Prévia do material em texto
Psicologia_evolutivaCS5.indd 1Psicologia_evolutivaCS5.indd 1 13/12/2010 16:19:0913/12/2010 16:19:09 Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) Núcleo de Educação à Distância - Universidade de Pernambuco - Recife Filho, Antônio Pereira Letras: psicologia evolutiva / Antônio Pereira Filho Silva. - Recife: UPE/ NEAD, 2010. 56 p. il. ISBN 978-85-7856-073-7 1. Psicologia evolutiva. 2. Comportamento humano. 3. Desenvolvimento psicomotor. I. Universidade de Pernambuco - UPE. II. Título. S586l CDU 159.922 Psicologia_evolutivaCS5.indd 2Psicologia_evolutivaCS5.indd 2 13/12/2010 16:19:1713/12/2010 16:19:17 Impresso no Brasil - Tiragem 176 exemplares Av. Agamenon Magalhães, s/n - Santo Amaro Recife - Pernambuco - CEP: 50103-010 Fone: (81) 3183.3691 - Fax: (81) 3183.3664 Reitor Vice-Reitor Pró-Reitor Administrativo Pró-Reitor de Planejamento Pró-Reitor de Graduação Pró-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Pró-Reitor de Extensão e Cultura Prof. Carlos Fernando de Araújo Calado Prof. Reginaldo Inojosa Carneiro Campello Prof. José Thomaz Medeiros Correia Prof. Béda Barkokébas Jr. Profa. Izabel Cristina de Avelar Silva Profa. Viviane Colares S. de Andrade Amorim Prof. Álvaro Antônio Cabral Vieira de Melo UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO - UPE NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Coordenador Geral Coordenador Adjunto Assessora da Coordenação Geral Coordenação de Curso Coordenação Pedagógica Coordenação de Revisão Gramatical Administração do Ambiente Coordenação de Design e Produção Equipe de design Coordenação de Suporte EDIÇÃO 2010 Prof. Renato Medeiros de Moraes Prof. Walmir Soares da Silva Júnior Profa. Waldete Arantes Profa. Silvania Núbia Chagas Profa. Maria Vitória Ribas de Oliveira Lima Profa. Patrícia Lídia do Couto Soares Lopes Profa. Angela Maria Borges Cavalcanti Profa. Eveline Mendes Costa Lopes. José Alexandro Viana Fonseca Prof. Marcos Leite Anita Sousa Gabriela Castro Rodrigo Sotero Afonso Bione Prof. Jáuvaro Carneiro Leão Psicologia_evolutivaCS5.indd 3Psicologia_evolutivaCS5.indd 3 13/12/2010 16:19:1713/12/2010 16:19:17 Psicologia_evolutivaCS5.indd 4Psicologia_evolutivaCS5.indd 4 13/12/2010 16:19:1713/12/2010 16:19:17 5 PSICOLOGIA EVOLUTIVA EMENTA Desenvolvimento psicológico: conceitos e teorias. Fatores fundamentais do de- senvolvimento. Estudo das características do desenvolvimento em diferentes fa- ses da vida escolar. OBJETIVO GERAL Contribuir para a construção do conhecimento da pessoa em desenvolvimento, focando as idades e os comportamentos pertinentes, com ênfase nas fases de vivência escolar. APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA Nos capítulos desta disciplina, PSICOLOGIA EVOLUTIVA, iremos encontrar temas relacionados aos aspectos psicológicos e às mudanças biológicas que ocor- rem conosco, os seres humanos, e que são relevantes para entender os processos evolutivos no que diz respeito à forma, como são obtidos os conceitos e métodos de investigação nessa área de conhecimento, os fatores fundamentais do desen- volvimento humano, a relação com a vida escolar e como são processados o ensi- no e a aprendizagem nas diferentes fases da vida escolar. Queremos sua parceria nesta empreitada para que possamos ter uma caminhada fecunda na produção do conhecimento nesta área de estudo. Prof. Dr. Antonio Pereira Filho Carga Horária | 60 horas Psicologia_evolutivaCS5.indd 5Psicologia_evolutivaCS5.indd 5 13/12/2010 16:19:1713/12/2010 16:19:17 Psicologia_evolutivaCS5.indd 6Psicologia_evolutivaCS5.indd 6 13/12/2010 16:19:1713/12/2010 16:19:17 7Capítulo 1 77Capítulo 1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS • Entender conceitos de evolução em Psicologia Evolutiva numa perspectiva histórica e conceitual; • Compreender como são realizadas investigações em Psicologia Evolutiva; • Identificar como o desenvolvimento psicológico se dá na primeira e na se- gunda infância; • Comparar comportamentos diferenciadores entre a primeira e a segunda infância e o comportamento das crianças entre os 6 e 12 anos de idade cro- nológica; • Verificar como o desenvolvimento psicológico se organiza na adolescência. INTRODUÇÃO Para começo de conversa, podemos dizer que a Psicologia Evolutiva trabalha com a mudança ao longo do tempo, focando a conduta humana tanto nos aspectos externos e visíveis como nos internos e nem sempre perceptíveis. Portanto, a Psicologia Evolutiva tem seu interesse voltado para a conduta humana do ponto de vista das mudanças e transformações ao longo do tempo. Os psicólogos chamam desenvolvimento a mudança psicológica sistemática, que ocor- re ao longo da vida. Durante esse proceso, a pessoa poderá ascender a estados mais complexos e melhores que os anteriores. Esse ramo da Psicologia não pode ser considerado como uma ciência exata, como a física ou a química. Mesmo assim, os conhecimentos que se têm dos fenômenos psicológicos são absolutamente científicos, porque são usados métodos eficientes e comprovados para obter as informações que compõem o repertório de conhecimentos produzidos por essa área da Psicologia. As mudanças estudadas pela Psicologia Evolutiva têm caráter normativo ou se- minormativo, isto é, aplicam-se a todos os seres humanos ou a um grande núme- INTRODUÇÃO À HISTÓRIA, AOS CONCEITOS E AOS MÉTODOS EM PSICOLOGIA EVOLUTIVA Prof. Dr. Antonio Pereira Filho Carga Horária | 15 horas Psicologia_evolutivaCS5.indd 7Psicologia_evolutivaCS5.indd 7 13/12/2010 16:19:1713/12/2010 16:19:17 8 Capítulo 1 ro deles. Essas mudanças estudadas pela Psicologia Evolutiva têm relação intrínseca com a idade, o que significa dizer que está relacionado às mudan- ças vinculadas à idade ou ao período da vida em que a pessoa se encontra. A Psicologia Evolutiva está interessada em expli- car as mudanças que acontecem com as pessoas ao longo do tempo, principalmente na idade cronoló- gica; também é conhecida como a “psicologia do ciclo vital”, porque estuda as mudanças psicológi- cas ocorridas ao longo da vida das pessoas. Esse é, portanto, o objeto de estudo da Psicologia Evolu- tiva. Essas mudanças, que ocorrem nas pessoas ao longo da vida, podem ser explicadas por meio de fatores que se encontram no cotidiano das famí- lias, como: a continuidade versus descontinuidade, herança versus ambiente, normalidade versus ide- ografia ATIVIDADE | vamos pesquisar os conceitos? Dos contextos em que os sujeitos compreendem melhor sua própria evolução, destacam-se o histó- rico, o sócio-econômico, o cultural e o étnico como os mais importantes. Não se pode esquecer de que o processo evolutivo deve ser entendido como con- tínuo, global e dotado de grande flexibilidade, isto é, não acontece com todas as pessoas da mesma forma e ao mesmo tempo. Os filósofos foram os primeiros que atentaram para a necessidade de compreender essas mudan- ças. Entre os muitos filósofos que se preocuparam com esse tema, ressaltamos Rousseau e Kant. J. J. Rousseau (1712- 1778) e I. Kant (1724- 1804) defendiam a existência de determi- nadas características inatas do ser humano, sejam elas referentes à bondade natural da criança e à existência nela de um plano ina- to de desenvolvimento (Rousseau) ou à exis- tência de categorias inatas de pensamento como as de tempo e espaço (Kant). Normativo É o que tem a qualidade ou força de norma: ciências normativas, como a estatística. Seminormativo É o que se aplica a uma parcela da popula- ção, e não, à totalidade dos sujeitos. Assim, pode-se dizer que a Psicologia Evolutiva é a disciplina que se dedica ao estudo das mudanças psi- cológicas que têm certa relação com a idade, ocorrendo nas pessoas ao longo do seu desenvolvimento, indo da concepção até a morte. A Psicologia Evolutiva tem- se constituído como um estu- do organizado nos últimos sé-humano. Del Pret- te e Del Prette (2003) observam, no entanto, que, dada a alteração da estrutura e do funcionamento da família nas últimas décadas, o desenvolvimento das habilidades socioemocionais vem sendo gra- dualmente deslocado para a escola, que necessita redimensionar-se para enfrentar mais esse desafio. A gênese da inteligência para Wallon é genética e organicamente social; nesse sentido, a teoria do de- senvolvimento cognitivo é centrada na psicogênese da pessoa completa. Sendo assim, Wallon trouxe a emoção para a sala de aula e propõe uma abor- dagem. Desse modo, reconstruiu o seu modelo de análise, ao pensar no desenvolvimento humano, estudando-o a partir do desenvolvimento psíquico da criança. II Possui caráter transicional Pragmática Refere-se à linguagem como ação e procede da função instrumental e reguladora Matética Quando a aprendizagem da linguagem precede a inter- pessoal e é adquirida mais por descoberta. Ideacional Contribui para ambas III Começo do sistema adulto Ideacional Permite “falas” interiores Interpessoal Permite comunicação com outros Textual Permite interligar os elemen- tos textuais ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO, segundo WALLON Impulsivo- emocional Que ocorre no primeiro ano de vida. A predominância da afetividade orienta as primeiras reações do bebê às pessoas, as quais intermedeiam sua relação com o mundo físico. Sensório- motor e projetivo Compreende até os três anos de idade. A aquisição da marcha e preensão dá à criança maior autonomia na manipula- ção de objetos e na exploração dos es- paços. Também nesse estágio, ocorre o desenvolvimento da função simbólica e da linguagem. O termo projetivo refere- se ao fato de a ação do pensamento pre- cisar dos gestos para se exteriorizar. O ato mental “projeta-se” em atos moto- res. O ato mental se desenvolve a partir do ato motor. Personalismo Ocorre dos três aos seis anos de idade. Nesse estágio, desenvolve-se a constru- ção da consciência de si mediante as in- terações sociais, reorientando o interes- se das crianças pelas pessoas. Categorial Os progressos intelectuais dirigem o in- teresse da criança para as coisas, para o conhecimento e para a conquista do mundo exterior. Predominância funcional Ocorre nova definição dos contornos da personalidade, estruturados devido às modificações corporais, resultantes da ação hormonal. Questões pessoais, mo- rais e existenciais são trazidas à tona. Wallon propõe uma Psicogênese da Pessoa Completa, isto é, procura explicar os fundamentos da psico- logia como ciência, seus aspectos epistemológicos, objetivos e metodológicos. Por isso, este autor con- sidera que não é possível selecionar um único aspec- to do ser humano e percebe o desenvolvimento nos vários campos funcionais, nos quais se distribuem a atividade infantil (afetivo, motor e cognitivo). Psicologia_evolutivaCS5.indd 28Psicologia_evolutivaCS5.indd 28 13/12/2010 16:19:2013/12/2010 16:19:20 29Capítulo 2 Aplica-se a proposta de Wallon na escola, quan- do se tem acesso a material teórico que aborda, de forma integrada, temas, como expressividade, emoção, gestualidade, movimento, representação mental, pensamento discursivo, e o professor esta- rá provavelmente melhor preparado para atender à criança em suas diversas necessidades assim como impulsionar o seu desenvolvimento e favorecer sua aprendizagem. Afinal, a escola não deve dissociar a formação da inteligência da formação da personalidade, porque a inteligência tem ̀ status` de parte no todo consti- tuído da pessoa, e seu desenvolvimento está ligado ao das outras esferas constitutivas desse todo. Essa concepção valoriza o papel do professor, que, como elemento diferenciado, e o responsável pela unidade do grupo, pode receber as manifestações das crises infantis com o distanciamento necessá- rio, para não as comprimir nem se submeter a elas. O professor é valorizado também do ponto de vista do conteúdo, porque não se deve colocar como ex- clusivo detentor do saber e único responsável pela transmissão tampouco abdicar deste papel, subme- tendo-se, indiscriminadamente, à espontaneidade infantil. 4. DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE O indivíduo se desenvolve gradualmente sob a influência combinada de fatores hereditários, do ambiente social e da experiência pessoal. A inte- ração no mundo não se produz de maneira pré- estabelecida. Ao nascer, apesar de possuir um potencial quase ilimitado, o ser humano tem um sistema nervoso tão pouco amadurecido que não é capaz de utilizar, de forma espontânea, os meios de comunicação, imprescindíveis para se manter com vida. Isso explica a necessidade de o bebê manter contatos humanos constantes e quase ininterrup- tos. A criança aprende as primeiras formas de adaptação ao mundo, a interação afetiva, que irá repercutir no modelo geral dos futuros contatos. A base do desenvolvimento da personalidade cor- responde à nossa forma de reagir diante da intera- ção constante de nossos atos e o mundo, o mundo externo e o interior, os objetos e as pessoas que os ro- deiam. Observando um bebê de seis meses, vê-se que já re- age e se adapta, de forma pessoal, ao seu ambiente. Trata de manusear objetos, olha, ouve, explora...., em função de suas primeiras experiências de lac- tante, que vai memorizando e integrando ao seu EU em construção. Por isso, a mãe afirma que cada filho é único e genuíno. O ser humano manifesta desequilíbrios quando não é possível estabelecer ou manter relações afeti- vas com o ambiente. A criança deve sentir-se ama- da e UTI para seus pais, como eles o são para ela; esta é base de uma vida afetiva equilibrada. Assim, a personalidade se desenvolve positivamente, para satisfazer as necessidades humanas fundamentais. AS NECESSIDADES HUMANAS FUNDAMENTAIS Além das necessidades humanas orgânicas (fome, sede, calor), as necessidades de contato, intercâm- bio, afeto, consideração, sucesso e integração num grupo são imprescindíveis para o equilíbrio da pes- soa, qualquer que seja sua idade. São observados muitos transtornos no comportamento das pesso- as que não satisfazem tais necessidades, como nos bebês abandonados, nas pessoas que se encontram há muito tempo desempregadas, nas pessoas solitá- rias e outras. Quase todos os jogos infantis são baseados na imitação. A criança estabelece uma identificação com seus pais, sabendo que seu caráter irá se de- senvolver em função do que vê e aprende deles. A transgressão das proibições permite experimentar os próprios limites e os dos outros mediante a lei oriunda do processo educativo. Vejamos, no quadro abaixo, algumas fases impor- tantes na construção da personalidade vivenciadas pelo ser humano: Até os 2-3 meses Primeiros sorrisos como resposta ao surgimento de uma figura conhecida: a criança distingue o agradável do desa- gradável. Até os 8 meses Interessa-se pela própria imagem no espelho, que se manifesta na angústia experimentada diante de um rosto des- conhecido. Quando longe de uma figura conhecida (mãe, pai, babá), sente uma grande angústia. Psicologia_evolutivaCS5.indd 29Psicologia_evolutivaCS5.indd 29 13/12/2010 16:19:2013/12/2010 16:19:20 30 Capítulo 2 A construção da personalidade é um processo in- terativo, durante o qual as atenções e um clima de ternura e compreensão desempenham uma função muito importante. As “crises” não somente são normais e saudáveis como são desejáveis para a adaptação futura da vida social adulta. Numa aproximação de síntese, pontuamos: 1. A personalidade é um indivíduo socializado, que adquiriu da cultura a língua, normas, va- lores, ideais, maneira de atuar e de pensar; 2. A pessoa é o ser humano que ocupa um deter- minado lugar na sociedade; 3. A personalidade se desenvolve como produto da interação dos fatores do seu ambiente (físi- co, social e cultural); 4. A personalidade é a soma e a organização dos traços que determinam o papel da pessoa no grupo; 5. A personalidadenão é inata nem instintiva, aprende-se por meio da interação social; 6. Os fatores que influenciam no desenvolvimen- to da personalidade são: herança biológica (aparência física, capacidade para falar e julgar, inteligência, gênero, raça, temperamento), am- biente físico (temperatura, clima, proximidade de água, montanhas, desertos, recursos natu- rais, trabalho, recreação e forma de vida) e a cultura (ideias, lealdades, prejuízos, hábitos de alimentação). ATIVIDADE | 1. Quais as principais conquistas da criança em termos de comportamentos e atitudes? 2. Como você entende desenvolvimento afeti- vo? E psicomotor? E social? 3. Qual é o foco das pesquisas de Jean Piaget? 4. Identifique as etapas do desenvolvimento afetivo explicitadas por Wallon. Até os 15-18 meses Aprende as primeiras palavras; diz “não” e acompanha a negação com o movi- mento da cabeça; “quero”, “não quero”, “está ali”, “não está ali”, são distinções que permitem formular e expressar os primeiros juízos. Quer fazer tudo sozinha para desenvolver a autoconfiança. Até os 2 anos e meio Atravessa uma crise de recusa siste- mática: a criança se opõe, desobedece, obstina e desaprova toda proposta para demonstrar um princípio de autonomia. Adquire conhecimento de si mesma, e esta é a primeira expressão verdadeira de autoconsciência. O signo característi- co da distinção entre ele e os outros é o uso e a fala na primeira pessoa do sin- gular. Entre os 3 e 5 anos Dá-se a Crise edípica. O resultado é um novo avanço no processo de construção da personalidade. Pode-se dizer que, no fim da crise, o pai e a mãe já não são considerados simplesmente pais mas também homem e mulher. Até os 6 anos Interesse pelos semelhantes e se libera da influência do adulto, inclusive é pos- sível que a presença dos irmãos maiores seja considerável indesejável ou como uma intrusão. Nessa idade, as crianças começam a tomar consciência (mesmo de forma confusa) de tudo o que separa seu mundo do dos adultos, mesmo que os outros representem “tudo” para eles, que já começam a parecer cada vez mais incompreensíveis, fechados e misterio- sos. É a idade da socialização, em que a escola tem uma função muito importan- te, porque a criança identifica sua pró- pria realidade social. Até os 13-14 anos Surge a crise da adolescência. O jovem, obrigado pela puberdade a entrar em conta com seus próprios impulsos sexu- ais, adota nova atitude de oposição a respeito da família e da sociedade: au- toafirmação por meio da provocação, violência, temeridade, etc. O adolescen- te se distingue dos adultos por meio de uma originalidade levada a extremo: indumentária, higiene pessoal, lingua- gem, etc., convertendo-se em códigos de reconhecimento dentro de um grupo de idade. Passar da adolescência para a idade adulta pressupõe duas etapas que se superpõem entre si. A primeira é a aquisição da identidade (quem sou?. To- dos os comportamentos se dirigem para esta busca). A segunda é a aquisição da intimidade, isto é, da capacidade de viver consigo mesmo. Somente quando adqui- re essa qualidade, é capaz de conviver com os outros e dirigir a própria vida no modo adulto de ser. Psicologia_evolutivaCS5.indd 30Psicologia_evolutivaCS5.indd 30 13/12/2010 16:19:2013/12/2010 16:19:20 31Capítulo 2 REFERÊNCIAS Astington, J. D., & Pelletier, J. (2000). A lin- guagem da mente: Seu papel no ensino e na aprendizagem. In D. R. Oslon & N. Torrance (Orgs.), Educação e desenvolvimento humano (7 ed., pp. 489-510). Porto Alegre: Artmed. BARROS, Célia S. G. Pontos da Psicologia do Desenvolvimento. São Paulo: Ática, 1986. Bear, G. G., Webste, S., Furlong, M. J., & Rhee, S. (2000). Preventing aggression e violence. In K. M. Minke & G.G. Bear (Eds.), Preventing school problems - promotingschool succes: Strategies and programs that work (pp.1-69). Washington, DC: National Association of Scho- olPsychologist. BOCK, Ana Maria Bahia, FURTADO, Odair, TEIXEIRA, Maria de Lourdes. Psicologia: uma introdução ao estudo da Psicologia. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 1989. Bretherton, I., & Beeghly, Y. M. (1982). Talking aboutinternal states: The acquisition of an expli- city theory ofmind. Developmental Psychology, 18, 906-921. Cassidy, K. W., Ball, L. V., Rourke, M. T., Wer- mer, R. S.,Feeny, N., Chu, J. Y., Lutz, D. J., & Perkins, A. (1998). Theory of mind concepts in children’s literature. AppliedPsycholinguistics, 19, 463-470. COLL, César; MARCHESI, Álvaro, PALÁCIOS, Jesús, e col. Desenvolvimento Psicológico e Educação. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. Contini, M. L. J. (2000). Discutindo o conceito de promoção de saúde no trabalho do psicólo- go que atua na educação. Psicologia: Ciência e Profissão, 20(2), 46-59. De Jou, G. I., & Sperb, T. M. (1999). Teoria da mente, diferentes abordagens. Psicologia: Re- flexão e Crítica, 12, 287-306. Del Prette, Z. A. P., & Del Prette, A. (2005). Psi- cologia das habilidades sociais na infância: Te- oria e prática. Petrópolis, RJ: Vozes. Dessen, M. A., & Polônia, A. C. (2007). A fa- mília e a escola como contextos de desenvol- vimento humano. Paidéia (Ribeirão Preto), 17, 21-32. Dias, M. G. B. B. (1993). O desenvolvimento do conhecimento da criança sobre a mente. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 9, 587-600. Dodge, K. A. (1986). A social information pro- cessing modelof social competence in children. In M. Perlmutter (Ed.), The Minnsesota Sympo- sium on Child Psychology (pp.77-125). Hillsda- le, MI: Erlbaum. GESELL, Arnold. A criança do zero aos cinco anos. São Paulo: Martins Fontes, 1985. Guzzo, R. S. L. (2001). Saúde psicológica, su- cesso escolar e eficácia da escola: Desafios do novo milênio para a psicologia escolar. In Z. A. Del Prette (Org.), Psicologia escolar e educa- cional: Saúde e qualidade de vida (pp. 25-42). Campinas, SP: Alínea. Lourenço, O. (1992). Teorias da mente na criança e o desenvolvimento de crenças falsas: RESUMO A personalidade é formada ao longo da vida e envolve os fatores cognitivo, afe- tivo e social que contribuem para a for- mação da personalidade. Não se pode esquecer de verificar como os processos mentais superiores, isto é, as represen- tações e a linguagem influenciam na comunicação humana, ferramenta im- portante para que as relações interpes- soais se estabeleçam. Para isso, precisamos compreender como ocorre a construção do conheci- mento da pessoa em desenvolvimento, focando as idades e os comportamentos pertinentes, enfatizando as fases de vi- vência escolar e ressaltando os proces- sos evolutivos cognitivos, comunicação, representação, linguagem, socioafetivo e da personalidade. Psicologia_evolutivaCS5.indd 31Psicologia_evolutivaCS5.indd 31 13/12/2010 16:19:2013/12/2010 16:19:20 32 Capítulo 2 Falsas de quem? Análise Psicológica, 4, 431- 42. Maluf, M. R., Deleau, M., Panciera, S. D., Va- lério, A., & Domingues, S. F. (2004). A teoria da mente: Mais um passo na compreensão da mente das crianças. In M. R. Maluf (Org.), Psi- cologia educacional: Questões contemporâne- as (pp. 53-86). São Paulo: Casa do Psicólogo. Ministério da Educação. Secretaria de Educa- ção Fundamental. (1998). Referencial Curricu- lar Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC. MUSSEN, Paul, H e outros. Desenvolvimento e Personalidade da Criança. 