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HPP e Assistência ao parto CASO CLÍNICO: A.P.M, mulher de 28 anos, grávida de 39 semanas, chega à maternidade com o início do trabalho de parto, apresentando contrações regulares a cada 5 minutos. Ela está ansiosa, mas bem informada sobre o processo. A.P.M já participou de aulas sobre a fisiologia do parto e leu bastante sobre as fases do trabalho de parto e a regulação hormonal. O exame clínico revela que o colo do útero está dilatado em 4 centímetros. Ela sabia que estava entrando na fase inicial do trabalho de parto, conhecida como fase latente. As contrações iriam se intensificar e se tornar mais frequentes à medida que o trabalho de parto progredisse. Ao Exame Físico: ● Estado Geral: Boa, orientada, consciente, corada. ● Sinais Vitais: PA: 120/80 mmHg, FC: 85 bpm, FR: 18 rpm, Temp: 36,8°C. ● Abdome: Presença de contrações uterinas palpáveis, útero normotônico entre as contrações, altura uterina de 36 cm, apresentação cefálica. ● Especular: Colo do útero com dilatação de 4 cm, 80% de apagamento, bolsa rota. ● Ausculta Fetal: Batimentos cardíacos fetais regulares, 140 bpm. Exames Laboratoriais: Hemograma: ● Hemoglobina: 11,5 g/dL (VR: 12-16 g/dL) - ● Hematócrito: 35% (VR: 36-46%) ● Leucócitos: 4.000-11.000/mm³) ● Plaquetas: 150.000-450.000/mm³) Sorologia (teste rápido): ● Hepatite B: negativo ● HIV: negativo ● VDRL: negativo 9.500/mm³ 200.000/mm³ (VR: (VR: Glicemia de Jejum: 85 mg/dL (VR: 70-99 mg/dL) Perfil Hormonal: ● TSH: 2,1 mUI/L (VR: 0,4-4,0 mUI/L) ● T4 Livre: 1,3 ng/dL (VR: 0,7-1,8 ng/dL) ● Progesterona: 24000 ng/dL (VR: 19100 – 26000 ng/dL) Conforme as horas passavam, as contrações de A.P.M tornaram-se mais intensas e dolorosas. Ela entrou na fase ativa do trabalho de parto. O colo do útero dilata 7 centímetros. A.P.M respira fundo, seguindo as orientações que havia aprendido. Ao seu lado, seu parceiro a apoiava, ajudando-a a se manter relaxada. Finalmente, chegou a fase de transição, que é a mais intensa e desafiadora. O colo do útero dilata-se completamente, e A.P.M sentiu uma pressão intensa e uma grande irritação. Durante todo esse processo, a régua hormonal da paciente estava em plena ação. Após um esforço coletivo, A.P.M ouviu o primeiro choro de seu filho. Uma onda de emoção a envolveu. O bebê foi colocado em seu peito, e todos os hormônios que circulavam por seu corpo agora estavam em harmonia. 🎯OBJETIVOS: 1.Hemorragia Pós-Parto: Conceitualização, Epidemiologia, Causas principais e os 4T’s; 2.Tipos de Hemorragia Pós-Parto e quadro clínico/Prognóstico; 3.Conhecer os fatores de risco da HPP; 4.Elucidar o diagnóstico da HPP; 5.Tratamentos e protocolos da HPP; 6.Assistência ao parto no SUS - Rede Cegonha; 🎯OBJETIVO 1 → HEMORRAGIA PÓS-PARTO: CONCEITUALIZAÇÃO, EPIDEMIOLOGIA, CAUSAS PRINCIPAIS E OS 4T’S; → CONCEITUALIZAÇÃO: Hemorragia pós-parto (HPP) é definida como a perda sanguínea acima de 500 mL após parto vaginal ou acima de 1.000 mL após parto cesárea, em 24 horas, ou qualquer perda de sangue pelo trato genital capaz de causar instabilidade hemodinâmica. Durante a HPP os níveis de fibrinogênio caem e este desempenha um papel muito importante na hemostasia durante a hemorragia. Perdas sanguíneas superiores a 500 mL após partos vaginais também podem ser consideradas anormais, especialmente em populações mais vulneráveis. A incidência de HPP é variável e estimada entre 1% e 10% dos partos. Atualmente, é a principal causa de morte materna e de histerectomia periparto no mundo, determinando cerca de 80.000 mortes anuais. Essas mortes, na maior parte, são consideradas evitáveis e ocorrem em países de baixa e média renda. As principais etiologias de hemorragia pós-parto são a atonia uterina, o trauma do canal de parto, a retenção uterina de material ovular e os distúrbios de coagulação. Além da elevada mortalidade, um número expressivo de pacientes que sobrevivem a um quadro de HPP grave evolui com sequelas físicas e/ou emocionais. Portanto, é essencial que todas as instituições e profissionais que prestam assistência ao parto estejam devidamente preparados para prevenir, diagnosticar e tratar um quadro de HPP. A estratificação de risco para hemorragia pós- parto otimiza o planejamento da assistência e propicia a adoção precoce das medidas preventivas e terapêuticas. → EPIDEMIOLOGIA: É a principal causa de morte materna evitável no mundo, responsável por 25–30% dos óbitos maternos. No Brasil, ocorre em cerca de 5–10% dos partos, e representa até 25% das mortes maternas (Ministério da Saúde, 2022). Fatores associados ao óbito: atraso no diagnóstico, demora no acesso ao sangue e ausência de protocolos. A hemorragia pós-parto (HPP) é uma das principais causas de morbimortalidade materna no mundo. HPP é responsável por 150 mil mortes por ano em todo o mundo, o que corresponde a aproximadamente uma morte a cada quatro minutos e a 25% do total de óbitos maternos mundiais. A maioria dessas mortes ocorre em países em desenvolvimento e poderia ser evitada por medidas de complexidade variável. No Brasil, HPP é a segunda causa de morte materna e é uma importante causa de morbidade materna no mundo. Representa uma causa importante de morbidade em médio e longo prazos nas mulheres sobreviventes. → CAUSAS PRINCIPAIS → OS 4T’S (OMS/OPAS, FEBRASGO, MS). O MNEMÔNICO DOS 4TS DESCREVE DIDATICAMENTE AS PRINCIPAIS CAUSAS DA HPP: 1.Tônus (70%): atonia uterina — útero incapaz de contrair após o parto. 2.Trauma (20%): lacerações de canal de parto, hematomas, rotura ou inversão uterina. 3.Tecido (10%): retenção de restos placentários ou acretismo. 4.Trombina (1%): coagulopatias congênitas ou adquiridas (ex.: CIVD). Correlação com o caso (M.L.S.): a paciente apresentou HPP primária por atonia uterina (Tônus), a principal causa mundial. 