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Guia Terapêutico de Dermatopatias Veterinárias I Laura Nunes Izabelle Pereira de Lacerda João Pedro de Andrade Araújo Aline Milca da Silva Ioná Brito de Jesus da Silva Júlia Piedade Terra Fabiane Zanchin Mirian Alexandrino V. Pais 2023 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO .................................................................................................................. 4 DERMATOPATIAS PARASITÁRIAS ...................................................................................... 5 1. Sarna Sarcóptica ......................................................................................................... 5 Sinais clínicos e diagnóstico ............................................................................................ 6 Tratamento ...................................................................................................................... 6 2. Sarna Notoédrica ......................................................................................................... 8 3. Sarna Otodécica .......................................................................................................... 9 4. Sarna Demodécica .................................................................................................... 12 Sinais e classificação clínica ......................................................................................... 13 Diagnostico e prognóstico ............................................................................................. 14 Tratamento .................................................................................................................... 15 DERMATOPATIAS SECUNDÁRIAS .................................................................................... 19 1. Piodermites ................................................................................................................ 19 Intertrigo –– sinais clínicos e tratamento ................................................................ 20 Impetigo e Dermatite úmida aguda (DUA) .............................................................. 21 Foliculite Furunculose ............................................................................................ 22 2. Malasseziose ............................................................................................................. 24 DERMATOPATIAS BACTERIANAS ..................................................................................... 27 1. Nocardiose ................................................................................................................ 27 Sinais clínicos................................................................................................................ 28 Diagnóstico e tratamento ............................................................................................... 28 2. Micobacteriose .......................................................................................................... 29 Sinais clínicos................................................................................................................ 29 Diagnóstico e tratamento ............................................................................................... 30 3. Actinomicose ............................................................................................................. 31 DERMATOPATIAS FÚNGICAS ........................................................................................... 33 1. Dermatofitose ............................................................................................................ 33 Dermatite Miliar Felina................................................................................................... 38 2. Esporotricose ............................................................................................................. 39 3. Criptococose .............................................................................................................. 40 ALOPECIAS EM CÃES E GATOS ....................................................................................... 46 1. Alopecia Cíclica Flanco .............................................................................................. 47 2. Alopecia por diluição da cor e displasia folicular dos pelos pretos ............................. 48 3. Alopecia Areata ......................................................................................................... 51 4. Displasia Epidérmica em West Highland White Terrier .............................................. 52 MEDICAMENTOS ................................................................................................................ 54 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 58 4 APRESENTAÇÃO Caro leitor, É com grande prazer que apresentamos o "Guia Terapêutico de Dermatopatias Veterinárias". Este material foi elaborado especialmente para estudantes e profissionais de medicina veterinária que buscam aprimorar seus conhecimentos na área de dermatologia animal. A pele é o maior órgão do corpo animal, e as dermatopatias estão entre as doenças mais comuns em cães, gatos e outros animais de companhia. O diagnóstico e tratamento adequados dessas condições são essenciais para o bem-estar dos animais e para a tranquilidade de seus proprietários. Esperamos que este guia terapêutico seja uma ferramenta útil em sua prática clínica e que contribua para o aprimoramento de seus conhecimentos em dermatologia veterinária. Boa leitura! 5 DERMATOPATIAS PARASITÁRIAS Sarna Sarcóptica Também conhecida por escabiose, é altamente contagiosa, intensamente pruriginosa e potencialmente zoonótica. É causada pelo. Sarcoptes scabiei, um ácaro sarcoptídeo que se aloja na epiderme, onde permanece em movimentação constante escavando túneis. A escabiose deve ser considerada como diagnóstico diferencial em qualquer cão com prurido intenso e não estacional, especialmente quando o prurido não para com a administração de prednisona na dose de 1,1 miligrama por quilo. Uma ferramenta eficaz para auxiliar no diagnóstico é a observação da resposta imediata ao tratamento. Um teste clínico que pode ser útil, embora não seja específico, é o reflexo auricular- podal. O teste consiste em estimular a borda da orelha do cão por fricção ou raspagem. O teste é positivo se houver resposta reflexa de coçar a região estimulada com a perna traseira. 6 Sinais clínicos e diagnóstico Como sinais da escabiose podemos citar: prurido intenso, pápulas eritematosas, hipotricose ou alopecia, escamas e, em casos de infecção bacteriana secundária, pústulas. Em casos crônicos, pode haver a liquenificação da pele, com hipertermia cutânea, emaciação, prostração, caquexia e linfonodomegalia satélite. Esses sinais clínicos podem levar o animal à desnutrição e perda de peso significativa. As distribuições iniciais das lesões tendem a ser nas margens das orelhas, cotovelos, esterno e tornozelos. A confirmação do diagnóstico necessita que algum estágio do ácaro ou suas fezes sejam observados nos raspados cutâneos. Devem- se procurar locais da pele que não foram escoriados, observando as pápulas avermelhadas com crostas amareladas na superfície. É importante coletar material dessas regiões e examiná-lo ao microscópio em busca de ácaros, ovos ou paletes fecais ovais, que ratificam o diagnóstico. No entanto, é importante destacar que este exame é eficiente para confirmar o diagnóstico em apenas 50% dos casos. Tratamento Opção tópica O tratamento consiste em banhar o animal com um xampu queratolítico para remover as crostas e, em seguida, aplicar um escabicida tópico em todo o corpo, de sete a quinze dias consecutivos, seguidode uma aplicação semanal até completar um mês. Na revisão após um mês, avalia-se se ainda há prurido e se o pelo já cresceu novamente. Se este for o caso, o animal é liberado. Caso não seja, são necessários mais sete dias consecutivos de tratamento e depois uma aplicação semanal por mais um mês. Se não houver prurido, mas o pelo 7 não estiver totalmente