica. A Teoria da administração científica foi desenvolvida por Frederick Winslow Taylor, um engenheiro americano que preocupado em aumentar a eficiência organizacional, realizou uma série de estudos na indústria buscando encontrar a melhor forma de realizar um trabalho. A Teoria clássica foi desenvolvida por Henri Fayol, que também era engenheiro e desenvolveu seus estudos na Europa e teve como preocupação o todo organizacional e a sua estrutura para garantir eficiência. Taylor e Fayol estabeleceram suas doutrinas partindo de pontos diferentes, o primeiro a partir da base, do chão de fábrica, e o segundo, do alto, da gerência. Ao final deste capítulo, voce será capaz de compreender a abordagem clássica da administração. Então, vamos aos estudos! 2.2 Conhecendo a teoria 2.2.1 Teoria da administração científi ca A Teoria da administração científica desenvolvida por Frederick W. Taylor focaliza as tarefas; sua atenção está voltada para a forma como o trabalho é realizado. Seus estudos foram desenvolvidos de baixo para cima (do operário para o supervisor), visando encontrar a melhor forma de realizar um trabalho e eliminar o desperdício e as perdas sofridas pelas Capítulo 2 48 Teorias Administrativas e Organizacionais indústrias americanas, elevando o nível da produtividade por meio da aplicação de métodos e técnicas de engenharia industrial. Frederick Winslow Taylor (1856-1915) foi o iniciador da eficiência industrial e conhecido como o “Pai da Organização Científica do Trabalho”. Nasceu em Germantown, subúrbio de Filadélfia, Estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos. Taylor era descendente de família “quaker” ingleses, pertencia à classe média, com situação financeira razoável, a ponto de permitir a passagem do jovem Fred por alguns colégios dos Estados Unidos. Iniciou sua carreira nas oficinas de construção de máquinas Midvale Steel Company como operário. Pouco depois, o contador da empresa foi despedido e Taylor assumiu o cargo. Passou a torneiro, mestre dos tornos, chefe de seção, contramestre até chegar a engenheiro quando se formou no Curso de Engenharia do Stevens Institute, e desenvolveu seus estudos que o consagraram “pai da administração científica” (TAYLOR, 1990). BIOGRAFIA Os trabalhos de Taylor podem ser divididos em dois períodos. Primeiro período de Taylor O primeiro período de Taylor é marcado pela publicação de seu estudo experimental “Shop management” (1903) ‘‘Direção de Oficinas’’, em que procurava chamar a atenção para o que chamou de filosofia da direção (TAYLOR, 1990). Neste trabalho, o autor dissertava sobre as técnicas de racionalização do trabalho do operário, por meio do Estudo de tempos e movimentos. Em essência, o livro explicitava, segundo Chiavenato (2003, p. 54), que: • o objetivo da administração é pagar salários melhores e reduzircustos unitários de produção; • para realizar tal objetivo, a administração deve aplicar métodos científicos de pesquisa e experimentos para formular princípios e estabelecer processos padronizados que permitam o controle das operações fabris; Capítulo 2 49Teorias Administrativas e Organizacionais • os empregados devem ser cientificamente selecionados e colocados em seus postos com condições de trabalho adequadas para que as normas possam ser cumpridas; • os empregados devem ser cientificamente treinados para aperfeiçoar suas aptidões e executar uma tarefa para que a produção normal seja cumprida; • a administração precisa criar uma atmosfera de íntima e cordial cooperação com os trabalhadores para garantir a permanência desse ambiente psicológico. Segundo período de Taylor O segundo período de Taylor corresponde à publicação do livro Principles of scientific management (Princípios de administração científica), publicado em 1911, que veio interessar os membros da sociedade e do público em geral, em virtude do sucesso de seus trabalhos em oficinas ferroviárias (TAYLOR, 1990; CHIAVENATO, 2003). Para Taylor, as indústrias nesta época padeciam de três males: • vadiagem no trabalho realizada pelos operários que reduziam a produção para um terço do que seria normal, para evitar a redução das tarifas de salários pela gerência. Este estado, segundo Taylor (1990), era determinado por três causas: a) uma ideia disseminada entre os trabalhadores de que o maior rendimento do homem e da máquina terá como resultado o desemprego de grande parte de operários; b) o defeituoso sistema de administração que força os empregados a fazer cera no trabalho, a fim de melhor proteger seus interesses; c) métodos empíricos ineficientes, com os quais o operário desperdiça grande parte de seu esforço; • desconhecimento, pela gerência, das rotinas de trabalho e do tempo necessário para a sua realização; • falta de uniformidade das técnicas e dos métodos de trabalho. Capítulo 2 50 Teorias Administrativas e Organizacionais Para sanar estes males enfrentados pela indústria, Taylor idealizou o Scientific Management, difundido como Administração Científica. 2.2.2 As origens da administração científi ca Com a Revolução Industrial e o advento das máquinas, o nível de produtividade nas indústrias se elevou, entretanto, esta realidade trouxe algumas consequências que podem ser resumidas da seguinte forma (CHIAVENATO, 2003): • o crescimento acelerado e desorganizado das empresas trouxe complexidade à sua administração, o que exigiu uma abordagem científica em substituição a forma empírica até então dominante; • a necessidade de aumentar a eficiência e a competência das organizações, visando obter melhor rendimento dos recursos aplicados e fazer face à concorrência e à competição entre as empresas. A eficiência é a medida da utilização dos recursos quando se faz alguma coisa. Sua ênfase está nos meios, na realização de tarefas, na resolução de problemas, no treinamento de funcionários (CHIAVENATO, 2003; SILVA, 2008). 2.2.3 Características, princípios e postulados da Teoria da administração científi ca Para elevar o nível de produtividade e combater o desperdício, Taylor centrou seus estudos no método de trabalho na forma de execução das tarefas. Foi a partir da observação da forma como os operários realizavam suas tarefas e da forma como aprendiam que Taylor percebeu que a improvisação, o empirismo deveria dar lugar a métodos científicos, a formas mais racionais para realizar o trabalho. Para o autor, é possível, por meio da aplicação de métodos científicos, da organização racional do trabalho, encontrar a melhor maneira de realizar um trabalho. As características enumeradas para uma organização racional do trabalho segundo Taylor (1990); Chiavenato (2003) e Silva (2008) são: Capítulo 2 51Teorias Administrativas e Organizacionais • ciência em lugar de empirismo: Taylor entendia que o trabalho deveria ser organizado a partir de um conjunto de princípios, leis ou teorias que proporcionassem o maior rendimento para o patrão, sem que isso resultasse em fadiga para o empregado, entretanto, as tarefas realizadas deveriam ser observadas, para se propor novas formas de realização que atendessem aos objetivos preconizados pela empresa. Dessa forma, qualquer serviço a ser realizado seria observado com o objetivo de ser aperfeiçoado. Nesse caso, o processo que proporcionasse o maior rendimento seria adotado. Ainda assim, prevalecia o critério de que a qualquer momento novas modificações poderiam ser introduzidas, já que sempre é possível o aperfeiçoamento. A partir dessas hipóteses é que se substitui o critério empírico pelo cientifico, isto significa que o método científico de trabalho proporciona resultados semelhantes em qualquer empresa que tenha resultados semelhantes; • divisão do trabalho: para Taylor, o que torna a administração uma ciência é a divisão do trabalho. Quando o trabalho é dividido, o empregado se acostuma a realizar apenas uma parte do todo, o que o torna um especialista no assunto. Dessa forma, cada operário passou a ser especializado na execução de apenas uma tarefa. A consequência disso é o aumento da produtividade, além da possibilidade de padronizar o tempo de produção por unidade, facilitando o planejamento, a melhoria da qualidade do produto, a redução de custos e o aumento da eficiência. Para Taylor, a divisão do trabalho deve ser estimulada pela chefia, porque o operário de um modo geral não gosta de pensar e sim de ser comandado. A força física deve ser controlada e coordenada por um especialista, uma vez que, a incapacidade de pensar produz resultados muito baixos para a empresa. Taylor compara o operário a um bovino: muita força e pouca imaginação; • supervisão funcional: a supervisão funcional permite que o operário receba ordens de vários chefes, ao mesmo tempo, sem que haja contra ordens entre si, uma vez que cada chefe só atua dentro de seu campo de especialização, isto é, com a divisão do trabalho e a especialização, cada supervisor cuida de uma determinada área ou especialidade; Capítulo 2 52 Teorias Administrativas e Organizacionais Diretor Geral Operário Operário Operário Operário Supersivor de produção Supersivor de manutenção de máquinas Figura 1 - Supervisão funcional • estudo de tempos e movimentos: consiste na análise do trabalho, na observação sistêmica e exaustiva das tarefas realizadas pelos operários. Esta análise consiste na decomposição de cada tarefa e cada operação em uma série ordenada de movimentos simples. Os movimentos inúteis eram eliminados, enquanto, os movimentos úteis eram simplificados, racionalizados ou fundidos visando proporcionar economia de tempo e esforço do operário. A essa análise, seguia-se a determinação do tempo médio que um operário comum levaria para a execução da tarefa, adicionando os tempos elementares e mortos (esperas, tempos de saída do operário da linha para suas necessidades pessoais, etc.), disto resultava o tempo padrão. CONCEITOCONCEITO “Padrão é uma unidade de medida adotada e aceita comumente como critério. A padronização é a aplicação de padrões em uma organização para obter uniformidade e redução de custos. A padronização passa a ser vital para a Administração científica na melhoria da eficiência. A padronização conduz à simplificação na medida em que a uniformidade reduz a variabilidade e as exceções que complicam o processo produtivo” (CHIAVENATO, 2003, p. 63). Capítulo 2 53Teorias Administrativas e Organizacionais • conceito de homem econômico: para Taylor,o operário é um homem simples, de comportamento previsível, com desejos e valores orientados para a vida material. Este homem valoriza tudo que pode trazer a ele mais salário no bolso. Qualquer incentivo financeiro que a empresa lhe ofereça será o suficiente para incentivá-lo ao trabalho. Quando isso é considerado pela administração da empresa, o estímulo financeiro constitui uma estratégia para dirigir e controlar os empregados. Nesse sentido, Taylor, para aumentar a produtividade, instituiu o pagamento por produção. Compreendendo o homem a partir do aspecto econômico, alguns autores idealizaram a figura humana para o empregado, denominando-o por Homo economicus. EXPLORANDOEXPLORANDO Sobre o estudo de tempos e movimentos e divisão do trabalho, assista ao filme Tempos modernos, de Charlie Chaplin, que relata com brilhantismo a situação do operário. Leia também: PREVIATI, A. R. Tempos pós-modernos: o legado de Charlie Chaplin. Revista Espaço Acadêmico, Maringá, ano II, n. 22, mar. 2003. Princípios da administração científica Para Taylor, a gerência deveria aplicar quatro princípios que chamou de fundamentais à administração científica (TAYLOR, 1990; CHIAVENATO, 2003; SILVA, 2008): • princípio de planejamento: substituir o critério individual do operário, a improvisação e a atuação empírico-prático, por métodos baseados em procedimentos científicos. Substituir a improvisação pela ciência, por meio do planejamento do método; • princípio de preparo: selecionar, cientificamente, os trabalhadores de acordo com suas aptidões, prepará-los e treiná-los para produzirem mais e melhor, de acordo com o método planejado. Além do preparo da mão-de-obra, preparar também as máquinas e equipamentos de produção, bem como, o arranjo físico e a disposição racional das ferramentas e materiais; Capítulo 2 54 Teorias Administrativas e Organizacionais • princípio do controle: controlar o trabalho para se certificar de que o mesmo está sendo executado de acordo com as normas estabelecidas; verificar se o trabalho está sendo realizado de acordo com o planejado. A gerência deve cooperar com os trabalhadores para que a execução seja a melhor possível; • princípio da execução: distribuir distintamente as atribuições e as responsabilidades, para que a execução do trabalho seja bem mais disciplinada. CONCEITOCONCEITO “Princípio é uma afirmação válida para uma determinada situação; é uma previsão antecipada do que deverá ser feito quando ocorrer aquela situação” (CHIAVENATO, 2003, p. 64). Com a aplicação destes princípios, Taylor postulava que o aumento da produtividade seria obtido por meio da seleção científica dos empregados. Esta seleção deveria atender a certos requisitos, como a força física, estatura, habilidades manuais, etc. para um melhor rendimento da mão- de-obra. O operário também deveria ser treinado e desenvolvido para o trabalho. Deveria ainda haver uma cooperação íntima da administração com os trabalhadores, de modo que façam juntos os trabalhos. À administração cabem as atribuições para as quais está mais bem aparelhada, isto é, a atividade de pensar, e ao operário, as restantes, ou seja, a atividade de executar (TAYLOR, 1990). Caberia ainda a aplicação do princípio da exceção, onde a atenção do administrador deveria estar focada na verificação das exceções. Tudo o que ocorre dentro dos padrões normais não deve ocupar demasiadamente a atenção do administrador. O princípio da exceção se baseia em relatórios condensados e resumidos que mostram os desvios ou afastamentos, omitindo as ocorrências normais, tornando-os comparativos e de fácil utilização e visualização (CHIAVENATO, 2003). Capítulo 2 55Teorias Administrativas e Organizacionais A administração científica desenvolvida por Taylor constitui-se na racionalização do trabalho que se fundamenta na análise do trabalho do operário, no estudo dos tempos e movimentos e na especialização do trabalhador, na definição de princípios científicos aplicados a todas as situações das empresas. Sua ênfase recai sobre as tarefas realizadas pelo operário, desta forma, Taylor partiu de baixo para cima (do chão de fábrica para a gerência, supervisão). Taylor buscava eliminar o desperdício, a ociosidade praticada pelos operários e reduzir os custos de produção. Seu foco está na eficiência. Para obter a colaboração dos operários e aumentar a produtividade, Taylor aplicou planos de incentivos salariais e prêmios de produção. A base para isto era o tempo padrão. Sua convicção era de que o salário constitui a única fonte de motivação para o trabalhador (homem econômico). A administração científica robotizou o operário, tornando-o um apêndice da máquina, por isso, é comumente chamada de Teoria da máquina. Grandes contribuições aos estudos de Taylor vieram de seus contemporâneos, como Frank (1868-1924) e sua esposa Lilian Gilbreth (1878- 1972), que demonstraram interesse pelo esforço humano para aumentar a produtividade. Os Gilbreth iniciaram estudos dos tempos e movimentos dos operários para a racionalização do trabalho, aplicando inicialmente métodos de Taylor e desenvolvendo posteriormente suas próprias técnicas (SILVA, 2008). Dentre os trabalhos mais importantes realizados pelos Gilbreth, está o Estudo da fadiga humana. O trabalho de Henry Gantt (1861-1919) também sofreu grande influência de Taylor, mas ele também teve contribuições originais, como o sistema de pagamento de incentivo “tarefa-bônus” (pelo qual o trabalhador ganhava um bônus quando alcançasse um padrão). Taylor havia desenvolvido o sistema de “índice por peça diferencial” (SILVA, 2008). Gantt também desenvolveu um gráfico (gráfico de Gantt) que controla o desempenho atual em relação ao planejado e que tem sido utilizado atualmente, provando sua validade como dispositivo de controle (SILVA, 2008). Capítulo 2 56 Teorias Administrativas e Organizacionais PROGRAMADO REALIZADO Figura 2 - Exemplo de Gráfi co Gantt Fonte: Silva (2008). OPERAÇÃO 1 OPERAÇÃO 2 ATIVIDADES JAN FEV MAR ABR MAIO JUN JUL Um dos grandes colaboradores na disseminação e aprimoramento dos princípios da administração científica foi Henry Ford. No início de sua vida trabalhou como mecânico. Segundo Chiavenato (2003), Ford projetou um modelo de carro e em 1899 fundou sua própria fábrica de automóveis, a qual foi fechada em seguida. Todavia, Ford não desaminou e em 1903 fundou a Ford Motor Co. Sua principal ideia era tornar popular um produto que antes era fabricado artesanalmente e que só os milionários poderiam ter, isto é, sua ideia era vender carros a preços populares, com assistência técnica garantida, revolucionando a estratégia comercial da época. Assim, entre 1905 e 1910, Ford promoveu a grande inovação do século XX: a produção em massa. Embora não tenha inventado o automóvel e nem mesmo a linha de montagem, Ford revolucionou na forma de organizar o trabalho. Seu feito: a produção de maior número de produtos acabados com a maior garantia de qualidade e pelo menor custo possível. Essa inovação teve maior impacto sobre a forma de viver do homem. Em 1913, a fábrica de Henry Ford já produzia 800 carros por dia. Em 1914, repartiu com seus empregados uma parte do controle acionário da empresa. Estabeleceu o salário mínimo de cinco dólares por dia e jornada diária de oito horas. À época, a jornada de trabalho variava de dez a doze horas. Em 1926, Ford já possuía 88 fábricas e empregava 150.000 pessoas. Fabricava dois milhões de carros por ano. O sistema utilizado por Ford foi de concentração vertical, produzindo desde a matéria-prima inicial ao produto final acabado, alémda concentração horizontal através de uma cadeia de distribuição comercial por meio de agência própria. Graças ao constante aperfeiçoamento de seus métodos e processo de trabalho, Ford fez uma das maiores fortunas do mundo de sua época. Capítulo 2 57Teorias Administrativas e Organizacionais Para Ford, a condição chave da produção em massa é a simplicidade e três aspectos suportam o sistema: • a progressão do produto através do processo produtivo deve ser planejada, ordenada e contínua; • o trabalho deve ser entregue ao trabalhador em vez de deixá-lo com a iniciativa de ir buscá-lo; • as operações são analisadas em seus elementos constituintes. Ford estabeleceu três princípios básicos: o princípio da intensificação, da economicidade e da produtividade para obter um esquema caracterizado pela aceleração da produção com um ritmo coordenado e econômico. Chiavenato (2003) explica o significado destes princípios: a) Princípio da intensificação: tinha como objetivo diminuir o tempo de duração por meio da utilização imediata dos equipamentos e matéria-prima e a rápida colocação do produto no mercado; b) Princípio da economicidade: visava reduzir ao mínimo o volume do estoque da matéria-prima em transformação, fazendo com que o automóvel fosse pago à empresa antes de vencido o prazo de pagamento dos salários e da matéria-prima adquirida; c) Princípio da produtividade: compreendia o aumento da capacidade de produção do homem no mesmo período (produtividade) por meio da especialização e da linha de montagem. O operário ganha mais e o empresário tem maior produção. Capítulo 2 58 Teorias Administrativas e Organizacionais Henry Ford (1863-1947) deixou seu marco na teoria e prática da administração por meio da linha de montagem. Elevou ao mais alto grau os dois princípios da administração em massa, que é a fabricação de produtos não diferenciados em grande quantidade: peças padronizadas e trabalhador especializado. Cada peça ou componente pode ser montado em qualquer sistema ou produto final. Para alcançar a padronização, Ford passou a utilizar o mesmo sistema de calibragem para todas as peças, em todo o processo de manufatura. Além, de padronização Ford procurou simplicidade, reduzindo o número de peças de seus produtos. Ex.: o bloco de seu motor de quatro cilindros era uma única peça fundida, ao passo que seus concorrentes fundiam os quatro cilindros separadamente, para depois juntá-lo (CHIAVENATO, 2003; SILVA, 2008). CURIOSIDADE 2.2.4 Críticas à Teoria da administração científi ca A Teoria da administração científica desenvolvida por Taylor e seus seguidores é constantemente criticada pelos efeitos causados ao homem, todavia, não diminui seu mérito como a primeira ciência da administração. As principais críticas enfrentadas pela Administração científica são as seguintes (CHIAVENATO, 2003; SILVA, 2008): • Desumanização: o Taylorismo é considerado desumano não apenas por tornar os empregados especializados e dependentes do patrão, mas também pelo trabalho repetitivo e maçante que proporciona às pessoas. A pouca atenção dada ao homem é o fato mais gritante da Teoria científica. • Mecanicismo: a Teoria científica, ao propor a divisão do trabalho, a especialização, os movimentos uniformes e repetitivos na realização das tarefas, transforma o empregado num mecânico, desprovido de desejos. A preocupação é facilitar o trabalho ao máximo para que o empregado não se canse. Entretanto, a falta de incentivo psicológico, causa fadiga mental no empregado, tanto quanto o trabalho braçal causa fadiga física. Capítulo 2 59Teorias Administrativas e Organizacionais • Super especialização: o operário que se especializa na realização de uma só tarefa, ao final de algum tempo, será uma presa fácil do patrão, já que suas chances de emprego fora daquela empresa são reduzidíssimas. Essa é uma das piores causas da super especialização: a subserviência e a alienação do operário, que aliadas à monotonia do trabalho mecânico e maçante, proporcionam a degradação da dignidade humana. • Tempo padrão: para evitar injustiças, na remuneração por produção, o administrador deve considerar as diferenças individuais dos empregados no momento de estipular o ritmo de produção ou o tempo padrão de realização das tarefas, além do que deve proceder à seleção científica dos empregados, evitando assim as diferenças individuais de produtividade. • Visão microscópica do homem: a Teoria da administração cientifica não considera o trabalhador um ser humano e social. Sua concepção do homem é negativa, considerando que as pessoas são preguiçosas e ineficientes. Taylor enfatiza o papel monocrático do administrador: “a aceleração do trabalho só pode ser obtida por meio da padronização obrigatória dos métodos, da adoção obrigatória de instrumentos e das condições de trabalho e cooperação obrigatórias. E essa atribuição de impor padrões e forçar a cooperação compete exclusivamente à gerência” (CHIAVENATO, 2003, p. 70). O esquema de Taylor implicava na obediência às regras, alienando o trabalhador à estrutura administrativa monocrática. Sua visão de homem é atomística e em decorrência desta visão microscópica do homem, ele foi considerado como um apêndice da máquina. • Ausência de comprovação científica: uma das mais fortes críticas enfrentadas pela Teoria da administração científica é por ter criado uma ciência sem o cuidado de apresentar comprovação científica. Seu método partiu do empirismo, no qual o conhecimento é alcançado pela evidência, e não pela abstração. • Abordagem incompleta da organização: sua teoria foi considerada incompleta, parcial e inacabada por limitar-se aos aspectos formais da organização, esquecendo da organização informal e dos aspectos humanos da organização. Essa perspectiva incompleta ignora por Capítulo 2 60 Teorias Administrativas e Organizacionais completo a vida social interna dos participantes da organização. Nesta teoria, as pessoas são tomadas como indivíduos isolados e arranjados de acordo com suas habilidades pessoais e com as demandas da organização. • Limitação do campo de aplicação: além de não considerar os demais aspectos da vida organizacional, como comercial, logístico, financeiro, etc., a teoria da administração científica ficou restrita aos problemas enfrentados na produção de fábrica. O desenho dos cargos e tarefas retrata sua concepção de homem (homem econômico) e se fundamenta em uma expectativa de estabilidade e previsibilidade das organizações. • Abordagem prescritiva e normativa: a teoria da administração científica se caracteriza por prescrever princípios normativos que devem ser aplicados a uma organização. Como um receituário para que o administrador pudesse ser bem sucedido. Essa visão prescritiva e normativa padroniza situações para poder prescrever a maneira como elas deverão ser administradas. Os princípios normativos regem o como fazer as coisas dentro das organizações, visualizando de que maneira ela deve funcionar. • Abordagem de sistema fechado: a teoria da administração científica considera as organizações como se fossem entidades autônomas, hermeticamente fechadas, sem interação com o ambiente. Considera somente o interior da organização, o que acontece dentro dela. • Pioneirismo na administração: esta teoria constitui o ponto de partida da administração, pois é o primeiro esforço científico para analisar e padronizar os processos produtivos com o objetivo de aumentar a produtividade e a eficiência; obteve êxito na racionalização das empresas à época; complementou a tecnologia da época, desenvolvendotécnicas e métodos de racionalização da produção, alcançando aumento da produtividade. Com a teoria da administração científica, constitui-se a primeira teoria administrativa e inicia-se a luta incessante por maior produtividade, algo que perdura até o final do século XX. Capítulo 2 61Teorias Administrativas e Organizacionais A partir da abordagem deste capítulo, vimos que Frederick W. Taylor desenvolveu estudos a respeito de técnicas de racionalização do trabalho dos operários e suas ideias preconizavam a prática da divisão do trabalho. Justamente pelo fato de a característica mais marcante do estudo de Taylor ser a busca de uma organização científica do trabalho, o autor é considerado o precursor da Teoria da administração científica. Então, para que você conheça um pouco mais das concepções e ideias de Taylor, sugiro que você leia um trecho deste artigo sobre as propostas desse autor tão importante quando tratamos de gestão. E perceba, também, como suas ideias ainda continuam reverberando no atual cenário corporativo. Taylor superstar O técnico da racionalização e eficiência no trabalho defendia ser possível que capital e trabalho se dessem as mãos. O que ele propunha era o oposto do antagonismo marxista. A Viking Press lançou, nos Estados Unidos, um livro que está sendo cotado para o Prêmio Pulitzer, a maior distinção literária americana: The one best way: Frederick Winslow Taylor and the enigma of efficiency, de Robert Kanigel. Trata-se de uma biografia de Frederick Taylor, o primeiro expert americano em racionalização e eficiência no trabalho. O que haveria de tão especial com um ideário de administração do início do século? É que tendo sido o primeiro “manifesto revolucionário” sobre o redesenho de processos de trabalho visando aumentos radicais de produtividade é, de longe, o mais bem-sucedido de todos até hoje. [...] A ideia taylorista acabou extrapolando o mundo da empresa e penetrando em todos os aspectos da vida do século XX. Como um ácido que dissolve tudo, nada foi capaz de detê-la. A originalidade do livro de Kanigel está na ênfase que dá a essa dimensão pouco notada das ideias de Taylor: elas partiram do “chão de fábrica”, mas alçaram voo e acabaram condicionando obsessivamente a cultura do século. O paradoxo é o mesmo que hoje atormenta os executivos: funcionários que só obedeçam passivamente não são mais o bastante para a empresa moderna que, de fato, precisa de outro tipo de gente. Apesar disso, não há nenhuma alternativa que torne viável, para além do bla-bla-blá habitual, a famosa participação de todos nas decisões, sem distinção hierárquica. Os mais capazes continuam a ser aqueles mais bem pagos, justamente por assumir a responsabilidade de identificar o “one best way”. Um bom “gerente científico” hoje, como sempre, vale ouro. Capítulo 2 62 Teorias Administrativas e Organizacionais [...] Peter Drucker, numa entrevista à revista Wired (agosto de 1996), falou sobre a ideia, hoje popular, de se encarar a organização como uma banda de jazz, na qual todos escrevem a partitura enquanto tocam. “Soa bonito, mas ninguém realmente descobriu uma maneira de fazer isso”, diz Drucker. Esse é o problema. Repare nessa enxurrada de modismos em administração. Da década de 80 para cá, são incontáveis as propostas “revolucionárias” que apareceram com a promessa de promover viradas radicais nas performances das empresas. Da qualidade total à reengenharia de processos. Da empresa voltada para o cliente aos times multifuncionais. Tudo isso, se originou como reação à devastação perpetrada pelos produtos japoneses nos mercados ocidentais, a partir da segunda metade da década de 70. Mas o sucesso japonês tinha muito mais a ver com Taylor do que com “cliente em primeiro lugar”, se é que o leitor me entende. No seu primeiro momento, foi algo muitíssimo mais vinculado a sistemas otimizados de produção (alta qualidade com baixo custo) do que com qualquer outra coisa. Taylor puro. [...] Taylor montou seu sistema mediante o aprendizado na prática. Foi trabalhar como operário para aprender e entender. Elaborou-o por décadas, antes de publicá- lo. Ficou nacionalmente famoso em 1910 quando um grupo poderoso de estradas de ferro solicitou licença ao governo federal americano para aumentar os preços das passagens, mas teve o pedido negado. A resposta que ouviram foi: “Vocês podem economizar mais que o que vão ganhar com o aumento solicitado, se usarem os métodos de um gênio da Filadélfia chamado Frederick Taylor”. O New York Times abriu manchete em 10 de novembro de 1910: “Estradas de Ferro podem economizar $ 1.000,000 por dia. Scientific management faz isso. Aumento de preços é desnecessário”. A América entrava em euforia com a descoberta da eficiência. De repente, Taylor e seus métodos estavam em toda parte, mas apesar dos resultados, a polêmica andava sempre junto. O taylorismo sempre foi associado a algo desumano, que não levava em conta as necessidades individuais do trabalhador, vendo-o apenas como peça de um sistema em que ele não podia interferir. Empresários o adotavam, mas intelectuais e ideólogos à direita e à esquerda o repudiavam por razões diferentes, identificando demônios opostos na mesma visão. Tampouco no movimento sindical Taylor encontrou apoio. Seja como for, o fato permanece: o taylorismo é uma ideia central de nossa época, um dos pilares do poderio americano no século XX. [...] A “alienação” do trabalhador diminuiu, contradizendo o dictum marxista, que acabou caindo no vazio. Drucker atribui tudo isso explicitamente à influência de Taylor, a quem considera o mais importante e mais injustiçado intelectual americano deste século. O taylorismo sempre teve um componente paradoxal. Ninguém proporia, hoje, a aplicação literal de seus princípios como solução para os impasses do mundo complexo e plural do fim do século XX. Todos sabemos que temos de superá-lo, só não sabemos o que colocar em seu lugar. Fonte: NOBREGA, C. Taylor superstar. Revista Exame, São Paulo, v. 30, n. 20, p.124-128, 24 set. 1997. Capítulo 2 63Teorias Administrativas e Organizacionais No artigo, Nóbrega (1997) ainda enfatiza que para Taylor, o trabalhador não precisava pensar, mas teria de participar. Desse modo, no centro da ideia taylorista, salienta, há uma enfática proposta de participação do trabalhador. Participação no resultado, e não na formulação dos processos ou das decisões que levariam a melhores resultados. Assim, o trabalhador, para Taylor, não precisaria ser inteligente; só precisaria obedecer. Pensar, neste caso, era para o “gerente científico”. (NÓBREGA, 1997) Bernardes e Marcondes (2003) salientam que os primeiros administradores da produção deram grande importância à tecnologia, criando processos eficientes de fazer as coisas, e não ciência explicativa dos fenômenos organizacionais. Assim, acrescentam os autores (2003, p. 29): “o sentido ideológico de suas práticas é evidente, pois visavam o aumento da produtividade e, em decorrência, o crescimento dos lucros dos patrões que os pagavam”, tendo ainda como contrapartida o aumento dos salários da mão de obra. Vejamos, então, as características primordiais da Teoria clássica da administração. 