7 ed. São Paulo: HABRA, 2001. Oliveira, J. S., Rodrigues, M. C., Abreu, C. S., & Carvalho, C. G. (2007). Prevenção da agres- sividade na educação infantil. Congresso Na- cional de Psicologia Escolar e Educacional, 8. Recuperado em 15 setembro 2007, de http:// www.viiiconpe.psc.br/ RAPPAPORT, Clara Regina; FIORI, Wagner da Rocha; DAVIS, Cláudia. Teoria do Desenvolvi- mento. São Paulo: EPU, 1981, VVI, II, III e IV. Roazzi, A., & Santana, S. M. (1999). Teoria da mente: Efeito da idade, do sexo e do uso de atores animados e inanimados na inferência de estados mentais. Psicologia: Reflexão e Crítica, 12, 307-330. GLOSSÁRIO ATITUDES - são as capacidades deordem sensorial, inte- lectual e motriz, utilizadas para responder à determinada situação. CARÁTER - representa o componente afetivo e dinâmico do comportamento individual, o que permite distinguir uma pessoa da outra; forma-se muito cedo e evolui com o tempo. COMPORTAMENTO - é a forma que a pessoa tem de se inte- grar ativamente no mundo, segundo suas especificidades individuais e socioculturais. Trata-se das atitudes, compor- tamentos e reações diante do ambiente que constituem as relações. COMUNICAÇÃO - participação, informação, transmissão de mensagens. INFORMAÇÃO - esclarecimento, fornecimento de dados, ar- gumentos, transmissão. INTELIGÊNCIA - faculdade de compreender e aptidão para captar as relações; compreensão fácil. LINGUAGEM - uso dos elementos de uma língua como meio de comunicação entre as pessoas, de acordo com a pre- ferência do que foi convencionado, em que se exprime o que se pensa ou se sente. MENTE - faculdade da alma, espírito, intelecto, disposição, imaginação, intuito, aspecto psicológico das funções bio- lógicas do organismo. PERSONALIDADE - é a forma de ser e atuar. Inclui as opi- niões, projetos, motivações, atitudes, afetos e experiên- cias assim como todos os comportamentos, as diferentes condutas e as disposições observáveis ou constatáveis em cada indivíduo. REPRESENTAÇÃO - ato ou efeito de representar, exibição, coisa que se representa, reprodução do que se tem na ideia. SIMBÓLICO - relativo a símbolo, que tem o caráter de sím- bolo, alegórico. TRAÇO DA PERSONALIDADE - pode-se definir em termos de constância na forma de agir: repetição de atos, estabili- dade na conduta, etc. Psicologia_evolutivaCS5.indd 32Psicologia_evolutivaCS5.indd 32 13/12/2010 16:19:2013/12/2010 16:19:20 33Capítulo 3Capítulo 3 VIDA ESCOLAR E DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO OBJETIVOS ESPECÍFICOS • Entender como acontecem os processos educacionais; o verbo; • Compreender como ocorre a aprendizagem em cada fase evolutiva; • Identificar como o desenvolvimento da cognição funciona e como influen- cia na aprendizagem escolar; • Comparar fatores e contextos envolvidos na aprendizagem humana; • Verificar como os contextos de aprendizagem, a interatividade e outros me- canismos influenciam no processo de aprendizagem. INTRODUÇÃO Neste capítulo, vamos estudar como os processos educacionais são vivenciados nos espaço escolares e não escolares bem como compreender como as funções cognitivas influenciam na aprendizagem. Não podemos esquecer que fatores e processos envolvem a aprendizagem bem como os contextos, as formas de in- teratividade e os mecanismos de influência mútua entre o aprendiz e o meio sócio-cultural. Dois autores, entre vários, são muito importantes para a melhor compreensão do que acontece no espaço escolar e no processo da construção do conhecimento: Jean Piaget, que desenvolve seus trabalhos numa plataforma teó- rica, chamada de epistemologia psicogética, e Vygotsky, que funda suas teorias, considerando a história, a cultura e o social como modeladores dos processos psicológicos superiores, entre eles o pensamento e a linguagem. 1. A EXPLICAÇÃO DOS PROCESSOS EDUCACIONAIS A PARTIR DE UMA PERSPECTIVA PSICOLÓGICA A psicologia escolar estuda o processo do ensino e aprendizagem humana, den- tro e fora da escola, que inclui a análise das formas de aprender e de ensinar, a efetividade das intervenções educativas com o objetivo de melhorar o proces- so, aplicando princípios da psicologia aplicada. A psicologia educacional estuda como os estudantes aprendem e se desenvolvem, tanto nas pessoas consideradas adequadas como aquelas que apresentam super ou infradotações. Prof. Dr. Antonio Pereira Filho Carga Horária | 15 horas Psicologia_evolutivaCS5.indd 33Psicologia_evolutivaCS5.indd 33 13/12/2010 16:19:2013/12/2010 16:19:20 34 Capítulo 3 Essa face da psicologia aplicada dá suporte a uma variedade de especialidades que lidam com o es- paço educacional, como a aprendizagem organiza- cional, tecnologia educativa, o desenvolvimento de planos educacionais, as propostas novas de aula, educação especial, e também com as ciências da aprendizagem, como a psicologia cognitiva. A psicologia da educação considera o desenvolvi- mento social e cognitivo quando estuda a relação do estudante com o espaço escolar. Para tanto, o psicólogo usa ferramentas diversas para entender as características da aprendizagem na criança, ado- lescência, adultez e velhice. Assim constrói teorias que descrevem as mudanças nas habilidades men- tais (cognitivas), papéis sociais, juízos (moral) e crenças sobre a natureza do conhecimento. É comum aplicar a teoria do desenvolvimento de Jean Piaget na educação. De acordo com essa teo- ria, as crianças passam por quatro diferentes etapas da capacidade cognitiva durante seu crescimento, alcançando o pensamento abstrato, lógico, supera- dos aos onze anos, usando essas habilidades para utilizar objetos específicos e exemplos para poder adquirir novos conhecimentos. A contribuição mais conhecida de Pìaget foi a ideia de que as pes- soas constroem ativamente sua compreensão por meio de uma autorregulação do processo de apren- dizagem. Piaget propôs uma teoria do desenvolvimento do julgamento moral, em que as crianças progridem de uma compreensão ingênua da moralidade, ba- seada no comportamento e resultados, até uma compreensão mais avançada, baseada em inten- ções. O modelo de desenvolvimento moral tem sido descrito como incrementos graduais que produ- zem mudanças entre estados qualitativamente di- ferentes. O desenvolvimento epistemológico tem sido descrito em termos de mudanças graduais, crendo que as pessoas mantêm a permanência do conhecimento, a persistência das capacidades e a credibilidade das figuras de autoridade, tais como professores e especialistas. Cada pessoa tem um conjunto de características e capacidades que somadas a torna diferente de outros seres. Essas diferenças individuais surgem da constante aprendizagem e desenvolvimento; manifestam-se em fatores, como a inteligência, a criatividade, o estilo cognitivo, a motivação e a ca- pacidade de processar informação, comunicar-se, relacionar-se com outras pessoas. Aprendizagem e Cognição Há duas hipóteses fundamentais em que são assen- tadas as bases dos sistemas educativos formais. A primeira - os estudantes retêm os conhecimentos e habilidades que adquirem na escola; a segunda – os estudantes podem aplicá-los fora das salas de aula, em situações que exijam respostas às exigên- cias do entorno. As pesquisas mostram que muitos dos comportamentos, ao longo da vida, se utilizam de várias contribuições aprendidas no espaço esco- lar formal. Ensino Instrução, doutrinamento, educação. Aprendizagem Ação de aprender, tomar conhecimento, ficar sabendo, reter na memória, instruir-se. ormal. Cognição Aquisição de um conhecimento, compreensão. A psicologia educativa tem-se utilizado de quatro enfoques teóricos para explicar a aprendizagem hu- mana, conforme quadro abaixo: Condutista Consiste num conjunto de técnicas base- adas nos princípios condutuais do condi- cionamento operante, sendo eficiente em algumas situações, como, por exemplo, melhorar o comportamento dos estu- dantes por meio de recompensas siste- máticas, que ser vem de motivação. Essa posição tem sido criticada pelos teóricos da teoria da autodeterminação, que afir- ma que a existência de prêmios debilita a motivação intrínseca dos estudantes. Cognitiva Também chamada cognoscitiva, é utiliza- da com maior frequência pelos condutis- tas, porque admitem os construtos men- tais, como traços, crenças, lembranças, motivações e emoções. Afirmam que a memória tem estruturas capazes de de- terminar como a informação é percebida, processada, armazenada, lembrada e esquecida. Ampara-se na aprendizagem distribuída, resolução de problemas, es- quemas e memória a longo prazo. Psicologia_evolutivaCS5.indd 34Psicologia_evolutivaCS5.indd34 13/12/2010 16:19:2013/12/2010 16:19:20 35Capítulo 3 A psicologia psicogenética e, especificamente sua concepção dos processos de aprendizagem e de desenvolvimento, tem amplas repercussões sobre a teoria e a prática educacionais. Alguns dos aportes significaram êxitos importantes e tem um grau de difusão, tal que fazem parte da bagagem pedagógi- ca contemporânea. A aprendizagem escolar consiste na construção de conhecimentos que têm uma natureza basicamen- te social e cultural. A psicologia genética concebe o desenvolvimento e a aprendizagem como o resulta- do de uma interação constante entre o sujeito e o objeto; na aprendizagem escolar, o professor reside no fato de saber como pode exercer sua influência sobre o processo de construção da aprendizagem do estudante, atuando como mediador entre este e o conteúdo da aprendizagem. No entanto, a educação é uma atividade essencial- mente social, relacional e comunicativa, que tor- na possível que os membros da espécie humana se desenvolvam como pessoas no contexto de uma cultura, das quais recebem ajuda nesta construção. Compreender o papel do meio social nas aprendi- zagens do indivíduo é uma das tarefas dos que se interessam pela temática educacional. As correntes teóricas de pesquisa que partilham a tese do intera- cionismo social consideram a interação do indivíduo com o meio social como o componente determi- nante de suas aquisições cognitivas. Defendendo uma abordagem sociocognitiva, essas correntes se distanciam das abordagens cognitivas que privi- legiam a dimensão intraindividual das aprendiza- gens. Nessa abordagem sociocognitiva, substitui a interação Sujeito-Objeto por uma interação em três termos: Sujeito-Outro-Objeto. A abordagem sociocognitiva da aprendizagem re- nova a reflexão sobre a organização das situações escolares. As teses desenvolvidas por Vygotsky sobre a cons- trução social das funções cognitivas têm um pú- blico maior em psicologia evolutiva, mas inspiram igualmente o campo da educação pelo fato do pa- pel proeminente que atribuem à intervenção do adulto na progressão das aprendizagens do estu- dante. Vygotsky inscreve a questão do desenvolvimento cognitivo numa perspectiva histórica e cultural, em que a tese da descentralização das capacidades hu- manas insiste sobre o fato de que, na origem do de- senvolvimento, os conhecimentos a serem adquiri- dos são externos ao indivíduo e materializados nas obras humanas: literatura, obras de arte, lingua- gem. O desenvolvimento cognitivo é concebido como o movimento de apropriação pelo indivíduo das atividades humanas, depositadas no mundo da cultura. Dois componentes desempenham um papel primordial nesse processo: os sistemas sim- bólicos e as interações sociais. O desenvolvimento das funções mentais superiores – a memória, a linguagem e a consciência – não seria possível senão pela manipulação dos sistemas sim- bólicos (ou semióticos): a linguagem, a escrita, os Sociocogni- tivista Esta teoria recebe influências das teo- rias comportamental, cognitiva e social. Na teoria da aprendizagem social, Ban- dura (copiar foto 1) enfatiza o processo de aprendizagem por observação. Esta recebe, por sua vez, influências do pres- tígio e da capacidade que se percebe como modelo e como reflete no com- portamento social. Acrescentem-se duas outras contribuições teóricas: a aprendi- zagem autorregulada e a metacognição, isto é, parte-se da premissa de que os educandos são mais eficazes quando são agentes ativos que constroem seu conhe- cimento por meio de fixação de metas, tarefas de análises, estratégias de plane- jamento e monitoramento da sua com- preensão. Construti- vista Faz referência às teorias centradas na construção de conhecimentos por meio das experiências passadas e presentes, que contribuem para a formulação e re- formulação de conceitos e ideias por par- te do estudante, considerando os deter- minantes sociais e culturais que influem no processo de aprendizagem. Há dife- renças entre o construtivismo individual (psicológico, Piagetiano) e o construtivis- mo social (vygotskiano). Jerome Bruner, inspirado na teoria sociocultural, intro- duz o conceito de andaime instrucional, entendido como o meio social e ambien- tal que oferece informações como apoio ao processo de aprendizagem. Fo nt e: p t.w ik ip ed ia .o rg /w ik i/A l- be rt _B an du ra Bandura Psicologia_evolutivaCS5.indd 35Psicologia_evolutivaCS5.indd 35 13/12/2010 16:19:2013/12/2010 16:19:20 36 Capítulo 3 números... Verdadeiros instrumentos de constru- ção psicológica, os sistemas de signos desempenham, no tratamento do conhecimento, um papel análo- go àquele dos instrumentos técnicos na manipula- ção do mundo físico. Assim, a aprendizagem dos sistemas de signos é capital para o desenvolvimen- to individual. O papel dos signos é fundamental na medida em que eles tornam possível uma série de controles: sobre outros, sobre o comportamen- to e sobre o pensamento. O exemplo mais palpável é o da escrita, cuja apropriação e domínio permi- tem não somente expressar o pensamento mas, so- bretudo, organizá-lo e regulá-lo. Mesmo reconhecendo o interesse capital da ativi- dade individual, Vygotsky salienta que são as ativi- dades realizadas sob a tutela do adulto que permi- tem as aprendizagens. O indivíduo progride por apropriação da cultura nas inter-relações sociais. A descoberta do meio, a ação sobre os objetos como também a apropriação dos próprios sistemas sim- bólicos dependem da mediação de outrem. Dessa forma, as interações com parceiros mais competen- tes, longe de frear o desenvolvimento de um pen- samento autônomo, são necessárias. Para o conjunto de suas dimensões, o desenvolvi- mento cognitivo resulta de uma dupla formação, primeiramente externa e depois interna, em um movimento que compreende do social ao indivi- dual. As capacidades do estudante se manifestam numa relação interindividual, em que o meio so- cial assegura a orientação da criança, descrita por Bruner (1983) como um processo de assistência ou de colaboração entre a criança e o adulto. O desencadeamento e o controle individuais (au- torregulação) das atividades só surgem num segun- do momento, ao final de um processo de interio- rização favorecido pela repetição das interações sociais. Assim, cada função aparece duas vezes no desenvolvimento cultural da criança: primeiro, entre indivíduos (interpsicológica), segundo, na criança (intrapsicológica). O desenvolvimento é concebido como uma socio- construção, que segue uma direção estritamente inversa àquela que Piaget concebia; em Vygotsky, a aprendizagem social é que causa o desenvolvimen- to. Instrumento psicológico de primeira ordem, a lin- guagem ocupa um espaço exemplar nesse esque- ma de desenvolvimento. As primeiras condutas e formas linguísticas emergem e se desenvolvem no âmbito das situações iniciais de comunicação da criança com seu ambiente. Meio de interação com os outros, a linguagem preenche uma função ex- terna, que será progressivamente aperfeiçoada. Em seguida, a linguagem dirigida a si mesma, denomi- nada de egocêntrica, torna-se para a criança um meio de organizar suas próprias ações no mundo. Evoluindo de linguagem interiorizada ou interna, a linguagem egocêntrica torna-se, finalmente, uma ferramenta intelectual, instrumento de planeja- mento e de regulação das atividades mentais. O estatuto da linguagem egocêntrica no desenvol- vimento é um ponto de divergência entre Piaget e Vygotsky: para Piaget, sinal de imaturidade des- tinado a involuir; para Vygotsky, instrumento de pensamento destinado a progredir. Considerar que a aprendizagem é a condição do de- senvolvimento não significa que toda ela seja possí- vel em qualquer momento. A tese de Vygotsky sig- nifica que as capacidades de aprendizagem de uma criança não devem ser confundidas com o nível cognitivo alcançado em dado momento. Em um domínio qualquer, existiria um “espaço potencial de progresso”,no qual as capacidades individuais poderiam ser ultrapassadas quando certas condi- ções estivessem reunidas. A assistência de outrem é uma dessas condições. Esse potencial de aprendizagem em interação so- cial define um dos conceitos maiores da teoria de Vygotsky: a zona de desenvolvimento proximal (ou zona proximal de desenvolvimento). A ZDP é um com- ponente central do processo de desenvolvimento, porque pressagia e prepara para o que a criança poderá posteriormente realizar sozinha: o que uma criança pode fazer hoje, colaborando com outrem, pode fazê-lo sozinha amanhã. A aprendizagem pre- cede o desenvolvimento, a ZDP assegura o elo en- tre os dois. Favorecer as aquisições da criança consiste, para o mais experiente, em regular a transição da ativida- Egocêntrica Diz-se daquele que só se refere ao próprio eu, tomado como centro de todo interesse. Psicologia_evolutivaCS5.indd 36Psicologia_evolutivaCS5.indd 36 13/12/2010 16:19:2013/12/2010 16:19:20 37Capítulo 3 de em tutela (ou orientação externa) para a ativida- de em autonomia (ou autoorientada). Para fazê-lo, deve ajustar os conteúdos e as condições de instru- ção não às capacidades presentes na criança, mas a seu potencial de progresso. Assim, para o conjunto das aquisições, o mais experiente (particularmen- te o professor) tem a tarefa complexa de trabalhar fundamentado na experiência e nas possibilidades do aprendiz, rompendo, ao mesmo tempo, com elas de modo adaptado aos conteúdos e métodos. Relacionadas à formação escolar, essas orientações designam as interações professor-estudante como o eixo essencial da organização pedagógica da classe. 2. FATORES E PROCESSOS ENVOLVIDOS NA APRENDIZAGEM ESCOLAR É comum ouvir o argumento de que a inteligência, capacidade de aprendizagem está relacionada ao rendimento escolar, mas é também consenso entre os pesquisadores da psicologia escolar afirmar que todos os indivíduos têm uma capacidade essencial para aprender. Os pontos de vistas dentre os auto- res é que são diferentes no que concerne à natureza da aprendizagem escolar. Para os behavioristas (comportamentalistas), as aprendizagens são regidas por leis gerais que po- dem ser descobertas, partindo de fatos observá- veis, em que a aprendizagem é definida como a modificação do comportamento pela experiência, e o estudo das aprendizagens passa a ser uma ciência do comportamento. A necessidade de ir além dos fatos observáveis e de se preocupar com os fenômenos mentais impôs-se progressivamente, e o conceito de comportamento passou a ser aproximado dos conceitos de conheci- mento e de representação. Assim foram inseridas as teorias piagetianas e a abordagem cognitiva do processamento de informação. O behaviorismo foi uma revolução metodológica (estudo apenas dos fatos observáveis) e uma teoria da aprendizagem ao mesmo tempo, cujo modelo é do tipo associativo Estímulo – resposta ( E R ) , em que estímulos externos chegam ao indivíduo que produz resposta (interna ou comportamento), sendo chamada de aprendizagem por condiciona- mento. O condicionamento é concebido como um pro- cesso mecânico, no qual o repertório daquele que aprende é determinado pelos reforços encontrados no meio. A psicologia cognitiva sustenta o contrário da con- cepção behaviorista e tenta construir uma ciência da cognição, estudando o sistema cognitivo, sua estrutura e seu funcionamento. Está centrada nas atividades mentais do indivíduo e nas estruturas que lhe servem de base e não, apenas. nas varia- ções do meio. O primeiro impulso neste sentido é dado por Jean Piaget, que entende a aprendizagem como modi- ficação do estado do conhecimento. Por isso, é considerado como um modelo estruturalista, que afirma a existência de uma série de organizações internas cada vez mais potentes, que permitem in- tegrar dados cada vez mais complexos, as fases. As fases são estruturas cognitivas comuns a todos os sujeitos. As etapas sucessivas do desenvolvimento cognitivo contam com o papel primordial da experiência ou da ação como motores da construção ou até mes- mo da reconstrução, em nível das representações internas da criança, de um mundo físico percebi- do e compreendido de forma intuitiva (fase sensório- motora, do nascimento aos 18 meses). O aspecto mais importante da infância está voltado para a instalação de conhecimentos concretos que dizem respeito às representações imediatas (construção da inteligência operatória na fase das operações concretas, de seis a 12-13 anos) e, depois, às hipóte- ses (construção da inteligência abstrata ou formal na fase das operações formais, acima de 12-13 anos). Trata-se de um longo percurso de organização do mundo marcado por aquisições relativas aos co- nhecimentos e ao uso dos sistemas de relações en- tre os objetos (as classificações, as séries), entre os objetos e o sujeito (o tempo e o espaço) e, enfim, entre os objetos, sujeito, tempo e espaço. A abordagem cognitiva do processamento de in- formação estuda o sujeito humano como um sis- Estímulos Incentivo, gratificação ou punição. Psicologia_evolutivaCS5.indd 37Psicologia_evolutivaCS5.indd 37 13/12/2010 16:19:2113/12/2010 16:19:21 38 Capítulo 3 tema de processamento da informação ou como uma “máquina de aprender”. Propõe-se a estudar e a reproduzir as atividades mentais de processa- mento das informações. Tais atividades supõem a identificação, a transformação, o armazenamento e a recuperação de informações ou o estabeleci- mento de relação das informações entre si. Essas operações diferentes, de acordo com a natureza da tarefa a ser realizada (compreender, avaliar, re- solver, calcular...), têm um denominador comum: todas manipulam informações simbólicas, armaze- nadas na memória, chamadas de representações. A psicologia cognitiva atribui um papel central à noção de representações e à memória, onde essas informações são armazenadas. A memória não é concebida como um sistema unitário, mas como uma estrutura modelar constituída de duas ins- tâncias principais: a memória de longo prazo e a memória de curto prazo, que se tornam a memória de trabalho. As informações presentes na memória de longo prazo são de vários tipos. Uma primeira distinção separa os conhecimentos procedurais, que indi- cam a maneira de organizar as ações (as compe- tências), dos conhecimentos declarativos, factuais (o rio Capibaribe está situado no Estado de Per- nambuco), ou conceituais (Estado é um espaço geográfico, politicamente declarado e reconhecido numa Federação de Estados). Dificilmente comu- nicáveis, os conhecimentos procedurais são habili- dades perceptivo-motoras e cognitivas (habilidades para subir numa moto ou resolver um problema matemático). Sua aquisição e sua automatização dependem de uma prática repetida e prolongada da atividade em questão. A elaboração de conhecimentos procedurais, a partir de saberes declarativos, pode causar pro- blema para os aprendizes; por exemplo, a criança sabe que existem os números (conhecimentos de- clarativos), mas a utilização pertinente destes e as condições desta utilização (conhecimentos proce- durais) requerem uma aprendizagem longa, e, às vezes, difícil. Uma segunda distinção opõe informações semân- ticas e informações episódicas. As informações semânticas formam a base de dados