crescido, o tratamento é mantido com uma aplicação semanal por mais um mês. Opções orais A Ivermectina é utilizada como tratamento sistêmico. A dose é de 0,2 a 0,4 miligramas por quilo por dia, administrada de três a sete dia consecutivos, seguida de uma aplicação a cada três dias até completar um mês. Na manutenção, uma aplicação é feita uma vez por semana, totalizando dois meses de tratamento. Também é possível utilizar o Fipronil ou o Advocate, mas nunca associar os medicamentos, pois podem se potencializar. A dose recomendada é de 0,2 a 0,4 miligramas por quilo a cada sete dias. A apresentação comercial se dá como comprimidos palatáveis de uso veterinário sob os nomes, Mectimax 3mg ou 12mg e Ivomec 1%, sendo a via de administração deste último a subcutânea. Os ácaros devem ser erradicados e o tratamento deve ser iniciado imediatamente após o diagnóstico ser feito ou suspeitado. Amitraz: um preparado tópico espumoso, que deve ser aplicado semanalmente por quinze a quarenta e cinco dias, atua inibindo a monoamina oxidase (MAO). A tosa dos animais de pelo longo é recomendada antes da aplicação do produto. Moxidectina (Advocate)e Fipronil (Effipro): são opções para Border Collie e animais de pelo longo que não devem tomar muitos banhos, com três aplicações com intervalos de quinze dias, disponível para animais com peso de quatro a sessenta quilos. O uso de Frontline não se mostra eficaz para este tratamento. 8 Milbemicina Oxima: No Brasil, o uso de parazilquantel é comumente associado a Milbemicina Oxima, o que limita o seu uso prolongado devido a probabilidade de causar intoxicação. No entanto, em outros países é possível encontrar o medicamento sem essa associação. É importante considerar essas diferenças para garantir a segurança e eficácia do tratamento. Em canis com muitos animais, todos os cães em contato com o animal doente devem ser tratados, mesmo que não apresentem sinais clínicos. A dedetização do ambiente é indica, pois o parasita pode sobreviver no ambiente por até 21 dias. Tutores que apresentam lesões após o início do tratamento dos cães indicam tratamento inadequado, infestação disseminada no ambiente ou escabiose humana verdadeira, sendo essa uma zooantroponose. Sarna Notoédrica Escabiose felina ou sarna notoédrica é causada pelo ácaro Notoedres cati e assola principalmente gatos, embora possa ocasionalmente acometer cães. Sinais clínicos As lesões são crostosas e pruriginosas, geralmente localizadas na face e na borda da orelha, contudo podem afetar áreas como o pescoço, as patas e o períneo. Sinais clínicos incluem alopecia parcial, pápulas, escoriações, eritema e eczema. 9 Transmissão A transmissão da doença ocorre por meio de fômites – objetos ou superfícies contaminados, e por contato direto com indivíduos infectados. Diagnóstico É recomendado realizar um raspado na região abaixo das crostas. Caso três raspados consecutivos apresentem resultado negativo para sarna, é importante considerar o diagnóstico diferencial com o pênfigo foliáceo, uma doença imunomediada que também apresenta lesões crostosas na orelha. Tratamento Ivermectina: administrada pela via subcutânea na dose de 0,2 a 0,4 miligramas por quilo semanalmente, ou Fipronil: uma dose quinzenalmente por quarenta e cinco dias. Após a melhora, o banho com o uso de Cloresten é indicado para auxiliar na remoção de crostas. O uso de peróxido de benzoíla ou amitraz é contraindicado e o tratamento tópico deve ser utilizado com cautela devido ao risco de intoxicação em gatos devido a lambedura. Sarna Otodécica Sarna marcada por infestação da região dorsal e auricular de cães e gatos pelo espécime Otodectes cynotis, caracteriza-se por apresentar no canal auditivo cerúmen escuro, consistente e que exala odor semelhante a terra molhada. A terapia com acaricidas resulta na eliminação do agente etiológico. 10 Sinais clínicos O quadro clínico apresenta prurido de intensidade moderada, com potencial para induzir sangramento do pavilhão auricular e, consequentemente, gerar otohematoma em virtude do movimento brusco de balançar a cabeça. Além disso, observa-se hipotricose e alopecia na região, bem como escarificação decorrente do prurido contínuo. O ácaro, responsável pela patologia, pode se deslocar por todo o corpo do animal, levando-o a coçar o pescoço e outras áreas. A otite parasitária pode evoluir para o estágio misto. Diagnostico O diagnóstico requer a realização de exame direto para visualização do ácaro, bem como citologia para diferenciação de Malassezia, cocos ou bacilos, sendo indicado realizar cultura para confirmação diagnóstica. Tratamento Recomenda-se o uso de ceruminolíticos, como Dermogen Oto, Cerumin e Epiotic Spherulites, além de acaricidas, como Ivermectina, Advocate e Natalene. O tratamento da otopatia deve seguir a ordem de remoção do excesso de cera, eliminação do parasita e avaliação da presença de infecção secundária para tratá-la. De acordo com a literatura, a aplicação do ceruminolítico deve ser realizada duas vezes ao dia, durante sete dias consecutivos, antes do início do tratamento antiparasitário. No entanto, em situações urgentes, em que não é viável aguardar, é possível administrar o ceruminolítico pela manhã, aguardar duas horas e, em seguida, fornecer o antiparasitário. À noite, repete-se o mesmo protocolo. 11 Natalene É um medicamento que apresenta ação anti-inflamatória, antiparasitária, antifúngica e antibiótica por gentamicina. Sua utilização não é recomendada em casos que não apresente infecção secundária, visto que seu uso indevido pode contribuir para o desenvolvimento de resistência antimicrobiana. Posatex MSD É indicado para tratamento de otites externas agudas e nas exacerbações agudas de otite externa recorrente, associadas às bactérias sensíveis ao Orbifloxacino tais como Staphylococcus coagulase positivo, Streptococcus beta-hemolítico, Pseudomonas aeruginosa, Proteus mirabilis, Corynebacterium spp., e Enterococcus faecalis e fungos sensíveis ao posaconazol, em particular, à Malassezia pachydermatis. O canal do ouvido externo deve ser meticulosamente limpo e seco antes do tratamento. Pelos em excesso na área de tratamento devem ser cortados. A administração é tópica de dois gotas para cães com peso inferior a dois quilogramas, quatro gotas para pacientes com até quinze quilos, e oito gotas para animais com peso superior a este. O tratamento deve ser realizado uma vez ao dia durante sete dias consecutivos. Após a aplicação, indica-se massagear suavemente a base do ouvido para que o medicamento penetre na parte inferior do canal auditivo. O uso de Epiotic Spherulites também é indicado para o tratamento de otites com infecção secundária fúngica, pois sua ação acidificante do meio promove efeito terapêutico. 12 Sarna Demodécica A sarna demodécica, demodicose ou sarna negra como é conhecida, pode ser causada por diferentes espécies de ácaros Demodex, incluindo Demodex canis, Demodex injai e Demodex cornei. Estes são organismos saprófitas que podem se multiplicar e causar doenças em animais com baixa imunidade ou predisposição genética. O ciclo de vida desses ácaros é totalmente intradérmico, ocorrendo nos folículos pilosos e glândulas sebáceas do hospedeiro em um período de 20 a 35 dias. Durante as primeiras 16 horas de vida, o filhote pode ser infectado com o ácaro pela mãe durantea amamentação. Inicialmente o filhote não possui imunidade específica para combatê-lo, porém recebe imunidade passiva da mãe através do leite. Posteriormente os linfócitos do cão reconhecem proteínas presentes no ácaro, e produzem anticorpos contra este. Entre três e seis mês de idade, quando a imunidade passiva cessa, o animal conta com seu próprio sistema imunológico para se proteger. No entanto, em situações em que a imunidade do animal encontra-se comprometida, o ácaro pode não ser reconhecido e se multiplicar, levando à doença. 