🎯OBJETIVO 2. TIPOS DE HPP, QUADROS CLÍNICOS E PROGNÓSTICO: 1.HPP Primária (Precoce): até 24h após o parto. Mais comum (85–90% dos casos). O prognóstico: depende da rapidez do atendimento. Risco elevado de complicações como choque e síndrome de Sheehan (necrose da hipófise) se não controlada rapidamente. Causas comuns: Atonia uterina (principal causa): O útero não se contrai adequadamente para fechar as veias que levam sangue à placenta, resultando em sangramento abundante. Quadro clínico: Sangramento vaginal excessivo. Sinais e sintomas de choque hipovolémico: Pulso rápido (taquicardia). Queda da pressão arterial (hipotensão). Palidez. Suor frio (sudorese). HPP Maciça: é uma hemorragia primária, são caracterizadas por sangramentos superiores a 2.000 mL/24 h ou que necessitam de transfusão mínima de 1.200 mL (4 unidades de concentrado de hemácias), ou resultam na queda de hemoglobina igual ou superior a 4 g/dL, ou, ainda, que sejam capazes de provocar distúrbios de coagulação. Prognóstico reservado, com risco de CIVD, choque e óbito. 2. HPP Secundária (ou tardia): após 24h e até 6 a 12 semanas pós-parto. Frequentemente causada por infecção puerperal ou retenção de restos. Pico de incidência manifesta-se nas primeiras duas semanas do nascimento. O Prognóstico: é melhor, mas pode evoluir com anemia e necessidade de curetagem. Pode levar a uma expansão do desvio arteriovenoso materno, resultando em vascularização acentuada ou até malformação arteriovenosa. Causas comuns: Retenção de tecido placentário: Partes da placenta permanecem no útero, impedindo-o de contrair-se. Infecções (endometrite): Uma infecção no útero pode causar sangramento. Outras causas: Podem incluir distúrbios de coagulação (trombina), complicações com o útero ou canal de parto. Quadro clínico: Sangramento vaginal mais intenso ou prolongado. Sinais de infecção, como febre, podem estar presentes. Correlação com o caso: M.L.S. teve HPP primária logo após o parto, com repercussão clínica importante (hipotensão e taquicardia). O diagnóstico precoce foi decisivo para o prognóstico favorável. Sintomas em Geral: Em ambos os casos (primária ou secundária), qualquer perda sanguínea vaginal que cause instabilidade hemodinâmica (diminuição da pressãoarterial ou aumento da frequência cardíaca) deve ser considerada grave e exige avaliação médica imediata. 🎯OBJETIVO 3. CONHECER OS FATORES DE RISCO DA HPP: A estratificação de risco para HPP é feita por meio de uma avaliação detalhada da paciente em cada consulta de pré-natal, identificando fatores que podem levar ao sangramento, como: Anteparto: gemelaridade, polidrâmnio, placenta prévia/acreta, multiparidade, hipertensão, anemia, idade materna avançada. Intraparto: trabalho de parto prolongado, indução, parto instrumentado, lacerações graves, DPP, cesárea anterior. Puerpério: infecções, distúrbios de coagulação, falha no manejo ativo do 3º período. No caso: M.L.S.: paciente apresentava anemia leve no pré-natal, fator que aumenta a gravidade da perda sanguínea. → FATORES DE RISCO ASSOCIADOS AOS 4T’S: 1.Tônus (atonia uterina): Multiparidade, gestação múltipla, polidrâmnio, uso de ocitocina prolongada, trabalho de parto prolongado. 2.Trauma: Parto instrumental (fórceps, vácuo), cesariana, lacerações cervicais ou vaginais, rotura uterina em cesárea prévia. 3.Tecido: Placenta prévia, acretismo (a placenta se fixa de forma anormal e profunda na parede do útero, não sendo capaz de se desprender após o parto), retenção placentária, descolamento prematuro de placenta. 4.Trombina: Distúrbios hipertensivos (pré - eclâmpsia, HELLP), CIVD, uso de anticoagulantes. → FATORES DE RISCO PARA HPP IDENTIFICÁVEIS NO PRÉ-NATAL: Anemia materna: reduz a reserva fisiológica para perdas sanguíneas. Multiparidade: maior chance de atonia uterina. Cesárea prévia: risco aumentado de acretismo placentário. Distúrbios hipertensivos: risco de DPP (Descolamento Prematuro da Placenta), coagulopatias. No caso clínico (M.L.S.), o pré-natal detectou anemia leve, que se correlaciona diretamente com a gravidade da instabilidade hemodinâmica quando ocorreu a HPP. https://www.google.com/search?client=safari&sca_esv=b9a65900b830afa2&channel=iphone_bm&cs=0&sxsrf=AE3TifMXJ1XY1JwyYVSXFSTZ6XB8b9xnyQ%3A1758763108249&q=Reten%C3%A7%C3%A3o+de+tecido+placent%C3%A1rio&sa=X&ved=2ahUKEwjinKGS3_KPAxVOO7kGHYbbLUYQxccNegQISRAB&mstk=AUtExfDcPpf2QcORs2DrFdoYDrSVT6pmstjBBXt7myqQyFF6RjWxUlnyY3ENnaf57qejeirqkReK79waQZ20VztzxiblCilwgX3LSf0g2O1VlMbyoC94GJvyBurEo06a0oVLT2V4vJ5LYVt12O7Je1iy3y1P5pS7oqqJC7gM82c0c1h0-pQ&csui=3 https://www.google.com/search?client=safari&sca_esv=b9a65900b830afa2&channel=iphone_bm&cs=0&sxsrf=AE3TifMXJ1XY1JwyYVSXFSTZ6XB8b9xnyQ%3A1758763108249&q=Infec%C3%A7%C3%B5es&sa=X&ved=2ahUKEwjinKGS3_KPAxVOO7kGHYbbLUYQxccNegQITxAB&mstk=AUtExfDcPpf2QcORs2DrFdoYDrSVT6pmstjBBXt7myqQyFF6RjWxUlnyY3ENnaf57qejeirqkReK79waQZ20VztzxiblCilwgX3LSf0g2O1VlMbyoC94GJvyBurEo06a0oVLT2V4vJ5LYVt12O7Je1iy3y1P5pS7oqqJC7gM82c0c1h0-pQ&csui=3 https://www.google.com/search?client=safari&sca_esv=b9a65900b830afa2&channel=iphone_bm&cs=0&sxsrf=AE3TifMXJ1XY1JwyYVSXFSTZ6XB8b9xnyQ%3A1758763108249&q=endometrite&sa=X&ved=2ahUKEwjinKGS3_KPAxVOO7kGHYbbLUYQxccNegQITxAC&mstk=AUtExfDcPpf2QcORs2DrFdoYDrSVT6pmstjBBXt7myqQyFF6RjWxUlnyY3ENnaf57qejeirqkReK79waQZ20VztzxiblCilwgX3LSf0g2O1VlMbyoC94GJvyBurEo06a0oVLT2V4vJ5LYVt12O7Je1iy3y1P5pS7oqqJC7gM82c0c1h0-pQ&csui=3 → A maioria dos quadros de HPP ocorre em pacientes sem fatores de risco evidentes, contudo pacientes de risco apresentam quadros hemorrágicos que tendem a ser mais graves e ameaçadores. Sua realização oportuniza medidas de cuidado que podem prevenir um desfecho materno desfavorável. Os fatores de risco podem variar de acordo com a população. Recomenda-se sua realização contínua durante todo o processo de cuidado. → CLASSIFICAÇÃO DOS NÍVEIS DE RISCO: Baixo Risco: Gestantes com ausência de fatores de risco que necessitam de acompanhamento padrão pela APS, com consultas intercaladas entre médico e enfermeiro. Médio Risco: Gestantes que apresentam alguns fatores de risco que requerem maior vigilância e cuidado, mas sem a necessidade de encaminhamento imediato para serviço especializado. O acompanhamento é compartilhado entre a APS e o Ambulatório de Atenção Especializada (AAE). Alto Risco: Gestantes com um ou mais fatores de risco importantes (clínicos e/ou evitáveis), que demandam intervenções de maior complexidade. Essas pacientes devem ser encaminhadas a serviços de referência e receber um cuidado mais intensivo para a prevenção e manejo da HPP. → QUAIS SÃO AS MEDIDAS PREVENTIVAS NA HPP? (PREVENIR OS FATORES DE RISCO): A magnitude da morbimortalidade da HPP revela a importância da sua prevenção e da identificação dos seus fatores de risco. Dentre os vários fatores de risco, destacam-se a anemia e as síndromes hipertensivas. A estratificação de risco é uma estratégia útil para a redução da morte materna por HPP. As principais medidas preventivas para HPP são a administração de ocitocina e o manejo ativo do terceiro período do trabalho de parto. O esquema de ocitocina profilática mais preconizado é a administração intramuscular de 10 unidades de ocitocina imediatamente após o nascimento. Na vigência de cesariana, uma alternativa é a profilaxia endovenosa pela “regra dos três”, em que três unidades de ocitocina são infundidas lentamente (≥30 segundos), podendo ser repetidas a intervalos de três minutos, até a terceira dose. Esse esquema envolve infusão endovenosa de manutenção (15 unidades em 500 mL de soro fisiológico a 0,9% a 100 mL/hora). Nos casos em que a ocitocina não é efetiva para se obter contração uterina, deve-se administrar, em sequência, a metilergometrina ou o misoprostol, desde que não existam contraindicações. Ressalta-se que a ocitocina exige refrigeração e proteção da luz para garantir a qualidade das suas propriedades farmacológicas. A ocitocina tem sido recomendada como a medicação de primeira linha na prevenção da HPP. https://www.google.com/search?client=safari&sca_esv=0de90ea3502d1ebd&channel=iphone_bm&cs=0&sxsrf=AE3TifPmBcwu6WVWsWcTwupTg-cpmyLGeA%3A1759878093104&q=M%C3%A9dio+Risco&sa=X&ved=2ahUKEwjW8ZHkmJOQAxUorZUCHReOEigQxccNegQILxAB&mstk=AUtExfBTYGx4ecfsxxTl2eYOL7uAakvXxm0EhaZ2n4Spao7OUzkhBHyLOfE7TlARk8N35DLBP4RLSqzNCsaOCm4OEW4BxDo2dm5cd4E5gVRaxPMPgJmkfzD93xSlLxiW3pTiPK2Q-Os5l2R_14er__0MZWrYK3rxItb6-Wp8j_YC7L-TENI&csui=3 https://www.google.com/search?client=safari&sca_esv=0de90ea3502d1ebd&channel=iphone_bm&cs=0&sxsrf=AE3TifPmBcwu6WVWsWcTwupTg-cpmyLGeA%3A1759878093104&q=Alto+Risco&sa=X&ved=2ahUKEwjW8ZHkmJOQAxUorZUCHReOEigQxccNegQIKxAB&mstk=AUtExfBTYGx4ecfsxxTl2eYOL7uAakvXxm0EhaZ2n4Spao7OUzkhBHyLOfE7TlARk8N35DLBP4RLSqzNCsaOCm4OEW4BxDo2dm5cd4E5gVRaxPMPgJmkfzD93xSlLxiW3pTiPK2Q-Os5l2R_14er__0MZWrYK3rxItb6-Wp8j_YC7L-TENI&csui=3 Entretanto, o uso de outros uterotônicos, tais como a carbetocina, os derivados do ergot e o misoprostol, se encontra indicado em situações especiais, principalmente quando a ocitocina não está disponível para prevenção ou não é possível garantir a sua qualidade por problemas relacionados ao seu armazenamento. A carbetocina é um medicamento análogo sintético da ocitocina, de longa duração, que pode ser utilizado na dose de 100 µg (1 ampola), intramuscular ou intravenosa, após o parto. Trata- se de um uterotônico efetivo e que apresenta as vantagens de ser termoestável, ter efeito uterotônico mais duradouro e ter perfil de segurança semelhante ao da ocitocina. A carbetocina não está indicada no tratamento da HPP e sua principal limitação é o custo. Recomenda-se o uso da metilergometrina, na dose de 0,2 mg (1 ampola), intramuscular, desde que não estejam presentes contraindicações (hipertensão). O uso combinado da metilergometrina com a ocitocina também é possível, na intenção de reduzir sangramentos superiores a 500 mL. Observar contraindicação e efeitos colaterais. O misoprostol é um análogo sintético da prostaglandina E1, que também pode ser utilizado na prevenção da HPP. Seu uso isolado está previsto apenas em cenários de falta da ocitocina ou quando não é possível garantir a sua refrigeração. A dose preconizada é de 600 a 800 µg pela via retal, uma vez que a formulação oral ainda não se encontra disponível no país. Também pode ter seu usocombinado à ocitocina, intencionando reduzir sangramentos superiores a 500 mL, porém exigindo também alerta para o aumento dos efeitos colaterais. Com relação ao papel do ácido tranexâmico na prevenção da HPP, o seu benefício em reduzir a perda sanguínea e as hemotransfusões têm motivado a realização de revisões, metanálises e ensaios clínicos randomizados. O manejo ativo do terceiro período do trabalho de parto inclui o clampeamento oportuno (entre um e três minutos) e a tração controlada do cordão umbilical (manobra de Brandt Andrews). O contato pele a pele (por duas horas ou mais) e a vigilância/massagem uterina nas primeiras duas horas após a dequitação, apesar de não reduzirem a taxa de HPP, estão recomendados como estratégias de vigilância e diagnóstico precoce da HPP e otimização da experiência com o parto. Outras medidas preventivas de HPP incluem o uso racional de ocitocina no trabalho de parto, o uso seletivo da episiotomia e a proscrição rigorosa da manobra de Kristeller. TODAS as gestantes ou puérperas admitidas nos hospitais, com quadro de sangramento vaginal importante e/ou sinais de instabilidade hemodinâmica, devem ser imediatamente encaminhadas para o atendimento de emergência e consideradas como parte do grupo de Alto Risco para choque hipovolêmico. Tais pacientes devem ser monitorizadas rigorosamente e abordadas de forma agressiva com o intuito de controlar o foco sangrante o mais rápido possível! Toda gestante com cesárea(s) anterior(es) deve realizar ultrassonografia para determinar a localização placentária. Caso a placenta seja prévia ou implantada no segmento uterino, estão indicados a investigação dos sinais ultrassonográficos de acretismo placentário e o encaminhamento para serviço de referência para a continuidade do cuidado. Diante da suspeita de invasão parametrial e nas placentas prévias posteriores, a ressonância nuclear magnética ou a ultrassonografia tridimensional podem contribuir para a investigação. O parto dessas gestantes deve ocorrer em serviço terciário. A principal medida preventiva da hemorragia pós-parto é a administração intramuscular de 10 unidades