linguísticos e conceituais necessários à produção e à compre- ensão da informação oral ou escrita: o léxico (ca- racterísticas formais e funcionais das palavras de uma determinada língua), símbolos, significações, referentes, conceitos, regras de manipulação dos símbolos e de suas relações, etc. Esse conjunto de conhecimentos forma um conteúdo abstrato, relativamente pertinente e diretamente ligado às aprendizagens escolares (geográficos, históricos, científicos, etc.). As informações episódicas são relativas às lem- branças das experiências pessoais e às relações espaço-temporais que essas lembranças mantêm entre si. Trata-se de representaçõesmais ou menos pertinentes, capazes de constituir obstáculo para as aprendizagens, por darem lugar a certas concep- ções errôneas do mundo. A memória de curto prazo (MCP) se distingue da memória de longo prazo (MLP) em três dimensões: a capacidade, a velocidade de recuperação, o tipo de codificação. A MCP possui uma capacidade de armazenamento limitada a poucas informações (no adulto, mais ou menos sete unidades), mas um tempo de aquisição e de recuperação relativamente rápido, ocorrendo o inverso na MLP. A natureza das codificações utilizadas é diferente na MCP e na MLP: mais fonológica na primeira, mais semân- tica na segunda. Um processo central caracteriza o funcionamento da MCP: a autorrepetição, que permite a transferência das informações da MCP para a MLP. Na execução de uma tarefa cognitiva qualquer (aprender, raciocinar), a MCP garante a manipu- lação das informações e a manutenção temporária dos produtos intermediários de processamento efetuados sobre essas informações. É por isso que hoje se prefere chamar de memória de trabalho (MT) para designar essa dupla função da MCP. Allan Braddeley descreve a MT como um sistema que compreende um administrador central, com- parável a um centro de controle e de pilotagem, res- ponsável pelo funcionamento dos dois sistemas su- bordinados: um anel articulatório, espécie de “fala interior” destinada à manutenção da informação verbal auditiva (linguagem oral) e fonológica (lin- guagem escrita), e uma caderneta visório-espacial encarregada da manutenção das informações em forma de imagem. O anel articulatório comportaria dois componen- tes: um destinado ao armazenamento fonológico, e o outro encarregado do controle articulatório, que permite ler a informação armazenada e, assim, Psicologia_evolutivaCS5.indd 38Psicologia_evolutivaCS5.indd 38 13/12/2010 16:19:2113/12/2010 16:19:21 39Capítulo 3 trazer à tona o que precisa para completar o proces- so. Este se torna necessário pelo caráter temporá- rio (máximo dois segundos) dos traços mnêmicos, contidos na unidade de armazenamento. Os recursos cognitivos representam a energia men- tal mobilizável por um indivíduo para o cumpri- mento de determinada tarefa. Esses recursos são limitados, e a MT busca, num mesmo reservatório, inúmeros recursos para manipular e manter ativas as informações e os procedimentos úteis na reali- zação das tarefas cognitivas. Essa dupla operação consome mais recursos cognitivos quando a quan- tidade de informações a serem processadas for grande, e os processamentos forem longos. Nesse caso, a carga cognitiva requisitada pelos processa- mentos pode provocar o fracasso na tarefa a ser realizada. Os recursos cognitivos requisitados por uma tarefa dependem do nível de experiência do sujeito na área em questão, do nível de desenvolvimento e da estratégia adotada. Quando a carga cognitiva mobilizada ultrapassa os recursos disponíveis, há sobrecarga cognitiva. Assim, a carga cognitiva usa- da dependerá do uso de procedimentos mais dis- pendiosos e mais detalhados ou mais simples. O aprendiz tem todo o interesse em adquirir um pro- cedimento econômico, se não quiser sobrecarregar seu sistema cognitivo e aumentar o risco de erro. A capacidade da MT é fortemente solicitada por um processamento que requer várias etapas. É pre- ciso distinguir processos automáticos e processos contro- lados. Os automáticos não requerem ou requerem poucos recursos cognitivos, e os controlados usam importantes recursos cognitivos. A atividade leitura-compreensão exemplifica bem a articulação automatismo-controle, já que para resolver um problema, o sujeito deve recuperar, na memória, dados necessários e manter tempora- riamente, na memória de trabalho, as informações que resgatou da MLP e aquelas resultantes dos procedimentos usados. Essas operações são usadas simultaneamente; assim, a memória de trabalho é ocupada por informações relativas ao armazena- mento e às diferentes etapas de processamento dos dados. Os conhecimentos já adquiridos possibilitam a aquisição de novos saberes. Compreender um tex- to oral ou escrito é construir uma representação da informação que nele é descrita. Os conhecimentos anteriores revelam-se como uma variável essencial na compreensão. A base de conhecimentos tem também um papel fundamental na utilização das estratégias de apren- dizagem; os sujeitos aprendem mais facilmente a estratégia de categorização e a transferem para outras tarefas, se forem treinados para isso com o auxílio de um conteúdo oriundo de sua base de conhecimentos, em vez do auxílio de informações que lhe são pouco familiares; assim a estratégia de aprendizagem é facilitada quando elas se apoiam em conhecimentos prévios. Compreender um texto oral ou escrito é cons- truir uma representação da informação que nele é descrita. Os conhecimentos anteriores revelam-se como uma variável essencial da compreensão, por- que este fator está na origem das diferenças entre os sujeitos; não é a capacidade de leitura, mas é o estado da base de conhecimentos anteriores que pode compensar a diferença de nível de leitura. A base de conhecimentos tem também o papel fundamental na utilização das estratégias de apren- dizagem, como a estratégia de categorização, o que facilita quando são apoiadas em conhecimentos prévios. A relação das informações novas e antigas é acom- panhada de operações, como seleção, categoriza- ção, transformação, organização dessas informa- ções, operações que são mais custosas em recursos cognitivos quanto mais pobre for a base de conhe- cimentos. Pesquisadores destacaram que determi- nados tipos de organização textual (principalmen- te narrativa) são mais eficazes que outros (como os explicativos) e que algumas reformas da estrutura contribuem muito para facilitar as aprendizagens. As informações da MLP são, muitas vezes, de difí- cil recuperação, o que pode ser resolvido pela ati- vação do itinerário que leva à informação. Entre os recursos disponíveis, está o esquema, por serem aspectos da organização dos conhecimentos na MLP relativos a um sem número de situações este- reotipadas de atividades costumeiras, que formam uma espécie de blocos de conhecimentos (declara- tivos, procedurais, socioculturais) que podem ser ativados. Esses blocos ou esquemas são associados a domínios específicos e se constituíram nas expe- riências e aprendizagens do sujeito. Psicologia_evolutivaCS5.indd 39Psicologia_evolutivaCS5.indd 39 13/12/2010 16:19:2113/12/2010 16:19:21 40 Capítulo 3 Nas operações de compreensão, o esquema corres- pondente à informação tratada é ativado de forma mais ou menos voluntária e constitui uma estru- tura de acolhimento ajustada a essa informação. Quando a informação for simples e corresponder às expectativas induzidas pelo esquema, é imedia- tamente integrada, mas quando for complexa e/ou lacunar, a ativação do esquema desenvolve a busca na MLP de informações que faltam e fornecem, à revelia, as ligações ou os acontecimentos não expli- citamente presentes na informação a ser tratada. O conjunto das operações de ativação, de busca e de produção visa permitir um melhor ajuste entre a informação nova e aquela já presente. O esque- ma é um mecanismo ativo de reconhecimento da informação. A representação das informações na memória não é unicamente de natureza semântica (proposicio- nal), mas, uma de forma de proposição (abstra- ta) e uma em forma de imagem (possuindo uma semelhança marcada com o objeto físico). Esses dois modos de representação correspondem aos diferentes valores das imagens das palavras. Assim, as palavras concretas (casa, maçã, cavalo) têm uma forte capacidade de suscitar uma imagem mental, ao passo que as abstratas (necessidade, esforço, qualidade) têm um valor de imagem fraco. É sobre este postulado que repousa a teoria da dupla co- dificação. A palavra abstrata, que permite apenas o uso do código verbal, só seria codificada sob a forma de proposição,enquanto a palavra concreta favorece uma representação sob a forma de propo- sição e de imagem ao mesmo tempo. Nesse caso, a recuperação da palavra na memória é mais fácil. Esse fenômeno sugere que a imagem seria ocasio- nalmente mais eficaz do que a palavra nas tarefas de aprendizagem. A recuperação das informações e todas as opera- ções de processamento da informação são com- plexas e cognitivamente custosas; requerem o domínio de habilidades de alto nível para todos os campos disciplinares, como leitura, produção escrita, números e resolução de problemas. O exer- cício de tais habilidades apoia-se na utilização de procedimentos e de estratégias. Os procedimentos são operações que intervêm em informações ou dados (verbais, numéricos), visando assegurar sua manipulação e/ou seu pro- cessamento. Vários procedimentos podem estar potencialmente disponíveis para a realização de uma mesma tarefa. A escolha e a manutenção de um dos procedimentos podem constituir um in- dicador do nível de capacidades alcançado pelo indivíduo. Pode-se distinguir dois tipos de estratégias: as cog- nitivas - consideram as características da tarefa (por exemplo, aprendizagem pelo texto, integrar a ideia que resume um texto e substituir termos catego- riais por listas de objetos, personagens, etc.) e as metacognitivas - centradas nas características do su- jeito, e neste caso, o aprendiz utiliza o conhecimen- to que tem de seus próprios processos mentais, da capacidade e do funcionamento destes, para con- trolar e melhorar seus desempenhos. Trata-se de metaconhecimentos. É o caso de lembrar melhor um texto, quando se memoriza o essencial, ao invés da forma verbal ou literal, e assim se limita a apren- dizagem a algumas palavras-chaves do texto. Os es- tudantes com dificuldades ignoram geralmente a utilidade dessas estratégias de controle. Algumas estratégias parecem se desenvolver espon- taneamente, como a autor-repetição, outras deve- rão ser ensinadas, como as relativas ao processa- mento de textos. A atividade de processamento semântico das infor- mações é um poderoso elemento de aprendizagem, e esse fenômeno pode ser verificado em tarefas como preenchimento de frases. Quando se obser- va a maneira como sujeitos de 10 a 18 anos estu- dam espontaneamente um texto, nota-se que, aos 10-12 anos, a atividade resume-se a uma simples leitura, mas, à medida que a idade aumenta, o pro- cessamento torna-se mais estratégico: a proporção dos que anotam e sublinham aumenta considera- velmente. A maneira como os sujeitos compreendem um texto é associada ao conhecimento e ao controle sobre seu próprio funcionamento cognitivo, que, inicialmente é centrado na memória e, depois de- senvolvem a metacognição, que raramente aconte- ce antes dos sete anos de idade. Assim, aos quatro anos, as crianças conhecem mal os limites de sua MCP e superestimam as capacidades desta; somen- te acima dos onze anos de idade, usam-na de ma- neira correta. A automatização das estratégias é um dado funda- mental, como a autorrepetição (decorar), a autoa- valiação do investimento na memorização e no res- Psicologia_evolutivaCS5.indd 40Psicologia_evolutivaCS5.indd 40 13/12/2010 16:19:2113/12/2010 16:19:21 41Capítulo 3 gate das informações necessárias para a realização de tarefas de cunho escolar (estabelecimento de re- lação); o reagrupamento, a categorização semânti- ca são mobilizados e utilizados em tarefas simples, que tratam de conhecimentos bem delimitados e dominados; quando o processamento explora ca- racterísticas de natureza conceitual, a aprendiza- gem é facilitada. 3. OS CONTEXTOS DE APRENDIZAGEM, INTERATIVIDADE E MECANISMOS DE INFLUÊNCIA EDUCACIONAL A educação escolar tem como objetivo provocar intencionalmente as aprendizagens necessárias para que produzam desenvolvimento que não te- riam espontaneamente. Deve-se entender que, no desenvolvimento, sempre se tende a produzir um novo desequilíbrio nas aprendizagens. É função da educação escolar provocar certos desequilíbrios não espontâneos e intervir no processo posterior de reequilibração, favorecendo a mediação entre o sujeito e o conhecimento, em que o professor tem um papel fundamental, porque ele é que tem que possibilitar as condições para que o conhecimento ocorra. O processo de aprendizagem centrada somente em quem aprende ou centrar-se somente nos recursos como forma de mediar a aprendizagem entre o su- jeito e o conhecimento produz uma ambiguidade com relação ao papel do professor na intervenção educativa. Essa ambiguidade do papel do professor traduz uma forma de entender os processos escolares de ensino e de aprendizagem que não consideram o que constitui a característica mais importante, que é a interação sistêmica e planejada dos atores do processo educativo, que é estudantes e professor em torno da realização de uma tarefa de aprendiza- gem, como afirma Coll (1996, p. 135). O papel da educação pressupõe a vontade explíci- ta do estudante em incidir na aprendizagem e não nas práticas educativas que valorizam apenas as aprendizagens espontâneas. No processo educativo, influi, na aprendizagem do estudante, a intencionalidade, a tomada de deci- sões e as condições em que acontece a aprendiza- gem. O processo de ensino e aprendizagem ocorre tanto no contexto da interação entre o professor e o estudante como também na interação desses ato- res com o conteúdo ou na tarefa de aprendizagem que o estudante vai executar, a que se chama de interatividade. A interatividade ressalta a articula- ção e a inter-relação das ações do professor e dos estudantes numa situação concreta. A interatividade é produzida quando as ações in- ter-relacionadas acontecem em função de um con- teúdo específico ou de uma determinada tarefa de aprendizagem. Isso supõe enfatizar a importância da dimensão temporal das atuações do professor e estudantes, situados em atividades conjuntas, pois é ali que o professor determina as ajudas e os ajus- tes com relação ao nível de competência do estu- dante com relação ao conteúdo ou à tarefa. Essa interatividade assume ações inter-relaciona- das dos participantes que são construídas, na me- dida em que desenvolvem o processo de ensino e aprendizagem. Não é possível determinar como se constrói a atividade conjunta de antemão, mas, so- mente no decorrer do processo. Esse processo inclui tantos os intercâmbios comu- nicativos entre professor estudantes e seus pares como o conjunto mais amplo de atuações de cada um, que vai da aparência individual até o significa- do educativo da atividade conjunta. Considerando a fala como uma forma específica de atividade e a dependência do discurso na sala de aula, a noção de interatividade remete a um duplo processo de construção: o processo de construção das aprendi- zagens dos estudantes e o processo de construção da própria atividade conjunta que o professor e o estudante realizam juntos, regulados por normas e regras que cada momento determina quem pode dizer ou fazer algo, quando, como, sobre o quê e a respeito de quem, determinando a estrutura de participação. É nesta interatividade que são execu- tadas as ajudas necessárias, favorecendo a atividade autoestruturante do aprendiz. Coll (1996, p.137) afirma que a atividade autoestru- Interatividade Influência recíproca. Psicologia_evolutivaCS5.indd 41Psicologia_evolutivaCS5.indd 41 13/12/2010 16:19:2113/12/2010 16:19:21 42 Capítulo 3 turante do estudante é produzida não como uma atividade individual, mas como parte integrante de uma atividade interpessoal que a inclui. A ativida- de do estudante que está na base do processo de construção de conhecimento é o fato mais impor- tante da interação ou da interatividade professor e estudante. A análise do processo de ensino e aprendizagem na ótica da interatividade permite identificar e descre- ver mecanismos de influência educativa presentes no processo da relação entre professor e estudantes duranteuma tarefa. Coll (1996) afirma que os mecanismos de influên- cia educativa são aqueles procedimentos em que o professor promove e facilita o processo de constru- ção de significados nos estudantes e a atribuição de sentido no transcurso das ações escolares. Arrieta (2001) assevera que os mecanismos de in- fluência educativa são associados a dois tipos de ajuda: do professor ou pessoa mais competente e do estudante com relação ao conteúdo. Assim, os mecanismos de influência educativa são processos subjacentes às formas e aos dispositivos, em que é possível ajustar a ajuda educativa à atividade mental construtiva do estudante nas situações de ensino e aprendizagem na sala de aula. São meca- nismos interpsicológicos que se dão na atividade conjunta entre o professor e o estudante, podendo adotar diferentes maneiras de acordo com os pro- cessos subjacentes da interatividade. Assim, esses acordos agem numa dimensão temporal em que as tendências ou padrões de evolução determinam o grau em que está operando. O professor determina usar os apoios e recursos necessários para poder conectar com a representa- ção do conteúdo do estudante e modificar em fun- ção da representação que deseja construir. Assim, vão de significados cada vez maiores, específicos e próximos ao que é culturalmente aceito para o conteúdo estudado. Essa construção de significados compartilhados ocorre na interatividade em que o professor media progressivamente a construção do conhecimento do aprendiz com os níveis de maior intersubjeti- vidade (trocas entre pares, busca na mídia das in- formações necessárias para a realização do traba- lho escolar). O processo de negociação é possível, graças à linguagem, já que permite representar, de formas distintas, os objetos, as ações e os aconteci- mentos, permitindo diversos níveis de intersubjeti- vidade em que transitam contextos sociais específi- cos de referência. Daí, passa da intersubjetividade à interiorização dos significados em nível intrapsi- cológico. O progresso do estudante vai se tornando cada vez mais autônomo no que concerne ao uso dos con- teúdos no seu cotidiano, do objeto do ensino e da aprendizagem. As funções de apoio mediado pelo professor ou tu- tor aumentam os recursos cognitivos limitados do que aprende, permite centrar-se e dominar deter- minados aspectos da tarefa. Com essa mediação a experiência facilita que esses elementos se tornem familiares e o aprendiz possa estabelecer relações entre ele e o conhecimento. Wood (1976) descreve quatro tipos de mediação de controle: 1. ajuda verbal de caráter geral (serve para todos os estudantes), 2. instruções verbais específicas (mais direta com material manipulável), 3. organizar o material e 4. realizar completamente a tarefa. Essas media- ções de controle encontram apoio na teoria sócio-cultural de Vygotsky, especialmente no que se refere à Zona de Desenvolvimento pro- ximal, já visto em capítulo anterior. O estudante, nessa perspectiva, é o artífice do pro- cesso de aprendizagem, e o professor é quem deve proporcionar as ajudas necessárias, para que ocor- ra a aprendizagem que poderia ser difícil, se ocor- resse sem a presença de alguém mais experiente. A interatividade mediada pelo professor aproxima os significados que o estudante constrói e os que são propostos nas disciplinas específicas. Neste contex- to de interatividade, os mecanismos operam os me- canismos de influência educativa que favorecerão a atividade autoestruturante do estudante. A influência do contexto escolar sobre os desempe- nhos cognitivos do estudante foi analisada durante muito tempo apenas em função das condições de trabalho do estudante; hoje, consideram-se as ca- racterísticas sociais das situações escolares e as suas significações. Psicologia_evolutivaCS5.indd 42Psicologia_evolutivaCS5.indd 42 13/12/2010 16:19:2113/12/2010 16:19:21 43Capítulo 3 Centradas no funcionamento interno do aprendiz ou no papel das variáveis externas à escola, deve- se considerar as influências internas; a evolução é visível sob o impulso da cognição em situação, que defende a ideia de que as condutas significativas de um indivíduo não poderiam ser compreendidas sem a consideração do meio no qual ele intervém. Relacionado às condutas cognitivas do estudante, esse procedimento leva a considerar as realidades internas da sala de aula. Um estudante com dificuldades não é necessaria- mente um indivíduo cujas capacidades intrínsecas são insuficientes, mas, sim, um estudante que não percebe o que está em jogo (ou o sentido) no tra- balho escolar, ou que atribui à escola, à tarefa, às expectativas do professor significações diferentes daquelas valorizadas pela instituição. O conceito de clareza cognitiva foi proposto por Sowning e Fijalkow (1984) no domínio da leitura, para ressaltar o quanto é importante para o êxito de suas aprendizagens que o estudante compreen- da a finalidade das situações e das tarefas que lhe são propostas. A dissonância entre as perspectivas da escola e aquelas dos estudantes poderia ser uma das expres- sões da distância cultural entre o estudante e a es- cola, noção usada pelos sociólogos para explicar as dificuldades dos estudantes originários de meios sociais desfavorecidos. De acordo com essa ideia, o esclarecimento dos contextos escolares, precisa- mente o contrato pedagógico entre o professor e os estudantes, deveria beneficiar essa ação pedagógi- ca. As desigualdades escolares atingem os estudantes de maneira desigual, conforme seu vínculo social. Pode-se verificar essa afirmativa como mostra a se- guinte situação: Os estudantes fracos encontram-se em dificuldades, quando confrontados com uma interrogação oral pública (situação de individu- ação); suas dificuldades aumentam quando a ex- pectativa é significativa, e os estudantes fortes, sem perspectiva de interrogação (anonimato), desinves- tem a atividade quando seu estatuto é reconhecido e ficam desestabilizados pela perspectiva de uma interrogação oral, quando seu estatuto encontra-se fragilizado. O exemplo aventado acima mostra que as condi- ções de comparação social combinadas a sanções positivas ou negativas (atribuições de êxito e fra- casso) acarretam consideráveis variações de desem- penhos para um mesmo nível geral prévio. Vale salientar que as variações de desempenhos em função das condições sociais variam em função do nível geral dos estudantes. O acúmulo de experiências escolares positivas leva os bons estudantes a apreciarem as interrogações públicas, o que é rejeitado pelos estudantes fracos, porque não se sentem bem quando são reconhe- cidas suas fragilidades em público. Acostumados com o fracasso escolar, esses estudantes revelam-se incapazes de assumir uma avaliação pública (em individuação) após uma avaliação positiva (atribui- ção de êxito). As situações escolares despertam nos estudantes a lembrança de acontecimentos de sua história escolar armazenados na memória. O caráter inabitual de certas situações (“avisar” que serão avaliados publicamente) provoca um desvio da atenção dos sujeitos e afeta seus desempenhos cognitivos. Assim, o estudante preocupado com o que lhe acontece não consegue se concentrar ple- namente nos estudos. Isso explica o fracasso agra- vado dos sujeitos fracos em individuação após uma atribuição de êxito e o contradesempenho dos bons estudantes após uma atribuição de fracasso. Esses fenômenos mostram que as condições de in- serção social (estatuto escolar e contexto social de avaliação) podem afetar o funcionamento cogni- tivo. Quando se tornam prática comum, indicam que a atividade cognitiva não é somente afetada pelas propriedades intrínsecas do objeto a conhe- cer mas também pelas condições sociais nas quais ela se exerce. Salienta-se que a dedicação aos contextos escolares é necessária, quando se quer compreender melhor os desempenhos dos estudantes. Uma atenção muito especial deve ser dada às avaliações de classeafetiva e socialmente muito carregada, sobretudo nas condições estabelecidas aos estudantes fracos, os quais são vítimas da interiorização de experiên- cias escolares negativas e da intrusão dessas experi- ências nas situações novas. ATIVIDADE | 1. Conceitue processo educativo. 