2.2.5 Teoria clássica da administração A Teoria Clássica da administração foi desenvolvida quase na mesma época do desenvolvimento da Teoria da Administração Científica. O objetivo desta teoria era obter o máximo de produtividade por meio da definição de uma estrutura administrativa. Por isso ela comumente é também conhecida por Teoria Anatômica, pois busca a eficiência por meio da forma e disposição de seus órgãos componentes. Sua abordagem é realizada de cima para baixo, ou seja, da direção para a execução, inversamente à Teoria daAdministração Científica. Esta teoria também define as funções do administrador e os princípios gerais de administração. Capítulo 2 64 Teorias Administrativas e Organizacionais 2.2.6 Origens da Teoria clássica da administração Henry Fayol (1841-1925), francês, engenheiro de minas desenvolveu uma teoria para o corpo administrativo da empresa. Daí o nome também conhecido de Teoria anatômica. A ênfase da sua teoria está na estrutura que a organização deveria possuir para ser eficiente (FAYOL, 1989; CHIAVENATO, 2003). A doutrina de Fayol visa facilitar a gerência de empresas, sejam industriais, militares ou qualquer outra, por meio da aplicação de seus princípios, suas regras e seus processos. Para Fayol, a administração é uma função que se reparte, como as outras funções especiais, entre a cabeça e os membros do corpo social (FAYOL, 1989). Henri Fayol (1841-1925) nasceu na França, numa família burguesa. Estudou na Escola de Minas de Saint-Étienne, onde se graduou engenheiro de minas. Foi diretor de diversas sociedades de sua especialidade, em particular da Societé Anonyme de Commentry-Four- Chambault et Decazeville, que dirigiu de 1888 a 1918. Dedicou-se desde a juventude ao estudo da organização das grandes empresas, criando a doutrina que leva o seu nome “fayolismo”. Fayol propôs que fosse colocado, no lugar do empirismo, um método para administrar os negócios. Introduziu conceitos gerenciais, que foram estruturados e abarcam a obra Administração industrial e geral, publicada em 1916 (FAYOL, 1989). BIOGRAFIA 2.2.7 As funções básicas da empresa Fayol (1989) afirma que toda empresa pode ser dividida em seis grupos de funções: • funções técnicas: relacionadas à produção, fabricação, transformação de bens ou serviços da empresa; Capítulo 2 65Teorias Administrativas e Organizacionais • funções comerciais: relacionada a compras, vendas e permutas; • funções financeiras: relacionada à procura e gerência de capitais; • funções de segurança: relacionada à proteção de bens e de pessoas; • funções de contabilidade: relacionadas a inventários, balanços, preços de custo, estatística, etc.; • funções administrativas: relacionadas à previsão, organização, direção, coordenação e controle. Esses seis grupos de funções consideradas essenciais por Fayol sempre existem em qualquer empresa, seja ela simples ou complexa, pequena ou grande. Para o autor, a função administrativa tem o encargo de formular o programa geral de ação da empresa, de constituir o seu corpo social, de coordenar os esforços, de harmonizar os atos. A função administrativa é dividida com as outras funções consideradas pelo autor como essenciais; entre a cabeça e os membros do corpo social, ela tem a responsabilidade de integrar as outras cinco funções (FAYOL, 1989). Para Fayol (1989, p. 26): • administrar é prever, organizar, comandar, coordenar e controlar; • prever é perscrutar o futuro e traçar o programa de ação. • organizar é construir o duplo organismo, material e social da empresa. • comandar é dirigir o pessoal. • coordenar é ligar, unir e harmonizar todos os ator e todos os reforços. • controlar é velar para que tudo corra de acordo com as regras estabelecidas e as ordens dadas. A administração ocupa lugar de destaque, tanto o diretor, o chefe, quanto o supervisor desempenham, cada qual, atividades de previsão, organização, comando, coordenação e controle, como atividades administrativas essenciais (CHIAVENATO, 2003). Capítulo 2 66 Teorias Administrativas e Organizacionais Figura 3 - Funções defi nidas como essenciais da empresa para Fayol Funções Administrativas Funções técnicas Funções comerciais Funções financeiras Funções de segurança Funções contábeis Importância relativa das capacidades para o desempenho das funções nas empresas Na visão de Fayol, para o desempenho de cada função, existe uma capacidade especial, isto é, as capacidades repousam sobre um conjunto de qualidades e conhecimentos que podem ser resumidos da seguinte forma (FAYOL, 1989): 1) qualidades físicas: saúde, vigor, destreza; 2) qualidades intelectuais: aptidão para compreender e aprender, discernimento, força e agilidade intelectual; 3) qualidade moral: energia, firmeza, coragem de aceitar responsabilidade, iniciativa, decisão, tato, dignidade; 4) cultura geral: conhecimentos variados que não são exclusivamente do domínio da função exercida; 5) conhecimentos especiais: relativos unicamente à função, seja ela técnica, comercial, financeira, etc.; 6) experiência: conhecimento resultante da prática dos negócios. É a lembrança das lições que os fatos proporcionam a todos nós. Cada um dos elementos que compõe a capacidade se relaciona com a natureza e a importância das funções, destaca Fayol (1989). Para o autor, a capacidade principal do operário, por exemplo, é a capacidade técnica. À medida que alguém se eleva na escala hierárquica, a importância relativa da capacidade administrativa se eleva, enquanto a capacidade técnica diminui. A capacidade principal de um diretor expõe Fayol (1989) é a capacidade administrativa. Quanto mais elevado é o nível hierárquico, mais essa capacidade é exigida. Capítulo 2 67Teorias Administrativas e Organizacionais Fayol (1989, p. 29) expõe: “à medida que se sobre na escala hierárquica, a importância dessas capacidades (comercial, financeira, etc.) no valor de cada categoria de agentes vai diminuindo e tende a nivelar-se”. Isto é, para o autor, a capacidade técnica é a principal dos agentes inferiores da grande empresa e dos chefes da pequena empresa industrial; a capacidade administrativa é a principal dos grandes chefes. A capacidade técnica domina na base da escala hierárquica industrial e a capacidade administrativa, no ápice. Então, para ilustrar esta escala hierárquica que mencionamos, apresentamos a figura a seguir, em que você pode facilmente visualizar o que foi explicado. Funções Administrativas • Prever • Organizar • Comandar • Coordenar • Controlar Outras funções Não Administrativas Mais elevados Níveis Hierárquicos Mais baixos Figura 4 - Proporcionalidade da função administrativa Fonte: Chiavenato (2003, p. 82). E você sabe quais são os princípios gerais da Teoria da administração científica? Vamos conhecê-los! 2.2.8 Princípios da Teoria clássica da administração Fayol enumerou um conjunto de 14 princípios gerais da administração que devem ser aplicados para a saúde e o bom funcionamento da organização. O autor, apesar de utilizar a palavra princípio, afasta dela a ideia de rigidez. Para ele, não existe nada rígido, absoluto, em matéria administrativa, tudo é uma questão de medida quando se trata de administração. É necessário ter em mente que quase nunca se aplicará o mesmo princípio duas vezes em condições idênticas. Os princípios precisam ser maleáveis e suscetíveis de adaptar-se a todas as necessidades, a arte está em saber servir-se deles com inteligência, experiência, decisão e com moderação (FAYOL, 1989). Capítulo 2 68 Teorias Administrativas e Organizacionais Os 14 princípios definidos por Fayol (1989) são: • divisão do trabalho: tem por finalidade produzir mais e melhor, com o mesmo esforço. Consiste na especialização das funções para aumentar a eficiência. A divisão do trabalho permite reduzir o número de objetivos sobre os quais, se devem aplicar atenção e esforços. Essa é a melhor forma de se obter o máximo proveito do indivíduo e da coletividade; • autoridade e responsabilidade: a autoridade consiste no direito de mandar e no poder de se fazer obedecer. Não se concebe a autoridade sem a responsabilidade.A responsabilidade decorre da autoridade, é uma consequência natural, uma contrapartida indispensável. Sempre que se exerça a autoridade nascerá a responsabilidade; • disciplina: consiste na obediência, na assiduidade, na atividade, na presença e nos sinais exteriores de respeito demonstrados segundo as convenções estabelecidas entre a empresa e seus agentes. • unidade de comando: um agente deve receber ordens somente de um chefe, essa é a regra. A dualidade de comando é fonte de conflitos, às vezes muito graves, que reclamam pela atenção dos chefes em todos os níveis; • unidade de direção: para que se tenha unidade de direção, deve-se ter um só chefe e um só programa para um conjunto de operações que visam o mesmo objetivo. Importante, todavia não confundir unidade de direção com unidade de comando; • subordinação do interesse particular ao interesse geral: o interesse de um agente ou grupo de agentes não deve prevalecer sobre o interesse geral da empresa; • remuneração do pessoal: é o prêmio pelo serviço realizado. Este deve ser justo, equitativo, satisfazendo empregador e empregados; • centralização: refere-se à direção de onde partem as ordens que movimentam as partes da organização. Trata-se de encontrar o limite favorável à empresa; Capítulo 2 69Teorias Administrativas e Organizacionais • hierarquia: constitui-se na série dos chefes que vai da autoridade superior aos agentes inferiores, assegurando-se unidade de comando; • ordem: deve ser aplicada para material, um lugar para cada coisa e cada coisa em seu lugar e para as pessoas, um lugar para cada pessoa e cada pessoa em seu lugar. Para isto, é importante reservar para cada objeto um lugar para que este esteja no lugar que foi designado. Da mesma forma, para que a ordem social reine, é preciso reservar um lugar para cada agente e garantir que cada agente esteja no lugar que lhe foi destinado; • equidade: benevolência com justiça, sem excluir energia e rigor; • estabilidade do pessoal: a instabilidade prejudica a eficiência. Uma pessoa necessita de tempo para desempenhar bem uma nova função, é a chamada curva de aprendizagem. A alta rotatividade leva à baixa eficiência; • iniciativa: capacidade de idealizar um plano e assegurar-lhe sucesso; • união do pessoal: grande parte da força vital de uma empresa vem da harmonia e união das pessoas. Lembremos que, para Fayol, administrar significa prever, organizar, comandar, coordenar e controlar. Prever significa perscrutar o futuro e traçar o programa de ação; organizar é constituir o duplo organismo, material e social da empresa; comandar é dirigir o pessoal; coordenar é ligar, unir e harmonizar todos os atos e esforços; controlar é velar para que tudo ocorra de acordo com as regras estabelecidas e as ordens dadas (CARAVANTES; PANNO; KLOECKNER, 2004, p. 61). Vejamos, a seguir, um quadro que sintetiza os princípios gerais da administração mencionados por Fayol. Os princípios poderiam assegurar o bom funcionamento da empresa. Note que ainda são utilizados, com algumas adaptações, em nosso ambiente organizacional. Perceba ainda que Fayol adota a nomenclatura princípios, levando em conta sua maleabilidade e a capacidade de adaptação. Capítulo 2 70 Teorias Administrativas e Organizacionais 1) Divisão do trabalho 2) Autoridade e responsabilidade 3) Disciplina. 4) Unidade de comando. 5) Unidade de direção. 6) Subordinação dos interesses individuais aos interesses gerais. 7) Remuneração do pessoal. 8) Centralização. 9) Cadeia escalar. 10) Ordem. 11) Equidade 12) Estabilidade do pessoal. 13) Iniciativa. 14) EspÍrito de equipe. Quadro 1 - Princípios de Fayol Fonte: adaptado de Fayol (1989). LEMBRETELEMBRETE Lembre-se da frase de Henri Fayol: “Não existe nada rígido ou absoluto quando se trata de problemas de administração: tudo é uma questão de proporção.” Fayol teve alguns seguidores das suas ideias, que engajados na administração ou práticas consultivas, explicitaram seus pontos de vista seguindo os conceitos estabelecidos por Fayol. Dentre eles estão: Luther Gulick, Lyndall F. Urwick, James D. Mooney e Alan Reiley. Vejamos, como exemplo, as ideias defendidas por Luther Gulick e Lyndall F. Urwick. Luther Gulick, na sua visão das funções administrativas, ampliou a reversão do processo de Fayol e desenvolveu o que chamou de POSDCORB (SILVA, 2008, p. 150): • Planning (planejamento) – ações e métodos para alcançar os propósitos da organização. Capítulo 2 71Teorias Administrativas e Organizacionais • Organizing (organização) – estruturação formal das atividades organizacionais. • Staffing (assessoria) – função de treinamento dos participantes e de criação de condições favoráveis de trabalho. • Directing (direção) – tomada de decisão, sua implementação e as instruções das atividades do “líder”. • Coordination (coordenação) – inter-relacionamento das várias partes do trabalho. • Reporting (informação) – comunicação das informações para conhecimento das ações. • Budgeting (orçamento) – planejamento, contabilidade e controle na forma fiscal, das atividades organizacionais. A aplicação das funções administrativas desenvolvida por Gulick teve sua aplicação primeiramente na administração governamental. Lyndall F. Urwick deu ênfase a alguns princípios de organização enfatizados por Fayol. Segundo Chiavenato (2003) e Silva (2008), são eles: • princípio da especialização – um funcionário deve exercer só uma função, o que determina a divisão especializada do trabalho; • princípio da autoridade – deve haver uma linha de autoridade, definida e reconhecida por todos da organização; • princípio da amplitude administrativa – cada superior deve possuir um número determinado de subordinados, variando segundo o nível e a natureza dos cargos, sua complexidade e o preparo dos subordinados; • princípio da definição – os deveres, a autoridade e a responsabilidade de cada cargo devem ser definidos por escrito e ser comunicada a todas as pessoas da organização. Capítulo 2 72 Teorias Administrativas e Organizacionais 2.2.9 Críticas à Teoria clássica da administração Há diferentes críticas a respeito do trabalho de Fayol. Todas as teorias posteriores da administração se preocuparam em apontar as falhas desta teoria. Dentre as principais críticas à Teoria clássica, segundo Chiavenato (2003), tem-se: • Abordagem simplificada da organização formal: para os autores clássicos a organização é compreendida de forma lógica, formal, rígida, sem considerar os aspectos psicológicos e sociais. Limitam-se à organização formal, estabelecem esquemas lógicos e preestabelecidos, segundo, os quais, as organizações devem ser construídas e governadas. São prescritivos e normativos, determinando como o administrador deve conduzir-se diante das situações para obter máxima eficiência. A preocupação é com as regras. • Ausência de trabalhos experimentais: a pretensão da Teoria clássica foi elaborar uma ciência de administração, substituindo o empirismo e a improvisação por técnicas científicas. Entretanto, os conceitos fundamentados pelos autores clássicos sustentam-se pela observação e senso comum. Seu método é empírico e concreto, baseado na experiência direta e no pragmatismo e não confrontam a teoria com elementos de prova. • Extremo racionalismo na concepção da administração: a clareza das ideias é sacrificada pela preocupação racional e lógica das suas proposições. O abstracionismo e o formalismo são criticados por levaram a análise da administração à superficialidade, à super simplicidade e à falta de realismo. • Teoria máquina:recebe esta denominação pelo fato de considerar a organização sob o prisma do comportamento mecânico de uma máquina: a determinadas ações ou causas decorrem determinados efeitos ou consequências dentro de uma correlação determinista. A organização de ser arranjada tal como uma máquina. Os modelos administrativos correspondem à divisão mecanicista do trabalho em que a divisão do trabalho é a mola do sistema. Capítulo 2 73Teorias Administrativas e Organizacionais • Abordagem incompleta da organização: sua preocupação foi apenas a organização formal, esquecendo da organização informal. Seu foco na forma e sua ênfase na estrutura levaram a exageros. A teoria não ignorou os problemas humanos da organização, entretanto, não conseguiu dar um tratamento sistemático à interação entre pessoas e grupos informais, nem aos conflitos intraorganizacionais e ao processo decisório. • Abordagem de sistema fechado: a teoria clássica trata a organização como se fosse um sistema fechado, considerando algumas variáveis, perfeitamente, conhecidas e previsíveis e que alguns aspectos são manipulados por meio de princípios gerais e universais. Apesar das críticas à Teoria clássica da administração, esta abordagem permite, segundo Chiavenato (2003), a execução de tarefas administrativas rotineiras, disseca o trabalho gerencial em categorias compreensíveis e úteis. Os princípios proporcionam guias gerais que permitem ao administrador manipular os deveres do cotidiano do seu trabalho. Conclusão da abordagem clássica da administração A Teoria da administração científica desenvolvida por Taylor (1911) e a Teoria clássica desenvolvida por Fayol (1916) inauguram a ciência da administração. Apesar de partirem de pontos diferentes de análise, pois Taylor partiu do chão de fábrica enfatizando as tarefas e Fayol partiu da gerência enfatizando a estrutura, seus estudos podem ser considerados complementares. Há muitas similaridades em seus estudos, dentre elas, a restrição à organização formal e o foco na eficiência. Capítulo 2 74 Teorias Administrativas e Organizacionais Para que você possa fixar as duas teorias e compará-las, apresentamos um quadro resumo. Abordagem Clássica da administração Teoria da Administração Científica - Taylor Teoria Clássica da Administração - Fayol Ênfase nas tarefas Ênfase nas estruturas Estudos realizados de baixo para cima. Estudos realizados de cima para baixo. Principal obra: Princípios da Administração Científica (1911) Principal obra: Administração Industrial e Geral (1916) Objetivo: aumentar a eficiência da organização por meio da especialização do operário. Objetivo: aumentar a eficiência da organização por meio da forma e disposição dos órgãos componentes Figura 5 - Comparativo entre Taylor e Fayol Concluímos nosso capítulo destacando, a partir desse quadro comparativo, que enquanto Taylor desenvolvia a chamada Administração Científica nos Estados Unidos, surgia na França, difundindo-se rapidamente pela Europa, a chamada Teoria clássica da administração. Se, por um lado, a Administração Científica se caracterizava pelo foco na tarefa realizada pelo operário, a Teoria clássica era marcada pela ênfase na estrutura que a organização deveria possuir para ser eficiente. Podemos dizer que ambas fornecem os fundamentos para a abordagem clássica da administração e tinham o mesmo objetivo: a busca da eficiência das organizações. Capítulo 2 75Teorias Administrativas e Organizacionais 2.3 Aplicando a teoria na prática Vamos praticar! Agora que você que já conhece os princípios e teorias que fundamentam a administração científica e a teoria clássica, convém praticá-los para ajudar a fixar. Jader é diretor presidente de uma pequena empresa que fabrica barcos. Sua empresa está há 10 anos no mercado e Jader resolveu ampliar suas atividades, pois percebeu o bom momento do mercado. Para ampliar seus negócios, Jader terá que contratar vendedores, gerentes e pessoal administrativo, pois, atualmente, todas as vendas são realizadas diretamente por ele. Além de diretor presidente da empresa, Jader acumula o cargo de gerente comercial, gerente financeiro e ainda supervisiona as atividades de produção. Jader também tem percebido que a sua eficiência já não é mais a mesma. Como você poderia ajudar Jader sendo conhecedor das Teorias administrativas? Você conseguiu resolver a questão? Espero que sim! Como conhecedor das Teorias administrativas, aconselharia Jader a dividir as funções da empresa com os novos funcionários contratados para que ela continuasse a ser produtiva, voltasse a ser eficiente e se tornasse ainda mais rentável. Para que ele pudesse realmente compreender esta ideia de dividir a empresa em funções, descreveria a ele as funções consideradas básicas, descritas por Fayol que toda e qualquer empresa deve possuir. São elas: • funções técnicas: relacionadas à produção, fabricação, transformação de bens ou serviços da empresa; • funções comerciais: relacionada a compras, vendas e permutas; • funções financeiras: relacionada à procura e gerência de capitais; • funções de segurança: relacionada à proteção de bens e de pessoas; • funções de contabilidade: relacionadas a inventários, balanços, preços de custo, estatística, etc.; • funções administrativas: relacionadas à previsão, organização, direção, coordenação e controle. Capítulo 2 76 Teorias Administrativas e Organizacionais Explicaria ainda a ele que a função administrativa é dividida com as outras funções consideradas como essenciais. Reforçaria dizendo que: independente da função desempenhada por cada gerente, todos devem realizar previsões sobre o futuro da sua área, todos devem organizar as atividades pelas quais são responsáveis, comandar o pessoal que está sob sua supervisão, coordenar as atividades e os funcionários e realizar checagens verificando se o que está sendo executado está dentro do previsto. 2.4 Para saber mais Site: Centro Atlântico URL: http://www.centroatl.pt/edigest/edicoes/ed48dossier1.html#36/ Observe, neste site, os estudos desenvolvidos sobre a organização racional do trabalho, vida e obra de Frederick W. Taylor. Título: Fordismo, Tayotismo e Volvismo: os caminhos da indústria em busca do tempo perdido Autor: Wood Jr, T. Revista: Revista de Administração de Empresas Editora: São Paulo Ano: 1992 Este texto sugeriu linhas alternativas para implantação de organização do processo de trabalho. Apresenta um modelo de produção com mudanças qualitativas com pretensões inovadoras. 2.5 Relembrando Neste capítulo, você aprendeu que: • a primeira teoria administrativa foi desenvolvida por Frederick W. Taylor (1911). Sua preocupação era elevar os níveis de produtividade, reduzindo os níveis de desperdício e a ociosidade dos operários; • seus estudos foram realizados de baixo para cima, no chão de fábrica e sua ênfase está nas tarefas; Capítulo 2 77Teorias Administrativas e Organizacionais • seu primeiro trabalho foi Shop management (1903), tratando sobre técnicas de racionalização do trabalho, onde realizou estudos de tempos e movimentos; • o segundo período de Taylor corresponde à publicação do livro The principles of scientific management (1911), onde definiu princípios de administração que podem ser aplicados a todos os tipos de empresas; • sua convicção era de que a única forma de motivar o operário é por meio de recompensas salariais, econômicas, materiais. Por isso, aplicou planos de incentivos para obter a colaboração dos operários com base no tempo padrão, buscando a eficiência máxima; • a principal contribuiçãode Taylor à teoria de administração foi a aplicação dos métodos científicos aos sistemas de produção; • as limitações de sua teoria estão relacionadas à visão restrita da organização apenas sob a ótica formal, a consideração do homem como máquina e a sua forma prescritiva e normativa; • Henri Fayol desenvolveu a Teoria clássica da administração, também conhecida como Teoria anatômica; • sua ênfase está na estrutura, definindo a forma e a disposição dos órgãos e as suas inter-relações. Seus estudos foram realizados de cima para baixo, no nível do gerente; • definiu as funções básicas da empresa: técnicas, comerciais, financeira, de segurança, de contabilidade e administrativa, que implica no exercício da atividade de prever, organizar, comandar, coordenar e controlar; • a função administrativa foi considerada por Fayol como a mais importante, pois esta se reparte, proporcionalmente, em todos os níveis da empresa; Capítulo 2 78 Teorias Administrativas e Organizacionais • o desempenho da função administrativa se revela segundo Fayol ainda com maior ênfase à medida que um indivíduo sobe na escala hierárquica. Segundo o autor, à medida que um indivíduo sobe na escala hierárquica de uma organização, aumenta-se o desenvolvimento da capacidade do exercício da atividade administrativa em detrimento da função técnica; • Fayol também estabeleceu 14 princípios gerais da administração que devem ser aplicados para a saúde e o bom funcionamento da organização: divisão do trabalho, autoridade e responsabilidade, disciplina, unidade de comando, unidade de direção, subordinação do interesse particular ao interesse geral, remuneração do pessoal, centralização, hierarquia, ordem, equidade, estabilidade do pessoal, iniciativa e união do pessoal; • suas contribuições se fundamentam nos princípios gerais de administração que formam o processo administrativo; • as críticas envolvem a visão simplificada da organização enfatizando somente a organização formal, esquecendo a organização informal, a forma prescritiva e normativa; • a complementaridade dos trabalhos de Taylor e Fayol é fundamental para o sucesso empresarial e a substituição do empirismo por uma ciência da administração. 2.6 Testando os seus conhecimentos 1) Para melhorar o rendimento da produtividade dos trabalhadores do Porto de Itajaí, Alexandra pretende medir os tempos e movimentos do pessoal para melhor balancear o ritmo e a cadência do trabalho. Explique o que é este estudo de tempos e movimentos que Alexandra está querendo realizar. Capítulo 2 79Teorias Administrativas e Organizacionais 2) Complete as sentenças de acordo com os conceitos teóricos estudados de cada Teoria. a) Frederick W. Taylor desenvolveu a chamada ___________. A preocupação básica era aumentar a produtividade da empresa por meio do aumento da _____________. b) Sua ênfase está nas _____________, pois Taylor desenvolveu seus estudos de_____________ da organização. c) Henri Fayol desenvolveu a chamada ______________. A preocupação básica era aumentar a produtividade por meio do aumento da ___________ da empresa, realizada esta por meio da forma e disposição dos órgãos componentes da organização. d) Sua ênfase está na ____________, desenvolvendo seus estudos de______________ da organização. e) As duas Teorias a que nos referimos anteriormente fazem parte da abordagem ______________. 3) Para Frederick W. Taylor, a empresa deveria aplicar o princípio da supervisão funcional, enquanto Henri Fayol pregava o princípio da unidade de comando. Explique a diferença entre os dois princípios. 4) Assinale V para verdadeiro e F para falso nas afirmativas que correspondem às características da abordagem clássica da administração: ( ) Visão de homem como Homo economicus. ( ) Ênfase nas relações entre as pessoas. ( ) Inspirada em sistemas de psicologia e sociologia. ( ) Especialização das tarefas. ( ) Seleção científica do trabalhador. ( ) Função administrativa se divide em: prever, organizar, liderar, comandar e coordenar. Capítulo 2 80 Teorias Administrativas e Organizacionais Onde encontrar CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. FAYOL, H. Administração industrial e geral. São Paulo: Atlas, 1989. NOBREGA, C. Taylor superstar. Revista Exame, São Paulo, v. 30, n. 20, p.124- 128, 24 set., 1997. SILVA, R. O. da. Teorias da administração. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008. TAYLOR, F. Princípios de administração científica. 8. ed. São Paulo: Atlas, 1990. Capítulo 3 81Teorias Administrativas e Organizacionais A ABORDAGEM HUMANÍSTICA DA ADMINISTRAÇÃO E A BEHAVIORISTA CAPÍTULO 33 3.1 Contextualizando Este capítulo apresenta a visão humanista em contraposição ao modelo racional da abordagem clássica da administração. Na abordagem humanista, o ser humano passa a ser visto como um ser ativo e criativo, que possui necessidades e busca satisfazê-las operando dentro e fora do ambiente organizacional. Esta abordagem dá precedência aos sentimentos e desejos do indivíduo. Enfatiza a importância dos grupos sociais, da organização informal que existe no seio organizacional e suas formas. Reconhece que os valores individuais podem, às vezes, receber prioridade em relação aos valores organizacionais. Neste capítulo são apresentados, em um primeiro momento, as ideias centrais da Teoria das relações humanas, decorrente da experiência de Hawthorne, onde questões humanistas, que envolvem relações sociais, grupos informais, etc., passam a ser consideradas para se obter a produtividade esperada; seguimos em direção ao estudo da Teoria comportamental, um desdobramento da Teoria das relações humanas, que apresenta novas proposições sobre o comportamento humano, destacando a influência da motivação e da liderança. Demonstra também que os estilos de administração trazem repercussões sobre o resultado organizacional e que a tomada de decisão no ambiente organizacional nem sempre é realizada pautada na racionalidade instrumental. Ainda neste capítulo apresentamos a Teoria do desenvolvimento organizacional (DO), que trata das novas formulações para o aumento da eficácia organizacional. O DO destaca a mudança como conceito para o desenvolvimento organizacional. Pode-se dizer que esta teoria também é um desdobramento da Teoria comportamental, mas em sentido prático, da aplicação das ciências do comportamento. Capítulo 3 82 Teorias Administrativas e Organizacionais 3.2 Conhecendo a teoria Este capítulo tem por objetivo destacar as abordagens científicas e suas respectivas teorias. 3.2.1 Abordagem humanística da administração: Teoria das relações humanas, comportamental e de desenvolvimento organizacional Denhardt (2004) expõe que as raízes da abordagem humanística da administração estão fundamentadas, por um lado, pelos estudos científicos sobre o comportamento do trabalhador e a organização informal, que levaram à conclusão de que estilos mais participativos e abertos de administração resultariam não só em trabalhadores mais satisfeitos, mas também em trabalhadores mais produtivos. Por outro lado, expõe Denhardt (2004), o estudo do processo de mudança organizacional levou muitos teóricos a sugerirem que o envolvimento maior dos participantes de nível inferior da organização facilitaria movimentos em favor da reestruturação ou revigoramento da organização. O humanismo, segundo a literatura, era necessário por causa da demanda por eficiência. Denhardt (2004) acrescenta que o humanismo era necessário por causa da demanda por mudança. Para este autor,apontando para um rumo bastante diferente, havia uma terceira corrente de pensamento que advogava que, numa sociedade organizacional, a abordagem humanística ao indivíduo era, em si mesma, uma prioridade, e que os esforços do indivíduo por manter um senso de liberdade e responsabilidade, numa época em que as organizações estavam em expansão, deveriam ser estimulados exclusivamente por razões morais e éticas, isto é, o humanismo era necessário por causa da demanda por mais humanismo. E você sabe como se estrutura a Teoria das relações humanas? Vejamos. 3.2.2 Teoria das relações humanas A Teoria das relações humanas contrapõe-se às ideias desenvolvidas pela abordagem clássica da administração de que o aperfeiçoamento dos sistemas de trabalho, a elaboração de métodos mais eficientes, a aplicação de princípios organizacionais baseados na racionalidade instrumental e as recompensas Capítulo 3 83Teorias Administrativas e Organizacionais materiais e econômicas levavam à máxima eficiência. Seu pressuposto consiste na visão de que o homem é um ser social que responde às forças sociais do grupo. A Teoria das relações humanas representa a visão humanista como contraponto à visão dominante da racionalidade organizacional. Os estudos que deram origem à Teoria das relações humanas são decorrentes da experiência de Hawthorne desenvolvida por Elton Mayo entre 1927 e 1932. George Elton Mayo, falecido em 1949, o australiano Elton Mayo é considerado o fundador do movimento das relações humanas, que se opôs aos princípios científicos do trabalho de Taylor. As suas teorias foram baseadas nas experiências que conduziu, em Hawthorne, entre 1927 e 1932, sobre os fatores que realmente motivam os empregados. Mayo licenciou-se na Universidade de Adelaide e estudou Medicina em Londres e Edimburgo, ensinou Filosofia mental e moral em Queensland, durante a primeira década do século, e emigrou para os Estados Unidos em 1923. Começou por trabalhar em pesquisas em uma empresa têxtil da Pensilvânia e juntou-se mais tarde à Harvard University como professor convidado em pesquisa industrial. Fonte: <http://www.historiadaadministracao.com.br>. BIOGRAFIA As origens da Teoria das relações humanas A origem da Teoria das relações humanas se deu em decorrência dos estudos e experiências realizados por um grupo de pesquisadores da Universidade de Harvard, na Western Electric Company, em Chicago, Estados Unidos. Inicialmente, os pesquisadores estavam interessados na relação existente entre as condições de trabalho, como iluminação, temperatura e os aspectos da produtividade, como a fadiga e a monotonia. Das conclusões desta experiência desenvolvida entre 1927 e 1932, sob a coordenação de Elton Mayo, surge a Teoria das relações humanas (DENHARDT, 2004; LACOMBE; HEILBORN, 2003; MOTTA, 2006; SILVA 2008). Chiavenato (2003) acrescenta à origem desta teoria a necessidade de se humanizar e democratizar a administração, libertando-a dos conceitos Capítulo 3 84 Teorias Administrativas e Organizacionais rígidos da Teoria clássica e sua adequação aos novos padrões de vida do povo americano; e o desenvolvimento das chamadas ciência humanas, a psicologia e a sociologia, que tiveram crescente influência intelectual, devido a sua aplicação à organização industrial. 3.2.3 A experiência de Hawthorne A experiência que recebeu o nome de Hawthorne foi produzida na Western Eletric Company, uma fábrica de equipamentos e componentes telefônicos, situada no bairro Hawthorne em Chicago, realizada entre 1927 e 1932, e coordenada por Elton Mayo. Esta experiência pode ser dividida em quatro fases. Vamos conhecê-las? Primeira fase A primeira fase da experiência, explicam Chiavenato (2003); Lacombe e Heilborn (2003); Motta (2006); Silva (2008), consistiu no estudo da iluminação, visando determinar a relação entre a intensidade da iluminação e a eficiência dos operários, medida através da produção. Nessa primeira fase da experiência, foram escolhidos dois grupos de operários que faziam o mesmo trabalho, em condições idênticas, para observação. A experiência foi realizada no departamento de montagem de relês de telefones. O grupo que trabalhava nesta sala de montagem era formado por moças que executavam tarefas simples e repetitivas. Aos grupos (de observação e de controle), foi aplicada intensidade constante e variável de luz. O grupo de observação trabalhou sob intensidade de luz variável, enquanto o grupo de controle trabalhou sob intensidade constante. Pretendia-se conhecer o efeito da iluminação sobre o rendimento dos operários. O resultado apontou que não existia nenhuma relação entre as variáveis. Descobriram-se outras variáveis que não estavam sendo controladas, e que exerciam influência direta sobre a produtividade. Um dos fatores descobertos foi o fator psicológico. Percebeu-se que os operários aumentavam ou diminuíam a produção de acordo com as suas suposições pessoais, ou seja, eles se julgavam na obrigação de produzir mais quando a intensidade de iluminação aumentava e, o contrário, quando diminuía. Esse fato foi comprovado trocando-se as lâmpadas por outras da mesma potência, fazendo crer aos operários que a intensidade da luz Capítulo 3 85Teorias Administrativas e Organizacionais variava. Verificou-se um nível de rendimento proporcional à intensidade de luz sob a qual os operários supunham trabalhar. A preponderância do fator psicológico sobre o fator fisiológico foi comprovada, onde a relação entre condições físicas e a eficiência dos operários pode ser afetada por condições psicológicas. A partir do reconhecimento da existência do fator psicológico, os pesquisadores, coordenados por Elton Mayo, passaram a tentar isolá-lo, passando para a segunda fase da experiência. Segunda fase Com o objetivo de isolar o fator psicológico, os pesquisadores introduziram mudanças de base fisiológica como alteração nos horários de trabalho e intervalos de descanso. A segunda fase da Experiência de Hawthone, segundo Chiavenato (2003); Lacombe e Heilborn (2003); Motta (2006) e Silva (2008), começou em abril de 1927. Foram selecionadas e convidadas seis moças de nível médio – nem novatas, nem peritas – para constituírem o grupo experimental de observações, que passaram a trabalhar em uma sala de provas. Esta sala era separada do departamento onde estava o grupo de controle que manteve as condições de trabalho. As atividades que fizeram parte da experiência estavam relacionadas ao departamento de montagem de relés. As atividades eram divididas entre seis moças: cinco montavam os relés, enquanto a sexta fornecia as peças necessárias para manter o trabalho contínuo. Tanto a mesa quanto o equipamento de trabalho eram idênticos aos usados no departamento, apenas incluindo um plano inclinado com um contador de peças individual que marcava a produção de cada moça e uma fita perfurada. Esses registros eram mantidos durante cinco anos, permitindo um estudo em profundidade da produção. A produção, facilmente mensurável, passou a ser o índice de comparação da pesquisa, segundo Chiavenato (2003). Aliás, os pesquisadores se preocuparam em coletar o maior volume possível de informações: peças defeituosas ou rejeitadas, condições gerais de tempo, controlavam a temperatura e umidade na sala de testes, a alimentação e o sono das moças, fatos e conversas que ocorriam entre as moças, entre outros aspectos. Capítulo 3 86 Teorias Administrativas e Organizacionais O grupo de observação experimental tinha um supervisor, como no grupo de controle que mantinha as mesmas condições de trabalho, todavia, o grupo de observação experimental tinha tambémum observador, que permanecia na sala e observava, coordenava o trabalho e assegurava para que o espírito de cooperação das moças se mantivesse. Na medida em que a experiência foi se tornando mais complexa, esse observador passou a ter vários assistentes para ajudá-lo. As moças que participaram da pesquisa foram completamente esclarecidas quanto aos objetivos da mesma: determinar o efeito de certas mudanças nas condições de trabalho (períodos de descanso, lanches, redução no horário de trabalho, etc.). Elas também eram informadas constantemente a respeito dos resultados e modificações, que eram submetidas à sua aprovação antes da introdução da mudança. Os pesquisadores insistiam para que trabalhassem dentro do normal e que ficassem à vontade no trabalho, que agissem naturalmente. Esta fase da pesquisa foi dividida em doze períodos experimentais, salienta Chiavenato (2003), para se observar quais as condições mais satisfatórias de rendimento: Figura 1 - Experiência de Hawthorne Fonte: http://www.infoescola.com/>. Capítulo 3 87Teorias Administrativas e Organizacionais PERÍODO ATIVIDADE 1º período Foi registrada a produção de cada operária ainda no seu local original de trabalho, sem que soubessem, e estabelecida a sua capacidade produtiva em condições normais de trabalho. A média encontrada foi de 2400 unidades semanais por moça. 2º período O grupo de observação experimental foi isolado na sala de provas, mantendo-se as condições e o horário de trabalho normais e medindo- se o ritmo de produção. Este período durou cinco semanas e serviu para verificar o efeito da mudança de local de trabalho. 