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Pedro Tarkov

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Universidade Federal de Santa Maria 
Centro de Ciências Sociais e Humanas 
Departamento de Economia e Relações Internacionais 
Curso de Relações Internacionais 
Disciplina de História da Política Externa Brasileira – ERI 1018 
 
Santa Maria, 6 de julho de 2018 
Prof. Ms. Junior Ivan Bourscheid 
AVALIAÇÃO 2 
9,0 
Instruções 
1. Colocar o nome no local indicado; 
2. Escrever a prova a caneta azul ou preta; 
3. Conferir se a prova possui duas questões; 
4. Evitar rasuras, erros de língua portuguesa. Poderão ser descontados pontos; 
5. Não é permitida qualquer forma de consulta durante a prova (aos colegas, à materiais de apoio ou ao 
professor). A interpretação das questões e sua análise de acordo com as ferramentas 
teórico-conceituais é parte do processo avaliativo; 
6. A avaliação totaliza 10,0 pontos, sendo 5,0 pontos para cada questão dissertativa; 
7. O tempo de duração da avaliação é de 3 horas (das 13:30 às 16:30), improrrogável e sem intervalos. 
QUESTÕES 
1. Considerando o multilateralismo como um dos principais legados do período da República 
Populista (1946-1964), como podemos diferenciar o multilateralismo da Operação 
Pan-americana do multilateralismo da Política Externa Independente? Utilize como elementos 
da análise: a relação com os Estados Unidos; o objetivo de ambas as formulações da Política 
Externa Brasileira; a apreciação do Sistema Internacional, suas características e como o Brasil 
deveria se inserir no mesmo; os princípios que regiam cada proposta. 
4,5 
A Operação Panamericana seria uma forma de aproximação mais íntima com os Estados Unidos, 
adicionando a América Latina nesse processo, criando desenvolvimento regional, com investimentos, 
tecnologia e mercado. Contudo, os interesses da política externa estadunidense não coincidiam com os dos 
países latino americanos, pois os mesmos estavam muito mais preocupados com questões de segurança 
global do que com as de desenvolvimento. 
Já no caso da Política Externa Independente, ela tinha como objetivo redirecionar o foco da política 
externa brasileira, saindo daquele eixo norte americano buscado até então para uma inserção internacional 
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mais ampla, buscando a universalização, multiplicando os contatos internacionais e a diminuição das 
possíveis pressões causada por uma hegemonia norte-americana sobre a mesma. 
O cenário internacional demonstrava a necessidade de uma rearticulação das relações devido à guerra 
fria, criando novos padrões de relacionamento. A tensão entre os países da Europa Oriental e Ocidental, 
devido a tal fato, era extremamente alta. Já na América Latina, os regimes autoritários começaram a perder 
força e surgiu uma onda de democratização, com um sentimento de animosidade para com os Estados 
Unidos. 
Com a OPA, o Estado brasileiro buscava sensibilizar os Estados Unidos para a subdesenvolvimento 
latino, para que houvesse um redirecionamento dos investimentos. A mesma propunha que a América Latina 
estava aberta ao capital estrangeiro, que houvesse uma facilitação e aumento do volume de investimentos 
por parte de entidades internacionais, e a diminuição cambial entre países desenvolvidos e 
subdesenvolvidos. 
A estratégia adotada foi a de tomar a ideia do pan-americanismo que era usada para legitimar e fazer 
a manutenção da hegemonia por parte dos Estados Unidos como um instrumento para facilitar e auxiliar a 
luta dos países latinos contra o subdesenvolvimento. 
No início dos anos 1960, a postura dos Estados Unidos se altera, devido especialmente à Revolução 
Cubana. Com isso, podemos entender a analisar como a OPA foi uma precursora para a Aliança para o 
Progresso, programa cooperativo destinado a acelerar o desenvolvimento econômico e social da América 
Latina, freando o socialismo no continente. 
Com a falha na tentativa da OPA, a PEI chega como uma alternativa para o Brasil, tendo em vista as 
inúmeras divergências entre os interesses norte-americanos e brasileiros. Buscava-se a formulação de uma 
política externa nacionalista, formada de dentro para fora. 
No texto, afirma-se que a PEI apresentava-se muito mais como um projeto político, de uma 
concepção intelectual, que buscava a mundialização das relações internacionais do Brasil, correspondendo 
ao alargamento de seus horizontes; a busca de ampliação dessas relações internacionais, com objetivos 
comerciais; ênfase na segregação norte-sul; a atuação isenta de compromissos ideológicos; o desejo do país 
de participar das decisões internacionais; e a adoção de princípios de autodeterminação dos povos e da 
não-intervenção. 
