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Leptospirose 
Introdução 
 
A leptospirose é uma doença bacteriana causada 
por bactérias do gênero Leptospira, que são 
espiroquetas finas e móveis. Essa doença tem 
grande impacto na saúde pública e na produção 
animal, afetando animais domésticos, silvestres 
e humanos. Nos bovinos, é caracterizada 
principalmente como uma doença reprodutiva, 
levando a infertilidade, abortos e natimortos. 
Além de ser uma zoonose, ou seja, uma doença 
transmitida entre animais e humanos, a 
leptospirose é de notificação mensal, o que 
significa que sua ocorrência deve ser comunicada 
aos órgãos de vigilância sanitária periodicamente. 
 
Histórico 
Foi descoberta pela primeira vez em 1850, 
mas seu agente etiológico só foi identificado em 
1915 por Inada e Ido. 
Atualmente, são reconhecidos aproximadamente 
200 sorovares de Leptospira, divididos em 
diferentes sorogrupos de acordo com suas 
características antigênicas. 
 
Características da Leptospira 
✓ Bactérias Gram-negativas. 
✓ Aeróbias obrigatórias (necessitam de oxi-
gênio para sobreviver). 
✓ Possuem formato helicoidal e mobilidade 
característica devido à presença de 
filamentos axiais. 
 
Sobrevivência e Transmissão 
✓ Se desenvolvem preferencialmente em 
temperaturas entre 28 e 30°C. 
✓ A sobrevivência da bactéria na água depende 
de fatores como temperatura, pH, salini-
dade e grau de poluição. 
✓ Mamíferos silvestres, especialmente ratos e 
ratazanas, são considerados reservatórios 
naturais, eliminando a bactéria na urina e 
contaminando o ambiente. 
 
Sorovares de Importância em Bovinos 
Nos bovinos, os principais sorovares 
envolvidos em infecções são: 
✓ Leptospira borgpetersenii sorovar 
Hardjobovis 
✓ Leptospira interrogans sorovar 
Hardjoprajitno 
 
Epidemiologia 
➢ A prevalência da doença é maior em zonas 
tropicais e subtropicais, onde as 
condições de temperatura e umidade 
favorecem a sobrevivência da bactéria no 
ambiente. 
➢ A transmissão ocorre tanto entre 
indivíduos da mesma espécie quanto entre 
espécies diferentes, sendo a doença 
caracterizada por um ciclo de infecção e 
disseminação contínuo. 
 
Fatores ambientais e resistência da bactéria 
Leptospira não resiste a: 
✓ Ambientes secos; 
✓ Radiação solar direta; 
✓ pH ácido; 
✓ Alta salinidade. 
➢ Sobrevive por longos períodos em locais 
úmidos e sombreados, como áreas 
alagadas e solos encharcados. 
➢ Os animais que se recuperam 
clinicamente da doença podem continuar 
eliminando a bactéria por períodos 
prolongados, mantendo o ciclo da infecção 
no rebanho. 
 
Disseminação da Bactéria 
➢ Os animais infectados podem eliminar a 
bactéria por diversas vias, sendo os 
portadores assintomáticos um dos 
principais desafios no controle da 
leptospirose. 
➢ Vias de eliminação da bactéria pelos 
portadores: Urina (principal via de 
 
disseminação), Fetos abortados e placenta, 
Secreções cervicovaginais e Sêmen. 
➢ Os animais que se recuperam clinicamente 
da doença podem continuar eliminando a 
bactéria por períodos prolongados, mantendo 
o ciclo da infecção no rebanho. 
 
Formas de contaminação: 
A transmissão pode ocorrer de forma direta ou 
indireta: 
➢ Contato direto com animais infectados ou 
seus fluidos corporais; 
➢ Contaminação indireta por meio do contato 
com: 
✓ Água contaminada (bebedouros, 
açudes, córregos e lagoas); 
✓ Pasto e solo em áreas de alagamento; 
✓ Instalações e fômites (equipamentos, 
ferramentas e materiais de manejo); 
✓ Ração e alimentos contaminados. 
 
Portas de Entrada 
A bactéria pode penetrar no corpo do animal 
através de: 
➢ Pele lesada ou íntegra (quando há contato 
prolongado com água contaminada); 
➢ Mucosas bucais, nasais, oculares e 
genitais. 
 
Estabelecimento da infecção no rebanho 
A introdução e manutenção da leptospirose no 
rebanho ocorrem devido a diversos fatores: 
➢ Livre acesso a fontes de água superficial 
(açudes, córregos, lagoas); 
➢ Presença de animais silvestres, 
principalmente roedores, que são 
reservatórios da bactéria; 
➢ Entrada de novos animais no rebanho 
sem controle sanitário; 
➢ Animais portadores assintomáticos dentro 
da propriedade; 
➢ Trânsito frequente de animais em feiras, 
exposições e eventos agropecuários, 
aumentando o risco de disseminação da 
doença. 
 
 
Patogenia 
A Leptospira é uma bactéria com alta 
capacidade de sobrevivência e multiplicação 
no hospedeiro, conseguindo se disseminar 
rapidamente pelo organismo e causar lesões 
severas em diferentes órgãos e tecidos. 
➢ Após a penetração da bactéria pelas 
mucosas (bucal, nasal, ocular, genital) 
ou pela pele lesionada, a infecção segue 
a seguinte sequência: 
1. Disseminação inicial: 
✓ A bactéria entra na corrente linfática e 
sanguínea (bacteremia). 
✓ Rapidamente, atinge órgãos como pulmão, 
fígado e baço, onde ocorre sua 
multiplicação ativa. 
2. Efeitos sobre fêmeas gestantes: 
✓ A Leptospira tem a capacidade de 
atravessar a placenta, chegando ao feto. 
✓ Isso pode levar a aborto, natimortalidade 
ou nascimento de filhotes fracos e 
inviáveis. 
 