2. Qual a relação entre aprendizagem e cog- nição? Psicologia_evolutivaCS5.indd 43Psicologia_evolutivaCS5.indd 43 13/12/2010 16:19:2113/12/2010 16:19:21 44 Capítulo 3 3. Identifique quatro fatores que estão envol- vidos no processo de construção do conheci- mento. 4. Descreva o processo da interatividade no contexto da sala de aula. 5. O que influencia na melhor aprendizagem? Oslon, D. R. & N. Torrance (Orgs.). Educação e desenvolvimento humano (7 ed., p. 489-510). Porto Alegre: Artmed. RAPPAPORT, Clara Regina; FIORI, Wagner da Rocha; DAVIS, Cláudia. Teoria do Desenvolvi- mento. São Paulo: EPU, 1981, I II, III e IV. WEBGRAFIA http://pt.wikipedia.org/wiki/Psicologia_evoluti- va http://redepsicologia.com/psicologia-evolutiva http://www.cerebromente.org.br/n11/opiniao/ evolutive-p.htm http://pt.shvoong.com/humanities/religion- studies/1692635-psicologia-evolutiva/ http://pt.shvoong.com/humanities/religion- studies/1692635-psicologia-evolutiva/ h t t p : / / w w w . y o u t u b e . c o m / watch?v=jHBZjX1CFF0 http://www.izles.net/eKXCfVM3nsR/psicologa- a-evolutiva-del-nia-o-y-del-adolecente-i-bi- mestre.html GLOSSÁRIO APRENDIZAGEM - ação de aprender, tomar conhecimento, ficar sabendo, reter na memória, instruir-se. COGNIÇÃO - aquisição de conhecimento, compreensão. EGOCÊNTRICA - diz-se daquele que só se refere ao próprio eu, tomado como centro de todo interesse. ENSINO - instrução, doutrinamento, educação. ESTÍMULO - incentivo, gratificação ou punição. INTERATIVIDADE - influência recíproca. RESUMO Os processos educacionais são viven- ciados nos espaços escolares e não es- colares bem como a compreensão das funções cognitivas que influenciam na aprendizagem, os fatores e os proces- sos que são envolvidos na aprendiza- gem humana, os contextos, as formas de interatividade e os mecanismos de influência mútua entre o aprendiz e o meio sócio-cultural. As contribuições de Jean Piaget, com a epistemologia psi- cogética, e Vygotsky, com os processos psicológicos superiores, entre eles o pensamento e a linguagem, são pedras angulares para a compreensão do pro- cesso de construção do conhecimento. REFERÊNCIAS BARROS, Célia S. G. Pontos da Psicologia do Desenvolvimento. São Paulo: Ática, 1986. COLL, César; MARCHESI, Álvaro, PALÁCIOS, Jesús, e col. Desenvolvimento Psicológico e Educação. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. GESELL, Arnold. A criança do zero aos cinco anos. São Paulo: Martins Fontes, 1985. Maluf, M. R. (Org.), Psicologia educacional: Questões contemporâneas (p. 53-86). São Paulo: Casa do Psicólogo. MUSSEN, Paul, H e outros. Desenvolvimento e Personalidade da Criança. 7 ed. São Paulo: HABRA, 2001. Psicologia_evolutivaCS5.indd 44Psicologia_evolutivaCS5.indd 44 13/12/2010 16:19:2113/12/2010 16:19:21 45Capítulo 4Capítulo 4 O ENSINO E A APRENDIZAGEM EM DIFERENTES FASES DA VIDA ESCOLAR OBJETIVOS ESPECÍFICOS • Entender como são vivenciados o ensino e a aprendizagem na pré-escola e no processo de alfabetização; • Compreender como são realizadas as aprendizagens nas etapas evolutivas da adolescência, focando as especificidades próprias da fase evolutiva; • Identificar como a aprendizagem e o ensino devem ser vivenciados na matu- ridade, na velhice. INTRODUÇÃO Neste capítulo, vamos buscar entender como o espaço formal da pré-escola in- fluencia na formação da pessoa e do aprendiz e, ainda, como se dá a maturidade necessária para o processo de alfabetização da criança. Em seguida, iremos estu- dar como o ensino e a aprendizagem devem ser desenvolvidos na adolescência, na maturidade e na velhice, considerando-se as características próprias de cada etapa evolutiva. 1. O ENSINO E A APRENDIZAGEM NA PRÉ-ESCOLA O ensino e a aprendizagem na pré-escola neste terceiro milênio exigem estraté- gias que propiciem aprendizagens em ambientes que permitam o desenvolvimen- to afetivo e psicomotor da criança, reconhecendo e estimulando as capacidades infantis. As crianças vão construindo suas matrizes de comunicação e de apren- dizagem a partir de uma organização psicomotora desenvolvida nos âmbitos do vínculo com os adultos mais significativos, na exploração, na comunicação e no equilíbrio. Tudo o que a criança memoriza pela força, em nível de córtex cerebral, sem ter despertado o emocional, fica somente na memória. No entanto, o que é ensinado por meio do prazer e do afeto, há menor possibilidade de se fragmentar, poden- do desenvolver, harmonicamente, suas áreas social, intelectual, afetiva, corporal e emocional como um todo. É preciso optar pelo lúdico no qual se pode apro- Prof. Dr. Antonio Pereira Filho Carga Horária | 15 horas Psicologia_evolutivaCS5.indd 45Psicologia_evolutivaCS5.indd 45 13/12/2010 16:19:2113/12/2010 16:19:21 46 Capítulo 4 veitar o jogo espontâneo da criança, o que permi- tirá resgatar a grande riqueza das manifestações da criança no que diz respeito à autoestima, segurança pessoal, confiança nos outros, tolerância com o di- ferente, capacidade de assumir papéis e riscos. A linguagem é adquirida na relação social, sendo imprescindível para a comunicação consigo e com os outros e para representar e configurar o mun- do; assim, o crescimento da criança depende do domínio dos mediadores sociais do pensamento, principalmente, a linguagem. A linguagem desenvolve o próprio pensamento, a convivência com os outros, sendo fator importante na comunicação. Sem a linguagem, não seria pos- sível construir os pensamentos, mas, para ajudar a criança a construir sua expressão, comunicação e compreensão por meio da linguagem, será funda- mental partir do reconhecimento das potencialida- des que toda criança tem, de sua criatividade e de suas capacidades para produzir. A família é mediadora ativa entre o indivíduo e a sociedade, e sua importância é tal que pode afir- mar que ela é quem facilita ou limita os processos de desenvolvimento que afetam seus integrantes. Se a ação da família for adequada, os resultados favorecerão à própria sociedade. A influência do entorno familiar é predominante em todos os pe- ríodos cruciais do crescimento, já que os estilos de comunicação interpessoal ajudam a criança a definir modelos de reação diante das experiências, dos pensamentos e sentimentos dos outros. Quan- do a educação possibilita a participação dos pais, eles melhoram na forma de se comportarem, favo- recendo a independência de seus filhos e ajudam a autoestima, o que repercute no desempenho es- colar dos filhos. A aprendizagem por imitação é determinante, é um de seus produtos. Na maioria das vezes, a família é a única influência educativa permanente na vida da criança; os pais vão e vêm, a criança pode mudar de escola, mas a família per- manece. primeiros educadores e da família são a estrutura primária de pertença da criança, necessário para desencadear o processo de identificação e diferen- ciação que permite adquirir sua própria identida- de. A melhora do ambiente cultural familiar e a elevação da consciência paterna de que essa me- lhora repercutirá diretamente no desenvolvimen- to educativo de seus filhos e em suas melhores aprendizagens e de que a vinculação dos adultos docentes com as crianças deveria ser mediadora foram explicitadas e valorizadas por Lev Vygotsky, em 1932. Para o ensino e a aprendizagem de crianças de 0 a 6 anos de idade, é imprescindível considerar o desenvolvimento físico, anatomofisiológico, psico- motor e psíquico, já que se fala de seres em cresci- mento; não se pode centrar somente na duração das atividades pedagógicas, principalmente naque- las que estejam estreitamente relacionadas com o sistema nervoso da criança, sua capacidade de tra- balho, rendimento intelectuale a possibilidade de fadiga funcional do seu organismo. Nesse sentido, dadas as particularidades do pen- samento e a percepçãoda criança, os conteúdos se interrelacionam e assumem um enfoque globa- lizado e não específico. Conteúdos que precisam ser concebidos como unidades dos processos cog- noscitivos e afetivos e não como áreas isoladas de desenvolvimento sem inter-relação entre si. Tudo isso reflete na organização do processo educativo, em que a atividade pedagógica, que tem suas parti- cularidades próprias, concebe-se como uma classe, e a organização do tempo, como o de uma escola, sem considerar os procedimentos metodológicos e organizativos que se estruturam igualmente com um enfoque escolar. Mediadora Que ou quem intervém, arbitrar. Pensamento Processo mental humano que permite refletir, julgar, realizar abstrações, análise e síntese. Percepção Conhecimento por meio dos sentidos, de estí- mulos exteriores que determinam sensações. O ambiente familiar é a primeira oportunidade que todo ser humano tem para se constituir como tal, portanto a presença do pai ou da mãe como Isto é mais evidenciado nos planos de aula em que concebem como sistemas de conhecimentos há- bitos e habilidades, partindo da ideia de que esta idade é preparatória da escolar e que o importante Psicologia_evolutivaCS5.indd 46Psicologia_evolutivaCS5.indd 46 13/12/2010 16:19:2113/12/2010 16:19:21 47Capítulo 4 é dar à criança o maior número possível de conhe- cimentos para facilitar a aprendizagem escolar. O enfoque mais atual dos objetivos da educação in- fantil consiste em conseguir o máximo de desen- volvimento de todas as potencialidades psíquicas e físicas da criança, que são manifestadas em progra- mas de formação de habilidades e conhecimentos específicos, em que o mais importante é formar capacidades gerais. O importante não é o conhe- cimento em si, mas formar os instrumentos do conhecimento, os processos e as propriedades psí- quicas que permitam a assimilação criadora pela própria criança das relações da realidade objetiva. Os métodos de reforço, repetição e assimilação ex- cessiva de informação precisam ficar no passado e buscar novas formas de realização que se apoiem numa aprendizagem ativa, em que os conhecimen- tos se deem numa atividade rica e dinâmica, que possibilite à criança uma incorporação ativa das relações que se dão no mundo dos objetos e ideias que a rodeiam. Por tudo isso, é que se reforça que o ensino da educação infantil precisa partir de uma concepção teórica bem fundamentada e própria da idade. É preciso que o planejamento do ano letivo expli- cite a posição teórica na qual se baseia e da corres- pondência entre o que argumenta e o que faz na prática pedagógica, porque a teoria é confirmada na prática, que é o critério da verdade, e, por sua vez, a prática aperfeiçoa e consolida a teoria. Isso é importante, porque nenhuma teoria psicológica e pedagógica abarca todas as possíveis manifesta- ções que a prática pedagógica pode solucionar, de maneira eficiente, a diversidade de situações que o cotidiano apresenta. Planejar de forma fechada que não admita a inclu- são de nenhum outro procedimento teórico e me- todológico é tão prejudicial como o de ser eclético, pois, em todo enfoque, sempre há elementos de verdades científicas que nutrem a ciência psicoló- gica e pedagógica numa malha de conhecimentos que não pertencem a uma única concepção teórica. No caso da idade que estamos aventando, consi- derando a mesma idade do nascimento até a crise dos seis/sete anos, implica necessariamente sua adequação para esses princípios gerais e a particu- larização do processo educativo na idade, dada à obrigatória correspondência expressa abaixo. Crise do desenvol- vimento Etapas do desenvol- vimento Traço fundamental De 0 a 1 ano Lactância Relação emocional com o adulto e sua vida estão regidas pelo cuida- dor em todos os aspectos. Predomínio de desenvolvimento sensorial e psicomotor e as bases para o desenvolvimento da lin- guagem. Estabelece um marco de relação afetiva com poucas manifestações de autorregulação. Limitada interação com o meio que o rodeia, mediada pelo adul- to como ser social, e o mundo dos objetos que o adulto proporciona. De 1 a 3 anos Primeira infância Atividade com objetos, pela neces- sidade de colaborar com o adulto e as crescentes necessidades que culminem com a independência de seus atos, sempre sob o olhar do cuidador. Maior ênfase no desenvolvimento cognoscitivo, especialmente a per- cepção e a linguagem. Maior desenvolvimento da aten- ção e do pensamento concreto, atuando diretamente com os ob- jetos. Tentativa em realizar as coisas de forma independente e estreita vin- culação com o meio, especialmen- te com os objetos, o mundo natu- ral que o rodeia mediante ações concretas. Ampliação das relações com ou- tros adultos e predomínio do afe- tivo sobre o regulativo. De 3 a 5 anos Idade pré-escolar Necessidade de se familiarizar e se relacionar com os adultos, ex- tensão dos interesses além do âm- bito infantil e estabelecimento de papéis com argumentos. Predomínio da memória, do pen- samento e da linguagem nos pro- cessos cognoscitivos e maior de- senvolvimento da imaginação. Inicia o equilíbrio entre o afetivo- motivacional e regulativo, com maior controle de sua ação sobre os próprios processos. Isso permi- te maior nível de independência no cotidiano e a possibilidade do quê e com quem fazer. 6 – 7 anos Preparação para a alfabetiza- ção Consolidação de estruturas cog- noscitivas necessárias para o in- gresso na alfabetização. Maior es- trutura entre o afetivo–emocional e o regulativo, que começa a se manifestar em sua ação e no início de regulação de seus processos. Ampliação da interação com o mundo social e natural que o ro- deia e das inter-relações. O brincar continua ocupando um lugar central na vida, o que per- mite fazer uma projeção sobre o estudo como característica da po- sição escolar que aspira. Psicologia_evolutivaCS5.indd 47Psicologia_evolutivaCS5.indd 47 13/12/2010 16:19:2213/12/2010 16:19:22 48 Capítulo 4 A afirmação de que a pré-escola se constitui em uma etapa fundamental no desenvolvimento da personalidade da criança é concorde por todos os psicólogos e pedagogos que se preocupam com a educação, o desenvolvimento e a formação do ser humano. Todas as crianças nascem iguais e de- vem ter igualdade de acesso ao conhecimento e à cultura de todos os povos e devem crescer como cidadãos iguais de seu país e do mundo. Toda criança nasce numa família, cuja situação social, econômica e cultural exerce grande influência no seu desenvolvimento, o que condiciona, em par- te, seu crescimento físico, intelectual e afetivo. É inevitável que as diferenças no ambiente familiar tenham repercussões fundamentais na educação, o que a escola deverá equacionar. A educação infantil deverá complementar a edu- cação doméstica, proporcionando a assistência e educação adequadas para a promoção do desen- volvimento total da criança; precisa ser ponto de formação não somente da criança mas também da família. Esta, também, deverá preparar a criança com vistas à transição para a alfabetização. cada criança desencadeia o processo de apropria- ção da experiência histórico-cultural, em corres- pondência com as particularidades específicas de sua idade. A afetividade em todos os momentos do processo, na atividade, na comunicação, em toda a vida da criança, constitui-se como a pedra angular da educação nesta etapa do desenvolvimento. Sem amor, sem afeto, não há lugar para o desenvolvi- mento. 2. ENSINO E APRENDIZAGEM DA ALFABETIZAÇÃO É consenso que a alfabetização é um fator-chave no rendimento leitor do aprendiz, já que há relação pedagógica entre a educação pré-escolar e a educa- ção básica. Objetiva-se, aqui, mostrar que a alfabetização é uma parte importante no êxito da aprendizagem da leitura na educaçãoculos, já que a representação das crianças em quadros e pinturas co- meçou a mu- dar no século XVII, quando movimentos, como o Protestantis- mo e o Iluminismo, favoreceram a descoberta da infância como etapa diferente da vida adulta e que exigia tratamento educativo diferenciado. Protestantismo A religião dos protestantes. Iluminismo Conjunto de opiniões, preconizadas no sécu- lo XVIII, sobre a existência de uma inspiração sobrenatural Fo nt e: b Fo nt e: w w w .c on sc ie nc ia .o rg /r ou ss ea u. sh tm l J. J. Rousseau (1712-1778) Fo nt e: g ra nd es no m es ed uc ac ao .w or dp re ss . co m / I. Kant (1724-1804) Psicologia_evolutivaCS5.indd 8Psicologia_evolutivaCS5.indd 8 13/12/2010 16:19:1713/12/2010 16:19:17 9Capítulo 1 1. PSICOLOGIA EVOLUTIVA: CONCEITOS, ENFOQUES E MÉTODOS Muito do que se conhece do desenvolvimento hu- mano foi realizado por meio de observações, (Sai- ba mais, consultando a Resolução No 196\96, do Conselho Nacional de Saúde), que foram inicial- mente registradas em diários, nos quais se registra- vam os comportamentos das crianças durante mui- to tempo. Com o tempo, avançou-se e passou-se a usar o método de observações sistemáticas feitas com grupos de sujeitos submetidos a pequenos experimentos. Acres- cida a essa forma de entender os compor- tamentos humanos, a teoria da evolução (Da- rwin), influenciou nas formas atuais de inves- tigações da Psicologia Evolutiva. Ao longo do século XX, têm surgido várias corren- tes e vários modelos teóricos que aclaram sobre as mudanças humanas por meio de descobertas e de investigações científicas. Geralmente, cada um desses modelos tem suas próprias explicações e, às vezes, são contraditórias ao que afirmam outras te- orias. Essa diversidade de paradigmas enriquece a compreensão do fenômeno da evolução humana. ATIVIDADE | Buscar o conceito de EVOLU- ÇÃO no dicionário. Como mais significati- vo entre esses modelos, temos: a Psicanálise, tendo como represen- tante Sigmund Freud ; a Psicologia Genética de Piaget ; o modelo sócio-cultural de Vygotsky ; as teorias da aprendizagem; o mo- delo do processamento da informação e os mo- delos ecológico e etoló- gico do desenvolvimen- to humano. Segundo Erik Erikson, há uma série de tarefas implícitas no desenvolvi- mento do ser humano, próprias das sucessivas eta- pas. Essas tarefas são, em grande parte, impostas pela sociedade e pela cultura. Por meio do proces- so de socialização, realizar as tarefas impostas pela sociedade chega a se converter em aspirações do próprio indivíduo, marcando seu procedimento em determinados momentos de sua vida. Alguns autores definem Psicologia Evolutiva como sendo a área da psicologia que se preocupa com as mu- danças que têm reflexos na conduta e nas habilidades que surgem ao se produzirem mudanças na vida. Sen- do assim, a Psicologia Evolutiva tem dois objetivos fundamentais: a. descrever a conduta dos sujeitos e a maneira como são identificadas as causas e b. os processos que produzem essas mudanças (evolução) na conduta entre uma época e ou- tra. Palácios (2004) propõe outra definição: “A Psicologia Evolutiva é a parte da Psicologia, que se ocu- pa dos processos de mudança psicológica que ocorrem ao longo da vida humana. Esta definição é muito parecida com a anterior, já que a mudança a que este último se re- fere tem a ver com três coisas: a etapa da vida, as circuns- tâncias próprias do entorno nas quais o sujeito vive e as experiências particulares que cada pessoa vive”. O CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO Desenvolvimento e evolução são usados por muitas pessoas como sendo a mesma coisa. Para compre- ender melhor o conceito de Psicologia Evolutiva, é preciso entender primeiro o que seja desenvol- vimento. Não é simples definir o desenvolvimen- to humano, porque existem muitas variáveis que podem afetar o ser humano, o que torna, às vezes, difícil poder identificar o grau de importância de Fo nt e: p t.w ik ip ed ia .o rg /w ik i/C ha rle s_ D ar w in Darwin Fo nt e: w w w .c ul tu ra br as il. pr o. br /f re ud .h tm Sigmund Freud Fo nt e: P ia ge t p t.w ik ip ed ia .o rg /w ik i/ Je an _P ia ge t Piaget Fo nt e: V yg ot sk y pt .w ik ip ed ia .o rg /w ik i/ Le v_ Vy go ts ky Vygotsky Psicologia_evolutivaCS5.indd 9Psicologia_evolutivaCS5.indd 9 13/12/2010 16:19:1813/12/2010 16:19:18 10 Capítulo 1 ATIVIDADE | vamos ao dicionário saber o que é isso? No quadro abaixo (No 1), podemos visualizar uma síntese da teoria psicossexual de Freud: cada uma dessas variáveis. Algumas delas são in- ternas, do próprio sujeito, e outras são herdadas; algumas são externas, advindas do ambiente. O conceito de desenvolvimento está ligado, princi- palmente, a três aspectos: 1. fatores explicativos que ajudam a com- preender a mudança psicológica, 2. o conceito sobre o desenvolvimento está relacionado com os contextos em que as pessoas vivem e 3. têm suas características próprias. Muito se tem especulado sobre o termo de desenvolvimento, já que alguns pesquisado- res não consideram as idades cronológicas, por não apresentarem mudanças signifi- cativas no pensamento, no estado físico e emocional e na capacidade produtiva do indivíduo. O conceito precisa ser amplia- do e suficiente, porque precisa permitir as possibilidades e as consequências possíveis. Assim, o conceito de desenvolvimento deve conter processo de maturação, em que são adquiridas habilidades, funções físicas, mentais ou sociais, suscitando mudanças observáveis nos indivíduos. Dentre os muitos teóricos que contribuí- ram para a Psicologia Evolutiva, temos dois representantes da proposta organicista: S. Freud (1856-1939) e J. Piaget (1896-1980). O primeiro neurologista de formação, e o segundo biólogo, cujas contribuições sobre o processo de desenvolvimento psicológico fazem parte da cultura ocidental contempo- rânea, o eu os torna conhecido por muitos. Das contribuições de Freud, pode-se assina- lar que a. muitos problemas dos pacientes tinham suas raízes no inconsciente do qual o sujeito não tinha conhecimento; b. a maioria desses problemas tinha rela- ção com conflitos sexuais; c. muitos dos problemas tinham origem na infância. Estágio Idade Características Período Oral 0 a 1 ano A atividade de sucção não-nutritiva é a primei- ra manifestação da libido e a primeira conduta com marca sexual. O apareci- mento dos dentes permi- tirá, depois, o desenvol- vimento de uma segunda vertente da atividade oral, nesse caso, com compo- nentes sádicos. Primeira infância Anal 1 a 3 anos A energia libidinal irá voltar-se em seguida para os esfíncteres, por