de ocitocina imediatamente após o nascimento, associada ao manejo ativo do terceiro período, realizado por profissional treinado. A ocitocina exige refrigeração para garantia da sua qualidade. Nos locais onde a ocitocina não estiver disponível ou quando sua qualidade não estiver garantida, está recomendado o uso de outros uterotônicos na profilaxia, a citar: a carbetocina, a metilergometrina (excluir na hipertensão) ou o misoprostol. O uso rotineiro do ácido tranexâmico para profilaxia da hemorragia após partos vaginais ou cesarianas não está recomendado. O monitoramento do tônus uterino (gentil massagem) após o parto está recomendado como estratégia de identificação precoce dos quadros de atonia uterina. → O QUE É A HORA DE OURO NA HPP? O controle precoce do sítio de sangramento é a estratégia mais eficaz para prevenir o choque hipovolêmico. Nesse contexto, tem se introduzido o termo “hora de ouro em obstetrícia”, o qual se refere a uma estratégia de controle do sítio hemorrágico dentro da primeira hora a partir do seu diagnóstico. Vale ressaltar que sangramentos maciços podem exigir um controle ainda mais precoce, no intuito de evitar complicações maternas graves. Por meio da abordagem precoce, agressiva, eficiente, organizada e sem atrasos, é possível evitar a tríade letal do choque hemorrágico (hipotermia, acidose e coagulopatia). Para isso, é essencial que a hora de ouro esteja vinculada a um protocolo de resposta para a HPP adequado e sistematizado. 🎯OBJETIVO 4. ELUCIDAR O DIAGNÓSTICO DA HEMORRAGIA PÓS-PARTO: Quando se diagnostica um quadro de HPP, toda a equipe assistencial deve conhecer os passos do tratamento de acordo com as causas e estar apta a instituí-los. Definir a etiologia hemorrágica e estimar a gravidade do quadro são passos essenciais no cuidado. Se acompanhadas de fatores de risco, as perdas sanguíneas superiores a 500 mL após partos vaginais podem ser consideradas anormais. Perdas acima de 1.000 mL podem ser classificadas como HPP grave e as superiores a 2.000 mL, como hemorragia maciça, habitualmente acompanhadas de queda da hemoglobina ≥ 4 g/dL, coagulopatia e necessidade de transfusão maciça. Os decréscimos dos níveis hematimétricos (hemoglobina, hematócrito) são tardios e não refletem, de imediato, as perdas sanguíneas. São representativos da perda sanguínea somente cerca de quatro horas após o início da hemorragia, sendo, assim, de uso limitado na abordagem da HPP aguda e grave. Além disso, a hipervolemia gestacional retarda a manifestação dos primeiros sinais de choque hipovolêmico, principalmente entre as gestantes hígidas. Nessas, as alterações hemodinâmicas ocorrem somente após perdas superiores a 20%-30% da volemia (1.500 a 2.000 mL). Sendo assim, diante da evidência clínica de perda sanguínea acima do habitual, é necessário que não ocorram atrasos na instituição do tratamento. → CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS: Clínico: sangramento excessivo + sinais de instabilidade hemodinâmica (taquicardia, hipotensão, palidez, oligúria, alteração do nível de consciência). Quantitativo: pesagem de compressas, coletores graduados, estimativa visual (pode subestimar em até 50%). Índice de Choque (IC = FC/PAS) → IC = Frequência Cardíaca (FC) / Pressão Arterial Sistólica (PAS): IC ≥0,9 prediz gravidade e necessidade de transfusão maciça. Exames complementares: hemograma, coagulograma, fibrinogênio, gasometria, lactato. Correlação com o caso: M.L.S. apresentou sinais clínicos precoces (FC 118 bpm, PA 90/60, útero flácido, sangramento volumoso) — diagnóstico imediato de HPP primária por atonia uterina. IC = 13,11) → IMPORTÂNCIA DO RECONHECIMENTO PRECOCE: A mortalidade materna por HPP é elevada principalmente por atrasos no diagnóstico e tratamento. A OMS/OPAS reforça a “hora de ouro”: a 1ª hora após o início da hemorragia é decisiva para a sobrevivência. O reconhecimento precoce requer equipe treinada, protocolos padronizados e vigilância intensiva no 4º período do parto (1ª hora pós-parto). → SINAIS CLÍNICOS INICIAIS: Os primeiros sinais geralmente não são laboratoriais, mas clínicos e vitais: Sangramento vaginal excessivo (>500 mL ou perda visível rápida). Sinais de hipoperfusão: Taquicardia (>100 bpm). Hipotensão (PAS 1000 mL, hipotensão significativa, sinais de choque. → DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL (CORRELACIONADO AOS 4TS): Durante a avaliação, deve-se diferenciar a causa: Atonia uterina (mais comum): útero flácido, aumento de volume, sangramento difuso. Retenção de tecido placentário: placenta incompleta, sangramento persistente, útero aumentado. Trauma: sangramento contínuo com útero bem contraído, lacerações visíveis. Coagulopatia (trombina): sangramento difuso, sem coágulos, não responde a uterotônicos. → Na paciente M.L.S., descartou-se trauma (sem laceração) e retenção (placenta íntegra), restando como causa a atonia uterina. → PROTOCOLOS DE RECONHECIMENTO (OMS/MS/FEBRASGO): Observação sistemática no 4º período (1ª hora pós-parto): aferição de PA, FC, sangramento e contratilidade uterina a cada 15 min. Treinamento das equipes para reconhecer sangramento anormal e agirsem atrasos. Uso de checklists padronizados (ex.: protocolos “Code HPP”). Rede Cegonha reforça a vigilância pós-parto imediato, garantindo estrutura e insumos para resposta rápida. → Correlação com o Caso (M.L.S.) O sangramento foi identificado 20 minutos após o parto → dentro do 4º período, fase crítica de vigilância. A equipe reconheceu sinais clínicos precoces de choque (palidez, taquicardia, hipotensão). O diagnóstico imediato de HPP primária por atonia uterina permite acionamento do protocolo ainda dentro da hora de ouro, melhorando o prognóstico. ✅ Conclusão: O reconhecimento precoce da HPP depende da observação atenta no 4º período do parto, monitorização rigorosa de sinais vitais e conhecimento dos 4Ts. O caso M.L.S. exemplifica como a detecção rápida associada à atuação imediata evita o desfecho fatal 🎯OBJETIVO 5. TRATAMENTO E PROTOCOLOS (OMS, MS, FEBRASGO, OPAS): → Sequenciamento do manejo