3º período Foi realizada uma modificação no sistema de pagamento. No grupo de controle, o pagamento era realizado com base nas tarefas realizadas pelo grupo. Como os grupos eram numerosos (mais de 100 moças), as variações de produção de cada moça eram diluídas na produção do grupo e não se refletiam no seu salário individual. A separação do pagamento das moças do grupo de observação experimental repercutiu diretamente no salário, pois o grupo era pequeno e os esforços individuais provocavam alterações perceptíveis a elas. Esse período durou oito semanas. Verificou-se um aumento de produção. 4º período Mudanças no trabalho. Foram introduzidos intervalos de 05 minutos de des canso. Um no período da manhã e outro à tarde. Verificou-se novo aumento de produção. 5º período Aumento do tempo nos intervalos de descanso de 05 para 10 minutos. Verificou-se novo aumento de produção. 6º período Os intervalos passaram a ser divididos em seis, cada um com 05 minutos, três pela manhã e três pela tarde. Notou-se que a produção não aumentou, havendo queixas das moças quanto à quebra do ritmo de trabalho. 7º período Retorno a dois intervalos de 10 minutos, um pela manhã e outro pela tarde. Em um deles foi servido um lanche leve. A produção aumentou novamente. 8º período As condições do período anterior foram mantidas acrescentando uma redução no tempo de trabalho do grupo de observação experimental que passou a trabalhar somente até às 16h30min e não até às 17h00, como o grupo de controle. Houve um acentuado aumento da produção. 9º período O grupo de observação experimental passou a terminar o expediente às 16h00. A produção permaneceu estacionária. 10º período O grupo de observação experimental voltou a trabalhar até às 17h00. A produção aumentou bastante. 11º período A semana passou a ser de cinco dias, com o sábado livre para o grupo de observação experimental. A produção diária aumentou. 12º período Houve um retorno às condições normais de trabalho, tirando-se todos os benefícios dados durante a experiência, com o assentimento das moças. Este período, último e decisivo, durou doze semanas. Verificou-se, inesperadamente, que a produção diária e semanal atingiu um índice jamais alcançado anteriormente (3.000 unidades). Quadro 1 - Relatos da experiência de Hawthorne Fonte: Chiavenato (2003). Capítulo 3 88 Teorias Administrativas e Organizacionais Ao final dessa fase da experiência, os pesquisadores concluíram que as moças que trabalhavam na sala de montagem e participaram do grupo de observação experimental gostavam de trabalhar. O motivo, segundo elas, estava relacionado à supervisão que era mais branda que na sala de controle; isto as permitia trabalhar com mais liberdade, diminuindo a ansiedade. As moças relataram que o ambiente no grupo de observação experimental era mais amistoso e sem pressões, que podiam conversar, e isto aumentava a satisfação no trabalho. Para elas, a supervisão exercida na sala de observação experimental era mais branda e, principalmente, elas também estavam cientes de que estavam participando de uma experiência, o que consideravam interessante, pois acreditavam que os bons resultados poderiam beneficiar a elas e aos demais colegas de trabalho. Os pesquisadores perceberam que houve um desenvolvimento social dentro do grupo de observação experimental. Havia amizade entre elas que se estendiam além do trabalho. Preocupavam-se umas com as outras e se apoiavam. O grupo desenvolveu naturalmente uma liderança e objetivos comuns. Terceira fase Os pesquisadores perceberam que havia diferenças entre os grupos (observação experimental e controle). Isto os levou a afastar do interesse inicial relacionado às condições físicas de trabalho e focar no estudo das relações humanas. Verificaram, segundo Chiavenato (2003), que no departamento, as moças consideravam humilhante e constrangedora a supervisão vigilante. Sobretudo, verificaram que a empresa, apesar de sua política de pessoal aberta, pouco ou nada sabia acerca dos fatores determinantes das atitudes das operárias em relação à supervisão, aos equipamentos de trabalho e à própria empresa. Diante destas constatações, em 1928 foi implementado um programa de entrevistas com o objetivo de conhecer melhor as atitudes e sentimentos dos empregados, a fim de ouvir suas opiniões quanto ao seu trabalho e quanto ao tratamento que recebiam, bem como sugestões que pudessem ser aproveitadas no treinamento dos supervisores. Os resultados revelaram que existia uma organização informal dos operários que servia de proteção contra eventuais decisões da empresa que pudessem prejudicá-los. Capítulo 3 89Teorias Administrativas e Organizacionais Quarta fase O programa de entrevistas foi reestruturado e ampliado com o intuito de estudar a relação entre a organização formal e a organização informal dos empregados. Foram entrevistados cerca de 21.126 empregados de um total de 40 mil. Conclusões da experiência de Hawthorne A experiência de Hawthorne permitiu algumas conclusões, segundo Chiavenato (2003); Lacombi (2003); Mota (2006) e Silva (2008): • importância do fator social – verificou-se que o nível de produção é determinado pelas normas sociais e expectativas individuais, e não pela capacidade física ou fisiológica. Quanto mais integrado social o empregado, maior será sua disposição para produzir. O desajuste social do empregado leva à baixa eficiência; • comportamento social dos empregados – as ações e reações dos empregados não são atos isolados, seu comportamento se apóia no grupo. O grupo estabelece normas que devem ser respeitadas pelos membros, qualquer desvio é aplicado punições sociais ou morais, nos sentido de ajustar-se aos padrões definidos pelo grupo; • recompensas e sanções sociais – o grupo aplica recompensas ou sanções aos colegas que produzem muito acima ou muito abaixo do determinado pelas normas do grupo; • grupos informais – no interior da organização existem grupos informais, cuja estrutura nem sempre coincide com a organizaçãoformal; • relações humanas – cada indivíduo possui uma personalidade própria que influi no comportamento e atitudes dos outros com quem mantém contatos, assim como é influenciado por outros; • conteúdo do cargo – o conteúdo do cargo e a natureza do trabalho afetam o moral do trabalhador, diferentemente do que dizia a Teoria clássica, de que maior especialização leva à maior eficiência. Capítulo 3 90 Teorias Administrativas e Organizacionais De forma resumida, Denhardt (2003) diz que os limites da colaboração humana são determinados muito mais pela organização informal do que pela formal. Entre as satisfações desejadas, expõe o autor, estão as recompensas sociais e psicológicas, diferentemente do que pregava a Teoria clássica, de que esta se baseava em incentivos unicamente monetários. 3.2.4 Teoria comportamental A Teoria comportamental (também chamada behaviorista) trouxe uma nova concepção às teorias administrativas, tendo como foco principal o indivíduo dentro de um contexto mais amplo, como um ser dotado de capacidade de raciocínio. Como vimos na Teoria das relações humanas, o estímulo econômico não é mais a única forma de motivar um indivíduo. Há também outros fatores de ordem social e afetiva que devem ser levados em consideração. A Teoria comportamental representa um desdobramento da Teoria das relações humanas, apresentando novas proposições sobre o comportamento humano. As origens da Teoria comportamental O enfoque comportamental desenvolvido pelos humanistas teve sua origem como um desdobramento da Teoria das relações humanas, apesar de estabelecer críticas a ela e rejeitar suas concepções ingênuas e românticas. (CHIAVENATO, 2003; SILVA, 2008). A Teoria comportamental estabelece críticas à Teoria clássica e aos princípios por ela estabelecidos e a sua posição rígida e mecanicista (CHIAVENATO, 2003; SILVA, 2008). Com a Teoria comportamental ocorre a ampliação do campo da teoria administrativa com a incorporação da sociologia da burocracia, a qual se mostra também muito crítica, principalmente pelo seu “modelo de máquina” adotado para representar a organização (CHIAVENATO, 2003; SILVA, 2008). O início da Teoria comportamental é marcado pelo livro de Herbert Simon – O comportamento administrativo, publicado em 1947. O livro constitui um ataque aos princípios da Teoria clássica e a aceitação das principais ideias da Teoria das relações humanas (CHIAVENATO, 2003). Capítulo 3 91Teorias Administrativas e Organizacionais Saiba que o lançamento deste livro - O comportamento administrativo - marcou definitivamente a origem da nova abordagem e inaugurou uma nova era nos conceitos e práticas da administração, ao transformar definitivamente o modelo administrativo das organizações. SAIBA QUE De forma resumida, a Teoria comportamental surge no final da década de 1940 com uma redefinição total dos conceitos administrativos que imperavam, criticando fortemente as teorias anteriores e ampliando o foco no indivíduo. Quadro 1 - Resumo dos principais expoentes da Teoria comportamental Fonte: adaptado a partir de Rebouças (2008). 1947 Herbert Alexander Simon Desenvolveu uma ciência do comportamento humano isenta de valores. 1954 Abraham Maslow Criou um modelo de “hierarquia das necessidades” para explicar as origens da motivação humana. 1959 Frederick Herzberg Estudou a motivação no trabalho separando os “fatores de higiene” – que estão fora do controle dos funcionários, dos “fatores de motivação” – que estão sob o controle dos funcionários. Estruturou o processo de enriquecimento de tarefas. 1960 Douglas McGregor Estabeleceu formas de administrar – “Teoria X”- mecanicista e “Teoria Y” – comportamento humanístico. 1961 David Clarence McClelland Estabeleceu que o clima organizacional é resultante dos estilos de liderança e de administração e da estrutura organizacional. 1962 Chris Argyris Interligou a competência interpessoal e a efetividade das organizações. 1982 William Ouchi Estabeleceu a “Teoria Z”, pela qual, o envolvimento e participação é a chave do aumento da produtividade. ANO AUTORES CONTRIBUIÇÕES Capítulo 3 92 Teorias Administrativas e Organizacionais 3.2.5 Teorias da motivação A palavra motivação, conforme Maximiano (2009), indica as causas ou motivos que produzem determinado comportamento. A motivação é, ainda segundo o mesmo autor, a energia ou força que movimenta o comportamento e esta possui três propriedades: • direção: objetivo do comportamento motivado ou a direção para a qual a motivação leva o comportamento; • intensidade: magnitude da motivação; • permanência: duração da motivação. O estudo da motivação humana, segundo Silva (2008, p. 203), refere- se “às razões pelas quais as pessoas se comportam de certo modo”. Está relacionada às escolhas que as pessoas fazem, determinando um curso de ação. O estudo do comportamento individual das pessoas faz parte da Teoria comportamental. Para explicar como as pessoas se comportam, é necessário estudar a motivação humana, e para compreender o comportamento humano e utilizar a motivação humana como meio para melhorar a qualidade de vida dentro das organizações e a produtividade, autores behavioristas verificaram que era preciso conhecer as necessidades humanas (CHIAVENATO, 2003 ). CONCEITOCONCEITO Motivação é “alguma força direcionada dentro dos indivíduos, pela qual, eles tentam alcançar uma meta, a fim de preencher uma necessidade ou expectativa” (SILVA, 2008, p. 203). Hierarquia das necessidades de Maslow Abraham Maslow (1908-1970) desenvolveu a teoria da motivação hierarquizando as necessidades em níveis de importância e influência. Essa hierarquia pode ser visualizada em forma de pirâmide, em que na base estão às necessidades mais básicas e no topo as mais elevadas. Segundo Chiavenato (2003), elas podem ser descritas da seguinte forma: Capítulo 3 93Teorias Administrativas e Organizacionais • necessidades fisiológicas: constituem o nível mais baixo de todas as necessidades humanas, mas de vital importância. Neste nível estão as necessidades de alimentação (fome e sede), de sono e repouso (cansaço), de abrigo (frio ou calor), o desejo sexual, etc. As necessidades fisiológicas estão relacionadas com a sobrevivência do indivíduo e com a preservação da espécie. São necessidades instintivas e que já nascem com o indivíduo. São as mais prementes de todas as necessidades humanas; quando alguma dessas necessidades não está satisfeita, ela domina a direção do comportamento. O homem com o estômago vazio não tem outra preocupação maior do que se alimentar. Porém, quando come regularmente e de maneira adequada, a fome deixa de ser uma motivação importante. Quando todas as necessidades estão insatisfeitas, a maior motivação será a das necessidades fisiológicas e o comportamento do indivíduo terá a finalidade de encontrar alívio da pressão que essas necessidades produzem sobre o organismo; • necessidades de segurança: constituem o segundo nível das necessidades humanas. São as necessidades de segurança ou de estabilidade, a busca de proteção contra a ameaça ou privação, a fuga ao perigo. Surgem no comportamento quando as necessidades fisiológicas estão relativamente satisfeitas. Quando o indivíduo é dominado por necessidades de segurança, o seu organismo no todo age como um mecanismo de procura de segurança e as necessidades de segurança funcionam como elementos organizadores quase exclusivosdo comportamento. As necessidades de segurança têm grande importância no comportamento humano, uma vez que, todo empregado está sempre em relação de dependência com a empresa, na qual ações administrativas arbitrárias ou decisões incoerentes podem provocar incerteza ou insegurança no empregado quanto à sua permanência no emprego. Se essas ações ou decisões refletem discriminação ou favorecimento ou alguma política administrativa imprevisível, podem tornar-se poderosos ativadores de insegurança em todos os níveis hierárquicos da empresa; Capítulo 3 94 Teorias Administrativas e Organizacionais • necessidades sociais: surgem no comportamento, quando as necessidades mais baixas (fisiológicas e de segurança) encontram- se relativamente satisfeitas. Dentre as necessidades estão à necessidade de associação, de participação, de aceitação por parte dos companheiros, de troca de amizade, de afeto e amor. Quando as necessidades sociais não estão suficientemente satisfeitas, o indivíduo torna-se resistente, antagônico e hostil em relação às pessoas que o cercam. Em nossa sociedade, a frustração das necessidades de amor e de afeição conduz a falta de adaptação social e à solidão. A necessidade de dar e receber afeto é importante força motivadora do comportamento humano; • necessidades de estima: são as necessidades relacionadas com a maneira pela qual o indivíduo se vê e se avalia. Envolvem a auto- apreciação, a autoconfiança, a necessidade de aprovação social e de respeito, de status, prestígio e consideração. Incluem, ainda, o desejo de força e de adequação, de confiança perante o mundo, independência e autonomia. A satisfação das necessidades de estima conduz a sentimentos de autoconfiança, de valor, força, prestígio, poder, capacidade e utilidade. A sua frustração pode produzir sentimentos de inferioridade, fraqueza, dependência e desamparo que, por sua vez, podem levar ao desânimo ou a atividades compensatórias; • necessidades de autorrealização: são as necessidades humanas mais elevadas e que estão no topo da hierarquia. Estão relacionadas com a realização do próprio potencial e do autodesenvolvimento contínuo. Essa tendência se expressa por meio do impulso de que a pessoa tem para se tornar sempre mais do que é e de vir a ser o que pode ser. Saiba que cada uma destas necessidades humanas varia de pessoa a pessoa, pois elas obedecem às diferenças individuais que cada indivíduo possui. Somente quando uma necessidade de nível inferior é satisfeita que outra necessidade de nível mais elevado surge. O comportamento de um Capítulo 3 95Teorias Administrativas e Organizacionais indivíduo é guiado pela motivação que atua conjuntamente no organismo. A satisfação ou insatisfação de uma necessidade provoca efeitos sobre o organismo, o qual pode ser prejudicado dependendo da ameaça, se for psicológica, produz reações diversas no comportamento humano. Figura 1 - Hierarquia das necessidades Fonte: adaptada de Maslow (apud CHIAVENATO, 2003). Necessidade de autorrealização Necessidades de estima Necessidades sociais Necessidades de segurança Necessidades fisiológicas Abraham Maslow (1908 - 1970) foi um psicólogo norte-americano conhecido pela proposta hie- rarquia de necessidades de Maslow. Trabalhou no MIT, fundando o centro de pesquisa National Laboratories for Group Dynamics. Maslow foi um pensador supreendentemente original, pois a maioria dos psicólogos, até então, estavam mais preocupados com a doença e com a anor- malidade. Maslow queria saber o que constituía a saúde mental positiva. BIOGRAFIA Vamos entender o significado de cada uma das necessidades mencionadas por Maslow? Observe atentamente a figura a seguir. Capítulo 3 96 Teorias Administrativas e Organizacionais ESTIMA AMOR/RELACIONAMENTO SEGURANÇA FISIOLOGIA REALIZAÇÃO PESSOAL Moralidade, espontaneidade, solução de problemas, ausência de preconceito, aceitação dos fatos. Autoestima, confiança, conquista, respeito dos outros, prespeito aos outros. Amizade, família, intimidade sexual. Segurança do corpo, do emprego, de recursos, da moralidade, da família, da saúde, da propriedade. Respiração, comida, água, sexo, sono, homeostase, excreção. Figura 2 – Compreendendo a Hierarquia das necessidades Fonte: <www.ocoruja.com/img>. Cabe destacar que apesar de a Teoria de Maslow ter sido considerada uma melhoria em relação às anteriores teorias da personalidade e da motivação, há algumas críticas a ela, como por exemplo, a de que seria possível uma pessoa estar autorrealizada, cont udo não conseguir uma total satisfação de suas necessidades fisiológicas. Teoria dos dois fatores de Herzberg Frederick Herzberg estabeleceu uma teoria que é, na percepção de Silva (2008), uma extensão da hierarquia das necessidades de Maslow. Esta Teoria dos dois fatores, de acordo com Silva (2008), deriva da análise de incidentes críticos descritos em entrevistas com pessoas de diferentes empresas e países, relativos ao que provoca satisfação ou insatisfação no trabalho. Os resultados indicaram que quando as pessoas falavam sobre o sentimento de insatisfação com o trabalho, estavam falando de fatores extrínsecos a ele, e quando falavam sobre satisfação no trabalho, os elementos eram intrínsecos a ele. Desta forma, Herzberg denominou como fatores higiênicos os fatores extrínsecos, e de fatores de motivação, os intrínsecos. Capítulo 3 97Teorias Administrativas e Organizacionais Chiavenato (2003) explica a diferença entre os fatores higiênicos e os motivacionais, segundo Herzberg: • fatores higiênicos: são aqueles que se localizam no ambiente que rodeia as pessoas e abrangem as condições dentro das quais elas desempenham seu trabalho. Essas condições são administradas e discutidas pela empresa, os fatores higiênicos estão fora do controle das pessoas. Os principais fatores higiênicos são: salário, benefícios sociais, tipo de chefia ou supervisão que as pessoas recebem de seus superiores, condições físicas e ambientais de trabalho, políticas e diretrizes da empresa, clima de relacionamento entre a empresa e os funcionários, regulamentos internos, etc. São os fatores de contexto que se situam no ambiente externo que circunda o indivíduo. Tradicionalmente, somente os fatores higiênicos eram utilizados na motivação dos empregados: o trabalho era considerado uma atividade desagradável e, para fazer com que as pessoas trabalhassem mais, tornava-se necessário o apelo a prêmios e incentivos salariais, supervisão, políticas empresariais abertas e estimuladoras, isto é, incentivos situados externamente ao indivíduo como troca do seu trabalho; • fatores motivacionais: estão relacionados com o conteúdo do cargo e com a natureza das tarefas que a pessoa executa. Os fatores motivacionais estão sob o controle do indivíduo, estão relacionados com aquilo que ele faz e desempenha. Envolvem sentimentos de crescimento individual, reconhecimento profissional e autorrealização, e dependem das tarefas que o indivíduo realiza no seu trabalho. Tradicionalmente, as tarefas e os cargos eram arranjados e definidos com a preocupação de atender aos princípios de eficiência e economia, eliminando o desafio e a criatividade individual. Com isto, perdiam o significado psicológico para o indivíduo que os executa e criavam um efeito de “desmotivação”, provocando apatia, desinteresse e falta de sentido psicológico. O efeito dos fatores motivacio nais sobre as pessoas é profundo e estável. Capítulo 3 98 Teorias Administrativas e Organizacionais As pesquisas de Herzberg revelaramque quando os fatores higiênicos são ótimos, eles apenas evitam a insatisfação dos empregados e se elevam as satisfações, mas não conseguem mantê-lo por muito tempo. Quando os fatores higiênicos são precários, eles provocam a insatisfação dos empregados. Quando os fatores motivacionais são ótimos, provocam a satisfação nas pessoas. Porém, quando são precários, evitam a satisfação (CHIAVENATO, 2003). A Teoria dos dois fatores de Herzberg pressupõe, segundo Chiavenato (2003), os seguintes aspectos: • a satisfação no cargo depende dos fatores motivacionais; o conteúdo ou atividades desafiantes e estimulantes do cargo desempenhado; • a insatisfação no cargo depende dos fatores higiênicos; o ambiente de trabalho, salário, benefícios recebidos, supervisão, colegas e contexto geral que envolve o cargo. Figura 3 - Visão de Herzberg da relação satisfação/insatisfação Fonte: Silva (2008, p. 238). Insatisfação Fatores de Higiene Não-insatisfação (-) (+) Não-satisfação Fatores de motivação satisfação (-) (+) (satisfação e insatisfação são dimensões independentes) VISÃO DE HERZBERG Chiavenato (2003) acrescenta que, segundo Herzberg, para proporcionar continuamente a motivação no trabalho, propõe-se o “enriquecimento de tarefas” e “enriquecimento do cargo”, que consiste em substituir as tarefas simples e elementares do cargo por tarefas mais complexas para acompanhar o crescimento individual de cada empregado, oferecendo-lhe condições de desafio e de satisfação profissional no cargo. Capítulo 3 99Teorias Administrativas e Organizacionais Você consegue perceber se a Teoria de motivação de Maslow possui pontos de concordância com a Teoria dos dois fatores de Herzberg? Segundo Chiavenato (2003), Ribeiro (2006), Silva (2008), podemos relacionar os fatores higiênicos de Herzberg com as necessidades primárias de Maslow (necessidades fisiológicas e necessidades de segurança, incluindo algumas vezes as necessidades sociais), enquanto os fatores motivacionais relacionam-se com as necessidades secundárias (necessidades de estima e autorrealização). SAIBA QUE Teoria da realização de McClelland David McClelland, após 20 anos de estudos, propôs a Teoria da realização, também conhecida como Teoria das necessidades adquiridas. Para este autor, de acordo com Silva (2008), algumas pessoas têm um desejo intenso de realização, enquanto outras não estão interessadas nisso. Para McClelland, existem certas necessidades que são aprendidas e socialmente adquiridas quando o indivíduo interage com o ambiente. Essas necessidades são: necessidades de realização, necessidades de afiliação e necessidades de poder. Silva (2008) expõe cada uma delas: • necessidades de realização: são necessidades de desafio para a realização pessoal e para o sucesso em situações competitivas, isto é, a procura de certo padrão de rendimento, definido pelo próprio indivíduo ou em comparação com outras pessoas; • necessidades de afiliação: desejo de fazer parte de um grupo, de estabelecer relacionamentos pessoais próximos, de evitar conflito e estabelecer fortes amizades. É uma necessidade social; • necessidades de poder: desejo de influenciar ou controlar outras pessoas, ser responsável por outros e ter autoridade sobre outros. Capítulo 3 100 Teorias Administrativas e Organizacionais Hierarquia das necessidades de Maslow As necessidades dos funcionários variam e os administradores podem motivá-los a alcançar as necessidades. Teoria dos dois fatores de Herzberg Compensações, condições razoáveis de trabalho e políticas, não necessariamente asseguram satisfação no trabalho, mas podem evitar insatisfação; outros fatores (responsabilidades, por exemplo) podem ser necessários para motivar funcionários. Necessidades adquiridas de McClelland As necessidades dos funcionários são adquiridas ao longo do tempo em função da experiência de vida, o que exige que os administradores aprendam a identificá-las e criem ambientes de trabalho que sejam responsivos aos respectivos perfis das necessidades. Quadro 3 - Comparativo das principais teorias de motivação Fonte: adaptado de Silva (2008). TEORIA IMPLICAÇÕES 3.2.6 Estilos de administração A Teoria comportamental oferece uma variedade de estilos de administração à disposição do administrador. Segundo Chiavenato (2003), a administração das organizações, em geral, é condicionada pelos estilos com que os administradores dirigem o comportamento das pessoas. O estilo aplicado por um gestor depende das convicções que os administradores têm a respeito do comportamento humano. Essas convicções moldam a maneira de conduzir as pessoas, como também a maneira como as tarefas são divididas, planejadas, organizadas e controladas (CHIAVENATO, 2003). Teoria X e Teoria Y Douglas McGregor retoma alguns dos argumentos de Maslow em seus trabalhos, relacionando-os aos conceitos de motivação e liderança. Para McGregor, há diferentes tipos de pressupostos sobre a natureza humana, e suas motivações correspondem a diferentes estilos de liderança (MOTTA, 2006). Capítulo 3 101Teorias Administrativas e Organizacionais McGregor compara, segundo Chiavenato (2003), dois estilos opostos e antagônicos de administrar: de um lado, um estilo baseado na teoria tradicional, mecanicista, e pragmática (a que deu o nome de Teoria X), e, de outro, um estilo baseado nas concepções modernas a respeito do comportamento humano (a que denominou Teoria Y). A Teoria X parte de uma concepção tradicional de administração, baseia- se em convicções errôneas e incorretas sobre o comportamento humano, pressupondo que o ser humano médio tem aversão intrínseca do trabalho e o evitará, se puder. Por causa desta característica humana de aversão ao trabalho, as pessoas, em sua maioria, devem ser coagidas, controladas, dirigidas, ameaçadas com punições, para convencê-las a darem o empenho que lhes compete dar em favor dos objetivos organizacionais. O ser humano médio prefere ser dirigido, quer evitar responsabilidade, tem relativamente pouca ambição e almeja segurança acima de tudo (DENHARDT, 2006). Essa concepção a respeito da natureza humana reflete um estilo de administração duro, rígido e autocrático e que faz as pessoas trabalharem dentro de esquemas e padrões planejados e organizados, tendo em vista os objetivos da organização. As pessoas são visualizadas como meros recursos ou meios de produção (CHIAVENATO, 2003). Já na Teoria Y, o dispêndio de esforço físico do trabalho é tão natural quanto é jogar ou descansar. O controle externo e a ameaça de punição não são os únicos meios para se obter empenho em prol dos objetivos organizacionais. O compromisso com os objetivos é a função das recompensas associadas à sua consecução. Se forem dadas as condições corretas, o ser humano médio aprende não só a aceitar, mas a assumir responsabilidades. Nas condições da moderna vida industrial, as potencialidades intelectuais do ser humano médio são utilizadas apenas parcialmente (DENHARDT, 2004). A Teoria Y desenvolve um estilo de administração mais aberto, mais dinâmico e mais democrático, por meio do qual administrar torna-se um processo de criar oportunidades, libertar potenciais, remover obstáculos, encorajar o crescimento individual e proporcionar orientações quanto a objetivos (CHIAVENATO, 2003). Capítulo 3 102 Teorias Administrativas e Organizacionais TEORIA X TEORIA Y Centrada na produção, autocrática e controle externo; Centrada no empregado, democrática e controleinterno; Supervisão próxima, comportamento diretivo; Supervisão ampla, comportamento de apoio; Ênfase no controle, na coerção e na punição; Ênfase no crescimento, na autonomia e na recompensa; As pessoas são preguiçosas, têm falta de ambição, precisam ser conduzidas e tem baixo nível de motivação. As pessoas, por natureza, gostam do trabalho, querem fazer o melhor e são motivadas pelo autocontrole e autodesenvolvimento. Quadro 4 - Características das Teorias X e Y Fonte: Silva (2008, p. 255) PAPEL GERENCIAL ENFOQUE PRINCIPAL NATUREZA HUMANA 3.2.7 Liderança Liderança significa mobilizar esforços, atribuir responsabilidades, delegar competências, motivar, debater, ouvir sugestões, compartilhar objetivos, informar, transformar grupos em verdadeiras equipes, partilhar, demonstrar vontade de mudar, implantar programas, recompensar empregados responsáveis, manter funcionários informados e envolver-se ativamente (CHIAVENATO, 2003). Sob a ótica da Teoria comportamental, a liderança é compreendida como central para o desempenho e manutenção dos recursos humanos. Dois programas clássicos de pesquisa foram realizados: um na Universidade de Michigan na década de 40 por Rensis Likert, e outro na Universidade de Ohio por Fleishman e seus associados. O trabalho de Likert Likert teve, segundo Motta (2006), o condão de desmistificar um dos princípios mais sagrados da teoria de administração científica, o da amplitude de controle. Likert demonstrou por meio de suas pesquisas que os supervisores bem sucedidos não obrigavam seus subordinados a se prenderem a ciclos de trabalho estritos, dedicando-se com empenho à formação de grupos de trabalho. Se tivermos uma hierarquia estreita e alongada, como reza o princípio de amplitude Capítulo 3 103Teorias Administrativas e Organizacionais de controle, teremos muitos níveis de autoridade e os supervisores tenderão a controlar mais estreitamente sues subordinados, que por sua vez, tenderão a procurar agradar ao chefe, tendo pouca oportunidade de tomar iniciativa e de assumir responsabilidades necessárias ao desenvolvimento de suas capacidades. Isto é, nas pesquisas realizadas Likert foram observados dois tipos de comportamento de liderança: voltado para o trabalho e voltado para o empregado. O comportamento centrado no trabalho, segundo Silva (2008), é o comportamento de liderança focado nas tarefas e se caracteriza por forte supervisão, pressão por melhor desempenho, atenção ao alcance das metas e uma forte avaliação dos resultados. O comportamento centrado no empregado, destaca Silva (2008), é o comportamento de liderança voltado para a pessoa, que se caracteriza por uma orientação em direção aos aspectos humanos do trabalho e em direção ao desenvolvimento dos grupos de trabalho com metas de desempenho altas. Suas conclusões foram de que: “líderes de sucesso tinham padrões de comportamento de apoio orientados para relações humanas e para a pessoa do empregado” (SILVA, 2008, p. 256). Os estudos da Universidade de Ohio Um importante programa de pesquisa sobre liderança foi iniciado ao mesmo tempo em que Likert desenvolvia seus estudos na Universidade de Michigan. Fleishman e seus associados conduziram estudos para medir a percepção dos subordinados do comportamento de liderança dos seus superiores. Foram identificadas duas dimensões de liderança: consideração e estrutura de iniciação. Silva (2008) explica que a consideração refere-se a como o líder se preocupa com as pessoas, se é sensível ao sentimento das pessoas, se preocupa com o relacionamento entre as pessoas no trabalho e entre líderes e subordinados e a iniciação refere-se à tendência de o líder estruturar as tarefas, de definir os requisitos das tarefas. Os estudos indicaram que os líderes deveriam ter alto nível tanto em consideração quanto em estrutura de iniciação. Capítulo 3 104 Teorias Administrativas e Organizacionais 3.2.8 Processo decisório As organizações são sistemas complexos que exigem dos indivíduos constantemente tomadas de decisão. Herbert Simon e o grupo coordenado por ele realizaram reflexões empíricas acerca do comportamento dos indivíduos nas organizações, onde destas reflexões empíricas de Simon originou-se a Teoria da decisão. Para Simon, a racionalidade é sempre relativa ao sujeito que decide, não existindo uma única racionalidade tida como superior (MOTTA, 2006). Um indivíduo em sua atividade profissional está constantemente tomando decisões que variam em tipo e amplitude. Como destas decisões sobrevêm consequências, o ideal para uma tomada de decisão mais assertiva, é que este indivíduo compreenda o processo de tomada de decisão, elevando seu nível de consciência para uma prática mais eficaz no exercício de suas atividades. Stoner e Freeman (2009) enfatizam que problemas diferentes exigem tipos diferentes de tomada de decisão. Isto é, para estes autores, questões rotineiras ou de menor importância podem ser resolvidas por meio de um procedimento predefinido. A este tipo, chama de decisões programadas. Enquanto que decisões mais importantes exigem uma decisão não programada, uma solução específica criada por meio de um processo menos estruturado de tomada de decisão que procura solucionar problemas. Desta forma, segundo Stoner e Freeman (2009, p. 184), decisões programadas são tomadas de acordo com políticas, procedimentos, regras, escritas ou não, que simplificam a tomada de decisão em situações repetitivas, limitando ou excluindo alternativas. Ex: raramente os administradores precisam se preocupar com o nível salarial de um funcionário recém-contratado, porque geralmente as organizações possuem uma escala de salário estabelecida. CONCEITOCONCEITO Decisões programadas: soluções para problemas rotineiros, determinados por regras, procedimentos ou hábitos (STONER; FREEMAN, 2009, p.184). Capítulo 3 105Teorias Administrativas e Organizacionais Decisões não programadas, expõem Stoner e Freeman (2009), destinam-se a problemas excepcionais ou incomuns, que não são frequentes. Problemas relacionados à alocação de recursos para um novo projeto ou sobre uma linha de produtos decadentes requerem usualmente decisões não programadas. CONCEITOCONCEITO Decisões não programadas: soluções específi- cas criadas através de um processo não estru- turado para resolver problemas não rotineiros (STONER; FREEMAN, 2009, p. 184). A tomada de decisões envolve a escolha entre alternativas, por isso, frequentemente, a tomada de decisão pode ser classificada, segundo Stoner e Freeman (2009), num continuum que vai da certeza, envolve risco e até incerteza. Para Stoner e Freeman (2009), em condições de certeza, se conhece a meta e se tem informações precisas, mensuráveis e confiáveis sobre o resultado de cada alternativa que está sendo considerada. Já o risco ocorre quando não podemos prever com certeza o resultado da escolha de uma alternativa, pois não possuímos informações suficientes para prever a probabilidade de que ela irá levar à situação desejada. E sob condições de incerteza, pouco se sabe sobre as alternativas ou os resultados. Dela resultam duas fontes possíveis: 1) os administradores podem enfrentar condições externas que estejam parcial ou totalmente fora de seu controle, normalmente variáveis do ambiente externo; 2) o administrador pode não ter acesso a informações fundamentais para sua tomada de decisão. 