onde são eliminadas as fezes e a urina, estando, então, o prazer ligado às funções excretoras que logo pode- rão também ser utilizadas sadicamente pela criança como uma ferramenta de agressão para expressar hostilidade. Segunda infância Fálico 3 a 6 anos A fonte de obtenção de prazer se desloca ago- ra para os genitais e sua manipulação (complexo de Édipo: o menino com a mãe; complexo de Electra: a menina com o pai). A tensão, que significa essa situação para o ego, e a progressiva interiorização das normas e dos valores sociais darão lugar à for- mação do superego, cons- ciência que procurará go- vernar a vida psíquica. Segunda infância Latência 6 a 11 anos Os impulsos se aplacam. O superego se desenvolve e amplia seus conteúdos, que não serão somente as limitações e imposições procedentes dos pais, mas se estenderão também às aprendidas na escola e nas relações com os ami- gos. Desenvolvi- mento dos 6 a 12 anos Genital Adolescência Com as mudanças bioló- gicas da puberdade, os impulsos reaparecem, e a libido é reativada. A sexu- alidade adquire agora a genitalização própria da idade adulta, e, superadas as fases exclusivamente autoeróticas, volta-se para a relação heterossexual, que caracterizabásica e que depende do desenvolvimento cognitivo e psicolinguístico das crianças nos anos anteriores ao seu ingresso no primeiro ano básico, principalmente aquelas ad- vindas do período pré-escolar. Algumas pesquisas mostram o efeito do desenvol- vimento dos anos que antecedem a educação bási- ca e escolar bem como a importância dessa relação escolar na aquisição da linguagem, leitura e escrita. A preocupação social com o baixo rendimento dos estudantes na aprendizagem da leitura tem seu foco na educação básica, o qual tem conduzido o estabelecimento de políticas públicas educativas e revisados os programas, métodos e textos usados no ensino da leitura nos primeiros anos. A leitura é resultante de uma continuidade entre o domínio da linguagem oral e a aprendizagem da linguagem escrita, que se inicia antes do ingresso no primeiro ano. Há diferenças marcantes entre os alfabetizandos que tiveram experiências esco- lares antes do primeiro ano, como consequência, estratégias educacionais que busquem o sucesso na aprendizagem, na leitura somente nos programas do ciclo básico, sem considerar o que aconteceu antes, pode ser insuficiente e parcial. Outras pesquisas mostram que a aprendizagem ini- cial da linguagem escrita no primeiro e no segundo ano é determinante nos rendimentos posteriores. Alfabetização Propagar o ensino da leitura e da escrita, ensinar a ler e escrever. O ver, observar e admirar outros companheiros serve de motivação em determinadas atividades e aprendizagens. Nesse sentido, temos todos cons- ciência das possibilidades que a imitação oferece (controle dos esfíncteres, comer, aspectos motores, etc.) próprio para esta idade. Através do jogo, os educadores facilitarão os meios para o desenvol- vimento da criança, gerando afeto, amizade, com- panheirismo, ternura e contribuindo para uma maior sensibilidade para com os outros, já que é favorecida a observação, captação, compreensão de estímulos, que criam maior independência e auto- nomia. O centro de todo processo educativo deve ser a criança, e o professor deve ser o mediador; precisa ficar claro que ele não é um executivo que man- da, e a criança ouve e reproduz, mas, um processo orientado para a participação conjunta do profes- sor e da criança e desta com seus colegas que se desenvolvem mutuamente. Mediante atividades e a comunicação com os adultos e outras crianças, Psicologia_evolutivaCS5.indd 48Psicologia_evolutivaCS5.indd 48 13/12/2010 16:19:2213/12/2010 16:19:22 49Capítulo 4 Badian publicou, em 1988, uma pesquisa, duran- te os oito primeiros anos, entre a pré-escola e os finais da educação básica; verificou que a maioria das crianças que tiveram um atraso como leitor ini- cial se mantiveram atrasados para ler durante esses anos. O subgrupo com atraso leitor teve prejuízo nas outras matérias, apesar de ter ajuda oportuna. Cunningham e Stanovich (1997) mostraram que os estudantes que tiveram bom começo na apren- dizagem da leitura no primeiro ano básico foram melhores leitores, mesmo dez anos depois, tanto em velocidade como em leitura compreensiva. Bravo, Bermeosolo, Pinto e Oyarzo (1994) falam do efeito “leitor inicial”, que significa que existe relação entre o conhecimento de letras, sílabas e palavras nos primeiros anos, com o rendimento na compreensão leitora nos anos posteriores. É importante salientar que, quando se fala de lin- guagem, fala-se da expressão fonoarticulatória da fala e de um conjunto de processos cognitivos sub- jacentes, como a consciência fonológica das dife- renças entre os fonemas, a consciência semântica das diferenças de significado e a consciência sintá- tica de seu ordenamento no discurso oral. A linguagem pré-escolar é precursora da leitura hábil, e as habilidades verbais aproximam-se do reconhecimento dos nomes, fonemas das letras, nomes dos números e identificar palavras globais. Depois, a segmentação de uma razão às palavras que a constituem e a análise de seus componentes fonêmicos. No primeiro ano básico, os processos associados com o aprender a ler são a segmenta- ção dos fonemas, a repetição e a correspondência grafo-fonêmica nas letras, sílabas e palavras. Todos esses processos devem ser avaliados com anteriori- dade ao ensino da leitura. Nota-se a existência de estabilidade entre as ha- bilidades pré-leitoras, avaliadas no período da al- fabetização, e a leitura posterior. As crianças que obtêm melhores pontos nas provas de velocidade para nomear números, conhecimento do nome e a pronúncia de algumas letras, conseguem, em poucos meses, melhor aprendizagem na leitura. Estas reflexões confirmam que a chave do sucesso na aprendizagem inicial da leitura está no desen- volvimento durante a fase pré-escolar de alguns processos cognitivos e verbais, fundamentais para essa aprendizagem. Entre os processos preditivos de melhor aprendi- zagem, aparece o desenvolvimento da linguagem oral, da consciência fonológica, da memória ver- bal, da velocidade para nomear objetos e a associa- ção visual-semântica. Ainda, é importante, verifi- car a habilidade para “categorizar sons”, quer dizer, pode conhecer semelhanças e diferenças em rimas e no início das palavras, quando são treinadas na pré-escola. As crianças que apresentam dificuldades nessas áreas poderão recuperar patamar semelhante, se receberem ajuda pedagógica individual, intensiva (diária) e especializada (de acordo com a necessi- dade de cada um), o mais cedo possível, e perso- nalizada para obterem mais fortaleza e superar as debilidades, podendo chegar a serem leitores e es- critores hábeis. Fala-se, hoje, de “alfabetização emergente”, enten- dida como sendo a continuidade cognitiva que existe entre o desenvolvimento das habilidades e as destrezas prévias e necessárias para a aprendiza- gem da leitura com seu domínio como linguagem escrita. O termo alfabetização emergente é mais amplo do que “aprender a ler”, porque implica o desenvolvi- mento cognitivo e verbal contínuo entre a aprendi- zagem da leitura oral e a apropriação escolar da lin- guagem escrita. Não há uma demarcação definida entre os processos de pré-leitura e de leitura, mas há uma continuidade, que tem sua culminância entre os cinco e seis anos. A leitura formal emerge; configura-se por meio da interação das habilidades cognitivas com métodos pedagógicos e as oportu- nidades que absorvem o ambiente familiar, proces- so que começa quando se aprende a falar. É importante ressaltar que a aprendizagem da lei- tura é um processo cultural e não natural. Não deriva diretamente de capacidades inatas que pos- sam ser ativadas com o contato com um ambien- te letrado. É um processo bastante complexo, em que as habilidades e destrezas de ordem cognitiva e neuropsicológica dos estudantes necessitam ser ativadas por métodos pedagógicos adequados. Essa interação permite que as crianças estabeleçam pro- cessos ativos e mediadores entre os signos gráficos e seu léxico pessoal. Com seu domínio, pode mo- nitorar sua própria aprendizagem com a ajuda dos professores. Psicologia_evolutivaCS5.indd 49Psicologia_evolutivaCS5.indd 49 13/12/2010 16:19:2213/12/2010 16:19:22 50 Capítulo 4 que muitas crianças têm para se iniciar na cultura. Em segundo lugar, outro nível mais complexo de processos cognitivos, que compreende a alfabetiza- ção emergente, está formado, principalmente, pela consciência fonológica e pela consciência semânti- ca. Elas ocupam um papel crítico na aprendizagem leitora inicial, pois ativam os processos cognitivos necessários para decodificar e para reconhecer o significado das palavras escritas. A consciência fo- nológica é como o “motor de arranque” da decodi- ficação. A consciência semântica é da compreensão. O desenvolvimento dos processos que configuram a consciência fonológica faz com que as crianças tomem consciência dos componentes fônicos da linguagem oral e sua relação com o significado das palavras. Também facilita sua associaçãocom a linguagem escrita. Na medida em que existe a to- mada de consciência que as palavras estão compos- tas por sons diferentes que contribuem para seu significado, que podem rimar entre si, ter começo e finais semelhantes ou se podem segmentar ou acrescentar, começar a se apropriar do processo de decodificação. Leitura Interpretar o que está escrito; deci- frar o sentido. A mente do pré-escolar não é como uma tábua rasa que possa ser recheada com letras e palavras escritas, apresentadas visualmente, por meio social e escolar. O essencial é quando a criança monitora e realiza sua própria busca ativa de significados en- tre os signos ortográficos. Para conseguir isso, esses significados devem ser decodificados, quer dizer, transportados do código da linguagem escrita para o código mental de sua linguagem oral; para isso acontecer, é preciso que tenham desenvolvido es- truturas cognitivas que facilitem a transformação do código gráfico em código oral e em significado. A aprendizagem da linguagem escrita requer a ati- vação de habilidades cognitivas diferentes das que são necessárias para falar. Se aprender a ler fosse uma aprendizagem natural, não seria difícil para ninguém ler e escrever. O processo de apropriação mental da linguagem escrita nas crianças que in- gressam no primeiro ano tem maior ou menor su- cesso de acordo com o desenvolvimento cognitivo alcançado pelas crianças na pré-escola. Na alfabetização emergente, pode-se distinguir dois conjuntos de processos cognitivos que dão suporte teórico à aprendizagem da decodificação inicial e que é possível desenvolver na pré-escola. Em primeiro lugar, um adequado desenvolvimen- to da linguagem oral e da consciência alfabética. Esta última consiste na tomada de consciência que os fonemas da linguagem falada têm uma tradução gráfica que se pode reconhecer no código escrito. O desenvolvimento de uma boa linguagem oral e da consciência alfabética é condicionante para a aprendizagem leitora, pois, sem eles, as crianças não teriam as bases cognitivas nem a motivação necessária para traduzirem a linguagem escrita em seu próprio léxico mental. Daí a importância que tem a qualidade da linguagem oral ser consonante com o código escrito. Não é uma falta de respeito ensinar-lhes a pronunciar bem. De outra maneira, as crianças devem operar mentalmente com dois códigos fonêmicos diferentes: o oral, de uso co- mum, e o escrito, de uso escolar. Em alguns meios sócio-culturais, tem forte descompasso entre am- bos, o que explica, em parte, a maior a dificuldade ç Consciência Sentimento ou pensamento do que pas- sa em nós; conjunto de representações e de sentimentos do coletivo, histórica e culturalmente ensinados. A intervenção mediadora dos educadores e profes- sores vai produzindo uma transformação nas estru- turas cognitivas das crianças, que facilita o acesso ao significado das palavras e a seus componentes. Esse sucesso depende, em grande medida, da con- tinuação que tenha entre o ensino na pré-escola e o processo de decodificação, o que habitualmente se inicia no primeiro ano. O trabalho psicolinguístico que as crianças efetu- am em alguns processos, como as rimas, os ritmos, a segmentação silábica e fonêmica de palavras, a omissão de sílabas e fonemas, a integração de se- quências fonêmicas, etc., contribui para configurar esquemas cognitivos que facilitam a aprendizagem do código escrito. O processo de interação pedagó- gica deve conduzir à máxima aproximação entre as habilidades fonológicas das crianças e os ensinos dos professores, constituindo uma “Zona de De- senvolvimento Próximo” para a aprendizagem da leitura inicial. Psicologia_evolutivaCS5.indd 50Psicologia_evolutivaCS5.indd 50 13/12/2010 16:19:2213/12/2010 16:19:22 51Capítulo 4 O ensino dos fonemas em sua associação com as letras faz com que as crianças tomem maior consci- ência de que as palavras escritas estão estruturadas em segmentos, cognitivamente separáveis e que es- tão associados com a linguagem oral. Esse processo deve ser iniciado na pré-escola em que implique, necessariamente, um ensino formal da leitura e es- crita, de modo que, ao ingressar no primeiro ano, tenham desenvolvidas, parcialmente, a consciência alfabética e a consciência fonológica. nível de desenvolvimento mais simples para outro mais complexo não é sincrônico, mas assincronias podem ser produzidas, com etapas intermediárias que podem variar em duração entre as crianças e que podem originar atrasos na maturidade de al- guns processos, e que os educadores deveriam ad- vertir em cada caso. 3. ENSINO E APRENDIZAGEM DOS CONTEÚDOS ESCOLARES No processo ensino e aprendizagem, precisa-se con- siderar que o estudante é capaz de fazer e apren- der num momento determinado, dependendo do estado de desenvolvimento operatório em que se encontre (segundo as teorias de J. Piaget). A con- cretização curricular precisa considerar essas possi- bilidades, não somente em referência à seleção dos objetivos e dos conteúdos mas também na maneira de planejar as atividades de aprendizagem, de for- ma que se ajustem as peculiaridades de funciona- mento da organização mental do estudante. Além do seu estado de desenvolvimento, deve-se considerar o conjunto de conhecimentos prévios que o estudante construiu em suas experiências educativas anteriores, escolares e não escolares. O estudante que inicia uma nova aprendizagem es- colar o faz a partir dos conceitos, das concepções, representações e conhecimentos que foram cons- truídos em sua experiência prévia e o usará como instrumentos de leitura e interpretação que con- dicionam o resultado da aprendizagem e também tem implicações para a metodologia de ensino e de avaliação. Faz-se necessário estabelecer a diferença entre o que o estudante é capaz de fazer e aprender sozinho e o que é capaz de fazer e aprender com ajuda de ou- tras pessoas, observando-as, imitando-as, seguindo suas instruções ou colaborando com elas. A distân- cia entre estes dois pontos, que Vygotsky chama de Zona de Desenvolvimento Proximal, porque sita entre o nível de desenvolvimento efetivo e o nível de desenvolvimento potencial, delimita a margem de incidência da ação educativa. De fato, o estu- dante, em princípio, é capaz de fazer ou aprender com a ajuda de outros, podendo fazer ou aprender posteriormente por ele mesmo. O ensino eficaz é, de fato, o que parte do nível de desenvolvimento efetivo do estudante, mas não para se acomodar, g Fonemas Sons advindos dos elementos dos vocábu- los, das palavras enunciadas por alguém. Em consequência, o conceito de alfabetização emergente e uma inovação da ideia de que a apren- dizagem leitora convencional começa no primeiro ano básico. Os processos psicolinguísticos que as crianças deviam ter desenvolvidos desde a pré- escola configuram um umbral indispensável para construir a aprendizagem formal do código escrito. É importante deixar claro que nem todas essas ha- bilidades são desenvolvidas exclusivamente como efeito de um ensino explícito na pré-escola. Algumas delas são adquiridas mediante aprendiza- gens implícitas, e seu desenvolvimento contribui para estabelecer o umbral necessário com vistas a iniciar a decodificação. Essa situação de apren- dizagem implícita se dá, preferencialmente, entre crianças de níveis culturais mais favorecidos, em que exista a qualidade da linguagem familiar, a disponibilidade de livros, os jogos pedagógicos e a qualidade das pré-escolas. Não é uma aprendiza- gem explícita, pois nem sempre as atividades são ensinadas intencionalmente. O conceito de “alfabetização emergente” também implica que não há um momento preciso em que se aprende a ler, mas que esta aprendizagem é um processo que vai se construindo adequadamente. A continuidade do processo de alfabetização emergente entre a pré-escola e o primeiro ano é um processo contínuo, em que se adquirem níveis progressivamente maiscomplexos e quantitativa- mente diferenciáveis nas habilidades que susten- tarão a leitura. A evolução cognitiva e verbal das crianças não sofre uma mudança qualitativa entre os cinco e seis anos de idade. A passagem de um Psicologia_evolutivaCS5.indd 51Psicologia_evolutivaCS5.indd 51 13/12/2010 16:19:2213/12/2010 16:19:22 52 Capítulo 4 mas para progredir através da zona de desenvolvi- mento proximal, para ampliar e para gerar novas zonas de desenvolvimento proximal. A chave não se encontra na aprendizagem escolar em si mesma, mas esta precisa priorizar os conte- údos ou os processos que sejam significativos para o estudante. A diferença entre aprendizagem signi- ficativa e aprendizagem repetitiva afeta o vínculo entre o material novo de aprendizagem e os co- nhecimentos prévios do estudante; se o material novo for relacionado, de maneira substantiva e não aleatória, com o que o estudante já sabe, isto é, se for assimilada sua estrutura cognitiva, tem-se a aprendizagem significativa; se, pelo contrário, o estudante se limita a memorizar sem estabelecer relações com seus conhecimentos prévios, tem-se a aprendizagem repetitiva, memorística ou mecâni- ca. A repercussão da aprendizagem escolar sobre o crescimento pessoal do estudante é maior quanto mais significativo for o conhecimento construído. Assim, o que importa é que a aprendizagem escolar de conceitos, processos, valores seja significativa. A aprendizagem significativa necessita de algumas condições. Em primeiro lugar, o conteúdo precisa ser potencialmente significativo, tanto do ponto de vista de sua estrutura interna (significatividade lógica; não pode ser arbitrário ou confuso) como do ponto de vista de sua assimilação (significativi- dade psicológica; precisam da estrutura psicológica do estudante, elementos pertinentes e relacionais); em segundo lugar, precisa se ter uma atitude favo- rável para aprender significativamente, quer dizer, o estudante precisa estar motivado para relacionar o que aprende com o que sabe. A significatividade da aprendizagem está direta- mente vinculada a sua funcionalidade. Os conhe- cimentos adquiridos, destrezas, valores, normas, etc, - sejam funcionais, quer dizer, que possam ser efetivamente usados, quanto às circunstâncias em que se encontra o estudante, precisa ser uma pre- ocupação constante da educação escolar. Quanto mais numerosas e complexas sejam as relações es- tabelecidas entre o conteúdo novo e os elementos da estrutura cognitiva, quanto mais profunda for sua assimilação, seu grau de significatividade da aprendizagem realizado, maior será sua funciona- lidade, podendo se relacionar com uma amplitude de novas situações e novos conteúdos. O processo no qual se produz a aprendizagem sig- nificativa necessita de uma intensa atividade por parte do estudante, que estabelece relações entre o conteúdo novo e os elementos já disponíveis na sua estrutura cognitiva. Esta atividade é de natureza fundamentalmente interna e não, de identificação com a manipulação ou exploração de objetos ou situações; este último tipo de atividade é um meio que se pode utilizar na educação escolar para esti- mular a atividade cognitiva interna e diretamente implica a aprendizagem significativa. Não se con- funde a aprendizagem por descoberta com a apren- dizagem significativa. A descoberta como método de ensino, como maneira de organizar as ativida- des escolares é uma das vias possíveis para se chegar à aprendizagem significativa, mas não, à única que consegue seu propósito inexoravelmente. É necessário rever o papel que, geralmente, se atri- bui à memória na aprendizagem escolar. Precisa-se distinguir a memória mecânica e repetitiva, que tem pouco ou nada de interesse para a aprendizagem significativa, da memória compreensiva, que é um ingrediente fundamental. A memória não é somen- te a lembrança do que foi aprendido, mas é a base onde se iniciam novas aprendizagens. Quanto mais rica for a estrutura cognitiva do estudante, maior será a possibilidade que possa construir significados novos, isto é, será a capacidade de aprendizagem sig- nificativa. Memorização compreensiva, funcionali- dade do conhecimento e aprendizagem significativa são os três vértices de um mesmo ângulo. Memorização Faculdade de reter as ideias adquiri- das anteriormente, reminiscências. Aprender a aprender é, sem dúvida, o objetivo mais ambicioso e, ao mesmo tempo, pedra angu- lar da educação escolar, o que equivale ser capaz de realizar aprendizagens significativas por meio de uma gama de situações e circunstâncias. Esse objetivo lembra a importância que se deve dar à aprendizagem escolar, à aquisição de estratégias cognitivas de exploração e de descobertas, de ela- boração e organização da informação assim como ao processo interno de planejamento, regulação e avaliação da própria atividade. A estrutura cognitiva do estudante pode ser conce- bida como um conjunto de esquemas de conheci- mentos. Os esquemas são um conjunto organizado de conhecimento, podendo incluir tanto conheci- Psicologia_evolutivaCS5.indd 52Psicologia_evolutivaCS5.indd 52 13/12/2010 16:19:2313/12/2010 16:19:23 53Capítulo 4 Há diversas teorias dos processos psíquicos, como no âmbito do estudo dos processos escolares de ensino e de aprendizagem, que dividem princípios ou postulados construtivistas que coincidem em assinalar que o desenvolvimento e a aprendiza- gem humana são basicamente o resultado de um processo de construção, que o fato humano não se pode entender como inscrito num programa no código genético nem tampouco como o resultado de uma acumulação e absorção de experiências. Somos uma coisa e há outra muito mais, já que aquele que nos converte em pessoas são, precisa- mente, as construções que somos capazes de fazer a partir desses ingredientes básicos. Assim, essas teorias proporcionam explicações e descrições sensivelmente diferentes e, às vezes, contrapostas do que e de como dos processos de construção. E, não somente isto, mas são teorias parciais que centram a atenção em determinados aspectos ou fatores de desenvolvimento e a apren- dizagem em detrimento de outras. Alguns autores expressam melhor como o desenvolvimento e a aprendizagem de Wallon, Piaget, Vygtsky, Ausubel, Bruner e de boa parte dos teóricos do processa- mento da informação podem ser classificados em muitos aspectos, como construtivistas. A adoção da concepção construtivista da aprendi- zagem e do ensino como um dos traços caracterís- ticos do modelo que inspira as reformas curricula- res, em muitos países, inclusive no Brasil, traz uma sensibilidade especial por este panorama teórico. Tenta-se refletir as convergências de ideias, forças ou princípios básicos de enfoques que se situam em enquadres teóricos diferentes, quer-se sair do dogmatismo e do reducionismo, aceitando a possi- bilidade de interpretações diversas, mas, igualmen- te legítimas, dos princípios construtivistas. Tenta- se também repensar e resituar esses princípios que têm surgido em contextos de pesquisas psicológi- cas, considerando as características próprias e espe- cíficas da educação escolar. 