clínico inicial da HPP: O controle precoce do foco de sangramento é a medida mais eficiente no tratamento da hemorragia pós-parto, por isso a importância do conceito da hora de ouro no cuidado obstétrico. O índice de choque é o método clínico de escolha na estimativa da perda sanguínea, também sendo útil na predição de hemotransfusões. Os principais medicamentos utilizados na terapia farmacológica da hemorragia pós-parto são os uterotônicos nos casos de atonia e o ácido tranexâmico, que deve ser utilizado em todos os casos, independentemente da etiologia da hemorragia. Diante da falha da terapia farmacológica na atonia uterina ocorrendo após partos vaginais, o balão de tamponamento intrauterino e/ou o sistema de aspiração a vácuo devem anteceder a abordagem cirúrgica. Quando disponível, o traje antichoque não pneumático é útil no controle transitório da hemorragia pós-parto, especialmente em pacientes com instabilidade hemodinâmica, viabilizando a continuidade do tratamento e as transferências de pacientes. → MEDIDAS INICIAIS (PRIMEIROS MINUTOS): 1.Chamar equipe multiprofissional e acionar protocolo. 2.Dois acessos venosos calibrosos, cristaloides aquecidos, oxigênio, sondagem vesical, prevenção de hipotermia. 3.Ácido tranexâmico 1 g IV em até 3h do parto (OMS). → DIANTE DO DIAGNÓSTICO DE HEMORRAGIA PÓS- PARTO, O TRATAMENTO DEVE SER INICIADO IMEDIATAMENTE → O SEQUENCIAMENTO DO ATENDIMENTO DEVE INCLUIR: 1.A solicitação de ajuda, a realização de manobra de compressão uterina, a avaliação rápida da etiologia, a manutenção da oxigenação e da perfusão tecidual, a obtenção de acessos venosos calibrosos com coleta de amostra sanguínea e solicitação de exames laboratoriais, a reposição da volemia, a administração de ácido tranexâmico e de uterotônicos, a avaliação da antibioticoprofilaxia e a estimativa da perda sanguínea. A estimativa da perda sanguínea pode ser realizada por avaliação visual, pesagem de compressas cirúrgicas, uso de dispositivos coletores ou por métodos clínicos. A ocitocina intravenosa é o uterotônico de primeira linha no tratamento da atonia uterina. O ácido tranexâmico, na dose intravenosa de 1 grama em infusão de 10 minutos, deve ser administrado logo após o diagnóstico, independentemente da etiologia hemorrágica. Doses intravenosas adicionais de 1 grama devem ser administradas se o sangramento persistir após 30 minutos ou diante da recidiva da hemorragia dentro das 24 horas, contados a partir da primeira dose. A ressuscitação volêmica com cristaloides não deve exceder 2.000 mL, e a transfusão de componentes sanguíneos se encontra usualmente indicada diante do choque hipovolêmico, principalmente se moderado ou grave. Pacientes hemodinamicamente instáveis, com perdas sanguíneas importantes, são candidatas a receber transfusão emergencial de dois concentrados de hemácias. Se a prova cruzada não estiver disponível, deve ser transfundido sangue O negativo. O balão de tamponamento intrauterino pode ser inserido após o parto vaginal e durante ou após a cesariana, com volumes específicos de infusão. Em função do teste do tamponamento, os balões com sistemas de drenagem sanguínea devem ser preferenciais. Uterotônicos e antibióticos devem ser administrados durante todo o tempo do tamponamento. A retirada do balão deve ocorrer após estabilidade hemodinâmica, preferencialmente antes de 12 horas, e com sala cirúrgica reservada. Os dispositivos intrauterinos de controle hemorrágico induzido a vácuo também são recomendados para o tratamento invasivo não cirúrgico da hemorragia pós-parto não responsiva ao tratamento farmacológico. Além da elevada taxa de sucesso no controle hemorrágico nas duas vias de parto, oferecem a vantagem de reduzir o tempo entre a inserção e a retirada do dispositivo. O traje anti choque não pneumático não substitui as ações terapêuticas e deve estar vinculado a um protocolo assistencial de hemorragia pós-parto. Manobras de compressão uterina → Hamilton e Chantrapik. MANOBRA DE CHANTRAPITAK São técnicas de compressão uterina bimanual utilizadas no tratamento da hemorragia pós-parto (HPP) causada por atonia uterina. Ambas buscam contrair o útero para controlar o sangramento, sendo a Manobra de Hamilton a mais comum e executada com uma mão no fundo uterino (parte superior) e a outra no abdômen para comprimir o órgão. A Manobra de Chantrapitak também comprime a região do fundo uterino para o controle da hemorragia. Sala de recuperação; leitos de pré-parto; sala de pré-parto, parto e pós-parto (PPP); leito de cuidados intermediários. EVITAR LOCAIS ONDE NÃO HÁ POSSIBILIDADE DE MONITORAMENTO RIGOROSO. Não encaminhar para enfermarias ou quartos que oferecem apenas vigilância risco habitual). CH = concentrado de hemácias: As puérperas que apresentaram quadro de hemorragia puerperal devem ser mantidas em leitos que permitam observação rigorosa nas primeiras 24 horas após o parto, pelo risco de um novo sangramento e necessidade de abordagem precoce e agressiva. Não encaminhar tais pacientes para enfermarias ou quartos que ofereçam apenas vigilância de risco habitual! → TRATAMENTO ESPECÍFICO (4T’S): Tônus: massagem uterina bimanual, ocitocina IV lento (5 UI), infusão contínua; se refratário, usar metilergometrina (exceto em HAS) e misoprostol 800 mcg retal. Trauma: revisão do canal de parto, sutura, drenagem de hematomas, laparotomia em casos graves. Tecido: revisão uterina, extração manual da placenta, curetagem, histerectomia em casos de acretismo grave. Trombina: reposição de fatores de coagulação (plasma, plaquetas, crioprecipitado). MANOBRA DE HAMILTON → TRATAMENTO ESCALONADO: 1.Massagem + uterotônicos. 2.Ácido tranexâmico + balão de tamponamento intrauterino (BTI). 3.Traje antichoque não pneumático (TAN) em instabilidade. 4.Suturas compressivas (B-Lynch), ligadura arterial. 5.Histerectomia se refratário. Correlação com o caso: M.L.S. foi tratada conforme protocolo: ocitocina, massagem uterina, suporte volêmico e reserva de sangue, com bom desfecho. → MEDIDAS INICIAIS: 1.Avaliar causa (4Ts), chamar equipe multiprofissional. 