13 Animais com hipotireoidismo ou hiperadrenocorticismo frequentemente apresentam demodicose. Além disso, deficiências imune hereditária, causadas por genes recessivos, impedem o reconhecimento da proteína do ácaro, resultando em uma resposta imunológica insuficiente. A retirada da reprodução e a castração são recomendadas para animais afetados pela doença. Algumas raças possuem predisposição para a doença, são elas: Boxer, Bulldog inglês, Cocker Spaniel, Collie, Dálmata, Doberman, Shar Pei, Pit Bull Terrier, e West Highland White Terrier. Sinais e classificação clínica As lesões de demodicose em cães são frequentemente ovais, com alopecia e descamação, e normalmente não são pruriginosas no início. A região abdominal é menos afetada, o que pode ser atribuído à menor densidade de pelos nessa área. A demodicose pode ser classificada como localizada ou generalizada. Demodicose localizada Segundo a literatura, a demodicose localizada é uma condição caracterizada pela presença de até cinco lesões em um único animal. Essas lesões geralmente ocorrem na região da face, especialmente na área perioral e periocular. Embora a demodicose localizada não cause prurido, pode haver o surgimento de infecções secundárias que levam a coceira. Quando as lesões se apresentam restritas às patas, denomina- se pododemodicose. Surtos juvenis são comuns e autolimitantes. Possivelmente relacionados à janela imunológica, esses surtos podem se resolver 14 espontaneamente conforme o animal desenvolve resposta imune, o que leva à remissão dos sinais. Demodicose generalizada Se manifesta com mais de cinco lesões em um único animal, distribuídas em múltiplas áreas do corpo. Para animais na janela imunológica, a recomendação é observação, aguardando a evolução da doença, enquanto se suplementa a imunidade com vitaminas e vermifugação. Os sinais incluem máculas, pápulas, descamação, pústulas, crostas, alopecia, hipotricose, hiperqueratose, liquenificação, hiperpigmentação, escoriações, eritema, piodermite, foliculite e furunculose. O aumento da secreção sebácea pode induzir a formação de comedões e seborreia, os quais podem causar prurido. A forma generalizada com pioderma crônico pode levar à sepse e óbito. Diagnostico e prognóstico Estudos que utilizam técnicas de PCR demonstram que o ácaro Demodex é um comensal da pele. Em animais livres de demodicose, o ácaro é detectado apenas por histopatologia e não por raspado. Portanto, a presença de um só ácaro em raspados superficiais já é suficiente para confirmar a demodicose em animais. A subnutrição e o acometimento por outras enfermidades podem aumentar a predisposição à sarna, uma vez que comprometem o sistema imunológico. Essa conexão é evidente em filhotes errantes caquéticos, com helmintíase e lesões infecciosas da pele O prognóstico desses animais é reservado e depende da eliminação de doenças concomitantes. 15 No entanto, mesmo com uma boa alimentação, o prognóstico pode não ser favorável em doenças com suscetibilidade genética, como a demodicose. Filhotes que, apesar de bem cuidados, vacinados e vermifugados, desenvolvem demodicose são um exemplo disso. Nesses casos, é considerado o aspecto genético da doença, o que ratifica o prognóstico ruim. Tratamento Animais com predisposição genética, submetidos a tratamento por nove meses, podem apresentar controle do quadro clínico. No entanto, é possível ocorrer recidiva da condição durante o período de cio ou em presença de outras doenças concomitantes. O tratamento de alguns animais não pode ser interrompido. O tratamento com cortisona ocasiona o adelgaçamento da derme e a supressão da resposta imune, o que pode favorecer a colonização do ácaro e agravar o quadro dermatológico. É contraindicado o uso de amitraz por este ser cancerígeno e levar a intoxicação das feridas na pele. Existem alternativas menos agressivas à pele do que o Peroxydex (peróxido de benzoíla), tais como o Cloresten (clorexidina) e o Hexadene Spherulites. Ambos são agentes bactericidas e fungicidas eficazes contra infecções secundárias e possuem propriedades sebostáticas que reduzem a oleosidade da pele. Destes, o Hexadene Spherulites conta com princípios ativos encapsulados em microesferas. Desta forma, o produto permanece no pelame por até uma semana, permitindo um intervalo de tempo maior entre os banhos. 16 Os antiparasitários, Ivermectina, Moxidectina, Milbemicina, Fluralaner e Sarolaner, apresentam ação acaricida. Destes, o sarolaner é capaz de proteger por até cinco semanas,a milbemicina oxima, comumente utilizada na Europa, é segura para animais gestantes, e a moxidectina é mais concentrada no Cydectin do que no Advocate. Forma localizada Tratada apenas com xampu queratolítico não acaricida. Forma generalizada Deve ser tratada com o uso do agente acaricida associado com antibioticoterapia, em razão da piodermite, durante o período mínimo de 21 dias para piodermite superficial, e 6 a 8 semanas para piodermite profunda. Na escolha do antibiótico, é importante levar em conta a gravidade da condição clínica e a presença ou ausência de microbianos resistentes. Para isso, existe uma ordem de preferência que deve ser seguida. 1. Cefalexina: 20 a 30 mg/kg duas vezes ao dia por 21 dias. 2. Amoxicilina com clavulanato de potássio: 20 a 30 mg/kg BID por 21 dias. 3. Clindamicina: 5 a 10 mg/kg duas vezes ao dia por 21 dias. 4. Enrofloxacina: 2,5 mg/kg duas vezes ao dia ou 5 mg/kg uma vez ao dia. 5. Marbofloxacina: 2,75 mg/kg uma vez ao dia. Em casos de resistência. 6. Cefovecina: 8 mg/kg a cada 14 dias. 17 A enrofloxacina e a marbofloxacina são desaconselhadas para filhotes. A marbofloxacina é contraindica para filhotes de raças pequenas e médias até 8 meses de idade, para raças grandes até 12 meses, e para as gigantes até 18. Antiparasitários Ivermectina A dose diária recomendada é de 0,4 a 0,6 mg/kg, durante nove meses. Recomenda-se que a dose seja a cada dois dias com o objetivo de evitar a intoxicação, especialmente em animais obesos, nos quais a droga pode se depositar no tecido adiposo. Após a melhora clínica, o tratamento deve continuar em intervalos quinzenais. Quando três resultados negativos forem obtidos, o acaricida pode ser gradualmente descontinuado, reduzindo-se a frequência da administração até a conclusão do tratamento de nove meses. Se houver recidiva, o tratamento deve ser intensificado novamente. Além disso, a Ivermectina pode ser associada à Silimarina. Após nove meses de tratamento, se não houver recorrência, admite-se cura. Como alternativa à Ivermectina para manutenção após o tratamento, o Advocate pode ser administrado mensalmente. Todavia, o Advocate não é eficaz no tratamento da pododermatite. O Advocate está disponível em diferentes dosagens para cães de até 4kg, até 10kg, até 25kg e até 40kg. Moxidectina Por via oral, na dose de 0,05 ml/kg, a cada três dias, por nove meses, associada ao omeprazol, na dose de 0,7 a 1 mg/kg em jejum, uma vez ao dia, e a um gastroprotetor, devido ao seu potencial em causar gastrite. 18 Doramectina Indicada para administração em cães de focinhos longos com frequência semanal, utilizando uma dosagem calculada por alometria. É importanteobservar que a associação de medicamentos discorridos anteriormente não é recomendada, sendo necessário optar por apenas um deles. Uma nova abordagem terapêutica consiste na administração de NexGard mensalmente e de Bravecto ou Simparic a cada três meses, por nove meses. 19 DERMATOPATIAS SECUNDÁRIAS Piodermites A piodermite é uma infecção bacteriana causada por Staphylococcus pseudintermedius –– uma bactéria comensal da pele. Geralmente ocorre como uma condição secundária a diversas outras dermatopatias, e são raros os casos de piodermite idiopática. Entre todas as espécies domesticadas, os cães são os mais propensos a piodermite devido a características singulares da sua pele, como pH neutro, estrato córneo delgado, maior tamanho do óstio folicular e matriz extracelular pobre em lipídeos com propriedades antibacterianas. A piodermite caracteriza-se pela presença de pus, inflamação da pele e lesões que se manifestam em diferentes formas. As infecções geralmente envolvem os folículos pilosos da pele, e podem ser chamadas de foliculites bacterianas. Existem diversos tipos de piodermite, incluindo a piodermite de superfície, que é limitada ao estrato córneo da pele, e pode incluir condições como intertrigo (dermatite das dobras cutâneas) e dermatite piotraumática (dermatite úmida aguda), bem como algumas piodermites mucocutâneas. Sinais comuns observados nos diferentes tipos de piodermites incluem alopecia, aspecto eriçado do pelo, hiperpigmentação das lesões mais antigas e seborreia, o que pode causar prurido. Piodermite Superficial Compromete a epiderme e ou o infundíbulo folicular. Inclui o impetigo, foliculite superficial e algumas piodermites mucocutâneas. 