3. Lesões causadas pela bactéria: 
✓ A bactéria se adere às células endoteliais dos 
vasos sanguíneos, causando lesões diretas. 
✓ Isso leva ao extravasamento de líquidos e 
hemorragias nos tecidos afetados. 
✓ As bactérias utilizam esses fluidos como meio de 
disseminação pelo corpo, invadindo novos 
tecidos e agravando o quadro clínico. 
4. Danos teciduais e sintomas clínicos: 
✓ A morte tecidual ocorre devido à destruição 
celular provocada pela bactéria e pela 
resposta inflamatória do organismo. 
✓ Na fase aguda, a infecção provoca febre 
alta, acompanhada de outros sinais clínicos 
dependendo do órgão mais afetado. 
5. Eliminação da bactéria e risco de 
contaminação ambiental: 
✓ Durante e após a fase aguda, a bactéria 
continua sendo eliminada pelo organismo 
por meio de urina, secreções 
cervicovaginais, sêmen e outros fluidos 
corporais. 
✓ Esse processo facilita a contaminação 
ambiental e a infecção de outros animais ou 
humanos. 
 
Sinais Clínicos 
A suscetibilidade dos bovinos à leptospirose 
pode variar de acordo com fatores como: 
✓ Idade (bezerros são mais vulneráveis); 
✓ Sexo (as fêmeas podem apresentar 
complicações reprodutivas mais 
evidentes); 
✓ Estado fisiológico (gestação, lactação, 
estresse imunológico); 
✓ Densidade populacional (rebanhos com 
alta concentração de animais favorecem a 
disseminação da doença). 
Sinais clínicos em Bezerros 
Os bezerros são os mais afetados pelas formas 
graves da leptospirose, apresentando sintomas 
sistêmicos severos, como: 
✓ Febre alta (hipertermia); 
✓ Icterícia (coloração amarelada das mucosas 
e pele, devido à destruição dos glóbulos 
vermelhos e comprometimento hepático); 
✓ Hemoglobinúria (presença de hemoglobina 
na urina, conferindo coloração avermelhada); 
✓ Alta taxa de letalidade, principalmente 
quando não há intervenção rápida. 
 
Sinais Clínicos em Bovinos Adultos 
Nos bovinos adultos, a leptospirose tem maior 
impacto na esfera reprodutiva, sendo uma das 
principais causas de prejuízos econômicos na 
pecuária. 
Forma reprodutiva 
✓ Abortos (ocorrem geralmente no último 
terço da gestação); 
✓ Mastite (inflamação da glândula mamária); 
✓ Redução da produção leiteira e 
infertilidade; 
✓ A letalidade é baixa, mas pode ocorrer 
devido a complicações secundárias ao 
aborto. 
 
No gado leiteiro, um dos principais sinais 
clínicos é a mastite flácida, também chamada 
de Síndrome da Queda do Leite ou Milk 
Drop Syndrome, caracterizada por: 
✓ Redução brusca na produção de leite, 
sem alterações significativas na composição 
do leite; 
✓ Flacidez do úbere, sem sinais típicos de 
infecção bacteriana comum. 
 
Outros sinais clínicos em bovinos adultos: 
Perda de peso progressiva, Anorexia (recusa 
na alimentação), Úbere edematoso (inchaço na 
glândula mamária) e Retenção de placenta, 
aumentando o riscode infecções uterinas e 
metrite. 
 
Diagnóstico 
O diagnóstico da leptospirose em bovinos pode 
ser desafiador, pois os sinais clínicos são 
variados e inespecíficos, podendo ser 
confundidos com outras enfermidades 
reprodutivas e sistêmicas. 
O diagnóstico da doença se baseia em três 
principais abordagens complementares: 
✓ Diagnóstico epidemiológico – análise das 
condições ambientais e fatores de risco no 
rebanho. 
✓ Diagnóstico clínico – observação dos sinais 
clínicos apresentados pelos animais. 
✓ Diagnóstico laboratorial – confirmação da 
infecção por meio de exames específicos. 
 
✓ O diagnóstico clínico é dificultado no 
início, pois na leptospirose bovina os 
sintomas são comuns a outras 
enfermidades; 
 
✓ O diagnóstico laboratorial da doença pode 
ser confirmado mediante diferentes métodos 
laboratoriais; 
✓ O exame realizado em microscópio de 
campo escuro possui maior sensibilidade. 
✓ As detecções de anticorpos podem ser 
utilizadas com a prova de soroaglutinação 
microscópica (SAM), um método de 
referência para o diagnóstico preconizado 
pela Organização Mundial de Saúde; 
✓ Reação em cadeia de polimerase (PCR); 
✓ ELISA (Ensaio de Imuno Absorção 
Enzimática). 
 
Profilaxia e Controle 
Como métodos de controle sanitário nas 
fazendas: 
✓ Implantar um calendário sanitário e vacinal; 
✓ Realização de exames; 
✓ Higienização das estruturas físicas (bretes, 
cochos, troncos, seringas, divisão dos 
currais, alojamentos de empregados e 
depósitos de ferramentas, sal e rações); 
✓ Essas estruturas devem ser totalmente limpas 
e desinfetadas, para evitar que algum animal 
contaminado possa transmitir a leptospira 
para boa parte do rebanho; 
✓ Controle de animais silvestres e quarentena 
de novos animais.

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