3.2.9 Teoria do desenvolvimento organizacional (DO) Em linhas gerais, a Teoria do desenvolvimento organizacional é uma resposta ao dilema enfrentado pelas organizações de ter que alcançar níveis elevados de produção e manter o nívelde satisfação das necessidades dos indivíduos. Essa abordagem busca adaptar a organização às mudanças do ambiente. É um desdobramento da Teoria comportamental. Capítulo 3 106 Teorias Administrativas e Organizacionais As origens da Teoria do desenvolvimento organizacional A Teoria do desenvolvimento organizacional emergiu de quatro fontes diferentes, explica Silva (2008): • A partir do desenvolvimento de grupos de treinamento, associados basicamente ao Massachusetts Institute of Techonology (MIT) e com o National Training Laboratories (NTL), no final da década de 40, o NTL desenvolveu grupos de treinamento de sensibilidade como um meio de prover feedback aos indivíduos sobre suas atuações em situações desestruturadas. • Desenvolvimento de pesquisa de entrevista e feedback, realizado inicialmente por Rensis Likert, na Universidade de Michigan. Sua investida consistia em pesquisar pessoas nos vários níveis da organização com o intuito de conhecer suas atitudes no trabalho, supervisão, condições de trabalho, entre outros fatores relacionados ao trabalho. • O surgimento do DO também pode ser marcado pelo novo enfoque na produtividade e na qualidade de vida no trabalho, onde grande colaboração veio do Instituto de Tavistok de Relações Humanas de Londres. • Outra fonte do DO é a pesquisa de ação, iniciada nos anos 40 por cientistas sociais como Kurt Lewin e Willian White, que concluíram que as descobertas da pesquisa poderiam ser combinadas com ação para ajudar os participantes das organizações a se tornarem mais eficazes. O processo de desenvolvimento organizacional (DO) O foco principal do DO, segundo Chiavenato (2003), está em mudar as pessoas e a natureza e a qualidade de suas relações de trabalho. Sua ênfase está na mudança da cultura da organização. Em princípio, o DO é uma mudança organizacional planejada. Para Chiavenato (2003), mudança é a transição de uma situação para outra diferente ou a passagem de um estado para outro diferente. Esta implica ruptura, transformação, perturbação, interrupção. Capítulo 3 107Teorias Administrativas e Organizacionais O processo de mudança envolve três etapas (CHIAVENATO, 2003): • descongelamento do padrão atual de comportamento – o descongelamento significa que as velhas ideias e práticas são derretidas e desaprendidas para serem substituídas por novas ideias e práticas. Ocorre quando a necessidade de mudança torna-se tão óbvia que a pessoa, o grupo ou a organização pode rapidamente entendê- la e aceitá-la. Se não há descongelamento, a tendência será o retorno ao padrão habitual e rotineiro de comportamento; • mudança – é realizada quando ocorre a descoberta e a adoção de novas atitudes, valores e comportamentos. A mudança é a fase em que as novas ideias e práticas são aprendidas de modo que as pessoas passam a pensar e a executar de uma nova maneira; • recongelamento – é a incorporação de um novo padrão de comportamento através de mecanismos de suporte e de reforço, de modo que se torna a nova norma. Significa que o que foi aprendido foi integrado à prática atual. O processo de desenvolvimento organizacional (DO), segundo Chiavenato (2003) e Silva (2008), apresenta algumas características: • foco na organização como um todo – o DO envolve a organização como um todo para que a mudança possa ocorrer efetivamente; • orientação sistêmica – o DO está voltado para as interações entre as partes da organização que se influenciam reciprocamente para as relações de trabalho entre as pessoas, bem como para a estrutura e os processos organizacionais; • agente de mudança – o DO utiliza agentes de mudança, pessoas que desempenham o papel de estimular, orientar e coordenar a mudança dentro de um grupo ou organização. Este papel pode ser exercido por um consultor de fora da empresa, para que opere independentemente e sem vinculações com a hierarquia ou políticas da empresa, e por um executivo principal de recursos humanos (RH), que costuma ser o agente de mudança in-house e que coordena o programa com a diretoria e o agente de mudança externo; Capítulo 3 108 Teorias Administrativas e Organizacionais • solução de problemas – o DO enfatiza a solução de problemas e não apenas os discute teoricamente; • aprendizagem experimental – os participantes aprendem, pela experiência no ambiente de treinamento, os tipos de problemas com que se defrontam no trabalho. Discutem e analisam sua própria experiência imediata e aprendem com ela; • processos de grupo e desenvolvimento de equipes – o DO repousa sobre processos grupais, com discussões em grupo, confrontações, conflitos intergrupais e procedimentos para cooperação. Há um esforço para desenvolver equipes, melhorar as relações interpessoais, abrir os canais de comunicação, construir confiança entre as pessoas; • retroação - o DO proporciona informações de retorno e retroação às pessoas, para que elas tenham dados concretos que fundamentem suas decisões como forma de tomar ação auto-corretiva para serem mais eficazes; • orientação contingencial – o DO é situacional e orientado para as contingências; • enfoque interativo – as comunicações e interações constituem os aspectos fundamentais do DO para obter multiplicação de esforços rumo à mudança. Críticas à Teoria do desenvolvimento organizacional As críticas ao DO envolvem a visão acadêmica, do empresário e do empregado. A este respeito, Chiavenato (2003) observa o seguinte: • na visão acadêmica – os acadêmicos acreditam que a organização não deseja mudanças, mas sim, a sua reprodução e perpetuação através dos tempos. As mudanças só acontecerão quando a proposta der ênfase maior ao controle, a fim de que os empregados “entrem nos eixos”; • na visão do empresário – o DO significa mudanças e incertezas. Ele só estará propenso a mudar (principalmente se consentir a mudança) se a situação for realmente incontrolável; Capítulo 3 109Teorias Administrativas e Organizacionais • na visão do empregado – se as mudanças se processam sem o “consentimento” dos empregados, estes se sentirão traídos pela empresa e o amor que dedicaram à empresa “por tanta consideração”, tornar-se-á em ódio mortal, quando repreendido pela chefia ou surpreendido pelas mudanças (tipo corte de regalias). 3.3 Aplicando a teoria na prática Agora que você que já conhece os princípios e teorias que fundamentam a Teoria das relações humanas, convém praticá-los para ajudar a fixar. Um operário com muitos anos de trabalho na empresa sugere a um novo operário que não produza mais que os colegas. Ele avisa que as promoções e aumentos dependem apenas do tempo de casa; bom desempenho não adianta. Se você fizer os outros parecerem preguiçosos, as coisas vão se complicar para você, pois será hostilizado. Fonte: adaptado de LACOMBE, F. J. M.; HEILBORN, G. L. J. Administração: princípios e tendências. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 360. Agora, pense e responda: se o novo funcionário aceitar este conselho será devido a quê? Que variáveis podem influir na escolha da alternativa? Tentou fazer? Então, vamos à resposta! De acordo com a Teoria das relações humanas, existe dentro da organização regras que moldam o comportamento do indivíduo que não são ditadas pela organização formal. Existe dentro da organização formal outro tipo de organização, chamada informal, que não está prevista no organograma, tem caráter espontâneo e é mantida por relações afetivas, relações de poder e envolvimento. O nível de produção é determinado pelas normas sociais e pelas expectativas do grupo informal. Este grupo estabelece normas quedevem ser respeitadas pelos membros e a qualquer desvio são aplicadas punições sociais ou morais, com o objetivo de ajustar o colega aos padrões estabelecidos pelo grupo. Desta forma, o novo funcionário tem a tendência a respeitar as normas impostas pelo grupo informal sob pena de sofrer retaliações, ser excluído antes mesmo de ter se integrado no grupo. Capítulo 3 110 Teorias Administrativas e Organizacionais 3.4 Para saber mais Sobre contribuições à Teoria geral da administração, sugiro que você consulte algumas fontes complementares. Título: O lado humano da empresa Autor: McGregor, D. Editora: Martins Fontes, SP Ano: 1999 Este livro apresenta os conceitos referentes à Teoria X e Y, que merecem ser melhor exploradas, pois marcam o desenvolvimento das ciências comportamentais. Título: Uma teoria da motivação humana Autor: Maslow, A.H. Revista: O comportamento humano na empresa Editora: FGV, RJ Ano: 1975 O artigo escrito por Maslow é um clássico e trata da motivação humana no trabalho e da hierarquia das necessidades. Filme: Maslow: a hierarquia das necessidades Direção: Salenger Films (EUA) Ano: 2005 O breve documentário ensina a hierarquia das necessidades e sua aplicabilidade em situações de trabalho. 3.5 Relembrando Neste capítulo, você teve contato com as raízes da abordagem humanística da administração explorando em um primeiro momento, a Teoria das relações humanas. Esta teoria surgiu das conclusões da experiência realizada na fábrica de Hawthorne, da Western Electric Company, em Chicago. Os estudos foram iniciados em 1927 e estavam, inicialmente, interessados na relação existente entre as condições de trabalho, como a iluminação, a temperatura e a umidade, por um lado, e os aspectos da produtividade do trabalhador, como a fadiga e a monotonia, por outro. Na condução da experiência, os pesquisadores perceberam que as relações esperadas entre as condições de trabalho e a produtividade não se concretizavam. Por essa razão, os pesquisadores se voltaram para os fatores informais ou sociais que estariam possivelmente Capítulo 3 111Teorias Administrativas e Organizacionais afetando a motivação dos trabalhadores. Os estudos concluíram que o comportamento dos indivíduos é orientado pelos valores do grupo informal que existe dentro da organização, e do qual ele participa. A segunda abordagem, apresentada neste capítulo, demonstrou o surgimento da Teoria comportamental sobre uma nova concepção do indivíduo, dentro de um contexto mais amplo, como um ser dotado de capacidade de raciocínio. Nela são descritas as teorias motivacionais de Abraham Maslow sobre a hierarquia das necessidades, a qual pode ser visualizada em forma de pirâmide, em que na base estão as necessidades mais básicas e no topo, as mais elevadas. Também foi abordada a Teoria dos dois fatores de Frederick Herzberg, que pode ser compreendida em extensão à hierarquia das necessidades de Maslow. Esta Teoria dos dois fatores foi derivada da análise de incidentes críticos descritos em entrevistas com pessoas de diferentes empresas e países, relativos ao que provoca satisfação ou insatisfação no trabalho. Seus resultados indicaram que quando as pessoas falavam sobre o sentimento de insatisfação com o trabalho, estavam falando de fatores extrínsecos, e quando falavam sobre satisfação no trabalho, os elementos eram intrínsecos. Deste entendimento, Herzberg formulou a Teoria que denominou de dois fatores, sendo os fatores higiênicos, os fatores extrínsecos e os fatores de motivação, os intrínsecos. Adicionalmente a esta visão comportamental, o capítulo também abordou os estilos de administração aplicados por um gestor, a partir das convicções que este administrador tem a respeito do comportamento humano. Esses estilos são retratados pela Teoria X e Teoria Y. A Teoria comportamental também abrange os estilos de liderança, baseados no comportamento e na tomada de decisão que pode estar baseada na certeza, incerteza e risco. Por fim, o capítulo apresentou a Teoria do desenvolvimento organizacional, que é uma resposta ao dilema enfrentado pelas organizações, de ter que alcançar níveis elevados de produção e manter o nível de satisfação das necessidades dos indivíduos. Esta teoria tem como foco principal a mudança. Em princípio, o DO é uma mudança organizacional planejada. Capítulo 3 112 Teorias Administrativas e Organizacionais 3.6 Testando os seus conhecimentos 1) Relativo à motivação, é correto afirmar: a) Segundo McGregor as pessoas do tipo Y são automotivadas porque gostam do trabalho. b) A hierarquia das necessidades de Maslow está relacionada à hierarquia dos níveis organizacional. c) Os fatores higiênicos segundo Herzberg estão sob o controle do indivíduo, estão relacionados com aquilo que ele faz e desempenha. 2) A tomada de decisões é o núcleo da responsabilidade administrativa. O processo decisorial típico do homem administrativo envolve certeza, incerteza e risco. Assinale (V) para verdadeiro e (F) para falso para as alternativas referentes a tomada de decisões. ( ) As condições de certeza envolvem o conhecimento da meta, se tem informações precisas, mensuráveis e confiáveis sobre o resultado de cada alternativa que está sendo considerada. ( ) O risco ocorre quando podemos prever com certeza o resultado da escolha de uma alternativa, mas não possuímos informações suficientes para prever a probabilidade de que ela irá levar à situação desejada. ( ) Nas condições de incerteza, os administradores podem enfrentar condições externas que estejam parcial ou totalmente fora de seu controle, normalmente variáveis do ambiente externo. 3) Assinale as características relativas à abordagem do Desenvolvimento Organizacional: a) Repousa sobre processos grupais, com discussões em grupo e confrontações. b) Compreendem basicamente ajustes na estrutura organizacional. c) Possui uma concepção do homem como essencialmente mau. d) Não proporciona informações de retorno e retroação às pessoas. e) Utiliza máscara e representação no comportamento. Capítulo 3 113Teorias Administrativas e Organizacionais 4) Assinale as proposições como (V) verdadeiras ou (F) Falsas, de acordo com a Teoria de relações humanas, Teoria comportamental e Teoria de desenvolvimento organizacional. ( ) A motivação não indica as causas ou motivos que produzem determinado comportamento. ( ) De acordo com a Teoria X, o ser humano tem aversão ao trabalho. ( ) São considerados fatores higiênicos: benefícios sociais, políticas e diretrizes da empresa, clima de relacionamento entre a empresa e os funcionários. ( ) Na experiência de Hawthorne, os pesquisadores estavam interessados na relação existente entre as condições de trabalho e os aspectos da produtividade. ( ) Os dois tipos de comportamento de liderança observado por Likert são: voltados para o trabalho e voltados para a situação. Onde encontrar CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. DENHARDT, R. B. Theories of public organization. 4. ed. Belmont, Calif.: Thomson/Wadsworth, 2004. LACOMBE, F. J. M.; HEILBORN, G. L. J. Administração: princípios e tendências. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2003. MAXIMIANO, A. C. A. Teoria Geral da administração: da revolução urbana à revolução digital. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2009. MOTTA, F. C. P. Teoria geral da administração. 3. ed. rev. São Paulo: Thomson Learning, 2006. SILVA, R. O. da. Teorias da administração. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008. STONER, J. A. F.; FREEMAN, R. E. Administração. 5. ed. Rio de Janeiro: LivrosTécnicos e Científicos, 2009. Capítulo 3 114 Teorias Administrativas e Organizacionais Capítulo 4 115Teorias Administrativas e Organizacionais A ABORDAGEM NEOCLÁSSICA DA ADMINISTRAÇÃO CAPÍTULO 44 4.1 Contextualizando A abordagem neoclássica da administração busca mostrar, por meio de seu ecletismo conceitual, que as diferentes teorias administrativas apresentam contribuições ao pensamento e ação administrativa. Ela também enfatiza que a abordagem clássica nunca saiu de moda, reafirmando os seus postulados. Apresenta a administração como técnica social básica, por meio da qual o administrador alcança os resultados pretendidos através das pessoas. A abordagem neoclássica é um movimento heterogêneo que enfatiza os princípios gerais de administração e dá ênfase aos objetivos e resultados. Nosso objetivo neste capítulo consiste justamente em compreender a abordagem neoclássica. Então, convido você a fazer esta viagem e descobrir as contribuições deste movimento. 4.2 Conhecendo a teoria A abordagem neoclássica da administração é uma atualização da Teoria clássica com um redimensionando dos problemas administrativos ao tamanho das organizações na atualidade. Ela aproveita as contribuições das teorias administrativas mesclando o conhecimento produzido pelas diferentes abordagens. Dentre os pontos fundamentais de sua abordagem está a sua compreensão da administração como uma técnica social, o que leva os administradores a buscar conhecimentos que vão além dos aspectos puramente técnicos, isto é, relacionados à coordenação das pessoas dentro das organizações. Capítulo 4 116 Teorias Administrativas e Organizacionais 4.2.1 Origens e características da Teoria neoclássica A Teoria neoclássica tem sua origem na abordagem clássica. Esta nova Teoria reafirma os postulados clássicos - Taylor e Fayol - que, segundo Chiavenato (2003) e Silva (2008), nunca estiveram fora de moda. Difere, apenas, quanto à coerência de suas colocações; no passado, a proposta era homogênea quanto à linha de pensamento, enquanto atualmente, o novo enfoque adota uma linha heterogênea, mesclando a formalidade e a rigidez com uma postura mais liberal e humanista. A partir de ideias encabeçadas por Peter Drucker, este novo estilo de administração, chamado por este autor de “Gerência por resultados”, constitui- se no boom da década de 50. Seus princípios estiveram fundamentados nos aspectos práticos e na valorização dos objetivos para solucionar os problemas de produção, pessoal e comunicação. Características da teoria neoclássica A Teoria neoclássica destaca-se, segundo Chiavenato (2003), com a prática da administração, reafirmando os postulados clássicos, os princípios gerais de administração, enfatizando os objetivos e resultados e apresentando um ecletismo de conceitos desenvolvidos pelas diferentes teorias. Para uma melhor compreensão, convém destacarmos mais detidamente cada uma destas características a partir das ideias de Chiavenato (2003): • ênfase na prática da administração: a Teoria neoclássica se caracteriza por dar destaque aos aspectos práticos da administração, pelo pragmatismo e busca de resultados concretos. Os autores neoclássicos desenvolveram seus conceitos buscando a prática, visando principalmente à ação administrativa. Seus pressupostos eram de que a teoria só teria valor quando operacionalizada na prática. Este era o pensamento de quase todos os autores neoclássicos, referindo-se a prática da administração, isto é, a ação administrativa, enfatizando aspectos instrumentais; • reafirmação dos postulados clássicos: a Teoria neoclássica é quase uma reação à influência das ciências do comportamento no campo da Administração em detrimento dos aspectos econômicos Capítulo 4 117Teorias Administrativas e Organizacionais e concretos que envolvem o comportamento das organizações. A ideia dos neoclássicos era colocar as coisas nos seus devidos lugares, partindo, para isso, das ideias desenvolvidas pela Teoria clássica, dando a ela uma nova roupagem. Para tanto, realinham os conceitos clássicos de estrutura de organização do tipo linear, funcional, linha staff, autoridade e responsabilidade, departamentalização, entre outros; • ênfase nos princípios gerais de administração: os teóricos neoclássicos estabeleceram normas de comportamento administrativo. Retomaram os princípios de administração utilizados pelos clássicos como critérios elásticos para a busca de soluções administrativas. Independente do tipo de organização – indústria, governo, igreja, exército, supermercado, banco ou universidade – os dilemas enfrentados pelas organizações permanece o mesmo, isto é, selecionar gerentes, pessoas, estabelecer planos e diretrizes, avaliar resultados de desempenho e coordenar e controlar operações para alcançar os objetivos almejados. A preocupação dos autores neoclássicos consiste em estabelecer princípios gerais da Administração que auxiliem o administrador no desenvolvimento de suas funções. Esses princípios procuram definir o processo pelo qual o administrador deve planejar, organizar, dirigir e controlar o trabalho dos seus subordinados; • ênfase nos objetivos e resultados: as organizações existem para alcançar objetivos e produzir resultados. Baseado nos objetivos e resultados pretendidos é que uma organização deve ser estruturada, dimensionada e orientada. Daí resulta a ênfase colocada nos objetivos organizacionais e nos resultados pretendidos, como meio de avaliar o desempenho das organizações. Os objetivos são os valores visados ou resultados desejados pela organização. A organização espera alcançá-los por meio de sua operação eficiente. Se ocorrem falhas nas operações, os objetivos e resultados podem ser apenas parcialmente alcançados ou simplesmente frustrados. São os objetivos que justificam a existência e a operação de uma organização. Um dos produtos resultantes dos estudos da Teoria neoclássica é a chamada Administração por objetivos, que será abordada no decorrer do capítulo; Capítulo 4 118 Teorias Administrativas e Organizacionais • ecletismo da teoria neoclássica: os autores neoclássicos, embora tenham partido da Teoria clássica, são ecléticos, absorvendo o conteúdo de outras teorias administrativas. Administração como técnica social Para os neoclássicos, segundo Chiavenato (2003), a administração consiste em dirigir, orientar e controlar os esforços dos indivíduos para o alcance dos resultados e o bom administrador é aquele que consegue alcançar os objetivos utilizando o mínimo de recursos com o menor nível de atrito com outras atividades. A administração é considerada, atualmente, uma atividade essencial, que exige esforço coletivo. Desta forma, é necessário que haja cooperação entre os indivíduos de uma organização para atingir os resultados pretendidos. Nesse sentido, a atividade de administrar está fortemente relacionada à coordenação de atividades grupais (CHIAVENATO, 2003). 4.2.2 Princípios básicos da organização Para Chiavenato (2003), os autores neoclássicos ampliam o conceito de organização formal, considerando-os princípios fundamentais. “A organização consiste em um conjunto de posições funcionais e hierárquicas orientado para o objetivo econômico de produzir bens ou serviços.” (CHIAVENATO, 2003, p. 156). Os princípios básicos de uma organização formal, na percepção de Chiavenato (2003), são: • divisão do trabalho; • especialização; • hierarquia; • amplitude administrativa. Vamos explorar cada um deles? A divisão do trabalho é um processo que deve ser aplicado à produção de bens ou de serviços para queuma organização possa ser eficiente. Ela consiste, segundo Chiavenato (2003), na maneira pela qual, um processo complexo é decomposto em uma série ordenada de pequenas tarefas que o constituem. Cada parte da tarefa é atribuída a uma pessoa ou operário. A divisão do trabalho começou a ser utilizada com a Revolução Industrial, em Capítulo 4 119Teorias Administrativas e Organizacionais substituição ao método artesanal. A ideia é que um operário, ao realizar uma tarefa repetidas vezes, teria o padrão de produção elevado, aumentando a produtividade, tornando a organização mais eficiente e proporcionando uma redução nos custos de produção. A especialização é uma consequência direta da divisão do trabalho. Quando uma organização divide o trabalho em partes, cada pessoa ocupante de um cargo passa a realizar apenas uma parte do todo, isto é, o indivíduo passa a ser um especialista em um determinado assunto. Os autores neoclássicos, segundo Chiavenato (2003), se preocuparam com a especialização dos órgãos que compõem a estrutura organizacional, de tal forma que a divisão do trabalho não está somente no nível das tarefas, mas também no nível da estrutura organizacional. A hierarquia é uma consequência da divisão do trabalho, onde a autoridade divide-se verticalmente em níveis (MAXIMIANO, 2009). Essa disposição da autoridade em níveis é chamada de hierarquia ou cadeia de comando, onde as pessoas que estão em determinado nível têm autoridade sobre as que estão no nível inferior (MAXIMIANO, 2009). Da mesma forma, são atribuídas às pessoas responsabilidades de acordo com o nível hierárquico que se encontram na estrutura organizacional. Vejamos os conceitos de autoridade e responsabilidade segundo Maximiano (2009): • autoridade: após a divisão do trabalho, é preciso atribuir autoridade às pessoas ou unidades de trabalho. Autoridade é o direito que os chefes ou gerentes possuem de dirigir ou comandar o comportamento dos integrantes de sua equipe, chamados de subordinados, colaboradores ou funcionários. A autoridade também implica no poder que um indivíduo possui para utilizar ou comprometer os recursos organizacionais; • responsabilidade: após a identificação das unidades de trabalho, as responsabilidades são definidas. Responsabilidades, segundo Maximiano (2009, p. 84), “[...] são as obrigações ou deveres das pessoas pela realização de tarefas ou atividades.” O conjunto de tarefas pelas quais uma pessoa é responsável chama-se cargo e, normalmente, um departamento é um agregado de cargos. Capítulo 4 120 Teorias Administrativas e Organizacionais A amplitude administrativa diz respeito ao número de subordinados que um administrador supervisiona. Chiavenato (2003) explica que a amplitude administrativa é discutida pelos autores neoclássicos face à distribuição de autoridade e responsabilidade. O princípio da amplitude administrativa, conforme Koontz (1980), reza que há um limite de subordinados que um administrador poderá supervisionar. Este limite, na visão do autor, depende da frequência dos relacionamentos entre superior e subordinados e sua habilidade em tratar com os mesmos. Na prática, Koontz (1980) expõe que a solução está na formação de departamentos (departamentalização) para formar áreas distintas de atividades. Desta forma, quando um administrador tem muitos subordinados, sua amplitude de controle é ampla. As organizações podem utilizar de estruturas organizacionais alongadas, com amplitude de controle mais estreita. Veja o exemplo nas figuras a seguir. Figura 1 - Estrutura organizacional achatada Figura 2 - Estrutura organizacional alongada Capítulo 4 121Teorias Administrativas e Organizacionais A amplitude administrativa enfrenta dilemas, pois uma organização, ao adotar uma estrutura organizacional achatada, com poucos níveis hierárquicos, terá um exagero na ampliação de supervisão, acarretando falta de eficiência das chefias (LACOMBE; HEILBORN, 2003). Estes mesmos autores expõem que, para enfrentar estes dilemas, aumento da amplitude de supervisão versus aumento nos níveis hierárquicos, as organizações podem adotar mecanismos de centralização versus descentralização, que contribuem para proporcionar benefícios à empresa. EXPLORANDOEXPLORANDO Sugiro que você acesse este site do Grupo de Estudos em Organizações da UFRGS e consulte o artigo intitulado “Origem da Teoria neoclássica”, em que você pode saber um pouco mais sobre esta teoria, além de apresentar um comparativo com as demais. Acesse: <http://gestor.ea.ufrgs. br/adp/neoclassica.html>. 4.2.3 Centralização versus descentralização A centralização e a descentralização, segundo Chiavenato (2003, p. 161), referem-se ao nível hierárquico no qual as decisões devem ser tomadas. Centralização, desta forma, afirma Chiavenato (2003), é quando a autoridade para tomar decisões está alocada próxima ao topo da organização, enquanto que na descentralização, a autoridade de tomar decisões é deslocada para os níveis que se encontram mais abaixo. O problema da centralização versus descentralização é amplamente discutido pelos autores neoclássicos. Em parte, devido ao fato de a abordagem clássica da administração ter assentado boa parte dos seus estudos nestes aspectos. Taylor defendia a supervisão funcional caracterizada pela descentralização da autoridade, enquanto que Fayol defendia a ideia de organização linear, enfatizando a centralização da autoridade. Na descentralização, ocorre delegação de responsabilidades e autoridades. Capítulo 4 122 Teorias Administrativas e Organizacionais DEFINIÇÃODEFINIÇÃO Bateman (2009) define delegação como a atri- buição de autoridade e responsabilidade a um subordinado em um nível mais baixo. A delegação proporciona maior flexibilidade para se adaptar às mudanças do ambiente. Bateman (2009) salienta que delegar o trabalho acarreta economia de tempo ao administrador ao atribuir algumas de suas responsabilidades para outra pessoa, podendo, assim, dedicar sua energia a atividades de alto nível que exigem planejamento, estabelecimentos de objetivos e monitoramento de desempenho. Desta forma, vamos conhecer o conceito de organização centralizada e descentralização. CONCEITOCONCEITO Organização centralizada: organização em que os executivos de alto nível tomam a maioria das decisões e as passam aos níveis inferiores para implementação (BATEMAN, 2009, p. 273). Organização descentralizada: organização em que os gestores de níveis inferiores tomam deci- sões importantes (BATEMAN, 2009, p. 273). 4.2.4 Funções do administrador Você já parou para refletir sobre as funções do administrador na Teoria neoclássica? Elas correspondem, segundo Chiavenato (2003), aos elementos da administração que Fayol definiu – prever, organizar, comandar, coordenar e controlar, mas com uma versão mais atualizada e mais moderna. Para os autores neoclássicos, o processo administrativo é o núcleo de sua teoria eclética e utilitarista. Cada um deles apresenta propostas que permitem uma ligeira diferenciação, todavia, de modo geral, as funções consagradas são: planejamento, organização, direção e controles, consideradas básicas no processo administrativo. Capítulo 4 123Teorias Administrativas e Organizacionais FAYOL URWICK GULICK KOONTZ E O`DONNELL NEWMAN DALE Prever Investigação Previsão Planejamento Planejamento Planejamento Planejamento Planejamento Organizar Organização Organização Organização Organização Organização Comandar Coordenar Comando Coordenação Administração de pessoal Direção Coordenação Designação de pessoal Direção Liderança Direção ControlarControle Informação Orçamento Controle Controle Controle Quadro 1 - Processo administrativo segundo autores clássicos e neoclássicos Fonte: Chiavenato (2003, p. 166). O quadro 1 apresenta o processo adminwistrativo segundo autores clássicos e neoclássicos. Vejamos. Vamos analisar as funções administrativas no contexto atual? • Planejamento: é a ferramenta para administrar as relações com o futuro. É a aplicação específica do processo decisório que de alguma forma irá influenciar o futuro ou que será posta em prática no futuro. Estas são as decisões de planejamento (MAXIMIANO, 2009). O planejamento é a função inicial processo administrativo. Ele orienta todas as atividades subsequentes da realidade administrativa das organizações (OLIVEIRA, 2008). A função planejamento indica a direção a ser seguida pela organização. CONCEITOCONCEITO “Planejamento é a metodologia administrativa que permite diagnosticar e analisar situações atu- ais, de estabelecer resultados – objetivos e me- tas – a serem alcançados pelas organizações e de delinear ações – estratégias – para alcançar estes resultados, bem como, estabelecer leis e normas – políticas – que servem de sustentação a esse proce- dimento administrativo.” (OLIVEIRA, 2008, p. 41) Capítulo 4 124 Teorias Administrativas e Organizacionais • Organização: para executar os planos, é necessário organizar os recursos e, como todas as funções da administração, esta também consiste em um processo de tomar decisões. CONCEITOCONCEITO “Organizar é o processo de dispor qualquer con- junto de recursos em uma estrutura que facilite a realização de planos. O processo de organizar tem como resultado o ordenamento das partes de um todo, ou a divisão de um todo em partes ordenadas, segundo algum critério ou princípio de classificação.” (MAXIMIANO, 2009, p. 83) As decisões de organização envolvem a de dividir o trabalho, atribuir responsabilidades as pessoas e estabelecer mecanismos de comunicação e coordenação. • Direção: constitui a terceira função administrativa e compreende à ação de colocar em andamento as atividades planejadas e organizadas. Ela está diretamente relacionada com a atuação dos recursos humanos da empresa. Está relacionada diretamente com a maneira pela qual o objetivo ou os objetivos devem ser alcançados por meio da atividade das pessoas que integram a organização (CHIAVENATO, 2003). A função direção está muito relacionada com as relações interpessoais. CONCEITOCONCEITO “Direção é a capacidade e habilidade adminis- trativa de supervisionar e orientar os recursos humanos, financeiros, tecnológicos, materiais, equipamentos – alocados nas atividades das or- ganizações, visando otimizar o processo decisó- rio ao alcance dos resultados estabelecidos no planejamento.” (OLIVEIRA, 2008, p. 42) • Controle: consiste de um processo de tomar decisões no sentido de manter ou ajustar a direção sobre as atividades que necessitam ser desenvolvidas para o alcance dos objetivos definidos pela Capítulo 4 125Teorias Administrativas e Organizacionais organização. O processo de controlar, segundo Maximiano (2009), está relacionado à realização de objetivos. O objetivo torna-se o critério ou padrão para avaliação do desempenho. “Controle é a metodologia administrativa que, mediante a comparação com padrões previamen- te estabelecidos, procura medir e avaliar o desem- penho e o resultado das ações, com a finalidade de realimentar com informações os tomadores de decisões, de forma que possam corrigir ou refor- çar o desempenho, para assegurar que os resultados estabelecidos pelo planejamento sejam alcançados.” (OLIVEIRA, 2008, p. 42) CONCEITO A figura 3 apresenta o processo de controle, complemento dos processos de planejamento e execução. Dados de entrada para o controle - Informações sobre objetivos - Informações sobre resultados Processo de controle - Comparação de resultados com objetivos - Decisão Ação corretiva ou de reforço Processo de Planejamento Objetivos Padrões de controle Processo de Execução Resultados Figura 3 - Processo de controle Fonte: Maximiano (2009, p. 92). Capítulo 4 126 Teorias Administrativas e Organizacionais 4.2.5 Tipos de organização A teoria neoclássica deu grande ênfase à estrutura organizacional, ou seja, à organização formal. A organização formal compõe-se, conforme Chiavenato (2003), de níveis hierárquicos, que são representados por meio de um organograma onde são enfatizadas as funções e tarefas. Esses níveis são definidos e diferenciam o grau de autoridade delegada e o endereçamento das ordens, instruções e níveis salariais. A organização formal compreende, ainda na visão de Chiavenato (2003), a estrutura organizacional, diretrizes, normas, regulamentos, rotinas e procedimentos. Ela determina os padrões de relações entre os órgãos ou cargos: • organização linear – é o tipo mais simples e mais antigo. Sua origem remonta a dos antigos exércitos e organizações eclesiásticas dos tempos medievais. Estas formas mais antigas de organização possuem em comum o princípio da autoridade linear, também chamado de princípio escalar que estabelece a hierarquia da autoridade. O nome organização linear significa que existem linhas diretas e únicas de autoridade e responsabilidade entre superior e subordinado, ocasionando um formato piramidal e pressupõe o princípio da unidade de comando. A organização linear possui estrutura simples e de fácil compreensão, com clara delimitação das responsabilidades dos órgãos. É um tipo de organização indicado para pequenas empresas, dado sua fácil operacionalização como pela economia de sua estrutura simples (CHIAVENATO, 2003); • organização funcional: é o tipo de estrutura organizacional que aplica o princípio funcional ou da especialização das funções. Na Antiguidade, muitas organizações utilizavam este princípio para diferenciação das atividades ou funções. Na organização funcional, a autoridade é dividida, baseada na especialização onde cada subordinado reporta-se a muitos superiores, simultaneamente, porém reporta-se a cada um deles somente nos assuntos de sua especialidade. Neste tipo de organização, nenhum superior tem autoridade total sobre os subordinados, apenas parcial e relativa, decorrente de sua especialidade (CHIAVENATO, 2003); • organização linha-staff: é o resultado da combinação dos tipos de organização linear e funcional, utilizando as vantagens desses dois Capítulo 4 127Teorias Administrativas e Organizacionais tipos de organização e reduzindo suas desvantagens. Há autores que a denominam de hierárquico-consultivo. Na organização linha-staff coexistem órgãos de linha e de assessoria. Os órgãos de linha caracterizam-se pela autoridade linear e pelo princípio escalar, enquanto os órgãos de staff prestam assessoria e serviços especializados (CHIAVENATO, 2003). 