20 • Intertrigo –– sinais clínicos e tratamento Também conhecida como piodermite das dobras cutâneas e piodermite de superfície, ocorre quando há inflamação ou infecção na pele devido ao atrito e à umidade em dobras cutâneas, causando irritação e desconforto no animal. Essa condição é mais comum em cães de raças com dobras da pele proeminentes (Shar Pei, Bulldog, Boxer), assim como pregas labiais, caudais e vulvares. Nas dobras, a pele fica quente e úmida, o que aumenta a proliferação de bactérias e a produção de oleosidade, tornando o local propenso à infecção. Há vermelhidão, inchaço, irritação e descamação da pele na região das dobras. Em casos graves, pode haver presença de lesões ulcerativas, pústulas ou crostas. A pele sensível e com prurido leva o animal a lambedura excessiva. Ainda, o odor fétido e o acúmulo de secreções nas dobras é característico nesta condição. O tratamento exige a limpeza diária da região, removendo a oleosidade presente na pele. Após, faz-se o uso tópico de clorexidina a 2% em gel, assim como talco. O uso tópico de polvilho antisséptico Granado é uma opção baixo-custo e eficaz. Em casos graves, é necessário usar álcool iodado antes da clorexidina. Condições severas requerem pomadas antibióticas sem corticoides, como Nebacetin. A cirurgia, que envolve a remoção do excesso de pele, é considerada o último recurso terapêutico, sendo indicado em casos de ineficácia do tratamento. 21 • Impetigo e Dermatite úmida aguda (DUA) O Impetigo é uma condição comum em filhotes de cães e gatos, marcada por uma piodermite superficial com a presença de pústulas não foliculares. Afeta áreas com pouco pelo, como abdômen, axilas e virilha, e pode espalhar. Possíveis causas incluem imunossupressão, estresse, subnutrição e infecções. O tratamento de Impetigo envolve principalmente cuidados de higiene e terapia tópica com soluções antissépticas, como a clorexidina a 2%. Em casos graves ou resistentes, necessita antibióticos tópicos ou orais, de acordo com a gravidade da infecção. É necessário tratar os fatores predisponentes. Dermatite Úmida Aguda é comum em cães de pelo longo e se progride rapidamente, em menos de 24 horas. É caracterizada por uma única lesão ulcerada, arredondada a oval, bem delimitada, dolorosa, pruriginosa, com exsudato seropurulento, e que são cercadas por um halo eritematoso. A pilosidade perilesional provoca oclusão da região, resultando em possível progressão da lesão ao longo do tempo. A DUA é 22 desencadeada por fatores como calor, umidade e irritantes químicos ou físicos no local, além de ocorrer frequentemente em casos de DAPP. A abordagem terapêutica em DUA consiste em identificar e tratar a causa base. O pelo ao redor da lesão deve ser tosado e a lesão limpa com soro fisiológico. Em seguida, podem ser usados corticoides e antibióticos sprays como Dermotrat, Terra Cortril e Neodexa. Em quadros clínicos graves, pode ser necessário uma dose diária de prednisona ou prednisolona a 0,5 mg/kg para animais acima de 15kg ou 1,0 mg/kg para animais abaixo de 15kg. A corticoterapia deve ser realizada por cinco dias e interrompida gradativamente. Piodermite Profunda Afeta todas as porções do folículo piloso, alcançando a derme. Inclui a foliculite, a furunculose e celulite e a dermatite piotraumática. Foliculite Furunculose Foliculite profunda é um quadro grave que pode alcançar até mesmo a hipoderme. Os animais acometidos apresentam febre e lesões exsudativas. É importante realizar um check-up completo, incluindo a avaliação da função renal e hepática, antes de iniciar o tratamento. A foliculite profunda pode evoluir para uma furunculose. Na furunculose ocorre a destruição completa do folículo piloso, resultando em secreção de pus e presença de células inflamatórias sob a pele. Diagnóstico É feito clinicamente, através da avaliação das lesões e da anamnese do animal, que pode incluir sinais de coceira intensa, no caso 23 de seborreia. A resposta ao tratamento também pode ser utilizada como critério diagnóstico. Em casos refratários à antibioticoterapia, a determinação do agente etiológico por meio de exame histológico pode ser indicada para orientar a terapia medicamentosa. Tratamento Consiste em antibioticoterapia sistêmica por um período mínimo de seis semanas, seguido de mais três semanas após a cura clínica, associado ao uso de corticoide na dose de 1,1 mg/kg uma vez ao dia, por cinco dias. Também é recomendado banho com Clorexidine para ajudar na higienização da pele. 1. Cefalexina: 20 a 30 mg/kg duas vezes ao dia por 21 dias. 2. Amoxicilina com clavulanato de potássio: 20 a 30 mg/kg BID por 21 dias. 3. Clindamicina: 5 a 10 mg/kg duas vezes ao dia por 21 dias. 4. Enrofloxacina: 2,5 mg/kg duas vezes ao dia ou 5 mg/kg uma vez ao dia. 5. Marbofloxacina: 2,75 mg/kg uma vez ao dia. Em casos de resistência. 6. Cefovecina: 8 mg/kg a cada 14 dias. 24 Malasseziose Malassezia é um grupo de leveduras oportunistas e comensais da pele, do meato acústico externo de cães e gatos, bem como do reto, dos sacos anais e da vagina. A colonização e o crescimento do microrganismo nesses locais podem estar associados à imunossupressão e a outros fatores predisponentes. Existem atualmente sete espécies no gênero Malassezia: M. pachydermatis, M. furfur, M. sympodialis, M. globosa, M. obtusa, M. restricta e M. slooffiae. Estes organismos usam lipídeos como fonte de carbono para fermentação, sendo denominadas de leveduras lipofílicas-dependentes. Sinais clínicos Os sinais clínicos da malasseziose em cães são prurido moderado a intenso, alopecia local ou generalizada, escoriações, eritema, seborreia, odor corporal desagradável, rançoso e seborreico, pele espessada e áspera. Além disso, em casos crônicos, podem ser observadas lesões com hiperpigmentação, liquenificação e hiperceratose, que podem ocorrer nos espaços interdigitais, parte ventral do pescoço, 25 axilas, região perineal e dobras cutâneas. Nas otopatias fúngicas, há um acúmulo de cerúmen com odor característico e coloração castanha.Em cães, a malasseziose é associada a duas condições clínicas: otite externa e dermatite. Diagnóstico e prognóstico O diagnóstico de Malasseziose em casos suspeitos de dermatite por Malassezia pode ser feito por meio do exame citológico. Observar-se células arredondadas ou ovais com leveduriformes, que geralmente são vistas em grupos ou aderidas aos queratinócitos. Além disso, o diagnóstico também pode ser feito por meio da histopatologia da pele e da cultura fúngica, que é inicialmente cultivada em Ágar Sabouraud dextrose contendo uma camada fina de óleo de oliva como fonte de ácidos graxos e cloranfenicol. O diagnóstico diferencial é amplo e envolve outras doenças que apresentam sinais semelhantes, como foliculite bacteriana, acne felina, piodermite mucocutânea e superficial, dermatofitose, demodicose, escabiose canina e felina, ectoparasitas, atopia canina, hipersensibilidade alimentar e otite externa. O prognóstico é bom quando a causa é identificada e corrigida, e a doença não é considerada contagiosa para outros animais ou humanos. No entanto, é importante realizar o tratamento adequado para evitar recidivas e complicações. 