2.Dois acessos venosos calibrosos, infusão rápida de cristaloides aquecidos. 3.Oxigênio, monitorização, sondagem vesical, prevenção de hipotermia. 4.Ácido tranexâmico (1g EV em até 3h do parto). Tratamento cirúrgico: suturas compressivas (B- Lynch), ligadura de artérias uterinas/hipogástricas, histerectomia. → PROTOCOLOS E DIRETRIZES: OMS/OPAS – Estratégia Zero Morte Materna por Hemorragia (0MMxH): foco na prevenção, hora de ouro e kits de emergência. Rede Cegonha (Ministério da Saúde): prioriza parto seguro, acompanhante, manejo ativo do 3º período, acesso a sangue e UTI materna. FEBRASGO / SBGO: recomenda protocolo rápido, uso de uterotônicos e monitoramento contínuo. SUS: uso universal da ocitocina após o nascimento; kits de HPP devem estar disponíveis em todas maternidades. Correlação com o Caso (Problema 4 – Tudo parecia bem): Paciente apresentou HPP primária por atonia uterina, quadro mais comum (70%). Diagnóstico rápido → útero flácido, sangramento volumoso, sinais de choque. Atuação dentro da “hora deouro”, com protocolo de emergência, reserva de sangue e monitorização intensiva. Situação exemplifica a importância da estratificação de risco pré-natal (paciente tinha anemia, fator de risco) e da assistência no SUS dentro da Rede Cegonha, garantindo protocolos padronizados. → PROTOCOLOS DE ATENDIMENTO IMEDIATO À HPP (PASSO A PASSO DETALHADO) - SOAR: Quais são as características de um Sistema Obstétrico de Alerta e Resposta (SOAR) para a HPP? Orquestração de Segurança, Automação e Resposta O SOAR para HPP é um sistema de trabalho ordenado (bundle) que visa organizar e coordenar ações de redução do risco e da morbimortalidade por HPP. O SOAR propõe a implementação de processos de trabalho que incluem a estratificação de risco de HPP, uso rotineiro e universal de uterotônicos após os partos, diagnóstico oportuno dos casos e monitoramento contínuo das pacientes. Para garantir um atendimento seguro e efetivo, é essencial a organização dos fluxos assistenciais, com protocolos de manejo e transfusão maciça bem definidos e disponibilização de kits de HPP acessíveis a toda equipe assistencial. O SOAR promove o envolvimento e a capacitação de equipes multidisciplinares e intersetoriais e estimula a implementação de um sistema de comunicação e aprendizado, ajudando no desenvolvimento de habilidades de liderança construtivas e permitindo um monitoramento contínuo das situações de risco. Também contribui para a organização da rede de saúde, visando à garantia dos fluxos assistenciais, à viabilização das transferências de cuidados e ao acesso a tratamentos de maior complexidade. → PASSO A PASSO DO ATENDIMENTO IMEDIATO A HPP: A. Princípios gerais (prioridades): 1.Reconhecer cedo (hora de ouro: agir nas primeiras 60 min). 2.Segurança da via aérea/respiração/oxigenação e circulação (ABCDE) — garantir oxigênio e acesso venoso calibroso. 3.Sequenciar ações simultâneas: (a) controlar sangramento, (b) garantir volemia/transfusão se necessário, (c) tratar causa (4Ts), (d) monitorar e documentar. B. Chamada imediata e organização da equipe: 1.Comunicar em voz alta: “Hemorragia pós-parto” — chamar obstetra, anestesista, enfermagem, banco de sangue e pessoal para monitorização. 2.Designar papéis: líder (obstetra), responsável por volemia/transfusão (enf./anestesia), responsável por controles/medicação (enfermagem), pessoa para documentação/checklist e contato com banco de sangue/CTI. Use checklist/fluxograma disponível no kit. C. Medidas iniciais (primeiros minutos — simultâneas): 1.Avaliação rápida e diagnóstico clínico: Estimar perda (visual + drape graduado/pesagem compressas) e calcular Índice de Choque (IC = FC/PAS); IC ≥ 0,9 = risco aumentado de transfusão maciça. 2. Acesso venoso e suporte básico: Abrir 2 acessos venosos calibrosos (J16/14). Iniciar cristaloide aquecido (SF 0,9% ou Ringer lactato); reavaliar a eficácia a cada 250–500 mL. Elevar membros inferiores (Trendelenburg). 3. Oxigenação e monitorização: O2 a 8–10 L/min em máscara facial; monitorização contínua (PA, FC, SatO2). Colocar sonda vesical de demora para monitorar diurese. Evitar hipotermia (manta térmica, soro aquecido). 4. Esvaziar bexiga: (potencializa eficácia da massagem/uterotônicos). D. Controle do sangramento — passo a passo (sequência recomendada): 1.Avaliar e tratar conforme os 4Ts simultaneamente: Palpar tônus uterino; revisar canal de parto (trauma); avaliar placenta (tecido); considerar trombina (coagulopatia). Sempre pensar em mais de uma causa. 2. Tônus — medidas imediatas (primeira linha): Massagem uterina bimanual (manobra de Hamilton) imediatamente enquanto administra uterotônico. Esvaziar bexiga antes. Uterotônicos (ordem/ações): Ocitocina (1ª escolha): IV lento 5 UI em bolus lento (≥3 min) ou 10 UI IM (profilaxia padrão após parto vaginal é 10 UI IM). Se via IV, seguir manutenção (ex.: 20 UI em 500 mL SF a 125–250 mL/h conforme contexto). Atenção: evitar bolus rápido >5 UI IV. Se falha à ocitocina: Metilergometrina 0,2 mg IM (até 5 doses/24 h) não usar em hipertensão, e/ou Misoprostol 800 mcg via retal (início mais rápido em via retal). Misoprostol sublingual é uma alternativa viável a ocitocina intravenosa no tratamento da HPP após profilaxia com ocitocina durante o terceiro estágio do parto. Repetir/associar uterotônicos conforme resposta clínica — persistência por 30 min após 1ª dose/ações exige escalonamento. 3. Tratamento adjuvante (primeiras horas) Ácido tranexâmico (ATX): 1 g EV (infusão lenta em 10 min) logo que identificada HPP, idealmente dentro de 3 horas do parto — reduz mortalidade por HPP. Pode-se repetir 1 g se necessário conforme protocolo institucional. Ele auxilia a prevenir a quebra da fibrina e na manutenção de coágulos sanguíneos. Traje antichoque não pneumático (TAN): indicado em instabilidade hemodinâmica enquanto se organiza transfusão/transferência — redireciona volume central e pode reduzir necessidade de cirurgia/transfusão; aplicar conforme técnica (segmentos) e regras de retirada (Regra dos 20). Contraindicações listadas (ex.: feto vivo, IC grave). 