4.2.6 Departamentalização As organizações tendem a utilizar formas diferenciadas de departamentalização à medida que uma organização cresce. A base fundamental disto é dada pela divisão do trabalho e pela especialização. A divisão do trabalho faz com que a organização se departamentalize, adotando critérios a partir de semelhança de funções, onde as atividades são agrupadas. A especialização na organização pode ocorrer de duas formas: vertical e horizontal. A especialização vertical ocorre quando se verifica a necessidade de aumentar a qualidade da supervisão acrescentando mais níveis hierárquicos na estrutura. É um tipo de desdobramento da autoridade, aumentando o número de níveis hierárquicos (CHIAVENATO, 2003).Já a especialização horizontal é aquela que ocorre quando se verifica a necessidade de aumentar a perícia, eficiência e qualidade do trabalho. Ela conduz à especialização de atividades e conhecimentos (CHIAVENATO, 2003). A departamentalização é um meio para se obter homogeneidade de tarefas em cada órgão, agrupando os componentes da organização em departamento (CHIAVENATO, 2003). Os principais tipos de departamentalização são: • por funções; • por produtos ou serviços; • por localização geográfica; • por clientes; • por fases do processo; • por projetos. Vamos conhecer cada uma delas? Observe a explicação: Capítulo 4 128 Teorias Administrativas e Organizacionais • por funções: esta departamentalização também é conhecida como departamentalização funcional e consiste no agrupamento das atividades e tarefas de acordo com as funções principais desenvolvidas dentro da empresa. A departamentalização por funções é o critério mais utilizado para organizar atividades empresarias, todavia, as funções básicas de uma empresa podem diferir conforme a empresa ou negócio (CHIAVENATO, 2003). Normalmente, é utilizada por empresas menores que oferecem apenas uma linha de produtos. Uma grande vantagem que a departamentalização oferece é que ela torna mais fácil a supervisão das atividades/tarefas, já que cada administrador precisa ser um expert numa pequena gama de capacidades (STONER, 2009). Um exemplo de departamentalização funcional pode ser observado na figura 4, logo a seguir; Figura 4 – Departamentalização funcional PRESIDÊNCIA DEPARTAMENTO DE PRODUÇÃO DEPARTAMENTO DE FINANÇAS DEPARTAMENTO DE MARKETING DEPARTAMENTO DE RECURSOS HUMANOS • por produtos ou serviços: este tipo de departamentalização envolve diferenciação e agrupamento de atividades de acordo com o resultado da organização, ou seja, conforme o produto ou serviço realizado. As atividades requeridas para suprir um produto ou serviço são agrupadas no mesmo departamento. O agrupamento das atividades da organização é realizado pelas linhas de produtos, o que facilita o emprego da tecnologia, das máquinas e equipamentos, da mão de obra, permitindo uma concentração de esforços, aumentando a eficiência organizacional. Nas empresas não industriais, a denominação empregada é departamentalização por serviços, onde o que difere é que o agrupamento das atividades se baseia nos serviços prestados, em vez dos produtos (CHIAVENATO, 2003). Um exemplo desse tipo de departamentalização pode ser observado na figura 5, logo a seguir; Capítulo 4 129Teorias Administrativas e Organizacionais Figura 5 – Departamentalização por produto. DIVISÃO DE PRODUTOS DE HIGIENE PESSOAL DIVISÃO DE PRODUTOS DE LIMPEZA DEPARTAMENTO DE PRODUÇÃO DEPARTAMENTO DE FINANÇAS DEPARTAMENTO DE VENDAS PRESIDÊNCIA • por localização geográfica: também denominada de departamentalização territorial ou regional. O critério para agrupamento das atividades se dá de acordo com a localização, onde o trabalho será desempenhado em face de uma área de mercado que será servida pela empresa. O pressuposto é de que, onde os mercados estão dispersos, a eficiência se obtém se todas as atividades relacionadas com um produto forem agrupadas em uma área geográfica específica. Nesta forma de departamentalização, as funções e os produtos/serviços – similares ou não – deverão ser agrupados com base nos interesses geográficos. Este tipo de departamentalização é utilizado normalmente por empresas que cobrem grandes áreas geográficas e cujos mercados são extensos. É muito atrativa para empresas de larga escala e cujas atividades são geograficamente dispersas, como as multinacionais. Este exemplo você pode verificar na figura 6; Figura 6 – Departamentalização geográfi ca PRESIDENTE VICE-PRESIDENTE AMÉRICA LATINA VICE-PRESIDENTE AMÉRICA DO NORTE VICE-PRESIDENTE ÁSIA • por clientes: é o tipo de departamentalização onde o agrupamento das atividades ocorre de acordo com o tipo de pessoa ou pessoas para que o trabalho é executado. Características como: sexo, idade, nível socioeconômico constituem a base para esse tipo de Capítulo 4 130 Teorias Administrativas e Organizacionais departamentalização. Ela reflete o interesse do consumidor do produto ou serviço. É um critério importante quando a organização atende a diferentes classes de clientes com características e necessidades diferenciadas. Este tipo de departamentalização é mais indicado quando diferentes clientes requerem diferentes métodos e características de vendas, distintas características de produtos ou serviços organizacionais (CHIAVENATO, 2003). Um exemplo deste tipo de departamentalização você pode observar na figura 7; Figura 7 - Departamentalização por cliente DEPARTAMENTO DE VENDAS ATENDIMENTO A PESSOA FÍSICA ATENDIMENTO A PESSOA JURÍDICA • por fases do processo: frequentemente utilizada em indústrias, nas áreas de produção, onde a diferenciação e o agrupamento se fazem por meio da sequência do processo produtivo ou por meio do arranjo e disposição racional do equipamento utilizado. O processo de produção dos bens ou serviços é que determina a estratégia de diferenciação e agrupamento (CHIAVENATO, 2003); CONCEITOCONCEITO Processo é um conjunto de atividades estrutura- das e destinadas a resulta um produtos especifi- cado para um determinado cliente ou mercado. É uma ordenação específica das atividades de trabalho no tempo e no espaço, com um come- ço, um fim e entradas e saídas claramente iden- tificadas. (CHIAVENATO, 2003, p. 218). • por projetos: neste tipo de departamentalização, o agrupamento e a diferenciação das atividades é realizado com base nas saídas e resultados relativos a um ou vários projetos. É normalmente utilizado por grandes empresas que produzem produtos que Capítulo 4 131Teorias Administrativas e Organizacionais envolvem grande concentração de recursos e prolongado tempo para sua produção. Exemplos: estaleiros que produzem navios, obras de construção civil, usinas hidrelétricas que exigem tecnologia sofisticada, pessoal especializado e reunião de recursos diferentes ao longo da produção. Cada produto é tratado como um projeto especial e sob encomenda, requerendo planejamento individual e detalhado para sua execução (CHIAVENATO, 2003). Na prática, dificilmente se encontra a aplicação pura de um único tipo de departamentalização em toda a organização. Normalmente, as empresas utilizam mais de um critério de departamentalização para atender às necessidades organizacionais. 4.2.7 Administração por objetivos – APO A administração por objetivos foi desenvolvida por Peter Drucker em 1954, cujo objetivo realçava a necessidade de medições quantitativas. A APO é uma tentativa de alinhar metas pessoais com a estratégia do negócio, por meio do aumento da comunicação e das percepções compartilhadas entre a gerência e os subordinados, seja como indivíduos ou como um grupo, pela conciliação do conflito, quando este existir (SILVA, 2008). A APO também é conhecida por administração por resultados e se constitui no modelo administrativo identificado com o espírito pragmático e democrático da Teoria neoclássica (CHIAVENATO, 2003). Peter Drucker, nascido em 1908, lecionou na Universidade de Nova Iorque e é professor da Claremont Graduate School, na Califórnia, desde 1971. É o autor com mais livros publicados sobre gestão, economia e análise social. Nascido em Viena, trabalhou como economista em Londres antes de emigrar para os Estados Unidos. Está por trás das principais teorias de gestão dos últimos50 anos tais como: gestão por objetivos; privatização; cliente em primeiro lugar; papel do líder; descentralização; e era da informação. Faleceu em 11 de outubro de 2005 aos 95 anos. BIOGRAFIA Capítulo 4 132 Teorias Administrativas e Organizacionais Características da APO A APO é um processo, segundo Chiavenato (2003), pelo qual gerentes e subordinados identificam objetivos comuns, definem áreas de responsabilidade e resultados esperados, utilizando os objetivos como guias. Desta forma, a APO é uma abordagem que visa resolver as diferenças nas percepções das metas, expõe Silva (2008). Parte-se do pressuposto de que todas as organizações possuem metas e objetivos a alcançar. Todavia, as metas, muitas vezes, não são estabelecidas de modo claro, fazendo com que os gerentes e subordinados tenham mal entendidos sobre o que, de fato, são essas metas (SILVA, 2008). As principais características da APO, na visão de Chiavenato (2003) e Siva (2008), são: • estabelecimento conjunto de objetivos entre o gerente e seus subordinados; • estabelecimento de objetivos para cada departamento ou posição; • interligação entre os vários objetivos departamentais; • elaboração dos planos operacionais, com ênfase no controle de resultados; • contínua avaliação, revisão e reciclagem dos planos; • participação atuante das gerências e dos subordinados; • apoio intensivo do staff. Vamos conhecer cada uma dessas características? Leia com atenção a explicação na perspectiva de Chiavenato (2003): • estabelecimento conjunto de objetivos entre o gerente e seus subordinados: a maior parte dos sistemas de APO utiliza o estabelecimento de objetivos conjunto. Gerente e subordinado participam ativamente do processo de definir e fixar objetivos, variando conforme o sistema adotado; • estabelecimento de objetivos para cada departamento ou posição: na APO, a definição de objetivos é dada por posições de gerência. Os objetivos podem ser denominados metas, alvos ou finalidades, entretanto, a ideia básica é a mesma, isto é, determinar os resultados que o gerente e o subordinado deverão alcançar. Os objetivos devem ser quantificados e com prazos; Capítulo 4 133Teorias Administrativas e Organizacionais • interligação entre os vários objetivos departamentais: deve haver correlação entre os objetivos dos vários departamentos. Esta ligação deve envolver objetivos comerciais com objetivos de produção, assim como objetivos de um nível superior com os dos níveis inferiores; • elaboração dos planos operacionais, com ênfase no controle de resultados: a partir dos objetivos definidos, gerente e subordinado passam a elaborar os planos táticos para alcançar os objetivos pretendidos. Planos estratégicos são desdobrados em plano táticos e planos táticos são novamente desdobrados em planos operacionais; EXPLORANDOEXPLORANDO Para saber mais sobre planos estratégicos, táticos e operacionais, consulte OLIVEIRA, D. P. R. Planejamento estratégico: conceitos, metodologia, práticas. São Paulo: Atlas, 2002. • contínua avaliação, revisão e reciclagem dos planos: na concepção da APO, todos seus sistemas envolvem a avaliação e a revisão regular do processo e dos objetivos para que possam, se necessário, serem tomadas providências. Há, segundo Chiavenato (2003), um ciclo típico da APO que envolve as seguintes etapas: 1) a partir dos objetivos organizacionais e do planejamento estratégico, estabelecem-se os objetivos departamentais para o primeiro ano, entre o gerente do departamento e seu superior; 2) o gerente elabora, então, o plano tático que permita alcançar os objetivos departamentais previamente fixados; 3) o gerente elabora com seus subordinados os plano operacionais para a implementação do plano tático de seu departamento; 4) os resultados dos planos são continuamente avaliados e comparados com os objetivos fixados; 5) a partir dos resultados obtidos, procede-se a revisão, o reajuste dos planos e/ ou as alterações necessárias; 6) no próximo ciclo, estabelecem-se os objetivos departamentais para o segundo ano, entre o gerente e seu superior, tomando por base os resultados do primeiro ano; 7) repete-se a sequência do ciclo anterior; Capítulo 4 134 Teorias Administrativas e Organizacionais • participação atuante das gerências e dos subordinados: a participação do gerente e subordinados é intensa. Quando o gerente define os objetivos, vende-os aos subordinados, mensura- os e avalia o progresso; • apoio intensivo do staff: para a implantação da APO, é necessário apoio intensivo de um staff treinado e preparado. A abordagem do tipo “faça-o você mesmo” não é aconselhável em APO, pois ela exige coordenação e integração de esforços, o que pode ser feito pelo staff. DEFINIÇÃODEFINIÇÃO “A Administração por Objetivos pode ser definida com um estilo ou sistema de administração que relaciona as metas organizacionais com o desempenho e o desenvolvimento individual, por meio do envolvimento de todos os níveis administrativos.” (SILVA, 2008, p. 393) Capítulo 4 135Teorias Administrativas e Organizacionais Figura 8 - Ciclo contínuo da APO Fonte: Chiavenato (2003, p. 231). Fixação dos objetivos globais da empresa Elaboração do planejamento estratégico Avaliação dos resultados alcançados em comparação com os objetivos departamentais Revisão nos planos ou alteração nos objetivos departamentais Avaliação dos resultados alcançados com os objetivos departamentais Desdobramento do plano tático em planos operacionais Elaboração do plano tático do departamento Fixação dos objetivos departamentais para o ano Capítulo 4 136 Teorias Administrativas e Organizacionais Limites e críticas à APO O primeiro aspecto a ser lembrado é que a APO não é uma panaceia; ela também está sujeita a limitações, como outras teorias. Chiavenato (2003) diz que a APO não é uma fórmula mágica. Segundo Silva (2008), ela tem sido comparada a uma forma moderna da administração científica e neste sentido, está sujeita às mesmas críticas. Este autor salienta que a APO não deveria ser aplicada como um simples instrumento de pressão por meio do qual, a administração aumenta a carga de exigências que se espera que os subordinados alcancem. Ainda que a mesma tenha sofrido algum declínio na popularidade de sua aplicação, pesquisas têm demonstrado que, apesar de numerosos argumentos a favor e contra, a APO pode ser vista como um processo eficaz. Das críticas feitas a APO, expõe Silva (2008), o principal aspecto está relacionado aos conflitos que podem surgir entre objetivos individuais e organizacionais. O processo é usualmente relacionado com um esquema sofisticado de avaliação de desempenho e escala reprimida. Em face a isto, a eficácia da APO está fortemente relacionada à formulação dos esquemas de avaliação. Chiavenato (2003) complementa a crítica à APO salientando que, como ela envolve um processo político (definição política dos propósitos da organização), um processo de planejamento (planejamento estratégico e tático) e um processo de direção (envolvendo supervisão e execução), é muito comum que um ou mais desses processos não funcionem bem. Embora, diz o autor, sejam excelentes ferramentas administrativas, a APO também tem seus pontos frágeis. Em um quadro esclarecedor Chiavenato (2003) apresenta benefícios e problemas da APO. Capítulo 4 137Teorias Administrativas e Organizacionais ALGUNS BENEFÍCIOS DA APO ALGUNS PROBLEMAS DA APO Aclaramento dos objetivos Coerção sobre subordinados Melhoria do planejamento Aprovação de objetivos incompatíveisPadrões claros para controle Papelório em excesso Aumento da motivação do pessoal Focalização sobre resultados mais facilmente mensuráveis do que sobre resultados mais importantes Avaliação mais objetiva Perseguição rígida de objetivos que poderiam ser abandonados Melhoria do moral Quadro 2 - Benefícios e problemas da APO Fonte: Chiavenato (2003, p. 247). Concluímos este capítulo destacando que APO é desenvolvida por meio de um ciclo que deve ser compreendido como estilo de administração que relaciona metas organizacionais com desempenho. Há benefícios e problemas, como vimos, mas se constitui, no atual cenário, como uma estratégia administrativa difundida e plenamente compatível com o espírito pragmático e democrático da Teoria neoclássica. Ficaram evidentes algumas das características que marcam a Teoria neoclássica, como a ênfase na prática da administração, a revisão e reafirmação dos postulados clássicos, a presença dos princípios gerais de administração, a ênfase aos objetivos e resultados e ao ecletismo. A Teoria neoclássica resgata as funções do administrador: planejamento, organização, direção e controle que formam o processo administrativo. E por tudo isso, tem importância na configuração do estudo das Teorias da administração. 4.3 Aplicando a teoria na prática Ana Maria acabou de se formar em Administração e foi admitida como administradora em uma indústria farmacêutica para gerenciar a área de Marketing. Preocupada com o seu sucesso profissional e com os resultados esperados com o seu desempenho, Ana Maria pretende aplicar os conhecimentos adquiridos durante sua graduação. Dentre os conhecimentos, ela sabe que, para ter sucesso, é preciso utilizar as funções do administrador: planejar, organizar, dirigir e controlar. Ela também sabe que precisa trabalhar em equipe, pois isto facilitará o alcance dos Capítulo 4 138 Teorias Administrativas e Organizacionais objetivos pretendidos. Para isso, o ideal seria que Ana Maria pudesse repassar um pouco dos conhecimentos adquiridos durante a graduação. Agora, reflita e responda: como Ana Maria poderia repassar a sua equipe de departamento as funções do processo administrativo? E então, conseguiu elaborar uma resposta. Lembre-se que o ideal seria que Ana Maria explicasse o processo administrativo por meio de um esquema, que facilitasse a compreensão e a fixação destas atividades por parte de sua equipe. Desta forma, Ana Maria poderia exemplificar o processo administrativo de duas formas: 1) PLANEJAMENTO ORGANIZAÇÃO DIREÇÃO CONTROLE • definir a missão, visão e valores organizacionais; • formular objetivos; • definir planos de ação. • dividir o trabalho; • definir as atividades de responsabilidade de cada área; • definir autoridade e responsabilidade; • alocar recursos. • coordenar as pessoas para o alcance dos resultados; • comunicar; • motivar; • orientar; • liderar. • definir padrões para medir o desempenho; • monitorar as atividades para aferir o desempenho; • avaliar os resultados; • promover ações corretivas. Quadro 3 - Processo administrativo Fonte: adaptado de Chiavenato (2003). 2) A outra forma que Ana Maria pode utilizar para explicar aos seus colaboradores quais atividades compõem o processo administrativo seria: Entrada de recursos: Humanos Financeiros Materiais Tecnológicos Informação Saída: desempenho Objetivos alcançados Produtos Serviços Eficiência Eficácia Planejamento Controle Direção Organização Figura 9 - Processo administrativo Fonte: adaptado de Chiavenato (2003). Capítulo 4 139Teorias Administrativas e Organizacionais 4.4 Para saber mais Título: Introdução à administração Autor: Drucker, P. F. Editora: Pioneira Thomson Learning Ano: 2002 Para aprofundar seus conhecimentos sobre administração e assimilar os princípios fundamentais da prática da administração leia: Este livro é uma versão especial da obra: Management: tasks, responsabilities, practices. 4.5 Relembrando Neste capítulo, vimos que a Teoria neoclássica utiliza conceitos de outras teorias administrativas, buscando eliminar os exageros e distorções cometidas pelos primeiros teóricos da administração. Algumas características a identificam: ênfase na prática da administração, revisa e reafirma os postulados clássicos, enfatiza os princípios gerais de administração, dá ênfase aos objetivos e resultados e ao ecletismo. Aprendemos também que a Teoria neoclássica considera a Administração uma técnica social, expondo ao administrador a necessidade de dar direcionamento às pessoas dentro das organizações. A Teoria neoclássica resgata as funções do administrador: planejamento, organização, direção e controle que formam o processo administrativo. Vimos que a Teoria neoclássica desenvolve a especialização vertical e horizontal, visando atender as exigências internas e externas. Passa a agrupar as atividades de acordo com as necessidades da organização, elevando o número de níveis hierárquicos e promovendo a especialização das funções. Adota formas diversificadas de departamentalização como: por funções, produtos ou serviços, clientes, geográfica, fases do processo ou por projeto. Destacamos ainda que Peter Drucker foi o autor que apresentou as ideias sobre este novo estilo de administrar chamado “Gerência por resultados”, o qual se constituiu no boom da década de 50. Seus princípios estiveram fundamentados nos aspectos práticos e na valorização dos objetivos para solucionar os problemas de produção, pessoal e comunicação. Você aprendeu ainda que a APO é desenvolvida por meio de um ciclo que deve ser compreendido como um estilo de administração que relaciona metas organizacionais com desempenho. Capítulo 4 140 Teorias Administrativas e Organizacionais 4.6 Testando os seus conhecimentos 1) A empresa de produtos alimentícios Roger Ltda já utiliza a departamentalização por funções, entretanto está querendo agrupar as atividades utilizando também a departamentalização por produtos. Explique aos membros da organização como é esta forma de departamentalização por produto. 2) Conceitue administração por objetivos. 3) Quais as fases que compõem o processo da APO? Onde encontrar BATEMAN, T. S. Administração: novo cenário competitivo. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009. CARAVANTES, G. R.; PANNO, C. C.; KLOECKNER, M. C. Administração: teorias e processos. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2004. CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. KOONTZ, H. Manual de estudo e exercícios para acompanhar princípios de administração. São Paulo: Pioneira, 1980. LACOMBE, F. J. M.; HEILBORN, G. L. J. Administração: princípios e tendências. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2003. MAXIMIANO, A. C. A. Teoria geral da administração: da revolução urbana à revolução digital. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2009. OLIVEIRA, D. P. R. Teoria geral da administração: uma abordagem prática. São Paulo: Atlas, 2008. SILVA, R. O. da. Teorias da administração. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008. STONER, J. A. F.; FREEMAN, R. E. Administração. 5. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 2009. Capítulo 5 141Teorias Administrativas e Organizacionais ABORDAGEM ESTRUTURALISTA DA ADMINISTRAÇÃO CAPÍTULO 55 5.1 Contextualizando A abordagem estruturalista será estudada neste capítulo por meio da Teoria da burocracia e da Teoria estruturalista. Na Teoria da burocracia, serão apresentadas suas origens, os tipos de autoridade e as características da burocracia segundo Weber. Também estudaremosas vantagens no uso da burocracia no contexto organizacional e apresentaremos algumas importantes análises sobre as disfunções da burocracia desenvolvidas por autores como Merton, Selznick e Gouldner. Em seguida, iremos estudar a Teoria estruturalista, identificando suas origens, principais aspectos do estruturalismo, tipologias de Etzioni e características que envolvem as organizações, para proporcionar uma análise organizacional mais ampla e abrangente, permitindo uma visão crítica da organização formal. 5.2 Conhecendo a teoria Esta abordagem abrange a Teoria burocrática e a Teoria estruturalista. A Teoria burocrática desenvolvida por Max Weber surgiu de inspiração para uma nova teoria administrativa, ela está baseada na racionalidade onde busca-se adequar os meios para se atingir os fins. Para Weber existem três tipos de autoridade: racional-legal, tradicional e carismática. A Teoria burocrática apresenta um conjunto de características que buscam dar previsibilidade ao comportamento do indivíduo no ambiente de trabalho, adotando procedimentos padronizados. Capítulo 5 142 Teorias Administrativas e Organizacionais A Teoria estruturalista representa um desdobramento da Teoria Burocrática e uma leve aproximação à Teoria das Relações Humanas. Representa também uma visão extremamente crítica da organização formal (CHIAVENATO, 2003). O nome de maior projeção do estruturalismo é Amitai Etzioni, que deve sua proeminência ao fato de ter se ocupado em analisar os fundamentos das Teorias: da administração científica, clássica, da burocracia e das relações humanas. Nessa análise, o autor julgou essas teorias insatisfatórias, formulando, assim, uma síntese do que considerava válido, ao que denominou de estruturalismo. A Teoria estruturalista analisa as organizações sob um ponto de vista múltiplo, considerando a organização formal e informal, as recompensas materiais e sociais, os diferentes tipos de organizações, bem como procura inter-relacionar as organizações com seu ambiente externo, a sociedade, caracterizando as organizações pela interdependência. 5.2.1 Teoria burocrática Certamente você já ouviu falar no termo burocracia. Vamos descobrir sua procedência e significado? A Teoria burocrática foi desenvolvida na Europa no início do século XX pelo sociólogo alemão Max Weber, por meio de um estudo sistemático que visava estabelecer uma ordem às organizações, pelo estabelecimento de uma estrutura hierárquica e aplicação de normas e regras às atividades para obter um trabalho eficiente. Segundo Chiavenato (2003), a burocracia é uma forma de organização humana que se baseia na racionalidade, ou seja, na adequação dos meios aos objetivos (fins), com o intuito de garantir a máxima eficiência ao alcance dos objetivos. Capítulo 5 143Teorias Administrativas e Organizacionais Max Weber (1864 -1920) nasceu em Erfurt, na Turíngia, uma parte da Alemanha que, na ocasião, estava sob dominação da Prússia. Weber, sociólogo, notabilizou-se pela teoria das estruturas de autoridade, formou-se em direito e passou quase toda a sua vida como professor de universidade. Pertenceu a uma geração de professores alemães liberais com preocupações universais. Weber tinha uma sólida formação em história, literatura, psicologia, teologia, filosofia e filologia, aspecto comum entre os eruditos de sua época. Quando morreu, seus estudos estavam em estado caótico, e nenhum de seus trabalhos estava disponível em inglês. Weber nunca produziu um trabalho sistemático integral, e mesmo o livro Economia e Sociedade, considerado co mo seu trabalho mais importante, foi elaborado a partir de manuscritos fragmentados sem um plano. Na versão inglesa, seu melhor trabalho é, certamente, o empírico e histórico ensaio The protestant ethic and the spirit of capitalism (A ética protestante e o espírito do capitalismo), traduzido pelo sociólogo norte-americano Talcott Parsons e publicado em 1930. O trabalho de Weber sobre burocracia permaneceu sem reconhecimento nos Estados Unidos até 1940. Como Fayol, Weber também teve que esperar até que as condições culturais criassem a necessidade de pensar em termos de teoria. Fonte: Silva (2008). BIOGRAFIA 5.2.2 As origens da Teoria burocrática Os estudos desenvolvidos por Max Weber, em 1920, sobre o que seria a burocracia ideal tiveram seu desenvolvimento na administração por volta da década de 40, quando as organizações apresentaram crescimento em tamanho e complexidade. Conforme Chiavenato (2003), a Teoria da burocracia tem suas origens sustentadas nos seguintes aspectos: • fragilidade e parcialidade da Teoria clássica e da Teoria das relações humanas, ambas oponentes e contraditórias, mas sem possibilitarem uma abordagem global e integrada dos problemas organizacionais. Essas teorias apresentam pontos de vista extremistas e incompletos sobre a organização, gerando a necessidade de um enfoque mais amplo e completo; Capítulo 5 144 Teorias Administrativas e Organizacionais • necessidade de um modelo de organização racional que caracterizasse todas as variáveis envolvidas, bem como, o comportamento dos membros participantes dela e também fosse aplicável todas as formas de organização humana, não apenas às fábricas; • crescente tamanho e complexidade das empresas que passaram a exigir modelos organizacionais melhor definidos; • ressurgimento da sociologia da burocracia, a partir da descoberta dos trabalhos de Max Weber. A Sociologia da burocracia propõe um modelo de organização e as organizações não tardam em tentar aplicá-lo na prática, proporcionando as bases da Teoria da burocracia. 5.2.3 Tipos de autoridade Para Weber, cada tipo de sociedade possui um tipo de autoridade. Em suas bases teóricas, o autor descreve modelos ideais típicos de dominação, distinguindo o exercício da autoridade em três tipos: racional-legal, tradicional e carismática. CONCEITOCONCEITO “Autoridade significa a probabilidade de que um comando ou ordem específica seja obedecido.” (CHIAVENATO, 2003, p. 259) Vejamos a explicação de cada um dos tipos: a) racional-legal: o exercício da autoridade racional-legal como fonte de poder de ntro das organizações burocráticas emana das normas. O aparato administrativo na dominação legal é a burocracia. As ordens emitidas pelos superiores são aceitas porque atendem a normas legais previamente definidas. Segundo Chiavenato (2003), a ideia básica se fundamenta no fato de que as leis podem ser promulgadas e regulamentadas por meio de procedimentos formais e corretos. A obediência é devida a um conjunto de regras e regulamentos legais previamente estabelecidos. Este tipo de autoridade é derivado do mérito; Capítulo 5 145Teorias Administrativas e Organizacionais b) tradicional: é resultante, conforme Silva (2008), de uma ordem social sagrada e eterna, baseada no direito divino, na tradição cultural, na herança. Chiavenato (2003) expõe que o domínio provém da crença no passado eterno, na justiça e na maneira tradicional de agir. Este poder caracterizado como tradicional não é racional, é transmitido por herança e é extremamente conservador. Típico de empresas familiares fechadas; c) carismática: Weber utilizou o termo com sentido de uma qualidade extraordinária e indefinível de uma pessoa, segundo Chiavenato (2003). Este tipo de poder provém das características pessoais carismáticas do líder, não tem base racional. O aparato administrativo neste tipo de dominação, na percepção de Chiavenato (2003), envolve um grande número de seguidores, discípulos e subordinados leais e devotados para desempenharem papéis intermediários entre líder e massa. A administraçãose dá pelo carisma e não pelas regras, hierarquia, etc. Weber (apud SILVA, 2008) distingue o conceito de autoridade em confronto com outras formas de influência, como o poder. 5.2.4 Tipos de poder CONCEITOCONCEITO “Poder é a probabilidade de o indivíduo executar sua vontade apesar das resistências opostas. O poder inclui o controle da situação, mediante ameaças ou coações, ou por meio da manipulação das condições de modo a obter obediência; poder não é autoridade.” (SILVA, 2008, p. 148) O poder, destaca Chiavenato (2003), é a possibilidade de imposição de arbítrio por parte de uma pessoa sobre a conduta das outras. A autoridade proporciona o poder, e ter autoridade é ter poder, todavia, expõe Chiavenato (2008), a recíproca nem sempre é verdadeira, isto é, ter poder nem sempre significa ter autoridade. O autor prossegue na explicação de que a autoridade e o poder delas decorrentes dependem da legitimidade. A legitimidade é o Capítulo 5 146 Teorias Administrativas e Organizacionais motivo que explica por que um determinado número de pessoas obedece às ordens de alguém, conferindo-lhe poder. A autoridade é legítima, segundo Chiavenato (2003), quando ela é aceita. Essa aceitação, por sua vez, é chamada de legitimação e se a autoridade proporciona poder, este conduz à dominação, que significa que a vontade manifesta do dominador influencia a conduta dos dominados de tal forma que o conteúdo da ordem se transforma em norma de conduta, de obediência para os subordinados. A dominação, sublinha Chiavenato (2003), é uma relação de poder, em que o dominador acredita ter o direito de exercer o poder e os dominados consideram sua obrigação obedecer às ordens emanadas pelo dominador. Estas crenças é que legitimam o poder existem tanto na mente do líder como na dos subordinados. É importante que você saiba também que o poder pode ser agrupado, conforme Silva (2008), em três tipos: a) coercitivo: baseado em sanções físicas, como ameaças, controle da satisfação das necessidades fisiológicas, etc.; b) remunerativo: baseado no controle dos recursos econômicos, como salários, comissões, benefícios, etc.; c) normativo: baseado na manipulação de recompensas simbólicas, como prestígio, estima, alocação de liderança. Este poder é considerado moral e social. 