26 Tratamento Medleau e Hnilica (2003) enfatizam a importância de identificar e controlar a causa primária da infecção por Malassezia no tratamento. Casos leves podem ser tratados com o uso tópico de xampus contendo 2% de Cetoconazol 2% de Miconazol, 2-4% de Clorexidina ou 1% de Sulfeto de Selênio, em intervalos de 2 a 3 dias, o que é suficiente para manter o tratamento até que as lesões sejam curadas e não haja fungos no exame citológico. Já para casos moderados ou graves, é necessário associar a terapia com xampus a um tratamento sistêmico com drogas antifúngicas. O tratamento deve ser mantido até a cura das lesões e a ausência de fungos no exame citológico, que leva cerca de 2 a 4 semanas (COSTA; GÓRNIAK, 2006). O Itraconazol é um medicamento altamente lipofílico, o que significa que ele é facilmente absorvido após administração oral, especialmente se administrado junto com alimentos. A dose recomendada é de 5 a 10 mg/kg, com intervalos de 24 horas. A biodisponibilidade do medicamento aumenta de 40%, quando administrado em jejum, para 99,8%, quando administrado com refeição. Malasseziose felina Estudos relativos à frequência de detecção da levedura em felinos, são escassos. A malasseziose tegumentar em felinos é considerada uma doença rara e alguns autores afirmam que mesmo o isolamento ótico nesta espécie ocorre em menor número do que em cães. 27 DERMATOPATIAS BACTERIANAS Nocardiose A nocardiose é uma condição supurativa a piogranulomatosa, causada por agentes da família Nocardiaceae, a qual se compõe das seguintes espécies: Nocardia asteroides, N. farcinica, N. nova, N. brasiliensis, N. otitidiscaviarum e N. transvalensis. Os microrganismos deste gênero comportam-se habitualmente como saprófitas ambientais, vivendo no solo, na matéria orgânica em decomposição e na água, apesar dessa característica, esses microrganismos possuem a capacidade de manifestar mecanismos patogênicos e promovem enfermidades. A doença ocorre após penetração do agente na pele mediante a contaminação de feridas ou por inalação respiratória, causando as formas clínicas cutânea e respiratória, respectivamente. Em felinos a forma cutânea é mais comum (Edwards, 2006) e a imunocompetência do hospedeiro é importante para determinar o acesso e a disseminação da infecção. Acomete cães e gatos. 28 Sinais clínicos A nocardiose cutânea se manifesta inicialmente como nódulos que se desenvolvem até formarem abscessos crônicos localizados, com fístulas e úlceras necróticas que drenam uma secreção serossanguinolenta com aparência de “sopa de tomate” (GRACE, 2009; MEDLEAU; HNILICA, 2009). As lesões atingem os membros ou abdômen e a linfonodomegalia periférica é comum (MEDLEAU; HNILICA, 2009). Diagnóstico e tratamento O diagnóstico primário é realizado através do exame citológico a partir do exsudado da lesão corada pelo Gram, observando-se bactérias gram-positivas filamentosas, que se apresentam parcialmente ácido- resistentes (GRACE, 2009). O diagnóstico definitivo é feito por meio de cultura bacteriana em meio aeróbico ou enriquecido com dióxido de carbono. O tratamento da nocardiose consiste na drenagem e desbridamento cirúrgico das áreas acometidas seguida de antibioticoterapia sistêmica de longa duração (semanas a meses), mantendo a medicação durante, no mínimo, quatro semanas após a cura clínica completa (MEDLEAU; HNILICA, 2009). O antibiótico de primeira escolha é o sulfametoxazol-trimetoprima, seguido das cefalosporinas, 29 amicacina, ampicilina, imipenem, minociclina e linezolida (Nelson e Couto, 2006). No entanto, a escolha do antibiótico, quando possível, deve se basear em resultados de cultura e antibiograma (Medleau e Hnilica, 2009). Micobacteriose Micobactérias são microorganismos Gram-positivos que causam doença esporádica em humanos e animais (HILLIER; MUNDELL, 2008). No Brasil, o estado com maior casuística em pequenos animais é São Paulo, afetando cães com idade média de cinco anos e de pelame curto. Esta dermatopatia ocorre com frequência em cães das raças Boxer, Dobermann Pinscher e Staffordshire Terrier. Acomete cães e gatos. Embora as micobactérias sejam citoquimicamente Gram-positivas, um alto conteúdo de ácido micólico e de lipídios na sua parede celular previnem a entrada dos corantes empregados na técnica de coloração de Gram. Os lipídios da parede celular ligam-se à fucsina carbólica que não é removida pelo descorante álcool-ácido usado no método de coloração de Ziehl-Neelsen (ZN). Os bacilos que se coram de vermelho por este método, são ditos ácido- resistentes. Sinais clínicos As lesões se caracterizam por nódulos alopécicos, ulcerados, que envolvem derme e subcutâneo e aparecem na porção dorsal da pina, na face e nos membros anteriores, podendo ocorrer uni ou bilateralmente. Segundo Malik et al., a doença nos gatos é caracterizada por infecção da pele crônica e geralmente refratária. As lesões iniciam-se na região inguinal, podendo disseminar-se ao tecido subcutâneo da região 30 abdominal ventral e perinealmente constituindo-se em máculas purpúricas, nódulos ou gomas, fístulas drenantes e com crostas. Micobacteriose atípica: máculas purpúricas, nódulos ou gomas, fístulas drenantes e cobertas por crostas. Diagnóstico e tratamento Confirmação do diagnóstico ocorre através do exame citopatológico, onde observa-se macrófagos, linfócitos, plasmócitos e bacilos e o exame histopatológico com evidência de inflamação piogranulomatosa (Malik et al., 2006), sendo a coloração de Ziehl- Neelsen utilizada para pesquisa de bacilos álcool-ácido resistentes em macrófagos e granulomas. Para o tratamento pode ser utilizado a combinação de antibióticos, com o uso de claritromicina, doxiciclina e rifampicina. 31 Actinomicose A actinomicose é uma doença bacteriana, rara em cães e gatos, causada pelo Actinomyces spp. São microorganismos Gram- positivos, cocobacilos ou bacilos filamentosos, oportunistas, anaeróbios ou microaerófilos, catalase positivos, não ácido-resistentes e habitantes comensais da cavidade oral e intestinos. Os animais infectados podem apresentar sinais clínicos diferentes, dependendo da localização da infecção. Os cães com actinomicose podem apresentar abscessos subcutâneos, piotórax, peritonite, artrite séptica e/ou osteomielite. As lesões subcutâneas são piogranulomatosas e podem conter grânulos amarelados (“grânulos de enxofre”), que na verdade, são colônias desses microorganismos. A infecção subcutânea geralmente ocorre após feridas penetrantes e podem levar de meses a dois anos para apresentar sinais clínicos. 3233 DERMATOPATIAS FÚNGICAS Dermatofitose As micoses são classificadas clinicamente em diferentes tipos, dependendo do grau de envolvimento do tecido e do local de instalação do agente infeccioso no hospedeiro. Existem as sistêmicas, subcutâneas e superficiais. As micoses sistêmicas afetam a pele, subcutâneo, órgãos ou músculos e incluem doenças como coccidiomicose, blastomicose, histoplasmose, esporotricose e criptococose. Já as micoses subcutâneas são causadas por fungos demáceos e também podem incluir a esporotricose e a criptococose. Superficiais estritas: As micoses superficiais estritas possuem a característica de acometerem a camada mais superficial do extrato córneo de humanos e animais, não induzindo nenhuma resposta inflamatória no hospedeiro. Dentre as micoses superficiais, a malasseziose tem sido relatada em animais domésticos causando dermatomicoses e otites. 34 Superficiais: As dermatofitoses são micoses superficiais das células queratinizadas do estrato córneo, unhas e pelo, causadas por dermatófitos –– fungos dos gêneros Microsporum, Trichophyton ou Epidermophyton, sendo os principais, o Microsporum canis, Microsporum gypseum e Trichophyton mentagrophytes. Esses seres pertencem ao grupo dos fungos filamentosos, hialinos, septados, queratinofílicos, sensíveis à griseofulvina, capazes de colonizar e causar lesões no extrato córneo do homem e animais. Por serem ricas em queratina, as regiões da pele, pelos e unhas são frequentemente acometidas por dermatófitos. A instalação do processo infeccioso primário clássico está relacionada ao fato de os dermatófitos produzirem enzimas queratolíticas e lipase, cuja ação favorece entrada e instalação da micose na pele e pelos Pode acometer animais de todas as idades, sexo e raça, mas os idosos, jovens e imunossuprimidos são os mais acometidos, assim como gatos da raça persa e Yorkshire Terrier. Comum em gatos e mais raro em cães. Podem ser carreadores assintomáticos, 8% dos cães e até 90% dos gatos. Eles não desenvolvem a doença, mas ajuda a disseminá-la. Comum em gatos persas e em cães Yorkshire. Dermatofitose não é pruriginoso a não ser que tenha uma infecção secundária. Quérion é reação alérgica à presença do dermatófito na pele principalmente dos cães e infecção bacteriana abaixo da infecção fúngica, ocasionando as lesões chamadas Quérion Dermatofítico, que são placas circunscritas, em relevo, úmidas e pruriginosas. 