4. ENSINO E APRENDIZAGEM NA ADOLESCÊNCIA, NA ADULTEZ E NA VELHICE Neste capítulo, pretende-se destacar o ensino e a aprendizagem na adolescência, na adultez e na velhice. Lembre-se de que são quatro os estádios mento como regras para usar; podem estar com- postos de referências a outros esquemas, podendo ser específicos ou gerais. Os esquemas são estru- turas de dados para representar conceitos genéri- cos armazenados na memória, aplicáveis a objetos, situações, acontecimentos, sequências de fatos, ações e sequências de ações. Os diferentes esquemas de conhecimentos que con- formam a estrutura cognitiva podem manter entre si relações de extensão e diversas complexidades. Todas as funções que se atribuem à estrutura cog- nitiva do estudante na realização de aprendizagens significativasimplicam diretamente os esquemas de conhecimento: a nova informação aprendida é armazenada na memória mediante sua incorpora- ção e vinculação a um ou mais esquemas. A lem- brança das aprendizagens prévias fica modificada pela construção de novos esquemas: a memória é, pois, construtiva; os esquemas podem distorcer a nova informação e forçá-la a se acomodar a suas exigências; os esquemas permitem fazer inferências em novas situações. Aprender a avaliar e modificar os próprios esquemas de conhecimento é um dos componentes essenciais do aprender a aprender. A modificação dos esquemas de conhecimento do estudante é o objetivo da educação escolar. Inspi- rando-se no modelo de equilíbrio de estruturas cognitivas de Piaget, pode-se caracterizar a modifi- cação dos esquemas de conhecimento no contexto da educação escolar como um processo de equi- líbrio inicial, desequilíbrio, reequilíbrio posterior. O primeiro passo para conseguir que o estudante realize uma aprendizagem significativa consiste em romper o equilíbrio inicial de seus esquemas com relação ao novo conteúdo de aprendizagem. Além disso, de conseguir que o estudante desequilibre- se, conscientize-se e esteja motivado para superar o estado de desequilíbrio, com o intuito de que a aprendizagem seja significativa. É necessário, tam- bém, que possa reequilibrar-se, modificando ade- quadamente seus esquemas ou construindo novos. Esses princípios e ideias configuram a concepção construtivista de aprendizagem e de ensino. O construtivismo não é uma teoria psicológica em sentido estrito nem tampouco uma teoria psicope- dagógica que dê uma explicação completa, precisa e contrastada empiricamente como os estudantes aprendem que possa resultar em prescrições infa- líveis sobre como se possa proceder para ensinar melhor. Psicologia_evolutivaCS5.indd 53Psicologia_evolutivaCS5.indd 53 13/12/2010 16:19:2313/12/2010 16:19:23 54 Capítulo 4 que caracterizam o desenvolvimento cognitivo da criança e do adolescente. No primeiro, chamado sensório-motor (0 a 2 anos de idade), a criança consegue distinguir habilidades motrizes e men- tais. No segundo período, pré-operacional (2 aos 6-7 anos), desenvolve a habilidade da razão trans- dutiva, porque não alcança nem o indutivo nem o dedutivo, mas forma preconceitos e desenvolve o jogo simbólico e as condutas egocêntricas. Em seguida, nesta mesma fase, sua inteligência é me- ramente impressionista, porque capta um aspecto da situação, entre outros. O terceiro é o operatório concreto (7 a 11 anos), no qual a razão vincula-se coma experiência concreta. Por último, desenvolve o estádio operacional formal, (11 anos até a adoles- cência), em que julgam por hipóteses na ausência de provas materiais, alcançando a razão por hipó- tese dedutiva. O papel do professor nessa fase deve ser de guia e orientador do processo de ensino e de apren- dizagem, pois conhece o que as habilidades dos estudantes requerem, apresentando situações pro- blemáticas que os perturbem e os desequilibrem, assim, criam estudantes capazes de criar e inven- tar coisas novas, formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo o que vê e ouve e formar estudantes ativos, que aprendam a pesquisar por si sós, usando as aqui- sições e descobertas que forem enriquecedoras e produtivas. O ensino e a aprendizagem na pessoa adulta devem considerar as características fundamentais, como os traços biológicos, maturativos, sociológicos, pa- péis concretos de responsabilidade, pensamento lógico, autodireção, função na cultura e outros. Dentre os modelos que ressaltam os traços da pes- soa adulta, destaca-se o motivacional de Huberman: Idades Características 18-30 Concentração na própria vida 30-40 Interesse pelas próprias energias e po- tencialidades 40-50 Confiança e valorização pessoal 50-60 Manutenção da posição alcançada 60-70 Inquietação pela aposentadoria interessa aprender o que tiver especial significado, levando-os a optarem por aquilo que devem apren- der, para que aprender, que metodologia usarão para tal, adaptando-se sempre ao sujeito objeto do processo educativo. Precisa-se considerar que a pessoa adulta aprende de forma diferente, com metodologias adequadas, conforme suas vontades. Para melhor sucesso, é preciso conhecer se o currículo pensado é diferen- te do usado para jovens ou criança e em que sen- tido existe esta diferença. Não há uma pedagogia geral que se adapte a toda e qualquer pessoa como também não há teorias que expliquem tudo e que consideram a aprendizagem adulta como algo di- ferente. É comum ter como base as teorias do ciclo vital (Baltes), modificando as concepções tradicionais às fases da adultez, já que esta etapa evolutiva tem uma dimensão de aceitação social, como as mu- danças biológicas e cognitivas, como a inteligência fluida, cristalizada e o pensamento formal (impor- tante no pensamento de Vygotsky). Interessa, por- tanto, desmistificar que, na adultez, se aprende. Paulo Freire oferece apoio teórico metodológico neste sentido, quando desenvolve o conceito de aprendizagem dialógica como uma metodologia, que consta de vários princípios, como a relevân- cia da aprendizagem, motivação para aprender, a experiência de vida, a autoaprendizagem e a apren- dizagem dialógica. As mudanças emocionais são importantes na hora de conhecer o processo de aprendizagem do adul- to, já que existe uma identidade pessoal, maturi- dade, autonomia e responsabilidade aumentada, etc. Entendendo-se a educação de pessoas adultas como um processo de aprendizagem que tem efei- tos otimizantes em seus protagonistas, precisa-se atender aos mais necessitados, desenvolver planos comunitários, já que esta é um elemento funda- mental nesta etapa da vida e precisa ser promotora e ativa dos processos educativos. O adulto precisa ser protagonista comprometido neste processo para adquirir maior autonomia, promovendo espaço de participação social, contri- buindo para o fortalecimento das redes sociais da comunidade. Dentro dela, existem novas metas, como a adaptação à sociedade de informação, no- vas tecnologias, etc. A pirâmide de necessidades de Maslow oferece di- ferentes necessidades a cada fase, que influencia na motivação dos adultos para aprender o que pode satisfazer suas necessidades e desejos. A eles Psicologia_evolutivaCS5.indd 54Psicologia_evolutivaCS5.indd 54 13/12/2010 16:19:2313/12/2010 16:19:23 55Capítulo 4 Quanto ao ensino e à aprendizagem da pessoa ido- sa, precisa-se considerar alguns pontos importan- tes, como enfrentar temas, como prejuízos e ati- tudes negativas em torno da velhice, que, às vezes, afetam o docente que tem como estudantes pes- soas com mais idade. Às vezes, explicam as men- cionadas suposições preconceituosas que podem contaminar a tarefa educativa com este grupo de idade. No fenômeno do envelhecimento da população em geral, pode-se conferir o incremento da espe- rança de vida pelos avanços científicos e a melhor qualidade das novas gerações, inclusive há univer- sidades que oferecem cursos dirigidos a pessoas idosas que não têm possibilidades de ter acesso à informática. Assim, a Internet se converte numa extensão educacional, promovendo ação social destinada a enfrentar a “barreira digital”, facilitan- do o aprendizado e a utilização da web, com profis- sionais treinados, e o acesso gratuito aos serviços, às informações e facilidades da Internet. Nesta etapa do desenvolvimento do envelhecimen- to, é preciso desenhar técnicas de ensino e tutoria para a aprendizagem informal que, geralmente, é de caráter intergeracional. Deve-se reconhecer que os adultos maiores, além de desempenharem um papel significativo como reservatórios de conheci- mento e habilidades também podem operar como mentores e monitores da aprendizagem. Conside- rando que as pessoas idosas continuam com ati- vidades vinculadas com trabalhos ou profissões precedentes, é de grande importância que, noen- torno da aprendizagem, os programas de formação de formadores estejam vinculados às habilidades e aos conhecimentos que as pessoas de idade pos- suem. O direito à educação não deve estar sujeito a ne- nhum limite de idade e apresenta o grande desa- fio de superar os limites e prejuízos referidos nas etapas úteis da vida intelectual e emocional do ser humano. Algumas características devem ser pen- sadas, tais como o papel que o estudante adulto possui na motivação e na necessidade de medir continuamente a aprendizagem nova e a antiga, a clareza dos objetivos propostos, a disponibilidade para modificar a arquitetura de seus próprios co- nhecimentos e seu modo de avaliar a experiência, a consciência sobre sua experiência de vida, a ten- dência à autonomia no processo de aprendizagem, a acentuação do papel dos procedimentos de so- lução de problemas, conduzidos autonomamente sobre a base de sua própria experiência, e a ajuda facilitadora docente. RESUMO O espaço formal da pré-escola in- fluencia na formação da pessoa e do aprendiz bem como se dá a maturida- de necessária para o processo de al- fabetização da criança. O ensino e a aprendizagem a serem desenvolvidos na adolescência e na velhice precisam considerar as características próprias de cada etapa evolutiva. Qualquer que seja a relação ensino e aprendizagem, há exigências de es- tratégias que propiciem aprendizagens em ambientes favoráveis ao desenvolvi- mento afetivo e psicomotor da pessoa, reconhecendo e estimulando as capaci- dades próprias de cada fase evolutiva. A linguagem é adquirida na relação so- cial e é imprescindível para a comuni- cação consigo e com os outros como também para representar e configurar o mundo; assim, o crescimento da pessoa depende do domínio dos mediadores sociais do pensamento, principalmente, a linguagem. A linguagem desenvolve o próprio pen- samento, a convivência com os outros e é fator importante na comunicação. Sem a linguagem, não seria possível construir os pensamentos, mas, para ajudar a criança a construir sua expres- são, comunicação e compreensão por meio da linguagem, será fundamental partir do reconhecimento das potencia- lidades que toda criança tem, de sua criatividade e de suas capacidades para produzir. ATIVIDADES | 1. Quais as características do ensino na pré- escola? 2. E na transição para a alfabetização? 3. Que cuidados os professores devem ter quando ensinam a adolescentes? 4. E os adultos, o ensino é diferente? Em quê? 5. Identifique como os idosos aprendem. Psicologia_evolutivaCS5.indd 55Psicologia_evolutivaCS5.indd 55 13/12/2010 16:19:2313/12/2010 16:19:23 56 Capítulo 4 BIBLIOGRAFIA Bandura, A. Modificação do comportamento. Rio de Janeiro: Interamericana. Berger, P. L. Perspectivas sociológicas: uma visão humanista. Trad. Donaldson M. Gars Changer.6. ed. Petrópolis: Vozes, 1983. Bigge, M. L. & Hunt, M. P. Bases psicológicas de La educación. México: Trillas, 1970. Bravo, L., Bermeosolo, J., Pinto. E Oyarzo, e. (1994). El “efectolectura inicial” e El rendimien- to escolar básico. Estúdios pedagógicos 19.95- 104. Bravo, L., Villalon, M. e Orellan, E. (2003). Pre- dictividaddelrendimiento de lalectura. El segun- do ano básico. Psyhke, 12 (em prensa). Bronfenbrnner, U. A ecologia do desenvolvi- mento humano: experimentos naturais e plane- jados. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. Del Prette, A. P. & Del Prette, A. Notas sobre pen- samento e linguagem em Skinner e Vygotsky. Psicologia: reflexão e crítica. 8 (1), 147-164. Del Prette, A. P. Z & Del Prette, A. Psicologia das habilidades sociais. Terapia, educação e traba- lho, 4 ed. Petrópolis: vozes, 2005. Goleman, D. Inteligência emocional. Rio de Ja- neiro: Objetiva, 1995. Goulart, I. B. Psicologia da educação. Funda- mentos teóricos, aplicações à prática pedagó- gica. Petrópolis: Vozes, 2000. McFarland, H. S. N. Teoria psicológica e prática educacional. Trad. Jurema Alcides Cunha, Por- to Alegre: Globo, 1977. Piaget, J. El nascimiento de La inteligência em elniño. Madrid: Aguilar, 1972. _______. Psicologia y Epistemologia. Barcelo- na: Ariel, 1973. _______. Seis estudios de sicologia. Sicologia. Barcelona: Seix Barral, 1973. _______ e outros. Introducción a laPsicolinguis- tica. Buenos Aires: Proteo, 1969. _______. La epistemologia genética. Barcelo- na: A. Redondo, 1970. WEBGRAFIA http://pt.wikipedia.org/wiki/Psicologia_evoluti- va http://redepsicologia.com/psicologia-evolutiva http://www.cerebromente.org.br/n11/opiniao/ evolutive-p.htm http://pt.shvoong.com/humanities/religion- studies/1692635-psicologia-evolutiva/ http://pt.shvoong.com/humanities/religion- studies/1692635-psicologia-evolutiva/ h t t p : / / w w w . y o u t u b e . c o m / watch?v=jHBZjX1CFF0 http://www.izles.net/eKXCfVM3nsR/psicologa- a-evolutiva-del-nia-o-y-del-adolecente-i-bi- mestre.html GLOSSSÁRIO ALFABETIZAÇÃO - propagar o ensino da leitura e da escrita; ensinar a ler e escrever. CONSCIÊNCIA - sentimento ou pensamento do que se passa em nós, conjunto de representações e de sentimentos do coletivo, histórica e culturalmente ensinados. FONEMAS - sons advindos dos elementos dos vocábulos, das palavras enunciadas por alguém. LEITURA - interpretar o que está escrito; decifrar o sentido. MEDIADORA - que ou quem intervém; arbitrar. MEMORIZAÇÃO - faculdade de reter as ideias adquiridas an- teriormente, reminiscências. PENSAMENTO - processo mental humano, que permite re- fletir, julgar, realizar abstrações, análise e síntese. PERCEPÇÃO – conhecimento, por meio dos sentidos, de es- tímulos exteriores que determinam sensações. Psicologia_evolutivaCS5.indd 56Psicologia_evolutivaCS5.indd 56 13/12/2010 16:19:2313/12/2010 16:19:23a idade adulta. Adolescência Psicologia_evolutivaCS5.indd 10Psicologia_evolutivaCS5.indd 10 13/12/2010 16:19:1813/12/2010 16:19:18 11Capítulo 1 Piaget parte do recém-nascido para chegar ao adul- to por intermédio de observações diretas e experi- mentações originais e sistemáticas. Sua pergunta- guia foi: Como ocorre a construção do conhecimento adulto, partindo da biologia do bebê? Ingressa assim numa epistemologia genéti- ca, isto é, numa teoria evolutiva do conhe- cimento. ATIVIDADE | vamos ao dicionário pro- curar o que é epistemologia? Alguns conceitos são necessários para me- lhor compreender essa teoria. Vejamos: Esquema - é a unidade básica da vida inte- lectual; no começo, são ações puramente biológicas (sugar), que logo vão sendo di- versificadas (sugar para comer) e vão dando lugar a novas condutas (pegar um objeto). Os esquemas logo se internalizam e se trans- formam em ações simbólicas; Assimilação - uma vez dominado um esque- ma, a conduta não só irá se repetir com o objeto sobre o qual inicialmente se formou mas também com todos aqueles que se dei- xem tratar da mesma maneira; Acomodação - existem ocasiões em que um esquema não é capaz de responder às carac- terísticas de um objeto e às exigências destes e do conhecimento que apresenta (desequi- líbrio); então, é necessário modificar o es- quema prévio (acomodação) para restaurar o equilíbrio; com isso, a conduta se diversi- fica, e a adaptação melhora. Estágio - em cada momento do desenvolvi- mento, os esquemas mantêm certa relação entre si; todos eles pertencem a um mesmo nível de funcionamento e de complexidade; todos formam uma estrutura. Cada uma dessas estruturas é um estágio evolutivo. Construtivismo - a atividade de um sujeito sobre os objetos obriga-o a encontrar respos- tas novas para os novos problemas, a inven- tar soluções por meio do desdobramento de um contínuo processo de adaptação; conhe- cer é construir respostas, transformar esquemas, mobilizar toda a maquinaria cognitiva para tornar possível uma adaptação crescente aos desafios que vão sendo encontrados. No quadro seguinte, veremos os Estágios do desen- volvimento intelectual, segundo Piaget. Estágio Idade Características Período Sensório- motor 0 a 2 anos A inteligência é prática e se relaciona com a resolução de problemas de ação (con- seguir movimentar o móbi- le sobre o berço; alcançar um objeto que está sobre a cama). Primeira infância Pré- operatório 2 a 7 anos A inteligência já é simbóli- ca, a linguagem aparece e é enriquecida rapidamen- te, a imaginação se de- senvolve. Os desafios que devem ser enfrentados já não são sensório-motores, mas, lógicos; as tendências ao egocentrismo (adotar o próprio ponto de vista como se fosse o único possível) ou à centração (fixar-se em um traço do objeto, ignorando outro, como quando se vê a altura de um líquido em um copo sem considerar sua largura), fazem com que esses raciocínios ainda ca- reçam de lógica. Segunda infância Operações concretas 7 a 12 anos O pensamento lógico apa- rece; no início, raciocina-se logicamente somente sobre conteúdos simples (defasa- gens horizontais), mas, aos poucos, a lógica cai, impon- do sua soberania sobre to- das aquelas situações que o sujeito pode submeter à verificação empírica, isto é, sobre situações de experi- mentação concreta. Terceira infância Operações abstratas A partir da adolescência O pensamento lógico al- cança sua expressão máxi- ma, porque é capaz de ser aplicado, de forma coeren- te e sistemática, sobre situ- ações que exigem manejar hipóteses e, em seguida, submetê-las a uma verifica- ção ordenada e exaustiva, desprezando as que não se confirmam, ou aceitando, como parte da realidade, as que se confirmam. A expressão máxima desse nível é a forma de operar do cientista que imagina hipóteses, organiza-as, comprova-as, verifica-as, sistematiza os resultados de suas descobertas. Quarta infância Psicologia_evolutivaCS5.indd 11Psicologia_evolutivaCS5.indd 11 13/12/2010 16:19:1813/12/2010 16:19:18 12 Capítulo 1 Segundo Erik Erikson (1994), que complementa essa temática, são oito as fases vivenciadas pelo in- divíduo, a saber: 1. Etapa incorporativa (fase oral) - compreende do nascimento até os dois anos de idade. Ao nascer, a criança passa a depender de forma ab- soluta do meio ambiente. Se a mãe e a família proporcionam cuidado contínuo, consistente e adequado às necessidades da criança, irão produzir nesta sensação de confiança básica, que irá se traduzir por um sentido de espe- rança e de otimismo diante da vida. Quando ocorre o contrário, se o cuidado desde cedo for variável, imprevisível, caótico, produzirá sensação de desconfiança e insegurança. 2. Etapa da infância precoce (fase muscular anal) - compreende de um aos três anos de idade. Aqui se fixa a noção de autonomia da criança. À medida que a criança se torna capaz de controlar os esfíncteres, usar músculos para se mover, balbuciar, vocalizar, desenvolverá uma sensação de autonomia e começará a não depender completamente dos pais. Caso haja sensação de controle excessivo, sente-se enver- gonhada diante dos primeiros fracassos, o que pode gerar, no futuro, vergonha, dúvidas e in- segurança. O ganho maior é a sensação de ter vontade própria. 3. Etapa locomotora genital (pré-escolar) - com- preende dos três aos seis anos de idade. A criança se integra mais ao seu meio externo, toma iniciativas para estabelecer relações mais próximas com genitor do sexo oposto. Nesta etapa, há maior preocupação pelos genitais, pelos pais do sexo oposto e, geralmente, tem uma noção maior das diferenças entre os se- xos. A identificação com o pai do mesmo sexo é crucial nesta etapa. 4. Etapa de latência (escolar) - compreende dos seis aos doze anos: a criança mostra sua capa- cidade de se desenvolver industriosamente na interação educacional. Também desenvolve a capacidade de interatuar socialmente, inclusi- ve fora da família. Na medida em que a intera- ção educacional e social se desenvolve efetiva- mente, consegue um sentido de competência; à proporção que isso ocorre, pode aparecer o sentido de inferioridade. Muitos problemas de rendimento escolar, fobias, medos e isola- mento social são característicos desta etapa; o nome de latência dado a essa etapa se refere à suspensão de busca de vínculos heterossexuais que se evidenciam na segregação pró-sexo, fre- quente nesta idade. 5. Etapa da adolescência - estende-se dos doze aos vinte anos. Como tarefa central do desen- volvimento do adolescente, está o conceito de consolidação da identidade. As mudanças físicas e psicológicas da puberdade levam o adolescente a entrar num período de aumento de conflito psicológico interno, cuja consequ- ência será um sentido de continuidade e esta- bilidade de si mesmo ao longo do tempo. O fixar os próprios gostos, interesses, valores e princípios e o modo de crescer. O jovem deli- mita seu eu, diferenciando-o do de seus pais e da família. 6. Etapa adulto jovem - compreende dos vinte aos quarenta anos; o adulto entra para a socie- dade ao desempenhar um trabalho e se relacio- nar, de forma estável, com um outro, muitas vezes formando uma família. O poder com- partido numa família no desenvolvimento da capacidade de intimidade constitui-se como a tarefa central dessa etapa. Esse período requer um sentido de solidariedade e de identidade compartilhada em casal. O contrário produz isolamento pessoal. No trabalho, o indivíduo mostra sua capacidade de entrega estável a um fazer profissional. 7. Etapa adulto médio ou maduro - compreende dos quarenta aos sessenta anos. O crucial des- ta etapa é a capacidade de cuidar e de facilitar o desenvolvimento das gerações mais jovens. Os adultos desta idade participam dessa tare- fa, sejam sendo pais, professores, guias, con- selheiros. O que não pode ser gerativo, sente como sensação de estancamento e vive de for- ma egocêntrica esem propulsão para o futuro. Erikson afirma que os adultos médios neces- sitam de crianças e que é tão necessário para eles cuidarem, como as crianças necessitam de alguém que delas cuide. 