5.2.5 Características da burocracia A burocracia concebida por Weber é um sistema que busca utilizar da racionalidade instrumental para se adequar os meios, visando à eficiência. Chiavenato (2003) destaca que ela possui as seguintes características: • caráter legal das normas e regulamentos; • caráter formal das comunicações; • caráter racional e divisão do trabalho; • impessoalidade nas relações; Capítulo 5 147Teorias Administrativas e Organizacionais • hierarquia de autoridade; • rotinas e procedimentos padronizados; • competência técnica e meritocracia; • especialização da administração; • profissionalização dos participantes; • completa previsibilidade do funcionamento. Vamos conhecê-las? Observe o significado de cada uma delas: • caráter legal das normas e regulamentos: a organização burocrática é baseada em uma legislação própria, que define por meio do estabelecimento de normas e regulamentos estabelecidos por escrito, seu funcionamento. Essas normas e regulamentos abrangem todas as áreas da organização de modo à regular tudo o que ocorre dentro da organização. As normas e regulamentos são legais porque conferem às pessoas investidas de autoridade, um poder de coação sobre os subordinados, e os meios coercitivos capazes de impor a disciplina. A burocracia é uma estrutura social legalmente organizada; • caráter formal das comunicações: a burocracia é uma organização ligada por comunicações escritas em que, as decisões e ações administrativas são realizadas por escrito. Daí o caráter formal, que proporciona comprovação e documentação adequada para assegurar a interpretação unívoca das comunicações. Como as comunicações são feitas repetitiva e constantemente, a burocracia lança mão de rotinas e formulários para facilitar as comunicações e rotinizar o preenchimento de sua formalização; • caráter racional e divisão do trabalho: a burocracia é uma organização caracterizada por uma sistemática divisão do trabalho que atende a uma racionalidade, isto é, ela é adequada aos objetivos a serem atingidos: a eficiência da organização. Há uma divisão sistemática do trabalho e do poder, em que cada participante possui atribuições definidas. Cada participante tem um cargo específico, funções específicas e uma esfera de competência e responsabilidade. Cada participante deve saber qual é a sua tarefa, qual é a sua capacidade de comando e, sobretudo, quais são os limites de sua tarefa, direitos e poder, para não ultrapassá-los; Capítulo 5 148 Teorias Administrativas e Organizacionais • impessoalidade nas relações: a distribuição das atividades é realizada de forma impessoal, em termos dos cargos e funções e não de pessoas envolvidas. Daí o caráter impessoal da burocracia. Sua administração é realizada sem considerar as pessoas como pessoas, mas sim, como ocupantes de cargos e de funções. O poder de cada pessoa é impessoal e deriva do cargo que ocupa. A obediência prestada pelo subordinado ao superior é também impessoal, baseada no cargo; • hierarquia da autoridade: a burocracia é uma organização que estabelece os cargos, segundo o princípio da hierarquia. Cada cargo inferior deve estar sob o controle e supervisão de um posto superior. Todos os cargos estão dispostos em uma estrutura hierárquica que encerra privilégios e obrigações, definidos por regras específicas. A autoridade – o poder de controle resultantes de uma posição – é inerente ao cargo e não ao indivíduo que desempenha o papel oficial. A distribuição de autoridade serve para reduzir ao mínimo o atrito, por via do contato (oficial) restritivo, em relação às maneiras definidas pelas regras da organização. Dessa forma, o subordinado estará protegido da ação arbitrária do seu superior, pois as ações de ambos se processam dentro de um conjunto mutuamente reconhecido de regras; • rotinas e procedimentos padronizados: a burocracia fixa regras e normas técnicas para o desempenho de cada cargo. O ocupante de um cargo não faz o que deseja, mas o que, a burocracia impõe que ele faça. As regras e normas regulam a conduta do indivíduo ocupante de um cargo, cujas atividades são executadas baseadas nas rotinas e procedimentos. A disciplina no trabalho e o desempenho no cargo são assegurados por um conjunto de regras e normas que ajustam o funcionário às exigências do cargo e às exigências da organização: a máxima produtividade. As atividades de cada cargo são desempenhadas, segundo padrões definidos relacionados com os objetivos da organização. Os padrões facilitam a avaliação do desempenho de cada participante; • competência técnica e meritocracia: a burocracia é uma organização, na qual, a escolha das pessoas é baseada no mérito e na competência técnica e não em preferências pessoais. A seleção, a admissão, a transferência e a promoção dos funcionários são baseadas em critérios de avaliação e classificação válidos para toda a organização e não em Capítulo 5 149Teorias Administrativas e Organizacionais critérios particulares. Esses critérios são racionais e levam em conta a competência, o mérito e a capacidade do funcionário em relação ao cargo, por isso o uso de exames, testes, concursos e prova de títulos para admissão e promoção; • especialização da administração: a burocracia é uma organização que se baseiana separação entre propriedade e a administração. Os membros do corpo administrativo estão separados da propriedade dos meios de produção, ou seja, os administradores da burocracia não são seus donos, acionistas ou proprietários. O dirigente não é, necessariamente, o dono do negócio ou o grande acionista da organização, mas sim um profissional especializado na sua administração. Com a burocracia, surge o profissional que se especializa em gerir a organização, e daí o afastamento do capitalista da gestão dos negócios. Os meios de produção, isto é, os recursos necessários para desempenhar as tarefas da organização, não são propriedade dos burocratas. O funcionário não pode vender, comprar ou herdar sua posição ou cargo. A estrita separação entre os rendimentos e bens privados e públicos é característica específica da burocracia e que a distingue dos tipos, patrimonial e feudal de administração; • profissionalização dos participantes: na burocracia cada funcionário é um profissional especializado nas atividades do seu cargo, recebe salário correspondente ao cargo que ocupa; o funcionário da burocracia é um ocupante de cargo e seu cargo é sua principal atividade dentro da organização; o funcionário é um profissional selecionado e escolhido por sua competência e capacidade; o tempo de permanência no cargo é indefinido e indeterminado, não que seja vitalício, mas porque não existe norma ou regra que determine previamente o tempo de permanência no cargo ou na organização. Segue carreira dentro da organização, não possui propriedade dos meios de produção, é fiel ao cargo e identifica-se com os objetivos da empresa; • completa previsibilidade do funcionamento: a consequência da burocracia é a previsibilidade do comportamento dos seus membros. O modelo burocrático weberiano de organização é perfeitamente previsível: todos os funcionários deverão comportar-se de acordo com Capítulo 5 150 Teorias Administrativas e Organizacionais as normas e regulamentos da organização, a fim de que, essa atinja a máxima eficiência. Tudo na burocracia é estabelecido no sentido de prever, antecipamente, as ocorrências. Figura 1 - Objetivo, características e consequências do modelo burocrático de organização Fonte: adaptado de Chiavenato (2003). CA RA CT ER IS TI CA S D A B U RO CR AC IA CO N SE Q U ÊN CI A S O BJ ET IV O S• Caráter das normas e regulamentos, • Caráter formal das comunicações, • Caráter racional e divisão do trabalho, • Impessoalidade nas relações, • Hierarquia de autoridade, • Rotinas e procedimentos padronizados, • Competência técnica e meritocracia, • Especialização da administração, • Profissionalização dos participantes, • Completa previsibilidade do funcionamento. • Previsibilidade do comportamento humano, • Padronização do desempenho dos participantes. • Maior eficiência da organização. 5.2.6 Vantagens da burocracia A burocracia trouxe inúmeras vantagens para as organizações, dentre elas, podemos citar, segundo Motta (2004), algumas responsáveis pela longevidade dessa forma organizacional: • predomínio da lógica científica sobre a lógica “intuitiva”; • consolidação de metodologias de análise “racional”, visando o aprimoramento dos processos de produção; Capítulo 5 151Teorias Administrativas e Organizacionais • profissionalização das relações de trabalho e consolidação de uma lógica visando garantir a igualdade diante de regras, reduzindo os favoritismos e clientelismos; • formalização das competências técnicas, permitindo evitar perdas e desperdícios próprios da tradição oral das comunidades artesanais e sociedades baseadas no costume e tradição; • isomorfismo: a estrutura burocrática impessoal, dado o seu grau de formalização, passa a ser um modelo fácil de ser transposto para outras sociedades e incorporado por culturas diferentes, em países distintos, o que permite a expansão dos negócios, facilita a comunicação e o comércio global. EXPLORANDOEXPLORANDO Para saber mais sobre Isomorfismo institucional, consulte: DIMAGGIO, P.; POWELL, W. A gaiola de ferro revisitada: isomorfismo institucional e racionalidade coletiva nos campos organizacionais. Revista de Administração de Empresas (RAE-FGV/SP), v. 45, n. 2, abr./jun. 2005. 5.2.7 Disfunções da burocracia Autores de grande importância, na teoria das organizações, realizaram análises dessa forma organizacional, destacando discrepâncias entre o modelo organizacional oficial, dito burocrático, e as práticas informais (MOTTA, 2004). Motta (2004) acrescenta que a distância entre o mundo da organização formal, que seria o mundo da racionalidade e do cálculo, e o mundo das práticas informais, relacionado aos sentimentos e à afetividade, produz efeitos “disfuncionais” que não seguiram a lógica da eficiência prescrita pelo modelo burocrático. Autores como Robert K. Merton, Phillip Selznick, Alvin Goudner, entre outros, analisaram e criticaram essa forma organizacional. Para Robert K. Merton, por exemplo, a estrutura burocrática introduz transformações na personalidade dos seus participantes, levando-os à rigidez, Capítulo 5 152 Teorias Administrativas e Organizacionais a dificuldades no atendimento aos clientes, produzindo ineficiência. A essas transformações, o autor chama de disfunções da burocracia ou consequências imprevistas (MOTTA, 2004). O sistema proposto por Merton, acrescenta Silva (2008), começa com a exigência de controle na organização (1), imposto pela autoridade superior; a fim de reduzir a variabilidade do comportamento humano a padrões previsíveis, indispensáveis ao bom funcionamento da organização. Essa exigência de controle enfatiza a previsibilidade do comportamento, garantida por meio da imposição de normas e regulamentos. Além disso, (2) a hierarquização como base para o processo de tomada de decisão, a despersonalização nos relacionamentos e a obediência às normas provocam rigidez de comportamento e aumento da propensão dos membros da organização a se defenderem mutuamente contra pressões externas; (3) esses fatores provocam a justificativa da ação individual e (4) elevam o grau de dificuldade com os clientes da organização, (5) obstaculizando seu atendimento a contento, que é o maior objetivo de praticamente todas as organizações. Por sua vez, a própria insatisfação dos clientes pode incrementar a rigidez de comportamento pela pressão nos níveis inferiores, o que tende a acentuar a necessidade de defesa da ação individual (6), que reforça a ênfase na confiança no comportamento como consequência das sugestões feitas pelas partes (clientes e funcionários). O modelo exemplificado pode ser verificado na figura 2, a seguir: Capítulo 5 153Teorias Administrativas e Organizacionais Figura 2 - Modelo burocrático simplifi cado de Merton Fonte: Merton (apud SILVA, 2008, p. 152). 6 5 Exigência de Controle Ênfase na confiança no comportamento Rididez de comportamento e defesa mútua na organização Sentimento de necessidade de defesa da ação individual Justificativa da ação individual Grau de dificuldade com os clientes 1 2 3 4 Resultados previstos (intencional) Resultados imprevistos (não intencional) Já Philip Selznick (apud MOTTA, 2004) destaca o nível da delegação de autoridade como força geradora de ineficiência na burocracia, pela criação de condições favoráveis à bifurcação de interesses. Selznick pretende mostrar, segundo Silva (2008), como o emprego da delegação gera uma série de consequências imprevistase que estas vêm de problemas relacionados à manutenção de sistemas altamente interligados, de relações interpessoais. O modelo descrito por Selznick, destaca Silva (2008), começa com a exigência de controle por parte da alta direção da organização, cujo resultado é a instituição progressiva da delegação de autoridade (1); essa delegação acarreta diversas consequências imediatas, tais como o aumento do grau de treinamento em assuntos especializados, que, por restringir a atenção a um número relativamente pequeno de problemas, aprofunda a experiência nessas áreas limitadas e aumenta a capacidade do funcionário Capítulo 5 154 Teorias Administrativas e Organizacionais de lidar com tais problemas. Ao mesmo tempo, nota-se também que a delegação resulta em departamentalização e maior divisão de interesses entre as subunidades da organização, (3) (isto é, os departamentos focam mais em seus objetivos próprios, departamentais, que ao programa total); a divisão de interesses aumenta o conflito entre as subunidades da organização, o que é notado pelo teor das decisões tomadas, (4) que fica cada vez mais na dependência de considerações de estratégia interna, principalmente, quando a internalização dos objetivos da organização pelos participantes é pequena. Como consequência, (6) ocorre o aumento da diferença entre os objetivos da organização e suas realizações, o que resulta em mais delegação. A luta pelo controle não só afeta o teor das decisões, mas causa maior produção de ideologias departamentais (cada departamento busca adaptar suas políticas às da organização a fim de legitimar suas pretensões), o que aumenta, dentro da subunidade, a internalização de subobjetivos pelos participantes (5). Evidentemente, a internalização de subojetivos depende da operacionalidade dos objetivos da organização (7), isto é, o grau em que seja possível observar e verificar quão bem os objetivos estarão sendo realizados. Variações na operacionalidade dos objetivos da organização afetam o conteúdo das decisões diárias (4), e também, o grau de internalização dos objetivos da subunidade. Capítulo 5 155Teorias Administrativas e Organizacionais O modelo descrito por Selznick pode ser observado na figura 3, a seguir: Figura 3 - Modelo burocrático simplifi cado de Selznick Fonte: Selznick (apud SILVA, 2008, p.152). 4 5 Delegação de autoridade Exigência de Controle Grau de treinamento em assuntos especializados (Divisão de interesses) Departamentalização e estabelecimento de subobjetivos Teor das decisões 1 2 3 Resultados previstos (intencional) Resultados imprevistos (não intencional) Internalização de subobjetivos pelos participantes Internalização de objetivos da organização pelos participantes 6 7 Operacionalidade dos objetivos da organização Capítulo 5 156 Teorias Administrativas e Organizacionais Os estudos realizados por Alvin W. Gouldner se ocupam das consequências que as diretrizes administrativas têm para a manutenção da estrutura organizacional. Gouldner, da mesma forma que Merton e Selznick, procurou demonstrar como uma técnica de controle destinada a manter equilíbrio de um subsistema perturba o equilíbrio do sistema maior (SILVA, 2008). Silva (2008) descreve que, no modelo de Gouldner, a adoção de diretrizes gerais e impessoais (1), regulando os processos de trabalho, constitui parte da solução para a questão do controle exigido pela alta direção; uma consequência dessas diretrizes é a diminuição da visibilidade das relações de poder (2) no grupo. Há uma interação entre visibilidade das diferenças de autoridade no grupo de trabalho e o grau em que se acredita que, os princípios da igualdade afetam a legitimidade do papel da supervisão. Isso afeta o nível de tensão interpessoal (3) dentro do grupo de trabalho. A sobrevivência do grupo de trabalho é fortemente favorecida pelo estabelecimento de diretrizes gerais que, por sua vez, recrudesce a adoção dessas diretrizes. As normas de trabalho produzem evocações nos membros das organizações, maiores do que pretendiam os altos dirigentes, ampliando o conhecimento dos padrões mínimos aceitáveis (4). A especificação de um nível mínimo de comportamento permissível, conjugada com o baixo grau de internalização dos objetivos, aumenta a disparidade entre as metas e realização (5), nivelando o comportamento no ponto mínimo. O desempenho no ponto mínimo é considerado pelos superiores hierárquicos como fracasso, e a resposta a isso é o rigor da supervisão (6) no grupo de trabalho. A supervisão rigorosa, por sua vez, aumenta a visibilidade das relações de poder na organização (2), e eleva o nível de tensão no grupo de trabalho (3). Capítulo 5 157Teorias Administrativas e Organizacionais O modelo proposto por Gouldner pode ser visualizado na figura 4, a seguir: Figura 4 - Modelo simplifi cado de Gouldner Fonte: Gouldner (apud SILVA, 2008, p. 155). 2 5 6 Adoção de diretrizes gerais e impessoais Exigência de Controle 1 Resultados previstos (intencional) Resultados imprevistos (não intencional) Conhecimento dos padrões mínimos aceitáveis Diferença entre objetivos da organização e sua realização Visibilidade das ações de poder Rigor da supervisão Nível da tensão interpessoal 34 Em uma apreciação crítica sobre a burocracia, verifica-se que esta proporciona uma maneira racional de organizar as pessoas e as atividades para alcançar objetivos específicos. Segundo Chiavenato (2003), a burocracia possui defensores e adversários. Numa apreciação defensiva da burocracia, atesta-se que os erros atribuídos à burocracia não são erros do conceito, mas, sim, do seu uso inadequado, isto é, consequências do fracasso em burocratizar adequadamente. Desta forma, parece ser a burocracia ainda uma das melhores alternativas no decorrer do século XX (CHIAVENATO, 2003). Capítulo 5 158 Teorias Administrativas e Organizacionais 5.2.8 Teoria estruturalista Estruturalismo é o método analítico e comparativo que estuda os elementos ou fenômenos com relação a uma totalidade, salientando o seu valor de posição. O conceito de estrutura significa a análise interna de uma totalidade de seus elementos constitutivos, sua disposição, suas inter-relações, ou seja, o estruturalismo implica totalidade e interdependência, permitindo uma comparação, pois pode ser aplicado a coisas diferentes entre si. Além do seu aspecto totalizante, o estruturalismo é fundamentalmente comparativo (CHIAVENATO, 2003; MOTTA, 2004). O estruturalismo está voltado para o todo e com o relacionamento das partes na constituição do todo. A totalidade, a interdependência das partes e o fato de que o todo é maior do que a simples soma das partes são as características básicas do estruturalismo (CHIAVENATO, 2003; MOTTA, 2004). O estruturalismo marcou sua presença no campo da administração por implicar o estudo das organizações em um sentido mais amplo e integral, levando em conta todos os fatos que influenciam a organização, aspectos internos e externos do ambiente, submetendo-os a uma análise comparativa e global (CHIAVENATO, 2003). Pode-se afirmar, então, que o estruturalismo implica reconhecer que os fenômenos organizacionais se interligam, interpenetram e interagem de tal modo que qualquer modificação ocorrida em uma parte da organização afeta todas as outras partes (CHIAVENATO, 2003). O estruturalismo foi talvez a primeira abordagem a reconhecer a importância do conceito de sistema aberto, isto é, da interação entre as instituições humanas e o ambiente em que elas se inserem (CHIAVENATO, 2003). CONCEITOCONCEITOEstruturalismo: “é o método analítico e comparativo que estuda os elementos ou fenômenos em relação à sua totalidade.” (CHIAVENATO, 2003, p. 320) Capítulo 5 159Teorias Administrativas e Organizacionais 5.2.9 As origens da Teoria estruturalista A Teoria estruturalista surgiu no final de década de 50 como consequência dos seguintes aspectos: • a oposição surgida entre a Teoria clássica e a Teoria das relações humanas – incompatíveis entre si – tornou necessária uma posição mais ampla e compreensiva que abrangesse os aspectos que eram considerados por uma e omitidos por outra, e vice-versa. A Teoria estruturalista pretende ser uma síntese da Teoria clássica (formal) e da Teoria das relações humanas (informal), inspirando-se na abordagem de Max Weber (CHIAVENATO, 2003); • a necessidade de visualizar a organização como uma unidade social grande e complexa, onde interagem grupos sociais, que compartilham alguns dos objetivos da organização (como a viabilidade econômica da organização), mas que podem incompatibilizar com outros (como a maneira de distribuir os lucros da organização). Neste sentido, o diálogo maior da Teoria estruturalista foi com a Teoria das relações humanas (CHIAVENATO, 2003); • a influência do estruturalismo nas ciências sociais e sua repercussão no estudo das organizações. O estruturalismo teve forte influência na Filosofia, na Psicologia (Gestalt), na Antropologia (Claude Lévy- Strauss), na Matemática (N. Bourbaki), na Linguística, chegando até a teoria das organizações com Thompson, Etzioni e Blau (CHIAVENATO, 2003); • novo conceito de estrutura: o conceito de estrutura é bastante antigo. Desde Heráclito, nos primórdios da história da Filosofia, o “logos” era concebido como uma unidade estrutural que domina o fluxo ininterrupto do devir e o torna inteligível. É a estrutura que permite reconhecer o mesmo rio, embora suas águas jamais sejam as mesmas, dizia Heráclito, devido à contínua mudança de todas as coisas (CHIAVENATO, 2003). Capítulo 5 160 Teorias Administrativas e Organizacionais 5.2.10 Principais aspectos do Estruturalismo O estruturalismo, segundo Silva (2008), se fundamenta nos seguintes elementos: • a organização é concebida como um sistema social aberto e deliberadamente construído; • os conflitos são considerados inevitáveis e até muitas vezes desejáveis, no que se refere à relações empresa-empregado; • incentivos mistos são recomendados para a motivação dos funcionários, em lugar de utilizar unicamente as recompensas materiais (dinheiro) como fonte de estimulação; • há um sentido de “homem organizacional” em contraposição ao “homem administrativo”, do comportamentalismo, ao “homem social”, da dinâmica de grupo e ao “homem econômico”, da administração Científica, de Taylor. O homem organizacional é caracterizado como um homem moderno que desempenha papéis simultâneos em várias organizações, o que o caracteriza como um homem que coopera e compete ao mesmo tempo; • são visados “resultados máximos”, à semelhança da Escola Clássica, em oposição ao comportamentalismo, que visa “resultados satisfatórios”. No estruturalismo, o conflito é considerado um processo social fundamental e válido. O conflito exerce importante papel por trazer à tona frustrações e desinteligências na organização, permitindo contornar as dificuldades à medida que surjam. O conflito é um dos temas centrais do estruturalismo, que refuta a visão de harmonia das escolas precedentes, porque lhe atribui influência da maior importância no entendimento ao funcionamento das organizações. Capítulo 5 161Teorias Administrativas e Organizacionais CONCEITOCONCEITO “Conflito é toda e qualquer espécie de oposição ou interação antagônica entre duas ou mais pessoas ou partes.” (SILVA, 2008, p. 262) Etzioni (1974) salienta que as organizações enfrentam um dilema proveniente de conflitos que surgem entre a autoridade do especialista que possui conhecimento técnico sobre o assunto e a autoridade administrativa que ocupa posição na hierarquia na organização. Silva (2008) acrescenta, a partir das ideias de Blau e Scott, que existem outros dois tipos de conflitos no desenvolvimento das organizações: entre a organização formal e a organização informal e no relacionamento entre clientes e a organização. Para esses autores, existe uma relação de recíproca dependência entre o conflito e a mudança organizacional, uma vez que mudanças geram conflitos e conflitos trazem inovações. As inovações organizacionais alteram, interferem em outras inovações e melhorias já em curso, e provocam uma dicotomia entre a organização formal e a organização informal. O estruturalismo, além de reconhecer que existem conflitos no seio das organizações e que estes devem ser administrados, também amplia o estudo das interações entre os grupos sociais iniciado pela Teoria das relações humanas, para o das interações entre as organizações sociais. Da mesma forma, como interagem entre si os grupos sociais, para os estruturalistas, as organizações também interagem. A Teoria estruturalista concentra-se no estudo das organizações, na sua estrutura interna e na interação com outras organizações. As organizações são concebidas como “unidades sociais” (ou agrupamentos humanos) intencionalmente construídas e reconstruídas, a fim de atingir objetivos específicos. Incluem neste conceito as corporações, exércitos, escolas, hospitais, igrejas e as prisões; excluem-se as tribos, classes, grupos étnicos, grupos de amigos e famílias. As organizações são caracterizadas por um “conjunto de relações sociais estáveis e deliberadamente criadas com a explícita intenção de alcançar objetivos ou propósitos.” (CHIAVENATO, 2003, p. 291). Capítulo 5 162 Teorias Administrativas e Organizacionais Saiba, então, que a organização formal é criada para atingir objetivos explícitos e constitui um sistema preestabelecido de relações estruturais impessoais, resultando daí um relacionamento formal entre as pessoas, o que permite reduzir a ambiguidade e a espontaneidade e aumentar a previsibilidade do comportamento (CHIAVENATO, 2003). Dentre as organizações formais, adquirem proporções maiores as chamadas organizações complexas, caracterizadas pelo elevado grau de complexidade na estrutura e nos processos devido ao grande tamanho (proporções maiores) ou à natureza complicada das operações (como os hospitais e universidades). Nas organizações complexas, a convergência dos esforços entre as partes componentes (departamentos, seções, etc.) é mais difícil pela existência de inúmeras variáveis (como a enorme dimensão, a estrutura organizacional complexa, as diferentes características pessoais dos participantes) que complicam o seu funcionamento. Os estruturalistas focalizam as organizações complexas por causa dos desafios que estas impõem à análise organizacional (CHIAVENATO, 2003). Nesta sociedade dita moderna, industrializada, concebida como sociedade de organizações, a figura do “homem organizacional” toma proporções maiores para poder ser concebido, necessitando incorporar em sua personalidade características que o ajudem a lidar com este ambiente complexo. Dentre as características de personalidade, segundo Chiavenato (2003), estão: flexibilidade, tolerância às frustrações e capacidade de adiar as recompensas. Vamos compreender cada uma delas? • flexibilidade: necessária face as constantes mudanças que ocorrem na vida moderna, bem como, da diversidade dos papéis desempenhados pelo homem nas diversas organizações, que podem chegar à inversão, aos bruscos desligamentos das organizações e aos novos relacionamentos;• tolerância às frustrações: diante de tantos desafios, é importante que este homem organizacional seja tolerante às frustrações para evitar o desgaste emocional decorrente do conflito entre necessidades organizacionais e necessidades individuais, cuja mediação é feita por meio de normas racionais, escritas e exaustivas, que procuram envolver toda a organização; Capítulo 5 163Teorias Administrativas e Organizacionais • capacidade de adiar as recompensas e poder compensar o trabalho rotineiro dentro da organização, em detrimento às preferências e vocações pessoais por outros tipos de atividade profissional; • permanente desejo de realização: para que este homem possa garantir conformidade e cooperação com as normas que controlam e asseguram o acesso às posições de carreira dentro da organização, proporcionando recompensas e sanções sociais e materiais. Para realizar uma análise das organizações, segundo Chiavenato (2003), os estruturalistas realizaram uma abordagem múltipla que leva em conta simultaneamente os fundamentos da Teoria clássica, da Teoria das relações humanas e da Teoria burocrática, envolvendo tanto a organização formal quanto a organização informal; tanto as recompensas salariais e materiais quanto as recompensas sociais e simbólicas; todos os diferentes níveis hierárquicos de uma organização; todos os diferentes tipos de organizações; a análise intra e inter-organizacional. O problema das relações entre a organização formal e informal é trabalhado pelos estruturalistas no sentido de buscar encontrar o equilíbrio entre os elementos racionais e não racionais. Os estruturalistas não alteram os conceitos de organização formal e informal. Todas as teorias anteriores preocuparam-se com fenômenos que ocorrem dentro da organização. Os estruturalistas ampliam essa abordagem limitada e restritiva e se preocupam também com os fenômenos que ocorrem externamente às organizações, mas que afetam os fenômenos que ocorrem dentro delas. Os fenômenos internos são melhor compreendidos quando se conhecem os fenômenos externos que os provocam. Assim, os estruturalistas baseiam- se em uma abordagem de sistema aberto e utilizam o modelo natural de organização como base de seus estudos. O modelo de sistema natural procura tornar tudo funcional e equilibrado, podendo ocorrer disfunções. Este modelo presume uma interdependência com um ambiente incerto, flutuante e imprevisível, havendo um delicado equilíbrio das complicadas interdependências dentro do sistema ou entre o sistema e o meio ambiente (CHIAVENATO, 2003). Capítulo 5 164 Teorias Administrativas e Organizacionais A análise organizacional passa a ser feita por meio de uma abordagem múltipla, ou seja, por meio da análise intraorganizacional (fenômenos internos) e da análise interorganizacional (fenômenos externos em função das relações da organização com as outras organizações no meio ambiente). Essa relação entre a organização e seu ambiente revela o grau de dependência da organização quanto aos eventos externos. A análise organizacional, dentro dessa abordagem múltipla e globalizante, é facilitada com a utilização de tipologias organizacionais, assunto em que os estruturalistas são mestres: Etzioni, Blau e Scott sugerem tipologias simples e unidimensionais para analisar e comparar organizações. Tipologias de Amitai Etizioni Etzioni tomou como base o poder empregado pelos superiores para controlar os subordinados e a orientação dos subordinados com relação a esse poder, em um esforço de comparação (MOTTA, 2004). As organizações, segundo Etzioni (1974, p. 33), classificam-se de acordo com o “padrão dominante do consentimento” em: coercitivas, utilitárias e normativas. CONCEITOCONCEITO “Padrão de consentimento é o elemento básico do relacionamento entre os indivíduos que exercem o poder e os subordinados e, também, o elemento central da estrutura organizacional.” (ETZIONI, 1974, p. 33) Etzioni (1974) descreve: • organizações coercitivas são aquelas em que a coerção consiste no principal meio de controle sobre os membros de níveis inferiores, resultando daí elevada alienação dos mesmos em relação à entidade. Exemplo: campos de concentração, de prisioneiros de guerra, prisões, instituições correcionais tradicionais e hospitais de doenças mentais; Capítulo 5 165Teorias Administrativas e Organizacionais • o principal meio de controle aplicado nessas organizações é a força, tarefa básica para manter os internos em seus lugares. Em seguida, vem a disciplina, que depende do uso real ou potencial da força. Segundo Etzioni (1974), as organizações coercitivas variam de acordo com o peso do padrão coercitivo, em várias delas, a coerção empregada é maior, como no caso de alguns campos de concentração; em outras, é menor, como nas instituições de correção para delinquentes juvenis, mas em geral, o grau de coerção é que determina o grau de alienação, sendo o relacionamento entre eles mantido em todos os tipos de organização; • organizações utilitárias são aquelas em que o principal meio de controle sobre os membros de níveis inferiores reside na recompensa. O que direciona a maioria dos membros é a participação calculista, interesseira. Estas organizações, em geral, são chamadas de indústrias. Para Etzioni (1974), as indústrias classificam-se em três categorias principais: • aquelas em que os participantes dos níveis inferiores são, predominantemente, de oficina. Exemplo: fábricas, minas; • aquelas em que os membros são mais do grupo de escritório, sejam privados ou públicos. Exemplo: bancos, companhia de seguros, repartições governamentais; • aquelas em que os membros dos níveis inferiores são profissionais. Exemplo: organizações de pesquisa, de planejamento, de escritórios de advocacia, de empresas médicas. As organizações, segundo Etzioni (1974), podem apresentar subdivisões em relação a seus empregados: em uma fábrica, além dos de oficina, encontram-se os de escritório e os profissionais. Nas indústrias auxiliares, o poder remunerativo – salários, comissões, gratificações, recompensas e condições de trabalho – constituem a fonte de controle predominante. Já nas indústrias mais importantes, o poder remunerativo também é um meio de controle, porém menor; e nas organizações profissionais constitui-se em importante força de poder, embora, secundária. Capítulo 5 166 Teorias Administrativas e Organizacionais • organizações normativas são aquelas em que o envolvimento moral e a aceitação social são a maior fonte de controle, e a orientação dos participantes é caracterizada por alto envolvimento com a organização. Os tipos principais de organizações normativas são as entidades religiosas, organizações político-ideológicas, associações voluntárias, etc. Tipologias de Blau e Scott Peter M. Blau (1918-2002) e W. Richard Scott (1932-) tomaram como base para a construção de sua tipologia os beneficiários principais das operações da organização (MOTTA, 2004; SILVA 2008). Para esses autores, existem quatro tipos de organizações: associações de benefícios mútuos, organizações de interesses comerciais, organizações de serviços e organizações de Estado. Silva (2008) descreve: • associações de benefícios mútuos: quando os beneficiários principais são os próprios participantes. Exemplos: cooperativas, consórcios, sindicatos, associações de profissionais; • organizações de interesses comerciais: quando os beneficiários principais são os proprietários, acionistas, investidores. Exemplo: empresas privadas, sociedades anônimas como de participação limitada; • organizaçõesde serviços: quando os beneficiários principais são grupos de clientes e a sociedade. Exemplos: hospitais, escolas, agências sociais, organizações religiosas; • organizações de Estado: quando os beneficiários principais são os cidadãos, o público em geral. Exemplos: correios, instituições jurídicas, saneamento e iluminação pública. A tipologia de Blau e Scott, de acordo com Silva (2008), enfatiza o poder e a influência dos beneficiários sobre as organizações de modo a, inclusive, interferir em suas estruturas, definições de objetivos, estratégias, etc. Capítulo 5 167Teorias Administrativas e Organizacionais 5.2.11 Características do estruturalismo O estruturalismo se caracteriza pela abordagem múltipla em relação a diferentes aspectos, como: organização formal e informal, recompensas materiais e sociais, diferentes enfoques da organização, em relação aos níveis da organização, a diversidade de organizações e a análise interorganizacional. Chiavenato (2003) explica: • organização formal e informal: os estruturalistas estudaram o relacionamento entre ambas, focalizando o problema entre a organização formal e informal. Dentro de uma perspectiva ampla e equilibrada, inclui a organização formal e a organização informal, conjuntamente, encoraja o desenvolvimento de um estudo não- valorativo – nem a favor da administração nem a favor do operário, ampliando o campo a fim de incluir os elementos da organização; • recompensas materiais e sociais são utilizadas para motivar as pessoas, incluindo símbolos de posição (tamanho da mesa ou do escritório, carros da companhia, etc.); • em relação aos níveis da organização: os estruturalistas caracterizam as organizações por uma hierarquia de autoridade, isto é, pela diferenciação de poder que se desdobram em níveis: nível institucional – é o nível mais elevado, composto dos dirigentes ou altos funcionários; nível gerencial – é o nível intermediário, situado entre o institucional e o nível técnico, cuidando do relacionamento e integração dos níveis; e o nível técnico – é o mais baixo, também denominado nível operacional, em que as tarefas são executadas; • diversidade de organizações: os teóricos estruturalistas ampliam o campo de análise da organização, incluindo diferentes tipos de organizações além das fábricas; • análise interorganizacional: além da análise interna das organizações, os estruturalistas inauguram a preocupação com a análise interorganizacional, existindo uma interdependência das organizações com a sociedade em geral em função das complexas interações entre elas. Capítulo 5 168 Teorias Administrativas e Organizacionais 5.2.12 Críticas ao estruturalismo O estruturalismo não constitui propriamente uma corrente específica ou individualizada das teorias administrativas, diz Silva (2008). Segundo Chiavenato (2003) e Silva (2008), o estruturalismo é uma teoria de transição e mudança que visava sintetizar as proposições válidas das correntes administrativas até então existentes, principalmente do comportamentalismo, em uma forma adequada à visualização das organizações como sistemas abertos em interação permanente com o ambiente. As proposições do estruturalismo deram origem ao que se denominou “desenvolvimento organizacional” (DO), que será estudado mais adiante. Por outro lado, a contribuição do estruturalismo foi importante para a Escola sistêmica porque esta, basicamente, é um conceito estrutural, implicando globalidade ou totalidade (SILVA, 2008). A contribuição maior do estruturalismo se refere à interdependência dos elementos internos e externos que influenciam o funcionamento das organizações em um sentido interligado e total, que encerrou a fase do predomínio da Escola das Relações Humanas (CHIAVENATO, 2003; SILVA, 2008). Em uma apreciação crítica do estruturalismo dentro da administração, com seus aspectos positivos e suas restrições e limitações, conclui-se que esta é uma teoria de transição em direção à teoria de sistemas. 