35 O Micetoma ou Pseudomicetoma Dermatofítico é a formação de um nódulo pelo fungo, sendo comum nos gatos persas. Transmissão: Os dermatófitos podem ser transmitidos diretamente pelo contato com o hospedeiro infectado, por fômites contaminados, ou por exposição a ambientes contaminados com hifas ou a partir de células da pele descamadas. Fatores predisponente Animais jovens, imunossuprimidos, hiperadrenocorticismo, neoplasia, estresse da lactação, infestação por pulga ou carrapato. Sinais clínicos A Dermatofitose é uma infecção fúngica que causa círculos de alopecia, descamação e lesões clássicas de anel. O fungo cresce de forma circulante, causando alopecia e descamação da epiderme e do tecido queratinizado, o que pode levar à formação de crostas, pápulas e pústulas. Embora a infecção seja geralmente pouco pruriginosa, ocorre prurido em algumas infecções secundárias. Os folículos pilosos são infestados, resultando em queda de cabelo. A infecção é limitada pelo sistema imunológico, que tenta isolar a área afetada e evitar que o fungo se torne sistêmico. A cura é geralmente indicada pela regeneração do pelo no centro da lesão de anel. Em gatos, há caspa, pelos sem brilho e desorganizados, hiperqueratose folicular, dermatite miliar e comedões. Os gatos adultos geralmente não apresentam lesões, mas se houver, é possível pensar em FIV, FELV ou imunossupressão. 36 Diagnóstico Pode ser feito a tricografia, mas o exame ouro de diagnóstico é a cultura fúngica que pode ser utilizada junto da lâmpada de Wood para coleta de material e a biópsia histopatológica. Na cultura fúngica a colônia dos microsporuns são algodonosas e esbranquiçadas, leva 30 dias em média para o crescimento total em Sabouraud, ele cresce em 30 °C a 35 °C. Tricograma: Retira-se uma porção de pelo da região próxima a injúria e analisa no microscópio, com a amostra banhada a hidróxido de potássio (KOH) a 10% descolorindo o pelo e demonstrando hifas e conídios dentro do folículo piloso. Tratamento O tratamento da Dermatofitose em cães pode ser complicado, pois a infecção pode contaminar o ambiente e as pessoas que convivem com o animal. O tratamento deve envolver o animal, a casa e os contatos do animal. A terapia antifúngica deve ser uma combinação de tratamento tópico e sistêmico, com duração mínima de dois meses. Se duas culturas consecutivas derem negativo, o tratamento pode ser interrompido. Caso contrário, o tratamento deve ser continuado e pode ser um sinal de que o animal está se reinfectando, é resistente à droga ou o proprietário não está administrando o medicamento corretamente. Deve-se tratar o ambiente, pois o fungo permanece no ambiente por 18 a 24 meses. No que se refere ao corte de pelos ao redor, pode-se utilizar xampu contendo clorexidina de 3% a 4% (Hexadene Spherulites ou Cloresten), ou enxofre durante o banho, aguardando 15 minutos e enxaguando. O uso de cremes, loções ou pomadas não é recomendado, pois o animal pode lamber o produto. 37 Quanto ao tratamento sistêmico, a griseofulvina é o medicamento de escolha para Dermatofitose, embora a dose necessária para cães seja muito alta. Sempre que prescrever um antifúngico, deve- se associá-lo a protetores hepáticos, como a silimarina. O cetoconazol é menos recomendado, pois a dose necessária para matar o fungo é muito próxima da dose que causa intoxicação neurológica. O itraconazol é a droga de eleição no tratamento da Dermatofitose, pois é mais segura e eficaz. O tratamento com terramicina e fluconazol não é tão eficaz. No que diz respeito ao tratamento do ambiente, pode-se utilizar hipoclorito de sódio, lisoforme ou econazol/glindafarm. É importante desinfetar a casa diariamente com água sanitária diluída em uma proporção de 1ml para 10L ou lisoforme 1ml para 10L. Além disso, deve- se destruir camas, tapetes, escovas e pentes, e aspirar e limpar o filtro do ar-condicionado semanalmente. Se o aspirador de pó for utilizado, deve- se trocar o filtro toda vez que a casa for aspirada. O objetivo é eliminar o fungo do ambiente. O tratamento da casa deve ser mantido até que duas culturas consecutivas negativas sejam obtidas. É importante perguntar ao proprietário se ele possui lesões cutâneas. 38 Dermatite Miliar Felina Diagnóstico diferencial –– dermatite miliar felina: DAPP, foliculite bacteriana, dermatofitose, escabiose, atópica, alimentar e cheyletiose. CAUSA LOCAIS ACOMETIDOS DIAGNÓSTICO TRATAMENTO PROGNÓSTICO DAPP Região lombo- sacra; partes distais do tronco; disseminado Controle de pulgas Glicocorticóides, anti-histamínicos, controle de pulgas Bom Dermatite atópica Regiões cervical e cefálica Exclusão de demais alergias; histórico e exame físico; testes intra-dérmicos Glicocorticóides, anti-histamínicos, imunoterapia, ácidos graxos essenciais Bom, mas exige tratamento vitalício Alergia alimentar Regiões cefálica e cervical; disseminado Dieta de eliminação Glicocorticóides, anti-histamínicos, ácidos graxos Bom Escabiose Orelhas, regiões cervical e cefálica; região caudal Exame parastitológico de raspado cutâneo Anti-parasitários Bom Cheyletielose Região dorsal do tronco Exame parastitológico de escamas Anti-parasitários Bom Dermatofitose Focais ou disseminadas Tricograma; cultivo micológico de pelame; luz de Wood Anti-fúngicos Reservadoem animais de gatis e gatos Persa. Bom nos demais casos Foliculite bacteriana Pescoço e cabeça Citologia e biópsia Anti-bacterianos Bom 39 Esporotricose A esporotricose é uma micose de implantação causada pelo complexo Sporothrix Schenckii. É um fungo geofílico, que está presente em solo, matéria orgânica e ambientes como cascas de árvores, palhas, madeiras e roseiras. Possui crescimento em clima subtropical e temperado. É considerada uma zoonose, tendo como principal fonte de contaminação os felinos, que está relacionado com a grande quantidade de elementos fúngicos presentes nas garras, cavidade oral e lesões, por este motivo estes animais se tornam mais importantes na transmissão da doença em relação aos outros animais. Antigamente pertenciam ao grupo de risco principalmente aqueles que tinham contato direto com espinhos, a terra, talos de plantas e palhas contaminadas. Hoje em dia o grupo de risco é composto pelos médicos veterinários, tosadores, acadêmicos, enfermeiros veterinários, pois estes têm maior contato com o animal infectado. A transmissão pode ocorrer através de mordedura, arranhões ou contato com secreções de lesões de animais acometidos. Sinais clínicos Os felinos podem sofrer de lesões cutâneas, cutanealinfática e generalizada As regiões de membros, cabeça e base da cauda são as que mais desenvolvem as lesões. Inicialmente tem aspecto nodular que podem ulcerar formando as crostas com exsudato purulento. Diagnóstico O diagnóstico deve estar relacionado com os hábitos de vida do paciente, as características das lesões e através dos exames citológicos, 40 onde podem ser encontrados as leveduras, a cultura fúngica e exame histopatológico. Tratamento O tratamento preconizado para felinos inclui os grupos dos azólicos e triazóis como o itraconazol, para os animais que desenvolverem efeitos colaterais o iodeto pode ser uma opção, mas deve ser observado devido o iodismo. O Itraconazol deve ser usada na dose 20-30mg/kg SID. Após a cura clínica fazer mais 30 dias. Iodeto de potássio: 2,5mg/kg SID Criptococose Os fungos são causadores de grande parte destas afecções. O fungo do gênero Cryptococcus é mais comumente observado em felinos do que em cães, causando a doença chamada criptococose. Esta doença está intimamente ligada à imunidade do hospedeiro. A criptococose é uma infecção fúngica, sistêmica, cosmopolita, que pode acometer seres humanos, animais silvestres e mamíferos domésticos, principalmente o cão e o gato, sendo também conhecida como torulose ou blastomicose europeia. A doença pode afetar