8. Etapa adulto tardio (velhice) - compreende a faixa etária dos sessenta em diante. Na medida em que o adulto completa o ciclo vivido e as- segurado que a geração seguinte viva, chega-se ao tema final do ciclo vital: a integridade que Psicologia_evolutivaCS5.indd 12Psicologia_evolutivaCS5.indd 12 13/12/2010 16:19:1813/12/2010 16:19:18 13Capítulo 1 repousa na aceitação da sucessão de gerações e da finitude da vida natural. Essa fase final implica o desenvolvimento de uma sabedoria e de uma filosofía transcendente da vida. Do contrário, se não adquirir essa noção de inte- gridade, o desespero e o temor da morte se tor- narão ponto crucial numa vida irrealizada. As características e as tarefas de cada uma das eta- pas descritas por Erikson se constituem como fases em constante movimento; um indivíduo sempre está em processo de desenvolver sua personalidade. 2. DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO NA PRIMEIRA INFÂNCIA O crescimento mais visível é o físico, conceituado como um processo organizado em que tudo acontece de acordo com certa sequência e certo calendário maturati- vo. Em algumas fases, como a puberdade, os sinais de crescimento físico são mais facilmente identifi- cados, como pelos, voz, algumas formas do corpo, tanto masculino como feminino. Quando do nascimento, aparecem alguns sinais dos reflexos neonatais mais característicos. REFLEXOS NEONATAIS: CARACTERÍSTICAS E DESAPARECIMENTO Reflexo Caracterização Idade normal de desaparecimento Sucção Coloca-se um objeto (um dedo, por exemplo) en- tre os lábios do bebê; ele chupa ritmicamente. A sucção passará de reflexa a volun- tária por volta dos 4 meses. De postura Estimula-se com um dedo a bo- checha do bebê, que virará a ca- beça, buscando com a boca a fonte de estimu- lação. Desaparece por volta dos 4 meses, sendo depois vo- luntário. Preensão palmar Coloca-se algo na palma da mão do bebê, e este fecha a mão com força. Desaparece por volta dos 4 meses, sendo depois vo- luntário. Retraimento do pé Espeta-se suave- mente a planta do pé; o bebê retira a perna, flexionando o jo- elho. Com estímulos intensos, perma- nente. Piscar Fechar os olhos diante de luzes intensas e em si- tuações de susto. Permanente Andar automático Ergue-se o bebê pelas axilas, certificando-se de que as plan- tas de seus pés repousem sobre uma superfície plana. O bebê flexiona e es- tende as pernas como se estives- se andando. Permanente Moro Quando se pro- voca um susto (deixa-se cair sua cabeça so- bre o travesseiro; faz-se um baru- lho forte perto do bebê, etc.), arqueia o cor- po, flexiona uma perna, estende os braços e de- pois os coloca sobre o tronco como se estives- se se abraçando. A reação de abraço desaparece antes; a de susto perma- nece até os quatro meses e, com me- nor intensidade, posteriormente. Babinski Com um objeto pontudo, faz-se uma diagonal na planta do pé do bebê. O pé se dobra, e seus de- dos se abrem em leque. Está presente até quase o final do primeiro ano. Natatório Dentro da água, o bebê bate as pernas ritmica- mente e, ao mes- mo tempo, man- tém a respiração. 4 – 6 meses Tônico do pescoço Virando o bebê, gira-se a cabeça para um lado; ele adota, então, uma posição de esgrima; esten- de o braço do lado em que está olhando e flexio- na o outro braço para trás. Antes dos 4 meses Psicologia_evolutivaCS5.indd 13Psicologia_evolutivaCS5.indd 13 13/12/2010 16:19:1813/12/2010 16:19:18 14 Capítulo 1 Durante o desenvolvimento do controle postural nos dois primeiros anos, encontramos: 3. DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO NA SEGUNDA INFÂNCIA Aquisição de destrezas motoras no período de dois a seis anos de idade. 2-3 anos - Correr em contraposição ao andar rápido do segundo ano. - Manter-se durante alguns segundos so- bre um pé só. - Jogar uma bola com a mão, sem mover os pés do lugar. - Utilizar a colher para comer. - Fazer garatujas. 3-4 anos - Subir escadas sem apoio, colocando um só pé em cada degrau. - Andar alguns passos mancando. - Pular entre 40 a 50 cm de distância. - Andar de triciclos. - Usar tesouras para recortar papel. - Escovar os dentes. - Vestir uma camisa. - Abotoar e desabotoar botões. - Desenhar linhas e fazer desenhos com contornos. - Copiar um círculo. 4-5 anos - Descer escadas com desenvoltura e sem apoio, colocando um pé em cada degrau. - Correr mancando (cinco pulos, aproxi- madamente). - Saltar entre 60 a 80 cm de distância. - Maior controle para começar a correr, parar e girar. - Cortar uma linha com tesouras. - Dobrar papel, usar punção para furar, colorir formas simples. - Utilizar o garfo para comer. - Vestir-se sem ajuda. - Copiar um quadrado. 5-6 anos - Andar sobre uma barra de equilíbrio. - Bom controle da corrida: arrancar, parar e girar. - Saltar uns 30cm de altura e cerca de 1m de distância. - Lançar e pegar bolas como crianças mais velhas. - Aprender a andar de bicicleta e a patinar. - Marchar ao ritmo de sons. - Usar faca, martelo, chave de fenda. - Escrever alguns números e letras. - Copiar um triângulo e, posteriormente, um losango. Comportamentos Idade em que 50% das crianças conseguem Margens de idade em que 90% das crianças conseguem Quando se carrega o bebê, ele mantém a cabeça erguida. 2,5 meses 3 semanas – 4 meses Virando-o de bru- ços, ele se apoia nos antebraços e levanta a cabeça. 2 meses 3 semanas – 4 meses Deixado de lado, vira-se e passa a fi- car de barriga para cima. 2 meses 3 semanas- 5 meses Mantém-se sentado com apoio. 3 meses 2-4 meses Pega um objeto cú- bito, cilíndrico ou esférico, usando toda a mão. 4 meses 2-6 meses Pode virar de barri- ga para cima para ficar de lado. Pode passar um objeto de uma mão à ou- tra. 4,5 meses 2-6 meses Mantém-se sentado sem apoio. 7 meses 5-9 meses Fica de pé, apoian- do-se em algo. Ao pegar objetos, opõe o polegar ao resto dos dedos. 7 meses 5-9 meses Engatinha 8 meses 6-11 meses Senta-se e se aju- da; segurando-se em algo, pode ficar de pé. 8 meses 6-12 meses Anda quando al- guém segura sua mão. Preensão em pinça. 9 meses 7-13 meses Mantém-se em pé sem apoio. 11 meses 9-16 meses Caminha sozinho. 12 meses 9-17 meses Empilha objetos um sobre outro. Faz ra- biscos. 14 meses 10-19 meses Caminha para trás. 15 meses 12-21 meses. Sobe escadas com ajuda. 16 meses 12-23 meses Pula sem sair do lugar. 23 meses 17-29 meses Psicologia_evolutivaCS5.indd 14Psicologia_evolutivaCS5.indd 14 13/12/2010 16:19:1813/12/2010 16:19:18 15Capítulo 1 4. DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO ENTRE OS 6 E 12 ANOS O mais importante nesse período são as estratégias da memória. Vejamos algumas. Outras mudanças no autoconceito são construídas dos seis anos até a adolescência Estratégia de armazenamento Revisão Repetir o mate- rial a ser recor- dado. Organização Agrupar ou ca- tegorizar se- manticamente o material, antes de estudá-lo para sua memo- rização. Elaboração Identificar um referente co- mum ou um significado com- partilhado entre as coisas que devem ser recor- dadas. Estratégias de recuperação Intencional Quando o su- jeito sabe, com antecedência, que terá de se lembrar de algo. Incidental Quando não sabe. De... Para... Descrição da mudança Simples e global Diferenciado e articulado No início, as crianças for- mam conceitos de si mes- mas de caráter global. À medida que o desenvolvi- mento avança, obtêm-se distinções mais precisas e articuladas. Arbitrário e mutante Coerente e estável As crianças mais novas mudam frequentemente sua autoavaliação, que é feita baseando-se em evi- dências externas. Confor- me crescem, as crianças começam a se basear em julgamentos próprios e na avaliação da evidência, ganhando seuautoconcei- to em coerências e em es- tabilidade. Concreto Abstrato As crianças mais novas, quando se descrevem, cen- tram-se mais nos aspectos físicos, externos e visíveis. A tendência que se segue, conforme avança o desen- volvimento, é a de ir dando mais ênfase, nas autodes- crições, aos aspectos não- visíveis, às características sociais e psicológicas. Absoluto Relativo No início, o autoconceito se define sem incluir nenhu- ma referência aos outros, em termos absolutos. Esse conceito de si mesmo vai dando lugar a outro mais relativo e comparativo, que se define baseando-se nas comparações com os ou- tros. Eu público ou externo Eu privado ou interno As crianças mais novas não distinguem entre os sen- timentos privados e inter- nos e a conduta externa e pública. As crianças mais velhas consideram seu eu privado ou interno como seu “autêntico eu”, não acessível aos demais. Quanto ao autoconceito ao longo da infância, en- contramos: Primeiros anos do ensino fundamental (6 a 8 anos) Últimos anos da infância (8 a 11 anos) Estrutura, organização: pri- meiras conexões entre di- ferentes traços ou aspectos; uso frequente de caracterís- ticas opostas do tipo tudo ou nada. Estrutura, organização: ge- neralizações que começam a integrar um conjunto de condutas, capacidade para integrar conceitos opostos. Conteúdos mais destacados: comparação consigo mesmo em outro momento ou no passado, inclusão de aspec- tos internos e psicológicos. Conteúdos mais destaca- dos: traços referentes a destrezas e a relações in- terpessoais; comparação com outras crianças. Apro- fundamento nos traços in- ternos. Exemplos: “Eu sei correr, saltar e jogar futebol muito bem”, “Agora eu gosto de leite, antes não gostava”, “Prefiro brincar a ver televi- são”. Exemplos: “Eu me dou bem em matemática e em portu- guês, mas, mal em inglês e música”, “Eu me divirto no pátio, mas não, na sala de aula”, “Tenho muitos ami- gos, mas João tem mais do que eu”. Valoração e exatidão: tipica- mente positiva, nem sempre coincidente com a realidade. Valoração e exatidão: va- loração de si mesmo que inclui tanto aspectos positi- vos como negativos. Maior exatidão nas autodescri- ções. Psicologia_evolutivaCS5.indd 15Psicologia_evolutivaCS5.indd 15 13/12/2010 16:19:1813/12/2010 16:19:18 16 Capítulo 1 As etapas do conhecimento dos demais e das relações interpessoais podem ser expressas como se seguem: Antes dos 6 anos A partir dos 6, 7 anos A partir dos 10 anos C o n h ec im en to d o s d em a is Adoção de perspectivas interpessoais Dificuldade para dife- renciar as diferentes perspectivas Considera, sucessiva- mente, uma e outra perspectiva Consideração de pers- pectivas simultâneas e do ponto de vista de ter- ceiros Representação dos processos mentais de outras pessoas Capacidade para dife- renciar conteúdos men- tais próprios e alheios. Dificuldade para deter- minar se o outro pensa e em que. Conhecimento crescente do que outros pensam e sobre o que pensam em função das circunstân- cias A partir dos 12 anos, capacidade para racio- cínios recursivos do tipo “penso que você pensa que estou pensando...” Compreensão das emoções dos outros Reconhecimento nos de- mais de emoções sim- ples (alegria, tristeza, etc) Reconhecimento de emoções complexas (or- gulho, gratidão, culpa, etc.) Ampliação da capaci- dade para reconhecer emoções complexas) alí- vio, decepção, etc.) Compreensão de emoções ambivalentes Sua existência é negada São aceitas, mas como sucessivas. São reconhecidas como possíveis simultanea- mente e com uma mes- ma causa. Empatia Capacidade empática com emoções simples e situações familiares. Capacidade empática diante de emoções com- plexas e sem indícios ex- ternos. No início da adolescên- cia, capacidade empáti- ca diante de fatos mais abstratos (pobreza, do- ença, etc. C o n h ec im en to d a s Re la çõ es in te rp es so a is Amizade Amizade como ajuda e apoio unidirecional. A partir dos 8 anos, amizade como recipro- cidade, confiança e afe- to. Reciprocidade e bidi- recionalidade extensi- va também a trocas de sentimentos, pensa- mentos, etc. Autoridade Autoridade como poder, mas com algumas limi- tações. Autoridade derivada do poder físico e social; implica troca e recipro- cidade. Autoridade derivada de qualidades pessoais e de capacidade de lide- rança ou de escolha pe- los demais. 5. DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO NA ADOLESCÊNCIA A evolução do autoconceito durante a adolescência pode ser expressa como se segue: A d o le sc ên ci a p re - co ce (1 1 – 1 4 a n o s) Estrutura, organização: pri- meiras abstrações que in- tegram características re- lacionadas; abstrações compartimentalizadas, de forma que não se detectam nem integram as incompati- bilidades. Conteúdos destacados: ca- racterísticas ou habilidades sociais que influem sobre as relações com os demais ou determinam a imagem que os demais têm do sujeito. Carac- terísticas referentes ao atrati- vo físico. Exemplos: “Sou tímido; me en- vergonho diante dos adultos, mas também diante de meus companheiros”, “Em minha casa, me acontecem muitas coisas divertidas, mas com meus amigos, não”. A d o le sc ên ci a m éd ia (1 5 – 1 7 a n o s) Estrutura, organização: pri- meiras conexões entre as abstrações e entre traços opostos; confusão diante da existência de características contraditórias. Conteúdos destacados: di- ferenciação de atributos em função de situações e papéis diferentes. Exemplos: “Sou muito inteli- gente para algumas coisas e tonto para outras”, “Não en- tendo como me dou tão bem com meus companheiros e tão mal com meus irmãos”. Psicologia_evolutivaCS5.indd 16Psicologia_evolutivaCS5.indd 16 13/12/2010 16:19:1813/12/2010 16:19:18 17Capítulo 1 O processo de transformação física é colocado em andamento por vários mecanismos hormonais, que desencadeiam um longo processo de mudan- ças, que apresentam um padrão diferente para os meninos e para as meninas. Os hormônios sexu- ais, sobretudo a testosterona nos meninos e a pro- gesterona nas meninas, serão os responsáveis pelas mudanças físicas. ATIVIDADES | 1. Como o bebê aprende? 6. CRESCIMENTO FÍSICO E DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR A união de óvulo e espermatozoide dá andamento a um vertiginoso processo de mudança, que, partindo de um pequenino zigoto, terminará, em torno de nove meses, com o nascimento de um ser com todas as características do organismo humano em funcionamento, em torno de 3,5 kg de peso e aproximadamente 50cm de altura. A d o le sc ên ci a ta rd ia ( 1 8 – 2 1 a n o s) . Estrutura, organização: abs- trações de ordem superior que integram abstrações mais elementares e que re- solvem as contradições. Conteúdos destacados: ca- racterísticas e atributos rela- cionados com os papéis que desempenham; os atributos se referem a valores e crenças pessoais assim como a convic- ções morais. Exemplos: “Sou uma menina flexível: séria e formal para trabalhar, porém brincalhona para me divertir”, “Muitas coi- sas me interessam, porém sou um pouco indecisa”. Zigoto Material genético do óvulo e do espermatozoide. Etapa embrionária Etapa embrionária Começa em torno de 2 semanas depois da fecundação. Forma a camada endodérmica, que irá formar os órgãos internos, como pulmões, intestinos, fígado; o Mesoderma, que irá formar os músculos, o co- ração e o sistema circulatório, urogenital, etc. e o ectoderma, que irá formar sistema nervoso, pele, órgãos dos sentidos, cabelos, etc. Do recém-nascido aos 2 anos de idade Ver quadro desenvolvimento postural Depois de 2 anos de idade Crescem em média 5 a 6\ cm por ano e pesam de 2 a 3 kg por ano Puberdade Velocidade de crescimento au- menta, sendo mais acelerada, nos meninos, a altura e, nas me- ninas, o peso. Sendo valores médios, dependendo da altura dos pais e da genética. No final da puberdade,os cor- pos masculinos e femininos se diferenciarão cla- ramente, tanto no que se refere às características sexuais primárias (órgãos reprodutores) quanto às características sexuais secundárias (por exem- plo: pelo facial, mudança de voz e alargamento dos ombros nos meninos; crescimento dos seios e alargamento dos quadris nas meninas). 2. E a criança? O adolescente, o adulto e a pessoa idosa? 3. Quais as diferenças entre as aprendizagens em cada faixa etária? 4. Desenvolvimento é igual à evolução? 5. Conceitue Psicologia Evolutiva. 6. Que diferenças você identifica entre os au- tores Piaget, Freud e Wallon? Psicologia_evolutivaCS5.indd 17Psicologia_evolutivaCS5.indd 17 13/12/2010 16:19:1813/12/2010 16:19:18 18 Capítulo 1 REFERÊNCIAS Barros, Célia S. G. Pontos da Psicologia do De- senvolvimento. São Paulo: Ática, 1986. Bock, Ana Maria Bahia, Furtado, Odair, Teixei- ra, Maria de Lourdes. Psicologia: uma introdu- ção ao estudo da Psicologia. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1989. Coll, Cesar; Marchesi, Álvaro e Palacios, Jesús (org). Desenvolvimento Psicológico Educação. Porto Alegre: Artmed, 2004. Ericsson, E. El ciclo vital completado. México: Paidós, 1982. Ericsson, E. Identidad, Juventud y Crisis. Buenos Aires: Editorial Paidós, (1968) 1974. Ericsson, E. Infancia y sociedad. Buenos Aires, Ed. Horme, (1960) 1980. Ericsson, E. La vida del lábio loco. Buenos Aires: Argentina. Ericsson, E. Sociedad y Adolescencia. Buenos Aires: Editorial Paidós, 1972. Gesell, Arnold. A criança do zero aos cinco anos. São Paulo: Martins Fontes, 1985. Mussen, L., Paul H. e outros. Desenvolvimento e Personalidade da Criança. 7. ed. São Paulo: HABRA, 2001. Rappaport, Clara Regina; Fiori, Wagner da Ro- cha; Davis, Claudia. Teoria do desenvolvimen- to. São Paulo: EPU, 1981, VV I, II, III e IV. WEBGRAFIA http://pt.wikipedia.org/wiki/Psicologia_evoluti- va http://redepsicologia.com/psicologia-evolutiva http://www.cerebromente.org.br/n11/opiniao/ evolutive-p.htm http://pt.shvoong.com/humanities/religion- studies/1692635-psicologia-evolutiva/ http://pt.shvoong.com/humanities/religion- studies/1692635-psicologia-evolutiva/ h t t p : / / w w w . y o u t u b e . c o m / watch?v=jHBZjX1CFF0 http://www.izles.net/eKXCfVM3nsR/psicologa- a-evolutiva-del-nia-o-y-del-adolecente-i-bi- mestre.html GLOSSÁRIO DESENVOLVIMENTO - entenda-se como o processo vivido pelo humano do nascimento até a morte, também cha- mado de CURVA DE VIDA. FASE - etapa em que algumas características predominam sobre outras. ILUMINISMO - conjunto de opiniões, preconizadas no sé- RESUMO A Psicologia Evolutiva trabalha com as mudanças que o ser humano vivencia ao longo do tempo, em que a conduta e o comportamento humanos, tanto nos aspectos externos e visíveis como nos internos nem sempre são perceptíveis. Assim, a Psicologia Evolutiva tem seu interesse voltado para a conduta huma- na do ponto de vista das mudanças e transformações ao longo do tempo. O desenvolvimento humano é entendido como sendo a mudança psicológica sis- temática, que se dá ao longo da vida. Durante esse proceso, a pessoa vai as- cendendo a estados mais complexos e melhores do que os anteriores, como assegura Jean Piaget, Freud, Erikson, Wallon e outros. Pode-se dizer, portanto, que a Psicologia Evolutiva é a disciplina que se dedica ao estudo das mudanças psicológicas que, em certa relação com a idade, ocorrem nas pessoas ao longo do seu desenvolvimento, isto é, desde sua concepção até a morte. Psicologia_evolutivaCS5.indd 18Psicologia_evolutivaCS5.indd 18 13/12/2010 16:19:1813/12/2010 16:19:18 19Capítulo 1 culo XVIII, sobre a existência de uma inspiração sobre- natural. NORMATIVO - é o que tem a qualidade ou força de norma: ciências normativas, como a estatística. PROTESTANTISMO - a religião dos protestantes. SEMINORMATIVO - é o que se aplica a uma parcela da po- pulação e não, à totalidade dos sujeitos. Psicologia_evolutivaCS5.indd 19Psicologia_evolutivaCS5.indd 19 13/12/2010 16:19:1813/12/2010 16:19:18 Psicologia_evolutivaCS5.indd 20Psicologia_evolutivaCS5.indd 20 13/12/2010 16:19:1813/12/2010 16:19:18 21Capítulo 2Capítulo 2 FATORES FUNDAMENTAIS DO DESENVOLVIMENTO OBJETIVOS ESPECÍFICOS • Entender conceitos de fatores do desenvolvimento cognitivo, afetivo, social e da personalidade humana; • Compreender como são realizadas a comunicação, as representações e a lin- guagem; • Identificar como o desenvolvimento socioafetivo e as necessidades humanas contribuem para a formação da personalidade. INTRODUÇÃO Neste capítulo, vamos estudar como os fatores cognitivo, afetivo e social con- tribuem para a formação da personalidade. Não se pode esquecer de verificar como os processos mentais superiores, isto é, as representações e a linguagem in- fluenciam na comunicação humana, ferramenta importante para que as relações interpessoais se estabeleçam. Para isso, precisamos compreender como se dá a construção do conhecimento da pessoa em desenvolvimento, focando as idades e os comportamentos pertinen- tes, com ênfase não só nas fases de vivência escolar como também nos processos evolutivos cognitivos, comunicação, representação, linguagem, socioafetivos e da personalidade. 1. DESENVOLVIMENTO COGNITIVO Convidamos você a fazer uma pequena viagem pela mente do ser humano, co- meçando pelo bebê. Até as décadas de 80 e 90, as referências do desenvolvimento cognitivo tinham sido baseadas nas pesquisas de Jean Piaget, que afirmam que o início do desen- volvimento cognitivo era sensório-motor. No entanto, pesquisas recentes mostra- ram que os bebês alcançam uma complexidade e precocidade muito desafiado- ras, são dotados de uma espécie de ”janelas” sensoriais, que permitem contato organizado, ativo e exploratório com a realidade. O bebê está rodeado de objetos, acontecimentos, experiências que servem de estímulos. Com Piaget, começa a sistemática descrição do desenvolvimento da inteligência humana; uma inteligência que ele chamou de sensório-motora, porque está base- ada na percepção da realidade e na ação motora sobre ela e sobre o mundo, o que delimita fronteira entre a inteligência simbólica posterior (baseada na representa- Prof. Dr. Antonio Pereira Filho Carga Horária | 15 horas Psicologia_evolutivaCS5.indd 21Psicologia_evolutivaCS5.indd 21 13/12/2010 16:19:1813/12/2010 16:19:18 22 Capítulo 2 ção e na linguagem) e a inteligência pré-simbólica dos bebês. No quadro abaixo, podemos ver uma síntese da contribuição de Piaget sobre o estágio sensório- motor: der antecipar um resultado da ancoragem no “aqui e agora”, própria da inteligência prática e sensório- motora e, também, da busca do êxito imediato da ação em favor da busca do conhecimento que esta ação encerra, a fim de se lançar num mundo de representações que utilizam signos, símbolos, imagens e conceitos como substitutos da realidade não-presente. Para entender melhor, é preciso falar da Teoria da Mente. Teoria da mente é definida como sendo a habi- lidade de compreender a própria mente e a dos outros. Segundo De Jou e Sperb (1999) e Flavell, Miller e Miller (1999), a capacidade de compreen- der os estados mentais (sentimentos, desejos, cren- ças e intenções) é uma das características sociais dos seres humanos, sendo o foco de preocupação de psicólogos desenvolvimentistas e cognitivistas e dos linguistas. Inteligência Faculdade de compreender e aptidão para captar as relações; compreensão fácil. Representações Ato ou efeito de representar, exibição, coi- sa que se representa, reprodução do que se tem na ideia. Simbólica Relativo a símbolo, que tem o caráter de sím- bolo, alegórico. Mente Faculdade da alma, espírito, intelecto, dispo- sição, imaginação, intuito, aspecto psicológi- co das funções biológicas do organismo. Subestágio Aquisições 1 (0 a 1 mês) Adaptações inatas, exercício dos reflexos. 2 (1-4 meses) Primeiras adaptações adquiridas, esquemas simples,reações circula- res primárias. 3 (4-8 meses) Coordenação de esquemas sim- ples, reações circulares secundá- rias, conduta semi-intencional. 4 (8-12 meses) Coordenação de esquemas secun- dários, conduta intencional e rela- ções meio-fins, progressos na imi- tação, erro do subestágio 4. 