5.3 Aplicando a teoria na prática Em um esforço de síntese da abordagem estruturalista, confronte as Teorias da burocracia e estruturalista nos seguintes aspectos: sua principal ênfase, sua abordagem da organização, seu enfoque, o conceito de organização. Responda: qual o caráter da administração? Como é compreendido o comportamento humano e qual o foco de preocupação em relação à produtividade? E daí, conseguiu estruturar suas respostas? A partir do que vimos em Chiavenato (2003), apresentamos o confronto entre as Teorias da burocracia e estruturalista em um esforço de síntese: Capítulo 5 169Teorias Administrativas e Organizacionais ASPECTOS TEORIA DA BUROCRACIA TEORIA ESTRUTURALISTA Abordagem da organização Na estrutura somente. Na estrutura, nas pessoas e no ambiente. Enfoque Organização formal somente. Organização formal e informal. Conceito de organização Compreendido como um Sistema social intencionalmente construído e reconstruído para atingir objetivos. Caráter da administração Sociologia da burocracia, Sociologia organizacional, sociedade de organizações e abordagem múltipla. Comportamento humano Ser isolado que reage como Ser social que desempenha papéis dentro de várias organizações. Preocupação Eficiência máxima. Eficiência e eficácia. Quadro 1 - Comparativo entre as teorias Fonte: Chiavenato (2003). sistema social com um conjunto de funções previamente definidas. ocupante de cargo dentro de uma estrutura hierárquica, de acordo com sua posição. abordagem simplista. 5.4 Para saber mais Site: Analítico Tecnologias URL: http://www.analytictech.com/mb021/bureau.htm Neste site, você terá mais informações sobre a burocracia racional de Weber. Título: Organizações modernas Autor: ETZIONI, A. Editora: Pioneira Ano: 1989 Para saber mais sobre as Teorias de Amitai Etzioni a respeito das organizações modernas, consulte esta obra. Capítulo 5 170 Teorias Administrativas e Organizacionais 5.5 Relembrando Neste capítulo, vimos que a abordagem estruturalista engloba a Teoria da burocracia e a Teoria estruturalista. E você aprendeu ainda que: • a Teoria burocrática desenvolvida por Max Weber surgiu por volta da década de 1940, quando a Teoria clássica e a Teoria das relações humanas disputavam espaço como teorias administrativas e apresentavam descontentamentos, pelo não atendimento às necessidades das organizações provocadas por mudanças no ambiente; • para Weber, existem três formas de autoridade: racional-legal, tradicional e carismática. A autoridade racional-legal tem aparato administrativo que corresponde à burocracia; • são características da burocracia: caráter legal das normas e regulamentos, caráter formal das comunicações, caráter racional e divisão do trabalho, impessoalidade nas relações, hierarquia de autoridade, rotinas e procedimentos padronizados, competência técnica e meritocracia, especialização da administração, profissionalização dos participantes e completa previsibilidade do funcionamento; • o modelo weberiano oferece inúmeras vantagens às organizações, dentre elas, maior previsibilidade ao comportamento dos indivíduos. Apesar das inúmeras vantagens, o comportamento dos indivíduos no apego às regras, regulamentos, exibiu consequências, chamadas de disfunções, provocando resistência às mudanças, sendo sinônimo de papelório, formalismo e conflitos, levando, às vezes, à ineficiência organizacional; • a Teoria estruturalista desenvolvida por volta da década de 50 surge como um desdobramento da Teoria da burocracia, tentando conciliar as propostas da Teoria clássica e da Teoria das relaçõeshumanas; • a Teoria estruturalista procura inter-relacionar as organizações com seu ambiente externo, caracterizando sua interdependência. Do ponto de vista estruturalista, as organizações são analisadas sob a ótica formal e informal, considerando que as recompensas materiais e sociais influenciam no comportamento do indivíduo, e que as organizações enfrentam dilemas e conflitos diariamente; Capítulo 5 171Teorias Administrativas e Organizacionais • na Teoria estruturalista, as organizações são analisadas a partir de tipologias desenvolvidas por Etzioni, tomando como base o poder empregado pelos superiores para controlar os subordinados e a orientação dos subordinados com relação a esse poder, o qual classificou as organizações de acordo com o padrão dominante do consentimento em coercitivas, utilitárias e normativas; • Blau e Scott, em um esforço similar, também classificaram as organizações segundo tipologias, entretanto tomaram como base os beneficiários principais das operações da organização, classificando- as em quatro tipos de organizações: associações de benefícios mútuos, organizações de interesses comerciais, organizações de serviços, organizações de Estado; • em uma apreciação crítica, conclui-se que a Teoria Estruturalista é uma teoria de transição que leva em direção à Teoria de sistemas. 5.6 Testando os seus conhecimentos 1) Correlacione a coluna A com a coluna B, marcando com o nº 1 os itens referentes às disfunções da burocracia e com o nº 2 os itens referentes às características da burocracia. COLUNA A COLUNA B 1. Disfunções do Modelo Burocrático ( ) Racionalidade. ( ) Especialização da administração e profissionalização dos participantes. ( ) Excesso de formalismo e obediência aos regulamentos. ( ) Impessoalidade, uniformidade e imparcialidade na avaliação dos funcionários. 2. Características da Burocracia ( ) Resistência às mudanças ( ) Hierarquia da Autoridade. 2) A Teoria estruturalista salienta que os conflitos organizacionais sempre irão existir. Descreva no que a Teoria fundamenta sua explicação. 3) Quais são os tipos de organizações descritos por Amitai Etzioni? Capítulo 5 172 Teorias Administrativas e Organizacionais Onde encontrar BATEMAN, T. S. Administração: novo cenário competitivo. Trad. Bazán Tecnologia e Linguística. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009. CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. ETZIONI, A. Análise comparativa de organizações complexas: sobre o poder, o engajamento e seus correlatos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar; São Paulo: EDUSP, 1974. KOONTZ, H. Manual de estudo e exercícios para acompanhar princípios de Administração. São Paulo: Pioneira, 1980. LACOMBE, F. J. M.; HEILBORN, G. L. J. Administração: princípios e tendências. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2003. MAXIMIANO, A. C. A. Teoria Geral da administração: da revolução urbana à revolução digital. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2009. MOTTA, F. C. P. Teoria geral da administração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004. OLIVEIRA, D. de P. R. Teoria geral da administração: uma abordagem prática. São Paulo: Atlas, 2008. SILVA, R. O. da. Teorias da administração. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008. STONER, J. A. F.; FREEMAN, R. E. Administração. 5. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 2009. Capítulo 6 173Teorias Administrativas e Organizacionais A ABORDAGEM SISTÊMICA E CONTINGENCIAL DA ADMINISTRAÇÃO CAPÍTULO 66 6.1 Contextualizando A abordagem sistêmica e contingencial da administração faz parte de um pensamento moderno da administração. A Teoria de sistemas foi desenvolvida por volta da década de 40 por um biólogo alemão chamado Ludwig Von Bertalanffy, utilizando conceitos vindos de outras ciências, como: química, física, cinemática, termodinâmica, procurando entender como os sistemas funcionam. Já a Teoria contingencial marca um passo além da Teoria de sistemas. Dela decorre o conhecimento de que as organizações mantêm relação constante com o ambiente e são afetadas por ele. Central nesta teoria é a ideia de que não existe uma única e melhor maneira de administrar uma organização. Tudo depende das variáveis ambientais e as técnicas administrativas mantêm uma relação funcional. E ao final deste capítulo, você deve compreender as características da abordagem sistêmica e contingencial. 6.2 Conhecendo a teoria Este capítulo tem como objetivo apresentar a Teoria sistêmica e contingencial da administração. Estas teorias fazem parte de uma concepção moderna da administração. A Teoria de sistemas apresenta uma nova forma de abordar as organizações, compreendidas como sistemas que estão em constante Capítulo 6 174 Teorias Administrativas e Organizacionais interação com o ambiente, isto é, as organizações passam a ser visualizadas como sistemas abertos, se contrapondo à visão antiga de sistema fechado. Já a Teoria contingencial dá um passo além, ampliando a visão e compreensão das organizações. Para esta teoria, as organizações são sistemas abertos e orgânicos. As organizações são decorrentes dos seus ambientes, ou seja, há uma interdependência entre organização e meio ambiente. Elas são condicionadas por eles, e pela tecnologia. 6.2.1 Teoria de sistemas A Teoria de sistemas apresenta uma visão abrangente das organizações, revelando a complexidade do ambiente e suas interações. Nesta perspectiva, uma organização é um sistema composto de subsistemas ou unidades interdependentes (departamentos, seções, grupos, etc.) que interagem continuamente entre si. Ações que ocorram dentro de uma parte do sistema não somente a afetam, como podem se propagar atingindo outros subsistemas organizacionais (CHIAVENATO, 2003; SILVA, 2008). DEFINIÇÃODEFINIÇÃO Para a abordagem sistêmica, as sociedades são sistemas, e o mesmo acontece com automóveis, animais e corpos humanos. Sistema é um conjunto de partes inter-relacionadas e interdependentes dispostas de uma maneira que produz um todo unificado (ROBBINS, 2005, p. 498). 6.2.2 As origens da Teoria de sistemas A Teoria de sistemas se opõe ao mecanicismo que divide os organismos em agregados de células que formam um sistema. Seu conceito conduz à integração. Segundo Chiavenato (2003), a Teoria Geral de Sistemas – TGS foi desenvolvida a partir dos trabalhos biólogo alemão Ludwig von Bertalanffy. Seu objetivo não consistia em solucionar problemas ou tentar soluções práticas, mas produzir teorias e formulações conceituais para aplicações na realidade empírica. Capítulo 6 175Teorias Administrativas e Organizacionais Para Chiavenato (2003), os pressupostos da TGS estão baseados na ideia de que: • existe uma tendência para a integração das ciências naturais e sociais; • esta integração parece orientar-se rumo a uma teoria dos sistemas; • constitui o modo mais abrangente de estudar os campos não-físicos do conhecimento, como nas ciências sociais; • no desenvolvimento de princípios unificadores que atravessam verticalmente os universos particulares das diversas ciências envolvidas, visando ao objetivo da unidade da ciência; • integração na educação científica. A visão de Bertalanffy era crítica no sentido de ver o mundo dividido em diferentes áreas, como a física, química, biologia, psicologia, sociologia, etc. Para o autor, era preciso estudar os sistemas globalmente, envolvendo todas as interdependências de suas partes (CHIAVENATO, 2003). A TGS fundamenta-se, segundo Chiavenato (2003), em três premissas básicas: • de que os sistemas existemdentro de sistemas, isto é, cada sistema é constituído de subsistemas e, ao mesmo tempo, faz parte de um sistema maior, chamado supra-sistema. Cada subsistema pode ser detalhado em seus subsistemas componentes, e assim por diante. Também o supra-sistema faz parte de um supra-sistema maior. Esse encadeamento parece ser infinito, ou seja, as moléculas existem dentro de células, que existem dentro de tecidos, que compõem os órgãos, que compõem os organismos, e assim por diante; • estes sistemas são abertos. Isto é uma decorrência da premissa anterior, pois cada sistema existe dentro de um meio ambiente constituído por outros sistemas. Neste sentido, os sistemas abertos são caracterizados por um processo infinito de intercâmbio com o seu ambiente para trocar energia e informação; • as funções de um sistema dependem de sua estrutura. Cada sistema tem um objetivo ou finalidade e que constitui seu papel no intercâmbio com outros sistemas dentro do ambiente. Capítulo 6 176 Teorias Administrativas e Organizacionais Isto aponta, segundo Silva (2008), para o fato de que a TGS focaliza a formulação de leis universais da organização de sistemas. Este conceito, conforme Chiavenato (2003), passou a dominar as ciências e, principalmente, a Administração. Sua introdução na teoria administrativa se deu pelas seguintes razões (CHIAVENATO, 2003): • necessidade de uma síntese e integração das teorias que a precederam, esforço tentado sem muito sucesso pelas teorias estruturalista e comportamental. Contudo, todas as teorias anteriores tinham um ponto fraco: a microabordagem. Elas lidavam com pouquíssimas variáveis da situação total e reduziram-se a algumas variáveis impróprias e que não tinham tanta importância em administração; • a Cibernética permitiu o desenvolvimento e operacionalização das ideias que convergiam para uma teoria de sistemas aplicada à administração; • face aos resultados bem sucedidos da aplicação da Teoria de sistemas nas demais ciências. A visão holística que sustenta que as totalidades representam mais do que a soma de suas partes, permitindo visualizar o geral no particular. Em suma, a Teoria de sistemas permite reconceituar os fenômenos dentro de uma abordagem global, permitindo a inter- relação e integração de assuntos que são, na maioria das vezes, de naturezas completamente diferentes. 6.2.3 Conceitos de sistemas O ponto de partida desta Teoria é a ideia de sistema. Nesta perspectiva, segundo Silva (2008), quase todas as coisas podem ser vistas como sistemas. Antes de exemplificarmos, convém conceituarmos sistema. CONCEITOCONCEITO “Um sistema pode ser definido como um conjunto de elementos interativos e relacionados cada um ao seu ambiente de modo a formar um todo” (SILVA, 2008, p. 352). Capítulo 6 177Teorias Administrativas e Organizacionais A ideia de sistema, na percepção de Maximiano (2009), compreende um conjunto de entidades que podemos chamar de partes, elementos ou componentes e que mantém alguma espécie de relação ou interação das partes. E, complementa o autor, a visão de uma entidade nova e distinta, criada por essa relação, em um nível sistêmico de análise. Silva (2008) exemplifica com um automóvel descrevendo ele como um sistema mecânico de centenas de peças. Apresenta outro exemplo de uma flor como um sistema botânico e exemplifica o ser humano como um sistema fisiológico e psicológico, constituído de células, órgãos, atitudes, expectativas, etc. Para Chiavenato (2003), cada sistema apresenta características próprias. A ideia mais importante segundo o autor é da interação dos elementos para formar um todo. O todo apresenta propriedades e características próprias que não são encontradas em nenhum dos elementos se analisados isoladamente. Da definição de Bertalanffy, compreende-se sistema como um conjunto de unidades reciprocamente relacionadas, de onde decorrem dois conceitos: o de propósito (ou objetivo) e o de globalismo (ou totalidade). Esses dois conceitos retratam duas características básicas do sistema (CHIAVENATO, 2003, p. 475): • propósito ou objetivo – todo sistema tem um ou alguns objetivos definidos. As unidades ou elementos, bem como os relacionamentos definem um arranjo que visa sempre um objetivo ou finalidade a alcançar; • globalismo ou totalidade – todo sistema tem uma natureza orgânica, pela qual uma ação que produza mudanças em uma das unidades do sistema, deverá produzir mudanças em todas as suas outras unidades ou elementos. Isto é, qualquer estimulação em qualquer unidade ou elemento do sistema afetará todas as unidades ou elementos devido ao relacionamento existente entre eles. O efeito total dessas mudanças ou alterações proporcionará um ajustamento de todo o sistema. O sistema sempre reagirá globalmente a qualquer estímulo produzido em qualquer parte ou unidade, nunca isoladamente. Na medida em que o sistema sofre mudanças, o ajustamento sistemático é contínuo e das mudanças e Capítulo 6 178 Teorias Administrativas e Organizacionais dos ajustamentos contínuos do sistema decorrem dois fenômenos chamados de entropia e homeostasia (CHIAVENATO, 2003). CONCEITO Entropia – é a perda de energia que ocorre nos sistemas fechados, ou seja, é a tendência à perda de energia e o desvanecimento do sistema, quando não consegue repor suas perdas (CHIAVENATO, 2003). Homeostasia – (do grego, homo = o mesmo, e stasis = equilíbrio) significa a tendência do sistema em manter seu equilíbrio interno apesar das perturbações do ambiente. É o mesmo que autorregulação ou estado firme. Envolve equilíbrio, permanência e estabilidade (CHIAVENATO, 2003). Os sistemas podem ser classificados de diversas maneiras. Chiavenato (2003) apresenta segundo a sua constituição e natureza. Conforme a sua constituição, eles podem ser: • sistemas físicos ou concretos: quando compostos de equipamentos, de maquinaria e de objetos e coisas reais. Em suma, quando compostos de hardware. Podem ser descritos em termos quantitativos de desempenho; • sistemas abstratos ou conceituais: quando compostos de conceitos, filosofias, planos, hipóteses e ideias. Os símbolos representam atributos e objetos, que muitas vezes só existem no pensamento das pessoas. São compostos de software. Nota: os sistemas físicos complementam os abstratos e vice-versa. As máquinas (sistemas físicos) necessitam de um programa (sistema abstrato) para poder funcionar e desenvolver suas funções. Já quanto à natureza, os sistemas podem ser: • sistemas fechados: são os sistemas que não apresentam intercâmbio com o meio ambiente que os circunda, pois são herméticos a qualquer influência ambiental. Sendo assim, os sistemas fechados não recebem Capítulo 6 179Teorias Administrativas e Organizacionais influência do ambiente e também não influenciam o ambiente. Não recebem nenhum recurso externo e nada produzem que seja enviado para fora. A rigor, não existem sistemas fechados, na acepção exata do termo (CHIAVENATO, 2003; SILVA, 2008); • sistemas abertos: são os sistemas que apresentam relações de intercâmbio com o ambiente, através de entradas e saídas. Eles trocam matéria e energia regularmente com o meio ambiente. Adaptam-se continuamente com vistas a sobrevivência. Mantêm um jogo recíproco com o ambiente e sua estrutura é otimizada quando o conjunto de elementos do sistema se organiza, através de uma operação adaptativa. A adaptabilidade é um contínuo processo de aprendizagem e de auto-organização (CHIAVENATO, 2003). Figura 1 – Exemplo de sistema aberto Fonte: Chiavenato (2003, p. 417). Entradas • Dados • Energia • InformaçãoSaídas • Energia • Informação • Matéria As organizações como sistemas abertos possuem entradas, processamento e saídas, feedback e ambiente chamados de parâmetros dos sistemas. Maximiano (2009) apresenta como representação concreta dessas três partes que compõem um sistema, uma fábrica que processa (transforma) as entradas como matérias-primas e mão-de-obra para fornecer produtos – as saídas. 1) Entrada (input) é a força ou impulso de partida do sistema que fornece o material ou energia ou informação para a operação do sistema. Compreendem os recursos físicos e abstratos de que o sistema é feito (CHIAVENATO, 2003; MAXIMIANO, 2009). Capítulo 6 180 Teorias Administrativas e Organizacionais 2) Processamento ou transformação é o fenômeno que produz mudanças, ou seja, é o mecanismo de conversão das entradas em saídas. O processador caracteriza a ação dos sistemas e define-se pela totalidade dos elementos (tanto elementos como relações) empenhados na produção de um resultado. O processador pode ser representado pela caixa negra: nela entram os insumos e dela saem coisas diferentes, que são os produtos (CHIAVENATO, 2003). Todo sistema, segundo Maximiano (2009), é dinâmico e possui processos que interligam os componentes transformando os elementos de entrada em resultados. 3) Saídas (outputs) são os resultados do sistema, é a consequência para a qual se reuniram elementos e relações do sistema. Os resultados de um sistema são as saídas. Estas devem ser coerentes com o objetivo do sistema. Os resultados dos sistemas são finais (conclusivos), enquanto os resultados dos subsistemas são intermediários. Para uma empresa, as saídas compreendem os produtos e serviços para os clientes ou usuários (CHIAVENATO, 2003; MAXIMIANO, 2009). 4) Retroalimentação (feedback) significa retorno da informação, é a função do sistema que compara a saída com um critério ou padrão previamente estabelecido, reforçando ou modificando o comportamento do sistema. A retroação tem por objetivo o controle, ou seja, o estado de um sistema sujeito a um monitor que direciona. A retroalimentação é um subsistema planejado para “sentir” a saída (registrando sua intensidade ou qualidade) e compará-la com um padrão ou critério preestabelecido para mantê-la controlada dentro daquele padrão ou evitando desvios (CHIAVENATO, 2003; MAXIMIANO, 2009). 5) Ambiente é o meio que envolve externamente o sistema, constitui tudo o que está do lado de fora do sistema. O sistema aberto recebe entradas do ambiente, processa-as e efetua saídas ao ambiente, de tal forma que existe uma constante interação entre sistema e ambiente. O sistema e o ambiente encontram-se inter-relacionados e interdependentes. Para que o sistema seja viável e sobreviva, ele deve adaptar-se ao ambiente por meio de uma constante interação. A viabilidade ou sobrevivência de um sistema depende de sua capacidade de adaptar-se e responder as demandas do ambiente externo. O ambiente serve como fonte de energia, materiais e informação ao sistema (CHIAVENATO, 2003). Capítulo 6 181Teorias Administrativas e Organizacionais De forma resumida, o “sistema aberto” pode ser compreendido como um conjunto de partes em constante interação e interdependência, constituindo um todo sinérgico, orientado para determinados propósitos e em permanente relação de interdependência com o ambiente (CHIAVENATO, 2003). Chiavenato (2003) expõe que o fluxo contínuo de informações entre o sistema, seus componentes internos e o ambiente externo cria um circuito fechado de retroalimentação, que possibilita à organização a adaptação da organização às mudanças das condições ambientais. Continuamente, os sistemas buscam o equilíbrio (autorregulação). Quando ocorre algo que os desequilibram, seus circuitos de feedback provocam reações visando o retorno ao ponto de equilíbrio. Uma ideia importante baseada na compreensão de sistema é de que a organização, segundo Maximiano (2009), revela-se como um conjunto composto pelo subsistema técnico e o social que se influenciam mutuamente: 1) subsistema técnico é formado por recursos e componentes físicos e abstratos e que de certa forma, independem das pessoas. Eles compreendem as tarefas, tecnologia, instalações físicas, equipamentos e instrumentos utilizados. O subsistema técnico envolve a tecnologia, o território e o tempo. É o responsável pela eficiência potencial da organização; 2) subsistema social é formado por todas as manifestações promovidas pelo comportamento dos indivíduos, compreendem características físicas e psicológicas das pessoas, as relações sociais entre os indivíduos encarregados de execução de uma tarefa, clima, cultura, atitudes e motivação. Este modelo, segundo Chiavenato (2003), foi proposto por sociólogos e psicólogos do Instituto de Relações Humanas de Tavistock. 6.2.4 Críticas à Teoria de sistemas Silva (2008) explica que a Teoria de sistemas forneceu um conjunto distinto para se analisar e avaliar as organizações. De acordo com Chiavenato (2003), esta Teoria trouxe uma fantástica ampliação na visão dos problemas organizacionais em contraposição à visão antiga que compreendia as organizações como sistema fechado. Seu caráter integrativo e abstrato e a possibilidade de compreensão dos efeitos sinérgicos da organização são realmente surpreendentes. Capítulo 6 182 Teorias Administrativas e Organizacionais Dentro desta visão, emerge a figura do homem funcional dentro das organizações, aquele que desempenha papéis. Todavia, apesar do enorme impulso, a Teoria de sistemas ainda carece de melhor sistematização e detalhamento, pois sua aplicação prática é ainda incipiente. 6.2.5 Teoria da contingência Uma decorrência da perspectiva da Teoria de sistemas é o conceito da Teoria da contingência, cuja tese central é de que não existem princípios universais de administração que possam ser aplicados indiscriminadamente a todas as situações. A Teoria contingencial enfatiza que não existe uma melhor e única forma para organizar as atividades organizacionais no sentido de se alcançar os objetivos. Para esta teoria, existem variadas formas de se organizar e administrar uma empresa dependendo das condições ambientais, considerados fatores externos que afetam as organizações e os fatores internos que são inerentes a cada uma delas (CHIAVENATO, 2003). Assim, as decisões tomadas em uma organização devem ser realizadas à luz da situação. Chiavenato (2003) salienta que para a Teoria da contingência não há nada de absoluto nas organizações ou na teoria administrativa. Tudo é relativo! Tudo depende. O autor salienta que para esta teoria, existe sempre uma relação funcional entre as condições do ambiente e as técnicas administrativas, que devem ser apropriadas para o alcance eficaz dos objetivos da organização para cada situação. As variáveis ambientais são variáveis independentes, enquanto as técnicas administrativas são variáveis dependentes dentro de uma relação funcional. Na Teoria da contingência, como expõe Silva (2008), uma coisa está relacionada à outra. Nesta concepção, esta teoria procura entender as relações dentro e dentre os subsistemas, bem como entre a organização e seu ambiente (SILVA, 2008, p. 365). Esta é uma relação funcional, expõe Chiavenato (2003), do tipo “se, então” que pode levar a um alcance eficaz dos objetivos da organização. Expõe Silva (2003): “se” certos fatores situacionais existem, “então” certas variáveis na estrutura da organização e o uso de certos sistemas de gerenciamento devem ser aplicados. Capítulo 6 183Teorias Administrativas e Organizacionais Esta teoria enfatiza a natureza multivariadadas organizações e tenta entender como as organizações operam sob condições variáveis e em circunstâncias específicas, diz Silva (2003), havendo um aspecto proativo e não meramente uma reação da organização diante das situações. O reconhecimento, diagnóstico e adaptação à situação, sustenta o autor, são importantes para a teoria contingencial, porém, eles não são suficientes. As relações funcionais entre as condições ambientais e as práticas administrativas devem ser constantemente identificadas e ajustadas. A palavra contingência significa algo incerto ou eventual, expõe Chiavenato (2003), que depende das circunstâncias. A Teoria da contingência estabelece, segundo Silva (2008), que situações diferentes exigem práticas diferentes, ela enfatiza que o uso das teorias tradicionais, dentre elas comportamentais e de sistemas devem ser utilizadas separadamente ou combinadas, com o intuito de resolver os problemas da organização. Sua contribuição mais notável é a identificação das variáveis que têm um forte efeito no projeto geral das organizações, tais como tecnologia, tamanho e natureza do ambiente. Lacombe e Heilborn (2003, p. 41) explicam que a essência dos estudos de Joan Woodward, principal autora dessa teoria, indica que “não existe uma única maneira certa de montar a estrutura organizacional; existem sempre várias alternativas, e a melhor depende de cada caso”. Outro aspecto destacado pelos autores (2003, p. 41) é que “as condições do ambiente é que causam as transformações no interior das organizações e a de que não se consegue alto nível de sofisticação organizacional com a aplicação de um só modelo.” Dessa forma, demonstram como a teoria da contingência está vinculada à abordagem sistêmica. “Não existe uma única forma melhor de organizar um negócio. O critério para determinar se uma estrutura é apropriada para uma organização deve ser baseado na extensão em que esta estrutura facilite o alcance dos objetivos desta organização.” Joan Woodward Capítulo 6 184 Teorias Administrativas e Organizacionais Deve haver um estímulo, portanto, para que os administradores possam diagnosticar a situação cuidadosamente antes da tomada de decisões, que depende de vários fatores, como o ambiente em que se encontra a empresa e a equipe que a compõe. EXPLORANDOEXPLORANDO Sobre o assunto, sugiro que você consulte o livro de Antonio Maximiano, intitulado Teoria Geral da Administração. São Paulo: Atlas, 2000. Lá você vai encontrar muitas informações sobre esta e outras teorias. Lacombe e Heilborn (2006) destacam que, na prática, sabemos da existência de muitas formas de organizar uma empresa, e para alcançarmos mais segurança sobre qual a mais adequada, devemos iniciar o estudo de organização com um diagnóstico da empresa. Você sabe qual o significado e como se faz um diagnóstico da empresa? DEFINIÇÃODEFINIÇÃO Fazer o diagnóstico de uma empresa significa realizar a “análise dos seus recursos e sua situação interna para identificarmos seus pontos fortes e fracos em cada área: produtos, processos, recursos humanos, finanças, tecnologia, capacidade de produção, capacidade de vendas, canais de distribuição, cultura e sua adequação à organização e ao ambiente externo. E também a análise do ambiente externo para concluirmos quais as ameaças a serem enfrentadas e as oportunidades a serem aproveitadas: pontos fortes e fracos dos competidores, situação mercadológica, formas de relação do trabalho, perspectiva de entrada de novos competidores, poder de barganha dos fornecedores e dos clientes, velocidade e probabilidade das mudanças” (LACOMBE; HEILBORN, 2006, p. 429). Capítulo 6 185Teorias Administrativas e Organizacionais Figura 2 – Diagnóstico empresarial Fonte: <http://www.freedigitalphotos.net/> Lacombe e Heilborn (2003, p. 429) complementam que, em função do diagnóstico, deveremos ter condições de responder aos seguintes questionamentos: • Qual é o nosso negócio? • Como está o nosso negócio? • Como deveria ser o nosso negócio? • Como deverá ser o nosso negócio daqui a tantos anos? Tendo em mãos as respostas a esses questionamentos, será possível montar o cenário para aquela época. Gareth Morgan explica que a administração deve estar preocupada em atingir boas medidas, e para isso, salienta Morgan (apud LACOMBE; HEILBORN, 2003, p. 428), “a organização eficaz depende de se encontrar o equilíbrio entre estratégia, estrutura, tecnologia, envolvimento e necessidades das pessoas, bem como do ambiente externo”. Afinal, já vimos que as diferenças estruturais entre as organizações não são casuais. Ou seja, elas dedicam tempo para a concepção da estrutura correta e adequada. E isso é fundamental. Capítulo 6 186 Teorias Administrativas e Organizacionais LEMBRETELEMBRETE As quatro variáveis contingenciais que explicam as diferenças estruturais são: estratégia, tamanho, tecnologia e grau de incerteza ambiental da organização (ROBBINS, 2005). E cabe aqui destacarmos o seguinte comentário de Robbins (2005, p. 192): Quanto maior o grau de incerteza ambiental, mais suscetível a organização a impactos do ambiente. Uma vez que a administração não gosta da incerteza, tenta reduzi-la. A estrutura organizacional é uma forma de diminuir a incerteza. Se a incerteza for alta, uma estrutura flexível e adaptável é melhor para permitir a rapidez de resposta da organização e de seus membros. Daí percebermos a razão das diferenças e a necessidade de um diagnóstico preciso para adequação à determinada situação. Agora, convido você a descobrirmos quais as origens da Teoria da contingência. Vamos lá? 6.2.6 As origens da Teoria da contingência A Teoria da contingência surgiu a partir de várias pesquisas feitas para verificar os modelos de estruturas organizacionais mais eficazes em determinados tipos de empresas. As pesquisas, cada qual isoladamente, pretendiam confirmar se as organizações mais eficazes seguiam os pressupostos da Teoria clássica, como divisão do trabalho, amplitude de controle, hierarquia de autoridade, etc. Os resultados obtidos das pesquisas conduziram a uma nova concepção de organização, onde a estrutura da organização e o seu funcionamento são dependentes da interface com o ambiente externo. Com isso, os pesquisadores concluíram que não há um único e melhor jeito de organizar (CHIAVENATO, 2008). Ações administrativas Características situacionais Resultados organizacionais São contingentes das para obter Figura 3 – Abordagem contingencial Fonte: Chiavenato (2003, p. 504). Capítulo 6 187Teorias Administrativas e Organizacionais As principais pesquisas realizadas que compõem o arcabouço e forneceram sustentação à Teoria da contingência foram: de Chandler sobre estratégia e estrutura; Burns e Stalker sobre organizações; Lawrence e Lorsch sobre o ambiente e Joan Woodward sobre a tecnologia. Vejamos cada uma delas. 