o trato respiratório, sistema nervoso central, olhos e pele. A doença no gato geralmente aparece de forma localizada, sendo que em caninos e humanos a doença tem apresentação generalizada. Não existe transmissão direta de animais para o homem. A doença se caracteriza como uma micose sistêmica e apresenta diversas formas, dentre elas a respiratória, tegumentar e 41 nervosa, o que faz derivar inúmeros sinais e sinais clínicos. As lesões mais características desta doença nos gatos são lesões granulomatosas localizadas na cavidade nasal, também chamadas popularmente como “nariz de palhaço”. Os pássaros raramente desenvolvem criptococose clínica, pois sua alta temperatura corporal inibe a replicação do fungo. Transmissão A infecção é adquirida a partir de inalação de microrganismos originários do solo ou, geralmente nas áreas urbanas, de inalação dos microrganismos encontrados nas excretas dos pombos. As leveduras e/ou basidiósporos do fungo são inalados pelos felinos e atingem preferencialmente o trato respiratório superior (SHERDING, 2008), onde as grandes partículas são aprisionadas e as menores podem atingir os alvéolos pulmonares. A principal porta de entrada das leveduras e basidiósporos do Cryptococcus neoformans nos gatos é o trato respiratório, mas há também a inoculação cutânea direta. A partir de sua entrada, o fungo pode disseminar-se para diversos órgãos, acometendo todo o organismo. 42 O organismo provavelmente se dissemina para sítios extrapulmonares via hematógena. O sistema nervoso central também pode estar infectado por extensão direta através da placa cribriforme da cavidade nasal. A disseminação da infecção e a apresentação do quadro clínico estão intimamente relacionadas ao grau de imunidade do hospedeiro (HONSHO et al., 2003; LAPPIN, 2006). Estados de má nutrição ou tratamentos com corticoides também são fatores de maior susceptibilidade. Sinais clínicos A doença se caracteriza como uma micose sistêmica e apresenta diversas formas, dentre elas a respiratória, tegumentar e nervosa, se caracterizando por uma diversidade de sinais clínicos (PETRAGLIA, 2008). A forma ocular também pode estar presente em alguns casos. A doença no gato geralmente aparece de forma localizada em comparação com caninos e humanos em que a doença é generalizada. O motivo para essa diferença é que os 14 seios nasais dos gatos possuem uma filtragem mais eficiente de pequenas partículas. Segundo Sherding (1998) e Kerl (2003), a infecção por Cryptococcus em felinos tem predileção pela cavidade nasal, onde os microrganismos aerógenos depositam-se inicialmente, sendo responsáveis pela rinite e sinusite granulomatosas crônicas observadas em pelo menos 50% dos gatos com a doença. 43 A criptococose pode apresentar lesões oronasais com presença de crostas, úlceras, espirros, descarga nasal, ruídos respiratórios ou massas subcutâneas. O corrimento nasal ocorre de forma variável. Outros apresentam a formação de massas firmes ou pólipos no tecido subcutâneo, principalmente sobre a região nasal, (citado anteriormente) conferindo um aspecto característico de “nariz de palhaço” Os linfonodos submandibulares podem aumentar. Linfadenopatia mandibular é detectada na maioria dos felinos com rinite (HAWKINS, 2004). Lesões pulmonares usualmente não resultam em sinais clínicos, embora possam ser detectadas através de radiografias torácicas, tomografias ou necropsia. Sinais neurológicos Com relação ao comprometimento orgânico, o sistema nervoso central e os olhos são os mais severamente afetados (QUEIROZ et al., 2008). Nota-se o envolvimento do sistema nervoso central em aproximadamente 25% dos gatos afetados e comumente resultam de disseminação hematógena. Foram descritas lesões no cérebro e medula espinhal causando meningoencefalite ou mielite granulomatosa respectivamente. 44 Quando o sistema nervoso central é afetado, os sinais geralmente são crônicos e podem incluir convulsões, cegueira e alterações comportamentais. Sinais cutâneos A infecção da pele e tecido subcutâneo é considerada como uma manifestação de doença disseminada (GRACE, 2009). A forma cutânea ocorre principalmente no pescoço e cabeça e consistem em nódulos múltiplos, firmes, indolores, de crescimento rápido que tendem a ulcerar e drenar exsudato serossanguinolenta. Sinais oculares Segundo Queiroz et al., (2008), a síndrome ocular inclui achados de uveíte anterior, coriorretinite granulomatosa, hemorragia de retina, edema papilar, neurite óptica, midríase, fotofobia, blefarospasmo, opacidade de córnea, edema inflamatório da íris e/ou hifema, e cegueira. Em cães Em cães, a localização mais comum da criptococose é no sistema nervoso central, olhos e linfonodos, mas podem ocorrer casos de lesão cutânea sem envolvimento ocular e neurológico. A forma nasal, assim como a pulmonar, é pouco frequente em cães. Alguns cães podem apresentar febre e menos comumente claudicação, devido à lise óssea provocada por este patógeno e linfoadenopatia periférica A transmissão ocorre pela inalação do microrganismo em poeira contaminada, havendo infecção inicial no trato respiratório e, em seguida, disseminação por viahematógena ou por contiguidade para o sistema 45 nervoso central. A imunossupressão causada por drogas (glicocorticoides, quimioterápicos), vírus (da leucemia e da imunodeficiência felina) e doenças debilitantes como neoplasias e insuficiências orgânicas predispõem a infecção ou pode determinar maior gravidade ou pior prognóstico. Tratamento Administração de uma dose diária 10 mg/kg. 46 ALOPECIAS EM CÃES E GATOS A alopecia, considerada uma lesão primária ou secundária, pode ser definida como uma perda de pelo variando de parcial a total. São inúmeras as causas de alopecia e praticamente todas as dermatoses podem ter uma componente alopécica. Os pelos são estruturas delgadas e queratinizadas que se desenvolvem a partir de uma invaginação da epiderme designado por folículo piloso (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008), que durante a fase de crescimento ativo do pelo apresenta uma dilatação no seu extremo inferior denominado de bulbo piloso. Está recoberto por células germinais em proliferação ativa (raiz do pelo) que são as responsáveis pela formação do pelo. Anatomicamente o folículo piloso divide-se em 3 segmentos: porção superior ou infundíbulo, a porção média ou istmo e porção inferior. O pelo é uma estrutura que tem como principal função o isolamento térmico, a recepção sensorial e barreira protetora contra agentes químicos, físicos e microbianos. Está dividido em três camadas: cutícula, a camada mais externa constituída por queratina, córtex, a camada intermédia que possui células alongadas queratinizadas e por último, a camada interna designada de medula, constituída por células agrupadas densamente perto da raiz do pelo. O crescimento do pelo dá-se de forma cíclica, mas descontínua. Cada ciclo consta de uma fase de crescimento denominada de anágena, durante a qual os folículos apresentam uma intensa atividade mitótica, uma fase de repouso ou telógena, durante a qual o pelo está retido no folículo até que se desprende quando começa o crescimento de um 47 novo pelo, e uma fase de transição Cartagena, na qual a proliferação celular cessa (ARRIBAS; LANDERAS, 1998). Na maioria dos cães, o ciclo de crescimento do pelo caracteriza- se por ter um ciclo predominantemente telogênico no qual a duração da fase anágena é curta, ficando o pelo em fase telogênico ou de repouso, durante a maioria do seu ciclo (ETTINGER; FELDEMAN, 2010). Contudo Scott et al. (2001), afirmam que a duração relativa das fases do ciclo varia com a idade do animal, a região do corpo, a raça e o sexo e pode ser modificada por uma variedade de fatores fisiológicos e patológicos. Alopecia Cíclica Flanco Perda de pelame (alopecia) na região lateral do flanco e no tórax, simétrica ou não, de natureza cíclica e redicivante (ocorre predominantemente na primavera e no verão), que acomete preferencialmente cães da raça Airedale Terrier, Bulldog inglês e Boxer. Em alguns animais ocorre a volta total da pelagem ou parcial após a época, em alguns animais não ocorre a volta do crescimento. É muito confundida com o hipotireoidismo. Porém, essa enfermidade é apenas estética. 