Comparar, em um parágrafo, o multilateralismo hemisférico da OPA com o multilateralismo 
universal da PEI. 
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2. Compare as quatro principais conformações da Política Externa Brasileira ao longo desse 
período: Política de Interdependência; Diplomacia da Prosperidade; o “Brasil potência”; e o 
Pragmatismo responsável. Parta da consideração de quatro variáveis para a comparação: a 
inserção internacional (como o Brasil propunha se inserir no Sistema Internacional); a relação 
com os Estados Unidos; a relação com a América Latina; e, como síntese dos demais, o objetivo 
de cada modelo de política externa, a motivação para a utilização das variáveis anteriores. Os 
conceitos centrais para essa análise são: alinhamento; universalismo; e pragmatismo. 
4,5 
 
A Política de Interdependência nasce com Castelo Branco, e se caracteriza inicialmente pela 
descontinuidade com o trabalho que vinha sendo feito por seus antecessores. Isso porque o mesmo 
acreditava que a Guerra Fria era o elemento central da história contemporânea. 
A ideia era de que deveria se criar condições para a expansão dos investimentos norte-americanos, para 
que houvesse desenvolvimento econômico nacional, ainda que houvesse meios para a absorção de partes da 
produção nacional. A segurança regional num contexto de Guerra Fria era um dos pontos mais importantes, 
e deveria se criar condições de desenvolvimento para a acomodação das populações. 
Com essa política, esperava-se que os Estados Unidos tomassem algumas providências. A primeira, a 
alteração nos termos das relações de intercâmbio, criando uma estrutura mais compensadora para o 
comércio brasileiro. A segunda, o recuo relativo das matrizes para garantir às filiais maiores fatias do 
mercado latino. E a terceira, a abertura do seu próprio país, absorvendo uma parte significativa da própria 
produção gerada no exterior. 
A posição de dependência em relação aos Estados Unidos se deu pela convergência ideológica entre o 
governo militar e a política externa americana; e a esperança de obtenção de dividendos econômicos pela 
sua contribuição na questão de manutenção da “segurança hemisférica”. 
Desenvolveu-se uma noção de círculos concêntricos de solidariedade, onde em primeiro alvo de 
interesse se encontrava a América Latina, logo após os Estados Unidos, a Comunidade Ocidental e, 
posteriormente, o continente africano. 
Como a política de interdependência conseguiu se transformar na realidade apenas em uma política de 
dependência, nasce a Diplomacia da Prosperidade, com o governo de Costa e Silva. A mesma baseava-se na 
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convicção de que o desenvolvimento seria uma responsabilidade nacional, e deve ser exercida 
principalmentepor meios internos, apesar de reconhecer o meio externo, tanto como comércio, como 
capitais e técnicas. 
Contata-se a não convergência dos interesses americanos com os interesses brasileiros, pois enquanto o 
primeiro busca a segurança internacional, o último busca seu próprio desenvolvimento. Além do mais, havia 
o crescimento de uma percepção de que os Estados Unidos estariam perdendo a sua posição de líder 
sistêmico ocidental. 
O discurso da Diplomacia da Prosperidade buscava reverter o até então alinhamento automático com os 
Estados Unidos, e sair a busca de novas alianças políticas e comerciais, para que fosse possível seguir rumo 
ao desenvolvimento interno do país. Tal diplomacia combateu os privilégios criados pela divisão 
internacional do trabalho, criticando os países industrializados. E a mesma desconheceu a bipolaridade 
Ocidente e Oriente, nem considerava fronteiras ideológicas. 
Retoma-se uma política de reaproximação com os países subdesenvolvidos, fazendo com que a ênfase 
Leste-Oeste virasse uma ênfase Norte-Sul, com um esforço anticolonial e anti-racista, sendo essa a base 
mínima para reforçar o conhecimento mútuo e tornar real a superação das estruturas internacionais 
desfavoráveis. 
Já no início dos anos 1970, passou a nascer um sistema muito mais complexo do que o do cenário da 
Guerra Fria, com considerações de poder muito mais diversificadas, com manobras político-diplomáticas 
para um grande número de Estados, alterando o sistema internacional. O Terceiro Mundo começou a ganhar 
importância e destaque frente a esse sistema. 