4. Balão de Tamponamento Intrauterino (BTI / Bakri) Indicação: atonia que não responde a uterotônicos e massagem e quando se deseja evitar laparotomia imediata; também útil em placenta prévia/algumas hemorragias pós-cesárea. A indicação do balão de tamponamento intrauterino se dá na falha da terapia farmacológica na atonia uterina, podendo ser utilizado em um processo transitório para transporte da paciente Técnica/observações: encher com soro morno até obter hemostasia; manter por até 24 h (monitorar); associar ATB profilaxia (ex.: cefazolina 1 g IV 8/8h) e manter uterotônicos. Retirar gradualmente (50 mL de cada vez) com observação de 20 min entre etapas (regra dos 20). Contraindicações: infecção genital local, sangramento arterial ativo que exige cirurgia. 5. Se falha das medidas não cirúrgicas — cirurgia (quando avaliar laparotomia): Indicação: persistência do sangramento e instabilidade apesar de medidas anteriores (massagem, uterotônicos, BTI, TAN, transfusão quando indicada). Avaliar rapidamente e não procrastinar. 6. Opções cirúrgicas (ordem comum): 1.Suturas compressivas uterinas (B-Lynch, Hayman, Cho) — efetivas para atonias refratárias. Sutura B-Lynch em combinação com a ocitocina, obtendo neste modelo uma taxa de controle de 95,2%, sendo sugestiva a aplicação desta metodologia para novos estudos. A técnica de sutura é recomendada por diretrizes da OMS após a falha com o tratamento conservador (OMS, 2012). Uma pesquisa realizada por Koirala et al. (2023) demonstrou que a prevalência de sucesso com a utilização da B-Lynch foi de 94,7% no controle da HPP atônica refratária a uterotônicos. 2.Ligadura de vasos: ligadura das artérias uterinas ± anastomoses ou hipogástricas (mais complexa). 3. Histerectomia (salvadora de vida) — indicada quando medidas conservadoras falham/hemorragia maciça ou acretismo grave com sangramento incontrolável. Deve-se discutir com paciente (se possível) e família quando viável. 4. Damage control / empacotamento abdominal em cenários de CIVD/instabilidade extrema. E.Ressuscitação hemostática e transfusão (princípios): Quando considerar transfusão: instabilidade hemodinâmica refratária aos cristaloides, perda volumosa estimada, IC ≥0,9, ou após 1500–2000 mL de cristaloide infundido em HPP grave — iniciar transfusão de hemocomponentes. Produtos e orientações: CH (concentrado de hemácias), PFC (plasma fresco congelado), plaquetas, crioprecipitado; avaliar fibrinogênio (se gasometria e lactato em quadro grave. Solicitar amostras repetidas conforme evolução. Use resultados para guiar transfusão e decisões cirúrgicas. G. Kit/Checklist e estrutura necessária (itens essenciais) O Protocolo OPAS recomenda kit de emergência HPP com: ocitocina, metilergometrina, misoprostol, ácido tranexâmico, equipos, balão de tamponamento, kit para transfusão, manta térmica, sondas, materiais para suturas compressivas, checklist/fluxograma plastificados, e acesso a banco de sangue. Ter o kit preparado reduz atrasos. H. Pós-controle imediato e monitorização Observação intensiva nas primeiras 24 h (não encaminhar para enfermaria comum sem monitorização). Monitorar sinais vitais, diurese, parâmetros laboratoriais e sinais de CIVD. CTI conforme gravidade. Reavaliar anemia e necessidade de transfusão adicional. I. Documentação, comunicação e qualidade Registrar hora de início do sangramento, intervenções (tempo e dose), volumes infundidos, transfusões, resposta clínica e justificativa para cirurgias. Realizar reunião pós-evento para discussão de melhoria contínua (morbimortalidade evitável). Protocolos locais e simulações (treinamento) recomendados pela OPAS/OMS. J. Correlação com o caso M.L.S. (aplicação prática) Reconhecimento rápido (sangramento 20 min pós-parto, FC 118, PA 90/60) → acionamento do protocolo: dois acessos venosos, ocitocina profilática já administrada, massagem uterina imediata, esvaziamento vesical e chamada do banco de sangue. Prováveis passos realizados no caso: massagem uterina bimanual; repetição/uso de uterotônicos (ocitocina IV lento e possivelmente metilergometrina/misoprostol se resposta insuficiente); ativação do banco de sangue (reserva); monitorização intensiva e preparo para BTI ou procedimentos cirúrgicos se refratário. K. Principais pontos práticos que deve-se fixar 1.Hora de Ouro = agir rápido + sequenciado; atrasos matam. 2.Massagem uterina + ocitocina são a base inicial; se não controlar em minutos, avançar para misoprostol/metilergometrina/ATX e considerar BTI. 3.Ter kit HPP e checklist reduz erros e tempo de resposta. 4.Transfusão precoce quando indicada (IC ≥0,9, falha volêmica) e evitar cristaloide em excesso. 5.Não postergar cirurgia se medidas conservadoras falharem — histerectomia salva vidas. Balões intrauterinos = A principal indicação de um balão de tamponamento intrauterino (BIU) é a falha da terapia farmacológica na atonia uterina. Também está indicado no tratamento da hemorragia, ocorrendo após remoção de material ovular, porém com taxa de sucesso um pouco inferior à da atonia uterina. Nas situações mais leves do espectro da placenta acreta, ausentes envolvimento miometrial profundo e adelgaçamento da parede uterina, seu uso cuidadoso, com infusões mínimas, também está indicado. 🎯OBJETIVO 6. ASSISTÊNCIA AO PARTO NO SUS – REDE CEGONHA: → CONCEITO E IMPORTÂNCIA DO PRÉ-NATAL: A assistência pré-natal tem como meta garantir saúde materno-fetal, prevenir complicações e identificar precocemente condições de risco. O Ministério da Saúde recomenda no mínimo 6 consultas (1 no 1º trimestre, 2 no 2º trimestre e 3 no 3º trimestre), início precoce (até 12 semanas), exames laboratoriais e ultrassonográficos, além de suplementação com ferro e ácido fólico. A FEBRASGO destaca que o pré-natal é o momento de identificar fatores que aumentam o risco de hemorragia, como anemia, hipertensão, placenta prévia, multiparidade, cesárea prévia. → EXAMES ESSENCIAIS: Primeiro trimestre: tipagem sanguínea, hemograma, sorologias (HIV, sífilis, hepatites, toxoplasmose), urina, glicemia de jejum. Segundo trimestre: ultrassonografia morfológica, repetição de hemograma e sorologias, teste oral de tolerância à glicose. Terceiro trimestre: hemograma, sorologias de repetição (HIV, sífilis, hepatite B), urocultura, ultrassonografia obstétrica (crescimento e vitalidade fetal). Esses exames ajudam a detectar condições associadas a risco aumentado de choque hemorrágico (ex.: anemia não corrigida, infecções). → PROTOCOLOS DE PREVENÇÃO NA ASSISTÊNCIA AO PARTO: (OMS/OPAS, MS, FEBRASGO): Manejo ativo do 3º período do parto (MAP): 1.Administração de uterotônico logo após o nascimento (ocitocina é 1ª escolha). 