48 Sinais clínicos Alopecia focal em região lateral do flanco, bilateral ou não, podendo estar acompanhada por descamação e foliculite, hiperpigmentação pode estar presente. Prurido só ocorre se houver piodermite secundária. Tratamento Melatonina 3 a 6 mg/kg a cada 8-12h por até dois meses. O tratamento é experimental. Alopecia por diluição da cor e displasia folicular dos pelos pretos As displasias foliculares ligadas à cor da pelagem, também descritas como displasias cutâneas neuroectodermais congênitas, são histopatologicamente e geneticamente semelhantes e tratam-se, provavelmente, da mesma doença, porém com apresentações clínicas distintas em cães: difusa na Alopecia por Diluição da Cor (ADC) e localizada na Displasia Folicular dos Pelos Pretos (DFPP). Estas displasias são caracterizadas por aglomerados de melanina nos pelos, acúmulo de melanossomas de estágio IV nos melanócitos e insuficiente transferência de melanina para os queratinócitos adjacentes, muito similar à Síndrome de Griscelli em humanos. Os pelos que apresentam acúmulo muito irregular de melanina são mais sensíveis a fraturas, inclusive dentro do folículo piloso. Nos cães as lesões são caracterizadas por alopecia, escamação, pelos ressequidos, quebradiços e opacos, diferentemente do que ocorre em humanos, nos quais a síndrome é restrita à pele, e não se observa alopecia ou pelos displásicos. 49 A ADC, também conhecida como Alopecia do Mutante da Cor afeta cães com coloração de pelos considerada “diluída”, uma vez que possuem sombreados de cinza e preto, caracterizando as cores “azuis”, “cinzas”, “castanhas” e “vermelhas”. A frequência da doença é variável conforme as raças, porém no Dobermann azul é de 93%. A DFPP afeta cães que apresentam pelagem com mais de uma cor, além da preta, e é confinada às áreas negras da cobertura pilosa. Sinais A sintomatologia de ambas as doenças é muito semelhante, embora se observe que na DFPP, além das alterações serem restritas às áreas de cobertura pilosas pretas (apesar de que algumas áreas negras se mantenham inalteradas) os sinais clínicos iniciam mais cedo, por volta de quatros semanas de idade, enquanto na ADC, entre quatro até doze meses, e, mais raramente, até três anos de idade. Nota-se inicialmente hipotricose progressiva que conduz à alopecia extensa nas zonas de cores diluídas ou pretas. Na ADC a área mais afetada é o tronco, podendo tardiamente e afetar também cabeça e membros, enquanto na DFPP as regiões mais afetadas são a cabeça, pina, pescoço e tronco. Em ambas, os pelos, da cobertura pilosa afetada, apresentam-se opacos, fraturados, retorcidos e desprendem-se facilmente ao menor toque. A pele pode se apresentar com excessiva descamação e frequentemente se observa foliculite bacteriana secundária, que pode provocar prurido. 50 Diagnóstico O diagnóstico é embasado na anamnese, sinais clínicos cutâneos, exame tricográfico e histopatologia. No exame tricográfico dos pêlos das áreas afetadas observam- se lesões típicas, que são aglomerados de melanina de forma irregular na região cortical e medular, associados às deformações do pêlo (displasias) e a cutícula pode estar ausente ou fraturada. Estas alterações são mais acentuadas na DFPP. O exame histopatológico da biópsia cutânea, coletada de áreas afetadas, revela algumas características peculiares, porém podem ser semelhantes a algumas dermatoses endócrinas e, às vezes, difíceis de diferenciar da pele normal de cães de cor diluída ou preta. As lesões histopatológicas caracterizam-se por hiperacantose de intensidade variável, hiperqueratose ortoqueratósica epidérmica moderada e folicular importante, diversos graus de displasia folicular, predominância de folículos pilososos inativos em fase telogênica, atrofia folicular e distribuição de melanócitos epidérmicos repletos de melanina. Grandes quantidades de melanina são observadas no epitélio folicular, matriz, córtex e medula pilar. Observam-se também melanófagos peribulbares e perifoliculares. As hastes dos pêlos apresentam-se fraturadas com aglomeração de melanina livre. 51 Tratamento Ainda não existe tratamento específico para estas dermatopatias. Para o controle das alterações da queratinização preconiza-se a utilização de shampoos ceratomoduladores, antissépticos e emolientes. Ácidos graxos essenciais devem ser prescritos durante toda a vida, para manter a qualidade do filme lipídico da pele e terapia antimicrobiana nos casos de pioderma secundário. Melatonina, na dose de 3 a 6 mg/animal, tem sido preconizada com sucesso de reposição parcial dos pêlos em aproximadamente 50% dos casos, embora o seu modo de ação seja ainda desconhecidoObservações: Clínicas diferentes, é provável que tenham a mesma etiologia, embora ela ainda não ter sido totalmente elucidada. Estudos recentes levantaram a hipótese de que, tanto a ADC como a DFPP, originam-se de um defeito ectodérmico, muito provavelmente ligado ao gene que codifica a melatonina (MLPH). Embora que essa teoria seja a mais aceita até o presente momento, mais estudos devem ser realizados visando a elucidação definitiva da etiopatogenia. Ainda não foi descrito tratamento específico que comprove a cura Alopecia Areata É uma dermatopatia pouco frequente que acomete principalmente os cães da raça Teckel e se caracteriza por perda do pelame, estando a pele hígida (sem qualquer sinal de inflamação), ocasionada provavelmente por um ataque imunológico aos folículos pilosos. 52 Sinais clínicos principais Alopecia focal ou disseminada, porém, mais frequente na cabeça e pescoço, em áreas bem delimitadas, leucotríquia. Displasia Epidérmica em West Highland White Terrier Na Dermatologia Veterinária, o termo "displasia epidérmica" se refere a um desenvolvimento anormal dos queratinócitos da epiderme, acompanhado de hipersensibilidade exagerada à levedura Malassezia sp, microrganismos sapróbios da pele de cães e gatos. Acredita-se que este defeito na renovação epidérmica e na resposta exacerbada à Malassezia possa ter origem genética e hereditária, determinada por uma herança recessiva autossômica ainda não identificada. No entanto, alguns pesquisadores observaram que cães com diagnóstico de displasia epidérmica apresentaram melhora após tratamento com xampus desengordurastes e antifúngicos, bem como antifúngico e antibiótico orais. Isso sugere que a displasia epidérmica pode ser uma reação inflamatória de hipersensibilidade cutânea a antígenos da Malassezia sp, ou ainda resultado de um excessivo auto traumatismo, e não um distúrbio congênito de queratinização. 53 Os sinais clínicos da displasia epidérmica incluem pele oleosa (seborreia), descamação, perda de pelo (alopecia) e prurido intenso à medida em que a infecção fúngica se instala. A pele pode ficar espessa (hiperqueratótica), escura (hiperpigmentada) e com odor desagradável em casos crônicos. O quadro começa por volta dos 6 aos 12 meses de idade, inicialmente na região facial (cefálica), abdominal e das extremidades dos membros, se espalhando por todo o corpo. Normalmente, vem acompanhado de excessiva produção de cerume em orelhas (meatos acústicos), prurido ótico e piodermite secundária. O diagnóstico é realizado através do exame histopatológico de biópsia cutânea, associado aos sinais clínicos e lesões observados. O prognóstico desta afecção é reservado, uma vez que os casos crônicos respondem pobremente à terapia, sendo necessária a manutenção perpétua de medicamentos que aliviem os sinais clínicos, uma vez que não há cura definitiva. 54 MEDICAMENTOS 55 56 57 Shampoos, loções, hidratantes 58 REFERÊNCIAS ASTER, J.C. Diseases of white blood cells, lymph nodes, spleen and thymus. In: ROBBINS; COTRAN. Pathologic basis of disease. Philadelphia: Elsevier Saunders, 2005. p. 678-681 BICHARD, J. Clínica de pequenos animais, 1998. CANGUL, I.T. et al. Clinic pathological aspects of canine cutaneous and mucocutaneous plasmacytomas. J. Vet. Med., p. 307-312, 2002 CERÓN, J. J.; ECKERSALL, P. D.; MARTÍNEZ-SUBIELA, S. 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