Obteve-se um maior espaço para os países subdesenvolvidos como o Brasil, jogando com as 
divergências acentuadas entre os países desenvolvidos. Devido a isso, houve uma maior aproximação do 
Estado brasileiro com a República Federal da Alemanha e com o Japão, por exemplo. Com essa 
internacionalização da economia mundial, o tema básico da política exterior brasileira é o da definição da 
estratégia de inserção do país no sistema internacional. 
Com Médici, o modelo econômico brasileiro, que era baseado num capitalismo associado com um 
regime totalitário, gerou o projeto de potência emergente, o qual buscou obter melhores condições para o 
desenvolvimento econômico e o acréscimo do poder brasileiro em nível internacional. Surge um 
reordenamento das posições relativas ocupadas pela grande empresa internacional, o setor público 
econômico e o capital não associado. 
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O discurso era de que o Brasil estava condenado à grandeza, devido a sua extensão territorial, massa 
demográfica, composição étnica, ordenamento social-econômico, e sua vontade de progresso e 
desenvolvimento. A política internacional do Brasil estaria então designada à neutralização de todos os 
fatores externos que possam contribuir para limitar o poder nacional. 
A diplomacia do interesse nacional foi a principal característica do projeto Brasil Potência de Médici em 
relação à Costa e Silva, aumentando o poder nacional todas as vezes que o cenário internacional e interno 
permitia, com desenvolvimento econômico e social, além da grande industrialização. 
Devido a tais políticas, aconteceu o chamado “milagre econômico”, onde a economia brasileira cresceu 
de maneira acelerada, com taxas anuais entre 1964 e 1974 de 11,3%. A indústria foi o setor que mais deteve 
influencia nessa elevação das taxas de crescimento. Contudo, apesar do crescimento, o consumo de petróleo 
e de bens de equipamento para abastecimento do mercado interno aumentou drasticamente, além do 
crescimento descontrolado da dívida externa. 
Porém, a dificuldade de acesso aos mercados internacionais e o aumento das medidas protecionistas dos 
países industrializados no momento em que o Brasil necessitava de um mercado consumidor para suas 
exportações, a saída encontrada foi a de aumentar a exportação de artigos mais compensadores, e além 
disso, achar novos mercados, os países do sul. É aí que nasce a ideia da cooperação Sul-Sul. 
A aproximação com os países do Sul não foi apenas econômica, mas também políticas, sobrepujando as 
fronteiras ideológicas. A maioria das ações desenvolveram-se no âmbito bilateral, e não representavam 
compromissos exclusivos para com a América Latina, pois também foram generalizadas para a África. 
A política externa de Médici, porém, retrata uma certa ambiguidade, por um lado o seu processo 
acelerado de desenvolvimento, e, por outro, a falta de um posicionamento mais assertivo no seu 
relacionamento externo. Apesar da aproximação com os países do Sul global, ainda havia uma procura por 
privilegiar a parceria com os Estados Unidos. 
Com o início do governo de Geisel, se dá o início do Pragmatismo Ecumênico e Responsável, criando-se 
as condições necessárias para que houvesse uma reversão do posicionamento brasileiro frente ao apoio a 
Portugal e às guerras de colonização. A vulnerabilidade do país nessa época estava grande devido ao 
endividamento externo e pelo alto consumo de petróleo. 
A política exterior de Geisel era pragmática pois procurava considerar a realidade internacional como ela 
se apresenta, e é responsável porque é ética, ou seja, de acordo com nossas tradições e o nosso modo de 
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viver. Esse pragmatismo não pode ser considerado nem como unicamente motivado por interesses 
comerciais, e nem unicamente por interesses políticos. 
Tenta-se redefinir suas relações com os Estados Unidos, além de diversificar seu envolvimento, seja com 
a Europa, seja com os países subdesenvolvidos, como os da América Latina e África. Acontece em um 
contexto multipolarizado e diversificado politicamente, concentrado e integrado economicamente. 
Esse pragmatismo propunha a defender os interesses nacionais, mas não mais como potência emergente, 
mas com a necessidade de manutenção do modelo de desenvolvimento econômico implantado. É marcado 
pelo esforço contínuo de implementar um projeto de inserção internacional de corte autonomista. 
Tal política teve como resultado básico a ampliação dos contatos internacionais brasileiros. O princípio 
básico da política externa independente de universalização (a multiplicação de parcerias), torna propícia a 
diminuição da pressão hegemônica por parte dos Estados Unidos. 
Lembrar da reafirmação dos princípios de não intervenção e autodeterminação pelo pragmatismo 
responsável.

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