2.Tração controlada do cordão. 3.Massagem uterina após saída da placenta. Acompanhamento do 4º período: vigilância intensiva na primeira hora pós-parto (“hora de ouro”), monitorando sangramento e sinais vitais. Suplementação de ferro no pré-natal reduz a chance de desfecho grave em caso de HPP. → REDE CEGONHA E SUS: Criada pelo Ministério da Saúde em 2011, a Rede Cegonha busca estruturar o cuidado desde a gestação até o pós-parto. Princípios aplicados ao caso: Garantia de acompanhante de livre escolha. Respeito à fisiologia do parto e métodos não farmacológicos para alívio da dor. Disponibilidade de protocolos de emergência obstétrica (como o de HPP). O SUS recomenda a ocitocina profilática para todas as parturientes e treinamento das equipes em HPP. Correlação com o Caso M.L.S.: Pré-natal adequado: paciente fez 8 consultas, mas manteve anemia leve, não corrigida totalmente. Parto humanizado: assistência foi conduzida segundo a Rede Cegonha, com direito a acompanhante e uso de métodos não farmacológicos. Complicação (HPP): o fato de já haver diagnóstico prévio de anemia explica a maior repercussão clínica do sangramento. Resposta da equipe: manejo adequado no 4º período, uso de ocitocina profilática e protocolo de emergência acionado imediatamente → demonstrando integração entre pré-natal, parto e puerperal imediato. ✅ Conclusão: O pré-natal é fundamental para identificar e minimizar fatores de risco para hemorragia pós-parto, mas mesmo com assistência adequada, complicações podem ocorrer. O caso clínico mostra que o pré-natal de qualidade + assistência humanizada no SUS + protocolos de emergência da Rede Cegonha foram decisivos para o desfecho favorável. → A REDE CEGONHA (MS, 2011) VISA GARANTIR: Pré-natal de qualidade (mínimo 6 consultas, exames, suplementação). Parto seguro e humanizado, com acompanhante de livre escolha. Manejo ativo do 3º período do parto (MAP): ocitocina, tração controlada do cordão, massagem uterina. Estrutura hospitalar com protocolos de emergência obstétrica, acesso a UTI e sangue. Vigilância intensiva no 4º período (primeira hora pós-parto). Correlação com o caso: M.L.S. teve parto assistido conforme preconizado pela Rede Cegonha: acompanhante presente, parto humanizado, vigilância no 4º período (quando se detectou a hemorragia). → ASSISTÊNCIA NA HORA DO PARTO: Fase de Secundamento (dequitação – 3º período) ➡ Da saída do bebê até a expulsão da placenta e membranas. Condutas recomendadas → Manejo ativo do 3º período do parto (MAP): 1.Administração de ocitocina 10 UI IM logo após o nascimento (profilaxia de HPP). 2.Tração controlada do cordão associada à contração uterina. 3.Massagem uterina após expulsão da placenta. 4.Avaliar integridade da placenta e membranas. 5.Prevenir hemorragia pós-parto. Quarto Período (puerpério imediato) ➡ Primeiras 2 horas após a expulsão da placenta. Condutas recomendadas: 1.Observação rigorosa dos sinais vitais maternos (PA, FC, temperatura, diurese). 2.Verificar consistência uterina a cada 15 minutos na primeira hora, depois a cada 30 min. 3.Vigiar sangramento vaginal → identificar precocemente hemorragia pós-parto. 4. Incentivar contato pele a pele e início precoce da amamentação. 5.Garantir conforto, hidratação e apoio emocional. ✅ Resumo Final: Dilatação: acolhimento, liberdade de posição, métodos não farmacológicos, monitorização. Expulsão: posição de escolha da mulher, episiotomia restrita, evitar intervenções, apoio do acompanhante. Secundamento: manejo ativo do 3º período com ocitocina, tração controlada, massagem uterina. 4º período: vigilância rigorosa da mãe (sinais vitais, tônus uterino, sangramento) e incentivo à amamentação. → APROFUNDAMENTOS DO PROBLEMA: 🔗 Relação entre Anemia e Hemorragia Pós-Parto: O que é a anemia na gestação? A anemia, em geral, é a reduçãoda hemoglobina (Hb) e do hematócrito no sangue. Na gestação, é muito comum a anemia ferropriva devido ao aumento da demanda de ferro pelo feto e pela expansão do volume plasmático materno. Resultado: a grávida com anemia já chega ao parto com estoques baixos de hemoglobina e ferro. O que acontece na hemorragia pós-parto? Na HPP, ocorre perda súbita de sangue (≥500 mL após parto vaginal ou ≥1000 mL em cesárea). A fisiologia da resposta materna envolve: Queda rápida do volume sanguíneo → hipovolemia. Diminuição da perfusão tecidual → hipóxia dos órgãos. Ativação do sistema nervoso simpático → taquicardia e vasoconstrição para manter pressão arterial. Ativação da coagulação para tentar estancar o sangramento. Como a anemia piora esse cenário? 👉 Se a paciente já está anêmica antes do parto: Ela tem menos hemoglobina disponível → menor capacidade de transporte de oxigênio para os tecidos. Na hora em que ocorre a hemorragia, qualquer perda sanguínea tem repercussão muito maior, porque o organismo não tem “reserva” de Hb. 👉Isso significa que: A hipóxia celular chega mais rápido. O choque hemorrágico se instala com perdas menores do que em uma paciente sem anemia. O risco de descompensação cardiovascular, acidose metabólica e falência de órgãos é maior. Fisiologia da relação Anemia ↔ Hemorragia: Hemoglobina normal (≥12 g/dL): a mulher tolera perdas moderadas, pois ainda há reserva para transportar oxigênio. Hemoglobina baixa (ex.: 9 g/dL): com a mesma perda sanguínea, a saturação de oxigênio nos tecidos cai mais rápido → sintomas de choque aparecem precocemente (palidez, taquicardia, hipotensão). Hemoglobina muito baixa (