5 (12-18 meses) Mobilidade dos esquemas, experi- mentação ativa, reações circulares terciárias, conservação de objeto, imitação precisa de modelos pre- sentes. 6 (18-24 meses) Interiorização das ações, apare- cimento dos primeiros símbolos, conservação de objeto, inclusive com deslocamentos invisíveis, imi- tação diferida. Com o trabalho de Piaget, ficou claro que a in- teligência é anterior à linguagem e é o resultado de intercâmbios construtivos entre o sujeito e os objetos que o rodeiam. O período pré-operatório, também chamado de inteligência verbal ou intuitiva, estende-se dos dois aos sete anos. Logo no início desse período, a criança se vê imersa numa realidade existencial, que envolve vários planos: um mundo físico de ob- jetos e de relações, alguns que conseguiu dominar no estágio anterior; um meio social, constituído de objetos com “mentes”, as pessoas, que são dotadas de intenções, metas, desejos, e um mundo interior de representações. A função simbólica é encarregada de possibilitar a formação de símbolos mentais que representam objetos, pessoas ou acontecimentos ausentes. As- sim, o pensamento da criança pode se libertar da sequencialidade imposta pela ação prática, para po- Saber em que idade emerge a teoria da mente é um dos problemas que tem ocupado atualmente os pesquisadores. Lourenço (1992) explica que a defi- nição sobre quando a criança possui uma teoria da mente está associada ao que os teóricos entendem como tal. Alguns autores, dentre eles Bretherton e Beeghly (1982), pressupõem que a teoria da mente emerge, quando a criança se torna capaz de atri- buir estados mentais a si e aos outros, portanto aos dois ou três anos de idade. De acordo com Santana e Roazzi (2006), há pesquisadores que só consideram que exista uma teoria da mente por volta dos quatro ou cinco anos, quando as crianças Psicologia_evolutivaCS5.indd 22Psicologia_evolutivaCS5.indd 22 13/12/2010 16:19:1913/12/2010 16:19:19 23Capítulo 2 se tornam capazes de lidar com a crença falsa. Os referidos autores, avaliando a compreensão in- fantil da tarefa da crença falsa, demonstram que uma teoria da mente já está presente em crianças brasileiras a partir dos quatro anos e que referên- cias como idade e nível socioeconômico consti- tuem dados significativos de melhor desempenho nesta tarefa. Segundo Astington e Pelletier (2000), a expressão “linguagem da mente” envolve o uso explícito de termos mentais para se referir aos estados mentais das pessoas – crenças, desejos, intenções e emo- ções. Tais termos podem ocorrer em qualquer uma das classes gramaticais: verbos, substantivos, adjeti- vos ou advérbios. Cassidy e Cols. (1998) ressaltam que a teoria da mente poderia ser influenciada por experiências em que as crianças fossem expostas ou pudessem observar o uso de estados mentais. Para os auto- res, os livros de histórias infantis constituem um recurso útil e valioso, evidenciando que também os livros de histórias infantis nacionais contêm am- pla variedade de termos mentais, sendo passíveis de serem explorados, visando ao desenvolvimento sociocognitivo da criança pré-escolar. De certa maneira, todo o material disponível à criança que permita o exercício do social, como o jogo de dramatização e o jogo de papéis, contri- buem para desenvolver as habilidades sociocogniti- vas assim como para ampliar seu conhecimento do mundo social, o que ativa as funções mentais supe- riores, como a linguagem, a memória, o raciocínio, a imaginação, a criatividade e o planejamento. As principais conquistas cognitivas depois dos seis anos de idade, especialmente entre os seis e doze anos, assentam-se sobre descobertas de que é pre- ciso considerar todos os dados, desconsiderar as informações pouco relevantes, controlar as ideias alternativas e que pode melhorar ou corrigir o pró- prio raciocínio com um esforço suplementar. Ad- quirem maior consciência de seus pontos intelec- tuais fortes e fracos, captam o que consiste pensar e a diferença entre pensar bem e pensar mal. Tudo isso só é possível, porque houve mudanças básicas na maneira de selecionar e processar as informa- ções. Ainda, acrescente-se maior velocidade no processa- mento de informações, uma atenção mais seletiva, uma memória mais estratégica, mais e melhores conhecimentos, maior consciência reflexiva e me- lhor controle. Isso permite passar para o pensamento operacio- nal concreto que modifica a natureza do esquema de ação, inclusive sobre ações coordenadas entre si e muito dependentes dos dados perceptivos. As- sim, o jovem permite-se desligar mais facilmente da situação presente (espacial e temporal), o que o leva a adentrar-se num pensamento mais lógico, inferencial, menos dependente do aqui e agora. O que caracteriza este estágio é que são ações mentais (interiores), reversíveis e coordenadas entre si, o que foi denominado de estágio abstrato. 2. DESENVOLVIMENTO DA COMUNICAÇÃO, DA REPRESENTAÇÃO E DA LINGUAGEM 2.1. PROCESSAMENTO DA COMUNICAÇÃO A cognição social, área recente de investigação científica na Psicologia, estuda os processos e os mecanismos cognitivos envolvidos nos fenômenos psicológicos sociais: considera as pessoas e suas ações como sujeitos ativos, envolvendo o estudo dos processos mentais pelos quais o sujeito conhe- ce o mundo social (Moya e Cols., 1992, Rodrigues, 2004, 2005). As reações sociais e afetivo-emocio- nais que as crianças manifestam dependem, em parte, de como elas pensam. As pesquisas sobre o desenvolvimento sociocognitivo focalizam o co- nhecimento das crianças e a compreensão do mun- do social - das pessoas, incluindo elas mesmas, e o das relações sociais. Comunicação depende de como as informações são processadas pela pessoa. A abordagem do processamento de informação social (SIP) ofere- ce um modelo sistemático detalhado de como as crianças processam e interpretam pistas numa si- tuação específica e chegam a uma decisão que é mais ou menos competente do ponto de vista com- portamental. Um dos modelos mais estudados foi inicialmente proposto por Dodge (1986), o qual passou, posteriormente, por uma revisão crítica, trazendo inovações conceituais (Crick & Dodge, 1994). Esse modelo assume que as crianças, quan- do deparadas com uma situação social (oferecedo- Psicologia_evolutivaCS5.indd 23Psicologia_evolutivaCS5.indd 23 13/12/2010 16:19:1913/12/2010 16:19:19 24 Capítulo 2 ra de pistas sociais), tendem a manifestar seis pas- sos mentais antes de exibirem um comportamento social: a. codificação de pistas internas e externas; b. representação e interpretação dessas pistas; c. clarificação ou seleção de um objetivo; d. construção ou acesso à resposta; e. decisão da resposta; f. realização do comportamento. Esse desenvolvimento é produzido num período crítico, que se estende dos primeiros meses da vida até o início da adolescência. Na maioria dos seres humanos, o processo se dá, principalmente, duran- te os primeiros cinco anos, especialmente no que se refere à aquisição das formas linguísticas e dos conteúdos. Durante esses primeiros anos, há uma maior velocidade de aprendizagem e se adquirem os elementos básicos e seus significados e, até a pré-adolescência, consolida-se o uso da inferência pragmática e a capacidade para entender enuncia- dos não-literais (irônicos, sarcásticos, etc.). Os pri- meiros anos constituem o período fundamental, mesmo que a linguagem se prolongue além dos primeiros anos. Conteúdo - os mais comuns são os: 1. Condicionantes: para que ocorra esse desen- volvimento, é necessária a ocorrência de uma série de condicionantes básicos: a. Ausência de lesão nos órgãos implicados (aparatofonador, sistema auditivo, etc.); b. Correto funcionamento e maturação adequada do sistema nervoso; c. Capacidade intelectual mínima, já que é conhecido que algumas pessoas com atra- so mental profundo não conseguem ad- quirir o uso normal da língua; d. Habilidades sociais cognitivas mínimas, quer dizer, a intencionalidade ou a moti- vação de comunicação com as pessoas do seu entorno (esta capacidade está ausente nas crianças autistas), etc; e. Contato com falantes hábeis - a interven- ção do adulto é importante, já que a evi- dência empírica mostra que as “crianças selvagens”, sem contato com adultos ou Comunicação Participação, informação, transmissão de mensagens. Informação Esclarecimento, fornecimen- to de dados, argumentos, tr- ransmissão. O detalhamento dos passos propostos por Crick e Dodge (1994) aponta uma relação entre particu- laridades no processamento da informação social e a manifestação de comportamentos agressivos entre crianças e adolescentes. Várias pesquisas corroboram tal relação, como demonstra o estudo meta-analítico, realizado por Vasconcelos, Picon, Prochnow e Gauer (2006). Del Prette e Del Prette (2005), com base em vários autores, também salien- tam que uma das dificuldades da criança agressiva está em interpretar acuradamente as mensagens recebidas, com tendência, em situações ambíguas, a atribuir intenções hostis aos outros. Fazendo um paralelo com a teoria da aprendizagem social, Bear, Webster, Furlong e Rhee (2000) assinalam que as habilidades sociocognitivas assim como as dificul- dades e tendenciosidades são aprendidas por meio de processos, como modelagem e reforçamento. 2.2 DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM Chama-se desenvolvimento da linguagem (ou aquisição da língua materna) o processo cognitivo por meio do qual os seres humanos adquirem a capacidade de se comunicar verbalmente, usando uma linguagem natural. Linguagem Uso dos elementos de uma língua como meio de comunicação entre as pessoas, de acordo com a preferência do que foi convencionado, em que se exprime, o que pensa ou sente. Psicologia_evolutivaCS5.indd 24Psicologia_evolutivaCS5.indd 24 13/12/2010 16:19:1913/12/2010 16:19:19 25Capítulo 2 pessoas com competência linguística, são incapazes de desenvolver linguagem por si mesmas, embora possuam uma inteligên- cia normal. Muito cedo se produz, na criança, a motivação e tentativa de comunicação, fato que se chama pro- toconversação, que são diálogos muito primitivos, caracterizados pelo contato ocular, sorrisos, balbu- cios e alternância de expressões. Pode-se encontrar esse tipo de conduta em crianças de dois meses. 2. Teorias explicativas: atualmente não existe nenhuma teoria universalmente aceita como explicativa da aquisição da linguagem. Pode-se detectar quatro tendências: a. O inatismo - Noam Chomsky, D. McNeill e outros sustentam que o papel do ambien- te é o de ser desencadeante de estruturas já estabelecidas e internas do organismo; b. O construtivismo - defende que a lingua- gem resulta da ação construtiva do sujeito, que possibilita desenvolver a função sim- bólica e de outros aspectos cognitivos; c. Comunicação e interação - são aspectos destacados pelas teorias que ressaltam o papel do entorno (Lev Vygotsky, B.F. Skin- ner). As etapas que o desenvolvimento da linguagem atravessa estão sujeitas à certa flexibilidade em função das características das crianças, o que dificulta sua exata de- limitação no tempo, não obstante serem bastante similares entre crianças de dife- rentes culturas; d. O emergentismo - E. Bates e B. McWhin- ney propõem que a linguagem emerge da interação de outros sistemas mais básicos. 3. Descrição: a descrição das características do desenvolvimento da linguagem compreende três dimensões básicas: a. a forma, quer dizer, detalhando a ordem cronológica da aquisição dos diferentes sons, o aumento do léxico e do conjunto de formas e morfemas gramaticais, na me- dida em que a criança avança na aquisição da linguagem; b. o conteúdo, isto é, descrevendo que signi- ficado, que restrições e que intencionalida- de têm as emissões por parte da criança; c. o uso, que se refere basicamente à adequa- ção pragmática e à pertinência das emis- sões em cada contexto. Sempre considerando seu caráter arbitrário, já que as aquisições são realizadas nos três níveis. 4. Dimensão formal: aquisição do vocabulário e sintaxe (aspecto formal); durante os primeiros meses, a criança presta atenção a alguns sons, reage à voz e ao rosto dos cuidadores (mãe, pai, outros) e produz atividades bucofonatórias, que aparecem nos estados de vigília. Essas atividades sonoras são conhecidas como bal- bucios. Para alguns investigadores, esses sons são produzidos como consequência de exercícios mo- tóricos incontrolados. Para outros pesquisadores, são a base do desenvolvimento das habilidades pos- teriores que conduzem à fala. As crianças, em seus balbucios, proferem sons parecidos com a lingua- gem adulta, embora sejam carentes de sentido. Po- dem pertencer a qualquer idioma, já que não é no primeiro ano de vida que as crianças se tornam se- letivas e emitem somente aqueles sons que corres- pondem a sua língua materna. Para outros autores, as primeiras vocalizações são articulações profun- das da cavidade bucal, difíceis de analisar, já que a oposição consoante vocal não pode ser discriminada. Funcionalmente, não são vogais nem consoantes; articulatoriamente são combinações simultâneas. A partir dos seis meses, produz-se um balbucio constante, com controle auditivo, curvas de en- tonação, ritmo e tons de voz variados e imitação mútua de sons. A simples repetição deixa lugar a uma nova modalidade de intercâmbios. As emis- sões próprias e do entorno estimulam a criança. Inicia-se a etapa da ecolalia. Nesse período, pode- se distinguir entre expressões vocais e verbais. As primeiras fazem referência a sons sem significação, e as segundas antecipam os repertórios de sons cor- respondentes à língua materna. Entre os 12-18 meses, acontece um profundo de- senvolvimento fonológico (os primeiros fonemas são: m- p-, b-, t, d, l, n e as vogais); aparecem as pri- meiras palavras que tendem a ser monossilábicos reduplicados (mama, papa, tatá) e palavras onoma- Psicologia_evolutivaCS5.indd 25Psicologia_evolutivaCS5.indd 25 13/12/2010 16:19:1913/12/2010 16:19:19 26 Capítulo 2 topeicas, quer dizer, designam objetos pelo ruído que fazem (miau, au-au). Essas primeiras palavras, que normalmente são substantivos, respondem a estados afetivos e têm um significado mais amplo do que a simples referência. Com elas, expressa- se o significado de uma frase. Esta é uma carac- terística do vocabulário infantil; são chamadas de palavras-frase, que dão nome a essa etapa: período holofrásico ou holofrástico. Podemos citar como exemplo: pode dizer papá, quando vê seu pai ou quando vê um objeto que pertence a seu pai. A articulação dos fonemas da linguagem, mesmo não sendo correta, pode confundir uma palavra com outra, como, por exemplo, ti por si, etc, e omissões, por não pronunciar todas as sílabas (papato, em vez de sapato). Sua compreensão é melhor do que sua expressão; compreendem mais linguagem do que podem usar. Utilizam a linguagem fundamental- mente para pedir algo que satisfaça suas necessida- des ou para chamar atenção. A partir dos dezoito meses, produz considerá- vel aumento do vocabulário, constrói frases de dois elementos, torce a gramática emergente, e a língua adquire novos usos. O tipo de linguagem é definido como estilo telegráfico. Essas primeiras combinações de duas palavras estão formadas, fun- damentalmente, por substantivos e verbos, como, por exemplo, quer água. Não utilizam as chamadas palavras funcionais: artigo, preposição, verbo auxi- liar, etc. Incluem somente as palavras essenciais; um sintagma nominal e um sintagma verbal. A gra- mática usada segue seu próprio sistema, não é uma simples cópia do adulto.Tendem a combinar pa- lavras para expressar o significado em função de uma série de relações: agente/ação, ação/objeto, agente/objeto, entidade/atributo, entidade/locativo, possuidor/possuído e o caso nominativo. Até agora, a aquisição de vocabulário foi relativamente lenta, mas, neste período, segue mais rápida, podendo passar, aproximadamente, das 50 palavras a mais de 200 aos dois anos. Aparecem novas funções da linguagem: usa para explorar o entorno e aprender e para criar um ambiente de fantasia e imaginação. No terceiro ano (período da linguagem constituí- da), continua o desenvolvimento léxico (até aproxi- madamente 1000 palavras) e fonológico: sons, síla- bas complexas, aspecto e tempo verbal, pronomes (mesmo que não distinga os pessoais e de terceira pessoa: este último é adquirido mais tarde, embora possa usar pronomes pessoais, possessivos, reflexi- vos e demonstrativos), advérbios (como os de lugar e quantidade, os de tempo somente mais tarde), algumas preposições e artigos (que implicam a in- tegração da informação de gênero, de número e de caráter específico ou referente ao nome). Utili- zam a interrogativa e a negativa como os adultos; a simples justaposição utilizada no momento leva a coordenação às conjunções e às subordinadas que vão sendo introduzidas pela interrogação, ou pre- cedidas de falsas orações de relativo, que não apa- receriam antes dos três anos e meio. A capacidade para formar plurais, inflexões verbais, etc. leva a criança a cometer erros: trata-se do fenômeno da regularização ou sobrerregularização. Esse fenôme- no não implica o fato de que as crianças cometam erros na aquisição da linguagem, mas que esses er- ros surgem porque estão aprendendo as regras de sua língua nativa e as aplica com inflexibilidade (flexionam os verbos irregulares como regulares), o que parece ser um inconveniente na evolução da aquisição da linguagem e uma evolução na aquisi- ção da gramática (já que, num primeiro momento, a criança usa corretamente as formas irregulares para depois aprender as regras, substituir as formas corretas do verbo irregular por suas generalizações incorretas das formas regulares). A partir dos quatro anos, aparecem as subordina- das causais e consecutivas, dominam as inflexões, continua o desenvolvimento léxico, aumentam as perguntas, e o jogo de palavras conclui o desenvol- vimento fonológico principal, e a frase é incremen- tada em tamanho e complexidade. Aos cinco anos, observa-se considerável aumento do léxico e uma complexidade sintática (subordi- nação, marcas formais, compreensão da voz passi- va, etc.), mas não, mudanças qualitativas relevan- tes; a criança já adquiriu as principais estruturas gramaticais de sua língua, o que não quer dizer que a aquisição da linguagem tenha finalizado. Pelo contrário, vai se prolongar em toda a sua escola- ridade e, inclusive, na vida adulta, o que implica usar a linguagem em diferentes contextos e situa- ções comunicativas. 5. Dimensão léxica: os primeiros substantivos da fala da criança fazem referência aos objetos do seu entorno: nomes gerais (comida, roupa, brinquedos, etc.) e específicos (pessoas fami- liares). Em seu primeiro léxico, encontram-se muitas sobre-extensões, isto é, o significado ou o uso de uma palavra para outras referentes (como, por exemplo, utiliza o substantivo au- Psicologia_evolutivaCS5.indd 26Psicologia_evolutivaCS5.indd 26 13/12/2010 16:19:1913/12/2010 16:19:19 27Capítulo 2 au para qualquer animal de quatro patas) as- sim como subextensões (observam-se quando a criança aplica o conceito boneca somente para a sua boneca ou algo em particular). A explicação das sobre-extensões se deve, para al- guns autores, como Clarck (1973), que a criança categoriza a partir do parecido perceptivo (lugar, forma, tamanho, sons, etc.). Pelo contrário, numa perspectiva piagetiana, que considera que a crian- ça categoriza a realidade partindo de seu parecido funcional (uso e funções). Do ponto de vista semântico, as orações de duas palavras correspondem às seguintes relações: agen- te/ação (mamãe vem), ação/objeto (corre cachor- ro), agente/objeto (mamãe comida), entidade/ atributo (carro bonito), entidade/locativo (boneca aqui), possuidor/possuído (menino carro) e o caso nominativo (essa boneca). Para Slobin (1985), a criança possui umas estratégias cognitivas que lhe permitem construir progressivamente a linguagem de acordo com umas relações de forma e significa- do. Essas estratégias inatas são chamadas de princí- pios operacionais, porque permite a mente identifi- car dois tipos de processos mnêmicos básicos: os de análise e armazenamento e os de organização morfológico-sintática. 6. Aquisição da linguagem: ou aquisição linguís- tica é a área da linguística que estuda o modo como a infância adquire a linguagem. Esse é um assunto arduamente debatido por lin- guistas e psicólogos interessados na infância. Noam Chomsky é o precursor da maioria das teorias inatistas da aquisição da linguagem. Es- sas teorias afirmam que as crianças têm uma capacidade ina- ta para aprenderem a falar, a qual tinha sido anteriormente considerada sim- plesmente como um fenômeno cultural baseado na imitação. Esse ponto de vista, bastante generalizado, é con- trovertido. Existem outras posições a respeito da aquisição da linguagem, que não se centra no as- pecto sintático, como as de Jerome Brunner, que prioriza o aspecto pragmático, e a de Jean Piaget, que prioriza o semântico. A psicolinguística aborda esse proble- ma, fundamental- mente partindo dos mecanismos que são utilizados no pro- cesso de aquisição da linguagem. Essa abordagem se serve do campo da experi- mentação, coletando bases de dados de observações de diálogos entre falantes hábeis e as crianças. 7. C o m p e t ê n c i a comunicat iva : a aquisição da pragmática (uso da linguagem); se- gundo Halliday, o progresso até o sistema adulto atravessa três fa- ses: Fase Função Significado I Instrumental A criança consegue os obje- tos que satisfaçam suas ne- cessidades Reguladora Permite que alguém faça algo Interacional A linguagem é usada para a interação social Pessoal Usa a linguagem como meio de expressão pessoal e para introduzir o falante no ato da fala Heurística A linguagem permite explo- rar seu entorno e aprender Imaginativa Usa a linguagem para criar um entorno (jogos, estórias, etc.). Fo nt e: p t.w ik ip ed ia .o rg /w ik i/N oa m _C ho m sk y Noam Chomsky Fo nt e: w w w .in fe d. or g/ th in ke rs /b ru ne r.h tm Jerome Brunner Fo nt e: p t.w ik ip ed ia .o rg /w ik i/M ic ha el _H al li- da y Michael Halliday Psicologia_evolutivaCS5.indd 27Psicologia_evolutivaCS5.indd 27 13/12/2010 16:19:1913/12/2010 16:19:19 28 Capítulo 2 Segundo a classificação proposta por Jean Piaget, entre os dois e os cinco anos, a linguagem da crian- ça se caracteriza pelo monólogo, ao que segue o monólogo coletivo (nível I). Dos cinco aos sete anos, tem lugar a associação do interlocutor à ação do pensamento (Nível A, primeiro tipo), à briga (nível 2B, primeiro tipo), à colaboração na ação ou no pensamento no abstrato (nível 2B de segundo tipo), à discussão primitiva (nível 2B, de segundo tipo), à colaboração no pensamento abstrato (nível 3A), e, a partir dos sete anos, à discussão verdadei- ra (nível 3B). 3. DESENVOLVIMENTO SOCIOAFETIVO A educação escolar vem sendo convocada a assu- mir sua função de contribuir para formar a cida- dania, incluindo o desenvolvimento de valores, de atitudes e de habilidades de convivência humana. O atual referencial curricular nacional para a edu- cação infantil define que essa tem por função criar condições para o desenvolvimento integral de to- das as crianças, incluindo o desenvolvimento so- cioemocional (Ministério da Educação, 1998). Como salientam Dessen e Polônia (2007), escola e família constituem contextos fundamentais para a promoção do desenvolvimento