1) Pesquisa de Chandler sobre estratégia e estrutura Alfred D. Chandler realizou uma investigação histórica profunda sobre as mudanças estruturais de quatro grandes organizações relacionando-as com a estratégia de negócios. Chandler estudou a DuPont, a General Motors, a Standard Oil Co. (New Jersey) e a Sears Roebuck & Co. – e examinou comparativamente essas corporações americanas, demonstrando como a sua estrutura foi sendo continuadamente adaptada e ajustada à sua estratégia (CHIAVENATO, 2003). O objetivo do seu estudo foi testar a tese de que a estrutura da organização segue a estratégia gerencial (SILVA, 2008). As quatro empresas pesquisadas desenvolveram o seguinte, segundo Silva (2008): • DuPont – passou de uma estrutura centralizada para uma descentralizada.A descentralizada foi necessária para acomodar uma estratégia administrativa de diversificação de produto; • General Motors (GM) – nos anos iniciais, apresentava falta de controle centralizado sobre diversos produtos e funções, condição atribuída ao estilo autoritário de administração do fundador William C. Durant. A GM mudou para o plano de organização de Alfred Sloan em 1920. Este estabelecia controle centralizado sobre operações descentralizadas; esta estratégia colocou a GM novamente “sobre os seus pés” e foi este o fator de maior contribuição para o seu sucesso subsequente; • Standard Oil – enfrentou muitos dos mesmos problemas da DuPont e GM, mas seu movimento foi em direção contrária, à descentralização. Sobre uma base não-sistemática e de modo gradativo, ela diferiu das outras empresas estudadas por Chandler. Sua eventual estrutura descentralizada não era resultado de uma forte mudança na política geral. Todavia, de acordo com a tese de Chandler, uma estratégia de administração precedeu as mudanças para a descentralização; Capítulo 6 188 Teorias Administrativas e Organizacionais • Sears-Roebuck – experimentou também um modelo diferente. A empresa utilizava uma estrutura descentralizada em seu começo, o que se mostrou mal sucedido por causa dos canais de autoridade e comunicação que não eram claros e do planejamento geral inadequado. A Sears, diante disto, tentou uma estrutura altamente centralizada, mas que também se mostrou inadequada. A empresa gradativamente, então, evoluiu na volta da estrutura descentralizada com muito sucesso. Como nos outros casos pesquisados pelo autor, a estratégia administrativa precedeu a eventual estrutura descentralizada. A conclusão de Chandler foi de que a estrutura organizacional das grandes empresas norte-americanas foi sendo gradativamente determinada pela sua estratégia mercadológica. A estrutura organizacional corresponde ao desenho da organização, isto é, à forma organizacional que ela assumiu para integrar seus recursos enquanto a estratégia corresponde ao plano global de alocação de recursos para atender às demandas do ambiente (CHIAVENATO, 2003). Diferentes ambientes levam as empresas a adotar novas estratégias e as novas estratégias exigem diferentes estruturas organizacionais. Isto é, uma coisa leva à outra. Para Chandler, destaca Chiavenato (2003), as grandes organizações passaram por um processo histórico que envolveu quatro fases: • acumulação de recursos: iniciada após a Guerra da Secessão americana (1865), com a expansão da rede ferroviária que provocou o fortalecimento do mercado de ferro e aço e o moderno mercado de capitais. A principal característica que delineia este período é a migração rural e o início da imigração européia apresentando o rápido crescimento urbano facilitado pela estrada de ferro. Nesta fase, as empresas preferiam ampliar suas instalações de produção em detrimento de organizar uma rede de distribuição. A preocupação com as matérias-primas favoreceu o crescimento dos órgãos de compra e aquisição de empresas fornecedoras que detinham o mercado de matérias-primas. Disto resulta o controle por integração vertical que permitiu a economia em escala; • racionalização do uso dos recursos: foi iniciada em pleno período da integração vertical. As empresas verticalmente integradas tornaram-se grandes e precisavam ser organizadas, Capítulo 6 189Teorias Administrativas e Organizacionais pois acumularam mais recursos (instalações e pessoal) do que o necessário. Havia necessidade de conter os custos por meio de uma estrutura funcional com clara definição de linhas de autoridade e comunicação. Os lucros dependiam da racionalização da empresa e sua estrutura deveria ser adequada às oscilações do mercado. Para reduzir riscos de flutuações do mercado, as empresas passaram a focar o planejamento e controle da produção, a organização, por meio da criação de departamentos funcionais, e a coordenação entre fábrica e engenharia, desenho de produto e comercialização; • continuação do crescimento: a reorganização geral das empresas na segunda fase permitiu o aumento da eficiência nas vendas, compras, produção e distribuição, reduzindo as diferenças de custo entre as várias empresas. Com isso, houve queda nos lucros, o mercado se tornou saturado e houve diminuição das oportunidades de reduzir ainda mais os custos. Disto resultou a decisão de diversificar e buscar novos produtos e mercados. Como a velha estrutura funcional criada na primeira fase não estava ajustada a essa diversificação, a nova estratégia de diversificar provocou o surgimento de departamentos de pesquisa e desenvolvimento, engenharia de produto e desenho industrial; • racionalização do uso de recursos em expansão: a ênfase se concentra na estratégia mercadológica para abranger novas linhas de produtos e novos mercados. Os canais de autoridade e comunicação da estrutura funcional que se mostravam inadequados para responder a crescente complexidade de produtos e operações levaram à estrutura divisional. A GM e a Du Pont foram as pioneiras na estrutura multidepartamentalizada. Surge a necessidade de racionalizar a aplicação dos recursos em expansão, planejamento de longo prazo, administração voltada para objetivos e avaliação do desempenho de cada divisão. Havia, de um lado, a descentralização das operações e, de outro, a centralização de controles administrativos. 2) Pesquisa de Burns e Stalker sobre organizações Tom Burns e G.M. Stalker, ambos sociólogos, pesquisaram vinte indústrias inglesas para verificar, segundo Chiavenato (2003), a relação Capítulo 6 190 Teorias Administrativas e Organizacionais existente entre as práticas administrativas e o ambiente externo dessas indústrias. Os pesquisadores, impressionados com os diferentes procedimentos administrativos aplicados nessas indústrias, classificaram-nas em dois tipos: organizações mecanísticas e orgânicas. CONCEITOCONCEITO “Modelos mecanísticos descrevem o funcionamento das organizações como o de uma máquina, para o alcance dos seus objetivos e metas, de maneira eficaz.” (SILVA, 2008, p. 372) “Modelos orgânicos descrevem o funcionamento das organizações, para alcance dos seus objetivos e metas, pela procura da maximização da satisfação, flexibilidade e desenvolvimento do potencial humano.” (SILVA, 2008, p. 373) Silva (2008) acrescenta, de modo explicativo, que as incertezas do ambiente são importantes para o projeto organizacional face ao grau de incerteza com a qual as atividades das tarefas em si podem ser pré- planejadas ou estruturadas. Neste sentido, o autor expõe que quanto mais predizíveis os insumos, maior a oportunidade de estruturar as atividades da organização e, sob tais condições, as estruturas mecanísticas podem funcionar eficazmente, enquanto que, diante de insumos menos certos ou predizíveis, as atividades se tornam mais difíceis de especificar a priori e, nestas condições, as estruturas orgânicas podem ser mais adequadas. Chiavenato (2003, p. 506) apresenta algumas características das organizações mecanísticas e das organizações orgânicas. As organizações mecanísticas possuem as seguintes características: • estrutura burocrática baseada em uma minuciosa divisão de trabalho; • cargos ocupados por especialistas com atribuições claramente definidas. • decisões centralizadas e concentradas na cúpula da empresa; • hierarquia rígida de autoridade baseada no comando único; • sistemas rígidos de controle: a informação sobe através por meio de filtros e as decisões descem através de uma sucessão de amplificadores; • predomínio dainteração vertical entre superior e subordinado; Capítulo 6 191Teorias Administrativas e Organizacionais • amplitude de controle administrativo mais estreita; • ênfase nas regras e procedimentos formais; • ênfase nos princípios universais da Teoria clássica. Já as organizações orgânicas, segundo Chiavenato (2003, p. 506), apresentam as seguintes características: • estruturas organizacionais flexíveis com pouca divisão de trabalho; • cargos continuamente modificados e redefinidos através da interação com outras pessoas que participam da tarefa; • decisões descentralizadas e delegadas aos níveis inferiores; • tarefas executadas por meio do conhecimento que as pessoas têm da empresa como um todo; • hierarquia flexível, com predomínio da interação lateral sobre a vertical; • amplitude de controle administrativo mais ampla; • maior confiabilidade nas comunicações informais; • ênfase nos princípios de relacionamento humano da Teoria das Relações Humanas. Figura 4 – Propriedades da estrutura mecanística e orgânica Fonte: Chiavenato (2003, p. 507). • Coordenação centralizada, • Padrões rígidos de interação em cargos bem definidos, • Limitada capacidade de processamento da informação, • Adequado para tarefas simples e repetitivas, • Adequado para eficiência da produção. DESENHO MECANÍSTICO DESENHO ORGÂNICO • Elevada interdependência, • Intensa interação em cargos auto- definidos, flexíveis e mutáveis, • Capacidade expandida de processamento da informação, • Adequado para tarefas únicas e complexas, • Adequado para criatividade e inovação. Capítulo 6 192 Teorias Administrativas e Organizacionais Resumindo, os pesquisadores concluíram que a forma mecanicista de organização é mais apropriada para condições ambientais estáveis, enquanto que a forma orgânica é mais apropriada para condições ambientais de mudança e inovação. Isto é, parece haver o aspecto que determina a estrutura e o funcionamento das organizações – ou seja, o ambiente. 3) Pesquisa de Lawrence e Lorsch sobre o ambiente Paul Lawrence e Jay Lorsch, ambos professores da Harvard Business School, realizaram uma pesquisa sobre o defrontamento entre organização e ambiente que marcam o aparecimento da Teoria da contingência. Segundo Chiavenato (2003), o nome Teoria da contingência derivou desta pesquisa. A preocupação dos pesquisadores estava centrada nas características que as empresas deveriam ter para enfrentar com eficiência as diferentes condições externas, tecnológicas e de mercado. Neste sentido, realizaram uma pesquisa sobre dez empresas em três diferentes meios industriais – plásticos, alimentos empacotados e recipientes (containers). A conclusão dos pesquisadores foi de que os problemas organizacionais básicos das organizações são a diferenciação e a integração (CHIAVENATO, 2003). CONCEITOCONCEITO “Diferenciação: a organização é dividida em subsistemas ou departamentos, cada qual desempenhando uma tarefa especializada para um contexto ambiental também especializado. Cada subsistema ou departamento reage somente àquela parte do ambiente que é relevante para a sua própria tarefa especializada. Se houver diferenciações nos ambientes de tarefas, aparecerão diferenciações na estrutura e na abordagem dos departamentos. Do ambiente geral, emergem ambientes de tarefa, a cada qual corresponde um subsistema ou departamento da organização.” “Integração: refere-se ao processo oposto à diferenciação e é gerado por pressões vindas do ambiente da organização no sentido de obter unidade de esforços e coordenação entre os vários departamentos.” (CHIAVENATO, 2003, p. 508) Capítulo 6 193Teorias Administrativas e Organizacionais Os resultados das pesquisas realizadas por Lawrence e Lorsch levaram à conclusão, segundo Lacombe e Heilborn (2003), de que as organizações devem ser sistematicamente ajustadas às metas coletivas e aos objetivos humanos individuais, isto é, para a Teoria de contingência, não existe uma única maneira melhor de organizar, elas devem atender aos requisitos ambientais. Chiavenato (2003, p. 509) ainda acrescenta que existem alguns aspectos básicos que delineiam a Teoria de contingência, tais como: • a organização é de natureza sistêmica, isto é, ela é um sistema aberto; • as características organizacionais apresentam uma integração entre si e com o ambiente. Isto explica a íntima relação entre as variáveis externas (como a certeza e a estabilidade do ambiente) e as características da organização (diferenciação e integração organizacional); • as características ambientais funcionam como variáveis independentes, enquanto as características organizacionais são variáveis dependentes daquelas. Para esta teoria, não existe nada de absoluto, os princípios gerais de administração devem ser ajustados constantemente de acordo com o seu ambiente e com a tecnologia empregada na organização. 4) Pesquisa de Joan Woodward sobre a Tecnologia Joan Woodward, socióloga industrial inglesa, organizou uma pesquisa para saber se os princípios de administração propostos pelas teorias administrativas se relacionavam com o êxito do negócio quando colocados em prática (CHIAVENATO, 2003). Woodward pesquisou 100 firmas de vários tipos de negócios, cujo tamanho oscilava de 100 a 8.000 empregados, situados no sul da Inglaterra. As 100 firmas, segundo Chiavenato (2003), foram classificadas em três grupos de tecnologia de produção, cada qual envolvendo uma diferente maneira de produzir: • produção unitária ou oficina – a produção é feita por unidades ou pequenas quantidades, cada produto a seu tempo modificado à Capítulo 6 194 Teorias Administrativas e Organizacionais medida que é feito. Os trabalhadores utilizavam uma variedade de instrumentos e ferramentas. O processo produtivo é menos padronizado e menos automatizado. É o caso da produção de navios, geradores e motores de grande porte, aviões comerciais, locomotivas e confecções sob medida; • produção em massa ou mecanizada – a produção é feita em grande quantidade. Os operários trabalham em linha de montagem ou operando máquinas que podem desempenhar uma ou mais operações sobre o produto. É o caso da produção que requer máquinas operadas pelo homem e linhas de produção ou montagem padronizadas, como as empresas montadoras de automóveis; • produção em processo ou automatizada – produção em processamento contínuo em que um ou poucos operários monitorizam um processo total ou parcialmente automático de produção. A participação humana é mínima. É o caso do processo de produção empregado nas refinarias de petróleo, produção química ou petroquímica, siderúrgica, etc. Da pesquisa realizada por Woodward, segundo Silva (2008), certos efeitos da tecnologia são função direta da crescente complexidade, o determinismo tecnológico representa interpretações. Woorward observou três tipos de tecnologia: produção unitária, massiva e em processamento contínuo. Cada uma envolve diferentes abordagens na manufatura dos produtos. Woodward verificou que a tecnologia extrapola a produção e influencia toda a organização empresarial. Suas conclusões abrangeram o seguinte, de acordo com Chiavenato (2003): 1) o desenho organizacional é afetado pela tecnologia usada pela organização: as firmas de produção em massa bem-sucedidas tendiam a ser organizadas em linhas clássicas, com deveres e responsabilidades claramente definidos, unidade de comando, clara distinção entre linha e staff e estreita amplitude de controle. Na tecnologia de produção em massa, a forma burocrática de organização mostra- se associada ao sucesso. Porém, nos outrostipos de tecnologias – produção unitária e produção contínua – a forma organizacional mais viável nada tem a ver com os princípios clássicos; Capítulo 6 195Teorias Administrativas e Organizacionais 2) há uma forte correlação entre estrutura organizacional e previsibilidade das técnicas de produção: a previsão de resultados é alta para a produção por processamento contínuo e baixa para a produção unitária. A previsibilidade dos resultados afeta o número de níveis hierárquicos da organização, fazendo com que haja forte correlação entre ambas as variáveis: quanto menos previsibilidade dos resultados, tanto menos a necessidade de aumentar os níveis hierárquicos, e quanto maior a previsibilidade, tanto maior o número de níveis hierárquicos da organização; 3) as empresas com operações estáveis necessitam de estruturas diferentes das organizações com tecnologia mutável: organizações estruturadas e burocráticas com um sistema mecanístico de administração são mais apropriadas para operações estáveis, enquanto a organização inovadora com tecnologia mutável requer um sistema “orgânico” e adaptativo; 4) há um predomínio das funções na empresa: a importância de cada função, como vendas, produção e engenharia na empresa depende da tecnologia utilizada. A hipótese básica da teoria de Woodward, segundo Silva (2008, p. 370), é que as empresas que mais se aproximam da estrutura adequada para suas tecnologias deveriam ser as de maior sucesso. O sucesso é função de uma adequada adaptação tecnologia-estrutura, que pode ser conscientemente planejada para se tornar produção de grande quantidade e em massa, o que pode ocorrer de modo espontâneo em muitos casos. Podemos concluir que as quatro pesquisas realizadas que abrangem a Teoria contingencial revelam que há dependência da organização em relação ao seu ambiente e a tecnologia utilizada, isto é, as características que delineiam uma organização não dependem dela própria, mas sim das circunstâncias ambientais e da tecnologia empregada. Esta Teoria demonstra que as características da organização são variáveis dependentes e contingentes em relação ao ambiente e à tecnologia (CHIAVENATO, 2003). Capítulo 6 196 Teorias Administrativas e Organizacionais 6.2.7 Tipologias de ambientes Toda organização está exposta ao ambiente, mas apenas uma parte deste ambiente afeta a organização. Para facilitar esta análise do ambiente, foram desenvolvidas tipologias que, segundo Chiavenato (2003), podem ser classificadas quanto a sua estrutura e quanto a sua dinâmica. Quanto a sua estrutura, Chiavenato (2003) expõe que os ambientes podem ser classificados em: • homogêneo: é quando o ambiente é composto de fornecedores, clientes e concorrentes semelhantes. Para ser considerado homogêneo, este ambiente deve possuir pouca segmentação ou diferenciação dos mercados; • heterogêneo: é quando no ambiente ocorre muita diferenciação entre os fornecedores, clientes e concorrentes provocando uma diversidade de problemas diferentes sobre a organização. Para ser considerado heterogêneo, deve haver muita diferenciação dos mercados. Chiavenato (2003) complementa enfatizando que estes ambientes, homogêneo e heterogêneo, na verdade constituem dois extremos de um continuum. Já quanto à sua dinâmica, o autor expõe que os ambientes podem ser classificados como: • estável: é o ambiente caracterizado por pouca ou nenhuma mudança. Neste ambiente, as mudanças são lentas e previsíveis; • instável: é o ambiente que se caracteriza por muitas mudanças. Neste ambiente, os agentes estão constantemente provocando mudanças e influências recíprocas, formando um campo dinâmico de forças. Capítulo 6 197Teorias Administrativas e Organizacionais Figura 5 – Homogeneidade e heterogeneidade ambiental Fonte: Chiavenato (2003, p. 516). CONCORRENTES HOMOGÊNEOS ORGANIZAÇÃOFORNECEDORES HOMOGÊNEOS CLIENTES HOMOGÊNEOS C H CONCORRENTES HETEROGÊNEOS ORGANIZAÇÃO FORNECEDORES HETEROGÊNEOS CLIENTES HETEROGÊNEOS CCC 6.2.8 Críticas à Teoria da contingência A Teoria da contingência considera todas as teorias administrativas anteriores dentro do prisma da Teoria dos sistemas. A Teoria contingencial aceitou as premissas básicas da Teoria dos sistemas a respeito da interdependência e natureza orgânica da organização, bem como o caráter aberto e adaptativo das organizações e a necessidade de preservar sua flexibilidade em face das mudanças ambientais (CHIAVENATO, 2003; SILVA, 2008). Silva (2008) complementa salientando que a Teoria da contingencia chamou a atenção para fatores situacionais que respondem pelas variações na estrutura das organizações. Como todas as outras teorias desenvolvidas anteriormente, a Teoria contingencial também foi alvo de críticas sobre o seu valor prático para a administração. Dentre as críticas apregoadas, segundo Silva (2008), os principais aspectos são: Capítulo 6 198 Teorias Administrativas e Organizacionais • relacionamento casual – referindo-se ao relacionamento entre estrutura como uma variável interveniente, e desempenho como uma variável dependente, o que, por si só, não pode sustentar as mudanças na estrutura, que é influenciada também por outros fatores; • desempenho organizacional – a noção de que adaptação entre os componentes da organização e as variáveis situacionais está relacionada à maximização do desempenho sofreu críticas, pois o desempenho é afetado por muitos fatores; • variáveis independentes – o suposto estado de independência das variáveis contingenciais é discutível. Grandes organizações podem estar em posição de exercer controle sobre certos aspectos do seu ambiente, ou para proteger seus nichos de mercado. As organizações também podem ser capazes de afetar influenciar o ambiente; • contingências múltiplas – diferentes padrões de fatores contingenciais têm implicações distintas para o desenho organizacional; as organizações enfrentam múltiplas contingências e existe uma potencialidade de diversos modos de relacionamento; • mudança planejada – os modelos falham na ênfase das consequências não previstas da mudança planejada, como o efeito da nova tecnologia no trabalho; • fatores de poder – a estrutura organizacional não necessariamente é determinada apenas por condições situacionais impessoais, mas também por fatores de poder, como: controles externos vindos do governo, o contexto político, a necessidade de poder dos membros dirigentes, a cultura e o poder das normas sociais, fatores que afetam o projeto da estrutura organizacional; • velocidade da mudança organizacional – como muitas organizações operam sob constantes condições de mudanças, estas podem mudar sua estrutura formal sem dificuldade, em intervalos curtos, ou seja, com muita frequência. Resumindo, a Teoria da contingência demonstra que as fronteiras entre as diversas teorias administrativas estão se tornando cada vez mais Capítulo 6 199Teorias Administrativas e Organizacionais permeáveis e incertas devido a um crescente e pujante intercâmbio de ideias e conceitos. Com isso, é possível perceber que, no futuro, a TGA tende a ser cada vez mais uma teoria integrada e única, em vez de um emaranhado de teorias individualizadas. 6.3 Aplicando a teoria na prática Agora, vamos a um estudo de caso. Ana Maria, recém-formada em administração, foi contratada para gerenciar uma rede de restaurantes situados em uma capital. A rede conta com seis restaurantes e a capital é roteiro turístico de verão devido às suas belas praias. Neste período, a cidade triplica o número de habitantes e Ana Maria antes de começar a temporada,reuniu todos os funcionários para explicar a importância da organização adaptar-se ao ambiente. Responda: como você acredita que Ana Maria poderia explicar aos funcionários esta ideia sobre a importância e a necessidade de adaptar- se ao ambiente? Vejamos se você concorda comigo. Em minha opinião, Ana Maria poderia iniciar a explicação aos funcionários pelo conceito de sistema, explicando que as organizações são sistemas que existem dentro de sistemas, isto é, cada sistema é constituído de subsistemas e, ao mesmo tempo, faz parte de um sistema maior, chamado supra-sistema. Cada subsistema pode ser detalhado em seus subsistemas componentes, e assim por diante. Esse encadeamento parece ser infinito, ou seja, as moléculas existem dentro de células, que existem dentro de tecidos, que compõem os órgãos, que compõem os organismos, da mesma forma que as organizações compreendidas como sistemas que possuem os seus subsistemas, isto é, seus departamentos, setores, etc. – como cozinha, salão, almoxarifado, etc. Estes sistemas são abertos. Isto é uma decorrência da premissa anterior, pois cada sistema existe dentro de um meio ambiente constituído por outros sistemas. Neste sentido, as organizações são sistemas abertos caracterizados por um processo infinito de intercâmbio com o seu ambiente para trocar energia e informação. Capítulo 6 200 Teorias Administrativas e Organizacionais Para funcionar adequadamente, as organizações, compreendidas como sistemas, necessitam se adaptar para responder às demandas do ambiente. Para que nossa organização possa responder às demandas do ambiente no período da alta temporada, é necessário que nossa estrutura seja adaptada, ou seja, que as partes componentes que compõem o sistema chamado organização sejam modificadas para atender às necessidades do ambiente e sobreviver à temporada, satisfazendo os clientes com bom atendimento e os funcionários com melhores rendimentos e os proprietários. Concorda? 6.4 Para saber mais Título: Administração: mudanças e perspectivas Autor: ROBBINS, S. P. Editora: Saraiva Ano: 2005 No apêndice deste livro, consta uma explicação interessante sobre as abordagens contemporâneas, contemplando a sistêmica e a contingencial. Título: General system theory Autor: BERTALANFFY, L. von Editora: George Braziller Ano: 1968 Para conhecer o trabalho integral de Ludwig von Bertalanffy, consulte esta obra. Site: Administradores URL: http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/a-lideranca- sob-abordagem-contigencial-aspectos-conceituais/32926/ Sugiro que você leia o artigo de Francisco Mirialdo, intitulado “A liderança sob abordagem contigencial: aspectos conceituais”. 6.5 Relembrando Neste capítulo, você aprendeu que a Teoria de sistemas é decorrente da Teoria geral de sistemas desenvolvida por Ludwig Von Bertalanffy. Vimos que, para esta teoria, as organizações são compreendidas como sistemas constituídos por subsistemas. O conceito de sistema apresentado é complexo e envolve um conjunto de características, como: propósito, globalismo, entropia, homeostasia e seus parâmetros: entrada, processamento, saída, feedback e ambiente. Capítulo 6 201Teorias Administrativas e Organizacionais Esta teoria contrapõe-se à concepção da organização como sistema fechado, concebendo as organizações como sistemas abertos, que agem e interagem constantemente com o ambiente, ampliando a visão dos problemas organizacionais. Apesar desta fantástica ampliação, aprendemos que a Teoria de sistemas carece ainda de uma melhor sistematização para aplicação prática. Você aprendeu ainda que a Teoria da contingência marca um passo além da Teoria de sistemas. Parte das premissas desenvolvidas pela Teoria de sistemas de que as organizações são sistemas que mantêm relação constante com o ambiente e amplia a compreensão de que para sobreviver necessitam adaptar-se constantemente. Neste sentido, para esta teoria, as organizações são sistemas abertos e orgânicos. Origina-se a partir das pesquisas realizadas por Chandler, Burns e Stalker, Lawrence e Lorsch e Woodward, que revelaram que as organizações afetam e são afetadas pelos seus ambientes, necessitando adaptar-se para sobreviver. Os pesquisadores também observaram que a tecnologia condiciona a estrutura e o comportamento organizacional, passando a tecnologia a assumir importante papel na teoria administrativa. A Teoria contingencial demonstra que não existe uma única maneira de administrar uma organização. Fatores ambientais moldam a estrutura organizacional, assim como a tecnologia. 6.6 Testando os seus conhecimentos 1) Assinale a sequência formada pelo valor verdade de cada uma das sentenças (V, se verdadeira; e F, se falso). A Teoria da contingência marca uma nova etapa na TGA, pelas razões seguintes: ( ) A Teoria da contingência é um passo além da Teoria dos Sistemas em Administração. A visão contingencial da organização e da administração sugere que a organização é um sistema composto de subsistemas e definido por limites que o identificam em relação ao supra-sistema ambiental, verificando que não há um único e melhor jeito de organizar. ( ) A visão contingencial procura analisar as relações dentro e entre os subsistemas, bem como entre a organização e seu ambiente e definir padrões de relações ou configurações variáveis. Capítulo 6 202 Teorias Administrativas e Organizacionais ( ) Ela enfatiza a natureza multivariada das organizações e procura verificar como as organizações operam sob condições variáveis e em circunstâncias específicas. ( ) A visão contingencial está dirigida, acima de tudo, para desenhos organizacionais e sistemas gerenciais adequados para cada situação. ( ) Suas origens remontam às pesquisas de Chandler, Burns e Stalker, Woodward e Lawrence e Lorsch a respeito das organizações e seus ambientes, revelando que a teoria administrativa disponível era insuficiente para explicar os mecanismos de ajustamento das organizações aos seus ambientes de maneira proativa e dinâmica. Dessa forma, a alternativa com as respostas corretas é: a) V, F, F, V, V b) F, F, V, F, F c) F, V, V, V, F d) F, F, V, V, F e) V, V, V, V, V 2) A Teoria dos Sistemas é uma decorrência da Teoria Geral de Sistemas desenvolvida e que se espalhou por todas as ciências, influenciando notadamente a administração. Desta forma, os conceitos principais que marcaram esta Teoria são e têm como definição: I. Retroação – é a função do sistema que visa comparar a saída com um critério ou padrão previamente estabelecido a fim de manter o funcionamento do sistema dentro daquele critério ou padrão. Recebe o nome de feedback. II. Entropia – Refere-se á perda de energia dos sistemas fechados. Significa a tendência para a perda de energia e o desvanecimento do sistema, quando não consegue repor as perdas. III. Sistema aberto – é o sistema composto de conceitos e ideias, filosofias, hipóteses e programas. Recebe o nome de software. IV. Homestasia – é a tendência do sistema manter seu equilíbrio interno apesar das perturbações ambientais. O mesmo que auto-regulação ou estado firme. Envolve equilíbrio, permanência e estabilidade. V. Globalismo ou totalidade – são as unidades ou elementos, bem como os relacionamentos, que definem um arranjo que visa sempre um objetivo ou finalidade a alcançar. Capítulo 6 203Teorias Administrativas e Organizacionais Assinale as alternativas com todas as frases corretas: a) I, II, IV b) I, II, V c) I, II, III, IV d) II, III, IV, V 3) Lawrence e Lorsch fizeram uma pesquisa sobre o defrontamento entre organização e ambiente que marca o aparecimentoda Teoria da contingência. Os autores concluíram que os problemas organizacionais básicos são a diferenciação e a integração. Qual o conceito, segundo os autores, de diferenciação e de integração? Onde encontrar CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da Administração. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. LACOMBE, F. J. M.; HEILBORN, G. L. J. Administração: princípios e tendências. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2003. MAXIMIANO, A. C. A. Teoria geral da administração: da revolução urbana à revolução digital. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2009. ROBBINS, S. P. Administração: mudanças e perspectivas. São Paulo: Saraiva, 2005. SILVA, R. O. da. Teorias da administração. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008. Capítulo 6 204 Teorias Administrativas e Organizacionais Capítulo 7 205Teorias Administrativas e Organizacionais TEORIA ORGANIZACIONAL CAPÍTULO 77 7.1 Contextualizando Este capítulo tem como objetivo contextualizar a teoria organizacional; definir o que é tecnologia e apresentar suas forças e limitações no contexto organizacional, além de abordar os desafios da gestão diante do avanço tecnológico e um panorama conceitual sobre cultura e clima organizacional. Sempre que iniciamos uma nova leitura, surge uma expectativa: a que ponto tal leitura irá atender nossa busca por novos conhecimentos? Este capítulo vem com um grande desafio: abordar a teoria organizacional e seus reflexos voltados à gestão de pessoas nas organizações e os aspectos tecnológicos na gestão. Você concorda que se trata de um grande desafio? A sociedade atual, caracterizada pela multiplicidade e variedade de organizações, elegeu a teoria organizacional como espaço de atuação e afirmação do indivíduo. Em decorrência, é no mundo organizacional em que se configura a arena de concretização das habilidades individuais que, transformadas em produtos e serviços, afetam a sociedade de uma forma geral, tornando o trabalho uma “prerrogativa humana”. Porém, há de se considerar que as transformações originadas na relação homem X trabalho, impactaram de forma significativa as relações organizacionais. Vamos percorrer juntos essa trajetória! Capítulo 7 206 Teorias Administrativas e Organizacionais 7.2 Conhecendo a teoria 7.2.1 Contextualização da teoria organizacional Atualmente, temos ouvido falar muito em Administração e suas teorias. Também pudera, em tempos de globalização, instabilidade de ambientes e competição internacional, parece que administrar corretamente pode ser a causa do sucesso ou insucesso de organizações e das pessoas que nelas trabalham. As recentes transformações na ordem econômica mundial fazem com que o ambiente que envolve as organizações de qualquer segmento se torne cada vez mais turbulento. Essas mudanças, somadas aquelas passíveis de se anteverem no cenário brasileiro e internacional, representam um forte estímulo às organizações para se adaptarem à nova realidade de competição global (CASAROTTO FILHO; MACEDO; MITIDIERI, 2006). Segundo Casarotto Filho, Macedo e Mitidieri (2006), em época de mercados globalizados (a qualquer momento, pode aparecer um novo concorrente em qualquer lugar do planeta), com a evolução tecnológica (produtos substitutos e novos processos estão a nossa porta quase que diariamente) e a informação difundida (um desfile de moda em Milão, à noite já está em nossos noticiários de TV), as empresas se veem compelidas a realizarem mudanças rapidamente e de forma recorrente. Ouvimos, atualmente, pessoas falando em administrar suas casas, seus orçamentos ou mesmo suas vidas. Para tratar das teorias organizacionais, e para pensar a administração como “área de atuação humana”, podem ser úteis os seguintes conceitos: • ato de trabalhar com e por intermédio de outras pessoas para realizar os objetivos das organizações, bem como de seus membros (MONTANA; CHARNOV, 2003); • administração corresponde a capacitar as pessoas para trabalharem em conjunto, efetivando suas forças e minimizando suas fraquezas (DRUCKER, 2000); • administração é um conjunto de atividades dirigidas à utilização eficiente e eficaz dos recursos, no sentido de alcançar um ou mais objetivos ou metas organizacionais (SILVA, 2004). Capítulo 7 207Teorias Administrativas e Organizacionais Observe que os conceitos variam, principalmente, na ênfase que empregam, e você pode estar se perguntando: por que não existe um único conceito de administração? Quando estudamos matemática, por exemplo, nós compreendemos definições e dois mais dois sempre são quatro, pelo menos quando entendemos a soma. Ocorre que a administração, um misto de arte, ciência e exercício (ou práticas), faz parte das ciências sociais aplicadas, e estas têm espaço para adaptações, ênfases, diferentes linhas de pesquisa e nem sempre têm previsibilidade de resultados, como na matemática ou na física. Deste modo, trabalhamos com conceitos que são mais flexíveis que as definições. Observe que, em geral, nos conceitos mencionados, esperamos resultados da administração. Em um mundo de competição como o nosso, parece que os desafios aumentam, tornam-se mais difíceis e, talvez por este motivo, seja valorizada a capacidade de administrar. No atual cenário, ter noções de administração pode ser essencial para todo profissional. Mesmo que atualmente pareçam óbvias ou mesmo evidentes algumas noções da administração, devemos ter em mente que não foi sempre assim. Será que sempre existiram os princípios que adotamos para administrar nos dias atuais? Alguns são herdados de longa data, outros, porém, são muito recentes na história da humanidade. REFLEXÃO Vamos retomar a importância da Revolução Industrial, conforme vimos no capítulo 1, para pensar a Teoria organizacional. Embora há milhares de anos a humanidade venha evoluindo, foi na Inglaterra do século XVIII que houve uma “revolução” no modo como se produziam bens. Até então, a produção era artesanal, sendo o trabalho humano o principal ingrediente de transformação que se conhecia. Porém, com a invenção do tear mecânico e do motor a vapor, foi possível acelerar a produção de maneira nunca antes vista. Com o vapor e o trabalho das máquinas, foi possível reduzir custos, expandir mercados, o comércio e a indústria. Formou-se uma demanda por trabalhadores nas fábricas como nunca havia ocorrido na história conhecida. Capítulo 7 208 Teorias Administrativas e Organizacionais Devemos observar que, em sua maioria, os trabalhadores eram analfabetos, vindos do meio rural. Também pouco conheciam de máquinas, sua forma de operação ou mesmo as características do trabalho a ser desenvolvido nas fábricas. Os administradores passaram a ter cada vez mais trabalho e importância dentro das organizações! Podemos notar que a Revolução Industrial não ocorreu do dia para a noite, mas passou por diferentes fases, a saber: • 1760 – 1850: Inglaterra como fábrica do mundo; • 1850 – 1900: outros países passam a industrializar-se, dentre eles: Estados Unidos, Japão, França, Alemanha e Itália; cresce a concorrência! • 1900 até nossos dias: produção em série, informática, automação, mercados mundiais e avanço de novos setores como eletrônica: mecatrônica, estudo do genoma. Já se fala até mesmo em uma sociedade pós-industrial! A essa altura, parece que uma pergunta começa a ficar mais do que presente: Como fazer com que tudo isso funcione e apresente os resultados que podemos verificar em nossos dias? Foi um longo caminho, mas a mais longa das caminhadas começa com um único e primeiro passo! Vamos conhecer uma definição de Teoria organizacional. DEFINIÇÃODEFINIÇÃO